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Ágora Guarapuava - 2011 - Ed. 07 - Ano 01. Comer ou não comer? os distúrbios alimentares nos jovens

Comer ou não comer?os distúrbios alimentares nos jovens

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Page 1: Comer ou não comer?os distúrbios alimentares nos jovens

ÁgoraGuarapuava - 2011 - Ed. 07 - Ano 01.

Comer ou não comer?os distúrbios alimentares nos jovens

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ÁgoraGuarapuava - 2011-Ed. 07 - Ano 01.

Comer ou não comer?os distúrbios alimentares nos jovens

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Ágora

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Guarapuava2011

Edição 07Ano 01 Publicidade de gaveta

Por Camila Souza

O Jornal Ágora 2011 trás assuntos do cotidiano do cidadão

de Guarapuava pensados a partir de frases. Nesta edição,

as matérias têm por inspiração alguns slogans famosos

ReitorProf. Vitor Hugo Zanette

Vice-ReitorProf. Aldo Nelson Bona

Diretor do Campus Santa CruzProf. Osmar Ambrósio de Souza

Vice-direção de CampusProf. Darlan Faccin Weide

Diretor do Sehla(Setor de Ciências Humanas,Letras e Artes)Prof. Carlos Eduardo Schipanski

Vice-diretor do SehlaProf(a). Maria Ap. Crissi Knüppel

Dpto. de Comunicação SocialCoord. Prof. Edgard Melech

Professor ResponsávelProf. Anderson Costa

Tô num lugar comum/Onde qualquer um se esconde/Pra fazer a frase feita/E sentir os efeitos colaterais.

Os versos de Humberto Gessinger, da banda Engenheiros do Hawaii, levam a pensar em uma das principais características da humanidade. A busca por frases de efeito: palavras que sinte-tizem qualquer coisa e vão além, cau-sem frisson. O twitter é um exemplo. O fenômeno da internet mostra que quase tudo pode ser reduzido a 140 caracte-res: notícias, piadas e até conversas.

As redes sociais são inundadas diariamente com frases, ditados e citações. Eu mesma, ao iniciar minha fala, recorri às palavras de outrem com fins de ilustração. Talvez seja da natureza do próprio homem ser metafórico, figurativo.

O slogan, dentro do universo comer-cial, é o elemento que mexe com nosso ‘instinto ilustrativo’ através do vocabu-lário. Associamos determinado produto ou marca a um conjunto de palavras que, unidas e bem sucedidas, atingem seu principal efeito: o consumo.

Alguns slogans foram imortalizados ao longo dos anos tanto pela criativi-dade como pela insistência com que foram veiculados. Que pessoa com mais de vinte e poucos anos que não sabe completar a frase “Quem disse que não dá?”. A melodia nostálgica emerge e a resposta vem inevitável: “Na Finin-vest dá!”. De quebra, ainda é possível lembrar-se da época em que o Faustão era outro e os figurinos das bailarinas pareciam roupas de academia.

Nesta sétima edição do Ágora visitamos esse universo dos slogans. Desconstruímos alguns significados e desenvolvemos pautas criativas para trazer até você, leitor, uma leitura agra-dável e informativa.

Mesmo que seja inevitável sentir os efeitos colaterais, afinal toda escrita é uma releitura do mundo. Buscamos partir de frases feitas para escrever reportagens que não se escondem no lugar comum.

É com grande prazer que nossa redação, composta pelos formandos em Jornalismo da turma de 2011, apresen-ta o Ágora Edição Slogans.

Editora-Chefe da EdiçãoCamila Souza

Assistente de Redação e RevisorAnita Hoffman

Direção de Arte e FinalizaçãoAnderson Costa

DiagramaçãoAnita Hoffmann e Camila Souza

Redação: Aline Bortoluzzi, Andréa Alves, Anita Hoffmann, Camila Souza, Camila Syperreck, Carolina Teles, Catiana Calixto, Eliane Pazuch, Evane Cecilio, Jeferson Luis dos Santos, Júlio Stanczyk, Keissy Carvelli, Leandro Povinelli, Luiz Carlos Knüppel Jr., Marcos Przygocki, Mariana Rudek, Monique Paludo, Morgana Nunes, Patricia Tagliaferro.

Tiragem: 500 exemplaresImpressão: Gráfica Unicentro

Contato: (42) 3621-1325 e (42) 3621-1088

Foto da capa: Anita Hoffman

Download das ediçõeswww.redesuldenoticias.com.bre www.unicentro.br/agora

- Todos os textos são de responsabilidade dos autores e não refletem a opinião da Unicentro.- O Jornal Laboratório Ágora é desenvolvido pelos acadêmicos do 4º ano de Jornalismo.- Projeto de Extensão 096/2011 - Conset/Sehla/G/Unicentro, 28/06/2011.

Ágora2011

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PARA oS DIAbéTICoS, IngERIR DoCES DE FoRmA LImITADA é um DESAFIo PARA TEREm umA VIDA SAuDÁVEL.

doceO LIMITADO

SABOR DA VIDA

MATÉRIA: ANITA HOFFMANNsa

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Doces são praticamente uma unanimidade: todo mundo gos-ta. Depois do almoço de domin-go, uma sobremesa sempre cai bem. O chocolate, então, esse é um grande companheiro... as mulheres que o digam. Quando os hormônios alteram-se, prin-cipalmente na época da TPM, o chocolate é uma boa saída para acabar com a depressão e a an-siedade, já que libera uma alta dose de serotonina, substância do cérebro ligada ao prazer. Mas, por mais gostoso que seja comer doces, algumas pessoas devem evitá-los ao máximo, pois

têm sua saúde afetada por eles. É o caso dos diabéticos.

O diabetes é uma doença que se desenvolve quando o pâncreas passa a produzir a insulina de forma deficiente ou quando para totalmente de funcionar. A insu-lina é a substância responsável pela redução da taxa de glicose no sangue. Como os diabéticos não a têm de forma adequada no organismo, precisam injetá-la no corpo. O diabetes se classifica de duas formas: diabetes tipo 1 e diabetes tipo 2.

Segundo o endocrinologista Lineu Domingos Carleto Junior, o diabetes tipo 1 ocorre com maior frequência em crianças e jovens. “Os portadores desse

tipo de diabetes geralmente precisam utilizar a insulina des-de a descoberta do diagnóstico. O controle é um pouco mais di-fícil, pois as pessoas precisam aplicar a insulina várias vezes ao dia”. Muito se comenta so-bre os fatores hereditários do diabetes, mas, nesse caso, não existe nenhuma ligação gené-tica. A cura do diabetes ainda não foi encontrada, mas é pos-sível viver muito bem fazendo as dietas adequadas e tomando insulina ou remédios.

O diabetes tipo 2 é o mais frequente. Ele costuma apare-cer em uma fase mais tardia da vida, principalmente depois dos quarenta anos, em pessoas

com históricos de sedentaris-mo e obesidade. “Esse tipo de diabetes, sim, tem relação com fatores genéticos”, comenta Dr. Lineu. Nem todos os portadores desse tipo de diabetes precisam tomar insulina; é possível con-trolá-lo com dietas, exercícios físicos e remédios.

“Quanto mais doce eu co-mia, mais tinha vontade de co-mer. Sempre fui compulsiva por esse tipo de comida”. Com essa frase, Rute Jesus de Oliveira, 67 anos, resume exatamente o que acontece com a maioria dos dia-béticos. A proibição de ingerir glicose os atrai ainda mais para a gula. Rute descobriu que era diabética aos 38 anos, quando alguns exames que fez antes de uma operação constaram que o seu nível de glicose estava alto

“Quanto mais doce eu comia,

mais tinha vontade de comer”- Rute

Foto:Anita H

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demais. “Por muitos anos, mes-mo sabendo que tinha esse pro-blema, eu continuei exagerando nos doces. Já cheguei até a en-fartar por causa da junção do diabetes e da pressão alta, mas só fui descobrir mais tarde. Na hora não senti nada”.

A decisão de levar a sério o tratamento só aconteceu há seis anos, quando Rute perdeu uma

irmã por consequência do dia-betes: ela precisou amputar as pernas e não resistiu à cirurgia. Quando um diabético está com a glicose alta, a cicatrização é muito demorada. Uma feridinha no pé, por exemplo, pode trazer uma complicação imensa.

Edinê Tomen dos Anjos, 72 anos, assim como Rute, é por-tadora do diabetes tipo 2. Ela poderia controlar sua doença apenas com dietas e remédios, mas, para poder ter uma liber-dade maior para comer, toma uma pequena dose de insulina todas as manhãs. “Eu mesma me aplico . Às vezes na barriga, às vezes na perna. Não sinto mais nada de dor”. Quem fiscaliza a glicose de Edinê são seus filhos e netos. Basta ela exagerar um pouco nos doces para logo levar um sermão. “Quando o diabetes está baixo, eu dou uma abusada mesmo. Quando vejo que a coisa está ficando feia, corto os car-boidratos e faço algumas cami-nhadas. Na idade em que estou, acho que tenho o direito de co-mer de tudo”.

Quando o nível de glicose no corpo abaixa demais, os diabéti-cos sentem alguns efeitos colate-

rais imediatos. É o que se chama de hipoglicemia. Segundo Dr. Li-neu, a hipoglicemia é uma com-plicação aguda que é revertida rapidamente com a ingestão de açúcar. Quando está com hipogli-cemia, o diabético, de uma hora para a outra, começa a suar frio, sente tremores, tem o coração acelerado, fica fraco e com mui-ta fome. Rute e Edinê já passa-

ram por alguns apuros por causa disso.

Uma vez, quan-do foi pagar algumas contas no centro da cidade, Edinê passou muito mal. Sua sor-te é que estava perto do posto de saúde e lá entrou para pedir ajuda. Era a hipogli-cemia. “As moças do posto me deram uma bala e logo melhorei. Já tinha sentido hipo-glicemia outras vezes, mas desta vez foi mais forte que o normal.

Depois disso, nunca mais saí de casa sem carregar algum doce na bolsa. Assim, quando começo a tremer, basta comer para me-lhorar”. Rute costuma sentir hi-poglicemia quando dorme, o que pode ser muito perigoso, pois, se o açúcar não for ingerido rapida-mente, pode-se entrar em coma. “Quando esqueço de fazer um lanchinho antes de deitar, com certeza terei hipoglicemia de madrugada. Quando estou dor-mindo e começo a sentir um mal estar, basta colocar algum doci-nho na boca para ficar melhor”.

Dr. Lineu explica que, por mais que a hipoglicemia cau-se algumas sensações ruins nos portadores do diabetes, perigoso mesmo é quando a glicose está alta demais, que é a hiperglice-mia. “Se o diabetes estiver alto por muito tempo, complicações crônicas graves surgem”. Quem está com hiperglicemia sente muita sede, urina mais do que o normal e, geralmente, emagre-ce. Para melhorar disso, o tra-tamento não é imediato, como o da hipoglicemia. O diabético precisa tomar insulina ou fazer uma dieta rigorosa.

“Nunca mais saí

de casa sem carregar algum

doce na bolsa. Assim, quando começo a tremer, basta comer para melhorar”- Edinê

Foto: Anita H

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“SE O DiABETES ESTiVER ALTO POR MUiTO TEMPO, COMPLiCAçõES CRôNiCAS GRAVES SURGEM”[

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Se para um adulto é difícil controlar-se para não comer do-ces, imaginem para uma criança. Marcio Vinicius Cicielski Pereira foi diagnosticado com diabetes tipo 1 aos dois anos e meio. No início, o choque foi grande para seus pais, Marcio Luiz Pereira e Adriane Cicielski Pereira. Eles não tinham nem ideia de como agir com as novas limitações de seu filho. As desconfianças de que algo não estava certo com o meni-no surgiram quando Marcio Vini-cius começou a sentir muita sede, dor de barriga e fazia xixi dema-siadamente. Quando fez o exame, sua glicose estava em 512, muito acima do limite, que é 110.

Marcio Vinicius, como toda criança, adora comer chocolate, mas, como cresceu aprendendo a controlar sua glicose, nunca exagera em nada. “Quando o Marcio Vinicius ganhava algum doce de alguém, ele guardava para comer quando estives-

se com o diabetes mais baixo. Ele sempre teve consciência da doença”, conta seu pai. Hoje, Marcio Vinicius aplica insulina seis vezes ao dia e faz o exame de glicose cerca de dez vezes. Questionado sobre como lida

“Quando o Marcio Vinicius

ganhava algum doce de alguém, ele guardava para comer quando estivesse com o diabetes mais baixo”- Marcio Luiz

com as intensas aplicações da insulina, o menino, com um sor-riso aberto, conta que não sente mais dor. “O que é chato mes-mo é fazer o exame. A picadi-nha que sinto no dedo às vezes dói”. Para Marcio Vinicius não ter nenhuma hipoglicemia no-turna, Adriane costuma fazer o exame da glicose nele três ve-zes durante a madrugada. É um esforço necessário para evitar transtornos maiores.

Adriane nunca escondeu de seu filho sobre a doença para evitar surpresas e decepções. “O diabetes é uma doença trai-çoeira, mas o médico sempre nos aconselhou a contarmos tudo para ele desde pequeno. É bom que ele cresça sabendo de tudo o que deve fazer para ter uma vida saudável”.

Onde vai, Marcio Vinicius carrega consigo a caneta apli-cadora da insulina e o equipa-mento medidor da glicose. Para

algumas pessoas, pode parecer totalmente de-sanimador levar uma vida com tantas limita-ções assim, mas Marcio Vinicius mostra o con-trário. O menino, hoje com doze anos, é muito esperto, pratica vários esportes, toca guitarra e vai bem na escola. O diabetes não é e nunca foi nenhum limite para a sua felicidade.

Marcio Vinicius sabe que sua doença o acom-panhará por toda sua

vida e tem consciência de que, com o tempo, a tendência é a dose de insulina aumentar mais ainda. Seu pâncreas não produz nada de insulina, mas sua família espera que, um dia, talvez,seja encontrada a cura para esse mal.

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“FAzEnDo A SuA VIDA mAIS DoCE”

O slogan da marca brasileira Açúcar União inspirou a matéria sobre as implicações do açucar na saúde de quem tem diabetes, a doença que torna a vida um pouquinho menos doce.

SE PARA UM ADULTO É DiFíCiL CONTROLAR-SE PARA NãO COMER DOCES, iMAGiNEM PARA UMA CRiANçA. [

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pelas pessoasQUEM NUNCA ViVEU UMA COiNCiDêNCiA? AiNDA NãO SE SABE COMO E POR QUE, MAS AS PESSOAS CONTiNUAM CONECTADAS E SE ENCONTRANDO ONDE QUER QUE ESTEJAM.

Há quem diga que a expli-cação de tamanha coincidência é a teoria quântica. Até hoje,

ninguém chegou a um consenso, mas, por mais difícil que pareça ser, a maioria das pessoas, um

dia, em algum lugar qualquer, já encontrou um conhecido, um ami-go, um professor ou até mesmo um irmão. Parece uma bola de

neve quando a gente tenta expli-car. Fulano que conhece ciclano,

que estudou com beltrano, que é primo de fulano e que também viajou com o ciclano. Mas, no

fim chega a um ponto só em que todo mundo conhece todo mundo,

onde todos estão conectados. Comigo e com outras milhares de pessoas já aconteceram algumas situações engraçadas e esta que eu vou contar não foi a única e nem a será a última nesse mun-do, que é do tamanho de um ovo.

Era agosto, eu já morava em

Chicago há cinco meses, o dia es-tava ensolarado e eu e uma amiga

decidimos andar pelo centro da cidade. Sem muitos objetivos e

planos, fomos para a loja da Nike, que, por sinal, não era a única da cidade. Entramos, andamos

e, então, fomos parar no terceiro andar. Encontrar brasileiros lá

fora é uma das coisas mais fáceis que existe; é incrível como eles

se multiplicam e surgem do nada, mas encontrar um conhecido é um pouco mais complexo. Enquanto

Cotidiano

matéria: Patrícia Tagliaferro

Foto: Flavio Takem

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O mundo conectado

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eu estava esperando minha amiga esco-

lher um tênis, escutei algumas meninas falando português. Quando olhei, não acreditei no que vi: eu acabara

de encontrar a namorada de um amigo meu. Apesar de conhecê-lo há nove anos, só havia visto sua namorada uma vez no Brasil. Era sábado, o

centro estava lotado e eu no terceiro andar, na mesma cidade, na mesma loja e no mesmo horário. Como eu já não morava na minha cidade natal há cinco anos, o contato

com esse amigo diminuíra e, por isso, eu somente sabia que sua namorada estava nos Estados Unidos, mas não imaginava que ela estava morando tão perto de mim. A situação foi engraçada e,

até hoje, não acredito na coincidência. Não parecia fácil encontrar uma pessoa que fazia parte da minha vida em Cosmópolis, cidadezinha do interior de São Paulo, em um lugar tão distante do nosso Brasil. Como eu disse anteriormente, encontrar brasileiros no exterior nunca foi difícil. isso aconteceu

também com a guarapuavana Keity Althaus, que estava participando de um intercâmbio de estudos em Pensacola, uma pequena cidade no estado da Flórida, nos Estados Unidos. Ela e o namorado moravam em

uma casa com mais nove pessoas. Um dia, uma das brasileiras que morava com Keity conheceu um rapaz que também era brasileiro. Conversa vai, conversa vem, os dois acabaram falando sobre suas cidades natais. Quando ele contou a ela em qual cidade tinha nascido, ninguém acreditou na coincidência. “Ele disse que ia falar bem

devagar pra ela entender, daí disse ‘Guara’ e ela complementou ‘puava’”. Então ele perguntou se ela conhecia e ela explicou que morava com dois guarapuavanos: Keity e seu namorado. Pouco tempo mais tarde, a própria Keity

também acabara encontrando o tal do guarapuavano em um restaurante. Para muitos, essas histórias acontecem, a vida continua e fica na lembrança a coincidência do momento. No entanto,

para Luiz Carlos de Souza Júnior e Luiz Fernando de Souza, a coincidência foi bem mais inusitada. Seus amigos brincam que a história dos dois guarapuavanos poderia ser tema da ‘Malhação’. Luiz Carlos sempre soube que tinha um irmão em

Guarapuava, mas não fazia ideia de quem fosse. “Minha mãe se separou do meu pai quando eu tinha um mês porque descobriu que ele tinha outra família e que a outra mulher estava esperando um filho. A diferença é somente de dois

meses entre mim e ele, por isso, tanto a minha mãe como a mãe dele se separaram do nosso pai”.Luiz Carlos e Luiz Fernando já eram amigos há aproximadamente um ano quando descobriram que eram

irmãos. A maneira que descobriram também foi um pouco engraçada. “Um dia a mãe do Luiz Carlos passou na frente de casa e falou que o irmão dele morava ali, na hora um amigo nosso estava saindo e foi aí que

a gente descobriu”. Fernando, como é chamado pelos amigos e pelo irmão, perguntou ao amigo quem morava naquela casa, marcaram um dia e foram conferir o documento de identidade. “Bateu o nome

do pai e, depois de 18 anos, nos encontramos. Hoje em dia, ele está em Ponta Grossa, mas quase todo final de semana nos vemos. Criamos um relacionamento muito bom. Por sentir falta de

uma família, agora nos damos muito bem; minha mãe adora ele e a mãe dele também se dá muito bem comigo”. Luiz Carlos se sente muito feliz por ter encontrado

um irmão depois de tanto tempo e acha a história engraçada. “Parece que sempre tivemos essa relação de irmãos, foi umas das coisas

mais loucas que aconteceram na minha vida. Descobri que um amigo era, na verdade, o meu

irmão”.

“ConnECTIng PEoPLE”

O slogan é da marca finlandesa Nokia desde 1992. “Connecting People” vem do inglês e significa “conectando pessoas”. Nessa matéria, buscamos mostrar como as pessoas são conectadas por laços invisíveis a olho nu. Coincidência ou destino, independente da nomenclatura, a conclusão à qual podemos chegar é a de que o mundo é mesmo um ovo.

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O Ágora É PRODUZiDO EM UM LABORATóRiO MUiTO ESPECiAL, UM LABORATóRiO DE JORNALiSMO, ONDE ExPERiêNCiAS DE TODOS OS TiPOS SãO REALiZADAS. ALi, OS ALUNOS ADiCiONAM ÀS SUAS iNQUiETAçõES, O FAZER JORNALíSTiCO E A VONTADE DE MExER UM POUCO COM ESSE MUNDO. ACRESCENTAM AiNDA SUAS PRóPRiAS PERSONALiDADES PARA GERAR, NA COMBUSTãO DE ELEMENTOS, UM VEíCULO DE COMUNiCAçãO COM iDENTiDADE, ONDE FORMA E CONTEúDO SãO UMA COiSA Só: joRnALISmo.

ESSA É A FóRMULA DO Ágora. NãO É UMA REGRA, É UMA MANEiRA DE PENSAR EM QUE AS ESTRUTURAS SE MOVEM, SãO DiNâMiCAS. VAMOS DO LABORATóRiO PARA AS RUAS E PARA AS SUAS MãOS, DEixANDO A JUVENTUDE ACADêMiCA PARA ENTRAR NO AMADURECiMENTO PROFiSSiONAL. SOMOS JOVENS FALANDO DE COiSA SÉRiA PARA OUTROS JOVENS. É iNFORMAçãO PARA ENTENDER O MUNDO. É JORNALiSMO PARA MOVER UMA GERAçãO.

ágora, IDEIAS joRnALíSTICAS.

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Cotidiano

Matéria e fotos:Carolina Teles

Você possui algum objeto que carrega ‘o tempo todo com você’? Essa foi a pergunta res-pondida por jovens da cidade de Guarapuava em uma enquete realizada pelo Ágora. Perfumes, chaves de casa e carteira ficam em segundo plano quando o as-sunto é a necessidade dos obje-tos. Aproximadamente 95% dos jovens, prontamente, nos deram a mesma resposta: celular. Mas o que faz do celular, um objeto relativamente novo no Brasil, tão necessário à população?

Números divulgados pela Anatel (Agência Nacional de Te-lecomunicações) no ano de 2010 mostram que são 189,4 milhões de celulares em uso em todo o país. O que significa quase um celular para cada cidadão brasi-leiro, já que, de acordo com da-dos recentes do iBGE, a popula-ção brasileira é de cerca de 190 milhões de pessoas. Desde que

chegou ao Brasil, há 21 anos, o celular passou por inúmeras mu-danças. Seu tamanho diminuiu e suas funções se multiplicaram. A popularização foi rápida e, hoje em dia, é difícil encontrar alguém que viva sem ele.

Diego Gadens dos Santos, 22 anos, é analista de sistemas e afi-cionado pelo seu iPhone. “Não consigo nem dormir sem ele por perto”. Ele já teve cinco celula-res e, de lá pra cá, muita coisa mudou. “A coisa mais diferente que meu primeiro celular tinha na época era a luz de fundo azul; acho que nem toque polifônico existia ainda”. Atualmente, as funções do seu celular vão muito além da comunicação através de SMS e ligações. O acesso à inter-net, onde pode checar seu e-mail e as principais redes sociais, e a diversão com músicas e jogos são algumas das ferramentas mais utilizadas por Diego. “Outras fun-

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O tempo

O celular como ferramenta indispensável

todocom voce

ções como GPS, tocador de MP3, leitor de PDF e arquivos do Offi-ce também são muito bem-vindas em diversas ocasiões, então, é bom sempre ter ele no bolso pra quando precisar.”

Os smartphones são celula-res com sistemas operacionais avançados que fazem com que seja possível a interação online. Para Diego, o iPhone (smar-tphone desenvolvido pela Apple) é como um computador portátil, com a vantagem de também fa-zer ligações. E essa união vem sendo muito útil para um mundo cada vez mais conectado, onde pessoas como Diego são cada

vez mais comuns. “Sou daqueles que, para estar online, basta es-tar acordado”. A popularização dos smartphones impulsionou in-clusive as vendas de celulares no primeiro trimes-tre de 2011 no Brasil, segundo pesquisa da in-ternacional Data Corporation.

Luciano Mei-relles, 22 anos, é fotógrafo profissional e, assim como Diego, não vive sem seu ce-lular. Ele também recorda de seus primeiros celulares com carinho: “tinha luz verde, SMS era rarida-

de, mas tinha joguinho da minhoca que me mantinha entretido por muito tempo”. Como o seu instru-mento de trabalho, a máquina fo-tográfica, é grande e ele não pode

carregar para todos os lugares, ele utiliza o seu celular como uma máquina portátil. Dessa forma, ele tira fotos e posta na internet simul-

taneamente, tudo com o celular. Mesmo funções dos celulares

mais ‘baratinhos’ se tornam indis-pensáveis aos usuários. Luciano adaptou às suas necessidades o

simples lembrete do celular. “Te-nho uma memória ruim e não me lembro de nada, dai mantenho a agenda e os lembretes ativos 24 horas no celular”. Mari Cláudia, 20 anos, também anda com o ce-lular pra cima e pra baixo. O mo-tivo? Ela é fascinada por música e, aonde quer que vá, seu celular e fone de ouvido estão juntos. “Sempre amei ouvir música na rua; antes andava com radinhos, hoje é com o celular ”.

Até mesmo a função de mar-car a hora pode fazer com que o celular esteja sempre ao seu lado. Ewerton Mores, 22 anos, não desgruda de seu celular pelo

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“Não consigo nem dormir sem

ele por perto”

Enquete O Ágora perguntou qual é o objeto que fica “o tempo todo com você?”Confira algumas respostas:

cartao de creditoGayego CunhaEstudante de Engenharia de Produção

Relogio de pulsoMadeline CorrêaEstudante de Engenharia de Alimentos

celular e perfumePriscila BernardinoEstudante de Psicologia

celularDiego Caetano, Radialista

celularRaquel Klemman, Professora de inglês

controle do portaoMichele Matos, Publicitária

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simples motivo de saber o horá-rio. “Até porque faz tempo que não coloco crédito”, conta com bom humor. Ele também mantém um hábito bastante diferente: guarda todos os seus celulares antigos em uma caixa. A resposta para tal costume é vaga: “pode ser que eu ou alguém precise um dia”. Os carregadores e cabos USB também ficam guardados na caixa. Dessa maneira, ele con-ta que presentou muitos amigos e

parentes com celular, cabos USB, fones de ouvido e carregadores. “Só que não pode exigir muito, pois esses celulares só fazem li-gações”. Quando indagado se gostaria de possuir um celular com mais funções, ele afirma que não, pois assim ficaria ainda mais “viciado” no objeto. “Se tivesse acesso à internet, ficaria difícil me desligar dele; trocaria o celu-lar até pelo notebook”.

Sempre amei ouvir música na rua. Antes andava com radinho, hoje é com o celular.

Ligações, SMS, música, jogos, despertador, lembrete, internet. Seja qual for sua necessidade, o ce-lular se mostra pronto a atendê-la com criações de novos aplicativos a cada dia. Hoje, ele virou um óti-mo substituto para diversos outros objetos, como relógio, despertador, máquina fotográfica, rádio, telefo-ne, computador. Unindo todas as funções em um único objeto é fácil entender porque ele é tão querido pelos usuários.

“o TEmPo ToDo Com VoCê“

O slogan do Banco do Brasil foi um pontapé para a questão: “O que as pessoas levam o tempo todo consigo?”. Em pleno século xxi, o celular parece ser uma parte biônica do corpo humano, uma extensão anatômica e conveniente para braço da juventude conectada.

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Você conhece todas as utilidades dos produtos que têm em casa?

matéria: Luiz Carlos Knüppel júnior

Foto: Patrícia Tagliaferro

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Não é somente usado para limpar vidros, tapetes e tirar o odor dos sapatos. Pode ser utiliza-do em vários outros casos como:

- Desinfetante de vaso sanitário;- Na limpeza de peças de metal;- Neutralizador de odores em am-bientes com fumaça de cigarro;- Conservante para flores (Mis-tura-se vinagre na água usada no vaso de flores e as plantas duram mais);- Esterilizador;- Antisséptico;

O segredo do poderio do-méstico do vinagre está em sua composição. Segundo a química e professora da Unicentro Nei-de Hiroko Takata, o ingrediente principal do vinagre é o áci-do acético, também conhecido como ácido etanoico. Ele tem uma parcela relevante dentro da composição do vinagre, chegan-do a compor cerca de 3 a 7 % de toda a sua constituição.

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VinagreFoto: Patrícia Tagliaferro

Esterilizador, “tira-man-chas”, amaciante, “tira-mofo”, desinfetante, tônico facial, de-sodorante, “tira-limo” e anti-caspa, tudo em um só produto. Não, você não esta em uma pagina de anúncios daquelas empresas que trazem produtos revolucionários que facilitam a sua vida. Tampouco estamos fa-lando de uma novíssima desco-berta da ciência que em alguns anos chegará até nós.

A ‘maravilha’ doméstica tão eficiente pode ser um produtos-simples que, com certeza, você tem em casa, porém, muitas ve-zes, desconhece suas utilidades.

Um exemplo é o vinagre, que, além de dar aquele gostinho na salada, é excelente também como material de limpeza.

Lêni Do Rocio Gapareto Ber-toncelon trabalha como domésti-ca há mais de 20 anos e conhece bem as utilidades do vinagre. “Eu sempre usei vinagre pra limpar vidro, limpar tapete, tirar mofo, e, é claro, na cozinha”.

ivone Cavallim, dona de casa há 60 anos, também é adepta do uso do vinagre para a limpeza da casa. “Eu uso o vinagre pra tirar o cheiro ruim dos calçados; é só colocar um pouquinho de vi-nagre e depois deixar mais um

pouquinho no sol e pronto, tá no-vinho em folha”. Além do vina-gre, existem muitos outros pro-dutos que facilitam o dia-a-dia e dão uma ajudinha no orçamento doméstico. Por exemplo, sabe aquela Coca-Cola gelada? Sabia que ela também pode ser usa-da como desentupidora de pia? E aquele óleo de Girassol, que você usa na cozinha? Sabia que ele tem um grande valor medi-cinal? Para você saber como melhor usar os produtos que tem em casa, a equipe da Ágora testou as funções de alguns pro-dutos e lhe conta mais sobre as utilidades deles.

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“Não sabia das utilidades da Coca-Cola, foi quando me fala-ram que ela era boa pra desen-tupir coisas. Resolvi testar na pia lá de casa e realmente deu resultado”. O relato de Gianlu-cas Gomes mostra uma das uti-lidades que um dos refrigerantes mais consumidos em todo mundo tem. Assim como o vinagre, a Coca-Cola também tem grande serventia para a limpeza domés-tica, podendo ser usada como:

- Tira manchas;- Limpa vidros;- Antioxidante;

O pozinho branco, que é encontrado à venda nas farmá-cias e mercados, também tem várias utilidades, principal-mente voltadas à limpeza e à higiene. Dentre as quais, pode-mos destacar seu uso para:- Limpeza de panelas;- Limpeza de produtos em inox;- Higiene bucal;- Limpeza e desodorização de geladeiras e freezers; - Tira manchas.

Neide nos explica que o bi-carbonato de sódio tem carac-

Prático na cozinha e útil em várias outras situações, esse é o óleo de girassol. Utilizado para untar, temperar, fritar e cozinhar alimentos, o óleo de girassol é muito útil dentro da cozinha, en-tretanto, as suas utilidades vão muito além da gastronomia. “Me surpreendi quando o médico me disse para fazer os meu curativos com óleo de girassol. Perguntei para ele: Aquele mesmo que se usa na cozinha? E ele me respon-deu: Sim, o óleo de girassol é um grande cicatrizante”, diz o advo-gado Darcy Sell Junior.

Coca-Cola

Segundo a professora Nei-de Takata, a Coca- Cola, assim como o vinagre, tem, em sua composição, ácidos que atuam como antioxidantes e sais que auxiliam na limpeza. “O prin-cipal ingrediente dos refrige-rantes “colas” é o ácido fosfó-rico H3PO4 de pH 2,8. Esse ácido é utilizado como agente removedor de ferrugem e os seus sais, denominados fosfa-tos, são usados em detergen-tes. O ácido dissolve a ferru-gem que é formada devido à ação decapante”.

Bicarbonatode sódio

terísticas próprias que o fazem ser eficiente na limpeza e no combate a odores. “O bicarbo-nato de sódio é um composto anfótero, pois reage tanto com ácidos quanto com bases. Mas é mais eficiente em sua reação com ácidos do que com bases. E é nisso que se baseia a teo-ria da absorção de odores. Se colocar uma molécula de um ácido malcheiroso [como os en-contrados em geladeiras] sobre a superfície do bicarbonato de sódio, ela será neutralizada, transformando-se em um sal”.

Óleo degirassol

Foto: Luiz Carlos Knuppel

“mIL E umA uTILIDADES”

O slogan da marca brasileira Bombril foi utilizado a fim de mostrar que diversos produtos têm outras utilidades além daquela pela qual eles são colocados na sacola. Desde tirar manchas de roupas até para limpar os dentes, os produtos podem ser redirecionados para diversos usos. Ao invés de comprar um produto específico para limpar a maçaneta de prata da porta da sala de estar, que tal pegar um pouquinho de vinagre na cozinha?

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Page 9: Comer ou não comer?os distúrbios alimentares nos jovens

Matéria: Evane Cecilio

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É o combustível que acaba, um banheiro que ‘nunca chega’ ou a grana que termina no meio do caminho. São inúmeras as si-tuações indesejáveis que podem acontecer em uma viagem. Afi-nal, quem ainda não passou por um apuro desses?

Quando o combustível acaba no meio do caminho, vem a pre-ocupação. Jeferson e seu amigo Douglas, que levava a filha, pas-saram por isso em uma viagem de Cascavel até Assis Chateau-

briand. Ao olhar para o ponteiro do combustível, Jeferson perce-beu que o combustível estava baixo, mas o amigo acreditava que poderiam chegar até o des-tino sem precisar abastecer. Já era noite e eles seguiram via-gem. Chegando a Espigão Azul, o posto estava fechado.

A viagem foi até a metade do caminho, quando acabou o combustível e tiveram que espe-rar. “Já era bem noite, por vol-ta de umas 22 horas. Ligamos

para um amigo e pedimos para ele nos levar combustível”. En-quanto isso, a filha de Douglas chorava porque queria ir em-bora e estava com fome, mas o carro estava parado longe de tudo. Depois de muita espera, choro e indignação, o amigo chegou com o combustível e conseguiram seguir em frente. Jeferson não conseguiu guardar a revolta. “É bom para apren-der e na próxima vez não deixar chegar a essa situação”.

tudoo que você precisa

apuros

Foto: Evane Cecílio

É Um posto de

combUstível, Uma oficina

oU Um banco: histórias de

qUem passoU apUros na

estrada

da tarde. Saímos às oito horas da manhã de Campinas”.

Para sorte de Vanessa, o tre-cho tinha várias descidas e, as-sim, foram no embalo. Ao chegar na casa dos parentes, puderam comer, pois, se não tinham di-nheiro para o pedágio e para o combustível, imagine então para a comida. Vanessa e a irmã es-tavam famintas e tremendo de nervosas, porque ainda tinham que emprestar dinheiro para abastecer e seguir viagem até Guarapuava. No final deu tudo certo; por volta das oito da noite estavam em seu destino. “Mas minha irmã, de tão estressada e nervosa com a viagem, quando chegou em casa, teve um ‘piripa-que’. Ela sentiu náuseas e pas-sou mal e nunca mais esquece-mos dessa aventura”.

combustível

dinheiro...

bateria

qUando não é

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oU a

página 17

Vanessa Triaca também pas-sou por uma história bem com-plicada. Ela, a irmã e o tio se prepararam para uma viagem a Campinas. Dinheiro contado, bagagens no porta-malas, “tri-pulantes” a bordo e uma boa via-gem... de ida, porque a volta não foi nada fácil. “O combinado era entrarmos com o carro e meu tio pagar as despesas da viagem. Mas, como na época ainda es-tavam implantando os pedágios, esse foi nosso problema”.

O tio que pagaria a viagem calculou o valor tendo como base a ida, aproximadamente 800 KM. A viagem de ida foi à noite e os pedágios na época não eram cobrados nesse período. Já dá para imaginar o que aconteceu...

Vanessa aproveitou bem o passeio, mas acabou gastando mais do que devia. “Ficamos

uma semana lá, sem se preocu-par com a viagem de volta já que o tio daria a grana para voltar-mos”. Chega o dia do retorno. Novamente, dinheiro contado, bagagens no porta-malas e “tri-pulantes” a bordo, porém, uma surpresa no meio do caminho.

Chegando a Londrina, a moça não tinha dinheiro para o pedá-gio. “Encontramos um guarda e perguntamos se havia mais al-gum pedágio. Ele respondeu que não. Ufa! Foi nosso alívio”.

O alívio durou pouco tempo. Ao olhar o indicador do nível de combustível, a gasolina já estava acabando. “Fomos no embalo. Passamos por ivaiporã e o com-bustível entrou na reserva. Re-zamos para conseguir chegar até Pitanga e emprestar dinheiro de parentes para chegar a Guarapu-ava. isso já era quase seis horas

Outro caso de sufoco foi o que Jônatas Freitas e mais três amigos passaram indo para um festival de inverno em Pedro ii, no estado do Piauí. Os quatro jo-vens saíram por volta das cinco horas da tarde, porque estavam à procura de bebidas em Tere-sina. Mas como era feriado, o comércio estava todo fechado. O jeito foi levar as bebidas que já tinham. Ao som de Velhas Vir-gens seguiram rumo ao festival. “Estávamos já na estrada, le-

vando as poucas bebidas que tí-nhamos guardadas em casa, meu violão, as bolachas, os nissins e uma grande vontade de pirar muito por lá. Havíamos passado por algumas cidades e o carro já dava sinais de desgaste na bate-ria. As luzes começavam a ficar fracas. Foi então que o som des-ligou, o farol apagou e o carro morreu”. Era noite e eles esta-vam no meio do caminho ainda. Não havia outra saída, senão empurrar o carro. Após várias

tentativas frustradas, percebe-ram que nem no “tranco” o car-ro funcionaria.

Ficaram ali, perdidos e com medo de que algum carro pudes-se os atingir. O consolo era, pelo menos, um bom acostamento. “Eu já tinha tomado algumas e custava acreditar naquela situ-ação. Parecia surreal. Mas pa-rados não dava para ficar. Então começamos a empurrar o carro. Com um detalhe, era uma leve subida. Nós empurramos, em-

Foto

: mar

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Page 10: Comer ou não comer?os distúrbios alimentares nos jovens

purramos, empurramos muito e eu já estava ‘morto’”.

A saga dos jovens teve uma luz no fim do túnel, quando um homem de bicicleta contou a eles que a próxima cidade esta-va perto. Empurraram o carro por toda a subida com a espe-rança de encontrarem uma des-cida depois. Foi então que avis-taram um caminhão voltando de ré. Eram duas almas caridosas que pararam para oferecer au-xílio. O carro foi puxado até a cidade, onde puderam levá-lo

a uma oficina. O problema era no alternador. A bateria foi car-regada e o alternador trocado por um usado. “Depois de tanto esperar, já eram nove horas da noite. Finalmente pudemos sair de novo. Tudo ajeitado, carro funcionando. Fomos a Pedro ii”.

Durante o restante do tre-cho, nem o som foi ligado, pois os rapazes ficaram com medo que algo acontecesse novamen-te. “Finalmente chegamos na cidade. Cansados e suados, mas chegamos. Era tarde e os shows

na praça já haviam começado. Nós ainda precisávamos da chave da casa onde ficaríamos lá para tomar um banho e voltar para a praça”. Durante a procura pelas pessoas que ficariam com eles na casa, o carro morreu de novo. Desta vez pelo menos deu para “pegar no empurrão” e puderam chegar na casa. Voltaram para a praça sem o carro, com medo de que acontecesse algo novamente.

Depois de curtir o festival e passar por outros episódios pa-recidos, pneu furado e novamen-

te problemas na bateria, já era domingo, hora de voltar. Acorda-ram cedo, arrumaram as malas e seguiram viagem de volta para casa. O retorno não foi diferen-te. “Vale lembrar que na nossa viagem de volta ainda tivemos que empurrar o carro mais um bocadinho. Depois paramos ape-nas para beber água num posto. Chegamos em Terezina mortos e nos despedimos uns dos outros com palavras gentis: ‘Não quero te ver mais tão cedo’”.

“é TuDo quE VoCê PRECISA”

A partir de um antigo slogan do Banco itaú, surgiu a ideia de uma pauta que falasse de imprevistos na estrada. Quando se está longe de tudo, alguns elementos como gasolina ou dinheiro podem ser realmente tudo que você precisa.

Foto: Evane Cecílio

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O banco de praça solitário, empoeirado e cheio de folhas secas só almeja que algum indi-víduo se junte a ele. Em semanas chuvosas, ele parece ainda mais abandonado; a água que escorre por entre os trincos do cimento são como lágrimas de solidão. Quando a luz do sol limpa o cin-zento do céu, os fiéis amantes das praças reaparecem com histórias palpitantes a serem contadas. A criança no corre-corre com a bi-cicleta, a mocinha com as amigas gargalham sem censura, o pico-lezeiro apita, a mãe empurra o

menino no balanço do parquinho. E há os que tudo observam: os de cabeça grisalha, camisa por dentro, chapéu, bigode aparado e sapato lustroso, observando e co-mentando os fatos, vendo a vida passar. Por que somente os mais anciãos é quem têm a perspicácia de refletir sobre a vida? Por que somente eles a observam, somen-te eles se dão ao luxo de parar no tempo, num banco de praça, para vê-la acontecer?

O canto dos pássaros e o ar puro desses espaços que cultuam a natureza em pleno meio urba-no inspiram a reflexão acerca das coisas sobre o mundo. Mui-

tos procuram a praça nos fins de semana pra ler um livro ou pas-sear ao ar livre, mas o ritmo de vida acelerado não nos permite guardar lembranças e refletir sobre a vida. Quando raramente nos permitimos parar pra pensar sobre ela, vem à tona aquele sen-timento de culpa, peso na cons-ciência por não estarmos ocupa-dos com nada, apenas estarmos ali pensando. Estamos falando de pessoas que, por acharem que já cumpriram seu papel na sociedade ao longo dos anos, deram-se a si essa nova função social: observar a vida. Se quiser ouvir boas histórias é só sentar ao lado de um indivíduo simpá-tico de mais idade, desses que encontramos nos bancos de pra-ça. Seus relatos só não ganham

das histórias de taxistas, que por sinal, também passam boa parte da vida em bancos, estes estofa-dos e reclináveis.

No cair da noite, os persona-gens que ali sentam são outros. Alguns copos de plásticos no chão, às vezes, som de violão, algum jornal velho deixado por alguém que ali pernoitou. Ama-nhece o dia e os frequentadores diurnos dos bancos já estão lá novamente, comentando sobre as bitucas e copos no chão, al-gum vestígio ali e aqui, obser-vando a vida... Dai-me licença poética e direi que os bancos de praça são como as janelas Drum-mondianas: “devagar... os bancos olham”. Drummond conclui em seu poema: “êta vida besta!”, mas seria a vida tão besta quan-do observada? Ou besta é aquele que não a observa passar?

Crônica e foto:Aline bortoluzzi

“bAnCo REAL: o bAnCo DA SuA VIDA”

O slogan do Banco Real inspirou uma crônica. O banco da sua vida pode ser um banco de carro, uma banqueta em casa, no jardim, ou mesmo, um banco de praça, desses onde os anciãos param a fim de contemplar a realidade que chamamos vida.

O banco da sua vida

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Page 11: Comer ou não comer?os distúrbios alimentares nos jovens

Dedicação total é pouco!

A HiSTóRiA DO HOMEM

QUE PASSOU QUATRO

ANOS AO LADO DO PRESiDENTE DA REPúBLiCA Matéria: júlio Stanczyk

Marquei a entrevista com Maurício Kulka, ex-médico da Presidência da República, na manhã de um dia chuvoso, típico na cidade nos meses de agosto. Recém-chegado em Guarapua-va, o médico prontamente aten-deu meu pedido e me convidou para encontrá-lo ao final da tar-de daquele mesmo dia em seu consultório. Mas a história toda começou no dia anterior, quan-do conhecera um pouco sobre a história do doutor, durante uma visita à casa da sua mãe.

Orgulhosa, dona Anita – ape-lido que carrega desde criança, a despeito do verdadeiro nome, Ana Cecília, registrada assim apenas porque o padre acon-selhara seus pais a não coloca-rem na criança um nome que não correspondesse a alguma santa - contou um pouco sobre as ainda recentes experiências profissionais do filho. Deitada na cama devido a algum distúrbio de saúde provocado pelo inver-no, na antiga casa no centro da cidade que um dia abrigara uma padaria, Dona Anita relatou de forma emocionante experiências de vida e mostrou algumas fotos

da família. Foi o suficiente para eu perceber que aquela família realmente tinha muitas histórias que mereciam ser contadas.

Quando cheguei ao local da entrevista naquela tarde, fui recebido pelo próprio Maurício, que me convidou a entrar. Subi-mos alguns andares de elevador no prédio recém-construído e chegamos à sala dele. Um amplo consultório com poucos móveis, ainda com a aparência de novo. Maurício me convidou para sen-tar e, enfim, começamos a entre-vista. Logo de início, Maurício contou que saiu da casa dos pais, em Guarapuava, com pouco mais de 16 anos, quando ainda deseja-va entrar para a Academia Mili-tar das Agulhas Negras (Aman), e só agora voltara para Guara-puava com a intenção de se esta-belecer aqui. Como para ingres-sar na academia é preciso antes cursar a Escola Preparatória de Cadetes do Exército (EsPCEx) em Campinas, o jovem se mu-dou para lá e acabou adotando a cidade como sua nova casa. Foi lá também que mudou os rumos de sua carreira e decidiu cursar Medicina na Unicamp, entrando

para o exército somente depois de concluir o curso universitário.

Em 2007, Maurício trabalha-va no Hospital Militar de Campi-nas quando, de repente, recebeu um telefonema convidando-o para se juntar à equipe médica do Palácio do Planalto e traba-lhar diretamente com o Presi-dente Luiz inácio Lula da Silva e sua família. Maurício riu. Pensou em quais amigos poderiam estar lhe pregando tal peça e desligou o telefone, julgando ser um trote completamente absurdo. Algum

tempo depois, recebeu outra li-gação. Era o Chefe do Gabine-te de Segurança institucional (GSi), o órgão que contrata toda a equipe para trabalhar com o Presidente. Maurício, que não havia inscrito seu nome para ne-nhum concurso, seleção ou algo do tipo, foi pego totalmente de surpresa. Convenhamos que não é de se estranhar que o funcio-nário encarregado do primeiro contato telefônico esteja acos-tumado com a incredulidade das pessoas e com eventuais batidas

“‘Você vai para o Cazaquistão agora’. Como se fosse simplesmente atravessar a rua”

Planalto

Arquivo Pessoal

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Page 12: Comer ou não comer?os distúrbios alimentares nos jovens

de telefone. O GSi seleciona o pessoal previamente, sem o conhecimento do indicado para o cargo, e, após investigarem ficha criminal, histórico acadê-mico e outros documentos des-se gênero, oferecem o cargo ao indicado. Assim como Maurício, todos os funcionários, sejam da segurança, saúde ou quaisquer outros setores que trabalham com o Poder Executivo Federal, são selecionados desta maneira.

“Sou apolítico!”, confessou Maurício. “Mas é verdade que nunca fui eleitor do PT”. O mé-dico defendeu que suas prefe-rências políticas, como muitos erradamente supõem, nunca foram um pré-requisito para a seleção profissional. Para ele, a comitiva presidencial tam-bém espelha a democracia e,

de alguma maneira, representa a relação entre a nação e o líder escolhido para governar. Ele con-tou ainda que conheceu colegas que haviam trabalhado com FHC anos antes e puderam trocar ex-periências. Neste ponto, Mau-rício se queixou. “Lula viajava bem mais”. Não era uma quei-xa ideológica, mas estritamente profissional. Como um dos seis médicos integrantes da comitiva do Presidente - chegaram a ser até sete durante algum tempo - ele era um dos responsáveis por acompanhar a comitiva, seja lá para qual lugar ela estivesse indo. Dependendo do turno para o qual estivesse designado, o mé-dico tinha que viajar junto com o presidente no avião oficial da comitiva ou, ainda, viajar alguns dias antes nos aviões da Força

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“Eu não pensava nem que iria ser médico, quanto mais conhecer o mundo todo dessa maneira”

Aérea Brasileira (FAB) para cui-dar da logística de segurança do presidente no local de destino. Foi assim que ele conheceu mais de trinta países ao redor do mundo e quase todos os continentes (Lula nunca visitou a Oceania). “Você vai para o Cazaquistão agora”, brincou Maurício, relembrando um episódio ocorrido em um dia de folga que, sem o menor aviso prévio, recebeu uma ligação infor-mando a viagem enquanto almo-çava com amigos. “Como se fosse simplesmente atravessar a rua”.

É difícil dimensionar o tra-balho da equipe envolvida na segurança de um Chefe de Esta-do. Não há rotina quando se está nesse emprego. A comitiva deve estar sempre disponível para o Presidente. Férias, folgas, finais de semana podem ser interrom-pidos a qualquer momento por alguma necessidade urgente da

presidência, para alguma reunião de planejamento, ou algo do tipo. Uma vez, quando estava a ca-minho de passar um feriado em Guarapuava, foi chamado para voltar a Brasília. Ficou mais de seis meses sem poder visitar a família. Maurício destacou, por exemplo, que antes da chegada do Presidente a um país estrangeiro, os médicos que viajavam nos avi-ões da FAB, às vezes uma sema-na antes da comitiva diplomática, tinham que visitar hospitais, ava-liar condições técnicas, reservar leitos, traçar planos de evacuação para um eventual atendimento de emergência e planejar todos os detalhes para evitar qualquer tragédia. “Tentaram matar até o Papa, é preciso estar preparado para qualquer coisa”.

“Lula é brincalhão, do jeito que todos conhecem”, afirmou quando perguntei se o Presiden-te fazia jus à imagem passada pelos jornais. No entanto, ele deixou claro que dentro do Palá-cio do Planalto o convívio entre o Presidente e a equipe de asses-sores, médicos, seguranças, etc. é extremamente profissional. Quanto menos contato pessoal, melhor. Existem assessores para muitas coisas que o Presidente faz, mas sempre é exigido pro-fissionalismo. No último dia do mandato de Lula, a comitiva o acompanhou até o apartamento dele em São José dos Campos. A partir daquele momento, todos os direitos como Presidente aca-baram instantaneamente. Lula pisou dentro do seu apartamento e todos foram embora. Maurício nunca mais viu o ex-presidente.

O médico trabalhou ainda qua-tro meses com a Presidente Dilma Rousseff. Poderia ter ficado mais um ano se quisesse, segundo as re-gras do GSi, mas preferiu voltar. “É bom ter horário para levantar, trabalhar, saber que vai voltar para casa às seis da tarde. As pes-soas reclamam da rotina, mas é muito difícil viver sem nenhuma”. Longe de Guarapuava há duas décadas, ele decidiu dar baixa no exército, onde tinha a patente de Capitão, e ficar mais próximo da família. “Eu não pensava nem que iria ser médico, quanto mais conhecer o mundo todo dessa ma-neira. Chega uma hora que você quer parar, dá alguma nostalgia, mas a minha casa é aqui”.

“DEDICAção ToTAL A VoCê”

O slogan das Casas Bahia é conhecido em todo o país. Nessa matéria, buscamos retratar a dedicação um tanto diferente da qual prega a famosa “casa baiana”: a dedicação integral de um médico que viajou o mundo para cuidar da saúde e bem-estar do dirigente nacional.

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Você recusa?

Pirataria

Matéria: monique Paludo

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Para comprar todo esse luxo é preciso abrir a carteira, pois os preços são altos. Um exemplo é a bolsa da Louis Vuitton, custa 4,2 mil dólares. “O luxo não é oposto da pobreza, mas da vulgaridade”. A frase atribuída a Coco Chanel – criadora da marca Chanel –, não condiz com a realidade de algu-mas consumidoras. É aí que en-contramos o problema de Marília: “Se não fosse tão caro, compraria o original”. Para ela, basta as ini-cias “LV” estampadas no produto para satisfazer e garantir o luxo da Marília? “Sim, eu não quero saber se é original, se o zíper tem a logo da Louis Vuitton. Acho bo-nito e quero usar, mas nunca con-seguiria pagar esses valores por uma bolsa. O que me importa é a beleza, a elegância. Esse é o luxo que eu quero”.

Alessandra Chicoski garante que é seletiva na hora de escolher os produtos, mas também com-pra falsificações: “Eu adoro as maquiagens e cremes da Victoria Secret. Compro original porque tenho medo de fazer mal para a minha pele. Mas a bolsa? A bolsa não vai fazer mal nenhum! Tenho uma coleção enorme, acho que se somasse tudo que gastei com elas não conseguiria comprar uma única original”.

Mesmo que não cause malefí-cios à saúde, nessa relação de con-sumo não é apenas a fabricante do original que é lesada, mas também o consumidor. A qualidade dos pro-dutos falsificados é baixa. As bol-sas, por exemplo, têm costuras tor-tas e desmancham com facilidade e o zíper não corre perfeitamente. “Se eu quero luxo, como posso aceitar um produto mal feito? Se eu não posso comprar um legítimo, fico sem. Não vou sair com uma bolsa que corre o risco de desman-char a costura a qualquer momen-to. isso não é luxo”, contrapõe Eduarda Nascimento Souza.

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Luxo. É o que vendem marcas

como Louis Vuitton, Prada,

Hermès ou Chanel. “Hoje você é o que você usa.

Quem não quer se sentir poderosa?

Eu me sinto poderosa usando uma bolsa da

Chanel, da Louis Vuitton, gosto de perfumes da D&G. É um luxo!” Marília Costa.

Page 14: Comer ou não comer?os distúrbios alimentares nos jovens

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“Eu não quero saber se é original,

se o zíper tem a logo da Louis Vuitton. Acho bonito e quero

usar” Alessandra Chicoski

Fotos: monique Paludo

“Quem procura qualidade, nunca vai comprar um produto falso e quem compra produto fal-so, normalmente, nem procura os produtos originais para saber o preço. Procuram aquilo que sa-bem que é mais barato, não se importam com nada além do pre-ço”, explica Guilherme, gerente de uma loja de produtos originais. Já Patrícia*, proprietária de um camelô que, por questões legais, não quis se identificar, afirma que a quantidade de pessoas dispos-tas a comprar produtos falsifica-dos por causa de seu baixo valor é grande: “Ninguém quer saber se vai durar um ano, quer saber é quanto vai pagar”.

As falsificações não atingem apenas o mercado feminino. Ra-fael Brotti, por exemplo, não procura o luxo e, sim, itens de torcedor. “Sou fanático pelo Co-rinthians, é meu time de coração. Se o Timão joga, eu coloco a ca-misa para torcer. Tenho tudo: ca-misa, agasalho, bola, caneco e até um chaveiro do meu time. É mui-to caro comprar o original. Eu até gostaria, mas é muito caro”.

Para outros torcedores, essa não é a melhor atitude. Tiago Abrantes, também torcedor do Corinthians, considera que esse não seja um consumo conscien-te e tem o “Recuse imitações” como lema. “isso não é ser tor-cedor. Se eu torço pelo Corin-thians, eu tenho que comprar o produto original e ajudar o time. isso é com o Corinthians, o Flamengo ou qualquer outro time. Não tem nada a ver com-prar produto falso, até porque é um produto ruim”.

No caso dos produtos de ti-mes de futebol, o preço varia bastante entre o original e o fal-sificado: na loja oficial do Sport Clube Corinthians Paulista a ca-misa do time custa R$ 189,90, já no camelô a camisa do mes-mo modelo sai por R$ 20. Tiago ressalta que as diferenças não se restringem ao preço, “o tecido é

ruim, as costuras são grosseiras. Um amigo meu comprou uma camisa falsa e na primeira lava-gem até os anúncios dos patroci-nadores caíram”.

“O que mais encontro falsifi-cado é tênis. Vejo sempre. Aqui na loja já vi muitos entrarem com um tênis falso. Quem com-pra falso, sabe que é falso, sabe que a tecnologia empregada no original é muito melhor. Mas tem aqueles que só consideram a logo estampada, não pensam que é uma imitação barata”, explica Daniel Barros, gerente de uma loja de produtos esportivos.

VOCê ACHA LEGAL?MAS NEM SEMPRE É...

Não é crime copiar um mono-grama, uma estampa e até mes-mo um modelo de roupa, bolsa ou calçado. No Brasil, os estilistas podem registrar suas criações, no entanto, qualquer mudança (como variar a proporção das me-didas) descaracteriza uma cópia ilegal. Nos Estados Unidos, nem registro de criações no mundo fashion existe. Na Europa – que também oferece a possibilidade para os estilistas de registrarem a sua criação – é um pouco mais complicado que no Brasil. Lá é preciso comprovar que a criação é absolutamente inovadora e ori-ginal, o que dificulta a efetivação de um registro. Tendo em vista que no mundo fashion as “inspi-rações” são comuns, é raro con-seguir a comprovação absoluta de originalidade.

De qualquer modo, vale lem-brar que as logomarcas das em-presas estão protegidas pela lei e copiá-las é ilegal. No caso da Louis Vuitton, o monograma é famoso pela repetição do “LV” que tem registro de propriedade, logo, a cópia é crime. No caso dos produtos esportivos, a regra é a mesma. O problema não está em copiar o modelo, mas estampar a logomarca de outra empresa.

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Os produtos falsificados estão cada vez mais parecidos com os originais. Antigamente, só as bolsas originais tinham o nome da marca escrito no zíper. Hoje, é comum em qualquer falsificação. Então, no zíper, deve ser analisa-do a qualidade do material e se ao abrir e fechar a bolsa, o zíper corre facilmente.

Uma variação mais signi-ficativa está na qualidade dos materiais. Em bolsas originais de marcas como Louis Vuitton, Hermès e Chanel o material geralmente é de alta qualidade e não tem acabamento em plásti-co (como acontece na bolsa da fotografia ao lado).

Nas bolsas, as costuras desses produtos originais são, normal-mente, feitas manualmente e o controle de qualidade das fábri-

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“RECuSE ImITAçõES”

O slogan “recuse imitações” é da marca de sandálias Havaianas, da empresa Alpargatas. A frase serviu como pontapé para a matéria sobre imitações de produtos originais. No final das contas, há mais imitações de outros produtos que da própria havaianas.

produto falsificado

“É muito caro comprar o original. Eu até

gostaria, mas é muito caro” Rafael Brotti

cas é altíssimo. Nas camisetas, mesmo não sendo manuais, as costuras são delicadas. Por isso, se as costuras são tortas, grossei-ras ou fazem volume, o produto não deve ser original.

O número de identificação é outro modo de se perceber se o produto é verdadeiro ou não. Cada exemplar sai da fábrica com o seu número e o consumi-dor pode vê-lo tanto no produto (geralmente, em óculos estão na haste, e nos tênis e bolsas estão em uma etiqueta interna) como em sua embalagem. Os números devem ser idênticos nos dois.

Quanto às camisetas e produtos de times também é importante analisar a qualidade do material (como o tecido das camisetas) e detalhes como a costura, selos e aplicações.

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Page 15: Comer ou não comer?os distúrbios alimentares nos jovens

Apenas faça

SEGUNDA-FEiRA DE MANHã, REUNiãO DE PAUTA DO ÁgoRA.

BUSCáVAMOS SLOGANS QUE RENDESSEM UMA PAUTA. QUASE

NO FiM DA REUNiãO, ALGUÉM ME PERGUNTA: “E A SUA

PAUTA, CAMiLA?” A úNiCA FRASE QUE ME VEiO À CABEçA

FOi O SLOGAN DA MARCA NiKE: JUST DO iT. SiMPLESMENTE

FAçA. “QUERO ESCREVER SOBRE PESSOAS QUE DEixAM SEUS

AFAZERES PARA A úLTiMA HORA”.

DAR UMA PROFUNDA RiSADA iNTERNA FOi iNEViTáVEL.

NENHUMA PAUTA PODERiA COMBiNAR MAiS COMiGO DO QUE

ESTA. A TíTULO DE iLUSTRAçãO E, ACREDiTEM, NãO FOi DE

PROPóSiTO, ESTOU ESCREVENDO ESSA MATÉRiA, ADiViNHEM,

NO úLTiMO MiNUTO DO PRAZO.

Matéria: Cam

ila Souza

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Just do

it!Pauta e Deadline. Tarefa e

data limite. É assim que, não só o jornalismo, mas a maioria dos trabalhos funciona: com metas e prazos. Algumas pessoas, entre-tanto, acabam adiando seus afa-zeres para a última hora, para aquele momento em que não há mais escolhas a não ser fazer o que lhe foi confiado.

A mania de deixar os compro-missos para o último minuto já re-cebeu até um nome: procrastina-ção. Engana-se aquele que pensa que o procrastinador é o sujeito preguiçoso que nunca cumpre com seus deveres. Pelo contrário: pro-crastina a pessoa que assume di-versas obrigações, muitas vezes,

mais até do que a quantidade que poderia dar conta. A sobrecarga é um dos maiores motivos da pro-crastinação. A pessoa descobre que, por mais que tenha vários afazeres, ela consegue terminá-los a contento no fim do prazo.

Outro fator é um misto de au-toconfiança e insegurança. De um lado, os procrastinadores sentem--se seguros em relação aos seus afazeres. “Dei conta uma vez, por que é que agora não iria dar?”, aponta o psicólogo Clayton Reis. “Como isso deu certo da primeira vez, tendemos a usar os mesmos recursos em outras oportunidades”. Por outro lado, surge a insegurança manifestada pelo perfeccionismo. As pessoas querem que o trabalho saia tão

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perfeito e têm tanto medo de er-rar que a reação mais instintiva acaba sendo a fuga: não fazer o trabalho como se não houvesse amanhã. Só que, feliz ou infe-lizmente, o amanhã existe e ele sempre chega trazendo o prazo.

Apesar do nome estranho, a procrastinação é muito mais co-mum do que se imagina. Quem nunca deixou algo importante para depois e foi assistir TV? Se todos nós, reles mortais, já fi-zemos isso um dia, certamente diversos famosos também o fi-zeram. O maior exemplo de pro-crastinador da história é o célebre cientista, matemático, engenhei-ro, inventor, anatomista, pintor, escultor, arquiteto, botânico, poe-ta e músico Leonardo Da Vinci. Nosso gênio procrastinador ini-ciou tantos projetos, que, muitas

vezes, levou anos para terminá--los. O mais famoso é o quadro La Gioconda, a Mona Lisa. Da Vinci começou a obra em 1503 sob a encomenda de Francesco Del Gio-condo, marido da modelo, porém, levou tanto tempo que Francesco desistiu do quadro. Três anos mais tarde, em 1506, Leonardo final-mente terminou sua obra-prima e a vendeu à corte Francesa.

Outro procrastinador célebre é o escritor, cartunista, tradutor e roteirista Luis Fernando Veríssi-mo. Uma vez questionado se tinha uma musa, o sarcástico escritor respondeu: “Minha musa inspira-dora é o prazo de entrega”.

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9

7:30 a.m.

Page 16: Comer ou não comer?os distúrbios alimentares nos jovens

página 30

A psicóloga Carine Suder ele-

ge o imediatismo contemporâneo

como principal motivo da pro-

crastinação. As pessoas buscam

um prazer imediato de forma, às

vezes, inconseqüente. “Além de

poder aproveitar ao máximo os

momentos de prazer possíveis an-

tes do prazo final, ainda existe a

tensão e o consequente alívio após

a finalização da tarefa. Para al-

guns, isso não tem preço”.

A emoção e o alívio de cumprir

as tarefas no último minuto é exa-

tamente o que sente Hamilton de

Lima Júnior, guarapuavano e mes-

trando na UFPR. Hamilton conta

que, geralmente, deixa seus com-promissos para o último momento e sempre consegue terminá-los. “Esse é meu ritmo de trabalho. Cheguei até o mestrado assim, apesar do stress que isso acarreta. Não sei se consigo fazer diferen-te”. Entre várias histórias de pro-crastinação, Hamilton conta que uma vez até se deu bem. “Tinha que fazer um artigo científico para o meu grupo de estudos. Foi per-to das férias, então fiquei adiando

para poder aproveitar melhor os

dias que meus amigos estivessem

de folga. As férias acabaram e fal-

tava uma semana para entregar

o artigo, mas eu ainda não havia

escrito nada. Em uma manhã, abri

meu e-mail e lá estava uma men-

sagem do meu orientador dizendo

que algumas mudanças haviam

sido feitas e que eu teria que mu-

dar o tema do artigo. Como eu ain-

da não tinha feito nada, não preci-

sei jogar todo um trabalho fora e

começar do zero. Foi pura sorte”.

Apesar da maioria da popula-

ção adiar os compromissos para aproveitar momentos de prazer, algumas pessoas seguem o cami-nho inverso. Valter Anzolin, em-presário de 43 anos, é um exem-plo. Valter trabalha sob a pressão constante de ser seu próprio chefe. “Se algo que eu faço dá errado, sou eu mesmo que pago o pato”. Por viver sob esse peso, Valter já adiou muitas férias para trabalhar. “Nem me lembro a última vez que tive férias, eu paro para o Natal, mas, no outro dia , tenho que tra-balhar de novo”.

Em função de seu trabalho con-

tínuo, Valter teve, neste ano, uma

crise de nervos. “Depois de um dia

pesado, cheguei em casa, tomei ba-

nho e fui jantar, comecei a tremer

e meu braço esquerdo ficou formi-

gando”. Foi o suficiente para a fa-

mília ficar para lá de preocupada.

Valter fez, a pedido dos filhos, di-

versos exames cardio e neurológi-

cos e nenhuma patologia, além do

stress acentuado foi diagnosticada.

Seu médico lhe informou que, se

continuar trabalhando dessa for-

ma, o risco de infarto será cada vez

mais alto. “Depois dessa, vou dimi-

nuir meu ritmo e aproveitar mais

a vida. Trabalhei tantos anos, agora

está na hora de desacelerar”.

Foto: Camila Souza

“juST Do IT”

O slogan da marca norte-americana Nike vem do inglês e significa “Simplesmente faça”. O imperativo da frase tem tudo a ver com a pressão vivida pelos chamados procrastinadores.

$

Saúde

Matéria: Anita Hoffman

Quando a magreza EM UMA SOCiEDADE ONDE

A MAGREZA ESTá LiGADA

AO SUCESSO E À BELEZA,

DiSTúRBiOS ALiMENTARES

TORNAM-SE CADA VEZ MAiS

FREQUENTES ENTRE JOVENS.

Tudo começou aos onze anos de idade. Marina* era uma menina ‘fofinha’ durante a infância, mas nunca chegou perto da obesi-dade. Logo que seus pais se separaram, os vômitos se tornaram frequentes. Era difícil demais conter o nervosismo e a tristeza que aquela situação lhe causa-va. Foi assim que ela começou a de-

senvolver sua bulimia nervosa, que se prolongou por mais de oito anos. No começo, os vômitos refletiam o descontentamento com sua si-tuação familiar, mas o tempo foi passando, a adolescência chegou, e, então, Marina en-

controu naquela atitude um modo de manter-se magra.

Foi muito difícil perceber a doença, mas mais difícil ain-

da foi procurar ajuda. Para ela, durante muito tempo, os vômitos

eram cômodos e geravam uma sensação de autocontrole e limpe-

za. “Vomitar servia como uma lim-peza psicológica. Eu sentia como se

estivesse tirando um grande peso de dentro de mim”.

A história de Marina é triste, mas não é única. Na sociedade atual, onde

modelos magérrimas são consideradas exemplos de beleza e sucesso, é cada vez

mais perceptível o aparecimento de distúr-bios alimentares, principalmente em meninas

entre os 15 e 25 anos. Além da bulimia, outro

A nossa mente trabalha contra a nossa saúde e nós temos que encontrar um meio de virar a mesa, ganhar esse jogo.

Michelle

página 31

destrói

distúrbio bastante frequente entre os jo-vens é a anorexia. A principal diferença entre as duas doenças é que na bulimia as pessoas costumam alimentar-se exageradamente e depois provocar vômitos para compensar o ganho de peso; já na anorexia, as jovens privam-se da ingestão de alimen-tos por longos períodos. Segundo o psicólogo Dhyone Schinemann, “existem fortes evidências de que esses transtornos estão as-sociados a um tipo de funcio-namento familiar de grandes exigências, perfeccionismo, cobranças e dependência”.

Geralmente, as pessoas bulímicas não têm tanta alte-ração de peso como as anoréxi-cas, pois, apesar de não quere-rem engordar, gostam muito de comer e o fazem exageradamente. Depois do excesso, para aliviarem a culpa, forçam o vômito e ingerem diuréticos e laxantes. “Quando eu comia demais, ficava alguns dias sem comer para tentar compensar toda a caloria que tinha adquirido. Já che-guei a ficar quatro dias apenas tomando água”, confessa Marina. Como o ácido

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clorídrico presente no estômago tem um po-der altamente corrosi-vo, muitas vezes as pes-soas que têm bulimia costumam desenvolver úlceras no estômago, úlceras de contato, gastrite, refluxo e até mesmo erosão dentá-ria. Marina teve que reconstruir seus dentes da frente três vezes.

Hoje, Marina tem 21 anos, está no segun-do ano da faculdade e tem um peso normal para uma moça do seu tamanho, 1,76m, po-rém, em 2009, auge de sua doença, chegou a pesar apenas 51 quilos. “Eu estava depressiva demais, não queria ajuda de psicólogos e psiquiatras e também estava vi-ciada em cocaína, o que me fez emagrecer mais ainda. Nessa época acabei tentando me ma-tar”. Quando a situação estava realmente muito extrema, com o incentivo de seu pai, Marina procurou ajuda psicológica dis-posta a levar a sério o tratamen-to. Ela se diz curada da bulimia, porém, quando fica nervosa de-mais, ainda tem algumas recaí-das e acaba vomitando. “Agora eu aprendi a aceitar e ver a mi-

nha beleza interior. Tento não pensar muito na minha aparên-cia, estou feliz assim”.

A anorexia da advogada Mi-chelle de Mentzigen Gomes, 23, deu seus primeiros sinais aos 15 anos, quando a moça fazia re-gimes rigorosos e se privava de comer certos tipos de alimentos, porém, foi aos 17 anos que a si-tuação realmente ficou drástica. Ela chegou a pesar 37 quilos e ficou à beira de uma interna-ção. “Eu não comia. Nunca fui de fazer exercícios físicos, nem nessa época, mas eu comia pou-quíssimo, somente nas horas das

refeições principais e tomava litros e mais li-tros de água, mesmo no inverno. Eu comecei a não gostar mais de fa-zer refeições em famí-lia, a não comer mais certos tipos de comida, parecia que tinha ver-gonha de me expor”. Para ela, uma das coi-sas mais complicadas foi admitir e aceitar que estava doente.

Apesar de os fami-liares e amigos falarem que algo estava muito errado, a obsessão pelo emagrecimento era a única coisa que Michel-le via. “Não é uma coisa

fácil de ser admitida porque nós não nos enxergamos fisicamente como realmente somos/estamos; nós só enxergamos que precisa-mos emagrecer. Se você me per-guntar se até hoje eu me olho e penso isso, te respondo que sim. Então a gente, uma vez que ad-mite que é anoréxica, aprende a conviver com isso”.

O grande problema é que, da anorexia, Michelle partiu à compulsão. Quando começou a recuperar peso, passou dos 37 aos 76 quilos, o que não era adequado para uma pessoa de 1,54m. “Na época, por mais que

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Nosso corpo não foi feito para funcionar tão precariamente quanto o corpo de um anoréxico

Michelle

“CALoRIA DE mEnoS. goSToSA DEmAIS”

A contagem de calorias, como estimula o slogan da cerveja Brahma Light, pode ter um final dramático. Distúrbios alimentares, como a bulimia e anorexia, são quadros extremos de casos em que a obsessão por calorias se torna inimiga da saúde.

eu tenha saído da anorexia para a compul-são, saí sozinha. Mas acho fundamental o acompanhamento por psicólogo, psiquiatra e todos os médicos que forem necessários para ajudar a não fazer o que eu fiz, que foi ir do oito para o 80. isso também não é saudável”. O psicólogo Schinemann explica que o tratamento psicológico varia muito de acordo com o ritmo de recuperação de cada paciente. “O ob-jetivo é articular no projeto de vida do sujeito e na sua história particu-lar algo que dê conta, ao mesmo tempo, de suprir suas demandas inconscientes e de evitar que haja prejuízo para sua vida e para a vida dos demais. isso será fei-to por meio de um processo de conscientização e de criação contínua e conjunta entre psi-coterapeuta e paciente”.

Com a ajuda de um endo-crinologista, Michelle conse-guiu emagrecer e hoje man-

tém seu peso entre os 55 e os 60 quilos. “Desde o momento

que uma pessoa anoréxica per-cebe que está se acabando com

isso e decide melhorar, o proces-so não termina nunca. Pelo me-

nos para mim é na base do ‘um dia de cada vez’. Então, posso dizer

que isso é algo que vou levar co-migo para o resto da vida e que não

desejo para ninguém”.Apesar de terem distúrbios ali-

mentares diferentes, Michelle e Ma-rina* tiveram alguns sintomas em

comum. A amenorréia foi um deles. Quando estavam doentes, as duas moças ficaram longos períodos sem menstruar.

Marina, por exemplo, menstruou apenas quatro vezes em um ano. Algumas mulhe-

res que têm esses distúrbios alimentares por muitos anos acabam até mesmo fican-

do estéreis. Ambas as doenças estão forte-mente ligadas a questões sexuais. Geralmen-

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te, as moças que possuem esses problemas têm traumas com o corpo e vergonha de se exporem sexualmente ou têm medo de per-der o corpo de criança. Marina conta que a ideia de estar crescendo e se transforman-do em uma mulher a incomodava muito e ficar magra era uma forma de ter certo controle sobre a situação.

Michelle ainda não se sente feliz com o corpo e com a aparência que tem, mas sabe muito bem que não deve se entregar novamente para a anorexia. “Nosso corpo não foi feito para fun-cionar tão precariamente quanto o corpo de um anoréxico. Sei que é muito sofrido, penoso e desgastan-te não só para quem tem a doença mas também para quem convive com o doente. A nossa mente tra-balha contra a nossa saúde e nós temos que encontrar um meio de virar a mesa, ganhar esse jogo”.

A quem quiser conhecer mais sobre os dramas que as pessoas que têm esses distúr-bios alimentares apresentam, indico o documentário “Thin” (Magras), da HBO, que foi lan-çado em 2006. O filme conta a história e os esforços para recupe-ração de jovens internadas em uma clínica de reabilitação para anoréxi-cos e bulímicos nos Estados Unidos. Apesar de os países serem diferentes, os dramas são os mesmos. O documen-tário mostra a questão da aceitação da doença. Enquanto algumas pacientes têm total conhecimento da situação pela qual passam, outras não aceitam o tratamento e preferem continuar com a vida doentia que levam.

*A entrevistada preferiu não revelar seu nome verdadeiro

Foto: Anita H

offman

Foto: Anita H

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saúde

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Alimentos em cápsulas ou em pó

Com A CoRRERIA Do DIA A DIA, ALgumAS PESSoAS

ESTão ADERInDo AoS muLTIVITAmínICoS E A

RAção HumAnA PARA SuPRIR A DEFICIênCIA ALImEnTAR

Matéria: Andréa A. AlvesDiagramação: mariana Rudek

A modernidade não trouxe apenas benefícios; com ela também chegaram o sedentarismo,

os erros alimentares e a correria do dia-a-dia. E neste embalo quem sofre é o nosso organismo.

Quem não tem tempo para investir na tão sonhada qualidade de vida, substitui uma alimentação balanceada por cápsulas. Ferro, cálcio,

potássio, zinco, B12 e muito mais, tudo concentrado em um só comprimido. Para evitar prejuízos no bolso e na saúde, o caminho é descobrir o que as

drágeas oferecem, porque nem tudo “vale por um bifinho”.Os multivitamínicos contêm componentes que disputam espaço no organismo.

É um mundo bastante competitivo. Uma das disputas mais clássicas é entre o fer-ro e o cálcio. Aí, o ferro, fundamental para o sangue, é quem sai mais prejudicado na maior parte das vezes. O ferro também tem um relacionamento conturbado com o zinco que, em excesso, pode inibir o cobre. Outra concorrência é entre a vitamina E e a vitamina K. Em doses elevadas, a E pode atrapalhar a ação da

K, que é essencial para a coagulação sanguínea. Além do jogo de rivais, o corpo tem que estar em condições para

tirar proveito de tudo o que as cápsulas oferecem. A esta capacidade orgânica de absorver ou eliminar chamamos de biodisponibilidade.

“Apenas 30% é aproveitado, o restante é perdido”, afirma a nutricionista Joscinéia Bernardi, que também é proprietária

de uma cozinha industrial em Guarapuava. De acordo com ela, parte dos componentes tem uma maior

absorção pelo organismo se ingeridos junto com as refeições, mas o restante

não.

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Alguns produtos mais baratos

podem oferecer uma formulação de maneira

cancerígena

NUTRiCiONiSTA JOSCiNÉiA BERNARDi: “APENAS 30% É APROVEiTADO, O

RESTANTE É PERDiDO”

Foto: Andrea A. Alves

Os polivitamínicos e poli-minerais mais consumidos pela população somam em média 25 itens. “Os famosos de A a Z são os menos indicados. O organismo não precisa de tudo que tem lá. Pode até ser tóxico, já que vai absorver mais do que o necessá-rio. Alguns produtos mais bara-tos podem oferecer uma formu-lação de maneira cancerígena, a exemplo do pantotenato de cál-cio”, alerta a nutricionista.

A moradora da Vila Bela, Lurdes de Oliveira, 81 anos, é uma consumidora assídua do A a Z. “Sempre compro do mais em conta”. Ela aderiu à formu-lação por não mais conseguir se alimentar dentro das quantida-des necessárias.

A nutricionista Joscinéia Bernardi lembra também de ou-tros problemas nas preparações prontas encontradas nas farmá-cias. Um exemplo é o sulfato ferroso. Como não vem indicado que para o organismo absorver o ferro é necessário ingerir tam-bém vitamina C, apenas 30% do componente é aproveitado.

Outro problema está na quantidade. Caso o indivíduo precise de uma certa vitamina ou mineral listado na formula-ção, não irá encontrá-lo na con-dição ideal para suprir a defici-ência. A nutricionista avisa que, como o zinco é um componente caro para manipular, ele é ofe-recido em quantidade inferior. “Dos sete miligramas ofereci-dos, o organismo irá absorver apenas dois miligramas. O que seria muito abaixo do necessário para um adolescente, por exem-plo, já que ele necessita de 15 miligramas ao dia”.

O erro na automedicação pode ser corrigido com uma análise do que o corpo real-mente necessita. A especialista conta que as deficiências são identificadas através de sinais e sintomas ou, também, com um hemograma completo ou mine-ralograma, exame que, com ape-nas dois gramas de cabelo, traça o perfil mineral de uma pessoa.

Queda de cabelo e unhas fracas são indicações da falta de proteína. Zumbido no ouvido e microconvulsão de pálpebra são

sinais que o magnésio está baixo. “Através de um questionário, ana-lisamos os sintomas para saber o que tratar em cada paciente”.

Nem só as faltas são diag-nosticadas, os excessos também. “Trabalhamos com os extremos: pouco e muito”. A pele amare-la indica excesso de vitamina A. Quem ingere muito feijão e banana, também ingere muito potássio, o que pode incorrer em problemas de rim. “Tirar a casca ou cortar as verduras em tamanhos menores, também modifica a quantidade de vita-minas e minerais, pois o con-tato com a luz diminui seu po-tencial”, explica a nutricionista.

Não podemos esquecer tam-bém da doença de Wilson, que ocorre por acúmulo de cobre, levando a problemas no fígado e no cérebro. E, no caso, quem entra em campo para derrotar o rival é o zinco, administrado em altas doses.

“Tudo em excesso pode ofe-recer certa toxidade. É preciso manter o equilíbrio”. O vegeta-riano que não ingerir carne ver-melha precisa do complexo B. O idoso para fugir da osteoporose precisa de cálcio. “A partir dos 30 anos o corpo absorve menos cál-cio, então, é indicado a partir dos 50 aderir ao suplemento. Mas é preciso lembrar que ele tem que estar associado à vitamina D”. A doutora Joscinéia Bernardi dá uma dica preciosa para quem não é adepto das pílulas: “é só tomar meia hora de sol por dia e obter naturalmente a vitamina D”.

Devido ao clima, neste pon-to, os guarapuavanos ficam no prejuízo na maior parte do ano. A nutricionista lembra do resul-tado de uma pesquisa realizada com alunos em Curitiba, que tem o clima parecido com o de Gua-rapuava, onde 80% dos estudan-tes indicaram falta da vitamina D no organismo.

Ração humana: nova tendência

Também é preciso avaliar outro item que surgiu, recente-mente, junto à correria da vida

mARIA DE LouRDES SAnToS ConSomE umA méDIA DE 800 gRAmAS DE RAção HumAnA PoR mêS

Foto: Andrea A. Alves

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“VALE um bIFInHo”

O slogan do produto Danoninho, da marca francesa Danone, inspirou a matéria que discute a substituição de alimentos in natura por rações e complexos. Será que toda substituição vale por um bifinho?

moderna: a ração humana. Mas será que esta nova tendência de mercado “vale por um bifinho”?

O nutricionista Maickel Pa-nassolo brinca ao dizer que, “de-pois da ração para o gato e para o cachorro, agora inventaram a humana”. Segundo ele, é uma moda que veio para ficar, porque a tendência é que as pessoas não consigam mais se alimentar tão bem como antigamente. Um dia comem arroz, feijão, uma carne, uma salada, e, no outro, devido à correria do trabalho, terão que fazer um lanche. “Mas se agre-garem a ração humana ao lanche conseguirão somar ao final do dia mais ou menos a quantidade exata de carboidratos, vitaminas e minerais”, explica Maickel.

A ração humana é uma mis-tura de cereais integrais (trigo, aveia em flocos) e sementes (li-nhaça, gergelim). Por causa do teor de fibras e gorduras que a ração contém, o intestino fun-ciona mais rapidamente. Entre-tanto, algumas pessoas podem sofrer com a irritação na parede

do intestino, prejudicando a ab-sorção de nutrientes.

Maria de Lourdes de Proen-ça Oliveira Santos, 51 anos, ade-riu à ração humana para resol-ver o mau funcionamento do seu intestino. Ela conta que chegou a ficar até dez dias sem conse-guir evacuar. “Fiz um tratamen-to de três anos com um especia-lista e não resolveu. Depois que comecei a usar a ração humana meu intestino funcionou normal-mente”. A moradora do Jardim Pinheirinho consome uma média de 800 gramas por mês do pro-duto. “Todas as noites, misturo uma colher de chá com leite, café e três ameixas”.

As fibras também ajudam a dar uma maior sensação de saciedade, fazendo com que a fome demore mais tempo a aparecer. E, talvez, seja este o motivo por ela estar presente em algumas dietas de emagre-cimento. Devido à necessidade maior do organismo, conforme o tipo de treinamento, quem também adere à ração humana

são os praticantes de academia.Maickel Panassolo faz ques-

tão de frisar que ela não pode substituir a alimentação diária. “Não deve substituir a fruta, a salada, deve apenas agregar. in-dico, sem exagero, para adoles-centes e adultos, um shake no final da tarde”.

Ele explica que a ração hu-mana marca pontos na questão nutricional mas, ainda, não con-tém todos os elementos necessá-rios (vitaminas e minerais). “Em um determinado período poderá haver uma maior concentração de proteína e em um outro não, dependendo da influência do cli-ma ou outros fatores. É feita uma análise geral de que produtos uti-lizar, mas tudo depende de quem irá manipular”.

Por conter vários produtos agregados, o nutricionista avisa que o consumidor deve tomar cui-dado devido à contaminação de fungos ou de bactérias. “Analisar onde e como comprar, o tipo da embalagem, são alguns cuidados”.

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É assim que se escreve

matéria: Camila Souza

É assim que se escreve?

.

língua

odo país tem um idioma e todo idioma tem re-gras. Essas regras ser-vem para padronizar a língua dos falantes a tí-tulo de identidade nacio-nal e também para uni-formizar a comunicação formal em todo o terri-tório de um país. Se não houvesse padrão, as leis não teriam abrangência

nacional e nem os te-lejornais poderiam ser transmitidos em cadeia para toda a nação. Dessa forma, é possível dizer que a língua padroniza-da é a cola que mantém todas as regiões de um país unidas por um senti-mento de nacionalidade, algo do tipo: “falo portu-guês, sou brasileiro”.

T

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Eu venho dêrde menino,Dêrde munto pequeninoCumprindo o belo destinoQue me deu Nosso SenhôEu nasci pra sê vaquêro

Sou o mais feliz brasileiroEu não invejo dinhêroNem diproma de dotô

“ Você vê? Eu não falo certo, as pessoas percebem ” Chico Alves

Acontece que a história não é tão simples assim. Um país territorialmente grande como o Brasil possui diversas regiões, com variados povos de diversas etnias, idades e classes sociais. Essas diferenças se refletem na forma como as pessoas falam. É o que os especialistas chamam de “variações linguísticas”. A chefe do Departamento de Le-tras da Unicentro, professora Maria Cleci Venturini, explica que as variações linguísticas acontecem porque a língua, como elemento de cultura, é um tipo de comportamento social e não um elemento rígido e invari-ável. “A língua muda em relação às regiões, aos estratos sociais e também em relação às situações de fala, que podem ser mais ou menos formais e, também, àque-las relacionadas à escolaridade”.

As variações linguísticas ocorrem, em sua maioria, na língua falada. Na hora de es-crever textos e ler documentos, por exemplo, a norma padrão do nosso idioma deve ser seguida. A não ser que o escritor seja o pró-prio Patativa do Assaré com toda sua licença poética, textos gra-maticamente incorretos não são tolerados pela sociedade formal.

Exemplos disso são as redações de vestibular, que representam o ingresso de uma pessoa na vida acadêmica e uma ‘consequente’ ascensão social. Nesses exames, textos que não seguem a norma culta da língua são excluídos do processo de seleção. É na escola que deve ser trabalhado o discer-nimento entre a língua falada e a língua escrita.

A professora Venturini apon-ta que a norma padrão serve como uma “prescrição linguís-tica”, estabelecendo o que é ou não adequado para determina-das situações de fala. E é aí que

entra o papel da escola. Se por um lado, ela é lugar para refle-xão acerca das diferenças, por outro, é onde o conhecimento da norma padrão deve ser efetiva-do. A escola representa a opor-tunidade de aprender a norma culta, ou seja, a língua valorizada na sociedade letrada. De acordo com a professora, o papel da escola é abrir caminhos para a mobilidade social e minimizar o preconceito linguístico.

Francisco Alves nasceu e cresceu no interior do Paraná. De origem humilde, o mestre de obras nunca teve a oportunidade

de frequentar regularmente a es-cola. “Tive que trabalhar desde cedo para ajudar em casa, ir pra escola era um luxo”. Francisco diz que já passou por algumas si-tuações de preconceito e até per-deu oportunidades de emprego por causa de seu modo de falar. “Você vê? Eu não falo certo, as pessoas percebem”. Chico conta que até sua filha já o corrigiu al-gumas vezes, mas diz que hoje já não acha isso mais importante. “Eu vou lá, trabalho e trago co-mida para casa”.

O preconceito linguístico também pode ser desencadea-do por variações linguísticas de origem étnica. O índio Florêncio Rekayg Fernandes, pedagogo do Colégio Estadual indígena Kókoj Ty Han, já sentiu na pele a ne-cessidade de aprimorar seu por-tuguês para poder ingressar no Ensino Superior. Sua língua-mãe é o kaingaing e, como em todo aprendizado de segundo idioma, as dificuldades são frequentes. Florêncio aponta que, apesar da importância de preservar o idioma indígena, o aprendizado do português nas escolas indíge-nas é a principal forma que esse povo tem de conquistar direitos como cidadãos: ”Talvez, se não

a-b-

c-d

a-b-c-d

falássemos português, não seria possível várias conquistas para o nosso povo kaingang”.

A historiadora e professo-ra de alemão Monique Gartner também não teve o português como primeira língua. Nascida na colônia alemã de Guarapu-ava, Monique cresceu falando com a família o dialeto chamado Schwäbische e, depois que en-trou no Ensino infantil, aprendeu o alemão oficial. O português foi aprendido simultaneamente, pois é falado nas ruas, nas lojas e na TV, porém, foi nas séries do En-sino Fundamental, no qual são ensinadas as matérias em portu-guês como história e matemáti-ca, que Monique aprendeu o por-tuguês formal. “Mas, é evidente que a predominância do contato

com o dialeto dificulta um pouco a pronúncia mais correta do por-tuguês”. Para ela, é normal que, no início, haja certa dificuldade para distinguir os dois idiomas. “Vejo as crianças usarem a es-trutura do alemão na hora de falar português, além do ritmo linguístico, que também é dife-rente. Para quem é de fora, isso se torna engraçado”. A profes-sora diz que esse ritmo peculiar persiste até a vida adulta. “Até hoje me pego falando mais can-tadinho quando vou pedir algu-ma coisa em português”. Apesar do sotaque acentuado, Monique diz que nunca se sentiu alvo de preconceito direto. “Mais do que ser chamado de alemã pela turma da faculdade, nunca vi acontecer”, ri Monique.

Por maiores que sejam as diversidades linguísticas do por-tuguês, o preconceito acontece principalmente no âmbito social, com indivíduos de baixa renda que não tiveram acesso a um en-sino de qualidade. A professora Venturini comenta que é a esco-la que deve atuar nesse sentido a favor da adequação linguística “Cabe a ela ensinar a norma pa-drão e, também, que há um jeito de falar em casa, outro jeito de falar com o grupo de amigos e ou-tro, ainda, para transitar nas ins-tituições, mostrando que a forma inadequada de expressar-se pode resultar em exclusão e perda de oportunidades de melhores em-pregos ou de ascensão social”.

Talvez, se não falássemos

português não seria possível

várias conquistas para o

nosso povo kaingang

Florêncio

“é ASSIm quE SE ESCREVE”

O slogan dos anos 1980 da marca francesa Bic inspirou a pauta sobre variações e preconceitos linguísticos. A frase “é assim que se escreve”, revela a maneira como a norma culta é preponderante nos cenários sociais.

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