COMERCIALIZAÇÃO AGRÍCOLA

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    UNIVERSIDADE TECNOLGICA FEDERAL DO PARANPR

    Ministrio da Educao Universidade Tecnolgica Federal do Paran Campus Pato Branco Curso de Agronomia

    COMERCIALIZAO AGRCOLA

    JUDAS TADEU GRASSI MENDESi - Professor titular da UFPR - Phd em Economia Rural pela Ohio State University

    Autorizao de uso:

    Prof. MIGUEL ANGELO PERONDI Disciplina de Economia e Desenvolvimento Agrcola 3 ano da Agronomia

    Pato Branco - PR 2007

    i O autor contou com a inestimvel contribuio da professora VANIA DI ADDRIO GUIMARES, pela sua participao tcnica e na editorao.

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    SUMRIO

    1 - INTRODUO............................................................................................ 04 1.1 - Justificativa do estudo da comercializao................................................. 04 1.2 - Evoluo do sistema de comercializao.................................................... 05 1.3 - Conceitos bsicos........................................................................................ 06 1.4 - O agribusiness brasileiro............................................................................. 07 1.5 - A comercializao e o desenvolvimento.................................................... 13 1.6 - O papel da comercializao........................................................................ 15 1.7 - Dualismo tecnolgico na comercializao................................................. 15 1.8 - A comercializao nos pases em desenvolvimento................................... 16 1.9 - Caractersticas da produo e do mercado agrcola.................................... 17 2 - MTODOS DE ANLISE DA COMERCIALIZAO......................... 17 2.1 - Anlise funcional........................................................................................ 17 2.1.1 - Funes de troca.......................................................................... 17 2.1.2 - Funes fsicas............................................................................. 18 2.1.3 - Funes auxiliares....................................................................... 30 2.2 - Anlise institucional................................................................................... 38 2.2.1 - O ramo de distribuio de alimentos no Brasil........................... 39 2.2.2 - Integrao horizontal e vertical................................................... 41 2.3 - Anlise estrutural....................................................................................... 42 2.3.1 - Estrutura de mercado................................................................... 42 2.3.2 - Conduta de mercado.................................................................... 52 2.3.3 - Eficincia do mercado................................................................. 53 2.3.4 - Processo de comercializao....................................................... 53 2.3.5 - Canal de comercializao............................................................ 54 3 - CUSTOS, MARGENS E MARKUPS DE COMERCIALIZAO... 57 3.1 - Custos de comercializao......................................................................... 57 3.2 - Margens de comercializao...................................................................... 57 3.2.1 - Margem bruta de comercializao............................................... 57 3.2.2 - Margem lquita de comercializao............................................. 57 3.3 - Markup de comercializao........................................................................ 60 3.4 - Fatores que afetam a margem de comercializao..................................... 61 3.5 - Anlise grfica das margens....................................................................... 62 3.6 - A conta(despesas) da comercializao no tempo................................... 66 4 - ANLISE DE PREOS AGRCOLAS.................................................... 67 4.1 - Caracterstica bsica dos preos agrcolas................................................. 67 4.2 - Funes dos preos agrcolas..................................................................... 67 4.3 - Anlise temporal dos preos agrcolas....................................................... 68 4.3.1 - Anlise de tendncia.................................................................... 68 4.3.2 - Anlise de sazonalidade dos preos............................................ 71 4.3.3 - Anlise dos ciclos........................................................................ 80 4.3.4 - Anlise de aleatoriedade.............................................................. 80 5 - ALTERNATIVAS OU ESTRATGIAS DE COMERCIALIZAO.. 81 6 MERCADO A TERMO.............................................................................. 86 7 POLTICAS DE MERCADO AGRCOLA............................................... 94

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    PREFACIO 1a EDIO

    A presente apostila tem como objetivo fornecer um material didtico, ainda que parcial, para consulta e estudo dos estudantes e profissionais em cincias agrrias, em especial da UFPr.

    O autor pretende, em futuro breve, detalhar e expandir esse material tranformando-o em um livro-texto que melhor atenda as reais necessidades dos interessados em aperfeioar seus conhecimentos neste importante campo.

    A abordagem da comercializao agrcola est subdividida, neste trabalho, em sete partes. A primeira, considerada como uma introduo, analisa aspectos como justificativa do estudo da comercializao, evoluo do sistema de comercializao, conceitos bsicos, importncia do agribusiness, a comercializao e o desenvolvimento econmico, papel da comercializao, dualismo tecnolgico na comercializao, a comercializao nos pases em desenvolvimento e caractersticas da produo agrcola e do mercado agrcola. A segunda parte aborda os mtodos de anlise da comercializao, tais como funcional, institucional e estrutural. A terceira analisa os custos e margens de comercializao. A quarta faz uma anlise de comportamento de preos. A quinta parte enfoca as alternativas ou estratgias de comercializao. A sexta se preocupa com o mercado a termo: Hedging; e a stima analisa as polticas de mercado.

    Curitiba, 1996.

    O AUTOR

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    1 - INTRODUO

    1.1 - JUSTIFICATIVA DO ESTUDO DA COMERCIALIZAO

    Entre as vrias situaes que levam gerao e implementao de um programa de desenvolvimento agrcola esto o desajuste entre o crescimento da demanda e o da produo e o desequilbrio entre a produo para o mercado interno e a do externo. Esta falta de resposta da produo ante uma demanda crescente pode ser devido a: falta de incentivos econmicos (relao preo-custo), escassez de recursos, caractersticas estruturais (desajuste na estrutura de propriedade da terra), estabilidade monetria, e sistema de comercializao ineficientes.

    O sistema de comercializao inclui desde a existncia de uma rodovia ou ferrovia, ao estabelecimento e funcionamento de um poder comprador, ou a instalao de uma planta agroindustrial ou de um centro de armazenamento.

    Este aspecto de extraordinria importncia e muitas vezes constitui um dos principais pontos para a expanso da produo nos pases subdesenvolvidos. Com efeito, pode existir demanda efetiva e condies de disponibilidade de recursos, tcnica e capacidade empresarial para fazer crescer a oferta com relao a essa demanda. Mas, geograficamente, o crescimento da demanda pode estar concentrado em um ponto (zonas urbanas) e o crescimento da oferta em outro (zonas rurais), freqentemente muito distanciadas dos centros de consumo, e sem as conexes fsicas e comerciais adequadas entre elas. E, nesta situao, a oferta no crescer, ainda que haja uma adequada relao preos-custos e no existam obstculos do tipo institucional para impossibilidade de comunicao.

    Este fato que vale, em geral, para todo tipo de produo, adquire uma extraordinria importncia na produo agrcola. Nesta, por exemplo, a demanda de certos produtos pode crescer menos que sua oferta e, alm disso, ainda que demanda e produo cresam igualmente nos mesmos perodos, a grande perecibilidade dos produtos agropecurios faz com que no possam ser enviados dos centros de produo aos centros de consumo se no h meios de transporte adequados e rpidos, ou se no os submete a certos processos de transformao que aumentam sua durabilidade.

    Isto explica o extraordinrio efeito dinmico e mutiplicativo do processo de desenvolvimento que tem, para certas regies agrcolas, a construo de um rodovia ou ferrovia, a instalao de um frigorfico ou de uma indstria de processamento de frutas ou a industrializao do leite.

    Em todos estes casos existiam condies de demanda efetiva e oferta latente, mas faltava o meio adequado de comunicao entre elas. E apenas este meio se instala e comea a funcionar, a oferta se desenvolve quase que automaticamente.

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    Neste assunto vale a pena mencionar que no s a falta de meios fsicos de comunicao, industrializao ou razes de armazenamento que pode constituir um obstculo ao maior desenvolvimento da produo agropecuria. O funcionamento ineficiente do sistema de comercializao, ainda que existam os meios fsicos, pode atuar no mesmo sentido. Falta, por exemplo, de recursos econmicos suficientes, prprios ou obtidos em forma de crdito, do poder comprador, pode inibir o crescimento da produo, ainda que todas as demais condies favorveis sejam dadas. Da mesma forma, pode atuar um poder comprador do tipo monopsnico para o mercado interno ou a exportao que pretenda deprimir os preos que obtm os produtos em seu prprio benefcio, ou um poder comprador que no consiga regular os preos de modo a evitar as excessivas flutuaes destes, dando assim, insegurana aos produtores.

    1.2 - EVOLUO DO SISTEMA DA COMERCIALIZAO

    A anlise histrica do desenvolvimento das atividades de comercializao auxilia explicar alguns conceitos e instituies contemporneas, principalmente no caso especfico do Brasil, onde segmentos ainda muito primitivos, se mantm ao lado de setores ultramodernos.

    Historicamente, a comercializao apresentou seis estgios:

    a) Auto-suficincia (econmica dentro do grupo). b) Produo de excedente para o mercado local (era medieval). c) Produo de excedente para o mercado externo (era mercantilista). d) Melhoria na produo da utilidade de forma (revoluo industrial). e) Empresariado voltado para o setor de consumo. f) Empresariado voltado para o "marketing".

    BREIMEYER classifica a evoluo do processo de comercializao em quatro estgios:

    a) Auto-suficincia b) Organizao agrria c) Organizao Agrcola d) Organizao Industrial

    No primeiro estgio, mesmo os mais elementares tipos de mercado eram inexistentes. A auto-suficincia era obtida dentro do grupo social.

    A caracterstica dos trs primeiros estgios que os recursos produtivos e a demanda eram variveis puramente exgenas, onde o mercado no funcionava como coordenador das atividades de produo.

    Conforme COELHO, a natureza exgena da produo e da demanda juntamente com a doutrina de uma economia auto-regulada veio a perder substncia no ltimo estgio de evoluo do sistema de comercializao. Neste estgio, o advento de unidades econmicas integradas e o uso intensivo de capital

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    vieram reduzir, substancialmente, no somente o papel do mercado como regulador da economia mas tambm a "separao" anteriormente existente entre produo e demanda. Particularmente, as empresas passaram a ter maior poder de deciso e o sistema econmico como um todo passou a depender mais do esquema de comercializao. A utilizao de meios para influenciar o comportamento do mercado gradativamente transformou a comercializao de um papel meramente passivo, de subordinao completa s foras de oferta e demanda, em uma fora operacional e dinmica com muito mais instrumentos e reas de ao, traduzidos em maior poder.

    A utilizao de recursos, tecnologia, planejamento e o papel crescente do setor pblico so as caractersticas bsicas da organizao industrial.

    Neste ltimo estgio duas atividades tem sido largamente desenvolvidas. A primeira o uso intensivo de capital e tecnologia visando a transformao dos recursos disponveis e faze-los capazes de usos altamente variados. A segunda envolve o uso de tcnicas de persuaso para criar e/ou modificar a escala de preferncias dos consumidores, a fim de induzi-los a desejar o que seja mais factvel de ser produzido.

    Uma outra caracterstica deste estgio a tendncia das empresas tornarem-se de maior tamanho e mais integradas, ou seja, na direo da integrao horizontal e vertical. Est-se passando, portanto, de um sistema composto por firmas independentes orientadas para o mercado para um sistema de firmas integradas orientadas tambm para o mercado.

    Em concluso, constata-se que o incio da comercializao comeou com a gerao de excedente de produo, fruto em parte da especializao e em parte da tecnologia. Um outro aspecto da especializao o conseqente crescimento das reas urbanas, que por seu turno iro aumentar a demanda por alimentos. Da, a tendncia de se ter uma maior separao geogrfica entre a produo e o consumo, o que implica no aumento da importncia e o desenvolvimento da comercializao.

    1.3 - CONCEITOS BSICOS

    Comercializao

    Segundo BRANDT "entende-se por comercializao o desempenho de todas as atividades necessrias ao atendimento das necessidades e desejos dos mercados, planejando a disponibilidade da produo, efetuando transferncia de propriedade de produtos, provendo meios para a sua distribuio fsica e facilitando a operao de todo o processo de mercado".

    Em outras palavras, o desempenho de todas as funes ou atividades envolvidas na transferncia de bens e servios do produtor ao consumidor final. Para que os bens e servios reflitam a preferncia do consumidor, a comercializao comea antes da produo. Dessa maneira, o termo "transferncia" no significa apenas transporte, mas todas as demais operaes fsicas e envolve as aes desde a aquisio dos insumos para a produo.

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    Mercado

    Refere-se a uma rea, na qual compradores e vendedores tem as facilidades para negociar um com o outro e onde as foras de oferta e demanda atuam de modo a determinar os preos. O tamanho desta rea limitado pelo sistema de comunicao, transporte e caractersticas do produto. Por exemplo, produtos com grandes volumes ou perecveis apresentam um mercado com rea mais restrita.

    dentro desta viso ampla do que se chama de setor de comercializao, desde os insumos para a agricultura at o produto para consumo final, que se desenvolveu o conceito de Agribusiness, termo cunhado por dois economistas norte-americanos (Ray Goldberg e John H. Davis) num congresso sobre distribuio de alimentos, marcando definitivamente a forma moderna de pensar a agricultura. Agribusiness seria a soma do setor de comercializao (insumos e produtos) e da prpria agricultura (produo).

    1.4 - O AGRIBUSINESS BRASILEIRO

    Por agribusiness deve-se entender a soma total das operaes de produo e distribuio de suprimentos agrcolas, das operaes de produo nas unidades agrcolas, do armazenamento, do processamento e distribuio dos produtos agrcolas e itens produzidos a partir deles. Esto, consequentemente, neste conjunto todos os servios financeiros, de transporte, classificao, marketing, seguros, bolsas de mercadorias, entre outras. Todas essas operaes so elos de cadeias que se tornaram cada vez mais complexas medida que a agricultura se modernizou e a realizao de seu produto no mercado passou a depender mais e mais de servios que esto fora da fazenda.

    Dessa forma, o conceito engloba os fornecedores de bens e servios para a agricultura, os produtores rurais, os processadores, os transformadores e distribuidores e todos os envolvidos na gerao e fluxo dos produtos de origem agrcola at o consumidor final. Participam tambm desse complexo, os agentes que afetam e coordenam o fluxo dos produtos, tais como o governo, os mercados, as entidades comerciais, financeiras e de servios.

    Essa forma moderna de pensar a agricultura a viso sistmica, onde o todo maior do que a soma de suas partes. Essa viso contrape tradicional, que se concentra nos elementos do sistema, como segmentos independentes de um todo, desconsiderando o que h de mais importante num sistema: o mecanismo de interao entre os vrios elementos que o compem e, mais do que isso, os efeitos que as mudanas de um elemento podem trazer ao sistema com um todo.

    Para os empresrios, o estudo do agribusiness no um mero exerccio acadmico, mas um instrumental de grande importncia para o planejamento estratgico de suas empresas.

    A partir da matriz de insumo-produto de cada setor que levantada pelo censo econmico, possvel, por exemplo, inferir o efeito multiplicador na cadeia, de cada alterao da demanda. possvel, para um determinado cenrio sobre o

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    comportamento da renda nacional, projetar, por exemplo, como se comportaria o consumo de frangos a um estmulo de renda e, a partir da, estimar, segundo a anlise de insumo-produto, quanto ser necessrio aumentar a oferta de raes e, em consequncia, de milho e soja, ou quanto se utilizar a mais de insumos nessas lavouras. Informaes como esta ou sobre as tendncias de consumo so um importante sinalizador para investimentos das empresas.

    O termo agroindstria no deve ser confundido com agribusiness, pois o primeiro faz parte do segundo. No agribusiness, a agroindstria a unidade produtora integrante dos segmentos localizados nos nveis de suprimento produo, transformao e acondicionamento, e que processa o produto agrcola, em primeira ou segunda transformao, para sua utilizao intermediria ou final.

    O agribusiness envolve os agentes que produzem, processam e distribuem produtos alimentares, as fibras e os produtos energticos provenientes da biomassa, num sistema de funes interdependentes. Nele atuam os fornecedores de insumos e fatores de produo, os produtores, os processadores e os distribuidores.

    As instituies e organizaes do agribusiness podem ser enquadradas em trs categorias majoritrias. Na primeira, esto as operacionais, tais como os produtores, processadores, distribuidores, que manipulam e impulsionam o produto fisicamente, atravs do sistema. Na segunda, figuram as que geram e transmitem energia no estgio inicial do sistema. Aqui aparecem as empresas de suprimentos de insumos e fatores de produo, os agentes financeiros, os centros de pesquisa e experimentao, entidades de fomento e assitncia tcnica e outras. Por ltimo, situam-se os mecanismos coordenadores, como o governo, contratos comerciais, mercados futuros, sindicatos, associaes e outros, que regulamentam a interao e a integrao dos diferentes segmentos do sistema.

    As funes do agribusiness podem ser descritas em sete nveis, a saber: - Suprimentos produo; - Produo; - Transformao; - Acondicionamento; - Armazenamento; - Distribuio e, - Consumo.

    Em sntese, pode-se ter uma melhor viso do agribusiness de acordo com o quadro abaixo:

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    QUADRO 1.1 - A COMPLEXIDADE DO A G R I B U S I N E S S FORNECEDORES DE PRODUO PROCESSAMENTO DISTRIBUIO SERVIOS INSUMOS E BENS AGRO- E E DE DE PRODUO PECURIA TRASNFORMAO CONSUMO APOIO Sementes Prod.animal Alimentos Restaurantes Veterinrio Calcrio Lav.permanentes Txteis Hotis Agronmo Fertilizantes Lav.temporrias Vesturio Bares P&D Raes Horticultura Calado Padarias Bancrio Defensiv.agricolas Silvicultura Madeira Feiras Marketing Prods.veterinrios Extrao vegetal Bebidas Supermercado

    s Vendas

    Combustveis Indst.rurais lcool Comrcio Transporte Tratores Papel/papelo Exportao Armazenagem Colheitadeiras Fumo Porturios Implementos leos essenciais Assist. tcnica Mquinas Inform.

    mercado Motores Bolsas

    Mercad. Seguros FONTE: ABAG - Associao Brasileira de Agribusiness.

    Importncia Econmica do Agribusiness Brasileiro

    O agribusiness brasileiro, compreendendo o segmento de alimentos, fibras e energia renovvel (lcool de cana-de-acar), o maior negcio do pas, uma vez que representa: - quase um tero do seu produto interno bruto (PIB); - cerca de 40 % das receitas de exportaes do Brasil; - quase 40 % do total de emprego gerado no pas; e - a utilizao de mais da metade da frota nacional de caminhes;

    Estima-se que o valor agregado do agribusiness brasileiro esteja ao redor de US$ 140 bilhes por ano, o que representa cerca de 31,1 % do produto interno bruto (PIB) do pas (tabela 1.1). Os negcios do agribusiness brasileiro (de US$ 140 bilhes) absorvem 45,1 % do consumo total das famlias do pas. Nos Estados Unidos, o agribusiness representa cerca de 22 % do PIB, o que significa mais de um trilho de dlares anualmente, e o maior empregador de mo-de-obra naquele pas. No caso brasileiro, o agribusiness merece destaque pela sua importncia na gerao de empregos, uma vez que emprega em torno de 14 milhes de pessoas, ou seja, um quarto da populao economicamente ativa do pas. Cabe registrar, contudo, que no conceito mais abrangente de pessoal ocupado, a agropecuria emprega mais de 21 milhes de pessoas, numa demonstrao de que o setor rural do Brasil ainda extremamente intensivo no uso da mo-de-obra, em geral de precria capacitao. Ao longo das ltimas quatro dcadas, as grandes transformaes porque passou a economia e a sociedade brasileira, fizeram com que, de um lado, a agricultura em si tivesse a sua participao reduzida metade, em termos relativos (pois de quase 23 % do PIB do pas em 1950, atualmente de cerca de 11 %), enquanto, do outro lado, crescia em importncia a rede de servios que permitia fazer chegar a produo do campo mesa do consumidor. Com isso, a importncia do agribusiness cresceu, em termos relativos e absolutos, em contrapartida perda de expresso das atividades eminentemente agrcolas na riqueza nacional.

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    Entre as principais transformaes da economia e da sociedade brasileira esto o rpido processo de urbanizao e o crescimento (apesar da famosa "dcada perdida") da renda per capita nacional.

    Poucos pases no mundo viram, nos ltimos anos, suas cidades crescerem to rapidamente como o Brasil. Atualmente, trs em cada quatro brasileiros vivem em cidades, enquanto h quatro dcadas era exatamente o oposto. Em 1940, existiam no pas apenas 23 cidades com populao superior a 50 mil habitantes, sendo que apenas duas superavam um milho. Em 1980, esse total elevava-se a 234 cidades, das quais nove ultrapassam o milho. Atualmente, as nove maiores regies metropolitanas brasileiras concentram quase metade de toda a populao nacional. At o final do sculo, mais de 90 % dos habitantes dos estados do Rio de Janeiro e de So Paulo estaro vivendo em cidades, e 80 % nos demais estados.

    Na questo da renda per capita, apesar do grande problema da concentrao da mesma (ou seja, da pssima distribuio pessoal e regional), no se pode negar seu crescimento elevado, principalmente nas dcadas de 60 e 70. Basta dizer que, em 1961, a renda per capita brasileira era levemente superior a duzentos dlares por habitante, enquanto atualmente est prxima a trs mil dlares per capita.

    Esses dois fatores (urbanizao e renda), em conjunto, foram fundamentais para que o agribusiness brasileiro assumisse a importncia que tem agora, devido s mudanas radicais na cadeia de alimentos e fibras, tanto antes da porteira da fazenda (pesquisa e experimentao, sementes melhoradas, corretivos e fertilizantes, defensivos agrcolas, tratores, mquinas, combustveis, vacinas e medicamentos veterinrios), como principalmente depois da porteira da fazenda (armazenamento, transporte, processamento e distribuio de produtos agrcolas ou deles derivados).

    Com base nos dados dos Censos Agrcolas e Industriais, pode-se decompor estimativamente os valores dos grandes elos da cadeia do agribusiness brasileiro, da seguinte maneira:

    - O valor dos insumos e dos bens de produo para a agricultura alcana US$ 11 bilhes, sendo que em 1980 era de US$ 8,5 bilhes (a decomposio mostrada no captulo II).

    - O valor da produo da agropecuria est ao redor de US$ 35 bilhes (ou seja, este setor adiciona US$ 24 bilhes), assim distribuido: US$ 21,3 bilhes gerado pela produo vegetal e US$ 13,7 bilhes pela produo animal.

    - O valor da produo j processada (alimentos, bebidas, fumo, fibras txteis naturais, vesturio, calados, madeira, papel e papelo, entre os principais) estimado em US$ 102,8 bilhes (ou seja, o valor adicionado pela rea de processamento de US$ 67,8 bilhes, o que significa uma participao de 48,4 % do valor global da agribusiness brasileiro.

    - O valor da produo do sub-setor de distribuio de US$ 140 bilhes, cujo valor adicionado de US$ 37,2 bilhes.

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    TABELA 1.1 - ESTIMATIVA DO VALOR DO AGRIBUSINESS BRASILEIRO, 1980 E 1993.

    PARTICIPAO SETORES VALOR (em bilhes de dlares) (%) NO VALOR DA PRODUO ADICIONADO ADICIONADO 1980 1993 1980 1993 1980 1993 Insumos 8,5 11,0 8,5 11,0 11,4 7,8 Agropecuria 29,3 35,0 20,8 24,0 27,8 17,2 Processamento 52,1 102,8 22,8 67,8 30,5 48,4 Distribuio 74,7 140,0 22,6 37,2 30,3 26,6 T O T A L - - 74,7 140,0 100 100 FONTE: AGROCERES para o ano 1980; Estimativa do autor para 1993.

    Convm destacar que do valor global do processamento agroindustrial (estimado em US$ 102,8 bilhes), o grupo alimentos tem a maior importncia, uma vez que o faturamento da indstria agroalimentar avaliado em US$ 45 bilhes para o ano de 1993, contra US$ 24,0 bilhes em 1980. Estima-se que o valor do processamento agroindustrial tem a seguinte composio:

    TABELA 1.2 - COMPOSIO DO VALOR DO PROCESSAMENTO AGRO-INDUSTRIAL NO BRASIL, 1980 E 1993.

    1980 1993 GRUPOS US$ bilhes % US$ bilhes % Alimentos 24,0 46,1 45,0 43,8 Madeira/papel e papelo 8,2 15,7 13,5 13,1 Txteis 6,5 12,5 12,0 11,7 Vesturio e calados 5,8 11,1 11,0 10,7 Bebidas 1,8 3,5 6,5 6,3 Fumo 0,9 1,7 5,8 5,7 lcool 1,2 2,3 3,5 3,4 Consumo rural 2,7 5,2 3,5 3,4 leos, essncias 1,0 1,9 2,0 1,9 T O T A L 52,1 100 102,8 100

    FONTE: FIBGE, FGV E AGROCERES para 1980 e Estimativa do autor para 1993.

    O Agribusines Brasileiro no Comrcio Internacional

    Quanto s exportaes, o agribusiness brasileiro contribui com cerca de 40 % das vendas do pas no exterior, o que corresponde a quase 15 bilhes de dlares em 1993. Em 1989, sua participao foi de US$ 13 bilhes para a receita cambial do Brasil. Historicamente, os produtos agropecurios "in natura" e os processados responderam por substancial parcela das exportaes do pas, com uma parcela que variou em torno de 70 % no perodo de 1940-70. Com a diversificao da pauta de exportaes e com a queda no preo das commodities agrcolas na primeira metada da dcada de 80, a participao relativa do agribusiness no comrcio exterior brasileiro passou a ser menor. Em valor absoluto, contudo, aumentou.

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    Considerando-se apenas os principais produtos exportados do agribusiness brasileiro, em 1993, tem-se que os calados e o farelo de soja foram os dois principais com US$ 1.945 milhes e US$ 1.815 milhes, respectivamente, que juntos contribuiram com quase 10 % do valor global das exportaes brasileiras. Os nove principais produtos, em conjunto, totalizaram US$ 8,6 bilhes em 1993, ou seja, foram responsveis por mais de um quinto da receita cambial brasileira.

    Com relao s vendas externas apenas dos produtos alimentares industrializados, na mdia dos anos 80, o valor foi de cerca de US$ 5,6 bilhes anuais. Nos dois ltimos anos (1992-93), a exportao total de alimentos industrializados gerou um valor mdio em torno de US$ 6 bilhes/ano. O aumento das exportaes para o Mercosul, ou seja, para a Argentina, influiu fortemente para esse bom desempenho.

    TABELA 1.3 - VALOR EXPORTADO COM OS NOVE PRINCIPAIS PRODUTOS DO AGRIBUSINESS BRASILEIRO, EM 1993.

    PRODUTOS US$ milhes Participao Variao (1993) em % (*) sobre 1992 Calados 1.945,1 5,0 32,0 Farelo de soja 1.815,0 4,7 13,7 Caf cru, em gro 1.064,9 2,7 9,7 Soja em gro 945,5 2,4 16,9 Suco de laranja 826,2 2,1 - 21,5 Fumo em folhas 697,0 1,8 - 13,2 Carne de frango 568,5 1,5 28,5 Couros e peles 403,0 1,0 3,4 Acar cristal 346,8 0,9 114,6 Sub-total dos 9 8.612,0 22,2 - TOTAL DO AGRIBUSINESS 15.000,0 100 10,0 FONTE: MICT/DECEX (*) Em relao ao valor das exportaes totais do Brasil.

    O agribusiness indiscutivelmente o setor-lder na insero do Brasil no comrcio internacional. Entre todos os setores da economia nacional, a agropecuria o mais aberto e competitivo no cenrio internacional. A parcela de mercado detida pelo Brasil no mercado mundial de alimentos e fibras permanece artificialmente baixa e s no maior por dois conjuntos de restries, um de ordem externa (os elevados subsdios concedidos pelos pases desenvolvidos aos seus agricultores, ou seja, o protecionismo mundial), e outro de ordem interna (baixa produtividade e infra-estrutura inadequada).

    Muito embora, o potencial de comrcio do agribusiness brasileiro seja muito grande e j poderia ser muito maior do que atualmente, mesmo assim, o Brasil ocupa posio de destaque entre os demais pases que produzem e exportam mercadorias elaboradas pelo agribusiness, conforme pode ser visto quadro a seguir:

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    QUADRO 1.2 - POSIO DO BRASIL NO RANKING MUNDIAL NA PRODUO E EXPORTAO DE PRODUTOS DO AGRIBUSINESS, 1988.

    POSIO NO RANKING PRODUO EXPORTAO Caf Suco de laranja Caf 1 Cana-de-acar Suco de laranja Accar e lcool leo e farelo de soja Mandioca Pimenta Banana Soja (gro/leo/farelo) Soja em gro 2 Cacau Tabaco Castanha de caju Cacau Pimenta Carne bovina Carne de frango Carne de frango 3 Milho leo de amendoim Mamona Couro 4 Fumo Acar Carne suna 5 Juta Carne bovina Algodo 6 Ovos Algodo Mel Cigarros 7 Txteis leo de amendoim 8 Arroz Leite 9 Amendoim Papel Papel FONTE: ABAG, in Segurana Alimentar, 1993.

    1.5 - A COMERCIALIZAO E O DESENVOLVIMENTO

    Em geral, so objetivos do desenvolvimento:

    Aumento na taxa de crescimento do produto interno per capita. Pleno emprego da fora de trabalho ou pelo menos uma taxa de desemprego

    aceitvel. Maior igualdade na distribuio da renda.

    O processo de desenvolvimento implica na transformao das economias rurais baseadas na indstria. Conforme COELHO, o desenvolvimento do sistema de comercializao de produtos agrcolas est estreitamente relacionado com o desenvolvimento global da economia. Na medida em que o processo de desenvolvimento se amplia, a crescente concentrao populacional em reas urbanas, aliada aos aumentos reais na renda "per capita" geram dois fatores fundamentais. O primeiro, naturalmente, diz respeito dependncia cada vez mais

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    acentuada da sociedade como um todo no esquema da comercializao. O segundo refere-se a mudana na composio e organizao das atividades comerciais agrcolas, usualmente traduzidas na forma de um maior grau de especializao e eficincia".

    Portanto, h evidncias de que com o desenvolvimento econmico aumenta:

    a especializao da mo-de-obra; a adoo de novas tecnologias; a separao geogrfica entre produo e consumo; a renda per capita.

    Isto, em conseqncia, provoca uma maior demanda dos servios da comercializao, tornando-os mais complexos.

    A comercializao pode desempenhar papel ativo no desenvolvimento atravs de:

    preos baixos de alimentos possibilidades de baixos salrios nominais no setor no agrcola (mas altos

    salrios reais). promoo da expanso da demanda de produtos agrcolas (Exemplo: soja). estimulo criao de empregos. Promoo da produo e a distribuio de alimentos que melhor reflitam a

    preferncia do consumidor. Incremento do nvel de renda agrcola.

    Para ROSTOW para haver desenvolvimento econmico so necessrias duas condies bsicas:

    crescimento equilbrio entre os setores urbano e rural Integrao do mercado nacional, cujo papel o aumento da produtividade agrcola

    e melhoria na comercializao agrcola atravs de maior eficincia e inovao tecnolgica.

    Por outro lado, ABBOTT enfatiza trs condies importantes para assegurar uma demanda de mercado que oferea os incentivos necessrios produo:

    Preos razoavelmente estveis para os produtos agrcolas, a um nvel compensador.

    Facilidades adequadas no mercado. Sistema satisfatrio de posse da terra.

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    1.6 - PAPEL DA COMERCIALIZAO

    A comercializao deve facilitar a responder os problemas econmicos "o que" e "quanto" produzir, "quando", "como" e "onde" distribuir os produtos, e sob que "forma". Em outras palavras, isto significa:

    ORIENTAR A PRODUO, ou seja, transmitir aos produtores sobre uma demanda existente.

    ORIENTAR O CONSUMO, atravs da promoo, visando aumentar a demanda (exemplo: soja na alimentao humana).

    PRODUO DA UTILIDADE:

    de posse, atravs da troca. de lugar, atravs do transporte, colocar as mercadorias no local adequado para

    os consumidores. de tempo, atravs do armazenamento, dispor da produo no momento certo. de forma, atravs de processamento, beneficiamento e embalagem, os produtos

    podem sofrer alteraes visando atender s necessidades humanas.

    Conquanto existiam muitos objetivos sociais e econmicos para os quais o sistema de comercializao possa contribuir, as metas fundamentais e diretas do sistema parecem ser duas:

    adotar os servios de transferncia de mercadorias do produtor ao consumidor, de qualidades eficientes e econmicas;

    prover de um mecanismo eficiente a determinao de preos.

    1.7 - DUALISMO TECNOLGICO NA COMERCIALIZAO

    Alguns produtos no Brasil, apresentam uma acentuada diferenciao em termos tecnolgicos, a nvel de produo, quando comparados com o processo de outras culturas. Esta diferenciao, na produo se segmenta a nvel de comercializao. A soja e o feijo so bons exemplos. A soja, um produto mais voltado para o mercado externo, relativamente ao feijo, apresenta as seguintes caractersticas:

    - Utilizao mais intensiva de insumos modernos - Maior grau de mecanizao - Maior facilidade acesso ao crdito - Maior volume de produo por propriedade - Maior organizao dos produtores. - Demanda relativamente mais elstica a preos

    Estes fatores, em conjunto, possibilitam que, a nvel de comercializao, as vendas da soja ocorram em grandes lotes, com menor nmero de intermedirios que se utilizam de economias de escala, permitindo em conseqncia mais eficincia e menor margem de comercializao.

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    J o feijo, (cultura produzida por pequenos produtores com baixa tecnologia, e com elevada parcela da produo destinada ao autoconsumo) comercializado em pequenos lotes por um grande nmero de intermedirios, mais ineficientes e com maior margem de comercializao.

    Estas caractersticas devem ser levadas em considerao, tendo em vista que elas esto relacionadas com a estrutura do mercado.

    1.8 - A COMERCIALIZAO NOS PASES EM DESENVOLVIMENTO

    H uma crena nos pases em desenvolvimento de que os seus sistemas de comercializao so explorativos, economicamente ineficientes e operam com elevadas margens de lucro. s vezes, o sistema comercializao, em pases de baixa renda, no so competitivos, fazendo com que as disparidades de preos regional e temporal sejam resultados de elementos monopolsticos e especulativos. Contudo, normalmente o nmero de intermedirios muito grande para permitir o monopsnio, e ento as diferenas acentuadas de preos so devidas: a) falta de transporte adequado, b) interveno governamental na movimentao do produto (exemplo: ICMS).

    Os lucros exagerados, nestes pases, so devidos aos seguintes fatores: baixos volumes de operao (no utilizao das vantagens de economia de escala), especulao, e habilidade para julgar a tendncia de mercado, estoques e estimativa do volume da nova colheita. Em vista disso, levantam-se hipteses tais como:

    As imperfeies na comercializao, nos pases de baixa renda resultam da falta de conhecimento e condies inadequadas de transporte e armazenagem.

    Os problemas de transporte fazem com que os produtos perecveis sejam produzidos prximos ao centro consumidor.

    As perdas de estocagem, nos climas tropicais, so grandes.

    Dessa forma, melhorias nas condies da comercializao contribuem para:

    Um melhor uso da produo. Aumentar a produo, pela reduo do custo de comercializao, o que

    possibilitaria melhor preo para o produtor. Aumentar o valor econmico do produto devido ao melhor desempenho na

    criao de utilidades. Expandir a rea de mercado (exemplo: a utilizao de caminhes frigorficos).

    Para ROSTOW, um setor rural moderno, adicionado de um sistema de comercializao eficiente, constitui a base essencial da industrializao e diversificao de uma economia.

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    1.9 - CARACTERSTICAS DA PRODUO E DO MERCADO AGRCOLA

    Tanto a nvel de produo como de mercado, os produtos agrcolas possuem caractersticas prprias que os diferenciam dos produtos industriais. Tais caractersticas so: 1. Dificuldade de controlar a produo devido ao grande nmero de produtores; 2. Dificuldade de prever o volume de produo por causa dos fatores incontrolveis

    (clima, pragas, doenas); 3. Produo sazonal, cujos reflexos so negativos sobre o transporte,

    armazenamento e processamento; 4. Produtos volumosos e perecveis (maior custo de estocagem e transporte); 5. Inelasticidade-preo da demanda, resultando em maiores variaes nos preos

    do produto; 6. Inelasticidade-renda dos produtos agrcolas. Com relao a esta caracterstica

    afirma FELDENS "nos pases de renda mais alta a elasticidade-renda relativamente baixa, entre 0,01 e 0,02. Isto significa que o crescimento da demanda de produtos agrcolas depende mais do crescimento da populao do que do aumento da renda da mesma. Em pases de renda mais baixa, a situao um pouco diferente. A elasticidade-renda para produtos agrcolas relativamente mais alta, variando entre 0,30 e 0,50. Mesmo assim, havendo um aumento na renda da populao em 10 porcento, o aumento no consumo de alimentos seria em torno de 3,0 a 5 porcento. No caso de ocorrer um aumento na renda, conjugado com um aumento da populao, sem um aumento substancial na oferta interna de produtos agrcolas, ocorrer um aumento nos preos ou o racionamento de produtos agrcolas.

    2 - MTODOS DE ANLISE DA COMERCIALIZAO Nesta seo so abordadas trs alternativas de anlise do sistema de comercializao ou seja, anlise funcional, anlise institucional e anlise estrutural.

    2.1 - ANLISE FUNCIONAL Uma alternativa de classificar as atividades que ocorrem no processo de comercializao dividir esses processos em FUNES. Uma funo de comercializao definida como uma atividade especializada, desempenhada durante as diversas fases da comercializao. Portanto, a anlise funcional o estudo das diversas funes ou servios que so executadas durante o processo de comercializao. As funes de comercializao so atividades que, como tem que ser realizadas, devem ser simplificadas mas jamais eliminadas. A anlise das funes til para: a) avaliar os custos de comercializao dos intermedirios b) comparar os custos dentro de uma mesma categoria de intermedirios. c) Entender a diferena nos custos de comercializao entre os produtos.

    2.1.1 - FUNES DE TROCA - Compra - Venda - Formao de preos Estas funes envolvem a transferncia de propriedade dos bens, criando a utilidade de posse.

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    2.1.2 - FUNES FSICAS

    - Transporte - Armazenamento - Processamento, beneficiamento e Embalagem

    So as atividades relacionadas com o manuseio e a movimentao das mercadorias. Estas funes tentam resolver os problemas de "quando" e "onde" comercializar, e "sob que forma" ("in natura", industrializado). A funo de transporte a de possibilitar que as mercadorias estejam disponveis no lugar desejado pelos consumidores. Esta alternativa envolve a escolha das diferentes rotas e tipos de transporte (rodovirio, ferrovirio, fluvial, martimo e areo) que permitem reduo de custos. Sua funo a utilidade de lugar. importante ressaltar que tendo em vista a crescente separao geogrfica entre produo e consumo, o transporte tem assumido cada vez maior importncia.

    2.1.2.1 - ANLISE ECONMICA DO TRANSPORTE A malha rodoviria brasileira (incluindo as estradas federais, estaduais e municipais) est em torno de 1.583.172 quilmetros, dos quais apenas 8,5 % (136 mil km) esto pavimentadas (nos EUA de 6,2 milhes de km). Estima-se que a frota brasileira de caminhes esteja ao redor de 1 milho de veculos. Quanto s ferrovias, dos 36 mil quilmetros existentes no Brasil, 30 mil foram construdas antes de 1930 e somente 29.800 so efetivamente utilizadas, que transportam anualmente em torno de 40 bilhes de toneladas por quilmetro til (TKU). Para fins de comparao, os EUA tem 309 mil quilmetros de ferrovias, que transportam 1,5 trilho de TKU. No Brasil, estima-se que aproximadamente 70 % do transporte de cargas realizado por caminhes, embora os dados da tabela abaixo (que so questionados) mostre um percentual menor. Na URSS, Japo, EUA e em outros pases desenvolvidos, esse percentual gira entre 20 e 30 %.

    TABELA 2.1 - VOLUME DE CARGAS TRANSPORTADAS NO BRASIL, EM MILHES DE TONELADAS/QUILMETRO, E RESPECTIVA PARTICIPAO POR TIPO DE TRANSPORTE, 1978 E 1988.

    MODALIDADE 1978 1988 VOLUME % VOLUME % RODOVIRIO 275.440 70,3 76.480 57,6 FERROVIRIO 63.989 16,3 105.600 22,0 HIDROVIRIO (a) 39.508 10,1 76.800 16,0 DUTOVIRIO (b) 11.095 2,8 19.200 4,0 AREO 1.792 0,5 1.920 0,4 TOTAL 391.824 100,0 480.000 100,0

    FONTE: ANURIO ESTATSTICO DOS TRANSPORTES (a) inclui cabotagem (b) inclui gasodutos. OBS: 1 TKU = 1 tonelada transportada em 1 km. Dos 40 bilhes de TKU, os principais produtos

    transportados so: minrio de ferro (15 bi), derivados de petrleo (5 bi), produtos agrcolas (5 bi), cimento (3 bi), calcrio (2,5 bi), carvo mineral (1,5 bi) e outros (5 bi).

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    Este fenmeno decorrncia primeiramente do custo total para o usurio das diferentes modalidades de transporte. A Figura 2.1 mostra a relao entre o custo total e a distncia em quilmetros nas modalidades rodoviria, ferroviria e de navegao martima. Os dados revelam que o transporte rodovirio economicamente indicado para distncias at 300 km em relao ao ferrovirio, e at 500 km em relao ao de cabotagem. Estes valores, evidentemente, variam de acordo com a classe de produtos e com os custos dos fatores necessrios aos transportes, bastando citar a influncia causada por alteraes nos preos dos combustveis. Afora o aspecto das taxas (apresenta tarifas mais baixas que as cobradas pelas ferrovias para cargas pequenas e/ou curtas distncias), o transporte rodovirio preferido ao trem porque: a) permite "entrega na porta"; b) tem maior rapidez na entrega; c) possibilita maior flexibilidade de rotas; d) submete as mercadorias a menos choques e a menor manuseio, permitindo o uso de embalagens mais simples, mais leves e mais baratas, e constituindo-se no meio de transporte indicado para as mercadorias mais susceptveis de avarias.

    Custo ou frete Rodovirio

    Ferrovirio

    Cabotagem

    0 300 500 Km

    FIGURA 2.1 - RELAO ENTRE DISTNCIA (Km) E CUSTO TOTAL PARA O USURIO DO TRANSPORTE NAS MODALIDADES RODOVIRIAS, FERROVIRIA E NAVEGAO MARTIMA.

    Prev-se para os prximos anos um crescimento substancial da tonelagem/quilmetro, para abastecer tanto o mercado externo como o interno. E mesmo que haja uma ampliao substancial dos transportes ferrovirio e hidrovirio, a participao percentual do transporte rodovirio no transporte total poder cair somente at certo ponto. Alm disso, como a maior parte dos transportes ferrovirio e hidrovirio se constitui basicamente de minrios, cimentos, produtos siderrgicos, cargas pesadas e determinados gros e cereais, tudo indica que a maior parte da produo agrcola continuar sendo transportada por rodovias.

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    Os problemas de movimentao de safras tendem a crescer ano aps ano, exigindo planejamento e investimentos de infra-estrutura.

    A falta de transportes responsvel por altos custos de comercializao e pela predominncia de uma agricultura de subsistncia.

    Finalmente, constata-se acentuada deficincia de veculos refrigerados para transporte de produtos perecveis. Este fato, entre outras razes, decorre do custo destas unidades, de dificuldades na distribuio e da necessidade de boas ligaes rodovirias e ferrovirias.

    Vamos agora mostrar o aspecto econmico do comrcio entre duas regies (figura 2.2). Primeiro, para que haja comrcio entre duas regies h necessidade de:

    a) diferenciao nos custos de produo, de modo que uma regio tenha vantagem comparativa em relao outra.

    b) As diferenas de preos entre ambas as regies pelo menos cobrirem os custos de transporte.

    PE o preo que vigoraria na regio exportadora se toda a sua produo fosse consumida localmente. Qualquer preo acima de PE gera um excesso de oferta (ES ). PI o preo que vigoraria na regio importadora se o seu consumo fosse atendido apenas pela produo local. Qualquer preo abaixo de PI gera um excedente de demanda (ED)

    Se o custo de transporte fosse zero, o preo em ambas as regies deveria ser igual (Po). Neste caso, a regio importadora compraria da regio exportadora a quantidade Qo, que igual ao segmento ab. Assim, o preo na regio produtora seria maior do que sem o comrcio, o que estimularia a produo local nesta regio. Na regio importadora o preo seria menor do que sem o comrcio, o que significa um desestmulo produo local e um aumento no consumo, cujo dficit de oferta seria complementado pela importao.

    Considerando-se que o custo de transporte maior que zero (segmento tt), observa-se que haver uma diminuio no volume comercializado entre as regies (cd < ab), uma reduo no preo na regio exportadora e um aumento hipottico de custo de transporte zero. Isto significa que quanto maior o custo de transporte, menor o estmulo ao comrcio entre regies.

    Estudo efetuado pela OCEPAR mostra que os custos totais de transporte com um caminho pesado (carreta com 27 t de carga) so de US$ 0,58 quilmetro, sendo que os custos variveis so de US$ 0,39/km (dois teros) e os custos fixos somam US$ 0,19/km. Para um caminho mdio (trucado, com 14 t de carga) esses custos so US$ 0,33, US$ 0,20 e US$ 0,13 por km, respectivamente.

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    TABELA 2.2 - CUSTOS FIXOS E VARIVEIS DE TRANSPORTE RODOVIRIO DE CARGAS, 1991

    ITENS DE CUSTO CAMINHO PESADO (27 t) CAMINHO MDIO (14 t) Cr$/Km (*) US$/Km Cr$/Km (*) US$/Km I. Variveis 1.1. Comb, lubrif, filtr 48,21 0,19 23,74 0,09 1.2. Pneus, cmaras 16,66 0,07 7,53 0,03 1.3. Conservao 1.51 0,01 0,76 0,01 1.4. Reparos 9,96 0,04 4,80 0,02 1.5. Mo-de-Obra 7,60 0,03 5,68 0,02 1.6. ICMS 14,56 0,06 7,80 0,03 SUBTOTAL 98,50 0,39 50,31 0,20 II. FIXOS 2.1. Depreciao 15,91 0,06 10,54 0,04 2.2. Remunerao 7,28 0,03 4,82 0,02 2.3. Seguros 10,35 0,04 6,21 0,02 2.4. Licenciamento 1,33 0,01 0,61 0,01 2.5. Mo-de-Obra 5,59 0,02 4,78 0,02 2.6. Administrao 7,59 0,03 4,06 0,02 SUBTOTAL 48,05 0,19 31,03 0,13 CUSTO TOTAL 146,55 0,58 81,34 0,33

    FONTE: Dados Brutos OCEPAR (*) Preos de abril de 1991. Considerou-se que os caminhes rodam em mdia 120.000 km/ano, (10

    anos).

    Os dados da tabela abaixo, coletados pelo autor em vrios estudos, mostram a relao entre o custo total de transporte rodovirio e o ferrovirio, onde para distncias pequenas (at +/- 200 km) o custo rodovirio menor e representa menos da metade do rodovirio.

    TABELA 2.3 - CUSTOS TOTAIS E PREOS DE FRETE NO TRANSPORTE FERROVIRIO E RODOVIRIO, NO BRASIL.

    DISTNCIA CUSTO (US$/t) PREO DO FRETE (US$/t) (quilmetros) FERROVIRIO RODOVIRIO FERROVIRIO RODOVIRIO

    60 1,86 1,29 5,00 10,51 100 2,86 2,15 6,71 14,92 250 6,36 5,37 12,00 24,50

    1.100 10,37 23,63 18,13 31,08 1.350 13,61 29,00 21,70 34,75

    FONTE: Cia Vale do Rio Doce

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    Influncia do custo de transporte na viabilidade econmica das exploraes agropecurias.

    Com base no valor do lucro por unidade de uma cultura ou criao e nos custos de transporte da produo, pode-se fazer algumas consideraes a respeito das distncias do mercado nas quais compensadora a explorao da referida atividade. Para tanto, os dados apresentados na tabela abaixo listam quatro diferentes linhas de explorao ou atividades, em termos de lucros e respectivos custos de transportes.

    Atividade Lucro por ha, sem

    considerar os custos de transporte

    Custo de transporte por Km da quantidade produzida por

    ha A 700 1,75 B 500 0,71 C 330 0,33 D 195 0,15

    Antes de serem considerados os custos de transporte a atividade A aparece como a mais rentvel. Por outro lado, ela , tambm, a que apresenta os maiores custos de transporte. O valor do lucro lquido por hectare (L) para as atividade A e B, por exemplo, dado por:

    La = 700 - 1,75 d ; Lb = 500 - 0,71 d

    onde "d" a distncia ao mercado, em quilmetros. Assim, para uma distncia de 400 km, a atividade A resultar em lucro zero, e a partir da, esta atividade passa a ter prejuzo.

    A figura abaixo ilustra as distncias em que uma atividade mais econmica que a outra, ao igualar-se as equaes para cada duas atividade (A e B, por ex.). Assim, at 192,3 km, a atividade A resulta num lucro maior que a atividade B.

    Lucro por A hectare

    e 363,47 B f C g D

    192,3 Km FIGURA 2.3 - VARIAO DO LUCRO DA ATIVIDADE EM FUNO DA

    DISTNCIA AO MERCADO

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    Se estivermos analisando a situao de uma empresa localizada, por exemplo, a 500 km do mercado, devemos determinar para essa distncia a viabilidade e a ordem de lucratividade das atividades, conforme tabela abaixo.

    ORDEM DE LUCRATIVIDADE

    ATIVIDADE LUCRO LQUIDO POR ha

    1 C 165 2 B 145 3 D 120 4 A -175

    2.1.2.2 - ANLISE ECONMICA DO ARMAZENAMENTO

    Devido ao fato de a produo agrcola ser altamente estacional, enquanto o consumo relativamente constante ao longo do ano, a funo do armazenamento produzir a utilidade de tempo, permitindo a disponibilidade das mercadorias no momento desejado pelos consumidores. Atravs do armazenamento, que permite uma melhor distribuio da produo ao nvel das taxas de consumo, consegue-se uma acentuada reduo na variabilidade dos preos dos produtos armazenados, trazendo, em conseqncia, efeitos positivos sobre a renda do produtor e estimulando a produo dos anos seguintes.

    TABELA 2.4 - CAPACIDADE DAS UNIDADES ARMAZENADAS SEGUNDO O TIPO DE PROPRIEDADE, BRASIL, 1987

    PROPRIEDADE ARMAZ.

    CONVENC. E INFLVEIS (1000m3)

    ARMAZ. GRANE. E GRANELIZ.

    (1000t)

    SILOS (1000t)

    GOVERNO 14.114 1.663 987 PRIVADO 67.423 12.103 6.997 COOPERATIVA 15.841 8.816 3.878 ECON. MISTA 7.314 1.176 857 TOTAL 104.693 23.759 12.721

    TABELA 2.5 - UNIDADES ARMAZENADORAS, SEGUNDO GRUPOS DE CAPACIDADE TIL, 1987.

    CAPACIDADE ARMAZ. CONVENC. E INFLVEIS

    ARMAZ. E SILOS GRANEL

    (1.000 m3) % (1.000 t) % < 1.000 1.475 1,4 239 0,7 1.000 a 5.000 13.271 12,7 2.669 7,3 5.000 a 10.000 13.540 13,0 2.861 7,8 10.000 a 50.000 42.333 40,4 17.370 47,6 50.000 a 100.000 15.543 14,8 7.039 19,3 100.000 a 200.000 9.904 9,5 4.763 13,1 > 200.000 8.624 8,2 1.537 4,2 TOTAL 104.693 100,0 36.480 100,0

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    TABELA 2.6 - CAPACIDADE DAS UNIDADES ARMAZENADORAS, SEGUNDO AS GRANDES REGIES, 1987.

    REGIES ARMAZ. CONVENC. E INFLVEIS

    ARMAZ. E SILOS GRANEL

    (1.000 m3) % (1.000 t) % NORTE 1.932 1,8 39 0,1 NORDESTE 12.458 11,9 751 2,0 SUDESTE 40.842 39,0 4.760 13,1 SUL 35.220 33,7 21.812 59,8 CENTRO-OESTE 13.238 13,6 9.116 25,0 BRASIL 104.693 100,0 36.480 100,0

    Com relao aos aspectos econmicos da armazenagem (figura 2.4) observa-se que se toda a oferta SS fosse consumida no perodo da safra (demanda D1 perodo da safra e demanda D2 perodo da entressafra) o preo seria Po. Qualquer preo acima de Po gera um excesso de oferta que ser consumido na entressafra (D2). Se o custo de armazenagem fosse zero, na safra (primeiros seis meses da colheita) a quantidade consumida seria 0a, e assim seria reservado para a entressafra (do 7 ao 12 ms aps a colheita) a quantidade Ob, que igual quantidade aS, cujo preo em ambos os perodos seria PE.

    Com o custo de armazenagem mn haver um consumo maior no perodo da safra (quantidade 0c) que ser consumida ao preo P1, enquanto na entressafra a quantidade consumida ser 0d ao preo P2. Portanto, quanto maior for o custo do armazenamento, maior a diferena de preos entre o perodo de safra e de entressafra.

    S

    m P2 ES

    PE 0b = aS

    P1 0d = cS n P0 D2 D1

    b d 0 a c S

    mn = (P2 - P1 ) = Custo de armazenamento

    FIGURA 2.4 - ECONOMIA DO ARMAZENAMENTO

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    2.1.2.3 - PROCESSAMENTO, BENEFICIAMENTO, EMBALAGEM

    O setor produtor de alimentos representa uma parcela expressiva da atividade industrial brasileira. Dados oficiais do ltimo levantamento censitrio, relativo a 1985, mostram que 20,8 % do total dos estabelecimentos industriais no Brasil produzem alimentos, empregando cerca de 13,3 % do total do pessoal ocupado. o maior gnero da indstria de transformao em termos de nmeros de estabelecimentos e pessoal ocupado. Em nmeros absolutos, isto significa mais de 43 mil estabelecimentos, com cerca de 39 mil empresas.

    Resulta deste esforo uma participao direta de 11 % no produto industrial nacional, o equivalente a 4 % de todo o produto interno bruto (PIB) brasileiro (praticamente o dobro , por exemplo, da indstria automobilstica). Em termos de valor bruto da produo, o Censo em referncia destacou a indstria de produtos alimentares como o segundo maior gnero dentre toda a indstria brasileira, inferior apenas ao complexo industrial petroqumico.

    O volume de produo de toda a indstria agroalimentar estimado em mais de setenta e trs milhes de toneladas mtricas, das quais aproximadamente mais de 58 milhes se destinam ao mercado interno e 15 milhes de toneladas para exportao. Duas das principais caractersticas deste grande segmento da economia so: a primeira a elevada participao da empresa nacional em relao s empresas estrangeiras (64 % as empresas so privadas nacionais e 36 % so estrangeiras), constatando-se neste segmento a ausncia de empresas estatais.

    A segunda, no tocante ao nmero de empresas, constata-se o grande nmero de micro (ou seja, com at 19 empregados) e pequenas (de 20 a 99 empregados) empresas que participam da indstria de alimentos:

    - 90,4 % das 39 mil empresas so micro empresas. - 7,1 % so pequenas empresas - 2,2 % so mdias empresas (de 100 a 499 empregados) - 0,3 % so constitudas por grandes empresas (mais de 500).

    Apesar da expressiva concentrao em micro e pequenas empresas (97,5 %), a participao das empresas por tamanho no valor da produo das indstrias de alimentos mostra uma melhor distribuio, uma vez que a maior parcela (44 %) do valor da produo da indstria alimentar constituda por empresas de tamanho mdio, seguida pelas empresas pequenas (21 %), as grandes (19 %), enquanto a micro so responsveis por apenas 16 %. Verifica-se que as grandes e mdias empresas participam com 63 % do valor adicionado da indstria de alimentos e observa-se que so as empresas de porte mdio e no as grandes empresas que detm as maiores participaes no valor adicionado pelas indstrias de alimentos.

    Apesar da enorme diversificao crescente de gneros de atividade e de elaborao de produtos, oito grandes grupos representam 95 % do valor da produo, com destaque para trs importantes gneros, que juntos respondem por mais da metade:

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    GNEROS % beneficiamento de caf e cereais 17,7 derivados de carne 17,5 leos e gorduras 17,2 laticnios 10,2 fabricao/refino de acar 9,5 derivados de trigo 8,9 derivados de frutas/legumes 8,9 chocolate/cacau/balas 4,6 Outros 5,5

    Importncia Econmica da Indstria Agroalimentar

    Conforme analisado no primeiro captulo anterior, o valor global da produo processada (ou seja, a indstria) do agribusiness brasileiro (que inclui alm dos alimentos, os seguintes grupos: madeira/papel e papelo, txteis, vesturio e calados, bebidas, fumo, lcool, consumo rural e leos e essncias) est avaliado em US$ 102,8 bilhes, sendo que o valor adicionado de US$ 67,8 bilhes, uma vez que o valor da produo agropecuria de US$ 35 bilhes/ano.

    Do valor global de US$ 102,8 bilhes, os produtos alimentares (ou alimentcios) tem a maior importncia, uma vez que contribuem com US$ 45 bilhes atualmente, enquanto em 1980 era de vinte e quatro bilhes de dlares.

    Fazendo parte da chamada indstria agroalimentar (ou da alimentao), alm dos produtos alimentcios, esto tambm as bebidas, cujo valor global estimado em US$ 6,5 bilhes em 1993.

    Assim, adicionando-se os valores da produo dos produtos alimentares com os de bebidas, chega-se ao valor global da produo da indstria de alimentao, que de US$ 51,5 bilhes por ano. Isto significa dizer que o valor do processamento da indstria de alimentao (produtos alimentcios + bebidas) representa exatamente metade do valor econmico na fase de processamento (industrial) do segmento agribusiness brasileiro, que de US$ 102,8 bilhes (tabela 2.7).

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    TABELA 2.7 - PARTICIPAO DA INDSTRIA AGROALIMENTAR BRASILEIRA NO PIB E NA INDUSTRIA EM GERAL, 1993.

    PARTICIPAO DISCRIMINAO VALOR (US$ bilhes) DA DA INDUSTRIA PRODUO EXPORTAO AGROALIMENTAR (%) (*) Produto Interno Bruto 450,0 38,7 11,4 Indstria em geral(**) 300,0 29,0 17,2 Indstria de transformao 288,0 25,0 17,9 Agribusiness (***) 140,0 15,0 36,8 Indstria do agribusiness 102,8 11,5 50,0 Indstria da alimentao(a) 51,5 6,1 100 -Produtos alimentares(b) 45,0 6,0 87,4 -Bebidas(c) 6,5 0,1 12,6 FONTE: IBGE. Clculos do autor. (*) Percentual do valor da produo em relao cada tem discriminado na tabela (**) Inclui, alm da indstria de transformao, a indstria extrativa mineral. (***) Alm da indstria de alimentao, inclui: madeira, papel e papelo, txteis, vesturio e calados,

    fumo, lcool, consumo rural, leos e essncias. (a) = (b) + (c).

    A indstria agroalimentar est subdividida em empreendimentos que atuam na transformao bsica dos produtos da agropecuria, caracterizando uma transformao primria (produtos intermedirios) e as empresas que atuam nas transformaes secundrias (produtos finais). O mercado do setor de transformao primria constitudo pela exportao e por outras indstrias. Como algumas tambm atuam na transformao secundria, verifica-se o seu relacionamento com o consumidor final o que, no entanto, no uma caracterstica especfica do setor. De um modo geral, denomina-se a transformao primria como agroindstria.

    Uma das principais caractersticas da expanso da indstria de alimentos tem sido a crescente diferenciao de produtos que est sendo feita, principalmente atravs de inovaes na composio e embalagens.

    A estratgia de marketing o principal fator que permite a introduo de novos produtos. Com esta viso, a obteno de novas possibilidades de aproveitamento dos produtos agropecurios permitiu que as exportaes tivessem participao mais expressiva de produtos com valor agregado mais elevado. A transformao do farelo de soja em protena animal, atravs da produo de frangos e sunos e seus derivados para exportao, exemplo dessas alternativas. A tendncia e a elevao do nvel de processamento dos produtos com a obteno de margens de lucro maiores, seja para atender o mercado interno, seja para exportar.

    A necessidade de diversificao permanente de linha de produo confere tecnologia de produto/processo uma importncia fundamental nas estratgias de concorrncia das empresas. Os produtos industrializados esto penetrando em todas as classes de renda, inclusive alterando a cesta bsica de consumo das classes mais desfavorecidas.

    Mercado Externo da Indstria Agroalimentar Brasileira

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    Quanto s exportaes, as vendas externas dos produtos alimentares industrializados esto ao redor de seis bilhes de dlares por ano. Entre os principais alimentos industrializados no Brasil que se destinam aos mercados externos, na mdia de 1992-93, esto: o suco de laranja com US$ 940 milhes (em 1990, chegou a 1,5 bilho de dlares), seguido pela carne de frango congelado com US$ 511 milhes, carne bovina industrializada com US$ 300 milhes, e acar cristal com US$ 280 milhes entre outros (tabela 2.8).

    Considerando a exportao da indstria agroalimentar de produtos semi-industrializados tem-se o farelo de soja como tradicionalmente o principal produto com US$ 1,7 bilho; seguido por acar (cristal + demerara) com US$ 452 milhes; leo de soja com US$ 270 milhes; e pela carne bovina congelada/resfriada com US$ 250 milhes, entre outros outros.

    As dificuldades para um maior incremento das exportaes (excludas as "commodities", cujos preos so formados no mercado internacional) residem ainda na defasagem tecnolgica que caracteriza a nossa indstria. Sondagem realizada junto aos prprios empresrios do setor mostrou que este revela um ndice de atualizao tecnolgica da ordem de 60 % (considerando 100 % como padro para os pases desenvolvidos). Dentro do setor, os ndices variam entre 14 % (no ramo de preparao de leite e fabricao de laticnios) e 78 % (no ramo de acar), situando-se os ramos de abate de animais e de conservas de carnes em 52 %.

    Muito embora no sejam expressivas, as importaes brasileiras de produtos da indstria agroalimentar assumem importncia, principalmente em dois grupos de produtos, que so os de cereais (em especial, o trigo, onde a dependncia brasileira de produto estrangeiro muito grande) e os de moagem, malte, amido e glten.

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    TABELA 2.8 - PRINCIPAIS PRODUTOS DA INDSTRIA AGROALIMENTAR EXPORTADOS PELO BRASIL, (Mdia 1992-93).

    PRODUTOS VALOR

    (US$ milhes) SEMI-INDUSTRIALIZADOS - Farelo de soja 1.700 - leo de soja 270 - Acar cristal 252 - Carne bovina congelada/resfriada 250 - Acar demerara 200 - Manteiga, gorduras e leos de cacau 120 - Farelo de polpa ctrica 100 - Carne suna congelada/resfriada 60 - Pasta de cacau refinada ("Licor") 35

    INDUSTRIALIZADOS - Suco de laranja concentrado e congelado 940 - Carne de frango congelado 511 - Carne bovina industrializada 300 - Acar cristal 280 - Caf solvel 180 - Lagosta congelada 65 - Extrato de carne 60 - Produtos de confeitaria s/ cacau 55 - Camaro congelado 54 - Chocolate e produtos de cacau 40 - Peixe congelado 35 - Palmitos em conserva 32 - Cerveja de malte 30 - leo de algodo refinado 27 - leo de soja refinado 27 - Extrato/ essncia de caf 20 - Refrigerantes e outras bebidas 15 FONTE: DECEX/CTIC.

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    2.1.3 - FUNES AUXILIARES

    - Padronizao e classificao - Financiamento (crdito) - Risco - Informao de mercado - Pesquisa de mercado

    Estas so as funes que facilitam e permitem o funcionamento das funes de troca e fsicas.

    a) Padronizao e Classificao

    A padronizao e a classificao estabelece um sistema para medir e descrever a qualidade de um produto, permitindo a fcil identificao das mesmas. Esta funo:

    Simplifica a compra e a venda, pelo simples exame de uma amostra ou descrio da mercadoria;

    Simplifica e permite a reunio de lotes de mercadorias semelhantes nos silos, transporte e mesmo processamento;

    Possibilita a reduo dos custos de comercializao; Incentiva o aumento e melhoria da produo atravs da diferenciao de preo de

    qualidade; Facilita o financiamento (mais fcil avaliao).

    A padronizao consiste no estabelecimento de padres, atravs da portaria do MARA, segundo os atributos qualitativos e quantitativos das mercadorias. Os atributos qualitativos so a forma, colorao, grau de maturao, sinais de danos mecnicos, de doenas, de pragas e presena de resduos. Os atributos quantitativos so o preo e o tamanho.

    A classificao, realizada por classificadores, consiste na comparao de uma amostra representativa da mercadoria com os padres estabelecidos, enquadrando-a em grupo, classe e tipo. Assim, os produtos agrcolas so classificados em grupo, classe e tipo. As variveis que definem um "grupo" diferem entre produtos, por exemplo:

    - Milho em funo da resistncia; - Feijo em funo do gnero (ano, corda) - Arroz em funo da apresentao (casca, beneficiado) - Soja em funo do dimetro (grada, etc)

    A "classe" definida em funo da colorao, exceo do arroz que pelo comprimento. O "tipo" definido conforme a qualidade do produto.

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    b) Financiamento (crdito)

    H um perodo de tempo entre a colheita do produto at a venda ao intermedirio, em que o produtor tem que manter a mercadoria. Para tanto, h a necessidade de fundos para financiar a manuteno de estoques, porque:

    Na poca da colheita os preos dos produtos so normalmente cotados a nveis baixos;

    Os vencimentos das dvidas de custeio geralmente coincidem com o perodo ps-colheita;

    A presena de poucos intermedirios permite uma poltica de grupo, com um preo nico baixo.

    A poltica de garantia de preos mnimos (PGPM) tem por objetivos proteger a renda do setor agrcola, estimular ao aumento da produo e reduzir o risco de preo enfrentado pelos produtores.

    Num sistema de livre mercado, onde os preos so o resultado das foras de oferta e procura. O preo mnimo somente seria efetivo, caso fosse fixado acima do preo de equilbrio do mercado. Como resultado, gera-se um excedente de oferta, que ou exportado ou dever ser adquirido pelo governo ou o governo adota polticas de controle de produo ao nvel da demanda existente.

    O preo mnimo ideal, dentro de uma perspectiva de longo prazo e considerando o custo financeiro da poltica para os cofres do governo aquele que evita um excesso ou uma escassez estrutural de oferta, sendo fixado em torno do nvel de preo de mercado. E seria eficiente quanto ao objetivo de proteger a renda dos produtores, cso cubra o custo operacional de produo.

    Com a recente maior abertura da economia brasileira, as situaes no previstas de excedentes de oferta podem ser tratadas mediante o estmulo s exportaes, que geram aumento das reservas cambiais. Nos casos de escassez conjuntural, as importaes podem suprir a diferena entre a demanda e a oferta, provocando a reduo das reservas cambiais. Este enfoque pode resultar em menor nus ao governo do que a manuteno de exagerados estoques de produtos, que perdem qualidade e competio ao retornarem para o mercado nos anos subsequentes.

    A PGPM foi criada atravs do Decreto Lei n 79 de 19-12-66, que atribui Unio a responsabilidade de normatizar, fixar os preos mnimos e executar as operaes de financiamento (EGF) e aquisio dos produtos amparados (AGF). O rgo executor, at 1992, foi a Companhia de Financiamento da Produo (CFP) e posteriormente a CONAB - Companhia Nacional de Abastecimento, atravs dos agentes financeiros credenciados pelo Sistema Nacional de Crdito Rural.

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    b.1) Preo Mnimo e Valor de Financiamento

    Preo Mnimo o valor definido pelo governo, atravs de decreto ou voto do Conselho Monetrio Nacional (CMN), para cada produto e safra, que atua como seguro de preo visando garantir uma renda mnima aos produtores e serve de base para aquisio (AGF) ou financiamento, ou seja, Emprstimo do Governo Federal Com Opo de Venda (EGF/COV). calculado com base no custo de produo e na poltica governamental de estmulo ou controle de produo.

    Valor de Financiamento o valor, por unidade de peso, que beneficirio recebe na contratao do Emprstimo do Governo Federal Sem Opo de Venda (EGF/SOV).

    b.2) Instrumentos:

    AGF - Aquisio do Governo Federal a venda direta do produto ao governo pelo preo mnimo. O produtor s deveria efetuar caso o preo de mercado no tenha perspectiva de subir e esteja abaixo do preo mnimo.

    EGF - Emprstimo do Governo Federal um financiamento de comercializao, cuja garantia (penhor) o prprio produto depositado no armazm credenciado. Possibilita o produtor vender o produto na entressafra quando os preos de mercado tendem a ser maiores. H duas modalidades de financiamento: com opo de venda (COV) e sem opo de venda (SOV).

    b.3) Funo dos Instrumentos: Com a aquisio e/ou financiamento da produo na poca da safra e seu carregamento no tempo, visando a recolocao no mercado na entressafra, evita-se oscilaes bruscas de preos e regula-se o abastecimento (Grfico).

    Preo

    com PGMP

    sem PGMP

    tempo

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    b.4) Produtos Amparados:

    Preo Mnimo Valor de Financiamento algodo (em caroo e pluma) alho, amendoim, canola, mandioca (farinha e fcula) batata semente, cevada, feijo, milho, soja, uva, mamona, sementes, sorgo e trigo, triticale, cera da castanha de caju. carnaba, juta, malva e sisal.

    b.5) Beneficirios - Produtores - Cooperativas de Produtores - Beneficiadores / Indstrias

    Os intermedirios (armazenadores, caminhoneiros, comerciantes, etc) no participam da poltica.

    b.6) Agentes Financeiros:

    AGF - Banco do Brasil. EGF - Bancos vinculados ao Sistema Nacional de Crdito Rural, que assumem o

    risco da operao.

    b.7) Entraves: Na falta de sacaria, armazns, classificadores, normativos, remoo de produtos, etc, comunicar a SUREG/PR Fone: (041) 352-1515 - Rua Mau 1116 - Alto da Glria - Curitiba CEP: 80.030.200.

    b.8) Operacionalizao do EGF/COV

    Levar o produto a um armazm credenciado e que firmou contrato de prestao de servios com a CONAB.

    Passar por processo de limpeza e secagem, se necessrio.

    Ser classificado pela CLASPAR (no Paran).

    Dirigir-se ao banco com o recibo de depsito e certificado de classificao. Neste banco, em que o produtor dever ter cadastro, preencher a proposta de financiamento e assinar as declaraes anexas mesma.

    O produtor recebe 100 % do preo mnimo, de acordo com o tipo e a quantidade entregue (at o limite da produo prpria ou da dvida de custeio), e dispe de um prazo para decidir sobre a venda da produo ou para o mercado ou para entregar para o governo.

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    - Vende para o mercado, se a receita da venda paga o custo do EGF/COV (preo mnimo mais encargos financeiros, taxa de classificao, despesas de armazenagem e sobretaxa). A diferena lucro do produtor.

    - Se o produtor no liquida a operao at o dia do vencimento do contrato, porque o preo de mercado ficou abaixo do custo do EGF, o produto vinculado ao EGF/COV vencido transferido a CONAB, que assume todo o custo da operao. Tambm, o produto pode ser negociado em leilo nas Bolsas de Mercadorias, quando a receita apurada ser usada na liquidao do saldo devedor, com o governo assumindo a eventual diferena na forma de subsdio.

    - Se o produtor efetuou o custeio com equivalncia-produto, o banco faz a transformao automtica da produo equivalente entregue no armazm credenciado em EGF/COV. Neste caso, somente no pagar a TR caso a produo seja transferida CONAB.

    Vantagens e Desvantagens do EGF/COV

    Dependendo do nvel de preo de mercado na poca da colheita (to) e do comportamento deste preo nos meses seguintes (t1), h casos em que a operao do EGF com opo de venda no traz benefcios para o produtor.

    Se, na poca da colheita, o preo do produto no mercado est abaixo do preo mnimo, pode-se constatar que ser sempre vantajoso para o produtor a execuo do EGF, porque: a) se o preo permanecer constante ou cair o agricultor j assegurou o melhor preo que o preo mnimo; b) se o preo subir, ele poder at lucrar se o diferencial de preos (Pt1 - PM) for maior que o custo do EGF (Figura 2.5.a).

    Contudo, a situao mais comum a de que, na poca da colheita, o preo do produto no mercado esteja acima do preo mnimo, e neste caso o EGF s beneficiar o produtor se (Pt1 - Pto)for maior que o custo do EGF (Figura 2.5.b).

    b.9) Operacionalizao do EGF/SOV

    Levar o produto a um armazm credenciado e que firmou o contrato de prestao de servio com a CONAB.

    A classificao pode ser dispensada. Basta que o beneficirio assine uma declarao formal de que o produto se enquadra dentro dos padres de classificao.

    Dirigir-se ao banco, com o recibo de depsito. Neste banco, em que o produtor dever ter cadastro, preencher a proposta de financiamento e assinar a declarao formal de que o produto se enquadra nos padres de classificao.

    O produtor recebe 100 % do valor de financiamento, de acordo com o tipo indicado e a quantidade entregue (at o total da produo prpria).

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    At o dia do vencimento do contrato, o produtor deve liquidar a operao pelo custo do EGF. O produtor assume, portanto, os encargos financeiros, as despesas de armazenagem e sobretaxa.

    Preos Preos

    Pt Pt

    PM PM

    t1 t0 t1

    FIGURA 2.5.a - P t0 < PM FIGURA 2.5.b - P t0 > PM

    b.10) Operacionalizao do AGF:

    Levar o produto a um armazm credenciado e que firmou contrato de prestao de servios com a CONAB.

    Passar por processo de limpeza e secagem, se necessrio.

    Ser classificado pela CLASPAR (no Paran)

    Dirigir-se ao banco da localidade onde o produto foi depositado, com o recibo de depsito e o certificado de classificao.

    O produtor recebe 100 % do preo mnimo, de acordo com o tipo e a quantidade entregue (at o limite da produo prpria ou aquela determinada pelo governo), acrescido do valor da embalagem. O ICMS e INSS so assumidos pela CONAB, como contribuinte substituto.

    b.11) Contrato de Depsito (com quebra zero)

    Foi criado pela CONAB para eliminar as perdas em armazenagem. O armazenador se obriga, mediante o recebimento da sobretaxa, que foi criada com esta finalidade, a promover a pronta entrega de 100 % dos estoques recebidos,

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    quando solicitado pela CONAB. Tambm se obriga a indenizar CONAB as perdas de quaisquer natureza que venham a ocorrer durante o perodo de armazenagem, como quebra tcnica, reduo do teor de umidade, depreciao da qualidade e avarias.

    b.12) Fiscalizao dos Estoques Pblicos

    A partir de junho de 1994, a responsabilidade pela fiscalizao dos estoques pblicos passou a ser da CONAB. Anteriormente, era de responsabilidade do Banco do Brasil.

    c) Risco

    A funo do risco consiste na aceitao da possibilidade de perdas do produto na "comercializao", a qual apresenta dois tipos de riscos. O primeiro, chamado de risco FSICO, devido destruio ou deteriorao do produto (fogo, acidente, tempestades, frio, calor). O segundo, o risco de MERCADO, causado por movimentos desfavorveis nos preos do produto, com conseqente desvalorizao dos estoques. Os riscos fsicos podem ser contornados pelo uso de seguro, enquanto os de mercado podem ser reduzidos atravs de operaes de "hedging" (que ser discutido no captulo 6).

    d) Informao de Mercado

    A funo de informao de mercado diz respeito coleta, interpretao e disseminao de dados com a finalidade de facilitar a "comercializao". Uma caracterstica importante da informao a de que ela deve ser atual e confivel. Existem trs tipos de informaes: a) a puramente informativa ou noticiosa; b) anlise (perspectivas) de mercado; c) propaganda.

    O tipo "informativo" contm apenas dados sobre preos, condies da oferta, volumes de estoques, clima, etc, sem qualquer anlise ou comentrios sobre a situao de mercado.

    O tipo "analtico" vai alm da notcia porque apresenta explicaes (razes) sobre a atual tendncia e faz previses desta tendncia. Neste caso, alm dos dados das variveis relevantes h necessidade de se proceder a uma anlise destes dados usando-se modelos estatsticos e econmicos. Neste caso h necessidade de conhecimentos de fatores ligados demanda e oferta agrcolas). Entre as variveis relevantes do lado da demanda tem-se os seguintes indicadores: populao domstica, nvel de renda disponvel, nvel de emprego, consumo per capita, mudanas nos gostos e preferncias, preos de bens substitutos, demanda externa e programas governamentais especiais. Do lado da oferta tem-se: intenes de plantio, expectativa de preos, preos de produtos competitivos, produtividade esperada, rea disponvel para plantio e adoes de pacotes tecnolgicos.

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    Um outro tipo de informao de mercado pode ser obtido atravs da propaganda, a qual assume duas formas. A primeira dita "genrica", e pode ser conduzida pelo governo ou por um grupo de firmas com o objetivo de aumentar o consumo de um produto, sem marca especificada. O segundo tipo de programa, comumente usado, o da promoo de produtos de uma firma especfica com o objetivo de no s aumentar a sua demanda, mas tambm torn-la mais inelstica (Figura 2.6). Como se observa, a propaganda tem um cunho informativo-persuasivo.

    P

    D

    D

    Q

    FIGURA 2.6 - EFEITO DESEJADO PELAS FIRMAS, DA PROPAGANDA SOBRE A DEMANDA

    e) Pesquisa de Mercado

    No contexto puramente empresarial, pesquisas relacionadas com mudanas nas preferncias dos consumidores so importantes para determinar a poltica da firma. Assim, pesquisas de embalagem quanto forma, tamanho, colorao; comportamento do consumidor; previses de venda em certa regio; pesquisa visando reduo de custos da "comercializao"; melhores meios de comunicao para realizar a propaganda, entre outros, so teis informaes para o sucesso da empresa no longo prazo.

    Sob o aspecto mais de economia rural so importantes as pesquisas em comercializao nas reas seguintes:

    a) Estudos de procura e de dispndio b) Estudos de oferta c) Anlise de custos de comercializao d) Anlise de margens de comercializao e) Anlise de preos agrcolas f) Estudos sobre a estrutura de mercado.

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    2.2. ANLISE INSTITUCIONAL

    O mtodo institucional considera tanto a natureza e o carter dos diversos intermedirios e agncias, que executam os servios de comercializao de um produto, quanto o arranjo e a organizao do mecanismo de mercado. Neste mtodo o elemento humano recebe nfase especial.

    Os intermedirios so indivduos ou organismos comerciais que se especializam na execuo das diversas funes de comercializao, relacionadas com as atividades de compra e venda, na medida que as mercadorias se deslocam dos produtores at os consumidores.

    Os intermedirios de interesse direto comercializao de gneros alimentcios, podem ser classificados do seguinte modo:

    a) intermedirios comerciantes: atacadistas, retalhistas ou varejistas, e especuladores;

    b) intermedirios agentes: corretores e comissrios; c) organizaes auxiliares ou instrumentais; d) indstria de transformao.

    Os intermedirios comerciantes possuem o ttulo da mercadoria e, por conseguinte, so proprietrios dos produtos que manipulam. Fazem comrcio para seu prprio lucro, garantindo sua renda da margem entre os preos de compra e de venda dos bens que comercializam.

    Os atacadistas vendem para varejistas e para outros atacadistas e industriais, mas no comercializam quantidades significativas ao ltimo consumidor. Eles constituem um grupo altamente heterogneo; o mais numeroso composto por compradores locais ou municipais, que adquirem os bens na rea de produo, diretamente dos produtores. Outro grupo de atacadistas localiza-se nos centros urbanos maiores. Podem ser atacadistas "gerais", que manipulam muitos e diferentes produtos, ou "especializados" no comrcio de um nmero limitado de mercadorias.

    Os varejistas compram os produtos dos atacadistas para revender ao ltimo consumidor. Eles constituem o grupo mais numeroso dentre as agncias de comercializao.

    Os intermedirios agentes, tal como so designados, agem somente como representantes de seus clientes. Eles no tm o ttulo e, portanto, no so donos das mercadorias que vendem. Sua renda representada pelas taxas e comisses sobre o volume de venda que realizam.

    Os comissrios tm geralmente grande autoridade sobre a mercadoria, sendo responsvel por sua movimentao e arranjo dos termos de venda e deduo das taxas.

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    Os corretores no dispem com regularidade do controle fsico dos produtos que manipulam, seguindo de perto as ordens de seu cliente. Seus poderes nas negociaes so menores do que a dos comissrios.

    Os intermedirios especuladores constituem um grupo que se apropria dos

    produtos, com o objetivo de obter lucro a partir das flutuaes de preo, no curto prazo. A atividade de compra e venda feita freqentemente ao nvel do canal de mercado. Na competio com outros intermedirios, esses agentes contribuem para a manuteno de uma adequada estrutura de preos.

    As organizaes instrumentais auxiliam os diversos intermedirios na execuo de sua tarefas. Regra geral, tais organizaes no participam dos processos de comercializao, nem como comerciante, nem como agentes. No tomam parte direta na compra e venda dos produtos, mas prestam servios informativos, reguladores, de fiscalizao e outros, podendo exercer uma influncia de longo alcance sobre a natureza da comercializao. Neste grupo esto as Bolsas de mercadorias, as Associaes Comerciais, as transportadoras, as classificadores, os bancos, as companhias de seguros, as armazenadoras, as empacotadoras, e os rgos responsveis pelos servios de informao e de pesquisa de mercado.

    As indstrias de transformao, ainda que no includas na lista dos intermedirios de comercializao, no podem ficar fora das consideraes do estudo. Algumas delas, tais como os frigorficos, os moinhos e outras indstrias alimentcias, freqentemente, agem como prprios agentes de compra nas reas de produo. comum assumirem tambm a funo de atacadistas, distribuindo suas mercadorias aos retalhistas, formando importantes instituies no processo de comercializao.

    2.2.1 - O RAMO DE DISTRIBUIO DE ALIMENTOS NO BRASIL

    A partir da dcada de 70, ocorreram profundas transformaes nos canais de comercializao de alimentos no Brasil, uma vez que at ento os canais tradicionais (feiras, mercearias, mercados) eram responsveis por mais de 70 % do volume de vendas dos gneros alimentcios. J no incio dos anos oitenta, a proporo das lojas de auto-servios (supermercados e hipermercados, estes com rea de vendas superior a 2.500 m2) j tinham passado a responder por cerca de trs quartos do volume (contra 25 % dos canais tradicionais), apesar de representarem menos de 15 % do total de pontos de venda.

    Com base em estratgias mercadolgicas bem planejadas, as lojas de auto-servio, conquistaram a preferncia dos consumidores em todo o pas, por oferecer facilidades de acesso a uma grande variedade de produtos, alm dos alimentos.

    A grande concorrncia que existe entre os supermercados uma das caractersticas dos anos recentes, marcados pela recesso e pela queda do poder de compra da populao. Entre o perodo de 1987 a 91, aconteceram quatro marcantes mudanas na rea dos supermercados, a saber:

  • COMERCIALIZAO AGRCOLA 40

    a) queda nas vendas em cerca de 15 %; b) reduo de 28 % no nmero de lojas dos 300 maiores supermercados (de 4.949

    para 3.548); c) diminuio de 15 % no nmero de empregados (de 324 mil para 274 mil

    pessoas); d) aumento no tamanho mdio das lojas (de 833 m2 para 1.114 m2).

    Devido reduo das margens de lucro, a busca de maior produtividade para assegurar a capacidade de competio passou a ser a preocupao fundamental das empresas do setor, que vm procurando tornar-se mais geis, com estrutura mais enxuta. A distribuio um dos mais dinmicos e competitivos sistemas existentes no pas.

    De acordo com censo realizado pela Nielsen Servios de Marketing, o varejo alimentar brasileiro (auto-servio e loja tradicionais) tem atualmente 223,3 mil lojas, assim distribudas, por nmero de lojas e por volume de vendas (em percentagem):

    Nmero Volume de lojas de vendas - tradicionais 85,3 16,3 - auto-servio com at 4 check-outs 12,5 27,4 - auto-servio de 5 a 9 check-outs 1,5 18,9 - auto-servio de 10 ou mais check-outs 0,7 37,4

    Com somente 0,7 % do nmero de lojas, as maiores empresas de supermercados no s lideram as vendas de varejo, como vem aumentando sua particip