Comercio de Dados Privacidade e Internet

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    25/11/2015 Comrcio de dados, privacidade e internet - Internet e Informtica - mbito Jurdico

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    Comrcio de dados, privacidade e internetTiago Farina Matos

    Resumo:O texto aborda aspectos jurdicos relacionados coleta e ao comrcio de dados pessoais por meio da

    Internet, enfatizando o desrespeito ao direito privacidade e seus efeitos danosos, tudo com uso de exemplosprticos.

    Sumrio:Introduo; 1. Sociedade da informao; 1.1. Comunicao eletrnica: do telgrafo sem fio internet; 1.2.Arevoluo da internet em termos de coleta e comercializao de informaes pessoais; 1.2.1. Informaes pessoaisidentificveis; 1.2.2. Meios de coleta de dados pessoais pela internet; 1.2.2.1. Formulrios;1.2.2.2.Cookies; 1.2.2.3. Hackers e crackers; 1.2.2.4. Bancos de dados; 1.2.3. Cruzamento e comrcio de dados pessoais;2. Internet, privacidade e dados pessoais; 2.1. O direito privacidade; 2.2. Dados pessoais e privacidade na internet;2.2.1. Spam; 2.2.2. A monitorao eletrnica do estilo de vida; 2.3. Medidas de proteo privacidade; 2.3.1. Polticasde privacidade; 2.3.2. Anonimato; 2.3.3. Criptografia; 2.3.4. Controle estatal; 2.3.5. Autoregulao; concluso;bibliografia.

    Introduo

    O enfoque deste estudo est na interferncia, muitas vezes negativas, que a Internet pode ter na privacidade daspessoas, principalmente no que concerne coleta e comercializao de dados pessoais. No ser nosso objetivo traarplanos legislativos para o fim da violao privacidade no meio virtual, muito menos com relao normas penais quetm carter repressivo. Advogamos a tese de que no caso da Internet a preveno ainda o melhor caminho.

    Ademais, devido ao carter dinmicoprogressivo da Internet, no h como apontar os limites que lhe so peculiares, oque dificulta na elaborao de leis prprias. Podemos, isso sim, partindo do conhecimento das causas violadoras daprivacidade na Internet, traar metas de preveno, que, a priori, parecemser mais eficientes do que o combatemeramente repressivo.

    com esse esprito que nos aventuramos a abordar a problemtica da privacidade na Internet.

    A abordagem do tema est dividida em dois captulos. No primeiro iniciamos com uma rpida pincelada sobre conceitos

    tcnicos relativos Internet, principal meio de comunicao eletrnica na atualidade, e seguimos o seudesenvolvimento investigando as causas que vivificam a assertiva de que a Grande Rede est categoricamenterevolucionando o processo de captao e comercializao de dados pessoais, dando destaque ao valor atribudos a taisinformaes por determinados setores da sociedade. Por fim, identificamos os principais meios de coleta de dadosencontrados na Internet.

    No segundo captulo, procuramos introduzir um enfoque essencialmente jurdico questo da coleta ecomercializao de dados pessoais pela Internet. Assim, aprofundamos o estudo do direito privacidade eestruturamos algumas questes diretamente relacionadas coleta de dados pessoais, como o spame a monitoraoeletrnica do estilo de vida. Ao final do estudo, nos propomos a diagnosticar medidas de proteo privacidade noespao virtual.

    1. Sociedade da informao

    1.1. Comunicao eletrnica: do telgrafo sem fio internet

    Sucintamente, comunicao eletrnica a troca de informaes atravs de circuitos ou ondas elt ricas.

    Seria uma tarefa extremamente rdua, para no dizer impossvel, descrever todos os meios capazes de proporcionaruma comunicao eletrnica. Entretanto, alguns merecem ser lembrados, guisa de ilustrao: o primeiro meio daespcie foi o telgrafo sem fio. A partir dele, surgiram outros como o rdio, o cinema falado e a televiso. Sem seesquecer do telefone fixo e do radar, este ltimo muito utilizado na comunicao entre aeronaves.

    O desenvolvimento tecnolgico ainda trouxe ao mercado meios de comunicao eletrnica, como aparelhos de escutae de interceptao telefnica, microfones e gravadores audiovisuais minsculos e de longo alcance hoje muito usadosnas investigaes criminais, mas tambm lamentavelmente visados por indivduos mal intencionados para violar aintimidade de outras pessoas alm do telex, das antenas parablicas, do telefone celular, das teleobjetivas ecmaras fotogrficas digitais, bem como do aparelho de fax.

    Mas o grande protagonista do mundo eletrnico sem dvida alguma o computador, definido de forma bastantesimples, pelo lexiclogo Antnio Houaiss, como uma mquina eletrnica que guarda, analisa e processa dados.Principalmente porque atravs da comunicao entre computadores, ou entre usurios desta mquina surgem asredes, das quais uma em particular o principal instrumento de comunicao do mundo moderno: a INTERNET.

    http://compartilhar%28%27http//promote.orkut.com/preview?nt=orkut.com&tt=Revista%20%C3%82mbito%20Jur%C3%ADdico%20-%20Internet%20e%20Inform%C3%A1tica&du=http://www.ambitojuridico.com.br/%252Fsite%252Findex.php%253Fn_link%253Drevista_artigos_leitura%2526artigo_id%253D4146&cn=Com%C3%A9rcio%20de%20dados,%20privacidade%20e%20internet%27);http://compartilhar%28%27http//promote.orkut.com/preview?nt=orkut.com&tt=Revista%20%C3%82mbito%20Jur%C3%ADdico%20-%20Internet%20e%20Inform%C3%A1tica&du=http://www.ambitojuridico.com.br/%252Fsite%252Findex.php%253Fn_link%253Drevista_artigos_leitura%2526artigo_id%253D4146&cn=Com%C3%A9rcio%20de%20dados,%20privacidade%20e%20internet%27);http://compartilhar%28%27https//twitter.com/intent/tweet?original_referer=http%253A%252F%252Fwww.ambito-juridico.com.br%252Fsite%252Findex.php%253Fn_link%253Drevista_artigos_leitura%2526artigo_id%253D4146&source=tweetbutton&text=Revista%2520%25C3%2582mbito%2520Jur%25C3%25ADdico%2520-%2520Internet%2520e%2520Inform%25C3%25A1tica-Com%25C3%25A9rcio%2520de%2520dados%252C%2520privacidade%2520e%2520internet&url=http%253A%252F%252Fwww.ambito-juridico.com.br%252Fsite%252Findex.php%253Fn_link%253Drevista_artigos_leitura%2526artigo_id%253D4146%27);http://compartilhar%28%27http//www.facebook.com/sharer.php?u=%27+encodeURIComponent(%27http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=4146%27)+%27&t=%27+encodeURIComponent(%27Revista%2520%25C3%2582mbito%2520Jur%25C3%25ADdico%2520-%2520Internet%2520e%2520Inform%25C3%25A1tica-Com%C3%A9rcio%20de%20dados,%20privacidade%20e%20internet%27)+%27&src=sp%27);
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    Marco Aurlio de Mello, ento Ministro Presidente do Supremo Tribunal Federal, fez um interessante comentrioquando assumiu a Presidncia da Repblica por alguns dias, durante a ausncia do Presidente Fernando HenriqueCardoso, bem como de seus demais substitutos, ao dizer que num mundo em plena era da informao no haverianecessidade de substituir um Presidente da Repblica durante uma simples viagem, haja vista os diversos recursos decomunicao, capazes de proporcionar um controle direto sobre o seu governo, de qualquer parte do planeta.Complementou dizendo que a substituio da figura do presidente tinha sentido nos tempos em que as viagens eramfeitas por mar, onde levavase dias para atingir seu destino e tambm porque no existiam meios de comunicaoinstantneos capazes de cobrir eventuais emergncias em seu pas.

    Mas, enfim, o que a INTERNET? Qual sua origem e suas caractersticas?

    A Internet embrionouse no auge da Guerra Fria com o projeto militar norteamericano denominado ARPAnet (ARPA:Advanced Research Projects Agency), criado como resposta ao lanamento do 1 Satlite ao espao pela URSS.

    O objetivo do ARPAnet era criar uma rede que pudesse se manter sem necessidade de estar conectada a uma fontecentral, ou seja, uma rede capaz de tornar todos os pontos de conexo equivalentes. Assim, eventual bombardeiosobre um determinado ponto da rede no prejudicaria a conexo entre os demais.

    Na primeira fase do projeto, quatro pontos seriam interligados: UCLA University of Califrnia at Los Angeles; SRI Stanford Research Institute; UC Santa Brbara e a Universidade de Utah. E, em 21 de novembro de 1969, se deu oprimeiro registro de conexo entre os servidores deste projeto, quando do contato realizado entre os computadoreslocalizados na UCLA e no SRI. J no fim do mesmo ano todos os quatro servidores estavam conectados ARPAnet.

    Mas o termo Internet propriamente dito surgiu mesmo em meados de 1981, quando a tecnologia passou a ser tambm

    utilizada por cientistas e acadmicos. Apenas em 1987, nos EUA, o uso da grande rede passou a ser feito tambm nombito comercial. Da em diante, no mundo todo, comearam a surgir inmeros provedores de acesso destinados aopblico em geral.

    Vejamos agora alguns conceitos e particularidades acerca da Grande Rede.

    Para o ilustre estudioso na rea, Gustavo Testa Corra:

    (...) A Internet um sistema global de rede de computadores que possibilita a comunicao e a transferncia dearquivos de uma mquina a qualquer outra mquina conectada na rede, possibilitando, assim, um intercmbio deinformaes sem precedentes na histria, de maneira rpida, eficiente e sem a limitao de fronteiras, culminando nacriao de novos mecanismos de relacionamento .

    Assim, criada inicialmente para fins militares, a rede mundial de computadores tomou vulto na vida cotidiana, e hoje

    estimase que mais de 200 milhes de pessoas espalhadas pelo planeta usufruam de todo seu potencial.

    O uso acadmico e cientfico abriu espao tambm ao uso comercial. A interface amigvel cada vez mais interativatambm contribuiu para seu crescimento. Atualmente no apenas trocas simples de mensagens de texto sorealizadas atravs da rede, mas tambm a utilizao de imagens, sons, grficos e vdeos, o que faz despertar acuriosidade da populao, tornando seu uso cada vez mais indispensvel.

    Isso tudo porque o ciberespao apresenta uma gama inimaginvel de utilidades para seus usurios, desde simplesconsultas a textos dos mais variados tipos at compras de mercadorias, investimentos em bolsas de valores,movimentaes financeiras etc.

    Diante desse quadro altamente evolutivo, surgem, no entanto, alguns pontos negativos, os quais merecem uma maiorateno dos operadores do Direito. Apenas para melhor ilustrar, sem contudo pretender esgotar os tpicos quecarecem de discusso, temos a privacidade do usurio, no momento em que, por diversos meios, tem suas informaescolhidas anonimamente por outros computadores tambm ligados rede; a violao de correspondncia pelos meioseletrnicos, como a legalidade do empregador supervisionar o contedo dos emails recebidos e enviados por seusempregados no ambiente de trabalho; a tributao nas negociaes eletrnicas, mormente quando se trata denegociaes realizadas entre diferentes Estados ou Pases. Esses so apenas parte dos entraves que cercam o uso daInternet visto aos olhares jurdicos, sem olvidar, claro, dos crime cometidos tambm via rede, notadamente apedofilia, que o mais preocupante para os defensores da questo dos crimes virtuais.

    Neste breve estudo, procuraremos adentrar na questo da privacidade no ciberespao, especialmente em relao coleta e comercializao de dados do usurio, sem sua prvia autorizao; fato extremamente preocupante para acomunidade jurdica, uma vez que a privacidade da pessoa humana constitui um bem jurdico carecedor deinabdicvel proteo.

    1.2. A revoluo da internet em termos de coleta e comercializao de informaes pessoais

    Informao sempre foi objeto de grande cobia pela sociedade em geral. Corporaes, governos, pesquisadores,acadmicos e todos os demais setores da sociedade, a fim de aprimorar seus conhecimentos e otimizar resultados,esto constantemente em busca deste produto.

    Enganamse aqueles que dizem ter a informao se transformado num valioso recursoem decorrncia dos avanostecnolgicos. Na verdade, tal bem sempre teve seu valor de mercado nas alturas. O que h de novo e, portanto, o

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    faz parecer algo como um recmdescoberto poo de petrleo, o fato de que, graas ao exponencial crescimentotecnolgico, abrindo espao para a comunicao eletrnica, nunca foi to fcil e rpido obter e gerenciar informaesdos mais variados assuntos, no importando tempo nem lugar.

    Anne Grascomb, autora do livro Who Owns Information? From Privacy to Public Access, citada por Demcrito ReinaldoFilho sustenta que a informao a chave para as decises polticas, sociais e negociais. E complementa: Na atualsociedade da informao, o bem mais valioso, o mais procurado justamente o que d nome a essa nova sociedade: aprpria informao.

    E, de fato, empresas que dispem do maior nmero de informaes, seja um mtodo eficaz de como atrair clientes

    ou mesmo um knowhowinovador e revolucionrio na produo de novos equipamentos, so as que detm o grandepoder na economia. No mesmo raciocnio, Danilo Duarte Queiroz salienta:

    Na nova economia, empresas geis so as que conseguem adquirir e administrar a maior quantidade possvel deinformao, no menor tempo e com a maior eficincia. Conseqentemente, quem consegue prover e distribuirinformao com maior competncia, tornase um fornecedor concorrido e rico.

    O crescimento tecnolgico, alm de permitir o acesso a uma infinidade de informaes pelos diversos setores dasociedade, tambm o grande facilitador da manipulao das mesmas. Em vista disso, grandes corporaes estoinvestindo pesadamente em tecnologia, aumentando seus poderes de captao e gerenciamento de dados, com oobjetivo de superar a concorrncia e direcionar seus investimentos de maneira a diminuir ao mximo eventuais riscos.

    1.2.1. Informaes Pessoais Identificveis

    Nesse contexto, vemos crescer assustadoramente a coleta e a comercializao de um tipo em especial deinformaes: as que dizem respeito vida das pessoas; conhecidas como informaes pessoais identificveis, ou PII(Personally Identifiable Information), que so todas as informaes relativas a uma determinada pessoa, desdecaractersticas fsicas at hbitos dos mais variados, de modo que do cruzamentos desses dados seja possvel traar umverdadeiro perfil da respectiva pessoa.

    As PIIs referemse a qualquer coisa na rede eletrnica que possa ser vinculada, de alguma forma, a uma pessoa decarne e osso; a algum que tem um nome, um endereo e uma vida.

    Quem costuma navegar pelos mares da grande rede certamente j se defrontou com algum tipo de questionriosolicitando determinadas informaes de cunho pessoal, como nome, endereo, email, estado civil, reas de interesseetc. A maioria dessas pessoas, entretanto, mal sabe para que servem tantas dessas informaes, algumasabsolutamente impertinentes. A verdade que muitas empresas, a fim de atrair clientes, oferecem prmios, ofertasou at mesmo servios gratuitos aos internautas que se cadastrarem nos seus respectivos sites. Com isso, essas

    empresas passam a deter um material altamente valioso: as PIIs e muitos clientesconsumidores ficam mais quesatisfeitos em participarem desta espcie de permuta (troca de mercadorias ou servios por imformaes pessoais),pouco se importando com as futuras conseqncias oriundas de tal ato.

    Por isso, Reinaldo Demcrito Filho afirma com extrema cautela que:

    (...) se, por um lado, a coleta de informaes pessoais pode favorecer negcios, facilitar decises governamentais oumesmo melhorar a qualidade de vida material da sociedade como um todo, outros valores necessitam ser considerados luz da privacidade individual.

    E para no parecer um exagero frisarmos o fato de as PIIs serem o bem mais valorizado do mercado, bastaconsiderarmos que analistas de Wall Streetesto valorando empresas de acordo com a quantidade e qualidade deInformaes Pessoais Identificveis coletadas de seus clientes. Hoje, o valor de uma empresa calculado pelaquantidade de clientes que ela possui; mais precisamente, US$ 2.000,00 por cliente.

    Nesse sentido, muitssimo curioso um caso protagonizado pela empresa 800.com, no incio do comrcio eletrnico, oqual tomamos a liberdade de comentar, uma vez que trar um colorido adicional ao tema em apreo.

    Criado pelo produtor de televiso John Ripper, owebsiteda 800.com foi lanado em setembro de 1998 e, um msdepois, o CEO da empresa, Greg Drew, fez a seguinte promoo: cada visitante poderia encomendar trs CDs ou DVDs,dos mais recentes e procurados, por apenas um dlar. Pode parecer piada, mais seu raciocnio foi algo acima debrilhante: a idia central era comprar clientes por cerca de US$ 50,00 cada um (valor mdio de varejo dosprodutos). Num primeiro momento, porm, Drew pensou em colocar um anncio dentro de umwebsitecom grandenmero de visitantes. Mas aps um minucioso estudo, concluiu que seria mais econmico e eficaz eliminar ointermedirio e utilizar o capital diretamente com os clientes, considerando que a notcia correria de boca em boca.

    E foi o que aconteceu: o trfego no siteda empresa 800.com, por diversas vezes, congestionou os servidores da

    conexo. Resultado: a empresa teve um lucro quatro vezes acima do esperado pois muitos clientes empolgados coma promoo do um dlar acabavam comprando outros produtos a preos normais.

    Drew sustentou sua idia milionria, em nmeros informais, citados por investidores e analistas de mercado. Levandoem conta que as empresas de comrcio eletrnico estavam sendo avaliadas em dois mil dlares por cliente, Drewplanejou pagar cinqenta dlares pelo nome de um, mesmo que este fizesse apenas uma compra de um dlar. Defato, foi um excelente negcio.

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    A razo de as PIIs valerem tanto no mercado de informao se deve ao seu poder de direcionar investimentos. Assim,para as empresas muito vantajoso possuir grande quantidade de PIIs, uma vez que, conhecendo os gostos e asnecessidades de seus clientes ou clientes em potencial, da forma mais detalhada possvel, podem investirdiretamente neles.

    Portanto, quanto maiores e mais exatas as PIIs coletadas, menos riscos correr a empresa e mais slida ser sua basede sustentao.

    Mas no so s as empresas comerciais as grandes vils do ciberespao quando o assunto informaes pessoaisidentificveis. Os governos sempre tiveram o hbito de vasculhar os mais ntimos segredos de seus adversrios (que

    podem ser qualquer um), ainda mais na atual conjuntura internacional, ps 11 de setembro de 2001, em que aobsesso por reduzir crimes e descobrir terroristas assumiu picos recordes.

    Com efeito, EUA, Inglaterra, Canad, Austrlia e Nova Zelndia, em nome da segurana nacional, controlam o polmicoProjeto Echelon, cujo objetivo principal interceptar todas as comunicaes mundiais em quaisquer locais do planeta sejam telefonemas, faxes, emails, telex, mensagens depagersou qualquer outra modalidade de comunicao.

    Teoricamente, aps coletadas as informao (de empresas, governos e civis), filtramse palavras ou grupos de palavraque podem representar algum tipo de perigo segurana nacional dos controladores do projeto.

    Isso significa na prtica que todos podemos estar sendo vigiados pelos que se consideram donos do universo. E, naverdade, o objetivo no apenas a defesa nacional, mas principalmente satisfazer interesses comerciais e industriais,base para uma economia autosustentvel.

    1.2.2. Meios de Coleta de Dados Pessoais pela Internet

    J vimos no incio de nosso estudo que existem inmeros meios de comunicao eletrnica capazes de coletarinformaes das mais variadas formas, como imagens (cmaras fotogrficas, circuitos internos de televiso,scanners etc)e sons (microfones, escutas telefnicas, gravadores etc).

    Vimos tambm que tais informaes podem compor as chamadas Informaes Pessoais Identificveis, ou seja, aquelasinformaes que dizem respeito determinada pessoa, podendo, da reunio desse desses dados, traarse o perfil doindivduo.

    A Internet surge, nesse momento, como o meio mais propcio para a coleta e o gerenciamento de PIIs, uma vez quecoloca o mundo todo no mesmo espao: o espao virtual. No existem, portanto, distncias a serem percorridas. Podese obter PIIs de cidados americanos atravs de um computador situado na China, por exemplo. A grande redepermite este tipo de intercmbio, para a felicidade dos que a utilizam como fonte de poder Governos, empresas etc.

    Mas para os usurios da Internet, que assumem essa condio na maioria dos casos devido aos atrativos oferecidospela rede, talvez essa disposio dos seus dados aos olhos alheios, no seja algo to excitante assim.

    Antes de analisarmos o tratamento dispensado para as PIIs coletas, importante nos familiarizarmos com alguns dosprincipais meios de coleta de dados pela Internet.

    1.2.2.1. Formulrios

    Se no o mais conhecido, sem dvida alguma o mais explcito de todos os meios de coleta de dados pessoais atravs dagrande rede.

    Como j salientamos linhas atrs, atravs dos formulrios, os visitantes espontaneamente informam ao siteinformaessolicitadas, que variam entre as mais bsicas como nome, endereo e profisso, s mais ntimas, como quais as reas de

    seu interesse. Mas apesar de parecerem dados banais e inofensivos, se comercializados ou mesmo cruzados outrasPIIs, podem compor um verdadeiro dossi fsicopsquico do cidado.

    Neste tipo de coleta de dados, o informante sabe que est cedendo as informaes, ou seja, tem total conscincia deque est fornecendo PIIs embora no saiba para que se destinam. Mas, de qualquer forma, fica a seu alvedrioforneclas ou no. Isso acaba colocando o sitedestinatrio numa posio bem confortvel, pois as informaescoletadas foramlhe entregues espontaneamente pelo navegante.

    1.2.2.2. Cookies

    Ao contrrio dos formulrios, que so explcitos coletores de informaes pessoais, os cookies(biscoitos, em ingls)operam usualmente sem o consentimento ou o conhecimento do usurio.

    Cookiesso pequenos arquivos de informaes lanados pelos sitesvisitados, dentro do computador do visitante, e

    ficam armazenados no respectivo disco rgido, para enquanto houver navegao na web, serem utilizados pela memriaRAM. Existem dois tipos de cookies: os que so gravados diretamente no computador dos usurios, e servem parafacilitar o carregamento do sitenuma posterior navegao, e os que se servem apenas para coletar dados dosvisitantes, cujo destino , inevitavelmente, o banco de dados do sitevisitado. A coleta de PIIs, atravs dos cookiestemcomo principal objetivo pelo menos o que alegam os donos dos biscoitos personalizar o acesso do internauta aorespectivo site.

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    Das informaes coletadas possvel identificar qual o navegador utilizado, o sistema operacional, os horrios, aquantidade de acessos, as reas de preferncia, bem como o nmero do IP ( Internet Protocol), que est para aInternet assim como a impresso digital est para a identificao de pessoas. Atravs desse nmero podese conhecero provedor, o navegador, o sistema operacional e, inclusive, a localizao de qualquer um que tenha acessado aInternet o que se de um lado pode ser muito til para encontrar criminosos, por outro lado, disseca a vida dosusurios comuns, que podem ter seu endereo e telefone divulgados para um incontvel nmero de pessoas.

    1.2.2.3. Hackers e Crackers

    muito comum ouvir acusaes direcionadas aos hackers, quando na verdade, tecnicamente, o alvo seriam oscrackers.

    Mas existe mesmo diferena entre esses dois personagens do mundo ciberntico? Vejamos.Os hackers(fuadores, em ingls) podem ser definidos como indivduos muito bem informados, com conhecimentosinformticos acima da mdia e com imensa curiosidade em avaliar as falhas de um sistema de proteo computacional.Eles percorrem os sistemas em busca de falhas, utilizando tcnicas das mais variadas em termos de computao, nopara fins prejudiciais, mas para satisfao de seu prprio ego. Mais cedo ou mais tarde, esses indivduos acabam sendocontratados por grandes empresas interessadas em profissionais capazes de coordenar seus sistemas de proteo edefesa.

    Se tivermos como parmetro o descobrimento de uma falha em determinado sistema informatizado, poderemos nosdefrontar com o descobridor interessado em solucionar a questo da segurana, ou com aquele munido de objetivosescusos.

    Esse o liame que separa os hackersdos crackers. Enquanto o primeiro deles atiado unicamente pelo desafio de

    conhecer as falhas do sistema computacional, o segundo inicia sua jornada no momento em que descobre tais falhas,tendo em vista a obteno de benefcios particulares ou o inteno de causar danos terceiros.

    Portanto, embora ambos tenham conhecimentos tcnicos o suficiente para invadir sistemas de segurana, ohackernodeseja causar danos, nem tirar proveito da situao, ao contrrio dos crackers. Estes sim representam iminente perigo sociedade, pois da invaso de sistemas informatizados protegidos podem copiar todo um banco de dados contendo umincontvel nmero de PIIs.

    Ainda no que tange a coleta de PIIs, quanto valeriam para uma companhia de seguros de sade as informaessaqueadas por um crackerdo banco de dados de um grande hospital? Veremos no momento oportuno. Por enquanto,vale a reflexo.

    1.2.2.4. Bancos de Dados

    Alm das PIIs coletadas diretamente da Internet, existem aquelas antes s encontradas em bases de dadosproprietrias, ou seja, no sistema interno de agncias governamentais, empresas comerciais, consultrios mdicos etc.,que agora esto passando para o domnio pblico na Grande Rede.

    Pelo elevado nmero de aplicaes decorrentes dessa onlinizao dos bancos de dados proprietrios, colacionamosalgumas delas para melhor compreenso do tema:

    os histricos dos alunos disponveis nos sitesdas respectivas escolas e universidades;

    os dados relativos ao FGTS;

    agncias governamentais detm informaes de todos os cidados que podem ser acessadas por qualquer um, legalou ilegalmente;

    a SERASA aponta o pretenso devedor em mora;

    os bancos de dados do judicirio trazem quem j tenha demandado em Juzo;

    os departamentos de trnsito do informaes sobre os veculos, multas e infraes;

    no siteda Receita Federal, da posse do CPF de qualquer contribuinte, podese fazer uma devassa em sua vida fiscal.

    Em sntese, a coleta de dados pode se dar atravs dos formulrios, de forma explcita, ou implicitamente porintermdio dos cookies;; licitamente consultando bancos de dados, antes fechados, agora abertos e disponveislivrementena Grande Rede, ou utilizandose de mtodos ilcitos, como o caso dos crackersinvasores de sistemas debancos de dados fechados ou protegidos.

    1.2.3. Cruzamento e Comrcio de Dados Pessoais

    Conhecido o conceito de PIIs Informaes Pessoais Identificveis e os principais modos como essas informaes socoletadas atravs da rede ou inseridas indiretamente nela, verificaremos agora o destino que levam os dados pessoaiscoletados na Internet, sempre tendo em vista eventuais violaes ao direito de privacidade.

    Para os usurios, as empresas justificam a coleta de dados pessoais baseados em argumentos que em essncia setraduzem em um: a melhor satisfao do cliente.

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    data:text/htmlcharset=utf-8,%3Ch2%20class%3D%22tit-padrao%22%20title%3D%22Com%C3%A9rcio%20de%20dados%2C%20privacidade%20e%2 6/17

    A primeira justificativa e tambm a mais simples seria a de fazer da navegao no sitea mais personalizadapossvel, de modo que o ambiente ciberntico se moldasse aos gostos do cliente.

    Outra justificativa a de traar perfis de consumo e preferncias e, assim, oferecer ao cliente aquilo que elerealmente deseja. Fazer propaganda direcionada apenas ao pblico que efetivamente se interessa pelo produtosempre foi um sonho das grandes empresas, pois evita gastos desnecessrios com pessoas que jamais se tornariamclientes, devido a seus gostos e preferncias no coincidirem com o produto no qual a empresa visa comercializar.

    Mas o que o cliente ganharia com este marketingdireto? O argumento das empresas se baseia no fato de o cliente noter mais que perder seu precioso tempo indo atrs dos produtos de seu interesse. No caso, quem iria de encontro aosclientes seriam os produtos em si.

    Outra razo apresentada pelas empresas a de identificar melhores locais para investimento, baseados em dadosregionais e estatsticas.

    Mas seriam apenas esses os objetivos da coleta de PIIs? Ou seriam tais informaes vtimas indefesas de um mercadoafoito por poder e riqueza?

    A triste verdade que as PIIs so, em larga escala, utilizadas ainda para outros fins, muitos dos quais vo alm doconhecimento dos seus respectivos proprietrios, mais relacionados com os interesses das empresas que as detm. Aentra o chamado comrcio de informaes.

    Graas aos diversos meios de coleta de dados, alguns dos quais j analisamos como os formulrios, os cookiese o papel

    dos hackerse dos crackers, uma gama imensurvel de PIIs so coletadas para, posteriormente, serem utilizadas semautorizao do indivduo do qual essas informaes pertencem, e quando pior, sem seu conhecimento.

    Como conseqncia do comrcio de informaes, podemos citar a maladireta de propagandas comerciais.

    Atravs de dados como endereo, telefone ou email, empresas encaminham mensagens de marketingdireto parauma quantidade infinita de pessoas. A, entram tambm os chamados corretores de informaes aqueles quecompram PIIs de diversas fontes, cruzamnas e revendemnas para quem se interessar formando em seu banco dedados um verdadeiro perfil do indivduo. Entrementes, esses corretores so procurados por empresas, queencomendam certo nmero de nomes (bem como dos demais dados referentes ao mesmo) entre os quais melhor seencaixam nas suas diretrizes de clientela.

    A corretagem de PIIs, j no ano 2000, era uma indstria de mais de um bilho de dlares nos Estados Unidos.

    O que as pessoas mais temem, entretanto, no a mera utilizao de dados relativos a elas em listas de mala diretapara fins de marketing, mas a possibilidade de algum descobrir mais do que elas desejam que seja revelado a seurespeito; informaes que s dizem respeito privacidade de cada um.

    Charles Jennings e Lori Fena advertem:

    Embora no haja um sistema nico de perfis PIIs, o advento das redes eletrnicas de computadores est atualmentecriando algo bastante semelhante: acesso por intermdio de links aos muitos diretrios de computadores diferentesque atualmente armazenam PIIs. Cada vez mais informaes com tag PII esto sendo inseridas, armazenadas ecomercializadas por meio de uma matriz eletrnica comum .

    Em quase todos os segmentos da vida moderna, trocas de PIIs so efetivadas por intermdio de meio eletrnicos e noeletrnicos. Para praticamente todos os atos da vida civil estamos fornecendo dados pessoais quando queremos ir aomdico; retirar dinheiro de uma caixa eletrnico; fazer compras atravs do carto de crdito; contratarmos um

    provedor de acesso ou mesmo para poder navegar no interior de umwebsite sem nem sequer refletirmos para ondeessas informaes esto indo, quem as receber, onde e por quanto tempo ficaro armazenadas, quais os fins a queelas se destinam e, de modo geral, quais sero as conseqncias.

    S para termos uma idia da dimenso do problema, imaginemos o que aconteceria se uma empresa de carto decrdito comercializasse clandestinamente informaes a respeito do poder de compra de um indivduo qualquer parauma seguradora de sade, e dentre os produtos adquiridos pelo indivduo constassem vrias garrafas de bebidasalcolicas. Poderamos presumir que a seguradora no mnimo teria uma grande suspeita de que tal cidado poderia vira sofrer males decorrentes do excesso de lcool no sangue. Vamos alm. Caso o mesmo indivduo fosse na verdade umalcolatra, expaciente de uma clinica de reabilitao, cujo tratamento restara infrutfero, e o administrador dessaclnica comercializasse os nomes de seus pacientes mesma seguradora. Quais as conseqncias? Nesta hiptese,haveria subsdios suficientes para a seguradora considerar como duvidoso o estado de sade do sujeito. Mas poderiapiorar se o mesmo indivduo houvesse, tempos atrs, sido internado por problemas de cirrose num hospital cujo banco

    de dados tambm entrasse na mfia da comrcio com a mesma seguradora de sade. Como conseqncia bvia, oindivduo teria srios problemas se pretendesse contratar os servios da seguradora, nomeadamente com relao cobertura mdica quando o problema fosse em razo do consumo de lcool. Alm disso, se o cruzamento desses dadosviesse a ser publicamente divulgado, a vida privada dessa pessoa se tornaria um constante transtorno.

    Como se v, o cruzamento de dados a grande preocupao dos defensores da privacidade da pessoa humana,principalmente numa era em que o comrcio de informaes pessoais identificveis toma corona nas caldas do veloz

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    cometa chamado Internet.

    2. Internet, privacidade e dados pessoais

    2.1. O direito privacidade

    O direito privacidade uma das espcies dos direitos da personalidade, que regem (ou deveriam reger) os princpiosmais bsicos da relao do homem com a sociedade. Entretanto, o vocbulo privacidade, por ser muito recente, noconsta sequer na Carta Magna de 1988.

    Como ento podemos afirmar com tanta veemncia ser a privacidade um princpio constitucional merecedor de

    irrefutvel proteo? A resposta simples: basta utilizarmos a velha tcnica da deduo lgica.

    Antnio Houaiss conceitua privacidade como vida privada, particular, ntima. E complementa: tratase de anglicismode emprstimo recente na lngua (talvez dcada de 1970), sugerindose em seu lugar o uso de intimidade, liberdadepessoal, vida ntima; sossego etc.

    Por seu turno, o artigo 5, inciso X, da atual Constituio Federal ptria dispem que so direitos inviolveis aintimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenizao pelo dano material oumoral decorrente de sua violao.

    Contrapondose a definio de privacidade proposta acima ao precitado dispositivo constitucional, temse que o direito privacidade trata de uma denominao genrica, que compreende a tutela da intimidade, da vida privada, da honrae da imagem das pessoas.

    Intimidade e vida privada

    O direito vida privada revela a necessidade de a pessoa subtrair do conhecimento alheio fatos de sua vida particular,e tambm de impedirlhes a divulgao. Porm, a natureza destes fatos no revela aspectos reservados.

    Por outro lado, o direito intimidade engloba a parcela dos fatos mais reservados de uma pessoa. Consiste naprerrogativa de excluir do conhecimento de terceiros fato que no se deseja ver exposto publicidade alheia.

    Vse, portanto, que no mbito da intimidade os fatos esto revestidos de mais reserva e segredo que na esfera davida privada.

    Na proteo constitucional do direito intimidade, podemos invocar a inviolabilidade do domiclio e o sigilo dascorrespondncias.

    Honra

    Compreende a reputao e a autoestima da pessoa, isto , a considerao de que goza no meio social (honraobjetiva), assim como a de que tem de si mesma (honra subjetiva).

    Imagem

    O direito imagem tem duas acepes: a imagemretrato representao grfica, fotogrfica de uma pessoa; odireito de no ter sua representao reproduzida por qualquer meio de comunicao sem a devida autorizao. Valelembrar, todavia, que as pessoas de vida pblica, como os polticos, no podem invocar tal proteo quando trataremse de imagens divulgadas quando no exerccio de suas funes pblicas. J a imagematributo a forma pela qual oindivduo visto no meio social onde vive.

    Somandose os subsdios at aqui apresentados, podemos concluir que os aspectos da privacidade so aquelesrelacionados individualidade do sujeito. E, como bem diz Victor Drummond, um afastamento confortvel do mundoexterior, por parte do titular do direito privacidade, s pode darse, ou desejarse, por ele prprio.

    essa distncia confortvel que uma pessoa mantm espontaneamente, desde a sua mais profunda individualidadeat o mundo exterior, que dever ser tutelado pelo direito.

    Tratase, pois, de um critrio estritamente subjetivo. Exatamente por isso, existe um distanciamento entre o conceitode privacidade (natureza subjetiva) e o que pode ser tutelado pelo direito (natureza objetiva). Da a dificuldade emse buscar uma proteo jurdica proporcional s violaes a que a privacidade est sujeita.

    Neste diapaso, h que se transpor o universo filosfico para o universo jurdico. Mas, afinal, o que comportar aprivacidade tutelada pelo direito?

    Com a palavra o eminente jurista Victor Drummond:A vida em ambiente familiar, entre amigos, seja em momentos de descanso ou no. Quanto a estes casos, no hpraticamente dvidas ou divergncias doutrinrias, visto que ocorrem em um domnio fsico particular e controladopela pessoa. E isto ir valer para qualquer local privado.

    Para o caso de ambientes pblicos podese dizer, com certeza, que no haver dvidas quanto privacidade da pessoa

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    se estiver ela em situaes atinentes a si prpria. Seja em um estdio de futebol, um restaurante, um cinema, emqualquer destes locais estar ainda a privacidade imperando sem detrimento de se estar circulando em vias ou locaispblicos. Pois o grande diferencial e, agora cabe deixar claro, que nem sempre a localizao fsica o fator que irdefinir a existncia ou no de privacidade.

    Sero ainda tutelados pelo direito privacidade: a intimidade dos objetos particulares, dos livros que se l, dacorrespondncia, todos estes fatores podem ser tutelados pelo direito privacidade. De idntico modo, a roupa que seveste, a conversa que se efetua com o jornaleiro ou o padeiro fazem parte da privacidade daqueles que delaparticipam.

    A despeito das casusticas trazidas baila pelo ilustre mestre Drummond, resta evidente a dificuldade de definirobjetivamente aquilo que, por si, essencialmente subjetivo.

    claro que nesse jogo de incertezas, a jurisprudncia continuar sendo fundamental na manuteno do direito privacidade, pois, diante de seu carter subjetivo, a melhor soluo mesmo aquela evidenciada caso a caso.

    2.2. Dados pessoais e privacidade na internet

    Um aspecto curioso no comportamento das pessoas quando esto em rbita pelo universo da Internet pode serobservado quando esses indivduos agem de determinado modo que, se no fosse pelo fato de estarem protegidosatrs de uma tela de computador, provavelmente no agiriam. a sensao de invisibilidade, de achar que ningumlhes observa. E como j vimos, essa sensao pura fantasia.

    Visto nessa ptica, fica clara a covardia empregada na coleta de dados pessoais atravs da rede e por isso mesmo

    que a privacidade no ambiente ciberntico deve ser seriamente tutelada.E embora encontremos pontos positivos na coleta de PIIs como o atendimento personalizado oferecidoporwebsitesaos internautas neste cadastrados contratempos e at mesmo danos irreparveis (seno por meio deindenizaes), fazem parte do diaadia das navegaes virtuais.

    Por oportuno, vamos analisar algumas questes diretamente relacionadas coleta de dados pessoais atravs daInternet, na medida que violam o direito privacidade.

    2.2.1. Spam

    Dentre as diversas problemticas acerca da questo da coleta de dados pessoais atravs da Internet, temos como maisbvia e crescente conseqncia da violao privacidade do usurio da Internet, o denominado spam(mensagemeletrnica publicitria no solicitada).

    A palavra "spam" surgiu em 1937, como marca registrada da empresa norteamericana Hormel Foodsao criar a primeiracarne suna enlatada. Diz o mito que, satirizando a novidade, o famoso grupo humorstico ingls Monty Pythoneditouum episdio onde alguns vikingsfamintos entravam num bar e comeavam a gritar "Spam, spam, spam, spam....." demaneira intermitente e irritante, impossibilitando qualquer comunicao entre as demais pessoas presentes norecinto.

    Passados alguns anos quando a utilizao da Internet estava comeando a se difundir no meio de um grupo dediscusso, algum cidado teve a infeliz idia de enviar mensagens comerciais aos participantes de determinados chats,atrapalhando a comunicao das pessoas. Assim, surge o termo spamno mundo digital, com a lembrana do episdiodo Monty Pythonpor um usurio de grupos de discusso equiparando o desprazer causado pelo recebimento demensagens no solicitadas nestes grupos com a gritaria ensurdecedora do programa cmico ingls. Como previsvel jera, essas mensagens migraram para os endereos de correio eletrnico que comeavam a se multiplicar. A partir deento, o spampode ser definido como o envio de mensagem eletrnica no solicitada ou autorizada por quem arecebeu.

    O spamcomo o conhecemos na era virtual tem cunho essencialmente comercial. Assim como os foldersrecebidos peloscorreios convencionais, o spam um tipo de publicidade invasiva, mas, ao contrrio daqueles, estes podem causarsensveis prejuzos materiais quando no morais aos receptores das mensagens.

    Com efeito, para que uma pessoa receba um spam, necessrio que possua uma conta de correio eletrnico e, paratanto, so necessrios alguns requisitos.

    O primeiro requisito o mais bvio: ter um computador que, sabidamente, um bem material dotado de valoreconmico. O segundo requisito estar o computador conectado rede. Para que exista tal conexo substancial acontratao de um provedor de acesso, alm do servio de telecomunicao via telefnica ou mesmo por satlite oucabo. Por ltimo, mas sem menor importncia, temse o consumo de energia eltrica, fonte de todo processo de envio

    e recebimento de mensagens eletrnicas. Portanto, como passvel de analisar, o ato de possuir uma conta de correioeletrnico notavelmente oneroso. Da dizer que o spam algo similar oferta de bens e servios por uma ligaotelefnica interurbana a cobrar.

    Somase ainda aos prejuzos de ordem material o tempo despendido com o recebimento, leitura e excluso dospam, oque acaba sendo em verdade um tpico furto de horas.

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    No podemos deixar de ressaltar o risco de danos morais, j que alguns spammersmenos escrupulosos costumamenviar mensagens publicitrias com selos pornogrficos. Um estudo realizado pela empresa norteamericana antispamBrightmail, divulgado pelo jornal Folha de So Paulo em 04.07.2002, constatou, na poca, queo spampornogrfico crescera 450% na rede em menos de um ano.

    Os prejuzos no atingem apenas os usurios, mas tambm os provedores de acesso, responsveis pela intermediaodas mensagens.

    A Associao Brasileira dos Provedores de Acesso, Servios e Informaes da Internet ABRANET elaborou um estudopara apurar os prejuzos causados pelo spam. Do resultado dessa pesquisa restou consignado que os custos dos

    provedores so em muito majorados devido ao alto trfego de spams, e o prejuzo financeiro mensal estimado denoventa milhes de reais. Aproximadamente um tero de todos os emails enviados na Internet em territrio nacionalcorresponde a spams.

    Os prejuzos causados aos provedores ocorrem pela ocupao de seus servidores de maneira no otimizada,acarretando perda tempo e conseqente queda na qualidade dos servios. Os investimentos em proteo deservidores, assim como os gastos com monitorao e segurana poderiam ser drasticamente diminudos caso houvesseum meio de conter o abuso cometido pelos spammers.

    Do lado dos spammersencontramos argumentos esdrxulos do tipo: o spam inofensivo, a grande maioria dosdestinatrios das mensagens no se importa com isso, basta apagar para se ver livre, e outros argumentos sem amenor sustentao para ouvidos mais atentos.

    Mas alm das consideraes levantadas acima contra a prtica do spamming, est a questo do direito privacidade.

    A busca de endereos eletrnicos na Internet com o intuito de auferir vantagem comercial ou no agride o preceitoconstitucional exposto. autntica violao da vida privada o rastreamento promovido por spammers para formarbases de dados sobre participantes do mundo digital que no prestaram consentimento, bases estas oferecidaslargamente na rede por preos acessveis, servindo aos mais variados propsitos, com destaque para o oferecimentoabusivo de bens e servios.

    Apavorados por tamanha intromisso na nossa privacidade, poderamos questionar: como os remetentes das mensagenssabem tantas informaes a nosso respeito, se ns, em diversos casos, nem sequer sabemos quem so eles?

    Refletindo sobre tudo o que j foi observado at aqui, podemos concluir que um spam produzido basicamente deduas maneiras: coleta e posterior comercializao dos dados pessoais dos visitantes de determinados sites, atravs dautilizao decookies, formulrios e bancos de dados online.

    Assim, ao navegarmos, consciente (formulrios, p. ex.) ou inconscientemente (cookies, p. ex.) cedemos dados a nossorespeito; terceiros tomam conhecimento deles e podem utilizlos diretamente para fins prprios ou, o que maisfreqente, para vendlos a outros interessados, dentre os quais os denominados corretores de informaes, que porsua vez formam um complexo de dados relativos a determinadas pessoas um verdadeiro cdigo gentico ecomercializamno. Os principais compradores dessas PIIs empresas comerciais analisam os indivduos que mais seadquam aos produtos comerciais colocados no mercado e fazem o chamado marketingdireto, sendo o spamo meiomais difundido na atualidade para a realizao de tal propaganda.

    Devido ao carter puramente anrquico assumido pela prtica do spamming, conclusivamente, merecemos maisproteo nossa privacidade do que os publicitrios sua liberdade de invadir caixas postais de correios eletrnicos.

    Entrementes, o que mais preocupa os internautas no o spam propriamente dito, mas o que est por trs dele. Eapesar de o direito tambm proteger o receptor de correspondncias no solicitadas e importunas, a maiorproblemtica reside no fato de a coleta de dados decolar a altitudes inalcanveis pelo poder de polcia estatal,correndo o risco de se abolir, por completo, o direito fundamental privacidade que a todo ser humano inerente.

    2.2.2. A Monitorao Eletrnica do Estilo de Vida

    Apenas observando a atividade dos spammers, fica evidente que de fato estamos sendo monitorados.

    J vimos que os cookiesso capazes de monitorar tudo o que fazemos conectados Internet: os sitesque visitamos,quanto tempo permanecemos nele, qual a freqncia de visitao etc. Bem, por outro lado, verificamos tambm queoutros meios eletrnicos, como o satlite, tem hoje capacidade de focalizar a fachada de nossa casa e espionar o fluxode entrada e sada dela. O que pior no tocante violao da privacidade que referido satlite tambm podeestar diretamente conectado Grande Rede, podendo ser acessado e monitorado por quem tiver algum conhecimentobsico de computao.

    , portanto, preocupante o destino que est reservado privacidade da pessoa humana no andar do processotecnolgico. A vida est sendo monitorada escancaradamente nos seus mais ntimos aspectos. Somente para dar umanova luz ao raciocnio, vejamos como um indivduo comum poderia ter sua privacidade invadida atravs dos meioseletrnicos num dia de rotina. Daremos a esse sujeito o nome hipottico de Ruy:

    7h. Acordar, tomar caf e escovar os dentes.

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    Um dos poucos momentos em que Ruy ainda pode acreditar no estar sendo monitorado. Pelo menos o banho ele sabe que particular.

    7h45. Acessar a Internet para conferir as notcias, pagar contas online e verificar seu correio eletrnico pessoal.

    Os cookiesentram em ao finalmente. Cada pgina acessada por Ruy estar sendo registrada em algum lugar doplaneta, e cada transao que Ruy fizer ser armazenada e posteriormente analisada.

    8h30. Apagar as luzes e sair de casa.

    A empresa de servios pblicos local pode estar monitorando o consumo de luz de Ruy para poder operar seus

    sistemas com mais eficincia e para se antecipar aos perodos de carga elevada. Ao sair de casa Ruy vigiado pelosistema de cmeras colocado em sua cidade, com o fito de capturar bandidos ou mesmo um satlite a quilmetros dedistncia pode acompanhar seu trajeto ao ar livre.

    9h. Atender o telefone celular e tratar de negcios com seu chefe.

    Todas as chamadas discadas ou recebidas pelo telefone de Ruy esto sendo registradas na operadora telefnicarespectiva. Alm disso, embora seja algo no muito comum, existe a possibilidade do telefone de Ruy estarinterceptado. E se assim fosse, imaginemos a tragdia que seria para a empresa em que Ruy trabalha se o autor dainterceptao fosse seu concorrente mais frreo.

    9h30. Entrar no prdio do escritrio utilizandose do crach eletrnico

    Os crachs eletrnicos podem comprovar que Ruy esteve no escritrio em um determinado horrio. Assim como ascmaras de vdeo no estacionamento, no elevador e no interior do edifcio. Esses dados so utilizados, a priori, parafins de segurana, mas podem tambm ser usados para avaliaes de desempenho e disputas entre funcionrios.

    10h. Verificar e enviar email do local de trabalho.

    Nesse caso, no apenas o provedor de acesso estar coletando toda a navegao de Ruy, mas tambm seuempregador e legalmente, tem o direito de fazlo se o meio utilizado for o sistema do trabalho.

    11h30. Comprar um livro no site da livraria Saraiva

    A Saraiva se estabeleceu como uma das maiores livrarias online do Brasil, em parte por oferecer serviopersonalizado. Isso s pode ser feito por meio de coleta de informaes sobre o que o cliente gosta ou no em relaoa determinados ttulos. E apesar de a poltica de privacidade da empresa parecer sria, qualquer descuido pode ser

    fatal, tendo em vista a sensibilidade das PIIs coletadas.12h30. Almoo com clientes em potencial; pagar a conta com carto de crdito.

    As administradoras de cartes de crdito esto entre as maiores coletoras de PIIs. Nada mais interessante para umaempresa do que saber exatamente quais as tendncias de compra das pessoas. Ruy, neste caso, pode ser alvo de umdirecionamento de marketingdireto dos que detiverem tais informaes.

    15h. Participar de uma reunio virtual atravs de teleconferncia

    Por motivos de segurana, muitas vezes exigida uma identificao para se ter acesso teleconferncia. Essasinformaes so registradas nos sistemas de bancos de dados das empresas de telefonia e podem ser acessadas pelocomprador do servio ou por autoridades policiais ou judiciais.

    18h. Sair do escritrio, passar no mercado para comprar mantimentos, utilizando carto de desconto.Ruy novamente vai precisar do crach eletrnico para deixar o escritrio. No mercado, o carto de desconto, apesarapresentar vantagens, um eficiente captador de PIIs todos os hbitos de consumo de alimentos, bebidas e demaismantimentos domsticos. Essas informaes so valiosas no s para o mercado em si, mas tambm para seguradoras,empregadores e corretores de informaes.

    20h. Chegar a casa e pedir uma pizza por telefone.

    Ao completar a ligao, o atendente sada Ruy da seguinte maneira: Boa noite, Sr. Ruy; deseja o de sempre?. Oatendimento personalizado se deve ao identificador de chamada servio oferecido pela telefonia local que estdiretamente ligado ao banco de dados do sistema da pizzaria, onde podem ser encontrado todos os pedidos feitos porRuy, desde o primeiro feito anos atrs. Ao final da ligao o atendente ainda flerta: Gostaria de debitar o valor no seucarto Visa? (nmero tambm presente no sistema da pizzaria).

    22h. Acessar um site que trata da doena contrada por sua me.

    Embora Ruy saiba que as informaes por ele procuradas dizem respeito doena contrada por sua me, os donosdo siteno sabem. Para a empresa farmacutica e a companhia de seguros patrocinadoras do site, Ruy serconsiderado uma pessoa que possivelmente tem uma doena sria. As conseqncias? ....

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    23h30. Ligar para o servio de despertador telefnico para acordlo s 7h.

    Esse ser a primeira PII coletada de Ruy no dia.

    2.3. Medidas de proteo privacidade

    Como j observado, a nossa Constituio Federal consagra o direito privacidade como direito fundamental dapersonalidade e prev ressarcimento indenizatrio em caso de danos matrias e morais desinente de eventualviolao a esse direito.

    Tambm no pode fugir de nossa ateno o prescrito no artigo 12 do Novo Cdigo Civil Brasileiro:

    Art. 12. Podese exigir que cesse a ameaa, ou a leso, a direito da personalidade, e reclamar perdas e danos, semprejuzo de outras sanes previstas em lei.

    Vse, pois, que referida norma coadunase perfeitamente com o texto do art. 5, X, da Constituio Federal. Alis,entendemos que ressaltou ainda mais a importncia e a racional necessidade de se protegerem todos os direitosinerentes da personalidade, dos quais destacase a privacidade.

    Mas no s no ordenamento jurdico brasileiro, o direito privacidade objeto de acalorada proteo. Tanto fundamental a proteo precitado direito que a Declarao Universal dos Direitos Humanos prev que ningumsofrer intromisses arbitrrias na sua vida privada, na sua famlia, no seu domiclio ou na sua correspondncia, nemataques s suas honra e reputao. Contra tais intromisses, ou ataques, toda pessoa tem direito proteo da Lei

    Contudo, tanto os consagrados princpios da Declarao Universal dos Direitos do Homem quanto a ptrea clusulaconstitucional e o Novo Cdigo Civil parecem ser irrelevantes aos ombros da gigantesca rede mundial decomputadores.

    O direito de estar s, de ser deixado s, cada vez mais se distancia de uma esperada tutela jurisdic ional. Cada vezmais nos distanciamos do direito que nos autoriza a vagar pelo planeta sem termos nossa imagem divulgada ouimpressa, sem termos nossos passos marcados e rastreados, sem termos nossas despesas conferidas pelas fuxiqueiras doFisco ou pelas administradoras de cartes de crdito. Erodiuse o direito de no fazer parte daquilo a que no fomos,por lei, obrigados.

    No entanto, no podemos nos curvar aos caprichos da toda poderosa Internet. Temos (digo a sociedade em geral) quenos conscientizar que estamos, sim, tendo nossa privacidade invadida por meios eletrnicos, que coletam nossos dadosmais pessoais e comercializamnos no necessariamente para o nosso bem, mas para a satisfao dos seus interesses,que invariavelmente vo exatamente de encontro aos nossos.

    Na medida em que a populao usuria da Grande Rede se conscientiza que o valor da sua privacidade vale mais doque meros atrativos virtuais, os grandes responsveis pela devassa nas informaes da vida particular de terceiros seretraem e procuram no mais invadir uma esfera que no lhes diz respeito (nossa privacidade).

    J podemos constatar, na prtica, que empresas srias, preocupadas com a repercusso oriunda de um ato atentatrio privacidade de clientes, esto investindo em meios tecnolgicos destinados a proteo dos dados armazenados nosseus bancos de dados.

    Outrossim, polticas de privacidade passam a ser essenciais na captao de clientes. Pois se hipoteticamenteexistissem duas empresas de comrcio eletrnico, sendo uma movida de acordo com as polticas de privacidadeenquanto a outra no, qual delas teria o maior ndice de confiana por parte do usurioconsumidor? Por bvio que aprimeira delas. Em vista disso, muitos dizem que a Internet tem o poder de se autoregularizar, pois quem no semoldar objetivando a confiana do cliente quanto a sua privacidade, no ter vez no universo ciberntico.

    De qualquer forma, medidas de proteo privacidade devem ser tomadas por toda coletividade, incluindose nognero usurios, empresas e o principalmente o Poder Pblico, responsvel supremo pela manuteno do estado dedireito, a que todos nos curvamos.

    Naturalmente, no temos a pretenso dar a soluo para todos os problemas da questo da privacidade na Internetem decorrncia da coleta e comercializao de dados, mas julgamos oportuno delinear algumas consideraes sobreimportantes medidas destinadas tutela da privacidade.

    2.3.1. Polticas de privacidade

    A simples coleta de Informaes Pessoais Identificveis por parte de determinados websitesconfigurase invaso deprivacidade. Por isso, fundamental para a manuteno da ordem pblica no ambiente virtual uma poltica clara eexplcita declarando quais dados sero coletados e o fim destinado aos mesmos. Na atual conjuntura, ter uma polticade privacidade sria significa mais do que simplesmente respeitar a vida ntima dos usurios. Acima de tudo demonstrao interesse do siteem alcanar a confiana dos clientes principal pea do processo de fidelizao.

    As polticas de privacidade devem de forma bastante clara informar o usurio sobre o tipo de informaes que serocoletadas, o modo como ser realizada a coleta dos dados, outrossim, como sero eles gerenciados, os motivos pelosquais os armazenam em seus bancos de dados, a possibilidade de cruzamento das informaes coletadas junto a

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    terceiros etc.

    Mas na seara jurdica, qual a natureza dessas polticas de privacidade?

    Analisando detidamente polticas de privacidade de diversos sites, depreendemos tratarse de contratos de prestaode servios, os quais classificamse como contratos de adeso, e como tal esto subordinados aos preceitosestabelecidos no Cdigo Civil, e notadamente no Cdigo de Defesa do Consumidor.

    Vejamos, com efeito, o que elenca o artigo 54 do Cdigo de Defesa do Consumidor:

    Art. 54: Contrato de adeso aquele cujas clusulas tenham sido aprovadas pela autoridade competente ou

    estabelecidas unilateralmente pelo fornecedor de produtos ou servios, sem que o consumidor possa discutir oumodificar substancialmente seu contedo.

    De fato, no caso das polticas de privacidade encontradas em diversos sitesda Internet, ou o usurio aceita seustermos, ou deixa de acesslo.

    Vejamos, nesse sentido, o exemplo do sitedo Unibanco.com:

    Ao utilizar o Unibanco.com o usurio estar aceitando expressamente todas as prticas descritas nesta Poltica dePrivacidade. Dessa forma, aconselhamos queles usurios que no concordarem com a nossa Poltica de Privacidadeento adotada, a no utilizao deste site.

    Um ponto muito controverso encontrado na poltica de privacidade desse mesmo siteaparece no assunto intituladoInformao de outras fontes. Vale a pena analisar:

    Visando melhorar a personalizao de nossos servios (por exemplo, fornecer melhores recomendaes de produtos ouofertas especiais que acreditamos interessar aos nossos usurios) ou para fins de operaes de processo de crdito,podemos vir a receber suas informaes de outras fontes, tais como empresas do grupo Unibanco, empresas parceiras,outros sites da web, adicionandoas s informaes que j detemos.

    Num primeiro momento podemos pasmar ao lermos os termos acima expostos, mas a argumentao lgicadossitesadotantes dessas polticas demasiadamente simples e legalista, pois vai ao encontro do princpio estampadono art. 5, inciso II, da Constituio Federal, no sentido de que ningum ser obrigado a fazer ou deixar de fazeralguma coisa seno em virtude de lei. Ora, e por mais que parea uma confisso de autoria de ato ilcito participardo processo de comercializao de dados pessoais pois como j vimos a comercializao de Informaes PessoaisIdentificveis um autntico atentado privacidade da pessoa humana, no podemos olvidar que o usurio queaceitar a poltica de privacidade estabelecida pelo siteestar concomitantemente concordando com referido ato

    comercial. Por isso anteriormente j afirmamos que em troca dos produtos e/ou servios os sitesquerem as chamadasPIIs, uma genuna permuta entre sitese usurios.

    Existem, por outro lado, polticas de privacidade mais amenas como a do Banco Real que, inclusive, certificada peloSelo de Privacidade OnLine da Fundao Vanzolini. Nela, no h meno sobre o recebimento de PIIs a partir de outrasfontes, o que a nosso ver apresenta mais fidedignidade ao cliente que na poltica mostrada pelo Unibanco.com.

    Por outro lado, apesar de as polticas de privacidade claras e srias estarem se proliferando, atendendo aos interessesdos usurios, no h como no ter um controle eficiente acerca do seu fiel cumprimento. Fcil estabelecer regras;difcil cumprilas. Apoiado nesta assertiva, Danilo Duarte de Queiroz pontifica com extrema propriedade que:

    Como em termos de Internet e resolues relacionadas mesma, o Direito no mundo (e em especial no Brasil) aindaest engatinhando, as medidas jurdicas a serem tomadas em caso de abuso no tratamento das informaes e dedescumprimento das normas de privacidade estabelecidas, seriam as mesmas utilizadas em casos de descumprimento

    de contratos comuns e de violaes a direitos morais de maneira geral, com as aes judiciais pertinentes .

    Percebendo a deficincia das polticas em se demonstrarem confiveis, no quanto as regras que postulam cumprir,mas na sua fiel execuo, surgem programas de controle de qualidade independentes que, aprioristicamente, tm afuno de exercer uma fiscalizao sobre as polticas de privacidade dos sitesa ele filiados. , pois, de extremaimportncia a difuso desse tipo de controle, uma vez que trar maior segurana aos usurios e seriedade no trato dedados pessoais alheios por parte das empresas.

    Na frente destes programas, a Fundao Carlos Alberto Vanzolini encabeou o Programa Selo de Privacidade OnLine,consubstanciado na NRPOL Norma de Referncia da Privacidade Online, cujo principal objetivo estabelecerdeterminados Princpios ticos que devem ser seguidos por Organizaes atuantes na Internet, visando proteger aprivacidade das Informaes Pessoais Identificveis de seus usurios.

    O Programa Selo de Privacidade OnLine utilizase de um selo com o logotipo da Fundao Vanzolini como certificado dequalidade na poltica de privacidade do site. Ter o selo significa que respectivo site certificado por uma organizaoindependente atravs de seus auditores, o que assegura o tratamento adequado aos dados pessoais dos seus usurios.

    2.3.2. Anonimato

    Se partirmos do princpio de que nossa privacidade devassada na Internet pelo simples fato de, consciente ou

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    inconscientemente, estarmos cedendo nossas informaes pessoais, talvez a soluo para este problema seja oanonimato, ou seja, o direito de no se identificar, sem, contudo, ter que se esconder.

    Entretanto, primeiramente devemos analisar a legalidade do anonimato. A Constituio Federal pauta dois tipos deanonimato: o de expresso do pensamento e o de trnsito.

    O mesmo texto constitucional declara vedado, em tese, o anonimato de expresso do pensamento (art. 5, IV), e, poroutro lado, autoriza o anonimato de trnsito; no expressamente, mas pela simples deduo do prescrito no art. 5, II,onde est consagrado que ningum ser obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa seno em virtude de lei.

    Transpondo o conceito para a questo relacionada Internet, podese concluir que um simples navegar annimoatravs da Internet estritamente legal, pois que no correr da navegao no se faz essencial a manifestao depensamento.

    Mas mesmo vedado o anonimato de expresso do pensamento pela Constituio Federal, em particulares ocasies, estavedao amortizada tendo em vista a proteo de bens jurdicos de maior relevncia. E dentre esses bens jurdicosde relevo encontrase a privacidade.

    Na Internet, nomeadamente, o direito privacidade sofre profunda e inegvel ameaa, ainda mais em relao aodestino reservado aos dados pessoais. Portanto, no pode ser considerada ilegtimo ou mesmo ilcito o anonimato naexpresso do pensamento, quando o objetivo imediato a proteo da privacidade.

    Corroborando a tese levantada linhas atrs, Amaro Moraes e Silva Neto sadanos, valendose de sua maestria mpar,com o seguinte ensinamento:

    Numa sociedade livre, a anonima no apenas necessria: indispensvel, haja vista que diversas so as situaesonde no queremos e no devemos ser identificados.

    Fica ainda mais claro perceber a importncia do anonimato na Internet se considerarmos como j o fizemos o quepoderia ocasionar a uma pessoa, que pertena a um grupo de minorias (os alcolatras annimos, por exemplo) setivessem seu nome divulgado na grande rede, a merc de toda populao mundial. No mesmo sentido podemos citar osujeito que faz uma denuncia annima do paradeiro de um traficante de drogas.

    De toda colao feita at aqui, parecenos evidente a absoluta licitude do anonimato na Internet, tanto o de trnsitoquanto em diversos casos na expresso do pensamento.

    A despeito de parecer uma medida extremamente eficaz na tutela da privacidade no ambiente ciberntico, j vimosque a capacidade tecnolgica em coletar informaes pessoais identificveis sem nosso consentimento e/ou

    conhecimento vai alm da nossa inteno de no cedermos dados pessoais, razo pela qual certo afirmar que semauxlio da mesma tecnologia no dispomos de meios que nos protejam em absoluto da violao de nossa privacidade.Pensando nisso, nobres programadores vm disponibilizando inmeros programas de computador que ocultam nossanavegao, bem como nossas mensagens eletrnicas.

    Mas atento s conseqncias decorrentes do anonimato na Internet, o Estado sem dvida alguma tambmpressionado pelas grande corporaes comerciais vm no anonimato um campo propcio para salvaguardarcrackers,pedfilos, terroristas etc. Da a existncia de sistemas como o j analisado Echelon.

    Em que pesem as alegaes dos seguranas do mundo, no deve o direito privacidade de todas as pessoas doplaneta ficar sobreposto meras investigaes; seria um total contrasenso.

    H de existirem medidas no combate terroristas, pedfilos e crackersque no violem o princpio maior do direito privacidade.

    2.3.3. Criptografia

    A criptografia pode ser definida como a arte de cifrar a escrita, de modo a tornla ilegvel para quem no possuir orespectivo cdigo. Vejamos o exemplo de uma palavra encriptada:

    BQHOSNFQZEHZ

    Parecem letras mortas colocadas aleatoriamente no papel, sem qualquer significado. Mas tratase, na verdade, deuma representao criptogrfica da palavra CRIPTOGRAFIA (desculpem o trocadilho). Parece complexo? Na verdade bem simples. Cada letra do alfabeto substituda pela letra que a antecede. Observemos atentamente as duasrepresentaes da palavra criptografia:

    C BR QI HP OT SO N

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    G FR QA ZF EI HA Z

    Esta a chamada criptografia simtrica. Nela, a mesma senha utilizada para cifrar a mensagem tambm a necessriapara decifrla. Fcil observar, portanto, que o processo deveras limitado e inseguro, uma vez que a senha, em

    algum momento e por algum meio, dever ser passada do remetente ao destinatrio.Mas a revoluo da criptografia se deu mesmo com o surgimento da chamada criptografia assimtrica, que utilizase deduas chaves, uma privada (senha) e outra pblica (nome de identificao). A chave pblica, como o prprio nome diz,pode ser do conhecimento de todos; j a privada sabida apenas pelo destinatrio da mensagem. Exemplificando: Ymandou uma mensagem encriptada para o endereo eletrnico de X (da podemos deduzir que Y conhecia achave pblica de X). Agora, para que X consiga visualizar a mensagem lhe enviada por Y dever abrila com suachave privada (que s ele, X, conhece). Importante observar que a chave privada s abre a mensagem que foienviada para a chave pblica prpria. Portanto, a chave privada de um suposto K jamais abriria a mensagem enviada chave publ ica de X.

    ntida, portanto, a superioridade da criptografia assimtrica diante da simtrica, bastando lembrar que nesta aomenos duas pessoas tm de saber a senha, enquanto naquela apenas a destinatria final.

    Alm disso, atravs de programas de computadores com criptografia assimtrica, como o mundialmente conhecido PGP Pretty Good Privacy(privacidade muito boa), desenvolvido por Philip Zimmermann, possvel encriptar mensagensutilizando complexas operaes matemticas praticamente indecifrveis, seno pela utilizao da chave privada.

    Mas o que importa para este estudo saber como a criptografia pode ajudar na tutela do direito privacidade comrelao coleta e posterior comercializao das Informaes Pessoais Identificveis.

    At o presente momento, o correio eletrnico o maior carecedor de proteo criptogrfica, pois, conquanto poucaspessoas saibam, a mensagem eletrnica antes de chegar caixa postal do respectivo destinatrio percorre umtortuoso caminho dentre os servidores do remetente e do destinatrio, podendo ser, neste nterim, facilmenteinterceptada tanto pelos servidores como por hackersou crackers. Mas o que mais assusta que a interceptao demensagens eletrnicas pode ser feita em larga escala, com uso de palavras chave (como o faz o projeto Echelon). Da,para cair em mos de terceiros mal intencionados ...

    Por outro lado, a despeito da mensagem eletrnica ser considerada um meio vulnervel de troca de informaes, sefosse usada a criptografia chegaramos ao paradoxo de verificar ser ela (a mensagem eletrnica) o meio mais seguro decomunicao. A reside o diferencial da criptografia.

    Parece, ento, estar descoberta a soluo para a defesa da privacidade, pelo menos no que concerne aoenvio/recebimento de emails. No entanto, como no podia deixar de ser, temos em contrapartida interesses deordem poltica, mxime aos de defesa militar de pases como EUA e Canad, que chegaram a proibir a exportao deprodutos militares e estratgicos, dentre esses os de criptografia forte.

    Proibir o uso da criptografia, a fim de impedir comunicaes de terroristas e contrabandistas entre si, seria o mesmo,em termos de desproporo, que proibir a todos o uso de celulares, s porque est constatado que criminososutilizamse desses aparelhos para traficar drogas. Um total disparate.

    Da mesma forma que proibido adquirir armas sem o devido porte legal para conter a criminalidade e o que vemosna prtica so os criminosos potencialmente armados , impedindose o uso da criptografia, quem vai de fato sairprejudicado so as pessoas honestas que tero sua privacidade devassada, enquanto os criminosos, terroristas etc,faro total uso da tecnologia, embora, ilegalmente.

    Inteligente foi o trocadilho colocado por Phillip Zimmermann: se a criptografia foi considerada fora da lei, apenas osforadalei tero criptografia.

    Outra aplicao utilssima para a criptografia seria nos bancos de dados de PIIs. Isso ao menos dificultaria a aodos hackerse crackers, bem como na manipulao dessas informaes por parte de funcionrios no treinados nemhabilitados para tanto.

    Alis, temos visto empresas srias, como a Unibanco.com, declarando em sua poltica de privacidade utilizar dacriptografia na proteo dos dados pessoais. Seno vejamos:

    As informaes dos usurios so coletadas pelo Unibanco por meios ticos e legais e guardadas de acordo com padresrgidos de segurana e confidencialidade. Ns trabalhamos para proteger a segurana de sua informao durante atransmisso usando Secure Socket Layers (SSL) que criptografa as informaes que os usurios digitam. (grifonosso)

    Derivado do direito privacidade podemos extrair o direito ao sigilo de informaes, e deste o direito criptografia

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    que na verdade mais se aproximaria de uma garantia instrumental preservao da privacidade.

    2.3.4. Controle Estatal

    Embora sejamos adeptos da corrente que acredita no ser a legislao, principalmente a punitiva, a grande arma paraenfrentar os violadores da privacidade humana no ambiente virtual, dada a natureza distribuda e global da Internet,num perodo em que a Rede est em plena fase de desenvolvimento, temos que admitir a necessidade dedeterminadas questes serem regulamentadas, mxime no tocante fiscalizao dos detentores de informaespessoais.

    Um instrumento garantidor dos preceitos constitucionais, genuinamente brasileiro, deve neste ensejo ser enfatizadodevido grandeza de sua importncia para a proteo dos dados pessoais. Referimonos ao Habeas Data, institutojurdico que permite a qualquer pessoa ter cincia das informaes a seu respeito detidas pelo governo, para exame eeventual retificao.

    Com efeito, segundo textual no artigo 5, inciso LXXII, da Constituio Federal de 1998:

    Art. 5 ...

    LXXII concederse "habeasdata":

    a) para assegurar o conhecimento de informaes relativas pessoa do impetrante, constantes de registros ou bancosde dados de entidades governamentais ou de carter pblico;

    b) para a retificao de dados, quando no se prefira fazlo por processo sigiloso, judicial ou administrativo;

    Conforme deliberado pelo texto constitucional, h duas hipteses em que poder o cidado valerse do HD: para terconhecimento dos dados pessoais tidos pelo governo a seu respeito e a eventual retificao dos mesmos.

    O remdio constitucional em anlise somente se justificar ocorrendo recusa do governo em prestar tais informaesou em retificar o dado supostamente incorreto.

    de se acentuar a relevncia do instituto que dota o cidado da necessria proteo de seus dados pessoais e de suaprivacidade. Mas e quanto s informaes pessoais constantes permanentemente nos bancos de dados de empresasprivadas?

    Atento aos eventuais danos privacidade decorrentes do mal uso de Informaes Pessoais Identificveis, trouxe oCdigo de Defesa do Consumidor uma sria de regras destinadas sua proteo, no especificamente no meio virtual,

    incluindo dispositivo semelhante ao Habeas Data, mas no mbito privado;"Art. 43 O consumidor, sem prejuzo do disposto no art. 86, ter acesso a informaes existentes em cadastros, fichas,registros e dados pessoais e de consumo arquivados sobre ele, bem como sobre as suas respectivas fontes.

    Pargrafo 1 Os cadastros e dados de consumidores devem ser objetivos, claros, verdadeiros e em linguagem de fcilcompreenso, no podendo conter informaes negativas referentes a perodo superior a cinco anos.

    Pargrafo 2 A abertura de cadastro, ficha, registro e dados pessoais e de consumo dever ser comunicada por escritoao consumidor, quando no solicitada por ele.

    Pargrafo 3 O consumidor, sempre que encontrar inexatido nos seus dados e cadastros, poder exigir sua imediatacorreo, devendo o arquivista, no prazo de cinco dias teis, comunicar a alterao aos eventuais destinatrios dasinformaes incorretas.

    Pargrafo 4 Os bancos de dados e cadastros relativos a consumidores, os servios de proteo ao crdito e congneresso considerados entidades de carter pblico.

    Pargrafo 5 Consumada a prescrio relativa a cobrana de dbitos do consumidor, no sero fornecidas, pelosrespectivos sistemas de proteo ao crdito, quaisquer informaes que possam impedir ou dificultar novo acesso aocrdito junto aos fornecedores". (grifo nosso)

    Ratificando os termos do art. 34 do CDC, porm com mais nfase coleta e gerenciamento de dados pessoais atravsda Internet, tramita no Congresso Nacional o Projeto de Lei n 3360/00, dispondo sobre a privacidade de dados e arelao entre usurios, provedores e portais em redes eletrnicas.

    Dentre outros detalhes, o Projeto de Lei supra citado reza, ainda, que as Informaes Pessoais Identificveis spodero ser coletadas aps expressa autorizao do usurio e tambm assegura que os dados coletados no sero

    usados para outro fim seno o expresso na cincia do usurio. Fixa, ainda, uma multa no valor de R$ 300.000,00(trezentos mil reais) para quem descumprir o prescrito nos seus mandamentos.

    Em que pese o zelo merecido proteo da privacidade, uma sano pecuniria nesse patamar pode acabartransformando um diploma legal de profunda relevncia em letra morta no mundo jurdico.

    Faltam, por outro lado, normas fiscalizadoras das polticas de privacidade oferecidas pelos websites, o que talvez

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    resolveria a maioria dos problemas relativos coleta de PIIs. Pois, sem fiscalizao, mesmo que, em tese, a polticado siteseja um modelo de respeito privacidade, como poderemos ter certeza que est sendo cumprida? S mesmoatravs de uma efetiva fiscalizao por parte de agentes estatais ou independentes prestadores de servios pblicos.

    De qualquer forma, nos casos envolvendo a privacidade, sobretudo no quanto afeto aos dados pessoais, os Juizes eTribunais que tero um papel imprescindvel na soluo das lides, mormente pelo fato de misturaremse questesmeramente subjetivas (privacidade) com temas modernos e carentes de legislao especfica.

    2.3.5. Autoregulao

    medida que a Internet cresce, cresce tambm a preocupao com a privacidade dos seus usurios. certo afirmar,portanto, que, partindo do principio de que no existe controle direto sobre a manipulao de dados pessoais,gradativamente as decises dos usurios tero como base o critrio da confiana.

    Significa dizer que haver uma verdadeira declarao de guerra dos usurios comuns aos manipuladores de PIIs queno convergirem s regras da proteo privacidade.

    Sabido que as principais adestradoras de Informaes Pessoais Identificveis so as empresas ponto com, a essas nadainteressa terem a antipatia dos consumidores. Isso, naturalmente, far com que elas se moldem aos interesses dosseus clientes, ganhandolhes a confiana. Confiana essa s garantida se forem seguidas risca as polticas deprivacidade previamente combinadas.

    Portanto, parecenos que o futuro da Internet seguir o caminho traado pela confiana que os usurios depositaremnela. Se houver efetiva procura por privacidade, as detentoras de PIIs tero que ceder, ou ento nadaro contra a

    mar.Aprender a utilizar polticas de privacidade como parte de sua rotina individual de troca de dados pode ajudar aInternet a passar da era da coleta oculta de dados para um tempo em que os termos e condies da maioria das trocasde dados sejam caras, transparentes, mutuamente acordados e rigorosamente cumpridos .

    Concluso

    No decorrer do presente estudo foram abordadas questes acerca da violao ao direito privacidade na Internet, decuja anlise podese desprender as seguintes concluses:

    1. A Internet sem dvida o meio eletrnico de maior capacidade de captao e gerenciamento de informaes.

    2. Informaes Pessoais Identificveis tm alto valor econmico para diversos setores da sociedade, como empresas e

    governos, uma vez que do cruzamento desses dados possvel chegar ao perfil da pessoa correspondente e, com isso,direcionar investimentos (no caso das empresas) e investigar criminosos (no caso dos governos).

    3. A coleta de dados na Internet sem o conhecimento ou a prvia autorizao do usurio afronta o direito privacidade, podendo acarretar danos irreparveis ao usurio, o qual dispe de poucos meios para impedir tal prtica.

    4. A melhor maneira de impedir que a privacidade do usurio da Internet seja violada a sua prpria conscientizao.Quando os sujeitos que agora se sentem violados no mais embarcarem nos websitesdesprovidos de polticas deprivacidade convenientes, srias e, preferencialmente, fiscalizadas por agentes competentes haver uma substancialpossibilidade de sopesar a questo.

    Apoiar empresas com polticas de privacidade slidas e claras no apenas ajuda a proteger sua privacidade comotambm encoraja uma tendncia geral e direo plena divulgao de todas as prticas que tm a ver com aconfiabilidade de uma empresa.

    Na nova economia Internet, empresas que tentam esconder o jogo, em especial as que se engajam em atividadespouco confiveis, se vero nadando contra a mar.

    Portanto, estamos convencidos de que a melhor estratgia para a manuteno da nossa privacidade no ambientevirtual , de fato, a preveno.

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    Informaes Sobre o AutorTiago Farina Matos

    Advogado militante em So PauloSP.