Comercio Exterior

Embed Size (px)

Citation preview

  • Comrcio Exterior Poltica Aduaneira e Fiscal

    Paulo Werneck

    Fevereiro 2008

  • Paulo Werneck - Poltica Aduaneira e Fiscal

    2

    Autor

    Auditor fiscal aduaneiro, mestre em Administrao Pblica pela Fundao Getulio Vargas. Autor de "Comrcio Exterior e Despacho Aduaneiro", 4 e. e "Misso da Aduana Brasileira sob a tica Empresarial", publicados pela Editora Juru, de Curitiba, "Como Classificar Mercadorias: Uma Abordagem Prtica", pela Edies Aduaneiras, bem como "Imposto de Importao, de Exportao e outros Gravames Aduaneiros", pela Freitas Bastos. Escreve no Sem Fronteiras, boletim da Aduaneiras.

    Blog: mercadores.blogspot.com

    Email: [email protected]

    Pgina: www.mercadores.com.br

    Werneck, Paulo

    Comrcio Exterior: Poltica Aduaneira e Fiscal / Pau-lo de Lacerda Werneck. 3. ed. - Rio de Janeiro : [s. n.], 2008. 112 p. Reprogrfico.

    1. Comrcio Exterior. I. Ttulo

    CDD - 346

    CDU - 347

  • Paulo Werneck - Poltica Aduaneira e Fiscal

    3

    Sumrio

    1 Conceitos Bsicos ............................................................................................................4 2 Polticas de Comrcio Exterior........................................................................................7 3 Balano de Pagamentos e Sistemas Cambiais .............................................................. 12 4 Estrutura governamental .............................................................................................. 15 5 Marketing Internacional ............................................................................................... 18 6 Gesto do Mercado & Planejamento............................................................................ 20 7 Contratos de compra e venda........................................................................................ 21 8 Transporte Internacional, logstica e modais de transporte ........................................24 9 Embalagem....................................................................................................................27 10 Seguros ......................................................................................................................... 28 11 Incoterms...................................................................................................................... 30 12 Pagamento e cmbio .....................................................................................................33 13 Modalidades de Financiamento....................................................................................36 14 Regulao Aduaneira ....................................................................................................39 15 Regimes Aduaneiros......................................................................................................44 16 Regimes Aduaneiros (cont.)..........................................................................................47 17 Impostos, Encargos e Gravames .................................................................................. 48 18 Impostos, Encargos e Gravames (cont.) .......................................................................53 19 Classificao Fiscal ........................................................................................................55 20 Valor aduaneiro .............................................................................................................63 21 Barreiras tarifrias e no tarifrias ...............................................................................66 22 Procedimentos. Siscomex. Bagagem............................................................................ 68 23 Despacho Aduaneiro: Exportao, RTS........................................................................ 71 24 Despacho Aduaneiro: Importao ................................................................................75 25 Infraes e Penalidades.................................................................................................78 26 Tratados Comerciais e Blocos Econmicos ................................................................. 83 Anexos ................................................................................................................................... 86 1 Modelos de Documentos.............................................................................................. 86 2 Simulao ......................................................................................................................96 3 Internet........................................................................................................................103 4 Siglas............................................................................................................................104 5 Glossrio...................................................................................................................... 105 6 Referncias .................................................................................................................. 112

  • Paulo Werneck - Poltica Aduaneira e Fiscal

    4

    1 Conceitos Bsicos

    1.1 Comrcio internacional

    Que comrcio? a compra e venda de mercadorias entre pessoas, isto , o vendedor entrega a mercadoria ao comprador, em troca o comprador paga o preo combinado ao vendedor.

    No comrcio interno, vendedor e comprador esto situados num mesmo pas. A opera-o sujeita-se cobrana de tributos internos, sobre a circulao de mercadorias, tais como Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) e Imposto sobre Circulao de Mercadorias e Servios (ICMS).

    Se vendedor e comprador esto situados em diferentes pases, trata-se de comrcio in-ternacional. A operao sujeita-se aos tributos internos e tambm aos gravames adua-neiros, tributos como Imposto de Importao (II) e Imposto de Exportao (IE).

    Operar no comrcio internacional mais complexo em funo de diversos fatores, como diferenas de lngua, de costumes, de moeda, de legislao, maiores distncias.

    Adicionalmente, os pases, em decorrncia de sua soberania, podem autorizar ou proibir a importao ou exportao de mercadorias.

    O comrcio internacional tambm abrange o comrcio de servios, mas como a Aduana s controla mercadorias tangveis, esse tema no ser abordado neste curso.

    Os pases importam mercadorias que no podem (ou no querem) produzir, por falta de tecnologia ou mesmo de condies naturais, assim como mercadorias objeto de desejo, em funo de design, qualidade, hbitos.

    Plato, filsofo grego que viveu entre 427 e 347 a.C., afirmou em A Repblica que fundar uma cidade ideal, num lugar tal que no seja preciso importar nada, quase impossvel: a cidade precisar de comerciantes, marinheiros, mercado e moeda.

    Os motivos para exportar so simples e poderosos: aumenta o mercado, logo as vendas, diminui o risco do negcio, obriga constante evoluo da tecnologia de produo, permite o recebimento de divisas.

    O Brasil exportou por muito tempo "produtos de sobremesa" - caf, acar, cacau - mas hoje a pauta est mais diversificada, incluindo at avies.

    1.2 Panorama do Comrcio Internacional

    O comrcio internacional de mercadorias composto por todas as operaes de importa-o e de exportao, sejam quais forem os pases de importao e exportao. A soma de todos os valores exportados e importados denominada corrente de comrcio global, que conta cada operao duas vezes, como exportao e como importao.

    A corrente de comrcio brasileira a soma de todas as exportaes e importaes, repre-sentando menos de um por cento da corrente global, enquanto nossa populao representa cerca de trs por cento da mundial, o que mostra que estamos bem aqum de nossas possi-bilidades.

    Por outro lado, comparando o comrcio exterior brasileiro com a nossa produo, fica cla-ro que apesar de o pas estar legalmente aberto a essas operaes, sua importncia interna bem pequena, o Pas estando voltado para dentro, o que tambm demonstra grandes possibilidades de crescimento.

    Na origem de cada operao temos um vendedor, um comprador ou uma empresa multi-nacional.

    As operaes determinadas pelos vendedores so aquelas em que os produtores ou comer-ciantes levam suas mercadorias ao exterior, procuram compradores, participam de feiras

  • Paulo Werneck - Poltica Aduaneira e Fiscal

    5

    internacionais, enviam amostras, em resumo, oferecem ativamente suas mercadorias, exe-cutando em plenitude as atividades de propaganda e marketing, usualmente com marcas prprias, que procuram valorizar.

    J naquelas determinadas pelos compradores, o movimento inverso: so eles que procu-ram produtos para adquirir, so eles os "donos da bola". Salvo honrosas excees, o Brasil mais comprado que vendido. Esta situao reduz o volume exportado e fragiliza o expor-tador, pois o comprador estrangeiro fica dono das informaes do mercado e pode procu-rar outro fornecedor sempre que entender adequado, ficando o fornecedor a ver navios.

    Finalmente, as operaes determinadas pelas empresas multi ou transnacionais so de-terminadas centralmente, levando em considerao o ambiente interno de cada pas, pro-curando reduzir ao mximo os custos de matria-prima e de mo-de-obra, com pouca ou nenhuma preocupao com os efeitos de suas decises aos pases afetados.

    Fruto das polticas econmicas de Fernando Collor de Mello e Fernando Henrique Cardo-so, assim como do movimento mais geral de globalizao da economia mundial, houve grande desnacionalizao da economia brasileira, com venda de empresas pblicas e pri-vadas brasileiras a compradores estrangeiros, retirando do Pas seus centros de deciso, o que prejudica a competitividade internacional do nosso pas, fruto da perda do poder deci-sivo.

    Abordando outro aspecto, o comrcio internacional pode ser dividido em commodities, produtos indistintos, de soja a partes de computador, e produtos de marca, seja em funo da tecnologia neles contida, seja de particularidades exclusivas associadas marca.

    A concorrncia entre os vendedores de commodities feita por preo, vende mais quem em princpio tem preo mais baixo, embora outros fatores tambm pesem, por certo, como a credibilidade do vendedor.

    Os vendedores de produtos com marca, ao contrrio, dispem de mercados monopoliza-dos, pois s quem pode fabricar os produtos em questo so os respectivos detentores. Es-sas "reservas de mercado" beneficiam tanto os donos de marcas, como Zippo, Channel, Bombril, quanto os produtores de regies demarcadas, como champagne. Um fabricante brasileiro de um vinho idntico ao champagne francs, no pode usar esse termo no rtulo, podendo descrev-lo prosaicamente como espumante.

    O monoplio das marcas no absoluto, pois se um consumidor entender que um produto com aquela marca est muito caro em relao a outro semelhante, sem marca ou com mar-ca menos prestigiada, esse consumidor poder deixar de adquirir o primeiro em favor do segundo. Mesmo assim a rentabilidade dos produtos com marca estabelecida no mercado supera bastante os sem marca, pois uns concorrem dentro do imaginrio, do desejo, en-quanto os outros tm que oferecer preos menores, reduzindo as respectivas margens de lucro.

    O Brasil tambm carente de produtos de marca para exportar, salvo as excees de praxe, havendo atualmente um movimento forte por parte do governo para auxiliar as empresas a desenvolverem suas marcas, ou pelo menos adotarem selos comuns a outras empresas se-melhantes, passando todas por processos de controle de qualidade, criando assim algo e-quivalente a regies demarcadas.

    1.3 Operao de comrcio exterior

    Em uma operao de comrcio exterior, diversos aspectos, na verdade completamente in-terligados, podem ser analisados separadamente para melhor a compreenso da operao: aspectos negocial, logstico, cambial, tributrio, administrativo-fiscal.

    O aspecto negocial envolve as questes relativas compra e venda em si. Abrange a de-finio de preo, prazo de pagamento, garantia do bem, prazo e local de entrega. Nessa dis-cusso em princpio participam o comprador e o vendedor, eventualmente com intermedi-rios.

  • Paulo Werneck - Poltica Aduaneira e Fiscal

    6

    Usualmente vendedor e comprador fazem contacto entre si, expem quais os interesses mtuos, ou seja, o que o vendedor tem para oferecer e o que o comprador deseja comprar. Em algum momento as negociaes so formalizadas pelo envio, pelo vendedor, de uma fatura pro-forma (pro-forma invoice), que caracteriza uma oferta firme do produto. Se o comprador concorda, envia uma mensagem confirmando o pedido. Eventualmente pode ser elaborado um contrato de compra e venda, mas na maioria das vezes simplesmente emitida uma fatura (invoice) e enviada a mercadoria.

    O aspecto logstico compreende as questes referentes ao transporte da mercadoria, do domiclio do vendedor at o domicilio do comprador, e inclui os aspectos de armazenagem durante o percurso e embalagem da mercadoria.

    Vendedor e comprador em pases diferentes podem ter moedas diferentes, obrigando troca de moedas. O aspecto cambial trata da permuta entre as moedas, o que se deno-mina cmbio.

    No Brasil o cmbio s pode ser feito em bancos e casa de cmbio autorizadas a operar com cmbio pelo Banco Central.

    A operao descrita sob o ponto de vista do banco: ser compra quando o banco compra divisas, pagando em reais, e ser venda quando o banco vende divisas, recebendo reais.

    No aspecto tributrio so analisadas as questes referentes ao pagamento de impostos e taxas referentes operao de comrcio exterior.

    O aspecto administrativo-fiscal diz respeito autorizao do governo para que haja a operao de comrcio exterior e a verificao da conformidade da mercadoria s normas e regulamentos nacionais.

  • Paulo Werneck - Poltica Aduaneira e Fiscal

    7

    2 Polticas de Comrcio Exterior

    2.1 Introduo

    No Antigidade, os tributos sobre a entrada, sada ou passagem de mercadorias, mesmo antes de definidos os conceitos de estado e fronteira, tinham finalidade estritamente fiscal, ou seja, de arrecadar tributos para o governante.

    Por exemplo, o teloneion de Atenas, cobrado ao ser descarregada a mercadoria no porto do Pireu; os portoria romanos, nas passagens pelos postos fiscais, espalhados pelas vias ro-manas. Suas alquotas variavam usualmente entre 2 e 2,5% do valor da mercadorias.

    Observao: No Brasil colonial, tributos semelhantes foram cobrados nos registros e contagens, estabelecimentos fiscais localizados nos caminhos que levavam para o interior.

    Com o advento da doutrina mercantilista, segundo a qual a riqueza de uma nao medida por suas reservas em metais preciosos, surgiu a necessidade de expandir as exportaes e restringir as importaes. Jean-Baptiste Colbert (1619-1683), controlador geral de finanas no reinado de Lus XIV, na Frana, seguindo essa poltica, utilizou os tributos aduaneiros para proteger a marinha mercante e a indstria francesas.

    Desde ento, os gravames aduaneiros passaram a ser estudados e utilizados como ferra-mentas de interveno no domnio econmico, no mais como ferramenta de mera arreca-dao, como bem o notou Ea de Queiroz1, em 1867:

    Hoje est geralmente reconhecido que o estabelecimento dos direitos de alfndega tem dois fins: primeiro, d um rendimento ao tesouro; segundo, d ao governo meios de e-xercitar ou de reprimir o desenvolvimento desta ou daquela indstria, deste ou daquele gnero de comrcio.

    Depois surgiu o liberalismo e seu mote laissez faire, laissez passer (permita produzir, permita passar [pelas alfndegas]), com a Teoria das Vantagens Absolutas, que sustentava que o comrcio entre as naes era benfico a todas, por permitir que cada uma se especia-lizasse naquilo que produzia melhor, trocando seus excedentes pelos excedentes das de-mais naes, da defender a eliminao total de barreiras tributrias. Adam Smith2 (1723-1790) escreveu:

    "Todo pai de famlia prudente tem como princpio jamais tentar fazer em casa aquilo que custa mais fabricar do que comprar. O alfaiate no tenta fazer os prprios sapatos, mas compra-os do sapateiro. ... Todos eles consideram de seu interesse empregar toda sua atividade de forma que aufiram alguma vantagem sobre seus vizinhos, comprando com uma parcela de sua produo - ou, o que a mesma coisa, com o preo de uma parcela dela - tudo o mais de que tiverem necessidade."

    Para demonstrar essa teoria, consideraremos, por hiptese, que cada pas dispe de 120.000 unidades de trabalho, e que o custo de uma unidade de mercadoria, em unidades de trabalho, est expresso na tabela:

    Hiptese: Custos Unitrios em Unidades de Trabalho

    Mercadoria X Mercadoria Y

    Pas A 8 2

    Pas B 3 5

    Pas C 10 10

    De acordo com isso, sem comrcio, a produo anual dos pases A e B, dividindo os recur-

    1 Queirs, Ea de. Sobre as Alfndegas. In: Da Colaborao no Distrito de vora (1867), v. 1, p. 42-45. 3 v. Lisboa: Livros do Brasil, s. d. [Publicado originalmente no n. 4 do peridico Distrito de vora, em 17 de janeiro de 1867]. 2 Smith, Adam. A Riqueza das Naes, Livro IV, cap. II [v. 1, p. 380]. So Paulo: Abril Cultural, 1983.

  • Paulo Werneck - Poltica Aduaneira e Fiscal

    8

    sos igualmente pelas duas mercadorias, seria menor do que se cada um se especializasse no que faz melhor.

    Essa teoria serviu de base para a defesa da vocao industrial de certos pases, os pases perifricos devendo se especializar na produo agrria.

    Simulao: Teoria das Vantagens Absolutas

    Sem comrcio Com comrcio

    Mercadoria X Mercadoria Y Mercadoria X Mercadoria Y

    Pas A 15.000 15.000 5.000 45.000

    Pas B 15.000 15.000 40.000 -

    Total 30.000 30.000 45.000 45.000

    Nessa teoria "esquecem-se" os fatores polticos, as manipulaes de preos, as foras ar-madas de cada pas, que tantas vezes impem a vontade dos mais fortes aos mais fracos.

    Refinamento posterior da teoria, conhecido como Teoria das Vantagens Comparativas, pouco alterou o quadro. Agora se reconhecia que as naes, mesmo que fossem as melho-res na produo de todas as mercadorias, deveriam se especializar naquelas em que fossem mais eficientes relativamente s demais, e trocar seus excedentes com os dos demais pa-ses, naquilo que estes produzissem melhor. Outra vez ocorreria a maximizao da produ-o total, beneficiando a todos, como podemos ver na tabela seguinte, pela qual o pas B sempre mais eficiente que o pas C. Escreveu Ricardo3 (1772-1823):

    "A Inglaterra pode estar em tal situao que, necessitando do trabalho de 100 homens por ano para fabricar tecidos, poderia, no entanto, precisar do trabalho de 120 durante o mesmo perodo, se tentasse produzir vinho. ... Em Portugal, a produo de vinho po-de requerer somente o trabalho de 80 homens por ano, enquanto a fabricao de tecido necessita do emprego de 90 homens durante o mesmo tempo. Ser portanto vantajoso para Portugal exportar tecidos em troca de vinho. ... porque lhe seria mais vantajoso a-plicar seu capital na produo de vinho, pelo qual poderia obter mais tecido da Ingla-terra do que se desviasse parte de seu capital de cultivo da uva para a manufatura da-quele produto".

    Simulao: Teoria das Vantagens Relativas

    Sem comrcio com C Com comrcio

    Mercadoria X Mercadoria Y Mercadoria X Mercadoria Y

    Pas A 5.000 45.000 2.000 54.000

    Pas B 40.000 - 40.000 -

    Pas C 6.000 6.000 12.000 -

    Total 51.000 51.000 54.000 54.000

    Essas teorias foram sendo sucessivamente aperfeioadas mas nunca conseguiram incluir certos fatos da economia real, notadamente que a economia no se move em busca da ma-ximizao da satisfao da populao mundial, mas movida por interesses mesquinhos e particulares. Por isso, e desde ento, teram foras duas linhas antagnicas de pensamen-to: liberalismo e protecionismo.

    Os protecionistas, ao contrrio dos liberais, reconhecem que os mercados so muito imper-feitos e, portanto, defendem que os pases defendam sua produo por meio diversos me-canismos, entre os quais as tarifas aduaneiras.

    2.2 Fases histricas da poltica de exportao e de importao

    No incio, a primeira mercadoria brasileira, de interesse do rei portugus, era o pau-brasil.

    3 Ricardo, David. Princpios de Economia Poltica e Tributao, cap. VII, p. 104. So Paulo: Abril Cultural, 1982.

  • Paulo Werneck - Poltica Aduaneira e Fiscal

    9

    O trato (= negcio, comrcio) da droga (= mercadoria) era arrendado a particulares. O primeiro arrendatrio foi Fernam de Noronha, que recebeu permisso para explorar o pau brasil, por 10 anos, em troca de pagar anualmente 4.000 ducados ao rei e enviar, a cada ano, 6 navios para reconhecerem 300 lguas das novas terras.

    Do pau-brasil a produo da colnia passou para a cana-de-acar e, no sculo XVIII, para a explorao de ouro nas Geraes.

    O comrcio era centralizado nas mos de Portugal, com cobrana de tributos tanto na im-portao como na exportao, e proibio de produo autnoma de mercadorias. Tratava-se do Pacto Colonial, ou Exclusivo Colonial, como defendido pelo bispo Azeredo Coutinho4, nascido no Brasil, mas leal aos interesses do Reino de Portugal:

    "... necessrio que as colnias, de sua parte, sofram: 1) que s possam comerciar dire-tamente com a Metrpole, excluda toda e qualquer outra nao, ainda que lhes faa um comrcio mais vantajoso; 2) que no possam as colnias ter fbricas, principalmen-te de algodo, linho, l e seda, e que sejam obrigadas a vestir-se das manufaturas e da indstria da Metrpole"

    Portugal lucrava trs vezes: comprava barato, vendia caro e arrecadava tributos de impor-tao e exportao. Mesmo assim os brasileiros procuravam atender aos prprios interes-ses, enfrentando a Coroa Portuguesa, e assim provocando reaes como o alvar5 que, em 5 de janeiro de 1785, D. Maria I, rainha de Portugal, promulgou:

    "Eu a rainha fao saber aos que este alvar virem: que sendo-me presente o grande nmero de fbricas e manufaturas que de alguns anos por esta parte se tm difundido em diferentes capitanias do Brasil, com grave prejuzo da cultura, e da lavoura, e da ex-plorao de terras minerais daquele vasto continente; porque havendo nele uma gran-de, e conhecida, falta de populao, evidente que, quanto mais se multiplicar o nme-ro dos fabricantes, mais diminuir o dos cultivadores; e menos braos haver que se possam empregar no descobrimento, e rompimento de uma grande parte daqueles ex-tensos domnios que ainda se acha inculta, e desconhecida. Nem as sesmarias, que formam outra considervel parte desses mesmos domnios, podero prosperar, nem florescer, por falta do benefcio da cultura, no obstante ser esta a essencialssima con-dio com que foram dadas aos proprietrios delas. E at nas terras minerais ficar ces-sando de todo, como j tem consideravelmente diminudo, a extrao de ouro, e dia-mantes, tudo procedido da falta de braos, que devendo-se empregar nestes teis e van-tajosos trabalhos, ao contrrio os deixam, e abandonam, ocupando-se de outros total-mente diferentes, como so as referidas fbricas e manufaturas. E consistindo a verda-deira e slida riqueza nos frutos e produes da terra, os quais somente se conseguem por meio de colonos e cultivadores, e no de artistas e fabricantes. E sendo alm disso as produes do Brasil as que fazem todo fundo e base, no s das permutaes mer-cantis, mas da navegao e comrcio entre meus leais vassalos habitantes destes reinos, e daqueles domnios, que devo animar, sustentar em benefcio comum de uns e outros, removendo na sua origem os obstculos que lhes so prejudiciais e nocivos.

    Em considerao de todo o referido, hei por bem ordenar que todas as fbricas, manu-faturas ou teares de gales, de tecidos, de bordados de ouro e prata, de veludos, bri-lhantes, cetins, tafets, ou qualquer outra espcie de seda; de belbuts, chitas, bombazi-nas, fustes, ou de qualquer outra fazenda de linho, branca ou de cores; e de panos, droguetes, baetas, ou de qualquer outra espcie de tecido de l; ou que os ditos tecidos sejam fabricados de um s dos referidos gneros ou misturados, e tecidos uns com os outros; excetuando-se to somente aqueles ditos teares ou manufaturas em que se te-cem, ou manufaturam, fazendas grossas de algodo, que servem para o uso e vesturio

    4 Coutinho, J J da C de Azeredo. Ensaio Econmico sobre o Comrcio de Portugal e suas colnias. In: Obras Econmicas de J. J. da Cunha de Azeredo Coutinho. (1724-1804). So Paulo: Companhia Editora Nacional, 1966. [Primeira edio: 1794] 5 Extrado de Antonio Mendes Jr., Luiz Roncari & Ricardo Maranho. Brasil histria: texto e consulta, (vo-lume 2 - Imprio). So Paulo: Brasiliense, 1977 pp. 54-5. Disponvel em http://www.webhistoria.com.br/arqdirfont1.html. Acesso em 8 de agosto de 2006.

  • Paulo Werneck - Poltica Aduaneira e Fiscal

    10

    de negros, para enfardar, para empacotar, e para outros ministrios semelhantes; todas as mais sejam extintas e abolidas por qualquer parte em que se acharem em meus do-mnios do Brasil, debaixo de pena de perdimento, em tresdobro, do valor de cada uma das ditas manufaturas, ou teares, e das fazendas que nelas houver e que se acharem e-xistentes dois meses depois da publicao deste; repartindo-se a dita condenao me-tade a favor do denunciante, se houver, e outra metade pelos oficiais que fizerem a dili-gncia; e no havendo denunciante, tudo pertencer aos mesmos oficiais."

    Essa situao permaneceu at a vinda da famlia real para o Brasil, fugindo de Napoleo, quando o ento Prncipe Regente, em Carta Rgia6 de 28 de janeiro de 1808, determinou a abertura dos portos s naes amigas, leia-se, Inglaterra:

    Conde da Ponte, do meu Conselho, Governador e Capito General da Capitania da Ba-hia. Amigo: Eu, o Prncipe Regente vos envia muito saudar, como aquele que amo. A-tendendo representao, que fizestes subir minha Real Presena, sobre se achar in-terrompido e suspenso o comrcio desta Capitania, com grave prejuizo dos meus vassa-los e da minha Real Fazenda, em razo das crticas e pblicas circunstncias da Europa; e querendo dar sobre este importante objeto alguma providncia pronta e capaz de me-lhorar o progresso de tais danos: sou servido ordenar interina e provisoriamente, en-quanto no consolido um sistema geral que efetivamente regule semelhantes matrias, o seguinte:

    Primo: Que sejam admissveis nas Alfndegas do Brasil todos e quaisquer gneros, fa-zendas e mercadorias transportadas, em navios estrangeiros das Potncias, que se con-servam em paz e harmonia com minha Real Coroa, ou em navios dos meus vassalos, pagando por entrada vinte e quatro por cento, a saber: vinte de direito grossos, e quatro do donativo j estabelecido, regulando-se a cobrana destes direitos pelas pautas, ou aforamento, porque at o presente se regulam cada uma das ditas Alfndegas, ficando os vinhos, guas ardentes e azeites doces, que se denominam molhados, pagando o do-bro dos direitos, que at agora nelas satisfaziam.

    Segundo: Que no s os meus vassalos, mas tambm os sobreditos estrangeiros possam exportar para os Portos, que bem lhes parecer a benefcio do comrcio e agricultura, que tanto desejo promover, todos e quaisquer gneros e produes coloniais, a exceo do pau-brasil, ou outros notoriamente estancados, pagando por sada os mesmos direi-tos j estabelecidos nas respectivas Capitanias, ficando entretanto como suspenso e sem vigor todas as leis, cartas rgias, ou outras ordens que at aqui proibiam neste Es-tado do Brasil o recproco comrcio e navegao entre meus vassalos e estrangeiros. O que tudo assim fareis executar com zelo e atividade que de vs espero".

    Poucos anos depois, em 1822 foi proclamada a Independncia. No Imprio, os principais produtos de exportao eram caf, acar, algodo e borracha. No incio, acar em pri-meiro lugar (30%), caf e algodo um pouco abaixo (20%), irrelevante a borracha. No final, caf onipresente (60%), algodo e borracha na faixa dos 10% e o acar reduzido a meros 5%.

    Participao dos Tributos Aduaneiros na Receita do Imprio7

    Receita Tributria Receita Total

    Imposto de Importao 71 % 59 %

    Imposto de Exportao 13 % 11 %

    Total 84 % 70 %

    Sem produo interna, tanto devido ao Pacto Colonial, como tambm pequenez do mer-cado interno, fruto da opo pelo trabalho escravo, a receita do Imprio era principalmente

    6 Revista do Instituto Histrico e Geogrfico de So Paulo, Volume IX. Disponvel em http://www.webhistoria.com.br/arqdirfont5.html. Acesso em 8 de agosto de 2006. 7 Carluci, Jos Lence. Uma Introduo ao Direito Aduaneiro. So Paulo: Aduaneiras, 1997.

  • Paulo Werneck - Poltica Aduaneira e Fiscal

    11

    aduaneira, tributando-se no apenas a importao, como tambm a exportao, pois anti-gamente defendia-se o imposto de exportao como algo que permitia arrecadar sem one-rar o custo de vida da populao local.

    Em 1844, vitria dos protecionistas, a Tarifa Alves Branco aumentou a taxa alfandegria para os produtos importados, que passou a variar de 30 a 60%, conforme o produto. Apro-veitando essa situao, o Baro de Mau fundou diversas empresas, com por exemplo o estaleiro em Ponta da Areia. Entretanto, j em 1857, a Reforma Cotegipe, atendendo os interesses liberais do agronegcio, reduziu as tarifas, e trs anos depois a Reforma Alves Ferraz jogou uma p-de-cal na poltica protecionista.

    Os agricultores argumentavam que as tarifas protecionistas encareciam os insumos que utilizavam, e portanto os produtos agrcolas que produziam, fazendo-os perder mercados e lucros.

    S na poca Vargas, os protecionistas defensores da industrializao conseguiram sobrepu-jar os liberais defensores do pas agrrio-exportador, o que resultou na criao de grandes indstrias de base, como Petrobrs e Companhia Siderrgica Nacional.

    Seguiu-se a poltica de substituio de importaes, sempre com aduanas protecionistas, at que Collor abriu, ou pior, escancarou o mercado nacional concorrncia externa.

    Hoje o nosso comrcio exterior encontra-se aberto, mas o Estado brasileiro tem feito esfor-os significativos no fomento das exportaes e apoio aos exportadores.

  • Paulo Werneck - Poltica Aduaneira e Fiscal

    12

    3 Balano de Pagamentos e Sistemas Cambiais

    3.1 Balano de Pagamentos

    O balano de pagamentos o registro sistemtico de todas as transaes econmicas realizadas entre os residentes em determinado pas e os residentes no resto do mundo, du-rante um perodo, usualmente um ano.

    Por residentes entenda-se no s as pessoas naturais, mas tambm - e principalmente - as empresas.

    O registro sistemtico no feito mo, mas utilizando-se os diversos sistemas informati-zados do governo, em especial o Siscomex, Sistema Integrado de Comrcio Exterior, onde so registradas as declaraes de importao e exportao, e o Sisbacen, Sistema do Banco Central, onde so registrados os contratos de cmbio. Esses registros utilizam cdigos para classificar as operaes, o que facilita a produo de estatsticas e a elaborao do balano.

    Com os dados do balano pode ser avaliada a sade internacional do pas, o resultado das aes de poltica econmica, diagnosticados os problemas.

    A estrutura do balano de pagamentos, conforme estabelecido pelo Fundo Monetrio Internacional (FMI) a seguinte, tendo como exemplo o balano brasileiro de 1999, em milhes de dlares americanos:

    TRANSAES CORRENTES 24.379- Balana Comercial (FOB) 1.206- Exportaes 48.011 Importaes 49.218- Balana de Servios 25.212- Juros 15.168- Viagens internacionais 1.437- Fretes 2.804- Seguros 127- Lucros e dividendos 4.058- Outros servios 1.618- Transferncias Unilaterais 2.040 Receitas 2.335 Despesas 295- MOVIMENTO DE CAPITAIS 13.804 Investimentos 30.122 Financiamentos 16.033 Amortizaes 51.905- Emprstimos 19.554 Curto Prazo 8.409- Mdio e Longo Prazo 27.963 Ouro Monetrio ... ERROS E OMISSES 165- SALDO 10.740-

    A balana comercial melhorou bastante, tendo registrado superavits expressivos, mas a balana de servios continua sendo um sorvedouro de recursos. Os dados preliminares de 2003 indicam grande melhoria nas transaes correntes:

    TRANSAES CORRENTES 4.051 Balana Comercial (FOB) 24.831 Exportaes 73.085 Importaes 48.254- Balana de Servios 23.640- Viagens internacionais 218 Fretes 1.746- Seguros 436- Juros 13.020- Lucros e dividendos 5.640- Governo 151- Transferncias Unilaterais 2.867

  • Paulo Werneck - Poltica Aduaneira e Fiscal

    13

    Tanto no expressivo endividamento pblico e privado do Pas, como por diversos outros servios: fretes, seguros, royalties, dividendos, lucro). Desde o quase desaparecimento da marinha mercante brasileira, passando pelo fluxo turstico exportador, notadamente para Disney, at a desnacionalizao progressiva da economia, com venda de estatais e privadas para empresas estrangeiras, tudo motivo para termos balana de servios muito negativa.

    As transferncias unilaterais registram doaes e remessas de imigrantes. Costuma ser fa-vorvel ao Brasil, pois somos exportador de mo-de-obra, pessoas que trabalham at ile-galmente no estrangeiro e remetem dinheiro para suas famlias. Alm disso temos inme-ras ONGs no exterior que patrocinam atividades no Pas.

    Na parte de movimento de capitais, h que se registrar o significado especfico de investi-mento, financiamento e emprstimo. Investimento capital de risco, no exigvel, enquan-to emprstimo exigvel e deve retornar quando do vencimento. Financiamento refere-se a financiamento de exportao ou importao, ou seja, o movimento inicial ocorreu em mer-cadoria; semelhante ao emprstimo, exigvel no vencimento.

    3.2 Sistemas Cambiais

    Cmbio a troca de uma moeda por outra, necessria para o funcionamento do comrcio internacional. Se importamos algo e temos que pagar a mercadoria em euros, necessrio trocarmos nossos reais pela moeda europia. O inverso ocorre nas exportaes, ou quando um turista estrangeiro vem ao Brasil: sua moeda no deve ser utilizada nos pagamentos no nosso Pas, de modo que ele deve troc-la, isto , cambi-la.

    Taxa de cmbio o preo, em moeda nacional, de uma unidade de moeda estrangeira.

    Por sistema cambial entendemos o modo de evoluo das taxas de cmbio. Existem dois modelos principais e opostos: o sistema de cmbio fixo, em que o governo define a taxa, e o de cmbio flutuante, em que ela flutua ao sabor da oferta e da procura. Entre esses sistemas, diversos outros, como de bandas cambiais, em que o cmbio pode flutuar en-tre dois valores fixados pelo governo, podem ser empregues.

    Cada sistema oferece vantagens e desvantagens.

    O cmbio fixo oferece credibilidade, pois os exportadores, importadores, investidores po-dem planejar com segurana e previsibilidade suas operaes, o que incentivaria o comr-cio e o investimento internacionais. Tambm daria credibilidade poltica antiinflacion-ria, ao subordinar as polticas monetria e fiscal ao objetivo de manter a estabilidade cam-bial.

    Quando a taxa oficial afasta-se da que seria determinada pela oferta e procura, o regime de taxas fixas obriga o governo a queimar divisas para manter a oferta de moeda de moeda estrangeira ou instala-se o pernicioso cmbio "negro".

    Alm disso, se a taxa for fixada de modo a sobrevalorizar a moeda nacional, os recursos governamentais podem ser dilapidados no fornecimento de divisas para honrar importa-es, que crescem em prejuzo da indstria nacional.

    O cmbio flutuante, pelo contrrio, oferece flexibilidade; sua contrapartida a falta de cre-dibilidade do pas que o utiliza, notadamente quando sob processos altamente inflacion-rios.

    Funciona de modo auto-regulatrio. Se aumentam as exportaes, entram divisas, o que diminui o preo das moedas estrangeiras, incentivando as importaes. Aumentando estas, h mais necessidade de divisas, o preo destas sobe, o que incentiva as exportaes, num processo cclico. Alm disso, o mercado de cmbio pode ser afetado por ataques especula-tivos, que podem ser minimizados pela adoo de controles sobre a movimentao de capi-tais.

    O governo tambm pode intervir no cmbio, comprando ou vendendo moeda, de modo a evitar oscilaes excessivas do mercado.

  • Paulo Werneck - Poltica Aduaneira e Fiscal

    14

    A exacerbao da taxa de cmbio fixa a "dolarizao", onde a moeda nacional substitu-da pela moeda norte-americana. Para fazer isso o pas tem que possuir reservas suficientes para comprar toda a moeda em circulao. Existe a vantagem inicial de eliminar o risco cambial, uma vez que a moeda em circulao passar a ser a moeda mais aceita no mundo, mas no elimina os outros riscos, pois a moeda apenas um dos elementos da sade finan-ceira de um pas.

  • Paulo Werneck - Poltica Aduaneira e Fiscal

    15

    4 Estrutura governamental

    O governo brasileiro est presente no comrcio exterior por meio de diversos rgos.

    Cabe Cmara de Comrcio Exterior (CAMEX) formular, decidir e coordenar polti-cas e atividades relativas ao comrcio exterior de bens e servios, incluindo turismo. Obje-tiva, tambm, servir de instrumento de dilogo e articulao junto ao setor produtivo, para que a poltica de comrcio exterior reflita as necessidades dos agentes econmicos.

    Na implementao das polticas sobressaem trs rgos distintos e independentes: SECEX, SRF e BACEN.

    A Secretaria de Comrcio Exterior (SECEX) faz parte da estrutura do Ministrio do Desenvolvimento, Indstria e Comrcio Exterior (MDIC) e est concentrada em Braslia e no Rio de Janeiro.

    Atua exclusivamente no comrcio exterior e tem como objetivos: 1) formular propostas de polticas e programas de comrcio exterior e estabelecer normas necessrias sua imple-mentao; 2) propor medidas, no mbito das polticas fiscal e cambial, de financiamento, de recuperao de crditos exportao, de seguro, de transportes e fretes e de promoo comercial; 3) propor diretrizes que articulem o emprego do instrumento aduaneiro com os objetivos gerais de poltica de comrcio exterior; 4) propor alquotas para o imposto de importao; 5) participar das negociaes em acordos ou convnios internacionais relacio-nados com o comrcio exterior; 6) implementar os mecanismos de defesa comercial; e 7) apoiar o exportador submetido a investigaes de defesa comercial no exterior.

    As empresas tm mais contato com a SECEX na obteno de autorizaes para exportar ou importar produtos sensveis, quando precisam abrir processos para se protegerem de pr-ticas comerciais desleais de empresas estrangeiras (dumping, subsdios) e ainda quando so alvo de processos desse tipo no exterior.

    A SECEX tambm analisa pedidos de estabelecimento de ex-tarifrios.

    A Secretaria da Receita Federal (SRF) pertence estrutura do Ministrio da Fazenda. Diferentemente da SECEX, atua em duas frentes: arrecadao de tributos federais e con-trole aduaneiro. Outra diferena: atua em todo o territrio nacional, com diversas unidades em cada estado da federao. No municpio do Rio de Janeiro, por exemplo, existe uma superintendncia, quatro delegacias, duas alfndegas, uma inspetoria e diversas agncias.

    Em relao ao comrcio exterior, seu papel relevante o controle aduaneiro de veculos e mercadorias, no s nas fronteiras, mas em todo o territrio nacional, para arrecadar tri-butos e proteger a vida, o meio-ambiente, o patrimnio histrico e as prticas leais de co-mrcio. No controla a entrada e sada de pessoas, pois no so mercadorias.

    O Banco Central do Brasil (BACEN) tambm faz parte do Ministrio da Fazenda, tendo como misso assegurar a estabilidade do poder de compra da moeda e a solidez do sistema financeiro nacional, o que inclui a formulao e gesto da poltica cambial, na qual se inclui a fiscalizao da movimentao de valores (divisas).

    Est presente nos estados, mas no tem estrutura capilar, pois sua fiscalizao muito concentrada nos bancos. O controle sobre movimentao de divisas em espcie nas frontei-ras foi delegada SRF.

    4.1 Outros rgos e instituies

    Outros rgos governamentais tambm atuam no comrcio exterior complementando as atividades da SECEX, como anuentes, analisando e concedendo (ou no) de licenas de importao ou exportao, ou mesmo verificando a mercadoria aps desembarcada.

    O Ministrio da Agricultura, por meio de seu Servio de Vigilncia Sanitria, fiscaliza a qualidade das mercadorias importadas, como alimentos e sementes, para evitar o consumo

  • Paulo Werneck - Poltica Aduaneira e Fiscal

    16

    de produtos danosos sade ou e a transmisso de pragas que possam prejudicar a nossa lavoura.

    O Ministrio da Sade tem servio semelhante. Outros ministrios tambm participam em suas reas de atuao.

    O Ministrio dos Transportes tambm tem papel importante, agora no controle dos veculos transportadores.

    O Instituto Nacional de Metrologia (INMETRO), por exemplo, executa as polticas nacionais de metrologia e da qualidade, verifica a observncia das normas tcnicas e legais, no que se refere s unidades de medida, mtodos de medio, medidas materializadas, ins-trumentos de medio e produtos pr-medidos; mantm e conserva os padres das unida-des de medida, de forma a torn-las harmnicas internamente e compatveis no plano in-ternacional. o INMETRO quem responde pelo acompanhamento internacional de nor-mas tcnicas, de modo a evitar que sejam estabelecidas barreiras tcnicas s nossas expor-taes.

    O Banco do Brasil atua agressivamente no comrcio exterior como banco comercial, e tambm presta servios para a SECEX, na anlise de licenas de importao, por exemplo.

    O BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econmico e Social) atua no comrcio exterior principalmente por meio de financiamentos exportao.

    A APEX (Agncia de Promoo das Exportaes) atua na formao das empresas exporta-doras, oferecendo treinamentos e assessoria, assim como na divulgao de nossos produ-tos no exterior, at mesmo desenvolvendo marcas brasileiras.

    4.2 Legislao aduaneira

    A legislao brasileira bastante vasta, composta por leis e atos administrativos.

    Por leis entende-se a Constituio Federal, que define os princpios mais importantes e as normas mais gerais, as leis complementares, as leis ordinrias e os decretos legislativos.

    Abaixo vm os atos administrativos, isto , decretos (do Executivo), resolues, portarias, atos declaratrios, instrues normativas, todos emitidos pelo Poder Executivo, que no podem contradizer os atos superiores, isto , as leis. Esses atos tm por objetivo dar efic-cia s leis, complementando-as. Por exemplo, se a lei autoriza a importao, o ato adminis-trativo vai definir o formato da declarao de importao, quem vai desembara-la, ou seja, cuidar dos detalhes.

    Um operador de comrcio exterior precisa estar atento legislao como um todo, mas em especial aos atos:

    da CAMEX, que definem polticas mais gerais e decidem sobre a aplicao de medi-das de defesa comercial;

    da SECEX, que regulam em tese as operaes que so autorizadas ou proibidas, se-gundo a convenincia da nao, por exemplo proibindo a importao de bens usados;

    do BACEN, que dispe sobre as operaes com moedas e o modo de as fazer; da Receita Federal, que formatam os processos de importao e exportao, os regi-

    mes aduaneiros, a cobrana de tributos.

    Na esfera da Receita Federal sobressai o Regulamento Aduaneiro (RA), publicado por decreto e que consolida as leis de cunho aduaneiro e a tributria na parte referente ao co-mrcio exterior. Isso explica porque os artigos do RA, em sua maioria, contm referncias a artigos de leis. Mas o RA sozinho no suficiente, devendo o interessado se informar tambm dos demais atos administrativos de menor grau, como portarias e instrues nor-mativas.

    4.3 Hierarquia dos instrumentos legais

    Trata-se de saber, em caso de conflito de normas, qual deve prevalecer. A hierarquia a

  • Paulo Werneck - Poltica Aduaneira e Fiscal

    17

    definida pelas regras do Direito: Constituio, leis complementares, leis ordinrias, decre-tos, normas administrativas.

    Alguns assuntos, como normas gerais tributrias, so reservados para leis complementa-res.

    CF, art. 146. Cabe lei complementar: I - dispor sobre conflitos de competncia, em matria tributria, entre a Unio, os Estados, o Distrito Federal e os Municpios; II - re-gular as limitaes constitucionais ao poder de tributar; III - estabelecer normas gerais em matria de legislao tributria, especialmente sobre: a) definio de tributos e de suas espcies, bem como, em relao aos impostos discriminados nesta Constituio, a dos respectivos fatos geradores, bases de clculo e contribuintes; b) obrigao, lana-mento, crdito, prescrio e decadncia tributrios; c) adequado tratamento tributrio ao ato cooperativo praticado pelas sociedades cooperativas; d) definio de tratamento diferenciado e favorecido para as microempresas e para as empresas de pequeno porte, inclusive regimes especiais ou simplificados no caso do imposto previsto no art. 155, II, das contribuies previstas no art. 195, I e 12 e 13, e da contribuio a que se refere o art. 239.

    Outros, como instituio de tributos e aumento de alquotas ou bases de clculo, para leis ordinrias.

    CF, art. 150. Sem prejuzo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, vedado Unio, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municpios: I - exigir ou aumentar tributo sem lei que o estabelea; ...

    Entretanto, emprstimos compulsrios e o Imposto sobre Grandes Fortunas exigem lei complementar.

    CF, art. 148. A Unio, mediante lei complementar, poder instituir emprstimos com-pulsrios: I - para atender a despesas extraordinrias, decorrentes de calamidade p-blica, de guerra externa ou sua iminncia; II - no caso de investimento pblico de car-ter urgente e de relevante interesse nacional, observado o disposto no art. 150, III, "b".

    CF, art. 153. Compete Unio instituir impostos sobre: ... VII - grandes fortunas, nos termos de lei complementar.

    As normas administrativas servem para detalhar as leis: definir formulrios, rotinas, obri-gaes acessrias.

    Os tratados internacionais so um captulo parte: firmados pelo Presidente da Repblica e referendados pelo Congresso, que os aprova mediante decretos legislativos, podem ser ento inseridos no ordenamento jurdico nacional por meio de decretos presidenciais.

    CF, art. 84. Compete privativamente ao Presidente da Repblica: ... VIII - celebrar tra-tados, convenes e atos internacionais, sujeitos a referendo do Congresso Nacional; ...

    CF, art. 49. da competncia exclusiva do Congresso Nacional: I - resolver definitiva-mente sobre tratados, acordos ou atos internacionais que acarretem encargos ou com-promissos gravosos ao patrimnio nacional; ...

    H divergncias com relao hierarquia entre tratados e leis. Entendo que tratado (ou melhor, o decreto que o insere no ordenamento), no ordenamento interno, revoga lei ante-rior e revogado por lei posterior; no mbito externo no afetado, podendo, em caso de descumprimento, sujeitar o pas a sofrer as retaliaes nele previstas.

  • Paulo Werneck - Poltica Aduaneira e Fiscal

    18

    5 Marketing Internacional

    5.1 Ambiente Global: diferenas culturais, polticas e legais

    Uma das diferenas marcantes entre o comrcio interno e o comrcio internacional, que no primeiro o ambiente bastante familiar e no segundo ocorre exatamente o contrrio.

    No comrcio interno tanto o vendedor como o comprador compartilham lngua, hbitos e crenas, utilizam a mesma moeda e esto submetidos mesma legislao. No comrcio internacional tudo isso muda, cada um tem seus costumes, sua moeda, suas leis, que po-dem ter pouco ou nada em comum com os do parceiro comercial.

    verdade que no Brasil, com sua extenso territorial e sua histria, apesar da lngua ser a mesma, regionalismos podem dificultar a compreenso, com palavras sendo utilizadas com significados distintos e at mesmo opostos em regies distintas; outras s so usadas em determinados locais, sendo desconhecidas fora deles.

    Mesmo pases pequenos podem sofrer de problemas semelhantes. So quatro as lnguas oficiais na Sua, na Espanha esto ressurgindo lnguas perseguidas durante a ditadura franquista, no vizinho Paraguai h pessoas que s falam guarani.

    Por outro lado, com a constituio e aprofundamento dos blocos econmicos, j temos uma moeda comum, o euro, sendo utilizadas em muitos pases europeus, cujas legislaes e tribunais particulares j esto subordinadas legislao e tribunais comunitrios.

    Vemos coexistirem dois movimentos, a princpio antagnicos: por um lado a globalizao, com a uniformizao das regras de comrcio, pela constituio de blocos econmicos e pela instituio de tratados comerciais cada vez mais amplos e detalhados; por outro a exacer-bao das caractersticas locais, com a afirmao de nacionalidades e tradies.

    O interessado em comerciar com o resto do mundo deve ter esse ambiente em mente e procurar compreender as diferenas culturais, polticas e legais que existem entre ele e seu parceiro internacional, de modo a que o negcio possa ser bom para ambos (seno no h negcio) e que surpresas desagradveis no venham a acontecer.

    Exemplo clssico o da estrela de seis pontas tradicionalmente presente no rtulo de uma bebida nacional, que foi exportada para um pas muulmano, onde essa estrela tinha a co-notao da Estrela de Davi, representativa de Israel, pas adversrio. bvio que o rtulo teve que ser mudado, mas com um pouco mais de compreenso dos hbitos do comprador no teria sido devolvida a primeira remessa, com os custos de frete envolvidos.

    As normas tcnicas internas tambm podem ser diferentes das utilizadas em nosso pas, a legislao pode impor requisitos aos rtulos, enfim, so muitos detalhes a serem pensados com antecedncia.

    Os exportadores tm como apoio a Secretaria de Comrcio Exterior, o Ministrio das Rela-es Exteriores, as cmaras de comrcio binacionais e outras empresas atuantes no comr-cio exterior, como bancos. Alm disso sempre bom enviar amostras do produto final, isto , incluindo embalagem, para avaliao pelo comprador em perspectiva.

    No sentido inverso, um importador brasileiro deve solicitar amostras e procurar conhecer as normas brasileiras, para verificar se a mercadoria em questo pode ser importada sem problemas.

    5.2 Estratgia global e seleo de mercados

    Uma empresa que queira exportar seus produtos precisa, primeiramente, selecionar os mercados que o possam consumir, eliminando os demais. Depois dever refinar a pesqui-sa, verificando a concorrncia existente nos mercados selecionados na primeira passagem, de modo a identificar os com melhor potencial. Finalmente passar a desenhar as estrat-

  • Paulo Werneck - Poltica Aduaneira e Fiscal

    19

    gias de conquista dos mercados selecionados, de modo a fazer com que os possveis com-pradores se interessem em adquirir os seus produtos.

    A primeira seleo razoavelmente simples, dependendo de uma boa dose de bom-senso e de cultura geral. Neste momento devero ser considerados cultura, clima, relevo, poder aquisitivo dos pases, assim como as caractersticas das mercadorias. Exportar esquis de neve para Cuba, iate para o Paraguai ou barracas de praia para o Tibet no parece ser bom negcio, embora os moradores desses locais possam viajar e utilizar esses bens em outros lugares.

    Escolhidos os pases mais promissores podem ser feitas pesquisas de mercado com base em informaes disponibilizadas por diversas instituies, at mesmo na internet, nas p-ginas do Ministrio das Relaes Exteriores, da Indstria, Comrcio e Turismo, assim co-mo podem ser consultadas as cmaras de comrcio binacionais dos pases em questo.

    verdade que pesquisas de mercado so instrumentos falhos, como bem ilustra uma his-tria contada por Amaury Temporal, diretor do Centro Internacional de Negcios do Rio de Janeiro, acontecida numa das primeiras feiras internacionais em que participou. L ha-via um candidato a exportador de limes, limes lindos, perfeitos, e um candidato a expor-tador de cachaa. Ambos desanimadssimos, sem receber uma proposta, sem ningum se interessar pelos seus produtos. Resolveram se unir e promover um kit-cachaa. Sucesso total.

    Mesmo assim, terminada a pesquisa inicial e selecionados os pases alvo, resta saber como alcanar seus compradores. As estratgias dependero de diversos fatores, inclusive do prprio produto a ser vendido. Patrocnio de eventos, participao em feiras, exposies e misses comerciais tambm podem ser alternativas interessantes. Tintas especiais para pintura artstica podero indicar a focalizao de escolas de belas artes e outros centros artsticos, enquanto moda praia poder sugerir contacto com cadeias de lojas de vesturio.

    Essas alternativas devem levar em conta os futuros canais de distribuio, a capacidade de produo da empresa, os modais de transporte passveis de serem utilizados, a distribuio geogrfica do comprador final.

  • Paulo Werneck - Poltica Aduaneira e Fiscal

    20

    6 Gesto do Mercado & Planejamento

    6.1 Tcnicas de gesto de mercado (direta, indireta e mista)

    As empresas podem gerir o mercador por meio de duas estratgias bsicas, a direta e a in-direta, bem como por combinao das duas.

    A gesto direta do mercado, a prpria empresa contacta os seus clientes, por meio de estrutura montada para isso, utilizando filiais, escritrios, agentes, representantes, distri-buidores no exterior. Tem como vantagem a eliminao de intermedirios e o domnio de todo o processo mercadolgico. A desvantagem o custo de manuteno dessa estrutura.

    A gesto indireta do mercado se d por meio de outras empresas, que intermediam as vendas. Podem ser tradings, agentes de compra e venda. A vantagem a diminuio dos custos, pois a remunerao dos intermedirios ser proporcional ao volume dos negcios, sem a necessidade de despesas fixas. A desvantagem a perda ou no obteno do controle do processo.

    Gesto mista inclui ambas, por exemplo pela manuteno de escritrios em alguns pa-ses, cujo volume ou potencial de comrcio o justifique, e contratao de terceiros para os outros mercados.

    Com o desenvolvimento da Internet j pode ser feita a gesto direta sem qualquer estrutu-ra no exterior, com venda direta ao consumidor, que acessa a pgina da empresa e nela faz seu pedido.

    No devemos confundir gesto direta ou indireta com exportao direta ou indireta. A ex-portao direta aquela em que a compra e venda se d entre o produtor e o consumi-dor:

    mercadoria produtor exportador pagamento

    importador

    Na exportao indireta o produtor vende a mercadoria para um intermedirio, uma trading company, por exemplo, ou uma cooperativa, que por sua vez a exporta para o im-portador.

    mercadoria mercadoria produtor

    pagamento exportador

    pagamento importador

  • Paulo Werneck - Poltica Aduaneira e Fiscal

    21

    7 Contratos de compra e venda

    7.1 Contratos de compra e venda

    Os contratos internacionais de compra e venda podem ser extremamente detalhados ou resumirem-se a um mero pedido por telefone ou e-mail. O que determina o formato , por exemplo, a complexidade do negcio sendo feito e a histria anterior entre vendedor e comprador.

    A encomenda de uma turbina para uma hidreltrica poder exigir negociao demorada e contrato detalhadssimo. A compra de um livro pela internet usualmente feita com um mero clicar em opes na pgina da internet do vendedor. Um distribuidor tradicional de bebidas finas importadas pode estar fazendo negcios com um determinado fornecedor h dezenas de anos, na verdade a primeira negociao se deu entre os pais ou avs dos atuais comprador e vendedor, de modo que um telefonema basta.

    No entanto, como regra geral, os contratos de compra e venda internacionais se resumem a um pedido, uma fatura pr forma, uma confirmao e o envio da mercadoria junto com a fatura.

    De alguma forma o vendedor e o comprador se comunicam e o vendedor fica sabendo do interesse do comprador por uma certa mercadoria em determinada quantidade.

    De posse desses dados o vendedor envia para o comprador uma proposta formal, a fatura pro forma (pro forma invoice), que configura uma oferta firme dentro de um determinado prazo de validade. Neste momento o comprador no tem nenhuma obrigao, mas o ven-dedor tem a de cumprir o proposto se receber o de acordo do comprador.

    Se o comprador no concordar com a proposta, informar ao vendedor seu descontenta-mento com as condies ofertadas, desistindo do negcio ou indicando as alteraes que deseja sejam feitas.

    Recebida a resposta negativa do comprador, o negcio deixou de existir. Se condicional, mas no do interesse do vendedor, este poder fazer nova proposta, enviando nova pro forma, e o processo continua.

    Caso o comprador tenha concordado com a proposta, o negcio est feito, e a o comprador no mais poder desistir. Se o comprador tiver concordado em termos, propondo altera-es, e estas forem aceitas pelo vendedor, o negcio tambm est fechado. Basta agora o vendedor enviar a mercadoria e a fatura comercial (invoice), incluindo as alteraes exigi-das pelo vendedor.

    Quanto fatura um documento relativamente simples e padro, embora no tenha for-mato definido por nenhum acordo internacional. Dever descrever a mercadoria, seu preo e condies de pagamento, identificar o vendedor e o comprador, especificar por conta de quem ficam as despesas de frete e seguro. recomendado que a fatura utilize um Inco-term, visto a seguir, como meio de tornar mais claros e compreensveis seus termos, mes-mo que os costumes comerciais do vendedor e comprador sejam muito distintos.

    7.2 Formao de preos

    A formao de preos para exportao no , em sua essncia, distinta da formao de pre-os para o mercado interno. Da mesma forma, o preo deve permitir cobrir os custos e re-sultar em algum lucro para o vendedor. Da mesma forma, o preo sofre os constrangimen-tos da concorrncia. Da mesma forma, o lucro pode ser sacrificado, o vendedor at mesmo pode incorrer em prejuzos em certas operaes, seja no processo de aprendizado, seja pa-ra abrir um mercado, prejuzos esses que podem ser entendidos como investimentos.

    O primeiro procedimento ser avaliar os custos especficos da exportao, diferentes dos associados s vendas no mercado interno.

  • Paulo Werneck - Poltica Aduaneira e Fiscal

    22

    Um ponto fundamental a considerar a embalagem, que usualmente deve ser mais resis-tente, tanto para enfrentar temperaturas extremadas, abaixo de zero nos pores das aero-naves, bastante altas dentro de cofres de carga nos navios, expostos dias ao sol inclemente. Alm disso as embalagens so mais manipuladas, e necessitam conter mais informaes, para permitir a compreenso de seus dizeres em outras lnguas. Assim h que especificar as embalagens de exportao e verificar o custo associado.

    O frete internacional tambm ter seu preo especfico, que pode ser maior ou menor do que o frete interno, dependendo claro da distncia e modal de transporte. Certamente o frete de exportao de Porto Alegre para Montevidu deve ser mais baixo que o de Porto Alegre para Manaus...

    Alm do frete devem ser consideradas as demais despesas com o despacho de exportao, desde a obteno de documentos, tais como certificados de origem e Forms A, at ao pr-prio despacho, com a contratao de despachantes ou a criao de um setor na empresa para lidar com essa atividade.

    Algumas dessas despesas podem correr por conta do importador, e consequentemente no faro parte do preo de exportao, conforme o Incoterm acordado entre as partes, mas o exportador deve procurar dominar todo o processo, buscando se possvel entregar a mer-cadoria no depsito do importador.

    Finalmente, devem ser recalculados os tributos incidentes, pois no s h isenes, no sendo pagos o IPI nem ICMS, como tambm gerando crditos presumidos para desonerar as exportaes do PIS e da Cofins.

    Feitos esses ajustes em relao ao preo interno, obtido o preo internacional, que varia-r conforme o destino, em funo das diferenas de frete.

    O preo efetivamente cobrado poder ser bastante diferente. Se a empresa nacional for muito competitiva, ela poder tanto cobrar o preo final calculado pelos ajustes, como um preo superior e mesmo assim ainda inferior ao do mercado internacional, aumentando assim sua rentabilidade, que poder ser reinvestida de modo a melhorar a qualidade e a eficincia do processo produtivo, antecipando os movimentos dos concorrentes.

    Poder tambm optar por iniciar as operaes com um preo mais atraente que o que pre-tende aplicar a longo prazo, para oferecer um atrativo adicional em mercado onde desco-nhecida.

    De qualquer forma a empresa deve estar preparada para assumir despesas imprevistas, decorrente de decises equivocadas, fruto da inexperincia, ou mesmo de fatores imponde-rveis, de modo a no permitir que sua credibilidade possa ser arranhada em funo de problemas na entrega.

    7.3 Servios para o comrcio exterior

    Nas exportaes e importaes as empresas podem utilizar pessoal prprio, verticalizando as operaes, ou terceirizar algumas funes, contratando servios especializados de ter-ceiros. Quanto menor a empresa mais terceirizar, para evitar incorrer investimentos mui-to altos com treinamento especializado. Mesmo empresas grandes optam por terceirizar servios que poderiam assumir, para no perder o foco da atividade principal.

    Diversos so os profissionais ou empresas que prestam servios para o comrcio exterior. Veremos alguns.

    O agente de comrcio exterior procura criar os negcios, trabalhando para o exportador, em busca de compradores, ou para o importador, em busca de fornecedores. usualmente remunerado por comisso sobre os negcios firmados.

    O agente de cargas quem angaria cargas para as empresas de transporte internacional. Em particular o agente consolidador de cargas contrata transportes de pequenas car-gas de vrios interessados, consolidando-as em uma nica para o transportador. Assim um

  • Paulo Werneck - Poltica Aduaneira e Fiscal

    23

    cofre de carga pode ser partilhado por diversos exportadores, viabilizando transportes que de outra forma poderiam ser excessivamente caros.

    Na operao de transporte propriamente dita temos vrios profissionais que manipulam a carga, que podem ser estivadores, que movimentam a carga dentro dos navios, confe-rentes, que verificam a carga.

    Antes e aps o transporte da mercadoria ela pode ficar depositada em algum ptio ou ar-mazm, sob a responsabilidade do depositrio, empresa de depsito, que cobrar pelo servio de armazenagem. O fiel do armazm a pessoa fsica responsvel pela integri-dade da mercadoria durante a estadia no depsito.

    Alm dessas empresas e desses profissionais, as empresas de comrcio exterior tambm contam com bancos e corretores de cmbio, com corretores de seguro e a Seguradora Bra-sileira de Crdito Exportao, com empresas de transporte areo, martimo e terrestre, com os Correios e empresas de remessas expressas, com consultores em geral.

  • Paulo Werneck - Poltica Aduaneira e Fiscal

    24

    8 Transporte Internacional, logstica e modais de transporte

    8.1 Transporte

    As mercadorias podem ser transportadas por diversos modais, a saber areo, terrestre (rodovirio, ferrovirio) e aqutico (martimo, fluvial e lacustre).

    Quando so usados vrios modais, denomina-se transporte intermodal, a menos que um transportador se responsabilize pelo transporte total, emitindo um nico conhecimen-to que amparar os diversos modais: neste caso trata-se de transporte multimodal.

    As mercadorias tambm podem ser transportadas por outros meios: pelos correios, por empresa de remessa expressa (courier), como bagagem pelo viajante ou pelo prprio importador. Nesses casos o meio de transporte ser respectivamente correios, courier, ba-gagem e meios prprios, mesmo que os correios enviem as malas postais por via area, ou que a bagagem seja de algum que esteja fazendo um cruzeiro martimo.

    Existe tambm o transporte por dutos, como o que permite o gs boliviano chegar ao Bra-sil.

    Cada meio de transporte oferece vantagens e limitaes.

    O transporte areo apresenta como vantagens a rapidez e a segurana, mas o mais caro de todos. O rodovirio o mais flexvel, pois o nico que pode ir porta dos esta-belecimentos do importador e do exportador, mas tambm caro e oferece maiores ris-cos de roubo de carga e acidentes. O ferrovirio j oferece preos muito mais em conta, mas no Brasil est pouco desenvolvido. O aquavirio o mais econmico, mas ainda mais restrito em termos de locais de embarque: com o crescimento e encarecimento dos navios, so necessrios portos mais profundos e bem aparelhados, o que est reduzindo ainda mais a quantidade de portos e linhas de navegao internacionais.

    8.2 Conhecimento de carga

    O conhecimento de transporte tem duas funes bsicas: 1) contrato de transporte, estabelecendo o preo do servio (frete), descrevendo mercadoria e trajeto (origem e desti-no) e 2) prova de propriedade da mercadoria.

    O conhecimento de transporte tambm conhecido como conhecimento de carga, ou ainda pelas siglas em ingls BL (bill of lading) e AWB (air way bill), respectivamente para os conhecimentos martimo e areo.

    Se houver necessidade de correo em algum conhecimento, seu emitente dever fazer uma carta de correo dirigida autoridade aduaneira do local de descarga, e apresen-t-la at trinta dias aps a formalizao da entrada do veculo, acompanhada do conheci-mento corrigido, desde que ainda no iniciado o despacho aduaneiro. Se aceita a carta de correo, o que depende da deciso da autoridade aduaneira, isso implicar em correo do manifesto.

    O conhecimento de carga dever identificar a unidade de carga em que a mercadoria por ele amparada esteja contida.

    8.3 Frete

    Frete (freight) o valor cobrado pelo transporte da mercadoria. calculado em funo de diversos fatores, tais como peso, volume, valor da mercadoria e a natureza desta (perecvel, frgil,...), tipo da embalagem, natureza do transporte.

    O frete pode ser pago na origem, antes do incio do transporte da mercadoria iniciar o transporte (frete pr-pago ou prepaid): a modalidade mais econmica.

    O frete tambm pode ser pago no destino, aps o trmino da operao (frete a cobrar, collect freight).

  • Paulo Werneck - Poltica Aduaneira e Fiscal

    25

    O frete pode ainda ser pago parte na origem, parte no destino.

    O valor do frete vai depender de diversos fatores: meio de transporte, distncia, volume, peso, preo da mercadoria, e, claro, da poltica de preos do transportador e das relaes comerciais dele com o embarcador (quem contrata o transporte da mercadoria).

    8.4 Controles sobre a carga

    Inicialmente o transportador deve informar Aduana quais cargas est transportando, assim como comunicar a existncia, no veculo, de mercadorias ou volumes de fcil extra-vio. Para isso utiliza os seguintes documentos:

    conhecimentos de transporte, que descrevem cada carga e indica remetentes e desti-natrios;

    manifestos de carga, que relacionam os conhecimentos; declaraes de bagagem dos viajantes, se exigidas por normas especficas; lista dos pertences da tripulao; lista de sobressalentes; lista de provises de bordo; relao das unidades de carga vazias existentes a bordo; declarao de acrscimo de volume ou mercadoria em relao ao manifesto; e outras declaraes ou documentos de seu interesse.

    Em caso de embarcao procedente do exterior, a autoridade aduaneira do primeiro porto de atracao no Pas dever ser informada antecipadamente, por escrito, da hora estimada da chegada, procedncia, destino e, se for o caso, quantidade de passageiros.

    Depois da chegada do veculo ao Pas e da prestao das informaes sobre a carga, a Adu-ana emitir o termo de entrada, somente aps o que podero ser efetuadas operaes de carga e descarga.

    As mercadorias descarregadas devero ser registradas pelo transportador e pelo deposit-rio.

    Aps concludos os procedimentos fiscais, a autoridade aduaneira autorizar a sada da embarcao do porto, emitindo o passe de sada. Se for do interesse do transportador, mediante termo de responsabilidade, a autorizao poder ser feita antes de concludos esses procedimentos.

    Nos portos seguintes ser exigido o passe de sada do porto da escala anterior.

    8.5 Manifesto de carga

    O manifesto de carga um documento que relaciona todos os conhecimentos com mesmo local de carga e de descarga.

    Cada manifesto deve conter a identificao do veculo e sua nacionalidade; o local de em-barque e de destino das cargas; nmero de cada conhecimento; quantidade, espcie, mar-cas, nmero e peso dos volumes; natureza das mercadorias; consignatrio de cada partida; data do seu encerramento; e nome e assinatura do responsvel pelo veculo.

    Carga embarcadas aps encerrado o manifesto devero ser includas em manifesto com-plementar, com as mesmas informaes.

    Para cada porto de descarga no territrio aduaneiro o navio dever trazer tantos manifes-tos quantos forem os portos, no exterior, em que tiver recebido carga.

    A no-apresentao de manifesto ou declarao de efeito equivalente, em relao a qual-quer ponto de escala no exterior, ser considerada declarao negativa de carga.

    Omisso de volume em manifesto de carga, constante de conhecimento regularmente emi-tido, poder ser suprida mediante apresentao da mercadoria sob declarao escrita do

  • Paulo Werneck - Poltica Aduaneira e Fiscal

    26

    responsvel pelo veculo, antes que a autoridade aduaneira tome conhecimento da irregu-laridade.

    A Aduana pode efetuar buscas no veculo, para verificar a correo das informaes, e apli-car lacres nos compartimentos (cambusa, por exemplo) que contenham mercadorias de fcil extravio ou sobressalentes e provises que excedam as necessidades do servio de manuteno do veculo e de uso ou consumo da tripulao e dos passageiros. Os lacres se-ro retirados pela prpria Aduana ou pela tripulao do veculo aps sua sada do porto.

    Em princpio, a carga deve ser desembarcada no porto para qual est manifestada. Se hou-ver necessidade de desembarc-la em outro porto, deve ser solicitada autorizao autori-dade aduaneira do novo destino, que dever comunicar o fato unidade com jurisdio sobre o local para onde a mercadoria estava originalmente manifestada.

    Se houver divergncia entre manifesto e conhecimento, prevalecer o indicado no conhe-cimento, podendo a correo do manifesto ser feita de ofcio.

    8.6 Abastecimento de veculos

    Os veculos em viagem internacional podem necessitar de combustvel, lubrificantes, peas de reposio, alimentos para a tripulao e passageiros.

    Existem procedimentos especiais para atender s necessidades especiais dos veculos, permitindo que as empresas de transporte armazenem materiais estrangeiros (ver outros regimes aduaneiros), mas as empresas tambm podem atender s suas necessidades com-prando no mercado externo, o que pode ser considerado exportao para consumo de bor-do, quando pago em moeda estrangeira.

  • Paulo Werneck - Poltica Aduaneira e Fiscal

    27

    9 Embalagem

    As mercadorias podem ser embarcadas a granel ou embaladas. As primeiras, como soja em gro, petrleo, gs, so colocadas em depsitos prprios dos veculos transportadores, tais como tanques e pores.

    As demais so embaladas, para proteg-las e at como meio de venda. Perfumes, azeites, camisas, lpis de cor: so colocados em vidros, latas, caixas litografadas.

    As embalagens devem obedecer aos hbitos culturais do importador. Um pas islmico em discrdia com Israel no ver com bons olhos uma estrela de seis pontas numa garrafa de cerveja brasileira, mesmo que essa estrela nada tenha a ver com a estrela de Davi.

    No devemos confundir embalagem com unitizao.

    9.1 Unitizao e consolidao de carga

    Ainda vemos, em quadros antigos, carregadores com sacos e caixas s costas, subindo e descendo dos navios. Hoje o processo muito diferente: contentores so iados, gros so carregados por correias trasportadoras.

    Unitizao a reunio de vrios volumes em um volume s, como quando 20 caixas de liquidificadores so agrupados sobre um pallet. Se essas caixas contm caixas de lpis de cor, ento j houve uma operao de unitizao anterior. Desunitizao a operao inversa, de separar as mercadorias.

    Possvelmente as mercadorias sero unitizadas sucessivamente, em volumes cada vez mai-ores, de modo a atender as necessidades da cadeia de distribuio: volumes para atacadis-tas e para retalhistas.

    Ovar ou estufar um contentor carreg-lo com mercadorias. Desovar a operao in-versa. O contentor serve para unitizar as mercadorias, para que sejam carregadas de uma s vez, para proteg-las, e, principalmente, para facilitar a operao do navio.

    Quando no h carga suficiente para um contentor, a carga pode ser, a critrio do trans-portador, colocada dentro de um contentor de convenincia, juntamente com cargas de outros interessados.

    No se deve confundir essa operao com a de consolidao de cargas, operada por NVOCC (Non-Vessel Operating Common Carrier), transportador comum no propriet-rio de navio. Neste caso o transporte contratado com um NVOCC, que emite o conheci-mento de transporte, dito filhote (BL house), e o entrega para o embarcador. O NVOCC reune diversas cargas e as entrega a outro transportador, que emite um conhecimento master (BL master), onde o NVOCC figura como embarcador e seu correspondente no ou-tro pas como consignatrio. O correspondente recebe o conhecimento master e o des-membra, no destino, em novos filhotes.

    Observe-se que o master no deve servir como prova da propriedade da mercadoria.

    9.2 Armazenagem

    A logstica tambm deve se preocupar com a armazenagem da mercadoria nas diversas fases do transporte, e com os custos dessa armazenagem, cobrado em funo do volume, do peso, do preo e de outras caractersticas das mercadorias, mas cobrado tambm em funo do tempo de armazenagem.

    O responsvel pela mercadorias em um armazm o fiel do armazm, pessoa da confi-ana do depositrio.

  • Paulo Werneck - Poltica Aduaneira e Fiscal

    28

    10 Seguros

    10.1 Seguro

    O mundo oferece riscos de muitas naturezas: acidentes, furtos, faltas de pagamentos, in-cndios, prejuzos que podem onerar muito os prejudicados, colocando em perigo at mesmo as possibilidades de sobrevivncia de empresas. Uma alternativa pode ser a troca de prejuzos incertos e vultosos por despesas certas comparativamente pequenas.

    Contrato de seguro aquele pelo qual o segurado paga um prmio ao segurador, para que este assuma determinados riscos sobre o objeto, com a obrigao de indenizar o bene-ficirio, at o valor da cobertura, quanto aos danos advindos de um sinistro.

    Segurado quem contrata o segurador, negocia com este as clusulas do negcio, tais como quais riscos sero cobertos e qual o valor da cobertura, e paga o prmio estipulado pelo segurador.

    Objeto o bem protegido.

    Os riscos so as situaes danosas, incertas ou certas mais de data incerta, previstas no contrato.

    Prmio o preo do seguro, diretamente proporcional ao valor do objeto e inversamente proporcional probabilidade de ocorrncia dos riscos. mais provvel a perda de uma carga por causa de um acidente que por queda de raio, o que tornaria o prmio do primeiro menor que do segundo. Tambm mais provvel a perda de uma carga por causa acidental que por guerra, mas neste caso as seguradoras podem colocar dificuldades contratao do seguro, no pelo risco em si, mas devido ao fato que ocorrendo uma guerra, poderia ter que indenizar muitas cargas ao mesmo tempo, colocando em risco a prpria sobrevivncia.

    Cobertura o valor segurado, devendo guardar estreita relao com o valor do objeto. A cobertura no deve ser maior, pois o recebimento da indenizao no deve configurar um lucro para o beneficirio, mas repor o dano. Se for menor, cobrir parcialmente o objeto.

    Sinistro a ocorrncia de um ou mais dos riscos previstos, dando causa ao dano, perda total ou parcial do valor do objeto.

    Beneficirio quem deve receber a indenizao, podendo ser o segurado (seguro direto) ou outra pessoa (seguro indireto).

    O contrato de seguro pode prever uma franquia, valor no indenizvel pelo segurador, para evitar que este seja acionado para indenizar pequenos valores (com custos adminis-trativos no necessariamente pequenos) e para incentivar a tomar as precaues adequa-das para evitar a ocorrncia de sinistros.

    O contrato de seguro provado por uma aplice de seguro, que poder cobrir uma ope-rao ou vrias durante certo tempo. No primeiro caso a aplice ser dita simples ou a-vulsa, no segundo flutuante, se o prazo for determinado e aberta se indeterminado.

    Se a aplice contempla diversas operaes ou objetos, o segurado dever informar o segu-rador de cada ocorrncia, fazendo a averbao dos dados de cada uma. O segurador por sua vez emitir um certificado de seguro, comprobatrio de cada operao, e calcular o prmio a ser pago no perodo.

    No se deve confundir o parcelamento em prestaes de prmio nico com as parcelas va-riveis da aplice flutuante ou aberta.

    10.2 Seguro da Mercadoria

    O seguro da mercadoria objetiva indenizar o interessado por perdas e danos que pos-sam ocorrer com as mercadorias durante o transporte.

  • Paulo Werneck - Poltica Aduaneira e Fiscal

    29

    Na negociao, exportador e importador devero definir em que momento os riscos sobre a mercadoria sero transferidos de um para outro e se o vendedor dever contratar algum seguro. Mas qualquer das partes, por sua conta, poder contratar o seguro que desejar para se proteger de algum dano.

    10.3 Seguro do Pagamento

    Outro risco no comrcio internacional o comprador no pagar a mercadoria: pode ser reduzido com a exigncia de pagamento antecipado ou de carta de crdito, mas os compra-dores podem no se interessar por negcios feitos nessas bases. Uma alternativa a con-tratao de seguro contra a falta de pagamento.

    No Brasil quem oferece esse tipo de seguro a SBCE (Seguradora Brasileira de Crdito Exportao), podendo cobrir riscos comerciais e polticos.

    Por risco comercial entende-se o risco de o importador no pagar o que deve, por faln-cia ou simples mora. Risco poltico compreende os "fatos do prncipe", atos governamen-tais do pas do importador que impeam a transferncia do pagamento, como moratrias, confiscos, guerras.

    A seguradora avalia a capacidade financeira do importador honrar seus compromissos (risco comercial) e de venham a acontecer problemas poltico-econmicos que o impeam de fazer o pagamento (risco poltico). Com base nessa anlise de risco define o prmio do seguro ou desaconselha a venda, se o negcio for muito arriscado.

    O seguro de crdito exportao oferecido pela SBCE inclui trs servios interligados: a anlise da capacidade financeira do importador, a cobrana e o seguro propriamente dito em caso se sinistro (falta de pagamento).

    Total segurado o valor total das exportaes cujo seguro foi contratado.

    Cobertura a parcela, do valor segurado, que ser indenizada, pela seguradora, em caso de sinistro. A cobertura de 85% do valor segurado, para riscos comerciais (falncia ou mo-ra), e de 90%, para riscos polticos e extraordinrios (moratria, guerra, confisco etc), ou seja, a franquia de 15% no primeiro caso e de 10% no segundo, sobre o que o importador deixar de pagar.

    Alm do prmio, seguradora cobrar as anlises cadastrais que visam avaliar o risco de cada importador.

  • Paulo Werneck - Poltica Aduaneira e Fiscal

    30

    11 Incoterms

    Incoterms so siglas definidas pela Cmara de Comrcio Internacional, que representam as condies de venda, definindo os direitos e obrigaes mnimas do vendedor e do com-prador quanto a fretes, seguros, movimentao em terminais, liberaes em alfndegas e obteno de documentos de um contrato internacional de venda de mercadorias.

    11.1 Grupo "E": Partida

    EXW - Ex Works | No Local de Produo (...local designado)

    O exportador acondiciona a mercadoria na embalagem de transporte (caixa, saco) e a dis-ponibiliza em seu prprio estabelecimento. Cabe ao importador estrangeiro adotar todos as providncias para retirada da mercadoria do estabelecimento do exportador, transporte interno, embarque para o exterior, licenciamentos, contrataes de frete e de seguro inter-nacionais, etc. No deve ser utilizado quando o importador no est apto para, direta ou indiretamente, obter os documentos necessrios exportao da mercadoria.

    11.2 Grupo "F": Transporte internacional no pago

    FCA Free Carrier | Transportador Livre (...local designado)

    O exportador entrega a mercadoria, desembaraada para exportao, aos cuidados do transportador internacional indicado pelo importador, no local designado do pas de ori-gem. Se a entrega ocorrer na propriedade do exportador, o exportador responsvel pelo embarque. Se a entrega ocorrer em qualquer outro lugar, o exportador no responsvel pelo desembarque. Cabe ao importador (importador) contratar frete e o seguro internacio-nal.

    FAS Free Alongside Ship | Livre no Costado do Navio (...porto de embarque)

    O exportador coloca a mercadoria ao longo do costado do navio transportador, no porto de embarque. O importador contrata o frete e o seguro internacionais. O exportador o res-ponsvel pelo desembarao das mercadorias para exportao.

    FOB Free on Board (... named por of shipment) | Livre a Bordo (...porto de embarque designado)

    A responsabilidade do exportador, sobre a mercadoria, vai at a transposio da amurada do navio, no porto de embarque, embora a colocao da mercadoria a bordo do navio seja tambm, em princpio, tarefa a cargo do exportador. O exportador o responsvel pelo desembarao das mercadorias para exportao.

    O importador contrata o frete internacional. O exportador precisa conhecer qual o termo martimo acordado entre o importador e o armador, a fim de verificar quem dever cobrir as despesas de embarque da mercadoria.

    11.3 Grupo "C": Transporte internacional pago

    CFR Cost and Freight | Custo e Frete (...porto de destino designado)

    O exportador assume todos os custos anteriores ao embarque internacional, bem como a contratao do frete internacional, para transportar a mercadoria at o porto de destino indicado.

    Os riscos por perdas e danos na mercadoria so transferidos do exportador para o impor-tador ainda no porto de carga (como no FOB). A venda propriamente dita est ocorrendo no pas do exportador.

    O exportador desembaraa as mercadorias para exportao.

    CIF Cost, Insurance and Freight | Custo, Seguro e Frete (...porto de destino designado)

  • Paulo Werneck - Poltica Aduaneira e Fiscal

    31

    O exportador tem as obrigaes do "CFR" e, adicionalmente, que contratar o seguro mar-timo contra riscos de perdas e danos durante o transporte. Como a negociao ainda est ocorrendo no pas do exportador (a amurada do navio, no porto de embarque, o ponto de transferncia de responsabilidade sobre a mercadoria), o importador deve observar que no termo "CIF" o exportador somente obrigado a contratar seguro com cobertura mnima. O exportador desembaraa as mercadorias para exportao.

    CPT Carriage Paid to | Transporte Pago at (...local de destino designado)

    O exportador contrata o frete pelo transporte da mercadoria at o local designado. Os ris-cos de perdas e danos na mercadoria, bem como quaisquer custos adicionais devidos a e-ventos ocorridos aps a entrega da mercadoria ao transportador, so transferidos pelo ex-portador ao importador, quando a mercadoria entregue custdia do transportador. O exportador desembaraa as mercadorias para exportao.

    CIP Carriage and Insurance Paid to | Transporte e Seguros Pagos at (...local de desti-no)

    O exportador tem as obrigaes definidas no "CPT" e, adicionalmente, arca com o seguro contra riscos de perdas e danos da mercadoria durante o transporte internacional. O im-portador deve observar que no termo "CIP" o exportador obrigado apenas a contratar seguro com cobertura mnima, posto que a venda (transferncia de responsabilidade sobre a mercadoria) se processa no pas do exportador. O exportador desembaraa as mercadori-as para exportao.

    11.4 Grupo "D": Chegada

    DAF - Delivered at Frontier | Entregue na Fronteira (...local designado)

    O exportador completa entrega a mercadoria, desembaraada para a exportao, em um ponto da fronteira indicado e definido de maneira mais precisa possvel. A entrega da mer-cadoria ao importador ocorre em um ponto anterior ao posto alfandegrio do pas limtro-fe. Usualmente empregado quando a modalidade de transporte terrestre (rodoviria ou ferroviria).

    DES - Delivered Ex Ship | Entregue a Partir do Navio (...porto de destino designado)

    O exportador entrega a mercadoria a bordo do navio no porto de descarga, assumido todos os custos e riscos durante a viagem internacional. O importador providencia a retirada da mercadoria do navio e o desembarao para importao.

    DEQ Delivered Ex Quay | Entregue a Partir do Cais (...porto de destino designado)

    O exportador entrega a mercadoria no cais do porto de destino nomeado. O exportador tem obrigao de levar a mercadoria at o porto de destino e desembarcar as mercadorias no cais. Os riscos e os custos so transferidos do exportador para o importador a partir da "entrega" no cais do porto de destino. As mercadorias devem ser entregues por transporte martimo ou hidrovirio interior ou multimodal, no desembarque do navio no cais (atraca-douro) no porto de destino.

    DDU - Delivered Duty Unpaid | Entregue Direitos No Pagos (...local de destino designa-do)

    O exportador entrega a mercadoria tiver no local designado do Pas de destino final, no desembaraada para importao. Todos os riscos de perdas e danos so assumidos pelo exportador at a entrega no local designado, exceo de impostos, taxas e demais encar-gos oficiais incidentes na importao e dos custos e riscos do desembarao de formalidades alfandegrias.

    DDP Delivered Duty Paid | Entregue Direitos Pagos (...local de destino designado)

  • Paulo Werneck - Poltica Aduaneira e Fiscal

    32

    O exportador entrega a mercadoria no local designado do Pas de destino final, desemba-raada para importao. O exportador assume todos os riscos e custos, inclusive impostos, taxas e outros encargos incidentes na importao.

    O termo "DDP" no deve ser utilizado quando o exportador no est apto para, direta ou indiretamente, obter os documentos necessrios importao da mercadoria.

    11.5 Cuidados

    As condies esto divididas nas modalidades qualquer e aquavirio. Um Incoterm da mo-dalidade qualquer pode ser utilizado para transporte martimo, mas o inverso no verda-deiro.

    Modalidade Sigla Descrio Qualquer EXW Ex Works (... local) FCA Free Carrier (...local) CPT Carriage Paid To (... destino) CIP Carriage and Insurance Paid To (... destino) DAF Delivered At Frontier (... local) DDU Delivered Duty Unpaid (... destino) DDP Delivered Duty Paid (... destino) Aqutico FAS Free Alongside Ship (... porto de embarque) FOB Free On Board (... porto de embarque) CFR Cost and Freight (... porto de destino) CIF Cost, Insurance and Freight (... porto de destino) DES Delivered Ex Ship (... porto de destino) DEQ Delivered Ex Quay (... porto de destino)

    Alm de se dever tomar o cuidado ao especificar o Incoterm na negociao - e na fatura, claro - no devemos esquecer de adaptar as declaraes. Assim, uma exportao ficta no pode ser FOB, pois no haver transporte martimo.

  • Paulo Werneck - Poltica Aduaneira e Fiscal

    33

    12 Pagamento e cmbio

    Na negociao da compra e venda internacional devero ser definidos no s o preo como tambm o prazo de pagamento, a forma de remessa do numerrio, a forma de cobrana e previsto o cmbio.

    12.1 Prazos de pagamento

    O pagamento pode ser pago antecipadamente, vista, a prazo.

    O pagamento costuma ser antecipado nos casos em que o