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1 AULA 18 Oi, pessoal. Vamos hoje estudar o GATT/1994 pedido no tópico 2 do edital de AFRF. Na aula anterior, vimos que, no Acordo que constituiu a OMC, foram inseridos alguns anexos. Estes trazem vários acordos de comércio, sendo alguns chamados de multilaterais; outros, plurilaterais. Os multilaterais obrigam a todos os Membros; os plurilaterais, apenas os que expressamente os tenham aceito. O GATT/94 se inclui entre os acordos multilaterais. Vamos rever os Anexos do Acordo Constitutivo da OMC: Anexo 1 Anexo 1A: Acordos Multilaterais de Comércio de Bens - Acordo Geral sobre Tarifas Aduaneiras e Comércio de 1994 (GATT-94) (*) - Acordo sobre Agricultura - Acordo sobre Aplicação de Medidas Sanitárias e Fitossanitárias (*) - Acordo sobre Têxteis e Vestuário - Acordo sobre Barreiras Técnicas ao Comércio (*) - Acordo sobre Medidas de Investimento Relacionadas com o Comércio (TRIMS) (*) - Acordo sobre a Implementação do Artigo VI do GATT 1994 (Pedido no tópico 7 do edital) - Acordo sobre a Implementação do Artigo VII do GATT 1994 (Pedido no tópico 10 do edital) - Acordo sobre Inspeção Pré-Embarque - Acordo sobre Regras de Origem (Pedido no tópico 11 do edital) - Acordo sobre Procedimentos para o Licenciamento de Importações - Acordo sobre Subsídios e Medidas Compensatórias (Pedido no tópico 7 do edital) - Acordo sobre Salvaguarda (Pedido no tópico 7 do edital) Anexo 1B: Acordo Geral sobre Comércio de Serviços e Anexos (GATS) (*) Anexo 1C: Acordo sobre Aspectos dos Direitos de Propriedade Intelectual Relacionados ao Comércio (TRIPS) (*)

Comercio internacional regular 18 acordo geral sobre tarifas aduaneiras e comércio (gatt – 94)

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Na aula anterior, vimos que, no Acordo que constituiu a OMC, foram inseridos alguns anexos. Estes trazem vários acordos de comércio, sendo alguns chamados de multilaterais; outros, plurilaterais.

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AULA 18 Oi, pessoal.

Vamos hoje estudar o GATT/1994 pedido no tópico 2 do edital de AFRF.

Na aula anterior, vimos que, no Acordo que constituiu a OMC, foram inseridos alguns anexos. Estes trazem vários acordos de comércio, sendo alguns chamados de multilaterais; outros, plurilaterais.

Os multilaterais obrigam a todos os Membros; os plurilaterais, apenas os que expressamente os tenham aceito.

O GATT/94 se inclui entre os acordos multilaterais.

Vamos rever os Anexos do Acordo Constitutivo da OMC:

Anexo 1 Anexo 1A: Acordos Multilaterais de Comércio de Bens

- Acordo Geral sobre Tarifas Aduaneiras e Comércio de 1994 (GATT-94) (*)

- Acordo sobre Agricultura - Acordo sobre Aplicação de Medidas Sanitárias e

Fitossanitárias (*) - Acordo sobre Têxteis e Vestuário - Acordo sobre Barreiras Técnicas ao Comércio (*) - Acordo sobre Medidas de Investimento Relacionadas

com o Comércio (TRIMS) (*) - Acordo sobre a Implementação do Artigo VI do GATT

1994 (Pedido no tópico 7 do edital) - Acordo sobre a Implementação do Artigo VII do GATT

1994 (Pedido no tópico 10 do edital) - Acordo sobre Inspeção Pré-Embarque - Acordo sobre Regras de Origem (Pedido no tópico 11

do edital) - Acordo sobre Procedimentos para o Licenciamento de

Importações - Acordo sobre Subsídios e Medidas Compensatórias

(Pedido no tópico 7 do edital) - Acordo sobre Salvaguarda (Pedido no tópico 7 do

edital)

Anexo 1B: Acordo Geral sobre Comércio de Serviços e Anexos (GATS) (*) Anexo 1C: Acordo sobre Aspectos dos Direitos de Propriedade Intelectual Relacionados ao Comércio (TRIPS) (*)

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Anexo 2: Entendimento Relativo às Normas e Procedimentos sobre Solução de Controvérsias (*) Anexo 3: Mecanismo de Exame de Políticas Comerciais Anexo 4: Acordos de Comércio Plurilaterais

- Acordo sobre Comércio de Aeronaves Civis - Acordo sobre Compras Governamentais - Acordo Internacional sobre Produtos Lácteos - Acordo Internacional sobre Carne Bovina

Os acordos marcados com (*) são pedidos no tópico 2 do edital de AFRF. Além deles, podemos ver que, em outros tópicos do edital, outros acordos são pedidos. Alguns destes já foram inclusive analisados neste curso: Acordo sobre a Implementação do Artigo VI do GATT (Acordo Antidumping), Acordo sobre Subsídios e Medidas Compensatórias e Acordo sobre Salvaguardas.

Outro será ainda analisado: Acordo sobre Regras de Origem.

E um esteve a cargo do Missagia: Acordo Sobre a Implementação do Artigo VII do GATT (ou Acordo Sobre Valoração Aduaneira).

Nesta aula, veremos o GATT em detalhes porque é o primeiro e principal Acordo de comércio e é o que já foi pedido nas provas anteriores da ESAF. Em relação aos demais acordos, veremos, na próxima aula, a motivação de cada um e alguns de seus principais artigos.

Acordo Geral sobre Tarifas Aduaneiras e Comércio (GATT – 94)

Com certeza, o GATT é o principal dos Acordos Comerciais Multilaterais. Ele surgiu em 1947 como vimos na aula anterior.

Por que então está escrito GATT-94 no edital?

Porque, na Rodada Uruguai, os países resolveram “refundar” o sistema multilateral de comércio criando, finalmente, a organização que fiscalizaria o comércio mundial: a OMC.

E, para começar com tudo novinho (instituição e acordos), resolveram também republicar o GATT incorporando ao texto todas as modificações havidas entre 1947 e 1994. Esta “republicação” ganhou o nome de GATT-94. Perceba isso no artigo 1o:

“1. O Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio 1994 (“GATT

1994”) consistirá: a) das disposições do GATT 1947...; b) das disposições dos instrumentos legais listados abaixo

que tenham entrado em vigor sob o GATT 47 antes da data de entrada em vigor do Acordo Constitutivo da OMC:

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i. protocolos e certificações relativos a concessões tarifárias;

ii. protocolos de acessão...; iii. decisões sobre derrogações concedidas sob o Artigo

XXVIII do GATT 47 e ainda em vigor na data de entrada em vigor do Acordo Constitutivo da OMC;

iv. outras decisões das Partes Contratantes do GATT 47;

c) Os Entendimentos listados abaixo: i. Entendimento sobre a Interpretação do artigo II do

GATT– 94; ii. Entendimento sobre a Interpretação do artigo XVII

do GATT – 94; Entendimento sobre as Disposições sobre Balanço de Pagamentos do GATT–94;

iii. Entendimento sobre a Interpretação do artigo XXIV do GATT–94;

iv. Entendimento sobre Derrogações de Obrigações sob o GATT–94;

v. Entendimento sobre a Interpretação do artigo XXVIII do GATT–94; e

d) O Protocolo de Marrakesh ao GATT 94.

2. Notas Explicativas ... c) O texto do GATT 1994 será autêntico em inglês, francês e

espanhol [Foi pedida na prova de AFRF-2000 a lista dos idiomas oficiais do GATT]”

O GATT-94 é essencialmente o GATT-47 com as posteriores alterações.

Na essência, eles são iguais. Mas, na forma, não. Como assim?

Lembra do que escrevi na aula passada?

“ ‘Artigo II – Escopo da OMC

...

4. O Acordo Geral sobre Tarifas Aduaneiras e Comércio de 1994, conforme se estipula no Anexo 1A (denominado “GATT 94”) é juridicamente distinto do Acordo Geral sobre Tarifas Aduaneiras e Comércio de 1947.’

O § 4o somente veremos na próxima aula.”

Pois é. Esta é a “próxima” aula.

Podemos ver então que o GATT-94 e o GATT-47 são essencialmente iguais conforme dispõe o parágrafo 1o, alínea (a) do próprio GATT-94.

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Mas, como diz o § 4o do artigo II do Acordo Constitutivo da OMC, o GATT-94 e o GATT-47 são formalmente (“juridicamente”) distintos.

Artigos do GATT

A análise do GATT passa pela análise de cada um de seus artigos. Cada um deles focou uma determinada medida protecionista. Muitas questões da ESAF desde 1996 até 2005 pediram o conhecimento destes artigos.

Artigo I –

“Qualquer vantagem, favor, privilégio ou imunidade concedido por uma parte contratante a um produto originário de outro País ou destinado a ele, será concedido imediata e incondicionalmente a todo produto similar originário dos territórios de todas as demais partes contratantes ou a eles destinado.”

Este artigo I estabeleceu o sistema multilateral de comércio – em substituição ao sistema bilateral que vigia na década de 1930 – ao impor que todo benefício dado a um país deve ser estendido incondicionalmente aos demais. A Cláusula da Nação Mais Favorecida é também conhecida como Princípio da Não-Discriminação (não confundir com o princípio do artigo III, que tem o mesmo nome).

Existe uma exceção expressa quanto ao cumprimento desta Cláusula. Está no § 5o do artigo XXIV:

“5. Por conseguinte, as disposições deste Acordo não impedirão o estabelecimento de uma união aduaneira nem de uma área de livre comércio, nem a adoção de acordos preliminares para o estabelecimento destas [em outras palavras, ‘zonas preferenciais’]...”

Logo, se um benefício for concedido em virtude da celebração de uma zona preferencial, área de livre comércio ou forma superior de integração, então este benefício não precisará ser estendido para os demais signatários do GATT. Não vai precisar cumprir a Cláusula da Nação Mais Favorecida.

Note que o artigo XXIV não faz menção ao mercado comum, à união econômica nem à integração econômica total. Por quê?

Porque estas formas mais avançadas de integração somente foram definidas em 1964 por Bela Balassa no livro “Teoria da Integração Econômica”.

E aí, se a concessão for por conta de um mercado comum, também não vai precisar estender o benefício para os de fora? Naturalmente

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que não, já que as formas mais avançadas de integração aproveitam sempre as características das formas anteriores, como vimos na aula número 10 deste curso.

Artigo II –

“1. a) Cada Parte contratante concederá às demais partes contratantes um tratamento comercial não menos favorável que o previsto na parte apropriada da LISTA ANEXA ao presente Acordo...”

Por este artigo II, podemos ver que os países signatários do GATT apresentaram listas com as alíquotas máximas de imposto de importação que cobrariam dos demais países signatários.

Para cada produto listado, os países que assinaram o GATT informaram o máximo que cobrariam de imposto de importação. Os países montaram cada qual a sua lista e se comprometeram a não cobrar uma alíquota de imposto superior às constantes nas listas, que foram então anexadas ao GATT.

A título de observação, na lista brasileira atual, anexada ao GATT, a média das alíquotas máximas é 30%. No entanto, na prática, o Brasil (ou melhor, o Mercosul) cobra uma alíquota média aproximada de 10% para produtos de fora do Mercosul (Já vimos que, no comércio dentro do bloco, não há cobrança de imposto, salvo nos casos de automóveis, açúcar e os produtos incluídos no Mecanismo de Adaptação Competitiva).

Portanto, o Brasil e o Mercosul têm uma margem para levantar alíquotas, lembrando que, por causa do Mercosul, este levantamento tem que ser combinado pelos quatro países (a não ser que o Brasil insira o produto numa lista de exceção).

Vimos na aula 11 que, se uma mercadoria for incluída na lista de exceções à TEC, o país poderá cobrar uma alíquota diferente da cobrada pelos parceiros do Mercosul. Mas – agora complemento – tal alíquota NUNCA poderá ser superior à alíquota máxima, por produto, compromissada no GATT.

Este artigo II deve ser combinado com o Artigo XXVIII b – “Negociações Aduaneiras”

“As partes contratantes reconhecem que os direitos de aduana constituem com freqüência sérios obstáculos para o comércio; por esta razão, as NEGOCIAÇÕES tendentes, à base da reciprocidade e vantagens mútuas, a reduzir substancialmente o nível geral dos direitos aduaneiros e das demais taxas cobradas sobre a importação ou exportação, e em particular, as NEGOCIAÇÕES tendentes a reduzi-los quando muito elevados... se revestem de grande importância para a expansão do comércio internacional. Por conseguinte,

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as partes contratantes podem organizar periodicamente tais NEGOCIAÇÕES”.

Traduzindo, os países informaram as alíquotas máximas que seriam cobradas dos demais países signatários do GATT e assumiram, ao mesmo tempo, o compromisso de reverem periodicamente tais alíquotas nas chamadas Rodadas de Negociação.

Na última aula estudaremos as Rodadas de Negociação. No tópico 2 dos editais de AFRF e de TRF elas são pedidas como “As negociações na OMC”.

Artigo III – Tratamento Nacional em Matéria de Tributos Internos

“As partes contratantes reconhecem que os impostos e outros gravames internos, assim como as leis, regulamentos e normas que afetem a venda, a oferta para venda, compra, transporte, distribuição ou uso dos produtos no mercado interno ..., não devem ser aplicados aos produtos importados ou nacionais de maneira que se proteja a produção nacional.”

Este é o Princípio do Tratamento Nacional, que aparece em praticamente todos os acordos multilaterais. Significa que não pode haver discriminação internamente entre o produto importado e o produto nacional. Por isso, é também conhecido como Princípio da Não-Discriminação, Princípio da Paridade ou Princípio do Tratamento em Matéria de Tributos Internos.

ATENÇÃO: Tanto a Cláusula da Nação Mais Favorecida (artigo I) quanto o Princípio da Paridade (artigo III) são conhecidos como princípio da não-discriminação. Mas note a diferença: pelo artigo I, o Brasil não pode favorecer um produto estrangeiro em detrimento de outro produto estrangeiro. Por exemplo, o produto inglês em relação ao produto francês. Já o artigo III dispõe que o Brasil não pode favorecer o próprio produto nacional, ou seja, o brasileiro, em detrimento do produto francês, por exemplo.

A não-discriminação referida no artigo III diz respeito aos tributos internos, ou seja, se o produto alemão for importado, ele pode ser tributado com o imposto de importação. Mas, depois disso, ele tem que ser tratado do mesmo jeito que o produto nacional. Não pode, por exemplo, cobrar uma alíquota INTERNA de IPI superior à cobrada do produto brasileiro.

Este princípio também aparece no GATS – Acordo Geral sobre Comércio de Serviços, impondo a não-discriminação dos serviços prestados pelos outros países. O princípio aparece também no Acordo

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de TRIPS (que ainda veremos) impondo que os países devem dar a mesma proteção aos direitos de propriedade intelectual, seja propriedade de um brasileiro, seja de um estrangeiro.

O artigo IV é específico para tratar de “películas cinematográficas”. Em resumo, permite que seja reservado um tempo mínimo de projeção para os filmes nacionais nas salas de cinema, podendo, assim, ser criados limites para a projeção de filmes estrangeiros.

O artigo V é específico para definir a liberdade de trânsito das mercadorias. Em resumo, os países devem permitir o uso de seus territórios para passagem de mercadorias destinadas a outros países.

Do artigo VI já tratamos. Este artigo e os artigos XVI e XIX tratam do dumping, dos subsídios e das salvaguardas, respectivamente.

O artigo VII trata da valoração aduaneira. Este artigo dispõe que os países, na hora de apurar a base de cálculo do imposto de importação, não poderão usar valores arbitrários nem fictícios. O valor aduaneiro (ou “valor para fins aduaneiros”) deverá ser, na medida do possível, o “valor real”.

Este artigo surge por conta da cobrança abusiva de imposto de importação que os países promoviam na década de 1930 para restringir importações. A mercadoria tinha sido importada por US$ 100,00, mas o governo a tributava como se ela tivesse entrado, por exemplo, por US$ 1.000,00.

Com o GATT, foi afastado o uso de bases de cálculo arbitrárias e fictícias, mas, ainda assim, havia um certo grau de subjetividade no entendimento da expressão “valor real”. Cada país interpretava esta expressão da forma que melhor lhe convinha. Alguns consideravam preços médios; outros, preços mínimos; uns reconheciam o desconto e aceitavam redução da base de cálculo; outros não aceitavam. Portanto, a questão da valoração aduaneira ainda não estava “redondinha”.

Os países precisaram assinar um acordo para regulamentar o artigo. E, assim, foi assinado o Acordo sobre a Implementação do Artigo VII do GATT, pedido no tópico 10 do edital, que foi explicado pelo Missagia.

O artigo VIII trata dos demais valores cobrados pelos governos na importação de mercadorias. O artigo define que “todos os valores cobrados, além do imposto de importação, se limitarão ao custo aproximado dos serviços prestados e não deverão constituir uma proteção indireta dos produtos nacionais...”

Este artigo define que, além dos impostos, caso seja cobrado qualquer outro valor, direta ou indiretamente, pelos Governos, este não poderá ser “abusivo”. Por exemplo, a taxa cobrada pela armazenagem de mercadorias importadas nos portos não pode ser superior ao custo aproximado deste serviço, senão isto poderia estar camuflando um protecionismo.

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O § 1o, c, dispõe ainda sobre as “medidas de facilitação do comércio”:

“As partes contratantes reconhecem também a necessidade de reduzir ao mínimo os efeitos e a complexidade das formalidades de importação e exportação e de reduzir e simplificar os requisitos relativos aos documentos exigidos para a importação e para a exportação.”

Caiu a seguinte questão na prova de 2002: (AFRF 2002-2) Na Organização Mundial do Comércio (OMC), o tratamento de temas relativos à simplificação de trâmites aduaneiros ocorre no âmbito das negociações sobre: a) obstáculos técnicos ao comércio. b) acesso a mercados. c) medidas de facilitação de comércio. d) subvenções e direitos compensatórios. e) defesa da concorrência.

Resp.: Letra C.

O artigo IX dispõe sobre as “Marcas de Origem” e define o Princípio do Tratamento Nacional para elas, ou seja, as marcas de origem registradas em um país serão respeitadas nos demais como se tivessem sido registradas no próprio pais. Em suma, haverá o respeito às marcas dos demais países. Assim dispõe o § 6o: “As partes contratantes colaborarão entre si para impedir o uso das marcas comerciais tendente a induzir a erro relativamente à origem do produto...”

O artigo X dispõe sobre a publicação imediata das normas aduaneiras, complementando as medidas de facilitação do comércio. Todas as normas que gerem efeitos no comércio exterior devem ser publicadas rapidamente: “As leis, regulamentos, decisões judiciais, ... que se refiram à matéria aduaneira ... serão publicados rapidamente a fim de que os governos e os comerciantes tenham prévio conhecimento.”

Tarificação das Barreiras

Vimos, na aula 16, o artigo XI, que a ESAF usa muito em prova:

“Parágrafo 1o – Nenhuma parte contratante imporá nem manterá – além dos direitos aduaneiros, impostos e outras taxas – proibições nem restrições à importação

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de um produto do território de outra parte contratante ou à exportação ou à venda para exportação de um produto destinado ao território de outra parte contratante que sejam aplicadas mediante contingentes, licenças de importação ou de exportação ou por meio de outras medidas.”

Vimos naquela aula que os países, usando a teoria econômica, avaliaram os danos causados pelas medidas protecionistas e perceberam que as quotas são a barreira que traz os efeitos mais danosos para o comércio mundial. Por isso, proibiram expressamente seu uso no artigo XI (há exceções).

Ao fazer a análise econômica, perceberam que a tarifa seria, no conjunto, a barreira mais apropriada para uso pelos países. Por isso, escreveram no artigo XI, em outras palavras, “caso um país tenha justificativa para criar uma barreira comercial, que esta seja na forma de tarifa.” Esta é a chamada tarificação das barreiras.

Ao mesmo tempo, no GATT foram previstas as negociações para depois irem se reduzindo tais barreiras tarifárias.

No início, a tarificação e as negociações funcionaram, e as alíquotas foram bastante reduzidas, mas, quando chegou a década de 1970, houve um retrocesso, como veremos à frente.

Está escrito no artigo XI que não são permitidas as quotas (contingentes) de importação, nem o sistema de licenciamento, nem qualquer outra medida restritiva. Mas estas são regras que comportam exceções. Estas estão previstas no parágrafo 2o do mesmo artigo XI e no artigo XII:

“Parágrafo 2o – As disposições do parágrafo 1o deste artigo não se aplicarão aos seguintes casos:

a) Proibições ou restrições à exportação aplicadas temporariamente para prevenir ou remediar uma escassez aguda de produtos alimentícios ou de outros produtos essenciais para a parte contratante exportadora;

[Perceba que esta é uma restrição imposta para as exportações para evitar desabastecimento interno. Fica autorizada a proibição às exportações porque, se não fosse assim, o mercado interno poderia ficar à míngua.]

b) Proibições ou restrições à importação ou exportação necessárias para a aplicação de normas ou regulamentos sobre a classificação, o controle de qualidade ou a comercialização de produtos destinados ao comércio internacional;

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[Portanto, pode haver sistema de licenciamento de importações e de exportações para proibir, por exemplo, a entrada de brinquedos que não possuam condições mínimas de segurança para as crianças da idade indicada.]

c) Restrições à importação de qualquer produto agrícola ou pesqueiro ... quando sejam necessárias para a execução de medidas governamentais que tenham por efeito:

i. Restringir a quantidade do produto nacional similar que possa ser comercializada ou produzida ...;

[O que aparece neste caso é a situação em que o Governo tomou a decisão de diminuir a produção NACIONAL ou a comercialização interna de um determinado produto.

Ora, se o governo decidiu reduzir a produção nacional ou a comercialização interna de um bem, ele tem também o direito de reduzir importações dos bens similares. Neste caso, não estará havendo reserva de mercado, o que seria proibido.]

ii. Eliminar um excedente de produção nacional ... colocando tal excedente à disposição de certos grupos de consumidores no país, gratuitamente ou a preços inferiores aos correntes neste mercado; ou

[Neste caso, o governo verificou que há mercadoria nacional sobrando no mercado interno e tomou a decisão de doar (ou “quase isso”) este excesso a, por exemplo, pessoas menos favorecidas.

Ora, se o governo percebeu que há excesso de mercadoria no país e, por isso, vai doá-las, é natural que ele tenha o direito de, enquanto não terminar de fazer a distribuição para normalizar o mercado, restringir importações de bens similares. A lógica é: Se já tem mercadoria nacional sobrando (por isso, o governo está distribuindo), a permissão para entrada de mais mercadorias de fora só atrapalharia a intenção do governo de enxugar o excesso.]

iii. Restringir a quantidade que possa ser produzida de qualquer produto de origem animal cuja produção dependa diretamente do produto

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importado, quando a produção nacional de bens similares a este for insignificante.

[Imaginemos que o Brasil queira reduzir a produção interna de carne.

De que jeito ele pode fazer isso?

Por exemplo, se for reduzida a importação de ração (partindo da premissa de que a ração é imprescindível para a produção de carne), conseguimos reduzir a produção de carne?

Sim, se a ração importada é imprescindível para a produção nacional de carne, a restrição às importações de ração vai gerar diminuição da produção de carne.

Mas esta restrição somente pode ser imposta caso não haja ração similar sendo produzida internamente, ou seja, desde que “a produção nacional de bens similares a este for insignificante”.

Caso haja ração produzida internamente, a restrição às importações seria um protecionismo camuflado. Seria uma reserva de mercado, que é algo inaceitável no GATT.

Em resumo, se o Brasil quer reduzir a produção interna de carne, será permitida uma restrição às importações de ração, desde que não haja produção nacional. Isto para não caracterizar a reserva de mercado.]

Toda parte contratante que imponha restrições à importação de um produto em virtude das disposições da alínea (c) deste parágrafo publicará o TOTAL DO VOLUME OU DO VALOR do produto cuja importação ficará autorizada durante um período especificado...”

Pode-se ver então pela redação acima que o país que criar esta restrição poderá criar uma quota sobre o volume ou sobre o valor das importações.

No artigo XII há mais exceção quanto ao uso das quotas. Vejamos:

“Artigo XII – Restrições para proteger o Balanço de Pagamentos

1. Não obstante as disposições do parágrafo 1o do artigo XI, toda parte contratante, com o fim de resguardar sua posição financeira exterior e o equilíbrio do seu Balanço de Pagamentos, poderá restringir o volume ou o valor das

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mercadorias permitidas para importar, observados os parágrafos seguintes.

2. a) as restrições à importação estabelecidas, mantidas ou reforçadas por qualquer parte contratante em virtude do presente artigo não excederão o necessário para:

i) afastar a ameaça iminente de diminuição relevante de suas reservas monetárias ou deter tal diminuição; ou

ii) aumentar suas reservas monetárias, considerando uma taxa razoável de crescimento, no caso de serem muito exíguas.

b) as partes contratantes, que apliquem restrições em virtude da alínea (a), devem atenuá-las progressivamente à medida que melhore a situação das reservas; ...”

Portanto, caso um país esteja com desequilíbrio no Balanço de Pagamentos, ele pode impor quotas “para resguardar sua posição financeira no exterior”, ou seja, para proteger suas reservas cambiais, as quais estão ameaçadas por conta do desequilíbrio.

Deve-se frisar:

1) O país deve estar com desequilíbrio no Balanço de Pagamentos;

2) As reservas devem ser “muito exíguas” ou devem estar tendo uma diminuição relevante (ou ameaçando ter); e

3) As quotas somente podem ser usadas até melhorar a “situação das reservas”.

Década de 1970

Bom, vimos que o GATT prega, no artigo XI, a tarificação das barreiras, ou seja, que todas as barreiras não-tarifárias sejam substituídas por alíquotas de imposto. Vimos também que, em regra, as barreiras não-tarifárias não podem ser usadas, salvo em alguns casos excepcionais.

No início, os países procederam à substituição de muitas de suas barreiras por tarifas e, depois de algumas rodadas de negociação, as alíquotas máximas informadas nas listas do artigo II se tornaram baixas. Mas...

Chegou a década de 1970. Foi uma década problemática. Ocorreram, por exemplo, duas crises do petróleo (1973 e 1979) e o fim do Sistema Bretton Woods (o sistema de controle das taxas de câmbio acabou em 1973).

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Por conta principalmente das crises do petróleo, houve um aumento significativo da inflação mundial. Em decorrência disto, os países passaram a sofrer uma série de dificuldades econômicas. Para tentar diminuir os problemas domésticos, os países quiseram levantar novamente as barreiras comerciais. Mas havia um problema. Havia um compromisso firmado no GATT de não cobrar alíquotas mais altas do que aquelas informadas nas listas anexadas ao GATT. Havia também a proibição de se usarem quotas como barreiras. Então, por falta de alternativa, os países começaram a “inventar” barreiras comerciais.

Inventaram barreiras sanitárias, barreiras técnicas e outras barreiras que, na prática, apenas camuflavam a tentativa de se restringirem as importações. Inventaram barreiras como, por exemplo:

1) sobre o tamanho de banana importada. A Inglaterra definiu que só poderiam ser importadas bananas com 14 cm de comprimento e 2,7 cm de largura (Jayme de Mariz Maia, em “Economia Internacional e Comércio Exterior”)

2) sobre o grau de acidez do abacaxi (EUA); e

3) sobre o percentual de umidade do algodão (EUA).

Em todos os casos acima, a intenção é basicamente proibir a importação ou restringi-la para produtos originários de um ou de outro país.

Por exemplo, o grau de acidez do abacaxi foi definido num limite que, na prática, serviu para praticamente restringir ou eliminar as exportações de abacaxis para os EUA. Assim, o mercado norte-americano fica reservado para abacaxis produzidos internamente ou então para aqueles produzidos em um país escolhido a dedo.

Portanto, desde a década de 1970, as grandes barreiras comerciais passaram a ser as barreiras não-tarifárias, já que as alíquotas máximas de imposto de importação foram sendo reduzidas, estando atualmente num nível muito baixo. De acordo com o artigo XIII, caso sejam criadas restrições quantitativas, estas devem ser rateadas entre os vários exportadores de tal forma que se aproxime esta divisão daquilo que se poderia esperar se não houvesse as restrições quantitativas. Vejamos algumas questões envolvendo a tarificação das barreiras. (AFRF/2003) Sobre o protecionismo, em suas expressões contemporâneas, é correto afirmar-se que: a) tem aumentado em razão da proliferação de acordos de alcance regional que mitigam o impulso liberalizante da normativa multilateral.

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b) possui expressão eminentemente tarifária desde que os membros da OMC acordaram a tarifação das barreiras não-tarifárias. c) assume feições preponderantemente não-tarifárias, associando-se, entre outros, a procedimentos administrativos e à adoção de padrões e de controles relativos às características sanitárias e técnicas dos bens transacionados. d) vem diminuindo progressivamente à medida que as tarifas também são reduzidas a patamares historicamente menores. e) associa-se a estratégias defensivas dos países em desenvolvimento frente às pressões liberalizantes dos países desenvolvidos.

Resp.:

O protecionismo atualmente tem expressão preponderantemente não-tarifária já que as tarifas máximas foram fixadas em listas nacionais anexadas ao GATT (artigo II), sendo reduzidas nas rodadas de negociação e também na celebração de blocos de integração como, por exemplo, o Mercosul, a União Européia e o NAFTA.

E as barreiras não-tarifárias passaram a ser as mais usadas a partir dos anos 70. A letra C é a resposta.

A Letra A é falsa porque é totalmente absurda a afirmação de que o protecionismo tem aumentado porque têm surgido mais blocos de integração regional (que aumentam o livre comércio!).

A Letra B é falsa, pois o protecionismo, desde os anos 70, tem expressão eminentemente não-tarifária, apesar do compromisso da tarificação.

A Letra D diz que o protecionismo tem se reduzido já que as tarifas estão se reduzindo.

1a Pergunta: O protecionismo tem se reduzido? Sim, desde 1994 quando a Organização Mundial do Comércio começou a funcionar.

2a Pergunta: As alíquotas estão sendo reduzidas a nível historicamente menores? Mais ou menos. As barreiras tarifárias já estão muito baixas.

3a Pergunta: O protecionismo está se reduzindo porque as tarifas estão se reduzindo? Não, pois apesar de as tarifas terem diminuído muito, as barreiras não-tarifárias são, desde a década de 1970, o grande problema. O protecionismo hoje é praticamente de caráter não-tarifário. As barreiras não-tarifárias aumentaram demais. A partir de 1994, o protecionismo começa a diminuir porque a OMC tem condenado um conjunto enorme de barreiras não-tarifárias, tais como os subsídios concedidos por vários países. Portanto, o protecionismo está se reduzindo pela redução de barreiras não-tarifárias já que as tarifárias hoje não passam de um detalhe.

A Letra E joga a culpa do protecionismo nas costas dos países em desenvolvimento como se somente eles tomassem atitudes

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protecionistas. É como se os países desenvolvidos não adotassem medidas protecionistas.

(AFRF 2002-1) Todas as vantagens, favores, privilégios ou imunidades concedidos por uma parte contratante a um produto originário ou com destino a qualquer outro país serão, imediatamente e incondicionalmente, estendidos a qualquer produto similar originário ou com destinação ao território de quaisquer outras partes contratantes. (GATT-1994, artigo 1, parágrafo 1). O excerto acima destacado (caput do parágrafo 1 do artigo 1) define uma cláusula conhecida, internacionalmente, como: a) cláusula de tratamento preferencial. b) cláusula da nação mais favorecida. c) cláusula de favorecimento comercial. d) cláusula de país aderente a Acordo Comercial. e) cláusula de definição comercial.

Resp.: Letra B.

A Cláusula da Nação Mais Favorecida se resume em “todo benefício dado por um país signatário do GATT a outro, signatário ou não, deve ser estendido incondicionalmente aos demais signatários.”

Segundo o próprio GATT, não é necessário cumprir a Cláusula da Nação Mais Favorecida se o benefício for concedido em blocos comerciais.

Posteriormente, foram criados o Sistema Geral de Preferências (SGP) e o Sistema Global de Preferências Comerciais (SGPC), respectivamente pela UNCTAD e pelo Grupo dos 77. Por estes sistemas (que vocês viram com o Missagia), também não há necessidade de se cumprir a Cláusula da Nação Mais Favorecida.

(AFRF/2005) 37 - A adoção da cláusula da nação mais favorecida pelo modelo do Acordo Geral de Tarifas e Comércios (GATT) teve como indicativo e desdobramento a pressuposição da igualdade econômica de todos os participantes do GATT, bem como, no plano fático: a) a luta contra práticas protecionistas, a exemplo da abolição de acordos bilaterais de preferência. b) a manutenção de barreiras alfandegárias decorrentes de acordos pactuados entre blocos econômicos, a exemplo do trânsito comercial entre membros do MERCOSUL e da União Européia, criando-se vias comerciais preferenciais freqüentadas e protagonizadas por atores globais que transcendem o conceito de estado-nação. c) a liberação da prática de imposição de restrições quantitativas às importações, por parte dos estados signatários que, no entanto, podem manter políticas de restrições qualitativas.

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d) a liberalização do comércio internacional, mediante a vedação de quaisquer restrições diretas e indiretas, fulminando-se a tributação na exportação, proibida pelas regras do GATT, que especificamente vedam a incidência de quaisquer exações nos bens e serviços exportados, de acordo com tabela anualmente revista, e que complementa as regras do Acordo. e) o descontrole do comércio internacional, mediante a aceitação de barreiras tarifárias, permitindo-se a tributação interna, medida extrafiscal que redunda na exportação de tributos, instrumento de incentivo às indústrias internas e de manutenção de níveis ótimos de emprego, evidenciando-se as preocupações da Organização Mundial do Comércio em relação a mercados produtores e consumidores internos. Solução: Vimos anteriormente que a Cláusula da Nação Mais Favorecida (NMF) trouxe o multilateralismo ao definir que não haveria mais concessão de benefícios bilateralmente. A NMF impôs o multilateralismo ao definir que qualquer vantagem dada a um país deveria ser “imediata e incondicionalmente” estendida aos demais signatários do GATT. A letra A é a resposta. A letra B está errada ao dizer: 1) que a Cláusula da Nação Mais Favorecida tem por desdobramento a manutenção de barreiras alfandegárias. A NMF diz respeito à não-discriminação de países e, por isso, é também chamada de Princípio da Não-Discriminação; e 2) que as barreiras alfandegárias decorrem de acordos pactuados entre blocos econômicos. Acordos entre blocos NUNCA são feitos para se criarem barreiras. A letra C é absurda: A cláusula NMF é liberalizante, não protecionista ou permissiva de restrições. Letra D: A cláusula NMF é liberalizante, pois dela decorre que qualquer benefício concedido a um país deve ser estendido aos demais signatários do GATT. A NMF não prevê eliminação de barreiras. Prevê, repito, que todo benefício dado a um país seja estendido para os demais. Mesmo se considerarmos que o GATT, não a NMF (que é o artigo I), prevê eliminação de barreiras, não se pode considerar a letra D correta, pois existem situações em que o protecionismo pode ser usado, como, por exemplo, para proteger indústrias nascentes ou para melhorar Balanço de Pagamentos quando as reservas cambiais estiverem em nível muito baixo. A NMF não tem nada a ver com aceitação de barreiras tarifárias (letra E), mas com extensão de benefício para os outros signatários do GATT.

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Apesar de a letra A ser a que a ESAF considerou correta, ela não está perfeita. Eu propus o seguinte recurso, mas não houve mudança na posição oficial da banca: “A letra A afirma que a Cláusula da Nação Mais Favorecida tem por desdobramento a ‘abolição de acordos bilaterais de preferência’. Esta afirmação não é totalmente correta, considerando que o parágrafo 5o do artigo XXIV do GATT prevê que a NMF não se aplicará quando houver o estabelecimento de uma união aduaneira, área de livre comércio ou a ADOÇÃO DE ACORDOS PRELIMINARES NECESSÁRIOS para o estabelecimento desses blocos. Ou seja, não precisa cumprir a NMF no caso dos acordos bilaterais de preferência se estes tiverem por objetivo o estabelecimento de uma área de livre comércio ou de uma união aduaneira. Em outras palavras, os acordos bilaterais de preferência podem subsistir, não precisando ser abolidos. Vejamos o § 5o: ‘5. Por conseguinte, as disposições deste Acordo não impedirão, entre os territórios das partes contratantes, o estabelecimento de uma união aduaneira nem de uma área de livre comércio, nem a adoção de acordos preliminares necessários para o estabelecimento de uma união aduaneira ou de uma área de livre comércio, à condição de que: ...’ Os acordos de preferência podem ser celebrados com o objetivo de se conformar uma área de livre comércio ou uma união aduaneira. Podemos confirmar isto pelo ensino de Bruno Ratti, ‘Comércio Internacional e Câmbio’, Edições Aduaneiras, 10a edição, página 460: “É interessante mencionar que, embora um dos objetivos do GATT fosse a ‘eliminação do tratamento discriminatório no comércio internacional’, ele não proibia a formação de blocos econômicos ou aduaneiros que objetivassem a remoção de tarifas e outras barreiras ao comércio entre países participantes desses blocos. Assim, uma união aduaneira ou uma zona de livre comércio podia ser tolerada e até mesmo estimulada.” O que o Bruno Ratti diz? Diz que a Cláusula da Nação Mais Favorecida (Princípio da Não-Discriminação) não proíbe a formação de blocos econômicos. Ou seja, não vai abolir os acordos comerciais, sejam bilaterais ou multilaterais. Portanto, a NMF não tem por objetivo abolir os acordos multilaterais preferenciais (ex. ALADI) ou bilaterais (também há acordos bilaterais de preferência já que um bloco econômico pode ser composto de dois países, conforme se pode verificar no parágrafo 8o do artigo XXIV do GATT).

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‘§ 8o Para os efeitos de aplicação do presente acordo, a) entender-se-á por união aduaneira, a substituição de DOIS ou mais territórios aduaneiros por um único território aduaneiro...’ Como exemplo de um bloco comercial de dois países tivemos o Acordo de Livre Comércio entre EUA e Canadá celebrado em 1988, sendo o embrião do atual NAFTA (página 493 do livro do Bruno Ratti: “Em 11/01/89 entrou em vigor o Acordo Comercial entre os EUA e o Canadá, objetivando criar uma zona de livre comércio.”). Portanto, a Cláusula da Nação Mais Favorecida do GATT não prevê eliminação de acordos bilaterais nem multilaterais de preferência que tenham por objetivo o estabelecimento de uma área de livre comércio ou de uma união aduaneira, como se depreende do artigo XXIV do GATT. Porém, se o acordo bilateral de preferência não tiver por objetivo o estabelecimento de uma área de livre comércio ou de uma união aduaneira, aí sim poderíamos interpretar a letra A como correta. Esta conclusão decorre da interpretação a contrario sensu do artigo XXIV do GATT. O erro na letra A foi ter generalizado a abolição dos acordos preferenciais. Em síntese, a NMF não pretende abolir os acordos preferenciais bilaterais ou multilaterais QUE TENHAM por objetivo a formação de uma área de livre comércio ou de uma união aduaneira (§ 5o do artigo XXIV do GATT). Solicito anulação da questão por falta de opção correta.” (AFRF/2005) 41- O estado X, principal importador mundial de brocas helicoidais, adquire o produto de vários países, entre eles os estados Y e Z. Alegando questões de ordem interna, o estado X, num dado momento, decide majorar o imposto de importação das brocas helicoidais provenientes de Y, e mantém inalterado o tributo para as brocas helicoidais oriundas de Z. Considerando que os países X, Y e Z fazem parte da Organização Mundial do Comércio, com base em que princípio da Organização o estado Y poderia reclamar a invalidade dessa prática? a) Princípio da transparência. b) Princípio do tratamento nacional. c) Respeito ao compromisso tarifário. d) Cláusula da nação mais favorecida. e) Princípio da vedação do desvio de comércio.

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Resp.: A cláusula da nação mais favorecida também é conhecida como princípio da não-discriminação. Todo benefício dado a um país deve ser estendido incondicionalmente aos demais, sem discriminação. Letra D.

Vamos olhar mais alguns artigos do GATT.

Proteção à indústria nascente

Artigo XVIII – Ajuda do Estado para favorecer o desenvolvimento econômico

Este artigo cai sempre em prova. É uma das situações permitidas para o uso de medidas protecionistas. Se algum país criar uma medida protecionista alegando “Proteção à indústria nascente”, nenhum outro país poderá reclamar.

O que é indústria nascente?

Vejamos a redação do artigo: “Parágrafo 1o – As partes contratantes reconhecem que o atingimento dos objetivos do presente Acordo será facilitado pelo desenvolvimento progressivo de suas respectivas economias, especialmente no caso das partes contratantes cuja economia ofereça à população um baixo nível de vida e que esteja nas primeiras fases de seu desenvolvimento.

Parágrafo 2o – As partes contratantes também reconhecem que pode ser necessário para as partes contratantes a que se refere o parágrafo 1o, com o objetivo de executar seus programas e de aplicar suas políticas de desenvolvimento econômico tendentes ao aumento do nível de vida geral de sua população, adotar medidas de proteção ou de outra forma que influam nas importações e que tais medidas são justificadas na medida em que com elas se facilita o atingimento dos objetivos do presente Acordo. Por conseguinte, estão de acordo em que devem ser previstos, em favor destas partes contratantes, facilidades adicionais que lhes permitam:

a) manter na estrutura de suas tarifas aduaneiras uma flexibilidade suficiente para que possam conceder a proteção aduaneira que requeira a criação de um determinado ramo de indústria; e

b) estabelecer restrições quantitativas por motivos de balanço de pagamentos de maneira que se tenha

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plenamente em conta o nível elevado e estável da demanda de importações que pode originar a execução de seus programas de desenvolvimento econômico.”

O conceito de indústria nascente foi criado na Alemanha na década de 1820 pelo economista e político alemão Friedrich List. Este conceito foi criado no contexto de uma Inglaterra industrializada e uma Alemanha nem unificada ainda (a unificação alemã só ocorreria em 1871). List, alemão, defendia a idéia de que os países, enquanto não tivessem atingido um nível razoável de desenvolvimento, poderiam impor barreiras para proteger a indústria que começava a surgir, a “indústria nascente”.

List pregava que, caso não houvesse a proteção, a indústria alemã não conseguiria vingar, ou seja, nasceria, mas não conseguiria suportar a concorrência de produtos importados da Inglaterra, que já possuía um desenvolvimento muito maior em função da Revolução Industrial.

Esta justificativa subsiste até hoje e foi incorporada ao GATT no artigo acima transcrito.

Portanto, a “proteção à indústria nascente” é permitida. E esta pode ser na forma de tarifas ou de quotas (“restrições quantitativas”), conforme se verifica nas alíneas do § 2o. Logo, esta é uma outra exceção à tarificação, podendo haver o uso de quotas.

Deve-se notar também que a permissão para o uso desta proteção é, conforme o § 1o, para países cuja economia “...esteja nas primeiras fases de seu desenvolvimento”.

E esta proteção às industrias nascentes também deve ser temporária. Somente poderá ser usada enquanto a indústria for “nascente”.

Artigo XX – Exceções Gerais

O artigo XX do GATT traz uma lista de situações em que os

países podem adotar medidas protecionistas. São medidas:

a) Necessárias para proteger a moral pública;

b) Necessárias para proteger a saúde e a vida das pessoas, animais e vegetais;

c) Relativas à importação ou exportação de ouro ou prata;

d) Necessárias para a observância de leis que não sejam incompatíveis com o GATT (ex: direitos de autor e de reprodução, patentes ...);

e) Relativas a produtos fabricados em prisões;

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f) Impostas para proteger o tesouro nacional artístico, histórico ou arqueológico;

g) Relativas à conservação dos recursos naturais esgotáveis;

h) Adotadas em virtude de acordo internacional; e

i) Para evitar a exportação de matérias-primas nacionais essenciais garantindo tais insumos em quantidade adequada às indústrias transformadoras nacionais.

E, por último, vejamos o artigo XXI – Exceções Relativas à Segurança.

No artigo XXI, o GATT dispõe que podem ser criadas medidas protecionistas para promoção da segurança nacional. Fica permitida a imposição de barreiras sobre a importação de materiais fissionáveis, armas, munições e material de guerra e outras aplicadas em tempos de guerra ou em caso de grave tensão internacional.

Aqui há duas lógicas sobre tais restrições:

1) a primeira diz respeito à não-permissão para que pessoas possam importar este tipo de bem; e

2) a segunda diz respeito à reserva de mercado para que empresas nacionais produzam este tipo de bem com intenção de o país não ficar dependendo de importações. Neste sentido, é permitida também a restrição de importações de alimentos e energia elétrica, que são bens estratégicos, que todos os países devem produzir para evitar que dependam de importações.

RESUMO

Após analisarmos os principais artigos do GATT, ficamos com as seguintes informações:

1) No pós-guerra, os países resolveram voltar ao liberalismo e assinaram o GATT em 1947;

2) O GATT foi republicado, incorporando-se as alterações, e passou a ser chamado de GATT-94, que é juridicamente distinto do GATT-47, mas essencialmente igual;

3) A Cláusula da Nação Mais Favorecida dispõe que todo benefício dado a um país deve ser estendido para os demais signatários do Acordo. Esta cláusula comporta exceções (blocos de integração, SGP e SGPC);

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4) Cada país fixou a alíquota máxima de imposto de importação por produto e estas listas dos países foram anexadas ao GATT na sua assinatura;

5) Os países assumiram o compromisso de não cobrar imposto em percentuais superiores aos que fixaram nas listas;

6) Combinaram negociar periodicamente reduções de barreiras comerciais nas chamadas Rodadas de Negociação;

7) Combinaram usar as barreiras comerciais exclusivamente na forma de imposto de importação, sendo permitido o uso de quotas e de licenças de importação e exportação em algumas situações especiais;

8) De 1947 à década de 1970, as barreiras tarifárias foram muito reduzidas em virtude das rodadas de negociação;

9) Na década de 1970, em função das crises mundiais, o protecionismo voltou com força, mas como não podiam mais ser levantadas as alíquotas máximas anexadas ao GATT, as barreiras passaram a ser eminentemente barreiras não-tarifárias por falta de opção;

10) Em 1994, com o final da Rodada Uruguai, o mundo voltou ao caminho do liberalismo ao criar a instituição que fiscalizaria o comércio mundial: a Organização Mundial do Comércio;

11) Linha do Tempo:

a. Década de 1930 – Protecionista por causa do crash;

b. De 1947 a 1970 – Período em que o liberalismo voltou “à toda”;

c. De 1970 a 1994 – O protecionismo aumenta e assume a feição não-tarifária, que perdura até hoje; e

d. A partir de 1995 – O mundo retoma o caminho do liberalismo com a criação da OMC.

12) Em resumo podem ser citadas as seguintes situações com permissão de barreiras não-tarifárias:

a. Para proteger o Balanço de Pagamentos, quando há déficit e as reservas estão exíguas ou ameaçando cair abruptamente (usa-se a quota);

b. Para proteção à indústria nascente (quota ou tarifa);

c. Para a aplicação de medidas de defesa comercial, por meio de alíquota antidumping e medida compensatória (barreiras não-tarifárias na forma de alíquota) ou cláusula de salvaguarda (imposto de importação ou quota);

d. Para promoção da segurança nacional (o GATT não citou expressamente que tipo de barreira poderia ser aplicada);

e. Para as situações listadas no parágrafo 2o do artigo XI (proibição ou quota);

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f. alguns produtos em situações específicas (artigo XX), em que se pode inclusive proibir a importação. Para se importar uma mercadoria que possa se enquadrar em algum dos casos abaixo, o governo normalmente impõe a obrigatoriedade de se licenciar previamente a importação. Desta forma, ele nem permite o embarque no exterior com destino ao Brasil de mercadorias:

i. que tragam danos ao meio ambiente;

ii. que tragam danos à saúde das pessoas e animais;

iii. falsificados;

iv. produzidos por presos; e

v. para proteger a moral pública, entre outros.

Vamos resolver as questões de provas anteriores relativas ao GATT.

(AFRF/2002-2) O regime de licença prévia na importação, configurando uma restrição quantitativa, pode ser instituído pelos países, sendo tolerado pela Organização Mundial de Comércio (OMC) principalmente a) visando selecionar aquelas mercadorias cuja produção interna seja incipiente e de qualidade inferior e, neste sentido, restringindo a importação que seria danosa pela concorrência, promove o desenvolvimento industrial. b) visando selecionar aquelas mercadorias tributadas com alíquotas mais elevadas e, assim, incrementando a arrecadação tributária, evita a emissão de moeda e conseqüentemente a inflação, promovendo o desenvolvimento do país. c) como medida de proteção à industria doméstica, e, assim, promovendo o seu desenvolvimento, impedindo ou restringindo a entrada do concorrente estrangeiro. d) visando evitar a formação de estoques especulativos de produtos aguardando a cotação no mercado nacional em alta, bem como impedir a importação de mercadorias originárias de países que discriminem as importações de outro país. e) como mecanismo de controle cambial exclusivamente para os países com dificuldades em seu balanço de pagamentos, além da necessidade de controlar a entrada de produtos afetos à autorização de órgãos governamentais específicos.

Resp.:

Pode haver o sistema de licenciamento como forma de controle cambial, ou seja, como forma de controlar o nível das reservas cambiais para os países que estiverem com déficit em Balanço de

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Pagamentos. Na resposta da letra E faltou só falar que é quando as reservas estiverem exíguas ou ameaçadas de caírem demais.

Pode também haver o licenciamento para controlar a entrada de animais vivos ou de brinquedos, por exemplo.

A letra A está quase certa. Se estivesse escrito simplesmente “produção incipiente”, a questão estaria correta. Mas a proteção NUNCA vai poder ocorrer por causa da qualidade do produto brasileiro. Proteger porcaria não é admitido nunca.

A letra B é a maior viagem. Está escrito que o país só vai permitir a entrada de produtos cujas alíquotas de imposto de importação sejam as mais altas e, assim, a arrecadação governamental será aumentada. Ora, o controle aduaneiro não tem função arrecadatória, mas extra-fiscal... Se quer arrecadar mais, a política será via aumento de imposto de caráter fiscal e não aumento via imposto de importação.

A letra C está quase perfeita. Faltou falar que a indústria é “nascente”. Se a letra C estivesse certa, o protecionismo generalizado estaria permitido no GATT.

A letra D diz que o governo vai restringir importações de produtos para evitar que um brasileiro compre demais e depois fique esperando o produto subir de preço para então vender no mercado interno. Isto não tem o mínimo sentido. E fala também que um país poderia retaliar impondo barreiras sobre as importações de outros países. Isto também não existe. Se um país se sente prejudicado por outro, tem que levar o caso ao sistema de solução de controvérsias.

(AFRF 2002-2) Com relação às práticas protecionistas, tal como observadas nas últimas cinco décadas, é correto afirmar-se que: a) assumiram expressão preponderantemente não-tarifária à medida que, por força de compromissos multilaterais, de acordos regionais e de iniciativas unilaterais, reduziram-se as barreiras tarifárias. b) voltaram a assumir expressão preponderantemente tarifária em razão de compromisso assumido no âmbito do Acordo Geral de Comércio e Tarifas (GATT)) de tarificar barreiras não-tarifárias, com vistas à progressiva redução e eliminação futura das mesmas. c) encontram amparo na normativa da Organização Mundial do Comércio (OMC), quando justificadas pela necessidade de corrigir falhas de mercado, proteger indústrias nascentes, responder a práticas desleais de comércio e corrigir desequilíbrios comerciais. d) recrudesceram particularmente entre os países da Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), na segunda metade dos anos noventa, em razão da desaceleração das taxas de crescimento de suas economias.

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e) deslocaram-se do campo estritamente comercial para vincularem-se a outras áreas temáticas como meio ambiente, direitos humanos e investimentos.

Resp.: Letra A.

A questão de 2003, na página 13, foi copiada desta questão de 2002.

As barreiras atualmente são preponderantemente não-tarifárias, já que as barreiras tarifárias se reduziram por causa das rodadas de negociações, por causa da criação de acordos regionais (de integração) e de reduções tarifárias unilaterais, em que um país concede uma redução de imposto sem pedir reciprocidade.

A Letra B fala corretamente do compromisso de tarificação, mas deixa de falar que houve um retrocesso na tarificação e, portanto, considera erradamente que as barreiras atualmente são preponderantemente tarifárias.

A Letra C é falsa porque dispõe que o protecionismo é permitido quando há:

1) falhas de mercado: FALSO. Falha de mercado é um conceito econômico que envolve qualquer tipo de diferença entre dois mercados. Por exemplo, o salário médio no Brasil é de R$ 1.000,00; nos EUA, R$ 5.000,00. Isto é uma “falha de mercado” salarial;

2) proteger indústria nascente: CERTO;

3) responder a práticas desleais de comércio: CERTO;

4) corrigir desequilíbrios comerciais: FALSO. O protecionismo pode ser usado quando houver desequilíbrio no Balanço de Pagamentos e não simplesmente na Balança Comercial.

A Letra D fala que o protecionismo aumentou na segunda metade dos anos 90. Isto é totalmente errado. A criação da OMC faz com que o mundo tome o caminho do livre comércio.

A Letra E fala que as barreiras deixaram de ser estritamente comerciais para se tornarem barreiras não-tarifárias. Na verdade, as barreiras deixaram de ser TARIFÁRIAS para se tornarem não-tarifárias. Não podemos esquecer que tanto as barreiras tarifárias quanto as barreiras não-tarifárias são espécies do gênero “Barreiras Comerciais”, posto que são barreiras ao comércio.

(AFRF 2002-1) No que se refere ao comércio internacional, a década de noventa foi caracterizada pelo(a)

a) recrudescimento do protecionismo em virtude do contexto recessivo herdado da década anterior.

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b) preponderância das exportações de serviços aos países desenvolvidos.

c) tendência à liberalização impulsionada por medidas unilaterais, por acordos bilaterais e regionais bem como por compromissos assumidos multilateralmente.

d) fracasso das negociações multilaterais no marco do GATT.

e) proliferação de acordos de integração econômica entre países desenvolvidos e em desenvolvimento.

Resp.: Letra C. A década de 90 tem por característica principal o surgimento da OMC. É uma década com “tendência liberalizante”.

A letra E fala sobre proliferação de acordos entre países desenvolvidos e países em desenvolvimento. Quais acordos?

Pegando, por exemplo, a lista dos acordos pedidos nos editais do concurso, algum daqueles foi criado nos anos 90 entre desenvolvidos e países em desenvolvimento? Podemos dizer que o NAFTA foi. Tem mais algum? Não.

(AFRF 2002-1) Sobre o Acordo Geral de Comércio e Tarifas (GATT), é correto afirmar que

a) foi o organismo internacional que precedeu a Organização Mundial do Comércio.

b) consagrava, como princípios fundamentais, a eqüidade, o gradualismo e a flexibilidade no comércio internacional.

c) tinha o propósito de monitorar as trocas internacionais e a aplicação irrestrita do Sistema Geral de Preferências (SGP).

d) mesmo após a criação da Organização Mundial do Comércio (OMC) mantém-se como componente fundamental do sistema multilateral de comércio.

e) seus dispositivos contemplam apenas a eliminação das barreiras tarifárias.

Resp.:

Mantém-se como o principal acordo comercial multilateral, já que a OMC não veio para revogá-lo, mas para fazer com que fosse cumprido. Letra D.

A letra A é falsa porque o GATT não é nem foi organismo, mas simplesmente um acordo.

A letra B é falsa, pois não existe este princípio da eqüidade no GATT. Eqüidade em quê?

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O princípio do gradualismo, existente no GATT, dispõe que o livre comércio será atingido de forma gradual e o principal instrumento para isso são as negociações.

O princípio da flexibilidade é o que permite exceções ao uso da Cláusula da Nação Mais Favorecida, caso o benefício seja concedido em função de um processo de integração (zona preferencial, área de livre comércio, união aduaneira, ...).

A letra D é falsa, pois o SGP (vocês viram com o Missagia) não é administrado pela OMC, mas pela UNCTAD.

A letra E é falsa, pois no GATT constam, como vimos, artigos dispondo sobre a eliminação de barreiras não-tarifárias como, por exemplo, o artigo XI.

(AFRF 2000) Não constitui princípio e prática da Organização Mundial do Comércio (OMC):

a) Eliminação das restrições quantitativas

b) Nação mais favorecida

c) Proibição de utilização de tarifas

d) Transparência

e) Tratamento nacional

Resp.:

Não está proibido o uso de tarifas, já que existe inclusive a previsão de tarificação. Ora, se todas as barreiras devem ser transformadas em barreiras tarifárias, estas são proibidas? Lógico que não. Letra C.

Artigo XI do GATT – Eliminação das restrições quantitativas.

Artigo I – Nação Mais Favorecida.

Artigo III – Tratamento Nacional.

A Transparência é exigida em qualquer coisa na vida, quanto mais no sistema multilateral de comércio. Neste, implica que a alteração de normas aduaneiras deve ser publicada com antecedência razoável para que os agentes dos outros países fiquem cientes antes de mandarem novas remessas.

(AFTN/98) Um tratado comercial segue uma série de princípios jurídicos. Indique o princípio que não constitui uma base corrente para tratados comerciais.

a) Paridade

b) Reciprocidade

c) Salvaguarda

d) Nação Mais Favorecida

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e) Equivalência

Resp.:

Todos os princípios das letras ‘a’ a ‘d’ já vimos (lembrando que Paridade = Tratamento Nacional).

O princípio da Equivalência existe, mas não é uma “base corrente” para tratados comerciais, já que existe apenas no Acordo sobre Agricultura. Em uma frase (já que este acordo não está no edital): os atestados fitossanitários emitidos por um país membro da OMC são aceitos pelas autoridades governamentais dos demais países. Há equivalência entre os atestados fitossanitários emitidos pelos Membros da OMC. A letra E é a resposta.

(AFTN/98) A Cláusula da Nação Mais Favorecida estabelece:

a) a Nação mais favorecida nas tarifas de seu produto de exportação deve manter o seu mercado aberto para os demais produtos

b) um país estende aos demais os privilégios concedidos a um terceiro país

c) a Nação mais favorecida é a que obtém os privilégios de uma rodada de redução tarifária sem abrir o seu mercado para as demais

d) a idéia de que uma Nação deve se abster de obter vantagens injustificáveis ou praticar um comércio injusto com os demais países

e) o direito de alguns países obterem vantagens no comércio com outros países

Resp.: Mole. Letra B.

(AFTN/96) Após a Segunda Guerra Mundial, estabeleceu-se o Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio (GATT), como parte do esforço de reorganização das relações econômicas internacionais e com o objetivo específico de promover a expansão e a liberalização do comércio internacional. Uma de suas cláusulas fundamentais é a “Cláusula da Nação Mais Favorecida”, cujo enunciado, simplificadamente, é o seguinte:

a) A nação mais favorecida no comércio internacional será sempre aquela que oferecer vantagens comerciais a um número maior de países, pois estes, pelo princípio da reciprocidade, são obrigados a dispensar igual tratamento;

b) A condição de nação mais favorecida deve ser sempre atribuída aos países de níveis mais precários de industrialização;

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c) A condição de nação mais favorecida permite ao GATT impor restrições comerciais aos países que praticam o dumping;

d) Todas as vantagens e privilégios comerciais concedidos por um país a outro deverão ser estendidos aos demais países-membros do GATT;

e) Um país reconhecido como “nação mais favorecida” se obriga a rever, nos termos estabelecidos pelo GATT, toda a sua estrutura tarifária.

Resp.: Mole pela terceira vez. Letra D.

(AFTN/96) Um dos princípios fundamentais do Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio da Organização Mundial do Comércio (GATT/OMC) é o da não-discriminação. De que maneira este princípio se harmoniza com a constituição de sistemas regionais de integração, que partem do princípio do tratamento diferenciado entre os países que integram e os que não fazem parte destes sistemas de integração ?

a) O princípio da não-discriminação do GATT refere-se basicamente a produtos, de acordo com a cláusula da nação mais favorecida, e não a países, como é o caso dos arranjos de integração regional;

b) O GATT possui muitas cláusulas de escape, que permitem que os países optem por regras regionais ou gerais;

c) Em todo arranjo regional, os países participantes se obrigam a oferecer concessões compensatórias

d) Não há contradição entre uma coisa e outra, pois todos os países, por serem soberanos no plano internacional, possuem igual direito de constituir sistemas regionais, competindo a cada país tomar a iniciativa de fazê-lo;

e) O objetivo maior do GATT/OMC é o fomento à expansão do comércio internacional. Assim sendo, uma organização que seja criada com o objetivo de reduzir e, no limite, eliminar as tarifas entre os participantes do sistema regional de integração, ampliando o volume de comércio entre estes países, será aceita e mesmo estimulada pelo GATT/OMC.

Resp.: Letra E.

O princípio da não-discriminação pode ser visto de duas formas:

1) Não-discriminação entre produtos de países diferentes = Cláusula da Nação Mais Favorecida (artigo I do GATT); e

2) Não-discriminação de produto estrangeiro em relação a produto nacional = Princípio da Paridade (artigo III do GATT)

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Pelo enunciado podemos ver que a ESAF estava usando o primeiro conceito.

Perguntou: Como é que a Cláusula da Nação Mais Favorecida (em que qualquer benefício concedido a um país deve ser estendido incondicionalmente aos demais) combina com os blocos de integração (em que não precisam estender os benefícios para fora do bloco)?

A resposta é simples: o GATT permite e estimula a celebração de acordos regionais, pois reconhecem que é mais fácil promover a integração gradualmente, “aos pouquinhos”, do que tentar forçar o livre comércio sem dar flexibilidade às partes. E, por isso, o artigo XXIV do GATT prevê expressamente a não-aplicação da Cláusula da Nação Mais Favorecida quando o benefício é dado dentro de um bloco regional. A letra E é a resposta.

Um abraço,

Rodrigo Luz