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Comissão Nacional de Energia Nuclear - CNEN Centro de Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear - CDTN Mestrado em Ciência e Tecnologia das Radiações, Minerais e Materiais Fernanda Peixoto Sepe Melo Avaliação da qualidade dos medicamentos Omeprazol e Fluoxetina manipulados em algumas farmácias magistrais de Belo Horizonte Belo Horizonte 2013

Comissão Nacional de Energia Nuclear - CNEN Centro de ... · medicamentos manipulados ofertados à população e quanto ao rigor das exigências da legislação sanitária vigente

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Comissão Nacional de Energia Nuclear - CNEN

Centro de Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear - CDTN

Mestrado em Ciência e Tecnologia das Radiações, Minerais e Materiais

Fernanda Peixoto Sepe Melo

Avaliação da qualidade dos medicamentos Omeprazol e Fluoxetina

manipulados em algumas farmácias magistrais de Belo Horizonte

Belo Horizonte

2013

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Comissão Nacional de Energia Nuclear - CNEN

Centro de Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear - CDTN

Mestrado em Ciência e Tecnologia das Radiações, Minerais e Materiais

Avaliação da qualidade dos medicamentos Omeprazol e Fluoxetina

manipulados em algumas farmácias magistrais de Belo Horizonte

Fernanda Peixoto Sepe Melo

Dissertação apresentada como parte dos

requisitos para obtenção do Grau de Mestre

em Ciência e Tecnologia das Radiações,

Minerais e Materiais

Orientador: Dr. Alexandre Soares Leal

Belo Horizonte

2013

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DEDICATÓRIA

Ao meu marido, pelo amor, paciência e incentivo.

Ao meu filho, por ter me proporcionado fôlego

novo com o seu nascimento.

À minha família e aos amigos da Funed, da

UFMG e da SESMG, pelo carinho, apoio e por

estarem sempre me incentivando a lutar pelos

meus sonhos.

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AGRADECIMENTOS

A Deus, por estar sempre presente na minha vida e tornar tudo possível.

Ao meu marido, por todo apoio e confiança, o que tornou possível a realização deste projeto.

Aos meus pais, pela educação base para minha vida e apoio nos meus estudos e por me

incentivarem a encarar todos os desafios da vida com coragem e honestidade.

Ao meu irmão, pelo carinho e apoio em todos os momentos.

Ao meu orientador Dr. Alexandre Soares Leal, por sua compreensão nos momentos difíceis,

dedicação e apoio ao longo desta jornada.

Às amigas da FUNED, Amália e Luzia, que confiaram a mim este projeto e muito me

apoiaram e ajudaram.

Aos professores da pós-graduação, pela contribuição na minha formação profissional e pelos

valiosos ensinamentos.

Aos amigos da pós-graduação da turma de 2011, que de alguma forma contribuíram para a

realização deste trabalho. Agradeço especialmente à Tatiana, pela parceria, carinho e

dedicação.

À Equipe da Pós-graduação Roseli, Adriano, Vinícius, pelos auxílios fundamentais nas

questões acadêmicas.

À FUNED, pelas instalações e realização das análises farmacopéicas, de aspecto e rotulagem.

Ao CDTN, IPEN e IJS, pelas instalações e realização das análises por ativação neutrônica.

À CAPES e ao CDTN, pelo apoio financeiro.

Muito Obrigada!!!

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"Não se preocupe em entender, viver ultrapassa todo o entendimento."

(Clarice Lispector)

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RESUMO

Há uma grande procura da população brasileira por medicamentos manipulados em farmácias

de manipulação, que têm papel social incontestável por possibilitar a individualização do

medicamento e obtenção de medicamentos não disponíveis industrialmente. Na última década

houve rápido crescimento no número de farmácias magistrais no Brasil. A Vigilância

Sanitária tem envidado esforços para fiscalização e monitoramento eficaz desses

estabelecimentos, realizando publicação e revisão de legislação sanitária, dentre outras ações.

Todavia, casos de desvios de qualidade de medicamentos manipulados foram registrados ao

longo dos anos e ainda são realidade, com sérias conseqüências à saúde da população e

levando a óbito em alguns casos. Ainda, estudos realizados como os de Leal e colaboradores

(2006 e 2008) evidenciaram impurezas químicas em matérias-primas e medicamentos

manipulados e industrializados. Diante disso, restam dúvidas quanto à qualidade dos

medicamentos manipulados ofertados à população e quanto ao rigor das exigências da

legislação sanitária vigente e sua adequação ao amadurecimento do setor magistral. O

objetivo deste estudo foi avaliar a qualidade de medicamentos manipulados em farmácias

magistrais de Belo Horizonte após a publicação da RDC 67/2007, por meio de análises

farmacopéicas e de aspecto e rotulagem. Para tanto, foram adquiridos medicamentos de amplo

consumo – omeprazol e cloridrato de fluoxetina – em cinco estabelecimentos de Belo

Horizonte, amostrados por amostragem estratificada considerando localização geográfica e

número de farmácias por região, seguida por amostragem aleatória. Ainda, foram tratados os

resultados das análises do monitoramento da qualidade de manipulados realizado pela

Vigilância Sanitária de Minas Gerais em parceria com a Fundação Ezequiel Dias, no ano de

2011. Por fim, foram realizadas análise por ativação neutrônica dos medicamentos

manipulados visando detecção e quantificação de impurezas elementares. Os resultados das

análises executadas confirmam a preocupação sobre a qualidade dos medicamentos

manipulados, uma vez que houve somente 7% de satisfatoriedade nos produtos analisados, e a

necessidade de ações rápidas e eficientes do sistema público de saúde para possibilitar a

garantia da qualidade dos medicamentos manipulados.

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ABSTRACT

There is a great demand of the population for compounded drugs from pharmacies, which

have undeniable social role by allowing the individualization of medication and obtaining

drugs not available industrially. In the last decade there has been rapid growth in the number

of pharmacies in Brazil. The Sanitary Surveillance is striving for effective monitoring and

supervision of these establishments, performing publishing and reviewing health legislation,

among other actions. Therefore, there is doubt about the quality of compounded drugs offered

to the population and the rigor of the requirements of current health law and its suitability for

the maturation of the industry masterful. Still, studies such as Leal and collaborators (2006

and 2008) showed chemical impurities in raw materials and drugs handled and processed. The

aim of this study was to evaluate the quality of compounded drugs in pharmacies in Belo

Horizonte after publication of RDC 67/2007, through pharmacopoeial analysis, aspect and

labeling. Therefore, were purchased drugs from widespread consumption - omeprazole,

fluoxetine - in five establishments of Belo Horizonte, sampled by stratified sampling

considering geographical location and number of pharmacies per region, followed by random

sampling. Also dealt with the results of the analysis of the quality monitoring conducted by

Sanitary Surveillance of Minas Gerais in partnership with Fundação Ezequiel Dias, in the year

2011, in compounded medicines. Finally, we performed neutron activation analysis of

compounded drugs targeting detection and quantification of elemental impurities.The results

of the analysis performed confirms the concern about the quality and safety of compounded

medicines, since there was only 7% of satisfactoriness, and the need for fast and efficient

actions of public health system to allow quality assurance of compounded drugs.

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LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 Fórmula estrutural do omeprazol...........................................................................43

FIGURA 2 Fórmula estrutural da fluoxetina............................................................................44

FIGURA 3 Cromatograma do ensaio de teor de omeprazol.....................................................60

FIGURA 4 Cromatograma do ensaio de teor de fluoxetina......................................................60

FIGURA 5 Resultado do quantitativo de ativo por cápsula analisada do medicamento

omeprazol, da farmácia C, no ensaio de uniformidade de conteúdo........................................68

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LISTA DE TABELAS

TABELA 1 Ensaios executados pela Funed em cada medicamento e referência

utilizada.....................................................................................................................................27

TABELA 2 MRLs de alguns elementos químicos por duração e via de

administração...........................................................................................................................48

TABELA 3 RDA de alguns elementos químicos.....................................................................49

TABELA 4 Limites de concentração de alguns elementos químicos.......................................51

TABELA 5 Número de farmácias por regional de Belo Horizonte..........................................52

TABELA 6 Ensaios executados pela Funed por medicamento e referência utilizada..............54

TABELA 7 Características eluição para análise do Omeprazol por CLAE (USP 32).............59

TABELA 8 Condições técnicas k0-AAN no CDTN e IPEN....................................................61

TABELA 9 Resultados de rotulagem por farmácia e medicamento amostrados.....................62

TABELA 10 Resultados das análises de determinação de peso de omeprazol, em mg/cápsula

e variação máxima e mínima (%), por farmácia.......................................................................64

TABELA 11 Resultados das análises de determinação de peso de cloridrato de fluoxetina, em

mg/cápsula e variação máxima e mínima (%), por farmácia....................................................64

TABELA 12 Resultados do teor de princípio ativo dos medicamentos manipulados, em

mg/cápsula e % do declarado, por farmácia e medicamento....................................................65

TABELA 13 Valores de X, s, VImín e VImáx. e VA, do ensaio de Uniformidade de dose

unitária de omeprazol................................................................................................................67

TABELA 14 Valores de X, s, VImín e VImáx. e VA, do ensaio de Uniformidade de dose

unitária de cloridrato de fluoxetina...........................................................................................67

TABELA 15 Resultado da adequação do medicamento, considerando todos os ensaios

realizados..................................................................................................................................69

TABELA 16 Estabelecimentos amostrados por medicamento e dosagem...............................70

TABELA 17 Resultados de rotulagem, por medicamento e farmácia......................................71

TABELA 18 Resultados de determinação de peso de omeprazol em mg/cáps e variação

máxima e mínima (%), por farmácia........................................................................................72

TABELA 19 Resultados de determinação de peso de cloridrato de fluoxetina em mg/cáps e

variação máxima e mínima (%), por farmácia..........................................................................73

TABELA 20 Resultado de teor em mg/cáps e % declarado, por medicamento e

farmácia.....................................................................................................................................74

TABELA 21 Valores de X, s, VImín e VImáx. e VA, do ensaio de uniformidade de dose

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unitária de cloridrato de fluoxetina...........................................................................................74

TABELA 22 Valores de X, s, VImín e VImáx. e VA, do ensaio de uniformidade de dose

unitária de omeprazol................................................................................................................75

TABELA 23 Resultado da adequação ao medicamento considerando todos os ensaios

realizados..................................................................................................................................76

TABELA 24 Resultado AAN (CDTN) para omeprazol, por farmácia (µg g-1).......................78

TABELA 25 Resultado AAN (IPEN) para cl.fluoxetina, por farmácia (µg g-1)......................78

TABELA 26 - Resultado AAN – comparação de dados em µg/g............................................79

TABELA 27 - Resultado AAN – comparação de dados em µg/dia ........................................80

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................................14

1.1 OBJETIVOS............................................................................................................15

1.2 JUSTIFICATIVA....................................................................................................16

2 DESENVOLVIMENTO ......................................................................................................17

2.1 REFERENCIAL TEÓRICO............................................................................................17

2.1.1 Farmácia de Manipulação.................................................................................17

2.1.2 Medicamento.......................................................................................................20

2.1.3 Vigilância Sanitária............................................................................................22

2.1.3.1 Programa de monitoramento da qualidade de medicamentos...............26

2.1.4 Legislação sanitária x produto de qualidade...................................................27

2.1.4.1 Histórico da legislação e casos de desvios de qualidade.......................27

2.1.4.2 Garantia de Qualidade e Boas Práticas de Manipulação......................31

2.1.4.3 Qualidade...............................................................................................32

2.1.4.4 Controle de Qualidade: requisitos da legislação e suas

limitações...........................................................................................................34

2.1.4.5 Processo de manipulação de sólidos orais na forma

farmacêutica cápsulas em farmácias................................................................38

2.1.5 A quem compete garantir a qualidade do medicamento

manipulado?................................................................................................................41

2.1.6 Medicamentos alvo do estudo............................................................................43

2.1.6.1 Omeprazol(antiulceroso).......................................................................43

2.1.6.2 Fluoxetina (antidepressivo) ..................................................................44

2.1.7 Elementos traços em medicamentos manipulados..........................................45

2.1.7.1 Exposição humana a alguns elementos químicos..................................47

2.1.7.2 Controle de impurezas elementares em medicamentos.........................49

2.2 MATERIAL E MÉTODOS................................................................................................51

2.2.1 Medicamentos alvo do estudo..............................................................................51

2.2.2 Farmácias amostradas .........................................................................................52

2.2.3 Análises realizadas e laboratórios parceiros......................................................53

2.2.3.1 Determinação de peso...........................................................................54

2.2.3.2 Identificação..........................................................................................55

2.2.3.3 Teor de princípio ativo...........................................................................55

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2.2.3.4 Uniformidade de doses unitárias...........................................................56

2.2.3.5 Aspecto..................................................................................................57

2.2.3.6 Rotulagem..............................................................................................57

2.2.4 Equipamentos.....................................................................................................57

2.2.5 Reagentes e materiais certificados....................................................................58

2.2.6 Procedimento de doseamento............................................................................58

2.2.7 Análise por ativação neutrônica........................................................................61

2.3 RESULTADOS E DISCUSSÃO....................................................................................62

2.3.1 Controle de qualidade físico-químico, aspecto e rotulagem.............................62

2.3.1.1 Rotulagem..............................................................................................62

2.3.1.2 Aspecto.................................................................................................63

2.3.1.3 Determinação de peso............................................................................63

2.3.1.4 Identificação de ativo............................................................................64

2.3.1.5 Teor de ativo..........................................................................................65

2.3.1.6 Uniformidade de conteúdo....................................................................66

2.3.1.7 Conclusão final quanto à adequação dos medicamentos analisados

considerando ensaios de Controle de Qualidade físico-químico, aspecto e

rotulagem...........................................................................................................69

2.3.2 Programa de monitoramento da qualidade de medicamentos.........................70

2.3.2.1 Rotulagem..............................................................................................71

2.3.2.2 Aspecto..................................................................................................72

2.3.2.3 Determinação de peso............................................................................72

2.3.2.4 Identificação de ativo............................................................................73

2.3.2.5 Teor........................................................................................................73

2.3.2.6 Uniformidade de conteúdo....................................................................74

2.3.2.7 Conclusão final quanto à adequação dos medicamentos analisados pelo

Monitoramento da Qualidade de Manipulados considerando ensaios de

Controle de Qualidade físico-químico, aspecto e rotulagem............................75

2.3.3 Discussão final....................................................................................................76

2.3.4 Análise por ativação neutrônica........................................................................77

3 CONCLUSÃO.....................................................................................................................82

REFERÊNCIAS......................................................................................................................84

ANEXO I ..................................................................................................................................97

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1 INTRODUÇÃO

Nos últimos anos, houve um rápido crescimento no número de farmácias magistrais,

no Brasil, passando de 2.100 estabelecimentos, em 1998, para 7.351, em 2010 - em 2004

eram 5356 e três anos antes, 3100 - o que tem gerado uma série de esforços pela Vigilância

Sanitária, na busca do monitoramento com eficácia desses estabelecimentos

(CAPRIGLIONE; MESMA, 2004; CONSELHO FEDERAL DE FARMÁCIA, 2011).

Todavia, como demonstrado por estudos realizados para avaliação da qualidade das

farmácias de manipulação no país, em 2005 e 2007, pela própria Vigilância Sanitária, ainda

há muito o que se fazer para obtenção deste monitoramento eficaz (AGÊNCIA NACIONAL

DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA, 2005; LIMA; DRUMMOND, 2007).

Esta situação, aliada ao hábito cultural enraizado da população brasileira de

automedicação, revela um grave problema de saúde pública e um desafio: o uso racional de

medicamentos e a qualidade dos medicamentos manipulados, em especial (OLIVEIRA;

LABRA; BERMUDEZ, 2006; ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE, 2010; SIMÕES;

FILHO, 1985).

Ao longo dos anos foram relatados diversos casos de gravidade elevada com respeito

ao consumo de medicamentos manipulados, incluindo relato de óbitos. Os medicamentos

apresentavam excesso de substâncias ativas dos medicamentos prescritos – até mil vezes

acima do recomendado - ou até mesmo a presença de algumas substâncias que não constavam

na prescrição original (BRASIL, 2005; GISELE, 2006; OLIVEIRA; LABRA; BERMUDEZ,

2006; SILVA et al., 2010).

Os desvios de qualidade verificados em medicamentos manipulados podem estar

relacionados com diversos fatores, dentre eles, a utilização de processos de manipulação

inadequados ou a não realização de análises para avaliação de parâmetros relevantes para

atestarem qualidade e conformidade de matérias-primas, produtos em processo e produtos

acabados ou a ausência de capacitação suficiente de manipuladores (BRASIL, 2005).

Desvios de qualidade de medicamentos manipulados foram registrados em outros

países, não sendo exclusividade do Brasil (MAGLIA, 2003; ROMANO; DINH, 2001).

Estudos como o de Futuro e Silva (2007) – que analisaram formulações contendo

maleato de enalapril 20 miligramas (mg) - demonstram imprecisão no processo de

manipulação de cápsulas em farmácias magistrais.

Outros estudos realizados evidenciaram que matérias-primas utilizadas em farmácias

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de manipulação podem conter impurezas químicas não contempladas nas especificações,

como ilustram os trabalhos de Leal e colaboradores (2006; 2008) que revelaram a presença de

impurezas indesejáveis em diferentes tipos de medicamentos (LEAL et al., 2006)

A ingestão de metais, mesmo em baixos teores, pode causar danos à saúde humana,

principalmente por aqueles elementos não incluídos na lista dos considerados essenciais para

os seres humanos (FERGUSSON, 1990; ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE, 2010;

REMINGTON; GENNARO, 2007).

A legislação sanitária sobre Boas Práticas de Manipulação foi revisada em 2006 e

2007, estando vigente a RDC 67, de oito de outubro de 2007. Houve ainda publicação da

RDC 87, de 2008, e da RDC 21, de 2009 - que alteraram alguns pontos da RDC 67/07 – e de

outras legislações que abrangem as farmácias de manipulação.

Com a publicação dessas legislações, que definiram novas e aprimoraram exigências

antes existentes e com diversas capacitações ministradas aos inspetores destes

estabelecimentos ao longo dos anos, em todos os níveis hierárquicos, o Sistema Nacional de

Vigilância Sanitária tem a perspectiva de que as condições de funcionamento de farmácias

magistrais têm sido monitoradas a contento, garantindo a qualidade dos medicamentos

manipulados nestes estabelecimentos.

Todavia, alguns estudos demonstram que a legislação que define as Boas Práticas de

Manipulação não atende e não garante a qualidade dos medicamentos manipulados

(ALMEIDA; FILHO, 2010).

1.1 OBJETIVOS

O objetivo geral deste estudo foi avaliar a qualidade de medicamentos manipulados

(cloridrato de fluoxetina e omeprazol) em algumas farmácias magistrais de Belo Horizonte

após a publicação da RDC 67/2007.

Os objetivos específicos foram avaliar a qualidade e adequação das amostras quanto

ao aspecto, rotulagem, determinação de peso, teor e identificação de princípio ativo e

uniformidade de doses unitárias, verificar adequação das exigências da legislação ao

amadurecimento do setor magistral e ainda investigar a presença de possíveis contaminantes

inorgânicos.

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1.2 JUSTIFICATIVA

O uso racional de medicamentos requer que os produtos essenciais possam ter preço

acessível à população e qualidade. A informação fidedigna sobre segurança e qualidade dos

produtos deve estar sempre à disponibilidade do público (BONFIM, 2007).

O consumidor, porém, não tem meios de avaliar a qualidade dos produtos, cabendo à

vigilância sanitária assegurar, por meio da verificação do cumprimento das legislações

sanitárias vigentes e pelo monitoramento da qualidade dos produtos ofertados à população,

que o preço acessível dos medicamentos manipulados não ocorra à custa da qualidade do

medicamento.

Nesse sentido, o que se pretende é que os resultados deste estudo possam contribuir

para a verificação da qualidade dos medicamentos manipulados nas farmácias de Belo

Horizonte, capital do Estado de Minas Gerais. Este é um passo fundamental para se

vislumbrar a adequação desses estabelecimentos às normas sanitárias vigentes, principalmente

no que tange cumprimento de Boas Práticas de Manipulação e, de acordo com resultados

obtidos, poder sugerir aprimoramentos na legislação sanitária e subsidiar a vigilância sanitária

para melhorias na fiscalização/monitoramento das farmácias.

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2 DESENVOLVIMENTO

2.1 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1.1 Farmácia de Manipulação

O preparo artesanal de medicamentos é uma atividade executada há milhares de anos,

sendo a essência da profissão farmacêutica (BUURMA, 2003).

Gennaro (2004), afirma que o farmacêutico é o profissional que possui o

conhecimento e habilidades imprescindíveis para manipular e preparar medicamentos

individualizados para os pacientes e a legislação sanitária vigente, define o farmacêutico -

com registro no seu respectivo Conselho Regional de Farmácia - como profissional

responsável pela manipulação (BRASIL, 2007a).

Grande parte dos medicamentos consumidos no Brasil, até a década de 40 do século

XX, era manipulado em farmácias. Após as duas guerras mundiais, com a industrialização

brasileira no setor farmacêutico, ocorre o declínio das farmácias magistrais, que praticamente

inexistiam ao fim da década de 70. Esse distanciamento agravou-se após a Segunda Guerra

Mundial quando a manipulação deu lugar aos medicamentos industrializados e a indústria

farmacêutica assumiu a produção da maioria dos medicamentos prescritos pelos médicos

(GENNARO, 2004). A manipulação tornou-se uma atividade residual na farmácia, ficando

basicamente restrita às farmácias hospitalares. A farmácia assumiu, portanto, características

de estabelecimento comercial, deixando de lado a capacidade do farmacêutico na prática da

manipulação em detrimento dos medicamentos industrializados.

No final da década de 80, as farmácias de manipulação ressurgiram. Nesta época

houve movimento para o resgate da farmácia de manipulação e, consequentemente, do

farmacêutico (SZATOWSKI e OLIVEIRA, 2004; THOMAZ, 2001). Silva (2007) relaciona o

ressurgimento magistral às dificuldades de importação de certos medicamentos e à redução de

produção de inúmeros outros medicamentos por indústrias, em virtude do controle de preços

pelo governo, ocorridos nos anos 80 e 90. Ainda, relaciona esse fato ao aumento de

prescrições contendo a o nome do princípio ativo do medicamento (denominação comum

brasileira - DCB) em decorrência do incentivo governamental para a comercialização dos

medicamentos genéricos.

Há que se mencionar que, nessa época, houve intensificação nas inspeções em

indústrias farmacêuticas e farmoquímicas, pela Vigilância Sanitária, principalmente quando

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da realização do Programa Nacional de Inspeções em Indústrias Farmacêuticas e

Farmoquímicas (PNIIF) em 1995, programa esse que culminou com interdição parcial ou total

de várias indústrias e em advertências para outras, no sentido de atenderem às Boas Práticas

de Fabricação (CORRÊA, 2003; LUIZA; CASTRO; e NUNES, 1999). No setor magistral

brasileiro, a primeira legislação sanitária que disciplinou sobre Boas Práticas de Manipulação

foi a RDC 33, em 2000.

Atualmente há uma grande procura da população por medicamentos manipulados em

farmácias, o que pode ser evidenciado pelo rápido crescimento no número de farmácias

magistrais: aumento de 350% de 1998 a 2010 - (CONSELHO FEDERAL DE FARMÁCIA,

2011). Os medicamentos manipulados respondem por cerca de 9% do mercado brasileiro de

medicamentos (CABRAL FILHO, 2005; CAPRIGLIONE, MESMA, 2004; PISSATO et al.,

2006; SILVA, RIBEIRO e CARVALHO, 2011)

Em outros países a representatividade dos medicamentos manipulados no mercado

farmacêutico é inferior. Conforme Zaida e colaboradores (2012) somente 1,55% das

prescrições mensais dispensadas na Palestina correspondem a medicamentos manipulados. Na

Holanda e Estados Unidos da América o percentual de prescrições de medicamentos

manipulados é 3,4% e 2,3%, respectivamente (BUURMA, 2003).

Conceitualmente (BRASIL, 2007a, p. 30), pela Agência Nacional de Vigilância

Sanitária (Anvisa), farmácia é o

“estabelecimento de manipulação de fórmulas magistrais e oficinais, de comércio de drogas, medicamentos, insumos farmacêuticos e correlatos, compreendendo o de dispensação e o de atendimento privativo de unidade hospitalar ou de qualquer outra equivalente de assistência médica”

e manipulação “conjunto de operações farmacotécnicas, com a finalidade de elaborar

preparações magistrais e oficinais e fracionar especialidades farmacêuticas para uso humano”.

Ainda, preparação magistral (BRASIL, 2007a) é “aquela preparada na farmácia, a

partir de uma prescrição de profissional habilitado, destinada a um paciente individualizado, e

que estabeleça em detalhes sua composição, forma farmacêutica, posologia e modo de usar” e

preparação oficinal “aquela preparada na farmácia, cuja fórmula esteja inscrita no Formulário

Nacional ou em Formulários Internacionais reconhecidos pela Anvisa”.

A farmácia de manipulação tem papel social incontestável na oferta de medicamentos

à população (MARINHO et al., 2011), por possibilitar adequação de preparações para uso

pediátrico (PINTO; BARBOSA, 2008); possibilitar personalização da posologia, obtendo

produto com dosagem, concentrações, ou apresentações distintas das já disponibilizadas no

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mercado; manipulação de medicamentos contendo fármacos descontinuados, que por fatores

econômicos não são mais produzidos pela indústria farmacêutica; possibilitar manipulação de

associações medicamentosas, favorecendo adesão ao tratamento, quando pertinente, dentre

outros benefícios (BERTOLLO, 2008); possibilitar medicamentos a preços inferiores aos dos

produtos industrializados (RUMEL; NISHIOKA; SANTOS, 2006); possibilitar manipulação

de medicamentos órfãos (alternativa para terapêutica de doenças raras) (FERREIRA, 2008).

Portanto, a farmácia de manipulação propicia a obtenção do medicamento

considerando necessidades individualizadas do paciente.

Há a perspectiva de que os medicamentos manipulados continuem a ocupar lugar

próprio no arsenal terapêutico moderno, apesar de toda a industrialização vivenciada (PINTO,

2008).

O menor preço dos medicamentos manipulados em relação aos industrializados é um

atrativo aos consumidores (FERREIRA, 2008). No estudo realizado por Szatowski e Oliveira

(2004), no município de Toledo, 66% dos usuários de medicamentos entrevistados afirmaram

optar por medicamentos manipulados em virtude do custo inferior em relação aos

industrializados; 22% pelo fato de o manipulado ser individualizado, de acordo com suas

necessidades; e 12% por não encontrar a dosagem requerida industrializada.

Em pesquisa com consumidores de quatro capitais brasileiras realizada pela

Associação Brasileira das Indústrias de Medicamentos Genéricos (Pró-Genéricos), em 2004,

foi verificado que a maioria dos consumidores (88%) opta pelo preço mais baixo quando da

aquisição de medicamentos. (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DAS INDÚSTRIAS DE

MEDICAMENTOS GENÉRICOS, 2005).

Dessa forma, o preço do medicamento manipulado pode ter impacto na viabilidade do

setor magistral.

Conforme Rumel, Nishioka e Santos (2006) a diferença de preços entre medicamentos

industrializados e manipulados pode ser explicada: pelo preço e qualidade de matérias-primas

utilizadas; pelos custos do controle de qualidade exigido às indústrias; pelas diferenças no

recolhimento de impostos, de controle mais difícil no varejo; e diferenças nos gastos com

publicidade.

Rezende e colaboradores (2003) e Ferreira (2008) destacam como fatores relevantes

para preço maior dos industrializados em relação aos manipulados, o fato de a cadeia produtiva

dos medicamentos industrializados ser muito maior, do que a da magistral e as despesas de

Marketing, os Royalty ou direito de patentes, custos relevantes que influenciam e aumentam os

preços dos produtos industriais, o que não ocorre no segmento magistral.

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20

Apesar das possíveis vantagens que o medicamento manipulado oferece, só poderá ser

benéfico à população se ofertados ao paciente com a qualidade devida.

A garantia de se ter medicamentos manipulados de qualidade vem sendo questionada

sistematicamente. Dentre os questionamentos mais freqüentes estão as limitações quanto a

execução de análises de controle de qualidade nas matérias-primas e no produto final

(SILVA, 2007 e FERREIRA, 2008) e a ocorrência de casos de desvios de qualidade desses

produtos que levaram a óbitos. (BRASIL, 2005a; SILVA, 2007).

A tríade qualidade, segurança e eficácia é primordial quando se aborda o tema

medicamentos, ou seja, tais produtos devem seguir aos requisitos exigidos, não apresentando

riscos toxicológicos aos pacientes e servindo para o fim desejado.

A qualidade de medicamentos manipulados foi avaliada no presente estudo, uma vez

que pode influenciar diretamente a segurança e eficácia desses produtos.

2.1.2 Medicamento

O conhecimento da produção histórica dos conceitos de saúde-doença é importante

para a compreensão do uso moderno do medicamento pela sociedade.

Antigamente a doença era vista como uma punição, que tinha como causa a raiva dos

deuses ou o comportamento das pessoas, que para se curarem, deveriam passar por

sofrimentos.

Ao longo da história esse conceito foi mudando, surgindo a medicina hipocrática

(doença relacionada ao meio ambiente), medicina astrológica (doença relacionada aos astros),

medicina iatrofísica (corpo humano considerado como uma máquina). Até que, na Idade

Moderna (final do século XVIII e início do XIX), nasce a clínica médica que classifica a

doença por sinais, sintomas e localização anatômica e que posteriormente recebe reforço dos

conhecimentos de microbiologia (último terço do século XIX) derrotando a medicina social

(doença relacionada ao meio social).

No século XX, com o desenvolvimento do complexo médico-industrial ocorre a

medicalização e mercantilização da saúde.

O modelo de saúde centrado na recuperação da saúde e não na prevenção de doenças e

promoção da saúde, acaba por estimular utilização de medicamentos – medicalização da

saúde (BARROS, 2002).

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21

O medicamento passa a ser encarado como solução para todos os males, o que

desencadeia a utilização irracional e exagerada de medicamentos pela população e o

conseqüente crescimento do segmento produtivo de medicamentos.

A visão mercantilista da saúde introduz conceito de medicamento como bem de

consumo e não mais como instrumento de saúde, priorizando lucro em detrimento à

qualidade. A "casa de saúde" do farmacêutico transforma-se em "entreposto comercial"

(PERINI, 1997).

Esta mercantilização da saúde, aliada com descaracterização da farmácia como

estabelecimento de saúde, dentre outros fatores, leva a expansão do número de farmácias.

(COSTA; BASTOS; CASTRO, 2011).

Ademais, há o incentivo ao uso de medicamentos, por meio de propagandas e

informes publicitários, que mesmo atualmente, com critérios estabelecidos em legislação

sanitária, têm sido veiculadas desrespeitando as normas (GALATO; PEREIRA, 2011;

PIANETTI, 2010) desencadeando uso indiscriminado de medicamentos e suas consequências,

como, por exemplo, resistência microbiana aos antibióticos existentes, dentre outros.

O uso inadequado e irracional de medicamentos tem ainda graves consequências para

a saúde da população, podendo causar mais danos à saúde que benefícios (BRASIL, 2006).

No Brasil, mesmo havendo subnotificação, os medicamentos corresponderam, em

2009, a 26,44% dos casos registrados de intoxicação humana por agente tóxico, conforme o

Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (SISTEMA NACIONAL DE

INFORMAÇÕES TÓXICO-FARMACOLÓGICAS, 2011).

Segundo a OMS, o uso irracional de medicamentos é um problema mundial (SIMÕES

e FILHO, 1985). Estima-se que metade de todos os medicamentos sejam inapropriadamente

prescritos ou dispensados e que metade de todos os pacientes façam uso incorreto dos

medicamentos (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2004).

Estudo realizado por Pinto, Ferré e Pinheiro (2012) avaliou o consumo inapropriado

de medicamentos pela população de Diamantina (Brasil) através da análise de consumo de

medicamentos, automedicação, polifarmácia e interações medicamentosas prescritas aos

entrevistados. O estudo foi baseado em amostragem estratificada e contou com a participação

de 423 indivíduos selecionados aleatoriamente, tendo verificado com relação a

automedicação, que 63,34% dos entrevistados utilizam medicamentos sem prescrição. Com os

resultados obtidos os autores concluíram pela alta prevalência de uso inadequado de

medicamentos em todas as camadas da sociedade.

Page 22: Comissão Nacional de Energia Nuclear - CNEN Centro de ... · medicamentos manipulados ofertados à população e quanto ao rigor das exigências da legislação sanitária vigente

22

2.1.3 Vigilância Sanitária

Conceitualmente (BRASIL, 1990, p.1), vigilância sanitária é

“o conjunto de ações capaz de eliminar, diminuir ou prevenir riscos à saúde e de intervir nos problemas sanitários decorrentes do meio ambiente, da produção e circulação de bens e da prestação de serviços de interesse da saúde, abrangendo:

I - o controle de bens de consumo que, direta ou indiretamente, se relacionem com a saúde, compreendidas todas as etapas e processos, da produção ao consumo; e

II - o controle da prestação de serviços que se relacionam direta ou indiretamente com a saúde”

sendo parte integrante do Sistema Único de Saúde (SUS), no Brasil.

A vigilância sanitária pode ser vista como espaço de intervenção do Estado, cujo

objetivo é adequar o sistema produtivo de bens e de serviços de interesse sanitário, bem como

os ambientes, às demandas sociais de saúde e às necessidades do sistema de saúde. Suas ações

têm o propósito de implementar concepções e atitudes éticas a respeito da qualidade das

relações, dos processos produtivos, do ambiente e dos serviços. Sua principal função é atuar

no sentido de prevenir, eliminar ou minimizar o risco sanitário envolvido nas suas áreas de

atuação, promovendo e protegendo a saúde da população (BRASIL, 2007b).

Dessa forma, como uma das instâncias de administração pública, a vigilância sanitária

deve nortear suas ações sobrepondo o interesse coletivo ao individual, considerando o risco à

saúde representado pelo produto, processo, serviço ou outros alvos (LUCCHESE, 2001). Em

sua dimensão político-ideológica, a vigilância sanitária deve, sob o prisma da equidade,

voltar-se prioritariamente aos interesses sanitários quando estes se contrapõem aos interesses

econômicos (BRASIL, 2007b).

Uma vez que a vigilância sanitária deve intervir nos riscos à saúde, deve ser vista

também como prática avaliativa, valendo-se de estratégias de monitoramento para

identificação, gerenciamento e comunicação dos riscos à saúde da população e dos resultados

de sua própria ação (BRASIL, 2007b).

Risco pode ser definido como “expressão matemática da probabilidade de ocorrência

de um agravo ou dano, em uma dada população, em certo território e em tempo determinado”

(LUCCHESE, 2001). Ainda, pode ser entendido como a combinação da probabilidade de

ocorrência de um dano e a severidade deste dano (INTERNATIONAL CONFERENCE ON

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23

HARMONISATION OF TECHNICAL REQUIREMENTS FOR REGISTRATION OF

PHARMACEUTICALS FOR HUMAN USE, 2005).

Todavia, o conceito de risco não deve ser tomado apenas na sua concepção estatística,

no sentido de probabilidade de ocorrência de eventos danosos, quando se trata de vigilância

sanitária. Muitas vezes, o risco se coloca como possibilidade, sem que haja, de fato, dados

quantitativos, mas indícios, baseados na racionalidade e nos conhecimentos científicos

disponíveis. Aliada ao contexto de incertezas produzidas pelas rápidas mudanças no sistema

produtivo, essa concepção é base para adoção, pela vigilância sanitária, do princípio da

precaução (BRASIL, 2007b). Tal princípio, como descrito por Lucchese (2001), consiste em

“fazer uso restrito e controlado das substâncias ou processos suspeitos de causar danos até que

se obtenham evidências mais definitivas a respeito da caracterização de seu risco”

O risco sanitário é maior quanto menos rigorosos forem os critérios para garantir a

qualidade de qualquer produto, o que se aplica principalmente aos medicamentos por ser

objeto da qualidade de vida do ser humano (ENÉAS, 2008).

Para Costa, Bastos e Castro (2011, p. 2392):

“os riscos à saúde relacionados aos medicamentos justificam a intervenção da vigilância sanitária no ciclo produtivo desses bens: produção, circulação, comercialização e consumo, com uso de variadas tecnologias ou instrumentos de controle de riscos e de verificação da qualidade dos produtos e de efeitos adversos.”

No processo produtivo de medicamentos, qualquer falha pode traduzir em risco para o

paciente, podendo evoluir desde a ineficácia, à toxicidade ou, eventualmente, à morte

(NUNAN; GOMES; REIS, 2003).

Braga (2009) analisou os principais riscos relacionados com a manipulação de

medicamentos não estéreis em farmácias, utilizando ferramentas de análise de risco –

principalmente análise de modos e efeitos de falhas (Failure Mode and Effects Analysis -

FMEA) e análise de perigos e pontos críticos de controle (Hazard Analysis and Critical

Control Points - HACCP).

A vigilância utiliza de recursos como regulamentação, fiscalização, análise e

gerenciamento de riscos relacionados ao meio ambiente, produtos e serviços, dentre outras,

para minimizar, eliminar e prevenir os riscos à saúde da população.

Nesta ótica, a vigilância sanitária estabeleceu, por meio das legislações vigentes,

disposições sobre as Boas Práticas de Manipulação de preparações magistrais e oficinais para

uso humano, que se tratam do “conjunto de medidas que visam assegurar que os produtos

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manipulados sejam consistentemente manipulados e controlados, com padrões de qualidade

apropriados para o uso pretendido e requerido na prescrição” (BRASIL, 2007a).

O crescimento do mercado produtivo de medicamentos e outras tecnologias médicas,

com estratégias eficientes de promoção comercial, impõem desafios à vigilância sanitária,

para consecução do monitoramento e controle dos riscos de forma adequada (COSTA;

BASTOS; CASTRO, 2011). Mesmo porque, novas tecnologias e expansão de mercado

demandam mais habilidade, capacidade individual, experiência, conhecimento e recursos

humanos e materiais (LUCCHESE, 2001).

Costa, Bastos e Castro (2011) estudaram os fatores facilitadores e dificuldades

enfrentadas pela vigilância sanitária, na fiscalização de farmácias de Salvador – Bahia,

concluindo que boa parte dos fatores e dificuldades encontradas devem ser realidade para

outras vigilâncias sanitárias do país, uma vez que o estudo foi realizado em Salvador, uma

metrópole de porte da terceira maior cidade brasileira. Dentre as dificuldades estão a

insuficiente qualificação e capacitação dos profissionais, ausência de padrões técnicos nas

atividades, infraestrutura e organização do serviço insuficientes. Isso somado às dificuldades

relacionados ao meio social, decorrentes principalmente, da concepção da farmácia como

estabelecimento tão somente comercial, da pouca valorização da vigilância sanitária para

proteção da saúde e do desconhecimento da população sobre os riscos inerentes aos

medicamentos.

Ainda, como facilitadores do trabalho de fiscalização de farmácias, destaca a extensa

regulamentação sanitária do segmento, o domínio da legislação como instrumento de trabalho

e a realização de ações intersetoriais (COSTA; BASTOS; CASTRO, 2011).

Estudo realizado em 2007, pela Vigilância Sanitária de Minas Gerais, apontou

necessidades de melhorias na fiscalização das farmácias de manipulação, sendo sugerido

pelas autoras a realização de monitoramento mais próximo das ações descentralizadas aos

municípios (em alguns casos, a vigilância municipal realiza inspeções em farmácias) e

padronização de ações entre as regionais que compõem a Vigilância Estadual, tendo

destacado a falta de recursos humanos suficientes e devidamente treinados e a falta de

autonomia dos técnicos existentes para adoção de determinadas decisões como dificultadores

das ações (LIMA; DRUMMOND, 2007).

A atribuição legal da vigilância sanitária não se restringe apenas a uma perspectiva

fiscalizatória, devendo conjugar e incorporar, às práticas de proteção, aquelas de promoção da

saúde. O monitoramento e a avaliação da qualidade dos produtos e serviços passíveis de

Vigilância Sanitária, a educação em saúde visando o consumo seguro de produtos, as

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notificações pós-comercialização e a comunicação do risco por meio de alertas sanitários para

a sociedade em geral são exemplos de ações de promoção da saúde (BRASIL, 2007b). Com

essas ações é possível a adoção de medidas antes que ocorram agravos à saúde e/ou que esses

tomem uma proporção maior.

Relevante mencionar que a execução das ações de Vigilância Sanitária, definidas na

Lei n° 8.080, de 19 de setembro de 1990, compete ao Sistema Nacional de Vigilância

Sanitária (SNVS), compreendido por instituições da Administração Pública direta e indireta

da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, que exerçam atividades de

regulação, normatização, controle e fiscalização na área de vigilância sanitária.

Fazem parte desse Sistema: o Ministério da Saúde, a Agência Nacional de Vigilância

Sanitária, o Conselho Nacional de Secretários Estaduais de Saúde, o Conselho Nacional de

Secretários Municipais de Saúde, os Centros de Vigilância Sanitária Estaduais, do Distrito

Federal e Municipais, os Laboratórios Centrais de Saúde Pública (Lacen`s), o Instituto

Nacional de Controle de Qualidade em Saúde (INCQS), a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz)

e os Conselhos Estaduais, Distrital e Municipais de Saúde, em relação às ações de vigilância

sanitária.

O Plano Diretor de Vigilância Sanitária (BRASIL, 2007b), cuja função é estabelecer

as diretrizes e pautas específicas para a ação do Estado no escopo de atuação da vigilância

sanitária, com vistas à consolidação e ao fortalecimento deste Sistema Nacional de Vigilância

Sanitária determina diretrizes para cada um dos seguintes eixos temáticos:

1. Organização e gestão do Sistema Nacional de Vigilância Sanitária, no âmbito do SUS;

2. Ação regulatória: vigilância de produtos, de serviços e de ambientes;

3. A Vigilância Sanitária no contexto da atenção integral à saúde;

4. Produção do conhecimento, pesquisa e desenvolvimento tecnológico;

5. Construção da consciência sanitária: mobilização, participação e controle social.

Dentre as diretrizes estabelecidas está a articulação da Rede Nacional de laboratórios

de Saúde Publica como suporte das ações de vigilância sanitária e dessa rede com as diversas

esferas de governo, como componente essencial ao exercício da ação regulatória e a

promoção de ações que contribuam para elevar a consciência sanitária da sociedade, na

percepção do risco sanitário, sendo relevante a democratização da informação.

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2.1.3.1 Programa de monitoramento da qualidade de medicamentos

Em 2004, visando monitorar a qualidade dos medicamentos consumidos pela

população, disponibilizados na rede SUS, a Anvisa, em parceria com as Vigilâncias Sanitárias

Estaduais e Municipais, INCQS e Lacen`s dos Estados, instituiu o Programa Nacional de

Verificação da Qualidade de Medicamentos – Proveme (BRASIL, 2012).

A Vigilância Sanitária de Minas Gerais, em parceria com o Lacen de Minas Gerais

(Fundação Ezequiel Dias - Funed), no mesmo ano, instituiu também o Programa Estadual de

monitoramento da qualidade de medicamentos industrializados, tendo como foco produtos

comercializados no varejo (farmácias e drogarias).

Esses programas de monitoramento da qualidade permitem ao SNVS a intervenção

preventiva, detectando medicamentos com desvios de qualidade no mercado, adotando

medidas pertinentes – fiscalizatórias, educativas, punitivas – e dessa forma, intervindo nos

riscos e prevenindo os agravos à saúde da população. Permitem ainda construir e estabelecer

indicadores em vigilância sanitária para serem utilizados como direcionadores de ações

estratégicas, além de contribuir para a harmonização das ações de vigilância sanitária, pois

envolvem as diversas esferas de vigilância Sanitária e os Lacen`s.

O Programa Estadual de Monitoramento da Qualidade, em Minas Gerais, contempla

medicamentos e ainda outros produtos (alimentos, cosméticos, saneantes). No que se refere

aos medicamentos, em 2009, os fitoterápicos passaram a ser contemplados no Programa

Estadual e, em 2011, foi iniciado um projeto piloto, para inclusão dos medicamentos

manipulados no Programa Estadual.

Merece destaque que os resultados parciais deste estudo, obtidos até meados de 2011 e

as experiências de análises anteriores de medicamentos manipulados pelo Lacen de Minas

Gerais (Funed) serviram de incentivo e base para a implementação do monitoramento da

qualidade de medicamentos manipulados em Minas Gerais.

O projeto piloto de verificação da qualidade de medicamentos manipulados posto em

prática em 2011, que teve como alvo farmácias de manipulação do município de Belo

Horizonte, se estendeu em 2012.

Em 2011, foram analisados os medicamentos omeprazol e cloridrato de fluoxetina

coletados em dez estabelecimentos distintos, cada, e, em 2012, sinvastatina de cinco

estabelecimentos distintos, sendo que neste ano foram coletados medicamentos em farmácias

de Contagem, Betim e Ouro Preto.

A Funed, parceira neste estudo, disponibilizou os dados das análises dos

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medicamentos manipulados analisados frente ao Programa Estadual de Monitoramento da

Qualidade de Minas Gerais de 2011.

As análises realizadas e as metodologias seguidas estão descritas na tabela abaixo.

TABELA 1 – Ensaios executados pela Funed em cada medicamento e referência utilizada

Medicamento Ensaios Metodologia (Referência)

Omeprazol, Cloridrato de Fluoxetina

Aspecto PRISTA, 1995

Rotulagem RDC n°67 (2007)

Determinação de Peso Farmacopéia Brasileira 5ª Edição (2010)

Identificação USP 34 (2010)

Teor USP 34 (2010)

Uniformidade de Doses Unitárias

USP 34 (2010)

Os medicamentos manipulados omeprazol e cloridrato de fluoxetina foram coletados

pela Vigilância Sanitária Municipal de Belo Horizonte em estabelecimentos que estavam

sendo inspecionados no período da coleta pactuado com a Vigilância Estadual de Minas

Gerais e com o Lacen-MG.

2.1.4 Legislação sanitária x produto de qualidade

2.1.4.1 Histórico da legislação e casos de desvios de qualidade

A regulamentação pioneira, no Brasil, acerca das Boas Práticas de Manipulação,

ocorreu em 2000, por meio da publicação da RDC 33, de 19 de abril desse ano.

Apesar da RDC 33/2000 ter sido um marco na regulamentação de farmácias, no Brasil,

no período de 2000 a 2005 foram relatados 51 casos de gravidade elevada com respeito ao

consumo de medicamentos manipulados, causando oito óbitos e pelo menos quatorze

internações (BRASIL, 2005a).

Dentre os casos de óbitos e graves complicações de saúde em virtude da utilização de

medicamentos manipulados incluem-se aqueles referentes à utilização de clonidina e

colchicina, substâncias de baixo índice terapêutico – substâncias cuja dose letal está próxima

da dose terapêutica.

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A clonidina, um anti-hipertensivo, estava sendo indicada como estimulante do

crescimento em crianças, tendo sido registrados casos de óbito em Santa Catarina e Distrito

Federal, em 2000 e 2003, respectivamente. Amostras de medicamentos manipulados contendo

clonidina originárias de diversas partes do país, associadas a casos de óbitos e intoxicações,

foram analisadas no Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde (INCQS) no

período de 2000 a 2004. No caso de Santa Catarina, na análise de teor, foi constatado que o

produto possuía 32.184% de princípio ativo em relação ao declarado e, no do Distrito Federal,

na análise de uniformidade de conteúdo, houve variação de 8.577 a 10.961% do declarado. As

especialidades contendo clonidina eram autorizadas pela Anvisa com indicação terapêutica

apenas para o tratamento da hipertensão arterial e não como substância promotora do

crescimento (AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA, 2005).

Ainda, em decorrência do uso de medicamentos manipulados com desvios de

qualidade contendo colchicina ocorreram mortes em Itabuna (Bahia), em 2003 e 2004, Pains

(Minas Gerais), em 2004, Itaguaí (Rio de Janeiro), Brasília e São Gabriel (Rio Grande do

Sul), em 2005. As análises dos medicamentos evidenciaram teores de ativo muito acima do

declarado.

Em Itabuna (Bahia), morreram três pessoas de uma mesma família devido à

superdosagem de colchicina. As cápsulas produzidas em farmácia de manipulação continham

84 vezes mais princípio ativo que o prescrito - pela receita médica, cada comprimido deveria

conter 0,5 mg de colchicina, mas elas continham 42 mg (FOLHA DE SÃO PAULO, 2004).

Yano, Bugno e Auricchio (2008) relataram caso de superdosagem de colchicina em

cápsulas manipuladas cuja ingestão inicial ocasionou um processo de hemorragia digestiva

aguda levando o paciente a óbito. A dosagem média de colchicina, conforme análise foi de

cerca de 20 vezes maior que a dose máxima recomendada. O erro foi constatado na prescrição

e na consulta ao prescritor por parte do manipulador do medicamento.

Diante dos casos de desvios de qualidade e mortes relacionadas, a Agência Nacional

de Vigilância Sanitária publicou normas como a Resolução (Re) 1621/2003, que proibia

manipulação de substâncias de baixo índice terapêutico (SBIT) posteriormente revogada pela

RDC 354/2003, que definia exigências adicionais para manipulação de tais substâncias e a

RDC 232/2005, que incluía a colchicina na lista de SBIT da RDC 354/2003.

Ademais, a Agência publicou, em abril de 2005, a Consulta Pública n° 31, que após

receber contribuições da sociedade deu origem à RDC 214/2006. Essa – e as anteriores RDC

33/2000 e RDC 354/2003 - foi posteriormente revogada pela RDC 67/2007. Houve ainda

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publicação da RDC 87, de 2008, e da RDC 21, de 2009 - que alteraram alguns pontos da RDC

67/07.

Ressalta-se ainda que a Anvisa publicou, em 2005, a RDC 249, que determina a todos

os estabelecimentos fabricantes de insumos farmacêuticos ativos, o cumprimento das

diretrizes estabelecidas no Regulamento técnico das Boas Práticas de fabricação de produtos

intermediários e insumos farmacêuticos. Tal legislação tem impacto na qualidade de

medicamentos manipulados, uma vez que normatiza estabelecimentos que fabricam os

insumos utilizados pelas farmácias magistrais e outros estabelecimentos.

No ano de 2005 foi realizado o “Programa de Inspeções em farmácias nos municípios

de Belo Horizonte, Ipatinga e Coronel Fabriciano”, em que, por meio de parceria entre a

Vigilância Estadual de Minas Gerais, as Vigilâncias Municipais desses municípios e a

Agência Nacional de Vigilância Sanitária, cerca de 30% do total das farmácias de BH e 50%

de Ipatinga e Coronel Fabriciano foram inspecionadas, totalizando 57 farmácias que foram

auditadas quanto ao cumprimento da RDC 33/00 e RDC 354/03, instrumentos legais vigentes

na época. O programa evidenciou o descumprimento das legislações vigentes e a necessidade

de intensificação do processo de inspeções em farmácias, tendo detectado várias não

conformidades, dentre elas: 45% das farmácias não possuía especificação de matérias-primas;

78% não qualificavam os fornecedores; apenas 39% realizavam adequadamente o controle de

qualidade; 79% das farmácias, apesar de não atenderem as disposições para manutenção de

estoque mínimo, principalmente no quesito controle de qualidade, manipulavam as

preparações em escala semi-industrial; em 58% foram detectadas irregularidades relativas à

rastreabilidade nas ordens de manipulação; 47% das farmácias manipulavam medicamentos

sem atenderem a uma prescrição; em 25% ocorria a substituição de especialidades

farmacêuticas por medicamentos manipulados e em 28% a captação de receitas e/ou

intermediação de fórmulas. Em decorrência do descumprimento da legislação sanitária, 23%

das farmácias tiveram suas atividades de manipulação suspensas ou foram interditadas

totalmente; 60% foram autuadas; 75% advertidas e 58% notificadas/intimadas para adequação

(AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA, 2005).

Em 2007, após a publicação da RDC 67/07, a Vigilância Sanitária Estadual de Minas

Gerais realizou o “Levantamento da situação das farmácias de Minas Gerais em relação ao

cumprimento da RDC 67/07”, tendo inspecionado 111 farmácias do Estado utilizando como

instrumento um roteiro simplificado elaborado pela Anvisa, atendendo a um programa

nacional. Considerando a classificação da legislação quanto à atividade/natureza dos insumos

manipulados, somente 36,04% das farmácias que manipulam substâncias do Grupo I (sólidos,

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semi-sólidos e líquidos); 33,33% das que manipulam Grupo II (substancias de baixo índice

terapêutico), 31,40% do Grupo III (hormônios, antibióticos, citostáticos e substâncias sujeitas

ao controle especial) e 41,67% do Grupo V (homeopatia) cumpriram os requisitos de Boas

Práticas integralmente. Foram interditadas totalmente as atividades de manipulação de 12

farmácias (10,81%); suspensas as manipulações de substâncias de baixo índice terapêutico em

2 ( 66,67%) e de substâncias sujeitas a controle especial em 2 (2,33%). A maioria das

farmácias (68,47%) recebeu algum tipo de Notificação, concedendo prazo para adequação das

não-conformidades detectadas durante a inspeção, 17,12% foram autuadas, em 15,32% houve

apreensão de matérias-primas e em 19,82% apreensão de produtos. (LIMA; DRUMMOND,

2007) A situação explicitada nesse levantamento de 2007 apontou uma necessidade de maior

monitoramento quanto ao cumprimento da legislação recentemente publicada, na época, pelas

farmácias, servindo de alerta e justificando realização de estudos posteriores que avaliem a

qualidade dos medicamentos manipulados, como este, e também o atendimento à legislação.

A legislação sanitária vigente no Brasil, que dispõe sobre as Boas Práticas de

Manipulação tem gerado polêmicas pelo rigor de algumas novas ou aprimoradas exigências,

que repercutem em custo para estabelecimentos – como alterações de critérios para área

física; novos parâmetros para qualificação de fornecedores, incluindo auditoria nesses; dentre

outros (BRAGA, 2009) – mas tem também sido questionada por não determinar realização de

ensaios de controle de qualidade nos produtos manipulados, necessários para atestarem a

qualidade desses (ALMEIDA e FILHO, 2010; BRASIL, 2005b).

Pode ser facilmente percebido pela análise e comparação das legislações revogadas e

vigentes, que muitos requisitos exigidos na RDC 214/06, que inovavam principalmente

quanto aos critérios e às análises de controle de qualidade de insumos e produtos acabados,

foram, aos poucos, sendo revogados.

Notícias explicitando erros na manipulação de medicamentos (UOL, 2011; A

NOTÍCIA, 2011) e outras irregularidades em farmácias de manipulação (FANTÁSTICO,

2011a, 2011b, 2011c) ainda têm sido realidade.

Recentemente, em uma farmácia de manipulação no município de Teófilo Otoni, 10

mortes decorrentes de desvio de qualidade foram registradas, tendo sido detectado erro

técnico grave e grosseiro na manipulação e descumprimento das Boas Práticas de

Manipulação, dentre outras não conformidades. No caso em tela, se almejava manipular

secnidazol 500 miligramas por cápsula (mg/cáps.), mas o princípio ativo utilizado foi besilato

de anlodipino (R7 NOTÍCIAS, 2011), que tem como dosagem terapêutica tradicional cinco

mg/cáps., acarretando em superdosagem do medicamento anti-hipertensivo – cada cápsula

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possuía cem vezes a dosagem terapêutica do anti-hipertensivo (TEÓFILO OTONI

NOTÍCIAS, 2012) - e levando a óbito. Houve mortes em Novo Cruzeiro, Itaipé, Ladainha e

Teófilo Otoni. A investigação realizada pela Vigilância Sanitária Estadual e Municipal de

Teófilo Otoni demonstrou que foram manipuladas 180 cápsulas do medicamento no dia 14 de

novembro de 2011 (MINAS GERAIS, 2011), sugerindo manipulação sem a devida

prescrição, para estoque do produto, o que não é permitido pela legislação vigente. Ademais,

os dados sugerem que os medicamentos manipulados estavam sendo comercializados em

estabelecimentos farmacêuticos da região, o que também vai de encontro com a legislação.

Na ação fiscalizatória realizada pela Vigilância Sanitária, além da matriz e da filial da

farmácia de Teófilo Otoni, foram interditados outros estabelecimentos em Novo Cruzeiro,

Ladainha e Itaipé. Diante dos óbitos e das irregularidades identificadas foram intensificadas a

fiscalização nas farmácias de manipulação do Vale do Mucuri, levando à interdição de outras

farmácias de manipulação da região que descumpriam a legislação sanitária. (MINAS

GERAIS, 2011).

Ainda que o número de casos de desvios de qualidade de medicamentos manipulados

publicizados não seja alto frente ao número de formulações manipuladas, devem ser

considerados, analisadas suas causas e adotadas medidas para evitá-las, dada a gravidade das

conseqüências. Deve ser levado em conta também que, sabidamente, os casos de desvios de

qualidade desses produtos são subnotificados, não sendo tratados e tornados públicos.

2.1.4.2 Garantia de Qualidade e Boas Práticas de Manipulação

Garantia da qualidade é o “esforço organizado e documentado dentro de uma empresa

no sentido de assegurar as características do produto, de modo que cada unidade do mesmo

esteja de acordo com suas especificações.”(BRASIL, 2007a) Ou seja, é um sistema de

controle integrado, documentado e rastreável que assegura o controle contínuo da obtenção

dos medicamentos e das atividades exercidas na farmácia, por meio do qual é possível

gerenciar a qualidade dos produtos manipulados (BRASIL, 2011).

As Boas Práticas de Manipulação (BPM) constituem uma parte integrante da Garantia

de Qualidade e estabelecem os requisitos mínimos para a avaliação farmacêutica da

prescrição, manipulação, conservação, transporte e dispensação de preparações magistrais e

oficinais, fracionamento de produtos industrializados, bem como os critérios para aquisição e

controle de qualidade de matérias-primas e materiais de embalagem (BRASIL, 2007a, 2011).

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Conforme a RDC 67/07, BPM é o “conjunto de medidas que visam assegurar que os

produtos manipulados sejam consistentemente manipulados e controlados, com padrões de

qualidade apropriados para o uso pretendido e requerido na prescrição” (BRASIL, 2007a).

Elementos essenciais para obtenção das Boas Práticas:

1. Pessoal – pessoas e mão de obra requerida para levar a termo as várias tarefas dentro das

funções de manipulação e controle, devidamente habilitadas e treinadas;

2. Partes – as matérias-primas e componentes usados em conexão com a manipulação e

embalagem do produto, bem como os materiais usados em associação com o seu controle.

3. Processo – edificações, instalações, equipamentos, instrumentação e sistemas de suporte

(calor, ar, vácuo, água e iluminação) usados em conexão com o processo de manipulação e

seu controle.

4. Metodologia – arquivo, documentação e registro usados em conexão com o processo de

manipulação e seu controle.

A sistematização dos aspectos de Boas Práticas compõe o sistema da garantia de

qualidade para a produção de medicamentos visando diminuir os riscos inerentes a qualquer

produção farmacêutica (SILVA, 2007).

2.1.4.3 Qualidade

Por o medicamento ser um instrumento de saúde é primordial, independente de ser

industrializado ou manipulado, que possua qualidade.

A International Organization for Standardization (ISO) define qualidade como “o grau

no qual um conjunto de características inerentes satisfaz aos requisitos, ou seja, às

necessidades ou expectativas que são expressas, geralmente, de forma implícita ou

obrigatória” (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2000).

Qualidade é determinada pelos usuários ou clientes pretendidos, não tendo

necessariamente correlação com alto preço. Mesmo produtos com preços baixos podem ser

considerados itens de qualidade se atendem as necessidades do mercado (ZOLNER, 2009)

Um medicamento de qualidade é aquele que é adequado ao uso pretendido,

considerando sua identidade, concentração e pureza (INTERNATIONAL CONFERENCE

ON HARMONISATION OF TECHNICAL REQUIREMENTS FOR REGISTRATION OF

PHARMACEUTICALS FOR HUMAN USE, 1999). Esse deve atender às especificações

descritas nos compêndios oficiais – dentre eles, as farmacopéias - e não conter impurezas ou

outras substâncias que coloquem em risco a saúde do paciente.

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Para a determinação da qualidade de medicamentos são fatores significantes o

desenvolvimento daquele produto, incluindo escolha dos excipientes a serem empregados na

formulação, os controles em processo realizados, os controles das Boas Práticas de

fabricação/manipulação, a validação do processo e o atendimento às especificações aplicadas

ao produto e seus componentes (matérias-primas, material de embalagem)

(INTERNATIONAL CONFERENCE ON HARMONISATION OF TECHNICAL

REQUIREMENTS FOR REGISTRATION OF PHARMACEUTICALS FOR HUMAN USE,

1999).

A segunda edição do Formulário Nacional da Farmacopéia Brasileira (BRASIL, 2011)

descreve que:

“Para garantir segurança, eficácia e qualidade do produto manipulado são necessários cálculos corretos, medidas exatas, condições e procedimentos apropriados para o desenvolvimento da formulação, insumos de qualidade e do prudente julgamento do farmacêutico, que deve ser um profissional qualificado para este fim. Além disso, uma fórmula adequada com um perfil de estabilidade comprovado deve ser procurada na literatura específica.”

Para tanto, a organização e o constante controle do farmacêutico sobre as técnicas de

preparo, matérias-primas, equipamentos e instrumentos utilizados, das condições de

armazenamento dos insumos e produtos e da documentação sobre todos os procedimentos,

materiais e recursos empregados na preparação dos produtos magistrais em todas as suas

fases, incluindo aquelas posteriores à dispensação, são relevantes. Ainda, o conhecimento

científico, a capacitação profissional e competência técnica do farmacêutico e a contínua

interação entre farmacêutico, prescritor e paciente têm impacto na qualidade do produto

manipulado. (BRASIL, 2011)

A legislação vigente para o setor magistral introduz requisitos mínimos a serem

observados, permeando os principais pontos necessários para obtenção de produtos de

qualidade, como ao exigir, na manipulação de sólidos comuns, que:

- os excipientes utilizados na manipulação de medicamentos sejam padronizados pela

farmácia de acordo com embasamento técnico;

- na aquisição de materiais (matérias-primas e material de embalagem) haja e sejam seguidas

especificações técnicas autorizadas, atualizadas e datadas pelos responsáveis, sendo que os

fornecedores de matérias-primas devem ser qualificados pelo estabelecimento (devendo ser

considerado, no mínimo, comprovação de regularidade perante às autoridades sanitárias,

resultados de análises de controle de qualidade realizados pela farmácia e avaliação de laudos

analíticos apresentados pelos fornecedores, auditorias nos fornecedores para verificação do

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cumprimento de Boas Práticas de Fabricação ou de Fracionamento e Distribuição de insumos

e avaliação do histórico de fornecimentos anteriores);

- existam procedimentos operacionais escritos para manipulação das diferentes formas

farmacêuticas preparadas na farmácia;

- o processo de manipulação seja documentado, com procedimentos escritos que definam a

especificidade das operações e permitam o rastreamento dos produtos;

- haja registro das informações referentes a cada produto manipulado em livro de receituário –

dados da prescrição – e em ordem de manipulação – dados do processo de manipulação;

- haja o monitoramento do processo de manipulação conforme metodologia definida em

procedimento operacional padrão da farmácia.

Ainda, a legislação estabelece realização de análises de controle de qualidade nas

matérias-primas e produtos acabados – ainda que com limitações discutidas à frente - e

explicita a necessidade de a farmácia possuir um Sistema de Garantia da Qualidade (SGQ)

que incorpore as Boas Práticas de Manipulação em Farmácias (BPMF), totalmente

documentado e monitorado para assegurar a qualidade das fórmulas manipuladas, definindo

as competências desse sistema de Garantia de Qualidade.

Contudo, como limitação, a legislação não estabelece parâmetros claros para

comprovação técnica da adequabilidade da formulação padronizada e do processo de

manipulação, ficando na subjetividade o atendimento a tais tópicos, o que dificulta a

fiscalização. Ainda, a validação de processos é exigida explicitamente na legislação somente

para manipulação de produtos estéreis.

2.1.4.4 Controle de Qualidade: requisitos da legislação e suas limitações

Os requisitos determinados pela legislação sanitária vigente (BRASIL, 2007a;

BRASIL, 2008;) quanto ao controle de qualidade de matérias-primas e preparações magistrais

e oficinais sólidas, em farmácias magistrais, de forma geral, são:

• matérias-primas: caracteres organolépticos; solubilidade; determinação de potencial

hidrogeniônico (pH); ponto de fusão; densidade; peso e volume; avaliação do laudo

de análise do fabricante/fornecedor.

• matérias-primas de origem vegetal: caracteres organolépticos; solubilidade;

determinação de pH; ponto de fusão; densidade; peso e volume; avaliação do laudo de

análise do fornecedor

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• produto manipulado - Formas Farmacêuticas Sólidas: descrição, aspecto e caracteres

organolépticos; determinação de peso médio (com cálculo de desvio padrão relativo e

coeficiente de variação).

A legislação estabelece ainda que a farmácia deve realizar as análises de, no mínimo,

uma fórmula a cada dois meses, de teor e uniformidade de conteúdo de fórmulas que

contenham fármaco(s) em quantidade menor ou igual a 25 mg, dando prioridade àquelas que

contenham fármacos em quantidade menor ou igual a cinco miligramas, determinando rodízio

na amostragem, de forma a contemplar diferentes fármacos e diferentes manipuladores.

No caso de preparações de substâncias de baixo índice terapêutico, hormônios,

antibióticos e citostáticos, produtos homeopáticos e produtos estéreis a legislação estabelece

outros requisitos de controle de qualidade a serem cumpridos, não sendo alvo no momento –

matérias-primas utilizadas em preparações estéreis também têm análises complementares

exigidas.

Os requisitos determinados pela legislação sanitária vigente quanto ao controle de

qualidade de matérias-primas e produto acabado não abrangem análises relevantes para se

constatar a qualidade do medicamento manipulado.

As análises definidas para preparações magistrais e oficinais sólidas (descrição,

aspecto, caracteres organolépticos e peso médio) permitem conclusões limitadas quanto à

qualidade das preparações, uma vez que não atestam quanto à homogeneidade do princípio

ativo no medicamento, de forma direta, mas apenas quanto à uniformidade do preenchimento

das cápsulas. Assim, há a possibilidade de os critérios de aceitação farmacopéicos de peso

médio, desvio padrão e coeficiente de variação serem atendidos e haver não-conformidade

quanto ao teste de doseamento de ativo e uniformidade de conteúdo (ALMEIDA; FILHO,

2010). Ou seja, um medicamento que não possui o quantitativo especificado de princípio

ativo pode ser liberado para consumo.

A realização do peso médio não conduz a um retrato real do processo de manipulação

magistral (FERREIRA; BRANDÃO, 2008), por não permitir concluir sobre a concentração

da substância ativa em cada cápsula.

Resultados obtidos em diversos estudos (BARACAT et al., 2009; MARKMAN;

ROSA; KOSCHTSCHAK, 2010; MENEGHINI; ADAMS, 2007; PISSATO et al., 2006;

SILVA, RIBEIRO E CARVALHO, 2011) comprovam tal afirmação:

1. Pissato e colaboradores (2006) avaliaram a qualidade, por meio dos ensaios de

variação de peso, doseamento e uniformidade de conteúdo, de cápsulas de fluoxetina

de três farmácias magistrais, comparando-as com o medicamento distribuído pelo SUS

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e o medicamento referência. As formulações apresentaram-se dentro dos limites

preconizados para as análises de variação de peso e teor de substância ativa.

Entretanto, em relação à uniformidade de conteúdo, as formulações magistrais

apresentaram-se fora dos limites especificados.

2. Baracat e colaboradores (2009) avaliaram a qualidade de comprimidos referência,

genéricos e similares e cápsulas de sinvastatina manipuladas em Londrina, por meio

da análise de peso médio, perfil de dissolução, doseamento e uniformidade de

conteúdo. Os medicamentos industrializados e as cápsulas de três das quatro farmácias

amostradas estão de acordo com o especificado nas farmacopéias. Porém as cápsulas

de uma das farmácias foram reprovadas quanto à uniformidade de conteúdo e perfil de

dissolução.

3. Silva, Ribeiro e Carvalho (2011) avaliaram a qualidade de cápsulas de piroxicam 20

mg manipuladas em quatro farmácias magistrais de Imperatriz (Maranhão) e do

medicamento industrializado de referência (Feldene®), por meio da análise de peso

médio, desintegração, identificação, doseamento e uniformidade de conteúdo. As

formulações encontraram-se dentro dos limites recomendados para o peso médio, teste

de desintegração e identificação. Entretanto, quanto aos ensaios de teor e uniformidade

de conteúdo, as amostras de três das quatro farmácias magistrais estavam em

desacordo com as especificações.

4. Meneghini e Adams (2007) analisaram cápsulas de diazepam (de cinco mg)

manipuladas em quatro farmácias de manipulação de Passo Fundo (Rio Grande do

Sul) quanto a identificação da substância ativa, peso médio, teor e uniformidade de

conteúdo. Todas as amostras foram aprovadas no teste de peso médio e no de

identificação. No entanto, somente duas cumpriram os requisitos de todos os ensaios.

5. Markman, Rosa e Koschtschak (2010) avaliaram dezoito amostras de cápsulas de

sinvastatina 40 mg de farmácias magistrais de São Paulo, Guarulhos, São Bernardo do

Campo e Campinas, tendo concluído pela falta de qualidade de cápsulas de

sinvastatina produzidas por algumas farmácias, uma vez que: as dezoito formulações

avaliadas apresentaram algum desvio de qualidade; quatro amostras apresentaram

variação de peso em desacordo com a especificação; seis amostras estavam em

desacordo quanto a teor de sinvastatina (variação de quatro a 87% do valor declarado);

quinze amostras reprovadas no teste de uniformidade de conteúdo; oito amostras

apresentaram resultados insatisfatórios no primeiro estágio do ensaio e as demais

apresentaram resultados inconclusivos.

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Conforme Pezzini e colaboradores (2004), a determinação do teor é essencial para a

avaliação da qualidade de medicamentos. Todavia, deve ser relatado que na manipulação de

medicamentos o quantitativo de produto acabado obtido é bastante inferior ao de uma

produção industrial de medicamentos - afinal, a manipulação idealmente será realizada para

atender às necessidades individualizadas de um paciente – o que implica em desafios e

obstáculos na realização de análises realizadas pela indústria farmacêutica.

As análises periódicas (a cada dois meses) de medicamentos manipulados,

estabelecidas pela legislação, dependendo do volume de manipulação do estabelecimento, não

tem valor estatisticamente significativo, não permitindo conclusão robusta quanto à qualidade

dos medicamentos manipulados naquele período (ALMEIDA; FILHO, 2010). Ademais, essa

lógica de amostragem periódica de alguns lotes manipulados somente teria relevância para se

atestar a qualidade das demais preparações produzidas no período se houvesse processos

comprovadamente de qualidade, testados e bem documentados, ainda assim daquele produto

analisado ou dos produtos com processos semelhantes e não de todas as preparações.

Outra limitação da legislação vigente (Resolução - RDC n° 67/2007) está no fato de

não mencionar, especificamente, os testes necessários para a avaliação de qualidade de

cápsulas gastro-resistentes obtidas em farmácias magistrais (MARINHO et al, 2009) e não

estabelecer análises relevantes para se avaliar a qualidade de produtos intermediários

amplamente utilizados na manipulação, os pellets.

Relevante explicar que pellet é um produto intermediário fabricado por empresas

terceiras, obtido por processo tecnológico de produção denominado peletização - que consiste

basicamente na mistura prévia dos pós (ativos e excipientes), malaxagem (obtenção de massa

úmida por adição de líquido e amassamento), extrusão (compactação da massa umidificada

em forma de cilindros de diâmetro uniforme), esferonização e secagem. O interesse crescente

por fármacos veiculados na forma de pellets se deve às vantagens tecnológicas e terapêuticas

proporcionados por essa forma, como a possibilidade de obtenção de sistemas de liberação

entérica (para omeprazol, por exemplo) através de revestimento. (FERREIRA, 2008;

SANTOS et al., 2004)

Há que se ter em mente que não é por meio de análises de controle de qualidade que se

obtém um produto de qualidade. Na verdade, o controle de qualidade que é o “conjunto de

operações (programação, coordenação e execução) com o objetivo de verificar a

conformidade das matérias primas, materiais de embalagem e do produto acabado, com as

especificações estabelecidas” (BRASIL, 2007a) permitirá a verificação da qualidade de

insumos e produtos, sendo uma forma de se atestar ou assegurar as características do produto,

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de acordo com suas especificações. Mas somente por meio da implantação de um sistema de

garantia de qualidade pleno, com profissionais com cultura de qualidade e atendimento

integral aos requisitos de boas práticas, que se obtém consistentemente um produto de

qualidade.

A qualidade é algo que se constrói durante todo o processo de fabricação/manipulação

de um medicamento, e não apenas alcançada por inspeção do produto final (PINTO;

KANEKO; OHARA, 2000).

Atitudes e ações simples podem conferir qualidade ao produto final, evitando erros e

variações no processo de manipulação, que são as principais causas de falta de qualidade no

produto. A definição, o desenho do processo de manipulação é fundamental para consecução

desse objetivo. Importante que o processo seja o mais simples possível, as pessoas sejam

treinadas adequadamente e que haja instruções, procedimentos definidos para obtenção da

reprodutibilidade do processo. O processo deve ser desafiado e, uma vez definido, monitorado

e, quando pertinente, aprimorado ou revisado (ZOLNER, 2009).

O questionamento a ser feito é se a legislação hoje vigente traz exigências condizentes

com o momento e com a percepção de qualidade dos profissionais de saúde e

estabelecimentos farmacêuticos, ou seja, com o amadurecimento do setor.

2.1.4.5 Processo de manipulação de sólidos orais na forma farmacêutica cápsulas em

farmácias

Processo é o conjunto de causas que provoca um ou mais efeitos (CAMPOS, 2004).

Em um processo produtivo, causas seriam matérias-primas, equipamentos, medidas,

infra-estrutura, mão-de-obra, método ou técnica e efeitos, produto ou serviço em

conformidade ou não com o desejado (especificado).

Nas farmácias de manipulação um processo pode ser entendido ainda como um

conjunto de medidas interrelacionadas que especifica e define como uma preparação pode ser

exatamente a mesma sempre que manipulada por alguém perito na arte e ciência de

manipulação. (ZOLNER, 2009).

A forma farmacêutica mais freqüentemente manipulada em farmácias magistrais, no

preparo de medicamentos sólidos orais é a cápsula. O processo de preparação consiste no

enchimento das cápsulas com a mistura medicamentosa que se deseja encapsular através da

utilização de equipamentos específicos operados manualmente.

O primeiro passo para a manipulação de uma preparação é a avaliação da prescrição.

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A definição dos excipientes a serem utilizados na formulação, quando necessários, é

fundamental para elaboração do produto e obtenção de um produto com resposta terapêutica

satisfatória. Afinal, a cinética de absorção do princípio ativo depende criticamente dos

excipientes utilizados e do modo de preparo (SILVA et al., 2012).

Os excipientes são insumos inertes farmacologicamente que têm funções de suporte,

veículo e de adjuvante nas formulações. Desempenham papéis necessários para garantir a

precisão e acurácia da dose, garantir a estabilidade da preparação, favorecer a adesão do

paciente ao medicamento, melhorando características organolépticas, sendo ainda importantes

no processo de fabricação e no controle da liberação do ingrediente ativo, influenciando na

sua biodisponibilidade e, consequentemente, na eficácia e tolerabilidade do medicamento

(FERREIRA, 2008).

Os excipientes devem ser compatíveis com o princípio ativo e entre eles quando mais

de um é utilizado e possuir boas propriedades de fluxo, o que será impactante na facilidade de

distribuição da mistura entre as cápsulas, tendo relevância na consecução de um

empacotamento reprodutível, com uniformidade de conteúdo entre as cápsulas (PISSATO et

al., 2006).

Em estudo realizado por Marinho e colaboradores (2011), em que foram analisados

trinta lotes de sinvastatina (vinte miligramas) manipulada em farmácias magistrais de Belo

Horizonte, 53,33% dos produtos analisados poderiam estar com eficácia terapêutica

comprometida. O problema mais relatado foi uniformidade de conteúdo (68,7% dos lotes não

aprovados), seguido de doseamento (56,2%), havendo ainda, resultados insatisfatórios de

dissolução em 18,7% dos lotes reprovados e de determinação de peso e desintegração em

lotes isolados. Um dos lotes reprovados no teste de desintegração e dissolução continha em

sua formulação alto percentual de carboximetilcelulose (30%p/p), um agente de formação de

gel, sendo os resultados sugestivos de um problema de formulação grave, que tem como

consequência, a ineficácia do medicamento.

Uma vez definida a formulação, os seguintes subprocessos são geralmente executados:

pesagem; trituração; tamisação; mistura; encapsulamento; embalagem. Em certos casos

alguma dessas etapas pode ser suprimida, como no caso de manipulação de pellets em que a

trituração do pellet não deve ocorrer.

Cada sub-processo citado tem pontos críticos que devem ser controlados. Silva (2007),

em sua dissertação detalha todas as operações unitárias envolvidas na manipulação de

cápsulas e Braga (2009) analisa os principais riscos relacionados com a manipulação de

medicamentos não estéreis em farmácias.

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Alguns pontos, abaixo abordados, merecem destaque.

1. Para realização da pesagem, o manipulador deve separar as matérias-primas a serem

utilizadas, conforme a prescrição médica e ordem de manipulação respectiva.

Possíveis falhas podem ocorrer na transcrição dos dados da receita, na geração da

ordem de manipulação ou no momento de se separar as matérias-primas corretas a

serem utilizadas, caso não haja conferência das operações, análise dos materiais e

identificação dos recipientes, enfim, caso não haja atendimento às Boas Práticas de

Manipulação. O quantitativo pesado de cada matéria-prima também deve ser conferido

com a ordem de manipulação, devendo haver dupla checagem do valor pesado, pois é

um ponto crítico nessa etapa que pode interferir na qualidade do produto final.

2. O tamanho e a densidade das partículas dos pós que compõem a mistura, a fluidez ou

facilidades de escoamento, a higroscopicidade dos componentes e a umidade do local,

interferem no processo de manipulação. (FERREIRA, 2008). O ideal é que a

densidade e o tamanho das partículas de todos os pós sejam similares, para obter

mistura homogênea (ANSEL, 2000). Nesta lógica, além da adequada definição dos

componentes do produto, as etapas de trituração e tamisação se justificam, pois

possibilitam obtenção e padronização da granulometria dos pós que constituem a

formulação. No caso de pellets, variações de tamanho, forma e densidade aparente

também interferem no processo de manipulação, dentre outros fatores (SANTOS et

al., 2006).

3. A técnica de mistura dos pós deve ser eficaz. A diluição geométrica é uma técnica

eficiente, simples e de baixo custo (MARTA et al., 2010). No método de diluição

geométrica, o fármaco é colocado em um volume aproximadamente igual ao de

diluente em um gral e misturado completamente por trituração. Em seguida, uma

segunda porção do diluente, apresentando volume igual ao da mistura, é adicionada, e

o procedimento de trituração repetido. Esse processo continua com a adição de

volumes iguais de diluente na mistura de pós e é repetido até que todo o diluente seja

incorporado. (ANSEL, 2000) A utilização de sacos plásticos para mistura de pós não

se mostrou eficaz no estudo realizado por Marta e colaboradores (2010).

4. O principal método de encapsulação utilizado nas farmácias de manipulação é o

nivelamento de superfícies. Neste, o encapsulamento é realizado em um equipamento

composto de duas placas de acrílico ou cloreto de polivinila (PVC), sendo uma

perfurada contendo orifícios com diâmetro igual ao da especificação de determinado

tamanho de cápsula e em número equivalente à capacidade do equipamento (de

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sessenta a seiscentas perfurações) e a outra placa que serve de suporte para as cápsulas

vazias, que são introduzidas abertas nos orifícios. Para proceder ao enchimento,

coloca-se o pó sobre a placa e com uma espátula espalha-se o pó uniformemente de

modo a fazê-lo cair por gravidade no interior das cápsulas. Para que todas as cápsulas

sejam completamente preenchidas, pode ser necessário fazer um movimento vibratório

no equipamento ou ainda pressionar o pó contra as cápsulas com uma vareta de

material inerte (FUTURO; SILVA, 2007). O equipamento é simples, sem automação e

a operação extremamente dependente do operador, podendo ocorrer perdas durante o

processo.

5. A manipulação de cápsulas gelatinosas duras pode apresentar certo grau de dificuldade

quando a mistura de pós ou os pellets produzir forças eletrostáticas que fazem com

que ocorra flutuação ou as partículas tendem a “escapar”. Para neutralizar as forças

eletrostáticas e facilitar o manuseio dos pellets, Chopra e colaboradores (2002)

recomendam a adição de 1% de talco farmacêutico.

6. Perdas durante as etapas de manipulação são inerentes ao processo de preparação de

cápsulas (FUTURO e SILVA, 2007), podendo acarretar em não conformidades no

produto final, o que se torna mais preocupante quando se prepara pequenas

quantidades (ANSEL, 2000). O farmacêutico deve ajustar a formulação para que a

perda se mantenha dentro de limites pré-estabelecidos.

7. O processo de encapsulamento é realizado em função do volume, apesar das

prescrições serem feitas por unidade de massa. Como a massa varia em função da

densidade, que por sua vez difere a partir de cada lote de matéria-prima produzida,

diversas não conformidades podem ocorrer se o cálculo do volume não for realizado

corretamente (SILVA, 2007).

2.1.5 A quem compete garantir a qualidade do medicamento manipulado?

A legislação brasileira (BRASIL, 2007a) determina que a farmácia é responsável pela

qualidade das preparações magistrais e oficinais que manipula, conserva, dispensa e

transporta, devendo assegurar a qualidade físico-química e microbiológica (quando aplicável)

de todos os produtos reembalados, reconstituídos, diluídos, adicionados, misturados ou de

alguma maneira manuseados antes da sua dispensação.

A legislação sanitária explicita também as responsabilidades (como as do farmacêutico

e da Gerência Superior) e define claramente que, em casos de danos causados aos

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consumidores, comprovadamente decorrentes de desvios da qualidade na manipulação de

preparações magistrais e oficinais, as farmácias estão sujeitas às penalidades sanitárias,

previstas na legislação vigente, sem prejuízo das responsabilidades civil e criminal cabíveis

dos responsáveis.

Compete, portanto, aos estabelecimentos, assegurar a qualidade dos medicamentos e

demais preparações ofertadas à população.

Relevante destacar que desvios de qualidade de insumos podem afetar negativamente

a qualidade das preparações farmacêuticas. Todavia, compete aos estabelecimentos

farmacêuticos qualificar seus fornecedores e realizar análises suficientes nos insumos

adquiridos, para que antes de utilizá-los seja confirmada a sua qualidade. As farmácias

passam a responder, inclusive judicialmente, caso o medicamento não cumpra os requisitos de

qualidade exigidos, ainda que o desvio seja decorrente de um eventual problema na qualidade

do insumo.

A Vigilância Sanitária tem seu papel, como anteriormente abordado, agindo como

órgão regulador das farmácias e de outros estabelecimentos envolvidos no processo - como,

por exemplo, os fabricantes e distribuidores de insumos - mas a qualidade dos medicamentos

manipulados cabe às farmácias garantir.

Não obstante, a vigilância deve adotar medidas, quando pertinente, primando pela

saúde da população. Para tanto, se pauta em princípios do Direito, como o princípio da

precaução, para atingir aos objetivos e a função a ela designada.

Estudo realizado por Silva e Vieira (2004) para a avaliação do conhecimento de

farmacêuticos responsáveis técnicos em drogarias, da região de Ribeirão Preto, quanto à

legislação sanitária, teve como resultado que apenas 22% dos farmacêuticos participantes da

pesquisa possuíam bom nível de conhecimento da legislação sanitária, sendo que esse baixo

nível de conhecimento não pode ser associado com nenhuma variável independente, como

idade, sexo, estando generalizado. Apesar do referido estudo não ter abrangido farmacêuticos

de farmácias de manipulação, tendo em vista que o processo de formação desses é comum e

dada à constatação dos autores do estudo pela “necessidade da formação do farmacêutico

centrada no conhecimento dos medicamentos, inclusive da legislação sanitária, para que no

futuro possam exercer plenamente a profissão, sem ameaças penais ou prejuízos à

população”, esta citação se faz relevante.

Ainda conforme Silva e Vieira (2004, p. 436):

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43

À luz do Direito Sanitário, a informação e educação sanitária têm importância particular para a efetividade das ações de vigilância sanitária, sendo os profissionais de saúde os principais atores sociais na proteção da saúde pública e defesa da qualidade de vida.

2.1.6 Medicamentos alvo do estudo

2.1.6.1 Omeprazol(antiulceroso)

FIGURA 1: Fórmula estrutural do omeprazol

FONTE: USP 29 (2006)

O omeprazol é um benzimidazol, inibidor da bomba de prótons (H+, K+-ATPase),

atuando na última etapa de produção da secreção ácida pelas células parietais da mucosa

gástrica. Constitui-se em um “pró-fármaco”, necessitando ser ativado em ambiente ácido no

interior das células parietais. Por ser uma base fraca, acumula-se nos canalículos secretores

ácidos da célula parietal, onde é ativado por um processo catalisado por prótons que resulta na

formação de uma sulfenamida tiofílica ou ácido sulfênico. A sulfenamida, subsequentemente

se liga covalentemente aos resíduos cisteínas (R-S-H) da bomba de prótons H+/K+-ATPase,

inativando-a (GOODMAN; GILMAN, 2003).

As principais condições patológicas nas quais inibidores da bomba de prótons são

usados incluem ulceração péptica duodenal e gástrica, a doença do refluxo gastresofágico e a

síndrome de Zollinger-Ellison (uma rara condição causada por um tumor produtor de

gastrina).

O mercado de omeprazol no Brasil representou, em 2011, cerca de 31% das vendas de

todos os inibidores de bomba de prótons, sendo o uso indiscriminado desse medicamento no

Brasil e em outros países, como Portugal, uma preocupação (CARNEIRO, 2012; PIVA,

2011);

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O omeprazol pode ser administrado por via oral ou intravenosa. Por ser instável em

pH baixo, as formas de dosagem oral são fornecidas como grânulos com cobertura entérica

encapsulados em uma camada externa de gelatina ou como comprimidos de revestimento

entérico (RANG et al., 2003).

Marinho e colaboradores (2009) demonstraram a não adequação de medicamentos

(pantoprazol) preparados por métodos alternativos (revestimento das cápsulas com formol,

goma laca, Eudragit L100®, acetoftalato de celulose ou, por preparo de grânulos com

acetoftalato de celulose ou Eudragit L100®, seguido de encapsulamento) para conferir gastro-

resistências em farmácias e concluíram que a preparação de cápsulas utilizando pellets

industrializados propicia gastro-resistência requerida.

2.1.6.2 Fluoxetina (antidepressivo)

FIGURA 2: Fórmula estrutural da fluoxetina

FONTE: USP 29 (2006)

A fluoxetina é um fármaco inibidor seletivo da recaptação de serotonina (5-HT), tendo

ação serotoninérgica e sendo o antidepressivo mais prescrito atualmente. Os inibidores

seletivos da recaptação de serotonina – como fluoxetina, citalopram, sertralina - são usados

em uma variedade de distúrbios psiquiátricos assim como na depressão, incluindo distúrbios

da ansiedade, ataques de pânico e distúrbio obsessivo-compulsivo. (RANG et al., 2003)

A fluoxetina usada clinicamente é uma mistura racêmica (enantiómeros R- e S- em

quantidades iguais). O (S)-enantiômetro da fluoxetina e seu principal metabólito, a

norfluoxetina, são altamente ativos contra o transporte de serotonina. O (R)-enantiômetro

também é ativo contra o transporte de serotonina, tendo ação mais curta que o (S)

(GOODMAN; GILMAN, 2003).

A fluoxetina é bem absorvida por via oral.

Conforme Pissato (2006), diante do elevado consumo deste medicamento (fluoxetina) e alto

custo de sua forma industrializada, as farmácias de manipulação vêm ocupando um grande

espaço na sua comercialização.

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Industrializada, está disponível em cápsulas, comprimidos revestidos e solução oral,

nas dosagens de 10 e 20 miligramas.

O Relatório “Resultados 2009” da Anvisa, que apresentou dados obtidos e

informações geradas pelo Sistema Nacional de Gerenciamento de Produtos Controlados

(SNGPC) referentes a alguns medicamentos controlados, elegeu o cloridrato de fluoxetina

como um dos medicamentos a compor este documento por ter um uso muito difundido e com

indícios de abuso e desvio de utilização para outras finalidades que não sua principal

indicação (depressão). Conforme os dados do Sistema, o consumo de cloridrato de fluoxetina

manipulado foi maior que o consumo do medicamento industrializado no Brasil, no ano de

2009, e Minas Gerais foi classificado como o terceiro Estado maior consumidor de produtos

manipulados a base de cloridrato de fluoxetina, devendo considerar as limitações do estudo

(ANVISA, 2009).

2.1.7 Elementos traços em medicamentos manipulados

A legislação sobre Boas Práticas de Manipulação não exige testes de impurezas após o

recebimento de matérias-primas em farmácias, apenas sendo necessário verificar o certificado

do fornecedor qualificado, emitido em conformidade com a monografia farmacopéica. Essa

pode requerer realização do método de “metais pesados”, um método adequado para a

detecção de alguns elementos, com uma série de limitações (WANG et al., 2000).

Para a liberação do medicamento, os testes de controle de qualidade realizados no

produto manipulado não abrangem a detecção e quantificação de impurezas elementares.

Estudos evidenciaram presença de impurezas elementares em medicamentos

manipulados (LEAL et al., 2006) e em matérias-primas utilizadas na farmácia de manipulação

(LEAL et al., 2008), o que pode representar risco à saúde pública, tendo em vista que a

ingestão de metais, mesmo em baixos teores, podem trazer danos à saúde (FERGUSSON,

1990; ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE, 2010; REMINGTON; GENNARO, 2000).

Ademais, a presença de alguns elementos químicos podem alterar a estabilidade do produto

final.

Impurezas elementares podem estar presentes em matérias-primas utilizadas em

medicamentos e, também no produto final. A contaminação por impurezas elementares pode

ocorrer de várias maneiras, seja por meio dos reagentes, solventes e catalisadores utilizados

na síntese de matérias-primas, pela exposição às partículas do ar, ou ainda decorrentes de

interação com equipamentos, tubulações do processo de produção ou por rotas que não

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cumpram as Boas Práticas de fabricação. (WANG et al, 2000; ) Dessa forma, as impurezas

podem ocorrer naturalmente, serem adicionadas intencionalmente ou introduzidas

inadvertidamente.

Uma vez que podem haver impurezas elementares nos medicamentos, surge a

preocupação com a presença dessas em medicamentos de uso prolongado, ainda que em

concentrações baixas, pois tais produtos podem vir a constituir fontes de introdução de

elementos que ocasionarão possíveis efeitos adversos ao organismo, por seu uso crônico.

A possibilidade de analisar vários elementos simultaneamente, em baixas

concentrações, até níveis de partes por bilhão (ppb), sem qualquer preparação química prévia

faz da análise por ativação neutrônica o método mais adequado para esta investigação.

A análise por ativação neutrônica (AAN) é um método multielementar muito sensível

e confiável, sendo adequado para análise dos elementos arsênio (As), bário (Ba), bromo (Br),

cálcio (Ca), cério (Ce), cloro (Cl), cobalto (Co), cromo (Cr), európio (Eu), ferro (Fe), háfnio

(Hf), magnésio (Mg), manganês (Mn), sódio (Na), Sb, escândio (Sc), samário (Sm), titânio

(Ti), zinco (Zn) em diferentes medicamentos (LEAL et al., 2008).

A AAN é baseada no princípio de que quando os materiais são irradiados por fonte de

nêutrons, alguns elementos químicos estáveis são convertidos em isótopos radioativos, sendo

o tipo, a energia da radiação e a taxa de decaimento, específicos para cada elemento. Dessa

forma, uma estimativa da quantidade de cada elemento pode ser feita pela comparação da

radioatividade dos elementos com padrões adequados, irradiados simultaneamente

(NORDBERG, 2007).

No Centro de Desenvolvimento de Tecnologia Nuclear (CDTN), a técnica de AAN é

aplicada utilizando o reator nuclear de pesquisa TRIGA MARK I IPR-RI, fabricado pela

GULF GENERAL ATOMIC e que opera em uma potência de 100 kW. Esse reator apresenta

três dispositivos de irradiação: mesa giratória, terminal pneumático e tubo central. O fluxo de

nêutrons térmicos atinge um valor médio de 6,7 x 1011 cm-2 s-1 na mesa giratória (MENEZES

E JACIMOVIC, 2006)

No Brasil, apenas dois Centros de Pesquisa realizam a ativação neutrônica em reatores

de pesquisa: o CDTN, em Belo Horizonte, e o Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares

(IPEN), em São Paulo, ambos pertencentes à Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN)

(PORTO, 2012).

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2.1.7.1 Exposição humana a alguns elementos químicos

Todas as formas de vida são afetadas pela presença de metais, que pode ser benéfica,

dependendo do metal, da dose e da forma química em que se encontra (OGA, 2004).

Os sistemas biológicos necessitam de vários elementos químicos, dentre eles alguns

metais, que desempenham funções importantes para a manutenção do metabolismo (LIMA e

MERÇON, 2011), sendo considerados essenciais. Esses são necessários em uma estreita faixa

de concentração, fortemente controladas, pois, acima de certos níveis, mesmo os metais

essenciais, podem acarretar diversos danos aos seres vivos (KOIVULA; EEVA, 2010;

VALLS e LORENZO, 2002) e abaixo dos níveis ideais, problemas decorrentes da deficiência

deles podem ocorrer (GOYER et al., 2004).

Com base em características de efeitos à saúde, os elementos podem ser classificados

em (GOYER et al., 2004):

- essenciais nutricionalmente: cobalto (Co), cromo (Cr) III, cobre (Cu), ferro (Fe), manganês

(Mn), molibdênio (Mo), selênio (Se) e zinco (Zn);

- com possíveis efeitos benéficos: boro (B), níquel (Ni), silício (Si), vanádio (V);

- com efeitos benéficos não conhecidos: alumínio (Al), antimônio (Sb), arsênio (As), bário

(Ba), berilo (Be), cádmio (Cd), chumbo (Pb), mercúrio (Hg), prata (Ag), estrôncio (Sr), tálio

(Tl).

Goyer (1997) inclui entre os elementos essenciais o sódio (Na), o cálcio (Ca) e o

magnésio (Mg).

A toxicidade dos metais depende das suas propriedades físico-químicas e preferências

por ligantes e está relacionada com seus mecanismos de absorção, estado de oxidação e

especiação, distribuição intracelular e interação com várias macromoléculas. (CAMPOS,

2012)

A avaliação dos riscos para a saúde decorrentes da toxicidade de metais envolve a

determinação da probabilidade de ocorrência de um evento adverso em um certo nível de

exposição. Os riscos são usualmente avaliados por exposição crônica, mas também podem ser

expressos para exposições aguda ou de curta duração. (GOYER, 2004).

A avaliação do risco à saúde dos elementos envolve tipicamente quatro etapas:

avaliação da exposição, avaliação de toxicidade, caracterização e análise de riscos, incertezas.

A Agência de Substâncias Tóxicas e Registro de Doenças (ATSDR), dos Estados

Unidos, usa níveis de risco mínimo (minimal risk levels - MRLs) específicos para cada

elemento para auxiliar na avaliação de riscos de saúde pública associados com a exposição a

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substâncias e elementos perigosos. Os níveis de risco mínimo (MRLs) são estimativas de

exposição humana diária de uma dada substância/elemento químico que não apresentam um

risco significativo de efeito adverso (não considerando câncer) ao longo de um período

especificado de exposição (CHOU et al., 2002).

Os MRLs são obtidos por meio de compilação de dados toxicológicos de pesquisa

bibliográfica abrangente - apresentados nos perfis toxicológicos, toxicological profiles e tox

guides (AGENCY FOR TOXIC SUBSTANCES AND DISEASE REGISTRY, 2012b e

2012c) - da ATSDR para cada substância/elemento. Os MRLs de cada substância/elemento

são obtidos considerando a duração da exposição - exposição aguda (de 1 a 14 dias),

intermediária (15 a 364 dias) e crônica (365 dias ou mais) - e via de exposição - oral,

inalatória.

Abaixo, tabela contendo MRLs referentes a alguns elementos químicos, quando

ingeridos por via oral, considerando exposição intermediária e/ou crônica (AGENCY FOR

TOXIC SUBSTANCES AND DISEASE REGISTRY, 2012c).

TABELA 2 – MRLs de alguns elementos químicos por duração e via de administração

ATSDR – MRLs – Fevereiro 2012

Via Duração MRL

ALUMÍNIO Oral Intermediária 1.0 mg/kg/dia

Oral Crônica 1.0 mg/kg/dia ARSÊNIO

Oral Aguda 0.005 mg/kg/dia Oral Crônica 0.0003 mg/kg/dia

CROMO (VI)

Oral Crônica 0.001 mg/kg/dia

Oral Intermediária 0.005 mg/kg/dia COBALTO

Oral Intermediária 0.01 mg/kg/dia ESTRÔNCIO

Oral Intermediária 2 mg/kg/dia ESTANHO, INORGÂNICO

Oral Intermediária 0.3 mg/kg/dia ZINCO

Oral Intermediária 0.3 mg/kg/dia Oral Crônica 0.3 mg/kg/dia

FONTE: ATSDR

Conforme recomendações do NRC - National Research Council (1989) - a RDA

(Recommended Dietary Allowances, que são os níveis de ingestão que, com base em

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conhecimento científico, são considerados adequados para cumprir as necessidades de

praticamente todas as pessoas saudáveis) dos elementos seguintes é (SILVEIRA, 2007):

TABELA 3 – RDA de alguns elementos químicos

Elemento RDA (mg/dia) Ca 800

Cl 300

Cr 0,050 a 0,200

Fe 15,0 (adultos)

K 3500

Mg 280 a 350

Mn 2,0 - 5,0

Mo 0,075 – 0,25

Na 200

Zn 12,0 (mulheres) e 15,0 (homens)

FONTE: NRC 2.1.7.2 Controle de impurezas elementares em medicamentos

O International Conference on Harmonisation of Technical Requirements for

Registration of Pharmaceuticals for Human Use (ICH) é uma iniciativa conjunta dos órgãos

reguladores e representantes de indústrias da União Europeia, do Japão e dos EUA, visando

discussões científicas e técnicas sobre os procedimentos e testes necessários para avaliar e

garantir a qualidade, segurança e eficácia dos medicamentos. Esse, por meio da elaboração do

guia de Qualidade “Q3D: Impurities: Guideline for Metal Impurities”, está propondo uma

política global de limites de impurezas metálicas em medicamentos e matérias-primas. O guia

do ICH Q3A classifica as impurezas em orgânicas, inorgânicas e resíduos de solventes, sendo

que o Q3A e o Q3B trazem requisitos a serem observados referentes a impurezas orgânicas e

o Q3C requisitos para resíduos de solventes (INTERNATIONAL CONFERENCE ON

HARMONISATION OF TECHNICAL REQUIREMENTS FOR REGISTRATION OF

PHARMACEUTICALS FOR HUMAN USE, 2009).

A perspectiva é que com a conclusão do ICH Q3D haja uma abordagem harmonizada

para o controle de impurezas metálicas, incluindo a lista de metais específicos a serem

limitados e os limites adequados para esses metais, de acordo com critérios de segurança do

produto acabado. Atualmente, isso não ocorre.

A EMEA (European Medicine Agency) possui um documento denominado “Guideline

on the specification limits for residues of metals catalysts or metal reagents”, que entrou em

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vigor em 2008, sendo referenciado pelo ICH. Tal guia tem como objetivo recomendar limites

máximos de concentração aceitáveis para os metais utilizados em reagentes ou catalisadores

de processo durante a síntese de substâncias, que podem estar presentes em matérias-primas

(ativo ou excipiente) ou em medicamentos, não fornecendo qualquer benefício terapêutico ao

paciente. Metais introduzidos por outras fontes, como equipamentos, tubulação, solventes de

limpeza, ambiente, não foram alvo do guia. Todavia, uma vez que a origem dos resíduos de

metal é irrelevante em relação aos seus efeitos tóxicos potenciais, as concentrações limites

nesse guia são, em princípio, aplicáveis também aos resíduos provenientes de outras fontes.

No entanto, para estas outras fontes a adoção de um limite de concentração em especificação

e de um método validado é necessário somente em casos excepcionais em que esses resíduos

são insuficientemente limitados pelas Boas Práticas ou qualquer outra disposição pertinente,

não sendo interesse que as fabricantes de medicamentos realizem testes extensivos para

resíduos de metais de fontes desconhecidas. O guia considera que como a utilização desses

metais é limitada a reações químicas definidas, bastaria, normalmente, o estabelecimento de

limites e testes na matéria-prima (EUROPEAN MEDICINE AGENCY, 2008).

Os resíduos de metais foram classificados em três categorias, de acordo com o nível de

segurança individual.

As classes foram:

Classe 1 – Metais de significativa preocupação quanto à segurança – inclui metais

sabidamente carcinogênicos ou com suspeitas de o ser, ou agentes causadores de toxicidade

significativa. Esta classe foi subdividida em:

A - Pt, Pd;

B - Ir, Rh, Ru, Os;

C - Mo, Ni, Cr, V.

Classe 2 – Metais de baixa preocupação quanto à segurança – inclui metais com baixo

potencial tóxico para os homens: Cu, Mn. Eles podem ser metais traços necessários para fins

nutricionais ou estão frequentemente presentes em produtos alimentares ou prontamente

disponíveis em suplementos nutricionais. .

Classe 3 - Metais de preocupação mínima quanto à segurança - inclui metais sem significativa

toxicidade, que possuem perfil de segurança bem estabelecido: Fe; Zn. Tipicamente eles são

onipresentes no meio ambiente ou nos reinos vegetal e animal (EUROPEAN MEDICINE

AGENCY, 2008).

Os limites de concentração para cada elemento (ou grupo de elementos) foram

estabelecidos com base na dose máxima diária, na duração do tratamento, na via de

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administração do medicamento e na exposição diária permitida (PDE) - que é a exposição

máxima aceitável para um metal, com base no uso crônico que é pouco provável de produzir

qualquer efeito adverso à saúde - do resíduo metálico. Os limites de concentração dos

elementos, por exposição oral (dose diária menor que 10 g/dia) são (EUROPEAN

MEDICINE AGENCY, 2008):

TABELA 4 – Limites de concentração de alguns elementos químicos

Classificação Concentração (ppm)

1A: Pt, Pd 10

1B: Ir, Rh, Ru, Os 10*

1C: Mo, Ni, Cr, V 25

2: Cu, Mn 250

3: Fe, Zn 1300 *Limite da subclasse: a quantidade total dos metais listados não pode exceder o limite indicado

Deve ser enfatizado que a perspectiva é de que tais considerações e exigências sejam

aplicáveis a medicamentos industrializados e não a manipulados, ao menos inicialmente.

2.2 MATERIAL E MÉTODOS

2.2.1 Medicamentos alvo do estudo

Os medicamentos manipulados alvo deste estudo foram definidos com base na

representatividade do consumo pela população e na existência de dados de referência nas

farmacopéias – compêndios oficiais - para a realização das análises necessárias, sendo eles:

cloridrato de fluoxetina dez mg/cápsula e omeprazol dez mg/cápsula.

Há que se explicitar, assim como feito por Silva e colaboradores (2010), que muitas

vezes as monografias de medicamentos previstas nas farmacopéias não são exeqüíveis para

análise de manipulados. Um dos dificultadores é a forma farmacêutica do produto: as

monografias geralmente estabelecem metodologias para comprimidos, enquanto os

manipulados sólidos são, normalmente, cápsulas.

As prescrições para aquisição dos medicamentos foram fornecidas, gentilmente, pelo

Dr. Marco Antônio Franzero e Dr. Marcelo Prates Miranda, médicos do CDTN.

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2.2.2 Farmácias amostradas

A amostragem das farmácias foi feita de acordo com a localização geográfica e

número de estabelecimentos por região do município de BH, objetivando um quadro

representativo do nível de qualidade dos medicamentos oriundos das farmácias magistrais de

Belo Horizonte.

Conforme dados fornecidos pela Vigilância Sanitária Municipal de Belo Horizonte, no

município de Belo Horizonte, em 2010, havia 179 farmácias. A distribuição geográfica desses

estabelecimentos, considerando a divisão administrativa do município em regionais definidas

pela Prefeitura de Belo Horizonte, está contemplada na Tabela 5. Os bairros a que

correspondem cada regional podem ser consultados no site da Prefeitura de Belo Horizonte

(PREFEITURA DE BELO HORIZONTE, 2010).

TABELA 5 – Número de farmácias por regional de Belo Horizonte em 2010

REGIONAL N° DE FARMÁCIAS

Barreiro 07

Centro-sul 121

Leste 06

Nordeste 05

Noroeste 11

Norte 02

Oeste 11

Pampulha 09

Venda Nova 07

FONTE: Prefeitura de Belo Horizonte, 2010

Tendo em vista os fatores limitantes – tempo, recursos materiais, dentre outros - foi

definido que seriam coletados medicamentos em cinco farmácias de manipulação de Belo

Horizonte.

Partindo do pressuposto que pode haver variação nas características dos

estabelecimentos farmacêuticos conforme a localização e a clientela atendida, com padrões

diferenciados quanto aos preços, o que pode impactar na qualidade dos produtos manipulados

e, uma vez que a região centro-sul é uma região bastante transitada por moradores de outras

regiões do município e abarca aproximadamente 68% das farmácias de manipulação de Belo

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Horizonte, para determinar quais farmácias seriam amostradas foi realizada amostragem

estratificada proporcional, considerando dois grupos: estabelecimentos do centro-sul e

estabelecimentos das demais regionais.

População estudada 179 População de cada estrato 121 58 (1)

N° de amostras 5 N° de amostras do estrato n1 n2

n1 = 3,38 Arredondando = 3

n2 = 1,62 Arredondando = 2

Dessa forma, das cinco farmácias amostradas, três deveriam estar situadas na regional

centro-sul e duas em outras regionais.

Com os Cadastros Nacionais de Pessoa Jurídica (CNPJ’s) referentes às farmácias

ordenados por bairro e regional, bastou fazer amostragem aleatória simples entre eles, com a

ajuda do Excel.

Ao fim, foram amostrados, portanto, três farmácias da regional centro-sul (B, C e D),

uma da regional Oeste (A) e outra da Venda Nova (E).

Foi observado que, com exceção do estabelecimento D que é uma unidade única, os

demais possuem mais de uma unidade, praticando preços padrão entre elas e em alguns casos,

centralizando a manipulação de sólidos em uma das unidades.

2.2.3 Análises realizadas e laboratório parceiro

Por meio da parceria com o laboratório de controle de qualidade físico-químico do

Serviço de Medicamentos, Saneantes e Cosméticos do Instituto Octávio Magalhães/Fundação

Ezequiel Dias (IOM/Funed) foram realizadas análises farmacopéicas (determinação de peso,

identificação, teor de princípio ativo e uniformidade de doses unitárias), de aspecto e

rotulagem em uma amostra de cloridrato de fluoxetina e uma de omeprazol obtidas em cada

estabelecimento amostrado.

O Laboratório de Controle de Qualidade físico-químico do Serviço de Medicamentos,

Saneantes e Cosméticos da Funed, parceiro neste trabalho, faz parte da Diretoria do Instituto

Otávio Magalhães, caracterizada como Laboratório Central de Saúde Pública de Minas Gerais

– Lacen-MG. Tal laboratório possui ensaios habilitados junto a organizações como a Rede

Brasileira de Laboratórios Analíticos em Saúde (Reblas), o Instituto Nacional de Metrologia,

Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro) e a Organização Nacional de Acreditação

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(Ona). Em 2011, foi reconhecido oficialmente, pela Organização Mundial de Saúde (OMS),

como referência no controle de qualidade de medicamentos para a região das Américas, sendo

o único laboratório do Brasil pré-qualificado junto à Organização Mundial de Saúde (OMS)

para análise da qualidade de medicamentos. Tudo o descrito anteriormente atesta que o

serviço prestado nesse laboratório é adequado aos padrões de normas internacionais de

qualidade (CASTRO, 2011).

As análises de controle de qualidade físico-químico, aspecto e rotulagem foram

executadas conforme ensaios e metodologias descritas na tabela abaixo. Ressalta-se que a

monografia do omeprazol da USP 32 é idêntica a da USP 34, utilizada nas amostras do

monitoramento da vigilância sanitária.

TABELA 6 – Ensaios executados pela Funed de 2010 a 2012, por medicamento e referência

utilizada

Medicamento Ensaios Metodologia (Referência)

Omeprazol Aspecto Não se aplica

Rotulagem RDC n°67 (2007)

Determinação de Peso Farmacopéia Brasileira V (2010)

Identificação USP 32 (2009)

Teor USP 32 (2009)

Uniformidade de Doses Unitárias USP 32 (2009)

Cloridrato de Fluoxetina

Aspecto PRISTA, 1995

Rotulagem RDC n°67 (2007)

Determinação de Peso Farmacopéia Brasileira V (2010)

Identificação USP 34 (2010)

Teor USP 34 (2010)

Uniformidade de Doses Unitárias USP 34 (2010)

2.2.3.1 Determinação de peso:

Realizada conforme a Farmacopéia Brasileira 5a ed. (BRASIL, 2010). Para produtos

em dose unitária, como no caso dos medicamentos alvo deste trabalho, o teste permite

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verificar se as unidades de um mesmo lote apresentam uniformidade de massa. O

procedimento de análise adotado foi: pesou-se, individualmente, vinte unidades, removeu o

conteúdo de cada uma, limpou adequadamente e pesou novamente. Foi determinada a massa

do conteúdo de cada cápsula pela diferença de peso entre a cápsula cheia e a vazia. Com os

valores obtidos, determinou-se o peso médio do conteúdo (BRASIL, 2010).

Pode-se tolerar não mais que duas unidades fora dos limites especificados em relação

ao peso médio do conteúdo, sendo que nenhuma poderá estar acima ou abaixo do dobro das

porcentagens indicadas. No caso de cápsulas duras, os limites são: se peso médio corresponde

a menos que trezentos miligramas, o limite de variação é de ± 10%; se peso médio

corresponde a trezentos miligramas ou mais, o limite e variação é de ± 7,5%.

2.2.3.2 Identificação

Permite identificar a presença da substância ativa no medicamento analisado. Teste

realizado conforme monografia farmacopéica de cada produto. As metodologias de análise

executadas contemplaram teste de identificação por cromatografia líquida de alta eficiência –

em que o tempo de retenção do pico principal no cromatograma da preparação amostra deve

corresponder ao do padrão, tal como no ensaio de doseamento - com exceção do ensaio de

identificação descrito na USP 34 (2010) para fluoxetina, que foi por espectrofotometria de

absorção no infravermelho. No ensaio da fluoxetina foi realizada mistura do conteúdo de

cinco cápsulas. Desse, foi transferida quantidade de conteúdo de cápsulas equivalente a 10 mg

de fluoxetina para um adequado container. Dissolveu em 10 ml de metanol e filtrou-se.

Rinsou o container e o filtro com 5 ml de metanol, posteriormente evaporado. Comparou-se o

espectro obtido pela amostra com o do padrão.

2.2.3.3 Teor de princípio ativo

Permite quantificar o princípio ativo no medicamento analisado. Teste realizado

conforme monografia farmacopéica de cada produto. As metodologias de análise executadas

contemplaram ensaio de teor por cromatografia líquida de alta eficiência. O ensaio de teor

utiliza geralmente dez ou vinte cápsulas, não analisando cada cápsula em separado, mas o

pool dessas. Há limites especificados na monografia, dentro dos quais devem estar o princípio

ativo do medicamento (nos medicamentos analisados a especificação foi de 90,0 a 110,0%).

Os procedimentos para realização dos doseamentos estão descritos no item 2.2.6.

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2.2.3.4 Uniformidade de doses unitárias

Permite avaliar a quantidade de componente ativo em unidades individuais do lote e

verificar se esta quantidade é uniforme nas unidades testadas. A uniformidade de doses

unitárias pode ser determinada por dois métodos: variação de peso e uniformidade de

conteúdo. O teste de uniformidade de conteúdo é baseado no doseamento do conteúdo

individual de substâncias ativas em um número de doses unitárias individuais (dez ou 30

cápsulas) para determinar se o conteúdo está dentro de limites especificados, sendo aplicável

em todos os casos. O teste de variação de peso somente é aplicável em casos específicos.

Neste estudo houve análise de uniformidade de conteúdo nos medicamentos alvo. O ensaio

requer cálculo de valor de aceitação para verificação da satisfatoriedade ou não da amostra

(BRASIL, 2010).

O cálculo é feito conforme fórmula: |M-X| + ks (2), sendo:

X = Média dos conteúdos individuais (x1, x2,..., xn),expressa como porcentagem da

quantidade declarada.

k = constante de aceitabilidade:

• para número de unidades testadas = n = 10, k= 2,4;

• para n = 30, k = 2.

s = desvio padrão da amostra.

M = valor de referência. Para T ≤ 101,5*:

• se 98,5% ≤ X ≤ 101,5% , então M = X (VA = ks);

• se X < 98,5, então M = 98,5% (VA = 98,5 – X + ks);

• se X > 101,5, então M = 101,5% (VA = X – 101,5 + ks).

* No caso dos medicamentos analisados, T é igual a 100%, pois T é a média dos limites

especificados na monografia individual para a quantidade ou potência declarada, expressa em

porcentagem, que no caso é de 90,0 a 110,0%.

VA = Valor de aceitação

O produto cumpre o teste de uniformidade de doses unitárias se o Valor de Aceitação

calculado para as 10 primeiras unidades testadas não é maior que 15. Se o Valor de Aceitação

for maior que 15, testa-se mais 20 unidades e calcula-se o Valor de Aceitação. O produto

cumpre o teste de uniformidade de doses unitárias se o Valor de Aceitação final calculado

para as 30 unidades testadas não é maior que 15 e a quantidade de componente ativo de

nenhuma unidade individual é menor que (1 – 25 × 0,01)M ou maior que (1 + 25 × 0,01)M.

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2.2.3.5 Aspecto:

Descrição das características físicas do medicamento analisado. Ex.: cápsula dura

branca e verde contendo pellets brancos. No caso dos medicamentos manipulados é uma

análise descritiva, enquanto que, para medicamentos industrializados, a referência utilizada

para o ensaio são os dados constantes no registro do medicamento na Agência Nacional de

Vigilância Sanitária.

2.2.3.6 Rotulagem:

Verificado se no rótulo do medicamento manipulado analisado contém todas as informações

necessárias conforme a RDC 67/07, sendo:

a) nome do prescritor;

b) nome do paciente;

c) número de registro da formulação no Livro de Receituário;

d) data da manipulação;

e) prazo de validade;

f) componentes da formulação com respectivas quantidades;

g) número de unidades;

h) peso ou volume contidos;

i) posologia;

j) identificação da farmácia;

k) C.N.P.J;

l) endereço completo;

m) nome do farmacêutico responsável técnico com o respectivo número no Conselho

Regional de Farmácia.

2.2.4 Equipamentos

Foram utilizados os seguintes equipamentos:

- Balança Mettler Toledo AG 204, de faixa de pesagem 0,1 g a 210 g e precisão de 0,0001 g;

- Balança Sartorius CP225D, de faixa de pesagem 0,1 a 220 g, precisão 0,00001g;

- Balança Sartorius CPA2P, faixa de pesagem 1 mg a 2,1 g, precisão 0,000001 g;

- Potenciômetro Digimed DM20, faixa de medição pH -2 a 20, resolução 0,01 pH;

- Potenciômetro Metrom 781 pH/ION Meter, intervalo de medição -20 a 20, resolução 0,001;

- Centrífuga Fanem Excelsa Baby II 206 R;

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- Ultrassom Elma Transsonic Digital S;

- Bomba à vácuo Edwards;

- Cromatógrafo líquido de alta eficiência Schimadzu acoplado a um detector ultravioleta-

visível SPD-10AV VP. O software utilizado foi o ClassVP6.13 SP1;

- Espectrofotômetro de infravermelho Perkin Elmer Spectrum One – FTIR Spectrometer com

acessório para execução de análises no modo ATR (Reflectância Total Atenuada).

2.2.5 Reagentes e materiais certificados

Os solventes cromatográficos utilizados foram de grau HPLC e os demais solventes e

reagentes de grau analítico. Os solventes e soluções empregados nas análises no HPLC foram

previamente filtrados com membrana filtrante de 0,45 µm. A água utilizada nas análises é a

ultra-pura Milli-Q. As vidrarias volumétricas utilizadas são devidamente calibradas.

Análise fluoxetina:

- Padrão primário USP de cloridrato de fluoxetina – teor 99,9%

- Metanol – Merck;

- Trietilamina – Merck;

- Ácido fosfórico – Merck;

- Tetrahidrofurano – Sigma Aldrich.

Análise omeprazol:

- Padrão primário USP de omeprazol – teor 100,2%;

- Borato de sódio – Merck

- EDTA dissódico – Vetec;

- Etanol PA – Merck;

- Hidróxido de sódio – Fluka;

- Glicina – Carlo Erba;

- Acetonitrila – Merck;

- Metanol – Merck.

2.2.6 Procedimento de doseamento

Para todas as análises por cromatografia líquida de alta eficiência foram preparadas

duas soluções padrão, sendo um padrão de trabalho e outro de controle. Para se garantir

preparo adequado do padrão a razão entre o fator de resposta do padrão de trabalho (que é a

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razão entre a concentração do padrão em mg/ml pela média da área do pico cromatográfico)

pelo fator de resposta do padrão controle deve ser entre 0,98 a 1,02. Relevante destacar que

são injetadas 5 alíquotas de padrão de trabalho e três de controle antes de correr as amostras.

Ainda, após corrida das amostras (sendo quatro injeções de cada uma das quatro réplicas

realizadas) novamente injeta-se padrão de trabalho (por três vezes). A razão entre os fatores

respostas do padrão de trabalho corrido ao final pelo inicial também deve estar entre 0,98 e

1,02.

Abaixo, métodos de doseamento de cada medicamento. As verificações de adequação

dos sistemas foram feitas conforme descrito em cada monografia.

- Omeprazol

A solução padrão de omeprazol na concentração de 0,2 mg/ml foi preparada em

solução diluente contendo borato de sódio, EDTA dissódico em pH 11,0:álcool:água (8:4:8

v/v). Para realização do método foi homogeneizado o conteúdo de 20 cápsulas, pesado e

transferida a quantidade equivalente a 20 mg de omeprazol para um balão volumétrico de 100

ml. Em seguida, adicionou-se cerca de 50 ml de diluente, levou ao ultrassom por 15 minutos e

após resfriada, completou-se o volume com diluente, misturou e filtrou em filtro de 0,45 µm.

Foram realizadas quatro réplicas. As amostras e a solução padrão foram analisadas por

cromatografia líquida de alta eficiência e as áreas dos picos obtidos utilizadas para cálculo do

teor. Para o omeprazol utilizou-se uma coluna octilsilano (C8)(4,6 mm x 25 cm,5µm); eluição

gradiente com uma mistura de duas soluções – solução A (6 g de glicina em 1500 ml de água,

pH=9) e solução B (acetonitrila e metanol na proporção de 85:15) – de acordo com as

condições apresentadas na Tabela 7; a cromatografia foi realizada com fluxo de 1,2 ml.min-1,

injeções de 10 µL, detecção a 305 nm e tempo de corrida de 30 minutos.

TABELA 7 – Características da eluição para análise do Omeprazol por CLAE (USP 32).

Tempo (minutos) Solução A (%) Solução B (%) Eluição

0 – 20 88 → 40 12 → 60 Gradiente linear

20 – 21 40 → 88 60 → 12 Gradiente linear

21 – 25 88 12 Isocrática

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FIGURA 3 – Cromatograma do ensaio de teor de omeprazol

- Fluoxetina

A solução padrão de fluoxetina na concentração de 0,11 mg/ml foi preparada em fase

móvel contendo tampão de trietilamina (pH 6,0): tetrahidrofurano: metanol (6:3:1). Para

realização do método foi homogeneizado o conteúdo de 20 cápsulas e transferida quantidade

de pó equivalente a 10 mg de fluoxetina para um balão volumétrico de 100 ml, dissolvido e

diluído em fase móvel até o volume, misturada e filtrada a solução. Foram realizadas quatro

réplicas. As amostras e a solução padrão foram analisadas por cromatografia líquida de alta

eficiência e as áreas dos picos obtidos utilizadas para cálculo do teor de fluoxetina. Para o

cloridrato de fluoxetina utilizou-se uma coluna octilsilano(C8)(4,6 mm x 25 cm,5µm); eluição

isocrática com uma mistura de solução tampão de trietilamina (pH=6), tetrahidrofurano e

metanol na proporção de 6:3:1; cromatografia foi realizada com fluxo de 1 ml.min-1, injeções

de 10 µL e detecção a 227 nm.

FIGURA 4 – Cromatograma do ensaio de teor de fluoxetina

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2.2.7 Análise por ativação neutrônica

No laboratório de Ativação Neutrônica do Centro de Desenvolvimento de Tecnologia

Nuclear foram realizadas análises elementares em amostras de omeprazol, utilizando Reator

nuclear de pesquisa TRIGA MARK I IPR-R1. As amostras foram irradiadas juntamente com

vários monitores de fluxo de Alumínio-Ouro (Al-Au) 0,1%, de acordo com o método k0-

normalização (DE CORTE, 1986; DE WISPELAERE et al., 2005; VERMAERCKE et al.,

2006).

Além disso, devido à interrupção do funcionamento do reator e reforma dos

laboratórios de AAN do CDTN, a AAN das amostras de fluoxetina foi realizada no Ipen.

A Tabela 8 mostra as características da técnica utilizada, tais como os parâmetros f

(taxa de fluxo térmico e epitérmico) e α, (parâmetro que mede o desvio de fluxo epitérmicos

da ideal (1 / E) distribuição), necessário para método k0, os tempos de irradiação e sistemas

de espectrometria gama de cada Instituto.

TABELA 8 – Condições técnicas k0-AAN no CDTN e IPEN.

Dados Experimentais CDTN IPEN

Reator /canal de irradiação

TRIGA MARK I IPR-R1 IC 40

IEA-R1

Fluxo Térmico (nêutrons.cm-2.s-1)

6,4x 1011 6,6 x 1012

Parâmetros do Reator usados no método k0:

f

α

20,4

0,197

-

-

Tempo de irradiação (h) 8 16

Eficiência do detector (%) 50 50

Softwares usados para:

Aquisição de dados

Análise de Espectro

Cálculo de concentração

Genie 2000 (CANBERRA)

HyperLab

Kayzero for Windows, V.2.42

Genie 2000 (CANBERRA)

-

-

Massa das amostras (mg) 200-250 180

N° de amostras analisadas 2 2

No Ipen homogeneizou-se o conteúdo de 10 cápsulas e transferiu o medicamento para

um frasco de polietileno limpo. Já no CDTN, utilizou-se somente o conteúdo de uma cápsula

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escolhida ao acaso para a realização da análise. A diferença nos procedimentos utilizados em

cada Instituição foi devido a razões operacionais.

As alíquotas de cada medicamento foram trituradas manualmente, sempre que

necessário, utilizando um gral de ágata com pistilo, a fim de evitar qualquer contaminação.

Duas réplicas foram colhidas e pesadas em frascos de polietileno. É relevante destacar que

nenhuma preparação química adicional foi realizada nas amostras, uma vantagem da técnica

de AAN.

2.3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

2.3.1 Controle de qualidade físico-químico, aspecto e rotulagem

Os resultados obtidos para os medicamentos omeprazol foram publicados em capítulo

de livro de título Quality control of formulated medicines (LEAL et al., 2012).

Por questões operacionais não foram realizadas todas as análises em amostras de

fluoxetina de cada uma das cinco farmácias amostradas.

Abaixo, os resultados das análises de todos os medicamentos avaliados:

2.3.1.1 Rotulagem

TABELA 9 – Resultados de rotulagem por farmácia e medicamento amostrados

Farmácia

Medicamento

Omeprazol Cloridrato de

Fluoxetina

A (S) (NR)

B (S) (NR)

C (S) (NR)

D (S) (I) 1

E (S) (NR) (S) Satisfatória; (I) Insatisfatória; (NR) Não realizado 1Embalagem primária em desacordo por não apresentar os componentes da formulação com respectivas

quantidades;

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Pode ser observado que as cinco amostras de omeprazol foram satisfatórias, enquanto

que, a amostra de cloridrato de fluoxetina foi insatisfatória.

Ressalte-se, porém, que as análises de omeprazol foram realizadas em 2010 e a de

fluoxetina em 2011, sendo que algumas exigências da legislação foram harmonizadas entre o

Lacen (Laboratório Central de Saúde Pública) de Minas Gerais e a Vigilância Sanitária,

quanto à rotulagem, após as análises de omeprazol deste estudo (referente ao item 12.1.f do

anexo I da RDC 67/07, que requer na embalagem primária os componentes da formulação

com as respectivas quantidades), causando impacto no resultado das análises.

O cumprimento dos requisitos da legislação quanto à rotulagem do produto propicia

garantia da rastreabilidade e identificação do produto. A descrição dos componentes da

preparação é relevante, por exemplo, para evitar administração de medicamento contendo

algum excipiente ao qual o paciente possui intolerância ou alergia.

2.3.1.2 Aspecto

Todos os medicamentos manipulados analisados foram descritos como cápsulas duras

contendo pó branco, no caso de cloridrato de fluoxetina e, no caso de omeprazol, cápsulas

duras contendo pellets brancos.

Enfatizamos que em todas as farmácias amostradas por este estudo o medicamento

omeprazol foi obtido por meio de utilização de pellets.

As cores das cápsulas foram variáveis.

2.3.1.3 Determinação de Peso

Todas as amostras analisadas de cloridrato de fluoxetina foram satisfatórias no ensaio

de determinação de peso. No caso das cinco amostras de omeprazol, somente uma, a referente

ao omeprazol do estabelecimento D, foi considerada insatisfatória neste ensaio, tendo

apresentado quatro cápsulas com variação de peso, em relação ao peso médio, maior que 10%

e cápsula variando mais que o dobro do porcentagem (mais que 20% em relação ao peso

médio).

Isso demonstra que a maioria dos medicamentos analisados apresentavam distribuição

homogênea de pó entre as cápsulas. Todavia, esse ensaio não permite concluir sobre a

distribuição homogênea de ativo entre as cápsulas, o que foi verificado pelo ensaio de

uniformidade de doses unitárias.

A variação verificada entre os pesos médios dos medicamentos manipulados nos cinco

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estabelecimentos amostrados possivelmente se deve às diferenças nas formulações de cada

um.

TABELA 10 – Resultados das análises de determinação de peso de omeprazol, em

mg/cápsula e variação máxima e mínima (%), por farmácia

Estabelecimento

Omeprazol (10 mg/cáps.)

Peso Médio (mg/cáps.)

Variação valor

mínimo

Variação valor

máximo

(%) (%)

A** 108,3 ± 3,0 7,1 15,1

B 195,4 ± 1,8 4,6 3

C 175,9 ± 3,0 9,1 4,7

D*** 107,0 ± 7,0 15,3 40,8

E* 105,0 ± 2,1 10,6 7,2 * Uma unidade fora do limite especificado

** Duas unidades fora do limite especificado

*** Quatro unidades fora do especificado – insatisfatória

TABELA 11 – Resultados das análises de determinação de peso de cloridrato de fluoxetina,

em mg/cápsula e variação máxima e mínima (%), por farmácia

Estabelecimento

Cloridrato de Fluoxetina (10 mg/cáps.)

Peso Médio (mg/cáps.)

Variação valor mínimo

Variação valor máximo

(%) (%)

B 200,0 ± 2,7 3,7 8,1

C 124,8 ± 2,6 7,2 10,7

D 112,1 ± 3,2 15,6 9,6

2.3.1.4 Identificação de ativo

Todas as amostras analisadas foram satisfatórias quanto à identificação.

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2.3.1..5 Teor de ativo

Especificação: omeprazol e cloridrato de fluoxetina – 90,0 a 110,0% do declarado de

substância ativa no medicamento.

TABELA 12 – Resultados do teor de princípio ativo dos medicamentos manipulados, em

mg/cápsula e % do declarado, por farmácia e medicamento

Farmácia

Omeprazol

(mg/cáps ou %) Cl. Fluoxetina

(mg/cáps ou %)

A 11,3 ± 0,4 ou 112,7

(I) Não realizado

B 8,4 ± 2,2 ou 84,4

(I) 9,5 ± 0,5 ou 95,0

(S)

C 6,9 ± 2,6 ou 68,7

(I) 7,9 ± 0,3 ou 79,2

(I)

D 11,2 ± 0,1 ou 111,5

(I) 6,6 ± 0,3 ou 65,6

(I)

E 11,0 ± 0,2 ou 109,6

(S) Não realizado (S) Satisfatória;(I) Insatisfatória

Das cinco amostras de omeprazol, somente uma foi satisfatória (20%) e, no caso das

três amostras de fluoxetina, uma (33%) foi satisfatória nesse ensaio.

Pode ser observado que das oito amostras de teor analisadas, seis foram insatisfatórias,

sendo que a maioria das amostras reprovadas no ensaio de teor (seis de oito) apresentou teor

de substância ativa abaixo do especificado na farmacopéia.

Fatores que podem conduzir a desvios de qualidade, com teor abaixo ou acima das

especificações, quase sempre estão relacionados a problemas de pesagens não precisas da

substância ativa (MENEGHINI e ADAMS, 2007).

Nas análises realizadas no ano de 2010 de omeprazol, o intervalo de confiança foi

calculado, conforme a seguinte fórmula:

IC = x ± t.s.(n)-1/2

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Sendo: t o valor tabelado de Student, considerando 95% de confiança e graus de

liberdade igual a n-1; s o desvio padrão das determinações; n o número de determinações

executadas (são realizadas quatro).

Nas análises de 2011 e 2012, entretanto, a incerteza de medição foi obtida. Para o

cálculo da incerteza de medição todas as fontes de incertezas foram consideradas, dentre elas

as incertezas da calibração das vidrarias e dos equipamentos (como balanças), incerteza das

determinações realizadas, dos analistas. Como referência para a definição das incertezas de

medição foi utilizado, pela Funed, o documento “Quantifying Uncertainty in Analytical

Measurement”, segunda edição, publicado pela EURACHEM/CITAC.

Algumas das amostras de omeprazol tiveram análise de teor repetida, pelo fato de os

valores das quatro determinações realizadas ter apresentado desvio padrão relativo maior que

2,0% (preconizado na farmacopéia). Deve ser relatado que uma possível causa da obtenção de

valores de desvio padrão relativo altos para as análises de omeprazol é a falta de

homogeneidade de teor dos pellets contidos nas cápsulas analisadas. Isso porque, no ensaio de

teor de omeprazol, o conteúdo de 20 cápsulas é misturado, mas os pellets não são triturados.

Ao se retirar uma alíquota do pool dessas cápsulas, havendo falta de homogeneidade de teor

nos pellets, isso acarretará em resultados de teor de cada determinação com alto desvio padrão

relativo. Isso remete a possíveis problemas de qualidade nos pellets utilizados ou problemas

de homogeneidade na realização da mistura com pellets inertes, pelas farmácias.

A qualidade dos pellets influencia diretamente na qualidade do produto obtido a partir

deles. Dessa forma, somente pela avaliação das características físicas dos pellets –

uniformidade de tamanho, forma e densidade - identidade, teor e parâmetros de liberação,

como dissolução, deveria ser possível aprovar o seu uso em formulações. Contudo, os testes

de controle de qualidade requeridos pela legislação em farmácias não englobam ensaios

relevantes para avaliar a qualidade de produtos intermediários, como pellets gastro-

resistentes. A obtenção de medicamentos por meio da utilização de produtos intermediários

(pellets) em farmácias de manipulação merece ser avaliado pela Vigilância Sanitária.

2.3.1.6 Uniformidade de dose unitária:

Especificação: Valor de aceitação ≤ 15 (L1).

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TABELA 13 – Valores de X, s, VImin e VImáx. e VA, do ensaio de Uniformidade de dose

unitária de omeprazol

Estabelecimento Omeprazol (10 mg/cáps.)

X(%). s VImín. (%).

VImáx. (%).

VA

A 106,7 6,8 95,5 121,8 18,7(I)

B 102,0 11,7 66,1 123,3 24,0(I)

C 78,4 13,9 41,7 106,2 47,9(I)

D 106,1 5,5 89,5 116,2 15,6(I)

E 104,4 6,5 92,7 121,0 15,8(I)

VImín – valor individual mínimo; VImáx – valor individual máximo; VA – valor de aceitação; (NR) – Não realizado

(S) Satisfatória; (I) Insatisfatória

TABELA 14 – Valores de X, s, VImín e VImáx. e VA, do ensaio de Uniformidade de dose

unitária de cloridrato de fluoxetina

Estabelecimento

Cloridrato de Fluoxetina (10 mg/cáps.)

X (%). s VImín. (%).

VImáx. (%). VA

B 98,2 3,0 95,4 105,5 10,5(S) VImín – valor individual mínimo; VImáx – valor individual máximo; VA – valor de aceitação; (NR) – Não realizado

(S) Satisfatória; (I) Insatisfatória

Observa-se que as cinco amostras de omeprazol foram reprovadas neste ensaio. A

amostra de fluoxetina analisada foi satisfatória.

Os resultados obtidos para o ensaio de uniformidade de doses unitárias - em que dos

seis produtos analisados cinco foram insatisfatórios – explicitam falta de homogeneidade no

conteúdo dos medicamentos e remetem a problemas relacionados com a manipulação, que

podem ser decorrência: da realização inadequada da tamisação das matérias-primas,

ocasionando mistura com pós de granulometrias diversas (o que poderia gerar segregação de

pós e falta de uniformidade de conteúdo); da mistura inadequada dos componentes da

formulação; da escolha inadequada dos componentes da formulação (por exemplo,

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excipientes escolhidos não propiciaram fluidez adequada da mistura de pós); dentre outras

causas.

Relevante destacar que a amostra de omeprazol da farmácia E foi satisfatória no ensaio

de teor e insatisfatória no ensaio de uniformidade de conteúdo. Lembrando, o ensaio de teor é

realizado com um pool de cápsulas (dez ou vinte cápsulas), enquanto no ensaio de

uniformidade de conteúdo, cada cápsula é analisada individualmente (até 30 cápsulas são

analisadas) quanto ao quantitativo de ativo. Dessa forma, um resultado satisfatório no ensaio

de teor não significa que haverá necessariamente um resultado satisfatório em uniformidade

de conteúdo pois ao se fazer o pool e dosar alíquotas desse pool, pode ser mascarada possível

heterogeneidade de ativo entre as cápsulas do medicamento analisado.

A utilização de medicamentos que não possuem uniformidade nas doses contidas em

cada unidade farmacêutica, no caso, em cada cápsula, pode ter como conseqüência a falta de

efetividade do medicamento e/ou intoxicação medicamentosa, com eventos adversos à saúde

do paciente.

A uniformidade de conteúdo é um dos ensaios que melhor avalia as condições em que

foi realizado o processo de manipulação (PISSATO, 2006).

O gráfico abaixo permite visualização mais clara da falta de homogeneidade no

conteúdo de alguns dos medicamentos analisados: amostra de omeprazol da farmácia C, que

apresentou valor de aceitação de 47,9.

FIGURA 5 - Resultado do quantitativo de ativo por cápsula analisada do medicamento omeprazol, da farmácia

C, no ensaio de uniformidade de conteúdo

Pode ser percebida grande variação no teor das cápsulas de omeprazol analisadas – de

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41,7% a 106,2%.

As formulações analisadas apresentaram uma distribuição heterogênea do princípio

ativo em cada dose unitária do mesmo lote, como observado em estudos anteriores de outras

formulações manipuladas em farmácias magistrais (BARACAT et al., 2009; MARKMAN;

ROSA; KOSCHTSCHAK, 2010; MENEGHINI; ADAMS, 2007; PISSATO et al., 2006;

SILVA, RIBEIRO E CARVALHO, 2011).

2.3.1.7 Conclusão final quanto à adequação dos medicamentos analisados considerando

ensaios de Controle de Qualidade físico-químico, aspecto e rotulagem

TABELA 15 – Resultado da adequação do medicamento, considerando todos os ensaios

realizados

Farmácia Omeprazol Cloridrato de Fluoxetina

A (I) 2;3 (NR) B (I) 2;3 (S)

C (I) 2;3 (I) 2; D (I) 2; 3; 4 (I) 1; 2; E (I) 3 (NR)

(S) Satisfatória; (I) Insatisfatória; (NR) Não realizado

1 rotulagem; 2 teor; 3 Uniformidade de dose unitária; 4 determinação de peso;

De todas as oito amostras analisadas, somente a amostra de cloridrato de fluoxetina do

estabelecimento B foi satisfatória nas análises realizadas, sendo as outras sete insatisfatórias

nos ensaios de teor e/ou uniformidade de dose unitária e, no caso do omeprazol da farmácia

D, também no ensaio de determinação de peso. Desta forma, destaca-se que sete das oito

amostras analisadas foram reprovadas em algum ensaio físico-químico realizado, totalizando

87,5% de reprovação nesses ensaios.

Os resultados obtidos para métodos de teor e uniformidade de doses unitárias dos

citados medicamentos foram analisados estatisticamente, não apresentando distribuição

normal. Isso explicita a alta variabilidade dos resultados das análises desses ensaios, o que

pode ser conseqüência de processos e procedimentos de manipulação inadequados, não

padronizados e/ou do não cumprimento das Boas Práticas de Manipulação. Para ilustrar a

questão, basta verificar que a amostra de omeprazol da farmácia C variou de 41,7% a 106,2%

de ativo em cápsulas distintas. Vale ressaltar que, caso considerássemos análises de descrição,

aspecto, caracteres organolépticos e peso médio somente, que são as análises requeridas pela

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70

legislação vigente para preparações magistrais sólidas, dos sete medicamentos insatisfatórios

em ensaios físico-químicos, somente um seria classificado nesse status, sendo seis

erroneamente considerados satisfatórios, ou seja, aprovados para o consumo.

2.3.2 Programa de monitoramento da qualidade de medicamentos

Foram coletadas, em 2011, pela Vigilância Sanitária de Minas Gerais, amostras de

cloridrato de fluoxetina e omeprazol em dez estabelecimentos, conforme relação apresentada

abaixo.

TABELA 16 – Estabelecimentos amostrados por medicamento e dosagem

Medicamento Dosagem Farmácias

Cloridrato de Fluoxetina 15 mg/cáps C

20 mg/cáps F 20 mg/cáps G 20 mg/cáps H 20 mg/cáps I 20 mg/cáps J 40 mg/cáps K 20 mg/cáps L 40 mg/cáps M

20 mg/cáps N Omeprazol 20 mg/cáps B

20 mg/cáps O 20 mg/cáps P 20 mg/cáps Q 20 mg/cáps R 20 mg/cáps S 20 mg/cáps J 20 mg/cáps T 20 mg/cáps U

20 mg/cáps K

Os resultados das análises do programa de monitoramento de 2011 foram gentilmente

cedidas pela Funed e tratados neste trabalho.

Algumas farmácias contempladas na amostragem deste estudo (B e C) tiveram

amostras coletadas pelo programa de monitoramento, o que ocorreu em momentos distintos,

constituindo resultados de lotes diferentes dos mesmos medicamentos (omeprazol da B e

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71

cloridrato de fluoxetina da C). Ainda, houve coincidência de estabelecimentos em que foram

coletadas amostras de omeprazol e cloridrato de fluoxetina (farmácias J e K) frente ao

Programa de Monitoramento.

2.3.2.1 Rotulagem

TABELA 17 – Resultados de rotulagem, por medicamento e farmácia

Farmácia Cl. Fluoxetina Farmácia Omeprazol C (I)2 B (I) 3

F (I) 1 J (S) G (S) K (I) 3 H (I) 2 O (I) 3

I (I) 1 P (S)

J (I) 1 Q (S)

K (I) 2 R (S)

L (I) 1 S (I) 3 M (I) 1 T (I) 3 N (I) 2 U (I) 4

1Embalagem primária em desacordo por não apresentar os componentes da formulação com respectivas

quantidades; 2Embalagem primária em desacordo por não apresentar os componentes da formulação com as

respectivas quantidades e por apresentar dados que dificultam a identificação completa da farmácia onde o

medicamento foi manipulado (mais de um endereço, responsável técnico e/ou CNPJ) 3Embalagem primária em desacordo por apresentar dados que dificultam a identificação completa da

farmácia onde o medicamento foi manipulado (mais de um endereço, responsável técnico e/ou CNPJ) 4Embalagem primária em desacordo por não apresentar a identificação do prescritor de forma completa. 5Embalagem primária em desacordo por não apresentar no rótulo o nome do médico prescritor; por não

apresentar os componentes da formulação com as respectiva quantidades e por não apresentar no rótulo o

endereço completo da farmácia manipuladora; 6Embalagem primária em desacordo por não apresentar os componentes da formulação com as

respectivas quantidades; por apresentar descrito no rótulo quatro endereços e CNPJ diferentes, não havendo

assim a identificação do local onde o medicamento foi manipulado; por não apresentar de forma clara a

indicação do número de registro da formulação no Livro de Receituário;

Pode ser observado que das 20 análises de rotulagem, apenas cinco foram satisfatórias

(40%), o que demonstra necessidade de melhorias quanto a esse quesito por parte dos

estabelecimentos. Dentre as insatisfatórias a principal causa de inadequação foi a não

apresentação dos componentes da formulação e suas respectivas quantidades.

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72

2.3.2.2 Aspecto

Todos os medicamentos manipulados analisados eram cápsulas duras contendo pó

branco, no caso de cloridrato de fluoxetina e, no caso de omeprazol, cápsulas duras contendo

pellets brancos. A cor das cápsulas foi variável.

2.3.2.3 Determinação de peso

Pode ser observado que todas as amostras analisadas foram satisfatórias quanto à

determinação de peso.

TABELA 18 – Resultados de determinação de peso de omeprazol em mg/cáps e variação

máxima e mínima (%), por farmácia

Estabelecimento

Omeprazol (10 mg/cáps.)

Peso Médio (mg/cáps.)

Variação mínima

Variação máxima

(%) (%)

B 208,4 ± 3,1 6,5 5,2

J 203,2 ± 2,8 5,1 6,1

K 260,3 ± 3,5 6,8 6,8

O 274,4 ± 3,9 5,2 6,5

P 206,7 ± 4,3 6,7 7,1

Q 211,4 ± 4,3 8,5 6,9

R 259,2 ± 6,2 8,3 8,8

S 360,8 ± 4,0 4,7 5,4

T 199,5 ± 2,6 6,1 3,6

U 210,6 ± 3,0 4,6 6,2

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TABELA 19 – Resultados de determinação de peso de cloridrato de fluoxetina em mg/cáps e

variação máxima e mínima (%), por farmácia

Estabelecimento

Cloridrato de fluoxetina (15-40 mg/cáps.)

Peso Médio (mg/cáps.)

Variação mínima

Variação máxima

(%) (%)

C 157,07 ± 2,43 5,5 6,7

F 130,73 ± 1,77 6,6 3,6

G 154,53 ± 1,53 4,3 4,8

H 136,07 ± 1,76 4,9 6,2

I 129,21 ± 2,10 8,4 7,8

J 115,63 ± 1,52 6,7 3,4

K 246,14 ± 1,44 1,8 1,9

L 114,58 ± 1,18 4,3 3,9 M Não foi realizado. N 88,00 ± 1,90 7,5 7,2

2.3.2.4 Identificação de ativo

Satisfatório para todas as amostras analisadas.

2.3.2.5 Teor

De 20 amostras analisadas quanto ao teor de princípio ativo, cinco foram insatisfatórias,

apresentando, três delas, teor abaixo da especificação farmacopéica e duas, teor acima do

especificado.

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TABELA 20 – Resultado de teor em mg/cáps e % declarado, por medicamento e farmácia

2.3.2.6 Uniformidade de doses unitárias

TABELA 21 – Valores de X, s, VImín e VImáx. e VA, do ensaio de uniformidade de dose

unitária de cloridrato de fluoxetina

Estabelecimento

Cloridrato de Fluoxetina

X (%) s VImín.(%) VImáx. (%) VA

C 91,9 3,1 88,5 97,3 14,0 (S)

F 94,6 2,1 91,1 97,3 8,9(S)

G 103,1 2,2 100,3 106,9 10,0(S)

H 99,4 3,3 95,0 106,4 8,9(S)

I 98,6 4,7 90,0 109,0 11,3(S)

J 100,2 2,6 96,9 103,7 6,4(S)

K 94 1,2 92,4 96,4 7,4(S)

L 105,9 3,6 100,2 111,4 13,0(S)

M (NR)

N 92,3 3,8 85,8 96,3 14,7(S)

Farmácia

Cl. Fluoxetina (mg/cáps ou

%) Farmácia

Omeprazol (mg/cáps ou

%)

C 13,1 ± 2,1 B 19,9 ± 1,7 ou 87,5 (I) ou 99,7 (S)

F 18,9 ± 0,9 J 22,1 ± 0,6 ou 94,7 (S) ou 110,4 (I)

G 19,5 ± 0,5 K 21,1 ± 2,7 ou 97,5 (S) ou 105,6 (S)

H 20,3 ± 1,3 O 20,1 ± 4,6 ou 101,4 (S) ou 100,6 (S)

I 19,2 ± 0,9 P 20,2 ± 1,0 ou 96,2%

(S) 101,20

(S) J 20,1 ± 1,0 Q 19,6 ± 2,0

ou 100,6 (S) 97,80 (S) K 38,0 ± 0,6 R 16,3 ± 3,6

ou 95,0 (S) ou 81,6 (I) L 21,1 ± 0,6 S 30,3 ± 1,7

ou 105,5 (S) ou 151,4 (I) M 36,9 ± 1,6 T 19,9 ± 2,5

ou 92,2 (S) ou 99,4 (S) N 17,0 ± 0,4 U 20,6 ± 0,8

ou 85,0 (I) ou 103,0 (S)

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VImín – valor individual mínimo; VImáx – valor individual máximo; VA – valor de aceitação; (NR) – Não

realizado (S) Satisfatória; (I) Insatisfatória;

TABELA 22 - Valores de X, s, VImín e VImáx. e VA, do ensaio de uniformidade de dose

unitária de omeprazol

Estabelecimento

Omeprazol

X (%)

s VImín. (%) VImáx. (%) VA

B 98,7 5,9 90,4 106,8 14,2(S)

J 103,8 3,5 98,8 109,5 10,7(S)

K 108,1 3,5 101,8 117,3 13,7(S)

O 104,6 16,2 30,6 125,4 35,5(I)

P 100,7 4,5 94,9 108,8 10,9(S)

Q 91,2 8,7 66,6 105,3 24,8(I)

R 91,6 7,3 77,3 110,3 21,6(I)

S 158,7 4,4 149,3 167,4 68,9(I)

T 100,5 3,8 92,6 105,3 9,7(S)

U 104,3 3,2 99,5 108 10,4(S) VImín – valor individual mínimo; VImáx – valor individual máximo; VA – valor de aceitação; (NR) – Não

realizado (S) Satisfatória; (I) Insatisfatória;

De 19 análises de uniformidade de conteúdo executadas, quinze apresentaram

resultados satisfatórios (79%). Não houve reprovação no ensaio de uniformidade de conteúdo

de amostras de fluoxetina analisadas no monitoramento da qualidade de medicamentos

manipulados, sendo as quatro amostras insatisfatórias, as de omeprazol.

Relevante destacar que as amostras de cloridrato de fluoxetina das farmácias C e N, as

de omeprazol das farmácias J, O e Q não tiveram resultados de teor e uniformidade de

conteúdo coincidentes. Como anteriormente explicitado, isso é justificável pela forma de

execução dos referidos ensaios. No caso das amostras de cloridrato de fluoxetina das

farmácias C e N e de omeprazol da J, que foram insatisfatórias no teor e satisfatórias em

uniformidade de conteúdo, deve ser observado que os resultados do ensaio de teor foram

próximos ao limite farmacopéico – 87,5%, 85,0% e 110,4%, respectivamente, sendo a

especificação de 90,0 a 110,0% – e os resultados do valor de aceitação no ensaio de

uniformidade de conteúdo foram altos, ainda que dentro da especificação – 14,0, 14,7 e 10,7,

respectivamente.

2.3.2.7 Conclusão final quanto à adequação dos medicamentos analisados pelo

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76

Monitoramento da Qualidade de Manipulados considerando ensaios de Controle de Qualidade

físico-químico, aspecto e rotulagem

TABELA 23 – Resultado da adequação ao medicamento considerando todos os ensaios

realizados

Farmácia Cl. Fluoxetina Farmácia Omeprazol

C (I) 1; 2 B (I) 1

F (I) 1; 5 J (I) 2

G (I) 5 K (I) 1

H (I) 1 O (I) 1; 3;

I (I) 1 P (S)

J (I) 1 Q (I) 3;

K (I) 1 R (I) 2;3

L (I) 1; 5 S (I) 1; 2; 3

M (I) 1; 5 T (I) 1;

N (I) 1; 2 U (I) 1 (S) Satisfatória; (I) Insatisfatória; (NR) Não realizado

1 rotulagem; 2 teor; 3 Uniformidade de dose unitária; 4 determinação de peso; 5 dissolução;

Das 20 amostras analisadas pelo programa de monitoramento da qualidade de

medicamentos manipulados somente uma foi considerada satisfatória em todas as análises

realizadas (5,0% de satisfatoriedade). O ensaio de rotulagem foi o que mais reprovou (quinze

das vinte amostras), seguido por teor (cinco de vinte amostras) e uniformidade de dose

unitária (quatro de 19). Destaca-se que das 20 amostras analisadas, onze foram insatisfatórias

em algum ensaio físico-químico, totalizando 55% de insatisfatoriedade em ensaios físico-

químicos.

Vale ressaltar que, caso considerássemos análises de descrição, aspecto, caracteres

organolépticos e peso médio somente, que são as análises requeridas pela legislação vigente

para preparações magistrais sólidas, todos os onze medicamentos insatisfatórios em ensaios

físico-químicos poderiam ser aprovados para o consumo.

2.3.3 Discussão final

Considerando todas as análises executadas – dos estabelecimentos A, B, C, D e E e do

monitoramento da qualidade de manipulados – o índice de satisfatoriedade foi de apenas 7%

(de 28 amostras somente 2 foram aprovadas). Isso aponta para falta de qualidade da grande

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maioria das amostras analisadas.

Todas as amostras foram satisfatórias no ensaio de identificação de ativo.

No ensaio de determinação de peso, 27 das 28 amostras analisadas foram satisfatórias,

totalizando 96% de satisfatoriedade. Portanto, quanto ao ensaio de peso médio, requerido pela

legislação, as farmácias têm conseguido atender aos requisitos. Porém, isso não garante a

qualidade das preparações.

Em rotulagem, de 26 amostras analisadas, somente 10 foram satisfatórias,

aproximadamente 38% de satisfatoriedade. O principal motivo de reprovação foi o fato de não

apresentar no rótulo dos produtos, os componentes da formulação com as devidas

quantidades.

Das 25 amostras analisadas quanto à uniformidade de doses unitárias, 16 foram

satisfatórias, cerca de 64% de satisfatoriedade.

No caso do ensaio de teor, 17 das 28 amostras analisadas foram satisfatórias,

aproximadamente 61%.

Os resultados insatisfatórios de teor e uniformidade de doses unitárias remetem a

ocorrência de falhas no processo de manipulação dos medicamentos, principalmente quanto à

adequada mistura dos componentes da formulação.

Caso considerássemos somente os ensaios exigidos na legislação para produtos

sólidos, 17 das 18 amostras reprovadas em algum ensaio físico-químico seriam consideradas

satisfatórias para consumo, podendo acarretar em prejuízos à saúde da população.

Os resultados obtidos remetem a desvio de qualidade dos medicamentos manipulados.

Tais desvios podem ser decorrentes da não observância das Boas Práticas de Manipulação.

No caso dos estabelecimentos C e B que tiveram medicamentos amostrados também

frente ao programa de monitoramento, destaca-se que:

- tanto as amostras analisadas por este estudo quanto as do monitoramento de omeprazol

do estabelecimento B e de fluoxetina do estabelecimento C foram insatisfatórias;

- no caso das amostras de omeprazol do estabelecimento B, uma foi insatisfatória no

ensaio de uniformidade de doses unitárias e teor e outra insatisfatória em rotulagem;

- no caso das amostras de fluoxetina do estabelecimento C, uma foi insatisfatória em

teor e a outra em rotulagem e teor;

2.3.4 Análise por ativação neutrônica

Os resultados obtidos pela análise por ativação neutrônica dos medicamentos

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omeprazol e cloridrato de fluoxetina manipulados em cada um dos cinco estabelecimentos

farmacêuticos – A, B, C, D e E - estão compilados nas tabelas abaixo.

TABELA 24- Resultado AAN (CDTN) para omeprazol, por farmácia (µg g-1)

A B C D E

Elemento Conc. ± Inc. Conc. ± Inc. Conc. ± Inc. Conc. ± Inc. Conc. ± Inc.

Al 531,9 19,8 260,3 9,6 305,1 11,1 452,4 16,5 335,4 12,2 Br <LD 0.6 0.0 <LD <LD <LD

Ca 17740 793 9379 446 11230 512 19600 880 14260 1900 Cl 805,6 47,8 313,3 17,6 262,1 17,6 490,1 29,7 513,8 30,60 Co 0,5 0,1 0,3 0,1 0,3 0,1 NA NA 0,1 0,0 Cr 11,7 0,5 7,9 0,3 6,7 0,3 11,6 0,5 13,3 1,1 Fe 64,6 5,2 64,0 10,9 47,5 10,2 48,6 10,9 50,9 5,2 Mg 4643,0 192,1 449,0 27,6 390,0 28,4 997,6 56,9 697,1 47,1 Mn 2,8 0,3 1,4 0,1 <LD 1,8 0,2 2,2 0,2 Na 8134 326,4 4003 144 3918 139,5 6838 241 6718 247 Re <LD <LD <LD <LD 0,1 0,0 Sb 0,1 0,0 0,4 0,0 0,0 0,0 0,1 0,0 0,1 0,0 Sc 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 Sm <LD 0,0 0,0 <LD 0,0 0,0 <LD

Sr <LD <LD <LD 20,7 3,8 <LD

Ta 0,2 0,0 0,1 0,0 <LD 0,2 0,0 0,1 0,0 Ti 2748 105,3 1483 54,9 896,7 34,3 2124 78,8 1907 70,7

U <LD 0,2 0,0 <LD <LD 0,4 0,1

Zn 3,4 0,4 1,8 0,3 <LD 2,9 0,4 2,5 0,3

LD – Limite de detecção

TABELA 25 – Resultado AAN (IPEN) para cloridrato de fluoxetina, por farmácia (µg g-1)

A B C D E Elemento Conc. ± Inc. Conc. ± Inc. Conc. ± Inc. Conc. ± Inc. Conc. ± Inc.

As <0,02 0,1 0,0 <0,02 <0,02 <0,02 Br 3,8 0,0 1,6 0,0 7,27 0,0 6,3 0,0 0,6 0,0 Ca 90 8,8 112 15,7 116,60 18,7 53,5 5,8 53,10 6 Cl 12913 325 8863 203 53653 1358 14208 322 17098 418 Cr 2,4 0,0 0,5 0,0 0,19 0,0 0,7 0,0 0,3 0,0 Fe 11,9 0,4 225,9 1,7 < 1,34 5,1 1,0 3,4 0,2 Mg < 183 13858 333 < 183 < 183 < 183 Mn <0,63 3,9 0,8 <0,63 <0,63 <0,63 Na 1674 30 259,50 5,2 5,19 0,3 94,8 10,8 135,2 10,9 Zn 1,0 0,0 1,0 0,0 0,25 0,0 0,4 0,0 0,5 0,0

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Para fins de verificarmos a adequabilidade dos medicamentos analisados quanto a

concentração dos elementos químicos para os quais existe valores de referência ou níveis de

risco mínimos, consideramos peso médio de 250 mg para todos os medicamentos analisados.

Pode ser percebido que esse valor é superior ao peso médio encontrado para cada um deles,

dessa forma, estaremos sendo mais rigorosos (o valor encontrado para ser confrontado com os

valores de referência tendem a ser maiores que os reais).

Ainda, deve ser observado que a posologia de cada medicamento analisado é de uma

dose unitária por dia, ou seja, uma cápsula por dia. Para comparação consideramos ainda peso

corpóreo de 50 Kg para um adulto (seguindo o considerado pelo EMEA).

Abaixo tabelas em que foram considerados os maiores valores de concentração de

cada elemento, por medicamento, para comparação com limites existentes.

TABELA 26 - Resultado AAN – comparação de dados em µg/g

Elemento

Omeprazol Fluoxetina Especificação

EMEA (ppm) CDTN IPEN

Cr 13,3 2,4 25

Zn 3,4 1,0 1.300

Fe 64,6 225,9 1.300

Mn 2,8 3,9 250

Mo <LD < LD 25

LD – Limite de detecção

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TABELA 27 - Resultado AAN – comparação de dados em µg/dia

Elemento

Omeprazol Fluoxetina Especificação (µg/dia)

CDTN IPEN MRL RDA

Al 133 < LD 50.000

As < LD 0,02 15

Cr 3,4 0,6 50 50 a 200

Co 0,1 < LD 500

Sr 5,2 < LD 100.000

Sn < LD < LD 15.000

Zn 0,8 0,3 15.000 12.000 e 15.000

Ca 4.900 22,5 800.000

Cl 201,4 4.274,5 300.000

Fe 16,2 56,5 15.000

Mg 1.160,8 3.464,5 28.000-350.0000

Mn 0,7 1 2.000-5.000

Mo < LD < LD 75 a 350

Na 2.033,5 418,5 200.000 LD – Limite de detecção

Dessa forma, pode ser observado que:

� o quantitativo encontrado nos medicamentos analisados por AAN dos elementos Mo,

Cr, Mn, Fe e Zn está dentro do limite especificado pelo EMEA;

� o quantitativo dos elementos químicos Al, As, Cr, Co, Sr, Sn e Zn foi inferior ao MRL

crônico e/ou intermediário definido pela ATSDR.

� o quantitativo dos elementos Ca, Cl, Cr, Fe, K, Mg, Mn, Mo, Na e Zn foi inferior ao

RDA.

Todavia, deve ser considerado que há outras fontes de ingestão desses elementos, que

não por utilização de medicamentos, como pelo ar, água, alimentos e outros. Dessa forma,

ainda que os elementos detectados/quantificados nesse estudo estejam em baixas

concentrações, a possibilidade de trazerem prejuízos à saúde do paciente não pode ser

descartada.

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Relevante destacar que:

� Alta concentração de elementos como Cl, Ca, Mg, Na é esperado em medicamentos

por serem freqüentemente componentes de excipientes (LEAL et al, 2006).

� Alta concentração de Ti parece estar associada com o processo de revestimento

(LEAL et al, 2006) – pellets – e com pigmentos à base de titânio utilizados na

produção de cápsulas. Esse elemento tem reputação histórica de ser elemento inerte e

relativamente biocompatível (SILVEIRA, 2007).

� As impurezas Br, Co, Cr, Hf, La, Re, Sb, Sc, Sm, Sr, Ta, Th e U encontrados nas

amostras são provavelmente originados de processo de produção e manipulação da

matéria-prima. De qualquer modo, estas impurezas também podem ser originadas de

alguma forma do trabalho de manipulação dos materiais utilizados durante a

preparação das drogas.

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3 CONCLUSÃO

Os resultados obtidos das amostras de medicamentos analisadas dos estabelecimentos

A, B, C, D e E, bem como os resultados do monitoramento da qualidade de medicamentos

manipulados realizado pela VISA MG e Funed confirmam a preocupação sobre a qualidade

dos medicamentos manipulados, mesmo após a publicação da legislação sanitária referente às

Boas Práticas de Manipulação em 2007.

Na avaliação da qualidade de medicamentos manipulados realizada foram detectadas

falhas na:

1) rotulagem dos medicamentos;

2) obtenção de medicamentos com uniformidade de doses.

Percebe-se necessidade de aprimoramento nos processos de manipulação e no controle

de qualidade de produtos intermediários (como pellets) e produto acabado em farmácias

magistrais.

Pode ser observado que as análises requeridas pela legislação sanitária no produto

acabado não são suficientes para atestar a qualidade do medicamento a ser liberado para

consumo.

Há que se mencionar que quanto ao ensaio de peso médio, requerido pela legislação

vigente, somente uma das 28 amostras foi reprovada nesse ensaio. Isso explicita que o peso

médio não propicia um retrato real do processo de manipulação.

Pode ser sugerido aprimoramento da legislação de modo a:

- definir lógica de amostragem para análises periódicas (teor, uniformidade de doses unitárias)

considerando o volume de manipulação da farmácia e a variabilidade dos processos

produtivos;

- exigir a validação de processos de produtos não estéreis - ainda que não produto a produto,

mas ao menos considerando subprocessos comuns a vários produtos.

- definir ensaios para controle de qualidade de produtos intermediários, como os pellets, ou

não permitir sua utilização em farmácias.

Há que se ponderar porém, que revisões da legislação sanitária afeta às Boas Práticas

de Manipulação e realização de análises de controle de qualidade não implicam

necessariamente em melhorias nos processos de manipulação e garantia de qualidade dos

medicamentos manipulados. Para melhorias no processo de manipulação e na qualidade dos

produtos ofertados é essencial uma cultura de qualidade por parte dos profissionais

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farmacêuticos e de todos envolvidos na manipulação e dispensação dos produtos e o

cumprimento das Boas Práticas de Manipulação.

No que diz respeito à fiscalização das farmácias magistrais, os resultados deste estudo

demonstram a necessidade de se reavaliar os procedimentos adotados, dado o alto índice de

insatisfatoriedade de medicamentos manipulados analisados, que seriam ofertados à

população. O monitoramento da qualidade dos medicamentos manipulados, nos moldes do

que foi inicialmente feito nos anos de 2011 e 2012, mas englobando estabelecimentos de todo

o Estado de Minas Gerais deve ser incentivado. Afinal, pelas análises de medicamentos

manipulados é possível observar se os estabelecimentos estão realmente implantando na

prática os procedimentos padrão estabelecidos, as especificações elaboradas e toda a

documentação pertinente, ou seja, se realmente estão atendendo às Boas Práticas de

Manipulação e consequentemente obtendo produtos de qualidade.

As análises por ativação neutrônica realizadas nas amostras dos medicamentos

manipulados detectaram e quantificaram uma série de elementos químicos (Al, As, Br, Ca,

Ce, Cl, Co, Cr, Fe, Hf, La, Mg, Mn, Mo, Na, Re, Sb, Sc, Sm, Sr, Ta, Th, Ti, U, Zn), ainda

que em baixas concentrações, o que reforça a hipótese de que esses elementos não são

controlados pelo sistema de qualidade e sugere que o controle de qualidade quanto à pureza

dos insumos e medicamentos deve ser aprimorado.

Em conclusão, os resultados aqui apresentados confirmam a necessidade de ações

rápidas e eficientes pelas autoridades do sistema público de saúde para possibilitar a garantia

da qualidade dos medicamentos manipulados, valendo ressaltar que a farmácia magistral tem

papel social importante, permitindo obtenção de medicamentos não disponíveis

industrialmente.

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