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COMITÊ CIENTÍFICO

Anderson Sasaki Vasques Pacheco

Cristina Martins

George Wilson Aiub

Karin Vieira da Silva

Raul Oto Laux

Simone Sartori

COMITÊ ORGANIZADOR

George Wilson Aiub

Raul Oto Laux

Simone Sartori

Sidnei Gripa

Curso de Administração UNIFEBE

Núcleo de Estudos e Pesquisas em Empreendedorismo e Inovação - NEPEI

Pró-Reitoria de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão - Proppex

ZEN S.A. – Indústria Metalúrgica

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3

APRESENTAÇÃO

O IV Congresso de Inovação, Tecnologia e Sustentabilidade (ITS) é um evento de caráter científico

nacional, realizado pelo Centro Universitário de Brusque – UNIFEBE com o objetivo de integrar

a universidade, a sociedade e o meio empresarial, possibilitando a apresentação de experiências de

sucesso e debates, além de prospecções nos diversos segmentos do meio empresarial e da

sociedade. O Congresso ITS foi realizado nos dias 11, 12 e 13 de setembro, em Brusque, Santa

Catarina.

Temas abordados

Produção sustentável e tecnologias limpas

Startups e redes de cooperação

Gestão e inovação

Consumo sustentável

Palestras

11/09/2017

Palestra 1 - Introdução aos ODS: enfoque ao Objetivo "energia limpa e acessível"

Palestrante: Felipe Costa

Palestra 2 - Energia Solar: Desafios e Oportunidades

Palestrante: Carlos Eli Faraco Modesto - Prisma Energia Solar

Palestra 3 - Redes de Inovação e Startups

Palestrante: Rui Luiz Gonçalves - Rede Catarinense de Inovação - RECEPETI

12/09/2017

Palestra 1- Propriedade Intelectual e inovação

Palestrante: Dr. Araken Alves de Lima - Instituto Nacional da Propriedade Industrial

Palesta 2 - A relevância dos ODS para planejamentos Municipais

Palestrante: Marcus Polette - Universidade do Vale do Itajaí - UNIVALI

13/09/2017

Mesa redonda: A inovação nas organizações: uma estratégia para a competitividade em um

cenário de mudanças

Palestantes:

Gabriela Fiates – Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC

Paulo Roberto Boff - Universidade do Sul de Santa Catarina - UNISUL

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4

SUMÁRIO

COMITÊ CIENTÍFICO ......................................................................................................... 2

SESSÃO TEMÁTICA – GESTÃO DE OPERAÇÕES E MANUFATURA ENXUTA ..... 6

IMPLEMENTAÇÃO DE PRODUÇÃO ENXUTA EM PEQUENAS EMPRESAS: UMA

ANÁLISE SOB A ÓTICA DE DINÂMICA DE SISTEMAS .............................................. 7

THE RELATIONSHIP BETWEEN LEADERSHIP AND ORGANIZATIONAL CULTURE

FOR SUCCESSFUL LEAN MANUFACTURING IMPLEMENTATION ........................ 20

IMPLEMENTAÇÃO DA CADEIA DE SUPRIMENTO ENXUTA: UMA PESQUISA

EMPÍRICA SOBRE O EFEITO DO CONTEXTO ............................................................. 33

O EFEITO MODERADOR DO JUST-IN-TIME NA RELAÇÃO ENTRE PRÁTICAS SOCIO-

TÉCNICAS E A PERFORMANCE DA QUALIDADE E SAÚDE DOS TRABALHADORES

.............................................................................................................................................. 47

IMPLEMENTAÇÃO DA PRODUÇÃO ENXUTA E INDÚSTRIA 4.0 EM EMPRESAS

BRASILEIRAS DE MANUFATURA................................................................................. 62

CADEIA DE SUPRIMENTOS ENXUTA: UM ESTUDO SOBRE A RELAÇÃO DE SUAS

PRÁTICAS ........................................................................................................................... 80

PRÁTICAS ENXUTAS E O GERENCIAMENTO DA CADEIA DE SUPRIMENTOS EM

SERVIÇOS DE SAÚDE: UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ........................................ 97

SESSÃO TEMÁTICA - EMPREENDEDORISMO E INOVAÇÃO .............................. 113

EMPREENDEDORISMO E PSICOLOGIA: UM ESTUDO ACERCA DA IMPORTÂNCIA

DO PERFIL EMPREENDEDOR ...................................................................................... 114

A RELAÇÃO ENTRE A PRÉ-INTERNACIONALIZAÇÃO DAS PEQUENAS E MÉDIAS

EMPRESAS E OS RECURSOS PARA INOVAÇÃO ...................................................... 127

INOVAÇÃO SOCIAL NUMA ONG SITUADA NO SUL DO BRASIL: PRÁTICAS DE

RECONHECIMENTO, EMPODERAMENTO E INCLUSÃO ........................................ 140

O EMPREENDEDORISMO INTERNACIONAL NA GESTÃO DE UMA MICROEMPRESA

............................................................................................................................................ 154

INOVAÇÕES SOCIAIS VOLTADAS AO BEM-ESTAR ANIMAL: UM ENSAIO TEÓRICO

............................................................................................................................................ 167

INOVAÇÃO SOCIAL E ECONOMIA CRIATIVA: UMA DISCUSSÃO TEÓRICA NA

PERSPECTIVA DAS TRANSFORMAÇÕES SOCIAIS ................................................. 180

SESSÃO TEMÁTICA - SUSTENTABILIDADE E NEGÓCIOS SOCIAIS .................. 193

MODA SUSTENTÁVEL: A IMPORTÂNCIA DA REUTILIZAÇÃO E DO

REAPROVEITAMENTO PARA DIMINUIR OS IMPACTOS AMBIENTAIS ............. 194

PROJETO DE UMA UNIDADE INDUSTRIAL DE FILAMENTOS DE POLIÉSTER A

PARTIR DA RECICLAGEM DE GARRAFAS PET ....................................................... 210

ANÁLISE DE SERVIÇO DE ENERGIA SOLAR FOTOVOLTAICA COMPARTILHADA

NO BRASIL ....................................................................................................................... 226

IDENTIFICAÇÃO DE TENDÊNCIAS E LACUNAS DE PESQUISA DA GESTÃO DA

CADEIA DE SUPRIMENTOS SUSTENTÁVEL ............................................................ 239

VIABILIDADE DA IMPORTAÇÃO DE PAINEL SOLAR PARA O MERCADO

BRASILEIRO .................................................................................................................... 251

ANÁLISE DE INDICADORES DE LOGÍSTICA REVERSA EM RELATÓRIOS DE

SUSTENTABILIDADE: ESTUDO DE CASO EM UMA REDE VAREJISTA DO BRASIL

............................................................................................................................................ 264

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5

PESQUISA BIBLIOGRÁFICA SOBRE A GESTÃO SUSTENTÁVEL DA CADEIA DE

SUPRIMENTOS: ANÁLISE DE PROPOSTAS PARA MONITORAMENTO DA TRÍADE DA

SUSTENTABILIDADE ..................................................................................................... 277

INTERLOCUÇÕES ENTRE SUSTENTABILIDADE E MODA: EXPOSIÇÃO DE UM

MÉTODO DE ENSINO-APRENDIZAGEM .................................................................... 290

ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO HUMANO E OS DESAFIOS DA EDUCAÇÃO DA

ASSOCIAÇÃO DOS MUNICÍPIOS DO ALTO VALE DO RIO DO PEIXE ................. 300

SESSÃO TEMÁTICA – GESTÃO DE NEGÓCIOS E ESTRATÉGIA ......................... 314

ORGANIZAÇÕES VIRTUAIS E EMPRESAS VIRTUAIS: ANÁLISE DE REDES

COLABORATIVAS POR MEIO DE REVISÃO SISTEMÁTICA DA LITERATURA . 315

VIRTUAL ORGANIZATIONS AND VIRTUAL ENTERPRISE: ANALYSIS OF

COLLABORATIVE NETWORKS THROUGH A SYSTEMATIC REVIEW OF THE

LITERATURE ................................................................................................................... 315

UM MODELO DE GESTÃO DA QUALIDADE PARA PROCESSOS DE ECONOMIA

COMPARTILHADA: UM ESTUDO DE CASO SOBRE A BLABLACAR ................... 328

SISTEMA ALERTA VERMELHO DE BRUSQUE ......................................................... 342

ANÁLISE DE COMPETÊNCIAS DE LIDERANÇA E CHEFIA MILITAR EM SARGENTOS

DE UMA COMPANHIA DE BOMBEIROS MILITAR DO VALE DO ITAJAÍ/SC ...... 351

MOTIVAÇÕES E RESISTÊNCIAS PARA A UTILIZAÇÃO DO MOBILE BANKING 363

ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DO LÍDER NA EMPRESA RC.CONTI ............. 379

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6

SESSÃO TEMÁTICA – GESTÃO DE OPERAÇÕES E MANUFATURA

ENXUTA

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7

IMPLEMENTAÇÃO DE PRODUÇÃO ENXUTA EM PEQUENAS EMPRESAS: UMA

ANÁLISE SOB A ÓTICA DE DINÂMICA DE SISTEMAS

Laís do Nascimento Ghizoni Pereira1

Mauricio Uriona Maldonado2

Guilherme Luz Tortorella3

RESUMO: As empresas para se manterem competitivas necessitam buscar preço baixo, qualidade,

entrega e flexibilidade, o que vem ocasionando profundas modificações nos sistemas de

manufatura. Em especial, as pequenas empresas, devido ao baixo grau de padronização e

formalização, e da gestão com foco em curto prazo, necessitam de estratégias de melhoria contínua

dentro de seus processos, a fim de minimizar custos e prazos de entrega. A implementação da

Produção Enxuta (PE) torna-se uma alternativa para o atingimento da melhoria contínua. Há

escassez de estudos que analisam a implementação da PE sob a perspectiva de um problema

complexo, no qual há o envolvimento de vários aspectos relacionados aos fatores críticos de

sucesso (FCS), barreiras e práticas enxutas em uma mesma empresa. Logo, a simulação de cenários

vem de encontro com tal necessidade ao proporcionar a simulação de um modelo simplificado da

realidade. Para a simulação de um modelo mental criado para a implementação da PE foi utilizada

a teoria de dinâmica de sistemas a fim de entender as relações não lineares das práticas, barreiras e

FCS relativos à implementação enxuta em pequenas empresas.

Palavras-chave: Produção Enxuta, Pequenas Empresas, Fatores Críticos de Sucesso, Dinâmica de

Sistemas.

ABSTRACT: Companies to remain competitive need low price, quality, delivery and flexibility,

which has led to profound changes in manufacturing systems. In particular, small companies, due

to the low degree of standardization and formalization, and short-term focused management, need

continuous improvement strategies within their processes in order to minimize costs and lead times.

The implementation of lean production (PE) becomes an alternative for achieving continuous

improvement. There is a paucity of studies analyzing the implementation of PE from the perspective

of a complex problem in which there is the involvement of several aspects related to the critical

success factors (FCS), barriers and lean practices in the same company. therefore, the simulation

of scenarios meets this need by providing the simulation of a simplified model of reality. For the

simulation of a mental model created for the implementation of PE, the system dynamics theory

was used in order to understand the nonlinear relations of practices, barriers and fscs regarding

lean implementation in small companies.

Keywords: Lean Production, Small Enterprises, Critical Success Factors, Systems Dynamics.

1 INTRODUÇÃO

Antony et al. (2005) dizem que “As PMEs são a força vital das economias modernas”.

Levando para níveis internacionais, as PMEs são de suma importância para a economia Europeia.

Em alguns países da Europa estas representam mais de 60% do total de empresas, o que revela

grande parte da força de trabalho total, contribuindo com uma proporção significativa de criação

de valor na economia do continente (volume de negócios anual estimado em £ 1 trilhão) (DORA,

2013). Na análise dos dados das pequenas empresas em termos nacionais, observa-se um

crescimento nos últimos 10 anos, o que revela um importante papel no cenário socioeconômico

1 Mestranda em Engenharia de Produção do PPGEP - UFSC. E-mail: [email protected] 2 Professor. PPGEP - UFSC E-mail: [email protected] 3 Professor. PPGEP- UFSC E-mail: [email protected]

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8

brasileiro (SEBRAE, 2014).

Achanga et al. (2006) comentam que a maioria das PMEs ao entrarem em novos mercados

revelam-se vulneráveis perante seus concorrentes, uma vez que há poucas barreiras para novos

entrantes e estas geralmente têm pouco poder de barganha diante de seus clientes. A aplicação de

produção enxuta em empresas de pequeno porte apresenta-se restrita pelo alto custo de

implementação, e pela falta de recursos tanto financeiros como de competências (ANTONY et al.,

2005). Este problema pode ser ainda mais agravado pela incerteza dos custos de implementação e

dos prováveis tangíveis ou intangíveis benefícios os quais podem ser alcançados. Porém com base

em fatores críticos de sucesso (FCS) as incertezas podem ser minimizadas e evidenciados pontos

de atuação para um retorno ótimo da implementação da produção enxuta (BAKAS et al., 2011).

Walter e Tubino (2013) mencionam que não somente a implementação de PE é pouco

pesquisada, mas sua avaliação ao longo da mudança. Aspectos quantitativos, tais como ganhos

financeiros no decorrer da implementação, após a cultura da melhoria contínua instalada, e aspectos

socioculturais das empresas, tais como administração de recursos humanos, desenvolvimento de

liderança, trabalho em equipe, treinamentos e envolvimento de colaboradores, são pouco avaliados

no mundo científico (VECCHI; BRENNAM, 2011). Além disso, há escassez de estudos que

analisam a implementação da PE sob a perspectiva de um problema complexo, no qual há o

envolvimento de vários aspectos relacionados aos FCS, barreiras e práticas enxutas em uma mesma

empresa (SEIDEL; SAURIN, 2015; PEREIRA, 2009). A simulação de cenários vem de encontro

com tal necessidade ao proporcionar a simulação de um modelo simplificado da realidade, de um

sistema ao longo do tempo, com o propósito de adquirir maior compreensão das variáveis desse

sistema, de maneira a identificar as situações favoráveis para a PE em pequenas empresas

(STERMAN, 2000).

Assim, a intenção deste trabalho de pesquisa consiste em propor um método de avaliação

da implementação enxuta em pequenas empresas a partir da elaboração de um modelo de dinâmica

de sistemas. Neste sentido, busca-se responder as questões: Quais os fatores críticos de sucesso,

barreiras para a implementação enxuta em pequenas empresas de manufatura, bem como as

práticas mais utilizadas nesse contexto? Qual o modelo teórico de simulação indicado para a

implementação da produção enxuta em pequenas empresas?

Desta forma, o presente artigo visa identificar os principais FCS, barreiras e práticas para a

implementação da PE em uma pequena empresa, bem como a elaboração das relações entre tais

variáveis sob a ótica de uma ferramenta de simulação de cenários. A seção 2 fornece uma revisão

da literatura sobre implementação de PE em pequenas empresas, bem como os FCS, barreiras e

práticas enxutas e de conceitos referentes simulação. A seção 3 descreve o método proposto para

o desenvolvimento sistema estoque e fluxo, com os resultados de sua aplicação na seção 4. A seção

5 encerra o trabalho apresentando as conclusões e oportunidades para futuros trabalhos.

2 REFERENCIAL TEÓRICO

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2.1. IMPLEMENTAÇÃO DE PE EM PEQUENAS EMPRESAS

A busca pela melhoria contínua tem sido fator chave para a implementação de princípios

da PE nas empresas, a qual vem sendo amplamente difundida nos mais diversos segmentos,

contextos organizacionais e acadêmicos. Identificar o fluxo de valor, estabelecer um fluxo contínuo

de materiais e informações, eliminar desperdícios e atividades que não agregam valor são os

objetivos princípios da filosofia da PE a qual busca a perfeição do processo por meio de melhoria

contínua (OHNO, 1998; OKIMURA, 2013).

Além disso, Shah e Ward (2003) afirmam que o contexto das empresas deve ser levado em

consideração ao implementar a PE. Dentre as variáveis contextuais identificadas, o porte da

empresa destaca-se como potencial influência para o nível de adoção das práticas e princípios

enxutos. Nesse sentido, diversas evidências na literatura abordam a importância do efeito do porte

das empresas sobre a implementação da PE, bem como a identificação das variáveis relacionadas

às (i) práticas enxutas; aos (ii) FCS ou as (iii) barreiras da implementação da PE em pequenas

empresas, p.ex. SHAH; WARD (2003); ANTONY et al. (2005); ACHANGA et al. (2006); SIM;

ROGERS (2008); KUMAR et al. (2009); NORDIN et al. (2010); BAKAS et al. (2011); DORA et

al. (2013); MARODIN et al. (2015); SAURIN et al. (2010); TORTORELLA (2015); ZHOU

(2016).

De acordo com Dora et al. (2014) e Zhou (2016) algumas práticas requerem maior

investimento de recursos que outras, o que eventualmente pode dificultar sua aplicação em

empresas de pequeno porte cuja a alocação de recursos apresenta-se mais restrita. Assim, de modo

a facilitar a implementação de tais práticas, os gestores dessas empresas tendem a alocar um grupo

de trabalho específico para direcionar sua implementação, desenvolvendo soluções de baixo custo

e alto impacto no desempenho do negócio. Uma das práticas de maior incidência nas pequenas

empresas é a produção puxada, o que se justifica pela restrição das pequenas empresas em relação

a área física, a qual tende a ser limitada. Nesse sentido, produzir apenas conforme a demanda torna-

se essencial devido tal limitação, visto que estocar produtos em excesso é fisicamente inviável

(MATT; RAUCH, 2013).

As outras duas práticas com frequência na literatura caracterizam-se por sua origem no Japão,

são elas a Manutenção produtiva total (TPM) e o Kaizen (ZHOU, 2016). Segundo Belhadi et al.

(2016) a TPM tem como objetivo eliminar as perdas geradas no fluxo de produção através da união

dos setores de manutenção e produção, além de prevenir as falhas durante o processo. E para a

manutenção da cultura da PE, o Kaizen incentiva, através dos grupos liderados pelos próprios

funcionários, a constante busca pela melhoria contínua, de modo a implementar de ideias simples

e de resultado rápido (DOOLEN; HACKER, 2005)

Assim como a identificação das principais práticas, a importância da identificação dos FCS

caracteriza-se por auxiliar a gestão na implementação enxuta a fim de garantir o sucesso de

qualquer organização neste processo. Contudo, se os objetivos almejados para estes FCS não são

alcançados, a organização terá maior probabilidade de falhar (ACHANGA et al., 2006).

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10

Especificamente no contexto das pequenas empresas, as lideranças tendem a acumular atividades

e funções operacionais, reduzindo sua disponibilidade para voltarem-se ao planejamento de

melhorias. Portanto, é razoável esperar que o desenvolvimento adequado das lideranças de

pequenas empresas seja um FCS de destaque para a implementação da PE (ANTONY et al., 2005;

BAKAS et al., 2011).

Outro FCS apresentado na literatura está relacionado às lideranças principalmente por

depender dos líderes a motivação para mudança na cultura organizacional. Especificamente no caso

de pequenas empresas, a alta gerência costuma ser integrada pelos próprios sócios das empresas, o

que ressalta ainda mais a sua influência na construção dessa cultura (ACHANGA et al., 2006).

Contudo, o desenvolvimento desse FCS pode ser influenciado com aspectos regionais típicos da

localização em que a empresa está situada (NETLAND, 2016), fatores socioeconômicos (p.ex.:

países emergentes ou desenvolvidos) (TORTORELLA, 2015), e segmento industrial no qual a

empresa está inserida (YEW WONG, 2005).

De uma maneira geral, a pouca ênfase nesses FCS tende a configurar uma barreira para a

implementação da PE. Ainda assim, cabe destacar algumas barreiras complementares à ausência

da liderança e da cultura no processo de implementação enxuta. Uma dessas barreiras está

relacionada à falta de compreensão dos benefícios relacionados ao processo da PE, seja de ordem

técnica ou de natureza sociocultural, quanto às vantagens e resultados da implementação da PE

(KUMAR et al., 2014; MARODIN; SAURIN, 2015). Vinculada à falta de entendimento dos

benefícios da PE, foi identificado na literatura a resistência à mudança por parte dos funcionários,

os quais não acreditam nos projetos de melhoria contínua por falta de conhecimento e acabam

barrando o desenvolvimento do mesmo gerando desmotivação dentro das pequenas empresas

(SIM; ROGERS 2008; SAURIN et al., 2010).

O comportamento do processo de implementação enxuta pode ser analisado por meio de

diversas perspectivas, sendo a simulação de modelos uma maneira de ampliar o entendimento do

sistema de maneira sistêmica ao longo do tempo (SAURIN et al., 2010). Logo a seção a seguir

apresenta breve revisão a respeito do tema simulação.

2.2 SIMULAÇÃO

Com o objetivo de auxiliar na tomada de decisões a simulação de cenários revela-se uma

ferramenta de uso estratégico dentro das organizações, de maneira a desenhar o funcionamento de

sistemas e processos complexos (SHANNON, 1998). Banks (2000) afirma que a simulação é uma

maneira de imitar o comportamento de um modelo de um sistema real ao longo do tempo. Sendo

assim os modelos são desenvolvidos com base no mundo real, de maneira hipotética para simular

comportamentos, podendo ser classificados como contínuos ou discretos e estáticos ou dinâmicos

(MARIA, 1997).

Segundo Sterman (2006) a criação de modelos contínuos e dinâmicos com base em sistemas

reais gera simplificações impedindo que o modelo seja uma representação perfeita da realizade,

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11

inclusive muitos nascem errados e com divergências dessa realidade, para que se possa ao longo

do tempo de maneira a observar eventos contínuos e identificar pontos de melhoria. A simulação

de modelos contínuos preocupa-se com o comportamento das variáveis, inclusive com suas

mudanças graduais ao longo do tempo e nao em eventos discretos. Esse tipo de simulação costuma

utilizar sistemas de equações diferenciais para modelar o comportamento dinâmico das variáveis,

conhecida como Dinâmica de Sistemas (DS) (MALDONADO, 2008). Assim como uma

companhia aérea usa simuladores de vôo para ajudar os pilotos a aprender, a DS é, em parte, uma

método para desenvolver simuladores de vôo para o gerenciamento e tomadas de decisão

(STERMAN, 2000).

Fundamentada na teoria da dinâmica não-linear e controle de feedback, a DS utiliza de

conceitos em matemática, física e engenharia, além da observação do comportamento humanos.

Explora também a psicologia cognitiva e social, em conjunto com o comportamento da economia

e outros aspectos sociais. Sendo assim a complexidade dos problemas analisados sob a ótica da DS

são extensos, de modo que uma abordagem bem sucedida de sistemas dinâmicos complexos requer

uma representação clara do modelo mental, método de simulação para testar e melhorar o modelo

mental, e aprimoramento prático com base nos cenários desenvolvidos pelo modelo (STERMAN,

2000).

Para a ilustração dos modelos a DS utiliza-se do mecanismo de feedback loops de maneira

a ilustrar o reforço de certas variáveis, as quais tendem a amplificar o efeito do sistema, e os

mecânicos de equilíbrio que se opoem à mudança (MALDONADO, 2008). A ilustração deste

sistema dentro da teoria de DS é representada pelos diagramas de estoque e fluxos. Vários autores

utilizam a analogia do fluxo de água para explicar o que são os estoques e os fluxos, sendo os

estoques o tanque que armazena a água, e os fluxos apresentam as torneiras como entrada de água

e os canos de escoamento para a saída da água (STERMAN, 2000). Um exemplo de diagrama de

estoque e fluxo é representado na Figura 1, identificando os diferentes elementos que o compõem.

Figura 1 – Exemplo de diagrama de estoque e fluxo.

Fonte: MALDONADO (2008)

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O uso da DS dentro do contexto da PE revela-se um tema recente, pesquisado por poucos

autores por p. ex. RODRIGUES et al. (2013); KHATAIE; BULGAK (2013); OMOGBAI;

SALONITIS (2016 e 2017), sendo tais estudos voltados à avaliação do desempenho de práticas

enxutas dentro do processo produtivo, com seus estoques e fluxos usuais para uma dada cadeia de

suprimentos. A recente interação da PE com a DS abriu um leque de oportunidades de pesquisa,

sendo o desenvolvimento teórico de um modelo que ilustre o comportamento das variáveis

relacionadas à implementação de PE no contexto das pequenas empresas uma lacuna a ser

pesquisada e desenvolvida. O procedimento metodológico para o desenvolvimento do modelo

mental proposto será apresentado na seção a seguir.

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

3.1 CATEGORIZAÇÃO DA PESQUISA E MÉTODO

Segundo Silva e Menezes (2005), este trabalho de pesquisa apresenta natureza do tipo

teórica e aplicada, pois busca informações teóricas na definição dos FCS, barreiras e práticas da

PE, sendo que a partir dessas variáveis, gera conhecimento de aplicação prática ao propor a

simulação de um modelo para a implementação de PE em pequenas empresas. Esta pesquisa utiliza

dados primários obtidos como produto das simulações no modelo proposto. Seu ambiente é de

laboratório, já que o modelo proposto é testado mediante simulações computacionais. Sendo a

finalidade desta pesquisa explicativa, visto que se tenta identificar as relações causais ou de

influência no comportamento do objeto de estudo.

Quanto à abordagem do problema, este estudo enquadra-se como uma pesquisa

quantitativa, uma vez que a utiliza modelos de simulação matemáticos e simulações quantitativas

por computador (CRESWELL, 2010). No entanto, o modelo proposto será desenvolvido seguindo

uma abordagem sistêmica, necessária quando os elementos que compõem a estrutura dinâmica de

uma pesquisa apresentam forte relação entre si, sendo que a compreensão deste tipo de pesquisa só

existe na interação entre eles e não de forma isolada (SILVA; MENEZES, 2005).

3.2 DESCRIÇÃO DO MÉTODO

Segundo Sterman (2000) para o processo de modelagem em DS deve-se seguir as seguintes

etapas: (i) identificação e definição do problema; (ii) construção do diagrama de enlaces causais e

do modelo; (iii) análise dos experimentos; (iv) formulação da política e avaliação do sistema.

O referencial teórico apresentado na seção 2, foi obtido com artigos científicos publicados

nas bases de dados disponíveis pela CAPES. O problema identificado foi com base na constatação

de poucos trabalhos que tratam sob a ótica da DS as relações não lineares da PE no contexto das

pequenas empresas.

O problema consiste na construção de um modelo que represente o processo de

implementação da PE no contexto das pequenas empresas. Como variáveis que influenciam esse

processo foram identificadas as práticas enxutas, os FCS e as barreiras de maior relevância para as

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13

pequenas empresas, a Tabela 1 revela quais são essas variáveis.

Tabela 1 – Variáveis do sistema

Principais variáveis do sistema Referência

Práticas

Produção Puxada

KUMAR et al., (2006); SAURIN et al., (2010); MATT; RAUCH,

(2013); BHAMU; SINGH, (2014); DOMBROWSKI; MIELKE,

(2014); DORA et al., (2014); ABOLHASSANI et al., (2016);

BELHADI et al., (2016)

TPM

SHAH; WARD, (2003); WONG et al., (2009); ROSE et al.,

(2013); BHAMU; SINGH, (2014); KUMAR et al., (2014);

ABOLHASSANI et al., (2016); BELHADI et al., (2016); ZHOU

(2016)

Kaizen

SANCHEZ; PEREZ, (2001); KUMAR et al., (2006); KUMAR et

al., (2009); ANAND; KODALI, (2010); DOMBROWSKI et al.

(2010); BELHADI et al., (2016)

FCS

Liderança

ANTONY et al., (2005); ACHANGA et al., (2006);

HALLGREN; OLHAGER, (2009); ANAND; KODALI, (2010);

BAKAS et al., (2011); DORA et al., (2013); BHAMU; SINGH,

(2014); DOMBROWSKI; MIELKE, (2014); BELHADI et al.,

(2016); GODINHO et al., (2016)

Cultura

ACHANGA et al., (2006); ANAND; KODALI, (2010); SAURIN

et al., (2010); BAKAS et al (2011); NORDIN et al., (2012);

TIMANS et al., (2012); DOMBROWSKI; MIELKE, (2014);

BELHADI et al., (2016)

Barreiras

Falta de compreensão

benefícios quantificados

(desmotivação)

BAKAS et al (2011); BHASIN, (2012); BHAMU; SINGH,

(2014); ABOLHASSANI et al., (2016); GODINHO et al., (2016)

Resistência à mudança por

parte das pessoas

ANAND; KUMAR et al., (2009); KODALI, (2010); BAKAS et

al (2011); ZHOU (2016); ABOLHASSANI et al., (2016)

O processo de implementação da PE visa atingir a melhoria contínua dentro das

organizações, o que depende diretamente das taxas de interesse da alta gerência, das práticas

definidas para a implementação, além da taxa de recursos que se tem disponível, seja em recursos

financeiros ou em pessoas. O horizonte temporal que se deseja simular é da situação atual ao futuro,

podendo identificar quantos meses são necessários para um processo de implementação enxuta

eficaz nesse contexto.

Para a construção do diagrama de enlaces causais utilizou-se o software Stella 9.0.1. Os

estoques foram definidos como a implementação enxuta, iniciando com um valor 100 de estoque

e a melhoria contínua, iniciando com valor 5 de estoque, pois as pequenas empresas que buscam a

implementação enxuta apresentam baixo estoque de melhoria contínua, visto que o processo está

iniciando. Para facilitar o entendimento, pode-se comparar com um processo de produção usual,

sendo o primeiro estoque o de produtos em produção e o segundo estoque de produtos acabados.

A Figura 2 ilustra o diagrama desenvolvido para esse modelo mental.

A taxa de interesse representa o fluxo de entrada no processo de implementação da PE, está

taxa é definida pelo valor absoluto da soma das variáveis de entrada (Barreira 1, Barreira 2,

Liderança e Cultura; conforme Tabela 1), cada uma dessas variáveis apresenta um comportamento

ao longo do tempo. Contudo, os comportamentos humanos são difíceis de identificar como funções

específicas, portanto foi atribuído para cada variável um gráfico de comportamento, com base nas

discussões e estudos de casos identificados na literatura, estes Gráficos estão ilustrados na Figura

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14

2.

Figura 2 – Diagrama de fluxo e estoque

A taxa de recursos disponíveis representa o fluxo de saída do processo de implementação

enxuta e contribui com o decaimento do mesmo, visto que a função de um sistema é representada

pela integral das entradas menos as saídas. As variáveis pessoas e financeiro são as entradas para

a taxa de recursos disponíveis os quais variam de acordo com a disponibilidade de cada empresa,

sendo que a medida que se atinge a melhoria contínua o lucro começa a incrementar a variável

financeira aumentando a disponibilidade de recursos a investir ou investidos.

As práticas enxutas são relacionadas como variáveis exógenas e sua relação é direta ao

estoque, pois as mesmas são consideradas independentes entre si. Já a cultura enxuta apresenta um

loop positivo, pois à medida que a cultura aumenta, o estoque aumenta, atingindo o aumento do

estoque final a “melhoria contínua”, de maneira a diminuir a taxa de interesse visto que a medida

que se cria um sistema de melhoria contínuo o processo de implementação da PE encontra a

estabilidade.

Figura 3 - Gráficos das variáveis do sistema

Cada gráfico da Figura 3 foi atribuído de maneira hipotética com base na evolução das

características de cada variável a partir do identificado pela literatura. Com base nos parâmetros

descritos foi realizada a análise dos experimentos a fim de identificar as relações não-lineares no

processo de implementação da PE. Os resultados das simulações serão apresentados na seção 4.

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15

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

Após a elaboração do modelo com base nas variáveis e nas relações do diagrama de estoque

e fluxo, descritos na seção anterior, foi realizada a simulação, o horizonte de tempo utilizado foi

de 48 meses, considerado um tempo médio para o processo de implementação enxuta. A Figura 4

ilustra a simulação do modelo proposto. Pode-se observar o comportamento das curvas de estoques

e taxa de recursos disponíveis, sendo que estas curvas são conhecidas dentro da DS.

Figura 4 – Simulação do modelo proposto

A implementação da PE caracteriza-se por uma curva em estabilização, sendo o resultado

do efeito de laços de balanceamento (negativos) os quais regulam ou estabilizam o comportamento

do sistema, levando-o a um determinado estado desejado. A interação das barreiras as quais tendem

a diminuir com o processo de implementação enxuta e em contrapartida dos FCS (Liderança e

Cultura) os quais aumentam durante a evolução do sistema geram a curva de estabilidade do

modelo em simulação. Um loop de realimentação positiva foi incrementado ao conectar a cultura

como uma saída do estoque, pois à medida que se evolui no processo de implementação da PE a

cultura enxuta começa a ser um comportamento natural tanto dos líderes como dos colaboradores

da pequena empresa como um todo.

A curva da melhoria contínua apresenta um comportamento de uma crescente exponencial,

essa curva é o resultado do efeito de reforço positivo, onde a taxa de crescimento é constante,

produzindo um crescimento exponencial, ou seja, os laços dominantes são de reforço positivo.

Conforme a evolução da implementação enxuta em pequenas empresas apresenta seus sinais de

melhoria dentro do processo produtivo, os gestores tendem a alocar mais pessoas para o aumento

deste estoque, sendo que tal estoque tem por base o constante crescimento de maneira a ser uma

melhoria contínua no longo prazo.

Por fim, tem-se a análise da taxa de recursos disponíveis, a qual apresenta uma típica curva

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16

S, sendo esta, o resultado da interação dos laços positivos e negativos. A aproximação do ‘Estado

do Sistema’ para a ‘capacidade de carga sistema’ reduz a dominância do laço positivo

(crescimento) para aumentar a dominância do laço negativo (balanceamento). Pode-se concluir

com tal comportamento que o sistema estabiliza à medida que se atinge o lucro o qual realiza o

loop de realimentar o sistema de modo a estabilizá-lo no longo prazo.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em virtude do crescente aumento das pequenas empresas nos últimos 10 anos, cuja

influência vem ganhando expressão econômica tanto no cenário nacional quanto internacional, a

busca pelo aumento da eficiência e produtividade de seus processos torna-se essencial para atender

as demandas de mercado e garantir competitividade. Nesse sentido, a adoção de princípios e

práticas da PE podem auxiliar na identificação de desperdícios que não agregam valor ao cliente,

culminando na redução dos custos operacionais. No entanto, é necessário que a organização seja

capaz de identificar quais práticas da PE são adequadas ao seu contexto, bem como o enfoque dado

aos FCS para sua implementação, visando garantir a construção de uma cultura propícia e reduzir

as eventuais barreiras subjacentes ao processo de transformação da empresa.

Portanto, esta pesquisa teve como objetivo a identificação das práticas, barreiras e FCS

relacionados a implementação da PE em pequenas empresas. Sendo que a apresentação de uma

revisão bibliográfica sólida e de relevância no mundo científico proporcionou a base para a

identificação das principais variáveis a fim de gerar um modelo de estoque e fluxo para entender o

comportamento complexo de suas interações.

O sistema proposto apresenta uma conclusão teórica acerca do comportamento das

variáveis dentro do modelo, de modo que a simulação gerou conclusões intuitivas a respeito do

modelo de estoque e fluxo evidenciado. Logo, como sugestão para pesquisas futuras tem-se a

possibilidade de validar o comportamento das variáveis de entrada em um estudo de caso real,

gerando novos cenários para o processo de implementação enxuta.

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THE RELATIONSHIP BETWEEN LEADERSHIP AND ORGANIZATIONAL

CULTURE FOR SUCCESSFUL LEAN MANUFACTURING IMPLEMENTATION

Guilherme Tortorella1

Diego Fettermann2

Amanda Gundes de Almeida3

RESUMO: The purpose of this article is to identify the association between leadership styles and

Organizational Culture (OC) characteristics that best support companies undergoing lean

implementation. Thereunto was analyzed data collected through a survey carried out with 225

leaders from companies of different sizes and sectors, at different stages of lean implementation.

Respondents were asked to provide answers to three questionnaires: Q1, which assessed the

implementation level of 14 Lean Manufacturing practices frequently mentioned in the literature in

the firm; Q2, which is the situational leadership questionnaire proposed by Blanchard (2010),

aimed at identifying the respondent’s leadership style and behaviors; and Q3, which assessed the

Organizational Culture profile. This type of information is quite relevant, since changes in

leadership behaviors usually take time and are usually easier to manage than changes in the OC. It

is thus important to understand existing opportunities and have a clear vision of current gaps within

the company helping companies to design their lean transformation considering the behavioral and

cultural change as an inherent issue of the transient process towards a lean enterprise.

Palavras-chave: Leadership styles, Organizational culture, Lean implementation.

1 INTRODUÇÃO

A successful lean manufacturing (LM) implementation is highly dependent on people,

both leaders and followers, regardless of the kind of organization in which it takes place

(SAWHNEY; CHASON, 2005). LM is grounded on two key principles: continuous improvement

and respect for people (EMILIANI; STEC, 2005). The former encompasses practices and

techniques used to improve quality and productivity (OHNO, 1988); the latter is comprised of

leadership behaviors and business practices that must be consistent with efforts to eliminate waste

and create value for end-use customers (TREVILLE; ANTONAKIS, 2006). The transition from

1 Professor. Departamento de Engenharia de Produção - UFSC. E-mail: [email protected] 2 Professor. Departamento de Engenharia de Produção - UFSC. E-mail: [email protected] 3 Mestranda de Engenharia de Produção na UFSC. E-mail: [email protected]

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21

traditional mass-production to a lean enterprise calls for technical and socio-cultural changes in the

company (TORTORELLA; FOGLIATTO, 2014), and the role of leadership is fundamental to

achieve a successful result (SCHEIN, 2004) since the adoption of lean practices creates

expectations regarding leaderships’ attributes and behaviors (HOUSE et al., 2004).

For technical and socio-cultural changes to succeed, the literature on LM emphasizes the

importance of an underlying culture of LM already in the firm, viewed as a key element for its

long-term sustainability (HINES et al., 2004; BHASIN; BURCHER, 2006). In this sense, some

authors have pointed to organizational culture (OC) as the cause of the poor effectiveness of LM

(LIKER, 2004; LIKER; ROTHER, 2011). Based on this assumption, the relation between OC and

some bundles of LM practices was empirically studied, e.g., Total Quality Management (BAIRD

et al., 2011), and Just in Time (DAHLGAARD; MI DAHLGAARD-PARK, 2006). However, these

contributions are usually fragmented and show significant limitations (BORTOLOTTI et al.,

2015). On the other hand, other studies (e.g. MANN, 2009; SHOOK, 2010; MARKSBERRY,

2010; VAN DUN et al., 2016) emphasize that leaders in such plants may extend their behaviors

and leadership approach beyond LM technicalities by adopting soft practices that will nurture the

development of an appropriate lean culture. Such leaders have the responsibility of influencing

individuals and directing them to achieve strategic objectives (SETHURAMAN; SURESH, 2014).

Mann (2009) reinforces that 20% of the effort in the lean transformation process relates to the

implementation of LM practices and tools, while 80% focuses on changing leaders’ behaviors.

A question that arises from the discussion above is how specific OC characteristics are

associated with different styles of leadership for determining the firm’s success in implementing

LM. Existing literature suggests that, in order to implement a change process such as LM

successfully, firms should have transformational leaders at the top (SURESH et al., 2012). Such

leaders should emphasize on behaviors that eventually lead to the desired culture and outcomes,

which may be pursued by transactional leaders in middle management ranks (EMILIANI, 1998).

A common belief is that leaders in companies undergoing LM implementation should be

cooperative, delegators, and excellent motivators of personnel (ANGELIS et al., 2011). However,

detailed descriptions of the desirable attributes and styles of leadership along the evolutionary

process of LM implementation are not yet available in the literature (LIKER, 2004; MANN, 2009;

ROTHER, 2009; LIKER; CONVIS, 2011; DOMBROWSKI; MIELKE, 2014).

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22

Thereby, to answer this question, this paper aims at identifying the association between

leadership styles and OC characteristics that best support companies undergoing lean

implementation. To achieve that we use data from a survey carried out with 225 leaders from

companies of different sizes and sectors, at different stages of lean implementation. Respondents

were asked to provide answers to three questionnaires: Q1, which assessed the implementation

level of 14 LM practices frequently mentioned in the literature in the firm; Q2, which is the

situational leadership questionnaire proposed by Blanchard (2010), aimed at identifying the

respondent’s leadership style and behaviors; and Q3, which assessed the OC profile according to

the classification suggested by Cameron and Quinn (2005) and identified by Pakdil and Leonard

(2015) as influential in the adoption of LM practices.

2 BACKGROUND

2.1 LM PRACTICES

LM aims at streamlining the flow of value while continually seeking to reduce the

resources required to produce a given set of products (WOMACK; JONES, 2003). LM was

conceptualized as an evolutional detachment from the precepts of traditional mass-production

manufacturing (MARODIN et al., 2015). Researchers (e.g. LIKER; MEIER, 2007) have proposed

different and complementary roadmaps for facilitating the implementation of LM. All roadmaps

propose the progressive implementation of a combination of synergistic and mutually reinforcing

practices, which have been grouped into various complementary bundles or constructs, such as JIT

(just-in-time), TQM (total quality management), TPM (total productive maintenance), CI

(continuous improvement), and HRM (human resources management) (NETLAND et al., 2015).

The selection of appropriate practices for process improvement and identification of their

applicability in different operational contexts are an important issue for researchers and

practitioners (HERRON; BRAIDEN, 2006). Regardless of the fact that LM has been adopted for

decades by companies, generalizable implementation steps have not yet emerged in the literature

(TORTORELLA et al., 2015).

2.2 LEADERSHIP PRACTICES

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23

We now present the basics of leadership styles. Situational leadership (SL) theory suggests

the existence of four basic leadership styles; they vary according to the relationship intensity

between leaders and followers, and to leaders’ behavior when confronted with a task (HERSEY

AND BLANCHARD, 1969). Leaders that are highly focused on tasks and present low relationship

intensity with followers are said to be telling or directing (S1). Such style is usually recommended

to teams in which followers cannot do the job or are unwilling to try. In those cases, the leader

should assume a highly directive role, telling followers what to do. The second style (S2,

selling/coaching), in which leaders concern both with task completion and relationship with

followers, is suitable for situations in which followers can do the job partially or entirely, and are

motivated about it. In the participating/supporting style (S3), leaders are less focused on the task,

but remain concerned with the intensity of the relationship with followers. Style S3 is prescribed

to teams in which followers are highly competent regarding the task, but unwilling or insecure to

perform it. Style S4 (delegating/observing) is characterized by low leadership focus on both task

and relationship, being indicated to teams of high performing and motivated followers, presenting

high levels of readiness (BLANCHARD et al., 1985; HERSEY et al., 2001; THOMPSON;

VECCHIO, 2009; BLANCHARD, 2010).

2.3 OC AND LM

OC is the belief system that members of an organization share, including ways of working,

traditions, stories, and acceptable methods to achieve goals (HOUSE et al., 2004; SCHEIN, 2004).

Whilst lean is concerned with reducing waste at all levels, it is also about changing such OC

(BHASIN; BURCHER, 2006). A lean culture is dedicated to developing human talent throughout

the organization to participate in continuously improving the enterprise. Thus, success is defined

not just by performance or financial metrics but by an engaged workforce producing thousands of

process improvements and continually striving for higher targets of quality (ZARBO, 2012).

An inherent problem is that firms are usually under pressure to deliver benefits within the

first year of the LM implementation (BHASIN, 2012). However, as highlighted by Liker (2004),

Emiliani (2008) and Kull et al. (2014), LM requires a long-term commitment and to consider it as

a short-term solution to an acute management crisis would be misguided. Thus, most of failures in

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24

implementing LM are attributed to the construction of a proper OC, which tends to take a longer

time than the short-term expectations (DAHLGAARD; DAHLGAARD-PARK, 2006).

3 RESEARCH METHOD

We used the following criteria to select companies and respondents. First, we targeted at

companies that were implementing lean, and geographically located in the south of Brazil, to

control the effect of environmental factors, such as availability of skilled labor. Questionnaires

were sent by e-mail to 759 former students of executive education courses on lean offered by a

large Brazilian University since 2008.

The sample presents a balanced amount of companies for each contextual variable. Most

respondents were from large companies (72%); most companies belonged to the automotive supply

chain (41%). Most respondents had up to 2 years of leadership experience (61%), and more than

30 years of age (52%). Further, most respondents were male (68%), and directly led teams

comprised of more than 5 followers (52%). Finally, regarding job position, there was a

predominance of Group Leaders (33%) within the sample.

Regarding the assessment LM practices’ implementation levels we verified non-response

bias testing differences in variances, using Levene's test, and in means of responses from early

(respondents of the first e-mail sent) and late (respondents of the two follow-up e-mails)

respondents, using a t-test (ARMSTRONG; OVERTON, 1977). We found no differences in means

and variances of the two groups, at a 95% confidence level, and our sample may be deemed

representative of the population. Further, we tested all responses related to the 14 LM practices for

reliability, determining their Cronbach’s alpha values. An alpha threshold of 0.6 or higher was used

(MEYERS et al., 2006). Responses displayed high reliability, with an overall alpha value of 0.887.

4 RESULTS AND DISCUSSION

Regarding the identification of the predominant OC dimension among the respondents,

Figure 1 displays the results for the OCAI according to the perception of the 225 respondents. The

chi-square test for frequencies confirmed the existence of statistical difference in the occurrence

frequency of OC dimensions (χ²=16.97, p-value<0.01). Most respondents (n=80) categorized their

firms’ culture as predominantly Hierarchical or results-oriented. According to Cameron and Quinn

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25

(2005), this was the predominant form of OC through the 1960s. Hierarchy culture focuses on

internal maintenance and strives for stability and control through clear task setting and enforcement

of strict rules. Hence, it tends to adopt a formal approach to relationships where leaders are good

coordinators and organizers. Our results show that the studied manufacturers’ OC seem to be

perceived according to such characteristics. On the other hand, results pointed that the underlying

characteristics of the Rational culture (also termed as market culture) were the least observed within

our sample (n=39).

Figure 1 – Distribution of firms’ perceived OC dimension

Source: Authors

With regards to the analysis of observations’ frequency for each OC dimension according

to leadership styles, Table 1 shows the results of the contingency table with chi-square test values.

In firms where the Group culture prevails, the leadership style S3 appears to be associated with the

LM implementation levels. This finding indicates that in contexts where organizations share values

and reinforce aspects such as participation, collaboration, teamwork, employee involvement, and

corporate commitment to workers are found, leaders who prefer adopting the

participating/supporting behaviors are more frequently observed; entailing a wider implementation

of LM practices. Surprisingly, in firms with the same cultural characteristics, but LM practices are

47 59

80 39

-40

0

40

-0,25 0 0,25Internal focus External focus

High flexibility

Low flexibility

Group Culture

Development Culture

Rational Culture

Hierarchical Culture

Total : 225 respondents

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26

still beginning to be implemented (LLM), leaders tend to neglect both relationship and task

behaviors, favoring style S4.

Results for environments whose predominant OC dimension is the Development culture

show that the frequency of directing behaviors (S1) of leaders is significantly higher when the firm

is widely implementing LM practices. This OC is more likely to support high-risk organizations

and presents little centralization, which requires a higher level of employees’ training, development

and empowerment.

Table 1 – Chi-square test results across dimensions of OC, leadership styles and levels of LM implementation

Source: Authors

With regards to firms that are predominantly characterized by the Rational culture, the

frequency of leadership behaviors namely as ‘coaching (S2)’ seems to be associated with the LM

practices implementation. In other words, in HLM firms where the core values are competitiveness

and productivity focused on the bottom line and profitability, leadership behaviors that are both

task- and relation-orientation appear to be more frequently preferred.

Finally, in a Hierarchical culture our results indicate that no leadership style seems to be

significantly associated with LM implementation, except S2. Contrary to what is observed in a

Rational Culture, the preference frequency of leaders for this style is higher in firms that are

beginning their LM implementation and struggling with its practices (LLM). The combination of

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27

this kind of OC that assumes an intense specialization and uniformity, presenting a formal and

structured workplace (PADKIL; LEONARD, 2015), with a leadership behavioral pattern that

encourages creativity and experimentation through followers’ development such as style S2

(THOMPSON; GLASO, 2015), may not lead to a successful implementation of LM practices. In

fact, our findings suggest that as firms that present this kind of OC advance in LM implementation

(HLM), leaders might shift their behaviors away from the S2 style. However, curiously, results do

not point a leadership style that is more frequently preferred in successful LM implementations

within this OC; setting up the need for deeper studies in the Hierarchical culture.

5 CONCLUSIONS

5.1 THEORETICAL CONTRIBUTION

This research presents some important theoretical contributions to the state-of-the-art on

LM. We propose a new approach to identify leadership styles and OC profiles that may

contribute to a successful LM implementation regarding its practices. The specialized literature

on LM frequently states that leaders in firms undergoing lean implementation must be

cooperative, delegators and excellent motivators of personnel, while the OC should support the

underlying principles that drive the employees’ behavioral shift from a conventional to a lean

system.

Our approach identifies the preferred leadership styles that may contribute to the

adoption of lean practices considering specific OC perceived characteristics. For that, we analyze

our sample of respondents grouping them in clusters according to leadership styles and

implementation level of LM practices. Analysis of OC perceived characteristics is carried out

across clusters, in a nouvelle analytical approach. Using our proposition, researchers may identify

the combination of OC characteristics and leadership style with the highest likelihood of

contributing to the implementation of LM practices within each cluster of companies.

We also provide a deeper understanding on how leaders’ behaviors and OC

characteristics can support the adoption of LM practices, allowing companies undergoing lean

implementation to better manage their change processes. We argue that, viewed as a transient

process, there is more than one best way to lead teams that are implementing lean.

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28

5.2 PRACTICAL IMPLICATION

We presented empirical evidences on how leadership styles and OC profiles are

associated with the implementation levels of LM practices. For instance, with respect to firms

where the Group culture prevails we have demonstrated that leaders performing their duties in

environments in which lean practices are well implemented adopt the leadership style S3.

Further, the influence of a Development culture is significant only for leaders who are more

likely to present style S1 when performing their duties in environments in which lean practices

are more widely adopted. Overall, evidences presented here suggest that the studied leadership

styles and OC characteristics are significantly associated with the implementation level of LM

practices. Analyzing those results, organizations undergoing lean implementation may be able to

understand their cultural environment and, hence, stimulate proper leadership behaviors to

enhance such implementation accordingly.

It is also worth noticing that this study outlines leadership styles preferences according

to different OC characteristics in companies undergoing lean implementation. The establishment

and utilization of such behavioral preferences in different OC contexts allow companies to verify

and compare changes in leaders’ styles, fomenting the development of leaders with

characteristics that foster a wider implementation of LM practices within the respective OC. That

is quite relevant, since changes in leadership behaviors usually take time and are usually easier to

manage than changes in the OC. It is thus important to understand existing opportunities and

have a clear vision of current gaps within the company. Envisioning the desirable leadership

styles in specific OC contexts may help companies to design their lean transformation

considering the behavioral and cultural change as an inherent issue of the transient process

towards a lean enterprise.

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33

IMPLEMENTAÇÃO DA CADEIA DE SUPRIMENTO ENXUTA: UMA PESQUISA

EMPÍRICA SOBRE O EFEITO DO CONTEXTO

IMPLEMENTATION OF LEAN SUPPLY CHAIN: AN EMPIRICAL RESEARCH ON THE

EFFECT OF CONTEXT

Guilherme Luz Tortorella1

Rogerio Feroldi Miorando2

Danieli Ferentz3

RESUMO: Este trabalho tem por objetivo fornecer informações gerenciais que possibilitem apoiar

profissionais e líderes a melhor compreender contextos nos quais as práticas de LSC (Lean Supply

Chain) são prováveis de serem implementadas. Foi realizada uma pesquisa na literatura na qual

foram identificadas 22 práticas recorrentes adotadas ao LSC. Após isso, foi efetuada a coleta de

dados que foram aplicadas por e-mail a 497 ex-alunos de cursos de formação executiva sobre lean.

A primeira parte se deu em adquirir informação demográfica em relação as quatro variáveis

contextuais escolhidas (experiência LM, nível da cadeia, fornecedores nacionais e tamanho da

empresa). Já a segunda parte foi a de avaliar o nível de implementação das 22 práticas de LSC

identificadas na literatura. Dois grandes grupos foram criados no que diz respeito ao nível de

implementação das práticas LSC, designado como ANICSE (Alto Nível Implementação da Cadeia

de Suprimento Enxuta) e BNICSE (Baixo Nível Implementação da Cadeia de Suprimento Enxuta).

Os dados coletados foram analisados por meio de técnicas multivariadas. Testamos se a frequência

das observações para cada variável contextual estava associada aos níveis de implementação das

práticas LSC. Duas conclusões foram os importantes achados nesta pesquisa. O contexto da cadeia

de suprimentos está diretamente relacionado com a implementação de práticas LSM, mesmo que

nem todos os aspectos tenham a mesma importância e efeito. Além disso, vale ressaltar que os

critérios de categorização das variáveis contextuais podem afetar o estudo, logo, devem se adaptar

de acordo com as características da amostra e o objetivo da pesquisa.

Palavras-chave: Cadeia de suprimentos enxuta. Variáveis contextuais. Técnicas de análise

multivariada.

ABSTRACT: This paper aims to provide managerial information that enables professionals and

leaders to better understand contexts in which LSC (Lean Supply Chain) practices are likely to be

implemented. A literature search was conducted which identified 22 recurring practices adopted

by the LSC. After that, data were collected and e-mailed to 497 former students of executive lean

training courses. The first part was to acquire demographic information in relation to the four

contextual variables chosen (LM experience, chain level, national suppliers and company size).

The second part was to evaluate the level of implementation of the 22 LSC practices identified in

1 Professor. Universidade Federal de Santa Catarina. E-mail: [email protected] 2 Professor. Universidade Federal de Santa Catarina. E-mail: [email protected] 3 Estudante de Eng. de Prod. Universidade Federal de Santa Catarina. E-mail: [email protected]

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34

the literature. Two major groups were created with regard to the level of implementation of LSC

practices, referred to as ANICSE (High Level Lean Supply Chain Implementation) and BNICSE

(Low Level Lean Supply Chain Implementation). The data collected were analyzed using

multivariate techniques. We tested whether the frequency of observations for each contextual

variable was associated with the levels of implementation of LSC practices. Two conclusions were

the important findings in this research. The context of the supply chain is directly related to the

implementation of LSM practices, even if not all aspects have the same importance and effect. In

addition, it is worth mentioning that the categorization criteria of the contextual variables can

affect the study soon, they should adapt according to the characteristics of the sample and the

objective of the research.

Keywords: Lean supply chain. Contextual variables. Multivariate analysis techniques.

1 INTRODUÇÃO

A integração entre fornecedor e cliente surge como um elemento importante para melhorar

a competitividade além dos limites organizacionais (FLYNN et al., 2010; FRAZZON et al., 2015).

Tal conceito está perfeitamente alinhado com as definições clássicas de Lean Supply Chain (LSC),

uma vez que compreende o fluxo de bens do fornecedor até as cadeias de produção e distribuição

até o usuário final (POWER, 2005). A adoção de um LSC implica um modelo de negócios

diferente, no qual os melhores lucros surgem da cooperação em vez de negociação ou imposição

de poder sobre os parceiros da cadeia de suprimentos (ALVES FILHO et al., 2004, NAIM e

GOSLING, 2011, CHIROMO et al., 2015).

Nossa pesquisa fornece implicações gerenciais que podem apoiar líderes e profissionais

para compreender melhor os contextos nos quais as práticas LSC são mais prováveis de serem

implementadas. Além disso, a compreensão da relação entre o nível de adoção das práticas LSC e

as variáveis contextuais ajuda a antecipar dificuldades ocasionais e estabelece as expectativas

apropriadas ao longo da implementação. A Seção 2 apresenta os fundamentos teóricos, enquanto a

Seção 3 descreve como realizamos o método de pesquisa. Apresentamos os resultados da nossa

pesquisa na Seção 4 e discussões e conclusões na Seção 5.

2 REVISÃO BIBILIOGRÁFICA

O LSC afasta-se da atual "mentalidade de negociação", em que os objetivos de lucro são

de curto prazo e altamente dependentes dos preços de mercado e da capacidade de negociar com

fornecedores ou clientes, para uma estratégia baseada em um compromisso de longo prazo com

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parceiros da cadeia de suprimentos, com uma eliminação cooperativa e sistemática de resíduos ao

longo da cadeia (YUSUF et al., 2004, AGARWAL et al., 2006).

Uma implementação enxuta em vários níveis de uma cadeia de suprimentos é

extremamente difícil de alcançar (BRUCE et al., 2004, TAYLOR, 2006) e, ao nível de toda a

cadeia de suprimentos, pode ser impraticável alcançar essa perfeição ideal. À medida que as

empresas se posicionam mais distantes dos clientes finais, esta informação pode ser amplificada,

implicando efeitos de ruído que podem causar efeitos de superprodução. Por outro lado, em

contextos em que há níveis mais elevados de serviço de entrega e tempos de produção mais curtos,

a estratégia do sistema puxado sequencial fornece uma condição mais enxuta, uma vez que nenhum

estoque de produtos acabados é mantido e todas as peças são produzidas por encomenda.

Uma revisão da literatura revela uma série de práticas que são comumente associadas com

LSC. A Figura 1 lista as principais práticas de LSC mais citadas na literatura estudada. Observa-se

que há um grau variável de frequência que cada uma das práticas é considerada nos estudos. As

práticas LSC1 (sistema puxado), LSC2 (relação estreita entre cliente, fornecedor e partes

relevantes) e LSC3 (programação escalonada) parecem ser mais frequentemente incluídas. Por

outro lado, as práticas LSC20 (criação de centros de distribuição), LSC21 (estoque em

consignação) e LSC22 (design de embalagens funcionais) parecem estar mais recentemente

associadas à literatura LSC e, portanto, os estudos que fazem referência a essas práticas são mais

escassos. Globalmente, as 22 práticas emergem de uma extensa revisão da literatura e fornecem

uma visão representativa das principais práticas adotadas em um LSC. A abordagem de medir a

maturidade da implementação lean com base na avaliação do nível de adoção de práticas pré-

definidas tem sido amplamente utilizada em estudos anteriores (SHAH e WARD, 2007;

NETLAND e FERDOWS, 2014; MARODIN et al., 2015) e parece ser bastante eficaz para

compreender a maturidade das empresas.

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36

Figura 1 – Práticas LSC mais citadas na literatura

Fonte: Authors: (1) Lamming, 1996; (2) Levy, 1997; (3) Naylor et al., 1999; (4) Jones et al., 2000; (5) McCullen and

Towill, 2001; (6) Stratton and Warburton, 2003; (7) Alves Filho et al., 2004; (8) Liker, 2004; (9) Yusuf et al., 2004;

(10) Bruce et al., 2004; (11) Power, 2005; (12) Vitasek et al., 2005; (13) Agarwal et al., 2006; (14) Goldsby et al.,

2006; (15) Taylor, 2006; (16) Cagliano et al., 2006; (17) Anand and Kodali, 2008; (18) Wee and Wu, 2009; (19) Perez

et al., 2010; (20) Naim and Gosling, 2011; (21) Jasti and Kodali, 2015; (22) Theagarajan and Manohar, 2015; (23)

Petra and Marek, 2015; (24) Boonsthonsatit and Jungthawan, 2015; (25) Chiromo et al., 2015; (26) Riet et al., 2015.

3 MÉTODO DE PESQUISA

O método de pesquisa proposto possui três etapas: (i) desenvolvimento de questionários e

coleta de dados, (ii) agrupamento de dados e (iii) análise de dados. Essas etapas são detalhadas nas

seções a seguir.

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3.1 DESENVOLVIMENTO DE QUESTIONÁRIOS E COLETA DE DADOS

Utilizamos os seguintes critérios para selecionar empresas e respondentes. Primeiro,

visamos empresas que estavam (i) implementando lean e (ii) localizadas geograficamente no sul

do Brasil, a fim de controlar o efeito de fatores ambientais. Seleção não-aleatória de empresas em

pesquisas sobre lean é uma abordagem comum. Exemplos podem ser encontrados em Tortorella et

al. (2015), Cezar Lucato et al. (2014), Boyle et al. (2011), Eroglu e Hofer (2011), e Taj e Morosan

(2011). Em segundo lugar, os respondentes devem ser experientes em LM e no gerenciamento da

cadeia de suprimentos.

Os questionários foram enviados por e-mail a 497 ex-alunos de cursos de formação

executiva sobre lean oferecidos por uma grande universidade brasileira desde 2008. A instituição

é a única na sua região oferecendo cursos sobre lean abertos ao público em geral. Um primeiro e-

mail contendo os questionários foi enviado em janeiro de 2016, e dois follow-ups foram enviados

nas semanas seguintes. A amostra final foi composta por 115 respostas válidas (representando uma

taxa de resposta de 23,14%). Os dados demográficos dos entrevistados são apresentados na Figura

2. A amostra apresenta uma quantidade equilibrada de empresas para cada variável contextual. A

maioria dos entrevistados era de grandes empresas (74%). A maioria das empresas pertencia ao

primeiro e segundo escalões da cadeia (65%). A maioria dos entrevistados tinha até 5 anos de

experiência em LM (65%) e mais de 70% de fornecedores em terra (71%).

O questionário tinha duas partes. A primeira parte destinou-se a recolher informação

demográfica dos inquiridos e das suas empresas. As variáveis contextuais foram todas

categorizadas. O tamanho da empresa foi dividido em duas categorias: (i) grandes (mais de 500

funcionários) e (ii) pequenas e médias (menos de 500 funcionários). O nível da cadeia foi

codificado de acordo com Marodin et al. (2016), que sugerem duas categorias: (i) primeiro e

segundo níveis e (ii) terceiro e quarto níveis. Para o nível de fornecedores nacionais, devido ao

cenário da indústria brasileira, foram propostas duas categorias: (i) empresas com mais de 70% de

fornecedores nacionais e (ii) empresas com menos de 70% de fornecedores nacionais. Essa

recomendação é observada nos estudos de Baldwin (2012) e Humphrey (2003), que sugerem que

os fornecedores estrangeiros de empresas localizadas em economias em desenvolvimento

geralmente variam de 20% a 30% do total de fornecedores. Finalmente, a variável "experiência

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LM" foi categorizada em (i) empresas com mais de 5 anos de implementação e (ii) empresas com

menos de 5 anos de implementação.

A segunda parte é destinada a avaliar o nível de implementação de cada uma das 22

práticas LSC mostradas na Figura 1. Para isso, foi solicitado aos respondentes que indicassem, com

base numa escala de 5 pontos, desde 1 (não utilizado) até 5 (totalmente adotado), o grau de adoção

de cada prática LSC dentro de sua cadeia de suprimentos. Nós testamos o viés de não-resposta

como proposto por Armstrong e Overton (1977) usando o teste de Levene para a igualdade de

variâncias e o teste para a igualdade de médias entre os primeiros respondentes (primeiro e-mail

enviado) e os demais respondentes (respondentes dos e-mails de follow-up). Os resultados

indicaram não haver diferenças nas médias dos dois grupos, com 95% de significância. Assim, não

há evidência estatística de que nossa amostra seja significativamente diferente entre os primeiros

respondentes e os demais. Além disso, testamos todas as respostas relacionadas com as 22 práticas

LSC para a confiabilidade determinando o valor do alfa de Cronbach. Utilizou-se um limiar alfa

de 0,6 ou superior (MEYERS et al., 2006). As práticas LSC apresentaram alta confiabilidade, com

valor alfa de 0,878.

Figura 2 - Características da amostra (n = 115 empresas)

3.2 AGRUPAMENTO DOS DADOS

De acordo com Rencher (2002), os objetos dentro de um cluster devem ser semelhantes

aos demais inseridos no mesmo cluster (homogeneidade), e diferentes de outros objetos embutidos

em outros clusters (denotando heterogeneidade). Assim, primeiro aplicamos o método hierárquico

para identificar o número de clusters que melhor classificam o nível de implementação das práticas

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LSC. Utilizou-se o método de Ward, que identifica grupos de tamanho similar com base na

variância mínima do cluster (Hair et al., 2006). Com base na análise do dendrograma, o número de

aglomerados é identificado.

Depois disso, através da aplicação do método de agrupamento de k-means, os

agrupamentos são rearranjados fixando os k clusters de acordo com a análise do dendograma

anterior. O método k-means, ao contrário do método hierárquico, permite a reatribuição de itens

de um cluster para outro. À medida que um item é adicionado a um cluster, seu centroide é

recalculado e as distâncias para os outros pontos são calculadas com base nessa posição.

Finalmente, após todas as observações serem atribuídas a um cluster, uma revisão completa é feita:

se um ponto é mais próximo do centroide de outro grupo, ele é movido para este grupo e os

centroides dos dois clusters são recalculados. Este processo continua até que todas as observações

satisfaçam o critério acima (Rencher, 2002).

Para o nível de implementação das práticas LSC, dois grupos foram identificados de

acordo com o nível de adoção das práticas LSC. Em seguida, por meio do teste t de Student, testou-

se a diferença entre a média de ambos os grupos, o que confirmou uma diferença significativa entre

os níveis médios de implementação dos grupos de todas as 22 práticas LSC (p-valor <0,000). O

primeiro grupo (n = 49), que apresentou um maior nível de adoção média de práticas LSC, foi

designado como o "Alto Nível de Implementação da Cadeia de Suprimento Enxuta" (ANICSE),

enquanto o segundo grupo (n = 66) foi denominado como "Baixo Nível de Implementação da

Cadeia de Fornecimento Enxuta" (BNICSE).

3.3 ANÁLISE DOS DADOS

Após a identificação dos clusters de acordo com o nível de implementação LSC (ANICSE

e BNICSE), as observações entre os clusters são comparadas de acordo com as quatro variáveis

contextuais acima mencionadas. Para verificar a aderência à distribuição normal, utilizou-se o teste

de Kolmogorov-Smirnof (KS), que indica que os dados da amostra não apresentam uma distribuição

normal (p <0,05).

Para todas as variáveis contextuais (indicadas por uma escala categórica), aplicamos o

teste qui-quadrado com tabelas de contingência e resíduos ajustados. Este teste é usado para rejeitar

a hipótese de que as frequências dos dados são independentes (EVERITT, 1980).

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40

4 RESULTADOS

A Figura 3 apresenta os resultados da tabela de contingência com o teste do qui-quadrado

(chi- square) entre os níveis de implementação das práticas LSC de acordo com a ‘dimensão da

empresa’. Os resultados indicam que as empresas ANICSE parecem ser mais frequentemente

incluídas por grandes empresas. Enquanto as empresas menores parecem ser mais frequentes no

grupo BNICSE.

Em relação à variável contextual ‘nível da cadeia’, a Figura 4 mostra os resultados para o

teste qui-quadrado entre esta variável e os níveis de implementação de práticas LSC. Nossos

resultados indicam que a frequência de empresas de primeiro e segundo níveis é significativamente

maior (p <0,05) no cluster ANICSE. Em oposição, as empresas de terceiro e quarto níveis são

significativamente mais frequentes (p <0,01) no cluster BNICSE. À medida que as empresas se

posicionam mais distantes dos clientes finais, essa informação pode ser amplificada, implicando

efeitos de ruído que podem causar efeitos de superprodução (VITASEK et al., 2005). Portanto, é

razoável esperar que as empresas do primeiro e segundo níveis implementem mais amplamente as

práticas do LSC do que as empresas do terceiro e quarto níveis.

Figura 3 - Teste Qui-quadrado entre tamanho da empresa e níveis de implementação de LSC

Figura 4 - Teste de Qui-quadrado entre níveis da cadeia e níveis de implementação de LSC

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41

Quanto ao nível de ‘fornecedores nacionais’, a Figura 5 apresenta os resultados obtidos.

Surpreendentemente, não houve diferença significativa entre ANICSE e BNICSE nos dois níveis

de fornecedores nacionais (> 70% e <70%). No entanto, os resultados da amostra estudada indicam

que, especificamente no caso de empresas brasileiras, o nível de 70% dos fornecedores nacionais

não parece ser um valor limiar significativo para indicar se uma empresa é mais propensa a

implementar as práticas LSC. Uma das razões que podem explicar essa descoberta é que o Brasil

é denotado como um país em desenvolvimento, onde os custos de fabricação são geralmente baixos

se comparados aos países desenvolvidos (DOH, 2005; NICITA et al., 2013). Portanto, a busca de

fornecedores estrangeiros de baixo custo pode ser significativamente menos intensa neste cenário

do que nas economias desenvolvidas, mitigando seu efeito sobre a implementação das práticas

LSC.

Figura 5 – Teste do Qui-quadrado entre nível de fornecedores nacionais e níveis de implementação de LSC

Por fim, os resultados da 'experiência LM', apresentados na Figura 6, indicam que a

exposição prévia das empresas à implementação de LM parece ser um fator contextual relevante

somente quando há uma grande experiência (mais de 5 anos). Neste caso, as empresas mais

experientes parecem estar implementando as práticas LSC mais amplamente, uma vez que sua

frequência no cluster ANICSE é significativamente maior do que no cluster BNICSE. No entanto,

em contextos em que as empresas apenas começaram a implementar LM (menos de 5 anos de

experiência), o nível de adoção das práticas LSC não apresenta uma diferença significativa.

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42

Figura 6 – Teste Qui-quadrado entre a experiência LM e os níveis de implementação do LSC

Em geral, a Figura 7 consolida as principais variáveis contextuais significativas que

parecem influenciar na adoção de práticas de LSC. Além disso, essas evidências sugerem que o

contexto da cadeia de suprimentos afeta significativamente a probabilidade de implementar as

práticas LSC. Em particular, a influência do nível da cadeia, tamanho da empresa e maior

experiência na implementação de LM parece ser substancial em uma ampla mistura de práticas.

Por outro lado, os resultados indicam que os contextos das empresas ainda são iniciantes na jornada

enxuta e seu nível de fornecedores nacionais parecem ser menos difundidos do que pesquisas

empíricas anteriores implicam.

Figura 7 – Resultados do efeito das variáveis contextuais na implementação de práticas LSC

5 CONCLUSÕES

Neste artigo estudamos a relação entre o nível de implementação das práticas LSC e quatro

variáveis contextuais subjacentes a essa implementação. Esta pesquisa sugere dois achados

principais. Em primeiro lugar, o contexto da cadeia de suprimentos, ou seja, nível da empresa,

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43

dimensão da empresa, experiência da empresa com LM e nível de fornecedores nacionais, questões

relacionadas com a implementação das práticas LSC, embora nem todos os aspectos tenham a

mesma importância e efeito. Em segundo lugar, os critérios selecionados para categorização das

variáveis contextuais podem afetar o estudo e, portanto, devem ser devidamente projetados de

acordo com as características da amostra e os objetivos da pesquisa.

Existem algumas limitações devido à natureza da amostra utilizada na pesquisa que deve

ser destacada. Primeiro, os entrevistados eram principalmente de empresas localizadas no Brasil.

Suas respostas poderiam assim estar ligadas a questões nacionais. Dessa forma, como essa

limitação restringe os resultados a essa condição geográfica, aumenta também a certeza de que se

aplicam a essas empresas e a outros em países com características semelhantes (economias em

desenvolvimento). Além disso, no que se refere ao efeito das variáveis contextuais na

implementação das práticas LSC, examinamos separadamente sua relação. No entanto, as variáveis

contextuais podem apresentar um efeito sinérgico para que os resultados finais possam diferir dos

isolados. Portanto, uma melhor compreensão da influência simultânea de todas as variáveis

contextuais pode permitir descrever com mais precisão o seu impacto na implementação das

práticas LSC.

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O EFEITO MODERADOR DO JUST-IN-TIME NA RELAÇÃO ENTRE PRÁTICAS

SOCIO-TÉCNICAS E A PERFORMANCE DA QUALIDADE E SAÚDE DOS

TRABALHADORES

THE MODERATING EFFECT OF JUST-IN-TIME ON THE RELATIONSHIP BETWEEN

SOCIO-TECHNICAL PRACTICES AND THE PERFORMANCE OF WORKERS' QUALITY AND

HEALTH

Guilherme Luz Tortorella1

Diego de Castro Fettermann2

Lizandra Vergara3

Danieli Ferentz4

RESUMO: Este trabalho tem por objetivo analisar o efeito moderador de práticas lean

relacionando-as com o desempenho de qualidade e saúde dos trabalhadores e também com as

práticas sóciotécnica (ST). Foi realizada uma pesquisa com 144 empresas manufatureiras do sul do

Brasil, onde o nível de implementação e execução de práticas ST e LM (lean manufacturing)

podem ser identificados, além de obter detalhes em relação a duas variáveis de controle utilizadas

para análise (tamanho da firma e tempo de implementação do LM). Após uma revisão na literatura

foram constatadas 18 práticas ST consideradas de maior recorrência de adoção pela gestão, assim

como 5 práticas JIT (just-it-time). Além disso, foram postulados dois construtos de práticas (PT e

PO) e também construtos relacionados ao JIT que posteriormente foram validados empiricamente

e investigações dos seus efeitos sobre a qualidade e saúde dos trabalhadores puderam ser realizadas.

Duas principais conclusões são sugeridas. A primeira delas relacionada com as práticas ST e seus

respectivos construtos afirma que estas estão associadas positivamente com o desempenho de

qualidade e saúde de trabalhadores, melhorando a qualidade de vida no trabalho. Em segundo lugar,

a aplicação simultânea de práticas JIT não influenciam de forma negativa o desempenho e

qualidade assim como a saúde dos trabalhadores. Esta pesquisa fornece um preenchimento na

literatura no que diz respeito a integração de prática LM em organizações que executam a teoria

sóciotécnica (ST).

Palavras-chave: Práticas ST. Just-it-time. Qualidade e saúde.

ABSTRACT: This study aims to analyze the moderating effect of lean practices relating them to

the quality and health performance of workers and also to ST practices. A survey was carried out

with 144 manufacturing companies in southern Brazil, where the level of implementation and

execution of ST and LM practices can be identified, as well as details of two control variables used

for analysis (firm size and Time of LM implementation). After reviewing the literature, 18 ST

practices were considered, with a higher recurrence of adoption by management, as well as 5 JIT

1 Professor. Universidade Federal de Santa Catarina. E-mail: [email protected] 2 Professor. Universidade Federal de Santa Catarina. E-mail: [email protected] 3 Professor. Centro Universitário de Brusque. E-mail: [email protected] 4 Estudante de Eng. de Prod. Universidade Federal de Santa Catarina. E-mail: [email protected]

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48

practices. In addition, two constructs of practices (PT and PO) and also constructs related to JIT

were postulated that were later empirically validated and investigations of their effects on the

quality and health of the workers could be performed. Two main conclusions are suggested. The

first one related to ST practices and their respective constructs affirms that these are positively

associated with the quality and health performance of workers, improving the quality of life at

work. Second, the simultaneous application of JIT practices does not negatively influence

performance and quality as well as workers' health. This research provides a literature review with

regard to the integration of LM practice in organizations performing the Socio-technical Theory

(ST).

Keywords: ST Practices. Just-it-time. Quality and health.

1 INTRODUÇÃO

A teoria sociotécnica (ST) enfatiza que o projeto e o desempenho de novos sistemas

podem ser melhorados a partir de uma abordagem sistêmica. A ST menciona que para a

organização ser gerenciada de forma satisfatória, o social e o técnico devem ser reunidos e tratados

como aspectos interdependentes (CLEGG, 2000; KOUKOULAKI, 2014). As pesquisas

relacionadas com práticas ST têm por muito tempo focado no trabalho de processos produzidos em

grande escala. A mudança no sentido de uma implementação LM implica um refinamento dos

sistemas de produção de massa tradicionais, eliminando desperdícios e respondendo a mudanças

imprevistas no nível operacional (LIKER, 2006; LIKER e HOSEUS, 2008).

O presente estudo tem como objetivo verificar o efeito moderador de práticas enxutas

sobre a relação entre as práticas de ST e o desempenho de qualidade e saúde dos trabalhadores. Foi

realizado um levantamento com 144 diferentes empresas de manufatura do sul do Brasil que são

submetidas a uma implementação lean. Os entrevistados foram convidados a preencher três

questionários sequenciais na pesquisa: (i) detalhes sobre as variáveis contextuais apontadas na

literatura como influentes para a melhoria de desempenho, que são ainda consideradas como

variáveis de controle; (ii) o nível de implementação de práticas de ST e LM; e (iii) o nível de

melhoria de desempenho observada ao longo dos últimos cinco anos em relação à qualidade e

saúde. Nosso estudo preenche uma lacuna observada na literatura sobre a integração de práticas

LM em organizações que têm amplamente execução práticas ST, uma vez que permite a

identificação dos efeitos de tal interação na qualidade e desempenho da saúde dos trabalhadores.

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49

2 LITERATURA E PROPOSIÇÕES

2.1 PRÁTICAS ST E SEUS EFEITOS SOBRE A SAÚDE E QUALIDADE DE

TRABALHADORES

Com base em uma revisão da literatura, 18 práticas destacam-se como as práticas ST mais

frequentes em um nível de adoção da gestão, como mostrado na Figura 1. Estas rotinas gerenciais

visam reforçar e fornecer orientação adequada para os gestores e suas equipes com relação a

aspectos técnicos, organizacionais e humanos em uma base diária para todas as atividades

produtivas de dentro da empresa (KARSH et al., 2014).

Destas, foram selecionadas práticas inter-relacionadas para combinar em dois principais

construtos de práticas associadas a PT e PO. O construto PT pode compreender práticas que

corroboram para melhorar a ergonomia e condições de saúde da tarefa de trabalho, incluindo outros

elementos, como ferramentas e o ambiente físico do trabalho (CLEGG, 2000; AREZES et al.,

2010). Os efeitos da PT para os indivíduos são supostamente medidos pela carga de estresse que é

tanto física como psicológica (MUNCK-ULFSFÄLT et al., 2003; SAURIN e FERREIRA, 2009).

Já o PO, é definido como a forma que o trabalho está estruturado, distribuído, processado e

supervisionado (DIXON et al., 2009).

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50

Figura 1- Práticas ST na literatura

Os efeitos das práticas ST, indicados pelos fatores de PT e PO, parecem influenciar

positivamente a qualidade operacional (sucatas e retrabalhos) e saúde dos trabalhadores. Para

melhor examinar, propomos o seguinte:

Proposição 1: Práticas sociotécnicas, combinadas em construtos de PT e OP, estão associadas

positivamente com o desempenho de qualidade e saúde dos trabalhadores.

2.2 O EFEITO MODERADOR JIT

Além de melhorar o desempenho operacional, algumas evidências indicam que a adoção

do JIT pode impactar outros aspectos organizacionais (TORTORELLA et al.). Estudos anteriores

(e.g. EKLUND, 2000; SAURIN e FERREIRA, 2009; SHARMA, 2012) relatam que o JIT abraça

um modelo de produção que respeita a força humana e positivamente emprega conceitos de fatores

humanos ao longo de suas atividades de melhoria.

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51

Por outro lado, a integração de práticas JIT solicita um maior nível de auto-organização

da força de trabalho, o que exige equipes de produção para desenvolver uma base de competência

coletiva que permite a resolução de problemas e lida com maiores graus de mudança

(GUNASEKARAN et al., 1998; RAHUL et al., 2014). Além disso, a realização de um sistema de

produção JIT engloba os tempos de ciclo mais apertados, em que os tempos ociosos existentes são

mitigados, aumentando potencialmente a fadiga dos operadores e exigências físicas (WOMACK

et al., 2009; SILVA et al., 2016).

Proposição 2: A adoção de práticas just-in-time modera negativamente a relação entre práticas

sócio-técnicos e o desempenho da qualidade e da saúde dos trabalhadores.

3 MÉTODO

3.1 A SELEÇÃO DE AMOSTRAS E AS CARACTERÍSTICAS

Os critérios de seleção da amostra de empresas foram as seguintes: (a) incluir líderes de

empresas localizadas em uma região específica, neste caso, o sul do Brasil, de forma a reduzir os

efeitos do ambiente; (b) incluir empresas de diferentes setores industriais devido ao lean

manufacturing (LM) ter vindo a se expandir ao longo de muitos tipos de empresas nos últimos

anos; e (c) os entrevistados devem ter experiência em lean e um papel de liderança na empresa. A

escolha não aleatória das empresas para pesquisas e na busca de empresas que já são conhecidas

para os investigadores, é uma estratégia comumente usada em outros estudos sobre LM (SAURIN

et al, 2010; BOYLE et al., 2011; TORTORELLA et al., 2016). Os questionários foram enviados

por e-mail a 523 ex-alunos dos cursos de educação executivo sobre lean oferecido por uma grande

universidade brasileira desde 2014. A amostra final foi composta de 144 respostas válidas. 74,8%

eram de grandes empresas; 44,5% pertenciam ao setor de autopeças. Finalmente, quanto à

experiência lean dentro das empresas, a maioria das empresas (57,7%) apresentaram mais de 2

anos de implementação LM. De forma geral, essa seção apresenta: procedimentos, detalhamento

das técnicas dos materiais empregados, apontam os instrumentos utilizados na pesquisa e o

tratamento dos dados.

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52

3.2 QUESTIONÁRIO E COLETA DE DADOS

O questionário foi dividido em quatro partes. A primeira parte teve como objetivo recolher

informações demográficas dos entrevistados e suas empresas, tais como tamanho, setor e

experiência lean. Usamos tamanho e tempo de implementação LM como variável de controle em

nosso modelo de regressão linear. A segunda parte destina-se a avaliar o grau de adoção das dezoito

práticas ST (ver Figura 1). Os respondentes foram convidados a indicar o nível de aprovação de

acordo com uma escala de Likert de 5 pontos, variando de 1 (não aplicado) a 5 (totalmente

adotado). A terceira parte destina-se a medir o grau de adoção das cinco práticas JIT acima

mencionadas. A mesma escala de Likert foi utilizada para indicar o nível de adoção de práticas JIT.

Finalmente, a quarta parte do questionário compreendeu a identificação do grau de variação da

qualidade e desempenho de saúde dos trabalhadores ao longo dos últimos cinco anos, dentro das

respondentes empresas. Da mesma forma, uma escala de Likert de 5 pontos foi usada para indicar

essa variação de desempenho, em que 1 indicaram “piorou significativamente” e 5 “melhorou

significativamente”.

Em relação à avaliação do nível de implementação de práticas ST e JIT e a variação de

desempenho, testamos o viés da não resposta como proposto por Armstrong e Overton (1977),

utilizando o teste de Levene para igualdade de variâncias e o teste de igualdade das médias entre

os inicias (respondentes do primeiro e-mail enviado) e tardios (respondentes das duas

continuações) respondentes. Os resultados indicaram não haver diferenças significativas (p <0,05)

em meio à variação dos dois grupos. Assim, não há evidência estatística de que a amostra é

significativamente diferente do resto da população para todas as variáveis.

3.3 ANÁLISE DE DADOS

A Figura 2 apresenta o ACP (Análise de Componentes Principais) para as práticas de ST.

As dezoito práticas foram combinadas em dois construtos. Todas as práticas relacionadas com a

concepção e melhoria da ergonomia das estações de trabalho foram combinadas para formar PT.

A lógica subjacente é que PT desempenha um papel fundamental na realização de uma vida de

trabalho mais saudável e uma integração com os processos e exigências dos trabalhadores. O

construto PO compreende práticas que podem ser identificadas por seu foco em melhorar os

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53

aspectos que são mais amplos do que a própria estação de trabalho relacionada a uma gestão

eficiente de aspectos sócio-técnicos implícitos às rotinas organizacionais (BLAIKIE et al., 2014).

Cada um dos construtos foi formado pela soma das pontuações para cada prática incluída

no construto das respostas das empresas. Todas as 18 práticas ST foram inseridas para ACP e a

rotação varimax foi utilizada para extrair componentes ortogonais, e dois componentes foram

extraídos (PT e PO). Assim, os construtos foram empiricamente validados usando ACP com a

rotação varimax e a análise de confiabilidade (alfa de Cronbach), como mostra na Tabela 2. Os

dados foram analisados usando SPSS versão 23. Os resultados foram replicados usando rotação

oblíqua como uma checagem de ortogonalidade e os componentes semelhantes foram extraídos.

Além disso, a unidimensionalidade de cada componente foi verificada e confirmada pela aplicação

de ACP no nível do componente. A avaliação da confiabilidade foi realizada com a determinação

dos valores do alfa de Cronbach para cada componente, que depende do número de itens na escala

e a correlação média entre os itens (MEYERS et al., 2006). Todos os componentes exibiram um

alfa de confiabilidade, com valores acima de 0,910. Finalmente, o valor de resposta para cada

construto foi obtido através da média das práticas correspondentes incluídos no construto,

ponderadas pelos respectivos pesos dos fatores de ACP. Os componentes de cargas variáveis

obtidas (método de regressão Thurstone’s) foram usados na regressão. Portanto, as cargas variáveis

de PO e PT foram introduzidos como novas variáveis independentes no modelo de regressão.

De forma análoga, em relação às práticas JIT, uma escala foi construída para a medida JIT

baseada em ACP das cinco práticas acima mencionadas, e os fatores de pontuação foram usados

como variável moderadora. A Figura 3 mostra que todas as cinco práticas carregam um fator, com

um valor próprio de 3,13 explicando 62,68% da variação. Além disso, o valor alfa de Cronbach

obtido é 0,850 e o resultado para o teste de esfericidade de Bartlett foi significativo, uma vez que

foi menor que 0,001 (MEYERS et al., 2006). Assim, assumimos que todas as cinco práticas são

empiricamente relacionadas e representam uma dimensão única de JIT.

Figura 2 – ACP para validação dos construtos de práticas ST – Matriz de componentes rotacionados (varimax)

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54

Figura 3 - ACP para validar construto JIT – Matriz de componentes rotacionados (varimax)

Finalmente, uma terceira ACP foi realizada com relação ao desempenho, como mostra a

Figura 4. Ambos os indicadores (qualidade e saúde dos trabalhadores) foram combinados em um

componente de desempenho, que foi usado mais tarde como variável dependente nos modelos de

regressão por mínimos quadrados. O resultado para o teste de esfericidade de Bartlett foi

significativo, uma vez que foi menor que 0,001 (MEYERS et al., 2006). O valor próprio do

componente de desempenho foi superior a 1,0, e a variância explicada era maior do que 50%, tal

como recomendado pelo Tabachnick e Fidell (2013). Para fins de confiabilidade, o valor alfa de

Cronbach é 0,640, indicando validade satisfatória (HAIR et al., 2006).

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55

Figura 4 - ACP para validar o desempenho - matriz componente rodado

Após estabelecer os componentes (independente, moderadores e variáveis dependentes),

foi realizado um conjunto de modelos de regressão por mínimos quadrados para testar as

proposições teóricas. O cálculo dos termos de interação (PO x JIT e PT x JIT) foi obtido pelo

produto das variáveis independentes padronizadas, como recomendado pelo Baron e Kenny (1986).

Portanto, nossos resultados relataram os coeficientes não padronizados, uma vez que as escalas

foram padronizadas antes da análise, ou seja, os coeficientes não padronizados irão representar um

efeito padronizado (GOLDSBY et al., 2013). Além disso, o tamanho da empresa e o tempo de

implementação LM foram incluídos como variáveis de controle no modelo. Ambas as variáveis

foram classificadas em duas categorias. O tamanho da empresa foi codificado em grande (mais de

500 empregados) e pequenas (igual ou inferior a 500 empregados), como sugerido por Tortorella

et al. (2015). Para o tempo de implementação LM, as empresas foram divididas em as que

apresentam mais ou menos 2 anos, como evidenciado no estudo de Marodin et al. (2016).

4 RESULTADOS

A Figura 5 apresenta os modelos de regressão. O primeiro modelo investiga a relação

entre as variáveis de controle (o tamanho da firma e o tempo de aplicação LM) e desempenho. O

segundo modelo inclui a associação entre construtos de práticas ST (PT e PO) e desempenho, a fim

de examinar a validade da Proposição 1. Finalmente, o terceiro modelo adiciona o efeito das

práticas JIT e seu efeito moderador sobre as práticas de ST (PO x JIT e PT x JIT) para explicar a

variação de desempenho, tal como indicado na Proposição 2. A variável dependente (desempenho)

é mostrada nas colunas, enquanto que o controle e as variáveis independentes e o termo de interação

estão localizados nas linhas. Os fatores de inflação da variância (FIV) nos modelos de regressão

foram todos inferiores a 2,0. Portanto, a multicolinearidade não foi uma preocupação.

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56

Os resultados para o modelo 2 indicam que quase 30% da variância do desempenho é

explicada de forma significativa (p <0,001). A inclusão das variáveis independentes (PT e PO) no

modelo de regressão melhora significativamente (mudança F = 19,887; p <0,001) a capacidade de

previsibilidade do modelo em relação ao primeiro modelo (variáveis de controle). Além disso,

ambos os construtos ST (PT e PO) estão associados positivamente (β = 0,397 e β = 0,286; p <0,001,

respectivamente) com a qualidade e saúde dos trabalhadores, confirmando totalmente a Proposição

1. Este resultado indica que o efeito da adoção de práticas ST em organizações pode levar a

resultados positivos, contribuindo na qualidade, nos indicadores de saúde e de desempenho dos

trabalhadores como um todo.

Embora o terceiro modelo pareça explicar a variação de desempenho significativamente

(p <0,001), a inclusão dos termos de interação não parece melhorar significativamente a capacidade

de desempenho quando comparados com o segundo modelo. Estes resultados podem ser

evidenciados pelos resultados para a melhoria da previsibilidade do modelo 3 sobre o modelo 2

(mudança de F = 0,647; Sig F mudança = 0,526), e, portanto, não encontramos evidências empíricas

para apoiar a Proposição 2.

No geral, o modelo final adotado para o desempenho da qualidade e da saúde dos

trabalhadores foi o segundo modelo, sugerindo que ambos os conjuntos de construtos ST tem um

efeito direto e positivo no desempenho, e não há nenhum efeito de moderação com a adoção do

JIT. Em oposição, os nossos resultados indicam que, se as práticas de ST são eficazes e

implementadas de forma consistente dentro da organização, todos os potenciais efeitos colaterais

da adoção JIT não podem influenciar os níveis de qualidade e saúde dos trabalhadores. Este fato

desmistifica as suposições e associações erradas que a implementação LM gera níveis mais

elevados de exigências físicas, psicológicas e cognitivas.

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57

Figura 5 - Resultados dos modelos de regressão por mínimos quadrados

5 CONCLUSÕES

Os resultados mostram que todos os construtos de práticas ST (PT e PO) considerados

neste trabalho estão associados positivamente com o desempenho de qualidade e saúde dos

trabalhadores nas empresas estudadas. Assim, confirmou-se que o uso das dezoito práticas ST

contribui para melhorar o desempenho em sucatas e retrabalho, bem como melhorar a qualidade

de vida no trabalho mitigando o absentismo e a rotatividade. Este resultado é compatível com os

resultados de estudos anteriores que enfatizam a importância de implementar plenamente as

práticas ST através de um projeto integrado; portanto, evitando a adoção de aspectos unilaterais

que possam prejudicar a realização dos potenciais benefícios.

Em segundo lugar, a adoção simultânea de práticas JIT, como tempo do ciclo, sistema de

fluxo contínuo, o nivelamento da produção e reposição puxada de material, não parece influenciar

significativamente a associação entre práticas ST e qualidade e saúde dos trabalhadores. Portanto,

nossos resultados sugerem que se as práticas de ST estão adequadamente no lugar, a adoção do JIT

não pode prejudicar fisicamente empregados ou o seu desempenho em detrimento da qualidade.

Na verdade, os resultados mostram que o efeito das práticas de ST pode prevalecer para melhorar

tal desempenho (qualidade e saúde dos trabalhadores), destacando que ambos, o aspecto técnico e

social da organização, devem ser dirigidos principalmente a fim de proporcionar um ambiente

organizacional adequado para a implementação de práticas LM específicas e seus construtos, como

JIT.

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62

IMPLEMENTAÇÃO DA PRODUÇÃO ENXUTA E INDÚSTRIA 4.0 EM EMPRESAS

BRASILEIRAS DE MANUFATURA

IMPLEMENTATION OF LEAN PRODUCTION AND INDUSTRY 4.0 IN BRAZILIAN

MANUFACTURING COMPANIES

Guilherme Luz Tortorella1

Diego Fetterman2

Ricardo Giglio3

Gabriela Aline Borges4

RESUMO: Este trabalho tem como objetivo avaliar a relação entre as práticas de Produção Enxuta

(PE) e a implementação da indústria 4.0 em empresas brasileiras de manufatura. Para tal, utilizamos

dados de uma pesquisa realizada com 55 empresas de diferentes portes e setores, em diferentes

estágios de implementação de PE. Os dados coletados foram avaliados por meio de análise

multivariada. Nossos resultados indicam que as práticas de PE estão positivamente associadas às

tecnologias da Indústria 4.0 e suas implementações simultâneas levam a melhorias de desempenho

maiores. Além disso, as variáveis contextuais investigadas contribuem para essa associação,

embora nem todos os aspectos contribuam em mesma extensão e efeito.

Palavras-chave: Produção Enxuta. Indústria 4.0. Economias emergentes.

ABSTRACT: Thus, this paper aims to examine the relationship between Lean Production (LP)

practices and the implementation of Industry 4.0 in Brazilian manufacturing companies. To

achieve that we use data from a survey carried out with 55 companies of different sizes and sectors,

at different stages of LP implementation. Data collected was analyzed by means of multivariate

analysis. Our findings indicate that LP practices are positively associated with Industry 4.0

technologies and their concurrent implementation leads to larger performance improvements.

Further, the contextual variables investigated do matter to this association, although not all

aspects matter to the same extent and effect.

Keywords: Lean Production. Industry 4.0. Emerging economies.

1Professor. Departamento de Engenharia de Produção e Sistemas, Universidade Federal de Santa Catarina. E-mail:

[email protected] 2Professor. Departamento de Engenharia de Produção e Sistemas, Universidade Federal de Santa Catarina. E-mail:

[email protected] 3Professor. Departamento de Engenharia de Produção e Sistemas, Universidade Federal de Santa Catarina. E-mail: [email protected] 4Estudante de mestrado do departamento de Engenharia de Produção e Sistemas, Universidade Federal de Santa

Catarina. E-mail: [email protected]

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63

1INTRODUÇÃO

A implementação de equipamentos de automação aumenta a qualidade do produto, ao

mesmo tempo em que torna os processos de fabricação mais eficientes (LANDSCHEIDT; KANS,

2016). Essa tendência é especialmente verdadeira quando se leva em consideração a transformação

que muitas indústrias estão passando como resultado da Indústria 4.0 (LASI et al., 2014). O

desenvolvimento e a integração da automação digital da produção por meio de eletrônicos,

tecnologia da informação (TI) e robôs industriais, levaram a sistemas de manufatura, atualmente

designados como Cyber-Physical Systems (CPS), que permitem uma produção altamente

customizada e em massa (KAGERMANN et al., 2013). No entanto, a forma como as tecnologias

da Indústria 4.0 são integradas nos sistemas de produção e os processos que eles podem suportar

ainda estão sendo estudados (KOLBERG et al., 2016).

Ao contrário da crença convencional, pesquisadores afirmam que a automação não levará

a uma menor interação humana, nem a redução de trabalhadores (DWORSCHAK e ZAISER,

2014). Na verdade, os requisitos e habilidades dos indivíduos são propensos a aumentar e tornar-

se mais especializados. Contudo, o nível de investimento de capital subjacente às tecnologias da

Indústria 4.0 é bastante alto, reduzindo a sua atratividade (SANDERS et al., 2016), especialmente

para as empresas localizadas no contexto das economias em desenvolvimento (ANDERL, 2014).

A Produção Enxuta (PE), por outro lado, é uma abordagem amplamente disseminada que

visa reduzir o desperdício e melhorar a produtividade e a qualidade de acordo com os requisitos

dos clientes (WOMACK et al., 2007), além de ser de baixa tecnologia, simples e eficaz geralmente

alinhado a uma visão de negócios compartilhada. Além disso, Spear (2009) comenta que um

processo eficaz de resolução de problemas é fundamental em um sistema enxuto, pois fornece o

desenvolvimento tanto dos processos organizacionais como dos indivíduos que o realizam.

Sibatrova e Vishnevskiy (2016) afirmam que a Indústria 4.0 impactará a PE, permitindo superar as

barreiras atualmente existentes e trazendo novos desafios para uma implementação bem-sucedida.

Contudo, Kolberg et al. (2016), e Gjeldum et al. (2016), apontaram que há uma falta de estudos

que investigam empiricamente a relação entre uma implementação enxuta bem-sucedida e a

progressão para a Indústria 4.0.

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64

Neste contexto, este trabalho tem como objetivo examinar a relação entre as práticas de

PE e a implementação da Indústria 4.0 dentro de um contexto de economia em desenvolvimento,

como o Brasil. Para isso, utilizamos dados de uma pesquisa realizada em 55 empresas de diferentes

portes e setores, em diferentes estágios de implementação de PE. Os entrevistados forneceram

respostas para quatro questionários: Q1, que descreveu as variáveis contextuais das empresas,

identificadas na literatura como influentes na adoção de ambas as abordagens; Q2, que avaliou o

nível de implementação de 41 práticas de PE inter-relacionadas e consistentes; Q3, que identificou

o nível de adoção de 10 tecnologias inter-relacionadas da Indústria 4.0; e Q4, que tinha como

objetivo identificar a melhoria do desempenho operacional dentro das empresas nos últimos anos.

A abordagem analítica adotada usa análises de grupos para agrupar empresas de acordo

com (i) nível de implementação enxuta (derivado de Q2), (ii) adoção de tecnologias de Indústria

4.0 (derivado de Q3) e (iii) sua melhoria de desempenho observada (Q4). Uma vez identificados

os grupos homogêneos de empresas, verificamos as diferenças significativas nos níveis de variáveis

contextuais (Q1) entre os grupos e chegamos às conclusões. O restante do artigo está estruturado

da seguinte forma: a seção 2 apresenta o referencial teórico; a seção 3 descreve o método proposto;

os resultados de sua aplicação são apresentados na seção 4 e; a seção 5 encerra o documento

apresentando conclusões e oportunidades de pesquisas futuras.

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 INDÚSTRIA 4.0

O termo "Indústria 4.0" descreve uma indústria com máquinas conectadas, produtos e

sistemas inteligentes, e soluções inter-relacionadas. Tais aspectos estabelecem unidades de

produção inteligentes que monitoram e controlam os dispositivos físicos (LASI et al., 2014). Nesse

sentido, a Indústria 4.0 visa uma produção autônoma e dinâmica, que integra Tecnologias de

Informação e Comunicação (TIC) para permitir uma produção em massa de produtos altamente

customizados.

Apesar da crescente notoriedade, empresas ainda lutam para entender a Indústria 4.0 e

seus conceitos e princípios (SANDERS et al., 2016). Erol et al. (2016) afirmam que as empresas

geralmente têm problemas para determinar seu estado atual quanto ao desenvolvimento da

Indústria 4.0 e, por isso, não conseguem identificar campos concretos de ação. Para facilitar e

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65

orientar a implementação da Indústria 4.0, alguns modelos de roteiro ou maturidade foram

propostos (QIN et al., 2016).

Lee et al. (2015) sugerem uma estrutura de CPS de 5 níveis: (i) conexão inteligente, (ii)

conversão de dados para informação, (iii) cyber, (iv) conhecimento e (v) configuração. Anderl

(2014) sugere a utilização de um roteiro de implementação prático denominado "Toolbox Industrie

4.0", estruturado em seis dimensões e cinco níveis de desenvolvimento. Por sua vez, o governo

alemão propôs um modelo de maturidade para avaliação da Indústria 4.0 com 62 itens agrupados

em nove dimensões, são elas: estratégia, liderança, clientes, produtos, operações, cultura, pessoas,

governança e tecnologia (SCHUMACHER et al., 2016). No contexto das pequenas e médias

empresas (PME), Ganzarain e Errasti (2016) sugerem um modelo de maturidade de três estágios

relativo à Indústria 4.0, que são: visualizar, habilitar e implementar.

Especificamente dentro do contexto das economias em desenvolvimento, como o Brasil,

a Confederação Nacional da Indústria (2016) realizou uma pesquisa para identificar os desafios

existentes ao implementar tecnologias da Indústria 4.0. Os altos custos foram apontados como a

principal barreira interna, enquanto a falta de trabalhadores qualificados o maior desafio entre os

fatores externos. No geral, dez tecnologias digitais agrupadas em três áreas de aplicação diferentes

foram identificadas, como mostrado na Tabela 1.

Tabela 1– Tecnologias digitais avaliadas no contexto industrial brasileiro

Foco Tecnologia

Processo

i1- Automação digital sem sensores

i2- Automação digital com sensores de controle de processo

i3- Monitoramento remoto e controle da produção através de sistemas como MES

* e SCADA **

i4- Automação digital com sensores para identificação de condições de produtos e

operações, linhas flexíveis

Desenvolvimento/redução no

tempo de mercado

i5- Sistemas integrados de engenharia para desenvolvimento de produtos e

fabricação de produtos

i6- Fabricação de aditivos, prototipagem rápida ou impressão em 3D

i7- Simulações/análise de modelos virtuais (elementos finitos, dinâmica

computacional de fluidos, etc.) para projeto e comissionamento

Produto / novos modelos

comerciais

i8- Coleta, processamento e análise de grandes quantidades de dados (dados

importantes)

i9- Uso de serviços na nuvem associados ao produto

i10- Incorporação de serviços digitais em produtos (Internet of Things ou Sistemas

de Serviços de Produtos)

* MES - Manufacturing Execution Systems (Sistemas de Execução de Fabricação)

** SCADA - Supervisory Control and Data Acquisition (Controle de Supervisão e Aquisição de Dados)

Fonte: Adaptado da Confederação Nacional da Indústria (2016)

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66

2.2 PRODUÇÃO ENXUTA E A INDÚSTRIA 4.0

Os pesquisadores geralmente concordam sobre várias práticas enxutas sobrepostas

(MARODIN; SAURIN, 2013), e sua associação positiva com o desempenho operacional (SHAH;

WARD, 2003; JASTI; KODALI, 2016). Em geral, a PE pode ser implementada em uma parte ou

em toda a empresa, bem como em toda a cadeia de suprimentos (HINES et al., 2004). No entanto,

é mais comum começar pela aplicação de práticas de PE no chão de fábrica (SHAH; WARD, 2007),

pois servem como uma forma de introduzir progressivamente princípios de PE (MANN, 2005).

A seleção de práticas de PE adequadas e a identificação de sua aplicabilidade em um

ambiente operacional apresentam um desafio adicional para o gerenciamento (HERRON;

BRAIDEN, 2006). Apesar disso, medir a maturidade da implementação de PE com base na

avaliação do nível de adoção de práticas pré-definidas tem sido amplamente utilizada (SHAH;

WARD, 2007; NETLAND; FERDOWS, 2014).

A recente integração entre as práticas de PE e as tecnologias da Indústria 4.0 foi denotada

como Automação Enxuta (AE), e visa maior flexibilidade e fluxos de informações mais curtos para

atender às futuras demandas do mercado (KOLBERG; ZÜEHLKE, 2015). Dado aos potenciais

benefícios da implementação das tecnologias da Indústria 4.0, alguns autores (como, SANDERS

et al., 2016; GJELDUM et al., 2016) têm argumentado a existência de novas áreas de aplicação da

AE. Contudo, as abordagens atuais geralmente precisam ser adaptadas às necessidades individuais.

Evidências encontradas na literatura indicam que a compreensão dessa associação de PE

e Indústria 4.0 e seu impacto no desempenho operacional ainda precisam ser melhor explorados

(EROL et al., 2016; SANDERS et al., 2016). Neste estudo, examinamos a relação entre a

implementação simultânea de PE - representada por 41 práticas (ver Tabela 2) propostas e

validadas por Shah e Ward (2007) - e da Indústria 4.0, e sua influência no desempenho operacional

das empresas.

Tabela 2–Práticas e estruturas da PE

Estruturas

fundamentais

Estruturas

operacionais Práticas da produção enxuta

Relacionado ao

fornecedor

Feedback do

fornecedor

pe1- Frequentemente estamos em contato direto com nossos fornecedores

pe2- Damos aos nossos fornecedores feedback sobre qualidade e desempenho

de entrega

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67

pe3- Nós nos esforçamos para estabelecer relações de longo prazo com nossos

fornecedores

Entrega JIT

pe4- Os fornecedores estão diretamente envolvidos no processo de

desenvolvimento de novos produtos

pe5- Nossos principais fornecedores realizam as entregas em nossas plantas

no modo JIT

pe6- Temos um programa formal de certificação de fornecedores

Fornecedores em

desenvolvimento

pe7- Nossos fornecedores estão contratualmente comprometidos com redução

anual de custos

pe8- Nossos principais fornecedores estão localizados nas proximidades de

nossas plantas

pe9- Temos comunicação de nível corporativo sobre questões importantes

com os principais fornecedores

pe10- Tomamos medidas ativas para reduzir o número de fornecedores em

cada categoria

pe11- Nossos principais fornecedores gerenciam nosso inventário

pe12- Avaliamos fornecedores com base no custo total e não por preço unitário

Relacionado ao

cliente Clientes envolvidos

pe13- Frequentemente estamos em contato direto com nossos clientes

pe14- Nossos clientes nos dão feedback sobre qualidade e desempenho de

entrega

pe15- Nossos clientes estão ativamente envolvidos em ofertas de produtos

atuais e futuras

pe16- Nossos clientes estão diretamente envolvidos em ofertas de produtos

atuais e futuras

pe17- Nossos clientes compartilham frequentemente informações de demanda

atuais e futuras com o departamento de marketing

Internamente

relacionados

Sistema puxado

pe18- A produção é puxada pelo envio de produtos acabados

pe19- A produção nas estações é puxada pela demanda atual da próxima

estação

pe20- Usamos um sistema de produção puxada

pe21- Usamos kanban, quadros, ou recipientes de sinais para controle de

produção

Fluxo

pe22- Os produtos são classificados em grupos com requisitos de

processamento semelhantes

pe23- Os produtos são classificados em grupos com requisitos de

encaminhamentos semelhantes

pe24- Equipamento é agrupado para produzir um fluxo contínuo de famílias

de produtos

pe25- Famílias de produtos determinam nosso layout de fábrica

Setup curto

pe26- Nossos funcionários praticam setup para reduzir o tempo necessário

pe27- Estamos trabalhando para reduzir os tempos de setup em nossa planta

pe28- Temos tempos de setup baixos em nossa planta

c8- Processos

controlados

pe29- Grande número de equipamentos/processos no chão de fábrica estão

atualmente sob controle estatístico de processo

pe30- Uso extensivo de técnicas estatísticas para reduzir a variância do

processo

pe31- Gráficos mostrando taxas de defeito são usados como ferramentas no

chão de fábrica

pe32- Usamos diagramas do tipo espinha de peixe para identificar causas de

problemas de qualidade

pe33- Realizamos estudos de capacidade de processo antes do lançamento do

produto

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c9- Funcionários

envolvidos

pe34- Os funcionários de chão de fábrica são a chave para as equipes de

resolução de problemas

pe35- Os funcionários de chão de fábrica dirigem programas de sugestão

pe36- Os funcionários de chão de fábrica lideram esforços de melhoria de

produtos / processos

pe37- Os funcionários de chão de fábrica passam por treinamento funcional

c10- Manutenção

produtiva

pe38- Dedicamos uma parcela diárias às atividades relacionadas à manutenção

de equipamentos planejanda

pe39- Mantemos todos os nossos equipamentos regularmente

pe40- Mantemos registros excelentes de todas as atividades relacionadas à

manutenção de equipamentos

pe41- Publicamos registros de manutenção de equipamentos no chão de

fábrica para compartilhamento ativo com funcionários

Fonte: Adaptada de Shah e Ward (2007)

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Existem três etapas para o método de pesquisa aqui proposto: (i) desenvolvimento de

questionários e coleta de dados, (ii) agrupamento de dados e (iii) análise de dados. Essas etapas são

detalhadas nas seções a seguir.

3.1 DESENVOLVIMENTO DE QUESTIONÁRIOS E COLETA DE DADOS

Um estudo recente de Kull et al. (2014) sugere que a cultura nacional pode influenciar a

implementação de práticas enxutas. Como nosso estudo está focado no contexto das empresas de

manufatura brasileiras, a amostra limita-se a essas empresas. Além disso, os entrevistados devem

ter experiência em PE e estarem cientes das tecnologias da Indústria 4.0. Devido a esses critérios,

a amostra incluiu empresas de diferentes setores industriais devido ao número limitado de empresas

no Brasil adotando as práticas de PE e minimamente iniciadas na Indústria 4.0. Somado a isto, a

disseminação das práticas em todo o espectro industrial é desconhecida (TORTORELLA et al.,

2015), o que justifica nossa amostra de indústrias intersetorial.

O questionário foi enviado por e-mail para 265 empresas que preencheram os critérios de

seleção. Um primeiro e-mail foi enviado em janeiro de 2017 e outros dois nas semanas seguintes.

A amostra final resultante compreende 55 respostas válidas que representam uma taxa de resposta

de 20,75%. Essa taxa de resposta é superior à taxa média de 15% em surveys de gestão (HAIR et

al., 2006), contudo, testamos a possível tendência de não resposta usando o procedimento de

Armstrong e Overton (1977). Assim, avaliamos as diferenças entre os primeiros (n1 = 23) e os

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últimos respondentes (n2 = 32) usando o teste de Levene para a igualdade de variâncias e um teste-

T para a igualdade de meios.

A amostra apresenta uma quantidade equilibrada de empresas para cada variável

contextual (ver Tabela 3). A maioria dos entrevistados era de grandes empresas (67,3%); a maioria

das empresas pertencia ao setor metal-mecânico (61,8%) e a maioria (70,9%) iniciou sua

implementação de PE ha mais de 2 anos.

Tabela 3– Características da amostra

Tamanho da empresa

Pequena e média (< 500 funcionários) 18 32.7%

Grande (> 500 funcionários) 37 67.3%

Setor industrial

Metal-mecânico 34 61.8%

Têxtil 6 10.9%

Automotivo 4 7.2%

Alimentício 3 5.4%

Outros 8 14.6%

Implementação de PE na empresa

≤2 anos 16 29.1%

>2 anos 39 70.9%

A primeira parte do questionário teve como objetivo coletar informações demográficas

dos entrevistados e suas empresas. A segunda parte avaliou o nível de adoção de práticas de PE

com base no modelo de avaliação de Shah e Ward (2007). Cada prática é descrita em uma

afirmação que foi avaliada de acordo com uma escala de Likert que variou de 1 (totalmente em

desacordo) a 5 (totalmente de acordo). A terceira parte do questionário visava medir o grau de

adoção das tecnologias da Indústria 4.0 dentro das empresas. Para isso, 10 questões foram

formuladas de acordo com diferentes tecnologias, como sugerido pela Confederação Nacional da

Indústria Brasileira (2016).

Da mesma forma, o grau de adoção foi medido em uma escala de Likert variando de 1

(não usado) a 5 (totalmente adotado). Finalmente, a quarta parte avaliou a melhoria do desempenho

operacional observada nos últimos três anos, de acordo com cinco indicadores: (i) produtividade,

(ii) nível de entrega de serviço, (iii) nível de estoque, (iv) segurança no trabalho (acidentes) e (v)

qualidade (refugo e retrabalho). Uma escala variando de 1 (piorou significativamente) até 5

(melhorou significativamente) foi utilizada no questionário.

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70

Além disso, testamos todas as respostas relacionadas às 41 práticas de PE, 10 tecnologias

da Indústria 4.0 e os 5 indicadores de desempenho para a confiabilidade, determinando os valores

alfa de Cronbach e utilizando um limiar alfa de 0,6 ou superior (MEYERS et al., 2006). As

respostas apresentaram alta confiabilidade, com um valor alfa global de 0,993, 0,857 e 0,834,

respectivamente. A validação externa das questões de implementação de PE não foi realizada, uma

vez que essas questões são amplamente utilizadas e validadas na literatura (SHAH e WARD,

2007); eles foram considerados pertencentes a uma única dimensão, Nível de Implementação

Enxuta. Da mesma forma, para as tecnologias da Indústria 4.0, a dimensão indicada como Nível

de Indústria 4.0 foi determinada.

3.2 AGRUPAMENTO DE DADOS

Nesta etapa, realizamos três agrupamentos das observações usando as variáreis: (i) nível

de implementação de práticas de PE, (ii) nível de adoção de tecnologias da Indústria 4.0 e (iii)

melhoria de desempenho operacional. Em todos os agrupamentos realizados na mesma amostra de

observações, primeiro aplicamos um método hierárquico para identificar o número adequado

(digamos k) de agrupamentos - através do método de Ward - e então o método de agrupamento k-

means, para reorganizar observações em k agrupamentos. Veja Rencher (2002) para mais detalhes.

Usando a variável “nível de implementação das práticas de PE”, identificaram-se dois

grupos. Uma ANOVA (Análise de Variância) foi realizada e para todas as 41 variáveis de

agrupamento, mostrando diferenças significativas nas médias (p-valores <0,05). As 24 observações

atribuídas ao grupo 1 apresentaram uma média alta no nível de adoção de práticas de PE, e o grupo

foi identificado como APE (alto nível de implementação da PE); as 31 observações atribuídas ao

grupo 2 apresentaram um nível médio baixo de adoção de práticas PE, e o grupo foi identificado

como BPE.

Ao usar a variável “nível de adoção de tecnologias da Indústria 4.0”, foram identificados

dois grupos. Entre as 10 variáveis de agrupamento, uma ANOVA identificou diferenças

significativas nas médias (p-valores <0,01). As 39 observações atribuídas ao grupo 1 apresentaram

um nível médio baixo de adoção das tecnologias Indústria 4.0, e o grupo foi identificado BTC

(baixo nível de implementação de tecnologias da Indústria 4.0); as 16 observações atribuídas ao

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grupo 2 apresentaram um nível médio alto de adoção das tecnologias da Indústria 4.0, e o grupo

foi rotulado de ATC (alto nível de implementação de tecnologias da Indústria 4.0).

Finalmente, uma terceira análise de agrupamento foi realizada levando em consideração

a melhoria do desempenho operacional. Os resultados para os cinco indicadores de desempenho

apontaram a existência de dois grupos, cujas diferenças significativas nas médias (p-valores <0,01)

foram verificadas através de uma ANOVA. O primeiro grupo corresponde a 21 observações cujo

nível médio de melhoria do desempenho operacional foi baixo, sendo denominado BMD (baixo

nível de melhoria de desempenho); o segundo grupo é composto pelas 34 observações restantes

que apresentaram um nível médio alto de melhoria do desempenho operacional, e identificado por

AMD (alto nível de melhoria de desempenho).

3.3 ANÁLISE DOS DADOS

Após os três conjuntos de agrupamentos serem identificados testamos então, as diferenças

por meio de duas variáveis contextuais (tamanho da empresa e tempo de implementação de PE na

empresa) entre grupos em cada conjunto.

Primeiro verificamos os dados usando o teste de Kolmogorov-Smirnov (KS) e

descobrimos que os dados da amostra não seguem uma distribuição normal (p-valor <0,05).

Identificamos, então, técnicas não paramétricas adequadas para analisar os dados em questão. Uma

vez que estamos usando as dimensões obtidas a partir da análise de agrupamento, essas variáveis

foram consideradas como categóricas, permitindo a aplicação do teste qui-quadrado com tabelas

de contingência e ajuste residual. Da mesma forma, para a análise das variáveis contextuais, que

são categóricas, aplicamos o mesmo procedimento (TABACHNICK; FIDELL, 2013). Primeiro,

testamos se a frequência de observações do grupo de implementação de PE (BPE e APE) foi

associada ao nível de adoção das tecnologias Indústria 4.0 (BTC e ATC) de acordo com o nível de

melhoria no desempenho operacional (BMD e AMD). Em segundo lugar, testamos os dados de

cada variável contextual de acordo com as tecnologias da Indústria 4.0 e os níveis de

implementação de PE. Consideramos associações significativas com valores residuais ajustados

maiores do que |1.96| e |2.58|, correspondendo a um nível de significância de 0,05 e 0,01,

respectivamente.

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72

4 RESULTADOS

A Tabela 4 apresenta a tabela de contingência e os resultados do teste qui-quadrado para

todas as combinações de níveis da implementação de práticas de PE e das tecnologias da Indústria

4.0, de acordo com o nível de melhoria de desempenho das empresas. Os valores residuais

ajustados indicam que, para as empresas que não observaram níveis mais elevados de melhoria do

desempenho operacional nos últimos três anos, nenhuma das associações entre a Indústria 4.0 e PE

são significativas. Contrariamente à expectativa convencional, apesar da existência de empresas

que afirmam estar amplamente implementando práticas da PE e/ou tecnologias de Indústria 4.0,

nenhuma delas percebeu uma melhoria do desempenho operacional relevante. Uma explicação para

isso baseia-se nos argumentos apresentados pelo Liker e Rother (2011) e Longoni et al. (2013),

que afirmam que qualquer abordagem de melhoria, independentemente de seus métodos, quando

mal implementados ou inutilizados podem ter seus benefícios reduzidos, causando até efeitos

contrários aos esperados.

Por outro lado, para empresas AMD, os resultados mostram uma associação significativa

(p-valor < 0,01) entre as tecnologias da Indústria 4.0 e práticas de PE. Na verdade, os resultados

sugerem que as empresas que estão implementando amplamente as práticas PE são mais suscetíveis

a adotar as tecnologias da Indústria 4.0, e seu desempenho operacional parece ser positivamente

impactado por essa associação. Surpreendentemente, as empresas que estão fracamente

implementando tanto PE e Indústria 4.0 também observaram um alto nível de melhoria de

desempenho nos últimos anos. Este resultado pode ser justificado devido ao contexto sócio-

econômico em que estas empresas estão inseridas. Nos mercados emergentes, como o Brasil, a

instabilidade econômica tende a ter repercussões nas variações cambiais, o que pode afetar

significativamente o desempenho operacional de uma empresa, dependendo do perfil de negócios

(WONG et al., 2011). Assim, esta conclusão sugere que, apesar dos esforços em abordagens de

melhoria, como PE e Indústria 4.0, as empresas dentro deste contexto devem levar em conta outros

aspectos sócio-econômicos para apoiar a sua estratégia de negócio.

Tabela 4– Teste qui-quadrado entre os níveis de tecnologias da Indústria 4.0 e implementação de PE de acordo com a

melhoria do desempenho operacional

Melhoria do

desempenho

operacional

Tecnologias da

Indústria 4.0

BPE APE Frequência

total Frequência Ajuste

residual Frequência

Ajuste

residual

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73

BMD

BTC 16 -1.01 2 1.01 18

ATC 2 1.01 1 -1.01 3

Frequência total 18 3 21

AMD

BTC 12 2.88** 9 -2.88** 21

ATC 1 -2.88** 12 2.88** 13

Frequência total 13 21 34 * Significativo em 5%; ** significativo em 1%

A Tabela 5 exibe os resultados para testes qui-quadrado entre os níveis de implementação

da indústria 4.0 e PE de acordo com o tamanho das empresas. Os resultados demonstraram que a

associação entre a Indústria 4.0 e a PE é significante independentemente do tamanho das empresas,

sugerindo que o tamanho não deve ser visto como um impedimento. Além disso, as frequências de

pequenas e grandes empresas que estão implementando PE e indústria 4.0 de maneira fraca é maior

do que as outras combinações. Segundo Saurin e Ferreira (2009) e Tortorella et al. (2015), a

implementação de PE no Brasil ainda é rara e focada principalmente em estudos de caso com

algumas empresas selecionadas. Ao considerar a adoção das tecnologias da Indústria 4.0 no

contexto brasileiro, essa lacuna é ainda maior, segundo Anderl (2014) e Confederação Nacional da

Indústria Brasileira (2016).

Tabela 5– Teste do qui-quadrado entre os níveis de tecnologias da Indústria 4.0 e implementação de PE de acordo

com o tamanho das empresas

Tamanho da

empresa

Tecnologias da

Indústria 4.0

BPE APE Frequência

total Frequência Ajuste

residual Frequência

Ajuste

residual

Pequena e

média

BTC 10 2.21* 3 -2.21* 13

ATC 1 -2.21* 4 2.21* 5

Frequêcia total 11 7 18

Grande

BTC 18 2.84** 8 -2.84** 26

ATC 2 -2.84** 9 2.84** 11

Frequência

total 20 17 37

* significativo em 5%;** significativo em 1%

Finalmente, em relação à variável contextual "Tempo de implementação de PE" a Tabela

6 mostra os resultados da tabela de contingência com valores de teste qui-quadrado. Para empresas

que estão em fase de implementação da PE por menos de 2 anos, os resultados não indicam uma

associação significativa entre a indústria 4.0 e a PE. Uma vez que a PE é uma abordagem precursora

e essas empresas não tem muita experiência sobre ela, é razoável que nenhuma associação tenha

sido encontrada com as tecnologias da Indústria 4.0, que é uma abordagem mais recente.

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74

No entanto, com as empresas que tem se tornado mais experientes na implementação de

PE (> 2 anos), os resultados mostram uma associação significativa com a Indústria 4.0. As

empresas experientes que afirmam estar fortemente adotando tecnologias da Indústria 4.0 são as

que implementam práticas da PE mais extensivamente. Por sua vez, apesar de sua experiência,

parece que a frequência das empresas que tem dificuldade em implementar as práticas da PE é

muito maior quando a adoção das tecnologias da Indústria 4.0 também é fraca. Portanto, nossos

resultados convergem para estudos anteriores (HINES et al., 2004; JASTI e KODALI, 2015) e

suportam que a experiência da empresa na implementação de PE é uma variável importante a ser

considerada ao associar as práticas de PE a outras abordagens de melhoria, como a Indústria 4.0.

Tabela 6– Teste do qui-quadrado entre os níveis de tecnologias da Indústria 4.0 e implementação de LP de acordo

com o tempo de implementação da PE nas empresas (anos)

Tempo de

implementação

da PE

Tecnologias da

Indústria 4.0

BPE APE Frequêcia

total Frequência Ajuste

residual Frequência

Ajuste

residual

≤ 2 anos

BTC 10 1.33 2 -1.33 12

ATC 2 -1.33 2 1.33 4

Frequêcia total 12 4 16

> 2 anos

BTC 18 3.36** 9 -3.36** 27

ATC 1 -3.36** 11 3.36** 12

Frequêcia total 19 20 39 * significativo em 5%;** significativo em 1%

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

5.1. CONTRIBUIÇÃO TEÓRICA

Esta pesquisa propõe uma nova abordagem para identificar como a integração de

tecnologias da Indústria 4.0 nas práticas de gestão atual, como as de PE, corrobora com a melhoria

do desempenho operacional. A literatura sobre PE que aborda seu relacionamento com as

tecnologias da quarta revolução é escassa, e superficialmente sugere uma associação positiva, sem

validação empírica. Além disso, estudos prévios (SANDERS et al., 2016; KOLBERG et al., 2016)

focaram em empresas localizadas em países de alto desenvolvimento, desconsiderando os desafios

socioeconômicos que as empresas de países de economia emergentes podem enfrentar.

Nossa abordagem identifica como a associação de PE e Indústria 4.0 de acordo com

diferentes variáveis contextuais pode contribuir para melhorar o desempenho operacional em

economias emergentes. Para isso, analisamos a amostra de dados agrupando-os de acordo com o

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75

nível de implementação das práticas de PE e das tecnologias da Indústria 4.0, e de acordo com o

nível de melhoria dos indicadores operacionais de desempenho nos últimos anos. Usando a nossa

proposta de análise, os pesquisadores podem identificar o contexto com a maior probabilidade de

favorecer a implementação de práticas PE e de tecnologias da Indústria 4.0.

Fornecemos, também, uma compreensão mais aprofundada sobre como a Indústria 4.0

pode apoiar a implementação de práticas PE, permitindo que as empresas melhorem o

gerenciamento desses processos de mudança. Além disso, mostramos que as variáveis contextuais

das empresas estão associadas à adoção da Indústria 4.0 e PE, indicando que a relação esperada

entre a implementação de ambas as abordagens pode não ser tão generalizada como sugerido na

literatura existente.

5.2. IMPLICAÇÃO PRÁTICA

Os resultados mostraram que a frequência de empresas de ambos tamanhos que afirmam

mal ter executado a implementação de PE e indústria 4.0 é maior. Por outro lado, a maioria das

empresas (independente do seu tamanho) que têm um nível de adoção mais elevado das tecnologias

da Indústria 4.0 também afirmam ter um nível de implementação mais elevado de PE, indicando

que o tamanho pode não ser uma barreira para uma implementação simultânea. Além disso, os

resultados sugerem que as empresas que implementam amplamente as práticas PE podem ser mais

propensas a adotar as tecnologias de Indústria 4.0.

Com o advento da Indústria 4.0, a aplicabilidade da PE adquirirá uma importância

especial. Seus princípios e práticas tendem a se tornar mais relevantes enquanto a nova revolução

industrial torna possível compreender melhor a estrutura da demanda dos clientes e acelerar o

processo de intercâmbio de dados e informações em toda a cadeia de valor. Além disso, a Indústria

4.0 pode mudar a natureza da PE, levando as empresas a níveis superiores de excelência. Assim, a

identificação de uma associação positiva entre a implementação de ambas as abordagens fornece

aos gestores e aos profissionais argumentos para aprimorar seus processos de negócios e lapidar

suas culturas organizacionais de acordo com princípios e práticas da PE, ao mesmo tempo que

introduzem tecnologias de CPS e TIC de forma colaborativa.

5.3. LIMITAÇÕES E PESQUISAS FUTURAS

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76

Nosso estudo apresenta algumas limitações que estão associadas à natureza da amostra

utilizada na pesquisa. Em primeiro lugar, os entrevistados eram de empresas localizadas no Brasil;

suas respostas podem ser influenciadas por questões locais. Em segundo lugar, a nossa amostra de

entrevistados não era probabilística, e os nossos resultados são apenas generalizados às populações

com as mesmas características.

De acordo com Lasi et al. (2014), 'Indústrias 4.0' autênticas são as que aplicam CPS e TIC

extensivamente em todo o fluxo de valor, e tanto o seu desempenho operacional e relevância sócio-

econômica são impactados positivamente e fortalecidos. A identificação dessas empresas e sua

classificação de maturidade foram além do escopo deste estudo, sendo visto como um tópico

promissor de pesquisa futuro.

No que se refere ao objetivo proposto, esta investigação verificou empiricamente a

associação entre a implementação de PE e a Indústria 4.0 para melhorar o desempenho operacional.

Devido à pouca evidência na literatura sobre a probabilidade de qualquer influência

interdependente, uma amostragem maior de empresas seria necessária para estabelecer uma

perspectiva mais geral sobre o problema. Essa extensão exigiria uma coleta e análise de dados mais

elaborada.

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80

CADEIA DE SUPRIMENTOS ENXUTA: UM ESTUDO SOBRE A RELAÇÃO DE SUAS

PRÁTICAS

LEAN SUPPLY CHAIN: A STUDY ON THE RELATIONSHIP OF ITS PRACTICES

Guilherme Luz Tortorella1

Ricardo Giglio2

Diego Fettermann3

Danieli Ferentz4

RESUMO: O objetivo desta pesquisa consiste em analisar a relação entre a implementação das

práticas LSC. Foram encontradas na literatura 27 práticas sobre LSC as quais sofreram uma análise

a respeito do nível de adoção entre 113 empresas de diferentes setores localizados no sul do Brasil.

Os dados coletados foram analisados por meio de técnicas multivariadas (análise de correlação

parcial). Os resultados mostraram que a relação entre as práticas pode não ser sempre colaborativa,

pois existem conjunto de práticas que quando utilizadas simultaneamente tendem a conflitar-se,

dificultando assim seus privilégios. Além disso, o uso de correlações parciais entre conjunto de

práticas LSC fornece caminhos para entender melhor as associações específicas, desconsiderando

o efeito de implementação de todo o conjunto de práticas. Nossa pesquisa também fornece

conhecimento aos gestores e profissionais para compreender melhor como as práticas podem

interagir umas com as outras de forma a trazer benefícios em alguns contextos específicos.

Palavras-chave: Cadeia de suprimentos lean. Gestão da cadeia de suprimentos. Análise de

correlação parcial.

ABSTRACT: The objective of this research is to analyze the relationship between the

implementation of LSC practices. We found in the literature 27 practices on LSCs that underwent

an analysis regarding the level of adoption among 113 companies from different sectors located

in the south of Brazil. The data collected were analyzed using multivariate techniques (partial

correlation analysis). The results showed that the relationship between practices may not always

be collaborative, since there are a set of practices that, when used simultaneously, tend to conflict,

thus hindering their privileges. In addition, the use of partial correlations between the set of LSC

practices provides ways to better understand the specific associations, disregarding the

implementation effect of the whole set of practices. Our research also provides insight to managers

and practitioners to better understand how practices can interact with each other to bring benefits

in some specific contexts.

Keywords: Lean supply chain. Supply chain management. Partial correlation analysis.

1 Professor. Universidade Federal de Santa Catarina. E-mail: [email protected] 2 Professor. Universidade Federal de Santa Catarina. E-mail: [email protected] 3 Professor. Universidade Federal de Santa Catarina. E-mail: [email protected] 4 Estudante Eng. De Prod. Universidade Federal de Santa Catarina. E-mail: [email protected]

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81

1 INTRODUCTION

A Lean Supply Chain (LSC) aims to ensure that value is transferred downstream in the

most efficient way. Vitasek et al. (2005) define LSC as a set of organizations directly linked by

upstream and downstream flows of products, services, information and funds that collaboratively

work to reduce cost and waste by efficiently pulling what is needed to meet the needs of individual

customers. However, the adaptation of lean principles from manufacturing to SCM activities is not

a simple process (HINES et al., 2004) due to several reasons.

The integration of lean practices into SCM still has much to evolve in order to better

comprehend the adaptation of lean approach (SHAMAH, 2013; REZENDE et al., 2016). In this

sense, many organizations have struggled to implement LSC practices due to lack of awareness

and improper implementation approach. Further, several studies have focused only on individual

aspects of LSC and very few researchers have approached both upstream and downstream activities

of the organization (ANAND and KODALI, 2008; JASTI and KODALI, 2015; RIET et al., 2015).

Moreover, despite the fact that the stable and unidirectional theory and concepts of LSC are not

fully developed yet (ANAND and KODALI, 2008), most of the studies have been restricted to a

particular sector instead of a generalization of the LSC framework (PEREZ et al., 2010; PETRA

and MAREK, 2015).

Thus, the aim of this paper is to empirically investigate the relationships among the

implementation of LSC practices. Particularly, we examine the adoption level of 27 LSC practices,

which were identified in a literature review, within 113 manufacturing companies from different

sectors located in Southern Brazil. Data collected was analyzed by means of multivariate

techniques and two control variables were used: (i) level of onshore suppliers and (ii) company’s

experience on LM implementation.

2 LITERATURE REVIEW

According to Frohlich and Westbrook (2001), the most successful companies are the ones

that are expanding and linking their internal improvement processes with external customers and

suppliers. Thus, supplier and customer integration emerges as an important element to improve

competitiveness beyond the organizational boundaries (FLYNN et al., 2010; FRAZZON et al.,

2015). The LSC approach moves away from the current “trading mentality”, in which profit targets

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82

are short term and highly dependent on market prices and the ability to negotiate strongly with

suppliers or customers, to a strategy based on a long-term commitment to supply chain partners,

with a cooperative and systematic waste elimination along the chain (YUSUF et al., 2004;

AGARWAL et al., 2006).

Therefore, a lean implementation across multi-levels of a supply chain is extremely

difficult to achieve (BRUCE et al., 2004; Taylor, 2006). Additionally, at the level of the whole

supply chain it may not be feasible to achieve such ideal perfection. However, from the perspective

of a specific supply chain echelon, it becomes easier to identify whether or not current practices

are lean as well as their level of adoption (LEVY, 1997; MCCULLEN and TOWILL, 2001;

YUSUF et al., 2004; WONG et al., 2014). However, most literature evidence has concentrated on

outlining practices and benefits, assuming that once companies are aware of a set of lean practices,

a lean implementation would automatically be initiated (STRATTON and WARBURTON, 2003;

CAGLIANO et al., 2006; NAIM and GOSLING, 2011).

Further, several studies argue that a truly lean system may obtain benefits from the mutual

application of several complementary practices, whose adoption intensities may vary according to

the existing problems within the organization (WOMACK and JONES, 2003 and 2005;

KISPERSKA-MORON and DE HAAN, 2011; WONG et al., 2014). A review of this literature

reveals a number of practices that are commonly associated with LSC. Figure 1 lists the key LSC

practices most cited in the studied literature. It shows that there is a varying degree of frequency

that each of the practices is considered in the reviewed studies. Practices LSC1 (pull system), LSC2

(close relationship between customer, supplier and relevant parties) and LSC3 (leveled scheduling)

appear to be most frequently included. On the other hand, the practices LSC20 (establishment of

distribution centers), LSC21 (consignment stock) and LSC22 (functional packaging design) seem to

be more recently associated to the LSC literature and, hence, studies that reference those practices

are scarce.

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83

Figure 1 – Main LSC practices found in the literature

Authors: (1) Lamming, 1996; (2) Levy, 1997; (3) Naylor et al., 1999; (4) Jones et al., 2000; (5) McCullen and Towill,

2001; (6) Stratton and Warburton, 2003; (7) Alves Filho et al., 2004; (8) Liker, 2004; (9) Yusuf et al., 2004; (10) Bruce

et al., 2004; (11) Power, 2005; (12) Vitasek et al., 2005; (13) Agarwal et al., 2006; (14) Goldsby et al., 2006; (15)

Taylor, 2006; (16) Cagliano et al., 2006; (17) Anand and Kodali, 2008; (18) Wee and Wu, 2009; (19) Pérez et al.,

2010; (20) Naim and Gosling, 2011; (21) Jasti and Kodali, 2015; (22) Theagarajan and Manohar, 2015; (23) Petra and

Marek, 2015; (24) Boonsthonsatit and Jungthawan, 2015; (25) Chiromo et al., 2015; (26) Riet et al., 2015.

3 RESEARCH METHOD

We used the following criteria to select companies and respondents. First, we targeted at

companies that were (i) implementing lean, and (ii) geographically located in the south of Brazil,

in order to control the effect of environmental factors. Second, respondents should be experienced

in LSCM.

Questionnaires were sent by e-mail to 497 former students of executive education courses

on lean offered by a large Brazilian University. The final sample was comprised of 113 valid

responses (representing a response rate of 22.74%). The sample presents a balanced amount of

companies for each contextual variable. Most respondents were from large companies (74%); the

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84

majority of companies belonged to the first and second tiers of the chain (65%). Most respondents

had more than 3 years of LM experience (56%), and less than 85% of their suppliers onshore (60%).

The questionnaire had two parts. The first part aimed to collect demographic information

of respondents and their companies, such as company size, tier level, level of onshore suppliers,

and LM experience. The second part intended to assess the level of implementation of each of the

27 LSC practices showed in Figure 1. For that, respondents were asked to indicate, based on a 5-

point scale ranging from 1 (not used) to 5 (fully adopted), the degree of adoption of each LSC

practice within their supply chain. Further, we tested all responses related to the 27 LSC practices

for reliability determining the Cronbach’s alpha value. An alpha threshold of 0.6 or higher was

used (MEYERS et al., 2006). LSC practices displayed high reliability, with alpha value of 0.878.

Initially, the responses for the 27 LSCM practices were standardized and analyzed by

simple correlation coefficients (Pearson’s correlation). It could be observed that the correlation

coefficients, denoted by r, for all pairs of practices were all positive and mostly high, ranging from

0.07 to 0.71 with an average value of 0.37. This outcome is somewhat convergent to previous

studies, such as Chen and Paulraj (2004) and Marodin et al. (2016). However, such a perspective

tells us little about the nature of the pairwise interaction between practices, since there might be

practices that conflict to each as their implementation occurs.

Thus, we performed a partial correlation analysis for each pair of practices, as indicated

by Baba et al. (2004). This approach allows controlling the effect of the remaining practices on the

pairwise analysis of a given pair of LSC practices. The partial (linear) correlation measures the

intensity of the linear relationship between two variables, while taking into account their

relationships with other variables. Formally, it measures what the correlation between yj and yk

(pair of LSC practices) would be if other variables y1, y2,..., yp (n-2 LSC practices), hypothesized

to influence the previous pair, were held constant at their mean values. To verify the effect of

multicollinearity on the estimated coefficients, we calculated the variance inflation factors (VIF)

for all practices, which ranged from 1.07 to 3.49 with an average value of 1.58. According to

Belsley et al. (2005), VIF values below 5 indicate that, for the significant partial correlation

coefficients, multicollinearity between practices was not an issue.

This approach was applied to both control variables, whose values were divided into two

levels (high and low). For the first variable, company’s LM experience, the most experienced

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85

companies were the ones with 3 years of implementation or more (high), while the least

experienced ones showed up to 3 years (low). Secondly, for onshore suppliers, a threshold value

of 85% was adopted to indicate the respective categories, high and low.

4 RESULTS

Figure 2 shows the results for partial correlations between LSC for more experienced (≥3

years) companies on LM implementation. From all possible correlations, 122 significant partial

correlations (p-value<0.05) were found for LSC practices in these companies. Surprisingly, 19 of

them indicated a negative partial correlation between the pairs of practices, which is usually

neglected through simple correlation coefficient analysis (LEGENDRE and LEGENDRE, 2012).

Further, from the 27 practices, LSC5 (Two-way feedback assessment) presented the highest amount

of significant partial correlations (10 occurrences) with other practices, and 4 of them pointed to a

negative partial correlation. LSC5 seems to be negatively associated with LSC9 (Keiretsu), LSC12

(Material handling systems), LSC20 (Establishment of distribution centers) and LSC25 (Long term

forecasting of customer demands). However, only the partial correlation with LSC20 presented a

strong negative coefficient value (≤-0.50), as indicated by Hinkle et al. (2003). Brazilian

infrastructure regarding the distribution channels is quite precarious if compared to developed

countries (WANKE and HIJJAR, 2009). Further, road transportation is the most used transport

modal throughout the Brazilian territory, representing 76% of the distribution of industrial inputs

and products (BARTELS and COLOMBO, 2015).

Similarly, Figure 3 presents the results for less experienced companies on LM

implementation (<3 years). From the 351 possible partial correlations, 138 were considered

significant (p-value<0.05), and 24 of those presented a negative partial correlation. Further,

practices LSC20 and LSC22 (Functional packaging design) presented the highest number of

significant partial correlations (10 occurrences) with other practices. From the 24 negative partial

correlations, only two pairs of practices presented a strong relationship (coefficient ≤-0.50); they

are: (i) LSC1 (Kanban or pull system) with LSC16 (Inbound vehicle scheduling); and (ii) LSC14

(Open-minded and in depth market research conducted jointly) with LSC20. Contrary to popular

belief, the implementation of pull system with suppliers or customers seems to conflict with the

adoption of inbound vehicle scheduling.

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Figure 2 – Partial correlations between LSC practices for more experienced companies (LM experience ≥ 3 years; n=63)

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88

Figure3 – Partial correlations between LSC practices for less experienced companies (LM experience < 3 years; n=50)

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Results for partial correlations between LSC practices in companies with lower levels of

onshore suppliers are shown in Figure 4, in which 136 significant partial correlations were found.

Moreover, LSC9 presented the highest number of partial correlations (12 occurrences), from which

3 were negative. However, only the negative relationship between LSC11 (Intervention strategy)

and LSC24 (Deliveries in small lot sizes) was considered strong. Intervention strategy assumes that

both customers and suppliers may intervene on each other’s processes to address improvements;

although the most common approach occurs only upstream (ANAND and KODALI, 2008; PETRA

and MAREK, 2015). As companies start to purchase from offshore suppliers, both practices tend

to be impaired. Nevertheless, since Brazil is a low-cost country, offshore suppliers are financially

less attractive (NICITA et al., 2013) justifying a relatively high threshold value of 85%, while in

developed economies this index may vary from 30 to 50% (GEREFFI, 1999; DOH, 2005).

Finally, partial correlations between the pairs of LSC practices in companies with more

than 85% of their suppliers onshore are displayed in Figure 5. Surprisingly, 165 significant partial

correlations were found, from which 30 were negative. Similar to the previous scenario, LSC9

stands out as the practice with the highest number of significant partial correlations (12

occurrences). With regards to the strong negative partial correlations, only 3 associations were

identified: (i) LSC8 (Value stream mapping) and LSC20; (ii) LSC9 and LSC22; and (iii) LSC20 and

LSC24. In the first and third case, the concurrent establishment of ‘distribution centers’ and

implementation of ‘value stream mapping’ or ‘deliveries in small lot sizes’ appears to be negatively

associated, meaning that Brazilian companies with higher levels of onshore suppliers do not benefit

from adopting LSC20 as expected. In fact, LSC20 should imply the achievement of shorter lead

times and smaller delivery batches, which are emphasized by LSC8 and LSC24. Our results do not

bear such assumptions.

For the second case, the reinforcement of functional packaging design appears to be

conflicting with keiretsu adoption, which establishes that suppliers play a strategic role marshalling

the efforts of their own suppliers (BRUCE et al., 2004; PÉREZ et al., 2010). Keiretsu are used to

link suppliers, manufacturers, and distributors of one industry in order to benefit the parent

company (e.g. Toyota or Honda) (TAYLOR, 2006). Hence, it is reasonable to expect that

companies that fully adopt keiretsu should have their partnership embedded in several ways, such

as packaging design. However, in case of Brazilian context, this result converges to few

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recommendations from previous research (FLEURY and FLEURY, 2003; OGASAVARA and

HOSHINO, 2007), which state that the practice of keiretsu is still an emerging strategy and

companies’ comprehension of its benefits is scarce.

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Figure 4 – Partial correlations between LSC practices for companies with lower levels of onshore suppliers (<85%; n=68)

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92

Figure 5 – Partial correlations between LSC practices for companies with higher levels of onshore suppliers (≥85%; n=45)

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5 DISCUSSIONS AND CONCLUSIONS

In this paper, we have studied the relationship between pairs of LSC practices, through

partial correlation analysis, within an emerging economy context such as Brazil. To achieve

that, 113 manufacturing companies were surveyed with regards to their adoption level of 27

LSC practices widely cited in the literature. Our results showed that the relationship between

these practices may not always be synergistic, since there are pairs of practices that when

concurrently implemented tend to conflict, hindering their benefits. Further, regarding the two

control variables investigated, results indicate that their effect on practices’ relationship may

differ, reinforcing their importance for planning a successful LSC implementation. Similarly,

we identified that certain relationships’ orientation (positive or negative) may only be verified

when considering an emerging economy context. Overall, implications of these results are of

considerable importance and relevance for both researchers and lean practitioners, and they are

described in the following sections.

In theoretical terms, the identification of partial correlations between pairs of LSC

practices provides means to better understand specific associations, disregarding the

implementation effect of the whole set of practices. Surprisingly, results for several pairs

showed absence of significant partial correlations. From the practical perspective, our research

provides managers and practitioners arguments to better understand how practices interact with

each other under specific contexts. Generally, the implementation of LSC practices occurs in a

gradual and continuous way, in which practices are gradually adopted by the supply chain

agents. Indeed, practices are individually implemented as the benefits are obtained and learning

shared.

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PRÁTICAS ENXUTAS E O GERENCIAMENTO DA CADEIA DE SUPRIMENTOS

EM SERVIÇOS DE SAÚDE: UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

LEAN PRACTICES AND SUPPLY CHAIN MANAGEMENT IN HEALTH SERVICES: A

LITERATURE REVIEW.

Gabriela Aline Borges1

Guilherme Luz Tortorella2

RESUMO: Com os crescentes gastos, a redução dos investimentos em saúde, o aumento da

pressão por melhorias dos serviços prestados e dada a complexidade das organizações de

serviços de saúde, muitos são os desafios enfrentados na sua gestão. Sabendo que a cadeia de

suprimentos gera um custo em torno de 40% da despesa total e a fim de obter melhorias, as

organizações de saúde têm buscado a adoção de práticas de gestão oriundas de empresas

manufatureiras. Dentre elas, destacam-se as práticas de Sistema de Produção Enxuta, as quais

têm sido adaptadas ao contexto de serviços de saúde. Sendo assim, este trabalho tem por

objetivo realizar uma revisão da literatura de forma a explorar as publicações referentes a

práticas enxutas na cadeia de suprimentos em serviços de saúde, a fim de apresentar o atual

cenário e identificar desafios e oportunidades na implementação dessas práticas no contexto da

cadeia de suprimentos. A análise da literatura mostra que há relativamente poucos estudos que

abordam práticas enxutas no contexto da cadeia de suprimentos de serviços de saúde indicando

uma lacuna a ser preenchida. Contudo, a análise sugere que a implementação de práticas

enxutas é bastante promissora e crescente nos serviços de saúde e suas cadeias de suprimento,

e inclusive já apresentam resultados positivos, mesmo com implementações mais pontuais e

específicas.

Palavras-chave: Práticas enxutas. Cadeia de suprimentos. Serviços de saúde.

ABSTRACT: In an environment of decreasing investments on healthcare and increasing

expenses and pressure for improvements on provided services, taking in consideration the

complexity of the healthcare organizations, there are several challenges in order to manage

these. Knowing that healthcare supply chain provides a cost around 40% of total expenses,

healthcare organizations have been looking to implement practices which come from

manufacturing companies to find out improvements. Amongst them, stand out the lean

production system methods that are been adapted to the healthcare services context. Therefore,

this paper aims to review the literature in order to explore publications regarding lean

practices in healthcare supply chain, focusing on presenting the current scenario and to identify

challenges and opportunities on implementing these practices in the supply chain environment.

The literature analysis shows that there are few studies addressing lean practices in the field

of healthcare supply chain, indicating a gap to be filled up. Nevertheless, the analysis exposes

that lean practices implementation is promising and growing on healthcare services and on its

1Estudante de mestrado do departamento de Engenharia de Produção e Sistemas, Universidade Federal de Santa Catarina. E-mail: [email protected] 2Professor. Departamento de Engenharia de Produção e Sistemas, Universidade Federal de Santa Catarina. E-mail: [email protected]

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supply chain. Furthermore, it’s already showing positive results, even taking into more

individual and specific implementations.

Keywords: Lean practices; Supply chain; Health services.

1INTRODUÇÃO

Globalmente os gastos com sistemas de saúde têm consumido grandes volumes de

recursos e, por isso, os governos procuram maneiras de conter ou reduzir esses gastos com a

saúde pública, ao mesmo tempo em que asseguram níveis de serviço (WARING; BISHOP,

2010). No Brasil, o sistema de saúde instituído é considerado universal e gratuito, denominado

SUS – Sistema Único de Saúde (CCMS, 2008). Porém, dados da Organização Mundial da

Saúde (OMS) mostram que em 2014, do total investido em saúde, 46,04% foram de origem

pública e 53,96% de origem privada, demonstrando uma contradição à tendência mundial e

também ao instituído pelo sistema de saúde brasileiro (WHO, 2014).

Araújo (2005) identificou em seu estudo que o setor de saúde no Brasil está marcado

por custos crescentes da assistência com uma piora na qualidade dos serviços, e uma crescente

restrição de acesso aos serviços de saúde. Um reflexo disso é o fato de o Brasil ter um gasto per

capita três vezes maior que a China na área da saúde, mas possuir índices semelhantes de

mortalidade infantil e expectativa de vida, indicando uma provável ineficiência deste setor no

país (MPDG, 2015). Além disso, a Organização das Nações Unidas (ONU) divulgou um

relatório referente a satisfação da população sobre seu sistema de saúde, e dos 126 países

avaliados, o Brasil ficou na 108a posição (ONU, 2013), dando mais um indício da ineficiência

desse setor.

Dada a ineficiência observada no sistema de saúde brasileiro, um aumento dos recursos

para a saúde pode não ser considerado um bom investimento (FERRAZ, 2005), devendo o foco

ser, então, no aumento da eficiência na utilização dos recursos. Segundo Dooner (2014), a falha

no uso de processos padronizados custa aos serviços de saúde desperdícios desnecessários.

Além disso, o investimento ineficiente na gestão da cadeia de suprimentos leva ao aumento dos

custos operacionais no setor de saúde (JOHNSON, 2015).

Um fator agravante para a dificuldade de gestão em serviços de saúde está no fato de

os hospitais estarem entre as instituições modernas mais complexas (PLSEK; GREENHALGH,

2001). Essa complexidade é resultante de um grande número de elementos em interações

dinâmicas como, por exemplo, a particularidade de cada paciente e de cada doença, o número

de equipamentos, materiais e medicamentos, a dinamicidade do trabalho e da demanda, assim

como a diversidade técnica, social e organizacional (RIGHI; SAURIN, 2015). Schwarting et

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al. (2011) afirmam que a cadeia de suprimentos em hospitais apresenta grandes oportunidades

para melhorar sistemas de saúde, tanto reduzindo gastos quanto melhorando a qualidade do

atendimento.

Dentre as abordagens de melhoria existentes, a adaptação de conceitos oriundos da

indústria para os serviços de saúde tem sido amplamente aceita, tais como a implementação de

práticas e princípios de sistemas de produção enxuta (SOUZA, 2009). Nesse contexto, a

denominação Lean Healthcare (LH) é usada para se referir a serviços de saúde enxutos. Radnor

et al. (2012) afirmam que os benefícios da implementação das práticas enxutas em serviços de

saúde incluem: redução do tempo de espera, melhoria do nível de serviço, eliminação de

processos duplicados, maior organização do ambiente de trabalho, melhoria na relação com os

outros departamentos, além do aumento da motivação dos funcionários.

A literatura apresenta diversos estudos sobre a implementação enxuta nas cadeias de

suprimentos, comumente denominada Lean Supply Chain (LSC - Cadeia de Suprimentos

Enxuta), em empresas de manufatura (por exemplo, BRUCE et al., 2004; PEREZ et al., 2010;

THEAGARAJAN e MANOHAR, 2015). Embora os estudos sobre a implementação de técnicas

da produção enxuta nos serviços de saúde estejam ganhando espaço na literatura

(FILLINGHAM, 2007; KIM et al., 2006; MAZZOCATO et al., 2010), há ainda uma lacuna a

ser preenchida unindo a implementação dos princípios e práticas de LH na cadeia de

suprimentos hospitalar.

Dado o exposto acima e considerando-se os desafios e as necessidades de melhoria da

eficiência da gestão da cadeia de suprimentos nos sistemas de saúde, o objetivo deste artigo é

explorar a literatura a fim de identificar os desafios e as oportunidades na implementação de

práticas enxutas na cadeia de suprimentos em serviços de saúde e identificar também

oportunidades de pesquisas futuras.

2 REFERENCIAL TEÓRICO

As semelhanças gerais em termos de necessidades e complexidade de fluxo em

comparação com a indústria indicam que a introdução de teorias da cadeia de suprimentos pode

ser benéfica para o setor de serviços de saúde. As organizações de saúde são indústrias de

serviços, o que significa que o cliente faz parte do processo de produção, pois em vez de ir à

loja para comprar um produto acabado, um paciente procura ajuda médica e é uma parte de

todo o processo até o tratamento terminar (ARRONSON et al., 2011).

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Supply Chain Management (SCM - gerenciamento da cadeia de suprimentos)

representa uma maneira de visualizar todas as etapas necessárias, do início ao fim, para entregar

produtos ou serviços ao cliente (MEIJBOOM et al., 2010). Uma vez que essas etapas ocorrem

em várias organizações há espaço para conflitos entre a perspectiva da cadeia de suprimentos e

os limites organizacionais. Dessa forma, as interfaces entre organizações podem tornar-se

barreiras à coordenação e ao fluxo de produtos (HALLDORSSON et al., 2007).

Os procedimentos em serviços de saúde são complexos, sendo que a cadeia de

suprimentos incorpora sequências de ações definidas para a geração de seus produtos e serviços.

Cada procedimento requer uma combinação específica de produtos e serviços, sua composição

pode variar entre diferentes organizações e mesmo de acordo com os diferentes tipos de

pacientes e profissionais da mesma organização. Não só os produtos oferecidos nas

organizações de cuidados de saúde são complexos envolvendo alta habilidade, mas os insumos

utilizados em sua produção são cada vez mais sofisticados, com custos elevados (JAHRE et al.,

2012).

Dobrzykowski et al. (2014) realizaram uma análise estruturada sobre pesquisas na área

de gestão de operações e de cadeia de suprimentos em serviços de saúde publicadas entre os

anos de 1982 e 2011 e os resultados sugerem que a frequência de estudos aumentou

significativamente a partir de 1995 e novamente em 2000, mantendo-se nos níveis mais altos

desde então. Essa tendência de crescimento dos estudos sobre gerenciamento nos serviços de

saúde indica que os principais periódicos de gestão de operações e de cadeia de suprimentos

estão tentando abordar a necessidade de pesquisa em serviços de saúde identificada por diversos

estudiosos, como Mckone‐ Sweet et al. (2005), Shah et al. (2008), Boyer e Pronovost (2010),

dentre outros.

Muitas organizações de serviços de saúde têm reconhecido a importância da adoção

de práticas de gerenciamento de cadeia de suprimentos, contudo, a aplicação de técnicas,

métodos e melhores práticas desenvolvidas originalmente na indústria é, muitas vezes,

problemática (DE VRIES; HUIJSMAN, 2011). Kwon et al. (2016) afirmam que o termo

"gerenciamento da cadeia de suprimentos" é freqüentemente usado por profissionais de saúde

sem ter um conceito bem estabelecido desta ferramenta de gerenciamento. Além disso, um

fracasso na compreensão dos princípios da cadeia de suprimentos pode ter levado os tomadores

de decisão a um conceito de cadeia de suprimentos estreitamente definido (por exemplo,

relacionando-a apenas a compras) deixando muitas outras áreas da cadeia de suprimentos

inexploradas ou negligenciadas resultando em soluções sub-ótimas.

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Schoen et al. (2005, 2007) realizaram estudos comparando experiências de pacientes

em diversos países, com características distintas relacionadas à saúde, e mesmo assim puderam

encontrar deficiências semelhantes nas principais áreas de serviços de saúde. Dentre os

problemas encontrados, quatro se mostraram mais evidentes, são eles: comunicação, segurança

do paciente, tempos de espera e integração dos serviços. Sendo assim, a aplicação das práticas

de gestão da cadeia de suprimentos no setor de saúde não se relaciona apenas com bens físicos,

como medicamentos, produtos farmacêuticos, dispositivos médicos e auxiliares de saúde, mas

também com o fluxo de pacientes (BEIER, 1995). Na prática, a gestão dos pacientes geralmente

se concentra em decisões quanto à variabilidade e complexidade da demanda dentro de um

hospital, mas, obviamente, também existem importantes questões de coordenação entre

organizações de serviços de saúde (LITVAK et al., 2005). Semelhante às empresas de

manufatura, muitas questões de melhoria em serviços de saúde relacionam-se com o problema

de como uma alta utilização dos recursos pode ser combinada com um alto nível de serviço ao

cliente (BRENNAN, 1998).

Dessa forma, há uma necessidade latente de melhoria dos serviços de saúde, em

especial do gerenciamento da cadeia de suprimentos. Dentre as abordagens de melhoria

existentes, a adaptação de conceitos oriundos da indústria tem sido amplamente aceita, como é

o caso da implementação de práticas e princípios de sistemas de produção enxuta (SOUZA,

2009).

3PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Com a finalidade de explorar a literatura referente às práticas enxutas na cadeia de

suprimentos de serviços de saúde, este trabalho combinou as palavras-chaves “lean healthcare”

e “supply chain management” para refinar e recuperar as publicações nos títulos, resumos e/ou

palavras-chave. A busca foi realizada pelo Portal de Periódicos CAPES/MEC e as publicações

foram identificadas por meio das palavras-chave nas bases de dados que apresentaram maior

número de publicações, são elas: OneFile (GALE), Materials Science & Engineering Database,

Technology Research Database e Scopus (Elsevier). Essa busca resultou em 49 artigos que

sofreram um refinamento mais acurado e são citados no decorrer deste trabalho.

Além disso, utilizou-se também o Google Acadêmico como fonte de pesquisa, para

melhor embasar os assuntos que serão apresentados a seguir.

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

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A aplicação de práticas enxutas nos serviços de saúde encontra-se em estágio inicial

quando comparado ao mesmo processo na indústria manufatureira. Os primeiros estudos

voltados à implementação enxuta nos serviços de saúde datam por volta dos anos 2000

(SOUZA, 2009), conforme pode ser observado na Figura 1. Para Radnor et al. (2012), a

implementação das práticas enxutas nos serviços de saúde encontra-se num estágio equivalente

à indústria automotiva no começo dos anos 90.

Figura 1 - Perspectiva histórica da evolução das práticas enxutas em serviços de saúde

Fonte: Souza (2009) adaptado de Laursen (2003).

Filser et al. (2017) realizaram um estudo bibliométrico sobre publicações na área de

Lean Healthcare entre os anos de 2002 e 2015 e os resultados mostraram que há um crescimento

relativamente constante no número de publicações anuais nessa área. O aumento das

publicações acompanha o potencial aumento da significância da filosofia Lean na área de saúde

(MILLER e CHALAPATI, 2015).

A implementação de práticas enxutas nos serviços de saúde implica em capacitar os

profissionais da saúde a melhorar continuamente seu trabalho enquanto o realizam (SPEAR,

2005), priorizando os pacientes, identificando o que é valor para os mesmos, eliminando

desperdícios, e reduzindo o tempo para realização dos processos (WOMACK et al., 2005).

As tarefas que não agregam valor são comumente separadas em categorias de

desperdícios, conhecidas também como os sete tipos de desperdícios da produção enxuta.

Bushell e Shelest (2002) e Machado et al. (2014) citam alguns exemplos dos desperdícios que

são comumente encontrados nos ambientes hospitalares, são eles:

a) Superprodução: relacionadas às atividades realizadas acima da quantidade

demandada, como exemplos pode-se citar: realização de testes além do necessário; duplicação

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de exames por desconfiança; realização de exames desnecessários por falta de preparo da

equipe;

b) Transporte excessivo: transportes por distâncias maiores que as necessárias tanto de

pacientes, como de equipamentos e medicamentos;

c) Movimentação excessiva: relacionado ao movimento desnecessário na execução de

atividades, ou seja, a ineficiência da própria operação. Pode-se citar o excesso de movimentação

pelo hospital dos profissionais da saúde, como médicos e enfermeiros;

d) Processamento inapropriado: corresponde às atividades de processamento que não

agregam valor aos produtos. Como exemplo, tem-se o tempo de tratamento excessivo pela

dificuldade em estabelecer procedimentos padrão;

e) Retrabalho ou defeitos: erros de medicação, infecções dos pacientes no hospital,

informação errada ou não disponível, comunicação ineficiente.

f) Esperas: relacionado à problemas de sincronização de produção, às tarefas com alto

tempo de preparação, ou falhas no sistema de informação da organização. Pode-se mencionar

os pacientes à espera de diagnósticos, tratamentos e cirurgias, acúmulo de pacientes na sala de

espera;

g) Estoque excessivo: relacionado à existência de estoques elevados ou à falta de

produto. Pode-se mencionar como exemplo entradas e saídas de insumos e produtos em excesso

ou desnecessários.

Esses desperdícios comumente encontrados no setor de saúde acabam por se tornar

oportunidades de ação para melhoria do processo. A aplicação de práticas enxutas permite que

as organizações de serviços de saúde melhorem a qualidade do serviço oferecido e reduzam os

erros e atrasos por meio do envolvimento dos funcionários no processo de melhoria contínua

(GRABAN, 2009; JAHRE et al., 2012; SHAMAH, 2013).

Womack et al. (2005) identificam cinco princípios enxutos para maximizar o valor e

eliminar desperdícios nos serviços de saúde:

1- Especificação precisa do que é valor para o cliente: Antes de implementar os

princípios enxutos é essencial identificar as necessidades e expectativas dos clientes

(KOLLBERG et al., 2006). Womack et al. (2005) afirmam que o paciente deve ser visto como

o cliente primário o qual define o valor nos serviços de saúde. Para Amirahmadi et al. (2007),

valor nos serviços de saúde é aquilo que o paciente pagaria para receber. Além disso, Womack

e Jones (2005) comentam que dentre as expectativas do paciente tem-se: obter um diagnóstico

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sem falhas, minimizar seu custo total, evitar perder tempo, e receber o melhor tratamento

quando ele quiser, sem esperas longas.

2- Identificação do fluxo de valor para cada processo e remoção dos desperdícios:

Gronroos (2000) identifica três elementos que constituem os processos essenciais nos serviços

de saúde: (i) acessibilidade aos serviços de saúde; (ii) interação com a organização de saúde;

(iii) participação do paciente. Um dos grandes desafios na implementação de práticas enxutas

em serviços de saúde está na dificuldade dos funcionários conseguirem identificar desperdícios

em suas tarefas diárias. Segundo Womack et al. (2005), reconhecer que grande parte de suas

atividades diárias não adicionam valor ao paciente é relativamente difícil para os funcionários

desse setor.

3- Implementação do fluxo contínuo: A fluidez é alcançada ao focar no paciente e

seguindo-o do início ao fim do processo, ignorando barreiras funcionais e departamentais,

criando fluxo contínuo (KOLLBERG et al., 2006). Dessa forma, transforma-se o serviço de

saúde em algo que possa ser feito sem esperas e atrasos, quando requisitado (NELSON-

PETERSON; LEPPA, 2007). É importante salientar neste caso a necessidade de separar

diferentes fluxos de pacientes, atividades e bens, permitindo que cada um se mova de acordo

com sua própria lógica e ritmo.

4- Estabelecer um sistema puxado: Com um sistema puxado, a organização fornece os

produtos e serviços apenas quando a necessidade é identificada (KOLLBERG et al., 2006).

Fine et al. (2009) afirmam que a medida que um sistema puxado é implementado, o tempo entre

o paciente demandar o cuidado até o serviço ser entregue começa a diminuir.

5- Gerenciamento visando à perfeição: Segungo Kollberg et al. (2006), esse é o

princípio mais importante para os serviços de saúde, uma vez que as falhas podem acarretar

conseqüências graves para os pacientes. Sendo assim, é fundamental a busca por constante

melhoria tanto nos processos, quando nos tempos, recursos e informações necessárias para

fornecer o serviço (AMIRAHMADI et al., 2007).

A adoção de práticas enxutas nos serviços de saúde vem sendo ampliada, uma vez que

têm trazido resultados expressivos nas organizações (SOUZA, 2009). Graban (2016) apresenta

alguns exemplos de melhorias resultantes de implementação de práticas enxutas, que são

apresentados a seguir:

a) Segurança e Qualidade:

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▪ Reduziu-se as infecções adquiridas no hospital, salvando 57 vidas, reduzindo o

período de permanência da unidade de terapia intensiva (UTI) e reduzindo os custos em mais

de US$5 milhões ao longo de dois anos - Universidade de Centro Médico da Pensilvânia;

▪ Redução das taxas de readmissão de pacientes com doença pulmonar obstrutiva

crônica (DPOC) em 48% - UPMC St. Margaret Hospital, Pensilvânia;

▪ Evitou-se 87 readmissões por insuficiência cardíaca por 12 meses em quatro hospitais

da Califórnia, economizando US$830.000;

b) Tempos de espera e Tempo de permanência:

▪ Redução do tempo de espera do paciente por cirurgia ortopédica de 14 semanas para

31 horas (do primeiro atendimento até a cirurgia). Melhores índices de satisfação no hospital

(de 68% “muito satisfeito” para 90%) - ThedaCare, Wisconsin;

▪ A redução do tempo de permanência do paciente na emergência foi de 29% e evitou

um gasto de US$ 1,25 milhões em nova construção do setor de emergência - Avera McKennan,

Sul de Dakota;

▪ Redução do tempo de espera para realizar colonoscopias de seis semanas para menos

de 24 horas, reduzindo o custo por paciente em 9,5% - Palo Alto Medical Foundation,

Califórnia.

c) Fluxo:

▪ Redução do tempo de descontaminação e esterilização do instrumento em 54%,

melhorando a produtividade em 16% - Kingston General Hospital, Ontário;

▪ Redução do tempo de rotatividade de sala de operação de 60 minutos para 30

minutos, e taxas de utilização aumentadas de 25% para 65% - Guangdong Hospital Provincial

da Medicina Tradicional Chinesa, China.

d) Satisfação:

▪ Melhora nas taxas de satisfação do paciente/família na Unidade de Tratamento

Intensivo Neonatal de 45% para 99% - Franciscan St. Francis, Indianapolis;

▪ Melhora na satisfação dos médicos de 63% para 87%, sendo a mais alta classificação

em cuidados gerais entre 170 grupos médicos da Califórnia por dois anos consecutivos - Sutter

Gould Medical Foundation, Califórnia.

e) Financeiro:

▪ Obteve-se um benefício de redução de quase US$ 200 milhões ao longo de sete anos,

ao mesmo tempo que atinge os menores índices de mortalidade entre os membros do centro de

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saúde acadêmico do Consórcio do Sistema de Saúde da Universidade em 2011" e evitando

demissões - Denver Health, Colorado;

▪ Evitou-se US$ 180 milhões em gastos de capital através de implementação de

práticas enxutas - Seattle Children's Hospital, Washington.

Além disso, em termos acadêmicos, a literatura apresenta algumas pesquisas

relacionadas à implementação de práticas enxutas e a área de gerenciamento da cadeia de

suprimentos em serviços de saúde, conforme apresentados a seguir:

▪ Aronsson et al. (2011) realizaram um trabalho exploratório com o objetivo de

descobrir o que é importante considerar quando se desenvolve uma cadeia de suprimentos em

serviços de saúde, o que é necessário para estabelecer uma orientação da cadeia de suprimentos

e como as práticas ágil e enxutas podem ser usadas como estratégias de processo para melhorar

o desempenho da cadeia de suprimentos;

▪ Guimarães e Carvalho (2013) concluíram em seus estudos que compreender os níveis

de maturidade de implantação enxuta e de terceirização da cadeia pode abrir novas perspectivas

de estudos sobre fatores de sustentabilidade enxuta e melhores relações de terceirização em

organizações de saúde;

▪ Jahre et al. (2012) tinham como objetivo de seus estudos contribuir para a

compreensão de como a redução da complexidade da cadeia de suprimentos pode melhorar a

saúde nos países em desenvolvimento. Os autores sugerem que o uso de ferramentas como

práticas enxutas, ajuda a combater a falta de produto nas organizações e pode contribuir para

uma melhor integração entre a informação e os fluxos de mercadorias;

▪ Kafetzidakis e Mihiotis (2012) realizaram uma pesquisa em alguns hospitais na

Grécia, onde foi observado que não havia um departamento de gerenciamento da cadeia de

suprimentos estruturado. Apesar de os departamentos de logística ou os departamentos que

desempenham esse papel, serem fortalecidos através da melhoria ou implementação de

parcerias e práticas enxutas, o índice de adaptação dos métodos permanece em níveis baixos;

▪ Laureani et al. (2013) fizeram um trabalho com o objetivo de apresentar um estudo

de caso sobre a implementação das técnicas de Lean Six Sigma através de uma série de projetos

estudantis realizados em ambiente hospitalar. Os autores mostraram que usuários iniciantes de

Lean Six Sigma podem agregar valor à organização em um período de tempo relativamente

curto;

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▪ Virtue et al. (2013) propõem o uso da modelagem de simulação juntamente com as

ferramentas e a metodologia enxutas para ajudar os gestores de serviços de saúde a mapear os

processos e identificar as melhorias.

Dessa forma, devido à implementação da filosofia lean, as organizações contam

atualmente com resultados logísticos que oferecem vantagens competitivas, como flexibilidade,

preço, qualidade, rigor nas aquisições, nos inventários e na distribuição (MACHADO et al,

2014), e embora considerado ainda em estágio inicial a implementação de práticas enxutas no

gerenciamento da cadeia de suprimentos em serviços de saúde tem se mostrado benéfico e cada

vez mais recorrente visto os resultados positivos que trazem.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

As mudanças trazidas pela globalização têm exigido que as organizações busquem

ferramentas capazes de sustentar seus negócios. Os serviços de saúde, que estão inseridos em

um contexto de custos crescentes e de alta complexidade organizacional, possuem desafios de

gestão ainda maiores.

A cadeia de suprimentos em hospitais, bem como em outros tipos de organizações,

está interligada com todos os departamentos e tem grande influência tanto nos resultados como

nos processos. Levando em conta que a cadeia de suprimentos tem grande responsabilidade

tanto financeira quanto ligada ao nível de serviço, tem-se tornado comum a busca por

ferramentas de melhorias a fim de obter melhores resultados nesse setor. Dentre as ferramentas,

a implementação de práticas e princípios de sistemas de produção enxuta está entre as mais

aceitas, uma vez que possuem como objetivo geral auxiliar na identificação de desperdícios que

não agregam valor ao paciente, auxiliando na redução dos custos operacionais.

Assim, o presente trabalho apresentou alguns conceitos relacionados à cadeia de

suprimentos e à implementação enxuta, e como os mesmos são inseridos no contexto de

serviços de saúde. Os autores apresentaram os desperdícios mais frequentemente encontrados

nas organizações de saúde, e que se tornam desafios para a gestão, bem como as práticas enxutas

que podem maximizar o valor e eliminar os desperdícios. Além disso, esse artigo buscou

explorar a literatura referente à Lean Healthcare Supply Chain Management a fim de

compreender e identificar publicações referentes ao tema.

O resultado da busca específica resultou em um número relativamente pequeno de

publicações, porém, isso se justifica uma vez que a implementação enxuta em sistemas de saúde

é considerada ainda em estágio inicial. Somado a isso, boa parte das publicações abordam a

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implementação de práticas isoladas em pontos específicos, ou seja, há ainda uma lacuna a ser

preenchida no que diz respeito à Lean Healthcare Supply Chain Management. De qualquer

forma, os exemplos encontrados na literatura e apresentados no presente artigo demonstram

que a implementação de práticas enxutas é bastante promissora e crescente nos serviços de

saúde e suas cadeias de suprimento, e inclusive já mostram resultados positivos, mesmo as

implementações sendo pontuais.

Sendo assim, como oportunidades de pesquisas futuras recomenda-se a realização de

estudo bibliométrico, para melhor detalhar os estudos referentes à implementação de práticas

enxutas em serviços de saúde no contexto das cadeias de suprimento, a fim de identificar quais

práticas são mais frequentemente implementadas, quais países mais tem investido em estudos

sobre o tema e possivelmente quais as dificuldades são enfrentadas no processo de

implementação. Além disso, cabe realizar estudo de caso a fim de mapear o fluxo de valor da

cadeia, verificar os atuais níveis, situações, dificuldades e/ou oportunidades de implementação

enxuta nas cadeias de suprimento.

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SESSÃO TEMÁTICA - EMPREENDEDORISMO E INOVAÇÃO

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EMPREENDEDORISMO E PSICOLOGIA: UM ESTUDO ACERCA DA

IMPORTÂNCIA DO PERFIL EMPREENDEDOR

Bruna Adames1

Gustavo Assi2

Reginaldo Souza da Rocha3

Amilton Fernando Cardoso4

RESUMO: A definição do empreendedorismo é ampla e suscita interesse em graduandos,

docentes e pesquisadores como um todo, que buscam identificar indivíduos que tenham

potencial empreendedor ou ainda, que possuam características concernentes a uma pessoa

empreendedora. Assim sendo, o presente artigo propõe-se a exibir ao público leitor uma

contextualização interdisciplinar entre o Empreendedorismo e a Psicologia, a qual promove

reflexões e/ou indagações acerca da importância do perfil empreendedor. No tocante à

metodologia, utilizou-se exclusivamente de uma revisão da literatura científica encontrada nas

bases de pesquisas nacionais. Inicialmente, propõe-se discorrer sobre os aspectos conceituais

do Empreendedorismo, como o perfil empreendedor, e da Psicologia, apresentando um breve

resumo histórico, bem como a relevância do tema para o(a) profissional psicólogo(a). Em

seguida, aponta-se as nuances acerca do profissional psicólogo diante de sua formação. Do

mesmo modo, o estudo indica que o ato de empreender emerge como um modo de destaque no

mercado de trabalho, bem como a valorização da profissão, uma vez que, posiciona o

profissional em uma dinâmica mais proativa frente às constantes incertezas do mercado. Por

fim, obtém-se como resultado que, indivíduos com perfis empreendedores são de suma

importância para o desenvolvimento social, por apresentarem características que promovem e

possibilitam relações dinâmicas, tanto profissional quanto pessoal.

Palavras-chave: Psicologia. Empreendedorismo. Perfil Empreendedor.

1Acadêmica de Psicologia do Centro Universitário de Brusque – UNIFEBE. E-mail: [email protected]. 2Acadêmico de Psicologia do Centro Universitário de Brusque - UNIFEBE. E-mail: [email protected]. 3Acadêmico de Psicologia do Centro Universitário de Brusque - UNIFEBE. E-mail: [email protected]. 4 Doutor em Ciências pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica. Professor do Centro Universitário de Brusque –

UNIFEBE. E-mail: [email protected].

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ABSTRACT: The definition of entrepreneurship is broad and gives rise to interest among

undergraduates, teachers and researchers as a whole, who seek to identify individuals who have

entrepreneurial potential or who possess characteristics concerning an entrepreneurial person.

Therefore, the present article aims to present to the reading public an interdisciplinary

contextualization between Entrepreneurship and Psychology, which promotes reflections and /

or inquiries about the importance of the entrepreneurial profile. Regarding the methodology, it

was used exclusively a review of the scientific literature found in the national research bases.

Initially, it is proposed to discuss the conceptual aspects of Entrepreneurship, such as the

entrepreneurial profile, and Psychology, presenting a brief historical summary, as well as the

relevance of the theme to the professional psychologist (a). Next, the nuances about the

professional psychologist in front of his formation are pointed out. In the same way, the study

indicates that the act of undertaking emerges as a prominent way in the labor market, as well as

the valuation of the profession, since, it positions the professional in a more proactive dynamics

in the face of the constant uncertainties of the market. Finally, we obtain as a result that

individuals with entrepreneurial profiles are of paramount importance for social development,

because they present characteristics that promote and enable dynamic relationships, both

professional and personal.

Keywords: Psychology. Entrepreneurship. Profile Entrepreneur.

1 INTRODUÇÃO

O sentimento de urgência em estar inserido no mercado de trabalho logo após o término

da faculdade está, de modo geral, associado ao interesse em obter uma autonomia financeira

(KRAWULSKI, 2004). Muitos dos graduandos acreditam que por serem competentes, sérios e

dedicados, possuem um espaço garantido no tão almejado emprego. Contudo, existem

questões, como por exemplo a situação econômica, que por muitas vezes, encontram-se fora

do controle, o que geralmente provoca sensações de insegurança e frustrações (VALORE;

SELIG, 2010).

Assim sendo, um terço dos psicólogos mesmo diante da formação não exercem a

profissão. Portanto, a inserção desses profissionais no mercado de forma autônoma pode ser

uma das opções, frente ao número insuficiente de vagas para os de trabalhadores

(MARCONDES, 2014). Soalheiro (2016) alude que o acadêmico, ao estudar os grandes

homens e mulheres que contribuíram para a evolução da psicologia como ciência, espelham-se

nestes quando pensam em uma atuação profissional, e conquistam uma vaga de emprego no

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programa de assistência social da prefeitura, acreditando muitas vezes não terem outra opção,

quando na verdade lhes faltam habilidades mercadológicas, ou ainda, perfil empreendedor.

No âmbito deste artigo, o qual metodologicamente resulta exclusivamente de uma

revisão de literatura, visa apresentar ao público leitor uma contextualização interdisciplinar

entre o Empreendedorismo e a Psicologia, tanto no que se refere à ciência, quanto à profissão,

na qual busca promover reflexões e/ou indagações acerca da temática em questão.

Salienta-se, portanto, que este capítulo não se trata de um estudo acerca do curso de

Psicologia, mas sim da interdisciplinaridade entre a Psicologia e o Empreendedorismo. Para tal,

serão abordados, a seguir, um breve resumo histórico do surgimento da Psicologia enquanto

ciência e profissão, o Empreendedorismo e o perfil do empreendedor para, em seguida, abordar

os resultados e discussões acerca do tema.

2 REVISÃO DE LITERATURA

2.1 O QUE É PSICOLOGIA?

Para encontrarmos uma definição de Psicologia que seja, até certo modo, abrangente

com a evolução tecnológica e científica atualmente instruída na academia, faz-se necessário um

breve apanhado histórico das origens da Psicologia.

O termo Psicologia, do grego psyché, alma, e logos, razão, surgiu com os filósofos

gregos como uma tentativa de sistematizar um senso sobre o espírito humano. A alma, ou

espírito, seria então algo imaterial, que conteria todo pensamento, sentimentos de amor e ódio,

toda irracionalidade, desejo, sensação e percepção humanas (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA,

2008).

No Império Romano, e na Idade Média, a psicologia é imbuída de um caráter explicativo

religioso, uma vez que a Igreja Católica monopolizava o saber. Santo Agostinho, do mesmo

modo que Platão, compreendia o homem de modo dualista, ou seja, dividia o homem em corpo

e alma. Para ele, a alma não era somente a sede da razão, mas a prova da manifestação divina

no homem (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008).

Com Descartes (1596-1659), postulando a separação entre mente e corpo, afirmava que

o corpo desprovido de espírito era apenas uma máquina, o que permitiu o estudo do corpo

humano morto. Desse modo, o avanço da ciência na era renascentista permitiu o estudo da

Anatomia e Fisiologia, o que iria contribuir para o progresso da própria Psicologia (BOCK;

FURTADO; TEIXEIRA, 2008).

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A Psicologia, enquanto ciência, vêm se desenvolvendo a criação do primeiro

Laboratório de Experimentos em Psicofisiologia em 1879 por Wilhelm Wundt (1832-1926).

Wundt buscava realizar, com sua Nova Psicologia, o exame científico da experiência consciente

humana, com ferramentas metodológicas da fisiologia experimental (GOODWIN, 2010).

Desde então, diversas outras abordagens metodológicas e filosóficas foram sendo

desenvolvidas, ou incorporadas à Psicologia, para melhor compreender seus respectivos objetos

de estudo, como a Psicanálise, a Gestalt, o Behaviorismo, a Fenomenologia, o Existencialismo,

o Cognitivismo, entre diversas outras (SCHULTZ, 2012).

Desse modo, falar de Psicologia dependerá de qual perspectiva filosófica se está

partindo. Um psicólogo psicanalista poderá dizer que o objeto de estudo da Psicologia é o

inconsciente, enquanto um psicólogo comportamentalista poderá dizer que o objeto de estudo

é o comportamento humano. Num sentido mais amplo, o objeto de estudo da Psicologia é o ser

humano, sendo o pesquisador inserido nessa categoria a ser estudada. Portanto, a concepção

humana que o pesquisador traz consigo contamina sua própria pesquisa (BOCK; FURTADO;

TEIXEIRA, 2008).

Como já apresentado, a ciência psicológica tem se sustentado, de um ponto de vista

histórico, pela sua diversidade de modelos teóricos e metodológicos. Enquanto profissão, no

Brasil, a psicologia foi regulamentada em 1962, estando sujeito à posse de um diploma, leis

regulamentadoras e órgãos fiscalizadores (CRUZ, 2016).

Identificando as categorias de atuação do Psicólogo, podem-se elencar o acolhimento,

orientação, acompanhamento psicológico, avaliação e diagnóstico psicológico, tratamento

psicológico e reabilitação, promoção, prevenção, atenção à saúde e práticas de cuidado,

consultoria, assessoramento e execução de projetos e programas, pesquisa e desenvolvimento

de métodos, técnicas e instrumentos, ensino e processos de capacitação, cujos demandantes

podem ser indivíduos, grupos, comunidades, organizações públicas, privadas e mistas (CRUZ,

2016). Portanto, falar em Psicologia é falar em ciência e profissão.

2.2 O EMPREENDEDORISMO E O PERFIL EMPREENDEDOR

Dolabela (1999b) salienta que o empreendedorismo é um neologismo derivado da livre

tradução da palavra entrepreneushipi e utilizado para designar os estudos relativos ao

empreendedor e às suas características e atuação. Os primeiros autores que escreveram sobre

empreendedorismo, tais como Cantillon em 1755 e Jean-Baptiste Say em 1803, associavam o

empreendedorismo ao desenvolvimento econômico. Ambos autores, não estavam interessados

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somente em economia, mas inclusive em criação, desenvolvimento e gerenciamento de

empresas.

No entanto, foi o austríaco pensador Schumpeter em 1959, quem possibilitou o impulso

à temática de empreendedorismo, associando por sua vez, o empreendedor à inovação e

tornando-o o agente que inicia e explica o desenvolvimento econômico (DOLABELA, 1999a).

Portes (2006) menciona que na visão de Schumpeter a recém conjunção de meios de produção,

ou seja, a inovação é o fenômeno principal do desenvolvimento econômico e o empreendedor

tem a função de realizar essa inovação.

Dolabela (1999b) destaca que David C. MacClelland em 1972 iniciou as contribuições

das ciências do comportamento para o estudo do empreendedorismo, caracterizando-o portanto,

como o pesquisador verdadeiro no que concerne às contribuições desta temática, cuja teoria,

afirma que os empreendedores possuem grande necessidade de realização, e com isso, tinham

a motivação para empreender.

Ainda, Dolabela (1999b) afirma que as pesquisas dos comportamentalistas contribuíram

para a definição das características empreendedoras, possibilitando aos futuros empreendedores

compreender quais as razões que os levaram a abrir um negócio. Filion (1999) menciona que o

empreendedorismo demonstra essa nova concepção na qual vislumbra o empreendedor como

um ser que imagina, desenvolve e realiza suas visões.

Segundo Filion (1999), a visão é um conjunto de ideias e objetivos que se quer atingir

no futuro, dividida em três categorias: a) Visões emergentes: resulta das ideias acerca dos

produtos/serviços imaginados pelo empreendedor antes do empreendimento; b) Visão central:

surge das visões emergentes e se torna no escopo claro de atuação do empreendedor. Essa visão

é composta de dois elementos: 1) externo, o espaço que o produto irá ocupar no mercado e 2)

interno, a empresa capaz de viabilizar o produto/serviço; c) Visões complementares: são

informações gerenciais adquiridas pelo empreendedor que irão dar suporte à visão central.

Caracterizar um empreendedor de sucesso dispõe-se de uma complexa série de

elementos que os tornam capazes de montar um negócio de sucesso. Porém há aqueles que

nascem com o dom de empreender, chamado de empreendedor nato, e existe ainda, o

empreendedor que influenciado pelo meio em que vive, pode tornar-se empreendedor por

intermédio da formação, influência familiar, estudo e até mesmo a própria prática

(DOLABELA, 1999a).

O Quadro 1 sistematiza as dez principais características que compõem o perfil do

empreendedor:

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Quadro 1: Dez principais características que compõem o perfil do empreendedor.

Fonte: Ferreira Silva, Costa Ribeiro de Lima e Belmiro Firmino Silva (2015).

Ademais, ressalta-se que existe uma diferença entre empreendedor e o administrador

cujo âmbito laboral diz respeito às organizações, pois, no que concerne ao primeiro

respectivamente, possui autonomia para definir seu objeto e consequentemente determinar o

próprio futuro. Os empreendedores são ainda, visionários, e por este motivo direciona e limita

suas atividades para o campo estratégico das organizações. Já no que refere ao administrador,

este por sua vez, limita e coordena as atividades diárias (FILION, 1999).

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

O processo metodológico deste artigo se dá por meio de pesquisa bibliográfica. Esse

tipo de pesquisa busca verificar todo o referencial já editado da temática a ser abordada. Desse

modo, o levantamento permite uma visão histórica, com o objetivo de desvendar, escolher e

analisar as principais contribuições sobre a temática pesquisada (RAUPP; BEUREN, 2004).

Vale ressaltar ainda que é de suma importância a verificação da veracidade, por parte do autor,

das informações que as obras pesquisadas possam conter (PRODANOV; FREITAS, 2013).

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

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Como já discutido anteriormente, o conceito de ‘psicologia’, tanto como ciência quanto

como profissão, é muito abrangente. Portanto, o entrelaçamento dos saberes da psicologia com

o empreendedorismo poderia vir a ser um grande promotor de novas práticas e possibilidades

de atuação, que traria um benefício mútuo entre profissionais da psicologia e indivíduos que

procuram por este serviço.

Antemão a relevância acerca do tema empreendedorismo para o(a) profissional

psicólogo(a), se faz necessário discorrer sobre a importância da educação empreendedora no

ensino superior em sua totalidade. A esse propósito Lima et al. (2015, apud SHAEFER;

MINELLO, 2016) corroboram ao citar que o ato da educação empreendedora tem sido

reconhecida não apenas no Brasil, mas em diversos países do mundo.

Acredita-se que a referida educação tende a maximizar a qualidade de preparação e o

número de jovens inovadores, proativos e com novas ideias, tanto para exercerem função

laboral em uma organização ou função autônoma, quanto para executar o próprio negócio

(GUERRA; GRAZZIOTIN, 2010). Mendes (2011) argumenta ainda, que o empreendedorismo

teria de ser visto integralmente nas grades curriculares dos cursos de graduação, uma vez que

existem múltiplas questões inerentes às suas características, que deveriam estar presentes no

perfil de qualquer indivíduo/profissional apto a atuar no mercado de trabalho.

Tschá e Cruz Neto (2014) mencionam que a educação empreendedora não deve ser vista

como uma disciplina isolada, mas sim compreendido em sua interdisciplinaridade. Sendo

assim, não poderia ser diferente no que concerne ao curso de Psicologia, e portanto, no discorrer

deste texto será oportunizada ao leitor a correlação entre empreendedorismo e o(a) profissional

psicólogo(a).

Dornelas (2007) apresenta a realidade sobre o mito paradoxal visto por muitos na

sociedade com relação aos empreendedores, no qual alude o empreendedor como nato, aquele

que nasceu para o sucesso. A realidade é outra, ou seja, enquanto muitos empreendedores

nascem com um certo nível de capacidade intelectual, empreendedores de sucesso concentram-

se em relevantes habilidades, experiências e contatos profissionais. Logo, a propensão de ter

persuasão e a busca incessante por oportunidades, aprimora-se com o passar do tempo.

Ao longo do curso de Psicologia, nos deparamos frequentemente com discursos que

promovem o atendimento humanizado com o foco nas necessidades do paciente. Este discurso,

embora seja extremamente necessário para desenvolver uma prática psicoterápica eficaz, pode

levar a um entendimento do acadêmico de que o profissional de psicologia é uma pessoa

caridosa com inclinação ao trabalho voluntário. A obtenção de renda com o conhecimento

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obtido durante a graduação fica em segundo plano nos debates promovidos em aula, o que pode

levar a tendência, apontada por Malvezzi, Souza e Zanelli (2010), de que graduandos do curso

de psicologia buscam inicialmente seu egresso no mercado de trabalho por meio de empregos

em escolas, hospitais, ONGs e em empresas privadas, e não por meio do empreendedorismo.

Por conseguinte, os mesmos autores supracitados apresentam o lastimável dado: cerca

de um terço dos recém-formados em psicologia, não exercem a profissão. Dessa forma, pode-

se promover reflexões acerca do por que isto acontece? É importante se pensar nas múltiplas

facetas complexas que poderiam explicar tal fenômeno indagado. Porém, um dos motivos,

possivelmente relaciona-se ao modo como se dá a formação estrutural em psicologia neste país,

a qual diversas vezes não propaga a prática do empreendedorismo em suas grades curriculares,

o que tem sido um erro.

Para Soalheiro (2016), o curso de psicologia apresenta uma falha no que se refere ao

ensinamento do empreendedorismo, pois ao longo do curso muitos acadêmicos acreditam estar

pagando por um tipo de conhecimento que ao final da graduação possa ser usado para obterem

uma carreira de sucesso. O mesmo autor declara que o acadêmico, ao estudar os grandes

homens e mulheres que contribuíram para a evolução da psicologia como ciência, espelham-se

nestes quando pensam em uma atuação profissional, e conseguem no máximo uma vaga de

emprego no programa de assistência social da prefeitura, acreditando muitas vezes não terem

outra opção, quando na verdade lhes faltam habilidades mercadológicas.

O sentimento de urgência em arrumar um emprego logo após o término da faculdade

está, de um modo geral, ligado ao interesse em obter uma autonomia financeira

(KRAWULSKI, 2004). Muitos graduandos acreditam que por serem competentes, sérios e

dedicados, possuem um espaço garantido no mercado de trabalho. Contudo, existem questões,

como a situação econômica, que estão fora do controle, podendo gerar uma sensação de

insegurança ao se deparar com a dificuldade de encontrarem seu lugar no mercado (VALORE;

SELIG, 2010). Como já mencionado anteriormente, é grande o número de psicólogos que não

exercem a profissão. Segundo Marcondes (2014), a inserção do profissional no mercado de

forma autônoma pode ser uma opção, frente ao número insuficiente de vagas para o de

trabalhadores.

A motivação para se tornar um empreendedor segundo Barbosa (2007), está ligada a

um impulso interno que nos leva a agir, motivado por um vislumbre de um futuro onde pretendo

chegar para alcançar meus objetivos. Os motivos que levam os indivíduos a traçarem suas metas

e objetivos podem estar ligadas a uma necessidade identificada por eles, ou até mesmo pelo

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simples desejo de alcançar o ‘sucesso’. O mesmo autor, ainda ressalta que sucesso é um

entendimento subjetivo de cada indivíduo, não podendo ser padronizado.

Para Canever (2013), o empreendedorismo nos permite questionar como que uma

determinada prática está sendo executada e, por meio de um esforço criativo, dar origem a

novas formas de fazer, exercendo na sociedade um papel fundamental no desenvolvimento

socioeconômico, tendo em vista que muitas das ideias criativas promovem a inovação de

produtos e serviços e criam novas oportunidades de trabalho. O mesmo autor, ressalta a

tendência de alguns estudantes, filhos de pais empreendedores, iniciarem seus negócios

próprios, pois seguem o exemplo de seus pais, como modelos a serem seguidos.

Tendo em vista a tendência supracitada, é possível questionar se o graduando em

psicologia não estaria embasando sua escolha de entrada no mercado de trabalho em um modelo

aprendido em seu histórico de convivência. Para Canever (2013), as universidades, com o

objetivo de ensinar o empreendedorismo, poderiam fazer uso de estudos de caso de

profissionais de sucesso, oportunizando ao acadêmico ter um maior conhecimento de sua área

de atuação e de ter um modelo a seguir. Levando em consideração a relevância de ter um

modelo a seguir, qual o modelo de sucesso de um graduando em psicologia?

Em uma pesquisa realizada por Marcondes (2014), para identificar as características

empreendedoras de profissionais da psicologia que são considerados profissionais de sucesso

em suas áreas, constatou-se que alguns dos entrevistados depararam-se no início de suas

carreiras com a representação social apontada por Dutra (2004), ao declarar que o senso comum

pouco sabe sobre o fazer do psicólogo e que muitas vezes ainda o associa com aquele que trata

de doentes mentais. Entretanto, o que poderia ser entendido como um obstáculo, foi

compreendido como uma oportunidade de esclarecer para a população as possibilidades de

atuação e benefícios do trabalho do profissional da psicologia, com isto passaram a ser vistos

por seu público alvo como referência em suas áreas de atuação. Esta atitude, foi fundamental

para a obterem clientes no início de suas carreiras, mostrando o resultado de uma atitude

empreendedora (MARCONDES, 2014).

Na referida pesquisa supracitada, constatou-se que, dos seis psicólogos pesquisados,

todos optaram por abrir sua própria empresa, entretanto apenas dois escolheram a clínica

psicológica como empreendimento e, além da clínica, complementavam sua renda atuando na

área da docência. Os outros quatro entrevistados atuavam na área da psicologia organizacional

e do trabalho, e suas empresas eram voltadas a prestação de consultoria em organizações do

setor privado. Além da consultoria em empresas, um dos entrevistados também prestava

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consultoria na área do esporte, mostrando que ao se falar em empreendedorismo na área da

psicologia, não necessariamente precisamos pensar na abertura de uma clínica (MARCONDES,

2014).

Assim sendo, é notória a pertinência que refere ao(a) psicólogo(a) e seu perfil

empreendedor cujas características supracitadas aludem à inserção deste profissional no

mercado de trabalho que dar-se-á após a sua formação acadêmica. Uma vez que tal mercado

tem sido cada vez mais competitivo, requer-se que os indivíduos façam de algum modo a

diferença entre seus concorrentes (DORNELAS, 2007).

Ao abordar as relações entre Empreendedorismo e Psicologia, trata-se, portanto, de

uma temática que se retrata em um ambiente de múltiplas ambiguidades e intrincadas

compreensões, como, aliás, o próprio processo de aceitação e reconhecimento pessoal, cujo os

profissionais tanto buscam, e ainda, quanto ao Empreendedorismo que hoje não é visto como

ciência ou arte, no entanto, é uma importante prática presente nas mais variadas profissões

(BASTOS; GONDIM, 2010).

Sabe-se que indivíduos com perfis empreendedores são de suma importância para o

desenvolvimento social, por apresentarem características que promovem e possibilitam

relações dinâmicas, tanto profissional quanto pessoal (CUNHA, 1997), cujas características

deverão estar presentes na grade curricular do curso de Psicologia, e subsequentemente aos

psicólogos e suas diversificadas praxis. Afinal, desde 1975, Shapiro (apud PINHEIRO, 2001)

já mencionava: o principal recurso utilizado por um indivíduo empreendedor é ele mesmo, ou

seja, é ele em sua essência.

Nota-se ainda, que indivíduos com perfis empreendedores apresentam benefícios não

somente a si próprio, mas ainda, no que diz respeito ao desenvolvimento social, por exibirem

características que promovem e possibilitam relações dinâmicas, tanto profissional quanto

pessoal (CUNHA, 1997). Logo, tais habilidades ou características oriundas do saber do

Empreendedorismo, deveriam estar presentes na matriz curricular do curso de Psicologia, e

subsequentemente aos psicólogos e suas diversificadas práticas.

Recomenda-se, portanto, que as Instituições de Ensino Superior propiciem a

interdisciplinaridade em seus conteúdos, para que assim os envolvidos possam ser

contemplados, em especial no que concerne à matriz curricular do curso de Psicologia, visto

ser a temática indicada neste estudo.

Por fim, de acordo com a revisão de literatura aludida no presente capítulo, pode-se

compreender que os comportamentos empreendedores no que tange aos profissionais

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psicólogos, emergem como um modo de destaque no mercado de trabalho, bem como a

valorização da profissão, uma vez que o ato empreendedor coloca o profissional em uma

posição mais proativa frente às incertezas do mercado.

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A RELAÇÃO ENTRE A PRÉ-INTERNACIONALIZAÇÃO DAS PEQUENAS E

MÉDIAS EMPRESAS E OS RECURSOS PARA INOVAÇÃO

THE RELATIONSHIP BETWEEN THE PRE-INTERNATIONALIZATION OF SMALL AND

MEDIUM-SIZED ENTERPRISES AND THE RESOURCES FOR INNOVATION

Andrei Carlos Torresani Paza1

Graziela Breitenbauch de Moura 2

RESUMO: As pequenas e médias empresas (PMEs) apesar da limitação de recursos, muitas

vezes, almejam a internacionalização para redução de custos e inovação tecnológica, mantendo-

se competitivas no mercado. Baseado neste contexto, este artigo busca verificar a relação entre

o estágio da pré-internacionalização das PMEs e os recursos para inovação. Analisou-se os

recursos da inovação da empresa para internacionalização a partir do conhecimento sobre o

mercado internacional na percepção dos gestores (SARASVATHY, 2009) e dos laços

comerciais (ASPELUND; KOED; MOEN, 2007). Identificou-se os principais conceitos da

literatura sobre o estágio da pré-internacionalização e a importância dos recursos para a

internacionalização. Por meio de uma survey aplicada em 104 PMEs da cidade de Itajaí em

Santa Catarina (SC), utilizou-se a técnica da regressão logística binária. Os resultados da

pesquisa apontam que as variáveis independentes conhecimento sobre o mercado internacional

e laços comerciais juntas apresentaram elevadas chances de associação para as empresas serem

exportadoras. O trabalho trouxe contribuições para a literatura da pré-internacionalização de

empresas e insights para os estudiosos do tema. Para futuras pesquisas, sugere-se a aplicação

deste trabalho em outras cidades e a utilização de outras variáveis referentes aos recursos das

empresas para internacionalização, ajudando na evolução para o entendimento da influência

destes no processo de internacionalização das PMEs.

Palavras-chave: Pré-internacionalização. Recursos. Inovação. Pequenas e médias empresas.

ABSTRACT: Small and medium-sized enterprises (SMEs) despite the limited resources often

seek internationalization for cost reduction and technological innovation to remain competitive

in the market. Based on this context, this article seeks to verify the relationship between the

pre-internationalization stage of SMEs and the resources for innovation. The company's

innovation resources for internationalization were analyzed based on knowledge about the

international market from the perception of the managers (SARASVATHY, 2009) and its

networks (ASPELUND; KOED; MOEN, 2007). It was identified the main concepts of the

literature on the stage of pre-internationalization and the importance of resources for

internationalization. Through a survey applied in 104 SMEs of the city of Itajaí in Santa

Catarina (SC), the binary logistic regression technique was used. The results of the research

indicate that the independent variables knowledge about the international market and networks

together presented high chances of association for the companies to be exporters. The work

brought contributions to the literature of the pre-internationalization of companies and insights

for scholars. For future research, we suggest the application of this work in other cities and the

1 Estudante de Comércio Exterior da Universidade do Vale do Itajaí - UNIVALI. E-mail: [email protected] 2 Doutora em Administração pela Universidade do Vale do Itajaí - UNIVALI. Professora e pesquisadora no curso

de Comércio Exterior da Univali. E-mail: [email protected]

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use of other variables referring to the resources of companies for internationalization, helping

in the evolution of the understanding of their influence in the process of SMEs’

internationalization.

Keywords: Pre-internationalization. Resources. Innovation. Small and medium sized

enterprises.

1 INTRODUÇÃO

A intensificação do fluxo comercial entre os países elevou a concorrência das empresas

tanto no mercado doméstico quanto no mercado estrangeiro. A fim de manterem-se

competitivas, diversas empresas optaram pela internacionalização como alternativa para

redução de custos, inovação tecnológica e busca de novas oportunidades de negócios.

As empresas de grande porte geralmente possuem maior disponibilidade de recursos e

facilidade de empréstimos e financiamentos para expansão de seus negócios. Por outro lado, as

pequenas e médias empresas (PMEs) são geralmente caracterizadas por seus recursos limitados,

enfrentando com maior dificuldade as barreiras para internacionalização.

Os recursos, o comprometimento dos gestores e a rigidez da empresa relacionados aos

estímulos recebidos no mercado doméstico e externo, podem desencadear um impulso para a

internacionalização. Estes fatores estão presentes no estágio denominado pré-

internacionalização, no qual as empresas buscam a prontidão para expansão bem-sucedida

(TAN; BREWER; LIESCH, 2007).

Neste contexto, este estudo busca verificar a relação entre o estágio da pré-

internacionalização das PMEs e os recursos para inovação, identificando na literatura os

principais conceitos sobre o estágio da pré-internacionalização, verificando a importância dos

recursos para a internacionalização e relacionando a pré-internacionalização e os recursos para

inovação.

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 O ESTÁGIO DA PRÉ-INTERNACIONALIZAÇÃO

Anterior à primeira exportação as empresas vivenciam o estágio da pré-

internacionalização (TAN; BREWER; LIESCH, 2007), no qual a empresa mantém o foco na

superação da distância física entre os mercados (KHOJASTEHPOUR; JOHNS, 2015). Welch

e Wiedersheim (1980) e Andersen (1993) sugerem que este estágio impacta na sucessibilidade

da expansão internacional. Neste estágio, as empresas pesquisam informações, avaliando os

mercados, os riscos e a viabilidade de exportarem seus produtos (MEJRI; UMEMOTO, 2010).

De acordo com Mudde (2007), este estágio de planejamento requer, dependendo da postura da

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empresa, um processo de “olhar antes de saltar” caso a mesma seja favorável ao oportunismo

arriscado, ou uma compreensão de que as oportunidades oferecem alto potencial para o sucesso

caso a empresa seja extremamente conservadora.

Cassilas e Acedo (2013) caracterizam a pré-internacionalização como o momento no

qual as empresas passam por mudanças quanto à percepção de seus indivíduos e em sua

estrutura organizacional, as quais estimulam a sua orientação internacional. Desta forma, este

estágio compreende atividades pré-internacionalização que levam as empresas a estarem

prontas para internacionalização (KADRIC; RANGELOVA, 2013).

2.2 OS RECURSOS DA EMPRESA PARA INTERNACIONALIZAÇÃO

Wernerfelt (1984, p.172, tradução nossa) define recursos como “qualquer coisa que

possa ser considerada como uma força ou fraqueza de uma determinada empresa”. Estes

recursos podem ser definidos como tangíveis ou intangíveis e são influenciadores no processo

de internacionalização (BURLAMAQUI; PROENÇA, 2009).

Para Burlamaqui e Proença (2009), os recursos tangíveis correspondem aos ativos

visíveis da empresa, perceptíveis com maior facilidade. Hitt, Ireland e Hoskisson (2007)

postulam que, embora existam exceções, a maior parte dos recursos tangíveis podem ser

comercializados, perdendo força como diferencial competitivo. Gohr, De Medeiros e Santos

(2015) concluíram em seu estudo que os recursos tangíveis podem representar uma ameaça a

competitividade das empresas, pois tendem a ser menos valiosos, sustentáveis e versáteis.

Os recursos intangíveis são dificilmente mensurados, pois correspondem a ativos

enraizados na história da empresa (HITT; IRELAND; HOSKISSON, 2007), competências e

habilidades (HALL, 1992). De acordo com as suas características, podem representar um

diferencial competitivo, valorizando a empresa (BURLAMAQUI; PROENÇA, 2009).

Kylläheiko et al. (2011) postulam que os recursos das empresas são utilizados para

explorar novas oportunidades relacionadas ao desenvolvimento de produtos e negócios no

mercado internacional. Para Carneiro (2007), a inovação em produção, distribuição e

comunicação desempenha um papel fundamental neste processo, pois aumenta a suscetibilidade

de ganho produtivo e representa vantagens competitivas.

Roper e Love (2002) também sugerem que a capacidade de inovação representa

diferencial competitivo entre as empresas. Além disso, os mesmos indicam que a inovação está

positivamente relacionada com a probabilidade de exportação.

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Para Madhok (1997), a falta de certos recursos, como os financeiros, físicos e

tecnológicos, pode limitar a internacionalização das PMEs. O autor também postula que a falta

de oportunidades e de conhecimento gerencial é capaz de restringir as atividades internacionais

destas empresas. Neste sentido, denota-se a importância dos laços comerciais, pois estes

representam uma importante fonte de auxílio para o desenvolvimento dos recursos limitados,

bem como para a compreensão do empreendorismo internacional (ASPELUND; KOED;

MOEN, 2007).

Zahra, Matherne e Carleton (2003) afirmam que o processo de internacionalização é

facilitado por meio dos conhecimentos e habilidades dos responsáveis pelo P&D da empresa e

não tão somente pela tecnologia propriamente utilizada. Crick e Jones (2000) concordam com

esta preposição afirmando que a orientação empreendedora relacionada aos recursos de alta

tecnologia orientam a empresa a se internacionalizar mais rapidamente.

Johanson e Vahlne (1977) estabelecem uma relação direta entre o conhecimento sobre

o mercado internacional e o comprometimento da empresa para o mesmo, afirmando que quanto

maior o conhecimento sobre o mercado, mais valiosos são os recursos da empresa e, portanto,

maior o comprometimento.

Kandampully (2002) destaca que os laços comerciais também são fundamentais para

o alcance dos conhecimentos e das capacidades necessárias para atender com sucesso as

necessidades dos mercados internacionais. O conhecimento e os laços comerciais promovem

diferenciais competitivos propulsionadores para internacionalização (BELL; CRICK;

YOUNG, 2004).

Sarasvathy (2009) postula que as empresas alcançam mercados de exportação e novos

clientes por meio da interação entre os laços comerciais já estabelecidos e os prospectados. As

características dos gestores como habilidades e conhecimentos sobre o mercado internacional,

auxiliam esta relação.

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Este trabalho trata de uma pesquisa quantitativa, caracterizada pela quantificação e

mensuração dos dados coletados (MARTINS; THEÓPHILO, 2009). Para realização da coleta

de dados foi utilizada uma survey online pelo Google Forms, aplicada em PMEs do município

de Itajaí localizado no estado de Santa Catarina (SC). O banco de dados das empresas foi obtido

pela Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico, Emprego e Renda vinculada à

Prefeitura Municipal do município.

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A população corresponde ao conjunto completo de elementos sobre os quais se deseja

fazer algumas inferências (COOPER; SCHINDLER, 2011). Para formar a população do estudo

consideraram-se as empresas de pequeno e médio porte, com mínimo de 20 funcionários e

máximo de 499 funcionários, conforme SEBRAE (2017). Não foram consideradas as empresas

prestadoras de serviços e de comércio na área de comércio exterior como Trading Companies

e Comerciais Exportadoras, bem como empresas sem fins lucrativos e pessoas físicas.

Respondente preferencialmente responsável pela gestão da empresa bem como o responsável

legal da empresa.

O questionário foi baseado na variável Recurso de Inovação da empresa para os

negócios internacionais usando escala do tipo Likert e de diferencial semântico de 5 pontos

(sendo 1 – discordo fortemente; 2 – discordo; 3 – nem concordo, nem discordo; 4 – concordo;

5 – concordo fortemente). De acordo com HAIR JR. et al. (2005), a aplicação de questionário

on-line possibilita o envio do mesmo para um grande número de potenciais respondentes, com

menores custos e maior velocidade, além de produzir dados de alta qualidade. O questionário

foi publicado na internet e as empresas foram convidadas por e-mail a participar do estudo.

Os dados obtidos foram digitados em uma planilha eletrônica, onde inicialmente fez o

pré-processamento dos dados segundo as indicações de Hair Jr. et al (2009). Observou-se que

não apresentou dados faltantes nos 104 questionários respondidos.

Hair Jr. et al. (2009) sugerem que a amostra deve ser superior a 50 observações, sendo

aconselhável no mínimo 100 casos para assegurar resultados mais robustos (HAIR JR. et al,

2005). A amostra final foi de 104 PMEs respondentes (questionários validados, sem valores

ausentes, o que representa uma taxa de resposta de 40%) permitindo ser uma amostra

representativa de uma população de 258 empresas. A amostra retratou bem as características da

população que representa para ser válida.

A variável dependente foi dicotômica: se a empresa realizava atividades de exportação

ou não. As variáveis independentes utilizadas foram os gestores possuem conhecimento sobre

o mercado internacional (SARASVATHY, 2009), os gestores têm contato a possíveis

importadores, representando os laços comerciais (ASPELUND; KOED; MOEN, 2007) e a

interação entre conhecimento sobre o mercado internacional e laços comerciais.

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

Esta seção trata dos resultados da pesquisa e da sua interpretação, os quais estão

apresentados por meio de uma regressão logística binária, que foi utilizada para prever o

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desenvolvimento da empresa ser exportadora com a utilização dos recursos para inovação com

o uso do software SPSS 22.0.

Para este modelo não foi apresentado outliers. A proposta do coeficiente alpha de

Cronbach é verificar o grau de confiabilidade das respostas decorrentes de um questionário

(ALMEIDA et al., 2010). Este coeficiente relaciona à medida que cada item está presente em

um constructo. O elevado valor do alpha, decorre de um grupo de fatores que representa um

valor comum. A magnitude de alpha de 0,7 para 0,8 são bons (HAIR JR. et al., 2005). O alfa

varia de 0 a 1. Na maioria das pesquisas é considerado um alfa de 0,7 como mínimo, embora

um coeficiente mais baixo possa ser aceitável (HAIR JR. et al., 2005). Os resultados de nosso

estudo indicaram Alfa de Cronbach 0,547.

A seguir foi feita uma análise descritiva dos itens calculando-se a média, o desvio-

padrão, a assimetria e a curtose. Estas duas últimas possibilitam definir se as distribuições

podem ser consideradas aproximadamente normais (HAIR JR. et al., 2009). Finney e DiStefano

(2006) afirmam que dados com coeficientes no intervalo de [-2, 2] de assimetria e de [-7, 7] de

curtose, em módulo, podem ser considerados quase normais.

A simetria de distribuição (Skewness) variou de 0,347 a 0,599, denotando distribuição

substancialmente assimétrica. Quanto à Curtose os valores negativos indicam uma distribuição

flat de -1,030 a -0,986. O desvio-padrão descreve a dispersão da variabilidade dos valores de

distribuição, a partir da média e é considerado o índice mais valioso da dispersão (HAIR JR. et

al., 2005).

Quadro 01 – Resultados estatísticos

Conhecimento

Acesso a

importadores

N Válido 104 104

Ausente 0 0

Média 2,63 2,47

Mediana 3,00 2,00

Modo 1 1

Desvio Padrão 1,380 1,455

Assimetria 0,347 0,599

Erro de assimetria padrão 0,237 0,237

Curtose -1,030 -0,986

Erro de Curtose padrão 0,469 0,469

Fonte: Dados da pesquisa (2017) processados SPSS 22.0

Foi testada a ausência de multicolinearidade no modelo. Utilizando a variável

dependente nunca exportou, as estatísticas de colinearidade indicaram para ambas as variáveis

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conhecimento e laços comerciais tolerância 0,858 e VIF 1,166. Menard (1995) sugere que um

valor de tolerância menor do que 0,1, provavelmente indica um problema sério de colinearidade

e também sugere que um valor VIF maior do que 10 é motivo de preocupação. Nestes dados os

valores estão acima de 1 em VIF e maiores que 0,1 em tolerância.

A regressão logística foi rodada para testar o indexador entre as empresas não

exportadoras e as empresas exportadoras usando o método de avançar em etapas (forward

stepwise) pelo critério de máxima verossimilhança (ou Likelihood Ratio – LR). Segundo Hair

Jr. et al. (2005), o método stepwise é o processo de estimação de modelos estatísticos em que

as variáveis independentes são adicionadas ou retiradas do modelo de acordo com o poder de

discriminação que agregam ao grupo de variáveis preditivas.

Já o forward stepwise adiciona as variáveis com base na significância verificada nos

scores estatísticos e as remove dos testes conforme a estatística de máxima verossimilhança

obtida pelo conjunto de dados (FIELD, 2009).

A regressão logística estima a chance de ocorrência de determinado evento, explicando

o impacto das variáveis independentes sobre a dependente em termos de razão de chance. É

empregada para o desenvolvimento de modelos que visem entender ou predizer a relação

existente entre uma variável binária e um conjunto de variáveis explicativas (HOSMER;

LEMESHOW, 2000).

Os códigos indicadores do parâmetro atribuídos à variável categórica previsora foram

escolhidos com duas categorias sendo 0 para a empresa que nunca exportou, ou seja, não

exportadora e 1 para a empresa que já exportou considerada como empresa exportadora.No

quadro 02 verifica-se a classificação.

Quadro 02 - Tabela de Classificaçãoa,b

Observado Previsto

Nunca Exportou Porcentagem

correta Nunca Exportou Já exportou

Etapa 0 Nunca Exportou Nunca Exportou 76 0 100,0

Já exportou 28 0 ,0

Porcentagem global 73,1

a: a constante está incluída no modelo; b: o valor de recorte é 0,500

Fonte: Dados da pesquisa (2017) processados SPSS 22.0

Observa-se que 76 empresas são empresas não exportadoras e 28 empresas são

exportadoras. Dessa forma, o sistema prevê que todas as empresas não são exportadoras, essa

previsão estará correta 76 vezes em 104 (isto é, 73,1% aproximadamente). Assim, das duas

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opções, é melhor prever que todas as empresas não são exportadoras porque isso resulta em um

número maior de previsões corretas. No quadro 03 são apresentadas as variáveis na equação

sem nenhuma variável independente (Etapa 0).

Quadro 03: Variáveis na equação

B S.E. Wald Df Sig. Exp(B)

Etapa 0 Constante -0,999 0,221 20,401 1 0,000 0,368

Fonte: Dados da pesquisa (2017) processados SPSS 22.0

Verifica-se que o valor da constante (b) é igual a -0,999. No quadro 04 são referenciadas

as variáveis não presentes na equação.

Quadro 04: Variáveis não presentes na equação

Pontuação df Sig.

Etapa 0 Variáveis Conhecimento 11,682 1 ,001

Laços Comerciais 7,397 1 ,007

Conhecimento & Laços Comerciais 15,771 1 ,000

Estatísticas globais 16,242 3 ,001

Fonte: Dados da pesquisa (2017) processados SPSS 22.0

A estatística qui-quadrado (estatística global) dos resíduos é de 16,242, que foi

significativa a p<0,05. Assim, os coeficientes para as variáveis que não estão no modelo são

significativamente diferentes de zero. Caso o p seja menor que 0,05 isso significa que uma das

variáveis que não foram inseridas no modelo é relevante para o modelo, assim eu devo construir

um modelo mais complexo para isso. A variável que será selecionada para inclusão é a que

apresentar maior valor para a estatística escore e que seja significante ao nível de 0,05, nesse

exemplo, a variável Conhecimento & Laços Comerciais. O Quadro 05 trata dos testes dos

coeficientes de modelo Omnibus.

Quadro 05: Testes de coeficientes de modelo Omnibus

Qui-quadrado df Sig.

Etapa 1 Etapa 14,606 1 0,000

Bloco 14,606 1 0,000

Modelo 14,606 1 0,000

Fonte: Dados da pesquisa (2017) processados SPSS 22.0

Observa-se que o qui-quadrado tem como hipótese nula que o ajuste do modelo sem

nenhum previsor é igual ao ajuste do modelo construído no bloco 1, ou seja, nesse caso

compara-se que o ajuste do modelo incluindo Conhecimento & Laços Comerciais não mudou

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a previsão e como hipótese alternativa que o ajuste do modelo atual é diferente do ajuste do

modelo sem previsores, ou seja, que o conhecimento & laços comerciais se ajusta ao modelo

sem nenhum previsor. Então, como o P>0,05 considera-se a hipótese alternativa, ou seja, o

modelo contendo Conhecimento & Laços Comerciais tem um ajuste no modelo sem o previsor.

O quadro 06 representa o resumo do modelo.

Quadro 06: Resumo do modelo

Etapa Verossimilhança de log -2 R quadrado Cox & Snell R quadrado Nagelkerke

1 106,552a 0,131 0,190

a. Estimação finalizada no número de iteração 4 porque as estimativas de parâmetro mudaram foram alteradas para

menos de ,001.

Fonte: Dados da pesquisa (2017) processados SPSS 22.0

No resumo do modelo tem-se o valor de verossimilhança de log -2. Este valor quanto

maior pior o modelo é, uma vez que ele representa o quanto de informação não é explicada pelo

modelo. Ele é importante para comparar modelos para verificar qual é o mais adequado. Tem-

se também o R2 de Cox & Snell que não atinge o valor máximo de 1 e o R2 de Nagelkerke que

é um ajuste do modelo de R2 de Cox & Snell que também não chega a 1, assim o valor de R2

de Nagelkerke é sempre maior. Em seguida tem-se o quadro 07 do teste de Hosmer e

Lemeshow.

Quadro 07: Teste de Hosmer e Lemeshow

Etapa Qui-quadrado df Sig.

1 8,231 7 0,313

Fonte: Dados da pesquisa (2017) processados SPSS 22.0

Aqui temos um valor significativo, o que é um indicativo de que temos um modelo que

irá prever bem os valores. A não rejeição da hipótese (p< 0,05) implica o bom ajuste do modelo

que irá prever bem os valores, eu escolho a hipótese nula. No quadro 08 tem-se a tabela de

classificação.

Quadro 08: Tabela de Classificaçãoa

Observado

Previsto

Nunca Exportou Porcentagem

correta

Nunca Exportou Já exportou

Etapa 1 Nunca Exportou Nunca Exportou 72 4 94,7

Já exportou 21 7 25,0

Porcentagem global 76,0

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a: O valor de recorte é 0,500

Fonte: Dados da pesquisa (2017) processados SPSS 22.0

Esta tabela mostra quantos casos foram classificados de forma adequada. No total o

sistema classificou 76% de forma adequada, bem melhor do que o modelo sem previsor

nenhum. O Quadro 08 apresenta as variáveis na equação.

Quadro 08: Variáveis na equação

B S.E. Wald Df Sig.

Exp(B

)

95% C.I. para

EXP(B)

Inferio

r

Superi

or

Etapa 1a Conhecimento & Laços

Comerciais 0,119 ,033 12,777 1 0,000 1,126 1,055 1,202

Constante -1,969 ,372 28,032 1 0,000 0,140

a: Variável(is) inserida(s) na etapa 1: Conhecimento * Laços Comerciais .

Fonte: Dados da pesquisa (2017) processados SPSS 22.0

Tem-se a constante que representa o intercepto na regressão linear e a linha mostrando

a interação das duas variáveis. Na estatística de Wald que tem como hipótese nula que o

coeficiente b=0 e a hipótese alternativa que b é diferente de 0. Se o coeficiente for igual a zero

a variável independente não terá um peso na equação. Espera-se que a variável significativa

tenha um p<0,05. Conhecimento & Laços Comerciais têm um coeficiente diferente de 0 e

significante. Na coluna Exp(B) tem-se a odds ration ou razão de chances. A variável

Conhecimento & Laços Comerciais tem uma razão de chances de 1,12 vezes maior de as

empresas serem exportadoras.

Desta forma, as empresas que possuem gestores com conhecimento sobre o mercado

internacional e laços comerciais estão mais propensas a se tornarem exportadoras. Isto pode ser

explicado por meio da teoria de de Bell, Crick e Young (2004), a qual sugere que o

conhecimento e os laços comerciais promovem diferenciais competitivos que propulsionam as

empresas a expansão internacional, bem como pelo estudo de Sarasvathy (2009), o qual postula

que a relação entre os dois recursos auxilia as empresas a alcançarem mercados de exportação

e novos clientes.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os resultados da pesquisa sugerem que a interação das variáveis independentes

conhecimento sobre o mercado internacional e laços comerciais apresentaram elevadas chances

de associação para as empresas serem exportadoras.

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Para as empresas não exportadoras este estudo apresenta uma oportunidade para

compreenderem a relevância da aprendizagem no estágio da pré-internacionalização para

internalização de conhecimento e dos laços comerciais para o desenvolvimento de seus

recursos, enquanto para as empresas exportadoras o estudo permite ter mais consciência dos

fatores importantes que permeiam a internacionalização.

Algumas limitações foram identificadas no decorrer do estudo, visto que algumas

empresas não tinham e-mails ou o e-mail estava desatualizado, e também, algumas não

desejaram participar da pesquisa.

O trabalho trouxe contribuições para a literatura da pré-internacionalização de

empresas e insights para os estudiosos do tema. Para futuras pesquisas, sugere-se a aplicação

deste trabalho em outras cidades e a utilização de outras variáveis referente aos recursos das

empresas para internacionalização, ajudando na evolução para o entendimento da influência

destes no processo de internacionalização das PMEs.

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INOVAÇÃO SOCIAL NUMA ONG SITUADA NO SUL DO BRASIL: PRÁTICAS DE

RECONHECIMENTO, EMPODERAMENTO E INCLUSÃO

SOCIAL INNOVATION IN AN NGO SITUATED IN THE SOUTH OF BRAZIL: PRACTICES

OF RECOGNITION, EMPOWERMENT AND INCLUSION

Nei Antonio Nunes1

Simone Sehnem2

Louise Corseuil3

Icaro Roberto Azevedo Picolli4

RESUMO: Este estudo visa, sobretudo, analisar as ações sociais desenvolvidas por uma ONG

do Sul do Brasil denominada Rede Interinstitucional Vilson Groh (IVG). A pesquisa se

configura como um estudo exploratório, com abordagem qualitativa e na forma de estudo de

caso, com dados coletados por meio de entrevista pessoal em profundidade e levantamento

documental na Rede Interinstitucional Vilson Groh (IVG), situada na cidade Florianópolis/SC.

Conforme os resultados obtidos na investigação, por criar condições para o reconhecimento, o

empoderamento e a inclusão social, geradores de emancipação individual e coletiva, as ações

sociais realizadas na Rede Interinstitucional Vilson Groh (IVG) se coadunam aos preceitos

norteadores das inovações sociais.

Palavras-chave: Inovação Social. ONG. Emancipação.

ABSTRACT: This study aims, in particular, to analyze the social actions developed by an

NGO from the South of Brazil called the Interagency Network Vilson Groh (IVG). The research

is configured as an exploratory study, with a qualitative approach and in the form of a case

study, with data collected through an in - depth personal interview and documentary survey in

the Inter - institutional Network Vilson Groh (IVG), located in Florianópolis city / SC.

According to the results obtained in the research, by creating conditions for recognition,

empowerment and social inclusion, generators of individual and collective emancipation, the

social actions carried out in the Inter-institutional Network Vilson Groh (IVG) are in line with

the precepts guiding social innovations.

Keywords: Social Innovation. NGOs. Emancipation.

1 INTRODUÇÃO

As atuais crises políticas e econômicas das últimas décadas têm revelado a premência

do debate sobre as grandes questões sociais de nosso tempo. Dentre elas, emergem temas como

a desigualdade social, a fome e a violência. Além do paulatino valor epistemológico atribuído

1Professor. Universidade do Sul de Santa Catarina - UNISUL. E-mail: [email protected]. 2Professora. Universidade do Sul de Santa Catarina - UNISUL. E-mail: [email protected]. 3Mestranda em Administração da Unisul. E-mail: [email protected]. 4Mestrando em Administração da Unisul. E-mail: [email protected].

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a temáticas dessa ordem, multiplicam-se ações e projetos sociais que visam criar alternativas

inovadoras a muitas das demandas sociais dos estratos e comunidades mais empobrecidos de

nossas sociedades. Nessa perspectiva, a pergunta de pesquisa que norteia o estudo é: de que

forma os projetos sociais conduzidos pelo IVG promovem o reconhecimento, o empoderamento

e a inclusão social?

O objetivo do estudo consiste, portanto, em analisar se as ações desenvolvidas pela Rede

Interinstitucional Vilson Groh (IVG) podem ser definidas como práticas de inovação social.

A justificativa prática para a realização deste estudo está associada ao fato de que, não

raro, constata-se que em diversas iniciativas promovidas pelo primeiro, segundo e terceiro

setores – que propalam a intenção de promover a inovação e, com ela, a transformação social –

pouco é feito no sentido de superar as fórmulas já conhecidas de assistência, quase sempre

malsucedidas no intento de gerar as condições para a inclusão social. No curso da história, as

lutas pela legitimação dos direitos de primeira, segunda e terceira geração indicam que todo ser

humano, indistintamente, tem direito à vida digna e, para tanto, é preciso que sejam garantidos

os princípios de igualdade (aos diferentes e às minorias), de liberdade (de expressão e

movimento) e de participação (político-social e econômica), como condição para que a

inclusão, como momento decisivo da autonomia social, efetive-se plenamente. Contudo, as

lógicas por vezes excludentes impostas pelas instituições políticas, jurídicas e pelo mercado

impõem limites à inclusão dos estratos mais pobres da sociedade, obstaculizando, por exemplo,

o acesso ao emprego – sobretudo aos cargos mais apreciados – e a tudo o que está diretamente

relacionado ao reconhecimento profissional no mundo do trabalho.

A inclusão social, efetivada por meio da constituição da identidade, reconhecimento e

empoderamento, é, portanto, quase inacessível à maior parte da população, que vive em

condições de extrema pobreza. Nos termos propostos pela tradição do pensamento neoliberal,

a partir dos teóricos da Escola de Chicago, o maior investimento em “capital humano” (por

exemplo: melhor formação educacional e acesso aos serviços de saúde de excelência) permite

ao “sujeito-investidor” competir com maior vantagem na concorrência pelos melhores

empregos disponíveis no mercado (Cf. FRIEDMAN, 2014)1. Embora a tendência dos autores

que analisam a emergência das práticas de inovações sociais em nossos dias seja relativizar a

importância excessiva atribuída a concepções como a de capital humano, como grande

alternativa aos dilemas econômicos e sociais de nosso tempo, por ora basta dizer que, enquanto

1Cabe ilustrar: para Ludwig Von Mises, teórico da Escola de Chicago, mesmo a extrema desigualdade da

distribuição de renda e o excessivo enriquecimento de alguns indivíduos (com capital humano mais desenvolvido)

têm funções positivas na sociedade. Cf. MISES, 2010.

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alguns afortunados ocupam cargos expressivos, legitimados por seus diplomas, seu "pedigree

de berço" familiar ou científico, há uma parte expressiva da sociedade que é alijada de uma

participação mais ativa/autônoma no mercado de trabalho. Dentre as causas da injustiça

econômico-social e da ausência de equidade, está a educação/formação deficitária destinada

aos empobrecidos.

Diga-se, a propósito, o quadro da desigualdade social, agravado pela ineficiência de

políticas públicas, facilita a expansão do narcotráfico e o aumento da violência nas regiões de

periferia de Estados como o brasileiro. O aumento da criminalidade e, concomitantemente, da

violência policial completam um cenário de desesperança que, por si só, põe em xeque as

malogradas tentativas da república brasileira em gerar uma homeostase resultante da maior

igualdade social (Cf. CARVALHO, 2007).

Nessa perspectiva, na condução da análise aqui proposta, são apresentados conceitos

e práticas visando explicitar, nas práticas de inovações sociais, a articulação entre

reconhecimento, empoderamento e inclusão. No desenvolvimento da discussão, também é

realizada uma breve descrição do percurso metodológico que orientou o estudo. E mais, são

apresentados e analisados os dados recolhidos durante a visita e no relatório proposto pelo IVG,

o que permitiu, ao longo do texto e nas considerações finais, responder à pergunta de pesquisa

que orientou esta investigação. No próximo ponto o texto trata da distinção entre os paradigmas

da inovação e da inovação social.

2. INOVAÇÃO E INOVAÇÃO SOCIAL

O progresso tecnológico, desenvolvido na modernidade e consolidado na

contemporaneidade, aperfeiçoou as estratégias de inovação. Em outros termos, com o advento

da indústria, da sofisticação do comércio e da ampliação de uma miscelânea de serviços,

articulados ao surgimento de novas demandas no seio da sociedade, cientistas, empresários e

grupos corporativos buscaram alternativas ante as urgências do mercado que giravam em torno,

cabe destacar, da criação de artefatos técnico-tecnológicos, de métodos racionais de trabalho e

de produção, entre outros.

É possível inferir que o modelo teórico proposto pelo economista Joseph Schumpeter,

para explicar os ciclos da economia. Para Schumpeter, nas sociedades capitalistas o

desenvolvimento econômico obedece a ciclos que alternam, vale enfatizar, momentos de

prosperidade econômica e crise. Segundo esse modelo, a realização da prosperidade econômica,

marcada pela oferta de novos produtos, pela criação de artefatos, de serviços e de técnicas –

que visam suprir, mas também gerar novas necessidades – só seria possível com o

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desenvolvimento tecnológico e a participação ativa da figura do “gênio” de visão

empreendedora e concorrente. Grosso modo, é possível dizer que na concepção de Schumpeter

uma inovação (tecnológica/econômica) só é completa quando há uma transação comercial

envolvendo alguma invenção que supre e gera demandas produzindo vantagens competitivas e,

assim, riqueza (SCHUMPETER, 1985).

Contudo, sabe-se que com a emergência dos processos de democratização e, com ela,

da consolidação dos movimentos sociais, surge, no cenário intelectual, teóricos que procuram

discutir as questões da inovação social fora do paradigma schumpeteriano. Nessa perspectiva,

explica Bignetti (2011, p. 4): “A inovação social é [...] o resultado do conhecimento aplicado a

necessidades sociais através da participação e da cooperação de todos os atores envolvidos,

gerando soluções novas e duradouras para grupos sociais, comunidades ou para a sociedade em

geral”.

Desta forma, investigar os limites e possibilidades das iniciativas de inovação sociais e,

assim, os seus rumos e impactos (individuais, coletivos, corporativos) é também problematizar

o modelo de sociedade no qual estamos inseridos na atualidade, bem como as possíveis

estratégias que viabilizam a inclusão social.

2.2 RECONHECIMENTO, EMPODERAMENTOE INCLUSÃO SOCIAL

Pode-se extrair da obra Luta por reconhecimento: a gramática moral dos conflitos

sociais, de Axel Honneth, que é constitutivo da equidade – base para uma sociedade mais justa

– o reconhecimento individual e coletivo das pessoas. Em resumo, a necessidade de

reconhecimento e a formação da identidade são, portanto, indissociáveis. Em outros termos, a

forma como o sujeito se relaciona e interage com outros sujeitos.

Na visão de Honneth, o amor e a solicitude pessoal formam os círculos das relações

primárias, constituídos pela família e amigos. Há uma espécie de segundo momento do

reconhecimento que é, para ele, a esfera das relações jurídicas e sociais, fundada pela

consideração e o respeito. Por fim, existiria um terceiro estágio do reconhecimento

caracterizado pela solidariedade de grupos, vivenciada na nação e em coletividades diversas,

como associações e corporações. Nesse terceiro momento, o reconhecimento de cada um dos

sujeitos está intimamente ligado à estima recíproca. Embora apresentem especificidades, esses

três momentos não estão dissociados, e isto revela que o desejo de reconhecimento, por parte

do sujeito, perpassa as esferas das relações pessoais e afetivas, da prática profissional e da vida

cultural e política (HONNETH, 2009).

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Como indicado acima, Agamben já havia assinalado que o processo de consolidação do

Estado de direito, na contemporaneidade, não elimina as práticas de exclusão político-sociais e

econômicas. Na verdade, cria condições para que surjam, em diversas sociedades, “espaços de

exceção” que funcionam como “bolhas” dentro do espaço social (Cf. AGAMBEN, 2002). Com

base em Honneth é possível afirmar que a exclusiva universalização de direitos – somente

jurídica – não é suficiente para garantir o respeito e o reconhecimento da identidade subjetiva

e social das pessoas que vivem em estado de vulnerabilidade política, social-econômica.

(HONNETH, 2009).

Embora reconheça os limites da lei positiva como garantia definitiva do reconhecimento

dos empobrecidos, Honneth não descarta sua importância. O auto respeito tem uma dimensão

jurídica, pois, como sujeitos de direito, os indivíduos expressam por meio da afirmação de

direitos legais o reconhecimento coletivo, institucional, como membros participantes de uma

determinada comunidade, sociedade e Estado. Se, por um lado, a efetivação do auto respeito

não pode prescindir da legitimação de direitos, por outro, a luta por reconhecimento social

transcende a existência da lei positivada. Daí a necessidade de fomentar e efetivar no seio social

as experiências de solidariedade.

Cotejando com as proposições de Honneth, é possível asseverar que um projeto que visa

ser uma prática de inovação social tem em seu horizonte um exercício dialético da

solidariedade, o que permite o estabelecimento e a consolidação de relações marcadas pela

reciprocidade, pela troca de experiências, pelo respeito à pluralidade – condição para o

reconhecimento social e passo decisivo na consciência crítica das desigualdades histórica e

socialmente constituídas.

O empoderamento (empowerment) teve origem nos movimentos sociais por direitos

civis na década de 1970 com forte influência aos grupos de autoajuda. (SOUZA et al, 2014).

Portanto, o empoderamento é entendido como o processo que emerge das interações sociais,

nas quais os seres humanos problematizam a realidade. Gradativamente, enquanto vão

desvelando a realidade, os sujeitos se empoderam para transformar (subverter) as relações

sociais de dominação (FREIRE, 1996). Portanto, o empoderamento mobiliza as pessoas para a

tomada de consciência da sua situação, para que, motivadas, possam caminhar em direção a

uma vida digna, ao bem-estar e à responsabilidade social. (SOUZA et al, 2014).

Uma hermenêutica possível das práticas de empoderamento aponta para a existência dos

seus aspectos psicológicos (ou individual) e sociais (ou comunitário). O empoderamento

psicológico ou individual contribui para que os indivíduos tenham um sentimento de maior

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controle sobre a própria vida, o que lhes permite influenciar e adaptar-se ao seu meio e

desenvolver mecanismos de autoajuda e de solidariedade. O empoderamento social ou

comunitário também está, de certo modo, associado à ideia da “saúde”, sendo considerado como

um processo e uma resultante de lutas de coletivos sociais por seus direitos. Não nega o âmbito

psicológico, mas dá ênfase às questões sociais, inquirindo as causas da iniquidade social. Dito

de outro modo, para que o empoderamento social se efetive é fundamental problematizar as

intrincadas relações estabelecidas entre as estruturas políticas, econômicas e sociais

(historicamente constituídas), com influência no cotidiano das diferentes comunidades e

indivíduos e geradoras de modelos de exploração que atingem diretamente os estratos mais

empobrecidos (SOUZA et al, 2014).

Dentre os diferentes significados existentes para inclusão, Holanda (1993), de modo

bastante simples e direto, destaca as assertivas: "estar incluído ou compreendido", "fazer parte".

Como já indicado, este artigo procura analisar o reconhecimento e empoderamento como

momentos decisivos na inclusão de pessoas com grande vulnerabilidade social, nos projetos de

inovação social desenvolvidos pelo IVG junto aos beneficiados. De certo modo, a inclusão

social é a forma, criada no interior da própria sociedade, de incluir nos sistemas sociais gerais

aquelas pessoas com alta situação de vulnerabilidade. Quanto efetivado, o processo de inclusão

viabiliza a participação social ativa dos mais empobrecidos e, assim, gera novos modos de

interação entre distintos sujeitos e setores da sociedade civil e do Estado. Contudo, a sociedade

precisa se adaptar para atender as necessidades de seus membros, tendo estes como parceiros

na discussão de problemas e busca de soluções aos seus dilemas (SASSAKI, 1997).

Da mesma forma, Sassaki (1997) destaca a necessidade da integração que consiste, por

exemplo, na inserção de uma pessoa preparada para viver ativamente na sociedade. Isso

pressupõe, dentre outras coisas, uma formação qualificada para o crescimento pessoal e o

exercício da cidadania. Nessa perspectiva, a inclusão pode gerar transformações contribuindo

na construção de um novo tipo de sociedade – decorrente das mudanças nos espaços físicos

(nas cidades e no campo), no acesso aos serviços públicos de qualidade, na efetivação de

políticas públicas – resultante de estruturas e instituições mais justas, bem como de mentalidade

social livre dos preconceitos de classe, cor, orientação sexual, credo, etc. Assim sendo, as

iniciativas sociais devem ter por objetivo a restauração de valores como a justiça, a equidade e

a solidariedade (SINGHAL, 2014).

É perceptível, pois, a relação entre o processo dialético de formação do reconhecimento

(subjetivo, social), das pessoas em situação de vulnerabilidade, e o empoderamento.

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Articulados (reconhecimento e empoderamento) efetivam formas de resistências político-

sociais, afirmação de direitos, mobilidade econômica, etc. Assim, faz parte da vanguarda dos

atuais projetos de inovações sociais instaurar estratégias para que o reconhecimento e o

empoderamento, como momentos decisivos na inclusão social dos menos favorecidos, gerem

novos modos de emancipação, fruto de transformações sociais.

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Trata-se de um estudo exploratório, com abordagem qualitativa na forma de estudo de

caso. O estudo foi desenvolvido no sul do Brasil, junto aos informantes-chave do Instituto

Vilson Groh (IVG). Estes compõem a equipe executiva e diretoria do IVG. Totalizaram quatro

sujeitos: o Presidente do Instituto, o Diretor Financeiro, a Diretora de Articulação e Formação

e o Diretor de Captação de Recursos. Foi efetuada uma visita in loco na sede do IVG, para

dialogar com a equipe e buscar informações detalhadas acerca das ações de inovação social, a

saber, práticas de reconhecimento, de empoderamento e, assim, de inclusão social que são

desenvolvidas.

Além disso, foi efetuada uma busca de informações no website do IVG e acessado o

relatório social de 2014, 2015 e 2016. O critério de seleção das categorias de análise para a

pesquisa deu-se à luz dos constructos teóricos dos autores Schumpeter (1985), em que a

“Inovação” é voltada à vantagem competitiva e à concorrência nas esferas da indústria e

mercado. Bignetti (2011), com análise de “Inovações Sociais”, que procura marcar a ruptura

das atuais práticas de inovações sociais – dentre as quais localizamos as ações do IVG – em

relação à noção tradicional de inovação, de matriz schumpeteriana. Honneth (2009) com o

“reconhecimento”, buscando o nexo existente entre a experiência do reconhecimento e a relação

do sujeito consigo mesmo resulta da estrutura intersubjetiva da identidade pessoal. Freire

(1996), buscando o “empoderamento” em que mobiliza as pessoas para a tomada de consciência

da sua situação atual, para que, motivadas, possam caminhar em direção a uma vida digna, ao

bem-estar e à responsabilidade social. Holanda (1993), analisando a inclusão: "estar incluído

ou compreendido" e "fazer parte".

A investigação deu-se também por meio da técnica de análise do conteúdo e

desenvolvimento da triangulação dos conteúdos entre eles, entrevista com os membros,

documentos e observação participante. Desse modo, buscou-se fazer a validação interna da

pesquisa.

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

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O IVG foi idealizado no ano de 2010 tendo como missão a prestação de serviços de

assessoramento, defesa e garantia de direitos, sem qualquer discriminação às sete organizações

que compõem a sua rede. As organizações são: Centro de Educação e Evangelização Popular

(CEDEP), Associação de Amigos da Casa da Criança e do Adolescente do Morro do Mocotó

(ACAM), Centro Cultural Escrava Anastácia (CCEA), Associação João Paulo II (AJPII),

Centro Social Elizabeth Sarkamp (CSES), Centro Educacional Marista Lúcia Mayvorne

(CEMLM) e Centro Educacional Marista São José (CEMSJ).

Os projetos sociais desenvolvidos por estas organizações buscam atender demandas

sociais da infância e da juventude da periferia da cidade de Florianópolis, em Santa Catarina,

Brasil. Um dos propósitos das ações desenvolvidas consiste em capacitar os jovens de baixa

renda para atuar no mundo do trabalho, contribuindo na sua formação como cidadãos. O IVG

atua na perspectiva da cooprodução, em parceria com a sociedade civil, com o poder público,

com empresas privadas e outras entidades não governamentais.

O IVG atua, sobretudo, nas áreas de periferias, onde o Estado não atende

suficientemente as demandas existentes. O instituto contribui, assim, de forma substantiva na

educação, saúde, lazer e segurança de membros da comunidade que se encontram em situação

de vulnerabilidade social. Desse modo, auxilia na redução da exclusão social. Conforme relato

do Diretor do IVG, a rede "é um elo estratégico na construção de um futuro melhor para as

pessoas destituídas de direitos".

A Diretora de Articulação e Formação salientou que o IVG é uma instância que tem o

compromisso maior de articular as questões mais profundas, as questões de maior suporte

político e de formação. Esse discurso evidencia que o papel do IVG é o de articulação e

assessoria, que contribui para o fortalecimento das instituições, mantendo a sua forma de agir

e a sua autonomia.

Tabela 1 - Beneficiários por Instituição e custo médio por beneficiário

Instituições Total de Beneficiários Custo Médio por

Beneficiário

Total de Refeições

Oferecidas

CCEA 698 R$170,00 até R$ 3.500,00 204.400

CEMSJ 1.085 R$ 480,69 121.262

AJPII 164 R$226,15 até R$452,30 61.000

CEMLM 1.174 R$655,16 158.600

CEDEP 509 R$471,80 204.400

ACAM 202 R$420,31 97.768

Total 3832 R$ 797,05 847.430

Fonte: Relatório Social (2016).

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Foram atendidos até o final do ano de 2016 um número de 3.832 mil crianças,

adolescentes, jovens e adultos. Desse modo, os projetos contribuíram na formação (mas,

também, na ampliação e estruturação de novas perspectivas de vida) para pessoas nas faixas

etárias de 2 a 24 anos. O diretor da rede destaca que "o IVG quer tornar-se uma alternativa que

liga as pontas do centro e periferia, aproximando as margens e rompendo com a cultura da

desigualdade social que naturaliza os processos de injustiça social".

A missão do IVG é "prestar serviços de assessoramento, defesa e garantia de direitos,

sem qualquer discriminação, tendo como marco referencial a Constituição Federal". Os valores

que preza são: "atuação a partir das margens, desconstrução de preconceitos e ressignificação

das relações centro/periferia; controle social; valorização do capital social; accountability;

cuidado com a vida". As finalidades do IVG são:

1. Dar apoio técnico às organizações da sociedade civil que desenvolvem ações de

atendimento à população, a quem se destina a política de assistência social.

2. Desenvolver ações de formação e capacitação de profissionais e voluntários que atuam

em ações de promoção de inclusão social e cidadania.

3. Dar novo significado às relações centro periferia, gestando novos espaços público

privado/ social para o compartilhamento do bem comum.

4. Prestar serviços e executar programas ou projetos voltados prioritariamente para o

fortalecimento dos movimentos sociais e das organizações de usuários, formação e

capacitação de lideranças, dirigidos ao público da política de assistência social.

5. Prestar serviços e executar programas e projetos voltados prioritariamente para a defesa

e efetivação dos direitos socioassistenciais, construção de novos direitos, promoção da

cidadania, enfrentamento das desigualdades sociais, articulação com órgãos públicos de

defesa de direitos, dirigidos ao público da política de assistência social.

Em 2016, o IVG realizou formações envolvendo 583 pessoas, viabilizou bolsas de

estudo para 123 jovens para o curso Pré-Vestibular “REDE IVG”, 28 jovens e adultos em curso

superior e técnico e 1.224 crianças e adolescentes atendidos no projeto de apoio educacional na

região de Guiné Bissau/África.

De acordo com o diretor do IVG, "materializar o acesso do direito, não em discurso,

mas em políticas públicas reais, focadas, que operam o caminho de oportunidade, sem dúvida

é a grande razão pela qual cada um e cada uma vêm para esta grande rede".

Além disso, o IVG contribui na formação, capacitação, execução de programas e/ou

projetos voltados para o fortalecimento de movimentos sociais e organizações, defesa e

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efetivação dos direitos sócio assistenciais, construção de novos direitos, promoção da cidadania

e articulação com órgãos públicos de defesa de direitos.

Observou-se que os projetos desenvolvidos pela Rede IVG buscam gerar transformação

social, pois resinificam a ideia de emancipação destacando sua dimensão social, mas sem

descartar o âmbito individual/subjetivo. Assim sendo, a emancipação social se dá por meio de

uma formação que visa a constituição de sujeitos autônomos, responsáveis, propulsores da

cidadania e da liberdade. Dentre as ações desenvolvidas, seja por prestação de serviços, projetos

ou programas, tem-se as seguintes descritas no Relatório Social (2016):

Figura 2- IVG e Rede IVG

ACAM Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos: Um Olhar para o Futuro,

Desenvolvendo a Beleza da Infância, Atendimento Socioassistencial, Atendimento

Psicológico, Desenvolvimento Cultural, Acompanhamento Pedagógico, Atividades

Esportivas.

AJPII Serviço de Educação Infantil e Complementar e Convivência e Fortalecimento de Vínculos:

Saúde Comunitária - Atendimento Psicológico e Médico, Projeto Tearterapia, Centro de

Educação Infantil, Centro de Desenvolvimento da Criança e do Adolescente.

CSES Fortalecimento Comunitário

CEMLM Serviço de Educação Básica: Ensino Fundamental I, Ensino Fundamental II, Ensino Médio e

Jornada Ampliada.

CEMSJ Serviço de Educação Básica: Ensino Fundamental I, Ensino Fundamental II, Ensino Médio,

Jornada Ampliada.

CEDEP Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos: Oficina do Saber, Projeto Fênix,

Projeto Avançar.

CCEA Serviço de Inserção Social e Laboral, Assistência Social, Defesa e Garantia de Direitos,

Cultura e Esporte e Convivência e Fortalecimento de Vínculos: Casa de Acolhimento Darcy

Vitória de Brito, República para Adultos em Processo de Saída das Ruas, Rito de Passagem,

Grupo da Terceira Idade “Rosário da Luz”, Programa Jovem Aprendiz e Procurando Caminho.

Fonte: Relatório Social 2016

Para indicar os momentos de reconhecimento e empoderamento, foram utilizados alguns

alicerces teóricos relevantes, descritos no Quadro 4.

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Quadro 4: Constructos teóricos, categorias de análise, variáveis e constatações do estudo

Fonte: Adaptado de Bult (2009).

5 ANÁLISE DOS RESULTADOS

É possível evidenciar que o trabalho em rede é essencial para a criação de sinergia na

área social, pois aumenta o impacto das ações e a eficácia dos propósitos delineados em projetos

sociais diversos. As estratégias para captação de recursos e o aperfeiçoamento na sua gestão

são facilitados pela eficácia das ações em rede.

Apesar das vozes dissonantes sobre o tema da participação dos governos nas iniciativas

do terceiro setor, a experiência do IGV mostra que é profícuo o envolvimento do poder público

e da sociedade civil no enfrentamento das desigualdades sociais. Por meio dos colaboradores e

voluntários o IVG já contribuiu na melhoria das condições de vida de muitos moradores da

cidade de Florianópolis (SC), que na inexistência dos projetos provavelmente não teriam

oportunidade de inserção ativa na sociedade. Nos projetos educacionais, por exemplo, é visível

a intenção pedagógica da constituição do reconhecimento (por meio de uma interação crítica e,

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assim, contextualizada social e historicamente), o que permite que os sujeitos participantes

construam perspectivas de empoderamento no engajamento político (em diferentes âmbitos e

esferas), profissional, cultural e social. Esse processo educacional, pelo qual reconhecimento e

empoderamento se articulam, é condição para que os projetos desenvolvidos pela rede IVG

proporcionem, para as pessoas com vulnerabilidade social, a inclusão social.

Cabe ilustrar que, em número reais, o custo médio por pessoa atendida pelos projetos

sociais do IVG é de R$ 471,80. Se comparado ao custo de um preso no sistema penal de Santa

Catarina no ano de 2012, que foi de R$ 1.544,41, este último corresponde a 227% a mais.

A preocupação com a inserção e permanência dos jovens nas escolas, o resgate de

pessoas no narcotráfico, na exploração infantil, etc., constitutivos dos projetos do IVG,

evidenciam um desejo de construir uma sociedade mais equitativa, justa e humanizada. As

organizações acima indicadas objetivam oportunizar vivências e aprendizados alinhados com

valores como respeito mútuo, responsabilidade, autonomia, protagonismo, criticidade,

criatividade e cidadania. Apesar das inúmeras dificuldades enfrentadas pelas pessoas em

situação de miséria, as múltiplas linguagens adotadas pelos projetos, a saber, oficinas de dança,

percussão, artes literárias, teatro de bonecos, capoeira, futebol, arte circense, ginástica,

educação tecnológica e projetos transversais viabilizam uma formação pautada em princípios

educacionais geradores do reconhecimento (“ontológico”) de sujeitos capazes de participação

ativa (individual e coletiva) nos rumos da sociedade na qual vivem – empoderamento.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este artigo teve como objetivo analisar as ações desenvolvidas pela Rede

Interinstitucional Vilson Groh (IVG). Não se trata, evidentemente, de encontrar nos projetos

sociais realizados por distintas ONGS a panacéia para todos os males sociais. Pior ainda seria

interpretar iniciativas bem-sucedidas como o IVG como um exemplo vivo da pouca importância

que o Estado tem na redução das formas de desigualdade. Diversamente (como lembra o Padre

Vilson Groh) o trabalho em rede reforça a necessidade de parcerias e, assim, o compromisso

do Estado e da iniciativa privada na extinção da miséria. Não há como eximir as diferentes

esferas do poder público, bem como os setores da indústria, do comércio etc., na construção de

uma sociedade que possa reconhecer-se como mais justa.

Como inovação social, é notório que o principal objetivo dos projetos desenvolvidos

pela Rede IVG consiste em apoiar crianças, adolescentes e jovens para que construam

oportunidades em suas vidas e se tornem protagonistas de suas próprias histórias. Como

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momentos do reconhecimento e do empoderamento, é vivenciado o “cuidado” (pedagógico e

ético), por meio do acolhimento institucional, bem como a reinserção social, o

reestabelecimento dos vínculos sociais e a construção gradativa da autonomia. E mais: o apoio

à qualificação, à inserção no mercado de trabalho, à inclusão escolar, são constitutivos dos

processos que visam a construção (ou reconstrução) dos projetos de vida das pessoas em

situação de vulnerabilidade. Outra constatação importante diz respeito à oferta de serviços e

espaços de convivência, o estímulo ao fortalecimento de vínculos comunitários, o apoio

socioassistencial, os serviços setoriais e de defesa dos direitos dos cidadãos e os programas

especializados de habilitação e de reabilitação.

Desenvolve a construção do conhecimento pautada nas concepções de justiça,

autonomia, solidariedade e respeito mútuo. Valores estes fundamentais na formação para a

vivência da cidadania. O acesso à cultura e à informação contribui para o desenvolvimento de

habilidades e potencialidades das pessoas socialmente excluídas das condições de acesso a uma

vida mais digna.

Os projetos oferecidos se preocupam em atender prioritariamente as crianças,

adolescentes e jovens que estão em situação de vulnerabilidade ou são excluídos socialmente.

Cabe ilustrar: a pessoa procura as Associações comunitárias geralmente a partir da orientação

de líderes comunitários, e estas, após pesquisa, inscrevem-na caso esteja alinhada ao perfil e

objetivos dos projetos. Os distintos projetos buscam assegurar que, por exemplo, os jovens das

comunidades empobrecidas possam acessar cursos que agreguem valor a sua história, que

possibilitem a sua inserção no mundo do trabalho (geração de trabalho e renda), como trabalho

formal e/ou como empreendedorismo por meio da formação/participação de cooperativas.

Como inovação social, o IVG é um elo estratégico na construção de novas formas de

emancipação, pois visa proporcionar perspectivas para que as pessoas destituídas de direitos,

no seio social, possam reinventar suas histórias de vida.

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O EMPREENDEDORISMO INTERNACIONAL NA GESTÃO DE UMA

MICROEMPRESA

INTERNATIONAL ENTREPRENEURSHIP IN MICROENTERPRISE MANAGEMENT

Nadieg Neves Soares1

Graziela Breitenbauch de Moura2

RESUMO: Gestores que possuem empreendedorismo internacional possuem uma tendência

para explorar novas oportunidades no exterior. Neste sentido, esta pesquisa tem como objetivo

analisar o empreendedorismo internacional de um gestor para a internacionalização de uma

microcervejaria. A abordagem do empreendedorismo internacional compôs a base conceitual

da pesquisa. Um estudo de caso qualitativo foi realizado com a cervejaria artesanal Unika, que

foi selecionada pelo critério de conveniência entre 11 empresas. A análise dos dados contou

com a teoria do empreendedorismo internacional para o processo de internacionalização da

cervejaria Unika e foi coletado por pesquisa documental e de campo sendo aplicada entrevista

semiestruturada, com a análise de conteúdo por meio da ligação dos elementos identificados

nos processos da cervejaria com os elementos que caracterizam o empreendedorismo

internacional. Os resultados obtidos identificaram a presença do empreendedorismo

internacional na percepção do gestor da Unika. Foi identificado que a orientação

empreendedora internacional faz com que a empresa desenvolva competências internacionais,

melhorando consequentemente suas estratégias para a internacionalização.

Palavras-chave: Empreendedorismo internacional. Cerveja. Internacionalização.

ABSTRACT: Managers who have international entrepreneurship tend to explore new

opportunities abroad. In this sense, this research aims to analyze the international

entrepreneurship of a manager for the internationalization of a microbrewery. The

international entrepreneurship approach made up the conceptual basis of the research. A

qualitative case study was carried out with the Unika artisan brewery, which was selected by

the criterion of convenience among 11 companies. The analysis of the data relied on the theory

of international entrepreneurship for the internationalization process of the Unika brewery and

was collected by documentary and field research being applied semistructured interview, with

the content analysis by means of the linkage of the elements identified in the processes of the

brewery with The elements that characterize international entrepreneurship. The results

obtained identified the presence of international entrepreneurship in the perception of the

Unika manager. It was identified that the international entrepreneurial orientation causes the

company to develop international competencies, consequently improving its strategies for

internationalization.

Keywords: International Entrepreneurship. Beer. Internationalization.

1 Bacharel em Comércio Exterior pela Universidade do Vale do Itajaí-UNIVALI. E-mail:

[email protected] 2 Doutora em Administração pela Universidade do Vale do Itajaí-UNIVALI. Professora do curso de Comércio

Exterior da UNIVALI-SC. E-mail: [email protected]

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1 INTRODUÇÃO

O atual cenário no mundo dos negócios é caracterizado pela alta competitividade, pela

globalização econômica, por intensas formações tecnológicas e pela integração dos mercados

em nível mundial (TONIAL, 2014).

A internacionalização de empresas cervejeiras artesanais no Brasil se deve ao fato de

que o mercado nacional não possui uma competitividade entre as empresas do ramo cervejeiro,

pois as grandes marcas dominam o mercado brasileiro, afetando diretamente as cervejarias

artesanais que muitas vezes não possuem um poder econômico à altura destas grandes marcas

(MOREIRA ET AL., 2013).

É importante para as empresas nacionais a busca por novos mercados internacionais

para a manutenção e a expansão das suas marcas, assim ganhando espaço internacional e

tornando-se mais competitivas em seu novo mercado de atuação.

A presente pesquisa buscou analisar o empreendedorismo internacional apresentando a

contextualização do tema de acordo com a literatura científica. Além disso, o trabalho

identificou as dimensões do empreendedorismo que a caracterizam para a internacionalização.

Após estas definições, foi analisado o empreendedorismo internacional em uma microempresa

produtora de cervejas artesanais localizada no estado de Santa Catarina.

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 O EMPREENDEDORISMO INTERNACIONAL

Para Dornelas (2001) os empreendedores estão constantemente eliminando barreiras

comerciais e culturais entre os países, encurtam distâncias entre povos, globalizando e

renovando os conceitos econômicos existentes, criando-se assim novas relações de trabalho e

áreas de empregos, deixando para trás paradigmas da sociedade e gerando riquezas para nações.

Para Oviatt e McDougall (1994) o empreendedorismo internacional surge como uma

organização com finalidade comercial que obtém significantes vantagens competitivas no uso

de seus recursos e com a venda de seus produtos finais em diversos países. Wright e Ricks

(1994) afirmam que o empreendedorismo internacional representa um novo impulso para

buscas por negócios internacionais com o foco na capacidade das pequenas empresas em se

tornarem competitivas em nível internacional, ou seja, um processo derivado da relação entre a

empresa e o ambiente em que esta opera.

McDougall e Oviatt (1996, 2000) definem o empreendedorismo internacional como

uma combinação de diversos fatores, tais como a inovação, a proatividade e a assunção ao risco,

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comportamentos estes que superam as fronteiras nacionais e que são destinadas a agregar valor

para a organização. A ênfase está focada no comportamento da empresa na criação de valor,

em transpassar as fronteiras nacionais e, assim, abrir caminho para a internacionalização,

momento este em que são aplicados os conhecimentos empreendedores da organização.

Zahra e George (2002) definem empreendedorismo internacional como um processo

criativo, com a finalidade de descobrir e explorar as oportunidades de negócios para a

organização fora de seu mercado interno, na busca de vantagens competitivas frente aos seus

concorrentes, cujo objetivo está em destinar seu produto ou serviço ao exterior e que este

processo englobe a criatividade, a inovação e a oportunidade de crescimento para a empresa.

Em todas as definições são identificadas a necessidade da atuação fora do mercado

doméstico e a atividade empresarial destinada ao exterior como foco principal para uma atitude

empreendedora internacional e assim, implicitamente, o empreendedorismo internacional

torna-se uma extensão para o crescimento internacional (ZAHRA; GEORGE, 2002).

Em processos de empreendedorismo internacional, as redes de comunicações são

fornecedoras de oportunidades para a internacionalização, pois criam demandas de mercados e

funcionam como um auxílio para o desenvolvimento de novos processos gerando informações

relevantes para o negócio. (COVIELLO; MUNRO, 1997).

As redes de comunicações tornam possível o acesso às diversas informações, em

particular, a inteligência de mercado (BELL, 1995), e essas facilitações de alguma forma

tornam as empresas mais preparadas para agir oportunamente, ou seja, descobrir novos

negócios ou demandas de negócios (SPENCE, 2003). O conceito para as redes de comunicação

está associado com a evolução. Em estudos da internacionalização e do empreendedorismo,

afirma-se que as redes de comunicação sejam um importante elemento estratégico de

crescimento e desenvolvimento internacional de pequenas e médias empresas e também com

as jovens organizações (JOHANSON; VAHLNE, 2003).

O empreendedorismo internacional se refere à inovação, a assunção ao risco e a

proatividade no comportamento das empresas em negócios internacionais. O

empreendedorismo internacional está relacionado com o processo de internacionalização e está

presente em todas as atividades da organização em mercados internacionais. O processo pode

variar de organização para organização, pois o empreendedorismo internacional possui diversas

características que podem ser aplicadas integralmente ou parcialmente nas organizações.

(MCDOUGALL; OVIATT, 2000).

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O “empreendedorismo internacional” nasce como um conceito e um campo de estudo

que vem sendo desenvolvido há algumas décadas e é definido como o desenvolvimento de

novos negócios internacionais ou start-up que identifica as operações dominantes no exterior

para o estágio inicial da operação da empresa (MCDOUGALL, 1989).

Em meados de 1990, a dimensão internacional do empreendedorismo internacional

atraiu muitas atenções quando foi identificado como uma ligação para buscas por negócios

internacionais emergentes (WRIGHT; RICKS, 1994). Assim, a criação de valores nas

atividades passou a ser a unidade base da análise e Wright e Ricks observaram que é o nível da

atividade empresarial que determina a fronteira nacional, enquanto se concentra na relação entre

negócios e seu mercado internacional. Assim semelhantes afirmações promoveram clareza bem

como a ampliação das definições de empreendedorismo internacional. A definição de

McDougall e Oviatt (1996, 2000) demonstra o empreendedorismo internacional como “o

envolvimento em novas e inovadoras atividades que tem o objetivo de criar valor e crescimento

em organizações empresariais através das fronteiras nacionais”.

Para Kelley, Bosma e Amarós (2010), o empreendedorismo é fundamental para o

desenvolvimento da sociedade em geral. O empreendedorismo gera postos de trabalhos. O

empreendedorismo conduz e desenvolve a inovação, acelerando mudanças estruturais na

economia. O espírito empreendedor é um catalisador para o crescimento econômico e da

competitividade nacional, definindo assim as características do empreendedorismo tradicional.

O empreendedorismo internacional se diferencia do empreendedorismo tradicional, pois

o empreendedorismo tradicional está associado à criação de um novo negócio por parte do

empreendedor (LEITE; MORAIS, 2012). Entretanto, no empreendedorismo internacional a

questão não está apenas na criação de negócios, pois o aspecto central consiste na forma em

que ocorre o processo de internacionalização. O empreendedorismo internacional está presente

nas organizações que se internacionalizam por meio de ações empreendedoras que podem ou

não serem utilizadas pelo proprietário (DIMITRATOS; PLAKOYIANNAKI, 2003).

Com a crescente inserção das PMEs no comércio internacional, obtivemos um interesse

maior pelo empreendedorismo internacional. Isso se deve ao avanço dos sistemas de

comunicação e informática, de novas tecnologias de transporte, da internet, da diminuição das

barreiras protecionistas governamentais, e da desregulamentação de alguns nichos de mercado,

permitindo o acesso das empresas ao mercado internacional, abrindo caminho para as PMEs se

internacionalizarem e competirem em nível global. É por meio do comportamento

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empreendedor que as PMEs superam suas limitações de recursos e passam a competir no

cenário internacional (MCDOUGALL; OVIATT, 2003).

Existe uma ligação entre empreendedorismo internacional e internacionalização de

empresas, por meio de uma importante função do empreendedor internacional que é determinar

as estratégias de internacionalização quando o enfoque está nos negócios internacionais. O

empreendedorismo em si, pode ser definido como as ações individuais que aproveitam as

oportunidades para criar valor e correr riscos, desencadeando assim um comportamento

fortemente associado à inovação, definida como o processo de reconhecer uma oportunidade e

buscar o crescimento (STYLES; SEYMOUR, 2006).

Para McDougall e Oviatt (1996, 2000), o empreendedorismo internacional é definido

como a combinação de um comportamento inovador, proativo e que assuma riscos calculados,

ultrapassando as barreiras nacionais e buscando criar valor para a organização.

Shane e Venkatraman (2000) afirmam que o empreendedorismo internacional enfatiza

duas características principais: (1) oportunidades e (2) os indivíduos que se esforçam para

aproveitá-las, assim reconhecendo que ela está diretamente ligada com a preparação antecipada

da organização perante o mercado internacional.

Zahra e Garvis (2000) afirmam que as empresas empreendedoras são caracterizadas

pelas ações que praticam e não pelo tipo de recursos que dispõem ou controlam. Assim, são

estas ações que determinam e direcionam as habilidades empreendedoras e a forma como a

empresa lida com seus intangíveis (cultura organizacional, relacionamentos, habilidades de

inovação, etc).

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Segundo Godoy (1995), a pesquisa qualitativa representa o estudo dos fenômenos que

envolvem a sociedade em geral e suas complexas relações sociais, estabelecidos em diversos

embientes que necessitam de algumas características básicas para a sua identificação. É

necessário compreender em qual contexto o fenômeno ocorre e “captar” o objeto de estudo na

perspectiva dos envolvidos, considerando todos os pontos de vista relevantes. Assim, são

coletados vários dados e analisados posteriormente para possibilitar o entendimento da

dinâmica do fenômeno. A abordagem qualitativa pode seguir diversos caminhos para que se

obtenha os resultados pretendidos.

Neste trabalho realizou-se um estudo de caso, que possibilitou uma visão prática do

objeto de estudo. Optou-se neste caso pelo estudo de caso com propósito descritivo-exploratório

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da pesquisa (GODOY, 1995a). Assim, o estudo de caso permitiu verificar a percepção de um

gestor sobre o objeto de estudo do empreendedorismo internacional da cervejaria artesanal

Unika, possibilitando assim a dimensificação dos conceitos estudados e a sua real aplicação nos

processos da organização.

Para o desenvolvimento desta pesquisa foram utilizados como base os conceitos do

empreendedorismo internacional de McDougall e Oviatt (1996, 2000) nas dimensões da

inovatividade, da proatividade e da assunção ao risco para a confecção do protocolo de coleta

de dados, que foi selecionado pelo critério de conveniência.

O protocolo se constitui em um conjunto de códigos, menções e

procedimentos suficientes para se replicar o estudo, ou aplicá-lo em

outro caso que mantém características semelhantes ao estudo de caso

original. O protocolo oferece a condição prática para se testar a

confiabilidade do estudo, isto é, obterem-se resultados assemelhados

em aplicações sucessivas a um mesmo caso (MARTINS, 2008, p, 10).

Primeiramente foi encaminhado um email da pesquisa para 12 empresas cervejeiras

artesanais exportadoras que foram selecionadas a partir do site BRAZIL4EXPORT. Após não

ter nenhum retorno foi feito o contato via telefone para 9 empresas fazendo o convite para

participar da pesquisa. Nenhuma empresa se prontificou a participar. Após a consulta em um

blog especializado em cerveja artesanal verificou-se a existência da empresa Únika. Entrou-se

em contato via telefone e a mesma se interessou em participar. Foram trocados várias

mensagens via Whats App até ser marcada a data da realização da entrevista.

A empresa desta pesquisa foi selecionada pelo critério de conveniência, devido ao

acesso às informações (MERRIAM, 1998). Por ser uma pesquisa qualitativa e pela natureza do

segmento, diferentes técnicas de coletas de dados foram utilizadas, entre elas, a entrevista

semiestruturada e a análise de documentos (PATTON, 2001). A entrevista semiestruturada

permite que o pesquisador redirecione as perguntas conforme a evolução da pesquisa

(BOGDAN; BIKLEN, 1994).

A entrevista contou com a participação de um dos sócios proprietários da cervejaria

artesanal Unika, do estado de Santa Catarina, que foi gravada e posteriormente transcrita, com

duração de 56 minutos no total, acontecendo em um momento oportuno para ambas as partes.

Após a coleta de dados, as informações foram analisadas de modo exploratório, assim,

identificando-se que eram consistentes e satisfatórias para o prosseguimento do estudo de caso.

Realizou-se também um estudo sobre a Cervejaria Unika, localizada em Rancho Queimado –

SC, identificando aspectos introdutórios sobre a empresa e sua história. Assim, adotou-se a

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análise de conteúdo (BARDIN, 2011), levando em consideração os aspectos contextuais, para

identificar conexões, códigos e categorias existentes na transcrição do entrevistado. Para

alcançar os objetivos propostos na pesquisa, a análise dos dados contemplou dois passos:

descrição e interpretação. Durante a análise dos dados, buscou-se relacionar as dimensões do

empreendedorismo internacional com as práticas adotadas pela Unika.

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

A cervejaria Unika iniciou suas atividades no mercado nacional em fevereiro de 2016 e

está localizada em Rancho Queimado, Santa Catarina. É composta por quatro sócios

proprietários, e apenas três participam efetivamente do dia a dia da empresa.

Ronaldo Dutra, um dos sócios proprietários da Unika, é cervejeiro caseiro há seis anos,

Sommelier de cervejas pelo Instituto da Cerveja/ABS e Técnico cervejeiro pelo

Senai/Vassouras/Joinville. Ronaldo também é sócio na empresa Armada onde inicialmente era

apenas um grupo de estudo sobre cervejas artesanais e em janeiro de 2016 se transformou em

uma iniciativa empresarial devido ao grande sucesso das cervejas fabricadas pelo grupo e

auxiliou Ronaldo nas conquistas em que obteve participando de concursos nacionais e

internacionais.

Na primeira edição do Concurso Cervejeiro Caseiro Bierland para o estilo Belgian

Blond Ale, Ronaldo foi o grande vitorioso com a cerveja artesanal Bruxa, que permitiu o

lançamento da sua receita pela Bierland e tornou a marca uma referência no estilo. Esse

concurso ainda trouxe a Ronaldo uma visibilidade e renome no segmento de cervejas artesanais

nacionais. A marca Bruxa fez tanto sucesso com o público que a marca acabou entrando nas

linhas produzidas pela Bierland e atualmente compõe o portfólio permanente da empresa.

No Concurso Estadual de Cervejas Caseiras da Acerva/SC, Ronaldo conquistou dois

prêmios com receitas produzidas especialmente para o concurso. Na categoria Ales Belgas,

Francesas e Sours, Ronaldo conquistou o terceiro lugar com a cerveja Flanders Brown Ale/Oud

Bruin. Na categoria Frutas, Especiarias, Defumadas e Madeira, Ronaldo conquistou também o

terceiro lugar com a cerveja Wood-Aged-Beer.

De três (3) a seis (6) de novembro de 2016 aconteceu em Bruxelas na Bélgica, o

Concurso Brussels Beer Challenge 2016 que contou com a participação dos melhores

cervejeiros do mundo. No concurso cerca de 75 especialistas em cervejas experimentaram 1100

cervejas de todo o mundo. As cervejas participantes são divididas em categorias, de acordo com

a sua origem, tipicidades e estilos para serem avaliadas. No final do terceiro dia de degustação,

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a melhor cerveja de cada categoria ganhou medalha de ouro, seguida pelo segundo lugar com

a medalha de prata e para o terceiro lugar, a de bronze. Este concurso é uma oportunidade única

para todos os cervejeiros exporem as suas cervejas e disputarem com os melhores do mundo.

A Unika participou do concurso e teve a Bruxa como a sua cerveja escolhida para a

disputa na categoria Pale&Amber Ale. A cervejaria Unika realizou o envio de sua amostra para

o concurso na Bélgica por meio do serviço Exporta Fácil dos correios.

A cervejaria Unika produz em seu parque fabril duas marcas de cerveja artesanal, a

Bruxa que nasceu no misticismo de Florianópolis inspirada em cervejas das escolas Belga e a

Unika que busca conceitos das escolas Alemãs e Americanas. Cada uma das marcas teve quatro

estilos diferentes de cerveja artesanal em seu portifólio. A empresa ainda lançou uma terceira

marca que será chamada de Madre, em homenagem ao Rio da Madre na Guarda do Embaú e

mais dois estilos para a marca Bruxa, com a Bruxa Trippel e a Bruxa Farmhouse e a marca

Unika com a Unika Session Ipa e a Unika Barley Wine.

Na cervejaria Unika são produzidos quatro estilos de cervejas artesanais diferentes que

são: German Lager, American Lager, West Coast Ipa e a Black Ipa. A cerveja Unika German

Lager é uma releitura moderna de um clássico alemão, onde é utilizado em sua fabricação um

novo lúpulo (Halertan: Mandarina Bavaria, Blanc e Hull Mellon) que conferem personalidade

e refrescância à cerveja. A Unika American Lager é uma cerveja clara, leve e com muito sabor.

Ela é uma resposta as “Pilsen” industriais que estão presentes no mercado nacional e

não conferem a características de uma Pilsen verdadeira. É produzida com lúpulos americanos

que conferem a essa cerveja muito aroma e um notável amargor. Unika West Coast Ipa é uma

cerveja moderna e com leitura atual norte americana das lupuladas cervejas inglesas, nas

versões da costa oeste americana, são claras, com aroma e sabor de frutas tropicais. É amarga

e saborosa. A Unika Black Ipa é uma cerveja escura do estilo India Pale Ale – Ipa. Possui

frescor com leves notas tostadas, que remetem ao café e cacau.

Na marca Bruxa são produzidos outros quatro estilos de cervejas artesanais diferentes,

que são: Belgian Blond, Belgian Ipa, Belgian Saison e Belgian Dark Saison. A Bruxa Belgian

Blond é uma cerveja clara e de aroma frutado, com leve dulçor equilibrado pelo lúpulo. Esta

cerveja agrada aquelas pessoas que estão iniciando no mundo das cervejas artesanais. Bruxa

Belgian Ipa é uma cerveja clara, de aroma frutado e com uma carga de lúpulo que convida ao

próximo gole. É moderna e equilibrada e foi criada como uma resposta da escola Belga as Ipas

americanas e inglesas. A bruxa Belgian Saison é uma cerveja clara e turva por força da

utilização de malte de trigo. É uma cerveja criada por fazendeiros Belga para acompanhar os

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dias quentes do verão europeu. Bruxa Belgian Dark Saison é a versão da empresa mais escura

da Saison. Possui o mesmo aroma frutado com nuances tostados. É uma cerveja perfeita para

os amantes da gastronomia.

As cervejas artesanais serão engarrafadas em garrafas long neck de 355 ml, devido ao

fato de ser um modelo muito bem aceito no mercado nacional e para o mercado internacional

são necessárias apenas alterações na rotulagem do produto exportado. A empresa possui

atualmente em seu quadro de funcionários três pessoas contratadas diretamente e cinco a seis

indiretamente (terceirizados). Contudo, a Unika projeta para um período de doze meses

contarem com um quadro de funcionários compostos por dez a doze pessoas.

A cervejaria Unika conta com consumidores fiéis ao conceito transmitido pela empresa

e busca levar ao consumidor final um produto com gosto e aroma único, o que se caracteriza

como um diferencial competitivo para a empresa. Os clientes têm respondido positivamente às

cervejas artesanais produzidas pela Unika e a fatia de mercado da empresa vem crescendo

consideravelmente.

Conforme destacado na revisão teórica, McDougall e Oviatt (1996, 2000) definem o

empreendedorismo internacional como uma combinação de diversos fatores, tais como a

inovação, a proatividade e a assunção ao risco, comportamentos estes que superam as fronteiras

nacionais e que são destinadas a agregar valor para a organização.

Na dimensão da proatividade pode-se destacar:

Eu cursei meu ensino médio em uma escola no Canadá, período em que fiquei quatro

anos no país. Após este período, retornei ao Brasil e fui prestar vestibular para direito

na UFSC, fui aprovado. Este tempo fora do país me permitiu abrir minha mente em

relação a todos os aspectos culturais que um país pode ter, pois o Canadá é um país

com diversas culturas misturadas, convivendo diariamente. Acredito que isso

contribuiu muito com minha visão sobre os aspectos de cada tipo de consumidor que

a Unika possui (ENTREVISTADO).

Verifica-se a capacidade do gestor em relacionar-se com aspectos de culturas diferentes

o que faz com que tenha uma visão multicultural e a incorpore para a empresa nos diversos

tipos de cervejas produzidas com foco ao consumidor da Unika.

Para a dimensão inovatividade observou-se a visão do gestor em relação ao mestre cervejeiro

da empresa:

O nosso mestre cervejeiro possui uma ampla experiência prática com cervejarias

estrangeiras e eu com as cervejarias artesanais do Brasil. Isso nos permite analisar

detalhadamente o nosso processo como um todo, desde a produção até a distribuição

na gôndola, permitindo a implantação do que é de melhor das demais cervejarias que

conhecemos e corrigindo os erros que identificamos nelas. Isso é um grande

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diferencial competitivo neste início do processo de exportação do produto, pois

permite que nós utilizemos nossa fabricação com zero de erros e desperdícios.

Também nós temos um concurso que é nacional em todo mês de março e aí também

tem um calendário de concursos pelo mundo, onde tem o concurso sul-americano, na

América do Sul temos dois concursos renomados, nos EUA tem um que acontece de

dois em dois anos, na Europa tem quatro concursos que acontecem anualmente.

(ENTREVISTADO).

A empresa utiliza a inovatividade no processo de produção artesanal das cervejas, com

vantagem competitiva sustentável. Foca no processo criativo explorando as oportunidades de

negócios com a experiência dos gestores na produção de cervejas nacionais e estrangeiras

visando oportunidades de crescimento para a empresa.

Em processos de empreendedorismo internacional, as redes de comunicações são

fornecedoras de oportunidades para a internacionalização, pois criam demandas de mercados e

funcionam como um auxílio para o desenvolvimento de novos processos gerando informações

relevantes para o negócio. (COVIELLO; MUNRO, 1997).

Estamos constantemente em contato pelas redes sociais, como por exemplo, o Whats

App com as demais cervejarias artesanais. Possuímos um forte parceiro nos EUA, na

Alemanha e agora na Bélgica e nossa comunicação normalmente se faz através do

aplicativo ou e-mail. Outro meio de identificarmos informações e tendências de

mercado são as revistas e sites especializados nos países que objetivamos exportar

nosso produto (ENTREVISTADO).

Quanto à assunção ao risco percebe-se do gestor da Unika:

Como toda atividade industrial, existem estes riscos inerentes como o dólar, mas

estamos bem tranquilos e o nosso endividamento é zero. A empresa é própria, o

terreno é próprio, a estrutura é própria então nós já fizemos isso para diminuir um

pouco, no ponto de vista econômico. O produto ele não pode mudar radicalmente,

mas ele está sempre mudando. Isso é inevitável, pois você está lidando com um ser

vivo que é a levedura e talvez tenha alguns momentos em que você tenha que realizar

mudanças, seja de temperatura, seja de composição, mas assim a ideia é que o espírito

do negócio seja sempre o mesmo então de hoje para daqui uns dois anos você notaria

diferença.

O empreendedorismo é definido pela ação comportamental forte do gestor que aproveita

as oportunidades de inovação para criar valor à marca, reconhecendo as oportunidades em busca

do crescimento e da valoração da empresa frente aos clientes.

Conforme descrição das práticas da cervejaria Unika pelo entrevistado são notáveis as

características do empreendedorismo internacional presentes na organização. Assim, é possível

afirmar que a empresa adota postura empreendedora em nível internacional com a sua

participação nos concursos internacionais.

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O empreendedorismo em si, pode ser definido como as ações individuais que

aproveitam as oportunidades para criar valor e correr riscos, desencadeando assim um

comportamento fortemente associado à inovação, definida como o processo de reconhecer uma

oportunidade e buscar o crescimento (STYLES; SEYMOUR, 2006).

As ações praticadas pelos sócios da cervejaria Unika foram identificadas como

empreendedoras. Isso se deve ao fato de que a empresa está colhendo atualmente os resultados

da sua constante tentativa de inserção no comércio internacional, como a experiência

internacional dos membros da empresa e a participação em concursos internacionais,

oportunidades que a cervejaria Unika aproveita e reconhece como essenciais para a sua

segmentação e para o desenvolvimento de novas competências internacionais de seus gestores.

O trabalho trouxe contribuições para a literatura do empreendedorismo internacional e

insights para os estudiosos do tema. Para futuras pesquisas, sugere-se a aplicação deste trabalho

em outras microcervejarias artesanais, ajudando na evolução para o entendimento da influência

das dimensões do empreendedorismo internacional nas microempresas.

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INOVAÇÕES SOCIAIS VOLTADAS AO BEM-ESTAR ANIMAL: UM ENSAIO

TEÓRICO

SOCIAL INNOVATIONS RETURNED TO ANIMAL WELFARE: A THEORETICAL TEST

Alexandre Zawaki Pazetto1

Nei Antonio Nunes 2

Denise Del Prá Netto Machado3

Jacir Leonir Casagrande4

Mauri Luiz Heerdt5

RESUMO: Esta pesquisa se caracteriza como um ensaio teórico que busca analisar, por meio

da literatura especializada, se determinadas ações que visam o bem-estar animal podem ser

consideradas como práticas de inovação social. Com a finalidade de conceituar e contextualizar

os termos elementares relacionados a este estudo, abordam-se as noções sobre inovações

sociais, organizações da sociedade civil e direitos dos animais. Verificou-se indícios de que, ao

atender determinados critérios, as ações voltadas para o bem-estar dos animais não humanos

podem encontrar-se no campo das inovações sociais, uma vez que sejam desconsideradas as

espécies dos beneficiários que estas ações visam atender. Visto que inovação social ainda é um

tema relativamente novo no campo da administração e posta a importância de caracterizá-la

adequadamente ao observar ações que objetivam o bem-estar animal, justifica-se a relevância

deste estudo. Por fim, espera-se que esta investigação colabore com a discussão acadêmica a

respeito das inovações sociais, além de trazer à tona as questões acerca dos direitos dos animais.

Palavras-chave: Inovação Social. Organizações da Sociedade Civil. Direitos dos Animais.

ABSTRACT: This research is a theorical test that seeks to analyze, through the specialized

literature, if some actions returned to animal welfare can be considered as practices of social

innovation. In order to conceptualize and contextualize the elementary terms related to this

study, the notions about social innovations, civil society organizations and animal rights are

addressed. Was found some evidence that actions aimed at the well-being of non-human animals

may be in the field of social innovations when accomplish certain criteria, once the species of

beneficiaries that these actions are intended to benefit are disregarded. Considering that social

innovation is still a relatively new issue in the field of management and this importance of

characterizing it adequately when actions that aim at animal welfare, the relevance of this

research is justified. Finally, it is hoped that this research will collaborate with the academic

discussion on social innovations, as well bring up the issues of animal rights.

Keywords: Social Innovation. Civil Society Organizations. Animal Rights.

1 Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Administração, Universidade do Sul de Santa Catarina. E-mail:

[email protected] 2 Professor. Programa de Pós-Graduação em Administração, Universidade do Sul de Santa Catarina. E-mail:

[email protected] 3 Professora. Programa de Pós-Graduação em Administração, Universidade do Sul de Santa Catarina. E-mail:

[email protected] 4 Professor. Programa de Pós-Graduação em Administração, Universidade do Sul de Santa Catarina. E-mail:

[email protected] 5 Reitor. Universidade do Sul de Santa Catarina. E-mail: [email protected]

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1 INTRODUÇÃO

A literatura especializada oferece abordagens importantes das inovações sociais

voltadas, sobretudo, ao bem-estar das pessoas. Enquanto isso, a discussão contemporânea

acerca de qual deveria ser o tratamento correto outorgado aos animais não humanos ainda

possui um pequeno número de obras que se destaca e alcança significativo prestígio no cenário

acadêmico (REGAN, 2006). Contudo, é preciso mostrar que algumas organizações ultrapassam

a barreira do especismo e atuam em prol do bem-estar de animais que vivem em condições

precárias. Tais ações buscam garantir alguns direitos básicos aos animais ao lhes proteger da

fome, doenças e maus-tratos, propiciar adoções responsáveis, no caso de animais domésticos,

ou, ainda, minimizar os problemas gerados por sua superpopulação.

Da mesma maneira que as ações voltadas aos seres humanos, algumas dessas

intervenções direcionadas ao bem-estar animal partem do terceiro setor como forma de

encontrar soluções para um problema social, fato que possibilita que possuam traços que as

identifiquem como inovações sociais.

Este artigo traz à tona a discussão acerca dos direitos dos animais e busca analisar, por

meio da literatura especializada, se determinadas ações que visam o bem-estar animal podem

ser consideradas como práticas de inovação social. Uma vez que a compreensão deste fenômeno

se dá por meio da pesquisa na bibliografia sobre o tema, este estudo se caracteriza

metodologicamente como uma pesquisa eminentemente bibliográfica.

Além de ressaltar que a pesquisa na forma de ensaio teórico consolidou autores

conhecidos como Marx e Weber, Meneghetti (2011) afirma que um ensaio teórico se caracteriza

pela sua natureza reflexiva e interpretativa e se opõe à forma classificatória da ciência, além de

valorizar aspectos relacionados às mudanças qualitativas que ocorrem nos fenômenos

analisados. O autor alega que “o ensaio é a forma que quebra a lógica esquemática e sistemática

da ciência tradicional, sobretudo de natureza positivista” (MENEGHETTI, 2011, p. 321). Ao

apoiar tal declaração, Bertero (2011, p. 339) complementa: “O ensaio tem posicionamento

difícil enquanto modo de produção científica, devido à hegemonia da ciência positiva”.

Neste contexto, o objetivo geral deste estudo é analisar, à luz da teoria, se algumas

ações voltadas ao bem-estar dos animais não humanos podem ser consideradas como inovações

sociais. Para atender ao objetivo geral, este estudo contém, inicialmente, um referencial teórico,

dividido em três seções que conceituam e problematizam as inovações sociais, as organizações

da sociedade civil e os direitos dos animais, bem como relações entre si. Por fim, constam as

considerações finais acerca desta pesquisa.

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2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 INOVAÇÃO SOCIAL

Ao observar determinadas demandas sociais que atingem o bem-estar e o

desenvolvimento das comunidades, membros da sociedade se unem para desenvolver ações a

partir de ideias inovadoras. Assim, caso possuam algumas características específicas, tais

intervenções podem ser consideradas inovações sociais.

Em meio aos problemas enfrentados pela sociedade, a inovação social se ergue como

uma das formas de procurar alternativas viáveis para solucioná-los (BIGNETTI, 2011). Para

Hulgard e Ferrarini (2010), as inovações sociais e os empreendimentos sociais surgem como

fatores importantes para a renovação dos serviços de bem-estar e na contribuição para a

mudança social.

No entanto, é importante ressaltar que não há um consenso na literatura sobre a

definição de inovação social, tampouco sobre sua abrangência. Dessa forma, pode-se afirmar

que este tema ainda é pouco abordado cientificamente, se comparado à bibliografia acerca da

inovação em seu sentido tradicional (BIGNETTI, 2011).

De certo modo, o campo da inovação social não possui limites rígidos e pode ser

aplicado nos diferentes setores da economia (público, privado e sem fins lucrativos). Ademais,

a colaboração entre estes diferentes setores, partes interessadas e beneficiários, potencializa a

criação e efetivação de novas ideias que respondam aos desafios sociais. Assim, a inovação

social pode ser definida como uma ideia nova ou um aperfeiçoamento que atenda às

necessidades sociais e, ao mesmo tempo, produza novas relações sociais ou colaborações

sociais. Dessa forma, trata-se de um fenômeno capaz de ascender a capacidade de agir da

sociedade (MURRAY et al, 2010).

Mulgan et al. (2007) define inovação social como atividades e serviços inovadores que

são motivados pelo objetivo de satisfazer uma necessidade social, e que são predominantemente

desenvolvidos e difundidos por meio de organizações cujos objetivos primários são sociais.

Outra elucidação deste conceito foi elaborada pelo Conselho de Ciências e Tecnologia da

Província do Québec, que define inovação social como: todas as novas práticas, abordagens ou

intervenções, ou, ainda, todos os novos produtos desenvolvidos com a finalidade de melhorar

uma situação ou solucionar um problema social estabelecido no nível das instituições, das

organizações e das comunidades (QUÉBEC, 2000). Para Bignetti (2011), inovações sociais são

ideias, ações e conhecimentos novos ou substancialmente melhorados que, de forma duradoura,

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busquem superar as necessidades sociais por meio da cooperação e participação de todos os

envolvidos.

Por fim, Andrew e Klein (2010), pesquisadores de um dos principais grupos de estudos

em inovações sociais do Canadá, Centre de Recherche Sur Les Innovations Sociales (CRISES),

afirmam que a inovação social é uma nova ação que atende a uma necessidade, busca uma

solução ou aproveita uma oportunidade para modificar determinado quadro ou promover novas

orientações culturais, na qual sua promoção é feita por meio da relação entre atores sociais.

A partir da exposição de alguns conceitos de inovação social, pode-se constatar que

três pontos principais fundamentam tais noções, quais sejam: natureza inovadora,

transformação social e relação entre atores sociais. O Quadro 1 elucida este raciocínio ao dividir

os conceitos apresentados entre estes três principais pontos.

Quadro 1. Conceitos de inovação social divididos entre seus três pontos fundamentais.

AUTOR NATUREZA

INOVADORA

TRANSFORMAÇÃO

SOCIAL

RELAÇÃO ENTRE

ATORES SOCIAIS

Murray et al

(2010) Ideia nova ou melhorada

que atenda às necessidades

sociais

e, ao mesmo tempo, produza

novas relações sociais ou

colaborações sociais.

Mulgan et al

(2007)

Atividades e serviços

inovadores

que são motivados pelo objetivo

de satisfazer uma necessidade

social,

e que são predominantemente

desenvolvidos e difundidos por

meio de organizações cujos

objetivos primários são sociais.

Québec (2000)

Todas as novas práticas,

abordagens ou

intervenções, ou, ainda,

todos os novos produtos

desenvolvidos

com a finalidade de melhorar uma

situação ou solucionar um

problema social,

estabelecido no nível das

instituições, das organizações e

das comunidades.

Bignetti (2011)

Ideias, ações e

conhecimentos novos ou

substancialmente

melhorados

que, de forma duradoura,

busquem superar as necessidades

sociais

por meio da cooperação e

participação de todos os

envolvidos.

Andrew e Klein

(2010) Nova ação

que atende a uma necessidade,

busca uma solução ou aproveita

uma oportunidade para modificar

determinado quadro ou promover

novas orientações culturais.

na qual sua promoção é feita por

meio da relação entre atores

sociais.

É importante ressaltar que os conceitos apresentados acerca das inovações sociais

sugerem a geração de processos de transformação pelos quais os sujeitos, individual e

coletivamente, criam novos modos de se relacionar, não apenas entre si, mas também com

relação à vida que os circunda. Nessa perspectiva, é possível sustentar a existência de

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responsabilidade ética e social dos humanos em relação aos demais animais, e que estes

demandam alguns problemas próprios em suas vidas que podem ser solucionados ou

minimizados por intermédio das inovações sociais.

Da mesma maneira, as ações que visam o bem-estar dos animais não humanos não

transforma somente a realidade destes, mas também pode transformar, em certa medida, a

realidade da sociedade humana. Um exemplo é a utilização da Agência de Notícias de Direitos

Animais (ANDA), que utiliza as redes sociais na internet de forma inovadora, na busca da

transformação social por meio de ações comunicativas que promovem a mobilização social na

defesa dos direitos dos animais (ARANGUIZ, 2014).

Dessa forma, este estudo adota as três variáveis apresentadas no Quadro 1 como

princípios básicos para que uma ação voltada ao bem-estar animal possa ser, por fim,

considerada uma inovação social. Vale citar uma proposta semelhante feita por Tardif e

Harrisson (2005) que, ao analisarem os trabalhos desenvolvidos pelo CRISES, identificaram a

existência destas cinco dimensões essenciais da inovação social: transformação, caráter

inovador, inovação, atores e processos.

A seção a seguir aborda as noções acerca das organizações da sociedade civil (OSCs),

até porque existem iniciativas inovadoras do terceiro setor que, calcadas nos direitos dos

animais, suprirão suas demandas mais prementes.

2.2 ORGANIZAÇÕES DA SOCIEDADE CIVIL

Historicamente, a prática da administração tem tido seus esforços concentrados, de

maneira geral, nas organizações tradicionais que visam lucro e no Estado (FISCHER e

FALCONER, 1998). Menos enfocadas na administração, as organizações sem fins lucrativos,

conforme Drucker (1995) necessitam de quatro coisas para funcionar: um plano, marketing,

pessoas e dinheiro.

A partir dos movimentos de uma sociedade que se reconheceu como um veículo de

protestos contra as elites que atuavam na política e na economia, nasceu o que conhecemos hoje

por organizações da sociedade civil (OSCs), na busca de preencher algumas lacunas deixadas

pelo Estado e pelo mercado (ANHEIER e SIBEL, 2001; BIGNETTI, 2011). Essas organizações

se apresentam de forma ampla e diversificada, desempenham papéis não muito distintos do

padrão de atuação de organizações semelhantes em países desenvolvidos (FISCHER, 2002).

Além disso, as OSCs são formadas por pessoas que investem mais tempo do seu dia a dia em

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atividades que incluem interações sociais, e se motivam muito mais por participar de projetos

que envolvem grandes causas do que pela remuneração (RENNÓ, 2003; COSTA, 2007).

Num sentido contemporâneo, as OSCs constituem universo das organizações formadas

livremente por pessoas que atuam onde Estado e o mercado não atendem de modo adequado.

Essas organizações sociais podem se caracterizar como entidades comunitárias, voltadas à

promoção do desenvolvimento local e liderança de lutas populares; organizações intermediárias

de assessoria e pesquisa ou de defesa e promoção de direitos; fundações que realizam programas

de interesse social ou financiam projetos sociais realizados por terceiros; ou antigas entidades

assistenciais, de atendimento direto a populações carentes, que praticam a filantropia em sentido

literal. Ademais, as organizações da sociedade civil são consideradas um caminho para

solucionar alguns problemas ambientais, e podem contribuir para a mobilização social ao

utilizarem de sua força política e poder de articulação (OLIVEIRA e HADDAD, 2001; COSTA

e TEODÓSIO, 2011)

No que tange à legislação Brasileira, um importante passo foi o novo marco legal do

terceiro setor, com a criação do a Lei Nº 13.019/2014, que atualiza as leis 8.429/1992 e

9.790/1999, e estabelece o regime jurídico das parcerias entre a administração pública e as

organizações da sociedade civil (PEREIRA et al, 2015).

A Lei nº 13.204/2015 altera a Lei Nº 13.019/2014 e dá uma ideia clara do que é

entendido como organização da sociedade civil pelo Governo Brasileiro:

Entidade privada sem fins lucrativos que não distribua entre os seus sócios ou

associados, conselheiros, diretores, empregados, doadores ou terceiros eventuais

resultados, sobras, excedentes operacionais, brutos ou líquidos, dividendos, isenções

de qualquer natureza, participações ou parcelas do seu patrimônio, auferidos mediante

o exercício de suas atividades, e que os aplique integralmente na consecução do

respectivo objeto social, de forma imediata ou por meio da constituição de fundo

patrimonial ou fundo de reserva (BRASIL, 2015).

Ao espaço composto por essas organizações, cuja atuação é dirigida a finalidades

públicas ou coletivas, denomina-se Terceiro Setor. Este termo surge para identificar um

conjunto de iniciativas provenientes da sociedade civil organizada, e visa atender aos interesses

públicos ao elaborar um novo arranjo institucional, uma nova relação entre sociedade e Estado

(NASCIMENTO, 2000). Assim, este setor, que atua sem fins lucrativos, se formaliza por meio

de entidades destinadas a empoderar pessoas perseguidas, desfavorecidas e excluídas, e faz com

que o equilíbrio de poder social dominante seja alterado, uma vez que desenvolvem ações

voltadas aos direitos humanos, às questões ambientais, ao desenvolvimento local, entre outras

(FISCHER, 2002; ANHEIER e SIBEL, 2001; FERNANDES, MACIEL e CLOS, 2013).

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De acordo com Regan (2006), os defensores dos animais se dividem em três grupos

que, embora tenham diferentes origens, normalmente possuem os mesmos objetivos. Os

vincianos são pessoas capazes de se colocar facilmente no lugar dos animais e partilhar de suas

alegrias ou aflições. Os damascenos, por alguma razão, tiveram sua percepção acerca dos não

humanos alterada e repensaram seus padrões e perspectivas pessoais. Por último, os relutantes

são aqueles que modificaram seu comportamento e ações para com os não humanos e

reconheceram a consciência animal.

Uma vez que existem organizações da sociedade civil que se esforçam na resolução de

problemas relacionados ao bem-estar dos animais não humanos, dá-se sequência a esta pesquisa

com uma abordagem teórica, a partir da literatura, acerca dos direitos dos animais.

2.3 DIREITOS DOS ANIMAIS

Animais não humanos são criaturas que não podem se articular em um movimento

organizado para defender seus direitos e, portanto, dependem da consciência e da compaixão

dos humanos para que tenham esses interesses garantidos. Os animais domésticos tendem a ver

os humanos com os quais convivem como membros de sua família em vez de distingui-los em

razão de sua espécie (COSTA, 2014; GOMES, 2010).

A questão do bem-estar animal deve sua origem e ganha relevância, como área

científica, a partir das preocupações do público a respeito de como os animais são tratados em

cativeiro. Embora tenha sua concepção em preocupações de carácter moral, o bem-estar animal

limita-se a procurar caracterizar de forma objetiva o estado em que se encontram os animais, e

a desenvolver estratégias para melhorar o seu bem-estar quando estão sob a responsabilidade

de humanos (GALHARDO e OLIVEIRA, 2006).

Por definição, o bem-estar animal abriga cinco liberdades que devem ser atendidas:

Liberdade psicológica (de não sentir medo, ansiedade ou estresse), liberdade

comportamental (de expressar seu comportamento normal), liberdade fisiológica (de

não sentir fome ou sede), liberdade sanitária (de não estar exposto a doenças, injúrias

ou dor), liberdade ambiental (de viver em ambientes adequado, com conforto)

(NÄÄS, 2008 p. 1).

No entanto, a análise do que é ou não aceitável fazer com os animais e qual grau de

sofrimento é considerado admissível cai previamente no domínio da ética por extrapolar os

objetivos desta ciência. Assim, o conceito de bem-estar animal está intimamente relacionado

com a capacidade ou não de o animal ter consciência de sensações e sentimentos, o que faz da

senciência um critério essencial para outorgar um estatuto moral aos animais (GALHARDO e

OLIVEIRA, 2006).

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Tanto humanos quanto não humanos que possuem órgãos sensoriais e são, por tanto,

sencientes, detêm em suas vidas a mesma agregação de valor. Essa equidade, por si só, gera a

responsabilidade dos humanos por suas ações que atingem os animais não humanos. Portanto,

essa capacidade de sofrer ou experimentar prazer ou felicidade (senciência) é suficiente para

que um ser vivo seja tratado de maneira igualitária. Dessa forma, se o passaporte para a outorga

de direitos for a senciência, a abrangência da atuação moral humana precisa ser urgentemente

ampliada para que resguarde os direitos de outros animais sencientes e autoconscientes

(FELIPE, 2009; SINGER, 2006; REGAN, 2006). A questão não está em saber se os animais

não humanos podem pensar ou falar, mas, sim, se podem sofrer a partir das ações humanas

(SINGER, 2006).

Esses direitos morais devem ser tratados como barreiras de proteção, a fim de reprimir

a desconsideração de interesses ao criar uma condição de unidade ética regida pelas noções de

respeito e igualdade. Dessa forma, o respeito passa a ser o direito mais essencial a ser garantido

a um indivíduo, seja humano ou não humano. O direito à vida, liberdade, integridade física e

os demais direitos, surgem por meio da aceitação desse princípio (REGAN, 2006).

As leis que buscam garantir o bem-estar dos animais não humanos existem desde o

século XVII, mas não têm impedido a exploração e os maus tratos para com estes seres, uma

vez que, em geral, tais leis visavam proteger sobretudo os próprios humanos economicamente

e ecologicamente. No Brasil, o primeiro documento jurídico que trata da proteção dos animais

não humanos é o Código de Posturas do município de São Paulo, de 06 de outubro de 1886.

Em 1916 surge o Código Civil, mas sem oferecer avanços nesse sentido. Posteriormente,

diversas outras leis foram expedidas no decorrer dos anos, até que, em 1941, a Lei de

Contravenções Penais passa a considerar a crueldade contra animais não humanos como

contravenção penal punida com prisão e multa. Em 1985, a Lei 3.737/85 trata da ação civil

pública de responsabilidades por danos causados ao meio ambiente, ao consumidor e ao

patrimônio artístico, turístico ou paisagístico. Finalmente, a proteção jurídica para animais não

humanos passa a ter status constitucional em 1988, pela atual Constituição Federal, que proíbe

qualquer prática cruel contra estes animais (TINOCO e CORREIA, 2014).

Por fim, a Lei 9.605 de 1998, conhecida como Lei dos Crimes Ambientais,

transformou as antigas contravenções em crimes. Esta lei causa uma profunda alteração na

tipificação penal das condutas, uma vez que, a partir de então, condutas que eram consideradas

contravenções penais passam a ser crimes contra o meio ambiente (TINOCO e CORREIA,

2014; STIFELMAN, 2007).

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No entanto, as legislações têm protegido os animais não humanos sob uma ótica

utilitarista. No Brasil, apesar da proteção constitucional contra a crueldade, o que ocorre na

prática é que estes seres continuam a sofrer abusos por conta da ambição humana (TINOCO e

CORREIA, 2014).

Esta tratativa desigual para com os animais não humanos é atribuída por muitos pelo

surgimento das religiões judaico-cristãs, que instituíram a concepção antropocêntrica ao tratá-

los como criaturas inferiores, retirar o valor intrínseco de suas vidas e os transformarem

simplesmente em recursos ambientais (TINOCO e CORREIA, 2014). Dessa forma, “a tradição

antropocêntrica sustenta que os animais existem apenas para servir aos interesses dos seres da

espécie biológica Homo Sapiens” (FELIPE, 2009 p. 7).

Em contrapartida, alguns movimentos se opõem a este ideal. Décadas atrás a própria

Organização das Nações Unidas (ONU), por exemplo, sinalizou que considera o

antropocentrismo clássico uma concepção ultrapassada, que não condiz com o cenário mundial

atual (UNESCO, 1978).

Vale ressaltar outro termo que possui uma ligação bastante forte com o

antropocentrismo: o especismo. Singer (2006) afirma que qualquer forma de discriminação

praticada pelos seres humanos contra outras espécies pode ser considerada especismo. Esse

preconceito usa determinadas diferenças como argumento para não aplicar o princípio ético da

igualdade aos animais não-humanos.

Neste contexto, é de suma importância a defesa de uma abordagem ético-filosófica

direcionada na concessão de direitos aos animais não humanos. No entanto, esta ética centrada

na igualdade e no respeito à vida costuma sofrer grande resistência e nem sempre é reconhecida

no meio acadêmico, uma vez que implicaria em transformações radicais do conhecimento e da

sociedade como as conhecemos (REGAN, 2006; BARATELA, 2014).

Singer (2006) defende a ética centrada no princípio da igualdade na consideração de

interesses, que exige que se atribua o mesmo peso aos interesses semelhantes de todos os

afetados por determinada ação. Assim, caso uma ação ofereça mais riscos de perda a um sujeito

do que ao outro, o melhor é não praticar essa ação. O autor ainda ressalta que uma compreensão

clara da natureza do princípio da igualdade na consideração de interesses é o principal

argumento para que o princípio da igualdade seja considerado além da espécie humana.

Por fim, Baratela (2014) sustenta que, ao abarcar o direito dos animais não humanos,

o estudo da ética permite que a sociedade conheça os variados argumentos, tanto dos

ambientalistas quanto dos antropocentristas. No entanto, é preciso agir de forma prática, uma

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vez que é insuficiente apenas conhecer as correntes filosóficas. Para que uma drástica mudança

seja possível na sociedade, é necessário refletir sobre o direito dos animais.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Uma vez que a biosfera abriga as mais variadas formas de vida e que existe uma

interdependência entre elas, parece adequado que cada ser tenha sua vida e suas particularidades

biológicas respeitadas, sobretudo pelos humanos, visto que estes são os responsáveis pelas

ações que alteram a natureza e afetam as vidas alheias de muitas maneiras.

A discussão acerca da outorga de direitos básicos aos animais não é recente, mas

precisa estar constantemente em pauta para que humanos e não humanos possam ser respeitados

e, a partir disso, ter seus direitos básicos garantidos sob a premissa da igualdade.

Sob essa ótica, surgem algumas ações que visam o bem-estar dos animais não

humanos, as quais podem contribuir para minimizar o impacto da interferência humana sobre

as outras espécies e promover transformações positivas, benéficas inclusive para a própria

sociedade.

Grande parte dessas intervenções é proveniente de grupos de indivíduos que percebem

que algo precisa ser modificado com relação ao tratamento dado pelos humanos aos animais. À

união dessas pessoas como movimentos sociais que buscam algumas transformações que o

Estado e o mercado não promovem, denomina-se Organizações da Sociedade Civil (OSCs),

que formam o ambiente conhecido por Terceiro Setor.

Essas organizações têm seu foco no bem-estar dos animais ao invés do lucro e, em

determinadas ocasiões, podem desenvolver ações inovadoras que, por meio da interação entre

os atores sociais, promovem transformações que impactam direta ou indiretamente na vida

humana e não humana. A partir do momento em que tais ações atendem a determinados

requisitos, é possível caracterizá-las como inovações sociais.

Dessa forma, este estudo apresenta alguns conceitos que auxiliam na compreensão das

inovações sociais, a fim de identificar aspectos comuns. Neste caso, foram identificadas três

variáveis constantes nos conceitos apresentado: natureza inovadora, transformação social e

relação entre atores sociais; as quais foram adotadas como princípios básicos para que uma ação

possa ser identificada como inovação social.

Os conceitos acerca das inovações sociais apresentados nesta pesquisa sugerem a

existência de uma geração de processos de transformação, pelos quais os sujeitos criam, de

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forma individual e coletiva, novos modos de se relacionar, não somente entre si, mas também

com relação a vida alheia que os circunda.

A partir desta inferência, é possível sustentar a existência de responsabilidade ética e

social dos humanos em relação aos demais animais, e que estes possuem algumas demandas

próprias que podem ser atendidas parcialmente ou integralmente por intermédio das inovações

sociais.

Assim, estas mesmas variáveis que identificam as inovações sociais focadas nos

humanos podem, também, identificar as inovações sociais voltadas ao bem-estar animal, uma

vez que os conceitos de inovação social também não restringem a posição de beneficiário

estritamente aos humanos.

Ao aliar esta reflexão com o direcionamento ético centrado na igualdade trazido por

Regan (2006) e Singer (2006), surgem indícios de que ações possam ser consideradas inovações

sociais independentemente de ter seu o foco voltado a humanos ou não humanos.

Por fim, destaca-se a relevância da discussão acerca das inovações sociais que atendam

não só aos humanos, mas também às outras espécies. Muitas vidas dependem dessas ações

inovadoras para que sejam respeitadas e tenham seus direitos concedidos com base na

igualdade. A partir disso, pode-se efetivar o desenvolvimento de uma relação mais justa e

igualitária e responsável entre humanos e não humanos, em que as ações dos primeiros não

causem dor ou sofrimento aos últimos.

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INOVAÇÃO SOCIAL E ECONOMIA CRIATIVA: UMA DISCUSSÃO TEÓRICA NA

PERSPECTIVA DAS TRANSFORMAÇÕES SOCIAIS

SOCIAL INNOVATION AND CREATIVE ECONOMY: A THEORETICAL DISCUSSION IN

THE PERSPECTIVE OF SOCIAL TRANSFORMATIONS

Alex Daronch Lopes1

Nei Antonio Nunes 2

Denise Del Prá Netto Machado 3

Jacir Leonir Casagrande 4

Mauri Luiz Heerdt 5

RESUMO: O objetivo desse ensaio teórico é analisar as noções de Inovação Social e Economia

Criativa, a partir das visões de autores que se dedicam ao seu estudo, verificando se é possível

uma aproximação entre os dois campos de investigação. Para tanto, e por se tratar de uma

pesquisa eminentemente teórica, utiliza como recurso metodológico a pesquisa bibliográfica e

análise conceitual confrontando importantes aspectos dos dois constructos. Como resultado,

apesar de suas diferenças existem vinculações possíveis entre Economia Criativa e Inovação

Social. Prova disso, o Plano da Secretaria da Economia Criativa sustenta que o setor criativo

brasileiro tem o compromisso de ser um agente de inclusão social.

Palavras-chave: Economia Criativa, Inovação Social, Criatividade, Transformações Sociais.

ABSTRACT: The objective of this theoretical essay is to analyze the notions of Social

Innovation and Creative Economy, based on the views of authors who are dedicated to their

study, verifying if it is possible to approach the two fields of research. For this, and because it

is an eminently theoretical research, it uses as a methodological resource the bibliographic

research and conceptual analysis confronting important aspects of the two constructs. As a

result, despite their differences there are possible links between Creative Economy and Social

Innovation. Proof of this, the Plan of the Secretariat of the Creative Economy maintains that

the Brazilian creative sector is committed to be an agent of social inclusion.

Keywords: Creative Economy, Social Innovation, Creativity, Social Transformations.

1 INTRODUÇÃO

O presente ensaio teórico propõe uma discussão em relação a dois conceitos

contemporâneos, a saber, inovações sociais e a economia criativa, com a perspectiva de

1 Mestrando em Administração na Universidade do Sul de Santa Catariana (UNISUL). E-mail:

[email protected] 2 Professor. Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL). E-mail: [email protected] 3 Professora. Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL). E-mail: [email protected] 4 Professor. Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL). E-mail: [email protected] 5 Professor. Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL). E-mail: [email protected]

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compreender suas aproximações teóricas no que tange às transformações sociais. Os principais

documentos que abordam os aspectos da economia criativa como o Relatório de Economia

Criativa da UNCTAD1 (Conferência das Nações Unidas sobre o Comércio e Desenvolvimento),

o Plano da Secretaria da Economia Criativa2 do Ministério da Cultura, o Mapeamento da

Indústria Criativa no Brasil3 do Sistema FIRJAN (Federação das Indústrias do Estado do Rio

de Janeiro) e os autores John Howkins e Richard Florida, não abordam elementos conceituais

que possam traçar algum paralelo entre os conceitos de economia criativa e inovação social. Da

mesma forma que estudos sobre inovação social realizados pelo CRISES (Centre de Recherche

sur les Innovations Sociales) e autores consolidados como James B. Taylor, Dennis Gabor e

Luiz P. Bignetti, também não levantam discussões que abrangem relações entre os dois

conceitos delimitados para estudo, o principal motivador desse estudo é compreender as

aproximações entre a inovação social e a economia criativa.

É importante salientar que os conceitos de inovação social e economia criativa

possuem linhas de pensamento distintas de acordo com cada autor. Nesse sentido o ensaio

teórico assume, pelo lado da inovação social, a linha de estudo do autor Luiz P. Bignetti pela

coerência e aproximação conceitual das análises propostas. Já a abordagem ligada à economia

criativa trabalhada na perspectiva dos autores John Howkins e Richard Florida. A partir destas

definições o presente ensaio teórico se estrutura no primeiro momento com a fundamentação

do conceito de economia criativa, passando pelos estudos sobre inovação social, o

desenvolvimento das aproximações conceituais e ao final as considerações finais com indicação

de novas perspectivas de estudos.

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 ECONOMIA CRIATIVA

Durante anos nossos principais recursos econômicos, transações que geram valor

financeiro, são associados à atividades baseadas na economia tradicional, recursos naturais e

tangíveis. Porém a possibilidade de se produzir riquezas através do capital intelectual vem se

tornando um elemento cada vez mais discutido e trabalhado, essa riqueza também constitui

valores simbólicos que transcendem somente o aspecto econômico. Segundo o Plano da

Secretaria da Economia Criativa: políticas, diretrizes e ações, 2011 – 2014 a principal diferença

entre a economia tradicional e a economia criativa é basicamente a origem de seus recursos,

1Disponível em: unctad.org/pt/docs/ditctab20103_pt.pdf 2Disponível em: https://goo.gl/3fZZKK 3Disponível em: https://goo.gl/tmiBLR

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onde, a economia tradicional é baseada em recursos naturais tangíveis e a economia criativa é

baseada no conhecimento do ser humano que é intangível. Do lado tradicional existe a

preocupação pela escassez da matéria prima e pela economia criativa é ao contrário, o foco está

na abundância do conhecimento humano.

De acordo com Stewart (1998, p. 9) o capital intelectual refere-se aos conhecimentos

e informações que se pode aproveitar para a criação de riqueza. É uma força cerebral coletiva

intangível, como a criatividade de uma cultura ou comunidade.

Segundo Howkins (2013, p. 13) a criatividade é a capacidade de pessoas gerarem algo

novo através das suas condições pessoais, ela está presente no ser humano e se manifesta no ato

de pensar, agir, criar ou realizar. Florida (2011, p.5) vai além e atribui a ascensão da criatividade

humana como agente central, tanto na economia quanto na vida em sociedade. Mas a

criatividade em si não possui valor econômico, precisa se criar algo comercializável para que

possa gerar valor econômico e movimentar a economia criativa. De acordo com John Howkins

(2013, p. 17):

A economia criativa consiste nas transações contidas nesses produtos

criativos. Cada transação pode ter dois valores complementares: o valor

da propriedade intelectual intangível e o valor do suporte ou plataforma

física.” (HOWKINS, 2013, p. 17).

Em 1997 o governo do Reino Unido definiu o primeiro mapa das indústrias criativas

encarregado pelo Departamento de Cultura, Mídia e Esporte (DCMS, em inglês). No caso

brasileiro a economia criativa vem sendo discutida no âmbito nacional a partir do século XXI.

De acordo com Plano da Secretária da Economia Criativa: políticas, diretrizes e ações, 2011 –

2014 iniciou-se o debate sobre a indústria criativa no Brasil. Esse início de discussão gerou em

São Paulo, em junho de 2004, a XI Conferência Ministerial da UNCTAD focada no

desenvolvimento deste setor nos países do Hemisfério Sul. A partir disso entre 2004 e 2006 se

intensificou os contatos internacionais para a evolução da temática sobre a indústria criativa.

Segundo o relatório de economia criativa 2010 não existe uma definição exclusiva sobre a

“economia criativa”, mas a perspectiva da UNCTAD e de John Howkins são base nas

discussões acerca da “economia criativa” como estimuladora na geração e criação de renda,

abrangendo aspectos econômicos, culturais e sociais.

Para que a economia criativa obtenha êxito é necessário que haja um mercado de

compra e venda para essa economia. Em entrevista ao grupo Abril durante o IV Seminário

Internacional de Design do Salão Inspiramais, realizado na cidade de São Paulo em julho de

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2012, Howkins explicou que a forma com que as pessoas se relacionam com mercado está

mudando, seus desejos e sentimentos estão diferentes e essa transformação automaticamente

também altera a economia. Essa mudança gera oportunidades no mercado e consequentemente

abrem espaços para novos negócios, tanto relacionados com a economia criativa como também

novas possibilidades de se trabalhar a economia tradicional.

Percebe-se que a economia criativa pode ser um grande catalisador para soluções que

atendam as novas tendências do consumidor e do mercado. O fato é que a economia criativa

por possuir essa dependência mercadologia, como visto anteriormente, coloca em questão o

quão eficiente essa prática se aplica em relação as inovações sociais4, porém alguns aspectos

do processo criativo parecem se aproximar de ações que geram transformações sociais não

circunscritas ao âmbito mercadológico, de acordo com Richard Florida (2011, p. 22):

[...], a criatividade é multifacetada e multidimensional. Ela não se limita

à inovação tecnológica ou novos modelos de negócios; não é algo que

pode ser guardado numa caixa e sacado assim que o indivíduo chega ao

escritório. A criatividade envolve diferentes hábitos e formas de pensar

que precisam ser cultivados tanto no indivíduo quanto na sociedade que

o cerca.” (FLORIDA, 2011, p. 22).

A criatividade é um elemento essencial do ser humano e modifica os padrões de vida

e escolhas dos indivíduos e da sociedade, segundo Richard Florida (2011, p. 22):

[...], O éthos criativo permeia tudo, desde a cultura do ambiente de

trabalho até os valores e as comunidades, nos fazendo repensar nossa

função econômica e social e reformular nossa própria identidade.”

(FLORIDA, 2011, p. 22).

O éthos criativo é tão presente no indivíduo que reflete em seus valores e reforça seu

papel na comunidade na qual está inserida, sendo assim está ligado aos estímulos sociais,

culturais e econômicos. Essa ligação entre criatividade, indivíduo e o contexto social, apontam

novos caminhos para os temas propostos no ensaio teórico, que serão abordados na sequência

das análises.

2.2 INOVAÇÃO SOCIAL

4Conceito abordado no tópico 3.

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Como indicado anteriormente, este ensaio teórico assume como conceito principal,

para definir inovação social, a abordagem de Luiz P. Bignetti (2011, p. 4):

A inovação social é aqui definida como resultado do conhecimento

aplicado a necessidades sociais através da participação e da cooperação

de todos os atores envolvidos, gerando soluções novas e duradouras

para grupos sociais, comunidades ou para a sociedade em geral.”

(BIGNETTI, 2011, p. 4).

Segundo Bignetti (2011, p.4) a gestão da inovação social pode ser analisada por três

pontos fundamentais, ou seja, na perspectiva do indivíduo, das organizações e dos movimentos

sociais. É importante salientar que o conceito de inovação social não deve ser confundido com

inovação tecnológica. O conceito de inovação carrega a influência do modelo tradicional com

o foco voltado à competividade do mercado, ou seja, novos produtos, processos e modelos

inovadores. Isso se deve principalmente pela grande influência de pensadores como Joseph

Schumpeter o qual seus estudos aplicaram uma linha schumpeteriana de pensamento, que

atribui a inovação tecnológica fator crucial nas transformações sociais.

Voltando o olhar ao conceito de inovação social, a partir de Bignetti, ela surge como

alternativa para buscar soluções inovadoras e viáveis ao futuro da sociedade humana, através

de transformações sociais capazes de alterar realidades de uma comunidade fornecendo

condições para que a própria sociedade e seus atores gerem respostas as demandas sociais. Os

três focos distintos abordados por Bignetti, o indivíduo, as organizações e os movimentos,

caracterizam os distintos campos de ação das inovações sociais. De acordo com Luiz P. Bignetti

(2011, p. 4):

“No primeiro caso as inovações se voltariam para ações que

promovessem mudanças duradouras no indivíduo, de modo a permitir

a ele recuperar a capacidade de conduzir a sua própria vida. Em outras

palavras, buscaria dotá-lo de empowerment necessário para que pudesse

adquirir a capacidade de mudar seu destino” (BIGNETTI, 2011, p. 4).

É possível perceber a importância de empoderar o indivíduo para que possa

desenvolver soluções sociais, principalmente para atender as necessidades do meio em que

convive. Esta autonomia do indivíduo ajuda a conduzi-lo na criação de ações em prol das

transformações sociais.

No segundo momento onde o foco é a organização, Bignetti (2011, p.9) explica que

“A organização é considerada como um arranjo cooperativo formal em que os propósitos

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individuais se alinham aos propósitos coletivos”, nessa perspectiva estão inseridas as empresas

privadas, empresas sociais, instituições públicas e privadas e órgãos governamentais, todos os

atores da sociedade tem como responsabilidade atender as demandas sociais e coletivas.

Já como terceiro ponto, os movimentos, Bignetti (2011, p.9) aponta que “os

movimentos possuem acepção ampla, incluindo tanto relações socias não institucionalizadas,

ou relações fluidas não consolidadas (principalmente os movimentos sociais de nível local),

como formações de redes formais ou informais de atores institucionalizadas”, esses

movimentos coletivos são grandes responsáveis pelas manifestações de interesses da sociedade,

que buscam em seus arranjos coletivos clamarem por direitos e reivindicarem os deveres

principalmente da esfera pública.

A partir desses três focos a inovação social é entendida como um fenômeno inclusivo,

que busca através das suas interações regular as necessidades, expectativas e aspirações dos

autores envolvidos nesse processo. De fato, é possível compreender a importância do indivíduo

e dos demais arranjos formais e informais na busca de ações que possibilitem as transformações

sociais.

No próximo tópico essas abordagens serão retomadas e alinhadas com os elementos

da economia criativa, visando a identificação das aproximações teóricas desses temas.

2.3 INOVAÇÃO SOCIAL E ECONOMIA CRIATIVA

Ambos os conceitos, inovações sociais e economia criativa, apresentam elementos que

colaboram para as transformações sociais, porém afirmar que ambas teorias apontam o mesmo

sentido é mais complexo. Para compreender de forma mais detalhada os pontos em que essas

teorias se aproximam retoma-se o conceito de inovação social utilizado por Bignetti, e os

conceitos de economia criativa de John Howkins e Richard Florida. A partir daqui vamos olhar

os elementos conceituais que mais se aproximam a partir da dos três focos principais de

inovação social de Bignetti.

No primeiro momento quando o foco é o indivíduo, especificamente o empreendedor

social, Alvord (apud BIGNETTI 2011, p.10) salienta que as diferenças entre o empreendedor

social e o empreendedor clássico são os propósitos de seus empreendimentos: financeiros ou

sociais. Não significa que o cunho financeiro não possa estar presente em negócios sociais,

porém a relevância mercadologia não pode se sobressair sobre a origem social do

empreendimento.

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Segundo Ashoka (apud BIGNETTI 2011, p.10) o empreendedor social se caracteriza

por indivíduos capazes de gerar soluções inovadoras para problemas sociais relevantes. Tendo

em vista esse conceito é possível dizer que o empreendedor social pode ser um catalizador das

transformações sociais. Para compreender quais são esses problemas relevantes da sociedade

exige que esse indivíduo compartilhe de forma mais profunda as necessidades da comunidade,

para que possa pensar soluções que realmente dão conta dos problemas sociais a longo prazo.

O processo de criação de soluções requer uma capacidade criativa dos indivíduos,

segundo John Howkins (2013, p. 13):

Criatividade é a capacidade de gerar algo novo. Significa a produção

por parte de uma ou mais pessoas, de ideias e invenções que são

pessoais, originais e significativas. Ela é um talento, uma aptidão. Ela

ocorrerá toda vez que uma pessoa disser, realizar ou fizer algo novo,

seja no sentido de “algo a partir do nada” ou no sentido de dar um novo

caráter a algo existente. (HOWKINS, 2013, p. 13).

A criatividade é um fator que está presente nos indivíduos que pensam em ações

voltadas as transformações sociais e tem impacto direto no desenvolvimento de algo novo ou

melhorar algo já existente. Também considerada multifacetada e multidimensional, a

criatividade envolvendo diferentes formas de pensar dos indivíduos e da sociedade que os

cercam, é o elemento que permeia a cultura, economia e identidade, refletindo os valores e

manifestando-se no surgimento de novos ambientes de trabalho, estilo de vida, associações e

comunidades (FLORIDA, 2011). Logo a criatividade torna-se um elemento inseparável do

indivíduo e de suas ações, como no caso o empreendedorismo social, sendo a propulsora natural

para o desenvolvimento de soluções que contemplem as necessidades da comunidade como um

todo. Essa relação entre inovação social e criatividade se mostra coerente ao conceito de

Bignetti, pois no momento em que o indivíduo através de suas ações favorece a comunidade, o

próprio indivíduo também é beneficiado pelas transformações decorrentes de suas ações.

Além do indivíduo, o outro foco de Bignetti são as organizações, segundo Luiz P.

Bignetti (2011, p. 10):

Embora as iniciativas individuais representem um mecanismo

significativo para o surgimento das inovações sociais, como mostram

os exemplos assinalados, essas inovações também se originam através

de organizações e de instituições existentes ou criadas especificamente

para atender as necessidades sociais. (BIGNETTI, 2011, p. 10).

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Essas organizações carregam em sua origem o posicionamento de um espaço focado

na convivência humana, o que proporciona uma valorização do indivíduo e consequentemente

seu empoderamento. Evidentemente que as instituições públicas, organizações não

governamentais, pequenas iniciativas comunitárias e organizações privadas cuja sua orientação

esteja em ações sociais, buscam colaborar com soluções que possibilitem transformações

sociais permanentes. No Relatório de economia criativa 2010 em sua revisão das políticas

voltadas ao desenvolvimento da economia criativa apontam em suas recomendações a

necessidade de políticas ao qual possibilitem a economia criativa atender os critérios das

comunidades locais e não somente econômicos, demandas relacionadas à educação, identidade

cultural, desigualdade social e questões ambientais, são alguns elementos que necessitam ser

atendidos pelas novas políticas da economia criativa.

O relatório também destaca que diversos municípios vêm aplicando o conceito de

cidade criativa como estratégia para formulação de ações que foquem o desenvolvimento

urbano e reforcem o aumento de atividades criativas e culturais. Charles Landy argumenta que

o recurso principal das cidades criativas são as pessoas que nela vivem, essas utilizam seu

potencial criativo aplicado nos ativos culturais e buscam com que o setor criativo possa

colaborar com a vitalidade econômica da cidade, possibilitando um ambiente agradável e

estimulante à novas soluções. Contudo, é importante reconciliar os objetivos econômicos e

sociais para que sejam instrumentos complementares em prol das transformações sociais, ou

seja, que as estratégias como as cidades criativas, oriundas das organizações, consigam prover

soluções que beneficiem atender às necessidades da sociedade como um todo e não apenas

parcelas específicas da comunidade.

Essa preocupação para que as políticas públicas sobre a economia criativa

comtemplem seus aspectos multidisciplinares – suas interligações econômicas, sociais,

culturais, tecnológicas e ambientais, apontam a existência de um olhar mais próximo entre a

economia criativa e a inovação social, no sentido de se construir perspectivas de soluções

sociais em conjunto com as diversas organizações da sociedade.

O terceiro foco abordado pelo autor nos estudos das inovações sociais é denominado

Movimentos, segundo Luiz P. Bignetti (2011, p. 11):

Os movimentos são caracterizados pelas ações de conflito e contestação

que empreendem atores pertencentes à sociedade civil, que se lançam

nas fímbrias das desigualdades buscando soluções sociais através de

parcerias, alianças, serviços coletivos, práticas de resistência e lutas

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populares. (Bellemare e Brian, 2004; Rollin e Vincent, 2007, apud

Bignetti 2011, p.11).

Os movimentos de resistência dos indivíduos reforçam sua identidade e

principalmente sua independência em relação às grandes corporações. Hoje as pessoas já não

definem sua postura pela empresa que atuam, acreditam que as instituições tradicionais não

garantem mais o sentimento de estabilidade e apoio, mas a combinação de onde vivemos e o

que fazemos é a principal fonte de identidade do indivíduo pós-moderno (FLORIDA, 2011).

Essa autonomia dos movimentos vai de encontro aos valores da classe criativa, que

apresenta a seguinte postura, segundo Richard Florida (2011, p. 231)

Vários integrantes da classe criativa que estudei expressam também o

desejo de se evolver na comunidade em que vivem. Mais do que a

vontade de fazer o bem, isso indicava o desejo de estabelecer sua

identidade própria e de contribuir para a construção de lugares que

reflitam e legitimem essa identidade. (FLORIDA, 2011, p. 230).

Um exemplo de movimento social são os jovens em Pittsburgh, nomeados de “Grond

Zero”, que eram compostos por arquitetos, urbanistas, designers gráficos e pessoas ligadas a

alta tecnologia e seu principal objetivo era compreender melhor o estilo de vida e os outros

interesses dos jovens da mesma classe criativa. Seu primeiro manifesto, em 2000, reforça a

relação entre criatividade, lugar e identidade em busca de defender os interesses sociais da

classe criativa. De acordo com Caillouette (apud BIGNETTI 2011, p.11) os movimentos

possuem fluidez e se manifestam em comunidades visando a construção indenitária destes

indivíduos que compartilham os mesmos interesses, essa relação reforça os laços entre as

pessoas e contribui para a construção de um capital social capaz de gerar soluções, não só para

os problemas econômicos, mas também sociais. Além disso, a versão tradicional de sociedade

onde os laços eram fortes já não são tão eficazes, as comunidades que se desenvolvem agora

são marcadas por amizades mais diversificadas, onde não olhamos apenas para inovações

tecnológicas nem a renda elevada, mas também espaços que as pessoas possam se auto afirmar

em suas comunidades (FLORIDA, 2011). Os movimentos estimulam a criatividade, são

espaços sociais diversificados e abertos a manifestações coletivas (FLORIDA, 2011), essas

conexões possibilitam a geração de ideias e soluções que podem ser promissoras para as

comunidades, estimulando mudanças mais profundas e contínuas na sociedade.

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Esses três pontos abordados por Bignetti, indivíduo, organizações e movimentos sociais,

levantam importantes aspectos dos constructos inovação social e economia criativa a partir das

visões de autores que se dedicam ao seu estudo. Porém, uma relevante variável de estudo, dentro

do contexto nacional da economia criativa, é apresentada no Plano da Secretaria da Economia

Criativa: políticas, diretrizes e ações, 2011 – 2014 que destaca:

No Brasil, onde a desigualdade de oportunidades educacionais e de

trabalho ainda é evidente, onde o analfabetismo funcional atinge um

percentual considerável da população, onde a violência é uma realidade

cotidiana, onde o acesso à cultura ainda é bastante precário (quando

comparado com o de países desenvolvidos), não se pode deixar de

assumir a inclusão social como princípio fundamental para o

desenvolvimento de políticas públicas culturais na área da economia

criativa. (Plano da Secretaria da Economia Criativa: políticas, diretrizes

e ações, 2012, p.35).

Este posicionamento a partir do documento oficial desenvolvido pelo Ministério da

Cultura, demonstra que a economia criativa pode ser entendida como possibilidade de inclusão

social. Logo a principal ferramenta responsável para a inclusão de ações práticas são as políticas

públicas, que se alinhadas e favoráveis ao setor criativo, podem oportunizar o desenvolvimento

e a inclusão produtiva dessa parcela da população que se encontra em vulnerabilidade social,

através da qualificação e oportunidades de trabalho e renda.

Além do acesso a bens e serviços criativos é fundamental que a população tenha acesso

a bens simbólicos, segundo o Plano da Secretaria da Economia Criativa: políticas, diretrizes e

ações, 2011 – 2014 “uma população que não tem acesso ao consumo e fruição cultural é

amputada na sua dimensão simbólica”. Nesse sentido é possível compreender que, os serviços

criativos brasileiros também podem ser uma forma de acesso à cidadania e à transformação

social, que são aspectos já consolidados dentro das inovações sociais.

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

O presente ensaio teórico tem como metodologia a Pesquisa Bibliográfica que segundo

Raun (2015) define-se como o levantamento, análise e interpretação das informações contidas

em documentos impressos ou digitalizados, livros, periódicos e demais artefatos culturais

capazes de formar a bibliografia de determinado assunto.

Esta abordagem possibilitou a construção deste ensaio teórico que segundo Severino

(2000) consiste na exposição lógico-reflexiva com ênfase na argumentação e interpretação

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pessoal. Para a aproximação aos campos de investigação, foi realizado uma análise conceitual

confrontando os importantes aspectos dos autores pesquisados.

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

Ao analisar os estudos selecionados sobre economia criativa e inovação social é possível

observar semelhanças e proximidades entre alguns aspectos dos campos de investigação. O

primeiro ponto se resume na relação entre indivíduo e a geração de soluções sociais. Como fato

observável, a capacidade criativa do ser humano tem reflexos na criação de soluções que

atendam às necessidades das comunidades. A criatividade é uma aptidão pessoal e que se

manifesta no desenvolvimento e criação de qualquer atividade, por sua vez, se voltadas à

inovação social podem ter reflexos em soluções que geram transformações sociais.

Como segundo ponto, as organizações possuem um papel fundamental no processo de

conhecimento e resolução de problemas sociais. Segundo Pol e Ville (2009) as inovações das

organizações, também incluem as que atuam na economia criativa, podem aprimorar a

qualidade de vida, o que seria objetivo das inovações sociais, ou seja, organizações que estejam

com seus objetivos voltados às necessidades sociais e não somente econômicas, contribuem

com resultados em prol das transformações sociais.

O terceiro ponto apresenta o que Bignetti nomeia de movimentos. A relação dos

movimentos se aproxima pelos valores simbólicos da classe criativa, do que as atividades

propriamente ditas da economia criativa. Pessoas que compartilham os mesmos valores e se

organizam em suas comunidades, buscam reivindicar os direitos coletivos. Esses movimentos

sociais reforçam a construção indenitária do indivíduo. Esta característica aparece nos estudos

de Bignetti e Richard Florida.

Nesse sentido, os estudos sobre inovação social e economia criativa a partir das visões

de autores selecionados, se diferenciam principalmente no momento em que, a fundamentação

teórica sobre economia criativa aponta maior foco nas questões mercadológicas de produtos

criativos e mercados. Já a inovação social mantém suas características com processos

inovadores que possibilitem a emancipação justa da sociedade.

Porém, a visão do Ministério da Cultura, dentro Plano da Secretaria da Economia

Criativa, aponta possibilidades da economia criativa como propulsora da inclusão social. Esse

posicionamento abre um campo de estudo para futuras pesquisas dentro do contexto nacional,

o que possibilita conexões com outros constructo e autores.

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao analisar as semelhanças e proximidades teóricas entre a Inovação Social e a

Economia Criativa, visualizam-se pontos de encontro como apresentados nos resultados e

discussões. É importante destacar que a partir das visões de autores que se dedicam ao seu

estudo, se manifestam diferentes níveis de encontros entre os constructos, o qual destaca-se a

maior relação entre a criatividade e inovação social.

Além disso, no contexto nacional, a partir do Plano da Secretaria da Economia

Criativa: políticas, diretrizes e ações, 2011 – 2014, é identificado o posicionamento que o setor

criativo pode ser um agente de inclusão social, o qual faz parte do processo de inovação social

que consequentemente resulta em transformações sociais.

Por fim, procurou-se aqui realizar uma análise, embora superficial, para possíveis

caminhos de estudos. A escolha de um ensaio teórico evidentemente deixou de lado, por

exemplo, o estudo de caso, que possui potencial de pesquisa dentro da área. A sugestão de

abordagem para futuras pesquisas é aprofundar as visões e posicionamentos trabalhados pelo

Ministério da Cultura em seu documento oficial, como também o estudo de casos específicos.

REFERÊNCIAS

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SESSÃO TEMÁTICA - SUSTENTABILIDADE E NEGÓCIOS SOCIAIS

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MODA SUSTENTÁVEL: A IMPORTÂNCIA DA REUTILIZAÇÃO E DO

REAPROVEITAMENTO PARA DIMINUIR OS IMPACTOS AMBIENTAIS

SUSTAINABLE FASHION: THE IMPORTANCE OF RECYCLING AND REUSING TO

REDUCE ENVIRONMENTAL IMPACTS

Danieli Cristina Vaz1

Tamily Roedel2

RESUMO: O fast fashion ou moda rápida é aquela que os produtos são fabricados, consumidos

e descartados rapidamente. Em contrapartida, a moda sustentável se refere a todas as iniciativas

que promovem boas práticas sociais e ambientais, incluindo uma redução na produção e no

consumo. O objetivo geral do estudo é apresentar práticas sustentáveis de reciclagem e

reaproveitamento dos produtos para minimizar os impactos ambientais. O presente artigo

possui como base uma abordagem qualitativa, método exploratório e tipo de pesquisa

bibliográfico. Para a melhor visualização dos conceitos apresentados no artigo, foi elaborada

uma proposta de alternativa com base no reaproveitamento de peças de vestuário que atingiram

o seu fim da vida útil. Pode-se observar que existem maneiras fáceis de prolongar a vida útil de

diversos produtos, desde peças de vestuário até sapatos e acessórios. Upcycling, Do It Yourself,

customização e até os brechós são meios mais acessíveis para ser sustentável, ajudando o meio

ambiente. Através da formulação de uma proposta se pode observar que prolongar a vida útil

do produto é muito mais fácil do que se imagina. Tornar a sustentabilidade em algo desejável

pelos consumidores através de peças customizadas ou reaproveitadas é um grande desafio,

muitos valores já estão sendo traçados, mas há um longo caminho a ser percorrido.

Palavras-chave: Moda sustentável. Moda rápida. Reaproveitamento.

ABSTRACT: Fast fashion or fast fashion is one where products are manufactured, consumed

and disposed of quickly. On the other hand, sustainable fashion refers to all initiatives that

promote good social and environmental practices, including a reduction in production and

consumption. The overall objective of the study is to present sustainable practices of recycling

and reuse of products to minimize environmental impacts. The present article is based on a

qualitative approach, exploratory method and type of bibliographic research. For a better

visualization of the concepts presented in the article, an alternative proposal was elaborated

based on the reuse of garments that reached their end of life. It may be noted that there are

easy ways to extend the life span of various products, from garments to shoes and accessories.

Upcycling, Do It Yourself, Customization and even thrift stores are more affordable means to

be sustainable while helping the environment. By formulating a proposal it can be observed

that prolonging the useful life of the product is much easier than you might think. Making

sustainability into something desirable by consumers through customized or reused parts is a

great challenge, many values are already being drawn, but there is a long way to go.

Keywords: Sustainable fashion. Fashion fast. Reuse.

1 Acadêmica do Curso de Design de Moda da UNIFEBE. E-mail: [email protected] 2 Professora orientadora. Mestre em Ciência e Tecnologia. E-mail: [email protected]

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1 INTRODUÇÃO

O presente artigo possui como tema central a moda sustentável, é um assunto cada vez

mais em voga na atualidade. Através dela, se satisfazem as necessidades atuais, sem

comprometer o futuro do planeta. “O conceito moda sustentável engloba [...] todas essas

iniciativas que promovem boas práticas sociais e ambientais, incluindo uma redução na

produção e no consumo” (BERLIM, 2014, p. 33). Alguns cenários de moda sustentável estão

em construção, e outros estão se construindo com o passar do tempo.

É de extrema importância o conhecimento sobre os impactos ambientais causados pela

indústria da moda. “Nossas roupas estão cada vez mais baratas, seguem modas cada vez mais

rápidas e são produzidas e vendidas em maior quantidade. Tudo isso corresponde [...] a moda

rápida” (SALCEDO, 2014, p. 26).

Estima-se que a indústria têxtil é uma das mais poluentes do mundo “a moda está

relacionada com o novo, com o efêmero, com mudanças cada vez mais rápidas nos produtos.

Com o estímulo da mídia, há uma busca frenética pela novidade e como consequências tem-se

aumento do consumo” (SCHULTE, 2015, p.52). Portanto, o produto assume rapidamente o seu

fim de vida útil, causando o aumento de resíduos têxteis.

De acordo com Berlim (2014, p. 43) “o produto de ‘moda’ passou a ser compreendido

como algo útil enquanto estiver ‘na moda’, sendo, portanto, descartado muitas vezes

inadequadamente”. Este artigo tem como problema central a seguinte questão: Como será que

é possível aumentar a vida útil desses produtos, para que os mesmos não se tornem resíduos?

O objetivo geral do estudo é mostrar técnicas sustentáveis de reciclagem e

reaproveitamento dos produtos para minimizar os impactos ambientais. Os objetivos

específicos são mostrar a sedução pelo fast fashion; descrever os impactos ambientais causados

pelo fast fashion; destacar o ciclo de vida dos produtos; descrever o que é moda sustentável;

apresentar estratégia de reuso e reaproveitamento das roupas e por fim, formular uma proposta

de reaproveitamento de peças de roupas para formar um look.

2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

O presente artigo possui como base uma abordagem qualitativa, método exploratório

e tipo de pesquisa bibliográfico. Segundo Richardson (1999 apud BEUREN, 2009, p. 91) “os

estudos que empregam uma metodologia qualitativa podem descrever a complexidade de

determinado problema, analisar a interação de certas variáveis, compreender e classificar

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processos dinâmicos vividos por grupos sociais”. Beuren (2009) ainda afirma que uma pesquisa

qualitativa é a melhor forma de relatar e conhecer um acontecimento social.

Gil (2010) ressalta que as pesquisas exploratórias possuem o propósito de descrever

as características, identificando prováveis relações entre variáveis, e proporciona maior

familiaridade com o problema, tornando os mesmos mais objetivos. Normalmente o

levantamento de dados se dá pela pesquisa bibliográfica, entrevistas e observação de exemplos.

De acordo com Marconi e Lakatos (2013, p. 43) pesquisa bibliográfica se trata de “de

levantamento de toda a bibliografia já publicada, em forma de livros, revistas, publicações

avulsas e imprensa escrita. Sua finalidade é colocar o pesquisador em contato direto com tudo

aquilo que foi escrito sobre o determinado assunto”.

Para a melhor visualização dos conceitos apresentados no artigo, foi elaborada uma

proposta de alternativa com base no reaproveitamento de peças de vestuário que atingiram o

seu fim da vida útil.

3 A SEDUÇÃO PELO FAST FASHION

O consumo e a felicidade estão altamente ligados ao longo da história. Consumir

tornou-se algo natural que promove a alegria, a frase ‘consumir é ser feliz’ é considerada normal

na sociedade atual. A moda possui uma forte ligação com o consumismo, pois, o consumo é

essencial para que se adquiram as peças de vestuário. As pessoas saem às compras quando estão

infelizes ou descontentes com alguma situação cotidiana (OLIVEIRA; CASTILHO, 2010).

O consumismo, que é o ato ou efeito de consumir incessantemente produtos sem

necessidade, transmite uma felicidade momentânea. De acordo com Schulte (2015, p.49): “A

relação entre o sistema da moda e o consumismo é direta. O ethos1 da moda é o novo. O produto

é criado para ser efêmero, e esse sistema gera consumismo”.

O acúmulo de produtos pela sociedade é sinônimo de sucesso; quanto mais possuir,

mais fascinante a pessoa se tornará. A mesma associa possuir bens, muitas vezes inúteis com o

significado da busca de uma vida perfeita e feliz. A satisfação do próprio ego, como se os

produtos ajudassem a encarar a vida ou a si mesmas. (GWILT, 2014)

A moda está cada vez mais acelerada, e consequentemente a produção da mesma deve

acompanhar o seu ritmo. A sociedade tem acesso muito rápido às informações, por isso, a moda

possui um padrão de produção e consumo no qual os produtos são fabricados, consumidos e

descartados rapidamente, denominado fast fashion. (SALCEDO, 2014)

1Ethos: conjunto dos costumes e hábitos fundamentais, no âmbito do comportamento.

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Fast fashion significa moda rápida, Salcedo (2014) ressalta que a moda rápida está

presente em praticamente todas as empresas de moda. As redes de distribuição têm a função de

tentar seduzir os consumidores pelo design, e principalmente pelo preço baixo de suas

mercadorias. O marketing da moda rápida tem a missão de demonstrar que os consumidores

necessitam dos produtos, e que sem os produtos eles não conseguem ser felizes.

Hoje em dia existe uma cadeia de produção para cada gosto, costume ou grupo social.

Schulte (2015, p. 37) salienta que há a:

[...] ‘Revolução Fast Fashion’, onde existe uma complexa estratégia de organização

que reúne várias áreas de uma mesma empresa para que a produção de uma roupa seja

muito rápida. Portanto, a moda oferece muitas opções para cada indivíduo compor sua

identidade através do seu vestuário.

Segundo Salcedo (2014) o fast fashion nasce com três objetivos: o primeiro é que o

consumidor consiga encontrar novas peças com a frequência desejada; o segundo que o produto

se adapte a todos os gostos e necessidades, e consequentemente estes dois objetivos conduzam

ao terceiro, que é que o consumidor compre mais.

Com a era digital, o consumo ficou desenfreado, as informações chegam rápida-mente

aos consumidores. Althaller (apud WHITEMAN, 2015, p. 1) afirma: “O digital mudou

principalmente o varejo, a mídia e o consumidor, que passou a demandar as coisas para ontem.

Ele tem acesso ao que está na sala de desfile naquele minuto, então quer aquela peça já”.

A moda rápida é o sistema produtivo de maior sucesso, pois, alcança novas tendências

e com uma produção em escala frenética. “O consumo exagerado de roupas e acessórios, bem

como a lógica da fast fashion fazem com que a data de validade desses produtos seja curta e

nossas relações com eles superficiais” (BERLIM, 2014, p. 13).

4 IMPACTOS AMBIENTAIS CAUSADOS PELO FAST FASHION

O fast fashion pode parecer perfeito aos olhos dos consumidores, mas o mesmo traz

muitos aspectos negativos para a sociedade e o meio em que vive. Gwilt (2014, p. 14) ressalta:

A produção, o uso e o descarte de roupas de moda provocam uma grande variedade

de impactos que, em termos gerais, podem ser analisados a partir de uma perspectiva

socioambiental. Como sociedade, a obsessão pelo consumo de bens de moda gerou

um crescimento enorme na moda de produção em massa, em especial na moda rápida,

cujo foco é trazer as tendências apresentadas nas passarelas da moda aos centros

comerciais o mais rápido possível.

A indústria têxtil causa diversos impactos ambientais para o meio ambiente. Berlim

(2014) exemplifica que para a fabricação de uma camiseta de algodão convencional são usados

aproximadamente 160g de agrotóxicos. A mesma camiseta demanda de uma grande quantidade

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de energia tanto na produção, como no transporte; problemas na produção ainda podem causar

a poluição do ar, as águas superficiais e subterrâneas, e até mesmo do solo. Salcedo (2014)

afirma que a indústria têxtil é umas das principais causadoras da insustentabilidade. O quadro

1 apresenta alguns impactos ambientais causados sobre os recursos naturais renováveis e não

renováveis que são encontrados no meio ambiente.

Quadro 1 – Impactos ambientais causados pela indústria da moda

Recursos

naturais Descrição de como impactam o meio ambiente

Água

O sistema de produção até o fim da vida útil do produto, requerem uma quantidade excessiva de

água. Futuramente pode se ter como conseqüência a escassez desse recurso que é essencial para a

vida humana e dos seres vivos.

A indústria têxtil é responsável por 20% da contaminação das águas do planeta. O uso excessivo

de produtos químicos causa diversos impactos nos rios e mares.

Ar

(clima) A indústria têxtil é responsável por aproximadamente 10% do gás carbônico emitido ao planeta.

Solo

(resíduos)

Para a produção as empresas geram diversos resíduos têxteis, nos Estados Unidos cerca 5% dos

resíduos do país é gerado pela indústria têxtil. Os resíduos variam de sobras, retalhos, embalagens,

como até mesmo o próprio produto quando atinge o fim da sua vida útil.

Petróleo Aproximadamente 58% das fibras têxteis são derivadas do petróleo.

Fonte: Adaptado de Salcedo (2014, p.28).

A produção da matéria-prima causa diversos impactos ambientais, que envolve a

contaminação do solo, consumo excessivo de água e energia, emissões atmosféricas de

poluentes e resíduos sólidos. O quadro 2 apresenta os impactos causados pela matéria-prima.

Quadro 2 - Impactos ambientais causados pela matéria-prima.

Descrição Impactos ambientais

Poliéster

O poliéster não se decompõe na natureza;

Intenso uso de química e energia;

Não renovável;

É produzido através do petróleo.

Algodão

É a fibra natural mais produzida no mundo;

Cultivo do algodão com bastante uso de agroquímicos e água;

Degradação da fertilidade da terra;

Problemas de saúde das pessoas que o cultivam.

Viscose

É produzida através da celulose encontrada na madeira das árvores;

Riscos para as florestas, por conta da celulose;

A produção da celulose requer grande quantidade de água;

É um processo com uso intensivo de energia.

Fonte: Adaptado de Salcedo (2014, p.59).

De acordo com Salcedo (2014), a indústria da moda precisa de um novo

direcionamento, para reduzir os impactos ambientais. Existem seis desafios enfrentados pela

área que foram destacados no Quadro 3.

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Quadro 3 - Desafios enfrentados pela indústria da moda.

Elementos Desafios

Uso e tratamento de água Minimizar os gastos de água na fase de produção e diminuir os

componentes químicos lançados na mesma

Consumo de energia e emissões Minimizar o uso de energia, e desenvolver projetos que ajudem nas

emissões de gases

Uso de químicos e descarte de

dejetos tóxicos Reduzir o uso de produtos e materiais perigosos

Geração e gestão de resíduos Minimizar os resíduos na produção e aumentar a vida útil do produto

Condições de trabalhos dignas Garantir ambientes de trabalhos seguros

Novos modelos de negócios Criar modelos baseados em serviços e não no volume de propriedades.

Fonte: Salcedo (2014, p.30).

De acordo com Berlim (2014, p. 33) “a produção de têxteis foi uma das atividades

mais poluidoras do último século, e foi tema de várias pesquisas que recaíram em especial sobre

os principais impactos: a contaminação de águas e do ar”. A indústria têxtil precisa de um novo

direcionamento se realmente deseja diminuir os impactos ambientais. A população vê o

ambiente apenas como fonte de recursos, e não como aquele que garante a manutenção da vida.

Os recursos utilizados da natureza serão finitos se os seres humanos não mudarem suas práticas

(SCHULTE, 2015).

5 O CICLO DE VIDA DOS PRODUTOS

Um dos aspectos que caracteriza o modo de produção do fast fashion e que causa

graves adversidades ao meio ambiente é o seu ciclo de vida. Gwilt (2014, p. 32) cita:

O ciclo de vida de uma roupa de moda pode, de forma geral, ser dividido em cinco

etapas principais: design; produção; distribuição; uso; e fim de vida. Aplicar a

abordagem de ciclo de vida ao processo de design de moda requer avaliar todas as

etapas do ciclo de vida de uma peça e considerar os impactos socioambientais de suas

decisões quanto ao design a ser criado.

Um produto de moda só tem utilidade quando estiver na moda, sendo assim, as etapas

entre ‘estar na moda’ e ‘sair da moda’ são tempos relativamente curtos. O produto quando não

satisfaz mais o consumidor, se torna em resíduo têxtil. Somam-se a isso, os resíduos gerados

durante o ciclo de vida dos produtos, pois a produção é ineficiente. (BERLIM, 2014).

Atualmente, devido à grande quantidade de roupas baratas produzidas pelo sistema do

fast fashion, o descarte inadequado desses produtos causa graves impactos ambientais.

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Portanto, os designers devem levar em conta a longevidade ao se criar um produto. Eles devem

utilizar fibras, tecidos, e resíduos como meios de aumentar a vida útil do produto. Criar roupas

já com o intuito de reutilizar as mesmas futuramente, é um meio de ser sustentável.

Algumas estratégias são importantes na hora de aumentar a vida útil do produto,

conforme observado no quadro 4.

Quadro 4 - Estratégias para aumentar a vida útil do produto.

Estratégias

Criar produtos com o intuito de reutilização ou reciclagem.

Criar peças atemporais com materiais de boa qualidade, a fim de aumentar a vida útil do mesmo.

Utilizar cortes na modelagem para diminuir desperdícios de materiais.

Reusar, concertar ou reciclar os materiais e os produtos quando atingem seu fim de vida.

Escolher materiais que não sejam tóxicos ao meio ambiente.

Oferecer aos consumidores serviços de reparos, trocas, segunda mão para estender a vida útil do produto.

Recuperar produtos através do sistema de devolução, para que os mesmos possam ser reusados ou

reciclados da melhor maneira.

Fonte: Trocaria (2017).

Aumentar a vida útil de uma peça de vestuário leva a uma redução significativa dos

recursos naturais. O uso de estratégias para aumentar a vida útil do produto esta sendo cada vez

mais utilizado pelas empresas e designers.

6 MODA SUSTENTÁVEL

O conceito de sustentabilidade ambiental, segundo Schulte (2015) foi concebido na

Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente, no início da década de 70. O intuito

era mostrar que podia ser possível atingir o crescimento econômico sem degradar o ambiente.

A sustentabilidade é um assunto que está cada vez mais em voga, através dela, se

satisfazem as necessidades atuais, sem comprometer o futuro do planeta. O Serviço Brasileiro

de Apoio à Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE, 2017) ressalta que a moda sustentável preza

pelo consumo consciente, e o seu maior objetivo é valorizar o meio ambiente e a sociedade.

Através dela espera-se que se use matérias-primas menos poluentes, redução de desperdício e

do consumo de recursos como água e energia.

A moda sustentável refere-se as boas práticas ambientais e sociais da sociedade

incluindo uma redução na produção e no consumo de recursos naturais. Ela deve levar em

consideração três esferas:

[...] a sociedade (que deve focar o direito de propriedade social); o meio ambiente

(que, por sua vez, deve focar a estabilidade ecologia); e a economia (cujo foco deve

estar centrado na viabilidade econômica). O desafio que os designers encontram está

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em gerenciar esses três aspectos de modo responsável e adotar uma abordagem

holística à sustentabilidade (GWILT, 2014, p. 22).

Segundo Jones (2011, p. 38) “a demanda por produtos de moda éticos está crescendo.

Não apenas pequenas empresas idealistas, mas também grandes organizações [...] assumiram

as preocupações éticas de seus fregueses [...]”. Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de

Confecção (ABIT, 2017) realizou uma pesquisa sobre uso, hábitos e costumes do consumidor:

32% dos entrevistados acham importante que o produto fosse sustentável, e este fato os ajudaria

na hora da compra. O número de consumidores que procuram por produtos ecologicamente

corretos está começando a crescer. É difícil evitar o fast fashion, entretanto é possível iniciar a

busca por marcas e produtos que tragam consigo uma vertente ambiental. É importante destacar

que até uma das semanas de moda mais importantes do Brasil, está trazendo esta proposta.

O São Paulo Fashion Week (SPFW), um dos maiores eventos de moda no Brasil, traz

a sustentabilidade para as passarelas há pelo menos 10 anos. Os estilistas desfilam roupas com

um viés ambiental, e nos últimos anos, foram adotados processos para diminuir as emissões de

gás carbono (CO2), e materiais ecológicos para organizar o evento (BERLIM, 2014).

Os designers estão mais conscientes dos impactos que a indústria têxtil causa no

ambiente, por este motivo os mesmos estão promovendo oportunidades criativas para

minimizar esses danos. A designer inglesa Stella McCartney, é um nome importantíssimo nesta

nova vertente da moda. Ela mostra que é possível unir elegância e modernidade em trajes com

o viés sustentável. De acordo com Gwilt (2014), a estilista concilia o design com a produção

sustentável, utilizando tecidos orgânicos, corantes naturais, adotando iniciativas como redução

do desperdício. Sua loja em Londres possui energia, obtida por uma fonte renovável, o vento.

Stella acredita é possível oferecer aos consumidores produtos com design e de alta qualidade

sendo sustentável. Qualquer forma de sustentabilidade é válida, como a redução de fontes

naturais ou a procura de materiais que não agridam o ambiente.

A empresa inglesa Antiform é outro exemplo de empresa sustentável, Lizzie Harrison

a fundou em 2007, com o objetivo de produzir roupas com materiais desperdiçados pela

indústria ou pelo próprio consumidor. Lizzie procura oportunidades para mudar as perspectivas

sobre o consumo consciente (GWILT, 2014).

Desde 1992, com a Eco-92 ou Rio-92, as preocupações com área ambiental

aumentaram exponencialmente, e com a moda não foi diferente. Surgiram muitos produtos

sustentáveis, ou com o apelo sustentável.

Berlim (2014) afirma que a moda sustentável está relacionada aos três ‘R’ – Reduzir,

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Reutilizar e Reciclar. Reduzir significa diminuir o consumo de recursos naturais, como energia

e matéria prima; reutilizar é usar novamente os produtos dando funções novas; e reciclar é fazer

com que o produto retorne ao ciclo de produção.

7 REAPROVEITAMENTO E REUSO DAS ROUPAS

As roupas são jogadas fora por várias razões, de acordo com Gwilt (2014), fatores

como desgaste, por não servirem mais, ou simplesmente por estarem fora da moda. Geralmente

as peças do vestuário são descartadas junto com o lixo doméstico. O descarte do vestuário

deveria ser realizado de maneira diferente. Atualmente, existem vários modos de aumentar a

vida útil do produto, segue abaixo algumas destas formas.

7.1 UPCYCLING

Upcycling está relacionado ao movimento vintage2 e aos brechós. Conforme Berlim

(2014, p. 137) “o upcycling se fundamenta no uso de materiais cujas vidas úteis estejam no fim,

por obsolescência real ou percebida na forma, função ou materialidade, valendo-se deles para

a criação de outros”. O objetivo do upcycling é transformar produtos inúteis, em produtos com

um maior valor, ou até mesmo com outra funcionalidade.

O upcycling oferece muitas possibilidades de reutilização de peças, podendo agregar

novo valor ao produto com apenas pequenas mudanças.

Diferente da reciclagem, que pode resultar em depreciação e redução do valor de um

material ou produto, o upcycling permite que você aumente o aproveitamento e o valor

de um material, prolongando sua vida. A técnica pode ser aplicada no design e na

confecção de uma nova peça de roupa ou ser usada para reformar ou remanufaturar

uma roupa já existente (GWILT, 2014, p.146).

Com uma boa dose de criatividade, retalhos que seriam descartados pela indústria

têxtil podem se transformar em peças únicas e inovadoras. Tudo pode ser transformado pela

tendência upcycling. De acordo com Salcedo (2014) existem empresas que confeccionam

bolsas a partir de cintos de segurança. No desmanche dos carros, a mesma realizava a coleta,

os cintos passavam por limpeza e se transformam em bolsas com um design agregado.

Normalmente o upcycling não é muito aceito nas grandes empresas, pois, o tempo para a criação

das roupas é longo. A empresa precisa coletar o produto, limpá-lo ou fazer uma desconstrução,

por isso não é aproveitado na produção em massa.

2 Vintage: clássico, antigo.

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7.2 DO IT YOURSELF

O termo ‘Do It Yourself’’ - DIY vem do inglês que significa ‘Faça você mesmo’. O

objetivo geral do DIY é do próprio consumidor produzir o que se consome. Pinto e Souza (2015,

p. 58) ressaltam:

Ultimamente tem se ouvido muito falar na expressão DIY, DoIt Yourselfou, ou Faça

Você Mesmo. Basicamente foi criada no início dos anos 1950, em que bandas DIY

eram aquelas que contavam com produção independente desde a composição das

músicas até a venda. O conceito DIY também foi associado a ideias anticapitalistas,

anti-consumistas, pregando que todos são capazes de produzir o que consomem.

O Do It Yourself possui a característica do próprio indivíduo criar seus produtos,

normalmente são meios mais baratos de obter peças com valor agregado no mercado. É uma

alternativa de reduzir gastos com práticas manuais. O prazer do indivíduo produzir seu próprio

produto, mostra a sua capacidade. “Os consumidores são convidados a compartilhar suas idéias,

a participar de eventos e a aprender novas habilidades que suportam a abordagem DIY à criação

de moda” (GWILT, 2014, p. 110).

O DIY é uma prática que está associada à redução de resíduos têxteis. Quando o

produto chega ao fim de sua vida útil, existem diversas técnicas para modificar a aparência do

mesmo. A internet oferece uma incrível plataforma com vídeos e blogs ensinando maneiras de

reinventar peças de roupas ou produtos de decoração. Um exemplo de site inteiramente voltado

para o DIY é o P.S. – I Made This, para o português ‘Eu fiz isso’. Foi fundado em 2009, por

Erika Domesek, que reside em Nova York. O site se expandiu por todas as redes sociais, e tem

o intuito de inspirar e capacitar as pessoas a exercitar a sua criatividade. É um site organizado,

separado em várias categorias como moda, sapatos, acessórios, entre outros (P.S. I MADE

THIS, 2017).

7.3 CUSTOMIZAÇÃO

A customização surgiu com os hippies na década de 60, com suas roupas tingidas com

apelo artesanal. Os mesmos criavam peças com tecidos diferentes, vários adornos como botões

e broches. Eles sentiam a necessidade de dar personalidade as suas roupas, e foi assim que

surgiu a customização. (PINTO; SOUZA, 2015).

A customização pode ser feita de infinitas maneiras e utilizando técnicas diferenciadas.

A peça ganha um novo conceito com a agregação de bordados, spikes, aplicações e entre outros

adornos. Com a customização, a vida útil do produto é prolongada, peças que talvez fossem

jogadas no lixo, ganham um novo design.

Quando se usa a customização em uma roupa, o objetivo é fazer com que a mesma,

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aparente ser diferente. Pequenas mudanças fazem toda a diferença, por exemplo, transformar

uma camisa em um cropped, mudando a aparência original da peça.

8 FORMULAÇÃO DE UMA PROPOSTA

Depois de levantar várias formas de reaproveitamento das roupas, foi proposta uma

formulação das técnicas apresentadas durante o estudo. Portanto, foi efetuada uma pesquisa na

internet de métodos de customização, DIY e upcycling. Encontrou-se uma vasta diversidade de

tutoriais que podem ser facilmente aplicados em produtos. Foram selecionadas várias ideias,

que juntas, foram aplicadas.

A ideia central da formulação de proposta é de dar uma nova vida aos produtos

desgastados, transformando em algo com maior valor, ou até mesmo com outra funcionalidade.

Portanto, foi realizado uma junção de três ideias, para assim realizar a criação das peças.

Posteriormente, sucedeu se uma coleta das peças de vestuário que haviam chegado ao

final de sua vida útil, separando três produtos para compor um look completo. As roupas

reservadas estavam guardadas por um longo período de tempo, não possuindo mais utilidade,

ou seja, estavam sem uso. Futuramente, as mesmas seriam doadas ou descartadas, se

transformando em resíduos têxteis.

Para a criação da camisa foi utilizado a técnica DIY com base na tendência do decote

com amarrações, que está se tornando mais popular. As amarrações dão um destaque ao look,

com um toque ousado. Na confecção foi necessário cortar um decote mais profundo, onde foram

colocadas as amarrações. Posteriormente, se deu a aplicação de pequenos ilhoses, que foram

comprados em uma loja de aviamentos. Dentro dos furos dos ilhoses, passou-se uma fita “rabo

de rato” em transversal para dar um acabamento da amarração (Figura 1).

Figura 1 - Processos de DIY.

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Fonte: As autoras (2017).

A segunda peça de vestuário reaproveitada foi uma calça (Figura 2). O objetivo desta

foi transformá-la em uma saia peplum3 com a técnica de upcycling. A calça foi separada em

duas partes: mantendo a parte superior com o cós e bolsos intactos; e a parte das pernas,

desconstruída. A desconstrução das pernas formou diversos retalhos, que utilizando encaixes e

técnicas para melhor reaproveitamento transformou-se em um babado (Figura 3). Depois dos

encaixes realizados, a peça superior foi costurada ao babado formando assim a saia peplum

(Figura 4).

Figura 2 - Calça para reaproveitamento.

Fonte: As autoras (2017).

Figura 3 - Processos de reaproveitamento.

3 Peplum: significa uma aplicação de volume extra, geralmente em forma de babado.

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Fonte: As autoras (2017).

Figura 4 - Resultado final saia peplum.

Fonte: As autoras (2017).

O reaproveitamento não precisa ser necessariamente realizado apenas em peças de

vestuário, mas pode ser feito também em calçados. Portanto, no tênis foi utilizada uma técnica

de customização. Os tênis metalizados são uma forte tendência 2017, os detalhes em glitter

estão dominando o mundo dos sapatos. Com isso em um tênis velho, foi realizada uma técnica

de cola com glitter (Figura 5). Primeiramente, foi efetuada uma cobertura com fita crepe nas

áreas que não iriam receber o glitter, posteriormente foi aplicado cola branca nas áreas desejas

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e glitter sobre a cola. A peça foi deixada secando por cerca de 5 horas e depois foi passada uma

camada de verniz para não soltar glitter com o uso e a limpeza. Para dar um acabamento melhor,

ao redor do glitter foi colada uma fita de lantejoulas com cola de tecido.

Figura 5 - Resultado final do tênis usado que foi customizado.

Fonte: As autoras (2017).

Técnicas simples quando aplicadas aumentam a vida útil do produto, fazendo com que

os mesmos não se tornem resíduos diminuindo assim os impactos ambientais.

9 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta pesquisa teve como base a moda sustentável e a importância da reutilização e

reciclagem adentro da mesma. Todo esse conceito sustentável vai totalmente contra o sistema

fast fashion e o consumo desenfreado causado pelo mesmo. Os produtos possuem um ciclo de

vida muito curto, e por consequência isso ocasiona o aumento de resíduos têxteis que serão

descartados.

Desta maneira, o artigo apresenta métodos de aumentar a vida útil do produto, com

base no reaproveitamento. A utilização de materiais que futuramente podem ser reciclados não

é uma prática muito aplicada pelas empresas e designers, desta forma, não é praticada pelos

mesmos. Reduzir a produção de novos materiais em cada etapa da cadeia têxtil e de confecção

contribui para a redução do consumo de recursos naturais que muitas vezes não são renováveis.

A reutilização é uma das alternativas mais viáveis no momento, e os próprios consumidores

podem adotar essas técnicas.

Pode-se observar que existem maneiras fáceis de prolongar a vida útil de diversos

produtos, desde peças de vestuário até sapatos e acessórios. Upcycling, Do it Yourself,

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customização e até os brechós são meios mais acessíveis para ser sustentável, ajudando o meio

ambiente.

Através da formulação de uma proposta pode-se observar que prolongar a vida útil do

produto é muito mais fácil do que se imagina. O simples fato de fazer alguns recortes, ou

adicionar adornos torna o produto com um novo conceito e uma nova funcionalidade. Qualquer

pessoa consegue realizar as práticas apresentadas no estudo. Aumentar a vida do produto é de

extrema importância, reduzindo o volume de resíduos, e ajudando a diminuir os impactos

ambientais causados pelo grande sistema do fast fashion.

Tornar a sustentabilidade em algo desejável pelos consumidores através de peças

customizadas ou reaproveitadas é um grande desafio, muitos valores já estão sendo traçados,

mas há um longo caminho a ser percorrido. A busca pela qualidade de vida é constante,

portanto, deve-se abraçar as mudanças e assumir que o mundo necessita de cuidado.

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PROJETO DE UMA UNIDADE INDUSTRIAL DE FILAMENTOS DE POLIÉSTER A

PARTIR DA RECICLAGEM DE GARRAFAS PET

PROJECT OF AN INDUSTRIAL UNIT OF POLYESTER FILAMENTS FROM THE

RECYCLING OF PET BOTTLES

Julia Santos Venzon1

Atilano Antônio Vegini 2

Marcel Jefferson Gonçalves³

RESUMO: A reciclagem vem a ser uma alternativa para a gestão de resíduos sólidos, podendo

apresentar aspecto atrativo quando associada aos benefícios concebidos. Um exemplo disso são

os filamentos de poliéster produzidos a partir da reciclagem de garrafas PET, pois, além de

refletir na minimização dos danos causados pelo descarte inadequado dos resíduos, desperta

interesse do setor têxtil devido ao atributo sustentável agregar valor comercial. Este artigo tem

como objetivo apresentar o projeto básico de uma unidade industrial que possui a capacidade

de transformar garrafas PET em fibras de poliéster. A pesquisa foi caracterizada como sendo

de natureza quali-quantitativa, descritiva e bibliográfica. A partir dos resultados apresentados

foi possível verificar que o projeto industrial obtém uma produção que atinge a capacidade de

5.000 toneladas de filamentos de poliéster por ano.

Palavras-chave: Projeto industrial. Politereftalato de etileno. Filamentos de poliéster.

ABSTRACT: Recycling is an alternative for the management of solid waste, and may present

attractive aspect when associated with the benefits received. An example of this is the polyester

fibers produced from the recycling of PET bottles, because, in addition to minimizing the

damage caused by the inappropriate waste disposal, arouses interest in the textile sector due

1 Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Ambiental da Universidade Regional de Blumenau -

FURB. E-mail: [email protected] 2 Dr. Professor do Departamento de Engenharia Química da Universidade Regional de Blumenau- FURB. E-mail:

[email protected] 3 Me. Professor do Departamento de Engenharia Química da Universidade Regional de Blumenau- FURB. E-mail:

[email protected]

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to the sustainable attribute to add commercial value. This article aims to present the basic

project of an industrial unit that has the ability to turn PET bottles into polyester filaments. The

research was characterized as being qualitative-quantitative, descriptive and bibliographic.

From the results presented it was possible to verify that the industrial project obtains a

production that reaches the capacity of 5,000 tons of polyester filaments per year.

Keywords: Industrial design. Polyethylene terephthalate. Polyester filaments.

1 INTRODUÇÃO

O PET (politereftalato de etileno) foi descoberto em 1928 por uma equipe da empresa

americana DuPont, a qual realizava um estudo das reações de condensação entre glicóis e ácidos

dibásicos, buscando um novo polímero que pudesse ser utilizado como fibra para a substituição

da seda (WIEBECK; HARADA, 2005). Primeiramente as aplicações do PET na indústria se

voltaram para o setor têxtil, porém, com o desenvolvimento tecnológico passou-se a utilizar

esse polímero em embalagens de produtos alimentícios (CEMPRE, 2017). O Brasil é um grande

consumidor da resina PET, sendo cerca de 90% do consumo total de PET virgem no país

destinado ao setor de embalagens de bebidas e alimentos (ABIPET, 2013).

Devido ao elevado consumo mundial e pelo fato do PET demorar aproximadamente 400

anos para se degradar, a disposição inadequada deste material gera um grande impacto negativo

ao ambiente (OLIVEIRA et al., 2016). Com o intuito de minimizar esta situação, passou-se a

procurar formas de reciclagem desse polímero, processo este que além de reduzir os problemas

ambientais, gera um produto de alto valor agregado (FONSECA; ALMEIDA; VINHAS; 2014).

No Brasil, o maior consumidor final de PET reciclado é o setor têxtil, que aplica os

filamentos de poliéster na fabricação de fios de costura, tapetes, cerdas de vassouras e escovas,

tecido não tecido, entre outros (ABIPET, 2013). Tais fibras possuem forte aceitação no

mercado, pois, além do apelo ecológico, são empregadas em artigos têxteis que apresentam

propriedades especiais que podem variar de acordo com as características do PET e do processo

empregado para sua fabricação (PINHO; COSTA; RAMOS, 2013).

Este artigo tem como objetivo apresentar o projeto básico de uma unidade industrial que

possui a capacidade de transformar garrafas PET, previamente recolhidas e selecionadas por

cooperativas de reciclagem, em fibras de poliéster, fazendo-se o uso de estudos bibliográficos

e utilizando-se dos princípios de conservação de massa e energia.

2. REFERENCIAL TEÓRICO

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2.1 A VALORIZAÇÃO DO POLITEREFTALATO DE ETILENO

O PET (politereftalato de etileno) consiste em um termoplástico da família dos

poliésteres que possui extensa variedade de aplicações em consequência de sua excelente

combinação de rigidez, tenacidade e resistência à temperatura (WIEBECK; HARADA, 2005).

No Brasil, o mercado do PET apresenta cerca de 20 anos, vindo a destinar 90% da resina virgem

para a fabricação de embalagens de alimentos e bebidas. Neste curto espaço de tempo, tanto a

indústria de produção de embalagens de PET quanto a que recicla este material no pós-consumo

se desenvolveram paralelamente, caminhando para seu amadurecimento a despeito da pouca

idade para padrões da indústria (ABIPET, 2015).

As embalagens de PET, como a maioria das embalagens descartáveis, possuem um ciclo

de vida desfavorável à sustentabilidade do ambiente devido ao seu elevado tempo de

decomposição. Desta forma, a reciclagem ou a reutilização da embalagem PET podem

apresentar grandes benefícios ambientais e considerável potencial de mercado (SANTOS et al.,

2015). Com o consumo acelerado e o elevado crescimento do volume de resíduos plásticos

gerados pela sociedade, a reciclagem das garrafas PET tornou-se um negócio promissor, visto

que no Brasil cerca de um terço do faturamento da indústria do PET provém da reciclagem.

Aliás, o crescimento anual deste setor é em média superior a 11 % desde o ano 2000, permitindo

planejar e investir na criação de novos usos para o PET reciclado (ABIPET, 2015).

2.2 FIBRAS DE POLIÉSTER PET

O aproveitamento das embalagens de PET no Brasil vem passando por grandes avanços,

apresentando um vasto campo de aplicações e, consequentemente, tornando-se uma solução

parcial para problemas de gestão de resíduos sólidos. Em virtude da preocupação da sociedade

com a sustentabilidade do ambiente, as indústrias estão buscando por técnicas de produção

sustentáveis (MESA FERNÁNDEZ et al., 2014). Esta tendência não é diferente para a indústria

têxtil, cujas exigências quanto à qualidade dos artigos e à etiquetas que garantam um produto

ecologicamente correto vêm ganhando força na hora de decisão da compra (ROZZETT, 2015).

Diante disso, são apresentadas as fibras de poliéster provenientes da reciclagem de garrafas

PET, cuja aceitação no mercado é vasta devido ao valor ambiental agregado e a propriedades

especiais que esta fibra apresenta (PINHO; COSTA; RAMOS, 2013).

As fibras de poliéster PET são obtidas na forma de fios monofilamentados ou

multifilamentados, em diferentes formas e comprimento. Na formação dos fios essas fibras

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também podem ser misturadas a outras, tais como: algodão, linho ou viscose, proporcionando

diferentes propriedades ao produto têxtil (VALLE, et al., 2004). Quando comparado ao

poliéster convencional percebe-se que as fibras de poliéster a partir de resíduos de PET não

possuem restrições quanto às condições de tingimento, solidez e resistência mecânica.

Conforme um estudo desenvolvido por Pinho, Costa e Ramos (2013), o poliéster

reciclado possui mecanismos de interação com o corante equivalente ao poliéster convencional,

sendo possível a realização do mesmo processo de tingimento para ambos os casos. O estudo

também mostrou que os fios de poliéster PET apresentam satisfatória solidez de cor quando

submetidos à fricção, lavagem, água do mar, água clorada de piscina e ao contato com o suor

ácido e alcalino, porém, a solidez da cor à luz foi considerada baixa. Contudo, certas

composições de produtos adicionados ao processo de tingimento podem afetar a estabilidade à

luz do poliéster, como o metil-naftaleno e o O-fenil-fenol, sendo necessários testes prévios dos

produtos quando a solidez à luz for considerada insatisfatória (SALEM, 2010).

2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Este trabalho consiste em uma pesquisa de natureza quantitativa complementada pelo

método qualitativo, pois o comportamento dos índices numéricos apresentados é explorado com

o intuito de aprofundar o conhecimento sobre os elementos quantificados. Em relação aos

objetivos, a pesquisa classifica-se como descritiva, pela qual ocorreu a coleta de dados por meio

de levantamentos que propiciaram o desenvolvimento dos balanços de massa e energia, como

também o dimensionamento dos equipamentos do projeto. Já quanto à forma de estudo, trata-

se de uma pesquisa bibliográfica, elaborada a partir de livros e periódicos voltados ao tema,

além de informações publicadas por diversas instituições relacionadas à reciclagem de materiais

plásticos.

A capacidade do processo foi determinada como base em uma estimativa de vendas de

malhas e tecidos de poliéster das indústrias têxteis da região do Vale do Itajaí, juntamente com

dados de descarte de garrafas PET no Brasil. Para a contabilização do faturamento da empresa

foi realizado um levantamento sobre o preço de venda do poliéster no mercado regional, o que

serviu de referência para compor o preço da fibra.

O processo pôde ser avaliado de acordo com a aplicação do princípio de conservação

de massa e por meio da explanação sistemática dos fluxos e transformações de energia no

sistema. Para isto, foi elaborado um diagrama de blocos que esquematiza as etapas de produção

de fibras de poliéster a partir da reciclagem de garrafas PET (Figura 1), sendo também realizada

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a descrição do processo (Quadro 1), em que são citados fatores importantes e de extrema

influência no desempenho da produção das fibras. A partir disso, foi desenvolvida a

representação gráfica do processo por meio de fluxogramas (Figuras 2, 3 e 4), nos quais as

etapas são ilustradas de forma encadeada por meio de símbolos que caracterizam os

equipamentos e correntes que compõe o sistema.

De acordo com os dados obtidos pelos balanços de massa e energia, tornou-se possível

a realização do dimensionamento dos equipamentos envolvidos no processo, no qual se

procurou definir parâmetros referentes à capacidade volumétrica, velocidade, potência,

proporção, entre outros.

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Figura 3 - Diagrama de blocos do processo de produção de fibras de poliéster.

Fonte: Os autores.

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Quadro 4 - Descrição das etapas do processo de fabricação de fibras de poliéster.

Fonte: Os autores.

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Figura 4 - Fluxograma de processo (Parte 1 – Recebimento da matéria-prima até lavagem).

Fonte: Os autores.

Figura 5 - Fluxograma de processo (Parte 2 – Segregação).

Fonte: Os autores.

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Figura 6 - Fluxograma de processo (Parte 3 – Cristalização até armazenamento).

Fonte: Os autores.

3 RESULTADOS E DISCUSSÕES

Para a realização dos balanços de massa e energia, como também do dimensionamento

dos equipamentos que compõem o processo, foi utilizado como base de cálculo a produção

anual de 5.000 toneladas de filamentos de poliéster derivados de garrafas PET recicladas. Tal

valor foi estipulado levando-se em consideração informações de empresas desse setor, as quais

apontam que para a produção de 1 quilo de fio de poliéster reciclado são necessárias 25 garrafas

PET de 2 litros. Assim, para a capacidade do processo estipulada, serão processadas cerca de

354.364,00 garrafas PET por dia.

Conforme um estudo realizado pelo Instituto Nacional de Tecnologia (2010), no Brasil

são descartados em torno de 10 milhões de garrafas PET diariamente, portanto, o processo em

questão consumirá 3,5 % deste material. A estimativa do faturamento da empresa foi efetuada

de acordo com o valor comercializado dos fios de poliéster na região, o qual corresponde a

aproximadamente R$ 10,15 o quilo (Tabela 1).

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Tabela 2 - Capacidade do processo, regime de trabalho e faturamento de uma unidade industrial de

fibras de poliéster reciclado.

Fonte: Os autores.

Para iniciar o balanço de massa foi necessário determinar a fração mássica de cada

componente presente na garrafa PET, o que inclui o corpo da garrafa, os lacres e rótulos (Tabela

2).

Tabela 3 - Média mássica dos componentes presentes em uma garrafa PET de 2 litros.

Fonte: Os autores.

Com base em uma capacidade de produção anual de 5.000 toneladas de fibras de

poliéster reciclado, foi desenvolvido o balanço de massa para cada uma das etapas do diagrama

de blocos (Tabela 3).

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Tabela 4 - Valores referentes ao balanço de massa do sistema.

Fonte: Os autores.

Vale salientar que para as correntes de entrada de água (120,130, 140, 160) nas etapas

de pré-lavagem, lavagem e segregação, foi adotado o consumo médio de 4m3 de água por hora,

conforme é apontado pela empresa Recicláveis (2015). Para a etapa de secagem/cristalização

(corrente 70) assumiu-se que o teor de umidade do poliéster (regain) corresponde a 0,6 % em

peso, de acordo com informações da Abipet (2014). Já a base de cálculo adotada para a

quantidade de aditivos adicionados à massa de PET (corrente 220) e as fibras de poliéster

(corrente 230) foi de 1,5 % e 0,5 % em peso, respectivamente.

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O balanço de energia foi realizado para as etapas de secagem/cristalização e extrusão da

massa de PET (Tabela 4). Na etapa de secagem/cristalização foi determinado, a partir do

balanço de massa, que a quantidade de matéria que entra no secador (corrente 60) corresponde

a 906,07 kg.h-1, dos quais devem ser eliminados 172,54 kg.h-1 de água (corrente 210). Para tal

procedimento, considerou-se que o ar entra no equipamento a uma temperatura de bulbo seco

de 120ºC e umidade relativa de 1%, deixando o secador a 50ºC.

Por meio da carta psicrométrica foi determinada a umidade absoluta do ar de entrada e

saída do secador e a quantidade de energia requerida neste equipamento, sabendo-se que a

capacidade calorífica do ar corresponde a 0,24 kcal/kgºC (GRENN; PERRY, 2008). Na etapa

de extrusão a alimentação é composta por 100% em massa de PET (corrente 70), sendo o

equivalente a 733,54 kg.h-1. Estima-se que a temperatura de entrada dos flakes de PET na

extrusora seja equivalente a temperatura de saída dos mesmos no secador, 120 ºC. Como a

temperatura de fusão deste polímero é de 265 ºC, buscou-se trabalhar com uma temperatura de

operação na extrusão de 275 ºC por questões de segurança. Assim, determinou-se a quantidade

de energia necessária para este procedimento, sabendo que a capacidade calorífica do PET

corresponde a 0,37 kcal/kgºC (GRENN; PERRY, 2008).

Tabela 5 - Valores referentes ao balanço de energia do sistema.

Fonte: Os autores.

De acordo com os resultados apresentados por meio dos balanços de massa e energia,

como também pela consulta de catálogos industriais, foi possível dimensionar os equipamentos

básicos que compõe o processo de fabricação das fibras de poliéster a partir da reciclagem de

garrafas PET (Quadro 2).

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Quadro 5 - Características dos equipamentos que compõe o processo de fabricação de fibras de poliéster

reciclado.

Continuação do Quadro 2.

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Obs.: CN: Capacidade nominal; CR: Capacidade requerida; DN: Diâmetro nominal; H: Altura manométrica.

Fonte: Os autores.

A análise dos resultados permite concluir que tecnicamente a unidade industrial projetada

é capaz de atender à demanda de produção cuja capacidade nominal corresponde a 5.000

toneladas de fibras por ano, visto que foi possível realizar o dimensionamento dos equipamentos

em relação aos balanços de massa e energia, adequando o projeto a equipamentos existentes no

mercado.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

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A partir dos resultados apresentados foi possível verificar a viabilidade técnica de aplicação

do projeto de uma unidade industrial cujo processo consiste em reciclar garrafas PET para

obtenção de fibras de poliéster como produto final, o qual aponta ampla aplicabilidade na

indústria têxtil.

Além de ser uma proposta ambientalmente benéfica, a reciclagem de garrafas PET para a

fabricação de fios é favorável ao desenvolvimento econômico, visto que a utilização de

materiais reciclados reflete na minimização dos danos causados pelo uso dos recursos naturais

para extração de matéria-prima virgem e está totalmente voltado para a geração de tecnologias

novas. Além disso, a caracterização de produto sustentável demanda na agregação de valor

comercial, ampliando a competitividade no mercado.

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ANÁLISE DE SERVIÇO DE ENERGIA SOLAR FOTOVOLTAICA

COMPARTILHADA NO BRASIL

ANALYSIS OF SHARED SOLAR ENERGY SERVICE IN BRAZIL

Andrigo Fillipo Antoniolli

Ernesto de Freitas Moscardini

Edna Gessner

Edson Pacheco Paladini

RESUMO: O presente artigo faz uma análise de serviços de economia compartilhada aplicada

ao setor energético, na área de energia solar fotovoltaica. Nesse estudo foi analisada uma

empresa que está aderindo um modelo de negócios de economia compartilhada através da

captação de investidores para condomínios solares. O objetivo principal é avaliar o produto e o

serviço oferecido pela plataforma virtual da empresa, que busca um modelo inovador para o

setor da energia solar. A avaliação dos serviços e produtos oferecidos pela empresa é baseada

nas abordagens da qualidade de David A. Garvin e Genichi Taguchi. Os dados para a avaliação

foram coletados de informações disponíveis no website da empresa e página de redes sociais,

além do contato direto com representantes da empresa, a fim de simular o papel do cliente. Por

fim, através de um referencial sobre usinas virtuais (Virtual Power Plants – VPPs), foi feito

uma associação do modelo de negócios da empresa com os conceitos de VPP.

Palavras-chave: Economia compartilhada. Fotovoltaica. Condomínios solares

ABSTRACT: The present article makes an analysis of shared economy services applied to the

energy sector, in the field of photovoltaic solar energy. In this study was analyzed a company

that is adhering to a business model of shared economy through the capture of investors for

solar condominiums. The main objective is to evaluate the product and service offered by the

company’s virtual platform, which seeks an innovative model for the solar energy sector. The

evaluation of the services and products offered by the company is based on the quality

approaches of David A. Garvin and Genichi Taguchi. The data base for the evaluation were

collected from information available on the company website and social networking page, in

addition to direct contact with representatives of the company, in order to simulate the role of

the client. Finally, through a Virtual Power Plants (VPPs) framework, an association of the

company's business model with the concepts of VPP was made.

Keywords: Shared economy. Photovoltaic. Community solar.

1 INTRODUÇÃO

Na última década, iniciativas de economia compartilhada cresceram em escala e

escopo. Essas iniciativas são novas formas de produção, financiamento, aprendizado e de

consumo, presentes em diversos setores e dependentes de tecnologia e internet, além de

utilizarem modelos de não-propriedade e acesso temporário de bens (BELK, 2014; BÖCKER

e MEELEN, 2016; COMBERG et al., 2015; MARTIN, 2016).

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Empresas do setor de energia solar fotovoltaica estão aderindo ao modelo de negócio

da economia compartilhada através da captação de investidores para condomínios solares. O

mercado brasileiro de geração distribuída teve início em 2012 com a aprovação da Resolução

Normativa Nº482 da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), que cria e regulamenta

o Sistema de Compensação de Energia Elétrica, por meio da geração distribuída.

Posteriormente, a publicação da Resolução Normativa nº 687 pela ANEEL em 2015, que

autoriza empreendimentos com múltiplas unidades consumidoras, a geração compartilhada e o

autoconsumo remoto, abriu caminho para o desenvolvimento de modelos de negócio em

geração compartilhada no país. Partes interessadas podem se unir em consórcio ou cooperativa,

visando a produção própria de energia a partir de um sistema de micro ou mini geração

distribuída (VILELA e SILVA, 2017). Esse aumento nos incentivos é justificado pelos

benefícios ao sistema elétrico, tais como o adiamento de investimento na expansão dos sistemas

de transmissão e distribuição, alternativa de menor impacto ambiental, a redução no

carregamento das redes, minimização de perdas e a diversificação da matriz energética no país.

Este trabalho tem como objetivo avaliar o produto e o serviço de uma empresa

brasileira de energia solar fotovoltaica compartilhada, que representa um modelo de negócio

inovador e baseado nos conceitos de economia compartilhada. A avaliação tem como objetivo

identificar melhorias para o produto e serviço prestado pela empresa e se baseia em abordagens

que definem a qualidade de acordo com David A. Garvin e Genichi Taguchi. A qualidade é

fator indispensável para a manutenção das atividades de uma empresa e considerada elemento

básico em modelos de negócio que buscam liderança no mercado (PALADINI, 2012).

2 REFERENCIAL TEÓRICO

A ascensão da economia compartilhada na última década pode ser explicada pelo

avanço tecnológico e a mudança de atitude de usuários finais, além da busca por melhor

distribuição de valor em cadeias de suprimentos e redução de impactos ambientais (CHENG,

2016). A maneira de criar e capturar valor no contexto de economia compartilhada traz

benefícios, como a utilização sustentável de recursos, bem como produtos mais adaptados e

personalizados para os consumidores (BÖCKER e MEELEN, 2016; DAUNORIENĖ et al.,

2015). A economia compartilhada inova ao priorizar a utilização e acessibilidade sobre a

propriedade, fazendo com que gestores repensem o design de modelo de negócios, além de

oportunidade para surgimento de novos negócios. A economia compartilhada é vista como uma

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forma mais sustentável de consumo e um caminho para uma economia descentralizada

(CHENG, 2016; MARTIN, 2016).

2.1. MODELOS DE NEGÓCIO EM GERAÇÃO DE ENERGIA RENOVÁVEL

COMPARTILHADA

A busca por padrões de consumo e produção mais sustentáveis promove a inovação em

modelos de negócio, ou seja, novas lógicas de negócios e novas formas de criar e reter valor

para as partes interessadas. Modelos de negócio representam a lógica da proposta de valor para

o cliente e estabelecem uma estrutura de receitas e custos para reter valor (COMBERG et al.,

2015; MARTIN, 2016).

O conceito de economia compartilhada contribuiu para o surgimento de modelos de

negócio de geração de energia renovável, como modelos de negócio de geração de energia solar

compartilhada. As condições para emergência desses modelos são específicas do contexto de

cada país, dependendo de políticas, regulamentos, incentivos e condições de mercado

(AUGUSTINE e MCGAVISK, 2016; TONGSOPIT et al., 2016).

A geração de energia solar compartilhada emergiu como uma abordagem que viabiliza

o acesso à energia solar para consumidores com limitações associadas à instalação de painéis

fotovoltaicos em seus imóveis. Propriedades individuais podem não satisfazer as condições

requeridas para instalação de sistemas fotovoltaicos, como espaço insuficiente ou muita

sombra, elevando o risco em investimentos individuais. Ao invés de cada usuário investir em

sistemas para sua propriedade, grupos de proprietários podem se reunir em uma comunidade

solar e investir em sistemas fotovoltaicos comuns, compartilhando dos benefícios dessa geração

entre si (SHAKOURI et al., 2017).

Há modelos de negócios de geração compartilhada que atendem a diferentes

necessidades de consumidores e/ou investidores. Os modelos podem ter três tipos de

propriedade: (i) usuário do sistema, o consumidor é proprietário do sistema fotovoltaico; (ii)

terceiros, a propriedade do sistema é de um terceiro que vende a energia para o usuário; (iii)

concessionária, a distribuidora de energia é proprietária do sistema (TONGSOPIT et al., 2016;

VILELA e SILVA, 2017).

Modelos do tipo Third-Party ou Terceiros permitem que clientes tenham acesso à

energia solar sem pagar pelo custo inicial de um sistema fotovoltaico ou assumir os riscos

envolvidos na propriedade de um sistema. O proprietário do sistema, ou o terceiro financiador,

lida com fontes de clientes, instalação, engenharia, manutenção e serviços de financiamento

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para sistemas fotovoltaicos que vão operar nas propriedades do cliente anfitrião (VILELA e

SILVA, 2017, ZHANG, 2016).

Em modelos de geração compartilhada do tipo solar comunitária convencional, ou

Community Solar, o sistema fotovoltaico é instalado em local diferente da comunidade, sendo

tipicamente implementado quando a localização da comunidade não é favorável para atender

às condições exigidas de um sistema fotovoltaico planejado. É um modelo de negócio com a

capacidade de múltiplos usuários e os assinantes compartilham os rendimentos com base na

cota individual. Assinantes podem ser residências, empresas, governos locais, organizações

sem fins lucrativos, que compram uma parte da geração do sistema fotovoltaico. Em modelos

de geração compartilhada comunitário, painéis são adquiridos por um grupo ou comunidade, e

não um indivíduo, o que influencia no custo individual e também minimiza possíveis barreiras

de financiamento ou de recurso (SHAKOURI et al., 2017; TONGSOPIT et al., 2016; ZHANG,

2016).

Modelos do tipo Shared Solar ou Solar Compartilhada, clientes pagam uma taxa fixa

mensal por ações em uma fazenda solar local e recebem créditos, que podem ser usados na

compensação da conta de energia elétrica. Neste modelo, usuários que não possuem local ou

recurso adequado para instalar um sistema fotovoltaico podem adquirir cota de energia gerada

de sistemas em locais com condições adequadas para geração. Usuários desse modelo também

podem ser locatários, proprietários de condomínios, empresas comerciais que alugam edifícios

e consumidores que planejam mudar de residência (TONGSOPIT et al., 2016; VILELA e DA

SILVA, 2017).

A viabilidade de projetos em geração de energia fotovoltaica compartilhada depende

principalmente de dois fatores: (i) incentivos de governos em geração de energia renovável; (ii)

custo e complexidade da inicialização de projetos de geração compartilhada (AUGUSTINE e

MCGAVISK, 2016).

Os modelos em geração compartilhada devem ser atraentes para todas as partes

interessadas: concessionárias de energia, os investidores, consumidores ou usuários e

desenvolvedores, que podem atuar na parte de construção ou na instalação dos sistemas. A

geração compartilhada oferece muitos benefícios para consumidores, como receitas positivas,

além de servir como uma proteção contra aumento dos preços da eletricidade (AUGUSTINE e

MCGAVISK, 2016; SHAKOURI et al., 2017).

Os modelos de negócio que vem surgindo em geração distribuída carecem de sistemas

auxiliares para operacionalização, o que indica que novos modelos de negócio podem surgir a

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partir dos existentes para atender a novas demandas de serviços. Em países onde a geração

distribuída é mais desenvolvida, como Alemanha, surgiu o conceito de usina virtual, ou virtual

power plant (VPP). As VPPs interligam usinas reais, por isso intituladas usinas virtuais,

tornando a geração de energia ramificada em uma grande usina geradora de energia. Esse

processo virtual permite, através de um sistema de gerenciamento e controle, a união e

comunicação de diversas fontes de energia. Além disso, permitem a proximidade da geração e

ponto de consumo, diminuindo os custos com distribuição. A VPP não só recebe informações

do estado atua de cada unidade ligada a ela, mas também envia a cada unidade sinais de controle

(HERNÁNDEZ, 2015)

Modelos de negócio em geração compartilhada podem se beneficiar com as usinas

virtuais, devido à diversificação na origem das fontes de geração e o gerenciamento eficaz

desses sistemas diversificados. A VPP possibilita que a energia produzida por cada fonte seja

utilizada de acordo com a demanda. As fontes de energia ficam distribuídas na forma de blocos

auto gerenciáveis, aumentando assim a competitividade no mercado e a robustez das diferentes

fontes de energia (NICONOWICZ e MILEWSKI, 2012).

2.2. GESTÃO DA QUALIDADE

Os fatores que influenciam a tomada de decisão de consumidores sobre um produto ou

serviço são tema da obra de David A. Garvin (1984), que propõe cinco abordagens para auxiliar

no entendimento do processo de tomada de decisão de consumidores e definem a qualidade:

abordagem transcendental, baseada no processo, no produto, no usuário, no valor.

Na abordagem transcendental a relação do consumidor com o bem ou serviço não é

centrada em elementos presentes no produto. É uma abordagem associada às características

pessoais e subjetivas dos consumidores e vai além de definições racionais e científicas, como

em situações em que a opção por determinado produto ocorre devido a experiências ou

lembranças pessoais do consumidor (KALTENECKER, 1995; PALADINI, 2009)

Na abordagem baseada no usuário, o atendimento a uma necessidade é o principal

critério para escolha de um produto. Cada consumidor possui desejos, necessidades e

expectativas diferentes, portanto consideram que os produtos que tenham alta qualidade são

aqueles que melhor satisfazem suas preferências e necessidades (KALTENECKER, 1995;

PALADINI, 2009).

Em relação às abordagens no produto e no processo, o consumidor confia em

especificações mensuráveis que garantem e asseguram a qualidade do produto e na eficiência

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do processo. Na abordagem baseada no processo, o consumidor está familiarizado com o

processo produtivo do produto, é voltada para a engenharia e controle de processos e

atendimento de especificações, normas operacionais, requisitos legais e contratuais. Em relação

ao produto, o primeiro impulso do consumidor é em resposta ao visual, às características que o

produto apresenta. Nessa abordagem, quantidade de atributos mensuráveis, como quantidades

de determinado material, definem a qualidade do produto.

A abordagem baseada no valor, inicialmente era a relação do consumidor com

produtos ou serviços centrados em preço, porém passou-se a levar em conta também outros

valores tais como: culturais, éticos, morais, locais, sentimentais, de estima, interesse ou

relevância que o consumidor atribui ao produto ou serviço.

Outro conceito de qualidade que será utilizado neste artigo é a definição de Genichi

Taguchi onde há perda de qualidade conforme o produto ou serviço aumenta a perda para

sociedade. A redução das perdas não está relacionada diretamente ao cumprimento dos

requisitos de projeto ou especificações. Aqui serão tratadas as perdas em que o produto ou

serviço possam proporcionar em relação ao bem-estar dos clientes ou consumidores (DE

MEDEIROS et al., 2014).

E finalmente o conceito de qualidade, como fator de decisivo para escolha de um

produto ou serviço, é a conscientização sobre a sustentabilidade ambiental cada vez maior entre

consumidores e empresas, que buscam alternativas em seus processos e produtos para adequar-

se a essa realidade. Além de responder às pressões por padrões mais sustentáveis, as empresas

lidam com um cenário de maior competição onde a inovação é uma necessidade para

sobrevivência no mercado (PALADINI et al., 2012).

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

O método empregado nesta pesquisa será o estudo de caso, comumente utilizado nos

mais diversos ramos científicos, e que contribui para o entendimento dos fenômenos

individuais, grupais, organizacionais, sociais, políticos e relacionados. O método possibilita

analisar fenômeno passado ou presente por meio de múltiplas fontes de evidência e em seu

cenário atual, ou seja, por meio da observação da realidade (VOSS et al., 2002; YIN, 2015).

A unidade de análise é uma empresa que atua no mercado brasileiro desde 2015 em

geração de energia compartilhada. A escolha da unidade de análise levou em consideração as

características do modelo de negócios da empresa, como sustentabilidade, inovação e

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tecnologia. A economia compartilhada foi pano de fundo para surgimento da empresa, que

afirma compartilhar sustentabilidade através de créditos de energia limpa.

As análises da pesquisa concentram-se na avaliação dos serviços e produto oferecidos

pela empresa e baseadas nas abordagens da qualidade de David A. Garvin e Genichi Taguchi.

Os dados para a avaliação do serviço e produto foram coletados de informações disponíveis no

website da empresa e página da rede social Facebook, bem como da experiência dos autores

em contatar a empresa via website e obter uma cota de energia renovável. A experiência dos

autores como consumidores ocorreu em abril de 2017 no estado de Minas Gerais.

As avaliações têm como objetivo identificar possíveis melhorias ao processo de

interação da empresa com os usuários, principalmente quanto ao atendimento ao usuário, bem

como melhorias relacionadas ao produto. O produto é avaliado conforme seleção,

disponibilização e sua utilização.

4 ANÁLISE DOS RESULTADOS

A empresa se propõe a democratizar o acesso à energia elétrica proveniente de fontes

limpas, renováveis e de baixo custo. Essa proposta é possível a partir da disponibilização do

serviço de compartilhamento de cotas de energia provenientes de geração de energia solar

fotovoltaica. Os serviços de geração e comercialização de energia fornecidas pela empresa são

inovadoras no mercado brasileiro.

A Resolução 687/2015 da ANEEL impõe a reunião de consumidores residenciais em

cooperativas para que os créditos de energia renovável sejam distribuídos entre todos os

consumidores na modalidade de geração compartilhada. Assim, a empresa participou da criação

de uma cooperativa de consumidores de energia. O cooperado tem a opção de alugar percentual

de uma usina de geração de energia renovável e receber os créditos referentes à geração desse

percentual, que são convertidos em desconto na sua conta de luz. Assim, consumidor não tem

a propriedade da usina, mas assina contrato de locação de um percentual e obtém benefícios da

sua geração de energia.

Os serviços de geração e comercialização de energia fornecidas são inovadoras no

mercado brasileiro. O modelo de negócio permite que o usuário tenha acesso à energia

renovável sem necessidade de investimento inicial ou investimento em manutenção do sistema.

Para se tornar usuário, basta que o cliente possua uma conta de luz em seu nome e um cartão

de crédito; preencha um cadastro na plataforma virtual da empresa; leia e concorde com o

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estatuto da cooperativa e integralize uma cota-parte de R$1,00; e que o cliente alugue um

percentual de uma usina de micro ou minigeração.

4.1. EXPERIÊNCIA DO USUÁRIO COM O SERVIÇO E PRODUTO

O primeiro contato com a empresa ocorreu via website, a partir de um cadastro e

manifestação de interesse em conhecer e adquirir os serviços oferecidos. A resposta da empresa

ocorreu em menos de 24 horas através de e-mail contendo informações sobre: preço; formas de

pagamento; descrição dos procedimentos e prazos de responsabilidade da concessionária de

energia elétrica na qual o cliente está conectado; forma de recebimento destes crédito de energia

no abatimento da fatura de energia elétrica e uma solicitação de envio de uma fatura de energia

elétrica para que a empresa pudesse realizar o dimensionamento da cota para atender às

necessidades do cliente.

Após envio dos dados requeridos, a empresa entrou em contato via mensagem de texto

no celular e buscou identificar as necessidades específicas do cliente. Neste caso as

necessidades específicas são referentes a uma previsão de aumento no consumo de energia para

os próximos meses, sendo assim necessária uma cota maior, dimensionada a partir da previsão

e não apenas no histórico da fatura do cliente. Após acordo quanto ao novo dimensionamento

e finalizado contato via mensagem de texto, o contrato foi enviado por e-mail, assinado e

reenviado em seguida.

O faturamento da cota adquirida pelo cliente ocorre após a habilitação da unidade

consumidora pela concessionária de energia para que possa receber os créditos de energia, que

são provenientes de uma usina fotovoltaica parceira da empresa deste estudo e conectada à

mesma concessionária do cliente.

4.2. AVALIAÇÃO DO PRODUTO E SERVIÇO

Este trabalho apresenta sete estratégias de gestão da qualidade, cinco baseadas nas

abordagens de Garvin e duas nas abordagens de Taguchi, em que as empresas de

comercialização de cotas de energia elétrica podem estruturar seus modelos de negócios.

Para utilização de estratégias de gestão da qualidade centradas na abordagem

transcendental de Garvin é necessário que a empresa esteja consolidada no mercado de forma

que os consumidores possam transferir a confiança do produto para marca (PALADINI, 2009;

2012). Neste caso especificamente, tanto o serviço quanto a empresa são inovadores e, portanto,

não há uma consolidação de mercado. Ao optar por esta abordagem, a empresa pode

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desenvolver ações de marketing voltadas à vinculação da sua marca ao tipo específico de

serviço ofertado diferenciando-se das formas tradicionais de fornecimento de energia elétrica.

Conforme a expansão do mercado, maiores são suas chances de vinculação da marca devido ao

seu pioneirismo.

A empresa utiliza seu site e redes sociais para aproximar o usuário da empresa e do

seu conceito. A sustentabilidade é apresentada ao consumidor como prioridade, sendo que a

empresa afirma que nasceu com objetivo de gerar impacto positivo na sociedade. A inovação é

vista como parte da essência da empresa e ressalta a necessidade de se criar relacionamento de

confiança entre fornecedor e cliente. O site também contém elementos informativos, que

auxiliam o consumidor a entender melhor a proposta da empresa. O material disponibilizado é

um meio de ensinar o consumidor, de apresentar os conceitos de geração de energia

compartilhada de uma forma mais interativa e resumida.

Na abordagem baseada no usuário, deve-se sempre promover atualizações de suas

plataformas virtuais visando facilitar a acessibilidade do usuário (PALADINI, 2009; 2012). A

empresa disponibiliza um login para acesso à página exclusiva no seu site, onde o cliente

encontra informações sobre créditos, dados de faturamento e indicadores sobre impactos

positivos ambientais e sociais dessa geração compartilhada. Por meio desse login o cliente

consegue acompanhar a evolução dos seus créditos.

A empresa não dispõe de um aplicativo unificado voltado à smartphones, onde o

cliente poderia realizar todo o processo de contratação através de seu celular. Notou-se também

a necessidade da empresa disponibilizar um simulador virtual, no qual o cliente poderia inserir

seus dados de consumo e valor fatura de energia elétrica e por si só dimensionar as cotas a

serem contratadas.

No modelo de negócio da empresa, o usuário não é proprietário do sistema

fotovoltaico, e sim um locatário de percentual da usina geradora. Assim, incertezas e riscos de

origem física, como manutenção do sistema, não afetam diretamente o usuário. Ou seja, o

usuário tem o benefício da geração sem investir recursos para manutenção da usina. Usuários

que não possuem local ou recurso adequado para instalar o sistema adquirem energia renovável

de usinas instaladas em locais onde há menores riscos de origem ambiental. O cliente também

adquire energia renovável sem necessidade de realizar obras em sua casa ou investir na

instalação do sistema fotovoltaico (SHAKOURI et al., 2017; ZHANG, 2016).

As ações estratégicas de gestão da qualidade voltada para produto e no processo devem

transmitir informações ao cliente da procedência dos equipamentos como por exemplo, a

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utilização de equipamentos certificados pelo INMETRO (Inmetro - Instituto Nacional de

Metrologia, Qualidade e Tecnologia). Como forma de assegurar a qualidade de construção e

conformação das usinas solares fotovoltaicas utilizarem certificações tais como o Selo Solar

(IDEAL, 2017). Estas certificações garantem ao cliente que o sistema gerador de sua energia

atende aos padrões de qualidade e as certificações específicas do mercado. Outras duas

maneiras de aproximar o cliente ao produto é mostrar, através de um supervisório, a geração de

energia em tempo real e disponibilizar ao cliente possibilidade de visualização da usina de

forma integrada em um único aplicativo. Em relação aos processos, o conceito de usina virtual

pode beneficiar a empresa à medida que possibilita a distribuição das fontes de energia em

forma de blocos auto gerenciáveis e um melhor balanço energético na rede gerenciada. Modelos

de negócios de geração compartilhada podem ter um sistema de monitoramento associado aos

conceitos de virtual power plants (HERNÁNDEZ, 2015).

O conceito de valor para o mercado de geração de energia renovável vai além de

oferecer energia a um custo mais baixo do que os praticados pelas concessionárias. Os

consumidores deste tipo de serviço também entendem que estão contribuindo para a

preservação ambiental e realizando um consumo sustentável (AUGUSTINE e MCGAVISK,

2016; SHAKOURI et al., 2017). Portanto, uma outra forma de contribuir para que o cliente vire

um consumidor é enfatizar a economia financeira gerada e a quantidade de CO2 evitados.

Conforme as definições de Genichi Taguchi, as perdas em relação ao bem-estar dos

clientes devem ser estudadas. O local de instalação das usinas é importante para a

sustentabilidade da empresa, visto que há possibilidade de impactar negativamente a região da

instalação, seja por danos à rede elétrica existente na qual injetará energia gerada, ou por

impactos sociais negativos.

Empresas do setor de energia renovável utilizam com frequência o conceito de

qualidade que é voltado para a conscientização sobre sustentabilidade ambiental. Formas de

convencer o cliente são: mostrando o baixo o impacto ambiental nos locais da instalação das

usinas fotovoltaicas, dados de toneladas de CO2 evitados de serem lançados na atmosfera e o

fato de ser uma fonte de energia renovável.

Por ser um modelo de negócios estruturado em economia compartilhada utilizando

uma plataforma virtual e inovador em sua essência, é imprescindível que se invista em

melhorias nos canais de interação com o consumidor. Como pode ser observado, todas as

sugestões descritas neste tópico poderiam ser aplicadas simultaneamente devido a

multiplicidade da gestão da qualidade e todas elas incorporadas em um aplicativo.

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A pesquisa explora conceitos e modelos de negócios novos no país e no mundo e

apresenta propostas de melhoria para o modelo de negócios de uma empresa de geração de

energia solar fotovoltaica compartilhada. A empresa é pioneira no Brasil e, por se tratar de um

modelo de negócios inovador em um mercado inovador, a empresa se depara com uma série de

desafios para a manutenção e sucesso do seu negócio. Nesse sentido, as avaliações com base

nas abordagens da qualidade que baseiam o estudo podem servir de norte para melhoria de

processos, produtos e serviços na empresa, as propostas apresentadas também podem servir de

apoio para surgimento de novos modelos de negócio.

O modelo de negócios e o conceito de geração compartilhada são novos no Brasil.

Apesar de ser um país com alto potencial para geração fotovoltaica, apresentando índices

elevados de irradiação solar ao longo de todo seu território, é um mercado ainda pouco

explorado. Em outros países há variedade de modelos de negócios de geração compartilhada

em funcionamento, o que indica potencial para desenvolvimento de outras propostas de valor

desse tipo no Brasil.

O modelo de negócio da empresa analisada neste estudo amplia o acesso dos

consumidores brasileiros à fontes de energia renovável. Além de solução para unidades

consumidoras que não dispõem de área para instalação de geradores próprios, não há

necessidade de manutenção dos sistemas. O usuário é locatário de um percentual de uma usina

e pode desfrutar dos créditos de energia limpa através de uma plataforma online. Em relação ao

serviço prestado, a empresa utiliza plataforma virtual e a comunicação através de aplicativos de

celular, mas não dispõe de aplicativo próprio para que o usuário acompanhe a evolução de seus

créditos de energia. A criação de um aplicativo próprio reforça a confiança do usuário, aproxima

o cliente da empresa e é coerente com a essência inovadora da empresa. Além disso, o aplicativo

pode facilitar a visualização dos impactos positivos de sustentabilidade social e ambiental da

energia compartilhada.

Modelos de negócios podem surgir para complementar a proposta de valor da empresa

analisada, ou a própria empresa pode ampliar seu escopo de atuação. O conceito de usinas

virtuais concentra e equilibra a oferta e demanda de energia elétrica, pois auxilia no controle de

pequenos geradores de energia e de diferentes fontes de energia.

As limitações deste estudo são em relação ao período de avaliação dos serviços e por

se tratar de estudo de caso em uma única unidade de análise. Estudos futuros podem ampliar a

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análise do modelo de negócio comparando a empresa deste estudo com empresas similares que

operam em outros países. Pesquisas também podem analisar a viabilidade de implementação

de outros modelos de geração compartilhada no Brasil inspirados em modelos em operação de

outros países.

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IDENTIFICAÇÃO DE TENDÊNCIAS E LACUNAS DE PESQUISA DA GESTÃO DA

CADEIA DE SUPRIMENTOS SUSTENTÁVEL

IDENTIFICATION OF TEDENCES AND GAPS OF SUSTAINABLE SUPPLY CHAIN

MANAGEMENT

Eduarda Dutra Souza

Edna Gessner

Carlos Manuel Tabuada Rodriguez

RESUMO: A sustentabilidade é um assunto de importância mundial e vem ganhando destaque

no cenário acadêmico e empresarial. Na área da logística, o tema vem sendo impulsionado por

toda sua cadeia de suprimentos tendo a preocupação por gerir as dimensões sociais e

ambientais, além da financeira. O presente artigo irá abordar a identificação de tendências do

que vem sendo estudado ao longo dos anos através da utilização de software com isso é possível

identificar lacunas de pesquisas para futuros trabalhos. O trabalho ainda traz uma empresa de

referencial nacional em cadeia sustentável e analisa seus principais indicadores e práticas.

Palavras-chave: Sustentabilidade. Triple Bottom Line. Tendências.

ABSTRACT: Sustainability is a subject of worldwide importance and has been gaining

prominence in the academic and business scenario. In the area of logistics, the theme has

been driven by its entire supply chain with a concern to manage a social dimensions and

beyond, besides the financial. The present article is approached as an identification of trends

of what has been studied over the years through the use of software with which it is possible

to identify research gaps for future work. The work also brings a national referential

sustainable chain company and analyzes its main indicators and practices.

Keywords: Sustainability. Triple Bottom Line. Tendencies.

1 INTRODUÇÃO

Ao decorrer do processo de evolução humana, o homo sapiens lutou para sobreviver

no ambiente que se encontrava, iniciando a criação de civilizações, empreendimentos e

expansão em busca de novos territórios. A superpopulação acarreta em um consumo excessivo

de recursos naturais os quais prejudicam o ambiente e afeta consequentemente o ambiente

socioeconômico, segundo Ehrlich e Ehrlich (2013).

Devido a esse cenário, as organizações precisam estabelecer medidas de

sustentabilidade em suas operações. O conceito de sustentabilidade é cada vez mais comum em

decisões operacionais e no gerenciamento de cadeias de suprimentos (Brandenburg et al., 2014;

Carter e Rogers, 2008).

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Segundo Isaksson e Steimle (2009) o grande desafio das empresas é conseguir traduzir

a maneira em que gerenciam as questões de sustentabilidade, adotando uma postura

responsável nas dimensões ambiental e social enquanto alcançam seus objetivos econômicos.

Isto é, a sustentabilidade é um conceito que abrange a interligação dos aspectos econômicos,

sociais e ambientais conhecido como Triple Bottom Line (TBL)

A Gestão da Cadeia de Suprimentos Sustentável vai além do foco no desempenho

econômico e financeiro da empresa e de seus parceiros. Trata-se da gestão do fluxo de materiais,

informação e capital, e da cooperação entre as organizações ao longo da cadeia, buscando

atingir objetivos nas três dimensões da sustentabilidade, ou seja, econômica, social e ambiental

(Seuring e Müller, 2008). Seuring e Müller (2008) afirmam que o número considerado de

pesquisas científicas que apontam como sustentabilidade nas cadeias apenas trabalha

dimensões ambiental e econômica.

As pesquisas em Gestão da Cadeia de Suprimentos Sustentável (GCSS) cresceram em

importância na última década, e o meio acadêmico reconhece a complexidade de integrar a

sustentabilidade em cadeias de suprimentos (Ashby et al., 2012).

Devido a esse cenário, o presente artigo tem como finalidade a investigação na literatura

sobre o que vem sendo publicado na área de Sustainable Supply Chain Management (SSCM),

bem como uma análise de relatório de sustentabilidade corporativo com objetivo de identificar

a aplicação das tendências em SSCM. O estudo é dividido em cinco tópicos: (I) introdução; (2)

referencial teórico; (3) procedimentos metodológicos; (4) análise dos resultados; e (5)

considerações finais.

2 REFERENCIAL TEÓRICO

Estudos sugerem que nos últimos anos a competição mudou de entre empresas para o

nível entre cadeias de suprimentos (Beske, 2012; Gold et al., 2010; Lambert e Cooper, 2000).

A gestão da cadeia de suprimentos compreende processos de planejamento, abastecimento,

produção e logística de distribuição (Brandenburg et al., 2014), mas não está exclusivamente

focado em uma destas áreas. O objetivo do gerenciamento da cadeia de suprimentos é criar o

máximo de valor, não para uma empresa, mas para toda a rede da cadeia de suprimentos,

incluindo o cliente final (Lambert e Cooper, 2000).

O Gerenciamento da Cadeia de Suprimentos Sustentável (GCSS) visa minimizar

impactos ambientais negativos e melhorar aspectos sociais (Govindan et al., 2015), e reconhece

que através do alinhamento dos objetivos econômicos sociais e ambientais obtém vantagem

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competitiva de longo prazo (Chaabane et al., 2011; Gold et al., 2010). A GCSS incorpora uma

variedade de conceitos, tais como cadeias de suprimentos verdes, onde o foco é minimizar

impactos ambientais negativos, e também considera questões sociais, tais como condições de

trabalho em empresas fornecedoras ou garantia de que mercadorias tenha procedência ética e

justa ao longo da cadeia.

O foco de cadeias sustentáveis pode variar entre as organizações, podendo ter maior

ênfase em questões ambientais ou sociais (Walker e Jones, 2012), dependendo da orientação

estratégica da organização (Hsu et al., 2016). A integração e o gerenciamento de todos os

processos e de todas as ligações inter-organizacionais ao longo da cadeia de suprimentos são

impraticáveis. A integração de processos de negócios com membros-chave da cadeia de

suprimentos faz com que essa cadeia seja bem-sucedida (Lambert e Cooper, 2000).

Um dos desafios em GCS é o de projetar e gerenciar uma rede de relacionamentos

interdependentes, desenvolvida e promovida através de colaboração estratégica (Gold et al.,

2010). O projeto da rede de cadeia de suprimentos e a gestão de fornecedores são considerados

como decisões estratégicas cruciais para o desempenho, principalmente quanto ao desempenho

da sustentabilidade da cadeia (Govindan et al., 2015).

Pressões externas e os incentivos de partes interessadas (stakeholders) são

considerados pontos de partida para que empresas focais optem pela gestão sustentável (Matos

e Silvestre, 2013). No entanto, as pressões externas sobre uma empresa focal não são

suficientes para que se desenvolva uma cadeia de suprimentos sustentável. Há necessidade de

se desenvolver competências e capacidades que facilitem a incoporação da sustentabilidade,

bem como recursos adequados na cadeia (Gold et al., 2010).

A contribuição para a sustentabilidade na cadeia de suprimentos ocorre se os objetivos

e práticas sustentáveis forem adotados por todas as unidades interdependentes desta cadeia.

Todas as unidades influenciam no desempenho e na reputação umas das outras, e os efeitos no

desempenho são ainda maiores em questões de sustentabilidade (Gimenez e Sierra, 2013).

Assim, o relacionamento entre empresa focal e fornecedores é de extrema importância em

GCSS, pois partes interessadas externas, ou stakeholders externos, não diferenciarão o

comportamento da empresa focal do comportamento do fornecedor. Assim, qualquer parte

membro da cadeia de suprimentos que não aderir aos objetivos de sustentabilidade comuns,

pode prejudicar a reputação e a confiança dos clientes (Grimm et al., 2014).

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

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A presente pesquisa estruturou-se por meio de uma pesquisa na literatura com a

definição das palavras-chaves, sendo elas: (“Sustainable Supply Chain” or “Triple bottom line”

and “Supply chain”), por abranger as possíveis formas sobre o tema. As palavras-chaves foram

utilizadas na procura por artigos na plataforma Scopus trazendo um resultado de 1.180

documentos. Restringiu-se a pesquisa em documentos dos artigos na língua inglesa por

apresentar o maior retorno, totalizando 671 artigos.

Estes artigos foram analisados através do Software VOSviewer® para análise das

tendências de estudos. Posterior, realizou-se uma leitura dos títulos e resumos dos artigos

contidos na plataforma Scopus, no ano de 2017 um total de 89 artigos. Eliminou-se 11 artigos

por não estarem disponíveis de forma gratuita, ou seja, em periódicos de livre acesso. Escolheu-

se aqueles documentos que trabalham com as três dimensões da sustentabilidade: econômico,

ambiental e social para avaliar a situação atual do cenário de sustentabilidade na área acadêmica

totalizando 26 artigos para leitura integral para embasamento das discussões do presente artigo.

Posteriormente, buscou-se investigar como ocorre a aplicabilidade das tendências em

SSCM em uma empresa brasileira. A organização em questão é do setor de cosméticos, possui

fábricas próprias, 9 centros de distribuições no Brasil e 5 na América Latina, além dos centros

de pesquisa.

4 ANÁLISE DOS RESULTADOS

O primeiro tópico da seção análise de resultados é referente à análise que se baseou no

método de revisão sistemática da literatura. São apresentadas as tendências na pesquisa em

cadeia de suprimentos sustentável, e, em um segundo momento, são apresentados os resultados

baseados na análise de conteúdo de relatórios de sustentabilidade.

4.1 ANÁLISE DA LITERATURA

Iniciou-se as análises da presente pesquisa analisando os 671 artigos para compreender

o cenário atual de publicação. Percebeu que a concentração de publicações relativas ao tema

foi de 2014 a 2016 com total de 352 artigos. Percebeu-se que os principal autores no tema são

Stefan Seuring, Joseph Sarkis e Kannan Govidan, e devido ao volume de publicações desses

autores, os países que mais publicam na área são Estados Unidos da América (127 artigos),

Reino Unido (99 artigos), Alemanha (67 artigos), China (54 artigos) e Índia (44 artigos). A

consideração em relação ao país de publicação ou de aplicação de estudos de caso é importante,

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visto que fatores culturais e regulatórios influenciam em questões de sustentabilidade e

gerenciamento da cadeia de suprimentos (GRIMM et al., 2014).

Figura 7 – Clusters de pesquisa em SSCM

Fonte: elaborado pelos autores com base no VOSviewer®

Os autores Sarkis, Seuring e Govindan possuem uma publicação em conjunto, onde

abordam modelos quantitativos em cadeias de suprimentos sustentáveis (BRANDENBURG et

al., 2014). O autor Stefan Seuring possui publicações no tema SSCM desde 2008, contribuindo

para a área através da elaboração de um quadro conceitual, que serve de base para pesquisas no

tema (SEURING; MÜLLER, 2008).

Por meio da análise das palavras-chaves no programa VOSviewer® identificou-se

clusters de pesquisa conforme apresentados na figura 1. Esses clusters são grupos que estudam

assuntos relacionados, isto é, o cluster verde investiga determinados vocábulos que são

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usualmente utilizados juntos como a sustentabilidade na cadeia de suprimentos com “Triple

bottom line”, barreiras, stakeholder, produções verdes e “corporate social responsabilitit”.

A cor azul aborda, por sua vez, as áreas de performance, ambiental e o “Green Supply

Chain Management” e de uma coloração mais baixa clara aparece a indústria de alimentos

como enfoque e responsabilidade social. A área em vermelho trata da remanufatura, reciclagem,

logística reversa, fechamento do ciclo na cadeia de suprimentos, ecoeficiência, carbon footprint

ou pegada de carbono e logística verde. As palavras destacadas correspondem a temas

relacionados às esferas ambiental e econômica, que é uma área de destaque em pesquisas de

sustentabilidade (BRANDENBURG et al., 2014).

Por fim, a coloração amarela aborda as termologias da indústria de automóveis,

emissão de carbono, risco na cadeia e a indústria ecológica. Percebe-se na figura 2 que a

evolução da utilização das palavras-chaves nos artigos no decorrer dos anos.

Figura 8 – Utilização de palavras-chave em publicações no período

Fonte: elaborado pelos autores com base no VOSviewer®

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Anterior ao ano de 2011, os pesquisadores abordavam temas como reciclagem,

problemas ambientais, ecoeficiência e economia sustentável. Ao passar do tempo, por volta de

2013, os temas como corporate social responsibility, carbon foot print, susteinable

development e environmental management estavam em altas no meio acadêmico. O aumento

nos estudos em responsabilidade social corporativa indicam um crescimento nos estudos

envolvendo questões da esfera social em SSCM. Há lacunas para pesquisas que envolvam os

três pilares do Triple Bottom Line, bem como estudos com maior ênfase na esfera social

(BRANDENBURG et al., 2014). No ano de 2014, surgiram estudos sobre o TBL, otimização,

remanufatura.

No ano posterior iniciou-se as pesquisas relacionadas a sustainable supply chain,

responsabilidade social, governança, mensuração da performance, stakeholder e barreiras. Os

temas responsabilidade social e governança correspondem a ênfase nas questões sociais. Os

temas mensuração da performance, governança e barreiras correspondem à busca por soluções

devido à dificuldade de integrar a sustentabilidade no gerenciamento da cadeia de suprimentos.

Os temas que encontram em alta atualmente nessa área de estudo é transporte, environmental

sustainability, barreiras e drivers.

4.2 ANÁLISE DE CONTEÚDO DE RELATÓRIOS DE SUSTENTABILIDADE

Buscando a aplicabilidade em uma empresa, investigou-se as relações entre os

indicadores divulgados pela empresa de cosméticos brasileira no banco de dados do Global

Reporting Initiative (GRI) e as tendências em SSCM. O GRI fornece diretrizes para que as

empresas divulguem seus indicadores econômicos, ambientais e sociais para stakeholders.

Esses relatórios têm como finalidade comunicar o impacto do negócio nas questões de

sustentabilidade, tais como mudanças climáticas, direitos humanos, corrupção e muitos outros

(GRI, 2017). No caso da empresa analisada, o relatório apresenta o índice de indicadores

utilizados, as metas de sustentabilidade, além da relação entre indicadores conferidos por

agentes externos.

A organização iniciou suas divulgações no ano de 2001 dando ênfase para indicadores

econômicos e o número de consultoras que trabalhavam com a empresa. No desempenho social

e ambiental abordou as iniciativas nas áreas social, como o projeto Crer para Ver, que incentiva

a realização de parcerias para fomentar a cultura nas escolas e a linha de produtos voltados para

o meio ambiental em uma busca por extração ambientalmente correta. No ano seguinte,

passaram a divulgar os primeiros indicadores da esfera social e ambiental, como o clima

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organizacional, responsabilidade social, certificados de ativos de biodiversidade (ambiental) e

água.

Posterior a este tempo, a empresa investe cada vez mais na cadeia de suprimentos

sustentáveis, enfatizando para seus stakehoders o quanto dedica esforços na preservação do

meio em que opera. O último relatório divulgado, datado do ano de 2016 e na versão G4 das

diretrizes GRI, traz em seu conteúdo a estratégia da empresa, gestão de pessoas, governança

corporativa, novos produtos, multicanais de distribuição e os processos como Programa

Amazônia, Comunidades, Evoluções na Logística, Relação com fornecedores, GRI, Gestão de

resíduos e água, Contabilidade ambiental e a visão de sustentabilidade 2050.

O modelo de negócio da empresa é baseado no comércio ético de insumos, compras

verdes e reciclagem das embalagens. O comércio ético integra comunidades da Amazônia,

incentivando que seus fornecedores conservem a mata. Assim, o comércio ético é responsável

também pelo desenvolvimento das famílias da região, desenvolvendo aspectos econômicos,

sociais e ambientais em sua cadeia de suprimentos. O processo produtivo da empresa tem

especial atenção às fórmulas e embalagens de seus produtos, que são reciclados, demonstrando

a utilização dos conceitos de ciclo de vida e ecodesign. A empresa gerencia aspectos ambientais

do consumo e do pós-consumo de seus produtos.

A relação de vendas gera investimentos nas consultoras oferecendo descontos na área

de educação cuidando com a parte social de seus colaboradores e por fim, o consumo consciente

trazendo uma consciência ambiental ao cliente com uso refiz e descarte correto de embalagens.

Os principais indicadores apresentados estão na área econômica, qualidade, riqueza,

sociais e ambiental, sendo este último relativo a emissões de gases, consumo de água, material

reciclado e embalagens e o social abordando pesquisa da imagem da marca, o projeto Crer e

Ver, famílias beneficiadas nas comunidades fornecedoras.

A empresa divulga seus indicadores econômicos e traz a retrospectiva com dados dos

três últimos anos, neste caso 2013, 2014 e 2015, assim o stakeholder pode comparar a evolução

no desempenho da empresa. A empresa relata indicadores econômicos que apresentam seu

impacto em comunidades de fornecedores, como o pagamento dos direitos pelo uso da imagem

da comunidade, investimento em treinamentos e fundos de apoio as cooperativas locais. A

empresa dá ênfase ao seu relacionamento com fornecedores nos indicadores econômicos.

Indicadores essencialmente ambientais trazem dados referentes a emissões de CO2 e

pegada de carbono, consumo de energia e de água, gestão de resíduos e impactos na

biodiversidade.

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Os indicadores sociais que abordam questões trabalhistas, como a quantidade total de

colaboradores por país de atuação, percentuais de gênero e idade de seus colaboradores, horas

de treinamento, remuneração, saúde e segurança dos colaboradores, levam em consideração os

locais/países de atuação. São 10 indicadores do tipo relações trabalhistas. Os indicadores sociais

para ética e direitos humanos apresentam indicadores sobre inciativas anticorrupção, que

envolvem treinamento de funcionários para combater possíveis focos de corrupção nas

operações da empresa. A empresa possui Código de Conduta para auxiliar nesse sentido. Os

indicadores GRI em relação a produto envolvem os conceitos de ciclo de vida, informação

correta para o consumidor, cumprimento de requisitos em produtos e serviços.

A Visão de sustentabilidade 2050 da empresa traz como principais ambições o uso da

embalagem, preocupação com mudanças climáticas, sócio biodiversidade, resíduos produzidos,

água, cadeia de fornecimento, consultoras naturas, colaboradores e comunidade. Destaca-se a

cadeia de fornecimento, a empresa deseja garantir que até 2015 todos os seus insumos

produzidos por fabricantes diretos sejam rastreados e até 2020 para todos os demais elos da

cadeia para conseguir medir a sustentabilidade ao longo de toda a cadeia e identificar os pontos

críticos.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A gestão da cadeia de suprimentos sustentável ainda é uma área que necessita maior

investigação, principalmente relacionada à estruturas de governança que atuem no sentido de

intensificar os investimentos em estender objetivos de sustentabilidade através da cadeia de

suprimentos. A sustentabilidade na cadeia de suprimentos demanda capacidades,

investimentos, monitoramento e cooperação.

A análise das tendências nas pesquisas aponta para temas de responsabilidade social

corporativa, desempenho de sustentabilidade, relacionamento com stakeholders, reciclagem,

barreiras e estruturas de governança. A análise de relatório de sustentabilidade corporativa

apresentou tendências de SSCM em relacionamento com fornecedores, desenvolvimento de

comunidades locais, ênfase na responsabilidade social corporativa, bem como aspectos de

análise de ciclo de vida, pegada de carbono, reciclagem e ecodesign.

Percebeu-se uma carência nas análises das forças externas e internas que influenciam

a cadeia de suprimentos verdes (AHMAD et al., 2017) e poucos trabalhos que elaboram

modelos quantitativos como método. Além disso, poucos estudos exploraram as iniciativas

verdes, iniciativas verdes e desempenho, fatores que influenciam a adoção de iniciativas verdes,

a perspectiva do cliente na cadeia de suprimento sustentável, as tecnologias que apoiam

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iniciativas verdes (CENTOBELLI; CERCHIONE; ESPOSITO, 2017). Também foi encontrada

uma necessidade de estudo dos facilitadores ou drivers das aquisições ecológicas e inter-

relações entre os drivers de compras verdes (BAG, 2017).

Em uma visão mais macro, encontrou-se poucos estudos quantitativos em SSCM,

modelagem de fatores sustentáveis complexos da vida real usando programação dinâmica,

programação de metas e as relações socioambientais complexas (ANSARI; KANT, 2017). As

dimensões econômicas e ambientais da sustentabilidade tem sido examinadas por muitos

estudiosos e praticantes. Até o momento, a dimensão social recebeu menos atenção na literatura

em relação à esfera ambiental e econômica. A dimensão social é pouco explorada na prática em

países em desenvolvimento (AHMADI, KUSI-SAROG, REZAEI, 2017), como confirmado

pelas lacunas de pesquisas encontradas na literatura. O presente artigo considera as ações

sociais carentes em relação ao número de pesquisas, a influência e impactos da cadeia na

sociedade, a importância do lado social e principalmente de métodos quantitativos nesse pilar

da sustentabilidade.

Por fim, há lacunas para que estudos futuros se concentrem na avaliação dos

fornecedores das diversas fases de relacionamento entre empresa focal, buscando identificar a

evolução de aprendizado, de desempenho e identificar quais os fatores críticos de governança

que agregam maior valor nesse relacionamento. A literatura apresenta pesquisas envolvendo

empresas e identifica indicadores dos três itens da sustentabilidade (ambiental, social e

econômico), porém não foram encontradas publicações que abordem sua aplicabilidade e

relação aos aspectos ambiental e social e influência na esfera econômica.

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VIABILIDADE DA IMPORTAÇÃO DE PAINEL SOLAR PARA O MERCADO

BRASILEIRO

VIABILITY OF THE IMPORTATION OF SOLAR PANELS FOR THE BRAZILIAN MARKET

Jennifer Batista Adriano1

Graziela Breitenbauch de Moura2

RESUMO: O comércio internacional se baseia na exploração das vantagens comparativas, e

por meio desta relação os países complementam as suas necessidades, por estimular a

competição entre empresas e favorecer a comparação entre produtos nacionais e importados.

Consequentemente o avanço e as transformações da tecnologia, tiveram um crescimento em

larga escala, trazendo muitos benefícios, para os países, empresas e pessoas. E quando se trata

de matriz energética, os países têm cada vez mais desenvolvido tecnologias para o fornecimento

alternativo de energias limpas. Neste sentido, este trabalho teve como objetivo realizar um

estudo da viabilidade de importação de painéis solares para o Brasil informando os

procedimentos para sua importação. Identificou-se potenciais fornecedores chineses, realizando

o levantamento dos custos da importação por meio de uma planilha. O estudo foi realizado

através de uma abordagem qualitativa, meios bibliográficos e fins exploratórios e descritivos.

Ampliou-se o conhecimento sobre o produto e os processos e burocracias existentes na

importação. Foi possível comprovar por meio de uma planilha de custo a viabilidade da

importação quando comparado ao valor praticado no mercado nacional. Recomenda-se que a

pesquisa seja utilizada pela academia, servindo como base para projetos futuros, nos quais

sugere-se que seja aprofundado o tema no que se refere ao setor de energia limpa no Brasil,

mostrando as vantagens e desvantagens que a estratégia de importação dos painéis solares pode

oferecer as pessoas, as empresas, ao meio ambiente e o contexto institucional por meio do

estudo de caso de uma organização.

Palavras-chave: Energia solar. Importação. Painel Solar.

ABSTRACT: International trade is based on the exploitation of comparative advantages, and

through this relationship countries complement their needs by stimulating competition between

companies and favoring the comparison between domestic and imported products. As a result,

technology advances and transformations have grown on a large scale, bringing many benefits

to countries, companies and individuals. And when it comes to energy matrix, countries have

increasingly developed technologies for the alternative supply of clean energy. In this sense,

this work had as objective to carry out a study of the feasibility of importing solar panels to

Brazil informing the procedures for their importation. Potential Chinese suppliers were

identified, carrying out the survey of import costs through a spreadsheet. The study was carried

out through a qualitative approach, bibliographic means and exploratory and descriptive

purposes. Knowledge about the product and the processes and bureaucracies that existed at

the time of importation was broadened. It was possible to prove by means of a cost sheet the

1 Bacharel em Comércio Exterior pela Universidade do Vale do Itajaí-UNIVALI. E-mail: [email protected] 2 Doutora em Administração pela Universidade do Vale do Itajaí-UNIVALI. Professora do curso de Comércio Exterior da UNIVALI-SC. E-mail: [email protected]

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feasibility of import when compared to the value practiced in the national market. It is

recommended that the research be used by the academy, serving as a basis for future projects,

in which it is suggested that the theme be explored in regard to the clean energy sector in Brazil,

showing the advantages and disadvantages that the import strategy Of solar panels can offer

people, businesses, the environment and the institutional context through the case study of an

organization.

Keywords: Solar energy. Import. Solar panel.

1 INTRODUÇÃO

A globalização é um fenômeno que vem caracterizando a sociedade atual. Segundo

Ianni (1999, p. 11) este fenômeno, “expressa um novo ciclo de expansão do capitalismo, como

modo de produção e processo civilizatório de alcance mundial”.

Com este movimento o mundo está cada vez mais sem fronteiras e os países buscam

aliar-se economicamente entre si, por meio da formação de interesses comerciais. O processo

de globalização influencia diretamente na forma como os mercados de diferentes países

interagem e aproximam pessoas e mercadorias, contribuindo no desenvolvimento econômico,

social, cultural e político das nações envolvidas.

Com a quebra das fronteiras, foi possível realizar transações financeiras e expandir os

negócios por meio do comércio internacional, na troca de bens e serviços e, consequentemente,

o avanço e as transformações da tecnologia, tiveram um crescimento em larga escala, trazendo

muitos benefícios para os países, as empresas, e as pessoas. E quando se trata de

sustentabilidade é possível identificar muitos equipamentos e formas que minimizam o impacto

ambiental.

As empresas buscam cada vez mais associar o seu desenvolvimento com a

sustentabilidade e em sua grande maioria, além de estarem contribuindo para o equilíbrio

ambiental, utilizam desta ferramenta para ser um diferencial competitivo, diante de tamanha

concorrência.

A procura pelo desenvolvimento sustentável a partir de fontes de energia limpa, aquelas

consideradas inesgotáveis pelo padrão de consumo humano de acordo com Villalva e Gazoli

(2013) aumentam a medida que empresas entendem seu potencial no mercado, custos e

benefícios, aspectos socioambientais e as oportunidades industriais decorrentes de seu

desenvolvimento.

As energias renováveis têm como principal característica a produção de energia por

meio de algum recurso natural considerado inesgotável. Por não causarem poluição pela

emissão de substâncias são chamadas de energias limpas e compreendem: solar, eólica,

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geotérmica e hidráulica sendo os combustíveis fósseis os meios de geração de energia mais

consumido (VILLALVA; GAZOLI, 2013).

Com base no cenário atual brasileiro, no que diz respeito ao abastecimento de energia

elétrica, identificou-se a necessidade de realizar um estudo que possa contribuir na oferta de

uma nova modalidade no fornecimento de energia, trazendo assim, dados referentes à

importação de painéis solares.

Neste sentido, este trabalho teve como objetivo geral, realizar um estudo da viabilidade

de importação de painéis solares, levantando os custos envolvidos na importação. Para tanto,

foram elencados objetivos específicos, que visam destacar a importância do comércio

internacional para o desenvolvimento dos países, com enfoque no panorama das importações

brasileiras, levantar informações sobre o setor de energia limpa no Brasil e no mundo,

ressaltando o uso das placas solares, além da sua classificação fiscal e trâmites para sua

importação e buscar potenciais fornecedores para o produto objeto de estudo, identificando os

custos que estariam envolvidos na importação por meio de uma planilha.

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 O SETOR DE ENERGIA NO PANORAMA MUNDIAL

Villalva e Gazoli (2013, p. 15) destacam que “O Sol é a principal fonte de energia do

nosso planeta”. Este tipo de energia está ligado diretamente a vários outros tipos de energia

renováveis e não renováveis, como a energia da biomassa, ou da matéria orgânica, que tem sua

fonte através da fotossíntese (energia captada do sol), onde faz a conversão da energia da luz

solar em energia química. A energia gerada pela água dos rios, utilizada para movimentar as

turbinas de usinas hidrelétricas, tem sua origem na evaporação, nas chuvas e nos degelos

provocados pelo calor do sol. A energia dos ventos que devido ao aquecimento solar provoca

diferentes temperaturas e pressão na atmosfera. A decomposição da matéria orgânica, como o

carvão, o gás natural e o petróleo (combustíveis fósseis), também provocam a geração de

energia e tem como sua origem a participação do sol. (VILLALVA; GAZOLI, 2013).

A procura por meios de fonte de energia alternativos vem aumentando

consideravelmente nos últimos anos e o que explica esse movimento, segundo Branco (2004,

p. 65), é “o aumento da demanda provocado pelos modernos sistemas de produção, transporte

e de conforto em geral e o rápido esgotamento das fontes naturais de energia”. Os autores

Villalva e Gazoli (2013, p. 15) identificam que o ser humano é bastante dependente da

eletricidade e a demanda por essa energia cresce de maneira acelerada em todo o mundo.

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Complementa Branco (2004, p. 66), que esta dependência é originada do alto grau de

mecanização que tem se introduzido em todos os nossos hábitos, em que o esforço físico

humano foi substituído pela automatização.

De acordo com Branco (2004, p. 66), “estima-se que de toda energia atualmente

consumida pela humanidade, uma proporção de 83% provenha de combustíveis fósseis, como:

o petróleo, o carvão e o gás natural”. Isto confronta com a citação dos autores Hinrichs e

Kleinbach (2003, p. 7), que em pesquisa das principais fontes de energia usadas nos Estados

Unidos e no mundo realmente são originadas de combustíveis fósseis e ainda destacam que as

demais fontes renováveis correspondem apenas 20% do total consumido.

O que tem levado as pessoas e as empresas a buscarem novas fontes de energia para a

geração de eletricidade é a necessidade de diminuir a dependência de energia gerada por meio

de combustíveis fósseis, devido ao seu rápido esgotamento, por não ser uma energia renovável,

e os seus impactos causados no meio ambiente, como o vazamento de petróleo nos oceanos, a

emissão de poluentes pela queima e as contaminações geradas pela estocagem de dejetos

radiativos e etc. (VILLALVA, GAZOLI, 2013).

Geralmente o conceito de energia limpa é associado às fontes renováveis, que são

aquelas consideradas inesgotáveis para os padrões humanos de utilização. Este conceito é

explicado pela prática do uso contínuo sem se acabar, pois sempre se renovam (VILLALVA;

GAZOLI, 2013). O autor ainda cita alguns exemplos como: “a energia solar, aproveitada

diretamente para aquecimento ou geração de eletricidade, hidrelétrica, eólica, oceânica,

geotérmica e da biomassa”.

Embora o uso das fontes alternativas, ainda não tenha grande parcela na matriz

energética mundial, mesmo tímida, elas vêm crescendo muito em todo o planeta. Em alguns

países elas ocupam importante espaço nas políticas públicas e nos investimentos privados em

relação à demanda de energia elétrica (VILLALVA; GAZOLI, 2013).

A base mundial da geração de energia elétrica ainda é constituída pelas fontes

tradicionais, como as grandes usinas hidrelétricas, termelétricas a carvão e petróleo e usinas

nucleares. Porém a participação de fontes alternativas de eletricidade vem crescendo

consideravelmente em muitos países. Podem-se destacar alguns exemplos como: pequenas

centrais hidrelétricas, geradores eólicos, os sistemas solares térmicos, as termelétricas, as

microturbinas alimentadas a gás natural e os sistemas fotovoltaicos (VILLALVA; GAZOLI,

2013).

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Villalva e Gazoli (2013, p. 18) destacam que “os custos das fontes alternativas de

energia estão caindo com o aumento da escala de utilização e o preço da energia elétrica por

elas gerada em muitos países já se equipara ao da energia produzida pelas fontes tradicionais”.

2.2 FONTES ALTERNATIVAS DE ENERGIA NO BRASIL

O Brasil em comparação com outros países, já emprega em grande parte de sua matriz,

fontes de energia renováveis, pois quase toda nossa eletricidade provém das usinas hidrelétricas.

Por isso, a busca por novas fontes renováveis tem se mostrado desacelerada se comparado ao

resto do mundo (VILLALVA; GAZOLI, 2013).

O Brasil possui em sua matriz energética a forma de captação de energia mais renovável

do mundo industrializado com 45,3% de sua produção proveniente de fontes como recursos

hídricos, biomassa e etanol (PORTAL BRASIL, 2010). Porém, faz pouco uso de outras fontes

limpas de energia em sua matriz. Tornando-se assim refém de diversos problemas,

exemplificado pela falta de chuva no início de 2014, ao qual ocorreu a crise hídrica e este pode

ocasionar a necessidade de racionamento de energia, além do aumento do preço. Nos últimos

anos, o Brasil vem aumentando o uso de duas importantes fontes alternativas de energia a eólica

e solar e conforme comenta Tolmasquim (2016), espera-se que o país possa fazer crescer, nos

próximos anos, o uso dessas fontes alternativas em sua matriz energética.

2.3 O PRODUTO: PAINEL SOLAR

A forma de captação de energia, por meio de painéis com tecnologia fotovoltaica vem

conquistando mercado nos últimos anos, representando 98% da capacidade instalada entre as

fontes solar e eólica (TOLMASQUIM, 2016).

A principal matéria para a geração de energia fotovoltaica é a célula fotovoltaica. Para

se fazer o aproveitamento em maior escala desse tipo de energia é necessário o auxílio de outros

componentes. De acordo com Tolmasquim (2016), primeiramente, as células são agrupadas e

revestidas, para assim construir os módulos fotovoltaicos.

Cada uma das camadas é exposta da seguinte forma por Tolmasquim (2016):

Moldura: parte externa estruturante do módulo, geralmente de

alumínio. É através dela que é feita a fixação do módulo.

Selante: composto adesivo usado para unir as camadas internas do

módulo com a moldura. Deve impedir a entrada de gases e umidade,

além de proteger o interior de vibrações e choques mecânicos.

Vidro: camada rígida externa que protege as células e condutores do

ambiente, ao mesmo tempo em que permite a entrada de luz para ser

convertida em eletricidade. É um vidro especial, com baixo teor de

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ferro, com uma camada antireflexiva, e com superfície texturizada, que

evitam a reflexão da luz que atinge o vidro.

Encapsulante: filme que envolve as células, protegendo-as da umidade

e dos materiais externos, além de otimizar a condução elétrica. O

encapsulante mais utilizado é o EVA (Etil Vinil Acetato).

Células Fotovoltaicas: componente eletrônico responsável pela

conversão direta da energia eletromagnética em energia elétrica.

Backsheet: parte inferior do módulo que previne a entrada de umidade

e protege as células de elementos externos. Além disso, oferece

isolamento elétrico adicional. O Tedlar é o material base mais utilizado

para confecção do backsheet.

Os painéis solares funcionam de maneira bastante individual e podem ser aplicados em

diversos ambientes. A microgeração urbana é uma das aplicações da energia solar que mais

estão em sendo utilizadas atualmente, que significa utilizar a energia solar para consumo

próprio do imóvel onde os painéis fotovoltaicos estão instalados (BRANCO, 2004). As placas

solares além de proporcionar energia elétrica para o consumo residencial, podem também estar

diretamente ligadas à rede de distribuição energética e injetar eletricidade nesta rede. Deste

modo é possível gerar novos modelos e oportunidades para a microgeração urbana (PORTAL

DA ENERGIA, 2016). No Brasil é regulamentada a utilização de créditos de carbono, a qual

permite que o usuário troque a energia excedente dos picos de produção por abatimentos em

sua conta, nos momentos em que o consumo de energia for maior que a produção de suas placas

(PORTAL DA ENERGIA, 2016).

A utilização do aquecimento solar é umas das formas mais populares que utilizam a

energia solar, porém esta modalidade oferece diversas formas para a geração de energia elétrica.

Porventura neste caso, é utilizada a energia térmica do sol para aquecimento da água – e esta

forma geralmente é de uso residencial.

Outra forma utilizada para a conversão solar em energia elétrica é a instalação de

equipamentos autônomos, pode ser chamado também como autogeradores, estes podem ser

bombas elétricas, irrigadores, postes de iluminação, ou qualquer outro aparelho exposto ao sol,

da qual a demanda de eletricidade consiga ser suprida por painéis solares (PORTAL DA

ENERGIA, 2016). A geração de energia elétrica em locais remotos é uma das aplicações da

energia solar que mais apresentam vantagens. Tais instalações proporcionam às zonas rurais ou

de habitação em florestas muito distantes de sistemas de distribuição energética, geração de

energia de baixo custo e com manutenção por cerca de 30 anos, após a instalação de painéis

fotovoltaicos em locais apropriados (PORTAL DA ENERGIA, 2016).

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3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

A abordagem do tema utilizado no presente trabalho classifica-se como qualitativa,

definida por Richardson et al. (1999, p. 80):

Os estudos que empregam uma metodologia qualitativa podem descrever a

complexidade de determinado problema, analisar a interação de certas variáveis,

compreender e classificar processos dinâmicos vividos por grupos sociais, contribuir

no processo de mudança de determinado grupo e possibilitar, em maior nível de

profundidade, o entendimento das particularidades do comportamento dos indivíduos.

Os meios que foram utilizados para o desenvolvimento deste trabalho são bibliográficos,

sendo este o tipo de coleta de dados, “[…] que busca o levantamento de livros e revistas de

relevante interesse para a pesquisa que será realizada.” (MEDEIROS, 2008, p. 39). Já os fins

foram exploratórios, que segundo Cervo; Bervian e Silva (2007, p. 63) “[...] não requer a

elaboração de hipóteses a serem testadas no trabalho, restringindo-se a definir objetivos e buscar

mais informações sobre determinado assunto de estudo” e descritivos, pois “Neste tipo de

pesquisa não há interferência do pesquisador, isto é, ele descreve o objeto de pesquisa.”

(BARROS; LEHFELD, 2012, p. 84).

Um dos procedimentos adotados para esta pesquisa, enquadra-se no método de

levantamento de dados, tendo em vista que a pesquisa foi desenvolvida por intermédio na busca

direta de informações referente os principais fornecedores de placas solares. A coleta de dados

se deu por meio de e-mails com fornecedores chineses a respeito da importação de placas

solares, sendo expostos neste trabalho na forma de textos, tabelas e planilhas visando facilitar

o entendimento.

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

Para elaborar a planilha de custos foi realizada a cotação com 20 fornecedores

chineses, que foram prospectados em sites de busca na internet (Business-to-business). Foram

selecionados os que apresentavam maior confiabilidade nos dados expostos no site, e partir daí

iniciou-se o contato por meio de e-mail solicitando alguns parâmetros que deveriam constar na

proposta como: informações de embalagem, forma de transporte, prazo para entrega, forma de

pagamento (saída ou chegada), garantia de funcionamento e preço.

Os exportadores chineses enviaram suas propostas por meio da PROFORMA com

todas as informações solicitadas. Analisando os documentos foi possível identificar que a

composição dos valores das placas é por WATT (Ex.: considerando que o valor do WATT seja

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USD 0.40 dólares, uma placa de 255/WATT custaria USD 102.00 dólares). Além dessa

característica, foi possível identificar que também não há disparidade nos valores praticados

pelos chineses, os mesmos apresentaram cotações bem próximas.

Diante disso, foi escolhido o fornecedor ACTON POWER CO. LIMITED, com uma

oferta de USD 0,40/WATT, se mostrando mais competitivo no preço, prazo de entrega, além da

garantia de 25 anos do produto. Na tabela 1 é possível observar as cotações realizadas e que

foram respondidas, bem como as condições oferecidas:

Tabela 1 – Cotação de fornecedores chineses.

Fonte: Elaborado pela acadêmica (2016).

O frete internacional foi cotado com empresas especializadas no agenciamento de carga,

já incluindo o seguro internacional para cobertura da operação de importação. Neste

levantamento foi possível identificar que é muito importante realizar a cotação com diferentes

fornecedores, pois as taxas que envolvem a operação, podem impactar na composição do custo

do produto.

Foi realizado também o levantamento das despesas que envolvem a recepção da

mercadoria no terminal portuário. Foi possível identificar que os serviços cobrados são

meramente comuns entre os terminais cotados, como Portonave, APMT e Porto de Itapoá, o

Empresa País WATTS Prazo de

Entrega Garantia

Preço de

Venda FOB

Quantidade

Mínima

Acton Power CO. Limited China 250/255 10 / 30

DIAS

10 a 25

anos

USD$

0.40/WATT 355 peças

Xiaofeng Gao - Suntech China 255 15 DIAS 12 a 25

anos

USD$

0.49/WATT 180 peças

Anhui Daheng Energy

Technology CO., Ltd China 255

7 /10

DIAS

10 a 25

anos

USD$

0.44/WATT 400 peças

Zhejiang BLD Solar

Technology CO., Ltd China 255

10 / 14

DIAS 25 anos

USD$

0.43/WATT 276 peças

Bestsun New Energy CO.,

LTDA China 255

10 / 15

DIAS

5-10 a 25

anos

USD$

105/peça 330 peças

BYD China 255 50 DIAS 12 a 25

anos

USD$

0.52/WATT 270 peças

Foshan Tanfon Energy

Technology CO., LTDA China 255 - 5 anos

USD$

140.00/peça 280ças

Atone Energy China 255 20 DIAS 25 anos USD$

0.46/WATT 320 peças

Jiangsu Sokoyo Solar Lighting

CO. LTDA China 255 - -

USD$

0.55/WATT -

CECEP Solar Technology CO.

LTDA China 255 - 25 anos

USD$

0.473/WATT -

AB Shine China 255 7 DIAS - USD$

0.45/WATT 280 peças

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que determina a escolha do terminal é a origem da importação, pois não são todos os terminais

que recebem determinada rota devido a negociação dos Armadores.

O despacho aduaneiro da mercadoria é realizado por um profissional devidamente

habilitado na Receita Federal do Brasil, o custo deste serviço geralmente é composto pelo valor

da prestação de serviço acrescidos das taxas de expediente e administrativas, devido ao

acompanhamento no desembaraço da mercadoria.

Na pesquisa foi realizado a cotação com 3 despachantes, o que foi observado é que o

valor é baseado de acordo com o contrato firmado com o cliente e também no que se refere ao

volume de importação. Mediante a análise de todos os itens anteriormente citados, utilizou-se

uma planilha para identificar o custo final das placas solar. Desta forma é apresentado na tabela

2 a estimação de custos na importação:

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Tabela 2 – Planilha de Custos

Fonte: Elaborado pela acadêmica.

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Para realizar o comparativo, foi necessário levantar o custo unitário da placa solar no

mercado nacional, tendo como base os valores citados na tabela 8 e valor unitário simulado na

planilha de custo de importação.

Nesta comparação utilizou-se os mesmos parâmetros como: qualidade, prazo de entrega

e garantia, tornando assim uma comparação justa. Dessa forma, é possível identificar que a

importação de painel solar, torna-se viável quando comparado ao valor praticado no mercado

nacional, conforme demonstrado na tabela 03:

Tabela 03 – Comparativo de custos do painel solar importado x mercado nacional.

COMPARATIVO DE CUSTOS

Fornecedores Origem Valor Unitário Fator de Diferença (%)

YingliSola’r Aquisição Nacional R$ 980,00 44,40%

Acton Power Co. Limited Importado R$ 544,85 - 44,40%

Fonte: Elaborado pela acadêmica (2016)

O comparativo apresenta, que o produto importado tem uma diferença de 44,40% abaixo

do que é praticado pelo fornecedor YINGLI SOLA’R no Brasil, o qual comprova que a

importação se faz viável diante do estudo apresentado.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A energia elétrica é um bem que faz parte da vida do ser humano, isso se dá por conta

da revolução industrial e automatização dos processos, fazendo com que sejamos dependentes

de sua continuidade.

Por meio desta pesquisa foi possível identificar que o Brasil possui uma das matrizes de

energia mais limpa do mundo, sendo que a fonte que mais predomina em sua matriz é a

hidrelétrica em função da grande quantidade de rios em nosso país. Porém, este recurso depende

unicamente da força d’água, o que pode ser um grande problema, pois em casos de crise hídrica,

pode ocasionar a necessidade de racionamento de energia, além do aumento do preço.

Por outro lado, outras fontes de energia renováveis vêm ganhando grande destaque em

todo o mundo e a sua importância tem vindo a aumentar ao longo dos anos representando uma

parte considerável da produção de energia mundial. Por essa razão foi identificada a

necessidade de um estudo para o fornecimento de uma nova modalidade de energia, através de

painel solar, que conta exclusivamente com a energia do sol.

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Neste estudo foi possível observar que no Brasil, as importações ocorrem mais em

função da escassez da matéria-prima e, secundariamente, da precária tecnologia associada à

montagem do equipamento adequado, responsável pela agregação do serviço ao produto. E por

se tratar de um produto que demanda alta tecnologia, o Brasil ainda está despreparado para

produção de painéis solares no que tange à tecnologia atualmente disponível, sendo assim

necessária sua importação.

Foi realizado o levantamento de fornecedores chineses, ao qual foi utilizado sites de

buscas na internet para prospecção. A seleção foi realizada com base na idoneidade das

informações dispostas nos sites dos fornecedores, considerando alguns parâmetros antes do

primeiro contato. O fornecedor escolhido, se mostrou competitivo se comparado aos demais,

se destacando pela oferta de valor, prazo de entrega e garantia do produto. Atendendo assim

todas as exigências previamente solicitadas.

Este estudo comprovou a viabilidade da importação de painel solar, por meio do

levantamento dos custos em uma planilha e da análise de outros indicadores fundamentais como

qualidade, prazo de entrega, condições de pagamento, entre outros.

Recomenda-se que a pesquisa seja utilizada pela academia, servindo como base para

projetos futuros, nos quais sugere-se que seja aprofundado o tema no que se refere ao setor de

energia limpa no Brasil, mostrando as vantagens e desvantagens que a estratégia de importação

dos painéis solares pode oferecer as pessoas, empresas, meio ambiente e contexto institucional

por meio do estudo de caso de uma organização.

REFERÊNCIAS

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Paulo: Pearson, 2012.

BRANCO, S. M. Energia e meio ambiente. 2. ed. São Paulo: Moderna, 2004.

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Prentice Hall, 2007.

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ed. São Paulo: Atlas, 2008.

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<http://www.brasil.gov.br/meio-ambiente/2010/11/matriz-energetica>. Acesso em 30 jul.

2016.

PORTAL DA ENERGIA. Aplicações da energia solar: conheça as principais. (2016).

Disponível em: <http://portaldaenergia.com/aplicacoes-da-energia-solar-conheca-as-

principais/>. Acesso em 10 ago. 2016.

RICHARDSON, R. J. et al. Pesquisa Social: métodos e técnicas. 3. ed. São Paulo: Atlas, 1999.

TOLMASQUIM, M. T. Energia Renovável: Hidráulica, Biomassa, Eólica, Solar, Oceânica.

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VILLALVA, M. G.; GAZOLI, J. R. Energia Solar Fotovoltaica: conceitos e aplicações. São

Paulo: Érica, 2013.

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ANÁLISE DE INDICADORES DE LOGÍSTICA REVERSA EM RELATÓRIOS DE

SUSTENTABILIDADE: ESTUDO DE CASO EM UMA REDE VAREJISTA DO

BRASIL

ANALYSIS OF INDICATORS OF REVERSE LOGISTICS IN SUSTAINABILITY

REPORTING: A CASE STUDY IN A BRAZILIAN RETAIL NETWORK

Edna Gessner

Eduarda Dutra de Souza

Carlos Manuel Taboada Rodriguez

RESUMO: O presente estudo tem como objetivo a análise da postura de empresas em relação

à logística reversa e gerenciamento de resíduos. Utilizou-se o método estudo de caso para as

análises, sendo o foco uma empresa do setor varejista essencialmente têxtil. Inicialmente

buscou-se identificar indicadores disponíveis em relatórios de sustentabilidade que

apresentassem dados referentes à práticas de logística reversa nas empresas. A coleta de dados

se baseou em 3 grupos de indicadores, totalizando 6 indicadores de natureza ambiental. A

empresa apresenta fluxos de logística reversa e investe na destinação correta de resíduos

gerados em suas unidades. Apesar da correta destinação, a empresa não apresenta medidas de

redução no consumo de materiais. Não há fluxos reversos de produtos de vestuário em final de

vida útil ou iniciativas de logística reversa nesse sentido. Os dados apresentados em cada

indicador variam em constância ao longo dos anos, o que limitou as análises. Estudos futuros

podem analisar empresas varejistas de outros setores e empresas de outros países.

Palavras-chave: logística reversa, gestão de resíduos, vestuário

ABSTRACT: The present study aims to analyze the posture of companies in relation to reverse

logistics and waste management. The study method used was the case study. The unit of analysis

is a company of the retail sector. Initially, we sought to identify indicators available in

sustainability reports that presented data referring to reverse logistics practices in companies.

Data collection was based on 3 groups of indicators, totaling 6 environmental indicators. The

company presents reverse logistics flows and invests in the correct destination of waste

generated in its units. Despite the correct destination, the company does not present measures

to reduce the consumption of materials. There are no reverse flows of end-of-life clothing

products or reverse logistics initiatives in this regard. The data presented in each indicator

vary in constancy over the years, which limited the assessment. Future studies may look at

retailers from other sectors and companies from other countries.

Keywords: reverse logistics, waste management, apparel

1 INTRODUÇÃO

Empresas tem buscado atender à demanda de seus consumidores por uma postura

corporativa mais sustentável. Divulgação de relatórios de sustentabilidade, adoção logística

reversa ou gerenciamento de cadeias de suprimento de circuito fechado são meios de responder

a essa demanda. A logística reversa (LR) e o gerenciamento de cadeias de suprimentos de

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circuito fechado, ou closed loop supply chain management (CLSCM), apresentam benefícios

econômicos e ambientais para empresas, o que justifica a sua presença em diversos setores

industriais e o crescente interesse do meio empresarial e academia (CHOI et al., 2013; HUANG

et al., 2013). A LR já é considerada competência-chave em cadeias de suprimentos, mas

representa uma das iniciativas mais difíceis de implementar quando comparada à outras

competências de cadeias de suprimentos verdes ou sustentáveis (BOUZON et al., 2015).

O crescimento da produção e aumento do consumo representam barreiras para o

desenvolvimento sustentável. Setores, como a indústria do vestuário, que apresentam ciclos de

moda de rápida mudança e práticas de consumo insustentáveis, necessitam maior atenção em

relação ao ciclo de vida de seus produtos. A moda rápida incentiva varejistas a vender grandes

volumes por preços baixos, estimulando uma atitude descartável entre os consumidores

(DISSANAYAKE; SINHA, 2015).

O objetivo da pesquisa é analisar a postura de uma rede varejista do setor de vestuário

em relação a seus processos de gestão de resíduos e logística reversa. A pesquisa é de cunho

qualitativo, sendo adotado o método estudo de caso para responder à pergunta de pesquisa. O

escopo da pesquisa consiste em identificar indicadores de sustentabilidade que representem os

conceitos de logística reversa e cadeia de suprimentos fechada conforme as diretrizes do Global

Reporting Initiative, avaliar esses indicadores e representar os fluxos de materiais da empresa,

buscando identificar fluxos de logística reversa ou de cadeia de suprimentos fechada.

2 REFERENCIAL TEÓRICO

Segundo Bouzon e Rodrigues 2012, a logística reversa (LR) pode ser considerada

como parte da logística verde, pois executa o fechamento do ciclo dos materiais ou produtos.

Rogers e Tibben-Lembkre (1999, p.2) definem a logística reversa como um processo que

engloba o “planejamento, implementação e controle do fluxo (...) de matérias-primas, produtos

acabados e em processo e informações relacionadas a partir do ponto de consumo até o ponto

de origem”, com a finalidade de recuperar o valor ou dar uma disposição adequada. Para atingir

esse objetivo, a empresa deve identificar os itens que serão retornados, determinar se esse item

pode ser vendido como novo ou enviado de volta a um vendedor e por fim decidir onde o item

deve ser enviado, retornar a uma cadeia produtiva, vendido a determinada empresa, reciclado

ou depositado em aterro (TIBBEN‐ LEMBKE, 2002).

O fluxo direto em uma cadeia de suprimentos é programado e processado por

fabricantes e varejistas em determinado período de tempo, enquanto o fluxo reverso inicia no

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consumidor. A cadeia de suprimentos fechada é considerada a união da cadeia reversa com a

tradicional: a cadeia de fornecimento direta envolve o movimento de produtos de fornecedores

a montante para clientes a jusante, enquanto a cadeia de fornecimento inversa envolve o

movimento de produtos usados de clientes para fornecedores a montante (GOVIDAN et al.,

2015; HUANG et al., 2013)

A gestão de resíduos e a logística reversa pode apresentar um desafio ainda maior em

determinados setores, como no setor de vestuário. Isto ocorre devido ao volume de produtos e

consumo, que é alto, e a falta de pontos de coleta que possam conectar consumidores finais e

empresas de remanufatura. DISSANAYAKE e SINHA (2015) afirmam que o crescimento de

canais de logística reversa no setor dependem de um maior envolvimento de varejistas na coleta

de resíduos. CHOI et al. (2013) também afirmam que a efetividade de coleta de produtos usados

depende de um líder varejista para o canal, que é o agente da cadeia mais próximo do cliente.

Consideram-se barreiras para LR no setor de vestuário as restrições de tecnologia e os

ganhos de escala limitados (BOUZON et al., 2015). Empresas de remanufatura tem pouco ou

nenhum controle sobre os fluxos reversos, dependendo em grande parte de fontes imprevisíveis,

como doações de consumidores (DISSANAYAKE; SINHA, 2015). A reciclagem de produtos

de vestuário envolve barreiras e desafios, visto que não é comum considerar o design ecológico

na fase de concepção da peça (HU et al., 2014).

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

O estudo de caso se desenvolveu conforme a Figura 1, seguindo 5 etapas. A primeira

etapa buscou conceituar a logística reversa e cadeias de suprimentos fechadas. A segunda etapa

do estudo de caso, conforme Figura 1, corresponde à busca por indicadores que representassem

volumes e dados sobre a logística reversa e/ou fechamento da cadeia.

Figura 9- Etapas para o Estudo de Caso

Fonte: elaborado pelos autores

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O relatório do Global Reporting Initiative (GRI) orienta empresas a relatar seus

indicadores de forma transparente, além de permitir que as empresas informem sobre seus

impactos econômicos, ambientais e sociais. O relatório do GRI é dividido em três grandes

formas: perfil organizacional, abordagem da gestão da empresa e indicadores de desempenho,

sendo que este último, aborda as esferas econômicas, ambientais e sociais (CHRISTOFI et al.,

2012). Assim, para fins de análise dessa pesquisa, considerou-se apenas dados de relatórios da

empresa disponíveis na base de dados do GRI. Por se tratar de um estudo de caso com base em

dados de um período de 5 anos, as empresas puderam optar por diferentes versões ao longo

desses anos, o que justifica a necessidade de diferenciar o tratamento dado a cada indicador

para as diferentes versões do período. As etapas do estudo são apresentadas em detalhes nas

seções a seguir.

3.1 OBJETO DE ESTUDO

O objeto deste estudo é uma loja varejista do setor têxtil. O varejista escolhido está

presente em todo o território brasileiro e disponibiliza informações de sustentabilidade através

de relatório baseado nas diretrizes Global Reporting Initiative (GRI). A empresa utilizou a

versão G3 em 2012, a versão G3.1 em 2011 e 2013 e a versão G4 em 2014, 2015 e 2016.

3.2 PROCEDIMENTO DE COLETA DE DADOS

A coleta de dados iniciou com uma análise do conteúdo dos relatórios de

sustentabilidade disponibilizado pela empresa varejista do setor têxtil nos últimos 5 anos.

Apenas itens referentes à logística reversa dos relatórios GRI foram considerados: indicadores

da categoria ambiental que correspondem a aspectos materiais, resíduos e produtos e serviços,

divulgados pela empresa nas versões G3, G3.1 e G4. As versões escolhidas apresentam

diferenças na sua forma de apresentação dos indicadores, foram analisados os indicadores EN1,

EN2, EN22, EN24, EN26, EN27 (G3); EN1, EN2, EN22, EN24, EN26, EN27 (G3.1); EN1,

EN2, EN23, EN25, EN27 (G4) composto da área ambiental dos relatórios. Suas definições

podem ser observadas no quadro 1.

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Quadro 6 - Versões dos relatórios de sustentabilidade GRI e indicadores da categoria

Ambiental considerados na pesquisa

Fonte: elaborado pelos autores com base nas diretrizes GRI versões G3, G3.1 e G4.

3.3 PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE DE DADOS

Após coleta dos dados, que correspondem aos indicadores apresentados no Quadro 1,

cada indicador foi analisado individualmente. As análises concentram-se no comportamento

dos indicadores ao longo dos anos em relação à quantidade e frequência de informações

disponíveis. Os dados coletados também permitem uma análise comparativa dos valores ao

longo dos anos, bem como a identificação dos fluxos reversos que ocorrem na cadeia de

suprimentos da rede varejista em estudo. A análise comparativa do período é feita por meio de

cálculo de variações percentuais apresentados nos Quadros 3, 4 e 5. A partir das informações

de fluxos de materiais no relatório GRI, a Figura 1 apresenta os fluxos desses materiais e sua

destinação nos últimos cinco anos.

4 ANÁLISE DOS RESULTADOS

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A empresa divulga relatórios anualmente de sustentabilidade pelo Global Reporting

Initiative desde 2011. A empresa possui relatórios nas versões G3, G3.1 e G4. Os relatórios de

2015 e de 2016, ambos na versão G4, passaram por processo de verificação externa das

informações declaradas pela empresa. Os relatórios da empresa possuem em média 100 páginas

e contem índice de conteúdo conforme indicadores GRI.

O Quadro 2 apresenta a frequência dos indicadores considerados na pesquisa. Dos

indicadores considerados, em 2011 e 2012 a empresa reportou apenas um indicador (EN26),

que corresponde a iniciativas da empresa na mitigação de impactos ambientais de produtos e

serviços. O indicador EN26 foi o que apresentou maior frequência nos relatórios analisados,

sendo que na versão G4 corresponde ao indicador EN27. A empresa reportou estratégias quanto

a mudanças na estrutura das lojas, busca por materiais eco eficientes, troca de lâmpadas e busca

por redução no consumo energético.

Quadro 7- Frequência de Indicadores GRI por Relatório

Fonte: elaborado pelos autores com base na análise de conteúdo de relatórios GRI da empresa.

No relatório de 2013 nos indicadores EN26 e EN27, a empresa apresenta uma

iniciativa que envolve clientes, consumidores e colaboradores no seu programa de gestão de

resíduos sólidos. A linha de produtos é de perfumaria e beleza comprados ou não nas lojas da

rede varejista. A empresa dispõe de coletores em todas as lojas para embalagens e faz a

destinação para descarte ou aterro.

No relatório de 2016, a empresa divulgou nos indicadores EN27 e EN28 que reciclou

96% do total de 1769 toneladas de resíduos gerados pela rede em todo o Brasil em 2015, e

investiu R$455.742,00 em gestão de resíduos.

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Os indicadores EN1 e EN2, sobre materiais utilizados e materiais reciclados utilizados,

são declarados apenas nos relatórios de 2013 e de 2014. Os materiais declarados em EN1 são

apresentados no Quadro 3. Não há informação no relatório quanto à destinação de cada um dos

materiais após sua utilização ou no caso de ocorrer avaria que não permita mais sua utilização.

Mas a partir da análise das variações percentuais entre 2013 e 2014, percebe-se diminuição na

utilização de materiais. As reduções apresentadas são altas, como em relação aos copos

plásticos utilizados, embalagens de papel, sacolas plásticas e toners. No entanto, materiais como

papéis e cabides apresentaram variações positivas altas.

Quadro 3 - Materiais utilizados e respectivos volumes com base no indicador EN1

Fonte: elaborado pelos autores com base na análise de conteúdo de relatórios GRI da empresa.

As sacolas plásticas biodegradáveis e oxibiodegradáveis, assim como os toners são de

origem reciclada e considerados no indicador EN2. Os indicadores da classificação emissões,

efluentes e resíduos com maior frequência são da versão G4, EN23 e EN25. Na versão G3.1 a

informação corresponde aos indicadores EN22 e EN24. Assim, a empresa apresenta dados

referentes ao tipo de material, volume, peso e destinação do material nos relatórios de 2013,

2014 e 2015. A empresa apresentou a relação de materiais e respectivos volumes da mesma

forma, permitindo uma análise comparativa desses volumes ao longo dos três anos.

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Quadro 4- Materiais Reciclados com base nos indicadores EN22 e 24 (G3.1) e EN23 e 25

(G4)

Fonte: elaborado pelos autores com base na análise de conteúdo de relatórios GRI da empresa.

O Quadro 4 apresenta essa análise dos resíduos que tem como destinação a reciclagem

para o período 2013 a 2015. A reciclagem dos materiais apresenta crescimento percentual no

período, mas houve decréscimo na reciclagem dos materiais entre os anos 2013 e 2014, exceto

de papel e papelão. O aumento no volume de material reciclado em 2015 levou a uma variação

percentual positiva para o período.

Quadro 5 - Materiais com destinações diversas com base nos indicadores EN22 e 24 (G3.1) e

EN23 e 25 (G4)

Fonte: elaborado pelos autores com base na análise de conteúdo de relatórios GRI da empresa.

Os indicadores também apresentam volumes de materiais que foram destinados a

aterro industrial, bem como co-processamento e descontaminação para posterior reciclagem.

Esses volumes são apresentados no Quadro 5 com a relação de materiais e destinação. As

variações percentuais para o período entre 2013 e 2015 foram positivas e altas para embalagens

de produtos de beleza e perfumaria, bem como pilhas e baterias e lâmpadas fluorescentes.

Lampas fluorescentes apresentam decréscimo de volume entre 2014 e 2015, apesar da variação

positiva no período. As variações anuais são positivas entre 2013 e 2014, exceto para resíduos

não perigosos, sucatas diversas e outros resíduos perigosos.

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Após a identificação de materiais e fluxos, a Figura 2 resume os fluxos de materiais

declarados pela empresa em seus relatórios Global Reporting Initiave entre 2011 e 2016 por

meio dos indicadores listados no Quadro 1 e analisados na pesquisa.

Figura 10- Fluxos de materiais com base nos dados declarados nos relatórios GRI da empresa

Fonte: elaborado pelos autores com base na análise dos dados de relatórios de sustentabilidade

GRI da empresa.

Os dados declarados no relatório GRI nem sempre correspondem a o que o indicador

tem como proposta, a empresa divulga apenas em parte, geralmente a que lhe interessar. Tem

divergência no que propõem o indicador GRI e o que a empresa realmente divulga. A análise

de dados considera os dados que a empresa disponibiliza, sendo essa falta de dados completos

uma possível limitação.

Indicadores GRI permitem que empresas que divulgam relatórios apresentem

informações para partes interessadas, ou stakeholders, quanto ao seu desempenho em questões

de sustentabilidade ambiental, social e econômica. A unidade de análise desse estudo não

publicou relatórios completos ao longo do período, o que não permitiu análises mais

aprofundadas sobre seu desempenho na gestão de resíduos e logística reversa. A empresa

também não seguiu completamente as diretrizes do GRI, sendo que os dados divulgados nos

indicadores em análise não contêm toda a informação que prevê o indicador. No caso dos

indicadores sobre produtos e serviços, EN26 e EN27 versão G3 e G3.1, e EN27 e EN28 versão

G4, os dados não fornecem volumes específicos, apenas valores e iniciativas gerais.

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Os indicadores EN1 e EN2 sobre principais materiais utilizados, respectivos volumes

e insumos reciclados são discriminados apenas nos anos 2013 e 2014. A empresa utiliza apenas

sacolas recicladas e toners, sendo possível ampliar a utilização de insumos reciclados ou

diminuir a utilização de insumos não reciclados. Assim, a empresa pode aumentar o consumo

de materiais reciclados trocando as versões tradicionais de insumos por versões recicladas,

como papéis A4 e de catálogo em versões recicladas. Os indicadores EN22 e EN24 versões G3

e G3.1, e EN23 e EN25 versão G4, de 2013, 2014 e 2015 apresentam a destinação dos resíduos

de materiais utilizados na empresa. A empresa destina materiais para a reciclagem, aterros

industriais, descontaminação no caso de lâmpadas fluorescentes para posterior reciclagem e co-

processamento.

A Figura 2 possibilita visualizar entrada de materiais e sua destinação. A empresa

produz grande quantidade de resíduos e recicla 96% de seus resíduos. Apesar de gerenciar seus

resíduos e reciclá-los, a empresa aumentou a quantidade de resíduos gerados no período. A

logística reversa pode ser considerada parte da logística verde, ou seja, apesar de investir

esforços na reciclagem, as operações não são necessariamente verdes ou de sustentabilidade

ambiental (BOUZON; RODRIGUES, 2012).

O varejista possui iniciativa que envolve também clientes e consumidores para a

reciclagem de embalagens e produtos de beleza e perfumaria, incluindo produtos que não são

comercializados nas lojas. A empresa se responsabiliza pela destinação correta desses resíduos,

estimulando clientes e consumidores a reciclarem seus resíduos. A empresa não declara

informações quanto à destinação de produtos comercializados que apresentem defeitos ou que

sofreram avarias nas lojas.

A empresa não menciona processos de logística reversa referentes a produtos de

vestuário em final de vida útil. Não há registro de iniciativa que envolva o consumidor final e

a coleta de vestuário em final de vida útil. Algumas empresas varejistas do setor possuem

sistemas de devolução que beneficiam instituições de caridade e que promovem a reciclagem

de roupas (DISSANAYAKE; SINHA, 2015). A falta de iniciativas pode ser justificada pela

legislação do Brasil, que carece de conscientização quanto ao gerenciamento de resíduo e

gerenciamento de ciclo de vida de produtos (BOUZON et al., 2015). Ainda, essa falta de

iniciativas prejudica o crescimento de canais de logística reversa no setor, visto que o papel dos

varejistas é importante nesses processos, principalmente para atividades de remanufatura

(CHOI et al., 2013; DISSANAYAKE; SINHA, 2015).

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A empresa investe em sustentabilidade ambiental a partir do gerenciamento de seus

resíduos, mas não se encaixa em conceitos como logística verde e cadeia fechada. A logística

verde considera aspectos de desempenho ambiental em suas atividades e cadeias fechadas

buscam a recuperação de valor de materiais e produtos (GOVIDAN; SOLEIMANI; KANNAN;

2015; HUANG et al., 2013). Nesse sentido, a empresa não considera o desempenho ambiental

em suas atividades de logística reversa, e não há preocupação na recuperação de valor e

fechamento do ciclo de materiais e produtos.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente estudo contribuiu ao identificar práticas de logística reversa e de gestão de

materiais em uma empresa varejista brasileira. A pesquisa identificou indicadores GRI que

correspondem às informações quanto à práticas de logística reversa e fechamento da cadeia de

suprimentos, bem como analisou os dados publicados pela empresa em um período de cinco

anos, fornecendo uma avaliação qualitativa da evolução dos indicadores no período.

Identificaram-se os fluxos de materiais e a aplicabilidade de conceitos de logística verde e de

fechamento da cadeia. Na unidade de análise, não há evidências de que se pratique a logística

verde ou o fechamento da cadeia, apenas processos de logística reversa e de gestão de resíduos.

A empresa também não apresentou iniciativas de logística reversa que contribuam de forma

significativa para canais reversos no setor de vestuário. O foco de suas iniciativas está no

gerenciamento de materiais, e não em gerenciamento de ciclo de vida de produtos

comercializados.

Estudos futuros podem contribuir através de comparação do desempenho de outras

empresas varejistas nacionais ou do exterior e resultados dessa pesquisa, identificando práticas

de logística reversa em outras empresas. Esse estudo tem limitações pela disponibilidade de

dados, visto que a empresa não relatou os dados de forma constante no período estudado. Além

disso, trata-se de um estudo de caso único, que não permite a generalização em relação ao país

ou setor de análise.

REFERÊNCIAS

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sustentáveis: Afinal, sua empresa possui uma Logística Verde ou opera em uma Cadeia de

Suprimentos Sustentável?. Mundo Logística, São Paulo, v. 29, n. 0, p.72-77, ago. 2012.

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PESQUISA BIBLIOGRÁFICA SOBRE A GESTÃO SUSTENTÁVEL DA CADEIA DE

SUPRIMENTOS: ANÁLISE DE PROPOSTAS PARA MONITORAMENTO DA

TRÍADE DA SUSTENTABILIDADE

BIBLIOGRAPHIC RESEARCH IN SUSTAINABLE SUPPLY CHAIN MANAGEMENT:

ANALYSIS OF PROPOSALS FOR TRIPLE BOTTOM LINE MONITORING

Gabriela Benderóvicz Mendes Ribeiro1

Maria Auxiliadora Cannarozzo Tinoco2

RESUMO: Uma revisão sistemática da literatura de artigos publicados durante os últimos

cinco anos foi realizada analisando modelos desenvolvidos para mensurar o desempenho

sustentável de cadeias de suprimentos. Entre os modelos de avaliação analisados, a sua maioria

aborda a utilização de análise de multicritério, sendo frequentemente utilizada em combinação

com outras técnicas. O estudo mostra que a quantificação dos impactos da gestão sustentável

da cadeia de fornecimento ainda é um tema amplamente discutido na literatura a partir do qual

não é possível identificar uma convergência nos modelos publicados, sendo necessário o

desenvolvimento de um modelo simplificado que facilite sua utilização em diferentes áreas

industriais.

Palavras-chave: Desempenho Sustentável da Cadeia de Suprimentos. Modelo Sustentável.

Gestão Sustentável da Cadeia de Suprimentos.

ABSTRACT: A systematic literature review of articles published during the last five years was

conducted evaluating methods developed to measure sustainable performance of supply chains.

Among the assessments analyzed, the majority addresses the use of multicriteria analysis which

is often used in combination with other techniques. The review shows that quantification of

sustainable supply chain management impacts is still a topic widely discussed in literature and

it is not possible to identify a convergence in the published models, being necessary the

development of a simplified model which facilitates its use in different industrial areas.

Keywords: Sustainable Supply Chain Assessments. Sustainable Framework. Sustainable

Supplier Chain Management.

1 INTRODUÇÃO

A exigência constante de redução de custo e otimização de processos no cenário

industrial demanda a necessidade do uso eficiente dos recursos para evitar seu esgotamento e

desperdício, reduzir os impactos socioambientais e tornar os meios de produção e consumo

mais sustentáveis. Tais práticas além de influenciarem positivamente o meio ambiente e a

sociedade, também trazem benefícios econômicos em longo prazo e vantagens competitivas

1 Acadêmico(a) do curso de Mestrado em Engenharia de Produção da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

E-mail: [email protected] 2 Professor(a) orientador(a) Pós-doutora em Engenharia de Produção da Universidade Federal do Rio Grande do

Sul. E-mail: [email protected]

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(CHOPRA e MEINDL, 2012). Nesse contexto, as práticas de Gestão Sustentável da Cadeia de

Fornecimento (SSCM – Sustainable Supply Chain Management) demandam uma série de

mudanças gerenciais, estruturais e organizacionais ao longo da cadeia, tais como inserção de

relacionamentos mais colaborativos com fornecedores e clientes, redução do impacto ambiental

dos produtos e valorização social de colaboradores e comunidades (SAMPAIO, 2007).

As primeiras referências à gestão da cadeia de suprimentos (Supply Chain Management

– SCM) focavam, tanto na teoria quanto na prática, em questões relacionadas à integração de

processos entre parceiros da cadeia, análise de custo-eficiência dos fornecedores e serviços aos

consumidores (BRITO e BARARDI, 2010). Contudo, ao abordar a discussão ambiental e social

sob o contexto dos impactos de produção e consumo, novos interesses surgiram aproximando

a visão tradicional da gestão de operações – lucro e eficiência, a aspectos mais amplos

relacionados aos públicos de interesse e ao meio ambiente (CARVALHO e BARBIERI, 2012).

Na última década evidenciou-se um crescimento significativo na publicação de

trabalhos com o tema SSCM (e.g. BRITO e BARARDI, 2010; ASHBY et al., 2012;

TOUBOULIC e WALKER, 2015). Partindo inicialmente da definição de sustentabilidade,

muitos estudos mostraram a interação entre suas dimensões na busca por uma cadeia de

suprimentos economicamente viável e sustentável (CARVALHO e BARBIERI, 2012;

KNEMEYER, 2013; SOUZA et al., 2014). As dimensões do desenvolvimento sustentável em

uma cadeia de suprimentos estão baseadas em três pilares: sociais, econômicos e ambientais os

quais devem ser internalizados para que uma organização se qualifique como sustentável

(CHOPRA e MEINDL, 2012; CHIN et al., 2015).

Alguns estudos apresentam abordagens e modelos para a avaliação do desempenho

sustentável em cadeias de suprimentos baseados em dimensões relacionadas ao tripé da

sustentabilidade e indicadores de desempenho (e.g. NESS et al., 2007; GASPARATOS et al.,

2008; DELAI e TAKAHASHI, 2011). Porém, não há consenso na literatura em relação à

abordagem mais apropriada para mensurar o desempenho sustentável da integração da cadeia

de suprimentos (SANTOS e BRANDI, 2015), permanecendo uma lacuna em publicações que

usem indicadores monetizados para avaliar o desempenho ambiental e o social nas cadeias de

suprimentos.

O principal objetivo deste artigo é realizar uma revisão bibliográfica detalhada das

publicações entre os anos 2012 e 2017 que abordem o tema Gestão Sustentável da Cadeia de

Suprimentos e apresentem propostas para mensurar os impactos da implantação da tríade da

sustentabilidade.

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A metodologia utilizada nesta pesquisa é de natureza básica, dado que será desenvolvido

um estudo teórico sem a realização de uma aplicação prática. Para Caldas (1986) a pesquisa

bibliográfica representa a coleta e armazenagem de dados de entrada, seguida do processamento

das publicações existentes sobre o assunto ou problema em estudo, seleção, leitura e

classificação das informações relevantes. Assim, a metodologia deste trabalho foi organizada

pelas seguintes etapas:

(i) Definição do problema da Pesquisa: nesta etapa foi definido como problema

principal de pesquisa a lacuna existente na literatura sobre métodos e métricas de avaliação

sustentável de cadeias de suprimentos;

(ii) Definição das bases de dados a serem consultadas: foram selecionadas diferentes

fontes de dados (publicações acadêmicas em periódicos, revistas e eventos nacionais e

internacionais), incluindo estudos teóricos e empíricos sobre a gestão e avaliação sustentável

de cadeias de suprimentos em diversos segmentos industriais. A pesquisa foi realizada através

do Portal Periódicos Capes;

(iii) Definição dos critérios e período de busca: foram utilizados como critério de

busca os termos “Assessment Sustainable Supply Chain Management” junto com as seguintes

palavras: “methods”, “metrics”, “monetary assessment”. O período de busca incluiu

publicações de 2012 a 2017. Os termos também foram pesquisados em português;

(iv) Aplicação de filtros: a busca foi refinada através dos tópicos “Ecological

Impact”, “Economic Impact”, “Performance Evaluation” e “Supply Chain Management”;

(v) Análise de resumos: a partir dos artigos encontrados, foram selecionados os

artigos alinhados ao tema e excluídos os que estavam em duplicidade;

(vi) Análise do conteúdo dos artigos: leitura e discussão dos conceitos e aplicações

dos trabalhos analisados. A análise incluiu a identificação do número de publicações por tipo

de produto da cadeia, por periódico, por país e pelo tipo de método (abordagem) utilizado na

avaliação.

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 GESTÃO DA CADEIA DE SUPRIMENTOS E SUSTENTABILIDADE

Existem diferentes visões sobre SCM (SAMPAIO, 2007), desde puramente logística –

o que efetivamente não contempla uma abordagem integrada das diversas funções da cadeia

(produção, suprimentos, compras, logística e relacionamentos com fornecedores e clientes) –

até um entendimento mais avançado de que a SCM seria uma combinação de funções de

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suprimentos, produção e logística, abrangendo tarefas mais complexas de modo a agregar valor

aos clientes e demais parceiros estratégicos, também chamados de stakeholders (BRITO e

BERARDI, 2010).

A literatura sobre gestão da cadeia de suprimentos evidencia uma área de forte

importância estratégica e vantagem competitiva, pela capacidade em estabelecer um estreito e

duradouro relacionamento com stakeholders, tornando-se um fator crucial para a criação de

vantagem competitiva (BALLOU, 2006; ANDERSEN e SKJOETT-LARSEN, 2009; ROSS,

2013). De acordo com Ballou (2006), a gestão da cadeia de suprimentos integra todas as

atividades associadas com a transformação incluindo o fluxo de informação necessário para a

sua gestão.

No âmbito sustentável, a SCM tem um papel fundamental no aumento do desempenho,

capacidade de demanda ao longo da cadeia como também no monitoramento, medição e

programas de melhoria e redução de custo. Assim, o termo sustentabilidade é utilizado no

discurso empresarial para definir as preocupações com as três dimensões das operações de

negócios: financeira, ambiental e social, as quais são referidas na literatura como Triple Bottom

Line (TBL) (SILVESTRE, 2016).

Chopra e Meindl (2012) definem sustentabilidade como uma estratégia de negócios que

se relaciona estreitamente com a responsabilidade social corporativa. Contudo, o debate de

estratégias ambientais distancia-se um pouco das argumentações de lideranças de custos, eco

eficiência ou produtos específicos. Muitas empresas adotam práticas socioambientais para

cumprimento da legislação e manutenção de suas licenças de operação. Por outro lado, com a

elevação da discussão ambiental e social associada à questões econômicas, novos interesses

despontaram: logística reversa, gestão ambiental, cadeia de suprimento verde e cadeia de

suprimento sustentável, trazendo assim diferenciais no desempenho e maior vantagem

competitiva (MATOS e SILVESTRE, 2013; SILVESTRE, 2016).

2.2 GESTÃO SUSTENTÁVEL DA CADEIA DE SUPRIMENTOS (SSCM)

Empresas iniciaram a implementação de práticas de SSCM devido à exigências de

clientes por produtos e serviços ambientalmente sustentáveis e desenvolvidos por meio de

práticas sustentáveis, demanda originalmente de regulamentações governamentais. Tais

práticas exigiam que os fabricantes trabalhassem em conjunto com fornecedores e clientes em

busca de ecoeficiência e menores custos (BRITO e BERARDI, 2010; GREEN et al., 2012).

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A SSCM promove eficiência e interação entre os parceiros do negócio que contribuem

para um aumento do desempenho ambiental, minimizando desperdícios e auxiliando na

economia de custos. Brito e Berardi (2010), em seu estudo baseado em artigos empíricos

utilizados na pesquisa de Seuring e Müller (2008, apud BRITO e BERARDI, 2010), buscaram

reconhecer a relação de parceria na SSCM como fonte de vantagem competitiva e concluíram

que as iniciativas da SSCM pesquisadas encaixaram-se no contexto da pressão ambiental por

padrões mínimos e paridade competitiva. A literatura também mostra claramente que as

empresas que usam soluções holísticas e trabalham em estreita colaboração com seus parceiros

da cadeia de suprimentos para gerenciar os trade-offs entre as três dimensões do TBL terão

melhor desempenho nos negócios (MATOS e SILVESTRE, 2013), ou seja, a sustentabilidade

deve estar associada a toda a cadeia de suprimentos, inclusive a seus stakeholders secundários

(tais como governo, ONGs, mídia e universidades). Dessa forma os índices de sustentabilidade

são cada vez mais reconhecidos como uma ferramenta útil para avaliar a contribuição do tripé

da sustentabilidade a cada nível de relacionamento da cadeia, permitindo aos tomadores de

decisão simplificar, quantificar e analisar as informações complexas (BOUKHERROUB, 2015;

XU et al., 2016).

Seuring (2013) divide os modelos de sustentabilidade em quatro categorias: baseados

na avaliação do ciclo de vida (LCA), modelos de equilíbrio, tomada de decisão multicritério

(MCDM) e aplicações do processo de análise hierárquica (AHP). Mardani et al.(2015)

agruparam a investigação em quatro áreas: engenharia, gestão e negócios, ciência e tecnologia;

concluindo após a análise que a utilização de lógica difusa teve maior representatividade entre

os trabalhos estudados, sendo os métodos híbridos fuzzy integrado e fuzzy MCDM os mais

comumente utilizados.

3 ANÁLISE DOS RESULTADOS

A pesquisa através dos critérios descritos anteriormente resultou em 122 artigos dos

quais foram excluídos os que apresentavam duplicidade e os não relacionados ao tema,

resultando em 27 trabalhos concentrados em 11 periódicos, conforme distribuição descrita na

Tabela 1.

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Tabela 1: Relação do número de publicações encontradas em seus respectivos periódicos.

Periódicos em ordem alfabética Artigos de acordo com os

critérios de busca

Relacionados ao

tema

Annals of Operations Research 5 3

British Food Journal 3 0

Clean Technologies and Environmental Policy 3 1

Decision Support Systems 3 2

European Journal of Operational Research 9 5

Facilities 3 0

Inter. Journal of Operations and Production Management 16 2

Inter. Journal of Physical Distribution & Logistics

Management

17 3

Inter. Journal of Production Economics 11 1

Journal of Cleaner Production 12 6

Journal of Enterprise Information Management 4 0

Journal of Industrial Eng. and Management 4 1

Journal of Manufacturing Technology Management 6 1

Journal of Supply Chain Management 7 2

Logistics Research 3 0

Supply Chain Management: An Intern. Journal 7 0

Techn. and Economic Development of Economy 5 0

Water Resources Management 4 0

Total 122 27

Fonte: Elaborado pelos autores (2017).

Alguns autores apresentaram revisões bibliográficas das últimas décadas contemplando os

modelos quantitativos utilizados para mensurar as dimensões da sustentabilidade (SEURING,

2013; SEURING e GOLD, 2013; WINTER e KNEMEYER, 2013; GOLICIC e SMITH, 2013;

LUTHRA et al., 2013; PAGELL e SHEVCHENKO, 2014; BRANDENBURG et al., 2014;

BRADENBURG e REBS, 2015; NTABE et al., 2015). Seuring (2013) analisou mais de 300

artigos publicados entre 1997 e 2012 dos quais apenas 36 apresentaram modelagem

quantitativa, sendo que apenas 2 tratavam de questões sociais integradas às três dimensões da

sustentabilidade.

A maioria dos trabalhos apresentava modelos através da avaliação do ciclo de vida;

seguido de modelos de equilíbrio, utilizando balanceamento de fatores ambientais e

econômicos. Brandenburg et al. (2014) classificaram os estudos pesquisados de acordo com o

tipo de modelagem, técnica e abordagem de solução, tipo de indústria estudado e a distribuição

de acordo com cada dimensão da sustentabilidade, concluindo que a maioria dos trabalhos

abordou questões ambientais e econômicas, em detrimento da dimensão social. Em outro estudo

bibliométrico, Bradenburg e Rebs (2015) evidenciaram que 75% dos trabalhos publicados entre

1994 e 2014 apresentavam considerações econômicas quando investigadas as dimensões da

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sustentabilidade. Desses, a dimensão ambiental estava presente na maioria, por sua vez apenas

um apresentou modelagem social e três, modelagem socioeconômica.

Desconsiderando os trabalhos que apresentaram revisões bibliográficas na SSCM, o

método com maior representatividade neste estudo foi o de análise multicritério com 5

publicações, seguido da otimização multi-objetivo com 3 publicações. A Tabela 2 mostra a

relação de publicações de acordo com cada abordagem utilizada na mensuração da SSCM.

Tabela 2: Relação dos modelos utilizados para quantificar a gestão sustentável de cadeias de fornecimento e o

número de publicações encontradas para cada modelo.

Método utilizado1 Trabalhos publicados

Análise multicritério 5

Otimização multi-objetivo 3

Análise multivariada 2

Análise hierárquica 2

Lógica Difusa 2

Sistema dinâmico não linear 1

Programação linear 1

Método Delphi 1

Outros métodos 2

Fonte: Elaborado pelos autores (2017).

Outros autores apresentaram modelos de análise multicritério (MACHARIS et al., 2012;

PEROTTI et al., 2012; DING et al., 2016; MULYATI e GELDERMANN, 2017; BANASIK et

al., 2017), otimização multi-objetivo (DEVIKA et al., 2014; BOONSOTHANSATIT et al.,

2015; GOVINDAN et al., 2015) e análise multivariada (HAGUIGUI et al., 2016; CHEN et al.,

2012).

Com suas particularidades, Macharis et al. (2012) utilizaram análise multicritério

incluindo multi-atores, ou seja, incluíram os diferentes stakeholders da cadeia. De acordo com

os autores, a adição de multi-atores à análise multicritério tradicional permitiu que os critérios

representassem as metas e objetivos dos múltipos stakeholders. Em outra abordagem, Mulyati

e Geldermann (2017) utilizaram o método de análise de decisão multicritério para avaliação das

estratégias de mitigação de risco considerando critérios de sustentabilidade. Os autores

utilizaram uma abordagem semiquantitativa através das entrevistas e dados quantitativos de

consumo de água, resíduos sólidos e custos econômicos relacionado à cadeia de suprimentos

analisada. Banasik et al. (2017) desenvolveram um modelo matemático multicritério integrando

programação linear inteira mista para auxiliar a tomada de decisões numa cadeia de suprimentos

para alimentos.

1 A Tabela 2 considera o método principal abordado, desconsiderando a utilização de métodos mistos aplicados.

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Na utilização de modelos de otimização multi-objetivo, Devika et al. (2014) modelaram

uma rede de cadeia de suprimentos em ciclo fechado e desenvolveram um modelo de

programação inteira misto para otimização multi-objetiva. Boonsothansatit et al. (2015)

integraram à otimização multi-objetivo, a programação de lógica difusa através de um

algoritmo, concluindo que o método proposto foi capaz de otimizar custo, prazo e impacto

ambiental. A validação do algoritmo foi realizada em uma multinacional de médio porte

localizada na Tailândia. Em outro estudo, Govindan et al. (2015) propuseram um modelo de

otimização multi-objetivo com o objetivo de minimizar os custos totais e efeitos ambientais

integrando simultaneamente o problema de alocação de pedidos sustentável no design da rede

da cadeia de suprimentos. Com essa abordagem, os autores desenvolveram uma nova

modelagem construída através de dois algoritmos multiobjetivos e comprovaram seus

resultados através da aplicação em um estudo de caso na indústria automobilística.

Utilizando a análise multivariada, Haguigui et al. (2016) propuseram um modelo híbrido

baseado no monitoramento de produtividade de unidades de decisão e no Balanced Scorecard

(BSC) através do qual, critérios de desempenho financeiros e não financeiros e estratégias a

curto e longo prazo foram consideradas. Dessa forma, os autores utilizaram o mapeamento da

cadeia de suprimentos a partir do ponto de vista da sustentabilidade e das perspectivas do BSC

e analisaram os pontos fortes e fracos de cada cadeia. Na mesma linha de abordagem, Chen et

al (2012) propuseram um modelo para avaliação do desempenho de designs sustentáveis através

da técnica multivariável em dois estágios para encontrar as maneiras eco eficientes e alcançar

melhores desempenhos ambientais através de design de produto.

Entre os artigos analisados, modelos matemáticos baseados em sistema dinâmico não

linear (WANG e GUNASEKARAN, 2017), programação linear de inteiros múltiplos (BING et

al., 2013) e análise hierárquica (SARKIS et al., 2012; ORDOUEI et al., 2016) foram utilizados

com o objetivo de quantificar o desempenho da sustentabilidade em diferentes indústrias e

auxiliar na tomada de decisão.

A utilização do índice de sustentabilidade IRE-index foi apresentada por Koh et al.

(2016) como modelagem para avaliar a eficiência e a sustentabilidade dos recursos em

operações de produção nas cadeias de suprimento globais. O estudo utilizou múltiplas

regressões para examinar e comparar índices de desenvolvimento humano e IRE-index de

diferentes países. Azevedo et al. (2013) sugeriram um índice baseado em práticas verdes e

resilientes, a partir de um modelo utilizando a técnica Delphi. A aplicação do modelo na cadeia

de suprimentos automotiva mostrou grande contribuição na competitividade principalmente

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devido ao fator resiliência. A prática verde identificou a redução de consumo energético o maior

contribuinte para resultados sustentáveis.

Chin-Chun Hsu et al. (2013) utilizaram um survey baseado na ISO 14001 questionando

as principais motivações das empresas localizadas na Malásia em adotarem a gestão da cadeia

de suprimentos verde. A partir das respostas, utilizaram lógica difusa para analisar os dados e

validar a hipótese da pesquisa. Na mesma linha, Ntabe et al. (2015) utilizaram uma ferramenta

de diagnóstico por lógica difusa para a avaliação do desempenho financeiro da cadeia e como

apoio à decisões estratégicas.

Xia et al. (2015) apresentaram um modelo relacionando o desempenho social de uma

empresa com ganhos econômicos através de testes numéricos e análises de sensibilidade. O

resultado da análise demonstrou que investimentos proativos na responsabilidade social da

cadeia de suprimentos podem aumentar a vantagem competitiva e o desempenho econômico de

uma empresa.

Classificando as publicações estudadas de acordo com o local de publicação (Tabela 3),

é possível observar que a Europa concentra o maior número de trabalhos encontrados nesta

pesquisa, embora os Estados Unidos da América tenha sido o país que apresentou maior

quantidade de artigos de acordo com o critério de pesquisa.

Tabela 3: Classificação dos trabalhos estudados de acordo com local de publicação.

Países / Continentes América Europa Ásia Total

Alemanha 1 1

Canada 1 1

China 1 1

Coreia 1 1

Dinamarca 2 2

Holanda 2 2

Indonesia 1 1

Irã 1 1

Itália 1 1

Malásia 1 1

Portugal 1 1

UK 2 2

USA 4 4

Total 5 9 5 19

Fonte: Elaborado pelos autores (2017).

Com relação ao tipo de produto das cadeias estudadas, a Figura 1 mostra que a maioria

das aplicações dos modelos propostos foi realizada na indústria automobilística, seguida da

cadeia alimentícia.

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Gráfico 1: Classificação das publicações de acordo com o produto da cadeia de suprimentos.

Fonte: Elaborado pelos autores (2017).

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho apresentou uma revisão dos modelos apresentados nos últimos anos

para mensurar os impactos da gestão da cadeia de suprimentos sustentável nas suas três

dimensões: ambiental, econômica e social. A análise mostra que o tema ainda é discutido

na literatura e não é possível identificar uma convergência em relação à abordagem mais

apropriada para mensurar o desempenho sustentável da integração da cadeia de

suprimentos (SANTOS e BRANDI, 2015).

Também conclui-se que as abordagens até hoje apresentadas aplicam-se a

realidades específicas, sendo necessário o desenvolvimento de um modelo simplificado

que facilite sua utilização em diferentes áreas industriais. Por outro lado, todos os autores

mostraram ganhos na gestão sustentável da cadeia de fornecimentos, em sua maioria no

âmbito econômico e ambiental. Dessa forma resta aprofundar a pesquisa sobre ganhos

sociais e sua abrangência no desempenho sustentável da cadeia de suprimentos.

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4

4

3

2

2

1

1

1

1

Automobilist ica

Mais de um modelo

Aliment ícia

Reciclagem de Plást ico

Modelos empíricos

Biomassa

Hidrogenação

Industria de vidros

Industria têxt il

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INTERLOCUÇÕES ENTRE SUSTENTABILIDADE E MODA: EXPOSIÇÃO DE UM

MÉTODO DE ENSINO-APRENDIZAGEM

INTERLOCUTIONS BETWEEN SUSTAINABILITY AND FASHION: EXPOSURE OF

A METHOD OF TEACHING-LEARNING

Wallace Nóbrega LOPO1

Grazyella Cristina Oliveira de AGUIAR²

Mara Lúcia FIGUEIREDO³

Catia Rosana Lange de AGUIAR4

Resumo: O atual cenário mundial na indústria têxtil, no que se refere a mercado,

competitividade e responsabilidade sócio ambiental, faz crescer a indissociabilidade entre moda

e sustentabilidade. O presente artigo teve por objetivo principal expor um método ensino-

aprendizagem, fruto de um estudo de caso do curso de Bacharelado em Design de Moda,

permitindo desenvolver uma coleção de vestuário a partir de uma temática sobre

sustentabilidade. Além da temática repleta de elementos visuais, a coleção foi criada a partir

das diferentes dimensões da sustentabilidade, ao se inspirar na macrotendência upcycling que

consiste no reaproveitamento de resíduos e têxteis descartados na fabricação de novos produtos.

Um dos resultados foi o desfile das peças confeccionadas em um evento organizado pelo curso.

Palavras-chave: Ensino-aprendizagem; Sustentabilidade; Moda.

Abstract: The current world scenario in the textile industry, in terms of market,

competitiveness and socio-environmental responsibility, makes the inseparability between

fashion and sustainability grow. The present articlehas as main objective to present a teaching-

learning method fromof a Bachelor's degree in Fashion Design. The project was developed in

an interdisciplinary way and its main objective was to develop a clothing collection based on

a sustainability theme. In addition to the theme full of visual elements, the collection was

created from the different dimensions of sustainability, inspired by the macrocyclical upcycling

that consists in the reuse of waste and discarded textiles in the manufacture of new products.

One of the results was the parade of the pieces made in an event organized by the course.

Key words: Teaching-learning; Sustainability; Fashion.

1 INTRODUÇÃO

A indústria da moda e vestuário é a terceira atividade econômica em termos de geração

de renda e movimentações financeiras (BERLIM, 2012). Por sua vez é uma das indústrias que

mais contribui negativamente para o meio ambiente, o que muitas vezes poderia ser evitado.

O trabalho aqui apresentado é fruto da interdisciplinaridade moda e sustentabilidade.

Isto é, esta integração teve como objetivo central desenvolver uma coleção de moda, tendo

1Professor. Centro Universitário de Brusque. E-mail: [email protected]

²Professora. UFSC. E-mail: [email protected]

³Professora. Centro Universitário de Brusque. E-mail: [email protected] 4Professora. UFSC. E-mail: [email protected]

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como base a reflexão sobre as diferentes dimensões da sustentabilidade. No primeiro semestre

de 2015, a temática que forneceu subsídios para a abstração visual e estética foi a “Arte

Brasileira”, a qual, por sua riqueza e diversidade, possibilita infinitas incursões. A pesquisa

buscou transpor a linguagem visual presente nas obras artísticas, por meio de uma coleção que

utilizasse uma linguagem visual análoga, tecendo os diferentes tipos de inscrições: cores,

formas, texturas. Tendo como base o tema central, foram pesquisados alguns subtemas que, de

certa forma, pudessem caracterizar esta tendência. Além da temática repleta de elementos

visuais, a coleção foi criada a partir das diferentes dimensões da sustentabilidade, ao se inspirar

na macrotendência upcycling que consiste no reaproveitamento de resíduos e têxteis

descartados na fabricação de novos produtos.

Algumas perguntas orientadoras nortearam o desenvolvimento do projeto: O que é

moda? O que é sustentabilidade? Como promover o resgate da história e da cultura na

construção de um produto de moda? Como desenvolver uma coleção de moda experimentando

diferentes ferramentas de design e aplicando-as ao projeto? Como desenvolver uma coleção de

moda que considere as diferentes dimensões da sustentabilidade e busque minimizar os

impactos da crise ambiental, aliando mudança de atitude, design e moda? Assim, o objetivo do

trabalho foi levantar questões para possíveis reflexões.

Nexte contexto, o presente trabalho objetiva lançar luz sobre as melhores práticas para

desenvolver coleção de moda tendo como base as dimensões da sustentabilidade.

2 REVISÃO DA LITERATURA

Há diferentes dimensões da sustentabilidade inseridas na moda: arte, cultura e questões

ambientais. A moda e a arte dialogam entre si, interagem. Há um cruzamento de linguagem,

um emaranhado de ideias que as aproximam. Possuem significados parecidos, são substantivos

“parasitas”, precisam “parasitar-se” a uma mente criadora, para que a obra nasça. Assim como

o artista atribui à sua obra cores, volume, linhas, o designer utiliza-se dos mesmos elementos

em suas peças, coleções. Dá-se a mesma separação quando se atribui a funcionalidade das

roupas com a falta dela na arte.

Todavia, a moda torna-se um divisor de água, quando se fala de prêt-à-porter, em

relação à arte. Ali, as peças são feitas em série, tirando a unicidade e singularidade que só a arte

transmite. Pode-se dizer que a alta-costura aproxima, e o prêt-à-porter, distancia a moda da

arte.

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De acordo com Cidreira (2005), o prét-à-porter, contrariando o que se poderia supor, já

que democratizou a moda, fortaleceu os vínculos entre moda e arte. O lançamento de produções

em série dispensou ações de corte, costura e ajuste das peças nas medidas do cliente, afastando

o costureiro do papel de artesão e liberando-o dessas tarefas para tornar-se “criador de moda”,

terminologia oficial que passa a ser adotada a partir de 1973 pela Chambre Syndicale de la

CoutureParisiense.

De acordo com Eco (1995, p.15), a arte está intrinsicamente ligada a todas as operações

humanas. O autor define arte como sendo uma intuição do sentimento. Ainda, segundo Eco

(1995, p.3), “Gaultier afirmou um dia que a Arte deve ser o fim de si mesma, buscando realizar

a beleza pura, sem se preocupar com a moralidade ou com a utilidade”.

Quem cria deixa sua marca impressa em sua obra. Cria-se um estilo, como propõe Eco

(1995, p.30): “O estilo é o ‘modo de formar’, pessoal, irrepetível, característico; a marca

reconhecível que a pessoa deixa de si mesma na obra; e coincide com o modo como a obra é

formada”. Continuando, o autor complementa: “A pessoa forma-se, portanto, na obra:

compreender a obra é possuir a pessoa do criador feita objeto físico” (ECO, 1995, p.30). Ainda

para Eco,

A pessoa forma na obra “a sua experiência concreta”, a sua vida

interior, a sua irrepetível espiritualidade, a sua reação pessoal ao

ambiente histórico em que vive, os seus pensamentos costumes,

sentimentos, ideais, crenças, aspirações. Sem que com isto se entenda

[...] que o artista se narre a si mesmo na obra; ele manifesta-se nela,

mostra-se nela como modo (ECO, 1995, p.30).

Em uma exposição, em maio de 2003, na galeria do Hotel Lycra® (rua Oscar Freire,

1055- SP), o artista cearense Leonilson (2012, [s.p.]), morto em 1993, comenta o seguinte a

respeito de seu trabalho:

Há trabalhos que eu começo a fazer e que vão ficando malfeitos,

malfeitos e aí eu penso: “não posso tentar fazer alta costura. Isso não é

Balenciaga. Isso é meu trabalho”. Antes eu pensava que a costura tinha

que ser perfeita. E até tentei, só que apanhei tanto. É diferente quando

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um estilista faz uma roupa e quando um artista a faz. São atitudes irmãs,

mas bem diferentes.

Leonilson não foi o primeiro artista a sincronizar a moda com a arte. No MASP, tem-se

no acervo um vestido desenhado por Salvador Dalí. Lygia Clark e Hélio Oiticica, nos anos 60,

criavam obras para serem vestidas. Nos 80, Leda Catunda também se utilizou dos códigos da

indumentária para compor seus objetos. Esses são apenas alguns, dentre outros artistas como

Andy Wharol, Joseph Beuys, Louise Bourgeois, os quais também inscreveram seus nomes no

mesmo panorama.

De forma semelhante, o estilista pernambucano Geová Rodrigues, mais conhecido em

Nova York, onde reside e possui seu ateliê, cria suas obras/roupas a partir de materiais têxteis

descartáveis.

Outro exemplo que relaciona moda, arte e sustentabilidade é exposição que Ronaldo

criou, em 2010, intitulada “Rio São Francisco navegado por Ronaldo Fraga”, em que o estilista

buscou chamar a atenção dos visitantes da mostra, para questões importantes como o desastre

ambiental que ocorre em alguns trechos do Rio São Francisco.

Por meio de sua Instalação, o estilista denuncia problemas como a salinização das águas

que altera fauna e flora, o descarte desenfreado do lixo nas margens do rio, a preocupação com

a preservação da cultura dos que vivem no entorno do rio, os vilarejos e cidades que sumiram

e outras que podem desaparecer ao serem alagadas, a preocupação com o ecossistema que, em

grande escala, está sendo afetado, assim como o desmatamento de uma grande área da região

para modificar o percurso natural do rio.

Igualmente, o que originou a sua pesquisa foi a discussão sobre a transposição do rio,

em 2007, ano em que foi iniciado o projeto de transposição de parte das águas do rio

denominado como "Projeto de Integração do Rio São Francisco com Bacias Hidrográficas do

Nordeste Setentrional". Nesse mesmo ano, Ronaldo começa a fazer suas pesquisas para

desenvolver a sua coleção de verão 2009, “São Francisco”, apresentada no São Paulo Fashion

Week em junho de 2008.

Em entrevista para a repórter Clara Caldeira (2011) do site catraca livre, Ronaldo

comenta que o que o motivou a montar a exposição foi a sua memória afetiva, foi o seu pai que

contava histórias sobre o rio São Francisco, contava histórias para ninar que narravam algumas

lendas do rio. E quando perguntavam para seu pai qual era o lugar mais lindo desse Brasil, ele

respondia: “Qualquer lugar que fique às margens do Rio São Francisco”.

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O rio fazia parte de suas lembranças, de suas memórias, de seu imaginário e, embora

seu pai tivesse morrido quando ele tinha 11 anos, o rio continuava presente em sua vida, por

isso ele decidiu conhecer melhor o percurso do rio, ainda, “natural”, o que deu origem a um

material riquíssimo sobre o tema. Tal estudo, posteriormente, foi transformado em coleção e

exposição, gerando uma verdadeira transposição do rio, traduzida para diferentes linguagens.

Ainda, na entrevista, Ronaldo argumenta que a exposição, além de representar a cultura

popular ribeirinha, pode ter um cunho político: “Falar do rio São Francisco também seria uma

postura política. [...] o que eu chamo atenção é esse desastre ambiental [...] ele só é menor, se

comparado ao desastre cultural, porque é uma cultura. Essa cultura ribeirinha se esvaindo”

(CALDEIRA, 2011).

A exposição possui um site, o qual descreve o processo de inspiração e construção dos

13 diferentes ambientes inusitados, interativos e impactantes que foram construídos por uma

ONG, especialmente para o projeto de Fraga. Já na entrada da exposição, o visitante se deparava

com o ambiente “O Chico morre no mar”, um cenário feito com materiais descartados que

acabam sendo jogados no rio, como garrafa pet, utilizadas para a construção de peixes que

foram pendurados no teto e canudinhos plásticos colados na parede.

Ao fundo, a projeção de um vídeo gravado por Ronaldo Fraga no barco a vapor

Benjamin Guimarães, explicando um pouco da exposição e do tema inspiração. Outro ambiente

marcante é “A voz do Chico”, em que vestidos suspensos, estampados com diferentes carrancas

emitiam o “som do Chico”, representado pelo poema “Águas e Mágoas do Rio São Francisco”,

de Drummond, na voz de Maria Bethânia. O ambiente considerado mais emocionante, descrito

no site da exposição, foi “Cidades submersas”, representando as cidades que foram alagadas,

composto por casas de barro, em escala reduzida, envolvidas por água.

Da mesma forma, era projetado ao fundo um documentário produzido pelo ator

Wagner Moura, falando sobre a cidade em que nasceu, Rodelas, ao norte da Bahia, alagada para

a construção da barragem da hidrelétrica de Itaparica. A exposição “Rio São Francisco

navegado por Ronaldo Fraga”, representa um marco na área de moda, pois foi o primeiro

projeto de moda incentivada pela Lei Rouanet, o que concebeu pela primeira vez a área, o título

de instrumento cultural do país.

3 PROCEDIMENTO METODOLÓGICO

A metodologia utilizada, além da projetual, privilegiou a pesquisa bibliográfica,

buscando o aprofundamento de conceitos como moda e sustentabilidade, trabalhos que

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relacionem as duas áreas, arte brasileira e artistas brasileiros escolhidos como tema-inspiração

da coleção.

Segundo Lobo, Limeira e Marques (2014) pode-se entender que na Indústria Têxtil

encontram-se uma sequência de transformações no substrato, iniciando na fiação e tornando-se

o produto mais importante subsequentemente; conclui-se com isso, que ao longo de todo o

processo de transformação, ocorrem sobras de material, que no caso das etapas finais,

beneficiamento e de confecção, os chamados resíduos sólidos.

Conhecendo o grande segmento que é a indústria têxtil, pois, em 2012 o setor têxtil e de

confecção mundial movimentou cerca de US$ 744 bilhões em transações entre países e em

2020, esse volume deve subir para algo em torno de US$ 851 bilhões (ABIT, 2016) e com isso,

pode-se afirmar que resultam grandes quantidades de resíduos sólidos, sejam descartados

dentro de seus setores.

Por muitos anos tem-se questionado em como amenizar esse problema e uma forma

legal de tratamento é atender a Lei nº 12.305, que institui a Política Nacional de Resíduos

Sólidos prescrevendo o seguinte:

Art. 1 parágrafo 1º, que estão sujeitas à observância desta Lei as pessoas

físicas ou jurídicas, de direito público ou privado, responsáveis, direta

ou indiretamente, pela geração de resíduos sólidos e as que

desenvolvam ações relacionadas à gestão integrada ou ao

gerenciamento de resíduos sólidos.

Portanto, há a real necessidade de pensar no que fazer de concreto e útil para com essas

sobras de produtos têxteis, visando minimização da quantidade de resíduos sólidos que

acabarão impactando na natureza de forma negativa. Dentre algumas das alternativas, está a

reutilização dos mesmos, para confeccionar peças de vestuários, sem a necessidade de passar

por processos físico/químicos, ou seja, direto para a costura propriamente dita.

A metodologia projetual aplicada ao projeto foi a Metodologia MD3E (Método de

Desdobramento em 3 Etapas de Decisão) que é considerada uma metodologia em

macroestrutura (dividida em grandes áreas, e a partir delas, subdivididas), proposta por Flávio

Anthero Nunes dos Santos (2005). As três etapas, aqui caracterizadas como três

macroestruturas, consistiram em: pré-concepção (pesquisas teóricas e imagéticas), concepção

(esboços e construção da coleção) e pós-concepção (apresentações, observações, registros

fotográficos e análise dos resultados). Por constituir-se de etapas, o método é considerado

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aberto, o que possibilita o preenchimento e a interferência de quem o utiliza, diferenciando-se

de métodos fechados cujos trajetos já são pré-determinados pelos autores.

Portanto, usou-se da disciplina de linguagem visual para o suporte teórico que auxiliou na

construção das gerações de alternativas da coleção, na percepção estética das peças, ao abordar

questões próprias da ementa da disciplina como estudo da comunicação e percepção visual, e

aprofundamento em cor e forma nas estruturas de moda.

Na disciplina de Costura e Modelagem I, foram realizadas as escolhas dos looks do projeto

que foram confeccionados e orientação e sugestões sobre a escolha dos materiais, modelagem

e costura para a confecção dos modelos. Além disso, houve aprofundamento nas bases teóricas

que auxiliaram na construção do estudo, refletindo sobre os diferentes papéis da moda. Bem

como, usou do Desenho Técnico para Moda, para desenvolver a ficha técnica e o desenho

técnico das peças que foram confeccionadas.

Por conseguinte, trabalhou-se com questões da sustentabilidade ambiental. E, por fim, foi

realizado pesquisas bibligráficas sobre as palavras-chave sustentabilidade e moda, que permitiu

gerar alternativas da coleção.

4 RESULTADO E DISCUSSÕES

Os resultados da presente pesquisa possibilitaram o nascimento dos trabalhos baseados

nas obras dos seguintes artistas: Beatriz Milhazes, Lygia Clark, Arthur Bispo do Rosário,

Aleijadinho, OSGEMEOS, Jum Nakao, Athos Bulcão, Candido Portinari, Walter Firmo,

Augustin de Lassus e Vania Gevaerd.

Para a escolha de matéria-prima, foram utilizados diferentes materiais como retalhos de

tecidos – de diferentes tamanhos – que seriam descartados e que foram doados por várias

empresas, resíduos de fabricação de calçados, reutilização de lençóis e cortinas, reutilização de

peças prontas, sarja e camurça de segunda linha (com algum defeito). Alguns materiais, como

tecidos desfibrados de algodão reciclado e fibra de poliéster 100% reciclado de PET, moletom,

seda e devore ecológico, foram comprados. Determinadas peças foram tingidas com pigmentos

extraídos de fontes naturais como legumes e temperos; outras peças foram tingidas com

corantes com validade vencida que seriam descartadas pelas empresas. Certas peças foram

bordadas com lantejoula feita de garrafa PET e aviamentos de segunda linha (com algum

defeito).

A parceria realizada com as costureiras que integram o Sindicato dos Trabalhadores

nas Indústrias do Vestuário de Brusque e Guabiruba – Sintrivest, possibilitou que as coleções

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desenvolvidas fossem apresentadas para que estas selecionassem as peças com as quais mais

se identificavam.

Após a escolha do look, as costureiras confeccionaram as peças e desfilaram com elas

no 5º Desfile das Costureiras. O evento foi uma homenagem ao dia das costureiras e, por isso,

o desfile aconteceu no dia 25 de maio, com início às 19 horas, na Sociedade Santos Dumont,

na cidade de Brusque.

O evento foi organizado pelo Centro Universitário de Brusque - UNIFEBE, em

parceria com o Sintrivest (Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias do Vestuário de

Brusque e Guabiruba), o Sindivest (Sindicato Patronal das Indústrias do Vestuário de Brusque

e Região), o SENAI (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial) e recebeu apoio do

FIESC (Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina).

O desfile também homenageou os profissionais da cadeia têxtil de Brusque e região,

proporcionando a interação entre comunidade acadêmica, profissionais do setor e público em

geral (RODRIGUES, 2015).

As costureiras (no total de 64 profissionais participantes), como protagonistas do

evento, receberam no dia do desfile um certificado de menção honrosa pela profissão, já que

são profissionais indispensáveis para a indústria do vestuário. No dia, mais de 800 pessoas,

prestigiaram o evento (RODRIGUES, 2015).

A Figura 1 evidencia as costureiras que desfilaram e foram homenageadas no evento,

juntamente com alguns organizadores:

Figura 1 – Profissionais que participaram do 5º Desfile das Costureiras, (UNIFEBE, notícias) 2015

Fonte: Os autores (2015)

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Por fim, os códigos visuais impressos nos elementos visuais dos looks apresentados se

tornam uma lei, capaz de determinar como um signo dá surgimento ao outro: os elementos

visuais das peças traduzem a cultura nacional e o imaginário coletivo de um povo extremante

criativo, transformando resíduos que seriam descartados, em produtos de moda, transformando

restos em ricos textos poéticos, transcriando, transcodificando, transmutando e transpondo

diferentes códigos numa rede informacional capaz de transformar lixo em luxo.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com o desenvolvimento do Projeto Integrador, os acadêmicos, assim como o colegiado do

curso de Design de Moda da UNIFEBE, se envolveram ao máximo para que os resultados de

seus projetos fossem significativos não só academicamente, mas também para as profissionais

envolvidas.

Os objetivos do trabalho foram alcançados, evidenciando a possibilidade de se trabalhar

com o reaproveitamento de resíduos têxteis para confeccionar as peças de vestuário do projeto.

Além disso, permitiu integrar as diferentes dimensões da sustentabilidade, cultura nacional e

regional, artistas brasileiros na moda.

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ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO HUMANO E OS DESAFIOS DA EDUCAÇÃO

DA ASSOCIAÇÃO DOS MUNICÍPIOS DO ALTO VALE DO RIO DO PEIXE

HUMAN DEVELOPMENT INDEX AND THE CHALLENGES OF EDUCATION

ASSOCIATION OF MUNICIPALITIES OF ALTO VALE DO RIO DO PEIXE

Thais Ivete Kusinski Gatti1

Joel Haroldo Baade2

RESUMO: O estudo se propõe a verificar a situação dos municípios que compõem a

Associação dos Municípios do Rio do Peixe-AMARP em relação aos resultados do Índice de

Desenvolvimento Humano Municipal-IDHM, formados por três dimensões: educação, renda e

saúde. O objetivo do trabalho é analisar os IDH dos municípios e os desafios da Educação para

melhorar estes índices. O método comparativo analisou as semelhanças e as diferenças entre os

dados dos IDHM. A pesquisa quantitativa traduziu os resultados do IDHM e a pesquisa

qualitativa foi necessária para perceber as particularidades dos resultados nas dimensões do

IDHM. Pesquisa documental sobre o Plano Nacional da Educação, analisando as “20 metas” e

os projetos do Programa das Nações Unidas-PNUD. Percebe-se que os municípios estão com

baixo índice na dimensão educação, e ainda existem limitações a serem superadas pelo sistema

de ensino. Deste modo uma hipótese levantada é que os municípios possuem ainda defasagem

de idade-série.

Palavras-chave: IDHM. Educação. Meio Oeste Catarinense. Sustentabilidade social.

ABSTRACT: This study proposes to check the situation os the cities that belong to Alto Vale

do Rio do Peixe Association-AMARP in relation to municipal HDI results, that has three

dimensions: education, income and health. The objective of this work is to analyse HDI of cities

that members and the challenges of education in order to improve these rates. This comparative

method analysed similarities and differences among municipal HDI.The quantitative research

interpreted municipal HDI results and the qualitative research was necessary to perceive

specific features of those results in municipal HDI dimensions. Documental research about

Plano Nacional da Educação as well as the analisys of the “20 metas” (20 targets) and the

United Nations Development Program (UNDP). It is noticeable that the cities have low rate in

education dimension and that, there are some limitations yet to be overcome by the education

system. So, a hypothesis that arose was that the cities have age-grade gap.

Keywords: IDHM. Education. Midwest of Santa Catarina. Social sustainability.

1 INTRODUÇÃO

1 Acadêmico(a) do curso de Mestrado em Desenvolvimento e Sociedade da Universidade Alto Vale do Rio do

Peixe – UNIARP. E-mail: [email protected] 2 Professor(a) orientador(a). Doutor. E-mail: [email protected]

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O município de Caçador possui um índice de desenvolvimento humano municipal

médio de 0,637, na dimensão educação, entretanto na dimensão longevidade apresenta um

índice alto de 0,860. Percebe-se uma diferença significativa entre as duas dimensões.

No entanto, é importante analisar a partir da reflexão sobre o índice de

desenvolvimento humano e os desafios da educação dos municípios da Associação dos

Municípios do Alto Vale do Rio do Peixe se todos os municípios (Iomere, Pinheiro Preto, Salto

Veloso, Videira, Arroio Trinta, Fraiburgo, Ibian, Caçador, Rio das Antas, Matos Costas, Timbó

Grande, Lebon Régis, Macieira e Calmom), apresentam na dimensão educação um

aproveitamento insatisfatório para o desenvolvimento da região, a partir do cálculo do IDHM.

O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento-PNUD, criou um mecanismo

chamado de Índice de Desenvolvimento Humano-IDH que demonstra através dos índices se

um país ou município está desenvolvido ou em desenvolvimento.

Isso significa que analisar o cenário dos municípios da AMARP, e constatar os

resultados obtidos no IDHM nas dimensões da educação, longevidade e renda, pode levar a

perceber se o quadro de municípios desenvolvidos estão favoráveis ou se, ao contrário, possuem

limitações e desafios a alcançar.

Perceber também se o Plano Nacional da Educação está a favor do Índice de

Desenvolvimento Humano e ao desenvolvimento da educação. E se o mesmo pode contribuir

para a qualidade e superação dos resultados baixos no IDHM dos municípios da AMARP na

dimensão da educação.

2 AS TRÊS DIMENSÕES DO ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO HUMANO:

EDUCAÇÃO, RENDA E LONGEVIDADE

O IDH é mensurado por três “dimensões” (saúde, educação e renda), levando em

consideração3que os países obtenham liberdade para o seu desenvolvimento, que sejam

autônomos e procurem acompanhar pelo Atlas do Brasil seus resultados por estados e

municípios.

3Segundo PNUD

http://www.pnud.org.br/IDH/IDH.aspx?indiceAccordion=0&li=li_IDH

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Tabela 1 - Critérios do cálculo do IDH por dimensões

Dimensão Fonte Critério

Educação

Acesso ao conhecimento

É medido pelas taxas de matrículas

Médio de anos estudados a partir

de 25 anos de idade

Nº de anos estudados desde a

entrada na vida escolar

Longevidade

Vida longa e saudável

É medida pelos dados,

de mortalidade infantil

É medida pela expectativa de vida

ao nascer

Renda

Padrão de vida

Dados obtidos pela Renda Nacional

Bruta e

Poder de Paridade Compra

É medido pela renda total dos

habitantes e

dividido pelo nº de habitantes

Fonte: a autora, dados obtidos do PNUD

Publicado pela primeira vez em 1990, o IDH tornou-se uma referência mundial, suas

publicações anuais demonstram interesse aos estados e municípios para pesquisarem sua atual

situação, socioeconômica, qualidade de vida e educação, dados que são encontrados no Atlas

do Desenvolvimento Humano do Brasil.

O Índice de Desenvolvimento Humano Ajustado à Desigualdade (IDHAD) é realizado

a partir dos dados do IDH, entretanto leva em consideração a mensuração da desigualdade entre

os três pilares (saúde, educação e renda) ou seja ajustando à desigualdade e descontando o valor

médio de cada dimensão com o nível desigual. Desse modo o esperado é progredir nas três

dimensões ao mesmo tempo.

O Gráfico1 apresenta o IDHM das dimensões da educação, renda e longevidade de

2010, e as cores indicando a situação do índice dos municípios da AMARP, entre muito baixo,

baixo, médio, alto e muito alto que mostra se os mesmos estão em desenvolvimento ou

desenvolvidos.

O índice “muito baixo” na dimensão da educação foi apenas o município de Calmom,

já os índices “baixos” foram Lebon Regis, Matos Costa, Timbó Grande, Macieira e Rio das

Antas.

Os municípios Ibian, Fraiburgo, Caçador, Arroio Trinta e Videira se posicionam no

“índice médio”. E os de “índice alto” são: Pinheiro Preto, Salto Veloso e Iomere.

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Na dimensão renda, os municípios que obtiveram “índice médio” foram Calmom,

Lebon Regis, Matos Costa, Timbó Grande e Macieira. Os demais municípios encontram-se no

“índice alto”.

Na dimensão da longevidade os municípios que se destacaram no índice “muito alto”

foram Iomere, Salto Veloso, Pinheiro Preto, Videira, Arroio Trinta, Caçador, Fraiburgo e Matos

Costa. Os demais municípios permanecem no “índice alto”.

Gráfico 1 - Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) por dimensões: Educação, Longevidade

e Renda do ano de 2010

0 a

0,499

0,500 a

0,599

0,600 a

0,699

0,700 a

0,799

0,800

Muito

Baixo

Baixo Médio Alto Muito

Alto

Fonte: a autora dados obtidos do IDHM

A tabela 1 apresenta a comparação entre os dados doIDH de 2010, por municípios da

AMARP e a média de cada um.

Os maiores índices na dimensão da educação foram dos municípios de Iomere, Salto

Veloso e Pinheiro Preto. Já os menores foram Rio das Antas, Macieira, Timbó Grande, Matos

Costa, Lebón Regis e Calmom. Já os demais municípios se encontram na média.

0,499

0,549

0,599

0,649

0,699

0,749

0,799

0,849

0,899

0,949

0,999

IDHM

IDHMEducação

IDHMRenda

IDHMLongividade

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Na dimensão renda os municípios com maior IDHM são: Arroio Trinta, Salto Veloso,

Videira, Iomere, Fraiburgo, Ibian, Rio das Antas, Caçador e Pinheiro Preto e o “índice menor”

é o de Timbó Grande.

Na dimensão longevidade, todos os municípios apresentam um índice muito alto,

exceto Calmom. Algo que chama a atenção analisando as três dimensões é a grande disparidade

entre os resultados da dimensão educação e a dimensão longevidade, provocando uma

interferência significante da dimensão longevidade nos cálculos do resultado do IDHM.

A tabela 2 apresenta a comparação entre os dados do índice de desenvolvimento

humano de 2010, por municípios da AMARP e a média de cada dimensão educação, saúde e

renda.

Tabela 2 - Comparativo entre IDH/2010, por municípios da AMARP e a média de cada dimensão educação,

saúde e renda

Fonte: a autora dados obtidos do IDHM

Considera-se que a dimensão da longevidade apresenta a média de 0,839 que é

considerado pelo IDHM como um índice muito alto. A renda possui uma média 0,606e a

educação 0,616 com índice considerado médio pelo IDHM, que significa que ainda estão no

processo de desenvolvimento.

MUNICÍPIOS

IDHM

EDUCAÇÃO

RENDA

SAÚDE

01 Iomere 0,795 0,749 0,754 0,891

02 Salto Veloso 0,784 0,712 0,778 0,880

03 Pinheiro Preto 0,777 0,705 0,712 0,860

04 Videira 0,764 0,675 0,772 0,857

05 Arroio Trinta 0,764 0,653 0,781 0,873

06 Caçador 0,735 0,637 0,712 0,860

07 Fraiburgo 0,731 0,631 0,737 0,820

08 Ibian 0,725 0,620 0,728 0,878

09 Rio das Antas 0,967 0,569 0,727 0,820

10 Macieira 0,622 0,565 0,634 0,798

11 Timbo Grande 0,659 0,541 0,630 0,831

12 Matos Costas 0,657 0,537 0,632 0,806

13 Lebon Regis 0,649 0,533 0,675 0,806

14 Calmon 0,622 0,500 0,618 0,779

Média 0,732 0,616 0,706 0,839

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Entre as três dimensões, a educação está desfavorecida nos resultados da grande parte

dos municípios da AMARP. O que nos leva a elaborar hipóteses como a de que a escolaridade

da população adulta e fluxo escolar da população jovem está baixo ou com possível evasão

escolar, ou ainda com alunos fora da idade certa na escola.

No Atlas do Brasil (PNUD 2016) adota por questões de cálculo de dados “faixas etárias

ampliadas daquela faixa etária ideal: 12 anos nos anos finais do fundamental, 16 anos com

ensino fundamental completo e 19 anos com ensino médio completo”. Assim os alunos que não

estão na idade certa com o nível de ensino esperado, o resultado dos cálculos desses municípios

no IDHM, ficam prejudicados.

Ainda existem limitações desses municípios, pois o IDHM nos seus cálculos “não

inclui aqueles que tiveram alguma passagem pelo sistema educacional sem completar ciclos”

segundo PNUD (2016).

Então se os municípios apresentam alunos com atraso nos níveis de ensino ou

aceleração no decorrer do ciclo educacional, ficam prejudicados nos cálculos do IDHM na

dimensão educação.

3 ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO HUMANO: DESAFIOS DA DIMENSÃO

EDUCAÇÃO

O gráfico 2 apresenta uma comparação entre os dados do IDH de 2010, por municípios

da AMARP e a média da dimensão educação. Os maiores índices na dimensão da educação

foram Iomere, Salto Veloso e Pinheiro Preto com índice alto. Os demais municípios estão com

índice entre “muito baixo” e “baixo”. O Gráfico 2 apresenta a comparação entre os dados do

IDH de 2010, por municípios da AMARP e a média da dimensão educação.

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Gráfico 2 - Comparação entre os dados do IDH/2010, por municípios da AMARP e a média da dimensão

Educação

0 a 0,499

0,500 a 0,599

0,600 a 0,699

0,700 a 0,799

0,800

Muito Baixo Baixo Médio Alto Muito Alto

Fonte: a autora dados obtidos do IDHM

E nos cálculos do IDHM considera-se que o grupo de adultos deverão ter ensino

fundamental completo, mostrando limitações na educação, pois o mínimo que se espera é o

ensino médio completo.

Também se a idade no fluxo de jovens, não estiver na idade e a série determinada pelo

IDHM não será possível alcançar pontuação adequada no cálculo.

A escola possui limitações por motivos como a reprovação, ou alunos com idade

avançada ao nível que está. Existem quatro momentos considerados importantes no cálculo da

dimensão educação, segundo IDH, segundo o PNUD (2016) que é a “entrada no sistema

educacional, finalização do primeiro ciclo fundamental e conclusão fundamental e ensino

médio. Vejamos a tabela.

Tabela 2- Quatro momentos importantes no fluxo da população jovem do cálculo do IDHM

Idade Condição favorável/esperada

5 anos Devem estar na escola, sendo o grande início na rede de ensino das crianças;

12 anos Devem estar concluindo os Anos Iniciais do Ensino Fundamental;

16 anos Devem estar concluindo os Anos Finais do Ensino Fundamental ;

19 anos Devem estar concluindo o Ensino Médio.

Fonte: a autora dados obtido do Atal do Brasil

0,4550,5050,5550,6050,6550,7050,7550,8050,8550,9050,955

IDHM IDHM Educação

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Esses indicadores acabam4captando idades e séries específicas, deixando grande parte

dos alunos fora do levantamento, porque não fazem parte dessa idade ou série, esperados pelo

cálculo. Assim se uma escola possui grande fluxo de repetentes, ou alunos com idade fora da

série, por reprovação, desistência e retomada dos estudos são desconsiderados pelo IDHM.

Desconsidera ainda, aqueles que não concluíram o ciclo, ou possuíram apenas, uma

passagem no ensino. E por os níveis considerados nos cálculos do IDHM serem amplos, pois

16 anos de idade concluindo o Ensino Fundamental, sendo que a grande maioria com essa idade

está no Ensino Médio e com 19 anos de idade já estão na universidade, e não mais no Ensino

Médio.

4 COMPARAÇÕES DAS METAS DO PLANO NACIONAL DA EDUCAÇÃO E AS

METAS DO ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO HUMANO NA DIMENSÃO

EDUCAÇÃO

O Plano Nacional da Educação (PNE) é um documento legal que tem por objetivo

colocar metas a serem alcançadas pelas instituições de educação.

Do ano de 2010 até o ano de 2014 as “20 Metas” do PNE estiveram em discussão nos

parlamentos com equipes de profissionais interdisciplinares, e aberto para a participação da

população com o intuito de possibilitar a participação de todos que tivessem interesse em

participar.

Segundo o MEC (2016 , p.5):

O plano também passou a ser considerado o articulador do Sistema

Nacional de Educação, com previsão do percentual do Produto Interno

Bruto (PIB) para o seu financiamento. Portanto, o PNE deve ser a base

para a elaboração dos planos estaduais, distrital e municipais, que, ao

serem aprovados em lei, devem prever recursos orçamentários para a

sua execução.

Há um aparato de programas criados pelo MEC para favorecer que de fato ocorra a

efetivação das metas pelas escolas. São ajudas de recursos financeiros e administrativo que

apoiam o caminhar da escola até o ano de 2024, prazo dado para alcançar as Metas.

Alguns princípios norteiam o documento legal, como o acesso de todos à educação, o

zelar pela diversidade e acabar com o analfabetismo funcional. Para o MEC (2016 p. 6)“ o

4 Termo utilizado pelo Atlas do Brasil, considerando fluxos da população jovem e adulta com idade certa na serie

esperada

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Plano está contribuindo para que o País avance na universalização da etapa obrigatória e na

qualidade da educação”. São meios de que o país se desenvolva e modifique as condições de

precariedade das escolas e péssima qualidade da educação.

Documento que acredita que a cidadania pode ser conquistada se houver população

com trabalho e participação social. Além disso que as verbas sejam redistribuídas à educação e

que alcance uma educação com resultados positivos sem evasão escolar.

No PNE, as “20 Metas” estão divididas da seguinte forma: o primeiro bloco refere

sobre a educação com qualidade, o segundo bloco a redução de desigualdade e valorização da

diversidade e o terceiro bloco a valorização dos profissionais e o último bloco metas para o

ensino superior.

O PNE5 iniciou a partir de um debate na CONAE 2010 e foi aprovado em 2014 pelo

Congresso Nacional pela Lei n° 13.005/2014 que está em vigor até 2024 para cumprir as “20

Metas” juntamente com a União, Distrito Federal, Estados e Municípios.

Tabela 3 - As 20 metas do Plano Nacional da Educação

Metas Metas a serem alcançadas

Bloco Qualidade da Educação

Meta 1 Educação Infantil para crianças de 4 a 5 anos de idade

Meta 2 Ensino Fundamental de 9 anos para população de 6 a 14 anos de idade

Meta 3 Matrícula no Ensino Médio com 85% para população de 15 a 17 anos de idade

Valorização as diversidades e desigualdades

Meta 4 A população de 4 a 17 anos de idade com transtornos, deficiência e altas habilidades ou

superdotação, acesso a Educação Básica e atendimento especializado

Meta 5 Alfabetizar todas as crianças no 3° ano do Ensino Fundamental

Meta 6 Tempo integral para 50% das escolas públicas e 25% dos alunos da Educação Básica

Meta 7 IDEB 6,0 nos Anos Iniciais, 5,5 nos Anos Finais e 5,2 Ensino Médio

Meta 8 População de 18 a 25 anos de idade alcançar no mínimo 12 anos de estudos inclusive para a

população do campo. Igualar a escolaridade entre negros e não negros (dados IBGE)

Meta 9 Elevar a taxa de alfabetização para população de 15 anos de idade ou mais para 93,5%.

E ao analfabetismo absoluto ou funcional redução de 50%.

Meta 10 Para as matrículas de jovens e adultos no Ensino Fundamental e Médio elevar para 25% e integrar

a educação profissional

Meta 11 Triplicar as matrículas da educação profissional técnica de nível médio e assegurar a qualidade

da oferta e pelo menos 50%

5 As Metas estão apoiadas pelo Fundo de Recursos articulados como o FNDE.

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Meta 12 Elevar a taxa de matrícula bruta para 50% e líquida para 33% para população de 18 a 24 anos de

idade

Ensino Superior

Meta 13 Elevar a formação de Mestres e Doutores para 75% e 35% doutores

Meta 14 Pós-graduação stricto sensu atingir a titulação anual de 60.000 mestres e 25.000 doutores

Meta 15 Assegurar que todos os professores da educação básica possuam formação de nível superior e

específica obtida na licenciatura na área que atuam

Meta 16 Pós-graduação para 50% dos professores da educação básica

Meta 17 Valorizar os profissionais do magistério das redes públicas e equipar seu rendimento médio aos

demais profissionais com equivalente

Meta 18 Assegurar plano de carreira para os profissionais da Educação Básica o tomar como referência o

piso salarial

Meta 19 Assegurar efetivação da gestão democrática

Meta 20 Investimento público a 7% no mínimo do PIB

Fonte: a autora com base no MEC 2016

Pensar na educação como promissora do desenvolvimento no nosso país podem

demonstrar limitações. As metas do PNE demonstram preocupação com a entrada das crianças

entre 4 a 5 anos de idade na escola e a saída de 15 a 15 anos de idade no Ensino Médio, com

pelo menos 85% dessa população.

Isso demonstra a mesma preocupação o IDH, entretanto as idades entre o PNE e o IDH

a categoria de idade e série se diferem.

Assim comparar os objetivos do Índice de Desenvolvimento Humano e as 20 metas do

Plano Nacional da Educação, podem levar a refletir semelhanças, aproximações e diferenças

que essas organizações nacionais, delineiam ao pensar educação e pensar, quais são as

influências desses pensamentos e legalidades que norteiam a educação e seu desenvolvimento

se torna importante para perceber, em quais os desafios que as escolas enfrentam perante todas

essas metas.

Tabela 4 - Comparação entre as metas do PNE, as considerações do Cálculo do IDHM e das Metas na dimensão

Educação

Metas

Plano Nacional de Educação (PNE)

Metas

IDH

Bloco Qualidade da Educação Bloco Educação

Universalizar crianças de 4 a 5 anos de idade na

educação infantil

Acesso ao conhecimento pelo fluxo escolar

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Alfabetizar todas as crianças até o 3° ano do ensino

fundamental com 9 anos

Elevar a taxa de alfabetização para 93%

5 anos de idade devem estar na escola, sendo o grande

começo na rede ensino dessas crianças

Ensino fundamental com completo com 14 anos de

idade

12 anos de idade devem estar terminando os anos finais

do ensino fundamental

Universalizar de 15 a 17 anos de idade a taxa de 85%

de matrículas no ensino médio

16 anos de idade devem estar concluindo fundamental

25% das matrículas da educação de jovens e adultos

no ensino médio integrada a educação superior

19 anos de idade devem estar concluindo ensino médio

A população com mais de 18 e 29anos de idade ou

possuírem 12 anos de estudo

Analisar o total de anos de escolaridade da população

adulta, de 18 anos ou mais de idade com o ensino

fundamental completo

Triplicar as matrículas da educação profissional de

nível médio

Universalizar a população com 4 a 17 anos de idade

com deficiência, transtornos globais e altas

habilidades

Garantir a educação inclusiva de qualidade

Fonte: a autora com base no MEC e PNE

A comparação entre o IDH e o PNE demonstrou que as Metas visam manter as crianças

estudando e os alunos frequentando a idade certa na escola. O pano de fundo do PNE é controlar

e/ou exterminar a evasão escolar, já o IDH quer assegurar que todos tenham uma 6“reserva” de

anos de estudos.

Outra preocupação do PNE é promover formação do Ensino Fundamental completo, a

fim de combater o analfabetismo. Talvez o desafio da melhoria do IDH dos municípios da

AMARP, esteja justamente no fato de existirem contradições entre a idade-série dos

documentos avaliadores deste quesito, o PNE e do IDHM.

Ao acompanhar o desenvolvimento da educação do seu município utilizam os dados

do IDH. Mas o IDH não considera em seu cálculo as perspectivas das leis da educação, o Índice

de Desenvolvimento da Educação (IDEB), plataforma que mede as notas obtidos nas

avaliações, considerado pelo nível de conhecimento entre outras categorias. O IDH se torna

extremamente superficial nos seus cálculos, não levando em consideração a aquisição de

conhecimento e sim, apenas a idade de entrada, permanência e saída da vida escolar dos

sujeitos.

6O PNUD considera que a fluxo de adultos devem possuir no mínimo o ensino fundamental completo

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O PNE também demonstra ser específico nas suas abordagens, pois não leva em

consideração a saúde e renda, como fatores de desenvolvimento da educação.

Seu objetivo maior é assegurar a educação de qualidade para todos, entretanto será que

o critério do PNE na educação está sendo favorável ao desenvolvimento da região? E aferir o

tempo de estudo e notas obtidas nas avaliações garante qualidade educacional? Assegurar

formação continuada do professor e do aluno interfere no desenvolvimento regional? O IDHM

desempenha nas suas perspectivas, preocupação com o desenvolvimento da educação e a

aquisição do conhecimento? Por que o índice não está sendo favorável para a educação?

Essas perguntas e reflexões sobre o desenvolvimento dos municípios da AMARP são

fundamentais, pois os demonstrativos relativos à educação são um grande desafio a ser

superado. Será possível um novo resultado do IDHM em 2020?

Pode-se afirmar que os municípios que estão com índice baixo na educação não estão

assegurando a idade com o nível de ensino que se espera pelo IDH.

Também os municípios da AMARP estão com índice baixo na educação considerada

Educação Infantil, Ensino Fundamental completo, Ensino Médio e anos total de estudos da

população adulta, por estarem com defasagem na idade-série, no nível de ensino esperado pela

população adulta e no fluxo escolar.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao finalizar a análise do Índices de Desenvolvimento Humano dos municípios da

AMARP com ênfase na dimensão “Educação”, foi possível perceber que os índices dos

municípios não se encontram ainda piores nos seus resultados porque a dimensão

“longevidade”, se encontra bastante satisfatória, já que a expectativa de vida das pessoas está

bastante elevada. Se não fosse a dimensão “longevidade” seriam ainda mais problemáticos os

índices.

Por outro lado, a maior preocupação do estudo está no fato de que o IDH na dimensão

educação avalia apenas a idade de entrada, permanência e saída dos estudantes até 17 anos. Não

se preocupa com os índices de aprendizagem dos estudantes, nem com os índices como é o caso

do IDEB, que é um excelente demonstrativo e grande referência do quanto os estudantes estão

aprendendo e adquirindo conhecimento. Sendo assim o IDH que é um demonstrativo que gera

muitos outros relatórios e influencia inclusive a opinião pública e formal para avaliar o

desenvolvimento, nos parece incompleto e superficial no que tange a educação, que é a

preocupação deste estudo.

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Para se avaliar a educação, o IDH não parece servir como referência, pois não indica

a aquisição de conhecimento dos sujeitos em idade escolar, avalia apenas se estão na escola na

idade correta, nem mesmo avalia os que não estão na escola e deveriam estar.

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<http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=16690&Itemid=

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SESSÃO TEMÁTICA – GESTÃO DE NEGÓCIOS E ESTRATÉGIA

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ORGANIZAÇÕES VIRTUAIS E EMPRESAS VIRTUAIS: ANÁLISE DE REDES

COLABORATIVAS POR MEIO DE REVISÃO SISTEMÁTICA DA LITERATURA

VIRTUAL ORGANIZATIONS AND VIRTUAL ENTERPRISE: ANALYSIS OF

COLLABORATIVE NETWORKS THROUGH A SYSTEMATIC REVIEW OF THE

LITERATURE

Edna Gessner1

Carlos Manuel Taboada Rodriguez2

RESUMO: Estruturas colaborativas permitem que empresas dos mais diversos setores e

tamanhos atuem de forma conjunta para responder à demanda de mercado de maneira ágil, com

maior adaptabilidade e abrangência. O avanço da internet e de sistemas de informação permitiu

que surgissem estruturas do tipo organizações virtuais, empresas virtuais e ambiente de criação

de organizações virtuais. Este estudo se baseou em uma revisão sistemática da literatura para

abordar esses temas, compreendendo estudos teóricos e empíricos. Conclui-se que as OVs, EVs

e VBEs são redes de colaboração heterogêneas e que, devido às suas características, podem

atuar como estratégia em gerenciamento de cadeia de suprimentos, facilitar acesso ao mercado

a pequenas e médias empresas e possibilitam maiores avanços em inovação de produtos e/ou

serviços. O estudo também contribui ao identificar lacunas de pesquisa, visto que o tema é

relativamente novo e ainda pouco explorado em pesquisas teóricas e/ou empíricas.

Palavras-chave: organizações virtuais, empresa virtual, ambiente de criação de organização

virtual, escritório de desenvolvimento virtual, redes de colaboração

ABSTRACT: Collaborative structures allow companies from the most diverse sectors and

sizes to act together and respond to market demand in an agile way, with greater adaptability.

The advance of the Internet and information systems allowed the emergence of virtual

organizations, virtual enterprises, and virtual breeding environment. This article summarizes

the findings of a systematic literature review of theoretical and empirical studies of those

concepts. We concluded that OVs, EVs and VBEs are heterogeneous collaboration networks

that, due to their characteristics, can act as a strategy in supply chain management, facilitate

market access for small and medium-sized enterprises and enable greater advances in the

innovation of products and/or services. The study also contributes to identifying research gaps,

since the subject is relatively new and few researchers explore the themes in theoretical and/or

empirical ways.

KEYWORDS: virtual organizations, virtual enterprise, virtual organization creation

environment, virtual development office, collaboration networks

1 Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção da Universidade Federal de Santa

Catarina. E-mail: [email protected] 2 Professor do Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção da Universidade Federal de Santa

Catarina. E-mail: [email protected]

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1. INTRODUÇÃO

Redes colaborativas são cada vez mais comuns e manifestam-se em uma variedade de

formas na indústria. O formato clássico de rede colaborativa na indústria é o da cadeia de

suprimentos, que se caracteriza por redes estáveis e com papéis bem definidos entre os

membros, há alguma coordenação e troca de informações através da cadeia. Redes

colaborativas em formatos mais dinâmicos são representadas por empresas virtuais (EV) e

organizações virtuais (OV). São formatos orientados a objetivos específicos ou metas, com foco

em um único projeto ou em uma oportunidade de negócio (CAMARINHA-MATOS, 2016;

WANG; CHAN, 2010).

Este estudo tem por objetivo a análise de estruturas de colaboração, sua definição e

identificação de estudos empíricos em que foram aplicadas. Organizações virtuais, empresas

virtuais e ambiente de criação de organizações virtuais são o foco da pesquisa, que se baseia

em uma revisão sistemática da literatura. A seleção e análise de artigos relacionados à pesquisa

seguiram os procedimentos metodológicos de revisão sistemática propostos por Tranfield et al.

(2003) e apresentados na Figura 1.

Figura 11 - Método para Revisão Sistemática da Literatura

Fonte: Elaborado pelos autores com base na metodologia de Tranfield et al. (2003)

A definição de palavras-chave se baseou nas publicações de Camarinha-Matos e

Afsarmanesh (2004). As bases de dados utilizadas são a Scopus, Compendex, Web of Science e

Emerald, complementadas pelo Google Scholar. O período de pesquisa considera apenas

publicações entre 2009 e junho de 2016, idioma inglês ou português. Devido à dificuldade em

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identificar estudos empíricos, a busca se estendeu para a base de dados da CAPES referente à

teses e dissertações no tema. A partir da leitura de títulos, palavras-chave e resumos, constatou-

se que os termos podem ser empregados como sinônimos. Assim, a seleção de artigos para

análises levou em consideração os conceitos de OV e EV, seguindo a definição apresentada no

referencial teórico deste artigo. A terceira etapa da revisão é apresentada na seção 3 do artigo,

e compreende a análise das definições de OV, EV e ambiente de criação de organizações

virtuais identificadas nos artigos, bem como exemplos de cada estrutura analisados em estudos

empíricos.

2. REFERENCIAL TEÓRICO

As organizações virtuais (OV) podem ser definidas como um conjunto de entidades

geográfica, funcional e/ou culturalmente diversas, que estão ligadas por formas eletrônicas de

comunicação e dependentes de relações laterais e dinâmicas de coordenação (DESANCTIS;

MONGE, 1999). Alguns estudos referem-se à organizações virtuais pelo termo “empresas

virtuais” (WANG; CHAN, 2010), pois são conceitos parecidos. A empresa Virtual (EV) é uma

aliança temporária de empresas que se reúnem para compartilhar habilidades ou competências

centrais (core) e recursos, a fim de responder melhor as oportunidades de negócios, cuja

cooperação é apoiada por redes de computadores. A Organização Virtual (OV) compreende um

conjunto legal de organizações independentes que partilham recursos e habilidades para atingir

a sua meta, mas que não está limitada a uma aliança visando lucro. Assim, a EV é um caso

particular de OV (CAMARINHA-MATOS; AFSARMANESH, 2004). A Empresa Virtual

(EV) é uma aliança dinâmica, temporária e lógica entre empresas que colaboram entre si para

explorar de forma ágil as oportunidades de mercado ou lidar com necessidades específicas (NIU

et al., 212). Alguns estudos buscam a diferenciação dos termos, como na pesquisa de Costa e

Rabelo (2002) e de Camarinha-Matos e Afsarmanesh (2004), afirmando que toda EV parte de

uma OV, as OVs são um universo de empresas aptas a se tornarem EVs, e que ambos os

conceitos pertencem a uma classificação maior denominada Redes Colaborativas.

3. ANÁLISE DOS RESULTADOS

A análise dos resultados inicia com conceitos gerais, seguida de seções específicas

para caracterizar organizações virtuais, empresas virtuais e ambientes de criação de

organizações virtuais. Ao final de cada seção são apresentados os exemplos baseados em

pesquisas empíricas que compõem o portfólio de artigos da revisão sistemática de literatura.

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3.1. CONCEITOS GERAIS

As organizações virtuais (OV), bem como as empresas virtuais (EV), são consideradas

tipos de redes colaborativas. O conceito de redes colaborativas também engloba outros seis

elementos além de OV e EV, conforme classificação dos autores Camarinha-Matos e

Afsarmanesh (2004), sendo: (i) organizações virtuais dinâmicas, que seriam OVs de curto

prazo; (ii) empresa estendida, onde uma empresa dominante estende suas fronteiras para todos

ou alguns de seus fornecedores; (iv) ambiente para criação de organização virtual, onde uma

empresa atua como mediadora que ao identificar uma oportunidade de negócio seleciona

empresas formando uma EV ou OV; (v) comunidade virtual profissional, que são sistemas

sociais de redes de indivíduos, que usam tecnologias de computador para mediar suas relações;

(vi) e-ciência e (vii) laboratório virtual colaborativo, esta última considerada parte de e-ciência

e dedicada à colaboração entre pesquisadores para resolução de problemas. A classificação é

apresentada na Figura 2, que subdivide os elementos em redes orientadas à estratégias ou metas,

e redes de estratégia de longo prazo. Os dois tipos diferem principalmente pelo tempo de

duração e seu objetivo, sendo as Redes orientadas para objetivos e metas tipicamente

temporários e conduzidos pelas necessidades e limitações impostas pelas oportunidades de

negócio identificadas.

Redes estratégicas de longo prazo correspondem à alianças que visam criar uma

preparação para a colaboração entre seus membros, a fim de permitir a rápida formação de redes

orietadas para objetivos e metas quando necessário ou quando for conveniente - como em

resposta à oportunidades de negócios. Os membros participantes aderem a um acordo de

cooperação de longo prazo e adotam princípios comuns de negócios. Incluem-se aqui casos de

ecossistemas de negócios, clusters industriais e distritos industriais.

Figura 12 - Classes e exemplos de Redes Colaborativas, adaptado de Camarinha-Matos (2016)

Fonte: adaptado de Camarinha-Matos (2016)

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O compartilhamento de recursos e a união de competências são formas de organização

que proporcionam às empresas um maior grau de agilidade e resistência se comparada à atuação

individual (CAMARINHA-MATOS, 2016). Redes colaborativas apresentam um nível de

integração elevado e partem do pricnípio de que os membros podem alcançar metas que não

seriam possíveis ou teriam um custo mais elevado se empreendessem de forma isolada. Essa

colaboração também potencializa a geração de valor para as organizações, a partir do acesso

aos novos conhecimentos, compartilhamento de riscos e de recursos, permitindo uma

concorrência mais eficaz contra outras entidades ou grupos (CAMARINHA-MATOS;

AFSARMANESH, 2004, CAMARINHA-MATOS et al., 2009).

3.2. ORGANIZAÇÕES VIRTUAIS

A organização virtual pode ser descrita como uma empresa sem paredes, gerida por

equipes montadas e desmontadas de acordo com a necessidade, que é composta de funcionários

fisicamente/geograficamente dispersos. Essa empresa sem paredes atua como uma rede

colaborativa de pessoas que trabalham em conjunto, independente do local ou de sua

organização de origem (DESANCTIS; MONGE, 1999). A definição proposta por DeSanctis e

Monge (1999) ressalta a heterogeneidade das entidades que compõem as organizações virtuais,

seja pela localização geográfica, pela cultura e/ou pela estrutura funcional diferente.

Quanto aos objetivos para formação de uma organização virtual, podem-se destacar

quatro: (i) maximizar a flexibilidade e capacidade de adaptação às mudanças do ambiente; (ii)

desenvolvimento de um conjunto de competências e recursos; (iii) alcançar um tamanho crítico

para estar em conformidade com as restrições de mercado e (iv) otimização da cadeia de

abastecimento global (WANG e CHAN, 2010).

A Organização Virtual é vista como um universo de empresas que estão aptas a

participarem de uma EV, ou seja, OVs formam uma rede de potenciais parceiros (empresas) de

uma EV. A OV pode ser definida como uma rede estável de empresas cujo objetivo é a criação

de EVs, em que os parceiros são ligados um ao outro através de competências e estratégias de

mercado. Dentro deste universo de OVs, podem existir vários clusters, como organizações

logicamente organizadas com critérios de competência, regionalização, entre outros (BREMER

et al., 2001).

As OVs podem ser classificadas em 3 categorias, conforme a estrutura do tipo de

interação entre seus membros (KATZY et al., 2005): (i) Cadeia de Suprimentos, encontrada

principalmente em indústrias transformadoras. Seu padrão de interação dos parceiros segue

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uma cadeia, principalmente em relação aos seus vizinhos superiores e inferiores; (ii) Estrela ou

Cubo, comum em indústrias de construção. Os parceiros interagem com o hub central ou com

um centro estratégico; (iii) Peer-to-peer, em indústrias criativas ou do conhecimento. Os

parceiros têm múltiplas relações entre todos os nós, sem hierarquias. É a tipologia mais comum

de organizações virtuais.

Os tipos de estrutura apresentados descrevem a estrutura de coordenação principal

que regula os fluxos de informação e materiais, bem como as relações de poder e tomada de

decisão dentro da rede e nos projetos. De modo geral, essa estrutura tem impacto ao mesmo

tempo na forma como a OV é gerenciada, nos negócios e processos e estrutura (KATZY et al.,

2005).

Organizações Virtuais que seguem a estrutura de Cadeias de Suprimentos costumam

adotar princípios de gerenciamento da cadeia de suprimentos e práticas como Resposta

Eficiente ao Consumidor (Efficient Consumer Response - ECR) para melhorar a coordenação e

controle inter-organizacional. A integração do fluxo de informação (por exemplo, Intercâmbio

Eletrônico de Dados - EDI) e fluxo de material, cria transparência em toda a cadeia de valor e

reduz desperdício (KATZY et al., 2005). As Organizações Virtuais podem ser uma estratégia

em Cadeia de Suprimentos (CS), sendo uma das principais vantagens à proximidade com o

cliente final. Em modelos tradicionais de CS existe pouca visibilidade da demanda. As

tecnologias empregadas em OV permitem reduzir o gap entre empresas à montante (upstream

business) e cliente final. Há uma visão mais precisa das tendências de mercado, o que aumenta

a precisão de previsões de vendas e a capacidade de interpretar e responder a flutuações de

demanda. Dessa forma, além de criar maior habilidade de planejamento de operações, essa

estratégia permite reduzir estoques através da cadeia, reduzindo capital investido e também

riscos associados. Outra vantagem relacionada a OVs é que as empresas podem limitar as suas

operações para os que fazem melhor, terceirizando atividades não essenciais (KANGILASKI,

2005).

Bremer et al. (2001) analisaram a VIRTEC, uma iniciativa de organização virtual

considerada pioneira no Brasil. Esta organização virtual resultou de um trabalho de investigação

desenvolvido durante dois anos na Alemanha, e implantado e coordenado pelo NUMA – Núcleo

de Manufactura Avançada da Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São

Paulo. Os membros são PMEs de base tecnológica do setor metalomecânico. KLEN (2007) e

GASPAROTTO (2013) afirmam que organizações virtuais são tema para exploração em

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pesquisas no país, visto que há poucas iniciativas nesse sentido, principalmente se comparada

às iniciativas europeias.

Carneiro et al. (2014) desenvolveram um modelo de referência para criação de

organizações virtuais e aplicaram no contexto do setor têxtil e vestuário, calçados e máquinas

e ferramentas, todos vinculados ao projeto de pesquisa Net-Challenge. A aplicação do modelo

de referência apresentou fatores-chave de sucesso, como: objetivos claros, alinhados e

compartilhados entre as empresas participantes; papéis bem definidos e formalizados;

processos de colaboração formalizados e padronizados; compartilhamento de conhecimento,

competências e experiências entre as empresas; valores compartilhados; recursos humanos

capacitados e habilitados para atividades de colaboração; disponibilidade de recursos

financeiros para atingir objetivos definidos. Os participantes no estudo eram

predominantemente pequenas e médias empresas.

3.3. EMPRESAS VIRTUAIS

A empresa virtual (EV) é uma aliança temporária, de empresas independentes e

geograficamente dispersas, configuradas para compartilhar habilidades ou competências e

recursos, dependentes do apoio de redes de computadores. A aliança tem por finalidade

responder à oportunidades de negócios (CRISPIM; DE SOUSA, 2010, RAHMAN et al., 2010).

Estas empresas cooperam temporariamente para alcançar níveis mais elevados de

adaptabilidade e agilidade. Por exemplo, no caso de um produto complexo, as empresas

utilizam conhecimento externo e tecnologias para acelerar o ritmo das inovações e diversificar

sua capacidade tecnológica. A principal diferença entre uma questão de seleção de fornecedor

e seleção de parceiros em uma EV está no tempo de duração esperado na relação (CRISPIM et

al., 2015). Em geral, as EVs se formam por duas razões: uma resposta mais rápida às

oportunidades de mercado e reunir requisitos para a customização em massa (NIU et al., 2012).

É considerada uma das estratégias de negócios promissora para enfrentar a concorrência global

(CRISPIM; DE SOUSA, 2010).

As operações da empresa virtual acontecem por uma partilha coordenada de

competências, recursos, informações e conhecimento, bem como riscos e benefícios. Há quatro

fases no ciclo de vida de uma Empresa Virtual: a fase da criação e as fases de operação,

evolução e dissolução (DRISSEN-SILVA; RABELO, 2009). As quatro fases são explicadas a

seguir, conforme os autores Drissen-Silva e Rabelo (2009), Zhang et al. (2013):

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(i) Criação: quando uma empresa ganha um contrato para um grande projeto e é

incapaz de completá-lo com a sua própria capacidade, essa empresa busca por potenciais

parceiros. Empresa e potenciais parceiros negociam por meio da infraestrutura de informação

(TI), para criar a empresa virtual;

(ii) Operação: após assinatura do contrato entre parceiros, a VE gerencia o processo

de fabricação ou a implementação do projeto;

(iii) Evolução: nesta fase a VE pode ser reconfigurada ou ajustada para atender às

necessidades de recursos, quando há mudanças no projeto. Fase que lida com os riscos ou

situações de execução consideradas fora do normal;

(iv) Dissolução: após cumprir projeto, a VE é dissolvida.

O sucesso de empresa virtual é dependente da seleção de parceiros, desde a concepção

do arranjo inicial até o rearranjo. Esse rearranjo pode ocorrer nos casos em que a empresa virtual

precisa ser reorganizada, adicionando ou eliminando membros ou redirecionando tarefas e/ou

papéis, a fim de lidar com as novas circunstâncias de mercado (NIU et al., 2012, CRISPIM; DE

SOUSA, 2010). Há estudos que analisam os critérios de seleção de parceiros e propõem

ferramentas para tomada de decisão (NIU et al. 2012, CRISPIM; DE SOUSA, 2010; ZHANG

et al., 2013).

Dentre os atributos estudados que influenciam na seleção de parceiros, destacam-se:

(i) atributos relacionados a risco, incluindo estabilidade política, regional e econômica, saúde

financeira; (ii) atributos relacionados a custos, como custos de matéria-prima, custos logísticos;

(iii) atributos relacionados ao tempo, incluindo tempo de reação, eficiência, tempo de

processamento; (iv) atributos de qualidade, como nível de tecnologia, nível de serviço; e (v)

atributos relacionados à confiabilidade, que inclui aspectos sobre desempenho no passado,

imagem da empresa, crédito, reputação, entre outros atributos, como a preocupação com a

quantidade de emissão de gases de efeito estufa (ZHANG et al., 2013).

Costa e Rabelo (2013) discutem um modelo de governança para empresas virtuais no

contexto de pequenas e médias empresas do setor de ferramentarias da cidade de Joinville/SC,

que, conforme os autores estão se preparando para trabalharem em um contexto de VBE e EV.

3.4. AMBIENTE PARA CRIAÇÃO DE ORGANIZAÇÃO VIRTUAL

Ambiente para criação de organizações virtuais, ou Virtual Breeding Environment

(VBE), representam uma associação de organizações e suas respectivas instituições de apoio,

que assumem um compromisso de adesão de longo prazo, bem como compartilham de

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princípios operacionais e infraestrutura comum. Na classificação apresentada anteriormente na

Figura 2, seção 3.1, o VBE é considerada uma rede colaborativa estratégica de longo prazo,

similar à comunidades profissionais virtuais, clusters industriais e distritos industriais. O VBE

corresponde a um conjunto de organizações e suas instituições de suporte, dotado de condições

humanas, financeiras, sociais, estruturais e organizacionais (CAMARINHA-MATOS;

AFSARMANESH, 2004).

O objetivo de ambientes de criação de organizações virtuais é promover a preparação

dos seus membros de forma que se configurem mais rapidamente as alianças temporárias para

colaboração em potenciais organizações virtuais. Assim, se determinado membro identificar

uma oportunidade de negócio, um subconjunto de organizações desse VBE pode ser

selecionado para configurar uma EV ou uma OV. Os membros que identificam oportunidades

são denominados membros mediadores (CAMARINHA-MATOS et al., 2009). VBEs podem

ampliar o acesso ao mercado para diversas empresas. Pequenas e médias empresas (PMEs), por

exemplo, podem se beneficiar de ambientes de criação de organizações virtuais, visto que VBEs

ampliam seu acesso a oportunidades de negócios, que sozinhas as PMEs não seriam capazes de

acessar (SAETTA et al., 2013).

Ambientes de criação de organização virtual possuem um ciclo de vida composto de

três fases: criação, operação e evolução. A fase de criação corresponde à fase em que se

subdivide, inicia atividades e há recrutamento. Também corresponde à fase de determinação do

planejamento estratégico e incubação do VBE, sua fundação e a elaboração de constituição

formal da rede. A fase de operação compreende o período de existência do VBE e seu foco está

na criação e manutenção das condições necessárias para criação de EVs ou OVs. A fase de

operação ou operacionalização, diretamente relacionada com a criação de EV ou OV,

compreende quatro fases, a fase de identificação das oportunidades, o planejamento geral da

organização virtual, a busca e seleção de parceiros e a fase de negociação. A última fase é a

evolução, fase em que ocorrem mudanças, como possível entrada de novo membro ou

adaptação a novos objetivos da rede (CAMARINHA-MATOS et al., 2009; GASPAROTTO,

2013). Romero e Molina (2010) apresentam uma metodologia sistemática e padronizada para

iniciação de VBEs, que se baseou no projeto ECOLEAD, projeto financiado pela Comissão

Europeia em redes de colaboração.

Parceiros em VBEs são de natureza heterogênea. As principais entidades envolvidas

em VBEs são geralmente pequenas e médias empresas (PMEs), corretores ou brokers,

integradores e sub-redes de empresas. Os papéis de broker ou corretor de oportunidade,

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planejador de OV e coordenador de OV não são estáticos, sendo que cada vez um outro membro

pode assumir a função (ROMERO; MOLINA, 2010; SAETTA et al., 2013). Instituições de

apoio que aperfeiçoam o desempenho da rede também fazem parte do VBE, como

universidades, agências de desenvolvimento regional, agência financeira e instituições

governamentais. Os membros geralmente pertencem a setores complementares ou a mesma

cadeia de suprimento de um produto ou serviço. É comum que os membros nos VBEs

pertençam a uma mesma região geográfica, sendo que nestes VBEs o foco está na melhoria

competitiva de uma região específica ou setor da indústria de determinada área geográfica

(ecossistema regional). Este fator é explicado devido a programas de incentivo que as

instituições locais de apoio podem oferecer às PMEs em determinado país ou região

(CAMARINHA-MATOS et al., 2009).

Um estudo realizado por Afsarmanesh, Camarinha-Matos e Ermilova (2008)

identificou os principais VBEs europeus. O VBE da Itália, com entidades da área de

comunicação (mais de 200 na época do estudo) e financiado pelo governo, a prospecção de

oportunidades é de responsabilidade do administrador; VBE na Finlândia, composto por

entidades da área de automação industrial, as próprias entidades financiam e a prospecção fica

sob responsabilidade do broker; VBE na Alemanha, composto por 28 entidades da área da

aviação, financiado a partir de percentual dos lucros do trabalho colaborativo dessas entidades.

Nesse caso, a prospecção é pelo broker ou qualquer entidade membro que trouxer oportunidade

potencial. Ainda, os VBEs Itália, Finlândia e Espanha, nas áreas de manufatura, engenharia e

entidades da aeronáutica respectivamente. No Brasil a VBE VIRFEBRAS, uma iniciativa da

Universidade Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul, é composta por um grupo de empresas do

segmento de ferramentarias que atua de forma colaborativa, propondo soluções em moldes e

matrizes. (VIRFEBRAS, 2011).

Em SAETTA, TIACCI e CAGNAZZO (2013), os autores apresentam o conceito de

Escritório de Desenvolvimento Virtual ou Virtual Development Office (VDO), uma variante do

conceito de VBEs. O VDO se diferencia da VBE por apresentar papéis estáticos, como broker,

planejador e coordenador de OV. Além disso, os membros não são heterogêneos. No caso

apresentado pelos autores, PMEs na Itália atuam de forma colaborativa para estimular a

inovação, sendo o VDO composto de 21 empresas dos setores de papel, embalagem e logística,

que atendem Universidades e Instituições públicas no país. O modelo VDO surgiu de um

projeto de pesquisa nacional.

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4. CONCLUSÃO

Este estudo contribuiu para a área de redes de cooperação e colaboração, a partir da

análise de estudos sobre organizações virtuais, empresas virtuais e ambientes para criação de

organizações virtuais. Por meio de uma revisão sistemática da literatura identificaram-se

autores de destaque na área, bem como a aplicação dos conceitos em estudos empíricos.

Empresas virtuais possibilitam maior agilidade dos negócios, bem como adaptabilidade através

de cooperação por pequeno período de tempo. Empresas podem se beneficiar de colaboração

para desenvolvimento de produtos e inovação em seus produtos e/ou serviços. EVs permitem a

resposta mais rápida à oportunidades de mercado, inclusive possibilidade de reunião de

requisitos para a customização em massa. OVs e EVs podem ser estratégia para gerenciamento

de cadeia de suprimentos, possibilitando que a empresa concentre seus esforços em atividades

que desempenha bem e terceirize as demais atividades. Além disso, conclui-se que OVs e EVs

apresentam benefícios para pequenas e médias empresas, visto que a colaboração entre essas

empresas permite maior acesso a mercados, desenvolvimento de competências, acesso a

recursos e participação no desenvolvimento de produtos e inovação.

Os temas OVs, EVs e VBEs carecem de maiores análises, visto que são temas ainda

pouco explorados nas pesquisas. Sugere-se pesquisas que aprofundem a relação dos temas com

o gerenciamento da cadeia de suprimentos, buscando fatores-chave para o sucesso de

estratégias nesse sentido. Estudos futuros também podem abordar as diferenças em relação aos

setores e/ou países que apresentam OVs, EVs e VBEs. Há ênfase na seleção de membros, mas

há lacunas de pesquisa nas outras fases de OV/EV, como na evolução ou dissociação. Cabem

estudos que avancem no entendimento das estruturas de interação de OVs. Também há

oportunidades de pesquisa na área de sistemas de informação voltados ao gerenciamento de

VBEs. Por fim, a pesquisa apresentou limitações inerentes ao método utilizado, como ênfase

em estudos publicados no período determinado pelos autores, além da limitação de idioma.

5. REFERÊNCIAS

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UM MODELO DE GESTÃO DA QUALIDADE PARA PROCESSOS DE ECONOMIA

COMPARTILHADA: UM ESTUDO DE CASO SOBRE A BLABLACAR

A QUALITY MANAGEMENT MODEL FOR SHARED ECONOMY PROCESSES: A

CASE STUDY ABOUT BLABLACAR

Amanda Gundes de Almeida1

Guilherme Luz Tortorella2

RESUMO: A forma como as pessoas se comunicam, interagem e se relacionam vem mudando

ao longo dos anos. Nesse contexto, surge a economia compartilhada como alternativa às

relações de mercado tradicionais. Apesar de se consolidar como uma forma de atender às

necessidades dos consumidores de uma maneira mais sustentável e atraente, com menores

custos e desperdícios, a economia compartilhada ainda precisa enfrentar desafios,

principalmente aqueles relacionados à falta de regulamentação e a desconfiança do consumidor.

O presente artigo tem como objetivo explorar como a gestão da qualidade pode estimular o

consumo compartilhado através da minimização dos riscos envolvidos nos processos. Para

tanto, a partir de um estudo de caso desenvolvido em uma empresa de compartilhamento de

caronas, foram propostas melhorias no serviço prestado e elaborado um modelo de gestão da

qualidade para empresas de economia compartilhada que possuem as mesmas características e

que atuam em áreas similares.

Palavras-chave: Economia compartilhada, Gestão da qualidade, Compartilhamento de

caronas.

ABSTRACT: The way people communicate, interact, and relate has been changing over the

years. In this context, the sharing economy emerges as an alternative to traditional market

relations. Although it is consolidated as a way to meet consumer needs in a more sustainable

and attractive way, with lower costs and waste, the sharing economy still faces challenges,

especially those related to lack of regulation and consumer mistrust. This article aims to

explore how quality management can stimulate shared consumption by minimizing the risks

involved in processes. To do so, based on a case study developed in a carpool sharing company,

improvements were proposed in the service rendered and a quality management model was

developed for shared economy companies that have the same characteristics and work in

similar areas.

Keywords: Sharing economy, Quality management, Carpool sharing.

1 INTRODUÇÃO

1 Mestranda de Engenharia de Produção na UFSC. E-mail: [email protected] 2 Professor Orientador. PPGEP - UFSC. E-mail: [email protected]

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Com o passar dos anos, cada vez mais consumidores têm se mostrado insatisfeitos com

experiências de consumo massificadas e pré-formuladas oferecidas pelo mercado (KOZINETS

et al., 2008). A ascensão da Internet e das novas tecnologias, em combinação com a crescente

consciência ambiental e a recessão de 2008, permitiu o progresso e o desenvolvimento da

chamada economia compartilhada (BELK, 2010; BOTSMAN; ROGERS, 2011; COHEN;

KIETZMANN, 2014, GANSKY, 2010). Nesse novo cenário os consumidores passaram a

querer ter acesso a produtos de forma temporária, ao invés de adquiri-los (BARDHI et al.,

2012). Essas inovações podem mudar significativamente a lógica da competição e podem

representar vantagem frente às empresas já estabelecidas, forçando-as a adotarem estratégias

de qualidade diferenciadas para continuarem competindo no mercado (CHRISTENSEN, 2001).

As práticas que caracterizam a economia compartilhada são muito diversas, tanto no

que diz respeito às áreas, os tipos de serviços e produtos oferecidos, assim como às maneiras

pelas quais essas relações acontecem. Grande parte das empresas de economia compartilhada

desempenham atividades baseadas no consumo ou na prestação de serviços (BOTSMAN;

ROGERS, 2011). É sabido que a gestão da qualidade em serviços é mais difícil do que na

produção, por serem intangíveis (HAYWOOD-FARMER, 1988). Os serviços também são mais

complexos visto que as preferências e circunstâncias individuais afetam a percepção do

consumidor (DOTCHIN; OAKLAND, 1994; GHOBADIAN et al., 1994). É extremamente

importante pensar sobre a qualidade do produto, do processo, da entrega e dos valores gerais

que permeiam a empresa como um todo. Qualidade em uma organização inclui preços,

segurança, estratégia de planejamento, gestão de negócios e relações humanas. Em uma

empresa de serviços, é preciso dar ainda mais atenção a questões como medições de

desempenho, controle e especificações técnicas de qualidade. Também é importante levar em

consideração a inovação social, que significa que a empresa e seus funcionários se esforçam

para encontrar novas estratégias, ideias e conceitos que atendam a padrões de qualidade cada

vez mais elevados, criando um senso de melhoria contínua em toda a empresa (NORMANN,

2000).

Embora a economia compartilhada esteja crescendo em grande velocidade em todo o

mundo, há uma escassez de pesquisas sobre o assunto. Os estudiosos de gestão mal começaram

a explorar a superfície do campo e as implicações que esses modelos de negócios têm sobre

outras empresas, o meio ambiente e as cidades (COHEN; KIETZMANN, 2014). Mais

especificamente, estudos sobre o tema da gestão da qualidade aplicados na economia

compartilhada, um campo que é muito relevante para os problemas e desafios enfrentados em

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relação a questões como confiança e risco, não foram encontrados na literatura. Nesse sentido

este artigo busca, a partir de um estudo de caso, desenvolver um modelo de gestão da qualidade

para uma empresa que atua em processos de economia compartilhada oferecendo serviços de

compartilhamento de caronas. De acordo com pesquisa conduzida pela PwC (2015), a partilha

de automóvel, de todas as categorias de economia compartilhada examinadas, é a que os

consumidores mais gostariam que tivesse sucesso. O intuito principal deste artigo é que o

modelo desenvolvido possa ser adotado por outras empresas que possuem as mesmas

características e que atuam em áreas similares àquelas da organização selecionada para a

pesquisa.

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 ECONOMIA COMPARTILHADA

A economia compartilhada, também conhecida como consumo colaborativo

(BOTSMAN; ROGERS, 2011), é uma tendência relativamente nova e em constante expansão

por meio de novas empresas e modelos de negócio com foco na partilha de produtos ou serviços

(GANSKY, 2010). Ela teve origem nos Estados Unidos, durante a década de 1990, com o

surgimento dos websites de recirculação de bens, como o eBay e o Craigslist. Esses sites

aproveitaram os avanços tecnológicos e consequente redução dos custos das transações para

explorarem mercados até então pouco conhecidos (SCHOR et al., 2016). A redução dos custos

das transações comerciais é o fator que impulsionou e possibilitou a expansão das operações

on-line peer-to-peer, ou pessoa para pessoa (SHIRKY, 2008), o que permitiu a criação desses

novos modelos de negócios (GANSKY, 2010).

Segundo Botsman (2013), a economia compartilhada é definida como um conjunto de

práticas comerciais que possibilita o acesso a bens e serviços, sem que haja, necessariamente,

a compra do produto ou a troca monetária entre os indivíduos envolvidos. Nesse modelo

econômico existem as partes fornecedoras e as partes usuárias envolvidas. O fornecedor é a

pessoa que oferece os recursos disponíveis para compartilhamento e o usuário é a pessoa que

consome o recurso disponível. Uma pessoa também pode optar por ser tanto fornecedor como

usuário (BOTSMAN; ROGERS, 2011). Bostsman e Rogers (2011) afirmam que com a

introdução da economia compartilhada o consumo passou a ser caracterizado por uma dinâmica

de doação e colaboração para obtenção do que se deseja, e as motivações para participar desse

tipo de consumo incluem economia de custo, conveniência e o fato de ser socialmente

sustentável e consciente.

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De acordo com um estudo conduzido por Shaeen et al. (2012), existem dois fatores

que podem gerar ameaças ao crescimento da economia compartilhada: falta de normas que

regularizem esses novos negócios e a desconfiança que ainda ronda esse mercado. Para que a

economia compartilhada tenha um futuro promissor, é preciso que os participantes ofereçam

excelência de atendimento. A confiança vem justamente daqueles que experimentam o

compartilhamento, ajudando a construir a reputação do que está sendo ofertado. Para Botsman

(2013), a moeda dessa nova economia é a confiança, chamada também de “capital de

reputação”. A confiança no mundo digital é criada, principalmente, por meio da reputação

(SCHOR et al., 2016), por isso empresas de economia compartilhada precisam desenvolver

ferramentas que proporcionem a construção da reputação de seus usuários (BOTSMAN;

ROGERS, 2011).

2.2 GESTÃO DA QUALIDADE EM SERVIÇOS

Existem diversas definições para o termo qualidade na literatura, e classificá-la,

principalmente quando se trata da sua aplicação em serviços, compreende uma tarefa difícil e

arriscada. Garvin (2002) agrupou as várias definições de qualidade em cinco abordagens

principais. Na abordagem transcendental a qualidade não é explicada por definições racionais

e científicas, sendo considerada uma percepção intuitiva; na abordagem baseada no produto a

qualidade é baseada em uma série de especificações mensuráveis que a garantem e certificam;

na abordagem baseada no usuário a qualidade parte da percepção do cliente, ou seja, se o

produto ou serviço o satisfaz, é de qualidade; na abordagem baseada na produção a qualidade

é a eficiência em produzir exatamente o que foi projetado, de forma otimizada e sem

desperdícios; na abordagem baseada no valor a qualidade está relacionada com custo e preço,

quanto maior o desempenho com o menor preço ou custo, maior será a qualidade do produto

ou serviço. Para Paladini (2000), a abordagem baseada no usuário tende a englobar as demais

abordagens, pois quando uma empresa se preocupa com questões como imagem, conformidade

com as especificações do projeto, características desejáveis de um produto e valor oferecido

maior que o preço, ela está automaticamente direcionando seu foco para as necessidades

explícitas e implícitas do consumidor.

Em razão da alta competição, muitas organizações prestadoras de serviços têm

buscado não somente atender, mas superar as necessidades e expectativas dos clientes. A gestão

da qualidade em serviços é uma forma de compreender e gerir uma empresa que exerce esse

tipo de atividade, podendo ser definida como uma abordagem organizacional que torna a

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qualidade do serviço prestado percebida pelo cliente (GRÖNROOS, 2007). Os conceitos da

qualidade são dinâmicos e podem variar de acordo com as perspectivas e necessidades dos

consumidores, por isso o foco no cliente é a principal diretriz da gestão da qualidade (DEMING,

1990; JURAN, 1992). O fato de um cliente não poder experimentar um serviço

antecipadamente torna essencial para a organização atingir os padrões de qualidade esperados

desde o início (GHOBADIAN et al., 1994).

Segundo Oliveira (2004), os serviços apresentam como principal característica a

intangibilidade, ou seja, são abstratos e não podem ser estocados ou transportados. Logo, não é

possível para um consumidor olhar um serviço e dizer se ele é de boa ou má qualidade

(DOTCHIN; OAKLAND, 1994). Por essa razão, quando se trata de avaliar a qualidade do

serviço, o consumidor observa fatores como confiabilidade, atendimento e eficácia

(OLIVEIRA, 2004). Se um serviço é conectado a um bem tangível, como um carro, o cliente

será capaz de olhar para o carro e ver se ele cumpre o prometido ou esperado padrão de

qualidade, afetando como o serviço é percebido. Se o serviço for considerado ruim, será muito

difícil mudar a opinião do consumidor (GHOBADIAN et al., 1994). Parasuraman et al. (1985)

definiram um conjunto de determinantes para a qualidade em serviços, listados a seguir:

Confiabilidade: oferecer o serviço de acordo com o que foi prometido, com

precisão, consistência e segurança;

Rapidez: atendimento rápido e prontidão para servir o cliente;

Competência: significa possuir as habilidades e conhecimento necessários para

realizar o serviço;

Comunicação: significa manter os clientes bem informados de forma clara e em

uma linguagem que eles consigam compreender;

Credibilidade: considera a honestidade e a reputação da empresa;

Segurança: ausência de perigos, riscos ou dúvidas;

Aspectos tangíveis: referem-se a quaisquer evidências físicas relacionadas

serviço, como instalações físicas e equipamentos utilizados no processo;

Empatia: cordialidade, cuidado e atenção personalizada fornecida ao cliente;

Flexibilidade: capacidade de mudar e melhorar continuamente o serviço para se

ajustar às necessidades dos clientes;

Acessibilidade: refere-se à proximidade e facilidade de contato com o serviço;

Disponibilidade: facilidade em encontrar sempre que necessário pessoal de

atendimento, meios facilitadores e instalações disponíveis;

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Grönroos (1994) ainda afirma que a qualidade percebida de um serviço pode ter duas

dimensões: a dimensão técnica e a dimensão funcional. A dimensão técnica está relacionada

com o resultado daquilo que é recebido durante a aquisição do serviço, ou seja, se refere a “o

que” o cliente recebe após o processo. A dimensão funcional está relacionada ao nível de

desempenho observado de forma subjetiva, ou seja, se refere a “como” o cliente recebe e

vivencia o serviço, sendo fortemente dependente do contato com o prestador do serviço. Em

um serviço de compartilhamento de caronas por exemplo, um cliente pode ser transportado de

uma localidade para outra como resultado do serviço (dimensão técnica), mas sua percepção de

qualidade também vai depender de como ele recebeu esse serviço, no caso serviços prestados

por meio da plataforma virtual e também pelo motorista que o transportou (dimensão

funcional).

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Para estudar a aplicação da gestão da qualidade em empresas de economia

compartilhada que oferecem o serviço de compartilhamento de caronas, optou-se pela

utilização do estudo de caso como estratégia de pesquisa. A motivação para a escolha desse

tipo de atividade se deu pelo fato de que existe um número relativamente grande de plataformas

que oferecem esse tipo de serviço, além do compartilhamento de caronas representar um típico

caso de economia compartilhada, possuindo todas as características básicas desse tipo de

modelo econômico. O estudo de caso foi escolhido por se tratar de uma estratégia aplicável na

investigação de fenômenos ainda pouco analisados, sobre os quais o pesquisador não tem

controle (YIN, 2001). Além disso, esta pesquisa baseia-se em uma ótica interpretativista onde

a abordagem parte do pressuposto de que a realidade é algo que se constrói socialmente e que,

para compreendê-la, o pesquisador deve interagir com o fenômeno (DOUGLAS;

ISHERWOOD, 2006).

Este estudo teve ainda um caráter exploratório visto que envolveu um levantamento

bibliográfico e a análise de exemplos a fim de proporcionar maior familiaridade com o

problema e torná-lo explícito. Como a economia compartilhada ainda é um tema pouco

explorado no Brasil, foi necessário consultar na literatura artigos e publicações acadêmicas que

abordassem o fenômeno no exterior. Além disso, foram consultados sites na internet com

avaliações de terceiros sobre os serviços prestados pela empresa selecionada.

O método adotado é o qualitativo, onde a própria autora participou da pesquisa como

usuária do processo de utilização do serviço de compartilhamento de caronas e relatou sua

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experiência. A partir da utilização do serviço e também da análise de opiniões de outros usuários

da plataforma, buscou-se entender como os princípios da gestão da qualidade podem ser

incorporados nas operações de organizações que atuam em processos de economia

compartilhada e que prestam serviços de compartilhamento de caronas. Em seguida foi

desenvolvido um processo de avaliação do serviço prestado pela empresa e propostas melhorias

em relação à interação da empresa com o usuário e à utilização dos serviços oferecidos, assim

como efeitos multiplicadores da experiência.

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

4.1 CASO PRÁTICO

A empresa sob análise no âmbito da economia compartilhada é a BlaBlaCar, a maior

comunidade de compartilhamento de caronas em viagens de longa distância do mundo. Criada

em 2003 por Frédéric Mazzela, a empresa iniciou suas atividades no mercado como startup em

2006. A BlaBlaCar conecta condutores e passageiros dispostos a viajar juntos entre cidades e

compartilhar os custos da viagem. Quem oferece carona na BlaBlaCar está de viagem marcada

e não visa obter lucro, e para impedir o uso comercial a startup impõe no sistema um limite de

quatro passageiros por viagem, além de um valor máximo por contribuição levando em

consideração médias nacionais de combustível e pedágio. Atualmente cerca de dois milhões de

pessoas utilizam a BlaBlaCar todo mês, optando por uma forma econômica e alternativa de

viajar. A empresa tem mais de 600 funcionários e mais de 35 milhões de membros em 22 países,

tendo estreado no Brasil no segundo semestre de 2015, com boa aceitação pelos brasileiros até

então (ESCOLA DA TECNOLOGIA, 2015).

A empresa desempenha suas atividades através de um aplicativo para smartphones.

Nele os membros devem criar um perfil pessoal, adicionar uma foto, preencher informações

como nome, data de nascimento, sexo, número de telefone, e-mail e cadastrar o tipo de carro

que será usado na viagem, caso a pessoa pretenda oferecer caronas. Ainda é possível informar

preferências do tipo se é permitido fumar, transportar animais, o nível de conversação durante

a viagem e se tem preferência por escutar música ou não. Ao acessar a tela inicial do aplicativo

são dadas duas opções, “oferecer carona” ou “procurar carona”. Ao optar por “oferecer

carona”, o fornecedor, e no caso motorista, deve informar o seu itinerário, a data e a hora de

sua viagem, o valor que será cobrado a cada passageiro, quantos assentos estão disponíveis, se

é possível haver desvio de rota e qual a sua tolerância a atrasos. É permitido também limitar a

oferta de apenas duas vagas no banco de trás visando maior conforto para os passageiros e, para

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motoristas do sexo feminino, existe a opção de tornar a carona visível apenas para mulheres.

No próximo passo o fornecedor deve escolher entre a aprovação manual, onde o motorista

confirma a reserva de cada passageiro, e a aprovação automática da requisição de carona.

Independente do tipo de aprovação escolhida, quando os passageiros reservam um lugar no

carro, o aplicativo envia automaticamente uma notificação por e-mail e SMS ao motorista e ao

passageiro confirmando os detalhes do serviço. Ao optar por “procurar carona”, o usuário que

será o passageiro escolhe seu destino, data e hora que pretende viajar e quantos lugares deseja

reservar. Em seguida ele encontra as vagas disponíveis e se assim desejar, se candidata. O

fornecedor da carona escolhida vai ser notificado imediatamente da reserva e assim que ele

concordar em transportá-lo, os dois membros receberão os números de celulares um do outro

para combinarem os últimos detalhes. Se o passageiro quiser tirar dúvidas antes de se candidatar

à vaga, é possível fazer perguntas públicas ao condutor que ficará visível para qualquer outro

usuário do aplicativo. Por fim, o valor da participação é pago diretamente ao motorista durante

a viagem.

Apesar de não operar dentro de padrões de certificação da qualidade, assim como

outras empresas de economia compartilhada, a BlaBlaCar conta com diversos procedimentos

de manutenção da qualidade. Em primeiro lugar, todas as identidades digitais dos membros são

verificadas. Os perfis pessoais dos membros incluem avaliações e revisões por outros membros,

verificação de rede social e de documentos (carteira de motorista, RG ou passaporte) e taxa de

resposta às perguntas públicas. Os perfis também indicam quanta experiência aquela pessoa

tem do serviço correspondente à sua atividade na plataforma. No total existem cinco níveis de

experiência que estão relacionados com o tempo que a pessoa possui como membro da

comunidade, quantidade de vezes que já utilizou o aplicativo, nível de preenchimento das

informações pessoais e número de avaliações positivas recebidas. A comunidade é auto

moderada pelos próprios membros, usando os perfis e avaliações para elogiar ou criticar aqueles

que não respeitem o espírito BlaBlaCar de colaboração positiva. A BlaBlaCar também é

formada por uma equipe de suporte aos membros disponível para tirar qualquer dúvida técnica

relacionada ao uso do aplicativo. Todas essas medidas visam o desenvolvimento de uma

comunidade de confiança onde o membro se sinta seguro para utilizá-la e escolher a pessoa

certa para sua viagem (ESCOLA DA TECNOLOGIA, 2015).

Após selecionar a BlaBlaCar como empresa a ser analisada, a autora deste artigo

requisitou o serviço de carona como usuária, ou seja, como passageira e solicitadora da carona.

Com o perfil no aplicativo criado, foi informado o itinerário da viagem desejada, que se iniciava

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em Rio das Ostras, cidade no interior do Rio de Janeiro, até a capital Rio de Janeiro. Optou-se

por restringir a procura por somente motoristas do sexo feminino. Com a carona selecionada e

a aprovação da condutora, detalhes como ponto de encontro e de chegada foram combinados

fora da plataforma. A motorista foi pontual e a viagem foi tranquila, cumprindo com o que foi

combinado. Avaliando a empresa BlaBlaCar a partir da experiência desenvolvida é possível

afirmar que ela atendeu às necessidades explícitas do consumidor prestando o serviço em

conformidade com as suas especificações.

4.2 MODELO DE GESTÃO DA QUALIDADE

Apesar de atingir seu objetivo fundamental, que é fornecer um serviço de

compartilhamento de caronas que leve o passageiro para onde ele deseja ir e contribua na

diminuição dos custos para ambos os membros da comunidade BlaBlaCar, durante a

experiência de utilização do serviço foram identificadas melhorias na dimensão funcional do

serviço. É sabido que todas as dimensões da qualidade são de extrema importância,

principalmente se tratando da economia compartilhada, onde fatores relacionados à confiança

e segurança são os maiores impulsionadores do sucesso da empresa. Pode-se dizer que as

estratégias e melhorias apresentadas neste artigo para a empresa investigada estão relacionadas

principalmente com as abordagens da gestão da qualidade baseadas no produto e no usuário,

pois se baseiam na adição de novas funcionalidades e características com o objetivo de

satisfazer o cliente. Além disso, os próprios consumidores que experimentam o

compartilhamento são responsáveis por construir a reputação da organização e incentivar a

utilização do que está sendo oferecido, por isso sua satisfação deve ser sempre prioridade.

O primeiro ponto observado em relação ao processo de interação com o cliente foi a

dificuldade de comunicação através da plataforma. Não existe uma opção de conversar em

modo privado com o fornecedor da carona, sendo que o próprio aplicativo realiza a troca

automática dos números de telefones entre motorista e passageiro no momento da confirmação

da reserva, estimulando a troca de informações fora da plataforma. Essa queixa também foi

observada na área de avaliações de usuários na loja virtual onde o aplicativo BlaBlaCar pode

ser adquirido. Dentro do processo de prestação do serviço de compartilhamento de caronas,

existe uma necessidade funcional de se estabelecer uma comunicação rápida e fácil entre os

participantes que se encontram distantes um do outro. Além disso, ao utilizar o aplicativo o

consumidor tem a expectativa de que ele irá atender todas as suas necessidades, sem precisar

recorrer a outros meios. A possibilidade de utilizar um chat dentro do aplicativo facilita o acesso

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e torna mais fácil e rápido o contato do usuário com o fornecedor da carona, o que constitui um

dos determinantes dentro do conjunto de características necessárias para satisfazer o

consumidor e consequentemente contribuir na formação da qualidade.

Outro fator crítico presenciado durante a utilização da plataforma desenvolvida pela

empresa foi a falta de opções de pagamento. Como só existe uma única forma do passageiro

pagar sua contribuição, que é entregando o dinheiro no momento da viagem, o motorista deve

sempre possuir com ele uma quantia destinada ao troco, o que pode representar um

inconveniente para ambas as partes. Além disso, a não possibilidade de realizar o pagamento

no momento da reserva pode estimular o cancelamento sem aviso ou de última hora e a

desistência por parte do passageiro, problema muito citado nas avaliações feitas pelos usuários

do aplicativo. A implantação de um processo de pagamento por outros meios como cartões de

crédito e débito dentro da plataforma, atende necessidades relacionadas à credibilidade e

segurança da gestão da qualidade em serviços, pois minimiza riscos e colabora no ganho da

confiança do consumidor.

Já ao analisar o serviço de transporte prestado durante a viagem e no caso o bem

tangível envolvido no processo, questões relacionadas à segurança e higiene do veículo se

tornaram críticas. Operadoras de compartilhamento de veículos tradicionais possuem modelos

de gestão da qualidade que visam garantir padrões de segurança e qualidade dos seus veículos.

Empresas que oferecem compartilhamento de caronas como a BlaBlaCar dependem dos

proprietários dos veículos para manterem seus automóveis seguros e limpos e resolver

problemas de manutenção. Visto isso e a fim de aumentar a confiança do usuário, é proposta a

inclusão de uma cláusula nos termos de uso, que pode ser encontrada dentro do aplicativo, onde

os motoristas concordem em manter seu veículo adequadamente limpo, seguro e com a

manutenção em dia.

Diminuir as possibilidades de se ter uma experiência ruim antes e durante a viagem, é

um passo importante para que mais pessoas se disponham a oferecer lugares que antes ficariam

vagos em seus carros. Adaptando o modelo de dimensões da qualidade desenvolvido por

Parasuraman et al. (1985), propõe-se que os seguintes determinantes são essenciais no modelo

de gestão da qualidade para serviços de compartilhamento de carona:

Tabela 1: Determinantes da qualidade para serviços de compartilhamento de caronas

Determinante Conceito

Acesso Facilidade em utilizar a plataforma digital de forma

que atenda todas as necessidades envolvidas na

prestação do serviço

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Confiabilidade Minimizar riscos para estimular a confiança entre

desconhecidos, oferecendo um serviço que atenda

suas necessidades com precisão, consistência e

segurança

Aspectos tangíveis Oferecer e utilizar somente veículos em bom estado

de manutenção, limpos e seguros, evitando qualquer

tipo de risco que possa comprometer a qualidade do

serviço de transporte e o bem-estar dos usuários

Fonte: Autora

4.3 EFEITOS MULTIPLICADORES

Apesar de desenvolverem práticas alternativas para a aplicação da gestão da qualidade

em seus processos, como verificações de identidade, avaliações e reclamações dos membros da

comunidade e estabelecimento de termos de adesão e uso, ainda não existem padrões, normas

ou certificações específicas para analisar o nível de qualidade em serviços prestados por

empresas de economia compartilhada. Além disso, a falta de informação sobre seus aspectos

comportamentais, legais e econômicos torna o futuro da economia compartilhada incerto. Tem-

se uma sensação de que as medidas de segurança tomadas até agora são apenas declarações

para proteger os consumidores, garantir que recebam o que requisitaram e que suas expectativas

sejam cumpridas, o que muitas vezes pode não ser suficiente para convencer as pessoas a

entrarem no carro de um desconhecido. Além disso, de acordo com os próprios termos de uso

indicados para esses serviços, as consequências de não fornecer o serviço anunciado ou não se

comportar de acordo com os princípios da comunidade são no máximo o cancelamento da conta

ou uma mensagem pública de que o membro não é mais verificado. Essa falta de controle sobre

o andamento do processo e o que pode ou não acontecer durante a viagem, pode gerar

resistência ao consumo e ser um grande estímulo para a prevalência da falta de confiança dos

usuários no serviço.

Como empresa que oferece serviços de compartilhamento de caronas por meio de uma

plataforma online, propõe-se que a BlaBlaCar deva buscar cada vez mais integrar tecnologias

adicionais para controle e segurança de veículos, bem como registro e transmissão de dados.

Esses sistemas serão capazes de aumentar o controle da empresa sobre o andamento do processo

e reduzir os riscos associados à segurança de motoristas e passageiros. A proposta inicial é que

a BlaBlaCar aproveite os sensores já integrados aos smartphones e adicione ao aplicativo um

sistema de localização global (GPS) que rastreie o veículo e recolha dados operacionais que

possam ser analisados caso necessário. O recolhimento dessas informações permitirá a geração

de relatórios de velocidade média e medição da frequência com que os carros são acelerados

ou parados, por exemplo. O rastreamento do veículo durante a trajetória da viagem permitirá a

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equipe de suporte ou o próprio usuário tomar uma atitude mais rápida caso algum evento

inesperado aconteça. Trata-se de uma medida de qualidade com foco na abordagem baseada no

processo, uma ferramenta fundamental para melhorar a qualidade dos serviços, pois com o

mapeamento dos processos será possível promover a transparência, definir de forma mais clara

as responsabilidades entre as pessoas envolvidas, padronizar a comunicação, monitorar

tarefas e agir de forma proativa evitando não conformidades.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A economia compartilhada tem se mostrado uma tendência importante na última

década nos mercados de consumo. No entanto, o estado de conhecimento e pesquisa sobre o

tema ainda permanece escasso. Este estudo teve como objetivo examinar o fenômeno da

economia compartilhada do ponto de vista dos principais fatores que podem gerar ameaça ao

seu crescimento, e buscar compreender como a gestão da qualidade pode ajudar organizações

desse setor a enfrentar essas barreiras. Para isso foi desenvolvido um estudo de caso sobre a

empresa BlaBlaCar, principal plataforma de compartilhamento de caronas do mundo, onde

questões relacionadas à confiança entre desconhecidos e riscos à segurança do consumidor se

mostraram críticas.

Pode-se concluir que empresas de economia compartilhada que oferecem serviços de

compartilhamento de caronas devem dar mais atenção e focar seus esforços de gestão da

qualidade nos aspectos funcionais do serviço, ou seja, aquilo que é observado de forma

subjetiva, mas que afetará a percepção de qualidade do consumidor. O modelo desenvolvido a

partir da utilização do serviço e das melhorias identificadas se mostra aplicável em outras

empresas que possuem as mesmas características que a BlaBlaCar ou que atuam em áreas

similares, visto que a construção de um ambiente seguro para os usuários é fator determinante

para incentivar a escolha do serviço e sua utilização recorrente.

Apesar das deficiências encontradas, os benefícios potenciais de sustentabilidade,

economia e facilidade associados a economia compartilhada e encontrados na BlaBlaCar são

válidos, do ponto de vista da autora, como incentivadores ao seu uso. Por atender as principais

necessidades atreladas a um serviço de compartilhamento de caronas, a autora voltaria a utilizar

o serviço.

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SISTEMA ALERTA VERMELHO DE BRUSQUE

RED ALERT SYSTEM OF BRUSQUE

Diego Oscar Imhof1

Pedro Sidnei Zanchett2

Lucas Debatin3

RESUMO: A utilização da tecnologia da informação é muito importante, pois ela auxilia no

processo de tomada de decisão e organização das informações, oferecendo assim maior

agilidade em situações de desastres. E isso não é diferente para o Corpo de Bombeiros que

poderá se beneficiar com a tecnologia a fim de garantir rapidez e segurança em seus processos.

O sistema Alerta Vermelho consiste em mapear os bairros da cidade de Brusque com maiores

riscos de segurança para a população, a fim de auxiliar o Corpo de Bombeiros na tomada de

decisão de forma a tornar este processo de gestão do Corpo de Bombeiro inovador a fim de

atender através de uma rede cooperativa a população de Brusque e região. O sistema é dividido

em três módulos: um módulo em nível de gestão para o Corpo de Bombeiros, um módulo do

aluno para realizar as pesquisas junto ao público-alvo e um módulo para acesso de todas as

informações e dicas de segurança para a população em geral.

Palavras-chave: Sistema Alerta Vermelho. Operação Alerta Vermelho. Corpo de Bombeiros.

ABSTRACT: The use of the technology of the information is very important, therefore it

assists in the process of taking of decision and organization of the information, thus offering

bigger agility in situations of disasters. And this isn’t different for the Fire Department that will

be able to be benefited with the technology in order to ensure rapidity and security in yours

processes. The Red Alert system consists of map the neighborhoods of the city of Brusque with

bigger risks of security for the population, in order to assist the Fire Department in the decision

taking in order to make this process of management of the Fire Departament innovative in order

to meet through a cooperative network the population of Brusque and region. This system will

be divides in three modules: a module in management level for the Fire Department, a module

of the student to carry through the research next to the public-target in general and a module

for access of all the information and tips of security for the population.

Keywords: Red Alert System. Operation Red Alert. Fire Department.

1 Acadêmico do curso de Sistemas de Informação no Centro Universitário de Brusque – UNIFEBE, Brusque, SC.

E-mail: [email protected]. 2 Mestre em Engenharia e Gestão do Conhecimento pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Docente

no Centro Universitário de Brusque – UNIFEBE, Brusque, SC. E-mail: [email protected]. 3 Mestrando em Computação Aplicada pela Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI), Itajaí, SC. E-mail:

[email protected].

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1 INTRODUÇÃO

Este artigo irá abordar o Sistema Alerta Vermelho de Brusque, um sistema

desenvolvido pelo acadêmico Diego Oscar Imhof do curso de Sistemas de Informação

participante do Programa Alerta Vermelho através da parceria de pesquisa e extensão entre a

UNIFEBE e o Corpo de Bombeiro de Brusque.

O programa de extensão Operação Alerta Vermelho tem por objetivo identificar os

bairros com maiores riscos de acidentes domiciliares e passar instruções de segurança para a

população de Brusque. Neste programa os acadêmicos se dirigem até o quartel do Corpo de

Bombeiros e recebem as instruções necessárias para passá-las à população. Após esse

treinamento os acadêmicos acompanhados dos bombeiros se deslocam a um bairro pré-definido

pelo Corpo de Bombeiros e realizam a pesquisa de campo junto à população.

Atualmente o programa Operação Alerta Vermelho mantém um conjunto de itens

mapeados os quais visam identificar, por exemplo, se a pessoa conhece o número de emergência

do Corpo de Bombeiros, se sabe utilizar extintor de incêndios, sabe agir diante de uma situação

de emergência, verifica a instalação do gás de cozinha e a validade da mangueira e da válvula

de segurança de gás, é conferido se o sistema elétrico possui disjuntor e também é analisado se

a casa está em situação de risco como deslizamento e enchente entre outros itens.

Durante a pesquisa o pesquisador utiliza um formulário impresso no qual após cada

resposta das perguntas feitas durante as entrevistas são preenchidas manualmente. No último

dia da pesquisa os acadêmicos realizam a última etapa da pesquisa na própria unidade do Corpo

de Bombeiros para transcrever estas informações no Excel a fim de apresentar seus resultados

graficamente com o somatório dos dados coletados.

Baseado nesses gráficos o Corpo de Bombeiros utiliza-os para realizar tomadas de

decisões durante algum evento de emergência na cidade de Brusque que possa ocorrer por

desastre naturais como enchentes, descargas elétricas e desmoronamentos.

Todas as informações coletadas são de extrema importância para o Corpo de

Bombeiros, porém como essas informações são todas preenchidas em um formulário de papel

torna-se um grande risco em rasurar ou até mesmo perder essas informações.

Quando acontece um evento de desastre natural, se torna difícil consultar cada gráfico

e comparar cada pesquisa que foi realizada para ver qual é a região que precisa de mais atenção

do Corpo de Bombeiros.

Percebendo que o Corpo de Bombeiros teria grandes benefícios com a utilização da

tecnologia nesta gestão e cooperação entre todos, podendo assim por meio de um sistema

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automatizar seus processos e facilitando a consulta a informação e agilizando no processo de

tomada de decisão, foi desenvolvido o sistema Alerta Vermelho.

2 REFERENCIAL TEÓRICO

O sistema Alerta Vermelho é um sistema de gerenciamento e tomada de decisão, ou

seja, ele é um sistema de informação, pois possui um conjunto de elementos que interagem

entre si e são compostos por pessoas, máquinas e processos. O objetivo do sistema de

informação é armazenar, tratar e fornecer informações de tal modo a apoiar as funções ou

processos de uma organização. Segundo Freitas et al. (1997, p. 77), os "sistemas de informações

são mecanismos cuja função é coletar, guardar e distribuir informações para suportar as funções

gerenciais e operacionais das organizações".

Um sistema de tomada de decisão hoje em dia é comum dentro das organizações, nas

grandes empresas ele se torna essencial. Ele permite ao gestor o controle da instituição, podendo

assim analisar as informações e históricos de forma fácil e prática. “Os sistemas de apoio à

decisão são sistemas de informação interativos que assistem o decisor a aceder a problemas mal

estruturados oferecendo modelos analíticos e acesso a bases de dados" (ZWASS, 1992).

O Sistemas de Informações Gerenciais (SIG) “é o conjunto de tecnologias que

disponibiliza os meios necessários à operação do processo decisório em qualquer organização

por meio do tratamento dos dados disponíveis” (CRUZ, 2008, p.56).

Para que um sistema seja desenvolvido de forma consistente, é preciso aliar boas

práticas da engenharia de software com um robusto e eficiente processo de desenvolvimento.

Diferentes tipos de sistemas necessitam de diferentes processos de desenvolvimento. Por

exemplo, um software de tempo real de uma aeronave deve ser completamente especificado

antes do início do desenvolvimento, enquanto que um sistema de comércio eletrônico a

especificação e o desenvolvimento do software podem ser conduzidos paralelamente. O uso de

um processo de software inadequado pode reduzir a qualidade ou a utilidade do produto de

software a ser desenvolvido e/ou aumentar os custos de desenvolvimento. Este fato leva as

organizações que produzem software a usar processos de desenvolvimento que sejam eficientes

e que atendam plenamente suas necessidades (SOMMERVILLE, 2007).

A existência do processo de software é extremamente importante pois oferece

estabilidade, padronização e controle na execução das atividades tornando os projetos mais

fáceis de serem realizados e garantindo maior qualidade do produto de software a ser entregue

ao cliente. “A elaboração de software de computador é um processo de aprendizado, e o

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resultado, é a incorporação de conhecimentos coletados, destilados e organizados à medida que

o processo é conduzido. Processo é o alicerce da engenharia de software. É ele que permite o

desenvolvimento racional e oportuno de softwares de computador” (PRESSMAN, 2006).

Qualidade de software está relacionada a entregar ao cliente o produto final que

satisfaça suas expectativas, dentro daquilo que foi acordado inicialmente por meio dos

requisitos do projeto. Nesse contexto, qualidade de software objetiva garantir essa qualidade

pela definição de processos de desenvolvimento (ENGHOLM JR., 2010). Na gestão da

qualidade de software existem diversas atividades voltadas à garantia da qualidade e ao controle

de qualidade de software. A primeira é para a definição padronizada das atividades voltadas à

prevenção de defeitos e problemas, que podem surgir nos produtos de trabalho. Área que define

padrões, metodologias, técnicas e ferramentas de apoio ao desenvolvimento tendo como entrada

o plano de qualidade de software e os resultados de medições de qualidade. A segunda é voltada

para o monitoramento de resultados específicos do projeto, ou seja, a detecção de defeitos,

executadas através do uso de técnicas que incluem revisões por pares, teste e análise de

tendências, entre outras (VASCONCELOS et al., 2006).

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

O Alerta Vermelho é um programa de extensão que tem por finalidade possibilitar a

participação por parte dos acadêmicos, em ações desenvolvidas junto à comunidade, com foco

na transmissão de conhecimentos básicos para a prevenção de incêndios em edificações

unifamiliares e acidentes domésticos. Com o objetivo de transmitir de forma prática e eficiente,

conhecimentos básicos necessários para prevenir a ocorrência de incêndios e acidentes em

residências unifamiliares, bem como atuar no enfrentamento à ocorrências dessa natureza.

O programa Alerta Vermelho é realizado em cinco encontros aos sábados no período

da tarde. No primeiro encontro é transmitido aos acadêmicos conhecimentos básicos de

segurança referente a incêndios e acidentes em residências unifamiliares para que os mesmos

estejam aptos a responder qualquer dúvida que possa surgir durante a pesquisa realizada na

comunidade. Durante os próximos encontros os acadêmicos já saem a campo para realizar a

pesquisa acompanhados do Corpo de Bombeiros.

A pesquisa é realizada em um bairro escolhido pelo Corpo de Bombeiros, os

acadêmicos são separados em duplas e se dirigem às residências com um questionário impresso

e preenchem o questionário de acordo com a resposta do entrevistado.

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O questionário contém perguntas de segurança como se o entrevistado conhece o

número de emergência do Corpo de Bombeiros, se sabe utilizar extintor de incêndios, sabe agir

diante de uma situação de emergência, se já presenciou algum princípio de incêndio, o

acadêmico verifica a instalação do gás de cozinha, a validade da mangueira e da válvula de

segurança de gás, é conferido se o sistema elétrico possui disjuntor e também é analisado se a

casa está em situação de risco como deslizamento e enchente.

No último encontro os acadêmicos ficam no quartel e fazem os somatórios de respostas

de cada questão com o intuito de realizar um relatório por meio de gráficos feito através do

Excel.

A Figura 1 representa o somatório de respostas da pergunta se a edificação está em

área de risco realizada na pesquisa de campo no primeiro semestre de 2016.

Figura 13: A edificação está em área de risco.

Fonte: Corpo de Bombeiros de Brusque (2016).

Para cada pergunta realizada no questionário é feito um gráfico como mostrado na

figura anteriormente, finalizado este gráfico é entregue uma cópia para o Corpo de Bombeiros

e outra para UNIFEBE.

Esse relatório por gráfico é muito importante para o Corpo de Bombeiros, pois ele

auxilia na tomada de decisão durante algum evento de desastre natural que possa ocorrer na

cidade de Brusque.

O sistema Alerta Vermelho é um sistema de gerenciamento e tomada de decisão que

abrange as plataformas web e mobile e é composto por três módulos: Administrativo, Aluno e

População. A plataforma web está projetada para executar os módulos: (I) Administrativo: para

o uso do Corpo de Bombeiros; (II) Aluno: para o uso do aluno que realiza as entrevistas; e (III)

População: para uso da população a acesso e pesquisa das informações. A plataforma mobile

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está projetada para executar os módulos: (I) Aluno: para o uso do aluno que realizará a

entrevista; (II) População: para uso da população a acesso e pesquisa das informações.

O módulo administrativo é de uso exclusivo do Corpo de Bombeiros. Neste módulo é

possível realizar o cadastramento de bairro, ano, pergunta, opção da pergunta, aluno e

administrador do sistema. Também é possível visualizar as pesquisas feitas pelos alunos e gerar

relatórios de bairros e relatórios comparativos.

O módulo aluno permitirá que acadêmico realize o cadastro de pesquisa e a

visualização da mesma. O módulo da população será disponibilizado para a população em geral

este módulo conterá: dicas de seguranças, telefones úteis, relatório de bairros e relatórios

comparativos.

Como exemplo do sistema desenvolvido, a Figura 2 abaixo apresenta os 26 bairros da

cidade de Brusque onde a pesquisa é realizada que representa a tela de acesso no módulo

administrador.

Figura 14: Tela principal módulo administrador.

Fonte: Os autores (2017).

A Figura 3 representa a tela de relatórios do módulo administrador. O sistema permitirá

gerar dois tipos de relatórios: bairro e comparativo. Através do relatório de bairro será possível

ver a quantidade total de resposta de cada pergunta que foi realizada naquele determinado

bairro. Já o relatório comparativo será possível selecionar uma pergunta e listar em ordem

decrescente os bairros com a maior quantidade de resposta daquela pergunta.

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Figura 15: Tela relatórios módulo administrador.

Fonte: Os autores (2017).

O acadêmico da UNIFEBE ao realizar a pesquisa deverá ter acesso e permissão no

sistema que apresentará conforme Figura 4 o cadastro de pesquisa com as questões a serem

aplicadas em cada entrevista.

Figura 16: Tela cadastro de pesquisa módulo aluno.

Fonte: Os autores (2017).

Já o módulo desenvolvido para a população acessar a qualquer momento poderá obter

diversas informações e dicas de segurança conforme apresenta a Figura 5, com as dicas sobre

prevenções de acidentes domésticos.

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Figura 17: Tela dicas de segurança módulo população.

Fonte: Os autores (2017).

4 ANÁLISE DOS RESULTADOS

O sistema Alerta Vermelho trouxe como resultado a automatização dos processos do

Corpo de Bombeiros que até então eram manuais. Foi necessário automatizá-los de forma a

facilitar e garantir a gestão das informações do programa que são executadas de forma muito

operacional.

O sistema como um todo atenderá a necessidade do Corpo de Bombeiro para realizar

a gestão de seus processos garantindo agilidade e integridade das informações, facilitando o

acesso à informação, como também beneficiará a população em geral com dicas de segurança

e mostrando os resultados de cada pesquisa.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este artigo apresenta como resultado final o desenvolvimento do sistema Alerta

Vermelho nas plataformas web e mobile. Como visto um sistema de gerenciamento e tomada

de decisão é de extrema importância para o Corpo de Bombeiros de Brusque, sendo assim o

sistema Alerta Vermelho propôs soluções inovadoras para a gestão de seus processos. Pode-se

perceber que esse sistema trará grandes benefícios para o Corpo de Bombeiros e para a

população de Brusque.

Para o Corpo de Bombeiro o sistema auxiliará no gerenciamento das informações e na

agilidade para a tomada de decisão. Já para a população o sistema contará com dicas de

segurança residencial, telefones de utilidade pública e o acesso aos relatórios dos bairros

pesquisados. Essas informações, auxiliarão em evitar acidentes domiciliares como também agir

diante da ocorrência desses acidentes.

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REFERÊNCIAS

CRUZ, Tadeu. Sistemas de informações gerenciais: tecnologia da informação e a empresa

do século XXI, 3.ed. São Paulo: Atlas, 2008.

ENGHOLM JR, Hélio. Engenharia de software na prática. 1ª Ed. São Paulo. Editora

Novatec, 2010.

FREITAS, H.; BECKER, J. L.; KLADIS, C. Informação para a decisão. Porto Alegre: Ortiz,

1997.

PRESSMAN, Roger S. Engenharia de software. 3ª ed. São Paulo: McGraw-Hill, 2006.

SOMMERVILLE, I. Engenharia de Software. 8ª ed. Pearson Addison-Wesley, 2007.

VASCONCELOS A. M. L. de et al. Introdução à engenharia de software e à qualidade de

software. UFLA/FAEPE, 2006. 57 p. (Curso de Pós-graduação “Lato Sensu” (Especialização)

à Distância – Melhoria de Processo de Software.

ZWASS, V. Management Information Systems. Dubuque: Wm. C. Brown Publishers, 1992.

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ANÁLISE DE COMPETÊNCIAS DE LIDERANÇA E CHEFIA MILITAR EM

SARGENTOS DE UMA COMPANHIA DE BOMBEIROS MILITAR DO VALE DO

ITAJAÍ/SC

ANALYSIS OF LEADERSHIP AND MILITARY HEADQUARTERS 'COMPETENCIES AT A

MILITARY FIRE COMPANY OF THE ITAJAÍ VALLEY / SC

Maísa Hodecker1

Roberta Borghetti Alves2

RESUMO: Sabe-se que há uma lacuna entre chefe e líder, e que estes conceitos, apesar de

distintos, inferem uma posição de poder de mando. Na profissão de sargento bombeiro militar,

as competências de chefia estão em evidência, pois assumem o cargo de chefes de uma

guarnição, sendo responsáveis não somente pelos demais bombeiros, como pelas pessoas

atendidas. Visto isso, buscou-se analisar as competências de chefia e liderança em emergências

presentes em três Sargentos Militares de uma Companhia de Bombeiros Militar, localizada no

Vale do Itajaí/SC. Destaca-se que este é um relato de experiência obtido através da disciplina

de Estágio Específico II do curso de Psicologia do Centro Universitário de Brusque -

UNIFEBE, sucedido entre os meses de agosto a dezembro de 2016. Aplicou-se um roteiro de

entrevista semiestruturada para analisar o fenômeno supracitado, e os dados foram

categorizados e analisados sob a Análise de Conteúdo. Como técnicas complementares de

intervenção, utilizou-se a psicoeducação de novos estilos de liderança e role-play para propiciar

uma experiência vivencial sobre a forma como os sargentos atuam. Analisou-se que as

competências mais destacadas pelos participantes como essenciais para o exercer da profissão

tratam-se das capacidades de gestão de conflitos interpessoais da equipe de trabalho,

coordenação, organização do tempo e tarefas, administração, delegação de funções,

gerenciamento de crises, comprometer-se com o trabalho e, por último, saber reconhecer o

esforço alheio e retribuir-lhe dentro de suas possibilidades. Além disso, um dos sargentos

enquadrou-se no estilo de liderança liberal, enquanto os outros dois sargentos classificaram-se

como situacionais.

Palavras-chave: Sargentos. Bombeiros. Liderança. Chefia.

ABSTRACT: It is known that there is a gap between leader and leader, and that these

concepts, although distinct, infer a position of power of command. In the profession of military

sergeant firefighter, the competencies of leadership are in evidence, since they assume the

position of chiefs of a garrison, being responsible not only for the other firemen, as for the

people attended. Thus, we sought to analyze the leadership and emergency leadership skills

present in three Military Sergeants of a Military Fire Company, located in the Itajaí Valley /

SC. It should be noted that this is an experience report obtained through the course of Specific

Stage II of the Psychology course of the University Center of Brusque - UNIFEBE, which

1 Estudante da 10ª fase do curso de Psicologia do Centro Universitário de Brusque. E-mail: [email protected] 2 Psicóloga. Docente do curso de Psicologia do Centro Universitário de Brusque - UNIFEBE. Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Psicologia pela Universidade Federal de Santa Catarina. E-mail: [email protected]

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happened between August and December 2016. A semi-structured interview script was applied

to Analyze the phenomenon mentioned above, and the data were categorized and analyzed

under Content Analysis. As complementary intervention techniques, the psychoeducation of

new styles of leadership and role-play was used to provide a lived experience about the way

sergeants act. It was analyzed that the most important competences of the participants as

essential to the practice of the profession are the interpersonal conflict management capacities

of the work team, coordination, organization of time and tasks, administration, delegation of

functions, crisis management, to commit to work, and finally, to recognize the effort of others

and to give back to them within their means. In addition, one of the sergeants was in the liberal

leadership style, while the other two sergeants were classified as situational.

Keywords: Sergeants. Firefighters. Leadership. Boss.

1 INTRODUÇÃO

Os estudos que circundam a liderança, tanto em seu aspecto conceitual, quanto prático,

provocam inúmeros questionamentos e estimulam o debate, uma vez que transpassam ações de

profissionais de diversas áreas, entre elas, a prática dos bombeiros militares no cotidiano de

trabalho. Ao referir-se a liderança, a literatura existente dispõe de distintas análises, não

havendo um comum acordo entre os autores. A partir disso, surgem teorias de liderança que

tratam de significados distintos atribuídos à temática, suas bases conceituais e teóricas,

impregnadas das posturas de seus teoristas (OLIVEIRA et al., 2004).

No que tange às instituições militares, como é o caso do Corpo de Bombeiros, há

finalidades, metas e objetivos a cumprir que envolvem o constante risco de vida. Inserido neste

contexto, não cabe ao líder reduzir-se a simples transmissão dessas missões, mas deve, antes de

tudo, reconhecer que é o elemento crucial daquele cumprimento. Desta forma, torna-se

pertinente redefinir o termo liderança para instituições militares como o processo de influenciar

para além do convencional, por meio do uso exclusivo de autoridade investida sobre o

comportamento de seus subordinados com vista ao cumprimento missões concebidas e

preestabelecidas pelo líder organizacional (BENNIS; NANUS, 1988).

Contudo, a chave da dimensão de liderança militar encontra-se no desenvolvimento e

manutenção dos padrões éticos de postura da profissão. Logo, cabe aos líderes militares

preservá-los por meio de sua própria conduta moral perante os liderados. Segundo a regra

universal da fraternidade militar, soldados comportam-se conforme os padrões

comportamentais de seus comandantes. Diante disso, torna-se indispensável que líderes dessas

organizações reconheçam o papel que desempenham dentro da organização e exerçam suas

ações de acordo com os padrões éticos estabelecidos (CASTRO, 1990).

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A partir do que foi salientado, buscou-se analisar as competências de chefia e liderança

em emergências presentes em três Sargentos Militares de uma Companhia de Bombeiros

Militar, localizada no Vale do Itajaí/SC.

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 CHEFIA E LIDERANÇA MILITAR

Como de praxe, chefe é aquele encarregado por comandar dada organização ou setor

específico. Possui poder autoritário sobre os subordinados, pois sua obrigação é defender os

propósitos e interesses da organização. Já os líderes representam-se como guias, exemplos ou

modelos para os subordinados com alto poder de influência sobre os membros da equipe. De

modo geral, líderes tornam-se agentes de mudança devido ao modo como seus comportamentos

afetam os de outros indivíduos (IANNINI, 2000).

Um dos maiores desafios para um líder militar encontra-se relacionado à especificidade

da função, que é comumente cercada por circunstâncias difíceis, riscos desgastantes e adversos

à saúde física e mental. Assim, o líder necessita de habilidades para motivar e conduzir a

guarnição, influindo ao fiel cumprimento do dever e das missões designadas às suas unidades,

com obediência, lealdade e cooperação (JÚNIOR, 2012).

Santos (2012) destaca que cabe ao líder militar preocupar-se com alguns princípios

básicos, como sua apresentação individual para servir como exemplo, confiança e segurança de

si, autodisciplina, coragem para agir e admitir os próprios erros, apresentar um nível satisfatório

de resistência física e mental, entusiasmo no cumprimento das missões e iniciativa frente a

ocorrência de adventos inesperados. Deve-se considerar que na profissão militar a vida de

outrem é posta nas mãos de poucos líderes e subordinados. Nessa perspectiva, a liderança

militar exige do profissional habilidades que atravessam o tradicional. Estes devem fruir de uma

capacidade elevada de discernimento, espírito de justiça, lealdade, abnegação e sacrifício.

Espera-se que o líder seja uma espécie de modelo de comportamentos coerentes dentro

de uma organização. É a partir desse modelo que os subordinados aprendem novos

comportamentos. Os comportamentos observados nos líderes tendem a serem seguidos pelos

subordinados, por ser visto como o mais próximo daquilo que a organização considera

apropriado em determinada função. Comportamentos de subordinados que fogem ou que se

enquadram no que foi solicitado devem ser analisados criteriosamente e, caso necessário, cabe

ao líder aplicar punições ou recompensas, simultaneamente (KOUZES; POSNER, 2003).

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De modo geral, a capacidade de decisão, a confiança, a resistência mental e física, são

características básicas e fundamentais para um legítimo líder militar. A capacidade de decisão

impõe uma aproximação positiva do objetivo que se deseja alcançar em tempo reduzido, com

objetividade, análise e avaliação correta das informações que lhe são dadas. Um líder confiante,

possui a certeza que irá realizar a tarefa corretamente, aspecto que transparece para os

subordinados, que consequentemente, irão confiar em seu líder. A resistência mental e física é

a aptidão básica e fundamental de um líder militar para não comprometer suas ações, mesmo

sendo vítima de dor, fadiga, estresse e privação (VIDEIRA, 2001).

2.2 ESTILOS DE LIDERANÇA

2.2.1 Estilo Autocrático

No estilo autocrático o líder comporta-se de modo a salientar sua responsabilidade

individual, estabelecendo regras, objetivos e resultados com extrema rigidez. O líder é o único

que possui poder para expressar opinião, ignorando a de seus subordinados. Desta forma, os

líderes esperam que seus subordinados cumpram as tarefas sem qualquer objeção ou opinião de

outras formas que poderia ser executada. Os subordinados são inspecionados frequentemente

pelo líder, que irá estabelecer normas rígidas para seu cumprimento, detalhando aquilo que

espera do resultado final, sem aceitar resultados que fogem do que havia preestabelecido

(PASSADORI, 2013).

2.2.2 Estilo Democrático

O líder democrático encara como individual a responsabilidade ao cumprimento da

missão por meio de sua participação ativa para concluí-la. Este líder evidencia o engajamento

da equipe e o aproveitamento de suas ideias, reconhecendo que uma organização bem dirigida

é mais do que a soma de suas partes. A satisfação pessoal e o sentimento de contribuição

comumente resultam no sucesso da missão, pois leva-se em conta a motivação dos homens. O

líder procura estabelecer o respeito, a confiança mútua e o entendimento recíproco

(BENEVIDES, 2010).

2.2.3 Estilo Laissez-Faire ou Liberal

Em suma, a liderança liberal ou Laissez-Faire é caracterizada pela presença passiva do

líder em relação aos subordinados, evitando tomar decisões e responsabilidade de supervisão.

Neste estilo, o líder deixa sob responsabilidade dos subordinados o controle dos processos de

tomadas de decisão, porém, sem ofertar feedback, direcionamento ou suporte emocional para

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os mesmos quando necessário. Assim, fica a critério do grupo questões como divisão de tarefas

e sua forma de execução, sem ou com a mínima participação do líder, que por sua vez, não

avalia ou regula seu andamento (BENNIS, 1996; MOSCOVICI, 2008).

2.2.4 Estilo Situacional

Este líder não possui um único estilo de liderança concreto, mas sim aquele que acredita

ser o mais apropriado para cada situação específica. Assim, o líder é versátil e flexível quando

o assunto é empregar diferentes estilos de liderança de acordo com o subordinado e situação

com que se trabalha. O líder, o subordinado e a situação são as variáveis norteadoras do

processo de liderança, mas, ao comportamento do líder recai a atenção em relação aos

subordinados frente à função específica (HERSEY; BLANCHARD, 1986).

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

3.1 ABORDAGEM E FERRAMENTAS DE COLETA DE DADOS

Trata-se de um estudo de natureza qualitativa, no qual opera uma compreensão profunda

de certos fenômenos sociais, apoiados no pressuposto do aspecto subjetivo da ação social, visto

que tem como foco principal, fenômenos complexos e/ou únicos. Ainda, pode-se afirmar que,

a pesquisa é do tipo descritiva-exploratória. Em relação ao método, elegeu-se a modalidade de

pesquisa-ação. A pesquisa-ação possui base empírica, caracterizando-se por uma relação direta

do pesquisador com o grupo pesquisado e origina-se de necessidades sociais reais, buscando

produzir transformações e ressignificações no ambiente pesquisado, baseando-se em reflexões

e criações coletivas (GIL, 2008).

3.2 AMOSTRA DA PESQUISA

Como supracitado, obteve-se tal experiência em uma Companhia de Corpo de

Bombeiros Militar, situada no Vale do Itajaí/SC. Esta instituição conta com o efetivo de 38

Bombeiros Militares. Contudo, como o foco do estágio centrou-se nas competências de chefia

e liderança dos sargentos, a intervenção foi realizada com três sargentos bombeiros militares

com graduação de 3º sargento militar.

3.3 TRATAMENTO DAS INFORMAÇÕES

O estágio foi sucedido com os sargentos militares da corporação posteriormente a

explicação dos benefícios, possíveis riscos e resultados esperados através da pesquisa. Após o

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consentimento e assinatura do Termo de Compromisso Livre e Esclarecido, para assegurar o

sigilo das informações prestadas e firmar sua participação voluntária, os dados foram analisados

e categorizados pela Análise de Bardin (2004).

3.4 INSTRUMENTOS DE COLETA DE DADOS

Construiu-se um roteiro de entrevista para indagar principalmente sobre as ações

tomadas pelo líder para auxiliar e ofertar suporte aos bombeiros no desempenhar de sua função

na organização. Por meio deste instrumento, foram coletados dados que subsidiaram a

construção de uma formulação de hipótese sobre o estilo de liderança adotado pelo chefe de

guarnição e possíveis mudanças necessárias para a melhora do clima organizacional. Além

disso, durante o processo de coleta de dados, aproveitou-se a situação para indagar os sargentos

a analisarem sua própria postura enquanto líderes de uma equipe.

3.5 INSTRUMENTOS DE INTERVENÇÃO

3.5.1 Psicoeducação

A psicoeducação voltou-se à apresentação dos estilos de liderança, visando que os

sargentos reconhecessem características comportamentais de cada estilo, o estilo se enquadrava

na organização que lideram e qual estilo correspondia ao seu repertório comportamental. Para

fortalecer o aprendizado, foram distribuídos folders explicativos, que contém os estilos de

liderança e sua descrição. Em cada encontro ressaltava-se o conteúdo para que, no decorrer,

fosse possível que os sargentos realizassem uma autoanálise de sua postura enquanto líderes

(WRIGHT; BASCO; THASE, 2008).

3.5.2 Role-play

O processo de psicoeducação foi interligado à dinâmica de dramatização. Foram

propostas encenações de como os sargentos atuam quando permanecem no quartel e quando

atuam em emergências. Assim, os sargentos deveriam dramatizar de modo realístico a forma

como empregam funções aos bombeiros subordinados e como poderiam delegar funções de

modo democrático, por exemplo. Necessitou-se que a estagiária realizasse o papel do bombeiro

subordinado para interagir com o sargento e propor mudanças na forma de delegar funções

(SOUZA; ORTI; BOLSONI-SILVA, 2012).

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

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4.1 ATRIBUIÇÕES PROFISSIONAIS DOS SARGENTOS MILITARES

Segundos as informações coletadas, uma das principais atribuições de um sargento

militar em seu período de permanência do quartel é administrar o tempo e o serviço.

Administrar no sentido de saber organizar as funções que devem ser executadas no dia de

serviço e prever o tempo de duração para sua efetivação para que na troca de guarnição, as

atividades estejam executadas com excelência. Destaca-se que no quartel existe um cronograma

de atividades corporativas que devem ser executadas pela guarnição correspondente. Assim,

todos os dias é realizada a limpeza de algum setor específico do quartel pela guarnição

responsável, como exemplo, limpeza do pátio, da COBOM, da garagem, etc. Dessa forma, a

função do sargento é analisar se a tarefa foi executada e, caso positivo, se o procedimento foi

realizado da maneira correta.

Segundo a Classificação Brasileira de Ocupações (CBO) são atribuições do sargento

militar inserido no Corpo de Bombeiros: prevenção de sinistros e acidentes, realizar

salvamento, combater incêndios, prestar atendimento pré-hospitalar, controlar acidentes com

produtos perigosos, comandar equipes de serviços de prontidão e chefiar guarnições. Já durante

a execução de atividades, o bombeiro necessitará ser ágil e eficaz no que tange à comunicação,

tanto para atender ocorrências como para tranquilizar vítimas e orientar a população. Cabe

mencionar que o Regulamento Interno e de Serviços Gerais (RISG) estabelece que mediante

adequação de nomenclaturas e peculiaridades do serviço, prevê que o Sargento é o auxiliar do

fiscal do dia de serviço. O serviço de fiscal de dia numa unidade operacional do Corpo de

Bombeiro deverá ser executado prioritariamente por um Sargento. O auxiliar do chefe de

socorro do dia responde pelas funções do chefe de socorro no período em que este estiver

ausente da unidade.

Como a hierarquia militar é composta por Soldado, Cabo, 3º Sargento, 2º Sargento e 1º

Sargento, em ordem crescente de evolução de chefia, cada uma das colocações possui

atribuições que lhe são específicas. Portanto, discernindo-se de outras funções que o chefe

precisará delegar as funções, nesta profissão específica, cada subordinado já possui pré-

estabelecida a função que exercerá na organização. Contudo, observada a necessidade de

realizar uma tarefa que não estava dentre suas convencionais atribuições, o sargento delega as

funções de acordo com seus próprios critérios de escolha por quem desempenhará a função.

Segundo os relatos, normalmente opta-se pelo subordinado que está disponível para tal, ou,

caso todos os subordinados estejam em alguma ocupação, o próprio sargento realiza a tarefa.

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Coutinho (1997) afirma que os subtenentes e sargentos possuem mais experiência e

tempo de serviço por conta do tempo de serviço anterior exercido pelas graduações de cabo e

soldado. Esses profissionais, além de executarem atividades administrativas de bombeiro

militar, são chefes de guarnições de bombeiros militares e assumem o comando de

destacamentos internos. Atuam, ainda, nos órgãos da administração pública, defesa e

seguridade social e estão organizados por equipes de resgate, salvamento, produtos perigosos

ou de combate a incêndio, sob a supervisão constante de profissionais de patentes superiores.

4.2 ESTILO DE LIDERANÇA DOS SARGENTOS

No tocante ao estilo de liderança adotado pelos sargentos, por meio das entrevistas foi

possível analisar que, dois participantes classificaram-se como líderes situacionais, enquanto o

outro classificou-se como líder liberal. De modo geral, percebeu-se que os sargentos que se

denominam situacionais relacionavam a utilização deste estilo de liderança com os bombeiros

que não desempenham suas funções sem o mando. Segundo relatos, para subordinados

comprometidos com o serviço e que demonstram responsabilidade frente a vítima, sua postura

costuma ser liberal ou democrático. Já diante de algum subordinado que demonstra insatisfação

com o trabalho ou costuma apresentar-se de forma antiética, os sargentos adotam uma postura

mais autocrática, exigindo a função e os resultados esperados desta. Em contrapartida, o líder

que classificou-se como liberal afirmou adotar esta postura com todos os subordinados tendo

em vista que a própria profissão já costuma exigir constantemente o bombeiro.

Liderança situacional é um referencial teórico, desenvolvido por Hersey e Blanchard

(1986), podendo aplicar-se a qualquer tipo de contexto organizacional. Para estes autores,

liderança refere-se ao processo de influenciar as ações de um indivíduo ou grupo para a

consecução de um objetivo único numa dada situação. A partir desta concepção, constata-se

que o processo de liderança é uma função de líder, do subordinado e de variáveis que permeiam

a situação. Portanto, adotando esta abordagem os líderes são capazes de adaptar seu estilo de

comportamento às necessidades da organização, dos subordinados e da situação.

Em contrapartida, a liderança Laissez-faire abre mão de qualquer tipo de controle sobre

o grupo, deixando-os à vontade para decidir por conta própria sobre os assuntos de seu interesse

e sobre o modo de proceder as tarefas da organização. Pode-se perceber que o estilo de liderança

é uma linha contínua que tem em um extremo a liderança autocrática e no outro a liderança

Laissez-faire, ficando a liderança democrática numa posição de equilíbrio entre os dois

extremos (CAVALCANTI, 2006). Contudo, enfatizou-se durante as entrevistas que o estilo de

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liderança democrático neste contexto não é eficaz com todos os subordinados, pois em alguns

casos, a tendência é que tentem sobressair a posição do sargento e tomar partido de decisões

que não lhe são cabíveis.

4.3 METODOLOGIA DE GRATIFICAÇÃO DOS SARGENTOS

Como metodologia utilizada pelos sargentos de modo a retribuir aos subordinados um

feedback sobre sua atuação na organização, quando se demonstra compromisso ético e

comprometimento com o trabalho por parte dos subordinados, os sargentos mencionam o uso

de elogios, conversa, agradecimento e em alguns casos até a compra de um presente como

método mais utilizado para reforçar comportamentos considerados corretos dentro da

organização. Desta forma, os sargentos afirmam que os elogios são empregados visando

evidenciar as habilidades e qualidades analisadas nos subordinados para que continuem

apresentando tais características.

Marrone e Mendes (2003) por meio de sua pesquisa elencaram três categorias de prazer

com o trabalho: benefícios, gratificação e reconhecimento. Para elogiar os subordinados, o

profissional irá acoplar estes três elementos em uma só ação. Para tal, o profissional reconhece

uma ação desejada de seu subordinado, tentando demonstrá-lo por meio da gratificação, que

por si só já traz benefícios ao subordinado. É por meio desta tríada que se obtém o

reconhecimento profissional, isto é, quando os outros admiram os esforços do trabalhador. O

reconhecimento é, ainda, compreendido como o retorno obtido pelo trabalho, relacionando-se

com a capacidade de dar valor à pessoa e ao trabalho executado. Desta forma, o ato de atribuir

elogios e manifestação do reconhecimento diante de comportamentos e ações realizadas pelos

subordinados é altamente produtiva no ambiente organizacional, tendo em vista que, além do

reconhecimento profissional, o subordinado terá mais determinação em continuar despendendo

esforços pela organização.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Visto que se buscou analisar as competências de chefia e liderança em emergências

presentes em sargentos militares, constatou-se que as competências mais destacadas pelos

participantes como essências para o exercer da profissão tratam-se das habilidades de gestão de

conflitos interpessoais, coordenação, organização do tempo e tarefas, administração, delegação

de funções, gerenciamento de crises, comprometer-se com o trabalho e, por último, saber

reconhecer o esforço alheio e retribuir-lhe dentro de suas possibilidades. Além disso, percebeu-

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se que um líder transpassa a posição de um superior hierárquico. É alguém que possui sabedoria,

conhecimentos e técnicas para desenvolver e coordenar pessoas, buscando criar um ambiente

propício à comunicação, coesão, criatividade e trabalho em equipe.

Foi possível constatar por meio da análise dos dados e do próprio julgamento dos

sargentos sobre sua postura enquanto líder que dois dos participantes enquadram-se no estilo

situacional, modificando sua postura diante de um subordinado e situação específicos, enquanto

o outro participante classificou-se como liberal por adotar uma postura mais flexível e tolerante

frente as ações dos liderando, justificando-se por acreditar que a profissão de bombeiro militar

em si já exige em demasia deste profissional, preferindo ser liberal, portanto, para evitar o

desgaste profissional com o trabalho.

Constatou-se que uma das maiores dificuldades existentes em exercer um cargo de

chefia nestas organizações militares diz respeito à administração de conflitos entre a equipe de

subordinados. Existem conflitos no ambiente laboral, bem como afirmaram que o profissional

responsável por resolver os conflitos comumente é o líder. Para tal, normalmente empregam as

reuniões e conversas individuais com os participantes do conflito para tentar compreender a

situação e amenizar os danos. Pode-se observar que os conflitos interpessoais foi o aspecto mais

mencionado nas entrevistas, e que os conflitos verticais e horizontais, ou seja, os de nível

hierárquico iguais e diferentes estão representados igualmente. Ademais, notou-se que quando

ocorrem conflitos esses repercutem entre todos e influenciam sobre o trabalho desempenhado

no quartel e até mesmo na qualidade do atendimento ao público.

Sugere-se intervenções voltadas ao fortalecimento das relações interpessoais entre a

equipe e desenvolvimento de habilidades sociais, como exemplo disso, a assertividade, empatia

e a resiliência. A nível qualitativo, sugere-se pesquisas voltadas à investigação da qualidade de

vida do profissional bombeiro, devido ao estresse analisado no trabalho por situações

traumáticas, como risco de vida eminente e mortes nos salvamentos. Ainda sobre pesquisas

qualitativas, sugere-se a avaliação destes profissionais quanto à depressão e à Síndrome de

Burnout, visando correlacionar sintomatologia depressiva e burnout com a qualidade de vida

dos bombeiros militares.

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MOTIVAÇÕES E RESISTÊNCIAS PARA A UTILIZAÇÃO DO MOBILE BANKING

MOTIVATIONS AND RESISTANCES FOR THE USE OF MOBILE BANKING

Luiz Fernando da Silva1

Tamires Adriana Schroder 2

Adriana Kroenke 3

RESUMO: A tecnologia vem notadamente fazendo parte do atendimento aos clientes.

Exemplo disso é a intensificação da difusão do mobile banking nos últimos anos, passando a

ser o canal preferido para acesso aos serviços bancários no Brasil em 2017. Mesmo tendo

muitos adeptos, o mobile banking encontra algumas resistências para sua adoção. O objetivo

deste artigo é analisar os fatores de resistência e também as motivações relacionadas à utilização

do mobile banking. Para isso, utilizou-se de adaptações dos modelos TAM – Modelo de

Aceitação de Tecnologia, IDT - Teoria da Difusão de Inovação e UTAUT – Teoria Unificada

da Aceitação e Uso de Tecnologia. Os resultados apontam que os fatores de resistência que

mais influenciam a adoção desta tecnologia são as barreiras de uso e de risco, enquanto que a

percepção de prazer e compatibilidade são os fatores que mais motivam.

Palavras Chave: Mobile Banking. Resistências. Motivações.

ABSTRACT: Technology has become notably part of customer service. One example is the

diffusion of mobile banking that has been intensified in the last years. Although there are many

supporters, mobile banking finds resistance to its adoption. The aim of this study is to analyze

the resistance factors and the motivations related to mobile banking use. To reach such a goal,

we used the adaptation of Technology Acceptance Model, Innovation Diffusion Theory and

Unified Theory of Acceptance and Use of Technology. The results indicate that the resistance

factors that most influence the adoption of this technology are the use and risk barriers, while

the perception of pleasure and compatibility are the factors that motivate the most.

Keywords: Mobile Banking. Resistance. Motivations.

1 INTRODUÇÃO

Os avanços tecnológicos e a introdução da tecnologia da informação implicaram em

mudanças nos paradigmas nas operações bancárias. O uso da tecnologia passa a ser um recurso

estratégico para aumentar a eficiência, controle, produtividade e rentabilidade. Para atender as

crescentes expectativas dos clientes mantendo a competitividade, os bancos adotam as

1 Estudante do PPGAd - Programa de Pós-Graduação em Administração da Universidade Regional de Blumenau

- FURB. E-mail: [email protected] 2 Estudante do PPGAd - Programa de Pós-Graduação em Administração da Universidade Regional de Blumenau

- FURB. E-mail: [email protected] 3 Professora do PPGAd – Programa de Pós-Graduação em Administração da Universidade Regional de Blumenau

- FURB. E-mail: [email protected]

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tecnologias de automatização bancária. Os canais de entrega dos produtos incluem o uso da

internet, através de celulares e computadores pessoais (SINGH; MALHOTRA, 2015).

Nesse ambiente dinâmico, os bancos procuram alternativas para facilitar o

compartilhamento de informações e realização de transações em tempo real, para isso, a

utilização de dispositivos móveis é uma das estratégias (ABOELMAGED; GEBBA, 2013). A

conexão dos dispositivos móveis é realizada por meio de redes móveis de comunicação

(POUSTTCHI; SCHURIG, 2004).

Os dispositivos móveis usados atualmente são os celulares, smartphones ou tablets. O

produto ou serviço disponibilizado pelos bancos para a realização de transações financeiras e

não financeiras usando um dispositivo móvel é definido como mobile banking

(SHAIKH; KARJALUOTO, 2015).

O mobile banking teve origem na década de 1990 na Alemanha, sendo implantado

inicialmente em países europeus como: Alemanha, Espanha, Suécia, Áustria e Reino Unido. A

demanda tem aumentado, levando muitas instituições financeiras a oferecer serviços inovadores

juntamente com novos produtos e aplicativos para atender, manter e alcançar também os

clientes não bancarizados. Apesar de suas vantagens, o uso do mobile banking ainda não está

tão difundido como os bancos esperavam, há uma grande parte dos clientes que ainda não utiliza

esses serviços por criarem alguma resistência à utilização do mobile banking

(SHAIKH; KARJALUOTO, 2015).

Na literatura encontram-se diferentes abordagens sobre os atributos relacionados à

adoção de inovações tecnológicas, sendo a mais popular a TAM – Modelo de aceitação de

tecnologia. A segunda linha de pesquisa mais usada é a IDT - Teoria da Difusão de Inovação.

A terceira mais comum é a UTAUT – Teoria unificada da aceitação e uso de tecnologia

(SHAIKH; KARJALUOTO, 2015). O presente estudo utilizou as adaptações propostas por

Chemingui e Ben Lallouna (2013) que selecionou atributos das três teorias citadas.

Estudos apontam o impacto negativo da resistência à inovação no tocante à intenção

de uso dos serviços financeiros móveis (RAMMILE; NEL, 2012; BARATI; MOHAMMADI,

2009; LAUKKANEN; CRUZ, 2010). Também foram estudadas as motivações para o uso de

inovações tecnológicas, tendo estas, influência positiva para sua adoção (AL-GAHTANI, 2003,

LIN, 2011; HUNUDIN et al., 2012). Não foram encontrados estudos sobre as resistência e

motivações que abordem, em conjunto, os clientes usuários e os não usuários do serviço.

Neste contexto, o presente estudo busca responder a seguinte pergunta de pesquisa:

Quais os fatores de motivação e resistência que influenciam na adoção do mobile banking?

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Assim, objetiva-se analisar os fatores de resistência e também as motivações relacionadas à

utilização do mobile banking, na percepção dos clientes usuários e não usuários do serviço. A

identificação das barreiras e motivações na adoção de um serviço financeiro móvel permite

compreender o comportamento dos clientes, bem como auxiliar no direcionamento da atuação

das instituições financeiras com vistas na difusão do serviço.

2 REFERENCIAL TEÓRICO

Nesta seção apresentam-se as teorias que fundamentam as resistências, bem como as

motivações para a adoção de inovações, detalhando as subdimensões de cada dimensão.

2.1 RESISTÊNCIAS À ADOÇÃO DE INOVAÇÕES

Para Ram e Sheth (1989) a palavra resistência encontra sua gênese no latim resistentia,

e refere-se ao ato ou efeito de resistir. No escopo do presente estudo, o termo é empregado em

relação às inovações tecnológicas, tal como preconizado pela teoria da resistência, cujo objetivo

consiste em identificar as principais barreiras que criam a resistência dos clientes às inovações

(RAM; SHETH, 1989).

Categorizam-se as barreiras em: funcionais e psicológicas. As barreiras funcionais,

que consistem na falta de adaptação e/ou mudanças radicais nos métodos de trabalho, hábitos e

práticas dos consumidores. São compostas pelas dimensões: barreiras de uso, barreiras de valor

e barreiras de risco (RAM; SHETH, 1989; CHEMINGUI; BEN LALLOUNA, 2013). Já as

barreiras psicológicas, que envolvem mudanças no comportamento ou mudanças na rotina

(RAMMILE; NEL, 2012), abrangem as dimensões: barreiras de tradição e barreiras de imagem

(CHEMINGUI; BEN LALLOUNA, 2013).

As barreiras de uso constituem dificuldades apresentadas pelos usuários quanto ao uso

de inovações nos serviços financeiros móveis. Conforme Kuisma et al. (2007) os usuários

acreditam que o uso de serviços financeiros móveis envolvem uma elevada gama de esforços

de aprendizagem para dominá-los.

Já as barreiras de valor envolvem desde os custos de aprendizagem aos riscos

envolvidos nas transações financeiras móveis.

Kuisma et al. (2007) ao buscar empreender um mapeamento aproximado das razões

para a resistência ao uso do internet banking aponta como barreira impeditiva as altas taxas de

conexão com internet, que acabam tornando o serviço mais dispendioso do que benéfico. Para

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Laukkanen et al., (2007) as barreiras de valor abrangem também os riscos reais envolvidos nas

transações móveis.

As barreiras de risco, para Chemingui e Ben Lallouna (2013), envolvem quatro

categorias: risco físico, risco econômico, risco funcional e risco social.

As barreiras de risco econômico se referem à crença dos usuários de ter realizado uma

escolha errada ao terem selecionado uma inovação quando deviam ter esperado por uma opção

mais econômica (RAM; SHETH, 1989) bem como ao medo de perder dinheiro (LAUKKANEN

et al., 2007) e ao medo de incorrer em equívocos durante o uso do celular nas transações

financeiras (LUARN; LIN, 2005). As barreiras de risco funcional se referem às preocupações

dos usuários quanto à capacidade de funcionamento adequado das inovações tecnológicas,

assim como em relação à possibilidade de desconexão da internet (BLACK et al., 2001). As

barreiras de risco social, por fim, se referem à crença dos usuários de serem mal interpretados

em suas intenções durante o uso das inovações tecnológicas (RAM; SHETH, 1989).

As barreiras de tradição são aquelas pertinentes à resistência dos usuários de mudar

seus hábitos, crenças e comportamentos, preferindo utilizar os canais convencionais,

tradicionais. Segundo Daniel (1999), trata-se da inércia do usuário com relação a mudanças de

hábitos. Em detrimento disso, nas operações bancárias, os usuários acabam preferindo utilizar

as vias convencionais, que envolvem a ajuda de funcionários (LAUKKANEN et al, 2007).

As barreiras de imagem consistem nas resistências decorrentes da imagem ou

percepção dos usuários quanto às inovações tecnológicas. De acordo com Ram e Sheth (1989),

este tipo de resistência se deve à imagem negativa que os usuários possuem do uso de

tecnologias nos serviços financeiros. O mesmo ponto de vista é corroborado por Rammile e Nel

(2012), ao afirmar que os usuários possuem uma percepção negativa quanto ao uso de

tecnologias nos serviços financeiros que encontra sua gênese na imagem ou crença segundo a

qual é difícil de usá-las.

Considerando as dimensões apresentadas, se espera uma relação negativa entre a

resistência à inovação e a intenção de usar serviços financeiros móveis (CHEMINGUI; BEN

LALLOUNA, 2013). Para Sripalawat et al. (2011), a intenção de usar refere-se ao grau em que

uma pessoa está pronta para agir e executar o comportamento esperado.

2.2 MOTIVAÇÃO PARA ADOÇÃO DE INOVAÇÕES

As dimensões motivacionais tendem a acelerar a adoção do mobile banking

(CHEMINGUI; BEN LALLOUNA, 2013). Neste estudo, utilizou-se cinco dimensões

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adaptadas por Chemingui; Ben Lallouna (2013) relacionadas a adoção da inovação: Vantagem

relativa, Compatibilidade, Condições facilitadoras, Percepção de prazer e Qualidade do

sistema.

Vantagem relativa refere-se ao grau de percepção de que a inovação é melhor do que

a ideia anterior (ROGERS, 2003). Ela indica os benefícios e os custos resultantes da adoção de

uma inovação (AL-GAHTANI, 2003). Pode-se expressar a vantagem relativa por fatores como:

rentabilidade econômica, status, conforto, economia de tempo e esforço, entre outras.

Compatibilidade é o grau em que a inovação é aderente aos valores, experiências e

necessidades do consumidor. Os principais itens de compatibilidade estão relacionados aos (1)

valores e crenças socioculturais, (2) ideias previamente introduzidas, e/ou (3) com as

necessidades do cliente (ROGERS, 2003).

O primeiro item, valores e crenças socioculturais, está relacionado normalmente com

a incompatibilidade da inovação com valores culturais bloqueando sua adoção. O segundo item,

ideias previamente introduzidas, pode acelerar ou retardar a adoção. O terceiro item,

necessidades do cliente, refere-se a quanto a inovação responde a uma necessidade sentida pelo

cliente. Quando uma necessidade é atendida, um ritmo mais rápido de aprovação normalmente

ocorre (ROGERS, 2003).

As condições facilitadoras são fatores que influenciam a percepção dos usuários

quanto a utilidade e facilidade de uso. O tempo necessário para utilização e familiaridade com

dispositivos móveis e tecnologia características relacionadas as condições facilitadoras

(BARATI; MOHAMMADI, 2009).

Venkatesh et al. (2003) define as condições facilitadoras como o grau em que um

indivíduo acredita que existe uma infraestrutura organizacional e técnica disponível para apoiar

o uso do sistema. Resultados empíricos indicam que as condições facilitadoras têm uma

influência direta sobre o uso além daquela explicada apenas pelas intenções comportamentais.

Venkatesh (2000) sugere que a percepção de prazer é determinante da facilidade de

uso, que por sua vez influencia na adoção da inovação. Hunudin et al. (2012) concorda que o

prazer percebido pelo cliente é fator importante para adoção do mobile banking. O celular é

visto como um dispositivo de entretenimento para alguns indivíduos, portanto, a percepção de

prazer pode desempenhar um papel essencial para adoção do serviço.

Os dispositivos móveis costumam apresentar telas pequenas o que limita a quantidade

de conteúdo que pode ser exibida, portanto, a organização da apresentação das informações é

extremamente importante. A qualidade do sistema é essencial para garantir a confiança dos

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usuários. A confiança do consumidor afeta a satisfação com o mobile banking, sendo um fator

importante no modelo de sucesso em sua da adoção (LEE; CHUNG, 2009). Também

Chemingui e Ben Lallouna (2013) afirmam que a qualidade tem impacto positivo na confiança

do cliente.

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

A pesquisa é descritiva quanto aos objetivos, quanto aos procedimentos se caracteriza

como levantamento, quantitativa quanto à abordagem é de corte transversal. A pesquisa

descritiva tem por objetivo principal testar hipóteses e examinar as associações entre construtos

(MALHOTRA, 2012). O levantamento tem por objetivo mensurar quantitativamente a

percepção de uma parcela da população a respeito de um fenômeno. O corte transversal indica

que a coleta de dados se realizou em um período de tempo específico (CRESWELL, 2010).

O instrumento de coleta de dados utilizado foi um questionário adaptado do estudo de

Chemingui e Ben Lallouna (2013) contendo 42 questões divididas em 11 subdimensões

(Barreiras de uso, Barreiras de valor, Barreiras de risco, Barreiras de tradição, Barreiras de

imagem, Vantagem relativa, Compatibilidade, Condições facilitadoras, Percepção de prazer,

Qualidade do sistema, Intenção de uso), além de questões de caracterização do respondente.

Para tanto, utilizou-se a escala do tipo Likert com pontos de 1 a 5, sendo que 1 correspondente

a “Discordo Totalmente” e o 5 correspondente a “Concordo Totalmente”.

Realizou-se a validação do instrumento de coleta seguindo as etapas: (1) tradução, (2)

validação semântica e (3) validação empírica (OLIVEIRA; GOMIDE JÚNIOR, 2009).

Primeiramente, o instrumento foi traduzido por um especialista em língua inglesa. Em seguida,

os itens tiveram a validação semântica para garantir a compreensão dos respondentes. Um grupo

composto por 15 pessoas, com escolaridade e idades variadas, respondeu ao questionário e

apresentou suas dúvidas. A partir desta apreciação, foram realizados ajustes, de modo que a

assegurar a compreensão dos participantes do estudo.

Optou-se por utilizar o método de amostragem não probabilística por conveniência. A

amostragem por conveniência envolve a seleção de elementos de amostra que estejam mais

disponíveis para fazer parte do estudo e que apresentam informações necessárias (HAIR JR et

al., 2005).

A coleta de dados foi realizada pela aplicação direta e on-line do questionário por meio

da ferramenta Google Forms. A população alvo foi composta por clientes bancários usuários e

não usuários do mobile banking, independente da instituição financeira da região do vale do

Itajaí em Santa Catarina. A aplicação direta ocorreu nos casos de indisponibilidade da

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ferramenta on-line. Utilizou-se as redes sociais para divulgação do questionário. A coleta

ocorreu pelo período de 18 dias, entre o mês de Abril e Maio/2017. A amostra final contou com

240 respondentes, destes foram considerados 218 questionários válidos para a análise. As

dimensões e as variáveis estão descritas no Quadro 1.

Os dados obtidos foram organizados e tabulados, em seguida importados e tratados

por meio do aplicativo SPSS® (Statistical Package for the Social Sciences) versão 22.

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Utilizou-se como método para análise dos dados a Análise Fatorial – AF para a

confirmação da carga fatorial de cada variável e a confiabilidade, por meio do indicador Alfa

de Crobach - AC, de cada constructo. O indicador AC é uma medida de confiabilidade que

varia entre 0 e 1, quanto mais próximo de 1 maior a fidedignidade do constructo, considerando

os valores entre 0,60 a 0,70 o limite mínimo de aceitação (HAIR Jr. et al., 2005). A AF é uma

técnica estatística que procura, por meio da análise de um conjunto de variáveis, identificar as

dimensões de variabilidades comuns existentes (CORRAR, PAULO, DIAS FILHO, 2007).

Optou-se por excluir as variáveis com baixa carga fatorial, para aumentar a

confiabilidade. Após a exclusão, utilizou-se novamente a AF para criar novas variáveis que

representam o conjunto de variáveis de cada subdimensão. Em seguida foi utilizada a técnica

Regressão Linear Múltipla – RLM no intuito de identificar as dimensões que mais influenciam

a intenção de uso. A RLM é uma técnica estatística que analisa a relação de uma variável

dependente e duas ou mais variáveis independentes, permitindo fazer projeções a partir desta

(HAIR et al, 2005).

O teste ANOVA tem a finalidade de testar o efeito do conjunto de variáveis

independentes sobre a variável dependente, verificando assim, a probabilidade de que os

parâmetros da regressão sejam iguais a zero, neste caso não existiria uma relação estatística

significativa. Quando o Sig é menor que 0,05 o modelo é significativo (CORRAR, PAULO,

DIAS FILHO, 2007).

Utilizou-se como método de seleção de variáveis a estimação stepwise ou método por

etapas, para examinar a contribuição adicional de cada variável independente do modelo

(CORRAR, PAULO, DIAS FILHO, 2007).

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

A tabela 1 apresenta a validação dos constructos. As variáveis destacadas apresentam

baixa carga fatorial e foram excluídas com o objetivo de melhorar o Alfa de Cronbach.

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O teste Anova, que é utilizado para confirmar a existência de uma Regressão Linear

Múltipla apresentou significância de 0,000 e concluiu-se que há uma regressão.

Os coeficientes de regressão representam o montante de variação na variável

dependente em relação a variável independente (HAIR et al, 2005). Estabeleceu-se como

variável dependente, a variável que representa a subdimensão “intenção de uso” e como

variável independente, as variáveis que representam cada subdimensão da dimensão residências

(barreira de uso, barreira de valor, barreira de risco, barreira de tradição e barreira de imagem)

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e da dimensão motivação (vantagem relativa, compatibilidade, condições facilitadoras,

percepção de prazer e qualidade do sistema). As variáveis com significância maior que 0,05

foram excluídas do modelo, de acordo com o método stepwise.

As variáveis independentes listadas na tabela 2 apresentam influências significativas

em relação à variável dependente, pois apresentam significância inferior a 0,05. O teste de

estatística de colinearidade (VIF – Fator de Inflação da Variância) apresentou indicadores entre

1 e 10 o que é considerado como multicolinearidade aceitável (CORRAR, PAULO, DIAS

FILHO, 2007). Como pode-se observar por meio dos coeficientes não padronizados, as

variáveis das subdimensões “barreira de uso” e “barreira de risco” influenciam negativamente

a intenção de uso, enquanto as variáveis das subdimensões “percepção de prazer” e

“compatibilidade” influenciam positivamente.

Com base nestes testes obteve-se a seguinte equação do modelo: Ŷ = β0 + β1X1 + β2X2

+ β3X3 + β4X4, a qual se representa ao substituir os coeficientes por:

Intenção de Uso = 0,00 - 0,206X1 - 0,123X2 + 0,440 X3 + 0,153 X4

Onde:

X1 = Barreira de Uso

X2 = Barreira de Risco

X3 = Percepção de prazer

X4 = Compatibilidade

O Coeficiente de correlação (R) indica o grau de associação entre as variáveis

dependente e independentes. O Coeficiente de determinação (R quadrado) refere-se ao quanto

a variável dependente é explicada pelas variações nas variáveis independentes (HAIR et al,

2005). O modelo proposto apresenta um grau de associação de 79,80% e que as variáveis

independentes podem explicar 63,70% da variação da variável independente. O teste Durbin-

Watson apresentou como resultado 2,149. Quando o referido teste apresenta resultados

próximos de 2, indica o atendimento ao pressuposto da ausência de auto correlação serial

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(CORRAR, PAULO, DIAS FILHO, 2007). Portanto, a intenção de usar o mobile banking

encontra resistência principalmente nas barreiras de uso e barreiras de risco e é motivada pela

percepção de prazer e compatibilidade.

Em relação às resistências, os resultados obtidos no presente estudo diferem-se dos

achados de Chemingui e Ben Lallouna (2013), que em sua pesquisa identificaram a

subdimensão da tradição como a principal resistência. Lin (2011) em sua pesquisa indica que a

percepção de segurança, essa que está relacionada a barreira de risco, influencia na escolha do

cliente em usar o mobile banking.

Acredita-se que a subdimensão barreira de valor não apresentou influência

significativa na intenção de uso devido a percepção de baixo custo em relação ao serviço, pois

o uso do mobile banking não gera custos diretos, os custos de conexão estão cada vez mais

baixos, e percebe-se que a maioria dos clientes bancários já possui dispositivos móveis

compatíveis com os aplicativos financeiros, ou seja, não precisam dispender recursos com

adequações para terem acesso.

Supõe-se que as subdimensões barreira de tradição e barreira de imagem não

apresentaram influência significativa na intenção de uso devido ao crescimento do uso dos

canais de entrega digital. Em nossos resultados, identificamos que apenas 27,06% dos

respondentes preferem usar os canais físicos. De acordo com a Federação Brasileira de Bancos

(2017) em 2012 os canais físicos representavam a maior parte das transações, com 46% do total,

e por isso eram considerados canais tradicionais. Segundo a Federação Brasileira de Bancos

(2017), no ano de 2016 os canais digitais passaram a representar 57% das transações bancárias.

Essa realidade indica que os canais digitais estão passando a ser tradicionais no cotidiano dos

clientes, por isso, acredita-se que a resistência em usá-los é pequena e a imagem é positiva.

Quanto às motivações, os resultados são semelhantes aos já publicados. Chemingui e

Ben Lallouna (2013) afirmam que os principais fatores que aceleram a intenção de usar é a

compatibilidade com as necessidades, comportamentos e hábitos dos clientes e também o

aspecto emocional por meio do prazer percebido. O aspecto relacionado ao prazer também foi

identificado no resultado dos estudos de Hanudin (2012) enquanto as pesquisas de Lin (2011)

endossam que compatibilidade é preditora da atitude de usar o mobile banking.

Quanto às subdimensões de vantagem relativa, condições facilitadoras e qualidade do

sistema, acredita-se que os resultados não foram conclusivos devido às incertezas ou dúvidas

de uma parte dos respondentes em relação à eficiência do serviço ou por não terem

conhecimento da existência de suporte adequado para suas dúvidas.

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A difusão do uso do mobile banking vem se intensificando nos últimos anos. Segundo

o relatório da Pesquisa FEBRABAN de Tecnologia Bancária (FEDERAÇÃO BRASILEIRA

DE BANCOS, 2017), o mobile banking é o canal referenciado para acesso aos serviços

bancários no Brasil. Em 2017, o mobile banking, pela primeira vez, superou o internet banking.

O volume de transações quadruplicou nos últimos três anos, chegando a 57% do total de

transações (FEDERAÇÃO BRASILEIRA DOS BANCOS, 2017).

Mesmo com esse aumento, há uma grande parte dos clientes que não utiliza esse

serviço, por isso, a presente pesquisa objetivou analisar os fatores de resistência e motivação

relacionados a utilização do mobile banking e assim identificar suas influências na intenção de

uso.

Os resultados indicam, a partir do grupo que participou da pesquisa, que as

subdimensões da dimensão resistência com maior influência são: barreiras de uso e barreiras

de risco, já as subdimensões da dimensão motivação que mais influenciam são: percepção de

prazer e compatibilidade.

As barreiras de uso e as barreiras de risco são fatores que costumam ter grande

influência a resistência para a adoção de inovações. Com as inovações surgem nos

consumidores as incertezas em relação à facilidade de uso, a complexidade e os riscos

envolvidos. No caso do mobile banking, por oferecer serviços financeiros, as dúvidas em

relação ao nível de segurança e a garantia do sigilo das informações parecem ser uma grande

barreira a ser superada. As barreiras de uso são reduzidas aos poucos quando o cliente passa a

usar este serviço.

Naturalmente, as pessoas realizam suas atividades buscando o prazer. Não é diferente

para os clientes bancário, pois se observou a percepção de prazer associada ao mobile banking.

Acredita-se que a compatibilidade tenha recebido destaque nesta pesquisa, pois os dispositivos

móveis, onde é instalado o mobile banking, permitem a compatibilização das necessidades dos

clientes, garantindo a disponibilidade dos serviços quando e onde os clientes precisam.

Como contribuição gerencial, podemos destacar a necessidade da divulgação dos

mecanismos de segurança existentes a fim de reduzir a insegurança dos serviços, além de

melhorar a comunicação com os clientes no intuito de apresentar as facilidades que o mobile

banking pode proporcionar para os clientes.

Os resultados do presente estudo não podem ser generalizados por tratarem de uma

amostra que se limitou a região do Vale do Itajaí em Santa Catarina, podendo apresentar outros

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resultados em diferentes regiões. Com a necessidade de utilização de serviços de internet móvel

para utilização do mobile banking, o nível de qualidade dos serviços de internet disponibilizados

aos usuários pode influenciar nos resultados da pesquisa. Pesquisas podem ser desenvolvidas

de forma longitudinal, medindo a percepção em momentos distintos. Conclui-se que, como

forma de reduzir as barreiras, as instituições financeiras devem buscar a redução da percepção

de complexidade e aumento da percepção de segurança.

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ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DO LÍDER NA EMPRESA RC.CONTI

ANALYSIS OF THE BEHAVIOR OF THE LEADER IN THE COMPANY RC.CONTI

Viviane Teresinha de Ramos1

RESUMO: O ambiente de gestão, em que grande parte das organizações está inserida,

encontra-se num contexto de competitividade intensificada nas últimas décadas. Este estudo

aborda considerações acerca das competências essenciais requeridas ao gestor neste contexto

complexo do mundo contemporâneo, com a perspectiva de fazer uma ligação entre o gestor,

sua aprendizagem, suas competências, sua atuação e o meio em que está inserido. Trata-se de

uma pesquisa qualitativa e descritiva. Caracterizando-se como estudo de caso envolvendo a

empresa RC. Conti, a coleta de dados deu-se através da aplicação de entrevista e de

questionários envolvendo 46 colaboradores, representando 38% do quadro total de

colaboradores, alocados na área operacional. A análise e interpretação dos dados deram-se

através do confrontamento dos resultados da pesquisa bibliográfica com os dados originários

da pesquisa de campo. Concluímos que diante disto seria relevante implementar treinamentos

com os liderados, sobretudo no que diz respeito à relação interpessoal. Em 2013 foi aplicado o

questionário e com isso sugerimos uma pesquisa de satisfação dos liderados para com seus

líderes, com o intuito de analisar se devido às mudanças que ocorrem constantemente, o líder

deve rever seus métodos de trabalho e se há necessidade de mudanças. Em 2016 foi implantado

o Sistema Lean Manufacturing, que é um sistema de melhoria contínua, após isso não foi

aplicado um novo questionário mas nota-se uma melhora significativa no ambiente de trabalho

entre líder e liderado, pode-se perceber que ambas as partes estão mais engajadas em prol dos

mesmos objetivos.

Palavras-chave: Liderança. Comportamento. Resultado.

ABSTRACT: The management environment, in which most organizations are inserted, is in a

context of increased competitiveness in recent decades. This study deals with considerations

about the essential competences required of the manager in this complex context of the

contemporary world, with the perspective of making a connection between the manager, his

learning, his competences, his performance and the environment in which he is inserted. This

is a qualitative and descriptive research. Characterizing itself as a case study involving the RC

company. Conti, Data was collected through the application of interviews and questionnaires

involving 46 employees, representing 38% of the total number of employees assigned to the

operational area. The analysis and interpretation of the data were done through the

confrotation of the results of the bibliographic research with the data originated from the field

research. We concluded that it would be relevant to implement trainings with those led,

especially regarding the interpersonal relationship. In 2013 the questionnaire was applied and

we suggest a survey of the satisfaction of the leaders with their leaders, in order to analyze if

due to the changes that occur constantly, the leader must review his working methods if there

1 Graduada em Curso Superior de Tecnologia em Processos Gerenciais e Graduanda em Pós Graduação em Gestão

de Negocio. Centro Universitário de Brusque – UNIFEBE.

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is a need for changes. In 2016, the Lean Manunfecturing System was implemented, which is a

continuous improvement system, after which a new questionnaire was not applied, but there is

a significant improvement in the work environment between the leader and the leader, it can

be seen that both parties are Committed to the same objectives.

Keywords: Leadership. Behavior. Result

1. INTRODUÇÃO

De acordo com Chiavenato (1994) a liderança é dirigida através do processo da

comunicação humana, ela é definida como a arte de induzir as pessoas a cumprirem suas

obrigações com zelo e correção. É a capacidade de influenciar as pessoas a fazerem aquilo que

devem fazer.

O líder deve ser o espelho para sua equipe e principalmente um grande motivador. Seu

comportamento pode influenciar a maneira como os liderados se comportam dentro da empresa

e também no modo como encaram seu dia a dia, pois suas decisões afetam diretamente as

pessoas que estão sob sua liderança. No entanto, algumas vezes acontece de o líder não se dar

conta que o comportamento da equipe pode ser reflexo do seu próprio comportamento.

O líder deve estar sempre comprometido com sua equipe, mostrar-se sempre disposto a

ouvi-la e estar integrado com ela, para que os liderados encontrem apoio na sua figura dentro

da organização e tenham a certeza de que ele está ali para representá-los, para colaborar.

O objetivo do artigo consistiu em analisar na empresa RC Conti como está a atuação

dos líderes, buscando contribuir no desenvolvimento das competências exigidas. O presente

artigo baseia-se em fundamentação teórica, metodologia, apresentação dos resultados e

considerações finais.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 CONCEITOS DE LIDERANÇA

“Liderança é um processo de conduzir grupos de pessoas. É a habilidade de motivar e

influenciar os liderados para que contribuam da melhor forma com os objetivos do grupo ou da

empresa” (SALVINO, 2013, p. 4). Em outras palavras é a pessoa que se sobressai perante as

outras pessoas ou grupo a fim de liderá-las para um objetivo comum.

Definir e conceituar liderança são uma tarefa bastante difícil, pois são vários os enfoques

encontrados na literatura disponível sobre o assunto, indiferente à época e área de atuação. No

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entanto, conceituar liderança, segundo Cavalcanti (2006), não é uma tarefa muito fácil, é mais

fácil reconhecer quem a tem.

De acordo com Bergamini (1994, p. 86), isso quer dizer que a liderança tem sido

investigada desde há muito e como tal é justo que apresente inúmeras interpretações. É

desejável lembrar que a diferença entre as interpretações se traduziu em pontos de vistas que

não são necessariamente opostos, mas que, de certa forma, propõem enfoques complementares

uns aos outros. É o conjunto de todos eles que oferece uma visão mais completa sobre o assunto.

Para Salvino (2013, p. 4) a liderança “é um processo de conduzir grupos de pessoas. É

a habilidade de motivar e influenciar os liderados para que contribuam da melhor forma com

os objetivos do grupo ou da empresa”.

Sendo assim, a liderança pode ser vista como um fenômeno de influência interpessoal e

pode ser formal ou informal. O formal é quando o líder é nomeado pela empresa, e o líder

informal é aquele que independe da ocupação oficial, que tem poder decisivo no grupo, os

mesmos formam-se espontaneamente pelo relacionamento entre as pessoas.

Bergamini (1994, p. 103) aponta dois aspectos comuns às definições de liderança: Em

primeiro lugar, elas conservam o denominador comum de que a liderança esteja ligada a um

fenômeno grupal, isto é, envolve duas ou mais pessoas. Em segundo lugar, fica evidente tratar-

se de um processo de influência exercido de forma intencional por parte dos líderes sobre seus

seguidores.

Dessa forma pode-se afirmar que o bom chefe era aquele que tinha o pessoal na ‘palma

da mão’, ou seja, o total controle dos seus funcionários dentro da empresa. Contudo a partir da

década de 70, passaram a necessitar mais de contribuições intelectuais dos seus funcionários.

Principalmente na década de 80, com a evolução da concorrência, criou-se a necessidade de ter

nas empresas funcionários mais dedicados.

Cada pessoa é um ser humano único, sistêmico, com personalidade, características,

habilidades, atitudes e conhecimentos diferentes dos demais. Por isso, é preciso conhecer as

ferramentas de gestão de pessoas que poderão auxiliar o líder na tomada de decisões em relação

ao aproveitamento e valorização dos talentos que integram as equipes de trabalho.

A liderança eficaz consiste em fornecer aos colaboradores o que eles ainda não

conseguiram suprir por si próprios. O objetivo das ações do líder é criar condições para que as

pessoas se tornem cada vez mais motivadas por si mesmas, e façam as coisas com respeito e de

certa forma caprichada.

Bergamini (1994, p. 109) aponta:

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Os gerentes e administradores, de uma forma geral, nem sempre apresentarão atributos

comportamentais que os caracterizem como líderes eficazes. Isso também equivale a dizer que

verdadeiros líderes, na maioria das vezes, podem não possuir características gerencias ou de

administradores. Portanto, trata-se de uma espécie de erro grosseiro confundir ou pressupor que

toda pessoa em posição de direção na empresa seja, necessariamente, líder.

Cada pessoa que ocupa um papel gerencial está inserida em uma hierarquia a qual é

regida por normas que definem o cargo. O ocupante deste cargo recebe poderes de tomada de

decisões, poder de influenciar, e de ser obedecido pelos demais subordinados.

Bergamini (1994) classifica as teorias afirmando que houve os que demonstraram

preocupação com os traços do líder, outros se preocuparam com os estilos de liderança e com

o que o líder faz, com as variáveis do meio ambiente que influenciam no desenvolvimento entre

o líder e o seguidor, com as motivações subjacentes a atividade de dirigir as pessoas.

Profissionais capazes de liderar, de exercer poder e influência sobre as pessoas, fazem

a diferença para muitas organizações. É uma atividade que, se bem feita, mantém a saúde das

relações entre os indivíduos.

2.2 CARACTERÍSTICAS DE UM LÍDER

As pessoas que se destacam como líderes estarão projetando sua posição para um nível

mais elevado, alcançando uma nova etapa e fazendo mudanças no meio em que vivem.

São diversos os traços de líderes, mas para Bergamini (1997, p. 210): O líder precisa ter

resiliência, autodisciplina, energia, foco, visão, responsabilidade, carisma, tolerância ao

estresse (por meio da resiliência), poder de síntese, capacidade de assumir riscos conhecimento,

capacidade de aprender sempre, e saber delegar, ouvir comunicar e ser sensível, empreendedor,

eficiente, determinado, automotivado, tolerante, criativo, a era do chefe controlador é

substituída pela do líder coordenador, cabendo a este interpretar o sentido daquilo que existe de

imaginário nas expectativas dos seguidores, juntamente com o que existe de simbólico na

cultura organizacional.

Vergara (2000) cita ainda, que entre os fatores que facilitam esta atividade estão a

existência de um bom processo de comunicação e a postura correta e coerente por parte do líder.

Sua capacidade de decisão será sempre avaliada, sua integridade, sua firmeza,

franqueza, sinceridade e honestidade para consigo mesmo em relação aos demais, também seu

comportamento na hora de decidir terá mais influencia no modo de agir com os membros da

equipe. O líder deve ser um exemplo para os demais.

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Sendo assim, pode-se afirmar que praticamente todo cenário empresarial passa por

diversas dificuldades, pois nem sempre se tem êxito naquilo que se planeja, obstáculos são

comuns e acabam até progredindo o conhecimento das organizações.

3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

A coleta de dados para os estudos de caso “[...] pode se basear em muitas fontes de

evidencias” (YIN, 2001, p. 105), dentre elas documentação, registros em arquivos, entrevistas,

observação direta, observação participante e artefatos físicos.

A coleta de dados nesta pesquisa envolveu pesquisa bibliográfica em livros, revistas

especializadas, artigos publicados, teses e dissertações com dados relativos ao assunto; para a

pesquisa de campo, entrevista com gestores e os colaboradores.

As entrevistas foram analisadas por meio dos dados coletados e demonstrados a partir

de gráficos e análise interpretativa. A população amostral foi de 46 colaboradores, sendo 70%

do sexo feminino e 30% do sexo masculino, alocados na área operacional.

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES

O resultado da pesquisa, conforme gráfico 6, demonstra que 57%, responderam que ‘Às

vezes’ estão bem informado sobre o objetivo e estratégias da empresa, 26%, responderam que

‘Sempre’, 12% que ‘Raramente’ e 5% responderam que ‘Nunca’ estão bem informado sobre os

objetivos e estratégias da empresa.

Gráfico 1: Informações sobre os objetivos e estratégias da empresa

Fonte: Elaborado pelas as autoras (2013).

Essa pergunta respondida pelos liderados tem como objetivo analisar como está o

entendimento dos liderados perante as questões dos objetivos e estratégias da empresa. É

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possível perceber que os liderados na maioria das vezes tem acesso às informações, o resultado

tem inclinação favorável, contudo se potencializada a tendência decorre de maior assertividade

e resolutividade no alcance dos objetivos organizacionais.

Segundo Chiavenato (2000), liderança é o processo de conduzir um grupo de pessoas, é

a habilidade de motivar e influenciar os liderados para que contribuam da melhor forma com

os objetivos do grupo ou da organização.

No gráfico 7 nota-se que 48% concordam que ‘Sempre’ o líder apresenta com clareza

as metas que precisam atingir, 40% responderam que ‘Ás vezes’, 7% ‘Raramente’ e 5%

responderam que ‘Nunca’.

Gráfico 2: O líder apresenta com clareza as metas que precisam ser atingidas

Fonte: Elaborado pelas as autoras (2013).

O objetivo dessa pergunta é verificar como o líder transmite as metas que o grupo

precisa atingir. Nessa questão é possível perceber que seguindo a lógica da questão anterior os

líderes tem legitimado a sua capacidade de comunicação, contudo o processo de mudanças no

ambiente organizacional é contínuo o que demanda atenção e clareza na disseminação das

metas aos liderados.

Através das informações e resultados obtidos por meio da pesquisa de campo realizada

com os colaboradores da empresa RC Conti Indústria de Confecções Ltda., constatou-se que a

48%

40%

7%5%

O lider apresenta com clareza as metas que presciso atingir?

Sempre

As vezes

Raramente

Nunca

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empresa juntamente com a área de Recursos Humanos (RH), necessita fornecer treinamentos

aos líderes e liderados sobre técnica comportamental, visando melhoramento na parte de

comunicação e feedback dos líderes para com os liderados e vice e versa.

Para diminuir o impacto da insatisfação dos liderados, referente aos quesitos citados

acima, é necessário que os líderes motivem seus liderados, mostrando assim o reconhecimento

devido. O líder precisa administrar seu trabalho de forma que todos aprendam a importância de

cumprir suas metas e valorizando o capital humano, pois há uma falta de mão-de-obra no

mercado. Funcionário trabalhando com satisfação reflete em cliente satisfeito com o produto

que recebe.

A pesquisa aplicada com os liderados apresentou um comportamento diferente,

conforme citado em Limitações da Pesquisa. Através disso, observa-se que a necessidade de

treinamentos com os liderados, e melhorias na relação interpessoal, precisa ser colocada em

prática.

Sugere-se também uma pesquisa de satisfação dos liderados para com seus líderes, com

o intuito de analisar se devido às mudanças que ocorrem constantemente, o líder deve rever

seus métodos de trabalho se há necessidade de mudanças.

As seguintes recomendações foram sugeridas, se deram com base do diagnóstico do

resultado da pesquisa de campo na empresa, como verifica na sequência no plano de ação

5W2H.

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Quadro 6: Plano de ação 5W2H

Fonte: Elaborado pelas autoras (2013).

Ações Como Quando Onde Responsáveis Resultado esperado Valor

Treinamentos para líderes Selecionar profissionais capacitados

na área de coaching e aplicar

treinamentos para auxiliar a

desenvolver e capacitar os líderes

nos processos diários.

Abril 2013 RC. Conti RH Que os líderes sejam mais

proativos, e que possam

desenvolver a parte de

gestão de pessoas com mais

eficácia.

A definir (orçamento)

Treinamento para liderados Internamente: os próprios líderes ou

pessoas por eles designados podem

ministrar as capacitações técnicas.

Abril 2013 RC. Conti RH Fazer com que os liderados

compreendam os processos.

A definir (orçamento)

Executar na integra o

Planejamento Estratégico

Realizando Reuniões trimestrais,

fazendo um esboço da empresa,

traçando metas a curto, médio e

longo prazo.

Abril 2013 RC. Conti Todos os setores

responsáveis na

Gestão.

Para fazer com que todos

trabalhem com o mesmo

objetivo.

A definir (orçamento)

Reuniões mensais para

analise e verificação do

cumprimento das metas

solicitadas.

Com os dados de produção mensal e

demanda solicitada, reunir todos os

líderes mensalmente.

Junho 2013 RC. Conti Gerente de

Produção e Líder

de cada setor.

Para verificar se as metas

solicitadas estão sendo

cumpridas de forma correta.

A definir (orçamento)

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O plano de ações citado acima em 2013 está sendo colocado em prática pela empresa

acima citada. Referente ao treinamento sugerido para os líderes e liderados, foi implantado o

Lean Manufacturing em 2016 com o intuito de reduzir custos evitando desperdícios, para que

isso fosse possível o foco principal foi quem estava ligado diretamente na área operacional.

Foram realizados inúmeros treinamentos, para a empresa se adequar a essa nova cultura.

Após isso não foi aplicado um novo questionário mas nota-se uma melhora significativa

no ambiente de trabalho entre líder e liderado, pode-se perceber que ambas as partes estão mais

engajadas em prol dos mesmos objetivos.

As reuniões mensais para análise e verificação do cumprimento das metas solicitadas,

estão sendo executadas. Juntamente com a direção foi optado por fazê-las quinzenalmente

apresentando em formas de indicadores.

Caso algum setor produtivo não alcance a meta planejada é feita uma análise em loco

para entender o que aconteceu e ajudá-los de forma que consigam cumpri-la.

Referente à execução Planejamento Estratégico, as reuniões estão sendo feitas

semestralmente, com algumas metas em curto prazo. A direção optou por primeiro organizar a

empresa e seus processos produtivos e aos poucos está sendo implantado o planejamento

estratégico.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O tema abordado no trabalho é de grande relevância não apenas para a organização,

como também para a sociedade, instituições de ensino, entre outras que buscam resultados

positivos. Entende-se que a importância do líder dentro desta empresa é mostrar aos seus

colaboradores que trabalhando em grupo se alcança melhores resultados, ou seja, nem líder nem

liderados que se considerem autossuficientes terão resultados dentro da organização.

O objetivo do presente trabalho de conclusão foi analisar na empresa RC Conti como

está a atuação dos líderes, buscando contribuir no desenvolvimento das competências exigidas.

O primeiro objetivo citado no trabalho de identificar conceitos de liderança e motivação

em literatura especializada foi alcançado através de pesquisas teóricas relatadas por diversos

autores da área.

Em sequência o segundo objetivo de aplicar pesquisa para identificar o perfil das

lideranças foi alcançado com êxito focando no chão de fábrica da empresa onde há mais

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deficiências a serem sanadas. Destacando o cenário atual que carece de líderes que saibam

trabalhar com gente em situação complexa, e não apenas administrar recursos.

Referente ao terceiro objetivo que é elaborar diagnóstico do perfil das lideranças e da

satisfação dos colaboradores, este objetivo foi alcançado. As autoras baseadas nos resultados

fizeram uma análise detalhada e criteriosa e foram buscadas as respectivas ações para corrigir

eventuais distorções e minimizar os fatores de descontentamento dos liderados.

O quarto objetivo de propor um plano de ação/melhorias para suprir as lacunas

identificadas no diagnóstico e aprimorar habilidades e conhecimento, foi alcançado conforme

demonstrado acima.

Os resultados obtidos no estudo de caso mostram que a principal característica que o

líder da empresa em questão possui, é ser democrático. Os mesmos assistem às decisões do

grupo, o que mostra, de certa forma, um bom relacionamento com seus liderados, ouvindo suas

opiniões, ou seja, não trabalha sozinho. Contudo, em algumas questões os líderes se comportam

com o estilo Liberal, principalmente no quesito reconhecimento e motivação, sedo esses fatores

importantes para o bom desempenho profissional dos liderados.

Nesse sentido, o líder oferece uma visão e o sentido da missão, estimula o orgulho,

comunica suas altas expectativas, da atenção personalizada aos seus liderados.

Desta forma, pode se dizer que a pesquisa atingiu seus objetivos específicos no que diz

respeito à identificação das bases teóricas e no levantamento da percepção dos liderados sobre

o ambiente de trabalho.

REFERÊNCIAS

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_________ A motivação nas organizações. 4. ed. São Paulo: Atlas, 1997.

CAVALCANTI, V. L. Liderança e motivação. Rio de Janeiro: FGV, 2006.

CHIAVENATO, I. Gerenciando pessoas: o passo decisivo para a administração participativa.

São Paulo: Makron Books, 1994.

______. Recursos humanos. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2000.

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SALVINO, Emiliano Teixeira. Formação de lideranças: Suprema Serviços Industriais Ltda.:

Grupo Suprema. 2013. 55 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Administração) – Faculdade

Pedro Leopoldo, Pedro Leopoldo, 2013. Disponível

em:<http://www.fpl.edu.br/2013/media/pdfs/graduacao/tcc/2013/tcc_emiliano_teixeira_salvin

o_2013.pdf>. Acesso em: 20 out. 2013.

VERGARA, S. C. Gestão de pessoas. São Paulo: Atlas, 2000.

YIN, R. K. Estudo de caso: planejamento e métodos. 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 2001.