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Como Escolher Minha Profissão A cada dia surgem novas opções de carreiras e de oportunidades de trabalho. O que fazer? Esse turbilhão de dúvidas não deve ser encarado como um problema grave. Especialistas garantem que a insegurança diante da escolha profissional é um sintoma saudável e produtivo. Com vários caminhos abertos à sua frente, o indeciso tem maiores chances de escolher melhor do que quem apoia sua certeza em fantasias. Por isso, recomenda-se que essa fase da vida seja enfrentada com tranquilidade pelos jovens e sua família. Afinal, toda decisão pressupõe incertezas e uma dose de risco. E esse é o primeiro grande desafio do jovem diante do novo e do desconhecido. Uma forma de diminuir a pressão é saber que essa escolha profissional não é necessariamente definitiva. Novos caminhos vão surgir durante a faculdade, o mercado de trabalho pode exigir adaptações ou uma grande guinada na carreira. "A faculdade deve ser encarada como a escolha de uma plataforma, um alicerce para a construção da vida profissional", afirma Rubens Gimael, especialista em desenvolvimento de carreira da NeoConsulting. É comum encontrar engenheiros trabalhando na área de Finanças, arquitetos se dedicando à Área Comercial, economistas cuidando de Marketing. A mudança não significa fracasso nem frustração, mas sim a aceitação de desafios que a vida vai trazendo. Escolher uma profissão representa esboçar um projeto de vida, questionar valores, as habilidades, o que se gosta de fazer, a qualidade de vida que se pretende ter. E esse momento de reflexão pode render bem mais quando é compartilhado com a família. Mas, por excesso de liberalismo, muitos pais se omitem com a desculpa de não querer interferir na vida dos filhos. Um passo importante para o jovem indeciso é investigar, reunindo informações sobre as profissões e cursos oferecidos pelas faculdades. Há ainda a opção de buscar apoio em empresas de Orientação Vocacional. As transformações econômicas que atingiram o mundo de forma global impulsionaram novas e promissoras carreiras. São as profissões que envolvem inovações tecnológicas e áreas de Inteligência e Conhecimento. As carreiras tradicionais, como Medicina, Direito, Engenharia, Letras e Administração ainda são as mais procuradas nos vestibulares. Elas se renovaram e ganharam áreas de atuação que prometem sucesso e bons rendimentos, como o campo de Biotecnologia para os advogados e o de Meio Ambiente para engenheiros. É bom também ficar antenado com o crescimento dos setores de Serviços, Lazer e Entretenimento, Meio Ambiente e projetos sociais. Eles abriram oportunidades atraentes de trabalho para os profissionais com formação em Biologia e Educação Física, que andavam em baixa, e valorizaram cursos que antes eram considerados de segunda linha, como Relações Internacionais, Turismo e Hotelaria. Em meio a tantas opções, o estudante deve ficar atento a algumas armadilhas. A primeira delas é acreditar que cursar uma boa faculdade vai livrá-lo do desemprego e assegurar o sucesso profissional. Uma boa escola pode até abrir portas no início da carreira, mas vale lembrar que existem muitos profissionais em altos cargos nas empresas que não vieram de cursos de primeira linha. Para os especialistas em Recursos Humanos, o sucesso numa profissão depende 30% de conhecimento e 70% de atitude. Uma paradinha para refletir sobre: quem você é na escola? Como estuda? O que gosta de fazer? Da mesma forma, decidir-se por uma carreira apenas porque ela está em alta no mercado normalmente é o caminho mais rápido para o abandono de uma profissão. "Quem não leva em conta sua afinidade com uma carreira ao fazer uma escolha fatalmente desistirá dela quando a oferta de trabalho cair", afirma a Psicóloga Renata Mello, da equipe de Orientação Profissional do Centro de Integração Empresa Escola (CIEE), de São Paulo. O cuidado deve ser redobrado em carreiras com um campo de atuação restrito e que não possibilitam ao estudante mudar facilmente de área de trabalho, como Oceanografia, Odontologia e Telecomunicações. No fim da década de 90, a expectativa de um mercado de trabalho promissor na área de Telecomunicações levou à ampliação de vários cursos, como Engenharia de Telecomunicações, que agora não conseguem preencher todas as vagas. Há trabalho para profissionais de nível técnico e de manutenção, mas poucas vagas para cargos de direção e gerência. Ao mesmo tempo, o jovem que já se decidiu por uma carreira não deve desistir dela por causa do temor do desemprego – fantasma que ronda todas as profissões. "Quem faz a escolha certa tem mais autoconfiança, sobressai e chega ao sucesso", diz Renata Mello, do CIEE. Em 2006, o Ministério da Educação lançou o Catálogo Nacional de Cursos Superiores de Tecnologia. Com esta iniciativa ganham os estudantes, os pais, os professores, as instituições de ensino, as empresas, enfim, a sociedade, por terem à disposição permanente um instrumento que relaciona os cursos superiores de tecnologia. Com isto fornece subsídios importantes para decisões vocacionais, matrizes curriculares e estratégias de formação, além de favorecer ao exercício da cidadania no acompanhamento da qualidade dos cursos e ainda induz o desenvolvimento de perfis profissionais amplos, com capacidade de pensar de forma reflexiva, com autonomia intelectual e sensibilidade ao relacionamento interdisciplinar. Graça Santos

Como escolher minha profissão

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Page 1: Como escolher minha profissão

Como Escolher Minha Profissão

A cada dia surgem novas opções de carreiras e de oportunidades de trabalho. O que fazer? Esse turbilhão de dúvidas não deve ser

encarado como um problema grave. Especialistas garantem que a insegurança diante da escolha profissional é um sintoma

saudável e produtivo. Com vários caminhos abertos à sua frente, o indeciso tem maiores chances de escolher melhor do que quem

apoia sua certeza em fantasias. Por isso, recomenda-se que essa fase da vida seja enfrentada com tranquilidade pelos jovens e sua

família. Afinal, toda decisão pressupõe incertezas e uma dose de risco. E esse é o primeiro grande desafio do jovem diante do novo

e do desconhecido. Uma forma de diminuir a pressão é saber que essa escolha profissional não é necessariamente definitiva. Novos

caminhos vão surgir durante a faculdade, o mercado de trabalho pode exigir adaptações ou uma grande guinada na carreira. "A

faculdade deve ser encarada como a escolha de uma plataforma, um alicerce para a construção da vida profissional", afirma

Rubens Gimael, especialista em desenvolvimento de carreira da NeoConsulting. É comum encontrar engenheiros trabalhando na

área de Finanças, arquitetos se dedicando à Área Comercial, economistas cuidando de Marketing.

A mudança não significa fracasso nem frustração, mas sim a aceitação de desafios que a vida vai trazendo. Escolher uma profissão

representa esboçar um projeto de vida, questionar valores, as habilidades, o que se gosta de fazer, a qualidade de vida que se

pretende ter. E esse momento de reflexão pode render bem mais quando é compartilhado com a família. Mas, por excesso de

liberalismo, muitos pais se omitem com a desculpa de não querer interferir na vida dos filhos. Um passo importante para o jovem

indeciso é investigar, reunindo informações sobre as profissões e cursos oferecidos pelas faculdades. Há ainda a opção de buscar

apoio em empresas de Orientação Vocacional.

As transformações econômicas que atingiram o mundo de forma global impulsionaram novas e promissoras carreiras. São as

profissões que envolvem inovações tecnológicas e áreas de Inteligência e Conhecimento. As carreiras tradicionais, como Medicina,

Direito, Engenharia, Letras e Administração ainda são as mais procuradas nos vestibulares. Elas se renovaram e ganharam áreas de

atuação que prometem sucesso e bons rendimentos, como o campo de Biotecnologia para os advogados e o de Meio Ambiente

para engenheiros. É bom também ficar antenado com o crescimento dos setores de Serviços, Lazer e Entretenimento, Meio

Ambiente e projetos sociais. Eles abriram oportunidades atraentes de trabalho para os profissionais com formação em Biologia e

Educação Física, que andavam em baixa, e valorizaram cursos que antes eram considerados de segunda linha, como Relações

Internacionais, Turismo e Hotelaria. Em meio a tantas opções, o estudante deve ficar atento a algumas armadilhas. A primeira delas

é acreditar que cursar uma boa faculdade vai livrá-lo do desemprego e assegurar o sucesso profissional. Uma boa escola pode até

abrir portas no início da carreira, mas vale lembrar que existem muitos profissionais em altos cargos nas empresas que não vieram

de cursos de primeira linha.

Para os especialistas em Recursos Humanos, o sucesso numa profissão depende 30% de conhecimento e 70% de atitude. Uma

paradinha para refletir sobre: quem você é na escola? Como estuda? O que gosta de fazer?

Da mesma forma, decidir-se por uma carreira apenas porque ela está em alta no mercado normalmente é o caminho mais rápido

para o abandono de uma profissão. "Quem não leva em conta sua afinidade com uma carreira ao fazer uma escolha fatalmente

desistirá dela quando a oferta de trabalho cair", afirma a Psicóloga Renata Mello, da equipe de Orientação Profissional do Centro

de Integração Empresa Escola (CIEE), de São Paulo. O cuidado deve ser redobrado em carreiras com um campo de atuação restrito

e que não possibilitam ao estudante mudar facilmente de área de trabalho, como Oceanografia, Odontologia e Telecomunicações.

No fim da década de 90, a expectativa de um mercado de trabalho promissor na área de Telecomunicações levou à ampliação de

vários cursos, como Engenharia de Telecomunicações, que agora não conseguem preencher todas as vagas. Há trabalho para

profissionais de nível técnico e de manutenção, mas poucas vagas para cargos de direção e gerência. Ao mesmo tempo, o jovem

que já se decidiu por uma carreira não deve desistir dela por causa do temor do desemprego – fantasma que ronda todas as

profissões. "Quem faz a escolha certa tem mais autoconfiança, sobressai e chega ao sucesso", diz Renata Mello, do CIEE.

Em 2006, o Ministério da Educação lançou o Catálogo Nacional de Cursos Superiores de Tecnologia. Com esta iniciativa ganham os

estudantes, os pais, os professores, as instituições de ensino, as empresas, enfim, a sociedade, por terem à disposição permanente

um instrumento que relaciona os cursos superiores de tecnologia. Com isto fornece subsídios importantes para decisões

vocacionais, matrizes curriculares e estratégias de formação, além de favorecer ao exercício da cidadania no acompanhamento da

qualidade dos cursos e ainda induz o desenvolvimento de perfis profissionais amplos, com capacidade de pensar de forma

reflexiva, com autonomia intelectual e sensibilidade ao relacionamento interdisciplinar. Graça Santos

Page 2: Como escolher minha profissão

Os Três Pilares que Sustentam a Escolha da Profissão

Uma escolha profissional consciente leva em conta pelo menos três elementos: quem é você, o que se estuda durante o curso e

como é o dia a dia da profissão. “O primeiro ponto importante para uma decisão responsável é o autoconhecimento. O estudante

deve se voltar para ele mesmo, precisa conhecer suas habilidades, seus interesses e seus valores”, afirma Selena Garcia Greca,

psicóloga especialista em orientação profissional e desenvolvimento de carreira. Não adianta cursar Arquitetura ou Design, por

exemplo, se você não possui um traço legal na hora de desenhar, ou estudar Filosofia se não está disposto a ficar horas e horas

lendo.

O próximo passo é buscar informações sobre o curso em que você planeja passar quatro ou cinco anos. Uma dica importante é

verificar a qual grande área do conhecimento a graduação pertence: Ciências Humanas, Ciências Biológicas ou Ciências Exatas.

“Muitos escolhem Engenharia Ambiental imaginando que é um curso da área Biológica, porque trata do meio ambiente. E só

descobrem que a graduação está ligada à área de Exatas quando estão dentro do curso”, alerta.

A carreira

As feiras de cursos e profissões organizadas por escolas e universidades são uma boa oportunidade para conhecer a rotina de cada

profissão.

Além disso, é importante visitar ambientes de trabalho e conversar tanto com quem acabou de entrar no mercado quanto com

profissionais mais experientes.

O objetivo é conhecer o lado agradável e o lado espinhoso da profissão. “Proponho ao aluno fazer entrevistas com profissionais. Ele

deve levar uma lista de perguntas. O estudante pode questionar quais foram as piores dificuldades que o profissional encontrou e

como enfrentou a situação”, exemplifica Flávio Pereira, psicólogo e conselheiro vocacional.

Outra opção (que não exclui a anterior) é pesquisar em guias, revistas, jornais e suplementos, como o Vestibular da Gazeta do

Povo. Toda semana, na seção “Carreira”, você encontra informações sobre uma profissão.

Autoconhecimento

Quem está muito indeciso pode procurar pelos serviços de orientação profissional oferecidos por universidades, escolas e

consultórios de psicologia. Não se deve confundir orientação profissional com teste vocacional, modelo muito comum há alguns

anos e que ainda é encontrado aos montes na internet.

O teste consiste num questionário rápido e simples, que aponta algumas áreas de afinidade do estudante. A orientação inclui

também entrevistas com psicólogos, pesquisas sobre as diferentes ocupações e, algumas vezes, dinâmicas de grupo.

“É um processo mais demorado, que depende muito de cada pessoa. Há jovens que em três ou quatro encontros semanais já

definiram uma carreira. Mas, em média, são necessários oito encontros”, afirma a psicóloga Luciana Albanese Valore.

A orientação profissional não aponta os cursos ideais para cada um; essa é uma decisão que só você pode tomar. “Não é dada uma

resposta pronta. Costumo dizer que a pessoa entra com uma minhoca ou duas na cabeça e sai com várias. Mas os encontros criam

um antídoto contra fantasias, da pessoa que participa da orientação e dos outros que convivem com ela”, explica Flávio Pereira,

psicólogo e conselheiro vocacional.

O curso

Um dos caminhos é visitar feiras. Nesses locais você pode conversar com estudantes e professores, que apresentarão o curso e as

possibilidades de atuação profissional.

Não se esqueça, porém, de que essas pessoas estarão lá para convencê-lo. “Na faculdade, o pessoal está preparado para vender o

curso. Isso pode gerar mais fantasia na cabeça do jovem”, afirma Flávio Pereira, psicólogo e conselheiro vocacional.

Luciana Valore concorda e diz que é importante procurar também outras fontes de informação. “Nas feiras, alunos e professores

apaixonados pelo curso é que falam sobre a profissão. De preferência, o jovem deve conversar com vários profissionais, com

pessoas do meio acadêmico e com quem está no mercado”, diz.

Outra dica é conhecer as matérias básicas de cada curso e analisar os currículos de várias instituições de ensino, pois a mesma

graduação pode ter ênfase diferente de acordo com a universidade. Você também deve visitar os laboratórios e as outras

instalações do curso, para verificar como se sente nesses locais.

Page 3: Como escolher minha profissão

Fique ligado, porque a palavra “engenharia” já carrega uma série de informações. Para se dar bem em um curso com esse nome,

independentemente do termo que o acompanhe (florestal, de alimentos, civil, elétrica, mecânica ou qualquer outro), é preciso ser

uma pessoa racional, que goste de lógica e tenha facilidade em cálculo.

Segundo Luciana Albanese Valore, professora de Psicologia da Universidade Federal do Paraná (UFPR), o estudante também deve

conhecer as diferentes opções de continuidade dos estudos após o ensino médio.

Além das graduações tradicionais, lembra, existem os cursos superiores de tecnologia, também conhecidos como tecnólogos, que

apresentam duração menor, são mais práticos e normalmente estão voltados para áreas específicas de carreiras mais abrangentes.

A UFPR ofereceu no último vestibular 12 cursos deste tipo, entre eles Tecnologia em Comunicação Institucional e Tecnologia em

Construção de Instrumentos Musicais.

Para uma escolha mais segura, os estudantes devem ainda procurar informações a respeito de cursos de diferentes áreas, não

apenas sobre aqueles de que imaginam gostar. “Quando você examina cursos de várias áreas, está abrindo o leque para se

conhecer. O que é muito direcionado é muito perigoso. Muitas vezes os nossos sonhos de criança são construídos por

identificações que tivemos ao longo da vida e que não condizem com as nossas habilidades”, diz Selena.

Na opinião de Luciana, vale a pena sondar vários cursos, mas a amplitude da pesquisa depende da etapa em que o estudante se

encontra no processo de escolha. “Quando a pessoa não tem nem noção da área que vai seguir, ela tem de fazer uma pesquisa

mais ampla”, avalia.

Segundo levantamento realizado no ano passado pela Divisão de Tecnologia Educacional da Positivo Informática, 23% dos 1.457

alunos consultados conheciam apenas o curso que haviam escolhido. A pesquisa ouviu estudantes da 7.ª série do ensino

fundamental ao 3.º ano do ensino médio.

“A escolha da profissão é um processo que deve ser feito ao longo do ensino médio. O jovem deve ter uma postura ativa, buscar

informações, conhecer e visitar o profissional no seu ambiente de trabalho”, afirma Selena, que coordenou o estudo.

Marcela Campos

Page 4: Como escolher minha profissão

Como se Escolhe uma Profissão?

“O que você vai ser quando crescer?” Infelizmente poucos jovens, no Brasil de hoje podem se fazer esta pergunta. As crianças

carentes, que sonham em ser médicos engenheiros, advogados e dentistas, ao começar à adolescência, começam a procurar

empregos de babá, faxineira e office-boy. Numa idade que para os mais abastados é começar a sonhar, para os pobres é parar de

sonhar e começar a lutar pela sobrevivência. Deixar para lá algumas questões básicas da adolescência, como: o que eu gostaria de

fazer? O que me realizaria mais? Qual a contribuição do meu trabalho para melhorar a sociedade?

Mas para aqueles adolescentes a quem é permitido sonhar, o processo da escolha também não é fácil. Alguns imaginam que num

dia acordarão definidos, outros que "vai pintar" uma luz em algum momento, outros procuram soluções mágicas, outros ainda

pedem para que terceiros - tais como pais ou professores - decidam por ele. Há os que seguem as profissões da moda, ou as

profissões que seu grupo de amigos pretende abraçar. Na verdade, nenhum dos jeitos acima é a melhor saída. A única forma

realmente adequada para escolher uma profissão é pensar, e pensar bastante. Pensar em vários aspectos que envolvem esta

importante decisão. Por exemplo, conhecer o maior número possível de possibilidades, para que nenhum profissão fique de fora

por desconhecimento. Se informar sobre as profissões, através de leituras e conversas, para fazer a opção calcada na realidade e

não em distorções e fantasias. Desenvolver o autoconhecimento, isto é, conhecer-se no que "se foi" e no que "se é", para projetar

no futuro quem se pretende ser. Informar-se a respeito de como se ‘’adquire’’ uma determinada profissão qual a escolaridade

exigida, quais cursos preparam o profissional e qual o custo da formação. Ficar por dentro de todas as transformações que estão

acontecendo na organização do trabalho em decorrência da globalização da economia e da introdução de novas tecnologias nos

modos de produzir. Mas, mesmo estando bem informado, ainda assim não se chega lá. Escolher é ter que optar por uma dentre

algumas possibilidades. Possibilidades essas que até podem ser igualmente atraentes, mesmo que por motivos diferentes. Assim, a

escolha pressupõe a existência de dúvidas, de conflito, de modo que escolher significa, em última análise, resolução do conflito.

Escolher significa, também, não só correr riscos, mas lidar com aperda. Sempre que se decide por uma escolha, também se decide

o que se vai perder. Com todas essas dificuldades tanto racionais quanto emocionais não se pode negar que este tipo de escolha

representa um ato de coragem. A idéia da escolha como um ato de coragem questiona concepções antigas em orientação

vocacional. Contesta a noção de que haveriam "formas" preestabelecidas às quais o jovem deveria se encaixar, pois sua felicidade e

seu futuro estariam em jogo caso não encontrasse o enquadre perfeito. A vocação não pode mais ser entendida como atributo

inato (ou mesmo adquirido, mas cristalizado a partir de uma certa idade), que direcionaria o adolescente para determinada

ocupação. Este conceito, definido pelos dicionários como "chamamento", "predestinação", hoje está sendo questionado pela

realidade mutante do mercado de trabalho: cada vez mais o indivíduo deve se apresentar "poli-apto" se quiser concorrer no

mercado com igualdade de condições. Cada indivíduo é único, assim como as suas capacidades, que estão em construção

permanente, e por isso podem ser aperfeiçoadas e até mesmo modificadas.

Ninguém nasce para determinada profissão: todos os indivíduos, a princípio, estão em condições de aprender as habilidades

necessárias para qualquer profissão. Numa sociedade tecnologicamente cada vez mais complexa e mutante, e com mercado de

trabalho cada vez mais competitivo, a escolha profissional não é uma tarefa fácil para o adolescente. Vencer este desafio exige do

jovem uma reflexão criativa sobre o "eu no mundo" - a sua singularidade frente à realidade externa. Como educadores, não basta

sermos somente fonte de informações. Como pais, não podemos mais esperar que os filhos alcancem a felicidade seguindo os

nossos modelos. Só estaremos ajudando os adolescentes no intrincado desafio da escolha vocacional se respeitarmos

profundamente todos os seus passos no caminho a uma escolha livre e consciente.

Silvio Duarte Bock

Disponível em http://www.conexaoprofessor.rj.gov.br/especial.asp?EditeCodigoDaPagina=1714. Acessado em 17 de maio de

2013.