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Como Escrever Romances

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1 - Saber Escrever

1 – Saber Escrever

á um provérbio que afirma existirem trêsmaneiras de se tornar imortal: fazer um filho,

plantar uma árvore ou escrever um livro.Acredito que a última hipótese seja verdadeira.

Escrever romances pode ser uma fascinante e lucrativaatividade, mas não alimentemos ilusões, porque comporboas histórias exige preparação que só se adquire depois deuma longa jornada à qual ninguém pode fazer em nosso

lugar.

HEscritores não são descobertos, nem nascem do dia para

a noite; eles se formam gradativamente, somando habi-lidades capazes de agradar aos mais exigentes gostos, masacima de tudo eles conseguem a imortalidade que é glóriade poucos.

Ter imaginação fecunda e criar uma boa história pode serbem interessante, e ainda assim inútil, pois o papel aceitaqualquer coisa e isso não faz de você um escritor. É precisoter bagagem e, antes de tudo, saber o que realmente é umlivro. Você sabe o que é um livro? Sabe perfeitamente quais

são os elementos que o compõem? Sabe reconhecer a

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estrutura, digo o esqueleto de um livro? Observe que nãoestou falando necessariamente de um bom livro, mas dequalquer coisa que possa ser assim nomeada.

Numa biblioteca pode haver três classes de obras: O bomlivro, o livro e o projeto de livro. Você pretende escrever umaobra literária; em qual dessas categorias acha que ela podese encaixar? Seria bom pensar sobre o assunto antes decomeçar a escrevê-la.

Se alguém não possui dinheiro ou fama, terá muita difi-culdade de se tornar um escritor, principalmente se a suaárea for a ficção. Existem escritores e existem autores, masambas as classes conseguem vender as suas obras. Os daprimeira classe, assim chamados de escritores, vendem porméritos de seus trabalhos, enquanto que os autores só

chegam às prateleiras por serem famosos ou por poderempagar pelos serviços de alguns profissionais. Há autoresfamosos dos quais eu jamais lerei uma só frase, e a minharazão é bastante peculiar: estes não são escritores de fato esó se tornaram autores porque o papel não tem comorecalcitrar.

Caso você não seja famoso nem disponha de um bomcapital e ainda assim deseja seguir a carreira de escritor, éimprescindível que conheça as características que compõemo profissional dessa área. Criatividade, imaginação, tato,transpiração e conhecimento são apenas alguns doselementos indispensáveis à formação do bom escritor. Estase outras qualidades poder ser adquiridas e exercitadas com o

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passar do tempo, mas há algo que o aspirante a Machado deAssis não pode deixar de ter desde o primeiro momento em

que se atirar ao computador: é preciso saber escrevercorretamente.

Não se exige de um escritor que ele seja professor deportuguês ou que tenha freqüentado rodas de literatos. Nãose preocupe com isso; não são muitos os professores deportuguês que chegam às prateleiras das livrarias. Mas evitevãs pretensões, porque é possível acusar um escritor demuitas faltas, mas será o cúmulo dos absurdos descobriralgum que não saiba escrever corretamente!

Vai escrever um livro? Então é bom ficar sabendo que senão tiver a habilidade de se comunicar corretamente com as

palavras o seu esforço estará fadado ao fracasso. Supondoque já disponha dos conhecimentos necessários na área dalíngua portuguesa, siga o meu conselho: não se lance àtarefa de escrever um livro relativamente longo. O ideal seriase você iniciasse fazendo testes a partir de trabalhosmenores.

Que tal uma história breve, semelhante àquelas que sãocriadas para as antologias? É possível escrever uma históriamuito boa com vinte ou trinta páginas no tamanho A5. Outraidéia igualmente útil é compor uma obra do tipo “livro debolso”. Inúmeros romancistas norte-americanos começarampor esse veio, escrevendo contos banais do tipo bangue-

bangue; galgaram popularidade e prestígio e somente de-

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pois é que injetaram ambição à arte, até que conseguiramestourar em editoras graúdas. Seria muito bom também sevocê tentasse escrever algo como uma apostila.

Nesse momento não há porque se preocupar com a acei-tação da obra. O objetivo aqui é apenas avaliar sua própriacapacidade de criar e escrever histórias. Futuramente vocêpoderá (e com certeza irá) alcançar vôos mais altos, mas éimportante começar por tarefas menores.

Caso você já tenha escrito algum trabalho e não estejasatisfeito com o resultado, tente reinventar. Talvez o proble-ma esteja na ausência de conteúdo atraente. É possível queo seu trabalho seja interessante, mas esteja faltando o pri-ncipal, ou seja, ele não possui a estrutura de um livro. Saberescrever corretamente é imprescindível, mas não é sufi-

ciente quando se trata de compor uma obra literária. Faltaestilo? Possui linguagem cativante? Existem lacunas entre oscapítulos? As frases foram construídas com elegância? Vocêé muito reticente? Abusa de lugares-comuns? Exagera na vozpassiva? Os personagens estão bem definidos? Eles sabem oque dizem?

Afirmei que o escritor é a soma de vários talentos e umdestes talentos é o conhecimento multiforme, isso é, elepraticamente está por dentro de tudo, de modo que haverásabedoria e informação útil em cada linha que escrever. Essahabilidade faz com que as pessoas se interessem pelo seutrabalho.

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Portanto, se o seu português não está afiado, trate deexercitá-lo; mas se estiver em dia com Camões e mesmo

assim não está conseguido atrair leitores para a sua história,então é chagado o momento de se reciclar.

Não prometo milagres. Esse trabalho se dirige àquelesque já possuem algum talento, mas que não sabem por ondecomeçar. Também não pretendo desanimar a quem quer queseja e até acredito que nunca é tarde para quem deseja serum escritor. Os conselhos aqui apresentados são truquescomuns dos grandes mestres e funcionam de fato, mas vejaque não podem garantir o sucesso de ninguém, apenasservem para aprimorar talentos de quem já tem tino para acoisa.

Se você se sente na condição de encarar a empreitadaque é a criação de um bom romance, então pode mergulharde cabeça. Escreva o seu livro, só não se esqueça de fazê-locorretamente.

 

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2 - Criar Uma História

k. Você sabe escrever corretamente. Isso real-

mente é bom. Porém, não seja apressado;

ainda não é a hora de correr em direção ao

computador. Pense que a confecção de umromance se assemelha à construção de um edifício, onde se

faz necessário o emprego de diferentes profissionais, cada

um lidando com ferra-mentas e matérias diversos, mas todos

concorrendo para o mesmo fim: delegar estética ao

esqueleto de ferro e concreto.

OO criador de romances é como o construtor de edifícios,

mas muito mais do que isso, ele precisa agregar em si todas

as especialidades profissionais necessárias à realização da

obra. Ele sozinho faz o trabalho do armador, do pedreiro, do

carpinteiro, do encanador, do eletricista, do vidraceiro e dopintor; e tanto melhor se puder dar uma de decorador... Será

que deixamos alguém de fora? – É claro que sim; não

incluímos aí aquele profissional de quem dependerão todos

os demais.

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Toda construção que se preza só pode ser levada adiante

se contar com o aval de um arquiteto. Portanto, a constru-

ção do edifício tem de passar primeiramente pela mão de

um projetista. É ele quem cria e fiscaliza todo o andamento

da obra. Assim também ousamos dizer que o escritor é antes

de tudo um projetista. Isso significa que o resultado final do

livro deve estar pronto na sua cabeça muito antes de ir para

o papel (leia-se computador). Um arquiteto sabe de ante-mão como ficará cada detalhe de sua obra. Então deve

proceder o escritor de modo que possa conhecer o final da

história mesmo antes de começar a escrevê-la. Compreenda

que não estou me referindo apenas à trama ou ao enredo da

história, mas à própria estrutura do livro.

Lembre-se: seu livro não deve apenas se parecer com um

livro; ele tem de ser um livro! Isso significa que ele precisa

ter a cara e a estrutura de um livro1. Em outras palavras, você

precisa dar qualidade gráfica ao seu trabalho. Vamos nos

ocupar com a construção de romances, então aborda-remosum conjunto de elementos que formam a estrutura de uma

boa novela. Comecemos pelo projeto.

1 Perdoe-me a repetição da palavra, pois é proposital e necessária.

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Isso mesmo: lápis e papel na mão. Você seguramente

precisará de um bloco de notas para fazer todos os apon-

tamentos necessários para a construção de sua história. Não

seja tolo a ponto de se lançar ao computador para ir escre-

vendo diretamente da cabeça, como se o seu livro fosse

fruto do mais ocioso improviso. Se estiver pretendendo

seguir a carreira de escritor é bom saber que não procedem

assim os bons romancistas. J. K. Rowling, por exemplo, já

havia projetado as histórias de Harry Potter muito tempo

antes de levá-las ao Word , e vejam só o resultado dos seus

“rascunhos!”

O objetivo desse trabalho é oferecer suporte para a ela-

boração de um romance e não necessariamente ensinar a

escrever. Mas como as pessoas que escrevem não se sentem

obrigadas a conhecer a estética dos livros, não será custoso

prestar algum auxílio nessa área também. Falarei sobre isso

quando me parecer oportuno.

Do que você precisa para escrever um romance? – Primei-

ramente, é imperativo que se tenha uma “história”. Mas para

criar uma história é necessário que se tenha um “tema”. As

possibilidades são infinitas e promissoras. Em que área

pretende atuar? Ficção científica, aventura, drama, ação,

investigação, comédia, literatura infantil, suspense, amor...

Você pode optar por qualquer um desses veios, mas seria

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melhor se dedicar a uma área na qual o seu domínio é

reconhecido. Agatha Christie dispensa comentários e no meu

entender foi e continua sendo a melhor autora de contos

detetivescos, mas vejam só: ela recebia críticas mordazes

quando se aventurava a apimentar suas histórias com cenas

amorosas!

Seja coerente com você mesmo e procure pender sempre

para o lado o qual sua alma naturalmente se inclina. Agora,

se você é bom em mais de uma área, não se reprima.

Explore ao máximo essa genialidade que é dom de poucos.

Vamos supor que você seja fissurado em histórias de

terror e queira escrever algo desse gênero, mas não possui o

menor tino para a coisa... Que atitude deve tomar? Não se

desespere. Tudo é questão de tempo. A primeira coisa que

deve fazer é pesquisar. É isso aí: a “transpiração” pode ser a

parte mais penosa durante o processo da criação de um

romance e talvez seja esse o motivo pelo qual apenas uns

poucos privilegiados conseguem entrar para o seleto rol de

bons novelistas.

Preste bastante atenção nos livros de Dan Brown e tente

adivinhar qual será o segredo de tamanho sucesso. Bem,

primeiro admitamos que ele seja um escritor “completo”. Em

seguida, convenhamos que o seu trabalho seja excepcio-

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nalmente bom porque não é fruto do acaso; não se pode

imaginar que ele tenha inventado aquele universo no centro

do qual gravitam as suas novelas.

Nada disso. Brown possui conhecimento de causa, ou

seja, ele pesquisou e fundamentou as suas histórias muito

antes de escrevê-las. A isso chamamos de transpiração; algo

que todo romancista deve fazer na vida, antes ou durante a

confecção de sua novela. Não se trata de algo inusitado, e sevocê prestar atenção há de perceber que até as grandes

produtoras hollywoodianas usam contratar especialistas de

várias áreas para que por meio de suas orientações as

tramas possam adquirir uma aparência mais próxima da

realidade.

Por obrigação do meu ofício tive de ler cerca de uma

centena de livros, todos eles escritos pelo mesmo autor, mas

assinados com pseudônimos diversos. Eram novelas banais,

muitas vezes escritas em forma de reprises, com per-

sonagens capengas e tramas pouco engenhosas.

Desejei descobrir a razão pela qual um autor tão prolixo

só conseguia produzir histórias ocas, até que um dia durante

entrevista ele afirmou que preferia passar as tardes em sua

rede fumando cachimbo a ter que pesquisar horas a fio para

criar o ambiente de suas novelas.

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Jamais caia nessa armadilha. Seja respeitoso para com os

seus leitores e nunca se entregue ao ócio. É importantíssimo

ter a consciência de que a verdadeira inspiração só vem

depois de muita transpiração. É uma história de terror que

você pretende escrever? Então trate de adquirir todos os

fundamentos que a matéria exige. Leia, pesquise, pergunte.

Procure não escrever sobre o nada. No fim, todo esforço há

de ser recompensado, pois os bons leitores, sendo exigen-tes, saberão valorizar uma história bem fundamentada. E a

opinião de um bom leitor é infinitamente mais importante

do que os elogios de uma centena de “comedores de letras.”

Pule agora mesmo da rede; arremesse para longe o

cachimbo. Você precisa transpirar!

 

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3 – O Personagem

 

esde o primeiro momento em que

escolhemos o tema a respeito do qual iremos

escrever, já a história começa e ser

desenvolvida em nossa cabeça. É o que

chamamos de “Imaginação”. A imaginação é a irmã gêmea

da “criatividade” e na construção de uma novela elas sempre

trabalharão juntas, com a diferença de que a criatividade se

responsabilizará pelo mais importante dos elementos

fictícios: o personagem.

DQuando nos referimos ao personagem, não nos ocupa-

mos apenas com o mocinho da história, pois há casos em

que o vilão se torna a maior e melhor invenção do Roman-

cista. Grosso modo, uma ficção comporta quatro tipos de

personagens. São eles: o herói, o vilão, os coadjuvantes e osfigurantes. Para quem jamais escreveu algo maior que uma

carta, a tarefa de criar personagens pode parecer desani-

madora, mas você quer escrever romances e, para tanto, te-

rá de reservar algum tempo e se dedicar a essa que é a parte

mais importante do seu trabalho.

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Há uma série de coisa que você precisará avaliar antes de

começar a criar os personagens de sua história. Já possui um

tema, correto? Logo, a história já começou a se desenrolar

em sua cabeça como que por conta própria. Para isso iremos

tomar como base o exemplo já dantes usado, ou seja, um

conto de terror. Imediatamente deve vir à tona a questão do

“Ambiente”, o qual engloba: país, região, cidade, bairro e lo-

cal. Tudo isso deve ser pensado e organizado antes decomeçarmos a rabiscar o nosso romance. Pense nos

personagens como se fossem pessoas “reais”, pois eles só

podem provocar a reação e o interesse dos leitores se de al-

guma maneira houver afinidade ou identificação entre estes

e aqueles.

Depois de escolhermos o tema teremos de criar um am-

biente para a história. Isso inclui todas as questões sociais e

culturais que podem envolver os personagens. Tente encarar

a coisa desta maneira: primeiro criamos o Éden, depois

tomamos o homem e a mulher o colocamos aí. Não se preo-cupe apenas com a criação do mocinho - ele realmente deve

ser o seu filho predileto, mas os coadjuvantes precisam

receber a mesma atenção, afinal eles irão dar todos os su-

portes de que o herói precisará para se fazer protagonista.

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Já decidiu em que país será ambientada a sua história?

Você pode optar pelo Brasil, mas é bom ficar sabendo que a

grande gama de leitores tem preferência por produtos

importados e, para ser sincero, as editoras também. Em todo

o caso, é bom se conscientizar de que os seus personagens

devem ter nomes que sejam próprios do país em que se

passa a história e que estes precisam ser grafados corre-

tamente a fim de que não gerem nenhum tipo de confusão.

Não que isso venha acontecer, mas leitores atentos podem

achar estranho se, por exemplo, em uma história rodada nos

Estados Unidos de repente aparecer um personagem

chamado Jean-Pierre. Eles imediatamente poderão imaginar

que se trate de um indivíduo natural da França, mas não

sendo esse o caso, o autor se verá obrigado a dar expli-cações que podem ser evitadas. A história é sua e você pode

incluir todos os personagens estrangeiros que desejar,

todavia, não se esqueça de identificá-los como tais. Pense

igualmente que o seu trabalho será passível de críticas

mordazes se, por exemplo, você der nomes de origem alemã

a personagens italianos.

Outra coisa que deve ser levada em conta é o fato de que

alguns nomes de personagens podem ser apelidos derivados

dos mesmos. Então: Bob é Robert, Chico é Francisco, Pepe é

Giuseppe, Rita é Margarida, Sasha é Alessandra e assim por

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diante. Seus personagens são seus filhos, por isso é natural

que os conheça bem.

Mas ao criarmos personagens não lhes damos apenas os

nomes; eles precisam ser também estereotipados, ou seja,

devem ser dotados de pensamentos, sentimentos e desejos,

pois são estas as faculdades responsáveis pela formação da

personalidade humana. Sem isso os seus personagens se

tornarão meros bonecos e não poderão causar a menor im-

pressão nos leitores. Na sua história, as personalidades de-

vem ser meticulosamente traçadas, de modo que o perfil

psicológico de cada personagem fique evidente. Esse perfil

psicológico é a marca maior de um escritor de romances e se

for bem traçado, há de permanecer indelével na memória decada leitor.

É extremamente compensador quando escutamos al-

guém a dizer: “Fulano parece um personagem de Almodóvar”.

Ou então: “Ele mente mais do que Macunaíma!”  Quem sabe

você já ouviu algo do tipo: “Essa garota tem os olhos de

Capitu”. São exemplos clássicos de como poderão ser

lembrados e associados os personagens que você criar. Por

isso capriche e imprima o máximo de força psicológica que

puder. Lembre-se ainda que as personalidades devem ser

distribuídas de acordo com o papel que cada personagem irá

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cumprir. Tal como no teatro ou no cinema, assim deverá ser

no seu livro: cada personagem será único e terá sua própria

personalidade.

A verdade é que a criação de personagens figurantes não

exige trabalho. Quando aos coadjuvantes, eles exigem um

pouco mais de atenção, mas não chega a ser um bicho de

sete cabeças. Basta estarmos atentos ao nosso próprio

ambiente e cotidiano para notarmos que existem pessoas aoredor que podem perfeitamente nos servir de modelos a

partir dos quais nos será possível moldar alguns perso-

nagens. Tome agora mesmo a caderneta e começa a criar os

traços de seus primeiros “peões”. Porém, não se esqueça de

que ainda não começamos a escrever a nossa novela.

As sugestões a seguir são meramente demonstrativas,

mas servem como exemplo de como proceder na criação de

personagens coadjuvantes. Quais os personagens que

imaginamos existirem em um romance de terror?

- Um coveiro? Procure imaginá-lo na pessoa de alguém quevocê conhece. Comece se fazendo perguntas como estas:

Tem pernas tortas? Anda meio encurvado? Possui voz

grotesca ou esganiçada? Qual a cor dos seus olhos? E os

cabelos, são espessos e lisos? Ou serão escassos e ondu-

lados? Que tipo de roupas usa?

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- Uma velha rabugenta e tagarela? Você certamente já teve

alguma vizinha fofoqueira... quem sabe aquela professora de

matemática à qual tanto odiava? Talvez seja essa a hora de

“se vingar” em alto estilo.

- Uma moça bonita e indefesa, pela qual o seu herói irá se

apaixonar? Uma boa sugestão é pintá-la com as cores vivas

da sua primeira namorada. Já pensou naquela secretária

maravilhosa com quem você sabe que jamais terá a menor

chance? E a namoradinha do seu amigo? É a sua novela; aqui

você pode tudo!

Esses princípios são úteis para a criação de personagens

coadjuvantes e é muito importante tomar nota de cada de-

talhe que você der a cada um deles. Isso inclui altura, idade,

peso, cabelo, cor dos olhos, pele e se necessário o timbre da

voz.

Quanto ao mocinho, a sua criação é bem mais complexa,

pelo que daremos maior ênfase a esse assunto. É a ele quevocê tem de dedicar o máximo de atenção, explorando a sua

criatividade ao extremo. E tenha consciência de uma coisa:

oitenta por cento do sucesso do seu livro poderá depender

desse personagem. Portanto, seja cauteloso. A primeira coisa

que deverá ter em mente é jamais criar um herói intocável,

do tipo “todo-poderoso” e dono absoluto da situação. Os

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leitores têm maior interesse por heróis cujas fraquezas se

assemelham às suas.

Lembra-se de Sherlock Holmes, aquele magnífico detetivecriado por Sir Conan Doyle? Pois bem, ele sempre impressi-

onou por possuir conhecimento antecipado das coisas, mas

quem diria: o sabichão ignorava que a Terra era redonda!

Uma pesquisa realizada em vários países revelou que

dentre os super-heróis de revistas em quadrinhos que foram

parar nos cinemas os mais queridos do público são justa-

mente aqueles mais “fracos”. Eis a ordem dos três mais ama-

dos: Homem-aranha, Batman e Wolverine. E sabe por que

eles são os preferidos das pessoas? – São mais humanos,

têm fraquezas e por isso conseguem estar mais próximos darealidade de seus fãs.

Não menos importante é escolher bem a profissão a ser

dada ao seu herói. Se for um médico, é bom saber que ele

precisará pensar como médico, falar como médico e agir

como médico. Caso seja um policial, certifique-se de que osseus hábitos correspondem com esse ofício. Preste bastante

atenção também à linguagem e ao vocabulário do seu herói,

pois este deve em tudo refletir a profissão que você esco-

lheu para ele.

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Seja qual for a profissão que escolher para o mocinho, é

indispensável ter em mente que “o hábito faz o monge”. À

guisa de exemplo, um médico tem de parecer médico tanto

na aparência quanto no trato. Isso vale para todos os

personagens e suas respectivas profissões.

Os antecedentes de um personagem, além de enrique-

cerem à história, podem ser determinantes tanto para o

desenvolvimento da trama quanto para o desfecho final do

livro. Os conceitos de objetivo, dilema e reação, comuns aos

contos fictícios, ganham amplitude e causam expectativas

nos leitores quando estão relacionados ao passado do

personagem central. Um bom exemplo disso pode ser

notado no já mencionado Harry Potter de J. K. Rowling. Nãodeixa de ser impressionante a maneira pela qual a escritora

conseguiu explorar ao máximo cada detalhe da trágica

história de Harry mesmo antes de ele ter nascido. E isso ela

faz desde o primeiro até ao último dos sete livros da série!

Porém, há uma coisa que precisa ser evitada: não

estereotipar demasiadamente a imagem do mocinho. Isso

pode estragar qualquer personagem.

Enfim, de onde vem a inspiração para se criar heróis?

Conhece aquela velha máxima que diz que “nada se cria e

que tudo é copiado”? Ela pode ser verdadeira quando se

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trata de burilar personagens fictícios. Imaginem, à guisa de

exemplo, que Sherlock Holmes, o mais famoso dentre todos

os detetives do mundo, não era uma criação original de

Conan Doyle, antes fora moldado a partir de um modelo já

existente. É verdade. O genial investigador da Baker Street foi

inspirado em Auguste Dupin, personagem de arguta ima-

ginação, criado por Allan Poe.

Não se sinta culpado se fizer o mesmo, pois até o incom-parável Shakespeare (maior escritor britânico de todos os

tempos) usou escrever suas histórias se baseando em

aventuras e dramas vividos por pessoas ou personagens

alheios. Contudo, seja um pouco autêntico e busque acres-

centar aos seus personagens qualidades, defeitos e modos

que o diferenciem de qualquer criação de outrem, afinal ele

é seu filho.

Agora que o mocinho já foi concebido, recobre as ener-

gias e se concentre na fundição do vilão da história. Escri-

tores neófitos dão pouca importância ao mostro da trama,

não considerando que o herói só terá prestígio se encontrar

um adversário que esteja à sua altura ou que lhe seja

superior. Tente considerar o seguinte: o dilema do mocinho

também é o dilema do leitor. O vilão, para impressionar,

precisa despertar os mais variados tipos de reações no leitor:

ódio, medo, nojo, respeito etc.

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Se o vilão não impressionar, logo o seu mocinho ficará

inexpressivo e os leitores perderão o interesse pela sua

história. Pense em todos os bons romances que você leu,

bem como nos melhores filmes de ação que já assistiu.

Consegue se recordar de como eram os seus vilões? Lembra-

se do personagem vivido por Anthony Hopkins em “O Silêncio

dos Inocentes” ? Lembra-se de como inspirava medo e

suspense? E quanto ao Coringa de “Batman, O Cavaleiro dasTrevas”? Estes são dois exemplos de inimigos perfeitos, vilões

que impressionam e que fazem valer a pena uma leitura,

mesmo que se trate de um calhamaço de mais de mil

páginas.

Uma idéia verdadeiramente fecunda é criar vilões a partirda imagem de tiranos políticos ou de criminosos reais.

Pense, por exemplo, que praticamente todo  serial killer  da

abundante literatura policial norte-americana foi e continua

sendo inspirado em Jack o Estripador. O famoso romancista

George Orwell costumava esculpir seus personagens(inclusive os vilões) segundo a imagem de chefes políticos de

sua época. Procure fazer algo do tipo, mas não se descuide;

trate de pesquisar a fundo antes de começar a traçar o perfil

deste monstro.

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4 – O Ambiente

passo seguinte é entender como são criados

os ambientes de uma história fictícia. Em

primeiro lugar, você deve saber que o

ambiente não pode ser escolhido ao acaso,

mas planejado com antecedência a fim de que cumpra os

propósitos de cada cena. Conhecer bem o ambiente há de

ser o seu melhor trunfo para o quesito “narrativa”,

conquanto tudo o que você vier a mencionar deverá estar

em harmonia com este universo. Isso é, a chance de o leitorse sentir dentro da história dependerá muito da sua

capacidade de descrever o ambiente no qual a cena se

desenrola.

O

Exige-se que o ambiente de fato tenha tudo a ver com o

tema e com a própria história. Para isso, certifique-se dosdados referentes à geografia do lugar (para se obter melhor

visão periférica) e também da topografia do terreno (a fim

de que por infelicidade ou descuido não venha acontecer de

mencionar algo que não deveria estar ali). Além do mais, é

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recomendável que se saiba um pouco sobre as condições

climáticas da região, incluindo sua flora e fauna.

Igualmente importante é não deixar de fora elementos

peculiares, tais como: arquitetura local, moeda corrente e

sistema de governo. Estas coisas podem dar um colorido

especial ao seu trabalho. Vá ao Google ou a outra boa fonte

e, se possível, desenhe um mapa da cidade que você esco-

lheu como palco para a sua história. Cuide para que o seu

desenho corresponda mais ou menos com a realidade.

Depois, localize os principais prédios públicos da cidade; se

for necessário, fale um pouco a respeito da história deles.

Trate de descobrir os nomes das principais ruas pelas quais

os seus personagens desfilarão. Mencione os principaisrestaurantes e lojas, mas sem citar seus respectivos nomes,

pois se não tiver autorização para isso, você poderá ter

problemas no futuro. O mesmo vale para os nomes de

pessoas reais que você eventualmente poderá citar durante

a confecção de sua trama.

Enfim, é obrigatório que se façam relatórios verídicos de

tudo o que envolve a cena de nossa trama? A resposta é não.

Se assim fosse, não estaríamos escrevendo um livro de

ficção, mas um guia de viagens. A inclusão destes elementos

reais deve servir apenas como elos que prendam o leitor à

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narrativa e façam com que ele se sinta na mesma condição e

posição em que o referido personagem se encontra. A

verdade é que a menção destas coisas surge como um

recurso de ambientação, pois a imaginação do leitor tem de

ser despertada, atraída e, literalmente cativada.

Trata-se de uma eficaz técnica de “hipnose” por insi-

nuação. No cinema usam-se imagens subliminares, nem

sempre perceptíveis ao olhar, mas que são captadas pelocérebro humano. Talvez você não saiba, mas enquanto os

olhos dos expectadores se prendem a uma tela de cinema,

imagens de produtos que consumimos no dia dia podem

estar sendo projetadas em suas mentes sem que as perce-

bam. Isso não é nenhum segredo de estado, mas não deixa

de ser uma maneira pouco convencional de se fazer

marketing. Positivamente, porém, as imagens de cinema por

si mesmas são suficientes para prender a atenção das pes-

soas do começo até o final do filme.

Não acontece o mesmo com o romancista. Ele não pode

criar ilusões visuais ou efeitos especiais por meio do seu

livro. Então o que lhe resta é lidar com a possibilidade de

envolver o leitor com uma narrativa atraente e arrastá-lo

para dentro do ambiente de sua novela através de insi-

nuações. Para ter sucesso o romancista também deve possuir

o talento da persuasão.

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A descrição do ambiente cenográfico não precisa ser de

todo real, mas a narrativa deve ter algo de verdadeiro que

possa servir de estimulante à imaginação de quem está

lendo. Talvez você esteja achando que essa tarefa não seja

fácil de ser executada. E na verdade não é, mas os bons

romancistas conseguem realizá-la muito bem. Faça o mesmo

ou morra tentando. E não se esqueça do que eu disse no

início de nossa conversa: nenhum bom romancista nasce dodia para a noite. O segredo é praticar.

Antes de fecharmos essa sessão, devo informar que se

optar em escrever uma ficção cujo ambiente seja de uma

época de décadas ou mesmo séculos atrás, é extremamente

recomendável que se pesquise bastante nos campos decostumes, vestuários e tendências (entre outros), e esteja

principalmente atento para não fazer menção ou alusão de

coisas e objetos que ainda não existiam na ocasião. Seja

esforçado e esteja sempre um passo à frente.

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5 – A Forma Ideal

gora iremos nos ocupar com a aparência do seu

livro. Já disse que escrever corretamente é

bom, mas que não chega a ser suficiente para

torná-lo em um escritor. O seu cabedal deve

incluir também a habilidade de formatar, desta maneira vocêestará sabendo com que cara ele ficará depois que estiver

pronto. Esse capítulo pode ser de inestimável valor para os

novos autores, principalmente se dentre estes houver algum

que tenha condições de publicar sua a obra por conta

própria. Se for esse o seu caso, será confortante saber que

você poderá lhe dar a aparência que bem desejar.

A

Para começar, não fique preocupado ou tentando

adivinhar qual seria o formato ideal para que o seu livro

viesse a ser aceito perante uma editora. As coisas não

funcionam assim e isso se deve a duas razões básicas. Aprimeira razão pela qual não você não deve estar

preocupado com o “formato ideal” é simples: não existem

padrões internacionais ou mesmo nacionais que estejam

preestabelecidos para esse fim. Aliás, esses padrões não

existem nem mesmo dentro das próprias editoras, salvo

aqueles casos de obras que serão publicadas em série, mas

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ainda assim você não teria que ficar apreensivo, pois no

final, caso o seu livro viesse a ser aprovado, ficaria a encargo

de um editor o dar as formas finais ao produto.

A segunda razão pela qual você não deve estar

preocupado é a seguinte: está totalmente comprovado que

se um indivíduo é muito famoso e deseja escrever um livro

(geralmente sobre sua própria vida), ainda que seja anal-

fabeto, as editoras disputarão para ver quem irá publicar a

obra. Isso não é nenhuma anedota e aconteceu de novo há

menos de um mês.

Mas convenhamos: você não é nenhuma celebridade.

Portanto, ainda que não existam exigências preestabelecidas

para a formatação de obras que possivelmente serão aceitas

por uma editora, mesmo assim você terá de dar algum

padrão ao seu trabalho. Toda a obra deverá seguir a um

modelo que você estabelecerá antes mesmo de se sentar

perante o computador. Esses padrões darão uniformidade e

estética à obra e poderão ser o seu cartão de visitas quando

ela enfim estiver sobre a mesa de um editor. A princípio essa

é uma exigência básica para que o seu livro, em vez de ser

levado à mesa do editor, não siga direto para o triturador de

papel. Nos capítulos seguintes irei apresentar sugestões de

estética úteis ao jovem escritor.

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6 – Estabelecendo Padrões.

asicamente falando,a apresentação de um livro é

tudo aquilo que se refere a ele antes da sua

introdução. Então a apresentação é o livro antesdo livro. Pode ser feita de diversas maneiras e

sob diferentes vocábulos. Por ordem de estética o primeiro

vocábulo ligado à apresentação de uma obra fictícia é a

“epígrafe”.B

A EPÍGRAFE

A epígrafe pode ser tanto um título como uma frase de

algumas linhas e em ambos os casos serve para introduzir

não necessariamente a obra, mas o seu assunto.

Geralmente a epígrafe ocupa uma página que é só sua;pode ser uma citação do próprio autor, extraída do mesmo

livro ou então de obras anteriores. Por padrão os autores

preferem usar citações de outros e podem ser tiradas de

livros, músicas, peças teatrais, discursos, poemas etc.

Permite-se fazer uso de mais de uma epígrafe para o mesmo

livro, mas sempre identificando o autor de cada uma delas.

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Por questão de coerência também se exige que a epígrafe

acintosamente expresse o âmago ou a natureza do assunto

tratado na obra.

Há casos de escritores famosos que fizeram emprego de

epígrafes cujo teor parece ter alguma relação com o título,

mas que nada têm a ver com o tema e por isso se tornam

incoerentes de desnecessárias. É o caso de Sidney Sheldon

em “A Ira dos Anjos” , mas convenhamos: qualquer editora no

mundo estaria disposta a publicar qualquer “rabisco” que o

Sr. Sheldon eventualmente tivesse deixado para a pos-

teridade. Portanto, ele pode!

De outro modo também se permite usar uma epígrafe

para cada capítulo do mesmo livro e, não sendo muito longa,

poderá ficar logo abaixo da indicação numérica do capítulo.

O PREFÁCIO

Também conhecido como “prólogo”. O prefácio é um

discurso que se faz a respeito e a favor da obra. Quando não

é feito pelo próprio autor, deve ficar situada antes da

epígrafe, pois de outro modo pode quebrar o laço que deve

existir entre ela e o tema da história. Como costuma ter um

tom de recomendação da obra ao leitor, bom seria se o

prefácio fosse escrito por outra pessoa. Mas nunca dê a sua

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obra para ser prefaciada por alguém só por ele ser famoso

ou por fazer parte do rol de amigos prediletos. O normal é

que a apresentação do seu trabalho seja feita por alguém

que realmente entenda do assunto e, para tanto, exige-se

que essa pessoa seja um ávido devorador de livros.

O PREÂBULO

Muito comum às histórias de ficção, o preâmbulo tende a

ser bastante funcional. Talvez a mais eficiente forma de seapresentar um livro, porquanto seja como uma prévia do

mesmo. A palavra transmite a idéia de algo que já está em

andamento e é com esse sentido que deve ser empregada na

abertura de sua obra. Um livro introduzido com um

preâmbulo traz a vantagem de já está sendo iniciado emmeio à ação, sem a necessidade de narrativas longas e

enfadonhas. Algumas obras cativam mais pelo preâmbulo do

que pelo título, já que atende bem aos propósitos de um

trailer   de cinema. O preâmbulo pode ser a propaganda do

livro dentro do livro.

O EXÓRDIO

É possível adaptar o exórdio à apresentação de uma obra

fictícia, mas isso não acontece muitas vezes, e é raro

encontramos um romance cujas características se ajustem ao

emprego dessa forma de introdução. Então seja simples e

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tente não “inventar”, fazendo uso inadequado de vocábulos

cujos significados e definições você ignora.

A INTRODUÇÃO

Ao optar por iniciar o seu livro fazendo uso de um

“preâmbulo”, você automaticamente estará descartando a

forma “introdução”. O mesmo acontecerá à introdução, caso

decida fazer a abertura em forma de preâmbulo. A partir de

agora estaremos ocupados com o corpo da história

propriamente dita. Enfim falaremos sobre a formatação de

um livro, o que há de ser o seu toque profissional para a

apresentação física do trabalho que está compondo. Éimportante que desde o instante em que você começar a

preparar a introdução da história todos os padrões já

estejam devidamente estabelecidos.

Quero lembrar que a maioria dos contos fictícios não

costuma ser iniciada em forma de “introdução”, como se apalavra pudesse ser aplicada à moda de “título”. Alguns

escritores de romances até usam esse tipo de abertura, mas

a grande maioria prefere trabalhar sobre as outras formas de

apresentação acima mencionadas. O meu conselho é que

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você faça o mesmo ou que, como nos casos mais ordinários,

inicie a sua primeira obra já a partir do “capítulo um”.

Mesmo que opte em iniciar a história a partir do primeirocapítulo, isso não deixará de ser a introdução do seu livro,

portanto, seja caprichoso e explore ao máximo a sua capa-

cidade de se comunicar. A introdução, seja qual tenha sido a

forma que você escolheu, deve ser feita com muito cuidado

e é indispensável que fique atraente. Nada de enfadar oleitor já na primeira frase! Começar uma história fazendo uso

de lugares-comuns vai ser a “crônica de uma morte

anunciada”, ou seja, você terá começado mal e certamente

há de terminar mal.

A velha e famosa sentença: “Era uma vez...” nem pensar!Essa forma de introduzir estórias é a mais antiga de todas e

foi usada pela primeira vez no Antigo Egito, há mais de três

mil anos. Seja original, ou não. E se tiver de imitar a alguém,

então que seja aos melhores do ramo, mas lembre-se de que

você poderá copiar apenas a maneira com a qual deter-

minado romancista introduz a sua história; jamais transcreva

as suas exatas palavras!

Em suma, a introdução da obra é de tão grande impor-

tância que sugiro a que você só a escreva de fato depois que

tiver terminado toda a história. A essas alturas a sua

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imaginação já estará bastante exercitada e o seu “poder” de

criar terá evoluído sobremaneira.

Agora vamos à formatação da página e aos detalhes

técnicos que agregarão valores ao livro que está prestes a

nascer.

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7 – Formatando Um Romance

egue um conjunto de regras básicas sobre as quais

o candidato a escritor possui total autonomia. Não

são “mandamentos” obrigatórios, mas é bom saber

que a maioria dos romancistas os obedece e que

praticamente todas as obras de ficção já publicadas estão

enquadradas nesse modelo.SO TAMANHO DA PÁGINA

A maioria dos livros é impressa em papel A5. Essa medidaé excelente para a confecção de romances, pois permite o

uso de fontes maiores e isso facilita a leitura.

A FONTE

As editoras preferem a bitola de 12 pontos e é bastantecomum a sugestão da fonte Times New Roman, mas existem

outras que podem ser utilizadas: Constantia, Garamond,

Georgia... O espaçamento entre linhas é padrão: 1,5.

A MARGEM

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Preste atenção nos livros. Na maioria dos casos as

margens esquerda e direita não ultrapassam os 2,5 cm. Se

quiser, você pode fechar essa medida em 2,0 cm. Quanto às

outras margens, use a mesma medida lateral para a superior

e acrescente meio centímetro à medida para a inferior.

NUMERAÇÃO DE CAPÍTULOS

Você pode escolher qualquer ponto que esteja entre otopo e o centro da página. A bitola pode ser de até cinco

vezes o tamanho da fonte usada para o corpo do texto. E não

se esqueça de centralizá-lo.

TÍTULOS

Essa é uma boa maneira de antecipar o conteúdo de cada

capítulo. Caso pretenda fazer uso desse recurso, é

imperativo que o escolha bem. Use uma fonte cuja bitola

esteja entre aquelas que você escolheu para a numeração do

capítulo e para o corpo do texto.

O TEXTO

Pode ser iniciado em até quinze linhas abaixo da

numeração de capítulo, mas na condição de autor novato, é

aconselhável que não ultrapasse a casa da terceira. Se

desejar, pode iniciar com uma letra capitular, pois esse

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recurso transfere elegância ao texto. A primeira frase pode

ser iniciada na margem da página, mas se preferir recuar o

texto, faça-o em até oito toques da tecla “espaço”. No Word 

isso não será possível caso tenha optado em começar com

uma letra capitular. Quando necessário, faça o mesmo recuo

de texto após uma breve série de parágrafos. Veja o exem-

plo que usei ao iniciar cada sessão.

A NARRATIVAÉ totalmente reprovável a um leitor novato a prática de

introduzir o livro com uma narrativa demasiado longa. Além

de ser desanimador para quem está lendo, o uso de narra-

tivas longas pode transmitir a impressão de que o autor

esteja “embromando”, isso é, tapeando o leitor com umlengalenga que não tem nada a ver com o cerne da história.

Até mesmo a fabulosa J. K. Rowling já foi criticada por abu-

sar de tal prática, e fãs de diversos países se queixaram de

que ela usava de mil palavras para descrever algo que

poderia ser expresso em duas linhas. Siga o conselho de

Gracían: “os livros não são feitos para o exercício dos

braços.”

OS CAPÍTULOS

Ao se aplicar à criação de um romance você deve enten-

der bem uma coisa: dez estoriazinhas não formam uma

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história grande. Há “escritores” que fazem livros como se

esses fossem mosaicos com pedras de uma só cor. Com isso

quero dizer que a sua história não pode ser como uma

colcha de retalhos, ou seja, nela não devem existir emendas

como que para unir capítulos cujos assuntos estão desco-

nexos.

O segredo para se criar uma história convincente está

também na maneira de ajustar os seus capítulos. Assim,

além da obrigação de narrar um conto coeso, o autor precisa

dominar a arte de finalizar cada capítulo. Para uma melhor

compreensão procure praticar os conceitos literários de

“dilema e reação”. O dilema é a dificuldade vivida pelo

mocinho em cada capítulo do livro, quanto à reação, essaconsiste na atitude que ele irá tomar para sair da situação

difícil na qual se encontra. Em suma, você deve trabalhar no

afã de criar suspense a cada capítulo. Não se trata de criar

um novo suspense a cada capítulo, mas do mesmo e único

suspense, o qual deverá se estender até o desfecho da his-tória. O interesse que o leitor demonstrará pela trama vai

depender da sua habilidade de criar expectativas constantes

por meio do fechamento de cada capítulo.

Os novos autores de romances não raro cometem um erro

comum: usam todos os artifícios disponíveis já na construção

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dos primeiros capítulos da obra, pelo que, quanto mais

avançam na trama e vem se aproximando o clímax da

história, vêem se esgotar a fonte chamada de criatividade;

então todo o trabalho se torna em lixo literário. Eles não

desconfiam, mas essa poderosa técnica é antiga e tem um

nome: pirâmide invertida. Bastante utilizada na imprensa

escrita, a técnica da pirâmide invertida funciona

perfeitamente quando se trata de transmitir notícias do tipo

“tiro-curto”. Consiste em iniciar uma manchete narrando-a a

partir dos fatos mais impressionantes. Assim, à medida que a

leitura avança a notícia vai ficando menos importante, e

pode terminar até em trivialidade.

O modelo atende bem às necessidades tanto do veículo

de comunicação quanto da pessoa que está lendo; e aquele

que compra um jornal não tem o menor interesse em ler

todas as suas páginas. Isso seria horrível se estivéssemos

falando de um livro de ficção!

Mas é o que pode acontecer aos jovens autores de

romances e é por essa razão que eles jamais devem usar o

método da pirâmide invertida. Então treine bastante e pense

no que eu disse sobre criar suspense e expectativas a cada

novo capítulo. Quando tiver desenvolvido bem essa técnica

você poderá criar e escrever contos verdadeiramente fasci-

nantes.

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PALAVRAS DE ORIGEM ESTRANGEIRA

Há quem use a fonte em negrito para dar destaque àspalavras de origem estrangeira, mas aqueles que publicam

livros têm verdadeira aversão a essa prática. O aconselhável

é que se use a fonte em itálico e preferencialmente com

valor diminuído em um número relativamente àquele que

estiver sendo empregado para a confecção do corpo do

texto.

INTERPOLAÇÕES

É terminantemente proibido o emprego de interpolações

no texto de uma história fictícia. O autor tem autoridade

para se expressar até mesmo entre as falas dos personagensdo seu livro, mas existe uma maneira correta de fazer isso.

Portanto, jamais faça qualquer tipo de interpolação no texto.

NOTAS DE RODAPÉ

Tais apontamentos não fazem parte do projeto original deum romancista. Deixe que um editor, ou mesmo um tradutor,

caso ache necessário, faça observações do livro além das

notas de rodapé.

AS FALAS DOS PERSONAGENS

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Parece tarefa fácil, mas muitas daquelas pessoas que

podem escrever bem não sabem como compor um diálogo à

moda dos romances. Caso não saiba como dispor colóquios

entre personagens preste atenção no exemplo que darei a

seguir. Para isso irei transcrever uma página inteira de um

dos romances de J. K. Rowling2. Optei por usar o seu modelo

porque ela é simplesmente ótima.

“Harry conseguiu não gritar, mas foi por pouco. A criaturinha

em sua cama tinha orelhas grandes como as de um morcego e

olhos esbugalhados e verdes do tamanho de uma bola de tênis.

Harry percebeu na mesma hora que era aquilo que o andara

observando na sebe do jardim àquela manhã.Enquanto se entreolhavam, Harry ouvia a voz de Duda no

hall.

_ Posso guardar os seus casacos, Sr. E Sra. Mason?

A criatura escorregou da acama e fez uma reverência tãoexagerada que seu nariz, comprido e fino, encostou no tapete.

Harry reparou que ela vestia uma coisa parecida com uma fro-

nha velha, com fendas para enfiar as pernas e os braços.

2 A transcrição é da obra “Harry Potter e A Câmara Secreta” – p.17.

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_ Ah... alô – cumprimentou Harry nervoso.

_ Harry Potter!  – exclamou a criatura com voz esganiçadaque Harry teve certeza de que seria ouvida no andar de baixo.

_ Há tanto tempo que Dobby quer conhecê-lo, meu senhor... É

uma grande honra...

_ Ob-obrigado – respondeu Harry, andando encostado à

parede para se largar na cabeceira da escrivaninha, perto deEdwiges, que dormia em sua gaiola espaçosa. Teve vontade de

perguntar “Que coisa é você?”, mas achou que poderia parecer

muito mal-educado, e em vez disso perguntou: - Quem é você?

_ Dobby, meu senhor. Apenas Dobby. Dobby o elfo

doméstico – respondeu a criatura.”

É possível aprender alguns truques de como compor

diálogos entre personagens a partir do modelo acima

apresentado. Em primeiro lugar, observe a perícia da autoraem sua maneira de introduzir os personagens. Repare que

antes de tudo ela prepara a cena, depois segue descrevendo

a reação de Harry ao se deparar com alguém ao qual ele não

estava esperando. Note a riqueza de detalhes que a autora

inclui na cena.

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Em segundo lugar, note que a atenção do leitor é

conduzida para outra direção, para Duda, o primo balofo de

Harry, o qual se encontra em outro cômodo da casa. Mas

imediatamente ela faz com que o leitor retorne ao foco da

narrativa. Esse é um exemplo de cena montada com

maestria. Assim, depois de haver preparado o solo, ela

introduz a fala do primeiro personagem:

“_ Ah... alô – cumprimentou Harry nervoso”.

Em seguida vem a fala do personagem número dois. Então

o diálogo é iniciado.

“_ Harry Potter! - exclamou a criatura com voz esganiçada... - Há

tanto tempo que Dobby quer conhecê-lo...”

Em terceiro lugar, entenda que a fala do autor, que é o

narrador da história, pode ser incluída de pelo menos três

maneiras:

1- Preparando a cena: “Harry conseguiu não gritar...”

2- Entre uma fala e outra: “A criatura escorregou da

cama...” Lembrando que esse caso especificamente é

atípico, pois para todos os efeitos Duda não faz parte

da cena. Mas logo em seguida vem o exemplo: “Ah...

alô – cumprimentou Harry nervoso.”

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3- Dentro da própria fala do personagem: “Harry Potter! –

exclamou a criatura com voz esganiçada que Harry... –

Há quanto tempo que Dobby quer conhecê-lo...”

Essas são, portanto, as suas primeiras noções de como

compor diálogos entre personagens. Observe exemplos em

romances de outros escritores e crie o seu próprio padrão.Depois é praticar bastante até se sentir seguro. Há somente

mais uma coisa que quero lembrá-lo antes de fechar essa

sessão. A narrativa de uma história pode ser feita de duas

maneiras: na primeira ou na terceira pessoa do singular.

Agora que você já tem as dicas necessárias, pode começara escrever o seu primeiro romance. Em outro volume irei

discutir sobre como publicar e divulgar o livro.

Boa sorte e até breve.

 

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