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Como lidar com comportamentos difíceis na sala de aula Módulo 7

Como lidar com comportamentos

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Page 1: Como lidar com comportamentos

Como lidar com comportamentos difíceis na sala de aula

Módulo 7

Page 2: Como lidar com comportamentos

“A maior riqueza do homem é a sua incompletude. Nesse ponto sou abastado. Palavras que me aceitam como sou - eu não aceito. Não aguento ser apenas um sujeito que abre portas, que puxa válvulas, que olha o relógio, que compra pão às 6 horas da tarde, que vai lá fora, que aponta lápis, que vê a uva etc. etc. Perdoai Mas eu preciso ser Outros. Eu penso renovar o homem usando borboletas.”

Manoel de Barros(1916 -)

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• Aproximando-se dos alunos: reconhecendo características individuais.

• Genética e meio ambiente: o papel da escola.

• Identificando o que está por trás dos comportamentos que interferem

na aprendizagem.

• Como lidar com esses comportamentos em sala de aula.

ConteúdoApresentação

Cadavezmaissetemvalorizadoanecessidadedoreconhecimentodasca-

racterísticasindividuaisdoalunoemsaladesalaparaqueserealizeminter-

vençõesfocadasnaexpectativademelhorarodesenvolvimentoacadêmico

equesecuidetambémdarealidadeemocional,socialedasnecessidadesfí-

sicasdosalunosnaescola.

Essatarefaédelegadaavocê,professor,querecebeuumótimotreinamento,

porémcomênfasemaiorparasetrabalharcomogrupodoquecomoindivíduo.

Atépoucotempoatrás,acriançaeseudesenvolvimentoacadêmicoeram

áreas restritas à pedagogia. Atualmente, uma avalanche de conceitos,

derivadosdasobservaçõesfuncionaisdasáreascerebraisedodesenvolvi-

mentodapsiquiatriadainfânciaeadolescência(áreanovaquetemcomo

ponto importante o reconhecimento das especificidades da criança),

invadiuoambienteescolar.Essefluxodeconhecimento,apesardeenri-

quecermuitoapráticadetodasasáreasenvolvida, tantoapedagógica

quantoasaúdemental,tambémtrazdificuldades.Emtodaáreaemcons-

truçãoouemplenodesenvolvimentoexistecertapolêmicaemtornodos

conceitos,muitasvezessimplificadosoudistorcidos,quetornaarelação

entreapráticadoprofessoreaexpectativadasociedadeemrelaçãoao

papelqueeleexercequaseumazonadeconflito.

Aocriarosmódulos,oInstitutoABCDesperatornaracessívelaoprofessor

ospontosfundamentaisdosconceitosqueficamnainterfacedodiscursoen-

treosprofissionaisdaeducaçãoedasaúde.Nessemódulo,especificamente,

tentaremossumarizarosprincipaistópicosdocomportamentoinfantilque

podempromoverempecilhosparaodesenvolvimentodoalunoedogrupo

(saladeaula).Ametaédaraoprofessorinstrumentosparaoreconhecimen-

todealgumascaracterísticasimportantesqueestãoassociadasaalgunspa-

drõescomportamentaise,apartirdelas,delinearintervenções(noambiente

escolar,feitaspeloprofissionaldaeducação).

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Aproximando-se do aluno: reconhecimento das características individuais

Nasaladeaula,oprofessorviveintensamenteemcontatocomseusalunos.

Fazpartedoprocessodeensinoqueosprofessorespercebamdiferençasnos

estilosdosalunos,tantoemrelaçãoàaprendizagemquantoaocomporta-

mento.Éimportantequeoprofessorestejaatentoàscaracterísticasquepo-

demafetardesdeoaprendizadoindividualdeumalunoatétodaadinâmica

daclasseduranteaaula.Alémdisso,umprofessoratentoaocomportamento

deseusalunospodeajudaraidentificardeformaprecocealgumproblemana

vidadacriança,quepodenãotersemanifestadoemoutrosambientesque

elafrequentaoupodenãotersidopercebidopelosadultosdasuafamília.

Separaraquiloqueéparticularidadeindividualdaquiloqueéindicativode

umproblemanãoéumatarefafácil.Espera-sequeoprofessorpossareco-

nhecer,alémdasnuancesdodesenvolvimentonormal,aspeculiaridadesdo

desenvolvimentoafetadoporalgumaparticularidade(temporáriaounão),

intervir de forma efetiva sobre cada aluno e, aomesmo tempo, sobre o

grupo.Ouseja,alémde reconhecer,deve-se intervirde formaefetiva.A

saladeaulaéoambientequepropiciaumasituaçãoúnica:“oprivilégiodo

olharparaogrupoeparaoindivíduo”.Acreditamosque,apesardeseruma

tarefadifícil,seforoferecidoumtreinamentoadequado,oprofessorétan-

toapessoafundamentalparaoreconhecimentodesituaçõesquepodem

servirdealertaparaproblemasassimcomopeça-chavenadiminuiçãodo

impactodequalquerproblemapsíquiconavidadoseualuno.

Porisso,oInstitutoABCDpensounessemódulo.Acreditamosque,seopro-

fessorforinstrumentalizadoparaidentificarossinaisesintomasrelaciona-

dosaalteraçõescomportamentaiseemocionais,poderáencaminhartanto

oprocessodeaprendizadogeraldogrupoquantooindividualdeformamais

abrangente,seguraebenéficaparatodos.

Alémdoreconhecimento,pretendemosqueomóduloajudeainstrumenta-

lizaroprofessorparaintervençõesemsaladeaulaquepossamserpropícias

paraosdiversosdesafiosdasalteraçõesdecomportamentoeemocionais.

Page 5: Como lidar com comportamentos

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Paraidentificaroqueacontecedentrodacabeçadeseusalunos,oprofessor

temdeseaproximardoalunoeentenderoqueestáportrásdeseucom-

portamento.Tarefanadafácil,masnecessária,porqueumamesmareação

pode ser causada por diferentes situações ou sensações. A agressividade,

por exemplo, pode tanto ser intencional e por falta de limites quanto ser

desencadeadaporumagrandesensaçãodemedoevulnerabilidade.Porém,

agressãoprovocaumasituaçãoquegeralmenteamedronta,ameaçaogrupo,

paralisareações.Todos,inclusiveoprofessor,têmatendêncianaturaldese

afastar,oquedificultacompreenderoproblema.

Paraajudarnessatarefadereconheceroqueestáportrásdeumcompor-

tamento que preocupa o professor, descreveremos as principais situações

comportamentais relacionadas aos problemas psíquicos que aparecem no

ambienteescolar.

Psiquismo é tudo o que pensamos, sentimos e expressamos pelo comportamento.

Entre os genes e o meio ambiente. O que conta mais?

Ultimamente,somosbombardeadospornotíciasqueenfatizamacargage-

néticaouos fatores ambientais nadeterminaçãode situaçõespatológicas

nodesenvolvimentoinfantil.Porexemplo,fala-setantoquedepressãoéde

origemhereditáriaquantoécausadaporbullyingemsaladeaula.Qualdas

duasversõesseriaareal?Ambas,poisosproblemasemocionaisecomporta-

mentaisnãoresultamdeumúnicofator,massimdacombinaçãodemúltiplos

fatoresderisco.

Aescolapodecontribuircomoumambienteprotetorouprecipitadordepro-

blemas.Porexemplo,umacriançacomdificuldadedeaprendizagem,senão

estimuladaeamparadaadequadamentenaescola,podesesentirmuitoinca-

pazeinferioremrelaçãoaospares.Essasituaçãopoderepresentarumfator

quepredispõeacriançaaumproblemapsíquicocomoadepressão.Quanto

maiorapresençadeoutrosfatoresquetambémestãorelacionadoscomo

aumentodechancesparaoadoecimentopsíquico,comopredisposiçãoge-

nética,outroseventosestressores,famíliapoucoafetivaouestruturada,ne-

gligênciaetc.,maiorachancedequeacriançadesenvolvadefatoumquadro

depressivo.Noentanto,umacriançaquetemumafamíliapoucoestrutura-

dapodeencontrarnaescolaumambientesaudáveleacolhedorapontode

ajudaraminimizarasconsequênciasqueadesestruturafamiliartraria.Éde

certaformaumasomaousubtraçãodefatoresqueprotegemouprecipitam

osofrimentopsíquico.

Asquestõesnãosãotãosimplescomoexemplificadas,masdeve-seterem

mentequeoambienteemgeralouoescolarpodemsermodificadosparaim-

pactardeformapositivaosdesenvolvimentosemocional,comportamental

ecognitivodascrianças.Porissoaênfaseemintervençõesqueenriqueçam

oambienteescolar.

Interface meio ambiente versus desenvolvimento

Qual a importância da escola nesse

processo?

Identificando o problema

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Paraaquietar-se,escutar,focarecompreenderumaorientação,ascrianças

precisamdispordealgunsprocessosmentaisqueaindaestãoemdesenvol-

vimento.Ouseja,pelaimaturidadecerebral,aimpulsividadeéumacaracte-

rísticapresentenainfânciaediminuiráduranteocrescimento.

Ocontroledeinibiçãodeumimpulsoéahabilidadederesistiraumfortede-

sejodenãorealizaralgopriorizandoaquiloqueémaisapropriadoouneces-

sárioemumaocasiãoespecífica.Exemploscotidianossãoresistiràtentação

decomermaisumaporçãodealgogostosoemproldocontroledepeso,

resistiràtentaçãodebrincaraoinvésdeterminaratarefaescolar,denãodi-

zeralgosocialmenteagressivoouinadequadoemumasituaçãodeirritação,

manteraconcentraçãonoqueoprofessorestáfalandoenãonoqueoscole-

gasestãoconversando,nãoresponderaprimeiracoisaquevemàsuamente.

ImpulsividadeAimpulsividadedevediminuirgradativamentecomaaquisiçãodalingua-

gemeoutrashabilidadesde reaçãoqueodesenvolvimentoproporciona.

Apossibilidadedepensareelaborarumaestratégia(quevemjuntocoma

linguagem)permiteàcriançaoutrasmodalidadesdereação.

Maseseacriançanãoconseguediminuirasuaimpulsividadeaolongodo

amadurecimento?Devemosentãopensaremalgumaspossibilidades:

• Elatemhabilidadessociaisparacompreenderoqueéesperadodelaem

diferentescontextossociaiseplanejaumaresposta?

• Ela já eramais impulsivaqueamédiadas criançasdesdepequenae,

mesmocomamelhoraaolongododesenvolvimento,aaquisiçãonão

foiosuficienteparaacompanharasnecessidadesesperadasparaum

contextomaisorganizadoecommaiordemanda?

• Elanãofoiestimuladaenãorecebeutreinamentoparaaprenderase

engajareagirdeacordocomocontextosocial?Éimportantelembrar

queocérebroemformaçãopriorizaasviasmaisestimuladas,portanto

paiseprofessorespodemterumpapelcentralaoestimularascompe-

tênciasdeinibiçãodeimpulsos.

Você sabe por que seu aluno espera

sentado na cadeira enquanto recebe uma orientação?

Quais capacidades ele tem de dispor

para conseguir rea-lizar essa tarefa que

parece tão simples ao adulto (alguns), mas não é para as

crianças?

Se a impulsividade é normal na infância, quando devemos nos preocupar? Por que algumas crianças são mais impulsivas?

O que é inibir impulso? Para que serve?

Você se recorda das funções executivas de que falamos no Módulo 5? Pois é, falar de impulsividade é falar de planejamento para iniciar ações, sustentar atenção, monitorar o rendimento, controlar (inibir) impulsos e realizar tarefas com foco e persistência. Ou seja, são as funções executivas agindo na prática do dia a dia.

Na história de vida escolar, crianças que apresentam menor capacidade de controle de impulsos desde o ensino infantil têm maior tendência a pior desempenho acadêmico durante todo o seu histórico (Duncan et al., 2007).

Ao mesmo tempo, intervenção para aumentar o controle dos impulsos no ensino infantil tem um efeito positivo ao longo da vida inteira. (Diamondet al., 2007).

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Técnicasdeestímulodasfunçõesinibitóriaspodemajudarmuitoascrian-

çasaestimularessahabilidadeno seudesenvolvimento.Na saladeaula,

algumasmedidassimplespodemajudara incentivarocontrolede impul-

sos.Aqui listaremosalgumaspossibilidades(Barkley,2002;Packer,2010;

Diamond&Lee,2011;Dias,2012;Dias,2013)tentandoasadaptarparaa

realidadebrasileira.

1. Oferecer mediadores concretos e externos

Paracriançasmenores,oferecercartõesindicandovisualmenteasuafun-

çãoemcadaatividade.Porexemplo,dividirasalaemduplasparaatividade

deleitura,cadaduplarecebeumcartãocomumdesenhodeorelhaeoutro

comdesenhodeboca.Quemrecebeuaorelhaescutaequemrecebeua

bocalê.Asatividadessãointercaladasentreospares.

2. Referências externas para as etapas de uma atividade

Crieumamúsicaquesinalizeasetapasaserseguidasparaajudaracriança

aregularseusimpulsosemanter-seemumaatividade,principalmenteem

momentosdetrocasdedemandas,comooretornoàsaladeaulaapóso

lancheouoiníciodaumanovatarefa.Coloquenaletradamúsicaositensa

serseguidos,estimulequeasalatodacante.

3. Estimular a autorregularão da impulsividade

• Crieumlugarcalmonasalaondequalqueralunopossairquandosentir

queprecisadeumambientecommenorestímulosonoroparaseacalmar

ouparaseconcentrar.

• Incentiveaprocuradesseespaçocomoumamedidaimportantedeauto-

controleedemanejodasprópriassensações.

• Possibilitepausasparaautoavaliaçãodocomportamento.Porexemplo,

combinarcomosalunosquequandooprofessordisserumapalavraes-

pecífica (estátua, por exemplo), todos interromperão a atividade em

cursoefarãoumaautorreflexãodecomoestãoenvolvidos,ounão,na

colaboraçãoeoquepoderiamfazerparamelhorarasituação.

4. Estimular a regulação do comportamento pelos pares

• Coloqueacriançaimpulsivapróximadeumcolegaquepossafuncionar

comoumbommodeloecomoumaajudaexternaaocontrole.

• Estimuleaclassetodacomincentivosparaquandoumaatividadeécom-

pletadaatempo.Porexemplo,sugiraalgotentadorcomotempopara

atividadesrecreativasnosúltimosvinteminutosdoperíodoseastarefas

dodia foremrealizadas semnecessidadede interrupçãodisciplinardo

professorparatodaasala.Escrevanalousaosnúmerosde1a20,sendo

quecadanúmerorefere-seaosminutosdaatividadeprometida.Acada

interrupçãopararegularcomportamento,todoogrupoperdeumminu-

to.Deixebemdemarcadonalousa(risqueosminutosperdidos).Permita

queosalunosseorganizememduplasoutriosdeformaqueosmenos

impulsivosajudemosmaisimpulsivosaseorganizarem.

5. Localização na sala de aula

• Coloqueseualunomaisimpulsivoemlocalpróximoparaquepossaser

supervisionadoeamparadoporvocê.

• Permitatambémqueelepossasemovimentarsematrapalharasativida-

des.Modifiqueadisposiçãodacarteiraconformeaatividade.

• Promovaumcantoderelaxamentonasalaeestimuleousoportodosdo

grupoquandonecessário.

O que fazer com um aluno impulsivo?

Como estimular o controle de impulsos?

Comportamentos precisam de tempo, insistência e paciência para ser modificados. Por isso, professor, não desista!

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6. Orientação individual de um aluno evitando exposição

• Crieumespaçodecomunicaçãodiretaentrevocêeoalunopermitindo

queaimpulsividadesejareconhecidacomoumproblemadedifícilcon-

trole,algoqueelenãodevenegligenciarouesconder,massimenfrentar,

equeadupla“professor-aluno”tememcomumametadetraçarestra-

tégiasparadiminui-la.

• Combineumcódigoquepossafuncionarcomoferramentadecontrole

externosemexposição.Como“João,vocêpoderiabuscarumcopode

águaparamim,porfavor”.Assimvocêpromoveriaqueoalunosaiada

saladeaula,caminheumpouco,extravasesuaenergia,consigaperceber

queestavaseexcedendoeretorneàsalasemexpô-lo.

7. Permita algum grau de controle na realização da atividade

Sugiraaoalunoqueeletemalgumaautonomiasobreaformacomorealiza

umaatividade,sequeriniciarpelaspartesmaisinteressantes,seprecisade

pausasetc.

Acriançaeoadolescenteestãoconstruindoasuaformadecompreensão

ereaçãoaomundoepodemreagirdeformaexplosivaquandosedeparam

comsituaçõesemquetêmdificuldadesparacompreenderouprogramar

umaestratégiadereaçãonoplanodospensamentos(ouplanejamentover-

bal).Assim,alémdecomuns,irritabilidadeeagressividadesãoinespecíficas

epodemsermanifestaçõesdediferentessituaçõesdesofrimentopsíquico,

transitóriooupersistente(Craney&Geller,2003).

Porisso,nãopodemosnosprecipitareconsiderarumareaçãoagressivaou

irritávelcomoindíciodegravidadeoudepatologia.Maspodemosconside-

rarque,aoreagirdessaforma,acriançaouoadolescenteencontramum

impedimentoparautilizarformasmaiselaboradasdereação(umplaneja-

mento,porexemplo).

Umestudoanalisouomododereaçãodoprofessorfrenteacomportamen-

tosagressivosporpartedaclasseeobservou-sequealtosíndicesdecom-

portamentoagressivopodemdesencadearreaçõesrígidaseinflexíveisdo

professornatentativadecontroledaconduta.Paradoxalmente,essetipo

de reação, principalmente quando acompanhado de restrição da relação

empáticaentrealunoeprofessor,aumentaaresistênciadosalunosepiora

ocomportamentonasaladeaula(Pianta,2004).

Ouseja,irritaçãogerairritaçãoepodecontaminartodooambienteesco-

lar.Nãoéfácillidarcomumalunoassim,apesardeserumacaracterística

comumnainfância.

Aseguir,descreveremosasprincipaisintervençõesquepodemserrealiza-

daspeloprofessorparaabordarcomportamentosagressivoseirritáveisno

ambienteescolar.

Deformageral,oprofessorpoderádiminuiroimpactoseconseguiradotar

atitudes que evitem situações de conflito ou de explosões afetivas. Para

tanto,precisaobservarocontextoafetivoemcadasituação,treinaraauto-

percepçãodogrupoedecadaaluno.Aoreconhecersituaçõesderiscoemi-

nente,deveevitarumdesfechocomexcessivacargaafetivae retomaro

tópicoemumsegundomomento.

Irritabilidade e agressividade

Professor, você sabia que a reação de agressividade e irritabilidade na infância e na adolescência é uma regra, não uma exceção?

Professor, como você reage a um aluno agressivo ou irritado?

O que fazer com a irritação?

Page 9: Como lidar com comportamentos

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Podemoslistaralgumasdicaspráticas:

• Irritabilidadecaminhajuntocomimpulsividade;então,tudooquees-

crevemosanteriormentepodeseaplicaraquitambém.

• Possibiliteaoalunoirritadoumaformadeproteçãoantesqueagridao

grupoouavocê.Permitaalgumrelaxamentonasatividades,autorize

queseisoledogruponassituaçõesmaisintensas.

• Semprequepossível,elogieoutenteseaproximardacriançairritada.

Issoestimulaumaformadecomunicaçãoequeelavejanoprofessor

uminstrumentodeajuda.

1. Desde que não esteja colocando em risco a integridade física de outro aluno, profissionais da escola ou a própria

• Procuremanterdistânciafísicadoaluno.Tentarcontê-lopodeaumen-

taraschancesdequeeleouoprofissionaldaescolasemachuquem.

• Eviteestímulosquepodempioraraexplosão,comodiscutirouargumentar.

• Afasteaspessoasaoredor.Nãotenteremoveroalunoemquestão.

• Mantenha emmenteque as explosões verbais comxingamentos ex-

pressammaisumasituaçãodedescontroledoquenecessariamenteo

queestásendoexpressopeloconteúdo.

• Explosõesgeralmentesãoautolimitadas.Tentarinterrompê-lasouen-

curtá-lasgeralmentecausaoefeitooposto.

• Preocupe-seempromoverasegurançadosalunosedosprofissionais

daescolaenãoeminterromperoquadrodeexplosão.

• Lembre-sedequetodosnósperdemosacabeçadevezemquandoe

oquantoissoéembaraçoso.Ajudeseualunoaserecompordepoisda

explosão.Conversecomogrupomostrandocomoissopodeacontecer

comqualquerum,diminuindooestigmaeoimpactonogrupo.

2. Se for uma situação que coloque em risco a integridade física de alguém

• Nãoéumasituaçãoparaoprofessorlidarsozinho.Chameoresponsá-

velpelasegurançadaescola.

E se seu aluno irritado explodir

em agressões verbais ou físicas?

O que fazer?

Page 10: Como lidar com comportamentos

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Algunsalunosinsistememnãofazeroqueésolicitadooumantêmumcom-

portamentodequestionamentoàsregras.Muitassituaçõesdiferentespo-

demdesencadearessetipodecomportamento,desdea“nãocompreensão

doqueésolicitadooudasregras”(verhabilidadessociaisaseguir),até“irri-

tabilidade,faltadeengajamentocomomeio,disputadepoder,dificuldade

deaceitarestruturascomhierarquia”.

Maisdifíceisdoquea irritabilidade,essescomportamentostornamaati-

vidade em sala de aula aindamais desafiadora. Abaixo listamos algumas

sugestõesdeatitudesquepodemajudaroprofessor.

1. Ao realizar as atividades

Estarsegurodequalestratégiaseguirparaasituaçãoemquestão.Alunos

opositoresedesafiadorestentarãoaomáximoquestionarcadacondutado

professor,descredenciando-oedesmerecendoodesfechoproposto.

Oposição e desrespeito às regras

• Garantirqueoalunoopositorestejaengajadonaatividade,semper-

mitir brechas para que ele se coloque àmargemdo grupo. Elaborar

atividadesmotivadoraseparticipativas,engajaroalunonogrupo,re-

ferenciá-loaolongodaatividadeeresponsabilizá-locomodesfecho.

• Manterasatividadesdodiaomaisvisívelpossíveldeformaqueimpos-

sibiliteaoalunoopositorsecolocarcomonãoinformadodasetapase

regrasaserseguidas.

• Deixarclaro,desdeoinício,odesfechoesperadoeocomportamento

desejadoemcadaatividade.

• Dividirasalaemgruposmenoreseheterogêneos.

2. Disciplina

• Imporoseguimentodasregrasdeformapersistenteeconsistente,não

permitirbrechasounegociações.Deixarclaroasconsequênciaspara

aquelesqueoptarempornãoseguirasetapasproposta.

• Certificar-sedequetodosestãocientesdoscompromissoseexpecta-

tivasantesdeiniciarcadaatividade.

• Evitarqueoalunodesafiadortenhatempolivreoulongaspausasentre

cadaatividade.Responsabilize-oporpequenasmetasquevocêtenha

certezadequeelepodecumprirequeserãoobservadasdeformapo-

sitivaparaogrupo.

3. Questionamentos

• Evitarassuntospolêmicosqueabrammargemparadiscussõesemúlti-

plasinterpretações,principalmentenoqueconcerneàsregras.Deixar

essetipodetópicosparamomentosmaistranquilos.

• Manterofocodasdiscussõesemtópicospositivos.

4. Evitar disputas de poder

• Evitardisputas,principalmentequandonãosãonecessárias.Nãodêar-

gumentosquepossaminflamarumadiscussão.Deixeclarooseuponto

devista,aregraemudedetópico.

• Sesentirqueé importanteressaltarumcomportamentonegativode

umaluno,evitefazê-lonasaladeaula.Conversedeformadiscretae

emparticular.Nuncalevanteavoz,falecalmamente,repitaamesma

informaçãodeformapausadaecalma,quantasvezesforemnecessá-

rias.Nãoargumente.

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Aatenção,assimcomoocontroledeimpulsos,sãoatividadesqueamadure-

cemduranteodesenvolvimento.Porisso,espera-sequeumacriançadeaté3

anosconsigamanter-sefocadaemumaatividadeúnicaporumperíodomíni-

modedezminutose,paracriançasentre7e12anos,espera-seumperíodo

mínimodetrintaminutos.

Existemváriassituaçõesrelacionadascomaimpossibilidadedeumacriançaoudeumadolescenteterdificuldadeemmanterofocodeatençãodoinícioatéafinalizaçãodeumaatividade.Vamoslistaraquiasmaiscomunseasmaisimportantes.

• Problemas físicos comodor, cansaço, fome,dificuldadeparaenxergar,dificuldadeparaescutar.

• Padrãodesonopobreouirregularcomsonolênciadiurna.

• Problemas emocionais como situação familiar complicada, abandono,negligência,tristeza,ansiedade,medo.

• Dificuldadedecompreensãodocontextosocialcomonosquadrosautistas(verseçãodehabilidadessociais).

• PatologiaspsiquiátricasespecíficascomooTranstornodeDéficitdeAtenção.

• Patologiasneurológiascomoepilepsia.

Entretodasessaspossibilidadescitadas,algumascausarãoumadificuldadedefocodeatençãomantido,outrasserãotransitórias.Nãocabeaoprofessoriden-tificaromotivoquecausaadesatenção,maselepodesensibilizarospaisparaa

necessidadedeumaavaliação.

Criançasdesatentastêmmuitadificuldadeparaorganizarsuasatividades,es-

cutarumaorientação,planejarações,preveregerenciaretapasparaconcluir

umaatividade.Elassedistraemfacilmentecomestímulosdoambiente(baru-

lho,umalembrança,objetosaoseuredor),esquecemobjetos(mesmomuito

importantesparaelas,masaindamaisoquetemmenorimportância).Tendem

aprocrastinarasatividadesatéoúltimomomento.Comosubestimamotempo

necessárioparacompletarasatividades,muitasvezesnãoconseguemcomple-

taroquesepropuseramefalhamcomseusparesnasdemandasemgrupos.

Falta de atenção

O que causa uma dificuldade de

focar a atenção?

Como se comporta um aluno que

está desatento?

Seumaatividadefordegrandeinteresseparaapessoaouofereçaestímulos

muitosedutores(videogame,umtópicoespecial,algoquedesempenhamui-

tobem),aalteraçãodaatençãosemostradeumaformasutil.Apessoase

focaexcessivamentenaquiloqueestárealizandoeliteralmenteseesquece

domundoasuavolta.Aexpressão“omundopodecairnasuacabeça”nesses

casoséreal.Aatençãoperdeacapacidadedesemodularentreaatenção

volitiva(aquelaqueeufoco)eaespontânea(aquelaqueobservaomundoa

minhavoltaemecolocaemcontatocomoexterno)comumprejuízoimpor-

tantedasegunda.Ouseja,terumacriançaquepassahorasnovideogamenão

significaqueelatenhacapacidadedeatençãosemalterações.

Omédicoéquemfazaavaliaçãodanecessidadeounãodousodemedicação.

Independentementedisso,muitasintervençõespodemserfeitasnasalade

aulaparaajudaroalunoqueédesatento(nocasodoTDAoudealgumas

patologiasneurológicas, por exemplo)ouqueestádesatento (nocasode

situaçõestransitórias)afocarsuaatenção.

Está certo dizer que se uma criança con-segue se focar e prestar atenção por períodos longos em outras atividades que não os estudos (como videogame) ela não é desatenta?

O que fazer para ajudar uma criança desatenta a melhorar sua atenção na sala de aula? Só o remédio que funciona?

Algumas dicas práticas

1. Localização espacial na sala de aula

• Coloqueoalunoomaispróximopossíveldalousaseeleprecisarealizar

atividadesdecópiadoconteúdo.

• Sente-oemlocalpróximodeformaqueelepossaserconstantemente

supervisionado.

• Deixe-olongedepotenciaisfontesdedistraçãocomojanelas,portas,

outroscolegasagitados.Procurealocá-loondeo focosejaocontato

comoprofessor.

• Tente colocá-lo próximode umcolega quepossa funcionar comoum

bommodelo,assimcomoumaajudaexternaaocontrole(verinterven-

çõesparaocontroledeimpulsosnaseçãoanterior).

Page 12: Como lidar com comportamentos

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• Modifiqueadisposiçãodascarteirasdeacordocomotipodeatividade

(pequenosgruposparaatividadescooperativas,círculocomasalatoda,

emfileirasparatópicosmaisexpositivos).

2. Orientação individual de um aluno evitando exposição

• Selecione para quais atividades o aluno precisará de mais apoio; por

exemplo,quantomaismonótonaelonga,maisdifícilseráamanutenção

daatenção.

• Nessasatividades,comoumaleitura,passepeloalunoetoquediscreta-

mentenapáginaqueestásendolida.

• Solicitequeoalunoindiqueparaquaisatividadeseleprecisademais

supervisãoecomopoderiaserfornecida.Façaessesquestionamen-

tosemparticular.Seelenãoconseguirseorganizarparasugerir,dê

sugestõescomexemplosepermitaqueelecoloquecomosesentiria

emcadasituação.

• Combinepreviamenteumsinalcomoseualunopararesgatarasuaaten-

çãoaotemadaaulasemexpô-lo.

3. Medidas que podem aumentar a atenção para o conteúdo

• Permitaaoalunoalgumgraudecontrolesobreaatividadesolicitada.

Isso,deformageral,diminuiansiedadeeprocrastinaçãoeaumenta

odesempenho.Porexemplo,pergunteporqualpartedaatividade

elegostariadecomeçar;segostariadesairparacaminharumpouco

acadaquinzeminutos,edigaquevocêajudariaacontrolarotempo;

sepreferefazeremgrupoouindividualmente(quandopossível).

• Fragmenteasatividadesemváriostópicosdeatéquinzeminutosde

duraçãocontínua.Useosespaçosentreasatividadesparaajudara

alunoaextravasarsuaenergiafísica,nocasodosagitados,oupara

podercompartilharofluxodospensamentosdossonhadores.Con-

trole o tempo de descanso (lembre-se de que eles percebemmal

o passar do tempoe têmdificuldadepara se organizar).Antes de

retornaràlição,ajudeadirecionarofocoparaaspartesmaisimpor-

tantesdotópicoaser iniciadoe fazeras ligaçõesentreostópicos

anteriores.Umaatenção fragmentadapodedeterminarconteúdos

fragmentadosnamente.

• Ajudeadirecionaraatençãoacentuandoaimportânciadepontos-

-chavedo conteúdo. Por exemplo, interrompao fluxododiscurso

ediga“agora issoémuito importante”,deixeumapausadeumou

doissegundosantesderetomar.

• Exploreosoutrossentidos.Useoutrosestímulossensoriaisalémdo

estímulosonoro.Imagens,objetos,curiosidades,qualquercoisaque

estimuleossentidosefaçaoassuntoaumentardeinteresse.

Você se lembra de como falamos, nos módulos 1 e 2, da importância para o aprendizado dos estímulos que envolvem mais de uma via de sensação?

Page 13: Como lidar com comportamentos

24 25

• Mantenhaumresumoemtópicoseilustraçõessinalizandopontos-cha-

ve,eumalinhacronológicadodesenvolvimentodeumtema.Chamea

atençãoparaesseresumoacadanovaetapa,ajudandooalunoaorgani-

zaremsuamenteoconteúdodemaneiracoesa.

• Estimuleocontatovisualdoalunocomvocê.Percebaquandoele se

distraiupeloolharefaçaqualquermovimentoouatitudequechamea

atenção.Nãoorepreenda,valorizearetomadadefococomumsorri-

so,façaumapequenaretomadadoconteúdo(porexemplo,lembreo

tópico:“falandosobreDomPedroII,o imperadordoBrasil,podemos

continuardizendoque...”).

• Permitaqueoalunousefonedeouvidocomamúsicaqueeleacredita

queoajudaaseconcentrar,principalmenteematividadesqueelepre-

cisafazersozinho.Essamedidadiminuiopotencialdesedistraircom

osbarulhosdoambiente.

• Deixeoalunousarobjetosqueoajudemadiminuirestímulosexternosvi-

suais:bonéquandoprecisaolharapenasparaoseucaderno,porexemplo.

• Enriqueçaomaterialdeestudocomoutrasinformaçõesalémdoconteúdo.

Porexemplo,dividaasetapasdeumaliçãoemcores,criandometasaser

cumpridas.

• Lembre-sedequeo ruídoexternoatrapalhamuitoaconcentraçãode

todos,masinviabilizaadequemédesatento.Monitoreconstantemente

obarulhonasaladeaula.

• Promovaumambientedesaladeaulaestimulantedopontodevistaaca-

dêmico.Seoalunosedistrairepassaravagaroolharpelasala,permita

quepossasefocaremimagens,objetos,trechosdetextosqueoajudema

compreenderoconteúdodoqueestásendoensinado.

• Atividadeemgrupopodesermaisprazerosaqueaatividadesolitária.O

engajamentoafetivoajudanofocodaatençãoenatendênciaemperma-

necernamesmaatividadeporumperíodomaior.

4. Compreender um tópico inteiro

• Semprequeretomarumtópico(deumaaulaparaaoutra,apósumain-

terrupçãoporcomportamentosinadequadosououtrassituações),faça

umpequenoresumodotemaeemquepontoestava.Lembre-sedeque,

muitasvezes,oalunodesatentonãoconsegueterumavisãocoesasobre

umassuntoporterapreendidotrechosfragmentados.Afaltadecom-

preensãodoassuntoinibeaindamaisaatençãoepromovecomporta-

mentosopositoresemrelaçãoaoassunto.

• Forneçaorientaçõesempartesfragmentadastantooraiscomoescritas.

Useoutros incentivossensoriais(cores,desenhos,organizaçãoespacial)

parasalientarcadatópico.

• Antesdepassarparaumapróximaetapa,averigueoquefoicompreendi-

doeabsorvidodaanterior.

• Mostreaosalunosdesdeoinícioqualasuaexpectativafinaldeaquisição

oudedesempenho.

5. Rotina

• Deixarasetapasdarotinadiáriaemlocaldefácilvisualizaçãoparatodosos

alunos.Lembrarqueoalunopodetersedistraídoemetapasimportantes

deinstruçãoe,porisso,ficouperdidoemrelaçãoàspróximasetapaseem

comoseorganizarparaelas.

• Encorajeousodechecagemdeitensantesdotrocarparaumanovaativi-

dade,daanálisedoquefoiconcluídoedoqueéprecisoparaapróxima.Isso

ajudaoalunoareconhecereseorganizaremrelaçãoàsetapasemetas.

• Usesinalizadoressensoriaisnatroca.Palavrasdeordem(sonoro)descre-

vendoasetapas,setas,desenhos(visuais),objetosaserentregues(tátil).

• Dêaoalunodesatentoumafunçãoespecialqueoincentiveemotive.Porexem-

plo,queelesejaoresponsávelporcarregaralgumobjetocomoprofessor.

• Promovasupervisãodeumadultopróximoaoalunodeformaque,caso

elesepercaentreasetapas,possaserorientado.

Page 14: Como lidar com comportamentos

Processo de socialização se apresenta ao longo de todo desenvolvimento infantil, envolve a apreensão por parte da criança de quem ela é (noção de eu, ideia de sua identidade), de onde faz parte, quem é sua família, sua comunidade, sua escola, enfim em que “mundo” está inserida. Empatia e espectro autista

Empatia é a capacidade de se colocar no lugar do outro, de entender o que o outro sente ou como reage. Ela determina as possibilidades de relações sociais. No autismo, a capacidade de ter empatia está alterada. Mesmo em graus leves, com a possibilidade de criar bons vínculos com algumas pessoas de seu convívio, as crianças do espectro autista demonstraram muita dificuldade para expressar e reconhecer o afeto que estará presente na relação e as emoções que surgem a partir de cada experiência que vive. Costuma ser bem difícil e estranho identificar o que e como se sentem; e muito mais a possibilidade de identificar o que o outro sente.

Você sabe o que é autismo? É uma alteração de desenvolvimento que se caracteriza por déficits simultâneos nas habilidades “social, de comunicação e de simbolização”. As diversas características que podem estar presentes ou não em cada caso apresentam variação em grau de intensidade. É por isso que surgiu o termo “espectro autista”.

26 27

Algumascriançasapresentamquadrosqueimpactamnoaprendizadodasha-

bilidadessociais(aquiloqueaprendemosintuitivamenteaolongododesen-

volvimentoequenospermiteagirsocialmentedeacordocomocontexto).

Habilidadessociaisnãoéalgoqueaprendemosnaescola,masemtodos

oslugares.Nãoéalgoensinado,espera-seque,aolongodasexperiências,

todosnóspercebamosqualreaçãofísicaindicaqueooutroestáchateado

(cenhofranzido)outriste(chorando)ecomoseriaoesperadoqueserea-

gisseàssensaçõesdooutro.Aempatia(capacidadedeperceberooutro)

é uma ferramenta essencial para essa atividade e, quando funcionando

bem,promoveapercepçãonaturalmenteaolongododesenvolvimento.

A empatia tambémé acompanhada pela linguagem.Você se lembra de

quandofalamossobreessahabilidadenoMódulo3?Naquelaocasião,des-

tacamosa relaçãoda linguagemcomosprocessosdeaprendizagemde

leituraeescrita.Pensamosemmaneirasdeauxiliarmelhoroalunoaouvir,

entenderefalar.AgoranoMódulo7,vamosentendercomoalinguagem

tambéméessencialparaodesenvolvimentosocial.

Você já pensou no que acontece com as crianças que têmdificuldade

deperceberessasdicas sociaisque são tão importantesparaa comu-

nicação?Oqueacontecequandoaentonaçãodevoznãoépercebida,

apenasapalavranuaecruanoseusignificadoconcreto?Essascrianças

apresentarãodificuldadesnodesenvolvimentodassuashabilidadesso-

ciais, terão muita dificuldade de compreender o ambiente e, logo, de

comportar-secomooesperado.

Dificuldades nas habilidades sociais

Esseéumtópicocomplexo,comváriaspossibilidadesdeapresentações.

Apesardesabermosquenãovamosconseguiresmiuçar todasaspossi-

bilidadesdecomportamentoemsaladeaula,vamoslistaremtópicosas

principaissituaçõesecomooprofessorpodereagiraelas.

Page 15: Como lidar com comportamentos

Apesar da maior parte das alterações que promovem dificuldades no processo de compreensão não ter cura, o quanto antes se identifica e se estimula essa função, melhor a capacidade do aluno. O nosso cérebro é bastante plástico e pode treinar outras áreas para assumir o papel da região deficitária, desde que ajudado.

28 29

O que seus alunos compreendem a

partir daquilo que lhes é explicado?

O que pode causar esse tipo

de situação?

Como o professor pode perceber esse

tipo de situação?

Aexpectativanormaléqueacriançaapreendaoconteúdodaquiloquelhe

éexplicadodesdequeseja realizadode formacompreensívelecomvoca-

bulárioadequado.Porémexistemalgunsquadrosdeterminantesemquea

criança terádificuldadede compreender a linguagemoralmesmoquando

expressadodaformamaiscuidadosapossível.Essesquadrossãomenosco-

munsqueassituaçõesdequefalamosanteriormente,masestãopresentes

napopulaçãoinfantileéimportantequeoprofessorsaibaqueexistam.

Váriaspossibilidadesestãorelacionadasaessetipodedificuldade.

• Problemasfísicoscomoalteraçãonaaudição.Aquivaleapenaressaltar

quenãoexisteapenasasurdezentreosproblemasdeaudição.Existem

ascriançasqueescutambem,mastêmdificuldadededecodificarossons

emsignificados.

• Problemasneurológicosqueafetamasáreasdalinguagemcomoepilepsia.

• Problemaspsiquiátricoscomoautismo.

Certifique-sedequeseualunocompreendeuoquelhefoiexplicado.Uma

dicasimplesépedirqueelefalecomexemplos(algunspodemapenasre-

petiraspalavrassemcompreensãodosignificado)oqueeleentendeudo

quefoiexplicado.

Dificuldades no processo de compreensão? O que fazer?

Conversecomafamília.Muitasvezes,ospais,pornãoteremconvíviocom

outrascriançasnamesmaidadedofilho,nãopercebemqueeletemumpa-

drão de compreensão diferente do esperado para sua idade. Exemplifique

paraospaisasdificuldadesquevocêvemobservandonoambienteescolar.

Sensibilize-osaprocuraratendimentoespecializadoparaumaavaliação.

Algumas dicas práticas

• Antesdeconsideraroalunocomoalguémquenãocooperanasativida-

desdiárias,certifique-sedequeeleascompreendeu.

• Utilize símbolos visuais comoapoiopara as explicações. Por exemplo,

façaumresumoemimagensconectadasàspalavrasdarotinadodiae

deixevisívelparatodaasala.Useoapoionasexplicaçõesounasinstru-

ções. Lembre-se: elesnãoconseguemgravaros significadosdaspala-

vras,entãooapoiocomasimagensprecisaserusadorepetidamente.

• Eviteusarfigurasdelinguagemoumetáforas.Sepalavrascomsignifica-

doconcretojásãodifíceis,imagineascomsignificadonãoliteral.Aten-

dênciadoseualunoéfazerumacompreensãoconcretadosignificadodo

quefoiditoeapartirdaíseconfundiraindamaisou,simplesmente,es-

cutar,masnãoassociarnenhumsignificadoaosom(somcomobarulho

enãocomopalavras).Porexemplo,“acordarcomasgalinhas”quepode

serusadoparaexemplificarqueosalunosprecisamacordarbemcedo

(cedocomoasgalinhasacordamgeralmente),podesercompreendido

comoumaorientaçãoqueoalunovádormirnogalinheiro.

• Encurteasexplicações.Façaemtópicosbemdelimitados.Useimagens.

• Incrementetodoomaterialescolardoalunocomimagens.

• Montecomoalunosuaagendadeformavisível,emetapasecomapoio

deimagensparaqueelepossacompreenderarotinaeoqueéesperado.

Dificuldade de compreensão

Page 16: Como lidar com comportamentos

Uma criança autista costuma se expressar de modo extremamente objetivo, o que faz que tenha dificuldade em prever as reações dos outros ou identificar maneiras de comportamento social. Para a pessoa que convive com um autista fica a sensação de que ele é desajeitado e pouco sensível. Contudo, um autista pode ser muito capaz de apreender o significado de atitudes e condutas sociais e pode inclusive explorar possibilidades de interação com auxílio de uma pessoa que seja sua referência.

30 31

Assimcomoalgumas crianças têmdificuldadede compreensão, também

existeadificuldadedeexpressãopela linguagemdeseuestado internoe

suasvontadesoupreferências,mesmoparaascriançasqueadquiriramlin-

guagem.Muitasvezes,acriançanãotempercepçãodequeéelaquenão

se expressa adequadamente e irrita-se com frequência com o ambiente,

poissesenteincompreendida.Éusualqueadificuldadedeexpressãoesteja

associadacomadificuldadedecompreensão,oqueatrapalhamuitoocon-

tatoeatrocacomoambiente.

Váriaspossibilidadesestãorelacionadasaessetipodecomplicação:

• problemasfísicoscomoalteraçãonaaudiçãoenaexpressãodafala;

• problemasneurológicosqueafetamasáreasdalinguagemcomoepilepsia

(LandauKleffneréumexemplotípico);

• problemaspsiquiátricoscomoalgunsquadrosansiosos(mutismoseletivo,

porexemplo)eautismo.

Dificuldade de expressão

Dificuldades no processo

de expressão? O que fazer?

• Pergunteàfamíliaoformatodecomunicaçãoqueseestabeleceu.Mes-

motendoemmentequeametaéestimularacomunicaçãopela lin-

guagem,paraentenderacriança,énecessáriocompreenderoformato

queelausaparaseexpressar.

• Lembre-sedequeaexpressãopodeserpormeiodocomportamento.

Umalunoirrequieto,agitado,nervoso,ansiosopodemanifestardessa

formaquealgumproblemaestáacontecendo,masqueelenãoconse-

guenemsolucionarsozinhonempedirajudadiretamente.

• Casovocêpercebaqueoalunoestácomalgumadificuldadeparaex-

pressaralgo,procureauxiliá-lo.Porexemplo,diga(oudemonstrede

formaqueeleentenda)quepodeiraobanheiro.Lembreque,seoalu-

notambémtiverdificuldadedecompreensão,elepodenãoterenten-

didoquesímboloserefereaobanheiro.

• Tenha emmenteque é difícil a generalizaçãodas habilidades adqui-

ridas, ou seja, se seu aluno aprendeu a se comunicar para expressar

queestácomsede,nãosignificaqueelesaberáseexpressaremoutras

situaçõescomodesejodeiraobanheiro.

• Ajudeogrupoacompreenderqueafaltadeexpressãoemlinguagem

oucomportamentos(umalunoretraído)podenãosignificardesinte-

resse,masumadificuldadedeseexpressar.

Algumas dicas práticas

Page 17: Como lidar com comportamentos

32 33

Professor,vocêjápensouemquantascoisassãoditasdeoutrasformasque

nãopelaspalavras,porexemplo,pelaexpressãocorporal?Seumacriança

estátriste,seestáabertaparabrincadeiras,seestápreocupada,asmudan-

çasderitmoeentonaçãodavozsãoumaformadesecomunicar.Imagine

comoseriasuacapacidadedecompreensãodomundosevocêfossemíope

paratodasessasnuancesdaexpressãocorporalquesinalizamacomunica-

ção.Omundopoderiaserumcaos,complexoeintangível.

Comojávimos,rotinaeumambienteprevisívelsãoaspalavras-chave.Aju-

damseualunoacriarregrasquepromovamumacompreensão,aindaque

rudimentar,doambiente.

Como ajudar seu aluno a entender melhor o ambiente em que está inserido?

1. Organize o espaço físico

• Crieáreasespecíficasparacadaatividade(brincar,trabalhosemgrupo

ouindividuais,lanche,atividadesdeautocuidadosetc.).

• Crieumaáreadedescansooudeesperaparaqueoalunopossaserecu-

perardesituaçõesestressanteseretomarocontrole.

• Demarqueumlocalparaguardarseuspertencesindividuais.

• Delimiteaáreadamesadaprofessora.

• Crieidentificaçãovisualdosmateriaisutilizados(doprofessor,dasativi-

dadesemgrupo,dasatividadesindividuaisetc.).

• Ajudeoalunoaidentificarvisualmenteaordemdasatividadesdeforma

queelepossaseorientarnasaladeaula.

• Crieformasdecomunicaçãoexplícitaparaindicarqueoalunoterminou

otrabalho(áreaparaostrabalhosfinalizados).

• Sinalizebemoslimitesdecadaáreadetrabalhodeformaaevitarconfu-

sãoporpartedacriança.

Dificuldade de compreensão da comunicação não verbal

Page 18: Como lidar com comportamentos

No autismo, a fala e a compreensão se manifestam de maneira bem específica. Os quadros menos graves, em que a criança tem recursos para se expressar, a comunicação ocorre através de estereotipias e repetições: imitam falas caricaturadas, frases prontas e chavões que muitas vezes podem aparecer sem sentido no contexto em que foram utilizadas. Pela própria dificuldade social, há um empenho na tentativa de se adequarem ao modo de conversar e a fala fica parecendo pedante ou muito formal. A compreensão costuma ser “ao pé da letra” e concreta, a expressão do que foi compreendido de uma situação é empobrecida e carente de simbolismos. A capacidade abstrativa e o estabelecimento de analogia costuma ser restrito, se o nível intelectual estiver na média. Se considerarmos a linguagem não verbal, temos a postura física e o modo de andar também estereotipados, desarmonizados e com pouca naturalidade, pela representação de gestos que são aprendidos.

34 35

2. Figuras de referência

Éfundamentalquehajamaisdeumapessoadereferênciaparaumalunopro-

curarquandoprecisadeumapoio.Oprofessordeclasse(oututor,sehouver

maisdeumprofessor)seráaprimeirapessoaqueoalunoirásolicitarquando

precisa,masemsuaausênciadevehaveroutroprofessorouprofissionalda

equipeescolarquepossaajudaroalunoaseorganizardiantedeumasituação

deestresse.Ajudeoalunoacriarumaestratégiadosmomentosquedeve

procurarajudaecomoproceder(quandoecomo).Lembre-sesempredeque

essascrianças,quejátemdificuldadedecompreenderoambientedeforma

geral,tornam-seincapacitadaseperdemaspoucasestratégiasquepossuem

quandoemsituaçãodeestresse.

3. Observe o excesso de estímulos no ambiente

• Evitemuitasinformações.Algumascriançassãomaissensíveisaalguns

estímulos específicos (isso é comumno autismo, por exemplo).Ou-

tras,mesmonãosendohipersensíveis,podemterdificuldadededeco-

dificaçãodasexcitaçõessensoriaisdoambiente(tambémpresenteno

autismo).Emambasassituações,excessodeestímulopodecausarum

impactonegativoepiorarainteraçãodacriança.

• Senãoforpossívelevitar,lembre-sedefuncionarcomofiguradeapoioe

criarestratégiaspreventivasparaessascriançasnosmomentosemque

algumexcessodeestímulos sensoriaiséesperado.Porexemplo, seas

criançastendemasermuitobarulhentasnofimdoperíodoescolarea

saídadetodosémuitoruidosa,combinecomoseualunoqueelesairá

comvocêcincominutosdepoisdetodos.

Professor, você sabe o é que apego? O termo apego, muito utilizado no senso comum, aparece nas referências teóricas como um modo de vínculo afetivo, caracterizado pela sensação de segurança da criança (ou adulto). Está diretamente associado a um relacionamento interpessoal. O apego para criança se apresenta como uma sensação de confiança e conforto, oferecendo a ela segurança para explorar o mundo e estabelecer novas possibilidades de vínculo.

Page 19: Como lidar com comportamentos

O que é bullying? É um termo anglo-saxão criado na década de 1970 por um pesquisador norueguês, Dan Olweus. Define todas as atitudes agressivas, intencionais e repetitivas adotadas por uma pessoa ou um grupo contra outro(s), causando dor, angústia e sofrimento. Tal forma de violência ocorre em uma relação desigual de poder, caracterizando uma real situação de desvantagem para a vítima.

Existe bullying na sua escola?Provavelmente sim. Segundo a Organização Mundial da Saúde, catorze porcento dos adolescentes de 13 anos referiram já ter sofrido bullying nos últimos dois meses em uma pesquisa em quarenta países pelo mundo (Currie, 2012).No Brasil, segundo o IBGE, cerca de 30% dos alunos do 9º ano referiam ter sofrido bullying nos trinta dias antes da pesquisa. O resultado foi o mesmo para as escolas públicas e privadas (Malta, 2012).

36 37

Ultimamente,apreocupaçãocomaqualidadeecomaformadeinteração

entreascriançastemsidocadavezmaisalvodediscussão.Nasúltimasdé-

cadas,otermobullyingapareceunasdiscussõesdetodososenvolvidosno

processoeducacional(pais,professores,alunos).Aintroduçãodessecon-

ceitoprovocouumamudançanoscuidadosenaobservaçãoda interação

entreosalunos;deproblemadecriançaparaalgoqueéperigoso,podecau-

sarumimpactoduradouronegativonavidaedeveserevitadoecombatido

aqualquercustopelosadultosenvolvidos.

Professor,vocêsabequandodiferenciarumasituaçãodebullyingdedispu-

tasnormaisdaidadeentreosalunos?Sevocêtemdúvidas,sinta-secomoa

maioriadaspessoasrelacionadasaotema.

Comotodoconceitonovo,muitasquestõesestãoemaberto.Excetoem

situações muito claras, nem sempre é fácil discernir se existe ou não

umarealsituaçãodedesvantagemparaavítima.Acriançapodesentir-

-seemdesvantagemhojeeamanhãseraquelaqueageagressivamente

contraaoutraestandonopapeldaquelaemvantagem.Aliás,aideiade

umalunofrágilsempreemsituaçãodedesvantagemaconteceemuma

minoriadoscasosdehumilhaçãoe intimidação.Namaiorparte,esses

papéissãoflexíveis,amesmacriançaétantovítimaquantoagressora,

dependendodasituação.

Mastalvez,a ideiacentralnãosejadefinirseaconteceounãobullying. In-

dependente de definição, uma grande vantagem da discussão que se ini-

ciouapósacriaçãodotermoéoolharparaaqualidadedasinteraçõesentre

ascrianças,oquantopodeserprejudicial tantoparaavítimaquantopara

oagressor,equeosadultosemtodososambientes(escolarefamiliar,por

exemplo)exercemumpapelfundamentalparaajudarascriançasaaprender

aserelacionar.

Porexemplo,desdeadécadade1990,osestudosquetêmobservadooimpacto

dasrelaçõesdehumilhaçãoeintimidaçãoentreosalunosmostraramque:

• Ascriançasenvolvidascomapráticadebullying(observadores,agres-

sores,vítimasevítimas/agressores)sentem-semaisinsegurasnaesco-

laemaisentristecidas(Glew,2008)

• Agressoresevítimasapresentarammaioresníveisdeinterpretaçãohostil

doambiente,raivaefacilidadeareagiragressivamente(Camodea,2005)

• Aocorrênciadebullyingestáassociadaaaumentodequadrosdepres-

sivos,ansiosos,dificuldadeparacontroledaurinaduranteosono(enu-

rese), dores abdominais, dores de cabeça e alterações no padrão de

sono(Fekkes,2006;Williams,1996;Wolke,2001).

Ouseja,obullyingtemrealmenteumimpactonavidadetodosemerece

umolharcuidadosoporpartedosadultos.

Situações de intimidação e humilhação

Page 20: Como lidar com comportamentos

38 39

Provavelmentesim,namaioriadoscasosemqueháalgumaagressãofísica,

oqueémaiscomumentremeninos.Porém,quandoobullyingacontececom

comportamentosmaissutiscomoagressõesverbaisouexclusãosocial,pro-

vavelmentevocêpercebamenos.Essetipodeagressãomaisveladaemenos

físicaémaiscomumemmeninaseéconsideradatãoimportantequantoà

físicanoimpactonegativo.

Você percebe uma situação

de intimidação e humilhação em sua sala de aula ou em

sua escola?

1. Em relação às crianças envolvidas

• Conversecomogruposobrecomocadaumreagequandoestádiante

deumasituaçãodehumilhaçãoouintimidação.Semdefinirnomesou

situações,procuresensibilizarosalunosdeque,mesmoquenãoagindo

diretamentenasituação,cadaumpodeterresponsabilidadeporincen-

tivar(rindo,olhandosem intervir,dandomaispoderaoagressor)ou

porsimplesmentenãoajudarocolegaemumasituaçãoderisco.

• Envolvaasfamílias,tantoavítimaprecisarádeajudaquantooagressor.

Ambosprecisarãoaprenderasecolocarempapéissociaismaissaudáveis.

• Sensibilize as famílias para a necessidade de avaliação individual por

meiodeencaminhamentoparaprofissionaldaáreadesaúdemental.

2. Em relação à escola como um grupo coeso

• Promovadiscussãocomtodososfuncionáriosdaescolacomasseguin-

tesmetas:

• Sensibilizar quanto a importância e necessidade de controle por

parte dos funcionários. Lembrar que os alunos sabem que serão re-

preendidos se observados, então, quase nunca acontece na frente do

professor, mas com frequência na frente de outros funcionários.

• Aumentar a supervisão dos alunos nos ambientes externos à sala de

aula (os mais frequentes para a ocorrência de agressões).

• Esclarecer os tipos de agressão que devem ser considerados como pre-

ocupantes. Salientar que não são apenas as físicas (brigas, empurrões

etc.), mas também as verbais e de exclusão social ou de submissão.

• Trocar informações entre todos os funcionários. Muitas estratégias

são realizadas de forma individual, propiciar o ambiente para o com-

partilhamento de ideias.

• Organizeencontroscomasfamíliasparasensibilizarsobreoassuntoea

possibilidadequeemcasasejareforçadoamesmamensagemdaescola.

• Converseemsaladeaulasobretemascomocooperação,responsabi-

lidadefrenteasituaçõesdedesproporçãodepoder,incentivoderea-

çõesviolentas.

• Definaclaramenteemaulaasregrassobreaexpectativadecompor-

tamentodoalunoporpartedoprofessor.Nãoadmitiremsua frente

brincadeirasoupiadasquepodemsubjugarooutro.

Algumas dicas práticas

Page 21: Como lidar com comportamentos

40 41

• Imponha consequência imediata para situações de agressão quando

observadasporumfuncionáriodaescola.Exemplosdereações:

• exigir um pedido de desculpa pelo comportamento inadequado;

• chamar o professor responsável pelo aluno e os pais para relatar o com-

portamento agressivo;

• repor e responsabilizar-se financeiramente por qualquer dano causado;

• outras que a escola considerar apropriada para o seu ambiente.

• Organize reuniões semanais comos alunos para avaliar emgrupo as

mudançasderelacionamentosentreeles.Algumasescolasoptampor

criarindicaçõesvisuaisdequeaescoladiminuiuaincidênciadeagres-

sões(comoquadrosimitandoaquelesdeconstruçãocivildetantosdias

semacidentes).

• Organizereuniõescomalgumafrequênciaparaenvolvimentodasfamí-

liasnapolíticadediminuircomportamentosagressivosnaescola.

Abusosexualaconteceeprovavelmentejáaconteceunasuaescola.Apesar

deserumarealidadeincômodaparatodos,precisaservista.

Abuso sexual é todoatoou jogo sexual, relaçãoheterossexualouhomos-

sexualcujoagressorestáemestágiodedesenvolvimentopsicossexualmais

adiantadoqueacriançaouadolescente.Temporintençãoestimulá-lasexu-

almenteouutilizá-laparaobtersatisfaçãosexual.

Sãopráticaseróticasousexuaisimpostasàcriançaeaoadolescentepelavio-

lênciafísica,ameaçasouinduçãodesuavontade.Nãoprecisaterocontato

sexual direto, pois voyeurismo, exibicionismo, produção de fotos também

sãopráticasabusivas.

Amaiorpartedaviolênciasexual,contracriançaseadolescentes,épratica-

daporpessoasdoconvíviofamiliar,fazendodaescolaumlugaridealpara

detecçãoeintervençãonessescasos.Porém,osdadosindicamquemenos

de1%dasdenúnciasdeabusofoioriginadaporsuspeitasdaescola.

Abuso sexual e escola

Qual a definição de abuso sexual?

Quem pratica o abuso?

Como você viu, nenhuma dessas alterações de com-portamento é específica (exceto as muito relacionadas a comportamentos sexualizados) para a suspeita de um abuso sexual. Mas elas indicam uma criança em sofrimento ou em risco. Ao perceber uma criança com alterações comportamentais, nós, adultos, precisamos ter em mente que provavelmente algum problema potencialmente grave pode estar ocorrendo. Identificar as crianças em risco e criar uma observação sistemática pode ser a chave para o reconhecimento e a intervenção. A observação cuidadosa também é a palavra-chave para não valorizar excessivamente fatos isolados.

Page 22: Como lidar com comportamentos

Se você suspeitar de uma situação de abuso sexual, você sabe quais são as suas responsabilidades legais?Primeiro, ter claro que não é seu papel investigar se esse abuso acontece de fato, isso deve ser realizado pelas autoridades legais.Segundo, a lei prevê que, no caso de suspeita, o Conselho Tutelar seja notificado obrigatoriamente. Terceiro, a notificação pode ser feita por telefone, pelo preenchimento de ficha padronizada, por visita ao órgão competente ou por solicitação de visita do órgão à escola. Pode ser anônima.

Para saber mais sobre o assunto:www.mpdft.mp.br/portal/pdf/unidades/promotorias/pdij/Publicacoes/Guia_Escolar.pdf

42 43

1. População de maior risco

• Ascriançaspequenassãoasprincipaisvítimas,cercade80%doscasos

ocorreramantesdos12anos.

• Ocorrecommaiorfrequênciaentreasmeninas,masexistesubnotifica-

çãodoscasoscommeninos.

2. Crianças vítimas de abuso sexual podem expressar seu sofrimento por meio de modificação no comportamento. Fique atento se começar a notar

• Sinaisfísicosdesofrimentoemocionalcomodoresdecabeça,doresde

barriga,vômitosououtrasqueixasinespecíficasdeformafrequente.

• Sinaisfísicoscomoalteraçõesnasregiõesgenitais(dor,coceira,dificul-

dadeparaurinarouevacuar),sanguenaurinaounasfezes,dificuldade

decontroledeurinaoufezes,gravidezprecoce.

• Mudança importante do padrão de comportamento, regressão a

comportamentosmais infantilizados,medo de ficar sozinha, ansie-

dade generalizada, vergonha de expor o corpo, tendência a querer

sempreagradar.

• Interesseporquestões sexuais nãopertinentes à idade (precoce)ou

insistêncianotema.Comportamentosexualizado.Masturbaçãoexces-

siva.Desenhoscommuitascaracterísticasdosórgãossexuais(nãoes-

peradasparaaidade).Brincadeirascomconteúdosexualizado.

• Problemas familiares, fuga de casa, resistência para retornar à casa

apósaaula,práticadedelitos,dificuldadecomfigurasdeautoridade.

• Recusaoudificuldadecomhábitosdehigieneíntima.

• Faltasfrequentes,poucaparticipaçãodasatividadesescolares,nãoen-

gajamentodospais.

• Tendênciaaoisolamentosocial,dificuldadeparacriarvínculosdecon-

fiança,evitacontatofísico.

• Asfamíliasincestuosastendemaserelacionarpoucocomoutraspes-

soas.Emgeral,sãopaisautoritáriosemãessubmissas.

• Éfrequenteoautordaagressãotersofridoabusonainfância.

Como reconhecer uma situação

de abuso sexual? Quais são as pistas?

• Reconhecimentodascriançasqueestãocomcomportamentoderisco

eobservaçãopróxima.Casovocêtenhaindíciosconsistentesquetra-

gamasuspeitadeabuso,notifiqueoConselhoTutelar.

• Orientarascriançasquetipodeatitudeporpartedeumadultodeveria

serconsiderada inadequada.Geralmente,ascriançasnãotêmdiscer-

nimentodoqueestáocorrendoepodemserinduzidasaacreditarque

oabusonãoéumerro(principalmenteporqueécometidoporalguém

dasua família,comquem,geralmente,acriançatemalgumarelação

deconfiança).

• Aoorientarascriançassobreoqueéabuso,deixarclaroefácilumca-

naldecomunicaçãonaescolaparaqueelapossaprocurar.

• Garantaqueoagressorsejadenunciadoeinvestigado,paraqueelenão

voltearepetiraviolência;paraqueoutrascriançasnãosejamvítimas.

• Sensibilizeafamíliaparaanecessidadedeencaminharacriançaquefoi

abusadasexualmenteaoapoioapropriado.

Medidas que podem prevenir ou interromper um caso de abuso sexual

Como agir em caso de suspeita de abuso sexual?

Page 23: Como lidar com comportamentos

44 45

Ansiedadepodeserentendidacomoumestadoemocionaldesconfortávelin-

dicativode intensasensaçãodeapreensãoquevemacompanhadodemuita

tensão,irritaçãoeangústia,comosealgoruimfosseacontecer.Énormalnos

sentirmos ansiososdiantede situaçõesquenos sãonovasoudiantedeum

problemaquetemospararesolver.Asreaçõesdeansiedadetambémsãobem

comunsnaidadeescolar.Sãomuitasasexpectativasqueenvolvemumestu-

dante:serumbomaluno;cumprircomsuasobrigações;aprender;obterbom

desempenhoescolar;serbemavaliadopeloprofessor.Areaçãodeansiedade

maisconhecidaemsaladeaulaéaquelaqueaparecenahoradaprova.Em

situaçõesdeavaliação,ébemcomumumacriançater“dordebarriga”,“ficar

enjoada”,“suarnasmãos”,terfebre.Poisé,aansiedadecostumaviracompa-

nhadadereaçõesfisiológicas.

Aansiedadepodevariarentreumcomportamentolevequegeradesconforto

pontual,mas,dependendodecadaum,podetomarproporçõesmaiores(veja

quadroanexo).Algumaspessoaspodementraremumestadodeansiedade

tão intensaquesentemmedo!Sim,medoéumareaçãodeansiedade.Você

járeparouquequandosentimosmedoécomosealgoderuimfosseaconte-

cer?Comosefossemoscadavezmenoscapazesdeevitaresseacontecimento

quenosaflige.Afobiaéoutraformaaindamaisintensadeansiedade,maiorque

omedo.Afobiasemanifestadeformaincompatíveloudesproporcionalcomas

possibilidadesdeperigoreal.Aindatemosopânicocomomaisumaformade

comportamentoansiosoegravequeocorrecomoumacrisedeansiedadeinten-

saedeformarepentina.Emcrisesdepânicoacriançasentequeestáperdendo

ocontroledasituaçãoeficasemreferências.

Nasituaçãoescolar,oprofessorpoderásedepararcomdiversassituações

deansiedadeeháumasériedepossibilidadesdeeleauxiliarseualuno,como

iremosveraseguir.

Ansiedade

Identificando um aluno ansioso

• Oalunoparecerátenso.Quandooalunoestáansiosoficaabsorvidopor

suassensaçõesfísicasedesconcentradodaatividadeporestarapreensivo.

• Oalunopoderáparecerdistraído,muitasvezes,porestar tentando

secontrolar.

• Poderánãoprestaratençãoàfaladoprofessoreperderáorientações,

muitasvezes,fundamentais.

• Areaçãodeansiedadegeralmenteécircunstancial,podendoaparecerna

apresentaçãodeumtrabalhooralounaefetuaçãodeumaprova.

• Écomumseudesempenhodecairquandoeleestáansiosoeseurendi-

mentoficaraquémdoesperado.

• Oalunoansiosoestá inseguroemuitopreocupadocomseudesempe-

nho.Há,portanto,umexcessodepreocupaçãocomsuaperfomance.

1. Estreite a relação com seu aluno

• Tenhaocuidadodereconheceroalunoemsuascapacidades.

• Valorize quando ele demonstra dedicação, iniciativa e interesse em

aprender,mesmoquesejamínimo.

• Elogiesemprequesededicar,mesmoquesejaporalgosimples.

• Falecomcalmaeternura.

• Encoraje-oaparticipareexecutartarefasdamaneiraquepuder.

• Procureconversaremparticular(semexpô-loaosdemaisalunos)edizer

quequandosesentiransiosopodecontarcomvocê,professor.Digaque

vocêsabecomoédifícilestaransioso,queissoénormalequetodosse

sentemdessemodoemalgummomentodavida.

• Secoloqueadisposiçãodoalunoparaconversarquandoeleacharqueé

importante.

Algumas dicas práticas

Page 24: Como lidar com comportamentos

46 47

2. Auxilie na concentração

• Certifique-sedequealunocompreendeuasinstruçõesantesderealizar

atarefaqueodeixaansioso.

• Aproxime-sealgumasvezesesecoloquedisponívelparatirardúvidase

daresclarecimentos.

• Deixeque vá tomar uma água e relaxe umpouco antes de retomar a

tarefaquegeratensão.

• Permitaquefaçapausasparadescansar.

• Organizeprovasetarefasdemaneiraconcisaedesmembradaparafaci-

litaroníveldeatenção.

• Nãoodeixedistantedesuamesa,paraqueelesesintacuidado.

3. Ajude-o a se planejar

• Oalunodevesesentircapaz.Éimportantequeoalunoganheconfiança

dequeécapazdeseorganizarecumprirsuastarefasedequeoprofes-

sorouumauxiliardeclassepodemacompanhá-lo,comalgumafrequên-

ciaaolongodasemana,colaborandonasformasdeseorganizar.

• Sensibilizeoalunoapedirereceberajuda.Ensinequeaorganizaçãonos

ajudaaficarmosmaistranquilos(econsequentementediminuiaansie-

dade),contudo,comoéumatarefadifícil(seorganizar)oadultoestáaí

paraauxiliá-lo.

• Sãocrianças.Crianças(atéporvoltados12anos,àsvezesmaisoume-

nos)precisamdeajudaparaseprogramar.Porisso,éimportantequeo

professorpossadarorientaçõeseprazosparaqueelasestudemosufi-

cienteantesdodiadaprova.

• Plantãodedúvidaseorientações.Oprofessorouseuauxiliarpodemter

umahoradoexpedienteescolardisponívelparaacompanhar,supervisio-

naredardicasparaoalunoencaminhartarefasdecasa.

• Envolvaafamília.Oapoiodospaisemcasaparaajudarnaorganização

enoganhodeconfiançaéfundamental.Muitasvezes,osprópriospais

nãotiveramoportunidadedeestudarepodemficarperdidosemcomo

ajudarosfilhos;entãoofereçadicaseosestimuleaapoiarosfilhoseva-

lorizaroatodeestudar.

Ao longo do desenvolvimento, as crianças sentem a necessidade de ter uma rotina bem estruturada e necessitam se sentir no controle. Nessa fase, é comum apresentarem rituais e manias. Você já deve ter visto crianças que ordenam seus objetos, guardam pertences em caixinhas, apegam-se a coisas mínimas como papeizinhos ou embalagens. No decorrer da vida, também algumas crianças mais velhas e adolescentes podem ter alguns pensamentos supersticiosos, mas em geral de forma pontual ou que não trazem prejuízo a sua vida. Já a presença de pensamentos repetitivos, com conteúdo que os incomode, que os deixe aflitos e atrapalhe o fluxo do raciocínio, do pensamento e da concentração, deve ser avaliada com mais atenção por especialistas.

Page 25: Como lidar com comportamentos

48 49

Compartilhe com pais e professores

Já ouviu falar em ansiedade de separação? Existe um tipo de manifestação de ansiedade que ocorre na infância que se caracteriza pela dificuldade em se separar do adulto de maior ligação com a criança (dos pais). A criança que experiencia a ansiedade de separação não consegue se separar do adulto e teme que algo de ruim possa acontecer com ele. Essa é uma das causas de evitação escolar nas crianças mais novas.

Evite o aluno sob pressão de tempo

Promova interação com colegas

• Seja flexível se, aoestaransioso,oalunoprecisardemaior tempopara

realizarumaprovaouumaatividade.

• Expliquequeotempoénecessárioparaseucontroleeparasemantera

rotinadaturma,mas,seissooatrapalhaemseurendimento,vocêspodem

combinarumamaneiraquesejaboaparaambos.

• Definaparceiros(emdupla,trioougrupo)comosquaisacriançaansiosa

seidentifique.

• Aatividadecooperativaamenizaatensãocaracterísticadodesempenho

individual.

• Asbrincadeirasemgrupoeosjogospodemfuncionarcomoaquecimen-

toantesdetarefasquedespertemtensão(provas,apresentaçõesetc.)

• Oalunoansiosoeumcolegamaisíntimopodemserconvidadosaauxiliar

oprofessorcompapelada,organizaçãodesala,recadosetc.

• Dividacomospaisdacriançaansiosasuaspreocupaçõesemrelaçãoaela.

• Compartilhe suas impressões com outros professores que também a

acompanham.

• Combinecomoutrosprofessoresdemanterposturadeencorajamentoe

acolhimentoemrelaçãoàcriançaansiosa.

Somatização Muitas crianças e adolescentes, quando não estão bem emocionalmente, manifestam seu mal-estar com dores pelo corpo. As crianças menores, com menos recursos de linguagem para se expressar, manifestam muitas vezes desconforto afetivo por meio de queixas como: dores físicas, estados febris, constipação intestinal, reações alérgicas que não correspondem a problemas médicos orgânicos. É comum crianças se queixarem de dor de barriga e dor de cabeça que não têm justificativa depois do exame de um pediatra. Essa questão pode ocorrer de forma pontual na vida de uma criança ou de forma persistente, o que indica que ela está passando por algum sofrimento.

Page 26: Como lidar com comportamentos

50 51

Algumascriançaseadolescentespodemsecomportardemaneiraretraí-

daemsaladeaula,nãosãoexatamentecriançasapenastímidasoucrian-

çasqueapresentamrestriçãosocialcomooespectroautista(vejaquadro

anexo);porém,sãoaquelasque,poralgumatensãoemocional,isolam-se.

Sãocriançasquese relacionammuitopoucocomcolegasdentroe fora

dasaladeaula,procuramevitarsituaçõessociais(isolam-senahorado

pátio,porexemplo).Contudo,écomum,nasituaçãoescolar,queacriança

retraídanãosejapercebidacomotendoalgumadificuldade.Muitasvezes,

entreosprofessores,acriançaretraídapodeservalorizadaeconsiderada

comoumbomaluno,quandocomparadacomoalunoirrequietoouagres-

sivoqueinterferenegativamentenarotinadaaulaoudaescola.

Ocomportamentoderetraimentoserácomumemcriançastímidas,muito

ansiosasouemcriançasqueestãosentindotristeza.Agrandepreocupação

estánofatodeacriançanãoserpercebidaedequeocomportamentores-

tringesuaspossibilidadesdeaprendizagemededesenvolvimentosocial.

Retraimento• Prefereestarsozinhoecomomínimodecontatoeinteração.

• Apresentaansiedadeepreocupaçãointensacomaopiniãodooutro.

• Apresentapreocupaçãointensacomoseudesempenho,masficaparali-

sadoparapedirajudaetirardúvidas.

• Nãosemostraenvolvidoouengajadoemumaatividade.

• Sesentemuitodesconfortávelnapresençadeoutraspessoas.

• Édepoucosamigos.

• Sente-seincapazderelaxar:algumascriançassentem-setensasotempo

todoetêmmuitadificuldadeemparardesepreocuparcomosfatosdo

cotidiano.

• Faztarefasebrincasozinho.

• Permanecesozinhoedistantenahoradopátio.

• Nãofalaespontaneamente,falabaixo,usamonossílabopararesponder

perguntas.

• Evitaproximidadecompessoasnovas.

• Evitacontatovisual.

• Temdificuldadededecidireescolher,mostrando-sedependente.

• Sobpressão,sente-semuitoacuado,podeterreaçõesfisiológicascomo

dordebarriga,dordecabeça,vontadedevomitar.

• Nãotirasuasdúvidas.

• Senta-sedistantedoscolegas.

• Esperapassarpeloperíododaaulasemsernotadopeloprofessor.

• Segueregrasfacilmente.

• Dificilmenteseenvolveembrigasoudiscussões

Comportamentos comuns em um aluno retraído

A timidez varia de um desconforto controlável em situações sociais e, em casos extremos, pode chegar a um medo irracional que traz prejuízo para a sociabilidade do indivíduo; apesar do desejo de ter amigos e se entrosar em grupos.

Aliás, você sabe o que é personalidade? Personalidade corresponde a traços e características estáveis e dinâmicas pertinentes a um indivíduo em sua relação com o meio, incluindo fatores físicos, biológicos, psíquicos e socioculturais, tendências inatas e experiência ao longo da vida.

Page 27: Como lidar com comportamentos

52 53

Algumas dicas práticas

1. Sentar perto da mesa do professor

• Aoestarpertodoprofessoroalunopodesesentiracolhidoepercebido.

• Poderásesentirforadofocodoscolegas.

• Apresençapróximadoprofessorauxiliaoalunoamanteroníveldecon-

centraçãonatarefademodomaiseficiente.

• Aproximidadeabreocanaldecomunicaçãoepropiciamelhoranovíncu-

locomoprofessor.Sejaempático.

2. Estreite seu vínculo com o aluno

• Tenteentenderporqueelesesenteretraídoouporqueseisola.

• Procureconversarcomseualunoemparticular,semqueelesesintaexposto.

• Digaquevocê,comoprofessor,estádisponívelparaauxiliá-lonoquefor

precisoparaelesesentiràvontadenasalaepoderacompanharoanda-

mentodaaula.

• Perguntesepodeauxiliá-loemalgumapreocupaçãoquetenha.

• Digaquepodetentarajudá-loacompreenderalgumasensaçãoruimque

elepossasentiremsaladeaulaounaescola,equeelepodesesentir

melhordividindoseuproblemacomalguémemqueconfie.

• Aproxime-se da família. Procureos adultos que são responsáveis pelo

alunoedividasuasimpressões,semjulgamentos,apenasparaauxiliar.

• Nãocomentesobreeleemsuapresença,nemparaseuscolegasoupes-

soasquepossamexporseuscomentáriosaele,mesmoquesejampreo-

cupaçõesgenuínasebemintencionadas.Falesemprecomeleeparaele.

• Eviteexpressargrandesexpectativasquantoaeleparaquenãosesinta

maispressionado.Éimportantequeoalunoseaproximedoprofessor,e

nãoseafaste.

3. Mantenha-se interessado pelo aluno

• Valorizeseudesempenho.Elogieoaluno.

• Peçaoauxíliodeleparaelaboraralgumaatividade,sempreatentopara

nãodeixá-loexposto.

• Indiquecomoéimportantequeeleseaproximedeumoudoiscolegas

comquemsintaafinidade.Propicieatividadesemminigruposdefinidos

porvocê.

• Descubraseusinteressesetalentoseexplore.Crieprojetosnosquaisele

possaseenvolver.

• Proponhatarefasbrevesenãomuitocomplexasparaqueeleperceba

seurendimentoesefortaleça.Aospoucos,vocêpodeaumentaradifi-

culdadedasatividadesconformeeleresponderereagirpositivamente.

4. Busque colegas que sejam parceiros

• Identifiquebonscolegas!Muitasvezes,atrocaefetivacomoutracriança

queoprocure comopropósitode fazer umaatividadepropostapelo

professorauxiliamuitonaaproximaçãodessealunoaogrupo.

• Evite nomear “colegas-modelo” de maneira comparativa. Frequente-

mente,oadultonomeiaoutracriançacomoumexemploaserseguido,

tornandooconvíviosocialcomessacriançaopressor.

Page 28: Como lidar com comportamentos

54 55

• Nãoesperequeoalunoretraídopasseatermuitosamigos.Sempreaos

poucos,seelefizerumoudoisseráumagrandeconquista.

• Sea interaçãocomcolegas formuitosofrida,não insistaenão force

situações.

• Dinâmicasdegrupopodemserbem-vindas.Proponhajogosoubrinca-

deirasqueforempertinentesparaaaulaeparaogrupocomoumtodo,

equepossibilitemainteraçãosocial,comorodasdeconversas,encena-

çõesdesituaçõescotidianas,aprendizadodeboasmaneirasdeconvívio

social.Semprecuidandopararespeitaroalunoretraídonoqueelepode

contribuir,mesmoqueprestandoatençãoesemostrando interessado

nogrupo,issojáseriaumgrandeganho!

5. Troque suas impressões com outros professores

• Dividasuaspreocupaçõescomsuaequipeescolar.

• Pensememformasdecompreendermelhoroproblemaevejamoque

estáaoalcancedaescola.

• Combinecomoutrosprofessoresdemanterposturadeencorajamentoe

acolhimentoemrelaçãoàcriançaretraída.

• Reconheçamquandoénecessáriopedir ajudade especialistas sempre

quesuaspossibilidadesdeintervençãonãoforemsuficientes.

6. Aproxime-se da família

• Procureospaiseresponsáveisparacontarsuasimpressões.

• Ouçaasnoticiasqueeleslhetrazemsobreessacriançaemcasa.

• Procureentenderadimensãodadificuldadeeidentificarsesãonecessá-

riasintervençõesmaisespecializadas.

• Nassituaçõesemquenãosejaidentificadagravidadequeprecisedeau-

xílioespecializado,alémdoapoiodaescolaedafamília,estimuleospais

avalorizarofilhoeauxiliá-loasuperardificuldades.

• Encontrecomospaisumamaneiradesecomunicaremesemanterem

atualizados comprogressosoudificuldadesqueestejampassandoem

casaenaescola.

Outracaracterísticacomqueoprofessorpodeserdepararemsaladeaula

diz respeito à presença de crianças que apresentam falta demotivação,

desânimo,cansaçoouestafa.Essessãopadrõesquetambémpodemestar

relacionadosàtristezaouaalgumconflitoemocionalqueoalunoestejavi-

vendo.Muitasvezes,amanifestaçãodedesânimopodeestardiretamente

associada a umproblemade saúde física: processo inicial de algumado-

ença,anemia,entreoutrascondiçõesdesaúde.Porém,jásabemosqueas

criançastambémmanifestamdificuldadeseproblemascomoosadultos,e

quealgumasvezesessescomportamentospodemsertemporários,pontu-

ais,eseforempersistentesmerecemaindamaisatenção.Umacriançasem

vontadederealizaratividades,quenãodemonstrainteressepelastarefas,

queparececansadaousonolentacomfrequênciademonstraquealgonão

está bem em sua rotina ou em seu bem-estar físico emental. Essas ca-

racterísticaspodemserformasdereaçãoemocionaldiantedeproblemas

pessoaiscorriqueirosoumaiscomplexos

Desânimo e desmotivação

Page 29: Como lidar com comportamentos

56 57

Tristeza pode ser um sentimento ou um estado de ânimo. É comum a todos nós e pode variar em sua intensidade e duração. Uma criança ou adolescente podem sentir tristeza de forma transitória, contudo, se esse sentimento persiste e se intensifica, pode trazer prejuízos à criança. Nessas situações, é importante que a criança seja observada de perto para se checar a necessidade do auxílio de especialistas.

Algumas dicas práticas

1. Na sala de aula

• Coloqueoalunosentadoemsuafrenteouomaispertopossíveldesua

mesa.Dessemodo,vocêpodeauxiliá-loparaquemantenhaofocona

atividade.

• Permitaqueelesaiaumpoucodasalaparadarumacaminhadanopátio,

maslogoretornar,seessamovimentaçãoauxiliarquedesperteesecon-

centreumpoucomelhor.Nessecaso,vocêpodemantê-losentadoperto

daportaparaquepossa sair (comsuapermissão)e semchamarmuita

atençãodosdemaisalunos.

• Definacomeleosobjetivosqueeletememaulaacadadia.

• Dêretornofrequentesobreoprogressodoaluno.

• Ajude-oacriarestratégiaspararesolverouencaminhartarefas.

• Ajude-onaorganizaçãoenoplanejamentodoseudia.

• Promovaoportunidadesparainteraçõespositivascomseuspares,como

trabalharemumgrupopequeno.

• Modifiqueatividadesdeclasseeliçãodecasacomintuitodeacomodaros

níveisdehumoreenergiaqueoalunoapresenta(porexemplo,darmais

tempo,dartarefasmaiscurtas).

• Forneçacópiasdeanotaçõesrealizadasemclasseefolhasdeorienta-

çãodeestudoantesdeprovasparaajudaroalunoasefocareterum

guiadeestudo.

• Dividaprojetosgrandesempartesmenoreseemtarefaspossíveisdeser

realizadaspelacriança.Ajudeaplanejaradistribuiçãodotempo.

• Selecioneumatarefadecadavezparaelerealizar.

• Escrevainstruçõesdeformacompletanalousa.

• Seessemesmoalunoestivercomproblemasdesonodemanhã(pores-

tarusandoalgumamedicaçãoouporestarcominsônia),permitaqueele

cheguemaistardeàescola,reduzindooperíododetempodacriançana

escolaoucolocandoosassuntosmaiscomplexosemmomentosemquea

criançaestejamaisalerta.

• Modifiqueoestilodesuasprovas.Penseemummodelodeprovano

qualeleseconcentre.Porexemplo,provasdemúltiplaescolhacostu-

mamauxiliarnamanutençãodaatençãoenoauxílioàevocaçãodas

informaçõesnamemória.

• Oalunotemdificuldadeparaseengajaresededicaràsatividades.

• O aluno pode mostrar-se retraído ou isolar-se (como aprendemos no

itemanterior).

• Oalunodesanimadopodetambémestarmal-humorado.

• Há prejuízo na concentração e, consequentemente, na capacidade de

memorizarnovasinformações.

• Orendimentoescolardecaidiantedacondiçãodedesânimo.

• Oalunodesmotivadoapresentapensamentospessimistas.

• Écomumaperdadeinteresseporatividadesqueanteslheagradavame

entusiasmavam.

• Podesemostrarirritadiço.

• Acriançapodeparecersonolentaedesvitalizada.

• Podehaverdiminuiçãodoapetite.

• Mantenha contato constante com os pais (agenda, telefone, pessoal-

mente)parairemdividindoasdificuldadeseosavanços.

• Sesuspeitardequeacriançaprecisadeumaavaliaçãodeumespecia-

lista,peçaaospaisquealevemaopediatra.

Aspectos que geralmente

acompanham a criança que se

mostra desanimada e desmotivada

Page 30: Como lidar com comportamentos

58 59

A possibilidade de suicídio é outra realidade incômoda cujas peculiari-

dadespodemsemostrarnoambienteescolar.Umjovemqueapresenta

comportamentoautoagressivodecarátersuicidaestáemprofundosofri-

mentoeprecisaserpercebidopelaspessoasqueestãoaoseuredor.Além

dospaiseresponsáveis,oprofessortambéméumadaspessoasqueestá

emcontatodiretamentecomoaluno,temapossibilidadedeobservaral-

teraçõesdecomportamentoedelevantarsuspeitacasoumalunoesteja

emriscodeautoagressão.

Comportamento autodestrutivo e suicídio

O suicídio ocorre mais frequentemente em jovens com algum transtorno mental, baixa autoestima, problemas de relacionamento com os pais ou com os colegas, problemas com parceiro, exposição prévia a comportamento suicida (isto quer dizer ter apresentado comportamento suicida anteriormente ou ter pessoas próximas com esse tipo de comportamento) e também por apresentar dificuldades acadêmicas (Madge; Hawton et al., 2011).

• Aumenteotempodeduraçãodasprovasparaqueelepossaterminá-la.

• Permitaqueelefaçaumapausaduranteaprova,seissopuderauxiliá-lo.

• Marqueasprovasparaoperíodododiaemqueoalunoestejamaisalerta.

• É importantequeoalunopossasentirqueconsegueaprender,por isso

essesesforçossãofundamentais.

2. Divida suas impressões com a família da criança

• Agendeumhoráriocomospaisouosresponsáveispeloaluno.

• Investiguecomoessealunotemestadoemcasa:afazeres,interesses.

• Pergunte se essa criança tembrincado. Se os hábitos de brincadeira

mudaram.

• Dêexemplosparaospaisdesuasimpressõesparaqueelessefamiliari-

zemcomoquevocêestáfalandoeatéreconheçamsituaçõesparecidas

emcasaquepodemestarpassandodespercebidas.

• Perguntasobreoritmodosonoealimentaçãonosúltimostempos.

• Seodesânimonãoestevesemprepresenteemtodoperíododesdeque

essealunoestánasuaescola,rememorecomafamíliasituaçõesemque

eleestevemotivadoparareconheceremamudançadeatitudeatual.

• Sensibilizeospaisqueoauxilieparaseconcentrarnaliçãodecasa.Diga

que a criançapode fazer interrupçõesde algunsminutos ao longoda

realizaçãodaliçãodecasaparadescansarumpoucoemanteratenção.

• Compartilhecomospaisacondutaquevocêestátendoemaulapara

queoalunotenteseengajar.

Você sabia que a capacidade de memorização está diretamente relacionada ao nível de atenção e concentração.

• Suicídioédefinidocomooatoemqueumindivíduofazumaautoa-

gressãocomintençãodeterminarcomasuavidaequeculminacom

asuamorte.

• Tentativadesuicídioéoatodeautoagressãoquenãolevouàmorte,

mascujaintençãoeraterminarcomaprópriavida.

• Ideação suicida édefinidaporpensamentos relacionados à vontade

demorrer.

Alguns conceitos

Page 31: Como lidar com comportamentos

60 61

Taxas de suicídio no Brasil

O aluno com risco de suicídio e a escola

Fatores de risco para suicídio

Sinais de risco imediato para suicídio

• Planejamentosuicidacorrespondeaospensamentoscomestratégias

pararealizaroatosuicidaeatéacompradeinstrumentosparaarea-

lizaçãodoato.

ConsideramostrazeressetematãocomplexonesteMóduloumavezque

osuicídioéumadasprincipaiscausasdemorteemjovensnomundo.

OBrasilestáentreosdezpaísesnomundoqueregistramosmaioresnú-

merosabsolutosdesuicídiosegundodadosde2000daOrganizaçãoMun-

dialdeSaúde(Botegaetal.,2005;WHO,2003-neury).

Estudosindicaramqueastaxasdesuicídio,emnossopaís,de1980a2000

foramdetrêsaquatrocasosporcemmilhabitantes(Mello-Santosetal.,

2005).Entre2005e2007,essataxafoide5,1casosporcemmilhabitan-

tes,tendoaregiãoSuldopaíscoeficientede9,9eaSudestede7,4(Bote-

gaetal.,2009;Lovisietal.,2009).

Osuicídioentrejovenstambémtemcrescido.Dados(Souzaetal.,2002;

Waiselfisz,2012)revelamquetemhavidoaumentode35,3%nataxade

mortalidadeporsuicídioentrejovensde15a24anos.

Aescolaeoprofessor,aoacolheremoalunocomriscodeautoagressão,pos-

sibilitamqueelesesintapertencenteàcomunidadeescolarcomoumapes-

soaqueéqueridaenãoapenascomoaluno.Asensaçãodepertencimentoe

deapoioéumfatorimportanteparaobomdesempenhoacadêmicoeparaa

presençadecomportamentossaudáveis.

Deformaprática,oprofessorpodeconseguiridentificarosalunosquepos-

samestaremriscodesuicídio,intervirparaajudá-los,estarpreparadoain-

tervirdiantedeumamorteporsuicídioeconsiderarseenvolveremprogra-

masdeprevençãoaosuicídionaescola.

Porisso,ébemimportanteestaratentoaosproblemasqueseusalunospos-

samestarenfrentandoeconhecerosfatoresqueaumentamoriscodeum

jovemcometersuicídio.

• Ojovemjáterapresentadotentativasanterioresdesuicídio.

• Usardrogas.

• Apresentaalgumproblemaemocionalgrave,comodepressão.

• Teracessoaobjetosquepossamcausadanofísico,produtosquími-

cos,medicamentos,veneno.

• Terperdidorecentementeumfamiliarouamigoporsuicídio.

• Tersofridoamorterecenteouseparaçãodeummembrodafamília.

• Apresentarcomportamentosautolesivos,comosecortarintencionalmente.

• Apresentarproblemasnaescola:acadêmicosoudisciplinares.

• Ter problemas de relacionamento ou rompimento recente de um

relacionamento.

• Sofrerbullyingououtrasformasdeviolência.

• Sofrerdiscriminaçãopororientaçãosexual.

• Apresentarproblemasfamiliares.

• Sofreralgumtipodeabuso.

• Terproblemascomalei.

• Terdiagnósticodealgumadoençagrave.

• Alunoestáfalandosobrevontadedemorreroudesesuicidar.

• Alunoestáembuscadeummododeterminarcomaprópriavida,por

exemplo,realizandopesquisasnainternetoutentandoobterumaarma.

• Alunoestá falando sobre sentimentosdedesesperançaoudenão ter

razãoparaviver.

Page 32: Como lidar com comportamentos

62 63

• Falarsobreserumpesoparaosoutros.

• Aumentodousodeálcoolououtrasdrogas.

• Agirdeformamaisansiosaouagitada.

• Dormirmuitopoucoouemexcesso.

• Ficarretraídoouseisolar.

• Mostraraivaexcessivaoufalarsobrevingança.

• Apresentarmudançasextremasdehumor.

• Alertarafamíliaeseorganizaremparasupervisionarconstantementeoaluno.

• Orientarafamíliaanuncadeixá-losozinho.

• Solicitarqueprocuremumpsiquiatracomurgênciaouqueconversem

comprofissional de saúdemental que o acompanhe, caso esteja em

tratamento.

• Seoprofessorsesentiràvontade,poderáauxiliarafamílianaconsulta

comoprofissionaldesaúdementalparafacilitaracomunicaçãoentrea

famíliaeoespecialista.

• Fornecerinformaçõesparaoprofissionaldesaúdementalparaajudarno

processodeavaliação.

• Conversarcomafamíliaedividirsuasimpressões.

• Conversarcomoprofissionaldesaúdementalqueacompanhaoaluno

(casoeletenha)paraserorientado.

• Solicitarqueafamíliaprocureumprofissionaldesaúdementalcasonão

tenham.Auxiliarcomencaminhamentos.

• Mobilizardemaisprofissionaisdaequipeescolarparamonitoraremoalu-

noepensaremjuntoscomoajudaresseestudante.

• Aproximar-sedoalunocomdelicadezaecarinho.Conversarsobrecomo

eleestá.Sepodeajudá-loemalgo.Mostrar-sedisponívelereceptivo.

• Ouvirsemfazerjulgamentos.

• Aoconversarcomoaluno,oprofessorpodefalarsobreasmudançasque

temnotadonocomportamentodeleequeestápreocupado.Seoaluno

estiverabertoparaconversarcomalguém.

Comportamentos indicativos de

risco grave

Algumas dicas práticas

Um fator que aumenta o risco de suicídio em jovens é justamente a ocorrência de um suicídio. É o chamado contágio ou suicídio por imitação. Sabe-se que os jovens em maior risco para contágio são os que presenciaram o suicídio ou tinham uma ligação com pessoa que se suicidou, desde que tenham predisposição ou estejam muito vulneráveis. Estudos indicam fatores relacionados ao contágio.

1. Proximidade geográfica: se o suicídio ocorreu em um local próximo ou que seja de referência (bairro, cidade, pais) do jovem, a cobertura extensiva e repetitiva da imprensa expõe a comunidade aos efeitos associados ao suicídio.

2. Proximidade psicológica: se o suicida for uma pessoa com a qual o jovem se identifica, por exemplo, ter o mesmo tipo de problema que a vitima estava enfrentando.

3. Proximidade social: se refere ao relacionamento que um indivíduo tinha com o jovem que cometeu suicídio, por exemplo, ser membro da família, amigo. Atos suicidas por pessoas próximas podem promover um modelo para comportamentos semelhantes.

• Independentedeo jovemestarsendoassistidoporumprofissionalde

saúdementalounão,oprofessordevecontinuarligadoaoalunoeaten-

toacomoeleestá.Tambéméimportantesemanteremcontatocomo

profissionalouserviçodesaúdementaldereferênciadaescola.

Page 33: Como lidar com comportamentos

64 65

Professor,atéaqui,tentamoscolocardeformaclaraesucintaasprinci-

paisdificuldadescomportamentaiseaspossíveisintervençõesnasalade

aula.Nãofocamosnosdiagnósticos,porquenãoédaresponsabilidadedo

educadorreconhecerosquadrospsiquiátricos,massimosprincipaiscom-

portamentosquepodemsugeriralgumproblemamaior.Esperamosque

asorientaçõesqueapresentamossejamúteisnapráticadiária.

Masoquefazerquandovocêrecebeumrelatóriomédicocoma indica-

çãodealgumapatologia?Comosaberquaisosprincipaiscomportamen-

tospossíveisemcadaquadro?Para tentarajudarumpouco,montamos

atabelaaseguirquefaráacorrelaçãoentreodiagnósticoeasprincipais

possibilidadesdemanifestaçãodecomportamentos.Esperamosqueauxi-

lienocaminhoinverso.

O que fazer quando o professor recebe um relatório com um diagnóstico?

Page 34: Como lidar com comportamentos

66 67

COMPORTAMENTO ESPECTRO AUTISTA PSICOSE TRANSTORNO DE ANSIEDADE

ABUSO SEXUAL Riscobaixo.Recusaeevitacontatofísico.

Riscopresenteporcomporta-mentoimpulsivoepercepçãodistorcidadarealidade.

Riscorelacionadoàdificuldadeemseimporepelanecessidadedeaceitação.

ANSIEDADE Intensaemsituaçõesnovasoudifí-ceis.Manifesta-sepormovimentosrepetitivoseestereotipiasmotoras(giraremtornodoprópriocorpo,balançar,pular).Falarepetitiva.

Presentenavigênciadecriseeporperdadecontatocomarealidade,oquetornaasvivênciasmuitofrágeis.

Intensa.Podehaversituaçõesdefobiaoupânico,poisdependendodograudeansiedadehámuitainsegurançaemedo.

AUTODESTRUTIVO E SUICÍDIO

Nãoestápresente.Podehaverautolesãofísicaassociadaamovi-mentosrepetitivosporansiedade.

Presençaderiscoemsituaçõesdecriseeperdadecontatocomrealidade.

Associaçãopresenteemfunçãodavivênciaatualdevidaedeelevadograudeansiedade.

DESÂNIMO E DESMOTIVAÇÃO

Dificuldadeparaengajar-seesercriativo.Podeaparentardesmoti-vaçãoedesânimo.

Pelodesgasteemocionalintensoqueavivênciapsicóticapropicia.

Altograudeansiedadequegerasensaçãodeparaliziadiantedomedoesensaçãodeimpotência.

FALTA DE ATENÇÃO Perdadeatençãoglobal.Dificulda-deparaater-seaestímulossonorossemrecursovisual.Hiperfocadosemestímulosespecíficos.

Presentepelonívelprecáriodeinteraçãocomoambiente.

Presentepeladificuldadeemnãodeixardefocarnasituaçãogeradoradeansiedade.

HABILIDADES SOCIAIS Dificuldadeparaestabelecerempatiaeparacompreenderlinguagemnãoverbal.

Prejudicadanavigênciadesintomaspsicóticos.

Podemapegar-sedemaisàspessoasqueoferecematençãoesobrecarregá-las.Sereminábeiscomaspessoasporquereremagradaregarantirvínculo.

IMPULSIVIDADE Impulsivosemsituaçõesnovasemquenãosabemcomosecomportarouemqueestãocommedo,enavigênciadeansiedade.Podeparecerqueestãoagressivosquandoagemimpulsivamente.

Intensa.Avivênciapsicóticapropiciareaçõesimpulsivasdiantedepercepçãodistorcida.

Presente.Impulsividadeeansiedadecaminhamjuntas.Aaçãoocorresemplanejamentosendomovidapelodesespero.

INTIMIDAÇÃO E HUMILHAÇÃO

Podemseralvodedebocheporserempoucohabilidosossocialmen-te.Poroutrolado,podemsereferiraalguémdemodoinadequado.

Alvodedebochenavigênciadecriseedesintomascrônicos.

Podemestarenvolvidoscomoagressorevítimapornãoavaliaremadequadamentesituaçõessociaisdiantedemuitaansiedadeenecessidadedeaprovação.

IRRITABILIDADE E AGRESSIVIDADE

Emsituaçõesdemedo,frustraçãooudificuldade,podemagirdemodoirritadoouagressivo.

Diantedemedo,frustraçãooudificuldade,podemagirdemodoirritadoouagressivo.

Altafrequência.Altograudeansiedadegerairritaçãoeaagressividadesurgecomoformadeproteçãoedefesa,porém,éineficaz.

OPOSIÇÃO E DESRESPEITO ÀS REGRAS

Pelafaltadecompreensãodosentidodeumaregrapodemserecusararespeitá-la.Nãoháinteresseemconfrontar.

Pelafaltadepercepçãodosentidodeumaregrapodemrecusarrespeitá-la.

Apenasseestiverassociadaàirritabilidadepormedoouinsegurançaesensaçãodenecessidadedeautodefesa.

RETRAIMENTO Sãoretraídosdemaneiraintensa. Avivênciapsicóticaconduzaretraçãosocial.

Presentenascondiçõesdefobiaepânico.

TRANSTORNO DE APRENDIZAGEM

TRANSTORNO DE DÉFICIT DE ATENÇÃO TRANSTORNO DEPRESSIVO

TRANSTORNO DE OPOSIÇÃO E CONDUTA

Riscorelacionadoànecessidadedeaprovação.

Menorpercepçãoderisco.Impulsivo,tendeemaceitarconvitesousituaçõessociaissedutoras.

Riscorelacionadoàpassivida-deeapatia.

Riscorelacionadoàatraçãopelatransgressão.

Intensadiantedassituaçõesescolaresqueremetemadificuldadeespecificadeaprendizagem.

Poragitaçãoedificuldadeparateremanterbomdesempenhoacadêmico.

Presentediantedasensaçãodeimpotênciaevulnerabili-dadequeassituaçõespodemtrazer.

Presentepelasituaçãodecon-frontoquegeraprejuízossociaiseacadêmicos.

Riscopresenteseograudesofrimentodiantedadificuldadeacadêmicaforinsuportávelesentidocomoinsuperável.

Maiorriscoporimpulsividadeediantedeprejuízosdeadaptaçãosocial.

Altoriscoemfunçãodaprecáriamotivaçãodiantedavida.

Riscoassociadoàposturaoposicionistaextremadiantedosentidodaprópriaexistência.

Presenteseadificuldadeescolarestiveragravadaeassociadaasensaçãodefracasso.

Porsentir-seincapazdeinteragirsocialmenteeacademicamente.

Desvitalizaçãoefaltadeâni-mosãoaspectosdiretamenteassociadosàdepressão.

Associadoàausênciadeengaja-mentoparaparticipardesitua-çõessociaisdemodoadequado.

Apreocupaçãoexcessivacomodesempenhopodeinterferirnapossibilidadedeprestaraten-çãonoqueseriaimportante.

Nãoconseguemanterfoco,excetoemsituaçõesdemuitoestímulo(videogame)oudemuitointeresseafetivo.

Perdadeconcentraçãoporestarcompensamentovolta-doparapreocupações.

Perdadeconcentraçãoporestarfocadoemconfrontareseoporaospadrões.

Socialmentehabilidosos,maspodemmostrar-seinsegurosdemaisnocontextoescolar.

Socialmentehabilidoso,excetoquandosãoimpulsivosecometemgafespornãopercebercontexto.

Evitamconvíviosocial.Vitimam-seesentem-seinjustiçados.

Poucohabilidososparamanter-seemgrupos,maspersuasivosparaatraíremouinfluenciaremoutrascriançasàtransgressão.

Podeestarpresentediantedesentimentoderaivaporfracasso.Etambémpelaurgênciasentidaparaagireacertar.

Agemantesdepensar. Presentepelapoucatolerânciaàfrustração.Pelafaltadeprojeto.

Muitopresente.Aimpulsividadecaminhaaoladodaatitudetransgressoraquenãoseimportacomaconsequência.

Presentepelaexposiçãoquepossaexistiremrelaçãoàdificuldadeescolar.Comovítimaeagressor.

Podemestarenvolvidosnassituaçõescomoagressorevítima.

Podemestarenvolvidoscomovítima.

Envolvidoscomoagressorevítima.

Aosesentiremmenospreza-dos,fracassadoseimpotentes.

Aosesentiremexcluídosporseremimpulsivos.

Muitopresentenavivênciadepressiva.

Muitopresenteemdiversassituações.

Associadaàirritabilidadeporfracasso.Tambémpordificuldadedecompreensão.

Nãoapreendemanecessidade,nãoconseguemseconterpararespeitar.Identificadoscomoquemnuncarespeita.Desestimulados.

Sepresente,podeestarassociadoàsensaçãodeinjustiça.

Característicaprincipal.

Porvergonhaeinsegurança. Pelapresençadevergonhaeinsegurança.

Presentedemodointenso. Retraídosporoposiçãoaparticipardegruposoumantervínculossaudáveis.

Page 35: Como lidar com comportamentos

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Page 37: Como lidar com comportamentos

“Pois minha imaginação não tem estrada. E eu não gosto mesmo da estrada.

Gosto do desvio e do desver.”

Manoel de Barros(1916 -)

Page 38: Como lidar com comportamentos

EstaapostilafoielaboradapelaequipemultidisciplinardoComitêdeEducaçãodoiABCDparaservirdeapoioaocursodeformaçãodeprofessoresdoPrograma Todos Aprendem.Asinformaçõesaquicontidaspodemserrevistasemumvídeoanimadoeemumques-tionáriodemúltiplaescolhaquedeveseracessadoerespondidoonlinenositeiabcd.qmagico.com.br.

Autoras DanielaCeron-Litvoc

ElisaKijnerGutt

PatriciaRibeiroZukauskas

Comitê de Educação AdrianaPizzoNascimentoGabanini

AlfredoRheingantz

CarolinaNikaedo

CarolinaToledoPiza

RoselainePontesdeAlmeida

TaciannyLorenaFreitasdoVale

Coordenação Técnica CarolinaToledoPiza

MonicaAndradeWeinstein

Equipe Administrativa BeatrizGarofalo

IreneNegreiros

KelvinGunjiAraki

MonicaAndradeWeinstein

Supervisão

MonicaAndradeWeinstein

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