Como Mudar o Mundo. Resenha Eric Hobsbawn

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    "Como mudar o mundo"

    Resenha de Hobsbawm, Eric; Como mudar o mundo: Marx e o marxismo 1840-2011 (How to change the world: Marx and

    Marxism 1840-2011), 2011: Little Brown, 470 pp.

    Por Terry Eagleton, do London Review of Books | Traduo:Coletivo VilaVudu

    Em 1976, muita gente no ocidente pensava que o marxismo era ideia a favor da qual se podia facilmente argumentar. Em 1986, a

    maioria das mesmas pessoas j no pensavam como antes. O que aconteceu nesse entretempo? Estaro todos aqueles marxistas

    enterrados sob uma pilha de filhos engatinhantes? Todo o marxismo ter sido desmascarado, com seus vcios expostos por novas

    pesquisas revolucionrias fortes? Ter algum tropeado em manuscrito perdido, no qual Marx confessou que era tudo mentira,

    piadinha?

    Estamos falando, ateno, sobre 1986, poucos anos antes do colapso do bloco sovitico. Como Eric Hobsbawm lembra nessa

    coleo de ensaios, no foi o colapso do bloco sovitico que levou tantos crentes to fiis a mandar para a lixeira os cartazes de

    Guevara. O marxismo j estava em pandarecos desde alguns anos antes de o muro de Berlim vir abaixo. Uma das razes da debacle

    foi que o tradicional agente das revolues marxistas, a classe trabalhadora, havia sido varrida do mundo por mudanas do sistema

    capitalista ? ou, pelo menos, j no era maioria significativa. verdade que o proletariado industrial encolheu muito, mas Marx

    jamais disse que a classe trabalhadora fosse composta s de proletrios da indstria.

    Em Das Kapital, os trabalhadores do comrcio aparecem no mesmo nvel que os trabalhadores da indstria. Marx tambm sabia

    muito bem que o maior, e muito maior, grupo de trabalhadores assalariados de seu tempo no eram os trabalhadores da indstria,

    mas os empregados domsticos, a maioria dos quais eram mulheres. Marx e seus discpulos jamais supuseram que alguma classetrabalhadora pudesse avanar sozinha, sem construir alianas com outros grupos oprimidos. E, embora o proletariado industrial

    devesse ter papel de liderana, nada permite supor que Marx supusesse que tivesse de ser maioria, para desempenhar seu papel.

    Mas, sim, algo aconteceu, sim, entre 1976 e 1986. Acossada por uma crise de lucros, a produo de massa moda antiga deu lugar

    a produo em menor escala, mais verstil, descentralizada e ps-industrial, a uma cultura ?ps-industrial? de consumo, de

    tecnologia da informao e da indstria de servios. A terceirizao e a globalizao viraram a nova ordem do dia. Mas isso no

    implicou mudana essencial no sistema; s levou a gerao de 1968 a trocar Gramsci e Marcuse por Said e Spivak. Ao contrrio, o

    sistema estava ento mais poderoso que nunca, com a riqueza ainda mais concentrada em poucas mos e as desigualdades de classe

    crescendo rpidas. Foi isso, ironicamente, que fez disparar as esquerdas em busca da sada mais prxima.

    As ideias radicais degradadas, oferecidas como mudana radical, pareciam cada vez mais implausveis. A nica figura pblica que

    denunciou o capitalismo nos ltimos 25 anos, diz Hobsbawm, foi o Papa Joo Paulo II. Duas ou trs dcadas depois, os covardes e

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    fracos de corao assistiram glria de um sistema to exultante e impregnvel, que s precisava cuidar de manter abertas as

    caixas de autoatendimento dos bancos em todas as ruas e esquinas.

    Eric Hobsbawm, que nasceu no ano da Revoluo Bolchevique, permanece amplamente comprometido com o campo marxista ?

    fato que se deve destacar, porque fcil ler seu livro sem se aperceber desse compromisso. Isso, pela consistncia do saber do

    autor, no porque salte de galho em galho. O autor conviveu com tantas das turbulncias histricas sobre as quais discorre, que fcil fantasiar que a prpria histria falaria nessas pginas ? efeito da sabedoria enxuta, que tudo v, desapaixonada. Difcil pensar

    em outro crtico do marxismo, assim to competente para refletir sobre as prprias crenas com tanta honestidade e equilbrio.

    Hobsbawm, claro, no tem a oniscincia do Esprito Absoluto hegeliano, apesar do saber cosmopolita e enciclopdico. Como

    muitos historiadores, no muito afiado no campo das ideias e erra ao sugerir que os discpulos de Louis Althusser trataram O

    Capital de Marx como se fosse, basicamente, trabalho de epistemologia. Nem o Esprito de Hegel trataria o feminismo, sequer o

    feminismo marxista, com to glida indiferena, ou dedicaria s rpidas notas laterais a uma das mais frteis correntes do

    marxismo moderno ? o trotskismo. Hobsbawm tambm pensa que Gramsci seja o mais original pensador que o ocidente produziu

    desde 1917. Talvez queira dizer o mais original pensador marxista, mas nem isso est absolutamente claro. Walter Benjamin, com

    certeza, seria candidato mais bem qualificado para esse trono.

    Mas fato que at os mais eruditos estudiosos de marxismo tm muito a aprender nesses ensaios. parte, por exemplo, do fundo

    de comrcio do materialismo histrico que Marx esgrimiu com deciso contra os vrios socialistas utpicos que o cercavam. (Um

    deles acreditava que, no mundo ideal, o mar viraria limonada. Marx, sem dvida, preferiria Riesling.) Hobsbawm, ao contrrio,

    insiste em que Marx teria dvida substancial com esses pensadores, que iam ?dos penetrantemente visionrios, at os psiquicamente

    perturbados?. Fala claramente do carter fragmentrio dos escritos polticos de Marx, e insiste, acertadamente, em que a palavra

    ?ditadura?, na expresso ?ditadura do proletariado?, que Marx usou para descrever a Comuna de Paris, tem significado

    absolutamente diferente do que hoje se conhece. A revoluo deveria ser vista no simplesmente como repentina transferncia do

    poder, mas como preldio de longo, complexo, imprevisvel perodo de transio. Dos ltimos anos da dcada dos 1850 em diante,

    Marx j no considerava nem iminente nem provvel qualquer repentina tomada do poder. Por mais que tenha elogiado

    entusiasticamente a Comuna de Paris, Marx pouco esperava dela. Nem a ideia de revoluo seria simploriamente oposta ideia dereforma, da qual Marx foi defensor persistente.

    Como Hobsbawm poderia ter acrescentado, houve revolues praticamente sem derramamento de sangue, e alguns

    espetacularmente sanguinolentos processos de reforma social.

    No absorvente ensaio sobre A Situao da Classe Trabalhadora na Inglaterra de Engels, o livro apresentado como o primeiro

    estudo de todos os tempos sobre como lidar com toda a classe trabalhadora, no s com especficos setores das indstrias. Na

    opinio de Hobsbawm, a anlise que ali se fez do impacto social do capitalismo ainda no foi superada, em vrios aspectos. O livro

    no pinta seu objeto com cores suaves: a ideia de que todos os trabalhadores fossem famintos ou vivessem em misria absoluta, ou

    que jamais ultrapassariam a linha da sobrevivncia, no tem qualquer fundamento. Tampouco tem fundamento a burguesia que lse v, apresentada como bando de viles de corao de pedra. Como tantas vezes acontece, cada um s v o que j conhece: Engels,

    ele prprio, era filho de uma rico industrial alemo proprietrio de uma fbrica de tecidos em Salford, e usava seus mal-havidos

    lucros para ajudar a alimentar, vestir e dar teto famlia Marx -- essa, sim, sempre beira da misria. Engels gostava de caar

    raposas; heri de dois mundos, do proletariado e dos colonizadores irlandeses, sabia unir teoria e prtica e amou apaixonadamente

    sua amante irlandesa da classe operria.

    Marx antevia como inevitvel a vitria do socialismo? Sim, como se l no Manifesto Comunista, que Hobsbawm no concorda que

    seja documento determinista. Isso, em parte, porque Hobsbawm no discute o tipo de inevitabilidade que estaria em questo. Marx

    escreve s vezes como se as tendncias histricas fossem foras da natureza e operassem como as leis naturais; mas, ainda assim,

    nada explica por que, depois do capitalismo, viria o socialismo, como resultado lgico.

    Se o socialismo historicamente predeterminado, por que tanto empenho na luta poltica? A explicao est em que Marx esperava

    que o capitalismo se tornasse cada vez mais explorador; e que a classe trabalhadora cresceria muito, em poder, em nmeros e em

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    experincia acumulada. Nesse quadro, os homens e mulheres trabalhadores, satisfatoriamente racionais, rapidamente encontrariam

    todos os motivos necessrios para levantar-se contra seus opressores. Mais ou menos como, para os cristos, o livre arbtrio que

    rege as aes humanas parte de um plano preordenado por Deus, assim tambm, para Marx, o acirramento das contradies do

    capitalismo foraria os homens e mulheres a, livremente, decidirem dar cabo dele. A ao humana consciente traria a revoluo. O

    paradoxo est em que a ao livre consciente , em certo sentido, predeterminada como em escrituras.

    A verdade que no se pode falar sobre o que homens e mulheres livres seriam obrigados a fazer em dadas circunstncias, porque,

    se so obrigados a fazer, seja o que for, no so livres. possvel que o capitalismo esteja nas ltimas, beira da runa, mas nada

    assegura que, depois dele, venha algum socialismo. Pode vir algum fascismo, ou a barbrie.

    Hobsbawm nos lembra uma frase curta mas muito significativa do Manifesto Comunista pela qual, universalmente, todos os

    especialistas sempre passam apressados: o capitalismo, escreve Marx sinistramente, pode terminar ?na runa comum das classes

    concorrentes?. No se deve descartar a possibilidade de que o nico socialismo que talvez venhamos a conhecer seja o que nos for

    imposto por circunstncias materiais, depois de uma catstrofe nuclear ou ecolgica.

    Como outros crentes do progresso infinito no sculo 19, Marx no considera a possibilidade de o engenho humano avanar tanto nocampo da tecnologia, que acabe por se autodetonar. A est uma das vrias vias pelas quais se pode demonstrar que o socialismo

    no historicamente inevitvel, como, de fato, nada . Marx no viveu o suficiente para ver como a democracia social consegue

    subornar qualquer paixo revolucionria.

    Poucos trabalhos mereceram tantos elogios das classes mdias, com tanto embaraoso fervor, quanto O Manifesto Comunista. Do

    ponto de vista de Marx, as classes mdias foram, de longe, a fora mais revolucionria na histria humana, e sem seu empenho na

    luta pelos prprios objetivos e a riqueza espiritual que acumularam, o socialismo fracassaria. Esse, desnecessrio dizer, foi dos

    mais agudos e certeiros prognsticos de Marx.

    O socialismo no sculo 20 tornou-se mais necessrio precisamente onde era menos possvel: em regies atrasadas do mundo,

    socialmente devastadas, politicamente obscurantistas, economicamente estagnadas, onde nenhum pensador marxista apareceu antesque Stalin sequer sonhasse em ali deitar razes. Ou, pelo menos, tentar deitar razes com o socorro massivo de naes azeitadas.

    Nessas condies terrveis, o projeto socialista est destinado a converter-se em monstruosa pardia dele mesmo.

    Assim tambm, a ideia de que o marxismo leva inevitavelmente a essas monstruosidades, como Hobsbawm observa, ? to racional

    e justificvel quanto a tese de que o cristianismo levar necessariamente ao absolutismo papal; ou que todo o darwinismo levar

    glorificao do livre mercado?. (Hobsbawm no considera a possibilidade de o darwinismo levar ao absolutismo papal ? que bem

    se aplica, como descrio racional, a Richard Dawkins.)

    Hobsbawm, contudo, lembra tambm que Marx foi, de fato, generoso demais com a burguesia, vcio do qual no muito

    frequentemente acusado. No momento em que surgiu o Manifesto Comunista, os sucessos econmicos eram muito mais modestosdo que Marx imaginava. Numa curiosa arquitetura de tempos, o Manifesto descreveu, no o mundo que o capitalismo havia criado

    em 1848, mas o mundo que haveria depois de transformado, como era seu destino, pelo capitalismo. O que Marx tinha a dizer no

    era exatamente verdade, mas viria a ser verdade, digamos, altura do ano 2000, resultado da transformao operada pelo

    capitalismo.

    At os comentrios sobre a abolio da famlia foram profticos: mais da metade das crianas nos pases ocidentais avanados

    nascem hoje, ou so criadas, por mes solteiras; e metade de todas as moradias nas grandes cidades so ocupadas por um s

    morador.

    O ensaio de Hobsbawm sobre o Manifesto comenta ?a eloquncia obscura, lacnica? e nota que, como retrica poltica ?tem fora

    quase bblica?. ?O novo leitor?, escreve ele, ?dificilmente deixar de ser fascinado pela convico apaixonada, pela brevidadeconcentrada, pela fora intelectual e estilstica desse extraordinrio panfleto.? O Manifesto inaugurou um novo gnero, um tipo de

    declarao poltica do qual se serviram artistas como os Futuristas e os Surrealistas, cuja redao e vocabulrio audaciosos e as

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    hiprboles de escndalo fizeram, dos prprios manifestos, obras de arte.

    O gnero literrio ?manifesto? uma mistura de teoria e retrica, de fato e fico, programtico e performativo, que ainda no foi

    tomado seriamente como objeto de estudo.

    Marx, ele prprio, tambm foi artista. Pouco se fala sobre o quanto era extraordinariamente estudado e culto e o quanto investiu, deaplicado trabalho, no estilo literrio de seus escritos. Ansiava por livrar-se do "lixo econmico? de Das Kapital, para poder

    dedicar-se integralmente ao seu grande livro sobre Balzac.

    O marxismo trata de lazer, no de trabalho. projeto que deve ser apoiado por todos que detestam ter de trabalhar. O marxismo

    afirma que as mais preciosas atividades so feitas "porque sim e deixe-me em paz"[1, e que a arte , nesse sentido, o paradigma da

    autntica atividade humana. O marxismo diz tambm que os recursos materiais que tornariam possvel a sociedade onde seria

    possvel essa vida humana j existem em princpio, mas so geridos de tal modo que a maioria obrigada a trabalhar to duro

    quanto trabalhavam nossos ancestrais no Neoltico. Fizemos, pois, extraordinrios progressos e, ao mesmo tempo, progresso

    nenhum.

    Nos anos 1840, argumenta Hobsbawm, no era de modo algum improvvel concluir que a sociedade estivesse s portas da

    revoluo. Improvvel, isso sim, seria a ideia de que, em meia dzia de dcadas a poltica da Europa capitalista estaria

    transformada pela ascenso de partidos e movimentos das classes trabalhadoras. Pois foi o que aconteceu.

    E foi nesse momento que a discusso sobre Marx, pelo menos na Gr-Bretanha, passou, de admirao cheia de cautelas, a,

    praticamente, histeria.

    Em 1885, Balfour ? e ningum menos revolucionrio que Balfour ? comentou os escritos de Marx, elogiando a fora intelectual e o

    brilho do raciocnio econmico. Muitos comentaristas liberais e conservadores levaram realmente muito a srio aquelas ideias

    econmicas. Quando as mesmas ideias assumiram a forma de fora poltica, porm, comearam a aparecer os primeiros trabalhos

    ferozmente antimarxistas. A apoteose foi a espantosssima revelao, por Hugh Trevor-Roper, de que Marx no trazia qualquercontribuio original histria das ideias.

    A maioria desses crticos, aposto, teriam rejeitado a ideia marxista de que o pensamento humano muitas vezes modelado, curvado,

    pela presso de interesses polticos, fenmeno que atende quase sempre pelo nome de ?ideologia?.

    S recentemente o marxismo voltou agenda planetria, ali metido, ironicamente, por um capitalismo agonizante. ?Capitalismo em

    Convulso? ? em manchete do Financial Times em Londres, em 2008. Quando os capitalistas comeam a falar sobre o capitalismo,

    aposte: o sistema est em estado crtico. Nos EUA, nenhum jornal (e nenhum capitalista), at agora, se atreveu tanto.

    H muito mais a admirar em How to Change the World. Numa passagem sugestiva sobre William Morris, o livro mostra que eralgico que brotasse em Londres uma crtica baseada nas artes e nos artesanatos, do capitalismo; em Londres, onde o capitalismo

    industrial avanado impunha ameaa mortal a todas as artes e artesanatos. Um captulo sobre os anos 1930 traz fascinante relato

    das relaes entre o marxismo e a cincia ? e foi o nico perodo, Hobsbawm anota, em que os cientistas naturais deixaram-se atrair

    em nmeros significativos, pelo marxismo. Aparecia no horizonte a ameaa de um fascismo irracionalista; e os traos ?iluministas?

    do credo marxista ? a f na razo, na cincia, no progresso humano e no planejamento social ? atraram homens como Joseph

    Needham e J.D. Bernal. Durante o renascimento histrico seguinte do marxismo, nos anos 1960 e 1970, essa verso do

    materialismo histrico seria deslocada pelos parmetros mais culturais e filosficos do chamado Marxismo Ocidental. De fato, a

    cincia, a razo, o progresso e o planejamento j eram ento mais inimigos que aliados, em guerra contra novos cultos libertrios,

    do desejo e da espontaneidade. Hobsbawm mostra, no mximo, uma simpatia ilustrada pelo pessoal de 1968, o que no surpreende,

    em membro eterno do Partido Comunista. A idealizao, naqueles anos, da Revoluo Cultural na China, ele sugere, com bastante

    razo, teria tanto a ver com a China quanto o culto do ?bon sauvage?, no sculo 18, teria a ver com o Tahiti.

    ?Se algum pensador deixou marca que ainda se v no sculo 20?, diz Hobsbawm, ?foi Marx?. Setenta anos depois da morte de

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    Marx, para o bem ou para o mal, um tero da humanidade vivia sob regimes polticos inspirados por seu pensamento. Bem mais de

    20% continuam a viver. O socialismo foi descrito como o maior movimento de reforma da histria da humanidade. Poucos

    intelectuais mudaram o mundo, de modo to objetivo e prtico. coisa que se diz, mais, de estadistas, cientistas e generais, no de

    filsofos ou tericos da poltica. Freud pode ter mudado a vida de muita gente, mas no se sabe que tenha mudado governos.

    ?Os nicos pensadores individualmente identificveis que alcanaram status comparvel? ? escreve Hobsbawm ? ?so osfundadores das grandes religies do passado; e, com a nica possvel exceo de Maom, nenhum deles triunfou nem to

    rapidamente, nem em escala comparvel?. Mas poucos, como Hobsbawm destaca, previram que seriam to clebres tambm pela

    misria extrema ou pelo exlio de judeu atormentado por furnculos, homem que observou um dia, falando de si prprio, que

    ningum jamais escrevera tanto sobre dinheiro, nem vivera com menos dinheiro, que ele.

    Vrios dos ensaios reunidos nesse livro j foram publicado, mas dois teros deles eram inditos em ingls. Os que no leiam italiano

    podem, agora, ler vrios importantes ensaios de Hobsbawm editados primeiro naquela lngua, entre os quais trs importantes

    revises da histria do marxismo, de 1880 a 1983. Bastariam esses ensaios, para tornar valiosssimo o novo volume, mas h mais,

    sobre o socialismo pr-Marx, Marx sobre as formaes pr-capitalistas, Gramsci, Marx e o trabalhismo, que ampliam

    consideravelmente o mbito da nova seleo.

    How to Change the World o trabalho de um homem que chegou a idade em que a maioria de ns dar-se- por feliz se conseguir

    sair sozinho do fundo da poltrona, sem precisar de duas enfermeiras e um guindaste, mestre tambm da pesquisa histrica. No ser,

    com absoluta certeza, o ltimo trabalho desse esprito indomvel.

    --

    [1Orig. ?the most precious activities are those done simply for the hell of it?. Traduo impossvel, sem perder o que o autor

    escreveu. Mais uma traduo tentativa precria. H outras. (NTs)

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