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1 Como se cria um estereótipo : Walt Disney no Brazil EDUARDO JOSÉ AFONSO Desde a antiguidade os contos , lendas e fábulas ilustram o imaginário popular. Das fábulas de Esopo aos contos dos irmãos Grimm, essas estórias - ou histórias? - cumprem uma função social, referendando os valores e o comportamento social de uma dada ordem sócio econômica.” AFONSO, Eduardo José. O filme comercial hollywoodiano como fonte para a História. Anais do XXVI Simpósio Nacional de História ANPUH • São Paulo, julho 2011 Carioca, nascido no Rio de Janeiro, provavelmente, no Hotel Copacabana Palace no segundo semestre do ano de 1941 . Papagaio de cor natural verde, rabo com as cores azul e vermelho . Apresenta-se, quase sempre com calças azuis, camisa branca, gravata borboleta azul, paletó marrom ou bege, palheta amarela na cabeça , um guarda chuva nas mãos e invariavelmente um charutinho na boca. De índole malemolente, vive, quase sempre , de expediente e gosta de levar vantagem em tudo. Adora resolver as coisas na base do jeitinho. Como nos demonstra o professor José de Souza Martins , com referencia `a analise dos personagens Disney, e mesmo das HQ , não há possibilidade de estabelecimento de uma reflexão critica com relação a estes representantes da Industria Cultural, as Histórias em Quadrinhos. Segundo ele, “a reflexão critica constitui inequívoca manifestação subversiva. (...) Nesse pequeno mundo fantasioso não é apenas cada personagem uma coisa contemplada, mas o próprio leitor é coisa, repositório passivo que nele se integra para abrigar Professor Assistente Doutor da UNESP , campus de Assis, onde ministra História Moderna e História Social da Cultura, trabalha na área de Pesquisa com “História e Memória”

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Como se cria um estereótipo : Walt Disney no Brazil EDUARDO JOSÉ AFONSO

“Desde a antiguidade os contos , lendas e fábulas

ilustram o imaginário popular. Das fábulas de Esopo aos

contos dos irmãos Grimm, essas estórias - ou histórias? -

cumprem uma função social, referendando os valores e o

comportamento social de uma dada ordem sócio

econômica.”

AFONSO, Eduardo José. O filme comercial hollywoodiano como fonte

para a História. Anais do XXVI Simpósio Nacional de História –

ANPUH • São Paulo, julho 2011

Zé Carioca, nascido no Rio de Janeiro, provavelmente, no Hotel Copacabana

Palace no segundo semestre do ano de 1941 . Papagaio de cor natural verde, rabo

com as cores azul e vermelho . Apresenta-se, quase sempre com calças azuis,

camisa branca, gravata borboleta azul, paletó marrom ou bege, palheta amarela na

cabeça , um guarda chuva nas mãos e invariavelmente um charutinho na boca. De

índole malemolente, vive, quase sempre , de expediente e gosta de levar vantagem em

tudo. Adora resolver as coisas na base do jeitinho.

Como nos demonstra o professor José de Souza Martins , com referencia `a

analise dos personagens Disney, e mesmo das HQ , não há possibilidade de

estabelecimento de uma reflexão critica com relação a estes representantes da

Industria Cultural, as Histórias em Quadrinhos. Segundo ele,

“a reflexão critica constitui inequívoca manifestação subversiva. (...) Nesse

pequeno mundo fantasioso não é apenas cada personagem uma coisa contemplada,

mas o próprio leitor é coisa, repositório passivo que nele se integra para abrigar

Professor Assistente Doutor da UNESP , campus de Assis, onde ministra História Moderna e História Social da Cultura, trabalha na área de Pesquisa com “História e Memória”

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sem reflexão cada membro da sociedade centrada nessa família”1(MARTINS,

1980:4)

Parece, para todos, que uma história em quadrinhos é um elemento a mais no

mundo da diversão. Como ocorre com os filmes comerciais hollywoodianos,

representantes máximos da industria Cultural, estes produtos são vistos meramente

como entretenimento.

Hoje, século XXI, estes elementos da comunicação de massa – “revistinhas” e

tirinhas de jornal - quase não cumprem mais seu papel, como ocorria, por exemplo,

no Brasil, na década de 40 do século XX quando Disney criou o Zé Carioca e

exportou para nós toda essa “fauna” mágica. - , principalmente porque agora temos,

diante de nós um show hipnótico, plasmado pela HD, ou seja, a Alta Definição.

Agora, a hipnose é mais eficaz, aprendemos a confundir o real com o virtual e somos

muito mais suscetíveis `a responder por reflexos condicionados, do que naquele

momento.

Em fins da década de 40 tanto as tiras de jornal, que contavam com a família

Disney - Pato Donald, Mickey e Zé Carioca -, quanto as “revistinhas”, vendidas em

todas as bancas de jornal, cumpriam seu papel e muito bem. Histórias que “refletiam”

o dia a dia dos brasileiros e retratavam suas características, daí sua identificação com

“o ser brasileiro”. Zé Carioca era um grande representante desse ideal.

Como se pode perceber, trata-se, aqui, com este artigo, de colocar em questão,

de problematizar mesmo, a figura do Zé Carioca e tudo aquilo que cercou este

empreendimento. Não pretendo repetir a história da criação do personagem, o que já

foi feito exaustivamente, tanto por artigos de revistas quanto por trabalhos

acadêmicos. Importa, aqui, alem, é claro, de iniciar com a descrição da visita de

Disney, desvendar os mecanismos que nos permitem identificar como estereótipo o

Zé Carioca, no Brasil, por exemplo.

A análise de figuras populares – ou que já o foram – implica num trabalho

sério e competente por parte do historiador. Para tanto é primordial um dialogo com

as outras ciências. Em casos como este, trata-se de problematizar uma figura, que

mesmo sendo uma ave, fala e se comporta como homem. O auxilio da Sociologia e a

1 Martins refere-se aqui `a família Disney, ou seja, os personagens que constituem esse universo da

“Disneylândia”

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Antropologia é de vital importância. A análise de um estereótipo só será possível,

neste caso, indo buscar, naquela sociedade em questão, como os valores foram criados

e absorvidos, num determinado tempo, e como passaram a fazer parte de um cotidiano

que perdeu sua origem.

Entendamos, nós, hoje, neste exato momento, que , também, estamos sendo

vitimas da construção de valores e “verdades” que farão parte de nosso cotidiano

daqui para frente e que nem sequer temos consciência disto. Hoje, provavelmente,

este personagem – Zé Carioca - não seria tão popular entre nós como foi a partir dos

anos 40 quando iniciou sua carreira no Brasil. Poderemos encontrar motivos para seu

insucesso no século XXI, sem problemas.

Senão vejamos . Como seria recebido, se fosse criado , em 2016, um

personagem – uma ave – que fuma ? Seu charutinho é marca registrada. Como seria

vista esta ave com pseudo características humanas ? Como seria vista no Brasil deste

ano sua marca registrada, a malandragem e o desejo de enganar seus semelhantes

para levar vantagem em tudo ?

Como e porquê surgem os personagens

De onde vêem os valores ?

Quando falamos em valores imediatamente devemos distinguir entre Juízo de

realidade e juízo de valor. O juízo de realidade, por exemplo, é aquele que emitimos

diante de algo materialmente presente. Por exemplo : Isto é uma caneta . Tomamos o

objeto nas mãos e distinguimos uma caneta de um lápis, por exemplo. Já os juízos de

valor importam uma decisão e uma opinião. Por exemplo. Esta caneta azul é mais

bonita do que a verde. Toda vez que emitimos uma opinião, partimos do principio de

que esta opinião é nossa. Nunca paramos para refletir se este valor que reputamos

como nosso é , realmente, nosso.

Ao nascermos nossos pais nos ensinam o valor daquilo que é aceitável na

sociedade como o bonito e o feio, o gostoso e o ruim. Somos criados para reproduzir

o que aprendemos e o mecanismo diário da repetição não nos permite pensar sobre a

origem dos valores e dos fatos.

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Tomando o caso do Brasil, já que nossa análise parte de uma figura que é

reconhecidamente um representante do “ser” brasileiro , o personagem Zé Carioca ,

aceitemos o exemplo do conceito de Mito Fundador de Marilena Chauí.

Em sua obra2 ela destaca que aprendemos muitas coisas sobre nosso país. A

começar pelo significado das cores na bandeira brasileira. Verde de nossas matas,

amarelo de nossas riquezas, azul de nosso céu - este que é presenteado por Deus com

o Cruzeiro do Sul - e sabemos, ainda, que o Brasil é um “gigante pela própria

natureza , deitado em berço esplendido” , aprendemos, também, que nosso solo é

presente do Divino porque aqui não há terremotos, furacões, e vulcões, o que nos faz

privilegiados se comparados a muitos países do mundo. (CHAUÍ, 2000:5). Como

destaca Chauí , e isto é muito importante, o Brasil é uma invenção histórica. A

começar por aquilo que estudamos na escola, que nosso pais é o único do mundo que

tem uma “certidão de nascimento”. Esta certidão, por definição, é a carta de Pero Vaz

de Caminha. Eis a invenção que tem inicio com a chegada dos colonizadores.

Ainda tomando Chauí como exemplo, destaquemos sua definição de mito,

que muito alem do sentido grego do termo - relato de feitos lendários - , muito mais

alem do sentido antropológico, na qual a “narrativa é solução imaginária para tensões,

conflitos e contradições” 3, acrescentemos, como faz ela, a acepção psicanalítica,

aquela que “como impulso `a repetição de algo imaginário, (...) cria um bloqueio `a

percepção da realidade e impede lidar com ela”4. Portanto ,

“o Mito fundador é aquele que não cessa de encontrar novos meios para exprimir-

se, novas linguagens, novos valores e idéias, de tal modo que, quanto mais parece

ser outra coisa, tanto mais é a repetição de si mesmo”(CHAUÍ, 2000:9)

Destaco esta introdução , tomando a obra O Mito Fundador, de Marilena

Chauí, como referencia, para que essas idéias nos subsidiem na compreensão daquilo

que Hobsbawm chama de “invenção das Tradições”. Já que temos de analisar a

origem de determinados estereótipos , entendemos esta origem, igualmente, como

uma construção histórica.

2 CHAUÍ, Marilena. Brasil Mito Fundador e sociedade autoritária. Coleção História do Povo

Brasileiro. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2000 3 Op. Cit. CHAUÍ, Marilena. Brasil Mito Fundador e sociedade ... 2000, pag. 9 4 Idem

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Se o Brasil é uma construção histórica, como quer Chauí, idéia que

compartilho, busquemos mais subsídios para demonstrar isto, o que não será muito

difícil diante de tantas evidências, inclusive documentais.

O Brasil construído

Como vimos, o Brasil tem certidão de nascimento e é abençoado por Deus,

legado imaginário oferecido aos habitantes desta terra pelo colonizador. Se , no

Período Colonial não havia, ainda uma identidade nacional, posto que éramos colônia

de Portugal, e, apenas nos identificávamos com o mote “um só rei, uma só lei e uma

só fé”, o que ocorreu com a independência, foi a necessidade de construir uma

representação ideológica que permitisse aos “brasileiros” , livres do “jugo português”,

uma identificação com valores nacionais. Era preciso acreditar na indivisibilidade da

nação, identidade de princípios e unidade nacional.

A independência do Brasil, articulada pela aristocracia brasileira, deveria

passar, necessariamente, pela batuta do príncipe Regente. Ele é que teria que tornar o

Brasil livre de Portugal. Assim, diferentemente das outras nações que lutaram contra

o domínio colonial, o Brasil manteria sua unidade e não contaria com guerras

generalizadas que destruíssem o sistema produtivo e o controle territorial de certas

famílias que repartiam, desde muitos séculos, o território brasileiro. Fomos tornados

“livres” com a “independência ou Morte” , mas ainda não nos constituíamos como

uma Nação.

O Projeto da construção de uma identidade e unidade, começa, vagarosamente

no primeiro reinado. Apesar do Brasil ter contado com algumas instituições, desde a

chegada de D. João VI, é somente com D. Pedro I e Pedro II que começam a ser

delineadas as faces desse Império dos Trópicos.

Sem contar com as instituições de caráter administrativo e econômico,

lembremos , como faz a professora Lilia Schwarcs, que nesta nova Nação - que

deveria ser vista e reconhecida no exterior - era preciso fundar certas bases , muito

semelhantes `aquelas existentes na Europa. Isto faria com que fossemos

reconhecidos como um pais “civilizado”. Foram fundadas duas faculdades de Direito

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(São Paulo e Recife fundadas em 1826) e de Medicina (1832)5. Isto resolvia dois

problemas, o da Lei e o da Saúde. Faltava, então, uma Instituição que nos justificasse

como povo que tem história e raízes.

Em 1839 funda-se, então, o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Como

aponta a professora Lilia Schwacz, no primeiro concurso realizado pelo IHGB, em

1844, cujo título era “como escrever a História do Brasil” sagrou-se vencedor o

naturalista alemão Karl von Martius. Sua tese era a de que nossa história deveria ser

identificada como miscigenada.

"Devia ser um ponto capital para o historiador reflexivo mostrar como no

desenvolvimento sucessivo do Brasil se acham estabelecidas as condições para o

aperfeiçoamento das três raças humanas que nesse país são colocadas uma ao lado

da outra, de uma maneira desconhecida na história antiga, e que devem servirse

mutuamente de meio e fim" (MARTIUS, 1991)6.

Como diz Schwarcz, “era um estrangeiro que inaugurava, portanto, o

conhecido "mito das três raças" (Malta, 1981), que se revelava como uma boa bengala

para pensar a nacionalidade e a história específica do Brasil-nação”. (SCHWARCZ,

1995)

As representações estavam dadas. Era como se num momento fizesse sentido

um passado imaginário, que dalí para frente deveria ser visto como o principio, o

Arché 7do Brasil. Era, assim, que um estrangeiro, muito bem recebido pelas elites,

aprovado no concurso do IHGB, daria conta de uma história, nos moldes europeus,

que fizesse sentido. Era o Brasil miscigenado, mistura de raças : o indio, o negro e o

branco, que comporiam uma imagem que significasse esta nação do “Novo Mundo”.

Estava criada a identidade Nacional, que no nosso caso era mestiça e por isto

diferente e única. Era a visão de um europeu desenhada, e referendada por uma

instituição brasileira , que seria aceita como de todos nós.

"O gênio da história (...) não poucas vezes lança mão de cruzar raças para

alcançar os fins mais sublimes na ordem do mundo (...). Jamais nos será permitido

duvidar que a vontade da providência predestinou ao Brasil esta mescla" (Martius,

5 A Escola de Medicina da Bahia, foi fundada em 18 de fevereiro de 1808 logo após a chegada de

Dom João VI ao país, sob o nome de Escola de Cirurgia da Bahia. Tornou-se Faculdade em 1832. 6 APUD: SCHWARCZ, Lilia Katri Moritz. “Complexo de Zé Carioca. Notas sobre uma identidade

mestiça. IN : Revista Brasileira de Ciências Sociais, v.10 nº29 São Paulo, out. 1995 7 Arché, ( principio) termo do grego, usado pelos filósofos pré-socraticos para dar conta da origem de

todas as coisas.

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op. cit.)8.

O malandro e a malandragem.

A Visão européia dos trópicos sobre nosso clima e o seu efeito modelador das

características naturais de seus habitantes, deu o tom para a definição e

caracterização de nossa natureza. Somos indolentes, por natureza. A ciência no

século XIX foi pródiga em caracterizar e catalogar as “espécies humanas”, que digam

as teorias positivistas de Cesare Lombroso9, por exemplo.

Determinado cientificamente, estávamos diante do que Foucault chama de

biopolítica10. A ciência estuda, cataloga e referenda cientificamente, normalidades,

anomalias, etc. No caso do Brasil a ciência já havia determinado que éramos uma

sociedade mestiça. Ocorre que devido `as teorias científicas era verdade a idéia de

que não éramos muito afeitos ao trabalho. Daí incorporou-se em nosso ideário a

figura do malandro. Estávamos, como conceitua Roger Chartier diante das práticas e

representações11. Somos o pais do samba, da capoeira, do candomblé, da mulata e do

malandro. Ícones nacionais (SCHWARCZ, 1995). Aceitamos isto como sendo de

nossa natureza. A figura do malandro foi aceita e , tornou-se popular entre nós.

O malandro, no entanto, ganhará nova roupagem. Com o advento do Estado

Novo de Getúlio Vargas, cujo projeto de desenvolvimento capitalista nacional

passava pela idéia da unidade com o trabalho , não era mais possível a existência da

figura de um ser que vivesse de expedientes e não trabalhasse. Um fato importante

demonstra como Vargas e o DIP cuidavam desta nova imagem, bem de perto. A

8 Idem : APUD: SCHWARCZ, Lilia Katri Moritz. “Complexo de Zé Carioca. Notas sobre uma

identidade mestiça. IN : Revista Brasileira de Ciências Sociais, v.10 nº29 São Paulo,

out. 1995 9 Marco Ezechia Lombroso , conhecido como Cesar Lombroso, medico, antropólogo e jurista italiano,

representante do positivismo e pioneiro dos estudos sobre a criminalidade, fundador da antropologia

criminal, uma pseudo-ciência. Seu trabalho foi fortemente influenciado pela fisionômica, pelo

darwinismo social e da frenologia. Sua teoria era baseada no conceito do criminoso por nascimento,

segundo a qual a origem do comportamento criminal era inato e determinado pelas características

anatômicas do criminoso, que era fisicamente diferente do homem normal por ser dotado de

anomalia e atavismo, os determinantes do comportamento social desviante. Por isto, segundo ele , a

inclinação ao crime era uma patologia hereditária. 10 FOUCAULT, Michel. História da Loucura. São Paulo: Perspectiva, 1978. 11 CHARTIER, Roger. A História Cultural : Entre Práticas e Representações. São Paulo:DIFEL,

2002.

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musica de Ataulfo Alves e Wilson Batista, O Bonde de São Januário , escrita para o

Carnaval de 1941, é um exemplo disto.

Segundo depoimento de Mario Lago em entrevista para a TV o samba em sua

versão original, dizia:

O Bonde de São Januário Leva mais um sócio otário Só eu não vou trabalhar…

A gravação, no entanto, depois da visita dos autores ao DIP, saiu assim:

O Bonde de São Januário Leva mais um operário Sou eu que vou trabalhar…

O DIP , Departamento de Imprensa e Propaganda, como seus similares na

Itália e Alemanha nazista, no mesmo período, era o orgão de censura e controle

social.

O DIP , desempenharia função primordial dentro do projeto estado-novista. Sua

função seria abrangente. O decreto, em seu artigo segundo, determinava :

centralizar, coordenar a propaganda nacional, interna ou externa, e servir,

permanentemente, como elemento auxiliar de informação dos ministérios e

entidades públicas e privadas; fazer a censura do Teatro, do Cinema, de funções

recreativas e esportivas de qualquer natureza, de rádio-difusão, da literatura social

e política, e da imprensa e estimular a produção de filmes nacionais.

O controle exercido pelo DIP, para que o projeto de cultura nacional não fugisse

`as diretrizes traçadas pelo governo , permitia ao Estado atuar como guardião da

“arte popular”. A musica popular, por exemplo, era vista como elemento

importante de propaganda e doutrinação política devido seu alto “poder de

sugestão”. (AFONSO, 2010:3).

Agora, depois da ação do DIP, parece que as coisas estariam em seus

devidos lugares “o malandro parece personificar com perfeição a velha fábula das

três raças, numa versão mais recente e exaltadora. (…) a mistura teria gerado um tipo

singular de civilização”12. Em seu discurso de instituição do Estado Novo , Vargas

declara que o Brasil , a partir daquele momento – com a queima posterior de todas as

bandeiras dos Estados, ato simbolico de unidade, onde valeria, apenas a bandeira

nacional em todo o Brasil – estaria unido, coeso, coerente, sem antagonismos de

grupos, sem conflitos de idéias e de doutrinas e livre do exotismo da luta de classes”.

12 SCHWARCZ, Lilia Katri Moritz. “Complexo de Zé Carioca. Notas sobre uma identidade mestiça.

IN : Revista Brasileira de Ciências Sociais, v.10 nº29 São Paulo, out. 1995

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Ataulfo Alves, aprendendo muito bem a “lição” escreve com Felisberto

Martins, ainda naquele mesmo ano, um samba bem significativo, provavelmente

sugestão do DIP. “É negócio Casar”

Veja só... A minha vida como está mudada Não sou mais aquele Que entrava em casa alta madrugada Faça o que eu fiz Porque a vida é do trabalhador Tenho um doce lar E sou feliz com meu amor O Estado Novo Veio para nos orientar No Brasil não falta nada Mas precisa trabalhar Tem café petroleo e ouro Ninguem pode duvidar E quem for pai de 4 filhos O presidente manda premiar... [breque] é negócio casar .

Coincidências a parte , foi nesse mesmo ano de 1941, com a “casa em ordem” e

livre do “exotismo das lutas de classe” , que chega ao Brasil uma delegação vinda

dos EUA, era grupo de Walt Disney.

Visita de Walt Disney e a criação do personagem.

Para que servia a “Política da Boa Vizinhança”?

A partir do inicio do governo Roosevelt o Departamento de Estado norte-

americano modificaria sua estratégia com relação aos países da America Latina . Era

adotada uma política externa diferente `a qual se daria o nome de “política da Boa-

Vizinhança”. Não mais aquela política desenvolvida pelo tio de Franklin Delano

Roosevelt, Theodore Roosevelt no inicio do século XX, ou seja, a do Porrete (Big-

Stick). Pretendia-se, sim, uma aproximação amistosa das Repúblicas Latino

Americanas. Lógico que esta guinada não ocorreu porque o governo de Washington

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passou a reconhecer as “outras repúblicas” como irmãs. A aproximação não era

desinteressada. O que Roosevelt e os “policy makers”13 pretendiam era ganhar

espaço naqueles vazios deixados pelos países europeus em guerra e, mais do que isto,

derrotar o nazi-fascismo e conquistar sua hegemonia definitiva sobre América Latina .

A “visita” de Walt Disney ao Brasil e aos outros países latino-americanos,

deve ser entendida dentro das prerrogativas da “Política da Boa-Vizinhança” .

Segundo alguns autores – Jim Hill e Lou Mongello - especialistas na biografia de

Walt Disney, a indicação de seu nome para compor a “caravana” da boa-vizinhança

teria sido do próprio presidente americano. Nelson Rockfeller diretor do OCIAA14

compôs , então , uma lista que envolvia, não só Disney e seus técnicos como atores

importantes de Hollywood para tal ação.

Segundo Lou Mongello, Disney enfrentava problemas em seu estúdio e não

desejava compor a tal lista dos “embaixadores” que representariam os EUA na

America Latina. Ocorre que os problemas enfrentados referiam-se , dentre outras

coisas , a uma dívida imensa e o perigo de greves de seus funcionários, o que

ocorreria quando ele já estava no Brasil.

Para Roosevelt a viagem de Disney era imprescindível por dois motivos.

Primeiro porque ele já havia conquistado em boa parte do mundo visibilidade com seu

desenho de longa metragem, A Branca de Neve e os Sete Anos, o que o tornava um

representante dos EUA no mundo. Segundo porque sua ida ao Brasil selaria os laços

de “amizade” entre os estadunidenses e os latino americanos e apagaria sua imagem

de simpatizante do nazismo. No Brasil Disney receberia um prêmio pela

“contribuição `a arte cinematográfica” com este que foi o primeiro desenho em

longa-metragem - Branca de Neve - e divulgaria, também, seu mais recente filme,

“Fantasia”.

O governo norte-americano, precisava de Walt Disney. A encomenda do

Departamento de Estado, com o aval de Nelson Rockfeller, para produzir dois filmes

que reproduzissem a “Política da Boa-Vizinhança” daria fôlego aos estúdios Disney.

Foram 100 mil dólares e o total apoio para este e outros projetos engajados aos

13 Literalmente , os “fazedores de política”. O grupo de funcionários do Departamento de Estado que

pensavam estratégias para a política externa norte-americana. 14 OCIAA – Office of the Coordinator of inter-American Affairs. Escritório responsável pela

elaboração e execução de projetos de aproximação cultural entre os EUA e a America Latina.

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interesses norte-americanos. Esta foi a “proposta irrecusável” que fez com que

Disney aceitasse esta nova tarefa, ou função, “Embaixador da política da boa-

vizinhança”.

Walt Disney chegou ao Brasil no dia 16 de agosto de 1941 – em Belém do

Pará – com um grupo de 18 artistas de seu estúdio e de sua confiança. No dia 19

desembarcou no Rio de Janeiro, capital Federal. Segundo alguns trabalhos

acadêmicos e jornalísticos , Disney participou de muitos eventos e encontros

importantes com celebridades brasileiras. Subiu o morro e visitou a Escola de Samba

Portela, encontrou-se com Vargas e Dona Darcy Vargas, sua grande admiradora, e

instruiu seus técnicos para que não medissem esforços no levantamento de tudo que

pudesse caracterizar o Brasil e os brasileiros.

Vargas , apesar da simpatia que a primeira–dama nutria por Disney e o apoio

dado por Oswaldo Aranha, seu ministro das relações exteriores e amigo dos EUA,

não se entusiasmou muito com o “embaixador da boa-vizinhança”. O DIP na figura

de seu Diretor, Lourival Fontes, acompanhou Disney em varias ocasiões e teria dado a

ele alguns subsídios para a caracterização de um personagem que simbolizasse o

brasileiro e que estivesse dentro do espírito do Estado Novo.

Como já destacamos, a idéia de unidade nacional era a pedra de toque do

Estadonovismo. O Rio de Janeiro como capital federal, deveria ser uma cidade que

representasse a síntese da idéia de uma Pátria miscigenada e unida. A figura do

malandro, característica de personagens comuns do Bairro da Lapa, por exemplo, e

que havia sido “domesticado” pelo DIP – como já destacamos por ocasião da censura

a Ataulfo Alves – serviria como uma luva para a propaganda , tanto do Estado Novo

quanto da política da boa-vizinhança.

Foi, portanto, dentro deste contexto que Disney pensou a criação de Zé

Carioca. Como destaca a profa. Lilia Schwarcz, “o malandro aparecia definido como

um sujeito bem-humorado, bom de bola e de samba, carnavalesco zeloso”15

Alguns estudiosos afirmam que Disney teria escolhido um papagaio como

personagem porque quando chegou aqui , muitas eram as piadas de papagaio16. Esta

15 Idem : SCHWARCZ, Lilia Katri Moritz. “Complexo de Zé Carioca....1995 16 No filme “Alô Amigos” o narrador deixa transparecer que a escolha da imagem do papagaio recaiu

sobre sua figura desengonçada e por causa das piadas de papagaio ouvidas pelos artistas dos Estúdios

Disney quando chegaram ao Rio de Janeiro. Walt Disney, no entanto, nunca confirmou este fato.

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versão, no entanto , não se confirma. É preferível crer que a escolha tenha recaído

sobre a ave mais representativa da America do Sul , que é o papagaio. E, o mais

importante, aquele que consegue imitar a voz humana - aquele que consegue enganar

seus predadores, o que não era o caso aqui com Disney - e que tem naturalmente as

cores de nacionais.

Zé Carioca aparece, sempre, como destacamos no início, com calças azuis,

chapéu de palheta amarela, camisa branca e gravata borboleta azul. Não esqueçamos

que ele é verde. Qualquer semelhança das cores representadas no personagem com a

Bandeira Nacional, não é mera coincidência. Assim como as cores do rabo de seu

rabo, azul e vermelho. Não seriam as cores nacionais norte-americanas?

Há muita especulação sobre as influências que delinearam a personagem na

cabeça de Disney. Não na constituição de sua “alma” como já apontamos ,

provavelmente influenciada pelo DIP e a cartilha do Estado Novo, mas como

aspecto visual. Conta-se, então, que foi montado um estúdio numa ala do Hotel

Copacabana Palace, onde hospedara-se Walt Disney e por onde circulavam tipos

diversos que poderiam servir de exemplo `a constituição da “figura”. A guisa de

tornar o personagem ligado ao Brasil, seus “cronistas” – aqueles que descrevem a

história da criação do Zé Carioca - criaram todo tipo de fantasia, para que fosse visto

mais como “nosso” do que os outros componentes da “família Disney”.

Fala-se, por exemplo que Zé Carioca seria uma espécie de caricatura de

Herivelto Martins e que a palheta, charuto, gravata borboleta e guarda-chuva teriam

vindo inspirados pelo Dr. Jacarandá uma figura folclórica das ruas do Rio de Janeiro.

Há, ainda, mais um elemento na composição visual desse personagem da Disney. Zé

Carioca, assim conhecido nos EUA, era, também o apelido de José do Patrocino de

Oliveira , que tocava com Carmem Miranda nos EUA e que não era carioca e sim

paulista. Seu gingado e gesticulação teriam acrescentado este toque final ao Zé

Carioca desenho.

Esta “estadia” no Brasil deu subsídios suficientes para que Walt Disney

cumprisse sua missão junto ao Departamento de Estado. De volta aos EUA, nos

estúdio Disney, em Burbank, Califórnia, as pranchas dos desenhos e a constituição da

história ficaram prontas muito rapidamente. Nelson Rockfeller da OCIAA e a RKO

- Radio Pictures Buena Vista distribution, foram responsáveis pela produção e

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divulgação da encomenda. Zé Carioca estava pronto ! Estrearia no cinema , mesmo

antes de ser divulgado em histórias em quadrinhos. O primeiro filme da encomenda

seria “Alô amigos!”. No original “Saludos amigos ( Hello, friends)” que teve sua

estréia no ano de 194217.

Este primeiro filme , peça publicitária da Política da Boa Vizinhança - e que

vale a pena ser visto, ainda hoje, como fonte para a História - , apresentava-se como

um desenho ingênuo cuja intenção era permitir ao espectador viajar pela America do

Sul, com Donald e seus amigos. Não há o que esconder. O filme tem inicio com uma

canção que descreve as belezas da America do Sul e amizade entre norte-americanos

e latino-americanos. Zé Carioca aparece quando Donald, depois de passar pela

Bolívia, Peru, Chile e Argentina – aqui aparecem mais dois personagens , Pateta

texano/gaucho e Pedrito o aviãozinho chileno - , chega ao Brasil. Ênfase é dada ao

Brasil e `a Argentina. Dois países na mira do Departamento de Estado.

Importante destacar que tanto no primeiro quando no segundo filme “ Os Três

Cavaleiros”18, que no Brasil aparece com o titulo “Você já foi `a Bahia ?”, do ano de

1944, Donald aparece , apesar de toda sua amizade, como um turista visitando um

lugar distante e exótico. A impressão que se tem ao assisti-los é que foi uma visita de

cortesia aos amigos, que pertencem, exclusivamente, `aqueles lugares.

A aparição de Zé Carioca em tiras de jornal e revistas só ocorre depois do

lançamento do primeiro filme. Nos EUA desde outubro de 1942 Zé Carioca já

aparecia nos jornais19. No Brasil as tiras com o personagem foram veiculadas a partir

de 1945 pelo Globo Juvenil, da empresa Globo de Roberto Marinho e só a partir de

195020 produzidas pela editora Abril com seu primeiro “gibi”. O Pato Donald que

apresenta Zé Carioca na Capa.

O personagem “brasileiro” passa a ter sua própria revista somente a partir de

1960, pela Editora Abril e até a década de 70, a editora dependeu das histórias

importadas dos estúdios Disney. Deste período em diante com a reorganização do

17 O desenho “Alo Amigos” teve sua premier, no Brasil , em agosto de 1942. Só foi divulgado nos

cinemas americanos no dia 06 de fevereiro de 1943. 18 Filme quase roteirizado pela OCIAA, que apresentava Brasil e México como os maiores parceiros

dos EUA. Em 1945 os maiores aliados `a causa norte-americana. 19 A estréia de Zé Carioca em tiras de jornal nos EUA se fez sob o titulo “Como almoçar de Graça”. 20 Como destaca Lilia Schwarcz, “reintroduzia-se, nos anos 50, o modelo do "jeitinho" brasileiro, a

concepção freyriana de que no Brasil tudo tende a amolecer e se adaptar”. Idem SCHWARCZ, 1995.

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estúdio da Abril adaptações foram feitas e o personagem ganhou características mais

adaptadas ao “gosto” brasileiro. Renato Canini desenhista brasileiro foi um dos

responsáveis pelas mudanças. O espírito original, no entanto, foi mantido.

Como vimos, apesar de tudo que pudemos pontuar sobre a criação da figura

“Zé Carioca”, seu poder de penetração e sua imagem como um representante do que

fosse o brasileiro, ficou. A visão de Martius sobre a natureza do brasileiro foi

absorvida por todos e serviu, inclusive, para dois propósitos no século XX. Um

estereótipo do cidadão brasileiro mestiço e nacional – ideal estadonovista - e um

personagem criado , mais uma vez pelo olhar estrangeiro, que foi abraçado por todos

como sinônimo do ser brasileiro.

A força persuasiva das representações não pode prescindir da fantasia !

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SCHWARCZ, Lilia Katri Moritz. “Complexo de Zé Carioca. Notas sobre uma

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TINHORÃO, José Ramos. História Social da Música Popular Brasileira.São Paulo:

34,2002.