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COMO SE RELACIONAR MELHOR COM AS PESSOAS Beverly D. Flaxington

COMO SE RELACIONAR MELHOR COM AS PESSOAS

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Como se relaCionar melhor Com as pessoas

B e v e r ly D. F l a x i n g t o n

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Este livro é dedicado às

três pessoas que fazem de

cada dia da minha vida

uma bênção: Samantha,

Kiernan e Cynthia, meus filhos.

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SUMÁRIO

Prefácio 9

Introdução 11

SEGREDONÚMERO1:Tudoqueimportasoueu 13

SEGREDONÚMERO2:Nossoestilodecomportamentoseinterpõeentrenós 41

SEGREDONÚMERO3:Osseusvaloresfalammaisaltoquevocê 66

SEGREDONÚMERO4:Nãosuponhaqueseioquevocêquerdizer 80

SEGREDONÚMERO5:Euestoucerto;vocênãoestá 100

Agradecimentos 122

Sobreaautora 123

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PREFÁCIO

Foi um grande prazer avaliar este livro. Enquanto o lia, em

caráter profissional, para analisar se seria interessante para os

nossos clientes, me senti profundamente atraída pelos concei-

tos apresentados, e encontrei neles uma aplicação imediata em

minha vida pessoal.

Quando reconhecemos que a maioria de nós vê a vida atra-

vés de filtros do tipo “tudo que importa sou eu”, adquirimos

certa liberdade nos relacionamentos – a liberdade de não nos

frustrarmos com as atitudes daqueles que estão à nossa volta e

de parar de tentar fazê-los entender nosso ponto de vista. Após

compreender isso, torna-se mais fácil lidar com as pessoas, criar

empatia, encontrar soluções para os conflitos, levando em con-

sideração as necessidades do outro. Os conceitos aqui descritos

por Beverly D. Flaxington têm sido proveitosos em todos os

aspectos da minha vida, seja com a família, com os clientes ou

com os colegas de trabalho. Recomendo com entusiasmo esta

leitura interessante, divertida e útil!

Kim Guimond Dellarocca

Vice-presidente de Marketing e Comunicações

da Pershing LLC, subsidiária do banco BNYMellon

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INTRODUÇÃO

Há anos as pessoas me perguntam: “O que você faz para se

dar bem com todo mundo?”; “Como consegue negociar com

tanta facilidade e sempre obter o que deseja?”; “Qual é o seu

segredo?”. A resposta não é muito complicada, e você está pres-

tes a descobri-la.

Sou coach de carreira e comportamento, consultora de negó-

cios, especialista em comportamento – com certificados em hip-

notismo e treinamento de hipnose –, professora universitária e

mãe. Tudo isso me dá uma perspectiva única da vida. Quando

pediram que eu lecionasse uma matéria chamada “Lidando

com pessoas difíceis”, soube imediatamente que tinha encon-

trado o meu lugar. Agora vou compartilhar meus segredos

com você. Espero que possa compreendê-los e usá-los em suas

interações diárias.

Durante muitos anos, observei profissionais com dificuldades

de se comunicar e pessoas que queriam melhorar seu compor-

tamento em relação ao parceiro ou aos colegas de trabalho. Ao

longo desse tempo, ofereci tantas informações e explicações sobre

as razões que levam alguém a agir de determinada forma que me

pareceu lógico escrever sobre isso, na esperança de evitar que as

pessoas sofram – ou, pelo menos, para lhes dar algumas ideias

sobre como lidar com relacionamentos difíceis.

O problema é que muitas das nossas interações diárias acabam

sendo “difíceis”. Até aqueles de quem mais gostamos nos irritam

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às vezes. Quando você menciona as palavras “família”, “esposa”,

“marido”, “filho adolescente”, “chefe” ou “sogra”, é comum as

pessoas revirarem os olhos. A mera identificação desse tipo de

relacionamento já causa mal-estar ou frustração. Estamos sem-

pre lutando para entender o ponto de vista do outro. A falta de

comunicação é a raiz de quase todos os nossos problemas – e não

saber como resolver isso nos paralisa.

Neste livro, reuni todo o conhecimento, as observações e as

experiências pessoais e profissionais que adquiri ao longo da

minha carreira e os dividi em cinco grandes grupos – são os

meus “segredos”. Descobrir e entender cada um deles ajudará

você a fazer mudanças incríveis em sua vida e em seus relacio-

namentos.

A melhor maneira de utilizar o livro é absorver um segredo de

cada vez. Coloque um deles em prática e só depois passe para o

seguinte. Espero que meus ensinamentos lhe deem as ferramen-

tas necessárias para entender aqueles que estão à sua volta – e,

mais importante, para entender melhor a si mesmo.

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SEGREDO NÚMERO 1: TUDO QUE IMPORTA SOU EU

Vamos ser sinceros? Todos nós andamos por aí repetindo

sem parar o mantra: “Tudo que importa sou eu.” É claro que

não dizemos isso realmente, de maneira consciente, mas essa é a

verdadeira mensagem por trás de tudo que fazemos.

Esse não é um conceito fácil de se aceitar, porque revela que,

na maior parte do tempo, as pessoas se concentram nelas mes-

mas. Não queremos acreditar que somos assim. Parece tão ego-

cêntrico! Porém, se formos honestos e analisarmos com atenção,

veremos que a palavra “eu” está no centro de cada pensamento

que temos, em cada experiência que vivemos.

Será que somos tão obcecados por nós mesmos? Sim, somos.

Involuntariamente, enxergamos cada experiência através de

nossas próprias lentes. Não é algo que fazemos de propósito,

não é egoísmo. Apenas não temos escolha, pois não estamos

cientes desse comportamento. Todos nós temos um conjunto

de vivências, opiniões e pontos de vista que influenciam cada

situação que enfrentamos. Tudo o que vemos, dizemos, ouvimos

e fazemos é filtrado pelo mecanismo chamado “eu”.

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Filtros obstruídos

Os filtros que criamos colocam-se entre nós e todas as pes-

soas que encontramos. Você deve estar se perguntando por que

eu os chamo de “filtros” – afinal, não somos máquinas cujas

peças são removíveis. O que é uma pena, porque seria muito

bom se pudéssemos remover esses filtros e renová-los. Se isso

fosse possível, cada experiência recém-adquirida seria realmente

original, e não uma cópia de algo que já vivemos no passado. Se

pudéssemos observar nossos filtros sob a luz, identificaríamos

tudo aquilo que os obstruiu, percebendo que a dificuldade que

temos de enxergar as coisas é causada por nosso “eu”, que está

no meio de tudo.

Isso significa que é impossível lançar um olhar imparcial sobre

as coisas, pois vemos tudo através da lente do eu. Sem querer,

projetamos sobre todas as situações nossas próprias expectativas,

crenças, preocupações e necessidades.

Os filtros retêm a combinação de nossas experiências passa-

das, nossa visão do mundo, nossos conceitos de certo e errado,

nosso comportamento e nossos valores. Se pensarmos neles

como algo tangível, perceberemos que estão na nossa frente o

tempo todo. Assim, é impossível ver claramente qualquer coisa

– uma pessoa, um evento –, pois eles obstruem o caminho. O

grande problema da comunicação é que cada um de nós tem

o próprio filtro, e nenhum deles é imparcial e objetivo.

Imagine duas pessoas com os filtros obstruídos tentando esta-

belecer uma conexão e compreender uma à outra. Queremos

acreditar que estamos enxergando direito e que nossa mente está

aberta e receptiva, mas a verdade é que eles estão lá, se interpon-

do a cada interação. Por exemplo, quando alguém diz ou faz

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alguma coisa, você só consegue ouvi-la e vê-la através do seu

ponto de vista, com seu filtro bloqueando a experiência.

Os livros sobre relacionamentos costumam afirmar que, para

estabelecer uma comunicação verdadeira com outra pessoa, é

preciso colocar-se no lugar dela, criando empatia. Parece ótimo,

mas como posso fazer isso se tenho os meus filtros? Não é que

eu não queira me colocar no lugar do outro; o problema é que,

honestamente, não consigo fazer isso. O lugar do outro não é o

meu, e eu não entendo nada sobre esse lugar.

Não diga “Eu sei o que você quer dizer”

Muitas vezes, as pessoas ficam perturbadas quando dizemos

“Eu sei o que você está sentindo” ou “Sei o que quer dizer”. Não

gostamos quando alguém nos diz isso. Por quê? Não é bom que

alguém esteja tentando se solidarizar com nossa situação e nos

“entender”? Na verdade, não.

Quando eu digo isso, a outra pessoa interpreta que o foco

agora está em mim – no fato de que eu sou uma pessoa com-

preensiva e solidária. Não estou mais me concentrando nela e

nos seus problemas; em vez disso, transferi minha atenção para

o que eu estou sentindo em relação ao que ela está me dizen-

do. E, na realidade, é isso mesmo que acontece. O interlocutor

percebe. Ele sabe que meu foco não está mais em ouvi-lo; estou

concentrado em minha própria reação. Na verdade, para ambas

as partes, só o que importa é o eu. Portanto, o melhor é simples-

mente não dizer que você “entende” o outro, porque você só

pode entender sua própria experiência. Dizer que já passou por

uma situação semelhante – e começar a contar tudo sobre ela

– é uma deselegância ainda maior. Quando fazemos isso, ime-

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diatamente paramos de ouvir o outro e voltamos a centralizar a

conversa em nós.

Julgando os outros com base no “eu”

Quando olho para você e formo uma opinião a seu respeito,

faço esse julgamento baseado em mim. Não temos uma opinião

sobre os outros – o que temos é uma opinião baseada naquilo

que eles nos parecem através de nosso filtro. Esse pode ser um

conceito difícil de compreender (e admitir), mas é real. Sempre

ouvimos dizer que “semelhante atrai semelhante” e que “rece-

bemos aquilo que esperamos”. Essas não são apenas frases feitas

incessantemente repetidas por todos; há veracidade nelas.

Você conhece alguém que já foi casado duas ou três vezes

com parceiros diferentes, mas que, quando se refere àquele com

quem está atualmente, parece estar falando sobre os anteriores?

Isso acontece porque a experiência – a visão que tem do outro –

é colorida pelo tom de seus filtros e pela maneira como ele inter-

preta a outra pessoa com base em si mesmo. Assim, é natural que

escolha parceiros semelhantes, uma vez que seus filtros turvos o

impedem de “enxergar” que o atual é essencialmente o mesmo

que os predecessores. Se não aprender a reconhecer esses filtros,

ele continuará a fazer as mesmas escolhas equivocadas. Essa ideia

também pode ser aplicada a alguém que já teve vários empregos

e nunca consegue se dar bem com o chefe, dizendo que eles são

todos idiotas. Certamente os chefes não são todos idiotas. O

mais provável é que o filtro dessa pessoa esteja obstruído com

essa mensagem.

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O peso das expectativas

Não percebemos que nossos filtros não são iguais aos dos

indivíduos com quem nos comunicamos. Na verdade, acredi-

tamos instintivamente que todo mundo vê o mundo da mesma

forma que nós. Quando nos aproximamos das outras pessoas,

carregamos nosso ponto de vista sobre como elas devem reagir.

Se não obtivermos o que esperávamos (e pense em como é raro

você de fato obter o que espera), ficamos irritados, frustrados e

aborrecidos.

Às vezes você pode ficar chateado com seu próprio comporta-

mento, por não ter agido da maneira que pretendia. Você não se

dá conta de que está frustrado por não ter conseguido provocar

no outro a reação que considerava apropriada. Na verdade, se

você não tivesse expectativas sobre como as coisas deveriam ser

– ou como os outros deveriam reagir –, não haveria problema

algum. Seu problema está em seu ponto de vista, em seu filtro

turvo e obstruído. É a forma como você vê o mundo, ou como

não o vê, que determina a sua experiência.

Os filtros bloqueiam informações novas

Quase nunca somos capazes de experimentar algo realmente

novo. Vivenciamos todas as situações com nossos filtros ativa-

dos. Assim, é o meu filtro que define o que estou vendo, e o que

vejo é um reflexo de mim, do que eu acredito, espero e aceito

como verdadeiro.

Por exemplo, minha irmã possui um filtro moldado por expe-

riências, comportamentos e valores diferentes dos meus. Mesmo

tendo crescido no mesmo ambiente, com os mesmos pais, nos

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tornamos pessoas totalmente diferentes e adquirimos filtros

distintos. Se meu pai dissesse a nós duas “Você é muito burra!”,

talvez tivéssemos reações opostas. Minha irmã poderia pensar:

Eu sou burra mesmo. Nunca consigo fazer nada direito. Eu, por

outro lado, poderia enfrentar meu pai e dizer: “Você é péssimo

para julgar os outros!” Em seguida, daria um jeito de mostrar

como sou inteligente.

Esses dois filtros distintos resultariam em uma diferença drás-

tica na forma como minha irmã e eu agiríamos dali em diante.

Ela talvez perdesse a autoconfiança e a autoestima, e eu talvez

fosse desafiada a provar o meu valor. Nenhuma dessas duas

abordagens é certa ou errada – cada uma apenas é o que é. Mas

elas causariam efeitos opostos em nossa vida quando ambas fôs-

semos enfrentar o mundo.

Olhar e “ver”

Em que consistem esses filtros? E qual é seu impacto real em

nossos relacionamentos?

Quando olho para alguma coisa, vejo uma combinação do

que está na minha frente com aquilo que eu mesma criei. Faço

suposições sobre o que estou vendo (usando meu filtro para

bloquear tudo que não se encaixe em minhas ideias preconcebi-

das), aplico essas suposições genéricas à situação e tiro minhas

conclusões. Então eu sei o que estou vendo.

Por exemplo, imagine que eu acredite que todos os jornalistas

são pessoas inteligentes e bem informadas. Um dia sou apresen-

tada a um repórter de TV em uma festa e imediatamente o vejo

através desse filtro. Vamos supor que eu esteja acompanhada

de uma amiga, e ela comece a conversar conosco sobre um fato

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ocorrido recentemente e que teve certa repercusão mundo afora.

E de repente ela se dá conta de que o repórter não sabe do que

ela está falando.

Como meu filtro está firme em seu lugar, prefiro acreditar

que minha amiga está equivocada a abandonar minha convicção

sobre os jornalistas. Por mais que ela tente me convencer, dando

informações precisas e expondo fatos, vai ser muito difícil me

desprender de minha ideia preconcebida.

Existe algo muito curioso com relação aos “fatos”. Costuma-

-se dizer que “os fatos não mentem”; mas será que não mentem

mesmo? Se eu decidir ignorá-los ou se não acreditar neles, será

que continuarão sendo verdadeiros? Minha amiga tem informa-

ções suficientes que provam que ela tem razão, mas meu filtro

está me dizendo: “Ela é minha amiga, mas está enganada nessa

situação.”

Esse é um aspecto realmente interessante do ser humano:

temos tanta certeza de que vemos claramente! Não queremos

que ninguém nos diga que o que vemos não é real. Só que muitas

vezes o que enxergamos é algo distorcido pelo filtro invisível que

temos diante de nossos olhos. Talvez, com o tempo, eu acabe

admitindo meu engano, mas sempre vou tentar encontrar uma

forma de provar que minhas ideias e convicções fazem sentido.

Posso dizer a mim mesma: “Minha amiga não expôs o assunto

da forma correta, por isso o repórter não entendeu.”

Precisamos que nossos filtros permaneçam onde estão, pois

eles são a nossa forma de compreender o mundo e nosso lugar

dentro dele. Quando reconhecemos essa dinâmica, podemos

começar a fazer mudanças. Até isso acontecer, entretanto, os

filtros continuarão nos dizendo como agir e quem devemos ser.

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Quem está falando com você?

Existe um conceito chamado “diálogo interno”: são as palavras

que ficam girando o tempo todo em nossa mente, falando sem

parar. Algumas pessoas se referem a isso como a “trilha sonora

da nossa vida”, como um MP3 pessoal que toca continuamente

dentro de nosso cérebro. É como se um grupo de pessoas – sua

mãe, professores, amigos do passado, um ex-chefe com quem

você não se dava bem – se reunisse e lhe dissesse o que fazer,

pensar, sentir e experimentar. Às vezes as vozes ficam tão altas

que é quase impossível escutar o que você de fato está pensando.

E elas falam o tempo todo.

Esse grupo raramente para de lhe dizer o que você está

vivenciando em cada momento do seu dia. Se começar a pres-

tar atenção ao que é dito, notará que há uma opinião formada

sobre tudo, assegurando que sua vida permaneça concentrada

em você.

Muitos pensadores dizem que é possível substituir essas vozes

por mensagens positivas de incentivo. Funciona mais ou menos

assim: em vez de dizer “Sou muito inseguro. Meu pai sempre me

disse que eu era burro”, você afirma “Sou uma pessoa confiante.

Sei o que preciso fazer, e faço. Meu pai era um homem bom, mas

seu julgamento sobre mim estava errado”. Embora esse método

faça com que você se sinta melhor e mais motivado, o problema

é que você ainda está falando consigo mesmo, sobre si mesmo.

Essas vozes dentro de nós costumam nos dizer quem somos, o

que vemos e o que experimentamos. Talvez até seja bom criar

um discurso mais positivo, mas uma ideia melhor ainda é parar

de falar sobre si mesmo e simplesmente começar a viver!

Ou seja, um dos elementos vitais para realizar uma mudança

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verdadeira é parar de falar. Pratique ficar em silêncio – dentro de

sua cabeça e, às vezes, até fora dela.

Mesma professora, experiências diferentes

Para demonstrar como cada um vê o mundo através de seus

filtros, vou dar um exemplo extraído de minha experiência

como professora. Quando dou uma aula para alunos novos,

um deles pode achar que a informação que estou dando é

empolgante. Outro pode considerá-la chata e inútil. Um ter-

ceiro talvez não goste da minha voz e não preste atenção em

absolutamente nada do que tenho a dizer. Como é possível que

três pessoas assistam à mesma aula e saiam com impressões tão

distintas a respeito do que ouviram? Por acaso não sou a mesma

professora, dizendo exatamente as mesmas coisas a todos os

alunos ali presentes?

É claro que sou. Mas os filtros que cada um deles ergue diante

de suas experiências, antes mesmo que eu abra a boca, só per-

mitem que me vejam de uma maneira. Meu jeito de olhar para

uma pessoa vai ser interpretado por ela de uma forma particular;

o modo como inicio a aula parecerá diferente para cada aluno.

Por quê? Porque todos já tiveram uma experiência anterior com

“alguém parecido” e sabem o que esperar.

Defina “difícil”

Quando começo minha aula sobre como lidar com pessoas

difíceis, peço aos alunos que tentem encontrar uma forma clara

de definir “difícil”, e eles logo percebem que essa não é uma tare-

fa simples. Um aluno diz que acha difícil se dar bem com alguém

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que não ouve os outros, mas uma aluna afirma que não acha que

essa característica defina alguém como “difícil”. Outra pessoa

acha que é complicado lidar com aqueles que são insistentes, mas

nem toda a classe concorda com isso, pois esse traço pode ser

encarado como reflexo de ousadia e determinação. Conclusão: as

definições de “difícil” são tão variadas quanto os alunos.

Agora pense em sua própria vida. Você já ouviu um amigo

descrever uma pessoa como “difícil” e, ao conhecê-la, acabou

descobrindo que ela é muito agradável? Você simplesmente não

consegue entender por que alguém tão encantador (de acordo

com o seu filtro) pode ser considerado “difícil”. Depois, vai

conversar com seu amigo para tentar fazê-lo mudar de ideia, na

esperança de conseguir consertar esse filtro.

Todos já passamos pela experiência de classificar algo como

“bom” e ficar em choque ao constatar que outros o qualifi-

cam como “ruim”. O que, para mim, é uma atitude positiva

você pode interpretar como negativa, dependendo do que está

obstruindo nossos filtros e das crenças que carregamos dentro

de nós.

De motorista barbeira a vizinha educada

Tento me manter calma e em silêncio quando estou no trân-

sito, e confesso que é nessas ocasiões que tenho mais dificuldade

para aplicar meu conhecimento e remover meus filtros.

Já aconteceu algumas vezes de quase baterem no meu carro.

Imediatamente, meu filtro para pessoas mal-educadas entra em

ação e começo a ficar irritada. De repente percebo que a moto-

rista barbeira é uma vizinha que eu adoro. Na mesma hora,

meu filtro muda para “Ela deve estar estressada com as crianças,

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ou talvez esteja com pressa. Ela não costuma dirigir assim”. Eu

aceno para ela, dou um sorriso e sigo em frente.

Isso não faz nenhum sentido. Como a motorista mal-educada

que quase bateu no meu carro se transforma tão rapidamente

em alguém para quem sorrio? A resposta, mais uma vez, está nos

filtros. Meu ponto de vista sobre as pessoas de quem eu gosto são

bem diferentes da minha maneira de ver as pessoas rudes que eu

não conheço.

O mesmo se aplica à situação oposta, quando conhecemos

uma pessoa bem demais. Meu marido pode falar algo e me dei-

xar irritada, mas, se um cliente disser a mesma coisa, eu prova-

velmente ouvirei com atenção. Mais uma vez, é o filtro através

do qual vemos a experiência que determina a maneira como

iremos reagir.

Qual é a minha experiência?

Se começar a prestar atenção, você perceberá que essas expe-

riências, essa maneira diversa de ver uma mesma situação, ocor-

rem o dia todo, todos os dias.

Um bebê chorando no restaurante pode ser irritante para

um cliente que não goste de crianças ou que esteja com dor de

cabeça por causa de uma noite maldormida. Mas o mesmo bebê

poderá ser encantador para outra cliente, possivelmente uma

mulher que sempre quis ter filhos, mas não pôde.

E por aí vai. Os exemplos e as possibilidades são infinitos. Mas

as experiências são o que são. No caso acima: restaurante; bebê

chorando – fim da história. Mas não é o fim. É apenas o começo,

se levarmos em consideração o que ela vai significar para nós

depois que passar por nossos filtros.

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Vamos estender a situação. Há um casal jantando na mesa ao

lado. A mulher está triste porque não pode ter filhos, mas adora

ouvir o choro do bebê, pelo simples fato de estar perto de um. O

marido está com dor de cabeça, cansado de ouvir falar em crian-

ças e não vê a hora de sair do restaurante. Quando terminam o

jantar, os dois nem estão mais se falando. Por quê? Porque um

bebê chorou e eles enxergaram essa experiência através de seus

próprios filtros e a passaram um para o outro.

Fazemos isso inconscientemente em todos os momentos do

dia. Estamos tão envolvidos no “eu” que não percebemos quan-

to de cada experiência tem a ver com “nós”. Não conseguimos

enxergar e compreender as coisas do mesmo jeito que as outras

pessoas, ainda que elas tentem nos fazer entender seu ponto de

vista. Como cada filtro é individual e diferente, a experiência

resultante será diferente.

Enxergue do MEU jeito!

Talvez você pergunte: “Qual é o problema de eu enxergar as coi-

sas do meu jeito e os outros enxergarem do jeito deles?” Bem, pense

em quanto tempo gastamos tentando mudar o ponto de vista das

outras pessoas. Como o que importa sou eu, quero que você veja

tudo do jeito que eu vejo, e não vou desistir até você admitir que

eu estou certo! É mais ou menos assim que costumamos pensar.

Quando você aprender a colocar em prática este primeiro

segredo, verá que é uma bobagem desperdiçar sua energia ten-

tando fazer a outra pessoa “ver” de forma diferente. Ela não vai

conseguir. E, se você se livrar da necessidade de estar sempre

certo e de convencer os demais disso, passará a reservar sua ener-

gia para coisas muito mais importantes.

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Aceitar esse fato e compreender que os outros possuem filtros

diferentes dos seus faz com que você deixe de tentar controlar a

maneira como as pessoas à sua volta se comportam. Você aban-

dona a ideia de que o mundo gira em torno do seu umbigo e

pode eliminar muitos anos de tentativas infrutíferas de mudar a

opinião de alguém a respeito das próprias experiências.

Quem define os fatos?

A vida se complica quando estamos convencidos de que vemos

claramente, que conhecemos os fatos e que é nosso dever fazer

com que os outros os vejam da mesma maneira. Afinal, fatos

são fatos, certo? Alguma coisa é vermelha, ou tem um metro de

comprimento, ou é sólida, ou é bonita, ou... Espere um pouco!

Beleza não é um fato. Cor, comprimento e composição, sim. O

adjetivo “bonita” é fruto da minha interpretação, mas acredito

que ele seja um fato e o classifico como tal.

Os fatos podem estar presentes (vermelho, um metro de

comprimento e sólida são afirmações factuais), mas, depois que

lhes atribuímos significado, eles se transformam em nossos fatos.

Podemos pegar alguma coisa que é factual e transformá-la em

algo relacionado aos nossos gostos – então, novamente, pode-

mos discutir com alguém que o veja de forma diferente.

Por exemplo, se gostarmos de algo vermelho, o fato (inter-

pretado pelo nosso filtro) se torna “vermelho é uma cor bonita”.

Se um metro nos parece muito, então “algo que tem um metro

é grande”. Perdemos a capacidade de distinguir o que é fato e o

que é nossa percepção. E os rótulos que colocamos nas coisas são

consequências, obviamente, dos famosos filtros que trabalham

por nós 24 horas por dia, sete dias por semana. Viver sem ter

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conhecimento desse processo altera a nossa realidade e a dos

outros. A realidade deixa de ser algo “real” e passa a ser somente

o resultado do meu próprio ponto de vista.

Tudo que importa realmente sou eu!

Estamos tão centrados em nós mesmos que nem sequer nos

damos conta disso. Mas se examinarmos o que fazemos – e por

que o fazemos –, perceberemos que nossas escolhas são baseadas

na resposta a estas perguntas: “Como isso vai me afetar?”; “Que

impressão vou dar se fizer isso?”. Por exemplo, mesmo se somos

gentis e atenciosos, agimos assim para satisfazer nossa própria

necessidade de servir os outros.

Se tenho uma atitude bondosa em relação a você, talvez eu

seja genuinamente gentil e espontânea (pelo menos essa é a

minha opinião sobre mim mesma), mas, por outro lado, talvez

eu queira me ver como uma pessoa generosa. Não faço essas coi-

sas só por causa da alegria de ajudar (embora isso possa ser um

benefício adicional), mas porque gosto da sensação de ser útil.

Meu filtro diz: “Eu sou gentil e ajudo as pessoas porque é o certo

a se fazer.” Gosto de me ver através dessa lente e farei o que

for preciso para garantir que essa imagem permaneça intacta.

Embora eu esteja sendo legal com você, a verdade é que o que

interessa ainda sou eu – que eu seja uma pessoa útil, generosa e

gentil. Durante todo o tempo em que o ajudo, estou pensando

na imagem que tenho de mim mesma. Não estou dizendo que

isso é bom ou ruim. Apenas é assim.

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