Como Temos Armado e Efetivado Nossos Estudos, Que Fundamentalmente Investigam

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  • Como temos armado e efetivado nossos estudos, que

    fundamentalmente investigam polticas e prticas sociais de

    gesto e de sade?

    Laura Camargo Macruz Feuerwerker

    Emerson Elias Merhy

    Este texto integra o material Caminhos para anlise de polticas de sade, produzido

    com apoio da Faperj, e disponibilizado no site www.ims.uerj.br/ccaps

    Para cit-lo, utilizar esta forma:

    FEUERWERKER, L. C. M.; MERHY, E. E. Como temos armado e efetivado nossos

    estudos, que fundamentalmente investigam polticas e prticas sociais de gesto e de

    sade? In MATTOS, R. A.; BAPTISTA, T. W. F. Caminhos para anlise das polticas

    de sade, 2011. p. 290-305. Online: disponvel em www.ims.uerj.br/ccaps.

    Apoio

  • 290

    CAPTULO 15

    Como temos armado e efetivado nossos estudos, que

    fundamentalmente investigam polticas e prticas sociais de gesto e de

    sade?

    Laura Camargo Macruz Feuerwerker

    Emerson Elias Merhy

    1. A complexidade do objeto

    Comecemos pensando numa unidade de sade e no trabalho que acontece em

    seu interior: possvel identificar vrios importantes planos em sua constituio.

    Tomando o ponto de vista da produo da organizao, h ao menos a perspectiva da

    gesto, a dos trabalhadores e a dos usurios. Cada qual entra no cenrio com conceitos,

    intencionalidades e projetos, abrindo um campo de produo que pode se configurar de

    maneira mais ou menos rgida - como aparelho, como roda e como praa (Merhy,

    2006).

    Estamos trazendo aqui a ideia de que a constituio organizacional de uma

    unidade de sade produzida em vrios planos, em que se configuram de diferentes

    modos as relaes pblico-privado e os encontros e atravessamentos entre as diferentes

    lgicas que mobilizam os distintos atores sociais que compem essa cena.

    Assim, h um plano de constituio mais formal, explicitado pelo organograma, pelos

    fluxos definidos, pelas normas, pela construo mesma do espao com seus

    consultrios, equipamentos. H a um institudo mais amplo, produzido pelo simples

    fato de que socialmente se imagina que certas coisas devam acontecer num lugar

    denominado unidade de sade. Trazemos, ento, a ideia de um lugar pblico constitudo

    como um aparelho com funcionalidade bem definida: ser uma unidade de sade. Esse

    o aparelho, em que a funcionalidade definida imperativa do lugar, instituinte. D a

    cara do institudo, que dialoga fortemente com as molaridades relativas ao modo

    hegemnico de produzir sade com todas as suas consequncias. Desde certa

    perspectiva, basta mesmo inaugurar o espao fsico, instalar nele equipamentos e

    insumos e povo-los com trabalhadores para que uma unidade de sade funcione e

    cumpra o seu papel.

    Mas dentro das unidades de sade tambm h rodas operando. A roda que os

    trabalhadores e a gesto podem instituir, fabricando suas equipes, seus modos de

    trabalhar e invadindo o aparelho unidade de sade. Renem-se, fazem ofertas um para o

  • 291

    outro, constroem entre si acordos e regras. Organizam-se para atuar como um coletivo,

    mas em que cada um possa atuar do seu jeito. Atuam tanto para produzir o acordo,

    quanto para participar da produo de atos de sade, que, por exemplo, consideram

    cuidadores. Enfim, o modo de construir a funcionalidade do espao que est sendo

    produzido muito mais elstico e muito mais disponvel ao grupo constitudo e em

    ao. Entretanto, todo este processo tem um objetivo final imposto a ser atingido:

    organizar a ao do coletivo para produzir atos de sade.

    O instituir-se como roda no independe do coletivo que est a atuando: os

    projetos de cada qual, as referncias que orientam as proposies e os encontros mudam

    a cara dos acordos e dos agires, inclusive dos usurios, que tambm tm uma

    expectativa de uso em relao s unidades de sade. A tenso na dobra pblico e

    privado mais superfcie, no h uma interdio to forte como no caso do aparelho,

    em que a regra nica e gera punio imediata na sua violao, segundo quem o

    sustenta. Nas rodas os processos esto mais abertos aos acontecimentos.

    A terceira imagem a de uma praa, na qual o espao pblico ocupado por

    vrios diferentes instituindo seus usos sem o compromisso funcional de ter que realizar

    uma funo nica e especfica, pois vrias esto em produo. So vrios os coletivos se

    intercedendo. H at aqueles que vo l apenas para ver os outros. H outros que vo s

    por ir. E, h outros que vo para fazer alguma atividade prpria, como a de produzir

    atos de sade. Em uma praa o acontecimento a regra e os encontros so a sua

    constitutividade. Nela h muitos entres. No h regra a ser imposta, no h

    funcionalidade a priori a ser obedecida. Os coletivos que a esto constituindo-os esto

    em pleno ato do acontecer, podendo ou no se expressar para o outro, ou ir em busca do

    outro, como forma de ampliar as muitas possibilidades de encontros, mas deixando os

    sentidos dos fazeres acontecerem em suas muitas multiplicidades. A possibilidade de

    compreender esta convivncia contaminante produtiva e criadora, do diferente em ns,

    nos aparelhos e rodas, pode permitir a instituio da dobra pblico e privado como um

    lugar profundamente democrtico e em produo.

    Claro que numa unidade de sade h certos limites para a produo da praa, j

    que a intencionalidade relativa produo dos atos de sade muito forte para todos os

    envolvidos. Mas no que diz respeito ao encontro entre trabalhadores e usurios, essa

    uma imagem bem poderosa. A agenda do encontro pode ser mais ou menos

    instrumental, mais ou menos aberta para a vida, inclusive acontecendo nos mais

  • 292

    diferentes espaos (que no somente os das unidades), todos reconhecidos como

    possveis lugares de encontro.

    Mas todo o lugar no qual se produzem as prticas de sade opera no campo dos

    processos de subjetivao, expressando-se na construo de territrios de subjetividades

    comprometidos com a produo de certos sentidos para aquelas prticas. Um modo de

    produo do cuidado que opera por fluxos de intensidade, mediados pelas tecnologias

    de trabalho, produz e produzido tambm segundo pelos afetos entre os sujeitos. Ou

    seja, estes ao produzirem o mundo do cuidado em sade, produzem a si mesmos e se

    afetam mutuamente, o que vai lhes imprimindo uma certa identidade subjetiva, na

    alteridade. como em um efeito pororoca, num vai e vem de produo, essa ltima, por

    sua vez, produz esse mesmo mundo, agora, j de um outro modo, porque j sob

    influncia da ao de uma nova subjetividade, que foi construda pelo mesmo sujeito da

    ao na sua alteridade (Merhy, 2005).

    No mundo do cuidado essa afetao mtua acontece quando trabalhadores e

    usurios se abrem para o encontro, reconhecendo mutuamente como legtimos seus

    respectivos saberes e expectativas, negociando e construindo de modo compartilhado os

    projetos de cuidado, que esto sempre em disputa.

    Quando essa abertura existe, os encontros entre trabalhadores e usurios tornam-

    se lugares de manifestao de grandes conflitos e desafios. Conflitos em relao

    autoria do plano de cuidados, ao papel de cada profissional e dos usurios/cuidadores na

    produo do cuidado num espao que privado, mas invadido pelo pblico; conflitos

    diante da convivncia ntima dos profissionais com necessidades, sofrimentos, valores

    culturais e religiosos antes apenas vislumbrados.

    Desafios diante da necessidade de produzir novas tecnologias de cuidado;

    desafios de construir um outro equilbrio entre os diferentes tipos de tecnologias

    envolvidos no trabalho em sade; desafio de construir equipe com um trabalho

    efetivamente orientado e mobilizado pelas necessidades de sade no somente do

    usurio, mas do coletivo familiar em questo; desafio de superar a fragmentao do

    sistema de sade e de produzir continuidade de ateno no interior de uma linha de

    cuidado que produzida em ato para cada situao.

    Para almejar e conseguir tanto, este trabalho humano tem que ser portador de

    capacidade de vivificar modos de existncias interditados e anti-produtivos e tem que

    permitir que vida produza vida. Sua alma, portanto, tem que ser a produo de um

    cuidado em sade dirigido a propiciar ganhos de autonomia e de vida dos seus usurios.

  • 293

    Esse um trabalho de alta complexidade, mltiplo, interdisciplinar, intersetorial e

    interprofissional.

    Para gestores e trabalhadores em produo coletiva do trabalho em sade dar-se

    conta de tudo isso fundamental. Sem essa referncia, pensar o trabalho quase mover-

    se cegamente, atado num patamar fixo que pouco explica. preciso problematizar a

    questo de que o complexo mundo do trabalho no um lugar do igual, mas da

    multiplicidade, do diverso e da diferena, da tenso e da disputa. importante

    desmistificar a ideia de que o ambiente de trabalho harmnico em si mesmo.

    Reconhecer a diversidade, os processos de formao das subjetividades, a forma

    singular de produo do cuidado, trabalho vivo dependente, que revela os afetos, a

    potncia produtiva e a riqueza da prxis.

    Cuidar de si pressuposto para cuidar dos outros, d potncia ao trabalhador da

    sade para a sua produo cotidiana. E o processo auto-analtico pode criar esse efeito

    na equipe.

    Essa uma condio indispensvel para que os trabalhadores produzam o

    cuidado de si mesmos, no cuidar dos outros e coloquem em anlise as suas implicaes

    com a produo da vida, nessa situao. E isso diz respeito a um olhar para si, mas

    mais do que isso, significa montar e desmontar mundos, conseguir operar movimentos

    de desterritorializao e reterritorializao em relao prxis de produo do cuidado.

    O trabalhador da sade que no faz esses movimentos, no consegue cuidar de si,

    tende a permanecer aprisionado na plataforma organizacional que conduz a produo do

    cuidado em uma Unidade de Sade, pelas linhas do institudo, capturado intensamente

    pelas lgicas hegemnicas capitaneadas pelos modos de agir das profisses de sade

    encasteladas cada uma em si mesma.

    Olhar para o dia a dia, no mundo do trabalho, e poder ver os modos como se

    produzem sentidos, se engravidam palavras com os atos produtivos, tornando esse

    processo objeto da prpria curiosidade, vendo-se como seus fabricantes e podendo

    dialogar no prprio espao do trabalho, com todos os outros que ali esto, no s um

    desafio, mas uma necessidade para tornar o espao da gesto do trabalho, do sentido do

    seu fazer, um ato coletivo e implicado, a servio da produo de mais vida individual e

    coletiva.

    Fazer do mundo do trabalho, na sua micropoltica, um lugar para tornar estas

    intencionalidades e implicaes elementos explcitos, a fim de constitu-los em matria-

    prima para a produo de redes de conversas coletivas entre os vrios trabalhadores, que

  • 294

    habitam o cotidiano dos servios e das equipes de sade, explorar esta potncia

    inscrita nos fazeres produtivos, como atos pedaggicos. Por isso, o mundo do trabalho

    lugar de se debruar sobre objetos das aes, de fazeres, saberes e agenciamentos de

    sujeitos. O mundo do trabalho, nos encontros que provoca, abre-se para nossas vontades

    e desejos, condenando-nos tambm liberdade e a estarmos diante de ns mesmos, nos

    nossos atos e nossas implicaes.

    2. Alguns pressupostos e desafios para nossas iniciativas de investigao

    No imaginamos a possibilidade de investigar um servio, uma rede, seus

    arranjos e as prticas ali inscritas sem envolver os atores locais nesse processo, fazendo

    com que a oportunidade da pesquisa seja um momento para o tipo de reflexo

    autoanaltica que descrevemos acima. E possibilitando a eles a oportunidade de serem

    tambm produtores do saber que o movimento de debruar-se analiticamente sobre os

    processos enseja.

    Ento nosso arranjo de pesquisa sempre envolve uma apresentao inicial do que

    estamos pretendendo e um convite a que alguns deles se envolvam no processo, ao

    menos como pesquisadores auxiliares.

    A complexidade das organizaes e do trabalho em sade impe grandes

    desafios metodolgicos para os processos investigativos. A depender de como se arma o

    estudo, apenas alguns dos mltiplos planos j mencionados sero acessados. A depender

    de como se acessa os diferentes atores, idem. Particularmente complexo acessar a

    produo do cuidado, que acontece em ato e da qual encontramos somente vestgios

    alguns deles registrados em pronturio, a maior parte deles impressos no corpo dos que

    estiveram envolvidos em sua produo.

    Neste texto, vamos relatar as metodologias utilizadas em duas investigaes:

    uma, nacional encomendada pelo Ministrio da Sade sobre o estado da arte da ateno

    domiciliar no mbito do SUS e outra, realizada no municpio de Campinas, sobre acesso

    em sade mental. Ambos foram estudos cartogrficos, mas efetivados com distintos

    dispositivos.

    A cartografia um termo oriundo da Geografia e registra as paisagens que se

    conformam segundo sua afetao pela natureza, pelo desenho do tempo como

    existncia, pela vida que ali passa. Gilles Deleuze e Felix Guattari (2000) captam este

    termo e o desterritorializam dizendo que as paisagens sociais so cabveis de serem

    cartografadas. Eles tambm utilizam o termo mapa para descrever linhas, identidades,

  • 295

    subjetivaes da paisagem social como se fosse um mapa geogrfico. Na primeira fase

    dos dois estudos foi feita a identificao e reconhecimento dos servios, um certo

    mapeamento, e, depois, partindo-se dos chamados casos traadores, que servem de

    analisadores, pois com eles andamos por lugares e percursos a conhecer, em ato.

    O estudo da cartografia surge no Brasil em 1989, como proposta metodolgica

    oriunda dos estudos da filosofia da diferena, da pragmtica universal e como um novo

    paradigma tico-esttico discutido por Gilles Deleuze e Flix Guattari (2000). Aqui, o

    expoente inicial da discusso foi Suely Rolnik com o livro Cartografia Sentimental

    (1989), no qual conceitua a cartografia como a conformao do desejo (como

    produo) no campo social.

    Esta proposta parte da vertente filosfica da imanncia por defender um pensar

    imanente que existe sempre em um dado objeto e inseparvel dele. O rigor desta teoria

    est na coexistncia do extensivo (extrato, territrio) e o intensivo. Mairesse (2003)

    pondera que a cartografia participa e desencadeia um processo de desterritorializao

    construo espacial subjetiva, no campo da cincia para inaugurar uma nova forma de

    produzir o conhecimento, um modo que envolve a criao, a arte, a implicao do

    pesquisador/autor/cartgrafo. Vantagens que se agregam aos caminhares metodolgicos

    mais clssicos dos estudos consagrados e igualmente fundamentais. Aqui misturaremos

    essas possibilidades ao utilizarmos de ferramentas como o Fluxograma Analisador, as

    Redes de Petio e Compromisso, os Mapas Analticos e as informaes diretas junto

    aos protagonistas dos processos de cuidado em todas as instncias, inclusive utilizando

    de Entrevistas e de Grupos Focais com trabalhadores, gestores, usurios e familiares,

    para explorar melhor o que for identificado como referente ao objeto em investigao.

    Utilizamos a oferta terica de trabalhos anteriores de Ceclio (1997) e de Merhy

    (2002; 2007) na construo da rede de cuidados e instrumentos como o fluxograma

    analisador para a leitura crtico/analtica do cuidado. Associamos, como j indicado, a

    noo de analisadores (dos institucionalistas) que emergem no campo de investigao e

    fazem referncia ao objeto em estudo. Para caracterizar a participao e viso dos

    trabalhadores desenvolvemos instrumentos de coleta de informaes (questionrio,

    roteiro de entrevista etc.).

    Esta opo refora a crena de que o conhecimento no algo acabado, mas uma

    construo que se faz e refaz constantemente e pressupe que a realidade pode ser vista

    sob diferentes perspectivas, no havendo uma nica que seja a mais verdadeira, mas

    disputa de verdades (Foucault). Ldke e Andr (1986) assinalam que, na pesquisa tipo

  • 296

    estudo de caso, o pesquisador deve apresentar os diferentes pontos de vista presentes

    numa situao social como, tambm, sua opinio a respeito do tema em estudo.

    fundamental que o pesquisador se mantenha aberto s novas descobertas que so feitas,

    como tambm se mantenha alerta aos novos elementos ou dimenses que podero surgir

    ao longo da investigao.

    3. A pesquisa de ateno domiciliar

    Essa pesquisa tinha como objetivo investigar as lgicas de organizao e gesto

    (incluindo avaliao e custos), bem como as modalidades de ateno domiciliar e as

    prticas de cuidado dos diferentes tipos de servios de existentes no mbito do SUS

    iniciativas municipais, estaduais, federais, servios especficos, servios ligados a

    hospitais, a UPAs, Sade da Famlia etc. O objetivo era, a partir desses achados,

    subsidiar a elaborao de uma poltica nacional para essa rea.

    Inicialmente procedemos identificao de experincias, tomando as

    informaes de que o Ministrio da Sade dispunha. Nossa pretenso era analisar

    experincias em todas as regies do pas. Para tanto, a partir de um mapeamento inicial,

    visitamos os locais identificados. Os critrios de incluso eram simples: verificar se se

    tratava de um servio ativo e se efetivamente de ateno domiciliar, alm de verificar a

    disposio da gesto em participar da investigao.

    Terminamos no conseguindo casos nas regies norte e centro-oeste. Ficamos

    com um caso no nordeste, trs no sudeste e um na regio sul. Nesta fase, procedeu-se a

    visitas in loco a todos os servios pblicos de Ateno Domiciliar para uma primeira

    abordagem. Utilizamos, como instrumentos e procedimentos para coleta de dados, a

    anlise documental, as entrevistas com gestores dos servios e com informantes-chave

    do mbito da gesto (secretaria de sade). Como resultado, foi construdo um banco de

    dados agregando informaes sobre a gesto de recursos dos servios (investimento e

    custeio); informaes sobre a lgica de organizao do servio, dinmicas de trabalho,

    composio das equipes (carga horria, remunerao, tipo de contratao) e

    informaes sobre os indicadores de avaliao utilizados pelos servios. Foi nessa

    primeira etapa que apresentamos a pesquisa e efetivamos o convite s equipes que

    indicassem dois pesquisadores auxiliares.

    Solicitamos, ento, s equipes a identificao de casos significativos, chamados

    de traadores: casos representativos do perfil do servio, casos que houvessem

    provocado desconforto, casos que houvessem provocado satisfao.

  • 297

    S para escolher os casos, as equipes j precisaram sentar-se e refletir

    conjuntamente sobre o trabalho. As equipes compuseram um banco de casos e

    forneceram aos pesquisadores um resumo com os aspectos mais significativos de cada

    um deles. A partir destes dados estabelecemos um dilogo inicial com os trabalhadores

    para, depois, escolher que casos seriam ento analisados.

    Para estes, ento, a equipe preparou um relato mais detalhado. Num primeiro

    momento, analisamos os relatos e os pronturios.

    O passo seguinte foi o acompanhamento de uma visita da equipe aos domiclios

    e a realizao de entrevistas com usurios e/ou familiares, conforme o caso.

    Produzimos, ento, uma anlise inicial do material, que foi compartilhada e discutida

    com as equipes. Esse movimento todo possibilitou um processo de auto-anlise da

    equipe sobre seu trabalho, com surpresas e novidades.

    A partir desse conjunto, a equipe de investigao selecionou alguns casos

    incluindo todos os tipos - para anlise em profundidade em cada uma das cidades. Em

    cada um dos campos foram selecionados alguns casos traadores (Box 1).

    [Box 1 Traadores configuram-se como uma estratgia de investigao utilizada tanto

    em estudos quantitativos (marcadores biolgicos, marcadores clnicos, por exemplo)

    como em estudos qualitativos tanto na rea das cincias sociais e polticas e, tambm,

    nas reas da educao e da sade. Tracer studies (estudos longitudinais com traadores

    tanto para acompanhar variveis, como para acompanhar casos), process tracing

    (acompanhamento do desenvolvimento de processos de mudana, por exemplo), patient

    shadowing (acompanhamento direto dos percursos de um usurio na rede de servios),

    discovery interviews (entrevistas no estruturadas com usurios e profissionais de

    sade nos diferentes momentos de produo do cuidado), flow charts (anlise a

    posteriori do itinerrio percorrido por um usurio ao longo de seu tratamento) so

    alguns dos dispositivos que podem ser utilizados nos estudos qualitativos que adotam a

    estratgia dos traadores.

    Casos traadores podem ser desenhados prospectivamente ou identificados

    retrospectivamente (como marcadores para analisar um processo de cuidado, um

    processo de mudana ou um processo educacional). A anlise das situaes traadoras

    permite examinar em situao as maneiras como se concretizam, na prtica, processos

  • 298

    de trabalho complexos, como os da sade e da educao, que envolvem um importante

    grau de autonomia dos profissionais. Isso importante porque em ato, na cena

    concreta, expressam-se valores, conceitos e tecnologias que no necessariamente so

    captados numa entrevista (quando geralmente se fala do dever ser e no do que

    realmente ou de como cada um interpreta a cena vivida sem expressar

    necessariamente os conflitos). Dependendo do marcador, evidenciam-se diferentes

    tipos de atuao da equipe, diferentes configuraes de interao entre os trabalhadores

    e dos trabalhadores com os usurios, diferentes repertrios tecnolgicos, diferentes

    arranjos organizacionais.]

    O caso traador foi entendido, neste estudo, como uma experincia de ateno

    domiciliar que permitisse a anlise das situaes identificadas como marcadoras para

    profissionais e gestores dos servios de ateno domiciliar.

    A anlise dos casos traadores permitiu, portanto, avaliar o processo de trabalho

    e gesto: a construo do cuidado, a dinmica da equipe, os tipos de tecnologias

    utilizadas, a relao com o usurio e com o cuidador, a relao da Ateno Domiciliar

    com outros servios de sade eventualmente necessrios para a prestao do cuidado

    adequado, os problemas, os fatores decisivos para os bons resultados, o que poderia ter

    sido feito para evitar ou amplificar tal situao.

    Depois de analisados todos os casos de todos os campos, tomamos os seguintes

    como analisadores principais nessa pesquisa: a disputa do cuidado, a construo oral da

    memria da produo do cuidado, a educao permanente da equipe e do cuidador, a

    implicao e a avaliao no fazer militante da equipe e a substitutividade e a

    desinstitucionalizao da ateno domiciliar.

    Apresentamos esses analisadores:

    A disputa do cuidado

    A sade analisada como prtica social tem implicado o reconhecimento de vrias

    especificidades dentre as quais queremos destacar a particularidade de que o fato de

    estar vivo (e, portanto, de vivenciar estados/situaes de sade e doena) e de viver em

    sociedade (e, portanto, compartilhar usos, costumes, valores culturais e simblicos)

    conferirem a todas as pessoas saberes sobre sade/doena, saberes sobre os melhores

    modos de andar a vida. O cientificismo da era moderna, no entanto, insiste em

  • 299

    expropriar as pessoas desses saberes, submetendo-as ao peso das decises tcnicas;

    essas, sim, tomadas com base em conhecimentos legtimos os cientficos.

    Apesar disso, em maior ou menor grau, existe uma permanente disputa entre

    profissionais de sade e usurios em relao ao projeto teraputico. No espao da

    internao hospitalar, em que a autonomia do usurio e de sua famlia est bastante

    reduzida e os mecanismos de controle sobre os corpos e vontades so amplos, a

    efetivao da disputa mnima; mas no mbito dos ambulatrios e das unidades de

    sade, quando os usurios so mais donos de si, a disputa maior e frequentemente os

    usurios aderem seletivamente s condutas indicadas pelos profissionais de sade,

    produzindo intervenes ativas nas propostas teraputicas reais (aquelas que

    efetivamente so levadas prtica).

    No caso da ateno domiciliar, apesar de haver a transferncia para o domiclio

    de uma srie de procedimentos antes realizados no mbito hospitalar, como existe

    tambm a transferncia de parte significativa da responsabilidade do cuidado para o

    cuidador (algum da famlia ou o prprio usurio) e esse cuidado se faz no interior das

    casas das pessoas, a possibilidade de disputa por parte dos

    usurios/cuidadores/familiares aumenta de maneira significativa.

    Nos casos estudados, encontramos todas as possibilidades: desde equipes que

    constroem o plano de cuidado em conjunto com os cuidadores, havendo a possibilidade

    de singularizao do cuidado de acordo com necessidades identificadas e recursos

    disponibilizados pela famlia at equipes que procuram simplesmente transferir o

    hospital para dentro da casa, tentando enquadrar o cuidador como um simples executor

    de um plano teraputico construdo exclusivamente de acordo com a racionalidade

    tcnico-cientfica.

    A disputa se faz ento entre a institucionalizao da casa como um espao de

    cuidado dominado pela racionalidade tcnica (e pelo predomnio das tecnologias duras e

    leve-duras na produo do cuidado) e a desinstitucionalizao do cuidado em sade,

    havendo construo compartilhada do projeto teraputico, ampliao da autonomia do

    cuidador/famlia/usurio, ampliao da dimenso cuidadora do trabalho da equipe (e o

    predomnio das tecnologias leves e leve-duras na produo do cuidado).

    No segundo caso, a ateno domiciliar surge como uma alternativa de

    organizao da ateno sade que contribui ativamente para a produo da

    integralidade e da continuidade do cuidado, da ampliao da autonomia dos usurios na

    produo de sua prpria sade. Assim como no caso da sade mental se busca produzir

  • 300

    dispositivos teraputicos que levem desinstitucionalizao do cuidado e do usurio, a

    ateno domiciliar pode ser trabalhada como um dispositivo para a produo de

    desinstitucionalizao do cuidado e novos arranjos tecnolgicos do trabalho em sade.

    A tenso entre ambos os plos constitutiva da modalidade, mas, por isso, mesmo, ela

    portadora de um potencial significativo de inovao.

    A construo oral da memria da produo do cuidado

    Chamou vivamente nossa ateno o contraste entre as informaes obtidas por

    meio das entrevistas e a que era possvel resgatar dos pronturios. Nestes estavam

    registrados estritamente os aspectos biolgicos da situao de sade do usurio e as

    condutas medicamentosas adotadas e/ou exames solicitados em cada visita. Uma

    sucesso repetitiva de registros impessoais e condutas formais. Nas conversas com as

    equipes, ao contrrio, foi possvel resgatar a vida de cada caso: os aspectos afetivos,

    sociais, as divergncias dentro da equipe, as dificuldades de relacionamento com certas

    famlias ou cuidadores, os estranhamentos (da equipe e das famlias), os dilemas e

    desafios, o impacto das histrias sobre os profissionais. Havia sim fotografias,

    lembranas, lembretes, mas nada disso aparecia nos pronturios.

    Ou seja, para analisar a qualidade da ateno prestada ou o tipo de tecnologias

    envolvidas na produo do cuidado ou a dinmica da equipe, definitivamente a pior

    fonte possvel seriam os pronturios.

    O que percebemos que o registro escrito estava capturado pela lgica das

    tecnologias duras e leve-duras e no se mostrava adequado para captar toda a dinmica

    de trocas intersubjetivas, toda a gama de tecnologias leves utilizadas para trabalhar em

    equipe, construir planos de ao e efetivar o cuidado. Essas

    informaes/emoes/vivncias estavam registradas na memria, na afetividade dos

    trabalhadores e dos usurios/familiares/cuidadores. Mais que isso eram parte do

    processo de produo desses sujeitos cuidadores, j que a cada experincia vivenciada

    se transformavam todos os envolvidos e sua caixa de ferramentas para o trabalho em

    sade.

    A educao permanente da equipe e do cuidador

    Nos locais em que se colocam como produtoras de alternativas inovadoras no

    cuidado em sade, as equipes de ateno domiciliar tornam-se lugares de manifestao

    de grandes conflitos e desafios.

  • 301

    Conflitos em relao autoria do plano de cuidados, ao papel de cada

    profissional e dos usurios/cuidadores na produo do cuidado num espao que

    privado mas invadido pelo pblico; conflitos diante da convivncia ntima dos

    profissionais com necessidades, sofrimentos, valores culturais e religiosos antes apenas

    vislumbrados; desafios diante da necessidade de produzir novas tecnologias de cuidado;

    desafios de construir um outro equilbrio entre os diferentes tipos de tecnologias

    envolvidos no trabalho em sade; desafio de construir equipe com um trabalho

    efetivamente orientado e mobilizado pelas necessidades de sade no somente do

    usurio, mas do coletivo familiar em questo; desafio de superar a fragmentao do

    sistema de sade e de produzir continuidade de ateno no interior de uma linha de

    cuidado que produzida em ato para cada situao.

    Para tanto, este trabalho humano tem que ser portador de capacidade de vivificar

    modos de existncias interditados e antiprodutivos e tem que permitir que vida produza

    vida. Sua alma, portanto, tem que ser a produo de um cuidado em sade dirigido a

    propiciar ganhos de autonomia e de vida dos seus usurios. Esse um trabalho de alta

    complexidade, mltiplo, interdisciplinar, intersetorial e interprofissional.

    Um trabalho como esse s vinga se estiver colado a uma revoluo cultural do

    imaginrio social dos vrios sujeitos e atores sociais, de modo a ser gerador de novas

    possibilidades anti-hegemnicas de compreender a multiplicidade e o sofrimento

    humano, dentro de um campo social de inclusividade e produo de cidadania.

    Essa aposta implica a fabricao de novos coletivos de trabalhadores de sade

    que consigam com seus atos vivos, tecnolgicos e micropolticos do trabalho em sade,

    produzir mais vida ou a boa morte em situaes muitas vezes negligenciadas pelo

    sistema de sade.

    Ento, para que o domiclio seja espao de produo de um lugar do novo e do

    acontecer em aberto e experimental, preciso construir um campo de proteo para

    quem tem que inventar coisas no pensadas e no resolvidas; para quem tem que

    construir suas caixas de ferramentas, muitas vezes em ato; para quem, sendo cuidador,

    deve ser cuidado.

    Olhar para o dia a dia do mundo do trabalho e ver os modos como os atos

    produtivos produzem e transformam os conceitos, tornar esse processo objeto da

    curiosidade dos trabalhadores a oportunidade que traz a educao permanente em

    sade, tornando-se um recurso indispensvel para esse trabalho de apoio e produo de

    equipes inventoras.

  • 302

    Mas preciso que esse seja um investimento da gesto do sistema e dos servios

    e no seja mais uma providncia deixada a cargo da inveno de governabilidade das

    equipes.

    No caso da ateno domiciliar h ainda, de modo mais evidente, a necessidade

    de tambm dialogar e apoiar de maneira sistemtica com os cuidadores. No somente

    produzindo espaos de reflexo sobre as prticas produzidas e esse pode ser um

    recurso muito interessante para captao de novas tecnologias de cuidado mas

    tambm proporcionando escuta e apoio para esse personagem que abre mo de partes

    significativas de sua prpria autonomia em prol do cuidado de outro.

    A implicao e a avaliao no fazer militante da equipe

    Outro elemento que chama a ateno nas experincias analisadas que os

    trabalhadores das equipes de ateno domiciliar so apaixonados, implicando-se

    intensamente com seu trabalho. Dedicam-se de maneira muito intensa, comprometem-se

    com as pessoas de que cuidam e com suas famlias muito alm do que a

    responsabilidade tcnica/formal prescreve.

    Parece, ento, que a possibilidade de produo inovadora do cuidado neste caso

    est relacionada existncia de um projeto tico-poltico que toma as necessidades do

    usurio como referncia central e que, portanto, reconhece-o como sujeito, interlocutor

    decisivo na produo dos projetos teraputicos (muitas vezes essa autonomia

    arrancada pelas famlias).

    Projeto tico-poltico, por outro lado, que tem na implicao/ paixo um

    elemento decisivo de mobilizao dos trabalhadores. Paixo pela possibilidade de

    resgatar a dimenso cuidadora de seu trabalho em sade. Paixo pela possibilidade de

    criar, inventar, ou seja, paixo pelo trabalho vivo autopoitico. Paixo por terem que se

    defrontar cotidianamente com o inusitado, com as singularidades de cada pessoa e de

    cada famlia (que existem sempre, claro, mas que o cuidado no domiclio

    aparentemente torna mais evidentes) ou seja, paixo pelo trabalho vivo em ato. Paixo

    por se descobrirem humanos em seu trabalho em sade na identificao que ocorre em

    sua percepo sobre a construo das relaes familiares, nas tristezas e alegrias, nos

    medos, na potncia e na impotncia de suas ofertas. Paixo por se desejarem equipe e

    por conseguirem operar essa produo. Paixo pelo resgate da solidariedade em sua

    prtica profissional e pela demolio dos limites impostos pela racionalidade cientfica

  • 303

    na definio de seus fazeres, amores, desamores e responsabilidades nas relaes com

    os usurios.

    Sem implicao e compromisso no seria possvel suportar a instabilidade, a

    incerteza, a exposio e a exigncia de criatividade que um trabalho - desenvolvido de

    maneira to prxima e conectada com os usurios e seu modo de viver a vida - exige.

    Esse grau de implicao das equipes da ateno domiciliar ,associado s demais

    caractersticas de seu trabalho analisadas at aqui (disputa de projeto teraputico,

    necessidade da educao permanente em sade como ferramenta de autoanlise e

    inveno, predomnio da memria oral no registro das experincias de cuidado)

    obrigam-nos a uma necessria reflexo a respeito das possibilidades de avaliao e

    produo de conhecimento a respeito dessa modalidade de organizao do trabalho em

    sade.

    Desinstitucionalizao e substitutividade na ateno domiciliar

    Nos casos analisados, de acordo com os prprios sujeitos dos processos, o

    trabalho desinstitucionalizado, realizado nas casas das pessoas, oferece-lhes mais

    liberdade de criao na conduo das suas atividades (inclusive nos aspectos clnicos),

    permite-lhes relacionar-se diretamente com as pessoas (sem intermedirios), possibilita-

    lhes conhecer e vivenciar seus contextos de vida e essa vivncia mobiliza sua

    capacidade de produzir alternativas coletivas, criativas e apropriadas para o cuidado e a

    produo da autonomia. Tudo isso lhes possibilita construir vnculos mais fortes,

    permite-lhes resgatar de maneira intensiva a dimenso cuidadora do trabalho em sade,

    operando como um trabalhador coletivo. Alm disso e essa uma considerao nossa

    - convivem e so desafiados por um grau inusitado de autonomia das famlias na

    produo dos projetos de cuidado que so implementados.

    Parece, ento, que o fato de o cuidado em sade ser produzido num territrio no

    institucional o domiclio e de se propor a produzir alternativas substitutivas

    organizao do cuidado coloca os atores de outro modo em cena e abre novos espaos

    para a inovao.

    Assim como acontece na sade mental e no trabalho dos agentes comunitrios

    de sade, a tenso constitutiva desse novo espao institucional de cuidado. Tenso

    essa que pode ser produtiva, convertendo-se em fator favorvel ateno domiciliar

    como espao de desinstitucionalizao, potencialmente produtora de inovaes. Ou

  • 304

    pode ser uma tenso que se resolva por meio da subjugao da famlia e da reproduo.

    O projeto tico-poltico das equipes decisivo na definio desse jogo.

    A substitutividade e a desinstitucionalizao seriam ento elementos

    fundamentais para a produo de novas maneiras de cuidar, de novas prticas de sade

    em que o compromisso com a defesa da vida norteia o pacto de trabalho das equipes.

    A partir de toda essa anlise, produzimos indicativos para a formulao de uma

    poltica, destacando as modalidades de oferta e organizao da AD, regulao e

    financiamento, alm da anlise de custos dos servios. No entanto, em funo das

    mudanas no Ministrio da Sade, toda essa produo ficou de fora da formulao da

    portaria, que logo depois entrou em esquecimento. E a Ateno Domiciliar continua no

    sendo considerada em sua potencialidade na produo dos arranjos de ateno.

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