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RESENHA

Segundo Fiorin e Saviolli (2007), resenhar é relacionar as propriedades de um objeto destacando os aspectos relevantes e descrever as circunstâncias que o envolvem.

A resenha pode surgir a partir de um acontecimento qualquer da realidade (jogo de futebol, feira de livros, comemoração solene) ou textos e obras culturais (filmes, romances, teatro).

A resenha pode ser descritiva não apresentando julgamentos ou apreciações do resenhador, ou crítica, com apreciações, notas, correlações estabelecidas por juízos críticos de quem a elaborou.

COMO ELABORAR UMA RESENHA

Material adaptado. Disponível em: <http://www.pucrs.br/gpt/resenha.php> Acesso em 06/02/2013

1. O que deve constar numa resenha O título A referência bibliográfica da obra Alguns dados bibliográficos do autor da obra resenhada (os mais relevantes) O resumo A avaliação crítica

2. O título da resenha

A resenha, como todo texto, tem título e pode ter subtítulo, conforme o exemplo:

Título da resenha: Astro e vilãoSubtítulo: Perfil com toda a loucura de Michael JacksonLivro: Michael Jackson: uma bibliografia não autorizada (Christopher Andersen)

3. A referência bibliográfica do objeto resenhado

Constam da referência bibliográfica: Nome do autor; título da obra; nome da editora; data da publicação; lugar da publicação;

número de páginas; preço.

É importante observar que, às vezes, não consta o lugar da publicação, o número de páginas e/ou preço. Essas informações dependem do objetvo da resenha.

Os dados da referência bibliográfica podem constar destacados do texto, num box ou caixa.

Exemplo: Ensaios sobre a cegueira, o novo livro do escritor português José Saramago (Companhia das Letras; 310 páginas; 20 reais), é um romance metafórico (...)

4. O resumo do objeto resenhado

O resumo que consta numa resenha apresenta os pontos essenciais do seu texto e seu plano geral.

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4.1. Pode-se resumir agrupando, num ou vários blocos, os fatos ou ideias do objeto resenhado. Veja exemplo do resumo feito de Língua e liberdade: uma nova concepção da língua materna e seu ensino (Celso Luft), na resenha intitulada “Um gramático contra a gramática”, escrita por Gilberto Scarton.

Nos seis pequenos capítulos que integram a obra, o gramático bate, intencionalmente, sempre na mesma tecla – uma variação sobre o mesmo tema: a maneira tradicional e errada de ensinar a língua materna, as noções falsas de língua e gramática, a obsessão gramaticalista, a inutilidade do ensino da teoria gramatical, a visão distorcida de que se ensinar a língua é se ensinar a escrever certo, o esquecimento a que se relega a prática linguística, a postura prescritiva, purista e alienada – tão comum nas “aulas de português.”

O velho pesquisador apaixonado pelos problemas de língua, teórico de espírito lúcido e de larga formação linguística e professor de longa experiência leva o leitor a discernir com rigor gramática e comunicação: gramática natural e gramática artificial; gramática tradicional e linguística; o relativismo e o absolutismo gramatical; o saber dos falantes e o saber dos gramáticos, dos linguistas, dos professores; o ensino útil, do ensino inútil; o essencial do irrelevante.

4.2 .Pode-se também resumir de acordo com a ordem dos fatos, das partes e dos capítulos. Veja o exemplo da resenha “Receitas para manter o coração em forma” (Zero Hora, 26 de agosto, 1996), sobre o livro Cozinha do Coração Saudável, produzido pela LDA Editora, com o apoio da Beal.

Receitas para manter o coração em forma

Na apresentação, textos curtos definem os diferentes tipos de gordura e suas formas de atuação no organismo. Na introdução os médicos explicam numa linguagem perfeitamente compreensível o que é preciso fazer (e evitar) para manter o coração saudável.

As receitas de Cozinha do Coração Saudável vêm distribuídas em desjejum e lanches, entradas, saladas e sopas; pratos principais; acompanhamentos; molhos e sobremesas. Bolinhos de aveia e passas, empadinhas de queijo, torta de ricota, suflê de queijo, salpicão de frango, sopa fria de cenoura e laranja, risoto com açafrão, bolo de batata, alcatra ao molho frio, purê de mandioquinha, torta fria de frango, crepe de laranja e pêras ao vinho tinto são algumas das iguarias.

5. Como se inicia uma resenha

5.1. Pode-se começar uma resenha citando-se imediatamente a obra a ser resenhada. Veja os exemplos.

Língua e liberdade: por uma nova concepção da língua materna e seu ensino (L&PM, 1995, 112 páginas), do gramático Celso Pedro Luft, traz um conjunto de idéias que subvertem a ordem estabelecida no ensino da língua materna, por combater, veementemente, o ensino da gramática em sala de aula.

Michael Jackson: uma bibliografia não autorizada (Record: tradução de Alves Calado; 540 páginas, 29,90 reais), que chega às livrarias nesta semana, é o melhor perfil de astro mais popular do mundo”. (Veja, 4 de outubro, 1995).

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5.2. Outra maneira bastante frequente de iniciar uma resenha é escrever um ou dois parágrafos relacionados com o conteúdo da obra. Observe o exemplo da resenha sobre o livro História dos Jovens (Giovanni Levi e Jean-Claude Schmitt), escrita por Hilário Franco Júnior (Folha de São Paulo, 12 de julho, 1996).

O que é ser jovemHilário Franco Júnior

Há poucas semanas, gerou polêmica a decisão do Supremo Tribunal Federal que inocentava um acusado de manter relações sexuais com uma menor de 12 anos. A argumentação do magistrado, apoiada por parte da opinião pública, foi que “hoje em dia não há menina de 12 anos, mas mulher de 12 anos”.

Outra parcela da sociedade, por sua vez, considerou tal veredito como a aceitação de “novidades imorais de nossa época”. Alguns dias depois, as opiniões foram novamente divididas diante da estatística publicada pela Organização Mundial do Trabalho, segundo a qual 73 milhões de menores entre 10 e 14 anos de idade trabalham em todo o mundo. Para alguns isso é uma violência, para outros um fato normal em certos quadros sócio-econômico-culturais.

Essas e outras discussões muito atuais sobre a população jovem só podem pretender orientar comportamentos e transformar a legislação se contextualizadas, relativizadas. Enfim, se historicizadas. E para isso a “História dos Jovens” – organizada por dois importantes historiadores, o modernista italiano Giovanno Levi, da Universidade de Veneza, e o medievalista francês Jean-Claude Schmitt, da École des Hautes Études em Sciences Sociales - traz elementos interessantes.

Há, evidentemente, numerosas outras maneiras de se iniciar um texto-resenha.

6. A crítica

A resenha crítica não deve ser vista ou elaborada mediante um resumo a que se acrescenta, ao final, uma avaliação ou crítica. A postura crítica deve estar presente desde a primeira linha, resultando num texto em que o resumo e a voz crítica do resenhista se interpenetram.

7. Exemplo de resenha

Atwood se perde em panfleto feministaMarilene Felinto

Da Equipe de Articulistas

Margaret Atwood, 56, é uma escritora canadense famosa por sua literatura de tom feminista. No Brasil, é mais conhecida pelo romance A mulher comestível (Ed. Globo). Já publicou 25 livros entre poesia, prosa e não-ficção. A Noiva Ladra é seu oitavo romance.

O livro começa com uma página inteira de agradecimentos, procedimento normal em teses acadêmicas, mas não em romances. Lembra também aqueles discursos que autores de cinema fazem depois de receber o Oscar. A escritora agradece desde aos livros sobre guerra, que consultou para construir o “pano de fundo” de seu texto, até a uma parente, Lenore Atwood, de quem tomou emprestada a (original? significativa?) expressão “meleca cerebral”.

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Feitos os agradecimentos e dadas as instruções, começam as quase 500 páginas que poderiam, sem qualquer problema, ser reduzidas a 150. Pouparia precioso tempo ao leitor bocejante.

É a história de três amigas, Tony, Roz e Charis, cinqüentonas que vivem infernizadas pela presença (em “flashback”) de outra amiga, Zenia, a noiva ladra, inescrupulosa “femme fatale” que vive roubando os homens das outras.

Vilã meio inverossímel – ao contrário das demais personagens, construídas com certa solidez –, a antogonista Zenia não se sustenta, sua maldade não convence, sua história não emociona. A narrativa desmorona, portanto, a partir desse defeito central. Zenia funcionaria como superego das outras, imagem do que elas gostariam de ser, mas não conseguiram, reflexo de seus questionamentos internos – eis a leitura mais profunda que se pode fazer desse romance nada surpreendente e muito óbvio no seu propósito.

Segundo a própria Atwood, o propósito era construir, com Zenia, uma personagem mulher “fora-da-lei”, porque “há poucas personagens mulheres fora-da-lei”. As intervenções do discurso feminista são claras, panfletárias, disfarçadas de ironia e humor capengas. A personagem Tony, por exemplo, tem nome de homem (é apelido para Antônia) e é professora de história, especialista em guerras e obcecada por elas, assunto de homens: “Historiadores homens acham que ela está invadindo o território deles, e deveria deixar as lanças, flechas, catapultas, fuzis, aviões e bombas em paz”.

Outras alusões feministas parecem colocadas ali para provocar riso, mas soam apenas ingênuas: “Há só uma coisa que eu gostaria que você lembrasse. Sabe essa química que afeta as mulheres quando estão com TPM? Bem, os homens têm essa química o tempo todo”. Ou então, a mensagem rabiscada na parede do banheiro: “Herstory Not History”, trocadilho que indicaria o machismo explícito na palavra “História”, porque em inglês a palavra pode ser desmembrada em duas outras, “his” (dele) e story (estória). A sugestão contida no trocadilho é a de que se altere o “his” para “her” (dela).

As histórias individuais de cada personagem são o costumeiro amontoado de fatos cotidianos, almoços, jantares, trabalho, casamento e muita “reflexão feminina” sobre a infância, o amor, etc. Tudo isso narrado da forma mais achatada possível, sem maiores sobressaltos, a não ser talvez na descrição do interesse da personagem Tony pelas guerras.

Mesmo aí, prevalecem as artificiais inserções de fundo histórico, sem pé nem cabeça, no meio do texto ficcional, efeito da pesquisa que a escritora – em tom cerimonioso na página de agradecimentos – se orgulha de ter realizado.

8. A expressão da subjetividade do autor da resenha

Em uma resenha, como em outros textos acadêmicos ou mesmo jornalísticos, é comum o autor evitar escrever em primeira pessoa, mas continuar expressando sua subjetividade. Isso garante maior veracidade ao que está sendo dito, pois não parece que é uma opinião de um resenhista, mas uma característica da própria obra.

O resenhista deve tentar ser “polido”, evitando agredir o autor da obra resenhada, procurando garantir neutralidade ao que é dito. Para tanto, poderá usar os seguintes recursos linguísticos:

a) Uso de expressões que atenuam as opiniões, como parece-me.Ex: Parece-me que falta ao texto de Fontes um tratamento mais detalhado da estrutura sindical...

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b) Uso de tempo verbal futuro do pretérito.Ex: O enfrentamento dessas indagações permitiria...

c) Uso de verbos modais.Ex: O assistencialismo pode e deve ser analisado...

d) Uso de adjetivos e advérbios para expressar a opinião do resenhista.Ex: Paulo Fontes faz um bom relato.

9. Diferentes formas de menção ao dizer do autor do texto resenhado

Observe, nos excertos abaixo, retirados da resenha “Trabalhadores e cidadãos”, os verbos utilizados pelo resenhista para mencionar os atos utilizados pelo autor do texto original, mostrando o que o autor “faz” naquela parte do livro.

1. No dizer do próprio autor, objetivou-se “... aprofundar a análise da montagem, da lógica interna, contradições e legitimação ou não por parte dos trabalhadores de um determinado modelo de dominação e gestão da mão-de-obra criado pela Nitro Química ...”.

2. O recorte temporal justifica-se, segundo Paulo Fontes, por ter sido esta a década em que o modelo de dominação empresarial gestado nos anos antecedentes viveu o seu ápice ...

3. O trabalho se estrutura em cinco capítulos. No primeiro, apresenta-se uma análise do contexto que marcou a trajetória da empresa, desde sua criação até o final dos anos cinquenta.

4. O capítulo 4º dedica-se ao estudo da organização sindical dos operários da Nitro Química e das sua relações com o Partido Comunista ...

5. Paulo Fontes faz um bom relato das razões pelas quais os trabalhadores olhavam com muita desconfiança para o Sindicato...

6. O último capítulo analisa a greve dos trabalhadores da Nitro Química...

Para evitar a repetição do nome do autor, podemos nos referir a ele utilizando o autor, ou ainda, fazer referências à obra original: a obra, o livro, o capítulo, a pesquisa.

Relação dos verbos com aquilo que indicam

Ação do autor da obra original Verbos possíveis usados pelo resenhista

Estrutura e organização da obra estruturar-se; dividir-se, organizar-se, concluir, terminar, começar

Indicação do conteúdo geral apresentar, desenvolver, descrever, explicar, demonstrar, mostrar, narrar, analisar, apontar, abordar

Indicação dos objetivos da obra objetivar, ter o objetivo de, se propor a,

Posicionamento do autor da obra em relação à sua tese

sustentar, contrapor, confrontar, opor, justificar, defender a tese, afirmar

Fonte: MACHADO, Anna Rachel; LOUSADA, Eliane; ABREU-TARDELLI, Lilia; Resenha. 2 ed. São Paulo: Parábola, 2004.

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ATIVIDADES

1. Leia atentamente o texto abaixo (Elaborado com base em MACHADO, A.R; LOUSADA, E; ABREU-TARDELLI, L. S. Resenha. São Paulo: Parábola Editorial, 2004 – Extraído da Apostila do Proinício UEM – Português Módulo II, 2012).

As resenhas têm por finalidade mais geral examinar e apresentar obras prontas (filmes, livros, peças teatrais, CDs, DVDs etc). Nesse sentido, podem aparecer em revistas especializadas das várias áreas da ciência, das artes e da filosofia com o propósito de divulgação, pois é através delas que se toma conhecimento prévio do conteúdo e do valor, por exemplo, de um livro que acaba de ser publicado, fundando-se, nesta informação, a decisão de se ler um livro ou não. Podem, também, constituir exercício inicial de autonomia intelectual uma vez que o exame de obras já prontas enseja o exercício da compreensão e da crítica – nesse sentido, é, por vezes, solicitada em cursos superiores de graduação e pós-graduação como atividade de reflexão sobre artigos, livros, capítulos de livros etc.

Numa resenha, expõe-se, o mais claramente possível e com certos detalhes, o conteúdo de uma obra (seu propósito, o método que segue...) para posteriormente desenvolver uma apreciação crítica do conteúdo, da disposição das partes, do método, de sua forma ou estilo e, se for o caso, da apresentação tipográfica, formulando um conceito sobre o livro, artigo, capítulo de livro.

Nesse sentido, uma resenha compreende uma abordagem objetiva (onde se descreve o assunto ou algo que foi observado, sem emitir juízo de valor) e uma abordagem subjetiva (apreciação crítica na qual se evidenciam os juízos de valor de quem está elaborando a resenha).

Sua elaboração passa por três etapas fundamentais: (1) leitura; (2) resumo; e (3) comentário crítico. A leitura visa à compreensão da obra a ser resenhada. No resumo busca-se a descrição do assunto do livro, texto, artigo ou ensaio, a apresentação das idéias principais e das secundárias que sustentam o pensamento do autor. A apreciação crítica (ou comentário crítico) deve ser feita em termos de concordância ou discordância, levando em consideração a validade ou a aplicabilidade do que foi exposto pelo autor. Assim, pode-se destacar a contribuição que o texto traz para determinados setores da cultura, sua qualidade cientifica, literária ou filosófica, sua originalidade etc. Negativamente, pode-se explicitar as falhas, incoerências e limitações o texto. A apreciação crítica pode ser feita no final do texto, após a exposição do conteúdo, mas, também, pode ser distribuída difusamente, junto com momentos anteriores: expõe-se e comenta-se, simultaneamente, as idéias do autor.

Vale destacar que é importante a presença de independência de juízo, ou seja, ter consciência de que o que importa não é saber se as conclusões do autor coincidem com as nossas opiniões, mas se foram deduzidas corretamente. Devemos, também, respeitar sempre a pessoa do autor e suas intenções.

Numa resenha, deve aparecer: (a) identificação da obra; (b) apresentação da obra; (c) descrição da obra (sua estrutura e seu conteúdo); (d) análise crítica; e (e) identificação do autor da resenha. Se forem citadas, durante a resenha, outras obras – que podem ser utilizadas para comparação – deve-se, ao final da resenha, indicar referências bibliográficas de acordo com a NBR-6023 de 2000 da ABNT sobre referências bibliográficas.

2. Agora, leia as resenhas abaixo e destaque momentos em que o autor faz uma descrição (portanto, um resumo ou uma síntese) da obra resenhada e momentos em que ele faz uma apreciação crítica da obra.

Texto 1 – Texto extraído de FIORIN, José Luiz; SAVIOLI, Francisco Platão. Para entender o texto: leitura e redação. 17 ed. São Paulo: Ática, 2007.

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MEMÓRIA – ricas lembranças de um precioso modo de vida

O Diário de uma garota (Record, Maria Julieta Drummond de Andrade) é um texto que comove de tão bonito. Nele o leitor encontra o registro amoroso e miúdo dos pequenos nadas que preencheram os dias de uma adolescente em férias, no verão antigo de 41 para 42. Acabados os exames, Maria Julieta começa seu diário, anotado em um caderno de capa dura que ela ganha já usado até a página 49. É a partir daí que o espaço é todo da menina, que se propõe a registrar nele os principais acontecimentos destas férias para mais tarde recordar coisas já esquecidas. O resultado final dá conta plena do recado e ultrapassa em muito a proclamada modéstia do texto que, ao ser concebido, tinha como destinatária única a mãe da autora, a quem o caderno deveria ser entregue quando acabado.

E quais foram os afazeres de Maria Julieta naquele longínquo verão? Foram muitos, pontilhados de muita comilança e de muita leitura: cinema, doce-de-leite, novena, o Tico-Tico, doce-de-banana, teatrinho, visita, picolés, missa, rosca, cinema de novo, sapatos novos de camurça branca, o Cruzeiro, bem-casados, romances franceses, comunhão, recorte de gravuras, Fon-Fon, espiar casamentos, bolinho de legumes, festas de aniversário, Missa do galo, carta para a família, dor-de-barriga, desenho de aquarela, mingau, indigestão ... Tudo parecia pouco para encher os dias de uma garota carioca em férias mineiras, das quais regressa sozinha, de avião. Tantas e tão preciosas evocações resgatam do esquecimento um modo de vida que é hoje apenas um dolorido retrato na parede. Retrato, entretanto, que, graças à arte de Julieta, escapa da moldura, ganha movimentos, cheiros, risos e vida. O livro, no entanto, guarda ainda outras riquezas: por exemplo, o tom autêntico de sua linguagem, que, se, como prometeu sua autora, evita as pompas, guarda, não obstante, o sotaque antigo do tempo em que os adolescentes que faziam diários dominavam os pronomes cujo / a / os / as, conheciam a impessoalidade do verbo haver no sentido de existir e empregavam, sem pestanejar, o mais-que-perfeito do indicativo quando de direito ... Outra e não menor riqueza do livro é o acerto de seu projeto gráfico, aos cuidados de Raquel Braga. Aproveitando para ilustração recortes que Maria Julieta pregava em seu diário e reproduzindo na capa do livro a capa marmorizada do caderno, com sua lombada e cantoneiras imitando couro, o resultado é um trabalho em que forma e conteúdo se casam tão bem casados que este Diário de uma garota acaba constituindo uma grande festa para seus leitores.

Marisa Lajolo - Jornal da Tarde, 18 jan. 1986.

Texto 2 – Disponível em: <http://cinefilos.jornalismojunior.com.br/2012/06/01/o-conto-nao-e-mais-de-fadas/>. Acesso em: 15 jun. 2012.

O conto não é mais de fadas– 1 DE JUNHO DE 2012POSTADO EM: LANÇAMENTOS

Nem a fofura infantil abordada pelo clássico da Disney e nem a (falha tentativa de) comédia em Espelho, Espelho Meu  (Mirror, Mirror. EUA. 2012) estão presentes no longa-metragem Branca de Neve e o Caçador(Snow White and The Huntsman. EUA. 2012). O filme teve ambições maiores e deu à famosa história um viés mais épico e quase um estatuto de lenda.

Assim como em Kill Bill (EUA. 2003.), de Quentin Tarantino, (porém com menos evidência) há uma miscelânea de elementos presentes em várias outras histórias que foi inserida no roteiro de A Branca de Neve e o Caçador e que de fato funcionou: a madrasta má, além de rainha bruxa, é uma espécie de vampira que suga a beleza e a juventude das moças do reino (que passam a cortar o próprio rosto para se protegerem); o mundo, que antes era inóspito e morto, passa a se restaurar

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quando o espelho mágico decreta que Branca de Neve virá a ser a mais bela do reino (assim como em As Crônicas de Nárnia).

Uma espécie de profecia é citada durante o filme e coloca que apenas Branca de Neve poderá matar a Rainha Má (assim como na saga Harry Potter, onde Harry era o único que poderia matar Voldemort); e notam-se traços de Robin Hood no Príncipe William (ótimo arqueiro que aparece pela primeira vez atacando uma carruagem de suprimentos que pertencem à rainha) interpretado por Sam Clafin.

Elogios devem ser feitos à direção de arte, com destaque para o dualismo estético criado entre a ambientação da Floresta Negra e da Floresta Encantada, e a algumas cenas de guerra que foram muito bem coreografadas e filmadas em ângulos não tão convencionais.

Em termos de interpretação, como se previa, Kristen Stewart (Branca de Neve) em poucos momentos apresentou mais do que seus olhos arregalados e seu suspiro de boca semi-aberta, que já são amplamente conhecidos após sua participação na Saga Crepúsculo. Mas em compensação, Charlize Theron (Rainha Má) fez até com que momentos manjados se tornassem intensos, como a hora em que expulsa do quarto os servos que lhe trouxeram seu espelho mágico, naquela forma clássica: “fora… – pausa dramática – FORA!”. Também deve-se ressaltar os poucos mas suficientes momentos cômicos realizados pelos 8 (não mais 7) anões do filme.

Adaptações à parte, alguns elementos originais da história foram mantidos, como a maçã envenenada dada a Branca de Neve pela Rainha Má disfarçada. Entretanto houve uma mudança que não pode ser de maneira alguma contextualizada. A história se passa num mundo que embora possua aspectos medievais não se aproxima da realidade do espectador por conter elementos mitológicos e criaturas fantásticas. Desse modo não houve o menor sentido quando, logo no início do filme (após a introdução com a infância de Branca de Neve), Branca, enclausurada em sua torre, reza um Pai Nosso. Afinal, não há espaço para cristianismo num mundo onde existem trasgos, fadas, bruxas e todo um universo mágico.

No geral o filme foi muito acima das expectativas, que não eram assim tão altas (afinal, Espelho, Espelho Meu deixou muito a desejar). E quanto à limitada dramaturgia de Kristen Stewart, o filme compensa em vários outros aspectos e realiza bem sua função de entretenimento.

Referências Bibliográficas

FIORIN, José Luiz; SAVIOLLI, Francisco Platão. Para entender o texto: leitura e redação. 17 ed. São Paulo: Ática, 2007.

MACHADO, Anna Rachel; LOUSADA, Eliane; ABREU-TARDELLI, Lilia; Resenha. 2 ed. São Paulo: Parábola, 2004.

Material elaborado por Carlos Henrique Durlo e Virginia Nuss.