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fls.1 CNJ: 0001260-85.2012.5.09.0012 TRT: 28156-2012-012-09-00-8 (RO) PODER JUDICIÁRIO JUSTIÇA DO TRABALHO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 9ª REGIÃO "A conciliação é o melhor caminho para a paz" 7ª TURMA COMPANHIA PARANAENSE DE ENERGIA (COPEL). TERCEIRIZAÇÃO DE ATIVIDADE-FIM. ATIVIDADES DE MANUTENÇÃO DE LINHAS, REDES E EQUIPAMENTOS. IMPOSSIBILIDADE. OBRAS DE CONSTRUÇÃO CIVIL CERTAS E TEMPORÁRIAS. EXCLUSÃO. Conforme enuncia o item I da Súmula nº 331 do C. TST, salvo nos casos de trabalho temporário (Lei nº 6.019/74), a contratação de trabalhadores por empresa interposta é, de regra, ilegal. Como exceção, o item III reconhece a licitude da intermediação da mão-de-obra na contratação de serviços de vigilância (Lei nº 7.102/83), de conservação e limpeza, ou de "serviços especializados ligados à atividade-meio do tomador" e, ainda, desde que inexista pessoalidade e subordinação direta. O art. 25, § 1º, da Lei nº 8.987/95, que dispõe sobre o regime de concessão e permissão da prestação de serviços públicos previsto no artigo 175 da Constituição Federal, não autoriza a subcontratação de atividades finalísticas. Em função uniformizadora, o C. TST definiu que o art. 25 da Lei nº 8.987/95 e o art. 94, inciso II, da Lei nº 9.472/97, veiculam normas de Direito Administrativo, que não podem deixar de receber interpretação ponderada em relação ao Direito do Trabalho. Estabelece-se, neste contexto, uma "lacuna de colisão", na acepção de Claus Wilhelm Canaris, que se resolve pela exclusão da linha interpretativa colidente com postulados próprios da disciplina jurídica que se examina, pois, no âmbito do Direito do Trabalho, "a terceirização na esfera finalística Documento assinado com certificado digital por Ubirajara Carlos Mendes - 08/05/2014 Confira a autenticidade no sítio www.trt9.jus.br/processoeletronico Código: 1L2L-H311-4117-A138

COMPANHIA PARANAENSE DE - senge-pr.org.br · execução de atividades de operação, manutenção ... civil, na acepção da legislação previdenciária, compreende a construção,

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CNJ: 0001260-85.2012.5.09.0012TRT: 28156-2012-012-09-00-8 (RO)

PODER JUDICIÁRIOJUSTIÇA DO TRABALHOTRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 9ª REGIÃO"A conciliação é o melhor caminho para a paz"

7ª TURMA

COMPANHIA  PARANAENSE  DEENERGIA  (COPEL).  TERCEIRIZAÇÃO  DEATIVIDADE-FIM. ATIVIDADES DE MANUTENÇÃODE   L I NHA S ,   R E D E S   EEQUIPAMENTOS.    IMPOSSIBILIDADE.  OBRAS  DECONSTRUÇÃO  CIVIL  CERTAS  E  TEMPORÁRIAS.EXCLUSÃO.  

Conforme enuncia o item I da Súmula nº 331 do C. TST,salvo nos casos de trabalho temporário (Lei nº 6.019/74),a contratação de trabalhadores por empresa interposta é,de  regra,  ilegal.  Como  exceção,  o  item  III  reconhece  alicitude da intermediação da mão-de-obra na contrataçãode serviços de vigilância (Lei nº 7.102/83), de conservaçãoe  limpeza,  ou  de  "serviços  especializados  ligados  àatividade-meio do tomador" e, ainda, desde que inexistapessoalidade  e  subordinação  direta. O  art.  25,  §  1º,  daLei nº 8.987/95, que dispõe sobre o regime de concessão epermissão da prestação de serviços públicos previsto noartigo  175  da  Constituição  Federal,  não  autorizaa  subcontratação  de  atividades  finalísticas.  Em  funçãouniformizadora, o C. TST definiu que o art. 25 da Lei nº8.987/95 e o art. 94, inciso II, da Lei nº 9.472/97, veiculamnormas de Direito Administrativo, que não podem deixarde  receber  interpretação  ponderada  em  relação  aoDireito do Trabalho. Estabelece-se,  neste  contexto, uma"lacuna  de  colisão",  na  acepção  de  Claus  WilhelmCanaris,  que  se  resolve  pela  exclusão  da  linhainterpretativa  colidente  com  postulados  próprios  dadisciplina  jurídica  que  se  examina,  pois,  no  âmbito  doDireito do Trabalho, "a terceirização na esfera finalística

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7ª TURMA

das empresas, além de atritar com o eixo fundamental dalegislação  trabalhista,  como  afirmado,  trariaconsequências  imensuráveis  no  campo  da  organizaçãosindical  e  da  negociação  coletiva."  (ED-E-RR  -586341-05.1999.5.18.5555,  Data  de  Julgamento:28/05/2009,  Subseção  I  Especializada  em  DissídiosIndividuais,  Data  de  Publicação:  16/10/2009).  Superadaesta questão, possuem caráter  finalístico, pois centradasno  objeto  da  concessão  de  distribuição/comercializaçãode energia elétrica, os  serviços de redes de  transmissão,distribuição aérea e subterrânea, inclusive manutenção; aexecução  de  atividades  de  operação,  manutenção(preventiva,  corretiva  ou  emergencial),  e  inspeção  deequipamentos,  linhas  e  redes  elétricas  -  usinas,subestações  e  unidades  consumidoras,  de  rotina  ou  deemergência;  a  recuperação do  sistema  elétrico;  serviçosde  instalação e substituição de ramal de serviço aéreo eligação de consumidor; suspensão e religação de unidadesconsumidoras;  serviços  de  leitura  (compreendem  aapuração  dos  registros,  em  medidores  de  consumo  deKWh, de cada unidade de consumo ligada ou desligada,bem  como  inspeções  visuais  e  indicação  de  eventuaisirregularidades  verificadas  relativamente  ao  consumo  eàs  instalações);  processamento  de  dados  e  demaisatividades  inerentes  ao  faturamento  decontas. Excepcionam-se, todavia, a "construção de linhase  redes  elétricas  energizadas",  e  as  demais  atividadestípicas de construção civil, complementares, inseridas ouagregadas  àquelas  antes  relacionadas,  inclusive  ematividades  de  manutenção  (preventiva,  corretiva  ouemergencial)  e ampliação de redes. Obra de construçãocivil,  na  acepção  da  legislação  previdenciária,compreende  a  construção,  a demolição,  a  reforma ou aampliação  de  edificação,  de  instalação  ou  de  qualqueroutra benfeitoria agregada ao solo ou subsolo. Ainda, deacordo com o item 7.02 da Lista de Serviços, anexa à LeiComplementar  nº  116/2003,  o  conceito  de  obras  deconstrução  civil  compreende  a:  "7.02  -  Execução,  poradministração,  empreitada  ou  subempreitada,  de  obras

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7ª TURMA

de  construção  civil,  hidráulica  ou  elétrica  e  de  outrasobras  semelhantes,  inclusive  sondagem,  perfuração  depoços,  escavação, drenagem e  irrigação,  terraplanagem,pavimentação, concretagem e a instalação e montagem deprodutos,  peças  e  equipamentos  (exceto  o  fornecimentode  mercadorias  produzidas  pelo  prestador  de  serviçosfora do local da prestação dos serviços, que fica sujeito aoICMS)".  Tais  atividades,  porque  afetas  a  serviçosespecializados  de  engenharia  e  porque  demandamcoordenação  de  mão-de-obra  especializada  deengenharia, máquinas e equipamentos específicos, como,a  exemplo  das  demais  acima  listadas,  a  construção  deuma  subestação,  afastam-se  do  objetivo  primordial  daCompanhia  Paranaense  de  Energia  -  COPEL;  não  seajustam,  na  expressão  usada  pelo  Ministro  MaurícioGodinho Delgado, ao núcleo de sua dinâmica empresariale  demandam  execução  por  pessoal  especializado,equipamentos e maquinários específicos para escavações,escoramentos, concretagem, recomposição de pavimentos(calçadas  e  ruas),  etc.  Na  hipótese,  a  CompanhiaParanaense  de Energia  - COPEL desenvolve  atividadesde distribuição de energia elétrica em todo o Estado doParaná  e,  neste  amplo  território,  a  contratação  destasespecializadas reflete uma forma de prestar seus serviçosde modo mais eficiente, equilibrando o interesse social doEstado  e  o  interesse  econômico  do  empreendimento,prestado com maior agilidade, economia e produtividade.A  bem  do  próprio  interesse  público,  não  se  afigurarazoável  que  a  Companhia  mantenha  maquinárioespecífico,  geralmente  de  grande  porte,  e  pessoalespecializado em construção civil, em cada localidade doEstado, a demandar execução de serviços desta natureza.Recurso ordinário a que  se dá parcial provimento paraexcluir do provimento condenatório a abstenção relativaà atividade listada no item "a.3" da petição inicial, qualseja, a construção de linhas e redes elétricas energizadas,e,  relativamente  às  demais  (itens  "a.1"  a  "a.5"),  toda

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7ª TURMA

atividade  a  elas  agregadas  ou  complementares  queenvolvam a necessidade de obra de construção civil, tudonos contornos ora definidos.

   

   

      

V  I  S  T  O  S,  relatados  e  discutidos  estes  autos  de 

,  provenientes  da RECURSO ORDINÁRIO MM.  12ª  VARA DO TRABALHO DE

, sendo Recorrente CURITIBA - PR COMPANHIA PARANAENSE DE ENERGIA -

  e  Recorrido COPEL MINISTÉRIO  PÚBLICO  DO  TRABALHO  -

.PROCURADORIA REGIONAL DO TRABALHO DA 9ª REGIÃO

I. RELATÓRIO

 

Inconformado  com  a  r.  sentença  de  fls.  654/679,

complementada pela decisão  resolutiva de  embargos de  fls.  694/692,  ambas proferidas

pelo  Exmo.  Juiz  do  Trabalho  ,  que  acolheuLuciano  Augusto  de  Toledo  Coelho

parcialmente os pedidos, recorre a Reclamada.

Pretende, em razões aduzidas às fls. 696/758, a reforma da r.

sentença quanto aos seguintes itens: a) incompetência material da Justiça do Trabalho; b)

ilegitimidade  ativa  do  Ministério  Público  do  Trabalho;  c)  terceirização  de  atividades

inerentes  ou  acessórias  -  autorização  legal;  d)  dano  moral  coletivo;  e  e)  ausência  de

pedido de comprovação da fiscalização - sentença "ultra petita". nulidade.

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7ª TURMA

Custas recolhidas à fl. 760 e depósito recursal efetuado à fl.

759.

Contrarrazões  apresentadas  pelo  Ministério  Público  do

Trabalho às fls. 764/793.

Atuando como parte no processo, descabe a  intervenção do

Ministério Público do Trabalho como fiscal da lei.

II. FUNDAMENTAÇÃO

1. ADMISSIBILIDADE

 

Presentes  os  pressupostos  legais  de  admissibilidade, 

 do recurso ordinário interposto, assim como das respectivas contrarrazões.CONHEÇO

2. PRELIMINAR

INCOMPETÊNCIA MATERIAL DA JUSTIÇA DOTRABALHO. RELAÇÃO DE TERCEIRIZAÇÃO.CONTRATOS ADMINISTRATIVOS FIRMADOSENTRE PESSOAS JURÍDICAS

 

Trata-se  de  ação  civil  pública  ajuizada  pelo  Ministério

Público do Trabalho  em  face da Companhia Paranaense de Energia Elétrica  - COPEL

para  que  esta  se  abstenha  de  utilizar mão  de  obra  interposta  na  execução  de  serviços

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7ª TURMA

relacionados à sua atividade fim, assim elencados na peça inicial (item "a" - fls. 68/69): 

a.1 - serviços de redes de transmissão, distribuição aérea e subterrânea, inclusive

 manutenção; a.2 - execução de atividades de operação, manutenção (preventiva,

corretiva ou emergencial), e inspeção de equipamentos, linhas e redes elétricas - usinas,

 subestações e unidades consumidoras, de rotina ou de emergência; a.3 - construção de

   linhas e redes elétricas energizadas; a.4 - recuperação do sistema elétrico; a.5 - serviços

 de instalação e substituição de ramal de serviço aéreo e ligação de consumidor; a.6 -

 suspensão e religação de unidades consumidoras; a.7 - serviços de leitura (compreendem

a apuração dos registros, em medidores de consumo de KWh, de cada unidade de

consumo ligada ou desligada, bem como inspeções visuais e indicação de eventuais

 irregularidades verificadas relativamente ao consumo e às instalações); a.8 -

processamento de dados e demais atividades inerentes ao faturamento de contas.

Aduziu,  ainda,  as  obrigações  de  abster-se  de  contratar

serviços, mesmo relacionados à sua atividade-meio, quando existentes a pessoalidade e a

subordinação direta (Súmula n.° 331 do C. TST), sob pena de pagamento de multa diária

de R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais) a ser revertida ao Fundo de Amparo ao Trabalhador

-  FAT  ou  outro  fundo  regularmente  constituído  destinado  à  reconstituição  dos  bens

lesados  ;  rescindir,  no  prazo  de  até  180  (cento  e  oitenta)  dias,  os  atuais(item  "b")

contratos  firmados  com  empresas  terceirizadas  que  prevejam  a  prestação  de  serviços

afetos à sua atividade fim, notadamente aqueles listados no item "a" supra, sob pena de

pagamento de multa diária de R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais) a ser revertida ao Fundo

de Amparo ao Trabalhador - FAT ou outro fundo regularmente constituído destinado à

reconstituição  dos  bens  lesados  ;  enquanto  não  rescindidos  os  contratos  na(item  "c")

forma prevista no item anterior, obrigar o cumprimento, pelas empresas terceirizadas que

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7ª TURMA

mantiver contratadas, das normas de segurança do trabalho, em especial das NR-6, 7 e 10 

.(item "d")

A Reclamada  (Companhia Paranaense  de Energia  - Copel)

arguiu  preliminar  de  incompetência material  da  Justiça  do  Trabalho,  rejeitada  pelo  d.

Juízo "a quo" aos seguintes fundamentos (fl. 657):

O argumento da ré é o de que a justiça do trabalho seria incompetenteporque a matéria é regida pelo direito administrativo e pelo direitocivil, de que existe ausência de relação de emprego e de trabalho. Ora,não é a disciplina de direito aplicável que fixa a competência, uma vezque o direito é único, e sim a relação jurídica de fundo a ser analisada.O fato de se tratar de relação de emprego ou de trabalho é matériaafeita ao mérito das decisões trabalhistas e não para ser analisado emsede de preliminar.

Por fim, uma ação civil pública questionando as terceirizações emsociedade de economia mista é matéria cuja competência da justiça dotrabalho é cristalina nos termos do artigo 114 da Constituição Federalnão se aventando, nem por hipótese, competência da justiça comum oujustiça federal nesse caso. Por outro lado, o MPT é parte legítima emface da LC 75/93 e Lei 7347/85. 

 

Não merece reparo a r. decisão.        

A partir da Emenda Constitucional n.º 45/04, o art. 114 da

Constituição Federal passou a vigorar com a seguinte redação:

Art. 114. Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar:

I - as ações oriundas da relação de trabalho, abrangidos os entes dedireito público externo e da administração pública direta e indiretada União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios;

II - as ações que envolvam exercício do direito de greve;

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7ª TURMA

III  -  as  ações  sobre  representação  sindical,  entre  sindicatos,  entresindicatos e trabalhadores, e entre sindicatos e empregadores;

IV  -  os  mandados  de  segurança,  habeas  corpus  e  hábeas  data,quando o ato questionado envolver matéria sujeita à sua jurisdição;

V  -  os  conflitos  de  competência  entre  órgãos  com  jurisdiçãotrabalhista, ressalvado o disposto no art. 102, I, o;

VI  -  as  ações  de  indenização  por  dano  moral  ou  patrimonial,decorrentes da relação de trabalho;

VII - as ações relativas às penalidades administrativas impostas aosempregadores pelos órgãos de fiscalização das relações de trabalho;

VIII  - a execução, de ofício, das contribuições  sociais previstas noart.  195,  I,  a,  e  II,  e  seus  acréscimos  legais,  decorrentes  dassentenças que proferir;

IX  -  outras  controvérsias  decorrentes  da  relação  de  trabalho,  naforma da lei.

                              

A Emenda  ampliou  a  competência  da  Justiça  do  Trabalho

para abranger,  como visto,  todos os conflitos que  têm origem nas  relações de  trabalho

"lato sensu", incluindo-se a prestação de serviços.

Carlos  Henrique  Bezerra  Leite  discorre  a  propósito  das

relações emolduráveis no conceito constitucional:

Relação de  trabalho  é  aquela que diz  respeito,  repise-se,  a  toda  equalquer  atividade  humana  em  que  haja  prestação  de  trabalho,como  a  relação  de  trabalho:  autônomo,  eventual,  de  empreitada,avulso,  cooperado,  doméstico,  de  representação  comercial,temporário,  sob  a  forma  de  estágio  etc.  Há,  pois,  a  relação  detrabalho pela presença de três elementos: o prestador do serviço, otrabalho (subordinado ou não) e o tomador do serviço.

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7ª TURMA

Já  a  relação  de  emprego  ocupa-se  de  um  tipo  específico  destaatividade humana: o  trabalho  subordinado, prestado por um  tipoespecial  de  trabalhador:  o  empregado.  Aqui,  o  que  importa  é  arelação  jurídica  existente  entre  o  empregado  e  o  empregador(mesmo  quando  este  seja  pessoa  de  direito  público  interno  ouexterno),  para  efeito  de  aplicação  do  Direito  do  Trabalho.  Três,portanto, são os elementos da relação de emprego: o empregado, oemprego e o empregador.

(...)

A relação de emprego, portanto, é aquela que surge de um contrato,que  é  um  negócio  jurídico  estabelecido  entre  empregado  eempregador.  Suas  características  básicas  são:  a  subordinaçãojurídica  do  trabalhador  ao  poder  de  comando  do  empregador,  anão-eventualidade  na  prestação  do  serviço,  a  remuneração  pelosserviços prestados e a pessoalidade do trabalhador - sempre pessoafísica - na prestação do serviço (CLT, arts. 2º e 3º).Já a relação detrabalho  é  que  diz  respeito  a  qualquer  trabalho  prestado,  semvínculo  empregatício,  por  pessoa  física  a  um  tomador  do  seuserviço.  São  espécies  de  relação  de  trabalho  as  decorrentes  dotrabalho: autônomo, eventual, estatutário, cooperativo, avulso etc." (BEZERRA LEITE, Carlos Henrique.  Curso  de  direito  processual  do

trabalho. 3. ed. São Paulo: LTr, 2005. p. 148-149).

 

Pertinente, também, o ensinamento de Ives Gandra da Silva

Martins Filho a respeito da questão:

Assim, a relação de trabalho poderia ser definida como uma relaçãojurídica de natureza  contratual  entre  trabalhador  (sempre pessoafísica) e aquele para quem presta serviço (empregador ou tomadordos  serviços,  pessoas  físicas  ou  jurídicas),  que  tem  como  objeto  otrabalho  remunerado  em  suas  mais  diferentes  formas.  (...).(MARTINS  FILHO,  Ives  Gandra  da  Silva.  A  reforma  do  poderjudiciário  e  seus  desdobramentos  na  justiça  do  trabalho.  Artigopublicado na Revista LTr. Vol. 69. nº 01, janeiro de 2005.)

 

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Manoel  Antonio  Teixeira  Filho  sintetiza  que  a  partir  da

redação  conferida  ao  art.  114  da Constituição  Federal  pela Emenda Constitucional  n.º

45/04 "a competência da Justiça do Trabalho deixa de ser estabelecida em razão da

pessoa  (trabalhador  e  empregador)  e  passa  a  definir-se  segundo  a  natureza  da

 relação jurídica material (relação de trabalho, lato sensu)." (TEIXEIRA FILHO, Manoel

Antonio. Curso de direito processual do trabalho. Processo de conhecimento - I. São Paulo: LTr, 2009, p.

 Para o jurista, 383). "o que determina, enfim, a competência da Justiça do Trabalho é

a  prestação  de  serviços,  em  caráter  intuito  personae  e  de  modo  oneroso,  seja

de maneira permanente ou ocasional, subordinado ou não, a outra pessoa, física ou

jurídica. Por  outras palavras,  essa  competência  se define  em razão da  relação de

   trabalho, em sentido amplo." (Idem, ibidem, p. 387).

A  relação  de  trabalho,  na  definição  de Maurício  Godinho

Delgado,  "refere-se  a  todas  as  relações  jurídicas  caracterizadas  por  terem  sua

prestação essencial centrada em uma obrigação de fazer consubstanciada em labor

humano modernamente admissível"(Curso  de Direito  do  Trabalho.  São  Paulo:  LTr,  2006.  p.

.285)

A competência material,  por  sua  vez,  é  aferida  a  partir  da

natureza da pretensão  inicial. Como delimitou o Plenário do E. STF no  julgamento do

AgR/Reclamação 3799/PA em 26.03.08, Relator Ministro Marco Aurélio: "Define-se a

competência segundo as balizas objetivas e subjetivas da petição inicial." 

No caso examinado, a causa de pedir articula a regência da

relação  obrigacional  na  condição  de  estar  a  Reclamada,  na  condição  de  sociedade  de

economia mista concessionária de serviço público, terceirizando atividades afetas ao seu

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7ª TURMA

objeto  finalístico,  o que  torna  clara  a  competência material  desta  Justiça Especializada

para examinar e julgar o feito.

O  E.  STF,  no  julgamento  de  conflito  negativo  de

competência  instaurado  por  conta  de  ação  civil  pública, menciona  a  violação  a  norma

trabalhista  como  pressuposto  da  competência  da  Justiça  do  Trabalho;  para  a  Suprema

Corte, quando se estiver diante de "interesses plurindividuais", consubstanciados no meio

ambiente do trabalho, direitos coletivos indisponíveis e, portanto, direito substancial dos

próprios  trabalhadores,  a  pressupor  uma  relação  de  trabalho,  a  competência  será  da

Justiça do Trabalho. Consta da ementa:

COMPETÊNCIA  - AÇÃO CIVIL PÚBLICA  - CONDIÇÕES DETRABALHO.  Tendo  a  ação  civil  pública  como  causas  de  pedirdisposições  trabalhistas  e pedidos  voltados  à preservação do meioambiente do trabalho e, portanto, aos interesses dos empregados, acompetência  para  julgá-la  é  da  Justiça  do  Trabalho.  (RE206220/MG - Relator Ministro Marco Aurélio - 2.ª Turma - Julgamento16.03.99 - DJ 17.09.99, p. 58).

 

A  eventual  procedência  da  imposição  legal  em  face

do Reclamado é questão que no mérito deve ser resolvida.

Rejeita-se.

LITISCONSÓRCIO PASSIVO NECESSÁRIO.OFENSA AOS PRINCÍPIOS DA AMPLA DEFESA ECONTRADITÓRIO

 

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7ª TURMA

A Reclamada, ora Recorrente, sustenta que a relação jurídica

que  se  pretende  desfazer  atinge  diretamente  a  esfera  de  direitos  de  terceiros  que  não

fazem  parte  do  processo  -  dezenas de empresas contratadas via licitação e de seus

  que  não  terão,  a  seu  ver,  oportunizados  os  direitos  ao  contraditório  e  àempregados -

ampla defesa assegurados no art. 5º, LIV e LV, da Constituição Federal.

Entendeu a r. sentença (fl. 657):

Na realidade a ré pretende que as empresas terceirizadas integrem opolo passivo da relação jurídica processual.

Ocorre que não se trata de direito individualizado sob o ponto de vistaúnico da empresa que ora tem contrato com a ré, e sim de questionar alegalidade, em termos gerais, da contratação das empresas paraterceirização de atividade finalística, incidente a questão de quaisatividades são essas, ou seja, a violação em tese seria operada pela ré,não havendo que se falar em composição do polo passivo, nesse caso,por todos os que possam ser afetados pela decisão, mesmo porquesequer é possível elenca-los ou prever todas as consequências deeventual procedência sobre pessoas físicas ou jurídicas.

No que tange a necessidade de chamamento ao processo do acionistamajoritário, Estado do Paraná, nos mesmos caminhos do entendimentoacima, o fato de haver interesse econômico de pessoa física ou jurídicanos efeitos da decisão não conduz a obrigatoriedade de sua presença nopolo passivo da ação civil pública, mesmo porque a personalidadejurídica da ré é própria.

 

Não merece reparo a r. sentença. 

O exame do feito pela Justiça do Trabalho, sem a presença

das  empresas  contratadas  para  os  serviços  terceirizados,  não  implica  violação  aos

princípios do contraditório e da ampla defesa. Isso porque, como destacou o d. julgador

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de origem, não se trata de investigar um ou outro contrato, especificamente, mas de, em

linhas gerais,  questionar  a  legalidade da  contratação de  empresas para  terceirização de

atividades finalísticas da Companhia Paranaense de Energia - Copel, "incidente a questão

de quais atividades são essas, ou seja, a violação em tese seria operada pela ré, não

havendo que se falar em composição do polo passivo, nesse caso, por todos os que

possam ser afetados pela decisão, mesmo porque sequer é possível elenca-los ou prever

todas as consequências de eventual procedência sobre pessoas físicas ou jurídicas."

A hipótese dos autos não instiga aplicação de litisconsórcio à

solução preconizada pela Recorrente, porque a inserção de partes no polo passivo da ação

trabalhista não se  realiza pela comunhão de  interesses entre a Reclamada e as atuais e

eventuais  futuras  empresas  terceirizadas. Na mesma  sorte,  a  tutela  aqui  proferida  visa

proteger direitos trabalhistas e a única responsável pela decisão de terceirizar os serviços

questionados é a Recorrente, como pontuou o r. julgador de origem. É ela quem responde

pelas consequências jurídicas decorrentes da terceirização, se reputada irregular, inclusive

em outras esferas judiciárias.

 Acrescente-se, nesta linha, que a ação civil pública tem por

finalidade a defesa de direitos individuais homogêneos, sociais, difusos e coletivos, a teor

da Lei Complementar n.º 75/93, e, justamente por conta da dimensão desta proteção, não

comporta  a  análise  da  relação  individual  de  cada  empresa  contratada  em  situação

irregular, ou dos empregados a ela vinculados.

O art. 1.º da Lei n.º 7.347/85, ao disciplinar o manejo da ação

civil  pública,  não  impõe  que  as  pessoas  eventualmente  atingidas  pela  decisão  a  ser

proferida no processo coletivo devam integrar o polo passivo da demanda, hipótese que, à

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evidência, em face da necessidade de analisar a situação  individual de cada uma delas,

inviabilizaria a própria prestação jurisdicional. "In casu", sequer o provimento é restrito a

elas, mas, no viés da tutela inibitória, atinge de forma difusa quaisquer possíveis futuras

empresas passíveis de contratação  terceirizada. Os contratos  trazidos à colação são um

exemplo da prática que se pretende coibir.

A  SBDI  I  do  C.  TST,  em  decisão  relatada  pelo Ministro

Renato  de  Lacerda  Paiva,  assentou  que  "Tratando-se  de  direitos  difusos,

transindividuais,  de  natureza  indivisível,  de  que  são  titulares  pessoas

indeterminadas,  inexiste  campo  propício  à  aplicação  de  normas  processuais

eminentemente concebidas para a citação em demandas de natureza individual, sob

 pena mesmo de se inviabilizarem as ações coletivas." (ROAR - 110900-50.2001.5.16.0000

Data de Julgamento: 14/12/2010, Relator Ministro: Renato de Lacerda Paiva, Subseção II Especializada

em Dissídios Individuais, Data de Publicação: DEJT 17/12/2010).

Consta do corpo do julgado:

É notória a existência de hipóteses em que o terceiro, embora nãotenha  participado  do  processo  sofre  as  consequências  da  coisajulgada. Não  há  como  se  negar  que  as  regras  que  disciplinam  aslides que discutem direitos  individuais não  se mostram suficientespara  atenderem  às  peculiaridades  dos  litígios  transindividuais,como é o caso da Ação Civil Pública.

Dispõe a Lei nº 7.347/85, em seu artigo 16, que "a sentença civil farácoisa julgada erga omnes, nos limites da competência territorial...".Tal norma faz projetar os efeitos da coisa julgada,  inter partes nocampo individual, para toda uma coletividade. O resultado é que acoisa julgada originária de um dissídio transindividual assegurará adefinitividade  da  coisa  julgada  impedindo  a  repetição  da mesma

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ação,  quer  em  sede  individual,  quer  em  sede  coletiva.  Com  essefenômeno  não  só  a  eficácia  da  sentença  se  projeta  para  fora  doprocesso, como também a própria coisa julgada.

A  coisa  julgada  erga  omnes  nas  ações  coletivas  foi  concebida  emfavor da sociedade, motivo pelo qual a sua aplicação deve ser feitasempre  tendo em vista o  interesse público,  e não para resguardarsituações  iníquas.  Segundo  ensina Mauro Cappelletti,  impor  umaestreita observância literal da garantia do contraditório significariatornar  praticamente  impossível  a  tutela  jurídica  dos  interessesmetaindividuais,  dada  a  impossibilidade  material  de  identificartodas  as partes  ausentes,  de notificar de  todos  os  atos do  juiz,  deoferecer  a  todos  uma  efetiva  possibilidade  de  intervenção  noprocesso.

Assim, é possível admitir em ação civil pública a assistência simplesou  litisconsorcial  no  pólo  passivo,  todavia  a  assistência,  por  suaprópria natureza, é voluntária, facultativa.

Não se há de falar, no caso dos autos, em obrigatoriedade de citaçãodos  eventualmente  atingidos  pelos  efeitos  da  decisão  proferida  nareferida ação coletiva, visto que o  legitimado para figurar no pólopassivo da ação civil pública é aquele ou aqueles que praticaram oato causador do dano, ou aquele que tinha ou tem o dever jurídicode  evitar  a  ocorrência  do  dano.  Na  hipótese  a  ação  civil  públicafundamentada  no  artigo  37,  inciso  II,  da  Constituição  Federaldirigiu-se  unicamente  contra  o  ente  público  que  contratou  semobservar  a  exigência  constitucional  a  ele  dirigida,  porquanto  osentes que compõem a Administração Pública é que têm o dever deobedecer  ao  comando  constitucional  de  realizar  concurso  públicopara  o  provimento  de  seus  cargos.  Portanto,  não  foram  oscontratados que violaram a lei e nem tinham o dever de fiscalizar aobservância  de  tal  norma  constitucional,  o  que,  efetivamente,constituía  óbice  a  que  integrassem  a  lide  na  qualidade  delitisconsortes passivos.

Acrescente-se ainda que para assegurar aos possíveis  interessadosna  solução daquela demanda a defesa de  seus direitos, o  julgadordeterminou  a  citação  dos  interessados,  que  ocorreu  por  meio  deedital.

No  caso,  ressalte-se  ainda  que  o  acórdão  rescindendo  deixouexpressamente consignada a ausência de prejuízos aos litisconsortespela efetiva apresentação de defesa por parte do Banco reclamado.

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7ª TURMA

No mais,  os  obreiros,  ora  recorrentes,  tiveram a  oportunidade derequerer  a  sua  inclusão  na  lide  como  assistentes,  sendo-lhesplenamente assegurado, naquele processo, o direito ao contraditórioe à ampla defesa, não havendo que se falar em nulidade.

No mesmo sentido, os seguintes julgados da Corte Superior:

RECURSO  DE  REVISTA  -  AÇÃO  CIVIL  PÚBLICA  -CONTRATAÇÃO  DE  EMPREGADOS  SEM  A  PRÉVIAAPROVAÇÃO  EM  CONCURSO  PÚBLICO  DE  PROVAS  ETÍTULOS - NULIDADE - ART. 37, II E § 2º, DA CARTA MAGNA- LITISCONSÓRCIO PASSIVO NECESSÁRIO ENTRE A RÉ EOS  EMPREGADOS  EVENTUALMENTE  DISPENSADOS  EMFACE  DA  DECISÃO  PROFERIDA  PELA  JUSTIÇA  DO

 -  INEXISTÊNCIA - PRECEDENTES DO TST. NosTRABALHOtermos do art. 81, parágrafo único, I, do CDC, os interesses difusossão aqueles transindividuais, indivisíveis, cujos titulares são pessoasindeterminadas  ligadas  entre  si  por  uma  circunstância  de  fato.Nessa  senda,  somente  se  afigura  passível  a  sua  defesa  peloslegitimados a que alude o art. 82 do referido diploma legal, dentreeles se encontrando o Ministério Público (todos os seus ramos, pornão haver distinção no inciso I do mencionado dispositivo de lei). Nopolo  passivo  da  presente  demanda  encontram-se  aqueles  quelesionaram  o  direito  transindividual  que  se  busca  tutelar,  emlitisconsórcio passivo necessário, pois a lide, em relação a eles, teráde  ser  decidida  de  modo  uniforme  (art.  47  do  CPC).  Não  seenquadram nessa categoria os empregados eventualmente atingidosem virtude da nulidade de  sua  contratação  sem a  observância dorequisito elencado no art. 37, II, § 2º, da Constituição Federal, poisnão são eles os agressores do mencionado comando constitucional (esim o  administrador público que  se  recusa a  observar  os ditamesestabelecidos  pelo  poder  constituinte  originário  para  opreenchimento  de  cargos  e  empregos  públicos),  afigurando-se,assim, de  todo  inviável a  sua consideração como réus na presentedemanda,  já  que  não  ostentam  a  titularidade  passiva  da  relação

. Precedentes do TST. Recurso de revistajurídica deduzida em juízonão  conhecido.  (RR  -  127700-77.2004.5.22.0002  ,  Relator Ministro:Luiz Philippe Vieira de Mello Filho, Data de Julgamento: 06/10/2010,1ª Turma, Data de Publicação: 15/10/2010) (grifos acrescidos).

NULIDADE.  NEGATIVA  DE  PRESTAÇÃO  JURISDICIONAL.NÃO-CONFIGURAÇÃO. Incólumes os preceitos legais apontados,uma  vez  que  o  acórdão  recorrido  observou  as  exigências  nelescontidas,  consignando  os  fundamentos  de  sua  conclusão,  após

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apreciação dos elementos dos autos, porém em sentido contrário àpretensão da Recorrente, o que, por si só, não dá ensejo à nulidadebuscada.  Por  outro  lado,  tratando-se  de  recurso  ordinário,  adevolutibilidade  da  matéria  impugnada  é  ampla,  cabendo  aoTribunal ad quem apreciar todas as questões suscitadas e discutidasnos  autos  (artigo  515,  caput  e  §§  1º  e  2º,  do Código  de  ProcessoCivil),  fato  a  afastar  qualquer  prejuízo  para  a  parte  e,  via  deconseqüência, a declaração de nulidade (artigo 794 da Consolidaçãodas  Leis  do  Trabalho).  AÇÃO  RESCISÓRIA.  COMPETÊNCIAHIERÁRQUICA  DA  JUSTIÇA  DO  TRABALHO  PARAAPRECIAR  AÇÃO  CIVIL  PÚBLICA  A  Lei  Complementar  nº75/93, ao estabelecer em seu artigo 83, inciso III, competência parao  ajuizamento  de  ações  civis  públicas,  no  âmbito  da  Justiça  doTrabalho,  apenas  explicitou  a  atuação  do  Ministério  Público  nocampo da defesa dos  interesses difusos e coletivos da sociedade noâmbito  trabalhista,  de  que  já  havia  cogitado,  sem  qualquerdistinção, em relação a todo o Ministério Público, no  inciso III doartigo  129  da  atual  Constituição  Federal.  Essa  previsão  legal,diversamente  do  que  alegam  os  recorrentes,  não macula  o  artigo114  da  Carta  Magna.  Muito  pelo  contrário,  a  ela  afeiçoa-seperfeitamente.  Ali  está  estabelecida  a  competência  da  Justiça  doTrabalho  para  conciliar  e  julgar  não  só  dissídios  individuais  ecoletivos  entre  trabalhadores  e  empregadores,  mas  também,  naforma  da  lei,  outras  controvérsias  decorrentes  da  relação  detrabalho. Sem dúvida, houve ampliação da competência da Justiçado  Trabalho  relativamente  à  Carta  anterior,  que  a  restringia  àconciliação  e  julgamento  de  dissídios  entre  empregados  eempregadores.  Versando  a  ação  civil  pública,  em  última  análise,sobre  direito  de  acesso  regular  ao  emprego,  fundado  na  própriaConstituição  Federal,  é  competente  a  Justiça  do  Trabalho  paraapreciá-la.  No  caso,  tem-se  inequívoco  exemplo  de  direito  difuso,extensível a toda a sociedade, porquanto, ao burlar a admissão deempregados mediante  a  via  constitucional  do  concurso  público,  arecorrente frustra o exercício de tal faculdade, independentementedo  interesse  concreto  daqueles  que,  efetivamente,  venham  a  sehabilitar  no  concurso  universal.  AÇÃO  RESCISÓRIA.  AÇÃOCIVIL  PÚBLICA.  AUSÊNCIA DE CITAÇÃO. ALEGAÇÃO DENULIDADE  PROCESSUAL.  Em  face  das  peculiaridades  dosinteresses tutelados na Ação Civil Pública, não se aplica com relaçãoa ela, pura e simplesmente, o princípio dos limites da coisa julgada,pois,  contrariamente  ao  Processo  Civil  tradicional,  onde  a  coisajulgada  se  limita  às  partes  do  processo,  na  ação  civil  pública  asentença,  quando  esta  não  for  julgada  improcedente  porinsuficiência de prova, fará coisa julgada erga omnes, ou seja, tantoa  ação  julgada  procedente  como  a  improcedente  adquirem

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autoridade  de  coisa  julgada  perante  todos  os  membros  dacoletividade. Ademais, considerando-se que na Ação Civil Pública sebusca a proteção de direitos difusos,  transindividuais, de naturezaindivisível, cujos titulares são pessoas indeterminadas, não há comoaplicar as normas processuais destinadas à citação em demandas denatureza  individual,  sob  pena  de  não  se  viabilizarem  as  açõescoletivas.  Desse modo,  não  há  que  cogitar  da  obrigatoriedade  decitação  dos  eventualmente  atingidos  pelos  efeitos  da  decisãoprolatada  na  aludida  ação  coletiva,  porque  a  legitimação  parafigurar no pólo passivo da ação civil pública é daquele ou daqueles

.  DOCUMENTO NOVO.que  praticarem  o  ato  causador  do  danoNão se configura documento novo, consoante a definição contida naOrientação  Jurisprudencial  nº  20  da  SBDI-2  desta  Corte,  odocumento  apresentado  pelos  autores,  por  se  tratar  de  decisãooriunda do Tribunal de Contas do Distrito Federal, o qual, por si só,não  seria  capaz  de  assegurar  um  pronunciamento  favorável  aosAutores, uma vez que versa sobre matéria administrativa referenteà fiscalização, de ofício, nas entidades públicas do Distrito Federal,que não possuem qualquer vinculação com a atividade jurisdicionaldo  Estado.  AÇÃO  RESCISÓRIA.  AÇÃO  CIVIL  PÚBLICA.NULIDADE  DO  CONTRATO DE  TRABALHO.  Não  obstante  aregra contida no artigo 173, § 1º, da Carta da República, a empresapública que  explora atividade  econômica  compõe a administraçãopública indireta e está adstrita à regra que envolve a obediência aosprincípios  da  legalidade,  da  impessoalidade,  da  moralidade  e  dapublicidade  e  à  imposição  à  efetividade  do  concurso  público.Ademais,  conforme posicionamento do STF,  exceções ao princípioda investidura, se existem, estão previstas na própria ConstituiçãoFederal.  Assim,  o  julgado  rescindendo  não  comporta  o  corterescisório por declarar nulos os contratos de trabalho firmados apóso  advento  da  atual  Constituição  Federal  com  Sociedade  deTransportes  Coletivos  de  Brasília  -  TCB,  empresa  pública  doDistrito Federal, sem a aprovação em concurso público, consoanterequer o artigo 37,  inciso II, § 2º, da atual Carta Magna. Recursoordinário  conhecido  e  não  provido.  (ROAR  -4244700-56.2002.5.10.0900 , Relator Ministro: Emmanoel Pereira, Datade  Julgamento:  23/11/2004,  Subseção  II  Especializada  em  DissídiosIndividuais, Data de Publicação: 10/12/2004). (grifos acrescidos).

RECURSO  ORDINÁRIO.  AÇÃO  RESCISÓRIA.  DECISÃOHOMOLOGATÓRIA  DE  ACORDO.  AÇÃO  CIVIL  PÚBLICA.

.LITISCONSÓRCIO PASSIVO NECESSÁRIO. INVIABILIDADEOFENSA  AO  ART.  5º,  LIV  E  LV,  DA  CONSTITUIÇÃO.NÃO-CONFIGURAÇÃO. I - Embora a decisão rescindenda ache-sematerializada em sentença meramente homologatória de transaçãojudicial, dela não constando, embora o pudesse, qualquer tese sobre

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7ª TURMA

a legitimação dos empregados para integrar o pólo passivo da ação,não  se  aplica  o  inciso  IV  da  Súmula  nº  298  do  TST,  dada  apeculiaridade  já mencionada  de  o  suposto  erro  procedimental,  seocorrido,  importar  na  nulidade  de  todo  o  processo.  II  -  Não  seviabiliza, contudo, o corte rescisório por vulneração dos incisos LIVe LV do  art.  5º  da Constituição,  na  esteira da OJ  97 da SBDI-IIsegundo  a  qual  - Os  princípios  da  legalidade,  do  devido  processolegal, do contraditório e da ampla defesa não servem de fundamentopara  a  desconstituição  de  decisão  judicial  transitada  em  julgado,quando  se  apresentam  sob  a  forma  de  pedido  genérico  edesfundamentado,  acompanhando  dispositivos  legais  que  tratamespecificamente  da  matéria  debatida,  estes  sim,  passíveis  defundamentarem  a  análise  do  pleito  rescisório.-  III  -  Com  efeito,entendendo  o  recorrente  que  devesse  participar  da  ação  civilpública,  tanto  quanto  os  empregados  integrantes  da  categoriaprofissional  por  ele  representado,  como  litisconsortes  necessários,então a norma violada teria sido a do artigo 47 do CPC, da qual oTST não pode cogitar em virtude de ela não ter sido apontada comoofendida.  IV  -  De  qualquer modo, mesmo  relevando  esse  deslize,não  se  divisa  a  sua  violação  literal  e  direta,  visto  que  a  Lei  nº7.347/85,  que  disciplina  a  Ação  Civil  Pública,  não  prevê  apossibilidade de que as pessoas  físicas  ou  jurídicas  eventualmenteprejudicadas pela decisão a ser proferida,  integrem o pólo passivo

. V - na condição de litisconsortes necessários Não é demais lembrarque  a  finalidade  desse  instrumento  jurídico  é  a  proteção  deinteresses difusos ou coletivos, como ocorreu na ação civil públicacuja decisão é objeto da pretensão rescindente, em que o MinistérioPúblico, agindo na defesa da ordem jurídica, do patrimônio públicoe  do  interesse  dos  cidadãos  impossibilitados  de  acessar  os  cargosocupados de forma irregular no âmbito da sociedade de economiamista,  pleiteou  a  declaração  de  nulidade  de  todos  os  provimentosderivados  ocorridos  sem  a  realização  de  concurso  público,  bemassim  a  condenação  da AGESPISA  à  obrigação  de  não  repetir  o

. VI - Tendo a ação civil pública a finalidademesmo procedimentode defesa de interesses difusos, e não individuais homogêneos, comoalega o recorrente, não há margem a admitir-se que os  indivíduoseventualmente prejudicados com a decisão a ser proferida integrema  lide na condição de  litisconsortes passivos necessários da pessoajurídica que praticou o ato causador do dano. VII - Recurso a quese nega provimento.  (ED-ROAR-1009000-34.2004.5.22.0000 Data deJulgamento:  14/08/2007,  Relator  Ministro:  Antônio  José  de  BarrosLevenhagen,  Subseção  II  Especializada  em Dissídios  Individuais,  DJ14/09/2007)

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7ª TURMA

AÇÃO RESCISÓRIA. ACORDO CELEBRADO NOS AUTOS DEAÇÃO CIVIL PÚBLICA. Pretensão de desconstituição de sentençahomologatória de acordo, por meio do qual a Companhia de Água eEsgoto  do  Estado  de  Roraima,  sociedade  de  economia  mista,  secomprometeu  com  o Ministério  Público  do  Trabalho  da  DécimaPrimeira Região  e  o Ministério  Público  do  Estado  de Roraima  arealizar concurso público para  todos os  empregos públicos de  seuquadro  de  pessoal  bem  como  a  dele  afastar  todos  os  empregadoscontratados  sem concurso público e que não estivessem  investidosem cargo em comissão declarado em lei como de livre nomeação eexoneração. Ação  rescisória  ajuizada  com  fulcro  no  art.  485, V  eVIII,  do  CPC,  em  cujas  razões  se  alega  a  nulidade  do  acordojudicial por falta de citação dos litisconsortes passivos necessários,quais  sejam,  os  empregados  afetados  pelos  efeitos  decorrentes  doajuste celebrado entre as partes acordantes. Ausência de afronta aosarts. 47, parágrafo único, do CPC, 5º, LV, 7º, XXIX, 8º, III, e 114 daConstituição Federal, 2º, XIII, e 54 da Lei nº 9.784/99 e 11 da CLT,dada  a  ausência  de  prequestionamento  (Súmula  nº  298  do  TST).Ainda  que  pudesse  ser  transposto  esse  óbice  à  procedência  dapretensão  desconstitutiva,  cumpre  considerar  que  a  ação  civilpública  visa  à  salvaguarda  dos  interesses  que  envolvam  tutela  dedireitos  difusos,  em  que  há  relativa  indefinição  quanto  à

. No processo do qual emanoutitularidade dos interesses dos lesadoso  acordo  rescindendo  o  que  se  visava primordialmente  não  era  aproteção dos  interesses dos empregados da Companhia de Água eEsgoto  do  Estado  de  Roraima  CAER,  mas,  sim,  a  defesa  doprincípio  da  legalidade  e  da  moralidade  pública,  de  modo  a  segarantir  a  observância  da  regra  do  art.  37,  II,  da  ConstituiçãoFederal,  onde  se  submete  a  investidura  em  cargo  ou  empregopúblico a prévia aprovação em concurso público. Por esse motivo, olitisconsorte passivo é meramente voluntário, pois este há de sempre

. Recurso  ordinário  a  que  se  negarepresentar  interesse  individualprovimento.  (TST-ROAR-005/2004-000-11-00.4,  SBDI-2,  Min.Gelson de Azevedo, DJ 07/12/2006) (grifos acrescidos).

RECURSO  DE  REVISTA.  AÇÃO  CIVIL  PÚBLICA.MINISTÉRIO  PÚBLICO  DO  TRABALHO.  LEGITIMIDADE.ART. 129, III, DA CF. Consoante o disposto no art. 129, III, da CF,são  funções  institucionais do Ministério Público, promover a açãocivil  pública,  para  a  proteção  do  patrimônio  público  e  social,  domeio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos. Na hipótesevertente,  por  meio  da  presente  ação  civil  pública,  o  MinistérioPúblico do Trabalho pretende que a Caixa Econômica Federal  seabstenha de contratar novos trabalhadores, por meio de empresasprestadoras de  serviços, para  laborarem em sua atividade-fim, ou

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7ª TURMA

melhor, busca a declaração de ilicitude da terceirização entabuladapela CEF, com rescisão dos contratos de prestação de serviços emvigor, bem como que a CEF seja condenada a contratar, para suasatividades  fins,  somente  empregados  aprovados  em  concursopúblico. Como se observa, a pretensão do parquet se refere a defesado  patrimônio  público,  ameaçado  por  contratações  sem  concursopúblico, de modo que o Ministério Público,  tem  legitimidade parapropor a presente ação, pois busca coibir a contratação irregular detrabalhadores para a atividade-fim da CEF, de modo que não háque  se  falar  em  carência  de  ação,  em  face  da  ausência  delitisconsórcio necessário unitário, pois o objetivo da presente açãonão é impedir a contratação de qualquer prestador de serviço, mas,isto sim, de obstar simulações de terceirização que, na verdade, se

. Por outro lado,constituem em contratações sem concurso públicotambém não procede o argumento de que por meio da presente açãocivil pública, o parquet pretende impugnar contrato administrativo,pois,  o  que  foi  postulado,  na  verdade,  não  é  a  invalidade  decontratos  específicos,  mas  o  fim  do  uso  de  contratos  deterceirização, como mecanismo de fraude do disposto no art. 37, II,da CF. Também não se verifica impossibilidade jurídica do pedido,em  face da delimitação  territorial  do direito de  agir do parquet  ,pois para a fixação da competência territorial em sede de ação civilpública  tem-se  como parâmetro a  extensão do dano causado ou aser reparado  (OJ-130 da SBDI2)  e não a natureza  jurídica da ré.Por fim, no tocante à defesa de interesses difusos, por certo que aoMinistério Público cabe a defesa da ordem jurídica e dos interessessociais  e  individuais  indisponíveis,  sendo  legítimo,  portanto,  paraajuizar a presente ação civil pública. Recurso de revista conhecido eprovido.  (TST-RR-44632/2002-900-03-00.2,  8ª Turma, Ministra DoraMaria da Costa, DJ 01/08/2008) (grifos acrescidos).

PRELIMINAR  DE  NULIDADE  -  AUSÊNCIA  DE  CITAÇÃO  -LITISCONSÓRCIO  PASSIVO  NECESSÁRIO  -  AÇÃO  CIVILPÚBLICA  1.  O  escopo  da  presente  ação  não  é  pôr  termo  aoscontratos de determinados trabalhadores, mas sim a preservação dointeresse  público  insculpido  na  ordem  constitucional,  da  qual  adeclaração  de  nulidade  dos  contratos  é  mero  corolário.  2.Tratando-se  de  ação  que  visa  à  preservação  de  direitostransindividuais,  de  que  são  titulares  pessoas  indeterminadas,  aaplicação contida de normas processuais eminentemente concebidaspara  a  citação  em  demandas  de  natureza  individual  não  tem  ocondão de ofender os princípios do contraditório, da ampla defesa e

.  3.  O  art.  37,  II,  da  Carta Magna  é  dedo  devido  processo  legalobediência obrigatória pela Administração Pública, que tem o deverde  realizar  concurso público para o provimento de  seus  cargos,  e

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7ª TURMA

não pelos  trabalhadores admitidos  sem concurso público, que nãopossuem  o  dever  de  fiscalizar  a  observância  de  tal  normaconstitucional.  Desse  modo,  não  se  afigura  viável  conferir-lheslegitimidade  para  integrar  a  lide  na  qualidade  de  litisconsortespassivos  necessários,  donde  resulta  despicienda  a  sua  citação  enotificação  de  todos  os  atos  do  processo.  Precedentes.(RR-723885-32.2001.5.12.5555,  Relatora  Ministra:  Maria  CristinaIrigoyen Peduzzi, 8ª Turma, DJ 30/05/2008). (grifos acrescidos).

RECURSO  ORDINÁRIO  EM  AÇÃO  RESCISÓRIA.  AÇÃOCIVIL  PÚBLICA.  AUSÊNCIA DE CITAÇÃO. ALEGAÇÃO DENULIDADE  PROCESSUAL.  Tratando-se  de  direitos  difusos,transindividuais,  de  natureza  indivisível,  de  que  são  titularespessoas  indeterminadas,  inexiste  campo  propício  à  aplicação  denormas  processuais  eminentemente  concebidas  para  a  citação  emdemandas  de  natureza  individual,  sob  pena  mesmo  de  seinviabilizarem as  ações  coletivas. Não  se  há de  falar,  no  caso dosautos,  em obrigatoriedade de  citação dos  eventualmente  atingidospelos  efeitos  da  decisão  proferida  na  referida  ação  coletiva,  vistoque o legitimado para figurar no pólo passivo da ação civil pública éaquele  ou  aqueles  que  praticaram  o  ato  causador  do  dano,  ouaquele que tinha ou tem o dever jurídico de evitar a ocorrência do

.  Recurso  ordinário  a  que  se  nega  provimento.dano   (ROAR-4964-49.2001.5.10.5555, Rel. Min. Renato de Lacerda Paiva, SubseçãoII  Especializada  em Dissídios  Individuais, DJ  de  20/08/2004).  (grifosacrescidos).

 

Rejeita-se, portanto.

ILEGITIMIDADE ATIVA DO MINISTÉRIOPÚBLICO

 

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7ª TURMA

A  Companhia  Paranaense  de  Energia  (Copel)  reitera

preliminar de ilegitimidade ativa do Ministério Público do Trabalho, ao argumento de não

haver direito difuso a ser defendido, nem versar a lide sobre relação de emprego ou de

trabalho.

Sem razão, porém.

O  Ministério  Público  do  Trabalho  tem  legitimidade  para

propor ação civil pública, visando à tutela de interesses difusos, coletivos ou individuais

homogêneos. Na hipótese dos autos, o parquet busca a imposição de obrigação de fazer,

com  efeitos  projetados  para  o  futuro,  mediante  provimento  jurisdicional  de  caráter

cominatório,  consistente  na  determinação  de  que  a  Reclamada,  empresa  de  energia

elétrica, abstenha-se de contratar mão de obra para execução de atividades finalísticas por

meio  de  empresas  interpostas.  A  tutela  é,  pois,  difusa,  sob  o  viés  de  empresas  e

empregados futuros indetermináveis (passíveis de eventuais contratatações) e coletiva no

âmbito  das  empresas  já  contratadas, mas,  sob  qualquer  ângulo,  patente  a  proteção  de

relações de emprego, revelando a legitimidade do ente ministerial.

A legitimação do Ministério Público do Trabalho, a exemplo

dos outros  ramos ministeriais,  é  extraída do próprio  texto constitucional  (art. 129,  III),

que atribuiu dentre suas funções institucionais a de promover o inquérito civil e a ação

civil  pública  para  resguardo  da  ordem  jurídica,  do  regime democrático  e  de  interesses

massificados da sociedade.

No  plano  infraconstitucional,  a  legitimidade  do Ministério

Público para o  ajuizamento de  ação civil  pública  tem base na Lei nº 6.938/81  (Lei de

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7ª TURMA

Política Nacional do Meio Ambiente), na Lei Complementar nº 40/81, na Lei nº 7.347/85,

na  própria  Constituição  Federal  (arts.  127  e  art.  129,  §  1º)  e,  por  fim,  no Código  de

Proteção e Defesa do Consumidor (Lei nº 8.078/90), que também a ela alude (art. 82, inc.

I).

No processo do trabalho é a Lei Complementar nº 75/93 que

institui pressupostos e prerrogativas ao Ministério Público do Trabalho para a propositura

de  ação  civil  pública,  dispondo,  em  seu  art.  83,  III,  que o MPT atuará  "na defesa de

interesses  coletivos,  quando  desrespeitados  os  direitos  sociais  constitucionalmente

",  e,  em  seu  art.  84,  que  a  ele  incumbe  exercer  as  funções  institucionaisgarantidos

previstas nos Capítulos I, II, III e IV, do Título I, quais sejam, a de promoção do inquérito

civil e ação civil pública para a defesa "de outros interesses individuais indisponíveis,

  e  as  de  defesa homogêneos,  sociais,  difusos  e  coletivos" "de  interesses  individuais

" (art. 84 c/c art. 6º, VII, "d").homogêneos

Na doutrina, Eduardo Gabriel Saad (SAAD, Eduardo Gabriel. A

ação civil pública na justiça do trabalho. Processo do Trabalho. Estudos em homenagem ao Professor José

 destacaAugusto Rodrigues Pinto. Coord. Rodolfo Pamplona Filho. São Paulo: LTr, 1997. p. 409-410.)

que a legitimidade conferida por lei ao Ministério Público do Trabalho volta-se ao amparo

de interesses coletivos que se vinculem aos direitos sociais inscritos nos artigos 7º e 11 da

Constituição Federal.A  legitimação do Ministério Público do Trabalho,  a  exemplo dos

outros ramos ministeriais, é extraída do próprio texto constitucional (art. 129, III), que lhe

atribuiu a função institucional de promover o inquérito civil e a ação civil pública para

resguardo  da  ordem  jurídica,  do  regime  democrático  e  de  interesses  massificados  da

sociedade.

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7ª TURMA

A  legitimidade  do  Órgão  Ministerial  para  a  defesa  de

interesses  difusos  e  coletivos  e  direitos  individuais  homogêneos  inscreve-se  no  art.  6º,

VII, alíneas "a" e "d" da Lei Complementar nº 75/93 (Título I, Capítulo II), aplicável a

todo o ramo do Ministério Público da União, do qual faz parte o Ministério Público do

Trabalho, "verbis":

Art. 6º. Compete ao Ministério Público da União:

I  - promover a ação direta de  inconstitucionalidade e o respectivopedido de medida cautelar;

II - promover a ação direta de inconstitucionalidade por omissão;

III  -  promover  a  arguição  de  descumprimento  de  preceitofundamental decorrente da Constituição Federal;

IV  -  promover  a  representação  para  intervenção  federal  nosEstados e no Distrito Federal;

V  - promover, privativamente, a ação penal pública, na  forma dalei;

VI - impetrar "habeas corpus" e mandado de segurança;

VII - promover o inquérito civil e a ação civil pública para:

;a) a proteção dos direitos constitucionais

b) a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente, dosbens  e  direitos  de  valor  artístico,  estético,  histórico,  turístico  epaisagístico;

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7ª TURMA

c)  a  proteção  dos  interesses  individuais  indisponíveis,  difusos  ecoletivos, relativos às comunidades  indígenas, à  família, à criança,ao adolescente, ao idoso, às minorias étnicas e ao consumidor;

d) outros  interesses  individuais  indisponíveis, homogêneos,  sociais,difusos e coletivos.

(...). (grifos acrescidos).

 

A  aplicabilidade  do  dispositivo  supra  transcrito  ao  ramo

trabalhista do Ministério Público da União é reforçada pelo "caput" do art. 84, inserto no

capítulo II  (Do Ministério Público do Trabalho) do  título II  (Dos Ramos do Ministério

Público da União) da Lei Complementar nº 75/93, cujo teor dispõe:

Art. 84. Incumbe ao Ministério Público do Trabalho, no âmbito dassuas  atribuições,  exercer  as  funções  institucionais  previstas  nos

 especialmenteCapítulos I, II, III e IV do Título I, . (grifos nossos).

 

Evidenciada, desta  forma, a  importância da  tutela de forma

coletiva,  o Ministério  Público  pode  e  deve  assumir  a  defesa  de  quaisquer  direitos  ou

interesses,  condicionada  sua  legitimidade,  entretanto,  à  revelada  conveniência  para  a

sociedade como um todo. Não há, pois, falar em ofensa ao disposto nos art. 129, III, da

Constituição Federal e 83, III, da Lei Complementar nº 75/93.

Rejeita-se. 

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7ª TURMA

3. MÉRITO

TERCEIRIZAÇÃO DE ATIVIDADES INERENTES OUACESSÓRIAS. AUTORIZAÇÃO LEGAL

 

Trata-se  de  ação  civil  pública  ajuizada  pelo  Ministério

Público do Trabalho  em  face da Companhia Paranaense de Energia Elétrica  - COPEL

para  que  esta  se  abstenha  de  utilizar mão  de  obra  interposta  na  execução  de  serviços

relacionados à sua atividade fim, assim elencados na peça inicial (item "a" - fls. 68/69):

a.1 - serviços de redes de transmissão, distribuição aérea esubterrânea, inclusive manutenção;

a.2 - execução de atividades de operação, manutenção (preventiva,corretiva ou emergencial), e inspeção de equipamentos, linhas e redeselétricas - usinas, subestações e unidades consumidoras, de rotina ou deemergência;

a.3 - construção de linhas e redes elétricas energizadas;

a.4 - recuperação do sistema elétrico;

a.5 - serviços de instalação e substituição de ramal de serviço aéreo eligação de consumidor;

a.6 - suspensão e religação de unidades consumidoras;

a.7 - serviços de leitura (compreendem a apuração dos registros, emmedidores de consumo de KWh, de cada unidade de consumo ligada oudesligada, bem como inspeções visuais e indicação de eventuaisirregularidades verificadas relativamente ao consumo e às instalações);

a.8 - processamento de dados e demais atividades inerentes aofaturamento de contas.

                                     

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7ª TURMA

Aduziu,  ainda,  as  obrigações  de  abster-se  de  contratar

serviços, mesmo relacionados à sua atividade-meio, quando existentes a pessoalidade e a

subordinação direta (Súmula n.° 331 do C. TST), sob pena de pagamento de multa diária

de R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais) a ser revertida ao Fundo de Amparo ao Trabalhador

-  FAT  ou  outro  fundo  regularmente  constituído  destinado  à  reconstituição  dos  bens

lesados  ;  rescindir,  no  prazo  de  até  180  (cento  e  oitenta)  dias,  os  atuais(item  "b")

contratos  firmados  com  empresas  terceirizadas  que  prevejam  a  prestação  de  serviços

afetos à sua atividade fim, notadamente aqueles listados no item "a" supra, sob pena de

pagamento de multa diária de R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais) a ser revertida ao Fundo

de Amparo ao Trabalhador - FAT ou outro fundo regularmente constituído destinado à

reconstituição  dos  bens  lesados  ;  enquanto  não  rescindidos  os  contratos  na(item  "c")

forma prevista no item anterior, obrigar o cumprimento, pelas empresas terceirizadas que

mantiver contratadas, das normas de segurança do trabalho, em especial das NR-6, 7 e 10 

.(item "d")

Relatou  ter  instaurado  procedimento  investigatório  por

provocação  da  MM.  15ª  Vara  do  Trabalho  de  Curitiba  em  face  da  constatação  de

terceirização  de  atividades  fins  da  Reclamada.  Aduziu  que,  com  a  participação  do

Sindicato  dos  Engenheiros  e  dos  Trabalhadores  em  Empresas  de  Energia  Elétrica  e

demais entidades sindicais interessadas, acresceram-se novos fatos à denúncia, inclusive

de  terceirização  de  atividades  de  manutenção  preventiva  e  corretiva.  Relatou  que  em

Umuarama  tramita  inquérito  civil  envolvendo  situações  em  que  trabalhadores

terceirizados sofreram acidentes de trabalho, um deles fatal, em razão da precariedade dos

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7ª TURMA

serviços executados. Menciona que o C. TST já se manifestou a respeito da irregularidade

da  terceirização  dos  serviços  através  da  Cooperativa  Coopeltric  (recurso  ordinário

originário deste E. TRT, julgado pela Primeira Turma: RO 98914-2005-012-09-00-6).

Em defesa, a Copel alegou ser sociedade de economia mista

equiparada  às  empresas  privadas  para  fins  trabalhistas.  Aduziu  existirem  atividades

contínuas e necessárias à consecução da finalidade da concessão do serviço público, mas

que,  contudo,  não  há  obrigação  de  que  tais  atividades  sejam  executadas  apenas  com

empregados próprios. Afirmou que as atividades de manutenção preventiva e corretiva de

redes  e  linhas  são  acessórias  ao  contrato  de  concessão,  necessárias  para  atingir  a

finalidade, e que podem ser executadas por terceiros, com respaldo na Lei nº 8.987/95 e

no Contrato de Concessão nº 046/99. Disse que, excluindo as atividades de manutenção,

atualmente  a  Copel  Distribuição  S/A  possui  cerca  de  20%  das  atividades-fim

terceirizadas,  e  incluindo  tais  atividades,  chegaria  a no máximo 30%,  sendo o  restante

executado  com  empregados  próprios,  pelo  que  não  procederia  a  informação  prestada

pelos Sindicatos de que a terceirização nas empresas COPEL atinge 70%. As atividades

de  corte  e  religação,  afirmou,  são  acessórias  ou  de  meio.  Mesmo  assim,  a  maior

parte seria executada com empregados próprios, o mesmo ocorrendo com as atividades

emergenciais. Disse que atividades de  leitura e entrega da  fatura são acessórias, e que,

ainda assim, a maior parte - cerca de 80% - é realizada com empregados próprios, e que

as  atividades  de  atendimento  telefônico  ao  consumidor  são  executadas  apenas  com

empregados  próprios,  assim  como  as  atividades  de  operação  - Centro  de Operação  da

Distribuição (COD).

Afirmou que os serviços relacionados no pedido "a.1", "a.2",

"a.3",  "a.4",  "a.5",  "a.6",  "a.7"  e  "a.8"  da  petição  inicial  (fls.  68/69)  são,  basicamente,

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7ª TURMA

atividades-meio  ou  acessórias  ao  objeto  do  contrato  de  concessão,  com  execução  por

terceiros autorizada pela legislação invocada. Ainda, obras de engenharia elétrica, civil e

outras, com prazo certo ou determinado, como por exemplo a construção de rede ou de

linha de distribuição, de subestação, de usinas de linha de transmissão, que exigem mão

de  obra  especializada  e  equipamentos  diversos,  são  atividades  acessórias  ou

complementares ao contrato de concessão para viabilizar o cumprimento das atividades

inerentes. Disse, neste ponto, haver períodos com muitas obras e outras com poucas ou

nenhuma. Que, nestas circunstâncias, não haveria  justificativa para manter empregados

admitidos por concurso público ou para adquirir por licitações equipamentos necessários

para as obras.

Afirmou que, ao contrário do alegado na petição inicial, não

há  enxugamento  do  quadro  de  empregados.  Isso  teria  ocorrido  de  1998  até  o  final  de

2003, mas a partir de 2003 o quadro de empregados próprios voltou a ser recomposto.

Decidiu o d. julgador de origem (fls. 664/673):

(...)

No presente caso trata-se de avaliar a possibilidade de proibição amplanos moldes pretendidos pelo MP. O pedido, aqui, é para que a ré seabstenha de, no prazo de 180 (cento e oitenta) dias, de se utilizar dosserviços de interposta pessoa para a execução de serviços que seafigurem relacionados à sua atividade-fim (Súmula n.° 331 do C.TST),sob pena de pagamento diário de R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais) aoFundo de Amparo ao Trabalhador - FAT ou outro fundo regularmenteconstituído destinado à reconstituição dos bens lesados, notadamenteem face das seguintes atividades:

Serviços de redes de transmissão, distribuição aérea e subterrânea,inclusive manutenção; execução de atividades de operação,manutenção (preventiva, corretiva ou emergencial), e inspeção deequipamentos, linhas e redes elétricas - usinas, subestações e unidadesconsumidoras, de rotina ou de emergência; construção de linhas e

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redes elétricas energizadas; recuperação do sistema elétrico; serviçosde instalação e substituição de ramal de serviço aéreo e ligação deconsumidor; suspensão e religação de unidades consumidoras;-serviços de leitura (compreendem a apuração dos registros, emmedidores e consumo de KWh, de cada unidade de consumo ligada oudesligada, bem como inspeções visuais e indicação de eventuaisirregularidades verificadas relativamente ao consumo e às instalações);processamento de dados e demais atividades inerentes ao faturamentode contas b) abster-se de contratar serviços, mesmo relacionados à suaatividade-meio, quando existentes a pessoalidade e a subordinaçãodireta (Súmula n.° 331 do C.TST), sob pena de pagamento de multadiária de R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais) a ser revertida ao fundo deAmparo ao Trabalhador - FAT ou outro fundo regularmente constituídodestinado à reconstituição dos bens lesados. c) rescindir, no prazo deaté 180 (cento e oitenta) dias, os atuais contratos firmados comempresas terceirizadas que prevejam a prestação de serviços afetos àsua atividade fim, notadamente aqueles listados no item "a" supra, sobpena de pagamento de multa diária de R$ 50.000,00 (cinquenta milreais) a ser revertida ao FAT.

Nessa toada, os contratos anexados com a inicial dão conta daterceirização de serviços de manutenção emergencial, faturamentocompreendendo leitura, impressão e apresentação das notas fiscais,suspensão e religação de unidades consumidoras.

A par dos fundamentos já expostos, os quais ao ver do juízo, emboravisando análise casuística, analisam o tema de forma geral do ponto devista jurídico, tem-se que embora a lei permita a terceirização naadministração publica, essa não pode envolver mão-de-obra ematividades finalísticas e que precarize o serviço prejudicando o usuárioe por via indireta toda a sociedade.

Conforme Sérgio Pinto Martins: "o parágrafo 7º do artigo 10 doDecreto-lei 200/67 permitia que, "para melhor desincumbir-se dastarefas de planejamento, coordenação, supervisão e controle, e com oobjetivo de impedir o crescimento desmesurado da máquinaadministrativa, a Administração procurará desobrigar-se da realizaçãomaterial de tarefas executivas, recorrendo, sempre que possível, àexecução indireta, mediante contrato, desde que exista, na área,iniciativa privada suficientemente desenvolvida e capacitada adesempenhar os encargos de execução". Tal preceito revela que acontratação de empresas pela Administração Pública para prestação deserviços é plenamente válida. A administração Pública pode contratarserviços de conservação, transporte e assemelhados, pois assim opermite a Lei 5645/70, referindo-se apenas à administração direta e

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7ª TURMA

autárquica (arts.1º e 3º, parágrafo único), não abrangendo as empresaspúblicas e sociedades de economia mista. Reza o parágrafo único doart. 3º da Lei 5645 que " as atividades relacionadas com transporte,conservação, custódia, operação de elevadores, limpeza e outrasassemelhadas serão, de preferência, objeto de execução indireta,mediante contrato, de acordo com o art. 10, pgfo 7º do DL 200/67. Asatividades descritas no parágrafo único do art. 3º da Lei n. 5645 têm,porém, caráter exemplificativo, pois a lei usa a expressão: e outrasatividades assemelhadas". Logo, outras atividades poderiam sercontratadas mediante execução indireta.

O pgfo 2º do artigo 2º da Lei 5845/72, " veda a contratação, ourespectiva prorrogação, de serviços, a qualquer título e sob qualquerforma, inclusive com empresas privadas, na modalidade prevista noparágrafo 7º do artigo 10 do DL 200/67, bem como a utilização decolaboradores eventuais, retribuídos mediante recibo, para a execuçãode atividades compreendidas no Grupo Serviços Auxiliares".

O Decreto-lei 2300, de 21 de novembro de 1986, permitia, nos arts. 5º,9º, 22, que fosse feita a contratação de terceiros para execução deobras e serviços públicos, o que vem a ser uma faculdade daadministração pública, foi revogado pelo artigo 126 da Lei 8666/93.

Com a lei complementar 82 de 27 de março de 1995, limita os gastoscom servidores a 60% da receita, a terceirização representa uma formade continuidade da prestação de serviços, não pelo funcionário, maspor empresas terceirizadas. Para o Estado é muito mais fácil contratarempresas terceirizadas do que empregados, pois não precisa limitarseus gastos com funcionários a 60% da receita. O parágrafo 1º do art.18 da Lei Complementar 101 de 4-5-2000, admite a terceirização noserviço publico, pois menciona que: " os valores dos contratos deterceirização de mão-de-obra que se referem à substituição deservidores e empregados públicos serão contabilizados como " outrasdespesas de pessoal". Isso mostra que a lei permite a terceirização. Nãohá dúvida que a terceirização de serviços pode ser feita naAdministração Pública. Entretanto, não se pode fazer a terceirização demão-de-obra na Administração Pública, pois favorece o nepotismo e asnomeações políticas, ferindo a exigência de concurso público. Ogoverno gasta com o terceirizado mais do que com o servidor público.Às vezes até o dobro. O terceirizado não tem o mesmocomprometimento que o funcionário público tem com o serviçopúblico".

Mais adiante, prossegue: "a terceirização ilícita busca apenas o menorpreço. É lícita a terceirização feita por meio do trabalho temporário

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7ª TURMA

(Lei 6019/74), desde que não sejam excedidos os três meses deprestação de serviços pelo funcionário na empresa tomadora; emrelação a vigilantes (Lei 7102/83), serviços de limpeza, empreitada(artigos 610 a 626 CC), subempreitada (artigo 455 da CLT), prestaçãode serviços (artigos 593 a 609 CC), das empresas definidas na lista deserviços submetidos ao ISS, conforme LC 116/2003, pois tais empresaspagam, inclusive, impostos; em relação ao representante comercialautônomo (Lei 4886/65); na compensação de cheques, feita porempresa especializada e desde que não haja pessoalidade esubordinação...a Lei 9472/97 dispõe sobre a organização dos serviçosde telecomunicações, a criação e funcionamento de um órgão reguladore outros aspectos institucionais. Permite o inciso II do art. 94 aconcessionária " contratar com terceiros o desenvolvimento deatividades inerentes, acessórias ou complementares ao serviço, bemcomo a implementação de projetos associados".

No julgado acima já mencionado, cita-se entendimento do TST em casoanálogo e que traz a lume a questão do ponto de vista da legislação:

.....A SBDI I do C. TST, à luz dos tradicionais elementos deinterpretação normativa (gramatical, histórico, sistemático eteleológico), definiu o alcance da referida norma, descartando o sentidoque a Recorrente pretende atribuir-lhe, ou seja, de autorização ampla eirrestrita para terceirização de atividades no setor elétrico, inclusivefinalísticas. Mencione-se, a propósito, trecho da decisão relatada peloMinistro Luiz Philippe Vieira de Mello Filho (ED-E-RR -586341-05.1999.5.18.5555, Data de Julgamento: 28/05/2009, SubseçãoI Especializada em Dissídios Individuais, Data de Publicação:16/10/2009):

(...) Conforme se depreende da leitura daquele dispositivo legal e seusrespectivos parágrafos, a novel legislação alterou os parâmetros tantono tocante à responsabilidade da concessionária de serviços públicos,quanto ao que concerne aos limites da execução desses mesmosserviços, implicando teoricamente a terceirização dessas atividades.

Do cotejo entre a disposição constante no caput do art. 25 damencionada lei, com o seu § 1º, depreende-se que a responsabilidade daempresa concessionária de serviços públicos, quanto aos prejuízoscausados à concedente, aos usuários e a terceiros, em que se insere otrabalhador, é sempre objetiva e direta ou solidária, porque decorre detexto expresso de lei, e não mais subsidiária, independentemente dacontratação de terceiros para o desenvolvimento de suas atividades,quer -inerentes, acessórias ou complementares do serviço concedido.

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7ª TURMA

Muito embora cuide-se de norma de índole administrativa, não hádúvida de que a referência legal a terceiros alcança não só otrabalhador da empresa concessionária dos serviços, como ostrabalhadores das empresas contratadas pela concessionária, na formaautorizada no § 1º do já mencionado art. 25 da lei, uma vez que oparágrafo único do art. 31 da Lei nº 8.987/95 assim se reporta, aodispor que, verbis:

Parágrafo único. As contratações, inclusive de mão-de-obra, feitas pelaconcessionária serão regidas pelas disposições de direito privado epela legislação trabalhista, não se estabelecendo qualquer relaçãoentre os terceiros contratados pela concessionária e o poderconcedente.

Revela-se evidente que, no espectro dos elementos da interpretaçãotradicional, revelam-se insuficientes os critérios clássicos para oequacionamento da lide.

Como se viu, no plano sistemático, a normativização levada a efeito naLei nº 8.987/95 assume natureza administrativa e tem plena eficácia noplano do Direito Administrativo. Isso é fato inquestionável. Não tratou,portanto, de matéria trabalhista nem de seus princípios , conceitos einstitutos , cujo plano de eficácia é outro, especialmente no que tange àsrelações jurídicas de natureza mista , público privadas, porqueamalgamadas às normas trabalhistas que regulam uma relaçãoprivada, regras de proteção mínima, associadas à imperatividade dasnormas de ordem pública, daí a sua cogência e irrenunciabilidade àformação das relações de emprego , desde que preenchidos seus

.requisitos legais - art. 3º da CLT

Torna-se claro que o critério gramatical também não se eleva como oúnico, suficiente e adequado à solução da questão trazida a juízo. Fosseassim, feita a leitura do § 1º do art. 25 da Lei nº 8.987/95, estariasolvida a controvérsia, pois, independentemente dos princípios e regrasconsolidadas, estar-se-ia a legalizar administrativamente aterceirização, novo nomen iuris da intermediação de mão-de-obra,instituto próprio do Direito do Trabalho, em detrimento, outrossim, docritério interpretativo histórico, cuja observância faz remontar àconstrução histórico-sociológica da legislação do trabalho ao longodos tempos, mediante a implementação de sucessivas lutas sociais.

Dessarte, são normativos distintos que regulam espécies distintas, emplanos de eficácia distintos, dentro de um mesmo ordenamento jurídico.São normas que encerram contradições de valores ou princípios dentrode um mesmo ordenamento.

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O aspecto teleológico também não se revela apto a solucionar apresente questão, porque não somente a Consolidação das Leis doTrabalho busca a valorização do trabalho humano e a proteção dafigura hipossuficiente do trabalhador, como a eficiência e efetividadedos serviços públicos centralizados ou descentralizados, no planoadministrativo, visam ao implemento das atividades do Estado embenefício do cidadão.

No mesmo sentido, não caberia cogitar no âmbito da lógica do critérioda especificidade, pois a especialidade da norma trabalhista - leiespecial prevalece sobre a geral - não afasta a incidência na sua esferade atuação da generalidade da norma que dispõe sobre o regime deconcessão e permissão da prestação de serviços públicos previsto noart. 175 da Constituição Federal.

Nesse contexto, estabelece-se uma "lacuna de colisão", nas palavras deClaus Wilhelm Canaris, -Pensamento Sistemático e Conceito de Sistemana Ciência do Direito-, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 3edição, 2002, fls. 218-224, verbis:

(...)

Identificada metodologicamente a denominada -lacuna de colisão-entre valores e princípios dentro do ordenamento, é preciso delinear osfundamentos que virão da exclusão, na hipótese concreta, de uma ou deoutra dessas normas.

Postulado fundamental da Consolidação das Leis do Trabalho é adefinição do contrato individual de trabalho. Dos arts. 2 e 3 da CLTemerge um espírito institucional, além de um conceito prévio e básico,que é o conceito de empregado. Foi deliberado o propósito de sereconhecer a correspondência e a equivalência entre a relação deemprego e o contrato de trabalho, para os efeitos da legislação social,correspondência essa não prevista na escola contratualista italiana,que exige expressa pactuação. Esse elemento distintivo é fundamental.O nosso fundamento do contrato é o acordo tácito, daí por que arelação de emprego constitui ato jurídico suficiente para provocar aincidência das medidas de proteção que se contêm no direito dotrabalho. Este conceito firmado na Consolidação é tanto mais justo erelevante quanto é o que se evidencia em face de contratos formalmentenulos ou substancialmente contrários à ordem pública dos preceitos dalegislação de proteção ao trabalho, daí a razão de ser do art. 9ºconsolidado.

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A legislação trabalhista protege , substancialmente , um valor: otrabalho humano, prestado em benefício de outrem, de forma nãoeventual, oneroso e sob subordinação jurídica, apartes à já insuficienteconceituação individualista. E o protege sob o influxo de outro

.princípio maior , o da dignidade da pessoa humana

Desse último, emana ou irradia a razão de ser do direito e suas atuaistransformações e quebra de paradigmas conceituais ortodoxos devetustos institutos como o contrato e a propriedade, hoje totalmenterevistos ante os influxos do Direito Constitucional sobre o Direito Civil.

Não se poderia , assim , dizer que a norma administrativista ,preocupada com princípios e valores do Direito Administrativo , viessederrogar o eixo fundamental da legislação trabalhista , que é o conceitode empregado e empregador, jungido que está ao conceito de contratode trabalho , previsto na CLT. Seria a interdisciplinaridade às avessas,pois a norma geral administrativa estaria a rejeitar a norma especialtrabalhista e seu instituto fundamental. O instituto que lhe dá feiçãocaracterística e autonomia científica, pois, no conceito de empregado eempregador, vinculadas as atividades daquele às atividades essenciaise primordiais deste, teríamos uma interposta pessoa, sempre. Nãoteríamos mais uma relação bilateral, haja vista que para a consecuçãodas atividades primaciais do empregador haveria sempre uma dízimaperiódica de empregadores, habilitando uma relação trilateral ouplurilateral, em detrimento da legislação social e seus preceitoscogentes.

De outro giro, a terceirização na esfera finalística das empresas, alémde atritar com o eixo fundamental da legislação trabalhista, comoafirmado, traria consequências imensuráveis no campo da organizaçãosindical e da negociação coletiva. O caso dos autos é emblemático, namedida em que a empresa reclamada, atuante no setor de energiaelétrica , estaria autorizada a terceirizar todas as suas atividades, querna área fim, quer na área meio. Nessa hipótese, pergunta-se: a CELG,apesar de beneficiária final dos serviços prestados, ficaria totalmenteprotegida e isenta do cumprimento das normas coletivas pactuadas, pornão mais responder pelas obrigações trabalhistas dos empregadosvinculados aos intermediários? Não resta dúvida de que a consequênciadesse processo seria, naturalmente, o enfraquecimento da categoriaprofissional dos eletricitários, diante da pulverização das atividadesligadas ao setor elétrico e da consequente multiplicação do número deempregadores. Todas essas questões estão em jogo e merecem especialreflexão .

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Ninguém nega a terceirização, nomen iuris hodierno para aintermediação de mão-de-obra. Bem se sabe que sempre esteve presenteao longo da história trabalhista brasileira. O marchander - homem depalha - a que aludira Mario de la Cueva; o -gato- nas relações detrabalho rurais; os serviços intermediários , aludidos no Decreto-Le i nº200; os serviços de limpeza e conservação; os serviços de vigilância; asubconcentração francesa com a produção de bens em empresasdistintas; o franchising; as cooperativas e etc . Cada qua l com suassingularidades. Algumas , como as duas primeiras , que nunca serãolícitas sob a ótica da legislação do trabalho; outras, que , seregularmente prestadas, serão lícitas, desde que o homem, que é a forçade trabalho, não se torne uma mercadoria, nem sua força de trabalho

.seja vendida como mercadoria

(...)

Não obstante, sem ignorar o fenômeno sócio-econômico daterceirização e sua evolução, o Direito do Trabalho, através de seusprincípios e normas, emprestou à hermenêutica pela práxis dajurisprudência a edição da Súmula nº 331 desta Corte...

No enunciado da mencionada súmula preconiza-se, à míngua depreceito específico na legislação social pátria, mas em consonânciacom princípios e normas constitucionais e trabalhistas, uma exegesecomplementar do sistema vigente. Em especial, no seu inciso 3º,afirma-se que não formam vínculo de emprego com o tomador damão-de-obra, em seu aspecto interno, registre-se por oportuno, nãosomente os serviços de vigilância, conservação e asseio, como osserviços ligados à atividade meio do tomador, desde que inexistente asubordinação direta.

Referida construção jurisprudencial trouxe um marco teórico ejurisprudencial para o fenômeno da terceirização nas relações detrabalho no Brasil, importante para o desenvolvimento social eeconômico do País, já que compatibilizou os princípios da valorizaçãodo trabalho humano e da livre concorrência e equilibrou a relaçãoentre o capital e o trabalho. Trouxe uma orientação jurídica commarcos objetivos para a implementação desse fenômeno daterceirização, enquanto não avançou a legislação, mas atropelou-nos arealidade.

Não se olvide o caráter genérico do conceito -atividade-meio- e suainserção no ordenamento através da jurisprudência como conceito

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7ª TURMA

indeterminado. Essa circunstância não abala a convicção da súmula,ao contrário, a reforça, pois impele a adoção, inclusive, de princípiovetor do próprio Código Civil: a operabilidade.

Nela, como ressaltado no início, quanto ao papel da norma, verifica-seque a solução dos problemas jurídicos nem sempre se encontra norelato abstrato do texto normativo. Muitas vezes só é possível produzira resposta constitucionalmente adequada à luz do problema, dos fatosrelevantes, analisados topicamente; quanto ao papel do juiz, já não lhecaberá apenas uma função de conhecimento técnico, voltado pararevelar a solução contida no enunciado normativo. O intérpretetorna-se co-participante do processo de criação do direito,completando o trabalho do legislador, ao fazer valorações de sentidopara as cláusulas abertas e ao realizar escolhas entre soluçõespossíveis (obra cit. Supra).

Fecha-se , portanto , o ciclo interpretativo, pois desses termos resulta aoperabilidade , vetor emprestado à construção da aludida súmula dejurisprudência. E esta Justiça tem, caso a caso , examinado o processoeconômico de terceirização das atividades-meio das empresas . Excluiudo âmbito da descentralização produtiva as atividades assim

.consideradas essenciais , ou como quer o texto, as atividades-fim

Ainda que suscite polêmica, o termo não conceitua, delimita, apenas.Classificação e conceitos são termos na ciência jurídica que ensejamproposições próprias, determinadas e definidas. Não é o caso. Trata-sede delimitar fatos e circunstâncias peculiares à prestação de serviçosatravés de interposta pessoa, cabendo ao ordenamento jurídico, pormeio da doutrina e da lei, a formulação dos conceitos e da terminologiaadequados para o fenômeno jurídico.

No caso, certo é que as atividades prestadas pelas empresasinterpostas, como genericamente expostas ao longo do processado,implicam o desenvolvimento de atividades-fim da reclamada, razão pelaqua l há de se vedar lhe a execução, como pretendido na inicial, emobservância aos preceitos fundamentais da ordem jurídica trabalhista,e porque não se lhe é permitido fazê-lo sob a égide de leisadministrativas, haja vista a colisão de valores e princípios a serem

.preservados no caso concreto

No caso, é evidente que somente alcança a reclamada, e não terceirosque não fizeram parte da relação. Mas a inobservância gera avinculação objetiva da tomadora quanto às atividades desenvolvidaspelos empregados das contratadas, daí por que o interesse jurídico dademandada.

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7ª TURMA

Sendo assim, a pretensão deduzida pelo Ministério Público do Trabalhonesta ação civil pública, de impedir a reclamada de terceirizar suaatividade-fim, encontra amparo no sistema jurídico, não obstante tenhaa concessionária de serviços públicos responsabilidade direta nosprejuízos causados aos trabalhadores, conforme fundamentação acimaexposta, restando contrariada a Súmula nº 331, inciso I, do TribunalSuperior do Trabalho e, consequentemente, violado o art. 896 da CLT.

Conheço dos embargos por violação do art. 896 da CLT e discrepânciacom a Súmula nº 331, I, do Tribunal Superior do Trabalho. (grifosacrescidos).

Consta da ementa do julgado:

"RECURSO DE EMBARGOS - AÇÃO CIVIL PÚBLICA -TERCEIRIZAÇÃO EM ATIVIDADE-FIM - EMPRESA DO RAMO DEENERGIA ELÉTRICA - EXEGESE DO ART. 25 DA LEI Nº 8.987/95 -INTELIGÊNCIA DA SÚMULA Nº 331 DO TRIBUNAL SUPERIOR DOTRABALHO - VIOLAÇÃO DO ART. 896 DA CLT. A Le i nº 8.987 , de13 de fevereiro de 1995 , que dispõe sobre o regime de concessão epermissão de prestação de serviços públicos , ostenta naturezaadministrativa e , como tal , ao tratar , em seu art . 25 , da contrataçãocom terceiros de atividades inerentes, acessórias ou complementares aoserviço concedido , não autorizou a terceirização da atividade-fim dasempresas do setor elétrico . Isso porque, esse diploma administrativonão aborda matéria trabalhista, nem seus princípios, conceitos einstitutos, cujo plano de eficácia é outro. A legislação trabalhistaprotege, substancialmente, um valor: o trabalho humano, prestado embenefício de outrem, de forma não eventual, oneroso e sobsubordinação jurídica, apartes à já insuficiente conceituaçãoindividualista. E o protege sob o influxo de outro princípio maior, o dadignidade da pessoa humana. Não se poderia, assim, dizer que a normaadministrativista, preocupada com princípios e valores do DireitoAdministrativo, viesse derrogar o eixo fundamental da legislaçãotrabalhista, que é o conceito de empregado e empregador, jungido queestá ao conceito de contrato de trabalho, previsto na CLT. O enunciadoda Súmula nº 331 do Tribunal Superior do Trabalho guarda perfeitaharmonia com princípios e normas constitucionais e trabalhistas etrouxe um marco teórico e jurisprudencial para o fenômeno daterceirização nas relações de trabalho no Brasil, importante para odesenvolvimento social e econômico do País, já que compatibilizou osprincípios da valorização do trabalho humano e da livre concorrência eequilibrou a relação entre o capital e o trabalho. Recurso de embargosconhecido e parcialmente provido. (ED-E-RR -586341-05.1999.5.18.5555 , Redator Ministro: Luiz Philippe Vieira de

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7ª TURMA

Mello Filho, Data de Julgamento: 28/05/2009, Subseção IEspecializada em Dissídios Individuais, Data de Publicação:16/10/2009)."

A empresa admite que mantém cerca de 20% das suas atividades-fimterceirizadas, no máximo 30%. Ou seja, admite que terceiriza asatividades finalísticas, sendo que os contratos conforme documentosdos autos não deixam dúvida pois manutenção emergencial, por meroexemplo, é atividade inerente aos fins da empresa ré.

A meu ver, o número de trabalhadores nessa situação e o número decontratos é irrelevante. A postura do judiciário sobre o tema em telanão é baseada em quantidade de atividade ilícita, mas na ilicitude emsi, eis que em direito do trabalho não há insignificância, ou seja, não háque se falar em violação maior ou menor da lei para que se reconheçaa atitude ilícita.

Por outro lado, o argumento de que o acolhimento da pretensão irádesestruturar dezenas de empregos e extinguir centenas de empregos,da mesma forma, não pode ser óbice para que o poder judiciárioreconheça que a atividade conforme posta é contrária ao ordenamentojurídico. A própria defesa reconhece que, se por um lado há o interessedos que hoje prestam serviços terceirizados, por outro lado há ointeresse da sociedade como um todo e dos possíveis candidatos aemprego público.

Essa discussão da validade social e legitimidade da lei do ponto devista de um grupo de pessoas, atingidos e prejudicados por ela, podeaté ser travada no campo do agente legislador, todavia, uma vez posta,não cabe ao juiz reduzir seus efeitos com base em um prejuízo, em tese,a determinado extrato da sociedade que tem interesses particularesembora deva, conforme se verá em tópico próprio, no campo do

.cumprimento da decisão, atentar para as consequências

Trata-se, ainda, de presunção da defesa, embora válida do ponto devista lógico, não deixa de ser presunção, ou seja, em tese pode oimpedimento da terceirização causar falência de dezenas de empresas,e, também em tese, os empregados da empresa terceirizada não estãopreparados para um certame em concurso público.

O argumento, por outro lado, de que os atuais empregados dasempresas terceirizadas não estariam preparados para enfrentar umcertame promovido pela ré, demonstra o grau de precariedade que aatuação de empresas terceirizadas traz para a prestação de serviços,bem como o risco para a segurança do trabalho.

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7ª TURMA

Em suma: em face do exposto e fundamentado nos argumentos jurídicosacima lançados, nesse julgado e nos julgados transcritos dos julgadosdo TRT-PR e do TST, acolhidos como razões de decidir desta sentença,entendo que não remanesce possibilidade jurídica de a ré terceirizar osserviços mencionados pelo autor na inicial.

Consequentemente, ACOLHO o pedido posto pelo Ministério Públicodo Trabalho. Determino que a COMPANHIA PARANAENSE DEENERGIA ELÉTRICA - COPEL se abstenha de utilizar mão de obrainterposta para execução de serviços relacionados a sua atividade fim,elencados na inicial, a saber: serviços de redes de transmissão,distribuição aérea e subterrânea, inclusive manutenção; execução deatividades de operação, manutenção (preventiva, corretiva ouemergencial), e inspeção de equipamentos, linhas e redes elétricas-usinas, subestações e unidades consumidoras, de rotina ou deemergência; construção de linhas e redes elétricas energizadas;recuperação do sistema elétrico, serviços de instalação e substituiçãode ramal de serviço aéreo e ligação de consumidor; suspensão ereligação de unidades consumidoras; serviços de leitura (compreendema apuração dos registros, em medidores de consumo de KWh, de cadaunidade de consumo ligada ou desligada, bem como inspeções visuais eindicação de eventuais irregularidades verificadas relativamente aoconsumo e às instalações; processamento de dados e demais atividades

.inerentes ao faturamento de contas

Determino 1. Que a ré se abstenha de contratar serviços, mesmorelacionados à sua atividade-meio, quando existentes a pessoalidade ea subordinação direta (Súmula n.° 331 do C. TST), sob pena depagamento de multa diária de R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais) a serrevertida ao Fundo de Amparo ao Trabalhador - FAT ou outro fundo, aindicação do réu mediante concordância do juízo, regularmenteconstituído destinado à reconstituição dos bens lesados.c) rescindir, noprazo de até 180 (cento e oitenta) dias, os atuais contratos firmadoscom empresas terceirizadas que prevejam a prestação de serviçosafetos à sua atividade fim, notadamente aqueles listados no item "a"supra, sob pena de pagamento de multa diária de R$ 50.000,00(cinquenta mil reais) a ser revertida ao Fundo de Amparo aoTrabalhador - FAT ou outro fundo, a indicação do réu medianteconcordância do juízo, regularmente constituído destinado àreconstituição dos bens lesados;

2. Determino que a ré rescinda os atuais contratos firmados comempresas terceirizadas e fiscalize o cumprimento, enquanto nãorescindidos os contratos, das normas de saúde e segurançaespecialmente NR - 6, 7 e 10, comprovando perante o autor a

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7ª TURMA

fiscalização, que deverá, caso necessário, denunciaro descumprimento.

ANTECIPAÇÃO DOS EFEITOS DA TUTELA E PRAZOS PARACUMPRIMENTO DA DECISÃO

Conforme mencionado acima, embora a discussão da validade social elegitimidade da lei do ponto de vista de um grupo de pessoas, atingidose prejudicados por ela, possam até ser travada no campo do agentelegislador, uma vez posta, não cabe ao juiz reduzir seus efeitos combase em um prejuízo, em tese, a determinado extrato da sociedade quetem interesses particulares. Por outro lado, em casos como esse, ojulgador deve atentar para as consequências de suas decisões.

Portanto, embora esse juízo não tenha dúvidas acerca do acerto dadecisão fundamentada em entendimentos respeitáveis inclusive da cortesuperior, mas, ponderando que se trata de situação já sedimentada hávários anos, e cuja reversão trará consequências para dezenas depessoas físicas e jurídicas, para o Estado e para os próprios usuáriosem função da prestação de serviço que deve ser continuado,ponderando ainda que mesmo eventual necessidade de concursopúblico também não é solução que mesmo a ré possa solver de formainstantânea, em face dos trâmites legais necessários, não vejo comodeferir antecipação dos efeitos da tutela de mérito, exceto aquelesreferentes à fiscalização acerca do cumprimento, enquanto nãorescindidos os contratos com as empresas terceirizadas, das normas desaúde e segurança especialmente NR 6, 7 e 10, comprovando perante oautor a fiscalização, que deverá, caso necessário, denunciar odescumprimento.

Com relação às demais determinações, o prazo para cumprimento seráo de 180 dias após o trânsito em julgado da condenação, depois de

.intimada para fazê-lo  (grifos no original).

 

Recorre a Reclamada. Argumenta que a hipótese não retrata

precarização do trabalho humano, o que desautoriza invocar os princípios da dignidade da

pessoa  e  do  valor  social  do  trabalho.  Assevera  que,  ao  contrário  do  entendimento

consignado no E-RR 586341-58.1999.5.18.0001 (caso CELG, pendente de julgamento no

E.  STF),  adotado  como  fundamento  da  r.  sentença,  a  Lei  nº  8.987/95  não  atrita  com

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eixo fundamental da legislação trabalhista, não colide com a CLT ou com a Constituição

Federal,  nem  causa  prejuízo  a  qualquer  empregado.  Isso  porque,  a  seu  ver,  a  leitura

sistemática  de  seus  dispositivos,  arts.  25,  §  1º,  e  31,  parágrafo  único  -  indica  que  os

direitos dos trabalhadores estão assegurados. Assevera que, se naquele processo julgado

pela SBDI I justificava-se uma providência, no caso examinado tal não existe, na medida

em  que  apenas  20%,  aproximadamente,  de  suas  atividades  inerentes,  acessórias  ou

complementares são executadas por terceiros e não há prova de precarização no âmbito

destas relações. Sistematiza sua insurgência nestes termos (fl. 708): (1º) Não há ilicitude e

 nem fraude nas contratações ora questionadas, decorrente do fato de a Recorrente

 contratar parte de suas atividades inerentes ao objeto do contrato de concessão. Pelo

 contrário, há lei específica autorizadora - Lei nº 8.987/95 válida e eficaz; (2º) Nada foi

 provado em relação à alegada subconcessão, pelo que, não poderia ter constado da

 sentença; (3º) Nada foi provado com relação ao alegado desvirtuamento do emprego

 público; (4º) Nada foi provado com relação à alegada precarização; (5º) Não há prova

 de que as atividades terceirizadas não sejam atividades inerentes, acessórias ou

complementares aos objetos dos contratos de concessão; (6º) Não há simples

 intermediação de mão de obra. As empresas contratadas dispõem de todos os

 equipamentos, ferramentas, veículos, etc. para prestar o serviço; (7º) Os elementos de

 empregos não existem em relação aos terceiros, não se aplicando o disposto nos artigos

 2º e 3º da CLT. Não há subordinação, remuneração e nem pessoalidade em relação a

   Recorrente. Neste contexto de inexistência de prova sobre os vários aspectos alegados,

 resta para discussão apenas a alegada ilicitude da terceirização das atividades inerentes,

 acessórias ou complementares frente ao disposto no artigo 25, § 1º da Lei nº 8.987/95,

 destacando que consta da r. sentença que apenas uma parte menor - cerca de no máximo

30% de algumas atividades - é objeto de terceirização lícita.

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Assevera que, ao sentenciar pela ilicitude da terceirização, o

d. Juízo singular negou validade e eficácia ao disposto nos arts. 1º e 25, §§ 1º, 2º e 3º, da

Lei  nº  8.987/95,  afrontou  direta  e  literalmente  o  disposto  no  art.  5º,  II  (princípio  da

legalidade), no art. 97 (reserva de plenário), no art. 170 (princípio da livre iniciativa) da

Constituição Federal, e contrariou a Súmula Vinculante nº 10 do E. STF. Reitera que a

concessionária  está  legalmente  autorizada  (sobredito  art.  25  da  Lei  nº  8.987/95)  a

terceirizar  parte  das  atividades  inerentes,  acessórias  ou  complementares  ao  objeto  do

contrato de concessão. Assevera que a terceirização de parte das atividades essenciais do

serviço público, autorizada pelo contrato de concessão, é também uma questão estratégica

para  as  concessionárias  nas  ocasiões  de  tempestades,  greve  dos  empregados,  como  já

ocorreu,  sendo  que  os  empregados  das  terceirizadas  contratadas  é  que  socorreram  o

atendimento dos serviços inadiáveis - hospitais, serviços públicos em geral e outros.

Refirma  que  as  concessionárias  cumprem  seus  objetivos

sociais, como produzir, transmitir e distribuir energia elétrica e proporcionam quase dez

mil empregos diretos. A maior parte - cerca de 80% - das atividades inerentes, acessórias

ou  complementares  são  todas  executadas  com  empregados  próprios.  As  atividades  de

atendimento ao usuário de energia - Call Center - são 100% executadas com empregados

próprios. As atividades de leitura, embora sejam acessórias ao objeto da concessão, são

executadas na sua maior parte com empregados próprios, com tendência a atingir 100%.

Na Copel Geração e Transmissão S/A a  terceirização de atividades-fim é praticamente

irrisória, sendo que: (a) operação de UHE - 100% atendida com empregados próprios; (b)

manutenção  de UHE  -  100%  atendida  com  empregados  próprios;  (c)  operação  de  SE

acima de 230kV - 100% atendida com empregados próprios; (d) manutenção de SE acima

de  230kV  -  100%  atendida  com  empregados  próprios;  (e)  manutenção  de  linhas  de

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transmissão acima de 230kV - 100% atendida com empregados próprios. Na UEG - Usina

Elétrica  a Gás  de Araucária  -  trabalham  70  empregados  nas  atividades  de  operação  e

manutenção  e  apenas  02  empregados  de  terceiros,  que  executam  atividades  altamente

especializadas, conforme demonstrado na contestação. As concessões e as permissões de

serviços públicos estão amparadas pelo disposto no art. 175 da Constituição Federal, que

delegou para o Congresso Nacional a sua regulamentação.

Analisa-se.

Cinge-se a controvérsia em se estabelecer a possibilidade ou

não de terceirização, por parte de empresa concessionária de energia elétrica, de serviços

que sejam inseridos em sua atividade finalística, ante os termos do art. 25, § 1º, da Lei nº

8.987/95, "ad litteram":

Art. 25. Incumbe à concessionária a execução do serviço concedido,cabendo-lhe  responder  por  todos  os  prejuízos  causados  ao  poderconcedente,  aos  usuários  ou  a  terceiros,  sem  que  a  fiscalizaçãoexercida  pelo  órgão  competente  exclua  ou  atenue  essaresponsabilidade.

§ 1.º Sem prejuízo da responsabilidade a que se refere este artigo, aconcessionária  poderá  contratar  com  terceiros  o  desenvolvimentode  atividades  inerentes,  acessórias  ou  complementares  ao  serviço

.concedido, bem como a implementação de projetos associados

§ 2.º Os contratos celebrados entre a concessionária e os terceiros aque se refere o parágrafo anterior reger-se-ão pelo direito privado,não se estabelecendo qualquer relação jurídica entre os terceiros e opoder concedente.

§ 3.º A execução das atividades contratadas com terceiros pressupõeo  cumprimento  das  normas  regulamentares  da  modalidade  doserviço concedido. (grifos acrescidos).

 

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Sobre  a  terceirização,  algumas  considerações  são

necessárias.

O  fenômeno  surgiu  da  necessidade  de  aprimoramento  dos

meios e técnicas de produção, da necessidade de a empresa reestruturar-se e concentrar

suas atenções no que é essencial à sua atividade. Em sua origem, o modelo toyotista de

produção  (ou  modelo  de  acumulação  flexível),  fundado  em  um  padrão  horizontal  de

produção, ou seja, organizado em redes de empresas prestadores de serviços, mostrou-se

mais eficaz que o modelo fordista ou taylorista (formado a partir das idéias de Henry Ford

e  Friedrich  Taylor);  nesta,  os  trabalhadores  eram  organizados  em  uma  estrutura

hierarquizada,  mantidos  sob  a  ingerência  direta  da  empresa,  que  concentrava  sob  sua

responsabilidade  e  em  suas  dependências  todas  as  atividades  relacionadas  ao  seu

funcionamento, inclusive as periféricas.

No Brasil, a idéia de terceirização também formou-se a partir

da preocupação concentrada na essência do negócio. Buscou-se, com base na influência

positiva  de  outros  padrões,  um  modelo  de  gestão  empresarial  que  permitisse  a

especialização  das  atividades  da  empresa,  com  a  concentração  de  esforços  em  sua

atividade-fim e, em última análise, com a garantia de melhor eficiência.

É fato inegável que as relações de trabalho estão em contínua

transformação,  notadamente  por  conta  da  dinâmica  da  atividade  empresarial,  das

inovações  tecnológicas  do  processo  produtivo  e  da  necessidade  de  imprimir  melhor

eficiência  às  formas  de  produção.  O mesmo  se  aplica  à  Administração  Pública,  pois,

assim  como  o  setor  privado,  tem  suas  atividades  permanentemente  confrontadas  pela

exigência de novas tecnologias e pela necessidade de se adaptar às evoluções do mercado.

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7ª TURMA

Para  José Augusto  Rodrigues  Pinto,  a  terceirização,  termo

que  não  lhe  parece  apropriado,  expressa  um  contrato  de  apoio  empresarial. Afirma,  a

respeito:

[...]  o  neologismo,  embora  tenha  sido  aceito  com  foros  deirreversível, não expressa por via nenhuma das derivações a  idéiado  que  pretende  passar,  ou  porque  a  empresa  prestadora  não  éterceiro  e  sim  parceiro,  no  sentido  de  contratante  direto  com  atomadora, nem os empregados de cada uma são  terceiros peranteelas, ou porque a atividade de apoio não é até mesmo primária. Oque se está  tratando, sob essa nova denominação, é apenas de umcontrato  de  prestação  de  serviços  de  apoio  empresarial,  queexaminará, decerto, com mais eloquência e precisão, seu conteúdo esua finalidade com o batismo de contrato de apoio empresarial ou,

.igualmente,  contrato  de  atividade  de  apoio   (RODRIGUES  Pinto,José Augusto. Curso de direito individual do trabalho. 3. ed. São Paulo:Ltr, 1997, p. 144/145).

 

Américo  Plá  Rodriguez  faz  as  seguintes  referências  à

terceirização:

Na  complexidade  da  atividade  econômica moderna,  muitas  vezesuma empresa encomenda a realização de uma tarefa, complementare especializada, a outra empresa. Razões de economia de custos, demaior eficiência nos  serviços, de utilização plena de equipamentostécnicos excessivos para uma só exploração, explicam a proliferaçãodessas contratações e subcontratações (...). (Rodriguez, Américo Plá.Princípios de direito do trabalho. 3. ed. São Paulo: LTr, 1996, p. 259).

 

Na  terceirização,  portanto,  "o  serviço  prestado  ou  o

produto produzido constitui a atividade finalística da contratada e este serviço ou

produto  é    para  a  completude  da  atividade  finalística  doelemento  mediato

 contratante." (cf. Paulo Douglas Almeida de Moraes. Contratação indireta e terceirização de serviços

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na  atividade-fim  de  pessoas  jurídicas:  possibilidade  jurídica  e  conveniência  social.  Disponível  em

www.scribd.com/doc/50712954/tercerizacao).

Embora o  fenômeno da  terceirização não esteja  legalmente

regulado, decorre de construção  jurídica  lastreada nos arts. 2º e 3º da CLT e arts. 159,

1216  e  1.518  do  Código  Civil,  e  cujos  contornos  já  foram  delimitados  pelo  C.  TST,

inicialmente pela Súmula nº 256 e, atualmente, pela Súmula nº 331, "ad litteram":

CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS. LEGALIDADE.

I - A contratação de trabalhadores por empresa interposta é ilegal,formando-se  o  vínculo  diretamente  com  o  tomador  dos  serviços,salvo no caso de trabalho temporário (Lei nº 6.019, de 03.01.1974).

II  -  A  contratação  irregular  de  trabalhador,  mediante  empresainterposta,  não  gera  vínculo  de  emprego  com  os  órgãos  daAdministração Pública direta,  indireta ou  fundacional  (art. 37,  II,da CF/1988).

III - Não forma vínculo de emprego com o tomador a contrataçãode  serviços  de  vigilância  (Lei  nº  7.102,  de  20.06.1983)  e  deconservação  e  limpeza,  bem  como  a  de  serviços  especializadosligados  à  atividade-meio  do  tomador,  desde  que  inexistente  apessoalidade e a subordinação direta.

IV  - O  inadimplemento  das  obrigações  trabalhistas,  por  parte  doempregador, implica a responsabilidade subsidiária do tomador dosserviços quanto àquelas obrigações, desde que haja participado darelação processual e conste também do título executivo judicial.

V - Os entes integrantes da Administração Pública direta e indiretarespondem  subsidiariamente,  nas  mesmas  condições  do  item  IV,caso  evidenciada  a  sua  conduta  culposa  no  cumprimento  dasobrigações  da  Lei  nº  8.666,  de  21.06.1993,  especialmente  nafiscalização do cumprimento das obrigações contratuais e legais daprestadora  de  serviço  como  empregadora.  A  aludidaresponsabilidade  não  decorre  de  mero  inadimplemento  dasobrigações  trabalhistas  assumidas  pela  empresa  regularmentecontratada.

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VI - A responsabilidade subsidiária do tomador de serviços abrangetodas as verbas decorrentes da condenação referentes ao período daprestação laboral.

                                

Conforme  enuncia  o  item  I  da  súmula,  salvo  nos  casos  de

trabalho  temporário  (Lei  nº  6.019/74),  a  contratação  de  trabalhadores  por  empresa

interposta  é,  de  regra,  ilegal.  Como  exceção,  o  item  III  reconhece  a  licitude  da

intermediação da mão-de-obra na contratação de serviços de vigilância (Lei nº 7.102/83),

de conservação e limpeza, ou de "serviços especializados ligados à atividade-meio do

 e, ainda, desde que inexista pessoalidade e subordinação direta.tomador"

A  terceirização  de  atividade-fim,  portanto,  não  é  permitida

pelo ordenamento pátrio, em abono aos princípios e valores que formam o substrato do

Estado  Democrático.  Consta  no  inciso  IV  do  art.  1º  da  Constituição  Federal  como

fundamento  da  República  Federativa  do  Brasil  o  valor  social  do  trabalho;  também  a

dignidade da pessoa humana é destacada pela Magna Carta como fundamento do Estado

brasileiro  (art.  1º,  III).  Tais  valores  perfazem  toda  a  cadeia  temática  do  texto

constitucional, pontuando-se em diversas oportunidades, a exemplo dos artigos 6º e 7º,

que consagram direitos sociais relacionados com o trabalho.

Entende-se  que  a  intermediação  de  mão-de-obra  em

atividade  incluída  na  finalidade  precípua  da  empresa  constitui  medida  que  afronta  a

dignidade  do  trabalhador,  pois  não  se  trata  de  promover  maior  especialização  da

mão-de-obra,  mas  visa  tão-somente  gerar  enriquecimento  de  terceiros,  mediante  a

exploração da força de trabalho de pessoas mal remuneradas, de regra, em comparação

com  as  garantias  asseguradas  àquelas  contratadas  diretamente.  Trata  a  energia  de

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trabalho, pois, como verdadeira mercadoria (mercantilização) a ser negociada perante as

empresas, pagando-se baixos salários ao trabalhador e recebendo em troca o maior valor

possível pela energia de trabalho despendida.

Quanto  a  esta  figura  jurídica,  Rodrigo  de  Lacerda  Carelli

ressalta que, de fato, "não há, como nem mesmo pode haver uma inferência no modo

de organização da produção e na realização de contratos civis entre empresas, muito

mais  advindo  do  Direito  do  Trabalho.  O  que  este  ramo  do  Direito  não  admite,

mundialmente e desde os tempos do início deste sistema protetivo, tendo recebido o

pejorativo  nome  de  'merchandage',  é  a  intermediação  de  mão-de-obra,  o  mero

fornecimento de trabalhadores por uma determinada empresa a outra, eximindo-se

 esta  das  obrigações  derivadas  da  relação  jurídica  com  eles." (CARELLI,  Rodrigo  de

.Lacerda. Formas atípicas de trabalho. LTr, SP, 2004, 1. ed., p. 43/63)

A  Declaração  de  Filadélfia  de  1944,  em  que  os

Estados-membros  da Organização  Internacional  do Trabalho  acordaram  a Constituição

desse  organismo  supranacional,  estatuiu,  como  primeiro  princípio  para  a  proteção  do

trabalho humano, que   Como garantia da dignidade"o trabalho não é uma mercadoria".

do  trabalhador, nesta acepção, o  trabalho é um valor  fora de mercado,  e  a garantia do

sistema de proteção sobre ele formado depende, em qualquer de suas manifestações, do

respeito a este princípio fundamental.

Patente, neste ponto, a indagação do que é atividade-fim e do

que  pode  ser  considerada  atividade-meio,  porque,  do  quanto  já  exposto,  esta  distinção

marca um dos critérios de aferição da  licitude da contratação  indireta de mão-de-obra.

Mauricio Godinho Delgado leciona a respeito:

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7ª TURMA

Atividades-fim podem  ser  conceituadas  como as  funções  e  tarefasempresariais  e  laborais  que  se  ajustam  ao  núcleo  da  dinâmicaempresarial  do  tomador  dos  serviços,  compondo  a  essência  dessadinâmica  e  contribuindo  inclusive  para  a  definição  de  seuposicionamento e classificação no contesto empresarial e econômico.São,  portanto,  atividades  nucleares  e  definitórias  da  essência  dadinâmica empresarial do tomador dos serviços.

Por  outro  lado,  atividades-meio  são  aquelas  funções  e  tarefasempresariais e laborais que não se ajustam ao núcleo da dinâmicaempresarial  do  tomador  dos  serviços,  nem  compõem  a  essênciadessa  dinâmica  ou  contribuem  para  a  definição  de  seuposicionamento no  contexto  empresarial  e  econômico mais amplo.São,  portanto,  atividades  periféricas  à  essência  da  dinâmicaempresarial  do  tomador  dos  serviços.  São,  ilustrativamente,  asatividades referidas pela Lei n. 5.645/70 ('transporte, conservação,custódia, operação de elevadores,  limpeza e outras assemelhadas'),assim  como  outras  atividades  de  mero  apoio  logístico  aoempreendimento  (serviço  de  alimentação  aos  empregados  do

 (Curso de direito do trabalho. 10. ed. São Paulo:estabelecimento, etc.).LTr, 2011, p. 438).

 

Conforme o princípio da legalidade estrita, a Administração

Pública somente pode realizar aquilo que é previsto em lei. E, analisando-se a legislação

administrativa, verifica-se que um dos princípios fundamentais da Administração Pública

dispostos  no  Decreto-lei  nº  200/67,  o  primeiro  texto  legal  a  regular  a  atividade

administrativa do Estado, é o da descentralização do serviço público. Enuncia, a respeito,

o art. 10, § 7º ("verbis"):

Art.  10.  A  execução  das  atividades  da  Administração  Federaldeverá ser amplamente descentralizada.

(...)

§  7º.  Para  melhor  desincumbir-se  das  tarefas  de  planejamento,coordenação,  supervisão  e  controle  e  com  objetivo  de  impedir  ocrescimento  desmensurado  da  máquina  administrativa,  aAdministração  procurará  desobrigar-se  da  realização material  de

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7ª TURMA

tarefas  executivas,  recorrendo,  sempre  que  possível,  à  execuçãoindireta,  mediante  contrato,  desde  que  exista,  na  área,  iniciativaprivada suficientemente desenvolvida e capacitada a desempenharos encargos de execução.

(...).

 

Advirta-se que a norma não legaliza o mero fornecimento de

pessoal, mesmo porque o óbice do concurso público impede a inserção de trabalhador na

Administração sem o atendimento desta exigência, mas trata de transferência ou cessão de

serviços  a  serem  realizados por  empresas  tecnicamente  capacitadas. Este  entendimento

foi,  posteriormente,  normatizado  pelo  Decreto  nº  2.271/97,  destinado  a  disciplinar  a

contratação  de  serviços  pela  Administração  Pública  Federal  direta,  autárquica  e

fundacional, e, em última análise, a evitar o desvirtuamento da contratação de serviços

pelo Estado. Reza, a propósito, o seu art. 42, "ad litteram":

Art.  42  É  vedada  a  inclusão  de  disposições  nos  instrumentoscontratuais que permitam:

( ... )

II  -  caracterização  exclusiva  do  objeto  como  fornecimento  demão-de-obra;

( ... )

IV - subordinação dos empregados da contratada a administraçãoda contratante.

                                

As  normas,  conquanto  derivem  de  regulamentação  da

Administração Pública Federal, emanam princípios que  informam, em sua estrutura, os

demais entes federativos. Daí a conveniência para o exame da situação posta nos autos.

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7ª TURMA

Mesmo porque, tratando-se de prestadoras de serviço público

em  regime  de  concessão,  caso  da  Recorrente,  há  autorização  legislativa  para  a

subcontratação, como se extrai do já citado art. 25, § 1°, da Lei nº 8.987/95, que dispõe

sobre o regime de concessão e permissão da prestação de serviços públicos previsto no

artigo 175 da Constituição Federal.

  Não  se  desconhece  a  linha  interpretativa,  inclusive  com

respaldo no C. TST, por suas 5ª e 8ª Turma, das quais são ilustrativos, respetivamente, os

julgados  envolvendo  a  Companhia  Energética  de  Minas  Gerais  -  CEMIG  (RR

147300-43.2003.5.03.0004  -  Relator  Min.  João  Batista  Brito  Pereira)  e  a  LIGHT  -

Serviços de Eletricidade S/A (RR 2973-27.2020.5.01.0000 - Relatora Min. Maria Cristina

Irigoyen  Peduzzi),  no  sentido  de  que  a  Lei  nº  8.987/95  autoriza  a  terceirização  de

atividade-fim  das  concessionárias  de  serviços  públicos,  incluindo  empresas  do  setor

elétrico,  por  entender  que  a  permissão  estaria  expressamente  autorizada  pelo  art.  25

quando defere a contratação de atividades "inerentes, acessórias ou complementares ao

serviço, bem como a implementação de projetos associados".

A ver deste d. Colegiado, entretanto, a norma não autoriza,

como quer a Recorrente, a irrestrita subcontratação, inclusive de atividades finalísticas. O

alcance do vocábulo "inerentes", constante da norma, não é o pretendido pela Recorrente.

Com  efeito,  a  SBDI  I  do  C.  TST,  à  luz  dos  tradicionais

elementos de  interprestação normativa (gramatical, histórico, sistemático e  teleológico),

definiu  o  alcance  da  referida  norma,  descartando  o  sentido  que  a Recorrente  pretende

atribuir-lhe, ou seja, de autorização ampla e irrestrita para terceirização de atividades no

setor elétrico, inclusive finalísticas. Mencione-se, a propósito, trecho da decisão relatada

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7ª TURMA

pelo Ministro Luiz Philippe Vieira de Mello Filho (ED-E-RR - 586341-05.1999.5.18.5555, Data

de  Julgamento:  28/05/2009,  Subseção  I  Especializada  em  Dissídios  Individuais,  Data  de  Publicação:

16/10/2009):

(...) Conforme  se  depreende  da  leitura  daquele  dispositivo  legal  eseus  respectivos  parágrafos,  a  novel  legislação  alterou  osparâmetros  tanto no  tocante à  responsabilidade da concessionáriade  serviços  públicos,  quanto  ao  que  concerne  aos  limites  daexecução  desses  mesmos  serviços,  implicando  teoricamente  aterceirização dessas atividades.

Do  cotejo  entre  a  disposição  constante  no  caput  do  art.  25  damencionada lei, com o seu § 1º, depreende-se que a responsabilidadeda  empresa  concessionária  de  serviços  públicos,  quanto  aosprejuízos causados à concedente, aos usuários e a terceiros, em quese  insere  o  trabalhador,  é  sempre  objetiva  e  direta  ou  solidária,porque  decorre  de  texto  expresso  de  lei,  e  não  mais  subsidiária,independentemente  da  contratação  de  terceiros  para  odesenvolvimento de suas atividades, que25r -inerentes, acessórias oucomplementares do serviço concedido-.

Muito embora cuide-se de norma de índole administrativa, não hádúvida  de  que  a  referência  legal  a  terceiros  alcança  não  só  otrabalhador  da  empresa  concessionária  dos  serviços,  como  ostrabalhadores  das  empresas  contratadas  pela  concessionária,  naforma autorizada no § 1º do já mencionado art. 25 da lei, uma vezque o parágrafo único do art. 31 da Lei nº 8.987/95 assim se reporta,ao dispor que, verbis:

Parágrafo único. As contratações,  inclusive de mão-de-obra,  feitaspela  concessionária  serão  regidas  pelas  disposições  de  direitoprivado e pela legislação trabalhista, não se estabelecendo qualquerrelação entre os terceiros contratados pela concessionária e o poderconcedente.

Revela-se evidente que, no espectro dos elementos da interpretaçãotradicional,  revelam-se  insuficientes  os  critérios  clássicos  para  oequacionamento da lide.

Como se viu, no plano sistemático, a normativização levada a efeitona  Lei  nº  8.987/95  assume  natureza  administrativa  e  tem  plenaeficácia  no  plano  do  Direito  Administrativo.  Isso  é  fatoinquestionável. Não tratou, portanto, de matéria trabalhista nem de

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7ª TURMA

seus princípios, conceitos e institutos, cujo plano de eficácia é outro,especialmente no que tange às relações jurídicas de natureza mista,público-privadas, porque amalgamadas às normas trabalhistas queregulam  uma  relação  privada,  regras  de  proteção  mínima,associadas à imperatividade das normas de ordem pública, daí a suacogência e irrenunciabilidade à formação das relações de emprego,

.desde que preenchidos seus requisitos legais - art. 3º da CLT

Torna-se claro que o critério gramatical também não se eleva comoo único, suficiente e adequado à solução da questão trazida a juízo.Fosse  assim,  feita  a  leitura do  §  1º  do  art.  25 da Lei  nº  8.987/95,estaria  solvida  a  controvérsia,  pois,  independentemente  dosprincípios  e  regras  consolidadas,  estar-se-ia  a  legalizaradministrativamente  a  terceirização,  novo  nomen  iuris  daintermediação  de  mão-de-obra,  instituto  próprio  do  Direito  doTrabalho,  em  detrimento,  outrossim,  do  critério  interpretativohistórico,  cuja  observância  faz  remontar  à  construçãohistórico-sociológica da legislação do trabalho ao longo dos tempos,mediante a implementação de sucessivas lutas sociais.

Dessarte,  são  normativos  distintos  que  regulam  espécies  distintas,em planos de eficácia distintos, dentro de um mesmo ordenamentojurídico.  São  normas  que  encerram  contradições  de  valores  ouprincípios dentro de um mesmo ordenamento.

O  aspecto  teleológico  também  não  se  revela  apto  a  solucionar  apresente questão, porque não somente a Consolidação das Leis doTrabalho busca a valorização do trabalho humano e a proteção dafigura  hipossuficiente  do  trabalhador,  como  a  eficiência  eefetividade dos serviços públicos centralizados ou descentralizados,no  plano  administrativo,  visam  ao  implemento  das  atividades  doEstado em benefício do cidadão.

No  mesmo  sentido,  não  caberia  cogitar  no  âmbito  da  lógica  docritério da especificidade, pois a especialidade da norma trabalhista- lei especial prevalece sobre a geral - não afasta a incidência na suaesfera  de  atuação  da  generalidade  da  norma  que  dispõe  sobre  oregime de concessão e permissão da prestação de serviços públicosprevisto no art. 175 da Constituição Federal.

Nesse contexto, estabelece-se uma "lacuna de colisão", nas palavrasde Claus Wilhelm Canaris, -Pensamento Sistemático e Conceito deSistema  na  Ciência  do  Direito-,  Fundação  Calouste  Gulbenkian,Lisboa, 3 edição, 2002, fls. 218-224, verbis:

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(...)

Identificada metodologicamente  a  denominada  -lacuna de  colisão-entre valores e princípios dentro do ordenamento, é preciso delinearos fundamentos que virão da exclusão, na hipótese concreta, de umaou de outra dessas normas.

Postulado fundamental da Consolidação das Leis do Trabalho é adefinição do contrato individual de trabalho. Dos arts. 2 e 3 da CLTemerge  um  espírito  institucional,  além  de  um  conceito  prévio  ebásico, que é o conceito de empregado. Foi deliberado o propósitode se reconhecer a correspondência e a equivalência entre a relaçãode emprego e o contrato de trabalho, para os efeitos da  legislaçãosocial,  correspondência  essa  não  prevista  na  escola  contratualistaitaliana,  que  exige  expressa  pactuação.  Esse  elemento  distintivo  éfundamental. O nosso fundamento do contrato é o acordo tácito, daípor que a relação de emprego constitui ato jurídico suficiente paraprovocar  a  incidência das medidas de proteção que  se  contêm nodireito do trabalho. Este conceito firmado na Consolidação é tantomais  justo  e  relevante  quanto  é  o  que  se  evidencia  em  face  decontratos  formalmente  nulos  ou  substancialmente  contrários  àordem pública dos preceitos da legislação de proteção ao trabalho,daí a razão de ser do art. 9º consolidado.

A  legislação  trabalhista  protege,  substancialmente,  um  valor:  otrabalho humano, prestado em benefício de outrem, de forma nãoeventual,  oneroso  e  sob  subordinação  jurídica,  apartes  à  jáinsuficiente conceituação individualista. E o protege sob o influxo deoutro princípio maior, o da dignidade da pessoa humana.

Desse  último,  emana  ou  irradia  a  razão  de  ser  do  direito  e  suasatuais  transformações  e  quebra  de  paradigmas  conceituaisortodoxos de vetustos  institutos  como o  contrato  e a propriedade,hoje  totalmente revistos ante os  influxos do Direito Constitucionalsobre o Direito Civil.

Não  se  poderia,  assim,  dizer  que  a  norma  administrativista,preocupada  com  princípios  e  valores  do  Direito  Administrativo,viesse derrogar o eixo fundamental da legislação trabalhista, que é oconceito de empregado e empregador, jungido que está ao conceitode  contrato  de  trabalho,  previsto  na  CLT.  Seria  ainterdisciplinaridade às avessas, pois a norma geral administrativaestaria  a  rejeitar  a  norma  especial  trabalhista  e  seu  institutofundamental.  O  instituto  que  lhe  dá  feição  característica  eautonomia científica, pois, no conceito de empregado e empregador,

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vinculadas  as  atividades  daquele  às  atividades  essenciais  eprimordiais  deste,  teríamos  uma  interposta  pessoa,  sempre.  Nãoteríamos  mais  uma  relação  bilateral,  haja  vista  que  para  aconsecução  das  atividades  primaciais  do  empregador  haveriasempre  uma  dízima  periódica  de  empregadores,  habilitando  umarelação trilateral ou plurilateral, em detrimento da legislação social

.e seus preceitos cogentes

De  outro  giro,  a  terceirização  na  esfera  finalística  das  empresas,além de atritar  com o  eixo  fundamental da  legislação  trabalhista,como  afirmado,  traria  consequências  imensuráveis  no  campo  daorganização  sindical  e  da negociação  coletiva. O  caso dos  autos  éemblemático, na medida em que a empresa reclamada, atuante nosetor de  energia  elétrica,  estaria  autorizada  a  terceirizar  todas  assuas  atividades,  quer  na  área  fim,  quer  na  área  meio.  Nessahipótese,  pergunta-se:  a  CELG,  apesar  de  beneficiária  final  dosserviços  prestados,  ficaria  totalmente  protegida  e  isenta  documprimento  das  normas  coletivas  pactuadas,  por  não  maisresponder pelas obrigações trabalhistas dos empregados vinculadosaos intermediários? Não resta dúvida de que a consequência desseprocesso  seria,  naturalmente,  o  enfraquecimento  da  categoriaprofissional dos eletricitários, diante da pulverização das atividadesligadas ao setor elétrico e da consequente multiplicação do númerode  empregadores. Todas  essas  questões  estão  em  jogo  e merecem

.especial reflexão

Ninguém  nega  a  terceirização,  nomen  iuris  hodierno  para  aintermediação  de  mão-de-obra.  Bem  se  sabe  que  sempre  estevepresente ao longo da história trabalhista brasileira. O marchander -homem de palha  - a que aludira Mario de  la Cueva; o  -gato- nasrelações de trabalho rurais; os serviços intermediários, aludidos noDecreto-Lei  nº  200;  os  serviços  de  limpeza  e  conservação;  osserviços de vigilância; a subconcentração francesa com a produçãode bens em empresas distintas; o franchising; as cooperativas e etc.Cada  qual  com  suas  singularidades.  Algumas,  como  as  duasprimeiras,  que  nunca  serão  lícitas  sob  a  ótica  da  legislação  dotrabalho;  outras,  que,  se  regularmente  prestadas,  serão  lícitas,desde que o homem, que é a  força de  trabalho, não se  torne umamercadoria,  nem  sua  força  de  trabalho  seja  vendida  como

.mercadoria

(...)

Não  obstante,  sem  ignorar  o  fenômeno  sócio-econômico  daterceirização e sua evolução, o Direito do Trabalho, através de seus

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princípios  e  normas,  emprestou  à  hermenêutica  pela  práxis  dajurisprudência a edição da Súmula nº 331 desta Corte, que  tem aseguinte dicção:

Súmula  Nº  331  do  TST.CONTRATO  DE  PRESTAÇÃO  DESERVIÇOS. LEGALIDADE (mantida) - Res. 121/2003, DJ 19, 20 e21.11.2003

I - A contratação de trabalhadores por empresa interposta é ilegal,formando-se  o  vínculo  diretamente  com  o  tomador  dos  serviços,salvo no caso de trabalho temporário (Lei nº 6.019, de 03.01.1974).

II  -  A  contratação  irregular  de  trabalhador,  mediante  empresainterposta,  não  gera  vínculo  de  emprego  com  os  órgãos  daadministração pública direta, indireta ou fundacional (art. 37, II, daCF/1988).

III - Não forma vínculo de emprego com o tomador a contrataçãode  serviços  de  vigilância  (Lei  nº  7.102,  de  20.06.1983)  e  deconservação  e  limpeza,  bem  como  a  de  serviços  especializadosligados  à  atividade-meio  do  tomador,  desde  que  inexistente  apessoalidade e a subordinação direta.

IV  - O  inadimplemento  das  obrigações  trabalhistas,  por  parte  doempregador, implica a responsabilidade subsidiária do tomador dosserviços, quanto àquelas obrigações, inclusive quanto aos órgãos daadministração direta,  das  autarquias,  das  fundações públicas,  dasempresas públicas  e das  sociedades de  economia mista, desde quehajam  participado  da  relação  processual  e  constem  também  dotítulo executivo judicial (art. 71 da Lei nº 8.666, de 21.06.1993).

No  enunciado  da  mencionada  súmula  preconiza-se,  à  míngua  depreceito específico na legislação social pátria, mas em consonânciacom princípios e normas constitucionais e trabalhistas, uma exegesecomplementar  do  sistema  vigente.  Em  especial,  no  seu  inciso  3º,afirma-se que não formam vínculo de emprego com o tomador damão-de-obra, em seu aspecto interno, registre-se por oportuno, nãosomente  os  serviços  de  vigilância,  conservação  e  asseio,  como  osserviços ligados à atividade meio do tomador, desde que inexistentea subordinação direta.

Referida  construção  jurisprudencial  trouxe  um  marco  teórico  ejurisprudencial  para  o  fenômeno da  terceirização  nas  relações  detrabalho  no  Brasil,  importante  para  o  desenvolvimento  social  eeconômico  do  País,  já  que  compatibilizou  os  princípios  da

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valorização  do  trabalho  humano  e  da  livre  concorrência  eequilibrou  a  relação  entre  o  capital  e  o  trabalho.  Trouxe  umaorientação  jurídica  com  marcos  objetivos  para  a  implementaçãodesse  fenômeno  da  terceirização,  enquanto  não  avançou  alegislação, mas atropelou-nos a realidade.

Não se olvide o caráter genérico do conceito -atividade-meio- e suainserção no ordenamento através da jurisprudência como conceitoindeterminado.  Essa  circunstância  não  abala  a  convicção  dasúmula, ao contrário, a reforça, pois impele a adoção, inclusive, deprincípio vetor do próprio Código Civil: a operabilidade.

Nela,  como  ressaltado  no  início,  quanto  ao  papel  da  norma,verifica-se  que  a  solução  dos  problemas  jurídicos  nem  sempre  seencontra no relato abstrato do  texto normativo. Muitas vezes só épossível produzir a resposta constitucionalmente adequada à luz doproblema, dos  fatos relevantes, analisados  topicamente; quanto aopapel  do  juiz,  já  não  lhe  caberá  apenas  uma  função  deconhecimento  técnico,  voltado  para  revelar  a  solução  contida  noenunciado  normativo.  O  intérprete  torna-se  co-participante  doprocesso  de  criação  do  direito,  completando  o  trabalho  dolegislador, ao fazer valorações de sentido para as cláusulas abertas eao realizar escolhas entre soluções possíveis (obra cit. Supra).

Fecha-se, portanto, o ciclo interpretativo, pois desses termos resultaa operabilidade, vetor emprestado à construção da aludida súmulade  jurisprudência.  E  esta  Justiça  tem,  caso  a  caso,  examinado  oprocesso  econômico  de  terceirização  das  atividades-meio  dasempresas.  Excluiu  do  âmbito  da  descentralização  produtiva  asatividades assim consideradas essenciais, ou como quer o  texto, as

.atividades-fim

Ainda  que  suscite  polêmica,  o  termo  não  conceitua,  delimita,apenas. Classificação e conceitos são termos na ciência jurídica queensejam  proposições  próprias,  determinadas  e  definidas.  Não  é  ocaso.  Trata-se  de  delimitar  fatos  e  circunstâncias  peculiares  àprestação  de  serviços  através  de  interposta  pessoa,  cabendo  aoordenamento jurídico, por meio da doutrina e da lei, a formulaçãodos  conceitos  e  da  terminologia  adequados  para  o  fenômenojurídico.

No  caso,  certo  é  que  as  atividades  prestadas  pelas  empresasinterpostas, como genericamente expostas ao  longo do processado,implicam o desenvolvimento de atividades-fim da reclamada, razãopela qual há de se vedar-lhe a execução, como pretendido na inicial,

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em  observância  aos  preceitos  fundamentais  da  ordem  jurídicatrabalhista, e porque não se lhe é permitido fazê-lo sob a égide deleis  administrativas,  haja  vista  a  colisão  de  valores  e  princípios  a

.serem preservados no caso concreto

No  caso,  é  evidente  que  somente  alcança  a  reclamada,  e  nãoterceiros  que  não  fizeram  parte  da  relação. Mas  a  inobservânciagera  a  vinculação  objetiva  da  tomadora  quanto  às  atividadesdesenvolvidas  pelos  empregados  das  contratadas,  daí  por  que  ointeresse jurídico da demandada.

Sendo  assim,  a  pretensão  deduzida  pelo  Ministério  Público  doTrabalho  nesta  ação  civil  pública,  de  impedir  a  reclamada  deterceirizar sua atividade-fim, encontra amparo no sistema jurídico,não  obstante  tenha  a  concessionária  de  serviços  públicosresponsabilidade direta nos prejuízos  causados  aos  trabalhadores,conforme  fundamentação  acima  exposta,  restando  contrariada  aSúmula  nº  331,  inciso  I,  do  Tribunal  Superior  do  Trabalho  e,consequentemente, violado o art. 896 da CLT.

Conheço  dos  embargos  por  violação  do  art.  896  da  CLT  ediscrepância  com  a  Súmula  nº  331,  I,  do  Tribunal  Superior  doTrabalho. (grifos acrescidos).

 

Consta da ementa do julgado:

RECURSO  DE  EMBARGOS  -  AÇÃO  CIVIL  PÚBLICA  -TERCEIRIZAÇÃO  EM  ATIVIDADE-FIM  -  EMPRESA  DORAMO DE ENERGIA ELÉTRICA - EXEGESE DO ART. 25 DALEI  Nº  8.987/95  -  INTELIGÊNCIA  DA  SÚMULA  Nº  331  DOTRIBUNAL SUPERIOR DO TRABALHO - VIOLAÇÃO DO ART.896 DA CLT. A Lei nº 8.987, de 13 de fevereiro de 1995, que dispõesobre o regime de concessão e permissão de prestação de  serviçospúblicos, ostenta natureza administrativa e, como tal, ao tratar, emseu  art.  25,  da  contratação  com  terceiros  de  atividades  inerentes,acessórias ou complementares ao serviço concedido, não autorizou a

.  Issoterceirização da atividade-fim das empresas do  setor elétricoporque,  esse  diploma  administrativo  não  aborda  matériatrabalhista, nem seus princípios, conceitos e institutos, cujo plano deeficácia é outro. A legislação trabalhista protege, substancialmente,um valor: o trabalho humano, prestado em benefício de outrem, deforma não eventual, oneroso e sob subordinação jurídica, apartes à

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já insuficiente conceituação individualista. E o protege sob o influxode outro princípio maior, o da dignidade da pessoa humana. Não sepoderia,  assim,  dizer  que  a  norma  administrativista,  preocupadacom princípios e valores do Direito Administrativo, viesse derrogaro  eixo  fundamental  da  legislação  trabalhista,  que  é  o  conceito  deempregado e empregador, jungido que está ao conceito de contratode  trabalho, previsto na CLT. O enunciado da Súmula nº 331 doTribunal  Superior  do  Trabalho  guarda  perfeita  harmonia  comprincípios  e  normas  constitucionais  e  trabalhistas  e  trouxe  ummarco  teórico e  jurisprudencial para o  fenômeno da  terceirizaçãonas  relações  de  trabalho  no  Brasil,  importante  para  odesenvolvimento social e econômico do País, já que compatibilizouos  princípios  da  valorização  do  trabalho  humano  e  da  livreconcorrência  e  equilibrou  a  relação  entre  o  capital  e  o  trabalho.Recurso de embargos conhecido e parcialmente provido. (ED-E-RR- 586341-05.1999.5.18.5555 , Redator Ministro: Luiz Philippe Vieira deMello Filho, Data de Julgamento: 28/05/2009, Subseção I Especializadaem Dissídios Individuais, Data de Publicação: 16/10/2009).

 

Assim,  como  visto  do  julgado  transcrito,  em  função

uniformizadora, o C. TST definiu que o art. 25 da Lei nº 8.987/95 e o art. 94, inciso II, da

Lei nº 9.472/97, veiculam normas de Direito Administrativo, que não podem deixar de

receber interpretação ponderada em relação ao Direito do Trabalho. O cotejo entre esses

preceitos legais, de modo a emprestar-lhes incidência adequada a cada caso concreto, não

desafia a Súmula Vinculante nº 10, como, em casos pertinentes, vem decidindo o E. STF

(Rcl 11329 MC/PB, Rel. Min. Ayres Britto; Rcl 12068 MC/RO, Rel. Min. Dias Toffoli;

Rcl  14378  MC/MG,  Rel.  Min.  Dias  Toffoli;  ARE  646831/MG,  Rel.  Min.  Ricardo

Lewandowski; AI 839685/MG, Rel. Min. Ricardo Lewandowski; AI 828518/MG, Rel.

Min. Cármen Lúcia; AI 791247/MG, Rel. Min. Cármen Lúcia; ARE 647479/MG, Rel.

Min. Joaquim Barbosa; ARE 646825/MG, Rel. Min. Luiz Fux.

Não se vislumbra a alegada usurpação da competência do E.

STF.  É  basilar  que  somente  atos  do  Poder  Público  devem  ser  levados  à  fiscalização

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abstrata de constitucionalidade; atos de natureza privada contrários à Constituição devem

ser impugnados pela via judicial, em controle incidental, difuso, conforme vasta linha de

precedentes do E. STF, do que são exemplos aqueles já citados.

De  outro  lado,  não  fosse  este  fator  suficiente  a  afastar  a

teoria sustentada pela Recorrente, cabe ao E. STF exercer, no plano abstrato, o controle

de constitucionalidade dos atos normativos primários, ou seja, de todos aqueles que têm

fundamento  no  processo  legislativo  inserido  na  Constituição.  Como  tais  atos  criam,

modificam ou  revogam relações  jurídicos  têm, segundo a doutrina, aptidão para  ferir a

Constituição e podem ser objeto de ação direta de constitucionalidade; como tais, dentre

outros,  as  leis  complementares,  as  leis  ordinárias,  as medidas  provisórias,  os  decretos

legislativos,  as  resoluções  administrativas.  Entre  os  atos  não-primários,  vale  dizer,

aqueles que não podem ser objeto de controle abstrato, estariam os atos regulamentares,

como  os  decretos  meramente  regulamentares,  as  portarias,  os  regulamentos,  as

convenções coletivas de trabalho, dentre outras (Cf. MOTTA, Sylvio Motta. Introdução ao estudo

do  controle  de  constitucionalidade  das  leis  -  parte  I.  Disponível  em:

http://www.vemconcursos.com/opiniao/, acesso em 28.10.2010).

O Ministro Celso de Mello, na ADIn n.º 643, pontificou que:

O  controle  concentrado  de  constitucionalidade  (...)  tem  uma  sófinalidade: propiciar o julgamento em tese, da validade de um atoestatal,  de  conteúdo  normativo,  em  face  da  Constituição,viabilizando, assim, a defesa objetiva da ordem constitucional.

O  conteúdo  normativo  do  ato  estatal,  desse  modo,  constituipressuposto  essencial  do  controle  concentrado,  cuja  instauração  -decorrente de adequada utilização da ação direta - tem por objetivoessa abstrata fiscalização de sua constitucionalidade.

No  controle  abstrato  de  normas,  em  cujo  âmbito  instauram-serelações  processuais  objetivas,  visa-se,  portanto,  a  uma  só

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relações  processuais  objetivas,  visa-se,  portanto,  a  uma  só

finalidade:  a  tutela  da  ordem  constitucional,  sem  vinculaçõesquaisquer a situações jurídicas de caráter individual ou concreto.

Não  se  tipificam  como  normativos  os  atos  estatais  desvestidos  deabstração, generalidade e impessoalidade

(...).

 

Na ADIn n.º 842, consignou que:

Objeto do controle normativo abstrato, perante a Suprema Corte,são,  em  nosso  sistema  de  direito  positivo,  exclusivamente,  os  atosnormativos  federais,  distritais  ou  estaduais.  Refogem  a  essajurisdição  excepcional  de  controle  os  atos  materialmenteadministrativos, ainda que incorporados ao texto de lei formal.

 

Logo,  não  se  cogita  de  controle  concentrado  de

constitucionalidade,  em  usurpação  da  competência  exclusiva  do  E.  STF,  tampouco  de

afronta à cláusula de reserva de Plenário referida pela Súmula Vinculante n.º 10.

Pelas  razões  expostas,  imperioso  reconhecer  que  as

atividades  de  serviços de redes de transmissão, distribuição aérea e subterrânea,

inclusive manutenção ; (a.1) execução de atividades de operação, manutenção

(preventiva, corretiva ou emergencial), e inspeção de equipamentos, linhas e redes

elétricas - usinas, subestações e unidades consumidoras, de rotina ou de emergência

; (a.2) recuperação do sistema elétrico ; s(a.4) erviços de instalação e substituição de

 ramal de serviço aéreo e ligação de consumidor ;(a.5) suspensão e religação de unidades

 consumidoras ;(a.6) serviços de leitura (compreendem a apuração dos registros, em

medidores de consumo de KWh, de cada unidade de consumo ligada ou desligada, bem

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como inspeções visuais e indicação de eventuais irregularidades verificadas

 relativamente ao consumo e às instalações) ;(a.7) processamento de dados e demais

possuem  caráter  finalístico,  poisatividades inerentes ao faturamento de contas , (a.8)

centradas na própria razão de ser da Companhia Paranaense de Energia (COPEL). Se o

objeto essencial da concessão pública é a distribuição/comercialização da energia elétrica,

inaceitável  conceber  que  etapas  fundamentais  deste  serviço  possa  ser  transferida  a

terceiros.

Nesse sentido, consignou o C. TST, em julgado da lavra do

Ministro Walmir Oliveira Costa:

RECURSO  DE  REVISTA.  CONCESSIONÁRIA  DE  SERVIÇOSPÚBLICOS.  TERCEIRIZAÇÃO  DE  SERVIÇOSCOMPREENDIDOS  NA  ATIVIDADE-FIM.  ILEGALIDADE.  Ainterpretação  teleológica  do  disposto  no  art.  25,  §  1º,  da  Lei  nº8.987/95  -  para  efeito  de  incidência  da  norma  às  relações  detrabalho  e  sob  os  influxos  dos  princípios  constitucionais  davalorização  do  trabalho  e  da  dignidade  humana  -  conduz  àconclusão  de  que  a  contratação  de  terceiros  por  empresaconcessionária de energia elétrica não pode atingir o objeto centraldo serviço público concedido. Somente pode ser contratada parcelaacessória ou não essencial ao contrato, ou seja, as atividades-meio.Se  o  legislador  tivesse  a  intenção  de  permitir  a  terceirização  deatividades essenciais do setor elétrico, não teria adotado a expressão

. Portanto,  aatividades  -inerentes-, mas o diria de  forma expressanorma apresenta  conceito aberto, permitindo que o  intérprete,  aoaplicá-la,  concilie  os  valores  democráticos  da  livre  iniciativa  e  dodireito ao trabalho. Incidente a diretriz da Súmula nº 331, I, destaCorte  Superior,  que  disciplina  as  hipóteses  de  terceirização  nasrelações de trabalho, à falta de lei específica. Precedente da SBDI-1do  TST.  Recurso  de  revista  conhecido,  nesse  particular,  eparcialmente  provido.  (RR  -  27500-89.2005.5.10.0801  ,  RelatorMinistro: Walmir Oliveira da Costa, Data de Julgamento: 09/06/2010, 1ªTurma, Data de Publicação: 18/06/2010).

 

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7ª TURMA

Do corpo do julgado, extraem-se os seguintes fundamentos:

Nos termos do art. 21, II, b, da Constituição da República, competeà União explorar, diretamente ou mediante autorização, concessãoou  permissão,  os  serviços  e  instalações  de  energia  elétrica  e  oaproveitamento energético dos cursos de água, em articulação comos Estados onde se situam os potenciais hidroenergéticos.

Por sua vez, dispõe o art. 175 da Constituição Federal que -Incumbeao Poder Público, na  forma da  lei,  diretamente  ou  sob  regime deconcessão ou permissão, sempre através de licitação, a prestação deserviços públicos-.

A concessão de serviço público é conceituada, em doutrina, como ocontrato administrativo pelo qual a Administração Pública delega aoutrem a execução de um serviço público, para que o  execute  emseu próprio nome, por sua conta e risco, mediante tarifa paga pelousuário ou outra forma de remuneração decorrente da exploraçãodo  serviço  (Cf.  MARIA  SYLVIA  ZANELLA  DI  PIETRO  -Parcerias na Administração Pública- 7ª ed., Editora Atlas, pág. 75).

A  delegação  da  prestação  de  serviço  público  a  pessoas  privadasfaz-se  mediante  concessão  ou  permissão,  a  teor  do  art.  175  daConstituição Federal.

Em  atenção  à  determinação  constitucional,  a  Lei  nº  8.987/95desenvolveu os princípios do regime de concessão e permissão dosserviços públicos.

No  caso  vertente,  como  dito,  a  solução  da  demanda  deve  serbuscada à luz da interpretação da previsão normativa constante doart. 25, § 1º, da Lei nº 8.987/95, verbis:

Art. 25. Incumbe à concessionária a execução do serviço concedido,cabendo-lhe  responder  por  todos  os  prejuízos  causados  ao  poderconcedente,  aos  usuários  ou  a  terceiros,  sem  que  a  fiscalizaçãoexercida  pelo  órgão  competente  exclua  ou  atenue  essaresponsabilidade.

§ 1º Sem prejuízo da responsabilidade a que se refere este artigo, aconcessionária  poderá  contratar  com  terceiros  o  desenvolvimentode  atividades  inerentes,  acessórias  ou  complementares  ao  serviçoconcedido, bem como a implementação de projetos associados.

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7ª TURMA

Da  leitura do citado dispositivo de  lei  federal, a exegese  literal danorma poderia conduzir o intérprete à conclusão de que o legisladorautorizara  a  concessionária  a  transferir  a  terceiros  a  execuçãointegral  do  serviço,  dada  a  etimologia  da  expressão  atividades-inerentes-  (Que  está  por  natureza  inseparavelmente  ligado  aalguma coisa ou pessoa).

Todavia,  a  interpretação  da  lei  ou  dos  atos  jurídicos  está  semprevinculada  à  principiologia  que  informa  cada  uma  de  suasmodalidades.  O  intérprete  e  aplicador  da  norma,  ao  compor  oconflito,  deverá  aplicá-la  atendendo,  fundamentalmente,  ao  seuespírito  e  à  sua  finalidade,  valendo-se  do método  teleológico  queprocura revelar o fim da norma, o valor ou bem jurídico protegidopelo  ordenamento  (Cf.  LUÍS  ROBERTO  BARROSO  -Interpretação  e Aplicação da Constituição  -  6ª  ed.  - Saraiva, pág.138).

A interpretação sistemática e teleológica da Lei nº 8.987/95 conduz àconclusão de que a possibilidade de a concessionária contratar comterceiros diz respeito aos aspectos relativos à execução do serviço e

,  segundo anota emque  tenham cunho acessório ou complementardoutrina  o  Ministro  JOSÉ  AUGUSTO  DELGADO(http//bdjur.stj.jus.br).

Os institutos da subconcessão e da terceirização de serviço públiconão  se  confundem,  sendo  certo  que  o  art.  25,  caput,  da  Lei  nº8.987/95  estabelece,  como  regra  geral,  que  a  execução  do  serviçoconcedido  incumbe  à  concessionária,  cabendo-lhe  responder  portodos os prejuízos causados ao poder concedente, aos usuários ou aterceiros.

Já a subconcessão é autorizada pelo art. 26 da Lei nº 8.987/95, nostermos  do  previsto  no  contrato  de  concessão,  desde  queexpressamente  autorizada  pelo  poder  concedente,  tendo  a mesmanatureza  pública  do  contrato  de  concessão,  conforme  leciona  aprofessora MARIA SYLVIA ZANELLA DI PIETRO (obra citada,pág. 110).

A ilustre professora da Faculdade de Direito da USP, ao comentaras disposições da Lei nº 8.987/95, assinala:

A  subcontratação,  disciplinada  pelo  artigo  25,  corresponde  àterceirização  ou  contratação  de  terceiros  para  a  prestação  deserviços  ou  de  obras  ligadas  à  concessão  ...-  (Direito

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7ª TURMA

Administrativo/Maria Sylvia Zanella Di Pietro. 20ª ed. - São Paulo:Atlas, 2007, pág. 278).

Em seu livro -Parcerias na Administração Pública-, citado acima, aprofessora  MARIA  SYLVIA  ZANELLA  DI  PIETRO  tem  aseguinte opinião acerca dos limites estabelecidos no art. 25 da Lei nº8.987/95:

No  caso  da  contratação  de  terceiros  prevista  no  art.  25,  não  hásubconcessão;  o  que  a  lei  prevê  é  a  celebração  de  contratos  deprestação  de  serviços  ou  de  obras  por  terceiros;  em  vez  doconcessionário  exercer  diretamente  todas  as  atividades  ligadas  aocontrato  de  concessão,  ele  contrata  terceiros  para  realizardeterminadas  atividades,  como  serviços  de  limpeza,  vigilância,

.  São  os  contratos  decontabilidade,  obras,  reformas,  reparos  etcobras e serviços a que se refere a Lei nº 8.666 ...-

Também comentando o disposto no art. 25, § 1º, da Lei nº 8.987/95,preleciona  ANTÔNIO  CARLOS  CINTRA  DO  AMARAL  que  -oconcessionário pode contratar terceiros para a execução de parcelanão  essencial  das  atividades  cuja  execução  lhes  foram  delegadaspelo poder público... Na  subcontratação  inexiste a  sub-rogação dedireitos  e  obrigações;  só  há  a  transferência  de  atividades  nãoessenciais  à  prestação  do  serviço,  que  são  exercidas  em  nome  doconcessionário e a este dirigidas- (http//www.savipaiva.com.br).

No  caso  vertente,  em  que  pese  a  dificuldade  objetiva  quanto  àdefinição  do  complexo  de  atividades-fim  atribuídas  à  recorrentepelo  contrato  de  concessão  firmado  com  o  poder  concedente,entendo  tratar-se  de  hipótese  de  contratação  ou  terceirização  deatividade-fim da  concessionária,  em desacordo  com a previsão doart.  25,  §  1º,  da  Lei  nº  8.987/95,  salvo  as  exceções  ao  final

.estabelecidas

A  interpretação  teleológica do disposto no art.  25,  § 1º, da Lei nº8.987/95  -  para  efeito  de  incidência  da  norma  nas  relações  detrabalho  e  sob  os  influxos  dos  princípios  constitucionais  davalorização  do  trabalho  e  da  dignidade  humana  -  conduz  àconclusão  de  que  a  contratação  de  terceiros  por  empresaconcessionária de energia elétrica não pode atingir o objeto centraldo serviço público concedido. Somente pode ser contratada parcela

.acessória ou não essencial ao contrato, ou seja, as atividades-meio

Conforme  voto  do Ministro  Lelio  Bentes  Corrêa,  se  o  legisladortivesse  a  intenção  de  permitir  a  terceirização  de  atividades

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7ª TURMA

essenciais no setor elétrico, não teria adotado a expressão atividades-inerentes-, mas o diria de forma expressa.

Portanto,  a  norma  apresenta  conceito  aberto,  permitindo  que  ointérprete,  ao  aplicá-la,  concilie  os  valores  democráticos  da  livreiniciativa e do direito ao trabalho.

Robustece esse entendimento a diretriz contida no item I da Súmulanº  331  desta  Corte  Superior,  que  disciplina  as  hipóteses  deterceirização  nas  relações  de  trabalho,  à  falta  de  lei  específica,estabelecendo  que  -A  contratação  de  trabalhadores  por  empresainterposta  é  ilegal,  formando-se  o  vínculo  diretamente  com  otomador dos serviços, salvo no caso de trabalho temporário (Lei nº6.019, de 03.01.1974)-.

Ao  fixar  tal  orientação,  o  citado  Verbete  sumular  teve  em mira,como  dito  acima,  que  a  ordem  econômica  estabelecida  na  CartaMagna  (art.  170)  funda-se  na  valorização  do  trabalho  e  na  livreiniciativa,  tendo  por  fim  assegurar  a  todos  existência  digna,conforme os ditames da justiça social.

Esse  objetivo  de  índole  constitucional  somente  poderá  seralcançado, a meu juízo, com a contratação direta de trabalhadorespelas  empresas  concessionárias,  sob  pena  de  a  transferência  doserviço público precarizar  as  relações de  trabalho, na medida  emque  a  terceirização  acarreta  redução  ou  diminuição  de  direitostrabalhistas dos empregados -terceirizados-, quando comparadas asvantagens  pagas  pela  concessionária  a  empregados  seus,  além  deenfraquecer  as  conquistas  obtidas  pela  categoria  em  negociação

.coletiva, consoante voto do Ministro Vieira de Mello Filho

Eventual acolhimento da  tese  recursal de que a concessionária doserviço  público  goza  de  plena  liberdade  para  terceirizar  suasatividades  essenciais,  seria  admitir  que  a  empresa,  como  unidadeprodutiva, poderia executar o contrato de concessão sem o concursode empregados diretos, entregando a prestação do serviço público aterceiros que - não sendo legitimados pelo poder concedente - nãoraro deixam de cumprir com as obrigações trabalhistas, tributárias

.e previdenciárias, além de outras correlatas

E  quando  se  fala  em precarização  da mão-de-obra,  nesse  tipo  deserviço público, não se pode perder de vista que, conforme estudosdo DIEESE, a terceirização no setor elétrico mata um trabalhador acada  14  dias,  como  também  que  mais  da  metade  da  força  detrabalho do setor elétrico do país é  terceirizada, e a  incidência de

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7ª TURMA

mortes no trabalho para os terceirizados supera em três vezes a detrabalhadores  diretamente  contratados  pelas  concessionárias(http://www.sintivest.org.br).

Dessa  forma,  não  tem  sustentação  a  tese  recursal  relativa  àimpossibilidade  de  incidência  da  Súmula  nº  331,  I,  do  TST,  cujaaplicação se faz necessária para coibir a transferência de atividadesessenciais  fora  das  prescrições  legais,  como  tem  sido  por  esteTribunal Superior feito em situações análogas.

(...)

Nessa contextura é de se concluir que se houve com parcial acerto oTribunal Regional ao entender que os arts. 25, § 1º, e 26 da Lei nº8.987/95 afastam a possibilidade de transferência das atividades-fimda  recorrente  a  terceiros,  não  merecendo  reforma  a  decisãorecorrida  ao  estabelecer  proibição  de  a  recorrente  subcontratartrabalhadores por meio de empresa interposta, para a execução desuas atividades essenciais.

À  míngua  de  lei  específica  que  defina  as  atividades  que,  nessecampo,  poderiam  ser  terceirizadas,  creio  que  a  NormaRegulamentar  nº  10  do  Ministério  do  Trabalho  e  Emprego,aprovada  pela  Portaria  nº  3.214/1978,  fornece  subsídios  ouelementos que possibilitam definir quais são as atividades essenciaisno  setor  de  energia  elétrica:  geração,  transmissão,  distribuição  econsumo,  incluindo  as  etapas  do  projeto,  construção,  montagem,operação, manutenção.

Na  realidade,  são  essas  as  atividades  essenciais  estabelecidas  noEstatuto  social  da  recorrente,  nos  termos  da  inicial  da  ação  civil

.pública

Dessarte, não se visualiza violação direta e literal dos dispositivos delei federal e constitucional indicados no recurso, na medida em quea decisão recorrida encontra-se em sintonia com o princípio do livreconvencimento judicial motivado e em plena observância ao sistemanormativo vigente e aos limites objetivos da demanda.

(...). (grifos acrescidos).

 

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7ª TURMA

Ainda, no mesmo sentido, do C. TST:

RECURSO  DE  REVISTA.  TERCEIRIZAÇÃO  ILÍCITA.ATIVIDADE  FIM.  EMPRESA  CONCESSIONÁRIA  DE

.  ART.  25  DASERVIÇO  PÚBLICO  DE  ENERGIA  ELÉTRICALEI Nº 8.987/95. O entendimento consolidado na SDI-1 desta Corteé no sentido de que a Lei nº 8.987/95 não autoriza a terceirização da

,atividade  fim  das  empresas  concessionárias  do  serviço  públicoaplicando à  espécie a Súmula nº 331,  I, do TST. Por  se  tratar deempresa  integrante  da  Administração  Pública  Indireta,  não  hácomo  reconhecer  o  vínculo  com  a  tomadora  dos  serviços,  ante  oóbice  constitucional  previsto  no  art.  37,  II,  da  CF.  Nada  obsta,contudo,  que  seja  reconhecido  o  direito  às  mesmas  verbastrabalhistas  legais  e  normativas  conferidas  aos  empregados  datomadora dos serviços, desde que presente a igualdade de funções,nos termos da OJ nº 383 da SDI-1 do TST, situação configurada nocaso  concreto. Recurso de  revista  conhecido  e provido.  (TST/RR  -883-27.2011.5.03.0074 , Relatora Ministra: Dora Maria da Costa, Datade Julgamento: 19/06/2013, 8ª Turma, Data de Publicação: 21/06/2013 -grifos acrescidos)

TERCEIRIZAÇÃO  ILÍCITA.  EMPRESA  CONCESSIONÁRIA.  AUXILIAR  DEDE  SERVIÇO  DE  ENERGIA  ELÉTRICA

ELETRICISTA.  ATIVIDADE-FIM  DA  RECLAMADATOMADORA DE SERVIÇOS.  INTERPRETAÇÃO DO ARTIGO25, § 1º, DA LEI Nº 8.987/95 E APLICAÇÃO DA SÚMULA Nº 331,

.  VÍNCULO DE EMPREGO ENTRE AITENS  I  E  III,  DO TSTTOMADORA  DE  SERVIÇOS  E  O  TRABALHADORTERCEIRIZADO  RECONHECIDO.  1.  O  serviço  prestado  peloauxiliar de eletricista, por óbvio,  insere-se na atividade-fim, e nãoatividade-meio, das empresas concessionárias de serviço de energiaelétrica. Assim, em observância à Súmula nº 331,  itens  I  e  III, doTST,  que  consagrou  o  entendimento  de  que  a  terceirização  só  sejustifica  quando  implicar  a  contratação  da  prestação  de  serviçosespecializados  por  terceiros  em  atividades-meio,  que  permitam  aconcentração dos esforços da empresa tomadora em suas atividadesprecípuas  e  essenciais,  tem-se  que  a  terceirização  desses  serviçospelas empresas do setor elétrico configura  intermediação  ilícita demão de obra, devendo ser reconhecido o vínculo de emprego dessestrabalhadores terceirizados diretamente com os tomadores de seusserviços.  2.  Por  outro  lado,  a  Lei  nº  8.987/95,  que  disciplina  aatuação das empresas concessionárias e permissionárias de serviçopúblico em geral, constitui norma de Direito Administrativo e, comotal, não foi promulgada para regular matéria trabalhista e não pode

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7ª TURMA

ser  interpretada  e  aplicada  de  forma  literal  e  isolada,  como  seoperasse  em  um  vácuo  normativo.  Por  isso mesmo,  a  questão  dalicitude e dos efeitos da terceirização deve ser decidida pela Justiçado Trabalho exclusivamente com base nos princípios  e nas regrasque  norteiam o Direito  do Trabalho,  de  forma  a  interpretá-las  e,eventualmente, aplicá-las de modo a não esvaziar de sentido práticoou a negar vigência e eficácia às normas trabalhistas que, em nossoPaís,  disciplinam  a  prestação  do  trabalho  subordinado,  com  aaniquilação do próprio núcleo essencial do Direito do Trabalho - oprincípio  da  proteção  do  trabalhador,  a  parte  hipossuficiente  darelação  de  emprego,  e  as  próprias  figuras  do  empregado  e  do

.  3. empregador Vale,  ainda,  salientar  que,  não  obstante  a  Lei  nº9.472/97  trate,  especificamente,  das  concessionárias de  serviços detelecomunicações, o seu artigo 94, inciso II, deve ser interpretado namesma  linha  do  artigo  25  da  Lei  nº  8.987/95,  pois  ambos  osdispositivos se referem à possibilidade de contratação com terceirospara o desenvolvimento de atividades inerentes ao serviço concedido. 4. Assim, não se pode mesmo, ao se interpretar o § 1º do artigo 25da Lei nº 8.987/95 e o artigo 94,  inciso II, da Lei nº 9.472/97, quetratam  da  possibilidade  de  contratar  com  terceiros  odesenvolvimento  de  -atividades  inerentes-  ao  serviço,  expressãopolissêmica e marcantemente imprecisa que pode ser compreendidaem  várias  acepções,  concluir  pela  existência  de  autorização  legalpara a  terceirização de quaisquer de suas atividades-fim. Isso, emúltima  análise,  acabaria  por  permitir,  no  limite,  que  elasdesenvolvessem sua atividade empresarial sem ter em seus quadros

os.  5.nenhum  empregado  e  sim,  apenas,  trabalhadores  terceirizadAdemais, quando os órgãos fracionários dos Tribunais trabalhistasinterpretam preceitos legais como os ora examinados, não estão eles,em  absoluto,  infringindo  o  disposto  na  Súmula Vinculante  nº  10,tampouco,  violando  o  artigo  97  da  Constituição  Federal,  queestabelece a  cláusula de  reserva de plenário para a declaração deinconstitucionalidade das leis em sede de controle difuso, pois não seestará,  nesses  casos,  nem mesmo de  forma  implícita,  deixando deaplicar  aqueles  dispositivos  legais  por  considerá-losinconstitucionais.  6.  A  propósito,  apesar  da  respeitável  decisãomonocrática  proferida  em  09/11/2010  no  âmbito  do  SupremoTribunal Federal, da lavra do ilustre Ministro Gilmar Mendes (Rcl10132 MC/PR - Paraná), na qual, em juízo sumário de cognição eem  caso  semelhante  a  este,  por  vislumbrar  a  possibilidade  de  tersido violada a Súmula Vinculante nº 10 daquela Corte, deferiu-se opedido  de  medida  liminar  formulado  por  uma  empresaconcessionária dos serviços de telecomunicações para suspender, atéo  julgamento  final  da  reclamação  constitucional,  os  efeitos  deacórdão proferido por uma das Turmas do TST, a qual adotou o

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7ª TURMA

entendimento de que aqueles preceitos legais não autorizam, por sisós,  a  terceirização de atividades-fim por  essas  concessionárias deserviços  públicos,  verifica-se  que  essa  decisão,  a  despeito  de  suailustre  origem,  é,  data  venia,  isolada.  Com  efeito,  a  pesquisa  dajurisprudência daquela Suprema Corte  revelou que  foi  proferida,mais recentemente, quase uma dezena de decisões monocráticas porvários outros Ministros do STF (Ministros Carlos Ayres Britto, DiasToffoli,  Ricardo  Lewandowski,  Cármen  Lúcia  Antunes  Rocha,Joaquim Barbosa  e Luiz  Fux)  em que,  em  casos  idênticos  a  este,decidiu-se,  ao  contrário  daquele  primeiro  precedente,  não  terhavido  violação  da  Súmula  Vinculante  nº  10,  mas  merainterpretação  dessas  mesmas  normas  infraconstitucionais  nem,muito menos, violação direta (mas, se tanto, mera violação oblíqua ereflexa) de qualquer preceito constitucional pelas decisões do TSTpelas quais, ao interpretarem aqueles dispositivos das Leis 8.987/95e  9.472/97,  consideraram que  essas  não  autorizam a  terceirizaçãodas  atividades-fim  pelas  empresas  concessionárias  dos  serviçospúblicos  em  geral  e,  especificamente,  na  área  de  energia  elétrica,negando-se,  assim,  provimento  aos  agravos  de  instrumentointerpostos  contra  as  decisões  denegatórias  de  seguimento  dosrecursos  extraordinários  daquelas  empresas.  7.  O  entendimentoaqui adotado  já  foi  objeto de  reiteradas decisões, por maioria, daSBDI-1  desta  Corte  em  sua  composição  completa(E-ED-RR-586341-  05.1999.5.18.5555, Redator  designado MinistroVieira de Mello Filho, Data de Julgamento: 29/05/2009 - DEJT de16/10/2009;  E-RR-134640-23.2008.5.03.  0010,  Relatora  MinistraMaria de Assis Calsing, Data de Julgamento: 28/06/2011, DEJT de

.  8.  Aliás,  esse  posicionamento  também  não  foi10/08/2012)desautorizado  nem  superado  pelos  elementos  trazidos  àconsideração dos Ministros do TST na Audiência Pública ocorridano  TST  nos  dias  04  e  05  de  outubro  de  2011  e  convocada  pelaPresidência desse Tribunal, os quais foram de grande valia para asedimentação  do  entendimento  ora  adotado.  Os  vastos  dadosestatísticos  e  sociológicos  então  apresentados  corroboraram  ascolocações  daqueles  que  consideram  que  a  terceirização  dasatividades-fim  é  um  fator  de  precarização  do  trabalho,caracterizando-se  pelos  baixos  salários  dos  empregadosterceirizados e pela redução indireta do salário dos empregados dasempresas  tomadoras,  pela  ausência  de  estímulo  à  maiorprodutividade  dos  trabalhadores  terceirizados  e  pela  divisão  edesorganização dos  integrantes da  categoria profissional  que  atuano  âmbito  das  empresas  tomadoras,  com  a  consequentepulverização  da  representação  sindical  de  todos  os  trabalhadoresinteressados.  9.  A  questão  da  ilicitude  da  terceirização  daatividade-fim no âmbito das empresas concessionárias dos serviços

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públicos  foi  novamente  objeto  de  deliberação  pela  Subseção  IEspecializada em Dissídios Individuais (SBDI-1), em 08/11/2012, emsua  composição  completa,  no  julgamento  do  ProcessoE-ED-RR-2938-13.2010.5.12.  0016  (DEJT  de  26/03/2013),  em  quefiquei como Redator designado, a qual, por sua maioria (oito votoscontra  seis)  reafirmou  e  consolidou  o  entendimento  pela  ilicitudedessa terceirização de serviços. 10. É importante ressaltar, por fim,que  decisões  como  esta  não  acarretam  o  desemprego  dostrabalhadores terceirizados, pois não eliminam quaisquer postos detrabalho.  Essas  apenas  declaram  que  a  verdadeira  empregadoradesses  trabalhadores  do  setor  de  energia  elétrica  é  a  empresaconcessionária  tomadora  de  seus  serviços  que,  por  outro  lado,continua obrigada a prestar esses serviços ao consumidor em geral -só  que,  a  partir  de  agora,  exclusivamente  na  forma  da  legislaçãotrabalhista,  isto é, por meio de seus próprios empregados. 11. Poroutro  lado  e  depois  de  se  superar  a  fundamentação  do  TRT  deorigem  de  que  o  artigo  25  da  Lei  nº  8.987/95,  ao  permitir  aterceirização  de  todos  os  serviços  inerentes  à  sua  atividade  deconcessionária,  estaria  autorizando  a  terceirização  de  suasatividades-fim,  é  preciso  também  proclamar  que  o  TribunalRegional  corretamente  registrou,  de  forma  expressa,  que  aatividade  do  reclamante  como  eletricista  era  diretamenterelacionada  com o objeto  social  (ou  seja,  com a atividade-fim) dareclamada.  12.  Assim,  diante  da  ilicitude  da  terceirização  dasatividades  do  autor,  auxiliar  de  eletricista,  pela  empresaconcessionária de serviço de energia elétrica, deve ser reconhecida aexistência,  por  todo  o  período  laborado,  de  vínculo  de  empregodiretamente com a concessionária de serviços do setor elétrico, nosexatos  moldes  do  item  I  da  Súmula  nº  331  do  TST,  com  oconsequente  pagamento,  pela  verdadeira  empregadora  e  por  sualitisconsorte,  coautora  desse  ato  ilícito,  de  todos  os  direitostrabalhistas assegurados pela primeira a seus demais empregados.Recurso  de  revista  conhecido  e  provido.  DIFERENÇASSALARIAIS.  DESVIO  DE  FUNÇÃO.  Conforme  registrado  peloRegional,  o autor não  fez prova de haver exercido efetivamente afunção  de  eletricista  de  inspeção.  Para  se  chegar  à  conclusãodiversa,  seria  necessário  o  revolvimento  do  conjuntofático-probatório dos autos, o que é vedado a esta instância revisora,nos  termos do que dispõe a sua Súmula nº 126 do TST. Ademais,quanto à  indigitada violação dos artigos 7º,  incisos XXX e XXXII,da Constituição Federal, 460 da CLT e 319 do CPC, não houve, porparte  do  Regional,  adoção  de  tese  explícita  acerca  do  conteúdodesses preceptivos, nem foi a Corte a quo instada a fazê-lo por meiode embargos de declaração, incidindo, portanto, o óbice da Súmulanº  297,  itens  I  e  II,  deste  Tribunal,  ante  a  falta  de

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7ª TURMA

prequestionamento da matéria. Recurso de  revista não conhecido.(TST/RR  -  386-64.2010.5.05.0018,  Relator  Ministro:  José  RobertoFreire  Pimenta,  Data  de  Julgamento:  21/08/2013,  2ª  Turma,  Data  dePublicação: 30/08/2013 - grifos acrescidos)

 

Especificamente  quanto  às  atividades  de  manutenção  de

linhas, redes e equipamentos, consignou a Corte Superior Trabalhista:

TERCEIRIZAÇÃO  ILÍCITA.  EMPRESA  CONCESSIONÁRIADE  SERVIÇO  DE  ENERGIA  ELÉTRICA. MANUTENÇÃO DELINHAS  E  REDES  DE  DISTRIBUIÇÃO  DE  ENERGIAELÉTRICA. ATIVIDADE FIM DA RECLAMADA TOMADORA

.  INTERPRETAÇÃO DO ARTIGO  25,  §  1º,  DADE  SERVIÇOSLEI Nº 8.987/95 E APLICAÇÃO DA SÚMULA Nº 331, ITENS I EIII, DO TST. VÍNCULO DE EMPREGO ENTRE A TOMADORADE  SERVIÇOS  E  O  TRABALHADOR  TERCEIRIZADORECONHECIDO.  1.  Discute-se  nestes  autos  a  possibilidade  deterceirização  da  atividade  de  manutenção  de  linhas  e  redes  dedistribuição de  energia  elétrica pelas  empresas  concessionárias deserviço de  energia  elétrica  e  a  incidência  ou não,  nestes  casos,  doitem  I  da  Súmula  nº  331  do  TST.  Embora  o  entendimentoconsagrado  nesta  Súmula  tenha  sido  de  se  admitir  a  licitude  daterceirização  de  forma  bem  mais  ampla  e  generalizada  que  aSúmula nº 256 desta Corte, que antes tratava da matéria, isso nãosignificou considerá-la  lícita  em  todo e qualquer  caso. Levando-seem  conta  a  finalidade  da  terceirização,  que  é  permitir  aconcentração  dos  esforços  da  empresa  tomadora  de  serviços  emsuas atividades essenciais por meio da contratação da prestação deserviços  especializados  por  terceiros  nas  suas  demais  atividades,consagrou-se, em seu item III, a autorização para a contratação deserviços  especializados  ligados  à  atividade-meio  do  tomador,  ouseja, a contrario sensu continuou sendo considerada ilícita, sob penade formação do vínculo de emprego dos trabalhadores terceirizadoscom o  tomador dos  serviços nos  termos de  seu das atividades-fimdas  empresas.  2.  Esse  limite  deve  também  ser  observado,  poridentidade de motivos, nas atividades das empresas concessionáriasou permissionárias do ramo de energia elétrica. Com efeito, a Lei nº8.987/95,  que disciplina  a  atuação das  empresas  concessionárias  epermissionárias  de  serviço  público  em  geral  constitui  norma  deDireito Administrativo  e,  assim, não  foi promulgada para  regular

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7ª TURMA

matéria trabalhista, devendo a questão da licitude e dos efeitos daterceirização ser decidida exclusivamente pela Justiça do Trabalho,com  base  nos  princípios  e  regras  que  norteiam  o  Direito  doTrabalho,  de  forma  a  interpretar  e  eventualmente  a  aplicar  asprimeiras  de modo  a  não  esvaziar  de  sentido  prático  ou  a  negarvigência  e  aplicação  às  normas  trabalhistas  que,  em  nosso  país,disciplinam  a  prestação  de  trabalho  subordinado,  em  especial  osartigos  2º  e  3º  da CLT.  3.  Por  via  de  consequência,  não  se  podemesmo interpretar o § 1º do artigo 25 da Lei nº 8.987/95, de que aautorização por ele dada à empresa concessionária dos serviços deenergia elétrica para contratar com terceiros o desenvolvimento deatividades inerentes ao serviço tornaria lícita a terceirização de suasatividades-fim, o que, em última análise, acabaria por permitir queelas  desenvolvessem  sua  atividade  empresarial  sem  ter  em  seusquadros  qualquer  empregado,  e  sim,  apenas,  trabalhadoresterceirizados.  4.  Assim,  quando  os  órgãos  fracionários  dosTribunais  trabalhistas  interpretam  preceitos  legais  como  os  oraexaminados  de  forma  a  não  produzir  resultados  não  razoáveis  eincompatíveis com o Direito do Trabalho e mediante a aplicação deoutras  normas  infraconstitucionais  existentes  no  ordenamentojurídico, não estão, em absoluto, infringindo o disposto na SúmulaVinculante  nº  10,  tampouco  violando  o  artigo  97  da ConstituiçãoFederal,  referente  à  cláusula  de  reserva  de  Plenário,  pois  não  seestará  utilizando  critérios  constitucionais,  nem  mesmo  de  formaimplícita. 5. Por outro lado, não se pode considerar que a prestaçãodos  serviços  de manutenção  de  linhas  e  redes  de  distribuição  deenergia elétrica caracterize atividade-meio, e não atividade-fim dasempresas do setor elétrico. Se a concessão pública para prestação deserviço  de  energia  elétrica  tem  como  objetivo  precípuo  a  suadistribuição  à  população  com  qualidade,  é  inadmissível  entenderque  a  manutenção  das  linhas  e  redes  de  transmissão  e  dedistribuição  de  energia  elétrica  possa  ser  dissociada  da  atividadeprestada pela empresa do setor elétrico. 6. A questão da legalidadeou  ilegalidade da  terceirização da atividade-fim das  tomadoras deserviços foi recentemente objeto de decisão da Subseção I da SeçãoEspecializada  em  Dissídios  Individuais  (SBDI-1)  deste  TribunalSuperior do Trabalho, em 28/06/2011, em sua composição completa,no  julgamento  do  processo  E-RR  -  1346/2008-010-03-40.6,  aoanalisar  a  questão  dos  serviços  de  call  center,  e  que  teve  comoRelatora a Ministra Maria de Assis Calsing, em que, por expressivamaioria  (nove  votos  a  favor  e  cinco  contra),  entendeu-se  que  asempresas de telecomunicações se encontram igualmente sujeitas àsdiretrizes insertas na Súmula nº 331, itens I e III, e que os serviçosdas  centrais  de  atendimento  -  call  center  -  inserem-se  nasatividades-fim da empresa de telefonia, fato esse que impossibilita o

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7ª TURMA

reconhecimento  da  legalidade  dessa  modalidade  de  terceirização.Ao  assim  decidir,  a  SBBDI-1  nada  mais  fez  do  que  exercer  suafunção  precípua,  legal  e  regimental:  dirimir  a  divergênciajurisprudencial  entre  as  Turmas  desta Corte,  até  então  existente,sobre a matéria, consagrando a tese a ser observada dali por diantepelos  órgãos  fracionários  deste  Tribunal  Superior,  nos  termos  epara os efeitos do artigo 894, inciso II, da CLT, do artigo 3º, incisoIII,  alínea  -b-,  da Lei nº  7.701/88  (ambos na  redação que  lhes  foidada  pela  Lei  nº  11.496/2006),  bem  como  do  artigo  71,  inciso  II,alínea  -a-,  do  Regimento  Interno  desse  Tribunal.  7.  É  certo  queaquela  decisão  da  SBDI-1  foi  proferida  antes  da  realização  daAudiência Pública ocorrida nos dias 04 e 05 de outubro de 2011 econvocada pela Presidência desse Tribunal, nos termos do artigo 35,inciso XXXVI, do seu Regimento Interno, e que implicou a oitiva dequase cinquenta especialistas e integrantes da sociedade civil, com oobjetivo  de  obter  subsídios  e  esclarecimentos  acerca  das  questõesfáticas,  técnicas,  científicas,  econômicas  e  sociais  relativas  àsubcontratação de mão de obra por meio de interposta pessoa. Noentanto, os elementos trazidos à consideração dos Ministros do TST,naquela  oportunidade,  não  se mostraram  capazes  de  alterar  o  jácitado entendimento recentemente consagrado pela SBDI-1 do TST,em  sua  sessão de 28/06/2011, no desempenho de  seu papel  legal  eregimental  precípuo.  Com  efeito,  extrai-se  do  conjunto  demanifestações aduzidas na citada Audiência Pública que a alegação,feita  pelos  defensores  da  terceirização  em  geral  (e,  inclusive,  dasatividades-fim empresariais), de que, por seu intermédio, é possívelatingir-se  maior  eficiência  e  produtividade  e  a  geração  de  maisriqueza  e  mais  empregos,  foi  amplamente  refutada  pelos  vastosdados  estatísticos  e  sociológicos  apresentados  por  aqueles  quesustentaram, ao contrário, que a terceirização das atividades-fim éum  fator  de  precarização  do  trabalho,  caracterizando-se  pelosbaixos  salários  dos  empregados  terceirizados  e  pela  reduçãoindireta do  salário dos empregados das empresas  tomadoras, pelamaior  instabilidade  no  emprego  e  ausência  de  estímulo  à  maiorprodutividade  dos  trabalhadores  terceirizados,  pela  divisão  edesorganização dos  integrantes da  categoria profissional  que  atuano  âmbito  das  empresas  tomadoras,  com  a  consequentepulverização  da  representação  sindical  de  todos  os  trabalhadoresinteressados, e, por fim, pelos comprovadamente maiores riscos deacidente de trabalho. 8. Assim, diante da ilicitude da terceirizaçãodas  atividades  de  construção  e  manutenção  de  linhas  e  redes  dedistribuição de  energia  elétrica pelas  empresas  concessionárias deserviço  de  energia  elétrica,  nas  quais  se  insere  a  exercida  peloreclamante, eletricista, deve ser reconhecida a existência, por todo operíodo  laborado,  de  vínculo  de  emprego  diretamente  com  a

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CNJ: 0001260-85.2012.5.09.0012TRT: 28156-2012-012-09-00-8 (RO)

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concessionária de serviços de telefonia, nos exatos moldes do item Ida  Súmula  nº  331  do  TST,  com  o  pagamento  de  todos  os  seusconsectários legais objeto do pedido inicial. Recurso de revista nãoconhecido.  (TST/RR - 619-79.2011.5.05.0421  , Relator Ministro: JoséRoberto  Freire  Pimenta,  Data  de  Julgamento:  28/08/2013,  2ª  Turma,Data de Publicação: 06/09/2013)    

 

A  impossibilidade  de  terceirização  das  atividades

de "ampliação", "implementação" ou "melhorias" em rede elétrica existente foi decidida

pelo  C.  TST,  especificamente,  ao  reformar  o  v.  acórdão  da  E.  Primeira  Turma  deste

Regional proferido no  julgamento do RO 01536-2010-658-09-00-0 (DEJT 16.08.2011),

embora  tratando de atividades similares executadas pela Companhia de Saneamento do

Paraná  -  Sanepar.  A  Corte  Superior,  afastando  qualquer  possibilidade  de  situar  tais

atividades  de  "ampliação",  "implementação"  e  "melhorias"  no  conceito  de  "obra",

consignou que elas constituem, efetivamente, atividades de manutenção e reparos.

Tanscrevem-se  os  fundamentos  da  decisão,  que  passam  a

compor a presente decisão, "mutatis mutandis", a fim de não causar falsa expectativa à

parte:

RECURSO  DE  REVISTA.  AÇÃO  CIVIL  PÚBLICA. MANUTENÇÃO  E  REPAROS  DE  REDE  DE

.  ATIVIDADE-FIM  XSANEAMENTO/ESGOTOATIVIDADE-MEIO.  LICITUDE  DA  TERCEIRIZAÇÃO  NÃOVERIFICADA. PROVIMENTO. A atividade-fim se revela, após oexame da complexidade do serviço público em que opera a empresa.Isso  porque  a  prestação  de  serviços  com  natureza  continuadaapenas  e  tão-somente  pode  ser  terceirizada  quando  relacionada  aatividade temporária ou obra de construção civil certa, não sendo

. Revelado que o contrato delícita a  terceirização de atividade-fimprestação  de  serviços  para manutenção  e  reparação  de  linhas  deesgoto  e  saneamento  era  supervisionado  pelos  empregados  daempresa  pública,  se  tratando  de  atividade  finalística  paraatendimento do serviço público básico, a terceirização operou-se na

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esfera  da  atividade  fim  da  Sanepar,  qual  seja,  manutenção  eampliação  de  redes  de  água  e  esgoto.  A  contratação  de  empresainterposta  para  tal  atividade,  inerente  à  finalidade  da  empresapública, denota  terceirização  ilícita que não pode ser reconhecida,sob  pena  de  menosprezo  aos  princípios  que  norteiam  aadministração  pública,  nos  termos  do  art.  37  da  ConstituiçãoFederal.  Recurso  de  Revista  conhecido  e  provido.  (TST/RR  -494-05.2010.5.09.0658  ,  Relator  Ministro:  Aloysio  Corrêa  da  Veiga,Data  de  Julgamento:  20/03/2013,  6ª  Turma,  Data  de  Publicação:26/03/2013 - grifos acrescidos)

 

Do corpo do julgado, extrai-se:

Conforme se depreende dos autos, a empresa prestadora de serviços-  uma  construtora  -  foi  contratada,  por  licitação,  com  o  fim  deprestação  de  serviços  na  área  de  construção,  ampliação,manutenção e reparos de redes de água e esgotos, de acordo com ocontrato de concessão de serviços celebrado com o município de Fozde Iguaçu.

O eg. TRT entendeu lícita a terceirização, julgando improcedente aação  civil  pública  em  que  o Ministério  Público  busca  imputar  àrecorrida a obrigação de não contratar o serviço em destaque, porse tratar de atividade-fim da reclamada.

Torna-se necessário um exame acerca do conceito de atividade-fim eatividade meio,  quando  se  trata  de  saneamento  básico,  diante  doque disciplina a Súmula 331 do c. TST:

CONTRATO DE  PRESTAÇÃO DE  SERVIÇOS.  LEGALIDADE(nova redação do  item IV e  inseridos os  itens V e VI à redação)  -Res. 174/2011, DEJT divulgado em 27, 30 e 31.05.2011

I - A contratação de trabalhadores por empresa interposta é ilegal,formando-se  o  vínculo  diretamente  com  o  tomador  dos  serviços,salvo no caso de trabalho temporário

(Lei nº 6.019, de 03.01.1974).

II  -  A  contratação  irregular  de  trabalhador,  mediante  empresainterposta,  não  gera  vínculo  de  emprego  com  os  órgãos  da

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Administração Pública direta,  indireta ou  fundacional  (art. 37,  II,da CF/1988).

III - Não forma vínculo de emprego com o tomador a contrataçãode  serviços  de  vigilância  (Lei  nº  7.102,  de  20.06.1983)  e  deconservação  e  limpeza,  bem  como  a  de  serviços  especializadosligados  à  atividade-meio  do  tomador,  desde  que  inexistente  apessoalidade e a subordinação direta.

IV  - O  inadimplemento  das  obrigações  trabalhistas,  por  parte  doempregador, implica a responsabilidade subsidiária do tomador dosserviços quanto àquelas obrigações, desde que haja participado darelação processual e conste também do título executivo judicial.

V - Os entes integrantes da Administração Pública direta e indiretarespondem  subsidiariamente,  nas  mesmas  condições  do  item  IV,caso  evidenciada  a  sua  conduta  culposa  no  cumprimento  dasobrigações  da  Lei  n.º  8.666,  de  21.06.1993,  especialmente  nafiscalização do cumprimento das obrigações contratuais e legais daprestadora  de  serviço  como  empregadora.  A  aludidaresponsabilidade  não  decorre  de  mero  inadimplemento  dasobrigações  trabalhistas  assumidas  pela  empresa  regularmentecontratada.

VI - A responsabilidade subsidiária do tomador de serviços abrangetodas as verbas decorrentes da condenação referentes ao período daprestação laboral.

A Súmula  traz a  lume a possibilidade de  terceirização de serviçosespecializados ligados à atividade meio.

Em  relação  ao  serviço  de  saneamento,  a  obras  de manutenção  ereparo  nas  redes  de  esgoto  são  obras  de  engenharia,  de  suporte,tipicamente especializadas em relação ao saneamento básico não écomplexa a ponto de se entender que se trata de atividade-meio, eisque se confunde com o objeto finalístico da empresa reclamada.

Isso  porque  a  atividade  de  serviços  prestados  pela  empresaterceirizada confunde-se com a finalidade empresarial da Sanepar,construção,  ampliação, manutenção  e  reparos  de  redes  de  água  eesgotos.

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Desse  contexto,  constatado  que  a  contratação  se  deu  ematividade-fim da  tomadora, dou provimento ao  recurso de  revistapara declarar ilícita a terceirização e determinar o restabelecimentoda r. sentença no particular.

 

Especificamente  quanto  à  atividade  de  manutenção

emergencial da  rede elétrica, há uma ponderação a  fazer em reforço à  inviabilidade da

execução  por  terceiros.  Tratando-se  de  rede  elétrica,  é  intuitivo  que  um  chamado

emergencial,  pelos  naturais  transtornos  que  marcam  qualquer  interrupção  no

fornecimento  de  energia  elétrica  e  pela  rapidez  que  se  exige  no  restabelecimento,

agregados  à  ausência  de  treinamento  adequado  do  trabalhador  terceirizado,

redimensionam os riscos de ocorrência de um acidente de trabalho. Uma base empírica,

neste setor, foi considerada em um trabalho desenvolvido por Luiz Antônio Melo, Gilson

Brito Alves Lima, Nelson Damieri Gomes e Rui Soares (os três primeiros engenheiros e o

último professor) em uma empresa concessionária de energia elétrica, com o objetivo de

identificar os principais fatores relacionados com o ambiente de trabalho que contribuem

para a ocorrência de acidentes nos serviços emergenciais em redes aéreas de distribuição.

Ponderaram referidos autores que:

A  rede  de  distribuição  aérea  de  energia  elétrica  normalmente  éconstituída  por  condutores  sobre  estruturas  de  ferro  ou madeira,apoiadas nos postes de concreto ou madeira. Essa rede  se estendepor  toda  região  urbana  e  rural  onde  houver  consumidoresinstalados.

Na  realidade,  condutores,  postes  e  estruturas  fazem  parte  dapaisagem e da vida cotidiana das pessoas. Elas aprendem a convivercom  as  utilidades  e  os  perigos  das  redes  aéreas  de  distribuição.Apesar da padronização das estruturas, as características de cadaponto são as mais diversificadas, variando por bairro, rua e poste,devido à influência do meio ambiente.

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Esses  fatos  tornam  os  serviços  realizados  na  rede  bastantecomplexos, haja vista as condições diferenciadas de cada local bemcomo a consequente dificuldade em orientar, programar e planejaros serviços.

A  situação  se agrava na realização dos  serviços não programados(serviços  emergenciais),  cujo  principal  objetivo  é  o  rápidorestabelecimento do fornecimento de energia, quando interrompido.Na  maioria  das  vezes,  os  serviços  de  caráter  emergencial  sãorealizados  a  qualquer  hora  e  em  qualquer  local,  geralmente,  sobpressão dos clientes, da opinião pública e da própria empresa.

O  controle  de  riscos  é  também bastante  complexo  em  virtude  damultiplicidade  de  combinações  de  acontecimentos  e  suasconsequências.  (Segurança  nos  serviços  emergenciais  em  redeselétricas:  os  fatores  ambientais.  Disponível  emhttp://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-65132003000200009).

           

Na hipótese dos autos, as tabelas que acompanham a petição

inicial, cujos dados não foram contestados pela Reclamada (neste ponto, asseverou que

tais índices não comprovam precarização), evidenciam que a realização do trabalho por

terceirizados  acentua  o  risco  da  atividade.  A  primeira  (fl.  46),  contendo  dados  da

Fundação COGE de 2010, assinala que a COPEL Distribuidora, uma das subsidiárias da

Companhia Paranaense de Energia,  incluindo a empresa e as contratadas, aparece na 4ª

pior posição entre números de acidentados  típicos com afastamento. A outra estatística

(fl.  47),  de  caráter  global,  enuncia que o número de  acidentados  fatais  de  empregados

terceirizados  é maior  do que  empregados  das  próprias  empresas  (no  ano de  2010,  por

exemplo, ocorreram sete acidentes fatais nas empresas, enquanto outros 75 ocorrem nas

terceirizadas).  Um  dos  acidentes  ocorreu  em  Umuarama/PR,  apurado  nos  autos  de

Inquérito Civil autuado sob nº 227/2010, como informado pelo MPT.

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Este  um  dos  fatores  que  robustece  a  impossibilidade  de

terceirização, por retirar da execução direta atividade cujo risco qualifica, justamente, o

objeto empreendido pela Reclamada.

Tomando em conta todos os parâmetros acima definidos, há

uma  ressalva  a  fazer,  contudo,  quanto  à  atividade  listada  no  item  a.3,  qual  seja,  a 

, e quanto a atividades típicas de"construção de linhas e redes elétricas energizadas"

construção civil, complementares, inseridas ou agregadas nas demais relacionadas (itens

a.1 a a.5 da peça inicial), inclusive em atividades de manutenção (preventiva, corretiva ou

emergencial) e ampliação de redes.

Obra  de  construção  civil,  na  acepção  da  legislação

previdenciária,  compreende  a  construção,  a  demolição,  a  reforma  ou  a  ampliação  de

edificação, de  instalação ou de qualquer outra benfeitoria agregada ao solo ou subsolo.

Ainda, de acordo com o  item 7.02 da Lista de Serviços, anexa à Lei Complementar nº

116/2003, o conceito de obras de construção civil compreende a: "7.02 - Execução, por

administração,  empreitada  ou  subempreitada,  de  obras  de  construção  civil,

hidráulica ou elétrica e de outras obras semelhantes, inclusive sondagem, perfuração

de  poços,  escavação,  drenagem  e  irrigação,  terraplanagem,  pavimentação,

concretagem e a instalação e montagem de produtos, peças e equipamentos (exceto o

fornecimento de mercadorias produzidas pelo prestador de serviços fora do local da

prestação dos serviços, que fica sujeito ao ICMS)".

Tais  atividades,  porque  afetas  a  serviços  especializados  de

engenharia,  afastam-se  do  objetivo  primordial  da Companhia  Paranaense  de Energia  -

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COPEL; não se ajustam, na expressão usada pelo Ministro Maurício Godinho Delgado,

ao núcleo de sua dinâmica empresarial e demandam execução por pessoal especializado,

equipamentos  e maquinários  específicos,  por  exemplo,  para  escavações,  escoramentos,

concretagem, recomposição de pavimentos (calçadas e ruas), etc.

Não  se  trata,  pois,  de  mensurar  o  caráter  mais  ou  menos

elitizado  da  atividade, mas  de  aferir  sua  especialidade  em  relação  ao  objeto  social  da

COPEL.  Também  não  se  afigura  adequado  divisar  a  diferença  entre  atividade-fim  e

atividade-meio com base na necessidade da atividade de  suporte. É a  especialidade do

serviço, comparado ao objeto social da empresa, que imprimirá seu caráter periférico. E,

no  caso,  as  obras  de  construção  civil,  como  aquelas  acima  listadas,  refletem,  em  sua

essência,  obras  de  engenharia,  tipicamente  especializadas  em  relação  à  distribuição  de

energia elétrica.

A execução dos serviços sob a supervisão da tomadora não

desnatura sua natureza de serviço especializado de suporte. De acordo com a Súmula n.º

331, III, do C. TST, é lícita a terceirização de atividade inerente realizada, inegavelmente,

de acordo com a necessidade da empresa tomadora dos serviços. É esta, pois, de qualquer

forma, quem define as especificidades do serviço contratado, de forma que o trabalhador

terceirizado  sempre  suportará, mesmo de  forma  indireta,  os  reflexos das decisões  e da

fiscalização do tomador dos serviços.

Na  hipótese,  a  Companhia  Paranaense  de  Energia  -

COPEL desenvolve atividades de distribuição de energia elétrica em todo o Estado. Neste

amplo território, a contratação de atividades especializadas reflete uma forma de prestar

seus  serviços  de  modo  mais  eficiente,  equilibrando  o  interesse  social  do  Estado  e  o

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interesse  econômico  do  empreendimento,  prestado  com  maior  agilidade,  economia  e

produtividade.  A  bem  do  próprio  interesse  público,  não  se  afigura  razoável  que  a

Companhia  mantenha  maquinário  específico,  geralmente  de  grande  porte,  e  pessoal

especializado em construção civil, em cada localidade do Estado, a demandar execução

de serviços desta natureza.

  A  busca  incessante  do  julgador  é  pela  Justiça,  sempre

amparada nos  limites da  legalidade. E mais próximo se chega dela quanto maior  for o

equilíbrio entre valores opostos. O princípio da razoabilidade, que, em sua amplitude está

contido  o  princípio  da  proporcionalidade,  denota  a  "ponderação  existente  entre  os

 meios  e  os  fins" (QUEIROZ,  Raphael  Augusto  Sofiati  de.  Os  princípios  da  razoabilidade  e

proporcionalidade das Normas e  sua Repercussão no Processo Civil Brasileiro. Rio de  Janeiro: Lumen

Juris, 2000, p. 47).

Conforme  Luis  Roberto  Barroso,  "O  princípio  da

razoabilidade é um parâmetro de valoração dos atos do Poder Público para aferir se

eles estão  informados pelo valor superior  inerente a todo ordenamento jurídico: a

 justiça." (BARROSO, Luis Roberto.  Interpretação  e  aplicação da  constituição:  fundamentos  de  uma

dogmática constitucional transformadora. 3.ed. São Paulo: Saraiva, 1999, p. 215).

No  contexto  do  Estado  Democrático  de  Direito,  a

razoabilidade  exsurge  como  cânone  do  direito  constitucional  moderno  e  atua  como

medida  de  legitimidade  dos  atos  do  poder  público,  evitando  medidas  arbitrárias  e

desarrazoadas.  Alexandre  Câmara  leciona  que  "a  garantia  substancial  do  devido

processo legal pode ser considerada como o próprio princípio da razoabilidade das

 leis" (CAMARA, Alexandre Freitas. Lições  de  direito  processual  civil. Rio  de  Janeiro: Lumen  Juris,

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 Neste raciocínio, reconhecer que o princípio do devido processo legal incide1998, p. 42).

também sobre o direito material, inaugura discussão acerca da "possibilidade de exame

meritório dos atos emanados pelos agentes estatais, traduzindo, neste contexto, uma

idéia de razoabilidade (reasonableness) e racionalidade (rationality), uma noção de

ponderação entre os meios empregados pelo poder público e os fins almejados, de

 forma a proporcionar solução adequada e menos onerosa à sociedade." (cf. PAUL, Ana

Carolina Lobo Gluck. Colisão entre direitos fundamentais. Jus Navigandi, Teresina, ano 11, n. 1136, 11

ago. 2006).

  Assim,  pelo  exposto,  conquanto  mantida  a  r.  sentença

quanto  à  impossibilidade  de  terceirização  das  atividades  inicialmente  listadas,  resta

excepcionado  o  item  "a.3"  da  petição  inicial  e,  relativamente  às  demais  (itens  "a.1"  a

"a.5"), toda atividade a elas agregadas ou complementares que envolvam a necessidade de

obra  de  construção  civil.  Caracterizando-se  como  obras  de  construção  certas  e

temporárias,  em  sua  acepção  estrita,  fogem  ao  conceito  de  terceirização  de  serviços

quando demandam coordenação de mão-de-obra especializada de engenharia, máquinas e

equipamentos específicos, como, a exemplo das demais acima listadas, a construção de

uma subestação. São passíveis, nesta ordem, de realização por terceiros contratados para

esta finalidade específica.

Neste  aspecto,  todavia,  a  presente  decisão,  proferida  em

seara  de  tutela  coletiva,  não  impede o  reconhecimento  de  eventual  irregularidade  caso

constatado,  em  concreto,  que  a  atividade  desempenhada  pelo  trabalhador,

individualmente  considerado,  desviou-se dos  limites  abstratos previstos no  instrumento

contratual  e  evoluiu  para  uma  forma  ilegítima  de  terceirização,  ou  seja,  vinculada  à

atividade-fim do tomador. Em tais hipóteses, mesmo quando relacionáveis à atividade ora

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7ª TURMA

excluída, para proteção do trabalhador sujeito à situação irregular, nenhum impedimento

haverá  ao  reconhecimento  da  isonomia  de  direitos,  na  esteira  da  Orientação

Jurisprudencial n.º 383 da SBDI I do C. TST, "ad litteram":

TERCEIRIZAÇÃO.  EMPREGADOS  DA  EMPRESAPRESTADORA DE SERVIÇOS E DA TOMADORA. ISONOMIA.ART. 12, "A", DA LEI Nº 6.019, DE 03.01.1974  (mantida)  - Res.175/2011, DEJT divulgado em 27, 30 e 31.05.2011

A  contratação  irregular  de  trabalhador,  mediante  empresainterposta, não gera vínculo de emprego com ente da AdministraçãoPública,  não  afastando,  contudo,  pelo  princípio  da  isonomia,  odireito dos empregados terceirizados às mesmas verbas trabalhistaslegais e normativas asseguradas àqueles contratados pelo tomadordos serviços, desde que presente a igualdade de funções. Aplicaçãoanalógica do art. 12, "a", da Lei nº 6.019, de 03.01.1974.

 

Pelo exposto,   parareforma-se parcialmente a r. sentença

excluir do provimento condenatório a abstenção relativa à atividade listada no item "a.3"

da  petição  inicial,  qual  seja,  a  construção  de  linhas  e  redes  elétricas  energizadas,

e,    relativamente  às demais  (itens  "a.1"  a  "a.5"),  toda  atividade  a  elas  relacionada que

envolva a necessidade de obra de construção civil, tudo nos contornos ora definidos.

DANO MORAL COLETIVO

 

A r. sentença deferiu indenização por danos morais coletivos

no valor de R$ 150.000,00 (cento e cinquenta mil reais), aos seguintes fundamentos (fl.

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O autor argumenta que "inegável que a conduta perpetrada pelaacionada causou, e causa, lesão aos interesses coletivos dostrabalhadores das empresas "terceirizadas", como também aosinteresses difusos de toda a massa de trabalhadores, uma vez que aslesões constatadas transcendem as relações individuais ou coletivasstricto sensu, atingindo, em vários aspectos, a dignidade que merecenão só o empregado diretamente aviltado, como também o trabalhadorin potentia, isto é, aquele que procura, através do trabalho, o sustentopara si e para sua família. A lesão ao meio ambiente de trabalho trazcomo conseqüência a agressão à saúde dos trabalhadores, acarretandocom isso prejuízos irreparáveis a toda sociedade, que, a rigor, acabarespondendo pelo custeio dos benefícios concedidos pela previdência. Aincúria de alguns empresários espelha o alto número de empregadoslesionados e com a capacidade laboral reduzida, resultando em umquadro assustador, onde o empregador, responsável pelas medidas desegurança, repassa ao Estado a responsabilidade pelos danos oriundosdo meio ambiente."

Postula danos morais coletivos considerando todas as lesões levadas aefeito pela demandada, já fartamente enumeradas acima, entende oMinistério Público do Trabalho que é bastante razoável a fixação deindenização no importe de R$ 2.000.000,00 (dois milhões de reais).

Por fim, aduz que, em sintonia com o disposto no art. 13 da Lei7345/87, a referida indenização deve ser revertida ao FAT (Fundo deAmparo ao Trabalhador) ou a outro fundo destinado à reconstituiçãodos bens lesados.

A ré afirma que as alegações não procedem, pelas razões expostasanteriormente acerca da legalidade da terceirização. Não háfundamento legal para a sua condenação. Não violou nenhum preceitoda ordem jurídica ou do Ordenamento Jurídico Pátrio. Pelo contrário,terceirizaram atividades na forma da lei. Não há fundamento legal paracondenar quem se pautou pela observância dos princípios dalegalidade, da isonomia, da impessoalidade e outros princípiosconstitucionais e infraconstitucionais, conforme exposto nos tópicosanteriores. Reporta-se neste tópico a tudo que foi exposto nos itensanteriores. Ademais, se algum dano ocorreu em específico, este deve serapurado em ação própria de reparação de dano e não em ação civilpública. A Responsabilidade Civil tem seu fundamento no fato de queninguém pode lesar interesse ou direito de outrem, sendo que no casoconcreto não houve lesão a nenhum trabalhador ou potencialtrabalhador.

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Pois bem. O dano moral coletivo exsurge da "projeção de valorescomuns - compartilhados e reconhecidos juridicamente - hauridos depersonalidade (visualizada em sua dimensão sócio cultural) de cadamembro que integra a coletividade.

Ora, se a sociedade de economia mista, ao contrário do que preconiza alei, conforme fundamentos postos, terceiriza sua atividades essenciais,cria um ambiente de precarização, prejuízo aos usuários e aos própriostrabalhadores terceirizados, ante o risco ampliado da atividade, nega asociedade o direito ao emprego público não fazendo concurso pararenovação dos seus quadros. A terceirização e a precarização dasatividades andam de mãos dadas nesse caso, conforme demonstram asestatísticas de acidentes de trabalho (fls. 47 da inicial).

A terceirização da atividade finalística na empresa concessionária, queatua em regime de monopólio, em violação aos princípios doordenamento

jurídico trabalhista, gera danos morais à coletividade. Nesse sentido:TRT-PR-03- 08-2012 AÇÃO CIVIL PÚBLICA. TERCEIRIZAÇÃOILÍCITA DE MÃO DE OBRA. CONSTRUÇÃO CIVIL.SUBORDINAÇÃO DOS TRABALHADORES DIRETAMENTE ÀEMPRESA RÉ. DANO MORAL COLETIVO CARACTERIZADO.LIMITES TERRITORIAIS DA LIDE. Reconhecendo a fraude edeclarando a ilicitude dos contratos de subempreitada, nos termos dosarts. 9.º, da CLT, 186 e 942, do Código Civil, condena-se a Ré acumprir obrigação de abster-se de contratar empreiteiras com o intuitode sonegar direitos trabalhistas, reconhecendo-se ainda a existência dedanos morais coletivos advindos da conduta da ré, coibindo-se acontinuidade da lesão aos interesses difusos e coletivos por meio deindenização arbitrada a favor do FAT. Quanto aos limites territoriaisda lide, aplicável os termos da OJ nº 130 da SDI-2 do c. TST,ampliando-se o alcance da decisão ao Estado do Paraná. Recursoordinário da ré ao qual nega-se provimento. Dá-se parcial provimentoa o r e c u r s o o r d i n á r i o d o a u t o r .TRT-PR-28284-2010-652-09-00-8-ACO-34481-2012 - 1A. TURMA.Relator: CÉLIO HORST WALDRAFF Publicado no DEJT em03-08-2012.

Dos fundamentos do julgado, extrai-se:

"..o dano moral coletivo expande o conceito de lesão extrapatrimonialequivalente à dor psíquica, para considerar valores compartilhados emsociedade e por ela tidos como fundamentais. O dever de ressarcimentopelo causador do dano inibe condutas semelhantes que venham a

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prejudicar a coletividade em seus múltiplos aspectos. Além dos direitose garantias fundamentais previstos na Constituição Federal, alegislação ordinária prevê a possibilidade de reparação do dano moralcoletivo tanto na Lei de Ação Civil Pública (Lei 7.347/1985, em seuartigo 1º), como no Código de Defesa do Consumidor (Lei 8.078/1990em seu artigo 6º, incisos VI e VII), além da previsão nos artigos 3º, 5º e17 do Estatuto da Criança e Adolescente (Lei 8.069/1990). Assim,comprovada a ilicitude das terceirizações feitas pela ré, emconformidade com o decidido no tópico anterior, impõe-se, porconsequência, a condenação por danos morais coletivos. Nesse mesmosentido, a jurisprudência do C. TST:

"TERCEIRIZAÇÃO DE ATIVIDADE-FIM. O Tribunal Regional,soberano na análise do conjunto probatório, deliberou que aterceirização de serviços discutida nestes autos visava ao atendimentoda atividade-fim do tomador, uma vez que abrangia funções tipicamentebancárias, como preparação, conferência e compensação de títulos edocumentos bancários. Registrou, ademais, que as atividadesdesempenhadas pelos terceirizados eram realizadas anteriormente porpessoal do recorrente e que os serviços, hoje, têm a fiscalização eingerência de seu pessoal. Incontroversa, portanto, a prestação deserviços que se identificam diretamente com a consecução daatividade-fim de uma instituição financeira, configura-se a ilicitude naterceirização.

DANO MORAL COLETIVO. VALOR ARBITRADO À INDENIZAÇÃO.TERCEIRIZAÇÃO ILÍCITA. No caso concreto, o Tribunal Regionalregistrou que -por vários anos (desde 1997) inúmeros trabalhadoresque prestaram serviços ao requerido/embargante receberam menos queo que o cumprimento da lei propiciaria a eles e por vários anos essesmesmos trabalhadores - e aqueles que os substituíram, virão asubstituí-los ou se somar a eles na prestação de serviços aorequerido/embargante - continuarão sofrendo prejuízo remuneratório,até que o ilícito seja efetivamente interrompido, contra a vontade doagente causador, em cumprimento do v. acórdão embargado.- No quetange ao nexo causal, a Corte -a quo- asseverou que -a contratação daempresa interposta pelo requerido/embargante é que gerou e vemgerando, dia a dia, os prejuízos há pouco mencionados.- Nessecontexto, o Tribunal Regional, a partir da ponderação de valores entrea conduta lesiva dos reclamados e o dano perpetrado aos interessesdifusos e coletivos, não incorreu em nenhum excesso na fixação dovalor da indenização (R$500.000,00), a qual atende plenamente aosprincípios da razoabilidade e proporcionalidade. Com efeito, restamplenamente identificados, na espécie, todos os elementos necessários àreparação do ato ilícito, ou seja: a culpa dos agentes caracterizada

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pela intermediação e contratação ilícita de mão-de-obra, em flagrantecontrariedade à Súmula n° 331 do TST, a perpetrar lesão aos interessesdifusos e coletivos, ao utilizar mão-de-obra para o desempenho deatividades tipicamente bancárias.Ademais, o recorrente limita-se aafirmar que não teria ocorrido o dano, nada aduzindo quanto ànatureza de eventual dano, o que impede discuti-la." (RR -68340-42.2004.5.15.0089 Data de Julgamento: 07/12/2011, RelatorMinistro: Pedro Paulo Manus, 7ª Turma, Data de Publicação: DEJT03/02/2012.)

Ainda, quanto aos critérios para arbitrar o quantum indenizatório dedanos morais coletivos, cita-se o E-ED-RR - 94500-35.2004.5.05.0008,Relator Ministro: Carlos Alberto Reis de Paula, Subseção IEspecializada em Dissídios Individuais, Data de Publicação: DEJT11/11/2011, in verbis:

RECURSO DE EMBARGOS INTERPOSTO NA VIGÊNCIA DA LEI Nº11.496/2007 - DANO MORAL COLETIVO - CRITÉRIOS PARAFIXAÇÃO DO RESPECTIVO VALOR. I - Ressai incontroversa acaracterização do dano moral coletivo praticado pelo embargante, nãosó em razão da sólida fundamentação do acórdão do Regional,reproduzido no acórdão embargado, mas particularmente pelapreclusão que se abatera sobre a questão, por ela não ter sido objeto dorecurso de embargos, visto que o seu conhecimento devera-seunicamente à divergência em torno do valor da indenização. II - É bomassentar não ser nenhuma novidade, no âmbito do Poder Judiciário,especialmente agora na seara do Judiciário do Trabalho, a tormentosadificuldade na mensuração da indenização por dano moral, quer o sejaindividual ou coletivo, por ela não se orientar pelo critério aritméticodo dano material e sim pelo critério estimativo, em relação ao qual seabre considerável espaço para a subjetividade de cada magistrado.Mesmo assim, a doutrina tem preconizado devam ser levados em contaaspectos como a natureza , a gravidade e a repercussão da lesão, asituação econômica do ofensor , eventua l proveito obtido com aconduta ilícita, o grau de culpa ou dolo , a verificação de reincidência ea intensidade, maior ou menor , do juízo de reprovabilidade socia l daconduta adotada . III - Do acórdão embargado observa-se ter sidoarbitrado o valor da indenização por dano moral coletivo em R$5.054.400,00, para cujo cálculo tomara-se como referência um saláriomínimo vigente à época, para cada mês de irregular prestaçãode serviços, num total de três, acabando por multiplicar-se o resultadoalcançado pelos 6.480 estagiários. IV - Agiganta-se desse delineamentofactual a certeza de a Turma ter-se guiado pelos prejuízos que cada umdos estagiários teria sofrido, com o desvirtuamento do estágio, tantoquanto a de ter-se valido do salário mínimo para a quantificação da

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multicitada indenização. V - Ocorre que , no caso de dano mora lcoletivo, o critério a ser observado no arbitramento da indenização nãoé o prejuízo experimentado individualmente por cada estagiário e sim alesão causada à universalidade dos trabalhadores, afastada, ainda , apossibilidade de se utilizar como parâmetro o valor do salário mínimo ,por força do teor cogente da norma do inciso IV do artigo 7º da

. VI -Constituição , ao vedar sua vinculação para qualquer fimDesconsiderados os critérios de que se cogitara no acórdãoembargado, impõe-se enfocar a fixação do valor da indenização comrespaldo nos requisitos representados pela natureza, gravidade erepercussão da lesão, situação econômica do ofensor, eventual proveitoobtido com a conduta ilícita, grau de culpa ou dolo, verificação dereincidência e grau de reprovabilidade social da conduta adotada. VII -Em que pese o Regional ter-se esmerado em imprimir forte coloraçãoao dano infligido à coletividade dos estagiários, mediante remissão anormas constitucionais frente às quais se permitira lavrar contundenteafirmação de fraude na contratação dos estagiários, sobressai doacórdão embargado quadro fático que a desautoriza frontalmente.Efetivamente, dele emerge a assertiva de o desvio do estágio ter-se dadopor apenas três meses, circunstância que se revela extremamenteelucidativa da sua não descaracterização e de seu apequenadoarranhão legal, em condições de sustentar a inabalável convicção de alesão sofrida pelos estagiários, atingidos pela ilicitude da conduta doembargante, não ter-se identificado por sua aguda gravidade nem porsua intensa repercussão moral ou social. VIII - Some-se a isso o carátermarginal do proveito obtido pelo Estado da Bahia com o desvio doestágio, à conta do propósito socialmente relevante que o levara atanto, consistente na viabilização de milhares de matrículas de alunosda rede pública de ensino, aspecto que ameniza sobremaneira, a um sótempo, o grau de culpabilidade e o de reprovabilidade dessa conduta,notadamente pela inexistência de prova de sua reincidência, havendo,ao contrário, elementos probatórios eloquentes do seu insulamento. IX -Diante de tais singularidades factuais e mais a finalidade punitiva edissuasória de eventual reiteração da conduta ilícita do embargante,entende este magistrado, por injunção inclusive do princípio daequidade, ser razoável e proporcional à lesão moral sofrida pelocontingente de estagiários arbitrar em R$ 150.000,00 o valor daindenização pelo dano moral coletivo. Ressalte-se que a simplesconstatação de o embargante qualificar-se como Ente da Federaçãonão se mostra bastante, por si só, para se inferir sua alentada estaturaeconômicofinanceira, quando nada por ser uma incógnita o montanteda sua arrecadação e o da suas despesas, quer se refiram a despesascorrentes ou a despesas com investimentos em prol do bem comum. X -Recurso de embargos conhecido e parcialmente provido..".

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Portanto, na esteira do entendimento e ponderando-se um critério derazoabilidade, tendo em vista o grau de culpa e o dano tomadocoletivamente, o capital social da ré e a violação em questão, impõe-sereduzir o valor postulado na inicial. Condeno a ré a pagar umaindenização no importe de R$ 150.000,00 (cento e cinquenta mil reais).Nos termos do art. 13 da Lei 7345/87, a referida indenização deve serrevertida ao FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador) ou a outro fundodestinado à reconstituição dos bens lesados informado pela ré medianteacolhimento do juízo. Correção monetária e juros a partir da data da

.publicação da decisão  (grifos acrescidos).

 

Recorre a Reclamada. Sustenta não haver fundamento legal

para  a  condenação,  e  que  nada  teria  sido  provado  em  relação  à  alegada  precarização.

Defende  a  inexistência  de  dano.  A  seu  ver,  não  há  provas  de  que  as  atividades

terceirizadas não sejam inerentes, acessórias ou complementares aos objetos dos contratos

de concessão, expressamente autorizados pelo art. 25, § 1º, da Lei nº 8.987/95. Afirma

que, mesmo havendo comprovação de atitude ilícita, tal não pode ser considerado grave e

intolerável,  ultrapassando os  empregados diretamente  envolvidos  e  atingindo  toda uma

coletividade. Por isso, a seu ver, somente situações de escravidão e ilícitos relacionados à

dignidade da pessoa humana é que podem ser objeto de dano moral coletivo, pois causam

repulsa em toda a sociedade.

Analisa-se.

Na acepção de Carlos Alberto Bittar Filho:

(...) o dano moral coletivo é a injusta lesão da esfera moral de umadada  comunidade,  ou  seja,  é  a  violação  antijurídica  de  umdeterminado círculo de valores coletivos. Quando se  fala em danomoral coletivo, está-se fazendo menção ao fato de que o patrimôniovalorativo de uma certa comunidade (maior ou menor), idealmenteconsiderado,  foi  agredido  de maneira  absolutamente  injustificáveldo ponto de vista jurídico: quer isso dizer, em última instância, que

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se feriu a própria cultura, em seu aspecto imaterial. (Do dano moralcoletivo  no  atual  contexto  jurídico  brasileiro,  Revista  de  Direito  doConsumidor, v. 12, p. 55, citado em www.conjurestadao.com.br).

 

Segundo Xisto Tiago Medeiros Neto:

A idéia e o reconhecimento do dano moral coletivo (lato sensu), bemcomo  a  necessidade  de  sua  reparação,  constituem  mais  umaevolução  nos  contínuos  desdobramentos  do  sistema  daresponsabilidade  civil,  significando  a  ampliação  do  danoextrapatrimonial para um conceito não restrito ao mero sofrimentoou à dor pessoal, porém extensivo a toda modificação desvaliosa doespírito  coletivo,  ou  seja,  a  qualquer  ofensa  aos  valoresfundamentais  compartilhados  pela  coletividade,  e  que  refletem  oalcance da dignidade dos seus membros. (Medeiros Neto, Xisto Tiagode. Dano moral coletivo. São Paulo: LTr, 2004, p. 136).

 

E conceitua o dano moral coletivo como:

(...)  a  injusta  lesão  a  interesses  metaindividuais  socialmenterelevantes para a coletividade (maior ou menor), e assim tuteladosjuridicamente,  cuja  ofensa  atinge  a  esfera moral  de  determinadogrupo,  classe  ou  comunidade  de  pessoas  ou  até mesmo de  toda  asociedade,  causando-lhes  sentimento  de  repúdio,  desagrado,insatisfação,  vergonha,  angústia  ou  outro  sofrimento  psico-físico.(Idem, ibidem, p. 140/141).

 

Nesta  órbita,  a  proteção  da  dignidade  da  pessoa  humana

assume caráter publicista, massificado, interessando à coletividade de trabalhadores como

um todo, porquanto diretamente atingidos. 

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7ª TURMA

Como  consignou  a  d.  Juíza  Maria  Dolarice  Novaes,  no

julgamento  do  TST/AIRR  -  47640-86.2006.5.13.0006:  "A  reparabilidade  do  dano

moral coletivo não pode ter as mesmas premissas do dano moral tradicional, já que

este,  baseado  no  Código  Civil,  é  dotado  de  cunho  meramente  patrimonialista  e

individualista, não enxergando, assim, os valores transindividuais de um sentimento

coletivo. De  fato,  a honra  coletiva  tem princípios próprios que não  se  confundem

com os interesses pessoais, na medida em que leva em conta a carga de valores de

uma comunidade como um todo, corporificando-se no momento em que se atestam

 os  objetivos,  as  finalidades  e  a  identidade  de  uma  comunidade  política. (Data  de

Julgamento: 01/09/2010, 7ª Turma, Data de Publicação: 03/09/2010).

No caso, há elementos nos autos suficientes para caracterizar

o dano moral coletivo, sendo devida a reparação correspondente. Não há dúvidas de que a

conduta  da  Reclamada,  em  terceirizar  atividades  finalísticas,  atingiu  a  dignidade,  os

valores  e  os  conceitos  sedimentados  de  toda  a  coletividade,  em  dimensão  que

transcende, pela precarização que da  conduta decorre,  a  comunidade dos  trabalhadores

diretamente afetados pela prática ora combatida.

A  dimensão  coletiva  do  dano  compreende  outras

repercussões como qualificadoras da conduta ilícita patronal, além daquelas existentes na

esfera individual de cada trabalhador.

Em casos tais, entende o C. TST:

A) AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA.DANOS  MORAIS  COLETIVOS.  VALOR  ARBITRADO  ÀINDENIZAÇÃO.  Constatada  aparente  afronta  ao  art.  944  doCódigo Civil, impõe-se o provimento do agravo de instrumento para

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7ª TURMA

determinar  o  processamento  do  recurso  de  revista.  Agravo  deinstrumento conhecido e provido. B) RECURSO DE REVISTA. 1.NULIDADE DO ACÓRDÃO REGIONAL  POR NEGATIVA DEPRESTAÇÃO  JURISDICIONAL.  Considerando  que  o  TribunalRegional  decidiu  de  forma  clara  e  fundamentada  acerca  dasquestões oportunamente suscitadas e que são essenciais à solução dacontrovérsia, não há falar em negativa de prestação jurisdicional e,consequentemente,  em  violação  dos  arts.  93,  IX,  da  ConstituiçãoFederal,  832  da  CLT  e  458  do  CPC.  Recurso  de  revista  nãoconhecido.  2.  COMPETÊNCIA  DA  JUSTIÇA  DO  TRABALHO.AÇÃO  CIVIL  PÚBLICA.  CONTRATAÇÃO  DETRABALHADORES  SEM  PRÉVIA  APROVAÇÃO  EMCONCURSO PÚBLICO. Em face das normas inscritas no art. 114,I e IX, da Constituição Federal, a Justiça do Trabalho é competentepara  o  julgamento  de  ação  civil  pública  ajuizada  pelo MinistérioPúblico  do  Trabalho  com  vistas  ao  reconhecimento  dairregularidade  de  contratação  de  empregados  por  ente  daadministração pública sem prévia aprovação em concurso. Recursode  revista  não  conhecido.  3.  ILEGITIMIDADE  ATIVA  DOMINISTÉRIO  PÚBLICO DO  TRABALHO.  Considerando  que  apresente  demanda  visa  à  tutela  de  interesses  difusos  (art.  81,parágrafo único, I, do CDC), não há dúvidas quanto à legitimidadeativa do Ministério Público do Trabalho, em face da norma inscritano  art.  129,  III,  da Constituição  Federal.  Recurso  de  revista  nãoconhecido.  4.  NULIDADE  PROCESSUAL.  AÇÃO  CIVILPÚBLICA. LITISCONSÓRCIO PASSIVO NECESSÁRIO. Devemnecessariamente  integrar  o  polo  passivo  da  demanda  os  entespúblicos  ofensores  dos  interesses  difusos  ora  defendidos,  nãohavendo  de  se  falar  em  litisconsórcio  passivo  necessário  com  osempregados que, de forma indireta, eventualmente venham a sofreros  efeitos  da  sentença.  Precedentes.  Recurso  de  revista  nãoconhecido.  5.  CONTRATAÇÃO  IRREGULAR.  AUSÊNCIA  DEPRÉVIA  SUBMISSÃO  A  CONCURSO  PÚBLICO.  O  TribunalRegional  decidiu  a  controvérsia  em  consonância  com  ajurisprudência  pacífica  desta  Corte  Superior,  consolidada  naprimeira parte da Súmula nº 363, segundo a qual -A contratação deservidor  público,  após  a  CF/1988,  sem  prévia  aprovação  emconcurso público,  encontra  óbice no  respectivo  art.  37,  II  e  §  2º-.Recurso de revista não conhecido. 6. DANO MORAL COLETIVO.A  jurisprudência  reiterada desta Corte  é  no  sentido de  admitir  aobrigação  de  indenizar  o  dano  moral  coletivo  quando  odescumprimento  das  regras  e  dos  princípios  trabalhistas  implicaofensa aos  interesses extrapatrimoniais da coletividade, bem comode que a condenação imposta deve reverter em favor do Fundo de

 Recurso de revista não conhecido.Amparo ao Trabalhador - FAT.

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7ª TURMA

7.  DANOS  MORAIS  COLETIVOS.  VALOR  ARBITRADO  ÀINDENIZAÇÃO.  Tendo  em  vista  o  que  determina  o  art.  944  doCódigo Civil, a  fixação do valor da  indenização por danos moraiscoletivos  deve  pautar-se  por  critérios  de  proporcionalidade  erazoabilidade. No presente  caso, a  indenização arbitrada no valorde R$1.000.000,00 revela-se excessiva em face da circunstância queensejou  a  condenação,  qual  seja  a  contratação  de  empregadospúblicos  sem  prévia  submissão  a  concurso.  Impõe-se,  portanto,  oprovimento do recurso para reduzir o valor arbitrado. Recurso derevista  conhecido  e  provido.  (RR  -  26540-87.2005.5.10.0008  ,Relatora  Ministra:  Dora  Maria  da  Costa,  Data  de  Julgamento:31/08/2011,  8ª  Turma,  Data  de  Publicação:  02/09/2011)  (grifosacrescidos).

RECURSO  DE  REVISTA.  AÇÃO  CIVIL  PÚBLICA.  LIDESSIMULADAS. utilização do Poder Judiciário como mecanismo parafraudar  direitos  trabalhistas.  ATO  ATENTATÓRIO  ÀDIGNIDADE  DA  JUSTIÇA.  DANO  MORAL  COLETIVO.CONFIGURAÇÃO.  1.  O  dano  moral  coletivo,  no  âmbito  dasrelações  laborais,  caracteriza-se  quando  a  conduta  antijurídicaperpetrada  contra  trabalhadores  transcende  o  interesse  jurídicoindividualmente  considerado  e  atinge  interesses  metaindividuaissocialmente  relevantes  para  a  coletividade.  2.  Assinale-se  que  ajurisprudência  em  formação  nesta  Corte  Superior  vemconsolidando  o  entendimento  de  que  os  direitos  individuaishomogêneos  não  constituem  obstáculo  à  configuração  do  danomoral  coletivo,  quando demonstrada  a  prática  de  ato  ilícito,  cujarepercussão  transcende  os  interesses  meramente  individuais,  de

.  3.  Na  hipótese,  o  expedientemodo  a  atingir  toda  a  coletividadeescuso  e  reiterado,  consistente  na  simulação  de  lides  perante  aJustiça  do  Trabalho,  com  objetivo  exclusivo  de  quitar  verbasrescisórias,  em  total  afronta  às  disposições  do  art.  477  da  CLT,causa  prejuízo  aos  trabalhadores  individualmente  identificáveis  eprecariza os direitos assegurados pela ordem jurídica, configurandoofensa  ao  patrimônio  moral  coletivo,  passível  de  reparação.  Issoporque  a  conduta  ilícita  de  utilização  do  Poder  Judiciário  comomecanismo  para  fraudar  direitos  trabalhistas,  além  de  lesar  adignidade  do  trabalhador  individualmente  considerado,  direitofundamental garantido pela Constituição da República (CF, art. 1º,III),  atenta,  em  última  análise,  contra  a  dignidade  da  própriaJustiça, manchando a credibilidade do Poder Judiciário, o que, porcerto, atinge toda a sociedade. 4. Nesse contexto, configurado o atoilícito,  cuja  repercussão  transcende os  interesses  individuais,  alémda já concedida tutela  inibitória destinada a vedar a utilização daJustiça  do Trabalho  como  órgão  homologador  de  acordo  em  lide

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7ª TURMA

simulada,  em  atenção  ao  que  dispõem  os  arts.  5°,  V  e  X,  daConstituição  da  República  e  186  do  Código  Civil,  impõe-se  àempresa  ré,  considerando-se  a  natureza  e  gravidade  do  dano,  ascircunstâncias do caso concreto, o caráter pedagógico-preventivo epunitivo  e,  ainda,  observada  a  sua  condição  econômica,  acondenação ao pagamento de indenização por dano moral coletivono  importe  de  R$  50.000,00  (cinquenta  mil  reais),  reversíveis  aoFundo  de  Amparo  ao  Trabalhador  -  FAT.  Recurso  de  revistaconhecido  e  provido.  (RR  -  12400-59.2006.5.24.0061  ,  RelatorMinistro: Walmir Oliveira da Costa, Data de Julgamento: 17/08/2011, 1ªTurma, Data de Publicação: 26/08/2011) (grifos acrescidos).

RECURSO  DE  REVISTA  INTERPOSTO  PELO  MINISTÉRIOPÚBLICO  DO  TRABALHO  DA  3ª  REGIÃO  -  DANO MORALCOLETIVO - REPARAÇÃO - POSSIBILIDADE - AÇÃO CIVILPÚBLICA VISANDO OBRIGAÇÃO NEGATIVA  - OFENSA AOVALOR SOCIAL DO TRABALHO - TERCEIRIZAÇÃO ILÍCITADE MÃO DE OBRA PARA SERVIÇOS LIGADOS A ATIVIDADEFIM DA EMPRESA. A reparação por dano moral coletivo visa ainibição  de  conduta  ilícita  da  empresa  e  atua  como  caráterpedagógico. A ação civil pública buscou reverter o comportamentoda  empresa,  com  o  fim  de  coibir  a  contratação  ilícita  de mão  deobra para serviços ligados a atividade-fim, por empresa interposta,no ramo da construção, para prevenir lesão a direitos fundamentaisconstitucionais, como a dignidade da pessoa humana e o valor socialdo trabalho, que atinge a coletividade como um todo, e possibilita aaplicação de multa a ser revertida ao FAT, com o fim de coibir aprática  e  reparar  perante  a  sociedade  a  conduta  da  empresa,servindo como elemento pedagógico de punição. Recurso de revistaconhecido e provido, para restabelecer a r. sentença, que condenoua empresa a pagar o valor de R$50.000,00  (cinquenta mil reais) atítulo  de  indenização  a  ser  revertida  ao  FAT.(RR-572/2005-018-10-00.5, Rel. Ministro Aloysio Corrêa da Veiga, 6ªTurma, DJ de 08/05/09). 

 

Pelo exposto, mantém-se.

AUSÊNCIA DE PEDIDO DE COMPROVAÇÃO DAFISCALIZAÇÃO. SENTENÇA "ULTRA PETITA".NULIDADE

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7ª TURMA

 

O  Ministério  Público  do  Trabalho  postulou,  na  peça  de

ingresso  (fls.  68/69)  ,  a  condenação da Reclamada a  abster-se de utilizar mão de obra

terceirizada  na  execução  de  serviços  relacionados  à  sua  atividade  fim  (item  "a");  a

abster-se  de  contratar  serviços,  mesmo  relacionados  à  sua  atividade-meio,  quando

presentes a pessoalidade e a subordinação direta do trabalhador (item "b"); a rescindir, no

prazo de  até  180  (cento  e  oitenta  dias),  os  atuais  contratos  firmados  com as  empresas

terceirizadas que prevejam a prestação de serviços afetos à sua atividade-fim (item "c");

e,  enquanto não rescindidos os contratos na forma do item "c" supra, obrigar o

cumprimento, pelas empresas terceirizadas que mantiver contratadas, das normas de

 (item "d").segurança do trabalho, em especial das NR-6, 7 e 10."

Relativamente  ao  itens  "d",  impôs o d.  julgador de origem

(fls. 678/679):

(...)

Determinar que a ré rescinda, no prazo de até 180 (cento e oitenta)dias, os atuais contratos firmados com empresas terceirizadas queprevejam a prestação de serviços afetos à sua atividade fim,notadamente aqueles listados no item "a" supra, sob pena depagamento de multa diária de R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais) a serrevertida ao Fundo de Amparo ao Trabalhador - FAT ou outro fundo, aindicação do réu mediante concordância do juízo, regularmenteconstituído destinado à reconstituição dos bens lesados;

Determinar que a ré fiscalize o cumprimento, enquanto não rescindidosos contratos, das normas de saúde e segurança especialmente NR - 6, 7

, e 10 comprovando perante o autor, em 60 dias, a fiscalização efetiva,que deverá, caso necessário, denunciar o descumprimento para fixação

.de multa cominatória

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7ª TURMA

Com relação às demais determinações, o prazo para cumprimento seráo de 180 dias após o trânsito em julgado da condenação, depois de

.intimada para fazê-lo na forma da fundamentação  (grifos acrescidos)

 

Em  sede  de  decisão  resolutiva  de  embargos

declaratórios, acrescentou:  

AAntecipação de tutela - Comprovação de fiscalização dos contratos:embargante sustenta que a sentença extrapolou os limites do pedido aodeterminar que a mesma comprove perante o MPT a fiscalização documprimento das normas de segurança em relação aos contratos deterceirização.

Em que pese os embargos sejam instrumento legítimo para aprimorar adecisão, não se prestam para questionar o entendimento do julgadorposto na decisão, mesmo porque, neste caso, existe preclusão"pro-judicato" e a matéria deve ser objeto do recurso próprio.

Assim, não sendo o caso de omissão ou de contradição, e sim dereforma do julgado, não merecem abrigo os embargos manejados.

Rejeito.

Neste sentido Antecipação de tutela - Parte dispositiva: esclareço que aantecipação de tutela refere-se unicamente à obrigação de que a Copelcomprove perante o MPT a fiscalização do cumprimento das normas de

.segurança em relação aos contratos de terceirização

       

A Reclamada,  em  sede  recursal,  sustenta que  a  r.  sentença

extrapolou os limites do pedido ao determinar que ela comprove, no prazo assinalado (60

dias), a fiscalização quanto a aspectos de segurança do trabalho, em violação ao art. 460

do CPC. Assevera que, neste ponto, a decisão não está fundamentada  quanto à base legal

da obrigação  imposta,  a  seu ver,  sem pedido da parte. Assevera que,  como não houve

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7ª TURMA

pedido também não houve defesa quanto à esta determinação, há afronta aos princípios do

contraditório e da ampla defesa insculpidos no art. 5º, LIV e LV, da Constituição Federal.

Assevera que, existindo processo judicial a respeito, não se pode falar em comprovação

perante  o MPT. Afirma  que  "Fiscalizar é sim obrigação da Recorrente e ela de fato

fiscaliza em seu benefício. Já em relação à comprovação perante o Autor dessa

 (fl.fiscalização não há base legal para a sua manutenção, pelo que, deve ser afastada."

755). Entende, em suma, bastar a obrigação de fiscalizar.

De outro lado, afirma não estarem presentes os pressupostos

para antecipação de tutela (art. 273 do CPC). A seu ver, não há prova inequívoca (certa,

robusta  e  segura)  quanto  ao  direito  invocado,  nem  verossimilhança  nas  alegações  de

vários  tópicos  da  petição  inicial;  também  não  haveria  evidência  de  perigo  de  dano

irreparável ou de difícil reparação, "haja vista a solidez absoluta da Ré COPEL".

Analisa-se. 

A  necessidade  de  comprovação  do  cumprimento  da

conduta está inserida, à evidência, na tutela principal acompanhada de multa cominatória

pelo descumprimento. Ainda que  assim não  fosse,  trata-se de obrigação  acessória  cuja

imposição está autorizada, à margem de pedido inicial específico, pelo art. 461 da CLT,

"ad litteram":

Art. 461. Na ação que tenha por objeto o cumprimento de obrigaçãode  fazer  ou  não  fazer,  o  juiz  concederá  a  tutela  específica  daobrigação ou, se procedente o pedido, determinará providências queassegurem o resultado prático equivalente ao do adimplemento.

§  1º  A  obrigação  somente  se  converterá  em  perdas  e  danos  se  oautor o requerer ou se impossível a tutela específica ou a obtençãodo resultado prático correspondente.

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7ª TURMA

§  2º A  indenização  por  perdas  e  danos  dar-se-á  sem  prejuízo  damulta (artigo 287).

§  3º  Sendo  relevante  o  fundamento  da  demanda  e  havendojustificado receio de ineficácia do provimento final, é  lícito ao juizconceder  a  tutela  liminarmente  ou  mediante  justificação  prévia,citado o réu. A medida liminar poderá ser revogada ou modificada,a qualquer tempo, em decisão fundamentada.

§  4º.  O  juiz  poderá,  na  hipótese  do  parágrafo  anterior  ou  nasentença, impor multa diária ao réu, independentemente de pedidodo  autor,  se  for  suficiente  ou  compatível  com  a  obrigação,fixando-lhe prazo razoável para o cumprimento do preceito.

§  5º  Para  a  efetivação  da  tutela  específica  ou  a  obtenção  doresultado  prático  equivalente,  poderá  o  juiz,  de  ofício  ou  arequerimento,  determinar  as  medidas  necessárias,  tais  como  aimposição  de  multa  por  tempo  de  atraso,  busca  e  apreensão,remoção de pessoas e coisas, desfazimento de obras e impedimentode atividade nociva, se necessário com requisição de força policial.

§ 6º O juiz poderá, de ofício, modificar o valor ou a periodicidadeda multa, caso verifique que se tornou insuficiente ou excessiva.

       

Não  se  cogita,  portanto,  de  julgamento  "extra"  ou  "ultra

petita".

De outro lado, os pressupostos para a antecipação dos efeitos

da tutela, no ponto examinado (item "d", supra), fazem-se presentes. O Ministério Público

do Trabalho aduziu, na peça de ingresso, que o Inquérito Civil, instruído com denúncias

de Sindicatos,  apurou que as condições de  trabalho dos  trabalhadores  terceirizados  são

precarizadas  devido  a  "deficiência de integração entre a COPEL e a prestadora de

serviços, seja na efetiva fiscalização na utilização dos equipamentos de segurança ou

mesmo pelo não fornecimento de equipamentos EPIs e EPCs (equipamentos de proteção

individual e equipamentos de proteção coletiva - NR), ou ainda, com fornecimento de

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7ª TURMA

materiais de baixa qualidade que põem riscos esses trabalhadores, como por exemplo, a

utilização, quando fornecidos ou quando utilizados, de detector de tensão ou aterramento

 (fl. 45).temporário de tensão de má qualidade ou até inexistente".

Instrui  a  petição  com duas  tabelas,  cujos  dados  não  foram

contestados  pela  Reclamada  (neste  ponto,  asseverou  que  tais  índices  não  comprovam

precarização). A primeira (fl. 46), contendo dados da Fundação COGE de 2010, assinala

que a COPEL Distribuidora, uma das subsidiárias da Companhia Paranaense de Energia,

incluindo  a  empresa  e  as  contratadas,  aparece  na  4ª  pior  posição  entre  números  de

acidentados  típicos  com  afastamento.  A  outra  estatística  (fl.  47),  de  caráter  global,

enuncia que o número de acidentados fatais de empregados terceirizados é maior do que

empregados  das  próprias  empresas  (no  ano  de  2010,  por  exemplo,  ocorreram  sete

acidentes  fatais  nas  empresas,  enquanto  outros  75  ocorrem nas  terceirizadas). Um dos

acidentes ocorreu em Umuarama/PR, apurado nos autos de Inquérito Civil autuado sob nº

227/2010, como informado pelo MPT.

Tais  dados  sinalizam  tanto  para  a  verossimilhança  das

alegações, como para o perigo da demora na prestação jurisdicional.      

Mantém-se.

III. CONCLUSÃO

 

Pelo que,

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7ª TURMA

os Desembargadores da 7ª Turma do TribunalACORDAM

Regional do Trabalho da 9ª Região,  por  unanimidade  de  votos,   CONHECER DO

 RECURSO ORDINÁRIO DA RECLAMADA (COMPANHIA PARANAENSE DE

,  assim  como  das  respectivas  contrarrazões.  NoENERGIA  ELÉTRICA  -  COPEL)

mérito,  por  igual  votação,    para,  termos  doDAR-LHE  PROVIMENTO  PARCIAL

fundamentado, excluir o dever de abstenção relativo à atividade listada no item "a.3" da

petição  inicial,  qual  seja,  a  construção  de  linhas  e  redes  elétricas  energizadas,  e,

relativamente  às  demais  (itens  "a.1"  a  "a.5"),  toda  atividade  a  elas  relacionada  que

envolva a necessidade de obra de construção civil, tudo nos contornos ora definidos.

Custas inalteradas.

Intimem-se.

Curitiba, 29 de abril de 2014.

UBIRAJARA CARLOS MENDESDESEMBARGADOR DO TRABALHORELATOR

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