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Centro de Ensino Superior dos Campos Gerais CESCAGE www.cescage.edu.br/publicacoes/scientiarural 10ª Ed./JUL-DEZ/2014 ISSN 2178 - 3608 15 COMPARAÇÃO ENTRE DOIS MÉTODOS DE ELIMINAÇÃO DE Eucalyptus sp. EM ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE FELIPE MARTINS DE OLIVEIRA 1 ; SILVIO HENRIQUE SEGALA 2 RESUMO: O objetivo deste trabalho foi comparar a atividade de eliminação de Eucalyptus sp. em uma área de preservação permanente de margem de rio, realizada pelos métodos mecânico, por meio de anelamento, e químico, com uso de uma cavadeira química. A área de estudo pertence a uma empresa florestal localizada no estado de São Paulo. Foram amostradas 15 árvores em cada método, sendo cinco por trabalhador, e cada trabalhador executou a atividade em ambos os métodos de trabalho. A análise técnica foi realizada por meio de um estudo de tempos, contemplando a fase propriamente dita da atividade, de modo a se verificar o tempo médio demandado em cada método. A análise de custos foi realizada por meio da determinação dos custos fixos e variáveis, bem como do custo de produção. A análise da eficácia foi realizada pela observação visual das árvores amostradas, a fim de se verificar possíveis sintomas indicativos de morte dos indivíduos. Os resultados mostraram que o método químico apresentou menor tempo demandado, onde a relação entre os dois métodos foi de 4,3 árvores inoculadas com o produto químico para cada 1 árvore anelada. O método químico apresentou maior custo operacional em relação ao método mecânico, devido principalmente à depreciação da cavadeira química e aos custos com o herbicida. Entretanto, devido à maior produtividade, o custo de produção no método químico se mostrou menor. Por fim, durante o período de quatro semanas de observação, foi comprovada a eficácia do método químico, devido à existência de sintomas indicativos de morte, como coloração marrom das folhas e sua queda parcial. No entanto, não se deve tomar a decisão final sem antes verificar o impacto ambiental do produto químico. PALAVRAS-CHAVE: ERRADICAÇÃO, EXÓTICAS INVASORAS, ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE, CUSTOS, PRODUTIVIDADE. COMPARISON BETWEEN TWO METHODS OF ELIMINATION OF Eucalyptus sp. IN PERMANENT PRESERVATION AREA ABSTRACT - The objective of this study was to compare the activity of elimination of Eucalyptus sp. in a permanent preservation area of riverbank, performed by mechanical methods, by annealing, and chemical, using a chemical spade. The study area belongs to a forestry company located in the state of São Paulo. 15 trees were sampled in each method, 1 Engenheiro Florestal, Professor Mestre em Ciências Florestais União Latino-Americana de Tecnologia, ULT Rua Santa Catarina, nº 04, Bairro Jd. N. S. de Fátima 84200-000 Jaguariaíva, PR [email protected] 2 Acadêmico de Engenharia Florestal União Latino-Americana de Tecnologia, ULT Rua Santa Catarina, nº 04, Bairro Jd. N. S. de Fátima 84200-000 Jaguariaíva, PR.

Comparação entre dois métodos de eliminação de Eucalyptus sp. em área de preservação permanente

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O objetivo deste trabalho foi comparar a atividade de eliminação de Eucalyptus sp. em uma área de preservação permanente de margem de rio, realizada pelos métodos mecânico, por meio de anelamento, e químico, com uso de uma cavadeira química. A área de estudo pertence a uma empresa florestal localizada no estado de São Paulo. Foram amostradas 15 árvores em cada método, sendo cinco por trabalhador, e cada trabalhador executou a atividade em ambos os métodos de trabalho. A análise técnica foi realizada por meio de um estudo de tempos, contemplando a fase propriamente dita da atividade, de modo a se verificar o tempo médio demandado em cada método. A análise de custos foi realizada por meio da determinação dos custos fixos e variáveis, bem como do custo de produção. A análise da eficácia foi realizada pela observação visual das árvores amostradas, a fim de se verificar possíveis sintomas indicativos de morte dos indivíduos. Os resultados mostraram que o método químico apresentou...

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10ª Ed./JUL-DEZ/2014

ISSN 2178 - 3608

15

COMPARAÇÃO ENTRE DOIS MÉTODOS DE ELIMINAÇÃO DE

Eucalyptus sp. EM ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE

FELIPE MARTINS DE OLIVEIRA1; SILVIO HENRIQUE SEGALA

2

RESUMO: O objetivo deste trabalho foi comparar a atividade de eliminação de Eucalyptus

sp. em uma área de preservação permanente de margem de rio, realizada pelos métodos

mecânico, por meio de anelamento, e químico, com uso de uma cavadeira química. A área de

estudo pertence a uma empresa florestal localizada no estado de São Paulo. Foram amostradas

15 árvores em cada método, sendo cinco por trabalhador, e cada trabalhador executou a

atividade em ambos os métodos de trabalho. A análise técnica foi realizada por meio de um

estudo de tempos, contemplando a fase propriamente dita da atividade, de modo a se verificar

o tempo médio demandado em cada método. A análise de custos foi realizada por meio da

determinação dos custos fixos e variáveis, bem como do custo de produção. A análise da

eficácia foi realizada pela observação visual das árvores amostradas, a fim de se verificar

possíveis sintomas indicativos de morte dos indivíduos. Os resultados mostraram que o

método químico apresentou menor tempo demandado, onde a relação entre os dois métodos

foi de 4,3 árvores inoculadas com o produto químico para cada 1 árvore anelada. O método

químico apresentou maior custo operacional em relação ao método mecânico, devido

principalmente à depreciação da cavadeira química e aos custos com o herbicida. Entretanto,

devido à maior produtividade, o custo de produção no método químico se mostrou menor. Por

fim, durante o período de quatro semanas de observação, foi comprovada a eficácia do

método químico, devido à existência de sintomas indicativos de morte, como coloração

marrom das folhas e sua queda parcial. No entanto, não se deve tomar a decisão final sem

antes verificar o impacto ambiental do produto químico.

PALAVRAS-CHAVE: ERRADICAÇÃO, EXÓTICAS INVASORAS, ÁREA DE

PRESERVAÇÃO PERMANENTE, CUSTOS, PRODUTIVIDADE.

COMPARISON BETWEEN TWO METHODS OF ELIMINATION OF

Eucalyptus sp. IN PERMANENT PRESERVATION AREA

ABSTRACT - The objective of this study was to compare the activity of elimination of

Eucalyptus sp. in a permanent preservation area of riverbank, performed by mechanical

methods, by annealing, and chemical, using a chemical spade. The study area belongs to a

forestry company located in the state of São Paulo. 15 trees were sampled in each method,

1 Engenheiro Florestal, Professor Mestre em Ciências Florestais – União Latino-Americana de Tecnologia, ULT

– Rua Santa Catarina, nº 04, Bairro Jd. N. S. de Fátima – 84200-000 – Jaguariaíva, PR –

[email protected] 2 Acadêmico de Engenharia Florestal – União Latino-Americana de Tecnologia, ULT – Rua Santa Catarina, nº

04, Bairro Jd. N. S. de Fátima – 84200-000 – Jaguariaíva, PR.

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five per worker, and each worker performed the activity in both methods work. Technical

analysis was performed by means of a time study, considering the actual phase of activity, to

verify if the average time required by each method. A cost analysis was performed by

determining the fixed and variable costs as well as production cost. The efficacy analysis was

performed by visual observation of the trees in order to verify possible symptoms indicative

of death of individuals. The results showed that the chemical method showed less time

required, where the relationship between the two methods was 4.3 trees inoculated with the

chemical for each one ringed tree. The chemical method showed higher operating costs

compared with the mechanical method, mainly due to the depreciation of the chemical spade

and costs with the herbicide. However, due to increased productivity, the cost of production in

the chemical method was lower. Finally, during a four week period of observation proved the

effectiveness of the chemical method, due to the existence of symptoms indicative of death,

such as brown coloring of the leaves and their partial drop. However, one should not make the

final decision without checking the environmental impact of the chemical.

KEYWORDS: ERADICATION, INVASIVE ALIEN, PERMANENT PRESERVATION

AREA, COSTS, PRODUCTIVITY.

1 INTRODUÇÃO

Dentre as atividades que a empresa florestal executa, visando o cumprimento da

legislação e a conservação do meio ambiente, podem ser citadas a manutenção de áreas de

reserva legal e preservação permanente e a recuperação de áreas degradadas. Cita-se, também,

o estabelecimento de corredores ecológicos, os planos de proteção a ecossistemas com

importância cultural, histórica e ambiental, o levantamento de fauna e flora, com a

demarcação e proteção dos habitats da fauna e a proibição e controle de caça e pesca, o uso

racional de defensivos químicos e fertilizantes, e também a prevenção e o controle de

incêndios florestais.

Nesse sentido, pode-se dar destaque às Áreas de Preservação Permanente - APP, as

quais são protegidas pela Lei n° 12.651/2012, com as alterações produzidas pela Lei n°

12.727/2012, não podendo ser alteradas pela ação do homem, devendo manter sua cobertura

vegetal em estado natural. De acordo com a legislação ambiental, Área de Preservação

Permanente (APP) é aquela “protegida, coberta ou não por vegetação nativa, com a função

ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica e a

biodiversidade, facilitar o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-

estar das populações humanas” (BRASIL, 2012).

As APPs ao longo dos rios, comumente estão situadas em áreas de solos férteis e

úmidos, formando ecossistemas muito degradados pelo homem estando, em muitos locais,

reduzidas a pequenos fragmentos remanescentes. Sendo assim, enormes benefícios

proporcionados pelas APPs ficam gravemente comprometidos (VILELA et al. 1998) como,

por exemplo, a estabilização das margens dos cursos d’água, hábitat para a fauna silvestre e

aquática e manutenção da qualidade da água (CARVALHO et al., 2005).

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Um problema encontrado em APPs é a presença de Espécies Exóticas Invasoras - EEI,

que são definidas segundo Ziller (2001), como aquelas que não são nativas de um ambiente e

que, uma vez ali introduzidas, provocam mudanças ou alterações no local, reproduzem-se e se

dispersam além dos limites do povoamento florestal, causando impactos, prejuízos

ambientais, sociais e econômicos. Um exemplo de EEI é o eucalipto, facilmente encontrado

em APPs próximas a áreas de povoamentos comerciais da mesma espécie, por ser de fácil

dispersão e propagação.

Diante do exposto, percebe-se a necessidade da readequação das áreas de preservação

permanente que possuem espécies exóticas invasoras vivendo em seu interior, por meio de

técnicas que causem o menor impacto possível ao meio ambiente e à vegetação nativa. Sendo

assim, o objetivo deste estudo foi comparar a atividade de eliminação de Eucalyptus sp. em

uma área de preservação permanente de margem de rio, realizada pelos métodos mecânico,

por meio de anelamento, e químico, com uso de uma cavadeira química.

2 MATERIAL E MÉTODOS

2.1 ÁREA DE ESTUDO

O estudo foi conduzido em uma área localizada no estado de São Paulo. Os dados

foram coletados em uma área de preservação permanente de 1.846,90 m² (aproximadamente

0,1847 hectares) onde existia uma nascente. O local apresentou vegetação secundária inicial

com formação de sub-bosque em seu entorno, compondo a fitofisionomia de Floresta

Ombrófila Mista.

2.2 POPULAÇÃO PESQUISADA

A população pesquisada foi composta por trabalhadores devidamente treinados nas

atividades de eliminação, em ambos os métodos de trabalho. A participação dos trabalhadores

no estudo foi de forma voluntária, onde todos receberam esclarecimentos sobre os objetivos e

a metodologia.

Foi estudada uma amostra composta por três trabalhadores, onde cada um executou a

eliminação de cinco árvores de cada método. Foi contabilizado apenas o tempo efetivamente

consumido pela atividade, desconsiderando-se pausas, deslocamentos e demais fases.

2.3 DESCRIÇÃO DA ATIVIDADE

O estudo foi realizado na atividade de eliminação de Eucalyptus sp. sem a necessidade

de derrubada da árvore. As árvores amostradas se encontravam em uma APP de margem de

rio, localizada entre uma área de floresta nativa e um povoamento comercial de Eucalyptus

sp. Foram estudados os métodos eliminação mecânico, por meio de anelamento das árvores, e

o método químico, por meio da inoculação de herbicida. Foram estudadas 15 árvores em cada

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método, escolhidas com base na semelhança entre si. As médias seguidas dos respectivos

desvios-padrão dos dados relativos às árvores amostradas podem ser vistos na Tabela 1.

Tabela 1. Características das árvores amostradas.

Média ± s Quantidade amostrada

DAP (cm)

Altura (m)

Espessura da casca (mm)

M. Mecânico 15 33,8 ± 4,2 ns

24,7 ± 3,9 ns

19 ± 6 ns

M. Químico 15 35,6 ± 6,6 23,7 ± 3,7 21 ± 7 ns

não significativo a 5%. Fonte: Autores, 2011.

A atividade de eliminação pelo método mecânico foi realizada por meio da técnica de

anelamento (Figura 1a), que consiste em cortes sucessivos e intercalados ao redor do tronco, a

fim de retirar uma faixa de cerca de 10 a 15 cm de largura da casca (floema) na altura do

diâmetro à altura do peito - DAP - da árvore (AMARAL et al., 1998). A eliminação pelo

método químico foi realizada com o uso de uma cavadeira química (Figura 1b) como

ferramenta para inoculação do herbicida na árvore, sendo a cavadeira aferida para inocular 3

ml de produto químico a cada inserção na árvore. O produto químico utilizado foi o de nome

químico N-(phosphonomethyl) glycine, sendo utilizado em sua forma líquida na concentração

de 50% do produto e 50% de água.

a) b) Figura 1. Eliminação mecânica utilizando a técnica de anelamento (a) e química com o uso de cavadeira (b).

Fonte: Autores, 2011.

A área experimental possuía vegetação herbáceo-arbustiva pouco densa ao redor das

árvores tratadas por ambos os métodos, também podendo ser verificada na Figura 1. Tal

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situação tornava relativamente fácil o deslocamento do trabalhador no interior do sub-bosque,

mesmo com o transporte manual da cavadeira química.

2.3 COLETA DE DADOS

2.3.1 ANÁLISE OPERACIONAL

A análise operacional foi realizada por meio de um estudo de tempos e movimentos,

empregando-se o método de cronometragem de tempo individual para cada indivíduo, onde o

cronômetro foi acionado no ponto de início da eliminação, e a leitura foi feita no ponto final

referente a cada árvore eliminada. Para auxílio na coleta foram utilizados um cronômetro

digital centesimal, uma prancheta e formulários específicos.

O tempo consumido nas atividades de eliminação mecânica foi determinado pelo

tempo total efetivo dividido pelo número de árvores aneladas, dado em minutos por árvore

(min/arv), por meio da seguinte expressão:

em que: = produtividade média da eliminação mecânica, em minutos por árvore; =

nº de árvores aneladas; e = tempo consumido, em minutos.

O tempo consumido nas atividades de eliminação mecânica foi determinado pelo

tempo total efetivo dividido pelo número de árvores inoculadas, dado em minutos por árvore

(min/arv), por meio da seguinte expressão:

em que: = produtividade média da eliminação química, em minutos por árvore; = nº

de árvores inoculadas com o herbicida; e = tempo consumido, em minutos.

Por fim, os dados representativos dos tempos consumidos para as atividades de

eliminação em ambos os métodos foram comparados pelo teste t, ao nível de 5% de

significância. Para análise do teste foi utilizada a ferramenta Análise de Dados do software

Microsoft Excel®.

Análise de custos

A análise de custos foi realizada por meio da determinação do custo operacional e de

produção de cada método de eliminação. Foram utilizados os dados levantados no banco de

dados da empresa.

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O custo operacional por hora efetiva de trabalho foi obtido pela determinação dos

custos fixos, variáveis e administrativos, utilizando a metodologia proposta por Harry et al.

(1991) e adaptado para esta pesquisa. O custo de produção foi obtido pela divisão do custo

operacional pela produtividade da ferramenta ou equipamento.

Eficácia dos métodos

A eficácia foi estudada por meio da observação visual do aparecimento de sintomas

que indicassem a morte ou a perda da saúde do indivíduo amostrado. A coleta a campo foi

realizada por monitoramento semanal da área de estudo, totalizando 4 coletas desde a semana

1 até a semana 4.

Na coleta de dados foi feito o registro por meio de fotos e anotações em um formulário

específico, onde foram verificados os seguintes itens:

a) Aparência foliar das árvores testadas, observando sua coloração.

b) Sintomas parciais de morte, como amarelamento e queda de folhas.

c) Sintomas presentes no tronco da árvore, observando possíveis anormalidades.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Análise operacional

A análise operacional foi realizada pela comparação entre os tempos consumidos para

eliminação das árvores no método mecânico e no método químico. Os dados relativos aos

tempos consumidos na eliminação de cada árvore amostrada se encontram na Figura 2, para

ambos os métodos mecânico (a) e químico (b).

(a)

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(b)

Figura 2. Tempo de eliminação pelo método mecânico (a), e químico (b), para cada árvore. A linha vermelha

representa o tempo a médio gasto na execução do método, que foi de 5 minutos e 42 segundos e 1 minuto e 20

segundos, respectivamente.

Fonte: Autores, 2011.

Como pode ser observado, a eliminação pelo método mecânico demandou maior

tempo para a execução da atividade, quando comparado com o método químico. Em média, o

método mecânico demandou mais de quatro vezes o tempo exigido pelo método químico.

No método mecânico observou-se que o tempo médio para realização da atividade foi

de 5 minutos e 42 segundos. No método químico, realizado com uma média de 13 inserções

por árvore com a cavadeira, foram observados menores tempos demandados para a realização

da atividade, quando comparados com o método mecânico, demonstrando uma média de 1

minuto e 20 segundos por árvore. Esses resultados podem ser observados com mais detalhes

na Tabela 2.

Tabela 2. Tempo médio demandado para a eliminação em ambos os métodos.

Média ± s DAP (cm) Altura (m) Espessura da casca (mm)

Produtividade (min:seg/arv)

M. Mecânico 33,8 ± 4,2 24,7 ± 3,9 19 ± 6 5:42 ± 1:42 M. Químico 35,6 ± 6,6 23,7 ± 3,7 21 ± 7 1:20 ± 0:19

Fonte: Autores, 2011.

Assim sendo, foi realizada a análise de variância e o teste de comparação de médias, a

fim de verificar se houve diferenças estatísticas entre os tempos consumidos para eliminação

em ambos os métodos. Na Tabela 3 é possível verificar que existiu diferença significativa,

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pelo teste t a 5%, entre os tempos consumidos nos dois métodos, mostrando que o método de

eliminação químico é mais eficiente com 95% de confiabilidade.

Tabela 3. Análise estatística dos tempos médios demandados na eliminação pelo método

mecânico e pelo método químico.

* significativo a 5%.

Fonte: Autores, 2011.

O método de eliminação mecânico demandou maior tempo na sua execução por exigir

grande esforço físico por parte dos trabalhadores na retirada da faixa de cerca de 10 a 15 cm

de largura da casca (floema) de cada árvore, com o auxílio do facão. Isto confirma o descrito

por Souza (1993), o qual relata que à medida que o cansaço aumenta, reduz-se o ritmo de

trabalho, atenção e rapidez de raciocínio, tornando o trabalhador menos produtivo e,

consequentemente, mais sujeito a erros e acidentes. Já a eliminação pelo método químico, por

não exigir grande esforço físico, foi executada com maior rapidez, com o trabalhador apenas

realizando o esforço de transportar a cavadeira com produto químico e fazer as inserções na

árvore.

É importante ressaltar que a área de estudo não possuía vegetação herbáceo-arbustiva

ao redor das árvores amostradas que fosse significativa a ponto de interferir na produtividade

dos métodos. Deve-se observar que, se as atividades fossem executadas em áreas de maior

presença de vegetação rasteira, provavelmente o rendimento não seria o mesmo,

principalmente no método químico, pela dificuldade de locomoção com a cavadeira dentro do

sub-bosque da floresta.

Análise de custos

Na Tabela 4 são apresentados os custos operacionais para cada método estudado.

Utilizou-se o valor de 10% no custo de administração. Nos cálculos que necessitavam da

eficiência operacional, foi utilizado o valor 1 como simulação, devendo o mesmo ser

readequado para as produtividades mensuradas pelos estudos futuros, ou seja, esse valor deve

ser modificado quando houver um estudo de tempos e movimentos contemplando todas as

fases das atividades.

Tabela 4. Custos operacionais de ambos os métodos estudados.

Método Custos fixos

(R$/he) Custos variáveis

(R$/he) Custo de administração

(R$/he) (10%) Custo total

(R$/he)

Mecânico 0,02 16,93 1,69 18,64 19,45 Químico 0,07 17,49 1,89

Método de eliminação

Produtividade média

(min:seg/arv) Variância F calculado F crítico T calculado T crítico

Mecânico 05:42 0,00509093 26,7790* 2,4837 9,7189*

1,7530

Químico 01:20 0,00019010

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Fonte: Autores, 2011.

Como pode ser observado, o custo operacional total do método químico se mostrou

maior do o custo do método mecânico. Isto pode ser explicado pelo maior custo de aquisição

e depreciação da ferramenta, bem como pelo herbicida utilizado. Na Tabela 5 abaixo, são

mostrados os custos de produção de ambos os métodos estudados, também calculados para

uma eficiência operacional de 100%.

Tabela 5. Custo de produção de ambos os métodos.

Fonte: Autores, 2011.

Como pode ser visto, devido à maior produtividade do método químico, o custo por

árvore mostrou-se menor do que o custo de produção do método mecânico. Estes custos

podem variar de acordo com as diferentes eficiências operacionais que podem ocorrer nas

atividades. Porém, para uma mesma eficiência operacional, o custo de produção do método

químico será sempre menor.

Eficácia dos métodos

Os sintomas das árvores amostradas podem ser observados na Tabela 6, onde são

mostrados, também, os períodos em que foi realizada a coleta dos dados com a respectiva

descrição geral de como as árvores testadas reagiram a cada método de eliminação.

Tabela 6. Descrição dos sintomas apresentados pelas árvores testadas após a eliminação.

Período Método Mecânico Método Químico

Semana 0 As árvores se encontravam normais

apresentando folhas verdes. As árvores se encontravam normais

apresentando folhas verdes.

Semana 1 As árvores se encontravam normais

apresentando folhas verdes. As árvores apresentaram folhas de

coloração cinza claro.

Semana 2 As árvores se encontravam normais

apresentando folhas verdes.

Algumas árvores apresentaram folhas amareladas e outras com folhas de cor

marrom.

Semana 3 As árvores se encontravam normais

apresentando folhas verdes.

Todas as árvores apresentaram folhas de cor marrom e algumas já mostravam

queda de folhas.

Semana 4 As árvores se encontravam normais

apresentando folhas verdes.

Todas as árvores apresentaram folhas de cor marrom e perda parcial das

folhas.

Fonte: Autores, 2011.

Método Custo operacional

total (R$/he) Produtividade (min:seg/arv)

Relação entre as produtividades

Custo de produção (R$/arv)

Mecânico 18,64 5:42 1 1,78

Químico 19,45 1:20 4,3 0,43

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Como pode ser observado, a Semana 0 foi o dia da execução do teste de eliminação

para ambos os métodos, onde as árvores não apresentavam nenhum sintoma anormal.

Na Semana 1 observou-se que o método químico começou a fazer efeito, pois as

árvores testadas começaram a apresentar os primeiros sintomas em reação ao produto

químico, apresentando folhas de cor cinza claro ou sem pigmentação, e as árvores tratadas

pelo método mecânico não apresentavam sintomas algum. Ainda nesta mesma semana,

observou-se, ainda, sinais no lenho referentes à absorção do herbicida pela árvore, logo acima

do local onde foram feitas as inserções com a cavadeira química (Figura 3).

a) b) Figura 3. Sinal na madeira provocado pela absorção do produto químico (a), com detalhe aparente no lenho (b).

Fonte: Autores, 2011.

Na Semana 2, algumas árvores testadas com o método químico apresentavam folhas

amareladas, e outras, folhas de cor marrom. Em contrapartida, as do método químico não

apresentavam sintomas de anormalidade.

Na Semana 3, todas as árvores testadas com o método químico apresentavam folhas de

cor marrom, e algumas delas já estavam perdendo as folhas, enquanto as do método mecânico

continuavam a não apresentar nenhum sintoma semelhante.

Por fim, na Semana 4, todas as árvores testadas com o método químico apresentavam

folhas secas, de coloração marrom, juntamente com perda parcial das folhas, podendo ser

considerados como sintomas indicativos de morte, como podem ser observados na Figura 4a.

Nesta última semana de observação, as árvores testadas pelo método mecânico não

apresentavam sinal anormal algum, estando todas com folhas verdes, como pode ser visto na

Figura 4b.

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a) b)

Figura 4. Semana 4: Árvore testada pelo método químico, com folhas secas e sua perda parcial (a). Árvore

testada pelo método mecânico, com copa verde apresentando aparência normal (b).

Fonte: Autores, 2011.

Na Figura 5 é mostrado um comparativo de duas árvores amostradas, observadas do

mesmo ponto, na semana 0 e na semana 4. Fica clara a diferença entre os dois métodos. Na

semana 0, ambas as árvores apresentam copa densa com coloração esverdeada. Na semana 4,

enquanto a árvore eliminada pelo método mecânico não apresentou mudanças visíveis, a

eliminada pelo método químico mostrou copa menos densa e de coloração marrom. De modo

geral, pôde-se comprovar a eficácia e melhor eficiência do método químico na eliminação das

árvores estudadas.

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a)

b)

Figura 5. Árvores amostradas, observadas do mesmo ponto, na semana 0 (a) e na semana 4 (b).

Fonte: Autores, 2011.

Estes resultados confirmam o descrito por Carvalho et al. (2010), os quais relatam em

seu estudo de avaliação da técnica de anelamento que, ao final de dois anos, algumas das

Método Mecânico Método Químico

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árvores tratadas pelo método mecânico resistiam à esta técnica e continuavam vivas. Desta

forma, explica-se o fato de todas as árvores tradadas pelo método mecânico neste estudo ainda

não apresentarem nenhum sintoma indicativo de morte, visto que o horizonte de observação

limitou-se a quatro semanas.

A aceitação ambiental, inclusive pela legislação, é um complexante ao uso de

herbicidas para eliminação de exóticas. Porém utilizando a dosagem adequada, eles são

considerados muito eficientes no que tange ao intuito pelo qual estão sendo aplicados (KLINE

e DUQUESNEL, 1996; SMITH, 1998).

Atualmente, alguns produtos registrados não oferecem ideal grau de controle, são

grupos não-seletivos, ou não são competitivos. Esta condição, juntamente com o alto preço

dos herbicidas disponíveis e as preocupações ambientais, fez com que os proprietários

florestais busquem por métodos alternativos para o manejo da vegetação (LITTLE et al.,

2006). Sendo assim, a eficácia dos métodos deve ser analisada paralelamente ao possível

impacto ambiental deles decorrentes, a fim de que, priorizando o baixo custo ou a eficácia,

acabe-se por prejudicar o meio ambiente em longo prazo.

4 CONCLUSÃO

De acordo com a análise e discussão dos resultados, as principais conclusões obtidas

neste trabalho foram:

Os valores de tempo médio consumido na eliminação pelo método mecânico e

químico foram diferentes estatisticamente entre si, devendo-se ressaltar que no método

mecânico houve maior dificuldade dos trabalhadores em executar a atividade, devido

ao maior esforço físico exigido pela mesma.

A relação de tempo entre as produtividades dos dois métodos foi de 1 árvore anelada

para 4,3 árvores inoculadas com o produto químico, comprovando a maior

produtividade do método químico, quando considera-se somente a atividade

propriamente dita.

A eliminação pelo método mecânico apresentou maior custo de produção devido a

menor produtividade apresentada, tendo uma relação entre as produtividades 4,3 para

1, sugerindo a maior viabilidade econômica do uso da cavadeira química ara

eliminação das árvores.

O método químico se mostrou mais eficiente na eliminação das árvores amostradas,

pois elas apresentaram vários sintomas indicativos de morte, enquanto as árvores

amostradas pelo método mecânico não apresentaram sintoma algum. No entanto,

deve-se atentar para o possível impacto ambiental causado pelo uso do produto

químico.

Centro de Ensino Superior dos Campos Gerais – CESCAGE

www.cescage.edu.br/publicacoes/scientiarural

10ª Ed./JUL-DEZ/2014

ISSN 2178 - 3608

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