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1 VIVA O BASQUETEBOL (http://vivaobasquetebol.wordpress.com) Psicologia do Esporte Prof. Dante De Rose Junior São Paulo Outubro- 2013

Compêndio psicologia do esporte

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Artigos de Psicologia do Esporte Blog do Dante: Viva o Basqutebol

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Page 1: Compêndio psicologia do esporte

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VIVA O BASQUETEBOL

(http://vivaobasquetebol.wordpress.com)

Psicologia do Esporte

Prof. Dante De Rose Junior

São Paulo

Outubro- 2013

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Amigos do basquetebol, este compêndio traz os textos divulgados no

blog Viva o Basquetebol e que abordaram temas relacionados à Psicologia do

Esporte.

Os posts foram organizados na ordem em que foram publicados.

Espero que gostem e que possam aproveitar.

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Motivos que levam à prática esportiva

27/11/2010

Amigos do basquetebol

Seguindo na linha de apresentar textos, ou resumos de textos, já produzidos, envio a todos um trabalho

feito com jovens atletas de basquetebol, abordando os motivos que levam à prática esportiva.

Esse texto foi compilado do artigo:

MOTIVOS QUE LEVAM À PRÁTICA DO BASQUETEBOL: UM ESTUDO COM JOVENS ATLETAS

BRASILEIROS,publicado na Revista de Psicologia del Deporte, v. 10, p. 293-304, 2001.

Autores: Dante De Rose Junior, Roberto R. Campos e Marcelina Tribst.

A maioria dos jovens tem seu primeiro contato com uma modalidade esportiva na infância ou no início da

adolescência através das aulas de educação física ou da escolinha de esporte da escola ou de um clube.

Desta forma, o professor/técnico deve saber o que levou este jovem a procurar esta modalidade esportiva

ou o que o faz praticar, ou seja, deve identificar os motivos para a prática.Conhecer esses motivos pode

instrumentalizar os profissionais que trabalham no esporte para reduzir aspectos que podem causar

impacto negativo no jovem praticante.

A motivação está ligada a fatores de personalidade e variáveis sociais e cognitivas que entram em jogo

quando uma pessoa dedica-se a uma tarefa na qual está sendo avaliada, entra em competição com

outros ou tenta atingir algum nível de excelência, pois nestas ocasiões é assumido que o indivíduo é

responsável pelo resultado da tarefa e que algum nível de desafio é inerente a ela. A motivação é

responsável pela escolha, persistência e rendimento numa atividade.

Os jovens possuem vários motivos para o ingresso na prática esportiva. De forma muito genérica, os

motivos podem ser intrínsecos (quando emanam das necessidades e expectativas da própria pessoa)

ou extrínsecos(determinados por influências externas como meio ambiente, pessoas influentes, modelos,

etc..).

A iniciação em uma determinada modalidade esportiva pode estar baseada em inúmeros motivos que vão

desde a perspectiva de ser um ídolo (motivos intrínsecos) até a vontade unicamente vinda dos pais, seja

por razões educacionais, de saúde, desejos pessoais ou pela busca de ascensão social (motivos

extrínsecos). Logo, os fatores que levam uma criança a prática de alguma modalidade esportiva podem

estar relacionados a suas competências físicas, pressões externas, necessidade de pertencer a um grupo

e razões sociais.sses motivos são relatados em diferentes estudos encontrados na literatura internacional.

De forma geral, os resultados apontam para alguns fatores como sendo os mais significativos na escolha

de uma determinada modalidades esportiva:

diversão

relacionamento com outras pessoas

competição

melhora das capacidades físicas e habilidades motoras

modelos esportivos

experimentar novos desafios

Esses estudos também apontam que questões culturais e ambientais são importantes para a definição

dessa escolha. Exemplo: em um local onde um determinado esporte é predominante, será bastante

provável que um jovem o escolha para iniciar sua prática. Aqui podemos citar como exemplo a cidade de

Franca onde o basquetebol é o esporte preferido. Isto certamente infouenciará a escolha de um jovem.

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No estudo que gerou este texto, foram avaliados 135 jogadores de basquetebol sendo 74 do sexo

masculino e 61 do feminino na faixa etária de 15 a 18 anos da Região da Grande São Paulo. Para

participar da pesquisa foram estabelecidas duas condições: estar registrado como atleta na Federação

Paulista de Basketball e ter participado de competições oficiais nos 6 meses que antecederam a

pesquisa. Os atletas responderam à seguinte questão: O que o (a) levou a iniciar a prática do

basquetebol?

Os motivos intrínsecos foram divididos em quatro categorias:

Aspiração: ser um bom (boa) jogador (a); ser bom profissional na área (professor ou técnico)

Necessidades cognitivas e emocionais: desenvolver inteligência; desafios; queria fazer um esporte;

necessidade de desenvolver o raciocínio; forma de se livrar de outros problemas

Prazer pela modalidade: sempre ter feito vários esportes; por ser um esporte competitivo; prazer e

diversão; contato físico

Percepção das qualidades individuais: por ser alto (a); por se destacar nos jogos da escola.

Os motivos extrínsecos foram divididos em duas categorias:

Pessoas significativas: família, amigos, modelos e professor/técnico

Ambiente social: escola, clube e outros

Nos 135 formulários respondidos foram identificadas 225 manifestações sobre motivos de prática

do basquetebol, sendo 156 por parte dos rapazes e 69 por parte das moças. Dessas manifestações,

94 estavam relacionadas a motivos intrínsecos (41,8%) e 131 a motivos extrínsecos (58,2%).

39% dos meninos e 49% das meninas apontaram os motivos intrínsecos como fator principal

para a escolha da modalidade

61% dos meninos e 51% das meninas apontaram os motivos extrínsecos como fator principal

para a escolha da modalidade

Dos motivos intrínsecos, o prazer pela modalidade foi o mais apontado (58% dos meninos e 62%

das meninas).

Dos motivos extrínsecos, as pessoas significativas foram as mais apontadas (78% dos meninos

e 72% das meninas)

Para os meninos, a família foi o fator principal para a escolha da modalidade (32%). Idem para

as meninas (40%). O incentivo da família e familiares que já haviam praticado a modalidade foram os

mais citados

Os professores e técnicos foram apontados por 14% dos meninos e 23% das meninas como

sendo importantes por seu incentivo

Para finalizar, o professor/técnico consciente dos principais motivos que levam um jovem a prática

esportiva pode utilizá-los como principio para tornar a prática da modalidade muito prazerosa sem tirar-lhe

o aspecto competitivo. Deve-se ressalvar que professores e técnicos também são citados em vários

estudos como um dos principais fatores de abandono da prática esportiva por jovens.

Os professores/técnicos devem também compreender que os pais e outras pessoas têm uma grande

influência na vida da criança e suas futuras escolhas. Portanto, é de responsabilidade deles orientar

essas pessoas da importância do seu papel na vivência deste jovem no esporte, tendo em vista que a

família pode cooperar para que esta experiência seja algo menos estressante devido às exigências que o

esporte impõe aos seus praticantes.

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Situações de jogo que podem causar stress no basquetebol

01/12/2010

Amigos do basquetebol

Este texto mostrará situações específicas de jogo que podem causar stress no basquetebol. Ele foi

complicado do artigo:

O jogo como fonte de stress no basquetebol infanto-juvenil - publicado na Revista Portuguesa de

Ciências do Desporto, v.1, n.2, p. 36-44, 2001.

Autores: Dante De Rose Junior e Paula Korsakas

O basquetebol pode ser considerado um esporte complexo, que envolve um processo dinâmico e

contínuo de situações específicas. Para atingir um nível de execução considerado adequado os atletas

devem estar preparados fisicamente, tecnicamente e taticamente. Esses fatores, aliados aos aspectos

psicológicos envolvidos na prática de qualquer esporte competitivo, são decisivos na determinação do

desempenho dos atletas e, até mesmo, na definição dos resultados dos jogos.

Entre os aspectos psicológicos que fazem parte de qualquer contexto competitivo, o stress pode ser

considerado um dos fatores preponderantes na determinação do desempenho, não se desprezando a

influência da ansiedade, da motivação, da agressividade, da concentração, da atenção e da coesão de

grupo, entre outros.

Pode-se imaginar que atletas experientes, com grande número de participações em eventos

internacionais, tenham melhores condições de lidar com as situações causadoras de stress próprias de

uma competição e possam manter seus níveis de ansiedade dentro de padrões aceitáveis. No entanto, a

pressão dessas competições pode provocar rupturas nesses comportamentos, pelas consequências que

o fracasso nessas situações pode gerar. Imagina-se também que atletas em início de carreira, apesar de

participar de eventos menos tensos e com consequências não tão importantes, tenham dificuldades em

lidar com as situações do contexto competitivo ou externas a ele e que levem a um desempenho

inadequado, exatamente pela falta de experiência.

No estudo que se segue procurou-se identificar as situações próprias de jogo que podem causar stress

elevado em atletas de basquetebol de categorias de base (cadetes, infanto-juvenis e juvenis), classificar

essas situações de acordo com a incidência de respostas dadas pelos atletas ao instrumento utilizado

para a finalidade e comparar essa classificação em função do gênero.

Participaram do estudo 136 jogadores de basquetebol (75 rapazes e 61 moças) com idade variando entre

15 e 19 anos, todos atletas de clubes filiados à Federação Paulista de Basketball, disputando

regularmente campeonatos organizados pela entidade. A média de idade do grupo foi igual a 17 anos e 6

meses. Os atletas responderam ao Formulário para Identificação de Situações de Stress no Basquetebol

(numa escala de 0 a 5). Os principais resultados são mostrados nas tabelas abaixo:

Tabela 1: 10 situações que mais provocam stress em jogo, de acordo com a opinião dos jogadores

(valores percentuais relacionados ao número de respostas)

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Clas. Situação Valor %

1 34- Cometer erros que provocam a derrota da equipe 77.3

2 25- Perder jogo praticamente ganho 68.9

3 31- Repetir os mesmos erros 68.0

4 50- Arbitragem que te prejudica 64.0

5 24- Perder para equipe tecnicamente inferior 62.7

6 33- Cometer erros em momentos decisivos 61.3

7 68- Técnico que privilegia determinado jogador 60.0

8 60- Companheiro egoísta 58.7

9 30- Jogar abaixo de seu padrão normal 56.0

10 69-Técnico que só critica 54.7

10 70- Técnico que não reconhece o esforço do jogador 54.7

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Tabela 2: 10 situações que mais provocam stress em jogo, de acordo com a opinião das jogadoras

(valores percentuais relacionados ao número de respostas)

Clas. Situação Valor %

1 31- Repetir os mesmos erros 88.1

2 60- Companheiro egoísta 80.3

3 25- Perder jogo praticamente ganho 77.1

4 34- Cometer erros que provocam a derrota da equipe 77.0

5 63- Companheira que cobra ou reclama muito 73.8

6 30- Jogar abaixo de seu padrão normal 77.1

7 37-Ser excluída do jogo 70.5

8 24- Perder para equipe tecnicamente inferior 70.1

9 68- Técnico que privilegia determinado jogador 65.6

10 70- Técnico que não reconhece o esforço do jogador 64.0

Como era de se esperar, as ocorrências de jogo são muito marcantes, pois têm uma influência direta no

resultado e na avaliação a qual os atletas são submetidos. Ou seja, o que acontece em jogo é muito mais

evidente do que aquilo que acontece em treinamento ou em qualquer outra situação na qual o atleta não

esteja exposto diretamente.

Além disto, verificou-se que a incidência das respostas nos níveis mais elevados de stress foi

significativamente maior nas meninas.

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Motivos que levam à prática do basquetebol: parte 1

16-03-2011

Nesta série de mini artigos, o tema abordado será a Motivação. Serão dois posts falando desse

importante componente psicológico e de estudos específicos sobre os motivos que levam os jovens a

praticar uma modalidade esportiva, especificamente o basquetebol.

Eles se baseiam no artigo elaborado por Dante De Rose Junior, Roberto Ramos de Campos e

Marcelina Tribst, publicado na Revista de Psicologia Del Deporte, v.10, p. 293-304, 2001.

Introdução

A motivação está ligada a fatores de personalidade e variáveis sociais e cognitivas que entram em jogo

quando uma pessoa dedica-se a uma tarefa na qual está sendo avaliada, entra em competição com

outros ou tenta atingir algum nível de excelência, pois nestas ocasiões é assumido que o indivíduo é

responsável pelo resultado da tarefa e que algum nível de desafio é inerente a ela. A motivação é

responsável pela escolha, persistência e rendimento numa atividade.

A maioria dos jovens tem seu primeiro contato com uma modalidade esportiva na infância ou no início da

adolescência através das aulas de educação física ou da escolinha de esporte da escola ou de um clube.

Desta forma, o professor/técnico deve saber o que levou este jovem a procurar esta modalidade esportiva

ou o que o faz praticar, ou seja, deve identificar os motivos para a prática.

A iniciação em uma determinada modalidade esportiva pode estar baseada em inúmeros motivos que vão

desde a perspectiva de ser um ídolo até a vontade unicamente vinda dos pais, seja por razões

educacionais, de saúde, desejos pessoais ou pela busca de ascensão social. Logo, os fatores que levam

uma criança a prática de alguma modalidade esportiva podem estar relacionados a suas competências

físicas, necessidade de pertencer a um grupo, razões sociais, pressões internas e externas.

A motivação possui duas importantes fontes, uma intrínseca relacionada a pessoas que gostam de

competir, procuram divertir-se e aprender; e outra extrínseca ligada a fatores externos e que são

estimuladas por reforços positivos e negativos. os fatores intrínsecos estão ligados a indivíduos que

gostam de ação, diversão e percebem que são bons em algumas habilidades. Os extrínsecos são

representados por recompensas externas, como elogios ou premiações. Os jovens possuem vários

motivos para o ingresso na prática esportiva, contudo, o que mais aparece nas pesquisas é a diversão

proporcionada por ela.

Algumas investigações sobre os motivos que levam jovens atletas a participar de uma modalidade

esportiva identificam categorias relacionadas aos motivos intrínsecos e extrínsecos:

Motivos Intrínsecos:

1. Aspiração: jovens que almejam atingir o nível mais elevado dentro da modalidade e, além disso,

pretendem ter destaque nas suas carreiras quando atingirem o profissionalismo;

2. Necessidades cognitivas e emocionais: perceber a modalidade como uma tarefa que possa

contribuir nos aspectos cognitivo e emocional.

3. Prazer pela modalidade: é uma recompensa vivenciada na própria prática sendo um

comportamento motivado intrinsecamente. Ou seja, a prática esportiva é a prória fonte de prazer.

4. Percepção das qualidades individuais: é a percepção que a pessoa tem a respeito de sua

habilidade no esporte ou mesmo de ser diferenciada nos aspectos social, biológico, cognitivo e motor,

sendo que sucesso e fracasso são avaliados pelas pessoas significativas;

Motivos extrínsecos:

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1. Pessoas significativas: são os adultos, pais, professores, entre outros, que interagem com o

jovem influenciando suas ações.

2. Ambiente Social: instituições que contribuíram à prática da modalidade, como a escola e o clube,

além da cidade que possibilitou e foi percebida como facilitadora para seu acesso no basquetebol.

É importante que o professor/treinador conheça os motivos pelos quais um jovem é levado a praticar uma

modalidades esportiva, pois através deste conhecimento ele poderá criar ambientes adequados de

trabalho, levando seus atletas a uma satisfação que o mantenha na atividade e tenha sempre vontade de

voltar e continuar com o mesmo entusiasmo.

Na segunda parte deste mini artigo, serão mostrados resultados de um estudo realizado com jovens

brasileiros praticantes de basquetebol.

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Motivos que levam à prática do basquetebol: parte 1

16-03-2011

Nesta segunda parte do mini artigo, serão apresentados os resultados obtidos com um estudo realizado

com jogadores de basquetebol de 15 a 18 anos que participaram de competições oficiais da Federação

Paulista de Basketball no ano de 2004.

Foram avaliados 135 jogadores: 74 do sexo masculino e 61 do feminino.

Para a coleta de dados foi utilizado o “Formulário para Identificação de Situações de Stress no

Basquetebol” (FISSB) criado por DE ROSE Jr. (1999). Este instrumento possui três partes. Uma ficha de

identificação do atleta que visa obter algumas informações pessoais do mesmo, bem como dados básicos

da sua vida esportiva. Uma segunda parte composta por 162 questões, sendo que para cada uma o atleta

tem a opção de dar uma única resposta numa escala de 0 a 5 (nenhum stress à stress muito elevado). E

a última com quatro perguntas abertas em que o atleta pode discorrer livremente em função das questões

sobre motivos, objetivos, importância do esporte e situação crítica de stress.

Este estudo baseou-se na primeira pergunta aberta do formulário, “O que o levou a iniciar a prática do

basquetebol?”.

Foram consideradas todas as respostas, mesmo quando um determinado atleta manifestava-se mais do

que uma vez.

Além disso, foi feita uma distribuição da frequência (absoluta e relativa) de cada resposta e dos motivos

categorizados para cada sexo.

A partir da análise indutiva, procurou-se agrupar as respostas dos atletas, identificando categorias gerais

e específicas para cada grupo de motivos, partindo-se do conceito geral de motivos intrínsecos e

extrínsecos.

Nos 135 formulários respondidos foram identificadas 225 manifestações sobre motivos de prática do

basquetebol, sendo 156 por parte dos rapazes e 69 por parte das moças. Dessas manifestações, 94

estavam relacionadas a motivos intrínsecos (41,8%) e 131 a motivos extrínsecos (58,2%).

A partir desses dados e das características das respostas foi feita a categorização das mesmas, sendo

que para os motivos intrínsecos foram determinadas 4 categorias gerais (aspirações; necessidades

cognitivas e emocionais; prazer pela modalidade e percepção das qualidades individuais) e para os

motivos extrínsecos foram determinadas 2 categorias gerais (pessoas significativas e ambiente social).

Os motivos apontados e as categorias aos quais estão associados são apresentados a seguir:

Motivos Intrínsecos:

1. Aspiração: Ser um bom jogador ; ser um grande profissional da área

2. Necessidades cognitivas e emocionais: Desenvolver inteligência; enfrentar desafios; querer

praticar um esporte; necessidade de desenvolver o raciocínio e forma de se livrar de outros problemas

3. Prazer pela modalidade: Sempre fiz vários esportes e optei pelo basquetebol; por ser uma

modalidades competitiva; por gostar muito do basquetebol e por diversão

4. Percepção das qualidades individuais: por ser alto; por me destacar nos jogos

Motivos extrínsecos:

1. Pessoas significativas:

influência da família; tio árbitro

modelos: primos que jogavam; pai jogador; tios jogadores; ver a Paula jogar

influência do professor/técnico: convite para jogar; apoio do professor de educação física

1. II. Ambiente Social: ver jogos pela TV; único esporte praticado na escola; clube perto de casa;

assistir jogos ao vivo

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O prazer pela modalidade esportiva aparece como um dos principais motivos para a prática do esporte,

sendo que esta intimamente ligado a motivação intrínseca.

As pessoas significativas são consideradas como as que tiveram maior importância para o início da

prática do basquetebol e também a mais importante na classificação geral. Nessa categoria geral a família

e o professor/técnico destacam-se pela frequência das respostas.

Os modelos e os amigos tiveram destaque apenas para os rapazes. Já o ambiente social foi citado pelos

jovens de ambos os sexos como importante para o ingresso na modalidade.

Entende-se que o professor/técnico deve introduzir uma metodologia de trabalho que perpetue o prazer

pela modalidade ao longo da vida esportiva do jovem. As cobranças dos professores/técnicos por

resultados e títulos pode tornar a vivência no esporte muito estressante para o jovem, diminuindo ou até

mesmo ausentando de prazer toda a sua experiência na modalidade.

O professor/técnico consciente dos principais motivos que levam um jovem a prática esportiva, pode

como pessoas significativas que também o são, utilizá-los como principio para transformá-los em prazer

pela modalidade, sabendo que este é decisivo para a continuidade do jovem na vida esportiva.

Compreender também que os pais e outras pessoas que possuem influência na vida da criança é

essencial para os professores/técnicos nas categorias de base, pois é de responsabilidade deles orientar

os pais da importância do seu papel na vivência deste jovem no esporte, tendo em vista que a família

pode cooperar para que está experiência seja algo menos estressante do que já é por se tratar das

exigências que o esporte impõe aos seus praticantes.

Page 12: Compêndio psicologia do esporte

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O esporte e a “saúde psicológica”

12-05-2011

Texto apresentado em evento realizado pelo Instituto Ayrton Senna, em 2005

Este tema desta mesa aborda aspectos da saúde e suas relações com as atividades físicas e o esporte.

Várias são as questões inerentes ao tema. Uma delas é o velho chavão “ Esporte é saúde”.

Inicialmente seria importante traçar o limite entre atividade física e esporte. Há sempre uma grande

confusão entre esses dois termos. Em alguns casos eles são colocados como sinônimos, em outros o

esporte é tido como uma das atividades físicas e há ainda correntes que os colocam em posições

diametralmente opostas.

Em nosso caso tentaremos abordar o esporte como uma atividade física que tem algumas características

bem definidas, conforme aponta Barbanti (2005). Para o autor, esporte não tem uma definição precisa,

pois há grande diversidade de significados para o fenômeno. No entanto, esporte nos remete a uma

atividade física institucionalizada que envolve esforço físico vigoroso, uso de habilidades motoras

relativamente complexas e que exige motivação dos indivíduos para participar. Seu objetivo é comparar

rendimentos e a competição é fator inerente à sua prática.

Esse “esporte” exige do atleta o cumprimento de uma lista enorme de exigências para poder atingir seus

objetivos e, principalmente, manter-se nesse status. São muitas horas de treinamento intensivo, jogos e

viagens permeadas por problemas pessoais e de relacionamento com colegas, técnicos e dirigentes,

lesões e, principalmente, as pressões naturais da competição a que são submetidos frequentemente.

No caso dos atletas de alto nível e, em algumas vezes para aqueles que estão iniciando sua carreira, a

dedicação deve ser total. Na atual conjuntura do esporte não se pode imaginar o atleta em meio período

ou treinando duas ou três vezes por semana (como era comum há alguns anos). Os atletas abdicam,

muitas vezes, de suas preferências pessoais, de seus relacionamentos e de sua vida social em prol de

uma causa que eles (ou que outros) julgam plenamente justificável.

Pensando em todo esse esforço e sacrifício, podemos imaginar um terrível paradoxo. Ou seja: para

agüentar essa demanda os atletas são preparados e, consequentemente, gozam de uma saúde de ferro.

No entanto, essa mesma preparação, aliada a todos os fatores inerentes à prática esportiva de alto nível

pode provocar um desequilíbrio nos diferentes fatores que fazem parte da preparação de um atleta: físico,

técnico, tático e psicológico. Esse desequilíbrio, de certa forma, pode afetar a saúde desse atleta trazendo

conseqüências de ordem física, psicológica e social.

Dentre esses três fatores, abordarei de forma mais direta o psicológico e mais especificamente o stress

provocado pelo processo competitivo ao qual esses atletas são submetidos (entenda-se como processo

competitivo toda a preparação individual e coletiva e a competição propriamente dita).

Dentre os fatores de stress mais comuns em um processo competitivo encontramos os fatores

competitivos e os fatores extra-competitivos. Dos fatores competitivos podem ser ressaltados

os estados psicológicos (medos, preocupações, expectativas e inseguranças); situações de

jogo (situações específicas de cada esporte, arbitragem, técnicos, torcida, adversários); preparação da

equipe (treinamento e infra-estrutura); planejamento e organização (federações, calendários); pressões

externas. Dos fatores extra-competitivos podem ser destacados os relacionamentos, problemas com

escola, trabalho e financeiros e os fatores sociais (amizades e vida social).

O trabalho de planejamento das atividades (treinamento e jogos) é primordial no combate a esse stress,

pois se os atletas não tiverem momentos de descanso poderão apresentar respostas inadequadas que

poderão variar desde respostas físicas/fisiológicas, psicológicas (emocionais e cognitivas) e sociais. O

Page 13: Compêndio psicologia do esporte

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conjunto desses fatores atuando sobre o atleta pode levá-lo a uma situação de sobrecarga de trabalho

que seguramente afetará sua saúde, por mais bem preparado que possa estar.

Portanto, a atenção ao estado de saúde do atleta deve ser constante, desde o período de iniciação

esportiva, quando as crianças começam a tomar contato com o esporte e, principalmente, com a

competição. Neste caso o processo de formação e especialização esportiva deve ser considerado a partir

das características do praticante, suas necessidades e expectativas. Cuidar para que o treinamento seja

introduzido gradativamente, sem exageros e pressões pode garantir uma vida longa para o futuro atleta

mas, principalmente, uma qualidade de vida adequada para que ele continue praticando o esporte de

forma saudável e prazerosa, mesmo que não consiga atingir os altos níveis de competição e sucesso.

Imaginar que a prática esportiva massiva, com treinamentos intensivos pode levar a uma condição de ser

inatingível pelas doenças que são comuns somente aos “seres humanos” é um terrível engano. Atletas,

antes de mais nada, são pessoas comuns, que têm habilidades diferenciadas, mas que sentem dor,

emocionam-se e sofrem como qualquer cidadão comum.

Referência bibliográfica

Barbanti, V.J. Dicionário de Educação Física e Esporte (2ª. Ed). São Paulo, Manole, 2005, p.228.

Page 14: Compêndio psicologia do esporte

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Amigos do Basquetebol

16-06-2011

Estudar o stress competitivo sempre fez parte da minha vida acadêmica. O estudo abaixo relatado foi

realizado em 1999 para cumprir uma das exigências do concurso de Livre Docência da USP. Ele foi

realizado com 19 atletas olímpicos do basquetebol brasileiro (10 rapazes e 9 moças).

O stress é um dos fatores psicológicos mais frequentes no esporte competitivo, qualquer que seja o nível

do atleta nele envolvido. Vários autores citam sua importância , colocando-o, inclusive, como o fator

determinante do desempenho entre esses atletas. O basquetebol, por reunir uma grande variedade de

características pessoais e situacionais, é um esporte potencialmente gerador de stress.

Com o objetivo de detectar as situações causadoras de stress no basquetebol de alto nível e classificá-las

em fontes e fatores, este estudo foi desenvolvido com 19 atletas do basquetebol brasileiro (10 rapazes e 9

moças), com participação efetiva em, pelo menos, uma das duas últimas edições das competições

internacionais: Jogos Olímpicos e/ou Campeonatos Mundiais.

Para a pesquisa os atletas foram entrevistados tendo como base as seguintes questões: “Quais as

situações direta ou indiretamente relacionadas à competição que causam stress durante um jogo?” e

“Qual a situação mais crítica de stress em sua carreira?”

Foram identificadas 126 situações específicas de stress no basquetebol, classificadas em fontes

específicas e fatores específicos de stress que foram reduzidos a 4 fatores gerais: competitivo individual,

competitivo situacional, extracompetitivo pessoal e extracompetitivo social.

De todos os fatores, os competitivos situacionais representaram a maioria das situações (90,5%), com

destaque para as “situações de jogo”, “influência de pessoas importantes – técnico e companheiros de

equipe “, “competência” e “planejamento e organização”.

Dos fatores competitivos individuais, “medo e insegurança” foram os fatores específicos mais citados.

Das situações críticas, sete atletas referiram-se a fatos ocorridos durante jogos, cinco citaram problemas

de contusão, três apontaram “estados psicológicos” e dois as relacionaram com “pessoas importantes”.

“Planejamento e organização” e “problemas pessoais” foram identificados por um atleta cada.

A partir deste resumo enviarei posts especificando as situações relacionadas a cada um desses fatores.

Page 15: Compêndio psicologia do esporte

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Stress no Basquetebol: os fatores competitivos individuais

26-06-2011

Dando continuidade ao post publicado em 16 de junho, vamos abordar os fatores de stress identificados

no estudo realizado com 19 atletas olímpicos do basquetebol brasileiro. A partir das situações relatadas

pelos atletas foram definidos dois fatores gerais: competitivos (individuais e situacionais) e extra-

competitivos (pessoais e sociais).

Neste post, serão abordados os fatores competitivos individuais.

Os fatores competitivos são aqueles que estão diretamente relacionados ao contexto da competição,

tanto no âmbito individual quanto no situacional.

Das 126 situações identificadas pelos atletas como causadoras de stress, 20 foram englobadas no fator

competitivo.

Os Fatores Individuais, foram definidos a partir de fontes de stress dependentes do próprio atleta e de

suas condições individuais para interpretá-las e lidar com elas. Foram identificados 2 fatores específicos:

estados psicológicos: cujas fontes específicas são as seguintes: medo/insegurança,

expectativas/objetivos e pressões internas. Neste caso foram identificadas 16 situações (80% de

todos os fatores individuais). As situações de stress relacionadas a esse fator foram as seguintes:

Medo/insegurança: não saber lidar com o erro, falta de experiência em seleção

brasileira, inexperiência no começo da carreira, medo de decepcionar os companheiros de equipe

e as pessoas em geral, não saber se a equipe continuaria no final da temporada, futuro incerto e

renovação de contrato

Expectativas/objetivos: definição irreal de objetivos, necessidade de manter-se em alto

nível, pensar constantemente no sucesso e necessidade de sempre jogar bem

Pressões Internas: medo de perder, auto-cobrança exagerada, pensamentos negativos

sobre a carreira, ter a todo momento que provar seu valor

aspectos físicos: são as situações que envolvem a preparação individual e lesões. Esse fator

foi representado por 4 situações (20% do fatores específicos individuais)

Estar mal preparado fisicamente

Falta de repouso

Tensão pré menstrual

Lesões

É importante ressaltar que, apesar de terem sido identificadas somente 20 situações relacionadas a

fatores individuais (entre as 126 situações competitivas), o impacto dessas situações pode ser tão ou

mais importante que as demais.

Isto ficou marcado pelo fato de que oito atletas apontaram como momentos críticos de stress em suas

carreiras, situações ligadas a esses fatores competitivos individuais:

Estados psicológicos (insegurança):

1ª participação em Jogos Olímpicos

Neste caso, além da insegurança natural por ser a primeira grande competição internacional a qual o

atleta em questão participava, houve também uma sensação de euforia e conquista do grande objetivo da

carreira.

Retorno às atividades após longo período de ausência.

Isto aconteceu às vésperas de uma competição importante causando muita expectativa e insegurança

quanto ao desempenho.

Estados psicológicos (expectativas/objetivos):

Ser titular nos primeiros Jogos Olímpicos que participou.

Page 16: Compêndio psicologia do esporte

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Da mesma maneira que no caso anterior, também houve uma grande sensação de objetivo conquistado,

além de uma euforia natural.

Aspectos físicos (lesões):

Contusão grave e longo afastamento (3 casos)

Contusão grave e briga com médico

Contusão grave e falta de respaldo da equipe

A contusão é um fator importante na vida de um atleta, pois pode causar problemas sérios, colocando em

risco a continuidade de sua carreira. Todos os atletas que sofreram lesões graves e ficaram afastados por

longo período, declararam ter tido, em algum momento, pensamentos negativos quanto à sua

continuidade no esporte. Chamou a atenção a reação de uma atleta que, passada a fase crítica da

contusão, declarou que aquele momento havia sido muito importante, pois somente naquela circunstância

ela pode realizar diversas atividades que em situação normal nunca poderia ter feito. Essa atleta chegou

a declarar que a contusão havia se transformado em algo positivo para que ela pudesse ter possibilidade

de aproveitar situações de uma vida normal.

No próximo post sobre o assunto, serão abordados os fatores competitivos situacionais.

Page 17: Compêndio psicologia do esporte

17

Situações de stress no basquetebol: fatores situacionais

3-07-2011

Continuando a série sobre stress e basquetebol, neste post abordaremos os fatores

competitivos situacionais.

Normalmente o termo “competição” refere-se à ocasião no qual o atleta tem a oportunidade de

demonstrar seus atributos, seja em um jogo, uma prova ou um confronto entre dois ou mais

competidores. Na sua forma mais simples de interpretação a competição esportiva pode ser

considerada como o momento em que indivíduos ou equipes se confrontam para buscar um

mesmo objetivo, ou seja, a vitória. No entanto, para se chegar a ele existem vários fatores que

fazem parte de todo um processo.

Esse processo inclui aspectos relacionados ao planejamento da equipe (incluindo-se o treinamento, os

jogos preparatórios, condições de local, equipamento e material), o planejamento geral da competição

(calendário, viagens, etc..), aspectos administrativos (registro de jogadores, patrocinadores, contratos,

etc..) e muitos outros fatores (imprensa, torcida, etc..) que somados formam um processo complexo e

difícil de ser administrado sem que haja uma organização adequada.

Os Fatores Situacionais, foram definidos como aqueles que acontecem a partir de situações que são

comuns ao contexto competitivo. Foram 94 situações causadoras de stress englobadas nessa categoria,

divididos nos seguintes fatores específicos:

situações de jogo: cujas fontes específicas são: importância e dificuldade da tarefa,

competência, estado físico do atleta, adversários, arbitragem, torcida, companheiros de equipe,

técnico e infra-estrutura de local e material. Foram identificadas 44 situações causadoras de stress

preparação da equipe: aspectos relacionados ao treinamento e à infra-estrutura de local e

material. Foram identificadas 7 situações

pessoas importantes: relação do atleta com todas as pessoas que fazem parte do contexto

competitivo: companheiros de equipe, técnico, imprensa, dirigentes/patrocinadores e outros. 26

situações fizeram parte desta categorização

planejamento e organização da equipe e das entidades: aspectos organizacionais das

equipes e das entidades que controlam o basquetebol. Nessa categoria foram identificadas 14

situações

avaliação social: Referem-se a pressões externas advindas da condição (status) do atleta,

principalmente a atletas ligados a seleções nacionais. Foram identificadas 3 situações

Como era de esperar o jogo é a maior fonte de stress no basquetebol. As principais situações citadas

pelos atletas e que se enquadram na categoria acima citada foram:

-Perder jogo praticamente ganho, errar em momentos decisivos, perder de equipe tecnicamente inferior,

repetir erros, não tentar (omitir-se no jogo), jogar em mau estado físico ou contundido, adversário desleal,

arbitragem prejudicial, companheiro de equipe que não se esforça ou egoísta, treinador que comete

injustiças e treinador que grita muito e que não deixa o jogador à vontade

Em relação à preparação da equipe as situações mais citadas foram:

- local inadequado para jogos e treinos, treinamento inadequado ou rotina de treino e falta de repouso.

As situações de stress relacionadas ao fator “pessoas importantes” mais citadas foram:

-Falta de confiança dos colegas, companheiro de equipe desleal, pessoas com pensamentos negativos,

falta de confiança do técnico, jornalistas que não conhecem o esporte, desvalorização por parte de

dirigentes, falta de apoio a jogadores contundidos.

Quanto aos planejamento e organização, podemos citar as seguintes situações:

Page 18: Compêndio psicologia do esporte

18

-Atrasos de salário, falta de planejamento da equipe, problemas de viagens, hospedagem e alimentação,

calendário inadequado de competições,.

E, finalmente, as pressões sociais por serem atletas diferenciados também representam uma fonte de

stress consideável.

Lembrando que a pesquisa foi realizada com 19 atletas olímpicos brasileiros (10 rapazes e 9 moças).

No próximo post abordaremos as questões extra-competitivas, também muito importantes nesse contexto

esportivo.

Page 19: Compêndio psicologia do esporte

19

Situações de stress no basquetebol: os fatores extracompetitivos

7-07-2011

Dando sequência ao tema “Stress no basquetebol” este último post abordará os fatores de stress

extracompetitivos, de acordo com a opinião de 19 atletas olímpicos do basquetebol brasileiro que

participaram da pesquisa desenvolvida em 199.

Fatores Extracompetitivos

Os fatores extracompetitivo são aqueles adjacentes ao processo competitivo, de acordo. Eles são

gerados a partir de situações causadoras de stress que fazem parte da vida de todo cidadão comum e

que, no caso dos atletas, pode interferir em seu desempenho esportivo.

Utilizando o mesmo critério de similaridade das situações, os fatores específicos foram agrupados em

dois fatores gerais de stress extracompetitivos: fatores pessoais e fatores sociais.

Os Fatores Pessoais referem-se às ocorrências cotidianas que estão presentes na vida de qualquer

cidadão comum e que não seriam diferentes para os atletas. Nove situações podem ser enquadradas

neste conceito e elas referem-se a família, relacionamentos, escola e dinheiro:

Brigas e discussões com familiares

Doença em família

Morte em família

Ficar muito tempo longe de casa

Discussão com amigos

Discussão com parceiro (a)

Relacionamentos amorosos

Problemas escolares

Problemas financeiros

Já, Fatores Sociais referem-se a questões relacionadas à inserção e à participação do indivíduo ao seu

meio social e que podem tanto sofrer influências do processo competitivo, quanto influenciá-lo, através de

comportamentos dos atletas. Somente 3 situações representam fontes de stress associadas a esta

característica. Foram situações relacionadas a amizades e à vida social do atleta.

Perda de vínculos de amizade

Não ter vida social

Não poder sair e frequentar, festas, cinemas, teatro, etc..

Como se percebe, os fatores extracompetitivos são importantes na composição dos níveis de stress de

um atleta. Sua vida cotidiana não pode ser ignorada no seu processo de formação e manutenção em

altos estágios de desempenho.

Conhecer essa realidade pode auxiliar os treinadores e comissões técnicas e entender melhor

determinados comportamentos que poderão ser limitantes do desempenho dos atletas.

Page 20: Compêndio psicologia do esporte

20

Stress e arbitragem no basquetebol

16-07-2011

Seguindo na linha dos estudos sobre stress e basquetebol, apresento neste post um estudo realizado em

2002, como parte de um trabalho de iniciação científica das alunas Fabiana Pereira Pinheiro (atualmente

árbitra do quadro da Federação Paulista de Basketball) e Roberta Freitas Lemos, do curso de

Bacharelado em Esporte da Escola de Educação Física e Esporte da USP. O trabalho completo foi

publicado na Revista Paulista de Educação Física (2002, v.16, p. 160-173).

O estudo está sendo novamente desenvolvido com outro grupo de árbitros da FPB também como parte

de trabalho de iniciação científica da aluna Liz Imyrá Oliveira do Curso de Ciências da Atividade Física da

Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP.

A arbitragem é, sem dúvida, um dos aspectos mais polêmicos de uma competição esportiva. Citados por

atletas e técnicos como os responsáveis por seus insucessos e como fonte de stress durante os jogos, os

árbitros têm sido pouco estudados e, portanto, pouco se sabe sobre como eles observam e se sentem

nesse processo competitivo e quais as situações de jogo que lhes causam stress.

No estudo desenvolvido em 2002 com 20 oficiais do basquetebol brasileiro (10 árbitros e 10 mesários),

todos atuando em nível nacional e internacional, procurou-se identificar quais as situações de jogo eram

causadoras de stress.

Foi utilizado o Formulário para Identificação de Situações de Stress no Basquetebol, adaptado para

arbitragem. Nesse formulário a escala de respostas varia de 0 (nenhum stress) a 5 (alto stress) e para a

obtenção das situações que mais causavam stress nos oficiais foram consideradas as respostas nos

níveis 4 e 5. Além disto, foram identificadas as situações de stress mais críticas na carreira desses

oficiais.

Os resultados mostraram que as situações envolvendo agressões ou tentativa de agressões foram as

mais frequentes, seguidas por situações envolvendo fatores de desempenho no jogo. As situações mais

críticas de stress citadas também envolveram as agressões, questões éticas e atuação no jogo.

Essas foram as situações consideradas mais estressantes pelos oficiais que participaram do estudo:

Colega de arbitragem sofrer agressão física

Sofrer agressão física

Cometer erro(s) que provoca(m) a derrota de uma equipe

Cometer erros em momentos decisivos

Atrasar para jogo

Repetir os mesmos erros

Ameaças de agressão física por parte da torcida

Estar atuando abaixo de seu padrão normal

Ameaças de agressão física por parte do técnico

Técnico que incita a violência em quadra

Page 21: Compêndio psicologia do esporte

21

Em relação às situações mais críticas na carreira

Agressão/Tentativa de agressão por parte da torcida

Atitude anti-ética de colega de arbitragem

Atuar em jogo importante

Colega sofrer agressão de torcedores

Sair escoltado(a) do ginásio

Cometer erro(s) que provoca(m) a derrota de uma equipe

Tentativa de agressão por parte de dirigente

Cometer erro(s) em momento(s) decisivo(s)

Crítica de companheiro de arbitragem

Espera de resultado de avaliação para árbitro(a) internacional/ mesário(a) especial

Ser suspenso(a) injustamente

O estudo que vem sendo desenvolvido atualmente, ainda incompleto, aponta para as mesmas situações.

A partir dessa análise pretende-se ampliar o conhecimento de alguns aspectos da arbitragem do

basquetebol e aplicá-lo ao cotidiano, visando o constante aperfeiçoamento do trabalho desenvolvido pelos

árbitros nesta e em outras modalidades esportivas.

Entretanto, ainda são necessários muitos estudos tratando do tema para que se preencha as

necessidades existentes nesta área de pesquisa.

Page 22: Compêndio psicologia do esporte

22

Esporte na infância: stress ou divertimento?

9-10-2012

Amigos do Basquetebol

Trago a vocês um artigo de minha autoria que foi publicado em 1997 nos Anais do III Simpósio Mineiro De

Psicologia do Esporte, realizado em Juiz de Fora. Acredito que apesar dos 15 anos que separam a

publicação original deste post, o assunto é atual e pode servir de orientação aos profissionais que

trabalham nas divisões formativas do nosso basquetebol.

Esporte na infância: stress ou divertimento?

O esporte vem ocupando um espaço sempre maior na vida das crianças e jovens. A influência dos

eventos esportivos divulgados com grane frequência pelos meios de comunicação, a identificação com

ídolos, a pressão dos pais e amigos, fazem com que um número crescente de crianças iniciem a prática

esportiva cada vez mais novos.

Treinar, competir, vencer, prêmios, são palavras comuns no cotidiano desses jovens que praticam esporte

ou que o vislumbram como grande possibilidade de sucesso e ascensão social.

Como qualquer atividade do ser humano, o esporte e a competição podem também ser geradores

potenciais de stress se não forem adequados às necessidades e potencialidades de seus praticantes.

Toda competição, qualquer que seja seu nível evidencia quatro fatores:

Confronto: entre dois ou mais indivíduos ou equipes

Demonstração: das capacidades e habilidades aprendidas e desenvolvidas nos treinamentos e ao longo

da vida esportiva do atleta

Comparação: em função de um padrão próprio ou pré estabelecido. Ela pode acontecer em relação ao

próprio desempenho ou ao desempenho de um colega ou adversário

Avaliação: que pode ser quantitativa (evidenciada em números e que prioriza o produto final) ou

qualitativa (quando evidencia o processo e/ou a qualidade do movimento realizado).

Esses fatores poderão afetar diretamente o comportamento dos jovens, dependendo do nível de

prontidão em que se encontrem. Esta prontidão inclui componentes físicos, fisiológicos, psicológicos e

sociais.

Na maioria das vezes, as crianças são levadas a praticar um determinado esporte ou competir muito

antes de terem atingido etapas importantes na solidificação de sua prontidão esportiva. Não são raras as

vezes em que são expostas a situações complexas muito antes de atingir estágios básicos de

desenvolvimento motor, exigindo-se delas comportamentos que não são adequados à sua capacidade de

realização.

Um comportamento esportivo adequado e competir de maneira mais formal exige um equilíbrio dos

fatores de desenvolvimento e maturação e as demandas das tarefas. Nas fases em que este equilíbrio

ainda não está presente, recomenda-se que as atividades competitivas sejam suaves, sem cobranças

exageradas e inadequadas para a capacidade de realização da criança. Segundo autores especialistas

no assunto este equilíbrio varia de pessoa a pessoa, mas ocorrer geralmente entre os 12 e 14 anos de

idade.

Quando a criança se depara com situações complexas e que excedam sua capacidade de enfrentá-las,

as situações passarão a representar uma fonte de stress exagerado e que poderá trazer consequência

indesejáveis para o jovem esportista, como o fracasso e a frustração. Ideal seria que a tarefa competitiva

tivesse a conotação de desafio, possível de ser enfrentado com os recursos que a criança dispõe, de

acordo com seu nível de desenvolvimento esportivo.

Algumas causas do stress excessivo em situações competitivas complexas para crianças:

Complexidade da tarefa maior que os recursos da criança

Page 23: Compêndio psicologia do esporte

23

Pressões exercidas por adultos: pais e treinadores

Definição de objetivos irreais e inatingíveis

Comportamento dos adultos

Nível de expectativa exagerado – pessoal e dos outros

Neste caso, o stress manifesta-se através de alguns sintomas como:

Ansiedade excessiva

Nervosismo

Distúrbios do sono

Distúrbios de apetite

Preocupações com o desempenho

Preocupações com o resultado

Medo dos adversário

Medo de cometer erros

Medo de decepcionar as pessoas

O resultado desta situação pode provocar atitude de fuga, evitação e abandono da atividade, além de

contribuir para baixar a auto-estima e o nível de motivação da criança.

Após o exposto resta-nos perguntar: Competir é prejudicial à criança?

E a resposta é : não.

Não, desde que sejam respeitados seu estágio de desenvolvimento, seu nível de expectativas e suas

necessidades.

Não, desde que os adultos entendam a competição sob o ponto de vista da criança e não do seu ponto de

vista e desde que entendam que a criança é um ser em desenvolvimento e não uma miniatura

compensadora dos anseios de adultos frustrados esportivamente.

A competição faz parte da vida em qualquer segmento. A criança compete na escola, em sua casa, com

seus amigos e em todas as atividades que realiza. Muitas ela faz com prazer e outras encara com

preocupação. Cabe a nós, adultos, adequar as situações e proporcionar às crianças condições de

competir de forma adequada e progressiva, preparando-as para atividades futuras que serão comuns em

sua vida pessoal.

Page 24: Compêndio psicologia do esporte

24

O treinador como fator de stress no esporte infanto-juvenil

2-11-2012

Amigos do Basquetebol

Segue um breve relato de resultados de pesquisas realizadas no Brasil, com atletas infanto-juvenis de

várias modalidades esportivas coletivas par apontar fatores provocadores de stress em situação de jogo.

Essas pesquisas foram realizadas através da aplicação de um questionário denominado “Formulário

para Identificação de Situações de �Stress� em Jogo” desenvolvido por mim e pelos componentes do

extinto Grupo de Estudos e Pesquisa em Psicologia do Esporte que atuou durante cerca de 15 anos na

Escola de Educação Física e Esporte da USP.

Foram entrevistados 417 atletas de três modalidades esportivas coletivas (Basquetebol, Handebol e

Voleibol) com idade variando entre 14 e 19 anos. Os resultados apontaram diversas situações que

provocavam stress nesses atletas durante as partidas de suas respectivas modalidades esportivas.

Dentre elas podemos destacar: errar em momentos decisivos, cometer erros que provocavam a derrota

da equipe, cometer os mesmos erros, arbitragem prejudicial à sua equipe, jogar contundido,

companheiros egoístas, perder para equipe tecnicamente inferior, perder jogo praticamente ganho e jogar

contundido.

Além dessas situações, que foram as mais frequentes, chamou a atenção o fato de que, entre as 15 mais

frequentes, 5 situações se referiam aos treinadores como fatores provocadores de stress.

treinador que não reconhece o esforço do atleta

treinador injusto

treinador que só critica

treinador que só enxerga o lado negativo

treinador que grita muito

Esses resultados relativos à atuação do treinador durante os jogos nos levam a refletir sobre o

comportamento que deve ser adotado durante esses jogos e que devem ser voltados à orientação dos

atletas para que possam resolver situações críticas em determinados momentos dos jogos.

Principalmente, ao lidarmos com jovens em fase inicial de aprendizagem, o comportamento deve ser

sempre no sentido de mostrar-lhes caminhos e não, simplesmente, apontar os possíveis erros que

estejam cometendo. É isso que o jovem atleta espera de seu treinador (orientador).

O treinador, nessas faixas etárias deve saber equilibrar suas críticas e nunca expor seus atletas a

constrangimentos, exibindo publicamente suas deficiências. Isto, a competição por si só se encarrega,

pois o atleta está sendo observado em ambiente público e aberto. Qualquer crítica mais direta deve ser

feita de forma discreta sem comparações com outros atletas. Devemos lembrar que os atletas estão em

fase de desenvolvimento e é impossível se encontrar duas pessoas com as mesmas características

físicas, motoras e, principalmente, psicológicas.

De que adianta gritar o tempo todo sem que se apresente uma solução plausível para um determinado

problema de jogo?

Portanto, o que se espera de um treinador de equipes de base é o equilíbrio necessário para que seus

atletas o tenham como uma referência e não como alguém que vai lhes trazer insegurança e, até mesmo,

medo de tentar realizar algo. Espera-se que o treinador de categorias de base seja um orientador, pronto

a intervir nos momentos críticos, com atitudes assertivas (o que não significa passar a mão na cabeça dos

atletas).

O texto completo da pesquisa pode ser acessado através do endereço abaixo

http://www.revistasusp.sibi.usp.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1807-

55092004000400007&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt

Page 25: Compêndio psicologia do esporte

25

A Relevância da Intervenção Psicológica no Esporte

9-11-2012

Amigos do Basquetebol

Envio a todos o texto produzido pela psicóloga Silvia Regina Deschamps – Doutora em Educação

Física e Esporte/USP e Psicóloga do Esporte e do Exercício e Coaching.

A Psicologia do Esporte tem buscado sua afirmação no meio esportivo, através da participação de

especialistas que têm procurado diagnosticar, analisar e pesquisar aspectos psicológicos e estabelecer

relações entre eles e as diferentes variáveis que podem interferir no desempenho de atletas e equipes.

É inegável que, ao longo das últimas décadas, esse trabalho tem sido reconhecido, haja vista a

quantidade de publicações (em forma de livros ou artigos) produzidas em todo o mundo. No entanto,

pode-se considerar que essa evolução, na quantidade e qualidade de produção na área da psicologia

esportiva, ainda não é transferida adequadamente para a prática, na forma de intervenção junto a atletas,

equipes, comissões técnicas e todo o contexto das atividades esportivas, principalmente no âmbito

competitivo de alto nível.

Em alguns países, como Estados Unidos, Canadá, Austrália e vários da Europa, a intervenção psicológica

é parte integrante do planejamento das equipes e a presença do profissional da psicologia do esporte é

tão comum quanto à do técnico, assistente técnico, preparador físico e médico.

A intervenção psicológica, via de regra, não está inserida no programa de periodização do treinamento,

ou seja, no planejamento em longo prazo do trabalho realizado pela maioria das comissões técnicas de

equipes, normalmente, é lembrada somente em momentos de emergência ou quando o atleta apresenta

um desempenho inadequado e que coloca em risco o resultado positivo de equipe.

Essa realidade e a falta de informação sobre a importância do trabalho psicológico em equipes esportivas,

ainda são motivos para que haja muita resistência, por parte dos atletas e da comissão técnica com

relação à inserção do trabalho psicológico. Muitas vezes, o psicólogo é visto como um concorrente – e

não um aliado -, e é desconsiderado o fato do trabalho ser um instrumento auxiliar na busca de um melhor

rendimento do atleta.

Cada etapa da preparação psicológica deve ser específica, considerando-se as características e

demandas desse público e, também da modalidade esportiva em foco e o momento da preparação na

qual se encontra a equipe. O trabalho deve possuir objetivos claros e bem definidos, sendo essas

informações transmitidas aos participantes do processo, procedimento este importante para a boa

aceitação do psicólogo esportivo na equipe.

Para fazer parte do ambiente da competição de alto nível, o atleta precisa ser um competidor assíduo e

dedicado, e para se destacar, deve superar níveis de exigências técnicas, táticas, físicas e psicológicas,

para que se possa garantir a plena realização de uma carreira esportiva. É preciso, portanto, que haja um

planejamento, em longo prazo, dos treinamentos físico, técnico, tático e psicológico, para que, o

desportista tenha uma boa sustentação, durante um ano inteiro de desgaste do corpo e da mente, já que

o calendário de jogos e competições não é favorável. Infelizmente, alguns atletas, também, não tem

consciência de que vida de atleta exige: sacrifícios, transpiração e cuidados com sua rotina alimentar, de

treinos e de hábitos de vida. Acabam enveredando para um estilo de vida incompatível com o necessário,

como: noitadas, drogas e alimentação não saudável.

Competições importantes como uma Copa do Mundo ou Olimpíadas, são umas panelas de pressão,

exigindo do atleta que participa, habilidades psicológicas bem desenvolvidas. Em especial nas fases

finais, os erros devem ser minimizados ao máximo, com um nível de eficiência elevado. Cada vez mais

Page 26: Compêndio psicologia do esporte

26

uma partida pode ser definida em detalhes, e o preparo psicológico é fundamental, especialmente, nas

fases decisivas dos jogos. Por isso, a importância do psicólogo que vai trabalhar com uma equipe, é

entender o que pode acontecer com um atleta sob pressão, já que é muito comum, ele experimentar,

mesmo tendo experiência, bloqueio mental, e isso repercutir negativamente em seu desempenho. Posso

garantir que o profissional de psicologia do esporte, capacitado e habilitado, pode e muito auxiliar a

comissão técnica e a equipe, com um trabalho realizado anterior e durante a competição. A competição é

um processo dinâmico, com mudanças no estado mental, e isso não é o problema, mas sim quando o

atleta não se dá conta, a respeito, e não faz algo para mudar. O atleta que vai se sair bem numa

competição de alto nível é aquele que conseguir lidar de forma eficiente e positiva com as adversidades

desta.

As inúmeras pesquisas e as experiências na área têm comprovado que atletas realizadores e bem

sucedidos, realmente, fazem parte de um grupo de pessoas, que possui uma mente, coração e alma

diferenciados. E a sensação que experimentam quando conseguem chegar lá, no objetivo atingido, é algo

muitas vezes indescritível. Com a prática é possível observar no campo, nas quadras quando o atleta está

conseguindo dar o seu melhor, o seu 100%, e desse jeito é inevitável que o resultado seja a vitória! E ela

se torna ainda mais especial quando esse atleta reconhece o verdadeiro valor das conquistas, que é o

que está por trás delas e o que realmente dá sentido às suas realizações pessoais.

Para que um time se torne efetivamente uma equipe, é preciso que haja uma boa sintonia entre a

comissão técnica e os atletas. O tipo de relação estabelecida entre a figura do técnico, incluindo seu estilo

de liderança, e seus atletas será determinante para isso. O estabelecimento de objetivos coletivos

comuns, aliado a um relacionamento interpessoal saudável e de confiança, será decisivo para o alcance

de resultados positivos de uma verdadeira equipe.

A vida de um técnico esportivo pode ser tão ou mais estressante que a de um atleta. A pressão por

resultados exercida sobre ele é grande, pois ele é o posto central da equipe. Além do mais, ele tem que

conseguir trabalhar bem as relações com seus atletas, com a própria comissão técnica e com os

dirigentes; passar todo o esquema tático e ainda fazer com que seja bem aplicado. Nas categorias de

base, exerce uma influência ainda maior, pois é um dos principais responsáveis pela qualidade das

experiências esportivas de crianças e jovens. Por isso, não é surpreendente, quando vemos alguns

técnicos tendo comportamentos extremados em campo/quadra, denotando total descontrole emocional e

mental, muito longe do ideal, e que denigre sua imagem e serve de mal exemplo para os atletas. O

psicólogo do esporte pode e deve oferecer os seus serviços e apoio, também ao técnico, ele pode ser

beneficiado e muito com o atendimento psicológico.

O treinamento psicológico no esporte pode visar ao desenvolvimento e aperfeiçoamento de vários

aspectos psicológicos, dentre eles: gerenciamento de stress, estabelecimento de objetivos, aumento da

autoconfiança, atenção e concentração, autocontrole de ativação e relaxamento, utilização de

visualização e imagem, estratégias de rotinas e competitividade, elevação de motivação e

comprometimento e manutenção de níveis adequados dos estados de humor (tensão, depressão, raiva,

vigor, confusão e fadiga).

Uma das estratégias de intervenção que eu utilizo, e na qual tenho obtido ótimos resultados, é o

método Coaching que é um processo, com início, meio e fim, onde o Coach (facilitador do processo de

mudança) apóia o Cliente/coachee (agente de mudança) na identificação de metas de curto, médio e

longo prazo, desenvolvimento de competências e recursos, estratégias, ação, aprendizagens e melhoria

contínua.

O Coaching é composto de 7 elementos, são eles:

1- Situação atual, onde está;

2- Situação desejada, aonde quer chegar, objetivos e metas, valores - o que esse objetivo traz;

Page 27: Compêndio psicologia do esporte

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3- Estratégia, como chegar lá: plano de ação, opções – escolhas; recursos - internos e externos – o que

tem e o que necessita e crenças - convicções fortalecedoras ou limitadoras – impedimentos;

4- Ações e tarefas – 1o. passo e ações continuadas;

5- Resultado;

6-Aprendizagem;

7- Melhoria Contínua (Ciclo de Excelência).

Esse método auxilia o indivíduo através do questionamento socrático (método de descoberta orientada),

uma das técnicas utilizadas, a obter uma maior conscientização de si mesmo e de seu comportamento,

facilitando o desligamento do piloto automático (conduzido pelos nossos pensamentos

automáticos). Outras técnicas eficazes utilizadas são a de solução de problemas e desafio de crencas

limitadoras, dentre outras.

Os benefícios obtidos compreendem: o desenvolvimento da capacidade de: enfrentar desafios, resolver

problemas e atitude mental positiva.

Através do Método Coaching, atletas e técnicos podem melhorar sua performance consideravelmente,

resgatando desse modo, sua autonomia pessoal e profissional.

Page 28: Compêndio psicologia do esporte

28

Ensinando o atleta a lidar com a pressão

2-12-2012

Amigos do Basquetebol

Neste post Carla Di Pierro (Psicóloga do esporte do Time Brasil COB e coordenadora do curso de

especialização em Psicologia do Esporte do Núcleo Paradigma – São Paulo), abordará um tema

muito recorrente nos meios competitivos: como um atleta deve lidar com a pressão.

O esporte de alto rendimento tem no nome seu objetivo: rendimento.

O atleta e sua equipe precisam render vitórias, quebra de recordes, emoção para sua torcida e visibilidade

para seu patrocinador e a performance do atleta é a única capaz de realizar tudo isso.

As cobranças pelo resultado são muitas e vêm de diferentes fontes desde o treinador, a torcida, o clube,

os dirigentes, o patrocinador até a família. Mas muitas vezes a maior cobrança vem do próprio atleta, que

quer com todas as forças ser o melhor, que persegue obsessivamente o acerto e a perfeição e doa sua

juventude para isso.

Sim, os atletas são jovens, na maioria das vezes começam crianças, e na adolescência estão

completamente envolvidos nas idas e vindas dos treinos, na alimentação regrada e no sono contado.

Viajam, mas para competir, e relaxam num único day off, que às vezes acontece mensalmente. Mas na

maioria dos casos descanso mesmo é nas férias (uma semana no ano está bom?) antes da pré-

temporada, momento que começa a preparação para o início de mais um ano em busca por resultados

melhores.

Após investir toda a adolescência, fase de transição na nossa cultura para preparar melhor a criança para

enfrentar as responsabilidades da vida adulta, o atleta chega à categoria profissional. É quando a

cobrança aumenta. Já que ele é adulto e profissional deve estar preparado para enfrentar qualquer

adversário, obstáculo ou pressão de onde vier, certo?

Sim e não, eu explico.

Sim, porque o atleta profissional deve ter a habilidade de lidar com pressão. Esta habilidade é

determinante para que ele possa colocar em prática sua técnica na hora da competição, para equilibrar

seus ânimos quando é exigido pela torcida ou quando é desafiado pelos seus adversários e para lidar

com a dor e cansaço promovidos pela dura rotina de treinamento.

Não, porque o atleta, apesar de ser exigido como alguém que deve estar preparado para tudo o que vier

não é uma máquina de resultados, é uma pessoa que tem uma história, e que dedicou boa parte dela ao

esporte.

A maioria desconhece a rotina do atleta de alto rendimento pois o que mais aparece ao público em geral

são apenas algumas das consequências da alta performance: fama, vitória e sucesso. Por trás desses

resultados há também fracassos, tentativas e erros e um processo longo, desenhado através de uma

história que começou a ser escrita quando ele foi concebido e mais tarde quando a criança ou o

adolescente escolhe por uma modalidade esportiva, ou quando escolhem por ele, já que na maior parte

das vezes a escolha dos pais e o apoio deles é decisivo para que ele se torne um atleta.

É a partir do momento da escolha pela vida de atleta que a criança e o adolescente se envolvem com

uma vida diferente dos colegas, mais restrita aos treinos e ao ambiente da modalidade escolhida e abdica

de uma vida social “normal”.

Para qualquer pessoa desenvolver qualquer habilidade ela precisa de treino e isso é uma das coisas que

difere as pessoas comuns dos atletas. Além do que chamam de talento, os atletas precisam treinar duro e

por isso treinam muito desde cedo e isso os faz diferente. Mas o treino físico desenvolve a habilidades

Page 29: Compêndio psicologia do esporte

29

físicas e o treino técnico as habilidades técnicas. Mas o que desenvolve a habilidade de enfrentar

pressão? E de solucionar problemas?

Para enfrentar pressão precisamos lidar com os sentimentos e as emoções que ela provoca, pensar,

raciocinar e decidir como enfrentá-la e isso também precisa de treino.

A resolução de um problema não se dá apenas através do pensamento ou raciocínio internamente.É um

processo que ocorre a partir de uma aprendizagem. Aquilo que aprendo em uma situação anterior posso

usar, em parte, o que funcionou para resolver um novo problema. Sendo assim a resolução de problemas

não é interna e nem aleatória , ela depende de uma história de aprendizado do atleta, ninguém neste

caso pode fazer por ele.

Muitas vezes focados no treino físico, técnico e tático, o atleta pouco desenvolve e pratica suas

habilidades psicológicas e sociais. Ele tem pouco tempo para gastar com este aprendizado que só

acontece quando ele se expõe nas relações com o mundo, quando precisa decidir, opinar, quando

precisa se relacionar e olhar para si mesmo. Por quê gastar tempo com isso se ele pode treinar?

Porque observar sensações e sentimentos e saber o que fazer com eles é treinar auto-conhecimento, é

um treino para a vida. Quanto mais o atleta se conhece, mais sabe o que quer de verdade e aonde quer

chegar, mesmo que isto custe abdicar de algumas coisas. E treinar como resolver problemas é ganhar

autonomia emocional, é ter liberdade de escolha, ter opinião e força para tomar decisões e enfrentar a

cobrança venha de onde vier.

Esta não é uma lição de casa apenas para os atletas, mas para todos envolvidos com o esporte que

acompanham atletas no dia-a-dia e o ajudam na construção desta história. São essas pessoas envolvidas

no desenvolvimento do atleta os maiores facilitadores desta aprendizagem, mas para que aconteça

precisam estar abertos a ela.

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Como você lida com o sucesso?

1-06-2013

Amigos do Basquetebol

Neste post trago a colaboração do meu grande amigo e excelente profissional Hermes Balbino.

Hermes é psicólogo, Doutor em Educação Física pela UNICAMP, ex-preparador físico da seleção

brasileira feminina Campeão do Mundo (1994), Medalha de Prata em Atlanta (1996) e Medalha de

Bronze em Sydney (2000).

O Prof. Hermes nos traz um tema interessante sobre como lidar com o sucesso. Vamos ao texto:

Como você lida com o sucesso?

Chegar a um ponto máximo de uma conquista traz uma sensação indescritível, e é uma das etapas para a

realização pessoal. Consegue aceitar que merece a experiência de sentir a felicidade da realização? E

quanto custa manter-se neste nível de cumprir etapas bem sucedidas? Você está preparado para assumir

as responsabilidades que o sucesso traz?

Um fato ocorrido com o tenista John McEnroe, após vencer de maneira espetacular seu adversário Bjorn

Borg, chama a atenção para a possibilidade aparentemente impossível: o medo do sucesso. Após essa

vitória, McEnroe tornou-se o tenista número 1 do ranking mundial e confessa que a adaptação a esta

nova posição foi difícil e custosa, pois tornou-se para ele muito mais um peso do que uma conquista e

reconhecimento pelos seus esforços. Foi notório que sua técnica e seu jogo caíram sensivelmente: “eu

não conseguia ajeitar as coisas, e não sei por quê”. Os medos decorrentes das responsabilidades pela

manutenção desta posição cobravam um outro investimento de McEnroe, pois sendo o primeiro, a vista

mudara sensivelmente.

Quando vencemos um desafio, tem-se a ilusão de que este ponto é o último de uma jornada e o

descanso para desfrutar desta glória aparente será o prêmio merecido pelos investimentos de um longo

caminho. No entanto, depois dos momentos de felicidade inicial, a ilusão se desfaz.

Jerry Lynch nos ensina que assim como não devemos nos apegar às experiências frustradas pelo

insucesso, não devemos nos apegar às nossas vitórias. Os momentos de triunfo servem de apoio a novos

momentos de desafios que estão por vir. Vencer ou perder significa resultado alcançado ou não. Após

esse momento, outro ciclo se abre e devemos estar prontos e renovados para começar tudo novamente,

pois a jornada pessoal não termina com uma conquista, seja ela qual for. É ilusão para o homem ‘ter que’

manter a posição no topo, em qualquer domínio das atividades humanas, sejam esportivas ou do mundo

organizacional. Por isso, não precisamos temer o sucesso, pois ele sempre será seguido por novos ciclos

que se iniciam após alcançá-lo.

Para alguns atletas, o sucesso pode tornar-se um monstro com o decorrer do tempo, e passam a sabotar

de maneira inconsciente a possibilidade de vencer, interrompendo o fluxo de seus esforços ao adoecer ou

sofrerem com lesões surpreendentes às vésperas de grandes desafios. Associam a vitória com o enorme

estresse que o sucesso traz. Ao pensarem assim, o desempenho decai, e tornam-se susceptíveis a erros

e à inconsistência da performance. Aqui devemos lembrar que as pessoas que participam de um contexto

que exige resultados estão sujeitas a falhas, se estão dispostas a fazer coisas com qualidade. No entanto,

aprender com falhas não significa que se deve desejá-la, pois podem vir antes do tempo. O sucesso, ao

contrário do que muitos pensam, alavanca outras áreas da vida como trabalho, família, amigos, e pode

trazer à tona a possibilidade de dedicar-se mais a uma atividade em que alguém se mostra especialista

por fazer algo bem feito.

Diz a Sabedoria: “Faça o que gosta de fazer e torne-se um mestre nisso”.

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Agressividade vs. Agressão

19-08-2013

Amigos do Basquetebol

Um dos temas mais interessantes da Psicologia do Esporte diz respeito á Agressividade.

Normalmente, essa característica, que tem traços positivos, é confundida com a agressão que tem uma

conotação negativa.

Para tentar esclarecer um pouco mais sobre este assunto utilizei o livro Sport Psychology: key concepts

(Ellis Cashmore – Ed. Routledge, Londres, 2002), do qual fiz a tradução e as adaptações.

A agressão é um termo para definir comportamentos que envolvem hostilidade, violação e prejuízo

físico. Mas há controvérsias a respeito desses comportamentos. Alguns autores defendem que nem

sempre o prejuízo físico é intencional. No esporte alguém pode ferir um companheiro acidentalmente e

isto não pode caracterizar uma agressão.

Assim sendo, pode haver dois tipos de agressão:

Hostil, quando há a intenção de causar dano a alguém e Instrumental quando não há a intenção de

machucar ou causar dano, mas sim criar uma situação para dificultar a ação de um adversário ou equipe.

Exemplo no basquetebol seria a falta anti-desportiva. Ela tanto pode conter um componente hostil (com a

intenção de provocar um dano ao adversário), quanto pode servir para parar um contra-ataque sem que,

necessariamente, qualquer dano seja causado.

A linha que separa a agressão hostil da instrumental, muitas vezes, é muito tênue e difícil de ser

determinada, o que pode causar muitos problemas entre os atletas.

A agressividade, por sua vez, é a expressão de um comportamento assertivo, dominante e forte com

objetivos bem definidos, mas que não envolvem, necessariamente, a intenção de causar danos, apesar

de eventualmente isto acontecer pelo excesso de entusiasmo e força empregada.

No esporte, a agressividade é aplaudida e comemorada, enquanto a agressão carrega uma conotação

negativa.

Como a agressividade ás vezes é utilizada para justificar comportamentos agressivos e que causam

danos, autores como Husman e Silva recomendam o uso do termo “assertividade” para caracterizar o que

entendemos por agressividade.

A agressividade ou assertividade é um tipo de comportamento que envolve frequentemente o uso legal da

força física e até mesmo verbal e requer energia e esforço acima do normal. Esse comportamento não

pode ser utilizado com a intenção de prejudicar outros atletas e tampouco violar as regras do esporte.

A agressividade no esporte é totalmente instrumental pois ela tem objetivos claros que podem ser

específicos (como no caso de uma defesa pressão para retomar a posse de bola) ou gerais (como o

domínio durante um jogo todo). Ela deve ser demonstrada para que o objetivo fique claro e o adversário

tenha a chance de se prevenir, dentro das regras do jogo.

A agressividade no senso comum é relacionada à garra e à vontade de vencer. É sempre um

comportamento desejado mas que deve ser controlado para que não se torne uma agressão e prejudique

os adversários e de certa forma, também a própria equipe.

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Como lidar com o fracasso

9-10-2013

Amigos do Basquetebol

Mais uma grande colaboração do Prof. Hermes Balbino

Como você age quando se depara com algum tipo de insucesso?

A busca cega pelas vitórias e pela perfeição distorce a possibilidade de aprender com os erros. Para os

atletas vencedores, um erro ou uma derrota pode significar um resultado de um processo que precisa de

melhoria constante; ao pensarem assim, esses esportistas colocam-se na posição de eternos aprendizes.

Isso aquece a chama da constante renovação dos propósitos que os mantém motivados no cumprimento

de um objetivo maior, que está alinhado à sua Missão pessoal. Diz um provérbio budista que “a flecha que

atinge o alvo é resultado de cem erros”. Encarar o resultado mal sucedido com gosto de fim de mundo

traz angústia e sofrimento, e nos desvia do caráter mais profundo da expressão de nossos talentos.

O fracasso pode ser encarado como um sinal para reforçar o aprendizado em algum tipo de situação e

quando aparece, cria uma oportunidade de desenvolvimento em alguma área que estava necessitando de

progredir ou de algum ajuste mais detalhado. No aikidô o lutador une-se à força da oposição adversária e

move-se com ela, utilizando-a para evitar o golpe de ataque. Considera-se assim a força oponente como

um aparente revés na vida: aceitá-la e unir-se a ela, assimilando o aprendizado em benefício próprio.

Michael Jordan, o espetacular jogador de basquetebol, diz que “o insucesso nos deixa mais perto de

chegar onde se quer chegar”. Para lidar com esse tipo de situação, aconselha “sempre pensar positivo e

buscar em cada fracasso o ‘combustível’ para uma nova tentativa”.

Muitos pequenos milagres podem ocorrer em seu dia. Tome os pequenos fracassos como feedbacks para

o reajuste de rota. É possível utilizar essas situações de aparente insucesso como sinais de que o

caminho tomado precisa de outra maneira de condução. Usar a flexibilidade de comportamentos oferece

mais opções para resolver os desafios diários. Aprender com os fracassos é descobrir novas maneiras de

se aproximar de uma conquista.

Disse Paul Valéry: “A fraqueza da força é crer apenas na força”.

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