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Curso de Direito Processual Penal Militar para Analista do Ministério Público da União 1 Olá amigos, Bom dia, Boa tarde e Boa noite! Nosso objetivo de hoje: Aula 4: Competência da Justiça Militar da União. Competência da Justiça Militar da União. Para a correta apresentação da ação penal, é necessário conhecer as normas definidoras da competência criminal, já que está delimita o exercício da jurisdição penal. Sobre o tema a obra lapidar mais moderna sobre o assunto, com certeza, é a do professor Renato Brasileiro de Lima, que acabou por elaborar um tratado a respeito do assunto com o nome Competência Criminal. Com base nas lições exaradas pelo ilustre professor, no estudo de obras especializadas no assunto e em nosso Processo Penal

Competenciada Justiça Militar

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    Ol amigos,

    Bom dia,

    Boa tarde e

    Boa noite!

    Nosso objetivo de hoje:

    Aula 4:

    Competncia da Justia Militar da Unio.

    Competncia da Justia Militar da Unio.

    Para a correta apresentao da ao penal, necessrio

    conhecer as normas definidoras da competncia criminal, j que est

    delimita o exerccio da jurisdio penal.

    Sobre o tema a obra lapidar mais moderna sobre o assunto,

    com certeza, a do professor Renato Brasileiro de Lima, que acabou

    por elaborar um tratado a respeito do assunto com o nome

    Competncia Criminal.

    Com base nas lies exaradas pelo ilustre professor, no estudo

    de obras especializadas no assunto e em nosso Processo Penal

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    Sistematizado, passamos a expor consideraes otimizadas a respeito

    do tema e que reputamos adequadas previso do edital do MPU.

    A jurisdio repartida em competncias, com o objetivo de

    melhor operacionalizar a administrao da Justia. Segundo a

    doutrina, competncia o limite e a medida da jurisdio, uma

    delimitao do poder jurisdicional.

    Competncia, nesse contexto, a quantidade de poder

    conferida por lei a um juiz ou a um tribunal.

    Na fixao da competncia criminal devemos observar os

    critrios relacionados matria, pessoa, funo e ao territrio.

    Avaliando os mencionados critrios precisamos visualizar a seguinte

    esquematizao:

    Dizer que essas trs regras de competncia (material, pessoal e

    funcional) so de cunho absoluto, significa afirmar que elas so

    improrrogveis (ou seja, no podemos admitir que um juiz

    absolutamente incompetente venha, por qualquer razo, a se tornar

    competente); assim, uma vez vulneradas essas regras os atos ento

    praticados estaro eivados de nulidade absoluta (insanveis).

    A competncia territorial tem natureza relativa, isto , trata-se

    de regra de competncia prorrogvel, que conduzir nulidade

    relativa (sanvel). Segundo a maioria da doutrina, a competncia

    territorial tambm seria conhecida de ofcio pelo juzo, ou seja, no

    Processo Penal no s as hipteses de competncia absoluta, mas

    tambm as hipteses de competncia relativa seriam conhecidas de

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    ofcio pelo juzo. Isso ocorreria por fora do artigo 147 do Cdigo de

    Processo Penal Militar, que nos diz que o juiz poder, at a entrega

    da prestao jurisdicional, declarar-se incompetente de ofcio. Como

    esse dispositivo no estabelece qualquer distino entre competncia

    em razo da matria, competncia territorial, competncia por

    prerrogativa da funo e competncia funcional, entende-se

    (majoritariamente1) que a regra do artigo 147 do CPPM (art. 109 do

    CPP) estender-se-ia a toda e qualquer competncia, inclusive

    competncia territorial, que tem natureza relativa.

    Declarao de incompetncia de ofcio

    Art. 147. Em qualquer fase do processo, se o juiz reconhecer a existncia de causa que o torne incompetente, declar-lo- nos autos e os remeter ao juzo competente.

    Portanto, essa seria uma grande distino a separar o Processo

    Civil do Processo Penal comum e militar, visto que no Processo Civil o

    juzo incompetente relativamente, para que se declare incompetente,

    carece de provocao das partes, enquanto no Processo Penal no

    haveria necessidade dessa provocao, uma vez que ele poderia, de

    ofcio, declarar-se incompetente (mesmo que relativamente).

    Por conta desse diferencial entre Processo Civil e Penal, h

    autores, como GERALDO PRADO e AFRNIO SILVA JARDIM, que

    chegam a mencionar que no Processo Penal todas as regras de

    competncia seriam absolutas, visto que todas podem ser conhecidas

    de ofcio pelo juzo. No entanto, essa assertiva minoritria, pois em

    que pese esse ponto de contato entre competncia absoluta e

    relativa, outras diferenas subsistiriam a legitimar essa distino.

    Essas diferenas seriam:

    1Existe entendimento no sentido contrrio e o maior referencial doutrinrio dessa discusso

    TOURINHO FILHO. Esse segundo entendimento, aderido por MARCELLUS POLASTRI, j foi abordado pelo Superior Tribunal de Justia, onde se concluiu que a competncia territorial, por ser relativa, tambm no poderia ser conhecida de ofcio pelo juzo (visto que careceria de provocao da parte), ou seja, para o STJ o mesmo raciocnio do Processual Civil deve ser aplicado no Processo Penal.

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    As regras de competncia absoluta se mostram

    improrrogveis (no convalidveis com o decurso do tempo),

    enquanto as de competncia relativa se mostram prorrogveis

    (convalidveis com o decurso do tempo);

    As regras de competncia absoluta geram nulidade

    absoluta do processo, enquanto as de competncia relativa geram

    nulidade relativa.

    Portanto, uma vez que se manteriam conservadas essas

    diferenas, a distino entre competncia absoluta e relativa continua

    sendo adequada. E nesse sentido o Supremo Tribunal Federal, nos

    diz, categoricamente, que a competncia por preveno (competncia

    territorial) tem natureza relativa.

    Smula 706 STF- relativa a nulidade decorrente da

    inobservncia da competncia penal por preveno.

    Outro ponto de destaque o cuidado ao se ler o artigo 508 do

    Cdigo de Processo Penal Militar. Este dispositivo afirma que a

    incompetncia do juzo anularia somente os atos decisrios. Se

    estivermos diante de uma hiptese de incompetncia relativa no

    teremos maiores dificuldades porque, como os atos processuais, at

    ento praticados, so plenamente sanveis, nada exigiria que eles

    viessem a ser ratificados e essa ratificao retroagiria data da

    realizao do ato. Porm, se estivermos diante atos de competncia

    absoluta deveramos concluir que tais atos estariam eivados de

    nulidade absoluta ou seja, esses atos mostrar-se-o

    completamente insanveis. Diante disso, sendo o primeiro ato

    decisrio praticado pelo juiz no processo o recebimento da inicial,

    supondo que seja nulo esse recebimento, sero nulos todos os

    demais atos processuais, pois todos os atos processuais

    subsequentes tm como premissa o recebimento da denncia.

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    Nesse contexto afirma o art. 508 do CPPM (mesma disposio

    do artigo 573, pargrafo primeiro do CPP comum):

    Anulao dos atos decisrios

    Art. 508. A incompetncia do juzo anula smente os atos

    decisrios, devendo o processo, quando for declarada a

    nulidade, ser remetido ao juiz competente.

    Quanto aos atos instrutrios, estes no precisariam ser

    desconsiderados, podendo ser aproveitados, porque embora os atos

    instrutrios no tenham sido realizados perante um juzo

    rigorosamente competente, certo que todos esses atos foram

    realizados publicamente, na presena de um juiz (incompetente), de

    um promotor (possivelmente sem atribuio), mas na presena

    tambm da defesa. Ento, em se tratando de atos instrutrios, no

    seria razovel desconsider-los inteiramente, portanto eles podero

    ser ratificados.23

    Inicialmente vale lembrar o exposto em nossa aula de

    apresentao a respeito da estrutura da Justia Militar da Unio com

    os respectivos rgos do MPU ali atuantes. Logo, tendo em vista que

    o estudo da Competncia da Justia Militar da Unio , por reflexo, o

    estudo das atribuies do Ministrio Pblico Militar, devemos

    visualizar o seguinte:

    2Scarance, Processo Penal constitucional. 3 ed. So Paulo: Editora Revista dos Tribunais. 2008. p. 65

    apud LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de Processo Penal, vol. I, Niteri, RJ: Impetus, 2011, p. 55. 3 CRUZ, Pablo Farias Souza. Processo Penal Sistematizado. No prelo a 1 edio.

    Rio de Janeiro: Grupo Gen: Forense, 2013, no prelo, p. 381/390.

    Superior Tribunal Militar

    Procurador Geral Militar da Unio

    Conselho Permanente

    Promotor de Justia

    Militar da Unio

    Juzes Auditores

    Promotor de Justia Militar da Unio

    Conselho

    Especial Promotor de Justia

    Militar da Unio

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    Registres-se que os Conselhos de Justia (Permanente e

    Especial) atuam aps o recebimento da denncia, ou seja, com a

    instaurao do processo, pois durante a fase de investigao

    preliminar, todas as questes suscitadas jurisdio militar so

    decididas elo Juiz-Auditor monocraticamente.

    Ao Conselho Permanente incumbe o julgamento dos praas

    (militar no detentor de posto de oficial) e dos civis.

    Ao Conselho Especial incumbe o julgamento dos Oficias, com

    exceo dos Oficiais-Generais que tem seu foro no STM.

    Sobre o tema, elucidativo o quadro exposto pelos professores

    Cludio Amin Miguel e Nelson Coldibelli4, que sintetizamos da

    seguinte forma:

    Conselho Especial

    de Justia

    Conselho Permanente

    de Justia

    Composio Juiz-Auditor e

    Quatro Militares

    (de posto elevado ou mais

    antigos que o acusado,

    desde que haja ao menos

    um Oficial-Superior ou

    General)

    Juiz-Auditor e

    Quatro Militares

    (sendo um oficial superior e

    trs oficiais de posto at

    Capito-Tenente ou Capito)

    Competncia Processar e Julgar os

    Oficias, com exceo dos

    Oficiais-Generais.

    Processar e Julgar os praas

    e os civis.

    Durao Constituio para cada

    processo.

    Constituio a cada

    trimestre.

    Diante dessa breve introduo, antes de entrarmos na

    casustica da competncia criminal militar, devemos expor,

    4MIGUEL, Claudio Amin e COLDIBELLI, Nelson. Elementos de Direito Processual Penal Militar. Rio

    de Janeiro: Lumen Juris, 2011, 3 edio, p. 10.

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    comparativamente, as distines entre a Justia Militar da Unio e a

    Justia Militar Estadual.

    As duas principais distines advm do texto constitucional,

    sendo que a primeira se refere competncia em razo da pessoa e

    a segundo se relaciona competncia em razo da matria.

    Vejamos a primeira: importante memorizar que a Justia

    Militar da Unio pode julgar civis e militares que praticarem crimes

    militares, enquanto a Justia Militar Estadual s tem competncia

    para julgar os militares estaduais nesses delitos.

    A segunda distino a seguinte: Enquanto a Justia Militar

    da Unio s tem competncia criminal, no podendo julgar causas

    civis, a Justia Militar Estadual, alm da competncia criminal,

    detm competncia judicial civil para julgar atos disciplinares

    militares.

    Assim, se um militar das foras armadas quiser discutir um ato

    disciplinar, dever acionar a justia federal comum. Pois,

    considerando que a justia militar federal no detm essa

    competncia e sendo o militar das foras armadas um funcionrio

    pblico federal, o rgo competente ser, nos moldes do art. 109 da

    CF/88, a Justia Federal comum e no a justia federal especial como

    a Justia Militar da Unio.

    Visando facilitar o registro, afirmamos que a Justia Militar da

    Unio, julga civis, mas no julga causa civis, j a Justia Militar

    Estadual, julga causas civis, mas no julga civis.

    Para ilustrar essas e as demais distines, colacionamos, de

    forma sintetizada, quadro elaborado pelo professor Renato Brasileiro

    em seu livro Competncia Criminal, que expe as distines entre a

    Justia Militar da Unio e a Justia Militar Estadual.

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    Justia Militar da Unio Justia Militar Estadual

    - Julga crimes militares - Julga crimes militares

    - Julga Civis e Militares - Julga Militares do Estado

    - Competncia em razo da matria. - Competncia em razo da matria e da pessoa.

    *No tem competncia Civil * Tem competncia civil, acrescentada pela

    EC 45/04, onde se conferiu o julgamento para aes judiciais contra atos disciplinares

    militares.

    rgo Jurisdicional

    - Conselho de Justia: > 04 militares oficiais; > Juiz-Auditor (juiz concursado): este possui competncia singular? R.: No. Todos os crimes militares so julgados pelo respectivo conselho, ou seja, o juiz-auditor no possui competncia singular.

    - Aqui o Presidente o Oficial de posto mais elevado. Em caso de igualdade de posto ser o oficial mais antigo.

    - O conselho pode ser permanente ou especial, Vejamos as diferenas:

    # O conselho permanente delibera por 03 meses (sorteia os militares da regio), sendo que tem competncia para julgar crimes cometidos por: Civis, soldados, cabos, sargentos (qualquer militar, menos oficial).

    # O conselho de justia especial cabe julgar os crimes cometidos por Oficiais. (artigo 16 da Lei da Organizao da Justia Militar 8457/92).

    rgo Jurisdicional

    - Conselho de Justia: - Juiz de direito do Juzo Militar Aqui, tanto o juiz militar quanto o conselho podem julgar separadamente. Sendo que compete ao juiz de direito julgar singularmente os crimes militares cometidos: # contra civis; # aes judiciais contra atos disciplinares militares. Ao conselho de justia cabem os

    demais.

    - Presidente o juiz de direito.

    - Ministrio Pblico Militar (ramo do Ministrio Pblico da Unio ao lado do: MPDFT, MPT e MPF).

    - Ministrio Pblico Estadual

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    MPM: *1 instncia: Promotores de justia militar e Procuradores *2 instncia: Atuam os Sub-procuradores e o Procurador-Geral da Justia Militar da Unio perante o STM, que o rgo de 2 instncia.

    MPE: 1 Instncia promotor de justia 2 instncia: depende dos estados, sendo que em 03 (RS, MG e SP) quem exerce o Tribunal de Justia Militar, nos outros o prprio Tribunal de Justia.

    Orientao jurdica: Defensoria Pblica da Unio

    Orientao jurdica:

    Defensoria Pblica Estadual 5

    Conforme apontamos na aula de apresentao, o estudo da

    competncia depende sobre maneira do conhecimento do crime

    militar e de seus critrios de definio.

    Assim, abordaremos o tema seguindo a sequncia contida no

    art. 9 do Cdigo Penal de modo a vislumbrar a competncia da

    Justia Militar da Unio.

    Crime Militar

    A priori, registramos que para identificar um crime, como crime

    militar, no basta que a tipificao daquela conduta conste no Cdigo

    Penal Militar, sendo indispensvel a presena de outros elementos,

    tais como os previstos em seu artigo 9 que, juntamente com os

    elementos do tipo especfico, possibilitaro o enquadramento daquele

    ilcito como crime militar.

    De acordo com a doutrina clssica, os crimes militares se

    classificam em duas modalidades:

    1) Crimes propriamente militares, e

    2) Crimes impropriamente militares.

    Crime propriamente militar aquele cujo bem jurdico

    exclusivo da vida militar e estranho vida civil, de que exemplo o

    5 BRASILEIRO, Renato. Competncia criminal. Salavador: Juspodivm, 2010, p.

    129/130.

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    dever militar. Assim, s pode ter como sujeito ativo o militar da ativa.

    Alm disso, s previsto na lei penal prpria. O crime propriamente

    militar, tambm pode ser chamado de crime puramente militar, crime

    meramente militar ou crime essencialmente militar. Exemplos:

    Desero (art. 187), embriaguez em servio (202) e dormir em

    servio (203) todos do CPM.

    Por outro lado, o crime impropriamente militar, tambm

    conhecido como crime acidentalmente militar ou crime militar misto,

    envolve bem jurdico comum, tutelvel pelas esferas penal comum e

    penal militar. Desse modo, qualquer pessoa pode comet-lo, embora

    o crime seja considerado militar. Logo, encontra previso no CPM,

    mas h previso idntica ou semelhante na lei comum.

    Exemplo: militar agride seu colega, praticando leso corporal

    (art. 209 do CPM). Crime impropriamente militar, pois tem previso

    correspondente do CP comum, art. 129.

    O art. 9 estabelece 3 subespcies de crimes impropriamente

    militares:

    1) os crimes previstos exclusivamente no CPM;

    2) os crimes previstos de forma diversa na lei penal comum;

    3) os crimes previstos de forma idntica na lei penal comum.

    importante perceber que a Justia Militar da Unio pode julgar

    os crimes propriamente e impropriamente militares praticados por

    militares ou civis; j na Justia Militar Estadual, somente os militares

    estaduais so julgados, seja qual for a natureza do crime cometido.

    Existe, ainda, uma classificao mais antiga, apresentada por

    Clvis Bevilqua:

    Segundo o saudoso autor os crimes militares poderiam ser:

    - crimes essencialmente militares;

    - crimes militares por compreenso normal da funo militar; e

    - crimes acidentalmente militares.

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    Os crimes essencialmente militares corresponderiam ao que

    hoje classificado como crimes propriamente militares, pois

    protegem bens jurdicos prprios da vida militar, s encontrando

    disposio no COM. So praticados somente por militares da ativa.

    Os crimes militares por compreenso normal da funo

    militar atualmente seriam os denominados crimes militares

    imprprios, ou seja, s se enquadram como crimes militares caso

    haja algum vnculo com a funo militar. So crimes praticados por

    militares, mas que envolvem bens jurdicos comuns.

    Os crimes acidentalmente militares seriam aqueles cujo

    bem jurdico tutelado importante para a esfera militar, mas so

    praticados por civil contra a instituio militar. Aqui o delito

    praticado por civil, mas afeta alguns interesses e bens jurdicos

    relevantes para a esfera militar. Portanto, pode-se dizer que so

    militares porque esto previstos na lei militar, sendo praticados por

    civis, e que atingem as instituies militares. No fundo so crimes

    comuns.

    O CPM classifica os crimes militares em:

    1) Crimes em tempo de paz (art. 9 do CPM), e

    2) Crimes em tempo de guerra (art. 10 do CPM).

    Sobre o tema eis as seguintes questes:

    CESPE 2010 MPE/ES PROMOTOR DE JUSTIA

    Os crimes contra a administrao militar so crimes militares

    prprios, ou seja, no so perpetrados por civis.

    Certo ou Errado

    Comentrio: A parte sublinhada est errada.

    A afirmao da questo se encontra errada, pois os crimes

    contra a administrao militar so considerados crimes

    impropriamente militares, pois qualquer pessoa pode comet-lo.

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    CESPE 2001 DPU DEFENSOR PBLICO FEDERAL

    Considera-se crime propriamente militar o furto praticado no

    interior de um quartel por um praa em situao de atividade.

    Certo ou Errado

    Comentrio: A parte sublinhada est errada.

    Mesmo sendo um crime militar, o furto, como encontra previso

    na legislao penal comum, um crime impropriamente militar.

    STM 2011 ANALISTA JUDICIRIO

    Os crimes militares prprios correspondem aos crimes

    praticados por militares e previstos no Cdigo Penal Militar.

    Certo ou Errado

    Comentrio: Crime propriamente militar aquele cujo bem

    jurdico exclusivo da vida militar e estranho vida civil, de que

    exemplo o dever militar. Assim, s pode ter como sujeito ativo o

    militar da ativa. Alm disso, s previsto na lei penal prpria. O

    crime propriamente militar, tambm pode ser chamado de crime

    puramente militar, crime meramente militar ou crime essencialmente

    militar. Exemplos: Desero (art. 187), Embriaguez em servio (202)

    e Dormir em servio (203) todos do CPM.

    Ademais, lembre-se que para identificar um crime, como crime

    militar, no basta que a tipificao daquela conduta conste no Cdigo

    Penal Militar, sendo indispensvel a presena de outros elementos,

    tais como os previstos em seu artigo 9 que, juntamente com os

    elementos do tipo especfico, possibilitaro o enquadramento daquele

    ilcito como crime militar.

    Assim, percebemos que a afirmao da questo est

    incompleta, razo pela qual se deve concluir por sua incorreo.

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    13

    Critrios Legais para Definir o Crime Militar

    No que tange ao critrio para definir o crime militar, afirma-se

    que o legislador militar adotou um critrio processualista para definir

    o crime militar, pois considerou aspectos comumente utilizados para

    definir competncia (lugar, matria, pessoa).

    Os critrios adotados so:

    - Ratione Legis;

    - Ratione Personae;

    - Ratione Loci;

    - Ratione Materiae; e

    - Ratione Temporis.

    O critrio prevalente o da ratione legis. O legislador, para

    trazer uma ideia do que seria o crime militar, faz uma soma de

    critrios, sendo este preponderante e que sempre estar presente.

    Ou seja, o crime militar o que a lei militar assim define.

    Sobre o tema j indagou a Cespe:

    Concurso DPU 2007

    Entre os critrios utilizados para se classificar o crime militar, o

    critrio processualista (ratione materiae, ratione personal, ratione

    loci, ratione temporis e ratione legis) se imps, com preferncia pelo

    critrio ratione materiae, sendo crime militar aquele definido no CPM.

    Certo ou Errado

    Comentrio: A parte sublinhada est errada, pois o critrio

    prevalente o da ratione legis e no o ratione materiae como

    afirmou a questo.

    Ao critrio da ratione legis se agrega o critrio da ratione

    personae, que considera crime militar aquele praticado por militar ou

    contra ele.

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    14

    Para o critrio da ratione loci, crime militar aquele praticado

    em lugar sujeito administrao militar, qualquer que seja o autor.

    Segundo o critrio ratione materiae, o crime militar o que

    ofende bens jurdicos relacionados a ordem jurdica militar.

    O critrio da ratione temporis, afirma que o crime militar se

    praticado dentro de determinado perodo, poca ou circunstncia,

    como por exemplo, durante operaes militares ou em tempo de

    guerra.

    Crimes Militares em Tempo de Paz (art. 9 do CPM)

    Crimes Tipicamente Militares

    O art. 9, inciso I, adota o critrio Ratione Legis.

    Art. 9 Consideram-se crimes militares, em tempo de

    paz:

    I - os crimes de que trata este Cdigo, quando definidos

    de modo diverso na lei penal comum, ou nela no previstos,

    qualquer que seja o agente, salvo disposio especial

    So exemplos de crimes propriamente militares:

    1) Desero,

    2) Insubmisso (entendimento majoritrio e do STM),

    3) Pederastia,

    4) Motim e revolta,

    5) Reunio ilcita.

    Questo importante saber se um crime propriamente militar

    pode ser praticado por civil em coautoria.

    Embora o tema seja discutido pela doutrina, a resposta mais

    segura para uma prova objetiva a seguinte:

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    15

    O crime propriamente militar no pode ser praticado por civil,

    nem mesmo em coautoria com militar, de acordo com o

    entendimento dominante no prprio STM, especialmente em relao

    ao crime de revolta.

    Sobre o tema indagou a Cespe:

    STM 2011 CESPE ANALISTA JUDICIRIO

    Considere as seguintes situaes hipotticas.

    I - Um agrupamento de militares armados, em concurso com

    civis, ocupou estabelecimento militar em desobedincia a ordem

    superior.

    II - Reunidos, militares agiram contra ordem recebida de

    superior, negando-se a cumpri-la, todavia, sem a utilizao de

    armamento.

    Nesse caso, a situao I configura crime de revolta, sendo que

    os civis no ingressam na relao jurdico-penal castrense, nem

    mesmo como coautores, e a situao II tipifica o crime de motim,

    sendo elemento diferenciador entre as duas situaes a existncia de

    armas.

    Certo ou Errado

    CESPE 2010 DPU DEFENSOR PBLICO

    Considere que, em conluio, um servidor pblico civil lotado nas

    foras armadas e um militar em servio tenham-se recusado a

    obedecer a ordem do superior sobre assunto ou matria de servio.

    Nessa situao, somente o militar sujeito ativo do delito de

    insubordinao, que considerado crime propriamente militar, o que

    exclui o civil, mesmo na qualidade de coautor.

    Certo ou Errado

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    16

    Diante desse contexto, surge a necessidade de se refletir sobre

    qual ser o crime praticado por civil quando o mesmo age juntamente

    com o militar, para a prtica de um crime propriamente militar.

    Nesse caso, entende-se que o civil ir responder por

    Incitamento, Aliciamento ou Apologia (arts. 154 a 156 do CPM).

    Vejamos as disposies aplicveis:

    Art. 154. Aliciar militar ou assemelhado para a prtica de

    qualquer dos crimes previstos no captulo anterior:

    Pena - recluso, de dois a quatro anos.

    Art. 155. Incitar desobedincia, indisciplina ou prtica de

    crime militar:

    Pena - recluso, de dois a quatro anos.

    Pargrafo nico. Na mesma pena incorre quem introduz, afixa

    ou distribui, em lugar sujeito administrao militar, impressos,

    manuscritos ou material mimeografado, fotocopiado ou gravado, em

    que se contenha incitamento prtica dos atos previstos no artigo.

    Art. 156. Fazer apologia de fato que a lei militar considera

    crime, ou do autor do mesmo, em lugar sujeito administrao

    militar:

    Pena - deteno, de seis meses a um ano.

    Art. 9, II, do CPM:

    Art. 9 Consideram-se crimes militares, em tempo de

    paz:

    II - os crimes previstos neste Cdigo, embora tambm o

    sejam com igual definio na lei penal comum, quando

    praticados:

  • Curso de Direito Processual Penal Militar para

    Analista do Ministrio Pblico da Unio

    17

    Adotam-se aqui os critrios Ratione Legis e Ratione Personae.

    Tratam-se dos denominados crimes impropriamente militares.

    So crimes comuns, previstos na lei penal militar (ratione

    legis), sendo enquadrados como crimes militares por seu autor ser

    um militar da ativa (ratione personae).

    Art. 9, II, alnea a:

    Art. 9, II, a) por militar em situao de atividade ou

    assemelhado, contra militar na mesma situao ou

    assemelhado;

    O contexto alnea acima o seguinte: Militar da ativa pratica

    crime contra militar tambm da atividade.

    Segundo o STM, para que incida essa alnea, basta que os dois

    sejam militares, mesmo que no estejam em servio ou em local

    administrado pela instituio militar. Tal orientao decorre at

    mesmo na natureza da funo militar, que demanda a posio

    sempre alerta, conforme se costuma dizer coloquialmente. Assim, o

    militar da ativa militar 24 horas por dia.

    Nesse sentido decidiu recentemente o STM:

    EMBARGOS INFRINGENTES OPOSTOS PELA DEFESA.

    HOMICDIO. PREVALNCIA DO VOTO VENCIDO. IMPOSSIBILIDADE.

    COMPETNCIA DA JUSTIA MILITAR. EXCLUSO DE ILICITUDE.

    LEGTIMA DEFESA. NO COMPROVAO.

    - Desnecessria a conjugao da condio funcional com

    os demais elementos circundantes do crime, bastando que o

    agente e a vtima sejam militares das Foras Armadas para a

    fixao da competncia da Justia Castrense, em consonncia

    com o art.9,inciso II, alnea a, do CPM.

    - Ausncia de provas a permitir a aplicao da excludente de

    ilicitude.

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    Analista do Ministrio Pblico da Unio

    18

    - No restou provada qualquer justificativa que autorizasse os

    disparos contra a vtima. Afastada a tese de legtima defesa.

    PRELIMINAR DE NO CONHECIMENTO. REJEITADA

    UNANIMIDADE.EMBARGOS REJEITADOS. DECISO MAJORITRIA.

    (Processo: EMB 169020037010401 DF 0000016-90.2003.7.01.0401.

    Relator(a): Maria Elizabeth Guimares Teixeira Rocha. Julgamento:

    12/05/2011. Publicao: 27/06/2011 Vol: Veculo: DJE)

    Sobre o tema e nessa tica indagou a Cespe:

    2004 CESPE DPU DEFENSOR PBLICO FEDERAL

    Considera-se crime militar o homicdio praticado por suboficial

    da Aeronutica contra cabo da Marinha, mesmo que o fato se d em

    momento de folga de ambos os militares, fora da rea militar e com a

    utilizao de arma particular.

    Certo ou Errado

    A questo trata do disposto no seguinte artigo do CPM:

    Art. 9, II, a) por militar em situao de atividade ou

    assemelhado, contra militar na mesma situao ou

    assemelhado;

    Cuidado deve ter o candidato caso a questo indague sobre o

    posicionamento do STF. Pedimos cuidado, pois o STF, tem alterado

    seu entendimento desde o ano de 2011.

    Assim, segundo os ltimos informativos do STF a respeito do

    tema, se tem considerado que a qualidade de crime militar se afasta

    caso, por exemplo, os militares envolvidos desconheam a situao

    funcional dos envolvidos.

    Sobre o tema vejamos os informativos do STF relacionados ao

    tema:

  • Curso de Direito Processual Penal Militar para

    Analista do Ministrio Pblico da Unio

    19

    STF, Informativo 626.

    Crime praticado por militar e competncia.

    A 1 Turma deferiu habeas corpus para declarar a

    incompetncia da justia castrense para apreciar ao penal

    instaurada pela suposta prtica do crime de leso corporal grave

    (CPM, art. 209, 1). Na espcie, o delito teria sido cometido por

    um militar contra outro, sem que os envolvidos conhecessem

    a situao funcional de cada qual, alm de no estarem

    uniformizados. Entendeu-se que a competncia da justia

    militar, conquanto excepcional, no poderia ser fixada apenas

    luz de critrio subjetivo, mas tambm por outros elementos

    que se lhe justificassem a submisso, assim como a precpua

    anlise de existncia de leso, ou no, do bem juridicamente

    tutelado. HC 99541/RJ, rel. Min. Luiz Fux, 10.5.2011. (HC-99541)

    Percebe-se que o STF tem agregado o critrio ratione materiae

    na alnea a para configurar o crime como militar.

    Em 2012 o STF se manifestou no informativo 655:

    Militar e tribunal do jri

    Compete justia comum processar e julgar crime

    praticado por militar contra militar quando ambos estiverem

    em momento de folga. Com esse entendimento, a 1 Turma, por

    maioria, concedeu habeas corpus para extirpar o decreto

    condenatrio nos autos de ao penal processada perante a justia

    castrense. Na espcie, o paciente, que se encontrava de folga, ao sair

    de uma roda de samba em boate, praticara crimes dolosos contra as

    vidas de dois civis e um militar. A impetrao sustentava que, em

    relao vtima militar, o paciente fora julgado e condenado pela

    justia militar e pelo tribunal do jri, o que importaria em bis in idem.

    Assinalou-se, no caso, no ser a qualificao do agente a revelar a

    competncia da justia castrense e no haver qualquer aspecto a

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    20

    atrair a incidncia do art. 9 do CPM quanto definio de crime

    militar ... Ressaltou-se a competncia do tribunal do jri para

    processar e julgar o militar em relao s vtimas civis e

    militar. Vencido o Min. Dias Toffoli, relator, que, no conhecia o writ,

    mas com base no art. 9, II, a, do CPM e no CC 7017/RJ (DJU de

    14.4.94) , concedia, de ofcio, a ordem para, em relao vtima

    militar, fixar a competncia da justia castrense, abolida a deciso do

    tribunal do jri. HC 110286/RJ, rel. orig. Min. Dias Toffoli, red. p/ o

    acrdo Min. Marco Aurlio, 14.2.2012. (HC-110286)

    No mesmo informativo, ainda se veiculou outra deciso nesse

    sentido:

    EMENTA: PROCESSUAL MILITAR. HABEAS CORPUS. HOMICDIO

    PRATICADO CONTRA CNJUGE POR MOTIVOS ALHEIOS S FUNES

    MILITARES, FORA DE SITUAO DE ATIVIDADE E DE LOCAL SUJEITO

    ADMINISTRAO MILITAR. CRIME MILITAR DESCARACTERIZADO

    (ART. 9, II, A, DO CPM). COMPETNCIA DO TRIBUNAL DO JRI.

    ORDEM CONCEDIDA.

    1. A competncia do Tribunal do Jri para o julgamento

    dos crimes contra a vida prevalece sobre a da Justia Militar

    em se tratando de fato circunscrito ao mbito privado, sem

    nexo relevante com as atividades castrenses.

    2. A doutrina clssica revela a virtude da sua justeza ao

    asseverar que o fro militar no propriamente para os crimes dos

    militares, sim para os crimes militares; porque, no militar, h

    tambm o homem, o cidado, e os factos delictuosos praticados

    nesta qualidade caem sob a alada da (...) comunho civil; o fro

    especial s para o crime que elle praticar como soldado, ut miles,

    na phrase do jurisconsulto romano. Affrontaria o princpio da

    egualdade o arredar-se da justia ordinria o processo e julgamento

    de crimes communs para uma jurisdico especial e de excepo.

    (Constituio Federal de 1891, comentrios por Joo Barbalho U. C.,

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    21

    ed. Fac-similar, Braslia: Senado Federal Secretaria de

    Documentao e Informao, 1992, p. 343, nota ao art. 77)

    3. Os militares, assim como as demais pessoas, tm a sua vida

    privada, familiar e conjugal, regidas pelas normas do Direito Comum

    (HC n 58.883/RJ, rel. Min. Soares Muoz).

    4. Essa necessria congruncia entre a definio legal do

    crime militar e as razes da existncia da Justia Militar o

    critrio bsico, implcito na Constituio, a impedir a

    subtrao arbitrria da Justia comum de delitos que no

    tenham conexo com a vida castrense (Recurso Extraordinrio n

    122.706, rel. Min. Seplveda Pertence).

    5. In casu, embora a paciente e a vtima fossem militares

    poca, nenhum deles estava em servio e o crime no foi

    praticado em lugar sujeito administrao militar, sendo

    certo que o mvel do crime foi a falncia do casamento entre

    ambos, bem como o intuito da paciente de substituir penso

    alimentcia cessada judicialmente por penso por morte e de

    obter indenizao do seguro de vida, o que o suficiente para

    afastar a incidncia do art. 9, II, a do CPM.

    6. Parecer do Ministrio Pblico Federal pela concesso da

    ordem.

    7. Habeas corpus concedido para declarar a incompetncia da

    Justia Militar. (HC N. 103.812-SP - REDATOR PARA O ACRDO:

    MIN. LUIZ FUX)

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    22

    Art. 9, II, b:

    Art. 9, II, b) por militar em situao de atividade ou

    assemelhado, em lugar sujeito administrao militar, contra

    militar da reserva, ou reformado, ou assemelhado, ou civil;

    Aqui o sujeito ativo militar ou assemelhado6 que pratica o

    delito contra militar da reserva, reformado, assemelhado ou civil,

    dentro de lugar sujeito administrao militar. Assim, no presente

    inciso se consideram os critrios ratione legis, ratione personae e

    ratione loci.

    Sobre a referida alnea j questionou a Cespe:

    2010 CESPE DPU DEFENSOR PBLICO FEDERAL

    Considere que um militar, no exerccio da funo e dentro de

    unidade militar, tenha praticado crime de abuso de autoridade, em

    detrimento de um civil. Nessa situao, classifica-se a sua conduta

    como crime propriamente militar, porquanto constitui violao de

    dever funcional havida em recinto sob administrao militar.

    Certo ou Errado

    Comentrio: A parte sublinhada esta errada.

    Pois o crime de abuso de autoridade no crime militar.

    Em razo disso a disposio da Smula 172 do STJ: Compete

    Justia Comum processar e julgar militar por crime de abuso de

    autoridade, ainda que praticado em servio.

    No contexto da presente alnea, se um militar das foras

    armadas, em servio de sentinela, mata um civil que invadiu o

    quartel, segundo o entendimento do STM, o militar ter praticado

    crime militar, nos moldes do que dispe a alnea b.

    6 O assemelhado figura superada aps a vigncia do Estatuto dos Militares.

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    23

    Tal entendimento se pauta na declarao incidental de

    inconstitucionalidade proferida pelo prprio STM em relao ao

    nico do art. 9 do CPM. Registre-se que tal declarao se deu antes

    do advento da EC 45/2004 que, alterando a redao do art. 125,

    4, acabou por redefinir a competncia da Justia Militar Estadual.

    CF/88, Art. 125. Os Estados organizaro sua Justia,

    observados os princpios estabelecidos nesta Constituio.

    ...

    4 Compete Justia Militar estadual processar e julgar os

    militares dos Estados, nos crimes militares definidos em lei e as aes

    judiciais contra atos disciplinares militares, ressalvada a competncia

    do jri quando a vtima for civil, cabendo ao tribunal competente

    decidir sobre a perda do posto e da patente dos oficiais e da

    graduao das praas.

    Segundo o pargrafo nico do art. 9 do CPM os crimes dolosos

    contra a vida praticados contra civil, so de competncia do Tribunal

    do Jri. Concluso que admitida pelo STF, que no declarou a

    inconstitucionalidade do referido dispositivo.

    Sobre o tema afirma o professor Marcelo Uzeda:

    luz do novo texto constitucional, mesmo que no

    se entenda revogado o nico do art. 9 do CPM, pode-

    se interpret-lo restritivamente, remetendo-se

    somente os homicdios dolosos contra a vida de

    civis praticados por militares dos Estados ao

    tribunal do jri. Todos os demais casos permanecem na

    competncia da justia militar. Da poder-se concluir que

    o militar das foras armadas que, me situao de

    atividade, pratica crime doloso contra a vida de civil

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    24

    comete crime militar, sendo a competncia da

    Justia Militar da Unio.7

    Sobre o tema j questionou a Cespe:

    2007 DPU CESPE DEFENSOR PBLICO FEDERAL

    Compete justia militar da Unio processar e julgar crime

    doloso contra a vida, praticado por militar do Exrcito Brasileiro

    contra civil, estando aquele em atividade inerente s funes

    institucionais das Foras Armadas.

    Certo ou Errado

    Comentrio: A afirmao est correta luz do entendimento do

    STM.

    A situao no pode ser confundida com a seguinte hiptese:

    Homicdio doloso cometido por civil contra militar das Foras

    Armadas em servio.

    Nesse caso, conforme bem aponta Renato Brasileiro: ao

    apreciar habeas corpus relativo a homicdio qualificado praticado por

    civil contra sentinela em posto de vila militar, concluiu a Suprema

    Corte tratar-se de crime militar, haja vista ter sido praticado por civl

    contra militar no desempenho de servio de vigilncia (CPM, art. 9,

    III, b), estando presentes 4 elementos de conexo militar do fato:

    1) A condio funcional da vtima, militar da aeronutica;

    2) O exerccio de atividade fundamentalmente militar pela

    vtima, servio de vigilncia;

    3) O local do crime, vila militar sujeita administrao militar;

    e

    7UZEDA DE FARIA, Marcelo. Direito Penal Militar. Bahia: Editora Juspodivm, 2012, p. 88.

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    25

    4) O mvel do crime, roubo de arma da Fora Area Brasileira

    FAB.8

    Por fim acrescenta o citado autor outro detalhe: caso a vtima

    desse homicdio doloso praticado por civil seja um policial militar em

    servio, a competncia ser do Tribunal do Jri, na medida em que a

    Justia Militar Estadual no tem competncia para processar e julgar

    civis (CF, art. 125, 4).9

    Novidade:

    Em 2011, a lei 12.432 incluiu exceo no pargrafo nico do

    art. 9 do CPM, para tratar do denominado tiro de destruio,

    previsto no art. 303 do Cdigo Brasileiro de Aeronutica, dispositivo

    que remonta a conhecida Lei do Abate, que ento ser da

    competncia do Justia Militar.

    Dispe o novo pargrafo nico:

    Os crimes de que trata este artigo quando dolosos contra a

    vida e cometidos contra civil sero da competncia da justia comum,

    salvo quando praticados no contexto de ao militar realizada na

    forma do art. 303 da Lei no 7.565, de 19 de dezembro de 1986 -

    Cdigo Brasileiro de Aeronutica.

    Por sua vez dispe o Cdigo Brasileiro de Aeronutica:

    Lei 7565/86, Art. 303. A aeronave poder ser detida por

    autoridades aeronuticas, fazendrias ou da Polcia Federal, nos

    seguintes casos:

    I - se voar no espao areo brasileiro com infrao das

    convenes ou atos internacionais, ou das autorizaes para tal fim;

    II - se, entrando no espao areo brasileiro, desrespeitar a

    obrigatoriedade de pouso em aeroporto internacional;

    8 BRASILEIRO, Renato. Competncia criminal. Salavador: Juspodivm, 2010, p.

    215/216. 9 BRASILEIRO, Renato. Competncia criminal. Salavador: Juspodivm, 2010, p. 216.

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    26

    III - para exame dos certificados e outros documentos

    indispensveis;

    IV - para verificao de sua carga no caso de restrio legal

    (artigo 21) ou de porte proibido de equipamento (pargrafo nico do

    artigo 21);

    V - para averiguao de ilcito.

    1 A autoridade aeronutica poder empregar os meios que

    julgar necessrios para compelir a aeronave a efetuar o pouso no

    aerdromo que lhe for indicado.

    2 Esgotados os meios coercitivos legalmente previstos, a

    aeronave ser classificada como hostil, ficando sujeita medida

    de destruio, nos casos dos incisos do caput deste artigo e aps

    autorizao do Presidente da Repblica ou autoridade por ele

    delegada.

    Em que pese a polmica a respeito do referido dispositivo, se

    houver excesso ou inadequao do tiro de destruio haver crime

    militar que ser julgado pela justia castrense federal.

    Art. 9, II, alneas c e d:

    Art. 9, II, ...

    c) por militar em servio ou atuando em razo da funo,

    em comisso de natureza militar, ou em formatura, ainda que

    fora do lugar sujeito administrao militar contra militar da

    reserva, ou reformado, ou civil;

    d) por militar durante o perodo de manobras ou

    exerccio, contra militar da reserva, ou reformado, ou

    assemelhado, ou civil;

    Adotam-se aqui os critrios ratione legis, ratione materiae,

    ratione temporis e ratione personae.

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    27

    O crime na alnea c praticado por militar contra civil,

    durante a manobra. No entanto, se o militar abandona a manobra, o

    crime praticado ser comum.

    Exemplo: se, em uma atividade militar, o sujeito pratica um

    estupro, o crime ser considerado militar. Se ele usa fardamento,

    mas no est vinculado atividade militar, o crime ser comum.

    Desse modo, se percebe que os critrios (a pessoa, o tempo, o

    local e a matria) so utilizados de forma cumulativa.

    Exemplo: Militares da FAB usam o avio do servio para

    transportar drogas. O crime de trfico, de competncia da justia

    federal comum, pois foi usado material da Unio e a traficncia foge

    da finalidade da viagem.

    Diante da cumulatividade exigida pela alnea b, perguntou a

    Cespe:

    2011 FUMARC PMMG OFICIAL DA POLCIA

    MILITAR.

    O artigo 9 do Cdigo Penal Militar trata das hipteses de

    incidncia da Lei Penal Militar em tempo de paz. Analise os

    fatos abaixo:

    Num final de semana, um Coronel da Ativa Y viaja de frias

    para Poos de Caldas/MG e encontra o Tenente da Reserva PMMG X,

    que fora seu subordinado e desafeto. Inesperadamente, o Tenente X

    agride o Coronel Y na sada do hotel em que estavam hospedados.

    Assinale a alternativa CORRETA:

    a) A atitude do Tenente X configura crime militar, mas por se tratar

    de oficial da reserva o autor, o processo tramitar na Justia Comum.

    b) A atitude do Tenente X configura crime militar, por se tratar de

    crime de militar para militar e o processo tramitar na Justia Militar

  • Curso de Direito Processual Penal Militar para

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    28

    c) A atitude do Tenente X no configura crime militar, mas o processo

    tramitar na Justia Militar por se tratar de crime de militar para

    militar.

    d) A atitude do Tenente X no configura crime militar, mas sim crime

    comum, e o processo tramitar na Justia Comum.

    Gabarito: D

    Comentrios: A justificativa se encontra no dispositivo legal

    abaixo, pois, s seria crime militar se praticado:

    Art. 9, II, alneas c e d:

    Art. 9, II, ...

    c) por militar em servio ou atuando em razo da funo,

    em comisso de natureza militar, ou em formatura, ainda que

    fora do lugar sujeito administrao militar contra militar da

    reserva, ou reformado, ou civil;

    d) por militar durante o perodo de manobras ou

    exerccio, contra militar da reserva, ou reformado, ou

    assemelhado, ou civil;

    Aqui tambm adotam-se os critrios ratione legis, ratione

    materiae, ratione temporis e ratione personae.

    Assim, o crime na alnea c praticado por militar contra civil,

    durante a manobra. No entanto, se o militar abandona a manobra, o

    crime praticado ser comum.

    Exemplo: se, em uma atividade militar, o sujeito pratica um

    estupro, o crime ser considerado militar. Se ele usa fardamento,

    mas no est vinculado atividade militar, o crime ser comum.

    Desse modo, se percebe que os critrios (a pessoa, o tempo, o

    local e a matria) so utilizados de forma cumulativa.

    Foi diante da cumulatividade exigida pelas alneas c e d, que a

    banca examinadora indagou aos candidatos o questionamento que

    teve como acertada a alternativa D, j que o militar, sujeito ativo do

  • Curso de Direito Processual Penal Militar para

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    29

    crime, estava de frias, ou seja, no estava em servio (alnea c) e

    nem em perodo de manobras ou exerccio (alnea d).

    Art. 9, II, alneas e:

    e) por militar em situao de atividade, ou assemelhado,

    contra o patrimnio sob a administrao militar, ou a ordem

    administrativa militar;

    Conforme j se afirmou anteriormente encontra-se superada a

    situao do assemelhado, haja vista o advento do Estatuto dos

    Militares. Logo, s pode ser sujeito ativo do crime o militar da ativa.

    No necessrio que o bem pertena ao patrimnio militar,

    sendo suficiente que esteja legalmente sob sua Administrao (STJ

    CC 48.014).

    Crimes contra a ordem administrativa militar so as infraes

    que atingem a organizao, a existncia e as finalidades das Foras

    Armadas bem como o prestgio moral da Administrao Militar.

    Sobre o tema vale a transcrio da seguinte smula da

    jurisprudncia do STJ: Smula: 75, STJ: COMPETE A JUSTIA

    COMUM ESTADUAL PROCESSAR E JULGAR O POLICIAL

    MILITAR POR CRIME DE PROMOVER OU FACILITAR A FUGA DE

    PRESO DE ESTABELECIMENTO PENAL.

    Apesar da identidade de redaes os crimes do art. 178 do CPM

    (Fuga de preso ou internado) e art. 351 do CP (Fuga de pessoa presa

    ou submetida a medida de segurana) se distinguem. Destarte, se o

    preso estiver recolhido cadeia pblica, penitenciria ou outro

    estabelecimento prisional comum, ter-se- crime comum, previsto no

    art. 351 do Cdigo Penal. Por outro lado, se a pessoa estiver

    recolhida a estabelecimento penal sob Administrao Militar ou em

  • Curso de Direito Processual Penal Militar para

    Analista do Ministrio Pblico da Unio

    30

    estabelecimento no penal ou prisional (hospital, por exemplo) a

    competncia ser da Justia Militar, pois tal crime configurar ofensa

    contra a Ordem Administrativa Militar.

    Sobre a presente alnea indagou a Cespe:

    2011 CESPE MPE/ES PROMOTOR DE JUSTIA

    A reunio de dois ou mais militares, com armamento ou

    material blico de propriedade militar, para a prtica de violncia

    pessoa ou coisa pblica ou particular, em lugar sujeito

    administrao militar, constitui crime militar prprio e autnomo. Os

    crimes que ocorrem fora do lugar sujeito administrao militar,

    contra o patrimnio da administrao pblica civil e a propriedade

    particular, constituem delitos de formao de quadrilha ou bando,

    apenados na esfera penal castrense.

    Certo ou Errado

    Comentrio: A parte sublinhada est errada.

    A questo envolve o denominado crime de Organizao de

    grupo para a prtica de violncia:

    Art. 150. Reunirem-se dois ou mais militares ou assemelhados, com

    armamento ou material blico, de propriedade militar, praticando violncia

    pessoa ou coisa pblica ou particular em lugar sujeito ou no

    administrao militar:

    Pena - recluso, de quatro a oito anos.

    Conforme se verifica, o crime continua sendo militar, mesmo

    que seja praticado em lugar no sujeito administrao militar,

    desde que pelas mesmas pessoas mencionadas no incio da

    afirmao.

    Caso os crimes citados ocorram fora do lugar sujeito

    administrao militar, contra o patrimnio da administrao pblica

    civil e a propriedade particular, e no sejam praticados por

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    31

    militares da ativa, a sim podero constituir delitos de formao

    de quadrilha ou bando e crimes contra a pessoa e contra o

    patrimnio, eventualmente, situao em que sero apenados na

    esfera penal comum.

    Por fim, importante salientar que apesar da rubrica marginal

    (nomen juris) permitir o raciocnio de que o crime seria formal,

    semelhana do que ocorre no crime de quadrilha ou bando previsto

    no CP comum, onde no necessria a pratica dos eventuais crimes

    intencionados pela reunio, no crime de Organizao de grupo para a

    prtica de violncia a realizao da violncia contra a pessoa ou coisa

    indispensvel sua consumao, tratando-se assim de crime

    material.

    Art. 9, III:

    III os crimes praticados por militar da reserva, ou

    reformado, ou por civil, contra as instituies militares,

    considerando- se como tais no s os compreendidos no inciso

    I, como os do inciso II, nos seguintes casos:

    Trata-se de inciso aplicvel aos civis (militar da reserva, militar

    reformado ou civil).

    Logo, se o crime do inciso III praticado por civil, o raciocnio

    de que esse inciso no se aplica Justia Militar Estadual, pois a

    mesma s detm competncia para julgar militares.

    O STF e o STJ tm adotado uma interpretao bastante

    restritiva em relao aos crimes militares cometidos por civis,

    somente se caracterizando o crime como militar em hipteses

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    32

    excepcionais, e desde que esteja presente o intuito de atingir de

    qualquer modo as Foras Armadas (STF - HC 86.716).10

    Contudo o STM ainda detm entendimento literal, no sentido da

    inexigibilidade dos requisitos apontados acima (Excepcionalidade e

    Inteno de atingir as Foras Armadas).

    Art. 9, III, alnea a:

    a) contra o patrimnio sob a administrao militar, ou

    contra a ordem administrativa militar;

    Trata-se de crime militar praticado por civil contra o patrimnio

    sob a Administrao Militar, ou contra a ordem administrativa militar.

    Exemplo: Estelionato para continuar recebendo a penso

    militar. Tal crime est previsto no art. 251 do CPM. O civil responder

    pelo art. 251, c/c art. 9, inciso III, alnea a.

    Reitere-se que o civil somente responde por esse crime de

    estelionato se o crime for praticado em face do patrimnio sob da

    administrao militar.

    Art. 9, III, alnea b:

    b) em lugar sujeito administrao militar contra militar

    em situao de atividade ou assemelhado, ou contra

    funcionrio de Ministrio Militar ou da Justia Militar, no

    exerccio de funo inerente ao seu cargo;

    Crime militar praticado por civil em lugar sujeito

    Administrao Militar contra militar da ativa.

    A parte sublinha se encontra superada, pois tais sujeitos se

    submetem ao regime dos servidores civis.

    10LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de Processo Penal, vol. I, Niteri, RJ: Impetus, 2011, p. 541.

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    33

    No que tange ao juiz-auditor (membro da Justia Militar), deve-

    se atentar para a adequao necessria a ser feita tambm no art.

    82, II, CPPM. Tal dispositivo no foi recepcionado pela CF, j que o

    termo: auditor, se refere ao juiz-auditor que, como um juiz da Unio,

    ser julgado perante o respectivo TRF (art. 108, inciso I da CF/88).

    mesma concluso se chegar no que se refere ao membro do

    Ministrio Pblico Militar (Membros do MPU), que tambm detentor

    de foro por prerrogativa de funo.

    Art. 9, III, alnea c:

    c) contra militar em formatura, ou durante o perodo de

    prontido, vigilncia, observao, explorao, exerccio,

    acampamento, acantonamento ou manobras;

    Acampamento: Trata-se do estacionamento temporrio das

    tropas, onde as mesma se abrigam, o que ocorre, naturalmente, em

    barracas.

    Acantonamento: Trata-se do estacionamento das tropas em

    que elas se utilizam de instalaes j existentes.

    Formatura: Ato de forma, alinhar ou ordenar a tropa.

    Perodo de prontido: Lapso temporal em que a tropa

    permanece em sua unidade, em estado de alerta para eventual

    deslocamento.

    Perodo de vigilncia e observao: Ato ou efeito de vigiar,

    espreitar.

    Explorao: Procura no cumprimento da misso.

    Exerccio: o adestramento de tropa.

    Manobra: o adestramento da tropa com deslocamento.11

    11 LOUREIRO NETO apud ROSSETTO, Enio Luiz. Cdigo Penal Militar comentado. 1

    edio. So Paulo: Editora RT, 2012, p. 125.

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    34

    Art. 9, III, alnea d:

    d) ainda que fora do lugar sujeito administrao

    militar, contra militar em funo de natureza militar, ou no

    desempenho de servio de vigilncia, garantia e preservao

    da ordem pblica, administrativa ou judiciria, quando

    legalmente requisitado para aquele fim, ou em obedincia a

    determinao legal superior.

    De acordo com a jurisprudncia, essa funo de natureza

    militar a que se refere a presente alnea deve estar relacionada s

    atribuies primrias das Foras Armadas, delimitadas pelo art. 142

    da CF/88.

    Art. 9, nico:

    Pargrafo nico. Os crimes de que trata este artigo

    quando dolosos contra a vida e cometidos contra civil sero da

    competncia da justia comum, salvo quando praticados no

    contexto de ao militar realizada na forma do art. 303 da Lei

    no 7.565, de 19 de dezembro de 1986 - Cdigo Brasileiro de

    Aeronutica. (Redao dada pela Lei n 12.432, de 2011)

    Sobre o tema, crime contra a vida e competncia da justia

    militar, questionou o CESPE no concurso para analista do STM em

    2004:

    De acordo com a legislao penal militar, os crimes

    culposos contra a vida, em tempo de paz, praticados por

    militar em servio so considerados crimes militares.

    Certo ou Errado

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    35

    A afirmao est correta e assim se mantm, pois somente ser

    competncia do Tribunal do Jri o crime doloso contra a vida, que,

    entretanto, s no ir jri se for praticado nas circunstancias

    estabelecidas pela lei 12.432/11, que passaremos a expor nesse

    instante.

    Em 2011, a lei 12.432 incluiu exceo no pargrafo nico do

    art. 9 do CPM, para tratar do denominado tiro de destruio,

    previsto no art. 303 do Cdigo Brasileiro de Aeronutica, dispositivo

    que remonta a conhecida Lei do Abate, que ento ser da

    competncia da Justia Militar da Unio, naturalmente.

    Dispe o novo pargrafo nico:

    Os crimes de que trata este artigo quando dolosos contra a

    vida e cometidos contra civil sero da competncia da justia comum,

    salvo quando praticados no contexto de ao militar realizada na

    forma do art. 303 da Lei no 7.565, de 19 de dezembro de 1986 -

    Cdigo Brasileiro de Aeronutica.

    Por sua vez dispe o Cdigo Brasileiro de Aeronutica:

    Lei 7565/86, Art. 303. A aeronave poder ser detida por

    autoridades aeronuticas, fazendrias ou da Polcia Federal, nos

    seguintes casos:

    I - se voar no espao areo brasileiro com infrao das

    convenes ou atos internacionais, ou das autorizaes para tal fim;

    II - se, entrando no espao areo brasileiro, desrespeitar a

    obrigatoriedade de pouso em aeroporto internacional;

    III - para exame dos certificados e outros documentos

    indispensveis;

    IV - para verificao de sua carga no caso de restrio legal

    (artigo 21) ou de porte proibido de equipamento (pargrafo nico do

    artigo 21);

    V - para averiguao de ilcito.

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    36

    1 A autoridade aeronutica poder empregar os meios que

    julgar necessrios para compelir a aeronave a efetuar o pouso no

    aerdromo que lhe for indicado.

    2 Esgotados os meios coercitivos legalmente previstos, a

    aeronave ser classificada como hostil, ficando sujeita medida

    de destruio, nos casos dos incisos do caput deste artigo e aps

    autorizao do Presidente da Repblica ou autoridade por ele

    delegada.

    Em que pese a polmica a respeito do referido dispositivo, se

    houver excesso ou inadequao do tiro de destruio haver crime

    militar que ser julgado pela justia castrense federal.

    Por fim, informamos que a temtica relacionada competncia

    criminal militar da Unio obteve trs precedentes recentes, que

    facilmente podero ser cobrados em provas da Cespe.

    Assim, colacionamos os precedentes realando os trechos que

    reputamos adequados questes objetivas.

    Os dois primeiros sero exposto de forma paralela, pois apesar

    de recentes, esboam uma divergncia de fundamentao entre o

    STF e o STM a respeito da competncia para julgar delito praticado

    por civil contra Fora de Pacificao.

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    37

    STF STM

    Competncia: policiamento

    ostensivo e delito praticado por civil

    contra militar

    Compete justia federal comum

    processar e julgar civil, em tempo

    de paz, por delitos alegadamente

    cometidos por estes em ambiente

    estranho ao da Administrao

    castrense e praticados contra

    militar das Foras Armadas na

    funo de policiamento ostensivo,

    que traduz tpica atividade de

    segurana pblica. Essa a concluso

    da 2 Turma ao conceder habeas corpus

    para invalidar procedimento penal

    instaurado contra o paciente perante a

    justia militar, desde a denncia,

    inclusive, sem prejuzo da renovao da

    persecutio criminis perante rgo

    judicirio competente, contanto que

    ainda no consumada a prescrio da

    pretenso punitiva do Estado.

    Determinou-se, ainda, a remessa dos

    aludidos autos ao TRF da 2 Regio para

    que, mediante regular distribuio,

    fossem encaminhados a uma das varas

    criminais competentes. Na espcie,

    atribuir-se-ia a civil a suposta prtica de

    conduta tipificada como desacato a

    militar. Por sua vez, o membro do

    Exrcito estaria no contexto de

    atividade de policiamento, em

    virtude de processo de ocupao e pacificao de comunidades cariocas. Sopesou-se que a

    mencionada atividade seria de ndole

    eminentemente civil, porquanto

    envolveria tpica natureza de

    segurana pblica, a afastar o ilcito

    penal questionado da esfera da

    justia castrense. Pontuou-se que

    instauraria por se tratar de agente pblico da Unio a competncia da justia federal comum (CF, art. 109,

    IV). Constatou-se que o Supremo, ao

    defrontar-se com situao assemelhada,

    Justia Militar competente para

    julgar crime contra Fora de

    Pacificao

    O Superior Tribunal Militar confirmou,

    por unanimidade, a condenao de civil

    a seis meses de deteno por desacato

    contra militares da Fora de Pacificao,

    durante a ocupao do Complexo da

    Penha, no Rio de Janeiro. O Plenrio

    reafirmou tambm a competncia

    Justia Militar para julgar crimes

    em misses de garantia da lei e da

    ordem.

    De acordo com a denncia, em abril de

    2011, trs militares do Exrcito que

    serviam no Complexo da Penha foram

    acionados para reforar a segurana

    durante um tumulto na regio. Aps o

    incidente, o civil, que depois admitiu

    estar alcoolizado, voltou-se contra os

    militares com ameaas e palavras

    ofensivas, sendo logo depois contido e

    preso em flagrante.

    Na primeira instncia, em agosto de

    2012, o homem havia sido condenado

    por unanimidade a seis meses de

    deteno. No recurso julgado pelo STM,

    a defesa do acusado pleiteou a

    incompetncia da Justia Militar da

    Unio para julgar o caso, sob a alegao

    de que os militares da Fora de

    Pacificao no exercem funo tpica

    das Foras Armadas. A defesa tambm

    suscitou preliminar de

    inconstitucionalidade parcial da Lei dos

    Juizados Especiais, em razo de um

    artigo que veda a aplicao das penas

    alternativas no mbito da Justia Militar

    da Unio.

    Contrariando a alegao de

    incompetncia da Corte no julgamento

    do caso, a ministra Maria Elizabeth

    Rocha afirmou que os militares da

    Fora de Pacificao exercem

    funo tipicamente militar,

  • Curso de Direito Processual Penal Militar para

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    38

    Assim, conforme se observa, h fundamentao divergente

    sobre a competncia no caso de operaes de pacificao feitas com

    o auxlio das foras armadas, razo pela qual orientamos o candidato

    observar os termos da questo que eventualmente cobrar o

    contedo.

    Assim podemos simular algumas afirmaes viveis, haja vista

    a atualidade do tema, pois verifique o aluno que os dois precedente

    so de 2013. Vejamos:

    12 Disponvel em: http://www.stm.jus.br/publicacoes/noticias/noticias-2013/justica-

    militar-e-competente-para-julgar-crime-contra-forca-de-pacificacao

    no considerara a atividade de

    policiamento ostensivo funo de

    natureza militar. A par disso,

    reconhecera a incompetncia

    absoluta da justia castrense para

    processar e julgar civis que, em

    tempo de paz, tivessem cometido

    fatos que, embora em tese

    delituosos, no se subsumiriam

    descrio abstrata dos elementos

    componentes da estrutura jurdica

    dos tipos penais castrenses que

    definiriam crimes militares em

    sentido imprprio. HC 112936/RJ, rel.

    Min. Celso de Mello, 5.2.2013. (HC-

    112936) (Informativo 694, 2

    Turma)

    relacionada garantia da lei e da

    ordem, conforme previsto no artigo

    142 da Constituio Federal.

    Segundo a ministra, a Justia Militar

    Federal tem como misso proteger

    as instituies militares e,

    consequentemente, a soberania

    estatal em sentido amplo, sendo o

    ru civil ou militar.

    A relatora tambm rejeitou a hiptese

    da inconstitucionalidade parcial da Lei

    dos Juizados Especiais. Ela defendeu

    que a proibio legal justa e imperiosa uma vez que os crimes militares devem ter tratamento

    diferenciado em relao aos ilcitos

    penais comuns.

    (...)

    As palavras proferidas tiveram o condo de ofender a honra funcional

    dos agentes militares, declarou a ministra. Ademais a autoria ficou evidenciada de maneira inequvoca, em

    que pese a inexistncia de prova

    documental, a ocorrncia delitiva

    confirmou-se com base nos

    testemunhos colhidos em juzo, prova

    esta plenamente eficaz em fase da

    prpria natureza do delito de desacato.Braslia, 21 de maro de 201312

  • Curso de Direito Processual Penal Militar para

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    39

    Questes inditas:

    Segundo entendimento recente do STF, compete justia

    federal comum processar e julgar civil, em tempo de paz, por delitos

    alegadamente cometidos por estes em ambiente estranho ao da

    Administrao castrense e praticados contra militar das Foras

    Armadas na funo de policiamento ostensivo, que traduz tpica

    atividade de segurana pblica.

    Certo

    Segundo entendimento recente do STF, a justia castrense

    absolutamente incompetente para processar e julgar civis que, em

    tempo de paz, tivessem cometido fatos que, embora em tese

    delituosos, no se subsumiriam descrio abstrata dos elementos

    componentes da estrutura jurdica dos tipos penais castrenses que

    definiriam crimes militares em sentido imprprio.

    Certo

    Segundo entendimento recente do STM, a Justia Militar

    competente para julgar crime contra Fora de Pacificao, haja vista

    os militares da Fora de Pacificao exercerem funo tipicamente

    militar, relacionada garantia da lei e da ordem, conforme previsto

    no artigo 142 da Constituio Federal.

    Certo

    Segundo entendimento recente do STM, a Justia Militar tem

    como misso proteger as instituies militares e, consequentemente,

    a soberania estatal em sentido amplo, sendo o ru civil ou militar.

    Certo

    Segundo entendimento recente do STF, os militares da Fora de

    Pacificao exercem funo tipicamente militar, relacionada

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    40

    garantia da lei e da ordem, conforme previsto no artigo 142 da

    Constituio Federal.

    Errado

    Comentrio: A parte sublinhada est errada, pois conforme

    manifestado no informativo 694 do STF: o Supremo, ao defrontar-se

    com situao assemelhada, no considerara a atividade de

    policiamento ostensivo funo de natureza militar.

    STJ:

    DIREITO PROCESSUAL PENAL. COMPETNCIA PARA JULGAMENTO DE CRIME

    COMETIDO POR MILITAR EM SERVIO CONTRA MILITAR REFORMADO.

    A Justia Militar competente para julgar crime de homicdio praticado por

    militar em servio contra militar reformado. O fato de a vtima do delito ser

    militar reformado, por si s, no capaz de afastar a competncia da

    Justia especializada. O art. 125, 4, da CF preceitua que compete Justia

    Militar estadual processar e julgar os crimes militares dos Estados, nos crimes

    militares definidos em lei e as aes judiciais contra os atos disciplinares militares,

    ressalvada a competncia do jri quando a vtima for civil. O CPM, por sua vez,

    estabelece em seu art. 9 os crimes considerados militares em tempo de paz,

    dentre os quais prev a hiptese de crime cometido por militar em servio ou

    atuando em razo da funo, em comisso de natureza militar, ou em formatura,

    ainda que fora do lugar sujeito administrao militar contra militar da reserva, ou

    reformado, ou assemelhado, ou civil (art. 9, II, c, do CPM). Embora os militares

    na inatividade sejam considerados civis para fins de aplicao da lei penal

    militar, o prprio CPM fixa a competncia da Justia Militar quando o crime

    praticado por militar em servio contra outro na inatividade. Vale ressaltar que o

    pargrafo nico do art. 9 do CPM, ao dispor que so da competncia da

    Justia Comum os crimes nele previstos quando dolosos contra a vida e

    cometidos contra civil, no exclui da competncia da Justia Militar o

    julgamento dos ilcitos praticados nas circunstncias especiais descritas

    nos incisos I, II e III do referido artigo. Precedente citado: REsp 1.203.098-

    MG, DJe 1/12/2011. HC 173.131-RS, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em

    6/12/2012.

    Com base no precedente acima um de nossos alunos

    indagou:

    O Informativo 514 do STJ revela que no podemos equiparar

    civil a militar da reserva ou reformado na condio de vtima do

    pargrafo nico do artigo 9 do CPM. Como autor, ainda podemos

  • Curso de Direito Processual Penal Militar para

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    41

    considerar o civil em sentido amplo, abarcando esses militares da

    inatividade, certo?

    Respondemos da seguinte forma:

    Cuidado: O prprio precedente citado menciona: "Embora os

    militares na inatividade sejam considerados civis para fins de

    aplicao da lei penal militar...".

    O cuidado que se deve ter que da mesma forma que um

    militar da reserva pode ser considerado civil para fins de afastamento

    da norma, o simples fato de ser militar da reserva no suficiente

    para atrair a competncia da justia militar, pois como o prprio

    precedente citado, devem concorrer uma das hipteses previstas no

    art. 9 incisos I, II e III do CPM.

    Lembre-se ainda que tal entendimento do STJ, e caber em

    questo objetiva se for mencionado: Segundo o entendimento do

    STJ...

    Grande abrao e Sucesso!

    Mantemos-nos disposio!

    Prof. Pablo Farias Souza Cruz