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Cadernos de a C O L E Ç Ã O Tecnologia e Trabalho CA10_eja_iniciais.qxd 15.12.06 16:45 Page 1

Complementar brasil secadimec cadernos de eja tecnologia e trabalho (1)

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C a d e r n o s d e

aCO

LE ÇÃO

Tecnologiae Trabalho

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A o longo de sua história, o Brasil tem enfrentado o problema da exclusão social que

gerou grande impacto nos sistemas educacionais. Hoje, milhões de brasileiros ainda

não se beneficiam do ingresso e da permanência na escola, ou seja, não têm acesso a um

sistema de educação que os acolha.

Educação de qualidade é um direito de todos os cidadãos e dever do Estado; garantir o

exercício desse direito é um desafio que impõe decisões inovadoras.

Para enfrentar esse desafio, o Ministério da Educação criou a Secretaria de Educação

Continuada, Alfabetização e Diversidade – Secad, cuja tarefa é criar as estruturas necessárias

para formular, implementar, fomentar e avaliar as políticas públicas voltadas para os grupos

tradicionalmente excluídos de seus direitos, como as pessoas com 15 anos ou mais que não

completaram o Ensino Fundamental.

Efetivar o direito à educação dos jovens e dos adultos ultrapassa a ampliação da oferta

de vagas nos sistemas públicos de ensino. É necessário que o ensino seja adequado aos que

ingressam na escola ou retornam a ela fora do tempo regular: que ele prime pela qualidade,

valorizando e respeitando as experiências e os conhecimentos dos alunos.

Com esse intuito, a Secad apresenta os Cadernos de EJA: materiais pedagógicos para o

1.º e o 2.º segmentos do ensino fundamental de jovens e adultos. “Trabalho” será o tema da

abordagem dos cadernos, pela importância que tem no cotidiano dos alunos.

A coleção é composta de 27 cadernos: 13 para o aluno, 13 para o professor e um com

a concepção metodológica e pedagógica do material. O caderno do aluno é uma coletânea

de textos de diferentes gêneros e diversas fontes; o do professor é um catálogo de ativi-

dades, com sugestões para o trabalho com esses textos.

A Secad não espera que este material seja o único utilizado nas salas de aula. Ao con-

trário, com ele busca ampliar o rol do que pode ser selecionado pelo educador, incentivan-

do a articulação e a integração das diversas áreas do conhecimento.

Bom trabalho!

Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade – Secad/MEC

Apresentação

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Sumário

TEXTO Subtema

1. Encontro felizRelicostumes 6

2. A tecnologia que reduz o mercado de trabalho 8

3. Quem foi Santos Dumont?Diversidades regionais 10

4. O desemprego tecnológico Maturidade social 12

5. Revolução tecnológica destrói empregos, mas cria trabalhosMiscigenação15

6. Novas diferenças sociais Crítica social 16

7. Queremos saber Trabalhadores 19

8. Memória telefônicaultura suburbana 20

9. O relógio de ponto 23

10. Revolução industrial e mudança 24

11. Brasil: 500 anos inventando 28

12. Caminho errado 31

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13. Números do IBGE detectam a extinção de empregos Índios do Brasil 32

14. Ford e seus 25 “sistemistas” produzem um carro a cada 80 segundos 34

15. Mas quem tem acesso à tecnologia?Direitos civis 37

16. Feito para durar Origens dos trabalhadores 38

17. Tecnologia socialÍndios do Brasil 44

18. Aptidão 47

19. A peleja do cordel de feira com a Internet Olhos da alma 50

20. Technological overdoses Arte culinária 53

21. El imprescindible teléfono móvilArte culinária 54

22. Luzes mal distribuídasArte culinária 56

23. Admirável mundo novo Arte culinária 57

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• Tecnologia e Trabalho6

Histór ia da tecnologiaTEXTO 1

Tecnologia é uma palavra de origemgrega, que tem um significado muitoabrangente: de uma forma geral, re-

presenta o encontro entre ciência e enge-nharia.

O termo tecnologia pode incluir desdeas ferramentas mais simples, como as quese usam para fabricar uma colher de ma-deira, e processos como a fermentação dauva, até as ferramentas e os processos maiscomplexos já criados pelo ser humano, porexemplo, a Estação Espacial Internacionale a dessalinização da água do mar, respec-tivamente. Freqüentemente, a tecnologiaentra em conflito com algumas preocu-pações naturais de nossa sociedade, comoo desemprego, a poluição e muitas outrasquestões como as ecológicas, filosóficas esociológicas.

Dependendo do contexto, a tecnologiapode significar:

P As ferramentas e as máquinas queajudam a resolver problemas.

P Um método ou processo de constru-ção e trabalho (tal como a tecnologiade manufatura, a tecnologia de infra-estrutura ou a tecnologia espacial).

P A aplicação de recursos para a reso-lução de problemas.

P O termo também pode ser usadopara descrever o nível de conheci-mento científico, matemático e téc-nico de uma determinada cultura.

P Na economia, a tecnologia é o estadoatual de nosso conhecimento de comocombinar recursos para produzir osprodutos desejados (e nosso conheci-mento do que pode ser produzido).

Tecnologia e economia

O equilíbrio entre as vantagens e asdesvantagens que o avanço da tecnologiatraz para a sociedade é muito tênue. A prin-cipal vantagem é refletida na produçãoindustrial: a tecnologia torna a produçãomaior e mais rápida e, ainda assim, o resul-

A união entre ciência e engenharia produz a

alavanca que move o mundo

ENCONTRO FELIZ

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tado final é um produto mais barato e commaior qualidade.

Porém, as desvantagens que a tecnolo-gia traz são de tal forma preocupantes, quequase superam as vantagens. Uma delas éa poluição, que, se não for controlada atempo, evoluirá para um quadro irreversí-vel. Outra desvantagem se refere ao desem-prego gerado pelo uso intensivo das má-quinas na indústria, na agricultura e nocomércio. Esse tipo de desemprego, em queo trabalho do homem é substituído pelotrabalho das máquinas, chama-se “desem-prego estrutural”.

História da tecnologia

A história da tecnologia é quase tãoantiga como a história da humanidade, des-de quando as pessoas começaram a usarferramentas para caçar e se proteger.

Para serem criadas, todas as ferramen-tas necessitaram, antes de tudo, utilizar umrecurso natural adequado. Assim, a história

da tecnologia acompanha a cronologia douso dos recursos naturais, desde as ferra-mentas e fontes de energia mais simples àsferramentas e fontes de energia mais com-plexas. As tecnologias mais antigas con-verteram recursos naturais em ferramentassimples: a raspagem das pedras, e as ferra-mentas mais antigas como a pedra lascadae a roda, foram meios simples para a con-versão de materiais brutos e “crus” em pro-dutos úteis. Os antropólogos descobrirammuitas habitações e ferramentas feitas dire-tamente a partir dos recursos naturais.

Tecnologia e Trabalho • 7

Os implementos de traçãoanimal e rabiça (esq.) e as

modernas máquinas motorizadas (dir.) têm

duas diferenças essenciais:o custo de operação da

segunda só serve para osgrandes, e o primeirorespeita mais o solo.

Fonte P Wikipedia – A Enciclopédia Livre.

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Antes de analisarmos a fundo a questãodos empregos, é preciso ter uma basede como os avanços tecnológicos in-

fluíram até hoje na vida do homem. Em seulivro A Idade do Acesso, o americano JeremyRifkin dividiu a história dos meios de pro-dução em três períodos (Primeira, Segundae Terceira Revolução Industrial). A expres-são "Revolução Industrial" talvez seja umexagero no caso da terceira, pois atualmenteessas grandes mudanças englobam muitomais do que a indústria. No caso da primeirae segunda, a expressão ainda se aplica, poisse tratava de épocas em que a sociedade e oprogresso da humanidade giravam em tornode fábricas ou indústrias.

Inicio do século 20: cada peçaexigia um montador

Fábrica moderna, com robôs substituindo operários

Foto: Iconografia

A TECNOLOGIA QUE REDUZ O MERCADO DE TRABALHO

Tecnologia e desempregoTEXTO 2

• Tecnologia e Trabalho8

Foto: Itamar Miranda / AE

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Tecnologia e Trabalho • 9

Primeira Revolução Industrial

Na Primeira Revolução Industrial, aenergia movida a vapor foi usada para aextração de minério, na indústria têxtil e nafabricação de uma grande variedade debens que anteriormente eram feitos a mão.O navio a vapor substituiu a escuna e alocomotiva a vapor substituiu os vagõespuxados a cavalo, melhorando significati-vamente o processo de transporte dematéria-prima de produtos acabados. Subs-tituindo, assim, muito do trabalho físico.

Segunda Revolução Industrial

A Segunda Revolução Industrial ocorreentre 1860 e a Primeira Guerra Mundial. Opetróleo começou a competir com o carvãoe a eletricidade foi efetivamente utilizadapela primeira vez, criando uma nova fontede energia para operar motores, iluminarcidades e proporcionar comunicação instan-tânea entre as pessoas. A exemplo da revo-lução do vapor , o petróleo a eletricidade eas invenções que os acompanharam naSegunda Revolução Industrial continuarama transferir a carga da atividade econômicado homem para a máquina.

Terceira Revolução Industrial

A Terceira Revolução Industrial surgiuimediatamente após a Segunda GuerraMundial e somente agora está começandoa ter um impacto significativo no modocomo a sociedade organiza sua atividadeeconômica. Robôs com controle numéri-co, computadores e softwares avançadosestão invadindo a última esfera humana –os domínios da mente. Adequadamenteprogramadas, essas novas "máquinas in-teligentes" são capazes de realizar funçõesconceituais, gerenciais e administrativas ede coordenar o fluxo da produção, desdea extração da matéria-prima ao marketinge à distribuição do produto final e deserviços.

Extraído do site www.ime.usp.br/~is/ddt/mac333/ projetos/fimdos-empregos/revolucoes.htm

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O14bis tem esse nome porque foi tes-tado por Santos Dumont, acopladoao seu dirigível de nº 14. Dumont

preferiu chamá-lo de “bis”, em vez de darum novo número.

O relógio de pulso também foi criaçãode Santos Dumont. Enquanto pilotava seusdirigíveis, Dumont não tinha como acom-panhar os segundos e minutos em que per-manecia no ar com o relógio de bolso. Oaviador sugeriu então ao amigo relojoeiroCartier que adaptasse “alças” ao objeto. Omodelo do relógio foi chamado de “Santôs”e existe até hoje.

Santos Dumont foi o primeiro aeronau-ta a utilizar motores a petróleo em diri-gíveis. Muitos inventores da época acre-

ditavam haver risco de explosão ao colocaro motor em proximidade com o gás (hi-drogênio) que preenchia os balões. SantosDumont provou que era possível a utiliza-ção dos motores a petróleo nos balões.

Santos Dumont foi o único dentre seusirmãos a não concluir curso superior. Oinventor nunca teve uma formação regular.Era um esportista, como relatou um amigoda época de estudos: “aluno pouco aplica-do, ou melhor, nada estudioso para as ‘teo-rias’, mas de admirável talento prático emecânico e, desde aí, revelando-se, emtudo, um gênio inventivo”.

Em 1909 Santos Dumont apresen-tou seu último invento aeronáutico: oDemoiselle 20. Foi o primeiro ultraleve da

InvençõesTEXTO 3

QUEM FOI SANTOS DUMONT?

QUEM FOI SANTOS DUMONT?

• Tecnologia e Trabalho10

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Tecnologia e Trabalho • 11

história, com apenas 115 kg, envergadurade 5,50 m e comprimento de 5,55 m, eraacionado por um motor de 24 cavalo-vapor. Santos Dumont publicou os planosdo Demoiselle 20 e permitiu que ele fosseconstruído por algumas firmas. O apare-lho foi copiado e tornou-se um modelopopular.

Santos Dumont instruiu a primeiramulher a voar sozinha em um dirigívelconstruído por ele. Após três “lições”, em29 de junho de 1903, a jovem cubana AídaD’Acosta decolou no nº 9 do inventor,fazendo o percurso de Neuilly-Saint-Jamesao campo de Bagatelle (Paris, França).

Alberto Santos Dumont nasceu em 20de julho de 1873, em Minas Gerais, no sítio

de Cabangu, próximo à cidade que hojeleva seu nome.

O jovem Alberto Santos Dumont foi alfa-betizado por sua irmã Virgínia. Estudouainda em Campinas, no Colégio Culto àCiência, e, em São Paulo, nos colégios Kopkee Morton e na Escola de Ouro Preto.

Em 1910, Santos Dumont anunciousua intenção de parar de voar. Ele começa-va a sentir os sintomas da esclerose múlti-pla que o perseguiria até o final da suavida. Seu avião Demoiselle foi vendido aum piloto aspirante que, mais tarde, seriaum dos maiores ases da Primeira GuerraMundial: Roland Garros.

O dirigível número 6 contornaria a Torre Eiffel na disputa do Prêmio Deutsch vencido pelo inventor brasileiro.

Em um de seus primeiros balões,Santos Dumont instalou o

primeiro motor embarcado emuma aeronave.

Extraído do site www.santosdumont.14bis.mil.br

Campo de Bagatelle, Paris,1906: o 14 bis em seu

histórico primeiro vôo.

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O DESEMPREGO

Relações no t rabalhoTEXTO 4

• Tecnologia e Trabalho12

TECNOLÓGICOLauro A.MonteclaroCésar Jr.

Ilust

raçã

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Oproblema mais grave destes pri-meiros anos do terceiro milêniotalvez seja a ameaça do chamado

desemprego tecnológico – o desempregogerado pela combinação da utilização emgrande escala da tecnologia de informáti-ca e telecomunicações, aliada às novastécnicas como meio de aumentar a pro-dutividade das empresas, com a conse-qüente redução da mão-de-obra.

Os estudiosos do problema costumamse dividir em dois grupos com opiniõesdivergentes. De um lado, os pessimistasque pensam que a automação eliminarárapidamente os empregos industriais e osde serviços. Consideram que o desem-prego global atingiu seu nível mais altodesde a década de 1930, com mais de 800milhões de pessoas no mundo desempre-gadas ou subempregadas.

Essas idéias costumam ser refutadaspelos otimistas, que acreditam que a ativi-dade econômica mudaria da produção debens para a prestação de serviços. O fim doemprego rural seria seguido pelo fim doemprego industrial, em benefício doemprego do setor de serviços. E este consti-tuiria a maioria esmagadora das ofertas deemprego. A nova economia aumentaria aimportância das profissões com grandeconteúdo de informação e conhecimentosem suas atividades. As profissões adminis-trativas, especializadas e técnicas cres-ceriam mais rápido que qualquer outra, e

constituiriam o cerne da nova estruturasocial.

Assim, de acordo com o partido “oti-mista”, não há nada com o que se preocu-par: depois de um período de ajustes, o fimde empregos nos setores convencionaisseria compensado por uma grande ofertade colocações. Essas colocações, no entan-to, exigiriam alta qualificação profissional.A solução, portanto, seria simples: aumen-tar o nível de escolaridade e a capacitaçãotécnica da população.

Infelizmente, não é o que se observa nodia-a-dia, e os números demonstram queo partido “pessimista” tem razão. Até mes-mo os “otimistas” concordam que para tudodar certo é necessário haver um “espetácu-lo do crescimento” em termos globais: seos governos não forem capazes de intervirpara reduzir as jornadas de trabalho, asconseqüências seriam aquelas descritaspelos “pessimistas”.

Vamos analisar como cada país deveráagir para se inserir na nova economia. Apartir de discursos de empresários e econo-mistas, o que fica claro é o seguinte:

• É necessário o aumento de produtivi-dade mesmo à custa do aumento dodesemprego, pois o superávit geradopoderá ser usado para criar novosempregos.

• Alegam que a expansão do comér-cio global faria com que essa com-petição entre nações não tivesse

Tecnologia e Trabalho • 13

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como resultado uma “soma zero”,ou seja, o aumento da riqueza glob-al. Na realidade, faria com que osuperávit obtido por cada país fossemaior a cada ano, de modo que to-dos ganhariam.

• É aí que está o problema. Porque oque se observa é o seguinte:

• As empresas se valem das novas tecnolo-gias para transferir empregos de seuspaí-ses para outros onde a mão-de-obra é mais barata.

• O superávit obtido é investido, cada vezmais, em tecnologias substitutivas demão-de-obra em seus próprios países.

• Os governos são cada vez mais impo-tentes para influir sobre qualquer de-cisão importante que envolva a eco-nomia global.

Ora, uma das condições absolutamentenecessárias para o aumento da demanda éo aumento da renda das populações. Mas oquesito básico para a inserção de qualquerpaís pobre na economia global acaba sendoo de sua população permanecer pobre. Seos salários e benefícios aumentarem, o paísdeixará de ser competitivo e sua populaçãovoltará imediatamente à “exclusão”.

Para os países ricos sobra a opção detransferir seus cidadãos de empregos comaltos salários para empregos terceirizados,temporários, de meio período, contratadospor projeto etc. Em todos os casos háredução de salários e/ou benefícios. Então

fica a pergunta: se a renda nos países ricosdeve cair e nos países pobres deve se man-ter baixa, de onde virá o aumento da de-manda? Apenas o consumo de luxo será ca-paz de gerá-la?

Por outro lado, toda a pressão políticaque vem sendo feita, tanto em países ricosquanto nos subdesenvolvidos, é no sentidode uma menor interferência do Estado naeconomia. Quanto “menos governo” me-lhor. Por toda parte se fala em desregula-mentação, em flexibilização das leis traba-lhistas etc. Outra pergunta: de onde viráuma possível reação capaz de reduzir asjornadas de trabalho e não o emprego?

Apesar de haver um aumento das exigên-cias em termos de educação e treinamento, amaioria dos profissionais apenas conseguemanter em parte sua renda. De outro lado,um pequeno grupo passou a obter salárioscada vez maiores e os empresários de suces-so fizeram fortunas inimagináveis.

O aumento das desigualdades gera con-flitos sociais de todo tipo. É urgente reequi-librar as sociedades para evitar os confli-tos. Quem poderá fazer isso? Os governose partidos políticos atuais? Será possívelfazê-lo por meios pacíficos e institucionais?

Essas são de fato as perguntas maisimportantes, cuja capacidade de respostadependerá futuro das novas liderançaspolíticas e sociais.

• Tecnologia e Trabalho14

Extraído do site www.espacoacademico.com.br/036/36ccesar.htm

Revista Espaço Acadêmico – Nº. 036 – maio de 2004

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Renato Pompeu

Os avanços tecnológicos das últimas trêsdécadas destruíram uma grande massade empregos permanentes e de carreiras

estáveis, mas criaram muitos trabalhos temporá-rios. A robotização e a informática tornaramdesnecessária grande parte da mão-de-obraque havia sido imprescindível no setor da pro-dução nos períodos anteriores. Os operáriose funcionários administrativos foram sendosubstituídos por equipes cada vez maisenxutas, que trabalham com equipamentosde altos níveis de produtividade e qualidade.

No Brasil isso se refletiu na queda rela-tiva do número de empregos com carteiraassinada no setor de produção, tanto nasfábricas como nas seções administrativas.Está acabando a era do emprego estável,com férias e descanso semanal remunera-

dos, com direito a indenização no caso dedispensa sem justa causa.

Mas isso não significa necessariamenteque as pessoas fiquem sem oportunidades derenda. Está surgindo um novo tipo de traba-lhador, em especial no setor de serviços, quetem renda por tarefas executadas. Esse tra-balhador, ao contrário do antigo, não temuma profissão fixa em que se especializa e sequalifica, seguindo uma carreira: uma jovem,por exemplo, pode passar um tempo comofaxineira, ou como cabeleireira, depois tra-balhar em algum lugar como auxiliar admi-nistrativo temporária, em seguida, comobabá ou acompanhante de pessoa idosa, oucomo modelo de publicidade para pequenasempresas, ou para calendários. É a era emque a grande massa de trabalhadores garan-te a sua renda pulando de bico em bico.

TEXTO XX

Tecnologia e Trabalho • 15

Foto

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r

Relações do t rabalhoTEXTO 5

Desenvolvimento diminuiu empregos e gerou novas profissões

Oficina de informática da CasaÁgua e Vida para moradores de

baixa renda de Garulhos, 9 de agosto de 2006.

REVOLUÇÃO TECNOLÓGICA DESTRÓIEMPREGOS,MAS CRIA TRABALHOS

Texto escrito por Renato Pompeu, escritor e jornalista.

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Acesso à tecnologiaTEXTO 6

• Tecnologia e Trabalho16

Ainformática facilitou a vida dos tra-balhadores, mas ao mesmo tempoaumentou as diferenças entre as

classes sociais. Quem não sabe utilizar umcomputador ou desconhece um vocabulá-rio mínimo de inglês – a língua mais faladana Internet – está condenado a perder boasoportunidades de emprego. Para evitar queas portas se fechem aos mais pobres emenos escolarizados, um projeto governa-mental começou a tomar forma em MatoGrosso, em 2003, e está espalhado por todoo país. Trata-se do programa ComunidadeBrasil, que monta centros de informáticapara comunidades carentes.

Como funcionam os telecentros

Cada telecentro é equipado, no míni-mo, com dez computadores, um servidor,uma impressora e um scanner, que ficam àdisposição de qualquer pessoa que queirautilizá-los, sem custo algum. Três morado-res do local são treinados para ajudar osusuários a se conectar à Internet, a realizartrabalhos escolares e a organizar cursos viaweb em diversas áreas de interesse.

Estágio difícil

De acordo com os relatórios do Ins-tituto Euvaldo Lodi (IEL), que coloca estu-dantes para estagiar em empresas, cerca de

NOVAS DIFERENÇASSOCIAISQuem não sabe usar um computador hoje está condenado a perder bons empregos

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60% dos candidatos a estágio de nívelmédio são analfabetos em informática. Oteste para medição de conhecimentos écomposto por dez perguntas simples como:“Você sabe ligar um computador?” Quemnão consegue responder pelo menos cincoquestões é considerado analfabeto em in-formática e aconselhado a procurar umcurso para se atualizar. O fator renda estáassociado ao desconhecimento de noçõesde informática, pois quase 90% dos candi-datos a estágio em nível médio não têmcomputador em casa. A situação se inverteno topo da pirâmide escolar: só 3% doscandidatos a vagas em nível superior sãoanalfabetos digitais. Desse universo, cercade 90% possuem computador em casa.

A estudante Carla Cristina AmaralAbreu, de 20 anos, moradora de Luziânia,Mato Grosso, teve dificuldade para conseguirestágio por causa da falta de conhecimentosde informática. Não havia computador naescola de ensino médio onde estudava: noIEL ficou sabendo que todas as vagas ofere-cidas exigiam noções de informática. A estu-dante fez um curso de quatro meses no Senace obteve colocação rapidamente. “Sem ocurso, jamais teria conseguido a vaga”, diz.

A utilização da informática facilita mui-to a vida. O que antigamente levava horaspara fazer – principalmente enfrentando filas – hoje se faz em segundos pela Inter-net. Cerca de 70% dos serviços do governofederal são oferecidos na rede mundial decomputadores. O mais conhecido é a decla-ração de rendimentos pela Receita Federal.

A Internet é a maior biblioteca do mun-do. Em poucos minutos é possível reunirinformações suficientes para a realização deum bom trabalho escolar e dados importan-tes para a execução de tarefas profissionais.

A comunicação por e-mail permite a trans-ferência de uma quantidade enorme de co-nhecimento de um ponto a outro do planeta.Conversas pela rede mundial de computadoressão muito mais baratas do que por telefone.

Desigualdade em números

Hoje no Brasil, apenas um percentualreduzido da população, em torno de 10%,tem contato com microcomputadores e In-

Tecnologia e Trabalho • 17

A maioria fica de fora

Veja como estão distribuídos os inter-nautas no Brasil e no mundo, em %

3,54América Latina

27,68Europa

22,83Ásia

0,61África

45,35Estados Unidos

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ternet, seja no trabalho ou em casa. Por essemotivo há um esforço coletivo envolvendogoverno, empresas privadas e organizaçõesnão-governamentais (ONGs) para resolveresse problema, como o CDI (Comitê paraDemocratização da Informática, www.cdi.org.br). O CDI foi uma das primeiras orga-nizações a atacar a exclusão digital na Amé-rica Latina. Criado em março de 1995, jácapacitou milhares de pessoas de baixa ren-da em dez países.

Cerca de 90% dos atendidos são brasi-leiros, espalhados por dezenove Estados.São escolas auto-sustentáveis, em que oaluno paga uma mensalidade simbólica, de10 reais, por um curso com duração de trêsmeses.

*para a revista Desafios do Desenvolvimento, abril de 2005

Texto 6 / Exc lusão d ig i ta l

• Tecnologia e Trabalho18

Internet no Brasil

5,46

20,51

32,58

9,59

17,58

6,89

Ensinobásico

Ensinomédio(comp.)

Ensino médio(incomp.)

Ensinosuperior(comp.)

Ensinosuperior(incomp.)

Pós-graduação

Outros

7,36

13,6 milhõesde pessoas, 8% da população,acessam a Internet de seuspróprios computadores.

OS ACEITOS NA FESTAPesquisa feita em 49,1 milhões de domicílios mostraa diferença entre ricos e pobres no acesso à tecnologia

Com microcomputadorSem microcomputadorCom acesso à Internet

ATÉ 10 SALÁRIOSMÍNIMOS

ATÉ 20 SALÁRIOSMÍNIMOS

38.129,6 mil

1.511,1 mil

3.413,9 mil2.134,3 mil

1.377,8 mil

418,5 mil

Veja o perfil do internauta brasileiro por graude instrução, em %.

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Tecnologia e Trabalho • 19

Letra e música: Gilberto Gil, 1976

Acesso à tecnologiaTEXTO 7

Queremos saberO que vão fazerCom as novas invençõesQueremos notícia mais sériaSobre a descoberta da antimatériaE suas implicaçõesNa emancipação do homemDas grandes populaçõesHomens pobres das cidadesDas estepes, dos sertões

Queremos saberQuando vamos terRaio laser mais baratoQueremos de fato um relatoRetrato mais sérioDo mistério da luzLuz do disco voadorPra iluminação do homemTão carente e sofredorTão perdido na distânciaDa morada do Senhor

Queremos saberQueremos viverConfiantes no futuroPor isso se faz necessárioPrever qual o itinerário da ilusãoA ilusão do poderPois se foi permitido ao homemTantas coisas conhecerÉ melhor que todos saibamO que pode acontecer

Queremos saberQueremos saberTodos queremos saber

Gege Edições Musicais Ltda (Brasil e América do Sul) Preta Music (Resto do mundo) in O Viramundo

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QUEREMOS SABER

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A tecnologianão pára de

mudar a vidadas pessoas

Tecnologia e cot id ianoTEXTO 8

• Tecnologia e Trabalho20

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Renato Pompeu

Ahistória do telefone é um bom exem-plo das mudanças provocadas na vidadas pessoas nos últimos dois séculos.

Com efeito, a história do telefone pas-sou por diversos estágios desde a sua inven-ção na segunda metade do século 19. Noinício, só era possível ligar de um telefonepara outro e só na segunda metade do sécu-lo 19 é que foram instaladas as primeirasredes urbanas de telefones, com cada assi-nante podendo ligar para qualquer outroassinante. No decorrer das décadas foramsendo sucessivamente instaladas, já no sécu-lo 20, as redes interurbanas, inter-regionaise em escala mundial.

Os aparelhos também foram mudando.Um dos primeiros modelos foi o telefone amagneto, no qual se movimentava umamanivela para acionar à distância a cam-painha de outro telefone. Esse modelo foiusado até a Segunda Guerra Mundial nascomunicações durante as batalhas, com ouso do chamado telefone de campanha.

Na passagem do século 19 para o sécu-lo 20, surgiu o chamado telefone manual.Por esse sistema não era possível ligar dire-tamente de um aparelho para outro; eranecessária a mediação de uma telefonista.O telefone não tinha nem disco, nem tecla-

do, nem manivela: erguendo-se o fone emuma casa ou escritório, acionava-se auto-maticamente a mesa de uma telefonista emalguma estação - e lá vinha a frase que setornou célebre: “Número, faz favor?” A pes-soa dizia o número e a telefonista comple-tava a ligação, acionando o telefone dese-jado.

Esse sistema se manteve até recente-mente nas ligações interurbanas e interna-cionais.

O telefone manual era tão entranhadonos hábitos da população que foi objeto deversos de canções populares, como o céle-bre “Telefone ao menos uma vez para o 34-4333, e ordene ao seu Osório que nos tragaum guarda-chuva aqui para o nosso escri-tório”, de Noel Rosa, e o não menos céle-bre “Pennsylvania 6-500”, consagrado peloamericano Glenn Miller; ambas as cançõesdos anos 1930.

Depois de dominar durante décadas, otelefone manual foi substituído após aSegunda Guerra Mundial pelo telefone adisco, que prescindia da telefonista, inicial-mente, nas ligações locais. A pessoa disca-va o número desejado, mas ainda tinha dediscar para a telefonista se quisesse fazeruma ligação interurbana ou internacional.

Tecnologia e Trabalho • 21

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Nos anos 1980 surgiu o telefone a tecla-do, em que a ligação é mais rápida, menoscomplicada, com menos riscos de erro (ochamado “engano”) e mais segura. O telefo-ne acoplou-se na mesma época à Internet.

Mais alguns anos e, com o celular, come-çou uma verdadeira revolução permanentena telefonia. Com ele é possível ligar-se àinternet, e à televisão; localizar alguem emqualquer lugar do mundo; baixar músicas efilmes, tirar fotografias, etc.

Essa sucessão de avanços primeiramen-te graduais, por meio de estágios tecnoló-gicos de grande duração, seguida do atualperíodo de grande instabilidade e eferves-cência tecnológicas reflete o andamento,nos dois últimos séculos, das revoluçõestecnológicas, que primeiro se deram pormeio de sucessivos patamares estáveis atéchegar ao atual patamar instável.

Primeiro, na passagem do século 18 parao 19, houve a introdução da máquina avapor. Depois, já na segunda metade do sécu-lo 19, surgiram o petróleo, a eletricidade e a

química pesada. Na primeira metade do sé-culo 20, surgiram o fordismo e o taylorismo,ou seja, a linha de montagem e a cronome-tragem de ações regulares no interior dasfábricas. Foi nesse estágio do fordismo e dotaylorismo que se desenvolveu o comunis-mo, com sua planificação centralizada e au-sência de concorrência.

Entretanto, se é possível planejar aindústria, a agricultura e o comércio, não épossível planejar o desenvolvimento tecno-lógico, que no capitalismo se dá pela con-corrência. Quando o patamar relativamen-te estável do fordismo e do taylorismo foisubstituído pelo atual patamar eminente-mente instável da robótica, computadori-zação, bioengenharia e química fina, a im-possibilidade de um planejamento centrale único para as mudanças levou à derroca-da do comunismo.

Texto 8 / Tecnologia e cot id iano

• Tecnologia e Trabalho22

Texto escrito por Renato Pompeu, escritor e jornalista.

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É quase dia, a cama não esquenta, e ela pensa no relógio de ponto.O jantar, mal engoliu, ainda o sente,e ela pensa no relógio de ponto.O café, meio fraco, o pó, quase não deu,e ela pensa no relógio de ponto.O tecido tão macio, linha, tesoura,e ela pensa no relógio de ponto.A máquina de costura a contragosto,resmungando…e ela pensa no relógio de ponto.O marido, os filhos, tudo certo, mas nem tanto,e ela pensa no relógio de ponto.A dor da unha encravada, o teto alto da fábrica,e ela pensa no relógio de ponto.O dinheiro do gás, a regra atrasada,e ela pensa no relógio de ponto.O futebol insuportável, a vizinha de saia curta,e ela pensa no relógio de ponto.O choro do caçula, o doce de banana,e ela pensa no relógio de ponto.O tecido macio, a regra atrasada, o teto alto, omarido, o docede banana, o café fraco, e a máquina de costuraresmungando...O sono e o relógio de ponto.

Fonte: DEDIC Escreve – poesias e contos © Mobitel s/a – p. 55 – 2005.

Tecnologia e Trabalho •

TEXTO 12 Tecnologia e cot id ianoTEXTO 9

23

O RELÓGIO DE PONTORosene Mara Monteiro de Toledo

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raçã

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Ainvenção mais notável do começo daRevolução Industrial foi obra dooperário inglês James Watt. Ele não

criou a máquina a vapor, ele a aprimorou.Em 1765, ele criou a primeira máquina avapor realmente eficaz. A idéia básica eracolocar o carvão em brasa para aquecer aágua até que ela produzisse muito vapor. Amáquina girava por causa da expansão e dacontração do vapor posto dentro de umcilindro de metal. As máquinas a vapor ti-nham muitas utilidades. Retiravam a águaque inundava as minas subterrâneas. Mo-vimentavam os teares mecânicos, que pro-duziam tecidos de algodão. Com isso, aInglaterra se tornou a maior exportadoramundial de tecidos. Nas primeiras décadasdo século 19, as máquinas a vapor equipa-ram navios e locomotivas. A Inglaterra, aFrança, a Alemanha e os EUA instalarammilhares de quilômetros de ferrovias edesenvolveram espetacularmente as indús-trias de ferro e de máquinas.

REVOLUÇÃO INDUSTRIAL E

MUDANÇA

• Tecnologia e Trabalho24

Desenvolvimento tecnológicoTEXTO 10

Acervo Iconographia

A indústria, por natureza, é a depositária final de toda a tecnologia produzida pelo homem, não importa para que setor tenha sidodesenvolvida

Setor de produção de tear

de fábrica de rede,São Bento, PB.

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A máquina a vaporAs primeiras máquinas a vapor foram

construídas pelos gregos antigos, mas nun-ca foram muito usadas. Na Inglaterra, du-rante o século 18 foram desenvolvidas asprimeiras máquinas a vapor economica-mente viáveis. Retiravam a água acumula-da nas minas de ferro e de carvão e fabri-cavam tecidos. Graças a essas máquinas, aprodução de mercadorias aumentou muito.E os lucros dos proprietários de fábricascresceram na mesma proporção. Por isso,os empresários ingleses começaram a inves-tir na instalação de indústrias. As fábricasse espalharam rapidamente pela Inglaterrae provocaram mudanças tão profundas,que os historiadores atuais chamam aqueleperíodo de Revolução Industrial. O modode vida e a mentalidade de milhões depessoas se transformaram numa velocida-de espantosa. O mundo novo do capitalis-

mo, da cidade, da tecnologia e da mudan-ça incessante triunfou.

As carruagens viajavam a 12 km/h e oscavalos, quando se cansavam, tinham deser trocados durante o percurso. Um tremda época alcançava 45 km/h e podia seguircentenas de quilômetros. Assim, a Revolu-ção Industrial tornou o mundo mais veloz.

Efeitos na sociedadeNa esfera social, o principal desdobra-

mento da revolução foi a tranformaçãonas condições de vida nos países indus-triais em relação aos outros países daépoca, havendo uma mudança progressi-va das necessidades de consumo da popu-lação conforme novas mercadorias foramsendo produzidas.

A Revolução Industrial alterou profun-damente as condições de vida do traba-lhador braçal, provocando inicialmente

Tecnologia e Trabalho • 25

1733John Kay inventa a

lançadeira volante.

1740Benjamin Huntsman desen-

volve o processo de pro-

duzir aço tipo crucible.

1767James Hargreaves inventa a

spinning jenny, que permi-

tia a um só artesão fiar 80

fios de uma única vez.

Linha dotempo

1768James Watt inventa a

máquina a vapor.

1769Richard Arkwright inventa a

water frame (corte de pre-

cisão com o emprego de

um filatório hidráulico).

1779Samuel Crompton inventa a

mule, uma combinação da

water frame com a spinningjenny com fios finos e

resistentes.

1785Edmond Cartwright

inventa o tear

mecânico.

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um intenso deslocamento da populaçãorural para as cidades, criando enormesconcentrações urbanas. A população deLondres cresceu de 800.000 habitantes em1780 para mais de 5 milhões em 1880, porexemplo. Durante o início da RevoluçãoIndustrial, os operários viviam em condi-ções horríveis se comparadas às condiçõesdos trabalhadores do século seguinte. Ten-do um cortiço como moradia, ficavamsubmetidos a jornadas de trabalho enor-mes, que chegavam até a oitenta horas porsemana. O salário era medíocre (em tornode 2,5 vezes o nível de subsistência) etanto mulheres como crianças tambémtrabalhavam, recebendo um salário aindamenor.

A produção em larga escala e divididaem etapas iria distanciar cada vez mais otrabalhador do produto final, já que cadagrupo de trabalhadores passava a dominarapenas uma etapa da produção, mas suaprodutividade ficava maior. Como suaprodutividade aumentava, os salários reaisdos trabalhadores ingleses aumentaram emmais de 300% entre 1800 e 1870. Devidoao progresso ocorrido nos primeiros noven-ta anos de industrialização, em 1860 ajornada de trabalho na Inglaterra já sereduzia para cerca de cinqüenta horassemanais (dez horas diárias em cinco diasde trabalho por semana).

Horas de trabalho por semana paratrabalhadores adultos nas indústrias têxteis:

Movimento ludista

Reclamações contras as máquinas in-ventadas após a revolução para poupar amão-de-obra já eram normais. Mas foi em1811 que o estopim estourou e surgiu omovimento ludista, uma forma mais radicalde protesto. O nome deriva de Ned Ludd,um dos líderes do movimento. Os ludistaschamaram muita atenção pelos seus atos.Invadiram fábricas e destruíram máquinas,que, segundo os ludistas, por serem maiseficientes que os homens, tiravam seustrabalhos, requerendo, contudo, duras ho-ras de jornada de trabalho. Os manifestan-tes sofreram uma violenta repressão, foramcondenados à prisão, à deportação e até àforca. Os ludistas ficaram lembrados como"os quebradores de máquinas".

Anos depois, os operários ingleses maisexperientes adotaram métodos mais efici-entes de luta, como a greve.

Movimento cartista

Em seqüência veio o movimento cartis-ta, organizado pela Associação dos Operá-rios, que exigia melhores condições detrabalho, como:

• Tecnologia e Trabalho26

1780 • em torno de 80 horaspor semana

1820 • 67 horas por semana1860 • 53 horas por semana

Texto 10 / Desenvolv imento tecnológico

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• particularmente a limitação de oitohoras da jornada de trabalho

• regulamentação do trabalho feminino

• extinção do trabalho infantil • folga semanal• salário mínino

Além de direitos políticos, como o esta-belecimento do sufrágio universal, a extin-ção da exigência de propriedade para seintegrar ao parlamento e o fim do votocensitário. Esse movimento se destacou porsua organização e por sua forma de atua-ção, pela via política, chegando a conquis-tar diversos direitos políticos para os traba-lhadores.

As trade unions

Os empregados das fábricas tambémformaram associações denominadas tradeunions, que tiveram uma evolução lenta emsuas reivindicações. Na segunda metade do

século 19, as trade unions evoluíram paraos sindicatos, forma de organização dostrabalhadores com um considerável nível deideologização e organização, pois o século19 foi um período muito fértil na produçãode idéias antiliberais que serviram à luta daclasse operária, seja para obtenção de con-quistas na relação com o capitalismo, sejana organização do movimento revolucioná-rio cuja meta era construir o socialismoobjetivando o comunismo. O mais eficientee principal instrumento de luta das tradeunions era a greve.

Fonte P Wikipédia, a enciclopédia livre. Site: http://pt.wikipedia.org/wiki/Revolu%C3%A7%C3%A3o_Industrial

Tecnologia e Trabalho • 27

Enterro do sapateiroMartinez, mortodurante a greve de 1917, em São Paulo.

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InvençõesTEXTO 11

• Tecnologia e Trabalho28

Das armas primitivas dos índios aos aviões de Santos Dumont, a criação brasileira numa exposição

BRASIL: 500 ANOSINVENTANDO

Crianças moradoras do Jardim Ângela na periferia da zona Sul visitam a mostrado redescobrimento no Parque do Ibirapuera. Na foto, Espaço Barroco.

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Tecnologia e Trabalho • 29

Quando se fala em invenção, a gen-te logo imagina alguém cheio deidéias malucas, num laboratório

onde a qualquer momento alguma coisapode explodir, não é mesmo? E quem nãogostaria de conhecer um desses invento-res e pedir que ele criasse, quem sabe,uma máquina que resolvesse todos osnossos problemas? Afinal, idéias geniais éque não faltam na cabeça das pessoas.

E isso nem é de hoje! Na exposição 500Anos de Inventiva no Brasil, que percorreuo país em 2001 como parte das comemora-ções pelo aniversário de 500 anos do Brasil,foi possível conhecer as invenções realiza-das desde que a nossa terra foi descoberta.

Os nossos inventos começam com o so-nho dos portugueses de desbravar o oceanoAtlântico. Para isso, os navegadores precisa-vam enfrentar o que chamavam de MarTenebroso – onde imaginavam existir serpen-tes e monstros marinhos – para encontrar umcaminho marítimo para as Índias. Antes decomeçar a aventura, foi preciso criar vários

instrumentos de navegação para ajudar osmarinheiros a determinar a localização dobarco e a guiá-lo pelo oceano.

Em vez de chegar às Índias, a esquadrade Pedro Álvares Cabral chegou a um lugarque mais tarde se chamou Brasil. Ao desem-barcar, os portugueses encontraram os ín-dios, habitantes nativos daquela bela terra,e se surpreenderam com as suas invenções:com argila, fibras trançadas, madeiras eossos, eles faziam desde belos enfeites parao corpo até eficientes armas de guerra!

No início da colonização, os portugue-ses forçaram os índios a trabalhar comoescravos, mas eles acabaram substituídospelos negros africanos. Trazidos à força nosporões de navios negreiros, os africanos tra-balharam na agricultura, principalmentenas fazendas de cana-de-açúcar, e na mine-ração. Para realizar essas atividades, os por-tugueses trouxeram instrumentos como amoenda de três cilindros verticais, utiliza-da nos engenhos do açúcar.

O Demoiselle, trigéssima obra aeronáutica

de Santos Dumont, é oprimeiro avião como

conhecemos hoje

Acer

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• Tecnologia e Trabalho 30

Na virada do século 19 para o 20, ascidades e a população brasileira crescerammuito e as invenções se voltaram para otransporte e o saneamento: para o trans-porte porque as pessoas precisavam se des-locar rapidamente de um lado a outro dacidade; e para o saneamento porque haviaa epidemia de peste bubônica, uma gravedoença transmitida por ratos. A doença,porém, não era a única preocupação daépoca: por causa do sucesso do cultivo decafé, moças e rapazes que haviam enrique-cido passaram a valorizar mais a aparên-cia. Roupas e adereços precisavam estar namoda. Só que alguns modismos eram bas-tante curiosos...

Em 1907, o brasileiro Santos Dumont foinotícia no mundo todo por ter voado com oseu Demoiselle, no céu parisiense (em fran-

cês, demoiselle quer dizer senhorita), assimchamado por sua leveza e graça. Dois anosdepois, aprimorou o modelo e estabeleceuum recorde de velocidade: 96 quilômetrospor hora a 200 metros de altura! Até então,quem imaginava que o homem poderiavoar? Vendo do chão, as pessoas devem terficado muito espantadas!

E você? Ficaria de queixo caído se visseum trem que levita? Ou se soubesse quebambus podem se tornar formidáveis equi-pamentos para deficientes físicos? Pois é:essas são algumas invenções brasileirasrecentes que foram apresentadas ao públi-co na exposição.

Texto 11 / Invenções

No final do século 19,a moda e os costumeseuropeus foram copiados. Na foto,pedestres caminhampelas ruas do Rio do Janeiro.

Acervo Iconographia

Extraído do site http://cienciahoje.uol.com.br/materia/view/2864

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Tecnologia e Trabalho • 31

Acervo Iconographia

CAMINHO ERRADO

Tecnologia e t ransporteTEXTO 12

Foto: Sebastião Moreira / AE

A matriz de transportesurbanos brasileira, privilegia

a pior opção – a individual

São Paulo ontem...

…e hoje

Nos horários de pico, entreas 7 e as 9 horas da manhã,e as 18 e as 20 do anoitecer,os ônibus e automóveisprovocam congestionamentode até 150 quilômetros dasvias urbanas. São Paulo temhoje um carro para cada 2habitantes.

Bondes na Praça da Sé, em 1922, quando São Paulotinha cerca de 580 mil habitantes

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Tecnologia e desempregoTEXTO 13

NÚMEROS DO IBGE DETECTAM A EXTINÇÃODE EMPREGOS

Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios2003 indica que o desemprego da Era daInformação já está presente no Brasil

• Tecnologia e Trabalho32

Por Lauro Monteclaro

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Tecnologia e Trabalho • 33

Quando se considera que as novas tec-nologias de informação e telecomu-nicações, aliadas às novas técnicas

gerenciais, tendem a gerar desemprego nosníveis médios da hierarquia empresarial, osnúmeros não surpreendem.

De fato, as novas tecnologias não substi-tuem abruptamente os empregos dos traba-lhadores braçais por máquinas, como ocor-reu na Revolução Industrial do passado. Elasprovocam, principalmente, um forte dese-quilíbrio nas relações entre capital e traba-lho, favorecendo enormemente o primeiro.

Depois dos processos de “reengenharia”,que hoje não são mais restritos apenas àsindústrias, nota-se que os trabalhadores“sobreviventes” tornam-se muito mais dó-ceis quanto a reivindicações por aumentosde salários, reposição de perdas inflacioná-rias e novos benefícios. Isso explica as per-das progressivas de poder aquisitivo, mes-mo para os que continuam empregados.

Os demitidos, depois de um longo perío-do de procura, vão acabar aceitando em-pregos com remuneração inferior à querecebiam anteriormente. Outros aceitarãofunções bem abaixo de suas qualificações;e outros simplesmente abandonarão omercado de trabalho, seja para se tornarautônomos, empresários informais ou“desempregados permanentes”, vivendo àcusta de parentes. Isso explica a reduçãodrástica da renda “por domicílio”.

Outro dado revelador é que, “no con-

tingente de mulheres, o nível da ocupaçãode 2003 permaneceu igual ao de 2002(44,5%), que praticamente havia alcança-do o de 1995 (44,6%), o mais alto desde oinício da década de 1990”. Como interpre-tar isso? É simples, o trabalho femininoestá concentrado ou nas funções de menorrenda, ou em atividades pouco afetadaspelas novas tecnologias, como as ligadasao preparo de alimentos, limpeza e conser-vação, cuidado com doentes, deficientes,crianças, idosos etc.

Mesmo a redução do trabalho infantilpode ser relacionada aos programas gover-namentais baseados na troca de “comidapor estudo”. Assim, no âmbito da econo-mia da família, a criança na escola garantea “cesta básica”, enquanto o adulto desem-pregado passa a ocupar as funções que acriança ocupava.

Isso não é perceptível na agricultura,onde o trabalho infantil é complementarao do adulto e sempre foi uma fonte derenda perfeitamente aceitável. Mas, nascidades, basta notar a substituição do“tomador de conta” de automóveis infantilpelo “flanelinha”, sempre um adulto.Também notamos o progressivo “envelhe-cimento” dos encarregados de transportede documentos e pequenos volumes. Sai o“guarda-mirim” e entra o “moto-boy”.

Extraído do site www.midiaindependente.org/eo/blue/2004/10/291926.shtml

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UM CARRO A CADA 80 SEGUNDOS

Subst i tu ição de mão-de-obraTEXTO 14

FORD E SEUS 25 “SISTEMISTAS” PRODUZEM

Linha de montagem do Ford KA naFord Company do Brasil em SãoBernardo do Campo, São Paulo.

• Tecnologia e Trabalho34

Foto: Robson Fernandjes / AE

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Tecnologia e Trabalho • 35

Para produzir quatro portas de trêsmodelos de carros não muito sofisti-cados são necessárias 250 peças. A

combinação entre componentes e corespode resultar em 1.700 modelos diferentesde portas do Fiesta hatch, Fiesta sedã eEcoSport. Mas a Ford não precisa se preo-cupar com nenhum detalhe dessa comple-xa operação. O trabalho é todo feito pelos255 funcionários da Faurecia, um dos for-necedores que trabalham ligados à linha demontagem em Camaçari, na Bahia – os cha-mados “sistemistas”.

Desde a inauguração, em 2001, a fábri-ca da Ford na Bahia recebeu milhares depesquisadores, estudantes e executivos daindústria automotiva do Brasil e do exte-rior. Somente no ano passado foram 1.400visitas, a maior parte de grupos.

Todos querem conhecer o modelo deprodução já diferente daquele que o pró-prio fundador da companhia, Henry Ford,pai da linha de montagem, inventou háum século. Cinco anos depois da insta-lação da fábrica, a invenção foi renova-da, com opção de atrair os principais for-necedores para perto da linha de montagem.

A flexibilidade do método permitiu àempresa ultrapassar a capacidade da fábri-ca, feita para produzir 250.000 automó-veis por ano. São 912 veículos por dia –um a cada 80 segundos – em três turnosde jornadas de 42 horas semanais, execu-tadas por 8.500 trabalhadores. Os da Fordsomam 3.800. O restante é dos 25 forne-cedores que dividem o mesmo espaço.

Outra curiosidade que leva tantos visi-tantes até Camaçari é entender como foique a Ford conseguiu instalar uma fábricade carros a mais de 4.000 quilômetros doprincipal centro fornecedor de autopeças eonde também está o maior mercado con-sumidor de veículos do país. E ainda emum lugar onde os operários nem sequersabiam como era uma linha de montagem.

Novas relações

Hoje já existe um toque de conhecimen-to automotivo na cultura baiana. O ritmofrenético dessa indústria alterou parte doscostumes locais, como o tradicional Car-naval de uma semana inteira. Quem traba-lha na Ford só tem três dias de folia.

Mas a fábrica vai parar sexta-feira e

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• Tecnologia e Trabalho 36

sábado próximos, véspera e dia de SãoJoão. A multinacional americana entendeuque precisa respeitar essa cultura. “Para obaiano, o dia de São João é sagrado”, dizVagner Galeote, diretor de compras da Fordna América do Sul, que fica em Camaçariporque é ali que se concentra hoje a maiorparte da movimentação de compras damontadora no Mercosul.

Para ele, atrair os fornecedores paradentro da fábrica foi o segredo do sucessodo projeto da Ford. Um fabricante de peçasnão faria um investimento para construir aprópria estrutura num local onde não exis-te mais do que uma montadora, explicaGaleote. “Para uma fábrica de alternadoresdar certo, por exemplo, não se pode pensarem volumes de produção anual inferiores a500.000 peças, afirma”.

Com tantos fornecedores juntos, mistu-rar culturas de multinacionais de países dis-tintos foi a maior dificuldade, na opiniãodo executivo. “Aqui dentro temos culturasde americanos, japoneses, franceses. Omaior desafio foi padronizar o que nãonecessariamente era padrão em cada umadessas empresas”, diz.

Just in timeNo caso das portas, a francesa Faurecia

conta com a sua própria linha de monta-gem, que está ao lado da linha da Ford.Ambas funcionam simultaneamente paraque cada carro encontre suas respectivasportas com o acabamento pronto. O mesmoocorre com painéis, bancos e outros con-juntos que seguem uma linha de produçãoque funciona em ziguezague. Como resul-tado, a Ford fica dispensada de manter ocaro estoque de peças.

Na Bahia, a Ford tem 240 robôs e umdos mais altos índices de automação entrefábricas brasileiras. Nas áreas de estampa-ria e cabine não existe mão-de-obra huma-na. Braços mecânicos colocam as placas deaço nas prensas e um verdadeiro balé derobôs toma conta de todo o setor de mon-tagem de cabines.

Adaptado de texto do jornal Valor Econômico(http://revistaautoesporte.globo.com)

Texto 14 / Transformações Cl imát icas

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MAS QUEM TEM ACESSO ÀTECNOLOGIA?

Foto

:Flá

via

Perin

/ AE

Apropr iaçãoTEXTO 15

Tecnologia e Trabalho • 37

Antes de responder à pergunta, é im-portante levar em consideração que,apesar dos avanços na agricultura

brasileira, a estrutura agrária ainda é ex-tremamente concentrada. Dos 4,6 milhõesde agricultores do país, cerca de 4,1 milhõessão agricultores familiares, com pouca terrae acessos limitados a créditos, conhecimen-tos e tecnologias. Os outros 500.000 agri-cultores são os que têm mais terra, maioracesso à tecnologia e produzem mais. Essadesigualdade histórica explica por que osavanços tecnológicos, em sua maioria,ainda são realidades distantes da maioriados produtores rurais. "O desenvolvimentode uma tecnologia é geral, não leva em con-sideração se vai ser usada por um grandeou pequeno produtor. O desenvolvimentofinal dela é que vai focar o mercado", expli-ca um economista de São Paulo, especia-lizado no agronegócio.

Fonte P www.agco.com.br/%5CNoticia%5CRepositorio%5C24_dest_col-heitadeira2.jpg (acesso em 08 de maio de 2006)

No Brasil ainda predomina a agricultura familiar.

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Para conhecer a herança do confeiteiro francês Nicolas Appert,basta olhar para as prateleiras do supermercado mais próximoda sua casa!

Tecnologia a l iment íc iaTEXTO 16

• Tecnologia e Trabalho38

FEITO PARADURAR

16•CA10T_alimentos 12/16/06 4:52 PM Page 38

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Aconservação de alimentos surgiu com a civilização. En-tretanto, todos os processos utilizados até o final doséculo 18 foram desenvolvidos de forma totalmente

empírica, sem nenhum conhecimento ou embasamento teóricoe, normalmente, utilizando ou simulando processos existentesna natureza (secagem, defumação, congelamento). Nessaépoca, já se sabia que as frutas e algumas hortaliças podiamser conservadas em açúcar e certas hortaliças toleravam ovinagre. Porém, todos esses procedimentos conservavam osalimentos por pouco tempo e nem sempre dava certo.

O avanço científico

Foi somente no início do século 19, que o confeiteirofrancês, Nicolas Appert (1749-1841), depois de 15 anos deexperimentos, desenvolveu um processo que não era baseadoem nenhum fenômeno natural já conhecido.

Foi para resolver as questões práticas do dia-a-dia de suaconfeitaria, que ele teve a genial intuição de que se colocasseos alimentos previamente fervidos em garrafas de vidrogrossas (como as usadas para o champagne) com algumlíquido e lacrando-as com rolha de cera, conseguiria umaprolongação da vida de prateleira destes alimentos. Supôs que,como no vinho, a exposição ao ar estragava a comida. Assim,se a comida fosse colocada num recipiente que vedasse aentrada do ar, ficaria fresca e com boa qualidade. Funcionou.

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Colocando em prática suas descobertas em escala in-dustrial, em 1802, ele instalou nas cercanias de Paris aprimeira fábrica de conservas do mundo, que empregava cercade 50 funcionários. Encomendou a um vidreiro garrafas comgargalos mais largos que os habituais e deu início à suaprodução.

Amostras com comidas preservadas pelo método deAppert foram enviadas para o mar por mais de quatro meses.Carnes e vegetais estavam entre os 18 diferentes itens emrecipientes de vidro; todos retiveram seu frescor e nenhumasubstância passou por mudanças substanciais.

Seu método conseguiu crescente sucesso comercial, e foiutilizado por Napoleão Bonaparte no abastecimento de suastropas e na marinha mercante, para as longas viagenstransatlânticas. Em 1809, o ministro de Administração Internada França, Conde Mantalivet, providenciou um prêmio de 12mil francos franceses para que Appert tornasse públicas suasdescobertas.

Assim, em 1810, foi publicado o livro "A Arte de ConservarTodas as Substâncias Animais e Vegetais", em que ele descrevia,detalhadamente, o processo de conserva de mais de 50 ali-mentos. Muito rapidamente, traduções foram publicadas emoutros países, como Alemanha, Inglaterra, Bélgica e EstadosUnidos. Logo após a publicação do método Appert, surgiram vá-rias fábricas de conservas tanto na França quanto no exterior.

Louis Pasteur

Na época, Appert acreditava que a preservação do ali-mento devia-se a ausência de ar no interior do frasco. Estahipótese foi derrubada por Pasteur algumas décadas depois,em 1864, ao provar que os pequenos seres vivos que já haviamsido identificados por Leeuwenhoek em 1675 eram res-ponsáveis por deteriorações nos alimentos e doenças no ho-mem. As pesquisas de Pasteur demonstraram que o efeito datemperatura na preservação dos alimentos era na realidade

Texto 16 / Tecnologia a l iment íc ia

• Tecnologia e Trabalho40

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Tecnologia e Trabalho • 41

sobre os microrganismos, observando que uma temperaturade 62-63ºC mantida por um período de uma hora e meia erasuficiente para eliminar os microrganismos presentes nossucos de frutas. Este processo, que recebeu o nome depasteurização, provocou uma grande alavancagem na qua-lidade dos vinhos franceses, principal indústria do país naépoca, concedendo a Pasteur um grande prestígio junto aogoverno da França.

O processo de preservação criado por ele, em sua home-nagem, foi batizado de pasteurização, englobando todo aquelemétodo que depende de um tratamento térmico para com-bater a deterioração do alimento. É, até hoje, o mais utilizadona indústria de conservas.

As primeira latas de conserva

No mesmo ano em que Appert publicou o seu livro, 1810,Peter ou Pierre Durand (discute-se se era inglês ou francês)recebeu uma patente do Rei George III pela idéia de preservarcomida em "garrafas ou outros vasilhames de vidro, potes ourecipientes de estanho, ou outros materiais adequados".

O alto preço das latas era atribuído à baixa demanda demercado e do método artesanal de fabricação e envasamento.

Louis Pasteur inventoua pasteurização, utilizada até hoje pela indústria de alimentos.

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Ocurioso da história do abri-dor de latas é que ele só foiinventado mais de 45 anos

depois das primeira latas de conser-vas, que surgiram em 1813.

Isto aconteceu porque as pri-meiras latas possuíam grossas pare-des de ferro que para serem abertasexigiam o uso do cinzel e do marte-lo (e no caso dos soldados com aponta da baioneta ou o tiro do fuzil).

O abridor de latas surgiu em1858, quando as latas se tornarammais leves, e foi inventado por Ezra.Warner, de Waterbury, no estadonorte-americano de Connecticut. Eraum aparato volumoso e impressio-nante, que se parecia, em parte comuma baioneta e em parte com umafoice. Introduzia-se sua grande folha

curva na borda da lata e empregan-do a força, fazia-se com que ela des-lizasse sobre toda a lateral. Uma dis-tração poderia gerar sérios acidentes.

O abridor tal como utilizamoshoje, com uma roda cortante quegira ao redor da borda da lata, foiinventado pelo americano WillianLyman, que o patenteou em 1870. AStar Can Opener Company, de SanFrancisco, aperfeiçoou o aparelho deLyman, agregando-lhe uma rodadentada, denominada roda alimen-tadora, graças à qual a embalagemgirava pela primeira vez em sentidocontrário à roda. Este princípio bási-co segue sendo utilizado até hoje efoi a base do primeiro abridor delatas elétrico, patenteado em 1931.

Texto 16 / Tecnologia a l iment íc ia

• Tecnologia e Trabalho42

O Abridor de LatasO Abridor de Latas

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O americano Gail Borden foi um pioneiro no enlatamentode alimentos. Em 1856, produziu, com sucesso, o leite con-densado em lata e lhe foi concedida uma patente do processo. Ademanda para o leite condensado foi pequena no início, mas,durante a guerra civil americana (1861-1865), passou a serconsumido em larga escala.

A guerra civil contribuiu significativamente para a po-pularização dos alimentos enlatados de uma forma geral. Oexército tinha de ser alimentado, para isso, o governo fezcontratos com diversas empresas de conservas. No final daguerra, estes soldados retornaram para casa cheios de elogiospara os alimentos seguros, portáteis, e armazenáveis. Sobcircunstâncias difíceis, os povos aprenderam que os alimentosenlatados, tais como o leite condensado, podem ser saborosose nutritivos. A invenção de abridores de lata práticos, no fimséculo 19, tornou-as mais fáceis de abrir e mais convenientespara consumidores.

Em 1868, primeiramente nos Estados Unidos e depois naEuropa, as latas feitas a mão foram substituídas pelas feitas amáquina.

Hoje, há máquinas específicas para o preparo e envase decada tipo de enlatado e conserva, cada um com seus distintosprocessos e diferentes tempos de cocção, segundo os micro-organismos que devem ser eliminados. As conservas, sobretudoos enlatados, são encontrados em toda parte, disponibilizandoaos consumidores alimentos seguros, saudáveis e de qualidade.

Extraído do site www.correiogourmand.com.br/info_culturagastronomica_11.htm

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Tecnologia social compreende produ-tos, técnicas ou metodologias reapli-cáveis, desenvolvidas na interação

com a comunidade e que representemefetivas soluções de transformação social.

É uma proposta inovadora que consi-dera a participação coletiva no processode organização, desenvolvimento e im-plementação de determinado programa.Baseia-se na disseminação de soluçõespara problemas de alimentação, educa-ção, energia, habitação, renda, recursoshídricos, saúde, meio ambiente, dentreoutras.

As tecnologias sociais podem aliar

sabedoria popular, organização social econhecimento técnico-científico. O querealmente importa é que sejam efetivase reaplicáveis, propiciando desenvolvi-mento social em escala.

Bons exemplos de tecnologia social:o clássico soro caseiro (mistura de 2colheres, das de sopa, cheias de açúcar e1 colher das de chá, rasa, de sal com 1litro de água, que combate a desidrata-ção e reduz a mortalidade infantil); ascisternas de placas pré-moldadas queatenuam os problemas de acesso a águade boa qualidade à população do semi-árido nordestino, entre outros.

Foto

:Rod

rigo

Lobo

/ JC

/ AE

TECNOLOGIA SOCIAL

Desenvolv imento sustentávelTEXTO 17

• Tecnologia e Trabalho44

Os países buscam produtos, técnicas ou sistemas que funcionemefetivamente e promovam desenvolvimento social em escala

Cisternas de placaspré-moldadas: soluçõeslocalizadas, baratas e eficientes

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O que é uma cisterna de placas?A cisterna de placas é um tipo de reser-

vatório para água, cilíndrico, coberto esemi-enterrado, que permite a captação e oarmazenamento de águas das chuvas, apro-veitadas a partir do seu escoamento nostelhados das casas por calhas de zinco ouPVC. A cisterna de placas permite o arma-zenamento de água para consumo humanoem reservatório protegido da evaporação edas contaminações causadas por animais edejetos trazidos pelas enxurradas.

O tamanho da cisterna varia de acordocom o número de pessoas da casa e dotamanho do telhado. A experiência temprovado que ela pode garantir água potávelpara a família beber e cozinhar durante oitomeses. É fácil preparar profissionais comoos pedreiros, capazes de chefiar o mutirãoque constrói uma cisterna, e é perfeitamen-te possível que todas as casas a possuam.

A cisterna muda para melhor a vidadas mulheres e das crianças, que não maisprecisarão buscar água longe de casa; mu-da para melhor a saúde de todos, especial-mente a das crianças e dos idosos.

Cofres de água

Chover, até que chove. O problema éque a chuva se concentra no início do anoe é rapidamente absorvida pelo solo. Nosoutros meses, os brasileiros que moram nosemi-árido sofrem com a seca. Uma solu-ção para evitar o desperdício de um bem

tão precioso como a água é a construção decisternas, recipientes feitos com placas decimento pré-moldadas, capazes de guardar,de seis a oito meses, toda a água da chuvaque cai dos telhados. São como cofres, queguardam a água poupada. O programa“Um Milhão de Cisternas para o Semi-árido”, uma iniciativa liderada pela Articu-lação do Semi-Árido (ASA), fórum compos-to de 750 organizações da sociedade civilda região, surgiu em 2002 para divulgar atecnologia e estimular sua implantação. Ocusto de cada cisterna sai por volta de1.400 reais e armazena 16.000 litros deágua, o suficiente para abastecer uma famí-lia de cinco pessoas durante seis a oitomeses. O programa tem a participação dogoverno federal e já beneficiou 58.000famílias.

O sucesso do programa depende, des-de o princípio, da participação popular. Issoporque quem decide quais serão as famí-lias beneficiadas é uma comissão local,também responsável pela organização doscursos de capacitação e dos trabalhos demutirão, administração e prestação de con-tas. Nesse processo, 2.000 pedreiros jáforam treinados para construir cisternas.

Nos cursos, os pedreiros, além de apren-derem as técnicas de armazenamento emanejo da água da chuva, são treinados apassar seus conhecimentos para outraspessoas, multiplicando assim o número deinteressados em usufruir desse grande bene-

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fício. Também aprendem os procedimentostécnicos para a localização das cisternas e adefinir o volume de água a ser armazenadacom base nos cálculos de dimensão e naárea de captação.

A associação também tem o projetoUma Terra, Duas Águas, ainda em constru-ção, que envolve quatro pontos: reforma

agrária, terras regularizadas, água paraconsumo humano e água para produção dealimentos básicos. Um projeto-piloto já foirealizado em Acauã, alto sertão da Paraíba,que beneficiou 130 famílias. A idéia é espa-lhar o programa pela região.

Extraído do site www.cliquesemiarido.org.br

• Tecnologia e Trabalho46

MÃOS A OBRA!

1 Primeiro o traçado da cisterna…

2 … escavando e colocando as placas laterais

3 … fixando as placas laterais

4 … impermeabilizando as paredes externas

5 … agora é só chover, ô cabra!

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O homem e a máquinaTEXTO 18

Luis Fernando Verissimo

Abre a porta. Entra o Senhor Pacheco.Bom dia, Senhor Pacheco. Sente-se, por favor. Temosuma ótima notícia para o senhor.

Sim, senhor.Como o senhor deve saber, Senhor Pacheco, contratamos

uma firma de psicomputocratas para fazer testes de aptidãonos dez mil empregados desta firma. Precisamos nos atualizar.Acompanhar os tempos.

APTIDÃO

Ilust

raçã

o:Al

cy

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Sim, senhor.Os dez mil testes foram submetidos a um computador, há

dois minutos, e os resultados estão aqui. O senhor é o primeiroa ser chamado porque o computador nos forneceu os resulta-dos em rigorosa ordem alfabética.

Mas o meu nome começa com P.Hum, sim, deixa ver. Pacheco. Sim, sim. Deve ser por

ordem alfabética do primeiro nome, então. Este computador éde quarta geração. Nunca erra. Como é seu primeiro nome?

Xisto.Bom, isso não tem importância. Vamos adiante. Vejo aqui

pela sua ficha que o senhor está conosco há vinte e oito anos,Seu Pacheco. Sempre na seção de entorte de fresos. O senhornunca falhou no serviço, nunca tirou férias, e já recebeu nossoprêmio de produção, o Alfinete de Alumínio, dezessete vezes.

Sim, senhor.O senhor começou na seção de entorte de fresos como faxi-

neiro, depois passou a assistente de entortador, depois entorta-dor, e hoje é o chefe de entorte.

Sim, senhor.Me diga uma coisa, Senhor Acheco...Pacheco.Senhor Pacheco. O senhor nunca se sentiu atraído para

outra função, além do entorte de fresos? Nunca achou queentortar não era bem sua vocação?

Nunca, não Senhor.Pois veja só, Senhor Pacheco. O computador nos revela que

a sua verdadeira vocação não é o entorte de fresos e sim o bis-toque de tronas!

Texto 18 / O homem e a máquina

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Sim, senhor.O senhor é um bistocador de tronas nato, segundo o com-

putador. Não é fantástico? E ainda tem gente que critica a tec-nologia. O senhor era um homem deslocado no entorte de fre-sos e não sabia. Se não fosse o teste, nunca ficaria sabendo.Claro que essa situação vai ser corrigida. O senhor, a partirdeste minuto, deixa de entortar.

Sim, senhor.Quanto o senhor ganha conosco, Senhor Pacheco, depois

de vinte e oito anos? Mil, mil e duzentos?Quinhentos, não contando os alfinetes.Pois, sim. E sabe quanto ganha um iniciante no bistoque

de tronas? Mil e quinhentos! Não é fantástico?Sim, senhor.Só tem uma coisa, Senhor Pacheco. Nossa firma não traba-

lha com tronas. Pensando bem, ninguém trabalha com tronas,hoje em dia.

Olha, tanto faz. Não é mesmo? Eu estou perfeitamente satis-feito no entorte, faltam só vinte anos para me aposentar e...

Senhor Pacheco, então a firma gasta um dinheirão paradescobrir a sua verdadeira vocação e o senhor quer jogá-lafora? Reconheço que o senhor tem sido um chefe de entorteperfeito. Aliás, o computador não descobriu ninguém com apti-dão para o entorte. Vai ser um problema substituí-lo. Mas nãopodemos contestar a tecnologia. O senhor está despedido. Porfavor, mande entrar o seguinte, por ordem alfabética, o SenhorRoque Lins. Passe bem.

Sim, senhor.Sai o Senhor Pacheco. Fecha a porta

Extraído do livro O nariz – Coleção Para Gostar de Ler, volume 14.São Paulo: Ática, 2005.

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Vou lhe contar, cidadão,Uma história bem brejeiraQue começou numa feiraPelas bandas do sertãoE de forma bem ligeiraChegou à terra inteiraCausando admiração.

Severino Rio GrandeFazia muito cordelFalava até de bordelAssim a arte se expandeDe soldado, coronel,Matuto, arranha-céu,Falava até de Gandhi.

Com ele não tinha manha,Sofria mas agüentava,Sabia que a dor passava,Pois foi até na AlemanhaCom tudo ele rimavaE o povo se admiravaÉ um homem de façanha

Seus cordéis ele vendiaNuma feira bem pequenaEra sempre a mesma cenaCom risada e cantoriaDesde o tempo da galenaEra uma mensagem plenaDe amor e alegria

Desenvolv imento tecnológicoTEXTO 19

• Tecnologia e Trabalho50

Walter Medeiros

A PELEJA DOCORDEL DE FEIRACOM A INTERNET

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Tecnologia e Trabalho • 51

Com uns tipos manuaisMuitos impressos faziaE assim ele viviaQuerendo um mundo de pazMas ninguém compreendiaQuando dizia que um idaIa sair nos jornais.

Pois aquele cordelistaDanou-se pra capitalFoi morar no arealAli bem perto da pistaSua cidade natalSoube um dia, afinal,Que se tornou jornalista.

Mexendo com linotipoTelex e off setNo fax pintou o seteSem falar no teletipoFazia até enqueteSó não comia giletePois não achava bonito.

Mas com aquele seu domMuita coisa ele faziaSempre tinha uma poesiaRecitada em bom tomTinha saudade da tiae qualquer hora do diaescutava acordeon

Os anos foram passandoo tempo não vai pra tráse aquele nosso rapazia se adaptandoa tudo que a vida traznada nunca é demaise foi se modernizando.

A maquininha OlivettiQue usou anos seguidosInda tinha nos ouvidosQual serpentina e confete Mas a marca dos sabidosQue ganhou novos sentidosAgora era a Internet.

Nem mesmo questionouA nova moda lançadaE de forma enviesadaSeus cordéis lá colocouFoi uma festa danadaA homepage lançadaQue ao mundo lhe levou

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Pois agora na InternetO cordel vai mais distanteBasta somente um instanteE a história se repeteSão Gonçalo do AmaranteParis, Itu, num berranteTodo mundo se derrete

Sempre aparece questãoSobre esse novo meioMas é somente esperneioDe gente falando em vãoBasta fazer um passeioSem cavalo e sem reioPara entender o bordão.

Quando veio pra cidadeSeverino não deixouNa terra que lhe criouA sua habilidadeFoi com ele e ele usouO dom que Deus lhe legouPra sua felicidade.Se é por falta de cordelPra seus versos pendurarConfesso que vou mandar

Desenhar assim ao léuDepois vou fotografarE no site publicarAo lado do meu farnel.

Do jeito que alguém falaDo cordel que foi pra webCom certeza não concebeAlgo que chegou à salaDo pequenino casebreQue não pode criar lebreMas tem um micro na mala

Por que o computadorPode chegar ao sertãoE na Internet nãoTem lugar pra rimador?É uma aberraçãoGrande discriminaçãoQue ele não tolerou.

Acho que dei o recadoQuem quiser diga o contrárioPois em todo abecedárioTem alguém inconformadoE nesse rimar diárioQuero o futuro no páreoMas não esqueço o passado.

• Tecnologia e Trabalho52

Texto 19 / Transformações no Trabalho

Walter Medeiros: [email protected]

Extraído do site http://paginas.terra.com.br/arte/ cordel

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Tecnologia e cot id ianoTEXTO 20

Tecnologia e Trabalho • 53

TECHNOLOGICAL OVERDOSES Randy Glasbergen

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Hoy tanto en Europa como en Latinoa-mérica el teléfono móvil se ha trans-formado en un elemento impres-

cindible para la vida de las personas, tantochicos como adultos. Y su uso habitual hacambiado los modos de comunicación dia-rios, que son más por motivos personalesque profesionales.

La posesión de un teléfono móvil erasímbolo de riqueza y ascenso social. Eseescenario cambió rápidamente en AméricaLatina, al mismo tiempo que el capitalprivado irrumpía en las telecomunicacio-nes. Millones de personas de ingresos mo-destos accedieron en los últimos años a suprimer teléfono, que fue un celular.

Según la Unión Internacional de lasTelecomunicaciones (UIT), en 1990 había100.000 líneas de telefonía móvil enLatinoamérica, y en 1999 la agencia de laONU calculó que eran 38 millones. Hoy,expertos del sector privado, aseguran que

120 millones de celulares resuenan bajo elcielo latinoamericano.

Brasil tenía apenas cinco millonescuando se privatizaron las telecomunica-ciones en 1998, y sólo entre enero y agostoincorporó al mercado otras 5,2 millones.Este año, las líneas celulares superaron los40 millones, un millón más que las fijas.

Una de las causas de este fenómeno esque la telefonía móvil se abarató nota-blemente mediante las “tarjetas prepa-gas”, única modalidad para que muchoslatinoamericanos pobres pudieran accedera un teléfono. A esto se sumó el surgi-miento de un mercado informal de teléfonomóvil de usados y robados, incluso en pues-tos callejeros.

En algunos países, como Brasil y Uru-guay, adoptar la telefonía móvil permitiósuperar la histórica brecha entre la de-manda y la oferta del servicio, notable-mente en zonas rurales.

Tecnologia de comunicaçãoTEXTO 21

• Tecnologia e Trabalho54

EL IMPRESCINDIBLETELÉFONO

MÓVIL

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Oficina de bolsillo

Un teléfono móvil dice ahora muypoco sobre la condición social o económicade quién lo porta. Para un amplio sectorde la población, és un artículo de primeranecesidad: electricistas, fontaneros, alba-ñiles, pintores y trabajadores informaleshacen del celular su oficina móvil y puedenasí ser llamados en cualquier momento,donde estén, para pequeños servicios. Paraellos es un instrumento de trabajo.

Los delincuentes también aprovechanesta tecnología

El celular prepagado, ideal para laacción clandestina, es indispensable parael narcotráfico en Brasil. Tanto que lasautoridades establecieron un registro obli-gatorio de usuarios.

Hoy es tan común el uso del teléfonomóvil que la imagen ya no tiene mucho

que ver con tener o no, sino con el tipo ymarca de teléfono móvil que se posee.

Texto adaptado de La Revista (Uso livre): www.publispain.com/revista/el-imprescindible-telefono-movil.htm

El teléfono móvil seha transformado en un elemento

imprescindible parala vida de las

personas.

Opinión: “Yo lo hago y les aseguro que como elmás común de los mortales hace 10 años, no lonecesito. Que en situaciones es útil, no lo dudo,que genera dependencia tampoco. Una escaleratambién es útil en algunos momentos y no la llevamos por la calle. Respeto a quienes lo llevanpero les animo a tratar de dejarlo una temporaday sopesen si les interesa la comunicación telefóni-ca inmediata o su tiempo libre. Por cierto puedopagarlo y no tengo tecnofobia, utilizo Internet:televisión, DVD, MP3… No utilizarlo es una opciónlibre.”

¿Se puede vivir sin móvil?

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Oconsumo de energia elétrica parailuminação no mundo não é igual-mente distribuído pela superfície da

Terra, como se pode observar pelo mapaacima*. Ao lado de concentração de con-sumo há espaços vazios significativos.

O continente africano, por exemplo, pos-sui pontos de grande consumo no extremonorte e no extremo sul, além de pontos aolongo do litoral, mas seu interior, apesar depovoado, tem consumo reduzido. A regiãoda Amazônia internacional, na América doSul, possui pequeno contingente populacio-

nal apesar da imensidão da área, e, ao con-trário, os Estados Unidos, o Canadá, a Euro-pa e o Japão apresentam uma luminosidademuito grande. China e Índia também sedestacam, mas não em proporção à gran-deza de suas populações. Podemos afirmarque os países mais desenvolvidos do mundosão os que mais consomem energia elétricapara iluminação.

Extraído da revista Desafios do Desenvolvimento – Ano II, nº 11 – Junho de 2005.

*O mapa em questão é uma montagem, pois o planeta Terra não permite captarimagem noturna, simultaneamente, em toda a sua superfície.

LUZES MAL DISTRIBUÍDAS

Acesso à tecnologiaTEXTO 22

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Aumento do consumo de energia elétricaEntre 1994 e 2004Fonte: Ipedata/Eletrobras Foto: Nasa

36,4%

72,1%

40,3%36,8%

42%é o aumentoregistradono período

Indústria Comércio Residencial Outros

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Tecnologia e Trabalho • 57

ProjeçãoTEXTO 23

Será admirável o nosso novo mundo? A quem serve esta civi-lização que se diz moderna e funcional e, ao aparato dastécnicas, sacrifica o espírito?... O espírito, considerado reali-

dade menor, o espírito tolerado, quando não reprimido... Qual olugar do homem, numa sociedade dominada pela máquina? Qualo caminho para o indivíduo que reivindique a liberdade interiore o direito à sua... individualidade, à sua singularidade? Para oindivíduo que queira caminhar pelos próprios pés? AldousHuxley, um dos maiores escritores contemporâneos, descreve,em Admirável Mundo Novo, com fantasia e ironia implacável, asociedade futura totalitarista. Simplesmente, o universo que ogrande romancista inglês anima pertence, de certo modo, aosnossos dias. Quase já não pode considerar-se uma ameaça:tomou corpo. O que empresta à leitura dessa obra uma força trá-gica invulgar. Mundo novo? Mundo intolerável? Mundo inabitá-vel? Mundo de onde se deve fugir, de qualquer maneira? Oumundo a reconstruir – pedra por pedra? Com uma pureza recon-quistada? Aldous Huxley deixa esse montinho de problemas queo leitor poderá – se quiser e souber... – resolver...

Capítulo primeiro

Um edifício cinzento e atarracado, de apenas trinta e quatroandares, tendo por cima da entrada principal as palavras:

Centro de Incubação e de Condicionamento de Londres-Central e, num escudo, a divisa do Estado Mundial:

ADMIRÁVELMUNDO NOVO

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Texto 23 / Pro jeção

• Tecnologia e Trabalho58

COMUNIDADE, IDENTIDADE, ESTABILIDADEA enorme sala do andar térreo estava virada ao norte. Apesar

do verão que reinava no exterior, apesar do calor tropical da pró-pria sala, apenas fracos raios de uma luz crua e fria entravampelas janelas. As batas dos trabalhadores eram brancas, e as suasmãos, enluvadas em borracha pálida, de aspecto cadavérico. Aluz era gelada, morta, espectral, apenas dos cilindros amarelosdos microscópios ela recebia um pouco de substância rica e viva,que se espalhava ao longo dos tubos como manteiga.

– Isto – disse o diretor, abrindo a porta – é a Sala daFecundação.

No momento em que o diretor da Incubação e do Condicio-namento entrou na sala, trezentos fecundadores, curvados sobreos seus instrumentos, estavam mergulhados naquele silêncio emque apenas se ousa respirar, naquela cantilena ou assobio incons-ciente com que se traduz a mais profunda concentração. Umgrupo de estudantes recém-chegados, muito novos, rosados eimberbes, comprimia-se, possuído de uma certa apreensão e tal-vez de alguma humildade, atrás do Diretor. Cada um deles leva-va um caderno de notas, no qual, cada vez que o grande homemfalava, rabiscavam desesperadamente. Bebiam a sua sabedoriana própria fonte, o que era um raro privilégio. O D.I.C. deLondres-Central empenhava-se sempre em conduzir pessoalmen-te a visita dos novos alunos aos diversos serviços.

“Unicamente para lhes dar uma idéia de conjunto”, explica-va-lhes ele, pois era necessário, evidentemente, que possuíssemum simulacro de idéia de conjunto, já que se desejava que fizes-sem inteligentemente o seu trabalho. Era conveniente, porém,que essa idéia fosse o mais resumida possível se se quisesse que,mais tarde, eles fossem membros disciplinados e felizes da so-ciedade, dado que os pormenores, como se sabe, conduzem àvirtude e à felicidade, e as generalidades são, sob o ponto devista intelectual, males inevitáveis. Não são os filósofos, massim aqueles que se entregam às construções de madeira e às

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coleções de selos, que constituem a estrutura da sociedade.– Amanhã – acrescentou, dirigindo-lhes um sorriso cheio de

bonomia, mas ligeiramente ameaçador – começarão a trabalharseriamente e não terão tempo para perder com generalidades.Daqui até lá ...

Daqui até lá era um privilégio. Da própria fonte para o cader-no de apontamentos. Os rapazes rabiscavam febrilmente.

Alto, tendendo para a magreza, mas direito, o diretor cami-nhou pela sala. Tinha o queixo alongado e dentes fortes, umpouco proeminentes, que mal conseguia cobrir, quando não fala-va, com os lábios grossos, de curva acentuada. Velho ou novo?Trinta anos? Cinqüenta? Cinqüenta e cinco? Era difícil dizer. Issotambém não tinha importância alguma; nesse ano de estabilida-de, nesse ano de 632 de N.F., não ocorria a ninguém fazer talpergunta.

-– Vou começar pelo princípio – disse o D.I.C. E os estudan-tes mais zelosos anotaram o fato nos cadernos: “Começar peloprincípio”.

– Isto aqui – apontou – são as incubadoras. – E, abrindo umaporta de proteção térmica, mostrou-lhes os suportes de tubos empi-lhados uns sobre os outros e cheios de tubos de ensaio numera-dos. – O fornecimento semanal de óvulos. Mantidos – explicou – àtemperatura normal do sangue, enquanto os gametas masculinos– abriu outra porta – devem ser conservados a trinta e cinco graus,em vez de trinta e sete. A temperatura total do sangue esteriliza.Carneiros envoltos em termogênio não procriam.

Sempre apoiado às incubadoras, forneceu-lhes uma curtadescrição do moderno processo da fecundação, enquanto os lápisrabiscavam ilegivelmente as páginas, de um lado para o outro.Falou-lhes primeiro, evidentemente, da introdução cirúrgica –Esta operação é suportada voluntariamente para bem da socie-dade, sem esquecer que proporciona uma gratificação equiva-lente a seis meses de ordenado. Continuou com uma breve expo-sição da técnica de conservação do ovário, separado em estado

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vivo e pleno desenvolvimento; fez considerações sobre a tempe-ratura, a salinidade e a viscosidade ótimas; aludiu ao líquido emque se conservam os óvulos destacados e chegados à maiorida-de, e, conduzindo os seus alunos às mesas de trabalho, mostrou-lhes como se retirava esse líquido dos tubos de ensaio; como ofaziam cair gota a gota sobre as lâminas de vidro para repara-ções microscópicas especialmente aquecidas; como os óvulos queele continha eram examinados sob o ponto de vista dos caracte-res anormais, contados e transferidos para um recipiente poroso;como – e conduziu-os então a observar a operação – esse reci-piente era imerso num caldo tépido contendo espermatozóidesque aí nadavam livremente à “concentração mínima de cem milpor centímetro cúbico”, notou ele, e como, ao fim de dez minu-tos, o recipiente era retirado do líquido e o seu conteúdo nova-mente examinado; como, se ainda aí restassem óvulos não fecun-dados, o mergulhavam uma segunda vez e, em caso denecessidade, uma terceira; como os óvulos fecundados voltavampara as incubadoras; aí os Alfas e os Betas eram conservados atéa sua definitiva colocação em provetas, enquanto os Gamas, osDeltas e os Ípsilons eram retirados apenas ao fim de trinta e seishoras, para serem submetidos ao processo Bokanovsky.

– Ao processo Bokanovsky – repetiu o diretor. E os estudan-tes sublinharam essas palavras nos cadernos.

Um ovo, um embrião, um adulto: o processo normal. Mas umovo bokanovskyzado tem a propriedade de germinar, de proliferar,de se dividir: de oito a noventa e seis rebentos, e cada rebento se-tornará um embrião perfeitamente formado, e cada embrião numadulto normal. Desenvolvem-se assim noventa e seis seres huma-nos onde antes apenas se desenvolvia um só. O progresso.

– A bokanovskyzação – concluiu o D.I.C. – consiste essencial-mente numa série de travagens do desenvolvimento. Detemos ocrescimento normal e, embora pareça paradoxal, o ovo reage pro-liferando.

"Reage proliferando." Os lápis atarefaram-se.

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O diretor estendeu o braço. Num transportador de movimen-to muito lento, um suporte cheio de tubos de ensaio entrava numagrande caixa metálica e um outro saía. Havia um ligeiro ruído demáquinas. Os tubos levavam oito minutos a atravessar a caixa deuma ponta à outra – explicava-lhes –, ou seja, oito minutos deexposição aos raios X duros, que é, aproximadamente, o máximoque um ovo pode suportar. Um pequeno número morria; dos ou-tros, os menos influenciados dividiam-se em dois; a maioria proli-ferava em quatro rebentos, alguns em oito. Eram então todosnovamente enviados para as incubadoras, onde os rebentos come-çavam a desenvolver-se; depois, ao fim de dois dias, eram subita-mente submetidos ao frio e à interrupção de crescimento. Osrebentos dividiam-se, por sua vez, em dois, quatro, oito; depois,tendo proliferado, eram submetidos a uma dose de álcool quasemortal e, como conseqüência, de novo proliferavam, sendo emseguida deixados em paz, rebentos de rebentos de rebentos, poistoda e qualquer suspensão de crescimento era então, geralmente,fatal. Nessa altura, o primitivo ovo tinha muitas probabilidadesde se transformar num número de embriões entre oito e noventae seis, “o que é, devem concordar, um prodigioso aperfeiçoamen-to em relação à Natureza. Gêmeos idênticos, mas não em peque-nos grupos de dois ou três, como nos antigos tempos da reprodu-ção vivípara, quando um ovo se dividia, por vezes acidentalmente,mas sim por dúzias, por vintenas, de uma só vez”.

– Por vintenas – repetiu o diretor, abrindo largamente os bra-ços, como se fizesse ricas ofertas a uma multidão.

– Por vintenas. Mas um estudante foi bastante tolo para perguntar em que

consistia a vantagem.– Meu caro amigo! – O diretor voltou-se vivamente para ele.

– Então não vê? Não vê? – Levantou a mão e tomou uma atitudesolene. – O processo Bokanovsky é um dos máximos instrumen-tos da estabilidade social.

– Homens e mulheres conformes ao tipo normal, em grupos

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Uniformes. Todo o pessoal de uma pequena fábrica constituídopelos produtos de um único ovo bokanovskyzado. Noventa e seisgêmeos idênticos fazendo trabalhar noventa e seis máquinas idên-ticas! – A sua voz era quase vibrante de entusiasmo. – Pela pri-meira vez na história, sabe-se perfeitamente para onde se cami-nha. – E citou a divisa planetária: “Comunidade, Identidade,Estabilidade.” – Grandiosas palavras. Se pudéssemos bokanovsky-zar indefinidamente, todo o problema estaria resolvido. Resolvidopor Gamas do tipo normal, por Deltas invariáveis, por uniformes.Milhões de gêmeos idênticos. O princípio da produção em sérieaplicado, enfim, à biologia. Mas, infelizmente – o diretor agitou acabeça –, não podemos bokanovskyzar indefinidamente.

Noventa e seis, tal parecia ser o limite; setenta e dois, umaboa média. Fabricar com o mesmo ovário e os gametas do mesmomacho o maior número possível de grupos de gêmeos idênticosera o que melhor se podia fazer – um melhor que, infelizmente,nada mais era que um menos mal. E mesmo isso já era difícil.

– Porque, na Natureza, são necessários trinta anos para queduzentos óvulos atinjam a maturidade. Mas a nossa tarefa é esta-bilizar a população neste momento, aqui e agora. Produzir gême-os a conta-gotas durante um quarto de século, para que serviráisso?

Evidentemente, isso não serviria para nada. Mas a técnicade Podsnap tinha acelerado imenso o processo da maturação.Podia-se obter pelo menos cento e cinqüenta óvulos maduros noespaço de dois anos.

– Fecunde-se e bokanovskyze-se, ou noutros termos, multi-plique-se por setenta e dois, e obter-se-á uma média de quaseonze mil irmãos e irmãs em cento e cinqüenta grupos de gêmeosidênticos, todos da mesma idade, em perto de dois anos. E, emcasos excepcionais, podemos obter de um único ovário mais dequinze mil indivíduos adultos.

Fez sinal a um rapaz louro, de rosto rosado, que, por acaso,

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passava nesse momento: – Senhor Foster. – O rapaz de rosto rosa-do aproximou-se. – Pode indicar-nos a máxima produção obtidade um só ovário, senhor Foster?

– Dezesseis mil e doze, aqui, neste centro – respondeu o se-nhor Foster sem nenhuma hesitação, falando muito depressa.Tinha olhos azuis e vivos e um evidente prazer em citar algaris-mos. – Dezesseis mil e doze em cento e oitenta e nove gruposidênticos. Mas, é claro, tem-se feito muito melhor – continuoucom vigor – em alguns centros tropicais. Cingapura tem freqüen-temente produzido mais de dezesseis mil e quinhentos eMombaça atingiu já os dezessete mil. Mas eles são injustamenteprivilegiados. É ver como um ovário de negra reage ao líquidopituitário! É espantoso, quando se está habituado a trabalhar commateriais europeus. Ainda assim – acrescentou, rindo (mas o bri-lho da luta notava-se no seu olhar e o levantamento do queixoera um desafio), ainda assim temos intenção de os ultrapassar, sefor possível. Trabalho neste momento num maravilhoso ovário deDelta-Menos. Tem apenas dezoito meses certos. Mais de doze mile setecentas crianças já, quer decantadas, quer em embrião. E eleainda produz mais. Havemos de conseguir vencê-los!

– Ora aí está o estado de espírito que me agrada! – excla-mou o Diretor, dando uma palmada nas costas do senhor Foster.– Venha conosco e faça aproveitar a estes garotos dos seus conhe-cimentos de especialista.

Trecho do livro Adimirável Mundo Novo,de Aldous Huxley.

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ExpedienteComitê Gestor do ProjetoTimothy Denis Ireland (Secad – Diretor do Departamento da EJA)Cláudia Veloso Torres Guimarães (Secad – Coordenadora Geral da EJA)Francisco José Carvalho Mazzeu (Unitrabalho) – UNESP/UnitrabalhoDiogo Joel Demarco (Unitrabalho)

Coordenação do ProjetoFrancisco José Carvalho Mazzeu (Coordenador Geral)Diogo Joel Demarco (Coordenador Executivo)Luna Kalil (Coordenadora de Produção)

Equipe de Apoio TécnicoAdan Luca ParisiAdriana Cristina SchwengberAndreas Santos de AlmeidaJacqueline BrizidaKelly MarkovicSolange de Oliveira

Equipe PedagógicaCleide Lourdes da Silva Araújo Douglas Aparecido de CamposEunice RittmeisterFrancisco José Carvalho MazzeuMaria Aparecida Mello

Equipe de ConsultoresAna Maria Roman – SPAntonia Terra de Calazans Fernandes – PUC-SPArmando Lírio de Souza – UFPA – PACélia Regina Pereira do Nascimento – Unicamp – SPEloisa Helena Santos – UFMG – MGEugenio Maria de França Ramos – UNESP Rio Claro – SPGiuliete Aymard Ramos Siqueira – SPLia Vargas Tiriba – UFF – RJLucillo de Souza Junior – UFES – ESLuiz Antônio Ferreira – PUC-SPMaria Aparecida de Mello – UFSCar – SPMaria Conceição Almeida Vasconcelos – UFS – SPMaria Márcia Murta – UNB – DFMaria Nezilda Culti – UEM – PROcsana Sonia Danylyk – UPF – RSOsmar Sá Pontes Júnior – UFC – CERicardo Alvarez – Fundação Santo André – SPRita de Cássia Pacheco Gonçalves – UDESC – SCSelva Guimarães Fonseca – UFU – MGVera Cecilia Achatkin – PUC-SP

Equipe editorialPreparação, edição e adaptação de texto: Editora Página Viva

Revisão:Ivana Alves Costa, Marilu Tassetto, Mônica Rodrigues de Lima, Sandra Regina de Souza e Solange Scattolini

Edição de arte, diagramação e projeto gráfico: A+ Desenho Gráfico e Comunicação

Pesquisa iconográfica e direitos autorais: Companhia da Memória

Fotografias não creditadas: iStockphoto.com

Apoio

Editora Casa Amarela

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

(Câmara Brasileira do Livro. SP, Brasil)

Tecnologia e trabalho / [coordenação do projeto

Francisco José Carvalho Mazzeu, Diogo Joel Demarco,

Luna Kalil]. -- São Paulo : Unitrabalho-Fundação

Interuniversitária de Estudos e Pesquisas sobre o Trabalho ;

Brasília, DF : Ministério da Educação. SECAD-Secretraria de

Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade, 2007,

-- (Coleção Cadernos de EJA)

Vários colaboradores.

Bibliografia.

ISBN 85-296-0064-9 (Unitrabalho)

ISBN 978-85-296-0064-2 (Unitrabalho)

1. Livros-texto (Ensino Fundamental) 2. Tecnologia

3. Trabalho I. Mazzeu, Francisco José Carvalho.

II. Demarco, Diogo Joel. III. Kalil, Luna. IV. Série.

07-0405 CDD-372.19

Índices para catálogo sistemático:

1. Ensino integrado : Livros-texto :

Ensino fundamental 372.19

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