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REVISTA DE NEGÓCIOS INTERNACIONAIS • PIRACICABA/SP • ANO 8 N. 14 JUNHO/2010 • p.64 REVISTA DE Journal of International Business FACULDADE DE GESTÃO E NEGÓCIOS DA UNIMEP ANO 8 Nº 14 JUNHO/2010 ISSN 1679-0693

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REVISTA DE NEGÓCIOS INTERNACIONAIS • PIRACICABA/SP • ANO 8 N. 14 JUNHO/2010 • p.64

REVISTA DE

Journal of International Business

FACULDADE DE GESTÃO E NEGÓCIOS DA UNIMEP ANO 8 Nº 14 JUNHO/2010 ISSN 1679-0693

www.unimep.br/rni

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Revista de Negócios Internacionais– Journal of International Business –

UNIVERSIDADE METODISTA DE PIRACICABA

ReitorClovis Pinto de Castro

Faculdade de Gestão e NegóciosDorgival Henrique

Curso de Negócios InternacionaisCristiano Morini, coordenador

EditoraRegina Célia Faria Simões

Co-EditorCristiano Morini

Conselho EditorialAcácia de Fátima VenturaAnderson César Gomes Teixeira PellegrinoAndréa Santos de DeusFernando de LimaLeila Rocha PellegrinoSebastião Neto Ribeiro GuedesValdir Iusif DainezValéria Rueda Elias Spers

Conselho Editorial ExternoAnabella Busso (UNR/Argentina)Andréa Oliveira (MG)Carlos Aravechia (CBTA)Carlos Eduardo de Freitas Vian (Esalq/USP)Gustavo Marini (UNR/Argentina)Vivian Helena Capacle Correa (Unicamp)

Revisão (português)Acácia de Fátima Ventura

Revisão (inglês)Eliane Campos de Souza

Produção Gráfica e ImpressãoPrintfit SoluçõesCarlos Terra (Coordenação)Marcel Yamauti (Capa e Editoração Eletrônica)Juraci Vitti (Revisão Gráfica)

REVISTA DE NEGÓCIOS INTERNACIONAIS

Piracicaba: n. 1 • maio 2003

Publicação periódica

Semestral

n. 14, junho 2010

1. Comércio Exterior – periódicos

ISSN 1679-0693

CDU 330.6

Administração e contato

Revista de Negócios Internacionaishttp://www.unimep.br/rniRodovia do Açúcar, km. 156Tel. (19) 3124-1506/150713.400-911 – Piracicaba, SP, Brasile-mail: [email protected] ou [email protected]

RNI é uma revista dedicada à publicação de trabalhos acadêmi-cos e pesquisas desenvolvidas por alunos e professores. A área de atuação é a dos negócios entre países, sob suas diferentes abor-dagens: comercial, organizacional, mercadológica, logística, le-gal, aduaneira, cambial, financeira, burocrática e contábil.

The Journal of International Business is destinated to com-municate scientific works produced by students and profes-sors. Its focused area is business around the world by different approaches in areas as commercial, organizational, marketing, logistics, legal, customs, exchange, financial, burocratic and ac-countancy.

ANO VIII. Nº 14. JUNHO. 2010

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Editorial

Como já foi dito pelo professor Cristiano Morini, coordenador do Curso de Negócios Internacionais da Universidade Metodista de Piracicaba, fazer negócios internacionais não é fácil. Há a necessidade de analisar o ambiente externo e o ambiente interno à empresa. Há a necessidade de se buscar informações sobre bar-reiras técnicas e culturais, mercados, concorrência, preço, embalagem adequada, aspectos das negociações, normas de defesa do consumidor, certificações e documentos, distribuição física, regimes tributários, formas de ingresso em outros mercados, aspectos macroeconômicos e existência de acordos internacionais.

Falando sobre acordos internacionais a Presidência da República publicou no dia 28 de abril, no Diário Oficial da União (DOU), o Decreto 7.159 de 27 de abril de 2010, aprovando o Acordo de Livre Comércio entre MERCOSUL e Israel. O acordo que já havia sido aprovado pelo Paraguai e Uruguai passa a vigorar no Brasil e cria uma área de livre comércio eliminando várias barreiras tarifárias no comércio de bens entre os dois países.

O acordo promulgado no dia 28 de abril de 2010, tem como objetivo consolidar as relações econômicas entre o MERCOSUL e Israel, promovendo o comércio entre o MERCOSUL e a nação de Israel, a livre concorrência, aumentando os investimentos bilaterais e a cooperação técnica na área tecnológica.

Entre janeiro e março de 2010, as exportações brasileiras para Israel somaram US$ 63,209 milhões, valor que foi 6,36% maior que o registrado no mesmo período do ano passado. Na contramão, as importações brasileiras de produtos israelenses cresceram 134,87%, na mesma comparação, ao totalizarem US$ 202,382 milhões segundo dados do MDIC.

No período, o Brasil exportou mais de cem produtos diferentes para Israel, entretanto, a pauta foi muito concentrada em itens como carne bovina congelada (50,48%), café em grão (9,88%), madeiras (3,05%) e jóias (2,72%). Nas importações de produtos israelenses há uma forte concentração nas aquisições de clo-reto de potássio (36,6%), porém, o restante da pauta é bem diversificado: óleos lubrificantes sem aditivos (5,97%), instrumentos para navegação aeroespacial (3,25%), dentre outros produtos segundo dados do MDIC.

No ano de 2009, as exportações brasileiras para Israel totalizaram US$ 270,502 milhões e as importações de produtos desse mesmo mercado US$ 651,413 milhões. Devido à crise econômica mundial, em 2009, o fluxo comercial entre Brasil e Israel caiu para US$ 921,916 milhões. Em 2008, esse montante havia sido de US$ 1,619 bilhão, segundo dados do MDIC.

Após esse relato o qual mostra a importância de se formar profissionais na área de Negócios Internacio-nais, este editorial irá apresentar mais um número da Revista de Negócios Internacionais.

A Revista de Negócios Internacionais (RNI) chega ao seu décimo quarto número. Desta vez, conta com um artigo escrito por docente da Fundação Comunitária de Ensino Superior de Itabira, Minas Gerais.

Os temas desta décima quarta edição são bastante heterogêneos, daí a opção pela temática “Temas Contemporâneos”. Há quatro artigos que tratam de questões relacionadas à área de Transações Comerciais Internacionais: um deles enfoca a regulamentação do comércio internacional por instituições supranacio-nais: GATT/OMC; outro, a importância das feiras e eventos para a realização dos negócios do setor sucroal-cooleiro; Há outro artigo sobre a indústria automobilística brasileiras: estratégias utilizadas a partir da década de 90 e, por último, um artigo sobre o marketing esportivo: alguns casos de sucesso.

Além desses, há dois artigos na área de logística e aduana, mencionando a aplicação do conceito KAI-ZEN como estratégia competitiva: um estudo sobre redução de custos e acréscimo de valor nos sistemas produtivos e a questão sobre segurança e agilidade na cadeia de suprimentos.

Page 4: Complemento de Aula

Por fim, há um artigo na área de organizações, processos e mudanças sobre etiqueta no mundo dos ne-gócios: como negociar com a cultura árabe.

Finalizando, agradeço os professores que participaram das orientações de monografias no segundo se-mestre de 2009 e das bancas de defesa das monografias.

Este número da Revista de Negócios Internacionais contou com o apoio do Curso de Administração com habilitação em Gestão de Negócios Internacionais e do Curso de Negócios Internacionais, através de seu coordenador, professor Cristiano Morini.

REGINA CELIA FARIA SIMÕESResponsável pelo Estágio Supervisionado no

Curso de GNI e Monografia no Curso de NI da Faculdade de Gestão e Negócios da

Universidade Metodista de Piracicaba

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Sumário

11A Indústria Automobilística Brasileira:

Estratégias utilizadas a partir da Década de 90BRUNO ROCCO

FERNANDO LIMA

18 A Regulamentação do Comércio Internacional por Instituições

Supranacionais: GATT/OMCEDSON FRANCISCO GUIMARÃES JUNIOR

REGINA CÉLIA FARIA SIMÕES

25Etiqueta no Mundo dos Negócios:

como negociar com a cultura árabe?MARCELLA DE SOUZA CARVALHO

DORGIVAL HENRIQUE

30Aplicação do Conceito KAIZEN como Estratégia Competitiva:

um Estudo sobre Redução de Custos e Acréscimo de Valor nos Sistemas Produtivos SÉRGIO FELIPE PONTIN

FÁBIO CAMOZZI

36A Importância das Feiras e Eventos para a

Realização dos Negócios do Setor SucroalcooleiroSOFIA OMETTO TANKELIANA TADEU TERCI

Page 6: Complemento de Aula

43Evolução do Investimento Externo Direto

(IED) entre 2002 e 2008THIAGO DA SILVA VIEIRA

FERNANDO LIMA

50Segurança e Agilidade na Cadeia de Suprimentos

VIVIANE CRISTINA DE CAMARGOCRISTIANO MORINI

57Os Efeitos das Barreiras Alfandegárias e não-alfandegárias a

Formação do Preço de Exportação: Um Estudo para o suco de laranja concentrado e congelado FCOJLEANDRO CÉSAR DINIZ DA SILVA

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7Rev. de Negócios Internacionais, Piracicaba, 8 (14): 7-10, 2010

MONOGRAFIAS DO CURSO DE ADMINISTRAÇÃO COM HABILITAÇÃO EM GESTÃO DE NEGÓCIOS INTERNACIONAIS, DEFENDIDAS E APROVADAS

(Segundo Semestre 2009)

TemáTica/TíTulo aluno(a) “Prof(a).orienTador(a)”

Negociações Internacionais entre Brasil e Arábia Saudita.

Carolina Bortolucci Furlan Acácia de Fátima Ventura

Assédio Moral: o que cabe a área de Gestão de Pessoas. Gabriela Ve rpa Buzanga Acácia de Fátima Ventura

A indústria de Jogos Eletrônicos: desafios e oportunidade para o Brasil. Bruno Penachione Andréa Santos de Deus

O comportamento da Citricultura Brasileira a partir do ano 2000:

exportações brasileiras e os novos desafios ao mercado cítrico.

Clinton Mascia Keiper Andréa Santos de Deus

Entraves e Desafios à consolidação das ex-portações dos produtos orgânicos brasileiros. Gustavo Furlan Andréa Santos de Deus

O comportamento das exportações da soja brasileira a partir de 1990. Rafael Laposta de Aguiar Andréa Santos de Deus

Estudo sobre a viabilidade mercadológica para lançamento de um modelo de negócio

de geração de energia para produtores de suínos.

Caio Montenegro Gava Antônio João de Brito

Um estudo sobre o etanol brasileiro e suas implicações na competitividade internacio-nal de empresas brasileiras: o caso COSAN.

Paulo Vitor Salvino da Silva Antônio João de Brito

As determinantes que poderão causar a substituição dos combustíveis não renováveis pelos combustíveis renováveis nos transpor-

tes terrestres.

Renan Camussi Antônio João de Brito

Um estudo sobre a importância da marca Brasil para a consolidação das exportações

brasileiras.

Talles Wilson Teixeira Brasil Antônio João de Brito

Preços de Transferências Internacionais: con-ceitos e exposição de pontos polêmicos Sandro Jesus Neves Clóvis Luis Padoveze

Planejamento orçamentário em finanças pessoais: opções de investimentos e

financiamentos.

Tiago Alves Amorim Correia Clóvis Luis Padoveze

Um estudo sobre Cadeias de Suprimentos com enfoque nas Estratégias Globais do

Setor Automotivo.Bruna Masson Cristiano Morini

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8 Rev. de Negócios Internacionais, Piracicaba, 8 (14): 7-10, 2010

A Importância do Drawback para o desen-volvimento do Comércio Exterior. Danilo Salomé Cristiano Morini

A Importância da Logística para a evolução das Exportações Brasileiras. Lucinéia Santana Cristiano Morini

Segurança e Agilidade na Cadeia de Suprimentos. Viviane de Camargo Cristiano Morini

Etiqueta no mundo dos negócios: como negociar com a cultura árabe.

Marcella de Souza Car-valho Dorgival Henrique

Estudo da viabilidade da produção do com-bustível alternativo no Brasil, o Etanol

Roberto Rodrigues Guilhem Eliana Tadeu Terci

A importância das feiras e eventos para a rea-lização dos negócios do setor sucroalcooleiro. Sofia Ometto Tank Eliana Tadeu Terci

Qualidade de vida no trabalho: um estudo considerando uma Instituição Financeira. Bianca Buoro Scatolin Emílio Antonio Amstalden

Migração Internacional: o trabalho de estrangeiros no Brasil voltado a etnia de

Sírios e Libaneses.Mariana da Cruz Bettiol Emílio Antonio Amstalden

Negociação Internacional: aspectos culturas e comportamentais.

Renata Cristina Travassos Teixeira Emílio Antonio Amstalden

Custos do trabalho: a relação entre emprega-do e empregador. Tatiana Daniela Sanchez Emílio Antonio Amstalden

Transporte Ferroviário: um estudo sobre o retorno deste modal na viabilização das

cargas no Brasil.

Francielle Rodrigues Pradal Fábio Camozzi

A infraestrutura do Porto de Santos e sua relação com a competitividade brasileira no

contexto da Economia Internacional.

Juliana dos Santos Trivelato Fábio Camozzi

Gargalos Logísticos no processo de exporta-ção com ênfase no Porto de Santos. Maraína Pontes Basso Fábio Camozzi

Mostrar a importância da logística para a obtenção de vantagem competitiva: um foco

nas alianças e parcerias logísticas.

Marina Consolmagno Pescim Fábio Camozzi

Análise do RECOF nas importações brasilei-ras: um estudo de caso de uma empresa do

município de Piracicaba.Murilo Prezotto Ducatti Fábio Camozzi

Aplicação do conceito Kaizen como estra-tégia competitiva: um estudo sobre redução de custos e acréscimo de valor nos sistemas

produtivos.

Sérgio Felipe Pontin Fábio Camozzi

A importância da logística como estratégia para obtenção de vantagem competitiva. Vanessa Estela Signoretti Fábio Camozzi

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9Rev. de Negócios Internacionais, Piracicaba, 8 (14): 7-10, 2010

A contribuição do sistema de controles internos na ocorrência de fraudes e prejuízos

para as empresas.

Mariana Medinilha Fayad Fernando César Taranto

O Setor Portuário Brasileiro e sua relação com a melhoria da Cadeia Logística no país. Adriana Marques Ferreira Fernando de Lima

A Indústria Automobilística Brasileira: estra-tégias utilizadas a partir da década de 90. Bruno Rocco Fernando de Lima

O uso do Marketing Bancário nos grandes bancos que atuam no Brasil. Bruno Rosolem Fernando de Lima

Marketing Esportivo: alguns casos de sucesso Daniel Ferrari Beccari Fernando de LimaA importância do comércio exterior para o desenvolvimento das nações: um estudo de

caso Brasil - Emirados Árabes Unidos.João Paulo Melo Vilares Fernando de Lima

O comportamento do Setor de Serviços Brasileiros no Comércio Internacional. Marina Passarelli Silveira Fernando de Lima

O Sistema de Pagamento em Moeda Local entre Brasil e Argentina: funcionamentos,

resultados e reflexões.

Matheus Komatsu Dalla Valle Fernando de Lima

O mercado brasileiro na era do cliente: um estudo sobre a posição feminina.

Ellen Custódio de Almeida Marcelo Ceron

Indústria da moda a partir dos anos 90. Graziela Franzol Bernar-dino Marcelo Ceron

A competitividade do complexo soja brasilei-ro no comércio mundial.

Guilherme Sabino Fabretti Marcelo Ceron

O comércio eletrônico: a modalidade B2B. Jorel Ivens Dal Bello Moacir Degasperi JuniorOrganizações Virtuais: um enfoque estratégi-

co com o uso de ferramentas de CRM. Paulo Rogério Batalhão Moacir Degasperi Junior

Clubes de Investimento: uma análise exploratória sobre a formação dos clubes de

investimento no Brasil.

Giuliano Medinilha Alves da Cruz Paulo Roberto Palauro

A viabilidade da participação do pequeno investidor no Mercado de Capitais. Juliana Helena Sacchi Paulo Roberto Palauro

Clubes de Investimento: uma análise da participação e perfil dos investidores pessoa

física na Bolsa de Valores de São Paulo.

Leonardo Martin de Souza Paulo Roberto Palauro

Formação de um Clube de Investimento para a Faculdade de Gestão e Negócios

(FGN) da UNIMEP.Patrícia Cristina Dias Paulo Roberto Palauro

Barreiras ao Comércio: um estudo sobre Brasil e Venezuela.

Ana Carolina do Carmo Aleixo Regina Célia Faria Simões

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10 Rev. de Negócios Internacionais, Piracicaba, 8 (14): 7-10, 2010

Internacionalização de Empresas Brasileiras para o mercado chinês. Cristiane de Souza Basso Regina Célia Faria Simões

A Competitividade entre Brasil e China no Setor Automotivo a partir da entrada da

China na OMC.Daiany Cristina Tritto Regina Célia Faria Simões

A Importância do Comércio Exterior para o desenvolvimento da Economia Brasileira. Daniela Gordinho Regina Célia Faria Simões

A Regulamentação do Comércio Internacio-nal por Instituições Supranacionais: GATT/

OMC.

Edson Francisco Guima-rães Junior Regina Célia Faria Simões

Barreiras em Negociações Internacionais: os Emirados Árabes Unidos e a

Certificação Halal.Thainá Siviero Regina Célia Faria Simões

Análise Mercadológica da Ovinocaprinocultura. Gabriele Cristina Peracini Roberto Silveira Braga

O mercado de crédito de carbono do ponto de vista do brasileiro. Maira Leme da Silva Roberto Silveira Braga

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11Rev. de Negócios Internacionais, Piracicaba, 8 (14): 11-17, 2010

A Indústria Automobilística Brasileira: Estraté-gias utilizadas a partir da Década de 90

BRUNO ROCCO

[email protected]

FERNANDO LIMA

Estágio Supervisionado em ADM – GNI - [email protected]

Resumo: O objetivo desse estudo é analisar as estratégias utilizadas na indústria automobilística especifi-camente na década de 90. Para tanto, é apresentada uma abordagem histórica que traz os aspectos mais relevantes da indústria automobilística no Brasil, e procurou-se reunir alguns conceitos de estratégia segundo os principais autores do tema. Visto as especificidades do mercado local, as montadoras se viram obrigadas a desenvolverem produtos diferenciados dos disponíveis globalmente, e a criarem uma estrutura produtiva mais enxuta a fim de se tornarem mais competitivas.

Palavras-Chave: indústria automobilística, estratégia, estratégia de plataforma.

Abstract: The goal of this study is to analyze the strategies that were adopted in the automotive industry in the nineties. To do so, it is presented a historical approach which brings the most pertinent aspects of the automotive industry in Brazil, and it was looked for gathering some concepts of strategy according to the main authors of the topic. By seeing the characteristics of the local market, the manufacturers found them-selves obliged to develop different products from the ones available worldwide, and to create a more efficient productive structure so that they could became more competitive.

Keywords: automotive industry, strategy, platform strategy.

1. INTRODUÇÃO O objetivo geral do estudo é demonstrar quais

foram as estratégias adotadas pelas principais mon-tadoras situadas no Brasil durante a década de 90. A VW, a Fiat, a GM e a Ford foram tidas como prin-cipais por serem responsáveis pelos maiores volumes de produção e vendas no mercado interno, e tam-bém, são as que mais empregam no setor automobi-lístico, segundo estatísticas da ANFAVEA (2009).

Além disso, têm-se como objetivos específicos, apresentar uma abordagem histórica da indústria

automobilística no Brasil, analisar as mudanças que ocorreram na década de 90 que fizeram com que as empresas revisassem seus conceitos de estratégia, conceituar a definição global de estratégia, bem como apresentar o conceito aplicado as necessidades do setor automotivo.

A importância do estudo está relacionada ao impacto que a gestão dessas grandes montadoras causou e causa na sociedade, uma vez que o setor emprega, direta e indiretamente, cerca de 1,5 mi-lhões de pessoas, e gera para os cofres públicos algo como R$ 39,4 bilhões em tributos, alavancando o

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12 Rev. de Negócios Internacionais, Piracicaba, 8 (14): 11-17, 2010

país para a posição de sexto produtor mundial da categoria em 2008 (ANFAVEA, 2009).

A metodologia utilizada a fim da realização do estudo apresentado foi, partindo das definições de Fachim (2001), histórico e observacional. A pes-quisa realizada foi bibliográfica, em livros, artigos científicos, revistas especializadas e sites específicos na Internet.

2. ASPECTOS HISTÓRICOS DO SETOR AUTOMOTIVO NO BRASIL

Desde 1919, que Henry Ford tornou os sonhos motorizados uma realidade aos brasileiros, a indús-tria automobilística tem ganhado cada vez mais es-paço na economia, e o automóvel, além da paixão nacional, vem se tornando uma realidade muito mais próxima a muitos apaixonados.

A evolução da indústria automobilística brasi-leira, de certa forma, foi um tanto quanto lenta no início. É possível dizer que até 1952 permaneceu praticamente estável, com leves melhoras é claro, mas nada tão significativo. Apenas na década de 60, após a dedicação do governo na criação de políticas a fim de “forçar” altos índices de nacionalização das montadoras da época, é que se nota uma mudança considerável no cenário automobilístico brasileiro (SANTOS; BURITY, 2002).

Pouco tempo depois, segundo Guimarães (1989), as boas condições da economia no início da década de 70, e as condições favoráveis de crédito direto ao consumidor vieram a permitir que parte da população com renda mais baixa se incorporasse ao mercado de carros novos. Foi nesse período que, de acordo com Santos e Burity (2002), se notou uma grande mudança na produção: “a de carros de passeio começou a crescer muito mais rapidamente que a de caminhões e ônibus”.

Durante a década de 70 também, iniciaram-se os estudos para desenvolver um motor movido a álcool, combustível abundante no país. Esse passo foi fundamental para a manutenção e crescimento do setor, que até no início dos anos 80, apresentou consideráveis melhoras apesar das crises do petróleo (GUIMARÃES, 1989).

Em 1982, o cenário econômico nacional foi marcado pela estagnação e instabilidade, que se mantivera presente até o final da década. A década

de 80 foi marcada na economia brasileira como um período de contradições, ao mesmo tempo em que a demanda interna apresentava grande instabilida-de em alguns momentos e procura extremamente enlouquecida em outros, o mercado internacional crescia sem precedentes, fazendo com que o número de novos modelos fosse maior do que qualquer ou-tro período (COSTA, 1998).

Início da década de 90, a situação da indústria automobilística brasileira não era nenhum pouco invejável, ao contrário, era deprimente e algo deve-ria ser feito. Em 1992 o governo lança o primeiro Acordo Automotivo, que previa, dentre outros, a redução na carga tributária, manutenção dos níveis de emprego e novas linhas de crédito ao consumi-dor. Visto os bons resultados, esse acordo, que tinha previsão de duração de três meses, se manteve por quase um ano, e veio seguido do segundo Acordo Automotivo em fevereiro de 1993, cujas metas eram ainda mais arrojadas que as do primeiro (BEDÊ, 1997).

Como resultado de ambos os acordos e bene-fícios adicionais, em 1993, depois de muitos anos de estagnação, a indústria automobilística obteve re-corde de produção e vendas. Santos e Burity (2002) citam que, entre 1994 e 1996, o setor operava pró-ximo ao limite da capacidade instalada, atingindo a marca de 1,8 milhão de veículos/ano.

3. ESTRATÉGIAMuito já se falou a respeito de estratégia, seja

conceituando o termo, ou seja, analisando suas mais diversas formas de aplicação. Contudo, pode-se afir-mar com um alto grau de certeza, que ainda muito será falado a respeito do tema, pois é unânime entre os autores, de forma ou de outra, que a estratégia está diretamente ligada ao ambiente.

O ambiente geral e seus elementos conduzem a empresa a uma análise no ambiente local da empre-sa, e para isso, o modelo que facilitada sua aplicação é o chamado E-C-D (Estrutura – Conduta – De-sempenho). A estrutura trata do número de con-correntes no setor, da disponibilidade dos produtos, dos custos de entrada e saída, entre outros, enquan-to a conduta se refere às estratégias para buscar as vantagens competitivas e desempenho, da economia como um todo (BARNEY; HESTERLY, 2007).

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13Rev. de Negócios Internacionais, Piracicaba, 8 (14): 11-17,2010

Paralelo ao modelo E-C-D, está o modelo das cinco forças de Porter (1999), que, buscando com-preender o ambiente externo, identificou as cinco ameaças mais comuns que determinam o estado da competição em um setor, ameaça de entrada, ame-aça de rivalidade, de substitutos, de fornecedores e ameaça de compradores.

Em outra linha de estudo, Mintzberg et al. (2000) afirmam a impossibilidade de estudar o con-ceito da estratégia como um único processo, dessa forma, os autores o descrevem como cinco etapas diferenciadas: o plano, que diz respeito a olhar para frente para saber onde se deseja chegar; padrão, olhar o comportamento passado para auxiliar nas decisões futuras; posicionamento, que é atingir o alvo e se manter no controle; a perspectiva, olhando inter-namente, ou seja, a maneira de se fazer às coisas; e truque, ou manobra, para enganar o concorrente.

Como meio de realizar uma análise interna da empresa a fim de identificar quais são as forças e fraquezas que podem influenciar na vantagem com-petitiva da mesma, Barney e Hesterly (2007, p. 64) apresentam a visão baseada em recursos (VBR), que nada mais é que ”um modelo de desempenho com foco nos recursos e capacidades controlados por uma empresa como fontes de vantagem competitiva”.

De modo a identificar tais recursos, Wernerfelt citado por Oliveira (2004, p. 22) sugere que, “os recursos críticos devem ser identificados [...] e clas-sificados quanto a sua capacidade”. Para identificar os recursos críticos basta analisar algumas questões: Quais são os recursos únicos da empresa? Equipes estão sendo remuneradas proporcionalmente ao seu desempenho? Algum fornecedor/cliente é respon-sável pelo fornecimento/consumo da maioria dos recursos?

Após apresentados meios para análise do am-biente interno e externo nos quais as empresas atu-am, buscou-se apresentar os conceitos dos tipos de estratégias no nível de negócios, que são: estratégia de liderança em custos, estratégia de diferenciação, de foco e estratégia integrada de liderança em cus-tos/diferenciação (HITT, et al., 2002).

As mesmas dizem respeito à posição da empresa em relação as demais concorrentes no cenário glo-bal e tratam-se de um conjunto de compromissos e ações que visam gerar valor para o cliente e criar

vantagem competitiva através da exploração das particularidades de mercados e produtos específicos e individuais (HITT, et al., 2002).

Nota-se que por menor que seja a similaridade entre um conceito e outro, o ponto que é unanimi-dade entre os autores, como afirma Mintzberg et al. (2000, p. 21), é que “estratégia diz respeito tanto a organização como ao ambiente [...] à impossibilida-de de separar organização e ambiente”.

4. ESTRATÉGIAS NA INDÚSTRIA AUTO-MOBILÍSTICA

Com a abertura do mercado brasileiro na déca-da de 90, as principais montadoras aqui instaladas se viram cercadas por muitas novas concorrentes que desejavam ocupar uma boa posição de destaque nesse novo mercado. Partindo desse pressuposto, buscou-se identificar e analisar o que fez com que as veteranas do mercado brasileiro pudesse se manter em destaque.

Antes de analisar o caso do Brasil, cabe destacar algumas das estratégias globais, de acordo com Sca-varda et al. (2005):

• Estratégia de plataforma: que consiste na deri-vação de uma série de produtos a partir da mesma plataforma;

• Configuração tardia: ato de prorrogar as ativi-dades ao longo da cadeia, realizando a configuração diferenciada de cada produto nos centros de distri-buição e concessionárias;

• Pacotes de opcionais: vender os opcionais em pacotes ao invés de vendê-los separadamente.

A postura adotada pelas principais montadoras brasileiras (VW, Ford, GM e Fiat) na década de 90 foi relativamente divergente das estratégias globais de suas respectivas matrizes. O que Consoni e Car-valho (s/d) definem como estratégia de descentra-lização, que está associada à política de produtos voltada as necessidades locais, ou seja, espaços regio-nais inter relacionados que mantém certo grau de autonomia, possibilitando incremento nas ativida-des tecnológicas locais e equipes de engenharia mais estruturada.

4.1 Volkswagen do BrasilNão obstante as outras montadoras aqui men-

cionadas, a VW também teve seu programa de re-

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14 Rev. de Negócios Internacionais, Piracicaba, 8 (14): 11-17, 2010

estruturação que se caracterizava em cortar custos através da racionalização das plataformas, lançamen-to de novos modelos e reorganização das atividades nas subsidiárias (CARVALHO, 2005).

No entanto, é válido ressaltar um fato impor-tante da história da VW anos antes de sua reestru-turação, que foi o joint venture com a Ford, que na década de 80 viria a resultar na Autolatina. Embora essa união tenha ocorrido apenas para o mercado brasileiro, as matrizes continuavam disputando o mercado entre si, fatos que ocasionaria restrições de acesso às informações técnicas por parte da Auto-latina, o que fez com que soluções internas e tec-nologias locais fossem desenvolvidas (CONSONI; CARVALHO, s/d).

A VW conta com um número alto de laborató-rios de testes e construção de protótipos no Brasil e, assim como a GM, foi responsável pelo desenvolvi-mento de uma plataforma exclusiva para o merca-do local, resultando no Gol, sucesso e recordes em vendas por décadas. A subsidiária brasileira também teve participação no projeto PQ 24 (que originou o Polo), foi responsável pelo desenvolvimento de mo-tores 1000 cc e da versão turbo dezesseis válvulas (CONSONI; CARVALHO, 2002).

Após a dissolução da Autolatina em 1994, a VW abandonou sua estratégia de desenvolvimento local e adotou uma estratégia de produto global, ou seja, todos os modelos lançados no Brasil deveriam necessariamente derivar de um projeto global que poderia ser somente adaptado às características do mercado e especificidades técnicas locais (CONSO-NI; CARVALHO, s/d).

4.2 Ford Motor Company BrasilAntes da abertura da economia e a dissolução

da Autolatina, a Ford contava com fortes centros de desenvolvimento e adaptação de produtos para o mercado local, mas em 1994 a matriz lança o pro-jeto Ford 2000, que coincide com o rompimento do joint venture com a VW. (CONSONI; CARVA-LHO, s/d). O projeto Ford 2000 tinha como meta reduzir os esforços em engenharia de diferentes países a fim de evitar a duplicação e sobreposição de operações, centralizando os centros de desenvol-vimento nos EUA e Europa e permitindo apenas

adaptações mínimas, que viriam a ser chamadas de atividades de tropicalização, no Brasil e Améri-ca Latina (CARVALHO, 2005). Com isso, a área de engenharia de produto no Brasil ficaria restrita a fornecer inputs a matriz das particularidades do mercado, ou seja, diferentemente das outras mon-tadoras aqui presentes, a Ford não possuía estratégia de plataforma específica para mercados emergentes (CONSONI; CARVALHO, 2002).

Entretanto, apesar de ter “abandonado” por um período o interesse no desenvolvimento local, a Ford, na segunda metade da década de 90, se tornou pouco mais agressiva no segmento de carros popu-lares. Em 1996 e 1997, a empresa disponibilizou no mercado versões brasileiras do Fiesta e Ka, revendo sua postura adotada anteriormente, o que parece ter dado certo, pois em 1998 sua participação na categoria de veículos 1000 cilindradas demandou 79,4% da produção total da montadora. (CON-SONI; CARVALHO, s/d)

4.3 General Motors do BrasilApesar de a matriz ter anunciado seu projeto de

reestruturação global em 1998 com objetivos como integrar as operações mundiais em um único gru-po, reduzir o número de plataformas, entre outras, a subsidiária brasileira parece apontar para um di-ferente caminho (CONSONI; CARVALHO, s/d). A equipe de Desenvolvimento de Produtos brasilei-ra teve participação ativa desde o início no projeto Blue Macaw que deu origem ao Celta, que viria a se tornar plataforma específica para mercados emer-gentes, foi responsável pelo design dos derivativos do Corsa (sedã, wagon e pick-up), bem como da versão sedã do Astra e minivan do Corsa, sem contar o de-senvolvimento de motores 1000 cc. (CONSONI; CARVALHO, 2002).

A GM apresentou uma estratégia de descentra-lização das suas atividades de desenvolvimento de produtos, o que fez com que ela se destacasse pelo volume de investimentos em infra-estrutura tecno-lógica no Brasil, se aproximando mais das atividades de desenvolvimento nos mercados locais (CONSO-NI; CARVALHO, s/d).

Cabe salientar que o projeto Blue Macaw foi o responsável por introduzir em toda a corporação o

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conceito de “condomínio industrial”, pelo qual a linha de montagem é segmentada em módulos de produção e manutenção terceirizada. Esses fornece-dores são responsáveis pelo desenvolvimento, entre-ga e montagem dos módulos, inclusive empregando mão de obra e desenvolvendo ferramentas e equi-pamentos para incremento do processo produtivo (CONSONI; CARVALHO, s/d).

4.4 Fiat AutomóveisDesde o início da década de 90, a companhia

tem buscado maior diversificação de suas vendas quanto às regiões de atuação, bem como maior pre-sença no segmento de veículos médios e atualização da linha de produtos (CARVALHO, 2005).

A Fiat do Brasil é a maior entre as subsidiárias do grupo e, uma das montadoras que mais investiu no mercado brasileiro. A Fiat Corporação designou à brasileira a responsabilidade do desenvolvimento de todos os veículos aqui produzidos e comercializados (CONSONI; CARVALHO, s/d). Tal fator, segundo Consoni e Carvalho (2002), fez com que crescesse a tendência no emprego de engenheiros de produto locais e permitiu à subsidiária brasileira a construção de protótipos. A conseqüência desses investimentos deu origem ao Pálio, plataforma exclusiva para mer-cados emergentes que, inicialmente era um projeto da matriz e passou a ser desenvolvimento pela brasi-leira (Projeto 178).

A Fiat do Brasil também foi responsável pelo de-sign dos derivativos sedã, wagon e pick-up do Pálio, desenvolvimento de suspensões e motores 1000 cc. (CONSONI; CARVALHO, 2002).

5. CONSIDERAÇÕES FINAISAo passo que a indústria brasileira se moderni-

zava, o mercado consumidor se tornava muito mais exigente e seletivo. A indústria passou por grandes mudanças, como fusões e aquisições, a própria atua-ção das mesmas se tornava mais abrangente, o tem-po de ciclo de vida diminuíra, havia um número de modelos cada vez maior disponível no mercado e, a partir desses modelos, diversas variáveis de opcionais poderiam ser atribuídas.

Somado a todos esses recentes acontecimentos, a concorrência na indústria no Brasil aumentara de forma jamais vista em toda sua história. Isso posto,

as principais empresas que já atuavam no mercado, se viram obrigadas a se reestruturarem de forma que pudessem absorver esse impacto das novas entrantes mais suavemente.

De modo geral, talvez as principais montadoras presentes no Brasil, não estavam em uma situação de todo complicada. Aproveitando a teoria das cinco forças de Porter, a GM, VW, Fiat e Ford não estavam expostas as barreiras de entrada como as novas con-correntes, pois as mesmas já estavam instaladas. A ameaça de fornecedores também não era problema tão grande, pois poderiam comprar de qualquer par-te do mundo. Tampouco a ameaça de compradores era preocupante, pela própria estrutura do mercado, tipo de produto e porte dessas companhias. Resta-vam então as ameaças de concorrentes e de produtos substitutos.

Utilizando-se do que Barney e Hesterly (2007) chamam de visão baseada em recursos, essas mon-tadoras se estruturaram nos recursos disponíveis internamente para fazer frente à nova concorrência, como, por exemplo, os baixos custos de produção devido à larga economia de escala, a capacidade de diferenciação do produto advinda de grandes inves-timentos em P&D.

Com relação aos recursos únicos, como teoriza Wernerfelt, essas empresas tinham suas marcas, que já eram do gosto e da confiança do brasileiro. Nesse aspecto as novas entrantes sairiam com enorme des-vantagem logo de início, pois a marca conhecida por todos trazia e traz certo status ao consumidor brasi-leiro junto ao seu meio social.

Fazendo relação às definições apresentadas por Hitt et al. (2002), é possível dizer que todas as mon-tadoras analisadas, VW, GM, Ford e Fiat, adotaram, com diferente grau de intensidade, uma estratégia de liderança em custos / diferenciação. Alterações nos produtos eram constantes nessas montadoras, po-rém periféricas, pois a estrutura principal dos mes-mos nem sempre era alterada, possibilitando assim aliar a diferenciação com a liderança em custos.

É possível dizer também que, especificamen-te nos casos da GM, VW e Fiat, foi adotada uma estratégia de diferenciação, com o desenvolvimento de uma plataforma específica que atendesse as neces-sidades de mercados emergentes, como cilindrada, categoria e preço de mercado.

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Quanto a Ford, após a dissolução da Autolatina, abandonou completamente sua estratégia de pro-duto local, que era proporcionada pelos centros de pesquisa compartilhados pela joint venture, manten-do nesse caso o que Hitt chamaria de estratégia de liderança em custos. Tal posicionamento seria revis-to pouco tempo depois. Frente à sequenciais perdas de participação no mercado, a estratégia da empresa foi reformulada, e os investimentos voltaram, tanto no desenvolvimento de produtos quanto na capaci-tação local.

Em suma, pode-se dizer que a indústria automo-bilística brasileira, ou mais do que isso, o mercado, exigiu que as montadoras aqui presentes tratassem de se atentar as especificidades da demanda para que pudessem obter vantagem competitiva, o que de fato foi a decisão mais acertada, pois apesar das novas entrantes ganharem uma fatia do mercado, as quatro principais, se mantiveram na preferência do consumidor.

Atualmente, outras montadoras, que não tem o “histórico” das já conhecidas, como algumas india-

nas e chinesas, estão tentando ganhar uma fatia do mercado automobilístico brasileiro. Talvez esse ce-nário seja um espelho do que ocorreu na década de 90, pois, como citado anteriormente, é claro que o consumidor brasileiro em geral está muito preocu-pado com a imagem que ele passa nas suas relações com a sociedade, com o que vão dizer se o vissem ou soubessem que está adquirindo um modelo india-no, por exemplo, que ninguém conhece ou sequer ouviu falar. Essa pode ser uma aposta errada, ainda é cedo para dizer como o mercado vai reagir a esse novo ataque a supremacia das poucas, mas com cer-to grau de certeza pode-se afirmar que a tarefa vai exigir das potenciais concorrentes, muita criativida-de e trabalho duro acima de tudo. Nesse sentido, fica a proposta de um futuro estudo para comparar os acontecimentos da década de 90 e os que estão por vir, de forma a elucidar em que aspectos o com-portamento e a cultura do consumidor brasileiro ao longo do tempo influenciam nas decisões estratégi-cas das montadoras aqui instaladas.

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A Regulamentação do Comércio Internacional por Instituições Supranacionais: GATT/OMC

EDSON FRANCISCO GUIMARÃES [email protected]

REGINA CÉLIA FARIA SIMÕESEstágio Supervisionado do curso de ADM – GNI UNIMEP

[email protected]

Resumo: O foco deste artigo se concentra no estudo da regulamentação do comércio internacional por instituições supranacionais como o GATT/OMC. Busca-se o entendimento das regras que proporcionaram ao GATT/OMC promover a liberalização e cooperação multilateral entre os países. Foi também abordado o Órgão de Solução de Controvérsias, que se tornou fundamental para a sistemática do comércio internacio-nal. O fato de o comércio estar intimamente atrelado ao desenvolvimento econômico dos países, justifica-se ressalvar a importância e necessidade de uma maior atuação das nações em desenvolvimento junto à OMC.

Palavras-chave: Comércio Internacional, Instituições Supranacionais, Acordo Geral sobre Tarifas e Comér-cio (GATT), Organização Mundial do Comércio (OMC), Órgão de Solução de Controvérsias, Comércio Multilateral.

Abstract: The focus of this research is based on the study of the regulamentation of the international com-merce by supranational institutions like GATT/WTO. It aims to search for the comprehension of the rules that gave conditions to GATT/WTO to be able to open the commercialization and the multilateral cooperation among Estates. The current article has also taken into consideration the Dispute Settlement Body, which became essential to the systematic of the international trade. Taking into consideration the importance of the international trade, mainly by being closely connected to the economical development of the countries, it gives the background for the highlight given on the importance and necessity of a wider acting in the nations in development within WTO.

Keywords: International Trade, Supranational Institutions, General Agreement on Tariffs and Trade (GATT), World Trade Organization (WTO), Dispute Settlement Body, Multilateral Commerce.

1. INTRODUÇÃO

Este artigo tem como objetivo analisar a atuação do GATT/OMC na regulamentação do comércio internacional desde a criação do Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio (GATT) em 1947 até criação da Organização Mundial do Comércio (OMC) em 1995 e sua importância nos dias atuais.

Considerando que este estudo tomou por base a investigação de fatos e acontecimentos ocorridos ao longo dos últimos sessenta anos desde 1947, o método empregado foi o histórico, o qual permitirá entender a dinâmica histórica da atuação do GATT/

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OMC através de seus acordos e mecanismos que vi-sam à regulamentação do comércio internacional.

2. COMÉRCIO INTERNACIONAL: ASPEC-TOS RELEVANTES

O comércio internacional, assim como a mo-eda internacional, compõe uma área de estudo da economia internacional. Para Krugman e Obstfeld (2001), o comércio internacional é caracterizado principalmente pelas transações que envolvem a movimentação física de bens, ou seja, a troca de mercadorias tangíveis entre os vários países inseridos no mercado global, sendo então considerado como “(...) compromisso tangível dos recursos econômi-cos.” (Krugman e Obstfeld, 2001; p.9). Ao passar dos tempos, surgiu também o comércio de serviços que mesmo sendo intangível, é parte integrante do comércio internacional.

A importância do comércio internacional reside no fato da cooperação internacional entre as nações ser responsável, desde que regulamentada e não exercida por interesses unilaterais, por proporcionar desenvolvimento a todos os Estados atuantes neste âmbito multilateral.

2.1 Os Mercantilistas e a Regulamentação do Comércio

O mercantilismo para Gonçalves et al. (1998) pode ser definido como um conjunto de doutrinas de política econômica que apoiaram a consolidação do absolutismo e dos Estados-nações europeus, e representam o surgimento das idéias pós-medievais no campo do pensamento econômico.

O mercantilismo designa a doutrina das potên-cias comerciais entre os séculos XVI e XVIII, e sin-tetiza um conjunto de idéias sobre o funcionamento da economia materializado nas preocupações das monarquias renascentistas com a balança comercial, o desenvolvimento das manufaturas e as reservas de metais preciosos.

O mercantilismo foi a primeira tentativa de compreender o papel do comércio exterior sobre as economias nacionais. Segundo Carbaugh (2004), os mercantilistas preocupavam-se em disciplinar as trocas comerciais domésticas e em nível internacio-nal com o objetivo de satisfazerem seus próprios in-teresses. O desenvolvimento e manutenção de um

comércio exterior forte e bem estruturado era a res-posta dos autores mercantilistas para que cada país atingisse seus objetivos comerciais.

“Para promover uma balança comercial favorá-vel, os mercantilistas defendiam a regulamentação oficial do comércio.” (CARBAUGH, 2004, p.30).

Portanto, neste momento da história do pen-samento econômico, o Estado ocupa um papel fundamental de agente regulador do comércio in-ternacional através da imposição de mecanismos de tarifação e/ou criação de cotas aos produtos provin-dos de outros países.

2.2 O Comércio Exterior na Visão ClássicaAdam Smith, em seu famoso livro A Riqueza das

Nações, defendia um ponto de vista extremamente diferente daquele dos mercantilistas, afirmando que todas as nações poderiam se beneficiar ao mesmo tempo do comércio internacional. Essa obra, um manifesto contra o mercantilismo e uma defesa do livre comércio, apresenta como argumento central a noção de que o mercado regula a si mesmo por meio da “mão invisível” da lei da oferta e procura, funcionando como instrumento para aumentar a eficiência econômica. Para que todas pudessem se beneficiar bastaria que as nações se especializassem na produção de mercadorias em que possuíssem maior vantagem comparativa em relação às outras (SINGER, 1991).

Segundo a maneira que Smith explana sobre o comércio internacional, se um país puder produ-zir tudo que consuma a um preço mais baixo que os produtos importados, ou, se uma nação puder adquirir via importação todos os produtos neces-sários à sua população por preços inferiores àque-les da produção doméstica, não haveria vantagens em participar das trocas comerciais internacionais (DAINEZ, 2006).

No entanto, no século XIX, David Ricardo deu forma definitiva à teoria das vantagens comparati-vas demonstrando que mesmo se um país estivesse inserido em uma das situações supracitadas, sempre haveria vantagens ao participar do comércio inter-nacional se especializando naqueles produtos ou se-tores com maior vantagem relativa, mesmo que isto significasse importar mercadorias por valores mais

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altos do que lhe custariam fabricá-las (DAINEZ, 2006).

A partir da Revolução Industrial, a Inglaterra mostrava-se extremamente desenvolvida se com-parada aos outros países, pois possuía vantagens nítidas na produção de bens manufaturados, que a permitiam vender produtos industrializados a pre-ços mais baixos que aqueles produzidos por países com industrialização em estágio inicial (SINGER, 1991),

Tal situação imposta pela Revolução Industrial levou os clássicos à formulação de uma prática pro-tecionista conhecida como argumento da indústria infante, a qual determinava que se um país desejasse adquirir vantagens comparativas em determinado setor, deveria proteger seu mercado doméstico fren-te à concorrência estrangeira por um período até que sua indústria atingisse certa “maturidade” para concorrer no mercado internacional em condições de igualdade com países detentores de indústrias implantadas há maior tempo.

O argumento da indústria infante atribuiu maior dinamismo à Teoria Clássica, tendo sido o protecionismo neste momento, incorporado com justificativas plausíveis ao conjunto ideológico que envolvia o comércio internacional.

2.3 As Idéias NeoclássicasA teoria neoclássica acerca do comércio interna-

cional é conhecida como modelo Heckscher-Ohlin, e ela aborda que a Teoria das Vantagens Comparati-vas de Ricardo não explica a maneira como os países se inserem no comércio multilateral, já que consi-dera apenas um fator de produção – o trabalho – dentro da economia e ignora os efeitos tecnológicos sobre a produtividade (DAINEZ, 2006).

Esta teoria define que as vantagens comparati-vas de um país se dão pela interação entre o fator de produção mais abundante e a tecnologia utiliza-da, que intensifica a produtividade. Dainez (2006, p.42) cita Ohlin e Heckscher para dizer que a teoria neoclássica determina que é a “dotação de fatores” de um país que irá direcioná-lo em sua inserção no co-mércio mundial. Ou seja, um país com objetivo de obter ganhos no comércio global deverá direcionar sua produção para aqueles produtos que requeiram

o intenso uso do fator de produção mais abundante dentro de seu território.

2.4 Pós-Guerra e as Instituições Controladoras do Comércio

A história do sistema multilateral do comércio nos remete ao final da Segunda Guerra Mundial, quando os Estados Unidos da América (EUA) as-sumiram um lugar de liderança no mundo devido ao seu poder político e econômico. A partir deste momento, os EUA buscaram assumir responsabili-dade na construção de um novo sistema econômico internacional, principalmente a partir de Bretton Woods, que segundo a OMC (2007), tinha o co-mércio como seu componente essencial.

Segundo Barral (2005), em Bretton Woods buscou-se a criação de órgãos reguladores da eco-nomia internacional. Deste encontro surgiu o Fun-do Monetário Internacional (FMI) com o objetivo de resguardar as economias nacionais contra crises cambiais, e o Banco Mundial com a finalidade de financiar a reconstrução da Europa e a retomada do desenvolvimento.

Segundo a OMC (2007), houve também a ten-tativa de criação da Organização Internacional do Comércio (OIC) com o objetivo de regulamentar a cooperação internacional. Embora a OIC tenha sido aprovada em 1947 em uma Conferência das Nações Unidas, o congresso estadunidense se opôs veementemente à ratificação da OIC, pois alegavam que a organização não tratava da regulamentação do comércio multilateral em si. Este fato acabou com a possibilidade de funcionalidade da OIC, pois os EUA já eram a maior economia do mundo na época (OMC, 2007).

Relata ainda a OMC (2007), que antes mes-mo da aprovação da OIC, ainda em 1947, surgiu o Acordo Geral de Tarifas e Comércio (GATT - Gene-ral Agreement on Tariffs and Trade) que foi instituído em caráter provisório e com objetivo de reduzir as barreiras para o comércio multilateral, impulsionan-do sua liberalização.

Embora o GATT fosse um acordo de caráter provisório e com um campo de ação limitado, é inegável o sucesso na liberalização de grande parte do comércio mundial durante seus 47 anos de exis-tência.

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Segundo a OMC (2007), as primeiras rodadas de negociações foram marcadas basicamente pela discussão sobre redução de tarifas, tendo afetado grande parte do comércio internacional com obje-tivo de promover o livre comércio entre as partes contratantes.

A partir das Rodadas Kennedy (1964-67) e de Tóquio (1973-79), novos assuntos passaram a ser abordados como, por exemplo, as barreiras não tarifárias – antidumping, subsídios, salvaguardas e tratamento especial e diferenciado aos países em de-senvolvimento.

Foi na Rodada do Uruguai, iniciada em 1986, que segundo a OMC (2007), devido a crescente complexidade do comércio entre os países, sentiu-se a necessidade de além da regulação do comércio de bens, também regular o comércio de serviços e a questão das propriedades intelectuais. O sistema de solução de controvérsias utilizado passou a ser me-lhor estruturado e mais transparente em suas análi-ses e decisões. Para reger todos esses acordos e me-canismos de regulação foi instituída a Organização Mundial do Comércio (OMC) em 1 de janeiro de 1995, que passou oficialmente a ser uma organiza-ção supranacional diferentemente do GATT, o qual foi incorporado pela OMC.

Em 2001 deu-se início à rodada Doha com a participação de 150 países, sendo que suas nego-ciações se estendem até hoje e abrangem diversos temas, inclusive a busca por maior liberalização do comércio agrícola, aprimoramento dos acordos de bens, serviços, propriedade intelectual e os painéis do sistema de solução de controvérsias (OMC, 2007).

Frente ao exposto, pode-se concluir que a OMC não é simplesmente uma ampliação do GATT e sim muito mais que isso, é uma organização supranacio-nal que tem como objetivo, a busca por contínua liberalização do comércio internacional, através de sua regulamentação e desenvolvimento.

3. MECANISMOS DE REGULAMENTAÇÃO NO ÂMBITO DO GATT

Faz-se mister citar que o conjunto de regras esta-belecido pelo GATT, segundo Thorstensen (2001), foi calcado em certos princípios fundamentais e teve como objetivo principal a liberalização do comércio

entre as partes contratantes. O primeiro princípio estabelece que a única forma permitida de proteção ao mercado doméstico frente às trocas multilate-rais é dada através de tarifação aduaneira, contudo, vale dizer que o Acordo Geral zela principalmente pela redução contínua destas tarifas. A referida au-tora relata que o segundo princípio determina que qualquer nova tarifa ou benefício quando concedi-do, torna-se automaticamente válido para todas as partes contratantes, de maneira não discriminatória, estando este princípio resguardado sob o Artigo I do GATT conhecido como Tratamento Geral da Na-ção Mais Favorecida (NMF). Quanto ao terceiro princípio, zela para que produtos importados uma vez nacionalizados, não sofram nenhum tipo de discriminação em concorrência com a produção do-méstica e está resguardado pelo Artigo III intitulado de Tratamento Nacional.

Thorstensen (2001) também faz válidas consi-derações sobre certas exceções permitidas às regras, das quais é de grande importância citar que Sal-vaguardas – medidas adotadas para proteger certo setor da indústria doméstica – são permitidas em situações específicas: quando uma parte contratante se vê ameaçada quanto à sua situação financeira ex-terna ou quando o comércio doméstico está sendo ameaçado por quantidades crescentes de importa-ção de certos produtos.

A partir de uma noção geral das regras básicas do comércio multilateral instituídas pelo GATT, é possível uma compreensão mais acurada quanto a importância da Rodada do Uruguai no cenário internacional, bem como quanto a maior comple-xidade de regras e mecanismos de regulamentação abrangidos na estrutura da OMC (THORSTEN-SEN, 2001).

4. MECANISMOS DE REGULAMENTAÇÃO NO ÂMBITO DA OMC

A Rodada do Uruguai estabeleceu a Organiza-ção Mundial do Comércio (OMC) como organiza-ção supranacional, bem como definiu suas funções e estruturas.

Assim como o GATT, os dois princípios básicos da OMC são reciprocidade e não-discriminação, sendo ambos expressos pela cláusula da nação mais favorecida (Artigo I) e de tratamento nacional (Arti-

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go III), já apresentada na subseção anterior (GON-ÇALVES et al, 1998).

A OMC apresenta uma estrutura de regulamen-tação do comércio internacional muito maior, mais desenvolvida e melhor definida que o GATT institu-ído em 1947 (doravante “GATT 1947”), pois colo-ca sob seus auspícios, além das trocas internacionais de mercadorias já abordadas pelo antigo Acordo, a regulamentação do comércio de serviços e questões ligadas aos direitos de propriedade intelectual no âmbito internacional (MARCONINI, 2003).

Com foco no objetivo deste artigo, serão abor-dados em seguida aspectos relevantes do Acordo so-bre Comércio de Bens da OMC (doravante “GATT 1994”) e do Acordo sobre Comércio de Serviços (GATS).

4.1 Apresentação e Caracterização do GATT 1994

O termo “GATT 1994” designa “os dispositi-vos do Acordo Geral do GATT de 1947, e todas as modificações introduzidas pelos termos dos instru-mentos legais que entraram em vigor até a data do início das funções da OMC” (Thorstensen, 2001, p.40). Logo, toda a caracterização dos princípios e regras do GATT 1947 apresentadas na subseção 2.1 é válida para o GATT 1994.

Na área de mercadorias, tratada especificamente pelo GATT 1994, as discussões durante a Rodada do Uruguai continuaram a ser marcadas pela bus-ca de maior liberalização do comércio multilateral através de reduções tarifárias e de outras barrei-ras impostas ao comércio (UNCTAD, Acesso em 16/10/2009).

4.2 Apresentação e Caracterização do GATSBarral (2005) aponta que a primeira tentativa de

se reduzir barreiras tarifárias no setor de serviços por meio de negociações entre países ocorreu na década de 80 com o início da Rodada do Uruguai.

O GATS tem em sua essência os mesmos obje-tivos do GATT, sendo que a maior diferença entre o comércio de bens e serviços se dá no campo da regu-lamentação, já que os serviços devem ser regulamen-tados de maneira mais rígida devido principalmente as várias formas previstas de se prestar um serviço e também pela intangibilidade do assunto em ques-

tão. Estes fatores determinam que o comércio de serviços deva ter uma regulamentação mais abran-gente e ao mesmo tempo flexível a fim de englobar os vários setores existentes OMC (2007).

O comércio de serviços, por ser algo com-plexo e de abordagem recente no âmbito interna-cional, ao fim da Rodada do Uruguai, ficou sob auspícios de um conselho da OMC especificamente criado para zelar da implementação e monitoramen-te da aplicação das regras ao comércio internacional de serviços (MARCONINI, 2003).

5. ÓRGÃO DE SOLUÇÃO DE CONTROVÉR-SIAS

O sistema de solução de controvérsias da OMC, que tem como função a resolução de litígios co-merciais a partir dos acordos sob tutela da referida organização. O Órgão de Solução de Controvérsias (OSC) tem como característica uma função con-ciliatória e busca garantir certa generalidade à suas decisões, já que não visa apenas a solução dos casos a ele apresentados, mas sim, sobretudo, desarraigar certas posturas que os membros atuantes no mul-tilateralismo comercial possam ter (BECHARA E REDENSCHI, 2001).

O GATT 1947 não possuía em sua composição, referências específicas ao sistema de solução de con-trovérsias, sendo que a “experiência consuetudinária é que acabou definindo os contornos do sistema” (BARRAL, 2005, p.31).

Atualmente, o OSC é o pilar central do sistema de comércio multilateral regido pela OMC e contri-buiu para a estabilidade da economia global, sendo considerado algo ímpar dentro da estrutura da orga-nização (OMC, 2007).

Na OMC, o OSC é regido pelo Dispute Settle-ment Understanding (DSU), que garante robustez à estrutura do renovado sistema, prevendo em seus artigos procedimentos bem delineados com prazos de duração pré-definidos para cada etapa, diferen-temente do sistema regido pelo GATT 1947 que acabava por estender várias negociações por mui-to tempo e sem conclusões. O DSU enfatiza que uma rápida solução é essencial para OMC pro-var sua funcionalidade efetiva (WTO, Acesso em 19/10/2009).

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Thorstensen (2001) aponta como mais valioso resultado da Rodada do Uruguai, o fato do sistema de solução de controvérsias prever possibilidade de retaliação aos países membros que infringirem as leis do comércio tuteladas pela OMC.

Ao longo do tempo, o OSC acumulou experi-ência e vem desenvolvendo suas funções como bas-tante propriedade. Nos dias de hoje, países desen-volvidos continuam a ser os que mais utilizam este mecanismo, no entanto, países em desenvolvimento começaram a utilizá-lo com mais freqüência, seja contra países desenvolvidos quanto contra aqueles em similar situação (THORSTENSEN, 2001).

O Brasil é o terceiro país a mais utilizar o sistema de solução de controvérsias da OMC, e é o primei-ro dos países em desenvolvimento. Este cenário nos demonstra a importância do sistema de solução de controvérsias no comércio mundial, principalmente pela crescente importância das questões submetidas ao OSC (BARRAL, 2005).

6. FUTUROS DESAFIOS DA OMCA grande dificuldade encontrada por institui-

ções como a OMC é o fato de lidar diretamente com países dotados de diferentes interesses políticos e econômicos. Logo, a heterogeneidade do sistema e o contínuo aumento da complexidade das trocas globais, fazem com que os acordos existentes sob a égide da OMC pareçam sempre incompletos peran-te as práticas comerciais. Obviamente estas questões muitas vezes não abordadas especificamente pelas regras, surgem litígios entre os players globais, o que requerem do organismo supranacional certa flexibi-lidade e adaptação de seus princípios básicos às no-vas situações (OMC, 2007).

É evidente que a necessidade de se tornar cada vez mais abrangente e flexível é um dos principais e contínuos desafios da OMC, contudo a questão mais importante é exatamente como integrar os pa-íses em desenvolvimento ao sistema multilateral de comércio de uma maneira a contribuir efetivamente para o crescimento e desenvolvimento destes Esta-dos. Este é claramente um assunto a ser colocado em destaque, pois pelo que foi apresentado, é factível que os êxitos do GATT/OMC neste ponto foram limitados, já que as nações desenvolvidas continuam

a exercer forte influência sobre o comércio interna-cional a fim de favorecer seus próprios interesses.

O Sistema de Solução de Controvérsias, embora seja um mecanismo mais estruturado que aquele do GATT, também necessita de melhorias como, por exemplo, aumento da transparência das discussões e atos dos OSC para a imprensa e sociedade civil em geral que não tem livre acesso às audiências dos processos (MIALHE, 2006).

É importante ressaltar que uma cooperação justa entre os países membros, entidades privadas e orga-nizações não governamentais no âmbito multilateral de comércio é primordial para o desenvolvimento da OMC e do sistema como um todo, garantindo assim o desenvolvimento das nações de maneira mais igualitária.

7. CONSIDERAÇÕES FINAISA pesquisa buscou apresentar a conjuntura his-

tórica e econômica do pós-guerra que levaram à cria-ção do GATT em 1947, bem como os princípios e regras deste acordo que se desenvolveu ao longo de décadas promovendo a liberalização do comércio internacional através principalmente, da redução de tarifas e certos mecanismos de regulamentação das trocas comerciais entre as nações.

O Acordo Geral de 1947 regia basicamente as trocas comerciais de produtos, ou seja, bens tan-gíveis. O presente artigo ressaltou que a partir do último quarto do século XX, o comércio interna-cional e a cooperação entre as nações tornaram-se mais complexas envolvendo novos setores como o de serviços, por exemplo. Este foi um dos motivos que levaram o GATT à Rodada do Uruguai, sendo esta considerada, a mais importante de todas as ne-gociações já realizadas no âmbito do comércio inter-nacional, principalmente por ter sido a responsável pela criação da OMC que passou a existir em 1 de janeiro de 1995.

A pesquisa analisou e apresentou detalhada-mente o Órgão de Solução de Controvérsias que já atuava perante a égide do GATT 1947 e foi mais bem estruturado e desenvolvido durante a Rodada do Uruguai, passando também a ser um mecanismo presente na estrutura da OMC. Foi possível aufe-rir através deste artigo, a importância do sistema de solução de litígios comerciais que busca assegurar a

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regulamentação das trocas comerciais em âmbito global pela referida organização.

Contudo, o OSC também possui pontos falhos que deverão ser melhorados ao longo do tempo a fim de garantir na prática a eficácia de suas funções e deliberações. Há vários casos onde os relatórios finais dos Painéis não surtem real efeito sobre o comércio internacional, pois alguns países desen-volvidos, quando derrotados, não se adequam às prolações do órgão, fazendo com que este perca sua eficiência funcional. Até mesmo a sistemática de retaliações não é eficiente em alguns casos, já que os países derrotados utilizam-se de subterfúgios para driblarem as normas da OMC. Não obstante, os

custos dos processos no âmbito do OSC são extre-mamente altos, o que inibe ainda mais uma maior atuação dos países em desenvolvimento junto a este mecanismo.

Ficou claramente exposto que o comércio inter-nacional está em contínuo desenvolvimento, se tor-nando cada vez mais importante e necessário a todos os países. Logo, resta à OMC como uma instituição supranacional se desenvolver e firmar-se cada vez mais como regulamentadora das trocas multilaterais promovendo a liberalização do comércio e ganhos comerciais igualitários para países em diferentes graus de desenvolvimento e com interesses diversos.

REFERÊNCIAS

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BECHARA, Carlos H. T.; REDENSCHI, Ronaldo. A Solução de Controvérsias no Mercosul e na OMC. São Paulo, SP: Aduaneiras, 2002.

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KRUGMAN, Paul R.; OBSTFELD, Maurice. Economia Inter-nacional – Teoria e Política. 5. ed. São Paulo, SP: Makron Books, 2001.

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www.unctad.org/pt/docs/ edmmisc232add33_pt.pdf> Acesso em 16 out 2009.

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WORLD TRADE ORGNIZATION. World Trade Report 2007: six decades of multilateral trade cooperation. Suiça: WTO Publications, 2007.

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Etiqueta no Mundo dos Negócios: como nego-ciar com a cultura árabe

MARCELLA DE SOUZA [email protected]

DORGIVAL HENRIQUEEstágio Supervisionado em ADM-GNI – UNIMEP

[email protected]

Resumo: Para entender a influência da cultura nas negociações internacionais, é necessário caracterizar os vários conceitos de cultura. A idéia central é que o ser humano não nasce com a cultura, ela desenvolve con-forme o ambiente em que está. Relacionando a cultura com o mundo empresarial, nota-se que atualmente, a cultura é uma das vertentes da negociação internacional e que pode ser usada como uma vantagem compe-titiva. A cultura em questão é a árabe, mais especificamente da Arábia Saudita. O artigo também apresentará a etiqueta que deve ser usada perante a está cultura em uma negociação.

Palavras-chave: Cultura, Negociação, Árabe, Etiqueta.

Abstract: To understand the influence of culture in international negotiations, we must identify the various concepts of culture. The central idea is that human beings are not born with culture, it will develop along the growth as the environment. Linking culture with the business world, nowadays, it became one of the aspects of negotiation and advantage against other companies. The culture in question is Arab, specifically from Saudi Arabia The article expose the etiquette so that the negotiator visits should use the face of this culture.

Keywords: Culture, Negotiation, Arabic, Etiquette.

1. INTRODUÇÃO No âmbito das negociações internacionais, uma

palavra torna-se um agente influenciador, a cultura. Ter a consciência das diferenças culturais pode re-sultar no sucesso ou fracasso da negociação. E esse estudo pretende mostrar como a cultura influencia a negociação e a etiqueta que deve ser usada.

Nas negociações internacionais, pode-se dizer que certas situações requerem o que autores desta área chamam de sensibilidade cultural, que signifi-ca as pessoas estarem atentas e sensíveis a existência e ao impacto das diferenças de cultura nas relações empresariais e gerenciais.

A cultura estudada foi a árabe, especificamente da Arábia Saudita. Essa cultura difere bastante da cultura ocidental, e é por isso que o negociador oci-dental deve fazer um estudo e se preparar para este tipo de negociação. Depois de estudada, o negocia-dor poderá fazer uma análise da cultura e descobrir a melhor forma de se comportar diante dela. Nesse estudo, esse comportamento é chamado de etiqueta, que nada mais é atitudes que tornam a convivência entre os indivíduos mais agradável.

2. METODOLOGIA Para a elaboração deste estudo, serão utilizados

os métodos: observacional e histórico; já que os

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mesmos darão possibilidade de uma construção do trabalho em cima de fatos passados que definiram o termo cultura e a própria cultura árabe, e de uma observação do quão importante é a cultura para o mundo dos negócios.

3. CULTURA: DEFINIÇÕES E CONCEITOS Ao longo de décadas, a cultura adquiriu dife-

rentes concepções, que surgiram a partir do estudo e visão de estudiosos. Vários autores publicaram e conceituaram cultura de múltiplas formas. Porém todas possuem a mesma essência: o Homem não nasce com a cultura, e sim aprende e a adquire ao longo da vida e da convivência social.

Santos (1986), em seu livro, define a cultura como uma derivação do processo social, que vai além das práticas e atividades da vida social, e que não pode ser considerada uma parte dela. Defende ainda, que a cultura diz respeito a todos os aspectos da vida social, e que ela é um produto coletivo da vida humana.

A cultura para Chauí (1995) apud Teixeira (2002) é vista como processo de constituição dos se-res humanos, e das sociedades por eles construídas.

Também para Morgan (1996) apud Teixeira (2002) a cultura caracteriza-se por ser um processo continuo e ativos de construção da realidade, através das quais as pessoas criam e recriam a sociedade em que vivem.

Hofstede, um estudioso desta área, definiu cul-tura como “uma programação coletiva da mente que distingue os membros de um grupo ou categoria de pessoas face a outro” (HOFSTEDE, 1997, p.19).

E ainda acrescentou, “a cultura é adquirida, não herdada. Ela provém do ambiente social do indiví-duo, não dos genes” (HOFSTEDE,1997, p.19).

3.1 Influência da Cultura nas Negociações Internacionais

O modo como a cultura é tratada pode definir o rumo que a negociação tomará. Segundo Benedict (1972) apud Laraia (1989) “a cultura é como uma lente através da qual o homem vê o mun-do”. Isso quer dizer que um único objeto, atitude, costume, valor pode ser visto de diversas maneiras e ter muitos significados em diferentes culturas.

Essa lente que o Homem usa, pode muitas vezes causar distorções, dando margem à criação de confli-tos. Por isso, a cultura, dependendo do modo como é usada, pode influenciar positivamente ou negati-vamente numa negociação.

3.2 Sensibilidade CulturalDentro do conceito de sensibilidade cultural

(que é estar sensível à existência dessa diferença cul-tural e tentar minimizar ao máximo os constrangi-mentos que podem ocorrer), existe uma série de ati-tudes e comportamentos que deve ser tomado pelo negociador.

Ele deve conhecer muito bem a sua cultura, seus valores; conhecer, estudar e compreender a cultura em questão; para então tentar identificar as diferen-ças entre sua cultura e a do outro, identificar atitudes que seriam ofensivas e acima de tudo respeitar essas diferenças.

Para Tanure e Gonzalez (2006, p. 29). “feito isso, o “executivo global” (aquele com mentalidade glo-bal) tem condições de se posicionar adequadamente diante do mosaico cultural que o circunda e, prin-cipalmente, avaliar como sua própria cultura pode ser uma alavanca para tornar o seu posicionamento um fator de efetivo “encontro” de culturas e, mais do que isso uma fonte de vantagem para os negócios”

3.3 Sucesso ou FracassoDe acordo com Minervini (2005), autor do livro

“O Exportador – Ferramentas para atuar com suces-so nos mercados internacionais” pesquisas realizadas mostram que as diferenças culturais são responsáveis por 70% do sucesso (ou fracasso) das negociações internacionais. Não adianta apenas saber dos índices da empresa, tamanho, valores investidos, produtos, é necessário também ter o conhecimento da cultura em que se negociará, ou nenhum desses conheci-mentos técnicos serão suficientes para atingir o obje-tivo da negociação

Como citado anteriormente, essa influência tem duas vertentes bem distintas: a positiva e a negativa. E o executivo pode atingir tanto um quanto o outro, isso só depende da forma como ele lidará com este novo (talvez não para muitos) desafio: a cultura.

Compreender as diferenças, respeitar os costu-mes, mostrar interesse e conhecimento sobre o país

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visitado, esforçar-se para uma adaptação tranqüila, aos valores locais, só aumentarão as chances do su-cesso da negociação. Porém, agir com desprezo dian-te do anfitrião, desrespeitando os costumes locais, inserir assuntos nas conversas informais quem não condizem com a conduta do outro, podem passar uma imagem negativa do negociador, tendo como conseqüência o fracasso nas negociações.

4. HISTÓRIA ÁRABE A história do mundo árabe tem um papel fun-

damental, já que é a base para a construção da cul-tura. Tudo se inicia nos diversos reinos, mais preci-samente nove, que existiam no Oriente Médio, que mais tarde se unificariam.

Ao mesmo tempo em que a unificação ocorria, Maomé “construía” a nova religião, o Islã, e a prega-va constantemente por onde passava. Após a etapa de unificação, o Império passou pela expansão, até chegar à fragmentação, que ocorreu por conta do surgimento de diversas dinastias, com pensamentos distintos.

O Islã tem grande importância na formação cul-tural, já que rege a vida dos árabes. O livro Alcorão, que reuniu as profecias de Maomé, foi escrito em árabe e tornou-se a bíblia da nova religião. O livro continha um total de 78 mil palavras, e era consi-derado um guia para aqueles que acreditavam nele (HOURANI, 2001).

A Arábia Saudita, país escolhido para o estudo, é um dos mais tradicionais quanto à religião. Além desse motivo, o outro que justifica sua escolha, é que a Arábia Saudita é a maior economia do Orien-te Médio.

5. ETIQUETA: CONCEITO E ORIGEM Segundo Ribeiro (1993) a etiqueta está

totalmente integrada com o exercício da ética profis-sional, que rege as diferentes relações em diferentes níveis dentro da empresa. Por este motivo a etiqueta empresarial adquiriu grande importância nos últi-mos anos.

Para se chegar a um conceito de etiqueta antes é necessário expor o conceito de ética. A palavra é de origem grega, vem de ethos, que significa com-portamento (RIBEIRO, 1993). Ambas tratam de comportamento, mas a diferença está no nível de

ação. A ética está relacionada com a moral, ela atinge diretamente a liberdade pessoal e conduz as ações humanas de um modo mais profundo. Já a etiqueta é um código de regras que rege o comportamento de um ser social, de um modo mais superficial. De acordo com Ribeiro (1993) “é a forma e o jeito de ele se conduzir de acordo com normas pré-estabe-lecidas numa sociedade visando ser agradável aos outros. É a cortesia”.

A etiqueta é muito conhecida na sociedade como sendo a maneira “correta” de se portar a mesa e comer, ou o comportamento daqueles que fazem parte da alta sociedade. O fato da etiqueta ser ta-xada desta forma (como algo ligado ao formalismo e atitudes de ricos), tem um fundamento histórico: na corte francesa no século XIII, atingindo seu ápice no século XVII, na Versailles de Luiz XIV, foi estru-turado um código de boas maneiras. Foi nessa épo-ca que a palavra etiquette começou a ser usada, por conta das etiquetas distribuídas aos nobres quando chegavam à cour (pátio), que continham instruções de como se portar e o lugar a ocupar nas cerimônias de acordo com o protocolo.

Segundo Ribeiro (1993) “usos e costumes são mutáveis e as maneiras diferenciam-se de acordo com a geografia e as mentalidades”. Simplificando, infringi-las sempre causara má impressão, então o melhor na prática da etiqueta é usar o bom senso independente da onde ou com quem se está nego-ciando.

5.1Reunião de NegóciosPara os gestores contemporâneos moldados na

cultura administrativa ocidental, com forte influen-cia norte-americana, que acreditam que as reuniões de negócios são apenas aqueles compromissos que tem hora estimada para acabar, assunto definido e uma relação estritamente profissional, precisam re-ver alguns conceitos se pretendem negociar com os sauditas, ou com os árabes em geral.

Os sauditas não gostam da idéia do horário go-vernar suas vidas; nas reuniões são discutidos vários assuntos ao mesmo tempo e várias pessoas partici-pam; o ritmo das reuniões é lento, já que os saudi-tas precisam primeiramente adquirir confiança no negociador para depois fechar qualquer negócio; quanto ao vestuário é aconselhável que os homens

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usem terno e as mulheres roupas que cubram braços e pernas (CAMARA, 2009).

5.2 A Religião enquanto Base da VidaA Arábia Saudita, conforme frisamos no capí-

tulo anterior, é um dos países mais tradicionais da região. A religião – Islamismo – tem presença forte e rege grande parte da vida dos sauditas.

“O Islã abrange a política, o direito e o compor-tamento social, não havendo geralmente, separação entre a Igreja e o Estado; as instituições públicas e o próprio poder jurídico são regidos pela religião” (CAMARA, 2009).

Do mesmo modo que ela rege o dia-a-dia dos sauditas, ela também orienta as negociações. . A se-mana útil para eles é de sábado a quinta-feira, já que sexta-feira é um dia sagrado para os islâmicos. Por este motivo o negociador deve se programar então marcar nada para este dia.

As orações, são feitas cinco vezes ao dia (Fajr = amanhecer, Dhuhr = meio dia, Asr = a tarde, Ma-ghrib = ao entardecer, Isha = a noite), prosseguem normalmente. Quando chega o momento, todos param e fazem as orações

O negociador deve tomar conhecimento de al-gumas outras regras, ditadas pelo Alcorão: é proibi-do o consumo de álcool e carne de porco na Arábia Saudita (alguns hotéis de luxo vendem bebidas alco-ólicas para os estrangeiros), cachorros são impuros, as mulheres islâmicas devem sair com o rosto sem-pre coberto na rua, algumas roupas são consideradas um insulto a decência (POST & POST, 2003).

5.3 Compromissos Sociais e o Universo Femi-nino

Sobre os compromissos sociais durante a esta-dia na Arábia Saudita, o entrevistado afirma que os sauditas procuram sempre que possível convidar os estrangeiros para almoçarem e jantarem em suas ca-sas. Ele afirma que a cultura árabe é a que melhor recepciona. Por ser uma cultura milenar, eles têm a interpretação de que uma vez que o viajante está distante de sua própria casa, eles se sentem na obri-gação de reduzir o desconforto (causado pela situ-ação), fazendo-o sentir-se em casa. Por isso devem estar preparado para a grande hospitalidade, grandes refeições e longas conversas.

Muitas vezes, o executivo será convidado para ir à casa do anfitrião, e não verá as mulheres da casa (não é bem visto as mulheres ficarem junto com as visitas do marido/pai/irmão). O universo feminino na Arábia Saudita é um assunto delicado. Em rela-ção às negociações, o entrevistado afirmou que para o mundo árabe o papel da mulher é dedicar-se a casa e aos filhos, e que em uma negociação entre um ára-be e uma executiva há sempre um interlocutor do sexo masculino.

5.4 Mundo Ocidental e Mundo ÁrabeEstrangeiros com culturas bastante diferencia-

das dos árabes costumam denominar a manifestação cultural árabe como etiqueta – uma forma de boa convivência – e é bastante provável que os árabes procedam da mesma maneira com o “mundo oci-dental”.

Atitudes e costumes considerados como etique-ta, a ser observado pelos estrangeiros no universo cultural árabe, especialmente no mundo saudita, além dos já citados, Post & Post (2003) recomen-dam: mão esquerda é considerada impura, portanto não a use para cumprimentar, entregar um presente ou comer; nunca exponha a sola do sapato, que tam-bém é considerado uma parte impura do corpo; não toque ninguém na cabeça, ela é sagrada; não men-cione sobre negócios na sexta-feira, pois é um dia sagrado; sempre tire o sapato antes de entrar numa mesquita, evite beijar uma pessoa do sexo oposto ou segurar-lhe a mão em público; ao dar presentes evite imagens de animais ou pessoas, já que o islamismo não aprova imagens realistas de criaturas vivas; tam-bém nunca presenteie com álcool ou objetos feitos de pele de porco; gesto com o polegar pra cima é grosseiro; nunca critique ou corrija alguém; não re-cue se o anfitrião abraçar-te ou tomar-lhe a mão.

Essas diferenças culturais hoje não podem ser mais consideradas barreiras para as negociações. Acredita-se que esses últimos anos de globalização superaram este problema.

As sociedades com culturas milenares, que é o caso da cultura árabe, e governada por Estados Teo-cráticos poderão resistir mais, seja a perda da identi-dade ou aos seus valores culturais, do que as culturas ocidentais - que sofrem alterações na sua identidade mais facilmente -, mas necessitarão para sobrevivên-

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cia a longo prazo promoverem adaptações moder-nizadoras.

6. CONSIDERAÇÕES FINAISMediante o estudo teórico apresentado, pode-se

dizer que a cultura tem papel fundamental nas ne-gociações internacionais. O modo como o negocia-dor lida com ela pode influenciar, positivamente ou negativamente, nos resultados do negócio. No uni-verso empresarial, os executivos precisam perceber

que a cultura é um tema que deve ser delicadamente estudado. Nesse estudo também foi exposto à ques-tão da etiqueta como uma conduta normativa reco-mendada de hospitalidade e de cortesia. Observa-se que a etiqueta em seu sentido amplo, como a ética e a moralidade, estão relacionadas de forma dinâmica com os valores, costumes, pressupostos e artefatos. A observância das regras de etiquetas do mundo árabe poderá ser a chave do sucesso das negociações efetu-adas pelos executivos ocidentais.

REFERÊNCIAS

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FOLHA DE SÃO PAULO. Atlas da História do Mundo. São Paulo, 1995.

HOFSTEDE, Geert. Culturas e Organizações – Compreen-der a nossa programação mental. Lisboa: Silabo,1997.

HOURANI, Albert. Uma história dos povos árabes. São Paulo, SP: Companhia das Letras, 1994.

LARAIA, Roque de Barros. Cultura – um conceito antro-pológico. Rio de Janeiro, RJ: Jorge Zahar, 1999.

MINERVINI, Nicola. O Exportador – Ferramentas para atuar com sucesso nos mercados internacionais. São Paulo: Prentice Hall, 2005.

POST, Peggy; POST, Peter. Manual Completo de Etiqueta nos Negócios. A vantagem do comportamento certo para o sucesso profissional. Rio de Janeiro: Negócio Edi-tora, 2003.

RIBEIRO, Célia. Boas Maneiras & Sucesso nos Negócios: um guia prático de etiqueta para executivos. Porto Ale-gre, RS: L&PM, 1993.

SANTOS, José Luiz dos. O que é cultura. São Paulo, SP: Bra-siliense, 1986.

TANURES, Betânia; DUARTE, Roberto Gonzalez. Sensibilida-de Cultural. Revista GV Executivo. v.5, n.4, p.25-29 , set/out.2006.

TEIXEIRA, Lucia Helena Gonçalves. Cultura Organizacio-nal e Projeto de Mudança em Escolas Públicas. Campi-nas, SP: Autores Associados, 2002.

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30 Rev. de Negócios Internacionais, Piracicaba, 8 (14): 30-35, 2010

Aplicação do Conceito KAIZEN como Estratégia Competitiva: um Estudo sobre Redução de Cus-tos e Acréscimo de Valor nos Sistemas Produtivos

SÉRGIO FELIPE PONTIN [email protected]

FÁBIO CAMOZZI Estágio Supervisionado ADM – GNI – UNIMEP

[email protected]

Resumo: O presente artigo consiste em apresentar como o KAIZEN pode ser utilizado estrategicamente para reduzir custos e criar valor nos sistemas produtivos. Para tanto, objetivou-se contextualizar esta estra-tégia, apresentando as ferramentas de redução de desperdícios nos sistemas produtivos. Para a elaboração teórica do estudo, são utilizados os métodos histórico, observacional e estudo de caso, à medida que se pretende reconstituir fatos determinantes para utilização do modelo administrativo oriental nas empresas; e posteriormente demonstrar as vantagens da estratégia KAIZEN, e sua aplicabilidade em uma empresa situada em Piracicaba.

Palavras Chaves: KAIZEN, estratégia, redução de desperdícios, sistemas produtivos.

Abstract: This article is to present as the KAIZEN process can be used strategically to reduce costs and create value in productive systems. To this end, aimed contextualize this strategy, presenting the waste reduction to-ols in productive systems. For compiling theoretical study, historical, observational and case study methods are used, as if it wants to reconstitute facts decisive for Eastern administrative template utilization in enterpri-ses; and subsequently demonstrate the features and benefits process KAIZEN, strategy and its applicability in a company located in Piracicaba.

Keywords: KAIZEN, strategy, reduction of waste, productive systems.

1. INTRODUÇÃO O principal objetivo do presente artigo é apre-

sentar como a estratégia KAIZEN pode ser utilizada para reduzir custos e criar valor nos sistemas produ-tivos. Para isso, optou-se por levantar os seguintes pontos relevantes: contextualizar os modos de orga-nização da produção capitalista; resgatar os conceitos fundamentais da mentalidade enxuta originalmente desenvolvida pela Toyota - Sistema Toyota de Pro-

dução ou Toyotismo; conceituar Estratégia, abor-dando teorias clássicas que dizem respeito à criação de vantagens competitivas nos sistemas produtivos através da redução de custos; e contextualizar a es-tratégia KAIZEN, apresentando as ferramentas de redução de desperdícios nos sistemas produtivos e demonstrando sua aplicabilidade, bem como a sua importância em empresas manufatureiras no que diz respeito à criação de vantagem competitiva.

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2. METODOLOGIAPara a fundamentação teórica do estudo, foram

utilizados os métodos histórico, observacional e es-tudo de caso, à medida que se pretendeu reconstituir fatos determinantes para utilização do modelo ad-ministrativo oriental nas empresas; e posteriormente demonstrar as características e vantagens da estraté-gia KAIZEN, bem como a aplicação desta estratégia em uma empresa situada em Piracicaba. A pesquisa bibliográfica foi realizada em livros existentes sobre o assunto na biblioteca da UNIMEP; em sites espe-cíficos e artigos científicos disponíveis na internet. Os dados foram coletados através da pesquisa utili-zada para a fundamentação teórica do estudo.

3. EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA GESTÃO DE PRODUÇÃO

O real ponto de partida do presente estudo está no surgimento das fábricas, através da Revolução Industrial.

Quanto a este marco histórico, Corrêa (2005, p. 7) destaca que essa revolução mudou a face da in-dústria, com uma crescente mecanização das tarefas anteriormente executadas de forma manual. Avan-ços tecnológicos importantes facilitaram a substi-tuição de mão-de-obra por capital e permitiram o desenvolvimento de economias de escala, tornando interessante o estabelecimento de “unidades fabris”.

Este fato possibilitou a reunião de um grande número de trabalhadores nas fábricas, criando, por-tanto a necessidade de organizá-los de uma maneira lógica para produzirem produtos.

Segundo Maximiano (2004, p. 94), as grandes fábricas e a preocupação com a eficiência atraíram a atenção de pessoas que lançaram as bases da ciência econômica e das teorias da administração.

Enquanto estudava os problemas fabris, buscan-do sempre obter o resultado desejado com o menor desperdício de tempo, esforço e materiais, Frederi-ck Winslow Taylor acabou criando um sistema de administração próprio, também conhecido como taylorismo, ou administração científica.

Além de Taylor, outros analistas contribuíram para o desenvolvimento da administração científi-ca.

Segundo Gaither; Frazier (2001), o grande marco desta filosofia ocorreu na Ford Motor Com-

pany no início do século XX, quando Henry Ford projetou o Ford Modelo T para ser construído em linhas de montagem. Nestas eram incorporadas os elementos principais da administração cientifica – desenhos de produtos padronizados, produção em massa, baixos custos de manufatura, linhas de mon-tagem mecanizadas, especialização de mão-de-obra e peças intercambiáveis.

A linha de montagem de Ford tornou-se, na época, o método mais eficiente de produção, e as-sim permaneceu e se expandiu até a eclosão da II Grande Guerra Mundial, quando a logística foi im-pulsionada e outras técnicas de produção passaram a ser mais eficientes.

3.1 O Sistema Toyota de ProduçãoÉ no cenário pós-guerra mundial que a Toyota

Motor Company, desenvolve o STP (Sistema Toyota de Produção), o qual, segundo Maximiano (2004) consiste em três princípios básicos: a eliminação de desperdícios, que aplicado à fábrica, fez nascer o pensamento e a produção enxuta (lean production); a fabricação com qualidade; e o comprometimento e envolvimento dos funcionários no processo deci-sório.

Segundo Womak; Jones (1998, p. 3), o pensa-mento enxuto é uma forma de especificar valor, ali-nhar na melhor seqüência as ações que criam valor, realizar essas atividades sem interrupção toda vez que alguém as solicita e realizá-las de forma cada vez mais eficaz. Em suma, o pensamento é enxuto uma forma de fazer cada vez mais com cada vez menos – menos esforço humano, equipamentos, tempo e menos espaço – e, ao mesmo tempo, aproximar-se cada vez mais de oferecer aos clientes o que eles de-sejam.

Neste sentido, o pensamento enxuto tem por objetivo agregar valor ao produto final, à medida que se eliminam desperdícios nos processos produ-tivos.

Para atingir estes resultados, foram desenvolvi-das, dentro do STP, várias práticas, técnicas e ferra-mentas específicas. Dentre elas podemos destacar: o sistema JIT (Just in Time), o Kanban, o ZD (Zero Defeitos) e o TQC (Controle Total da Qualidade).

A idéia básica do sistema JIT é simples: produzir apenas o necessário, de maneira adequada e quando

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necessário. Pode-se dizer, portanto, que tal sistema pode ser definido como uma técnica de controle de produção e inventário.

Para viabilizar a funcionalidade do sistema JIT, foi desenvolvida uma ferramenta específica de co-municação: o Kanban. No seu sentido mais amplo, segundo Moura (2007, p. 25-26), o Kanban consiste em uma técnica de gestão de materiais que é contro-lada através do movimento de cartões ou etiquetas, sujeitos a circulação repetitiva.

Portanto, o Kanban constitui um método de “puxar” a produção ao longo do processo, de acor-do com as necessidades das operações subseqüentes. Assim, a idéia básica do sistema JIT pode ser assegu-rada através do Kanban, o qual funcionará como um sinal, uma ordem ou autorização de fabricação de determinado produto apenas quando necessário.

O ZD corresponde a técnicas de detectar erros nos processos produtivos, imediatamente após sua ocorrência, com o intuito de eliminá-los o mais pró-ximo de suas causas.

A era da qualidade surge para elevar os padrões de produção, e traz consigo uma nova preocupação: atender da melhor forma possível as necessidades da demanda. É este o esforço do TQC, que para isto, busca melhorar o desempenho da empresa em todos os níveis, satisfazendo metas como garantia de quali-dade, redução de custo, cumprimento da programa-ção, segurança, desenvolvimento da mão-de-obra e de novos produtos, etc.

Na verdade, todas essas práticas “exclusivamente japonesas” citadas a cima, juntamente com o TQC, foram desenvolvidas e são sustentadas por uma fi-losofia de vida, e segundo Imai (1992) podem ser reduzidas a uma única palavra: KAIZEN.

4. ESTRATÉGIA COMPETITIVASegundo Porter (1992, p. 3), as regras da con-

corrência estão englobadas em cinco forças compe-titivas: a entrada de novos concorrentes, a ameaça de substitutos, o poder de negociação dos compra-dores, o poder de negociação dos fornecedores e a rivalidade entre concorrentes existentes. A intera-ção destas cinco forças determina a habilidade que as empresa de determinado setor industrial têm de criar e sustentar - através de estratégias - vantagens competitivas.

Porter (1992) define estratégia como a criação de uma posição exclusiva e valiosa, ou seja, a criação de uma vantagem competitiva, envolvendo um dife-rente conjunto de atividades para proporcionar um mix único de valores.

Portanto ao criar uma estratégia competitiva, é necessário escolher várias cadeias de valores, buscan-do logicamente as mais eficazes, e combiná-las de forma a fornecer ao cliente um valor diferenciado dos concorrentes. Dessa forma, pode-se criar uma vantagem competitiva em relação à concorrência.

Existem dois tipos básicos de vantagem compe-titiva que uma empresa pode possuir: baixo custo ou diferenciação.

Ao optar pela vantagem de redução de custos ou “liderança em custos”, as empresas geralmente desenvolvem internamente a produção enxuta, bus-cando controlar os custos e despesas.

Trata-se, portanto de uma estratégia de Exce-lência Operacional, aplicada pelas empresas que competem em mercados nos quais a relação entre qualidade e preço é a maior determinante da com-petitividade de produtos.

De acordo com Pires (1995), uma estratégia que prioriza a questão do custo geralmente está baseada em três conceitos que tendem ser utilizados comple-mentariamente: economia de escala; curva de expe-riência (aprendizado); e produtividade.

As economias de escala existem devido à queda do custo unitário de um determinado produto for-necido por uma empresa em função do aumento de seu volume de produção.

A curva de experiência ou curva de aprendizado está relacionada ao tempo de vida das empresas, bem como à especialização da mão-de-obra, máquinas e equipamentos, ou seja, fatores que através da expe-riência e aprendizado aumentam a produtividade e conseqüentemente reduzem custos de produção.

Segundo Pires (1995), o conceito de Produti-vidade é a taxa produtiva resultante da divisão das saídas (outputs) pelas entradas (inputs) de um sistema produtivo qualquer. Esta definição parte da lógica de produzir cada vez mais outputs com cada vez menos inputs. Desta forma reduzem-se custos, gastos com instalações, mão-de-obra, matéria prima, processa-mento, etc. aumentando conseqüentemente a quan-tidade produzida.

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Segundo Pires (2007, p. 39) um sistema produ-tivo pode ser definido como um elemento capaz de transformar alguns recursos de entrada (inputs) em produtos e/ou serviços como saídas (outputs).

5. APLICAÇÃO DO KAIZEN NOS SISTEMAS PRODUTIVOS

Segundo Imai (1992), a essência do KAIZEN é simples e direta: KAIZEN significa contínuo me-lhoramento, envolvendo todos, inclusive gerentes e operários. Esta filosofia afirma que o nosso modo de vida – seja no trabalho, na sociedade ou em casa – merece ser constantemente melhorado.

De acordo com Imai (1992), o ponto de partida para o melhoramento é a descoberta da necessidade e isto provém da descoberta de um problema. Uma vez identificados, os problemas devem ser resolvi-dos. Assim, o KAIZEN também é um processo de resolução e problemas.

Os diversos problemas que ocorrem nos siste-mas produtivos são os grandes causadores de outros problemas como atrasos de entrega, improdutivida-de, e principalmente problemas de qualidade, como retrabalhos e defeitos funcionais. As ativida-des KAIZEN, segundo Monden (1999), refinam as operações e tratam prontamente das anormalidades para elevar a moral no local de trabalho e melhorar os processos, nos quais as anormalidades ocorrem.

Imai (1992) apresenta que o KAIZEN é um conceito guarda-chuva, que abrange a maioria das práticas “exclusivamente japonesas”, ou seja, todas as ferramentas do STP.

De acordo com Imai (1992), o KAIZEN tam-bém gera o pensamento orientado para o processo, já que os processos devem ser melhorados antes que resultados melhores sejam alcançados. Além disso, o KAIZEN é orientado para as pessoas e dirigido aos esforços pessoais.

Por fim, de forma mais precisa, Monden (1999, p. 233), define KAIZEN como o esforço para elimi-nar a perda ou desperdício no processo produtivo, onde perda ou desperdício é definido como qual-quer atividade que não contribui para as operações, ou seja, toda e qualquer atividade que não agrega valor para o consumidor final (SHINGO, 1996, p. 110).

5.1 Os Três Seguimentos do KAIZENSegundo Imai (1992), um programa de KAI-

ZEN pode ser dividido em três segmentos: KAIZEN orientado para a administração; KAIZEN orientado para o grupo; e KAIZEN orientado para a pessoa.

A orientação para a administração é o pilar cru-cial do KAIZEN, já que este se concentra nas mais importantes questões logísticas da empresa. Dessa forma, nesta orientação são reduzidos os desperdí-cios de espera, superprodução, movimento, trans-porte, processamento, estoque e produção de pro-dutos defeituosos através da utilização das práticas japonesas, melhorando assim máquinas, instalações, sistemas, enfim, a empresa de forma geral.

O KAIZEN orientado para o grupo, por sua vez, se concentra na formação de círculos de CQ. Estes são criados para resolver problemas nos siste-mas produtivos, utilizando ferramentas específicas da área da qualidade como, por exemplo, o ciclo PDCA, buscando melhorar as atividades e conse-qüentemente a qualidade.

Já o KAIZEN orientado para a Pessoa se mani-festa na forma de sugestões. A administração im-planta este sistema, com o objetivo de estimular os funcionários à expressarem sugestões de melhoria no trabalho. Esta orientação é extremamente interes-sante, pois melhora a relação entre a administração e os funcionários, elevando também a motivação e o moral no ambiente de trabalho.

Dessa forma, a aplicação do KAIZEN depende do esforço de todos dentro da organização, envol-vendo toda hierarquia empresarial, e delegando obrigações para cada pessoa de forma específica.

A adoção da administração multifuncional também facilita o desenvolvimento da melhoria contínua dentro da empresa, à medida que delega responsabilidades e metas de melhoramento em toda hierarquia empresarial. A meta final de uma empresa é ter lucro. Assim, as metas multifuncio-nais, como a qualidade, o custo e a programação (quantidade e entrega), devem ser perseguidos por todas as áreas da empresa.

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6. ESTUDO DE CASO: STU - INDÚSTRIA DE COMPONENTES E PEÇAS LTDA

Situada no município de Piracicaba, a empre-sa STU Cardans mantém uma unidade fabril com 2500m² e trabalha com uma completa linha de car-dans rodoviários e agrícolas. É especializada na fa-bricação e comercio de terminais, juntas universais, cruzetas e cardans para transmissão de caminhões basculantes e implementos agrícolas.

O cardan é resumidamente um conjunto de pe-ças cuja principal função é a transmissão de força mecânica entre um veículo motorizado e um imple-mento sem motor.

O modelo de produção adotado na STU Car-dans é o modelo de produção enxuta. Desta forma, a empresa utiliza muito dos princípios do STP.

O sistema produtivo da empresa conta com óti-mas instalações, tendo máquinas tecnologicamente avançadas e também máquinas mais antigas, que não perderam seu potencial produtivo devido às melhorias nelas implantadas.

6.1 Aplicação Estratégica do KAIZEN na Em-presa

Aplicando as cinco forças de Porter no setor que a empresa atua, concluiu-se que a concorrência está baseada nos preços praticados, na qualidade do pro-duto e no prazo de entrega. Dessa forma a empresa optou por utilizar a estratégia de Excelência Opera-cional baseada em KAIZEN.

Há quatro anos, a empresa sentiu a necessida-de de reestruturar sua planta produtiva, a fim de alcançar excelência em custos e produtividade, e conseqüentemente conquistar uma fatia maior de mercado. Neste momento, os esforços de KAIZEN começaram a aparecer nas instalações da empresa, no sistema produtivo e no planejamento e controle da produção (PCP), buscando o efetivar uma vanta-gem competitiva em custos.

As primeiras aplicações do KAIZEN na empresa foram orientadas para a administração. Neste senti-do, a planta produtiva sofreu modificações, e refor-mas básicas nas instalações foram desenvolvidas.

Para garantir o melhor fluxo da produção, as má-quinas foram dispostas em forma de “U”, reduzindo assim desperdícios de movimentação e transportes. Foram também adquiridos contentores, nos quais as

matérias-primas e peças acabadas foram depositadas e organizadas, garantindo menores perdas de tempo na procura de peças e facilitando a logística interna das peças através do uso de empilhadeiras (motori-zadas ou não).

Após esta etapa, foi desenvolvido o sistema de gestão interno, o qual facilitou o planejamento e controle da produção. Dessa forma, o tempo de produção também passou a ser mais controlado, criando um padrão de cobrança e garantindo maior produtividade.

O sistema eletrônico também traduziu melho-rias no controle de estoques, os quais passaram a ser verificados eletronicamente. Além dos estoques de matéria-prima, produtos semi-acabados e produtos acabados, este sistema informa também as necessi-dades e o estoque mínimo de matéria-prima.

Esta questão adquiriu extrema importância para que fosse também adotado o sistema de produção JIT e o Kanban. Dessa forma, desperdícios de esto-que desnecessário e superprodução foram elimina-dos, através da produção “puxada” para as necessi-dades dos clientes.

Após a conclusão desta etapa, a empresa foca-lizou os esforços de KAIZEN no desenvolvimento de ferramental e dispositivos, objetivando melhorias mecânicas - tanto do produto, quanto dos processos produtivos - e a atualização de máquinas mais defa-sadas. Dessa forma foram dizimados desperdícios de processamento e setup de máquinas.

Uma vez reduzidos os desperdícios mais evi-dentes no processo produtivo, a empresa passou a utilizar o KAIZEN mais especificamente para a or-ganização e identificação das peças estocadas. Com isso, alguns problemas que ainda ocorriam na acu-racidade do estoque foram eliminados, viabilizando melhor planejamento e cumprimento de prazos.

7. CONSIDERAÇÕES FINAISO objetivo do estudo foi apresentar como a

Estratégia KAIZEN pode ser utilizada para reduzir custos e criar valor nos sistemas produtivos. Para melhor entendimento do surgimento desta estraté-gia, foram reconstituídos fatos marcantes para o de-senvolvimento do STP, o qual tem como principal embasamento o KAIZEN.

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Verificou-se que este conceito é resumidamen-te um modelo de eliminação de desperdícios que abrange a maioria dos princípios do STP. Através da utilização destes, os desperdícios são reduzidos e conseqüentemente os custos passam a representar uma menor participação nos preços.

Verificou-se também que o KAIZEN é uma es-tratégia de melhoramento dirigida ao consumidor. Dessa forma, satisfaz-se cada vez mais às necessidades do consumidor e conseqüentemente aumentam-se os lucros, já que desperdícios e custos são reduzidos a partir desta estratégia.

Através do estudo de caso, verificou-se que a empresa STU Cardans, devido à baixa diferenciação e ao alto grau de rivalidade entre empresas na indús-tria que se insere, optou por utilizar predominan-temente a estratégia de liderança em custo em seu sistema produtivo.

No entanto, apesar de algumas considerações apresentadas, verificou-se também que a empresa

focou demais na área operacional, carecendo de maiores incentivos à área da qualidade.

Apesar da aplicação do KAIZEN orientado para a Administração já ter melhorado de forma signi-ficativa a qualidade do produto oferecido pela em-presa, maiores esforços destinados às melhorias da qualidade podem posicionar melhor a empresa em relação à concorrência.

Concluiu-se, portanto que a estratégia KAIZEN é não só viável, como deveria ser a base de todas as empresas, pois não depende de altos investimentos e garante a eficácia operacional, o melhor planeja-mento e controle, a melhoria da qualidade, o de-senvolvimento de novos produtos, a melhoria da relação entre mão-de-obra e a administração, a me-lhoria na relação com os fornecedores, ou seja, me-lhorias em praticamente todas as competências de uma empresa. Basta apenas que as empresas utilizem adequadamente esta estratégia a fim de potencializar os seus resultados.

REFERÊNCIAS

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GHAITER, Norman; FRAZIER, Greg. Administração da Pro-dução e Operações. 8. ed. São Paulo: Pioneira, 2001.

IMAI, Masaaki. KAIZEN: A estratégia para o Sucesso Competitivo. São Paulo: IMAM, 1992.

MAXIMIANO, Antonio César Amaru. Teoria Geral da Admi-nistração: da revolução urbana à revolução digital. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2006.

MONDEN, Yasuhiro. Sistema de redução de custos: custo-alvo e custo kaizen. Tradução de Eduardo D’Agord Schaan. Porto Alegre: Bookman, 1999.

MOURA, Reinaldo A. Kanban: a simplicidade do controle da produção. 4. ed. São Paulo: Imam, 2003.

PIRES, Silvio R. I. Gestão estratégica da produção. Piraci-caba: Editora UNIMEP, 1995.

PIRES, Silvio R. I. Gestão da cadeia de suprimentos: conceitos, estratégias, práticas e casos - supply chain management. 1. ed. São Paulo: Atlas, 2007.

Porter, Michael E. Competição: estratégias competitivas essenciais. 3. ed. Tradução de Afonso Celso da Cunha Serra. Rio de Janeiro: Campus, 1999.

Porter, Michael E. Vantagem competitiva: criando e sus-tentando um desempenho superior. 4. ed. Elizabeth Ma-ria de Pinto Braga. Rio de Janeiro: Campus, 1992.

SHINGO, Shigeo. O Sistema Toyota de Produção do pon-to de vista da Engenharia de Produção. Tradução de Eduardo Schaan. Porto Alegre: Bookman,1996.

WOMACK, James P; JONES, Daniel T. A mentalidade enxuta nas empresas: elimine o desperdício e crie riqueza. Tradução de Ana Beatriz Rodrigues, Priscila Martins Celeste. Rio de Janeiro: Campus,1998.

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A Importância das Feiras e Eventos para a Reali-zação dos Negócios do Setor Sucroalcooleiro

SOFIA OMETTO TANK

[email protected]

ELIANA TADEU TERCI

Estágio Supervisionado em ADM – GNI - [email protected]

Resumo: O presente trabalho buscou evidenciar a importância das feiras e eventos para a realização dos negócios do setor sucroalcooleiro, dando ênfase ao Simtec (Simpósio Internacional e Mostra de Tecnologia da Agroindústria Sucroalcooleira), que é realizado anualmente em Piracicaba e movimenta cerca de 300 mi-lhões de reais anuais. Para isso, foi feita uma pesquisa do histórico do setor sucroalcooleiro, sua regulamenta-ção estatal e sua desregulamentação (marcada pelo fim do IAA e do Proálcool) para dar suporte ao estudo.

Palavras-chave: Feiras, Eventos, SIMTEC, Setor Sucroalcooleiro, Açúcar e Álcool.

Abstract: This study aimed to highlight the importance of fairs and events for the sugar and alcohol sector business, focusing Simtec (International Symposium and Technology Exhibition on the Sugar & Ethanol Industry), which is held annually in Piracicaba and handles about 300 million reais a year. For that, sources about sugar and alcohol sector history, the government regulation and deregulation (when IAA and Proál-cool finished) were realized to give support to the text.

Keywords: Fairs, Events, SIMTEC, Sugar and Alcohol Sector, Sugar and Alcohol.

1. INTRODUÇÃO O setor sucroalcooleiro é bastante im-

portante para o país, pois movimenta cerca de 40 Bilhões de reais anuais, de acordo com a União da Agroindústria Canavieira de São Paulo (UNICA), além de gerar 3,6 milhões de empregos diretos e indiretos de acordo com o Departamento Intersin-dical de Estatística e Estudo Socioeconômico (DIE-ESE, acesso em 20/11/2009).

No Brasil são plantados 6,75 milhões de hecta-res de cana-de-açúcar e são produzidos anualmente cerca de 500 milhões de toneladas de cana. Além disso, são exportados 4,2 Bilhões de litros de álcool e 13,9 Bilhões de toneladas de açúcar por ano.

A experiência brasileira de mais de três décadas com a produção de etanol em escala comercial faz do país um modelo internacional, já que este possui as mais modernas e limpas tecnologias na produção de açúcar e álcool.

Tal pujança tem estimulado a promoção cres-cente de feiras e eventos pelos diversos agentes par-ticipantes do setor sucroalcooleiro. Essas feiras e eventos têm sido muito importantes para o setor, pois movimentam grande quantidade de pessoas no Brasil e no mundo e promovem a realização de vá-rios negócios. Para se ter uma idéia da importância econômica das principais feiras relacionadas dire-tamente ao setor, a Fenasucro & Agrocana, a Fei-

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cana & Feibio e o Simtec proporcionaram no ano de 2009 um volume de aproximadamente R$ 3,5 Bilhões em negócios para os expositores.

O objetivo do presente artigo é evidenciar a im-portância das feiras e eventos para a realização dos negócios do setor sucroalcooleiro, dando ênfase ao Simtec (Simpósio Internacional e Mostra de Tec-nologia da Agroindústria Sucroalcooleira), que é realizado anualmente em Piracicaba e movimenta cerca de 300 milhões de reais anuais. Utilizou-se da pesquisa bibliográfica para a realização do presente estudo.

2. HISTÓRICO DO SETOR SUCROALCOO-LEIRO NO BRASIL E PERSPECTIVAS PARA O SETOR

O primeiro choque do petróleo ocorreu em 1973, como desfecho de um conflito entre Israel, Síria e Egito ocasionando grandes perturbações de âmbito internacional, causando a elevação dos pre-ços do petróleo. Nesta época, o barril de petróleo quadruplicou de preço, ocasionando uma crise in-ternacional que ficou conhecida como o primeiro choque do petróleo. Foi a partir desse episódio que o álcool anidro começou a ser misturado na gasolina brasileira em um percentual de 5% (MICHELLON; SANTOS; RODRIGUES, 2008).

Para minimizar os efeitos da crise, o governo brasileiro, liderado pelo presidente Geisel, buscou alternativas para diminuir sua dependência do pe-tróleo. Em 1975 foi criado Proálcool, tendo como principais objetivos a diminuição da dependência externa de combustível (o Brasil importava 80% do combustível utilizado no país), economia de divi-sas, interiorização do desenvolvimento, evolução da tecnologia nacional, proporcionar o crescimento na-cional da produção de bens de capital e geração de empregos e renda. O Proálcool teve quatro fases.

A fase inicial do Proálcool foi marcada pela ex-pansão do uso de álcool anidro misturado à gasolina, diminuindo a importação de petróleo. A produção de álcool ganhou impulso com ajuda governamen-tal, que concedeu subsídios e financiamentos ao se-tor (CARVALHO; CARRIJO, 2007).

A segunda fase do Proálcool (1979-1986) é marcada por um novo conflito no Oriente Médio, ocasionando uma nova elevação nos preços do pe-

tróleo chegando a US$ 40,00 o barril frente a uma média anterior de US$ 12, 00, ocorrendo o segundo choque do petróleo. Essa fase foi marcada pelo auge e expansão do programa, onde o governo conseguiu atingir seu objetivo como alternativa de substitui-ção de energia. As metas planejadas pelo governo foram atingidas no que visa à produção chegando a 11,8 bilhões de litro/ano e o consumo de álco-ol hidratado, tendo também ocorrido redução nos custos da produção. O setor, sem a devida atenção e investimento em tecnologia para a produção, sen-tiu dificuldades para o aumento da produtividade (CARVALHO; CARRIJO, 2007; LEÃO, 2002).

A terceira fase do Proálcool é conhecida como a desaceleração e a crise. Em 1986 o preço internacio-nal do petróleo diminuiu e estabilizou no mercado internacional e a dependência do Brasil ao petróleo importado era pouca, devido à expansão da pro-dução brasileira de álcool. Nessa época, o governo suspendeu os financiamentos e cortou os subsídios para as usinas existentes, pois priorizava o déficit e o controle inflacionário.

No mesmo período, enquanto ocorria à estag-nação da produção de álcool, o Instituto do Açúcar e do Álcool (IAA) foi sendo desativado, até que em 1990 foi extinto de vez. O governo também promo-veu a desregulamentação do setor, liberando os pre-ços dos produtos para a livre concorrência do setor.

Na quarta fase o Proálcool tem uma nova opor-tunidade com o aumento do preço do petróleo no mercado internacional, à assinatura do Protocolo de Kyoto e o surgimento dos carros flex fuel.

As perspectivas da demanda de etanol, de acordo com a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), são para um aumento de 150% na produção nos pró-ximos dez anos, passando de 25,5 bilhões de litros em 2008 para 63,9 bilhões de litros em 2017. Esse aumento será possível com a continuidade na utili-zação de álcool no setor automobilístico, mantendo a venda de veículos flex fuel, preço competitivo em relação à gasolina e a continuidade da legislação que está em vigor. Com isso, a demanda de álcool car-burante evoluirá a taxa anual de 11,3% no período 2008-2017, saltando de 20,3 bilhões de litros para 53,2 bilhões de litros (MACHADO, 2008).

Ainda segundo o EPE, as exportações de álcool devem dobrar de volume, passando de 4,2 bilhões

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de litros em 2008 para 8,3 bilhões de litros em 2017. Os principais mercados compradores dessa commodity são EUA, Países Baixos e Japão.

A expansão de usinas será necessária para o aten-dimento de toda essa demanda que está por vir. Será necessária a construção de 246 novas unidades, sen-do que 144 já estão em fase de implementação ou de construção. Isso, não será problema para o Brasil, já que esse possui várias vantagens naturais, como disponibilidade de terra arável, solos férteis, clima favorável ao cultivo de cana-de-açúcar e tecnologia de ponta para a produção. Outra vantagem do eta-nol é a redução na emissão de gases.

No Brasil o etanol apresenta custos competiti-vos em relação à gasolina. Isto foi possível graças aos resultados obtidos através dos avanços tecnológicos incorporados pelo setor sucroalcooleiro, na área agrícola e na área industrial, aliados à melhoria no gerenciamento da cadeia produtiva e na integração energética, através de cogeração. Estes fatores foram decisivos para manter a competitividade nos merca-dos mundiais.

3. REGULAMENTAÇÃO E DESREGULA-MENTAÇÃO DO SETOR

No Brasil, a intervenção governamental sempre esteve presente no setor sucroalcooleiro, desde 1933 com o IAA, ligado diretamente à Presidência da Re-pública. O objetivo desse Instituto era regulamentar as relações entre as suas principais categorias sociais: os usineiros ou industriais, os fornecedores de cana-de-açúcar ou agricultores e os trabalhadores.

Quanto à produção do setor, o governo procu-rava assegurar sua rentabilidade com a fixação de preços para a cana-de-açúcar e o açúcar (mais tarde, também para o álcool), considerando, inclusive, os custos de produção nas diferentes regiões. O gover-no tentava disciplinar a participação das duas regiões brasileiras produtoras, Norte-Nordeste e Centro-Sul, e a concorrência entre empresas pelo estabeleci-mento de quotas de produção por agroindústria e de quotas de produção regionais (RAMOS, 1999).

O controle da produção de açúcar e de sua matéria-prima, a cana-de-açúcar, foi exercido com a fixação de quotas de produção para as usinas, con-forme a produção média obtida nas últimas cinco safras. A construção de novas unidades agroindus-

triais, a ampliação ou a transferência de quotas de produção só poderiam ser feitas com autorização do IAA. As preocupações do IAA não eram só contro-lar a produção total de açúcar, mas também equi-librar a participação dos vários estados produtores. Em 04/12/1939 houve um decreto que conferiu ao Instituto o monopólio nacional das exportações de açúcar.

A desregulamentação sucroalcooleira começou em 1990, no momento em que se estabelecia uma crise de abastecimento no mercado de álcool. Foi necessária a importação de álcool de outros países, mas mesmo assim, não foi evitada a falta do produto nos postos de abastecimento de combustíveis. Com isso ocorreu um desestímulo na venda de carros a álcool, que passou de um patamar acima de 80% do total de automóveis vendidos (gasolina e álcool) para um nível próximo a 20%. A decisão da indústria au-tomobilística de parar de produzir carros populares com motores a álcool durante os anos 90 piorou a queda nas vendas, que chegou a ser menor de 1%, entre 1996 e 2000 (MORAES, 2000).

A desregulamentação do setor também foi mar-cada pela extinção do IAA em 1990, que por quase 60 anos participou ativamente do processo de inter-venção estatal na economia sucroalcooleira.

Outro acontecimento foi o estabelecimento da quota de exportação de açúcar para os Estados Uni-dos, onde os preços são altamente remuneradores. Desde 1965, as usinas do Nordeste atendiam toda a quota americana. Em 1995, com o fim da des-regulamentação nas exportações de açúcar, alguns produtores defendiam que a quota americana fosse redistribuída para todo o país. O fim do monopólio público nas exportações de açúcar favoreceu mais as empresas do Centro-Sul. Anteriormente, o IAA identificava o excedente de açúcar para exportação e vendia-o diretamente ao mercado externo. Nesse novo período, as agroindústrias passaram a fazer di-retamente a venda para o mercado externo, princi-palmente aquelas que possuíam os menores custos e acabavam levando vantagem, que eram justamente as do Centro-Sul.

Em relação à produção das destilarias e usinas, uma nova lei estabelecida em 1996, instituiu que os Planos de Safra não eram mais obrigatórios e apenas serviriam para se ter noção da produção sucroalcoo-

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leira oficial. O último Plano de Safra publicado foi o referente à safra de 1997/98, mesmo não sendo mais obrigatório.

Sem quotas ou limitações que fixassem os preços dos produtos finais ou os volumes de produção, o setor sucroalcooleiro, após o processo de desregula-mentação, se encontrava totalmente submetido às condições de mercado.

Como conseqüência dessa desregulamentação, houve a necessidade da criação de órgãos para de-bater e acordar sobre as políticas públicas em relação ao setor sucroalcooleiro.

Os produtores de cana-de-açúcar também foram obrigados a se auto-regulamentar após a desregula-mentação do setor. A falta de proteção, por parte do Estado, levou os usineiros a iniciar investimentos em capacitação tecnológica, explorar economias de escala e escopo, diferenciar produtos, realizar fusões e incorporações de empresas e até mesmo abrir as parcerias com o capital estrangeiro, que auxiliam na alavancagem de recursos e consolidação no mercado internacional.

Umas das alternativas definidas no processo de planejamento dos grandes grupos sucroalcooleiros são as fusões, incorporações e aquisições de empre-sas. Essas fusões e aquisições geraram maior concor-rência, capacidade de expansão do mercado, maior liquidez e amplitude dos recursos financeiros.

4. A IMPORTÂNCIA DAS FEIRAS E EVEN-TOS PARA O SETOR SUCROALCOOLEIRO

Com o crescimento e desenvolvimento do agro-negócio brasileiro, surgiram diversas feiras e eventos (simpósios, congressos, fóruns etc) voltados para o setor sucroalcooleiro. Cabe ressaltar a especificidade dos eventos em atender ao público relacionado ao setor produtivo, diferentemente das antigas feiras agropecuárias, que tinham como principais objeti-vos proporcionar lazer e entretenimento para o pú-blico em geral (com shows, parques de diversão, in-tensa área de alimentação etc) além de divulgar para os visitantes as potencialidades da agropecuária, da indústria e do comércio local.

As feiras como a Agrishow, a Fenasucro, a Agro-cana, a Feicana, a Feibio, e o Simtec tendem a apre-sentar mais oportunidades de negócios em termos de insumos e tecnologias para a produção agrícola

e industrial do setor sucroalcooleiro, enquanto os eventos como a Feisucro e o Sugar & Ethanol Din-ner promovem a comercialização dos produtos do setor, como o álcool, o açúcar além de subprodu-tos.

Um fato relevante é que as feiras passam a não ser apenas um encontro para comercialização de produtos e serviços, mas aproveitam a reunião de todo o mercado (grande parte dos profissionais do setor) em um mesmo local para debater idéias, trocar soluções e informações, difundir tendências tecnológicas e de mercado. Assim, torna-se cada vez mais comum os eventos realizados dentro das feiras, como congressos, seminários fóruns, simpósio etc.

Dentre as principais feiras realizadas no Brasil, podemos destacar:

• Agrishow (Feira Internacional de Tec-nologia Agrícola): que acontece anualmente no município de Ribeirão Preto e é considerada a maior feira agropecuária do país em termos de visitantes e divulgação de bens e serviços. Esta feira realizou sua 16ª edição no ano de 2009 no período de 27 de abril a 2 de maio. Para se ter idéia da dimensão do evento, a edição de 2008 contou com a presença de 660 expositores, 140 mil visitantes e movimen-tou R$ 710 milhões (setecentos e dez milhões de reais) em negócios. Sem ter um produto agrícola específico como foco, a Agrishow comercializa di-versos insumos importantes para o crescimento do setor no país. O principal fator do sucesso do evento foi a adoção do conceito de feira agrícola dinâmica, isto é, uma feira que não fosse apenas uma exposi-ção estática, mas com demonstrações de máquinas, equipamentos e implementos agrícolas em ação (AGRISHOW, 2009).

• Fenasucro e Agrocana: A Fenasucro (Feira Internacional da Indústria Sucroenergética) oferece aos visitantes a oportunidade de explorar toda a cadeia de produção como o preparo do solo, plantio, tratos culturais, colheita, industrialização e aproveitamento dos derivados da cana-de-açúcar, enquanto que a Agrocana (Feira de Negócios e Tec-nologia da Agricultura da Cana-de-açúcar) tem um caráter mais técnico-científico, com simpósios e fó-runs, que ofereceram oportunidades de valorização profissional, de reciclagem de conhecimentos e de

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novos negócios (FENASUCRO & AGROCANA, 2009).

Para se ter uma idéia dos negócios realizados e iniciados durante a feira, os organizadores estimam que neste ano de 2009 o volume de negócios foi da ordem de R$ 2,2 bilhões (dois bilhões e duzentos milhões de reais) (FENASUCRO & AGROCANA, 2009).

• Feicana e Feibio: A Feicana (Feira de Ne-gócios da Agroindústria Sucroalcooleira), segundo Caldeira (2008), tinha como objetivo fundamental mostrar para as empresas fornecedoras de insumos agrícolas e industriais que a região de Araçatuba contava com aproximadamente 50 usinas de açúcar e álcool produzindo aceleradamente, o que estimu-laria a instalação de filiais dessas empresas na região. Entre 2003 e 2006 a feira movimentou cerca de 400 milhões de reais. Em 2006 ocorreu a 1ª Feibio (Fei-ra de Negócio do Setor de Energia) além de con-tar com um Fórum sobre biodiesel, seminários da UDOP (União dos Produtores de Bioenergia) sobre tecnologias agrícolas, industriais e administrativas, além de um seminário sobre segurança saúde e meio ambiente, tornando o evento não só um ambiente para negócios como também para discussão, geração e difusão de conhecimentos e tecnologias.

Em 2007 mais uma vez pode-se comprovar o bom momento do setor energético brasileiro. O vo-lume de negócios realizados na Feicana/FeiBio bateu a marca de R$1 bilhão de reais, mesmo número es-perado para 2008 e 2009 (CALDEIRA, 2008; FEI-CANA, 2009).

• Feisucro (Feira Internacional do Setor Sucroalcooleiro): Foi apresentada como o mais completo conjunto de eventos e a primeira feira in-ternacional voltada para a cadeia produtiva da cana-de-açúcar, com o objetivo principal de trazer poten-ciais compradores aos produtos sucroalcooleiros. Simultaneamente acontecerão 15 eventos com foco na cadeia produtiva da cana-de-açúcar, entre eles o Congresso Internacional dos Produtores de Açúcar e Álcool e Congresso Internacional de Biodiesel (PÁ-GINA RURAL, 2005).

• Simtec (Simpósio Internacional e Mos-tra de Tecnologia da Agroindústria Sucroalco-oleira): tem como objetivos apresentar a mais alta tecnologia na fabricação de máquinas e equipamen-

tos para a agroindústria sucroalcooleira; apresentar o know-how dos centros de pesquisas e desenvol-vimento; apresentar pesquisas do Pólo Nacional de Biocombustíveis; e incrementar o comércio de equipamentos e máquinas para o setor sucroalcoo-leiro no Brasil e no Exterior. O evento tem como público-alvo os empresários, os diretores, os gerentes e os técnicos do setor agroindustrial sucroalcoolei-ro do mercado nacional e internacional (SIMTEC, 2009).

A proposta do Simtec é consolidar um modelo econômico, científico e tecnológico baseado na ges-tão de recursos e produção de energia renovável e de baixo impacto ambiental, em especial o álcool e o biodiesel. Conta com a participação de empresas produtoras de máquinas e equipamentos, prestado-res de serviços e consultoria para a indústria sucroal-cooleira, além de fabricantes de máquinas e equipa-mentos para agricultura (SIMTEC, 2009).

O evento apresentou crescimento ao longo de suas edições, movimentando cerca de 4oo milhões de reais por ano, exceto neste ano de 2009 provavel-mente devido à crise em que se encontrava o setor.

Durante a Mostra são realizados seminários téc-nicos de alto nível, ministrados por empresas e pro-fissionais de larga experiência no segmento agroin-dustrial do açúcar e do álcool.

• Sugar & Ethanol Dinner: Um evento realizado em São Paulo, o Sugar & Ethanol Din-ner teve início em 2001 e ocorre a cada dois anos. O evento conta com empresários e especialistas do mundo todo. O Encontro é bastante pequeno em numero de participantes (1.500 pessoas no último evento - 2009), porém conta com agentes impor-tantes do mercado internacional de açúcar e álcool, sendo responsável por grandes cifras de negociações realizadas ou iniciadas (SUGAR DINNER, 2009).

• Ethanol Summit: Este evento é concebi-do para ser um palco de discussões aprofundadas e de alto nível sobre o biocombustível mais utilizado do mundo. O Ethanol Summit conta com pales-trantes de várias partes do mundo para painéis e apresentações que contribuem para o efervescente debate que domina a agenda energética mundial. O evento é muito divulgado na mídia nacional e internacional, e recebem um público formado por especialistas, empresários, pesquisadores e autorida-

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des governamentais de vários países (ETHANOL SUMMIT, 2009).

Verifica-se assim a importância das feiras e even-tos para o setor sucroalcooleiro, tanto no que diz respeito à realização de negócios de insumos e de produtos, quanto na discussão, geração e difusão de tecnologia e conhecimento nas áreas agrícolas, in-dustriais, logísticas e financeiro/administrativas.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS O presente trabalho verificou claramente que

com a desregulamentação do setor e o surgimento de novas oportunidades promissoras para o etanol em virtude da necessidade de redução da emissão de gases poluentes, e diante da possível escassez de petróleo, o setor buscou alternativas para divulgar suas potencialidades: baixo custo de produção, dis-ponibilidade de terras e mão-de-obra, clima favo-rável, disponibilidade de altíssima tecnologia para produção agrícola e industrial, propostas de desen-volvimento de infra-estrutura para escoamento da produção (ferrovias, alcoolduto, terminais portuá-rios) etc.

Essa divulgação passou a ser feita através das feiras e eventos (simpósios, seminários, palestras, reuniões, comitivas políticas) voltados para o setor. Assim, surgiram diversas feiras e fortaleceram outras

pré-existentes, sempre tendendo a integrar à essas aglomerações de pessoas com fins comerciais (venda de bens e serviços), simpósios e palestras, com o in-tuito de gerar debates e propostas sobre as tecnolo-gias de produção e sobre o futuro e as oportunidades para o setor.

Para se ter uma idéia da importância econômi-ca das principais feiras relacionadas diretamente ao setor, a Fenasucro & Agrocana, a Feicana & Feibio e o Simtec proporcionaram no ano de 2009 um volume de aproximadamente R$ 3,5 Bilhões (três bilhões e quinhentos milhões de reais) em negócios para os expositores (concretizados e iniciados), sem computar a movimentação acessória à esses eventos: instalação das feiras, bares, restaurantes, hotéis, siste-mas de transportes (aluguel de carros, táxis, ônibus e empresas aéreas) e lojas em geral.

Outros eventos para iniciar negociações de ven-da de álcool e açúcar, como o Sugar & Ethanol Din-ner, e a Feisucro, cujos valores de negociações não se encontram disponíveis, além do Sugar Summit (en-contro para debates e propostas sobre o panorama energético mundial) contribuem intensamente para conscientização sobre o uso de tecnologias energé-ticas menos poluentes e a divulgação das propostas brasileiras, proporcionando uma maior inserção tec-nológica e econômica do Brasil no mundo.

REFERÊNCIAS

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CALDEIRA, M. P. Feicana: a organização da feira sob a perspectiva dos visitantes e expositores e da profis-sionalização do setor de eventos. Rosana, SP: UNESP, 2008.

CARVALHO, S. P., CARRIJO, E. L. O. A produção de álcool: do Proálcool ao contexto atual. Londrina, PR: SOBER, 2007.

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dernos%20de%20Energia%20-%20Perspectiva%20para%20o%20etanol%20no%20Brasil.pdf. Acesso em 20 jun 2009.

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MORAES, M. A. F. D. A desregulamentação do setor su-croalcooleiro brasileiro. 1999. Piracicaba, Caminho Edi-torial, 1999.

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RAMOS, P. Agroindústria canavieira e propriedade fun-diária no Brasil. São Paulo, Editora Hucitec, 1999.

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Evolução do Investimento Externo Direto (IED) entre 2002 e 2008

THIAGO DA SILVA [email protected]

FERNANDO LIMAEstágio Supervisionado em ADM – GNI - UNIMEP

[email protected]

Resumo: O presente artigo tem por objetivo apresentar a evolução do investimento externo direto no perío-do de 2002 a 2008. Desde o período de industrialização e abertura de capital o investimento esteve presente no ambiente econômico brasileiro, havendo num primeiro momento a maior participação da indústria e em seguida no setor de serviços. Com a nova regulamentação, os investimentos migraram com maior volume devido ao tamanho do mercado brasileiro, apresentando também o ganho em novas tecnologias e formatos de gestão.

Palavras-chave: investimento, tecnologia e gestão.

Abstract: The present article has for objective to present the foreign direct investimet´s evolution between 2002 and 2008. Since from industrialization´s period and capital opended the investment was present in the economic environment, having in first moment a huge participation in industry then in services´s sector. With the new regulation, the investiment flowed with higher quantity because of brazilian´s size market, present too the goals with news tecnologics and management´s ways.

Keywords: investiment, technologic and management.

1. INTRODUÇÃOCom a globalização financeira, várias empresas

buscaram melhorias em sua cadeia de produção, re-alizando assim o investimento em nações em desen-volvimento. No Brasil, esse investimento era tratado de forma restritiva, mas com a abertura comercial foi dada uma nova postura para tal investimento e melhorias consideráveis em sua gestão e ganhos macroeconômicos para o receptor. Esse trabalho apresentará uma breve definição do IED, sua regu-lamentação, características e o levantamento histó-rico de 1985 a 2008 bem como o comportamento setorial e participação dos países. Tal pesquisa uti-lizou os métodos observacionais e históricos, com

pesquisa em livros, artigos e mídias específicas sobre o assunto.

2. DEFINIÇÕES DO INVESTIMENTO ES-TRANGEIRO DIRETO (IED)

Antes de discutirmos o IED segue definição do agente financeiro presente nesse tipo de investimen-to, sendo o capital estrangeiro. Segue definição pre-sente no art. 1 da Lei n 4131/62 (PWHC, 2000, p. 9):

Consideram – se capitais estrangeiros, para os efeitos desta Lei, os bens, máquinas e equipamentos entrados no Brasil sem dispêndio inicial de divisas, destinados à produção de bens e serviços, bem como

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os recursos financeiros ou monetários, introduzidos no País, para aplicação em atividades econômicas, desde que, em ambas as hipóteses, pertençam a pes-soas físicas ou jurídicas residentes, domiciliadas ou com sede no exterior.

O investimento externo direto pode ser encara-do como uma forma de expansão sem a necessidade de empréstimos internacionais, gerando uma filial. Essa nova empresa local tem obrigações organizacio-nais e financeiras em relação à matriz (KRUGMAN, 1999).

Em empresas de capital aberto o investimento pode ser relacionada à compra de ações pela parte interessada, com isso, passa a ter representatividade nas decisões da empresa de acordo com o grau de participação e regras da empresa (OCDE, 1999).

3. BALANÇO DE PAGAMENTO BRASILEI-RO: A MENSURAÇÃO DO IED

Neste tópico vamos expor um importante in-dicador macroeconômico que engloba as relações comerciais internacionais e abriga a conta referente ao IED, o Balanço de Pagamentos. Essa ferramenta é influenciada pelas ações do setor externo, sendo o setor externo formado pelos indivíduos, empresas, governo e outros países. Quando não há relação com o setor externo à economia é fechada, sendo o caso contrário a economia aberta (BACHA, 2004).

O Balanço de Pagamentos é instrumento para visualizar o desempenho dos países inseridos no co-mércio internacional. Hoje em dia, a sua presença é mais aplicada como base para tomada de decisões onde suas informações refletem a liquidez do país, servindo de base para análise econômica da área pri-vada e pública, formas de produção para o mercado externo e política monetária a ser aplicada no país (CAPACLE; SIMÕES, 2006).

Os registros contábeis são realizados no forma-to de partidas dobradas, havendo um crédito numa conta e um débito referente a esse crédito em outra conta, portanto, o resultado final é zero. Caso seja necessários ajustes existe a conta chamada de Erros e Omissões.

Apesar da diferença entre as formas de contabi-lização entre os países, a moeda utilizada é o dólar, sendo o formato exigido pelo FMI (Fundo Monetá-

rio Internacional) e apresentado de forma compara-tiva com outros países.

Resumidamente a Balança de Pagamentos está estruturada em balança comercial (contas de expor-tação e importação), balança de serviços (juros, lu-cros, dividendos e gastos de viagens), transferências unilaterais (doações e remessas para conserto), conta de capitais (IED, títulos de renda, amortizações e operações de regularizações) e erros e Omissões.

A união da Balança Comercial, Serviços e Trans-ferências Unilaterais têm as Transações Correntes. Vamos focar na Conta de Capitais sendo o local onde é registrado o ingresso do IED.

3.1 O Investimento Externo Direto na Balança de Pagamentos

Conforme mencionado anteriormente a Conta de Capitais engloba os empréstimos, investimento, amortizações de empréstimos, compra e venda de ativos, como ações, bens imóveis, títulos do gover-no, aplicações em banco, entre outros (CAPACLE; SIMÕES, 2006). Ela deve apresentar superavitária, pois ela que representa as receitas do governo no fe-chamento das contas internacionais.

Relatando sobre o IED, o investimento pode ser oficial, controlado pelo órgão monetário do país e não oficial, sendo dividido em curto prazo e longo prazo. O investimento de curto prazo é ligado à es-peculação financeira, retorno rápido sobre os cená-rios macroeconômicos chamativos, financiamentos de operações de exportação e importação, com per-manência abaixo de um ano. Já o de longo prazo é relacionado ao investimento produtivo, emprés-timos e financiamentos acima de um ano (CAPA-CLE; SIMÕES, 2006).

Atualmente a regulação desse investimento é realizada pelo Banco Central brasileiro, sem cunho restritivo, mas analítico em temas que são delicados para o Brasil como energia nuclear e instituições fi-nanceiras.

4. IMPORTÂNCIA E CARACTERÍSTICAS DO IED NO BRASIL

Antes que qualquer intenção de investimen-to, deve – se ter em mente a funcionalidade de tal opção e expectativa de retorno. O posicionamento deve estar alinhado, pois com base nessa estratégia

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será definida a busca por acordos ou parcerias locais como complementação de infra – estrutura domés-tica (FRANCO, 1989).

Com a nova reestruturação da política industrial nos anos 80 e 90, o Brasil criou oportunidades de melhorias tecnológicas, havendo abertura de canais de investimento em setores estatizados. O governo promoveu a privatização de alguns segmentos apre-sentados como estratégicos e outros receberam forte investimento para adequação de infra – estrutura. Não deixando de mencionar nossa competitividade no setor de comidities, mas pouca em itens com alto valor agregado havendo a necessidade de montar um mix de produtos que completem a cesta ideal a ser apresentados como base produtiva.

Não podemos deixar de relatar que a importân-cia do IED está no incentivo da produção intelectu-al, sendo necessária a criação de uma base estrutural para o desenvolvimento dessa forma de negócio. Com essa base criada, a escala quantitativa e quali-tativa de tecnologia e inovação tende a crescer, am-pliando a gama de produtos a ser oferecidos no mer-cado internacional bem como sua competitividade.

Foi realizada uma pesquisa com visão mundial onde os principais desmotivadores de investimen-to diretos estão ligados ao acesso a financiamento, legislação tributária, taxas elevadas, processos des-necessários, corrupção, legislação trabalhista enri-jecida, nível educacional, costumes da população, governos instáveis e leis que regem o IED (GRE-GORY, 2005).

Os governos e entidades de classe devem es-tar alinhados visando oportunidades no mercado internacional, a fim de promover o ingresso de investimento, mas num primeiro momento deve estruturar o país para que o mesmo seja atraente ao investimento estrangeiro, sendo uma atividade conjunta dos envolvidos no processo (governo, em-presa, sociedade e associações).

4.1 Principais Características no BrasilAntes da industrialização a economia era do-

minada pelo capital americano e britânico, sendo o foco as atividades agrárias (café) e serviços públicos. Já na industrialização o capital era oriundo dos EUA (30%), Japão, Suíça e Alemanha com cerca de 10%,

sendo incentivados pelo governo e com melhor taxa de retorno (BAER, 1996).

A literatura sobre o tema nos fornece alguns componentes analíticos, vale destacar a estratégia presente na teoria de Vernon, onde a inserção de no-vos produtos ocorre no país de origem, com maior nível tecnológico, em seguida segue – se para locais com estrutura econômica parecida e acaba sendo transferido para mercados em expansão para ganho de escala. Com a padronização da produção já é possível à abertura de linhas de produção em países de menor renda, pois está suficientemente padroni-zado e sem necessidade de aumento de inovação na produção, levando assim a estrutura global de abas-tecimento (SABBATINI, 2008).

Outra estratégia obedece ao princípio heckscher – ohliano, onde a produção já deslocaria para países ricos em mão – de – obra com o objetivo de redução de custo, sendo a produção destinada para a matriz e atendimento de outros mercados.

Várias empresas possuem a oportunidade de se internacionalizar, através da exportação, contrato de licenciamento e instalação de um local produtivo. A decisão de qual operação tomar deve está ligada aos benefícios oferecidos pelo país bem como a estraté-gia de médio e longo prazo.

Para a estruturação das estratégias desse grupo de empresas definiu – se quatro grupos. O primeiro chamado de “resource seeking” trabalhando mais com exportação de insumos sem agregação de valor. O segundo grupo, chamado de “marketing – seeking” trabalho no mercado já amadurecido, com marcas concorrentes, concorrendo com outras multinacio-nais. Já o “efficiency – seeking” está estruturado para o atendimento global, alocando cada parte da cadeia produtiva de acordo com as vantagens competitivas oferecida por cada região. Por ultimo temos o “stra-tegic – asset – seeking”, sendo relativa à idéia apresen-tada acima, mas com um enfoque maior em vanta-gens competitivas ligadas a fusões, aquisições para ter acesso a matérias primas, canais de distribuições ou novos produtos (LAPLANE; SARTI, 2002).

Com as características apresentadas acima, o Brasil se encaixa nas estratégias de aproveitamento de mão de obra barata e agilidade na cadeia produti-va porque os insumos estão presentes no mesmo lo-cal de produção, apresentando ganho de escala. En-

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tretanto é importante o aumento do valor agregado dos produtos para aumento financeiro no momento de exportação.

5. PANORAMA HISTÓRICO DO IDE NO BRASIL

5.1 Período antes de 1995Com o cenário macroeconômico do pós-guerra

de 1945, houve a estruturação voltada para a melho-ria da indústria nacional sendo aplicadas políticas de incentivo a entrada de IED e liberalização pontuais de importações. Segundo relato de Sabbatini (2008) com base nos dados da UNCTAD (2004) ocorre-ram algumas restrições quanto a operações das mul-tinacionais como: controle de acesso a setores estra-tégicos do governo; restrições com relação à remessa de lucros e até os anos 70 havia uma legislação que discriminava as operações das empresas multinacio-nais com relação às nacionais tanto que as empresas transnacionais sempre deveriam se submeter às leis nacionais.

Já com o novo pensamento sobre ingresso de ca-pital externo, foram adotadas medidas de melhorias como a liberação do fluxo de capital, equalização no tratamento das empresas exteriores e interiores com possibilidade de resolução jurídicas fora do país receptor de recursos e principalmente as agências de regulação de mercado. Devido a novas medidas foi necessário se estruturar para atender da melhor maneira a entrada de divisas através de incentivos fiscais, estruturais e financeiros. Assim, foi possível desenvolver um ambiente propício para o desenvol-vimento e criação de novos cenários e serviços.

No período de 1950 a 1985 os principais paí-ses fornecedores do IED, destaque para os Estados Unidos (US$ 8 bilhões), Alemanha Ocidental (US$ 3,5 bilhões) e Japão (US$ 2,3 bilhões) (BACEN, 2009). No período de 1981 a 1990 (US$ 213 bi-lhões) temos maior presença da indústria no fluxo de investimento (BACEN, 2009). Nesse período a presença estrangeira está mais forte em segmentos industriais (automóveis, química e material elétrico), com pouca concorrência local. Já no segmento de bens de consumo (vestuário, alimentos e perfuma-ria) há maior equalização de capital internacional e nacional. Já no setor agrícola, mineração, imobiliá-

rio e bebidas a participação de capital estrangeiro é quase nula.

Após a recessão da década de 80, a década de 90 foi marcada por várias mudanças no cenário econô-mico. Ocorreu a abertura comercial, surgimento do MERCOSUL, concessão financiamento a empresas estrangeiras pelo BNDES, afrouxamento da regula-ção do Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (INPI), entre outras atitudes (CANUTO, 1993).

5.2 Período de 1995 a 2000No âmbito nacional o grande volume de inves-

timento registrado após 1995 veio do processo da privatização de empresas estatais, fusões e aquisições. O processo de fusão de empresas nacionais privadas resultou na fragilidade das mesmas com a abertura econômica. Segundo consolidação do Banco Cen-tral o IDE de 1990 a 1995 foram de US$ 42 bi-lhões, sendo no acumulado de 1995 a 2000 de US$ 104 bilhões, ou seja, crescimento de duas vezes e meia (BACEN, 2009).

Nesse período os principais países que partici-param do fluxo para o Brasil são: Estados Unidos (US$ 24 bilhões), Espanha (US$ 21 bilhões), Ilhas Cayman (US$ 9,9 bilhões), Países Baixos (US$ 9,6 bilhões), França (US$ 7,9 bilhões), Portugal (US$ 7,5 bilhões) e Reino Unido (US$ 2 bilhões). Apresentado todos juntos no acumulado de 1996 a 2000, 80% do IED (BACEN, 2009). Vale ressaltar a aumento da participação de paraísos fiscais com interesse em alto retorno com base em especulação financeira.

No acumulado setorial de 1990 a 1995 em re-lação a 1995 a 2000, percebemos queda de fluxo na indústria (US$ 27,9 bilhões contra US$ 18,6 bilhões), crescimento da agricultura, pecuária e ex-tração mineral (US$ 925 milhões contra US$ 1,7 bilhões) e forte crescimento no setor de serviços (US$ 12,8 bilhões contra US$ 83,2 bilhões) (BA-CEN, 2009).

Os fluxos contínuos de IED até o auge em 2000 parece ter alegrado os analistas, pois tal forma de financiamento poderia suprir a poupança externa afetada pela crise dos países asiáticos e Rússia. O IED aparentava uma fonte estável de financiamen-to externo, servindo como viés para o crescimento doméstico.

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Uma questão de que na época das grandes pri-vatizações foi a não ocorrência de investimento ma-ciço, mas somente a transferência de ativos e que não contribuíram para o indicador FBCF (Forma-ção Bruta de Capital Fixo). Esse indicador pode ser medido de acordo com que a empresa investidora realizar melhorias gerando resultados macroeconô-micos ao setor. Com a vinda de empresas estrangei-ras através de aquisições internas, a reestruturação industrial foi de extrema importância para o nivela-mento dos produtos fabricados pelas empresas que sobreviveram, gerando maior competitividade (LA-PLANE; SARTI, 2002).

O interesse no mercado brasileiro está ligado à dimensão do mercado nacional e a lucratividade de um mercado protegido e oligopolizado, entretanto, os custos competitivos e a alta taxa de retorno com base nos juros já torna o mercado altamente atraen-te. Para setores de produção em massa as disponibi-lidades locais e as operações nacionais, resultavam numa interessante competitividade externa.

6. EVOLUÇÃO E PRINCIPAIS CARACTERÍS-TICAS DO IED - 2001 A 2008

Em meados de 2001 – 2002 ocorreram quedas no fluxo de IED, somente os setores que sofreram privatizações mostraram um aumento. Tal cenário está amarrado aos problemas crônicos da balança de pagamentos enfrentados pela economia brasileira por estar cada vez mais ligada a empresas produtoras de serviços não – comercializáveis internacional-mente. Isso ocorre devido à redução de exportação e aumento da remessa de lucros dividendos ao exte-rior (GONÇALVES, 2005). Outro ponto é a crise gerada pelos atentados de 11 de Setembro nos EUA e crise energética no Brasil.

A partir de 2002 ainda manteve a tendência de aumento do IED de Portugal e Holanda, mas a Espanha sofreu problemas com a crise econômica Argentina, reduzindo sua participação no Brasil.

Percebemos um aumento do total de investi-mento em 13%, passando de US$ 103 bilhões de 1995 a 2000 para US$ 117 bilhões de 2001 a 2006. Destaque para o crescimento do fluxo oriundo de paraísos fiscais (Países Baixos e Ilhas Cayman), jun-tos, passando de US$ 17 bilhões para quase US$ 30 bilhões (BACEN, 2009). Esse crescimento pode es-

tar relacionado ao amadurecimento do mercado de capitais brasileiro, apresentando representatividade em rodas de discussões e mídias populares.

Os EUA apesar da queda se mantêm em pri-meiro lugar. Já o Canadá e Japão aumentam seus investimentos e Espanha reduz sua participação de-vido ao esgotamento das privatizações ocorridas na segunda metade da década de 1990.

Na abertura setorial percebemos o crescimento do fluxo em agricultura, pecuária e extração mine-ral, aumento em indústria e queda no setor de ser-viços, entretanto, não deixa de ser com maior em intensidade de investimento.

Nota-se o crescimento na exploração de petró-leo e minerais metálicos, visto que são duas fortes áreas econômicas com grandes empresas investindo em pesquisa e no caso do petróleo, descoberta de novas reservas com tecnologia nacional.

Na indústria ocorre agressivo crescimento do fluxo em produtos alimentícios e bebidas, tal cresci-mento ocorre na formação de novos conglomerados empresariais e necessidade de investimento em pro-dução nos locais onde a matéria – prima e mão – de obra pode realizar um conjunto de atrativos que ge-rem redução de custo. Também sendo um setor que atende ao mercado nacional, que passou por rees-truturação de renda sendo um grande atrativo para a inserção e ampliação de novas linhas de produtos.

No terceiro setor ocorre diminuição de fluxo em correios e telecomunicações, queda em serviços financeiros e empresariais. Tal reformulação ocorre devido à finalização da internacionalização do mer-cado brasileiro, já havendo o amadurecimento para o atendimento de novas formas de gestão e recursos financeiros para as operações realizadas na segunda década de 1990. Crescimento do comércio varejista devido à maior inserção de grandes redes mundiais e aquisição de redes locais por empresas estrangeiras.

Para o período final de nossa avaliação, de 2007 e 2008, ocorreu somente nesses dois anos o fluxo de 50% de todo o realizado do período de 2001 a 2006. Em números trata-se de US$ 117 bilhões, contra US$ 77 bilhões (BACEN, 2009).

Apesar do abalo econômico interno ocorrido entre o ano 2000 e 2003 no cenário macroeconômi-co internacional, tendo como motivadores a queda no mercado de ações, a queda de crescimento eco-

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nômico e a queda de aquisições e fusões relacionadas ao mercado de capitais, o Brasil manteve um fluxo de investimento adequado para o período devido à necessidade dos países desenvolvidos em reduzir os custos de operações industriais, assim migrando para países em desenvolvimento além do Brasil como a China, Índia e outros (SILVA, 2006).

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS Com a necessidade de internacionalização da

produção para ganho de competitividade, várias na-ções em desenvolvimento viram – se inundadas de investimento externo direto. Tal investimento que é regularizado pelo órgão máximo do país, apresenta uma importante parcela no controle de contas do governo é essencial uma atualização no formato de

gestão dos países, promovendo crescimento tecno-lógico e investimento em infra-estrutura.

No período das grandes industrializações o in-vestimento estava focando na indústria, já no perí-odo de abertura econômica, ocorreu a migração do investimento para área de serviços, devido as grande privatizações e necessidade de aprimoramento desse setor.

Entretanto, o Brasil deve estruturar para refinar tal tipo de investimento, havendo maior qualifica-ção profissional, infra-estrutura de atendimento e movimentos incentivadores de reeinvestimento para que o capital permaneça no país, sendo uma forma de geração de receita para o desenvolvimento da nação.

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Segurança e Agilidade na Cadeia de Suprimentos

VIVIANE CRISTINA DE CAMARGO [email protected]

CRISTIANO MORINIEstágio Supervisionado em ADM – GNI - UNIMEP

[email protected]

Resumo: Este trabalho discorre sobre certos mecanismos utilizados pelas empresas e alfândegas cuja inten-cionalidade gira em torno dos países criarem uma cadeia de suprimentos que seja, ao mesmo tempo, segura e ágil. São apresentados os mecanismos: Regimes Aduaneiros Especiais na importação, Linha Azul, Operador Econômico Autorizado, ISO 28000, C-TPAT, ISPS e Projeto Harpia alguns desses mecanismos são obtidos em forma de certificações. Ainda pouco conhecidos e utilizados no Brasil, estes mecanismos podem prover maiores benefícios, tanto para o país, quanto para as empresas como já ocorre em outros países.

Palavras-chave: cadeia de suprimentos, segurança, agilidade, comércio internacional.

Abstract: This brainwork discourse about some mechanisms used by companies and customs which inten-tionality is around of the countries can create a Supply Chain Management that are, at the same time, secure and agile. There are considered mechanisms the Regimes Aduaneiros Especiais on the importation, Linha Azul, Authorized Economic Operator, ISO 228000, C-TPAT, ISPS Code, Projeto Harpia are determined by certifications. Besides less unknown and used in Brazil this mechanisms could attend more benefits all of the country as much as the companies like already happen with others countries.

Keywords: supply chain management, security, agility, international trade.

1. INTRODUÇÃOAtualmente, o comércio internacional é con-

siderado um dos fatores chave para o crescimento econômico mundial e, com o aumento da movi-mentação da cadeia de suprimentos, a mesma fica a mercê de várias ameaças, tais como: roubos, fraudes, ataques terroristas e, com isso, surge à necessida-de de uma integração entre cada elo da cadeia de suprimentos para que todos, comprometidos com o mesmo propósito, possam construir uma cadeia segura e, paralelamente, com a agilidade necessária para manter sua harmonia.

Este tema, ainda é considerado pouco conheci-do no Brasil e está se revelando tendencioso para os próximos anos. A importância, claramente encon-

trada neste assunto, é a segurança e a agilidade. A segurança é proporcionada para a Aduana – a Recei-ta Federal do Brasil – e, a agilidade para as empre-sas com comércio globalizado assim como para as cadeias de suprimentos globais. As páginas seguintes abrigam um estudo que tem por objetivo ampliar o conhecimento referente às novas regras em âm-bito aduaneiro do comércio internacional, estudar e observar como outros países – que são conside-rados referências – estão colocando em prática esse mecanismos, aplicar tais questões para a realidade brasileira e visualizar os benefícios que seriam alcan-çados pelo país.

A metodologia utilizada para desenvolver o pre-sente trabalho foi o método exploratório. De acordo

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com Hair Jr (2005) o método exploratório trabalha com hipóteses que são freqüentemente extraídas de idéias formadas ou percebidas em estudos de pes-quisas ou procedem da teoria, sendo que nas hipó-teses a opinião do explorador é de suma importância podendo também, a informação vir de fontes secun-dárias e analises de casos. Foi utilizada a pesquisa bibliográfica e documental. Bibliográfica, pois, as pesquisas foram feitas em livros, revistas e sites es-pecializados e documental, pois utilizou-se das leis e normas.

2. CADEIA DE SUPRIMENTOS EM ÂMBI-TO GLOBAL

O Gerenciamento da Cadeia de Suprimentos, ou Supply Chain Management (SCM), começou a se desenvolver no início dos anos 90. Segundo Fleury (2000), o Gerenciamento da Cadeia de Su-primentos é a inclusão efetiva de um conjunto de processos de negócios. Portanto, pode-se afirmar que a Cadeia de Suprimentos possui clara e definiti-va necessidade de integração de processos.

Na geração moderna, nota-se que o comércio mundial está claramente em ritmo de crescimen-to e, dentre algumas razões para que isso ocorra, destacam-se os acordos comerciais da Organização Mundial do Comércio (OMC), juntamente com a ampliação da demanda e adentrando em novos mercados. A nova era, impulsionada outrora pelo capitalismo, onde há tempos atrás, as empresas instalavam suas fábricas no exterior para atender a demanda local, segue dando espaço na atualidade para novas características comerciais. Hoje, com a diminuição das barreiras comerciais entre os países e o avanço da infra-estrutura global de transporte – aéreo, marítimo ou terrestre – possibilitam um leque maior de abrangência, permitindo que as fábricas produzam em quantidades maiores a fim de atender a demanda global (CHRISTOPHER, 2007).

À medida que a cadeia de suprimentos se torna global, as empresas começam a encontrar algumas incertezas e complexidades da rede logística globali-zada. Ernest (2000) destaca algumas dessas incerte-zas, onde uma das dificuldades encontradas é o au-mento da distância, entre a empresa e o cliente que, na maioria das vezes, provoca o aumento do tempo que a mercadoria leva para chegar ao seu destino

final. Os produtos que atravessam as fronteiras na-cionais estão sujeitos a complicações maiores como, por exemplo, a burocracia alfandegária que pode ge-rar atrasos. Esse fato gera uma insatisfação no cliente pela falta de atendimento as suas necessidades. Em virtude desses atrasos outra dificuldade é a falta de previsão que os fornecedores e clientes enfrentam.

Para obter sucessos perante esses desafios os ad-ministradores podem operar suas transações com os Regimes Aduaneiros Especiais onde as empresas po-dem ter benefícios quanto ao tempo gasto na libe-ração das mercadorias na alfândega como, também, benefícios no que diz respeito ao pagamento de tributos. Como exemplo pode citar os regimes es-peciais: Transito Aduaneiro, Admissão Temporária, Drawback, Deposito Afiançado, Entreposto Adua-neiro, Loja Franca, Deposito Especial e RECOF.

Mesmo não sendo um regime aduaneiro espe-cial, o Linha Azul, também chamado de Despa-cho Aduaneiro Expresso, é um regime aduaneiro que permite as empresas industriais conduzir suas atividades empresariais de maneira mais eficiente e eficaz. Para se habilitar no Linha Azul, as empresas terão que atender a requisitos mínimos de operação no comércio exterior, de organização e de confiabi-lidade para o controle aduaneiro, além de garantir o acesso direto e irrestrito da fiscalização aos seus sistemas informatizados de controle. Outro com-prometimento importante é que, a cada dois anos, a empresa deverá providenciar nova auditoria que demonstre a manutenção da qualidade de seus con-troles internos (RECEITA, 2006).

Em troca, terão como benefícios redução no tempo das liberações de suas mercadorias, maior credibilidade as empresas que neste regime se en-caixem, visto que, quanto mais rápido e eficaz for o trânsito das mercadorias e liberação de sua do-cumentação, mais satisfeitos ficam vendedores e compradores, somando pontos de ambas as partes para futuras vendas e aquisições respectivamente (LINHA…, 2007).

3. ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DAS ADUA-NAS

A OMA – Organização Mundial de Aduanas – é a única organização intergovernamental, com-posta por 171 membros que trabalham por um am-

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biente aduaneiro honesto, transparente e previsível. A Estrutura OMA tem como objetivos estabelecer normas que visam à segurança e facilitação da ca-deia de abastecimento a nível global, implantar uma gestão integrada de cadeias de abastecimento para todos os meios de transportes, ampliarem as funções e capacidades das aduanas e, por derradeiro, fortale-cer a cooperação das administrações aduaneiras para que juntos possam detectar as remessas de alto risco (RECEITA, 2006).

O Operador Econômico Autorizado foi desen-volvido através da Organização Mundial das Adu-anas (OMA) que concebeu normas destinadas a assegurar e a facilitar o fluxo crescente do comércio internacional. Essas normas figuram na Estrutura Normativa da OMA para a Segurança e a Facili-tação do Comércio Internacional. Os operadores econômicos autorizados podem ser fabricantes, im-portadores, exportadores, despachantes aduaneiros, transportadores, agentes de carga, intermediários, administradores de portos e aeroportos, operadores de terminais, operadores de transporte multimodal, permissionários e concessionários de recintos alfan-degados, distribuidores (RECEITA, 2006).

Para habilitação cada administração deverá aten-der aos requisitos de segurança descritos na Estrutura Normativa da Organização Mundial das Aduanas, além disso, a administração passará por exame dos documentos submetidos pelo solicitante, dos bens materiais que se encontram nos locais de trabalho e dos dispositivos de segurança. Caso constatado que o operador cumpre com todos os requisitos, a Alfân-dega aprova e autoriza sua habilitação. É importante ressaltar que depois de autorizado, a autorização será revisada periodicamente (RECEITA, 2006).

Dentre as vantagens oferecidas ao Operador Econômico Autorizado está a rapidez na liberação da carga, redução no tempo do trânsito, logo dimi-nui o custo de armazenagem também, concede aos OEA participantes o acesso a informações de seu in-teresse, proporciona medidas especiais em períodos em que o comércio está em ameaça e, ainda, exame prioritário para participação em todos os novos pro-gramas de processamento da carga.

Na esfera do comércio internacional, as empre-sas que compõem tal campo, necessitam ter ciência de que existem algumas certificações que auxiliam

na segurança do mercado internacional e que con-tribuem para o alcance dos benefícios acima descri-tos. Entre as certificações que mais se destacam no mercado internacional estão: ISO 28000, C-TPAT e ISPS.

A Norma ISO 28000 foi elaborada pelo comitê técnico ISO/TC 08 de Navios e tecnologias mari-nhas, que tem como meta garantir a segurança na cadeia de abastecimento. As normas podem ser implantadas por qualquer organização que esteja envolvida na produção, serviços, armazenamento, transporte pelas vias terrestre, marítima e aérea e, podem estar em qualquer parte do processo de pro-dução ou de fornecimento (ISO..., 2007).

A ISO 28000 é uma certificação voluntária e tem por finalidade facilitar o comércio e o trans-porte de mercadorias através das fronteiras que, em fato, com a implantação da ISO a capacidade da organização ganhará maiores proporções a fim de implantar as normas de segurança em níveis estraté-gicos e operacionais, também estabelecendo planos de prevenção. A organização deve avaliar continua-mente as medidas de segurança visando os seus in-teresses comerciais e o cumprimento dos requisitos regulamentares internacionais (NOVA..., 2007).

Outra certificação desenvolvida facilitar o ciclo de transição da mercadoria e a segurança da cadeia de suprimentos é o C-TPAT (Partnership Against Terrorism), foi criada, através de uma iniciativa dos Estados Unidos com seu Customs and Border Protec-tion. Essa certificação é executada com sucesso nos Estados Unidos desde 2002 e visa criar a garantia na execução de um processo seguro que se dá início nas instalações das empresas, do seu pessoal e dos meios de transporte que promovem certa facilitação na movimentação das mercadorias que fabricam, transportam e desejam exportar, seja qual for sua procedência (CUSTOMS..., 2008).

A adesão ao certificado C-TPAT é voluntária, as empresas certificadas tem uma redução nas ins-peções de suas cargas comparadas as empresas não credenciadas devido aos padrões de segurança exi-gidos pelas empresas que optam obter o certificado C-TPAT, sendo assim, a agilidade no processo do despacho as tornam mais competitivas no mercado internacional.

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Os portos também são de grande importância na cadeia de suprimentos, devem ser organizados fornecendo informações precisas e transparentes, para que toda a cadeia logística possa fluir de ma-neira mais ágil. Para auxiliar na segurança do pro-cesso, na esfera das instalações Portuárias, tendo os transportes marítimos como meio, algumas regras são estabelecidas através da ISPS Code (Código In-ternacional de Segurança para navios e Instalações Portuárias, em inglês International Ship & Port Se-curity Code), elaborado pela Organização Maríti-ma Internacional, pertencente à Organização das Nações Unidas (ONU) e aprovado pelo Governo Brasileiro em forma de lei que, conseqüentemente, tornam os portos mais seguros. A deliberação de tal certificação é uma determinação da Convenção SO-LAS - Convenção Internacional para a Salvaguarda da Vida Humana no Mar, do qual o Brasil faz parte e pode ser emitida pela CONPORTOS - Comissão Nacional de Segurança nos Portos, Terminais e Vias Navegáveis (ISPS..., 2006).

O objetivo desse código é garantir a segurança nos navios e instalações portuárias, como medida de segurança quando um navio chega ao porto ele deve informar os dez últimos portos visitados, se caso algum deles não tiver implantadas as medidas de segurança de acordo com o Código o navio será inspecionado podendo causar atrasos e prejuízos, sendo assim, os navios procuram evitar a passagem por portos não certificados de acordo com o Código ISPS (ISPS..., 2008).

4. EXPERIÊNCIAS INTERNACIONAISEm virtude dos benefícios oferecidos por estas

certificações, principalmente no que se diz respeito à maior agilidade e segurança, tais projetos desper-tam o interesse de empresas de muitos países que já estudam a possibilidade de aderirem a esses projetos, hoje traduzidos como um diferencial de mercado. Podem-se citar exemplos de alguns países, como: Austrália, Cingapura, Canadá, Coréia, Estados Uni-dos, entre outros.

A Austrália, com o intuito de aumentar a segu-rança e agilidade, já possui três elementos descritos na Estrutura da OMA como necessários para a habilitação no Operador Econômico Autorizado sendo eles, relatórios avançados de carga eletrônica

e aplicação de gestão de risco e exame não invasivo de carga, dando início a um projeto piloto de imple-mentação do programa OEA em Junho de 2006. Este projeto piloto tem como objetivo principal ava-liar os benefícios que poderão ser alcançados futura-mente como a facilitação do comércio internacional e seu legítimo fluxo de mercadorias paralelamente aplicando maior atenção com a questão da seguran-ça (AUSTRALIAN, 2007).

Cingapura, um país do sudeste asiático, como outros países também se preocupa em manter a se-gurança na cadeia de suprimentos. Visando suprir essa preocupação, foi lançada em maio de 2007, pela Alfândega de Singapura, um programa de cer-tificação voltado para a área da segurança na cadeia de abastecimento global chamado Secure Trade Par-tnership (STP), em português, Parceria de Comér-cio Seguro. O objetivo desse programa é garantir al-gumas medidas para aumentar o grau de segurança na cadeia abastecimento. As empresas participantes, além de ter a possibilidade de possuir maior previsi-bilidade no comércio internacional são reconhecidas como parceiras de confiança e portadoras de maior credibilidade pela ótica da Alfândega e se favorecem de outros benefícios como: menor probabilidade de terem suas cargas inspecionadas, ser reconhecida como uma empresa de baixo risco devido ao sistema de segurança exigido para tal certificação, tornan-do-se uma empresa mais competitiva no comercio mundial (SINGAPORE, 2009).

Canadá, um país conscientizado na importância da segurança no comércio mundial, inicia junto com os Estados Unidos o programa voluntário FAST – Free and Secure Trade, através do Canadá Border Services Agency (CBSA) e do Customs and Border Protection. Este programa visa, sobretudo, garantir maior segurança nas fronteiras do Canadá e Estados Unidos confiando maior atenção na cadeia de supri-mentos como também, de certa forma, colaborar no combate ao crime organizado, contrabando e o ter-rorismo. Haja vista, o objetivo principal deste proje-to é tornar as expedições nas fronteiras mais simples e menos sujeitas a atrasos, sempre procurando prio-rizar as ações sob a ótica da segurança. Para se tornar integrante do FAST, importadores, transportadores e motoristas devem passar por uma auto-avaliação alfandegária através do programa CSA – Customs

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Self Assessment – que foi projetado para identificá-los como sendo de baixo risco e, tem por objetivo catalogar e manter as informações atualizadas sobre importadores, transportadores e seus respectivos res-ponsáveis ao simplificar o processo de assimilação dos mesmos visto que, além de economizar tempo e dinheiro das empresas envolvidas, garante um maior bem-estar por parte dos canadenses (CANADA, 2009).

A Coréia em junho de 2006 em reunião com o Conselho da OMA aprova o Operador Econômico Autorizado destacando que a meta principal é, prin-cipalmente, colaborar para a segurança da cadeia de suprimentos global e contribuir para a facilitação do comércio ao conceder benefícios como a rapi-dez na aprovação no transito e/ou entrada de cargas consideradas de baixo risco, seguindo os padrões da OMA. Dentre os princípios básicos deste sistema empregado na Coréia, destacam-se: a simultaneida-de no cumprimento as adequações com outros re-gulamentos de outras Alfândegas, cumprimento da legislação nacional, esmero na aquisição das qualifi-cações necessárias e, departamentos responsáveis por diagnosticar irregularidades e adequá-las em tempo hábil. A Coréia também participa de um modelo de serviço de administração aduaneira baseado na tecnologia e na informática através do sistema EDI (Electronic Data Interchange). Com a implemen-tação do EDI a Coréia melhorou sua qualidade e eficiência nos serviços aduaneiros além de dar um passo importante para se tornar uma referência em aduana via eletrônica. Com toda a transparên-cia proporcionada por esse sistema as empresas da Coréia e as companhias estrangeiras se tornam mais competitivas se fortalecendo no mercado interna-cional (KOREA, 2006).

Os Estados Unidos também iniciou a árdua busca pela melhoria em todos os sistemas ligados à segurança principalmente, após o atentado terroris-ta de 11 de setembro de 2001. Para tanto, foram desenvolvidos novos programas e leis como: a Lei do Comércio de 2002 e a norma das 24 horas im-plantada em janeiro de 2003, que prevê o envio eletrônico do manifesto de carga 24 horas antes da chegada da mercadoria na fronteira, com a intenção de fornecer informações detalhadas sobre a carga ao Customs and Border Protection (CBP). Com esse

tempo de antecedência os funcionários das alfânde-gas podem identificar as mercadorias de alto risco e evitar o contrabando assim, garantindo a segurança na cadeia de suprimentos. O programa CSI foi ini-ciado em Janeiro de 2002 e seu principal objetivo é aumentar a segurança dos contêineres marítimos que saem para os Estados Unidos enquanto, ao mesmo tempo, tornar o desembaraço da mercadoria mais rápido, eficiente e previsível na cadeia de suprimen-tos. O CSI permitir que oficiais do CBP trabalhem em conjunto com os oficiais no porto estrangeiro, unidos no propósito de identificar os contêineres de carga com risco elevado evitando assim, que esses contêineres sejam usados como transporte de armas de destruição (FIESP, 2003).

No Brasil está em desenvolvimento, previsto para iniciar em janeiro de 2010, o Projeto Harpia. Esse projeto foi iniciativa da Receita Federal do Brasil em parceria com o Instituto Tecnológico de Aeronáuti-ca e com a Universidade de Campinas, e funcionará com interface ao SISCOMEX - Sistema de Comér-cio Exterior (CIESP, 2009). O Projeto Harpia tem por objetivos principais aperfeiçoar a análise fiscal ao estar combatendo a sonegação fiscal, aumentar a arrecadação, diminuir consideravelmente o tempo e o custo médio gastos no processo, inibir a entrada de produtos falsificados no país, substituir os docu-mentos utilizados em papel por arquivos eletrôni-cos, controle automático dos prazos previstos para a conclusão dos procedimentos fiscais e finalmente flexibilizar as importações e exportações (OBJETI-VOS, 2008).

O Projeto Harpia consta da seguinte estrutura de apresentação: Catálogo de Produtos, Entidades de Classe, importadores e exportadores e cadas-tros de intervenientes estrangeiros. O Catálogo de Produtos será um sistema totalmente informati-zado onde constará a descrição dos produtos que geralmente passam pela cadeia de suprimentos no comércio exterior e cada importador ou exportador nacional terá um catálogo individual, cuja ação de preencher a Declaração de Importação ou Registro de Exportação, ao invés de informar a descrição das mercadorias, o importador informará somente o có-digo do produto no SISCOMEX e este terá como dever principal relacionar o código informado do produto no Catálogo de Produtos (CIESP, 2009).

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5. CONSIDERAÇÕES FINAISO tema escolhido para ser discutido neste tra-

balho é de alta importância no âmbito logístico do comércio exterior mundial e extremamente novo no Brasil. No desenrolar das páginas, o foco se es-tabilizou na importância de uma certificação e/ou reconhecimento de uma aduana que, por muitas vezes, se deve à implantação de projetos específi-cos de cada país, porém, com suas particularidades. Assim sendo, preocupado com as novas tendências em certificações aduaneiras que possibilitem prover maior segurança e agilidade da cadeia de suprimen-

tos, cada país trabalha com este desafio de forma a adequá-la à sua realidade.

É fato que este trabalho abordou alguns meca-nismos – em forma de certificações –, e analisou-os de acordo com o país em que o mesmo surgiu. As-sim sendo, também apresentou os primeiros passos do Brasil na busca pelo enquadramento e adequação as normas específicas de melhoria contínua em suas aduanas. A meta agora é aperfeiçoar os projetos já existentes e trabalhar na criação de novas idéias que sejam válidas na obtenção da meta principal: maior agilidade e segurança na cadeia de suprimentos.

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Os Efeitos das Barreiras Alfandegárias e não-alfandegárias na Formação do Preço de Exporta-ção: Um Estudo para o suco de laranja concen-trado e congelado FCOJ

LEANDRO CÉSAR DINIZ DA SILVA Fundação Comunitária de Ensino Superior de Itabira (FUNCESI)

[email protected]

Resumo: O objetivo deste trabalho é entender os possíveis efeitos que as barreiras alfandegárias e não al-fandegárias podem ter sobre a formação do preço de exportação de determinados produtos do agronegócio mineiro diante a consolidação da Área de Livre Comércio das Américas (ALCA). Para tal foi realizada uma pesquisa quantitativa descritiva e foram utilizados dados secundários e primários. Os dados primários foram coletados junto às indústrias agroalimentares, indústrias de insumos, despachantes aduaneiros, entidades inseridas no ambiente organizacional e no ambiente institucional. Já os dados secundários foram coletados junto às literaturas, às associações, às federações, às instituições de pesquisa e às universidades que se encon-tram envolvidas no agronegócio mineiro e na rede mundial (internet). Foi demonstrado que as barreiras al-fandegárias e não-alfandegárias afetam a margem de lucro do exportador e, consequentemente, a viabilização financeira de uma possível exportação do suco de laranja concentrado e congelado (FCOJ).

Palavras-chave: Comércio Exterior, Exportação, Agronegócio, FCOJ, FPE.

Abstract: It was main objective of this paperwork to understand the effects that the custom and non-custom barriers have over the price formation for exporting if the Free Trade Area of the Americas (FTAA) get to be consolidated. It was made a quantitative and descriptive research where it was used first and second degree data. The first degree data was collected in the factories related to food processing and supplying, custom agents and organizations that are related to the institutional environment. The second degree data was collected using books, cooperatives, the federation, research organizations, universities and the world wide web (WWW). It was demonstrated that the custom barriers affect the exporter’s profit and the possibility of having the exporting process for the FCOJ blocked or done with the loose of the profit.

Key-words: International Trade, Exporting, Agribusiness, FCOJ, Price formation.

1. INTRODUÇÃOO surgimento dos blocos econômicos e seus

possíveis efeitos é um tópico que vem sendo estuda-do de forma teórica. As questões práticas referentes ao assunto não condizem com o que é dito, ensi-nado na teoria e abordado pela literatura existente. A questão da Área de Livre Comércio das Américas (ALCA) surge então como um assunto que se faz

necessário estudar e analisar, tanto pelo lado teóri-co, quanto pelo lado prático, permitindo assim que todos os participantes deste processo de mundializa-ção, seja de forma direta ou indireta, possam fazer as devidas análises e daí tomar a melhor decisão.

A ALCA é um tópico controverso, pois há vários setores no Brasil que se posicionam contra o pro-cesso de integração das Américas. Por outro lado,

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setores produtivos enxergam na ALCA oportunida-des únicas de ampliar o mercado e poder vender no mercado norte-americano. As duas correntes tam-bém não enxergam a possibilidade de se encontrar o ponto de equilíbrio nas discussões e buscar a melhor decisão para o país e para os setores produtivos em especial para o comércio exterior do Brasil. Existe um quê de mito e surrealismo sobre a ALCA e mui-to pouco tem sido feito para realmente ampliar o horizonte do conhecimento e da informação acerca desta questão.

O bloco econômico acima citado surge como uma forma de abrir os mercados dos EUA para os produtos brasileiros, fato este anunciado como um dos acontecimentos comerciais mais aguardados por todos os agentes das cadeias produtivas brasileiras. A formação do bloco em si já é um acontecimento grandioso, pois a ALCA unirá através da área de li-vre comércio 34 países (exceto Cuba), uma popula-ção de 793,9 milhões de habitantes e um PIB total de US$ 12.455,2 bilhões. Os efeitos da ALCA serão significativos em todas as economias de todos os pa-íses participantes, contudo estes efeitos ainda estão sendo discutidos pela sociedade.

O agronegócio mineiro, por sua vez, fazendo parte de um complexo maior que desde 1998 afe-ta a balança comercial brasileira de forma positiva, passa a requerer estudos mais objetivos de como a implantação da ALCA pode afetar o mesmo. De acordo com dados da FAEMG (2005), o agronegó-cio mineiro vem aumentando gradativamente a sua participação nas exportações brasileiras.

Uma das implicações teóricas da formação dos blocos econômicos são as imposições diretas ou in-diretas de barreiras alfandegárias ou não. Estas impli-cações afetam de forma negativa a formação do pre-ço de exportação, que para alguns players iniciantes pode acabar resultando em prejuízo ou menor lucro. Para alguns participantes do agronegócio mineiro e grande parcela dos leigos, o preço que se cota lá fora é o que será recebido, o que na prática nem sem-pre é verdade. Este engano, comum de se acontecer, afeta os ganhos do exportador e pode inviabilizar o processo natural de buscar o comércio mundial. Entender como a formação do preço de exportação

deve acontecer é importante, mas entender como a formação de um bloco econômico, como a ALCA, pode afetar a formação de preço de exportação passa a ser primordial.

Uma construção equivocada do preço de expor-tação, ignorando os itens que fazem parte do mes-mo e que afetam os ganhos do exportador, poderá reduzir o lucro pretendido na exportação. Todavia, na formação dos blocos econômicos, além da for-mação do preço de exportação, o exportador deverá observar como as barreiras alfandegárias e não-al-fandegárias podem afetar o seu lucro. Não obstan-te, para preços sempre mínimos e produtos do tipo commodities, um entendimento mais detalhado do assunto pode se tornar um instrumento de melhor negociação, permitindo o exportador, seja ele pe-queno ou grande, entender de forma mais prática o que pode ocorrer se ele determinar a exportação de um produto x para o país y.

Objetivou-se com este trabalho entender os possíveis efeitos que as barreiras alfandegárias e não alfandegárias terão na formação do preço de expor-tação dos produtos do agronegócio mineiro diante a consolidação da ALCA.

2. BARREIRAS AO COMÉRCIO INTERNA-CIONAL

De acordo com Maia (2004), o comércio inter-nacional é uma atividade necessária a todos os países do mundo. Todavia, segundo o mesmo autor, esta atividade defronta com uma série de barreiras. Para o autor, as barreiras surgem diante a necessidade dos países fazerem frente à concorrência e daí utilizam de artifícios que acabam por gerar barreiras a ati-vidade do comércio internacional. Já Azuá (1986) entende que as barreiras e as novas formas de prote-cionismo têm merecido maior atenção nos últimos tempos, e que estas novas formas são denominadas de neoprotecionismo.

Para Maia (2004), as barreiras do comércio in-ternacional começam pela diferença existente entre moedas, idiomas, legislações e até alfabetos. Contu-do, na necessidade de fazerem frente a concorrência, os países, segundo o autor, utilizam-se de formas ta-rifárias e não-tarifárias para protegerem: a) a produ-

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ção, b) exploração da matéria-prima, c) ao trabalho e d) ao capital.

O autor afirma que ao proteger os itens acima mencionados, os países utilizam-se de diversas for-mas de entraves, tais como: a) desvios do modelo de livre comércio, b) esquemas protecionistas e c) novas barreiras e entraves ao comércio internacional.

Para Maia (2004) os países utilizam-se de for-mas que desviam do modelo de livre comércio, per-mitindo assim o surgimento de entraves a atividade do comércio internacional. O autor afirma que os desvios mais conhecidos são: a) dumpings, b) oligo-pólios, c) trusts e d) cartéis. As quatro formas citadas pelo autor estão relacionadas com a supressão da li-vre concorrência e na maximização do lucro através da detenção da posição monopolística no mercado, podendo, em todos os casos, aumentar os preços a qualquer momento, afetando desse modo, a todos os consumidores nos mercados em que se encon-tram.

O dumping, segundo o autor consiste em vender no mercado externo por preço abaixo do custo de produção. Todavia, alguns estudiosos determinam que o dumping deva ser classificado quanto à sua forma: a) de preço, b) social e c) tecnológico. Um ponto apontado pelo autor reside no fato de que muitas vezes o dumping é utilizado para mascarar a ineficiência de alguns setores. A primeira é a forma mais comum, onde sub-fatura-se um determinado produto no intento de conquistar um mercado. A segunda forma consiste em utilizar trabalho escra-vo, mão-de-obra infantil e/ou pagar salários abaixo da realidade mundial e conquistar uma redução de custos que gera um preço abaixo daquilo que é praticado no mundo. Já a terceira forma implica no surgimento de novas tecnologias e nas conseqüên-cias geradas por este surgimento. O dumping tec-nológico é uma prática nova onde, devido ao uso intensivo das novas tecnologias na produção, per-mite uma redução de custos e conseqüentemente um menor preço, garantindo assim uma vantagem competitiva. O que é necessário frisar é que existe uma corrente de estudiosos que defende a prática do dumping social, pois esta prática, segundo os es-tudiosos, garante ao menos emprego, enquanto que

o dumping tecnológico, além de ser um desvio do modelo de livre comércio, acarreta o desemprego.

Os esquemas protecionistas, segundo Maia (2004), são aqueles que visam coibir ou impedir o livre comércio. O autor aponta para quatro formas, as mais comuns: a) subsídios, b) tarifas alfandegárias, c) taxas múltiplas de câmbio e d) licenças de expor-tação e importação. Os subsídios, segundo o autor, é uma prática muito comum a alguns governos e sua prática reside na crença de que é importante, para estes governos, subsidiarem a produção de algumas mercadorias (ou commodities) afim de que elas se tornem competitivas e façam frente às mercadorias produzidas no exterior. Um ponto a ser ressaltado reside no fato de que os subsídios acabam por gerar muito mais conseqüências negativas que positivas. A prolongada prática do uso de subsídios à produção pode acarretar no obsoletismo da produção nacio-nal, pois esta estando protegida, não procura formas de melhorar e se tornar mais competitiva. Os sub-sídios, quando destinados a produtos exportados, podem se constituir em uma prática de dumping.

Maia (2004) afirma que as barreiras alfandegá-rias, ou as tarifas alfandegárias, tal qual o subsídio, é uma prática voltada para a implantação de novas indústrias. Estas novas indústrias, muitas vezes sem condições de competirem com as indústrias de ou-tros países, recebem uma proteção por parte do go-verno na forma de tarifas alfandegárias. Contudo, estas tarifas deveriam ser temporárias, pois a manu-tenção delas pode acarretar o obsoletismo do parque industrial. Já Luna (2000) entende que as barreiras aduaneiras ou alfandegárias além de serem uma jus-tificativa para a proteção do parque industrial de um determinado país da concorrência predatória, afetam o fluxo de comércio internacional de uma forma muito contundente.

Maia (2004) afirma que a prática de taxas múlti-plas de câmbio, uma outra forma de protecionismo, consiste no controle, pelos governos, do comércio internacional através do uso de taxas de câmbios. Para produtos considerados de primeira necessida-de, taxas de câmbio favorecidas e para produtos con-siderados não-essenciais, taxas de câmbios elevadas.

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Para Maia (2004) a prática de expedição de licenças de importação e exportação ocorre quan-do um país enfrenta escassez de divisas, podendo utilizar desta prática para controlar a exportação e a importação. Porém, esta prática engessa a econo-mia do país e acarreta outros entraves, tais como, o excesso de processos burocráticos e o aumento da corrupção.

O comércio internacional, através do GATT, vem derrubando muitas barreiras alfandegárias e desvios do modelo de livre comércio, mas, outras formas, como as barreiras não-tarifárias estão sendo adotadas como uma forma oportunística de proteger a produção interna sem que o país seja punido pelo GATT. Para Maia (2004), o impedimento gerado pelas barreiras técnicas, ecológicas e burocráticas, é uma forma dos países mascararem a manutenção das barreiras antes existentes. Nas situações envol-vendo as barreiras técnicas e ecológicas, os países partem do pressuposto de que os impedimentos ou as barreiras são determinações culturais e necessida-des ditadas pelos consumidores de seus mercados. Já a barreira burocrática consiste no uso da prática de slowdown, ou seja, impedir ou desestimular a prática do comércio internacional.

Luna (2000) entende que as barreiras não alfan-degárias decorrem de usos e costumes regionais, re-ligiosos ou políticos que, eventualmente podem ser superados pelo estudo criterioso da cultura e hábitos de consumo do mercado visado. O autor chama atenção para que não haja dispêndio desnecessário de esforços, e que se deve avaliar a oportunidade ou conveniência de esforços de vendas para os produ-tos.

3. FORMAÇÃO DO PREÇO DE EXPORTA-ÇÃO (FPE)

Minervini (2005) entende que o preço é um dos principais instrumentos para a gestão de mercado. O autor afirma que na literatura, em geral, utiliza-se um sistema de descontos complexo e com variáveis desconhecidas ao exportador, o que ele denomina como engenharia de preços. Para Hortmann (2006) os cálculos para formação do preço de exportação muitas vezes representam uma equação que deve ser

analisada cuidadosamente. Para o autor a competi-tividade e o controle de preços no mercado inter-nacional constituem um desafio a ser vencido com paciência e persistência.

Para o SEBRAE (2006) e para o Brazil Trade Net (2006) a formação do preço de exportação ne-cessita de um estudo detalhado das condições de mercado, respeitando assim, as particularidades de cada mercado-alvo, viabilizando o esforço expor-tador sem acarretar prejuízos à empresa. O órgão ainda afirma que o preço é um fator fundamental para as condições de competição do produto a ser exportado.

Garcia (2004) afirma que os cálculos elaborados para a determinação do preço de exportação de um produto têm se apresentado como um dos proble-mas mais acentuados pela empresa quando esta de-cide atuar na venda externa de seus produtos. Para o autor, a determinação do preço de exportação en-volve, além dos problemas relativos aos seus custos, os demais fatores concernentes às características do mercado a que se destina.

Vazquez (2001) participa do pensamento dos dois autores acima mencionados e ressalta que em-bora as empresas tenham hoje a qualidade como fator quase decisivo na escolha de um produto, não se pode negar que a variável preço continua sendo elemento decisivo nas compras e vendas externas. O autor afirma que na determinação do preço, os componentes do custo devem ser criteriosamente analisados, eliminando os dados válidos apenas para o mercado interno.

Para o Brazil Trade Net (2006) e SEBRAE (2006) a determinação do preço de exportação é influenciada por duas forças que atuam em direções opostas. Por um lado, segundo o órgão, o custo da produção e a meta do lucro máximo tendem a elevar o preço. Por outro, as pressões competitivas no mer-cado internacional induzem à redução no preço.

Segundo o Brazil Trade Net (2006) e SEBRAE (2006), além das duas forças opostas, a estratégia de comercialização do produto também afeta a for-mação do preço. Para os dois órgãos quando um produto é colocado em um mercado novo, e este ainda é pouco conhecido, este deve ter, a princípio,

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um preço inferior ao praticado pelos concorrentes, entendendo que tenham a mesma qualidade. Se o produto já é reconhecido, este poderia ser comer-cializado com um preço superior, em razão de sua aceitação no mercado.

O Brazil Trade Net (2006) e SEBRAE (2006) entendem que alguns fatores participam e influen-ciam o preço de exportação: a) competidores po-tenciais, b) custos de produção, c) esquemas de fi-nanciamento à exportação, d) tratamento tributário aplicável à exportação, d) despesas de exportação, e) preços praticados pela concorrência, e) compor-tamento dos consumidores e f) novas tecnologias. Para o Brazil Trade Net (2006), devem ser entendi-das como despesas de exportação os seguintes itens: embalagem específica para exportação, despesas portuárias, despesas com despachantes, gastos com pessoal especializado, frete e seguro interno até o local de embarque. Para o SEBRAE (2006), além dos itens apontados pelo Brazil Trade Net, devem ser entendidos como despesas de exportação, a pa-letização, a armazenagem, as despesas cambiais / fi-nanceiras e as certificações exigidas.

Para Hortmann (2006) o procedimento ideal para a formação do preço de exportação é o levan-tamento do custo de fabricação da mercadoria, feito item por item, somando-se os custos fixos e os va-riáveis para cada caso. O autor entende como custo fixo o aluguel de imóvel, despesas administrativas, mão-de-obra indireta, depreciação de maquinário, ou seja, todo custo que existirá sempre que houver ou não produção. Para o mesmo autor custos vari-áveis são aqueles que são contabilizados de acordo com o volume de produção, tais como matérias-primas, mão-de-obra direta, materiais de apoio à produção, luz, água. O autor ainda entende que devem também ser somados os custos específicos de exportação, tais como embalagens especiais, despa-chantes aduaneiros, taxas portuárias ou aeroportu-árias, transporte até o porto ou aeroporto, seguros, corretoras de câmbio, etc.

Hortmann (2006) explica que existem ainda al-guns custos a serem considerados, tais como as via-gens internacionais para prospecção de mercado ou para desenvolvimento de tecnologia, depreciação do

maquinário, riscos cambiais (variações de moeda), investimentos em melhorias da produtividade, além de outros específicos a cada empresa.

A formação do preço de exportação, contudo, deverá variar de acordo com a modalidade de venda negociada. Para fazer a FPE na modalidade CFR, a empresa deverá acrescentar um valor percentual sobre o valor FOB referente ao frete marítimo (fre-te principal). Caso a opção seja uma venda CIF, a empresa deverá calcular um valor percentual sobre o valor CFR referente ao seguro internacional. Por convenção, normalmente o valor percentual do frete principal e do seguro internacional são 10% e 1% respectivamente.

Hortmann (2006) afirma que somente após for-mado o preço de exportação de suas mercadorias, a empresa estará apta, então, a efetuar uma pesquisa de mercado para seu produto. O autor entende que de nada adianta saber que determinado produto pode ser colocado em um determinado mercado, se seu custo é exageradamente alto para fazer frente aos concorrentes naquele mercado.

Para o Brazil Trade Net (2006) será necessário no mercado externo, tal como ocorre no mercado interno, um acompanhamento permanente da en-trada de novos produtos concorrentes, das mudan-ças nos custos de produção e das alterações no nível da demanda. Para o órgão no processo de formação do preço de exportação, deve-se primeiramente co-nhecer todos os benefícios fiscais e financeiros apli-cáveis à exportação a fim de se obter maior compe-titividade externa.

4. METODOLOGIAPara este trabalho, optou-se por realizar uma

pesquisa quantitativa descritiva. Para Diehl; Ta-tim (2006) este método se caracteriza pelo uso da quantificação tanto na coleta de dados quanto no tratamento das informações por meio de técnicas es-tatísticas. Já para Malhotra (2004) a pesquisa quan-titativa quantifica os dados e aplica alguma forma de análise estatística. A escolha pela pesquisa des-critiva é baseada no argumento de Vergara (2007) que determina que a pesquisa do tipo descritiva tem como objetivo expor características de determinada

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população, delimitar o comportamento de consu-midores de determinado produto. A autora ainda sustenta que pode também estabelecer correlação entre variáveis e definir sua natureza. A pesquisa do tipo descritiva não tem compromisso de explicar os fenômenos que descreve, embora sirva de base para tal explicação. A pesquisa utilizou dados secundá-rios e primários. Os dados primários foram coleta-dos junto às indústrias agroalimentares, indústrias de insumos, despachantes aduaneiros, entidades inseridas no ambiente organizacional e no ambiente institucional. Já os dados secundários foram coleta-dos junto às literaturas, às associações, às federações, às instituições de pesquisa e às universidades que se encontram envolvidas no agronegócio mineiro e na rede mundial (net).

5. RESULTADOS E DISCUSSÃODurante a FPE, o exportador deve sempre de-

terminar a modalidade de venda e esta modalidade de venda deve ser descrita através do uso dos INCO-TERMS. Todavia, a FPE quando descrita sob um INCOTERM não apresenta ao exportador o valor real que será percebido, pois, como explicado no re-ferencial teórico, o preço passa a incorporar alguns componentes que deverão ser pagos (ou abatidos do valor recebido), ou seja, dos valores médios descri-tos como percebidos, somente parte deste montante será efetivamente percebida pelo exportador. Porém, esta realidade se agrava quando o produto, durante o processo de exportação sofre com algum tipo de barreira alfandegária.

A FPE, portanto, passa a esconder os reais valo-res percebidos, pois durante a negociação, o impor-tador tentará repassar aquela barreira alfandegária (ou perda financeira) ao exportador. Se o exporta-dor não aceitar esta imposição, o importador poderá direcionar a sua compra a outros exportadores, que são de países pertencentes a algum tipo de tratado bilateral e que receba isenção tributária, por exem-plo. A exportação de produtos tarifados ou que so-frem algum tipo de restrição alfandegária repercute diretamente na FPE.

Para o Estado de Minas Gerais esta realidade é sentida nos seguintes produtos, conforme pesquisa realizada pela FUNCEX e UNCTAD/TRAINS em 1997: a) Soja em grão; b) Farelo de Soja; c) Óleo de Soja; d) Café em grão; e) café solúvel; f ) Açú-car; g) Suco de laranja concentrado e congelado; h) Carne suína; i) Carne de frango; j) Corned Beef; k) Couro; l) Calçados; m) Fumo em folha e n) Cigar-ros. Contudo, para este trabalho em específico, será analisado somente o suco de laranja concentrado e congelado.

O suco de laranja concentrado e congelado (SH 2009.11) é tarifado pelos EUA, Canadá e México. O México tarifa o produto em 20%, o Canadá em 3% e os EUA cobram uma taxa fixa de USD 432,00 por tonelada importada, sendo que se a importação ocorrer pelo estado da Flórida, há um acréscimo de USD 66,00 por tonelada, o que dá um total de USD 498,00 por tonelada ou cerca de USD 0,50 por quilo. A exportação de polpa cítrica esteve, por determinado tempo, suspensa devido à retaliações que surgiram sob a forma de alegação de conta-minação por dioxina. No mercado internacional está é uma forma muito comum de barreiras não-alfandegárias a produtos que talvez ofereçam risco à produção local.

Para a formação do preço de exportação, utili-zou-se como parâmetro de cálculos, tambores com 270 quilos de FCOJ (suco concentrado de laranja padrão New York Board of Trading), Grade A Score 94, sendo que num container refrigerado de 20 pés, cabem 70 tambores ou 18.900 quilos de produto. Como parâmetro para o preço, utilizou-se a cotação do New York Board Of Trading (NYBOT) para no-vembro do ano de 2008, contrato de 15.000 libras-peso, o que equivale a 6.750 quilos. Contudo, a estufagem do container requer 18.900 quilos, então dividindo a cotação do contrato por sua equivalên-cia em quilos, obteve-se USD 1,51 por quilo. Mul-tiplicado o valor por quilo pela quantidade estufada, obteve-se USD 28.539,00 por container. A cotação NYBOT é FOB então obteve-se a seguinte forma-ção do preço, conforme a tabela 1 a seguir:

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Tabela 1: Cálculo do valor em Reais a receber pelo exportador em uma exportação baseada na cotação internacional, produto suco de laranja concentrado.

1) FOB USD1 R$ 45.662,402) RE/DDE + desembaraço aduaneiro* R$ 300,00 R$ 300,003) SDA* R$ 303,00 R$ 303,004) Taxa de liberação de BL* R$ 150,00 R$ 150,005) Capatazia* R$ 350,00 R$ 350,006) Certificado de origem** R$ 50,00 R$ 50,007) Agregados externos (AE) (2 ao 6) R$ 1.153,008) Valor a receber pelo exportador R$ 44.509,409) Valor a receber em Reais- barreira2. R$ 29.389,4010) Valor a receber em Reais – barreira3. R$ 43.174,1211) Valor a receber em Reais – barreira4. R$ 35.607,52

Fonte: Gateway Cargo (*), FIEMG (**) e da pesquisa. Nota:(1) Cotação dia 26/06/2008 = USD 1,00 / R$ 1,60 (2) Tarifa aduaneira de 66(3) Tarifa aduaneira de 3%.(4) Tarifa aduaneira de 20%.

A desconstrução do preço FOB até chegar o valor percebido pelo exportador, com impostos brasileiros inclusos, permite visualizar como uma tarifa aduaneira pode inviabilizar uma exportação do produto acima descrito. Os EUA, ao sobretaxar a exportação do suco de laranja concentrado em USD 0,50 por quilo exportado, reduz o ganho do produ-tor. O exportador deveria perceber R$ 2,36 por qui-lo exportado, mas acaba recebendo R$ 1,56. Caso a exportação venha a ser direcionada para o México, o impacto, se comparado ao impostos aduaneiro dos EUA, reflete de forma menos intensa. O exportador, dos R$ 2,36 por quilo, passa a receber R$ 1,88. Já a exportação para o Canadá reduz o valor percebido para R$ 2,28. A tarifa aduaneira imposta pelo Ca-nadá pode parecer não significativa, contudo, quan-do observado o valor referente a um container ou a 18.900 quilos, o exportador perderia R$ 1.512,00.

É importante ressaltar que a formação de preços determinado neste trabalho, não leva em conside-ração as alternativas que os grandes exportadores do agronegócio mineiro podem se valer, como por exemplo hedges cambiais e de preços, como Da Silva

(2004) demonstra em seu trabalho. Contudo, esta FPE é válida para os pequenos exportadores que nem sempre, tanto por falta de acesso ou por falta de conhecimento específico, não conseguem recuperar os prejuízos ou minimizar o impacto financeiro so-bre seus lucros.

6. CONSIDERAÇÕES FINAISAs pesquisas realizadas por este trabalho não teve

intuito de apresentar soluções definitivas e sim anali-sar práticas do comércio exterior, como a FPE, e per-mitir que eventuais exportadores possam entender como as tarifas aduaneiras e não aduaneiras podem impactar nas exportações. Contudo, se fazem neces-sários estudos mais elaborados e ricos em detalhes para que se possa, sob um olhar acadêmico, enten-der o quanto a consolidação da ALCA pode gerar impactos, sejam estes negativos ou positivos.

Existem poucos estudos que demonstram e que detalham os custos portuários brasileiros. A maioria dos livros didáticos voltados para o ensino da siste-mática de comércio exterior sugere tabelas que não condizem com a realidade brasileira. Um estudo mais

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rico e detalhado dos custos portuários brasileiros e todas as variáveis que compõem uma exportação pode se tornar um material interessantíssimo para os exportadores, sejam de pequeno ou grande porte. Os cálculos quanto ao impacto dos custos portuários e como estes afetam a exportação, e o conhecimento destes permitiria um eventual exportador calcular sua margem ideal de lucro e sua margem de negocia-ção, minimizando desta forma os possíveis impactos originários das barreiras alfandegárias.

Conclui-se com este trabalho que, o exportador, em todas as barreiras alfandegárias apresentadas, so-frerá perda financeira e no caso específico de uma sobretaxa imposta pelos EUA, ele poderá chegar a pagar para exportar o seu produto. A não inclusão do Brasil no SGP faz com que alguns produtos do agronegócio mineiro percam sua competitividade e o exportador, para fazer frente às taxas impostas, tem que ver seu lucro diminuído para se manter no mer-cado de alta concorrência.

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