26
This article was downloaded by: [Stony Brook University] On: 15 October 2014, At: 13:03 Publisher: Routledge Informa Ltd Registered in England and Wales Registered Number: 1072954 Registered office: Mortimer House, 37-41 Mortimer Street, London W1T 3JH, UK Studia Neophilologica Publication details, including instructions for authors and subscription information: http://www.tandfonline.com/loi/snec20 Complementos finitos e infinitivos dos verbos causativos deixar e fazer – Causação directa vs. indirecta e a noção de controlo Rainer Vesterinen a a Department of Spanish , Portuguese and Latin American Studies , Stockholm University , SE10691 Stockholm, Sweden E-mail: Published online: 05 Oct 2010. To cite this article: Rainer Vesterinen (2008) Complementos finitos e infinitivos dos verbos causativos deixar e fazer – Causação directa vs. indirecta e a noção de controlo, Studia Neophilologica, 80:1, 75-98, DOI: 10.1080/00393270802082978 To link to this article: http://dx.doi.org/10.1080/00393270802082978 PLEASE SCROLL DOWN FOR ARTICLE Taylor & Francis makes every effort to ensure the accuracy of all the information (the “Content”) contained in the publications on our platform. However, Taylor & Francis, our agents, and our licensors make no representations or warranties whatsoever as to the accuracy, completeness, or suitability for any purpose of the Content. Any opinions and views expressed in this publication are the opinions and views of the authors, and are not the views of or endorsed by Taylor & Francis. The accuracy of the Content should not be relied upon and should be independently verified with primary sources of information. Taylor and Francis shall not be liable for any losses, actions, claims, proceedings, demands, costs, expenses, damages, and other liabilities whatsoever or howsoever caused arising directly or indirectly in connection with, in relation to or arising out of the use of the Content. This article may be used for research, teaching, and private study purposes. Any substantial or systematic reproduction, redistribution, reselling, loan, sub-licensing, systematic supply, or distribution in any form to anyone is expressly forbidden. Terms

Complementos finitos e infinitivos dos verbos causativos deixar e fazer – Causação directa vs. indirecta e a noção de controlo

  • Upload
    rainer

  • View
    219

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Complementos finitos e infinitivos dos verbos causativos deixar e fazer – Causação directa vs. indirecta e a noção de controlo

This article was downloaded by: [Stony Brook University]On: 15 October 2014, At: 13:03Publisher: RoutledgeInforma Ltd Registered in England and Wales Registered Number: 1072954Registered office: Mortimer House, 37-41 Mortimer Street, London W1T 3JH, UK

Studia NeophilologicaPublication details, including instructions for authors andsubscription information:http://www.tandfonline.com/loi/snec20

Complementos finitos e infinitivosdos verbos causativos deixar e fazer– Causação directa vs. indirecta e anoção de controloRainer Vesterinen aa Department of Spanish , Portuguese and Latin AmericanStudies , Stockholm University , SE‐10691 Stockholm, SwedenE-mail:Published online: 05 Oct 2010.

To cite this article: Rainer Vesterinen (2008) Complementos finitos e infinitivos dos verboscausativos deixar e fazer – Causação directa vs. indirecta e a noção de controlo, StudiaNeophilologica, 80:1, 75-98, DOI: 10.1080/00393270802082978

To link to this article: http://dx.doi.org/10.1080/00393270802082978

PLEASE SCROLL DOWN FOR ARTICLE

Taylor & Francis makes every effort to ensure the accuracy of all the information (the“Content”) contained in the publications on our platform. However, Taylor & Francis,our agents, and our licensors make no representations or warranties whatsoeveras to the accuracy, completeness, or suitability for any purpose of the Content. Anyopinions and views expressed in this publication are the opinions and views of theauthors, and are not the views of or endorsed by Taylor & Francis. The accuracy of theContent should not be relied upon and should be independently verified with primarysources of information. Taylor and Francis shall not be liable for any losses, actions,claims, proceedings, demands, costs, expenses, damages, and other liabilitieswhatsoever or howsoever caused arising directly or indirectly in connection with, inrelation to or arising out of the use of the Content.

This article may be used for research, teaching, and private study purposes. Anysubstantial or systematic reproduction, redistribution, reselling, loan, sub-licensing,systematic supply, or distribution in any form to anyone is expressly forbidden. Terms

Page 2: Complementos finitos e infinitivos dos verbos causativos deixar e fazer – Causação directa vs. indirecta e a noção de controlo

& Conditions of access and use can be found at http://www.tandfonline.com/page/terms-and-conditions

Dow

nloa

ded

by [

Ston

y B

rook

Uni

vers

ity]

at 1

3:03

15

Oct

ober

201

4

Page 3: Complementos finitos e infinitivos dos verbos causativos deixar e fazer – Causação directa vs. indirecta e a noção de controlo

Complementos finitos e infinitivos dos verbos

causativos deixar e fazer – Causacao directa vs. indirecta

e a nocao de controlo

RAINER VESTERINEN

No presente estudo, realiza-se uma analise qualitativa sobre os complementos finitos e infinitivos dosverbos causativos deixar e fazer no Portugues Europeu. A partir de uma visao cognitiva da lıngua, aGramatica Cognitiva de Langacker (1987, 1991), propoe-se que a diferenca entre os complementosem causa e de caracter iconico e que pode ser explicada por uma distincao feita entre causacao directae indirecta, e pelo grau de controlo sobre o evento descrito no complemento. Assim, argumenta-seque os complementos infinitivos assinalam uma causacao directa, enquanto os finitos implicam umacausacao indirecta. Em consequencia disso, os complementos infinitivos dao a entender um maiorgrau de controlo sobre o evento completivo do que os complementos finitos.

Palavras-chave: causacao, complementacao, controlo, Gramatica Cognitiva, iconicidade, verboscausativos

1. Introducao

Na lıngua portuguesa, assim como em muitas outras lınguas romanicas, verifica-seuma certa possibilidade de alternar entre complementos finitos e infinitivos com osverbos causativos. Deste modo, surge a questao de se estamos perante duasdiferentes estruturas que assinalam o mesmo conteudo conceptual ou se, por outrolado, as diferencas formais podem ser motivadas justamente por exprimiremalgumas diferencas conceptuais.

No presente artigo, estudaremos esta questao a partir de uma visao cognitiva dalıngua, a Gramatica Cognitiva de Langacker (1987, 1991), tentando assim forneceruma explicacao conceptual aos complementos finitos e infinitivos, pois acreditamosque estes complementos assinalam uma acentuada diferenca conceptual, e que taldiferenca pode ser explicada pelas nocoes de causacao directa vs. indirecta e por ummaior ou menor grau de controlo sobre o evento descrito no complemento.

Os casos que teremos em consideracao sao os complementos finitos e infinitivosdos dois verbos causativos deixar e fazer. Abaixo, podemos verificar alguns casostıpicos:1

1a) Durante a manha, os sequestradores, adeptos da oposicao ao regime talibadominante no Afeganistao, deixaram sair dois homens, uma mulher e duascriancas. [Linguateca: Diario de Coimbra-N2191-1]

1b) Sao pessoas que deixam que as coisas lhes acontecam, em vez de assumirem ocontrolo da situacao [http://www.maxima.pt/feminino/actriz. html]

2a) Sete minutos depois Edgar voltou a desmarcar bem Serrao, que rematou deprimeira ainda de fora da area e fez a bola passar por cima de Jorge Soares.[Linguateca: Diario de Leiria-N0308-1]

2b) Temos que arranjar maneira de obter mais receitas e achamos que este e omodelo que faz com que a comunicacao social de mais atencao a Taca da Liga.[Linguateca: Diario de Aveiro-N1581-1]

Studia Neophilologica 80: 75–98, 2008

DOI: 10.1080/00393270802082978

Dow

nloa

ded

by [

Ston

y B

rook

Uni

vers

ity]

at 1

3:03

15

Oct

ober

201

4

Page 4: Complementos finitos e infinitivos dos verbos causativos deixar e fazer – Causação directa vs. indirecta e a noção de controlo

Alias, veremos abaixo que o complemento infinitivo pode apresentar o traco [+/2pessoa] e ter o seu sujeito logico colocado antes ou depois do infinitivo. Estaspossibilidades sintacticas dao lugar a tres diferentes estruturas com o complementoinfinitivo:

3a) O pai deixa/faz os meninos brincarem no jardim [verbo+sujeito+verbo]3b) O pai deixa/faz os meninos brincar no jardim [verbo+objecto+verbo]3c) O pai deixa/faz brincar os meninos no jardim [verbo+verbo]

No respeitante aos casos (1a–3c), e no ambito da linguıstica portuguesa, einteressante notar uma propensao para estudar a complementacao a partir de umavisao generativa da lıngua, onde o interesse primordial tem sido o de descrever osdiferentes contextos estruturais que permitem a insercao dos complementosinfinitivos (cf. Raposo, 1987; Caetano Silveira et al., 1994; Brito, 1995; Matos,2006). Por conseguinte, nao tem tido nenhum verdadeiro interesse para estudar acomplementacao finita, nem para fornecer uma explicacao ao valor conceptual dasdiferentes estruturas—finitas e infinitivas—de complementacao.

Por outro lado, uma nocao fundamental dentro do paradigma da GramaticaCognitiva e que diferentes estruturas exprimem sempre diferencas conceptuais. Porexemplo, Langacker (1987) diz que as diferentes construcoes empregues paradescrever o evento de mandar uma carta: «mandei-lhe uma carta» e «mandei umacarta para ele» perfilam diferentes aspectos do evento em questao. No primeiro caso,a justaposicao do dativo lhe e o SN (a carta) assinala uma relacao possessiva entre oscomponentes (lhe e a carta). Portanto, o conceptualizador focaliza o estado final emque a carta ja chegou ao destinatario. Por outro lado, a construcao com umapreposicao espacial (para) nao perfila tal relacao possessiva, mas enfatiza o trajectoespacial da carta entre o remetente e o destinatario (cf. Langacker, 1987: 39).

No mesmo espırito, os estudos sobre a complementacao realizados a partir de umavisao cognitiva da lıngua enfatizam uma diferenca conceptual entre as diferentesestruturas. No caso da lıngua portuguesa, Silva (2004, 2005a, 2005b), estudando asdiferencas conceptuais dos diferentes complementos infinitivos de verbos perceptivos/causativos, conclui que a posicao do sujeito logico do infinitivo e a desinencia verbaldo infinitivo sao factores que determinam o grau em que o evento como um todo ou oseu sujeito logico sao perfilados (cf. Silva, 2004: 300; 2005: 859). Em varios estudos,Achard (1998, 2000, 2001) analisa a complementacao finita e infinitiva em Frances.Com respeito a diferenca conceptual entre estes complementos, o autor enfatiza umaobjectificacao nos complementos finitos onde o traco [+ tempo/modo] da a entenderuma certa independencia na relacao com a oracao principal (cf. Achard, 2000: 111–113). Finalmente, Maldonado & Nava (2002) afirmam que um maior grau deindependencia formal completiva e acompanhado por um menor grau de controlosobre o evento descrito no complemento (cf. Maldonado & Nava, 2002: 183).2

Sem duvida, concordamos com estes trabalhos em muitos aspectos. No entanto,proporemos que a diferenca entre complementos finitos e infinitivos representa umcaso prototıpico da iconicidade linguıstica (cf. Haiman, 1980, 1985). Ou seja, adiferenca conceptual entre os diferentes complementos sera visıvel na sua diferencaformal. Acreditamos sobretudo que este fenomeno e baseado nos seguintesprincıpios iconicos: (1) uma maior complexidade formal corresponde a uma maiorcomplexidade conceptual e (2) uma maior distancia formal corresponde a uma maiordistancia conceptual.

Com respeito a estes princıpios iconicos, e pertinente aclarar as diferencas formaisentre os complementos finitos e infinitivos dos verbos deixar e fazer. Oscomplementos infinitivos, embora possam expressar o traco [+ pessoa]—um tracotıpico da lıngua portuguesa—carecem do traco [+ tempo/modo]. Os complementos

76 R. Vesterinen Studia Neophil 80 (2008)

Dow

nloa

ded

by [

Ston

y B

rook

Uni

vers

ity]

at 1

3:03

15

Oct

ober

201

4

Page 5: Complementos finitos e infinitivos dos verbos causativos deixar e fazer – Causação directa vs. indirecta e a noção de controlo

finitos, por outro lado, tendo o verbo completivo no modo conjuntivo, exibem estestracos. Outra diferenca e os complementos finitos serem introduzidos por umconector: que no caso de deixar, e com que no caso de fazer. Como e bem sabido, oscomplementos infinitivos nao apresentam este traco, mas seguem directamentedepois do seu verbo principal.

Por conseguinte, pensamos que as diferencas formais entre os complementosinfinitivos e finitos reflectem uma certa diferenca conceptual de tal maneira que osprimeiros assinalam uma distancia conceptual menor na sua relacao com o verboprincipal do que os segundos, e uma menor complexidade conceptual. Estasdiferencas conceptuais, por sua vez, dao lugar as seguintes consequencias norespeitante a relacao com o verbo causativo: (1) o complemento infinitivo assinalauma relacao causal prototipicamente directa, enquanto o complemento finito tende aimplicar uma relacao causal prototipicamente indirecta e (2) a diferenca entrecausacao directa e indirecta contribui para que o complemento infinitivo apresenteum maior grau de controlo sobre o evento completivo do que o complemento finito.3

Obviamente, um caracter mais vago e indefinido na causacao indirecta do que nadirecta corresponde a cadeias causativas mais extensas—e, portanto, a uma causacaoconceptualmente mais complexa.

O artigo tera a seguinte disposicao. Em (1.1.) tentaremos fornecer uma explicacao aofenomeno de iconicidade linguıstica. Em (1.2.) discutiremos, em termos gerais, a relacaoentre a causacao e a forma como a apercebemos. Tentaremos tambem fornecer umadistincao entre a causacao expressa pelos verbos deixar e fazer. Em (1.3.) tentaremosexplicar os termos causacao directa e indirecta. Na seccao seguinte (1.4.), abordaremos anocao de controlo. Em (2.) chegamos a analise. A seccao (2.1.) sera dedicada a distincaoentre causacao directa e indirecta, e em (2.2.) estudaremos o parametro de [+/2controlo]. Finalmente, em (3.), exporemos as nossas conclusoes gerais.

1.1 Iconicidade linguıstica

Nao ha duvida que existe uma concepcao geral de que a lıngua representa umsistema simbolico e que os sımbolos linguısticos, na maioria dos casos, nao temnecessariamente que se parecer com os seus referentes. Sendo assim, pode-sequestionar se existe alguma razao para afirmar que a lıngua tem tracos iconicos: ouseja, em que consiste a iconicidade linguıstica? No respeitante a esta questao, enecessario fazer uma distincao entre os conceitos de iconicidade imagetica e deiconicidade diagramatica.

Como o proprio termo assinala, a iconicidade imagetica faz referencia a um signoque de certo modo se parece com o seu referente, ou que tem alguma caracterıstica emcomum com o seu referente. Pode-se tratar de uma fotografia, uma estatua ou depalavras onomatopaicas—o essencial e que o signo apresenta uma certa semelhancacom o seu referente. A iconicidade diagramatica, por outro lado, parte da nocao deque ha um arranjo sistematico de diferentes signos que nao se parecem necessar-iamente com os seus referentes, mas que sao arranjados de forma a que cada signocorresponda ao seu referente. Assim, um diagrama de qualquer tipo nao se parece como conceito complexo que tenciona representar, mas cada uma das suas partes tem umacontrapartida neste conceito complexo (cf. Haiman, 1980: 515, 1985: 9).

Do mesmo modo, podemos afirmar que a lıngua tem certos tracos iconicos. Oumelhor dito, a maioria dos sımbolos que empregamos para a comunicacao humanasao arbitrarios de forma a nao exibirem nenhuma semelhanca com os seus referentes.No entanto, o modo em que sistematizamos os sımbolos—ou seja, a gramatica—pode ser de cunho diagramatico, pois cada um dos sımbolos em questao representauma certa parte de um conceito complexo.

Studia Neophil 80 (2008) Complementos finitos e infinitivos dos verbos causativos deixar e fazer 77

Dow

nloa

ded

by [

Ston

y B

rook

Uni

vers

ity]

at 1

3:03

15

Oct

ober

201

4

Page 6: Complementos finitos e infinitivos dos verbos causativos deixar e fazer – Causação directa vs. indirecta e a noção de controlo

Haiman (1985) expoe duas hipoteses em relacao a iconicidade linguıstica: ahipotese de isomorfismo e a de motivacao. A primeira enfatiza a inexistencia desinonimos verdadeiros, e a segunda postula que uma diferenca formal corresponde auma diferenca conceptual:

A hipotese de isomorfismoDiferentes formas vao sempre ocasionar uma diferenca de funcao comunicativa. Inversamente,identidade de forma entre diferentes categorias gramaticais vai sempre reflectir alguma semelhancade funcao comunicativa;A hipotese de motivacaoCaso haja duas formas que contrastem minimamente, mas com significacao intimamenterelacionada, a diferenca de significacao correspondera a diferenca de forma (Haiman: 1985: 19–20).

Como podemos verificar, a primeira das hipoteses, a de isomorfismo, refuta aexistencia de sinonimos. Evidentemente, muitas palavras expressam um conteudoconceptual semelhante, como no caso das palavras rapaz, menino e garoto. Noentanto, a nossa escolha de uma ou outra palavra para denominar um referente comos tracos [+ humano/+ masculino/+ jovem] reflectira sempre uma diferenca no modocomo apercebemos este referente.4 Alias, e interessante notar que a segunda parte dahipotese de isomorfismo pode explicar o fenomeno de polissemia: se uma unidadelinguıstica tem mais do que uma significacao, e muito provavel que se possa verificaruma relacao semantica entre elas.

A hipotese de motivacao, por outro lado, esta intimamente ligada a nocao deiconicidade diagramatica e, portanto, aos complementos que serao analisados nestetrabalho. Podemos comprovar que esta hipotese postula uma diferenciacao entredistintas formas, de tal modo que uma diferenca formal corresponde a uma diferencaconceptual. Portanto, se as expressoes linguısticas sao consideradas comodiagramas, onde cada sımbolo representa uma parte de um conceito complexo, oresultado disso e que as diferentes formas, ou estruturas, assinalam, de facto,diferencas conceptuais.

Encontramos um exemplo ilustrativo disso em Lakoff & Johnson (1980), queexpoem as duas metaforas [MAIS FORMA E MAIS CONTEUDO] e [CERCANIAE FORCA DE EFEITO]. Na primeira metafora, verificamos uma relacao iconicaonde o acrescentamento de mais unidades linguısticas assinala mais conteudoconceptual, enquanto a segunda metafora estabelece uma correlacao entre distanciaformal e conceptual. Abaixo, podemos ver alguns exemplos expostos em Lakoff &Johnson (1980: 127–131):

4a) He is very tall[Ele e muito alto]

4b) He is very, very, very tall[Ele e muito, muito, muito alto]

5a) Sam killed Harry[Sam matou Harry]

5b) Sam caused Harry to die[Sam causou a morte de Harry]

Em (4a–b), a diferenca entre «Ele e muito alto» e «Ele e muito, muito, muito alto»tem a ver com a maneira em que conceptualizamos a altura do sujeito (Ele). Em (4a),estamos perante um caso que se poderia considerar normal. Ou seja, e evidente quese trata de uma pessoa que tem a caracterıstica de ser alta—mas nao excepcional-mente alta. Em (4b), por outro lado, a repeticao do modificador «muito» da aentender que a pessoa em questao, com efeito, deve ser extremamente alta. Portanto,mais forma e mais conteudo.

78 R. Vesterinen Studia Neophil 80 (2008)

Dow

nloa

ded

by [

Ston

y B

rook

Uni

vers

ity]

at 1

3:03

15

Oct

ober

201

4

Page 7: Complementos finitos e infinitivos dos verbos causativos deixar e fazer – Causação directa vs. indirecta e a noção de controlo

Em (5a–b), a diferenca reside no tipo de causalidade no evento expresso. Em (5a),a cercania entre os componentes (SN+V+SN) parece indicar uma causacao directa.Em (5b), a causacao nao tem que partilhar esta caracterıstica—de facto, o sujeitopode ter feito algo que causou a morte do objecto indirectamente (cf. Lakoff &Johnson, 1980: 127–131). Com respeito aos casos (5a–b), e interessante notar queLangacker (1987), concordando com Lakoff & Johnson (1980), acrescenta que umamaior distancia fonologica entre os predicados de causa e de efeito corresponde auma maior distancia nos domınios de tempo e de conexao entre a causa e o efeito (cf.Langacker, 1987: 181). Voltaremos a esta questao em (1.3.).

Em conclusao, ao dizermos que a diferenca conceptual entre os complementos finitose infinitivos pode ser explicada pelos tracos iconicos da lıngua, e este tipo de iconicidadeque teremos em consideracao. Os diferentes complementos dos verbos causativos fazer edeixar nao podem ser considerados como casos sinonimos, e a sua diferenca conceptualsera reflectida na sua diferenca formal. Quer dizer: se os complementos finitos einfinitivos podem ser vistos como diagramas que representam conceitos complexos, eevidente que a estrutura infinitiva representa um diagrama menos complexo do que afinita. Inversamente, o complemento finito deve representar um diagrama maiscomplexo, coisa que tambem significaria que a estrutura verbo+complemento finito econceptualmente mais complexa do que a estrutura infinitiva.

Na nossa analise (2.), estudaremos esta questao mais atentamente. Antes disso,porem, vamos estudar os fenomenos de causacao (1.2.), de causacao directa vs.indirecta (1.3.), assim como o parametro [+/2 controlo] (1.4.).

1.2 Causacao

Concordamos com Lakoff & Johnson (1999) em como a causacao nao representaapenas um traco objectivo do mundo exterior, expresso por condicoes necessarias esuficientes.5 Em vez disso, estamos perante uma interaccao entre o que apercebemoscomo causas no mundo exterior e as nossas capacidades de conceptualizar as causasmetaforicamente, tudo com base na nossa experiencia corporal. Portanto, nao eestranho encontrar expressoes causais do tipo: «o facto de nao termos industrias leva aspessoas a saırem da freguesia» ou «este raciocınio conduz a uma conclusao clara». Osverbos que expressam actividades tipicamente humanas, como as de levar ou conduzirum objecto de um a outro lugar, sao empregues para assinalar uma relacao causal.

Assim, e pertinente enfatizar o caracter subjectivo da nossa maneira deconceptualizar as relacoes causais. De facto, o que identificamos como a causa deuma determinada situacao pode variar dependendo do conceptualizador e damaneira como ele conceptualiza a relacao causal. Segundo Lakoff & Johnson (1999:177), este raciocınio conduz a um valor esqueletico da causacao: uma causa e umfactor determinante para uma situacao. No entanto, parece haver um traco essencial,um traco que todas as relacoes causais partilham: a transformacao de uma situacaonuma outra. Em casos prototıpicos, esta mudanca e causada por uma forca, o que dalugar as metaforas [FORCAS SAO CAUSAS] e [MUDANCA FORCADA ECAUSACAO] (cf. Lakoff & Johnson, 1999:184).

A nocao de que ha uma ligacao entre os conceitos causa e forca e tambem expressaem Talmy (1988) e na teoria de dinamica de forcas (force dynamics). Na sua analise, acausacao e compreendida como uma tendencia intrınseca (concreta ou abstracta)para o movimento ou repouso por parte de um agonista e a contra-forca de umantagonista para resistir a esta forca. Os casos de causacao assinalados pelos verbosdeixar e fazer coincidem no facto de apresentarem um antagonista mais forte do queo agonista. No entanto, o caracter desta forca difere de um caso para o outro. Numexemplo como: «o Joao faz a Maria sair» o antagonista (o Joao) induz umamudanca no agonista (a Maria) que tem uma tendencia para o repouso. Por outro

Studia Neophil 80 (2008) Complementos finitos e infinitivos dos verbos causativos deixar e fazer 79

Dow

nloa

ded

by [

Ston

y B

rook

Uni

vers

ity]

at 1

3:03

15

Oct

ober

201

4

Page 8: Complementos finitos e infinitivos dos verbos causativos deixar e fazer – Causação directa vs. indirecta e a noção de controlo

lado, num caso do tipo: «o Joao deixa a Maria sair», podemos comprovar umacausacao negativa onde um antagonista mais forte (o Joao) deixa de resistir a forcaintrınseca do agonista (a Maria), ou seja, abstem-se de exercer a sua forca,possibilitando deste modo a tendencia intrınseca para o movimento do agonista (cf.Talmy, 1988: 56–58). Abaixo, vamos ilustrar esta diferenca graficamente:

Em (1a), o antagonista (o rectangulo) exerce uma forca maior (+) contra oagonista (o cırculo) com uma tendencia para o repouso (o ponto grosso), e a forcamaior do antagonista resulta numa mudanca de estado do agonista (a setahorizontal em baixo). Verificamos, pois, uma mudanca de estado, uma mudancacausada pela forca do antagonista. Em (1b), por outro lado, estamos perante umacausacao negativa onde o agonista, com uma tendencia inerente para se mover,exerce uma forca contra um antagonista mais forte (+). Neste caso, a remocao doantagonista (a seta para cima) possibilita a mudanca de estado do agonista.

Em relacao a este fenomeno, notamos que os verbos deixar e fazer exprimemalgumas diferencas acentuadas com respeito ao tipo de causacao. Em casosprototıpicos, a causacao pode ser conceptualizada como a manipulacao directa deum objecto de um estado a um outro estado. Por exemplo, num caso como: «o Joaofaz uma estatua», conceptualizamos um evento onde o trajector, trabalhando comalgum material, manipula este material a fim de conseguir o resultado final.6 Emcontraste com isso, o verbo deixar nao apresenta esta caracterıstica, mas verifica-seuma causacao negativa onde o antagonista nao exerce a sua forca para impedir atendencia intrınseca do agonista.

Deste modo, e interessante notar que Silva (2003) distingue entre dois valoressemanticos diferentes de deixar: deixar I e deixar II. O primeiro valor, representado pordeixar I, pode ser parafraseado: «suspender a interaccao com uma entidade estatica» etem um complemento nominal, enquanto o valor de deixar II pode ser parafraseado:«nao se opor a uma entidade dinamica» e tem um complemento verbal (cf. Silva, 2003:286). Evidentemente, sao os casos dinamicos, os que assinalam um processo, que nosinteressam no presente trabalho. Segundo Silva (2003: 288) estes casos apresentam tresvalores semanticos fundamentais: (1) permitir, (2) acabar impedimento e (3) naoimpedir. Vamos ver alguns casos infinitivos, discutidos em Silva (2003: 285–286):

6a) O Joao pos-se a fazer disparates, e eu deixei-o fazer [nao impedir]6b) A Maria pediu-me para ir ao cinema, e eu deixei-a ir [permitir]6c) Ele deixou o passaro voar (abrindo a gaiola) [acabar impedimento]

Os exemplos acima coincidem, assim, numa causacao negativa. Ou seja, o trajectordo verbo principal (deixar) nao impede, permite ou acaba um impedimento, e o

+ _

(a)

+

_

(b)

mudança mudança

Figura 1. Causacao forcada e negativa. (a) Causacao forcada, e (b) causacao negativa.

80 R. Vesterinen Studia Neophil 80 (2008)

Dow

nloa

ded

by [

Ston

y B

rook

Uni

vers

ity]

at 1

3:03

15

Oct

ober

201

4

Page 9: Complementos finitos e infinitivos dos verbos causativos deixar e fazer – Causação directa vs. indirecta e a noção de controlo

resultado disso e que o trajector do infinitivo pode efectuar uma accao dinamica.Deste modo, deixar nao apresenta o mesmo caracter semantico de fazer, um verboque assinala uma causacao forcada. Por outro lado, acreditamos que os dois verbosem questao coincidem no respeitante aos fenomenos de causacao directa vs. indirectae o parametro de [+/2 controlo].

Os casos expostos acima apontam para mais uma diferenca acentuada entre acausacao expressa pelos verbos deixar e fazer. Quer dizer: o verbo fazer muitas vezesassinala uma causacao do tipo indutivo em que o causador faz ou diz alguma coisa a fimde conseguir uma mudanca no causado. Isso e, uma causacao mental e, como veremos,indirecta. Podemos encontrar um exemplo disso em: ‘‘a palestra do professor fez comque os estudantes comecassem a dar valor a materia’’ Os exemplos (6a–c), por outrolado, nao expressam tal causacao mental indutiva, pois o causado e um participante jadisposto a realizar o evento completivo. Em (6b), por exemplo, e provavel que o causado(A Maria) pedisse permissao para ir ao cinema antes de receber a permissao. Neste caso,o evento causativo nao muda o estado mental do causado, mas contribui para aremocao de um obstaculo social. Apesar disso, a nossa analise, em (2.1.), vai relevaroutros casos do tipo permissivo—e mental—com este verbo.

A diferenca conceptual entre os verbos deixar e fazer sera visıvel na nossa analise.Agora, procederemos a questao de causacao directa vs. indirecta.

1.3 Causacao directa vs. indirecta

Temos dito que uma diferenca entre os complementos finitos e infinitivos dos verbosdeixar e fazer reside na distincao entre a causacao directa e indirecta. Deste modo,surge a questao: qual a diferenca entre estes dois conceitos? Ou seja, o que e quediferencia a causacao directa da causacao indirecta?

No que diz respeito a esta questao, Kemmer & Verhagen (1994) fornecem aseguinte classificacao da causacao: fısica vs. nao fısica, directa vs. mediada ecausacao vs. permissao ou possibilitacao (enablement). A diferenca entre a causacaofısica e nao fısica reside numa distincao entre a nossa capacidade de causar umevento por forca fısica ou por forca mental. A distincao feita entre a causacao directae mediada, por outro lado, faz referencia a nocao de uma forca intermedia. Numexemplo como: «puxando o vaso, fi-lo cair» estamos perante uma causacao fısicadirecta, enquanto um caso como: «atirando uma bola contra o vaso, fi-lo cair» da aentender uma causacao mediada e indirecta.

A diferenca entre a causacao, por um lado, e a permissao ou possibilitacao, poroutro lado, pode ser visıvel na diferenca conceptual entre os dois verbos fazer edeixar. Ou seja, no primeiro caso, uma forca e capaz de induzir uma mudanca, e nosegundo caso a remocao de uma resistencia contribui para a mudanca. Finalmente, adistincao feita entre permissao e possibilitacao reside no facto de a primeirarepresentar um obstaculo social, enquanto a segunda implica que o obstaculo seja decaracter fısico. Em consequencia disso, Kemmer & Verhagen (1994) afirmam que apermissao implica um processo mental entre dois participantes que apresentam otraco [+ animado] e uma causacao indirecta. (cf. Kemmer & Verhagen, 1994: 120).

Verhagen & Kemmer (1997: 67) oferecem uma definicao mais concreta dacausacao indirecta, afirmando que este tipo consiste em: «uma situacao conceptua-lizada de maneira que se reconhece que uma outra forca do que o iniciador e a maisimediata fonte de energia no evento realizado».7 Esta definicao, por sua vez, e umponto de partida para a definicao oferecida por Song & Wolf (2004) que introduzemo parametro de intencionalidade vs. nao intencionalidade. Este parametro pode serexplicado pela diferenca entre: «a rapariga partiu o vaso» e «a rapariga causou aruptura do vaso». Nestes casos, a diferenca e que o primeiro exemplo assinala uma

Studia Neophil 80 (2008) Complementos finitos e infinitivos dos verbos causativos deixar e fazer 81

Dow

nloa

ded

by [

Ston

y B

rook

Uni

vers

ity]

at 1

3:03

15

Oct

ober

201

4

Page 10: Complementos finitos e infinitivos dos verbos causativos deixar e fazer – Causação directa vs. indirecta e a noção de controlo

causacao intencional e, portanto, directa, e o segundo caso implica uma causacaonao intencional e nao directa (cf. Song & Wolf, 2004: 241).

As propostas expostas acima apontam para alguns factores muito importantespara fazer uma distincao adequada entre a causacao directa e indirecta. Alem disso,e interessante notar que, de facto, podem explicar a variacao entre complementosfinitos e infinitivos dos verbos causativos. Vejamos alguns casos:

7a) O Joao faz a Maria sair do restaurante [complemento infinitivo]7b) O Joao faz com que a Maria saia do restaurante [complemento finito]

Assim, pensamos que (7a) e mais apropriado para assinalar uma relacao causaldirecta, por exemplo, um evento em que o iniciador do evento causal exerce a suaforca fısica para fazer a Maria sair do restaurante. Neste caso, podemosconceptualizar a relacao causal como fısica e intencional. Por outro lado, o segundoexemplo (7b) parece ser mais adequado para assinalar uma relacao causal onde aMaria, farta de escutar a voz do Joao—ou por outro motivo relacionado com esteparticipante—decide sair do restaurante. Ou seja, podemos verificar um processomental em que a Maria chega a conclusao que deve sair do restaurante, o que implicauma causacao indirecta (cf. Travis, 2003: 54).

Por outro lado, porem, as distincoes feitas acima podem criar alguns problemas.Um problema e visıvel em (7b) onde uma interpretacao possıvel e que o Joao naotem a intencao de fazer a Maria sair. Do mesmo modo, um exemplo como: ‘‘a pedrafez o Joao tropecar no jardim’’ representa, no nosso entender, uma causacao directa,mas, de facto, e impossıvel argumentar que o causador (a pedra) tem a intencao defazer o Joao tropecar. Finalmente, embora reconhecamos uma correspondenciaentre causacao fısica e directa, por um lado, e mental e indirecta, por outro lado, anocao de causacao fısica directa/mediada pode ser de cunho problematico. Podemosverificar isso nalguns casos classicos com respeito a distincao entre causacao directae indirecta. Abaixo, vamos ver os exemplos (5a–b), agora apresentados como (8a–b):

8a) Sam killed Harry[Sam matou Harry]

8b) Sam caused Harry to die[Sam causou a morte de Harry]

E bem sabido que estes casos exemplificam uma distincao entre a causacao directa eindirecta. Deste modo, e interessante comprovar que a causacao em (8a) nao temnecessariamente que apresentar o traco [+ fısico directo], pois e muito possıvel que ocausador (Sam) matasse o causado (Harry) por meio de uma arma: uma pistola, umpau, uma faca etc. Assim, podemos perguntar se este caso apresenta os mesmostracos como: «atirando a bola contra o vaso, fi-lo cair», ou seja, os tracos de umacausacao indirecta. Alem disso, o caso (8b), que assinala causacao indirecta, pode serde cunho intencional: «deixando o Harry encerrado duas semanas no sotao, semcomida nem agua, o Sam causou a sua morte intencionalmente».

Por outro lado, ambos os casos expostos acima podem ser explicados por umparametro espaco-temporal elaborado por Shibatani (2002) e Shibatani & Pardeshi(2002). Este parametro distingue entre a conceptualizacao da relacao causal em umou dois eventos. Assim, no primeiro exemplo (8a), a expressao linguıstica assinalauma certa contiguidade temporal de maneira que apenas conceptualizamos um soevento: X mata Y. Em (8b), por outro lado, a expressao linguıstica da a entender queo causador fez alguma coisa que causou a morte do causado e, por isso, estamosperante dois diferentes eventos.

Por outras palavras, embora os conceitos expostos acima possam ser uteis para anossa compreensao sobre a distincao entre a causacao directa e indirecta, sobretudo

82 R. Vesterinen Studia Neophil 80 (2008)

Dow

nloa

ded

by [

Ston

y B

rook

Uni

vers

ity]

at 1

3:03

15

Oct

ober

201

4

Page 11: Complementos finitos e infinitivos dos verbos causativos deixar e fazer – Causação directa vs. indirecta e a noção de controlo

a distincao entre causacao mental e fısica, temos a impressao de que o parametroespaco-temporal fornece uma explicacao mais fundamental ou basica. Sendo assim,os demais conceitos serao considerados como diferentes manifestacoes quedependem do mesmo caracter basico: o parametro espaco-temporal.

1.4 A nocao de controlo

O termo controlo origina do conceito de domınio que, por sua vez, representa umcomponente do modelo de construcoes de ponto de referencia de Langacker (1991).Partindo da hipotese de que a posse, numa forma muito esquematica, apenas implica acoexistencia de duas entidades num domınio cognitivo, o modelo de ponto dereferencia oferece uma explicacao as construcoes possessivas (concretas e abstractas)de tal forma que uma entidade, a mais saliente, serve como um ponto de referenciapara estabelecer contacto mental com uma outra entidade, e que a entidade com a qualse estabelece este contacto mental esta no domınio do ponto de referencia. Em casosprototıpicos, a saliencia da entidade que e seleccionada como um ponto de referenciareside no facto de apresentar o traco [+ animado], numa saliencia perceptiva, ou emque e compreendida como um todo na sua relacao com a entidade possuıda.

Esta caracterizacao explica, por exemplo, as construcoes possessivas do tipo «ocarro do Jose», «as pulgas do gato» ou «as paredes da casa». No primeiro caso, eatribuıdo um maior grau de saliencia a o Jose por representar um participante [+animado]. Em consequencia disso, este participante serve como o ponto de referenciapara a localizacao do carro no seu domınio. No caso seguinte, a saliencia do gato edo tipo perceptivo, facto que explica a razao pela qual este participante serve para alocalizacao das pulgas. Finalmente, a casa, representando o todo, desempenha afuncao de ponto de referencia, e as paredes—as partes da casa—estao no seudomınio. (cf. Langacker, 1991: 170–172).

Partindo do modelo de ponto de referencia, Maldonado (1995) afirma que anocao de domınio pode ser estendida para abranger nao so este modelo, mastambem para fornecer uma explicacao a variacao entre os diferentes complementosverbais na lıngua espanhola. Ou seja, os diferentes modos verbais no complementopodem assinalar que o evento completivo fica dentro ou fora do domınio doconceptualizador. Podemos visualizar esta diferenca da seguinte maneira:

(a) (b)

EC

C C

EC

Figura 2. Evento dentro e fora do domınio. (a) Evento dentro do domınio, e (b) evento fora dodomınio.

Studia Neophil 80 (2008) Complementos finitos e infinitivos dos verbos causativos deixar e fazer 83

Dow

nloa

ded

by [

Ston

y B

rook

Uni

vers

ity]

at 1

3:03

15

Oct

ober

201

4

Page 12: Complementos finitos e infinitivos dos verbos causativos deixar e fazer – Causação directa vs. indirecta e a noção de controlo

Na figura (2.), o cırculo (C) representa o conceptualizador, o trajector do verboprincipal ou o locutor, e a sua capacidade de interagir com o evento completivo(EC). Nos casos em que este participante tem um certo controlo sobre o eventocompletivo, ou por poder manipula-lo de modo a que este se realize, ou porqueconstitui uma parte da sua concepcao da realidade, este evento esta no seudomınio (o oval ponteado). Por outro lado, quando o conceptualizador nao podeinfluir sobre o evento completivo, ou quando nao pertence a sua concepcao darealidade, este evento fica fora do domınio do conceptualizador (cf. Maldonado,1995: 406).

Como podemos verificar acima, a nocao de domınio esta fortemente ligada anossa concepcao da realidade. No que diz respeito a esta relacao, Achard (1998) fazuma distincao entre os conceitos realidade basica e realidade elaborada.8 A realidadebasica relaciona-se com os eventos—passados ou presentes—que pertencem a nossaconcepcao da realidade: os eventos fazem parte do nosso conhecimento do mundo edos eventos realizados nele. A nocao de realidade elaborada, por outro lado, tem ocaracter dinamico da realidade em consideracao e refere-se em especial aos eventosainda nao realizados.

Por conseguinte, se acharmos que a evolucao de um evento vai tomar um certorumo, e se tivermos a conviccao de que o evento vai acontecer, este evento pertence anossa realidade elaborada. Em casos contrarios, porem, se tivermos duvidas sobre arealizacao de um evento, ou se este evento nao existe na nossa representacao mental,tambem nao faz parte da nossa realidade elaborada. Deste modo, a realidadeelaborada nao so abrange a realidade basica, ou seja, o nosso conhecimento sobre oseventos passados e verificados no mundo, mas tambem a nossa concepcao doseventos futuros (cf. Achard, 1998, 41–45; 224).

Consideramos o termo controlo fundamental para compreender o modo como umevento pode ficar dentro ou fora do domınio do conceptualizador, pois faz referenciaa duas capacidades diferentes: (1) poder controlar e manipular uma circunstanciapara a avaliar em relacao a nossa concepcao da realidade e (2) poder interagir comum evento e exercer uma influencia sobre a realizacao (ou nao realizacao) desteevento.

Segundo Maldonado (1995), os tracos mencionados acima podem explicar adiferenca conceptual entre os modos verbais do indicativo e conjuntivo. Ou seja,enquanto o indicativo assinala que o evento descrito existe na realidade elaborada doconceptualizador, ou que pode interagir com o evento, o conjuntivo assinala ocontrario. Abaixo, podemos ver alguns exemplos expostos em Maldonado (1995:406–407):

9a) Es evidente que la familia no quiere saber de ti [indicativo][E evidente que a famılia nao quer saber de ti]

9b) Es possible que la familia no quiera saber de ti [conjuntivo][E possıvel que a famılia nao queira saber de ti]

9c) Graciela quiere que Abelardo la acompane [conjuntivo][Graciela quer que Abelardo a acompanhe]

Em (9a–b), os diferentes modos verbais assinalam o grau de certeza doconceptualizador no que diz respeito ao evento: «a famılia nao quer saber deti». O indicativo e empregue para assinalar que este evento existe na realidadeelaborada do conceptualizador, mas o conjuntivo assinala que nao existe na suarealidade elaborada: e apenas uma possibilidade. No seguinte caso (9c), oconjuntivo assinala que a Graciela nao pode interagir com o evento de «Abelardoacompanhar Graciela»—pode desejar que o evento se realize, mas nao o podecontrolar, porque nao tem acesso as decisoes de Abelardo (cf. Maldonado, 1995:

84 R. Vesterinen Studia Neophil 80 (2008)

Dow

nloa

ded

by [

Ston

y B

rook

Uni

vers

ity]

at 1

3:03

15

Oct

ober

201

4

Page 13: Complementos finitos e infinitivos dos verbos causativos deixar e fazer – Causação directa vs. indirecta e a noção de controlo

406–407). Portanto, o modo conjuntivo assinala que o evento nao fica no domıniodo conceptualizador.

Maldonado (1995: 406) acrescenta que uma condicao para que o conceptualizadorpossa controlar e manipular uma certa circunstancia em relacao a realidadeelaborada e que o verbo seja finito, uma exigencia que a primeira vista parece excluiro infinitivo como um marcador do tipo [+ controlo]. Acreditamos, porem, que estaexigencia acarreta consequencias em favor deste traco nos complementos infinitivos.Por outras palavras, o facto de os verbos finitos apresentarem os tracos [+ tempo/modo] contribui para que um complemento finito possa ser avaliado no respeitante arealidade elaborada e receber o traco [+/2 controlo]. Por outro lado, oscomplementos infinitivos—que carecem destes tracos—nao podem ser consideradosno respeitante a este fenomeno, mas recebem o traco [+ controlo] do verbo principal.Vamos estudar esta questao mais atentamente em (2.2.).

2. Analise

Neste espaco, estudaremos os complementos finitos e infinitivos dos verbos deixar efazer em relacao a distincao feita entre causacao directa e indirecta, assim como emrelacao ao parametro [+/2 controlo]. Deste modo, e pertinente repetir a nossahipotese: os complementos infinitivos vao assinalar uma causacao prototipicamentedirecta, enquanto os finitos, por outro lado, sao mais apropriados para assinalaruma causacao indirecta. Em consequencia disso, os complementos finitos vao exibiro traco [2 controlo], um traco que esta ausente nas estruturas verbo principal+com-plemento infinitivo.

2.1 Causacao directa e indirecta

Abaixo, verificamos algumas ocorrencias onde os complementos infinitivos parecem,de facto, assinalar uma causacao directa entre o causador e o causado. Nestes casos,estamos perante uma causacao com um contacto directo fısico entre os participantes,uma causacao de caracter emotivo ou do tipo perceptivo. Comecemos por ver algunscasos da causacao negativa:

10a) Em plena rua Ivens, em Lisboa, uma jovem deixa cair uma pasta cheia de papeisem frente de outra jovem de 20 anos que nao mexe um dedo para ajudar [http://www.seleccoes.pt/Revista/detalhe.asp?tipo5detalhe&area516&ID55632&Grupo577]

10b) A emocao marcou-nos a todos e nao foram poucos os que deixaram verter umalagrima de saudade bem portuguesa. [Linguateca: Diario de Aveiro-N4245-10]

10c) com enormes janelas… que deixam os olhos apreciar toda a beleza e forca domar [http://www.netmenu.pt/rest_ ficha.asp?RID51108]

No primeiro caso (10a), podemos verificar um caso prototıpico da causacao fısicadirecta: o causador solta uma pasta de papeis e, consequentemente, o causado (apasta de papeis), com uma tendencia inerente para seguir as leis da gravitacao, cai naterra. Assim, verificamos uma causacao negativa com o valor semantico de acabarimpedimento onde a relacao fısica directa entre os participantes da a entender umacausacao directa. Saliente-se que esta relacao causal directa e expressa por umcomplemento infinitivo.

Em contraste com isso, os casos seguintes, (10b–c) exibem uma causacao quedifere da causacao fısica directa—sendo do tipo emotivo ou perceptivo—umfenomeno que poderia implicar uma causacao indirecta. Em (10b), um evento causauma emocao que e tao forte que os espectadores «deixaram verter uma lagrima», e(10c) apresenta um evento perceptivo onde as janelas «deixam os olhos apreciar…».

Studia Neophil 80 (2008) Complementos finitos e infinitivos dos verbos causativos deixar e fazer 85

Dow

nloa

ded

by [

Ston

y B

rook

Uni

vers

ity]

at 1

3:03

15

Oct

ober

201

4

Page 14: Complementos finitos e infinitivos dos verbos causativos deixar e fazer – Causação directa vs. indirecta e a noção de controlo

Pode-se argumentar que estas ocorrencias assinalam uma causacao indirecta, e queum processo mental faz com que os espectadores comecem a verter lagrimas ou queos olhos apreciem a beleza e forca do mar. Sendo assim, poderıamos verificar umademora espaco-temporal entre causa e efeito e, por conseguinte, uma causacaoindirecta.

No entanto, ha uma concepcao geral de que as emocoes nos podem afectar comtanta forca, e com tanta rapidez, como um «soco». Do mesmo modo, os eventosperceptivos sao considerados como casos incontrolaveis: apercebemos os eventos nomundo exterior por se realizarem dentro do nosso campo perceptivo, coisa que naopodemos controlar. Deste modo, e interessante notar que (10b–c) podem serexplicados pelo modelo popular da mente (the folk model of the mind) e a nocao deque a percepcao e a emocao representam eventos directos, eventos que oconceptualizador nao e capaz de controlar, enquanto os actos de pensar ou crerimplicam um processo mental controlavel e uma demora espaco-temporal (cf.D’Andrade, 1987: 119). Portanto, (10b–c) representam dois casos de causacaodirecta, expressos por um complemento infinitivo.

Se passarmos ao verbo fazer, podemos verificar o mesmo fenomeno—o comple-mento infinitivo assinala uma causacao directa, pode ser de caracter fısico directo,mas tambem do tipo que exprime justamente uma emocao. Abaixo, vemos algunscasos:

11a) Monteiro, na cobranca de um livre directo, fez o esferico entrar nas redes aguarda de Pedro [Linguateca: Diario de Coimbra-N2890-1]

11b) A energia tem muitas formas. A ENERGIA MECANICA faz as coisas mover.[http://www.abcdaenergia.com/Arquivo/setembro2000/canal_dos_professores.htm]

11c) O primeiro dente, o primeiro coco e xixi no bacio, as primeiras palavras, osprimeiros passos e tudo o que faz os pais orgulharem-se dos filhos [http://www.jornaldeleiria.pt/index.php?article57186&visual52]

Podemos comprovar que o primeiro exemplo (11a) partilha o caracter fısico directocom a ocorrencia (10a). Neste caso, o causador (Monteiro) atira o esfericodirectamente com o pe e, em consequencia disso, entra nas redes. Enfim, verificamosum caso prototıpico da causacao directa, sem uma forca intermedia entre o causadore o causado, nem uma demora de tipo espaco-temporal. A seguinte ocorrencia (11b)apresenta a mesma caracterıstica. O causador, ou seja, a energia mecanica manipula«as coisas» de modo directo, fazendo-as assim moverem-se sem que se possa verificaruma forca intermedia ou uma demora espaco-temporal.

Finalmente, e pertinente comentar o exemplo (11c). A primeira vista, este casopoderia assinalar uma causacao indirecta, pois poder-se-ia afirmar que implica umprocesso mental e, portanto, uma demora espaco-temporal entre causa e efeito. Mas,do mesmo modo que em (10b), acontece o contrario: os casos deste tipo sao de caracteremocional e nao mental. Como ja foi dito, uma diferenca conceptual entre os actos depensar e sentir e que o primeiro acto pressupoe um processo mental e o segundo naotem necessariamente que apresentar esta caracterıstica. Neste caso em especial, oprimeiro dente, o primeiro coco e xixi no bacio e os primeiros passos do filho provocamuma reaccao instantanea (o sentimento de orgulho) nos pais, sem se apresentar umademora espaco-temporal. Estamos, pois, perante uma causacao directa.

Nos casos acima, acabamos de verificar que os complementos infinitivos parecem,de facto, assinalar uma causacao directa. Em primeiro lugar, assinalam umacausacao fısica directa na sua relacao com o verbo principal e, em segundo lugar, saomuito apropriados para indicar uma causacao do tipo perceptivo-emotivo que,segundo o modelo popular da mente, implica um evento directo. No entanto,

86 R. Vesterinen Studia Neophil 80 (2008)

Dow

nloa

ded

by [

Ston

y B

rook

Uni

vers

ity]

at 1

3:03

15

Oct

ober

201

4

Page 15: Complementos finitos e infinitivos dos verbos causativos deixar e fazer – Causação directa vs. indirecta e a noção de controlo

podemos perguntar se um complemento finito causa algumas mudancas no res-peitante a nossa maneira de conceber a causacao nestes casos. Sendo assim, vamosmodificar os casos (10a) e (11a), ou seja os casos que assinalam uma causacaoprototıpica directa—a fısica—a fim de verificar se sofrem algumas mudancas con-ceptuais com um complemento finito. Abaixo, veremos os exemplos, agora como(12a–b):

12a) ? Em plena rua Ivens, em Lisboa, uma jovem deixa que caia uma pasta cheia depapeis em frente de outra jovem…

12b) ? Monteiro, na cobranca de um livre directo, fez com que o esferico entrasse nasredes a guarda de Pedro9

Com efeito, a insercao de um complemento finito parece mudar o conteudoconceptual destes exemplos. No primeiro exemplo, (12a), a interpretacao maisimediata e estarmos perante um caso de causacao indirecta de caracter mental. Ouseja, o causador (uma jovem) tem uma possibilidade de impedir que a pasta caiamas, por alguma razao nao o faz. Sendo assim, comprovamos uma causacaonegativa mental, e uma causacao indirecta. No seguinte caso (12b), o complementofinito assinala que Monteiro nao atirou necessariamente a bola. Pode, por exemplo,ter impedido que o guarda-redes atingisse a bola e desta forma contribuir para ogolo. Outra interpretacao possıvel e que a bola ressalte em Monteiro que, sendodefensor, involuntariamente faz com que o livre mude de direccao e entra nas redes.Neste caso, podemos comprovar uma causacao indirecta em que Monteirorepresenta uma forca intermedia entre a pessoa que atirou a bola e o resultadofinal. Em conclusao, os exemplos (12a) e (12b) permitem uma grande variedade deinterpretacoes que implicam uma causacao indirecta.10

De facto, podemos comprovar, nos casos abaixo, que o complemento finito emuito apropriado para assinalar uma causacao indirecta, seja de caracter mental oudo tipo em que o causador nao contribui para uma mudanca directa no causado.Comecemos por estudar alguns casos da causacao negativa:

13a) como era uma pessoa simples e prestativa deixava que na altura as pessoaslevassem da sua mercearia produtos por ‘‘fiado’’. [http://www. folgosinho.com/albertino/historial.html]

13b) ‘‘As vezes as pessoas deixam que os mesmos problemas as tornem infelizes poranos…’’ [http://oquehahoje.blogspot.com/]

13c) Seus parentes e antigos proprietarios deixaram que a caldeira se entulhasse, quea casa da azenha se destelhasse e ficassem apenas as paredes em pe. [Linguateca:Diario de Aveiro-N0470-1]

Na primeira ocorrencia (13a), estamos a verificar um caso prototıpico da permissao.Neste caso, porem, podemos comprovar um evento causativo que difere dos casos(6a–c) acima, pois o facto de o causador vender os produtos por fiado implica umademora espaco-temporal em que o causado medita sobre o acto permissivo. Noseguinte caso (13b), apresenta-se mais um caso mental. O causado (as pessoas) vaipensando nos seus problemas e—com o decorrer do tempo—estes problemas fazemcom que se torne infeliz. Finalmente, o exemplo (13c) difere dos exemplos anteriorespor ter um causado [2 animado]. No entanto, podemos comprovar uma causacaoindirecta, pois o processo de a casa «cair aos bocados» implica uma demora espaco-temporal, assim como uma causacao de tipo nao intencional.

Se passarmos a causacao assinalada pelo verbo fazer, veremos que estes casostambem dao a entender uma causacao indirecta com os complementos finitos, naoso por implicarem um contacto indirecto entre os participantes envolvidos, mastambem por assinalarem uma causacao do tipo mental. No que diz respeito a estas

Studia Neophil 80 (2008) Complementos finitos e infinitivos dos verbos causativos deixar e fazer 87

Dow

nloa

ded

by [

Ston

y B

rook

Uni

vers

ity]

at 1

3:03

15

Oct

ober

201

4

Page 16: Complementos finitos e infinitivos dos verbos causativos deixar e fazer – Causação directa vs. indirecta e a noção de controlo

ocorrencias, e interessante verificar que o causador muitas vezes e do tipo [2animado], e que este traco parece indicar uma causacao do tipo nao intencional:11

14a) O presidente da Camara da Murtosa sublinha que «quando a ria comecou asofrer os problemas da poluicao do complexo industrial de Estarreja, dacelulose de Cacia e dos esgotos domesticos, e tambem merce da evolucao quefez com que os terrenos passassem a ser adubados com produtos quımicos[Linguateca: Diario de Aveiro-N4133-2)

14b) O aumento do contacto com cenas violentas faz com que a crianca reaja maistardiamente a pedir ajuda ou a intervir para apaziguar uma luta entre outrascriancas. [http://www.medicosdeportugal.iol.pt/action/2/cnt_id/72/]

14c) E o molhar a cama faz com que a crianca tenha problemas de confianca em si, oque afecta directamente a sua auto-estima. [http://www.saudelar.com/edicoes/2001/dezembro/principal.asp?send5pediatria.htm]

Em (14a), podemos comprovar um causador do tipo [2 animado], ou seja, «aevolucao» que faz com que os terrenos passem a ser adubados com produtosquımicos. Evidentemente, este participante representa um «causador indirecto» doevento descrito no complemento finito, e podemos verificar que o verdadeirocausador e o complexo industrial. Assim, verifica-se uma cadeia causal de tipo:evolucaowcomplexo industrialwpoluicao. Ou melhor dito, a evolucao causa apoluicao mediante o complexo industrial. Saliente-se que esta causacao implica umademora espaco-temporal entre causa e efeito.

Os casos seguintes representam duas diferentes ocorrencias em que um causadorcom o traco [2 animado] e, portanto, nao intencional cria um processo mental nocausado. Em (14b), o contacto contınuo—ou repetido—com cenas violentas tem aconsequencia de que a crianca deixa de reagir contra a violencia real. Sendo assim,verificamos uma causacao indirecta onde a repeticao de um evento causa um outroevento. Em (14c), finalmente, podemos ver um caso parecido: a repeticao de umevento cria um processo mental que, consequentemente, faz com que o causadotenha problemas com a sua autoconfianca. Em ambos casos, comprovamos umacausalidade nao intencional e um processo mental e, portanto, uma causacaoindirecta.

Todos os casos expostos acima (10a–14c) parecem assinalar uma diferencaconceptual entre os complementos infinitivos e finitos de tal modo que os primeirosimplicam uma causacao directa, enquanto os segundos dao a entender uma causacaoindirecta. Sendo assim, devemos procurar uma explicacao para esta diferencaconceptual, ou seja, responder a questao: o que pode explicar a razao pela qual oscomplementos infinitivos assinalam uma causacao directa e os finitos uma causacaoindirecta?

Pensamos que e possıvel encontrar uma explicacao satisfatoria a esta questao naescala de integracao eventativa de Givon (1985, 1993, 2001). Segundo esta escala, umcomplemento formalmente simples, que fornece uma reduzida informacao sobre oevento completivo, tende a ser integrado no evento descrito pelo verbo principal. Poroutro lado, um complemento que e formalmente mais complexo tende a codificar oevento completivo como um evento mais independente (cf. Givon, 1993: 2–21; 2001:39–40).

Se aplicarmos esta explicacao aos complementos finitos e infinitivos dos verbosdeixar e fazer, podemos comprovar que os primeiros, fornecendo o traco [+ tempo/modo], codificam um evento que e mais independente do evento descrito pelo verboprincipal, enquanto os segundos, que carecem deste traco, sao mais dependentes emais integrados no evento descrito pelo verbo principal. Em consequencia disso, asestruturas verbo principal+complemento infinitivo codificam um evento complexo

88 R. Vesterinen Studia Neophil 80 (2008)

Dow

nloa

ded

by [

Ston

y B

rook

Uni

vers

ity]

at 1

3:03

15

Oct

ober

201

4

Page 17: Complementos finitos e infinitivos dos verbos causativos deixar e fazer – Causação directa vs. indirecta e a noção de controlo

com o seu verbo principal, mas as estruturas verbo principal+complemento finitoassinalam dois eventos distintos.

Para fazer este raciocınio mais claro, queremos introduzir o termo fundamento(ground) de Langacker (1990: 9), tudo a fim de ilustrar a maneira em que ofundamento (o/s locutor/es e o lugar e tempo do evento comunicativo) conceptualizao evento completivo infinitivo como um evento dependente—integrado no seu verboprincipal—enquanto o evento descrito pelo complemento finito representa umevento independente:

Como podemos comprovar acima, o traco [+ tempo/modo] no complemento finitocontribui para criar uma relacao entre o fundamento (F) e o evento descrito pelocomplemento. Sendo assim, o fundamento tem acesso nao so ao evento descrito peloverbo principal, mas tambem ao evento completivo (cf. Langacker, 2004: 542–552).Por outras palavras, o fundamento pode conceptualizar a estrutura verboprincipal+complemento finito como dois eventos diferentes. O complementoinfinitivo, por outro lado, nao cria relacao nenhuma com o fundamento, mas oevento completivo e acessıvel apenas mediante o verbo principal. Por conseguinte, emuito provavel que a estrutura verbo+complemento infinitivo seja conceptualizadacomo um so evento complexo.

Deste modo, e interessante verificarmos uma relacao iconica, por um lado, entre anossa maneira de conceptualizar uma relacao causal como directa ou indirecta e, poroutro lado, entre os complementos finitos e infinitivos. A causacao indirecta,assinalada pelo complemento finito, e representado iconicamente por uma maiordistancia formal entre o verbo principal e o seu complemento—efectuada peloconector que. Alias, este conector requer a insercao de um complemento finito, umcomplemento formalmente mais complexo, que cria uma relacao com o fundamento.Sendo assim, o aumento de complexidade formal no complemento finito e acom-panhado por uma complexidade conceptual, pois nao so implica uma causacao,como uma causacao indirecta. Inversamente, o complemento infinitivo assinala umacausacao directa, e conceptualmente menos complexa, representada de modo iconicopor uma cercania formal entre o verbo principal e o seu complemento.

Na seguinte seccao (2.2.), veremos que o fenomeno descrito acima da a entenderum maior ou menor grau de controlo sobre o evento descrito no complemento.

2.2 O parametro [+/2 controlo]

Ao estudarmos o parametro [+/2 controlo], importa frisar que os eventos com-pletivos podem assinalar um maior ou menor grau de controlo em dois participantesdiferentes: o causador e o fundamento (o locutor). Nos casos em que o causadorapresenta o traco [+ animado], ele pode ser considerado como o participante paraquem a realizacao do evento completivo e relevante. Deste modo, o evento tem o

V. Principal Compl. Finito V. Principal Compl. Infinitivo

F F

Figura 3. A relacao entre o fundamento e os complementos finitos/infinitivos.

Studia Neophil 80 (2008) Complementos finitos e infinitivos dos verbos causativos deixar e fazer 89

Dow

nloa

ded

by [

Ston

y B

rook

Uni

vers

ity]

at 1

3:03

15

Oct

ober

201

4

Page 18: Complementos finitos e infinitivos dos verbos causativos deixar e fazer – Causação directa vs. indirecta e a noção de controlo

traco [+/2 controlo] desde a sua perspectiva. Em casos contrarios, porem, onde ocausador e do tipo [2 animado], e evidente que o evento completivo nao pode ter amesma relevancia para este participante, mas apresenta o traco [+/2 controlo] desdea perspectiva do fundamento. Podemos ilustrar esta diferenca na seguinte maneira:

Em (4a.), o evento completivo (EC) e relevante desde a perspectiva do causador(C), visto que este participante apresenta o traco [+ animado] e pode meditar sobre oevento em questao. Portanto, o evento completivo pode ou nao ficar no seu domınio(um fenomeno representado pela seta) e ter ou carecer do traco [+ controlo].12 Poroutro lado, um causador do tipo [2 animado], como em (4b), nao e capaz de meditarsobre o evento completivo, razao pela qual o evento nao pode ter nenhumarelevancia para este participante. Neste caso, o evento completivo e relevante para ofundamento, e pode ter o traco [+/2 controlo] em relacao a este participante.

Comecemos por expor algumas ocorrencias da complementacao infinitiva com overbo deixar que, no nosso entender, apresentam um elevado grau de controlo sobreo evento descrito no complemento. Em (15a), este traco e relacionado com umcausador do tipo [+ animado]. No exemplo seguinte (15b), um causador [2 animado]da a entender que o evento completivo e relevante para o fundamento:

15a) …a pequenada da Vera-Cruz tambem quis deixar o seu alerta e por isso,mesmo ja sentido algumas saudades do bonecos, deixaram ficar os EspantaLixos espalhados pelo jardim para que «tomem conta daqueles que nao tem amınima preocupacao e estao sempre a deitar papeis e outros objectos para ochao» [Linguateca: Diario de Aveiro-N3133-4]

15b) …uma espessa camada de colmo, que, depois das primeiras chuvadas em queainda deixava penetrar algumas gotas, se tornava completamente impermeavela chuva. [http://sapp.telepac.pt/gralheira/Livro/Frames/construcao. htm]

Em (15a), e interessante comprovar uma relacao possessiva entre um causador [+animado] e um causado [2 animado]. Os Espanta Lixos estao no domınio da pequenadada Vera-Cruz. Nao ha duvida que esta relacao possessiva implica um elevado grau decontrolo sobre o evento descrito no complemento, pois sabemos que e muito facilinteragir com—e manipular—uma entidade possuıda. Deste modo, o evento completivoapresenta o traco [+ controlo], um traco expresso pelo complemento infinitivo. Alias, einteressante notar que a insercao de um complemento finito neste contexto: «deixavam

(a) (b)

EC

F F

EC C C

Figura 4. O parametro de controlo e a relevancia do evento completivo. (a) Causador [+animado], e (b) causador [– animado].

90 R. Vesterinen Studia Neophil 80 (2008)

Dow

nloa

ded

by [

Ston

y B

rook

Uni

vers

ity]

at 1

3:03

15

Oct

ober

201

4

Page 19: Complementos finitos e infinitivos dos verbos causativos deixar e fazer – Causação directa vs. indirecta e a noção de controlo

que os Espanta Lixos ficassem» parece assinalar um evento mental com o valorsemantico de «permitir que alguem deixe os Espanta Lixos ficar».13

Em (15b), encontramos mais um evento completivo com o traco [+ controlo]. Ofacto de a camada deixar penetrar algumas gotas implica uma causacao directa everificada, razao pela qual o evento existe na concepcao da realidade doconceptualizador (o fundamento). Ou seja, o fundamento pode assistir ao eventocompletivo e verifica-lo. Enfim, comprovamos um evento que apresenta um elevadograu de controlo, expresso por um complemento infinitivo.

Passando aos complementos infinitivos com o verbo fazer, podemos ver que estescasos compartilham o traco [+ controlo], assim como uma mudanca de perspectivaque depende da caracterıstica do causador:

16a) A comecar pelo multi-instrumentista Barry Burns, do qual se diz ter entradopara a banda porque fazia os outros rirem-se. [http://www.mondobizarre. com/e_mogwai_16.html]

16b) …o regresso ao sistema de quatro defesas «faz a equipa estar melhor e isso e omais importante de tudo». [Linguateca: Diario de Leiria-N1800-2]

Em (16a), verificamos mais uma ocorrencia que exibe um elevado grau de controlo.Um causador intencional interage directamente com o evento completivo—umevento relevante na sua perspectiva—e tem a capacidade de o manipular para que serealize: os outros rirem-se. Deste modo, comprovamos um evento completivo directodo tipo emocional com um elevado grau de controlo. Analogamente, o seguinte caso(16b), nao assinala nenhuma duvida sobre o evento completivo, mas estamos peranteum facto evidente e comprovado. Neste caso, porem, comprovamos um causador [2animado], pelo que tambem ha uma mudanca de perspectiva: o evento e relevantepara o fundamento.

Acabamos de ver que os complementos infinitivos parecem assinalar umevento com o traco [+ controlo]. No entanto, e pertinente questionar se este tracoso pode aparecer com os complementos infinitivos, ou se tambem e visıvel noscomplementos finitos. Vamos estudar alguns casos, comecando pela causacaonegativa:

17a) Bom povo portugues este…sempre de brandos costumes, sempre pronto avenia reverencial…E deixa que, em nome de uma chamada unidadeeuropeia…esse Poder receba, cada vez mais, as ordens e orientacao das suasvidas de Bruxelas, ou de Paris, ou de Berlim. [http://www.barlavento. online.pt/index.php/noticia?id59957]

17b) No entanto, esse esfıncter (EEI) nem sempre funciona bem, nem sempre fazuma tensao suficiente e deixa que o conteudo do estomago reflua, retroceda, parao esofago. [http://www.gastroalgarve.com/doencasdotd/esofago/drge. htm]

Com efeito, parece-nos que estes casos diferem das ocorrencias infinitivas porapresentarem um evento completivo com um menor grau de controlo. Em (17a), esteevento encontra-se fora do alcance do causador de duas maneiras diferentes. Emprimeiro lugar, e muito provavel que o causador nao possa interagir com—oumanipular—o evento completivo. Mas, e tambem possıvel que este evento naoexista, de facto, na sua representacao mental. Ou seja, embora o evento pertenca arealidade elaborada do fundamento, o complemento finito parece assinalar que ocausador nao esta, de facto, consciente do «perigo de Bruxelas».

O seguinte exemplo (17b) partilha o traco de um evento incontrolavel. Neste caso,o traco [2 controlo] depende de uma incapacidade de interagir e manipular umevento que existe na realidade elaborada do fundamento. Por outras palavras, e umfacto que o esfıncter nem sempre funciona bem (e que nem sempre faz uma tensao

Studia Neophil 80 (2008) Complementos finitos e infinitivos dos verbos causativos deixar e fazer 91

Dow

nloa

ded

by [

Ston

y B

rook

Uni

vers

ity]

at 1

3:03

15

Oct

ober

201

4

Page 20: Complementos finitos e infinitivos dos verbos causativos deixar e fazer – Causação directa vs. indirecta e a noção de controlo

suficiente). Mas, este facto conduz a uma consequencia incontrolavel: «deixa que oconteudo do estomago reflua». Sendo assim, o complemento finito assinala que esteevento fica fora do alcance do fundamento—nao e capaz de controlar o eventocompletivo, nem sabe quando este acontece.

Finalmente, passemos a alguns casos com a estrutura fazer+complemento finito.Estes casos fortalecem a nossa impressao de que o complemento finito, aocontrario do que se passa com o complemento infinitivo, apresenta um eventoincontrolavel:

18a) Quando Taiichi Ohno, da Toyota, se apercebia que um gestor estavadistanciado da sua fabrica, levava-o la, desenhava um cırculo no chao e faziacom que o supervisor ali permanecesse ate que ficasse mais consciente acerca doque se passava no terreno das operacoes [http://www.centroatl.pt/edigest/edicoes/ed43id-q.html]

18b) As magnıficas condicoes naturais do concelho de Lagos fizeram com que desdecedo fosse povoado. [http://www.olhao.net/algarve/lagos.htm]

Na primeira ocorrencia (18a) estamos perante um fenomeno muito interessante, poisparece indicar que o causador tem, de facto, controlo sobre o evento completivo.Consequentemente, este caso poderia contradizer a nossa argumentacao. Noentanto, o facto de que o causador atinge o seu objectivo nao assinala o traco [+controlo]. Com efeito, uma deslocacao temporal ao evento em questao da a entenderuma causacao mental e indirecta onde o causador pode pedir que o supervisorcumpra o acto de ficar no cırculo, mas onde e o causado quem decide se vai obedecerao pedido. Portanto, estamos perante mais um caso que nao existe na realidadeelaborada do causador, e que exibe o traco [2 controlo].

Em (18b), podemos verificar um exemplo parecido. Hoje em dia, o eventocompletivo de «Lagos ser povoado» existe na nossa realidade basica e elaborada,mas o evento representa uma causacao indirecta onde «as magnıficas condicoesnaturais» conduzem a uma situacao nao prevista: a povoacao de Lagos. Alem disso,o fundamento—o participante para quem o evento completivo e relevante—nao ecapaz de interagir ou manipular o evento: nao tem nenhuma influencia sobre o factode Lagos ter sido povoado e, com efeito, pode desejar que nao o tivesse sido nunca,razao pela qual o evento apresenta um reduzido grau de controlo.

Todas as ocorrencias expostas acima (15a–18b) apontam para uma acentuadadiferenca conceptual no respeitante aos complementos finitos e infinitivos e o seugrau de controlo: os complementos infinitivos assinalam que o causador tem ummaior grau de controlo sobre o evento completivo do que acontece nos casosfinitos. Acreditamos que uma explicacao deste fenomeno reside no facto de oscomplementos infinitivos assinalarem uma causacao directa, enquanto oscomplementos finitos assinalam uma causacao indirecta. Sem duvida, a causacaodirecta da a entender um maior grau de controlo sobre o evento causado do que acausacao indirecta. Portanto, parece haver uma correlacao iconica onde aproximidade entre o causador e o causado influencia o grau de controlo no eventocausado.

Alem disso, para explicar a distincao feita entre [+/2 controlo] nos comple-mentos finitos e infinitivos, encontramos um factor decisivo na semantica dasdiferentes formas verbais: o conjuntivo e o infinitivo. Comecando pelo infinitivo,podemos comprovar que este tipo verbal apresenta um caracter nominal, facto quese explica pelo caracter holıstico e atemporal desta forma verbal (cf. Langacker,1999: 11). Ou melhor dito, embora o infinitivo coincida com os verbos finitos emassinalar um evento, nao perfila o caracter temporal deste evento. Por outro lado,os verbos finitos perfilam exactamente o caracter temporal deste evento. Na

92 R. Vesterinen Studia Neophil 80 (2008)

Dow

nloa

ded

by [

Ston

y B

rook

Uni

vers

ity]

at 1

3:03

15

Oct

ober

201

4

Page 21: Complementos finitos e infinitivos dos verbos causativos deixar e fazer – Causação directa vs. indirecta e a noção de controlo

figura (5.), podemos ilustrar esta diferenca entre os complementos finitos einfinitivos:

Na figura (5.), verificamos que os complementos finitos e infinitivos coincidem emdescrever uma mudanca (a seta em ziguezague) realizada pelo trajector no eventocompletivo: neste caso o causado. No entanto, vemos que o traco [+ tempo/modo] doverbo finito contribui para perfilar o caracter temporal desta mudanca, representadopela linha grossa no eixo temporal. Em contraste com isso, o complemento infinitivo,que apenas pode ter o traco [+ pessoa], nao perfila o caracter temporal da mudanca, masapresenta o evento holisticamente (o rectangulo acentuado). Enfim, o caracter atemporale holıstico do complemento infinitivo contribui para lhe dar um traco nominal.

Assim, acreditamos que o complemento infinitivo partilha alguns tracos com umcomplemento nominal do tipo «deixei o Joao no jardim» com respeito ao traco [+controlo], e que o complemento finito, por outro lado, nao partilha este traco. Ouseja, um caso como: «deixei o Joao no jardim» nao assinala nenhuma duvida sobre arealizacao do evento e, assim sendo, o evento de «o Joao estar no jardim» faz parteda nossa realidade elaborada—e apresenta o traco [+ controlo]. No passo a seguir,um complemento infinitivo: «deixei o Joao ficar no jardim» tambem apresenta umevento com o traco [+ controlo]. Finalmente, o complemento finito, que perfila oeixo temporal do evento completivo, nao tem que apresentar este traco.

Com respeito a esta questao, queremos voltar a nocao de que os verbos finitoscriam uma relacao com o fundamento. Como ja foi visto, uma consequencia dafundamentacao e que os verbos finitos, ao contrario do que acontece com os verbosinfinitos, localizam um evento em relacao ao fundamento e a sua concepcao darealidade (cf. Langacker, 1991: 440). Deste modo, os complementos finitos podemser avaliados com respeito ao parametro [+/2 controlo], enquanto os complementosinfinitos, fundamentados mediante o verbo principal, neste caso deixar e fazer,recebem o traco [+ controlo] por meio do seu verbo principal.

Verificamos um exemplo ilustrativo deste fenomeno na complementacao infinitivados verbos perceptivos. A possibilidade de ocorrer como complemento aos verbosque expressam eventos perceptivos directos—e que pertencem a nossa realidadeelaborada—representa mais uma indicacao de que o infinitivo apresenta o traco [+controlo]. Abaixo, podemos ver alguns exemplos:

19a) Vi duas senhoras serem atacadas [Diario de Aveiro-N2240-1]19b) Vi que duas senhoras foram atacadas19c) * Vi que duas senhoras fossem atacadas

Em (19a), o complemento infinitivo assinala um contacto directo com o eventocompletivo; a testemunha estava la e viu o evento em questao com os seus proprios

(a) (b)

tr tr

TEMPO TEMPO

Figura 5. A determinacao temporal em complementos finitos/infinitivos dos verbos causativos. (a)Complemento finito. (b) Complemento infinitivo.

Studia Neophil 80 (2008) Complementos finitos e infinitivos dos verbos causativos deixar e fazer 93

Dow

nloa

ded

by [

Ston

y B

rook

Uni

vers

ity]

at 1

3:03

15

Oct

ober

201

4

Page 22: Complementos finitos e infinitivos dos verbos causativos deixar e fazer – Causação directa vs. indirecta e a noção de controlo

olhos. No seguinte caso (19b), uma modificacao de (19a), o complemento indicativoassinala que a testemunha nao presenciou necessariamente o evento completivo, masalguns indıcios circunstanciais contribuıram para que concluısse que duas senhorasforam atacadas. Assim, o complemento indicativo assinala um processo mental (cf.Bolinger, 1974: 66; Perini, 1977: 48). Em (19c), podemos comprovar que aimpossibilidade de inserir o conjuntivo neste contexto assinala uma incompatibili-dade entre o seu traco [2 controlo] e um contacto perceptivo directo.14

De facto, veremos que o conjuntivo e um modo verbal intimamente relacionadocom os contextos gramaticais que pressupoem um evento com o traco [2 controlo].Abaixo, em (20a–f), vamos expor alguns casos tratados em Vesterinen (2006):

20a) Quero que a Maria saia comigo [desejo]20b) E possıvel que a Maria venha [possibilidade]20c) E triste que a Maria nao venha [sentimento]20d) Mando que a Maria venha [mandado]20e) Duvido que a Maria saia comigo [descrenca]20f) Nao creio que a Maria venha [descrenca]

Em todos os casos expostos acima, verificamos um contexto que implica o traco [2controlo]. No primeiro caso (20a), o trajector de querer (eu) nao pode controlar o eventocompletivo, apenas pode desejar que se realize. Em (20b), o trajector nao podeinfluenciar sobre a vinda da Maria: so pode calcular com esta possibilidade. Em (20c), otrajector fica triste por a Maria nao vir, e nao pode influenciar sobre o evento oposto: asua vinda. Ate num caso como (20d), o trajector nao controla o evento completivo, poise muito possıvel que a Maria nao obedeca ao mandado. Finalmente, os casos (20e–f)assinalam eventos completivos que nao existem na realidade elaborada do trajector doverbo principal: duvido e nao creio. Nestes ultimos casos, saliente-se que as inversoes naoduvido e creio, assinalando que o evento em questao existe na realidade elaborada dotrajector, sao seguidos por um complemento indicativo.

Em relacao a este fenomeno, e interessante notar que o emprego do modoindicativo e conjuntivo nas subordinadas relativas segue o mesmo padrao. Oindicativo assinala que um certo referente existe na realidade elaborada do trajector,mas o conjuntivo indica que este referente, com efeito, so existe no seu desejo e naono mundo referencial:

21a) Estou a procurar um restaurante onde se come bem [indicativo]21b) Estou a procurar um restaurante onde se coma bem [conjuntivo]

Evidentemente, a diferenca entre (21a) e (21b) reside em que o caso indicativoassinala que o trajector esta a procurar um restaurante especıfico onde se come bem,enquanto o conjuntivo da a entender que o trajector procura qualquer restauranteque sirva boa comida. Deste modo, o caso (21a) pode ser seguido por umamodificacao do tipo: «chama-se O Farol» sem dar um valor semantico estranho aexpressao linguıstica. O facto de que tal modificacao e impossıvel em (21b) implicaque o referente nao e conhecido. Enfim, o modo conjuntivo, com o seu traco [2controlo], assinala que o restaurante nao existe na realidade elaborada do trajector.

Portanto, se procurarmos uma explicacao satisfatoria a diferenca conceptual entreos complementos finitos e infinitivos dos verbos causativos deixar e fazer, podemosencontra-la na distincao entre um evento completivo com o traco [+/2 controlo]. Omodo conjuntivo da assim mais uma significacao ao evento completivo, pois assinalaque tem o traco [2 controlo]. Quer dizer: um participante para quem o evento erelevante—ou o trajector do verbo causativo ou o fundamento—e incapaz deinteragir com o evento em questao: ou por nao poder exercer a sua influencia sobre asua realizacao, ou porque nao pertence a sua realidade elaborada. Por outro lado, o

94 R. Vesterinen Studia Neophil 80 (2008)

Dow

nloa

ded

by [

Ston

y B

rook

Uni

vers

ity]

at 1

3:03

15

Oct

ober

201

4

Page 23: Complementos finitos e infinitivos dos verbos causativos deixar e fazer – Causação directa vs. indirecta e a noção de controlo

complemento infinitivo, um complemento atemporal e holıstico que nao cria nenhumarelacao com o fundamento, assinala um evento completivo com o traco [+ controlo].

3. Conclusao

No inıcio deste estudo, dissemos que os complementos finitos e infinitivos dos verbosdeixar e fazer apresentam uma acentuada diferenca conceptual, e que esta diferencareflecte o traco iconico da lıngua. Levantamos a hipotese de que os complementosinfinitivos, que apresentam uma menor distancia em relacao ao verbo principal e quesao formalmente menos complexos, assinalariam uma causacao menos complexa: acausacao directa do tipo [+ controlo]. O maior grau de complexidade noscomplementos finitos, e uma maior distancia entre o complemento e o verboprincipal, por outro lado, assinalariam uma causacao mais complexa: uma causacaoindirecta com o traco [2 controlo].

Depois de estudar os conceitos essenciais para a realizacao do nosso estudo,chegamos a analise. Partindo do parametro espaco-temporal e da nossa maneira deconceptualizar a relacao causal como um ou dois eventos, estudamos oscomplementos finitos e infinitivos em relacao a causacao directa e indirecta. E,com efeito, os casos estudados dao a entender uma certa correlacao: oscomplementos infinitivos assinalam uma causacao directa, muitas vezes do tipofısico directo ou de um caracter perceptivo-emotivo. Inversamente, os complementosfinitos codificam uma causacao indirecta: do tipo mental ou sem um contactodirecto fısico entre o causador e o causado. Encontramos uma explicacao para adistincao entre causacao directa e indirecta no parametro de integracao eventativa.

Do mesmo modo, encontramos uma certa correlacao no que diz respeito aoparametro [+/2 controlo]. Assim, os complementos infinitivos, assinalando umacausacao directa, exibem um maior grau de controlo sobre o evento completivo doque os complementos finitos que, como foi visto, codificam uma causacao indirecta.Em relacao a este fenomeno, comprovamos que o traco [+/2 controlo] pode serexplicado pela semantica verbal do infinitivo e do conjuntivo. O caracter atemporal eholıstico do infinitivo faz com que nao seja possıvel criar uma relacao com ofundamento. Portanto, o complemento infinitivo recebe o traco [+ controlo] do seuverbo principal. Os eventos descritos atraves do modo conjuntivo, por outro lado,uma forma verbal que cria uma relacao com o fundamento, podem ser avaliadoscom respeito ao parametro [+/2 controlo]. No respeitante a esta questao,comprovamos que o modo conjuntivo esta intimamente ligado aos contextosgramaticais que pressupoem o traco [2 controlo].

Finalmente, resta estudar, pelo menos, mais um aspecto. No presente artigo vimosque o caracter indirecto da causacao nas estruturas verbo principal+complementofinito tambem implica uma causacao mais «difusa» do que no caso doscomplementos infinitivos. Neste sentido, poder-se-ia perguntar se nao e possıvelpensar que os complementos finitos dao a entender uma causacao «inferencial» ondee o locutor quem infere uma cadeia causal de modo indirecto, enquanto a causacaoexpressa pela estrutura verbo principal+complemento infinitivo, por outro lado, estamais arraigada em contextos perceptivos directos da causacao. Esta questaorepresenta, indubitavelmente, um desafio para estudos futuros.

Department of SpanishPortuguese and Latin American StudiesStockholm UniversitySE-10691 StockholmSwedenE-mail: [email protected]

Studia Neophil 80 (2008) Complementos finitos e infinitivos dos verbos causativos deixar e fazer 95

Dow

nloa

ded

by [

Ston

y B

rook

Uni

vers

ity]

at 1

3:03

15

Oct

ober

201

4

Page 24: Complementos finitos e infinitivos dos verbos causativos deixar e fazer – Causação directa vs. indirecta e a noção de controlo

NOTAS

1 Na maioria dos casos, optaremos por analisar exemplos naturais, provindo do corpus Linguateca e dediferentes paginas da Internet. No entanto, havera tambem exemplos criados a fim de explicar algumaquestao teorica.

2 Maldonado & Nava (2002) estudam a complementacao no Tarascano, uma lıngua falada no Mexico.3 Utilizamos o termo ‘‘prototıpico’’ e os seus derivados de modo qualitativo. Como veremos, a causacao

fısica e um caso prototıpico da causacao directa, e a mental representa um caso prototıpico dacausacao indirecta. Isto nao quer dizer que nao existam outros tipos de causacao directa e indirecta,simplesmente que o prototipo e mais central e arraigado.

4 Veja-se tambem Bolinger (1977) com respeito a questao de isomorfismo.5 Veja-se Shibatani (1976) para uma analise mais formal do fenomeno de causacao, e em especial as

diferentes analises realizadas por Shibatani (1976: 1–40), McCawley (1976a: 117–129) e McCawley(1976b: 181–203).

6 Empregamos o termo trajector em concordancia com a terminologia da Gramatica Cognitiva. Esteparticipante coincide com a categoria gramatical de sujeito no nıvel oracional e tem uma proeminenciaprincipal. Um outro participante saliente, o marco, tem uma proeminencia secundaria e coincide com oobjecto directo na gramatica tradicional (cf. Langacker, 1987: 231–236).

7 A nossa traducao do ingles: «a situation that is conceptualized in such a way that it is recognized thatsome other force besides the initiator is the most immediate source of energy in the effected event » (cf.Verhagen & Kemmer, 1997: 67).

8 Ao falarmos de um conceito como a realidade, e pertinente aclarar que este conceito nao representa, demodo nenhum, uma questao absoluta. O que teremos em mente, portanto, e a concepcao da realidadede um certo conceptualizador.

9 O ponto de interrogacao nao quer dizer que estes exemplos nao funcionem sintacticamente, mas que sepode questionar se sao apropriados para assinalar uma causacao directa.

10 Um leitor anonimo sugere a interpretacao em que o esferico ressalta em Monteiro. Segundo o mesmoleitor, a nao intencionalidade e o factor decisivo para fazer uma analise indirecta da causacao nestecaso. Sem entrar demasiado nesta questao, basta dizer que a discussao em (1.3.) mostra claramente queo parametro de intencionalidade pode ser muito fraco para fazer uma distincao entre causacao directae indirecta, razao pela qual uma analise baseada apenas neste parametro nao nos parece muitoconvincente.

11 Numa pequena analise quantitativa de 75 casos concretos da estrutura fazer+complemento finito,encontramos apenas tres ocorrencias com um causador [+ animado].

12 O fundamento representa, evidentemente, o conceptualizador da expressao linguıstica na suatotalidade, o que tambem da a entender que considera o evento completivo relevante, mas o traco[+/2 controlo] e considerado desde o ponto de vista do causador (cf. Maldonado, 1995; Achard, 1998;Silva, 2005b).

13 Em relacao a (15a), podemos notar que a proposicao adverbial que segue, com o modo conjuntivo,assinala um evento com o traco [2 controlo]. Ou seja, a pequenada de Vera-Cruz nao tem a capacidadede controlar que os Espanta Lixos tomem conta das pessoas que deitam papeis.

14 Veja-se tambem Vesterinen (2006: 159–160, 2007).

REFERENCIAS

Achard, M. (1998). Representation of Cognitive Structures: Syntax and Semantics of French SententialComplements. Berlin/New York: Mouton de Gruyter.

Achard, M. (2000). ‘‘Construal and complementation in French’’. In Horie, K. (ed.). Complementation.Cognitive and functional perspective, pp. 91–120. Philadelphia: John Benjamins Publishing Company.

Achard, M. (2001). ‘‘Causation, constructions, and language ecology: An example from French’’. InShibatani, M. (ed.). The grammar of causation and interpersonal manipulation, pp. 127–155. Amsterdam/Philadelphia: John Benhamins Publishing Company.

Bolinger, D. (1974). ‘‘Concept and percept: two infinitive constructions and their vicissitudes’’. In WorldPapers in Phonetics: Festschrift for Dr. Onishi’s Kizyo, pp. 65–91. Tokyo: Phonetic Society of Japan.

Bolinger, D. (1977). Meaning and Form. London & New York: Longman Group Ltd.Brito, A. M. (1995). ‘‘Algumas consideracoes sintacticas do portugues no quadro das lınguas romanicas:

Sujeito nulo, Infinitivo Flexionado e Clıticos Nominativos’’. Lusorama 27: 17–27.Caetano Silveira, J. R., L. Simoes, S. Abrea, G. Collishonn & L. Delzimar (1994). ‘‘O infinitivo flexionado

em portugues: um reestudo de Raposo (87)’’. Letras de Hoje 96: 135–146.D’Andrade, R. (1987). ‘‘A folk model of the mind’’. In Holland, D. & N. Quinn (eds.). Cultural Models in

Language and Thought, pp. 113–147. Cambridge: Cambridge University Press.Givon, T. (1985). ‘‘Iconicity, isomorphism, and non-arbitrary coding in syntax’’. In Haiman, J. (ed.).

Iconicity in Syntax, pp. 187–220. Amsterdam/Philadelphia: John Benjamins Publishing Company.

96 R. Vesterinen Studia Neophil 80 (2008)

Dow

nloa

ded

by [

Ston

y B

rook

Uni

vers

ity]

at 1

3:03

15

Oct

ober

201

4

Page 25: Complementos finitos e infinitivos dos verbos causativos deixar e fazer – Causação directa vs. indirecta e a noção de controlo

Givon, T. (1993). English Grammar: A function-Based Introduction, vol. II. Amsterdam/Philadelphia: JohnBenjamins Publishing Company.

Givon, T. (2001). Syntax, Vol. 2. Amsterdam/Philadelphia: John Benjamins Publishing Company.Haiman, J. (1980). ‘‘The iconicity of grammar: isomorphism and motivation’’. Language 56: 515–540.Haiman, J. (1985). Natural Syntax: Iconicity and erosion. Cambridge: Cambridge University Press.Kemmer, S. & A. Verhagen (1994). ‘‘The grammar of causatives and the conceptual structure of events’’.

Cognitive Linguistics 5: 115–156.Lakoff, G. & M. Johnson (1980). Metaphors We Live By. Chicago/London: The University of Chicago

Press.Lakoff, G. & M. Johnson (1999). Philosophy in the flesh. The embodied mind and its challenge to westerns

thought. New York: Basic Books.Langacker, R. (1987). Foundations of Cognitive Grammar, vol. 1 – Theoretical Prerequisites. Stanford:

Stanford University Press.Langacker, R. (1990). ‘‘Subjectification’’. Cognitive Linguistics 1: 5–38.Langacker, R. (1991). Foundations of Cognitive Grammar, vol. 2 – Descriptive Application. Stanford, CA:

Stanford University Press.Langacker, R. (1999). Grammar and Conceptualization. Berlin/New York: Mouton de Gruyter.Langacker, R. (2004). ‘‘Aspects of the Grammar of Finite Clauses’’. In Achard, M. & S. Kemmer (eds.).

Language, culture and mind, pp. 535–577. Stanford, CA: CSLI Publications.McCawley, J. D. (1976a). ‘‘Remarks on what can cause what’’. In Shibatani, M. (ed.). Syntax and

Semantics, Vol. 6, The Grammar of Causative Constructions, pp. 117–129. New York/San Francisco/London: Academic Press.

McCawley, N. A. (1976b). ‘‘On experiencer causatives’’. In Shibatani, M. (ed.). Syntax and Semantics,Vol. 6, The Grammar of Causative Constructions, pp. 181–203. New York/San Francisco/London:Academic Press.

Maldonado, R. (1995). ‘‘Middle-Subjunctive Links’’. In Hamispour, P., R. Maldonado & M. VanNaerssen (eds.). Studies in language learning and Spanish Linguistics in honor of Tracy D. Terrell, pp.399–418. New York: McGraw Hill.

Maldonado, R. & E. F. Nava (2002). ‘‘Tarascan causatives and event complexity’’. In Shibatani, M. (ed.).The grammar of causation and interpersonal manipulation, pp. 157–195. Amsterdam/Philadelphia: JohnBenjamins Publishing Company.

Matos, G. (2006). ‘‘Do projecto PE-PB ao 1˚ CILP: descricao do Portugues e Teoria da Gramatica’’.Letras de Hoje 41: 11–27.

Perini, M. A. (1977). Gramatica do infinitivo portugues. Petropolis, Brazil: Editora Vozes Ltda.Raposo, E. (1987). ‘‘Case theory and Infl-to-Comp: The inflected infinitive in European Portuguese’’.

Linguistic Inquiry 18: 85–109.Shibatani, M. (1976). ‘‘The grammar of causative constructions: A conspectus’’. In Shibatani, M. (ed.).

Syntax and Semantics, Vol. 6, The Grammar of Causative Constructions, pp. 1–39. New York/SanFrancisco/London: Academic Press.

Shibatani, M. (2002). ‘‘Introduction. Some basic issues in the grammar of causation’’. In Shibatani, M.(ed.). The grammar of causation and interpersonal manipulation, pp. 1–22. Amsterdam/Philadelphia:John Benjamins Publishing Company.

Shibatani, M. & P. Pardeshi (2002). ‘‘The causative continuum’’. In Shibatani, M. (ed.). The grammar ofcausation and interpersonal manipulation, pp. 85–125. Amsterdam/Philadelphia: John BenjaminsPublishing Company.

Silva, Soares da, A. (2003). ‘‘Image schemas and the category coherence: The case of the Portuguese verbdeixar’’. In Cuyckens, H., R. Dirven & J. Taylor (eds.). Cognitive Approaches to Lexical Semantics.Berlin/New York: Mouton de Gruyter, pp. 281–322.

Silva, Soares da, A. (2004). ‘‘Imagery in Portuguese causation/perception constructions’’. InLevandowska-Tomaszczyk, B. & A. Kwiatkovska (eds.). Imagery in Language. Festschrift in Honourof Professor Ronald W. Langacker, pp. 297–319. Frankfurt/Main: Peter Lang.

Silva, Soares da, A. (2005a). ‘‘Revisitando as construcoes causativas e perceptivas em Portugues:significado e uso’’. Actas do XX Encontro Nacional da Associacao Portuguesa de Linguıstica, pp.855–874. Lisboa: Associacao Portuguesa de Linguıstica.

Silva, Soares da, A. (2005b). ‘‘Semantica e cognicao da causacao analıtica em Portugues’’. In Miranda, N.G. & M. C. Name (eds.). Linguıstica e Cognicao, pp. 11–47. Juiz de Fora: Editora UFJF.

Song, G. & P. Wolf (2004). ‘‘Linking Perceptual Properties to Linguistic Expressions of Causation’’. InAchard, M. & S. Kemmer (eds.). Language, culture and mind, pp. 237–251. Stanford, CA: CSLIPublications.

Talmy, L. (1988). ‘‘Force Dynamics in Language and Cognition’’. Cognitive Science 12: 49–100.Travis, C. (2003). ‘‘The semantics of the Spanish subjunctive: Its use in the natural semantic

metalanguage’’. Cognitive linguistics 14: 47–69.Verhagen, A. & S. Kemmer (1997). ‘‘Interaction and causation: Causative constructions in modern

standard Dutch’’. Journal of Pragmatics 27: 61–82.

Studia Neophil 80 (2008) Complementos finitos e infinitivos dos verbos causativos deixar e fazer 97

Dow

nloa

ded

by [

Ston

y B

rook

Uni

vers

ity]

at 1

3:03

15

Oct

ober

201

4

Page 26: Complementos finitos e infinitivos dos verbos causativos deixar e fazer – Causação directa vs. indirecta e a noção de controlo

Vesterinen, R. (2006). Subordinacao adverbial – um estudo cognitivo sobre o infinitivo, o clıtico SE e asformas verbais finitas em proposicoes adverbiais do Portugues Europeu. Dissertacao de doutoramento,Estocolmo, Universidade de Estocolmo.

Vesterinen, R. (2007). ‘‘A variacao entre proposicoes adverbiais infinitivas e conjuntivas: subjectificacao eespacos mentais’’. Diacrıtica. Ciencias da Linguagem 42: 241–273.

98 R. Vesterinen Studia Neophil 80 (2008)

Dow

nloa

ded

by [

Ston

y B

rook

Uni

vers

ity]

at 1

3:03

15

Oct

ober

201

4