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Comportamento Compulsivo Incluído em 24/02/2005 O que são Compulsões, Comportamentos Compulsivos ou Aditivos? Os Comportamentos Compulsivos são também chamados de Comportamentos Aditivos. São hábitos aprendidos e seguidos por alguma gratificação emocional, normalmente um alívio de ansiedade e/ou angústia. São hábitos mal adaptativos que já foram executados inúmeras vezes e acontecem quase automaticamente. Diz-se que esses Comportamentos Compulsivos são mal adaptativos porque, apesar do objetivo que têm de proporcionar algum alívio de tensões emocionais, normalmente não se adaptam ao bem estar mental pleno, ao conforto físico e à adaptação social. Eles se caracterizam por serem repetitivos e por se apresentarem de forma freqüente e excessiva. A gratificação que segue ao ato, seja ela o prazer ou alívio do desprazer, reforça a pessoa a repeti-lo mas, com o tempo, depois desse alívio imediato, segue-se uma sensação negativa por não ter resistido ao impulso de realizá-lo. Mesmo assim, a gratificação inicial (o reforço positivo) permanece mais forte, levando a repetição. Por exemplo: 1 - Se a pessoa é acometida pela idéia (contra sua vontade) de que está se contaminando através de alguma sujeita nas mãos, terá pronto alívio em lavar as mãos. Entretanto, se tiver que lavar as mãos 40 vezes por dia, ao invés de adaptar essa atitude acaba por esgotar. 2 – Se a pessoa é acometida pela idéia de que seus pais sofrerão algum acidente fatal, poderá conseguir alívio da angústia gerada por esses pensamentos se, por exemplo, bater 3 vezes na madeira... Mas tiver que bater na madeira 40 vezes por dia, ao invés de aliviar, essa atitude acaba por constranger e frustrar. 3 – Se a pessoa tem um pensamento incômodo de que aquilo que acabou de comer poderá engordá-la, terá alívio dessa sensação provocando o vômito, ou tomando laxantes....

Comportamento Compulsivo

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Page 1: Comportamento Compulsivo

Comportamento CompulsivoIncluído em 24/02/2005

O que são Compulsões, Comportamentos Compulsivos ou Aditivos? Os Comportamentos Compulsivos são também chamados de Comportamentos Aditivos. São hábitos aprendidos e seguidos por alguma gratificação emocional, normalmente um alívio de ansiedade e/ou angústia. São hábitos mal adaptativos que já foram executados inúmeras vezes e acontecem quase automaticamente.

Diz-se que esses Comportamentos Compulsivos são mal adaptativos porque, apesar do objetivo que têm de proporcionar algum alívio de tensões emocionais, normalmente não se adaptam ao bem estar mental pleno, ao conforto físico e à adaptação social. Eles se caracterizam por serem repetitivos e por se apresentarem de forma freqüente e excessiva.

A gratificação que segue ao ato, seja ela o prazer ou alívio do desprazer, reforça a pessoa a repeti-lo mas, com o tempo, depois desse alívio imediato, segue-se uma sensação negativa por não ter resistido ao impulso de realizá-lo. Mesmo assim, a gratificação inicial (o reforço positivo) permanece mais forte, levando a repetição.

Por exemplo:1 - Se a pessoa é acometida pela idéia (contra sua vontade) de que está se contaminando através de alguma sujeita nas mãos, terá pronto alívio em lavar as mãos. Entretanto, se tiver que lavar as mãos 40 vezes por dia, ao invés de adaptar essa atitude acaba por esgotar.

2 – Se a pessoa é acometida pela idéia de que seus pais sofrerão algum acidente fatal, poderá conseguir alívio da angústia gerada por esses pensamentos se, por exemplo, bater 3 vezes na madeira... Mas tiver que bater na madeira 40 vezes por dia, ao invés de aliviar, essa atitude acaba por constranger e frustrar.

3 – Se a pessoa tem um pensamento incômodo de que aquilo que acabou de comer poderá engordá-la, terá alívio dessa sensação provocando o vômito, ou tomando laxantes....

O TOC - Transtorno Obsessivo-Compulsivo está dentro dos Comportamentos Compulsivos?

Atualmente há uma sadia tendência na classificação dos transtornos emocionais que é agrupar aqueles que tenham em comum o comprometimento da vontade (volição), ou seja, com sintomas impulsivos ou compulsivos. Dessa forma, algumas síndromes em psiquiatria podem, a partir

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de grupos de sintomas afins, ser classificadas como doenças de semelhantes características neurobiológicas e genéticas.

A idéia de comportamentos repetitivos, atualmente bem sistematizada por Eric Hollander (2001), é de que os transtornos que acometem predominantemente a área da vontade (volição) e se manifestam por alguns comportamentos compulsivos e impulsivos, de modo geral, podem ser agrupadas em um mesmo tronco patológico. Seriam os Transtornos do Espectro Impulsivo-Compulsivo.

Dentro dos comportamentos compulsivos teríamos, além do Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC), aqueles relacionados ao Transtorno do Esquema Corporal (ou Transtorno Dismórfico Corporal), como por exemplo, a Anorexia Nervosa, a Bulimia, Vigorexia e a Hipocondria. Essas pessoas teriam uma falsa imagem do próprio corpo, algumas achando que estão gordas (Anorexia e Bulimia), outras achando que não são fortes e perfeitos o suficiente (vigorexia) e outros ainda achando que parte de seu corpo adoece (hipocondria).

Por que ocorrem Comportamentos Compulsivos? Não há uma causa bem estabelecida para a ocorrência de Comportamentos Compulsivos. Pode-se falar em vulnerabilidades e predisposições, seja de elementos familiares, tais como os hábitos conseqüentes à extrema insegurança e aprendidos no seio familiar, seja por razões individuais e relacionados às vivências do passado e a ao dinamismo psicológico pessoal, seja por razões biológicas, de acordo com o funcionamento orgânico e mental.

Assim, Comportamentos Compulsivos ou Aditivos podem ser entendidos como atitudes (mal-adaptadas) de enfrentamento da ansiedade e/ou angústia, trazendo conseqüências físicas, psicológicas e sociais graves. Algumas pessoas apresentam comportamentos com caráter compulsivo, que levam a conseqüências negativas em suas vidas, como por exemplo, recorrer ao uso abusivo do álcool, das drogas, à fuga do convívio social, ao hábito intempestivo do vômito e às mais variadas atitudes.

Essas pessoas podem ainda comprar compulsivamente, sem levar em conta o saldo bancário, comer compulsivamente, mesmo quando não se tem fome, jogar, praticar atividades físicas em excesso, etc.

Quais as complicações dos Comportamentos Compulsivos? Normalmente nesse tipo de problema, classificados em PsiqWeb sob o título de Transtornos do Espectro Obsessivo-Compulsivo, a pessoa acaba tornando-se dependente dessas atitudes, as quais ocupam um espaço importante no seu cotidiano. Em alguns casos ocorrem-se danos físicos, como na pessoa com Vigorexia, que precisa malhar (exageradamente) todos os dias e por longas horas, ou lesões na pele das mãos devido aos rituais de lavar continuadamente, ou escoriações quando há auto-escoriações, calvície quando há Tricotilomania, ou desnutrição quando a compulsão é por vômitos (Bulemia) e assim por diante.

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Normalmente essas pessoas sentem desconforto emocional se não fizerem esses comportamentos, apresentam grande angústia ou ansiedade na ausência ou na impossibilidade em realizar a atividade compulsiva.

Socialmente a ocorrência de tais comportamentos pode resultar em prejuízo no trabalho, na conclusão de tarefas, na liberdade de sair de casa, na vergonha do contacto com outras pessoas, etc.

A repetição desses comportamentos e o aumento gradual da freqüência deles acabam caracterizando um verdadeiro processo de dependência. Alguns buscam o alívio do desprazer das emoções de angústia e ansiedade, do afastamento de pensamentos incômodos. Quando se pretende a busca do prazer pode haver adicção química, que é o consumo exagerado de substâncias.

Didaticamente podemos dizer que existe uma grande semelhança entre Comportamentos Compulsivos e dependência química: a angústia provocada pela ausência, os sintomas emocionais da abstinência, tais como tremores, sudorese, taquicardia, etc, o caráter compulsivo e repetitivo, a importância que essa atitude ocupa na vida da pessoa, o comprometimento na qualidade da vida familiar, profissional, afetiva e social. É assim que, por exemplo, o ato de jogar tem praticamente o mesmo papel que a droga, ou álcool, a cocaína e outras substâncias psicoativas.

Quando os Comportamentos Compulsivos precisam de tratamento? Normalmente os Comportamentos Compulsivos precisam de tratamento quando têm como conseqüências, prejuízos significativos à vida da pessoa ou ao seu entorno sócio-familiar.

Tipos de Comportamentos Compulsivos 1 - Jogar Compulsivo (ou Patológico) Segundo a CID.10, a característica essencial do Jogo Patológico é um comportamento de jogo mal adaptativo, recorrente e persistente, que perturba os empreendimentos pessoais, familiares e/ou ocupacionais. A pessoa com esse transtorno pode manter uma preocupação com o jogo, tais como, planejar a próxima jogada ou pensar em modos de obter dinheiro para jogar.

A maioria dessas pessoas com Jogo Patológico afirma que está mais em busca de "ação" do que de dinheiro e, por causa dessa busca de ação, apostas ou riscos cada vez maiores podem ser necessários para continuar produzindo o nível de excitação desejado. Os indivíduos com Jogo Patológico freqüentemente continuam jogando, apesar de repetidos esforços no sentido de controlar, reduzir ou cessar o comportamento .

Através do reforço emocional intermitente, onde ganhar é um reforço positivo imediato e perder é “apenas” uma circunstância aleatória, o indivíduo apresenta o comportamento compulsivo de jogar. Está sempre na expectativa de ganhar, como foi conseguido anteriormente. Existe ainda uma sensação especial no comportamento de risco, o que ocupa a mente do jogador fazendo que passe a repetir o comportamento (dependência).

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O jogo pode tornar-se uma grande fonte de prazer, podendo vir a ser a única forma de prazer para algumas pessoas. O jogador compulsivo costuma se tornar inconseqüente, gastando aquilo que não tem, perdendo a noção de realidade. A síndrome de abstinência pode estar presente.

2 - Atividade Física Compulsiva (Vigorexia) A escravização que as pessoas das sociedades civilizadas se submetem aos padrões de beleza tem sido um dos fatores sócio-culturais associados ao incremento da incidência do Comportamento Compulsivo para a prática de exercícios.

É hábito que o ser humano moderno esteja moderadamente preocupado com seu corpo, sem que essa preocupação se converta numa obsessão. Mas, alguns complexos de feiúra ou de estar em desacordo com os padrões desejáveis podem levar à obsessão pela beleza física e perfeição.

Inicialmente essa atividade física pode proporcionar prazer, relaxar, fazer com que a pessoa se sinta mais saudável e bonita. Este comportamento libera substâncias em nosso cérebro responsáveis pelo prazer e bem-estar (veja mais). Quando isso se transforma num Comportamento Compulsivo, exercitar-se em excesso pode resultar em prejuízo físico, atingindo as articulações, aparelho respiratório e o coração.

O sistema emocional pode ficar comprometido quando se apresenta um Comportamento Compulsivo, constante, comprometendo a realização satisfatória de outras atividades da vida da pessoa e proporcionando sofrimento significativo em outros aspectos.

A Atividade Física Compulsiva deve ser considerada um transtorno da linhagem obsessivo-compulsiva, tanto pela obsessão em musculatura, pela compulsão aos exercícios e ingestão de substâncias que aumentam a massa muscular, quanto pela fragrante distorção do esquema corporal que essas pessoas experimentam.

3 - Comprar Compulsivo (Shopholic) Assim como os demais Comportamentos Compulsivos ou Aditivos, o comprador compulsivo é, praticamente, um dependente do comportamento de comprar, precisando fazê-lo sem limites para se sentir bem, pelo menos bem naquele momento (para depois arrepender-se).

O(A) comprador(a) compulsivo(a) acaba por consumir coisas pelo fato de consumir e não mais pela necessidade do objeto que é consumido. Ir ao shopping sem realizar algumas compras parece tornar-se quase impossível. Muitas vezes sente-se culpado, porém, como em qualquer comportamento aditivo, o mais comum é perder o controle da situação.

Entretanto, é fundamental fazer a diferença entre o simples hábito pelas compras do Comportamento Compulsivo às Compras. "Os hábitos de consumo são mais emocionais que racionais", afirma Dílson Gabriel dos Santos, que leciona Comportamento do Consumidor na USP (veja). O professor esclarece

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que comprar por impulso, mas não por compulsão, é adquirir um bem por sentir uma atração instantânea pelo produto, seja por causa da embalagem, do preço ou do apelo publicitário.

Essas pessoas impulsivas pelas compras cometem as "... pequenas loucuras que se cometem ao passar pelas gôndolas de supermercados", diz. "Leva-se uma garrafa de bebida, um iogurte ou um pacote de biscoitos a mais", observa. Já o compulsivo vai às compras como um viciado que sai de casa para jogar ou em busca das drogas, e a Compulsão acaba sendo uma atitude que exclui logo o prazer pela aquisição do novo produto.

4 - Trabalhar Compulsivo (Workaholic) Com o objetivo de vencer profissionalmente, ganhar dinheiro, sobressair-se socialmente, tem sido glorificado pelo sistema cultural que a pessoa procure dar o melhor de si trabalhando.

O trabalho pode ser utilizado como uma ocupação mental capaz de tomar o espaço de outros sentimentos ou pensamentos mais difíceis de serem vivenciados. Quando a atividade funciona como uma forma de esconder-se, fugir ou não ter que sentir ou pensar em outros problemas, enfim, quando alivia a angústia da vida de relação, o trabalhar pode tornar-se compulsivo, constante, enfim aditivo.

Neste caso, o trabalhar perde sua função natural passando a ser prejudicial ao bem estar físico, familiar psicológico e social do indivíduo. Na compulsão pelo trabalho a pessoa vai de casa para o trabalho, do trabalho para a casa, excluindo-se de sua vida as opções do lazer, as pausas nos finais de semana, o convívio descontraído com a família, etc.

A pessoa com compulsão pelo trabalho freqüentemente exige dos outros o mesmo ritmo que tem para si, costuma criticar demais esses outros, exige perfeição, dedicação e devoção ao trabalho, tal como elas próprias se comportam. E o próprio Compulsivo para o Trabalho sofre com sua situação.

Normalmente são pessoas severas, isoladas, inflexíveis, perfeccionistas, amargas e exageradamente “realistas”. Por causa dessas características os workaholics racionalizam tudo na vida, ocultam seus próprios sentimentos, têm um contato mínimo com eles próprios e mantêm abafados seus conflitos íntimos.

Para essas pessoas o trabalho é seu escudo protetor e, melhor que isso, trata-se de uma atitude fortemente enaltecida pelos valores sociais. Mas, na realidade, o workaholic também sofre, normalmente é um insatisfeito consigo mesmo, alimenta a fantasia de ser potente e meritoso. Na verdade, toda essa voracidade para o trabalho pode estar aliviando sentimentos de angústia por se acreditar um pai omisso ou uma mãe ausente, um companheiro fugidio, etc.

5 - Transtornos Alimentares; Comer Compulsivo (Binge-Eating) Os Transtornos Alimentares constituem uma verdadeira "epidemia" que assola sociedades industrializadas e desenvolvidas acometendo, sobretudo,

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adolescentes e adultos jovens. Vivemos em uma sociedade na qual existe o culto da magreza. Assim, comer, um comportamento universalmente tido como prazeroso, torna-se alvo de preocupação de muitas pessoas. Como usufruir deste prazer sem sentir-se fora dos padrões sociais de saúde e beleza?

Quais serão os sintomas dessa epidemia emocional? De um modo geral, o pensamento falho e doentio das pessoas portadoras dessas patologias se caracteriza por uma obsessão pela perfeição do corpo. Na realidade, trata-se de uma "epidemia de culto ao corpo".

Essa "epidemia" se multiplica numa população patologicamente preocupada com a perfeição do corpo e que está sendo afetada por alterações psíquicas caracterizadas por distúrbios na representação pessoal do esquema corporal. Os Transtornos Alimentares vêem aumentando sua incidência perigosamente e já começa a alarmar especialistas médicos, sociólogos, autoridades sanitárias.

Essa busca obsessiva da perfeição do corpo tem várias formas de se manifestar e, algumas delas, diferem notavelmente entre si. Existem os Transtornos Alimentares mais tradicionais, que são a Anorexia e Bulimia nervosas mas, não obstante, existem outros que se estimulam e desenvolvem na denominada "cultura do esbelto" (veremos abaixo).

Todos estes Transtornos Alimentares compartilham alguns sintomas em comum, tais como, desejar uma imagem corporal perfeita e favorecer uma distorção da realidade diante do espelho. Isto ocorre porque, nas últimas décadas, ser fisicamente perfeito tem se convertido num dos objetivos principais (e estupidamente frívolos) das sociedades desenvolvidas. É uma meta imposta por novos modelos de vida, nos quais o aspecto físico parece ser o único sinônimo válido de êxito, felicidade e, inclusive, saúde.

para referir:Ballone GJ - Perguntas mais freqüentes sobre Comportamentos Compulsivos - in. PsiqWeb, Internet, disponível em

Adicção, Drogadicção, DrogadictoIncluído em 09/02/2005

A dependência química não é uma doença aguda. Trata-se de um distúrbio crônico e recorrente. E essa recorrência é tão contundente, que raramente ocorre abstinência pelo resto da vida depois de uma única tentativa de tratamento. As recaídas da drogadicção são a norma. Portanto, a adicção deve ser abordada mais como uma doença crônica, como se fosse diabetes ou hipertensão arterial.

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Considerando o fato da dependência química ser um distúrbio recorrente e crônico, alguns autores mais realistas consideram como um bom resultado terapêutico, tal como se deseja no tratamento da hipertensão arterial, asma brônquica, reumatismo, diabetes, etc, uma redução significativa do consumo da droga, e longos períodos de abstinência, supondo a ocorrência de recaídas ocasionalmente. Muitos acham que este seria um padrão razoável de sucesso terapêutico, da mesma forma que em outras doenças crônicas, ou seja, o controle da doença, mas não a sua cura definitiva.

Vamos chamar de "psicoativas" as drogas psicotrópicas, portanto, com efeito sobre o Sistema Nervoso Central. Convencionalmente, vamos chamar ainda de "psicoativas" as drogas de caráter ilícito, cujo efeito por ela produzido é de alguma forma agradável ao usuário. Pois bem. Quando se usa uma droga psicoativa, o efeito proporcionado por ela adquire para a pessoa um caráter de recompensa prazerosa.

A maioria das definições de adicção a drogas ou dependência de substâncias inclui descrições do tipo "indivíduo completamente dominado pelo uso de uma droga (uso compulsivo)" e vários sintomas ou critérios que refletem a perda de controle sobre o consumo de drogas.

As pesquisas, hoje em dia, caminham através da Psiquiatria e da Psicologia Experimental, juntamente com a Neurobiologia. Todas essas áreas se esforçam para identificar os elementos emocionais e biológicos que contribuem para alterar o equilíbrio do prazer (homeostase hedonista), alterações esta que dá origem àquilo que se conhece como drogadicção (droga-adicção). A palavra "adicção", em português, é um neologismo técnico que quer dizer, de fato, "drogadicção".

O tema "drogas" é muito complexo, multidimensional e tem atraído a atenção da maioria dos países. Nas últimas duas décadas, importantes avanços nas ciências do comportamento e nas neurociências vieram contribuir para um melhor entendimento na questão do abuso de drogas e da drogadicção (droga-adicção).

A neurociência tem identificando circuitos neuronais envolvidos em todos tipos de abusos conhecidos, assinalando regiões cerebrais, neuroreceptores, neurotransmissores e as vias neurológicas comuns afetadas pelas drogas. Também têm sido identificados os principais receptores das drogas suscetíveis de abuso, assim como todas as ligações naturais da maior parte desses receptores.

Neurologicamente a drogadicção deve ser considerada uma doença. Ela está ligada a alterações na estrutura e funções cerebrais, e isso torna a drogadicção fundamentalmente uma doença cerebral. Inicialmente, o uso de drogas é um comportamento voluntário mas, com o uso prolongado um "interruptor" no cérebro parece ligar-se, e quando o "interruptor" é ligado, o indivíduo entra em estado de dependência química caracterizado pela busca e consumo compulsivo da droga.

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Abstinência como Critério de DependênciaQualquer discussão sobre drogas psicoativas inevitavelmente desemboca na questão sobre a dúvida se uma droga em particular causa ou não dependência, e se essa dependência é física ou psicológica.

Em essência, essa questão gira em torno de se ocorrem ou não sintomas físicos relativos à síndrome de abstinência quando o usuário pára de consumir a droga, o que é tipicamente chamado de dependência física pelos profissionais da área. Havendo abstinência, considera-se um sinal de que há dependência.

O que freqüentemente se acreditava era o seguinte; quanto mais graves e exuberantes os sintomas físicos da síndrome da abstinência, mais séria ou perigosa deveria ser a dependência da droga em questão. Mas isso não é verdade. Os sintomas de abstinência que ocorrem, quando ocorrem, atualmente não mais constituem uma questão clinicamente relevante. Clinicamente falando, vejamos por exemplo, os seríssimos sintomas de abstinência da heroína. Apesar de muito dramáticos eles podem, agora, ser controlados com medicação apropriada.

Por outro lado, é bom saber que muitas das substâncias mais perigosas e causadoras de forte dependência não costumam provocar sintomas físicos graves na abstinência. O craque e a metanfetamina são exemplos disso. As duas drogas provocam alto grau de dependência, mas a suspensão do uso causa poucos sintomas físicos de abstinência, muitíssimo menores que aos sintomas da síndrome de abstinência do álcool e da heroína.

Na realidade, interessa à psiquiatria moderna saber se a droga causa ou não sua busca e uso compulsivo, mesmo diante de conseqüências sociais negativas e de saúde. Essa tem sido, atualmente, a essência da dependência química. Não interessa mais delimitar territórios entre a dependência física e psíquica, pois ambas exercem papel primordial na manutenção do vício.Os esforços terapêuticos devem ser dirigidos não à droga em si, nem tampouco deve ser exclusivamente dirigidos às condições existenciais do drogadicto, mas sim, à pessoa do paciente. Que pessoa é essa sobre a qual se abateu a doença da dependência?

Devemos considerar a dependência à luz da abstinência, ou seja, só podemos considerar dependente a pessoa que experimenta algum tipo de mal-estar quando abstinente. É por isso que o estudo da dependência química sempre enfocou, conjuntamente, a manifestação da síndrome de abstinência produzida pela interrupção abrupta da administração da droga. Essa síndrome se caracteriza por sinais físicos, como por exemplo, o tremor e alterações do sistema nervoso autônomo nos casos de alcoolismo, ou o desconforto e dor associados à abstinência dos opiáceos, cocaína e heroína e assim por diante. Para entender melhor a Síndrome de Abstinência, notadamente do álcool, veja Delirium Tremens.

Mas, para conceituarmos a abstinência em si, seja ela devida à supressão da maconha ou da heroína, devemos observar quais são os aspectos clínicos

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comuns a abstinência de todas as drogas. Talvez a expressão mais adequada para se referir a esse aspecto comum às abstinências em geral seja um estado afetivo negativo. Dentro desse estado afetivo negativo encontram-se várias emoções negativas, como disforia, depressão, irritabilidade e ansiedade.

Síndrome de Abstinência pelo DSM.IVDependência de Substância pelo DSM.IV

Aspecto PopularNesses últimos anos, férteis para a neurociência, têm sido analisados minuciosamente as alterações bioquímicas que ocorrem dentro da célula após a ativação dos receptores por drogas. Essas pesquisas vêm revelando importantes diferenças entre os cérebros das pessoas adictas e das não adictas.

Não obstante, paralelamente aos avanços científicos em relação à questão das drogas, tem havido um dramático descompasso entre tais avanços científicos e sua repercussão e/ou aplicação junto ao público geral, junto à prática médica, ou junto às políticas de saúde pública.

Um dos fatos que pode constatar a defasagem entre os fatos científicos e a percepção do público geral sobre o abuso de drogas é, por exemplo, as muitas pessoas que vêem o abuso de drogas e a adicção como problemas sociais a serem resolvidos apenas com soluções sociais. Algumas insistem exclusivamente numa maior atuação do sistema de justiça criminal. A conseqüência dessa defasagem é um atraso significativo no processo de se ter sob controle o problema do abuso de drogas.

Dia-a-dia a ciência vem nos mostrando que o abuso de drogas e a adicção são também problemas de saúde. Uma importante barreira à compreensão da drogadicção sob um modelo médico e de saúde é o tremendo estigma associado ao usuário de drogas ou ao drogadicto. Quando a opinião pública é mais benevolente sobre um adicto em drogas, considera-o vítima da sua situação social. Quando não benevolente, a sociedade clama por punições contundentes ao "drogado".

A visão popular mais comum sobre os drogadictos é que são pessoas fracas e más, que não querem levar uma vida norteada por princípios morais nem controlar seu comportamento e a satisfação de seus desejos. Há muitas pessoas que acham que pessoas adictas não merecem nem receber tratamento ou, o que é pior ainda, algumas pessoas consideram aquelas que trabalham na prevenção do abuso de drogas, como também portadoras de ideologias diferentes do público geral, portanto, passando a ser igualmente problemáticas e indesejáveis.

A divergência entre a maneira de ver o usuário de drogas como uma "pessoa má" e de vê-lo como um "portador de doença crônica" é de fundamental importância para a compreensão e atuação junto ao problema.

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Aspecto SocialSeria a drogadicção uma doença? Essa é uma pergunta de conotação muito mais sociológica que médica. A medicina e a psicologia investem em muitas pesquisas partindo do pressuposto que se trata, no mínimo, de uma condição anômala no controle dos impulsos. Se a drogadicção não fosse uma anomalia, pela lógica, não se poderia pesquisá-la tanto assim, pois a medicina não costuma pesquisar entusiasticamente o normal.

A drogadicção não é apenas uma doença a nível cerebral. Melhor seria vê-la como uma doença cerebral onde os contextos sociais em que se desenvolveu e se manifestou têm importância crítica. Um dos elementos sociais envolvidos na drogadicção é a exposição a estímulos condicionantes. Esses estímulos podem ser importantes fatores na vontade de consumir drogas e mesmo nas recaídas que acontecem depois de tratamentos bem-sucedidos.

A importância dos contextos sociais (estímulos ambientais) no desenvolvimento da drogadicção pode ser exemplificada pelos drogadictos em heroína que adquiriram o vício na guerra do Vietnã. Depois da guerra e de volta aos seus lares, o tratamento dessas pessoas foi muito mais fácil e com muito mais êxito que o tratamento de drogadictos por heroína que adquiriram o vício nas ruas e longe da guerra.

Para os soldados viciados os estímulos ambientais (que não existiam mais depois da guerra) foram prioritários sobre os elementos pessoais. Para os viciados nas ruas talvez não se possa dizer o mesmo.

Devemos entender a dependência química como uma doença bio-psíco-social, formada por componentes biológicos, psicológicos e de contexto social. É claro que as estratégias de abordagem do problema devem incluir, igualmente, elementos biológicos, psicológicos e sociais. Por isso não deve ser tratada apenas a doença cerebral subjacente à drogadicção, más tratar, sobretudo, as alterações emocionais do paciente, bem como abordar os problemas sociais.

As entidades sócio-comunitárias que lidam com o assunto, muitas vezes preferem não se envolver nessa discussão. Entretanto, faz parte da compreensão dos "Narcóticos Anônimos" que a adicção é, de fato, uma doença.

De fato, nas instituições grupais que lidam com esse problema, quando se aceita o fato de tratar-se de uma doença, sobre a qual somos impotentes (como costumam dizer), tal aceitação fornece uma base para a recuperação através de programas de ajuda mútua, como é o caso dos Doze Passos dos Narcóticos Anônimos.

Para esses grupos de auto-ajuda, a pessoa com Drogadicção se apresenta ativamente (usando a droga) ou não, mas sempre será apropriada a utilização da palavra "doença" para descrever a condição do adicto.

Como a questão das drogas ultrapassou em larga escala os limites da medicina, os profissionais das diversas áreas, desde a medicina, religião,

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psiquiatria, legislação, até o direito penal, definem a adicção em termos que são apropriados para suas atuações.

Aspecto PsicológicoEstudando psicologicamente a formação de hábitos, veremos que, como comprovam estudos experimentais de psicólogos comportamentais, todos os comportamentos reforçados por uma recompensa positiva (agradável) tendem a ser repetidos e aprendidos. As futuras e sucessivas repetições tendem a fixar não só esse comportamento que conduz à recompensa mas, também, pode fixar os estímulos, sensações e situações eventualmente associados a esse comportamento. Os usuários de drogas referem, por exemplo, que ao ver certos lugares ou pessoas, ao ouvir certas músicas, etc., experimentam grande vontade de usar a droga.

A psicologia social identifica elementos importantes que podem estar envolvidos na falta de autocontrole para o consumo de drogas, bem como em outros comportamentos descontrolados, tais como fazer apostas, comer de forma compulsiva, etc. É de interesse formular conceitos que expliquem como essas falhas de regulação levam, em última instância, à adicção no caso do uso de drogas ou a um padrão de tipo adictivo em comportamentos não relacionados ao consumo de drogas.

Um dos conceitos é o chamado "sofrimento em espiral". O sofrimento em espiral é um conceito segundo o qual, em alguns casos, uma primeira falha de autocontrole levaria a um sofrimento emocional, sofrimento este que inicia um ciclo de falhas repetidas de autocontrole, onde cada falha traz mais sentimentos negativos à pessoa, como sentimentos de culpa, por exemplo.

Assim, a primeira experiência de consumo de drogas pode se repetir de acordo com as circunstancias pessoais e sociais, ocasionando uma recaída e dando surgimento a falhas no autocontrole. Nesse caso, o conceito de sofrimento em espiral será utilizado para descrever o desregulação progressivo do sistema cerebral de recompensas no contexto dos ciclos repetidos de adicção.

Um dos elementos psicológicos muito provavelmente implicados na manutenção da dependência seria o grande desconforto das síndromes de abstinência. Essa crise de mal estar seria uma das bases explicativas para o uso compulsivo e continuado da drogas.

Embora a idéia da abstinência como favorecedora da manutenção da dependência seja motivo de controvérsias, existem evidências cada vez maiores sobre a presença de estado afetivo negativo (comum nas abstinências) pode favorecer o início do desenvolvimento de dependência, bem como contribuir para a vulnerabilidade à recaídas.

para referir:Ballone GJ - Adicção, Drogadicção, Drogadicto - in. PsiqWeb, Internet, disponível em www.psiqweb.med.br, revisto em 2005

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Aspectos Cerebrais da DependênciaIncluído em 09/02/2005

Praticamente todas as drogas que podem gerar abuso exercem, direta ou indiretamente, efeitos cerebrais profundos. A via neurológica mais envolvida nas dependências é o chamado sistema mesolímbico de recompensa. Este sistema se estende desde o tegmento ventral até o núcleo acumbens, apresentando projeções para diferentes áreas, como o sistema límbico e o córtex orbitofrontal.

A ativação desse sistema mesolímbico de recompensa parece ser elemento comum a todas as drogas que fazem com que o usuário continue a consumi-las. Essa atividade não é exclusiva de uma única droga. Todas as substâncias que provocam adicção afetam esse circuito.

A drogadicção vem sendo considerada uma doença recidivante e crônica, caracterizada pela busca e consumo compulsivo de drogas. A chamada adicção a drogas é considerada como uma dependência de substâncias químicas, de acordo com a definição da Associação Americana de Psiquiatria, entretanto, é

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importante distinguir entre o uso moderado de substâncias, o abuso de substâncias e a dependência de substâncias (adicção). Nos seres humanos, felizmente, a grande maioria dos simples usuários de drogas não se torna usuário abusivo ou dependente químico.

Esse consumo estável e comedido de drogas pode ser observado em animais de laboratório, sem o aparecimento de sinais de dependência.

Existem muitos fatores envolvidos no desenvolvimento de dependência, como por exemplo, a disponibilidade da droga, a via de administração, o componente genético da pessoa, histórico pessoal de outras dependências, e estresse e eventos traumáticos de vida, enfim, podemos dizer que para a transição do simples uso de drogas à drogadicção muitos fatores atuam combinadamente. O desafio atual da ciência é descobrir quais são os elementos neurobiológicos e quais são as diferenças individuais capazes de vulnerabilizar pessoas para a dependência química.

A neurobiologia tem proposto a idéia de uma certa desregulação homeostática da busca do prazer um dos motivos pessoais para a busca das drogas. Vamos falar disso com o nome de desregulação hedonista (hedonista = para o prazer). Baseado nessas teorias da neurobiologia do comportamento, várias fontes de reforço podem ser identificadas no círculo vicioso da adicção (droga-prazer-culpa-falta de prazer-droga...), e os sintomas desse desregulação hedonista constituem critérios bem conhecidos para se identificar dependência química ou adicção.

Neurotransmissores críticos, hormônios e áreas neurobiológicas têm sido identificados como possíveis mediadores da chamada desregulação hedonista e podem ajudar a determinar os substratos de vulnerabilidade para a adicção a drogas e os elementos que protegem a pessoa dela.

Na fisiologia cerebral, a tomografia com emissão de pósitrons (PET), pode mostrar imagens onde as pessoas que usam cocaína apresentam um aumento no metabolismo da glicose em regiões cerebrais associadas com a memória e o aprendizado (córtex pré-frontal lateral, amígdala e cerebelo). Veja o Atlas PsiqWeb.

A neurofisiologia ainda está longe de saber as alterações na química e na estrutura cerebral envolvidas na recompensa prazerosa e que servem de reforço aos diversos comportamentos, inclusive ao uso de drogas. Alguns estudos indicam haver diversos neurotransmissores envolvidos e, principalmente, a liberação do neurotransmissor dopamina em uma região do cérebro chamada núcleo accumbens possivelmente relacionado à busca do prazer.

Este núcleo accumbens é quem recebe projeções de células dopaminérgicas situadas na área tegmental ventral, é um local de convergência para estímulos procedentes da amígdala, hipocampo, área entorrinal, área cingulada anterior e parte do lobo temporal. Deste núcleo partem eferências para o septo, hipotálamo, área cingulada anterior e lobos frontais. Devido às suas conexões

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aferentes e eferentes o núcleo accumbens desempenha importante papel na regulação da emoção, motivação e cognição.

O uso abusivo de drogas tem sido relacionado ao sistema mesocorticolímbico dopaminérgico. Dentro desse sistema dopaminérgico mesocorticolímbico estão sistemas de alguns neurotransmissores, como por exemplo o ácido gama-aminobutírico (GABA), o glutamato, a dopamina, a serotonina e os peptídeos opióides, juntamente com suas conexões com o núcleo acumbens e amígdala. Alguns estudos associam a liberação de dopamina no núcleo acumbens também às ações de reforço positivo do tetraidrocanabinol (THC), presente na maconha.

Para se ter noção das alterações cerebrais pelo uso de drogas, sabemos que a administração repetida de anfetaminas em ratos, produz alterações anatômicas no núcleo accumbens e no córtex pré-frontal, alterações essas capazes de durar mais de um mês depois da interrupção da droga. A exposição à anfetamina produzia aumento no comprimento dos dendritos (Veja o Atlas PsiqWeb), na densidade das espinhas dendríticas e no número de espinhas ramificadas dos neurônios espinhosos médios do núcleo accumbens e efeitos semelhantes nos dendritos apicais da camada III de neurônios piramidais no córtex pré-frontal.

Para o desenvolvimento da dependência é necessário que se recorra aos efeitos prazerosos da droga. Esse efeito prazeroso chama-se Reforço Positivo. O foco do mecanismo neurológico dos efeitos de Reforço Positivo capaz de gerar consumo abusivo de drogas tem sido o sistema mesocorticolímbico dopaminérgico e suas conexões com o cérebro basal anterior.

No caso da cocaína, das anfetaminas e da nicotina, a facilitação da neurotransmissão da dopamina no sistema mesocorticolímbico parece ser essencial para as ações de Reforço Positivo agudo dessas drogas. Vários receptores dopaminérgicos, tais como o D-1, D-2 e D-3, têm sido associados a essa ação de Reforço Positivo.

Estudos neurofarmacológicos sustentam a noção de uma contribuição dopamina-dependente e dopamina-independente para os efeitos de Reforço Positivo dos opiáceos, como a heroína. O etanol parece interagir com elementos sensíveis em vários sistemas de receptores de neurotransmissores, e essas interações podem contribuir a as ações de Reforço Positivo do etanol.

Alterações CerebraisAlém do uso agudo de drogas modificar o funcionamento cerebral de forma crítica, momentânea e aguda, o consumo prolongado pode causar alterações bastante abrangentes na função cerebral, alterações estas que persistem por muito tempo depois da pessoa parar com o uso da substância.

O cérebro do drogadicto é claramente diferente do cérebro do não-drogadicto, como revelam as alterações na atividade metabólica cerebral, na disponibilidade de receptores, na expressão dos genes e na capacidade de resposta a estímulos ambientais.

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Algumas alterações cerebrais de longa duração são características de drogas específicas, enquanto outras alterações são comuns a muitas drogas diferentes. Essas alterações cerebrais comuns a várias substâncias sugerem que o mecanismo cerebral de todas as dependências pode ser o mesmo.

Entendendo que a drogadicção é, basicamente, causa ou conseqüência de alterações da função cerebral, um dos principais objetivos do tratamento deve ser tentar corrigir essas alterações cerebrais. Esse objetivo pode ser obtido através de tratamentos medicamentosos ou psicológicos (os tratamentos psicológicos têm tido sucesso na modificação da função cerebral em outros transtornos psicobiológicos).

No nível neurobiológico, dois modelos neuroadaptativos foram concebidos para explicar as mudanças na motivação para a procura de drogas que refletem o uso compulsivo:a contra-adaptação ea sensibilização.A hipótese da contra-adaptação está intimamente ligada ao desenvolvimento de tolerância do prazer, ou tolerância hedonista, na formulação conhecida como teoria do processo oposto.

Ao contrário, a sensibilização, isto é, o aumento progressivo do efeito de uma droga cada vez que é novamente administrada, concebe as mudanças de motivação como um deslocamento dentro de um estado de incentivo-saliência.

As duas concepções focalizam as alterações neurobiológicas nos níveis moleculares, celulares e de sistemas. Os dois sistemas podem implicar o que se tem chamado de alterações "dentro de um mesmo sistema" e "entre sistemas". As alterações dentro de um mesmo sistema, a nível neuroquímico, diz respeito às alterações nos mesmos neurotransmissores implicados nos efeitos agudos do uso da droga e alterados durante o desenvolvimento de dependência química.

Entre os eventos neuroquímicos contra-adaptativos que ocorrem dentro do mesmo sistema, encontram-se a redução da neurotransmissão dopaminérgica e serotonérgica no núcleo acumbens, durante a abstinência da droga. Nos níveis molecular e celular, foram observadas alterações na função do receptor opiáceo, durante a abstinência de opiáceos crônicos, assim como transmissão GABAérgica diminuída e glutamatérgica aumentada durante a abstinência alcoólica.

A sensibilização aos efeitos dos estimulantes psicomotores e opiáceos também parece estar envolvida na ativação dentro do mesmo sistema nas estruturas mesolímbicas dopaminérgicas.

Aparentemente há uma cadeia de adaptações que depende do tempo, dentro destas estruturas, que leva às alterações prolongadas provocadas pela sensibilização.Modificações em outros sistemas de neurotransmissão não-relacionados aos

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efeitos de reforço agudo da droga, mas ativados durante a sua administração crônica, têm sido concebidas como adaptações entre sistemas.

Exemplos de contra-adaptações inter-sistemas são, entre outros, aumento da função dinorfínica no núcleo acumbens durante a administração crônica de cocaína, aumento do nível de peptídeos anti-opióides associado à administração crônica opióides e presença aumentada de sistemas cerebrais de esforço, como o fator liberador de corticotrofina (FLC) como cocaína, opiáceos, álcool e maconha.

Recentes observações neuroanatômicas, neuroquímicas e neurofarmacológicas têm proporcionado sustentação para a noção da existência de um circuito cerebral específico dentro do cérebro anterior talvez capaz de mediar alterações neuroquímicas intra e inter-sistemas, associadas à recompensa da droga. As amígdalas cerebrais constituem uma macroestrutura que engloba várias estruturas cerebrais anteriores basais que apresentam semelhanças em termos de morfologia, neuroquímica e conectividade.

A sustentação para a hipótese de que as amígdalas desempenham papel ativo nos efeitos de reforço agudo das drogas passíveis de consumo abusivo pode ser encontrada numa série de microdiálise in vivo e em estudos neurofarmacológicos que demonstraram ativação seletiva da dopamina na cápsula do núcleo acumbens por parte das principais drogas que criam adicção.

Além disso, mecanismos GABAérgicos e opioidenérgicos no núcleo central das amígdalas podem participar das ações de reforço agudo do álcool. O núcleo central da amígdala também pode funcionar em contra-adaptação ao sistema de recompensa do cérebro durante o desenvolvimento da dependência química.

A administração crônica de drogas pode alterar o nível de FLC e a expressão do gene pró-opiomelanocortina nas amígdalas. Resposta aumentada do FLC no núcleo central das amígdalas encontra-se associada à abstinência aguda de álcool, opiáceos, cocaína e maconha.

O sistema mesolímbico dopaminérgico encontra-se claramente envolvido, porém nenhuma sub-região específica pode ainda ser delineada. Os glicocorticóides podem ativar o sistema mesolímbico dopaminérgico através do aumento da síntese de dopamina, da redução do metabolismo da doparnina e da diminuição da captação de catecolaminas. Pesquisas da participação de uma subprojeção específica do sistema mesolímbico na sensibilização encontram-se em andamento.

para referir:Ballone GJ - Aspectos Cerebrais da Dependência - in. PsiqWeb, Internet, disponível em www.psiqweb.med.br, revisto em 2005

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Aspectos Atuais da DependênciaIncluído em 09/02/2005

Os hospitais detectam cada vez mais drogadictos com quadro de psicose concomitante a drogadicção (principalmente a psicose cocaínica) a ponto de se constatar que 70% dos cocainômanos sofrem alguma patologia mental. A psicose cocaínica começa a ser cada vez mais freqüente nas consultas psiquiátricas, sugerindo existir uma relação muito estreita entre a cocaínomania e outras enfermidades psíquicas.

Até 75% dos pacientes que recorrem aos hospitais por consumo de cocaína apresentam ou apresentaram antes alguma patologia mental.

Em torno de 70% dos cocainômanos sofrem algum transtorno mental.As áreas cerebrais onde esta droga atua provocando disfunções são as mesmas dos casos de crises de angústia, crises compulsivas ou da psicose paranóide. Os psiquiatras não podem ignorar este novo fenômeno clínico e essa nova informação da neurobiologia.

Para o psiquiatra de Madrid, Luis Caballero, existe um ponto de encontro entre as áreas cerebrais sobre as quais atua a cocaína e as zonas cuja disfunção origina sintomas que levam o paciente à consultar o psiquiatra. Entre esses transtornos emocionais que existem concomitante à drogadicção por cocaína estão os transtornos afetivos, tanto cíclicos como unipolares; as depressões e os quadros maníaco-depressivos; os transtornos do controle dos impulsos; os

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quadros de angústia; os transtornos de personalidade e a própria psicose cocaínica.

Para Caballero, quase 75% dos cocainômanos têm, ao mesmo tempo, mais de um problema psiquiátrico.

O psiquiatra clínico que lida com esse problema enfrenta importantes problemas, tendo em vista que a farmacologia para tratamento da adicção à cocaína é muito reduzida. A adição à cocaína tem sido mais difícil ainda, considerando-se não existirem substâncias agonistas e antagonistas efetivos para esta droga. Será necessário um maior conhecimento da psicopatologia e a psicofarmacologia, que já tem conseguido medicamentos eficazes na heroínomania e o alcoolismo.

Apesar de ter se registrado um grande avanço na investigação neurobiológica na última década, isso não permitiu, por si só, um otimismo exagerado em relação aos problemas das drogas. Não bastará apenas a descoberta um novo fármaco para acabar com a cocaínomania, pois o advento da metadona e da naltrexona também não resolveu de vez com o problema da heroína e do alcoolismo. A questão da dependência ultrapassa a carência de uma droga agonista ou antagonista.

Para se corrigir a adicção cocaínica deve-se, antes, pleitear a recuperação da pessoa acometida. Isso implica num bom conhecimento das funções cerebrais, da farmacologia, das possibilidades de se modificar os hábitos desviados, das abordagens da psicoterapia e das intervenções sociais.

Caballero tem explicado que a cocaínomania é uma adicção com algumas peculiaridades que a diferenciam da adicção, por exemplo dos opiáceos e do álcool, sobretudo na forma de apresentação. Trata-se de um consumo mais intermitente mas, não obstante, mais adictivo e fora de controle, o qual leva a pessoa a muitas complicações clínicas. Na cocaína, os critérios de dependência são os mesmos que nos outros transtornos similares, mas o que caracteriza o cocainômano é a sensação subjetiva de perda de controle e a impossibilidade de parar de consumir a droga, apesar dos esforços para evitá-lo.

As alterações cerebrais ocasionados pela adicção de cocaína interessam à psiquiatria e psiconeurologia devido às recentes constatações da atuação da droga em neuroreceptores e em determinadas áreas que estão igualmente implicadas nos sintomas de outras enfermidades mentais.Veja o artigo original

Encontrado um mecanismo que permitirá novas terapias para a adicçãoA descoberta de um método de comunicação celular no cérebro poderia favorecer tratamentos melhorados para a esquizofrenia e para a adicção, segundo estudo canadense do Centro de Adicção e Saúde Mental do Hospital Infantil da Universidade de Toronto, recentemente publicado na revista Nature.

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Muitos sintomas associados com a esquizofrenia e com a adicção são causados por um excesso ou um defeito de dopamina e GABA, sustâncias químicas cerebrais que regulam o aprendizado, a memória, a emoção e o conhecimento. Os investigadores têm comprovado como as proteínas poderiam modificar entre elas suas funções mútuas, incluindo a capacidade dos neurônios de aceitar ou recusar a dopamina e outros neurotransmissores, ao unir-se entre eles.

Hyman Niznik, psiquiatra e diretor da pesquisa, disse ter encontrado um método desconhecido de transmissão de sinais entre dois sistemas de neuroreceptores estruturalmente diferentes. Esse fato poderá sugerir uma nova janela terapêutica sobre como restaurar a função celular normal através de medicação em enfermidades como a esquizofrenia ou drogadicção.

As células cerebrais se comunicam entre si por meio dos neurotransmissores que interagem com as proteínas dos neuroreceptores nos neurônios adjacentes. Há muitos tipos de receptores cerebrais, mas só alguns respondem a dopamina, por exemplo, outros respondem ao GABA (ácido gama aminobutírico) e assim por diante.

Entre os receptores da dopamina, os chamados D1 e D5 são muito parecidos e respondem aos mesmos medicamentos. Certos sintomas da esquizofrenia e da adicção estão regulados por receptores de tipo D1. Os receptores de dopamina D5 poderiam modificar a função dos receptores GABA.Veja o artigo original

O drogadicto deve ser tratado como doente crônico e a terapia de recaídas deve ser multifatorialA adicção a drogas é uma doença crônica e o adicto deve ser tratado como um paciente susceptível a tratamento e que, assim como sucede com outras patologias, o êxito o fracasso vai a depender do conhecimento de sua fisiopatologia, bem como de uma adequação dos tratamentos. Esses, devem ser sempre individualizados e a abordagem de cada caso deve ser multidisciplinar.

Para Del Alámo, professor de Farmacologia da Universidade de Alcalá, em Madri, a grande importância do tratamento multifatorial e individual da adicção requer que a terapia considere múltiplos aspectos. O tratamento baseado exclusivamente na farmacologia conduz ao fracasso.Além disso, o autor tem insistido no fato da adicção a drogas ser uma patologia crônica do funcionamento do cérebro, equiparada talvez à esclerose múltipla, a diabetes ou a hipertensão arterial, ou seja, respeitando os problemas de todas as doenças crônicas.

Áreas cerebraisEmilio Ambrosio, do Departamento de Psicologia de a Universidade Nacional de Educação a Distância (UNED) da Espanha, tem se concentrado na neurobiologia dos processos de recaídas, particularmente no consumo de cocaína.

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Os estudos têm demonstrado que nesta fase se desenvolvem adaptações neurológicas nos sistemas glutaminérgico, dopaminérgico, opióide e de CFR durante a interrupção da conduta de auto administração de cocaína em diversas regiões cerebrais.

Segundo Ambrosio, estas adaptações são mais permanentes e duradouras nos sistemas dopaminérgico e opióide. O autor sugere que durante a abstinência de psicoestimulantes se produzem adaptações em distintos sistemas de neurotransmissores suficientes para manter o desejo pela droga, exacerbar a potencia dos estímulos condicionados, aumentar a ansiedade e, finalmente, favorecer uma maior vulnerabilidade à recaída.

Os estudos para prevenir as recaídas se utilizam de alguns fármacos antagonistas de os receptores opiáceos. Entre essas substâncias estão o disulfiram, a naltrexona e o acamprosato, todos demonstrando ser eficazes. Também se investigam agentes moduladores da transmissão serotoninérgica, como a buspirona, os inibidores da recaptação da serotonina, tais como a fluoxetina e o citalopram.Veja o artigo original

Antagonistas opióides podem ser úteis para limitar o consumo de drogasO conhecimento da neurobiologia das adicções é um passo necessário para a investigação de tratamentos farmacológicos que resultem eficazes contra a adicção a drogas. Luis F. Alguacil, da Universidad San Pablo CEU, e José Antonio Ramos Atance, da Universidad Complutense, ambas em Madrid, tem apresentado durante as XXVII Jornadas Nacionales de Socidrogalcohol os últimos dados neste campo.

As novas estratégias farmacológicas para limitar o abuso de drogas dependerão do papel que desempenha o sistema opióide endógeno e da investigação de seus antagonistas. Segundo Alguacil, o sistema opióide endógeno não só é responsável do potencial abuso de opiáceos, mas também está implicado nos efeitos psico-farmacológicos de outro tipo de drogas. As evidências disponíveis sobre o rol do sistema opióide endógeno nos efeitos de os psico-estimulantes e do etanol sugerem que os antagonistas de opióides possam ser úteis para limitar o consumo em humanos.

Neste sentido, os antagonistas de opiáceos têm o vão ter uma importante utilidade para levar a cabo uma caracterização farmacológica do receptor, para confirmar a atividade do agonista, para criar uma síndrome de abstinência nos modelos animais e como tratamento de patologias de hiperatividade.

PoliabusoEspecialistas têm destacado a complexidade do estudo da neurobiologia das adicções. Neste estudo temos que acrescentar que o usuário de drogas não o é de uma droga só, senão de várias que se reforçam, daí a necessidade de se trabalhar com o conceito de poliabuso.

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Alguns autores já têm reconhecido a existência de um modelo de síndrome de abstinência a cannabinoides (maconha) como indícios de um primeiro passo para o conhecimento de mecanismos moleculares implicados no desenvolvimento da dependência a tais compostos e nos possíveis tratamentos para este tipo de adicção.

A equipo de Ramos (DM de 5-III-98 e de 23-IV-98) há vários anos investiga o sistema de transmissão cannabinoide e as adicções. A pesar de tudo, todavia, não se conhece com exatidão qual é o papel no cérebro do sistema cannabinoide endógeno, ainda que parece participar em diversas funções neurobiológicas; entre essas se encontram as relacionadas com o comportamento motor, a nocicepção, a memória e a aprendizagem.

Essas pesquisas mostram que o consumo crônico de cannabinoides induz uma tolerância cujos mecanismos moleculares agora começam a ser compreendidos. Sabe-se já que a terapia crônica com 9-tetrahidrocannabinol (THC) ou com anandamida produz uma dessensibilização dos receptores chamados CB1 em algumas regiões do sistema nervoso central. Não obstante, tem-se reconhecido que ainda estão numa fase inicial de investigação.Veja o artigo original.

 

para referir:Ballone GJ - Aspectos Atuais da Dependência - in. PsiqWeb, Internet, disponível em www.psiqweb.med.br, revisto em 2005

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Drogadicção e PersonalidadeIncluído em 09/02/2005

Depois da década de 90, com a atualização dos manuais de classificação psiquiátrica (CID.10 e DSM.IV), todas as crianças, adolescentes e adultos que cronicamente ameaçam, intimidam, agridem e incomodam os outros, bem como aqueles que violam normas sociais recebem um diagnóstico psiquiátrico. As crianças e adolescentes recebem o diagnóstico de um dos Transtornos Disruptivos do Comportamento, enquanto os maiores de 18 anos recebem o diagnóstico de Transtornos Anti-Social da Personalidade.

Quando tentamos relacionar o abuso de substâncias ou dependência química com Transtornos de Personalidade, predominantemente estamos pensando no adolescente, no jovem e/ou no adulto jovem. A classificação correta para os tipos de comportamentos problemáticos, possivelmente decorrentes de Transtornos de Personalidade é: Transtornos Comportamentais Disruptivos (veja em DSM.IV). Entre esses Transtornos Comportamentais Disruptivos estão o Transtorno Desafiador e de Oposição, o Transtorno de Conduta e o Personalidade Psicopática. Todos eles chamados de comportamentos anti-sociais.

Não há mais nenhuma dúvida de que os indivíduos com esses Transtornos da Personalidade têm severos problemas no relacionamento social e corram risco de outros problemas adicionais. Mas, a classificação atual de "mau" comportamento usando os diagnósticos do DSM.IV de Transtornos Disruptivos do Comportamento e Transtornos Anti-Social da Personalidade, tem dificuldades. Trata-se das várias maneiras da pessoa externar esse comportamento mau adaptado. Interessa aqui, os pacientes que expressam esse tipo de comportamento desenvolvendo dependência química.

Um ponto de partida na classificação e identificação desses comportamentos anti-sociais deveria levar em consideração o importante papel da agressividade

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mal adaptada ou do "mau" comportamento. Quando a agressividade não se apresenta de maneira francamente expressa, vale o mesmo raciocínio para a impulsividade.

Alguns trabalhos sugerem que esse tipo de agressividade-impulsividade esteja presente em crianças, adolescentes e adultos com Transtornos Disruptivos do Comportamento, e com Transtornos Anti-Social da Personalidade, levando a comportamentos delinqüentes e, principalmente, podendo ter uma ligação com a dependência química, notadamente da maconha (cannabis).

Transtorno Disruptivo do Comportamento e DependênciaOs desvios comportamentais com predileção para a agressividade, irritabilidade e oscilações do humor, tal como existem nos Transtornos Comportamentais Disruptivos descrevem desvios das normas. As pesquisas atuais têm observado uma forte ligação entre esse tipo de comportamento e a inclinação para o uso de drogas ilícitas, como a maconha (cannabis).

O termo adicção ainda não é reconhecido oficialmente pela psiquiatria (em português também é um neologismo), mas ele define condutas com características de dependência. Essa noção de dependência foi originalmente aplicada ao uso de substâncias, mas também tem sido descrito em relação ao jogo, televisão, sexo, alimentação, etc. São atividades que podem apresentar-se, em alguns casos, com uma necessidade imperiosa de continuá-las, convertendo-se nas chamadas adicções comportamentais.

Entre as adicções destacam, como paradigma, os Transtornos por Consumo de Substâncias com Dependência, os quais produzem um grupo de sintomas cognitivos, comportamentais e fisiológicos. Essa dinâmica sintomática faz a pessoa continuar consumindo a substância, apesar da aparição de problemas significativos relacionados com ela. O diagnóstico de dependência de substâncias, segundo critérios DSM IV, pode ser aplicado a toda classe de substâncias, a exceção da cafeína. Mesmo não estando incluída especificamente nos critérios diagnósticos, a necessidade irresistível de consumo (referida em inglês pelo termo craving), se observa na maioria dos pacientes.

A definição de dependência precisa de uma série de sintomas, entre os quais se destaca a tolerância e a abstinência; ainda que não sejam condições necessárias nem suficientes para diagnosticar uma dependência de substâncias, se é que permitem especificar se a dependência é acompanhada de dependência fisiológica (com a tolerância e/ou a abstinência) ou sem dependência fisiológica.

A Organização Mundial de Saúde tem um Código Internacional de Doenças para classificá-las. Dentro desta classificação, designou o código CID-10 e preconiza que a dependência química é uma enfermidade incurável e progressiva, apesar de poder ser estacionada pela abstinência.Na CID.10 a Dependência é definida como um...

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“Conjunto de fenômenos comportamentais, cognitivos e fisiológicos que se desenvolvem após repetido consumo de uma substância psicoativa, tipicamente associado ao desejo poderoso de tomar a droga, à dificuldade de controlar o consumo, à utilização persistente apesar das suas conseqüências nefastas, a uma maior prioridade dada ao uso da droga em detrimento de outras atividades e obrigações, a um aumento da tolerância pela droga e por vezes, a um estado de abstinência física. A síndrome de dependência pode dizer respeito a uma substância psicoativa específica (por exemplo, o fumo, o álcool ou o diazepam), a uma categoria de substâncias psicoativas (por exemplo, substâncias opiáceas) ou a um conjunto mais vasto de substâncias farmacologicamente diferentes.”

A OMS traça também diretrizes para o diagnóstico que deve somente ser feito, casos três ou mais dos seguintes critérios descritos, resumidamente, tenham sido preenchidos por algum tempo durante o último ano.

1 - Forte desejo ou compulsão para usar a substância.2 - Dificuldade em controlar o consumo da substância, em termos de início, término e quantidade.3 - Presença da síndrome de abstinência ou uso da substância para evitar o aparecimento da mesma.4 - Presença de tolerância, evidenciada pela necessidade de aumentar a quantidade para obter o mesmo efeito anterior.5 - Abandono progressivo de outros interesses ou prazeres em prol do uso da substância.6 - Persistência no uso, apesar das diversas conseqüências danosas.

O curso da dependência vária segundo o tipo de substância, a via de administração e outros fatores; mas habitualmente é crônico, com períodos de reagudização e remissão parcial ou total.A investigação indica que, juntamente com os efeitos desejados das substâncias e das características do meio ambiente, existem também fatores constitucionais no indivíduo que facilitam a dependência e que provocam o processo de recaída. Isso corrobora a fórmula sabidamente válida: fenótipo = genótipo + ambiente.

A presente fórmula significa que, para a drogadicção, seriam necessários a droga, o ambiente e as condições de personalidade do dependente. Assim sendo, para a existência da dependência química se destaca a presença de possíveis outros transtornos psiquiátricos prévios ao início da conduta adictiva. Com esse enfoque seria muito oportuno o considerar que esses pacientes possam ter uma alteração dos sistemas de neurotransmissão-neuromodulacão tanto previamente ao desenvolvimento da drogadicção, como provocados (e agravados), posteriormente, pelas próprias substâncias psicoativas que consumem (Cervila, 1999).

Além dos transtornos por uso de substâncias, modelo dos transtornos adictivos, existe, como já dissemos, outros transtornos conhecidos com o nome de adicções comportamentais. Para alguns autores esses transtornos estão

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dentro do espectro afetivo, ou obsessivo-compulsivo. Em nossa bibliografia consta como Transtornos do Espectro Obsessivo-Compulsivo.

Em todo caso, tanto os mecanismos de reforço cerebral, como os sistemas afetivos, em constante regulação recíproca parecem suficientemente relevantes para estabelecer padrões de conduta alterados em determinadas pessoas e para determinadas circunstâncias. Existem, além disso, potentes fatores etiológicos (biológicos, de aprendizagem, sociais e demográficos) que podem desencadear de forma particular em cada caso e para cada estímulo adictivo.

Entre esta variedade de transtornos de adicções comportamentais, destacam-se a adicção ao trabalho, ao sexo, ao namoro, ao exercício físico, e às compras, entre outras (Soler, 1999). Em alguns pacientes pode dar-se um estado poliadictivo ou de adicções alternantes, como várias adicções conjuntamente ou mais de uma adicção ao longo da vida.

Os Transtornos de Personalidade, todavia, continuam sendo fenômenos confusos para a maioria dos psiquiatras, pois, ainda que os principais sistemas de classificação (CID.10 e DSM.IV) tenham conseguido esclarecer o conceito em boa medida, a situação dos mesmos continua despertando certas dúvidas quanto sua validade nosológica (Girolamo, 1996).

A personalidade, como se concebe atualmente, é um padrão complexo de características psicológicas arraigadas, normalmente inconscientes e difíceis de mudar, que se expressam automaticamente em quase todas as áreas de funcionamento do indivíduo. Esses traços, intrínsecos e gerais, surgem de uma matriz de determinantes biológicos e constitucionais, somados à elementos da aprendizagem que, em última instância, conferem à pessoa o padrão de perceber, sentir, enfrentar, comportar e se relacionar com a realidade.

A idéia de Transtorno de Personalidade supõe uma variante mórbida desses traços de caráter, que vão além ou aquém daquilo que normalmente apresenta a maioria das pessoas. Entretanto, só quando esses traços são inflexíveis, desadaptados e causam algum prejuízo funcional significativo, ou algum mal estar subjetivo, é que constituem um Transtorno da Pessoalidade (Milom, 1998).Tem sido evidente o marcante interesse atual pelos Transtornos de Personalidade, depois de muitos anos em que não foram suficientemente valorizados pelos clínicos, tanto como diagnósticos únicos ou como comórbidos a outras alterações (Girolamo, idem).

Os Transtornos de Personalidade e a comorbidade a eles associada, entre elas o muito freqüente consumo de substâncias, formam um terreno onde tanto as neurociências como a psicopatologia têm um grande campo de investigação. Um dos principais pontos dessa investigação tem sido a busca de uma característica adictiva entre os traços da personalidade dos pacientes.

Atualmente, entretanto, não se pode falar de uma personalidade estritamente dependente de substâncias, tomando-se por base os Transtorno de

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Personalidade específicos e definidos de forma categorial pelo CID.10 e DSM.IV. Nesse sentido, o consumo exagerado de substâncias pode servir até, como a automedicação de certos tipos de personalidade, pretendendo atenuar impulsos agressivos, a disforia, a raiva e depressão. Dessa forma os Transtorno de Personalidade se associam muito mais com a dependência de substâncias que outros diagnósticos psiquiátricos (Koenigs, 1985).

Veja Transtornos da Personalidade pelo CID.10Veja Transtornos da Personalidade pelo DSM.IVVeja Transtornos da Personalidade de PsiqWeb

EpidemiologiaA Associação Norte-americana de Psiquiatria refere, no DSM IV, uma prevalência de 3% para os Transtornos de Personalidade em homens e de 1% em mulheres da população geral. Entretanto, essas porcentagens aumentam em populações clínicas, em geral até 30%, podendo chegar em determinados subgrupos populacionais como, por exemplo, entre os dependentes crônicos de substância, até 92% (Dejong, 1993). As diferenças na incidência dos Transtornos de Personalidade entre pacientes dependentes químicos despertaram interesses em se relacionar essas duas condições.

Em pacientes alcoólicos tem-se encontrado porcentagens de 64% de Transtorno de Personalidade, segundo Bernardo (1998). E mais da metade deles tinham no mínimo dois diagnósticos de Transtorno de Personalidade. Ainda quanto ao diagnóstico do Transtorno de Personalidade entre alcoolistas, tem sido mais freqüente o Transtorno Anti-social e o Transtorno Borderline da Pessoalidade (Regier, 1990 e Numberg, 1993).

A associação entre o Transtorno Anti-social da Personalidade e o alcoolismo é a mais estudada. São pacientes com maior gravidade, portadores de dependências mais longas e severas, são mais jovens e com escassas relações afetivas (Powel, 1982; Lewis, 1983 e Cook, 1994).Com respeito ao Transtorno Borderline da Personalidade, os pacientes apresentam mais freqüentemente transtornos associados ao uso de substâncias ou dependências químicas e tentativas de suicídio (Bernardo, 1998). É de 22% a incidência de Transtorno Borderline da Personalidade entre dependentes de opiáceos (Verheul, 1995).De acordo com o excelente trabalho de Gaspar Matínez, em relação aos dependentes de opiáceos a prevalência de Transtorno de Personalidade oscila entre 35%, segundo Brooner (1997) e 65%, segundo Khantziam (1985).

Os autores parecem concordar sobre o fato do Transtorno Anti-social da Personalidade ser o mais fortemente vinculado com os transtornos por uso de substâncias ou dependência química. Dinwiddle (1992) encontrou uma incidência de 68% desse transtorno entre os drogadictos.

Incidência igual encontrou Sonne (1998). Em seu trabalho com dependentes de cocaína houve grande incidência de mais de um tipo de Transtornos de Personalidade diagnosticados na mesma pessoa. Os resultados iniciais mostraram que 68,1% dos pacientes com Dependência Química preenchiam os

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critérios de Transtornos de Personalidade e os tipos de Transtornos de Personalidade patológica mais encontrados foram: borderline, paranóide e anti-social.

Entretanto, uma curiosidade é a variação dos índices de incidência de Transtorno Anti-social da Personalidade que alguns autores encontram em pacientes adictos que se encontram em tratamento psicoterápico, indo de taxas mais otimista de 15% (Woody, 1984), até 50% (Brooner, 1993; Rounsavile, 1982 e Woody, 1985).

Em relação à associação entre as adicções comportamentais (Transtornos do Espectro Obsessivo Compulsivo) e o Transtorno por Uso de Substâncias, existe uma importante porcentagem entre o álcool e o Jogo Patológico, ou entre o álcool e as compras compulsivas (Saiz, 1992).

Incidência de Transtornos da Personalidade em Dependentes Químicos

Autor Ano % Tipo

Rounsavile 1982 50% Transtorno Anti-Social

Woody 1984 15% Transtorno Anti-Social

Khantziam 1985 65% Borderline, Anti-Social e Paranóide

Regier 1990 52%  Transtorno Anti-Social e o Transtorno Borderline

Dinwiddle 1992 68% Borderline, Anti-Social e Paranóide

Numberg 1993 47%  Transtorno Anti-Social e o Transtorno Borderline

Brooner 1993 50% Transtorno Anti-Social

Verheul 1995 22% Transtorno Borderline

Brooner 1997 35% * 

Bernardo 1998 64% Transtorno Borderline

Sonne 1998 68% * 

MÉDIA   45,2% Transtorno Anti-Social e Borderline

* - não especificada

Os transtornos relacionados ao uso abusivo de substâncias têm importância na investigação sobre o funcionamento do cérebro, no exercício da psiquiatria clínica e na sociedade em geral.

Page 28: Comportamento Compulsivo

A rigor, o transtorno se produz pelo consumo abusivo de uma substância. Mas, tal simplificação não responde a muitas perguntas atuais sobre o problema. O que se pode dizer é que o consumo abusivo de substâncias altera o funcionamento "normal" do indivíduo, e para alguns autores produz até mudanças de personalidade (Alterações de Personalidade).

Para nós, entretanto, é de fundamental importância a questão da comorbidade Dependência Química e qualquer outra patologia psíquica. A idéia é estabelecermos uma base de conhecimento preditivo, ou seja, preventivamente, para sabermos quais as chances de transtornos emocionais concorrerem para a Dependência Química.

O Problema da ComorbidadeO termo cada vez mais freqüente, comorbidade, descreve um tipo de pacientes que apresentam vários diagnósticos psiquiátricos simultaneamente. A relação entre a Adicção no sentido amplo, que inclui os Transtornos por Uso de Substâncias e alguns dos Transtornos do Controle dos Impulsos e os Transtornos da Pessoalidade, supõe a existência de algumas das seguintes possibilidades:

1º) Associação fortuita e aleatória, onde a pessoa sofreria simultaneamente dois transtornos;2º) Associação por superposicão, onde uma mesma alteração genotípica resultaria em diferentes transtornos fenotípicos, como por exemplo, um Transtorno Evitativo de Pessoalidade juntamente com um Transtorno por Ansiedade Fóbica;3º) Associação redutiva, onde transtornos diferentes e com distintas fisiopatologias poderiam ter sintomas compartilhados, como por exemplo, o Transtorno Esquizotímico de Pessoalidade e o Transtorno Borderline de Pessoalidade.4º) Associação espectral, quando transtornos com a mesma origem diferem apenas numa expressão sintomática, como por exemplo, o Transtorno de Pessoalidade Esquizotímica e Esquizofrenia.5º) Associação por predisposição, quando a presença de um transtorno predispõe a pessoa a sofrer de outro transtorno diferente, como por exemplo, Pessoalidade Dependente e os Episódios de Depressão Maior.

Segundo Claudia Lopes e Evandro Coutinho (1999), além dos Transtornos de Personalidade, estudos realizados em diferentes partes do mundo têm mostrado existir uma associação importante entre morbidade psiquiátrica, particularmente depressão, e uso de drogas (Kashani, 1985; Rounsaville, 1991; Lopes, 1991).

Entretanto, a dificuldade em se estabelecer os fatores de risco psiquiátricos para abuso de drogas é determinar a precisa relação causa-efeito-conseqüência entre as drogas e o transtorno emocional. Muitas drogas têm como conseqüência de seu uso repetido, o aparecimento de sintomatologia característica da síndrome depressiva. Por outro lado, vários autores sugerem que o uso de drogas pode significar uma resposta, uma contrapartida

Page 29: Comportamento Compulsivo

medicamentosa a afetos indesejáveis, como a própria depressão (Deykin, 1987; Christie, 1988).

No caso do abuso de cocaína isso pode ser verdadeiro, já que se trata de uma droga que possui notáveis efeitos antidepressivos, o que poderia levar ao seu uso e conseqüente abuso como uma decorrência de tentativa de automedicação. Por outro lado, são comuns sintomas depressivos como conseqüência do uso abusivo dessa mesma droga ou mesmo como conseqüência de sua falta (abstinência).

Impulso e Agressão do Dependente QuímicoGlover (1932), autor psicodinâmico, foi um dos pioneiros em destacar o papel dos impulsos agressivos no abuso de substâncias (Galanter, 1997). Neste sentido, o consumo de algumas drogas eliminaria os impulsos agressivos e a disforia dos sujeitos com problemas de personalidade, melhorando a ira, a agressividade e os sentimentos depressivos (Craig, 1979; Khantziam, 1985).Podemos considerar o "craving", que é a pulsão incoercível para o consumo imediato da droga, como a conjunção entre os impulsos e a personalidade.

Essa dinâmica volição-personalidade se conceitua através de dois modelos; primeiramente, o modelo baseado na evitação dos efeitos muito desagradáveis da abstinência. Em segundo, o modelo baseado nos efeitos agradáveis associados ao consumo da droga. Ambos modelos compartilham princípios básicos comuns; a vocação do ser humano para a busca do prazer e para a fuga da dor.

A impulsividade, por sua vez, pode ser o substrato comum de diferentes transtornos emocionais, tais como, as condutas adictivas, Transtornos da Alimentação, Transtornos do Controle dos Impulsos, Transtornos da Personalidade e outros. O termo impulso, de origem psicodinâmica, manifesta a disposição da pessoa atuar de forma a diminuir a tensão de um instinto.

Os Transtornos do Controle dos Impulsos formam um grupo diagnóstico heterogêneo com uma característica comum; a sensação de tensão ou ativação interior prévia, orientada a consumar a busca ao prazer, a gratificação ou a liberação. Todos esses transtornos têm como base comum o sintoma impulsivo intenso e mal adaptado ao qual a pessoa não sabe resistir.

A relação entre o controle dos impulsos e os Transtorno de Personalidade é tão estreita que, durante muito tempo, os dois sistemas teóricos de classificação (CID.10 e DSM.IV), citavam a perda do controle dos impulsos como a primeira, de uma série de características, necessárias para classificar a gravidade do Transtorno de Personalidade (Milom, 1998).

Uma outra comorbidade com os Transtornos Anti-Social e Borderline é a labilidade de humor (do normal à irritabilidade e não da euforia à depressão). A agressividade impulsiva, freqüentemente associada à labilidade do humor pode ter, como conseqüência, uma síndrome associada a comportamento anti-social e, dentro dela, a dependência química.

Page 30: Comportamento Compulsivo

 

para referir:Ballone GJ - Drogadicção e Personalidade - in. PsiqWeb, Internet, disponível em www.psiqweb.med.br, revisto em 2005

dependente químico em recuperação  

seg, 12/03/2007 - 06:23 by Daniel   Tags:

o Recuperação

O dependente químico em recuperação é a pessoa que tem uma doença

incurável, por isso o dependente está em recuperação pela vida toda, é como se

fosse um diabético, não tem cura.

Na doença da dependência química não existe culpado, somente responsável, a

culpa termina nela própria, e a responsabilidade começa nela própria. Não sou

culpado pela doença , mas sou responsável pelo tratamento e o estar em

recuperação.

O primeiro passo para estar em recuperação é parar de usar, não podemos

esperar que algo funcione para nós se as nossas mentes e corpos ainda

estiverem intoxicados pelo álcool e outras drogas.

Page 31: Comportamento Compulsivo

O tratamento que só visa a libertação física, o deixar usar as drogas, corre o risco

de que nas adversidades, recorrer à 'mesma solução' que é usar drogas, pois não

ocorreram as mudanças interiores, ou seja o dependente disponha a buscar ajuda

no seu interior, para descobrir um novo caminho que igual a um projeto de vida

para resgatar-se como ser-ao-mundo. Em um projeto de vida é fundamental que

seja em direção ao outro, ou seja que o outro esteja presente. Tratamento é

pensar na vida a fim de resgatar de forma autêntica a experiência do EU e do

NÓS. No fundo tratar é o dependente recomeçar a gostar de si mesmo, é valorizar

a vida. Mudando a si, ao mesmo tempo muda seu posicionamento no social.

O psicólogo Carl Rogers demonstra que em todo organismo, em qualquer nível,

existe um movimento em direção ao crescimento. Esse processo é denominado

de tendência de realização. Esta tendência de realização pode ser impedida, mas

não destruída, a não ser que se destrua o organismo. Por isso afirmamos

categoricamente que a drogadição não é uma condição sem esperança, e que

existe o tratamento e o estar em recuperação.

O dependente químico em recuperação, quando para de usar apresenta a

síndrome de abstinência . Sendo aguda e aparece em horas ou dias, sendo

demorada e aparece após meses ou anos.

Síndrome de abstinência psicológica ocorre na mudança da emoção, os sinais e

sintomas são:

emocionais- ansiedade [o DQ é o dobro ansioso que a média da população],

alteração do humor [mudança brusca de comportamento], agressividade, angústia,

irritabilidade, tensão, desorientação no tempo e no espaço, convulsões, paranóia

[medo, perseguição, pânico], depressão primária [o DQ gera problemas iguais ao

depressivo]. memória - confusão mental, concentração, raciocínio, lapsos de

memória, crise de identidade.

sono-sono alterado [insônia ou sono pesado], sonhos aumentados [onde as

angústias são resolvidas, a fabricação de coisas boas e a esperança de

acontecer], pesadelo [ geralmente com a drogadição ].

Síndrome de abstinência física ocorre as mudanças físicas, os sinais e sintomas

são -

Page 32: Comportamento Compulsivo

alucinações e delírios, dor de cabeça, cãibras, sudorese, dores musculares,

tremores, fadiga, oscilação pressão arterial, taquicardia, febre, náuseas, vómitos,

diarréia ou intestino preso, falta de apetite.

O dependente após período de tratamento e ao estar em recuperação, começar a

construir a sua auto estima através dos seguintes itens -

a minha recuperação não é para as pessoas e sim para eu ter equilíbrio na minha

vida - sincero e honesto - não utilizar a manipulação - vá com calma, mas vá -

estabelecer e cumprir as metas - ser assertivo - quando do ressentimento se

perdoar - evitar amigos da ativa, hábitos, lugares, idéias e diversões - trabalhar o

bom humor - evitar o isolamento - ame-se, seja seu melhor amigo - escolher a

felicidade - identificar as suas forças - ter um sistema de valores racionais - referir-

se a si mesmo com nomes positivos - colocar limite para as críticas destrutivas -

melhorar-se, tentar coisas novas - decidir qual o meu valor - respeitar seu corpo

com alimentos nutritivos e exercícios - meditar, orar, relaxar, tirar tempo para si

mesmo.

O dependente em recuperação, na condição de pessoa tem inúmeros direitos

pessoais, destaco o seguinte - dependendo da maneira que trato as pessoas,

tenho o direto de exigir coisas dessas pessoas como por exemplo - RESPEITO

A recuperação começa com aplicação dos princípios espirituais contidos nos

DOZE PASSOS dos grupos de mútua ajuda [ AA - ALCÓOLICOS ANÔNIMOS ,

NA - NARCÓTICOS ANÔNIMOS ], em todas as áreas da vida.

Ir as reuniões de recuperação dos grupos de mútua ajuda, aprendemos o valor de

conversar com outros dependentes que compartilham dos nossos problemas,

esperanças, metas, e reconhecemos que um dependente pode compreender e

ajudar melhor outro dependente.

Na recuperação o dependente além de freqüentar as reuniões dos grupos de

mútua ajuda, deve fazer terapia com psicólogos, porque a psicoterapia visa ajudá-

lo a se conhecer melhor, e ajudar no combate ao hábito obsesivo e compulsivo da

doença.

Page 33: Comportamento Compulsivo

Em recuperação serão apresentados princípios espirituais, como a rendição que é

a aceitação da nossa doença e começamos a acreditar, a um nível mais

profundo,que também nós podemos nos recuperar e ficamos abertos à mudança ,

verdadeiramente ocorre a rendição. A rendição significa que não temos mais que

lutar. Estamos dispostos a fazer o que for necessário para ficarmos limpos e

abstinentes, a tentar um novo modo de vida e até a fazer do que não gostamos.

Quando a vida do dependente parece estar a cair aos pedaços, ele concentra-se

nas bases do programa dos DOZE PASSOS, e em ver que a rendição é que a

vitória, está em admitirmos a derrota perante a drogadição. O vazio deixado pela

drogadição é preenchido através da prática e da vivência dos DOZE PASSOS.

Quando o dependente admite a sua impotência perante as drogas e que tinha

perdido o domínio da sua vida, o dependente abre a porta para que um Deus

maior que nós nos ajude. Não é onde estávamos que conta, mas para onde

estamos indo que importa. Colocamos a vida espiritual em primeiro lugar e

aprendemos a usar esses princípios espirituas como a paciência, tolerância,

humildade, mente aberta, honestidade e boa vontade nas nossas vidas diárias.

São atitudes novas que nos ajudam a admitir os nossos erros e pedir ajuda.

Em recuperação os fracassos são apenas contrariedades temporárias, as crises

são, assim, oportunidades para fazer crescer a bagagem de vida, de se ficar mais

sábio e para aumentar o crescimento espiritual. Aprendemos que os conflitos são

parte da realidade, e aprendemos novas maneiras de resolvê-los, em vez de fugir

deles. Aprendemos que, se uma solução não for prática, ela não é espiritual.No

passado, transformávamos as situações em problemas; fazíamos uma

tempestade de um copo d'água. Foram as nossas grandes idéias que nos

trouxeram aqui. Em recuperação, aprendemos a depender de um Deus maior do

que nós. Não temos todas as respostas ou soluções, mas podemos aprender a

viver sem drogas e um novo modo de vida. Podemos nos manter limpos e apre

ciar a vida como ela é, se nos lembramos de viver SÓ POR HOJE.

Não somos responsáveis pela nossa doença, apenas pela nossa recuperação. À

medida que começamos a aplicar o que aprendemos,nossas vidas começam a

mudar para melhor.Descobrimos que nos tornamos capazes de receber assim

como de dar. Passamos a conhecer a felicidade, alegria e liberdade. Não existe

Page 34: Comportamento Compulsivo

um modelo de dependente químico em recuperação. Mas sonhos perdidos

despertam e surgem novas possibilidades.

A recuperação torna-se um processo de aproximação, perdemos o medo de tocar

e de sermos tocados. Apren- demos que um simples abraço amigo pode fazer

toda a diferença do mundo, quando nos sentimos sozinhos. Experimentamos o

verdadeiro amor e a verdadeira amizade.

Como dependente em recuperação, temos dificuldades com a aceitação, que é

essencial à nossa recuperação. Quando nos recusamos a praticar a aceitação,

ainda estamos, de fato, negando a nossa fé num Deus maior que nós. Essa

preocupação demonstra que é falta de fé. A rendição da nossa vontade por drogas

põe-nos em contato com Deus, que preenche o vazio dentro de nós, que nada

podia preencher. Aprendemos a confiar na ajuda de Deus diariamente. Viver SÓ

POR HOJE alivia a carga do passado e o medo do futuro. Aprendemos a tomar as

atitudes necessárias, e a deixar os resultados nas mãos de um Deus maior do que

nós.

Gradualmente, à medida que nos centramos mais em Deus, do que em nós

mesmos, o nosso desespero se transforma em esperança. A mudança também

envolve essa grande fonte de medo, o desconhecido. O nosso Deus é a fonte de

coragem que precisamos para encarar este medo. Tudo o que conhecemos está

sujeito a revisão, especialmente o que sabemos sobre a verdade. Reavaliamos as

nossas velhas idéias, a fim conhecermos as novas idéias que levam a uma nova

maneira de viver. Reconhecemos que somos humanos com uma doença física,

mental e espiritual. Quando aceitamos que a nossa drogadição causou o nosso

próprio inferno e que existe um Deus disponível para nos ajudar, começamos a

fazer progressos na solução dos nossos problemas.

Na oração da serenidade, vemos que temos algumas coisas temos que aceitar,

outras podemos modificar, e a sabedoria para perceber a diferença entre aceitar e

modificar, vem com o crescimento espiritual. Se mantivermos diariamente a nossa

condição espiritual, será mais fácil lidarmos com a dor e a confusão. Esta é a

estabilidade emocional de que tanto precisamos.

Qualquer dependente limpo é um milagre.Mantemos o milagre vivo em contínua

recuperação através de atitudes positivas. Se, após algum tempo, sentirmos

Page 35: Comportamento Compulsivo

dificuldades com a nossa recuperação, é porque, provavelmente, paramos de

fazer alguma das coisas que nos ajudaram nas fases iniciais da recuperação.

Os três princípios básicos são honestidade, mente aberta e boa vontade.A

honestidade inicial que expressamos é o desejo de parar de usar drogas, em

seguida, admitimos honestamente a nossa impotência e o fato de nossas vidas

estarem incontroláveis. Uma idéia nova não pode ser colocada numa mente

fechada, pois isso temos que ter a mente aberta permitindo-nos a ouvir algo que

possa salvar nossas vidas.Permite-nos ouvir pontos de vistadiferentes e tirar

nossas próprias conclusões. Nos conduz ao próprio discernimento, o qual nos

escapou a vida toda. Aprendemos que é normal não termos todas as respostas,

pois assim, podemos ser ensinados e aprender a viver a nossa nova vida com

sucesso. Porém, a mente aberta sem boa vontade não nos levará a lugar nenhum.

Temos que estar dispostos a fazer o que for necessário para nos recuperarmos.

Nunca se sabe quando chegará o momento em que precisaremos usar todo o

esforço e energia que temos, só para nos mantermos limpos. Honestidade, mente

aberta e boa vontade trabalham lado a lado, a falta de um destes princípios

espirituais no nosso programa pessoal pode levar à recaída e, certamente,tornará

a recuperação difícil e dolorosa, quando poderia ser simples.

Existem outras pessoas que nos ajudam a desenvolver uma atitude de amor e de

confiança nas nossas vidas, exigimos menos e damos mais. Demoramos para

ficarmos com raiva e perdoamos com mais rapidez. Onde tem havido o erro, o

programa nos ensina o espírito do perdão. Se nos encontrarmos numa situação

difícil ou sentirmos a chegada de problemas, aprendemos a procurar ajuda antes

de tomarmos decisões difíceis. Sendo humildes e pedindo ajuda, podemos

atravessar os momentos mais duros. Eu não posso, nós podemos !!!

Começamos a nos conhecer pela primeira vez.Experimentamos sensações novas

- amar, ser amado, saber que as pessoas se importam conosco, e sentir interesse

e compaixão pelos outros. Damos por nós fazendo coisas que nunca pensamos

em fazer, e gostando de fazê-las. Cometemos erros, e aceitamos e aprendemos

com eles.Experimentamos o fracasso e aprendemos a ter sucesso. Muitas vezes,

temos que encarar algum tipo de crise na nossa recuperação, como a morte de

um ente querido, dificuldades financeiras, ou um divórcio. São realidades da vida

que não se vão só porque estamos limpos. Alguns de nós, mesmo depois de anos

Page 36: Comportamento Compulsivo

em recuperação, ficam sem emprego, sem casa ou sem dinheiro. Alimentamos o

pensamento de que não estava valendo a pena ficarmos limpos e os velhos

pensamentos incitam a autopiedade, o ressentimento e a raiva. Não importa o

quão dolorosa as tragédias da vida possam ser para nós, uma coisa é certa - não

temos que usar drogas, aconteça o que acontecer !!!

Aprendemos a valorizar o respeito dos outros. Ficamos felizes quando as pessoas

possam contar conosco. Pela primeira vez nas nossas vidas, podemos ser

solicitados para cargos de responsabilidades em organizações na sociedade.

Nossas opiniões são procuradas e respeitadas pelas outras pessoas .

Conseguimos apreciar nossas famílias de uma nova maneira, e ser de valor para

eles, e não um fardo ou um embaraço, hoje a família podem se orgulhar de nós.

Nossos interesses individuais podem se ampliar e incluir questões sociais ou

políticas. Passatempos e diversões dão-nos um novo prazer. É uma sensação boa

sabermos que, além de sermos úteis ao outros como dependente em

recuperação, também temos valor como seres humanos.

Ajudar os outros é talvez a mais elevada aspiração da alma humana, e levar a

mensagem de que existe recuperação para o dependente químico na ativa, pode

ser conseguida quando o dependente em recuperação, mostrar através do seu

exemplo de uma vida vivida de acordo com os princípios espirituais, é realmente a

mensagem mais poderosa que podemos transmitir. Voltamos a lembrar, que um

dependente pode compreender e ajudar melhor um outro dependente.

Em recuperação, nos esforçamos por sentir gratidão,pela contínua consciência de

Deus. Sempre que nos encontamos com uma dificuldade que achamos que não

conseguimos resolver, pedimos a Deus que faça por nós o que não podemos

fazer. O crescimento espiritual é um processo contínuo. Experimentamos uma

visão mais ampla da realidade, à medida que crescemos espiritualmente. É

possível que o dependente em recuperação esteja extremamente doente

mentalmente e ainda assim possua uma `vontade de crescer' muito forte, neste

caso, a cura realizar-se-á , através da espiritualidade. Espiritualidade é a

qualidade do relacionamento com que ou com o que é mais importante na minha

vida. Eu sou o mais importante, sou eu que persigo essa qualidade de vida, que é

formado pelos relacionamentos que tenho com os pontos da minha vida, que são

os seguintes -

Page 37: Comportamento Compulsivo

profissional ................................. ter disciplina

físico e financeiro ...................... ter aceitação

social e lazer ................................ ter auto respeito

familiar ......................................... ter unidade

emocional e espiritual ............... ter honestidade, que é acreditar em DEUS, em AA

e NA, no EU, no OUTRO.

Quando nos amamos, somos capazes de amar verdadeiramente os outros. O

amor é a vontade de se esforçar para crescer espiritualmente. As pessoas

genuinamente amorosas são, por definição, pessoas que crescem. Pois a jornada

rumo ao crescimento espiritual exige coragem, iniciativa e independência de

pensamentos e ações. Descobrimos que a maneira de continuarmos a ser

pessoas produtivas e responsáveis da sociedade é colocarmos a nossa

recuperação em primeiro lugar. Só o fato em parar de usar drogas e ter uma

postura de bem viver, já estamos contribuindo e sendo produtivos para a

sociedade.

Na frase de Cristo - "Muitos são os chamados, mas poucos os escolhidos",

poderia ser traduzida como, "Todos nós somos chamados para estar em

recuperação e para ela, mas poucos escolhem escutar o chamado".

Page 38: Comportamento Compulsivo

A personalidade do usuário de drogas  

qua, 12/05/2007 - 06:30 by Daniel   Tags:

o News

Vamos falar da personalidade do usuário de drogas. Esse é um tema complexo

demais, porque não existe uma personalidade ou um modelo psicopatológico dos

usuários de drogas.

Qualquer tipo de psicopatologia pode fazer uma evolução às drogas. isso nos

coloca num panorama muito amplo, mas existe uma que tem predomínio na

tendência ao uso das drogas, a patologia da depressão.

A depressão é uma doença muito importante nesse momento da história do

mundo. o depressivo não é uma pessoa triste, chorando, culpando-se, desligada

ou com aquela famosa figura do bonequinho com os lábios para baixo, olhos

tristes e lágrimas. há pessoas que estão rindo todo o tempo, há que rir para não

chorar. e há depressões mascaradas, que aparecem de forma somática. existem

pessoas que estão muito bem aparentemente, mas tem um profundo processo

depressivo, e esse estado pode expressar-se, por exemplo, em forma de gripes

constantes ou trantornos gastrointestinais, ou as vezes complexos fenômenos

psicossomáticos.

Odr Tulan nos Estados Unidos mostrou-nos como as crianças e os adolescentes

não se deprimem como os adultos. as crianças pequenas, quando estão

deprimidas, podem apresentar-se muito agitadas. cito exemplos de depressão

equivalentes na criança: transtornos de sono e alimentação, anginas e gripes

constantes. uma criança que corre todo o dia, brinca, está escondendo talvez um

processo depressivo. Oadolescente geralmente depois dos 15 ou 16 anos,

começa a ter a depressão modelo adulto: antes, a depressão se expressa por

Page 39: Comportamento Compulsivo

trantornos de conduta, psicossomáticos , de sono, da motilidade; no estudo,

alterações da concentração, da atenção. quantos adolescentes no colégio não

estão indo mal? não se concentram, não estão indo bem. estão expressando um

processo depressivo.

Em termos de transtornos de conduta, de hábitos, cito os rapazes agressivos,

violentos, que criam atritos de todo tipo para fugir da depressão, que aliás é uma

palavra que estamos acostumados a usar como um conceito quase normal. Uma

pessoa que tem a morte de um ente querido, fracassa num exame, tem uma

dificuldade econômica, não ficará triste? Observe a pobreza, observe as

dificuldades pelas quais passamos, certas situações da vida, ficamos tristes e a

tristeza é um componente normal da vida.

Porém a tristeza da qual temos temor, aquela da qual fugimos, ou a tristeza da

qual a pessoa utiliza drogas ou qualquer coisa para não sentir, é uma tristeza

terrivel, é a tristeza na qual ela gosta de estar na "fossa". No fundo dessas

vivências, estão as vivências de desintegração, da morte. É uma tristeza aonde a

morte chega a um ponto que muda de sentido, e em vez de ser uma vivência que

se regeita, passa a ser uma a qual a pessoa sente atração, chegando a um ponto

em que a morte é a salvação, a única esperança, talvez de outra vida.

Para a lógica humana, é inacreditável pensar que existem pessoas que tem muito

mais atração pela morte do que pela vida, e que só encontram uma solução na

morte. isso do ponto de vista patológico.

Nós falamos em soluções psicótica, de fantasias psicóticas, de niveis psicóticos de

funcionamento mental, mas para eles, estes são recursos extremos de salvação e

de sobrevivência. Enesse ponto quero salientar, a mente humana é muito

complexa e não é tudo lógico como nós vemos. Écomo um "iceberg", aquela

montanha degelo que nós vemos, talvez de 1.000 metros, mas sob o mar talvez

tenha 3.000 metros

Nós vemos que uma pessoa está procurando soluções psicóticas e está sentindo

que encontra um caminho em outra vida. e se produz uma sensação de

perplexidade, de impotência, de angustia, quando agora, nesse mundo

desumanizado, nesse mundo consumista. Adepressão é cada vez mais importante

para os seres humanos. o mundo está sendo inadequado para a vida humana: a

Page 40: Comportamento Compulsivo

mecânização, a robotização do ser humano cada vez é maior e a vida cada vez

tem menos valor.

Encontramos uma faixa não muito importante da população - especialmente de

jovens que aprendem de nós, porque ninguem é original em sua patologia, como

eu sempre digo. Jovens que se criam num mundo onde a morte e a destruição é

mais importante do que a vida, vão adotando condutas nas quais a morte, e não a

vida, prevalece. e tudo isto, pela lógica formal, não nos "entra" como é possível

que jovens, crianças lindíssimas, adolescentes lindíssimos, procurem morrer, ao

invés de viver?

Essas crises de valores totais influem sobre a psicopatologia humana, e as

pessoas mais vulneráveis são aquelas que tem fundo depressivo. Equais são

aquelas que tem fundo depressivo? As que em suas primeiras épocas de vida

sofreram carências de vínculo humano, amorosos ou abandonos. Aorigem da

depressão é o abandono macro ou macroscópio. Afalta de amor e a separação

precoce da família são os núcleos geradores desse tipo de estrutura humana que

depois vão se misturando com outras formas de funcionamento mental, mas que

significam um potencial de fragilidade ou vulnerabilidade muito grande.

Sabemos muito bem hoje, que uma criança para se desenvolver, precisa de

constância de objetos de amor, de tempo e dedicação, precisa de palavras, de ser

tocada, de ser querida, e devagarinho ser ajudada a se desenvolver e se liberar,

se indempendizar. nesse momento da da sociedade, de crises humanas,

econômicas e de valores, quantas poucas crianças da nossa américa podem ter o

luxo de ter pai, mãe, uma casa, uma família e se desenvolver? Quantos milhões

de crianças ficam sozinhas, a mãe não tem tempo de atende-las, o pai está

trabalhando, lutando pela sobrevivência, ou não existe? OBrasil tem um problema

de abandono infantil muito grande. Temos que levar em conta todos esses fatores,

porque agora vai levar 10 ou 20 anos de trabalho muito duro para tratar de mudar

esse clima que foi criado e esse terreno fértil que estamos tendo ao

desenvolvimento da droga.

Quando o dr Harllow apresentou seus trabalhos com macacos, ele separou três

grupos de macaquinhos. Oprimeiro grupo, o fez criar por uma mãe macaca.

Osegundo, o fez criar por uma mãe macaca que era feita de arame coberta de

pele, era um brinquedo, e colocou mamadeira nos peitos para dar de mamar aos

Page 41: Comportamento Compulsivo

macaquinhos, que brincavam, iam e voltavam, subiam na mãe. O terceiro grupo o

fez criar por uma mãe só de arame. Era uma figura muito estranha com

mamadeira nos peitos.

Os macaquinhos criados por por sua mãe de verdade se desenvolveram bem. Se

correntes elétricas, luzes que assustavam, barulhos fortes passavam na caixa

onde eles estavam, os macaquinhos corriam, ficavam com a mãe, voltavam a

experimentar o que era aquilo. Desenvolveram-se.

Aqueles criados pela mãe boneca, com pele, que tinha cheiro de macaco porque

os macaquinhos urinavam e defecavam sobre sobre ela iam e voltavam e quando

encontravam dificuldades na vida, alguns conseguiam sair da situação se não era

muito difícil, outros fracassavam. Mas os macaquinhos criados pela pela mãe de

arame eram verdadeiros esquizofrênicos, com depressão profunda, incapacidade

de enfrentar as dificuldades da vida e morriam quase sem se defender se a coisa

era muito difícil para eles.

Moral da história: o contato humano na formação de uma criança exige dedicação.

Nenhum animal da escala biológica abandona seus filhos, como faz o animal

humano. Oque nós chamamos civilização tem esquecido que somos seres

biológicos.

E agora vou integrar todos esses pontos que estive tratando. Oponto central para

compreender a ideologia das drogas é que o ser humano não pode aceitar sua

finitude, não pode aceitar que seres como nós, que podemos pensar e que

podemos fazer coisas tão fantasticas como fazemos, temos que morrer como

todos os seres biológicos. Nenhuma planta, nenhum animal vai questionar quem

nasce, cresce, se reproduz e morre, mas o ser humano de todas as épocas

rejeitou ter que morrer, e nós inventamos tudo o possível para não ter que morrer

ou para ter a ilusão de onipotência. Desde a humanidade da qual temos notícia,

sempre o homem encontrou formas de fazer uma "armadilha" para a morte. E

aquelas pessoas que tem mais vulnerabilidade à morte são as que mais tratam de

fugir dela. Eessas pessoas que tem fases depressivas, que tiveram carência de

amor e de afeto, que foram abandonadas precocemente, são as mais vulneráveis.

Por isso, professores, médicos, pediatras, aqueles que trabalham com crianças

podem começar a detectar desde criancinhas as pessoas com muitas carências,

Page 42: Comportamento Compulsivo

que serão as mais vulneráveis as drogas. Agora, há que se aclarar um ponto.

Muitas vezes temos pessoas que não tem um problema sosioeconômico grave,

que tem uma condição econômica e social que permite a dedicação aos filhos e

tudo isso, mas a depressão não tem a ver só com o econômico e o sociopolítico,

tem a ver com a natureza humana. Por exemplo nos grupos de alta renda

econômica também acontece o abandono dos filhos, a mãe, em vez de ter que ir

trabalhar, tem que ir a nova york fazer compras, para tomar um exemplo

extremamente exagerado, ou deixar as crianças em mãos de babás, de outras

pessoas ou das próprias avós. Os seres humanos se esqueceram de que não se

pode fazer isso.

Todos sabemos que houve uma moda, durante anos, de esquecer a lactação, que

tem a importância não só de dar leite, proteínas, substâncias imunológicamente

importantes e, sim, de transmitir cultura, amor à vida. uma mãe que está

amamentandoe gosta disto, está transmitindo à criança amor á vida. Uma mãe

triste, que tem que estar fumando, falando ao telefone, ligando a televisão, em

suma, vivendo uma vida que não tolera, por mais que esteja dando de mamar,

está transmitindo uma cultura de não-amor à vida. E lutar pelo amor à vida não é

só um fato parcial. Avulnerabilidade à depressão tem se convertido num grande

fenômeno muito difundido em todas as estruturas psicopatológicas. Além disso, os

seres humanos, para viver uma vida cada vez mais robotizada, procuram

combustíveis especiais e a sociedade descobriu que se pode lucrar com as

falências humanas.

Asociedade tem compreendido que estamos vivendo num momento muito fraco,

então. as indústrias estão oferecendo todo tipo de substâncias. "aguente essa

barra e não se modifique". Toda atitude é consumista, e nesse sentido, estamos

querendo curar drogadição com drogadição. Por isso eu falo das adições

receituadas. Tomemos por exemplo os sedativos.

Adepressão é a enfermidade básica mais importante da sociedade atual. Oque se

tem feito para isso ? As indústrias farmacológicas tem oferecido uma grande

quantidade de medicamento, que em 80% são profundamente aditivos. Então para

curarmos a depressão vamos nos tornar todos toxicômanos. Enão podemos

reagir, pois tudo isso movimenta capitais fantásticos. Por que essas indústrias

farmacêuticas tem dúzias de milhares de técnicos trabalhando nisso. Eentão, o

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que acontece? Nós temos uma grande parte da população que se droga com

drogas lícitas: álcool, tabaco, benzodiazepinas, uma quantidade de medicamentos

e sedativos muitos difundidos. Eoutra quantidade, que são aqueles que procuram

as drogas ilegais: este tem a ver com conflitos de gerações, tem a ver com a

qualidade de drogas que se oferece e há de se ver que existe uma faixa da

população que precisa de coisas muitos fortes e necessita criar alguma forma de

sobreviver dentro dessa crise mundial de valores.

Dentro da psicopatologia humana, temos que a depressão é a base principal, mas

temos outra patologia, que quando encontra esta situação, se expressa de forma

diferente. é a patologia dos transtornos de conduta. Edentro da patologia dos

transtornos da conduta temos o componente psicopático. Os psicopatas são os

que lucram e são aqueles que ficam mais doentes dentro de toda esta história.

vamos ver como é isso isto.

No meio da juventude, uma grande defesa para essa depressão de abandono é a

estrutura impulsiva, os recursos impulsivos, os recursos psicopáticos, a

personalidade de ação, como uma forma de não sentir a depressão. Esses são os

personagens mais difícies da escola, da rua, e com os quais geralmente a polícia

tem que lidar. São pessoas muito fracas, que em vez de desenvolverem o

pensamento, desenvolvem a ação, em vez de desenvolverem a capacidade refletir

frente aos fenômenos, atuam a frente a estes. São pessoas que tem de fundo uma

grande depressão, mas apredem a se defender com a ação. Eeste tipo de

pessoas, além de serem grandes consumidores de drogas, são as que também

descobrem que se pode lucrar com isto são as que formam parte das máfias e

toda essa criminalidade que entra no sistema das drogas, porque são pessoas

que tem um modo de funcionar onde a moral não entra como um regulamento de

sua atuação. São as pessoas que não conhecem o `não', que não tem limites,que

não sabem que existem tabus, que não aprederam os 10 madamentos e não

sabem que não se pode matar. No código deles, a ação, o desejo e o impulso são

prioritários. Eesse tipo de pessoa, para sobreviver, além de consumir, entra nesse

negócio, e estamos permitindo que eles se multipliquem cada vez mais.

Eu disse que ia falar de uma psiquiatria dinâmica, e ela mostra que os

componentes psicopáticos podem existir em todos os tipos de personalidade mais

integradas. Em uma sociedade onde os valores morais estão em crise, pessoas

Page 44: Comportamento Compulsivo

de nível socioeconômicos, cultural, e sociopolíticos altos, tem componentes

psicopáticos. Poderosas indústrias estão lucrando ao colocar a população em alto

risco de saúde. As leis feitas para nos proteger são vulneráveis a esses tipos de

situações. Apopulação também exige soluções mágicas às suas ansiedades.

Estamos entre a produção de medicamentos psicotóxicos, e uma população que

os demanda. todo mundo tem pouco tempo. Eo médico tem maus salários,

trabalham em instituições que exigem receber 50, 60, até 100 clientes por dia.

Émuito fácil ver como o grupo psicopata de mafiosos começou a lucrar com as

debilidades humanas desde sempre e foi se acrescentado heroína, cocaína,

maconha. todo esse "negócio' é deles.

Oresultado é que as indústrias farmacêuticas tornaram-se um grande nogócio

dentro da nossa sociedade, e agora tudo começa a se misturar. Basta pegar o

jornal de hoje, e ler que a policia dos estados unidos, em colaboração com

ingleses e franceses, descobrem que a lavagem do dinheiro das máfias criam

bancos. As máfias são os grandes financistas do mundo.

Numa aula de psicopatologia e da personalidade do usuário, não podemos deixar

de ver que a oferta das drogas caminha próximo aos bancos que estão manejando

o nosso dinheiro e influindo em nossas vidas. Cada vez mais, temos pessoas mais

imaturas, com menos amor, com menos tempo de formação, que são seres

vulneráveis. Adepressão é a enfermidade básica mais importante da

psicopatologia humana. Ela requer, além de antidepressivos e estudos biológicos,

tempo, amor e dedicação. Otempo para o amor é cada vez menor, não temos

tempo para ele.

Com estas palavras, estou tratando de ligar o que é psicopatologia, um fenômeno

muito mais abrangente, e que a vulnerabilidade às drogas atinge qualquer

psicopatologia. Porque uma pessoa pode se estruturar com fobias ou com traços

de uma neurose obsessiva, mas isso não quer dizer que no fundo não seja uma

pessoa depressiva, que não tenha pontos fracos. E que em algum momento tenha

potenciais de ação e, num momento que não está bem, que está fraca, surge uma

sociedade que lhe oferece espinafre, como o popeye.

Quando nós éramos crianças, e assistíamos aos desenhos animados, víamos que

o popeye, frente às dificuldades da vida, comia espinafre. Era um bom elemento

pedagógico para mostrar às crianças que para crescer bem forte voce tem que ter

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uma boa alimentação . No entando, simbolicamente dava a idéia de que há

substâncias que deixam a gente forte instantaneamente. e o resultado é que há

uma propaganda maciça a favor de substâncias que vão nos deixar cada vez mais

fortes, a qualquer momento.

Nós, por defendermos uma ideologia de liberdade, de defesa dos interesses

privados e do nosso modo de pensar, permanentemente estamos ensinando que

cigarro, álcool, pílulas, remédios, bolinhas de todo tipo servem para curar as

fraquezas humanas. As pessoas, quando não encontram resultado com isso,

fazem uso de outras substâncias. Acocaína está triunfando nessa área do mundo,

e por que ? Porque aparece como a droga euforizante mais fantástica que se

descobriu. Eos interesses econômicos que estão por trás dela fez com que a

oferecesse em diferentes formas. Assim como uma determinada substância

médica, se oferece em xarope, comprimidos, gotas e injeções, a cocaína se

oferece em pasta de cocaína, cocaína de base livre, cocaína de cloroidrato, crack.

Eles têm técnicos de alto conhecimento químico, os chamado `drug-designers',

que lhes preparam modificação da cocaína para oferecer ao mercado este grande

antidepressivo.

Acocaína se oferece como a substância que ó espinafre do momento. Eela

triunfou porque cria um estado de exaltação. Eu a chamo a droga da inflação, pois

na época de inflação ninguém poupa. Poupar é uma doideira. Tem que ser bobo

para poupar quando o dinheiro perde o valor a cada momento. Por exemplo,

quando eu era criança, na escola tínhamos caderneta de poupança. agora, na

escola deve-se ensinar a especular com dólares, com taxas de juros, coisas que

sirvam à criança de hoje. Não podemos ensinar a poupar. Então, há essa

mudança de valores, vejam como é interessante a cocaína.

Oorganismo humano, como todo o fenômeno biológico de reciclagem, a medida

de que produza neurotransmissores, poupa noradrenalina. Aadrenalina e a

dopamina são neurotransmissores para se excitar, viver, ter energia, para ter

alegria. Oorganismo as produz e poupa. Odepressivo tem falta disso. Acocaína

oferece a produção maciça, mas sabe qual é o segredo do que acontece ao

organismo com a cocaína? Corta a poupança, inibe a recapitalização. Oorganismo

produz, e não poupa, e se chega ao esgotamento.

Page 46: Comportamento Compulsivo

Adepressão pós-cocaína, que é o que acontece em nossas economias - de

inflação e depois a depressão. Apobreza - produtos difícies de manejarmos na

nossa época.

Quero fechar este artigo mostrando que psicopatologia e sociedade estão

diretamente ligadas. Eque, para resolver esse problema, é preciso encontros

interdisciplinares, leis, lutas de todos os grupos humanos. Precisamos parar de

ficar procurando bodes expiatórios para quem é o culpado de tudo o que está nos

acontecendo. Oque esta acontecendo é produto de que nós, seres humanos,

esquecemos que somos seres biológicos, que temos limites e que formamos parte

de um todo, onde o ar, a água, as plantas, os animais, tudo está ligado. Ese

levarmos em conta tudo isto e fizermos uma luta pela vida, o problema das

drogas, que é o problema da destrutividade, vai ser vencido.

 

Autor : DR.EDUARDO KALINA , PSIQUIATRA

"1O. ENCONTRO ESTADUAL DROGAS: PREVENÇÃO HOJE"

Por que as pessoas usam drogas

Page 47: Comportamento Compulsivo

  

dom, 12/02/2007 - 20:36 by Daniel   Tags:

o Abuso

Mas por quê os intoxicantes são tão procurados? Quais as razões que levam as

pessoas a utilizá-los?

A nosso ver podem ser enquadradas em quatro grupos básicos:

1. Para reduzir sentimentos desagradáveis de angústia e depressão. Estes

sentimentos seriam :

Gerais, decorrentes da própria condição humana. A angústia do ser humano

diante da vida foi muito bem descrita pelos filósofos da corrente existencialista.

Para eles o ser humano, sem saber porquê e para que, é jogado no mundo hostil

ou indiferente.

Durante sua vida o ser humano é permanentemente ameaçado pelo

aniquilamento, confrontado com o absurdo, tendo apenas uma certeza em relação

ao seu futuro - a sua inevitável morte, que ocorrerá em data e condições

desconhecidas. De acordo com os conceitos existencialistas poderíamos, pois,

definir a vida como uma aventura trágica, absurda e ilógica, que sempre termina

em morte.

Considerando a situação existencial do homem alguns autores afirmam que não é

de se estranhar que ele se angustie e sim que ele se angustie tão pouco.

Específicas, próprias de cada indivíduo - originadas por experiências traumáticas

ou condições patológicas. Constituiriam exemplos o uso de drogas por veteranos

de guerras ou por pessoas com fobia social ou depressão.

2. Para exaltar sensações corporais e provocar gratificações sensoriais de

natureza estética e, especialmente, eróticas. Dizem os usuários de drogas que a

Page 48: Comportamento Compulsivo

música soa melhor, as cores são mais brilhantes e o orgasmo se torna mais

intenso, durante o uso de sua droga preferida.

3. Para aumentar rendimentos psicofísicos, reduzindo sensações corporais

desagradáveis, como dor, insônia, cansaço ou superando necessidades

fisiológicas como o sono e a fome. Durante o império Inca a folha de coca era

mascada por mensageiros e carregadores para aumentar sua resistência e

velocidade.

É freqüente o uso de anfetaminas por choferes de caminhão que desejam encurtar

a duração de suas viagem.

Um exemplo curioso foi o caso de um psicopata, visto por um de nós, internado

por intoxicação anfetamínica. Empregado de um traficante de drogas, este rapaz

passara a usar os anfetamínicos para permanecer mais tempo acordado e poder

vender mais drogas, ganhando assim o reconhecimento de seu chefe.

Dores crônicas e insônia persistente constituem causas bem reconhecidas de

abuso de analgésicos e hipnóticos diversos.

4. Como meio de transcender as limitações do corpo e o jugo da espaço-

temporalidade, unindo-se à realidade por trás de todos os fenômenos ou, mais

limitadamente, a alguma entidade espiritual qualquer, capaz de conferir-lhe, pelo

menos temporariamente, poderes especiais.

São bem conhecidos os relatos de uso de cactos e fungos por diversas nações

indígenas, em ocasiões especiais, como uma forma de unir-se a seus deuses ou

antepassados. Também documentados estão o uso de drogas pelos shamans

durante suas atividades curativas e a ingestão de álcool por médiuns possuidos

por entidades espirituais nos rituais de cultos afroamericanos. Comumente nestes

casos o uso das drogas faz-se somente em situações bem definidas,

culturalmente aceitas e reconhecidas, não comprometendo o desempenho social

das pessoas. Por outro lado, muitos usuários de drogas, como por exemplo alguns

hippies dos anos 60, procuraram em drogas diversas (principalmente

alucinógenos) um substituto para experiências religiosas.

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