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XIII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e IX Encontro Latino Americano de Pós-Graduação – Universidade do Vale do Paraíba 1 COMPOSIÇÃO FLORÍSTICA, ANÁLISE FITOSSOCIOLÓGICA E ESTRUTURAL DE UMA FLORESTA DE CERRADÃO, CURVELO-MG Thiago José Ornelas Otoni 1 , Silvia da Luz Lima Mota 1 , Israel Marinho Pereira 1 , Márcio Leles Romarco de Oliveira 1 , Leandro Alves Costa 1 1 Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucurí, Departamento de Engenharia Florestal, Rodovia MGT 367 – Km 583, nº 5000 - Alto da Jacuba - 39100-000 Diamantina/MG, Brasil. Telefone: (31) 91023884 – [email protected] Resumo- Foi conduzido um estudo fitossociológico no Município de Curvelo-MG, em uma área de Cerradão com uma área amostral de 1,0 ha, distribuída em dez unidades amostrais de 20x50 m (1.000 m²) lançadas sistematicamente. Foram incluídas no estudo, todas as árvores obedecendo ao critério de diâmetro, a 0,30 m do solo, 5,0 cm. Foram registrados 2.427 indivíduos, sendo 97 espécies, 81 Gêneros e 37 Famílias botânicas. As Famílias de maior riqueza foram Fabaceae (13) e Vochysiaceae (4), A distribuição diamétrica apresentou a tendência de “J” invertido, decrescendo o número de indivíduos com o aumento do diâmetro; a Área Basal total foi de 24,32 m².ha -1 e Volume Total com Casca de 89,04 m³.ha -1 . A área apresentou baixa dominância ecológica e alto grau de heterogeneidade quando analisada pelos índices de Shannon-Weaver (3,55 nats.ind-1) e Pielou (0,77) e o Quociente de Mistura de Jentsch (0,04) que indicou uma espécie nova em média a cada 25 indivíduos amostrados. O grupo de espécies de maior valor de importância foi: Magonia pubescens A.St.-Hil. (11,61%), Tachigali rubiginosa (Benth.) ined. (8,00%), Qualea grandiflora Mart. (7,87%) Terminalia argentea (Cambess.) Mart. (3,87%), Qualea parviflora Mart. (3,77%). Palavras-chave: Bioma Cerrado; Fazenda do Moura; Bacia do São Francisco; Parcelas permanentes. Área do Conhecimento: CIÊNCIAS AGRÁRIAS Introdução O Cerrado é formado por um mosaico de formações vegetais que variam desde campos abertos até formações densas de florestas (EITEN, 1972; RIBEIRO & WALTER, 2008). Essa diversidade manifesta-se também na grande quantidade de espécies potencialmente econômicas que inclui as alimentícias, medicinais, ornamentais, forrageiras, apícolas, produtoras de madeira, cortiça, fibras, óleo, tanino, material para artesanato e outros bens, evidenciando a importância deste bioma no desenvolvimento regional (IBGE, 1999; ALMEIDA et al., 1998). Barros (1997) salienta que, em geral o uso e o conhecimento das espécies com tais potenciais estão restritos a leigos (mateiros e raizeiros). A disponibilidade desses recursos representa fonte de renda alternativa para comunidades tradicionais, comerciantes, processadores e empresários. Segundo Clay & Sampaio (2000) a floresta pode gerar, com eficiência, maior lucro e mais empregos do que áreas desmatadas para pastagens e agricultura convencional de alta tecnologia. A pesar de sua importância social, econômica e ecológica o Cerrado apresenta as maiores taxas de desmatamento e o mais rápido processo de expansão das fronteiras agrícola e pecuária do país, especialmente nos últimos anos (FELFILI, 2002). As transformações de uso da terra no bioma Cerrado têm levado a modificações profundas na estrutura e funcionamento de seus ecossistemas. Estimativas indicam que restam menos de 17% de áreas de Cerrado não antropizadas e que cerca de 50% do bioma já está completamente alterado. A pecuária é a principal atividade econômica responsável pela conversão da vegetação natural ocupando cerca de 67% de toda área de Cerrado transformada (BRASIL, 1998). Além da biodiversidade, as mudanças do uso da terra no Cerrado comprometem o meio físico, em particular os recursos hídricos na região. Atualmente, o Cerrado tem sido foco de preocupação frente ao panorama devastado que restou ao Bioma. A Proposta de Emenda à Constituição 115 idealizada no ano de 1995 propõe modificar o parágrafo 4° do art. 225 da Constituição Federal, incluindo o Cerrado na lista dos biomas considerados Patrimônios Nacionais. O Bioma ainda não possui U.C. de uso direto, e são poucos os estudos que visão o uso sustentável de seu patrimônio natural. Entretanto o MMA procura reverter esses impactos negativos com a apresentaçaão do Programa Nacional para Conservação e Uso Sustentável do Bioma Cerrado. O objetivo deste trabalho foi conhecer a composição, estrutura e diversidade da comunidade arbustivo-arbórea em uma área de Cerradão na Fazenda Experimental do Moura em Curvelo-MG, visando a geração de conhecimentos

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XIII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e IX Encontro Latino Americano de Pós-Graduação – Universidade do Vale do Paraíba

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COMPOSIÇÃO FLORÍSTICA, ANÁLISE FITOSSOCIOLÓGICA E E STRUTURAL DE

UMA FLORESTA DE CERRADÃO, CURVELO-MG

Thiago José Ornelas Otoni 1, Silvia da Luz Lima Mota 1, Israel Marinho Pereira 1, Márcio Leles Romarco de Oliveira 1, Leandro Alves Costa 1

1Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucurí, Departamento de Engenharia Florestal,

Rodovia MGT 367 – Km 583, nº 5000 - Alto da Jacuba - 39100-000 Diamantina/MG, Brasil. Telefone: (31) 91023884 – [email protected]

Resumo- Foi conduzido um estudo fitossociológico no Município de Curvelo-MG, em uma área de Cerradão com uma área amostral de 1,0 ha, distribuída em dez unidades amostrais de 20x50 m (1.000 m²) lançadas sistematicamente. Foram incluídas no estudo, todas as árvores obedecendo ao critério de diâmetro, a 0,30 m do solo, ≥ 5,0 cm. Foram registrados 2.427 indivíduos, sendo 97 espécies, 81 Gêneros e 37 Famílias botânicas. As Famílias de maior riqueza foram Fabaceae (13) e Vochysiaceae (4), A distribuição diamétrica apresentou a tendência de “J” invertido, decrescendo o número de indivíduos com o aumento do diâmetro; a Área Basal total foi de 24,32 m².ha-1 e Volume Total com Casca de 89,04 m³.ha-1. A área apresentou baixa dominância ecológica e alto grau de heterogeneidade quando analisada pelos índices de Shannon-Weaver (3,55 nats.ind-1) e Pielou (0,77) e o Quociente de Mistura de Jentsch (0,04) que indicou uma espécie nova em média a cada 25 indivíduos amostrados. O grupo de espécies de maior valor de importância foi: Magonia pubescens A.St.-Hil. (11,61%), Tachigali rubiginosa (Benth.) ined. (8,00%), Qualea grandiflora Mart. (7,87%) Terminalia argentea (Cambess.) Mart. (3,87%), Qualea parviflora Mart. (3,77%). Palavras-chave: Bioma Cerrado; Fazenda do Moura; Bacia do São Francisco; Parcelas permanentes. Área do Conhecimento: CIÊNCIAS AGRÁRIAS Introdução

O Cerrado é formado por um mosaico de formações vegetais que variam desde campos abertos até formações densas de florestas (EITEN, 1972; RIBEIRO & WALTER, 2008). Essa diversidade manifesta-se também na grande quantidade de espécies potencialmente econômicas que inclui as alimentícias, medicinais, ornamentais, forrageiras, apícolas, produtoras de madeira, cortiça, fibras, óleo, tanino, material para artesanato e outros bens, evidenciando a importância deste bioma no desenvolvimento regional (IBGE, 1999; ALMEIDA et al., 1998). Barros (1997) salienta que, em geral o uso e o conhecimento das espécies com tais potenciais estão restritos a leigos (mateiros e raizeiros).

A disponibilidade desses recursos representa fonte de renda alternativa para comunidades tradicionais, comerciantes, processadores e empresários. Segundo Clay & Sampaio (2000) a floresta pode gerar, com eficiência, maior lucro e mais empregos do que áreas desmatadas para pastagens e agricultura convencional de alta tecnologia.

A pesar de sua importância social, econômica e ecológica o Cerrado apresenta as maiores taxas de desmatamento e o mais rápido processo de expansão das fronteiras agrícola e pecuária do país, especialmente nos últimos anos (FELFILI, 2002). As transformações de uso da terra no

bioma Cerrado têm levado a modificações profundas na estrutura e funcionamento de seus ecossistemas. Estimativas indicam que restam menos de 17% de áreas de Cerrado não antropizadas e que cerca de 50% do bioma já está completamente alterado. A pecuária é a principal atividade econômica responsável pela conversão da vegetação natural ocupando cerca de 67% de toda área de Cerrado transformada (BRASIL, 1998). Além da biodiversidade, as mudanças do uso da terra no Cerrado comprometem o meio físico, em particular os recursos hídricos na região.

Atualmente, o Cerrado tem sido foco de preocupação frente ao panorama devastado que restou ao Bioma. A Proposta de Emenda à Constituição 115 idealizada no ano de 1995 propõe modificar o parágrafo 4° do art. 225 da Constituição Federal, incluindo o Cerrado na lista dos biomas considerados Patrimônios Nacionais. O Bioma ainda não possui U.C. de uso direto, e são poucos os estudos que visão o uso sustentável de seu patrimônio natural. Entretanto o MMA procura reverter esses impactos negativos com a apresentaçaão do Programa Nacional para Conservação e Uso Sustentável do Bioma Cerrado.

O objetivo deste trabalho foi conhecer a composição, estrutura e diversidade da comunidade arbustivo-arbórea em uma área de Cerradão na Fazenda Experimental do Moura em Curvelo-MG, visando a geração de conhecimentos

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capazes de subsidiar o uso sustentável, a recuperação e a conservação de ecossistemas semelhantes.

Material e Método

A Fazenda Experimental do Moura pertence a UFVJM e possui uma área contínua de 571 ha, localizada no município Curvelo, nas coordenadas: 18°45’ S e 45°25’W e altitude média de 633m. Esta área fica situada numa grande superfície aplainada na mesorregião central do estado de Minas Gerais, entre as bacias do Rio São Francisco e Rio das Velhas. A vegetação predominante no município de Curvelo é típica do Cerrado, modificado pela expansão das pastagens e plantações de eucalipto (Neves, 2006).

Para o levantamento da comunidade arbóreo-arbustivos foram alocadas dez parcelas (20x50 m) permanentes na tipologia de Cerradão, totalizando uma área amostral 1,0 ha. Cada parcela teve seus vértices delimitados por canos de PVC unidos por fitilhos de náilon. Com o auxilio de uma bússola fez-se a orientação do caminhamento e do alinhamento entre as parcelas e uma trena para medir as distâncias horizontais. As parcelas foram georreferenciadas com um GPS GARMIN (Córrego Alegre), e os pontos plotados (Figura 1), com o sistema de coordenadas UTM, em uma imagem de satélite fornecida gratuitamente pelo Google Erth®.

Figura 1- Imagem Google Erth® da área de Cerradão na Fazenda Experimental do Moura mostrando de forma esquemática a disposição das parcelas.

Em cada parcela foram mensurados todos os

indivíduos lenhosos com diâmetro a 0,30 m do solo ≥ 5,0 cm. Ainda, dentre as árvores mensurados, os indivíduos com diâmetro a 1,30 m do solo ≥ 3,0 cm foram utilizados para o cálculo do estoque volumétrico. Indivíduos com caules múltiplos foram incluídos quando a raiz da soma

dos quadrados das CAS (Circunferência a Altura do Solo) fosse igual ou superior ao limite estabelecido. Todos os indivíduos foram registrados em uma ficha de campo com o nome da espécie, o valor de CAS, o valor do DAP (Diâmetro a Altura do Peito), comprimento de cada Fuste (mais de uma medida em caso de perfilhamento) e altura total. Os indivíduos receberam uma etiqueta de alumínio numerada.

A identificação do material botânico foi realizada em campo sempre que possível pelas equipes de campo. As espécies não identificadas no local foram devidamente coletadas e levadas ao Laboratório de Dendrologia e Ecologia da UFVJM onde foram montadas em exsicatas e posteriormente identificadas por meio de consultas à literatura e especialistas ou por comparações com espécimes existentes nos Herbário da UFVJM. Todo o material foi identificado, sempre que possível, até o nível específico.

Foram calculados os parâmetros fitossociológicos clássicos propostos por Mueller-Dombois & Ellemberg (1974) para a análise estrutural da vegetação. Os parâmetros foram calculados da seguinte forma:

Densidade DA = (ni / área), em hectare; DR = (ni / N)×100; Freqüência FA = (Pi / P)×100 FR = (FAi /ΣFA)×100; Dominância ou Biomassa DoA = (gi / área) DoR = (gi /G)×100; Índice de Valor de Importância IVI = (DRi + FRi + DoRi)/3. Onde:

• gi = área basal da espécie i; • G = somatória das áreas basais de todas

as espécies; • DAi = densidade absoluta da espécie i; • Área = área total amostrada, em ha; • Pi = número de parcelas com ocorrência

da espécie i; • P = número total de parcelas; • FAi = freqüência absoluta da espécie i; • FRi = freqüência relativa da espécie i; • ni = número de indivíduos da espécie i; • N= número total de indivíduo; • DRi = densidade relativa da espécie i; • DoRi = dominância relativa da espécie i; • IVI = Índice de Valor de Importância.

A diversidade florística foi obtida pelos índices

Shannon-Weaver (H’) e equabilidade de Pielou (J’) (BROWER & ZAR, 1984), conforme as seguintes expressões:

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Índice de Shannon-Weaver H'= - Σ pi ln( pi); Equabilidade de Pielou J'= H'/ln(S). Onde:

• pi = proporção do número de indivíduos da espécie i em relação ao total de indivíduos;

• H’ = índice de diversidade Shannon-Weaver;

• e S = número total de espécies amostradas (riqueza);

• J’ = indice de equabilidade de Pielou; • N = n° total de indivíduos • n = n° de indivíduos por espécies.

Calculou-se também o Quociente de Mistura de

Jentsch (QM). O índice foi calculado com base na seguinte formula:

QM = (S/Ni), Onde:

• QM = quociente de mistura de Jentsch; • S = número de espécies; • Ni = número de indivíduos.

Foram preparadas distribuições de densidade

por classes de diâmetro com amplitudes de intervalos de classe crescentes com intuito de representar a distribuição em J-invertido típico de sistemas florestais.

O estoque volumétrico da floresta foi estimado de acordo com o CETEC (1995), para área de Cerrado em Minas Gerais, em que se pode calcular o volume total com casca e o volume do fuste com casca através das seguintes equações:

VTcc = 0,000066 * DAP2,475293 * Ht0,300022 R² = 98,1%; Vfcc 0,000094 * DAP2,297796 * Hf0,352681 R² 97,9%. em que:

• VTcc = Volume total com casca em m³; • DAP = Diâmetro com casca medido a 1,30

m do solo, em cm; • Ht = altura total, em m; • VFcc = Volume do fuste com casca, em

m³; • Hf = altura do fuste, em m.

O volume foi calculado por indivíduo e em

casos de caules múltiplos, cada fuste foi considerado individualmente.

Resultados

Baseados nos critérios de inclusão foram catalogados 2.427 indivíduos lenhosos distribuídos em 37 Famílias, 81 Gêneros e 86 Espécies e 12 morfoespécies. As Famílias com maior número de espécies foram Fabaceae (11), Bignoniaceae (7), Rubiaceae (7) e Malpighiaceae (5), A família Sapindaceae foi a que apresentou o maior número de indivíduos (505), seguida de Fabaceae (462) e Vochisiaceae (320). Tabela 1- Lista de 25 espécies arbóreas registradas com maior Valor de Importância e seus respectivos valores dos parâmetros fitossociológicos em uma área de Cerradão, Curvelo-MG, em ordem decrescente de VI, em que: ni = número de indivíduos; DR = densidade relativa (%); FR = freqüência relativa (%); DoR = dominância relativa (%); VC = valor de cobertura (%) e VI = valor de importância (%)

Família Espécie ni DRi FRi DoRi VIi

SAPINDACEAE Magonia pubescens A.St.-Hil. 471 19,41 2,29 13,13 11,61 FABACEAE CAESALPINIOIDEAE Tachigali rubiginosa (Benth.) ined. 204 8,41 2,29 13,31 8,00 VOCHYSIACEAE Qualea grandiflora Mart. 196 8,08 2,29 13,25 7,87 COMBRETACEAE Terminalia argentea (Cambess.) Mart. 77 3,17 1,83 6,61 3,87 VOCHYSIACEAE Qualea parviflora Mart. 98 4,04 2,06 5,21 3,77 BURSERACEAE Protium heptaphyllum (Aubl.) Marchand 84 3,46 1,83 2,83 2,71 CLUSIACEAE Kielmeyera coriacea Mart. & Zucc. 90 3,71 2,06 2,15 2,64 FABACEAE FABOIDEAE Acosmium dasycarpum (Vogel) Yakovlev 71 2,93 2,29 2,09 2,44 ANACARDIACEAE Astronium fraxinifolium Schott ex Spreng. 51 2,10 2,29 1,84 2,08 FABACEAE FABOIDEAE Machaerium opacum Vogel 46 1,90 2,29 1,52 1,90 PROTEACEAE Roupala montana Aubl. 45 1,85 2,06 1,68 1,87 FABACEAE CAESALPINIOIDEAE Tachigali aurea Tul. 43 1,77 1,83 1,75 1,78 FABACEAE FABOIDEAE Vatairea macrocarpa (Benth.) Ducke 37 1,52 1,83 1,99 1,78 ANNONACEAE Xylopia aromatica (Lam.) Mart. 57 2,35 1,61 1,29 1,75 MALVACEAE Eriotheca pubescens (Mart. & Zucc.) Schott. & Endl. 20 0,82 1,61 2,17 1,53

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Família Espécie ni DRi FRi DoRi VIi

LAMIACEAE Hyptidendron canum (Pohl) Harley 47 1,94 1,38 1,14 1,48 CARYOCARACEAE Caryocar brasiliense Cambess. 12 0,49 1,61 2,16 1,42 BIGNONIACEAE Tabebuia aurea (Manso) Benth. & Hook.f. ex S.Moore 33 1,36 1,61 1,17 1,38 ERYTHROXYLACEAE Erythroxylum sp. 31 1,28 2,06 0,69 1,34 FABACEAE FABOIDEAE Bowdichia virgilioides Kunth 16 0,66 2,06 1,27 1,33 DILLENIACEAE Curatella americana L. 16 0,66 1,61 1,69 1,32 SAPINDACEAE Dilodendron bipinnatum Radlk. 34 1,40 1,38 1,00 1,26 FABACEAE CAESALPINIOIDEAE Dimorphandra mollis Benth. 22 0,91 2,06 0,70 1,22 MALPIGHIACEAE Byrsonima coccolobifolia Kunth 27 1,11 1,38 0,97 1,15 MALVACEAE Pseudobombax tomentosum (Mart. & Zucc.) A.Robyns 18 0,74 1,61 1,10 1,15

Total Parcial 1846 76,06 47,25 82,72 68,68 Outras 581 23,94 52,75 17,28 31,32

Total Geral 2427 100 100 100 100

Os índices de Diversidade de Shannon-Weaver

(H’) e Equabilidade de Pielou (J’) calculados para a área de estudo foram H’ = 3,55 nats.ind-1 e J’ = 0,77. O coeficiente de Mistura de Jentsch (QM) apresentou o valor de 0,04 ou 1:25 (espécies/indivíduos). Tabela 2- Valores de riqueza e dos parâmetros de diversidade e equabilidade em uma área de Cerradão, Curvelo-MG, onde: S = número de espécies; H’ = índice de diversidade de Shannon-Weaver; J’ = índice de equabilidade de Pielou e QM= Quociente de Mistura de Jentsch

S H' J QM

Cerradão 97 3,55 0,77 0,04 ou 1:25

A área basal por hectare estimado foi 24,3

m².ha-1 para esta tipologia de Cerrado. O volume estimado por hectare pelas equações

do CETEC (1995) obteve o valor de 89,09 m³.ha-1 para os dados de altura total e DAP; quando se estima o volume a partir dos dados de Comprimento de Fuste e o DAP, o valor encontrado é de 65,96 m³.ha-1. O volume também foi calculado para cada classe de diâmetro utilizando a altura total e comprimento dos fustes de cada indivíduo amostrado. Tabela 3- Estimativa volumétrica por classe de tamanho de DAP em uma área de Cerradão da Fazenda Experimental do Moura, Curvelo – MG, onde: VTcc é a coluna de valores de volume estimado pela altura total da árvore com casca e VFcc é a coluna de valores de volume estimado pelo comprimento de cada fuste da árvore com casca

Classe Diamétrica VTcc VFcc

3├10 20,1923 18,0076 10├15 19,4718 15,5984 15├20 14,6951 10,9127 20├30 13,7624 9,2714

DAP≥30 20,9642 12,1691 Total 89,0857 65,9593

A distribuição diamétrica das espécies amostradas na área seguiu uma tendência de “J” invertido como representado pela Figura 2, concentrado muitos indivíduos nas menores classes e decrescendo este número com o aumento do porte das árvores.

Figura 2- Distribuição do número de árvores em função da classe diamétrica para uma área de Cerradão na Fazenda Experimental do Moura, Curvelo – MG. Discussão

A Fisionomia estudada foi considerada como Cerradão segundo a caracterização de Ribeiro e Walter (2008) e Felfili (2005) que descrevem o Cerradão com cobertura arbórea entre 50 e 70%, com dossel variando de 07 a 15 m, com arvoretas menores que 3,0 m no sub-bosque, com Palmeiras com troncos curtos e bromélias terrestres grandes.

A riqueza expressa pelo número de espécies, neste estudo foi semelhante aos trabalhos de Lima Júnior (2007) em Uberlândia/MG com 93 espécies por hectare e superior à riqueza de 78 espécies encontrada por Souza (2008) em no município de Paraopeba/MG.

A Família Vochisiaceae, apesar de ocupar uma posição intermediária quando se trata do número total de espécies e/ou de indivíduos, esta se destaca em termos de valor de importância ocupando a segunda posição (13,03%), seguida

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de Sapindacea (12,86%) e antecedida pela família Fabaceae (21,23%), que se destacou no VI tanto pela dominância quanto pela densidade e freqüência de seus indivíduos na área de estudo. Essas três Famílias juntas somas pouco mais de 47% do VI total.

As espécies estimadas com maior importância ecológica na Estrutura Horizontal foram Magonia pubescens (11,61%), Tachigali rubiginosa (8,00%), Qualea grandiflora (7,87%), Terminalia argentea (3,87%), Qualea parviflora (3,77%), Protium heptaphyllum (2,70%), Kielmeyera coriacea (2,64%), Acosmium dasycarpum (2,44%), Astronium fraxinifolium (2,07%), Machaerium opacum (1,90%), Roupala Montana (1,86%) e Tabebuia ochracea (1,78%). Essas espécies destacaram-se tanto pela abundância (M. pubescens) quanto pela dominância (T. rubiginosa) para a classificação do VI. Estas espécies representam cerca de 60% da Densidade, mais de 65% da Dominância e ocorrem em todas as parcelas com exceção de T. argentea, P. heptaphyllum, K. coriacea, T. aurea. As famílias, gêneros e espécies mais importantes deste trabalho são descritos como característicos do Bioma Cerrado por Mendonça et al. (2008) conferindo embasamento na classificação do ambiente.

A análise de diversidade obteve valores elevados quando comparada aos estudas realizados por Felfili & Silva Júnior (2005) no qual os valores deste índice em média concentram-se na faixa de 3,55 nats.ind-¹ e valores variando de 3,04 a 3,73 nats.ind-¹ em áreas de Cerrado do Brasil Central. Marimon Junior (2005) encontrou H’ igual a 3,67 nats.ind-¹ estudando áreas de Cerradão no leste do Mato Grosso. O índice de diversidade de Shannon-Weaver (H’), em comunidade arbórea de Cerradão, foi para Ribeiro et. al. (1985) no Distrito Federal de 3,56.ind-¹ e Costa e Araújo (2001) em Minas Gerais de 3,54 nats.ind-¹.

Neste estudo os indivíduos mostraram-se amplamente distribuídos entre as espécies, tendendo a uma razão de abundância/riqueza equilibrada como mostra o índice de equabilidade de Pielou (J’) que apresentou valor de 0,77. O coeficiente de Mistura de Jentsch (QM) apresentou o valor de 0,04 ou 1:25, indicando qe para cada 25 indivíduos contabilizados em média, uma nova espécie era acrescida na riqueza do local. As espécies que apresentaram maior concentração de indivíduos foram M. pubecens, T. rubiginosa e Q. grandiflora. Valores que corroboram com os levantamentos feitos por Felfili & Silva Júnior (2005) em 15 áreas pertencentes ao Brasil Central nos estados de Goiás, Bahia e Minas Gerais que resultaram em valores entre 0,75 a 0,88 para o índice de Pielou.

Uma análise conjunta de diversidade e equabilidade definem para a área estudada alto grau de heterogeneidade e dominância ecológica baixa. Dessa forma, a Área Basal estimada junto aos parâmetros florísticos e de diversidade e por fim a tendência de “J” invertido da distribuição diamétrica permite inferir que a floresta encontra-se em equilíbrio e com um alto nível de conservação, quando baseado apenas nestes parâmetros.

Conclusão

A área de estudo possui um nível considerável de equilíbrio com elevada riqueza florística e considerável grau de conservação. Atributos que conferem informações chave para elaboração de estudos e trabalhos como planos recuperação de áreas alteradas e/ou degradadas, reintrodução de espécies em ambientes onde foram extintas ou mesmo na elaboração de planos de manejo para utilização econômica de espécies de interesse comercial em ambientes semelhantes ao estudado.

No delineamento de estratégias para manejo e extrativismo sustentável as informações coletadas são fundamentais para as avaliações de impacto, conservação e para o planejamento da produção regional.

O estoque volumétrico é baixo quando comparado a florestal de outros biomas, não justificando economicamente um corte raso da mata. Mas sua elevada diversidade e inúmeros produtos florestais oferecidos como cortiças, resinas, sementes e até a madeira para algumas espécies, torna interessante um plano de manejo para uso de multiprodutos florestais, significando maior renda e número de emprego, sustentabilidade econômica, ambiental e social para a região atinginda. Referências - ALMEIDA, S.P.; PROENÇA, C.E.B.; SANO, S.M; RIBEIRO, J.F. Cerrado: espécies vegetais úteis. Planaltina: Embrapa-CPAC, 1998. 464p. - BARROS, P. M. Alvorecer de uma nova ciência: a medicina tropicalista baiana. Hist. cienc. saude-Manguinhos [online]. 1997, vol.4, n.3, pp. 411-459. - BRASIL. Ministério do Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos e da Amazônia e Amazônia Legal. Primeiro relatório nacional para a conservação sobre diversidade biológica: Brasil, Brasília, 1998. - BROWER, J. E. & ZAR, J. H. Field and laboratory methods for general ecology. W.M.C. Brow, Dubuque. 1984.

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XIII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e IX Encontro Latino Americano de Pós-Graduação – Universidade do Vale do Paraíba

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