52
1 COMPORTAMENTO EM FLEXÃO A QUATRO PONTOS DE TUBOS COMPÓSITOS PRODUZIDOS PELA TÉCNICA DE ENROLAMENTO FILAMENTAR. Denis Scaringi PROJETO DE FORMATURA SUBMETIDO AO CORPO DOCENTE DO DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA METALÚRGICA E DE MATERIAIS DA ESCOLA DE ENGENHARIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE BACHAREL EM ENGENHARIA DE MATERIAIS. Aprovado por: ________________________________________ Prof. Fernando Luiz Bastian, Ph.D. ________________________________________ Prof.ª Marysilvia Ferreira da Costa, D. Sc. _________________________________________ Prof. Luiz Antonio Lourenço Martins, M.Sc RIO DE JANEIRO, RJ BRASIL JULHO DE 2010

COMPÓSITOS PRODUZIDOS PELA TÉCNICA DE … · Os compósitos reforçados com fibras são normalmente utilizados para solicitações mecânicas de elevada resistência à tração,

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: COMPÓSITOS PRODUZIDOS PELA TÉCNICA DE … · Os compósitos reforçados com fibras são normalmente utilizados para solicitações mecânicas de elevada resistência à tração,

1

COMPORTAMENTO EM FLEXÃO A QUATRO PONTOS DE TUBOS

COMPÓSITOS PRODUZIDOS PELA TÉCNICA DE ENROLAMENTO

FILAMENTAR.

Denis Scaringi

PROJETO DE FORMATURA SUBMETIDO AO CORPO DOCENTE DO

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA METALÚRGICA E DE MATERIAIS DA

ESCOLA DE ENGENHARIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE

JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO

DO GRAU DE BACHAREL EM ENGENHARIA DE MATERIAIS.

Aprovado por:

________________________________________

Prof. Fernando Luiz Bastian, Ph.D.

________________________________________

Prof.ª Marysilvia Ferreira da Costa, D. Sc.

_________________________________________

Prof. Luiz Antonio Lourenço Martins, M.Sc

RIO DE JANEIRO, RJ – BRASIL

JULHO DE 2010

Page 2: COMPÓSITOS PRODUZIDOS PELA TÉCNICA DE … · Os compósitos reforçados com fibras são normalmente utilizados para solicitações mecânicas de elevada resistência à tração,

2

“Dedico este trabalho a minha família, meus

amigos e todos que acreditaram no meu potencial”

Page 3: COMPÓSITOS PRODUZIDOS PELA TÉCNICA DE … · Os compósitos reforçados com fibras são normalmente utilizados para solicitações mecânicas de elevada resistência à tração,

3

Em memória ao meu grande mestre e amigo

Prof. Tsuneharu Ogasawara

Page 4: COMPÓSITOS PRODUZIDOS PELA TÉCNICA DE … · Os compósitos reforçados com fibras são normalmente utilizados para solicitações mecânicas de elevada resistência à tração,

4

Agradecimentos

Primeiramente, a Deus por me dar forças para seguir em frente... Sempre!

A minha mãe, Rosana, pela sua compreensão, carinho e afeto, além de me ajudar

nos momentos difíceis de duvida. Ao meu pai, Orlando, por ter muita paciência comigo

e acreditar no meu potencial. Amo vocês!

Ao meu irmão, Vinicius, por ser meu maior companheiro em tudo o que faço.

Aos meus alunos do instituto politécnico de Cabo Frio, que me fazem acreditar

que luto por um mundo melhor e contribuo para a formação de verdadeiros cidadãos.

Com certeza, hoje sou uma pessoa mais feliz por dar aula pra vocês.

Aos meus camaradas, Assef, Pablo, Calé, “Rauls”, Laercio e todos os

sobreviventes da Metalmat. Valeu pela força galera.

Ao Flavio da oficina do Instituto de Física da UFRJ, por me ajudar a construir os

dispositivos utilizados nos ensaios.

Ao meu orientador Prof. Fernando Luiz Bastian, por me ensinar, apoiar e

orientar como um grande mestre. Obrigado professor.

Aos companheiros de trabalho:Carolina, Daniel, Rafael, Luis Antônio, Otávio,

Camila, “Marcelos”, Victor, Miguel, por tornarem o trabalho mais prazeroso.

A grande amiga Ledjane, por me ajudar e me orientar sempre o melhor caminho.

Page 5: COMPÓSITOS PRODUZIDOS PELA TÉCNICA DE … · Os compósitos reforçados com fibras são normalmente utilizados para solicitações mecânicas de elevada resistência à tração,

5

Índice

1. Introdução ............................................................................................. 10

2. Revisão bibliográfica ............................................................................ 13

2.1. Materiais compósitos ....................................................................................... 13

2.1.1. Matriz .................................................................................................... 16

2.1.1.1. Resina Epoxi ............................................................................. 17

2.1.2. Reforço ................................................................................................. 18

2.1.2.1. Fibras de vidro .......................................................................... 18

2.1.3. Propriedades mecânicas dos materiais compósitos .............................. 20

2.1.3.1. Regra das misturas .................................................................... 20

2.1.3.2. Módulo de elasticidade longitudinal ......................................... 22

2.1.3.3. Módulo de elasticidade transversal ........................................... 23

2.1.4. Processamento e métodos de fabricação .............................................. 24

2.1.4.1. Enrolamento filamentar ............................................................ 24

2.2. Ensaios de flexão ............................................................................................. 27

2.2.1. Flexão a quatro pontos ......................................................................... 27

3. Materiais e métodos ............................................................................. 29

3.1. Materiais ........................................................................................................... 29

3.1.1. Resina polimérica ................................................................................... 29

3.1.2. Fibras ...................................................................................................... 30

3.2. Métodos ............................................................................................................ 31

3.2.1. Preparação da resina ............................................................................... 31

3.2.2. Fabricação do tubo compósito ............................................................... 31

3.2.3. Massa específica e fração volumétrica de fibras dos tubos ................... 34

3.2.3.1. Picnometria ................................................................................. 35

3.2.3.2. Queima da matriz polimérica ..................................................... 35

3.2.4. Construção do dispositivo de flexão ...................................................... 36

3.2.5. Ensaio de flexão a quatro pontos ........................................................... 36

Page 6: COMPÓSITOS PRODUZIDOS PELA TÉCNICA DE … · Os compósitos reforçados com fibras são normalmente utilizados para solicitações mecânicas de elevada resistência à tração,

6

4. Resultados e discussão ......................................................................... 39

4.1. Picnometria ....................................................................................................... 39

4.1.1. Tubo 1 .................................................................................................... 39

4.1.2. Tubo 2 .................................................................................................... 39

4.1.3. Tubo 3 .................................................................................................... 39

4.2. Ensaio de queima da matriz polimérica ............................................................ 40

4.2.1. Tubo 1 .................................................................................................... 40

4.2.2. Tubo 2 .................................................................................................... 40

4.2.3. Tubo 3 .................................................................................................... 41

4.3. Ensaios de flexão .............................................................................................. 41

4.3.1. Análise do tubo 1 ................................................................................... 43

4.3.2. Análise do tubo 2 ................................................................................... 44

4.3.3. Análise do tubo 3 ................................................................................... 46

5. Conclusões ........................................................................................... 49

6. Sugestões para trabalhos futuros .......................................................... 50

7. Bibliografia ........................................................................................... 51

Page 7: COMPÓSITOS PRODUZIDOS PELA TÉCNICA DE … · Os compósitos reforçados com fibras são normalmente utilizados para solicitações mecânicas de elevada resistência à tração,

7

Lista de figuras

Figura 1- Pontes de material compósito ........................................................................ 10

Figura 2 - Diagrama de Resistência versus Densidade .................................................. 13

Figura 3 - Distribuição de tensões ao longo das fibras ................................................. 15

Figura 4 - Gráfico Módulo de elasticidade versus volume de fibra .............................. 15

Figura 5 - Estrutura química da resina epoxi tipo DGEBA ........................................... 17

Figura 6 - Regra das misturas direta e inversa ............................................................... 20

Figura 7 - Arranjo hexagonal das fibras ........................................................................ 21

Figura 8 - Elemento tracionado na direção axial das fibras .......................................... 22

Figura 9 - Elemento tracionado na direção transversal as fibras ................................... 23

Figura 10 - Enrolamento filamentar .............................................................................. 25

Figura 11 - Laminado cortado ao longo da geratriz ...................................................... 26

Figura 12 - Flexão a quatro pontos ................................................................................ 27

Figura 13 (a) - Diagrama de esforços Cortantes ............................................................ 28

Figura 13 (b) - Diagrama de Momento Fletor ............................................................... 28

Figura 14 - Rovings de fibra de vidro ............................................................................ 30

Figura 15 - Mandril colapsável com reforço interno ..................................................... 32

Figura 16 - Desenho esquemático do empilhamento das camadas ............................... 33

Figura 17 - Remoção do excesso de resina .................................................................... 34

Figura 18 - Representação do dispositivo de flexão ...................................................... 36

Figura 19 - Norma ASTM D-6272 ................................................................................ 37

Figura 20 - Prensa Shimadzu 10000 kN ........................................................................ 37

Figura 21 - Sistema de acoplamento do LVDT ............................................................. 38

Figura 22 - Gráfico de Carga versus deflexão dos tubos 1, 2 e 3 .................................. 41

Figura 23 - Gráfico de Momento Fletor versus Raio de curvatura dos tubos 1, 2 e 3 ... 42

Figura 24 - Raio de curvatura ........................................................................................ 42

Page 8: COMPÓSITOS PRODUZIDOS PELA TÉCNICA DE … · Os compósitos reforçados com fibras são normalmente utilizados para solicitações mecânicas de elevada resistência à tração,

8

Figura 25 - Gráfico Carga versus deflexão do tubo 1 .................................................... 43

Figura 26 - Gráfico Momento versus Raio de Curvatura do tubo 1 .............................. 44

Figura 27 - Região de fratura do tubo 1 ......................................................................... 44

Figura 28 - Gráfico Carga versus deflexão do tubo 2 .................................................... 45

Figura 29 - Gráfico Momento versus Raio de curvatura do tubo 2 ............................... 45

Figura 30 - Região de fratura do tubo 2 ......................................................................... 46

Figura 31 - Gráfico Carga versus deflexão do tubo 3 .................................................... 46

Figura 32 - Gráfico Momento versus Raio de Curvatura do tubo 3 .............................. 47

Figura 33 - Região de fratura do tubo 3 ......................................................................... 47

Page 9: COMPÓSITOS PRODUZIDOS PELA TÉCNICA DE … · Os compósitos reforçados com fibras são normalmente utilizados para solicitações mecânicas de elevada resistência à tração,

9

Lista de Tabelas

Tabela 1 - Tabela comparativa de fibras para reforço de compósitos .......................... 18

Tabela 2 - Composição química dos principais tipos de fibras de vidro ....................... 19

Tabela 3 Propriedades da resina Huntsman ................................................................... 29

Tabela 4 - Propriedades da fibra de vidro do tipo E ...................................................... 30

Tabela 5 - Preparação da resina ..................................................................................... 31

Tabela 6 - Picnometria do tubo 1 ................................................................................... 39

Tabela 7 - Picnometria do tubo 2 ................................................................................... 39

Tabela 8 - Picnometria do tubo 3 ................................................................................... 40

Tabela 9 - Ensaio de queima do tubo 1 ......................................................................... 40

Tabela 10 - Ensaio de queima do tubo 2 ....................................................................... 40

Tabela 11 - Ensaio de queima do tubo 3 ....................................................................... 41

Tabela 12 - Principais valores obtidos nos ensaios ....................................................... 48

Page 10: COMPÓSITOS PRODUZIDOS PELA TÉCNICA DE … · Os compósitos reforçados com fibras são normalmente utilizados para solicitações mecânicas de elevada resistência à tração,

10

1- Introdução

Muitas das tecnologias modernas exigem materiais cada vez mais leves e com

elevada resistência mecânica, o que limita a utilização de materiais convencionais para

determinadas aplicações. Com a evolução e a descoberta de novos materiais, os limites,

antes impostos pela inviabilidade de projetos devido ao custo ou elevadas solicitações

mecânicas, tem sido quebrados e a utilização de materiais tradicionais tem se tornado

obsoleta.

Seja na medicina, nos esportes ou na indústria aeroespacial, o desenvolvimento

de materiais compostos tem revolucionado essas áreas do conhecimento, em todos os

âmbitos da sociedade atual.

Os materiais compósitos têm sido muito utilizados em aplicações estruturais

como túneis e pontes, em equipamentos de alto desempenho, como automóveis e aviões

e reparos de estruturas, principalmente as que são submetidas a ambientes corrosivos. A

Figura 1 ilustra duas pontes de material compósito produzidas pelo processo de

pultrusão.

Figura 1 – Pontes de material compósito [2]

Uma das vantagens dos materiais compósitos em relação a outros materiais é a

liberdade de formas que o produto final pode assumir, além de poder ser produzido em

grande ou pequena escala.

Page 11: COMPÓSITOS PRODUZIDOS PELA TÉCNICA DE … · Os compósitos reforçados com fibras são normalmente utilizados para solicitações mecânicas de elevada resistência à tração,

11

Em geral, estruturas metálicas são tradicionalmente as mais utilizadas devido a

suas excelentes propriedades, como a resistência a tração, soldabilidade tenacidade à

fratura e usinabilidade. Estruturas tubulares de aço são muito utilizadas em estruturas

fixas e instalações provisórias, como andaimes, passarelas, arquibancadas, palcos de

shows.

Para tais aplicações, os tubos de aço são os mais comuns. Paralelamente ao

desenvolvimento de tubos compósitos, a descoberta de novas ligas metálicas e aços

mais resistentes tornam a aplicação desses tubos metálicos uma excelente opção para a

indústria petrolífera. Isso ocorre devido à possibilidade de reduzir a espessura da parede

dos tubos, economizando material e aumentando a área livre na seção transversal do

tubo, aumentando o fluxo de fluidos transportados [3].

No entanto, os aços de maior resistência mecânica apresentam menor tenacidade

à fratura. A adição de um reforço de material compósito é uma boa alternativa a este

problema, pois a camada envoltória aumenta a tenacidade à fratura do tubo [3].

Para aplicações em exploração off-shore de petróleo, assim como nas etapas

intermediárias de refino, a utilização de estruturas tubulares para o escoamento de seus

derivados é de fundamental importância. Suas características de forma dão a este tipo de

estrutura características únicas, como a simetria ao longo do eixo longitudinal, o que

confere aos tubos a distribuição uniforme de tensões quando submetido a pressões

internas e externas.

Além de possuir as excelentes propriedades de escoamento de substâncias

líquidas e gasosas, os tubos de seção circular também possuem propriedades estruturais

extremamente notórias como a resistência à aplicação de torque ao longo do eixo

longitudinal, sendo assim a melhor configuração para elementos de transmissão de

momento. Eixos de manivela, eixos do tipo Cardin, são exemplos de elementos

mecânicos que possuem um formato tubular. [4]

Sendo assim, o presente trabalho trata especificamente de tubos compósitos

produzidos pela técnica de enrolamento filamentar. A aplicação desses tubos é de

grande abrangência e contempla desde aplicações na indústria petrolífera, como risers,

gasodutos e oleodutos, até aplicações puramente estruturais, como quadros de bicicletas,

mastros de embarcações e postes de iluminação.

Page 12: COMPÓSITOS PRODUZIDOS PELA TÉCNICA DE … · Os compósitos reforçados com fibras são normalmente utilizados para solicitações mecânicas de elevada resistência à tração,

12

O objetivo deste trabalho é a produção e a análise do comportamento de tubos

compósitos, quando submetidos a ensaios de flexão a quatro pontos. Os tubos são

constituídos por uma matriz epoxídica e uma fase de reforço constituída por fibras de

vidro tipo E.

Os tubos são constituídos por camadas circunferenciais e helicoidais

alternadamente. É esperado que com o aumento da angulação da camada interna, o tubo

apresente menor rigidez.

Page 13: COMPÓSITOS PRODUZIDOS PELA TÉCNICA DE … · Os compósitos reforçados com fibras são normalmente utilizados para solicitações mecânicas de elevada resistência à tração,

13

2- Revisão bibliográfica

Este capítulo apresenta uma revisão sobre os materiais compósitos, o processo

de enrolamento filamentar e os ensaios de flexão.

2.1- Materiais Compósitos

Os compósitos são materiais que possuem, em sua composição, duas ou mais

fases presentes em proporções significativas, de tal forma que as propriedades de cada

uma das fases contribua para que as propriedades do compósito sejam estabelecidas.

Normalmente, a combinação de dois ou mais materiais é feita para que seja

obtida uma melhor combinação de propriedades, o que seria impossível de se obter em

materiais monofásicos. Ou seja, se queremos um material com elevada resistência e

baixo peso específico, a razão entre esses dois valores

deve ser a maior

possível. A Figura 2 ilustra as classes de materiais no respectivo diagrama.

Figura 2 – Diagrama de resistência versus densidade [5]

Page 14: COMPÓSITOS PRODUZIDOS PELA TÉCNICA DE … · Os compósitos reforçados com fibras são normalmente utilizados para solicitações mecânicas de elevada resistência à tração,

14

Na maioria dos materiais compósitos, as fases presentes são a matriz, que é a

fase contínua, e a fase de reforço, que é a fase dispersa na matriz [1]. A fase de reforço

pode ser encontrada na forma de partículas, fibras, flocos e “fillers”[6]. No entanto, a

utilização de um tipo de reforço não impede que o outro tipo possa também ser

incorporado a matriz. Existem materiais compósitos que podem utilizar dois ou mais

tipos de reforço.

Os compósitos particulados são geralmente utilizados para resistência à abrasão.

Para esta aplicação, materiais como a alumina, quartzo e nanotubos de carbono são

excelentes abrasivos, podendo ser aplicados em discos de corte. Além disso, estudos

recentes comprovam que a adição de nanopartículas em compósitos de matriz epoxídica

também aumentam a tenacidade à fratura. As nanopartículas funcionam como defletores

de trincas e mitigam a propagação das mesmas, necessitando de mais energia para a

fratura ocorrer [7].

Os compósitos reforçados com fibras são normalmente utilizados para

solicitações mecânicas de elevada resistência à tração, flexão e baixo peso específico.

As fibras podem ser conformadas no sentido unidirecional, onde as propriedades estarão

direcionadas no sentido axial das fibras, bidirecional (na forma de tecidos de reforço),

onde as fibras são entrelaçadas formando um ângulo específico entre as mesmas, ou

aleatórias (na forma de manta ou picadas), onde as fibras não possuem um sentido

definido.

Além disso, as fibras podem ser curtas quando possuem o comprimento inferior

ao tamanho critico, ou longas quando possuem o tamanho superior ao tamanho crítico

[1]. A figura 3 mostra a distribuição de tensões ao longo da fibra em função de seus

comprimentos.

Page 15: COMPÓSITOS PRODUZIDOS PELA TÉCNICA DE … · Os compósitos reforçados com fibras são normalmente utilizados para solicitações mecânicas de elevada resistência à tração,

15

Figura 3 – Distribuição de tensões ao longo das fibras [1]

Para que o reforço seja realmente efetivo, as fibras devem possuir a razão de

aspecto

ou maior. Quando esta condição é respeitada, as fibras e a matriz

possuem maior superficie de contato entre elas, facilitando a adesão e aumentando a

transferência de carga. A Figura 4 ilustra a influência do tamanho de fibra no módulo

de elasticidade.

Figura 4 – Ilustração representando a influência do tamanho de fibra no gráfico Módulo de

elasticidade versus volume de fibra.

Page 16: COMPÓSITOS PRODUZIDOS PELA TÉCNICA DE … · Os compósitos reforçados com fibras são normalmente utilizados para solicitações mecânicas de elevada resistência à tração,

16

É muito importante que a adesão entre as fibras e a matriz seja adequada, pois

caso isso não ocorra, a resistência mecânica pode ser inferior a do material monofásico,

pois as fibras atuarão como concentradores de tensão [9]. Para que a adesão entre as

fases seja melhorada, é adicionada uma fina camada de silano na superfície das fibras. O

silano é um material que se liga com os radicais do polímero em uma das extremidades,

e se liga as fibras, garantindo boa adesão entre as fases presentes.

2.1.1 – Matriz

A matriz é a fase contínua que preenche os espaços e envolve os elementos de

reforço. Além de acomodar as fibras, a matriz possui a função de distribuir o

carregamento entre as fibras e proteger o compósito de processos degradativos, como a

delaminação, a oxidação e a absorção de água [2].

Materiais cerâmicos, metálicos e poliméricos podem ser utilizados como matriz.

No entanto, os polímeros são atualmente os materiais mais utilizados. Isso se deve ao

fato de que o fácil processamento quando liquidos confere aos polímeros a alternativa

econômica mais viável para a produção de materiais compósitos.

Uma das características mais importantes das matrizes poliméricas é a

capacidade de absorver energia e reduzir a concentração de tensão, devido sua ótima

tenacidade à fratura e ductilidade, reduzindo os danos causados pelo impacto e,

consequentemente, a durabilidade do compósito [10].

Os polímeros são cadeias longas de unidades repetitivas, ligadas

covalentemente, chamadas de meros. Eles podem ser classificados em termofixos e

termoplásticos de acordo com a influência da temperatura nas suas características [11].

Os termofixos (ou termorrígidos) são polímeros que possuem ligações cruzadas

entre as cadeias poliméricas. A formação de ligações cruzadas é chamada de

reticulação, que é uma reação química não reversível para formar um produto rígido e

infusível [12].

Já os termoplásticos são polímeros que não possuem reticulação entre as cadeias,

sendo a interação entre elas somente através de ligações secundárias do tipo Van der

Page 17: COMPÓSITOS PRODUZIDOS PELA TÉCNICA DE … · Os compósitos reforçados com fibras são normalmente utilizados para solicitações mecânicas de elevada resistência à tração,

17

Waals e pontes de hidrogênio. Além das ligações secundárias, as moléculas são unidas

fisicamente através do enovelamento das cadeias poliméricas.

Ambos os tipos de polímeros citados acima podem ser utilizados como matriz

em sistemas compósitos. Porém, a utilização de resinas termofixas é mais comum,

devido à sua baixa viscosidade, o que facilita o processamento.

A principal aplicação de matrizes termoplásticas é em peças para a indústria

automotiva, como por exemplo hélices de radiador, parte superior do radiador, grades e

turbo-compressores[13].

No entanto, a utilização de termoplásticos como matriz requer sistemas de

aquecimento incorporados ao processamento, pois estes são necessários para que as

ligações secundarias sejam temporariamente quebradas, dando ao polímero fluidez e

capacidade de conformação. A incorporação deste tipo de sistema aumenta os custos do

processo, tornando economicamente viável apenas para algumas aplicações específicas.

2.1.1.1 – Resina Epóxi

As resinas epoxi são resinas termofixas que possuem excelentes propriedades

como a alta resistência à tração, baixa contração no processo de cura (aproximadamente

2%), excelente adesão, boa estabilidade térmica e dimensional e alta molhabilidade, o

que torna este polímero adequado para muitas aplicações em materiais compósitos [14].

É considerada uma resina epoxídica um composto que contém dois ou mais

grupos epóxis, capaz de formar estruturas tridimensionais, através do processo de

reticulação [15].

No presente trabalho, a matriz utilizada é a resina epoxídica do tipo DGEBA.

Ela é obtida a partir da reação da epicloridrina com o bisfenol-A, formando o diglicidil

éter de bisfenol A. A Figura 5 mostra a estrutura química do epoxi do tipo DGEBA.

Page 18: COMPÓSITOS PRODUZIDOS PELA TÉCNICA DE … · Os compósitos reforçados com fibras são normalmente utilizados para solicitações mecânicas de elevada resistência à tração,

18

Figura 5 – Estrutura química da resina epoxi tipo DGEBA

2.1.2 – Reforço

As fibras são o principal tipo de reforço para materiais compósitos estruturais.

Elas podem se classificadas de acordo com a composição química, estrutura

morfológica e função comercial. Os pricipais tipos de fibras são: fibras naturais, fibras

de vidro, fibras de aramida e fibras de carbono.

Em compósitos de matriz polimérica, a principal função das fibras é elevar a

rigidez e a resistência da matriz, modo que as propriedades resultantes podem satisfazer

os requisitos de projeto ou substituir uma parte existente em igual resistência, rigidez e

maior peso específico [11]. A Tabela 1 mostra os tipos mais comuns de fibras e sua

propriedades.

Tabela 1 – Tabela comparativa de fibras para reforço de compósitos de matriz polimérica [11].

Page 19: COMPÓSITOS PRODUZIDOS PELA TÉCNICA DE … · Os compósitos reforçados com fibras são normalmente utilizados para solicitações mecânicas de elevada resistência à tração,

19

2.1.2.1 – Fibras de vidro

A fibra de vidro é o tipo de reforço mais utilizado em compósitos de matriz

polimérica por vária razões: é facilmente produzida, possui alta resistência específica,

pode ser utilizada em vários processos de fabricação, possui baixo custo de fabricação e

alta inércia química, o que torna útil a sua aplicação em diversos tipos de meios

corrosivos [1]. A Tabela 2 apresenta a composição química dos principais tipos de

fibras de vidro.

Tabela 2 – Composição química dos principais tipos de fibras de vidro [11].

Page 20: COMPÓSITOS PRODUZIDOS PELA TÉCNICA DE … · Os compósitos reforçados com fibras são normalmente utilizados para solicitações mecânicas de elevada resistência à tração,

20

2.1.3 - Propriedades mecânicas dos materiais compósitos

As propriedades como a alta rigidez e alta resistência a tração, confere aos

compósitos reforçados com fibras propriedades únicas, muito requisitadas em

aplicações estruturais. Os modelos teóricos de previsão das propriedades dos

compósitos serão apresentados a seguir.

2.1.3.1 – Regra das misturas

Uma das características mais relevantes dos materiais compósitos é a liberdade

de ajuste do módulo de elasticidade do material. O volume de fibras é um parâmetro

fundamental para que esta propriedade seja estabelecida. Em materiais fibrosos, o

módulo de elasticidade varia entre os valores do módulo de elasticidade da matriz (Em )

o módulo de elasticidade da fibra (Ef.). A Figura 6 o representa a variação do módulo de

elasticidade em função da fração volumétrica de fibras.

Figura 6 – Regra das misturas direta e inversa.

Geralmente as fibras possuem a seção transversal circular. Neste caso, o limíte

máximo para a o volume de fibras é de aproximadamente 90% considerando o arranjo

hexagonal, e 78,53% considerando o arranjo cúbico. É claro que esses elevados valores

Page 21: COMPÓSITOS PRODUZIDOS PELA TÉCNICA DE … · Os compósitos reforçados com fibras são normalmente utilizados para solicitações mecânicas de elevada resistência à tração,

21

são quase impossíveis de se obter na prática, já que o compósito possui uma distribuição

heterogênea das fibras, além de apresentar poros áreas que apresentam ausência de

fibras. A Figura 7 representa o modelo hexagonal.

Figura 7 – Arranjo hexagonal das fibras

O cálculo da fração volumétrica máxima de fibras é dado por:

Onde:

Af = área ocupada pela fibra na seção transversal

At = área total da seção transversal

Para que a resistência mecânica e o módulo de elasticidade sejam aumentados,

utiliza-se maior volume de fibras. No entanto, quanto maior o volume de fibras, menor é

a distância entre elas, dificultando a incorporação da resina entre as fibras, ocasionando

defeitos (poros) e, consequentemente, possíveis problemas de delaminação.

A seguir, veremos como obter os módulos de elasticidade longitudinal e

transversal teóricos utilizando a regra das misturas direta e inversa, respectivamente.

Apesar de ser um modelo teórico idealizado, os valores obtidos são uma boa

aproximação dos valores obtidos na prática.

Page 22: COMPÓSITOS PRODUZIDOS PELA TÉCNICA DE … · Os compósitos reforçados com fibras são normalmente utilizados para solicitações mecânicas de elevada resistência à tração,

22

2.1.3.2 - Módulo de elasticidade longitudinal

A Figura 8 ilustra um elemento de material compósito de fibras contínuas

unidirecionais, tracionado paralelamente ao sentido das fibras.

Figura 8 – Elemento tracionado na direção axial das fibras

Levando em consideração a igualdade das deformações entre a matriz e as

fibras, temos que:

Além disso, força que traciona o conjunto é o somatório das tensões que atuam

na seção, multiplicadas pelas suas respectivas áreas. Neste caso, a área relativa de cada

componente é idêntica ao seu volume relativo, pois estes possuem o mesmo

comprimento na direção longitudinal. Portanto:

Como:

e

Page 23: COMPÓSITOS PRODUZIDOS PELA TÉCNICA DE … · Os compósitos reforçados com fibras são normalmente utilizados para solicitações mecânicas de elevada resistência à tração,

23

Então:

Com este modelo é possivel prever algumas outras propriedades de extrema

importância, como a densidade e a razão de poisson.

2.1.3.3 - Módulo de elasticidade transversal

A Figura 9 ilustra um elemento de material compósito, tracionado

perpendicularmente ao sentido das fibras.

Figura 9 - Elemento tracionado na direção transversal as fibras

Para a obtenção do módulo de elasticidade transversal, a regra das misturas

inversa é utilizada, pois leva-se em consideração a igualdade das tensões entre a matriz

e as fibras. Supondo a igualdade das tensões, temos:

Page 24: COMPÓSITOS PRODUZIDOS PELA TÉCNICA DE … · Os compósitos reforçados com fibras são normalmente utilizados para solicitações mecânicas de elevada resistência à tração,

24

Como:

e

Portanto:

Com a regra das misturas inversa também é possível determinar o módulo de

cisalhamento do compósito.

2.1.4 - Processamento e métodos de fabricação

Os materiais compósitos são fabricados por diversos processos. Entre eles estão:

laminação, pultrusão e enrolamento filamentar.

2.1.4.1 – Enrolamento Filamentar

A técnica de enrolamento filamentar consiste em envolver um molde (mandril)

com um reforço contínuo na forma de fibras, impregnados com um sistema polimérico

de cura à quente ou à frio. De acordo com a solicitação mecânica requerida no produto

final, a quantidade de camadas compósitas, a angulação das fibras em relação ao eixo

longitudinal e a largura de faixa podem ser alterados para obter um produto de melhor

desempenho.

Page 25: COMPÓSITOS PRODUZIDOS PELA TÉCNICA DE … · Os compósitos reforçados com fibras são normalmente utilizados para solicitações mecânicas de elevada resistência à tração,

25

Após o processo de enrolamento, o mandril envolvido pelo compósito é levado a

uma estufa rotativa, cujo objetivo é a cura da resina, tornando o compósito uma

estrutura rígida. Após o processo de cura, o mandril pode ser retirado, restando apenas o

compósito de fibra e resina externo. Para algumas aplicações, o mandril pode ser

incorporado ao produto final. Neste caso, o mandril é chamado de liner e sua função é

proteger o sistema polimérico de agentes agressivos em tubos de escoamento (corrosão

e erosão). Além disso, o liner atua também como distribuidor de tensões em estruturas

que solicitem pressões interna, como tubulações e vasos de pressão.

Durante a operação de enrolamento, os filamentos (rovings) são impregnados

pela resina contida no cabeçote alimentador e enroladas sobre o mandril, descrevendo

uma faixa helicodal sobre o molde. O cabeçote alimentador se movimenta

paralelamente ao eixo do mandril e, de acordo com os parametros adequados, é possivel

descrever configurações desejadas no tubo. A Figura 10 ilustra esta etapa do processo.

Figura 10 – Enrolamento filamentar [11]

Os principais parâmetros de enrolamento são:

D - diâmetro do mandril

θ - ângulo de enrolamento

P - passo do hélice

Page 26: COMPÓSITOS PRODUZIDOS PELA TÉCNICA DE … · Os compósitos reforçados com fibras são normalmente utilizados para solicitações mecânicas de elevada resistência à tração,

26

n - número de passes para preencher o mandril

w - largura de faixa

O cabeçote alimentador (mais comumente chamado de carrinho) percorre a

distância necessária para aplicar uma faixa de material compósito sobre o mandril,

formando um angulo (θ). O mesmo acontece na volta do carrinho, porém formando um

angulo(-θ) sendo necessárias n vezes para formar a primeira camada intertravada de

material compósito. A figura 11 ilustra um laminado cilíndrico cortado ao longo da

geratriz e planificado.

Figura 11 - Laminado cortado ao longo da geratriz

A largura de faixa é dada por:

O número de passos é dado por:

Page 27: COMPÓSITOS PRODUZIDOS PELA TÉCNICA DE … · Os compósitos reforçados com fibras são normalmente utilizados para solicitações mecânicas de elevada resistência à tração,

27

Como n deve ser um número inteiro, os valores dos demais parâmetros devem

ser devidamente ajustados para que as faixas não se superponham. Se os parâmetros D,

w ou θ não pudererm sofrer alterações, o número de passos deve assumir o próximo

maior valor inteiro.

2.2- Ensaios de Flexão

2.2.1 – Flexão a quatro pontos

No ensaio de flexão a quatro pontos, o momento entre os apoios internos

permanece constante. Com isso, no espaço entre os apoios internos, apenas tensões

trativas e compressivas atuam ao longo da seção transversal. A Figura 12 mostra as

forças que atuam no ensaio de flexão a quatro pontos.

Figura 12 – Flexão a quatro pontos

As Figuras 13 a e b ilustram os gráficos de esforços cortantes e momento fletor,

respectivamente, ao longo do corpo de prova.

Page 28: COMPÓSITOS PRODUZIDOS PELA TÉCNICA DE … · Os compósitos reforçados com fibras são normalmente utilizados para solicitações mecânicas de elevada resistência à tração,

28

O momento máximo é dado por:

Onde:

P = Carga aplicada pela máquina

c = Distância entre o apoio externo e o apoio interno

Page 29: COMPÓSITOS PRODUZIDOS PELA TÉCNICA DE … · Os compósitos reforçados com fibras são normalmente utilizados para solicitações mecânicas de elevada resistência à tração,

29

3 – Materiais e métodos

A seguir será feita a descrição de todos os materiais utilizados no processo de

fabricação dos tubos, assim como a metodologia adotada nos testes realizados.

3.1 – Materiais

A seguir serão apresentados os materiais utilizados nos processos de fabricação e

análise.

3.1.1 – Resina Polimérica

Na preparação da matriz polimérica, foi utilizada uma epóxi DGEBA, de cura à

quente, denominada LY 1556, de nome comercial Araldite®

, o acelerador DY 070 e o

endurecedor Aradur 917, todos da marca Huntsman.

Este sistema polimérico é muito utilizado em processos como enrolamento

filamentar, pultrusão e moldagem por pressão, pois essa composição confere à matriz

boas propriedades de impregnação da fibra, baixa viscosidade, longo tempo de

armazenamento e grande inércia química. A Tabela 3 apresenta as propriedades da

resina Huntsman.

Módulo de elasticidade “E” (GPa) Resistência à tração (MPa)

3,1 a 3,3 83 a 93

Tabela 3 - Propriedades da resina Huntsman® Fonte: site da Huntsman

Page 30: COMPÓSITOS PRODUZIDOS PELA TÉCNICA DE … · Os compósitos reforçados com fibras são normalmente utilizados para solicitações mecânicas de elevada resistência à tração,

30

3.1.2 – Fibras

As fibras utilizadas na fabricação dos tubos foram as fibras de vidro tipo E da

marca Owens Corning, comercialmente vendidas na forma de rovings. As propriedades

das fibras utilizadas estão apresentadas na Tabela 4:

Evidro (GPa) σresis. (MPa) τ12 (MPa) ρ (g/cm3) G12 (GPa)

80 2560 69,80 2,58 30

Tabela 4 - Propriedades da fibra de vidro do tipo E Fonte: Site Owens Corning®

A Figura 14 mostra o tipo de roving utilizado no processo de enrolamento

filamentar.

Figura 14 – Rovings de fibra de vidro Fonte: Site Owens Corning®

Page 31: COMPÓSITOS PRODUZIDOS PELA TÉCNICA DE … · Os compósitos reforçados com fibras são normalmente utilizados para solicitações mecânicas de elevada resistência à tração,

31

3.2 Métodos

Neste tópico, serão apresentadas as técnicas adotadas em cada etapa do processo

de fabricação e análise.

3.2.1 - Preparação da resina

Para a preparação da mistura epóxi foi utilizada uma proporção de 90% em

massa de endurecedor em relação à quantidade de resina e de 2% de acelerador em

massa para cada porção de resina. A Tabela 5 mostra a quantidade dos constituintes

utilizados na produção de cada tubo.

Amostra Massa de resina (g) Massa de

endurecedor (g)

Massa de

Catalisador (g)

Tubo 1 2000 1800 40

Tubo 2 1900 1710 38

Tubo 3 1900 1710 38

Tabela 5 – Preparação da resina

3.2.2 - Fabricação do tubo compósito

Para a fabricação do tubo compósito utilizou-se a máquina de enrolamento

filamentar da Tecservice que comporta mandris de 30 a 500 mm de diâmetro e até 3

metros de comprimento.

Como mandril utilizou-se um tubo de aço de duas polegadas de diâmetro,

dividido em duas metades ao longo do eixo longitudinal.

Page 32: COMPÓSITOS PRODUZIDOS PELA TÉCNICA DE … · Os compósitos reforçados com fibras são normalmente utilizados para solicitações mecânicas de elevada resistência à tração,

32

Inicialmente foi produzido um tubo em um mandril colapsável sem o reforço

interno. Porém, durante o enrolamento, o tubo colapsou na parte central, transformando

a seção transversal em um formato elíptico, inutilizando este tubo para a aquisição de

resultados. No entanto, este tubo foi utilizado para testar o dispositivo de flexão

posteriormente.

Foi desenvolvido pelo Laboratório de Compósitos um mandril colapsável com

dois pontos de reforço interno. Os tubos produzidos por este mandril não apresentaram

ovalização na parte central. A Figura 15 mostra o sistema de reforço.

Figura 15 – Mandril colapsável com reforço interno

O mandril foi acoplado à máquina de enrolamento filamentar, e em seguida

aplicou-se uma camada de agente desmoldante (produto separador QZ 13BR,

Huntsman) sobre toda a superfície.

Logo após, enrolou-se uma camada de teflon com o intuito de facilitar o

escorregamento do tubo compósito sobre o mandril na hora da extração.

Em seguida, foi colocado um véu de poliéster sobre o teflon e aplicou-se

manualmente com o auxílio de uma espátula o sistema polimérico, com o intuito de

molhar completamente o véu. Este procedimento é feito para melhorar o acabamento

interno do tubo, facilitando a extração do mandril e o escoamento de substâncias

líquidas.

Page 33: COMPÓSITOS PRODUZIDOS PELA TÉCNICA DE … · Os compósitos reforçados com fibras são normalmente utilizados para solicitações mecânicas de elevada resistência à tração,

33

Finalmente, foi despejado o sistema polimérico no reservatório do carrinho e

prenderam-se as fibras já impregnadas de resina que saem do carrinho na extremidade

do mandril, iniciando o processo de enrolamento filamentar.

No total foram produzidos três tubos compósitos com diâmetro interno de duas

polegadas (50,8 mm) possuindo cada um deles quatro camadas (ABBA). A Figura 16

mostra o esquema de empilhamento das camadas.

Figura 16 – Desenho esquemático do empilhamento das camadas.

Todos os tubos possuem as camadas interna e externa paralelas (tipo A, com

angulação de 88º). O Tubo 1 possui duas camadas cruzadas intermediárias (tipo B) a

30º.O Tubo 2 possui duas camadas tipo B a 45º. O tubo 3 possui as camadas tipo B a

60º.

Durante a produção dos tubos, a resina em excesso que estava impregnada nos

filamentos foi retirada com o auxilio de uma espátula e reutilizado no banho de resina.

Esse processo deve ser feito constantemente. A figura 17 ilustra este procedimento.

Page 34: COMPÓSITOS PRODUZIDOS PELA TÉCNICA DE … · Os compósitos reforçados com fibras são normalmente utilizados para solicitações mecânicas de elevada resistência à tração,

34

Figura 17 – Remoção do excesso de resina.

Após a máquina concluir a programação desejada, o mandril foi retirado da

máquina de enrolamento e levado à estufa Tecservice para um ciclo térmico de cura de

4 horas a 80ºC e 4 horas a 120 ºC. Após a cura da resina, o mandril fica envolvido pelo

tubo compósito rígido.

Após o resfriamento lento dentro da estufa, foi feita a extração do tubo do

mandril. Para a retirada do mandril foi necessário apenas retirar as extremidades e puxar

manualmente a vara metálica que segura o reforço interno desmontando-o, tornando

assim, possível a extração manual do tubo compósito do conjunto.

Os tubos foram cortados nas extremidades para a obtenção das amostras para a

caracterização do material.

3.2.3 - Massa específica e fração volumétrica de fibras dos tubos

Foram retiradas dos tubos pequenas amostras para a realização de ensaios de

queima da matriz e picnometria.

Page 35: COMPÓSITOS PRODUZIDOS PELA TÉCNICA DE … · Os compósitos reforçados com fibras são normalmente utilizados para solicitações mecânicas de elevada resistência à tração,

35

3.2.3.1 – Picnometria

A picnometria foi utilizada para determinar a densidade do compósito. O

picnômetro foi pesado com água destilada. Depois as amostras foram pesadas

separadamente do picnômetro que em seguida foi novamente pesado com as amostras

dentro do mesmo. A determinação da densidade do compósito foi feita dividindo a

massa do compósito pelo volume de água deslocado, que é também o volume da

amostra. Foram utilizadas cinco amostras e a densidade foi determinada pelo cálculo da

média aritmética dos valores de massa específica de todas as amostras.

3.2.3.2 – Queima da matriz polimérica

A fração volumétrica de fibras foi obtida através da queima de 3 amostras de

cada tubo. As amostras possuem formato retangular de 1,0 cm de largura e 1,5 cm de

comprimento.

Depois de pesadas, as amostras são levadas a um forno a temperatura de 500ºC

durante 2 horas. Em elevadas temperaturas, a matriz polimérica queima, restando

apenas os resíduos de fibras, que após a queima são pesados..

Então, conhecendo-se a massa específica das fibras e do compósito e as massas

das amostras compósitas e de fibras calculou-se a fração volumétrica de fibras, por meio

da equação abaixo:

Page 36: COMPÓSITOS PRODUZIDOS PELA TÉCNICA DE … · Os compósitos reforçados com fibras são normalmente utilizados para solicitações mecânicas de elevada resistência à tração,

36

3.2.4 - Construção do dispositivo de flexão

O dispositivo de flexão a quatro pontos utilizado para a realização dos testes foi

desenvolvido no Laboratório de Compósitos. A Figura a 18 ilustra a representação do

dispositivo.

Figura 18 – Representação do dispositivo de flexão

Para a construção do dispositivo foi utilizada uma chapa grossa de 2,5’x3/4’

polegadas de aço 1020 de 6 metros de comprimento, 4 roletes de Nylon 6,6, e quatro

eixos de parafuso.

Nos pontos onde o dispositivo atua no corpo de prova, foram utilizados roletes

de Nylon 6,6. Os roletes atuam como dissipadores de tensão, evitando que a falha se

inicie nos pontos de apoio.

O dispositivo de flexão foi desenvolvido e construído com o apoio da oficina do

Instituto de Física da UFRJ.

3.2.5 – Ensaios de flexão a quatro pontos

Foram ensaiados três tubos, de acordo com a norma ASTM D-6272. As medidas

dos corpos de prova e do dispositivo são apresentadas na Figura 19.

Page 37: COMPÓSITOS PRODUZIDOS PELA TÉCNICA DE … · Os compósitos reforçados com fibras são normalmente utilizados para solicitações mecânicas de elevada resistência à tração,

37

Figura 19 – Norma ASTM D-6272

No presente trabalho, foi utilizado o tamanho L = 90 cm.

O ensaio de flexão dos tubos foi realizado na prensa Shimadzu 10000 kN, no

Laboratório de Estruturas do Programa de Engenharia Civil da COPPE/UFRJ. A Figura

20 mostra o equipamento utilizado no ensaio de flexão.

Figura 20 – Prensa Shimadzu 10000 kN

Page 38: COMPÓSITOS PRODUZIDOS PELA TÉCNICA DE … · Os compósitos reforçados com fibras são normalmente utilizados para solicitações mecânicas de elevada resistência à tração,

38

Para a aquisição de dados, foi utilizado um LVDT com curso de leitura de +/- 50

mm. Para que os erros de leitura fossem minimizados, o sistema de acoplamento do

LVDT se apóia apenas nos pontos onde pontos de carga são aplicados. Com isso evita-

se que a deformação das polias internas interfira na leitura da deflexão. O sistema de

acoplamento do LVDT foi desenvolvido pelo Laboratório de Compósitos da UFRJ. A

Figura 21 ilustra o LVDT e o sistema de acoplamento.

Figura 21 – Sistema de acoplamento do LVDT

A taxa de velocidade do travessão da máquina foi de 5 mm/min.

Page 39: COMPÓSITOS PRODUZIDOS PELA TÉCNICA DE … · Os compósitos reforçados com fibras são normalmente utilizados para solicitações mecânicas de elevada resistência à tração,

39

4 – Resultados e discussão

4.1 – Picnometria

4.1.1 - Tubo 1

Os dados do ensaio de picnometria do tubo 1 são apresentados na Tabela 6.

Amostra

Massa do compósito

(g)

Picnômetro + amostra

(g)

Massa de água

deslocada (g)

Volume de água

deslocado (mL)

Densidade compósito

(g/mL)

1 0,5602 82,2155 0,3080 0,3088 1,8143

2 0,6185 82,2270 0,3548 0,3557 1,7389

3 0,5429 82,1920 0,3142 0,3150 1,7236

4 0,5243 82,2119 0,2757 0,2764 1,8970

5 0,6014 82,2262 0,3385 0,3393 1,7723

Tabela 6 – Picnometria do tubo 1

4.1.2 - Tubo 2

Os dados do ensaio de picnometria do tubo 2 são apresentados na Tabela 7.

Amostra Massa do

compósito (g)

Picnômetro + amostra+

água

Massa de água

deslocada (g)

Volume de água

deslocado (mL)

Densidade compósito

(g/mL)

1 0,6452 82,1274 0,4927 0,4939 1,3063

2 0,6831 82,2501 0,4079 0,4089 1,6705

3 0,73924 82,2768 0,43734 0,4384 1,6861

4 0,7581 82,2596 0,4734 0,4746 1,5974

5 0,8256 82,2834 0,51710 0,5184 1,5927

Tabela 7 - Picnometria do tubo 2

4.1.3 – Tubo 3

Os dados do ensaio de picnometria do tubo 3 são apresentados na Tabela 8.

Page 40: COMPÓSITOS PRODUZIDOS PELA TÉCNICA DE … · Os compósitos reforçados com fibras são normalmente utilizados para solicitações mecânicas de elevada resistência à tração,

40

Amostra

Massa do compósito

(g)

Picnômetro + amostra

(g)

Massa de água

deslocada (g)

Volume de água

deslocado (mL)

Densidade compósito

(g/mL)

1 0,5602 82,2155 0,3080 0,3088 1,8143

2 0,6185 82,2270 0,3548 0,3557 1,7389

3 0,5429 82,1920 0,3142 0,3150 1,7236

4 0,5243 82,2119 0,2757 0,2764 1,8970

5 0,6014 82,2262 0,3385 0,3393 1,7723

Tabela 8 – Picnometria do tubo 3

4.2 – Ensaio de queima da matriz polimérica.

4.2.1 – Tubo 1

Os dados do ensaio de queima da matriz polimérica do tubo 1 são apresentados

na Tabela 9.

Cadinho

Peso do

cadinho (g)

Amostra (g)

Cadinho +

amostra (g)

Cadinho + cinzas (g)

Massa de fibras

(g)

Massa de resina

(g)

Fração volumétrica

de fibras

1 33,2201 1,2686 34,4887 34,3559 1,1358 0,1328 0,5592

2 31,4735 1,2729 32,7464 32,4544 0,9809 0,292 0,4813

3 35,0976 1,0135 36,1111 36,1312 1,0336 0,1201 0,6369

Tabela 9 –Ensaio de queima do tubo 1

4.2.2 - Tubo 2

Os dados do ensaio de queima da matriz polimérica do tubo 2 são apresentados

na Tabela 10.

Cadinho

Peso do cadinho

(g) Amostra

(g)

Cadinho + amostra

(g) Cadinho + cinzas (g)

Massa de fibras (g)

Massa de resina (g)

Fração volumétrica

de fibras

1 35,1577 0,9564 36,1141 35,8665 0,7088 0,2476 0,5140

2 33,5478 1,1117 34,6595 34,3855 0,8377 0,274 0,5226

3 35,1388 1,2135 36,3523 36,0062 0,8674 0,3461 0,4957

Tabela 10 – Ensaio de queima do tubo 2

Page 41: COMPÓSITOS PRODUZIDOS PELA TÉCNICA DE … · Os compósitos reforçados com fibras são normalmente utilizados para solicitações mecânicas de elevada resistência à tração,

41

4.2.3 – Tubo 3

Os dados do ensaio de queima da matriz polimérica do tubo 3 são apresentados

na Tabela 11.

Cadinho

Peso do cadinho

(g) Amostra

(g)

Cadinho + amostra

(g)

Cadinho + cinzas

(g)

Massa de fibras

(g) Massa de resina (g)

Fração volumétrica

de fibras

1 33,0184 1,2376 34,2560 33,9986 0,9802 0,2574 0,5177

2 31,3738 0,8562 32,2300 32,1279 0,7541 0,1021 0,5757

3 35,0668 1,3251 36,3919 36,2045 1,1377 0,1874 0,5612

Tabela 11 – Ensaio de queima do tubo 3

4.3 – Ensaios de Flexão

As Figuras 22 e 23 mostram comparativamente os gráficos de carga versus

deflexão e Momento versus Raio de curvatura, respectivamente, para cada uma das

amostras.

Figura 22 – Gráfico de Carga versus deflexão dos tubos 1, 2 e 3

0,0

1,0

2,0

3,0

4,0

5,0

6,0

7,0

8,0

9,0

10,0

0,0 2,0 4,0 6,0 8,0 10,0

Car

ga (

kN)

Deflexão (mm)

Tubo 1

Tubo 2

Tubo 3

Page 42: COMPÓSITOS PRODUZIDOS PELA TÉCNICA DE … · Os compósitos reforçados com fibras são normalmente utilizados para solicitações mecânicas de elevada resistência à tração,

42

Figura 23 – Gráfico de Momento Fletor versus Raio de curvatura dos tubos 1, 2 e 3

Tanto a carga quanto a deflexão foram registradas a cada 0,5 segundos.

Determinação do raio de curvatura

Para todas as amostras, o momento aplicado na parte central do tubo é calculado

através da equação:

O raio de curvatura R é assumido como constante na superfície superior do tubo,

entre os apoios internos do dispositivo. O modelo para a obtenção do raio de curvatura

será apresentado a seguir:

Figura 24 – Raio de curvatura

0

200

400

600

800

1000

1200

1400

1600

0 10 20 30 40 50 60 70

Mo

me

nto

Fle

tor

(N.m

)

Raio de Curvatura (m)

Tubo 1

Tubo 2

Tubo 3

Page 43: COMPÓSITOS PRODUZIDOS PELA TÉCNICA DE … · Os compósitos reforçados com fibras são normalmente utilizados para solicitações mecânicas de elevada resistência à tração,

43

Por considerações geométricas, temos que:

Portanto:

Onde:

R = Raio de curvatura

w = deflexão obtida pelo LVDT

l = distância entre os apoios internos

O raio de curvatura é, na prática, o raio do carretel que o tubo pode ser enrolado.

É desejável que os tubos apresentem o menor raio de curvatura antes de a falha ocorrer.

No entanto, todos os tubos apresentaram pequenas falhas na camada externa durante o

carregamento, provocando oscilações nas curvas obtidas a partir dos ensaios realizados.

4.3.1 – Análise do tubo 1

A Figuras 25 e 26 mostram as curvas de Carga versus Deflexão e Momento

fletor versus Raio de curvatura, respectivamente, características do tubo 1.

Figura 25 – Gráfico Carga versus deflexão do tubo 1

0,0

2,0

4,0

6,0

8,0

10,0

0,0 2,0 4,0 6,0 8,0 10,0

Car

ga (

kN)

Deflexão (mm)

Page 44: COMPÓSITOS PRODUZIDOS PELA TÉCNICA DE … · Os compósitos reforçados com fibras são normalmente utilizados para solicitações mecânicas de elevada resistência à tração,

44

Figura 26 – Gráfico Momento versus Raio de Curvatura do tubo 1

A Figura 27 mostra a região de fratura do tubo 1.

Figura 27 – Região de fratura do tubo 1

4.3.2 – Análise do tubo 2

As Figuras 28 e 29 mostram as curvas de Carga versus Deflexão e Momento

fletor versus Raio de curvatura, respectivamente, que são características do tubo 2.

0

200

400

600

800

1000

1200

1400

1600

0 10 20 30 40 50 60 70

Mo

me

nto

fle

tor

(N.m

)

Raio de Curvatura (m)

Page 45: COMPÓSITOS PRODUZIDOS PELA TÉCNICA DE … · Os compósitos reforçados com fibras são normalmente utilizados para solicitações mecânicas de elevada resistência à tração,

45

Figura 28 – Gráfico Carga versus deflexão do tubo 2

Figura 29 – Gráfico Momento versus Raio de curvatura do tubo 2

O tubo 2 apresentou a falha no centro da região de flexão pura. A falha ocorreu

de forma menos catastrófica que no tubo 1. A Figura 30 mostra a região de fratura do

tubo.

0,0

1,0

2,0

3,0

4,0

5,0

6,0

0,0 2,0 4,0 6,0 8,0 10,0

Car

ga (

kN)

Deflexão (mm)

0

100

200

300

400

500

600

700

800

900

0 10 20 30 40 50 60 70

Mo

me

nto

fle

tor

(N.m

)

Raio de Curvatura (m)

Page 46: COMPÓSITOS PRODUZIDOS PELA TÉCNICA DE … · Os compósitos reforçados com fibras são normalmente utilizados para solicitações mecânicas de elevada resistência à tração,

46

Figura 30 – Região de fratura do tubo 2

4.3.3 – Análise do tubo 3

As Figuras 31 e 32 mostram as curvas de Carga versus Deflexão e Momento

fletor versus Raio de Curvatura, respectivamente, que são características do tubo 3.

Figura 31 – Gráfico Carga versus deflexão do tubo 3

0,0

0,5

1,0

1,5

2,0

2,5

3,0

3,5

4,0

4,5

0,0 2,0 4,0 6,0 8,0 10,0

Car

ga (

N.m

)

Deflexão (mm)

Page 47: COMPÓSITOS PRODUZIDOS PELA TÉCNICA DE … · Os compósitos reforçados com fibras são normalmente utilizados para solicitações mecânicas de elevada resistência à tração,

47

Figura 32 – Gráfico Momento versus Raio de Curvatura do tubo 3

O tubo apresentou a falha no centro da região de flexão pura. A falha ocorreu de

forma mais lenta e gradual em relação aos tubos 1 e 2. A Figura 33 mostra a região de

fratura do tubo 3.

Figura 33 – Região de fratura do tubo 3

0

100

200

300

400

500

600

700

0 10 20 30 40 50 60 70

Mo

me

nto

Fle

tor

(N.m

)

Raio de Curvatura (m)

Page 48: COMPÓSITOS PRODUZIDOS PELA TÉCNICA DE … · Os compósitos reforçados com fibras são normalmente utilizados para solicitações mecânicas de elevada resistência à tração,

48

A Tabela 11 mostra os valores dos resultados obtidos nos ensaios.

Amostra Densidade

ρc

Volume de

fibras

vf (%)

Deflexão

Máxima

w (mm)

Momento

Máximo

Ráio de

Curvatura

Mínimo

Tubo 1 1,7892 0,5591 8,30 1410 1,39

Tubo 2 1,6113 0,5107 9,04 787 1,67

Tubo 3 1,6865 0,5516 7.99 545 1,85 Tabela 12 – Principais valores obtidos nos ensaios

Page 49: COMPÓSITOS PRODUZIDOS PELA TÉCNICA DE … · Os compósitos reforçados com fibras são normalmente utilizados para solicitações mecânicas de elevada resistência à tração,

49

5 – Conclusões

Os tubos apresentaram a região de falha entre os apoios internos do dispositivo

de flexão.

O tubo 1 apresentou maior comportamento elástico, tendo sua falha ocorrida de

forma mais catastrófica. Para valores de raio de curvatura maiores que 20 metros, a

rigidez à flexão é muito próxima aos valores de rigidez do tubo 3. Isso se deve ao fato

de que para deflexões muito pequenas, o comportamento é regido pelas camadas mais

externas, que são paralelas (tipo A). Para deflexões maiores, a camada mais externa

sofre pequenas fissuras (podendo ser ouvidos pequenos estalos durante o ensaio)

diminuindo a atuação desta camada na resistência mecânica.

Após a falha da camada externa, o comportamento começa a ser regido pela

camada intermediária (tipo B). No caso do tubo 1, que possui as fibras mais

direcionadas no sentido longitudinal, a rigidez aumenta drasticamente, sendo a partir

deste ponto o tubo com maior rigidez.

A deflexão máxima dos tubos apresentou valores próximos entre si. O momento

aplicado no tubo 1 para ocorrer a fratura apresentou-se o maior do que os outros tubos.

Isso se deve ao fato de que as fibras da camada intermediária apresentam menor ângulo

em relação ao sentido longitudinal do tubo.

O tubo 3 apresentou a menor rigidez e menor raio de curvatura, sendo ele o tubo

que apresenta as propriedades menos desejadas para aplicações puramente estruturais.

O menor raio de curvatura apresentado antes da falha foi do tubo 2. No

entanto,quando o tubo atinge o raio de curvatura de 1,51 metros, ocorre um dano mais

severo, porém não rompendo totalmente. Para pequenas deflexões, o tubo 2 apresentou

maior rigidez em relação aos tubos 1 e 3.

Os ensaios apresentaram resultados satisfatórios, que comprovam a influência da

angulação das fibras na camada intermediária. Porém, a existência de múltiplas fissuras

na camada mais externa pode comprometer o desempenho do material quando

submetido a elevadas pressões interna e externa.

Page 50: COMPÓSITOS PRODUZIDOS PELA TÉCNICA DE … · Os compósitos reforçados com fibras são normalmente utilizados para solicitações mecânicas de elevada resistência à tração,

50

6 – Sugestões para trabalhos futuros

Realizar ensaios de explosão e colapso com tubos previamente submetidos a

flexão a quatro pontos, já que os tubos apresentaram múltiplos danos superficiais.

Utilizar dispositivos de emissão acústica durante os ensaios de flexão, para obter

o raio de curvatura mínimo sem que ocorra qualquer dano na superfície do material.

Investigar a influência de outras sequências de empilhamento das camadas

compósitas no comportamento dos tubos durante os ensaios de flexão.

Page 51: COMPÓSITOS PRODUZIDOS PELA TÉCNICA DE … · Os compósitos reforçados com fibras são normalmente utilizados para solicitações mecânicas de elevada resistência à tração,

51

7 - Bibliografia

[1] – CALLISTER JR, W. D., 2002, Ciência e Engenharia de Materiais: Uma

Introdução. 5 ed. Rio de Janeiro, LTC.

[2] – TEIXEIRA, ANA MARIA A. J. , 2007, Ponte de Material Compósito de Fibra de

Vidro. Dissertação de D.Sc., COPPE/UFRJ, Rio de Janeiro, RJ, Brasil

[3] – SOBRINHO, L. L., 2005, Desenvolvimento de Matriz Polimérica para Material

Compósito Visando o Reforço de Dutos de Aço. Dissertação de M.Sc.,

COPPE/UFRJ, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.

[4] – HIBBELER, RUSSEL C. 2001, Resistência dos materiais, 5 ed. Prentice Hall

[5] – ASM Metals HandBook Vol. 20, 1997 – Material Selection and Design, ASM

International

[6] – SALLABERRY, ROBERTA D. 2005 Limite de Deformação das Fibras de

Carbono usadas no Reforço à Flexão de Vigas de Concreto Armado.Dissertação de

M.Sc., COPPE/UFRJ, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.

[7] – KUMAR, ANNAMALAI P. Kumar, Nanoscale particles for polymer degradation

and stabilization—Trends and future perspectives, Elsevier Progress in polymer Science

[8] – CHAWLA, K. K., 1987, Composite Materials. 1 ed. Springer-Verlag New York.

[9] – PILATO, L. A., MICHNO, M. J., 1994, Advanced Composite Materials. Springer-

Velag, New York.

[10] – ASM Metals HandBook Vol. 21, 2001 – Composites ASM International

[11] - CANEVAROLO JR, S. V., 2002, Ciência dos Polímeros um Texto Básico para

Tecnólogos e Engenheiros. 1 ed. São Paulo, Artliber ABpol.

[12] – DE PAOLI, MARCO AURÉLIO, 2008, Degradação e Estabilização de

Polímeros, Chemkeys.

[13] – MALLICK, P. K., 2007, Fiber-Reinforced Composites, Materials,

Manufacturing, and Design. 3 ed. Michigan, LLC.

Page 52: COMPÓSITOS PRODUZIDOS PELA TÉCNICA DE … · Os compósitos reforçados com fibras são normalmente utilizados para solicitações mecânicas de elevada resistência à tração,

52

[14] – MAY, C. A., 1988, Epoxy Resins Chemistry and Technology. 2 ed. Nova York,

Marcel Dekker.