View
177
Download
37
Embed Size (px)
DESCRIPTION
O que a história pode dizer sobre a profissão do psicólogo a relação psicologia-educação
Citation preview
..1.i,H,s
?
ifr'+si,-'rf,i§
Êü:Li:!
:iiâd:i.-íÁ,É
#@&.§i&Í#
&
til§
§§le
$.g
q.?itlrt.
.§;'Y'
!l
:l
!
ü,
tl!tii
I
iir
ir
irI;)
,l
Itt
!
â
ANA M, B. BOCK @ES'SÉã)
".y'omun,Co cohdiano e o mundo cullural e social na pro<lução e na compreen-são d.o mundo psicoiógico, A Psicologia precisa, para superar suas constru-
ções ideológicas, analisar todos os elementos que se constituem como de-terminações do humano, sem isolar o mundo psíquico no interior do indi-víduo, como algo natural, universal e dotado de força própria, A mudançanesta concepçáo permitirá a superação da ideologia presente na Psicologiae consolidará um novo compromisso dos psicólogos e da Psicologia com a
sociedade, um compromisso de trabalho pela melhoria da qualidade devida; um compromisso em nome dos direitos humanos e do fim das desi-gualdades sociais.
Helerências bibllográÍicas
AN:ILNES, Mitsuko A. M. A. O processo de autonomização da Psicologia no Brasil 7890/1930 - uma contribuíção aos estudos em História da Psicologia. Tese de doutora-mento. São Paulo, PUC-SP, 1991.
A Psicologia no Brasil. teitura histórica sobre sua constituiçao. São Paulo,Enimarco, 1999,
BOCK, Ana M, B. Aç aoenturas do Barão de Münchhausen na Psicologiq: um estudo sobre
o significado do fnômrno psicológico na categoria dos psicólogos. Tese de doutora-mento, São Paulo, PUC-SP, 1997,
Aoenturss do Bsrdo de Münchhausen na Pskologia, São Paulo, EDUC/Cortez,7999.
CARVALHO, Ana M, Almeida. Atuaçao psicológica: uma .1nálise das atiuidades desern-
pethadas pelos psicólogos,In Conseiho Federal de Psicologia - Quem é o psicó-
logo Brasileiro. São Paulo, EDICON, 1988.
CONSELHO REGIONAL DE PSiCOLOGIA. Psicologia: t'ormaçã0, atuação profissionale mercado de babqlho - estatísticas 1995. São Paulo, 1995.
MASSIMI, Marina, História da Psicologia brqsileira da epoca colonial até 1.934. São Pau-lo, EPU, 1990.
MELLO, S, L. Psicologia e profissao em São Paulo, São Paulo, Laca, 1g75.
ROSEMBERG, F, AÍinal, por que somos tantas psicólogas? In; Conselho Federai de
Psicologia. Rruista Psicologia Cíência e Profissã0, ano 4, n. 1/M, p. 6-12.
z- Üoll"-'rc{'a'',b<---\ L
Hii"g* óaÊd\rc+?by
I
HIÍ*Y1;
,u/
"í
,blia*,
0 que a história pode dizer sobre a proÍissão do
psicólogo: a relação Psicologia-Educação-
Maria Helena Souza Patto'''
Num ersaio intihrlado "O que a história tem a dizer-nos sobre a socie-
dade contemporânea?", o historiador inglês Eric Hobqbawm responde: "oque ela não pode nos dizer é g q"9::g1,"çgllg3ga19jxl:Iro9lemasjere-mos q áes'relã-Eõil6ããí linhasde força do processo histórico, feito de contnuidade e de descontinuidade.
O estudo da história da Psicologia vem tomando novos rumos emvários centros acadêmicos onde se ensina e se faz essa ciência, aqui e láÍora. É cada vez maior o número de pesquisas de fontes documentais gue
querem fazer uma história crÍtica - isto é, que leve em conta as determina-
ções político.sociais - da constituição da Psicologia, em sua relação com a
Pedagogia, nas sociedades industriais capitalistas, Em outras palqvras, uma
* Vcrsáo adaptada e rrvista de intervenção em mesa-redonda apresentada no I Congresso
Brasileiro Psicologiar Ciência e Profissão, setembro 2002, São Paulo, SP** ProÍessora titular do Lnstituto de Psicologia da USP. E-mail: mhspatto@usp,br
i f ,rhistorioerafia que plrt: da pergunta: qual o lugar ocupado pelo coúeo-
IlÍmentoproduzido @Ítr.Importante assinalar que, ao partir de uma concepção de crítica de
filiação materialista histórica - ou seja, ao entender crítica do conhecimen-to como situáJo, ir em busca de suas raízes,de seus compromissos sociais ehistóricos e descobrir o que está alojado em seus conceitos hrn.damentais --
\
ANA M, B. EOCI(
essas pesquisas
.raLSuperam uma concepçao a ui
OOMPBOMISSO SOCIÀL
tória das Ciêt qelFl!*1*uqd3 eral, e da Psicologia, -.g Pgtt)socral e econômica do lr-rgar emâ ver com ela. Não é tambérn
;É;;ír. se escreve sobre o pano de íundo da história do paÍs. Á"[a-irirhogio no Brasil é parte int.egrante da história brasileira, é uI d:
autores pendem descorados do chão histórico em que produziram concei_tos e práticas. Não que isto não sirva para nada; e cutaúgo que pode facili-tar a escritura de uma História da psicorogi" q,ru ,rrp"ie a ceübraçao de"pioneiros" ou "precursores", sem que se pãrg,nte ,oL.u o, compromissospolíticos inerentes às tecrias (isto é, incrustados em seus conceitàs) de quese apropriaram e que veicularam no país.
uma história das idéias, sem mais nada, é abstração que reforça a con-cepção de que a ciência é neutra, de que os conceitos que a integram nada
. Impossível
f11::y:-11 psic.olosia sem conh@urntusar e
tos cãnstitutivos, está implicada nos rumos por ela tomados' é
d.rtr.u. alguns aspectos. A República instalou-se sem a participação
âàroro, resultaão que ioi de cisão no interior das oligarquias, e nasceu sob
ü]fu, positivista dã "ordem e progresso". Aliás, todo o discurso republi
eano é marcad.o por obsessão ordeira. com o fim da escravidão e com a
lp6l.gÍaçao estrangeira como forma de suprir necessidades de mão-de-obra,
*ru;a" número à" p"r.ou, convergiu para os centros urbanos maiores e
rüà1.,r-." de várias estratégias de sobrevivência, o que criou uma situação
áçqrr,"ao." que os intelectuais da burguesia chamaram "caos urbano". O
rmedp de insurreições, de movimentos populares reivindicatórios, que sem-
'fiÀ êrt.u. presente na classe dominante, desde o temPo das casas-grandes'ã
dr, r"*ulas, fora acentuado pelas teorias raciais, para as quais o povo
biAsjl.ito era degenerado, porque mestiço'
Não por acaso, data dessa época a criminalização das estratégias de
vida no dãsemprego e na pobreza que pusessem em risco o direito à pro-
pnedade. As rúl"ãur das instituiçóes disciplinares, locâtizadas por Foucault
oa p"rrrg"* do século XVIII para o século XIX europeu - caracterizadas
poi t* modo de organizar o e§paço/ de controlar o temPo, de vigiar e re-
gistrar continuamente o individuo e sua conduta, de disciplinar não mais
iela violência da punição física, mas Por meio de práticas mais incorporais
àe disciplina pelasuieição à norma *, não eram tão necessárias na socieda-
de brasiieira quanto o Íoram na Europa liberal, No entanto, apesar de estar-
niros num pui, "^ que os poderosos semPre primaram pela barbárie nas
num temryo social e politicamente determinados. E qrrandá falo em ,,polÍti-ca" nâo estou obviamente me referindo a douhinâs político-par,ii;;,mas à dimensão das rerações de poder em vigor em sociedades concretas, dasquais as teorias ê as práticas fazem parte, seja para reafirmâr essas relações,seja para contestá-las. por tudo isso, quem se dedica à historiografia daPsimlogia não pode declarar-se curpaáo pôr se voltar para o passado daprofissâo e, assim, descuidar de seu presente. Estudamos o passado nãopor interesse inútil e recriminável pelo que já Íoi, mas paru
"r,t"r,dermos o
presente, Historiadores precisam ter clareza a respeito dos motivos pelosquais se dediqxm à escrita da história.
tr
$
&
fl
ti
Para ilustrar o enrai
ANA M 8. EOCK
relaÇões com os subalternos e adotaram apenas os princípios econômicosdo liberalismo, foj"pgsse peú história republicana brasileiraed!§êgão-escolar.e-
r,ilsllqrra gue a
crrn€çaram_a§eLci4adãos exem-plq{es con base num cong*g+gzut*ffir-H--"" "".::"':::::!:T yldusqg por medlcos e e
/ cadores rygrzglc_qugm trabaiha e obedece*mha e obedecõ, N"r"*l e q"ffir" p."tért",não reivindica e colabora õnnã ordemêsTãUaeaffiá*t"7 -Gaa-cõiilõ- ôãftirõôiã--piÃ'-Fíiá;; r-rj:----::- r+------+-=_ryqrõê" ,1tas,médicos(higienistas,priquiut.ffi-h-tras)e-GãüãAqucaooreq, entrq os quaiseshvam
pela Psi- Ao realizar essa tarefa num país como o nosso, em que o povo semprefoi zelosamente afastado dos direitos .Jir, ,o.iur, e políticos, os psicórogosservem à j'stificação de uma sociedade dividida u*!r" o, JJ"iio, são de-siguais' Ao reforçar cientificamente a crença de que f" r"g*", ,"ciais sãod,isfribuídos segundo o mérito de cada ,rm, colaúor" .o*"u úfr"r"ao au'existência de igualdade de oportunidades, gganCg.,nq verdaCq-n6nea fo-§Qs [!:rais"-murte*neno,s+eqagéls9s alu o autoritarismo e o d.escasodas elites pelos direitos sociais e cru,s au todos os cidadãos - independen_ter-nente da cor e do níver sociar e econômico - sempre foram a marca re-gishada de suas relações com os subalternos.
ffstooLOGlA E C0MPRO[llSSO SOCIAL
revela, e os Pnmileira
um claro o de controle, por meio da edu_li-
-*Tui Barbosa, nos importantes pareceres de 1gg2-1gg3 - que introdu-
ziram aqui concepções d.e.escora e de pedagogia de prestígio no oeste eu-ropeu capitalista industriar -, não poàiu r.-r mais claro quanto ao objetivoda escola nas sociedades de crasses: "investe-se zo/o emeáucação e 21% emdespesas mi[tares. É melhor pagar ao professor que ensina o respeito àpropriedade do que pagar um guarda pàra protegê_Ia,,.
Nas palavras do dr. Esposel - médico psiquiatra da Liga Bras,eirade Hygiene Mental (1925) que recomendava aos médicos que se aproxi-rnassem dos "psychorogistas" - transparece a reração entre ôiência e rera_çT d: poder: ele pregava a necessidade da criação de um sistema médico-pedagógico de formação morar profirática ',das psiconeuroses, ãe distur_bios elementares do sistema.n.iurro, qr.,e podem gerar paixões, crimes,idéias exhemistas reivind.icadoras ou revolucionárias,,.
É-nes':Lüêgsuca-eicolggia val-sgdq sansuhríÍra-comociêncja queuu4T.uonou:' . i',u.,g"uri or.* i.i.iJ i n,..*,.,ui iJiJÃg,.,ru.
narislex'areFilard€€nsi.i1 e3d*rg"rrá ffi r (quem
se"á preparado para ser a elite r,o- ,
X*Ht:t: I::,1:t'ericiente, precisava
"ãr,h".u, . -rteriu-prima aser processada pelo ensino _ as crianças _ para classifica_ta e, assim, moldá_
3 ^o1i."- exercício. esrrei to de cid ad ar,iu . p"ru ã;;;;il ;ffi";
"r#:_a evolutiva deindis
icométricos, Daí uinstrumentoJ
aoo trabalho intelectual e do trabalho L
Parte
çffi ,. era como na época ;. ;;";;;; ;;;;í*il,'ff ;#.t';ll99-^deverá'.:"i ;;:
:'::?-: ::: :::'"::T'l:i: : teorias
"" ;;, ;"; *ffiffi ,j fi:::,:::::::1"-::1".r a história da psicotogia vem para mostrar quepoucas vezes guem serâ exterminado, poís os índices de mortalidade eminstituições corretivas para menores, manicômios e prisões eramsabidamente altos,
i:::,:.^T:1:,r_","i aplicados.para o bem ou pu* oÇ;i. ü;;; "H;
patíveis corn a
'lIr#.*fri4fr'{,.xd
#§iliü-.t
i,§
ü,}-d
.*
*,2
*.-r.íü
'ü í)VÁ!Íj
{i.
.{.1+
'fili
- t. Tratei maia longamente desse tema em "Estado, ciência e porÍtica na primeira República:a desqualiÍicaçáo dos pobres,,, Eshdos Aaançedos, 13 (35), 19g9, p. 161-9g.
su [email protected]. dil".p ildt.i-àm-;--.:*^_---
oroenaçâo social em
9qr. equiva-
da Psi iso rever concepÇôes e práticas ãããvaliaçãíe
tes corÍenles teóricas que habitam o campo da ciência qtre escolheram. Daía osI&
logra; ou
PSICOTO6IA E COMPBOMISSO SOCIAL
\_
só assim poderemos superar três situações: a) lamentár,eis defesasemocionais e corporativas de opiniões, que impedem debates epistemoló-gica, ética e politicamente fundamentados; b) a formaçâo cada vez maisprecáría de psicólogos que vêrn redr:zindo a complexidade da psique a con-ceitos mergulhados no mais absoluto sensô comum, como é o uso dissemi-
3 ,luao do termo auto-estima, influência nefasta dos livros de auto-ajuda que
i r., por um lado, revelam o grau de desamparo e solidão â que as pessôas se'§ vêem condenadas no munclo atual, por outro, seduzem psicólogos sem crí--,t ti.u com um arsenal de prescrições fáceis, porque superficiais e mistifica-,$ doru' c) a crença de que basta exercer a profissão junto aos pobres paraj estar incluindo a Psicologia num projeto emancipador.
t E p:=tg9-§gqsid-aç a cada passo, nâo só os limites e possibilidades
i ]tustori.u*9.t" porto. à ..ulir ma sociedade .mais justa, mas astrA ip gia rle seu arsenal .le-teorias-ei Itécnicas que @s. Caminhar no sentido contrá-. , .-t- í?--ttll7lll- ' ^rio da amnésia da gênese (expressâo cunhada por Adomo e Horkheimer),
fazendo o inventário dos comoromiIazenqo o l equê recebemos como herança: eis um problema functamental que uma his-toriografia crítica da Psicologia nos diz que teremos de enfrentar,
I
ANA M-8, BOCK
r,.§ll:.r"
.7r
le a dizer que a Ciência é sempre elgajada, que o coúecimento é sempreinteressado. Mas os que fazem a Pôitologia como cientistas ou profissionaistendem a desconsiderar esta questão. @!13_prohssãoé- muito mais do que mediÍlas pragmáticasgue-+dsam*gar a n ti 1 a_i-on6d en-Cliurqaoe oe oaoos sobre c[entes^-4,éticâ.doexereíei.oda profis-sao lefere_seà@prática.@ciãEiãde de dados sobie cli
{. qss_ç-à@çao@izada e iniusta. o estudo da piicoiogia a
partir desta perspectiva histórica trãIàementos relevantes à resposta a duasindagações que fundam esta Mesa: a que demandas a psicologiu uu.,.."r-pondendo desde a sua origem? De que instrumentos teóricos ã práticos semtmiu para dar esta resposta? o que significa afirmar que a Ciência tempoder. Que o cientista está investido de poder. eg"- p pq!ç_Qlogo o exercequtao p$uz futo e quando realiza aÀ iuai-pfgqçei_ ae diag-
"óuti"C-ç t êlAa1 qràL
*efgfqg p**l§ ""r
r".t"O"d"r d g!$pfo$.gll{o_.com o quê?
No interior dessas questões, é preciso repensar os cursos de formaçãode psicólogos. É certo que os currículos, desde a sua primeira versão, quan-do da criação dos cursos de Psicologia, foram incorporando perspectivasteóricas que não constavam do proieto inicial. Ampliou-se o oúj"to, ô cam-po e os métodos da ciência psicológica e algumas disciplinas vieram parapôr o estudo do sujeito e da intersubjetividade em chavl histórica, políticae social. No interior do elogio da Filosofu, muitos d,ocentes e pesquisadoresvêm assumindo uma atitude interrogativa perante o conhecimento psico-lógico estabelecido, em busca de suas origens, de seus pressupostos episte-mológicos e de seus compromissos.
Mas exatamente onde reside a força da psicologia atual pod.e morartambém a sua fragiüdade. De quase monolítico, o currículo vem pass*dogradativamente a currículo plural que, no entanto, só confundirá os for-mandos se não lhes fomecer instrumentos teóricos para pensar as diferen-
,los fundamentos. Para
decinco anõ@ãisso não é preciso um curso superior