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1 COMUNHÃO Revista Espírita Bimestral Propriedade da COMUNHÃO ESPÍRITA CRISTÃ DE LISBOA www.comunhaolisboa.com ANO 34 2016 Nº 207 MARÇO - ABRIL Não aderimos ao novo acordo ortográfico Proriedade, Administração, Índice Página Redacção, Composição e Impressão : Editorial 2 Calçada do Tojal, 95, s/c Palavras de Kardec 4 1500-592 Lisboa Alerta ao Movimento Espírita 6 Telefone : 217 647 441 As mulheres do período apost. 9 O sonho do Infante (Poema) 15 * A Atlântida (conclusão) 17 Director Responsável : Nomes do Passado21 Manuela Vasconcelos Testamento Vital 23 Oração de Gandhi 27 * Que vai ser de nós… 28 Tiragem : 150 exemplares Distribuição Gratuita * Registo nº.211720 * Depósito Legal Nº. 13972

COMUNHÃO · alentadas e excelentes obras do Espírito Manoel Philomeno de Miranda: ‘Transição Planetária’ e ‘Amanhecer de uma nova Era’, ambos psicografados por Divaldo

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COMUNHÃO

Revista Espírita Bimestral Propriedade da

COMUNHÃO ESPÍRITA CRISTÃ DE LISBOA

www.comunhaolisboa.com

ANO 34 2016 Nº 207

MARÇO - ABRIL Não aderimos ao novo acordo ortográfico

Proriedade, Administração, Índice Página

Redacção, Composição e

Impressão :

Editorial 2

Calçada do Tojal, 95, s/c Palavras de Kardec 4

1500-592 Lisboa Alerta ao Movimento Espírita 6

Telefone : 217 647 441 As mulheres do período apost. 9

O sonho do Infante (Poema) 15

* A Atlântida (conclusão) 17 Director Responsável : Nomes do Passado… 21

Manuela Vasconcelos Testamento Vital 23

Oração de Gandhi 27

* Que vai ser de nós… 28

Tiragem : 150 exemplares

Distribuição Gratuita

*

Registo nº.211720 *

Depósito Legal Nº. 13972

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EDITORIAL

Ainda agora o ano começou e já estamos a viver o terceiro

mês, sem nos apercebermos como foram os dias transactos. Bons,

maus? Serviram para sermos úteis, dentro do “contrato” que

fizemos com Deus e assinámos com uma tinta absolutamente

invisível, mas que “cresce” ante os nosso olhos, uma e outra e

ainda outra vez, como que a lembrar-nos que prometemos ao

Senhor servirmos em seu Nome.

Que de responsabilidade nestas palavras, aparentemente tão

simples, mas que nos obrigam a estarmos sempre atentos, não só

aos nossos actos como aos actos de terceiros, a procurarmos

ajudar, orientar, esclarecer…

Talvez por causa desta palavra “esclarecer”, quando criámos

o nosso site, houve um irmão, com responsabilidades na nossa

Casa, que nos propõe de imediato, acabarmos com a publicação e

edição da Revista, a partir do momento que cada um podia ir ao

site e ler o que quisesse, de tudo o que lá temos publicado…

Recusámos, apenas com uma justificação: e aqueles que não têm

computador, ou não sabem como lidar com ele, ir à internet… eles

perdiam a leitura de cada edição!

Porque, honestamente, é com carinho que escrevemos para

todos os que nos quiserem ler. Muitas das vezes nem sequer

sabemos quem o faz, porque como a distribuição é gratuita,

colocamos os exemplares de cada número na mesa à entrada da

nossa Casa e não reparamos em quem a leva, quem a lê… Só nos

apercebemos, realmente, de tal facto quando alguém se chega a

3

nós para opinar sobre um e outro artigo que publicámos. E tem

sido assim, desde o primeiro exemplar, em Julho de 1981 –

quando ainda nem sequer o Centro tinha sido inaugurado: éramos,

apenas, um grupo – um grupo que estudava, que procurava

preparar-se para depois, quando pudesse, abrir-nos, então, a nossa

Casa.

O nosso lema – seja na Revista, seja no atendimento ou nos

trabalhos que realizamos – é sempre o mesmo: servir, em nome de

Deus, vendo em cada um aquele irmão que Jesus nos veio ensinar

a amar.

Do outro lado da “bancada”, cada um que nos conhece, lê ou

escuta é que poderá dizer se temos – ou não – cumprido a tarefa

que nos impusemos. Com certeza que, humanos (imperfeitos)

como ainda somos, muitas vezes teremos falhado, mas, creiam,

não foi por despreocupação ou desinteresse: apenas porque,

naquele momento, com certeza não soubemos fazer melhor!

Neste propósito – fazer o melhor – continuamos aqui,

presentes!, esperando que a sementinha que vamos plantando no

conhecimento/coração de cada um, possa sempre crescer, firmar as

suas raízes e dar aquele fruto saboroso que, do outro lado da Vida

aguardará a cada um, sempre na esperança de um Amanhã melhor!

Quando cada um “lá chegar” verificará, então, se a sementeira

rendeu a trinta, a sessenta ou a cem cada grão! Esperemos que seja

sempre o melhor…

A DIRECÇÃO

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PALAVRAS DE KARDEC

CARACTERES DA REVELAÇÃO ESPÍRITA

(Continuação)

61 – Qual é, pois, a utilidade dessas manifestações ou, se assim

quisermos, desta revelação, se é que os Espíritos não sabem mais

que nós, ou se não nos dizem tudo o que sabem?

Em primeiro lugar, como já dissemos, eles se abstêm de

nos dar aquilo que podemos adquirir pelo trabalho; em segundo

lugar, há coisas que não lhes é permitido revelar porque nosso

grau de adiantamento não o comporta. Porém, à parte disso, as

condições de sua nova existência ampliam o círculo de suas

percepções; eles vêem o que não viam, quando estavam sobre a

Terra; libertados dos entraves da matéria, dispensados dos

cuidados da vida corporal, julgam as coisas de um ponto de vista

mais elevado, e por isso mesmo, de modo mais são; sua

perspicácia abarca um horizonte mais vasto; compreendem seus

erros, rectificam suas ideias e livram-se dos preconceitos

humanos.

É nisso que consiste a superioridade dos Espíritos sobre a

humanidade corporal, e que seus conselhos podem ser mais

judiciosos e mais desinteressados que o dos encarnados, na

proporção de seu grau de adiantamento. Por outro lado, o meio

no qual se encontram, permite-lhes iniciar-nos nas coisas da vida

futura, as quais ignoramos, e que não podemos aprender no lugar

em que estamos. Até esta data, o homem não havia criado senão

hipóteses sobre o futuro; eis o motivo pelo qual suas crenças a

respeito de tal assunto foram divididas em sistemas tão

numerosos e tão divergentes, desde o negativismo até às

5

fantásticas concepções do inferno e do paraíso. Hoje, são as

testemunhas oculares, os próprios actores da vida de além-

túmulo, que nos vêm dizer o que há ali, e isso só eles o

poderiam fazer. Portanto, estas manifestações serviram para nos

fazer conhecer o mundo invisível que nos rodeia e do qual não

suspeitávamos; e mesmo este conhecimento isolado seria de uma

importância capital, se quiséssemos admitir que os Espíritos

fossem incapazes de nos ensinar mais alguma coisa.

Se fordes a um país que seja novo para vós, recusareis as

informações do mais humilde camponês que encontrardes?

Deixareis de interrogá-lo sobre o estado dos caminhos,

simplesmente por ser ele um campónio? Certamente não

esperareis dele esclarecimentos de alcance muito elevado, porém,

do que esteja em sua esfera, ele poderá, sob certos pontos,

ensinar-vos melhor do que um sábio, que não conhecesse de

perto o terreno. Podereis deduzir, de suas indicações,

consequências que ele mesmo não poderia alcançar; porém, ele

não terá sido menos um instrumento útil para vossas

observações, mesmo que não houvesse servido senão para vos

fazer conhecer os costumes dos camponeses. O mesmo se dá

com as nossas relações com os Espíritos, entre os quais mesmo o

menor deles pode servir para nos ensinar alguma coisa.

ALLAN KARDEC

(Continua no próximo número)

(In: A GÉNESE, ED. Lake, cap. I).

6

ALERTA AO MOVIMENTO ESPÍRITA

“(…) não creiais em qualquer Espírito;

experimentai se os Espíritos são de Deus.”

- I Jo., 4:1.

Não falece dúvida de que o Espiritismo terá um papel

preponderante na implantação dos Tempos Novos na Terra que

passará, então, de planeta de provas e expiações para planeta de

Regeneração. Assim, não nos causa surpresa o ferrenho e maciço

ataque que a Doutrina Espírita e em especial o movimento

espírita vêm sofrendo, uma vez que as trevas possuem a ‘batuta’

dessa orquestração maléfica e continuam tentando por todos os

meios possíveis atingir o sucesso de seus planos nefastos. E a

coisa já vai bem adiantada!!! É só reparar no que andam

aprontando por aí, no movimento espírita!

Daí a importância de prestarmos atenção ao conteúdo do

imperdível livro de autoria da nossa confreira Suely Caldas

Schubert, intitulado “Nas Fronteiras da Nova Era”, no qual a

autora mencionada tece comentários bem profundos sobre duas

alentadas e excelentes obras do Espírito Manoel Philomeno de

Miranda: ‘Transição Planetária’ e ‘Amanhecer de uma nova Era’,

ambos psicografados por Divaldo Pereira Franco.

Ali estão retratadas as maneiras pelos quais os inimigos da

luz têm lançado seus eficientes ataques, haja vista a negligência

que vem sofrendo os princípios doutrinários por parte dos

espíritas, especialmente dos dirigentes espíritas com raras e

honrosas excepções.

Negligência e vulgaridade! Tais as palavras de ordem!...

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Deixemos falar nossa Suely1: “(…) é exactamente nessa

questão da vulgaridade que reside um dos maiores perigos para o

movimento espírita. Espíritos vulgares buscam médiuns que lhes

são afins inspirando ideias de baixo nível, zombeteiros que são

com a desculpa de divertir os espíritas. Isso é estarrecedor!

Mentalidade esta, que gradativamente angaria adeptos, contando

para isso com livros que propagam tais ideias, como é óbvio,

anti-doutrinárias, e expositores que se apressam a divulgá-las, em

sintonia com os mesmos Espíritos malfazejos.

Vamos raciocinar: você que está lendo, já viu algum padre

dizer gracinhas enquanto reza a santa missa? Já viu algum deles

diminuir o tempo da missa para não cansar o povo? Já notou

algum pastor, diante de milhares de fiéis, fazer graça, contar

casos vulgares, para alegrar o público? Já o viu diminuir o tempo

do sermão para que a plateia não fique cansada? A missa é séria,

o sermão é sério, por que então essa infeliz ideia de que numa

palestra espírita o expositor só deve contar casos para levar o

povo a rir? É vulgarizar o Espiritismo tal procedimento. E se

Allan Kardec ali estivesse ouvindo tais vulgaridades? E Jesus e o

Evangelho, onde ficam?!

Vivemos um momento grave, queridos irmãos e

companheiros espíritas, a Doutrina Espírita é séria, assim como o

Evangelho também o é. Em muitas instituições espíritas, o tempo

de palestra foi reduzido para 40 minutos, para 30 minutos! Meu

Deus, uma palestra de 50 a 60 minutos ainda é muito pouco,

reduzi-la, então, é um total absurdo.

Todas estas considerações fizeram-nos recordar uma

importante mensagem de Bezerra de Menezes, na psicofonia de

Divaldo Pereira Franco, transmitida no dia 7 de Fevereiro de

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1987, no lar dos amigos Miguel de Jesus Sardano e Teresinha

Sardano, onde tive a satisfação de assistir e que é de

impressionante actualidade. Transcrevo só um pequeno trecho:

“(…) Estamos convocados a prosseguir… Cada um de nós é

convidado a uma quota que não pode ser menosprezada, ao

testemunho silencioso aureolado de alegria, porque o Reino não

é daqui, não obstante aqui comece. Demo-nos as mãos e

preparemo-nos porque a luta recrudescerá. As dificuldades

multiplicar-se-ão. O profano insinua-se no divino, o vulgar no

especial, o ridículo no ideal… Tenham cuidado, meus filhos,

para que as nossas Casas não sejam invadidas por torvelinhos

que lhes descaracterizem a pureza evangélica ali instalada.

Mantenhamo-nos unidos, sem que os miasmas da perturbação

intoxiquem, e as imposições do desequilíbrio predominem”.

(Grifo do autor encarnado).

Philomeno de Miranda relata que, caminhando para o final

da mensagem, o Espírito visitante enfatiza: “(…) o modelo a

seguir permanece Jesus, e a nova onda de amor trará de retorno o

apostolado, os dias inesquecíveis das perseguições e do

martirológio que, na actualidade, terá características diversas, já

que não se podem matar impunemente os corpos como no

passado… Isso não implica que não se assaquem acusações

vergonhosas e se promovam campanhas desmoralizadoras contra

eles, a fim de dificultar-lhes o empreendimento superior. Assim

mesmo, deverão avançar, joviais e estóicos, cantando os hinos da

liberdade e da fé raciocinada que dignificam o ser humano e o

promovem no cenário interior”.

1 – Schubert, Suely Caldas: Nas fronteiras da nova era, 2ª impressão,

Santo André, ebm. 2013, p. 75 a 77.

ROGÉRIO COELHO

9

AS MULHERES DO PERÍODO

APOSTÓLICO

Ainda nos tempos de hoje, as mulheres são, de variadas

formas, tratadas com desigualdade em relação ao homem. Os

exemplos são os mais diversos, desde salários menores para o

exercício da mesma profissão, à brutalidade da violência

doméstica do homem contra a mulher, realidade constante dos

lares de nossa Pátria do Evangelho, lares que deveriam ser

santuários sagrados.

A história da humanidade mostra que as mulheres sempre

estiveram subordinadas à denominação do homem, submetidas

ao seu jugo cruel. Já foram, ao longo dos milénios, centro das

mais bestiais discussões, como as que questionavam se a mulher

tinha inteligência ou mesmo alma…

Há dois mil anos, no tempo de Jesus, a precária condição

da mulher na sociedade era extrema; completamente subordinada

ao homem, era vista como objecto de propriedade do pai, quando

ainda solteira, ou do marido, se já casada. Não podia dirigir-se a

outros homens, raramente trabalhava fora do lar, era tida como

sub-cidadã, sem direitos, hierarquicamente sujeita à autoridade

masculina.

Ainda assim, e de forma surpreendente, o Evangelho cita

uma série infindável de mulheres que, de alguma forma,

participaram do apostolado de Jesus e foram espiritualmente

tocadas por Ele. O Mestre sempre manteve intenso contacto com

elas, deu às mulheres o que a sociedade lhes negava: o respeito, o

carinho, a consideração, a valorização. Em diálogo com Pedro,

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que o questionava sobre o valor da mulher perante o homem,

Jesus docemente responde ao apóstolo: - Uma e outro são iguais perante Deus(…) e as tarefas de

ambos se equilibram no caminho da vida, completando-se

perfeitamente, para que haja, em todas as ocasiões, o mais santo

respeito mútuo. Precisamos considerar, todavia, que a mulher

recebeu a sagrada missão da vida. Tendo avançado mais do que o

seu companheiro na estrada do sentimento, está, por isso, mais

perto de Deus que, muitas vezes, lhe toma o coração por

instrumento de suas mensagens, cheias de sabedoria e de

misericórdia. Em todas as realizações humanas, há sempre o

traço da ternura feminina, levantando obras imperecíveis na

edificação dos Espíritos. Na história dos homens, ficam somente

os nomes dos políticos, dos filósofos e dos generais; todos eles

são filhos da grande heroína que passa, no silêncio, desconhecida

de todos, muita vez dilacerada nos seus sentimentos mais íntimos

ou exterminada nos sacrifícios mais pungentes, mas também

Deus, Simão, passa ignorado em todas as realizações do

progresso humano e nós sabemos que o ruído é próprio dos

homens, enquanto o silêncio é de Deus, síntese de toda a

Verdade e de todo o Amor.

Por isso, as mulheres mais desventuradas ainda possuem

no coração o gérmen divino, para a redenção da humanidade

inteira. Seu sentimento de ternura e humildade será, em todos os

tempos, o grande roteiro para a iluminação do mundo, porque,

sem o tesouro do sentimento, todas as obras da razão humana

podem parecer como um castelo de falsos esplendores.1

Também em ‘O Livro dos Espíritos’, oportunamente

esclarecem os Espíritos superiores:

11

819 – Com que objectivo a mulher, do ponto de vista físico,

é mais fraca que o homem?

Para lhe determinar funções especiais. Cabem ao homem,

por ser o mais forte, os trabalhos rudes; à mulher, os trabalhos

leves; a ambos o dever de se ajudarem mutuamente a suportar as

provas de uma vida cheia de amargor.

820 – A fraqueza física da mulher não a coloca

naturalmente sob a dependência do homem?

Deus deu a uns a força para protegerem o fraco e não para

o escravizarem. Deus apropriou o organismo de cada ser às

funções que lhe cumpre desempenhar. Se deu à mulher menos

força física, deu-lhe ao mesmo tempo maior sensibilidade

apropriada à delicadeza das funções maternais e à fragilidade dos

seres confiados aos seus cuidados.

821 – As funções a que a mulher está destinada pela

natureza terão importância tão grande quanto as conferidas ao

homem?

Sim, e até maiores. É ela quem lhe dá as primeiras noções

da vida.

A condição inferiorizada das mulheres, ao longo da

história, reclusas nas próprias casas na sagrada missão de educar

os filhos, acabou por permitir que elas desenvolvessem, muito

mais que o homem, sentimentos e potencialidades relacionados à

paciência, à sensibilidade e ao amor, daí não só Jesus mas

também ‘O Livro dos Espíritos’ deixarem claro que, como regra,

a mulher é até mesmo mais evoluída que o homem, isso por

necessidade da missão a ela confiada: a educação de todos nós!

Algumas das mais belas passagens do Evangelho têm mulheres

como principais personagens, o que demonstra que Jesus não só

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ajudou individualmente a todas aquelas com quem teve

contacto, como também as usou para legar ao mundo as mais

belas lições de amor, quebrando quaisquer preconceitos baseados

na condição de sexo. Estava o Mestre, evidentemente, muito

além do seu tempo, pregando e ensinando o amor por intermédio

da mulher.

Joana de Cusa foi tocada por Jesus e, martirizada nos circos

de Roma, não renegou a sua fé.2 A mulher encurvada foi curada

por Jesus num dia de sábado, servindo-se do momento para

ensinar que não há hora nem lugar para a prática da caridade, que

deve sempre pautar-se pela incondicionalidade (Lucas, 13: 10 a

17). Maria Madalena, que se viu livre de “sete demónios”, nunca

mais abandonou o Cristo, seguindo-o até mesmo no Calvário,

quando então todos os apóstolos, à excepção de João, o

abandonaram (Lucas, 8:22; 23:49; Mateus, 27:56; Marcos: 15:40;

João, 19:25). Uma mulher, tomada por hemorragias, havia doze

anos, viu-se curada com o só gesto de tocar as vestes de Jesus

(Mateus, 9:19 a 22 e Lucas, 8:43 a 48).

No templo, o Mestre presenciou uma viúva pobre depositar

duas moedas de insignificante valor no gazofilácio, e se

enterneceu com o facto de que ela dava o pouco do que tinha.

Dava, portanto, mais do que aqueles que, depositando muito,

davam porém do que lhes sobrava (Marcos, 12:41 a 44). Há várias

outras passagens de que as mulheres participam, mas duas delas

são especialmente comoventes: a da mulher samaritana (João, 4:1

a 41) e a da adúltera (João, 7:53 a 8:1 a 11).

Jesus ia à Galileia e, atravessando a Samaria, encontrou-se

com uma mulher samaritana que buscava água no poço de Jacó.

Ele então se dirige a ela e pede-lhe água. Ela se surpreende,

porque Jesus era homem e judeu. Contrariava, assim, os costumes

13

da época, pois um homem judeu não se dirigia a uma mulher

samaritana, não só pela diferença de sexo, mas especialmente em

razão das intensas divergências entre os povos judeu e samaritano.

A um só tempo, o Cristo impugna uma série de preconceitos e de

regras proibitivas que feriam a essência da lei do amor. Não

interessavam ao Mestre as condições exteriores do Espírito, e sim

a essência divina, de que todos somos formados. Fosse o outro

homem ou mulher, ou de outra “raça”, ou rico ou pobre, fosse

autoridade ou não, isso definitivamente não importava ao Cristo,

que a todos amava incondicionalmente, ensinando que a lei do

amor transcende quaisquer preconceitos que ainda hoje

insistimos em cultivar. Na continuidade do diálogo, Jesus fala à

mulher samaritana a respeito da água viva, ou seja, sobre a lei do

amor, que é quanto basta para que nos encontremos com Deus,

edifiquemos seu reino em nós, e tenhamos a vida eterna da

felicidade dos Espíritos superiores.

A passagem da mulher adúltera é, senão a mais bela, uma

das mais grandiosas e virtuosas de todo o Evangelho. Isso porque

nós, Espíritos ainda devedores e atrasados, somos diuturnamente

os fariseus e escribas que sem cessar acusamos os irmãos com

quem convivemos por suas menores faltas. Assim agimos o dia

todo, em casa, no trabalho, no trânsito, na escola, etc.. Levando

uma mulher flagrada em adultério a Jesus, os fariseus e escribas,

querendo testá-lo, questionaram se ela deveria ser apedrejada, tal

como mandava a lei de Moisés. Curioso o facto de que tal lei

(Levítico, 20:10) manda seja morto também o homem, que nunca

está presente para sofrer as consequências do rigor legal, que só

recai na parte fraca das relações sociais. Jesus, então, recebe a

todos com um profundo silêncio, nada responde, e passa a escrever

com o dedo na areia. Após alguns momentos, anuncia a frase que

ficou, indelevelmente, marcada para todo o sempre: Aquele que

não tiver pecado, atire a primeira pedra! A doce advertência

14

dispersa todos os acusadores e, então, dirigindo-se à mulher,

pergunta-lhe onde estavam os acusadores e se algum deles a havia

condenado; ela responde que ninguém. O Mestre, com o amor que

não destrói nem violenta, antes orienta e ensina, por fim diz: “Nem

eu te condeno; vai e não peques mais.” Quantos de nós,

imperfeitos e cheios de pecado, conhecendo esta passagem, ainda

nos entregamos ao contínuo julgamento do próximo pelos menores

deslizes! Quantos ainda somos como aqueles fariseus e escribas do

tempo de Jesus, capazes de ver o cisco no olho do próximo, cegos

em relação à trave que está em nossos próprios olhos!

As mulheres foram intensas protagonistas na vida de Jesus,

que não só ajudou cada uma delas, com quem conviveu, a

transcender as próprias dificuldades e imperfeições, mas se

utilizou delas para, em variadas vertentes, ensinar a lei do amor,

incentivando-nos à arte do perdão, do não-julgamento, e do não-

preconceito, da caridade e do auxílio constante aos necessitados.

A leitura e o estudo do Evangelho, como sempre, não podem

resumir-se ao conhecimento vazio. Devem ser trazidos para nossa

realidade íntima, assimilados para o aprendizado e a evolução

contínuos rumo à iluminação. O amor que o Cristo dedicou às

mulheres é exemplo suficiente para que a sociedade, no século

XXI, passe a tratar a mulher, plena e efectivamente, com a mesma

igualdade e respeito com que são tratados os homens.

1 – Xavier, Francisco C. ‘Boa Nova’, pelo Espírito Humberto de

Campos. 37. Ed. 4 imp. Brasília: FEB, 2014, cap. 22

2 - ___, ___, cap. 15.

.

RENATO DE VASCONCELOS FARIA

(In Revista espírita brasileira REFORMADOR, Julho 2015).

15

O SONHO DO INFANTE

É noite sem luar. Lá, na Ponta de Sagres,

No rochedo escarpado, em frente ao imenso mar,

Alma cheia de fé, confiando em milagres,

Medita D. Henrique e começa a sonhar…

E distendendo o olhar pelas praias desertas,

O triunfo real das grandes descobertas

Ele antevê feliz… tinha enorme certeza

Do supremo valor da gente portuguesa.

E o Infante tenaz, o maior dos infantes,

Confiava no ardor dos lusos navegantes

Que iriam vencer todo o mar tenebroso

Que ali estava a rugir, qual gigante raivoso…

Aquele negro mar, misterioso e profundo,

Que circulava além, novas terras no mundo.

Vinham os vagalhões quebrar-se no rochedo…

As lendas, tradições, os vestígios do medo,

Fantásticas visões de sereias malditas,

Que atraiam as naus nas águas infinitas,

Iria desfazer da marinhagem rude,

Incutindo no peito uma nova virtude:

- O amor a Portugal, a Pátria estremecida,

Que merecia, sim, sacrificar a vida.

Naquela solidão e no silêncio enorme,

O Infante medita. O Infante não dorme.

Na espessa escuridão, seu vulto se agiganta.

Uma bela visão, bem perto, se levanta…

O seu olhar de lince, a perscrutar fronteiras,

Vê uma terra além, coberta de palmeiras…

16

Suas naus chegarão àquelas lindas plagas.

Será vencido o mar, dominadas as vagas.

O vento impelirá as lusitanas velas.

Lá irão aportar todas as caravelas

Que deixarão no mar os luminosos rastros,

Levando a Cruz de Cristo a tremular nos mastros.

Continua a sonhar o Infante D. Henrique…

Seu cérebro de fogo em labaredas arde.

Surgem terras além e que serão mais tarde

Províncias da Guiné, Angola e Moçambique.

Medita D. Henrique. Os olhos sonhadores

Alonga para o mar… Vão surgindo os Açores,

Porto Santo, Madeira… o seu olhar se perde

Pensando nos ilhéus do lindo Cabo Verde…

Toda a terra africana, esplendente em belezas,

Conheceu o valor das frotas portuguesas…

Sonho e meditação avançam pela noite…

Na rude viração, sentindo o áspero açoite,

D. Henrique se apoia às pedras do rochedo

E tenta desvendar o mágico segredo

E os mistérios sem fim, do tenebroso mar.

E o Infante D. Henrique continua a sonhar…

……………………………………………....

Sua vida consagrara, olhos postos nos céus,

Ao serviço da Pátria e ao serviço de Deus.

No coração de gelo o humano amor não medra…

O seu peito de herói é vrijo como a pedra…

Nunca sentiu o ardor de uma paixão sequer…

Nunca teve na boca o beijo de mulher…

O amor, considerava uma coisa banal…

Só tinha um grande amor: - o amor a Portugal.

17

…………………………………………..

Desponta no horizonte a rósea madrugada,

Tingindo todo o céu de um rubor deslumbrante.

Mansamente caiu o beijo da alvorada

No rosto varonil de denodado Infante…

LOLA DE OLIVEIRA

R Jan., 1960

Poema da autora, nas comemorações do V centenário da

morte do Infante D. Henrique, e que trazemos aqui hoje, neste mês

de Março, a recordá-lo mais uma vez).

*

A ATLÂNTIDA

(Conclusão do texto publicado no número anterior)

OUTRAS PROVAS A RESPEITO DA ATLÂNTIDA

Segundo E. Armond, existe um documento referente à

Atlântida no British Museum de Londres. É um manuscrito

denominado ‘O Troiano’, descoberto em escavações

arqueológicas no sul do México, região habitada primitivamente

pelos toltecas.

No Codex Tolteca Tira(O Livro das Migrações), há uma

passagem onde se relata que oito tribos atingiram as praias do

Pacífico, e eram oriundas de um país situado a leste, denominado

Aztlan.

18

Há antigos desenhos mexicanos das tribos toltecas e

aztecas, que representam Aztlan como uma ilha montanhosa, de

onde essas tribos se originaram.

Um dos mais importantes documentos é o Popul-Vu, uma

obra em quatro volumes, que contém toda a mitologia dos maias

em idioma quiché. Esta obra revela que os antepassados do povo

maia da Guatemala, vieram, há muitíssimos anos, de um país

localizado a leste, em pleno oceano…A narrativa de Troiano

confere com as tradições maias, que revelam que a civilização

dos atlantes sucumbiu através de dois cataclismos: um, teria

ocorrido por volta de 8.452 e o segundo, aproximadamente em

4.292 a. C..

Na primeira catástrofe afundou a Grande Atlântida, o

continente primitivo (esse facto é descrito por Troiano). Séculos

mais tarde, submergiu o que havia restado, isto é, a Pequena

Atlântida, ou Poseidonis, assim denominada na antiguidade

grega. Esta última parte, estendia-se da costa norte da África até

ao Mar de Sargaços.

Mesmo os leigos em arqueologia, podem notar as

semelhanças existentes entre as pirâmides do Egipto e as

construções maias. Os egípcios antigos praticavam a

mumificação de cadáveres; a mesma prática era desenvolvida

entre os povos do México e do Perú.

Em 1923, os cientistas realizaram uma sondagem no

oceano, que revelou que o fundo do Atlântico está-se erguendo

lentamente, cerca de quatro quilómetros em vinte e cinco anos.

Muitos acreditam que tal facto concorda com as profecias de que

a Atlântida se reerguirá para substituir continentes que serão, por

sua vez, afundados.

19

O afundamento da Grande Atlântida fez com que se

completasse a formação do Oceano Atlântico, porém, restaram

algumas partes mais altas do antigo continente, que constituem

as ilhas de Cabo Verde, Açores, Canárias e outras.

Tanto a narrativa do Troiano quanto as tradições maias

possuem elementos de concordância com as tradições egípcias

reveladas a Sólon pelos sacerdotes de Sais, em 600 a. ., que

afirmavam ter a Atlântida submergido 9.500 anos antes da época

em que eles viviam.

E em última análise, todas essas tradições foram

confirmadas pelo sábio grego Platão, em seus diálogos com

Timeu e Crítias, escritos por volta de quatro séculos antes de

Cristo.

AS REVELAÇÕES ESPIRITUAIS

O Espiritismo é uma fonte de ensinamentos e, através das

revelações dos espíritos de ordem mais elevada, os nossos

conhecimentos acerca das realidades espirituais, que também

abrangem o mundo físico, actualmente encontram-se mais

alargados. Assim, através das palavras de Emmanuel, ficamos

sabendo que a humanidade actual foi constituída primitivamente

por duas categorias de seres: além de uma espécie mais atrasada,

que veio evoluindo lentamente desde as formas mais

rudimentares de vida, houve outra, composta de criaturas

intelectualmente mais evoluídas, que compunha os seres exilados

de Capela, um orbe da Constelação do Cocheiro.

Estes seres que habitavam Capela foram obrigados a

reencarnar entre raças mais ignorantes e primitivas na Terra,

20

como forma de punição, pois constituíam-se em milhões de

espíritos rebeldes que estavam atrapalhando a evolução daquele

mundo longínquo, que alcançara o apogeu de um dos seus ciclos

evolutivos e não mais poderia abrigar espíritos que se

compraziam na prática do mal, falhos de sentimento embora

adiantados no intelecto. Assim, esses espíritos foram espurgados

dessa esfera, por não terem condições de se coordenar com os

altos padrões de vida moral atingidos pela humanidade de

Capela.

Esses milhões de advenas para aqui transferidos, em

época impossível de ser agora determinada, eram detentores de

conhecimentos mais amplos, e de entendimentos mais dilatados,

em relação aos habitantes da Terra e foram o elemento novo que

arrastou a humanidade animalizada daqueles tempos para novos

campos de actividade construtiva, para o aconchego da vida

social e, sobretudo, deu-lhes as primeiras noções de

espiritualidade e do conhecimento de uma divindade criadora.

Mestres, condutores e lideres que então se tornaram, das tribos

humanas primitivas, foram eles, os exilados que definiram os

novos rumos que a civilização, então, tomou, diz Armond.

Tal ocorrência não deve constituir surpresa, pois, segundo

os esclarecimentos espíritas, com o advento do terceiro milénio,

a humanidade terrestre poderá sofrer vários desses expurgos

reparadores.

Emmanuel ainda revelou que os capelinos reencarnaram

nas regiões onde se haviam localizado as tribos e famílias

primitivas, descendentes dos ‘primatas’. E, “em sua maioria,

estabeleceram-se na Ásia, de onde atravessaram o istmo de Suez

para a África, na região do Egipto, encaminhando-se igualmente

21

para a longínqua Atlântida, de que várias regiões da América

guardam assinalados vestígios.”

Assim, graças aos capelinos degradados, nasceram na

Terra os ascendentes das raças brancas, e a eles devemos o

esplendor e a imponência da civilização dos atlantes, dos

egípcios, a sabedoria da Índia, e o monoteísmo do povo de Israel,

entre outras contribuições.

NILTON PUGLIESE

(Transcrito da Revista portuguesa ora desaparecida, ESTUDOS

PSÍQUICOS, Fevereiro de 1980).

*

NOMES DO PASSADO…

NOMES DE SEMPRE!

= GUERRA JUNQUEIRO =

“Muitos intelectuais e muitíssimos espíritas e pensadores,

alarmaram-se com a pretensa conversão ao catolicismo romano

do genial poeta Guerra Junqueiro, conversão que o padre católico

tem andado a propalar, salientando o seu grande triunfo – o

triunfo de sempre, diz ele, sobre todos os homens de vulto que,

em dias infelizes da sua vida, combateram a igreja católica, pois

todos eles, arrependidos por fim, vão voltando, quais filhos

pródigos, à bendita casa paterna, que é a casa ou causa de Roma.

22

“Lamentamos o alarme, e mais lamentamos que se

deixassem mistificar pelas espertezas do sincero padre romano,

apesar de tantas vezes desmascaradas.

“É mentira que o glorioso poeta se fizesse infalibilista. O

que é verdade é que ele sempre quis ser cristão, e a seu modo o

tem sido, e que, do catolicismo, só respeita o que nele tem havido

e porventura ainda haja do cristianismo.

“Sosseguem, pois, todos os que ingenuamente se

alarmaram, e leiam, para seu consolo, as seguintes palavras do

grande poeta, espiritualista e teósofo: ‘Dizem por aí que eu estou

católico. A nota publicada nas minhas ‘prosas Dispersas’ ao

artigo “Sacré Coeur” tem sido mal compreendida. O catolicismo

é grande pelo que nele se mantém de cristianismo. Sou um

crente, creio em Deus. Mas não abdico do meu raciocínio. E o

meu raciocínio combate os erros da Igreja, que foram muitos e

graves. Não sou católico, no sentido vulgar do termo. Não

pratico. Sou, porém, cristão – e sempre o fui…”

“Esperemos mais completas explicações do consagrado

poeta e erudito pensador que, de certo, as vai dar, do seu ideal

religioso. E continue o padre católico, se isso lhe apraz, na

ingrata, tola e infeliz tarefa de profligar e anatematizar como

diabos e loucos os espíritas, os teósofos, os ocultistas e os

psiquistas, e a apregoar, como arrependidos e convertidos ao

catolicismo romano, todos aqueles que julga próximos da morte

e que durante a vida tiveram algum acto ou palavra de cristão ou

de simples admirador do Cristo.”

(In “Revista Espírita Luz e Caridade, de Braga, Abril de 1922).

23

TESTAMENTO VITAL

Tem-se falado muito, ultimamente, em EUTANÁSIA,

tendo sido lidas, até, declarações de alguns médicos, inclusive

portugueses, de como já a aplicaram nos seus doentes – os

terminais. E o jornal “Diário de Notícias”, de 6 de Março, 2016,

em artigo de página inteira, pela mão de um seu articulista,

informa ou comenta que estão os “Portugueses incentivados a

dizer que tratamentos querem em fim de vida” – podendo

actualmente cada um decidir, quando ainda capacitado, por um

testamento vital para o que basta preencher-se um modelo do

Ministério da Saúde, acessível on-line e depois, entregá-lo num

balcão próprio, informando, logo a seguir, os tipos de cuidados

que estão abrangidos e, a diferença entre a eutanásia e a

directiva.

Realmente, depois da ponta do iceberg ter sido revelada,

pensamos que já nada nos pode espantar – mesmo neste País que

sempre foi referido como sendo de carácter religioso. Mas,

realmente, ou quem está no Governo agora, não o é, ou, então, os

Serviços de Saúde portugueses estão tão incapacitados de darem

vazão a todos os que a ele recorrem que resolveram começar a

matar à direita e à esquerda, esquecido mais uma vez aquele

juramento de Hipócrates que fazia com que cada um procurasse,

confiadamente, alguém em condições de o tratar, curar, ou dar-

lhe um final digno – rodeado pelos familiares que o amassem.

Nesta conformidade, porque recorrendo aos Serviços

Hospitalares sem estarmos convenientemente informados,

poderemos – ou não – estar sujeitos a que nos apliquem uma

24

injecção que, em vez de nos ajudar nos dê mais rapidamente a

morte, falemos, então, de…

EUTANÁSIA – segundo a definição do “pequeno Dicionário da

Língua Portuguesa”, edição de 1924, que temos presente, significa

“morte tranquila, sem sofrimento.” – o que é um engodo tremendo, em

que muitos poderão cair, porque, pensamos, ninguém sofre por gosto;

na dor como na doença, ninguém será masoquista.

Mas, o que significará este mesmo acto, que consequência terá

para o nosso Espírito – o nosso verdadeiro EU – este “refúgio”

aparentemente tão belo?

Porque ninguém, melhor que Kardec, nos poderia elucidar,

recorremos ao “O Livro dos Espíritos”, pergunta

953:- Quando uma pessoa vê à sua frente uma morte inevitável e

terrível, é culpada por abreviar de alguns instantes o seu sofrimento por

uma morte voluntária?

R. – Sempre se é culpado de não esperar o termo fixado por Deus.

Aliás, haverá certeza de que ele tenha chegado, malgrado as

aparências, e não se pode receber um socorro inesperado no derradeiro

momento?

953-a – Concebe-se que, em circunstâncias ordinárias, seja o suicídio

repreensível, mas figuramos o caso em que a morte é inevitável e em

que a vida só é abreviada por alguns instantes.

R. – É sempre uma falta de resignação e de submissão à vontade do

Criador.

953-b – Nesse caso, quais as consequências de tal acção?

25

R – Uma expiação proporcional à gravidade da falta, segundo as

circunstâncias, como sempre.

E, mais à frente, na conclusão do capítulo I do Livro Quatro:

(…) A religião, a moral, todas as Filosofias condenam o suicídio como

contrário à lei natural. Todos nos dizem, em princípio, que não se tem

o direito de abreviar voluntariamente a vida. Mas porque não se terá

esse direito? Porque não se é livre de pôr um termo aos próprios

sofrimentos? Estava reservado ao Espiritismo demonstrar, pelo

exemplo dos que sucumbiram, que o suicídio não é apenas uma falta

como infracção a uma moral, consideração que pouco importa para

certos indivíduos, mas um acto estúpido, pois que nada ganha quem o

pratica e até pelo contrário. Não é pela teoria que ele nos ensina isso,

mas pelos próprios factos que coloca sob os nossos olhos.

E Herculano Pires, em nota de roda-pé, esclarece:

O argumento espírita contra o suicídio não é apenas moral, como

se vê, mas também biológico, firmando-se no princípio da ligação

entre o Espírito e o corpo. A morte como fenómeno natural, tem as

suas leis que o Espiritismo revelou através de rigorosa investigação. O

sofrimento do suicida decorre do rompimento arbitrário dessas leis; é

como arrancar à força um fruto verde da árvore. As estatísticas

mostram que a incidência do suicídio é maior nos países e nas épocas

em que a ambição e o materialismo se acentuam, provocando mais

abusos e excitando preconceitos. A falta de organização social justa e

de educação para todos é a causa de suicídios e crimes. (…).

A diferença entre “suicídio” e “eutanásia” está apenas em que,

no primeiro caso, a pessoa age sozinha e, no segundo, age

acompanhada por quem lhe ministra o medicamento que a levará à

morte. Nesta caso, esta segunda pessoa torna-se conivente no crime,

porque suicídio ou eutanásia, o acto é sempre um crime perante a Lei.

26

As consequências são sempre as de um sofrimento maior no

plano espiritual, normalmente pelo tempo de vida que teria ainda no

corpo-matéria e, um recomeço, na reencarnação imediata, das mesmas

causas, com um sofrimento maior – isto sem deixar de referir, também,

as consequências físicas da morte a reflectirem-se no novo corpo

carnal, nas doenças que lhe surjam logo no início da reencarnação,

sejam de foro cardíaco, neurológico, ou outras, mediante a espécie de

morte provocada.

Então, se realmente a eutanásia entrar em vigor nos hospitais

portugueses, será preferível que o doente assine o termo de

responsabilidade em que peça a alta, e vá aguardar em casa, com fé, a

chegada da morte – quando Deus lha envie – pois assim, quando

chegar ao outro lado, reconhecerá que o sofrimento valeu a pena, pois

terá deixado de lhe sofrer as consequências numa renúncia que só o

prejudicaria, por tempos incontáveis.

Tenha-se sempre presente o mandamento da Lei de Deus que

diz: NÃO MATAR – e este “não matar” não está relacionado, apenas,

com o próximo, amigo ou inimigo, mas com a própria existência que o

Senhor nos concedeu.

MANUELA VASCONCELOS

*

Fé inabalável é somente aquela capaz de encarar a razão,

face a face, em todas as épocas da humanidade. – ALLAN KARDEC

27

ORAÇÃO DE GANDHI

Meu Deus!

Ajuda-me a dizer a palavra da verdade na cara dos fortes e

a não mentir para obter o aplauso dos débeis.

Se me dás dinheiro, não tomes a minha felicidade e se me

dás forças, não tires o meu raciocínio.

Se me dás êxito, não me tires a humildade; se me dás

humildade, não tires a minha dignidade.

Ajuda-me a conhecer a outra face da felicidade, e não me

deixes acusar os meus adversários, apodando-os de traidores,

porque não partilham o meu critério.

Ensina-me a amar os outros como amo a mim mesmo e a

julgar-me como o faço com os outros.

Não me deixes embriagar com o êxito, quando o consigo,

nem a desesperar se fracasso.

Sobretudo, faz-me sempre recordar que o fracasso é a

prova que antecede o êxito.

Ensina-me que a tolerância é o mais alto da força e que

desejo de vingança é a primeira manifestação da debilidade.

Se me despojas do dinheiro, deixa-me a esperança e se me

despojas do êxito, deixa-me a força de vontade para poder vencer

o fracasso.

Se me despojas do dom da saúde, deixa-me a graça da fé.

Se causo danos a alguém, dá-me a força da desculpa, e se

alguém me causa dano, dá-me a força do perdão e da clemência.

Meu Deus, se me esquecer de Ti…

Tu não Te esqueças de mim!

GANDHI

28

QUE VAI SER DE NÓS, DEPOIS DA

MORTE?

Não sou mais que um simples combatente da causa

espírita, mas penso ter-lhe dado o impulso que antes lhe faltava e

que de tal modo chamou a atenção do público que dificilmente

tomo de um jornal sem que encontre nele um artigo em que se

debate o Espiritismo. O facto de serem ignorantes e falaciosos

alguns jornalistas nenhum dano acarreta à causa. Se esta fosse

má, a publicidade e a reputação a prejudicariam. Se, porém, é

boa, uma e outra coisa lhe aproveitarão e ela triunfará cedo ou

tarde.

Dizem alguns espíritas que devemos considerar-nos ditosos

e contentarmo-nos com a nossa dita. Isto não me parece moral.

Se Deus enviou à Terra uma nova mensagem de felicidade, é

dever de todos a quem ela foi revelada, levá-la ao conhecimento

de todos os outros, quaisquer que sejam o trabalho, as penas e os

dissabores que daí lhes advenham. A nova revelação não nos foi

dada como objecto de gozo egoístico, mas como consolação

geral. Porque o doente volta costas ao doutor, não se lhe poderá,

ao menos, oferecer os medicamentos?

Evidente já que todas as invenções modernas e as

descobertas cairão no rol das coisas banais, quando os

fenómenos espíritas, daqui a alguns anos, se impuserem ao juízo

humano.

O Espiritismo foi levado por veredas tortuosas, onde se nos

deparam práticas nefastas e muito cepticismo.

29

Uma classe existe de pesquisadores psíquicos que gostam

de girar dentro de um circulo e arrastar-vos consigo, se fordes

fracos. Pesquisam sempre, sem se aperceberem de que uma

explicação simples e clara é muito mais peremptória.

A inteligência lhes é nefasta, por isso que os conduz por

estradas transversais, em vez de lhes indicar o caminho recto.

Por outro lado, pessoas também há demasiado crédulas,

que vão até ao ridículo. Em verdade, o estudo é muito simples,

até mesmo ao alcance de meninos. Os meus o compreendem.

Quem já leu atentamente os livros de Croockes e os de

certos autores espíritas e se obstina em não reconhecer que há

uma força sobrenatural, é um desequilibrado.

Una vez que se tenha admitido a sobrevivência, natural é

que se peça aos Espíritos uma apreciação acerca da religião que

se professa. Em suas respostas, encontram-se sempre a pureza e a

inspiração que nos mostram como o homem se esqueceu, durante

longos séculos, de conservar o contacto com o invisível, que é a

essência mesma das coisas espirituais.

O trabalho que empreendemos aí está e ai daquele que nos

impede o passo, porquanto se não for, como algumas vezes

sucede, punido na Terra, sempre o será no Além. Há uma

responsabilidade que ninguém quer reconhecer: muitos pensam

poder julgar o invisível, quando na realidade é este que nos julga.

É evidente que isto não se aplica aos veros pesquisadores,

que consideram muito grave esta matéria, para deixar de ser

objecto de aprofundado estudo. Eu próprio fiz experiências

30

durante muito tempo e reconheço agora que meu estudo foi

demasiado longo e que por isso mereço censuras.

Hoje faço todo o possível por reparar o meu erro. O mesmo

se tem dado com grandes sábios, como Myers, Hodgson e

Hyslop, que muito hão tardado em manifestar as suas opiniões.

Respeito esses homens, mas desdenho os que se dizem

investigadores psíquicos. Ainda não vi gente mais pedante.

Muito hão de divertir os nossos descendentes. O pior é que

alguns deles acusam de fraude os médiuns e vão ao extremo de

elaborar relatórios falsos. Tenho estado em relações com muitos

médiuns em vários países e só umas três vezes observei fraudes.

Cumpre distinguir a fraude consciente e a fraude inconsciente.

Esta última é a mais perigosa.

A fraude consciente provém de uma tentativa do médium

para suprir a força psíquica que lhe falta, imitando o fenómeno.

A fraude inconsciente produz-se num estado de semi-sonolência,

parecendo normal o médium que, entretanto, já não é responsável

pelos seus actos, já se não acha em condições de fazer o que quer

e ainda não o está no de fazer o que lhe é sugerido do Além. Eis

porque há médiuns que fazem coisas ridículas e parecem

trapacear. Se, porém, o observador não fizer caso dessa situação,

e pacientemente esperar, os fenómenos psíquicos se produzirão e

o médium cairá então em completa catalepsia.

Esta era uma particularidade de Eusápia Paladino,

conforme tive ensejo de observar muitas vezes.

Vi casos de médiuns saírem do respectivo gabinete para

passearem pela sala, tais como: o sr. Corner, a sra. d’Esperance e

Craddoch. Tendo todos estes médiuns dado provas irrecusáveis

31

de suas faculdades, estou convencido que da parte deles

nenhuma fraude havia.

Quando os médiuns fraudam, trazendo consigo quaisquer

artefactos ou acessórios, o que já aconteceu – acho isso um crime

abominável e monstruoso.

Algumas pessoas têm-me perguntado porque estou certo de

conhecer a verdade. Para lhes dar todas as razões que possuo

para assim me pronunciar, mister me fora escrever um volume,

que não um artigo. Direi somente que, se abandonei um trabalho

lucrativo e me tenho afastado da minha casa durante longos

períodos, é porque tenho a certeza da sobrevivência. Não há

método de verificação que eu não haja experimentado

repetidamente.

Em presença de um médium, senhorita Bésinett, e outras

pessoas, vi minha mãe e meu sobrinho, tão bem como se ali os

tivesse em carne e osso. Quase me fora possível contar as rugas

de uma e as costelas de outro. Na obscuridade, o semblante de

minha mãe parecia brilhante, calmo, ditoso. Tinha a cabeça

ligeiramente inclinada para a banda e fechava os olhos. Minha

mulher, à minha direita, e uma senhora, que estava à minha

esquerda, a viram tão distintamente quanto eu. Essa senhora que

não conhecera minha mãe, exclamou: “Que maravilhosa

parecença com o filho!”, o que demonstra a solidez dos traços

fisionómicos.

Com o concurso do médium, sr. Evan Powell, conversei

com o meu filho. Seis pessoas que estavam presentes assinaram

um atestado da realidade desse facto. Ouvi-lhe a voz natural e ele

comigo conversou de coisas que lhe diziam respeito, totalmente

32

desconhecidas do médium que, amarrado à sua cadeira, respirava

profundamente.

Se não basta o atestado de seis pessoas eminentes e

honradas, que será preciso fazer?

Meu irmão, o general Doyle, manifestou-se pelo mesmo

médium e falou da saúde de sua mulher, que era dinamarquesa.

Ela estava-se tratando com um massagista de Copenhague, cujo

nome ele declinou. Informei-me e vim a saber que esse homem

existia. De onde viera a meu irmão esse conhecimento? Quem

poderia ter tanto interesse por aquela senhora a não ser o marido?

Todas as subtis teorias do sub-consciente caem em pedaços

diante da afirmação da inteligência. “Sou um espírito, sou Innes,

sou teu irmão.”

Dei a mão a materializações; sustentei longas conversações

por meio de vozes directas; senti o perfume especial que se

desprende do ectoplasma; ouvi profecias que se realizaram

completamente. Vi a “ténue claridade morta” em chapas

fotográficas que só eu manipulara. Recebi por intermédio de

minha mulher, muitos esclarecimentos que ela seeria incapaz de

me dar por si mesma.

Vi uma senhora inexperiente produzir em alguns minutos

um quadro que presentemente adorna a minha sala de visitas. Vi

objectos muito pesados levantarem-se e permanecerem no ar sem

nenhum apoio. Vi Espíritos passearem em pleno dia e

conversarem com as pessoas presentes. Li cartas escritas por

pessoas que nenhuma instrução têm, cartas que, no entanto,

parecem de excelentes autores. Reconheci o estilo de um escritor

33

falecido, que ninguém nunca pôde imitar. A caligrafia era

idêntica à dele.

Ouvi cantar com uma força que não pode ser aqui na Terra

e assobiar durante longuíssimo tempo, sem respirar uma única

vez. Vi objectos serem atirados a grandes distâncias e entrarem

nos lugares hermeticamente fechados.

Se um homem visse, ouvisse e sentisse todas estas coisas e

não acreditasse numa força invisível, esse homem poderia pôr

em dúvida a sua lucidez. Porque haveria de dar atenção aos

jornalistas e a certos sábios sem experiência quem tantas provas

possui?

Do ponto de vista religioso, faz-se necessária uma nova

concepção do pecado. Não são as fraquezas do corpo as mais

nefastas, porém as do Espírito, tais como o bigotismo

(velhacaria), o materialismo, a estreiteza de ideias, que são

permanentes e nos condenam a ficar nas esferas inferiores, até à

depuração. Estamos disso persuadidos pelo que nos dizem os

desgraçados que nos vêem pedir conselhos.

Durante setenta anos, a existência dessas forças superiores

foi negada, seus dons tratados de embustes, de fraudes as suas

maravilhas e de charlatanismo suas prescrições médicas.

Entretanto, Braid e Esdaile, cirurgiões, sentiram essa

influência maravilhosa e dela se utilizaram no tratamento de

doentes do campo. Braid começou por empregar o hipnotismo,

que ele chama de ‘coma’. Esta palavra nova produziu seu efeito e

o mundo começou a acreditar no hipnotismo, sem aludir ao

“mesmerismo”, que era a mesma coisa, mas que foi negado.

Naturalmente, Mesmer cometeu erros, como os espíritas os têm

34

cometido. Mas, em cada caso, o ponto essencial era respeitado.

Talvez a história venha a repetir-se um dia, no dia em que todos

reconhecerem o Espiritismo – mas sob outro nome – como sendo

a expressão da verdade.

Muitos sábios abrirão caminho, graças mais ao Espiritismo

do que aos outros trabalhos. Actualmente, citam-se cem vezes os

nomes de Wallace e Croockes por causa de seus trabalhos

psíquicos, para uma em que são citados pelos seus trabalhos

materiais. Quanto a Brewster e Cerpenter, nenhuma alusão se

lhes faria, se não fosse pela mesma razão. Muito há de sofrer a

reputação de alguns grandes homens por motivo da abstenção em

que se mostram e da atitude que guardam. Estou persuadido de

que os nossos descendentes colocarão Crawford e Drayson na

primeira fila.

Conquanto possam dizer que tudo isso não passa de

impressões minhas pessoais, publico-as a fim de verificá-las mais

tarde.

O erro cometido pela ciência nas suas investigações

consiste em não haver tentado compreender como é que o

médium produz o fenómeno. Sempre o têm tratado como

feiticeiro, dizendo-lhe: “Faze isto ou aquilo”, pensando que o

médium age por si mesmo, quando o facto, as mais das vezes, se

produz por intermédio dele. Digo as mais das vezes, porque creio

que alguns fenómenos insignificantes, como o dos choques,

podem ser produzidos pelo seu Espírito, directamente.

Vi línguas de fogo, escutei o vento e a grande voz, mas não

vejo como se poderiam obter esses fenómenos sem harmonia.

Os sábios se esquivam, negando essa lei.

35

Sabem eles que um nada pode destruir o fruto de longo

trabalho, mas não querem admitir que uma condição psíquica

possa prejudicar uma experiência psíquica, conforme o têm

provado eminentes pesquisadores. Dizem esses sábios: “Os

Espíritos representam a última coisa em que acreditaremos, pela

razão de que isso daria em terra com um trabalho de cinquenta

anos´”. É duro, efectivamente, para um homem que sustentou ser

o corpo quem governa o Espírito, ter de reconhecer que, na

realidade, o corpo é governado pelo Espírito.

Pelo que toca à profecia de um desastre, conheço a

dificuldade de determinar, vista do outro lado, a duração do

tempo. Todavia, tenho recebido tantas informações

pormenorizadas, provindas de fontes diversas, que posso

assegurar para daqui a alguns anos uma grande catástrofe, a

maior de quantas até então se terão produzido.

Perguntam-nos: “Que colheis dessa crença nos Espíritos?”

Respondo a isto: “Graças a ela já a morte não nos atinge;

deixamos de estar num sombrio vale, para nos acharmos num

cume iluminado, com amplos horizontes diante de nós.”

Porque temeríamos a morte, quando sabemos que é a porta

conducente à felicidade? Porque temeríamos a dos nossos entes

caros, quando os sabemos tão perto de nós? Não estou agora

mais perto do meu filho, do que se ele ainda estivesse no

exército, destacado para bem longe, no estrangeiro? Não se passa

mês, raro uma semana se passa, sem que me comunique com ele.

Não é esse facto de natureza a mudar o aspecto das coisas e a

tornar, de pardacento que era, claro e límpido o meu

firmamento?

36

Podeis dizer que na religião cristã temos essa crença. É

exacto e por isso é que não somos anti-cristãos, desde que se

trate da revelação do Cristo e não da de seus orgulhosos

representantes. Todas as formas de crença cristã se acham

representadas nas nossas fileiras sob nomes diferentes, nada

porém de preciso há nas definições que do outro mundo dão as

Santas Escrituras. O que temos podido deduzir, é que há um céu

de trabalho conduzindo a esferas superiores, um céu de arte, de

ciência, de inteligência, onde se reúnem os Espíritos que se

encontram no mesmo grau de evolução. É o que os Espíritos

descrevem.

De outro lado, ouvimos falar, e às vezes directamente, dos

infernos, isto é, das esferas de purificação. Fala-se também de

perturbações, de trevas, de corridas sem rumo, de confusões

mentais, de remorsos. “É horrível a nossa condição”, disse-nos

um deles, ultimamente, numa sessão.

Porque são reais e provadas estas coisas, é que tentamos

restabelecer a verdadeira religião e em grande responsabilidade

incorre o clero opondo-se a isso.

ARTHUR CONAN DOYLE

(In Revista da Federação Espírita Portuguesa “O Espírita”, Abril

a Julho de 1924).

*

37

38

39

e indócil, não restará outra alternativa senão a emigração para um Orbe

cujo nível (ou desnível?) evolutivo comporte a sua rebeldia, isto é, um

Orbe inferior onde “há trevas, choro e ranger de dentes”. Lázaro avisa

com severidade 3: “(…) ai do Espírito preguiçoso, ai daquele que cerra

o seu entendimento! Ai dele!, porquanto nós, que somos os guias da

humanidade em marcha, lhe aplicaremos o látego e lhe submeteremos

a vontade rebelde, por meio da dupla acção do freio e da espora. Toda

resistência orgulhosa terá de, cedo ou tarde, ser vencida. Bem-

aventurados, no entanto, os que são brandos, pois prestarão dócil

ouvido aos ensinos.”

Afirma São Luiz 4:”predita foi a transformação da

humanidade e vos avizinhais do momento em que se dará, momento

cuja chegada apressam todos os homens que auxiliam o progresso.

Essa transformação se verificará por meio da encarnação de Espíritos

melhores, que constituirão na Terra uma geração nova. Então, os

Espíritos maus, que a morte vai ceifando dia a dia, e todos os que

40

tentem deter a marcha das coisas serão daí excluídos, pois que viriam

a estar deslocados entre os homens de bem, cuja felicidade

perturbariam. Irão para mundos novos, menos adiantados,

desempenhar missões penosas, trabalhando pelo seu próprio

adiantamento, ao mesmo tempo em que trabalharão pelo de seus

irmãos ainda mais atrasados.

“Todos vós, homens de fé e de boa vontade, trabalhai,

portanto, com ânimo e zelo na grande obra da regeneração, que

colhereis pelo cêntuplo o grão que houverdes semeado. Ai dos que

fecham os olhos à luz! Preparam para si mesmos longos séculos de

trevas e decepções. Ai dos que fazem dos bens deste mundo a fonte de

todas as suas alegrias! Terão que sofrer privações muito mais

numerosas do que os gozos de que desfrutaram!”

Jesus ensinou 5: “O Reino dos Céus é semelhante ao fermento

que uma mulher, tomando-o, escondeu em três medidas de farinha, até

que tudo levedou.”

Não padece dúvida que o significado dessas três medidas não é outro

senão as três Revelações que tivemos, com Moisés, Jesus e Kardec e

também os três milénios que nos foram dados de prazo para assimilar

essas Revelações. Já temos, então, todos os “ingredientes” para

levedar a “massa” de nossa evolução e elevar-nos para os níveis

superiores. Aos Espíritos calcetas, refractários à luz (bodes) caberá,

então, ficar à esquerda, enquanto os que docilmente acederam ao

convite (ovelhas) ficarão à direita.

1 – XAVIER, F. Cândido: A Caminho da Luz. 37. Ed. Rio de

Janeiro, FEB, 2008, cap. I;

2 – MATEUS, 24:1 a 14;

3 – KARDEC, Allan. O Evangelho seg. o Espiritismo. 125 ed.,

Rio de Janeiro, FEB, 2006, cap. IX, item 8;

4 – KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos, 88 ed. Rio de Janeiro,

FBE, 2006, Q. 1.109;

5 – LUCAS, 14:21.

41

ROGÉRIO COELHO

(Mauriaé – M. Gerais – Brasil)

(In: Jornal espírita brasileiro O IMORTAL, de Dezembro/2014, de

onde fizemos a transcrição, com a devida vénia, tendo-nos o artigo

sido enviado pelo autor.).

*

DIA DA MÃE

… não hoje, não ontem, mas todos os dias, e em cada um

deles as 24 horas de cada dia!

Lembrando aqui todas as Mães, na maneira como a tudo

são capazes de renunciar para serem apenas aquilo que Deus

delas fez, - MÃES! – recordamo-las, lembrando aquela outra

Mãe a quem toda a humanidade foi entregue, num dia de trevas

mas também de glória porque, a partir daquele momento, todos

nós, onde quer que nos encontremos e sejamos o que formos no

caminho que tivermos escolhido, todos nós temos a Sua

protecção. Pedindo ao Senhor que abençoe todas mães,

especialmente aquelas mais sofridas que perderam os seus filhos

e sentem os seus corações e as suas mãos vazias de carinhos,

pedimos àquela outra Mãe que nos proteja sempre com o seu

imenso amor!

APENAS… UMA MÃE

O DIA DA MÃE DE TODAS

AS MÃES

42

Olho a neve que cobriu

Os fios de ouro do teu cabelo

E vejo como o Tempo abriu

O seu novelo

Para nos fazer viver…

Enquanto eu crescia e aprendia

O peso dos anos curvava-te sempre mais!

Os olhos lindos, onde o amor

Sempre encontrei,

Têm agora laivos de dor

Que o riso não disfarça.

E por mais que faça,

As rugas que fizeram caminhos

No teu rosto,

Não desaparecem com os carinhos

Que te dou… e gosto!

Mãe… minha Mãe!

Quantos não têm uma Mãe para amar,

Acarinhar… com quem falar!

Sê sempre a Mãe de todas as criaturas

Que não a têm,

Porque a perderam ou foram rejeitadas,

E deixa que quando me sinta afagada

Partilhe esses gestos de amor

Com aqueles que o desamor

Deixou sós no mundo!

Beijo-te as mãos, neste dia,

Em que com infinda alegria

Eu te chamo MINHA MÃE!

Possa o Senhor satisfazer

O meu desejo de te ver

Quando a Terra, enfim, deixar…

43

… Porque tu sabes: onde estiveres

- No teu jeito de me amar –

No carinho que me deres,

Sempre estará o meu lar!

MANUELA VASCONCELOS

*

A MAGIA DO BEM

Saturados pelas notícias perturbadoras de violência,

suborno e crimes de toda a espécie, anelamos por encontrar

exemplos dignificadores que nos possam servir de alento e

sentido existencial, a fim de podermos prosseguir acreditando

nos valores ético-morais em total desconsideração. A volúpia do

prazer e do vale-tudo, a cada dia arrebanha maior número de fiéis

seguidores, atormentados pelos desejos de ter e do brilhar,

mesmo que sob o elevado preço da perda da dignidade e do

respeito por si mesmo, em consequência, pelas demais pessoas.

A ausência de lideres portadores de títulos de honradez e

de trabalho digno, dá lugar ao brilho de personalidades

psicopatas, exóticas, que se celebrizam pela estranheza da

conduta e da agressividade, em descida a níveis de desequilíbrio

jamais vistos na história da humanidade. Apesar de

desconhecidos, existem mulheres e homens extraordinários que

acreditam no bem e o praticam, sem deixar-se perturbar pela

algazarra e loucura dos excêntricos e atormentados, que

proclamam a necessidade do gozo acima de todas as

circunstâncias.

44

Passados os momentos da glória enganosa e do gozo

transitório, logo despertam os iludidos, tomados pelo vazio

existencial, enfrentando a consciência e deixando-se tombar em

outras buscas infelizes: alcoolismo, tabagismo, droga, sexo em

desalinho, descendo cada vez mais em direcção ao poço sem

fundo onde passarão a jazer sem vitalidade. É indispensável que

nos voltemos para o amor, conforme assevera a Dra. Elisabeth

Lucas, eminente discípula do psiquiatra Victor Frankl, que

informa “ser a finalidade da vida a sua conquista”.

Sem dúvida, a palavra encontra-se muito desgastada e

confundida; no entanto, podemos identifica-la na acção do bem

indiscriminado, cuja magia é proporcionar a felicidade integral

ao ser humano, vinculando-o à consciência cósmica. Ninguém

pode viver consciente da sua realidade sem o amor, cuja falta

enlouquece e que se torna realidade somente pela prática do bem.

DIVALDO FRANCO

(Artigo publicado no Jornal brasileiro ‘A Tarde’, coluna

‘Opinião’, em 26/2/2015, tendo-nos sido enviado por um

dirigente espirita).

*

JOÃO HUSS

45

Filho de pais pobres, natural

de Husinetz, na Boémia, onde

nasceu em 1369.

Aluno gratuito do colégio de

Praga, bem cedo nasceu nele o

gosto pelos livros antigos,

perdendo-se na leitura de histórias

de santos e mártires da Igreja

Católica.

Uma vez meteu a mão no fogo e, enquanto a mãe, aflita, o

afastava, ele explicou que queria experimentar até que ponto

seria capaz de suportar o martírio das torturas.

Na Boémia do século XIV havia igualdade de cultura,

pelo que ele pôde preparar-se para o sacerdócio, entrando para a

Universidade, ainda em Praga, onde lhe foi concedido o grau de

Mestre em Artes, sendo inscrito na Faculdade com o título de

Magister.

Aos 35 anos já ensinava, aceitara a ordenação de

sacerdote e era Reitor da Universidade. Fizera-se por si próprio e

escrevia tratados sobre questões religiosas.

Continuava um homem simples, sem esquecer que viera

do povo.

Dirigiu o culto na capela de Belém, em Praga, onde as

orações eram ditas na língua do País e não em latim, e onde ele

pregava contra a super estrutura económica da Igreja, que se

afastava dos fundamentos simples da religião do Cristo,

46

afirmando que, para o clero viver ricamente, era o povo

sacrificado nos tributos que lhe sacavam!

No meio podridão que revelava, descobriu, um dia, um

ser correcto: John Wycliffe, doutor em Teologia de Oxford, cujos

livros haviam chegado a Praga… esses mesmos livros que

fizeram com que fosse apontado como herege. De sobre-aviso,

João Huss iniciou a leitura daqueles livros, e, quanto mais lia,

mais se maravilhava com o que a leitura lhe revelava: aquelas

obras denunciavam os pôdres dos homens corruptos, que viviam

à sombra da Igreja e a representavam e sugeriam que, em vez das

palavras do sacerdote, fossem adaptadas as palavras da Escritura,

traduzindo-se a Bíblia nos idiomas nacionais de todos os povos

católicos, para que a palavra do Cristo não fosse deturpada!

Huss, reconhecendo que Wycliffe o que pedia nos seus livros era

a expulsão dos vendilhões do Templo, passou a ler publicamente

aqueles livros, não só à sua congregação como aos alunos da

Universidade, decidindo que dedicaria a sua vida àquela tarefa.

Nesse intervalo, o arcebispo de Praga mandou que todos

os livros de John Wycliffe fossem queimados. Na revolta que tal

ordem criou, João Huss manifestou-se contra aquilo a que

chamou “queimar o pensamento humano”, declarando que as

chamas não destroem a verdade e que os livros queimados eram

uma perda para a não inteira. Perda essa que se transformou em

ganho, pois por aquela atitude formou-se um partido empenhado

na reforma da Igreja, sendo João Huss o coração da nova

reforma.

A população checa, na qual se incluíam os senhores mais

poderosos do País, incluindo os barões do reino, o rei e a rainha,

acorriam a ouvir o compatriota… mas bem cedo, pressionados

por Roma, a família real o deixou de apoiar.

47

Preocupado com as manifestações que surgiram, e nas

quais a guarda matou três estudantes, não concordando com a

violência que se impunha para fazer vingar o poderio religioso,

Huss abandonou a cidade e regressou à aldeia natal. Era um

homem simples, inspirado pela palavra do Senhor, e assustado

com a brutalidade do homem…

Começou, então, a pregar de aldeia em aldeia, e a

escrever declarando que “os livros dos hereges não devem ser

queimados mas lidos e examinados; senão, como chegar à

verdade?”

Mas os ecos da sua conduta chegaram até ao Papa, que

perguntou quem ele era… e tiveram de responder, pois outra

verdade não havia, que “era reservado e austero… a sua vida e

procedimento, um exemplo de abnegação, e tão afastado do vício

que ninguém lhe podia apontar fosse o que fosse contra ele… A

presteza em socorrer, até o mais humilde, ganha-lhe mais adeptos

que a própria eloquência. Os ignorantes vêem nele um santo…”

De Roma, partiu uma ordem de excomunhão: “onde quer

que João Huss estivesse, estava proibido de celebrar missa,

batizar crianças ou enterrar os mortos.”

Em consequência da perseguição de que era alvo, os

amigos pediram-lhe que desistisse, ao que se negou: em criança

pusera a mão no fogo para experimentar a sua coragem…

continuaria, ainda que o queimassem vivo! E nos seus sermões

passou a encontrar-se a ironia e desafio contra os cegos

dirigentes da Igreja, que adoravam os mortos e perseguiam os

vivos!

48

A novo conselho dos amigos para desistir, afirmou que se

o fizesse seria um traidor no dia do Juízo Final!

Finalmente, foi convocado para comparecer perante um

Concílio Geral da Igreja, na cidade suíça de Constança, para se

defender da acusação de heresia. Ainda contra a vontade dos

amigos, partiu em cumprimento da ordem recebida, levando um

salvo-conduto passado pelo Imperador e uma escolta pessoal de

dois cavaleiros, aguardando em Constança a chegada do

Imperador para o julgamento. Sem poder falar ao povo, como

desejava, devido à excomunhão, devia agir, enquanto aguardava

o Concílio, apenas como um leigo obscuro.

Procurado pelo bispo de Augsburgo e o Perfeito da

cidade, foi informado que o Papa e um grupo selecto de Cardeais

se haviam reunido para uma troca de ideias, convidando-o a

comparecer em carácter privado. Declarando que fora a

Constança para falar num julgamento público e não em privado,

seguiu-os, entretanto, para comparecer à audiência, tendo sido

encarcerado. O convite fora, apenas, uma armadilha, na qual ele

acabara por cair!

Um dos amigos que o acompanhara àquela cidade suiça,

barão de Chlum, apresentou o salvo-conduto do Imperador e

pediu a sua libertação… Correu às ruas a contar ao povo o

sucedido, mas fora posto a correr o boato de que João Huss, com

medo de enfrentar o julgamento, se escondera e fugira, e o povo

desinteressou-se de Huss! O barão dirigiu- se ainda ao

imperador, ao rei, à rainha… mas a Igreja afirmara que João era

um herege e eles desinteressaram-se do prisioneiro, que foi

transferido da cadeia local para Constança, para um Mosteiro nas

margens do lago. Acorrentado e encarcerado na adega húmida,

deitado num monte de palha, grande febrão o pôs à morte mas,

49

constando o seu estado, logo dois bispos surgiram para o

julgarem, aos quais ele pediu um advogado que o defendesse

pois, no estado em que se encontrava, não se sentia em condições

de o fazer, embora estivesse pronto a submeter-se a julgamento,

com a ajuda de Deus.

Transmitido o pedido ao Concílio, transferiram-no para

uma prisão mais limpa e chamaram um médico, para que o

conservasse vivo até ao julgamento! O advogado foi-lhe negado,

porque era proibida qualquer conversa com um suspeito de

heresia.

Por fim, meses depois, o julgamento. Tinham passado

seis anos que fôra excomungado pelo Papa Alexandre V, e dois

que fôra chamado a julgamento, em Constança! João Huss era

acusado de ensinar ao povo boémio “vários erros extraídos dos

livros queimados e condenados de John Wycliffe. Como

professor, organizara um movimento para subtrair a

Universidade à influência alemã e convertê-la numa instituição

nacional checa. Incitara o povo boémio contra os seus senhores,

atiçando a rebelião civil na Boémia.”

Defendendo-se, ele respondeu apenas que “apelava para

Deus e para a sua consciência. Fossem eles (os julgadores)

infinitamente mais numerosos e ele teria ainda muito mais em

conta a sua consciência. Nem quando o próprio imperador o

convidou a desdizer-se, João Huss modificou a sua atitude,

pedindo, apenas, que o levassem de volta à prisão – prisão onde

lhe foram falar, tentando persuadi-lo a desmentir-se, fazendo-lhe

promessas de perdão e riquezas… ameaçando e redigindo

diversas formas de confissão, para que ele assinasse uma! Huss

sorria: ele lutava, não contra a Igreja mas contra um princípio,

pelo qual lhe valiam a pena o sofrimento e a morte… e quando

50

entenderam esgotadas todas as formas de persuasão, levaram-no

ao Concílio para ouvir a sentença, dita solenemente pelos

julgadores: “o corpo do pecador será destruído!”

Amarrado a um poste de madeira com uma corrente de

ferro, mesmo assim conseguiu ajoelhar-se e orar enquanto os

fardos de palha, que o rodeavam, irrompiam em chamas. Corria o

ano de 1415 quando João Huss desencarnou, queimado na

fogueira a que o condenaram os homens que ele desmascarara e

que serviam a Deus para, à sombra d’Ele, procurarem o luxo, o

ouro, a luxúria…

…………………………………………………………………….

Allan Kardec… João Huss… Léon Hippolyte Dénizard

Rivail… Três nomes, três vivências diferentes… um único e

mesmo Espírito, eterno e imortal, caminhando ao longo dos

séculos à procura da Perfeição, sempre mais próximo de Deus!

(Baseado na biografia incluída no livro nº. 10 – Vidas de

Grandes Religiosos -, da autoria de Henry Thomas e Dana Lee

Thomas – Colecção Vidas Célebres da edição Livros do Brasil –

Lisboa.

MANUELA

(Transcrito do nº. 5 da nossa revista COMUNHÃO, de Março de

1982).

*

PÁGINAS DO PASSADO

51

ANTERO DE QUENTAL

Este grande Espírito a quem o Doutor Sousa Martins

classificou de alienado de grandes visões, foi quem mais

preocupou a minha mocidade. Os seus admiráveis sonetos, se

bem que impregnados de Dor e Pessimismo, foram lidos e

relidos por mim no maior recolhimento. Lia neles a Ansiedade de

uma alma desejosa de conhecer a razão e o porquê da Vida e do

Destino assinalado para toda a criatura humana.

Antero de Quental, sobretudo, debatia-se na Dúvida.

Alternadamente era um crente e descrido e isso desorientava os

meus dezoito anos de maneira extraordinária e inquietante…

Depois do PSALMO:

Esperemos em Deus…………..

………………………………..

…………………………………

Oh! Deus, meu Pai e abrigo……

vinha essa terrível e segunda parte de DISPUTA EM FAMÍLIA:

Mas o velho tirano solitário

De coração austero e endurecido,

Que um dia, de enjoado ou distraído,

Deixou matar seu filho no Calvário,

Repito: isto desorientava-me… E foi, talvez, por estes e outros

arrancos, que o Doutor Sousa Martins o classificou de

desorientado, o que foi injustiça.

52

Ao malogrado Poeta me referi no meu livro O REI DOM

CARLOS I, e nele confessei o meu culto pelo vate que tanto e

tanto sofreu pela sua amargurada ansiedade de querer conhecer a

Verdade… As suas vistas eram largas e ele entreviu-a…

Conheceria ele a doutrina Espírita que o levou a compor

um admirável soneto que eu reputo revelação; ou ditá-lo-ia

seguindo a sua luz interior?... Não sei se algum confrade já o

assinalou à nossa grande família Espírita. O que é facto é que

essa composição poética manifesta uma inspiração que está

dentro do quadro da mística do Espiritismo.

Poderão os tais chamados espíritos fortes capitular a

minha ideia de absurda… ou mesmo de opinião mais

contundente. Aí fica reproduzido o admirável soneto que foi

dedicado ao Doutor Santos Valente, autêntico valor literário do

qual pouco se fala, o que reputo uma grande injustiça.

EVOLUÇÃO

Fui rocha, em tempo, e fui, no mundo antigo

Tronco ou ramo na incógnita floresta…

Onda, espumei, quebrando-me na aresta

Do granito, antiquíssimo inimigo…

Rugi, fera talvez, buscando abrigo

Na caverna que ensombra urze e giesta,

Ou, monstro primitivo, ergui a testa

No limoso paúl, glauco pacigo…

Hoje sou Homem – e na sombra enorme

Vejo, a meus pés, a escada multiforme

Que desce, em espirais, na imensidade…

53

Interrogo o Infinito e às vezes choro…

Mas estendendo as mãos no vácuo, adoro

E aspiro unicamente a Liberdade!...

Quem conhece o Génesis segundo o Espiritismo, e o tem

meditado, nota claramente que há uma flagrantíssima revelação

do espírito Antero de Quental… Foi dito e repetido pelos nossos

irmãos idos deste mundo, que passamos pelos quatro estados:

mineral, vegetal, animal e humanal. Não pode a mente humana

abarcar os meios de transição para os diferentes estados,

porquanto necessário é que, a pouco e pouco, sejamos inteirados

da Evolução, após o preparo que tem de ser lento, cauteloso e

graduado.

Antero pressentiu o nosso génesis pessoal com a sua

visão… Evidentemente ele foi um espírito de largas vistas,

porém atormentado pela Dúvida… Os seus sonetos são a própria

biografia… Ele viveu numa agonia constante e não pôde suportar

a grilheta… talvez a expiação pela falta de crença…

Tu que não crês, nem amas, nem esperas,

Espírito de eterna negação…

Como ele sofria!... E, todavia, Antero, o Santo Antero,

não negava… E certo dia, num momento de revolta ou de

desânimo, deixou-nos… para, segundo ele presumia, não mais

sofrer!...

Foi o contrário… No mundo real, no verdadeiro, ele

continuou sofrendo, até que a luz iluminou aquele grande espírito

que acabou descansando o seu amantíssimo coração,

54

Na mão de Deus, na sua mão direita…

JÚLIO DE SOUSA E COSTA,

de Barquinha. Transcrito da revista ALÉM, da Sociedade

Portuense de Estudos Psíquicos, de Novembro/Dezembro de

1943).-

*

APELO

Se nos dispusermos a olhar o contexto social geral, por

alguns instantes, com apurada atenção, identificaremos aspectos

comportamentais muito graves, alguns dos quais somos

copartícipes, mesmo que inconscientemente.

Vejamos, por exemplo, em nome do descanso e da

distracção, os seriados de maior audiência na TV que assistimos,

alguns se sustentando no ar por vários anos, cujos temas

recorrentes são vampiros, zumbis e todos os demais personagens

aterrorizantes, incluindo-se assassinos em série, assassinos de

aluguel, tendo, ainda, por pano de fundo o também grave

problema das drogas.

Um outro comportamento comum entre os jovens,

também em nome da distracção, da curtição de final de semana

nas baladas: a bebida alcoólica e suas misturas alucinantes, sem

falarmos de outras drogas.

55

Os comprometimentos negativos na área sexual, nas mais

variadas faixas etárias, se faz cada vez mais presente no dia a dia

e mais escancarado, propalado, como se positivo fosse, pelas

mídias, e vem cantado em prosa e verso, incutindo na mente

popular que esse é o padrão comportamental a ser adoptado por

todos, o que gera um efeito devastador aos reais padrões morais,

nas famílias, nos lares.

Há muito mais que serviria de exemplo, infelizmente. A

sociedade somos todos nós, onde interagimos segundo a

bagagem moral que temos.

Com essa bagagem vivemos no contexto familiar, no

ambiente do trabalho profissional, na sociedade, enfim.

E a bagagem moral de cada um foi ou vem sendo

adquirida inicialmente no meio familiar e, de modo também

muito intenso, com a contribuição das escolas.

Ao Espírito Benfeitor Emmanuel, guia espiritual do

notável trabalho de Francisco Cândido Xavier na Terra, foi

perguntado:

- Qual a melhor escola de preparação das almas

reencarnadas, na Terra?

Emmanuel assim respondeu: - A melhor escola ainda é o

lar, onde a criatura deve receber as bases do sentimento e do

carácter. Os estabelecimentos de ensino, propriamente do

mundo, podem instruir, mas só o instituto da família pode

educar. É por essa razão que a universidade poderá fazer o

cidadão, mas somente o lar pode edificar o homem (…). (O

Consolador, pergunta 110).

56

Ora, sendo a sociedade o reflexo do que é o homem e

sendo o homem o reflexo do que é a família, há de se convir, sem

necessidade de muita argumentação, que é preciso refazer-se o

lar, as bases morais estruturais da família, com urgência.

E nessa empreitada, homens e mulheres devem somar

forças em seu benefício.

O magistral Khalil Gibran, em seu poema O casamento

(in O Profeta), canta:

ALMITRA falou de novo e disse:

-Mestre, que pensais do casamento?

Ele respondeu, dizendo:

- Nascestes juntos, juntos ficareis para sempre. Ficareis

juntos quando as asas brancas da morte dispersarem os vossos

dias.

Sim, ficareis juntos até na silenciosa memória de Deus.

Mas que haja espaço na vossa comunhão; e que os ventos

do céu dancem no meio de vós.

Amai-vos um ao outro, mas não façais do amor um

empecilho; seja antes um mar vivo entre as praias das vossas

almas.

Enchei cada um o copo do outro, mas não bebais por um

só copo.

Partilhai o pão, mas não comeis do mesmo bocado.

Cantai e dançai juntos, sede alegres; mas permaneça

cada um sozinho, como estão sozinhas as cordas do alaúde

enquanto nelas vibra a mesma harmonia.

Dai os vossos corações, mas não os confieis à guarda um

do outro. Porque só a mão da Vida pode conter os vossos

corações.

57

Mantende-vos juntos, mas nunca demasiado próximos;

porque os pilares do templo elevam-se, distanciados, e o

carvalho e o cipreste não crescem à sombra um do outro.

Nas letras desse canto suave de Gilbran, aprendemos que

homens e mulheres formam, individualmente, um conjunto de

forças, tão mais fortes quanto mais coesos, harmónicos e

homogéneos forem os ideais, o carácter de cada um.

Leccionam os Benfeitores da Humanidade em O Livro

dos Espíritos:

819 – Com que fim mais fraca fisicamente do que o

homem, é a mulher?

“Para lhe determinar funções especiais. Ao homem, por

ser o mais forte, os trabalhos rudes; à mulher, os trabalhos

leves; a ambos o dever de se ajudarem mutuamente a suportar as

provas de uma vida cheia de amargor.”

821 – As funções a que a mulher é destinada pela

Natureza terão importância tão grande quanto as deferidas ao

homem?

“Sim, maior até. É ela quem lhe dá as primeiras noções

da vida.”

Às mulheres, em especial, e aos homens, o nosso apelo:

retornem aos seus lares, voltem-se à educação dos filhos, deem

sua essencial contribuição na reestruturação da família.

Exemplifiquem, empenhem-se, persistam.

Também para essa missão, contem com a excelência dos

ensinos espíritas em seu apoio, em seu auxílio, como roteiro de

luz a ser seguido.

58

Na sua grandiosa tarefa de cristianização, essa é a

profunda finalidade do Espiritismo evangélico, no sentido de

dominar a consciência da criatura, a fim de que o lar se refaça e

novo ciclo de progresso espiritual se traduza, entre os homens,

em lares cristãos, para a nova era da Humanidade. (O

Consolador, pergunta 110).

Pais, mães, educadores em geral, lembremo-nos dos

ensinos: Educa e transformarás a irracionalidade em

inteligência, a inteligência em humanidade e a humanidade em

angelitude. Educa e edificarás o paraíso na Terra.

São palavras de Emmanuel (Fonte Viva, cap. 30,

psicografia de Francisco Cândido Xavier), fundamentando o

apelo que o mundo nos dirige hoje.

Sejamos todos mais proactivos na construção de dias

melhores, começando com nossa reeducação, outro desafio de

urgência.

(In Editorial do Jornal MUNDO ESPÍRITA, da Federação

Espírita do Paraná, de Junho de 2014, de onde o transcrevemos

com a devida vénia).

*

SEMPRE ESPERAR

Que estranha sina a minha, nesta vida!

59

Esperar… esperar… sempre esperar!

Ver ante mim a coisa apetecida

Fugindo sempre… sempre a negaçar!

Caminhar por intérmina subida

Da qual o fim se afasta ao meu chegar

E quando um dia a creio já vencida

De novo ela se alonga ao meu olhar!

É meu viver constante correria

Após a imagem vaga e fugidia

Da esperança a sorrir-me em tentação…

E se quero parar, fugir, deixá-la,

Sinto-me violentado a acompanhá-la

Por força do Desejo ou da Ambição.

FERNANDO DE LACERDA

1865-1918

*

MENSAGEM DE

FRANCISCO DE ASSIS

60

O Calvário do Mestre não se constituía tão somente de

secura e asperezas, visto que do monte pedregoso e triste

jorravam fontes de água viva que dessedentaram a alma dos

séculos… E as flores que desabrocharam no entendimento do

ladrão e na angústia das mulheres de Jerusalém atravessaram o

tempo, transformando-se em frutos abençoados de alegria no

celeiro das nações.

Colhe as rosas do caminho no espinheiro dos

testemunhos… Entesoura as moedas invisíveis do amor no

templo do coração! Retempera o ânimo varonil, em contacto com

o rocio divino da gratidão e da bondade… Entretanto, não te

detenhas: caminha, pois é necessário ascender… Indispensável o

roteiro da elevação, com o sacrifício pessoal por norma de todos

os instantes.

Lembra-te: Ele era sozinho! Sozinho anunciou e sozinho

sofreu… Mas, erguido em plena solidão, ao madeiro doloroso

por devotamento à humanidade, converteu-se em Eterna

Ressurreição.

Não tomes outra directriz, senão a de sempre: descer

auxiliando, para subir com a exaltação do Senhor! Dar tudo, para

receber com abundância. Nada pedir para nosso EU exclusivista,

a fim de que possamos encontrar o glorioso Nós da vida imortal.

Ser a concórdia para a separação… Ser luz para as

sombras, fraternidade para a destruição, ternura para o ódio,

humildade para o orgulho, bênção para a maldição…

Ama sempre…

61

É pela graça do Amor que o Mestre persiste connosco (os

mendigos dos milénios), derramando a claridade sublime do

perdão celeste onde criamos o inferno do mal e do sofrimento.

Quando o silêncio se fizer mais pesado ao redor de teus

passos, aguça o ouvido e escuta! A voz d’Ele ressoará de novo na

acústica da tua alma e as grandes palavras, que os séculos não

apagaram, voltarão mais nítidas ao círculo de tua esperança, para

que tuas feridas se convertam em rosas e para que teu cansaço se

transubstancie em triunfo.

O rebanho aflito e atormentado clama por refúgio e

segurança.

Que será da antiga Jerusalém humana sem o bordão

providencial do Pastor que espreita os movimentos do Céu para a

defesa do aprisco?!

É necessário que o lume da cruz se reacenda, que o clarão

da verdade fulgure novamente, que os rumos da libertação

decisiva sejam traçados…

A inteligência sem amor é o génio infernal que arrasta os

povos de agora às correntes escuras e terrificantes do abismo.

O cérebro sublimado não encontra socorro no coração

embrutecido.

A cultura transviada da época em que jornadeamos,

relegados à aflição, ameaça todos os serviços da Boa Nova, em

seus mais íntimos fundamentos.

62

Pavorosas ruínas fumegarão, por certo, sobre os palácios

faustosos da humana grandeza, carente de humildade, e o vento

frio da desilusão soprará de rijo sobre os castelos mortos da

dominação que, desvairada, se exibe, sem cogitar dos interesses

imperecíveis e supremos do Espírito.

É imprescindível a ascensão!...

A luz verdadeira procede do Mais Alto e só aquele que se

instala no plano superior, ainda mesmo que coberto de chagas e

roído de vermes, pode, com razão, aclarar a senda redentora que

as gerações enganadas esqueceram.

Refaze as energias exauridas e volta ao lar de nossa

comunhão e de nossos pensamentos. O trabalhador fiem

persevera na luta santificante até ao fim.

O farol no oceano irado é sempre uma estrela em solidão.

Ilumina a estrada, buscando a lâmpada do Mestre que jamais nos

faltou.

Avança. Avancemos!...

Cristo em nós, connosco e por nós e em nosso favor é o

Cristianismo que precisamos reviver à frente das tempestades, de

cujas trevas nascerá o esplendor do Terceiro Milénio.

Certamente, o apostolado é tudo. Mas a tarefa transcende

o quadro de nossa compreensão: não exijamos esclarecimentos;

procuremos servir…

Cabe-nos apenas obedecer até que a glória d’Ele se

entronize para sempre na alma flagelada do mundo.

63

Segue, pois, o amargurado caminho da paixão pelo bem

divino, confiando-te ao suor incessante pela vitória final.

O Evangelho é o nosso Código Eterno. Jesus é o nosso

Mestre Imperecível!

Subamos em companhia d’Ele no trilho duro e áspero.

Agora é ainda a noite que se rasga em trovões e sombras,

amedrontando, vergastando, torturando, destruindo… Todavia,

Cristo reina e amanhã contemplaremos o celeste despertar.

FRANCISCO DE ASSIS

(Mensagem recebida por Francisco C. Xavier no lar do Dr.

Rómulo Joviano, em Pedro Leopoldo, Minas Gerais, em

17/08/1951, e publicada no jornal MUNDO ESPÍRITA, da

Federação Espírita do Paraná, Brasil, em Fevereiro de 2005, de

onde a transcrevemos com a devida vénia).

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ADVERTÊNCIA DE AMOR

Fala-nos, o Evangelho do Senhor, que nos futuros dias

por Ele previstos, a dor ganhará dimensões inimagináveis,

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arrastando multidões ao abismo, ao desespero, fazendo que o

delírio e o desequilíbrio aturdissem a Humanidade.

Na simbologia profética, Ele caracterizou as horas

terríveis, vestindo-as de alegorias.

Vivemos hoje esses dias prometidos, sem nenhum

retoque nem disfarce.

Anunciam-se as horas graves da transformação dos

homens, da mudança vibratória do planeta.

Ninguém se engane ou engane a outrem.

Clareados pela razão da fé espírita, tenhamos a lucidez do

discernimento, a perseverança da convicção e a coragem de

porfiar fiéis até ao fim.

O martirológico prossegue actual; o circo aumentou as

suas dimensões; o suplício variou de forma, porém os

testemunhos à verdade, ao progresso são os mesmos.

*

Cultiva a paciência, mantendo, alto e nobre, o ideal da fé

espírita.

Não reajas pelo hábito de reagires. Age pela consciência

do equilíbrio.

Não podes ser confundido com aqueles que perderam a

fé, que desconhecem o “Reino de Deus” e se utilizam dos

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mesmos mecanismos vis para a sobrevivência inglória no corpo e

os triunfos mentirosos da ilusão.

A consciência de fé proporciona a harmonia da paz, e

nela a felicidade real.

Convidado ao debate injusto, ao duelo nas disputas

inglórias do corpo, renuncia à presunção e sê simples como as

aves do céu, os lírios do campo, confiante em Deus.

*

Nenhum tesouro que se equipare ao bem-estar da

consciência recta e pacificada, em harmonia com os decretos

divinos.

Amando o bem no lar, nos grupos social, de trabalho e

religioso, e na comunidade, o cristão é uma carta viva de Jesus.

Nela deve estar presente o Código que foi apresentado na

montanha, como directriz de equilíbrio para os outros a

exteriorizar-se de si próprio.

Não te permitas contaminar pelo bafio pestilento da

loucura que a todos atinge.

Vitimado, banha-te na água lustral do Evangelho;

retempera o ânimo; recompõe a actividade; volta à paz.

Vale o esforço a fim de que não fiques na rectaguarda,

com os elos escravizantes retendo-te na imposição, para um

retorno amargurado.

Avançar é a meta; seguir sempre é a directriz.

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Não faltarão provocações e tentações, porque estes são

dias de loucura. Não te deixes enlouquecer.

São horas de agressividade. Não te permitas enfurecer.

São momentos de tragédia. Não queiras sucumbir nas

mãos dos maus, por motivos que não se justificam.

Sucumbir, somente pela glória do serviço a Deus, do

irrestrito dever da caridade na vivência suprema do amor.

Ora mais, mais um pouco.

Vigia mais, advertido quanto ao rolo compressor que

avança inexorável, esmagando os distraídos.

Os tempos, por fim, chegaram, mas recorda-te: Jesus está

connosco.

JOANNA DE ÂNGELIS

(In: DESPERTE E SEJA FELIZ, cap. 12, psicografia de Divaldo

P. Franco).

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