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COMUNICAÇÃO ALTERNATIVA NA REDE DE APOIO DA EDUCAÇÃO … · Alternativa e Ampliada na Educação Especial, ... comunicação – alternativa – educação inclusiva I ... a mensagem

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COMUNICAÇÃO ALTERNATIVA NA REDE DE APOIO DA

EDUCAÇÃO INCLUSIVA

Autora: Terezinha Navarezi1

Orientadora: MS. Ana Aparecida de Oliveira Machado Barby2

Resumo:

Este artigo discute a importância da utilização da CAA – Comunicação Alternativa e Ampliada na Educação Especial, tendo como foco o aluno com deficiência física neuromotora e intelectual, com graves restrições de linguagem. Com o objetivo de oportunizar aos alunos uma forma de comunicação que venha a contribuir para uma melhor qualidade de vida. Trata-se de uma pesquisa qualitativa com levantamento empírico de campo, realizada com 6 alunos que frequentam a Escola de Educação Especial no município de Pato Branco. Foram realizados 10 encontros através de grupos de estudos, durante os quais foram desenvolvidas atividades com os alunos, utilizando de recursos da CAA adaptados à realidade dos mesmos. Os resultados evidenciaram que a comunicação é fator primordial na aprendizagem e, com meios alternativos podemos atender as especificidades de cada um, particularmente estes com graves restrições de linguagem, tornando possível sua inclusão e adaptação ao meio em que estão inseridos.

Palavras-chave: comunicação – alternativa – educação inclusiva

I – INTRODUÇÃO

Todas as crianças têm direito a igualdade de oportunidades na

educação e de conseguir manter um nível aceitável de aprendizagem. No

entanto, nem todos aprendem da mesma maneira, cada um possui

características, interesses, capacidades e necessidades diferenciadas. A Lei

garante que todas as pessoas com deficiências tenham acesso à escola

comum e esta deve adequar-se para atender a diversidade. O problema é que

se sabe o quanto à prática parece estar distante da realidade de nossas

1 Professora PDE – 2010 – Letras-Inglês, Especialização em Educação Especial – DM 2 Mestre em Educação Especial – UNICENTRO

escolas. O que vemos são professores despreparados e receosos do que fazer

com essas crianças.

Esse estudo partiu da realidade que cerca a maioria de nossas escolas,

pois muitos dos incluídos são inseridos e passam de sala em sala, repetem ano

após ano, até passarem da faixa etária daquela série, aí são vistos como

desajustados e passados para as séries seguintes, quando não se tem mais o

que fazer estes alunos são reavaliados e encaminhados às escolas especiais.

Entretanto, pela idade já avançada, não encontram muitas opções de

escolaridade e acabam sendo encaminhados para a EJA ou para oficinas

pedagógicas onde aprendem a realizar trabalhos artesanais. Destes alunos,

poucos conseguem ser inseridos no mercado de trabalho tendo em vista a

baixa escolaridade. Isso sem contar que muitos chegam com problemas

emocionais, sentindo-se marginalizados, brigando por qualquer motivo, como

se o mundo tivesse se esquecido deles.

A Resolução CNE/CEB n° 4/2009, no art. 1°, estabelece que os

sistemas de ensino devem matricular os alunos público alvo da educação

especial nas classes comuns do ensino regular e no atendimento educacional

especializado, ofertado em salas de recursos multifuncionais ou centros de

atendimento educacional especializado da rede pública ou de instituições

comunitárias, confessionais ou filantrópicas sem fins lucrativos.

Diante deste cenário de inclusão realizada de forma abrupta, nos

deparamos com a necessidade de incluir sem abandonar as crianças em

classes comuns ou simplesmente negar suas necessidades especiais ou

especificidades. Uma proposta em evidência atualmente diz respeito à

constituição de redes de apoio aos educandos incluídos.

Para STAINBACK (1999, p. 21), “A educação é uma questão de direitos

humanos, e os indivíduos com deficiência devem fazer parte das escolas, as

quais devem modificar seu funcionamento para incluir todos os alunos.” Esta é

a mensagem que foi claramente transmitida pela Conferência Mundial de 1994

da UNESCO sobre Necessidades Educacionais Especiais.

Diante disso, a comunicação é um aspecto de grande importância para o

bom desenvolvimento das crianças com necessidades educacionais especiais,

pois quanto maior a dificuldade em se comunicar, mais obstáculos à criança

encontra em seu processo de inclusão. Para que a aprendizagem seja eficaz é

imprescindível que se estabeleça alguma forma de comunicação. O fator

comunicação é fundamental para o desenvolvimento humano se levado em

consideração que as principais etapas do desenvolvimento correspondem aos

estágios de desenvolvimento social.

Neste sentido, os estudos sobre comunicação alternativa e ampliada,

principalmente nos grandes centros e em instituições que são uma combinação

de centros de habilitação e escolas especiais, têm demonstrado a melhoria na

potencialização da aprendizagem.

Comunicação Suplementar e/ou Alternativa vem sendo utilizada na educação especial para designar um conjunto de procedimentos técnicos e metodológicos junto a pessoas acometidas por alguma doença, deficiência ou alguma situação temporária ou permanente que impeça a comunicação com as demais pessoas pelos recursos usualmente utilizados, mais especificamente a fala. (THIERS, 2000; Manzini, 2000, in: retrato da Comunicação Alternativa no Brasil – vol. I, 2007, p.67).

O termo comunicação alternativa e ampliada é utilizado para “definir

outras formas de comunicação como o uso de gestos, língua de sinais,

expressões faciais, o uso de pranchas de alfabeto ou símbolos pictográficos,

até o uso de sistemas sofisticados de computador com voz sintetizada”

(GLENNEN, 1997).

A comunicação é considerada alternativa quando o indivíduo não

apresenta outra forma de comunicação e, considerada ampliada quando o

indivíduo possui alguma comunicação, mas essa não é suficiente para sua vida

em sociedade podendo apresentar dificuldades na linguagem receptiva

(compreensão), na linguagem expressiva (oral e escrita) ou em ambas.

(PELOSI, 2000, cap. II, p. 34-57)

A comunicação alternativa e ampliada, da forma como é conhecida hoje,

teve seu inicio nos anos de 1950, a princípio para serem usadas por pessoas

com problemas de laringe, como alternativa à comunicação escrita. No

decorrer da década, os profissionais passaram a utilizar também com

indivíduos com dificuldades severas de comunicação.

No começo dos anos 70 os sistemas de sinais manuais, inicialmente utilizados somente para os surdos passaram a ser empregados com pessoas com problemas motores, afasia, retardo mental e autismo.(ROSELL&BASIL, 1998, p.7)

Na década de 70 algumas crianças com deficiências múltiplas

começaram a receber serviços educacionais, iniciou-se então, a utilização de

pranchas de comunicação e do Código Morse com os que apresentavam

quadros de paralisia cerebral e outras disfunções neuromotora quando as

pesquisas começaram a mostrar que casos de disartria (dificuldade de

expressar sons ou palavras causados por distúrbios neurológicos

degenerativos) corriam o risco de não adquirirem a linguagem oral.

No Brasil, a prática da comunicação alternativa e ampliada vem

ocorrendo em grandes centros como São Paulo, Belo Horizonte e Rio de

Janeiro em instituições clínicas que são um misto de escolas especiais e

clínicas de reabilitação (NUNES, 1999).

Smith e Ryndak (1999, p. 112) assinalam que:

As deficiências de comunicação receptiva e expressiva têm um enorme impacto sobre a atuação de um aluno. Os resultados de avaliação formais e informais podem ser comprometidos porque um aluno pode ter capacidade limitada ou incapacidade para demonstrar a extensão do seu conhecimento ou de suas habilidades.

Para esses alunos com habilidades limitadas faz-se necessário a busca

de alternativas que auxiliem aos métodos já existentes e utilizados para que

exista uma aprendizagem mais eficaz e que possa possibilitar uma

comunicação maior com seu meio social e educacional. Desde a utilização de

pranchas de comunicação até softwares de computadores, tudo que estiver ao

alcance na escola deve ser utilizado e, quando necessário, adaptado às

necessidades especificas de cada um.

Vários são os aspectos que precisam ser pensados no momento da

inclusão e a comunicação alternativa é uma delas. Criar um método que possa

dar voz e vez aos que não são oralizados para que possam fazer suas

escolhas e expressar suas necessidades e pensamentos de forma

transparente, vem sendo buscado, só que com mais frequência nos ambientes

clínicos do que educacionais.

O mais importante no trabalho com a comunicação alternativa é permitir

que a criança sinta-se incluída nas atividades escolares, que não seja excluída

das atividades escolares porque tem dificuldades de comunicação, seja oral ou

escrita.

Deliberato e Alves apud Pelosi (2007, pg.137), relatam em seu artigo:

Habilidades expressivas de um aluno não falante com diferentes interlocutores

que:

Para tanto, uma nova área de conhecimento denominada Comunicação Alternativa e Suplementar surge para apoiar pessoas com severos distúrbios da comunicação. Então cabe à Comunicação Alternativa dar voz aos deficientes, permitindo que os mesmos possam expressar seus sentimentos, pensamentos e vontades, porém o papel do interlocutor é garantir que esses indivíduos sejam inseridos na sociedade, de forma a participarem ativamente como sujeitos.

A comunicação é de suma importância para a vida social, familiar,

escolar, enfim em todos os aspectos. Por isso, a comunicação alternativa vem

para criar formas para que a comunicação dessas pessoas possa acontecer.

Portanto, propomos a seguinte questão: como promover uma forma de

atendimento que atenda às necessidades e especificidades dos alunos com

graves restrições de linguagem oral? Tais questões vêm sendo discutidas nas

últimas décadas, principalmente por aqueles que realmente se interessam por

uma Educação Inclusiva Responsável. De que forma o uso da linguagem

alternativa e ampliada pode auxiliar a aprendizagem da criança com deficiência

física neuromotora?

Este estudo foi proposto com o objetivo principal de se utilizar a

Comunicação Alternativa no processo de inclusão de alunos com graves

restrições de linguagem oral.

Os Objetivos Específicos, que norteiam essa pesquisa são: Desenvolver

trabalho de linguagem alternativa com alunos da Escola Especial a fim de

proporcionar melhores condições de ingresso na Escola Comum; Usar a

linguagem alternativa como forma de incluir os alunos da escola especial de

maneira menos excludente possível, dentro da realidade de cada um; Analisar

a Comunicação Alternativa como forma de promoção da aprendizagem.

II – MATERIAL E MÉTODOS

Esta pesquisa caracteriza-se como empírica qualitativa, embasada numa

pesquisa-ação, fundamentada na aplicação de um projeto de intervenção. Para

a efetivação desta, utilizaram-se instrumentos de Comunicação Alternativa e a

pesquisa de campo.

A pesquisa situa-se na área de Educação, sub-área da Educação

Especial que atende crianças com deficiência Intelectual e múltipla com

restrições na linguagem oral. O estudo desenvolveu-se ao longo do ano de

2011.

A pesquisa foi realizada a partir do acompanhamento de um grupo de

seis alunos da Escola de Educação Especial Recanto Feliz, do município de

Pato Branco, PR. A escolha deveu-se ao fato desses alunos apresentarem

graves restrições de linguagem oral e escrita, utilizando para tanto, estudos

realizados sobre a Comunicação Alternativa e Ampliada.

Assim, a população alvo dessa pesquisa envolveu alunos com Sequelas

de Encefalopatia estática com atraso no desenvolvimento intelectual;

comprometimento motor; Esquizencefalia; atraso motor com espasticidade

evolutiva; déficit intelectual; atraso sensorial e de linguagem expressiva;

disfasia de expressão; dislalia de expressão. Síndrome de PHACE que

apresenta comprometimento motor, verbal, intelectual. Tetraplegia com retardo

no desenvolvimento neuro psico-motor. Severidade intelectual com atraso

DNPM (desenvolvimento normal do padrão motor); atraso no desenvolvimento

da linguagem e alteração no SSMO (sistema sensório motor oral) com

presença de sialoreia e Síndrome de WEST com severidade intelectual,

epilepsia severa, comportamento autista, mas não clássico; estereotipias e

pouco contato ocular, com pouca interação social. Sendo três alunos do sexo

masculino e três do sexo feminino, todos regularmente matriculados na Escola

de Educação Especial.

Solicitou-se aos professores regentes da turma que respondessem o

questionário abaixo, com questões abertas sobre o trabalho realizado com os

alunos:

Formas de Comunicação:

1. Como o aluno se comunica?

2. Você entende seu aluno? Como ele faz para ser entendido?

3. Seu aluno entende o que você quer dizer para ele? Como você percebe

isso?

Alfabetização:

1. O aluno é alfabetizado?

2. Você acha que o aluno tem dificuldade para aprender? Por quê? Quais?

3. Você se sente preparado para lidar com esse aluno?

Relacionamento:

1. Como é o relacionamento do aluno com deficiência com as outras

crianças?

2. Como é o relacionamento do aluno com o professor e demais

funcionários da escola?

Foram desenvolvidos dez encontros com os alunos, nos quais foram

trabalhados aspectos de Comunicação e Expressão, utilizando para isso o

material confeccionado pelo professor pesquisador, sendo:

• Cartões, onde foram trabalhados: sujeitos; saudações e

expressões; adjetivos; substantivos; verbos e símbolos diversos, para cada

categoria foi utilizada uma cor diferente, assim: amarelo, para os sujeitos; rosa

para as saudações e expressões; azul para os adjetivos; verde para os verbos;

lilás para os símbolos diversos; os substantivos foram subdivididos para melhor

compreensão: vermelho: animais; branco: comidas e laranja para os objetos,

lugares e coisas.

Figura 1 Material elaborado e produzido pela pesquisadora.

Figura 2

Material elaborado e produzido pela pesquisadora.

• Pranchas de comunicação.

Figura 3 Material elaborado e produzido pela pesquisadora.

Figura 4 Material elaborado e produzido pela pesquisadora.

• Filmagens; fotografias.

As atividades foram realizadas na própria escola, após contato com os

pais, os quais consentiram que seus filhos participassem das atividades

desenvolvidas. Em conversas com os professores regentes determinaram-se

os critérios que seriam utilizados na pesquisa e um relato da participação dos

alunos nas atividades pedagógicas desenvolvidas em sala de aula.

III – DESENVOLVIMENTO

3.1 ANÁLISE DA INTERVENÇÃO

Ao se analisar o questionário proposto aos professores regentes pode-

se observar que: a professora 1 das Aluna 1 e 2 diz que ambas comunicam-se

através da expressão facial, o sorriso é sua maior forma de demonstrar

entendimento. Parecem compreender, pois reagem com movimentos das mãos

e expressão facial. Difícil saber se estão se alfabetizando, porém demonstram

reconhecer as letras de seu nome e algumas palavras simples. Quanto a

sentir-se preparada para atuar com elas, diz sentir-se insegura e gostaria de ter

mais conhecimentos em como agir diante de algumas atitudes especificas. Por

serem sorridentes e demonstrarem alegria, serem bem receptivas, os colegas

gostam de ajudá-las. Relacionam-se bem com os colegas e funcionários.

A professora 2 diz que o aluno 3 comunica-se emitindo alguns sons e

gaguejando, às vezes, mostra o que quer. Entende o que o professor pede,

obedece, por exemplo, vai buscar o que lhe é pedido. Ainda não está

alfabetizado. Tem dificuldades para aprender, muito disperso, presta atenção

apenas ao que lhe convém. Precisa de atividades variadas. Quanto a sentir-se

preparada para atuar com ele, diz sentir-se insegura e gostaria de ter mais

conhecimentos em como agir diante de algumas atitudes especificas. Possui

bom relacionamento com os colegas, procurando ajudar a todos. Relaciona-se

bem com os professores e demais funcionários da escola, porém precisa de

supervisão constante, gosta de “cutucar” os colegas. Precisa de apoio para

realizar as atividades.

A professora 3 diz que o aluno 4 comunica-se através de gestos,

movimentos com a cabeça. Consegue se fazer entender, às vezes, através de

resmungos, expressões, movimentos da cabeça. Não demonstra estar

alfabetizado. É difícil saber ou avaliar sua capacidade de aprendizado,

principalmente na alfabetização, devido a sua síndrome. Quanto a sentir-se

preparada para atuar com ele, diz sentir-se insegura e gostaria de ter mais

conhecimentos em como agir diante de algumas atitudes especificas. Tem bom

relacionamento com os professores e colegas. Tem ótima interação com a

equipe escolar toda.

A professora 4 diz que o aluno 5 por ter comprometimento intelectual

severo sua comunicação é inexistente. Necessita de apoio constante para

realizar todas as atividades, incluindo as atividades de vida diária. Quanto a

sentir-se preparada para atuar com ele, diz sentir-se insegura e gostaria de ter

mais conhecimentos em como agir diante de algumas atitudes especificas.

A professora 6 diz que a aluna possui pouca receptividade, chora com

frequência, emite alguns sons, rejeita o contato. Consegue se concentrar

apenas por breves instantes, atira longe o que lhe é apresentado. Ainda não

está alfabetizada e nem demonstra interesse. Foge do olhar, mas gosta de

música e de sons. Quanto a sentir-se preparada para atuar com ela, diz sentir-

se insegura e gostaria de ter mais conhecimentos em como agir diante de

algumas atitudes especificas.

De acordo com estudos realizados por Pelosi, 2006, p.121:

O sucesso do processo de inclusão está diretamente ligado à possibilidade de reconhecer as diferenças e aceitá-las. Isso não significa ignorá-las, isso não significa colocar crianças com necessidades educacionais especiais na sala de aula regular e esperar que elas aprendam pela proximidade com seus colegas da mesma idade. Respeitar as diferenças é oportunizar os recursos necessários para que a criança aprenda. Muitas vezes esses recursos serão simples como letras soltas ou textos escritos em letras maiúsculas e outras vezes poderá ser o uso de um computador adaptado.

Os encontros foram desenvolvidos da seguinte maneira:

1° Encontro: A pesquisadora conversou com os alunos, mostrando o material,

observando se o aluno possuía um canal de comunicação, ou seja, a forma

utilizada por ele para se comunicar, seja um sorriso, um aceno, um piscar de

olhos. A forma de comunicação é primordial para o trabalho. Dos seis alunos

trabalhados, os alunos 1, 2 e 4, conseguem estabelecer comunicação através

de expressões faciais, sorrisos e alguns gestos, o aluno 3 comunica-se com

alguns sons e forte gagueira, utilizando as mãos para gesticular o que quer

dizer, o aluno 5 não demonstra interesse, não participa das atividades e a

aluna 6, tem forte rejeição ao toque, até mesmo ao olhar, isola-se e não aceita

o que lhe é proposto.

Destaca-se que é de grande importância estabelecer critérios de

comunicação a fim de verificar o nível de conhecimento de cada um, para isso,

utilizou-se os cartões do alfabeto, onde se pode perceber que as alunas 1 e 2

reconhecem a letra inicial de seu nome; a aluna 6 isola-se, recusando-se a

olhar o material proposto; os 3 e 4 demonstram reconhecer a letra inicial de seu

nome e o aluno 5 apenas olha os cartões coloridos e quer colocá-los na boca.

As DCES, para a Educação Especial, (2006, p.42), nos dizem que:

Deficiências são inerentes aos sujeitos, constituem sua subjetividade; não definem sua essência, mas determinam modos de ser e estar no mundo que podem gerar ou não impedimentos ou colocar os sujeitos que as apresentam em situação de desvantagem.

No segundo encontro, com a utilização de pranchas com gravuras e com

os cartões das letras do alfabeto, trabalhou-se as letras iniciais dos desenhos

das pranchas. As alunas 1 e 2 e os alunos 3 e 4 demonstram certo

conhecimento, quando lhes é mostrada a letra correta para o desenho sorriem,

fazem gestos que demonstram compreender, quando lhes é mostrado a letra

errada, não sorriem e balançam a cabeça em sinal negativo. Para o aluno 5 e a

aluna 6, nada parece interessar-lhes, até “olham” para as gravuras, porém

parecem não estar vendo, mas quando lhes é dado um cartão, a aluna seis

dobra em partes iguais, concentra-se por alguns minutos, logo volta a ficar

arredia e isolar-se.

No terceiro encontro, com as pranchas de comunicação alfabética,

trabalhou-se o nome de cada um, utilizou-se também os cartões com as letras

do alfabeto, construindo o nome de maneira individualizada, da mesma forma

as alunas 1 e 2 e os alunos 3 e 4 demonstram interesse, fica bem claro que as

expressões faciais, o sorriso, o movimento de cabeça é a maior fonte de

comunicação. A tentativa de reproduzir os sons do aluno 3 que possui boa

coordenação motora, a tentativa de escrever, fica bem clara, o aluno 5 começa

a demonstrar certo interesse, mas ainda com pouco contato e a aluna 6

continua arredia, faz birra e chora, não quer contato.

Com relação às deficiências de comunicação Smith e Ryndak (1999, p.

112) assinalam que:

As deficiências de comunicação receptiva e expressiva têm um enorme impacto sobre a atuação de um aluno. Os resultados de avaliação formais e informais podem ser comprometidos porque um aluno pode ter capacidade limitada ou incapacidade para demonstrar a extensão do seu conhecimento ou de suas habilidades.

No quarto encontro, enfocou-se atividades de vida diária, como a rotina

de cada um, desde o acordar até a volta para casa da escola. Para isso,

utilizaram-se os cartões com sujeitos, saudações e expressões, verbos,

adjetivos. As alunas 1 e 2 e os alunos 3 e 4 demonstram entender e

reconhecem o cartão com o EU – Menina para elas e EU – Menino para ele,

pessoas da família. Demonstram reconhecer o dia e a noite, apesar da

deficiência física, as alunas 1 e 2 e o aluno 4 têm interesse em acompanhar os

colegas nas atividades escritas, tentam movimentar a mão e, com auxilio,

conseguem fazer alguns riscos, quando isso ocorre, deixam transparecer

grande euforia, o aluno 3, cuja deficiência é na área intelectual e da fala,

consegue reproduzir alguns sons e grafar algumas letras com apoio do

professor. O aluno 5 e a aluna 6 estão começando a interagir, ainda com

bastante dificuldade demonstraram interesse ao se falar em família,

principalmente o “vovô”. No caso da aluna, tem demonstrado afeição e reage

melhor quando acompanhada de uma atendente da escola, com a qual se

identifica.

Em seu livro, Biologie et Connaissance, Piaget escreveu que:

[...] a inteligência humana somente se desenvolve no indivíduo em função de interações sociais que são, em geral, demasiadamente negligentes (LA TAILLE, 1992, p.14).

No quinto encontro utilizando os cartões, primeiro buscou-se encontrar o

sujeito, depois as ações que cada um realiza como acordar, lavar-se, comer.

Ao trabalhar o corpo humano e hábitos de higiene observou-se que as alunas 1

e 2 e o aluno 4 participam das atividades demonstrando reconhecer as partes

do corpo, o aluno 3 distrai-se com facilidade, foge das atividades propostas

querendo apenas brincar. O aluno 5 e a aluna 6 continuam com oscilações de

comportamento, às vezes, demonstram interagir, observando os colegas, mas

atem-se por poucos minutos e logo fogem, empurrando o que lhes é mostrado.

O aluno 4, com o auxilio dos cartões, expressou seu pensamento dizendo: “eu

– com pressa – amarrar – cavalo”, escolhendo os cartões com sorrisos e

gestos de euforia.

O grande mérito da Comunicação Alternativa/Ampliada é o de dar a vez e a voz aos indivíduos não oralizados para fazer escolhas e expressar suas necessidades, sentimentos e pensamentos de forma mais transparentes. Sua utilização representa uma esperança de que seus interlocutores possam se conscientizar do complexo mundo interno dessas pessoas e assim favorecer sua inserção social e o pleno gozo de seus direitos como cidadão. (PELOSI, 2007, p.30)

No sexto encontro com o uso dos cartões com animais, observou-se a

reação de cada um. Sorriem ao observar os animais. Com os cartões com os

adjetivos, observou-se as expressões e reações frente ao que lhe foi

apresentado, suas frustrações e limites.

No sétimo encontro utilizando pranchas com símbolos e desenhos e,

com o apoio dos cartões trabalhou-se com a contação de histórias.

Demonstraram haver um grande interesse dos alunos pelas gravuras e pelas

histórias formadas com elas. Utilizando da oralidade, observou-se que eles

conseguem entender a história através das figuras. As histórias foram criadas

de acordo com o interesse demonstrado por eles.

Foto 2Material produzido pela pesquisadora

No oitavo encontro, com cartões sobre as atividades de vida diária,

retomou-se o trabalho feito, ampliando e formando rotinas e pequenas

histórias, registrando em um painel o que foi formado. Percebeu-se que a aluna

6 e o aluno 5 continuam não reagindo frente aos estímulos, permanecem como

se estivesse ausentes, os demais demonstram interesse, sorriem, tentam

balbuciar e movimentar os braços.

No nono encontro retomando o que foi visto com o alfabeto, voltou-se a

questionar os alunos sobre as letras de seu nome, palavras simples,

verificando-se que as alunas 1 e 2 e os alunos 3 e 4 conseguem relacionar

letras as figuras. Com o apoio das pranchas com símbolos e letras. Tudo isso

com o apoio do professor.

No décimo encontro verificou-se o que cada um conseguiu realizar, a

interação que ocorreu, a forma como foi estabelecida a comunicação, seja de

forma oral, gestual ou escrita com o auxilio do professor, foi relevante a

conclusão de que podemos transformar a aprendizagem desses alunos se

levar em consideração suas expressões, enfim sua forma de comunicação.

Conversou-se com as professoras regentes onde pudemos observar que houve

melhora na comunicação com os alunos, que esse instrumento de

comunicação através de cartões e pranchas foi importante para interagir

melhor com os alunos.

3.2 ANÁLISE DO GTR

Durante o GTR, tivemos três momentos importantes, no primeiro,

que teve como objetivo principal promover uma discussão sobre o Projeto de

Intervenção Pedagógica, pode-se perceber o interesse do mesmo pelo grupo.

Falar sobre inclusão, e mais sobre a Comunicação Alternativa nesse processo

inclusivo, despertou o interesse do grupo e com uma participação efetiva teceu

seus comentários, falando sobre a importância de uma inclusão consciente,

responsável, dentro do respeito às especificidades de cada um, aceitando e

aprendendo com as diferenças. Buscar uma forma de incluir sem que este

aluno se sinta apenas jogado em uma sala de ensino comum, sem excluir

dentro da própria escola. As professoras participantes do grupo são 15

professores que atuam na área de educação especial e com os mesmos

anseios e preocupações trocaram experiências com as quais podemos ampliar

nossos conhecimentos.

Observemos alguns depoimentos:

Falando sobre a Comunicação Alternativa, é um recurso utilizado para apoiar o aluno com necessidades educativas especiais, onde facilitará à sua comunicação sendo capaz de vencer as barreiras, quando acreditamos neste método/recurso os resultados são satisfatórios, para isto devemos trabalhar e acompanhar diretamente utilizando diversas estratégias e mergulhos repetitivos, para alcançar os objetivos, respeitando e avaliando o desenvolvimento do aluno. (PROFESSOR 1)

Chegamos à conclusão de que precisamos acreditar no potencial do

nosso aluno, buscar métodos que levem ao aprendizado, sabemos que não é

um trabalho simples, que é um longo caminho a ser trilhado, mas que se

acreditarmos poderemos chegar lá.

No segundo momento, com a apresentação da Produção Didático-

Pedagógica tivemos uma discussão sobre os objetivos e a metodologia

apresentados. Os comentários e depoimentos das cursistas são unânimes ao

afirmar a necessidade de uma comunicação alternativa e ampliativa para os

alunos com graves restrições de linguagem.

Trabalho em uma escola de educação especial, onde está sendo utilizado a Comunicação Alternativa com alguns alunos, e percebe-se que os resultados estão sendo satisfatórios, pois é um recurso, uma alternativa a mais para que os alunos consigam comunicar-se expressar-se com mais facilidade. [...] (PROFESSOR 2)

O fator comunicação é primordial para que haja aprendizagem. Com

relatos de professores que atuam na área buscando novas metodologias para

o ensino dos alunos com deficiência.

Podemos perceber isso no relato a seguir:

Utilizo uma prancha com os principais verbos, pois meu aluno ouve, mas não consegue falar, ele tem compreensão, mas se irrita quando as pessoas não conseguem entender o que ele quer dizer, então montei, eu e a TO para que ele consiga se comunicar com as pessoas da escola. Acredito que está dando certo, mas ainda necessita aperfeiçoar muitas coisas. (PROFESSOR 3)

Pelo teor dos relatos podemos sentir que a aceitação do projeto foi muito

boa e que houve uma troca de experiência muito interessante e relevante para

nosso trabalho.

Realmente trabalhar com Comunicação Alternativa, é uma das maneiras de possibilitar que as pessoas com dificuldade na comunicação possam expressar seus sentimentos, necessidades e desejos. Pois, sabemos que a falta de interação social contribui com atrasos significativos na linguagem, dificultando consequentemente a inclusão social. A recepção e a expressão contribuem de maneira significativa para que haja aprendizagem. (PROFESSOR 4)

Podemos concluir que a aceitação do projeto foi muito boa,

enriquecendo com isso o desenvolvimento da pesquisa.

No terceiro momento, com a função de socializar os avanços e desafios

enfrentados durante a fase de Implementação Pedagógica do Projeto, os

relatos foram ainda mais emocionantes por parte dos professores que utilizam

uma forma alternativa de comunicação e com um trabalho consciente e

ousado, pois se trata de uma forma diferenciada de trabalhar, buscar através

de um sorriso, de um aceno, de um piscar de olhos, do olhar, da expressão

facial, compreender o que nosso aluno quer nos dizer.

[...] Para mim, está sendo muito importante e estou tendo um aprendizado muito grande, pois apesar de já ter um leve conhecimento, sua proposta está me incentivado cada vez mais, aprofundar e trabalhar com meus alunos e também com minha filha que apresenta Síndrome de WEST. [...] Sua proposta será encaminhada para escola em que trabalho e para a professora de minha filha, onde poderá acrescentar em seu plano de trabalho docente. (PROFESSORA 6)

Dar a eles a oportunidade de manifestar-se sendo um sujeito agente e

não apenas um paciente no processo ensino-aprendizagem.

[...] sua proposta é muito interessante e seu projeto de implementação bastante interessante tendo objetivos claros e precisos e uma metodologia que dá conta de alcançar essa clientela que é tão especial, porém também específica. Por trabalhar com esse alunado consegui acrescentar muito em minha prática e já montei várias sugestões suas de material e estou trabalhando com meus alunos e gostando do resultado que está sendo mais rápido do que eu esperava. A comunicação deles está se ampliando a cada dia. (PROFESSOR 8)

As experiências relatadas no fórum: vivenciando a prática foram

realmente relevantes e nos mostram o interesse do grupo por um trabalho

consciente na busca de realização no processo ensino-aprendizagem.

IV CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os resultados obtidos na presente pesquisa revelam que os alunos com

graves restrições de linguagem, os quais foram observados e com os quais

foram desenvolvidas atividades utilizando materiais adaptados para que se

pudesse ter uma visão ampla de como está ocorrendo à aprendizagem dos

mesmos requerem uma atenção especial no que diz respeito a comunicação.

Por isso, buscou-se uma forma de Comunicação Alternativa, a fim de verificar a

importância de se proporcionar formas de comunicação diferenciada a esses

alunos, proporcionando-lhes uma melhor qualidade de vida.

Podemos observar que o objetivo principal proposto neste estudo, de se

utilizar a Comunicação Alternativa no processo de inclusão de alunos com

graves restrições de linguagem oral, nos dá uma abertura, para verificarmos

que, se utilizarmos material diferenciado, terá resultados diferenciados. A

necessidade de comunicação é premente em qualquer sociedade, portanto se

dermos a esses alunos o direito de comunicarem-se da forma possível e

aperfeiçoarmos esses pequenos gestos e atitudes conseguiremos um avanço

muito grande na formação destes como cidadãos.

Da mesma forma, podemos dizer que, os Objetivos Específicos, que

nortearam essa pesquisa foram alcançados. Buscamos desenvolver trabalho

de linguagem alternativa com alunos da Escola Especial a fim de proporcionar

melhores condições de ingresso na Escola Comum; usamos a linguagem

alternativa como forma de incluir os alunos da escola especial de maneira

menos excludente possível, dentro da realidade de cada um; analisamos a

Comunicação Alternativa como forma de promoção da aprendizagem.

Porém, é um trabalho que se propõe desenvolver-se a longo prazo,

para que se obtenha os resultados esperados. A presente pesquisa

desenvolveu-se em apenas dez encontros, o que nos deu uma visão geral da

real dos problemas ocasionados pela falta de comunicação oral.

No decorrer do trabalho realizado, foram utilizados vários recursos

adaptados da CAA – Comunicação Alternativa e Ampliada, como os cartões e

as pranchas de Comunicação. Considerando-se a dificuldade motora dos

alunos, foram realizadas algumas adaptações, desde o tamanho dos cartões,

escolha das gravuras, buscando despertar o interesse pelo material

apresentado.

Após o término dos encontros pudemos constatar que houve uma

pequena, mas significativa mudança. Pois, ao observar as expressões e a

criação de contextos favoráveis a um meio de comunicação, percebeu-se uma

troca maior entre alunos e professores, com isso, pode existir um aumento das

possibilidades de interação social no ambiente escolar.

Portanto, conclui-se que, não é um trabalho acabado com resultados

finais, mas um começo, a busca de meios que realmente proporcionem aos

alunos com deficiência física, intelectual, com graves restrições de linguagem,

comunicar-se com o mundo do qual fazem parte, poder demonstrar seus

sentimentos, suas vontades, não simplesmente acatar o que lhes é posto como

algo final, dar-lhes voz para poder demonstrar o que querem suas

necessidades e vontades. Trabalhar as especificidades de cada um para se

chegar a uma real interação no meio em que vivem.

V REFERÊNCIAS

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