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7/23/2019 Comunicação e Participação Pais-filhos - Correlação Com Habilidades Sociais e Problemas de Comportamento Dos… http://slidepdf.com/reader/full/comunicacao-e-participacao-pais-filhos-correlacao-com-habilidades-sociais 1/12 395 1  Recebido em 23/10/2006 e aceito para publicação em 10/02/2007. 2  Endereço para correspondência: Fabiana Cia, Centro de Educação e Ciências Humanas, Departamento de Psicologia, Laboratório de Interação Social/LIS, Rodovia Washington Luís, Km 235, Caixa postal: 676, São Carlos-SP, CEP:13565-905. E-mail: [email protected] Paidéia, 2006, 16(35), 395-406 COMUNICAÇÃO E PARTICIPAÇÃO PAIS-FILHOS: CORRELAÇÃO COM HABILIDADES SOCIAIS E PROBLEMAS DE COMPORTAMENTO DOS FILHOS 1 Fabiana Cia 2  Renata Christian de Oliveira Pamplin  Zilda Aparecida Pereira Del Prette Universidade Federal de São Carlos Resumo: Este estudo teve por objetivos comparar indicadores de envolvimento de pais com filhos e esse envolvimento com o repertório de habilidades sociais e de problemas de comportamento das crianças. Participaram 110 crianças, da 4 a série do Ensino Fundamental, utilizando-se o Questionário Qualidade da  Interação Familiar na Visão dos Filhos (QIFVF), para avaliar a percepção dos filhos sobre a comunicação dos pais e participação destes em suas vidas, o Sistema Multimídia de Habilidades Sociais para Crianças (SMHSC-Del-Prette), para avaliar habilidades sociais e indicadores de problemas de comportamento. Foram efetuadas análises estatísticas. As mães apresentaram, conforme a avaliação dos filhos, melhores indicadores de comunicação e participação que os pais; estes indicadores estiveram correlacionados positivamente com os escores de habilidades sociais e negativamente com os de comportamentos externalizantes das crianças. Tais resultados sugerem a importância do envolvimento positivo dos pais sobre o desenvolvimento socioemocional dos filhos e a necessidade de programas nessa área. Palavras-chave:  Habilidades Sociais; Envolvimento Parental Positivo; Desenvolvimento Socioemocional. COMMUNICATION AND PARENT-CHILDREN PARTICIPATION: A CORRELATION WITH SOCIAL SKILLS AND BEHAVIOR PROBLEMS OF THE CHILDREN. Abstract: The objectives of this study were to compare indicators of the involvement between parents with their children and to compare parental involvement with the children’s repertoire of social skills as well as to behavior problems. 110 children from the 4th grade of Elementary School participated, using the Quality of Family Interaction from the children’s viewpoint  questionnaire (QIFVF), to assess the children’s perception of parental communication and involvement in their lives; the Multimedia System for Children’s Social Skills (SMHSC-Del-Prette), to assess social skills and indicators of behavior problems. Statistical analyses were performed. According to the children, mothers showed greater indicators of communication and participation when compared with fathers; these indicators were positively correlated with the children’s scores of social skills, and negatively correlated with children’s externalizing behaviors. Results suggest that positive parental involvement plays an important role in children’s socioemotional development and that programs for parents should be developed. Key words:  Social Skills; Positive Parental Involvement; Socioemotional Development. A importância da qualidade da relação pais- filhos no desenvolvimento social das crianças tem sido atestada por estudos nos últimos anos (Gomide, 2003). A exposição da criança a práticas parentais inade- quadas (conflitos, violência, coerção) ou a baixo envolvimento com o pai ou com a mãe constitui fato- res de risco para o desenvolvimento infantil, aumen- tando a vulnerabilidade a eventos ameaçadores (como práticas delinqüentes, envolvimento com drogas) ex- ternos ao ambiente familiar (Ferreira & Marturano,

Comunicação e Participação Pais-filhos - Correlação Com Habilidades Sociais e Problemas de Comportamento Dos Filhos

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http://slidepdf.com/reader/full/comunicacao-e-participacao-pais-filhos-correlacao-com-habilidades-sociais 1/12

395

1  Recebido em 23/10/2006 e aceito para publicação em 10/02/2007.2 Endereço para correspondência: Fabiana Cia, Centro de Educação

e Ciências Humanas, Departamento de Psicologia, Laboratório de

Interação Social/LIS, Rodovia Washington Luís, Km 235, Caixa

postal: 676, São Carlos-SP, CEP:13565-905. E-mail:

[email protected]

Paidéia, 2006, 16(35), 395-406 

COMUNICAÇÃO E PARTICIPAÇÃO PAIS-FILHOS: CORRELAÇÃO COMHABILIDADES SOCIAIS E PROBLEMAS DE COMPORTAMENTO DOS FILHOS1

Fabiana Cia2

 Renata Christian de Oliveira Pamplin

 Zilda Aparecida Pereira Del PretteUniversidade Federal de São Carlos

Resumo: Este estudo teve por objetivos comparar indicadores de envolvimento de pais com filhos e

esse envolvimento com o repertório de habilidades sociais e de problemas de comportamento das crianças.

Participaram 110 crianças, da 4a série do Ensino Fundamental, utilizando-se o Questionário Qualidade da

 Interação Familiar na Visão dos Filhos (QIFVF), para avaliar a percepção dos filhos sobre a comunicação

dos pais e participação destes em suas vidas, o Sistema Multimídia de Habilidades Sociais para Crianças

(SMHSC-Del-Prette), para avaliar habilidades sociais e indicadores de problemas de comportamento. Foram

efetuadas análises estatísticas. As mães apresentaram, conforme a avaliação dos filhos, melhores indicadores

de comunicação e participação que os pais; estes indicadores estiveram correlacionados positivamente com

os escores de habilidades sociais e negativamente com os de comportamentos externalizantes das crianças.

Tais resultados sugerem a importância do envolvimento positivo dos pais sobre o desenvolvimento socioemocional

dos filhos e a necessidade de programas nessa área.

Palavras-chave: Habilidades Sociais; Envolvimento Parental Positivo; Desenvolvimento Socioemocional.

COMMUNICATION AND PARENT-CHILDREN PARTICIPATION: ACORRELATION WITH SOCIAL SKILLS AND BEHAVIOR PROBLEMS OF THE

CHILDREN.

Abstract: The objectives of this study were to compare indicators of the involvement between parents

with their children and to compare parental involvement with the children’s repertoire of social skills as well as

to behavior problems. 110 children from the 4th grade of Elementary School participated, using the Quality of 

Family Interaction from the children’s viewpoint  questionnaire (QIFVF), to assess the children’s perception

of parental communication and involvement in their lives; the Multimedia System for Children’s Social

Skills (SMHSC-Del-Prette), to assess social skills and indicators of behavior problems. Statistical analyses

were performed. According to the children, mothers showed greater indicators of communication and

participation when compared with fathers; these indicators were positively correlated with the children’s

scores of social skills, and negatively correlated with children’s externalizing behaviors. Results suggest that

positive parental involvement plays an important role in children’s socioemotional development and that programs

for parents should be developed.

Key words: Social Skills; Positive Parental Involvement; Socioemotional Development.

A importância da qualidade da relação pais-

filhos no desenvolvimento social das crianças tem sido

atestada por estudos nos últimos anos (Gomide, 2003).

A exposição da criança a práticas parentais inade-

quadas (conflitos, violência, coerção) ou a baixo

envolvimento com o pai ou com a mãe constitui fato-

res de risco para o desenvolvimento infantil, aumen-

tando a vulnerabilidade a eventos ameaçadores (como

práticas delinqüentes, envolvimento com drogas) ex-

ternos ao ambiente familiar (Ferreira & Marturano,

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396 Fabiana Cia

2002; Gomide, 2003; McDowell & Parke, 2002;

Marturano, 2004). Por outro lado, os pais que esta-

belecem um ambiente familiar acolhedor e que orga-

nizam contextos favoráveis para o desenvolvimento

da criança estabelecem fatores de proteção diante

de eventos ameaçadores a que usualmente as crian-ças estão expostas (Del Prette & Del Prette, 1999,

2005a; Dessen & Costa, 2005; Yunes, 2003).

Esse ambiente acolhedor prevê um padrão

adequado de comunicação (pais que ajudam os fi-

lhos a identificarem emoções, que os aconselham,

com expressividade emocional positiva e que estão

dispostos à conversa com ele) entre pais e filhos, o

que por sua vez, auxilia na melhor interação social

destes com os pares e na menor probabilidade de

apresentarem problemas de comportamento

(Bohanek, Marin, Fivush & Duke, 2006). Del Prette

e Del Prette (2006) ainda ressaltam a importância do

comportamento verbal, ao afirmarem que o papel dos

pais, na aprendizagem interpessoal da criança, de-

pende, da forma como eles planejam e conduzem a

educação dos filhos. As práticas parentais, conside-

radas positivas, incluem a monitoria positiva e o com-

portamento moral, ou seja, um relacionamento entre

pais e filhos sustentados por regras claras, com in-

formações sobre as contingências em vigor para os

comportamentos sociais. Tais práticas aumentam aprobabilidade de a criança desenvolver relações so-

ciais saudáveis no âmbito familiar e com os pares.

Atzaba-Poria, Pike e Deater-Deckard (2004),

em estudo com 125 famílias de diferentes níveis

socioeconômicos verificaram que as crianças com

menor QI (avaliado por meio do instrumento

“Kaufman Brief Intellingent”), que tinham pais com

envolvimento parental negativo (menos calorosos e

menos recíprocos na relação com o filho, mais rígi-

dos) apresentaram maior índice de problemas de com-

portamento internalizantes (retraimento, queixas

somáticas, depressão e ansiedade) e externalizantes

(delinqüência, agressão). Além disso, a satisfação

conjugal e o suporte social, percebidos por ambos os

pais, foram aspectos considerados importantes para

a melhor qualidade do relacionamento entre estes e

seus filhos.

Um estudo longitudinal, realizado por Hill e

cols. (2004), com 463 pais de pré-adolescentes (em

torno de 12 anos de idade) mostrou que o envolvimento

dos pais de alto nível de escolaridade, nas atividades

acadêmicas dos filhos (contato com os professores,

participação nas reuniões escolares, auxílio nas tare-

fas, acompanhamento do progresso escolar do filho),

possuía correlação negativa com os problemas decomportamento (social, agressividade e déficit de aten-

ção) e positiva com aspirações e desempenho aca-

dêmico deles. Já os com menor nível de escolarida-

de, o envolvimento parental nas atividades acadêmi-

cas dos filhos foi positivamente correlacionado com

aspirações para o futuro, mas não com comporta-

mento ou desempenho acadêmico.

Em um estudo realizado com famílias brasilei-

ras, D’Avila-Bacarji, Marturano e Elias (2005) com-

pararam, quanto ao suporte parental (escolar,

desenvolvimental e emocional), 30 famílias de crian-

ças com queixas escolares e outras 30 sem. Os re-

sultados mostraram que os pais de crianças com quei-

xa escolar ofereciam menos suporte desenvolvimental

(menor diversidade de atividades durante o tempo li-

vre, de freqüência de passeios, de número de ativida-

des programadas regulares com a criança, de diver-

sidade de brinquedos e de livros) e emocional (menor

freqüência de atividades realizadas entre pais e filhos

e da criança recorrer aos pais para ajudá-la; maior

freqüência de problemas de relacionamento entre paise filhos – agressão, conflito, rejeição, indiferença,

hostilidade; e nas práticas educativas – coercitivas,

permissivas e inconsistentes). Além disso, estas cri-

anças com queixa escolar, quando comparadas com

as sem queixa, apresentaram menor escore de QI

(avaliado por meio das Matrizes Progressivas Colori-

das de Raven) e maior índice de problemas de com-

portamento internalizantes e externalizantes.

Crianças com características interpessoais po-

sitivas (auto-estima, autoconceito acadêmico e não

acadêmico, competência social e habilidades espe-

cíficas de empatia e resolução de problemas) têm

maior probabilidade de uma trajetória desen-

volvimental satisfatória enquanto que a ausência

destas características é tida como fator de risco,

podendo levá-la a apresentar dificuldades de apren-

dizagem (Del Prette & Del Prette, 2003; 2005a;

Dunn, Cheng, O’Connor & Bridges, 2004; Ferreira

& Marturano 2002), problemas comportamentais ou

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397 Envolvimento dos pais na educação dos filhos

emocionais (Bolsoni-Silva & Del Prette, 2002;

Marturano, 2004; Stevanato, Loureiro, Linhares &

Marturano, 2003), entre outros desajustes

psicossociais (Bongers, Koot, Ende & Verhulst, 2004;

Coley, Morris & Hernandez, 2004; Frosch &

Mangelsdorf, 2001; Oliveira & cols., 2002).

Esses estudos têm evidenciado a relevância da

participação de ambos os pais na criação de seus fi-

lhos e, conseqüentemente no desenvolvimento infan-

til (Cecconello, DeAntoni & Koller, 2003; Dessen &

Costa, 2005; Flouri & Buchanan, 2003). Nos últimos

anos, as relações entre pais e filhos estão se modifi-

cando constantemente em decorrência das transfor-

mações pelas quais a família tem passado. Até há

pouco tempo, a responsabilidade pelos cuidados era

da mulher. Com sua inserção no mercado de traba-lho, os padrões de criação da prole se modificaram.

O homem não está apenas sendo o provedor, mas

participa da educação e cuidados dos filhos (Bertolini,

2002; Dantas, Jablonski & Féres-Carneiro, 2004;

Dessen & Costa, 2005), o que parece estar sendo

benéfico tanto para a mulher, quanto para os filhos,

que podem obter maior apoio com menos risco de

serem negligenciados. Portanto, as investigações so-

bre práticas parentais deveriam focalizar não somen-

te a atenção da mãe, mas também a do pai e a divi-

são dos papéis parentais em sua influência no desen-volvimento dos filhos (Oliveira & cols., 2002; Pacheco,

Teixeira & Gomes, 1999; Weber, Prado, Viezzer &

Brandenburg, 2004).

A qualidade das relações pais-filhos e o de-

senvolvimento socioemocional das crianças depen-

dem de muitos fatores interrelacionados. Nos últimos

anos, tem sido cada vez mais reconhecido o papel de

um repertório elaborado de habilidades sociais dos

pais como base para uma atuação educacional efeti-

va junto aos filhos (Pinheiro, Haase, Amarante, Del

Prette & Del Prette, no prelo) e como correlato da

capacidade de ajustamento e resiliência na infância

(Del Prette & Del Prette, 2005a).

A análise do repertório social de pais e filhos

remete a um campo teórico-prático denominado Trei-

namento de Habilidades Sociais que engloba vários

conceitos, dentre os quais se destacam os de habili-

dades sociais e competência social. Segundo Del

Prette e Del Prette (2005a), as habilidades sociais

são diferentes classes de comportamentos sociais do

repertório de um indivíduo, que contribuem para a

competência social. Esses autores definem a compe-

tência social como a capacidade de o indivíduo orga-

nizar pensamentos, sentimentos e ações em função

de objetivos pessoais e de demandas da situação e dacultura, gerando conseqüências positivas para ele e

sua relação com as demais pessoas, propondo (Del

Prette & Del Prette, 2005b), os seguintes critérios na

avaliação da competência: manutenção e/ou melhora

da auto-estima e da qualidade da relação; consecu-

ção dos objetivos da interação; equilíbrio de ganhos e

perdas entre os parceiros da interação; respeito e

ampliação dos direitos humanos. No caso de crian-

ças e adolescentes, os referidos autores destacam

outros comportamentos tidos como correlatos da com-

petência social, como o status social da criança entre

seus colegas, o julgamento positivo por outros

significantes e comportamentos adaptativos (rendi-

mento acadêmico, estratégias de enfrentamento di-

ante de situações de estresse ou frustração,

autocuidado, independência para realizar tarefas e

cooperação).

A aprendizagem das habilidades sociais se ini-

cia na infância, primeiramente com a família e depois

em outros contextos (escolar, comunitário); o famili-

ar constitui a base da estimulação inicial dos padrõesde relacionamento e competência social (Bolsoni-Sil-

va & Marturano, 2002; Del Prette & Del Prette, 1999;

Gomide, 2003; Hübner, 2002; Ingberman & Löhr,

2003; McDowell & Parke, 2002). Em uma aborda-

gem mais direta aos desempenhos dos pais na rela-

ção educativa com os filhos, Del Prette e Del Prette

(2001, p.95) propõem a análise dessas práticas a par-

tir do conceito de habilidades sociais educativas (HSE),

definidas como “aquelas intencionalmente voltadas

para a promoção do desenvolvimento e da aprendi-

zagem do outro”. Em estudo mais recente, Del Prettee Del Prette (no prelo) reorganizaram, ampliaram e

detalharam esse conjunto de habilidades sociais

educativas em sete mais gerais: (a) transmitir ou ex-

por conteúdos; (b) mediar interações; (c) apresentar

atividades; (d) discriminar situações potencialmente

educativas; (e) estabelecer limites e disciplina; (f)

gerar reciprocidade positiva; (g) promover a avalia-

ção e a auto-avaliação. Pode-se considerar que o uso

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398 Fabiana Cia

efetivo dessas HSE, indicador de competência social

dos pais, constitui um fator da qualidade das relações,

particularmente em termos de comunicação efetiva

e participação construtiva na vida e no desenvolvi-

mento dos filhos.

Considerando a importância da competência

social na infância como um fator de proteção e de

maximização do desenvolvimento infantil e de sua

possível articulação com o envolvimento parental po-

sitivo em termos de comunicação e da participação

dos pais na vida dos filhos, este estudo teve por obje-

tivos: (a) comparar indicadores de envolvimento de

mãe e pai com os filhos e (b) esse envolvimento dos

pais e o repertório de habilidades sociais e de proble-

mas de comportamento internalizantes e exter-

nalizantes das crianças.

Método

 Participantes

Participaram deste estudo 110 crianças da 4a

série do Ensino Fundamental, com média de idade de

10 anos, variando entre nove e 12 anos. A maioria

delas vivia com os pais biológicos (92,7%), sendo a

metade do sexo feminino e metade do masculino. Em

relação ao nível socioeconômico, 0,9% era de classe

socioeconômica A1; 7,3% da A2; 24,5% da B1; 33,6%

da B2; 30,0% da C e 3,6% da D (Critério Brasil,2006).

 Local da coleta de dados

A coleta de dados ocorreu em sala isenta de

ruídos de uma escola gratuita (mantida por indústri-

as) localizada em uma cidade de médio porte do inte-

rior do estado de São Paulo.

 Instrumentos

Questionário da Qualidade da Interação Fa-

miliar na Visão dos Filhos (Cia, D’Affonseca &

Barham, 2004). Composto por duas escalas tipo

 Likert  que contemplam uma diversidade de indica-

dores de envolvimento positivo dos pais com os fi-

lhos. Desse instrumento, foram utilizados, neste es-

tudo, duas escalas, cujos itens foram considerados

mais pertinentes à categoria envolvimento parental

positivo e que contempla, também parte das habili-

dades sociais educativas referidas por Del Prette e

Del Prette (no prelo):

Escala de comunicação (verbal e não verbal)

entre pais e filhos, contendo 22 itens, com a pontua-

ção variando entre 0 = nunca a 365 = uma vez por dia

(á = 0,88, á = 0,86, para a comunicação pai-filho e

mãe-filho, respectivamente);

Escala de participação dos pais nas atividades

escolares, culturais e de lazer dos filhos, contendo 19

itens, com pontuação variando de 0 ‘nunca’ a 365

‘uma vez por dia’ (á = 0,91, á = 0,87, para a participa-

ção do pai e da mãe, respectivamente).

Inventário Multimídia de Habilidades Sociais

para Crianças – Avaliação pela Criança -IMHSC–

Del Prette-Auto-avaliação (Del Prette & Del Prette,

2005b). Para avaliar o repertório de habilidades soci-

ais da criança e indicadores de seus problemas

internalizantes e externalizantes - versão impressa - ,com 21 itens que retratam vários contextos do cotidi-

ano escolar de crianças das séries iniciais do Ensino

Fundamental (1a à 4a séries), em suas interações com

outras crianças e com adultos. Em cada item, apre-

senta-se uma situação ilustrativa, seguida de três al-

ternativas de reação: a habilidosa esperada para cri-

ança dessa faixa etária e dois tipos de não habilido-

sas (passiva ou internalizante e ativa ou

externalizante). A criança responde a uma escala tipo

 Likert  sobre a freqüência (nunca, algumas vezes e

sempre), adequação (errado, mais ou menos e certo)para emitir cada uma das reações e sobre sua dificul-

dade (difícil, mais ou menos e fácil) de emitir a rea-

ção habilidosa. Os itens deste instrumento se agru-

pam em quatro fatores:  Empatia e civilidade,

 Assertividade de enfrentamento, Autocontrole e

Participação. Trata-se de um instrumento aprovado

pelo Conselho Federal de Psicologia, com estudos

psicométricos que atestam sua validade e

confiabilidade.

 Procedimento

Antes de iniciar a coleta de dados junto às cri-

anças, foi encaminhado o Termo de Consentimento

Livre e Esclarecido para os pais permitirem a partici-

pação do seu filho na pesquisa. As crianças, cujos

pais autorizaram sua participação, preencheram o

questionário “Qualidade da Interação Familiar na

Visão dos Filhos”. A aplicação foi coletiva (em tor-

no de 35 alunos) e teve duração média de 40 minu-

tos. Em seguida, foi aplicado o IMHSC–Del-Prette,

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399 Envolvimento dos pais na educação dos filhos

em grupos de cinco alunos, com 45 minutos de tempo

médio para cada grupo.

Os dados quantitativos, obtidos por meio do

questionário “Qualidade da Interação Familiar na

Visão dos Filhos”, foram analisados em termos des-

critivos, com medidas de tendência central e disper-

são. Para verificar a fidedignidade das medidas, no

contexto deste estudo, foi realizada uma análise de

consistência interna (Alpha de Cronbach) da escala

como um todo (Cozby, 2002). As pontuações dos da-

dos obtidos no IMHSC–Del-Prette foram realizadas

com base nos procedimentos apresentados no seu manual.

A relação, entre os indicadores do repertório

social dos filhos (habilidades sociais, comportamento

internalizantes e externalizantes) e do envolvimento

parental positivo (comunicação e participação), foiverificada por meio do teste de correlação de Pearson

(p<0.05). Para comparar os dados de mães e pais foi

utilizado o teste-t de Student (p<0,05).

Resultados

Características da comunicação e par-

 ticipação de pais e mães, enquanto indicadores

 de envolvimento positivo com os filhos

Os dados da Tabela 1 apresentam os valores

médios no conjunto de itens da escala de comunica-

ção de mães e pais com os filhos, segundo a avalia-

ção dos filhos.

Segundo a opinião das crianças, dos 22 itens

que compõem a  Escala de comunicação entre pai

e filho, em 11 mães apresentaram uma freqüência

significativamente maior, quando comparadas aos pais.

A Tabela 2 traz os valores médios do conjunto de

itens relacionados à participação de ambos os pais

nas atividades escolares, culturais e de lazer dos filhos.

Considerando o escore total da escala de Par-ticipação dos pais nas atividades escolares, cul-

turais e de lazer dos filhos, segundo a opinião das

crianças, as mães participavam com uma freqüência

Tabela 1. Dados descritivos dos itens da escala de comunicação pais e filhos com comparação das respostas dadas

pelas crianças sobre pais e mães.

*p<0,05; **p<0,01; ns = não existe diferença significativa entre as médias.

 Nota  1. Na avaliação das crianças sobre as mães,o formulário é alterado para “Sua mãe...”

 Nota  2. A freqüência foi apontada usando uma escala que variou de 0, ‘nunca’ 12, ‘uma vez por mês’ 52, ‘uma vez por semana’ 104,

‘duas ou três vezes por semana’ e 365, ‘todo dia’.

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400 Fabiana Cia

significativamente maior dessas atividades, quando

comparadas aos pais. Vale ressaltar que 20 itens, dos

41 que avaliaram a comunicação entre pai-filho e a

participação do pai nas atividades escolares, cultu-

rais e de lazer do filho, não apresentaram diferenças

estatisticamente significativas.

 Escores de habilidades sociais e de reações

 não habilidosas dos filhos

A Tabela 3 mostra os valores médios do reper-

tório de habilidades sociais e das reações não habili-

dosas passivas e ativas tomadas como indicadores

de problemas de comportamento internalizantes e

externalizantes das crianças.

Considerando os escores médios, apenas a di-

ficuldade de desempenhar a reação habilidosa, apon-

tada pelas crianças, ficou abaixo da média, quando

comparada à amostra de referência (Del Prette &

Del Prette, 2005b), pois os outros valores de freqüên-

cia e adequação estavam na média.

Em relação ao Fator 1 ( Empatia e civilida-

de), quase todos os valores estavam na média, com

exceção da adequação da reação não habilidosa pas-

Tabela 2. Dados descritivos dos itens de participação dos pais nas atividades escolares, culturais e de lazer do filho:

Comparação das respostas dadas pelas crianças sobre os pais e as mães

 Legenda:   *p<0,05; **p<0,01; ***p<0,001; ns = não existe diferença significativa entre as médias.

 Nota: A freqüência foi apontada usando uma escala que variou de 0, ‘nunca’ 12, ‘uma vez por mês’ 52, ‘uma vez por semana’ 104, ‘duas

ou três vezes por semana’ e 365, ‘todo dia’.

Tabela 3. Escore médio (global e fatoriais) apresentados pelas crianças na auto-avaliação por meio do IMHSC –

Del-Prette

 Legenda: HAB= Reação habilidosa; NHP= Reação não habilidosa passiva (internalizante); NHA=Reação não habilidosa ativa

(externalizante).

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401 Envolvimento dos pais na educação dos filhos

siva (internalizante), que estava abaixo da média. No

Fator 2 ( Assertividade e enfrentamento), todos os

valores estavam na média. No Fator 3 ( Autocontrole),

a freqüência da reação habilidosa estava acima da

média. A adequação atribuída à reação não habilido-

sa passiva (internalizante) e a dificuldade em emitir areação habilidosa estavam abaixo da média, enquan-

to que os outros valores estavam na média, quando

comparados à amostra de referência (Del Prette &

Del Prette, 2005b). Por fim, no Fator 4 (Participa-

ção), apenas a adequação da reação não habilidosa

passiva (internalizante) foi apontada pelas crianças

como abaixo da média, pois os demais valores esta-

vam na média.

 Envolvimento positivo dos pais com filhos e

 repertório social das crianças

A Tabela 4 mostra os resultados referentes ao

envolvimento positivo os pais com os filhos (comuni-

cação e participação) em sua relação com os valores

médios dos escores totais do repertório de habilida-

des sociais e das reações não habilidosas passivas e

ativas das crianças.

Tabela 4. Dados da correlação (Pearson) entre os indica-

dores de envolvimento parental positivo e os escores to-

tais (IMHSC-Del-Prette) de habilidades sociais e de rea-

ções não habilidosas das crianças.

 Nota: *p<0,05; **p<0,01.; ***p<0,001.

 Legenda: HAB= Reação habilidosa; NHP= Reação não habilidosa

passiva (internalizante); NHA=Reação

As duas escalas que avaliaram os indicadores

de envolvimento dos pais com os filhos foram positi-va e significativamente correlacionadas com a fre-

qüência e a adequação da reação habilidosa aponta-

da pelas crianças. Adicionalmente, os escores de Co-

municação  mostraram-se negativamente corre-

lacionados com a adequação da reação não habilido-

sa ativa (externalizante) das crianças e positivamen-

te correlacionados com a freqüência e a adequação

de sua reação habilidosa. Já os escores na escala de

Participação  foram positivamente correlacionados

com a freqüência da reação não habilidosa ativa

(externalizante) e negativamente com a da não habi-

lidosa ativa (externalizante).

A Tabela 5 apresenta a relação dos escores

fatoriais que compõem o IMHSC–Del-Prette, com

os indicadores de envolvimento positivo dos pais com

os filhos.

Os quatro fatores que compõem o IMHSC–

Del-Prette apresentaram correlações significativas

com pelo menos uma das escalas que avaliaram a

qualidade da relação pais-filhos. Os resultados da es-

cala de Comunicação apresentaram maior número

de correlações com os fatores que compõem o

IMHSC–Del-Prette do que a escala de Participa-

ção.

DiscussãoSegundo relatos das crianças, ambos os pais

apresentaram alta freqüência de comunicação e de

participação nas suas atividades escolares, culturais

e de lazer. Considerando que a família é o principal

ambiente social da criança, ao investirem nesses dois

componentes da relação com os filhos, mães e pais

estão modelando as características comportamentais

da criança (Del Prette & Del Prette, 1999; Ingberman

& Löhr, 2003), que vão contribuir para um desenvol-

vimento socioemocional (Alvarenga & Piccinini, 2001;Bolsoni-Silva & Del Prette, 2002; Marturano, 2004)

e cognitivo saudável (Cia & cols., 2004; Del Prette

& Del Prette, 2005a; Dunn & cols., 2004; Ferreira &

Marturano 2002; Hill & Taylor, 2004; Wellman,

Phillips, Dunphy-Lelii & Lalonde, 2004). Tal aspecto

fica evidente pela correlação positiva das escalas de

comunicação e participação com as medidas de com-

petência social dos filhos, utilizadas neste estudo.

A responsabilidade das mães por aspectos fun-

damentais do desenvolvimento do filho, como os cui-

dados diários de higiene, alimentação e educação es-colar, ainda continua sendo maior do que a dos pais,

de acordo com outros estudos que apontam para esta

escala de Participação  foram positivamente e de

maior responsabilidade materna. No entanto, os ho-

mens, ao apresentarem alta freqüência de comunica-

ção e participação em relação a seus filhos, demons-

tram estar deixando o papel de meros provedores fi-

nanceiros em prol de uma participação mais efetiva

na educação e nos cuidados dos filhos (D’Affonseca,

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402 Fabiana Cia

& cols., 2005; Eisenberg & cols., 2005; Gomide, 2003;

Hill & cols., 2004; McCartney, Owen, Booth, Clarke-

Stewart & Vandell, 2004; Pinheiro & cols., no prelo).

Considerando a correlação positiva dos indi-

cadores de freqüência e adequação dos quatro con-

 juntos de reações habilidosas do IMHSC–Del-Prette

com pelo menos uma das duas escalas de en-

volvimento positivo dos pais com os filhos, pode-seafirmar que eles estão utilizando uma variedade de

comportamentos que podem ser tomados como habi-

lidades sociais educativas, no sentido proposto por Del

Prette e Del Prette (no prelo) e que seriam cruciais

para o desenvolvimento socioemocional dos filhos. Por

exemplo, ao expressarem sentimentos positivos para

com estes, uma habilidade importante para a satisfa-

ção e manutenção de uma relação (Del Prette & Del

Prette, 2005a), os pais podem estar favorecendo o

desenvolvimento da  Empatia e da civilidade  (F1)

nos mesmos. Além disso, ao se comportarem

assertivamente com os filhos, eles estão monitorando

o próprio comportamento passivo ou agressivo que

poderia levá-los a práticas educativas ineficientes,

como a negligência e a coerção, dessa forma contri-

buindo para o desenvolvimento da Assertividade (F)

e do  Autocontrole (F3) pelas crianças.

O Fator 4 do IMHSC-Del-Prette, Participa-

ção, refere-se a habilidades da criança em se envol-

2005; Guille, 2004; Lamb, 1997; Wagner, Predebon,

Mosmann & Verza, 2005). Isso fica evidente, ao con-

siderar, que aproximadamente metade das habilida-

des de interação entre pais-filhos, avaliadas neste

estudo, não mostrou diferenças estatisticamente sig-

nificativas entre pais e mães. Essas atividades, no

geral, se relacionavam à disciplina, suporte afetivo e

educacional, corroborando os achados de Wagner ecols. (2005).

Em relação à amostra de referência, as crian-

ças deste estudo relataram adequado repertório de

habilidades sociais e indicadores de problemas de com-

portamento internalizantes (reações não habilidosas

passivas) e externalizantes (reações não habilidosas

ativas) medianos que são favoráveis ao desenvolvi-

mento posterior saudável (Bongers & cols., 2004;

Coley & cols., 2004; Frosch & Mangelsdorf, 2001;

Oliveira & cols., 2002).

Confirmando outros estudos, a freqüência decomunicação de ambos os pais com seus filhos e departicipação das mães nas atividades escolares, cul-

turais e de lazer deles foram positivamente

correlacionadas com o repertório de habilidades so-

ciais das crianças, tanto na freqüência, quanto na ade-

quação atribuída a reações habilidosas (Atzaba-Po-

ria & cols., 2004; Aunola & Nurmi, 2005; Bolsoni-

Silva, Del Prette & Del Prette, 2000; D’Avila-Bacarji

Tabela 5. Correlações significativas (Pearson) entre os indicadores de envolvimento parental positivo (comunicação e

participação) e os escores fatoriais do repertório social das crianças, conforme auto-avaliação no SMHSC – Del-Prette.

 Nota : *p<0,05; **p<0,01; ***p<0,001.

 Legenda: HAB= Reação habilidosa; NHP= Reação não habilidosa passiva (internalizante); NHA=Reação não habilidosa ativa (externalizante).

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403 Envolvimento dos pais na educação dos filhos

ver e comprometer com o contexto social, mesmo

quando as demandas do ambiente não lhes são espe-

cificamente dirigidas (mediar conflitos, juntar-se a um

grupo em brincadeiras). Como tais habilidades ocor-

rem em contextos extra-família, a correlação entre

os indicadores (freqüência e adequação) das habili-dades de Participação (F4) dos filhos e os resulta-

dos de pais e mães na escala de Comunicação  su-

gerem que a contribuição de ambos é fundamental,

enquanto possíveis modelos daqueles desempenhos.

Não obstante os indicadores de comunicação

entre pai e filho estarem positivamente correla-

cionados com a freqüência e a adequação da reação

habilidosa das crianças, os resultados referentes à

participação do pai nas atividades escolares, cultu-

rais e de lazer dos filhos foram também positivamen-te correlacionados com as reações não habilidosas

ativas (externalizantes) apresentadas pelas crianças

(na subescalas  Assertividade de enfrentamento,

 Autocontrole  e Participação). Pode-se supor que,

ao interagirem com os filhos os pais participativos

apresentem condutas mais rígidas, culturalmente pre-

sentes no sexo masculino e, assim, inadvertidamente

modelando comportamentos agressivos da criança ao

brincar, jogar e em outras atividades recreativas.

Soma-se o fato de que há maior aceitação da

agressividade por parte dos homens do que das mu-lheres e que tais comportamentos são transmitidos

por gerações (Del Prette & Del Prette, 2005a; Giles

& Heyman, 2005; Marturano, 2004).

Por fim, nenhuma das duas escalas de

envolvimento parental positivo apresentou correlação

com o de reações não habilidosas passivas

(indicadoras de problemas internalizantes) das cri-

anças. A falta dessa relação direta poderia ser

explicada por estudos que relacionam os problemas

de comportamento internalizantes a variáveis

exossistêmicas - como conflitos entre pais e filhos ou

a influência do ambiente de trabalho no relaciona-

mento entre eles (Atzaba-Poria & cols., 2004; Jenkins,

Simpson, Dunn, Rasbash & O’Connor, 2005;

Schudlich, Shamir & Cummings, 2004). Além disso,

normalmente os pais se preocupam mais com os pro-

blemas de comportamento externalizantes, por se tra-

tar de mais visíveis, levando as crianças a serem pu-

nidas pelos professores, pares e outros interlocutores,

do que as que apresentam problemas de comporta-

mento internalizantes (Atzaba-Poria & cols., 2004;

Bolsoni-Silva & Marturano, 2002; D’Avila-Bacarji &

cols., 2005; Del Prette & Del Prette, 2005a; Hill &

cols., 2004).

Considerações Finais

Este estudo confirma aspectos da literatura

referentes à importância da comunicação pais-filhos

e da participação deles na vida da criança enquanto

fatores que contribuem para um desenvolvimento

socioemocional saudável na infância, bem como al-

gumas diferenças quanto às características desse

envolvimento com os filhos e quanto ao seu efeito

sobre o repertório social deles. A freqüência de co-

municação pais-filhos e da participação dos pais nas

atividades escolares, culturais e de lazer das crian-ças, foram aqui tomadas como indicadores de algu-

mas das habilidades sociais educativas consideradas

relevantes para a qualidade dessa relação e como

um dos possíveis fatores da competência social dos

filhos. De modo geral, verificou-se que, quanto mais

expressivos os indicadores de comunicação e partici-

pação dos cônjuges em relação aos filhos, melhor o

repertório de habilidades sociais das crianças. No caso

específico das mães, esses dois indicadores parece-

ram contribuir também para o controle de comporta-

mentos externalizantes por parte dos filhos.

Esses dados sugerem a relevância de investi-

mento nas habilidades parentais que viabilizam esse

envolvimento positivo, referidas por Del Prette e Del

Prette (no prelo) como sociais educativas. Pode-se

inferir, então, que mães e pais com repertório empo-

brecido de habilidades sociais (em especial das ca-

racterizadas como educativas), poderiam se benefi-

ciar de programas de Treinamento de Habilidades

Sociais, e que esses ganhos reverteriam em desen-

volvimento mais saudável das crianças. Em muitos

países, já há bastante tempo, esses programas vêm

sendo disponibilizados. No Brasil, ainda se está dan-

do os primeiros passos nessa direção (Bolsoni-Silva

& cols., 2000; Freitas, 2005; Pinheiro & cols., no prelo).

Ainda que este estudo tenha sido conduzido

com uma amostra restrita de crianças (só de uma

escola), os resultados confirmam alguns dados da li-

teratura e sugerem pesquisas com amostras amplia-

das, considerando diferentes estratos sociais. Deve-

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404 Fabiana Cia

se ressaltar que a natureza dos dados deste estudo

foi correlacional, e que, portanto, conclusões sobre a

direção causal não podem ser estabelecidas. Estudos

longitudinais seriam indicados para monitorar a influ-

ência do repertório de habilidades sociais educativas

de ambos os pais sobre a competência social dos fi-lhos ao longo do desenvolvimento infantil.

Um outro aspecto importante a ressaltar é que

os resultados deste estudo são dados de relatos das

crianças e, como tais, sujeitos de diversos tipos de

vieses (Del Prette & Del Prette, 2006). Estudos fu-

turos poderiam complementar e ampliar a validade

desses achados, incluindo dados de observação dire-

ta, tanto do repertório dos pais como do dos filhos.

Especificamente, no caso de habilidades sociais

educativas cabe lembrar que os dados coletados con-

templam somente parte das classes definidas por Del

Prette e Del Prette (no prelo), o que também poderia

ser ampliado por investigações mais pontuais sobre

cada uma daquelas classes ou mesmo a necessidade

de estar realizando estudos para validar e construir

uma escala específica de habilidades sociais

educativas.

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Este trabalho foi originalmente desenvolvido,

pelas duas primeiras autoras, sob orientação da ter-

ceira, como requisito da disciplina Estudos Avança-

dos 1, UFSCar, ministrada pelos professores Dra.

Deisy G. de Souza e Dr. Celso Goyos, a quem as

autoras agradecem as leituras e sugestões.