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ORGANIZAÇÃO Arlete Matola Johane Zonjo Sérgio Padeiro GABINETE DE ESTUDOS DA PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA COMUNICAÇÕES DOS SEMINÁRIOS DA PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA 2013

Comunicações dos Seminários da Presidência da República, 2013

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ORGANIZAÇÃOArlete Matola Johane Zonjo Sérgio Padeiro

GABINETE DE ESTUDOS DA PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA

COMUNICAÇÕES DOS SEMINÁRIOS DA PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA

2013

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Comunicações dos Seminários da Presidência da RepúblicaArlete MatolaArlete Matola, Johane Zonjo e Sérgio PadeiroGabinete de Estudos da Presidência da RepúblicaArlete Matola e Johane Zonjo Marlene Magaia Jerónimo Nhamunze Elídio Tembe, Ezidório Armando Ribeiro, Eulálio Lucas Monteiro, Fernando Timane, Armando Munguambe Gabinete de Imprensa da Presidência da RepúblicaCarlos TchabanaTipografia Globo, Lda1000 exemplaresMaputo, Novembro de 2013

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O Gabinete de Estudos agradece:

Aos participantes dos debates

Ao Gabinete de Imprensa da Presidência da República

Ao Gabinete do Protocolo do Estado

À Direcção de Administração e Finanças da Presidência da República

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Índice

SOBRE OS AUTORES DAS COMUNICAÇÕES DA COLECTÂNEA..............................1

NOTA DO EDITOR..................................................................................................................3

A INCLUSÃO FINANCEIRA COMO UM DOS MECANISMOS PARA A PROMOÇÃO

DO DESENVOLVIMENTO DO NOSSO PAÍS

Sua Excelência, Armando Emílio Guebuza.......................................................................................5

O PAPEL DAS CONFISSÕES RELIGIOSAS NO DESENVOLVIMENTO NACIONAL

Zaqueu Silva Ranchaze...................................................................................................................8

OS DESAFIOS PARA A CONSOLIDAÇÃO DO SISTEMA DE FINANÇAS DE

DESENVOLVIMENTO

Francisco António Souto.................................................................................................................40

O DESAFIO DA PRESERVAÇÃO DAS CONQUISTAS DA INDEPENDÊNCIA

NACIONAL

Frederico Benedito Congolo............................................................................................................61

A PROMOÇÃO DO DEBATE COMO PLATAFORMA PARA A BUSCA DE

CONTRIBUIÇÕES PARA UM MOÇAMBIQUE SEM POBREZA

Sua Excelência, Armando Emílio Guebuza...................................................................................147

OS DESAFIOS DE FINANCIAMENTO PARA O DESENVOLVIMENTO

ECONÓMICO DE MOÇAMBIQUE

Anabela Chambuca Pinho.............................................................................................................87

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SOBRE OS AUTORES DAS COMUNICAÇÕES DA COLECTÂNEA

Zaqueu Silva Ranchaze: É Licenciado em Teologia e Mestrado em Paz e Governação, com especialização na dinâmica da Sociedade Civil, pela Africa University do Zimbabwe. Fez o Curso de Teologia no Seminário Unido de Ricatla. Foi Tesoureiro Geral da TOTAL Moçambique. Clérigo da Igreja Metodista Unida desde 1990, é Porta-Voz da Academia Cristã de Moçambique e Presidente da Comissão Episcopal da Conferência Central de África. Actualmente assume ainda as funções de Chefe da Planificação e Cooperação no Instituto Superior das Relações Internacionais, onde é igualmente docente da cadeira de Conflitos e Técnicas de Negociação.

Francisco António Souto: É Licenciado em Economia pela UEM. Durante a sua vida universitária como estudante, tomou parte activa nos movimentos estudantis, tendo sido eleito em 1973 membro da Direcção da Associação Académica de Moçambique. Em 1974, após o 25 de Abril, e juntamente com outros jovens estudantes, interrompe os estudos universitários e participa no movimento de ocupação das redacções dos principais órgãos de informação, colaborando activamente na sua descolonização e apoio à independência. Em Agosto de 1974, António Souto começa a trabalhar como repórter do Jornal Notícias, tendo entre 1977 e 1981 exercido as funções de Chefe de Redacção daquele matutino. Em 1983 edita o primeiro suplemento económico do jornal Notícias pós independência. Em 1984 começa a trabalhar como consultor da União Geral das Cooperativas e em 1986 é contratado para Assessor de Assuntos de Desenvolvimento Socio-económico da Representação da Fundação Friedrich Ebert (FFE) em Moçambique. Em 1987 colabora na gestão do projecto da FFE, designado Gabinete de Apoio à Pequena Indústria (GAPI). Em 1989 dirige o processo de conversão daquele Gabinete numa empresa moçambicana, a GAPI, Lda maioritariamente participada pelo então Banco Popular de Desenvolvimento. Desde 1990 encontra-se a dirigir a GAPI. Em 1991 frequentou um “Programa de Gestão Avançada” em Oxford.

Frederico Benedito Congolo: É Licenciado em Relações Internacionais e Diplomacia pelo Instituto Superior de Relações Internacionais. Obteve o grau de Mestre com distinção em Política Internacional, na especialidade de Relações Internacionais Contemporâneas, pela Universidade de Jilin, na República Popular da China. Já foi jornalista, apresentador de televisão e Editor de Política Internacional da STV e do Jornal 'O País', respectivamente. Actualmente é Vice-Presidente do Conselho Fiscal do Conselho Nacional da Juventude (CNJ), docente e investigador do Instituto Superior de Relações Internacionais onde lecciona a Cadeira de Estudos Asiáticos no Curso de Relações

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Internacionais e Diplomacia e desempenha ainda as funções de Chefe do Departamento de Extensão e Serviços à Comunidade.

Anabela Chambuca Pinho: Licenciada em Economia pela Universidade de Coimbra em Portugal (1995-2000), tendo feito posteriormente um estágio na Bolsa de Valores de Lisboa e Porto, actual Euronext Lisbon (2001-2002). Desde 2002 passou a integrar os quadros do Ministério das Finanças (Moçambique), tendo desde então adquirido experiência em gestão da dívida pública. De 2005 a 2010 assumiu a Chefia do Departamento da Dívida Pública. De 2010 a 2012 exerceu as funções de Directora Nacional Adjunta do Orçamento, tendo coordenado a área de análises e previsões orçamentais. Actualmente desempenha as funções de Presidente do Conselho de Administração da Bolsa de Valores de Moçambique (BVM) desde Abril de 2012.

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NOTA DO EDITOR

Com uma composição temática diversificada, a presente

brochura abarca análises e reflexões em quatro áreas que, tal

como as outras, contribuem para o desenvolvimento do

nosso País, nomeadamente: o papel das confissões

religiosas, finanças para o desenvolvimento; a preservação

das conquistas da independência nacional e o do

financiamento económico para o desenvolvimento. Dessa

forma, esperamos continuar a estimular novas pesquisas e

discussões em torno de diversas temáticas que versam sobre

diversos aspectos da vida nacional.

Os artigos constantes neste número, resultam de calorosos debates que tiveram lugar na Presidência da República. Essas comunicações marcam apenas o início de uma discussão sobre diferentes temas que certamente irá prosseguir nos mais diversos meios e segmentos da sociedade moçambicana, numa busca incessante de respostas para os desafios que o desenvolvimento impõe aos moçambicanos.

A comunicação de Zaqueu Silva Ranchaze, intitulada O papel das confissões religiosas no desenvolvimento nacional, abre o conjunto das comunicações e analisa o percurso e o papel das confissões religiosas como agentes de promoção de paz em Moçambique. O artigo promove uma reflexão em torno do papel das confissões religiosas nas mais diversas vertentes do desenvolvimento nacional moçambicano, descrevendo o seu envolvimento no processo político e social, numa perspectiva histórica. Neste sentido, Ranchaze apresenta um conjunto de desafios a serem tomadas em consideração pelo Estado e confissões religiosas.

O segundo texto, Os desafios para a consolidação do sistema de finanças de desenvolvimento, é uma análise da autoria de Francisco António Souto em torno da contribuição das finanças para o desenvolvimento como parte da estratégia de desenvolvimento socio-económico que o Governo moçambicano deve

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adoptar com vista a promover o desenvolvimento inclusivo e inclusão financeira, para assegurar o crescimento de uma classe média nacional, com raízes empresariais e fortemente implantada nas zonas rurais e peri-urbanas. Nesse exercício, António Souto mostra o historial das instituições financeiras de desenvolvimento, a ligação com o desenvolvimento inclusivo em Moçambique e o crescimento da classe média e termina apresentando um conjunto de desafios que ainda existem no sistema financeiro.

A comunicação seguinte é de Frederico Benedito Congolo cuja discussão é sobre como resolver os desafios contemporâneos de Moçambique, sem perigar as conquistas da Independência Nacional a médio e longo prazo. Assim, através do artigo O desafio da preservação das conquistas da Independência Nacional, Congolo recorre a um arcabouço teórico para analisar essa realidade moçambicana num percurso histórico que parte das experiências vividas no período colonial até a actualidade. Nessa viagem, Congolo identifica as conquistas dos moçambicanos e a cada um deles apresenta os respectivos desafios.

O artigo da Anabela Chambuca Pinho, com o título Os desafios de financiamento para o desenvolvimento económico de Moçambique, encerra a presente colectânea. Trata-se de uma comunicação que examina os desafios do financiamento económico no geral, mas explora com maior profundidade a experiência da Bolsa de Valores de Moçambique.

A todos, desejamos uma boa leitura!

Maputo, Novembro de 2013

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A INCLUSÃO FINANCEIRA COMO UM DOS MECANISMOS PARA A PROMOÇÃO DO DESENVOLVIMENTO DO NOSSO PAÍS

Comunicação apresentada por Sua Excelência, Armando Emílio Guebuza, Presidente da República de Moçambique, por ocasião da abertura do Ciclo dos Seminários do ano de 2013 organizados pelo Gabinete de Estudos da

Presidência da República

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Senhores Membros do Conselho de Ministros,Distintos Painelistas,Caros Convidados,Minhas Senhoras e Meus Senhores,

Em primeiro lugar endereçamos as nossas calorosas saudações a todos os convidados que nos honraram com sua presença para em conjunto reflectirmos sobre a temática tão importante e actual como é: o Desafio da Consolidação do Sistema de Finanças para o Desenvolvimento em Moçambique. […]

Estes debates tornaram-se num dos momentos de aprendizagem, reflexão e partilha conjunta de conhecimentos e ideias, com objectivo de contribuir na melhoria do desenho e implementação das nossas políticas públicas. Com efeito, a vossa presença constitui para nós testemunho do vosso interesse em contribuir com vossos saberes e experiências para o enriquecimento da nossa visão e da nossa actuação, no quadro do mandato que nos é atribuído. É, igualmente, sinal inequívoco de que cada um de nós assume a sua responsabilidade de dar a sua contribuição na construção deste nosso belo Moçambique. O movimento solidário interno a favor dos nossos compatriotas que estão a passar por dificuldades impostas pelas calamidades naturais e mais um testemunho deste assumir de responsabilidade. Por isso, saudamos a todos que têm estado a contribuir em acções de apoio e solidariedade para com esses nossos irmãos.

Queremos, pois, deixar aqui, uma palavra de gratidão aos painelistas pelo seu empenho na produção do documento que dentro de momentos iremos debater.

Minhas Senhoras e Meus Senhores,

Ao falarmos das finanças para o desenvolvimento é necessário termos em conta que elas encerram em si alguns conceitos tão importantes como o da inclusão financeira. Este é um conceito mais amplo e abrangente, na medida em que envolve desde a contribuição dos bancos tradicionais até à micro-finanças e todos outros operadores. Por isso, gostaríamos de usar desta oportunidade para partilhar com os presentes algumas convicções nossas:

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· Não restam dúvidas que o sistema financeiro moçambicano está a

evoluir!

· O desafio daqui em diante é o da manutenção do seu crescimento, sua

consolidação e modernização. Precisamos de apoiar e fomentar

outros sectores de actividade económica, além do comércio e do

desenvolvimento das infra-estruturas, sobretudo nas zonas rurais

onde jazem os recursos naturais que ainda que precisam de ser

transformados em riqueza.

Caros compatriotas,

Não nos acomodemos na ainda pequenez da nossa economia, nem tão pouco nas necessidades do nosso quotidiano. Quando numa economia ainda não se foi a lua, como é a nossa, significa que existem oportunidades para desenvolvimento e criatividade nas diferentes actividades económicas, tanto nas zonas urbanas como nas zonas rurais, de atracção de mais investimentos públicos e privados e consequente promoção do aumento da produtividade e do rendimento monetário de muitas famílias, bem assim, o uso de serviços financeiros, uma das formas de inclusão financeira.

Por isso, a consolidação do sistema financeiro vai exigir mais criatividade, tendo sempre presentes os princípios e valores inerentes à actividade financeira que devem ser preservados e com o necessário equilíbrio de interesses das partes envolvidas. Desta forma, acreditamos que estão já criadas as bases ao processo de consolidação da estabilidade económica, oferecendo previsibilidade, segurança, alternativas e conhecimento para que os agentes económicos e a nossa população tomem melhores decisões de investimento e poupança necessárias ao processo de desenvolvimento com justiça social.

A terminar, esperamos que a apresentação da comunicação que se segue suscite calorosos debates e convidamos a participação de todos os presentes. Assim, declaramos aberto o ciclo de seminários organizados pelo Gabinete de Estudos da Presidência da República do ano 2013.

O nosso muito obrigado pela vossa atenção!

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Por: Zaqueu Silva Ranchaze

I. INTRODUÇÃO

1. CONTEXTOpresente trabalho circunscreve-se no âmbito das palestras promovidas pelo Gabinete de Estudos na Presidência da República Ode Moçambique. Numa altura em que as confissões religiosas

jogam um papel muito importante a nível global tanto como agentes para indução de conflitos tal como agentes de promoção da paz. A nível de alguns

O Dr. Zaqueu Silva Ranchaze a fazer a sua intervenção

O PAPEL DAS CONFISSÕES RELIGIOSAS NO DESENVOLVIMENTO NACIONAL

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países árabes a religião está intrinsecamente ligada à governação e não só, é determinante para o desenvolvimento. Em Moçambique, no tempo colonial, as confissões religiões foram determinantes na educação, saúde e na agricultura. Ainda no mesmo período as confissões religiosas tiveram muita influência como vozes dos oprimidos. Nos anos em curso considera-se que as confissões religiosas ganharam uma influência de relevo que devia ser investida em bons préstimos para a própria sociedade em que estão inseridas.

2. PROBLEMA

A nível nacional as confissões religiosas têm ganho uma relevância considerável de forma que possam emitir uma opinião válida para o desenvolvimento do país e não só, contribuir em vários sectores. Este estudo observa o relacionamento entre as confissões religiosas no âmbito do desenvolvimento nacional. Observa-se silêncio e apatia de muitas confissões religiosas no que concerne à unidade e desenvolvimento nacionais.

3. OBJECTIVO DO ESTUDO

O objectivo desta comunicação é:

· Orientar os participantes numa reflexão sobre o papel das confissões religiosas nas mais diversas vertentes do desenvolvimento do país;

· Rever a história das religiões observando o panorama em que se encontram hoje;

· Descrever o envolvimento das confissões religiosas no processo político; e

· Analisar a contribuição das confissões religiosas no desenvolvimento nacional.

4. HIPÓTESE

· O silêncio e a apatia podem advir da percepção errónea de que as confissões religiosas devem ter as atenções viradas para a sua própria manutenção, sem se importar com os problemas sociais que no seu entendimento são responsabilidade do governo. A outra possibilidade do afastamento das confissões religiosas do Governo está relacionada

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com o facto de não quererem misturar o seu ministério com acções puramente seculares.

· As confissões religiosas têm observado atónitas sem se pronunciar a diversos problemas que ocorrem na sociedade. As confissões religiosas, o que aparece como prática é que nem todas elas se propõem a participar de forma activa na agenda nacional, mesmo quando esta não fere as suas doutrinas.

· A intervenção das instituições religiosas em pronunciamentos, participação na educação, saúde, agricultura e da agenda nacional tem um impacto de vulto para o desenvolvimento nacional.

5. METODOLOGIA

A presente comunicação é produto de entrevistas e consulta a algumas entidades relacionadas com as confissões religiosas, incluindo a direcção dos assuntos religiosos e revisão bibliográfica. O outro exercício efectuado nesta comunicação é a contextualização da tese de mestrado sobre o papel da Igreja na construção e manutenção da paz.

Dada a pertinência, característica e actualidade do tema, torna-se preeminente uma abordagem que se confronte com aspectos práticos do dia-a-dia. Naturalmente que o contexto em que este tema é abordado e as experiências partilhadas poderão conduzir à certas propostas como solução de algumas questões.

6. PANORAMA TEÓRICO

Em análise a pirâmide de John Paul Liderach, que afiram que as instituições religiosas encontram se sempre no meio da pirâmide representando assim a classe média, tendo dessa forma possibilidade de influenciar a base e o topo da pirâmide, neste caso representando as massas e a liderança, constatamos que Liderach não teria acedido a informação sobre o relacionamento das confissões religiosas moçambicanas com o governo ao longo dos anos. Este estudo irá provar que as confissões religiosas exercem a sua influência consoante a sua posição e as oportunidades que o governo do dia oferece para interacção.

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7. DEFINIÇÕES RELEVANTES

Ao enveredar nesta reflexão importa definir alguns termos para estabelecer um ponto de partida comum. Não podendo definir todos os termos que serão usados neste trabalho serão seleccionados os que aparentam ser relevantes para o efeito.

a. ReligiãoDefinir a religião foi sempre um grande desafio, dada a sua complexidade. Várias definições apresentadas tendem a ser muito específicas de modo a deixarem de fora muitas religiões. Outras têm sido muito amplas e abarcantes que chegam a perder a essência de uma definição. Émile Durkheim, no seu livro “the elementary forms of the religious life”, define religião como “sistema de crenças e práticas relativas ao sagrado”. Edward Burnett Tylor, porém define a religião de uma forma muito simples como “crença em seres espirituais”. Estas definições sugerem que as confissões religiosas sejam agrupadas no mesmo trem, como instituições que crêem em seres espirituais, instituições com um sistema de crenças e práticas relativas ao sagrado ou, organizações que preconizam os princípios religiosos incluindo a busca de resposta aos problemas sociais.

Karl Marx, na sua visão materialista define a religião como o ópio do povo. Mostra desta forma que a religião não é mais do que a busca de resposta a problemas sociais de difícil solução. Dawson, citado por Samuel Huntington, considera as grandes religiões como as fundações em que as grandes

Top Level

Middle Level

Grassroots Level

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civilizações do mundo estão. Abre-nos um bom horizonte para uma reflexão sobre o papel das confissões religiosas no desenvolvimento do país.

b. DesenvolvimentoDe vários conceitos de desenvolvimento interessa para este estudo a definição de António Francisco sobre o desenvolvimento Comunitário: “Desenvolvimento significa crescimento económico, acompanhado do progresso tecnológico e institucional definido, controlado e dirigido pela população, a serviço dessa população, para o seu bem-estar”.

c. O Estado LaicoA palavra Laico provém do Grego “λαικος” que quer dizer povo. O termo refere-se a vida secular que não compactua com os preceitos religiosos. Actualmente o termo refere-se a pessoas activas na igreja mas que não exercem funções clericais. A evolução do termo em relação ao Estado refere-se a não interferência do Estado em questões religiosas. O corolário disso é a não intervenção das instituições religiosas em princípios do Estado.

A Constituição da República no seu artigo décimo segundo, parágrafo primeiro até o segundo, preceitua Moçambique como um Estado Laico, em que “A laicidade assenta na separação entre o Estado e as Confissões Religiosas”. Isto implica que as instituições religiosas estão livres de exercer as suas actividades desde que não entrem em contradição com os princípios preconizados pela Constituição da República. O Estado não se submete a qualquer vicissitude religiosa, mas sim as instituições religiosas estão sujeitas a não se insurgir, transgredir ou ferir nenhuma lei do Estado Moçambicano.

2

Huntington, P. S., The Clash of Civilizations and the Remaking of World Order, Free Press, London, 2002, Pg47 Francisco, António A., Desenvolvimento Comunitário em Moçambique: Contribuição Para Sua Compreen- são Crítica, Editora BS, Namacurra, 2010.

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d. PazO conceito Bíblico de paz é baseado no amor, harmonia dentro de uma relação convencional. A Bíblia antevê paz como condição perfeita onde o meio ambiente e a humanidade estão em harmonia, onde as leis ecológicas obedecem as leis divinas da coexistência. Neste estudo porém, a paz será muito mais do que uma visão; será guiada pela dinâmica social conforme o exposto por Johan Galtung. De acordo com este pensador, a paz pode ser positiva ou negativa. “A paz negativa é ausência de violência de todos os tipos. A paz positiva consiste na benevolência verbal e física, boa para o corpo, mente e o espírito próprios e dos demais, observando tudo, necessidades básicas, sobrevivência, bem-estar, liberdade e identidade. “Negative peace is the absence of violence of all kinds. Direct positive peace would consist of verbal and physical kindness, good to the body, mind and spirit of self and others addressed to all basic needs, survival, well-being, freedom and identity”.

8. ESTRUTURA DO TRABALHO

Posto isto, e em forma de encerrar esta breve introdução que compõe o primeiro capítulo, apraz-me apresentar a estrutura subsequente desta comunicação concernente ao Papel das Confissões Religiosas no Desenvolvimento Nacional, através de uma breve dissertação sobre:

· O Fenómeno Religioso em Moçambique – Segundo (II) capítulo que

se debruça sobre a contextualização histórica norteada por uma síntese do processo de estabelecimento das confissões religiosas em Moçambique;

· A Contribuição das Confissões Religiosas no Processo Político – Este tópico representa o terceiro (III) capítulo que faz uma análise do papel desempenhado pelas confissões religiosas na consolidação da unidade nacional, observando contribuição destas no processo da Luta de Libertação Nacional, no processo de busca e consolidação da Paz em Moçambique até ao actual fortalecimento do processo democrático nacional;

4

Isaiah 65:25, Holy Bible: Today's English Version, American Bible Society, New York, 1976.Galtung, J., Peace by Peaceful Means: Peace and Conflict, Development and Civilization, International Peace Research Institute, Oslo, 1996, Pg 31-32.

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· A Contribuição Económica das Confissões Religiosas – O quarto (IV) capítulo faz uma análise da prestação económica das confissões religiosas abarcando a relação entre os preceitos religiosos e a cultura de trabalho; o envolvimento na luta contra a pobreza, e a responsabilidade social;

· Os Desafios das Confissões Religiosas em Moçambique – Este é o quinto (V) e último capítulo que apresenta os desafios e a conclusão. Aborda a Consolidação da Unidade Nacional; a interacção das confissões Religiosas com o Estado Moçambicano, a manutenção e a consolidação da paz, condição intrínseca para o desenvolvimento nacional.

Dr. Abdul Carimo Sau a intervir no seminário sobre as religiões

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II. O FENÓMENO RELIGIOSO EM MOÇAMBIQUE

1. AS CONFISSÕES RELIGIOSAS EM MOÇAMBIQUE

Moçambique é constituído por um mosaico religioso complexo onde encontramos confissões Cristãs, Ortodoxas, Islâmicas, Tradicionais Africanas, Testemunhas de Jeová, Judaica, Aga Khan, Hindú e Bahais. Estas três últimas constituem uma minoria. A religião cristã subdivide-se em Católica, Protestante, evangélicos, apostólica, pentecostais e Igrejas Independentes. Das confissões religiosas mencionadas importa mencionar que os Católicos, Protestantes, ortodoxos, judeus e Islâmicos, são todas religiões abraâmicas pois derivam do tronco comum que é Abraão. Com excepção a Religião Tradicional Africana, que é a religião dos nativos Moçambicanos, todas outras vêem de outros países e em muitos casos de outros continentes

Os missionários, ao chegarem a África consideraram os nativos como ateus, ou

pessoas sem religião. Mais tardes viriam a considerá-las idólatras, pagãs,

pessoas adorando demiurgos ou melhor um deus não supremo. Todavia, os

africanos sempre adoraram a Deus de uma forma diferente a que os

missionários estavam habituados. A Religião Tradicional Africana consiste

basicamente na adoração a Deus através da invocação dos antepassados. Os

africanos advogam que não são dignos de fazer uma prece directa ao Deus

Supremo sem que tenham um intermediário. Desta forma a hierarquia

terrena ajuda-lhes na ministração dos seus cultos e nas petições a fazer ao Deus

omnisciente.

A Religião Tradicional, além da crença da imortalidade da alma, advoga que o

indivíduo é protegido por uma nuvem de seus antepassados. E em forma de

gratidão os africanos realizam uma cerimónia fazendo ofertas a Deus o criador

através destes. Muitos moçambicanos mantêm esta crença ainda que sejam

considerados convertidos, membros afiliados a várias denominações cristãs,

consideradas modernas.

a. A Religião Tradicional Africana

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b. A Igreja Católica Romana em MoçambiqueA Igreja Católica é uma instituição religiosa com princípios rígidos, e com uma estrutura bem organizada sob a liderança do Sumo Pontífice, o Santo Padre. A Igreja Católica Romana, da qual deriva a sucessão apostólica de outras denominações cristãs, foi estabelecida em Moçambique pelos Portugueses no século XVI. Todavia só no século XIX é que intensifica a acção sistemática educativa e de evangelização.

c. A Igreja Anglicana em MoçambiqueA Igreja Anglicana em Moçambique é membro da Igreja Anglicana da

Inglaterra. Esta Igreja é resultado da separação com a Igreja Católica Romana

durante o reinado de Henrique VIII. Apesar de ter rituais muito semelhantes

aos da Igreja Católica Romana, ela é considerada protestante por ser resultado

da cisão acima mencionada. A Igreja Anglicana aparece em Moçambique a

mais de 100 anos por via da África do Sul. Em Moçambique a Igreja Anglicana

é composta por duas dioceses, limitadas pelo Rio Zambeze, a Diocese dos

Libombos e a Diocese do Niassa.

Dom Alexandre dos Santos, Cardeal Emérito de Maputo, a intervir no seminário sobre as religiões

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d. As Igrejas Protestantes

e. As Igrejas Independentes ou Igrejas Africanas Independentes

As confissões denominadas protestantes são as que advêm da cisão

protestante realizada no século XVI. Este grupo inclui os Anglicanos,

Metodistas, Presbiterianos, Baptistas, Nazarenos e Congregacionais. As

igrejas protestantes são produtos da reforma da Igreja Católica, algumas são

produtos de ramificações verificadas após a reforma. Muitas destas igrejas

foram implantadas por missionários americanos ingleses, suíços, suecos e

outros. Durante o tempo colonial foram delimitadas para a pregação do

evangelho em determinada áreas ou Distritos de outrora para não perturbar o

trabalho da Igreja do Estado. Ainda no pacote das igrejas protestantes

podemos encontrar as Igrejas evangélicas e pentecostais. As Igrejas

Evangélicas baseiam a sua doutrina, ensinamentos e acção na Bíblia. As Igrejas

Pentecostais, apesar de basearem os seus ensinamentos na Bíblia, elas são mais

lideradas pela acção do Espírito Santo.

Igrejas Independentes apresentam-se como mais uma facção que procura a

unificação da Religião Tradicional Africana e o cristianismo. Esta confissão

religiosa não está bem estruturada como as outras, elas têm uma estrutura

inconsistente sujeita a fragmentações constantes. A sua característica

fundamental é o espiritismo. Essas confissões religiosas são chamadas Igrejas

Independentes, Sionistas ou Igrejas Independentes Africanas. A sua

designação provém do facto de não estarem adstritas as denominações

consignadas missionárias.

No seu exercício, estas igrejas preenchem a lacuna existente na religião cristã

em relação a crença na Religião Tradicional Africana, como nos referimos

anteriormente. O profetismo dessas religiões substitui o espiritismo

inexistente na religião cristã missionária. Deste modo, para além de

responder as necessidades e aspirações espirituais dos nativos, as Igrejas

Independentes são confissões religiosas que primam pela contextualização

africana das igrejas cristãs.

As

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Page 24: Comunicações dos Seminários da Presidência da República, 2013

f. A Comunidade IslâmicasO Islão é uma religião monoteísta que se baseia num livro sagrado o Corão. Em Moçambique existe duas seitas os Sunitas e os Shiitas. Estes últimos estão em número menor na região de Nampula, enquanto os primeiros encontram se em quase todo o País. As maiores organizações que representam a fé Islâmica em Moçambique é o Conselho islâmico, a comunidade Islâmica. Além destas confissões religiosas encontramos a religião Islâmica constituída por três órgãos de renome: Comunidade Maometana, Congresso Islâmico e Conselho Islâmica.

g. Confissões Minoritárias As confissões religiosas minoritárias, são assim consideradas por envolverem um número muito reduzido de membros. Umas porque não são de natureza de conversão, mas sim por nascença, é o caso do judaísmo, outras porque a sua aderência é muito limitada, ou porque acaba de ser implantada no país. Todavia os seus feitos ou impacto não depende da quantidade dos fiéis. Temos encontrado algumas confissões minoritárias a participarem activamente em questões sociais e na assistência de pessoas com necessidade.

A comunidade Hindú em estabeleceu-se em Moçambique a mais de cem anos e está representada em todas as províncias do país. A sua actividade central, tal como a religião Islâmica em Moçambique, é o comércio.

a. Imigração das Igrejas da África do SulNos finais do século 19 os mineiros que se deslocavam às minas da África do

Sul, não só traziam bens e dinheiro mas também importavam alguns valores

culturais, terminologia, forma de vestir e religião. Muitas igrejas foram

importadas da África do Sul. Maior parte das igrejas nativas sul-africanas tem

vestígios da luta contra o apartheid. Daí elas têm canções de libertação e o

espiritismo representa a esperança de uma libertação vindoura. Observe-seque

o facto de a África do Sul apresentar-se como um lugar de prodígio económico

que inspira os mineiros Moçambicanos a importarem tudo quanto eles lá

encontram. Neste contexto encontramos uma imigração das Igrejas

Independentes Africanas da África do Sul em pleno século 21 como ocorreu no

2. A DINÂMICA DAS CONFISSÕES RELIGIOSAS

Comunicações dos Seminários da Presidência da República

18

Page 25: Comunicações dos Seminários da Presidência da República, 2013

século dezanove e vinte.

Naturalmente que, a velocidade com que estas formações entram e se

fragmentam, como já referimos acima, não é de fácil documentação nem

organização. Ao mesmo tempo elas servem de resposta aos problemas que as

comunidades têm a nível espiritual. James Cone e Gayraud Wilmore

sustentam que “As Igrejas Independentes Africanas desenvolveram através de

sua longa história um tipo de culto, organização e comunidade de vida

radicado na cultura africana que toca a vida diária do povo”.

b. Imigração de Igrejas Brasileiras

Nos últimos anos regista-se uma proliferação das igrejas brasileiras em

Moçambique. É certo que a expansão das Igrejas Brasileiras encontra-se

circunscrita nos parâmetros globais. A igreja brasileira expande-se a todos

países possíveis acompanhando a tendência e aspirações comerciais do país em

se firmar como uma referência incontrolável a nível mundial.

Moçambique, sendo um dos países de expressão portuguesa não se escaparia a

este fenómeno. A mais, o fenómeno ocorre a nível cultural do qual a Igreja

aparece apenas como um segmento. Muitos hábitos brasileiros são

transmitidos para os moçambicanos através da televisão. Nisto importa referir

que está inclusa a vertente criminal que é exposta como uma aula para os que

almejam aderir ao crime. A tendência que encontramos no passado com a

chegada dos missionários, o que acontece com as Igrejas independentes de

origem sul-africana, temos muitos obreiros e pastores que inclusive adoptam

uma pronúncia brasileira como forma de serem mais autênticos na

transmissão da palavra. A aderência que estas confissões religiosas revela a

capacidade destas instituições em responder as necessidades e aspirações dos

moçambicanos.

Cone, J. H., & Wilmore, G. S., Teologia Negra, Edições Paulistas, São Paulo, 19866

6

Gabinete de Estudos da Presidência da República 19

Page 26: Comunicações dos Seminários da Presidência da República, 2013

c. Confissões Religiosas Versus Imigração IlegalSegundo algumas investigações feitas em 2010 consta que algumas confissões religiosas, num espírito de irmandade, têm abrigado os religiosos vindos ilegalmente de outros países até que adquiram a documentação necessária para circulação livre no país. Até que ponto uma atitude dessas periga a unidade nacional, a paz e a tranquilidade? Por outro lado os princípios religiosos advogam a protecção do irmão que esteja em sofrimento ou necessidade. Este dilema talvez nos chame a melhor reflexão sobre a nossa atitude no exercício da nossa fé. Tal como a laicidade não implica a transgressão dos preceitos preconizados na constituição, simultaneamente não implica a alteração doutrinária.

d. O Mercado Religioso MoçambicanoUm fenómeno interno concernente a disputa de espaço e recursos humanos é digno de referência. A Igreja Cristã e a fé islâmica acabam disputando de forma pacífica e frenética em simultâneo: Pacifica – porque o fenómeno ocorre num ambiente sem violência, ordeiro; Frenética – Tendo em conta a necessidade que as partes tem de adquirir maior representatividade nas áreas de domínio da outra parte.

Este panorama é estabelecido já nos anos 1800 quando são estabelecidas missões em forma de vedação ao Islamismo para que não ocupe o sul de África. Como corolário estabelece-se também uma forte pressão para islamização do Sul da África. O mesmo acontece com as confissões religiosas cristãs no Norte do país que tendem a estabelecer igrejas e construir templos ainda que os fiéis estejam em número irrisório.

Existem algumas vantagens nesta disputa:

i. O país, laico que é fica com uma pluralidade religiosa em todas as regiões.

ii.Aprimora a coexistência das religiões;

Comunicações dos Seminários da Presidência da República

20

Page 27: Comunicações dos Seminários da Presidência da República, 2013

iii. Tendo em conta que os valores preceituados pelas confissões religiosas em Moçambique são positivas, a ocupação efectiva do país;

iv. As confissões religiosas estão empenhadas na promoção da cultura de paz, como mais tarde veremos;

v. Em termos de convivência e interacção não existe uma separação nítida entre as confissões;

vi. Os líderes das confissões religiosas interagem para a solução de muitos problemas do país; vii. Umas das vantagens que temos é que encontramos no labirinto moçambicano casais em que um é de uma religião e outro doutra.viii. Este é mais um exercício de coexistência pacífica que deve servir para reforçar a unidade nacional.

Algumas pessoas ficam preocupadas com o desenvolvimento das confissões religiosas temendo guerras religiosas. A preocupação é legítima se tomarmos a lógia do pensamento de Huntington em que no futuro as maiores guerras serão de choques das civilizações. A pensar desta é imprescindível o cultivo da coexistência e interacção para não transportar as guerras religiosas existentes nos outros países. A forma como a sociedade moçambicana está organizada mitiga esta possibilidade.

Do ponto de vista da dinâmica das religiões observamos quatro assuntos candentes:

· Enquanto a religião cristã tende a subir para ocupar os espaços no norte, enquanto a religião Muçulmana desce para ocupar o sul. Moçambique.

· As Igrejas brasileiras já tendem a ocupar o outro país. Algumas Igrejas Independentes movimento executam o movimento na África do Sul e Zimbabwe a Moçambique

Com alguma ousadia pode-se afirmar que a religião em Moçambique pode ser tomada como parte da vida dos moçambicanos e não a razão da

Gabinete de Estudos da Presidência da República 21

Page 28: Comunicações dos Seminários da Presidência da República, 2013

vida. Isto favorece que as diversas confissões religiosas possam coexistir no

tempo e no espaço.

1. As Confissões Religiosas no Processo PolíticoAs confissões religiosas participaram no processo político de várias formas.

Para melhor análise da participação das confissões religiosas é imprescindível

recorrer ao processo histórico como um bem comum a que não podemos

fugir embora tenha as suas sinuosidades. Sinuosidades que dada outra

oportunidade refazer a história, lograríamos fazermo-la de outra forma.

Todavia, não podendo rectificar a história, antes dela procuramos perceber o

presente e perspectivar o futuro, julgando-a com as lentes contemporâneas na

realidade actual, observando a realidade em que os factos ocorrem.

Eduardo Mondlane no seu livro, Lutar Por Moçambique – descreve a relação entre o governo colonial e a Igreja Católica Romana. Macamo divide a relação da Igreja e o Governo em duas fases: A primeira de 1975 a 1982 e a segunda de 1983 a 1995. Contudo podemos discernir quatro fases que mostram a participação da Igreja no processo político:

a. As Confissões Religiosas no Período Colonial: 1900 a 1975A chegada da religião cristã a Moçambique é basicamente aludida pela combinação do colonialismo e a evangelização por um lado. Por outro lado representada pela instalação da Igreja protestante.

Neste período de 1900 a 1975 a Igreja Católica Romana foi considerada a Igreja do Estado, pois que estava em parceria com o Governo Português. De acordo com Mondlane, a Igreja Católica Romana estava envolvida com o Governo

Português que em 4 Maio 1940 o Governo Português assinou um acordo com o Vaticano, e em 1941 outro acordo missionário foi assinado. Consignado a estes dois acordos o Governo Português prontificou-se financiar o programa

III. A CONTRIBUIÇÃO DAS CONFISSÕES RELIGIOSAS NO PROCESSO POLÍTICO

Macamo, E., War, Adjustment & Civil Society In Mozambique, In Sachikonye, L., Democracy, Civil Society and State: Social Movements In South Africa, SAPES, Harare, 1995, Pg 104 Mondlane, E., Lutar Por Moçambique, Centro de Estudos Africanos, Maputo, 1995, pg 62

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Comunicações dos Seminários da Presidência da República

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Page 29: Comunicações dos Seminários da Presidência da República, 2013

missionário da Igreja Católica Romana, e recusar a evangelização por qualquer outra denominação, desencorajando assim a presença de missionários estrangeiros (não portugueses).

De acordo com Hall e Young os referidos acordos missionários afirma que os Bispos Diocesanos eram parceiros oficiais com os governadores em autoridade e salário. Através destes acordos a Igreja Católica Romana era responsável em ajudar os portugueses na ocupação educando os nativos a obedecer aos portugueses como convém ao bom cristão. Nesta Altura encontramos uma bifurcação, em que alguns padres cooperaram com a PIDE enquanto outros cooperavam como movimento de Libertação.

A Igreja protestante foi sufocada neste momento pelo governo português, cada denominação era obrigada a pregar apenas numa determinada área ou distrito de outrora.

A Igreja Protestante nessa altura podia em parte representar interesses das potências que a quando da conferência de Berlim não foram contemplados no domínio de Moçambique. Talvez por esta razão apresentam se posteriormente como veementes na conscientização dos nativos no seu papel de libertadores dos oprimidos. Ou será simplesmente pelo mandato da cruz, onde a redenção do homem implica uma libertação completa (o ser espiritual e o físico). Daí a construção de hospitais, para a cura, a escola para a instrução e educação e incluindo escolas de artes e ofícios. Resultante desse esforço foi a formação de alguns líderes da Frelimo.

De facto a conscientização dos nativos é de mais-valia para vantagens para os países de onde vinham os missionários. Se os nativos se revoltassem contra os colonialistas portugueses, os países de que vinham os missionários tinham possibilidade de explorarem os recursos.

9

Hall, M., & Young, T., Confronting Leviathan: Mozambique Since Independence, C. Hurst & Co. (publishers) Ltd., London, 1997 Pg 9.Hall, T., and Young, T., Confronting Leviathan: Mozambique Since Independence, C. Hurst & Co. (Publishers) Ltd., London, 1997, Pg 9.

9

10

10

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Page 30: Comunicações dos Seminários da Presidência da República, 2013

b. Participação no Processo de libertação NacionalAs confissões religiosas mediante as circunstâncias participaram directa ou

indirectamente na luta de libertação nacional. Alguns pioneiros da Luta de

libertação tiveram auxílio de dirigentes religiosos para saírem fora do país.

Importa salientar a colaboração do Bispo Dodge que acabou sendo

considerada pessoa non grata em Moçambique, na então Rodésia do Sul e

Norte por assistir os que abandonavam o país para a Tanzânia. Importa

também salientar a contribuição do pastor Zedequias Manganhela que perdeu

a sua vida por apoiar o movimento de libertação de Moçambique. As Igrejas

Protestantes, através dos seus missionários preocuparam se em trazer a mente

dos Moçambicanos, especialmente durante o processo de ensino e

aprendizagem. A consciência do nacionalismo, da libertação do jugo da

opressão, foi feita através de dramas e aplicação das várias estórias bíblicas.

15

PG

.

RCC

PC

Um dos participantes a intervir no seminário sobre as religiões

Comunicações dos Seminários da Presidência da República

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Page 31: Comunicações dos Seminários da Presidência da República, 2013

c. O Conflito Ideológico: 1975 a 1983No segundo período regista – se a rejeição de todas as denominações. é de 1975 a 1983, quando a igreja foi rejeitada depois da Independência. Duas razões podiam estar em curso: A implantação da ideologia marxista podia requerer limpar todas outras para implantar a nova;

ii. Não houve necessidade d fazer distinção entre as igrejas foram tomadas todas como colaboradoras ou anti-revolucionárias.Foi neste período que as confissões religiosas, todas foram marginalizadas, as Igrejas foram fechadas. Esta medida foi onerosa para a recém máquina governativa, pois devia arcar com as despesas, a manutenção das instalações, e procura de recursos humanos para manter os hospitais escolas em pleno funcionamento.

d. A Busca da Paz: 1984 - 1992O terceiro período, de 1984 a 1992, é de maior interacção entre a Igreja e o Estado. De acordo com Macamo, neste período a igreja conquistou muita confiança do governo e do povo em geral por liderar de forma brilhante o processo de paz. A mais, em 1984, o governo precisava de fundos para suportar as diversas instituições a saber hospitais, escolas que tinham sido nacionalizadas em 1975. Assim o Governo percebe que a Igreja Católica e a igreja protestante neste contexto o CCM, tinham capacidade de mobilizar fundos e pessoal para administrar as instituições referidas e devolveram algumas instalações as igrejas.

Macamo, E., War, Adjustment & Civil Society In Mozambique, In Sachikonye, L., Democracy, Civil Society and State: Social Movements In South Africa, SAPES, Harare, 1995, Pg 104

11

11

PG

.

RCC

FG

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Page 32: Comunicações dos Seminários da Presidência da República, 2013

i. Intervenção no Processo de PazA Igreja Católica Romana e o CCM cooperaram para dar fim a guerra. A igreja começou por persuadir o governo para enveredar pelo diálogo. Em 1987 a Igreja Católica emitiu uma carta pastoral intitulada “A paz que o povo quer”.

Dom Jaime, o Bispo da Beira tinha sido estudante em Roma sob a Comunidade de Santo Egídio, então ele teve um papel importante na facilitação do diálogo. Ele começou o processo de criar uma amizade entre o Governo Moçambicano e a Comunidade de Santo Egídio. Mais ainda pesou o facto de ele angariar a confiança do líder da Renamo.

De facto para uma tarefa árdua como esta, de por as partes em diálogo, só a combinação da Igreja católica Romana e o CCM é que se podia fazer valer. Samora Machel o então Presidente da República, acabou aceitando permitindo em 187 que o CCM contactasse a Renamo.

A primeira delegação do CCM para USA para procurar os grandes apoiantes da Renamo era composta por 7 elementos do CCM e um bispo da RCC. Aparentemente eles iam para participar na conferencia crista mas o seu grande objectivo era contactar Artur Lambo Vilanculos. Em Abril de 1988 Vilanculos pede o CCM para ir a Nairobi para encontrar-se com Betuel Kiplagat. Isto foi seguido por uma serie de reuniões com membros séniores da delegação da Renamo (Raul Domingos e Vicente Zacarias Ululu). Em Agosto do mesmo ano a delegação do CCM encontra-se com Afonso Dhlakama e persuade-lhe a procurar a paz como filho de Deus. Eventualmente por razões óbvias foi decidido que a comunidade de Santo Egídio tomaria a liderança do processo de Paz. O Acordo Geral de Paz (AGP) foi assinado a 4 de Outubro de 1992 em Roma sob a mediação de Mario Raffaelli, Jaime Gonçalves, Andrea Riccardi e Matteo Zuppi da Comunidade de Santo Egídio.

Ibid, Pg. 1914

12

Chan, S., and Venancio, M., War and Peace in Mozambique, Macmillan Press Ltd, London, 1998 Pg. 1912

Sengulane D. S., Vitória Sem Vencidos, Maputo, 1994, Pg. 1313

13

14

Accord, The Mozambican Peaces Process in Perspective, Conciliation Resources, London, 1998, Pg 4015

15

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Page 33: Comunicações dos Seminários da Presidência da República, 2013

ii. PPP - Preparação do Povo Para Paz Em 1991 o CCM já previa um problema porvir, porque muita gente não estava preparada para a paz que estava a ser negociado. Assim o CCM lançou a campanha de Preparação do Povo para a Paz (PPP). A situação era muito complexa devido vários factores - ora vejamos:

(1) Durante a guerra muita gente havia abandonado as suas casas outros tinham ate abandonado o país para se refugiarem noutro país.

(2) Note-se que estas pessoas perderam os seus bens e a sua esperança de regressar param as suas terras.

(3) A guerra havia criado muito trauma nas pessoas. (4) Acima de tudo isso, o ódio era a característica fundamental

“algumas das pessoas que destruíram as nossas casas conhecemo-las”

(5) Ao longo do país muitas famílias e comunidades estavam divididas entre as partes beligerantes.

a. A Consolidação da PazO quarto período é de 1992 até então. Neste período realçamos as primeiras eleições. As três eleições depois da Guerra dos 16 anos foram lideradas por indivíduos muito relacionadas a Igreja:

· Em 1994, Professor Dr. Brazão Mazula antigo seminarista da Igreja Católica e antigo reitor da Universidade Eduardo Mondlane.

· Em 1999, o Rev. Jamisse Uilson Taimo da Pastor da Igreja Metodista Unida dirigiu as eleições.

· Em 2004, o Rev. Arão Litsuri, Pastor da igreja Congregacional de Moçambique dirigiu a Comissão Nacional de Eleições. Além destes sempre foram integrados vários religiosos em muitas comissões nacionais de eleições a vários níveis. Isto mostrou claramente a confianças que foi depositada pelas partes (Frelimo e Renamo).

Os quatro estágios representam as diferentes facetas de relacionamento entre o

Sengulane, D. S., Vitória Sem Vencidos, Maputo, 1994 Pg 35DeWolf, S., Unpublished Report of the Regional Coordinator of Christian Care Mutare, On the Peace and Reconciliation Workshop at Tongogara Camp, July 22 to August I 1992 Pg5

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Page 34: Comunicações dos Seminários da Presidência da República, 2013

governo e a igreja mediante a situação peculiar e global.

Depois do Acordo Geral de Paz (AGP) as comunidades tomaram iniciativas positivas envolvendo valores tradicionais e culturais para reintegração. Um dos aspectos que foi resgatado é o da ética e seria da própria filosofia africana “muthu i munthu wa bantu” significando que a existência de alguém afirma-se pela existência de outras pessoas. Permitindo assim o processo de reintegração. De acordo com Andrew Rigby, “traditional healers played a significant role in helping the people and ex-combatants be released from the traumatic past; they used rituals aimed at appeasing the spirits of those killed in the conflict” os médicos tradicionais jogaram um papel importante ajudando os combatentes envolvidos na Guerra dos 16 anos a libertar-se do trauma, ministrando cerimónias de purificação para se livrarem da perseguição espiritual das pessoas que mataram durante a guerra. Assim, os que foram envolvidos seriamente na guerra, cometendo actos abomináveis sentiam-se aliviados e voltaram a ser consideradas pessoas dignas na sociedade. A Igreja pautou na pregação do perdão, reconciliação e amor para a construção de uma sociedade melhor.

Além da cura espiritual, as pessoas continuavam a esconder varias armas como a espinha dorsal da sua segurança. Este facto remeteu as comunidades a continuarem com medo. O Relatório Anual do CCM de 2004 afirma que a proliferação das armas não ajudou as pessoas a confiarem plenamente no AGP, pois o processo de desarmamento dirigido pela ONUMOZ (Operação das Nações Unidas para Moçambique - United Nations Operation for Mozambique) não abarcou todas as armas envolvidas na Guerra. Nesse contexto, o CCM lançou o projecto de Transformação de Armas em Enxadas – TAE.

i TAE - Transformação de Armas em Enxadas No âmbito do programa de Preparação do Povo Para Paz, em Nampula uma senhora perguntou: “O que iremos fazer com as armas que estão espalhadas em todo o país?” O Bispo João Somane Machado da Igreja Metodista Unida e o Bispo Dom Dinis Sengulane da Igreja Anglicana arreliaram-se para depois

18

18 Rigby, A., Civil Society Reconciliation and Conflict Transformation in Post War Africa, In, Furley, O., & May, R., Ending Africa's Wars: Progressing to Peace, Ashgate, Hampshire, 2006, Pg 52

19

19TAE Repot to CCM 2004 Annual Conference, Maputo 2004 Pg 120

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encontrar a resposta na Bíblia em Isaías 2:4. “E estes converterão as suas espadas em enxadões, e as lanças em foices…”.

De acordo com o relatório de 2004 da Conferencia Anual do CCM, a UNOMOZ fez o seu trabalho condignamente, chegando a recolher 200,000 de armas. Mas esta recolha foi feita em lugares declarados. Havia porém armas espalhadas a saber:

· Armas e munições escondidas por parte da Renamo;

· Armas que tinham sido distribuídas a milicianos para defender as comunidades.

É neste contexto que a 20 de Outubro de 1995 um ano após as primeiras eleições democráticas o CCM lança o Projecto TAE com os seguintes objectivos:

(1) Providenciar educação cívica aos Moçambicanos para participação na construção da paz;(2) Recolher e destruir armas que sobraram da recolha oficial sobrando para as mãos ilícitas. Prevenir o uso de armas como forma de resolução de conflitos.

(3) Dar incentivos (bicicletas, maquinas de costura, enxadas tractores material escolar) as pessoas para o projecto entregando ou informando sobre armas escondidas.

(4) Transformação de partes das armas destruídas em instrumentos úteis para uma vida pacífica, cadeiras, mesas, monumentos, obras de artes, cruzes e símbolos ecuménicos.

(5) Fazer um seguimento dos colaboradores e beneficiários do projecto para avaliar o nível de confiança que o colaborador tem na comunidade.

Para o efeito foi necessária uma grande credibilidade a nível dos partidos políticos, e o Governo colaborou dando todo apoio necessário e plena responsabilidade ao CCM. O projecto abarcou todas as províncias do país. As

20

20Almeida, João Ferreira, A Bíblia Sagrada, Sociedade Bíblica, Lisboa, Pg. 679;

21TAE - Annual Report 2003, in Christian Council of Mozambique, Report to the 56 Ordinary Session of the Annual Conference, Maputo, 2004 Pg 120

22Ibid

21

22

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Page 36: Comunicações dos Seminários da Presidência da República, 2013

Nações Unidas aprovaram o projecto, replicando em outros países; fazendo uma exposição na sua sede em Nova Iorque e recebeu um premio a nível internacional.

ii. A campanha “Escolha a vida” do CCMA comissão de Paz e Reconciliação do CCM lançou o projecto “escolha a vida”. O projecto “e baseado na santificação da vida humana por ser criatura divina. O objectivo deste projecto é o desarmamento das mentes.

a. O diálogo inter-religioso como forma de consolidação da PazMoçambique é um estado laico onde a democracia e o diálogo entre as

religiões acontece. Muitas confissões religiosas vêm do além-mar com

excepção a religião tradicional africana. Por sinal os laços das confissões

congéneres-mãe, continuam muito fortes ate certo ponto incluem uma serie

de financiamentos e dependência. Estas confissões têm agendas específicas

que podem ser em prol ou contra a coexistência com outras religiões. Isto

requer uma ginástica apurada para não ferir a coexistência das confissões

religiosas em Moçambique.

2. Observatório EleitoralO Observatório Eleitoral é mais um encontro de trabalho, um encontro para interacção, convívio dos noivos. Por outro lado o Observatório Eleitoral constitui-se como um ponto de legitimação do trabalho que as confissões religiosas fazem no que concerne a democracia.

3. A Paz Condição Fundamental Para o DesenvolvimentoA família Moçambicana, segundo estudo efectuada por Ranchaze em 2008, tomando o pensamento John Galtung, Moçambique encontra se ainda a desfrutar uma paz negativa. Nesse estudo a Igreja encontra-se com um papel importante na construção e manutenção da paz. O desenfrear dos esforços pelos dirigentes das confissões religiosos não é uma possibilidade que se oferece mas sim um imperioso. Mantendo os mesmos princípios, de promoção do diálogo, justiça, imparcialidade As confissões religiosas devem

Transforming Arms into Ploughshares, 30 04 2008, http://www.visionofhumanity.com/sculpture/transformingArmsIntoPloughshares.php

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23

Comunicações dos Seminários da Presidência da República

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Page 37: Comunicações dos Seminários da Presidência da República, 2013

lutar para busca da paz positiva. Além dos princípios enumerados é imprescindível a contribuição do governo na solidificação da paz através de introdução da Educação para paz a partir do nível primário ao universitário.

1. Religião e a Cultura do Trabalho O trabalho tem sido um dos determinantes do desenvolvimento de um país. Sendo assim, um dos requisitos para o desenvolvimento é a cultura de trabalho. Como já nos referimos o conceito de desenvolvimento passa pelo impacto positivo da vida de cada indivíduo.

Ao debruçarmo-nos nos meios de graça precisamos incluir a componente do trabalho. Muitas confissões religiosas têm olhado os meios de graça como uma simples mágica que vem do ser Supremo. Esta abordagem pode ser

IV. CONTRIBUIÇÃO ECONÓMICA DAS CONFISSÕES RELIGIOSAS

Participantes do seminário sobre as religiões

31

Page 38: Comunicações dos Seminários da Presidência da República, 2013

correcta mas é acompanhada por um valor que sempre menosprezamos: O esforço do indivíduo, a partir do cultivo da fé até a devoção ao ser Supremo. Louis Armstrong ao ser indagado do seu sucesso respondeu que Deus não ajuda os mandriões. Nisto impõe-se que para o desenvolvimento do país também as confissões religiosas apregoem que a vontade do Ser Supremo não é o cultivo da indolência, antes o trabalho digno é abençoado.Ao passar a mensagem de graça sem mostrar a necessidade do empenho pessoal lidamos com a religião como se de uma mera sorte se tratasse, quando existe em todas as religiões a componente de justiça e recompensa dos bons feitos.

Se os fiéis das confissões religiosas se empenharem na disseminação da cultura de trabalho e houver justiça na distribuição dos recursos, o resultado pode ser até representado pelo bem-estar, aumento da esperança de vida que são também manifestações de bênção e graça divina.

2. As confissões religiosas na luta contra a pobrezaA teologia contemporânea com o sistema de governação inclusivo

preconizam a cooperação do governo com as várias facetas debaixo da

máquina governativa, neste caso as confissões religiosas. A implantação das

missões tinha em vista a propagação do evangelho mas também a

transformação da vida dos nativos evangelizados. As Missões, nesse contexto

eram compostas por uma igreja, uma escola um hospital e uma escola

vocacional seja ela de carpintaria construção ou a prática da agricultura.

a. Educação A educação, sem dúvida que é a base para o desenvolvimento de um país. As confissões religiosas se preocupam com o desenvolvimento da educação como um legado missionário, e não só, como uma forma de se afirmarem. Muitos moçambicanos têm sido oferecidos bolsas para estudar no exterior.

Como já foi referido no parágrafo anterior foi tarefa das instituições religiosas

preparar o homem para a vida e não só, também aceitar que o bem-estar faz

parte da vontade do Ser Supremo.

As comunidades maometanas têm contíguas as suas mesquitas escolas para a

educação dos cidadãos. Em tenra idade, muitas crianças moçambicanas foram

Comunicações dos Seminários da Presidência da República

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Page 39: Comunicações dos Seminários da Presidência da República, 2013

as escolas de outrora, construídas no tempo colonial, preocupam-se na

construção de novas escolas.

A nova conjuntura remete Moçambique a formar os seus quadros com uma

orientação clara para implantação de tecnologia, exploração condigna de

recursos e o desenvolvimento da agricultura. As confissões religiosas, teriam

ali um desfio de persuadir os jovens a aderirem a cursos desta natureza.

b. Saúde

Um dos elementos relevantes para o desenvolvimento de um país é a saúde.

Um país que tem um povo saudável tem vantagens acrescidas pois investe em

pessoas que poderão contribuir para o desenvolvimento do país. Se a

população não for saudável após a formação, que neste caso constitui o

investimento, a pessoa tem um tempo muito reduzido para trazer os

benefícios do seu estudo, se bem que pode ate não ter a oportunidade de

demonstrar o produto da sua formação. Não há dúvida que estamos numa

época em que algumas confissões religiosas, em forma de promover bons

hábitos promovem feiras de saúde e dão palestras valiosas para manter os fiéis

saudáveis.

Várias confissões religiosas têm angariado fundos para fazer furos de água

disponibilizando água potável para a população moçambicana.

Por muitos anos a Igreja esteve em silêncio com receio de provocar choques

doutrinários não falou da sida. Paralelo a isto nos encontramos práticas que

possam interferir na saúde dos fies:

j. Ética, Saúde e Sida

O Celibato – Esta prática é recomendável para obreiros das confissões

religiosas que pautem como tal. A prática do celibato na Igreja Católica já

trouxe muitos debates. Alguns servos juram o celibato e são tentados a

práticas vergonhosas como a pedofilia. Acreditamos que acabam caindo nessa

prática como uma forma de evitar demonstrar a sua fragilidade na parte

sexual.

Gabinete de Estudos da Presidência da República 33

Page 40: Comunicações dos Seminários da Presidência da República, 2013

Comunicações dos Seminários da Presidência da República

34

Page 41: Comunicações dos Seminários da Presidência da República, 2013

álcool no país. A produção de bebidas muito fortes, a preço muito baixo tem

sido uma forma de destruição dos cérebros dos nossos jovens que precisamos

para o desenvolvimento do país, através da sua criação de tecnologia. Esses

cérebros serão necessários para extrair, transformar e gerir os recursos deste

país. Observa se a degradação destes cérebros sob olhar atónito das confissões

religiosas.

O bem-estar apregoado por várias religiões para o futuro devia mostrar as suas

primícias na vida terrena. Posto isto há uma grande responsabilidade das

confissões religiosas no que tange a saúde. Ainda neste ponto é

imprescindível dar uma vista de olhos à questão da população como um

potencial para o desenvolvimento. Facto que entra em contradição com o que

está acontecendo no país:

i. O álcool acaba criando uma incapacidade de reprodução;

ii. O álcool induz à prática de relações sexuais desprovidas de

protecção;

iii. O álcool está na origem de vários acidentes de viação.

Este caso carece de combinação de esforços dos legisladores, o executivo o magistrado e confissões religiosas religião.

c. ComércioA Comunidade muçulmana tem tomado dianteira neste assunto. Bem vistas

as coisas Os muçulmanos e a Comunidade Hindú constituem a maioria que

possuem estabelecimentos comerciais. Só estas comunidades representam

cifras significantes na contribuição em impostos. Mais ainda, estas

comunidades desenvolveram muitas vilas no passado construindo

estabelecimentos comerciais.

3. O Dízimo e a cultura de poupança

Normalmente as Igrejas cristas encorajam aos seus membros a contribuírem

com uma quantia para o desenvolvimento de diversas actividades. Por vezes

esta contribuição deve ser chamada dizimo, o que significa que representa

décima parte do que o membro ganha por mês. Muitas vezes as igrejas

Gabinete de Estudos da Presidência da República 35

Page 42: Comunicações dos Seminários da Presidência da República, 2013

colectam muito dinheiro com esta prática. Em princípio esta é uma prática

recomendada na Bíblia. Observe-se que neste exercício o fiel é ensinado a

fazer isto com uma obediência rigorosa.

O desafio que se coloca é que nunca a Igreja se importa em cultivar a mesma

prática para a economia do próprio fiel. Se todos conseguissem a medida que

se faz ao dízimo, fazer a captação de poupança própria para investimentos

pessoais na mesma proporção ajudaria muito no desenvolvimento das

famílias e não só, no desenvolvimento do país. Pois que ao investir estes

valores a tendência seria de criar mais empregos ou construção de infra-

estruturas.

4. As ofertas e a responsabilidade socialDas ofertas que as confissões religiosas recebem como colecta, do dízimo, as

confissões religiosas deviam ter uma responsabilidade social de assistir os

necessitados. Paralelamente a isto na Religião Muçulmana os fiéis são

encorajados a dar esmola nas sextas-feiras. Esse acto é muito louvável pois

assiste os idosos. De acordo com Rehana Capurchande, “Em Moçambique, a

mendicidade é um dos problemas sociais que ganhou recentemente

contornos alarmantes com os mendigos de Sextas-feiras”. Para Capurchande o

fenómeno alimenta a necessidade do que pede esmola e dá uma auto

realização ao indivíduo que oferece. Considerando que cada membro da fé

muçulmana deve entregar 2.7% da sua renda anual, se tudo fosse

sistematizado a minha este valor faria um grande avanço, quem sabe

diminuiria consideravelmente a mendicidade.

De acordo com Fernando, “a filantropia que expressa a caridade, doação

anónima e desinteressada aos inferiores foi desenvolvida grandemente pela

Igreja Católica. Torna-se imperioso que as confissões religiosas avaliem o seu

desempenho também olhando em redor da comunidade que circunscreve as

suas instalações. Actividades paralelas podem alterar o cenário:

24

24 Capurchande, R., A “Caridade de Sextas-Feiras”: Práticas e Percepções Relacionadas com o Alívio à Pobreza na Cidade de Maputo, Mosaico Sociológico, CIEDIMA, Maputo, 2011, pg. 266

25 Fernando, Inácio J., Responsabilidade Social Empresarial: Desafios Para o Sector Privado, Maputo, Nova Design, Lda, 2007, Pg. 15

25

Comunicações dos Seminários da Presidência da República

36

Page 43: Comunicações dos Seminários da Presidência da República, 2013

· Promoção do desporto através de construção de campos, oferta de

bolas e promoção de jogos

· Promoção da música através de disponibilização de instrumentos,

abertura de escolas de música, e promoção de concursos de canto e dança;

A responsabilidade social passa pela conscientização do da classe empresarial e outras entidades com capacidade de apoiar as comunidades. A responsabilidade social inclui ainda a conscientização e a tomada de decisão sobre o impacto sobre a sociedade dos investimentos que os empresários fazem; passa também pela conscientização da forma como se despende o dinheiro que as pessoas ganham.

1 Desafiosa. As influências externas que a religião veicula são em suma um grande

desafio, não só no sentido de mas influências introduzidas como a não sistematização ou registo das confecções religiosas. As confissões religiosas e a consolidação da unidade nacional.

b. A interacção entre as confissões religiosas e o Estado – A interacção do Estado e as confissões religiosa pode naturalmente definir o que deve ser passado como mensagem nas igrejas no que tange a agenda nacional, sem ferir os preceitos do Estado Laico moçambicano.

c. A Educação para a paz carece de uma combinação de esforços entre o Estado e as Confissões religiosas

d. Como passar as mensagens concernentes a agenda nacional nas confissões Religiosas, sem ter uma conotação política nem ferir as doutrinas de tais confissões religiosas.

e. Regulamentar e reduzir o consumo do álcool. Carece de esforços combinados entre o Governo e as Confissões religiosas.

f. Como manter a coexistência e intercâmbio religioso que tem norteado Moçambique sabendo de antemão que em outros países as guerras religiosas são uma realidade e de qualquer forma haverá uma pressão para Moçambique entrar na onda de violência.

V. DESAFIOS E CONCLUSÃO

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Page 44: Comunicações dos Seminários da Presidência da República, 2013

2 ConclusãoA participação das confissões religiosas no processo político revela as diversas posições que ocupam na pirâmide. Mais ainda a representação das confissões religiosas se encontra ao longo da pirâmide nesta fase, o que permite-as a exercer a sua influência em prol do desenvolvimento a todos os níveis.

A continuação da reflexão neste tópico poderá trazer impacto positivo para o desenvolvimento do país, através de uma delineação clara das responsabilidades tanto das confissões religiosas como do estado Moçambicano.

A cooperação aberta entre o Governo e as confissões religiosas onde os princípios do estado laico são respeitados é uma das condições para o desenvolvimento. As confissões religiosas jogam um papel importante para o desenvolvimento do país, pois elas têm a capacidade de conscientizar o povo moçambicano a vários níveis para trilhar no caminho conducente ao desenvolvimento.

Comunicações dos Seminários da Presidência da República

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1. Huntington, Samuel P., The Clash of Civilizations and The Remaking of

World Order, The Free Press, 20022. Macamo, E,. War Adjustment and Civil Society in Mozambique, in Sachikonye,

L., Democracy, Civil Society and The State: Social Movements in Southern Africa, SAPES, Harare, 1995.

3. Mondlane, E., Lutar Por Moçambique, Centro dos Estudos Africanos, Maputo, 1995.

4. Appleby, R. S., Religion As An Agent of Conflict Transformation And Peacebuilding, in Crocker C. A., Hampson, F. O., & Aall, P., Turbulent Peace: The Challenge of Managing International Conflict, United States Institute of Peace Press, Washington, D. C., 2001.

VI. BIBLIOGRAFIA

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OS DESAFIOS PARA A CONSOLIDAÇÃO DO SISTEMA DE FINANÇAS DE

DESENVOLVIMENTO26

Esta contribuição não é estruturada como um documento académico e apenas reflecte o ponto de vista do seu autor e a sua reflexão sobre uma experiência de 25 anos, tendo como objecto a edificação de um sistema financeiro mais inclusivo.

26

Dr. Francisco António Souto, no uso da palavra

Por: Francisco António Souto

Page 47: Comunicações dos Seminários da Presidência da República, 2013

1. INTRODUÇÃO

O crescimento económico de que Moçambique está a beneficiar ainda não teve um significativo impacto na redução dos índices de p o b r e z a . U m c r e s c i m e n t o e c o n ó m i c o r á p i d o é

inquestionavelmente necessário para uma redução substancial da pobreza, mas para que este crescimento seja sustentável a longo prazo, ele deve ser baseado em amplos sectores económicos e inclusivo da maioria da população e da força de trabalho do país. O crescimento que não for inclusivo e sustentado induz processos sociais de ruptura e/ou autodestrutivos. O sistema financeiro joga um papel central no sistema económico e não é politicamente neutro. A estrutura e funcionamento dos sistemas financeiros induzem impactos sectoriais e níveis de inclusividade específicos.

É sabido e reconhecido que o Governo tem feito esforços com vista à redução da pobreza. Porém, os resultados e impactos de algumas das iniciativas ainda não são suficientemente comprovativos da validade e eficácia das políticas adoptadas.

Com base no censo de 2007 estimava-se que o sector informal da economia fosse responsável por cerca de 90% da actividade económica. Dos cerca de 300 a 330 mil jovens que anualmente atingem a idade laboral, menos de 10% encontram um emprego formal – para onde vão os remanescentes 90%? No indicador internacional “Doing Business” o nosso País continua a cair e, principalmente porque o sector informal cresce, o acesso a serviços financeiros não melhora significativamente e o sistema fiscal continua complexo e penalizante. Apesar de iniciativas com vista à bancarização, em 2012 apenas quatro distritos foram pela primeira vez abrangidos e os que ainda não têm nenhuma instituição financeira formal são ainda mais do que 50%.

Para atenuar estes riscos e fragilidades argumenta-se seguidamente que o Governo deve modelar a sua estratégia de desenvolvimento sócio-económico colocando um enfoque mais explícito no crescimento de uma classe média, com raízes empresariais e fortemente implantada nas zonas rurais e peri-urbanas. Para realizar este objectivo, o Governo pode recorrer à consolidação dos instrumentos de finanças para o desenvolvimento, sem que isso implique

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pressão adicional sobre o Orçamento de Estado.

2.1. Breve historial das Instituições Financeiras de Desenvolvimento

O papel e intervenção do Estado através das Instituições Financeiras de Desenvolvimento (IFD) são desde há muito reconhecidos. Instituição Financeira de Desenvolvimento (IFD) é um termo genérico usado para definir instituições financeiras alternativas aos bancos comerciais. Em geral, as IFDs têm o apoio do Estado ou de um conjunto de Estados (IFDs multilaterais). A sua propriedade pode ser inteiramente pública, como também mista (público-privada) como também comunitária.

O seu mandato é o de prover serviços de natureza financeira que promovam a iniciativa empresarial privada e de realizar investimentos que estimulem o desenvolvimento em áreas e sectores que não podem ser servidos através de instrumentos normais do mercado. Em suma, as IFDs preenchem as chamadas “ falhas de mercado” e actuam como instrumentos privilegiados na mobilização, gestão e aplicação de recursos necessários à implementação de reformas e programas de desenvolvimento e reconstrução adoptados pelos governos.

Para cumprirem com a sua missão, as IFD têm de estar preparadas para assumir certos riscos que os bancos comerciais não assumem e, consequentemente, a natureza dos seus fundos não pode provir maioritariamente de depósitos do público. Os casos mais notórios de IFD nacionais são as que foram concebidas para implementar o Plano Marshall de reconstrução da Europa, assim como de relançamento da economia do Japão. Nesses países foram criadas instituições financeiras de desenvolvimento e reconstrução, nuns casos designadas bancos, noutros adoptando designações legais distintas. No Continente Africano, os programas de descolonização e reconstrução levaram também à criação deste tipo de instituições. Em Moçambique designou-se Banco Popular de Desenvolvimento.

2 . I N S T I T U I Ç Õ E S F I N A N C E I R A S D E D E S E N V O LV I M E N T O E D E S E N V O LV I M E N T O INCLUSIVO: CARACTERIZAÇÃO HISTÓRICA

Comunicações dos Seminários da Presidência da República

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Page 49: Comunicações dos Seminários da Presidência da República, 2013

Um dos grandes desafios que se tem colocado às IFDs é a qualidade da sua Governação. O risco de interferências políticas na sua gestão sob o pretexto de estarem a gerir recursos públicos tem sido uma constante em muitos países.

A resposta a estes perigos tem motivado as IFD a coordenarem esforços. A nível de África a Associação Africana das IFD (AADFI) aprovou um sistema conhecido de PSGRS (Prudential Standard Guidelines and Rating System - Sistema de Recomendações Prudenciais Padrão e de Rating). Este mecanismo é de adesão voluntária.

2.2. Desenvolvimento inclusivo e classe média

Desenvolvimento inclusivo e sustentado é um conceito que carece de clarificação. Tem de ser visto comparativamente e no quadro da prevalecente globalização, especialmente em relação aos países vizinhos, e também dentro de cada país. O termo desenvolvimento inclusivo é distinto de crescimento, e de “crescimento pro-poor”.

O conceito de desenvolvimento inclui indicadores de melhoria de bem-estar mais abrangentes (conforme definido pelos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio) e não apenas de aumento de rendimentos monetários (crescimento). O crescimento inclusivo é o que é acompanhado por uma menor desigualdade social de maneira a que o acréscimo de rendimentos seja desproporcionalmente maior nos segmentos de baixa renda. Desenvolvimento inclusivo e sustentado não é o mesmo que redução da pobreza através de estratégias de crescimento “pró-poor”, focalizadas principalmente no bem-estar dos pobres. O desenvolvimento inclusivo e sustentado preocupa-se com a melhoria de oportunidades da força de trabalho, assim como da “classe média” produtiva empreendedora e multiplicadora de riqueza.

O termo “classe média” também carece de esclarecimento. É um termo que tem sido utilizado com sentidos diferentes e desde os meados do século XVIII. Marxistas, Liberais e outras escolas do pensamento político têm proposto várias definições. O relatório do Instituto Global Mckinsey (2007) define “classe média” como sendo as pessoas com um rendimento anual entre cerca de $4,200 a $21,000, ou seja entre $11 a $55 por dia. Outros, como Nancy Birdsall preferem não definir um tecto superior em valor absoluto, pois o nível

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Page 50: Comunicações dos Seminários da Presidência da República, 2013

dos “ricos” entre cada país é muito variável. Preferem adoptar um indicador percentual em função do nível específico de concentração de riqueza no topo, o que é distinto entre diferentes países. A importância do conceito de “classe média” para os objectivos desta nota não é o rigor da sua definição política, nem os parâmetros para o cálculo da sua dimensão. O que aqui importa é reconhecer que as políticas de desenvolvimento socioeconómico têm de atender ao potencial dos grupos sociais que são capazes de alocar uma parte do seu rendimento para alargar a sua base reprodutiva sem pôr em risco a sobrevivência básica.

“A um nível de rendimento de cerca de $10 por dia por indivíduo, as pessoas desta classe média, sentindo-se seguras, estão preparadas para tomar riscos económicos e de negócios e, assim, assumirem-se como empreendedores capitalistas”

27Nancy Birdsal (The (Indispensable) Middle Class in Developing Countries).

27

Dr. Justino Chone, moderador do seminário sobre as finanças para o desenvlovimento

Comunicações dos Seminários da Presidência da República

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3.1. Inclusão financeira e intervenção holística As preocupações por um desenvolvimento inclusivo em Moçambique advêm dos primeiros anos de independência. Ultrapassados 10 anos de planeamento central de inspiração socialista e 25 anos de ajustamentos estruturais de inspiração neo-liberal, Moçambique precisa de dar mais coerência à sua estratégia de desenvolvimento para que este seja mais inclusivo e sustentado.

Uma estratégia coerente tem como pressuposto o reconhecimento de que Moçambique ascendeu à independência sem uma classe empresarial. A política de inspiração socialista transformou o Estado num baluarte de uma classe média burocrático-consumidora, sem espírito empreendedor. É preciso reconhecer e sublinhar que a causa das causas da insustentabilidade do nosso desenvolvimento é a fragilidade de uma classe média nacional empreendedora e geradora de postos de trabalho. Não é a exiguidade do número de mega-empresas ou mega-projectos que até aqui decidiram investir em Moçambique.

A fraca inclusividade do sistema financeiro de Moçambique constitui um constrangimento fundamental no processo de criação e consolidação de uma classe média nacional com raízes no sector produtivo. A edificação de um sistema financeiro inclusivo em Moçambique não depende dos bancos comerciais, dos micro-bancos nem tão pouco do próprio Banco Central. A compreensão deste argumento é fundamental para uma estratégia de desenvolvimento inclusivo e sustentado que precisa de um sistema financeiro também inclusivo, do qual é parte integrante e incontornável as Instituições Financeiras de Desenvolvimento.

A centralidade deste argumento advém do facto de a determinante de expansão e abrangência do sistema financeiro serem as oportunidades de negócio identificadas pelos operadores financeiros. Com efeito, um sistema financeiro não pode crescer de forma sólida e abrangente numa economia dominada pela informalidade nos negócios e concentrada em torno do centro urbano onde vive a elite do País, cercada de lúmpen.

3 . F I N A N Ç A S D E D E S E N V O LV I M E N T O E DESENVOLVIMENTO INCLUSIVO EM MOÇAMBIQUE

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Page 52: Comunicações dos Seminários da Presidência da República, 2013

Reconhece-se que as infra-estruturas (estradas, energia e comunicações) facilitam a expansão financeira. Porém, onde não exista uma “classe média” e um conjunto de actividades económicas por ela promovida, dificilmente existirão oportunidades de negócios para as instituições financeiras aí se expandirem.

Por causa da natureza desta determinante sócio-economica, a inclusão financeira carece de uma intervenção holística que actue quer do lado da oferta (bancarização através de instituições formais), quer do lado da procura (melhoria da bancabilidade da potencial clientela). E cabe ao Estado, através de vários instrumentos, em particular, os das finanças de desenvolvimento, participar na edificação de um sistema financeiro inclusivo estimulando a procura, isto é, melhorando o ambiente e capacidade dos operadores na economia real, em suma, promovendo mais oportunidades de negócios.

3.2. Impactos do Ajustamento EstruturalAs dificuldades económicas enfrentadas pelos países menos desenvolvidos, particularmente após a crise do petróleo no início dos anos 70 e com especial impacto na África Subsaariana levaram à intervenção do Fundo Monetário Internacional (FMI), que concebeu planos de reestruturação e /ou ajustamento destas economias. Para aceder a assistência financeira a ser disponibilizada através do Banco Mundial e seus parceiros, os beneficiários tinham de adoptar os programas recomendados pelo Fundo Monetário Internacional.

Tais programas de “ajustamento estrutural” inspirados no “Washington Consensus” (WC) focaram a atenção no quadro legal do sistema financeiro. Nos anos 80 e inícios de 90 quase todos os países beneficiários da assistência do FMI tiveram de alterar a sua legislação financeira. Na generalidade, a nova legislação delimitou o sector financeiro a bancos comerciais. É sob este espírito que, em Moçambique surgiu a Lei nº 28/91, de 31 de Dezembro, reconfirmado pela Lei 15/99. Por razões compreensíveis e decorrentes da nossa relação com aquelas instituições de “Bretton Woods” (o FMI e o Banco Mundial), esta legislação ignora a dimensão das “falhas de mercado” no sector financeiro. É uma legislação feita sob pressupostos de que os mercados funcionam e o sector privado é uma força capaz de responder a requisitos comuns em economias onde existe um sector privado vibrante.

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A reputação das instituições financeiras de desenvolvimento em África, nas duas últimas décadas do Séc. XX, estava abalada em resultado de problemas de gestão e um ambiente de negócios adverso. As instituições líderes do “Washington Consensus” destacaram esta fragilidade e colocaram as IFDs na primeira linha dos pacotes de privatização e/ou liquidação.

Em Moçambique, o FMI e o Banco Mundial impuseram a privatização do Banco Comercial de Moçambique (BCM) e do Banco Popular de Desenvolvimento (BPD). Essa decisão levou ao encerramento de dezenas de agências e postos de captação de poupança, que a guerra não tinha destruído. Ocorreu então um significativo retrocesso na inclusividade do nosso sistema financeiro. Assim se liquidou o BPD e entregou-se o BCM a especuladores. Porém, alguns dirigentes moçambicanos anteciparam estes riscos:

· O Conselho de Administração do BPD, decidiu em 1989 criar uma subsidiária que cuidasse dos problemas específicos do apoio ao empresariado nacional e às Pequenas e Médias Empresas: em 1 de Março de 1990 foi formalmente criada o Gabinete de Apoio e Consultoria à Pequena Indústria (GAPI) onde o BPD detinha 70% e a Fundação Friedrich Ebert os restantes 30%;

· Em 1998, 10 anos depois, contra a onda avassaladora das privatizações, o Ministro do Plano e Finanças retirou a participação do BPD do pacote de privatizações. O Tesouro do Estado assumiu 30% das acções e reservou 40% para investidores privados nacionais.

FFE: A Fundação Friedrich Ebert da Alemanha havia iniciado em 1985 um projecto de apoio a pequenas empresas e cooperativas, que se designava Gabinete de Apoio e Consultoria à Pequena Indústria (GAPI). Com a adopção do PRE (Programa de Reabilitação Económica) em Moçambique, em 1987, os dirigentes da FFE e do BPD concordaram na conversão deste projecto numa empresa moçambicana destinada a promover o empresariado nacional e onde os moçambicanos detivessem a maioria das acções.

28

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· 3.3. O contributo pioneiro do GAPI Os desastres económicos causados pelas receitas do ajustamento estrutural inspiradas nos princípios do neo-liberalismo que comandava o “Washington Consensus” criaram uma reacção universal que motivou uma Conferência Internacional em Monterrey, México, cujas resoluções ficaram conhecidas por “Monterrey Consensus” (2002).

Os debates e estudos sobre o papel das instituições financeiras de desenvolvimento e os bancos nacionais de desenvolvimento que se seguiram até à Conferência de Doha, (2008), têm credibilizado e aperfeiçoado o conceito e papel das “finanças para o desenvolvimento”. Hoje os programas focados num desenvolvimento inclusivo têm naturalmente como instituições implementadoras, as IFDs nacionais. Estas não só proporcionam melhor acesso a serviços financeiros, mas sobretudo constroem capital social. A GAPI-SI tem participado e beneficiado destes debates.

Entre 2000 e 2006 e com vista à criação de um espaço para as Finanças de Desenvolvimento em Moçambique, esta instituição tomou iniciativas de

Dr. Caldas Chemane no uso da palavra no seminário sobre as finanças para o desenvolvimento

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impacto no desenvolvimento do País, tais como:

· Participou activamente no financiamento das pequenas empresas afectadas pelas cheias de 2000 e 2001. Financiamentos concedidos praticamente sem garantias;

· Colaborou com o Estado e com o Banco Mundial na concepção e implementação do programa de reinserção sócio-profissional de 13 mil trabalhadores desvinculados dos Caminhos de Ferro de Moçambique;

· Colaborou com o Ministério da Indústria e Comércio no relançamento da indústria de cajú em Nampula e concedeu os primeiros financiamentos para esse programa;

· Participou e financiou a primeira organização de produtores camponeses – a Ikuru (que hoje abrange cerca de 20 mil famílias rurais) – envolvida em exportações através do “mercado justo” e orgânico;

Estas e outras importantes realizações foram laboratórios para o Intervenção de um dos participantes no seminário sobre as finanças para o desenvolvimento

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Estas e outras importantes realizações foram laboratórios para o aperfeiçoamento de metodologias apropriadas ao desenvolvimento de MPMEs e de fomento do empresariado nacional, particularmente nas zonas rurais.

O Governo reconheceu este papel e, em 2006, aprovou uma alteração do Decreto 56/2004 (Regulamento da Lei das Instituições de Crédito) de forma a dar um melhor enquadramento legal a esta instituição financeira de desenvolvimento. Essa alteração permitiu consolidar o GAPI como uma parceria público-privada, registada no sistema financeiro na categoria de Sociedade de Investimento (GAPI-SI) e capaz de mobilizar recursos para o desenvolvimento do empresariado nacional, sem colocar pressões no Orçamento de Estado.

Os órgãos de direcção do GAPI clarificaram a missão da instituição nos seguintes termos:

“Conceber e implementar programas e projectos que, de forma integrada, estimulem a expansão, diversificação e consolidação do i) tecido empresarial nacional e do ii) sistema financeiro moçambicano”

Hoje, o GAPI tem activos totais na ordem dos $35 milhões sem que nunca tivesse dependido de afectações do Orçamento Público. Adaptou e desenvolveu uma metodologia que combina {serviços financeiros + serviços de apoio ao desenvolvimento de negócios + desenvolvimento institucional}, melhorando assim a bancabilidade de produtores de pequena escala. Através de uma rede de 15 escritórios desenvolve projectos em 64 distritos do país e que têm como foco a promoção de uma classe média, bem implantada nas zonas rurais.

O GAPI-SI paga impostos, reporta ao Banco de Moçambique, bem como a todos os seus parceiros refinanciadores. A sua estratégia – presentemente em fase de actualização – é decidida pelos accionistas que deverão continuar a reflectir um balanceamento de interesses público-privados. Até hoje sempre deu resultados financeiros positivos e os lucros realizados estão até agora aplicados como Reservas de Investimento permitindo um reforço dos Fundos Próprios que hoje ascendem a cerca de $10 milhões.

O principal activo da GAPI-SI é a sua credibilidade e boa reputação perante os

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refinanciadores. Nesse contexto, desde 2007 é membro da Associação Africana de Instituições Financeiras de Desenvolvimento e participa num sistema de avaliação juntamente com outras 72 IFDs África filiadas na AADFI para aferir o seu desempenho face aos padrões internacionais de gestão prudencial (PSGRS). Na última avaliação a pontuação do GAPI subiu de 67.2 para 73.1 pontos.

A nível da SADC, o GAPI é membro da DFRC e do Network regional das IFD, tendo o seu CEO assumido o papel de Chairman do Network em 2012.

Desde 2006 que um dos directores da GAPI representa as IFDs da SADC na parceria com as IFDs dos Nórdicos no que hoje é conhecido como Norsad-Finance.

Em suma, o GAPI é pioneiro no processo de colocar o nome de Moçambique com credibilidade e boa reputação em vários foros internacionais das Finanças para o Desenvolvimento. Por isso, o contributo do GAPI para o desenvolvimento inclusivo do País é reconhecido por parceiros da cooperação e algumas instituições financeiras multilaterais que, cada vez mais, se disponibilizam a contribuir para os projectos de desenvolvimento onde o nome do GAPI esteja envolvido.

3.4. Outras experiências Para além do GAPI, o quadro das finanças para o desenvolvimento de Moçambique tem assistido ao surgimento de várias outras instituições. Governo, Embaixadas de parceiros da cooperação, ONGs internacionais e outros têm promovido diversos sistemas de financiamento.

Após o Acordo de Paz de Roma, Moçambique foi como que invadido por uma onda de solidariedade que, é hoje sabido, em alguns casos não tinha por motivação genuína resultados efectivos na redução da pobreza.

A destruição do BPD e o bloqueio por parte de parceiros da cooperação ao estabelecimento de um sistema formal apoiado pelo Estado para preencher as “falhas de mercado” que o nosso incipiente sistema bancário não podia satisfazer, criou espaço para muitas e diversas intervenções mal regulamentadas e pouco profissionalizadas. Na generalidade apresentaram-

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se com a bandeira da aposta na melhoria dos serviços financeiros para as camadas mais pobres.

O resultado global destas intervenções é pouco conhecido pois, exceptuando as instituições enquadradas como micro-bancos sujeitos a supervisão do Banco de Moçambique, as demais não têm obrigações de relato financeiro público, nem as estatísticas oficiais moçambicanas conseguem captar informação suficientemente fidedigna sobre o custo-eficácia de tais iniciativas e experiências.

Esta múltipla intervenção dispersa, beneficiando de isenções fiscais e não estando monitorada pelas autoridades monetárias constitui um obstáculo para a credibilização e consolidação das finanças de desenvolvimento.

A má reputação tem sido publicitada pelos media que, ocasionalmente, acedem e divulgam informações internas dessas organizações e projectos. Os custos com consultores, over-heads e outros gastos sem impacto nos supostos beneficiários – os pobres - geralmente superam os 50% do que é apresentado

Dr. Ibrahimo Ibrahimo durante a sua intervenção

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como orçamento ou “donativo a Moçambique”. Existem projectos onde, no cômputo global, por cada unidade monetária de crédito concedido ou outro serviço prestado, os custos são da ordem de 10 para 1. Este é um dos muitos exemplos da já amplamente questionada efectividade da ajuda.

Ainda no âmbito das iniciativas do Governo foi criado o Fundo de Desenvolvimento Distrital, mais conhecido pelos “7bis”. No contexto da história de inibição da iniciativa empresarial privada de moçambicanos, a alocação de verbas do Orçamento de Estado para promover negócios geradores de riqueza a nível local é louvável. Porém, a utilização dos órgãos de base do aparelho de Estado, as Administrações e Conselhos Consultivos Distritais, para avaliar e decidir sobre a distribuição desses recursos, alocados privadamente e, supostamente, a título de “responsabilidade creditícia” é um procedimento questionável.

Nos últimos três anos, a verba do Orçamento de Estado alocada a este propósito tem sido em média anual cerca de $40 milhões. Os valores identificados e revelados de projectos directamente financiados por Embaixadas e algumas ONGs com suporte internacional ascendem também numa média anual a cerca de $30 milhões.

Em suma, entre 2009 a 2011, cerca de $70 milhões foram anualmente alocados como finanças para o desenvolvimento, com resultados bastante fracos em termos de impacto e sustentabilidade dos negócios (?) beneficiados.

Estas iniciativas, além de ainda não terem comprovado sustentabilidade, alimentam um “moral hazard” que afecta todo o demais sistema financeiro. Desde há décadas que em alguns países de África se conhece o dito: “Dinheiro do Governador ou do Embaixador não tem cobrador”. Porém, nesta diversidade de intervenções importa destacar tendências recentes principalmente motivadas pela necessidade de se assegurar mais transparência e eficiência na gestão de recursos públicos.

Algumas embaixadas estão a fechar os seus programas sócio-económicos implementados através de ONGs ou de unidades próprias dessas Embaixadas. Instituições nacionais acreditadas no sistema formal financeiro e/ou de assistência técnica estão a assumir a responsabilidade pela gestão desses recursos. Os recursos que o GAPI vai aplicar para desenvolver o

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sistema de garantias às PMEs, lançar programas de fomento de jovens empresários e de promover o agro-negócio no Vale do Zambeze assim como nas demais regiões definidas como estratégicas pelo Governo resultam do reconhecimento por parte de algumas dessas Embaixadas de que Moçambique já tem uma IFD capaz de gerir mais profissionalmente os recursos provenientes dos seus pagadores de impostos.

Com vista a responder a necessidades específicas sectoriais, no passado foram criados “fundos de fomento” . Há agora rumores de que estes fundos públicos estão a rever as suas estratégias quanto à forma como deverão lidar com a sua potencial clientela e beneficiários e como reduzirem os encargos sobre o Orçamento de Estado.

As referências acima feitas às Finanças de Desenvolvimento e a necessidade destas instituições melhorarem a sua governação e profissionalismo constituem uma chamada de atenção ao papel que elas podem assumir perante os desafios actualmente enfrentados pelo frágil sector privado nacional.

4.1. Limitações da classe média empreendedora em Moçambique

Exceptuando a população (elite) de Moçambique com maior concentração de rendimentos, isto é, acima de $21,000 por ano por indivíduo (certamente inferior a 0,5%), quantos moçambicanos poderiam integrar o grupo chamado “classe média” e aonde estão?

O censo de 2007 revela a existência de aproximadamente 25,679 empresas, das quais 21 mil são micro-empresas, muitas das quais informais. O actual número de empregos formais é inferior a 450 mil, dos quais cerca de um terço são funcionários do Estado.

4. OS DESAFIOS DO SECTOR PRIVADO E O C O N T R I B U T O D A S F I N A N Ç A S P A R A O DESENVOLVIMENTO

29

Fundo de Fomento Juvenil, Fundo de Desenvolvimento Autárquico, Fundo de Desenvolvimento Agrícola, Fundo de Energia, Fundo para o Fomento de Habitação, Fundo de Fomento Pesqueiro

29

Comunicações dos Seminários da Presidência da República

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Em suma, o pouco que existe de “classe média” está muito dependente do Estado ou está no sector informal.

Neste cenário, é extremamente difícil assegurar-se um desenvolvimento inclusivo e sustentado a longo prazo. Um desenvolvimento que absorva os cerca de 300 a 330 mil jovens que anualmente integram a população economicamente activa e procuram respostas às suas ansiedades no mercado laboral pressupõe que, anual e progressivamente, dezenas de milhares de micros, pequenas e médias empresas entrem no mercado, tenham a protecção merecida de serem operadores formais e, consequentemente, melhor acesso a tecnologias, mercados e capital.

Na actual situação de grande procura na exploração dos recursos naturais do País, esta fragilidade acentua-se, revelando que o estado incipiente do sector privado nacional cria constrangimentos para que ele possa participar mais significativamente nestas oportunidades de negócio. Estes constrangimentos referem-se não tanto à participação directa nesses mega-projectos, mas sobretudo às actividades a montante e jusante que poderiam ser realizadas por PMEs nacionais, criadoras de postos de trabalho local, gerando-se uma distribuição mais abrangente da riqueza nacional.

O crescimento do sector privado nacional está a ser condicionado por vários factores, alguns dos quais são destacados no mais recente relatório do Banco Mundial “Doing Business”, nomeadamente:

· Alto grau de informalidade da economia;

· Nível de acesso a serviços financeiros;

· Sistema fiscal pouco transparente e penalizante.

4.2. O problema da informalidade O problema da informalidade da economia tem causas e dimensões complexas que aqui não cabe tratar com a devida profundidade. Porém, ele é reconhecidamente um obstáculo para que haja desenvolvimento sustentado porque:

· Impede o alargamento da base fiscal;

· Reduz a competitividade da economia;

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Page 62: Comunicações dos Seminários da Presidência da República, 2013

· Limita o grau de bancarização.

A complexidade e falta de transparência do sistema fiscal, bem como o peso e ineficiência da administração pública no que respeita à actividade comercial e a fragilidade do sistema legal são causas que vêm sendo profundamente dissecadas nos debates da CTA e estudos diversos, incluindo de motivação internacional. Sob a bandeira de desenvolvimento rural, finanças rurais, apoio comunitário e outros títulos, algumas agências financiadas por recursos públicos de parceiros da cooperação contribuem para a expansão deste sector informal e para a distorção de preços e salários, reduzindo a competitividade do frágil e emergente sector empresarial privado nacional. Como é bem sabido estas agências têm regimes fiscais privilegiados, não estando pois a ter qualquer papel na receita fiscal.

O crescimento de uma classe média nacional produtiva não pode depender destas doações (?) e o Estado tem de melhorar a sua capacidade analítica e negocial de programas socioeconómicos.

4.3. Limitações do Sistema financeiro

Sobre o sistema financeiro, cuja fraca inclusividade tem sido amplamente analisada, importa sublinhar que, no último relatório do Banco Mundial “Doing Business”, onde Moçambique mais caiu foi precisamente no acesso a serviços financeiros. Enquanto no cômputo global caiu 7 posições, nos serviços financeiros a perda foi de 20 posições.

O Banco de Moçambique deu indicações de querer atacar esta situação, tendo inclusivamente há poucas semanas, nos dias 30 de Janeiro a 1 de Fevereiro dedicado o seu Conselho Consultivo ao tema “desafios da inclusão financeira em Moçambique”.

O estudo do Banco de Moçambique, em geral apresenta uma evolução positiva, mas ao mesmo tempo realista. Com efeito, o Banco de Moçambique reconhece que “não obstante os esforços empreendidos até à presente data, pelo Banco Central e pelo Governo, aprimorando o quadro jurídico-legal e institucional, ... a informação estatística disponível indica que parte

Comunicações dos Seminários da Presidência da República

56

Page 63: Comunicações dos Seminários da Presidência da República, 2013

significativa dos distritos do País continua desprovido de pontos de acesso aos serviços financeiros.”

E, de facto, a situação é preocupante, pois 51% dos distritos continua sem qualquer tipo de instituição financeira formal. Nos últimos 8 anos (2005 a 2012) o número de novos distritos abrangidos foi 36, isto é, uma média de 4,5 novos por ano. Em 2012 a abrangência territorial aumentou em apenas 4 novos distritos. O estudo apresentado circunscrevia-se ao lado da oferta (o papel das instituições de crédito).

Dos dados sobre inclusão financeira contidos no recente estudo do Banco de Moçambique e que causam alguma preocupação importa destacar:

· Desigualdades regionais: Embora o índice de inclusão financeira (IIF) global do País esteja em cerca de 13 pontos, o índice dos distritos (excluindo as principais cidades) é de apenas 6,47 pontos. Maputo Cidade tem um IIF de 91,78 pontos, a Província de Maputo 16,84 e as Províncias da Zambézia e de Niassa, no extremo oposto, têm IIF na ordem dos 2,25 e 1,45 respectivamente.

· Financiamento à economia: “O crédito à economia em proporção do PIB, outro indicador relevante na inclusão e na intermediação financeira, incrementou ao longo dos últimos anos, tendo passado de 13,2% em 2005 para 28,8% em 2012. No entanto, esta cifra situa-se ainda abaixo da média dos Países da SADC (40,6%)...”

Embora não haja dados precisos, analistas financeiros reconhecem que mais de 90% do crédito à economia é canalizado para cerca de 100 empresas, que, naturalmente, têm os seus centros de decisão em Maputo. O reconhecido crescimento do sistema financeiro confronta-se pois com condicionalismos inerentes ao facto de, compreensivelmente, se ter priorizado a estabilidade do sistema.

Porém, os desafios que agora se colocam exigem maior atenção à sua

30

Banco de Moçambique: Desafios da Inclusão Financeira em Moçambique (1 de Fevereiro de 2013). 30

Gabinete de Estudos da Presidência da República 57

Page 64: Comunicações dos Seminários da Presidência da República, 2013

abrangência e inclusividade. Nas palavras do Senhor Governador do Banco de Mocambique, agora “é preciso olhar para a inclusividade e não apenas bancarização”.

O papel das Finanças para o Desenvolvimento e as Instituições Financeiras que operam nesse sector é de importância central para se assegurarem intervenções com vista a superar as “falhas de mercado”. O principal desafio que estas instituições enfrentam – o da boa Governação e gestão dos fundos públicos – tem estado a ser superado, através da melhoria de normas prudenciais e de gestão desenvolvidas e partilhadas em foros internacionais.

As IFDs têm dado um importante contributo na mobilização de recursos com vista ao financiamento de programas de reconstrução, designadamente na área de infra-estruturas, mas também de suporte às PMEs e ao alargamento da capacidade empresarial nacional.

Em países como Moçambique, a fragilidade da “classe média” nacional com uma sólida base produtiva poderia ser atenuada através da melhoria do Sistema de Finanças para o Desenvolvimento e consolidação da governação das IFDs existentes e reajuste de outras iniciativas em curso.

Uma estratégia de desenvolvimento inclusivo e sustentado tem de focar na inter-relação entre classe empresarial geradora de mais oportunidades de negócios e postos de trabalho com o papel das IFDs integradas no sistema financeiro para que este se torne mais inclusivo.

O contributo do GAPI tem comprovado que através do conceito de IFD é possível mobilizar e aplicar recursos com vista à realização de objectivos estratégicos de desenvolvimento. Mais importante ainda é que essa mobilização não põe pressão no Orçamento do Estado, nem afecta a solidez e estabilidade do sistema financeiro, pois não depende essencialmente de depósitos do público.

O carácter empresarial desta instituição assegura que ela esteja obrigada a operar no quadro legal do País, incluindo o seu sistema fiscal, devendo por

5. CONCLUSÕES E FUTURO PRÓXIMO

Comunicações dos Seminários da Presidência da República

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Page 65: Comunicações dos Seminários da Presidência da República, 2013

isso contribuir para o Orçamento de Estado. Como instituição registada no sistema financeiro ela obriga-se a reportar ao Banco Central, assegurando o conhecimento e partilha da informação necessária para que os decisores económicos melhorem a monitoria e gestão global do sistema financeiro. O caso específico do GAPI, congregando uma parceria público-privada assegura ainda que interesses de diferentes segmentos sociais se cruzem conciliando prioridades estratégicas e em termos concretos e práticos concebam e implementem actividades com vista a um desenvolvimento mais inclusivo da economia do País.

Os 22 anos de existência desta instituição e, em particular os últimos cinco anos operando como uma IFD assente numa Parceria Público-Privada, conferem informação e conhecimento para a actualização da sua estratégia. Mantendo-se a missão, o GAPI propõe-se a “estimular, expandir, diversificar e consolidar o tecido empresarial nacional e o sistema financeiro moçambicano” através dos seguintes 3 programas estruturantes da nossa economia e para os próximos 4 anos (2013-2016):

a) Programa de fomento empresarial, com enfoque nos

Gabinete de Estudos da Presidência da República

Dr. Luís Magaço a intervir no seminário sobre as finanças para o desenvolvimento

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Page 66: Comunicações dos Seminários da Presidência da República, 2013

corredores estratégicos e zonas peri-urbanas dos principais centros industriais e em grupos sociais como a mulher empresária rural e jovens com espírito empreendedor, inovador e prontidão para também tomarem riscos; b) Programa de desenvolvimento da banca rural, priorizando as categorias de Caixas Financeiras Rurais e em parceria com investidores nacionais; c) Programa de estabelecimento de um sistema de garantias às PMEs, com prioridade para o agro-negócio.

Para a realização destes programas estruturantes o GAPI-SI já mobilizou cerca de $30 milhões. Nas nossas estimativas e para o período 2013-2016 e com vista a uma boa cobertura do País, serão necessários cerca de $90 milhões.

A recente decisão do Governo de transformar o BNI num banco de desenvolvimento constitui um importante contributo para o desenvolvimento das finanças de desenvolvimento em Moçambique. Com efeito, a partir de agora o GAPI-SI deixará de ter de actuar sozinha nas negociações e formulação de estratégias de desenvolvimento. A natural complementaridade entre o GAPI e o BNI reforçarão a capacidade do Governo e de todos os parceiros de desenvolvimento a implementar uma estratégia de crescimento mais inclusivo.

O País teria ganhos adicionais e o desenvolvimento inclusivo e sustentado seria melhor realizado se alguns dos fundos de fomento e desenvolvimento se juntassem a estes programas. Reduzir-se-ia a dispersão e fraca governação na gestão de recursos públicos. O Governo melhoraria a credibilidade e capacidade negocial junto de foros internacionais e a nossa economia tornar-se-ia menos dependente de mega-projectos.

Comunicações dos Seminários da Presidência da República

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Page 67: Comunicações dos Seminários da Presidência da República, 2013

O DESAFIO DA PRESERVAÇÃO DAS CONQUISTAS DA INDEPENDÊNCIA NACIONAL

Por: Frederico Benedito Congolo

presente análise enquadra-se na aproximação de mais um aniversário de celebração da proclamação da independência nacional. Volvidos 38 Aanos de independência, muitas lições estão por tirar; sendo de todas

elas a mais importante, na nossa humilde opinião, a análise de tudo o que possa, directa ou indirectamente, perigar os benefícios desta nossa independência.

Dr. Frederico Congolo, a proferir sua intervenção

Page 68: Comunicações dos Seminários da Presidência da República, 2013

Esta análise encontra-se estruturada em uma introdução, cinco capítulos, e uma sistematização das conclusões e recomendações. A introdução faz uma breve apresentação do documento. Depois seguem-se os capítulos que discutem, respectivamente, os seguintes aspectos: abordagem teórico-metodológica; colonialismo e o despertar da consciência nacionalista; as conquistas da independência nacional; desafios das conquistas da independência nacional; e gestão dos conflitos do desenvolvimento em Moçambique. As conclusões trazem uma súmula da nossa percepção geral sobre o tema em análise, e depois alistam-se algumas recomendações sobre como esses aspectos podem ser melhorados.

Num momento em que se aproxima mais um ciclo eleitoral, e quando as notícias das descobertas dos recursos estratégicos dominam os debates económicos nacionais, enquanto os índices de pobreza tendem a se destacar, urge questionar não somente a situação actual do país; mas também, e sobretudo, a análise que se pode fazer sobre os recentes acontecimentos no contexto geral da existência do Estado Moçambicano. Daí que o problema fundamental que guia esta análise é: como resolver os desafios contemporâneos do país, sem perigar os benefícios da independência nacional a médio e longo prazo? Nesta reflexão, assumimos como hipótese fundamental, a ideia de a capacidade de prática individual e colectiva da unidade nacional poderá contribuir positivamente para a preservação dos benefícios da independência nacional a médio e longo prazo para Moçambique. Julgamos que esta análise é relevante pois visa encontrar caminhos para o futuro político-económico e social de Moçambique.

1.1 Teoria de Privação RelativaA presente pesquisa foi elaborada à luz da Teoria da Privação Relativa. Por Privação Relativa entendemos um sentimento de insatisfação de um indivíduo, ou de um grupo de indivíduos, quando estes se comparam a outros indivíduos ou grupos. Desse modo, a comparação feita a um grupo “não privado” tende à formação de altas expectativas que podem culminar em sentimentos de injustiça e privação (Vanneman & Pettigrew, 1972).

I - ABORDAGEM TEÓRICA, CONCEPTUAL E METODOLÓGICA

Vanneman, R. e D. Pettigrew. “Race and relative deprivation in the urban United States”. Race 13, 1972:461-486.

31

31

Comunicações dos Seminários da Presidência da República

62

Page 69: Comunicações dos Seminários da Presidência da República, 2013

Este conceito foi introduzido por Stouffer (1949) em um estudo sobre

soldados americanos durante a Segunda Guerra. Na época do conflito, eram

frequentes as promoções dadas aos membros da aeronáutica americana; já na

polícia militar não havia tanta mobilidade, e promoções eram raras. Numa

análise superficial, é comum pensar que o número de insatisfeitos com seus

empregos era maior entre os policiais militares, uma vez que esta classe

raramente recebia promoções. Mas Stouffer observou que, na prática, ocorria

o inverso: foi entre os homens da aeronáutica que mais frequentemente se

observaram sentimentos de injustiça ou insatisfação. A constante mobilidade

em seus cargos os faziam criar expectativas muito altas, o que muitas vezes os

levava a sentir-se fortemente privados. Sendo assim, conclui-se inicialmente

que a privação relativa não decorre de uma situação objectiva de

desfavorecimento, mas através de uma comparação que o indivíduo faz de sua

situação com a situação de outros. De certo modo, essa avaliação dependerá

também de factores como o nível de informação deste indivíduo, de como

representa sua posição social e a realidade a sua volta, dentre outros factores

subjectivos (De Sena e Vieira:2009:11).

Sr. João Massango, no uso da palavra

Rodrigo de Sena e Silva Vieira, “Representações Sociais dos Direitos Humanos, Privação Relativa e Percepções de Justiça Social”, Universidade Federal de Sergipe, Pró-reitora de Pós-Graduação e Pesquisa, Coordenação de Pesquisa, São Cristóvão – SE, 2009.

32

32

63

Page 70: Comunicações dos Seminários da Presidência da República, 2013

Runciman (1966) foi responsável por um importante desenvolvimento da

teoria da privação relativa. Ele propôs a divisão do fenómeno em duas

categorias: privação egoística e privação fraterna. A privação egoística está na

esfera individual, e corresponde à comparação que o indivíduo faz dele

mesmo com outros. Vanneman & Pettigrew (1972) apontam que, neste tipo

de comparação, o indivíduo tende a usar como referência seus semelhantes,

ou seja, pessoas de seu in-group. A privação fraterna faz parte de um âmbito

colectivo, e ocorre quando há comparação entre grupos sociais, isto é, entre o

grupo do qual o indivíduo faz parte e outro grupo existente na sociedade em

que vive. Esta diferença entre os dois tipos de privação relativa amplia as

análises possíveis sobre o fenómeno, uma vez que o afasta de uma simples

diferença entre aspirações passadas e situação actual. Runciman (1966) aponta

ainda que é a privação fraterna a responsável por movimentos de protesto ou

mudança social, uma vez que esta implica, em maior parte, articulações e

alterações na posição de grupos. Esta posição é confirmada por estudos

posteriores, como os realizados por Dubé e Guimond (1986) entre habitantes

do Quebéc, no Canadá.

A partir dessas proposições pode-se concluir que o sentimento de privação

relativa por parte de diferentes indivíduos num determinado meio social não

implica necessariamente o surgimento de uma força direccionada à mudança:

é importante haver um reconhecimento de que a situação envolve um grupo

de desfavorecidos, e para isso é necessário que haja algum nível de

categorização social, pois sem ela não haverá o tipo de comportamento

intergrupal que se espera de um movimento de mudança (Tajfel, 1982).

A privação fraterna requer que o indivíduo reconheça a existência de diferentes grupos e enquadre-se em um deles. Apesar disso, Dubé e Guimond (1986) propõem que a existência de grupos não deve ser algo trazido pelo pesquisador, uma vez que pode haver diferenças nas denominações e formas de entendê-los por parte dos indivíduos em seus meios. A privação fraterna deve surgir por si com maior frequência em sociedades que possuam subgrupos coesos e onde se percebe que há maior mobilidade social (Vanneman & Pettigrew, 1972).

33

De Sena e Vieira: 2009:11.33

Vanneman, R. e D. Pettigrew. “Race and relative deprivation in the urban United States”. Race 13, 1972, p. 461-486.

34

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Page 71: Comunicações dos Seminários da Presidência da República, 2013

Baseados no modelo proposto por Dion (1986 citado por Vala, 2003), Lima e

Vala (2003) adoptam um modelo de interpretação um pouco diferente sobre as

consequências da privação relativa, que valoriza a percepção do indivíduo

sobre o controle de sua vida e sobre o controle do sistema político. Assim, ao

sentir-se privados, os que avaliam ter controlo do sistema político tendem a

algum modo de activismo político; aqueles que não avaliam ter esse controle

tenderiam à apatia. Esse modelo parece ter alguma pertinência em

Moçambique, onde, grosso modo, pode ser notada uma apatia política em

larga escala que ocorre em consequência de uma avaliação popular de

incapacidade para promover mudanças. Inferindo deste pressuposto, um

fenómeno preocupante como os altos índices de abstenções em Moçambique

comprova esta ideia. Há alguma camada da sociedade que sente que as eleições

não têm valor político, daí se tornarem indiferentes aos processos eleitorais.

A partir do desenvolvimento dos conceitos de desenvolvimento sustentável,

interesse nacional e Estado, esta análise procura construir uma breve história

da evolução política do país, do valor da independência nacional e alguns dos

seus principais benefícios. Servindo-se desses benefícios como exemplos, a

reflexão prossegue fazendo referência a uma série de desafios que se colocam

pela frente, e procura justificar como podem ser garantidos os benefícios de

um Moçambique independente com base na aplicação efectiva do conceito de

unidade nacional e difusão da educação por todo o país.

1.2 Enquadramento Conceptual

1.2.1 Desenvolvimento SustentávelSegundo a Comissão Mundial Para o Meio Ambiente e Desenvolvimento (1987), Desenvolvimento Sustentável “é aquele que atende as necessidades do presente sem comprometer as possibilidades de as gerações futuras atenderem suas próprias necessidades”.

A ideia de desenvolvimento sustentável surgiu a partir dos estudos da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre as mudanças climáticas, no início de 1970, como resposta à preocupação da Humanidade diante da crise ambiental e social que se abateu sobre o mundo desde a segunda metade do

Gabinete de Estudos da Presidência da República 65

Page 72: Comunicações dos Seminários da Presidência da República, 2013

século passado. O desenvolvimento sustentável procura conciliar a necessidade de desenvolvimento económico da sociedade com a promoção do desenvolvimento social e com respeito ao meio ambiente (Gonçalves, 2005).

Segundo Castro (1996) citado por Gonçalves (ibid.), este novo paradigma surge através de um esforço de reconceptualização do conceito de desenvolvimento, abalado pela crise ambiental e social. A ideia de um novo modelo de desenvolvimento compatibilizando a dimensão económica, social e ambiental, surgiu para resolver o dilema entre crescimento económico e redução da miséria, de um lado, e preservação ambiental, por outro. Portanto, mostra-se a necessidade urgente de se encontrar formas de desenvolvimento económico que se sustentassem sem a redução drástica dos recursos naturais nem danos ao meio ambiente.

Mendes (2004) advoga que o desenvolvimento sustentável, como paradigma, assenta nos seguintes pressupostos básicos: i) satisfação das necessidades básicas do povo (educação, alimentação, saúde); ii) solidariedade ambiental para com as gerações futuras; iii) participação das pessoas envolvidas no processo de preservação ambiental; iv) preservação dos recursos naturais; v) elaboração de um sistema social que garanta emprego, segurança social, erradicação da miséria e respeito a outras culturas; e, por último, vi) efectivação de programas educativos ambientais.

1.2.2 Interesse NacionalSeguindo uma abordagem tradicional do realismo, Mingst (2009:318) define o interesse nacional como sendo o interesse do Estado, mais basicamente a protecção do território e da soberania. Esta definição coloca o termo como sendo unitário e definido em termos de busca de poder. Esta abordagem encontra reforço nas palavras de Morgenthau (1952:961), segundo o qual, “num mundo em que as nações soberanas competem por poder, a

35

Os principais precursores desta teoria são o Clube de Roma (1972); a Comissão Mundial para o Meio Ambiente e Desenvolvimento das Nações Unidas (1987).

35

Castro, M. (1996). Desenvolvimento Sustentável: a genealogia de um novo paradigma. Economia e Empresa. São Paulo

36

36

Mingst, Karen (2009) Princípios de Relações Internacionais, 4ª Edição traduzida, Editora Elsevier, São Paulo.

37

37

Morgenthau, Hans (1952) Another Great Debate: The National Interest of the United Nations States, American Political Science Review, LXVI.

38

38

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sobrevivência constitui o objectivo básico da política externa e interesse nacional central. Todas as nações estão obrigadas a proteger a sua identidade física, política e cultural contra as incursões de outras nações”.

Deste modo, o interesse nacional é identificado com a sobrevivência nacional. De acordo com Morgenthau (ibid.), e enquanto o globo estiver dividido em nações que coexistem num enquadramento anárquico global, o interesse nacional tem a última palavra na política mundial. Por conseguinte, o interesse é a essência da política, sendo esta definida em termos de poder.

A esta abordagem clássica e internacionalista do interesse nacional, adicionamos um elemento fulcral do neo-realismo, que é, por outras palavras, uma adaptação do realismo tradicional na fase das relações internacionais contemporâneas, que marcam o período pós-Guerra Fria. O elemento em causa está ligado ao pressuposto neo-realista segundo o qual,

Em primeiro plano (da esquerda para a direita): Bernardo Cherinda, Patrício José, Pascoal Ronda, Marcos Juma, Yaqub Sibindy e Miguel Mabote

Segundo Mingst (2009:61), o neo-realismo ou realismo estrutural é uma reinterpretação mais poderosa do realismo, esta ideia é acrescida por Dougherty e Pfaltzgraff (2003:102-103), “uma teoria de tipo neo-realista concederia maior rigor à tradição realista através da definição mais clara e consistente dos conceitos centrais; a análise neo-realista contemporânea centra-se na reinterpretação e aperfeiçoamento da teoria realista clássica”.

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Page 74: Comunicações dos Seminários da Presidência da República, 2013

“(...) qualquer explicação e entendimento das relações internacionais deve ser fundado nos actores políticos modernos, que, para além do próprio Estado, incluem ainda actores não-estatais, como por exemplo os partidos políticos, ONG's, multinacionais (MTN's), grupos de pressão, etc”.

Aplicando este conceito à realidade nacional, esta pesquisa assume o interesse

nacional como sendo o interesse supremo do Estado Moçambicano, que

prevalece sobre todos os outros interesses, sendo eles internos ou mesmo

externos ao Estado. Assim, o interesse nacional de Moçambique deve ser

diferenciado daquilo que, por ventura, a liderança política do Estado julgue

ser relevante para o cumprimento do seu mandato. Mais do que o interesse do

Governo do dia, o interesse nacional está directamente ligado àquilo que é de

interesse global da sociedade moçambicana, assumindo assim em conjunto as

diferentes orientações políticas, sociais, étnicas, religiosas e económicas dos

moçambicanos.

Obviamente, tratando-se de um Estado democrático, Moçambique enfrenta

o desafio de criar, sempre que necessário, uma abordagem comum sobre que

acções políticas são as mais recomendáveis, independentemente de quem

estiver no poder. Neste desafio, enquadra-se a estratégia de legitimação do

discurso político de “Combate à Pobreza”, visto pelo Governo do dia como

sendo a prioridade nacional. Ainda na mesma esfera, discursos de alguns

representantes da sociedade civil que criticam as regalias fiscais concedidas

aos mega-projectos em Moçambique, incluem-se nesta estratégia de

legitimação daquilo que, neste caso em concreto, cada actor político ou social

acredita que deve ser a prioridade e, dessa forma, o interesse nacional.

1.2.3 EstadoEstado é a entidade político-social juridicamente organizada para executar os objectivos da soberania nacional. O primeiro autor que introduziu o termo Estado, no sentido próximo do actual, foi Maquiavel, na obra “o príncipe”.

Entre as tentativas de conceituar o que seja Estado, figuram três elementos básicos, nomeadamente: território (base física do Estado); povo (associação

40

http://www.editorajuspodivm.com.br/i/f/tomo%20I%20soltas.pdf, 19/05/2013; 16:22 H.40

Comunicações dos Seminários da Presidência da República

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Page 75: Comunicações dos Seminários da Presidência da República, 2013

humana) e Governo (comando por parte de autoridade soberana). No caso concreto de Moçambique, este conceito tem uma origem muito recente, e em muitos locais do mesmo ainda existe o desafio de se cimentar o papel dos representantes administrativos do Estado de modo a garantir-se que todos os moçambicanos são efectivamente servidos pelas instituições de soberania.

1.3 Abordagem MetodológicaPara a realização da presente análise, foram usados diferentes métodos, a saber: histórico, monográfico e documental. O método histórico “consiste em investigar acontecimentos, processos e instituições do passado para verificar a sua influência na sociedade de hoje” (Lakatos, 1979:26-27). A escolha deste método justifica-se pelo facto dele possibilitar a produção de uma investigação dos factores do passado que estiveram na origem do problema das mudanças climáticas. Partindo do princípio de que a própria independência nacional é o principal facto histórico da República de Moçambique, a utilização deste método revelou-se bastante relevante.

O método monográfico “consiste no estudo de determinados indivíduos, profissões, condições, instituições, grupos ou comunidades, com a finalidade de obter generalizações” (Ibid. 28). Assim sendo, e tomando em consideração que no trabalho debruçou-se especificamente do caso de Moçambique, o uso deste método foi fundamental. A realização do estudo de caso de Moçambique poderá ser considerada representativo de outros países em desenvolvimento (PED's), com características similares às de Moçambique.

No que concerne às técnicas, recorreu-se ao emprego da técnica documental; esta que contempla, por um lado, fontes primárias que são os arquivos públicos, estatísticas oficiais e censos; e, por outro lado, fontes secundárias que são trabalhos elaborados, jornais, revistas (Ibid:29). Esta técnica tornou-se imprescindível para a realização da análise, pois o desenvolvimento do tema foi feito com recurso à obras, trabalhos e jornais inerentes ao tema em análise.

A história da formação do Estado Moçambicano passa necessariamente pelo entendimento da existência anterior do sistema colonial dominado por Portugal. Tal como em todas as regiões colonizadas do mundo, o objectivo

II – COLONIALISMO E O DESPERTAR DA CONSCIÊNCIA NACIONALISTA

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Page 76: Comunicações dos Seminários da Presidência da República, 2013

e até certo ponto políticas, tendentes a facilitar o objectivo da exploração.

Em Moçambique:

a) Obrigaram as populações nativas a executar trabalhos forçados (xibalo) e a pagar impostos;

b) Os colonatos deram origem a conflitos porque os colonizadores expropriaram as terras dos camponeses. E ocupavam posições sociais e económicas dominantes e afastavam os autóctones até mesmo das funções administrativas mais subalternas (CANEDO, 1994, 24);

c) O sistema de educação colonial estava montado de forma a servir ao colono e não virado para a difusão da ciência e da técnica pelos colonizados;

d) Os direitos humanos eram sistematicamente violados pelo regime colonial;

e) Os direitos e interesses políticos dos colonizados eram suprimidos com recurso à força policial e militar do regime, que tinha na PIDE uma grande figura de intimidação e perseguição dos nacionalistas;

f) De repente, os Estados políticos africanos na região de Moçambique actual perderam o seu poder, independência, e significado. Independentemente de serem grandes ou pequenos Estados;

g) Outra forma de utilização da população africana como meio de exploração pela metrópole era a exportação de mão-de-obra para os países vizinhos;

Apesar da sua longevidade, o colonialismo conheceu o seu fim. No caso concreto de Moçambique, o papel desempenhado pela Frelimo merece destaque. Embora não tenham sido as primeiras manifestações nacionalistas entre os moçambicanos, as acções da Frelimo acabaram por constar com destaque nos anais da História por terem sido aquelas que permitiram o fim do regime colonial.

41

Ligados ao problema do crescimento demográfico europeu que dobrou em sessenta anos. Estes colonatos deveriam resolver o problema da incapacidade da Europa em alimentar mais bocas e não poder oferecer trabalho a um contingente grande de pessoas que a revolução industrial e a técnica agrícola estavam dispensando (CANEDO, 1994, 24)

41

42

CANEDO, Letícia B. A descolonização da Ásia e da África. São Paulo: Actual, 1994.42

Walter Rodney, How Europe Underdeveloped Africa, Bogle-L'Ouverture Publications, London and Tanzanian Publishing House, Dar-Es-Salaam 1973, Transcript from 6th reprint, 1983;

43

43

44

Maria Helena da Cunha Rato, O colonialismo português, factor de subdesenvolvimento nacional, Análise Social, vol. XIX (77-78-79), 1983-3.º, 4.º 5.º, 1121.

44

Comunicações dos Seminários da Presidência da República

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Page 77: Comunicações dos Seminários da Presidência da República, 2013

2.2 Nacionalismo Moçambicano, Formação da Frelimo e Construção do Pilar do Estado MoçambicanoO movimento associativo africano na Colónia de Moçambique desempenhou um papel significante e activo na transformação de um proto-nacionalismo numa consciência nacionalista interventiva (...).Em Moçambique, são as cidades os viveiros de onde brotam as primeiras manifestações nacionalistas, tanto no campo da literatura (poesia e jornalismo), como ao nível dos movimentos associativos. Segundo Eduardo Mondlane, primeiro Presidente da FRELIMO:

“O nacionalismo moçambicano, como praticamente todo o nacionalismo africano, foi fruto directo do colonialismo europeu. A base mais característica da unidade nacional moçambicana é a experiência comum (em sofrer) do povo durante os últimos cem anos do controlo colonial português”.

Muito antes da formação da Frelimo, várias outras associações e movimentos nacionalistas manifestaram de diversas formas o seu descontentamento em relação ao regime colonial, embora ainda sem solução à vista. Dentre estes, pode-se citar: o Grémio Africano de Lourenço Marques, mais tarde Associação Africana da Colónia de Moçambique, bem como o Congresso Nacional Africano e o Instituto Negrófilo, donde nasceu o Centro Associativo dos Negros da Colónia de Moçambique (Ibid.).

Um aspecto relevante e destacável até à altura da formação da Frelimo está relacionado com a inexistência de um movimento nacionalista de âmbito nacional e que conseguisse congregar todas as diferentes sensibilidades dos autóctones de Moçambique e reivindicar a independência política diante do colonizador.

A criação da Frelimo, através da união entre UDENAMO (União Democrática Nacional de Moçambique), UNAMI (União Nacional Para Moçambique Independente) e MANU (União Africana Nacional de

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Olga Maria Lopes Serrão Iglésias Neves, O Movimento Associativo Africano em Moçambique. Tradição e Luta (1926-1962), parte do capítulo IV da tese de doutoramento, orientada por Fernando Rosas e Jill Dias, defendida na FCSH/UNL em Abril de 2009.

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2.3 Primeira Missão Geracional Cumprida: Geração 25 de Setembro e a Independência Nacional

A primeira tarefa dos jovens que ganharam a consciência política de serem moçambicanos era conquistar a independência política, total e completa de Moçambique. Nesta fase, o regime colonial era o inimigo comum, até certo ponto, a existência de um inimigo comum, e claramente definido, poderá ter facilitado de certa forma a união dos esforços dos moçambicanos, sobretudo em termos políticos.

O papel da juventude foi aqui destacável, pois foram os jovens que assumiram a dianteira nas fileiras da Frelimo e travaram a batalha contra o regime colonial. Os jovens em causa, deixaram muitas vezes de seguir os seus sonhos como médicos, professores, trabalhadores das minas e por aí em diante. Exemplos como os que são relatados por José Phahlane Moiane, na sua obra Memórias de Um Guerrilheiro, sobre a sua fuga para Dar-Es-Salaam e de tantos outros moçambicanos em idade jovem para se juntarem à Frelimo são prova inequívoca da elevação da consciência nacionalista dos moçambicanos.

A Juventude Moçambicana de então, apoiada pelo povo, executou e liderou a Luta Armada. Os jovens, homens e mulheres, não estiveram somente nos campos de batalha, mas também foram os professores dos demais colegas e crianças nas zonas libertadas; assim como também lavraram as machambas das quais se retiravam os alimentos para os guerrilheiros no combate. Esta união em prol de um único objectivo político terá sido o factor mais relevante para garantir que o processo de libertação chegaria a um fim positivo.

Os frutos de tanto esforço dos moçambicanos começaram a ser colhidos com a assinatura dos Acordos de Lusaka em 1974, o que depois deu lugar à Proclamação da Independência Nacional a 25 de Junho de 1975.

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Reconhecendo-se, entretanto, que alguma literatura levanta a necessidade de se esclarecer que, por algum período, não havia clareza entre os nacionalistas moçambicanos sobre quem era o verdadeiro inimigo. O que levou alguns a cultivarem ódio por todos portuguese, em detrimento de se focalizarem no próprio regime colonial.

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III – AS CONQUISTAS DA INDEPENDÊNCIA NACIONAL

Os ganhos da independência nacional são imensuráveis, pois os mesmos excedem a simples valorização material quantificável ou enumerável. Contudo, optamos por seleccionar alguns dos benefícios que julgamos serem relevantes trazer nesta análise. Em concreto, referimo-nos a:

3.1 Primeira Conquista: Unidade NacionalUma análise atenta denuncia claramente a existência de uma relação de precedência de certo modo complexa em relação aos conceitos de unidade nacional e de independência nacional. Nós somos de opinião de que, antes da própria independência nacional, foi a unidade nacional que possibilitou a vitória sobre o colonialismo. Assim, iremos explicar como entendemos a reciprocidade destes dois conceitos no contexto da história de Moçambique.

Foi graças à constatação da necessidade de haver união entre os moçambicanos que a vitória da Luta Armada se tornou possível. Unidos, juntos numa causa comum, os moçambicanos que inicialmente se julgaram fracos sentiram que eram muito mais fortes que o regime colonial desde que se mantivessem aliados. Entretanto, após o alcance da independência, os moçambicanos puderam notar que a unidade nacional é benéfica e necessária, daí que a mesma continuou ao nível do discurso da liderança política do dia. A própria independência era uma prova de que 'unidos venceremos'.

A unidade nacional foi, assim, a primeira conquista dos moçambicanos, que contribuiu consideravelmente para o alcance da independência nacional.

Com a unidade nacional, os moçambicanos ficaram conscientes da sua identidade política, fortaleceram a capacidade de defesa dos seus interesses em relação aos outros Estados (facto que ocorreu pela primeira vez diante do regime colonial).

3.2 Segunda Conquista: Independência NacionalConquistada a unidade nacional, a independência nacional foi possível, daí que esta é vista como sendo fruto da primeira. Com a criação do Estado Moçambicano, estava cumprido o sonho de todos os nativos. Assim, no concerto das nações, já se havia criado mais um actor, o país dos

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moçambicanos que acreditaram em viver numa realidade bem diferente daquela que encontraram durante o período colonial. O direito de autodeterminação dos moçambicanos permitiu, entre vários outros aspectos, a conquista de uma identidade política própria. Esta era a condição primordial para que o futuro dos Moçambicanos pudesse ser dirigido pelos próprios.

O povo moçambicano ganhou uma bandeira, um hino, uma moeda, e um território sobre o qual tinha plenos poderes políticos, incluindo os seus recursos. São exaltados os valores da Moçambicanidade de forma revigorada.

3.2.1 Soberania PolíticaO primeiro impacto da independência nacional ao nível do sistema internacional (SI) é a conquista da soberania e suas respectivas implicações de âmbito político. Os moçambicanos ganharam, pela primeira vez, uma Constituição da República própria, um governo próprio e um Estado com os seus diversos elementos a serviço dos próprios moçambicanos. Esta nova realidade despertava o patriotismo e enchia de orgulho a muitos

Policarpo Tamele a intervir no seminário

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Multiracialidade e Multiculturalismo. 47

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moçambicanos pois o poder já era dos moçambicanos.

3.2.2 Identidade PrópriaReconhecendo a diversidade cultural e étnica dos moçambicanos, o Governo manteve o português como língua oficial. Embora isso possa em algum momento ser visto como sendo um resquício do colonialismo, esta decisão visava atenuar um possível erro maior que seria, no contexto em que a decisão foi tomada, a agudização das divergências étnico-culturais. Os Moçambicanos ganharam uma nacionalidade própria, com direitos e obrigações específicas.

A conquista da soberania deu lugar a um processo de busca e exaltação dos valores da moçambicanidade, um debate que julgamos ser perpétuo e evolutivo segundo a própria dialéctica histórica da sociedade moçambicana. Por isso, acreditamos que a moçambicanidade é um processo em permanente construção; contudo, elementos como a multiracialidade e o multiculturalismo são algumas das suas características.

3.3 Terceira Conquista: Direito de Acesso à EducaçãoO Homem é o principal recurso de um país. Daí que o desenvolvimento do seu potencial deve ser uma das maiores prioridades de qualquer Estado. Nesta ordem, ao introduzir-se uma política educacional que visava formar os homens e capacitá-los para superar os desafios que se impunham ao país, o Estado estava a materializar mais uma das principais conquistas da nossa independência: o acesso inclusivo à educação.

Esta situação foi deveras diferente daquela que se viveu durante o período colonial, onde o sistema de educação coarctava o desenvolvimento técnico-científico dos moçambicanos.

3.4 Terceira Conquista: Independência EconómicaO desenvolvimento é um processo contínuo e, na sua materialização, a conquista de uma independência política é um dos elementos cruciais. Depois da conquista da independência nacional, a conquista da independência económica tornou-se a nova grande prioridade.

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3.4.1 Direito à Terra e Seus RecursosCom a independência nacional, os moçambicanos passaram a ter o direito de trabalharem a terra para seu próprio benefício. Esta é uma situação deveras diferente da realidade durante o período colonial. Os recursos nacionais não iam mais à metrópole, mas sim para os próprios moçambicanos.

Um exemplo deste novo cenário foram as machambas populares e cooperativas agrárias criadas em Moçambique. A cooperativização era considerada a via para envolver os camponeses na colectivização produtiva e social. A população no meio rural concentrou-se em aldeias comunais, sendo a base produtiva e económica as empresas estatais e as cooperativas.

3.4.2 Geração 8 de Março e o Patriotismo JuvenilA segunda geração que marcou o processo de construção do Estado Moçambicano depois da Geração do 25 de Setembro foi a Geração do 8 de

Dra. Helena Música a intervir no seminário sobre as conquistas da independência nacional

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Agricultura de Moçambique Pós-Independência: da Experiência Socialista à Recuperação do Modelo Colonial. Revista Internacional em Língua Portuguesa, III Série, Nº 21, pp.47-66. Lisboa, Associação das Universidades de Língua Portuguesa (http://www.saber.ac.mz/bitstream/10857/2018/1/Agricultura%20de%20Mo%C3%A7ambique%20P%C3%B3s-Independ%C3%AAncia.pdf);

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Março. O Estado moçambicano, proclamado a 25 de Junho de 1975, tinha grandes desafios pela sua frente: falta de quadros para as áreas económicas e sociais acrescidas da sabotagem económica e a ameaça externa à segurança nacional iniciada pelos ataques do regime racista rodesiano de Ian Smith e continuado pelo Apartheid.

No contexto do seu III Congresso, realizado em Fevereiro de 1977, a FRELIMO definiu a necessidade de formação rápida de quadros para todos os sectores da vida social e económica, como forma de assegurar a normalização da vida em todo o país. A questão que se colocava era onde ir buscar a matéria-prima para a formação desses quadros. Para o Presidente Samora Machel, no seu discurso de 8 de Março, “o problema da falta de quadros surgiu desde o início da luta armada e nós conseguimos resolvê-lo contando essencialmente com as nossas próprias forças, buscando soluções populares.” Foi assim, que os alunos que deveriam prosseguir com seus estudos, na 10ª e 11ª classe, receberam tarefas em diversos sectores de actividades, tal como em 1964, quando a Frelimo decidiu o desencadeamento da luta armada.

A solução encontrada pelo Governo do dia na altura visava colmatar um problema concreto, daí o pragmatismo verificado e que, em algum momento, poderá não ter tido o cuidado técnico de avaliar se cada quadro era enviado para a área ou missão na qual pudesse ter o melhor desempenho. Porém, pretendemos destacar aqui a decisão política de colocar os nacionais, em virtude da ausência dos anteriores técnicos portugueses, nos postos de trabalho como forma de garantir, com base nos recursos até então existentes, que o Governo respondia às necessidades do país.

Conscientes da sua inexperiência, mas imbuídos de um valor patriótico bastante consolidado, sobretudo em razão da conjuntura pós-independência que se vivia naquela altura, muitos jovens interromperam os seus estudos e entregaram-se à causa nacional.

Este patriotismo permitiu que os efeitos da falta de quadros no país fossem mitigados, dando lugar a um processo que continua até aos dias de hoje de formação constante de quadros da função pública nacional.

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“A Geração de 8 de Março, Antes e Depois”, Discurso do Presidente Armando Emílio Guebuza, nas comemorações do dia 8 de Março em 2004.

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IV – DESAFIOS DAS CONQUISTAS DA INDEPENDÊNCIA NACIONAL

4.1 Desafios da Unidade Nacional

Identificadas as conquistas da independência nacional, passaremos para a discussão dos seus respectivos desafios:

4.1.1 Consolidação da Democracia e do Estado de DireitoA consolidação da democracia é, para nós, o caminho a seguir para o Estado Moçambicano; pelo que, factos como o crescente número de abstenções nos processos eleitorais nacionais são reveladores de alguma anomalia grave dentro da nossa democracia.

4.1.2 O Papel da Liderança: Produzir e Difundir Referências Nacionais

Uma forma eficaz de educar e instruir ao seu povo por parte dos governantes passa pela necessidade de, para além do discurso, serem capazes de dar exemplos concretos daquilo que esperam ver da sociedade, especialmente a juventude; isto permitiria criar referências sociais mais ou menos consensuais, que inspirariam aos mais jovens para que seguissem de forma a continuar o processo de desenvolvimento do país.

4.1.3 Papel da Juventude na Preservação da Independência Nacional

A independência conquistada precisa de um defensor; embora seja missão de toda a sociedade cumprir este papel, reconhecemos que a juventude tem uma missão especial neste processo não somente por ser a maioria da população moçambicana, mas sobretudo por ser a principal força de mudanças sociais.

4.1.4 Educação Patriótica: Preservar a Identidade Política e Cultural de Moçambique

Destacamos a necessidade de se aprimorar a consciência política dos moçambicanos não somente para se consolidar o desenvolvimento nacional, como também para se salvaguardarem os valores da moçambicanidade.

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4.1.4.1. Aprimorar a Consciência PolíticaOs Jovens precisam assumir maior protagonismo nos processos políticos nacionais de forma a conseguirem defender melhor o interesse nacional. A falta de interesse pelos eventos políticos nacionais, assim como os internacionais cujos efeitos se fazem sentir em Moçambique, entre outros aspectos, são exemplos de comportamentos dos jovens que em nada contribuem para a consolidação da sua consciência política. Assim, recomendamos efusivamente, que os jovens sejam mais informados e instruídos sobre a importância que a sua participação política tem no desenovlvimento do país.

4.1.4.2 Empreendedorismo e Cultura de TrabalhoO desenvolvimento dos Estados passa, para além da consolidação da consciência política e patriótica dos seus jovens, por conseguirem implementar um espírito empreendedor, inovador e de trabalho. A riqueza dos países produz-se com trabalho; a agricultura necessita de mãos para lavrar a terra; as cidades erguem-se com engenheiros e técnicos médios das mais diversas áreas. Todos, em conjunto, constroem a economia de uma nação. No caso Moçambicano, os jovens precisam pautar mais por uma cultura de trabalho abnegado.

4.2 Desafios da Independência Nacional

4.2.1 Preservar a Integridade Nacional- A terra é uma conquista directa da independência nacional. Assim, todas as riquezas existentes no solo, no subsolo e nas águas nacionais, são dos moçambicanos. Numa altura em que se fala constantemente, sobretudo nos últimos anos, de descobertas frequentes de recursos nacionais estratégicos, com destaque para o gás natural e o carvão, o interesse das potências estrangeiras nos recursos nacionais torna-se muito maior. Tal como já terá acontecido com países como o Iraque e a Líbia, cujas invasões foram alegadamente para eliminar lideranças autoritárias, é necessário que a sociedade e o Estado Moçambicanos sigam atentamente os eventos recentes no mundo de forma a que não sejam pegues de surpresa.

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Num contexto de crise energética como o que se vive actualmente no mercado mundial, é importante que Moçambique consiga munir-se de mecanismos eficientes e modernos de defesa própria. Disputas territoriais com Estados vizinhos podem tornar-se existentes e a nossa capacidade de defesa da integridade territorial deve ser bem patente, de forma a dissuadir qualquer pretensão para o efeito.

Para além das ameaças externas, é relevante que sejam fortalecidas as defesas contra todo o tipo de ameaças internas, especialmente aquelas que em alguns momentos se manifestam a favor de um divisionismo do Estado. Aliás, conforme referimos anteriormente, a unidade nacional é, por excelência, o maior benefício da independência nacional.

4.2.2 Preservar a Identidade NacionalO conceito de moçambicanidade remete-nos à necessidade de preservação de uma identidade sociocultural que distinga o povo moçambicano dos demais. Actualmente, com a crescente evolução tecnológica, os perigos à preservação da cultura nacional são inúmeros e cada vez mais complexos. Senão vejamos:

4.2.2.1 Quem Tem Direito à Nacionalidade Moçambicana?Actualmente são inúmeros os casos reportados de cidadãos estrangeiros, muitas das vezes imigrantes ilegais, que são encontrados dentro e fora de Moçambique em posse de passaportes e bilhetes de identificação nacionais. Esta prática, a ser reiterada, viola gravemente a Constituição da República e criam enormes desafios de governação do Estado. Não somente pelo incremento do número de pessoas a residir no país, o que resulta em maior pressão de serviços sociais básicos que já estão deficientes (hospitais, habitação, educação e etc.); mas também, e sobretudo, por serem pessoas que, por serem desconhecidas, acabam resultando na introdução, dentro da nossa sociedade, de práticas sociais criminais.

Existem já vários exemplos de cidadãos estrangeiros encontrados com posse ilegal de armas a cometerem crimes nas nossas cidades; existem casos de muitos imigrantes ilegais que praticam o garimpo ilegal de pedras preciosas no centro do país; existem ainda outros que introduzem de forma sistemática novas práticas criminais, como por exemplo o tráfico de seres humanos, o sequestro de pessoas, entre outros crimes graves.

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Do ponto de vista de efeitos negativos do fraco controlo do processo de atribuição da nacionalidade aos estrangeiros, é importante destacar não somente os perigos imediatos, mas também, e sobretudo, os de longo prazo, tendo em conta que, num futuro não muito distante, os autóctones de Moçambique poderão ter que disputar recursos escassos (empregos, negócios, terra, entre outros), com indivíduos que não sejam de pleno direito.

4.2.2.2 Qual o Contributo de Moçambique na Globalização?Um outro aspecto que deve ser esclarecido está ligado à contribuição cultural de Moçambique no mundo em Globalização. Num cenário em que, repetidamente, vemos os jovens moçambicanos praticamente influenciados por comportamentos culturais que não sejam típicos de Moçambique; importa problematizar aquilo que Moçambique tem de melhor e que pode oferecer como seu contributo ao mundo em Globalização.

Intervenção de um dos participantes no seminário

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4.2.3 Primazia do Interesse NacionalAinda no contexto da Globalização, é relevante, mais do nunca, que os moçambicanos consigam defender o seu interesse nacional face às ameaças externas e internas. Tal processo precisa ser evidenciado nos acordos e parcerias traçadas com os parceiros de cooperação, garantindo-se que os tratados hoje assinados tenham em atenção o interesse nacional visto numa perspectiva de curto, médio e longo prazo.

4.3 Desafios da Educação em Moçambique

O Homem é o maior recurso de uma sociedade; e Moçambique não foge a esta regra. Para melhor proveito poder tirar deste Homem, é importante que o mesmo seja instruído. Numa sociedade global, dominada pela ciência e pela técnica, o futuro de Moçambique passa necessariamente por conseguir providenciar um serviço de educação mais completo, com qualidade e mais virado para as necessidades estruturais do país sob o ponto de vista de formação de quadros desde o nível técnico base, até o superior.

No caso concreto de Moçambique, a continuação da aposta no ensino técnico-profissional é uma evidência clara do caminho a ser seguido. Dando capacidades de produção aos jovens, o Estado estará a massificar as frentes de produção da indústria nacional, mesmo que seja ainda em pequena escala.

Na sua formação, para além da simples capacitação técnica, os quadros nacionais necessitam de consolidar a componente patriótica. Não basta ser doutor, é preciso ser um doutor que zela pelo interesse de Moçambique.

4.4 Desafios da Independência Económica

Ao proclamar a Independência Nacional a 25 de Junho de 1975, o Presidente Samora Machel deu o mais importante passo na História de Moçambique; pois ele anunciava a libertação política do Estado. Contudo, a dialéctica histórica do país mostra-nos como ainda existe um longo caminho a ser percorrido para que se consiga alcançar a independência económica.

Actualmente, apesar da liberdade política de que gozam os moçambicanos, os níveis de pobreza são ainda alarmantes, assim como os índices de

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analfabetismo, desemprego, de fome, de infecção pelo VIH/SIDA, pela malária, cólera e outros males, continuam extremamente altos.

A independência económica actualmente tem apenas dado alguns passos que são visíveis em vários distritos do país; especialmente no que toca às infra-estruturas, uma das grandes apostas do actual Governo. A expansão da rede de abastecimento de água, de electricidade, da rede hospitalar, escolar e, até certo ponto, de serviços são manifestações da independência económica. Embora ainda insuficientes, estes sinais revelam o rumo a ser seguido por Moçambique. Apostando na melhoria contínua da qualidade de vida do seu povo, com base na cultura de trabalho e na unidade nacional.

- O desenvolvimento é bom, mas também é um processo longo e complexo. Assim, por vezes cria aquilo que consideramos serem os “desafios do desenvolvimento”. Por exemplo, concordando que se trata de uma necessidade de toda a comunidade residente em Maputo, muitos afectados pelo “Projecto da Circular do Maputo” mostram-se a favor do projecto, mas criticam abertamente a forma como o processo do reassentamento tem estado a decorrer. Isto é para nós um exemplo de desafios do desenvolvimento.

A descoberta de recursos naturais estratégicos é uma oportunidade soberana para se alcançar, em menor espaço do tempo, a tão almejada independência económica nacional. Contudo, evidências históricas revelam que este processo, se mal gerido, pode muito bem contribuir para dificultar mais ainda ao processo de desenvolvimento. Entretanto, neste âmbito, a gestão das expectativas é um dos maiores desafios que identificámos neste dossier. Ao que se percebe, existe uma alta fasquia das expectativas dos moçambicanos sobre esta matéria; e isso pode em algum momento transformar-se num foco de tensão ou mesmo de conflito.

No âmbito da exploração dos recursos naturais, a gestão transparente dos recursos naturais e seus respectivos benefícios é uma condição incontornável para ajudar na construção da confiança política da sociedade em relação ao

V – GESTÃO DOS CONFLITOS DO DESENVOLVIMENTO EM MOÇAMBIQUE

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governo do dia. Aliado a isto, está a inclusão de todos os estratos sociais de Moçambique nos benefícios directos e indirectos da exploração dos recursos naturais. Um outro factor relevante, é a questão já referenciada da segurança interna, aqui representada não somente coma componente da integridade territorial de Moçambique, mas também, do ponto de vista interno, de uma ordem e tranquilidade pública, assim como contra as mudanças climáticas, especialmente sob forma de cheias, secas e tempestades.

Para tal, o Estado Moçambicano precisa de um plano de desenvolvimento a médio e longo prazo de pelos menos, 50 anos de projecção.

6.1 “A Solução Está Em Nós”

- Qualquer que seja a solução para a consolidação efectiva da independência económica nacional, a mesma deverá partir dos próprios moçambicanos. Daí que precisamos de melhorar a forma de participação social no processo de desenvolvimento nacional.

VI. RECOMENDAÇÕES

Yaqub Sibindy, intervindo no seminário

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6.2 O Papel Da Comunicação Social- No século XXI, a Comunicação Social tem um papel preponderante na sociedade, razão pela qual tem sido considerada “IV Poder”. Assim sendo, recomendamos um maior envolvimento na divulgação e respectiva explicação da agenda nacional de desenvolvimento, de forma a permitir que um maior número de pessoas perceba a visão do Governo, e assim possa melhor contribuir na sua implementação.

6.3 Gestão Inclusiva das Infra-estruturas e dos Recursos Nacionais- A expansão das infra-estruturas deve servir para consolidar a integração de todas as comunidades no mercado nacional, regional e global.

6.4 Promover Uma Política Externa Assertiva (Não Existem Estados Amigos, Apenas Parceiros)- Entre os Estados, não existem amigos, apenas parceiros em interesses específicos. Daí que a nossa política externa deve continuar a apostar numa diplomacia economia assertiva e salvaguardando, para além do interesse imediato, os objectivos a médio e longo prazo do Estado Moçambicano.

6.5 Sistema Educacional Focado no Patriotismo, Tecnocracia e Ética - Mais do que formar técnicos, a política nacional de educação deve procurar garantir de forma estratégica que forma profissionais patriotas, que dominem a ciência e respeitem sempre os princípios éticos necessários para um bom convívio social em Moçambique.

6.6 O Papel da Juventude: “Segurar o Barco” (Preservar a Paz, Unidade Nacional e o Progresso)- Aos jovens fica a mensagem da necessidade de “segurar o barco”; ou seja, dar continuidade ao processo de consolidação da independência económica nacional e preservar a própria Independência Nacional.

6.7 Desenvolvimento Económico Sustentável e Inclusivo- A sustentabilidade ambiental e a inclusão social são os caminhos a seguir na gestão dos recursos naturais.

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BIBLIOGRAFIAObras:

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ü Walter Rodney, How Europe Underdeveloped Africa, Bogle-L'Ouverture Publications, London and Tanzanian Publishing House, Dar-Es-Salaam 1973, Transcript from 6th reprint, 1983;

ü Maria Helena da Cunha Rato, O colonialismo português, factor de subdesenvolvimento nacional, Análise Social, vol. XIX (77-78-79), 1983-3.º, 4.º 5.º, 1121.

ü Vanneman, R. e D. Pettigrew. “Race and relative deprivation in the urban United States”. Race 13, 1972:461-486;

ü Rodrigo de Sena e Silva Vieira, “Representações Sociais dos Direitos Humanos, Privação Relativa e Percepções de Justiça Social”, Universidade Federal de Sergipe, Pró-reitora de Pós-Graduação e Pesquisa, Coordenação de Pesquisa, São Cristóvão – SE, 2009;

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ü Castro, M. (1996). Desenvolvimento Sustentável: a genealogia de um novo paradigma. Economia e Empresa. São Paulo;

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ü Morgenthau, Hans (1952) Another Great Debate: The National Interest of the United Nations States, American Political Science Review, LXVI;

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OS DESAFIOS DE FINANCIAMENTO PARA O DESENVOLVIMENTO

ECONÓMICO DE MOÇAMBIQUE

CONTEXTUALIZAÇÃO

Área

oçambique localiza-se na costa sudoeste de África, com uma área de cerca de 799.380 Km e uma linha costeira de cerca de 2.515 MKm ao longo do Oceano Índico, constituindo um espaço vital

tanto para o país assim como para os países vizinhos situados no interior que

Por: Anabela Chambuca Pinho

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têm acesso às vias oceânicas através dos portos moçambicanos. Em termos de fronteiras, o país faz limite, a Norte, com a República Unida da Tanzânia, a Oeste com o Malawi, Zâmbia, Zimbabwe, Suazilândia e República da África do Sul; a Sul, faz limite com a África do Sul, países com os quais partilha cerca de 4.330Km.

População

Estabilidade Política

Políticas Económicas para o Sector Financeiro

De acordo com os dados do censo populacional de 2007, Moçambique possui uma população de 20.366.795 habitantes e a população está a crescer a uma taxa média de 2,6% por ano, e é predominantemente rural (68,2%). As projecções mostram que para 2013 o número da população seja estimado em 23.515.930 habitantes.

Desde a assinatura do Acordo Geral de Paz em 1992, Moçambique tem vindo a manter a estabilidade política, governação democrática e reconciliação nacional, condições estas que tornam o ambiente de negócios atractivos para investimentos externos, pela dinâmica de crescimento económico e novas descobertas de recursos naturais.

Relativamente a estabilidade política, o Global Peace Index de 2013, classifica Moçambique como um dos países mais estáveis em África sendo e 61º no Mundo.

O Plano Económico e Social para o ano de 2013 estabelece as seguintes metas indicativas para o sector Monetário e Cambial:

Constituição de reservas internacionais líquidas no montante de USD 281 milhões, elevando o saldo para USD 2.719 milhões, equivalentes a 4,8 meses de cobertura das importações de bens e serviços não factoriais;

Crescimento anual da base monetária em 18,4% (variável operacional da política monetária);

Crescimento do saldo do agregado mais amplo de moeda (M3) em 18,6%;

Expansão anual do crédito ao sector privado em 23,2%; e realizar, entre outras,

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as seguintes principais acções de carácter estrutural:

Continuar a melhorar a gestão da política monetária, reforçando a capacidade de previsão e de resposta, tendo em vista minimizar os riscos e incertezas da conjuntura económico-financeira;

Fortalecer o papel de supervisão bancária no quadro da presente crise financeira internacional, minimizando o efeito-contágio no sistema financeiro moçambicano;

Prosseguir o esforço de bancarização e de alargamento dos serviços financeiros às

zonas mais recônditas;

Intervir nos mercados interbancários por forma a assegurar a manutenção das condições de liquidez consistente com os objectivos de crescimento do Produto Interno Bruto, num ambiente de inflação baixa e controlada. Estas medidas permitem intervir nos mercados interbancários de forma a assegurar a manutenção das condições de liquidez consistentes com os objectivos de crescimento do produto Interno Bruto, num ambiente de inflação baixa e controlada.

O panorama económico e financeiro em Moçambique ao longo dos últimos três anos, mostra que o PIB moçambicano tem vindo a crescer numa média de 7,2%, posicionando-se entre os países com maiores taxas de crescimento ao nível mundial, sustentado por uma estabilidade macroeconómica, politica, reformas estruturais, bem como, implementação de políticas macroeconómicas prudentes.

Os principais constrangimentos à economia são constituídos, dentre vários, os seguintes: (1) assimetria de informação sobre as oportunidades de negócio existentes nas diversas áreas de economia; (2) falta de mecanismos que motivem o investidor estrangeiro a formar parcerias com o empresariado nacional; (3) falta de financiamento ajustado às oportunidades que o País oferece; (4) fraca mobilização da sociedade para criação e gestão de fundos especializados para permitir a sua participação nos esquemas de financiamento à economia.

Tabela 1. Indicadores Macroeconómicos de Moçambique

Desempenho Macroeconómico

Indicadores Macroeconómicos de Moçambique

2010 2011 2012* 2013 (PES)

PIB nominal (milhões de MT)

Taxa de Câmbio

314.961,2 364.736,8 407.903,4 482.871,0

Crescimento real do PIB (%)

Inflacção mádia anual (%)

33,0 29,1 28,1

7,3% 7,2% 8,4%7,1%

12,4 11,2 2,6 7,5

Fonte:INE

Gabinete de Estudos da Presidência da República 89

Page 96: Comunicações dos Seminários da Presidência da República, 2013

Para tal desempenho, a agricultura, revitalizada pelos diversos projectos em implementação, continua a ser a actividade económica que mais contribui para o PIB, com uma média de 23% no período em consideração, seguida pela actividade industrial, e pelos ramos do comércio e transportes e comunicações.

Estimativas do INE para PIB per capita de 2012 indicam o valor de 612 USD contra 543,8 USD de 2011. Este indicador é também utilizado para medir o crescimento económico de um país, verificando-se o seu incremento a um ritmo considerável, não obstante, os valores observados nos últimos anos terem-se situado abaixo da média da África Sub-sahariana e da região da SADC.

O crescimento económico até há uns anos atrás, centrava-se em alguma das economias emergentes, como o Brasil, Rússia, Índia e China, assim como em alguns outros países da América Latina, Europa de Leste e Ásia. Entretanto, devido ao potencial do crescimento dos sectores extracção mineira, agricultura, Petróleo e Gás, Infra-estruturas, entre outros, o continente africano tem apresentado as maiores taxas de crescimento da economia, e faz com que esta seja a segunda região do Mundo com o mais rápido índice de crescimento económico.

Moçambique beneficia de uma localização geográfica estratégica dentro da SADC, servindo-se do potencial de portos (Maputo, Beira e Nacala), como autênticos corredores de desenvolvimento, e atraindo a atenção do investimento internacional.

Em termos do Investimento Directo Estrangeiro, no período entre 2007 e 2012, Moçambique é o sexto país africano e o segundo na região do SADC. Ocupa ainda a sétima posiçãoNigéria continental em número de projectos de infra-estruturas em curso (Fevereiro de 2013), sendo o sexto em termos de valor de projectos (USD 32 mil milhões).

Considerando o potencial do crescimento económico de Moçambique, o País necessitará de mobilizar financiamento para a implementação de projectos de investimento em todas as áreas que concorrem para a dinamização da economia e para assegurar o desenvolvimento sustentável e a inclusão económica e social da população moçambicana, através da criação de mais postos de trabalho, da diversificação económica, e de uma maior capacitação das Pequenas e Médias Empresas.

Crescimento Económico e Investimento Directo Estrangeiro

Comunicações dos Seminários da Presidência da República

90

Page 97: Comunicações dos Seminários da Presidência da República, 2013

I. O FINANCIAMENTO À ECONOMIA EM

MOÇAMBIQUE

As teorias económicas demonstram que o crescimento de uma economia passa pelo aumento da capacidade produtiva, que depende necessariamente do financiamento realizado, sendo este um dos maiores desafios actuais de Moçambique para conseguir manter os níveis de crescimento económico, que nos últimos anos se têm registado acima dos 7%.

O País tem diversas formas de financiamento à economia, especificamente orientadas para o Estado, para as Empresas e para os Particulares, como mostra a figura 1.

Figura 1: Fontes de Financiamento

O Estado financia-se através do financiamento interno e do financiamento externo. Quando recorre ao financiamento interno, está a fazê-lo por via das receitas provenientes de impostos e taxas, pela emissão de Dívida Pública (Bilhetes do Tesouro, Obrigações do Tesouro), e por recurso ao Crédito Bancário. Quando recorre ao financiamento externo, este é resultante dos Donativos e da contratação de Créditos Concessionais e Não Concessionais.

ESTADO EMPRESAS PARTICULARES

Interno Capitais Própios Poupanças

Receitas do Estado FinanciamentoBancário

Empréstimo deAmigos e Familiares

Crédito Bancário Emissão de DívidaFinanciamento Bancário

Obrigações do Tesouro

Aplicações no Mercado Monetário

Aplicações no Mercado Monetário

Bilhetes do TesouroAplicações noMercado de Capitais

Aplicações noMercado de Capitais

Externo

Donativos

Créditos

Concessionais

Não Concessionais

Fo

nte

s d

e F

inan

ciam

ento

Gabinete de Estudos da Presidência da República 91

Page 98: Comunicações dos Seminários da Presidência da República, 2013

O crescimento económico dos países leva a uma alteração na relação entre o financiamento externo (donativos, créditos concessionais e não concessionais) e o seu peso no investimento público, tendo em conta que o crescimento económico torna previsível uma diminuição dos donativos e créditos externos, que terão de ser compensados por via do aumento das receitas internas e outras formas de financiamento, sendo essa a situação actual de Moçambique, onde o programa de investimento público em infra-estruturas depende cada vez mais das receitas do País (passou de 21,8% em 2011 para 24,0% do PIB em 2012).

Gráfico 1. Volume de Recursos em % do PIB

Fonte: Conta Geral do Estado 2010, Conta Geral do Estado 2011, Relatório de Execução Janeiro ao Dezembro de 2012.

No geral, as crises económicas também têm influenciado negativamente os níveis de apoio externo, e Moçambique tem sentido esse efeito, onde o financiamento por via de donativos reduziu de 7,4% em 2011 para 6,2% em 2012.

A Dívida Pública (stock em 2011 – USD 4.214,43 milhões e em 2012 – USD 5.300,8 milhões) é representada maioritariamente pela Dívida Externa e na Análise de Sustentabilidade da Dívida, Moçambique apresenta um baixo risco de sobreendividamento. O rácio da dívida relativamente às exportações deverá manter-se estável em torno de 16,5%, mas o peso do serviço da dívida sobre a receita deverá

Comunicações dos Seminários da Presidência da República

92

Page 99: Comunicações dos Seminários da Presidência da República, 2013

aumentar de 2,8%, registados em 2011, para 5,2% em 2013, progressivamente, atingindo 8,5% em 2016 antes de se estabilizar a longo prazo.

As Empresas, quando não se financiam com os seus Fundos Próprios, fazem-no principalmente recorrendo ao sistema financeiro através de Financiamentos Bancários, e por via da emissão de Dívida Corporativa (Papel Comercial – dívida curto prazo - e Obrigações – dívida de médio e longo prazo), ou de rendimentos decorrentes em aplicações no mercado monetário ou no mercado de capitais.

No período de 2010 à 2012, o crédito total por actividades mostra que as empresas ligadas ao sector do comércio tiveram maiores benefícios com valores a ascenderem em 200.000 milhões de MT, o mostra o gráfico 2.

Gráfico 2. Crédito Total por Sector de Actividades (em milhares de MT)

Os Particulares financiam-se normalmente com os seus Rendimentos ou Empréstimos de Amigos e Familiares, mas quando recorrem a outras formas de financiamento fazem-no normalmente junto do sistema financeiro através de Empréstimos Bancários (Bancos Comerciais, Instituições de Micro finanças), ou por via da aplicação no mercado monetário (Depósitos a Prazo e produtos estruturados) ou de rendimentos decorrentes da aplicação no mercado de capitais (rendimentos de obrigações, dividendos de acções, mais-valias de transacções bolsistas, aplicação em fundos de investimento). As estatísticas mostram que o nível de crédito concedido às famílias tem vindo a crescer e no ano de 2012, o valor global de crédito concedido ascende em 250.000 milhões de MT.

Fonte: Banco de Moçambique

Gabinete de Estudos da Presidência da República 93

Page 100: Comunicações dos Seminários da Presidência da República, 2013

II. A BOLSA DE VALORES DE MOÇAMBIQUE: ORGANIZAÇÃO E FUNCIONAMENTO

O financiamento da economia, através da participação activa no financiamento dos investimentos do sector empresarial, desempenha, ainda, um importante papel no equilíbrio do défice orçamental, fornecendo ao Estado e aos demais entes públicos os meios financeiros indispensáveis à concretização dos projectos de investimento e meios suplementares de condução da política, nos domínios económico e social.

Com efeito, nos mercados financeiros processa-se a transferência dos recursos excedentários para os agentes deficitários, mediante a observância de regras previamente definidas, pelo que os mercados financeiros desempenham um importante papel no financiamento à economia, ao sector das empresas e dos particulares.

Os mercados financeiros por sua vez são segmentados em diferentes mercados, que se diferenciam pelo seu regime temporal, pela transmissibilidade dos instrumentos financeiros, pelo tipo de instrumentos negociados:

Prof. Doutor Vasco Nhabinde, moderador do seminário sobre a Bolsa de Valores

Comunicações dos Seminários da Presidência da República

94

Page 101: Comunicações dos Seminários da Presidência da República, 2013

Figura 2. Organização dos Mercados Financeiros e da Bolsa de Valores

MercadosFinanceiros

MercadoMonetário

MercadoCambial

Mercadode Capitais

Mercado de Valores Mobiliários

Mercado de Valores não Mobiliários

Mercado Primário

Mercado Secundário

Bolsa de Valores

Mercado Fora de Bolsa

Central deValores

Mobiliários

Sessões Normais de Bolsa

SEGUNDO MERCADO

( Pequenas e Médias Empresas )

MERCADO DE COTAÇÕES OFICIAIS

(Grandes Empresas)

Sessões Especiais de Bolsa

Ofertas Públicas de Venda

Ofertas Públicas de Aquisição

Ofertas Públicas de Subscrição

Emissão de Obrigações do Tesouro

Reserva para GTTsReserva para

Investidores Nacionais na Lei das PPPs, PGDs e

CEs

Outras Transacções Especiais

Gabinete de Estudos da Presidência da República 95

Page 102: Comunicações dos Seminários da Presidência da República, 2013

Como se pode verificar da Figura 2, o Mercado de Capitais é o segmento do Mercado Financeiro que permite o encontro entre os investidores, que normalmente são agentes económicos que não tem a capacidade de satisfazer as suas necessidades de financiamento, com os agentes económicos (especialmente as famílias, e também as empresas) que acumulam poupanças.

Segundo Samuelson (1998)“… (há) uma ligação estreita entre o rendimento, o consumo e a poupança. Qual é exactamente essa relação? Efectivamente, a ideia é muito simples. A poupança é a parte do rendimento que não é consumida. Isto é, a poupança é igual ao rendimento menos o consumo.”

Podem-se observar quatro teorias principais, ao nível da economia, sobre as determinantes da poupança, e padrões de evolução:

(i) a tese Keynesiana, de J.M.Keynes que afirma que a taxa de poupança de uma economia depende principalmente do seu nível de rendimento: à medida que o rendimento aumenta aumenta também a poupança.

(ii) a tese do “Efeito demonstração” de James E. Deuesemberry, que refere que a decisão de poupar depende acima de tudo do nível de consumo dos indivíduos da mesma classe social.

(iii) a tese do “ciclo de vida”, de Modigliani, Brumberg e Ando, que defende que os indivíduos tendem a manter um determinado nível de consumo durante toda a vida.

(iv) a tese do “rendimento permanente” de Milton Friedman, que defende que os particulares tendem a manter um padrão estável de consumo e que estes tendem a consumir uma determinada proporção do seu rendimento permanente.

Outros factores que determinam a capacidade de poupança de uma economia são: a evolução da inflação, da taxa de juro, e também se deve ter em conta o

POUPANÇA RENDIMENTO CONSUMO

Comunicações dos Seminários da Presidência da República

96

Page 103: Comunicações dos Seminários da Presidência da República, 2013

pagamento dos impostos pelos agentes económicos.

O mercado de capitais, conceito que habitualmente se associa à existência de uma Bolsa de Valores, consiste num mercado financeiro no qual se transaccionam valores mobiliários de médio e longo prazos, tipicamente acções e obrigações, para além de muitos outros instrumentos financeiros menos conhecidos, como os direitos, as unidades de participação, o papel comercial e demais valores mobiliários, apresentando as seguintes vantagens:

· A maximização dos fluxos financeiros, através da prevenção do risco de imobilização dos recursos excedentários, o que pode suceder caso os recursos aplicados não beneficiem da garantia de adequada liquidez;

· A quantificação do valor dos activos, permitindo a determinação dos preços dos activos financeiros de uma forma transparente e eficiente. Com efeito, a confrontação global da oferta e da procura de fundos, permite, para o mesmo horizonte temporal e mesmo perfil de risco, obter a melhor (mais alta) taxa de retorno para o aforrador e o melhor (mais baixo) custo de angariação de capital por parte do investidor. Nos mercados de bolsa esta função é imediata, com o preço do activo (cotação) a ser determinado pelo encontro entre a oferta e a procura, para um dado momento; e

· Mutação das Estruturas Industriais e Comerciais, quando o valor real de uma dada empresa é determinado através dos mecanismos existentes num mercado financeiro eficiente, esse valor é assumido por todos como adequado.

A Figura 3 evidencia as principais vantagens do Mercado de Capitais para os diversos agentes económicos (o Estado, as Empresas, os Particulares), nomeadamente:

1) A captação da poupança dos aforradores e o seu redireccionamento para o investimento produtivo através da satisfação das neces s idades de f inanc i amento da s un idades de

Gabinete de Estudos da Presidência da República 97

Page 104: Comunicações dos Seminários da Presidência da República, 2013

produção;

2) A rentabilização das poupanças dos aforradores, na medida em que a remuneração dessas poupanças é superior às alternativas existentes na Banca (Depósitos a Prazo e outras), contribuindo para o fortalecimento e crescimento da classe média, fundamental para elevar o nível de Consumo e a consequente necessidade de aumento da Oferta de bens e serviços;

3) O financiamento para as empresas é feito com um custo de capital mais baixo, dado que a remuneração dos empréstimos obtidos junto dos aforradores é normalmente remunerado a taxas mais altas que as alternativas bancárias, e por outro lado é inferior à taxa dos empréstimos e descobertos bancários concedidos pela banca;

4) As obrigações em termos da prestação de informação a que o mercado de capitais obriga, aliado à obrigatoriedade da sua divulgação pública, confere aos investidores um elevado nível de confiança e credibilidade, fomentando a sua participação.

No seu conjunto global, a interacção destes efeitos é cíclico, contínuo e cumulativo: (1) o aumento do poder de compra dos Particulares aumenta o nível de Consumo; (2) um maior nível de Consumo implica uma maior necessidade de Oferta, (3) uma maior necessidade de Oferta exige o aumento e expansão das Unidades de Produção, (4) que vão criar maior nível de emprego e de remuneração salarial, (5) o poder de compra das Famílias cresce, (6) e entramos novamente no ciclo a partir de (1), que na teoria económica corresponde ao efeito multiplicador do investimento, para o qual a satisfação do financiamento é essencial.

Comunicações dos Seminários da Presidência da República

98

Page 105: Comunicações dos Seminários da Presidência da República, 2013

Figura 3. Mercado de Capitais em Moçambique

O mercado de capitais garante o direccionamento do capital e do risco para os usos mais rentáveis e de forma ajustada ao perfil de aversão ao risco dos investidores, constituindo ainda uma alavanca de desenvolvimento, de primordial importância nas economias em fases iniciais de desenvolvimento acelerado, como é o caso de Moçambique. As poupanças dos agentes económicos (Aforadores) são canalizadas por esta via para a devida aplicação em investimento produtivo.

Por outro lado, o mercado de capitais traz novas oportunidades para as empresas (novas procuras, novos mercados), oferecendo às empresas um veículo privilegiado para o seu rápido crescimento permitindo-lhes dispor dos meios financeiros de que necessitam para o aproveitamento das oportunidades dentro da moldura de risco que melhor se adequa ao perfil dos investidores.

Por esta via, o crescimento gerado nas empresas vem permitir elevar o nível tecnológico e de competências na economia o que por sua vez favorece o empreendedorismo e o desenvolvimento de outras actividades.

Alternativa de financiamento com custo de capital normalmente

inferior ao de outras fontes de financiamento

Crescimento económico fomentado pelo aumento e

captação das poupanças

A força e qualidade dos investimentos promovem

a aceleração do crescimento económico

Mercado com mais e melhor informação

aumenta a confiança dos investidores, e optimiza a afectação do capital para o

investimento

MERCADODE

CAPITAIS

Gabinete de Estudos da Presidência da República 99

Page 106: Comunicações dos Seminários da Presidência da República, 2013

O mercado de capitais permite a maximização dos fluxos financeiros ao prevenir o risco de imobilização dos recursos excedentários, o que poderia suceder caso os recursos aplicados não beneficiassem da garantia de adequada liquidez. Essa liquidez é-lhe conferida pelo ajustamento imediato entre a procura e a oferta através dos mercados bolsistas.

A face visível do mercado de capitais é a Bolsa de Valores, sendo o sucesso das mesmas explicado pela teoria económica básica, a qual sustenta que os mecanismos de mercado, assentando no livre confronto entre as forças compradoras e forças vendedoras permitem uma afectação dos recursos e fixação de preços a níveis óptimos.

A diferença essencial de uma Bolsa face a outros meios de aplicação de capitais/obtenção de financiamento, tais como bancos ou sociedades financeiras, consiste nos seus custos de transacção mais reduzidos, derivados de menores níveis de intermediação, relacionados com a natureza dos instrumentos que neles se transaccionam. Por exemplo, os direitos e deveres de um empréstimo bancário não são facilmente transmissíveis. Já os

Dra. Arlete Matola, Chefe do Gabinete de Estudos da Presidência da República, dirigindo-se aos participantes

100

Page 107: Comunicações dos Seminários da Presidência da República, 2013

instrumentos transaccionados numa Bolsa são tipificados e estruturados nos direitos e deveres que representam, de forma a assegurar a sua livre troca.

Para uma melhor alocação de recursos financeiros entre os agentes aforradores e os agentes que investem, torna-se vital às economias existir um sistema financeiro organizado, tendo em conta as suas preferências, quanto a montantes, prazos e garantias.

Nestes termos, torna-se essencial a existência de uma coordenação entre as diversas opções de financiamento, na qual a Bolsa de Valores, sendo um mercado organizado e regulamentado, possa de forma mais eficiente conciliar os interesses dos investidores e dos aforradores, através da promoção da captação da poupança destes e da sua conversão em investimento produtivo.

Enquadramento Institucional

As Bolsas de Valores são mercados organizados e transparentes, onde se

transaccionam títulos emitidos (acções, obrigações, certificados, entre

outros) pelo Estado e por entidades públicas e privadas, admitidos à cotação e

negociados através do encontro entre a oferta e a procura.

Em Moçambique, o Governo no âmbito da sua política económica criou a

Bolsa de Valores através do Decreto nº 49/1998, de 22 de Setembro, com a

finalidade de diversificar as alternativas de financiamento então existentes e

também de promover a poupança e a sua conversão em investimento

produtivo.

O objecto central da Bolsa de Valores de Moçambique consiste por um lado,

na organização, gestão e manutenção de um mercado central de valores

mobiliários e, por outro lado, na manutenção de meios e sistemas apropriados

para o funcionamento de um mercado para a transacção dos valores

mobiliários cotados.

A Bolsa de Valores de Moçambique é uma instituição pública tutelada pelo

Ministério das Finanças. A instituição e as suas actividades são

Gabinete de Estudos da Presidência da República 101

Page 108: Comunicações dos Seminários da Presidência da República, 2013

regulamentadas por diversos órgãos e instituições, nomeadamente a

Assembleia da República, o Conselho de Ministros, o Ministério das

Finanças, o Banco de Moçambique, e pela própria instituição (Regulamentos

Operacionais).

A autoridade de supervisão é exercida pelo Banco de Moçambique.

Os Membros do Sistema de Negociação da Bolsa de Valores de Moçambique

são os Operadores de Bolsa (Corretores), sendo os Bancos Comerciais

membros do Sistema de Compensação e Liquidação, exercendo também a

custódia (guarda) de títulos.

O enquadramento institucional da Bolsa de Valores de Moçambique é-nos

apresentado pela

Figura 4: Os intervenientes na Bolsa de Valores.

A Nível Interno

Com vista ao crescimento do mercado de valores mobiliários, a BVM tem estabelecido parcerias com diversas instituições, de forma a promover a

Parcerias e Cooperação

Comunicações dos Seminários da Presidência da República

102

Page 109: Comunicações dos Seminários da Presidência da República, 2013

captação de empresas ao mercado, reforçar elo de ligação com todos os intermediários financeiros, dar a conhecer aos investidores as oportunidades de financiamento interno.

A Nível Internacional

A Bolsa de Valores de Moçambique, de forma a desenvolver competências e capacitar-se institucionalmente, tem vindo a desenvolver uma série de parcerias de cooperação, tanto a nível bilateral como multilateral, com destaque para as seguintes organizações e/ou instituições:

Parceiros multilaterais

ASEA – Associação das Bolsas de Valores de África;CoSSE – Comité das Bolsas de Valores da SADC;

WFE – Federação Mundial das Bolsas de Valores;

World Exchange Congress – Fórum Mundial de Bolsas de

Valores;

OIC Exchanges – Fórum das Bolsas de Valores dos Países da

Organização da Conferência Islâmica.

Parceiros Bilaterais

Bolsas de Valores da SADC (art.. 6 – Carta de criação do CoSSE,

estabelece que automaticamente todos os membros da

organização podem cooperar bilateralmente) ;

Euronext Lisbon;

Comissão de Mercado de Capitais de Angola;

Perspectivam-se relações com as Bolsas de Valores de Londres, do

Brasil (BMF&Bovespa), da Coreia do Sul, do Japão (Tóquio),

Áustria e Polónia, entre outras.

Gabinete de Estudos da Presidência da República 103

Page 110: Comunicações dos Seminários da Presidência da República, 2013

Enquadramento Legal

Para o funcionamento do mercado de valores mobiliários, pode-se destacar, para além do Decreto-Lei nº 04/2009, de 24 de Julho, que aprova o Código do Mercado de Valores Mobiliários em Moçambique, a seguinte legislação:

· Decreto nº 45/2007, de 30 de Outubro, que estabelece o Regulamento Interno da Bolsa de Valores;

· Decreto nº 25/2006, de 23 de Agosto que estabelece os princípios e disposições que regem a natureza, organização, gestão e funcionamento da Central de Valores Mobiliários;

· Lei nº 15/1999, de 1 de Novembro, consolidada com a Lei nº 9/2004

de 21 de Julho, que define as normas para a constituição de

Sociedades Corretoras e Sociedades Financeiras de Corretagem;

· Diploma Ministerial nº 10/1999, de 24 de Fevereiro, que

regulamenta a Actividade de Intermediação Financeira em Valores

Mobiliários;

· Decreto nº 21/2005, de 31 de Maio que estabelece o regime jurídico aplicável à emissão de valores mobiliários de natureza monetária designados por Papel Comercial;

· Aviso nº 2/GGBM/1999, de 25 de Fevereiro que estabelece as taxas e

comissões a cobrar no âmbito de realização de transacções na Bolsa de

Valores;

· Aviso nº 3/GGBM/1999, de 25 de Fevereiro que estabelece as taxas e

comissões a cobrar no âmbito de realização de transacções no

mercado fora de bolsa;

· Lei nº 11/2009, de 11 de Março, que aprova a Lei Cambial;

· Regulamento da Lei Cambial – Decreto nº 83/2010, de 31 de

Dezembro.

Mercados

Dentro dos Mercados Financeiros, a actividade da Bolsa de Valores de

Moçambique incide exclusivamente sobre o Mercado de Capitais, e em

particular, no Mercado de Valores Mobiliários, representado por todo um

conjunto de instrumentos financeiros (acções, obrigações, direitos, unidades

Comunicações dos Seminários da Presidência da República

104

Page 111: Comunicações dos Seminários da Presidência da República, 2013

de participação), transmissíveis e negociáveis entre si, que na generalidade

designamos por valores mobiliários, ou simplesmente, títulos.

O mercado de valores mobiliários por sua vez subdivide-se em dois mercados: o Mercado Primário, e o Mercado Secundário, sendo que este último por sua vez se subdivide em Mercado de Bolsa e Mercado Fora de Bolsa.

O Mercado Primário é o mercado onde são criados e emitidos os diversos valores mobiliários, que posteriormente serão transaccionados e negociados no Mercado Secundário. Se esses valores mobiliários forem admitidos à cotação na Bolsa de Valores, então serão transaccionados no Mercado de Bolsa, caso contrário serão negociados no Mercado Fora de Bolsa.

O Mercado Primário e o Mercado Secundário são altamente dependentes entre si. Só é possível a existência de um Mercado Primário dinâmico, com emissões frequentes e bem-sucedidas, se o Mercado Secundário garantir elevados níveis de negociação (liquidez) aos investidores.

São operações típicas do Mercado Primário a emissão de Obrigações do Tesouro, a emissão de Obrigações Corporativas, a emissão de Papel Comercial, a emissão de novas acções das empresas, entre outras. Estas emissões são feitas através de Ofertas Públicas ou Privadas aos seus destinatários, que normalmente são os bancos, as empresas públicas e privadas, os investidores institucionais, os fundos de pensões, as seguradoras, o público em geral.

São operações comuns no Mercado Secundário a compra e venda de acções e de obrigações, as ofertas públicas ou privadas de acções já existentes (já emitidas em Mercado primário), à negociação de títulos de Dívida (Obrigações, Papel Comercial), negociação de unidades de participação de fundos de investimento.

O Mercado Secundário de Bolsa está também segmentado em função da dimensão das Emitentes, havendo um mercado para as denominadas Grandes Empresas – o MCO ou Mercado de Cotações Oficiais – e um mercado de bolsa para as PME (Pequenas e Médias Empresas) – o SME ou Segundo

Gabinete de Estudos da Presidência da República 105

Page 112: Comunicações dos Seminários da Presidência da República, 2013

Mercado.

O mercado de bolsa para as Pequenas e Médias Empresas foi criado pela Bolsa de Valores para permitir o acesso destas ao Mercado de Capitais e conseguirem financiar as suas necessidades de investimento a um custo mais baixo que o financiamento junto dos bancos comerciais, tendo em conta a importância destas unidades económicas no desenvolvimento sustentável da economia.

Para encorajar e facilitar a entrada na Bolsa das Pequenas e Médias Empresas, de forma a que tenham acesso aos mesmos mecanismos de financiamento que as Grandes Empresas, os requisitos da sua admissão à cotação em Bolsa são menos exigentes que os das Grandes Empresas:

Tabela 2: Requisitos de Admissão à Cotação

Fonte: Bolsa de Valores de Moçambique

Constam também neste mercado, menor exigibilidade de alguns dos requisitos de admissão à cotação (os requisitos de carácter eminentemente quantitativo); Obrigações de informação menos aprofundadas, embora suficientemente protectoras dos interesses dos investidores e do mercado; Custos de admissão e manutenção

Capitalização Bolsistaou Capitais Própios

MCO Segundo Mercado

Obrigações MCO Segundo Mercado

Não inferior a28.000.000MT

Não inferior a7.000.000MT

Relatórios e Contas2 anos,

derrogávelMínimo de

9 meses

Dispersão Pública15%

do capital social15%

do capital social

Montante da EmissãoNão inferior a16.000.000 MT

Não inferior a4.000.000 MT

Relatórios e Contas 2 anosmínimo de

9 meses

Comunicações dos Seminários da Presidência da República

106

Page 113: Comunicações dos Seminários da Presidência da República, 2013

menos onerosos;

O Segundo Mercado estrutura-se com base na redução das exigências estabelecidas para o Mercado de Cotações Oficiais, designadamente quanto às condições de admissão à cotação e permanência no mercado, quanto às informações a fornecer às autoridades competentes e ao público e quanto aos encargos de admissão e manutenção da cotação, conforme estabelecido no Código do Mercado de Valores Mobiliários e regulamentação complementar.

Os Instrumentos Financeiros O mercado de valores mobiliários no geral, e a Bolsa de Valores em particular, dispõem de um apreciável leque de instrumentos financeiros, com diferentes graus de risco, liquidez e rendibilidade esperados, emitidos por entidades públicas ou privadas e, que podem ser negociados num mercado organizado.

Os instrumentos ou títulos financeiros negociados em bolsa, constituem os chamados valores mobiliários, podendo ser representados de forma física ou materializada (por exemplo, as acções em papel) ou serem escriturais ou desmaterializados (correspondendo a registos electrónicos). Podem ainda ser títulos ao portador (sem identificação do seu titular) ou nominativo” (sujeitos à identificação do titular desse valor mobiliário).

Em Moçambique, os instrumentos financeiros mais transaccionados são as Acções, as Obrigações e o Papel Comercial:

· Acções: Títulos representativos do capital social das sociedades anónimas, sendo que cada acção (cada parte) confere ao seu titular o direito a uma parte proporcional dos activos da sociedade (em caso de liquidação) e a repartição

Gabinete de Estudos da Presidência da República 107

Page 114: Comunicações dos Seminários da Presidência da República, 2013

dos lucros sob a forma de dividendos.

· Obrigações: Títulos representativos de dívida (empréstimo) de médio e longo prazo, emitidos por empresas públicas ou privadas (Estado, Bancos, Empresas), para efeitos de Défice Orçamental (Estado) ou de financiamento (Empresas), negociável em bolsa, que confere aos seus titulares o direito ao reembolso do capital cedido e ao pagamento de uma remuneração periódica.

· Papel Comercial: Títulos representativos de dívida de curto prazo, emitidos por empresas públicas ou privadas, essencialmente para gestão de tesouraria, negociável em bolsa, que confere aos seus titulares o direito ao reembolso do capital cedido e ao pagamento de uma remuneração periódica.

Além destes instrumentos financeiros mais conhecidos, existe ainda um outro que não pode deixar de ser referido, pela sua importância junto do público em geral: os Fundos de Investimento. Estes Fundos têm na sua composição uma carteira de activos muito diversificados, geralmente valores mobiliários como acções e obrigações, cuja gestão é da competência de profissionais especializados, e que é negociado sob a forma de Unidades de Participação no Fundo. Estes fundos tendem a ter uma rentabilidade superior à média do mercado, e o investidor ao investir num Fundo, está a investir não num só título, mas num conjunto diversificado de títulos cuja selecção, gestão, substituição e acompanhamento, é feita por profissionais em contrapartida de uma comissão paga à Entidade Gestora desse Fundo.

Os Fundos de Investimento são normalmente a forma mais segura e rentável de os pequenos investidores, sem grande especialização de

Comunicações dos Seminários da Presidência da República

108

Page 115: Comunicações dos Seminários da Presidência da República, 2013

conhecimento bolsista, aplicarem as suas poupanças e maximizarem a afectação dos seus rendimentos.

Em Moçambique, a legislação sobre Fundos de Investimento prevê a obrigatoriedade de admissão à cotação na Bolsa de Valores, o que garante que a sua transacção e negociação seja realizada numa base transparente, equalitária e regulamentada.

Aos instrumentos financeiros negociados em bolsa, designados por títulos ou valores mobiliários, estão associados um conjunto de termos vulgarmente utilizados:

·Emissão: Criação e oferta de valores mobiliários no mercado financeiro, muitas vezes, como forma de obtenção de fundos para a entidade emitente;

·Valor Nominal: Valor facial de um título (acções, obrigações, papel comercial);

Sendo: Para acções: Valor Nominal =

Capital Social Número de acções; Para Obrigações: Valor Nominal =

Valor da Emissão Número de Obrigações.

Valor pago por cada um dos títulos representativos de uma Emissão;

Representa a taxa de juro que remunera uma Emissão de Obrigações ou de Papel Comercial;

Maturidade: Tempo de vida (duração) de uma Emissão

Preço da Emissão:

Taxa de Cupão:

Gabinete de Estudos da Presidência da República 109

Page 116: Comunicações dos Seminários da Presidência da República, 2013

de Obrigações ou de Papel Comercial.

Negociação de Valores MobiliáriosUma vez admitidos à cotação na Bolsa de Valores, os valores mobiliários passam a ser objecto de operações de compra e venda em mercado bolsista. As ordens de compra ou venda de valores mobiliários, são dados aos intermediários financeiros (bancos comerciais), que as transmitem aos Operadores de Bolsa que por sua vez as lançam no Sistema de Negociação da Bolsa (Trading BVM), que as processam automaticamente, fechando os negócios de bolsa de acordo com os preços e quantidades.

Figura 5. Ciclo da Negociação de Bolsa

As ordens de compra e de venda dos investidores são apresentadas nas instituições financeiras, que as canalizam para as únicas entidades com acesso ao sistema de negociação da BVM, os Operadores de Bolsa. Estes operadores, acedem ao Sistema de Negociação da BVM por via electrónica e através da Internet, e não precisam de se deslocarem

Operadores de Bolsa

Negociação

Outros intermediáriosfinanceiros

Sistema de CompensaçãoBolsa de Valores deMoçambique e Liquidação dos Negócios(Banco de Moçambique

Ordens(compra/venda

de venda)

Investidores

Ordens(compra/venda)

Comunicações dos Seminários da Presidência da República

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Page 117: Comunicações dos Seminários da Presidência da República, 2013

fisicamente à BVM para negociarem as ordens de bolsa. Actualmente, a Bolsa de Valores de Moçambique conta com 10 Operadores de Bolsa registados, dos quais 10 são bancos comerciais, nomeadamente: Barclays, Banco ABC, BCI, BPI Dealer, CPC - Cooperativa de Poupança e Crédito, Millennium bim, Moza Banco e Standard Bank, BNI, Banco Único.

O Decreto nº5/2013, de 22 de Março estabelece o regime jurídico das Obrigações do Tesouro e cria a figura dos Operadores Especializados em Obrigações do Tesouro (OEOT), cujas condições operacionais foram consolidadas pelo respectivo Diploma Ministerial.

Este instrumento legal para além de formalmente estruturar o sistema de emissão e subscrição (mercado primário) das Obrigações do Tesouro, visa responder a preocupação do Governo em garantir que um leque alargado de pessoas, colectivas e singulares, tenha acesso a estes títulos.

Aos OEOT cabe também a função de assegurar o funcionamento do mercado, garantindo a liquidez das Obrigações do Tesouro admitidas à cotação na Bolsa de Valores de Moçambique (BVM), através da inserção de ordens de compra e de venda no sistema negociação. Esta liquidez mínima visa permitir que, por um lado, quem queira comprar Obrigações do Tesouro efectivamente encontre posições de venda no mercado, e por outro lado, quem necessite de vender os títulos que detenha encontre propostas de compra no mercado.

Operadores Especializados em Obrigações do Tesouro (OEOT)

Gabinete de Estudos da Presidência da República 111

Page 118: Comunicações dos Seminários da Presidência da República, 2013

Custos do Mercado

A regulamentação do Mercado de Valores Mobiliários estabelece os custos do mercado que incidem sobre as entidades emitentes, os investidores, os operadores de bolsa, conforme a seguinte estrutura de custos:

Taxa de Realização de Operações de BolsaPagador: Comprador e VendedorIncidência: Valor da operaçãoDívida Pública: 0,4 por milObrigações Privadas: 0,6 por milAcções: 1,0 por milOutros valores mobiliários: 2,0 por mil

Comissão de CorretagemPagador: Comprador e VendedorIncidência: Valor da operaçãoTaxa: Livremente fixada entre limites Min e MáxMínimo: 50,00 MT Máximo: 2 por milCancelamento, revogação ou caducidade da ordem: 10,00 MT

Eng. Papucides Ntela a intervir no seminário sobre a Bolsa de Valores

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Page 119: Comunicações dos Seminários da Presidência da República, 2013

Taxa de Admissão à CotaçãoPagador: Entidade EmitenteIncidência: Valor nominal do capital a admitirTaxa Obrigações: 0,25 por milTaxa Acções: 0,50 por milTaxa outros títulos: 1,0 por mil

Taxa de Manutenção Periódica na CotaçãoPagador: Entidade Emitente Incidência: Valor nominal do capital admitido

Taxa Obrigações: 0,05 por mil se capital <= 25.000,00 MT 0,04 por mil se capital > 25.000,00 MT

Taxa Acções: 0,1 por mil se capital <= 100.000,00 MT 0,08 por mil se capital > 100.000,00 MT

Taxa Outros Títulos: 0,2 por mil se capital <= 100.000,00 MT 0,16 por mil se capital > 100.000,00 MT

Taxa de Readmissão à Cotação

ObrigaçõesTaxa para Obrigações: 0,125 por milTaxa para Acções: 0,25 por milOutros valores mobiliários 0,50 por mil

Admissão à cotaçãoUm título é admitido à cotação quando passa a ser transaccionado numa bolsa de valores, em conformidade com as regras desta, onde lhe é atribuída uma cotação de valor que varia em função da procura e a oferta de mercado.

Conceitos Utilizados na Bolsa de Valores

Gabinete de Estudos da Presidência da República 113

Page 120: Comunicações dos Seminários da Presidência da República, 2013

Capitalização bolsistaIndicador para avaliar a profundidade do mercado de bolsa, na medida em que indica o valor de mercado dos valores mobiliários num dado momento, isto é, a capitalização bolsista indica o mercado potencial. Este indicador, obtém-se do produto da última cotação (preço) pelo número de títulos admitidos à cotação e pode ser calculado para todos os valores mobiliários cotados em bolsa.

EmissãoCriação e oferta de valores mobiliários no mercado financeiro, muitas vezes, como forma de obtenção de fundos para a entidade emitente.

Mercado PrimárioMercado destinado à emissão e colocação de novos valores mobiliários, no mercado de capitais. O mercado diz-se primário quando o produto da venda reverte a favor da entidade emitente.

Mercado SecundárioMercado onde se transaccionam entre investidores particulares e institucionais os valores mobiliários criados no mercado primário.

NegóciosTransacções, ou seja, operações de compra e venda à mesmo preço e quantidade de valores mobiliários.

Sistema de Negociação por ChamadaSistema com base no qual todas as ofertas de compra e de venda, para cada valor mobiliário, são objecto de tratamento conjunto, num ou mais momentos pré-determinados da sessão de bolsa, gerando em consequência a realização de operações a uma única cotação, em cada chamada.

Sistemas de Negociação por RegistoSistema em que tem lugar operações que têm por objecto uma quantidade significativa de valores mobiliários representativos de dívida.

Comunicações dos Seminários da Presidência da República

114

Page 121: Comunicações dos Seminários da Presidência da República, 2013

Turnover·Indicador de liquidez do mercado bolsista que relaciona o montante das transacções com a capitalização bolsista e pode ser determinado pelo quociente entre estas duas variáveis.

Valor mobiliário Termo utilizado para descrever uma ampla variedade de instrumentos de investimento transaccionáveis, ou negociáveis, tais como acções, obrigações, títulos de participação, warrants, unidades de participação em fundos de investimento, instrumentos derivados (futuros, opções,...), e outros.

Valor nominalValor facial de uma acção ou obrigação.

Volume de TransacçõesMontante resultante das transacções realizadas na Bolsa de Valores. É determinado pelo produto entre a quantidade transaccionada e a cotação (preço da transacção).

RendimentoRemuneração ou conjunto de remunerações de um qualquer agente

económico em contrapartida pela cedência de um factor produtivo por si detido para utilização no processo produtivo.

Rendimento NacionalAo conjunto de todos os rendimentos, obtidos por todos os agentes

económicos de um país.

Consumo Operação económica de utilização de um bem ou de um serviço que conduz à satisfação de necessidades.

Poupança Fracção do rendimento de um agente económico que não é destinada

Gabinete de Estudos da Presidência da República 115

Page 122: Comunicações dos Seminários da Presidência da República, 2013

ao consumo.

Cotação (Preços) A quantidade de um título que o agente económico está disposto a comprar, e que tem possibilidade de pagar, depende essencialmente do preço desse Título. Assim, se o preço do título aumenta, a sua procura diminui e vice-versa.

O papel que a Bolsa de Valores de Moçambique desempenha na mobilização de fundos alternativos ao crédito bancário é fundamental para as necessidades de financiamento dos investidores.

Para além da mobilização de fundos dos aforradores, o empresariado nacional tem no mercado de capitais e na Bolsa de Valores outros meios e mecanismos através dos quais poderá satisfazer as suas necessidades de financiamento, quer seja pela alienação de capital social, pela subscrição e aumento das acções representativas do capital das empresas, por emissão de dívida em diversos prazos, ou pela organização de uma solução multidisciplinar em termos de instrumentos financeiros adequados às necessidades específicas de cada empresa.

Em termos internacionais, e tendo em conta a interligação futura entre os mercados de capitais e as bolsas de valores da região da SADC (um universo de 250 milhões de habitantes), o recurso ao financiamento será extensível aos mercados internacionais, com todas as vantagens daí inerentes, nomeadamente um custo de capital mais baixo e um universo de aforradores de grande dimensão.

III. O PAPEL DA BOLSA DE VALORES DE MOÇAMBIQUE COMO ALTERNATIVA DE FINANCIAMENTO À ECONOMIA

Comunicações dos Seminários da Presidência da República

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Page 123: Comunicações dos Seminários da Presidência da República, 2013

Em Moçambique, a Bolsa de Valores tem servido como uma fonte de financiamento para o País, quer ao Estado, quer às Empresas, num valor total que ascende a 25.956 milhões MT – 865,5 milhões USD -, tendo sido admitidos à cotação 59 valores mobiliários. De salientar que o Estado Moçambicano tem participado de forma activa no mercado de capitais, principalmente por via da emissão de Dívida Pública, num total de 15.376 milhões MT (514,3 milhões USD), cerca de 60% do financiamento global concedido através da Bolsa. A figura abaixo mostra os valores de emissão dos títulos admitidos à cotação por categoria de valores mobiliários.

O 2º semestre de 2012 marcou uma nova era do mercado bolsista moçambicano, na medida em que se assistiu pela primeira vez o alcance de uma capitalização bolsista de 31.947,00 milhões de MT, o correspondente a 1.077,47 milhões de USD, quando o estado moçambicano procedeu a em Agosto do mesmo ano, a admissão à cotação de 31.501,124 Obrigações do Tesouro, no montante de 3.150,11 milhões de MT. Esta representou também, a maior emissão obrigacionista já realizada no mercado de valores mobiliários moçambicano.

Gráfico 3. Títulos Admitidos à cotação Por Categoria de Valores Mobiliários (1999-2013)

Apesar de o mercado de capitais em Moçambique enfrentar ainda as

Fonte: Bolsa de Valores de Moçambique

Gabinete de Estudos da Presidência da República 117

Page 124: Comunicações dos Seminários da Presidência da República, 2013

dificuldades inerentes a qualquer país em vias de desenvolvimento - o fraco conhecimento pelas empresas das opções de financiamento através da bolsa, um ainda baixo nível de inclusão financeira, e a pouca liquidez do mercado secundário – a Bolsa de Valores de Moçambique tem apresentado um bom desempenho ao longo dos anos, patentes na evolução de 2011 para 2012: (1) o número de títulos aumentou 28%, tendo passado de 25 para 32 títulos; (2) o volume de transacções aumentou 355%, tendo atingido os 1.795 milhões MT (60 milhões USD); e (3) a capitalização bolsista do mercado cresceu 65% neste período – comparativamente à média de crescimento na SADC que foi de 14% - tendo ultrapassado o valor de 30 mil milhões MT (1000 milhões USD), representando cerca de 7% do PIB nacional.

O papel da Bolsa de Valores torna-se ainda mais proeminente em resultado das recentes descobertas de recursos naturais, e da implementação de diversos projectos de investimento, havendo por isso, uma cada vez maior necessidade de promoção e desenvolvimento de um eficiente mercado de capitais, que assegure uma maior dispersão do capital que concorra para uma maior inclusão económica.

Neste contexto, o Governo aprovou no presente ano a Estratégia para o Desenvolvimento do Sector Financeiro 2013-2022, visando o aumento da oferta de capital e dos serviços e produtos financeiros a preços acessíveis, assim como o fortalecimento do mercado de capitais, nomeadamente o mercado de financiamento interno.

No seguimento da sua estratégia, o Governo aprovou em 2013 o Decreto que estabelece o regime jurídico das Obrigações do Tesouro, criando também o estatuto de Operadores Especializados em Obrigações do Tesouro – OEOT - e estabelecendo mecanismos que asseguram a passagem dos títulos para o público em geral, através da sua transacção em Mercado Secundário.

Ainda no presente ano, o Governo publicou pela primeira vez o calendário de emissão de Dívida Pública para o ano de 2013, prevendo um total de 4 emissões no montante global de 3.573 milhões MT, tendo a primeira emissão, no valor de 447 milhões MT (14,9 milhões USD), ocorrido em Abril de 2013.

Por seu lado, a Bolsa de Valores de Moçambique, definiu como uma das suas acções estratégicas, a implementação de um Programa de Educação

Comunicações dos Seminários da Presidência da República

118

Page 125: Comunicações dos Seminários da Presidência da República, 2013

Financeira de âmbito nacional, que em conjunto com outras medidas, nomeadamente uma maior aproximação às empresas, um maior engajamento nas acções de cooperação e de troca de experiências, para responder eficazmente aos desafios do desenvolvimento do mercado de capitais.

Como se pode depreender da informação sobre o desempenho do mercado, a Bolsa de Valores tem um papel fundamental no crescimento da economia, ao mobilizar a captação das poupanças e direccioná-la para o investimento produtivo.

A decisão de recorrer ao financiamento através da Bolsa de Valores, quer para as Empresas, quer para os aforradores, depende de todo um conjunto de factores que caracterizam o mercado bolsista:

· A possibilidade de converter os valores mobiliários a qualquer momento;

· A conjugação de diferentes perfis temporais de investimento, exigidos pelos investidores e dificilmente coincidentes com carácter permanente exigido pelos projectos de investimento das empresas. Esta é uma faculdade importante da Bolsa que permite conjugar e cumprir os objectivos dos seus diferentes intervenientes;

· A eficiente valorização dos activos financeiros, através do livre encontro da oferta e da procura. Na bolsa os produtos financeiros são valorados ao preço de mercado, teoricamente o mais eficiente, pela conjugação da procura e oferta global;

· O dever de informação permite a transparência e a rapidez do mercado;

· A regulamentação referente à Bolsa confere segurança jurídica a todas as transacções realizadas e facilita a acessibilidade de todos os participantes;

Gabinete de Estudos da Presidência da República 119

Page 126: Comunicações dos Seminários da Presidência da República, 2013

Títulos Negociados na Bolsa de Valores de Moçambique

Actualmente, a Bolsa de Valores de Moçambique possui 32 valores mobiliários admitidos à cotação, nomeadamente 8 Obrigações do Tesouro, 13 Obrigações Corporativas, 8 títulos de Papel Comercial e 3 Acções, com uma capitalização bolsista de Mercado de 31.125,188 milhões de MT, conforme ilustram as Figuras abaixo.

Gráfico 4. Evolução da Capitalização Bolsista do Mercado – 1999 a 2013

1Gráfico 5. Capitalização Bolsista no Mundo e nos Mercados Emergentes

1 Valores referentes aos mercados de acções e obrigações, 2011 2 Africa do Sul: 234% do PIB, 2012Fonte: Global Financial Stability Report, April 201

Comunicações dos Seminários da Presidência da República

120

Page 127: Comunicações dos Seminários da Presidência da República, 2013

O 1º semestre de 2013, o desempenho do mercado bolsista moçambicano foi satisfatório na medida em que, em termos da sua dimensão evoluiu de 30.088,50 milhões de MT, de Janeiro para 31.131,20 milhões de MT em Junho, tendo a taxa de crescimento sido de 3%.

Destaca-se ainda, para o semestre em referência, a emissão e admissão à cotação na Bolsa de Valores de Moçambique elevado número de Papel Comercial, tendo atingido cinco emissões que ditaram a evolução da capitalização bolsita.

Gráfico 6. Capitalização Bolsista Por Categoria de Títulos - Junho de 2013 (Milhões de MT)

Fonte: Bolsa de Valores de Moçambique

Gabinete de Estudos da Presidência da República

Dr. Rafael Shikhane a intervir no seminário

121

Page 128: Comunicações dos Seminários da Presidência da República, 2013

Por categorias de títulos, a capitalização bolsista é liderada pelo número de acções e Obrigações de Tesouro com 14.038 milhões de MT e 10.973 milhões de MT, respectivamente. Destaca-se ainda neste período a capitalização bolsista dos Obrigações Corporativas de bancos com 2.862 milhões de MT, o que mostra que o mercado de valores mobiliários beneficia também esta categoria de empresas.

Gráfico 7. Evolução das Taxas de Juro Por Categoria de Valores Mobiliários (Valores em %) - 2013

A evolução das taxas de juro para os títulos cotados em bolsa mostra tendências decrescentes. Assim, as Obrigações de Tesouro apresentam taxas mais baixas comparativamente a outros títulos cotados, mostrando o esforço que o estado tem efectuado em reduzir cada vez mais os custos de endividamento.

As transações que ocorrem no mercado de valores mobiliários observam o princípio defendido por Economistas que é o de criação de um imposto sobre as transacções financeiras para reduzir especulação nos mercados financeiros.

Experiências Relevantes

As Experiências que a Bolsa de valores apresentam referem-se a Ofertas

Públicas de Venda. Uma oferta pública de venda (OPV) é uma operação

através da qual uma sociedade pretende vender acções ao público geral,

quando entra pela primeira vez em bolsa.

Comunicações dos Seminários da Presidência da República

122

Page 129: Comunicações dos Seminários da Presidência da República, 2013

Uma Oferta Pública de Venda consiste no lançamento de acções pela primeira vez em bolsa, cabendo à empresa determinar qual o montante e qual o preço de cada acção. Este é um meio de financiamento da empresa no médio-longo prazo, sendo normalmente utilizado em empresas que pretendem crescer.

As acções são vendidas no dia determinado pelo preço determinado a quem fizer a subscrição, que se for superior à oferta levará a um sistema de rateio das acções. Após estas estarem na posse dos accionistas, as acções passam então a poder ser negociadas livremente pelo mercado secundário, estando sujeitas a toda a volatilidade e características do mercado bolsista que todos conhecemos.

Normalmente em períodos de franca expansão da empresa em que as necessidades de capital para investir são muito elevadas e portanto, o recurso ao crédito é uma solução menos viável para estas recorrendo desta forma ao financiamento via Oferta Pública de Venda. A seguir são apresentadas algumas experiências:

a) Acções

Em Dezembro de 2001, as 28 milhões de acções alienados pelo Estado através

de uma Oferta Pública de Venda ficaram distribuídas por mais de 2.000

accionistas, sendo até hoje a operação de bolsa com maior base accionista. Em

Janeiro de 2012, 11 anos mais, a CDM fez um aumento de capital social

através de uma Oferta Pública de Subscrição de 9.681.244 acções

exclusivamente reservada a accionistas da sociedade. Esta operação foi

subscrita por 820 accionistas, tendo tido a operação de bolsa com a mais forte

valorização, tendo o valor da sua cotação (preço das acções no mercado)

passado de 43 MT por acção para 113,60 MT, e continuando até hoje a ser o

título de bolsa com maior liquidez no mercado bolsista.

CDM – Cervejas de Moçambique, S.A.

Gabinete de Estudos da Presidência da República 123

Page 130: Comunicações dos Seminários da Presidência da República, 2013

Desde 2001 que os dividendos brutos da empresa apresentam um ”pay-out

ratio” de 70% na distribuição de dividendos (percentagem dos resultados da

empresa deliberados para distribuição aos accionistas), que os tornaram

muito atractivos para os investidores. Mesmo em alturas de grandes

investimentos (nova fábrica da Beira e outros), a CDM nunca baixou o nível

de distribuição de dividendos da empresa que sempre tiveram um

crescimento significativo como o demonstra o gráfico da sua evolução, onde

se pode verificar que no período de 2002 a 2012 os dividendos cresceram de

1,3 MT para 5,72 MT por acção:

Gráfico 8. Evolução dos Dividendos Brutos (MT), CDM

Em 2008, a ENH – Empresa Nacional de Hidrocarbonetos, EP, deliberou

pela venda de 10% do capital social da CMH – Companhia Moçambicana de

Hidrocarbonetos, SA, através de uma Oferta Pública de Venda de 593.412

acções, ao preço de venda unitário de 275,00 MT por acção, numa operação

exclusivamente reservada a investidores nacionais.

As acções foram totalmente subscritas pelos investidores nacionais,

representaram um encaixe financeiro de 163 Milhões MT, tendo a procura

superado em duas vezes a respectiva oferta. Esta operação ficou positivamente

marcada por um factor muito importante: só a procura por parte dos

particulares (investidores singulares nacionais) superou a respectiva oferta,

deixando um sinal muito claro que existe uma classe média da população com

forte vontade de investir no mercado de capitais e na Bolsa de Valores.

Fonte: Bolsa de Valores de Moçambique

CMH – Companhia Moçambicana de Hidrocarbonetos

Comunicações dos Seminários da Presidência da República

124

Page 131: Comunicações dos Seminários da Presidência da República, 2013

Nos últimos anos, a CMH passou a efectuar distribuição de dividendos,

sendo que em 2012 o fez por 3 vezes no mesmo ano, conforme ilustra o

seguinte gráfico:

Gráfico 9. Evolução dos Dividendos Brutos, CMH

Os dividendos distribuídos pela CMH - Companhia Moçambicana de

Hidrocarbonetos mostram uma evolução positiva desde Agosto de 2010 até

Abril de 2013, data em que a empresa distribuiu 19,89 MT por acção,

mostrando um crescimento de 172% relativamente aos dividendos

distribuídos em Agosto de 2010, que foram de 7,3 MT por acção.

No período entre 2005 e 2012 o mercado de valores mobiliários

moçambicano observou as maiores emissões de Obrigações do Tesouro. Em

2013, Moçambique foi marcado pelas primeiras emissões de Obrigações do

Tesouro que ocorreram após a criação do regime jurídico destes títulos, que

igualmente estabeleceu o estatuto de Operadores Especializados em

Obrigações do Tesouro, designados por OEOTs.

Fonte: Bolsa de Valores de Moçambique

Obrigações do Tesouro

Gabinete de Estudos da Presidência da República 125

Page 132: Comunicações dos Seminários da Presidência da República, 2013

Gráfico 10. Maiores Emissões de Obrigações do Tesouro (MT)

Com este novo enquadramento legal, o Estado procura salvaguardar o

princípio de inclusão dos pequenos investidores (as PME e os particulares)

com a passagem de, pelo menos, 30% dos títulos de emissões de Obrigações

do Tesouro para o público em geral, através da sua transacção em Mercado

Secundário de Bolsa.

Anualmente, o Ministro das Finanças avaliará o desempenho de cada

instituição financeira certificada com o estatuto de OEOT, e renovará esse

estatuto a todos aqueles que tenham atingido os objectivos estabelecidos pelo

Estado.

Actualmente, as instituições financeiras com a certificação de OEOT são 14, a

saber:

· African Banking Corporation (Moçambique)

· Banco Comercial e de Investimentos

· Banco Internacional de Moçambique

· Banco Mercantil e de Investimentos

· Banco Nacional de Investimento

Fonte: Bolsa de Valores de Moçambique

Comunicações dos Seminários da Presidência da República

126

Page 133: Comunicações dos Seminários da Presidência da República, 2013

· Banco Procredit

· Banco Terra

· Barclays Bank Moçambique

· BPI Dealer (Moçambique)

· Cooperativa de Poupança e Crédito

· FNB Moçambique

· Moza Banco

· Standard Bank

· United Bank for Africa Moçambique

Com o crescimento económico de Moçambique, e a previsível diminuição

dos donativos e créditos concessionais, o Estado irá recorrer mais ao mercado

de financiamento interno, por via da emissão de Obrigações do Tesouro, em

montantes que anualmente deverão crescer nos próximos anos, em níveis

onde a sustentabilidade da dívida continue assegurada.

O regime jurídico que regula as emissões de Papel Comercial (títulos de

Dívida de Curto Prazo) foi estabelecido em 2006, mas só em 2011 apareceu a

sua primeira emissão, no montante de 160 milhões MT, emitido pela

Petromoc – Petróleos de Moçambique, SA.

Depois de ser lançada a primeira emissão de Papel Comercial, seguiram-se

outras emissões, cada vez mais frequentes e de maior volume. Demonstrativo

de que as emissões de Papel Comercial são um título a ter cada vez mais em

consideração, quer para a capitalização bolsista, quer para a liquidez do

mercado, é o exemplo dado pela Petromoc que desde 2012 tem vindo a fazer

emissões sucessivas, não esporádicas, mas enquadradas dentro de uma

estratégia de securitização de financiamentos, consubstanciado por um

Programa de Emissões estabelecido pela emitente.

A emissão do papel comercial via mercado de valores mobiliários, não

representa somente uma forma de financiamento para as empresas, mas

também são já uma forma de valorização dos activos da empresa, sujeitas à

acção da teoria da procura e oferta. A título de exemplo, as 4ªs e 5ªs emissões

Papel Comercial

Gabinete de Estudos da Presidência da República 127

Page 134: Comunicações dos Seminários da Presidência da República, 2013

de Papel Comercial da PETROMOC - 2012 tiveram a valorização de 5%

durante Julho de 2013, ao passarem a ser transaccionadas ao preço de 105 MT

em vez dos anteriores 100 MT, e tendo um aumento no seu volume de

negociação na ordem dos 510% desde o início do mês corrente.

Actualmente a capitalização bolsista das emissões de Papel Comercial cotadas

na Bolsa de Valores de Moçambique ascende a quase 3000 Milhões de

Meticais.

Paralelamente às suas actividades, a Bolsa de Valores de Moçambique possui dois serviços autónomos, nomeadamente, o Sistema Aplicacional para Emitentes (SIAE) e a Central de Valores Mobiliários.

O SIAE é um serviço disponibilizado pela Bolsa de Valores de Moçambique às emitentes de valores mobiliários, com o objectivo de capacitá-las com um sistema completo de informação sobre a totalidade dos titulares detentores de títulos da instituição.

O SIAE é uma resposta única e inovadora em Moçambique, indo de encontro às necessidades fundamentais das Emitentes e, para além disso, disponibilizando todo um conjunto de informação auxiliar, essencial para um melhor conhecimento dos titulares e dos títulos da Emitente, sua localização geográfica, podendo ser um contributo importante na definição de futuras operações da Emitente como: Ofertas Públicas de Venda, Alienação a Gestores Técnicos e trabalhadores, aumento de Capital Social através de emissão de acções, entre muitas outras que podem ser realizadas através da Bolsa de Valores.

A título de exemplo, importa referir que a criação do SIAE garantiu que a Oferta Pública de Venda da Companhia Moçambicana de Hidrocarbonetos (CMH) fosse exclusivamente adquirida por Moçambicanos, e que o mesmo fosse assegurado.

Outros Serviços Prestados pela Bolsa

Sistema Aplicacional para Emitentes (SIAE)

Comunicações dos Seminários da Presidência da República

128

Page 135: Comunicações dos Seminários da Presidência da República, 2013

Central de Valores Mobiliários

Com vista à guarda e controlo de Valores Mobiliários, a Bolsa de Valores de Moçambique está a implementar acções para dar início às actividades da Central de Valores Mobiliários. Trata-se de um serviço criado com o objectivo de reforçar a segurança, o rigor e a credibilidade do Sistema de Registo e Controlo de Valores Mobiliários. A Central de Valores Mobiliários permitirá:

· Efectuar o registo centralizado, em nome dos seus

detentores, de todos os Valores Mobiliários (acções,

obrigações, e outros) em circulação no território nacional.

· Flexibilizar a realização de diversas operações sobre Valores

Mobiliários (ex: o uso de acções, obrigações como garantia

em operações de financiamento bancário).

· Conferir estrita confidencialidade e segurança no acesso à

informação por parte dos utilizadores do sistema.

Participantes do seminário sobre a Bolsa de Valores

129

Page 136: Comunicações dos Seminários da Presidência da República, 2013

IV. O PAPEL DOS BANCOS DE INVESTIMENTO: O CASO DO BNI

Os Bancos de Investimento são instituições financeiras que têm por principal missão proporcionar financiamento de médio e longo prazo, a programas e projectos que promovam o desenvolvimento da economia.

Vários países têm privilegiado a criação de bancos de investimento no sentido de promover o desenvolvimento económico e social. Moçambique não ficou alheio a este tipo de iniciativas, tendo em 2012, adquirido 49,5% do Banco Nacional de Investimento (BNI), assegurando assim o controlo total deste banco, que foi então transformado num banco de desenvolvimento passando a ter por principal actividade o financiamento em duas componentes essenciais da economia: a agricultura e as infra-estruturas.

Para além disso, o BNI tem, também, por missão dar uma atenção muito especial ao financiamento às pequenas e médias empresas (PME), factor essencial para assegurar a participação do empresariado nacional nestes grandes projectos e nas empresas correlacionadas. Como referência do mercado potencial em termos de necessidades de financiamento em projectos que concorram para o desenvolvimento da economia – missão do BNI – podemos referir o exemplo da Zona Económica Especial da região do Corredor de Nacala, que no ano de 2012 atraiu 1,2 mil milhões de USD de projectos do sector privado.

É reconhecido que os grandes projectos que estão a ser desenvolvidos – conhecidos por megaprojectos – atraem todo um conjunto de pequenas e médias empresas para a satisfação de todo um conjunto de necessidades desses projectos, constituindo um conjunto de oportunidades que o empresariado nacional deve aproveitar, sendo que as suas necessidades de financiamento irão crescer, para a sua maior e melhor adequação e capacitação em termos de recursos humanos, materiais e tecnológicos.

A estratégia para o Desenvolvimento de Pequenas e Médias empresas O número de empresas por região aprovada em 2004, mostra que o número de Pequenas e Médias empresas no país é maior do que as grandes empresas, e contribuem de forma significativa para o crescimento económico do país e melhoria das condições de vida dos cidadãos, na medida em que são elas que

Comunicações dos Seminários da Presidência da República

130

Page 137: Comunicações dos Seminários da Presidência da República, 2013

absorvem uma boa parte de mão-de-obra.

Tabela 3. Número de Empresas por Região

Com um cenário económico que nos últimos 3 anos apresenta um crescimento de 7,1% ao ano, e um desempenho notável do País a nível do continente Africano, o BNI tem na sua frente um enorme desafio em termos das necessidades de financiar quer os projectos e programas de desenvolvimento, quer um apoio que será cada vez maior às pequenas e médias empresas, que poderá ainda ser reforçado se forem implementadas estratégias de encorajamento no estabelecimento de mecanismos que motivem os investidores internacionais a formar parcerias com o sector empresarial nacional.

Fonte: Estratégia para o Desenvolvimento de Pequenas e Médias Empresas em Moçambique, 2004

Província Pequenas Empresas Médias Empresas PME Grandes Empresas

(a) (b) (c)=(a)+(b) (d)

Maputo Cidade

Maputo Província

Tete

Sofala

Nampula

Gaza

Manica

Zambézia

Inhambane

Cabo Delgado

Niassa

116 701 817 198

48 1.371 1.419 42

88 1.842 1.930 11

45 626 671 33

218 2.572 2.790 2.068.553

254 4.941 5.195 15

205 2.041 2.246 21

141 1.664 1.805 20

270 2.126 2.396 16

11.52 6.735 7.887 9

85 1.234 1.319 4

Volume Total de Negócios

(d)

30.716.016

11.896.514

8.174.436

6.642.153

26

1.756.732

1.545.324

1.109.033

972.902

963.261

599.329

Gabinete de Estudos da Presidência da República 131

Page 138: Comunicações dos Seminários da Presidência da República, 2013

Figura 6. Ciclo de Captação de Poupança e de Financiamento

Programa de capacitação para as PME;

Detectar oportunidades de negócio para as PME que se enquadrem no âmbito da missão do BNI;

Fomentar a participação do empresariado nacional nas estruturas accionistas dos investimentos de capital estrangeiro;

Satisfazer as necessidades de financiamento às PMEs

Falta de capacidade financeira, n e c e s s i d a d e d e m a i o r especialização e capacitação das PME;

D e s c o n h e c i m e n t o d a s oportunidades de negócio em particular os correlacionados com os megaprojectos;

Falta de consciencialização dos factores competitivos das PMEs ( t i tular idade dos recursos, abundante força de trabalho, população activa jovem e crescente);

Escassez de crédito bancário de longo prazo, e custo de financiamento muito caro.

BNI

PME’S

Dívida Pública: Obrigações do Tesouro

Dívida de Curto Prazo: Papel Comercial

Dívida de Médio/Longo Prazo: Obrigações Corporativas

Subscrição de Acções ou Obrigações: Oferta Pública ou Privada de Subscrição ou Venda

Negociação de títulos cotados em bolsa: Compra e Venda de Acções, Obrigações, Papel Comercial, U n i d a d e s d e F u n d o s d e Investimento

R e n d i m e n t o s d e t í t u l o s cotados em bolsa: Juros de Obrigações e de Papel Comercial, Dividendos de Acções, Mais-valias de transacções

AFORRADORES

BVMObtenção de Financiamento por emissão de Dívida de Curto Prazo: Papel Comercial

Obtenção de Financiamento por emissão de Dívida de M é d i o / L o n g o P r a z o : Obrigações Corporativas

Obtenção de Financiamento por aumento do capital social das PMEs: Emissão de novas acções, por Oferta Pública ou Privada de Subscrição

Obtenção de Financiamento por venda de capital social das PMEs: Venda de acções das PMEs, por Oferta Pública ou Privada de Venda

CAPTAÇÃO DE FINANCIAMENTO

TriânguloPMEs + BNI + BVM

CAPTAÇÃO DE POUPANÇA

TriânguloAforradores + BNI +

BVM

Comunicações dos Seminários da Presidência da República

132

Page 139: Comunicações dos Seminários da Presidência da República, 2013

Para além disso, há que ainda referir que fora da esfera dos megaprojectos, existem todo um conjunto de oportunidades nas áreas de energia, minas, comércio, agro-negócios e infra-estruturas, onde as pequenas e Médias Empresas poderão se posicionar em termos de

exploração de nichos de mercado, e que igualmente requerem necessidades de financiamento para fazer face a esses investimentos.

Ainda ao nível do empresariado nacional há que fomentar a sua comparticipação no financiamento dos projectos de desenvolvimento, que não tem necessariamente que ser de natureza exclusivamente financeira. Na sua generalidade, as Empresas enfrentam constrangimentos como a reduzida capacidade financeira, a escassez de crédito de longo prazo, e o elevado preço do crédito bancário, que à partida poderão condicionar a participação do empresariado nacional nos projectos de investimento estrangeiro, por estes serem eventualmente detentores de “Know-how” especializado e maior capacidade financeira. Contudo, o empresariado nacional também possui vantagens competitivas nomeadamente a detenção de capital físico representado por terra arável, recursos minerais e outros, além de uma força de trabalho jovem e abundante. E a consciencialização destes factores competitivos por parte do empresariado nacional será fundamental para o encorajamento da sua participação nas estruturas accionistas de investimentos estrangeiros.

O Banco Nacional de Investimento, que nasceu para participar e estimular o financiamento de projectos que contribuam para o processo de desenvolvimento sustentável de Moçambique e de dinamização dos sectores empresariais, encontra na Bolsa de Valores o parceiro privilegiado para o alcançar da sua missão, na medida em que as empresas encontram no Mercado de Capitais alternativas de financiamento para as suas necessidades de investimento.

A recente Certificação do BNI como Operador Especializado de Obrigações do Tesouro (OEOT) - um estatuto recentemente estabelecido pelo Estado para a dinamização do mercado secundário de Obrigações do Tesouro tornando-as acedíveis pelo público em geral – e a sua inscrição como

Gabinete de Estudos da Presidência da República 133

Page 140: Comunicações dos Seminários da Presidência da República, 2013

Operador de Bolsa - acrescendo à função de banco de desenvolvimento, a capacidade para intervir directamente no mercado secundário de bolsa, negociando e transaccionando ordens de compra e venda de títulos, por conta própria ou por conta de investidores – é revelador da importância que o BNI confere ao Mercado de Capitais e à Bolsa de Valores.

Com estas capacidades acrescidas de OEOT e de Operador de Bolsa, o BNI para além da sua missão principal no financiamento a projectos áreas da Agricultura e Infra-Estruturas, está também a reconhecer a importância dos pequenos investidores – PMEs e particulares – no desenvolvimento da economia, mostrando que para este segmento da população, a via para o atingir é através do mercado de capitais e da Bolsa de Valores.

A política do Banco Nacional de Investimento, está desta forma a relevar a importância das PMEs (cujo acesso ao mercado de financiamento é por via do Segundo Mercado, mercado criado pela Bolsa com esta finalidade), e dos investidores nacionais que poderão assim aproveitar as oportunidades

Dr. Anísio Buanaissa a intervir no seminário

134

Page 141: Comunicações dos Seminários da Presidência da República, 2013

oferecidas pelo mercado de capitais, e fazê-lo através de uma instituição cujo objectivo maior é o desenvolvimento da economia.

Ao potenciar a rentabilização das aplicações das PMEs e dos Particulares, o BNI estará assim, a contribuir para o crescimento e fortalecimento da classe média, que na generalidade das economias, é a responsável pelo aumento do Consumo, implicando uma maior necessidade de oferta para satisfazer essa mesma procura, encorajando a expansão e criação de novas unidades de produção, criando oportunidades de negócio para o empresariado nacional, aumentando o nível de emprego, levando a uma maior necessidade de capacitação e especialização dos recursos humanos, numa espiral de rendimento que a longo prazo concorre para o crescimento da economia.

O crescimento económico de Moçambique tem sido impulsionado, embora não exclusivamente, pelos denominados megaprojectos, essencialmente nas áreas da extracção mineira e nos sectores da energia, financiados por Investimento Directo Estrangeiro.

Os outros motores de actividade económica que têm igualmente impulsionado o crescimento económico, são a construção, os serviços financeiros, os transportes e comunicações, que na maioria das vezes estão directamente relacionados com megaprojectos.

A agricultura, responsável por quase 80% do emprego da população activa, considerada o sectores de actividade económica com maior potencial de crescimento e que mais contribui para o PIB nacional, tem apresentado taxas relativamente modestas de crescimento: 3,4% em 2012, e de 3,7% em 2013 (estimativa).

As previsões sobre o crescimento da economia moçambicana tomam como

V. O P O R T U N I D A D E D E F I N A N C I A M E N T O À ECONOMIA NO CONTEXTO DA EMERGÊNCIA DOS MEGAPROJECTOS

Gabinete de Estudos da Presidência da República 135

Page 142: Comunicações dos Seminários da Presidência da República, 2013

base a continuação do considerável investimento directo estrangeiro (IDE), o aumento da produção de carvão, a expansão do crédito ao sector privado e o forte investimento em infra-estruturas que no seu conjunto deverão contribuir para impulsionar a taxa de crescimento para 8,5% e 8,0% em 2013 e 2014, respectivamente.

No entanto, a implementação do programa de infra-estruturas delineado pelo Estado, juntamente com a expansão das redes de segurança social, irá provocar fortes pressões nas finanças públicas, o que em conjugação com a continuação da tendência negativa registada nos fluxos de ajuda externa (donativos e créditos) irá afectar o equilíbrio orçamental, sendo previsível um aumento do défice para 9,2% em 2013, e para 9,5% em 2014, contra 8,2% em 2012.

A inflação de 2012 ao ter atingido o mínimo histórico de 2,7%, cria condições para a expansão do crédito à economia, o que poderá contribuir para o financiamento do empresariado nacional, particularmente às Pequenas e Médias Empresas. Como consequência, perspectiva-se a criação de postos de trabalho, a diversificação económica, e a apropriação do processo de desenvolvimento através da inclusão dos moçambicanos nos projectos de investimento.

Valor do Investimento Designação do Projecto

2 mil milhões USD Construção de um novo porto em Macuse, em conjunto com 525 quilómetros de uma nova linha ferroviária ligando-o a Tete

12 mil milhões USD Ligação ferroviária entre Tete e o porto de Nacala, que também se encontra em fase de expansão, sendo que uma das linhas ferroviárias será executada através do Malawi.

Comunicações dos Seminários da Presidência da República

136

Page 143: Comunicações dos Seminários da Presidência da República, 2013

Valor do Investimento Designação do Projecto

982 mil milhões USD A cobertura nacional de estradas será ampliada em 900 km, incluindo os dois novos projectos em Maputo, a estrada de circunvalação (cintura interna) e a Ponte Catembe com uma ligação até à fronteira sul-africana. O financiamento será assegurado por um empréstimo do Governo chinês

250 milhões USD Aumentar o acesso à energia eléctrica de 20,7% da população em 2012, para 24,1% em 2013. A Aggreko (Reino Unido), primeiro produtor independente de energia, construirá uma central temporária de gás, de 107 megawatts (MW), que funcionará de 2012 a 2014, e que abastecerá tanto Moçambique como a África do Sul.

345 milhões USD A construção de duas centrais a gás, na província de Gaza e em Maputo, utilizando gás proveniente dos campos de Pande já foi aprovada.

953 milhões USD Dois projectos agrícolas, associando açúcar e biocarburantes, estão programados para 2013, em Massingir e em Caia.

20 mil milhões USD Construção pela ENI e Anadarko de uma instalação offshore de gás natural liquefeito (GNL), e respectivos reservatórios, perto de Palma, na província de Cabo Delgado. A produção-exportação de GNL deverá arrancar em 2018.

Gabinete de Estudos da Presidência da República 137

Page 144: Comunicações dos Seminários da Presidência da República, 2013

Valor do Investimento Designação do Projecto

2,7 mil milhões USD Construção das Barragens de Mavusi e Chicamba, Barragem de Mpanda N´Kuwa e HCB Central Norte.

5 mil milhões USD Construção do sistema de transporte de energia STE (anteriormente CESUL).

Fonte: African Economic Outlook

A interligação entre os desafios colocados por estes projectos e os desafios colocados à economia moçambicana, irão obrigar a que num futuro próximo, o Estado e também o sector empresarial, tenha de encontrar soluções de financiamento para garantir a inclusão do empresariado nacional nos projectos decorrentes do investimento estrangeiro, e também o assegurar da soberania nacional.

A aprovação da Lei das PPPs, PGDs e CEs que confere a possibilidade de alienação de parte do capital social destes projectos, criará condições para a participação da população moçambicana e que de alguma forma resultará na melhoria de condições de vida.

Adicionalmente, a existência de um banco de investimento, a criação de mecanismos que encorajem a participação do empresariado nacional nos mega-projectos, o investimento directo estrangeiro, poderão no seu global contribuir para o desenvolvimento sustentável da economia.

Neste contexto, a população moçambicana poderá por um lado, ainda beneficiar do crescimento económico impulsionado pelos mega-projectos, através da aquisição de participações em empresas enquadradas no âmbito da Lei nº15/2011 de 10 de Agosto, das PPPs, PGDs e CEs, onde está consagrada uma reserva de 5 a 20% do seu capital

Comunicações dos Seminários da Presidência da República

138

Page 145: Comunicações dos Seminários da Presidência da República, 2013

social reservada maioritariamente para nacionais; e por outro, participar na estrutura accionista dos Mega projectos, nas receitas da sua exploração e melhorar as condições sócio económicas.

Os efeitos positivos da ligação entre os mega-projectos e as Pequenas e Médias Empresas vai permitir a participação destas nas actividades produtivas, criando a diversificação económica e, a Bolsa de valores, o Banco Nacional de Investimento e a Sociedades de capital de risco poderão servir como alternativas de financiamento para estas actividades.

Atendendo à situação actual do mercado de capitais e da bolsa de valores, apresentam-se como desafios:

1) O crescimento do mercado de valores mobiliários;2) A viabilização do estabelecido na Lei nº15/2011 de 10 de Agosto,

que aprova as normas orientadoras do processo de contratação, implementação e monitoria de empreendimentos de parcerias público-privadas, de projectos de grande dimensão e de concessões empresariais, a qual estabelece a passagem de 5 a 20% do capital social aos moçambicanos;

3) O aumento da oferta do capital privado para apoiar o desenvolvimento;

4) A Consolidação da parceria com o IGEPE por forma a viabilizar a realização de várias operações, com particular menção para:

· Valorização das Acções do IGEPE através da reestruturação de empresas, através da sua admissão à cotação em bolsa, podendo citar o exemplo da Cervejas de Moçambique, cujas acções subiram de 15,00 MT para 113, 60 MT.

· Realização da Oferta Pública de Venda de 10% de

VI. O S D E S A F I O S D O F I N A N C I A M E N T O À ECONOMIA

1. OS DESAFIOS

Gabinete de Estudos da Presidência da República 139

Page 146: Comunicações dos Seminários da Presidência da República, 2013

Acções do Estado na Emose.

· Realização de apresentações às empresas participadas pelo IGEPE, em todas as regiões de Moçambique.

· Criação de instrumentos legais que possibilitem a continuidade do processo de privatização das empresas publicas, emitindo acções preferenciais de empresas das quais o Estado deseja manter o controlo e vendendo-as ao publico, capitalizando tais empresas e preparando-as para uma futura privatização total em condições mais vantajosas para si.

5) Viabilização da Operação Pública de Venda de 10% do capital social da VALE; 6) Uma maior visibilidade;7) A implementação de um programa específico de Educação Financeira;8) A capacitação institucional.

As acções desenvolvidas pela Bolsa de Valores em prol do crescimento do mercado de capitais e da própria instituição, têm sido orientadas para serem uma resposta aos constantes desafios e necessidades que o crescimento económico de Moçambique nos tem colocado.

Em termos do crescimento do mercado de valores mobiliários, as acções têm sido direccionadas para:

1. Captação de Empresas para o mercado accionista, através de: a) Admissão à cotação de:

· Empresas com participação do Estado (CDM, CMH, EMOSE, e outras potenciais empresas);

· Empresas de capitais privados para o MCO – grandes empresas (CETA) – e para o SME – pequenas e médias empresas;

2. ACÇÕES ESTRATÉGICAS

Comunicações dos Seminários da Presidência da República

140

Page 147: Comunicações dos Seminários da Presidência da República, 2013

· Empresas no âmbito da Lei das PPPs, PGDs e CEs (VALE e outras);

· Empresas com valores mobiliários estrangeiros (BaoBab Resources).

b) Visitas a empresas e outras entidades sobre o funcionamento e as vantagens da Bolsa;

c) Estimular o empresariado nacional a adoptar as melhores práticas de gestão, e adequar as suas estruturas societárias para a sua admissão e recurso ao mercado de capitais;

d) Incentivar o desenvolvimento de esquemas colectivos de investimento (fundos de investimento);

e) Apoio e Assessoria às Empresas e aos Investidores através, respectivamente, do Gabinete de Apoio às Empresas e do Gabinete de Apoio aos Investidores.

2. Continuação da promoção de emissão de Dívida Pública e sua transacção para o público (recentemente aprovado o Decreto que estabelece o regime de emissão de OTs que também assegura os mecanismos de passagem para o público);

3. Desenvolvimento de plataformas tecnológicas para assegurar o controlo da titularidade nacional quando necessários (acções da CMH exclusivamente para moçambicanos), e outras que vierem a ser estipuladas (as do âmbito da Lei das PPPs);

4. Facilitar, em coordenação com outras instituições, o acesso ao financiamento que garante a participação dos moçambicanos na aquisição de acções a serem alienadas ao público no âmbito da Lei das PPPs, PGDs e CEs, tal como a BVM já promoveu em operações similares (CDM, CMH e CETA).

5. Como complemento do financiamento referido no ponto

Gabinete de Estudos da Presidência da República 141

Page 148: Comunicações dos Seminários da Presidência da República, 2013

anterior, a BVM tem promovido processos de “stock Split” (redução de valor nominal da acção por aumento equivalente do número de acções). No caso da EMOSE, cada acção de valor nominal de 100MT com um preço de venda de 2000MT, foi desdobrada em 100 acções de valor nominal de 1MT, pelo que o preço de venda de cada acção passou a ser de 20MT, mantendo-se o encaixe da operação. O preço de 20MT por acção permite uma maior dispersão pelos investidores nacionais, e uma maior facilidade no acesso ao crédito.

6. Implementação da Central de Valores Mobiliários, onde todos os títulos emitidos, cotados ou não cotados, serão registados de forma centralizada, permitindo ao Estado o pleno controlo sobre todos os movimentos de valores mobiliários, e assim, assegurar o cumprimento de todas as obrigações fiscais;

7. Assegurar a criação de condições para satisfazer as necessidades de financiamento do Estado por recurso aos mercados internacionais (colocação de Dívida Moçambicana no exterior, emissão de Eurobonds).

Em termos da visibilidade do mercado de capitais e da BVM, as acções têm-se centrado na Literacia Financeira, através de:

1. Implementação de um Programa de Educação Financeira de âmbito nacional;2. Preparação da Campanha de Divulgação da Bolsa (eventos e outras iniciativas);3. Certificação Profissional dos Operadores de Bolsa (de forma a promover a criação de correctores independentes);4. Conferências de Imprensa aquando da realização de Grandes Operações de Bolsa;5. Publicação de Relatórios Semestrais do desempenho do mercado bolsista (iniciado em 2012);6. Compilação da Colectânea de Legislação sobre a Bolsa.

Comunicações dos Seminários da Presidência da República

142

Page 149: Comunicações dos Seminários da Presidência da República, 2013

No referente à capacitação institucional da Bolsa, está em curso, entre outras acções, a avaliação e oportunidade de um novo Sistema de Negociação, e a implementação contínua do Programa de Formação Interna.

Com vista a aumentar a oferta de capital privado, a Estratégia para o Desenvolvimento do Sector Financeiro 2012-2021 prevê as acções atrás referidas, incluindo também as seguintes:

· Encorajar a criação de agências de notação financeira;

· Incentivar a inovação no mercado de capitais de forma a propiciar a criação de novos mercados e produtos financeiros (fundos de investimento);

· Avaliar o papel e a possibilidade da criação de uma Autoridade Reguladora do Mercado de Valores Mobiliários.

A teoria do desenvolvimento económico demonstra que o crescimento de uma economia passa, decididamente pelo aumento da capacidade produtiva, o qual carece de financiamento. Pelo que, um país não pode crescer e desenvolver-se caso não disponha de recursos suficientes (capital) e não faça uma correcta e eficiente utilização dos mesmos.

Considerando o potencial do crescimento económico de Moçambique, o País necessitará de mobilizar financiamento para a implementação de projectos de investimento em todas as áreas que concorrem para a dinamização da economia e para assegurar o desenvolvimento sustentável e a inclusão económica e social da população moçambicana, através da criação de mais postos de trabalho, da diversificação económica, e de uma maior capacitação das Pequenas e Médias Empresas. Assim, são chamados os mercados financeiros a desempenhar o seu papel de intermediários financeiros.

VII. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Gabinete de Estudos da Presidência da República 143

Page 150: Comunicações dos Seminários da Presidência da República, 2013

Nos mercados financeiros processa-se a transferência dos recursos excedentários para os agentes deficitários, mediante a observância de regras previamente definidas, pelo que os mercados financeiros desempenham um importante papel no financiamento à economia, ao sector das empresas e dos particulares.

O financiamento da economia, através da participação activa no financiamento dos investimentos do sector empresarial, desempenha, ainda, um importante papel no equilíbrio do défice orçamental, fornecendo ao Estado e aos demais entes públicos os meios financeiros indispensáveis à concretização dos projectos de investimento e meios suplementares de condução da política, nos domínios económico e social.

A Economia moçambicana já dispõe de diversos mecanismos de financiamento, a Bolsa de Valores, o Banco Nacional de Investimento, os Bancos Comerciais e as Instituições de Micro-Finanças, podem fomentar o financiamento às PMEs e aos Particulares através do mercado de capitais, e servirem como motores de uma maior participação dos moçambicanos nos megaprojectos.

Nestes termos, torna-se essencial a existência de uma coordenação entre as diversas opções de financiamento, na qual a Bolsa de Valores, sendo um mercado organizado e regulamentado, possa de forma mais eficiente conciliar os interesses dos investidores e dos aforradores, através da promoção da captação da poupança destes e da sua conversão em investimento produtivo.

Comunicações dos Seminários da Presidência da República

144

Page 151: Comunicações dos Seminários da Presidência da República, 2013

BIBLIOGRAFIA

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Mercado Bolsista, 2º Semestre, Maputo;

2. Grob J. e André Nogueira, (2010) Financiando Moçambique, 2ª ed.

Maputo – Moçambique;

3. Instituto Mercado de Capitais, (2001), Investir em Bolsa,

Funcionamento e Instrumentos do Mercado à vista, Bolsa de Valores

de Lisboa e Porto;

4. Instituto Mercado de Capitais, (2001), Bolsa Portuguesa - o que é? Como

Funciona? Bolsa de Valores de Lisboa e Porto;

5. Ross S. at al, (1996), Corporate Finance, Fourth Edition;

6. Samuelson, Paul A: (1998), Nordhaus, William D.; Economia; 14ª Edição

7. Fabozzi, Frank; Modigliani, Franco (1996): Capital Markets; Second

Edition

8. República de Moçambique, Estratégia para o Desenvolvimento do

Sector Financeiro 2013-2022, Maputo.

9. Lopes.J, (2013), Corredores Mineiro-Energéticos 2020: Impactos

Marítimos do Afro-Índico no Canal de Moçambique, 1ª Edição,

Maputo.

10. Presidência da República (2012) Comunicações dos Seminários.

Gabinete de Estudos da Presidência da República 145

Page 152: Comunicações dos Seminários da Presidência da República, 2013

Comunicações dos Seminários da Presidência da República

146

Page 153: Comunicações dos Seminários da Presidência da República, 2013

A PROMOÇÃO DO DEBATE COMO PLATAFORMA PARA A BUSCA DE CONTRIBUIÇÕES RUMO A UM

MOÇAMBIQUE SEM POBREZA

Comunicação apresentada por Sua Excelência, Armando Emílio Guebuza, Presidente da República de Moçambique, por ocasião do encerramento do

Ciclo dos Seminários do ano de 2013 organizados pelo Gabinete de Estudos da Presidência da República

Page 154: Comunicações dos Seminários da Presidência da República, 2013

Senhores Membros do Conselho de Ministros,Ilustres Painelistas,Distintos convidados,Minhas senhoras e Meus senhores,

É com grande satisfação e sentido de gratidão que temos a honra de nos dirigirmos aos nossos estimados convidados para proceder ao encerramento de mais um ciclo de seminários organizado pelo Gabinete de Estudos da Presidência da República e que coincide com o lançamento de mais uma colectânea das comunicações apresentadas durante o presente ano de 2013.

O seminário de hoje acontece numa altura em que o nosso País prepara-se para mais um pleito eleitoral autárquico. Gostaríamos por isso de exortar a todos presentes e através de vós, a todos os nossos concidadãos munícipes, a se envolverem neste processo que constitui em si um dos elevados momentos do exercício da cidadania, direito constitucionalmente consagrado.

Congratulamo-nos com a assídua presença dos nossos estimados convidados a estes seminários, o que não só confirma a pertinência das temáticas abordadas, mas também a cristalização da cultura de debate de assuntos de relevância nacional pelos nossos peritos.

No presente ano de 2013 tivemos a oportunidade de apreciar os seguintes temas:

· Os Desafios da Consolidação do Sistema de Finanças para o Desenvolvimento em Moçambique;

· Os Desafios da Preservação das Conquistas da Independência Nacional;

Comunicações dos Seminários da Presidência da República

148

Page 155: Comunicações dos Seminários da Presidência da República, 2013

· Os Desafios de Financiamento Económico para o Desenvolvimento de Moçambique; e

Hoje, em conjunto debatemos o tema A Reforma da Educação Profissional e o Desafio de Resposta à Demanda do Mercado de Emprego. Permitam-nos, pois, saudar a todos os presentes nesta sessão na qual, como sempre, trouxeram-nos reflexões que nos permitem visualizar a realidade com mais amplitude de modo a, conjuntamente, compreendermos a dimensão do caminho percorrido mas também a longa marcha por fazer rumo ao nosso desenvolvimento.

Minhas senhoras e meus senhores,

Esta matéria da nossa governação, hoje debatida, é tão actual e pertinente quanto necessária, porquanto a demanda de mão-de-obra qualificada por parte dos mega-projectos implantados e em implementação no nosso país, bem como de outros sectores de actividade económica, social e de serviços exige de nós uma resposta acertada e em tempo útil.

Quando a Reforma iniciou em 2006, no nosso país tínhamos cerca de quatro mil graduados e até 2011 tínhamos cerca de dezassete mil graduados. No entanto, apesar deste avanço significativo, este número continua aquém da demanda do mercado. Por isso, as instituições que lideram a reforma são desafiadas a empenharem-se cada vez mais no sentido de assegurar que haja mais moçambicanos graduados ao nível deste subsistema, em quantidade e qualidade, por forma a responderem ao mercado de emprego cada vez mais exigente e competitivo, sobretudo na área de recursos minerais em toda a sua cadeia de valor, sem excluir as outras áreas. Aliás, sempre foi apanágio da nossa governação privilegiar o ensino técnico profissional por forma a garantir a transformação dos recursos existentes à nossa volta em riqueza.

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Ficámos sensibilizados por alguns desafios aqui apresentados que emergem das mudanças que se pretendem imprimir e levamos daqui sugestões que, julgamos, contribuirão para a melhoria que se deseja, transformando-os em oportunidades de ensino-aprendizagem neste subsistema do nosso ensino.

Uma das lições que temos vindo a tirar destes seminários organizados pelo Gabinete de Estudos da Presidência da República é que se trata de uma oportunidade de, em conjunto, reflectirmos sobre os mais variados assuntos do nosso País, trazermos os nossos pontos de vista e partilhar as nossas contribuições sobre como chegar ao Moçambique sem pobreza. Trata-se também de um espaço de aprendizagem, onde mais do que produzir respostas a todos os desafios que ainda enfrentamos na nossa governação compreendemos as suas manifestações o que nos vai permitir melhor aprimorar as soluções desejadas.

Queremos, por isso, agradecer aos intervenientes deste seminário, pelo excelente contributo que trouxeram em termos de esclarecimento e de reflexão. Seria injusto deixar passar este momento sem agradecer a todos os que de forma directa ou indirecta colaboraram na organização deste seminário. Aos painelistas que dedicaram todo o seu tempo e saber para a produção da comunicação que acabamos de debater, dirigimos o nosso profundo apreço.

Dirigimos igualmente a nossa saudação e particular agradecimento a todos os nossos compatriotas, peritos moçambicanos, que durante o ano de 2013, brindaram-nos com as suas comunicações nesta eminente casa dos moçambicanos. Referimo-nos ao:

· Francisco António Souto · Justino Chone· Frederico Benedito Congolo

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· Denise Malauene· Anabela Chambuca Pinho· Vasco Correia Nhabinde· Edmundo Jossefa· Alda Saúte

A todos desejamos muitos sucessos e uma quadra festiva que se avizinha muito feliz e um próspero 2014.

Declaramos assim, encerrado o ciclo de Seminários da Presidência da República de 2013.

Pela atenção dispensada, o nosso muito obrigado!

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