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PT PT COMISSÃO EUROPEIA Bruxelas, 21.9.2017 COM(2017) 547 final COMUNICAÇÃO DA COMISSÃO AO PARLAMENTO EUROPEU E AO CONSELHO Um sistema fiscal equitativo e eficaz na União Europeia para o Mercado Único Digital

COMUNICAÇÃO DA COMISSÃO AO PARLAMENTO EUROPEU E AO

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PT PT

COMISSÃO EUROPEIA

Bruxelas, 21.9.2017

COM(2017) 547 final

COMUNICAÇÃO DA COMISSÃO AO PARLAMENTO EUROPEU E AO

CONSELHO

Um sistema fiscal equitativo e eficaz na União Europeia para o Mercado Único Digital

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Introdução

O Mercado Único Digital (MUD) é uma das 10 prioridades políticas da Comissão Europeia. A

estratégia para o MUD1 visa abrir oportunidades digitais para as pessoas e as empresas num mercado

de mais de 500 milhões de consumidores na UE. A realização do Mercado Único Digital pode

contribuir com 415 mil milhões de euros por ano para a economia da Europa, criar emprego e

transformar os nossos serviços públicos. Nos 18 meses subsequentes à adoção da estratégia para o

MUD, a Comissão Europeia concretizou as propostas anunciadas. No quadro da avaliação intercalar

da estratégia2, atualizou a sua análise e concentrou-se na próxima série de desafios. As tecnologias

digitais estão a transformar o nosso mundo e a ter um impacto importante nos sistemas de

tributação. Contribuem para reforçar a sua gestão, oferecendo soluções para reduzir os encargos

administrativos, facilitar a colaboração entre as autoridades fiscais e combater a evasão fiscal. No

entanto, transformam os modelos empresariais, com os ativos incorpóreos a desempenharem um

papel cada vez mais importante, exercendo pressão sobre o sistema fiscal europeu.

O Mercado Único Digital da UE requer um quadro fiscal moderno e estável para que a economia

digital estimule a inovação, combata a fragmentação do mercado e permita a todos os intervenientes

aproveitar a nova dinâmica de mercado em condições equitativas e equilibradas. É essencial

assegurar a segurança fiscal para o investimento das empresas e prevenir novas lacunas fiscais que

começam a surgir no Mercado Único.

No domínio da fiscalidade, os decisores políticos têm dificuldade em encontrar soluções que

permitiriam assegurar uma fiscalidade equitativa e eficaz à medida que a transformação digital da

economia acelera. Existem insuficiências nas regras fiscais internacionais, uma vez que foram

inicialmente concebidas para empresas «físicas», tendo-se tornado agora obsoletas. A

regulamentação fiscal em vigor já não se enquadra nos padrões modernos em que as empresas

dependem em larga medida de ativos intangíveis, dados e automatização difíceis de avaliar que

facilitam o comércio em linha transfronteiras sem presença física. Estas questões não se limitam à

economia digital e têm um impacto potencial em todas as áreas de negócios. Consequentemente,

algumas empresas estão presentes nalguns países em que oferecem serviços aos consumidores e

celebram contratos com os mesmos, tirando todo o partido das infraestruturas e das instituições do

Estado de direito disponíveis, embora não sejam consideradas presentes para efeitos fiscais. Esta

posição de parasitismo faz pender as condições de concorrência a seu favor, em comparação com as

empresas estabelecidas.

Em consequência, o crescente desafio de garantir que a economia digital é tributada

equitativamente ainda não foi resolvido de forma adequada, sobretudo devido a uma falta de

consenso internacional e à natureza multidimensional do desafio. Esta é uma situação insustentável

num mundo cada vez mais globalizado e interligado digitalmente, em que cada vez mais atividades se

deslocam para o espaço digital. A incapacidade para resolver estas situações conduzirá a mais

oportunidades de elisão fiscal, menores receitas fiscais para os orçamentos públicos, impacto na

equidade social, nomeadamente através da erosão dos orçamentos sociais, e irá destabilizar as

condições de concorrência equitativas para as empresas. Tal coloca em risco a competitividade da

1 COM(2015) 192. 2 COM(2017) 228.

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UE, uma fiscalidade equitativa e a sustentabilidade dos orçamentos dos Estados-Membros. Como

sublinhou o Presidente da Comissão, Jean-Claude Juncker, no seu discurso de 2017 sobre o Estado da

União3, a Comissão apela à equidade fiscal para a indústria digital. No ECOFIN informal de Taline4, a

Presidência, apoiada por um grande número de Estados-Membros, instou a Comissão a explorar

opções e propor soluções eficazes, com vista a alcançar um acordo sobre o caminho a seguir pela UE

até ao final do ano.

Desde o início do seu mandato, a atual Comissão tomou medidas para garantir o princípio de que

todas as empresas que operam na UE devem pagar os seus impostos no país onde os lucros e o

valor são gerados. Este princípio é essencial para uma fiscalidade equitativa e eficaz no Mercado

Único, e apenas pode ser executado através de medidas comuns e coordenadas. As abordagens

nacionais divergentes na UE podem fragmentar o Mercado Único, aumentar a incerteza fiscal,

desestabilizar a igualdade das condições de concorrência e originar novas lacunas relativas a práticas

fiscais abusivas. Como já identificado no relatório da Comissão de maio de 20145, o enquadramento

fiscal internacional precisa de ser reformado, de forma a que efetivamente abranja o valor criado

devido aos novos modelos empresariais — infelizmente, até agora, tem-se revelado difícil chegar a

acordo sobre as soluções a nível global, como resulta do relatório da OCDE de outubro de 20156.

Chegou a altura de agir. A Comissão pretende uma ambiciosa agenda da UE sobre o assunto e uma

abordagem comum da UE para garantir que a economia digital é tributada de forma eficaz e de uma

forma que garanta a equidade e apoie o crescimento.

Esta nova agenda complementará os progressos significativos já realizados no que diz respeito à

melhoria do enquadramento fiscal das empresas nos últimos anos, tanto a nível da UE como a

nível internacional. Na UE, os Estados-Membros chegaram a acordo quanto a uma série de novas

regras ambiciosas para lutar contra o planeamento fiscal agressivo e aumentar a transparência fiscal,

e têm intensificado a sua posição internacional sobre a boa governação fiscal através da estratégia

externa relativa à tributação eficaz. No domínio do controlo dos auxílios estatais, a Comissão

procedeu a um inquérito geral sobre as práticas dos Estados-Membros em matéria de acordos fiscais

prévios e está a investigar acordos fiscais prévios e regimes que concedem um tratamento fiscal

preferencial a algumas empresas. A Comissão ordenou a recuperação de auxílios em vários casos. No

domínio do imposto sobre o valor acrescentado (IVA), a Comissão está também a abordar

frontalmente os desafios colocados pela economia digital com a sua proposta sobre o comércio

eletrónico7. Estão a avançar as negociações sobre a matéria coletável comum consolidada do

imposto sobre as sociedades (MCCCIS)8, que foram relançadas pela Comissão em 2016. Uma vez

adotada, a MCCCIS proporcionará um quadro competitivo, equitativo e sólido para a tributação das

empresas no Mercado Único.

As empresas estão agora mais digitalizadas do que nunca

3 http://europa.eu/rapid/press-release_SPEECH-17-3165_en.htm 4 https://www.eu2017.ee/political-meetings/ECOFIN 5 Ver o Relatório do Grupo de peritos da Comissão Europeia sobre a tributação da economia digital, maio de 2014. 6 Ver o Relatório da OCDE - Responder aos desafios fiscais da economia digital, ação 1 do projeto relativo à erosão da base tributável e à transferência de lucros, outubro de 2015. 7 COM(2016) 757 8 COM(2016) 683 e COM(2016) 685

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Estamos a agir num mundo sem fronteiras e globalizado. O aumento do consumo é acompanhado

de uma intensificação do comércio e do aumento do volume das trocas comerciais. Ao mesmo

tempo, o comércio torna-se mais internacional. O crescimento da economia digital está a conduzir a

uma revolução na vida quotidiana e nos modelos empresariais, cujos efeitos se fazem sentir não só

nos modelos tradicionais em matéria de economia, de política, de governação, de execução e de

empresas, mas também na administração fiscal e aduaneira.

A digitalização tem atuado como facilitador/acelerador do comércio transfronteiras. A evolução

dos modelos empresariais implica que as empresas funcionem de modo fundamentalmente

diferente atualmente do que na altura em que a regulamentação fiscal e aduaneira internacional foi

concebida — por exemplo, não é necessária a presença física para vender bens e serviços num

mercado, o que significa que pode ser difícil determinar a base tributável na jurisdição desse

mercado ou a origem das mercadorias para fins aduaneiros. Com um clique no computador, é

possível encomendar em todo o mundo. Isto traduz-se na abertura de novos mercados, numa

diminuição geral dos preços e no aparecimento de novas oportunidades. Está a perturbar os modelos

empresariais existentes e as plataformas em linha estão a reagir mais eficazmente à procura. É

importante que isto não só resulte num aumento do comércio, mas também numa fragmentação do

comércio, com o envolvimento de novas partes que nem sempre estão familiarizadas com as

obrigações aduaneiras e fiscais, ou talvez possam estruturar as suas atividades de forma a contornar

estas obrigações.

A digitalização transforma a natureza das trocas, esbatendo as fronteiras entre bens e serviços,

transformando produtos para a sua representação digital, como os livros eletrónicos ou utilizando

o mínimo de materiais possível, graças à impressão 3D. A economia está a tornar-se cada vez mais

digitalizada, pelo que os modelos empresariais existentes terão de se adaptar a esta nova realidade,

à medida que surgem novos modelos empresariais. As principais características destes novos

modelos empresariais são a capacidade de realizar atividades à distância, a volatilidade do mercado

(o facto de se ganhar e perder rapidamente quotas de mercado), a tendência para situações de

monopólio ou oligopólio, e para efeitos de rede, para citar apenas alguns exemplos9.

9 Ver o Relatório da OCDE - Responder aos desafios fiscais da economia digital, ação 1 do projeto relativo à erosão da base tributável e à transferência de lucros, outubro de 2015.

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A digitalização da economia global

está a decorrer a um ritmo

acelerado e em grande escala,

invadindo quase todos os domínios

da sociedade. Perto de um terço do

crescimento do total da produção

industrial na Europa já constitui um

resultado da utilização de

tecnologias digitais10. Em 2006,

apenas uma empresa especializada

nas tecnologias estava entre as 20

maiores, representando apenas 7 % da capitalização bolsista. Em 2017, nove das 20 maiores

empresas em termos de capitalização bolsista eram empresas especializadas nas tecnologias,

representando 54 % do total das 20 maiores capitalizações bolsistas11. Entre 2008 e 2016, as receitas

obtidas pelos cinco principais retalhistas do comércio eletrónico aumentaram, em média, 32 % por

ano. Durante o mesmo período, as receitas em todo o setor retalhista da UE aumentaram, em média,

1 % por ano12. Novos progressos ocorrerão rapidamente devido a uma nova geração de tecnologias

da informação, como a Internet das coisas, a inteligência artificial, a robótica e a realidade virtual. As

soluções digitais são cada vez mais utilizadas e abrem novas oportunidades para os cidadãos, as

empresas, os investidores e as administrações públicas. É essencial que as empresas da UE

aproveitem estas oportunidades para se manterem competitivas, e que as empresas em fase de

arranque da UE sejam capazes de crescer rapidamente, recorrendo à plena utilização da computação

em nuvem, às soluções de megadados, à robótica e à banda larga de alta velocidade. O desafio da

Europa no futuro consiste em aproveitar rapidamente todas estas oportunidades digitais para

assegurar a competitividade da Europa e, ao mesmo tempo, garantir uma tributação equitativa.

10 COM(2016) 180. 11 As 100 empresas mais importantes em termos de capitalização bolsista, PWC (2017); Base de dados Global 500 do Financial Times 2006. 12 Bases de dados da Bloomberg e do Eurostat, consultadas em 13 de setembro de 2017.

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A digitalização afeta todas as empresas, mas em graus variáveis. Um desafio para a política fiscal é a

diversidade dos modelos empresariais possíveis graças à tecnologia e à exploração de grandes

quantidades de dados. Os consumidores têm a possibilidade de comprar bens e serviços em qualquer

lugar no mundo através da Internet, em vez da loja tradicional. As novas gerações de consumidores

preferem adquirir de forma instantânea. As plataformas digitais com um número reduzido de ativos

ligam a capacidade não utilizada e a procura, e facilitam enormes montantes de transações

colaborativas, que, segundo as previsões deveriam aumentar 35 % por ano durante a próxima

década 13. Empresas de todos os tipos extraem agora muito do seu valor de ativos intangíveis,

informações e dados. Não existe uma característica única que defina as novas formas de fazer

negócios no espaço digital e os diferentes aspetos são muitas vezes combinados numa única

empresa. Esta diversidade requer um trabalho de delimitação do âmbito dos vários tipos de

atividades e serviços digitais que devem ser abrangidos por qualquer solução potencial. A seguir

encontra-se uma lista não exaustiva destinada a salientar as novas formas de fazer negócios na

economia digital, que deram origem às questões sobre «Onde tributar?» bem como «O que

tributar?» Estes novos paradigmas exigem novas medidas.

13 Ver Literature review on taxation, entrepreneurship and collaborative economy - final report by Dondena & IHS, estudo encomendado pela Comissão Europeia, a publicar brevemente.

EMPRESA TECNOLÓGICA

EMPRESA NÃO TECNOLÓGICA

PARTE DO VALOR DE MERCADO PARTE DO VALOR DE MERCADO

2006 2017

7% 54%

7

Exemplos de novas formas de fazer negócios

Modelo retalhista em linha, em que as plataformas em linha vendem bens ou ligam compradores e vendedores em contrapartida de uma transação ou taxa de colocação ou de uma comissão. Os exemplos deste tipo de empresas incluem a Amazon, a Zalando e a Alibaba.

Modelo de comunicação social, em que os proprietários da rede dependem das receitas de

publicidade através da entrega de mensagens publicitárias direcionadas para os consumidores. Exemplos deste tipo de empresas incluem o Facebook, o Xing e a Qzone.

Modelo de assinatura, em que as plataformas cobram uma taxa de assinatura para um acesso contínuo a serviços digitais (por exemplo, música ou vídeos). Exemplos deste tipo de empresas incluem a Netflix, a Spotify, e a iQiyi.]

Modelo de plataforma colaborativa, em que as plataformas digitais fazem a ligação entre a capacidade não utilizada e a procura, utilizam mecanismos de divisas reputadas para apoiar o consumo e permitir às pessoas partilhar o «acesso» aos ativos em vez de os possuir na íntegra. As plataformas cobram uma taxa fixa ou variável sobre cada transação. Exemplos deste tipo de empresas incluem a Airbnb, a Blablacar e a Didi Chuxing.

A UE necessita de um quadro fiscal moderno para aproveitar as oportunidades digitais e, ao

mesmo tempo, assegurar uma tributação fiscal equitativa. A existência de condições de

concorrência equitativas é uma condição prévia para todas as empresas inovarem, desenvolverem e

crescerem para níveis mais elevados de produtividade, emprego e prosperidade. No entanto, o nível

de digitalização da indústria varia consoante os setores, especialmente entre os domínios de alta

tecnologia e outros mais tradicionais, assim como entre Estados-Membros e regiões. Verificam-se

também grandes disparidades entre grandes empresas e PME. Em média, os modelos de negócio

digitais nacionais estão sujeitos a uma taxa de imposto efetiva de apenas 8,5 %, taxa duas vezes

menos elevada do que a aplicada aos modelos empresariais tradicionais14 (ver gráfico infra). Tal

deve-se, principalmente, às características dos modelos empresariais digitais, que dependem em

grande medida de ativos intangíveis e beneficiam de incentivos fiscais. As empresas digitais

transfronteiras beneficiam igualmente de uma reduzida carga fiscal, mesmo sem ter em conta o

planeamento fiscal transfronteiras agressivo que pode reduzir a carga fiscal efetiva para zero15.

14 Ver Digital Tax Index, PWC e ZEW, 2017. Modelo de negócio tradicional: os ativos são considerados igualmente repartidos entre edifícios, máquinas, inventários, ativos financeiros e ativos intangíveis. O modelo de negócio digital é a média de três modelos diferentes («interno», «B2C», «B2B»). O pressuposto de base para todos os três é o de que os ativos estão igualmente divididos entre intangíveis adquiridos, intangíveis criados pela própria empresa, equipamento informático, software adquirido e software criado pela própria empresa. Os modelos B2C e B2B utilizam as suas filiais para as suas atividades de venda e de comercialização. 15 Ver «The Impact of Tax-planning on Forward-looking Effective Tax Rates» by ZEW, Taxation paper 64, DG TAXUD, Comissão Europeia.

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Fonte: Digital Tax Index, (2017), PWC e ZEW.

Desafios de importância capital

O principal desafio é a reforma do enquadramento fiscal internacional, que foi concebido no início

do século XX e deixou de se adequar à sua finalidade. Isto tem funcionado bem para as empresas

«físicas» tradicionais, mas à medida que as atividades empresariais se tornaram mais globalizadas e

digitalizadas, as regras antigas deixaram de ser tão eficazes.

O princípio subjacente relativamente à tributação das sociedades é que os lucros devem ser

tributados no local onde o valor é criado. No entanto, num mundo digitalizado, nem sempre é muito

claro determinar esse valor, com medi-lo ou onde é criado.

Os dois principais desafios que é necessário enfrentar podem ser resumidos do seguinte modo:

- Onde tributar? (Correlação) - como criar e proteger os direitos de tributação num país onde as empresas possam prestar serviços digitais com pouca ou nenhuma presença física, apesar de terem uma presença comercial; bem como

- O que tributar? (Criação de valor) - como atribuir lucros em novos modelos empresariais digitalizados impulsionados por ativos intangíveis, dados e conhecimentos.

Estes desafios têm de ser analisados em conjunto com vista a encontrar uma solução construtiva

para determinar para efeitos fiscais onde as atividades económicas são exercidas e onde é criado

valor. A questão «Onde tributar?» - como estabelecer direitos de tributação num país em que a

empresa apenas tem uma presença digital sem presença física - pode ser ilustrada pelo seguinte

exemplo teórico.

Exemplo teórico de uma empresa que fornece uma rede social que depende das receitas de publicidade através do envio de mensagens comerciais personalizadas aos seus utilizadores na UE:

Taxa fiscal média real na UE28

Modeloempresarial

nacional digital

ModeloB2C internacional

digital

Modelo B2B internancional

digital

Modelo empresarialnacional tradicional

Modelo empresarialinternacional tradicional

20.9% 23.2%

8.5% 10.1% 8.9%

9

os utilizadores situados na UE têm livre acesso a uma rede social gerida por uma empresa localizada fora da UE. A empresa recolhe dados sobre os seus utilizadores, por exemplo, informações sobre os seus hábitos de consumo, gostos e preferências. Apesar de a empresa gerar principalmente receitas com a venda de espaço publicitário a outras empresas para enviar mensagens comerciais personalizadas através da rede para os seus utilizadores na UE, pode não ter uma presença tributável na UE ao abrigo do atual quadro fiscal internacional e, por conseguinte, a empresa não está sujeita ao imposto sobre as sociedades na UE. Exemplo teórico de uma empresa que presta serviços digitais aos consumidores na UE através de uma plataforma em linha: os clientes localizados na UE pagam uma assinatura para aceder aos serviços digitais (por exemplo, música ou vídeo) através de uma plataforma em linha gerida por uma empresa localizada fora da UE. Embora as receitas geradas pelas assinaturas provenham de clientes na UE, o fornecedor da plataforma não tem uma presença tributável na UE ao abrigo do atual quadro fiscal internacional e, por conseguinte, a empresa não está sujeita ao imposto sobre as sociedades na UE.

Para fazer face a estes desafios, é essencial criar e manter uma dinâmica internacional sobre esta

questão a nível político, que tem sido muito insuficiente até à data devido à multiplicidade de

intervenientes e à falta de consenso no debate internacional. Não é menos verdade que a

abordagem ideal seria encontrar soluções multilaterais e internacionais com vista a tributar a

economia digital, dada a natureza global deste desafio.

A Comissão considera que os Estados-Membros da UE deveriam ter uma posição coordenada, de

forma a terem um maior impacto nos trabalhos a nível global. Deveriam convergir e promover uma

abordagem que permita avançar os trabalhos, tendo em vista um resultado ambicioso. O resultado

deveria estabilizar as matérias coletáveis de cada Estado-Membro, e garantir uma concorrência leal e

o desenvolvimento das empresas que operam no mercado único. Nas suas negociações

internacionais, a UE deve garantir que os lucros gerados na UE são efetivamente tributados pelos

Estados-Membros da UE e redistribuídos de forma equitativa.

No início de 2018 registar-se-á um marco importante quando a OCDE apresentar ao G20 um

relatório intercalar sobre a tributação da economia digital. É essencial que o referido relatório

apresente conclusões adequadas e realistas sobre o caminho a seguir, e identifique verdadeiras

opções estratégicas para enfrentar o desafio.

Em paralelo, a UE deve examinar todas as opções possíveis, a fim de adotar novas regras de

tributação da economia digital no mercado único. Deverá igualmente centrar-se sobre as soluções

da UE caso os progressos realizados a nível internacional se afigurem demasiado lentos.

Objetivos

Uma abordagem abrangente e moderna em matéria de tributação da economia digital é necessária

para alcançar o objetivo de uma tributação mais equitativa e mais eficiente, e para apoiar o

crescimento e a competitividade da UE em todo o Mercado Único Digital. Esta abordagem deve

perseguir os seguintes objetivos:

- Equidade – Garantir que os lucros das sociedades são tributados no local onde o valor é criado. É necessário manter condições de igualdade e um sistema que seja resiliente face às práticas

10

abusivas, de forma a que todas as empresas paguem uma parte equitativa, quer sejam grandes ou pequenas, mais ou menos digitalizadas, estabelecidas ou não na UE.

- Competitividade – Criação de um ambiente fiscal adequado para desenvolver as empresas em fase de arranque e as empresas em geral no nosso Mercado Único. Para melhorar a competitividade da UE, temos de eliminar os obstáculos existentes e evitar a criação de novos obstáculos fiscais à criação de novas empresas que promovam a inovação e a criação de empregos.

- Integridade do Mercado Único – Convergir rumo a uma solução comum que evite medidas unilaterais que possam desestabilizar o funcionamento do Mercado Único. Medidas nacionais descoordenadas darão origem a uma fragmentação do Mercado Único, novas distorções e obstáculos fiscais que impedirão o crescimento e o investimento das empresas no Mercado Único.

- Sustentabilidade – Assegurar que o regime do imposto sobre as sociedades é orientado para o futuro e sustentável a longo prazo. À medida que os modelos empresariais tradicionais se tornam cada vez mais digitalizados, as matérias coletáveis dos Estados-Membros poderão desaparecer gradualmente se as regras fiscais não forem adaptadas para terem em conta os novos modelos empresariais. Esta situação, se não for resolvida, levará ao aumento da carga fiscal noutras áreas.

Perspetivas para o futuro

Os cidadãos e os governos da UE estão cada vez mais preocupados com os desequilíbrios sentidos

nos níveis de tributação dos novos modelos empresariais digitalizados. A incapacidade de chegar a

uma solução significativa em tempo útil fará aumentar a pressão para agir a nível nacional, o que

prejudicará o Mercado Único.

Uma solução possível consiste em integrar a fiscalidade da economia digital no quadro

internacional global em matéria de tributação das sociedades. Uma reforma profunda do quadro

internacional em matéria de tributação das sociedades atualmente aplicável à economia digital

permitiria assegurar a consistência e a coerência das regras fiscais a nível mundial, e garantir

estabilidade e segurança às empresas. A UE espera um elevado nível de ambição no que diz respeito

ao relatório intercalar sobre a tributação da economia digital que a OCDE irá apresentar ao G20. É

essencial que o relatório apresente soluções judiciosas para fazer face às questões em jogo.

Em especial, são necessárias novas regras internacionais específicas para enfrentar os desafios

suscitados pela economia digital, tendo em vista determinar o local onde é criado o valor das

empresas digitais e o modo como deve ser imputado para efeitos fiscais. Tal implicará uma reforma

das regras fiscais internacionais sobre os estabelecimentos estáveis, os preços de transferência e a

imputação dos lucros aplicáveis às tecnologias digitais.

As regras relativas ao estabelecimento estável são utilizadas para determinar o limiar da atividade

que deve ser realizado num país para que uma empresa seja tributável nesse país, e baseiam-se, em

grande medida, na presença física. No entanto, graças às tecnologias digitais, as empresas estão

agora em condições de ter uma presença económica significativa numa jurisdição do mercado sem

terem necessariamente uma presença física significativa. Por conseguinte, são necessários

11

indicadores alternativos de uma presença económica significativa, a fim de estabelecer e proteger os

direitos de tributação em relação aos novos modelos empresariais digitalizados.

Quando uma empresa é tributável num país, os lucros gerados por esta atividade têm ainda de ser

determinados e imputados a esse país. As regras relativas aos preços das transferências são

utilizadas para imputar o lucro dos grupos multinacionais aos diferentes países, com base numa

análise das funções, dos ativos e dos riscos na cadeia de valor do grupo. No entanto, essas regras

foram desenvolvidas para modelos empresariais e ambientes económicos tradicionais. A economia

digital depende fortemente de ativos intangíveis, que estão a tornar-se cada vez mais os geradores

de valor nos grupos multinacionais, e são difíceis de avaliar. O desafio que consiste em identificar e

avaliar os ativos intangíveis, bem como o seu contributo para a criação de valor, exige métodos

alternativos para a imputação de lucros que captem melhor a criação de valor nos novos modelos

empresariais, devendo, por conseguinte, ser considerados em paralelo com as alterações à regras

relativas ao estabelecimento estável. Além disso, como os lucros podem ser transferidos entre países

fazendo uma má utilização das regras relativas ao estabelecimento estável e aos preços das

transferências, devem ser consideradas regras antiabuso para impor a observância e garantir que os

lucros gerados na UE são tributados na UE.

A nível da UE, a proposta sobre a matéria coletável comum consolidada do imposto sobre as

sociedades oferece uma base para fazer face a estes desafios fundamentais. A Comissão continua a

acreditar que a MCCCIS fornece um quadro da UE para a revisão das regras relativas ao

estabelecimento permanente e à imputação dos lucros dos grandes grupos multinacionais, utilizando

a fórmula de repartição baseada nos ativos, no trabalho e no volume de negócios, que deve refletir

melhor o local onde o valor é criado. Há margem no âmbito da atual proposta relativa à MCCCIS para

estudar novas melhorias destinadas a garantir que as atividades digitais são efetivamente integradas

na MCCCIS. Estão já em curso os debates sobre esta matéria no Conselho, sob Presidência estónia, e

no Parlamento Europeu. A Comissão está pronta a trabalhar com os Estados-Membros na análise

dessas opções no âmbito das negociações em curso relativas à MCCCIS, com vista a encontrar uma

abordagem para o Mercado Único ambiciosa e compatível com o direito da UE.

Chegar a uma solução judiciosa para captar e imputar o valor gerado na economia digital entre

países pode levar algum tempo. Esta situação é ainda agravada pela natureza multidimensional

deste desafio, a natureza em constante evolução da economia digital, bem como a diversidade dos

modelos empresariais e a complexidade dos ecossistemas em que criam valor. No entanto, quanto

mais tempo demorar a encontrar uma solução, maiores serão as perdas em receitas fiscais. Por

conseguinte, as iniciativas unilaterais na UE e a nível internacional continuarão a desenvolver-se.

Desde 2016, países como a Índia e Israel já têm vindo a testar abordagens alternativas para garantir a

tributação efetiva da economia digital.

Em paralelo com o trabalho sobre esta estratégia de mais longo prazo, também existem medidas

mais imediatas, complementares e de curto prazo que podem ser consideradas para proteger as

bases de tributação direta e indireta dos Estados-Membros. Foram apresentadas ideias diferentes

na UE e a nível internacional para captar a atividade digital de uma forma alternativa ao quadro

internacional em matéria do imposto sobre as sociedades, e garantir uma igualdade de tratamento e

condições equitativas para todas as empresas.

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Algumas opções alternativas para soluções de curto prazo

Equiparação fiscal relativa ao volume de negócios das empresas digitalizadas - Um imposto sobre todos os rendimentos não tributados ou insuficientemente tributados gerados a partir de todas as atividades empresariais baseadas na Internet, incluindo entre empresas ou entre empresas e consumidores, imputável no imposto sobre os rendimentos das sociedades ou como um imposto distinto.

Retenção na fonte sobre as transações digitais – Uma retenção na fonte final autónoma em termos brutos sobre certos pagamentos feitos a fornecedores não residentes de bens e serviços encomendados em linha.

Taxa sobre as receitas geradas pela prestação de serviços digitais ou atividade publicitária – Pode ser aplicada uma taxa separada a todas transações efetuadas à distância com clientes nacionais caso uma entidade não residente tenha uma presença económica significativa.

Todas as opções de curto prazo têm vantagens e desvantagens, pelo que é necessário continuar a

trabalhar sobre a abordagem pormenorizada tendente a encontrar uma solução viável para o

Mercado Único e a economia mundial no seu conjunto. As questões relativas à compatibilidade

destas abordagens com as convenções em matéria de dupla tributação, as regras relativas aos

auxílios estatais, as liberdades fundamentais, os compromissos internacionais no âmbito dos acordos

de comércio livre e as regras da OMC, têm de ser examinadas. Mesmo assim, algo tem de ser feito. A

Comissão continua convencida de que o nível de ação adequado é a UE. Apenas uma abordagem

coordenada a nível da UE assegurará que a solução é adequada ao Mercado Único Digital e poderá

concretizar os nossos objetivos de equidade, competitividade e sustentabilidade.

Conclusão

A presente comunicação apela a uma forte e ambiciosa posição da UE sobre a tributação da

economia digital, que deve contribuir para os trabalhos em curso a nível internacional sobre esta

matéria. Visa também proporcionar uma base para debates políticos mais aprofundados entre os

Estados-Membros na Cimeira Digital de Taline, de 29 de setembro, de forma a alcançar uma posição

comum nas discussões internacionais.

A Comissão apoiará a Presidência estónia no âmbito dos seus trabalhos sobre estas questões, tendo

em vista alcançar, até ao final do ano, conclusões estáveis do Conselho que definem uma abordagem

coordenada a nível da UE. Essas conclusões constituirão a base comum que a UE e os seus Estados-

Membros utilizarão para apresentar propostas nos debates internacionais.

A UE espera progressos significativos na agenda global e deve pressionar no sentido de que tal venha

a refletir-se no relatório da OCDE dos Ministros das Finanças do G20 na sua reunião de abril de 2018.

A Comissão irá contribuir para uma conclusão bem sucedida dos debates em curso a nível global no

âmbito do G20.

Na falta de um progresso global adequado, as soluções da UE deverão ser promovidas no âmbito do

Mercado Único, e a Comissão está pronta a apresentar as propostas legislativas adequadas. A

Comissão continuará a analisar as opções existentes e a realizar consultas com as partes interessadas

e os representantes do setor sobre esta importante e premente questão antes de apresentar uma

eventual proposta até à primavera de 2018.