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Saúde O drama diário dos acumuladores de lixo P. 29 Economia Crowdfunding ajuda artistas curitibanos P. 16 Moda Editorial: inspiração da década de 60 P.23 ____ ____ ____ Edição 3 - Novembro/2014

Comunicaqui #3

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Revista experimental do curso de Jornalismo da UniBrasil. A terceira edição, publicada em novembro de 2014, tem textos de Ana Paula Saraiva, Camila Nichetti, Camile Kogus, Jean Foss, Julmara Mendes, Katheryne Louise e Natalia Brückner. A diagramação final é assinada por Katheryne Louise, Camila Nichetti e Camile Kogus. A coordenação do projeto é do professor Rodolfo Stancki.

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SaúdeO drama diário dos

acumuladores de lixoP. 29

EconomiaCrowdfunding ajuda artistas curitibanos

P. 16

ModaEditorial: inspiração

da década de 60P.23

____ ________

Edição 3 - Novembro/2014

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EXPEDIENTE: Faculdades Integradas do Brasil – UniBrasil

Presidente: Clèmerson Merlin Clève.

Diretor Geral: Jairo Marçal.

Diretora Acadêmica: Lilian Pereira Ferrari.

Coordenadora do Curso: Maura Martins.

Repórteres: Ana Paula Saraiva, Camila Nichetti,

Camile Kogus, Jean Foss, Julmara Mendes,

Katheryne Louise e Natalia Brückner.

Editora Chefe: Camile Kogus.

Editora de Imagens: Julmara Mendes.

Editora de Opinião: Natalia Brückner.

Diretor de Produção: Jean Foss.

Diretora de Fotografia: Camila Nichetti.

Projeto Gráfico e Diagramação: Camila Nichetti, Camile Kogus

e Katheryne Louise.

Professor Responsável: Rodolfo Stancki.

Site: www.comunicaqui.blogspot.com.br

Telefone: (41) 3361-4259

A revista Comunicaqui é um produto laboratorial do curso de

Jornalismo da UniBrasil.

A publicação digital faz parte da disciplina Redação Jornalística

VI, que integra o sexto período.

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CONDICIONAMENTO FÍSICO NO PICADEIRO

P. 05

A TAILANDESA QUE GANHOU PRESTÍGIO ENTRE ELAS

P. 08

O PESO DE UMA COMUNIDADE P. 12

UM POR TODOS E TODOSPOR UM

P. 16

AUTÊNTICOS ANOS 60P. 23

O MAL DA QUINQUILHARIAP. 29

ALEGRIA QUE ACABA QUANDO AS CORTINAS SE FECHAM

P. 35

COMPRAS ONLINE: RÁPIDO E PERIGOSO

P. 40

CONFIRA TAMBÉM:O Charme das Mãos P. 44Um Lipstick Diferente P. 46Bomba de Efeito P. 47

S U M Á R I O

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A Comunicaqui é uma revista diferente por nature-za, ou talvez por linha editorial. A começar pela logo, que se aproveita de um trocadilho safado. Só quem já passou pelas Faculdades Integradas do Brasil e enca-rou um dos amargos caquis espalhados pelas árvores do pátio da instituição entende a importância da fru-ta para o curso de Jornalismo. Mas não ficamos com o incomum só no título. Nossas reportagens também apostam em uma abordagem divertida, instigante e inusitada. Digo isso porque nesta edição, você, caro leitor, vai encontrar criatividade e paixão jornalística de uma turma indo para a reta final de uma graduação. A emoção está na história das pessoas que sofrem com a Síndrome de Diógenes. De bugiganga em bugigan-ga, esses acumuladores vivem o drama de coletarem quinquilharias em suas casas. A própria avó de Natá-lia Brückner, autora da reportagem, sofria com a do-ença – para mostrar tamanho comprometimento da Comunicaqui com o amor durante nossa apuração. Outro tema sério que toma conta das nossas páginas é a depressão entre pessoas famosas. A matéria de Julmara Mendes pega como gancho o suicídio de Ro-bin Willians para descobrir como o sucesso influen-cia no humor das pessoas e pode levá-las à situações extremas.

Além disso, imagino que o texto “A tailandesa que ganhou prestígio entre elas” vai aguçar sua curio-sidade para investigar uma prática que vem sendo recorrente entre as mulheres. Não vou dar spoilers, mas garanto que a reportagem de Ana Saraiva (cheia de trocadilhos, claro) vai deixá-las com vontade de “suar” um pouco ao estilo oriental.

Nessa mesma onda, apresentamos a novidade do ve-rão: a arte cirsense dentro do mundo fitness. Quem curte estar na moda, também pode aproveitar nosso editorial com tendências atemporais da década de 1960. E olha o glamour: a produção tem alguns de nossos repórteres como modelos. Você ainda pode dar uma olhada na nossa seção de economia e conhecer duas novas tendências de mer-cado que vem se espalhando mais rápido do que fo-lha de caquizeiro em ventania. O e-commerce e os fi-nanciamentos coletivos já provaram que vieram para ficar. Mas como são os bastidores dessas plataformas de sucesso? A gente mostra.

Por fim, aproveite para ver um raio-x da cenas har-dcore de Curitiba (sim, ela existe). Jean Carlos Foss ficou tão intrigado com o trabalho das bandas in-dependentes da cidade que resolveu escrever um relato em primeira pessoa. De longe, o cenário parece belo e agradável, mas de perto, esse am-biente é amargo. Como os caquis que se espalham pelo pátio das Faculdades Integradas do Brasil. Boa leitura!

Um caquizeiro jornalísticoPor Camile Kogus

Editorial

Camile Kogus editora-chefe da terceira edição da Comunicaqui Outubro de 2014.

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Condicionamento físico no picadeiro

A magia circense deixou as tendas de lona e os picadeiros e está tomando conta das aca-demias. Em Curitiba, quem busca manter ou melhorar sua forma física tem recorrido às au-las de circo, que fogem do tradicional treino de musculação. A opção mistura emoções lúdicas a exercícios dinâmicos que prometem um con-dicionamento completo. Para quem busca sair do sedentarismo a opção leva vantagens sobre as atividades convencionais, pois trabalha a flexibilidade, o equilíbrio, a postura, a concentração e a co-ordenação motora. Segundo os especialistas, a nova prática esti-mula quase todos os grupos mus-culares e promove um alto gasto calórico. A aluna Luana Santos, 23 anos, pratica aulas de circo há mais de dois anos e diz que o exercício é muito relaxante. “Por mais que seu corpo fique exausto no final de um treino, a sensação é muito boa. Isso sem contar o re-sultado físico”. Essa vantagem também é vista com outros olhos pelos empresários do ramo. Atu-almente há mais de cinco escolas de circo em Curitiba e todas oferecem um treinamento téc-nico-artístico e esse novo conceito de condicio-namento físico. Uma das pioneiras nessa prá-tica é a escola Internacional de Circo Circocan, fundada em 2003. Há dez anos, a instituição

aderiu um novo método de ensino para essa prática, que hoje leva o nome de CircoFitness. A modalidade consiste numa aula de-senvolvida especialmente para quem procura uma opção saudável de exercício para o corpo e a mente. A aula dura cerca de uma hora e trabalha o condicionamento cardiorrespirató-rio, flexibilidade, equilíbrio e a força por meio de exercícios e técnicas de circo e acrobacias. Outra escola que oferece serviços semelhan-tes é a TripCirco, que traz a miscigenação de diversas expressões da arte como teatro, dan-ça e música.

A cada aula, alunos de nível ini-ciantes, intermediários e avan-çados têm obstáculos físicos e mentais a serem superados, inde-pendente do tempo de prática. O fator lúdico, em que se aprende e ensina com diversão, se une com as diferentes habilidades adquiri-das nos treinos. Isso garante aos praticantes maneiras de exercitar seu corpo intensamente, sem a impressão de estar numa acade-

mia levantando pesos, anilhas e fazendo repe-tições intermináveis de supino.

RISCOS

No entanto, tais atividades não estão isentas de riscos ou de lesões musculares. Isso porque a frequência, a modalidade e a execução dos exercícios devem ser precisas

Novas maneiras de praticar exercício físico vêm tomando conta do mundo fitness. Agora é a vez do circo, onde o picadeiro e as acrobacias ganham espaço nas academias locais

“Por mais que seu corpo fique exaus-to no final de um treino, a sensação é muito boa. Isso sem contar o resul-

tado físico”

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S AÚ D E REPORTAGEM: JHENYFFER BORGES

Fotos: Divulgação Circocan

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para evitar contusões. Os pra-ticantes podem contar ainda com sessões de alongamentos e relaxamentos antes e depois das aulas para evitar esse pro-blema. A fisioterapeuta Alexan-dra Mainardi explica que o há-bito de alongar é importante em nosso corpo, pois evitar es-sas temidas contusões. “Além disso, o alongamento também melhora o desempenho nos exercícios, pois um músculo alongado é um músculo mais forte. Já o relaxamento, é feito para evitar ou diminuir as dores após os exercícios.” Ela ainda diz que o acompanhamento de um profissional qualificado é essencial. “A atenção indi-vidualizada é importante, pois ajuda na execução correta dos exercícios.” É difícil se imaginar a seis metros de altura, usando trampolins ou lira (uma espé-cie de bambolê usado para as acrobacias) e outros equi-pamentos, sem pensar na se-gurança. Basta uma pequena pesquisa na web e descobri-mos vários casos de acidente. Um deles é da acrobata Ga-brielle Santos, 23, que escor-regou e caiu de uma altura de dois metros e meio. Ela estava equilibrada em uma lira no Uni-circo, em São Paulo. O fundador da Circocan, Pedro Mello, comenta que es-sas práticas mais perigosas não fazem parte das aulas de Circofitness. “Todas as acro-bacias avançadas e que en-volvem qualquer possibilidade de risco aos alunos não são exploradas e ensinadas aqui. A política da nossa escola não é criar alunos para que se tor-nem acrobatas profissionais. Quem deseja se aprofundar nisso, sugerimos uma matrí-

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Embora sejam bons exercícios para o condicionamento físico, acrobacias arriscadas não são recomendadas em academias convencionais.

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cula em turmas específicas de acrobacias e circo, para busca-rem seu aperfeiçoamento téc-nico-artístico.” A recomendação des-sas práticas circenses é bem vista por profissionais da área da saúde. O mestre em edu-cação física Bruno Tucunduva revela que o método conduz a pessoa a ampliar seus con-ceitos sobre atividade física. “Além disso, ele renova a per-cepção das experiências que o corpo e o movimento podem proporcionar.” Outro ponto interessan-te para os praticantes é o tem-po em que se nota o resultado. Para o personal trainer Daniel Souza, o efeito pode ser relati-vo, pois depende do organismo de cada pessoa. “Mas, já nos primeiros meses é possível perceber uma melhora signi-ficativa. Em média, para ho-mens, os resultados aparecem no primeiro mês e, para mulhe-res, no segundo mês.” Portanto, ao iniciar uma atividade circense ou qualquer outra atividade física, procure um local confiável e um profis-sional da área. Assim, além de melhorar sua saúde e qualida-de de vida, você vai prevenir lesões e ainda aproveita me-lhor os resultados

Aula de circo fitness de 1 hora inclui:

• Aquecimento geral (5 minutos);• Condicionamento físico (20 a 25 minutos);• Pausa para água;• Trabalho específico (15 a 20 minutos);• Pausa para água e recuperação;• Alongamento (5 a 10 minutos);

*dependendo da intensidade trabalhada ante-riormente e a resposta dos alunos, alternam--se exercícios moderados com recuperação ativa em elementos técnicos.

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Arte marcial vira febre entre as mulheres que declaram luta contra a balança e desejam me-lhorar o condicionamento físico

Aliando sua força de vontade com um obje-tivo de vida saudável, Gislaine Artigas mostra a muitas pessoas como sua feminilidade pode ser ainda mais agraciada quando está vestida com luvas, caneleiras e short thai. Em seu pri-meiro mês de aulas de muay thai, a analista financeira percebeu como a atividade influen-cia diretamente em seu bem estar, na perda de medidas, na tonificação dos músculos e no combate à temida celulite. Essa gordura local-izada, aliás, tem abandonado seu corpo aos poucos. O objetivo de Gislaine nunca foi partici-par de campeonatos, mas melhorar o condicio-namento físico. Afinal, trata-se de uma luta que mais possui gasto calórico, flexibilidade, força e habilidade. O muay thai ou o boxe tailandês é uma arte marcial originada na Tailândia há mais de mil anos. Supostamente, a luta gan-hou popularidade com o apoio de um rei antigo da região, conhecido como Tigre, o melhor lu-tador da história. No Brasil, a luta chegou em 1979. Os biótipos de quem luta são diversos: magras, fortes, altas e baixas. Porém, uma car-acterística evidente nas alunas que praticam o esporte é a fragilidade, que não é vista como

algo pejorativo ou desqualificador por causa do gênero. Mas, como um diferencial que le-vam para o tatame. Marcelo Padrão, professor de Muay Thai há quinze anos, demonstra seu envolvi-mento de imediato. Antes mesmo de expressar sua opinião, os braços e as mãos fortes não escondem a admiração que sente ao falar das mulheres que lutam e, ainda assim, não per-dem sua delicadeza. Conhecido como psicólogo e carrasco durante o treino, Padrão conhece as alunas a ponto de saber interpretar o porte e os movi-mentos. O afeto vem em um sorriso nos inter-valos entre socos e chutes. O lado cruel surge na hora de exigir habilidade e movimentos pre-cisos de suas pupilas.

Motivação Um dos principais motivos para que as mulheres transformem o muay thai em um hobby é a mudança que ocorre no corpo. Com duas aulas por semana, que duram geralmente uma hora, e um bom hábito alimentar, elas po-dem alcançar os benefícios da prática em três meses.

REPORTAGEM: ANA PAULAF I T N E S S

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A tailandesa que ganhou prestígio entre elas

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Gislaine sofria com problemas de hér-nia de disco, o que a deixava com medo de arriscar e agravar ainda mais a sua coluna. Com o passar do tempo, ela foi se adaptando ao treino. “Hoje, pratico a luta quatro ve-zes na semana. Não sinto mais as terríveis dores, que chegavam a me deixar de cama por uma semana.” Embora seja um efeito colateral ao que pretendia inicialmente, o emagrecimento também veio. “Minha família reparou”, se or-gulha.

Alimentação A nutricionista Giovanna Delponte ex-plica que para o treino ter efeito no corpo, é necessário consumir alimentos que favorecem essa mudança corporal. Especialmente para quem pratica muay thai. Laticínios são fontes de proteína e cálcio para a contração muscular. Carnes brancas e clara de ovo possuem fácil digestão. Pão integral e batata doce possuem baixo índice glicêmico e, portanto, são ótimas fontes de energia para atividades de longa du-ração. Além disso, são ricos em fibras, o que melhora o funcionamento intestinal. A aveia, um carboidrato que demora a

virar glicose no sangue, evita o acúmulo de gordura. Rica em energia, fibras, vitaminas e minerais, a aveia consegue enriquecer qualquer preparação e torna-la saudável. Oleaginosas e azeite de oliva são ricos em gorduras monoinsaturadas, que não se acu-mulam nas artérias, fornecendo energia e auxiliando na produção hormonal. Além dis-so, esse alimento também regulariza o perfil lipídico sanguíneo, diminuindo o colesterol ruim e aumentando o colesterol bom. A nutricionista ainda diz que a di-ferença entre homens é mulheres é pouca. “O que muda é a quantidade de macro e micro-nutrientes exigido pela demanda metabólica individual”.

Treino Nas aulas, a diferença entre os sexos está na série de treinamentos. “Mulheres são mais frágeis em vários sentidos, mas na luta elas não arregram. Acho isso espetacular. A maioria dos meus alunos são mulheres”, diz Padrão.

Para homens, o treinamento é mais

Como em outras lutas mar-ciais, treinamento para ho-mens e mulheres é diferente no Muay Thai.

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severo e forte. Entre elas, o ritmo é mais leve, sem contato físico, exceto as que pedem para ser mais forte ou até mesmo para treinarem com homens. Gislaine é uma das que não se sentem intimidadas em lutar com o sexo opos-to, mostrando preferência em alguns dias es-pecíficos. “Quando estou na TPM é ótimo trei-nar com um homem, posso descarregar toda a tensão, a sensação é ótima”, brinca entre risos. A luta também pode alterar no estado mental das alunas. Para Padrão, o momen-

to é envolto por tan-ta concentração que os problemas, sejam eles quais forem, de-saparecem. A mente fica voltada aos ex-ercícios, sem espaço para pensamentos problemáticos. Gislaine nos conta que antes do treino, normalmente está ten-sa e preocupada com o dia a dia. Porém, após o treinamento, sente-se muito feliz e renovada, apesar do cansaço. “Saio da minha série com as pernas tremendo, mas com energia a mil”. Para que o treino tenha uma eficácia melhor, outro fa-tor deve ser levado em consideração: o sono. Uma noite bem dormida é indis-pensável para uma rotina de muay thai, pois é nesse momen-to que ocorre a recu-peração muscular. O uso de energéticos deve ser evitado a todo o custo, pois eleva os batimentos cardíacos resultando em um cansaço ex-cessivo. Na luta, como em

vários aspectos da vida profissional e social, as mulheres vêm ganhando espaço. Algu-mas pessoas ainda reagem com estranheza ao saber que uma mulher domina o tatame, pois a prática está associada às cenas san-grentas e geralmente serve como sinônimo de violência. Padrão descreve as mulheres praticantes dessa luta como maravilhosas, e concorda que todos deveriam conhecer me-lhor a tailandesa que com o tempo ganhou espaço e prestígio

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EQUIPAMENTOS DO MUAY THAILUVAS DE BOXE

PROTETOR BUCAL

SHORTS

TORNOZELEIRA

BANDAGEM

PROTETOR SEIOS

Academia Thai boxe - Fone (41) 30293291Rua Almirante Gonçalves, 1409 - Rebouças.Muay thai feminino - aulas terças e quintas, às 18h30.R$ 99,90, a mensalidade.

Academia Fire Gym - (41) 32869359Rua Maestro Carlos Frank, 1984 - Boqueirão.Muay thai feminino - Segunda, quarta e sexta, às 19h.R$ 89,90, a mensalidade.

Academia Liv! (41) 30795422Rua João Negrão, 45 - Centro.Muay thai feminino - Terças e quintas, das 11h às 12h ou das 17h às 18h. R$ 79,90 a mensali-dade.

ONDE PRATICAR

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Page 12: Comunicaqui #3

O peso de uma comunidade

Eu cheguei ao Hangar, casa de shows lo-calizada no Largo da Ordem, em Curitiba,

por volta das 14h de um domingo. O horário foi estipulado para o início de uma celebração que se estenderia até o começo da madrugada. Era o meu primeiro festival de heavy metal com ar-tistas da capital paranaense. De acordo com o flyer do evento, seis grupos iriam se apresentar. O número não me impressionou, pois os festivais de metal da cidade geralmente abrigam de quatro a seis bandas até os dias atuais. E, apesar de eu já conhecer superfi-cialmente algumas delas via internet, minha ansiedade para finalmente vê-las ao vivo pela primeira vez era inegável. A curiosidade de sa-ber o que a cidade na qual vivo tinha a oferecer para a cena do metal era tremenda. Isso ocor-reu em 2013. Mas o que eu vi naquela tarde de março ficou comigo durante todo o último ano. A ponto de me inspirar a escrever esta matéria. Tudo começou com o lugar. Pois, além de ter sido a primeira vez que eu prestigiei uma apresentação regional do estilo, também foi a

primeira vez que eu visitei o Hangar, uma das principais casas de shows do Largo da Ordem e uma das poucas que recebe o heavy metal. Também conhecido como o “Templo do Rock” (em Curitiba), o local suporta 500 pessoas e conta com mais de 20 anos de atividades rela-cionadas à música. O que conferiu a ele o títu-lo de tradicional entre os fãs do estilo musical pesado. E, em Curitiba, apenas 13 casas de shows englobam o ritmo em suas programa-ções. As principais delas, além do Hangar, são o Blood Rock Bar, o Espaço Cult e o Music Hall. Se considerarmos que a capital paranaense apresenta de 100 a 150 casas de shows/casas noturnas, é um número relativamente pequeno. Logo ao chegar, era possível notar uma concentração mediana de pessoas bem na frente do Hangar. Pequenas rodinhas de indivíduos que papeavam e riam. Eu estava com dois amigos. Estacionamos o carro e, depois de observarmos as redondezas rapidamente, nos direcionamos à bilheteria. Depois de observarmos as redonde-zas rapidamente, nos direcionamos à bilheteria. Em shows underground, os preços dos ingressos vão de R$10 a R$20. O valor muda

O metal é um gênero de música controverso, mas capaz de aproximar um grupo de pessoas com histórias, por vezes, mais interessantes do que muitas bandas mainstream

Fotos: Renata Kalkm

ann

UNDERGROUND REPORTAGEM: JEAN FOSS

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Page 13: Comunicaqui #3

de acordo com a quantidade e a fama de ban-das, além do espaço. Naquela tarde, paga-mos apenas R$10. Mas o que realmente me intrigou foi notar que dois integrantes de uma das bandas que iriam participar do festival eram os responsáveis pela “bilheteria”, que, na verdade, não passava de uma pequena bancada de madeira montada logo na entrada do Hangar. Neste ponto, comecei a perceber certa cooperação entre os grupos. Afinal, por que membros de bandas deveriam estar na-quela posição? Eles eram os artistas. Mas o underground não funciona desta maneira. Subterrâneo. Na tradução literal da palavra, é isso o que significa underground. Aquilo que está escondido. Que não é visto. Portanto, associando a palavra à música, po-demos concluir que a cena musical undergrou-nd é aquela que está “coberta” por algo que a impede de ser mais divulgada e, por con-sequência, amplamente notada. E esse algo, para muitos artistas e apaixonados por músi-ca, atende pelo nome de mainstream, que, ao

contrário do undeground, consiste em produ-tos ou atividades que estejam em destaque na mídia ou quaisquer outros grandes meios de alcance comercial. Isso não significa, en-tretanto, que e o que é underground não pos-sa se tornar mainstream. Mas, na essência, o underground foge dos padrões comerciais, mo-dismos ou qualquer forma de expressão com características pré-definidas por grandes ve-ículos de comunicação ou pessoas influentes em tais meios. Mas o tópico “underground vs maisntream” é assunto para outra publicação. Quando entrei no Hangar, senti-me em uma taberna contemporânea. Tudo era escuro e um tanto quanto medieval, devido à sujeira que se estendia das paredes até o chão. Porém, quando as luzes finalmente apareciam com mais longevi-dade, era possível notar os traços da modernidade. Logo avistei um bar minúsculo que ficava à direita da porta, uma estrutura de metal à esquerda onde as pessoas se sentavam e uma escada ao lado do palco que levava aos camarotes, no segundo andar. E foi para lá que fui para poder avaliar tudo

Casas de shows mostram a proximidade entre os fãs e os artistas undergrounds.

Page 14: Comunicaqui #3

de forma mais ampla. E o que pude constatar, lá de cima, é que havia uma camaradagem entre as ban-das, que se cumprimentavam constantemen-te quando se cruzavam. Além disso, enquan-to uma delas estava no palco, boa parte das outras estava no meio do público, cantando e pulando como se fossem meros especta-dores. Sem mencionar a ajuda no momento de montar a aparelhagem e os instrumen-tos. Era gente carregando guitarras para lá, outras levando pratos de bateria para cá. O que poderia parecer desorganização para alguns, funcionava bem no universo under-ground. E ao notar isso, decidi explorar me-lhor o assunto e entender como essa comu-nidade funciona e como esse auxílio mútuo mantinha a cena do metal viva em Curitiba. Com tudo isso na cabeça, sentei-me com o baterista da banda Clamore, Cristia-

no Freitas. E o que ele me contou foi que os festivais de metal underground são criados e administrados pelas próprias bandas. Ou seja, todo o trabalho de divulgação e a par-te burocrática ficam a cargo dos músicos da banda responsável por criar o evento. “A Cla-more, por exemplo, criou o Brutal Breakdown e a Storm Festival”, explica Cris, que revela que os gastos para se movimentar os festivais podem ser salgados. “O Hangar cobra R$700 de locação. Além disso, temos os gastos com água para as demais bandas. E quem tem que pagar tudo, quase sempre, é a banda que está organizando o evento”. O que prova que a tal cooperação que avistei fica de lado quando o assunto é dinheiro. Pelo menos, na maioria das vezes. “Além disso, quando que-remos convidar bandas de fora para participa-rem, precisamos pagar o transporte e o cachê, caso peçam”, completa o baterista.

Page 15: Comunicaqui #3

completa dizendo que as coisas não muda-ram muito no cenário atual. “Continuam exis-tindo bandas boas, ruins, interesseiras, com talento, sem talento e por aí vai. O que pode se afirmar que mudou, contudo, é que, com a internet, é muito mais simples elas divul-garem os seus trabalhos e saírem do under-ground”. Além disso, os produtores e pro-dutoras oportunistas também fazem par-te do underground. Em Curitiba, especi-ficamente no metal, há uma produtora entre essas em que não se pode confiar, revela Freitas. “Se você participasse dos eventos dela, você recebia 100 ingressos para vender. Cada um a R$10. No míni-mo, você precisava vender 25, pois você tinha que retornar R$250 para a produto-ra. Daí para frente, você podia ficar com o dinheiro”. O problema, no entanto, é que a produtora organizava eventos com 10 bandas. O que tornava tudo mais compli-cado. “O underground não atrai tanto pú-blico assim. É quase impossível cada uma das bandas venderem 25 ingressos. Mas a produtora pressionava. E se eles não conseguissem, eram tratados mal e não conseguiam mais participar dos festivais”, conclui o baterista

Por isso, é importante que o público compareça aos shows. E é tarefa das ban-das atraírem amigos, conhecidos e quais-quer pessoas que possam curtir a ocasião. “Se colocamos o ingresso a R$10 e conse-guimos reunir 140 pessoas, que é a média de público, tiramos R$ 1.400”. Dinheiro esse que, de acordo com Freitas, é investido na banda, por meio de gravações, mais festi-vais e criações de artes. “No último Storm Festival, entretanto, conseguimos atrair um pouco mais de 170 pessoas. Aí, a grana foi maior e resolvemos dividir com as bandas que convidamos. Cada uma recebeu R$70”. Agora, a Clamore criou a Los Pollos Produ-ções, exatamente para administrar melhor os festivais e dividir corretamente as respon-sabilidades entre os integrantes. “Apesar de alguns contratempos, tem funcionado bem”, diz ele. Todavia, nem tudo no underground

soa como um acorde limpo e bem executa-do. Segundo o guitar-rista da Clamore, Pedro Farcondes, há o senso de comunidade entre as bandas. Porém, ele acontece apenas entre aquelas que já se co-nhecem. “A ajuda acon-tece basicamente com uma divulgando a ou-tra e convidando para os shows”. O produtor musical Tiago Brandão, dono do estúdio Vox Dei e músico que já viveu o underground, concorda que há união entre ban-das. Mas, na sua época, nem todas eram con-fiáveis. Isso tornava o auxílio entre os artistas um pouco complicado. “Quando eu tocava, há alguns anos, havia ban-das interesseiras, que se agarravam à sombra das outras, e que fala-vam de mal de você e de sua música para alguns, e bem para outros”. Ele

A linguagem do metal underground

Circle pit: todos corrrem de forma que se crie um grande círculo. Geralmente, é re-alizado em passagens mais rápidas das músicas.

Wall of death: o público se divide em dois, deixando um grande corredor. Ao sinal da banda, os dois lados correm um em direção ao outro.

Mosh: o famoso empurra-empurra.

Stage dive: É quando alguém sobe no palco e se atira no público.

Surf crowd: Se caracteriza quando al-guém é carregado pela platéia.

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UM POR TODO$ E TODO$

POR UMProjetos culturais vem ganhando destaque nos siste-mas de financiamento coletivo. Sejam por ideias ino-vadoras ou por uma turma de seguidores fiéis, veja como alguns projetos ganharam o gosto do público e a fama por meio do crowfunding.

CROWDFUNDING

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Tudo começou em um blog. A cada mês, um

novo capítulo de uma his-tória sobre corrupção e re-volta em Curitiba chegava aos internautas. Logo, o projeto cresceu e ganhou a simpatia de milhares de seguidores. Hoje, a HQ Revolta! possui versão im-pressa e uma adaptação ao teatro. Quando o quadrinis-ta André Caliman começou a publicar os primeiros ca-

pítulos da série em preto e branco – com traços se-melhantes aos quadrinhos Tex –, ele já tinha em men-te a ideia de publicar um livro impresso de Revolta!. Ainda no furor pós-mani-festações 2013, era óbvio que a HQ sobre corrupção e revolta popular iria cair nas graças dos amantes de nona arte. Mas havia um pequeno problema: como viabilizar um projeto desses se nem finalizado

estava? A dúvida do ilustra-dor é uma questão que pi-poca na mente de muitos escritores, artistas, cineas-tas e outros profissionais de cultura dentro e fora de Curitiba. Financiar pro-jetos dessa área, ainda é uma tarefa difícil mesmo em uma cidade considera-da polo cultural. Seja pela burocracia ou pela desva-lorização por parte das edi-toras e produtoras, muitos

André Caliman autografa edições da HQ Revolta! na Gibicon 2014.

Foto: Camile Kogus

REPORTAGEM: CAMILE KOGUS

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autores têm partido para o sistema de crowdfunding para lançar seus projetos. Quando Caliman teve a ideia de colocar Re-volta! no Catarse, o siste-ma de financiamento coleti-vo mais popular no Brasil, o livro ainda estava em fase de produção, com cerca de dez capítulos publicados. “Quando joguei o projeto no Catarse, tinha uma certa quantidade de leitores fiéis do blog. Isso foi um fator bem importante. Acho que se não tivesse feito o blog antes, se não tivesse insti-gado o pessoal pelo proje-to, eu não teria conseguido financiá-lo”, explica o ilus-trador. Assim que o projeto foi colocado no Catarse, a parte trabalhosa começou para o quadrinhista, que precisava de divulgação. Nessa hora, nada de textos chatos e panfletos feitos no paint. Ao divulgar um pro-jeto de financiamento cole-tivo, a criatividade e a per-sistência são os principais fatores para que a proposta alcance o maior número de pessoas possíveis. No caso de Caliman, ele usou o caráter indepen-dente da produção a seu favor. Colou páginas em muros e paredes de diver-sos pontos da capital para-naense. Isso sem falar no sucesso que Revolta! ge-rava entre os internautas, que conheciam o trabalho

por meio do blog. Depois de alguns meses, a obra estava publicada. Nessa mesma onda de produções independen-tes, o quadrinhista Thiago Itice também utilizou a pla-taforma para financiar seus títulos. Aliás, ele chegou a angariar recursos para pu-blicar três HQs. Conhecido como Yoshi do Lobo Limão, o profissional aproveitou ao extremo o financiamen-to coletivo. Se depender dos outros para bancar um projeto parece difícil, ima-gine triplicar esse esforço. Foi o que ocorreu em Last RPG Fantasy – Livro Jogo (2012), Maki (2013) e Bat-suman – Ano Um (e dois também) (2014). Em 2011, quando Yoshi teve a ideia de jogar o primeiro projeto no Catar-se, a equipe do Lobo Limão ainda estava um pouco desconfiada do sistema e de como ele iria funcionar. Foi só quando os apoiado-res começaram aparecer, que o grupo viu que o cami-nho era realmente aquele. Last RPG Fantasy – Livro Jogo ganhou tanto a sim-patia do público que conse-guiu arrecadar, para o alívio dos produtores que tinham se esquecido de calcular o preço de vários itens para extras, R$ 16.852, cerca de R$ 3 mil além da meta ini-cial. Dessa maneira, em

2012, o livro (que também é um RPG) chegou às mãos dos seus 196 apoiadores. O feito se repetiu nas publi-cações Maki e no encader-nado das melhores tirinhas do Batsuman. “Nós ficamos admirados do sucesso que o segundo projeto fez. Na terceira vez, com o Batsu-man, fiquei ainda mais sur-preso porque todo o pesso-al do site que curtia a tirinha e que já tinha ajudado nos outros projetos ajudou de novo. A gente não teve es-forço nenhum pra divulgar”, explicou o quadrinhista.

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Foto: Reprodução/Lobo Limão.

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Por que não ? Engana-se quem pensa que o financiamento coletivo é coisa para quem está lançando o primeiro projeto. Muitas propostas dentro da plataforma são de pessoas reconhecidas no meio cultural e que querem simplesmente “ver qual é a dessa parada”. É o caso do ilustrador do projeto Qua-drinhofilia, José Aguiar. O quadrinhista, co-nhecido pelas HQs Folhe-teen - Direto ao Ponto e Vi-gor Mortis Comics, lançou

recentemente no Catarse o projeto Nada Com Coisa Alguma. O encadernado reunirá as melhores tirinhas da série publicada no jornal Gazeta do Povo. Apesar de ter lança-do diversas obras por meio de editoras e de incentivo cultural, Aguiar se interes-sou pela dinâmica da plata-forma e resolveu ver como seu público aceitava a pro-posta. “Quero sentir como reage o meu público e, ao mesmo tempo, expandi-lo. Creio que o engajamen-to direto dos leitores do li-

vro na sua produção é um conceito muito interessan-te. Essa compra do livro em 'pré-venda' por quem acredita na proposta é uma quebra de paradigma mui-to especial para mim como autor”, explica. Aguiar está traba-lhando duro na divulgação. Além de promover o proje-to por meio das redes so-ciais, mailing e imprensa, o ilustrador também está investindo no velho “corpo a corpo”. Ou seja, indo até os eventos de HQ e apre-sentando pessoalmente a

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colegas e fãs do gênero.

Cinema em Cena É claro que não é só de quadrinhos que vive a cena cultural de Curitiba. Os aficionados em filmes de terror independentes com certeza conhecem o diretor Paulo Biscaia Filho, figurinha carimbada nos telões da capital parana-ense.

O cineasta é conhe-cido por suas superpro-duções realizadas com orçamentos apertados. Abusando dos bons e ve-lhos efeitos de cinema ca-seiros, Biscaia consegue cativar o público sangui-nolento. Foi assim que o DVD do filme Nervo Cra-niano Zero, um dos mais adorados pelos fãs do di-retor, fez sucesso Catarse.

O filme já havia sido exibido em diversos locais e festivais de cinema, in-cluindo a Virada Cultural de Curitiba, mas ainda não havia previsão do lan-çamento de um possível DVD. “Muita gente estava cobrando a distribuição em home vídeo do filme e eu também queria experi-mentar o formato de crow-dfunding. Sabendo da de-

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CURIOSIDADES

Segundo uma pesqui-sa realizada pelo Catarse, cerca de 52% das pessoas que apoiam propostas da plataforma preferem pro-jetos independentes e de cunho artístico e cultural, seguidos de propostas com viés social e/ou ambiental, que fortaleçam comunida-des de forma responsável e solidária. Além disso, cerca de 22% dos realizadores de financiamento coletivo estão no ramo das artes, 11% na Produção Cultural e 7% de Comunicação & Jornalismo. Outros fatores que também influenciam na hora de um projeto dar ou não certo em um crowfunding são boa di-vulgação, apresentação do projeto e identificação do apoiador com a proposta, entre outros.

Ao lado, cena do filme Nervo Craniano Zero.Foto: Marco Novack

manda, e mais seguro de um resultado de sucesso, resolvemos enfrentar a pa-rada”, explica. Assim que o cineas-ta, juntamente com a equi-pe de atores e produção do Nervo Craniano Zero, decidiu tentar o financia-mento coletivo uma verda-deira força tarefa de divul-gação começou. Além do vídeo que explicava o que

era o projeto, exigido pelo Catarse, o grupo investiu em outros meios para di-vulgar o DVD. “Nós fizemos divul-gação diária nas redes so-ciais e em outros mecanis-mos on-line. O importante era que fosse diário para não deixar a coisa esfriar. Temos mais de três mil fãs na página da Vigor Mor-tis. Tivemos um décimo

da quantidade apoiando. Poderia ser até mais”, ressalta. Foram meses de trabalho para que a pro-posta chegasse ao maior número de pessoas pos-sível. E ao fim do prazo o DVD Nervo Craniano Zero conseguiu arreca-dar R$ 18.770, mais de mil reais além da meta estabelecida

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AUTÊNTICOS ANOS 60

MODA

A década de 1960 foi repleta de mudanças e inovações no universo da moda. Para começar, a forma de se vestir começou a se relacionar diretamente com o com-portamento expressado pelos jovens, que passou por uma transição dos anos 50 para os anos 60. Isso porque, enquanto a década anterior expressava uma rebeldia ingênua e inofensiva, a década seguinte trazia consigo a coisa real. O sentimento de liberdade e de revolta contra a socieda-de de consumo tomava conta dos jovens. E esse sentimento que, até então, perma-necia dentro dos bares e das rodinhas de conversa, começou a ganhar as ruas. Es-pecialmente no final da década, quando o movimento hippie (movimento contra-cultural) nasceu.

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Na moda, a forma única de se vestir foi deixada de lado. Os jovens não mais se apropriavam da moda dos mais velhos. Agora, eles possuíam a sua própria moda, com peças específicas que retratavam a atitude adotada por eles. No cenário feminino, destacam-se a minissaia, as roupas de linhas retas, as botas e os vestidos tubinho, por exemplo. Foi na década de 1960, também, que as mulheres investiram com peso no unissex, usando looks tradicionalmente masculinos, como os smokings.

Por outro lado, em relação aos homens, a moda era basicamente ditada por quatro garotos ingle-ses, de Liverpool, conhecidos como The Beatles. Paletós sem colarinho, ternos, cabelos com franja, gra-vatas largas, sapatos, golas rolê e peças mais ajusta-

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das davam o tom dos guarda-roupas masculinos du-rante a década de 1960.

Em suma, esse período histórico, que foi centrado prin-cipalmente em Londres (Inglaterra) e depois em São Francisco (Estados Unidos), exerceu um papel impor-tante, tanto no mundo da moda como em questões so-ciais, artísticas e políticas. E chegou ao fim com, talvez, o maior festival de música da história, o Woodstock Mu-sic & Art Fair, que fechou com chave de ouro a década também brilhante que foi a de 1960.

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Editorial realizado:

Fotografia - Camila Nichetti.

Modelos - Bruno Valentin, Jean Foss, Jhenyffer

Borges e Natalia Brückner.

Produção - Ana Saraiva, Camile Kogus, Julmara

Mendes e Katheryne Louise.

Agradecimento Especial - Raphael Mendes.

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COMPORTAMENTO

Foto: Natália Brückner

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Nunca entrei no quarto da minha avó. “É melhor não

entrar, filha. Seu nariz vai ficar irritado e você vai espirrar a noite inteira por causa do pó”, aconselhava meu pai, referin-do-se a minha rinite alérgica, das quais as crises podem ser desencadeadas em ambien-tes empoeirados. Depois de nos desejar boa noite (“Schlaf gut”), dona Emília Brückner se enfiava em seu quarto, de onde dava para ouvir os cícios das orações noturnas feitas em ale-mão. O único cômodo que não desbravei na pequena casa em Maranduba, no litoral norte de São Paulo, onde passávamos as férias uma vez por ano, era uma caverna platônica de pa-pelão e sacos plásticos na qual nunca ousei entrar por temer dar de cara com uma barata. As baratas que eu flagrava, ora se digladiando com uma lagartixa, ora fugindo da nossa presença, tinham uma procedência exata. Vinham do quarto de dona Emí-lia. Esses bichos não podiam me contar nada sobre aquele mundo coletado. Aliás, nada podiam fazer exceto provocar meus gritos histéricos seguidos de subidas desesperadas ao topo da mesa da cozinha e or-dens de execução que podiam ser ouvidas até pelos vizinhos. “Mata, paaaaaaai!! Mata!”. Os insetos da ordem blattaria (ou blattodea) são as sombras vivas que se mostram

de dentro para fora do mundo de uma senhora de 86 anos que nasceu na Hungria, pas-sou fome na Alemanha duran-te a Segunda Guerra Mundial e teve cinco filhos. Dois fina-dos e três vivos. Meu pai me contou depois que na caverna de Platão da vovó constavam presentes de casamento que, ganhos repetidos, eram guar-

dados para serem passados adiante, sem a noção de que tais eletrodomésticos ficariam defasados. Também havia sa-quinhos de leite que, em perí-odos de extrema necessidade, ela costurava até formar gran-des sacos de lixo. A resiliência e a criatividade perante as di-ficuldades acabaram se trans-formando em pilhas de objetos inutilizados com o passar dos anos. E o quarto da vovó virou morada de outro famigerado grego. Diógenes de Sinope, co-nhecido como “o cínico” viveu

entre os anos de 412 e 323 a.C. Antes discípulo de Sócra-tes, passou a morar nas ruas de Atenas. Considerava uma virtude viver sem apegos, sem pudor e sem planos, exatamen-te como os cães. Daí a origem do adjetivo “cínico” - de kyni-kos-cão em grego. Diógenes, apesar de sua conhecida inte-ligência, era visto perambulan-do pelas ruas cercado de cães, com os quais se alimentava e dormia dentro de um barril. Em memória ao que pregava, um pilar com um cão em repouso foi esculpido em seu túmulo em Corinto. O estilo de vida de Diógenes batizou o comporta-mento que faz seus portadores acumularem objetos ou animais em suas casas. O que forma um paradoxo, pois Diógenes era irredutivelmente desapega-do a tudo. A associação com o transtorno, também conhecido como acumulação compulsiva ou síndrome da miséria senil, está na autonegligência invo-luntária, na situação de isola-mento social, no desleixo com si próprio e com tudo que o cerca. Não exatamente com o colecionismo, o fator mais co-nhecido deste comportamento ou transtorno. Não há um perfil definido do portador dessa síndrome. Recentemente inclusa no Dicio-nário de Saúde Mental da Asso-ciação Americana de Psiquia-tria (DSM-5), esse transtorno é

Conhecida por provocar acúmulo doméstico de lixo e animais, a Síndro-me de Diógenes começa a ser amplamente pesquisada em Curitiba

O Mal da QuinquilhariaREPORTAGEM: NATÁLIA BRÜCKNER

“Duma caverna platônica de pape-lão e sacos plásti-cos na qual nunca ousei entrar por

temer dar de cara com uma barata”

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caracterizado pelo acúmulo, ou fobia em descartar objetos ou animais. Patrícia Folly, psicólo-ga do Departamento de Saúde Mental da Secretaria Municipal da Saúde de Curitiba, afirma que a doença pode atuar em vários graus, como um simples amontoamento num cômodo até a ocupação completa da re-sidência com pilhas e mais pi-lhas por toda a parte, até que a moradia se torne um local dis-funcional. Folly ainda esclarece que a acumulação compulsiva pode estar tanto associada a fatores históricos do paciente - como a vivência ou medo da miséria, apego a situações do passado - quanto aos traços comportamentais que se de-senvolvem desde cedo, como a obsessão em colecionar coi-sas, até mesmo temperamen-

tos excêntricos. Os casos de acumuladores chegam à Se-cretaria Municipal da Saúde já quando a situação do denun-ciado é grave, por meio das reclamações de vizinhos pelo mau cheiro e aparecimento de insetos e roedores, decorrentes do lixo ou da concentração de animais. Se o paciente tem fa-mília, o relato ocorre através do apelo dos parentes. Isso por-que o acumulador dificilmente adquire noção da dimensão dos prejuízos que a autonegli-gência pode lhe causar, o que também dificulta o processo de tratamento. Por isso, a aborda-gem é sempre domiciliar, pela ação de agentes da Secretaria de Saúde ou da Secretaria de Meio Ambiente.

Mapeamento e Diagnóstico

Desde março deste ano, uma parceria entre as secreta-rias municipais de Saúde e do Meio Ambiente, a Associação de Fundação Social (FAS), a Universidade Federal do Pa-raná, com o financiamento do Projeto Araucária uniu todos os dados e denúncias dos órgãos envolvidos para iniciar a articu-lação de um projeto que visa mapear, traçar o perfil e tratar os acumuladores em Curitiba. O trabalho do projeto foi dividido em duas fases: primei-ro, o mapeamento e cadastro dos casos. O segundo passo é a filtragem e a avaliação dos pacientes para o encaminha-mento aos tratamentos neces-sários. Cada situação é ava-liada em reuniões conjuntas e colegiados entre as secretarias

Foto: Divulgação

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para definir os perfil, metas e métodos de intervenção e trata-mento. O levantamento é cus-teado pela Fundação Araucária do Paraná com recursos de R$ 140 mil. E além de identificar e tratar os acumuladores, o pro-jeto também tem o objetivo de prevenir zoonoses, incêndios e outros acidentes causados em focos de acúmulo de lixo e ani-mais. Luiz Armando Erthal, di-retor do Centro de Saúde Am-biental e um dos participantes do projeto, ressalta a importân-cia deste tipo de trabalho que, por enquanto está em desen-volvimento apenas em Curitiba. “A questão dos acumuladores não pode ser resolvida só de um lado. É uma questão inter-disciplinar e interinstitucional. Uma instituição sozinha não pode dar conta deste problema. Desde o ano passado, vínha-mos discutindo sobre a neces-sidade de unir nossos esforços para atingir este problema de forma eficaz.” Sobre a meto-dologia para o tratamento dos acumuladores, Erthal afirma que outro procedimento deste trabalho é estudar as formas de abordagem. “Muitos são recep-tivos, porém têm os que sofrem de transtornos mentais. Por isso, há a necessidade de estu-dar as técnicas para cada caso. Esta parte ficará aos cuidados do Departamento de Saúde Mental da Secretaria de Saúde, com sua equipe de psicólogos, médicos e enfermeiros que dão suporte ao projeto.” Segundo Erthal, a vizi-nhança tanto pode colaborar na melhora do quadro nos há-bitos do acumulador, quanto pode ajuda-lo a juntar mais lixo ou animais em sua casa. Com a intenção de satisfazer as ca-rências do portador do trans-

torno, quem está próximo dele pode indicar onde tem objetos que podem ser coletados. Quando perguntado so-bre a possibilidade de remoção do paciente de sua casa, o di-retor nega que este seja o pro-cedimento apropriado para o paciente. Além de traumatizá-lo ao tirá-lo de casa e interná-lo num hospital psiquiátrico, por exemplo, há uma chance altís-sima de reincidência do qua-dro compulsivo. “Ao voltar para casa, o acumulador pode retor-nar os hábitos dos quais sentiu falta fora do lar.” Porém, esse procedimento pode ser feito em situações mais graves e atra-vés de uma ação judicial, como

aconteceu com Araci Minaif, o caso mais famoso da Síndrome de Diógenes em Curitiba, que veremos adiante.

Perfil e Estatísticas

O processo de mapea-mento e perfilamento dos acu-muladores começa a dar seus primeiros passos. Segundo as coletas iniciais de dados di-vulgadas pela Secretaria de Saúde no início de setembro, Curitiba tem um acumulador a cada 10 mil habitantes. Na eta-pa inicial do projeto, foram en-contrados 195 acumuladores. Nas palavras de Patrícia Folly,

psicóloga no Departamento de Saúde Mental da Secretaria Municipal de Saúde de Curi-tiba, a Síndrome de Diógenes pode atingir pessoas de várias classes sociais, regiões e ida-des, apesar de atingir em maior parte pessoas com mais de 50 anos de idade. Segundo a obra “Dióge-nes, população de rua, luta anti-manicomial e cinismo” (Leonar-do Caixeta, 2007), a Síndrome de Diógenes atinge anualmen-te no mundo, cinco a cada 10 mil pessoas acima de 60 anos que moram sozinhas, podendo atingir todas as classes sociais e prevalece igualmente entre homens e mulheres. Entre as doenças que atuam em conjun-to com a acumulação compul-siva, a demência abrange 44% dos casos, seguida pelo alcoo-lismo, transtornos afetivos em geral e parafrenia, um distúrbio mental caracterizado por mu-danças na disposição e no ca-ráter. Casos mais raros podem suceder em decorrência da es-quizofrenia e após um acidente vascular cerebral (AVC). De acordo com o Insti-tuto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o número de idosos (maiores de 60 anos) saltou de 11,4 para 24,8 mi-lhões entre os anos de 1992 e 2012. Um aumento de 117%. E o número de idosos que moram sozinhos triplicou neste mes-mo período, ao passar de 1,17 para 3,70 milhões. Um salto de 370%. Destes, 65% são mu-lheres. Curitiba tem 154,5 mil idosos (8,4%) entre seus 1,84 milhões de habitantes apura-dos pelo IBGE em julho do ano anterior. Dona Emília Brückner mora sozinha há mais de 30 anos, e assim representa facil-mente o perfil do portador da Síndrome de Diógenes. Mas

A Síndrome de Di-ógenes atinge anu-almente no mundo, cinco a cada 10 mil pessoas acima de

60 anos que moram sozinhas

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Foto: Natália Brückner

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agora me desloco da pequena casa em Maranduba, onde vovó deve estar rezando em alemão no momento em que escrevo essa reportagem, e vou para mais um mundo de entulhos. Apesar das horas vespertinas, quando me aproximo da porta desta outra caverna de Platão, ouço um canto de galos.

A matriarca do Alto da XV

Perto do portão, esbar-rando em pequenas pilhas de lixo, ela se orgulha da antigui-dade, tanto dela própria, quan-to da sua casa. “É a mais antiga do Alto da XV. Pode perguntar para quem você quiser.” Araci Minaif nasceu cerca de um ano depois que a construção mista de madeira a alvenaria ficou pronta há 76 anos. A mesma casa que se tornou famosa por conter cer-ca de 25 toneladas de lixo está bem mais vazia agora, apenas com algumas pilhas de detritos de lados de fora, e mais algu-mas da porta para dentro. Além de objetos, dona Araci também acumulava animais, chegando a ter 50 galinhas e dez gatos. Pegava-os na rua, ou cuidava dos bichos que eram abando-nadas no quintal da sua casa por passantes que conheciam o seu hábito de acumular tudo. No momento, quatro galos – dois brancos, um preto e um marrom - e três gatos – dois cinza-tigrados ainda filhotes, e um preto com branco – fazem companhia para a senhora que passa as manhãs lavando rou-pas e cuidando da sua horta com plantas, tijolos e detritos que junta em suas caminhadas pela rua. Enquanto afaga o gato bicolor que pula em seu colo quase no mesmo instante em que um galo salta do muro da

varanda, Araci fala brevemente sobre a época em que passou cerca de dois meses internada no asilo São Vicente em 2012 por meio de uma ação movida pela Promotoria do Idoso do Ministério Público. “Foi ruim, sabe. Eu era a melhor de lá. Só tinha velho gritando o tempo todo. Eu sei que tenho proble-ma, mas não adianta tirar quem está doente de casa. A nossa casa é o melhor lugar do mun-do. Graças a Deus eu voltei para cá”. Araci foi tirada de sua casa à força e voltou graças a mobilização de seus vizinhos e amigos que se prontificaram a reformar a residência e se re-vezarem nas visitas e cuidados com a senhora. Formaram um grupo que atende pelo nome de “Amigos da Araci”. Aposentada e sem pa-rentes diretos, Araci vendia

ovos e latinhas para se manter e hoje vive da coleta de mate-riais recicláveis, mas quando se viu sem dinheiro apara sa-tisfazer as necessidades mais básicas, começou a coletar e juntar lixo da vizinhança, que co-laborava oferecendo os objetos rejeitados. “Uma vez quiseram comprar o meu terreno, mas eu não vou sair daqui. Alguma coi-sa eu tinha que fazer para me sustentar.” Dona Araci está en-tre as 10 mil pessoas que vivem da coleta de lixo em Curitiba. E além disso, integra as 8.239 mil pessoas que moram sozinhas

na capital paranaense. Após a intensa reforma promovida pelos “Amigos da Araci”, a casa ainda tem lixo, mas está livre das toneladas de detritos que ocupavam cômo-dos inteiros e tornavam o local inabitável. Já é possível sentar no sofá e abrir as janelas para arejar a sala e os quartos da re-sidência que foi construída na década de 1930. Na cozinha já tem espaço para cozinhar e se demorar numa refeição. Araci pode passar um café para ela e para Joana D’Arc Martins, piauiense, uma das amigas que se reveza para cuidar dela. Araci Minaif é uma mas 195 pessoas catalogadas pelo projeto que visa mapear e tratar as pessoas que sofrem da Sín-drome de Diógenes, e na sua fama que já rendeu algumas reportagens, tais como esta. Ela é o rosto de quem junta lixo em seu lar para compensar a solidão e a ausência da família, ou para afirmar o apego pela sua história. Como ela mesma diz, interpelada pelo canto dos quatro galos, ela “vive do jeito que dá”. Dona Emília Brückner e dona Araci Minaif representam centenas de milhares de pes-soas que vivem em seu mun-do de plástico, papelão e me-tal. De animais e tralhas que preenchem o medo de não ter nada, a vontade de ter com quem conversar, nem que seja com um cão, um galo. Arma-duras que ocupam cômodos inteiros e histórias que não po-dem ser contadas pelas bara-tas e pelos roedores. Em uma sociedade onde é visto apenas quem aparece, o lixo é a plu-mária de quem não encontra forma de achar reposta quando se perguntam se é impossível ser felizes sozinhos

“É a mais antiga do Alto da XV. Pode

perguntar para quem você quiser.”

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As notícias de suicídios são sempre um choque. Ainda mais quando começam a acon-tecer com certa frequência e nos forçam a refletir sobre as causas que podem motivar um ato tão extremo. Há de se en-tender que o assunto envolve uma somatória de valores dife-rentes (religiosos, culturais, so-ciais e afetivos, entre outros), desencadeados por situações mal resolvidas. Desestrutura-da, a pessoa é levada a pro-curar soluções superficiais que acabam por agravar a situação e a faz entrar num círculo vicio-so. Na opinião de Emerson Rodrigues Barbosa, médico psiquiatra do Instituto de Psi-quiatria do Paraná, o suicídio é consequência de alguma dis-função grave na existência do indivíduo. “Sempre é uma tra-gédia. Desistir de viver vai con-tra os instintos mais primários de qualquer ser. Quem pensa em tirar a própria vida dá sinais

disso e, por isso, a ação pode ser prevenida”, observa. Para Ademar Wild Wa-chholz, clínico geral da cidade catarinense de Guaramirim, é difícil afirmar com certeza, mas os artistas podem estar mais vulneráveis à depressão. “Se analisarmos os índices de suicídio no globo veremos que há um aumento considerável nas estações cinza (outono e inverno). Então, como a rotina da vida artística geralmente é noturna, esses profissionais são privados do nascer do sol, do dia e da vida comum pela agenda de shows. Quando fi-nalmente alcançam o sucesso e a glória, isso os leva ao iso-lamento. E, neste momento da visualização da realidade e do futuro que os cerca, eles procu-ram conforto em drogas lícitas (álcool), evoluindo para drogas não lícitas (drogas sintéticas)”, explica o médico, que também é especialista em Medicina do Trabalho.

Contudo, existem pes-soas que conseguem vencer a depressão, sozinhas e sem remédios, apenas com a força de vontade. É o caso de Juce-lena Aparecida de Oliveira. “Eu não sei precisamente quando começou meu quadro de de-pressão. Os médicos me re-ceitavam remédios cada vez mais fortes (Rivotril, Depakene, Diasepam e Fluoxetina). Eu só sentia que estava piorando, até que fui internada por 15 dias em um hospital psiquiátrico. Saindo dali, a primeira coisa que fiz foi não brigar quando me perguntavam se eu tomava os remédios. Apenas respondia que sim e dava um jeito de jo-gar fora. No começo, a depen-dência não me deixava dormir, mas o meu corpo tinha outra disposição. Hoje, sei que devo isso só a mim e mais ninguém, pois para sair sozinha da de-pressão tive que mentir para os médicos e para a família”, reve-la Jucelena, que venceu

Alegria que acaba quando as cortinas se fecham

Morte de Robin Willians reacende discussão sobre artistas que atentaram contra a própria vida ou que se colocaram em situações de risco. Casos chamam a atenção para os problemas de depressão

COMPORTAMENTO

REPORTAGEM: JULMARA MENDES

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a batalha com a depressão há cerca de três anos e que hoje trabalha com o marido, na Clí-nica Força Vital, em Jaraguá do Sul. Apesar de seu sucesso a recomendação geral é sempre seguir a orientação médica. Porém, os transtornos de humor, de ansiedade e de personalidade trazem vários comportamentos excêntricos e de intensa emoção, e não é nada fácil lidar com tudo isso. A presidente da Associação Bra-sileira de Transtorno Bipolar (ABTB), Ângela Scippa, alerta que “de todas as doenças e de todos os transtornos, o bipolar é o que mais causa suicídios”. A entidade estima que entre 30% e 50% dos brasileiros portadores de transtorno bipo-lar tentem suicídio, dentre os quais, 20% conseguem.

Suicídio mata uma pessoa a cada 40 segundos no mundo

A estatística de que uma pessoa tira a própria vida a cada 40 segundos em alguma região do planeta foi revela-da pela Organização Mundial da Saúde (OMS), em seu primei-ro relató-rio mun-dial sobre o assunto, em 2014. A pesquisa mostra que s u i c í d i o s acontecem com frequ-ência em todos os países, por di ferentes razões e em várias áreas pro-

fissionais. Somente no Paraná foram afastadas do trabalho mais de sete pessoas por dia, de agosto de 2013 a julho de 2014, com casos de depres-são, segundo dados do Insti-tuto Nacional de Seguro Social (INSS). A doença é um proble-ma de saúde pública global que atinge todas as faixas etárias, pois para cada indivíduo que morre desta forma, houve mais de 20 tentativas. Para o sociólogo e pro-fessor de ioga Paulo Roberto Schlichta, é muito difícil deter-minar um fator condicionan-te e comum a todos os casos de suicídio. “Penso que o que mais colabora para a decisão de tirar a própria vida é o ní-vel de insatisfatoriedade do ser humano. Alguns, mesmo de-pois de adquirir muito dinheiro e fama continuam a sentir falta de plenitude interior. O suicídio é a não aceitação dessa condi-ção e a decisão definitiva vem após a conclusão de que não se pode controlar tudo e a to-dos”, afirma.

O recorte da realidade

Casos recentes de co-mediantes, como o ator ameri-cano Robin Williams e o come-diante brasileiro Fausto Fanti, são exemplos de artistas que nos fizeram rir muito ao longo das suas carreiras, mas que resolveram por fim à própria vida. Isso nos força a refletir, na tentativa de entender melhor o assunto. Como no site Papo de Homem, no qual Frederico Mat-tos faz conjecturas a respeito. “A arte e a tragédia da maioria desses artistas espelham em muita medida, a nossa própria loucura coletiva. Parece que a lente de aumento que os holo-fotes colocam sobre eles nos tranquiliza sobre os nossos próprios desequilíbrios, como se fossem bodes expiatórios que aplaudimos do lado de fora das grades”, escreve. Em outro momento, Mat-tos afirma que “o artista, em es-sência, é aquele capaz de sair de si mesmo e traduzir o intraduzível, o incompreensível da vida. E, do ponto de vista pessoal, ser um mediador da contradição humana pode custar um preço muito alto”

Foto: Divulgação

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Veja o caso de astros que nos fizeram sorrir e pensar, mas que por dentro, sofriam de solidão, ansiedade e tristeza:

Robin McLaurin Williams (21/07/51 – 11/08/14) Ator e comediante americano. Viciado em cocaína.Williams estava “lutando contra uma depressão severa”.Causa de morte: asfixia devido a enforcamento.

Whitney Elizabeth Houston (09/08/63 – 11/02/2012) Cantora norte-americana de R&B, pop, gospel, além de atriz e modelo.

Causa da morte: a cantora se afogou na banheira, mas, segundo os peritos, outros dois fatores contribuíram para a morte dela: uma doença nas artérias

do coração e traços de cocaína foram encontrados durante a autópsia.

Amy Jade Winehouse (14/09/83 – 23/07/11) Cantora e compositora britânica de soul, jazz e R&B. Causa da morte: intoxicação alcoólica.

Alexandre Magno Abrão (09/04/70 – 06/03/13) Chorão foi um cantor, compositor, cineasta, poeta, roteirista e empresário

brasileiro, além de ser o vocalista, principal letrista e co-fundadorda banda santista Charlie Brown Jr. Causa da morte: overdose de cocaína.

Luiz Carlos Leão Duarte Junior (16/06/78 – 09/09/13) [Champignon] baixista e vocalista brasileiro, da banda paulista Charlie Brown Jr. Causa da morte: supostamente cometeu suicídio com uma arma de fogo.

Philip Seymour Hoffman (23/07/67 – 02/02/14)Ator e diretor teatral norte-americano.

Hoffman morreu devido ao consumo excessivo de heroína, cocaína, anfetaminas e tranquilizantes.

Fausto Fanti (20/10/78 - 30/07/2014) O ator, 35 anos (integrante do grupo de humor “Hermes e Renato” que fez sucesso na MTV, no dia 30 de julho de 2014), foi encontrado morto em seu apartamento na zona oeste de São Paulo, com um cinto enrolado em seu pescoço.

Vincent Willem Van Gogh (30/03/1853 – 29/07/1890)Pintor pós-impressionista neerlandês, aos 37 anos,

sucumbiu a uma doença mental e cometeu suicídio.

Marylin Monroe (01/06/1926 – 05/08/1962)Modelo e atriz americana. Causa da morte: uma overdose de barbitúricos.

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Michael Joseph Jackson (29/08/58 – 25/06/09) Cantor, compositor, dançarino, produtor, empresário,

arranjador vocal, filantropo, pacifista e ativista americano. Causa da morte: parada cardíaca, atribuída a uma overdose

de fármacos que Michael tinha tomado nas horas anteriores para dormir.

Ernest Miller Hemingway (21/07/1899 – 02/07/1961) Escritor norte-americano. Aos 61 anos e enfrentando problemas de hipertensão, diabetes, depressão e perda de memória, Hemingway tomou um fuzil de caça e disparou contra si mesmo.

Virginia Woolf (25/01/1882 – 28/03/1941) Escritora, ensaísta e editora britânica conhecida como uma das mais proemi-

nentes figuras do modernismo. Sofria de depressão e em março de 1941, Woolf colocou seu casaco, encheu os seus bolsos com pedras, caminhou

em direção ao Rio Ouse, perto de sua casa, e se afogou.

Kurt Donald Cobain (20/02/67 – 05/04/94) Cantor, compositor e músico estadunidense famoso por ter sido o fundador, vocalista e guitarrista da banda Nirvana. Causa da morte: um disparo de espingarda no queixo. Uma alta concentração de heroína e vestígios de Valium também foram en-contrados em seu corpo.

Elvis Aaron Presley (08/01/1935 – 16/08/77) famoso músico e ator norte-americano, mundialmente denominado como o

Rei do Rock. Causa da morte: colapso fulminante associado à disfunção cardíaca.

Heath Andrew Ledger (04/04/79 – 22/01/08) Ator australiano. Causa da morte: “intoxicação acidental por remédios prescritos”.

Ariclê Perez (07/09/1943 – 26/03/2006) Atriz brasileira, suicidou-se, pulando da janela de seu apartamento (10º andar), no

bairro de Higienópolis, em São Paulo, onde vivia sozinha.

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1ºO MELHORCURSO DE

JORNALISMODE CURITIBA

No último ENADE 2012 o curso de jornalismo das Faculdades Integradas do Brasil obteve a melhor nota entre as instituições de Curitiba, conceito 4.

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Estamos ligados na in-ternet 24 horas por dia. Uti-lizamos dela para nos infor-mar, conversar com amigos, aprender e fazer compras. O crescimento constante do e-commerce mostra como as pessoas usam o ambiente virtual como um novo sho-pping. Ali, poupam o tempo que gastariam indo a uma loja e ganham o conforto de poder comprar a qualquer hora do dia, sem depender do horário comercial.

Uma pesquisa da E-Bit, empresa que faz levanta-mento sobre o e-commerce nacional, divulgada em julho deste ano mostrou que o co-mércio eletrônico brasileiro faturou R$ 16,06 bilhões no

primeiro semestre de 2014. O valor supera o que foi ob-tido no mesmo período do ano passado. Os artigos de moda e acessórios são os mais vendidos (18%), segui-do pelo setor de perfuma-ria e cosméticos (16%). Por consequência, do total de consumidores online, mais da metade (54%) são mu-lheres. Cerca de 39% delas, na faixa entre dos 35 aos 49 anos.

Um exemplo do suces-so das vendas virtuais é a loja Angel Import. A proprie-tária Ana Paula Soares Pi-res, 35 anos, é compradora online há mais de três anos e diz que encontra descontos e valores mais em conta do

que em lojas físicas. “Quan-do meu filho nasceu, procurei roupas infantis para meninos e percebi que as lojas eram péssimas em ofertas. Então, comecei a buscar em sites. Descobri que existiam outras mães na mesma situação que eu”. A demanda de Ana Paula se tornou uma opor-tunidade de negócio. A loja existe há três anos e todos os dias ganha novos clien-tes.

Novos negócios

A pesquisa da E-Bit mostra também que o cres-cimento no número de novos consumidores é resultado do aumento no número de

E-COMMERCE

Você já viu promoções por tempo limitado em sites on-line. Elas estão nos cantos de página e povoam as redes sociais. Nem todas são seguras. Fique por dentro de tudo que você precisa saber sobre os gastos virtuais.

Compras online: rápido e perigoso

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Foto: Reprodução/Google.

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Você já viu promoções por tempo limitado em sites on-line. Elas estão nos cantos de página e povoam as redes sociais. Nem todas são seguras. Fique por dentro de tudo que você precisa saber sobre os gastos virtuais.

REPORTAGEM: KATHERYNE LOUISE

Compras online: rápido e perigoso

lojas. O economista Glau-co Vinicius de França Furs-tenberger, professor da Pon-tifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), diz que o crescimento cada vez maior no e-commerce é por causa do fascínio natural do ser humano pela tecnologia. O acesso às lojas por smar-tphones, por exemplo, permi-te a compra de um livro e de um par de botas às 3 horas da manhã de um domingo.

Riscos

O acadêmico também comenta sobre os riscos des-se tipo de transição. Segun-do Glauco, as pessoas não gastam tanto tempo pesqui-

sando se a empresa ou ven-dedor é confiável, e acabam tendo prejuízos. “Muita gente recebe produtos incorretos e chegam a ter os dados rou-bados. Boa parte das vítimas desse tipo de golpe faz parte de uma nova geração, que nasceu no boom da tecnolo-gia e não tem medo da inter-net”, diz.

A estudante de Publi-cidade e Propaganda Tanya Oliveira, 23 anos, compra pela internet há quatro anos. Ela investe em roupas e ele-trônicos e teve uma expe-riência ruim recentemente. “Decidi comprar um adesivo de unhas. Era lindo no site, mas quando chegou, ele não era nada do que eu espera-

va. Fiquei arrependida por ter comprado. Está encosta-do lá e não uso para nada”.

Ana Paula, proprietá-ria da Angel Import, também passou por alguns proble-mas ao adquirir itens de de-coração e roupas. Ela conta que comprou um abajur de tartaruga uma vez, mas “en-viaram uma blusa de lã hor-rorosa”.

Para quem pretende começar a utilizar a internet para fazer suas compras é recomendável que pesquise os preços e a confiabilidade da empresa. Segundo Glau-co, utilizar da pesquisa é uma ótima ferramenta para evitar problemas futuros. “Os

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brasileiros costumam colocar o interesse acima da segu-rança, acreditando que nada poderá acontecer com eles”, alerta.

Os casos mais comuns acontecem com quem utiliza o cartão de crédito, pois ao passar o código de seguran-ça, se informa parte da se-nha, que pode ser hackeada/roubada e utilizada por ou-tros. Muitas vezes, isso ocor-re também sem que seja res-ponsabilidade dos sites, pois a empresa contrata uma pla-taforma de pagamento mais barata, mas não tão segura.

Investimento

Hoje, ter uma loja on-line pode ser mais barato do que ter uma loja física. Despesas como aluguel, fia-dor, alvará de funcionamen-to, móveis, equipamentos e

pessoal são substituídas por plataformas virtuais de pa-gamento e logísticas de en-tregas que deixam os preços dos produtos mais em conta. Porém, o consumidor deve fi-car atento a todo valor que é baixo demais, pois muitos si-tes atraem com seus preços e não entregam aquilo que é prometido.

Para quem quer abrir um negócio online, é neces-sário contratar uma plata-forma de pagamento segura (para você e seus clientes) e consultar outras empresas consolidadas na rede. Além disso, é preciso fazer um tra-balho diferenciado de aten-dimento, principalmente com pessoas que tiveram proble-mas. É muito mais fácil fide-lizar um cliente que teve difi-culdades na hora de comprar e a situação foi solucionada com rapidez e praticidade

SITES MAIS CONFIÁVEIS:

Submarino: Muitos eletrôni-cos, livros e outros. Tem opção de fazer cartão de crédito do site.

Dafiti: Rico em roupas e asses-sórios, tem promoções diárias e acessíveis para todos os gos-tos.

Airu: Loja de artigos de design com grande variedade de pro-dutos.

Busca de preços

Buscapé: Uma ferramenta de busca por produtos mais bara-tos que traz opinião de outros compradores sobre a loja e o prazo de entrega, ajudando na escolha.

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Personagens da animação Peppa Pig são produtos à venda pelo e-commerce.

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A primavera chegou e outubro floresceu. Em todo o mundo comemoramos nesse mês a campanha “Outubro Rosa”, movimento criado para marcar a luta contra o câncer de mama, estimulando a participação da população, empresas e entidades. Várias ações são realizadas por todo o mundo, como iluminar de rosa monumentos, prédios públicos, pontes e teatros.A campanha vem ganhando notoriedade a cada ano, alcançando o mundo de for-ma bonita, elegante e feminina. Para participar de uma causa tão nobre, a revis-ta Comunicaqui irá mostrar sete tons de rosas em esmaltes, o que deve realçar ain-da mais a beleza das mulheres que prestigiam e participam dessa campanha.Os esmaltes podem ser encontrados nas mais diversas casas de cosméticos e esmalte-rias. Agora cabe a você leitora escolher qual das opções mais representa seu gosto e estilo.

O CHARME DAS MÃOS

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1 - Colorama, R$ 3,32.

2 - Ana Hickman, R$ 3,70.

3 - Quem disse berenice?, R$ 12,90.

4- Hits (coleção Giovanna Antonelli), R$ 4,95.

5 - Dote, R$ 2,496 - O.P. I, R$ 34,907 - Top Beauty, R$ 1,99

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Matéria: Ana Paula Viana Saraiva.Foto: Camila Nichetti.

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UM LIPSTICK DIFERENTE

Dizem por aí que sair de casa sem maquiagem é aceitável. Agora sem batom?! Aí não dá! Eu, particularmente, achei um método muito diferente de estar sempre com uma cor nos lá-bios, pois uso lápis de boca como batom!

Quem me conhece, sabe que tenho os lábios bem grandes. Às vezes, isso me incomoda. Por isso, resolvi adotar essa prática e garanto que não fica feio.

Essa dica também serve para quem não é muito fã de batom, para quem vive com pressa ou para quem, simplesmente, quer inovar um pouco na make. O lápis de boca nos lábios deixa o vi-sual mais clean e natural, pois o efeito matte que ele proporcio-na é bem legal! E sem falar que é possível diminuir e aumentar os lábios, variando com o contorno que é feito.

E olha que não é sou eu que uso esse truque. Nas passarelas e em novelas a tendência já é muito usada. Bocas de várias co-res, do discreto tom de pele ao vermelho, tudo pintado apenas com lápis. É muito prático e fácil, além de ter mais uma vanta-gem indiscutível: lápis de boca dura mais nos lábios que batom. Basta uma boca bem hidratada que o lápis dura por muitas ho-ras sem retoques.

Os preços dos lápis de boca são bem variados. Um exemplar da marca MAC custa R$ 130, em média. Há marcas brasilei-ras mais em conta, como a Vult (R$ 11), a Natura Aquarela (R$ 17,90), a Avon (R$ 13,90), o Boticário - Make B.(a partir de R$ 29,99), NYX (R$29), Artdeco (R$39) e Revlon Colorstay (R$46,50)

Aproveitem a dica!

Grande abraço!

JHENYFFER BORGES

BELEZA

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Foto: Camila Nichetti.

Foto: Camila Nichetti.

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BOMBA DE EFEITO

POR: NATÁLIA BRÜCKNER

Como a Segunda Guerra Mundial resultou no avant garde da fotografia no Japão

As exatas 8h15 do dia 6 de agosto de 1945, o B-29

Enola Gay soltava seu garo-to em direção ao solo de Hi-roshima. “Little Boy” plantou a rosa dos horrores no pri-meiro dos dois flagelos nor-te-americanos que arrasaram o Japão durante a Segunda Guerra Mundial. Três dias de-pois, “Fat Man” cairia sobre Nagasaki. Um pequeno ga-roto e um homem gordo, com capacidade explosiva de 18 quilotons cada uma, dizima-ram mais 230 mil pessoas em cinco anos e seus efeitos se arrastaram por décadas, re-sultando severas mudanças no comportamento dos japo-neses e na gestão do país. Criada em 1968, pelos fotógrafos Takuma Nakahi-ra, ShomeiTomatsu e Yu-takaTakanashi, pelo poeta Takahiko Okada, e pelo críti-co de arte KojiTakia, a revis-

ta Provoke foi a expressão de vanguarda de uma nação que se recuperava superfi-cialmente da Segunda Guer-ra Mundial, com um avanço econômico gigantesco, mas que ainda caminhava perdida perante a invasão da cultura ocidental e transformada por uma reforma em toda o esti-lo de vida japonês. O impacto das bombas de Hiroshima e Nagasaki repercutia no olhar de uma geração de fotógra-fos que eram crianças quan-do presenciaram o maior ata-que ocorrido contra o Japão. Estas crianças do pós-guerra cresceram com câmeras em mãos para, por meio delas, expressarem os olhares e ex-ternarem os monstros que ha-bitavam na confusa juventude japonesa. Estes olhares em preto e branco, equilibrados, perturbadores e desfocados. Uma estética transgresso-

ra que se introduzia em for-ma de documento subjetivo e desafiava todas as defini-ções clássicas de desenho e fotografia que vigoravam a época. Na turma de fotógra-fos revelados pela Provoke, constavam nomes como Ei-kohHosoe, ShomeiTomatsu, o DaidoMoriyama e também o icônico NuboyushiAraki. A vida da Provoke foi curta, durando apenas três edições, e resultando num livro intitulado “FirstAban-donthe World of Pseudo-Cer-tainty”. Mesmo tendo uma existência breve, a Provoke conseguiu confirmar o que se dizia em sua primeira edição: “As fotografias são a expres-são inversa da imagem. Os olho do fotógrafo pode cap-turar fragmentos da realidade que não podem ser expressa-das pela linguagem”

Foto: Camila Nichetti.

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