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Comunicare Centro

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Edição 171 - Outubro de 2009 - Jornal Laboratório da PUCPR

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Page 1: Comunicare Centro
Page 2: Comunicare Centro

ARTISTAS E OUTROS PROFISSIONAIS RELATAM O TRABALHO NO BAIRRO MAIS MOVIMENTADO DA CIDADE

Personagens típicos da XV avaliam CentroEspaço urbano é tranformado pela criatividade de pessoas que precisam ganhar a vida e viram referência na região central

cidade 03Curitiba, outubro de 2009

No Centro de Curitiba exis-tem os mais diversos perso-nagens. O Comunicare foi às ruas para mostrar alguns dos mais conhecidos, que já viraram ícones da região Central.

Há 40 anos no Centro, Tereza Santos, 59 anos, escolheu a Rua XV de Novembro por necessi-dade e é uma das mais populares “figuras” de Curitiba, a “Mulher da Cobra” ou “Borboleta 13”.

Atualmente a cidade está sem a Mulher da Cobra na ativa. Existe outra pessoa em seu lugar. “Terezinha” há 3 anos trabalha para uma loja no centro, onde usa sua voz para fazer propaganda. “De vez em quando eu vou lá (Rua XV) dar uns gritinhos para matar a saudade. Os clientes às vezes me procuram aqui e perguntam cadê as cobras, as borboletas?”

A Mulher da Cobra contou sua visão do bairro, os aspectos que ela viu mudar durante es-ses anos todos. Em sua opinião faltam banheiros públicos. Já o calçamento e o jeito das pessoas foi o que mais mudou.

Ademir Antunes, o Plá é músico e possui 36 CDs grava-dos e sete livros. Acredita que a mentalidade do povo evoluiu

muito, “que o curitibano era bem mais fechado antes”. Formado em Música pela FAP (Faculdade de Artes do Paraná) em 1982, Plá iniciou sua carreira nas ruas do Centro em 1984.

O músico sempre está pelo bairro e aos domingos se apre-senta no Largo da Ordem. Can-

tando suas músicas, deixa peda-ços de panos para turistas, fãs e curiosos assinarem. Plá usava papéis antes e chegou a montar livros com eles, com os panos ele cria roupas.

Uma de suas músicas mais conhecidas é a intitulada “Bi-cicletas”, que virou uma espécie de hino para os participantes da “bicicletada”.

Através de sua música, Plá expõe suas ideias e ideais. Com um jeito muito tranquilo acredita que Curitiba ainda é uma cidade segura, que “o crescimento do centro, da cidade, é natural, mas o importante é não se deixar le-var pelo caos”.

O caos a que Plá se refere é um atrativo para Filipi Galliani, de 26 anos. Ele é um “Caça-Talentos” e há sete anos está pelo Centro. Com seu jeito peculiar, Filipi observa o movimento do Centro em busca de modelos fotográficos, para passarela, pro-paganda, agências.

Odival Neves é mais um dos artistas do Centro. Com 72 anos, trabalha há 12 anos tocando san-fona e já possui 4 CDS gravados. Odival escolheu a região pelo grande movimento, mas também

por outros motivos. O músico é deficiente visual

e afirma que o povo curitibano é muito compreensivo. Além disso, afirma que a segurança é boa e que “a Prefeitura fez um trabalho bom, que é a sinaliza-ção para os deficientes visuais na rua”, o que faz com que ele ande pelo Centro sem dificuldades.

Já o estátua-viva Rocco Bar-biratto, de 34 anos contesta a se-gurança, dizendo que já foi coa-gido por policiais. O artista que é espírita e panteísta (acredita que os Deuses são elementos), lê cartas com vestimentas pre-tas, ao contrário da maioria das estátuas-vivas, que se vestem de branco ou prata. Segundo ele, o preto foi escolhido para chamar atenção, mas isso causa diversos transtornos.

Nascido no Rio de Janeiro, o artista tem um sotaque particular, pois já rodou o mundo. “Atende” o mais variado público: de mendigos a advogados, e a única exigência de Rocco é acreditar no que ele fala.

Para ele a vida de estátua não é nada fácil. Ele afirma que já bateram, assediaram e até cuspi-ram nele. Rocco falou da desva-lorização de seu trabalho: “con-

Bruna Oliveira

Prefeito foi evasivoNo dia 29 de setembro, o prefeito Beto Richa abriu o 17º Congresso Brasileiro de Transporte e Trânsito, na Universidade Positivo. Questionado pelo Comu-nicare sobre os princi-pais problemas do Centro apontados pela população curitibana, como falta de estacionamento e banhei-ros públicos, o prefeito Beto Richa foi evasivo: “A prefeitura tem procurado

tomar as medidas necessárias para atender aos anseios da população. E tudo isso está sendo estudado pelos órgãos competentes”. O Centro de Curitiba tem popula-ção residente de 33 mil habitantes, segundo o Censo de 2000, além de ser o maior bairro comercial da cidade e o mais movimentado em diversos aspectos. (FL)

Prefeito Beto RichaFe

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O que você mudaria no

Centro?

“Lugares cobertos para o pessoal da boca se

encontrar.”

Eneas Galvão, 88 anos, aposentado

“Mais banheiros públicos e acabaria com

as pombas.” Débora Zenin, 32 anos,

florista.

“Diminuiria as caixas de som porque irritam a

gente.” Danter Ruy, 31 anos, vendedor ambulante.

“Modernizar o visual que é meio deprimente.”

Liliane Matos, 45 anos, do lar.

“Terezinha”, a Mulher da Cobra

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Filipi Galliani, caça-talentos

Plá, se apresentando na Rua XV

Odival tocando no Centrro

fundem a caixa de contribuição com caixa de esmola”. E ainda complementou que no Centro há uma espécie de comércio do “lu-gar” para o artista se apresentar. “Cobram por você estar ali, ou- tros vendem o espaço”, comenta Rocco, se referindo à outros ar-tistas que fazem a cobrança.

Rocco Barbiratto, estátua-viva

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02 opiniãoEDITORIAL: CENTRO, UM LOCAL DE PASSAGEM

Interagir: ato de cidadãoCores, sons, gostos, texturas, cheiros, imagens. Convite ao espetáculo urbano

Curitiba, outubro de 2009

A agitação da vida moderna exige atenção do homem aos sons, imagens, gostos, cheiros, texturas. Mas toda essa sobrecarga sensitível fez com que acontecesse o inverso. O homem não percebe mais o am-biente. Faz todo dia o mesmo cami-nho, mas não se dá conta das cores, dos cheiros, dos sons, dos gostos. Isso porque só usa seus sentidos su-perficialmente.

Interagir com a cidade é um ato de cidadania. A sociedade não é a simples soma dos indivíduos, mas todos ligados pela interação. Perceber o espaço urbano com to-dos os sentidos permite estabelecer uma relação de proximidade. Nesta edição o Comunicare o convida a se relacionar com o Centro. Reparar nos detalhes, estar disposto a con-hecer. Pertencer à cidade pressupõe integração, que começa a partir do olhar.

Partida: Museu Oscar Niemeyer. Onde o som dos carros é abafado

pelos pássaros e o verde quebra a monotonia do cinza das construções. À paisagem estática se misturam os latidos e a correria dos cachorros. Na continuação o ronco dos motores acaba com o silêncio e o cheiro da poluição se torna presente.

Nas proximidades da Catedral o sino soa e convida os fiéis para a celebração, enquanto as filas nos pontos mostram que o primeiro turno de trabalho acabou. O Centro revela a agitação rotineira de transeuntes anônimos que passam e somente passam. Pessoas, barulho de salto, murmúrios. Pombos. Motor, cheiro de combustível, buzina. Comida, cheiro da pipoca, do feijão, da carne e da gordura e a voz do anunciante: “três tipos de carne, caseira da me-lhor qualidade”. Mas ninguém de-gusta. Adiante os gritos são outros: “quatro pilhas, um real”, “dinheiro fácil é aqui”. Mas ninguém escuta.

No frio da gélida cidade que oc-ulta o sol por entre os prédios, escon-

dem se em becos diversas figuras. As ruas escuras, os grafites demarcando os territórios, os prédios que outrora foram destaque agora penam no es-quecimento e na podridão. O lixo acumulado se mistura com o forte odor da urina. Mas ninguém sente.

No trajeto pelas ruas do Cen-tro a arquitetura vai do passado ao presente e revive memórias. Casa-rões antigos contam a história do que Curitiba foi, e os novos prédios trazem expectativas do que a cidade será. Mas ninguém vê.

Ao longo dos anos a rua, o café, as lojas e os ônibus se tornaram lo-cais para se passar a vista, mais do que cenários para conversações. Ainda sim, o Centro possui muitas atrações , cabe a você a forma de in-teragir. Você pode vê-lo ou apenas deixá-lo passar diante de seus olhos e sentidos. Mas “se podes olhar, vê. Se podes ver, repara.”

OMBUSDMAN: “PUXÕES DE ORELHA SÃO NORMAIS”

Personagens interessantes, temáticainusitada com abordagens cotidianas

A edição 165 do Comunicare começou fazendo aquilo que faz melhor: aprofundando temas inu- sitados com uma pegada cotidi-ana. Ótima idéia o tema circo, porque abrange diversas editorias e rende personagens incríveis! Ponto para a matéria da pág. 3, que trouxe a Camila Comin como personagem. No entanto, conside-rando a projeção do Cirque du Soleil, houve uma falha na hora da discussão e escolha de pautas, porque nada foi dito a respeito da contratação de Deborah Colker, importante coreógrafa brasileira, que foi a primeira mulher chama-da para dirigir um espetáculo da companhia.

Outro ponto forte quanto aos personagens da edição foi Marcio Ballas, palhaço que transformou a arte circense em cura através do riso. Lamento apenas a matéria ter sido tão curta, ainda mais quando

a terceira matéria apresentada pela equipe guarda pouca relação com os outros textos e com o pró-prio enfoque da editoria. Uma for- ma de corrigir esse problema se-ria fazer uma editoria de Saúde ao invés de Comportamento, até porque já existe outra com esse mesmo nome no jornal!

Quanto à diagramação, tudo seguro e sem grandes erros. Ex-ceto pelo posicionamento das fotos nas editorias Última Hora e Comportamento que estavam nos cantos externos do jornal, contra a melhor exegese quando se fala de diagramação. A correção do erro é simples e trata apenas de uma questão de atenção, especialmente na matéria “Temática circense é o atrativo do Jokers Pub Café”, onde o problema poderia ser corrigido trocando as fotos de lugar com o box. Falando em fotos: mais cui-dado no enquadramento, quali-

dade e pertinência das imagens – foto não é para ocupar espaço, é fonte de informação e pode captar os olhares de leitores que normal-mente não parariam para ler aque-le conteúdo. Dito isso, gostei das fotos apresentadas nas editorias de Esporte e Sociedade!

Ótima também a capa e o info- gráfico apresentado na pág. 16. A capa, principalmente, pois trouxe um ar retrô interessantíssimo com a imagem do palhaço e utilizou as cores fortes, características do cir- co, sem ficar exagerado.

Puxões de orelha são normais, e é justamente por causa deles que somos hoje produto mais premia- do da PUCPR! É muito legal sa-ber que já fiz parte disso tudo. Pa-rabéns a todos!

Milena Vicintin

EXPEDIENTEJornal Laboratório da

Pontifícia Universidade Católica do Paraná

Edição 171-Ano 14-manhã “A”outubro/2009

PUCPRRua Imaculada Conceição

1.155, Prado Velho, Curitiba/PRReitor Clemente Ivo JuliatoDecano do CCJS Roberto

Linhares da CostaDecano-Adjunto do CCJS

Marilena WintersDiretora do Curso de

Jornalismo Mônica Fort

COMUNICAREJornalista Responsável

Prof Zanei BarcellosDRT-118/07/93

Coord. de Projeto GráficoProf Queila Souza Matitz

EDITORESPrimeira página Ana Carolina Baú,Opinião Milena Vicintin,

Cidade Bruna Gomes, Transporte/ Saúde

Durval Ramos, Polícia/Comportamento Bábylla Miras, Política/Esportes

Viviane Prestes, Ambiente/Lazer Rafael Peroni,

Economia Letícia Paris, Gastronomia Thyago da Silva,

Religião Daniel Neves, Cultura Jonathan Seronato

Mayra M. B. Martins, jornalista e acadêmica do curso de Direito, Comunicare 2005.

NOSSA CAPA O infográfico

demonstra os principais pontos que

caracterizam o Centro. Arte: Ana

Carolina Baú

CARTA

A matéria “Temática circense é o atrativo do Jokers Pub Café”, com redação impecável, tem alguns erros na história da família Queirolo, que continua trabalhando normalmente com espe-táculos circenses até hoje e não como a matéria relata até a década de 70. Quanto ao que o proprietário comenta sobre a doação das roupas que estão expostas no Jokers, elas são loca-das pela viúva de Chic-chic, o que foi relatado não procede. No mesmo jornal existe uma pequena nota sobre Marilene Queirolo na matéria “Contato com outras artes moderniza espetáculos” que descreveu o que realmente aconteceu.

Angela Belmontel

FALA PROFESSOR

Parabéns ao Comunicare pela bela edição sobre Circo. Foi um prazer

perceber a criatividade nas matérias!

Laercio Ruffa – Diretor Artístico do Grupo de

Teatro Tanahora/ PUCPR

FALA LEITOR A edição Circo é um exemplo do porque o Comunicare é tão prestigiado com o prêmio

Sangue Novo. Parabéns!

Flávia Leal, estudante de Jornalismo da Cásper Líbero e de História da USP

Page 3: Comunicare Centro

FALTA DE APOIO DEVIDO AO FORMATO INCOMUM DE ASSENTOS

Bancos da linha CircularCentro podem derrubaridoso e deficiente físicoMotoristas tomam cuidado ao realizar curvas para não derrubar passageiros

transporte04 Curitiba, outubro de 2009

Os ônibus da linha Circular Centro são famosos por causa de seus assentos fora do convencio-nal: uma barra de ferro envolvida por almofadas. Entretanto, estes bancos não agradam aos usuá-rios por causa do seu desconfor-to e falta de segurança. Como não há apoio para as costas, os passageiros precisam arranjar al-gum lugar para se segurar e não cair durante as curvas mais brus-cas. Por conta disso, quem tem de pegar o ônibus ou espera os dois únicos veículos com ban-cos tradicionais de toda a frota, ou dá um jeito de se apoiar. Para grande parte dos usuários, em especial os idosos e deficientes, tal esforço revela-se bastante in-cômodo.

O aposentado Takuo Yschi-saki, 69 anos, diz que sempre que possível espera pelo ônibus com assentos comuns. Porém, como este passa pelos pontos a cada 35 minutos, sem contar eventu-ais atrasos, Takuo é obrigado a entrar nos veículos mais antigos.

“Esses ônibus são muito ruins. Em alguns lugares ainda há um espaço para se apoiar com o pé, mas nos outros tem de ficar se equilibrando”, conta o senhor.

Terezinha Cavalcanti, que o utiliza todos os dias para voltar do trabalho, concorda com Ys-chisaki em relação aos bancos do veículo. Ela ressalta que a linha é útil e percorre o Centro rapidamente a uma tarifa baixa (a passagem do Circular é de R$ 1,20), porém considera os “roli-nhos” inseguros por não propor-cionarem firmeza aos passagei-ros. “Fico preocupada quando vejo pessoas com crianças de colo ou carregando malas por-que é muito complicado apoiar-se. É comum ver essas pessoas tendo problemas para se manter no lugar”, relata.

Além dos passageiros, os mo-toristas também reclamam, afi-nal, têm de tomar cuidado redo-brado para não causar acidentes. Moacir de Melo César, motorista da linha há nove anos, conta que

além de prestar atenção no trân-sito, tem de estar atento ao que acontece dentro do ônibus. Além disso, ele conta que é pouco comum que deficientes físicos utilizem o transporte. “Quando alguém com alguma dificuldade de locomoção quer embarcar, a gente tem de descer e ajudá-los a subir”.

Segundo a Urbs (Urbaniza-ção de Curitiba), na época em que a linha foi criada, os micro-ônibus com esse tipo de assento eram a melhor opção por permi-tir o transporte do maior número de passageiros pelo menor custo. Entretanto, para entrar de acordo com as novas regulamentações de segurança das montadoras, veículos desse tipo pararam de ser fabricados, sendo que os últi-mos adquiridos já possuem ban-cos no formato tradicional. De acordo com o órgão, a renovação total da frota deve demorar até o final de 2010.

Apesar do aviso, atividade ainda é comum nos ônibus de Curitiba

PEDINTES IGNORAM PROIBIÇÃO

Vendedores ambulantessão problema em ônibus

Embora seja proibido, não é difícil encontrar vendedores e pedintes nos ônibus de Curitiba. Eles aproveitam a possibilidade de pegar mais de um ônibus com apenas uma passagem para tran-sitar entre diversos veículos e, desta forma, abordar um número maior de pessoas.

Os motoristas e cobradores reclamam que recebem ordens para mandá-los embora dos veí-culos e estações, porém é muito difícil para eles controlar a situ-ação. “É muito raro perceber que eles estão no ônibus. Eles entram nos ho-rários de pico e como o ônibus está cheio não dá para perceber o que ocorre na parte de trás”, diz Ubirajara Cunha da Silva, motorista da linha Pinheirinho/Carlos Gomes.

Outro motorista, que prefere não ser identificado, reclama que apesar de ser muito complicado retirar ambulantes e pedintes, tem medo de ser multado caso algum fiscal da Urbs (Urbani-zação de Curitiba) veja alguém realizando essas atividades no ônibus que dirige. “Além de eles agirem rapidamente, muitos de-les são agressivos. Já aconteceu de eu pedir para um homem sair e ele me ameaçar. E não posso

esperar para chamar a guarda municipal. Como vou retirá-los então?”, questiona.

O cobrador da estação-tubo Eufrásio Correa, Almir José de Lima, faz uma reclamação simi-lar. “Há alguns dias fui multado em 68 reais, dinheiro que é des-contado do meu salário. Tudo por causa de um vendedor de cocada que fica no tubo. Só que

eu não tenho como abando-nar meu posto para tirá-lo de lá”, relata.

O vendedor M. J. afirma conhecer a lei, mas ainda as-sim continua a vender cocadas na estação, das 17h à meia-noi-

te, horário de maior movimento, durante a semana. Conta tam-bém que não sobrevive disso, mas que vende seus produtos ali para ganhar uma renda extra.

Segundo a Urbs, o problema é difícil de ser controlado pelas mesmas razões apontadas pelos motoristas e cobradores. Porém, o órgão diz que caso percebam conivência com os vendedores, os fiscais não multam os traba-lhadores do sistema de transpor-te, apenas notificam as empresas que os contratam para que estas tomem as medidas necessárias.

“Não posso abandonar meu

posto para retirá-los do tubo”

Cássio Barbosa

Além de desconfortáveis, assentos não fornecem segurança para quem depende do Circular Centro

Fotos: Cássio B

arbosa

Cássio Barbosa

MESMO COM TODAS AS MEDIDAS ADOTADAS USUÁRIOS AINDA FREQUENTAM A REGIÃO

São Francisco ainda sofre com o tráficoRondas policiais e monitoramento de câmeras não inibem o consumo e tráfico de drogas em plena luz do dia no centro de Curitiba

segurança 05Curitiba, outubro de 2009

Há mais de 10 anos a rua São Francisco é ponto de consumo e tráfico de drogas e prostituição. Comerciantes afirmam que des-de o ano passado o consumo e movimentação dos entorpecen-tes diminuíram. Porém a rua é dividida em duas. Um trecho tem câmeras de segurança e consequentemente menos usu-ários, o outro não tem câmeras de monitoramento, tem pouco policiamento, facilitando assim o tráfico e consumo de drogas, principalmente o crack. A polí-cia aparece, age algumas vezes com violência, como presenciou o Comunicare, e, assim que vai embora, o consumo continua.

Dona de uma loja de pesca há cinco anos, a comerciante Aurora Leal, tem o seu estabe-lecimento na parte monitorada da São Francisco, e afirma que antigamente era bem mais difícil e pesado o clima na região, pois havia muita prostituição e tráfico de drogas. “Depois da instalação das câmeras diminuiu bastante a violência e o consumo de dro-gas, mas a câmera pega apenas em uma parte da rua, então nessa parte que pega é bem mais dificil encontrar os usuários”, diz Au-

rora. A comerciante conta que os usuários não costumam me-xer com os moradores e comer-ciantes da região, só incomodam quem passa pela rua, mas isso prejudica o comércio. “Mesmo com toda essa melhora vai levar muito mais tempo para a São Francisco perder essa imagem de rua perigosa, ela ainda possui má fama e isso acaba afastan-do os clientes”, afirma Aurora.

Há 35 anos na São Fran-cisco, o joalheiro Dirceu de Santa, diz que a rua realmente melhorou, porém não está mais tão segura como no começo do ano. “A polícia parou de fazer tantas rondas, parece que as câmeras não estão mais dando resultados, os viciados acabam voltando, está começando a fi-car ruim de novo”, diz Dirceu.

Comerciante da parte da rua

sem monitoramento, Eduardo*, afirma que nos sábados, domin-gos, e em dias de semana pela parte da manhã, o número de usuários é mais intensificado. “Antes tinha dias que eu não conseguia abrir a minha loja, pois tinha gente demais dor-mindo na frente. Perdi e perco muitos clientes”, diz Eduardo. “Nem sei porque tem tantos po-liciais, não fazem nada. Ligar

pra polícia e não ligar é a mesma coisa, eles quase nunca vem e quando aparecem é muito tem-po depois”, diz o comerciante.

O trecho da rua sem câmeras, e que é mais frequentado pelos usuários também abriga o Insti-tuto Educação Contemporânea à Distância (Iecad). “Eu nunca vi tantos viciados, é 24 horas por dia, a polícia passa e cinco minutos eles já estão de volta se drogando”, diz o orientador Pau-lo César da Silva. “Só tem placa de que tem câmera, porque não tem. Não é monitorado aqui, só a parte de cima é como se exis-tisse duas São Francisco dife-rentes”, comenta o orientador.

Durante a reportagem a equi-pe do Comunicare fotografou o livre consumo de drogas tanto de dia como à noite. No 23 de setembro a reportagem presen-ciou também uma revista da Po-lícia Militar em um dos usuários da região. Com direito a alguns socos a revista foi curta e cha-mou a atenção de quem passa-vam pela região. A cena ocorreu na parte não monitorada da rua.* Os nomes foram modificados.

Flagrante: usuários se drogam em plena luz do dia

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O NÃO COMPROMETIMENTO DOS ESTABELECIMENTOS GERA DESCONFIANÇA

Clientes reclamam da falta de segurança dos estacionamentosDeixar o carro em estacio-

namentos privados é uma das maneiras de querer se proteger de assaltos, mas várias pessoas são lesadas dentro dos estabe-lecimentos e acabam notando algumas diferenças nos veículos na hora ou somente depois de sair do local. Alguns estaciona-mentos dão o direito do cliente reclamar e exigir reparo se fo-rem roubados ou se danificarem seu carro, porém isso deve ser feito de imediato no local, antes do cliente retirar o automóvel.

É certo que várias pessoas vão até o centro de carro, en-tretanto o maior dificuldade está na hora de estacionar o ve-ículo em algum lugar confiável.

O empresário Lucas Araújo, 47 anos, deixou seu carro em um estacionamento do centro, acreditando ter mais segurança e que correria menos risco do que se deixasse na rua, e quan-do voltou para pegar o veículo descobriu que haviam roubado toda a sua coletânea de CDs. “Reclamei junto ao responsá-vel pelo estacionamento, mas ouvi apenas um sinto muito, e nunca mais consegui recupe-rar os meus CDs”, diz Lucas.

A farmacêutica Amanda Ca-valheiros, 42 anos, era mensalis-ta de um estacionamento do cen-tro, mas após um dia de trabalho encontrou o seu carro em um es-tado bem diferente de como ela

tinha deixado, estava com as ja-nelas abertas, bancos sujos, chei-ro de cigarro e uma faca. “Fui me informar sobre o que havia acontecido com o meu carro e descobri que a pessoa que estava de vigia no dia, foi quem entrou no carro, usou e sujou as minhas coisas. Como o dono do estabele-cimento não tomou atitude algu-ma sobre o acontecido, mudei de estacionamento”, conta Amanda.

A advogada Bruna Cristina, 41 anos, conta que também teve seu carro violado, “um dia deixei meu carro estacionado e intacto, mas quando voltei notei uma ba-tida grande no pára-choque”. A advogada falou com o dono do estacionamento e ficou combi-

Bábylla Miras

Trecho da rua sem câmeras

Vanessa Otoviz

Muitos são menores de idade

nado que ele mandaria o carro para arrumar e pintar o que esta-va danificado, mas não foi o que aconteceu. “Ele mesmo tentou arrumar e falou que levou o car-ro numa empresa especializada”. O resultado não ficou bom e a cliente ligou reclamando na em-presa (martelinho de ouro). “Eles perguntaram o número da placa do meu carro, quando foram con-ferir não constava no cadastro, o meu carro não tinha passado por lá. Voltei no estabelecimento, briguei com o dono e troquei de estacionamento em que eu dei-xava meu carro estacionado”.

Os estacionamentos cobram uma taxa pelas horas que o carro vai permanecer no local, mas a

maioria não apresenta nenhum tipo de contrato, ou alguma for-ma de garantia. Porém, os esta-belecimentos são obrigados por lei a se responsabilizar por qual-quer dano, perda ou furto que possam acontecer com o veículo.

Segundo a assessora Fernan-da Anciutti, até o final do mês de setembro o Procon atendeu cerca de 161 pessoas com dú-vidas e queixas em relação a estacionamentos. Inicialmente a entidade tenta fazer um acor-do entre o cliente e o estabele-cimento, não sendo possível o caso é levado à audiência e a empresa pode ser multada.

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CINEMAS FECHADOS E CAFÉS POUCO MOVIMENTADOS MUDAM A IMAGEM DA AVENIDA LUIZ XAVIER

Espaços públicos perdem essência política Apesar das mudanças culturais, locais de livre expressão e pontos de encontro continuam recebendo aposentados todas as tardes

política06 Curitiba, outubro de 2009

Cinemas extintos, poucos ca-fés, público cada vez menor, mas sempre uma graxa no sapato, fu-tebol na conversa e um bom jor-nal. Embora muita coisa tenha mudado na região, pelo menos os aposentados continuam se encon-trando todas as tardes nas Bocas Maldita e do Brilho. No entanto, já não é como antes. Com o tempo esses espaços perderam suas essências políticas e culturais.

A manifestação da opinião no es-paço público é uma das característi-cas que formaram a imagem da Boca Maldita e do Brilho. A diversidade de classes que se misturam nelas também fez com que a opinião do curitibano se formasse no centro da cidade. O aposentado Milton Santos fre-quenta a Avenida da Boca Maldita há 50 anos e afirma que “às vezes um pessoal vem, instala sua caixa de som e faz a sua política contra ou a favor. Não existe mais conversa sobre política, como antigamente”.

A Boca Maldita era ponto referên-cia de Curitiba e palco de muitos

encontros. Eventos importantes aconte-ciam naquela que é a menor avenida do mundo, a Luiz Xavier. Como afirma o jornalista Luiz Geraldo Mazza, “a Boca Maldita recebia desfiles militares e escolares, comícios e grandes discur-sos como o de Getúlio Vargas”. Pela sua importância política a Boca vi-rou instituição ganhou até presidentes. O atual, Ygor Siqueira afirma esse valor. “Aqui era o único local que

as pessoas podiam se manifestar no período da ditadura. Hoje nós não temos mais essa rejeição. Aqui é um espaço democrático onde você não precisa tirar dinheiro do bolso para falar o que você pensa”, conta Siqueira.

A Boca do Brilho também perdeu sua essência. Segundo o engraxate Aparecido Rodrigues da Silva, que trabalha no local há oito anos, o movi-mento não diminuiu, inclusive é um

ambiente familiar, onde todos se conhecem e conversam . Porém a política já não está mais tão presente nos diálogos. “O que mais as pessoas comentam hoje, aqui, é sobre futebol”, e ainda acres-centa que somente na época de eleições as pessoas falam mais sobre política.

A organização das Bocas continua a mesma. Os pontos de encontro e o espaço para livre expressão continuam os mes-mos. Mas a rotina mudou, devido a trans-

formações na cidade e na sociedade. Mazza ainda comenta que hoje na Boca do Brilho e principalmente na Boca Mal-dita as conversas sobre política são apenas informais. “Curitiba antiga está ali. É um ponto de encontro entre povo e autoridades. Mas como a cidade se expandiu, a Boca perdeu a tradição”, diz o jornalista.

Hoje, os debates são mais informais na Boca Maldita

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SEM ATRATIVOS, UMA DAS VIAS PÚBLICAS MAIS ANTIGAS DA CIDADE ESTÁ COM O MOVIMENTO REDUZIDO

Melhorias continuam sendo exigidas na Rua Saldanha MarinhoCom a saída do comércio tradi-

cional, a extinção de bares e restau-rantes famosos e a desvalorização da estrutura urbana, moradores e comerciantes da Saldanha Marinho veem o movimento de pessoas di-minuir no calçadão e pedem mais investimentos na rua. Mesmo com o que já foi feito pela prefeitura, o que falta no local são melhorias que atraiam novamente o público e valorizem uma das vias públi-cas mais antigas da cidade.

Na parte exclusiva para pedes-tres, o calçadão, os trabalhadores reclamam que as lojas tradicio-nais sumiram e deram espaço a pequenos comércios. Isso fez com que o movimento diminuísse e a rua ficasse desvalorizada. O ca-beleireiro Vicente José Ferreira, trabalha há 30 anos na Saldanha Marinho e afirma que: “Em 1977 essa rua era mais movimentada que a Rua XV. Antes dava gosto

vir aqui, porque havia lojas como a Disapel, a Casa Áurea, a Casa dos Tecidos e loja da Prosdócimo”. Assim como o alfaiate Orestes José Rech, que mantém a sua alfaiataria há 47 anos no mesmo endereço. “O comércio piorou, prin-cipalmente para mim. As lojas de confecção levaram o pouco que restava da minha clientela e os bares e restaurantes que eram bons acabaram saindo daqui”, conta ele.

Quem mora em frente ao calçadão da Saldanha Marinho conta que a rua já teve épocas melhores. O barbeiro Olisses Gomes vive há 20 anos na rua e diz que os moradores já tiveram que tomar providências para tirar os canteiros de flores que estavam atrapalhando os pedestres. “Nós tivemos que fazer abaixo as-sinado e sugerimos a instalação de câmeras de segurança”, afir-

EstômagoO filme de 2007, dirigido por Marcos Jorge, teve algumas cenas rodadas em Curitiba. Nele, o cozinheiro Raimundo Nonato inicia sua trajetória trabalhando em uma lanchonete loca-lizada na Saldanha Marinho. O Bar Palácio também serviu de cenário para as filmagens.

Adriana MaestrelliViviane Prestes

Adriana MaestrelliRuann JovinskiViviane Prestes

Mesmo sem a política, Boca do Brilho ainda tem movimento

ma Gomes. Apesar dos inves-timentos feitos pela prefeitura, as pessoas ainda reclamam do calçamento da rua e das facha-das, dos prédios, não restaura-das. Segundo o adminstrador da Regional Matriz, Omar Akel, há algumas dificuldades em restau-rar a rua. Ainda, afirma que uma série de ações estão sendo feitas para tentar revitalizar o local.

Hoje, os moradores também sentem falta de bares e restaurantes que ficavam abertos até anoitecer. Olisses Gomes afirma que, principal-mente aos sábados, o comércio fecha às 14h. “Antes era maravilhoso, os bares e restaurantes colocavam as mesas na calçada e as pessoas vi-nham de outros lugares para se en-contrar aqui”, complementa.

Frequentadores querem mais investimentos e valorização do local

FURTO DE SACOS PLÁSTICOS TAMBÉM ATRAPALHA A COLETA

População não percebe lixeiras da Rua XVApesar do problema encontrado na rua mais movimentada do Centro, cidadãos consideram a coleta eficiente e a região limpa

meio ambiente 07Curitiba, outubro de 2009

Curitiba é conhecida por possuir um eficiente sistema de coleta de lixos, porém, na Rua XV de Novembro, no Centro da cidade, boa parte da popula-ção não percebe a presença de lixeiras, pois estas se “perdem” em meio aos canteiros de flores. A semelhança com estes cantei-ros, a localização inadequada e o roubo de sacos plásticos pe-los catadores de latinhas, estão entre os principais problemas notados pela população que circula diariamente pela rua mais movimentada da região.

Em praticamente toda Cu-ritiba, as lixeiras são latões cin-zas e estão localizadas no meio das ruas para que assim fiquem visíveis a população. Já na Rua XV de Novembro, as lixeiras são de madeiras, causando confusão em quem não conhece o local ou está com pressa. “A maioria está

acostumada, mas quem é de fora e está apressado, não observa as lixeiras no lado da rua e aca-bam, jogando os restos no chão”, afirmou Valéria Cavalcanti, 24, atendente de telemarketing.

Outro problema verifica-do por quem passa pela XV de Novembro é a localização des-tas lixeiras, que ficam afastadas e próximas aos bancos em que algumas pessoas normalmente estão sentadas e conversando. “Se o sujeito está correndo ele não observa, sem contar que sempre tem pessoas conversan-do perto o que atrapalha”, pon-derou Gerson Silveira de Meira, 35, vigilante, que aproveitou para elogiar os garis e sistema de coleta de lixos. “A coleta de lixo em Curitiba é excelente, os problemas são mínimos”.

Estas lixeiras abertas aca-bam causando também outros

transtornos, como observa a diarista Silmara de Paula, de 40 anos. “Os mendigos pegam os plásticos da lixeira para catar latinha, atrapalhando o funcio-namento da coleta”. Os garis confirmam a reclamação, “Os mendigos além de roubar os sacos, jogam os lixos no chão”, afirmou Ivanildo Souza que trabalha como gari há 5 anos.

Embora boa parte da po-pulação tenha queixas com re-lação a este tipo de lixeira, al-guns gostam delas pela beleza que estas proporcionam. “Acho que poderia continuar assim, é mais bonito, talvez sem tan-ta eficiencia, mas fica bonito”, observa Salete de Fátima Vidal, 48, auxiliar de enfermagem.

Apesar deste problema, uma opinião é unanimidade entre os entrevistados pelo Comunica-re, a Rua XV é limpa e mesmo

com uma lixeira não tão eficien-te, segue sendo um exemplo para o restante do país. “Curi-tiba é um exemplo como cida-de com relação a limpeza. Das ca-pitais que passei, com cer-teza é a mais limpa”, ponderou

Ma-riana Godói, 34, residente no Piauí que veio para Curitiba a trabalho e ficou surpresa com a limpeza no Centro da cidade.

Lixeiras da Rua XV se “perdem” entre os canteiros de flores

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MESMO COM LIXEIRAS PRÓXIMAS, LIXO É JOGADO NO CHÃO

Garis criticam falta de conscientização por parte dapopulação curitibana que frequenta região central

Trabalhando quase 8 horas por dia nas ruas do Centro de Curitiba, os garis, em sua maio-ria chegam a mesma conclusão: falta conscientização pública para parte da população da capi-tal. Lixo jogado ao lado de lixei-ras e depredação destas estão en-tre os maiores danos percebidos por estes profissionais.

O gari Lourival Gualberto de Abreu, 50, trabalha na limpeza das ruas do Centro há 14 anos. Orgulhoso de sua profissão, ele reconhece a importância de seu trabalho no dia-a-dia, porém, critica o curitibano pela falta de consciência, uma vez que este joga lixo em locais ina-dequados. “O curitibano não é muito consciente, ele quase sempre joga fora das lixeiras, joga no chão, mesmo quando tem uma lixeira do lado”, afirma.

Grande parte dos frequen-tadores da Rua XV concordam com a opinião de Lourival. “Falta consciência nas pessoas, sempre observo senhores que fumam com um lixo ao lado e mesmo com garis varrendo perto acabam jogando a bituca no chão”, observa Marizange-

la Pinheiro, 25, vendedora. Ela também aproveita para valori-zar o trabalho destes profissio-nais “Em nenhum lugar você vê tão bons garis como aqui”.

Nos locais em que trabalham eles percebem e confirmam as palavras de Marizangela, afir-mando que os curitibanos re-

As “bitucas”

As “bitucas” de cigarro são as inimigas número um dos garis responsáveis por limpar o Cen-tro de Curitiba. Alguns jogam as “bitucas” no chão e outros jogam elas acessas no lixo, prejudicando o trabalho do gari. Com a aprova-ção da lei anti-fumo a tendên-cia é que mais pessoas fumem em locais abertos. Deste modo, cabe a cada cidadão apagar seu cigarro e jogar no lixo, para que assim todos contribuam para a manutenção da cidade limpa.

Luiz Henrique de Oliveira Rafael Peroni

Luiz Henrique de OliveiraTarek Omar

Garis retiram lixo do chão nas proximidades de lixeiras

conhecem e dão o devido valor a sua profissão. “As pessoas nos cumprimentam e a maioria nos respeita”, afirma Lourival. Seu colega Edilson Queirós, 32, mantém a mesma opinião. “Nos respeitam bastante, quem não nos respeita são aque-les que jogam o lixo no chão”.

Com o convívio diário os profissionais de limpeza formam uma verdadeira família. “Al-moçamos juntos, saímos jun-tos, somos uma família”, afirma Edilson. Opinião semelhante a de seu colega Lourival um dos mais antigos garis de Curitiba, “Realizamos confraternizações, mantemos contato diário, a união prevalece aqui, sou um dos mais antigos no grupo e gosto daqui”.

Page 5: Comunicare Centro

DIFERENCIADAS E ABRANGENTES, AS LOJAS DO CENTRO OFERECEM PRODUTOS QUE, MUITAS VEZES, NÃO SÃO ENCONTRADOS NOS OUTROS BAIRROS DA CIDADE

Diversidade no comércio central atrai consumidores dos outros bairros curitibanos Com lojas de sapatos, roupas, artigos de 1,99 e outras variedades, o principal bairro curitibano recebe um grande número de pessoas todos os dias. Muitos clientes aproveitam a hora de almoço para fazer compras e observar as vitrines e promoções disponíveis

economia08 Curitiba, outubro de 2009

As lojas de todos os tipos e o mercado variado fazem da região central uma alternativa atraente aos olhos e aos bolsos dos con-sumidores que, a cada ano que passa, tem se mostrado mais exi-gentes, procurando sempre me-lhores condições de pagamento e produtos de qualidade. Entre os comerciantes, as opiniões se dividem entre as facilidades do bairro mais freqüentado de Cu-ritiba e a dispersão dos consu-midores, que estão trocando a aglomeração de lojas do Centro pelo comércio regional dos bair-ros da capital, cada vez mais completos.

Na Rua da Cidadania Ma-triz, localizada na Praça Rui Barbosa, as opções de compra são variadas e completas. No local, encontra-se de tudo um

pouco e a concorrência é con-siderada como parceira nas ven-das. Segundo Silma Rodrigues dos Santos, que trabalha há oito anos em um dos muitos boxes do estabelecimento, a parceria entre os lojistas é fundamental. “Quando não possuo o produto solicitado pelo cliente, indico algum colega que tenha. Tudo para não deixar o comprador na mão” - argumenta.

Maria Helena Arruda, ven-dedora de bolsas, já trabalhou em muitas atividades diferentes e veio para Curitiba há muitos anos com sua família. Decidiu trabalhar por aqui e afirma que atualmente se sente mais feliz com sua vida profissional. Maria argumenta que tem planos para seu futuro comercial: “Já vivi muitas dificuldades e acredito

que estou no auge, levando em conta tudo que já passei. Hoje sou uma pessoa feliz, mas que-ro melhorar mais ainda, tenho o sonho de montar uma loja”. Quanto a clientela, a empreen-dedora diz que o público é muito amplo e o movimento de clientes é compensador.

Os clientes são tratados de forma simpática e receptiva na maioria das lojas, afinal, segun-do os próprios lojistas, é com o humor do comerciante que o comprador se sente atraído a consumir ou permanecer na loja. Miguel Gonçalves, de 65 anos, trabalha com o filho na Rua da

Mesmo sem a intenção de comprar, muitos visitam o comércio central para conferir as promoções

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Letícia Paris

FACILIDADES E PREÇOS ACESSÍVEIS AGRADAM OS CLIENTES

Mercadoramas do centro trazem maispraticidade e agilidade nas compras

A rede de supermercados Mercadorama, localizada em Curitiba conta com quatro lo-jas somente na região central. A localização da bandeira Mer-cadorama foi determinada pelos antigos proprietários da rede e mantida pelo Walmart. Mesmo com um excesso de unidades da rede na região, os clientes não reclamam e dizem gostar da praticidade e rapidez das lojas.

Nestas unidades existem pe-culiaridades, como nos caixas, onde somente um deles possui esteira para compras maiores, o restante é de caixas rápidos, pois a maioria dos clientes mora nas redondezas. Este é o caso de I-

vete Manso, moradora do bairro Água Verde. Frequentemente, ela passa pelo mercado e prefere os preços que a loja oferece. “O quilo da laranja que aqui está por Majore Ribeiro

A sorte como mercadoriaEnquanto as lotéricas tem se transformado em lo-cais para pagamentos de contas, agências bancárias e prestação de outros serviços variados, a venda de bilhetes e apostas alcançou um considerável au-mento nos últimos anos.Este tipo de comércio, que antes se baseava princi-palmente no jogo do bicho, hoje conta com o anún-cio de raspadinhas e grandes jogos nacionais, que atrai a atenção até de quem não costuma apostar.

09Curitiba, outubro de 2009

R$ 5,00, na loja perto da minha casa está por R$ 7,00” - afirma.

A localização favorece os clientes que vem de outros bair-ros. E, segundo funcionários a maioria das pessoas não leva mais do que duas sacolas.

Segundo o Walmart, res-ponsável pelo Mercadorama, a abertura de novas lojas requer a análise de diferentes fatores durante a escolha da localidade. Não está descartado o investi-mento da rede em outras bandei-ras na região mas, no momento, não há unidades confirmadas para esta área.

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Liquidações atraem os clientes em meio as inúmeras lojas

PESQUISA DA PECHINCHA

Diversidade entre os preços do modelo mais

caro de cada produto em variados estabelecimen-

tos.

ÓculosÓtica Visomax: R$ 700

Camelô: R$ 10

RelógioRelojoaria Aristides:

R$ 2.500R&S Bijoux: R$ 50

BonéSkype: R$ 129Camelô: R$ 10

BrincoPrata Fina: R$ 215

Lojas de bijouterias:R$ 20

O Centro de Curitiba possui uma economia muito diversificada e reúne di-versos tipos de estabelecimentos, abrangendo todos os segmentos. Nele, os moradores de todas as partes da cidade buscam encontrar os mais variados produtos e serviços, o que incentiva os comerciantes a se estabelecerem no bairro devido a sua grande movimentação. Para os clientes, a diversidade de lojas e a facilidade na busca por promoções, características do comércio central, poupam o tempo de quem deseja encontrar o que procura com op-ções para comparar os preços e a qualidade das inúmeras ofertas disponíveis.

Cidadania, e garante que atende seus clientes com brincadeiras saudáveis e bom humor, o que tem gerado resultados positivos em suas vendas.

Para aumentar as vendas, muitos lojistas investem em pro-paganda, na voz dos anuncia-dores localizados em frente as

lojas, chamando a atenção das pessoas que passam pela rua.

A disputa por clientes acon-tece de forma mais notável nas galerias e shoppings direto da fábrica, onde as lojas ficam mais próximas e os clientes podem visitar vários estabelecimen-tos de forma rápida, fator visto como favorável, segundo alguns comerciantes. “Quando a con-corrência é maior, a qualidade do serviço aumenta” – diz Edu-ardo Nunes Tavares, empresário e vendedor. Segundo ele, há uma divisão de segmento e produtos nas pequenas galerias: “Cada um trabalha com um tipo de produ-to. Não posso vender a mesma mercadoria do box ao lado para que seja organizado e justo para todos”. Tavares ainda afirma que o clima curitibano favorece a existência de galerias, afinal, o ambiente fechado é confortável para as compras em dias de frio ou chuva.

É também no ambiente co-mercial que nascem muitas amizades e histórias curiosas. O trabalho dos vendedores lhes oferece a oportunidade de se

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Movimento reflete em vendas

LOJAS DE USADOS POSSUEM PREÇO COMO DIFERENCIAL PARA ATRAIR CLIENTES

Grande procura por produtos de segunda mão levaa expansão dos sebos, brechós e móveis usados

Os produtos de segunda mão tem atraído cada vez mais consumidores. Antigamente a região central concentrava um maior número de brechós, o que tem mudado de forma consi-derável. Com o passar do tempo, os estabelecimentos migraram para outros bairros da cidade. Segundo Almir Pereira, há quin-ze anos no ramo, o grande dife-rencial deste tipo de mercado é o preço acessível e a moda retrô, que ainda garante estilo e origi-nalidade ao vestir.

Os sebos e as lojas de móveis usados também oferecem diver-sas opções de compra aos que procuram valores atrativos e

Cliente procura raridades em meio aos balcões do sebo

produtos de qualidade. Elioté-rio Burrego, trabalha há muitos anos com livrarias e afirma que os sebos cresceram bastante.

Alguns sebos possuem como

diferencial, a venda de livros raros que são restaurados antes de chegarem as prateleiras. Se-gundo os vendedores, o sistema funciona como uma reciclagem,

onde o que era tido como “lixo cultural” torna-se produto de comercialização e é valorizado como relíquia.

André Luis Melança, pro-prietário de uma loja de móveis usados, garante que os estabe-lecimentos localizados na região central possuem uma imensa vantagem sobre os outros, que se encontram em bairros meno-res. Isso ocorre devido ao fácil acesso que as ruas, onde estão localizadas a maioria das lojas, oferecem aos clientes, como no caso das ruas Riachuelo, Mateus Leme e João Negrão.

Emanuelle Garollo

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relacionar com os mais diver-sos tipos de pessoas, presenciar a correria e o movimento ca-racterístico do bairro e acom-panhar situações inusitadas que acontecem diariamente. A com-erciante Diair Servo de Lima ga-rante que já testemunhou muitas confusões com seu trabalho: “A gente acompanha muitos ‘barra-cos’ mas sempre procuro não me envolver. Fiz muitas amizades trabalhando com vendas e pre-firo não arriscá-las por causa de fofocas”.

Outro destaque do varejo da cidade são as lojas de 1,99. Es-palhadas por todas as regiões, elas já fazem parte do cenário de alguns pontos da cidade, como no movimentado comér-cio ao lado da praça Rui Barbo-sa, onde pode-se encontrar uma infinidade delas.

Segundo grande parte dos curitibanos, os pontos de comér-cio são ótimos locais para pas-sear com a família, conferir as novidades e passar o tempo.

Um sonho de negócios Mari Hassad é árabe e conheceu o Brasil em sua viagem de lua de mel, gostou tanto que resolveu ficar por aqui. Ao ver no território brasileiro a oportunidade de esta-belecer suas metas e construir um futuro empreendedor, decidiu deixar seu País e toda a sua família para buscar a realização de seu sonho: montar uma loja. Casada, trouxe o marido e, há 38 anos, se estabeleceu no comércio curitibano. Trabalhando com o esposo e procurando sempre a expansão de seus negócios, a-tualmente Mari ainda trabalha em seu estabelecimento, a loja Casa Luxo, mas já conta com funcionários que, com o crescimento dos negócios, se tornaram necessários. A lojista sempre volta para sua terra de origem, porém, apenas para rever seus familiares, pois afirma que alca-nçou os objetivos profissionais que possuía e sente-se feliz com os resultados que obteve aqui no Brasil. Para ela, o comércio curitibano tem se expandido com o tem-po, e a concorrência apenas favoreceu sua carreira. Mari se orgulha de seu espírito empreendedor e conclui que, se voltasse há anos atrás e tivesse que esco-lher um futuro profissional, novamente escolheria ser com-erciante.

Page 6: Comunicare Centro

TEMPOS DE GLÓRIA JÁ PASSARAM

Restaurante a R$ 1 piora, gastronomia10 Curitiba, outubro de 2009

O Restaurante Popular de Curitiba, localizado na Praça Rui Barbosa, tem apresentado queda na qualidade do serviço desde a data de sua inauguração, em agosto de 2007. Para os clientes, não apenas o tempero da comida, mas também a quantidade servi-da no prato está pior do que na época do início das atividades.

A maior parte das reclama-ções vem da qualidade do que é servido. Para a funcionária pública Cláudia*, que frequen-ta diariamente o restaurante, quando inaugurado era cheio de engravatados almoçando lá. Ela diz ainda que “a comida é de péssima qualidade e sem gos-to algum”. Lembra que, ao ser inaugurado, “as eleições esta-vam se aproximando e o muni-cípio só investiu no restaurante para poder fazer campanha po-lítica, já que depois da votação, o serviço piorou demais”. Além do que, “as mesas sujas e o mau trato dos funcionários ajudam a piorar a qualidade do ambiente”.

A mesma opinião tem o estu-dante Rafael Schultz, que define o almoço no Restaurante Popu-

Thyago da Silva

Cardápio diferente atrai clientes há meio século

Restaurantes, bares e pratos pouco conhecidos estão ainda sendo descobertos por quem passa no centro de Curitiba. Uma das principais especiarias da re-gião é o testículo de touro do Bar do Stuart, na Praça Osório, que é servido cozido ou à milanesa, sempre acompanhado do tradi-cional pão francês. “Em 1975, fazendeiros trouxeram de Para-navaí esse prato exótico e hoje é a especialidade da casa”, afirmou Dino Chiumento, sócio do bar.

Para os apreciadores de fru-tos do mar, a pedida mais famosa da região é a Sopa do Ligeirinho à moda Leão Veloso. O prato, do Bar Ligeirinho, na Carlos

William SaabAlmoço popular: já serviu refeições melhores

lar de Curitiba como “suficiente para R$ 1”. A aposentada Florin-da Rocha tem como reclamação a quantidade servida. “Eu trago sempre uma banana de casa para ajudar no almoço, porque não é colocado muito”, declara a se-nhora. O mesmo descontenta-mento tem o desempregado Ronaldo Silva, que acha injus-to poder se ser-vir novamente apenas de arroz e feijão. “Não é por ser R$ 1 que precisa ser ruim”, desaba-fa. Outro defei-to apresentado pelo local foi no cardápio, que não corresponde à refeição apresentada no dia certo.

A nutricionista da prefeitu-ra, Mônica Taques, desconhece qualquer tipo de reclamação so-bre o restaurante. De acordo com ela, o próprio município faz pes-quisas para avaliar a opinião dos frequentadores. Ela se orgulha de ter alcançado nessas pesquisas

90% de satisfação dos frequen-tadores. Mônica ainda ressalta: “Temos o serviço de telefone para queixas, o 156. Sempre que nos ligam é para questões pon-tuais, como quando algum fun-cionário derruba arroz ou algum prato está com sal em exagero.

Sempre que nos ligam, nós re-tornamos para a casa da pessoa para verificar se o nosso erro havia sido cor-rigido”. A nutri-cionista é ainda categórica ao dizer que o res-taurante popu-lar não perdeu qualidade. Mes-

mo em gestões anteriores, o nível se manteve o mesmo, garante.

Dia a diaO Restaurante Popular de Curiti-ba faz parte de um programa im-plantado pela prefeitura. A Ação Social do Paraná é responsável pela manutenção do estabeleci-mento, que serve diariamente 2 mil refeições. Cada cliente tem o gasto para o governo da cidade de R$ 3,06. A prefeitura repassa R$ 2,06 e o outro R$ 1 são os clientes que pagam. A maio-ria dos frequentadores, mais de 50%, é de mulheres idosas. O restante é dividido entre traba-lhadores informais e formais, estudantes e moradores de rua. As refeições são porcionadas, com exceção do arroz e do fei-jão. As atividades começam às 7h e se encerram às 16h. A pre-feitura estuda abrir nos próximos anos, pelo menos, mais cinco restaurantes a R$ 1 na cidade.

* Os nomes foram modificados.

SABORES PARA TODOS OS GOSTOS

segundo frequentadoresSeu Dino serve testículo de touro há mais de trinta anos

Eriksson DenkThyago da Silva

de Carvalho, serve uma com-binação de polvo, lula, ostra, mexilhões, siri, filé de garoupa, lagosta e mariscos. Outro pra-to da casa é a isca de avestruz, que segundo clientes, é mais saborosa do que a carne bovina.

Já no francês Il de Fran-ce, na Praça 19 de Dezembro, e no italiano Casa das Massas, na Lamenha Lins, as sugestões são ainda mais alternativas. No primeiro é servido um prato cha-mado Escargots dz Consommé, que é uma porção de caracóis servidos com caldo de carne. No segundo, a especialidade, só feita por encomenda, é a salada Waldorf, composta de abacaxis, maçãs, uvas passas, nozes, sal-são e creme de leite. “A Waldorf é uma ótima fonte de fibras, sais minerais e vitamina C, essen-ciais para o metabolismo”, afir-mou a nutricionista da PUCPR, Cilene da Silva Gomes Ribeiro.

E como sobremesa, diversos doces e salgadinhos quase des-conhecidos. Entre os lugares que são mais visitados estão a Con-feitaria das Famílias, na Rua XV de Novembro, onde as principais ofertas são rosquinhas espanho-las, que custam R$ 40 o quilo, e o petit four, que são bolachas re-cheadas com chocolate e geleias. Os salgadinhos são encontrados no armazém Furuta, na André de Barros. Lá o cliente pode escolher entre batatas e bananas fritas ou salgadinho de milho verde frito.

“O restaurante antigamente era cheio de

engravatados”

StuartO bar sempre foi ponto de encontro entre polí-ticos, advogados, jor-nalistas e intelectuais, por isso é carregado de histórias. Uma de-las diz respeito a duas lideranças políticas do Paraná. Quando Rober-to Requião e Jaime Ler-ner candidataram-se a governador em 1998, os dois não frequenta-vam o mesmo espaço, e sendo clientes do bar do Stuart, eles manda-vam pessoas verificar quem estava no local, para que não houvesse encontro entre eles.

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Inaugurado em agosto de 2007, Restaurante Popular não agrada maiscomo no início. Qualidade e quantidade são as principais reclamações

FACILIDADE E PODER TER OPÇÕES SÃO ALGUNS DOS MOTIVOS DA ESCOLHA PELA REGIÃO

Praticidade atrai moradores para o CentroEstudantes são os principais interessados por moradias na região central de Curitiba devido à comodidade de ter tudo por perto

comportamento 11Curitiba, outubro de 2009

Nos últimos anos, um dos principais pontos positivos que atraem pessoas de diversos per-fis para viver no centro da ci-dade são as inúmeras opções de estabelecimentos comerciais como farmácias, mercados, shoppings, além dos pontos de ônibus e bancos, oferecendo assim facilidade e comodidade.

Maria Hilda Rodrigues Se-vero, 76 anos, é proprietária de um pensionato na Rua Senador Alencar Guimarães, que fica localizado entre as Praças Rui Barbosa e Osório, um dos pon-tos mais procurados por estu-dantes para morar. Dona Hilda, como é conhecida pelas morado-ras, mora há 36 anos no centro de Curitiba e possui o pensio-nato há 34 anos. A aposentada conta que durante todos esses anos sempre recebeu inúmeros estudantes dos mais diferentes lugares do Brasil e que eles sem-pre tem como primeira opção o centro da cidade. “Já aluguei quartos para meninas de todos os estados”, fala Dona Hilda.

Um exemplo disso é a estu-dante Luciana Aline Pereira, 17

anos, que veio de Belo Horizon-te, Minas Gerais, e está morando na capital paranaense desde o

começo do ano para cursar Enge-nharia Ambiental na Universida-de Positivo (UP). Luciana diz ter

optado por morar no centro devi-do à grande praticidade e opções que ele oferece e que acabam ajudando também na adaptação a uma cidade desconhecida. “Como tudo aqui é muito perto, acabo tendo mais facilidade de conhecer a cidade melhor o que facilitou minha adaptação em Curitiba”, diz Luciana. A estu-dante também afirma que se sen-te extremamente segura na região em que vive, “não tenho medo de andar pelo centro, pois nunca fui assaltada. E na rua do pensio-nato sempre tem policiamento, as rondas são bem frequentes”.

Wagner Mauricio de Souza Pereira, 20 anos, estudante de Direito da Pontifícia Universida-de Católica do Paraná(PUCPR), residia com a família no bair-ro Campo Comprido até 2001, quando trocou o lugar em que morava por um dos pontos mais movimentados do centro da ci-dade, a Rua Marechal Floriano Peixoto, em frente à Praça Car-los Gomes. O estudante conta que no início sua adaptação no centro levou algum tempo, de-vido ao barulho dos ônibus da

O pensionato da Dona Hilda é um dos mais procurados do Centro

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CRESCE O NÚMERO DE TRABALHOS VOLUNTÁRIOS NA CAPITAL PARANAENSE

Moradores de rua são beneficiados por ações de voluntariadoAs praças, terminais e mar-

quises, lugares em que a maioria dos moradores de rua se reúnem, são os principais pontos de ati-vidade de trabalho voluntário em Curitiba. O grande número de moradores de rua espalhados pelo centro atrai e faz crescer a quantidade de grupos que se reúnem voluntariamente com a única intenção de ajudar estas pessoas de alguma forma. São eles grupos de “sopão” ou lan-ches organizados principalmente pela Pastoral, da igreja católica e também por diversas igrejas evangélicas.

Um exemplo é o grupo “Se-meadores da Paz” que atua li-derado pelo pastor Valdecir de Paula, e que começou o trabalho de distribuição com 70 lanches e

café. O projeto evoluiu tanto que hoje 50 voluntários fazem e dis-tribuem 200 lanches e 25 litros de café com leite toda sexta-fei-ra, na Praça Tiradentes. “No cen-tro da cidade é o local onde se concentra um número maior de moradores de rua”, diz o pastor.

Pedro Barbosa, 45 anos e mo-rador de rua há dez anos, conta que trabalhos voluntários como esse são os que ajudam a popula-ção de rua. “Muitas vezes a comi-da que esse pessoal distribui é o que salva à noite”, afirma Pedro.

Porém, o trabalho voluntá-

Giovana Luersen ChavesVanessa Otovicz

Giovana Luersen Chaves

rio não é somente a assistência aos moradores de rua. Existe em Curitiba, o Centro de Ação Vo-luntária (CAV), que por meio de palestras e orientações ajudam as pessoas interessadas em exer-cer a função de voluntário, em hospitais, escolas, ONGs e asi-

los. No site da instituição www.acaovoluntaria.org.br é possível fazer um autoencaminhamento, onde o interessado tem a opção de escolher em que área gostaria de atuar.

O lanche por vezes é a única refeição dos moradores de rua Cerca de cem pessoas recebem os lanches todas as sextas-feiras

Mesmo com o barulho, Wagner prefere morar no Centro

Linha Verde e de bares e festas, aonde frequentemente costu-mam acontecer brigas e tumul-tos durante a madrugada. “O barulho era o que sempre me incomodava, mas agora já acos-tumei e nem me importo mais”, fala Wagner. Ele conta ainda que não sente necessidade de sair do centro, pois a facilidade de ter tudo por perto acabada trazen-do certa comodidade à família. “Saímos do centro só para visi-tar alguém em algum bairro, ou ir a parques e shoppings distan-tes”, diz o estudante de Direito.

Felipe Frank, 20 anos, está cursando Direito na Universida-de Federal do Paraná (UFPR), o estudante morava em Con-tenda com a família, e vinha todo dia de ônibus para Curitiba estudar e depois de dois anos decidiu morar na capital. “Es-colhi o centro e gosto de morar aqui, pois facilita muito a minha vida, tem tudo perto, shoppings, mercados e inclusive a univer-sidade que estudo”, diz Felipe.

Page 7: Comunicare Centro

PISTA DE CORRIDA E EQUIPAMENTOS PARA EXERCÍCIOS SÃO ATRATIVOS NOS CENTROS DE ESPORTE E LAZER

Praças oferecem atividades físicas gratuitas Com boas condições de uso, os locais públicos são usados para caminhadas e prática de esportes por moradores e trabalhadores

esportes12 Curitiba, outubro de 2009

As praças centrais da cidade oferecem várias atividades para a população. Desde esportes gratuitos a pistas de caminhada e equipamentos para alongamento ao ar livre. Além dos aparelhos estarem acessíveis e em número adequado, moradores e trabalhadores da região estão sa-tisfeitos com a boa estrutura e com a oferta das atividades nos locais públicos.

Na Praça Oswaldo Cruz, os frequentadores podem se inscrever e utilizar a piscina, a cancha es-portiva, o ginásio de esportes, as aulas de ginástica e boxe. Ainda, o local oferece atividades livres como as pistas de corrida e os aparelhos de alongamento. O treinador de atletismo Armando Romero faz o preparo físico de seus atletas nas pis-tas da praça há 15 anos. “Aqui tem única pista numerada do centro da cidade”, afirma Romero.

Muitas pessoas que trabalham próximas ao centro de Curitiba utilizam parte do horário de almoço para prati-car exercícios físicos nas praças.

O administrador de rede Valdir do Amaral Sades aproveita a aces-sibilidade da Oswaldo Cruz para correr. “Venho aqui de segunda à sexta, porque é perto do serviço. É uma vantagem, é acessível e a manutenção é boa”, conta o admi-nistrador.

Outras praças ainda oferecem aparelhos de alongamento, pis-tas e canchas abertas. Na Praça Osório o movimento de atletas

é pequeno devido a sua estru-tura. Como afirma o gerente do Centro de Referência de Atividade Física da Secretaria Municipal do Es-porte e Lazer de Curitiba, Dalton Grande. “Na Praça Osório havia um centro esportivo, mas foi desati-vado. Ainda tem equipamentos para a população que procura. A praça é muito pequena e não tem como oferecer uma condição de atendimento ao público”, diz

o gerente. Dalton complementa que é mais fácil deixar que a po-pulação utilize esses espaços de forma mais livre do que manter atividades fechadas. “Basta ter uma pista de caminhada e equipamen-tos para que as pessoas possam começar um programa de atividade física”, ressalta.

O lutador de muay thai Flávio Fur-tado vai à Praça Osório fazer exercícios há pelo menos 10 anos. “Os aparelhos são bons e ajudam bastante”, diz Fur-tado.

O número de equipamentos e praças que oferecem atividades físi-cas no centro é suficiente para o acesso da população, segundo o professor de Educação Física da PUCPR, Ciro Romelio Rodriguez, “algumas praças oferecem ativi-dades e outras não têm estrutura para isso”. Ainda, complementa que para a pessoa se sentir atraída tem de haver estrutura boa e acesso a es-ses locais.

Frequentadores saem do trabalho para praticar exercícios físicos

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ACADEMIAS E SOCIEDADES RECREATIVAS OFERECEM AMBIENTES ADEQUADOS PARA CUIDAR DA SAÚDE

Clubes possibilitam a prática de exercícios em lugares fechados A população curitibana conta

com o Circulo Militar e diversas academias para cuidar da saúde na região central. Esses espaços oferecem ambientes adequados para a prática de exercícios físi-cos que são oferecidos aos asso-ciados. Os espaços possuem boa estru-tura, equipamentos novos ou bem conservados, atividades culturais e recreativas a poucos minutos de casa e, como no caso da maioria, do trabalho.

Totalizando 75 anos de existência, o Círculo Militar é o maior centro es-portivo privado da região. Oferece desde natação, judô e esgrima até aulas de violão, danças de salão e do ventre, entre outros. O clube encontra na localização e no estacionamento seus atrativos principais. “Se ganha muito tempo para chegar até aqui, por causa da localização. Eles têm um horário bem amplo e flexível e um es-

tacionamento, o que favorece muito. As opções de atividades são muito variadas e boas”, afirma o aposentado Lima Trigo.

Além disso, a instituição ainda oferece apoio e suporte a atletas e a pessoas com necessidades. Cláudio Teixeira, auxiliar administra-tivo do departamento de esportes conta que a instituição propor-

ciona vários benefícios à popu-lação. “O clube faz um trabalho. Oferece bolsas para pessoas ca-rentes para a prática de esportes, damos vale transportes, alimenta-ção e bolsas escolares”, ressalta.

Já as academias Action Place e Energia, próximas a Praça Ti-radentes, são exemplos de esta-belecimentos de pequeno porte,

OndeNa Praça Oswaldo Cruz está o Centro de Esporte e Lazer Dirceu Graeser, que oferece várias atividades gratuitas por meio de uma inscrição feita na secretaria da praça. O telefone é (41) 3321-2708. As atividades do Centro in-cluem: natação, ginástica lo-calizada, ginástica artística e rítmica, boxe, musculação, iniciação esportiva para crianças e adolescentes, aulas de alongamento e caminhadas orientadas. O horário de funcionamento é de segunda a sexta das 8 às 12h e das 14h às 18h. A praça ainda conta com uma pista de corrida, equi-pamentos para alongamen-to e uma quadra aberta. A Praça Osório funciona das 6h às 22h, todos os dias.O telefone é (41) 3350-9182.

Viviane Prestes

Adriana MaestrelliRuann Jovinski

Estacionamento amplo e piscina são alguns dos benefícios do Circulo Militar

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Academias: armários para locação

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mas que prosperam devido aos serviços que fornecem e a facili-dade de acesso. “A Action Place é ótima pela facilidade de aces-so, por ser central, ter uma boa estrutura, bom atendimento” diz o estudante de 22 anos, Douglas Potha. Estrategicamente estabeleci-dos, esses locais são frequentados, em sua maioria, por pessoas que trabalham ou estudam no centro. “A vantagem de a academia ser nessa região é por que é o lugar onde quase todo mundo trabalha e é prático. Pegamos essa ‘popu-lação flutuante’ do centro. Um atrativo também é que temos armários para locação, chuveiros e lanchonetes”. Conta o educa-dor físico da academia Energia, Marco Antônio do Nascimento.

O que conta mesmo na hora de es-colher onde praticar atividade física é a localização e os serviços ofe-recidos ou benefícios, sejam eles

um estacionamento ou armários para locação. A população fre-quenta mais esses lugares pela acessibilidade. Por isso a estraté-gia das pequenas academias e do Círculo Militar é o lugar onde estão instalados.

BARES E BOATES SÃO ALGUMAS DAS OPÇÕES DA VIDA NOTURNA NO CENTRO

Segunda também é dia de balada Concorrendo com outros locais região central tem o diferencial de permanecer aberta todos os dias

lazer 13Curitiba, outubro de 2009

Mesmo com o surgimento de diversas boates, shopping cen-ters e outras possibilidades de atividade na vida noturna, o Cen-tro de Curitiba segue sendo uma das únicas opções diárias de la-zer, de segunda à segunda. Com boa localização e facilidade de locomoção, as baladas centrais não fecham e têm movimento durante todos os dias da semana.

Clubes dançantes, videokês, bares, seja numa segunda-feira ou em um sábado, existirão lo-cais abertos para ser uma alter-nativa de lazer a quem mora ou visita Curitiba, “Trabalho até as 6 horas da manhã, o Centro não para, seja na segunda ou na sexta o movimento é gran-de”, ponderou Ivanildo Abelar-do Ferreira, 27, dono de uma barraquinha de cachorro quente localizada próxima a Rua XV de Novembro. “Final de semana

sempre lota, mas, mesmo na se-gunda consigo vender lanches”.

Para o frequentador Lucia-no Rodrigues, 34, a região é o melhor lugar para se reunir com os amigos, pois tudo está aberto diariamente. “Todos os dias estamos aqui (em um bar na rua XV de Novembro), nos encontramos há cinco anos para bater papo. Quase sempre tem bastante gente aqui”, conta ele.

Embora seja notável para boa parte da população que a vida noturna na região não é mais agitada como era antiga-mente, quem vem de fora aponta que ainda assim o bairro possui, uma vida noturna bastante agita-da. “Ver um Centro movimenta-do como aqui é algo totalmente novo, no Piauí deu 6 horas o centro para. É outra realidade se comparado a minha cidade na-tal”, ponderou Rogério Souza,

36, natural de Terezina no Piauí. Em contrapartida os donos de

bares notam sim uma queda no movimento. “Temos uma clien-tela fixa, acima de 30 anos, ape-sar da fidelidade, notamos que o público tem se afastado um pou-

co do Centro durante as noites”, afirma Dionísio Beckhauser, 59, sócio do bar Ao Distinto Cava-lheiro.

Independente do dia, casas noturnas sempre estão funcionando

FAMÍLIAS, ADULTOS E JOVENS ENCONTRAM-SE INVOLUNTARIAMENTE

Devido a boa localização e diversidade de opções, a noite na região central tem público fiel e variado

Com opções variadas de la-zer e boa localização o Centro de Curitiba proporciona uma grande diversidade de público. Pessoas de diferentes classes, idades e grupos específicos, en-contram na região central opções de lazer que venham a suprir as suas expectativas, causando um encontro involuntário de di-fe-rentes tipos de grupos e tribos.

Aproveitando de sua loca-lização na região central o vi-deokê Dannys busca trabalhar sua programação de acordo com as classes econômicas que estão presentes no centro. “Na segun-da feira nosso público alvo são as classes C e D, mas nas quintas temos sertanejo aqui, a entrada é mais cara e o público já é outro, a facilidade de estarmos na região central, proporciona a nós esse diferente tipo de agendamento”,

afirmou Darcy, co-responsável pelo local. Ele também lembra que essa diversidade faz com que os problemas sejam dife-rentes de acordo com o dia. “Na segunda é mais barra pesada, sempre dá confusão, já na quinta vem uma galera mais tranquila”.

Para os frequentadores, a va-riedade de opções e localização é o que gera essa diversidade

de públicos no Centro. Perto do videokê localizada na Rua XV, existem vários bares em que os clientes são diversos. “Escolhe-mos nos encontrar no Centro, devido a boa localização, aqui é o local onde todos passam e por isso, marcamos sempre nossos bate papos aqui na XV”, afirmou João Pedroso, 46. Ele finaliza mostrando que passar as noites

Rua XVA rua mais movimen-tada de Curitiba ofer-ece diversas opções no-turnas para os mais variados públicos. Os bares e lanchonetes normalmente atendem até as 23 horas, re-ce-bendo desde famílias até jovens. As baladas atendem até as 6 horas recebendo seu maior público a partir das 22 horas.

Luiz Henrique de OliveiraTarek Omar

Rafael PeroniTarek Omar

no Centro já é uma tradição. “Nos encontramos na XV há cin-co anos, qualquer dia da semana que você passar aqui de noite, irá nos encontrar. Eu sou o mais velho de nosso grupo de três pessoas, e noto que no Centro existe tudo que é tipo de gente”.

O encontro entre jovens, ido-sos e diferentes classes acon-tece normalmente na Rua XV de Novembro, local onde é mais notável a diversidade de pú-blicos. “Aqui no bairro tem de tudo, o que você quiser fazer na noite, você encontra aqui e no fim, você nota essa diversidade ao caminhar pela Rua XV de noite”, pondera Mariluz Barreto, 28, estudante e apaixonada pela vida noturna na região central.

Bares tradicionais da Rua XV são opções para todas as idades

Cruz MachadoBoates de stripers. Es-tas são as opções para a vida noturna na Rua Cruz Machado. Os fre-quentdores do local sãoem sua maioria ho-mens buscando por di-versão em uma região bastante conhecida na cidade. Uma próxima das outras, as boates competem entre si para manter um bom públi-co em seus shows.

Bares Para os boêmios, o Centro oferece vários bares tradicionais com comodidade para uma roda de conversa. Os mais conhecidos são, Stuart, e Autêntico Bar. Estes locais oferecem um ambiente mais leve, ideal para quem busca uma balada mais calma. O público que frequenta os bares é normalmente de uma faixa etária alta.

BaladasJá para os baladeiros de plantão na região central é notado uma ampla variedade de ca-sas de shows dos mais variados estilos music-ais. Desde o rock in roll até o samba. A maio-ria das classes sociais são atendidas já que as casas possuem preços variados.

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Page 8: Comunicare Centro

ENQUANTO O CENTRO ESVAZIA, OS TEMPLOS PERMANECEM CHEIOS

Religiões se misturam no mesmo espaçoRegião central é comparada a mini Jerusalém, pois em pequeno espaço podem ser encontrados templos e fiéis de diversas religiões

religião14 Curitiba, outubro de 2009

Hare Krishnas, espíritas e cristãos. O centro de Curitiba re-úne diversos dogmas religiosos. O espaço é considerado de pas-sagem, onde os fiéis não necessa-riamente são fixos, mas aprovei-tam a localidade central e de fácil acesso para passar em templos religiosos e fazer suas preces.

A diversidade é tão grande, que o coordenador da mesquita islâmica, Jamal Oumairi, com-para o centro com uma mini Je-rusalém, onde tem acesso fácil às grandes doutrinas. Enquanto o centro esvazia, os templos conti-nuam cheios. O teólogo e profes-sor de doutrina religiosa Leonam Braga explica o fenômeno como identificação, ou senso de perten-ça. As pessoas criam grupos de afeto, onde têm uma identidade comum. Mesmo que estes tem-plos também sejam encontrados nos bairros, a maior concentra-ção de membros está no centro.

Esse é o caso do católico Joel Barbosa que utiliza o terminal do Guadalupe, e enquanto es-pera o ônibus passa na igreja. Já a aposentada Rosa Pereira aproveita a facilidade do trans-

porte para o centro. Ela diz: “É mais fácil pegar um ônibus em frente a minha casa e descer na Praça Tiradentes para ir à Cate-

dral, do que andar várias quadras para chegar a minha paróquia”.

A comunidade muçulmana possui apenas uma sede, o local

escolhido é o centro para facili-tar os fiéis. O católico Abdias de Souza é flanelinha em frente à mesquita e comenta que “Em dias

de oração, vem pessoas de todos os locais da cidade, e até de fora”.

Através da participação de grupos religiosos as pessoas dão sentido a suas vidas, encontram respostas e tentam solucionar problemas. Por conta disso a espírita Zecioni Tavares afir-ma ser necessária a diversidade de religiões. Buscando sentido a vida, as pessoas não medem esforços. José Maria de Paula mora em Campo Largo e traba-lha na Catedral. O funcionário vê isso com satisfação, e afirma que “Mesmo em dias de fol-ga, venho até aqui para rezar”.

Os templos do Centro cos-tumam ter horários diferentes. A Igreja Assembléia de Deus, por exemplo, conta com o almoço com Deus. Neste momento o fiel aproveita o seu horário de almoço para estar em contato com a fé e a comunidade. Com-provando a força da religiosi-dade, o ônibus expresso que passa pela Igreja Universal da Sete de Setembro anuncia, “pró-xima parada, Catedral da Fé”.

Fiéis fazem preces em frente a imagem de Nossa Senhora Da Luz

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ESPAÇO PARA MANIFESTAÇÕES DE TODAS AS CRENÇAS

Comércio religioso é bastante eclético porém continua sofrendo preconceito

O comércio de artigos reli-giosos no centro de Curitiba pos-sui espaço para a manifestação de todo tipo de crença. Mas mesmo com essa diversidade, as religiões enfrentam muitos preconceitos.

Silvana Dias Fagundes ge-rente de uma loja de roupas voltada para o público evan-gélico, comenta que quem é de outra religião acha que não pode comprar no estabelecimento. Com relação aos seus clientes, Silvana afirma que eles tam-bém têm grande influência na organização do local: “Quando nós colocamos uma calça na vitrine os clientes já entram na loja para reclamar”, conclui.

Existem ainda casos de re-jeição a determinado comércio por parte de algumas pessoas, que chegam à situação de ofen-der os proprietários. “Já foi pior, mas até hoje algumas pessoas param na frente da loja e nos xingam dos nomes mais absur-dos”, conta Ademar Greca, pro-prietário da loja Ogum Iara. Ele também comenta que teve pro-blemas para conseguir um local para abrir este tipo de loja. Em algumas situações as pessoas se recusam a passar perto das lojas, como afirma Lucia Trevisan uma funcionária da loja Missão Nos-sa, de artigos católicos: “Tem pessoas que atravessam a rua

para não passar na frente da loja”.Embora ocorram casos de

manifestações contrárias a al-gumas religiões, muitas pessoas não se importam em frequentar locais que vendam produtos além da religião que praticam: “Eu venho às quartas-feiras na nove-na do Perpétuo Socorro, e sem-pre passo aqui pra comprar velas, os meninos já me conhecem”, conta Zeni Mendes, cliente há dez anos da loja Casa dos Orixás de artigos para prática do can-domblé. A loja que também dis-ponibiliza produtos católicos re-cebe clientes de várias religiões.

Igreja da Ordem é a mais antiga

Ao lado de bares e sebos, a igreja mais antiga de Curitiba não tem uma fachada tão elegante, mas ainda tem uma grande beleza. Fundada em 1737, foi tombada em 1965 e continua sendo um grande ponto de fé na cidade. Em 1981 passou a abrigar o museu da Arte Sacra de Curitiba. Com um ambiente climatizado e com controle de luz, o local reúne um acervo religioso de grande importância na história da cidade. Tem exposto objetos históricos das principais pontos católi-cos da capital, como a Catedral, Igreja do Rosário e a própria Igreja da Ordem.

O interior da igreja da ordem continua bem conservado

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Bruna Covacci

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ReligiosidadeSegundo o censo demo-gráfico do IBGE do ano de 2000, dos 1.587.315 habitantes em Curitiba, 1.121.260 são católi-cos, outros 300.024 são evangélicos, 42.590 não tem religião e 65.982 são de religiões não citadas acima. Dentre estas se encontram doutrinas bem diver-sificadas como União do Vegetal, espíritas, umbandistas, budistas, islãmicos e hinduístas. No centro da cidade, a maioria também é ca-tólica. De 132.623 habi-tantes, 23.456 são des-ta religião. Contando depois 3.501 evangéli-cos, 3.044 de religiões diversas e 2.478 não tem religião específica.

COMERCIANTES EXIGEM E PREFEITURA ATENDE E REFORMA UMA DAS RUAS MAIS ANTIGAS DE CURITIBA

Vida nova para os casarões da Riachuelo A rua que tem anos de má fama poderá ter um futuro melhor. A reforma será a palavra chave da série de mudanças que sofrerá

cultura 15Curitiba, outubro de 2009

Roubo de monumentos e placas de bronze para venda no mercado negro obrigam a Pre-feitura a buscar materiais alter-nativos para reposição. Fibra de vidro e placas de azulejo têm sido a saída encontrada pelo mu-nicípio, pois são baratos e sem valor comercial.

Não haverá troca dos monu-mentos históricos, e sim a re-posição dos que forem roubados e a utilização do materias dife-rentes em novas obras. “Não ti-ramos os monumentos, só os que já foram roubados porque a troca de todos eles sairam a um custo muito alto. O bronze, agora, só é utilizado em casos muito especi-ais”, diz Eliane Sima, chefe do serviço de documentação e acer-vo do Departamento de Parques e Praças.

Localizado na praça Osório, o busto do Marechal Osório foi inaugurado em novembro do ano passado, sendo o mais recente

monumento instalado pela pre-feitura de Curitiba e já foi depre-dado. Os únicos espaços que não sofrem mais furtos e pichações são os com maior segurança. Si-mas comenta que o número de depredações já foi maior e que caiu graças às câmeras de vig-ilância instaladas próximas aos monumentos históricos. “A pra-ça Tiradentes vivia sendo depre-dada, mas com a instalação das câmeras, não há furtos”.

A substitutição acontece quando há um requerimento de reposição pela Secretaria do Meio Ambiente para o Departa-mento de Praças e Parques, que por sua vez faz o pedido da peça em questão para o escultor Elvo Damo. Segundo o artista uma es-tátua de bronze chega a custar 5 vezes mais do que uma de fibra.

Uma rua que há anos ostenta casarões em ruínas da época co-lonial de Curitiba desperta nova-mente para a beleza, que para a maioria dos curitibanos nunca chegou a existir. Quem passa todos os dias na Rua Riachuelo vê uma longa rua, cheia de fios, lixo, casarões abandonados, mal cuidados e muitas lojas de móveis usados. E é exatamente essa visão que os comerciantes da Rua Riachuelo, juntamente com a prefeitura, querem tirar da cabeça das pessoas que por ali passam. Revitalizar. Essa é a palavra que traduz uma sucessão de melhorias e reformas que a Riachuelo vai sofrer.

A rua possui vários casarões, mas só um é de domínio publi-co. “Os outros casarões da rua Riachuelo são particulares. Os proprietários são obrigados a re-vitalizar. Para isso a prefeitura tem um incentivo para transfe-

Gustavo PrestiniJonathan Seronato

Maria Clara Oliveira

Gustavo PrestiniMaria Clara Oliveira

Por terem valor comercial, placas de bronze são furtadas

Praça TiradentesPaço da Liberdade

Praça Osório

Praça Gibran Kalil Gibran

Uma das fachadas que serão preservadas na rua Riachuelo Fotos por G

ustavo Prestini

rência de potencial construtivo”, diz o coordenador de urbaniza-ção do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curiti-ba (IPPUC), Mauro Magno. A prefeitura diminui impostos para possibilitar o uso do capital do proprietário para a preservação da propriedade tombada.

Marlei Salete Martins re-clama da má fama da rua em que trabalha vendendo móveis usados há 9 anos. Para ela é im-portante a prefeitura fazer essas reformas, pois atrairá clientes e contribuirá para acabar com a má impressão que se tem da Ria-chuelo. E diz, juntamente com outros vendedores, estar dispos-ta a fazer sua parte para a revita-lização e preservação da região.

O único casarão de propie-dade da prefeitura na rua é o an-tigo quartel, esquina da Riachue-lo com a rua Carlos Cavalcanti. Antiga sede da Impressora Para-

naense, fundada pelo Barão do Serro Azul, em 1888, adquirida pelo Exército em 1912, o antigo quartel tem duas possibilidade em seu futuro: saúde ou cultura. A utilização do espaço para uma grande unidade de saúde 24 horas para a região central ou a criação de uma escola de cinema, trans-formando a região numa “linha cultural” juntamente com a Ci-nemateca e Novelas Curitibanas. Além de aulas e estúdios, o local também abrigaria o Cine Luz e o Cine Ritz que passam por pro-blemas de estrutura e autoriza-ção por parte dos bombeiros.

A revitalização faz parte do projeto Novo Centro, continua-ção do programa Marco Zero da prefeitura. Há previsão de custo do projeto final da rua é 3,4 mi-lhões.

FIBRAS DE VIDRO E PLACAS DE AZULEJO SÃO OS NOVOS MATERIAIS USADOS NOS MONUMENTOS

Furtos de bustos e placas obrigam o uso de materiais diferentes

Page 9: Comunicare Centro

Sanitários apresentam problemasEM DETERMINADAS ÁREAS, NEM AS TENTATIVAS DE LAVAGEM DOS LOCAIS AMENIZAM O ODOR

Ruas se transformam embanheiros e incomodamquem transita pela regiãoEm alguns pontos, cheiro forte de urina atrapalha atividade de comerciantes

saúde16 Curitiba, outubro de 2009

Alguns pontos do Centro de Curitiba se transformaram em banheiros a céu aberto. Ruas es-treitas, cantos de prédios e locais escuros são os pontos mais uti-lizados por quem urina na rua. A prática se tornou tão comum que nem mesmo o movimento de pedestres em plena luz do dia intimida os “apertados”.

As regiões mais críticas são aquelas em que há grande mo-vimento de pessoas ou onde há maior degradação, coabitando com o tráfico de drogas, prosti-tuição, sujeira.

Helena Gonçalves, dona de uma banca de revistas no Termi-nal Guadalupe, diz que todos os dias há urina e fezes nas laterais do estabelecimento. “São men-digos que fazem isso. A gente chama a polícia, mas eles sem-pre voltam”, conta. A urina pode corroer o metal e as estruturas dos prédios, trazendo prejuízos para os proprietários. Mas mes-mo quando o problema não che-ga a tanto, o cheiro e a sujeira já são suficientes para tornar o trân-sito nessas ruas insuportável.

Atrás do prédio histórico da Universidade Federal do Para-ná, na Praça Santos Andrade, foi colocado um aviso pedindo para que nãose urine no local. O prefeito da cidade universitária, Ernesto Sperandio, disse que o problema só seria resolvido com vigilância constante. “Já houve um movimento para colocar um banheiro público dentro da uni-versidade, mas isso dificultaria muito o controle da segurança”, explica.

A campeã do xixi, entretanto, é a Rua Padre Julio de Campos, entre a Catedral e um prédio

histórico desocupado. Todos os dias, a Prefeitura realiza ali uma limpeza com sabão e jatos de água, mas mesmo assim o chei-ro permanece intenso na região. “Parece que ‘curte’ a madeira e o cheiro vem mais forte”, conta Márcia Silva, dona de uma lan-chonete em uma academia de gi-nástica na mesma rua. “Até cocô eles fazem, e quando a água da limpeza escorre traz toda essa sujeira para cá”. Para ela, o mau cheiro acaba atrapalhando no movimento da lanchonete. “O cheiro acaba fazendo com que a pessoa não queira vir comer aqui” explica. Além disso, Már-cia conta que os estabelecimen-tos da região passaram a sofrem com a proliferação de moscas, que vieram atraídas pelo odor de urina.

Márcia já encabeçou um abaixo-assinado que teve o apoio de 530 pessoas e foi entregue à Prefeitura em abril deste ano. Ela conta que já foram feitos outros protestos antes deste, todos sem

resultado. “Alguns comerciantes aqui estão tão sem esperança de resolver este problema que nem assinaram”. Porém, o problema não é causado pela falta de ba-nheiros públicos, já que próximo à Rua Padre Julio de Campos existe um localizado nas arcadas do Pelourinho.

A Urbanização de Curitiba (Urbs) administra quatro banhei-ros públicos no Centro, e cobra R$ 0,50 pela utilização. Os usu-ários se mostram satisfeitos com a limpeza dos sanitários, embora haja alguns problemas (ver box ao lado). Curiosamente, não é difícil ver pontos de urina nas proximidades destes banheiros. Há ainda os banheiros públicos gratuitos, como no Passeio Pú-blico, onde, embora exista certo cuidado com a limpeza, faltam assentos nos vasos sanitários e portas nas cabines.

MedidasO secretário de Urbanismo

de Curitiba, Luis Fernando Ja-mur afirmou em entrevista que a Guilherme Gaspar

Nem a passagem de pedestres impede que pessoas urinem na rua

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A Urbanização de Curi-tiba (Urbs) administra qua-tro banheiros públicos no Centro da cidade: nas pra-ças Osório, Rui Barbosa (na Rua da Cidadania), nas Arcadas do Pelourinho (entre as praças Tiraden-tes e Generoso Marques) e no Terminal Guadalupe. Nesses pontos é cobra-do o valor de R$ 0,50 pela utilização. Os usuários en-trevistados se mostraram satisfeitos quanto a higie-ne, mas se queixaram de outros problemas.

Na Praça Osório, segun-do os usuários, homosse-xuais utilizam o banheiro masculino para fazer sexo. Os funcionários são ins-truídos a chamar a Guarda Municipal quando percebe-rem este tipo de movimen-tação, mas alguns deles, que não quiseram se iden-tificar, declararam que nem sempre o fazem, por medo de represálias ou de serem acusados de homofobia. “Esse é o motel mais bara-to da cidade“, afirmam.

O cobrador de ônibus Anderlei Rocha trabalha perto do banheiro da Praça Osório, mas prefere usar o

das lanchonetes das re-dondezas. “Limpo é, o pro-blema é o que se vê lá den-tro”, explica. O pipoqueiro José Silvério também diz evitar este banheiro, prefe-rindo usar o de mercados. “É desagradável usar o ba-nheiro enquanto acontece este tipo de coisa lá den-tro”, conta. Silvério acre-dita ainda que deveriam haver mais pontos espa-lhados pela cidade. “Passa muita gente aqui na praça. Um banheiro só é pouco”.

Já na Praça Rui Barbo-sa, o dinheiro arrecadado com as entradas é guarda-do em copos descartáveis e garrafas vazias. A mesa que deveria existir para guardar as moedas é im-provisada numa cadeira de plástico. Uma funcionária da Urbs, que preferiu não se identificar, disse que nunca trouxe resultado co-municar a situação a seus superiores. A instalação carece de azulejos nas pa-redes.

Nenhum dos banheiros possui fraldário ou toalete familiar, onde os pais pos-sam levar filhos sem cons-trangimento.

Rua Padre Julio de Campos será fechada com grades e sofrerá um reparo paisagístico, com a colo-cação de flores e canteiros. Ele comentou que aquele é o ponto mais crítico de toda a cidade. “Ela é muito problemática por ser estreita e estar entre dois cal-

çadões”, explica. A expectativa é que a Prefeitura realize as obras, que incluem uma nova ilumina-ção na região, até o final de de-zembro, quando o movimento no comércio se intensifica.