67
1 CONCEITOS ATINENTES AO DIREITO AMBIENTAL. Todos os conceitos aqui citados são pequenos trechos do livro: DEON SETTE, MARLI T. Direito ambiental. Co ordenadores: Marcelo Magalhães Peixoto e Sérgio Augusto Zampol Pavani. Coleção Didática jurídica, São Paulo: MP Ed., 2009, 575 p. ISBN 978-85-97898-023-8. (site: www.marli.ladesom.com.br ). Escassez Ambiental: Os bens e serviços ambientais não seriam objetos de tantos questionamentos não fosse uma realidade assente: o fato de que os desejos humanos materiais são ilimitados contrapondo-se ao fato de que os recursos disponíveis para produção e consumo são sempre limitados. De fato, quando pensamos nas necessidades ou desejos humanos, vemos que é da essência de nosso ser a busca incessante por novas realizações. Mal realizamos um objetivo e já estamos montando novos projetos a serem conquistados. Às vezes, os projetos são voltados para necessidades básicas, outras vezes para necessidades supérfluas, mas ainda assim importantes para nosso bem-estar. No entanto, os recursos disponíveis, também conhecidos como fatores de produção terra, capital e trabalho, todos no sentido lato para realização dos tais projetos, não são infindáveis como os nossos desejos. Com efeito, a terra, com todos os seus componentes, a terra, propriamente dita, o ar, as águas, os minérios, a fauna, a flora etc., por mais que exista em quantidade, tem no globo terrestre o seu limite de oferta; o capital, envolvendo tudo aquilo que o homem é capaz de produzir, ou seja, instalações, equipamentos, estradas, máquinas, construções e os outros materiais utilizados no processo produtivo, também é limitado; e, o trabalho, que é a capacidade de realizar que o homem possui, tais como as habilidades físicas e mentais de seres humanos, aplicadas na produção de bens e serviços limita-se àquilo que o conjunto de humanos consegue realizar (NOGUEIRA, 2002). Considerando essa realidade, percebemos, por um raciocínio econômico lógico, que em determinado momento muitos humanos podem querer algo e isso pode não existir em quantidade suficiente para todos. A isso a economia denomina escassez. Constatada a escassez, surge a necessidade de realizar trade-offs 1 e, como não estamos acostumados a abrir mão de nossos desejos sem lutar por eles, surge o conflito envolvendo desejos que não podem ser satisfeitos plenamente por todos os interessados. Nesse momento é que se faz necessária a existência das regras legais, que vêm para dizer de quem é o direito daquele bem que se tornou escasso. Com relação aos bens e serviços ambientais também se aplica o raciocínio supramencionado. Alguns bens ambientais ainda são considerados livres, pois existem em abundância na natureza, mas isso está cada vez mais raro. Hodiernamente, até o ar que respiramos é objeto de transformação em bem econômico, que é aquele passível de atribuição de preço para regularizar o seu uso. Há que se ter em mente que a escassez não é apenas a quantitativa, mas também a qualitativa. Assim, ainda que os bens ambientais existam, a sua qualidade é muito comprometida, a exemplo das principais poluições com 1. Em Economia, trade-off representa uma situação em que há conflito de escolha. Ele se caracteriza em uma ação econômica que visa à resolução de um problema, mas que pode acarretar outro, obrigando a uma escolha.

CONCEITOS ATINENTES AO DIREITO AMBIENTAL. (site: … · Conceito de Direito Ambiental: Direito Ambiental é a ciência jurídica que estuda, analisa e discute os problemas inerentes

  • Upload
    leduong

  • View
    218

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: CONCEITOS ATINENTES AO DIREITO AMBIENTAL. (site: … · Conceito de Direito Ambiental: Direito Ambiental é a ciência jurídica que estuda, analisa e discute os problemas inerentes

1

CONCEITOS ATINENTES AO DIREITO AMBIENTAL.

Todos os conceitos aqui citados são pequenos trechos do livro:

DEON SETTE, MARLI T. Direito ambiental. Co ordenadores: Marcelo Magalhães Peixoto e Sérgio Augusto Zampol Pavani. Coleção Didática jurídica, São Paulo: MP Ed., 2009, 575 p. ISBN 978-85-97898-023-8. (site: www.marli.ladesom.com.br ).

Escassez Ambiental: Os bens e serviços ambientais não seriam objetos de

tantos questionamentos não fosse uma realidade assente: o fato de que os desejos humanos materiais são ilimitados contrapondo-se ao fato de que os recursos disponíveis para produção e consumo são sempre limitados. De fato, quando pensamos nas necessidades ou desejos humanos, vemos que é da essência de nosso ser a busca incessante por novas realizações. Mal realizamos um objetivo e já estamos montando novos projetos a serem conquistados. Às vezes, os projetos são voltados para necessidades básicas, outras vezes para necessidades supérfluas, mas ainda assim importantes para nosso bem-estar. No entanto, os recursos disponíveis, também conhecidos como fatores de produção – terra, capital e trabalho, todos no sentido lato – para realização dos tais projetos, não são infindáveis como os nossos desejos. Com efeito, a terra, com todos os seus componentes, a terra, propriamente dita, o ar, as águas, os minérios, a fauna, a flora etc., por mais que exista em quantidade, tem no globo terrestre o seu limite de oferta; o capital, envolvendo tudo aquilo que o homem é capaz de produzir, ou seja, instalações, equipamentos, estradas, máquinas, construções e os outros materiais utilizados no processo produtivo, também é limitado; e, o trabalho, que é a capacidade de realizar que o homem possui, tais como as habilidades físicas e mentais de seres humanos, aplicadas na produção de bens e serviços limita-se àquilo que o conjunto de humanos consegue realizar (NOGUEIRA, 2002). Considerando essa realidade, percebemos, por um raciocínio econômico lógico, que em determinado momento muitos humanos podem querer algo e isso pode não existir em quantidade suficiente para todos. A isso a economia denomina escassez. Constatada a escassez, surge a necessidade de realizar trade-offs1 e, como não estamos acostumados a abrir mão de nossos desejos

sem lutar por eles, surge o conflito envolvendo desejos que não podem ser satisfeitos plenamente por todos os interessados. Nesse momento é que se faz necessária a existência das regras legais, que vêm para dizer de quem é o direito daquele bem que se tornou escasso. Com relação aos bens e serviços ambientais também se aplica o raciocínio supramencionado. Alguns bens ambientais ainda são considerados livres, pois existem em abundância na natureza, mas isso está cada vez mais raro. Hodiernamente, até o ar que respiramos é objeto de transformação em bem econômico, que é aquele passível de atribuição de preço para regularizar o seu uso. Há que se ter em mente que a escassez não é apenas a quantitativa, mas também a qualitativa. Assim, ainda que os bens ambientais existam, a sua qualidade é muito comprometida, a exemplo das principais poluições com

1. Em Economia, trade-off representa uma situação em que há conflito de escolha. Ele se caracteriza em uma ação econômica que visa à resolução de um problema, mas que pode acarretar outro, obrigando a uma escolha.

Page 2: CONCEITOS ATINENTES AO DIREITO AMBIENTAL. (site: … · Conceito de Direito Ambiental: Direito Ambiental é a ciência jurídica que estuda, analisa e discute os problemas inerentes

2

as quais convivemos, tais como poluição atmosférica, poluição hídrica, poluição do solo, poluição sonora, poluição visual e poluição eletromagnética ou de antena. Nem sempre a preocupação com o meio ambiente foi tão acentuada...... DEON SETTE, MARLI T. Direito ambiental. Coordenadores: Marcelo Magalhães Peixoto e Sérgio Augusto Zampol Pavani. Coleção Didática jurídica, São Paulo: MP Ed., 2009, p. 21-22. ISBN 978-85-97898-023-8. (site:

www.marli.ladesom.com.br ).

Conceito de Meio Ambiente: Meio ambiente é o conjunto de elementos

naturais, artificiais, culturais e do trabalho, suas interações, bem como as condições, princípios, leis e influências, que permitem, abrigam e regem a vida em todas as suas formas. DEON SETTE, MARLI T. Direito ambiental. Coordenadores: Marcelo Magalhães Peixoto e Sérgio Augusto Zampol Pavani. Coleção Didática jurídica, São Paulo: MP Ed., 2009, p. 34. ISBN 978-85-97898-023-8. (site: www.marli.ladesom.com.br ). Bem Ambiental = Bem difuso: ... o bem ambiental é chamado de bem difuso,

que é aquele bem que diz respeito à sociedade em sua totalidade, de forma que os indivíduos não podem dele dispor sem afetar a coletividade. É um bem que não pode ser fracionado, nem pela sua natureza, nem pela lei e muito menos pela vontade das partes. É igualmente indivisível em relação aos titulares, pois não é pertencente nem ao Estado, nem ao particular, mas sim à coletividade, representada pelas presentes e futuras gerações, sendo todos esses detentores de tal bem (assim, não se confundem nem com os bens privados, nem com os públicos). Em suma, bens ambientais são bens difusos, de uso comum do povo, indisponíveis e insuscetíveis de apropriação absoluta. DEON SETTE, MARLI T. Direito ambiental. Coordenadores: Marcelo Magalhães Peixoto e Sérgio Augusto Zampol Pavani. Coleção Didática jurídica, São Paulo: MP Ed., 2009, p. 43-44. ISBN 978-85-97898-023-8. (site: www.marli.ladesom.com.br ). Conceito de Direito Ambiental: Direito Ambiental é a ciência jurídica que

estuda, analisa e discute os problemas inerentes ao uso e a apropriação dos bens e serviços ambientais, bem como, por meio de normas e princípios, propõe medidas e instrumentos com vistas a harmonizar a relação do meio ambiente com o ser humano, de forma a obter as melhores condições de vida no planeta para as presentes e futuras gerações. DEON SETTE, MARLI T. Direito ambiental. Coordenadores: Marcelo Magalhães Peixoto e Sérgio Augusto Zampol Pavani. Coleção Didática jurídica, São Paulo: MP Ed., 2009, p. 50. ISBN 978-85-97898-023-8. (site: www.marli.ladesom.com.br ). Natureza das Normas de Direito Ambiental: As normas de Direito Ambiental

são normas de Direito Público, na medida em que tutelam “bens de uso comum do povo”, tratados como bem jurídico difuso, 2 que afetam direitos supraindividuais ou transindividuais em que devem preponderar os interesses que afetam todo o grupo social. O Direito Público pode ser explicado como um grande ramo de normas que possuem natureza pública, na qual o Estado atua com seu poder. Enquanto as normas de Direito Privado regem as relações entre indivíduos considerados iguais, as normas de Direito Público disciplinam as relações jurídicas em que uma das partes está investida do poder de imperium, estando as demais em

relação de subordinação. Nas relações de Direito Público sobressalta uma relação de subordinação porque a Lei confere ao Poder Público uma certa superioridade jurídica e prerrogativas sobre os particulares, um número de atribuições superiores em relação aos direitos individuais. Assim, as normas de Direito Ambiental, como normas de Direito Público que

2. Referidos bens, definidos como transindividuais, tendo como titulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias que de fato inserem-se na

definição dada pelo artigo 81, parágrafo único, I, da Lei n. 8.078/90.

Page 3: CONCEITOS ATINENTES AO DIREITO AMBIENTAL. (site: … · Conceito de Direito Ambiental: Direito Ambiental é a ciência jurídica que estuda, analisa e discute os problemas inerentes

3

são, apanham as situações em curso, já que os conceitos de “irretroatividade” e de “direito adquirido” não se harmonizam com as questões de interesse público, pois ninguém adquire direitos contra o interesse público, o qual prevalece sempre sobre o interesse privado. DEON SETTE, MARLI T. Direito ambiental. Coordenadores: Marcelo Magalhães Peixoto e Sérgio Augusto Zampol Pavani. Coleção Didática jurídica, São Paulo: MP Ed., 2009, p. 51-52. ISBN 978-85-97898-023-8. (site:

www.marli.ladesom.com.br ). Formas de Defesa Jurídica no plano mbiental: A defesa jurídica de

interesses pode ser feita em três planos: individual, coletivo ou difuso. Um mesmo evento pode levar a considerações diversas, tendo em vista que são vários os interesses lesados. Vejamos: (...) Exemplo geral que evidencia as três formas de tutela: um fornecedor divulga que produz um derivado de leite que baixa o colesterol e o coloca à venda. Usuários o utilizam e não há o efeito prometido. 1. Cada indivíduo pode ingressar com uma demanda postulando pelos prejuízos suportados. Estaríamos diante da defesa de interesses individuais. 2. Vários feitos são interpostos, postulando pelos prejuízos causados. O juiz, ao apreciar os feitos, percebe que pode dar tratamento processual coletivo. Estaríamos diante da defesa de interesses individuais homogêneos. 3. Um dos legitimados para propor Ação Civil Pública a propõe, pedindo tutela para determinar o recolhimento do produto. Estaríamos diante da defesa de interesses difusos. Como visto, na esfera ambiental é possível postular tanto de forma individual quanto coletiva ou difusa. Segundo Nery Jr. (In: FIORILLO, 2008, p. 9), a pedra de toque para classificar um direito como difuso, coletivo ou individual é “o tipo de tutela jurisdicional que se pretende quando se propõe a competente ação judicial”. DEON SETTE, MARLI T. Direito ambiental. Coordenadores: Marcelo Magalhães Peixoto e Sérgio Augusto Zampol Pavani. Coleção Didática jurídica, São Paulo: MP Ed., 2009, p. 53-55. ISBN 978-85-97898-023-8. (site:

www.marli.ladesom.com.br ). Princípios Gerais do Direito Ambiental: Segundo Lorenzetti (1998, p. 312),

pode-se conceituar princípio como “uma regra geral e abstrata que se obtém indutivamente, extraindo o essencial de normas particulares, ou como uma regra geral preexistente”. Os princípios, em regra, são simples, de fácil compreensão e servem como norteadores para entender a essência de fundamentos de determinados ramos do Direito, facilitando tanto a construção do próprio ordenamento jurídico do referido ramo quanto a sua aplicação e utilização. Os princípios do Direito Ambiental são inúmeros, no entanto, aqui serão relacionados aqueles que se fazem presentes na maior parte da doutrina e que denotam em seu foco a proteção e a sustentabilidade do meio ambiente. DEON SETTE, MARLI T. Direito ambiental. Coordenadores: Marcelo Magalhães Peixoto e Sérgio Augusto Zampol Pavani. Coleção Didática jurídica, São Paulo: MP Ed., 2009, p. 55. ISBN 978-85-97898-023-8. (site:

www.marli.ladesom.com.br ). A seguir citamos os princípios mencionados no Livro de Direito Ambiental citado no cabeçalho deste resuma, mas nos limitamos a deixar o conceito de apenas dois princípios, de forma exemplificativa:

Princípio do Direito Humano Fundamental (também conhecido como Princípio do Ambiente Ecologicamente Equilibrado): (...) DEON SETTE, MARLI T. Direito ambiental. Coordenadores: Marcelo Magalhães Peixoto e Sérgio Augusto Zampol Pavani. Coleção Didática jurídica, São Paulo: MP Ed., 2009, p. 56. ISBN 978-85-97898-023-8. (site: www.marli.ladesom.com.br ). Princípio da Ubiqüidade: Para Deon Sette e Nogueira (2007, p. 131)

ubiquidade lembra o termo “onipresente”, pois as questões ambientais devem ser consideradas em todas as atividades, obras, formulações de políticas e leis etc. O sentido do termo ubiquidade é o de existir concomitantemente em

Page 4: CONCEITOS ATINENTES AO DIREITO AMBIENTAL. (site: … · Conceito de Direito Ambiental: Direito Ambiental é a ciência jurídica que estuda, analisa e discute os problemas inerentes

4

todos os lugares, pessoas, coisas; no que tange ao meio ambiente, tem-se o escopo em se considerar as questões ambientais intrínsecas a todas as atividades desenvolvidas na sociedade. DEON SETTE, MARLI T. Direito ambiental. Coordenadores: Marcelo Magalhães Peixoto e Sérgio Augusto Zampol Pavani. Coleção Didática jurídica, São Paulo: MP Ed., 2009, p. 56. ISBN 978-85-97898-023-8. (site:

www.marli.ladesom.com.br ). Princípio da Responsabilidade Social: (...) DEON SETTE, MARLI T. Direito ambiental. Coordenadores: Marcelo Magalhães Peixoto e Sérgio Augusto Zampol Pavani. Coleção Didática jurídica, São Paulo: MP Ed., 2009, p. 56. ISBN 978-85-97898-023-8. (site:

www.marli.ladesom.com.br ). Princípio da Função Socioambiental da Propriedade: (...) DEON SETTE, MARLI T. Direito ambiental. Coordenadores: Marcelo Magalhães Peixoto e Sérgio Augusto Zampol Pavani. Coleção Didática jurídica, São Paulo: MP Ed., 2009, p. 57. ISBN 978-85-97898-023-8. (site:

www.marli.ladesom.com.br ). Princípio do Desenvolvimento Sustentável: (...) DEON SETTE, MARLI T. Direito ambiental. Coordenadores: Marcelo Magalhães Peixoto e Sérgio Augusto Zampol Pavani. Coleção Didática jurídica, São Paulo: MP Ed., 2009, p. 58. ISBN 978-85-97898-023-8. (site:

www.marli.ladesom.com.br ). Princípio do Poluidor Pagador (PPP) e Princípio do Usuário Pagador (PUP): O Princípio do Poluidor Pagador (PPP) e o Princípio do Usuário

Pagador (PUP) são os princípios norteadores da tributação ambiental. Ambos têm na sua essência a aplicação da tributação3 aos bens e serviços ambientais, em cujas definições remanesce a ideia de que os agentes responsáveis pelas externalidades devem internalizar os custos sociais de suas atividades econômicas (BENJAMIN, 1993, p. 229). Princípio do Poluidor Pagador (PPP): (...) Do ponto de vista econômico,4 o PPP significa internalização5 das externalidades. O PPP busca evitar a

ocorrência de danos ambientais, à medida em que atua como estimulante negativo ao poluidor do meio ambiente e o faz agindo com cunho preventivo – quando internaliza as externalidades, como determina o artigo 225, § 3°, da CF/88 – e repressivo – quando determina a responsabilidade civil, independentemente da apuração da culpa, de reparar o dano, preferencialmente devolvendo o statu quo ante e indenizar.6 Trata-se de

suporte fundamental para a estruturação de políticas públicas capazes de eliminar falhas de mercado, assegurando que os preços dos produtos reflitam também os custos ambientais. Ekins (2000, p. 73), em sua obra Economic Growth and Environmental Sustainability, afirma que o PPP também indica a

responsabilidade moral dos poluidores. Princípio do Usuário Pagador (PUP): O PUP trata da cobrança pelo uso dos

recursos naturais.7 Sua legitimidade evidencia-se quando verificamos que o uso de recursos do patrimônio natural tem representado um enriquecimento ilegítimo do usuários, pois a comunidade que não usa do recurso ou que o utiliza em menor escala fica onerada. Contudo, o princípio não justifica a imposição de tributos que tenham por efeito aumentar o preço do recurso a ponto de ultrapassar seu custo real, após levarem-se em conta as externalidades e a raridade.

3. De acordo com Derani (1997, p 160) a antítese do Princípio do Poluidor Pagador encontra-se no princípio do ônus social, pelo qual os custos das medidas de implementação recaem sobre toda a coletividade. É isso que ocorre com a política de subsídios públicos concedidos para favorecer os investimentos

privados no controle da poluição e na proteção ambiental (TURNER; PEARCE; BATEMAN, 1993, p. 145). Corrobora com essa ideia Bellia (1996, p. 201), tendo em vista considerar que o subsídio é o reverso do tributo, pois, com o subsídio, o agente econômico re cebe algum tipo de incentivo para ajudar os

poluidores a suportar os custos de controle da poluição, enquanto que, com o tributo, os agentes econômicos pagam para exerce r suas atividades de produção ou consumo.

4. Pigou formulou esse princípio partindo do fato de que a gratuidade do meio ambiente é, fundamentalmente, responsável pela degradação ambiental, e, através da aplicação do PPP, pode-se internalizar as externalidades, ou seja, passa-se a incorporar o meio ambiente na esfera do mercado (BENAKOUCHE,

1994, p. 164). 5. Internalizar significa levar para dentro do sistema de produção os custos sociais da produção.

6. No momento em que a empresa internaliza as externalidades, o instrumento estará agindo de forma preventiva – ex.: obrigação de recolher baterias de celular e pneus. Entretanto, quando o agente econômico age fora do determinado pela lei, ou seja, degrada fora dos padrões ex igidos, e é responsabilizado

diante do Princípio do Poluidor Pagador. Isso se coaduna com a essência do texto da Lei n. 6.938/81, art. 14, § 1º, que atribui responsabilidade objetiva ao poluidor, em relação à obrigação de reparar o dano e/ou indenizar.

7. A cobrança pelo uso da água, instituída no art.1º, I e II, da Lei n. 9.433/1997, é um exemplo da aplicação desse princípio.

Page 5: CONCEITOS ATINENTES AO DIREITO AMBIENTAL. (site: … · Conceito de Direito Ambiental: Direito Ambiental é a ciência jurídica que estuda, analisa e discute os problemas inerentes

5

Um dos problemas concretos na aplicação do Princípio do Poluidor Pagador e do Princípio do Usuário Pagador é a definição da espécie tributária a ser assumida pelo instrumento econômico proposto. Essa questão é usualmente omitida no debate acadêmico, particularmente entre os economistas, mas isso é de fundamental importância para assegurar a validade jurídica do instrumento a ser proposto (YUNG; YUNG, 1999). DEON SETTE, MARLI T. Direito ambiental. Coordenadores: Marcelo Magalhães Peixoto e Sérgio Augusto Zampol Pavani. Coleção Didática jurídica, São Paulo: MP Ed., 2009, p. 59-61. ISBN 978-85-97898-023-8. (site:

www.marli.ladesom.com.br ). Princípio da Prevenção: (...) DEON SETTE, MARLI T. Direito ambiental. Coordenadores: Marcelo Magalhães Peixoto e Sérgio Augusto Zampol Pavani. Coleção Didática jurídica, São Paulo: MP Ed., 2009, p. 61. ISBN 978-85-97898-023-8. (site:

www.marli.ladesom.com.br ). Princípio da Precaução: (...) DEON SETTE, MARLI T. Direito ambiental. Coordenadores: Marcelo Magalhães Peixoto e Sérgio Augusto Zampol Pavani. Coleção Didática jurídica, São Paulo: MP Ed., 2009, p. 62. ISBN 978-85-97898-023-8. (site:

www.marli.ladesom.com.br ). Princípio da Participação: (...) a) Princípio da Informação Ambiental; e b) Princípio da Educação Ambiental: (...) DEON SETTE, MARLI T. Direito ambiental. Coordenadores: Marcelo Magalhães Peixoto e Sérgio Augusto Zampol Pavani. Coleção Didática jurídica, São Paulo: MP Ed., 2009, p. 63-64. ISBN 978-85-97898-023-8. (site:

www.marli.ladesom.com.br ). Princípio Democrático: (...) a) Na esfera legislativa; b) Na esfera administrativa; e c) Na esfera processual: (...) DEON SETTE, MARLI T. Direito ambiental. Coordenadores: Marcelo Magalhães Peixoto e Sérgio Augusto Zampol Pavani. Coleção Didática jurídica, São Paulo: MP Ed., 2009, p. 64-65. ISBN 978-85-97898-023-8. (site:

www.marli.ladesom.com.br ). Princípio do Equilíbrio: (...) DEON SETTE, MARLI T. Direito ambiental. Coordenadores: Marcelo Magalhães Peixoto e Sérgio Augusto Zampol Pavani. Coleção Didática jurídica, São Paulo: MP Ed., 2009, p. 65. ISBN 978-85-97898-023-8. (site:

www.marli.ladesom.com.br ). Princípio do Limite: (...) DEON SETTE, MARLI T. Direito ambiental. Coordenadores: Marcelo Magalhães Peixoto e Sérgio Augusto Zampol Pavani. Coleção Didática jurídica, São Paulo: MP Ed., 2009, p. 65. ISBN 978-85-97898-023-8. (site:

www.marli.ladesom.com.br ). Do Capítulo Constitucional Dedicado ao Meio Ambiente: (...) No caput do

artigo 225 destacam-se princípios, garantias, destinatários, características dos bens ambientais, bem como atribuição de responsabilidades pela defesa e preservação dos referidos bens. Pela importância do dispositivo, citamos, in verbis:

Artigo 225, caput da CF/88: “Todos têm direito ao

meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”.

Extrai-se, da essência do dispositivo citado, a vontade do constituinte de que todos, sem exceção, pudessem ser considerados destinatários da garantia, tendo em vista que ao utilizar o pronome indefinido “todos” alarga a abrangência da norma jurídica, pois, não particularizando quem tem direito ao meio ambiente, evita que se exclua quem quer que seja (MACHADO, 2008, p. 123). Assim, todos têm direito subjetivo ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, não identificado por um bem em particular, mas pela totalidade

Page 6: CONCEITOS ATINENTES AO DIREITO AMBIENTAL. (site: … · Conceito de Direito Ambiental: Direito Ambiental é a ciência jurídica que estuda, analisa e discute os problemas inerentes

6

dos bens, assim compreendidos e estudados no capítulo 2.8 Direito esse exercitável erga omnes, mormente por meio da ação popular ambiental. 9

Decorre da referida garantia que todos têm direito a um ambiente sadio, equilibrado, adequado ao desenvolvimento da vida, o que o torna um direito fundamental a ser protegido principalmente pelo Poder Público, sem, no entanto, isentar a coletividade da referida obrigação. Significa dizer que o Poder Público, ao desenvolver políticas públicas que afetem os bens ambientais, deve atentar-se para o respeito à garantia disposta no artigo 225, da CF/88, sob pena de estar ferindo princípios fundamentais como o da dignidade da pessoa humana,10 o do direito humano fundamental, bem como o do próprio exercício da cidadania, sem esquecer dos princípios da equidade e da isonomia, já que qualquer política equivocada poderia dar, indevidamente, mais do que aquilo que cabe a uns e menos a outros. Ademais, vale frisar que a garantia ao meio ambiente ecologicamente equilibrado é dada não só às presentes, mas também às futuras gerações. Dessa forma, a geração atual deve privar pela responsabilidade ambiental para garantir a solidariedade com as futuras gerações, em harmonia com o Princípio do Desenvolvimento Sustentável, ao que Sirvinskas (2008, p. 72) chama de responsabilidade intergeracional. DEON SETTE, MARLI T. Direito ambiental. Coordenadores: Marcelo Magalhães Peixoto e Sérgio Augusto Zampol Pavani. Coleção Didática jurídica, São Paulo: MP Ed., 2009, p. 68-69. ISBN 978-85-97898-023-8. (site:

www.marli.ladesom.com.br ). Função social da propriedade:

O meio ambiente deve ser presença constante em tudo o que fazemos, conforme reza o Princípio da Ubiquidade. Uma maneira bastante interessante de se enraizar esse conceito no dia a dia da sociedade é a exigência constitucional inserida ao lado da garantia dada a cada cidadão de exercer o direito de propriedade, consoante dispõe o artigo 5º, XXII,11 da CF/88. A exigência a que me refiro é aquela contida no inciso XXIII, do mesmo artigo que disciplina que “a propriedade atenderá a sua função social”. Nesse sentido, insere-se como obrigatoriedade no exercício dos direitos de propriedade a observância do cumprimento da função social, quer se trate de área urbana, quer se trate de área rural, sendo que um dos requisitos necessários para atender à referida exigência é a utilização adequada dos recursos naturais e, consequentemente, a preservação do meio ambiente. Com efeito, o artigo 18212 da CF/88, que trata da política urbana, relaciona como um dos objetivos o desenvolvimento das funções sociais da propriedade consoante as exigências contidas no plano diretor13 de cada município, onde se relacionam as medidas para se preservar, proteger e recuperar o meio ambiente contido na área urbana, de tal forma a proporcionar vida digna a todos os cidadãos, mormente proporcionando a inclusão da periferia nos grandes e belos aglomerados.

8. Vale mencionar que, embora a conotação do caput do artigo 225 seja de visão antropocêntrica, os parágrafos e incisos em seguida estudados inserem a

visão ecocêntrica, o que harmoniza com o conceito do antropocentrismo alargado, já analisado no capítulo 2. 9. Referida ação será analisada no capítulo 5.

10. O princípio da dignidade da pessoa humana é muito enfocado quando se estuda o espaço urbano adequado para a vida dos cidadãos, a exemplo de (DEON SETTE, Marli T.; NOGUEIRA, 2007, p. 138).

11. Art. 5º (...), XXII – “é garantido o direito de propriedade”. 12. Art. 182. “A política de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder Público municipal, conforme diretrizes gerais fixadas em lei, tem por objetivo

ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus habitantes”. E, no § 2º - “A propriedade urbana cumpre sua função social quando atende às exigências fundamentais de ordenação da cidade expressas no plano diretor”.

13. O plano diretor é objeto de estudo do capítulo 10 deste livro, oportunidade em que analisamos o Estatuto da Cidade – Lei n. 10.257/2001. Reza a CF/88, em seu art. 182, § 1º: “O plano diretor, aprovado pela Câmara Municipal, obrigatório para cidades com mais de vinte mil habit antes, é o instrumento básico da

política de desenvolvimento e de expansão urbana”.

Page 7: CONCEITOS ATINENTES AO DIREITO AMBIENTAL. (site: … · Conceito de Direito Ambiental: Direito Ambiental é a ciência jurídica que estuda, analisa e discute os problemas inerentes

7

Por seu turno, o artigo 18614 da CF/88, que trata da política agrícola e fundiária, afirma que a função social é cumprida quando a propriedade rural atende, simultaneamente, segundo critérios e graus de exigência estabelecidos em lei, algumas condições, arrolando, entre outras, o aproveitamento racional e adequado do solo, a utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e a preservação do meio ambiente (incisos I e II, do artigo 186, da CF/88). Tanto nas áreas urbanas quanto nas áreas rurais, os comandos constitucionais dão ferramentas para que o Poder Público interfira na propriedade privada quando essa não atender à função social. Algumas ferramentas são relacionadas diretamente nos comandos constitucionais, a exemplo dos incisos I, II e III, do § 4º, do artigo 182,15 da CF/88, outras ferramentas a constituição autoriza leis infraconstitucionais a regulamentarem, como aquelas relacionadas na Lei n. 10.257/2001. DEON SETTE, MARLI T. Direito ambiental. Coordenadores: Marcelo Magalhães Peixoto e Sérgio Augusto Zampol Pavani. Coleção Didática jurídica, São Paulo: MP Ed., 2009, p. 93. ISBN 978-85-97898-023-8. (si te: www.marli.ladesom.com.br ).

Direito adquirido em relação às disposições ambientais. Noções preliminares referentes ao direito adquirido.

O direito adquirido, a coisa julgada e o ato jurídico perfeito são garantias previstas no capítulo I, do Título II, da Tutela Constitucional, que versa sobre os direitos e garantias individuais, de modo que há limitação material explícita impediente à existência de reforma constitucional que viole tais direitos subjetivos, senão vejamos o artigo 5º, XXXVI, da CF/88: “a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada” O direito adquirido nada mais é do que uma espécie de direito subjetivo definitivamente incorporado ao patrimônio jurídico do titular, mas ainda não necessariamente consumado, sendo, pois, exigível na via jurisdicional se não cumprido pelo obrigado voluntariamente. O titular do direito adquirido está protegido de futuras mudanças legislativas que regulem o ato pelo qual fez surgir seu direito, precisamente porque tal direito já se encontra incorporado ao patrimônio jurídico do titular – plano/mundo do dever-ser ou das normas jurídicas –, só não fora exercitado, gozado – plano/mundo do ser, ontológico. A regra é de que o titular do direito adquirido extrairá os efeitos jurídicos elencados pela norma que lhe conferiu o direito, mesmo que surja nova lei contrária à primeira, bem como continuará a gozar dos efeitos jurídicos da norma, mesmo depois da sua revogação. Direito adquirido em matéria ambiental.

Como vimos no item 3.6, do capítulo 3 deste livro, as normas de Direito Ambiental são normas de Direito Público, pois tutelam interesses transindividuais em que os interesses difusos devem prevalecer sobre os interesses individuais. Ressalte-se que no caso das normas que tutelam o meio ambiente, as normas devem prevalecer até mesmo sobre o próprio interesse do Poder Público. Como normas de Direito Público que são, apanham as situações em curso, já que os conceitos de “irretroatividade” e de “direito adquirido”, como sustenta

14. Art. 186. “A função social é cumprida quando a propriedade rural atende, simultaneamente, segundo critérios e graus de exig ência estabelecidos em lei, aos seguintes requisitos: I - aproveitamento racional e adequado; II - utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente”.

15. Art. 182, § 4º - “É facultado ao Poder Público municipal, mediante lei específica para área incluída no plano diretor, exigir, nos termos d a lei federal, do proprietário do solo urbano não edificado, subutilizado ou não util izado, que promova seu adequado aproveitamento, sob pena, sucessivamente, de: I -

parcelamento ou edificação compulsórios; II - imposto sobre a propriedade predial e terri torial urbana progressivo no tempo; III - desapropriação com pagamento mediante títulos da dívida pública de emissão previamente aprovada pelo Senado Federal, com prazo de resgate de até dez anos, em parcelas

anuais, iguais e sucessivas, assegurados o valor real da indenização e os juros legais”.

Page 8: CONCEITOS ATINENTES AO DIREITO AMBIENTAL. (site: … · Conceito de Direito Ambiental: Direito Ambiental é a ciência jurídica que estuda, analisa e discute os problemas inerentes

8

Arnaldo Rizzardo,16 não se harmonizam com as questões de interesse público, pois em regra, não se adquire direitos contra o interesse público, o qual prevalece sobre o interesse privado. Na verdade, não se trata propriamente de retroatividade. É que as normas de Direito Público, como pondera Pontes de Miranda (2003, p. 93-94), “não precisam retroagir, nem ofender direitos adquiridos, para que incidam desde logo. O efeito, que lhe reconhece, é normal, o efeito do presente, o efeito imediato, pronto, inconfundível com o efeito no passado, o efeito retroativo, que é anormal". (...) Em suma, temos o seguinte: Na esfera ambiental, quando forem postas no mundo jurídico inovações legais para proteção ou preservação ambiental, aplica-se a lei nova desde a data de sua vigência, quer seja para oferecer mais direitos ao interesse individual, quer seja para impor mais limitações ao exercício de direitos individuais, mormente ao exercício do direito de propriedade e desenvolvimento econômico. Significa dizer que, entre o direito adquirido e o meio ambiente, o último tem prevalência. DEON SETTE, MARLI T. Direito ambiental. Coordenadores: Marcelo Magalhães Peixoto e Sérgio Augusto Zampol Pavani. Coleção Didática jurídica, São Paulo: MP Ed., 2009, p. 98-100. ISBN 978-85-97898-023-8. (si te: www.marli.ladesom.com.br ).

Ato jurídico perfeito em matéria ambiental

Ato jurídico, garantia constitucional arrolada no artigo 5º, XXXVI, (...) é todo ato lícito que tenha por fim imediato adquirir, resguardar, transferir, modificar ou extinguir direito, sendo sua validade condicionada ao fato de ser praticado por agente capaz, objeto lícito e forma prescrita ou não defesa em lei (inteligência do artigo 185 c/c os dispositivos citados no título I, do livro III, todos do Código Civil Brasileiro). Assim, a rigor, verificados todos os requisitos indispensáveis, o ato torna-se perfeito e apto a produzir seus efeitos, sendo que a lei nova deve respeitar o ato jurídico perfeito, que significa o ato já consumado segundo a lei vigente ao tempo em que se efetuou (§ 2º, do artigo 6º, da Lei de Introdução ao Código Civil). A princípio, pode parecer que referido ato seja intocável. No entanto, devemos lembrar que a invocação do próprio direito adquirido pode ter limitações quando se trata da superveniência de normas de Direito Ambiental, pelos fundamentos que evocamos no item anterior. Considerando que nem sempre o ato jurídico perfeito gera direito adquirido, como ocorre, por exemplo, com o testamento feito de forma lícita pelo testador, preenchidos todos os requisitos, mas que ainda não gera direito adquirido ao testamentário, pois incide sobre o ato uma cláusula suspensiva que faz com que o ato só se aperfeiçoe com a morte do testador, com mais razão, temos que essa garantia, imutabilidade do ato jurídico perfeito, não se aplica às legislações ambientais. Aliás, no entendimento da doutrina palpitante do Direito Ambiental, a exemplo de Milaré (2000), ainda que o ato jurídico seja perfeito, quando se trata de matéria ambiental não existe ato jurídico perfeito completamente exaurido em relação aos bens ambientais. Como as leis só não podem retroagir para atingir os atos jurídicos perfeitos completamente exauridos, no caso de leis que tutelam os bens ambientais, elas poderiam incidir desde a sua vigência para atingir ato anterior (Milaré, 2000). Essa conclusão nos parece a mais óbvia, pois, ainda que saibamos que o 16. Citado no julgado da Apelação Cível n. 70006370035, 22ª Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator(a): Mara Larsen Chechi. Julgado em 26 de

janeiro de 2006.

Page 9: CONCEITOS ATINENTES AO DIREITO AMBIENTAL. (site: … · Conceito de Direito Ambiental: Direito Ambiental é a ciência jurídica que estuda, analisa e discute os problemas inerentes

9

termo consumado deva ser analisado sob o enfoque formal, verificando se estão presentes os elementos necessários à sua existência17 (requisitos objetivos e subjetivos do ato), não podemos olvidar que a garantia constitucional de que “todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado” é dada tanto para as presentes quanto para as futuras gerações. Assim, entendemos que não se pode invocar a coisa consumada apenas no seu contexto formal, mas, sim, conjugando o sentido formal e de exaurimento. E, nesse sentido, jamais se consegue exaurir um ato que é garantido tanto às presentes quanto às futuras gerações. Conclusão diversa seria o mesmo que dizer que o ato jurídico perfeito praticado em relação ao meio ambiente seria imutável. E aí vem a questão nefrálgica: como fazer imutável um ato que recai sobre bens que transcendem a gerações? Por óbvio, a resposta deve ser que não se aplica a imutabilidade a referido ato. Para melhor assimilação, vamos dar um exemplo de ato completamente exaurido, na esfera administrativa e outro de ato jurídico perfeito não completamente exaurido, na esfera ambiental. Com efeito, na esfera administrativa concretiza-se um ato jurídico perfeito, completamente exaurido e incorporado ao patrimônio do sujeito o caso do ato de “posse” de um candidato aprovado em um concurso público, se isso decorreu de um procedimento em que foram observadas fielmente todas as determinações constitucionais, legais e editalícias, durante todas as fases do referido ato. Nesse caso, a garantia constitucional se aplica in totum.

Situação diversa, em que se verifica a ocorrência do ato jurídico perfeito, mas em que isso não se incorpora ao patrimônio do sujeito “individualmente”, seria o caso, por exemplo, (....). O mesmo raciocínio se aplica quando analisamos situações de criação de unidades de conservação, em que limites ao exercício do direito de propriedade e uso dos recursos ambientais são impostos ao proprietário da área, ainda que, anteriormente à criação da unidade de conservação, tais limites não existissem. Destaque-se que a existência ou não do direito de pleitear indenização, que pode ou não existir, não faz diferença para o raciocínio ora formulado em relação ao ato jurídico perfeito. O que realmente importa é que a continuidade da vida no planeta exige que sejamos solidários entre gerações, a fim de que não se negue às futuras gerações o direito de produzir e consumir, de modo a satisfazerem as suas necessidades (MACHADO, 2008, p. 130-131). DEON SETTE, MARLI T. Direito ambiental. Coordenadores: Marcelo Magalhães Peixoto e Sérgio Augusto Zampol Pavani. Coleção Didática jurídica, São Paulo: MP Ed., 2009, p. 100-102. ISBN 978-85-97898-023-8. (site: www.marli.ladesom.com.br ).

COMPETÊNCIA MATERIAL E LEGISLATIVA Conceitos relativos à competência em relação aos estados da Federação.

Competência é a faculdade juridicamente atribuída a uma entidade. É a esfera delimitada de atribuições de uma entidade federativa (SILVA, 2000, p. 479). Assim, aquele a quem foi outorgada a faculdade possui capacidade e legitimidade para gerir determinado assunto, quer seja legislando, fiscalizando, materializando atos, exercendo poder de polícia etc. O Brasil, como Estado Federativo que é, implementou a repartição de competência entre as entidades componentes do Estado Federal, adotando 17. Nesse sentido, ver: ZAVASCKI, Teori A. Planos econômicos, direito adquirido e FGTS. Revista de Informação Legislativa do Senado Federal, n. 134,

abril/junho de 1997, (RILSF 134/251). Disponível em <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=94> . Acessado em 17 de fevereiro de 2009.

Page 10: CONCEITOS ATINENTES AO DIREITO AMBIENTAL. (site: … · Conceito de Direito Ambiental: Direito Ambiental é a ciência jurídica que estuda, analisa e discute os problemas inerentes

10

como base a teoria da predominância de interesses. Dessa forma, coube à União aquelas matérias de predominante interesse geral; aos Estados membros, as matérias de assuntos de interesses regionais; e, aos municípios, os assuntos de interesses locais.18 A Constituição Brasileira enumerou as atribuições da União, em seus artigos 21 e 22, e dos municípios, em seu artigo 30, III. Em relação aos estados, reservou-lhes as competências remanescentes, consoante § 1º, do artigo 25. Ao Distrito Federal, por expressa disposição constitucional (artigo 32, § 1º, da CF/88), há, em regra, a acumulação das competências estaduais e municipais. Antes de analisarmos como são distribuídas as competências na esfera ambiental, vamos relembrar os conceitos básicos quanto às espécies de competência. As competências podem ser materiais (também chamadas de administrativas ou executivas) e legislativas. Competência material é a competência para praticar atos materiais, atos de gestão. Já competência legislativa é a faculdade dada a cada ente federado para legislar, elaborar leis inerentes aos assuntos sobre os quais lhe foi dada a competência. (...) Em síntese, as competências materiais e legislativas estão relacionadas da seguinte forma na CF/88: a) Competência material: exclusiva da União (artigo 21), exclusiva dos estados (artigo 25, § 1º e § 2º), e exclusiva dos municípios (artigo 30, III a VIII); comum da União, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios (artigo 23); e Competência legislativa: privativa ou exclusiva, da União (artigo 22), dos estados (artigo 25, § 1º), e dos municípios (artigo 30, I); Concorrente entre União, estados e Distrito Federal (artigo 24), e Suplementar: dos estados (artigo 24, § 2º), e, dos municípios (artigo 30, II). DEON SETTE, MARLI T. Direito ambiental. Coordenadores: Marcelo Magalhães Peixoto e Sérgio Augusto Zampol Pavani. Coleção Didática jurídica, São Paulo: MP Ed., 2009, p. 103-106. ISBN 978-85-97898-023-8. (site: www.marli.ladesom.com.br ).

Competência na esfera ambiental

(...) Competência legislativa

A regra em relação à competência legislativa, no que diz respeito às matérias ambientais, é a competência concorrente, conforme dispõe o artigo 24, 19 da CF/88, que determina que compete à União, aos estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre as matérias que arrolam em seus vinte e quatro incisos, mencionando, entre outros, alguns incisos que tratam da tutela ambiental, especificando a proteção ao meio ambiente; floresta; caça; pesca; conservação da natureza; defesa do solo e dos recursos naturais; controle da poluição; proteção ao patrimônio histórico, cultural, artístico, turístico e paisagístico; e responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao consumidor, a bens, e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico (incisos VI, VII e VIII, do artigo 24, da CF/88).20 (...) Disso decorre que, a rigor, os estados-membros, o Distrito Federal e até mes mo os municípios estão aptos a legislar tanto sobre matérias que a União já dispôs, particularizando o assunto, quanto sobre matérias que a União ainda 18. Nas palavras de Silva (2001, p. 480): “O princípio geral que norteia a repartição de competências entre as entidades compon entes do Estado Federal é o

da predominância do interesse, segundo o qual à União caberão aquelas matérias e questões de predominante interesse geral, nacional, ao passo que aos Estados tocarão as matérias e assuntos de predominante interesse regional, e aos Municípios concernem os assuntos de interesse local, tendo a Constituição

vigente desprezado o velho conceito de peculiar interesse local que não lograra conceituação satisfatória num século de vigên cia”. 19. Art. 24 da CF/88: “Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre:”

20. CF/88, art. 24 (...) “VI - florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, defesa do solo e dos recursos naturais, proteção do meio ambiente e controle da poluição; VII - proteção ao patrimônio histórico, cultural, artístico, turístico e paisagístico; e, VIII - responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao

consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico”.

Page 11: CONCEITOS ATINENTES AO DIREITO AMBIENTAL. (site: … · Conceito de Direito Ambiental: Direito Ambiental é a ciência jurídica que estuda, analisa e discute os problemas inerentes

11

não tratou, suplementando a legislação. No entanto, muito cuidado há que se tomar quanto à extensão da sua competência, porque, como dito acima, qualquer legislação originária de um ente de nível inferior,21 que extrapole ou fira as regras gerais ditadas pela União,22 padece de inconstitucionalidade. (...) Em suma, tem-se a seguinte situação: quando inexiste lei ditada pela União, os estados exercem competência plena, mas se sobrevier lei da União, a lei estadual perderá eficácia naquilo que lhe contraria. Só manteria a eficácia se não lhe contrariasse ou se a particularizasse de forma mais restritiva em favor do meio ambiente. Assim, quando ocorrer norma posterior da União, pode, em tese, ocorrer duas situações: se oferecer maior proteção ambiental, suspende os efeitos da norma estadual, mas se oferecer menor proteção ambiental, prevalece a norma estadual, donde se pode afirmar que prevalece a norma que conferir melhor proteção ao meio ambiente, seja ela federal ou estadual (ou municipal, se houver interesse local). DEON SETTE, MARLI T. Direito ambiental. Coordenadores: Marcelo Magalhães Peixoto e Sérgio Augusto Zampol Pavani. Coleção Didática jurídica, São Paulo: MP Ed., 2009, p. 106-111. ISBN 978-85-97898-023-8. (site: www.marli.ladesom.com.br ).

Exceções em relação à competência legislativa em matéria ambiental: (...) DEON SETTE, MARLI T. Direito ambiental. Coordenadores: Marcelo Magalhães Peixoto e Sérgio Augusto Zampol Pavani. Coleção Didática jurídica, São Paulo: MP Ed., 2009, p. 111-112. ISBN 978-85-97898-023-8. (site: www.marli.ladesom.com.br ).

Competência material (administrativa ou executiva)

Em relação à competência material atinente à esfera ambiental, a regra é a da competência comum entre os entes federados, em que a tônica é a cooperação entre as várias unidades políticas para, em conjunto, executarem diversas medidas visando, entre outros aspectos, a proteção de bens de uso comum do povo. Nesse sentido, dispõe o artigo 23 da CF/88, (...) Assim, são competentes para praticar atos materiais, como lavrar autos de infração e instaurar processo administrativo, todos os funcionários dos órgãos ambientais integrantes do Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA), que tenham sido designados para as atividades de fiscalização, bem como os agentes das Capitanias dos Portos e do Ministério da Marinha (§ 1º, do artigo 70, da Lei n. 9.605/1998). (...) Ou seja, a responsabilidade de zelar pelo meio ambiente, não pode ficar submetida a questões relacionadas com limites jurisdicionais ou espaços territoriais de cada ente político. São todos, neste caso, compelidos a cumprir e fazer cumprir tais obrigações” (SILVA, 1999).23 Como se vê, de acordo com a vontade do legislador, não há correlação entre o detentor da competência para legislar na esfera ambiental e a competência material, em que todos devem atuar conjuntamente, não importando quem seja o detentor do domínio do bem, nem, tampouco, o detentor da competência legislativa. Disso decorre que não importa qual dos entes federados tenha, por exemplo, concedido a licença ambiental, se estadual ou federal, o outro ente poderá impedir a realização da obra ou atividade.24

21. O termo “inferior” é aqui usado para mencionar a abrangência do âmbito de interesses, e não no sentido de hie rarquia, mormente porque não há

propriamente hierarquia entre as normas editadas pela União, estados, Distrito Federal e município; o que existe é a prevalên cia das normas gerais ditadas pela União quando se tratar de competência concorrente.

22. Citamos aqui, apenas com o objetivo de exemplificar, algumas legislações que ditam regras gerais: Código Florestal, Lei n. 4.771/1965; Política Nacional de Meio Ambiente, Lei n. 6.938/1981; Política Nacional de Recursos Hídricos, Lei n. 9.433/1997; Lei da Natureza, Lei n. 9605/1998; Lei do SNUC – Sistema

Nacional de Unidades de Conservação da Natureza, Lei n. 9.985/2000. 23. Comentários extraídos do texto “A repartição de competências em matéria ambiental”, proferido em palestra realizada por Ubi racy Araújo, no ano de 2000.

Texto divulgado no site <http://www.ibap.org/direitoambiental/artigos/ua02.doc> . Pesquisa realizada em 20 de fevereiro de 2009. 24. Nesse sentido, ver ementa “PROCESSUAL CIVIL E DIREITO AMBIENTAL. AÇÃO CIVIL. NULIDADE DE LICENCIAMENTO. INSTALAÇÃO DE

RELAMINADORA DE AÇOS. LEIS N. 4.771/65 E N. 6.938/81. ATUAÇÃO DO IBAMA. COMPETÊNCIA SUPLETIVA. I - Em razão de sua competência

Page 12: CONCEITOS ATINENTES AO DIREITO AMBIENTAL. (site: … · Conceito de Direito Ambiental: Direito Ambiental é a ciência jurídica que estuda, analisa e discute os problemas inerentes

12

Em virtude dessa forma de atuação, eventualmente ocorrem algumas situações conflitantes, como, por exemplo, dois órgãos de fiscalização, de entes federados distintos, emitirem autos de infração pelo mesmo fato gerador. Para essas situações, a doutrina25 recomenda que se proceda de acordo com a interpretação dada pelo artigo 70 da Lei n. 9.605/199826 c/c o artigo 12 do Decreto n. 6.514/2008,27 que dispõem que o efetivo pagamento de multa por infração ambiental imposta pelos estados, municípios, Distrito Federal ou territórios substitui a aplicação de penalidade pecuniária pelo órgão federal, em decorrência do mesmo fato, respeitados os limites estabelecidos no Decreto. (...) Essa interpretação é uma decorrência óbvia e inteligente daquilo que dispõe a Constituição a respeito da competência legislativa concorrente em matéria ambiental, em que o ente de nível inferior deverá sempre respeitar as normas gerais ditadas pela União e, por decorrência, sua legislação será no mínimo igual, ou então, mais restritiva em favor do meio ambiente. Ora, se sua legislação é igual ou mais restritiva, é lógico que deve prevalecer, não podendo ser o contrário, sob pena de prevalecer aquela que até poderia ser a menos restritiva (da União). Em tese, essa interpretação só deixaria de ser exercitada caso a Lei Complementar mencionada no parágrafo único do artigo 23 estivesse em vigência e tratasse do assunto em pauta de forma diversa. 28 DEON SETTE, MARLI T. Direito ambiental. Coordenadores: Marcelo Magalhães Peixoto e Sérgio Augusto Zampol Pavani. Coleção Didática jurídica, São Paulo: MP Ed., 2009, p. 112-114. ISBN 978-85-97898-023-8. (site: www.marli.ladesom.com.br ).

Exceções em relação à competência material na esfera ambiental DEON SETTE, MARLI T. Direito ambiental. Coordenadores: Marcelo Magalhães Peixoto e Sérgio Augusto Zampol Pavani. Coleção Didática jurídica, São Paulo: MP Ed., 2009, p. 115-116. ISBN 978-85-97898-023-8. (site: www.marli.ladesom.com.br ).

Conceito de responsabilidade civil

O termo “responsabilidade” diz respeito à ideia de reparação, recuperação ou de compensação de um bem ou direito que tenha sido lesado. Assim, ao dever de reparar um dano denominamos de responsabilidade civil, que consiste na obrigação que se impõe a uma pessoa de ressarcir prejuízos causados a outrem. Com efeito, o artigo 927 do Código Civil Brasileiro dispõe que “aquele que, por ato ilícito causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo”. Por seu turno, os artigos 186 e 187, do mesmo codex, preceituam que comete ato

ilícito aquele que “por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral”, bem como o “titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons

supletiva, é legítima a presença do IBAMA em autos de ação civil pública movida com fins de decretação de nulidade de licenciamento ambiental que permitia a instalação de relaminadora de aços no município de Araucária, não se caracterizando a apontada afronta às Leis n. 4.771/65 e n. 6.938/81. II - "A

conservação do meio ambiente não se prende a situações geográficas ou referências históricas, extrapolando os limites impostos pelo hom em. A natureza desconhece fronteiras políticas. Os bens ambientais são transnacionais" (REsp n. 588.022/SC, Rel. Min. JOSÉ DELGADO, DJ de 05 de abril de 2004). III -

Recurso parcialmente conhecido e, nessa parte, improvido. (REsp 818.666/PR, Rel. Ministro FRANCISCO FALCÃO, PRIMEIRA TURMA, julgado em 25 de abril de 2006; DJ 25 de maio de 2006, p. 190; REPDJ 07 de agosto de 2006, p. 205 ; REPDJ 28 de setembro de 2006, p. 217).

25. A exemplo de Sirvinska s (2008, p. 121). 26. Artigo 76 da Lei 9.605/1998. “O pagamento de multa imposta pelos Estados, Municípios, Distrito Federal ou Territórios subst i tui a multa federal na mesma

hipótese de incidência”. 27. Artigo 12 do Decreto 6.514/2008. “O pagamento de multa por infração ambiental imposta pelos Estados, Municípios, Distrito Federal ou Territórios substitui

a aplicação de penalidade pecuniária pelo órgão federal, em decorrência do mesmo fato, respeitados os limites estabelecidos neste Decreto”. 28. Ainda que tenhamos concepção diversa, pois entendemos que o resultado prático, material, não sofre nenhum prejuízo se aplic ada a regra acima

estampada, há que se chamar a atenção para algumas situações especificadas por Freitas (2000, p. 121-122), que não recomenda a aplicação da regra de prevalência do ente de nível inferior, como, por exemplo: a) se a competência material foi privativa da União, eventual fisca lização de estado-membro não

deveria retirar a prevalência da União; b) em caso de competência comum, deveria se observar o princípio da preponderância de interesse s, como, por exemplo, problemas de queimadas que afetem mais de um estado, dentro do Pantanal. Nesse caso, deveria preponderar o interesse da União (art. 225, § 4º,

da CF/88); c) quando a competência for do estado, residual, a ele cabe a fiscalização; d) cabe ao município, quando a matéria for de interesse exclusivo local, entre outros.

Page 13: CONCEITOS ATINENTES AO DIREITO AMBIENTAL. (site: … · Conceito de Direito Ambiental: Direito Ambiental é a ciência jurídica que estuda, analisa e discute os problemas inerentes

13

costumes”. DEON SETTE, MARLI T. Direito ambiental. Coordenadores: Marcelo Magalhães Peixoto e Sérgio Augusto Zampol Pavani. Coleção Didática jurídica, São Paulo: MP Ed., 2009, p. 118. ISBN 978-85-97898-023-8. (site: www.marli.ladesom.com.br ).

Pressupostos da responsabilidade civil: (...)

a) Ação ou omissão (...); b) Dano (...); c) Nexo causal (relação de causalidade) (...). DEON SETTE, MARLI T. Direito ambiental. Coordenadores: Marcelo Magalhães Peixoto e Sérgio Augusto Zampol Pavani. Coleção Didática jurídica, São Paulo: MP Ed., 2009, p. 118-119. ISBN 978-85-97898-023-8. (site: www.marli.ladesom.com.br ).

Formas de responsabilização civil

(...)Esse quarto elemento pode ou não existir. Trata-se da forma com que o sujeito é responsabilizado, se objetiva ou subjetiva. (...) Pela teoria objetiva, basta que estejam presentes os três primeiros elementos – ação ou omissão, dano e nexo causal entre ambos. Na realidade, essa teoria se assenta na ideia de risco como fundamento para o dever de reparar. Ou seja, estabelece-se a obrigação de reparar o dano ao agente que concorreu para o fato que lhe deu origem, em razão do risco decorrente de sua atividade, mesmo que sem culpa sua, em face do nexo de causalidade existente entre o exercício de tal atividade e o fato danoso. A teoria objetiva segmenta-se em outras teorias,29 das quais nos interessam duas: a teoria objetiva do risco administrativo e a teoria administrativa de risco integral. (...) Já a teoria objetiva de risco integral não admite sequer as excludentes de responsabilidade, bem como torna irrelevante perquirir sobre o caráter de ilicitude ou não do ato gerador do dano. O risco abrange todas as situações, daí porque se denomina integral. (...) DEON SETTE, MARLI T. Direito ambiental. Coordenadores: Marcelo Magalhães Peixoto e Sérgio Augusto Zampol

Pavani. Coleção Didática jurídica, São Paulo: MP Ed., 2009, p. 120-122. ISBN 978-85-97898-023-8. (site: www.marli.ladesom.com.br ).

Forma de responsabilização do sujeito: responsabilidade civil objetiva de risco integral

A responsabilidade civil na esfera ambiental baseia-se na teoria objetiva de risco integral. Assim, todo aquele que cause dano ao meio ambiente fica obrigado a repará-lo, independentemente da análise de sua culpabilidade, excluindo-se, inclusive, a possibilidade de defender-se com a arguição das excludentes de responsabilidade, bem como se torna irrelevante ter sido o dano provocado por ato lícito ou ilícito, conforme conceituação acima (artigo 225, § 3º, da CF/88 e artigo 14, § 1º, da Lei n. 6.938/1981). (...) Esses exemplos evidenciam a importância de particularizar alguns conceitos em relação ao dano ambiental, o que faremos a seguir. Particularidades em relação aos pressupostos da responsabilidade civil ambiental

A ação não necessariamente tem que ser produzida pelo sujeito que se torna responsável pelo dano, podendo ocorrer por obra dele, por obra de terceiros e até mesmo por situações que envolvam caso fortuito ou força maior.(...) O dano pode se manifestar de maneira clara, como ocorreu no caso do exemplo supramencionado, ou de maneira que enseje interpretação mais

29. Nas modalidades (subespécies) de risco existentes, temos a teoria do risco integral, risco profissional, risco administrativo, risco proveito, garantia, a teoria

dos atos anormais e a teoria do risco criado.

Page 14: CONCEITOS ATINENTES AO DIREITO AMBIENTAL. (site: … · Conceito de Direito Ambiental: Direito Ambiental é a ciência jurídica que estuda, analisa e discute os problemas inerentes

14

complexa do que venha a ser dano na esfera ambiental. Nesse sentido, o conceito de dano ambiental deve ser construído com base na combinação dos incisos II e III, do artigo 3°, da Lei n. 6.938/1981,30 que trata dos conceitos de degradação ambiental e poluição ambiental, donde se extrai que dano é a alteração adversa das características do meio ambiente, degradando a qualidade ambiental de maneira a, direta ou indiretamente, prejudicar a saúde, a segurança e o bem-estar da população, como, por exemplo, (...). Vale ressaltar que a inexistência do dano torna inviável qualquer pretensão de reparação, por falta de objeto. O nexo causal em situações que envolvem dano ambiental é menos evidente do que o nexo exigido na esfera civil consoante legislação civil. Na realidade, o nexo causal é atenuado, minimizado, muitas vezes frágil e remoto. (...). Aliás, a atenuação do nexo causal é uma das consequências da adoção da teoria objetiva de risco integral, que torna irrelevante a análise do subjetivismo (intenção danosa ou aferição de culpa) e irrelevante perquirir-se acerca da ilicitude do ato. Solidariedade:

(...) Assim, quando vários agentes desempenham uma atividade e essa vem a causar dano ambiental, não há necessidade de se apurar quem, individualmente, tenha dado causa ao dano, podendo ser atribuída a responsabilização a todos os agentes ou a qualquer deles individualmente, sem prejuízo de que aquele que se sentir lesado proponha ação regressiva em face dos demais. (...) DEON SETTE, MARLI T. Direito ambiental. Coordenadores: Marcelo Magalhães Peixoto e Sérgio Augusto Zampol Pavani. Coleção Didática jurídica, São Paulo: MP Ed., 2009, p. 123-127. ISBN 978-85-97898-023-8. (site: www.marli.ladesom.com.br ).

Bem Jurídico Tutelado e Objetivo da Responsabilidade Civil na Esfera Ambiental

Quanto ao bem jurídico protegido, temos que é o meio ambiente em toda a sua amplitude, na abrangência do conjunto.31 (...) Com base nisso, a ação preventiva se impõe e, quando essa já não puder mais ser concretizada, aplica-se a ação repressiva. (...) (....) a) Dano patrimonial (...). b) Dano ambiental com efeito moral – “extrapatrimonial” (...). DEON SETTE, MARLI T. Direito ambiental. Coordenadores: Marcelo Magalhães Peixoto e Sérgio Augusto Zampol Pavani. Coleção Didática jurídica, São Paulo: MP Ed., 2009, p. 128-133. ISBN 978-85-97898-023-8. (site: www.marli.ladesom.com.br ). TUTELA PROCESSUAL CIVIL DO MEIO AMBIENTE

Esta seção tem como objetivo mencionar os instrumentos aptos a serem utilizados para pleitear a tutela do meio ambiente, que, pela sua relevância e por se tratar de bem difuso, permite que sejam legitimados ativos tanto os indivíduos em particular quanto alguns sujeitos que detêm legitimação extraordinária. Mencionaremos instrumentos administrativos e jurisdicionais de defesa individual e coletiva. (...). DEON SETTE, MARLI T. Direito ambiental. Coordenadores: Marcelo Magalhães Peixoto e Sérgio Augusto Zampol Pavani. Coleção Didática jurídica, São Paulo: MP Ed., 2009, p. 133. ISBN 978-85-97898-023-8. (site:

30. Lei n. 6.938/1981, art. 3º - “Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por: (...) II - degradação da qualidade ambiental, a alteração adversa das características do meio ambiente; e, III - poluição, a degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que direta ou indiretamente: a) prejudiquem a

saúde, a segurança e o bem-estar da população; b) criem condições adversas às atividades sociais e econômicas; c) afetem desfavoravelmente a biota; d) afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente; e, e) lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões am bientais estabelecidos.”

31. Ver Capítulo 2.

Page 15: CONCEITOS ATINENTES AO DIREITO AMBIENTAL. (site: … · Conceito de Direito Ambiental: Direito Ambiental é a ciência jurídica que estuda, analisa e discute os problemas inerentes

15

www.marli.ladesom.com.br ).

Termo de ajustamento de conduta – TAC

(...) Os termos de ajustamento de conduta estabelecem obrigações e condicionantes que devem ser rigorosamente observados pelos infratores em relação à atividade causadora da degradação, com vistas a fazer cessar, adaptar, recompor, corrigir ou minimizar seus efeitos negativos sobre o meio ambiente, de modo a resguardar os interesses metaindividuais em sua parte nuclear e substancial. (....) d) Momento da realização do TAC

Quanto ao momento em que pode ser firmado o acordo, várias são as possibilidades, conforme segue: a) No curso de processo administrativo: (...) b) No curso do inquérito civil: (...) c) No curso da ação civil pública: (...) DEON SETTE, MARLI T. Direito ambiental. Coordenadores: Marcelo Magalhães Peixoto e Sérgio Augusto Zampol Pavani. Coleção Didática jurídica, São Paulo: MP Ed., 2009, p. 133-138. ISBN 978-85-97898-023-8. (site: www.marli.ladesom.com.br ).

Inquérito civil

(...) Trata-se de um instrumento administrativo utilizado pelo Ministério Público para colher provas por meio de oitiva de testemunhas, realização de perícias etc., com vistas à possível propositura de ação civil pública, à semelhança do que ocorre com o inquérito criminal. Destarte, tem finalidade investigatória e extraprocessual (SIRVINSKAS, 2008, p. 644). c) Inquérito: sua relação com o Princípio do Contraditório e da Ampla Defesa (...) d) Funções do inquérito: preventiva, subsidiária e repressiva (...) DEON SETTE, MARLI T. Direito ambiental. Coordenadores: Marcelo Magalhães Peixoto e Sérgio Augusto Zampol Pavani. Coleção Didática jurídica, São Paulo: MP Ed., 2009, p. 138-141. ISBN 978-85-97898-023-8. (site: www.marli.ladesom.com.br ).

Ação civil pública em matéria ambiental

(...) constitui-se em um instrumento processual adequado para impedir ou reprimir danos ao meio ambiente, ao consumidor, à ordem urbanística, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico, a infrações da ordem econômica e da economia popular e à ordem urbanística (artigo 1º, I a VI, da Lei n. 7.347/1985). (...) No entanto, não se presta à defesa de interesses individuais nem à reparação de prejuízos causados a particulares pela parte. Nas palavras de Mancuso (1994, p. 18), "a ação civil pública apresenta um largo espectro social de atuação, permitindo acesso à Justiça de certos interesses metaindividuais que, de outra forma, permaneceriam num certo ‘limbo jurídico’”.

(...) Coisa julgada (...) Nos termos da Lei da ACP “a sentença civil fará coisa

julgada erga omnes, nos limites da competência territorial do órgão prolator, exceto se o pedido for julgado improcedente por insuficiência de provas, hipótese em que qualquer legitimado poderá intentar outra ação com idêntico fundamento, valendo-se de nova prova” (...) Extrai-se do dispositivo que: a) se a sentença for julgada procedente ou improcedente por ser infundada a pretensão, faz coisa julgada, com efeito

Page 16: CONCEITOS ATINENTES AO DIREITO AMBIENTAL. (site: … · Conceito de Direito Ambiental: Direito Ambiental é a ciência jurídica que estuda, analisa e discute os problemas inerentes

16

erga omnes, no território da competência territorial do órgão prolator; e, b) se a

decisão for julgada improcedente por falta de provas, não faz coisa julgada, podendo ser intentada nova ação com idêntico fundamento, bastando para tanto que sejam apresentadas provas novas, aptas para a propositura. Insta mencionar que as ações que defendem interesses ou direitos difusos não induzem litispendência para as ações individuais (artigo 104, do Código de Defesa do Consumidor) e que os efeitos da coisa julgada relativamente a tais direitos, mormente, no caso, o meio ambiente, não prejudicarão interesses e direitos individuais dos integrantes da coletividade (§ 1º, do artigo 103, do Código de Defesa do Consumidor). No mais, os efeitos da coisa julgada, consoante dispõe o artigo 16 c/c o artigo 13 da Lei da ACP, não prejudicarão as ações de indenização por danos pessoalmente sofridos, propostas individualmente ou na forma prevista no Código de Defesa do Consumidor, mas, se procedente o pedido, beneficiarão as vítimas e seus sucessores, que poderão proceder à liquidação e à execução, nos termos dos artigos 96 a 99 do Código de Defesa do Consumidor, aplicando-se essa disposição à sentença penal condenatória (§ 3º e § 4º, do artigo 103, do Código de Defesa do Consumidor). (...) Prescrição: A prescrição, que consiste na extinção de um direito pelo decurso

do prazo estipulado por lei sem a iniciativa do interessado em buscar a tutela jurisdicional, destina-se apenas à pessoa individualizável, titular de um direito. O meio ambiente é bem de natureza difusa, portanto, transindividual, posto que é direito fundamental de toda a coletividade, de forma que, sendo essencial à vida com qualidade, é imprescritível, irrenunciável e inalienável. Assim, as ações coletivas destinadas à sua tutela são imprescritíveis, ainda que o objeto da ação seja a condenação à indenização pecuniária, posto que a indenização não transforma o bem ambiental que sofreu dano, originário da ação, em bem disponível (FIORILLO, 2008, p. 415). Atenção! Não confunda a prescrição relativa às ações coletivas destinadas à tutela dos bens ambientais com a prescrição relativa ao exercício de ações penais que visem punir aquele que pratica crime ambiental, essa tratada no capítulo 7 deste livro. DEON SETTE, MARLI T. Direito ambiental. Coordenadores: Marcelo Magalhães Peixoto e Sérgio Augusto Zampol Pavani. Coleção Didática jurídica, São Paulo: MP Ed., 2009, p. 141-151. ISBN 978-85-97898-023-8. (site: www.marli.ladesom.com.br ).

Ação civil pública por ato de improbidade administrativa relacionada ao meio ambiente

(...) Destarte, o sujeito ativo, ao propor a ação civil pública de improbidade administrativa, deve ter como fundamento um dos atos de improbidade, e, como sanção, uma daquelas previstas na Lei de Improbidade, mas deve fazer uso das disposições gerais e processuais da Lei da ACP e do Código de Processo Civil, observadas as particularidades inseridas na Lei n. 8.429/1992.32 Vale lembrar que age com improbidade qualquer servidor que,

32. “PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. ADEQUAÇÃO. RECURSO ESPECIAL PARCIALMENTE CONHECIDO E, NESSA PARTE, DESPROVIDO. 1. (...) 4. O entendimento majoritário da doutrina e da jurispru dência admite a

adequação/compatibilidade do ajuizamento de ação civil pública (Lei 7.347/85) nas hipóteses de atos de improbidade administra tiva previstos na Lei 8.429/92. 5. "Vem se firmando o entendimento de que a ação judicial cabível para apurar e punir os atos de improbidade tem a natureza de ação civil pública, sendo-lhe

cabível, no que não contrariar disposições específicas da lei de improbidade, a Lei 7.347, de 24 -7-85. É sob essa forma que o Ministério Público tem proposto as ações de improbidade administrativa, com aceitação da jurisprudência (...). Essa conclusão encontra fundamento no artigo 129, inciso III, da Const ituição

Federal, que ampliou os objetivos da ação civil pública, em relação à redação original da Lei 7.347, que somente a previa em caso de dano ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico. O dispositivo constitucional fala em ação civil pública 'para

proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos'. Em consequência, o artigo 1º da Lei n. 7.347/85 foi acrescido por um inciso, para abranger as ações de responsabilidade por danos causados 'a qualquer outro interesse difuso ou coletivo'. Aplicam-se, portanto,

as normas da Lei n. 7.347/85, no que não contrariarem dispositivos expresso s da lei de improbidade." (PIETRO, Maria Sylvia Zanell a Di., Direito Administrativo,

Page 17: CONCEITOS ATINENTES AO DIREITO AMBIENTAL. (site: … · Conceito de Direito Ambiental: Direito Ambiental é a ciência jurídica que estuda, analisa e discute os problemas inerentes

17

no exercício de suas funções, ou o governante que, no desempenho das atividades relativas ao seu cargo, o façam com falta de zelo, de honra, de integridade. Nos termos da lei, constituem ato de improbidade aqueles que (...) Assim, sempre que ocorrer um ato de improbidade relacionado ao meio ambiente é possível a utilização da ação civil pública por ato de improbidade administrativa. Exemplo típico é o caso em que o agente público negligencia em relação às suas obrigações, quer seja na concessão de licenças sem o parecer dos demais órgãos competentes – no que estaria incorrendo em excessos, quer seja na fiscalização quanto à instalação, permitindo a construção de loteamentos irregulares em áreas ambientalmente protegidas. Nesse sentido, decidiu o STJ no AgRg no Ag 973.577/SP, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, julgado em 16 de setembro de 2008. (...) DEON SETTE, MARLI T. Direito ambiental. Coordenadores: Marcelo Magalhães Peixoto e Sérgio Augusto Zampol Pavani. Coleção Didática jurídica, São Paulo: MP Ed., 2009, p. 151-156. ISBN 978-85-97898-023-8. (site: www.marli.ladesom.com.br ).

Ação popular ambiental

(...) A ação popular é um instituto jurídico de natureza constitucional por meio do qual se busca desconstituir ou anular ato administrativo praticado de forma ilegal, quer seja por ação ou por omissão, e que cause lesividade. Na esfera ambiental, há quem defenda que a ação popular tem natureza jurídica de ação civil pública de titularidade do cidadão (GOMES JÚNIOR; SANTOS FILHO, 2006). (...) Consiste, pois, numa ferramenta apta a dar ao cidadão o direito de exercitar a sua cidadania, intensificar a participação popular na fiscalização e na proteção do patrimônio público, da moralidade administrativa e do meio ambiente. (...) A diferença básica dessa ação quando comparada às demais ações individuais é que nessas a tutela é buscada pelo cidadão cívico-político, em nome próprio e em defesa de interesse próprio, sendo que o resultado obtido aproveita a si, de forma exclusiva e pessoal. Já a ação popular, embora seja a tutela buscada em nome próprio, relativa a um direito que também lhe é próprio, posto que trata-se de um cidadão defendendo seu interesse, o resultado aproveita a todos de forma difusa.33 (...) DEON SETTE, MARLI T. Direito ambiental. Coordenadores: Marcelo Magalhães Peixoto e Sérgio Augusto Zampol Pavani. Coleção Didática jurídica, São Paulo: MP Ed., 2009, p. 156-159. ISBN 978-85-97898-023-8. (site: www.marli.ladesom.com.br ).

Mandado de segurança individual e coletivo em matéria ambiental

(...) O mandado de segurança é um remédio constitucional utilizado por qualquer pessoa física ou jurídica, e até mesmo por órgãos de administração com capacidade processual, em face de qualquer autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder Público, com vistas a

Ed. Atlas, 15. ed., 2003, p. 693) 6. Precedentes do STJ. 7. Recurso especial parcialmente conhecido e, nessa parte, desprovido”. (REsp 515.554/MA, Rel.

Ministra DENISE ARRUDA, PRIMEIRA TURMA, julgado em 18/05/2006, DJ 19/06/2006 p. 99). 33. Nesse sentido, ver o contexto da decisão proferida pelo STF, na PET n. 2.131 -2 – rel. Min. Celso de Mello – j. 13.10.2000 – DJU de 20.10.2000 – n.º 203-E

– p. 131, pesquisa realizada em 12/03/2009, no site <http://www.atea.org.br/arquivos/acao_pop_contra_concordata_vaticano.doc>.

Page 18: CONCEITOS ATINENTES AO DIREITO AMBIENTAL. (site: … · Conceito de Direito Ambiental: Direito Ambiental é a ciência jurídica que estuda, analisa e discute os problemas inerentes

18

proteger direito líquido e certo não amparado por habeas corpus ou habeas data, quando o direito lhe é negado ou mesmo ameaçado. (...)

No caso de dano ambiental, pode ser manejado tanto o mandado de segurança coletivo, tendo em vista que o dano ambiental sempre trata de matéria coletiva latu sensu, quanto o mandado de segurança individual,

quando apenas uma pessoa ou um grupo de pessoas é atingido por alguns aspectos particulares. Para evidenciar essa possibilidade, vamos utilizar o exemplo de Talden Farias (2009),34 que cita o caso do pecuarista que perdeu o gado ou do agricultor cuja propriedade ficou infértil por conta da poluição de uma fábrica vizinha. A ação ordinária é o instrumento jurídico adequado para a vítima dos danos de natureza patrimonial ou extrapatrimonial em matéria ambiental desse tipo, mas para reverter o ato inquinado de ilegal, a ação cautelar e o mandado de segurança individual também podem ser utilizados se os seus requisitos estiverem presentes. (...) DEON SETTE, MARLI T. Direito ambiental. Coordenadores: Marcelo Magalhães Peixoto e Sérgio Augusto Zampol Pavani. Coleção Didática jurídica, São Paulo: MP Ed., 2009, p. 160-163. ISBN 978-85-97898-023-8. (site: www.marli.ladesom.com.br ).

Controle de constitucionalidade

Por meio do controle de constitucionalidade busca-se verificar a adequação vertical que deve existir entre as normas infraconstitucionais em relação à Carta Magna, com vistas a garantir a manutenção da ordem constitucional vigente. No Brasil, adota-se o sistema misto, em que é possível o controle difuso e o controle de constitucionalidade concentrado. O controle difuso ocorre (...). O controle concentrado pode ser exercitado por

três modalidades, quais sejam, a ação direta de inconstitucionalidade – ADIn ou ADI –, a ação declaratória de constitucionalidade – ADC –, e a ação de descumprimento de preceito fundamental – ADPF (...) Outra figura que foi inserida para atuar facultativamente é o amicus curiae (...) A ADIn tem previsão constitucional no artigo 102, I, alínea “a” e § 2º do

mesmo artigo, e está regulamentada pela Lei n. 9.868/1999. Trata-se de ação utilizada com vistas a declarar a inconstitucionalidade, ou seja, a desconformidade de leis ou atos normativos federais ou estaduais com a Constituição Federal. (...). A ADC está inserta no artigo 102, I, alínea “a” e § 2º do mesmo artigo, todos

da CF/88, e também está regulamentada pela Lei n. 9.868/1999. É ação utilizada para declarar a constitucionalidade de lei ou ato normativo federal (não inclui lei ou ato normativo estadual) que seja objeto de controvérsia judicial relevante. O objetivo é obter uma rápida decisão com vistas a evitar sentenças contrárias em instâncias inferiores. Por isso, para ingressar com a ação é indispensável que fique demonstrada a existência de divergência jurisprudencial, caracterizada pela existência de decisões antagônicas. (...). A ADPF está prevista no artigo 102, § 1º, da CF/88, e regulamentada pela lei

n. 9.882/1999. Tem como objeto evitar ou reparar lesão a preceito fundamental decorrente de ação ou omissão do Poder Público e questionar a constitucionalidade de normas federais, estaduais ou municipais (aqui se acrescentam as disposições municipais), incluídas anteriormente à promulgação da Constituição vigente. Trata-se de ação subsidiária, logo, só pode ser utilizada quando não existir outro mecanismo que possa levar ao 34. FARIAS, Talden. Responsabilidade Civil em Matéria Ambiental - Os Danos Materiais, os Danos Morais e o Meio Ambiente, pesquisado em 12 de março de

2009, no site <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/revista/Rev_44/Artigos/Art_Talden.htm >.

Page 19: CONCEITOS ATINENTES AO DIREITO AMBIENTAL. (site: … · Conceito de Direito Ambiental: Direito Ambiental é a ciência jurídica que estuda, analisa e discute os problemas inerentes

19

objetivo almejado. (...). Todas as formas de controle de constitucionalidade mencionadas acima podem ser utilizadas na esfera ambiental, desde que observados os requisitos atinentes a cada qual. Destarte, quando uma norma estiver em desconformidade com o que dispõe a Carta Magna, os legitimados devem lançar mão dessas ferramentas a fim de manter a vontade do constituinte relativamente aos bens ambientais. DEON SETTE, MARLI T. Direito ambiental. Coordenadores: Marcelo Magalhães Peixoto e Sérgio Augusto Zampol Pavani. Coleção Didática jurídica, São Paulo: MP Ed., 2009, p. 163-167. ISBN 978-85-97898-023-8. (site: www.marli.ladesom.com.br ).

Mandado de injunção

O mandado de injunção é previsto no artigo 5º, LXXI, da CF/88, que dispõe: (...). É, pois, um remédio constitucional posto à disposição de qualquer pessoa que se sinta prejudicada pela falta de norma regulamentadora, sem a qual fique inviabilizado o exercício de seus direitos e liberdades constitucionais e prerrogativas relativas à nacionalidade, à soberania e à cidadania.35 É utilizado no caso concreto para suprir a falta de uma norma legal, tendo como pressuposto a ausência da norma e a inviabilidade do exercício ao direito, à garantia ou à prerrogativa pretendidos. (...). DEON SETTE, MARLI T. Direito ambiental. Coordenadores: Marcelo Magalhães Peixoto e Sérgio Augusto Zampol Pavani. Coleção Didática jurídica, São Paulo: MP Ed., 2009, p. 167-170. ISBN 978-85-97898-023-8. (site: www.marli.ladesom.com.br ).

TUTELA ADMINISTRATIVA: DIREITO MATERIAL

(...). Hodiernamente, tem previsão constitucional no artigo 225, § 3º, que dispõe que, independentemente da obrigação de reparar o dano, o infrator também pode ser responsabilizado nas esferas penal e administrativa. Esse dispositivo constitucional foi disciplinado pela Lei n. 9.605/1998, que, em seus artigos 70 a 76, sistematizou as regras gerais relativamente à tutela administrativa ambiental. A regulamentação dos dispositivos mencionados adveio com a edição do Decreto n. 6.514/2008, com as alterações inseridas pelo Decreto n. 6.686/2008, que revogou as normas até então vigentes, dispondo particularizadamente sobre a tutela administrativa ambiental.(...) “Considera-se infração administrativa ambiental toda ação ou omissão que viole as regras jurídicas de uso, gozo, promoção, proteção e recuperação do meio ambiente”. Pela disposição legal, tem-se que tanto a ação quanto a omissão que violem regras atinentes à proteção ambiental consistem em infrações administrativas. (...) O objetivo da responsabilização administrativa é inibir a prática de descumprimento de preceitos que garantem a qualidade ambiental. (...) Quando a competência comum gerar situações conflitantes, como, por exemplo, a dupla autuação pelo mesmo fato gerador, o conflito se resolve de acordo com as regras de competência dispostas no capítulo 4 deste livro. Vale ainda mencionar que, para adquirirem competência para fiscalização e autuação, basta que o funcionário tenha sido regularmente designado para as referidas atividades. Nesse sentido, já decidiu o STJ, no REsp 1057292/PR, Rel. Ministro FRANCISCO FALCÃO, PRIMEIRA TURMA, julgado em 17 de junho de 2008(...). DEON SETTE, MARLI T. Direito ambiental. Coordenadores: Marcelo Magalhães Peixoto e Sérgio Augusto Zampol Pavani. Coleção Didática jurídica, São Paulo: MP Ed., 2009, p. 171-174. ISBN 978-85-97898-023-8. (site:

35. Aqui vale mencionar que o art. 103, § 2º, da CF/88, prevê uma ação direta de inconstitucionalidade por omissão. No entanto, nessa, a legitimidade é exclusiva daqueles relacionados aptos a propor a ação direta de inconstitucionalidade, relacionados nos incisos do art. 103 da CF/88, bem como os efeitos e

demais características são, em regra, distintas do mandado de injunção.

Page 20: CONCEITOS ATINENTES AO DIREITO AMBIENTAL. (site: … · Conceito de Direito Ambiental: Direito Ambiental é a ciência jurídica que estuda, analisa e discute os problemas inerentes

20

www.marli.ladesom.com.br Responsabilização dos sujeitos: responsabilidade objetiva A responsabilidade administrativa, assim como a responsabilidade civil ambiental, também é objetiva, no entanto, admite duas exceções, bem como

admite as excludentes de responsabilidade civil. (...) em virtude da interpretação do disposto no caput e incisos do artigo 72 da Lei n. 9.605/1998 c/c o § 3º, do mesmo artigo. Com efeito, o caput, ao dispor

sobre as possíveis sanções administrativas a serem imputadas ao agente infrator, nenhuma menção faz quanto à análise de culpabilidade. No entanto, no seu § 3º,36 expressamente assinala que, no caso de aplicação de multa simples, em duas circunstâncias se deve analisar se o agente agiu por negligência ou dolo, relacionando as duas circunstâncias de maneira taxativa,37 o que faz supor que em todas as outras situações se deve fazer a aplicação da sanção de forma objetiva. DEON SETTE, MARLI T. Direito ambiental. Coordenadores: Marcelo Magalhães Peixoto e Sérgio Augusto Zampol

Pavani. Coleção Didática jurídica, São Paulo: MP Ed., 2009, p. 174-175. ISBN 978-85-97898-023-8. (site: www.marli.ladesom.com.br Sanções administrativas são penalidades impostas por órgãos vinculados

direta ou indiretamente a entes estatais, nos limites das competências estabelecidas com o objetivo de impor regras de condutas a todos. (...) Espécies de sanções administrativas38

As sanções administrativas estão relacionadas nos incisos do artigo 72, da Lei n. 9.605/1998, e reiteradas nos incisos do artigo 3º, do Decreto n. 6.515/2008, com pequenas alterações nos incisos IV e VII. Nos termos do artigo 3º, do Decreto mencionado, as sanções a serem imputadas na esfera administrativa ambiental são: I - advertência; II - multa simples; III - multa diária; IV - apreensão dos animais, produtos e subprodutos da fauna e flora e demais produtos e subprodutos objetos da infração, instrumentos, petrechos, equipamentos ou veículos de qualquer natureza utilizados na infração;39 V - destruição ou inutilização do produto; VI -suspensão de venda e fabricação do produto; VII - embargo de obra ou atividade e suas respectivas áreas;40 VIII - demolição de obra; IX - suspensão parcial ou total das atividades; e X - restritiva de direitos. Ao decidir sobre a sanção a ser aplicada, o agente autuante não precisa observar a ordem suprarrelacionada. Na verdade, a sanção deverá ser escolhida de acordo com a adequação ao caso in concreto, podendo ser aplicada isolada ou cumulativamente. No entanto, desde a lavratura do auto

de infração, a autoridade deve observar as garantias constitucionais do contraditório e da ampla defesa, bem como dar fundamentação consistente sobre os elementos que ensejaram a autuação (além de observar os requisitos e critérios que serão tratados abaixo, em seção própria), mormente para justificar a escolha da sanção a ser imputada e, ao mesmo tempo, para dar ao autuado os elementos essenciais para, eventualmente, entendendo pertinente, fundamentar a sua defesa e também para que o poder judiciário possa verificar a adequação ou validade da sanção imputada. A seguir, traçaremos breves considerações acerca de cada uma das sanções

36. Lei n. 9.605/1998, art. 72, § 3º: “A multa simples será aplicada sempre que o agente, por negligência ou dolo: I - advertido por irregularidades que tenham

sido praticadas, deixar de saná-las, no prazo assinalado por órgão competente do SISNAMA ou pela Capitania dos Portos, do Ministério da Marinha; II - opuser embaraço à fiscalização dos órgãos do SISNAMA ou da Capitania dos Portos, do Ministério da Marinha”.

37. As circunstâncias estão mencionadas na letra “b”, da seção 6.1.6., deste capítulo. 38. É importante lembrar que não necessariamente uma infração administrativa se revela ao mesmo tempo que um crime ou uma obrigação de reparar dano.

Na verdade, as esferas são completamente independentes, consoante foi esclarecido no capítulo 4 deste livro. 39. Redação de acordo com a Lei n. 9.605/1998, art. 72, “(...) IV – apreensão dos animais, produtos e subprodutos da fauna e flora, instrumentos, petrechos,

equipamentos ou veículos de qualquer natureza utilizados na infração”. 40. Redação de acordo com a Lei n. 9.605/1998, art. 72, “(...) VII – “embargo de obra ou atividade”.

Page 21: CONCEITOS ATINENTES AO DIREITO AMBIENTAL. (site: … · Conceito de Direito Ambiental: Direito Ambiental é a ciência jurídica que estuda, analisa e discute os problemas inerentes

21

administrativas. a) Advertência (...). b) Multa simples (...). Nesse ponto, inovou o legislador, pois, ao admitir a

conversão da multa em reparação do próprio dano causado (letra “a”, supra), o que não era opção dada pelo decreto anterior, deu mais um incentivo para que o infrator recupere a área desgastada, o que, de qualquer forma, teria que ser feito na esfera da responsabilidade civil. Como o objetivo ambiental deve ser sempre o da manutenção do equilíbrio do meio ambiente, com a devolução prioritária ao statu quo ante, e não a arrecadação de valores aos cofres

públicos, merece apoio referida inovação. Queremos destacar que entendemos que também é possível, viável e interessante para o meio ambiente que seja admitida a conversão da multa em reparação do próprio dano (somente dele) quando o valor já está em fase de execução. Juridicamente nada obsta que isso seja realizado, basta que cada ente federado regulamente tal possibilidade. (...). Outro ponto relevante é esclarecer acerca das situações em que há imputação de multa por mais de um órgão ambiental pelo mesmo fato gerador. Embora o assunto já tenha sido tratado no capítulo 4, quando tratamos da competência material, é importante frisar que o pagamento de multa imposta por estados, municípios e Distrito Federal substitui a aplicação de penalidade pecuniária pelo órgão federal em decorrência do mesmo fato gerador, respeitados os limites estabelecidos no artigo 12 e parágrafo único do Decreto n. 6.514/2008 e artigo 76, da Lei n. 9.605/1998).41 Mas, cuidado, somente o pagamento efetivo é que pode substituir, logo, não pode ser utilizado eventual termo de compromisso firmado para alcançar referida finalidade. (...) c) Multa diária (...). d) Apreensão dos animais, produtos e subprodutos da fauna e flora e demais produtos e subprodutos objeto da infração, instrumentos, petrechos, equipamentos ou veículos de qualquer natureza utilizados na infração (...). Quanto à apreensão, o Decreto vigente trouxe algumas

explicações particularizadíssimas, que, embora dispensáveis, evitam as antigas controvérsias existentes no mundo jurídico, a exemplo da questão da quantidade a ser apreendida. Sobre o assunto dispõe que, em regra, as apreensões serão feitas na totalidade do produto, conforme se afere nos seguintes dispositivos legais, todos do Decreto n. 6.514/2008: parágrafo único do artigo 26, parágrafo único do artigo 37, e § 3º do artigo 47. No caso mencionado no artigo 47, apenas o transporte de madeira, lenha, carvão ou outros produtos de origem vegetal é que enseja a apreensão pelo volume total, pois o § 4º do referido artigo excepciona a regra e determina que nos demais casos relacionados à madeira, lenha, carvão ou outros produtos de origem vegetal, a apreensão deve ocorrer apenas em relação ao volume irregular. Ponto relevante é definir que objetos devem ser apreendidos, mormente quando o objeto se trata de veículo.(...). Por exemplo, um caminhão que transporta madeira ilegal pode ser um instrumento ou um meio. Mas como podemos diferenciar? Entendemos que toda vez que o proprietário do caminhão coincidir com o proprietário da carga irregular, o veículo é um instrumento, pois é óbvio o conhecimento da irregularidade do transporte. No entanto, se o caminhão é fretado de terceiros,

41. Para mais informações, ver a seção que trata da competência administrativa, disposta no capítulo 4 deste livro.

Page 22: CONCEITOS ATINENTES AO DIREITO AMBIENTAL. (site: … · Conceito de Direito Ambiental: Direito Ambiental é a ciência jurídica que estuda, analisa e discute os problemas inerentes

22

pode estar sendo utilizado como um meio para que o infrator concretize a infração, podendo, inclusive, a prática da infração ser de desconhecimento do terceiro, proprietário do caminhão. Nesse último caso, entendemos que o veículo, após as diligências legais, deve ser liberado. O assunto não é pacífico, mas encontra relevante guarida na jurisprudência, a exemplo do acórdão proferido na Ap Cível/Reex Necessário 1.0051.07.019267-2/001. TJMG. Des. Heloisa Combat - Câmaras Cíveis Isoladas / 7ª CÂMARA CÍVEL - Bambuí – 2008. (...) e) Destruição ou inutilização do produto (...). f) Suspensão de venda e fabricação do produto (...). g) Embargo de obra ou atividade e suas respectivas áreas (...). O embargo

de obra ou atividade consiste basicamente em impedir o uso da coisa por decisão judicial ou administrativa. No caso do decreto em comento, o embargo é administrativo e ocorre quando há a inobservância das normas legais ou regulamentares pertinentes ao assunto. No entanto, o embargo deve se limitar à área irregular, não colocando nenhuma restrição em relação ao restante da propriedade ou posse que esteja em acordo com as normas legais e regulamentares. (...) Ao lavrar o auto de infração que determina os embargos, o agente autuante deve traçar as coordenadas geográficas da área embargada, para melhor delimitação, com vistas a dar maior segurança ao proprietário da área no tocante ao espaço em que pode continuar a desenvolver suas atividades regulares. Para melhor compreensão, vamos entender a questão do “boi pirata”, muito em voga após a edição do Decreto n. 6.514/2008. O “boi pirata” é, em suma, (...). (...) Vale mencionar que, se o embargo ocorreu por ocupação de área de reserva legal não averbada, cuja vegetação nativa tenha sido suprimida até 21 de dezembro de 2007 e, se o interessado protocolizar pedido de regularização de reserva legal no órgão ambiental competente, o embargo deve ser suspenso até 11 de dezembro de 2009 (...). h) Demolição de obra (...). i) Suspensão parcial ou total das atividades (...). j) Restritiva de direitos (...). Em suma, podem consistir em: I - suspensão de

registro, licença ou autorização; II - cancelamento de registro, licença ou autorização; III - perda ou restrição de incentivos e benefícios fiscais; IV - perda ou suspensão da participação em linhas de financiamento em estabelecimentos oficiais de crédito; e V - proibição de contratar com a administração pública. A escolha da sanção restritiva de direito deve ser adequada ao caso in concreto, (...).

Isso porque, como em regra, a propriedade da coisa financiada é dada em garantia, em caso de inadimplência com entrega da coisa, se essa estiver ecologicamente incorreta, o órgão financiador se torna obrigado em relação ao passivo ambiental.42 Em função da responsabilidade civil objetiva e solidária c/c a sanção ora em comento, a tendência é ocorrer um afunilamento quanto à exigência ambiental para concessão de financiamentos de atividades

42. Ver responsabilidade civil ambiental, objetiva e solidária, no capítulo 5 deste livro. Também trata do assunto: RESURREIÇÃO, Mauricio Gaspari. Da co-responsabilidade civil dos bancos por danos ambientais, 2005, disponível no site <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=9142&p=2> , pesquisado em 23

de março de 2009.

Page 23: CONCEITOS ATINENTES AO DIREITO AMBIENTAL. (site: … · Conceito de Direito Ambiental: Direito Ambiental é a ciência jurídica que estuda, analisa e discute os problemas inerentes

23

econômicas.43 (...). DEON SETTE, MARLI T. Direito ambiental. Coordenadores: Marcelo Magalhães Peixoto e Sérgio Augusto Zampol Pavani. Coleção Didática jurídica, São Paulo: MP Ed., 2009, p. 175-194. ISBN 978-85-97898-023-8. (site:

www.marli.ladesom.com.br Aplicação do Decreto n. 6.514/2008

Há muitas dúvidas sobre como aplicar o Decreto n. 6.514/2008, se esse incide desde logo sobre os processos que estão em curso ou se aplicável apenas nos casos de autos lavrados após a sua vigência. (....) entendemos que a aplicação do Decreto n. 6.514/2008 deve pautar-se pelo fato inicial da apuração da infração e simultaneamente pela sensatez em relação a situações já em curso. Assim, teríamos duas situações a serem consideradas. (...). DEON SETTE, MARLI T. Direito ambiental. Coordenadores: Marcelo Magalhães Peixoto e Sérgio Augusto Zampol Pavani. Coleção Didática jurídica, São Paulo: MP Ed., 2009, p. 194-195. ISBN 978-85-97898-023-8. (site:

www.marli.ladesom.com.br PROCESSO ADMINISTRATIVO AMBIENTAL

O processo administrativo constitui-se em uma sequência ordenada de procedimentos com vistas a obter a regularidade de um ato administrativo principal. Durante o curso do processo, todos os atos devem ser pautados pelos princípios gerais, mormente o da legalidade e do contraditório e ampla defesa, além da cuidadosa observância dos requisitos atinentes aos atos administrativos. Lavratura do auto de Notificação e Infração (...). Fase Inicial: conhecimento (contexto dos artigos 96 a 126, do Decreto n. 6.514/2008) (...) a) Vícios sanáveis e não sanáveis

(...) Os vícios sanáveis podem ser convalidados pela autoridade julgadora a qualquer tempo, mediante despacho saneador, após ouvido o Procurador-Geral. Caso o vício sanável só for suscitado pelo autuado, o procedimento deve ser anulado desde a fase em que o vício foi produzido, reabrindo-se o prazo para a defesa, com aproveitamento dos atos regularmente produzidos. Se o caso for de vício insanável, o auto deve ser declarado nulo pela autoridade julgadora, que determinará o arquivamento do feito, após ouvido o Procurador-Geral. Mas, se a conduta ou atividade que gerou o auto declarado nulo for considerada lesiva ao meio ambiente, outro auto deverá ser lavrado, observadas as regras relativas à prescrição. (...). Fase recursal – artigos 127 a 133, do Decreto n. 6.514/2008 (...). DEON SETTE, MARLI T. Direito ambiental. Coordenadores: Marcelo Magalhães Peixoto e Sérgio Augusto Zampol Pavani. Coleção Didática jurídica, São Paulo: MP Ed., 2009, p. 195 -200. ISBN 978-85-97898-023-8. (site:

www.marli.ladesom.com.br Tutela penal do meio ambiente44

(...) Responsabilidade penal: previsão constitucional e infraconstitucional

A responsabilidade penal está prevista no § 3º, do artigo 225, da Constituição Federal, que dispõe acerca da aplicação de sanções penais e administrativas ao infrator, independentemente da reparação do dano ambiental por ele causado. (...).

43. O Banco Mundial da Amazônia tomou a iniciativa de vedar financiamentos que acarretem prejuízos ambientais. Sobre o assunto, ver

<http://www.prmt.mpf.gov.br/noticias/basa-acolhe-recomendacao-do-ministerio-publico-federal-que-vale-para-todas-as-agencias-no-brasil> , pesquisado em 23 de março de 2009. 44

Esta seção teve co-autoria de MARILISE ANA DEON PETERLINI.

Page 24: CONCEITOS ATINENTES AO DIREITO AMBIENTAL. (site: … · Conceito de Direito Ambiental: Direito Ambiental é a ciência jurídica que estuda, analisa e discute os problemas inerentes

24

DEON SETTE, MARLI T45

. Direito ambiental. Coordenadores: Marcelo Magalhães Peixoto e Sérgio Augusto Zampol

Pavani. Coleção Didática jurídica, São Paulo: MP Ed., 2009, p. 201-202. ISBN 978-85-97898-023-8. (site: www.marli.ladesom.com.br Sujeito ativo

A legislação ambiental, Lei n. 9.605/1998, em seu artigo 2º, dispõe que qualquer pessoa pode ser sujeito ativo da prática delitiva, seja ela física, desde que imputável, ou jurídica, incluído nesse rol o diretor, o administrador, o membro de conselho e de órgão técnico, o auditor, o gerente e o preposto ou mandatário de pessoa jurídica quando esse souber da conduta criminosa de terceiro e, tendo condições de agir para evitar o comportamento ilícito, deixar de impedir a sua prática (...). Como a legitimação da pessoa jurídica envolve mudanças bastante profundas em relação ao assunto, é necessário dedicar atenção especial a isso. a) Pessoa jurídica (...). Vale mencionar que a pessoa física e a jurídica

respondem cumulativamente. No entanto, a pessoa jurídica somente poderá ser responsabilizada juntamente com uma pessoa física – autora, coautora ou partícipe do mesmo fato –, na medida em que a empresa, por si mesma, não comete crimes (artigo 3º, parágrafo único, da Lei n. 9.605/1998). É a chamada dupla imputação. Nesse sentido, é o teor do REsp 610.114/RN, proferido pelo Relator, Ministro GILSON DIPP. (...). Ainda, no que tange à pessoa jurídica de direito público, a doutrina ambiental diverge acerca da sua responsabilização, em razão da sua natureza, uma vez que o Estado estaria punindo a si mesmo (SHECAIRA; In: SÉGUIN, 2006, p. 425). No entanto, exatamente em função da sua natureza, entendemos que a pessoa jurídica de direito público é tão ou mais responsável do que a de direito privado, tendo em vista que é ela quem detém o poder de regulamentação, fiscalização e responsabilização dos infratores. No entanto, (...). (...) b) Índios (...).

DEON SETTE, MARLI T46

. Direito ambiental. Coordenadores: Marcelo Magalhães Peixoto e Sérgio Augusto Zampol

Pavani. Coleção Didática jurídica, São Paulo: MP Ed., 2009, p. 2-3-208. ISBN 978-85-97898-023-8. (site: www.marli.ladesom.com.br Responsabilização dos sujeitos a) Responsabilidade subjetiva

Diversamente do que ocorre no âmbito civil ambiental, em que a responsabilidade é sempre objetiva integral, não admitindo sequer as excludentes, e na esfera administrativa ambiental, em que a responsabilização é objetiva, mas admite a arguição das excludentes civis, na seara penal ambiental, a responsabilização será sempre subjetiva, uma vez que é determinada pela culpabilidade do agente,47 consoante preceitua a norma penal geral. (...). Nesse passo, é necessário esclarecer como identificar um delito ambiental na modalidade dolosa ou culposa. A regra em direito penal e ambiental penal é de que os delitos sejam dolosos, esses identificados quando a lei silencia a respeito da conduta. Já os delitos culposos, chamados de excepcionais, são aqueles cuja modalidade é conjeturada expressamente no texto da lei, como, por exemplo, o previsto no § 1º, do artigo 54, da Lei n. 9.605/1998, em que essa, formalmente, dispõe “se o crime for culposo”, trazendo assim, pena mais

45

Esta seção teve co-autoria de MARILISE ANA DEON PETERLINI. 46

Esta seção teve co-autoria de MARILISE ANA DEON PETERLINI.

47. Segundo a Teoria Finalista, a culpabilidade não é considerada como requisito do crime, mas sim um juízo de reprovação soc ial, que tem por elementos a imputabilidade penal, a potencial consciência da ilicitude e a exigibilidade de conduta diversa, observada na fase de dosimet ria da pena, funcionando como

pressuposto para a aplicação da pena. A culpabilidade liga o agente à punibilidade.

Page 25: CONCEITOS ATINENTES AO DIREITO AMBIENTAL. (site: … · Conceito de Direito Ambiental: Direito Ambiental é a ciência jurídica que estuda, analisa e discute os problemas inerentes

25

branda. Oportuno esclarecer que o Direito Penal Brasileiro adotou, quanto à gravidade das infrações penais, o sistema dicotômico,48 que separa os crimes ou delitos das contravenções penais. Também chamadas de “crime-anão”, essas presentes também na esfera ambiental penal, e consideradas assim as infrações penais de menor potencial ofensivo, 49 e punidas com pena de prisão simples, multa, ou ambas, alternativa ou cumulativamente. (...). (...) Principio da insignificância (...). Outro argumento contrário à aplicação do

Princípio da Insignificância, é o fato de que o valor do meio ambiente não pode ser sopesado em termos monetários e, sim, pela higidez, o que faz com que o Princípio da Insignificância seja utilizado com muita cautela, sob pena de tornar inócuo o propósito da norma. (...). DEON SETTE, MARLI T

50. Direito ambiental. Coordenadores: Marcelo Magalhães Peixoto e Sérgio Augusto Zampol

Pavani. Coleção Didática jurídica, São Paulo: MP Ed., 2009, p. 208-211. ISBN 978-85-97898-023-8. (site: www.marli.ladesom.com.br Tipos penais

a) Aspectos gerais (...) No âmbito do Direito Ambiental Penal, algumas peculiaridades devem ser observadas. Enquanto que, em Direito Penal, faz-se necessário, na maioria dos crimes, o tipo objetivo, entendido como o núcleo do tipo, em matéria ambiental, a regra é de normas penais em branco e tipos penais abertos. (...). e) Causas de exclusão da ilicitude (...). f) Causas de exclusão da culpabilidade (...). DEON SETTE, MARLI T

51. Direito ambiental. Coordenadores: Marcelo Magalhães Peixoto e Sérgio Augusto Zampol

Pavani. Coleção Didática jurídica, São Paulo: MP Ed., 2009, p. 211-218. ISBN 978-85-97898-023-8. (site: www.marli.ladesom.com.br

Sanções penais

(...) A sanção penal é o preceito secundário da norma penal,52 o qual estabelece a consequência jurídica aplicável ao sujeito que infringir a norma, tendo por espécies a pena e a medida de segurança, essa aplicada aos sujeitos inimputáveis por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado (ANDREUCCI, 2008, p. 87). Para a imposição e gradação da pena, no caso específico do Direito Ambiental Penal, a autoridade competente deve observar o que determina o artigo 6º, da Lei n. 9.605/1998: (...). Espécies (...).

b.1.) Espécies de sanções aplicáveis quando o sujeito ativo for pessoa física: Se a infração penal tiver sido praticada por uma pessoa física, as penas possíveis, consoante preceitua o artigo 32, do Código Penal, bem como a Lei n. 9.605/1998, ressalvadas as peculiaridades de cada seara, são: a) pena privativa de liberdade; b) penas restritivas de direito; c) pena de multa; conforme segue: (...). b.2.) Espécies de sanções aplicáveis quando o sujeito ativo for pessoa jurídica No que tange às sanções possíveis ao sujeito ativo pessoa jurídica, podem ser

48. Assim chamado porque divide as infrações penais em dois grandes grupos: o primeiro, formado pelos crimes ou delitos – usados como sinônimos, e definidos como as infrações penais de maior potencial ofensivo –, e o segundo, das contravenções penais, definidas como as infrações penais de menor

potencial ofensivo. 49. Infrações penais de menor potencial ofensivo estão determinadas no artigo 61, da Lei n. 9.099/1990 – Lei de Contravenções Penais, que dispõe:

“Consideram-se infrações penais de menor potencial ofensivo, para efeitos desta Lei, as contravenções penais e os crimes a que a lei comine pena máxima não superior a 2 (dois) anos, cumulada ou não com multa.” 50

Esta seção teve co-autoria de MARILISE ANA DEON PETERLINI. 51

Esta seção teve co-autoria de MARILISE ANA DEON PETERLINI.

52. A norma penal é formada pelo preceito primário – descrição da conduta típica – e preceito secundário – previsão da sanção penal a ser aplicada.

Page 26: CONCEITOS ATINENTES AO DIREITO AMBIENTAL. (site: … · Conceito de Direito Ambiental: Direito Ambiental é a ciência jurídica que estuda, analisa e discute os problemas inerentes

26

aplicadas isolada, cumulativa ou alternativamente, consoante artigo 3°, da Lei n. 9.605/1998, as descritas no rol do artigo 21, do diploma legal em voga, que são: (...). DEON SETTE, MARLI T

53. Direito ambiental. Coordenadores: Marcelo Magalhães Peixoto e Sérgio Augusto Zampol

Pavani. Coleção Didática jurídica, São Paulo: MP Ed., 2009, p. 218-223. ISBN 978-85-97898-023-8. (site: www.marli.ladesom.com.br Agravantes e atenuantes legais

O artigo 15, da Lei n. 9.605/1998, traz o rol de circunstâncias agravantes, também chamadas de legais, e que provocam o agravamento ou aumento da pena-base fixada. São elas: (...); Já o artigo 14, da Lei n. 9.605/1998, traz o rol das circunstâncias atenuantes, chamadas de legais porque são previamente dispostas em lei (BITENCOURT, 2008, p. 596). Dispõe referida lei, como circunstâncias que atenuam a pena: (...). Saliente-se que tanto as agravantes quanto as atenuantes genéricas são aplicadas na segunda fase da dosimetria da pena, 54 silenciando a lei acerca da quantidade a ser acrescida ou reduzida por cada agravante ou atenuante, sobre a pena-base fixada na fase inicial do cálculo da pena, cabendo ao magistrado fazer essa análise em cada caso (BITENCOURT, 2008, p. 596). DEON SETTE, MARLI T

55. Direito ambiental. Coordenadores: Marcelo Magalhães Peixoto e Sérgio Augusto Zampol

Pavani. Coleção Didática jurídica, São Paulo: MP Ed., 2009, p. 223-225. ISBN 978-85-97898-023-8. (site: www.marli.ladesom.com.br Qualificadoras e causas especiais de aumento e diminuição da pena (...) Simples é aquela conduta básica descrita no caput – preceito primário –

da norma incriminadora. Já a conduta qualificada é assim chamada porque além do tipo básico é dotado de circunstâncias a mais que a tornam mais grave, o que provoca o aumento da pena in abstrato prevista (ANDREUCCI,

2008, p. 41). É exemplo de delito simples, o previsto no caput, do artigo 54, da Lei n.

9.605/1998, que estabelece: (...). Já o disposto nos incisos do § 2°, do referido artigo 54, é a forma qualificada do delito de causar poluição, porque (...). Os delitos ambientais também são passíveis da presença de causas especiais de aumento e causas especiais de diminuição da pena, a serem observadas na segunda fase da dosimetria, as chamadas majorantes e minorantes. (...). Cite-se como exemplo o previsto no artigo 53, da Lei n. 9.605/1998, que traz situações que majoram a pena de um sexto a um terço, (...). DEON SETTE, MARLI T

56. Direito ambiental. Coordenadores: Marcelo Magalhães Peixoto e Sérgio Augusto Zampol

Pavani. Coleção Didática jurídica, São Paulo: MP Ed., 2009, p. 225-226. ISBN 978-85-97898-023-8. (site:

www.marli.ladesom.com.br

Crimes em espécie

(...). Nesse passo, a Lei n. 9.605/1998, traz em seu bojo os seguintes grupos penais: a) crimes contra a fauna, previstos nos seus artigos 29 a 35, (...). b) crimes contra a flora, normatizados pelos artigos 38 a 52. (...). c) crimes de poluição, descritos nos artigos 54 a 61, (...). d) crimes contra o ordenamento urbano e o patrimônio cultural, delineados nos artigos 62 a 65. (...).

53

Esta seção teve co-autoria de MARILISE ANA DEON PETERLINI.

54. São três as fase s do cálculo da pena: na 1ª fase, observa-se as circunstâncias judiciais previstas no artigo 59, do Código Penal, tomando por base o mínimo e máximo previstos no preceito secundário da norma incriminadora; na 2ª fase, aplicam -se as agravantes e atenuantes genéricas, ficando ao prudente

arbítrio do juiz o quantum de aumento ou diminuição da pena-base encontrada na 1ª fase; e, na 3ª e última fase da dosimetria, observam -se as causa s espécies de aumento e diminuição da pena, chamadas de majorantes e minorantes, cujo quantum de aumento ou diminuição da pena encontrada na 2ª fase já

vem preestabelecido na norma. 55

Esta seção teve co-autoria de MARILISE ANA DEON PETERLINI. 56

Esta seção teve co-autoria de MARILISE ANA DEON PETERLINI.

Page 27: CONCEITOS ATINENTES AO DIREITO AMBIENTAL. (site: … · Conceito de Direito Ambiental: Direito Ambiental é a ciência jurídica que estuda, analisa e discute os problemas inerentes

27

e) Por fim, temos os crimes contra a administração ambiental, tracejados nos artigos 66 a 69, (...). DEON SETTE, MARLI T

57. Direito ambiental. Coordenadores: Marcelo Magalhães Peixoto e Sérgio Augusto Zampol

Pavani. Coleção Didática jurídica, São Paulo: MP Ed., 2009, p. 226-227. ISBN 978-85-97898-023-8. (site: www.marli.ladesom.com.br Prescrição

Em matéria penal, a prescrição58 atinge diretamente a punibilidade, em razão do decurso do tempo, e corresponde à perda do direito que o Estado tem de punir o agente ou, caso já tenha sido condenado, à perda em executar a pena imposta ao condenado (MESQUITA JÚNIOR, 2003, p. 51). A natureza jurídica da prescrição, portanto, está na perda do jus puniendi em decorrência da

inércia ou lentidão do Estado. (...). (...) já a penal trata da possibilidade ou não de punição do agente pelo Estado, observados os prazos prescricionais dispostos no artigo 109, do Código Penal,59 os quais podem variar de dois a vinte anos. Denomina-se prescrição da pretensão punitiva60 quando ocorre antes ou durante a ação penal. No entanto, quando ocorrer depois de transitada em julgado a sentença penal condenatória, é denominada de prescrição da pretensão executória, nos termos do artigo 110, do Código Penal. Ambas, por se tratarem de matéria de ordem pública, poderão ser arguidas pelo Ministério Público, pelo réu, ou decretada ex officio pelo juiz61 (MESQUITA JÚNIOR,

2003, p. 87 e 90). DEON SETTE, MARLI T

62. Direito ambiental. Coordenadores: Marcelo Magalhães Peixoto e Sérgio Augusto Zampol

Pavani. Coleção Didática jurídica, São Paulo: MP Ed., 2009, p. 227-229. ISBN 978-85-97898-023-8. (site: www.marli.ladesom.com.br Tutela processual penal ambiental

Observadas as questões de direito material, passamos a pontuar a tutela processual penal. Assim, partimos das generalidades acerca da competência, para então chegarmos à ação penal e demais peculiaridades decorrentes do processo ambiental penal. Competências nos crimes ambientais (...). Inquérito ambiental penal (...). Ação penal (...). Transação penal (...). Suspensão condicional do processo (...). DEON SETTE, MARLI T

63. Direito ambiental. Coordenadores: Marcelo Magalhães Peixoto e Sérgio Augusto Zampol

Pavani. Coleção Didática jurídica, São Paulo: MP Ed., 2009, p. 229-238. ISBN 978-85-97898-023-8. (site:

57

Esta seção teve co-autoria de MARILISE ANA DEON PETERLINI. 58. Em matéria penal, a prescrição diferencia-se da decadência porque aquela diz respeito ao direito de punir do Estado, enquanto a decadência corresponde

à perda do direito de queixa ou representação, visto somente nas ações penais privadas ou nas públicas condicionadas, nos termos do artigo 103, do Código Penal. Vale mencionar que a imprescritibil idade divulgada em matéria ambiental diz respeito à obrigação de reparar danos causados ao meio ambiente,

conforme se afere no julgado do Recurso Especial 564960/2005, da 5ª Turma do STJ (<www.stj.jus.br/portal_stj/publicacao/engine.wsp?tmp.area=398&tmp.texto=90196>). Contudo, há discussões, inclusive apresentação de projetos, no sentido

de tornar imprescritíveis e inafiançáveis os crimes praticados contra a flora amazônica (<www.direito2.com.br/asen/2008/dez/4/arthur-virgilio-quer-tornar-inafiancavel-e-imprescritiveis-crimes>).

59. HABEAS CORPUS. CRIME AMBIENTAL. COMPETÊNCIA. JUSTIÇA FEDERAL. NECESSIDADE DE DEMONSTRAÇÃO DE INTERESSE DIRETO DA UNIÃO. APA DO ANHATOMIRIM. DECRETO N. 528/92. CRIME PRATICADO PRÓXIMO À APA. NORMAS DO CONAMA. FISCALIZAÇÃO PELO IBAMA.

FALTA DE INTERESSE DIRETO DA AUTARQUIA. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL. ANULAÇÃO DO PROCESSO. PRESCRIÇÃO. EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE. ORDEM CONCEDIDA. 1.(...) 7. Restando anulado o processo, e considerando que a sanção que venha a ser imposta ao paciente, pelo delito

em exame, não poderá ultrapassar 1 ano e 4 meses, sanção aplicada na sentença ora anulada, constata -se ter ocorrido a prescrição da pretensão punitiva, em razão do decurso de mais de quatro anos desde a data do fato, 3/12/1998, com base no art. 109, V, c/c o art. 110, § 1º, os do is do Código Penal. 8. Ordem

concedida, declarando-se, de ofício, extinta a punibilidade. (HC 38.649/SC, Rel. Ministro PAULO GALLOTTI, SEXTA TURMA, julgado em 25.04.2006, DJ 26.06.2006 p. 203). Dispõe o artigo 109 do Código Penal que: A prescrição, antes de transitar em julgado a sentença final, sa lvo o disposto nos §§ 1º e 2º do

art. 110 deste Código, regula-se pelo máximo da pena privativa de liberdade cominada ao crime, verificando-se: I - em vinte anos, se o máximo da pena é superior a doze; II - em dezesseis anos, se o máximo da pena é superior a oito anos e não excede a doze; III - em doze anos, se o máximo da pena é superior

a quatro anos e na o excede a oito; IV - em oito anos, se o máximo da pena é superior a dois anos e não excede a quatro; V - em quatro anos, se o máximo da pena é igual a um ano ou, sendo superior, não excede a dois; VI - em dois anos, se o máximo da pena é inferior a um ano. Parágrafo único - Aplicam-se às

penas restritivas de direito os mesmos prazos previstos para as privativas de liberdade. Art. 110 - A prescrição depois de transitar em julgado a sentença condenatória regula-se pela pena aplicada e verifica-se nos prazos fixados no artigo anterior, os quais se aumentam de um terço, se o condenado é

reincidente. § 1º - A prescrição, depois da sentença condenatória com trânsito em julgado para a acusação, ou depois de improvido seu recurso, regula-se pela pena aplicada. § 2º - A prescrição, de que trata o parágrafo anterior, pode ter por termo inicial data anterior à do recebimento da denúncia ou da queixa.

60. A prescrição da pretensão punitiva do Estado é dividida em: a) prescrição da pena in abstrato; b) prescrição da pena in concreto, essa subdividida em retroativa (artigo 110, § 2°, do Código Penal), e subsequente ou superveniente (artigo 110, § 1°, do Código Penal).

61. Para tanto, deve-se observar, com relação ao início da contagem do prazo prescricional, bem como às causas de interrupção da sua contagem, o que dispõem os artigos 111 a 118, do Código Penal. 62

Esta seção teve co-autoria de MARILISE ANA DEON PETERLINI.

Page 28: CONCEITOS ATINENTES AO DIREITO AMBIENTAL. (site: … · Conceito de Direito Ambiental: Direito Ambiental é a ciência jurídica que estuda, analisa e discute os problemas inerentes

28

www.marli.ladesom.com.br

POLÍTICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE

(...) A PNMA deve ser compreendida como o conjunto de instrumentos legais, técnicos, científicos, políticos e econômicos destinados à promoção do desenvolvimento sustentável da sociedade e economias brasileiras (ANTUNES; In: SIRVINSKAS, 2009, p. 134). O objeto de estudo é o meio ambiente, com vistas a alcançar a qualidade ambiental propícia à vida das presentes e futuras gerações. Para tanto, tem como objetivo geral implementar políticas para preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental de modo a assegurar a todos segurança nacional e dignidade da vida humana, tudo em harmonia com o desenvolvimento socioeconômico. (...) Como já foram tecidas considerações atinentes aos princípios gerais do Direito Ambiental, nesta seção nos limitaremos apenas a citar os princípios a serem atendidos na aplicação da PNMA, quais sejam: ação governamental na manutenção do equilíbrio ecológico, considerando o meio ambiente como um patrimônio público a ser necessariamente assegurado e protegido, tendo em vista o uso coletivo; racionalização do uso do solo, do subsolo, da água e do ar; planejamento e fiscalização do uso dos recursos ambientais; proteção dos ecossistemas, com a preservação de áreas representativas; controle e zoneamento das atividades potencial ou efetivamente poluidoras; incentivos ao estudo e à pesquisa de tecnologias orientadas para o uso racional e a proteção dos recursos ambientais; acompanhamento do estado da qualidade ambiental; recuperação de áreas degradadas;64 proteção de áreas ameaçadas de degradação; e Educação Ambiental a todos os níveis de ensino, inclusive a educação da comunidade, objetivando capacitá-la para participação ativa na defesa do meio ambiente. DEON SETTE, MARLI T. Direito ambiental. Coordenadores: Marcelo Magalhães Peixoto e Sérgio Augusto Zampol

Pavani. Coleção Didática jurídica, São Paulo: MP Ed., 2009, p. 239-247. ISBN 978-85-97898-023-8. (site: www.marli.ladesom.com.br Instrumentos da PNMA (todos relativos aos treze incisos do artigo 9º).

Antes de adentrarmos o rol dos instrumentos expressamente mencionados no treze incisos, do artigo 9º, da Lei n. 6.938/1981, é importante dar destaque a um outro instrumento que, embora não faça parte desse rol, já é utilizado na própria lei, qual seja, a tributação ambiental, inserida nessa Lei, nos seus artigos 17 a 17-Q e 19. No entanto, em face da relevância de um estudo minucioso sobre o assunto, ele será tratado em seção própria no capítulo 11. Em relação aos demais instrumentos mencionados no artigo 9º, passaremos agora a analisá-los, dando mais enfoque àqueles que nos parecem de maior relevância no uso cotidiano do operador da lei. 1) Estabelecimento de padrões de qualidade ambiental (inciso I) 65

(...). Uma das ferramentas para tanto é a fixação de padrões de qualidade, que consiste, basicamente, num conjunto de normas legais e administrativas previamente fixadas, com vistas a impor limites de emissão de poluentes que podem ser lançados no ambiente como consequência de atividades econômicas, sem causar prejuízos à saúde ou ao meio ambiente. (...) O objetivo dessa ferramenta, que é uma clara manifestação do princípio do limite

63

Esta seção teve co-autoria de MARILISE ANA DEON PETERLINI. 227. A regulamentação desse princípio está no Decreto n. 99.632/1989.

233. Lei n. 6.938/1981, art. 9º (...) inciso I – “o estabelecimento de padrões de qualidade ambiental ”.

Page 29: CONCEITOS ATINENTES AO DIREITO AMBIENTAL. (site: … · Conceito de Direito Ambiental: Direito Ambiental é a ciência jurídica que estuda, analisa e discute os problemas inerentes

29

e tem natureza jurídica de instrumento preventivo – legal ou administrativo –, é harmonizar e conciliar o desempenho de ações humanas de produção e consumo com as condições físicas, químicas, biológicas, culturais etc. (...) a) Padrões de qualidade relacionados à poluição atmosférica66 (...). b) Padrões de qualidade relacionados à poluição hídrica67 (...). c) Padrões de qualidade relacionados à poluição do solo (...). d) Padrões de qualidade relacionados à poluição sonora (...). e) Padrões de qualidade relacionados à poluição visual (...). f) Padrões de qualidade relacionados à poluição eletromagnética ou de antena (...). DEON SETTE, MARLI T. Direito ambiental. Coordenadores: Marcelo Magalhães Peixoto e Sérgio Augusto Zampol Pavani. Coleção Didática jurídica, São Paulo: MP Ed., 2009, p. 247-261. ISBN 978-85-97898-023-8. (site:

www.marli.ladesom.com.br 2) Zoneamento ambiental (inciso II)68

(...) De forma ampla, o zoneamento pode ser definido como um instrumento de gestão, que dispõe o Governo, o setor produtivo e a sociedade e que tem como fim específico delimitar geograficamente áreas territoriais com vistas a estabelecer regimes especiais de uso, gozo e fruição da propriedade quer seja em uma região, estado ou município. De maneira específica, zoneamento ambiental consiste em uma integração sistemática e interdisciplinar da análise ambiental interligada ao planejamento do uso do solo, com o objetivo de definir a gestão dos recursos ambientais em cada espaço. Trata-se de controle estatal capaz de ordenar o interesse privado e a evolução econômica com os interesses e direitos ambientais e sociais. (...). Nesse sentir, o zoneamento ecológico-econômico do Brasil – ZEE – é instrumento de organização do território a ser obrigatoriamente seguido na implantação de planos, obras e atividades públicas e privadas. Por meio dele são estabelecidas medidas e padrões de proteção ambiental destinadas a assegurar a qualidade ambiental, dos recursos hídricos e do solo e a conservação da biodiversidade, garantindo o desenvolvimento sustentável e a melhoria das condições de vida da população. O objetivo é organizar, de forma vinculada, as decisões dos agentes públicos e privados quanto a planos, programas, projetos e atividades que, direta ou indiretamente, utilizem recursos naturais, assegurando a plena manutenção do capital e dos serviços ambientais dos ecossistemas. (...). DEON SETTE, MARLI T. Direito ambiental. Coordenadores: Marcelo Magalhães Peixoto e Sérgio Augusto Zampol Pavani. Coleção Didática jurídica, São Paulo: MP Ed., 2009, p. 262-270. ISBN 978-85-97898-023-8. (site:

www.marli.ladesom.com.br 3) Avaliação de impactos ambientais (inciso III)69

Considera-se estudos ambientais todos e quaisquer estudos relativos aos aspectos ambientais relacionados à localização, instalação, operação e ampliação de uma atividade ou empreendimento, apresentados como subsídio para a análise da licença requerida, tais como (artigo 1°, III, da Resolução n. 237/1997, do CONAMA. Assim, é considerado estudo ambiental o estudo de impacto ambiental, o relatório ambiental, o plano e projeto de controle ambiental, o relatório ambiental preliminar, o diagnóstico ambiental, o plano de

234. Sobre políticas mundiais relacionadas com poluição atmosférica, ver seção que discute o Protocolo de Quioto, no capítulo 11.

237. No capítulo 10, a Política Nacional de Recursos Hídricos é tratada em seção própria. 242. Lei n. 6.938/1981, art. 9º, inciso II – “o zoneamento ambiental”.

247. Lei n. 6.938/1981, art. 9º (...) inciso III – “a avaliação de impactos ambientais”.

Page 30: CONCEITOS ATINENTES AO DIREITO AMBIENTAL. (site: … · Conceito de Direito Ambiental: Direito Ambiental é a ciência jurídica que estuda, analisa e discute os problemas inerentes

30

manejo, o plano de recuperação de área degradada, e a análise preliminar de risco. (...). O estudo de impacto ambiental – EIA – é um mecanismo administrativo preventivo de planejamento para atividades que causem ou potencialmente possam causar significativo impacto ambiental. Seu objetivo é antever as consequências do empreendimento, minimizando-as ou por vezes evitando o empreendimento com vistas à preservação da qualidade ambiental, numa verdadeira concretização do Princípio da Prevenção. Por meio dele, busca-se levantar todos os aspectos positivos e negativos de um empreendimento, nas mais diversas áreas passíveis de sofrerem a influência do empreendimento, direta ou indiretamente. Após o levantamento realizado, também são sugeridas alternativas tecnológicas que minimizem os aspectos negativos, para, sempre que possível, possibilitar o desenvolvimento da atividade. O EIA, quando se faz necessário, precede a concessão da(s) licença(s) ambiental(is) relativas ao desenvolvimento das atividades. (...) Já o relatório de impacto ambiental – RIMA – é um documento em que se materializam as conclusões do EIA, de maneira mais sucinta e numa linguagem acessível à sociedade. Nele, devem ser juntados todos os mapas, cartas e demais documentos que possam denotar as vantagens e desvantagens do projeto, bem como as implicações dele resultantes. (...). DEON SETTE, MARLI T. Direito ambiental. Coordenadores: Marcelo Magalhães Peixoto e Sérgio Augusto Zampol Pavani. Coleção Didática jurídica, São Paulo: MP Ed., 2009, p. 270-279. ISBN 978-85-97898-023-8. (site:

www.marli.ladesom.com.br 4) Licenciamento e revisão de atividades efetiva ou potencialmente poluidoras (inciso IV)70

(...) Com efeito, entende-se por licenciamento ambiental o complexo de etapas que compõem o procedimento administrativo, o qual objetiva a concessão da licença ambiental.71 Por seu turno, licença ambiental é espécie de ato administrativo unilateral, pelo qual a administração faculta àquele que preencha os requisitos legais o exercício de uma atividade. 72 A natureza jurídica da licença ambiental é de instrumento não jurisdicional de caráter preventivo de tutela do meio ambiente. De fato, a licença ambiental é um dos mais importantes instrumentos de controle do uso e apropriação dos bens e serviços ambientais, pois é por meio dela que o Poder Público pode colocar condicionantes, restrições, enfim, pode, de fato, exercitar o cuidado em relação ao meio ambiente, sem, contudo, inviabilizar as atividades econômicas que possam se desenvolver de forma ambientalmente correta. (...) Do exposto, é importante destacar a diferença substancial entre as atividades que precisam de licença ambiental e aquelas que precisam do EIA/RIMA. Em suma, tem-se que toda atividade que fizer uso de recursos naturais está obrigada a obter a licença ambiental, mormente quando relacionada no anexo da Resolução n. 237/1997 do CONAMA, e, se essa atividade gerar significativa degradação ambiental, ainda terá que apresentar EIA/RIMA (artigo 2º, da Resolução n. 001/1986). Ou seja, a licença tanto pode ser

253. Lei n. 6.938/1981, art. 9º (...) inciso IV – “l icenciamento e a revisão de atividades efetiva ou potencialmente poluidoras”. 255. Nos termos da Resolução n. 237/1997, art. 1º (...), inciso I, licenciamento ambiental consiste num "procedimento administrativo pelo qual o órgão

ambiental competente licencia a localização, instalação, ampliação e a operação de empreendimentos e atividades util izadoras de recursos ambientais, consideradas efetiva ou potencialmente poluidoras ou daquelas que, sob qualquer forma, possam causar degradação ambiental, considerando as disposições

legais e regulamentares e as normas técnicas aplicáveis ao caso”. 256. Nos termos da Resolução n. 237/1997, art. 1º (...), inciso II, licença ambiental é “ato administrativo pelo qual o órgão ambiental competente, estabelece as

condições, restrições e medidas de controle ambiental que deverão ser obedecidas pelo empreendedor, pessoa física ou jurídica , para localizar, instalar, ampliar e operar empreendimentos ou atividades utilizadoras dos recursos ambientais consideradas efetiva ou potencialmente poluidoras ou aquelas que, sob

qualquer forma, possam causar degradação ambiental”.

Page 31: CONCEITOS ATINENTES AO DIREITO AMBIENTAL. (site: … · Conceito de Direito Ambiental: Direito Ambiental é a ciência jurídica que estuda, analisa e discute os problemas inerentes

31

concedida sem o EIA/RIMA quanto ser precedida do EIA/RIMA, depende do fato de ser ou não efetiva ou potencialmente de “significativo impacto ambiental”. (...) d) Fases das licenças ambientais e prazo de validade: A licença prévia (LP) (...). A licença de instalação (LI) (...). A licença de operação (LO) (...). (...) o estado de Mato Grosso criou mais duas licenças ambientais além da LP, LI e LO. As licenças criadas no estado de Mato Grosso são a Licença Ambiental Única (LAU) e a Licença de Operação Provisória (LOP). (...) (...) DEON SETTE, MARLI T. Direito ambiental. Coordenadores: Marcelo Magalhães Peixoto e Sérgio Augusto Zampol

Pavani. Coleção Didática jurídica, São Paulo: MP Ed., 2009, p. 279-289. ISBN 978-85-97898-023-8. (site:

www.marli.ladesom.com.br ).

Auditoria ambiental

(...) A auditoria consiste num procedimento de exame e avaliação, inspeção e análise periódica ou ocasional do comportamento de uma empresa em relação ao meio ambiente, em que são levantadas as condições gerais ou específicas em relação a fontes de poluição, eficiência dos sistemas de controle de poluentes, riscos ambientais, legislação ambiental, relacionamento da empresa com o meio ambiente. Em suma, a auditoria compara as expectativas com os resultados obtidos. O objetivo da auditoria é fazer um diagnóstico da situação da empresa para, a partir dele, sugerir alternativas com vistas a solucionar problemas e viabilizar o gerenciamento de ações de curto, médio e longo prazo que deverão ser tomadas para proporcionar a melhoria ambiental da empresa. (...). DEON SETTE, MARLI T. Direito ambiental. Coordenadores: Marcelo Magalhães Peixoto e Sérgio Augusto Zampol Pavani. Coleção Didática jurídica, São Paulo: MP Ed., 2009, p. 289-292. ISBN 978-85-97898-023-8. (site: www.marli.ladesom.com.br 5) Os incentivos à produção e instalação de equipamentos e a criação ou absorção de tecnologia, voltados para a melhoria da qualidade ambiental (inciso V)73

(...). Ocorre que, sempre que uma empresa tem que fazer modificações para melhorar a sua qualidade ambiental de produção, é decorrência óbvia que gere mais dispêndios financeiros tanto para buscar novas tecnologias quanto para dar efetividade às modificações. Assim, esse inciso (V) pode servir como socorro para tais condições, pois a lei dá ao Poder Público uma ferramenta que o autoriza a realizar por si próprio dispêndios com pesquisa de novas tecnologias, quanto absorvê-las do mercado ou, ainda, fomentar novas pesquisas. (...) DEON SETTE, MARLI T. Direito ambiental. Coordenadores: Marcelo Magalhães Peixoto e Sérgio Augusto Zampol Pavani. Coleção Didática jurídica, São Paulo: MP Ed., 2009, p. 292. ISBN 978-85-97898-023-8. (site: www.marli.ladesom.com.br 6. Criação de espaços territoriais especialmente protegidos pelo Poder Público Federal, Estadual e Municipal, tais como Áreas de Proteção Ambiental, de Relevante Interesse Ecológico e Reservas Extrativistas (inciso VI)74

(...)

262. Lei n. 6.938/1981, art. 9º (...) inciso V – “os incentivos à produção e instalação de equipamentos e a criação ou absorção de tecnologia, voltados para a

melhoria da qualidade ambiental”. 263. Lei n. 6.938/1981, art. 9º (...) inciso VI – “a criação de espaços territoriais especialmente protegidos pelo Poder Público federal, estadual e municipal, tais

como áreas de proteção ambiental, de relevante interesse ecológico e reservas extrativistas”.

Page 32: CONCEITOS ATINENTES AO DIREITO AMBIENTAL. (site: … · Conceito de Direito Ambiental: Direito Ambiental é a ciência jurídica que estuda, analisa e discute os problemas inerentes

32

Para dar efetividade ao disposto no artigo 225, § 1º, III, da CF/88, bem como ao artigo 9º, VI, da Lei n. 6.938/1995, a Lei n. 9.985/2000 instituiu o Sistema Nacional de Unidades de Conservação – SNUC –, constituído pelo conjunto de unidades de conservação federais, estaduais e municipais e estabeleceu critérios e normas para a criação, implantação e gestão das referidas unidades, os microecossistemas (SIRVINSKAS, 2009, p. 428). (...) entende-se por unidade de conservação o espaço territorial e seus recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com características naturais relevantes, legalmente instituídos pelo Poder Público, com objetivos de conservação e limites definidos, sob regime especial de administração, ao qual se aplicam garantias adequadas de proteção. Com efeito, para criação de uma unidade de conservação alguns pressupostos são imprescindíveis, 75 entre os quais destacamos a necessidade da existência de características relevantes, delimitação do espaço – preferencialmente formando corredores ecológicos,76 objetivos claros e definidos e que sua instituição se dê por meio do Poder Público, entre outros. (...) Ressalte-se que as exigências legais para a criação de uma unidade de conservação devem ser integralmente cumpridas, mormente quanto à denominação, categoria de manejo, objetivos, limites, população residente, atividades econômicas possíveis de serem desempenhadas, estudos preliminares, consulta pública (essa é dispensada no caso de criação de Estação Ecológica e Reserva Biológica – artigo 22, § 4º, da Lei n. 9.985/2000), entre outras, além de demonstrar claramente que a área possui atributos que justifiquem a sua proteção (artigo 225, § 1º, III, da CF/88). Categorias de unidades de conservação (artigo 7º, da Lei n. 9.985/2000)

As Unidades de Conservação classificam-se em dois grandes grupos com características especificas. São eles: 1º) Unidades de Conservação de Proteção Integral; e, 2º) Unidades de Conservação de Uso Sustentável. (...). (...) 1º Unidades de conservação de proteção integral (artigo 8º, da Lei n. 9.985/2000)

O objetivo básico desse grupo é preservar a natureza, sendo admitido apenas o uso indireto dos seus recursos naturais, como, por exemplo, pesquisas científicas, atividades de educação, interpretação, recreação e turismo ecológico. O grupo é dividido em 5 categorias, quais sejam: Estação Ecológica, Reserva Biológica, Parque Nacional, Monumento Natural e Refúgio de Vida Silvestre. (...) 2º Unidades de conservação de uso sustentável (artigo 14, da Lei n. 9.985/2000)

O objetivo básico desse grupo é compatibilizar a conservação da natureza com o uso sustentável de parcela dos seus recursos naturais. O grupo é dividido em 7 categorias, quais sejam: Área de Proteção Ambiental; Área de Relevante Interesse Ecológico; Floresta Nacional; Reserva Extrativista; Reserva de Fauna; Reserva de Desenvolvimento Sustentável; e Reserva

269. O Decreto n. 4.340/2002 dispõe, em seu art. 2º, que “o ato de criação de uma unidade de conservação deve indicar: I - a denominação, a categoria de manejo, os objetivos, os limites, a área da unidade e o órgão responsável por sua administração; II - a população tradicional beneficiária, no caso das

Reservas Extrativistas e das Re servas de Desenvolvimento Sustentável; III - a população tradicional residente, quando couber, no caso das Florestas Nacionais, Florestas Estaduais ou Florestas Municipais; e IV - as atividades econômicas, de segurança e de defesa nacional envolvidas”.

270. Corredores ecológicos são porções de ecossistemas naturais ou seminaturais, ligando UC, possibil itando o fluxo de genes e o movimento da biota. Objetivo: facil itar a dispersão de espécies, recolonização de áreas degradadas, manter populações que demandam para sua sobre vivência áreas com

extensão maior do que aquela das unidades individuais.

Page 33: CONCEITOS ATINENTES AO DIREITO AMBIENTAL. (site: … · Conceito de Direito Ambiental: Direito Ambiental é a ciência jurídica que estuda, analisa e discute os problemas inerentes

33

Particular do Patrimônio Natural. (...) d) Compensação financeira e instituição de cobrança nas unidades de conservação

Empreendimentos de significativo impacto ambiental geram a obrigatoriedade de o empreendedor incentivar a criação e manutenção de Unidades de Conservação de Proteção Integral, quando da concessão de licenciamento ambiental dos referidos empreendimentos (artigo 36 e parágrafos, da Lei n. 9.985/2000). A Lei fixa, como percentual mínimo a ser destinado para compensação ambiental em tais casos, o percentual de 0,5% do valor total previsto para implantação do empreendimento. No entanto, O STF declarou como inconstitucional referida fixação estática, sob o argumento de que o valor deve ser apurado proporcionalmente ao impacto ambiental, após estudos que assegurem o contraditório e ampla defesa. Nesse sentido, é o julgamento da ADI 3378, Relator(a): Min. CARLOS BRITTO, Tribunal Pleno, julgado em 09 de abril de 2008. Para ver a ementa citada e nossa posição a esse respeito – a qual é contrária – vide capítulo 5 deste livro, item 5.2.5, letra “a”. O valor arrecadado deve ser destinado de acordo com o disposto nos artigos 33 e 34, do Decreto n. 4.340/2002. A questão da instituição de cobrança como limitador do acesso público nas unidades de conservação é um instrumento que nos parece interessante, posto que viabiliza o controle de frequência de acordo com a capacidade de suporte do sistema. Está prevista no artigo 35 e seus incisos, da Lei n. 9.985/2000, que também dispõe que o valor arrecadado deve ser revertido para a própria unidade de conservação, para regularização fundiária e/ou para manutenção e gestão de outras unidades de conservação de proteção integral. DEON SETTE, MARLI T. Direito ambiental. Coordenadores: Marcelo Magalhães Peixoto e Sérgio Augusto Zampol Pavani. Coleção Didática jurídica, São Paulo: MP Ed., 2009, p. 293-310. ISBN 978-85-97898-023-8. (site:

www.marli.ladesom.com.br

7) Sistema Nacional de Informações sobre o Meio Ambiente (inciso VII)

(....). Para operacionalizar o acesso às informações, foi criado o Sistema Nacional de Informação – SAI –, que é uma modalidade de banco de dados que reúne informações ambientais, as quais variam conforme as informações das entidades que as disponibilizam. (...) o qual busca, em síntese, desenvolver mecanismos de acesso à informação, sistematizá-las estatisticamente e elaborar indicadores ambientais e integrar as informações com os sistemas correlatos.(...). O objetivo dessa estrutura é ter uma base de dados que apresente referências dos atos legais, normativos e administrativos relativos à área de meio ambiente, além de armazenar leis, decretos-leis, decretos, acordos, portarias, resoluções e convênios. (...). DEON SETTE, MARLI T. Direito ambiental. Coordenadores: Marcelo Magalhães Peixoto e Sérgio Augusto Zampol Pavani. Coleção Didática jurídica, São Paulo: MP Ed., 2009, p. 310-311. ISBN 978-85-97898-023-8. (site:

www.marli.ladesom.com.br 8) Cadastro Técnico Federal de atividades e instrumentos de defesa ambiental (inciso VIII)

(...) Referido cadastro serve para facilitar tanto o acesso a empresas especializadas por aqueles que precisam demandar um serviço ligado aos problemas supramencionados, quanto o exercício das atividades profissionais comerciais ou industriais que dependem de informações contidas no cadastro. DEON SETTE, MARLI T. Direito ambiental. Coordenadores: Marcelo Magalhães Peixoto e Sérgio Augus to Zampol

Page 34: CONCEITOS ATINENTES AO DIREITO AMBIENTAL. (site: … · Conceito de Direito Ambiental: Direito Ambiental é a ciência jurídica que estuda, analisa e discute os problemas inerentes

34

Pavani. Coleção Didática jurídica, São Paulo: MP Ed., 2009, p. 312. ISBN 978-85-97898-023-8. (site: www.marli.ladesom.com.br 9) Penalidades disciplinares ou compensatórias ao não cumprimento das medidas necessárias à preservação ou correção da degradação ambiental (inciso IX)

As penalidades disciplinares ou compensatórias a que se refere esse inciso são as civis, administrativas e penais. Todas as três foram objeto de capítulos próprios, quais sejam, capítulos 5, 6 e 7, respectivamente, além de terem sido abordadas como conteúdo constitucional no capítulo 4, item 4.1.3, letra “b”, capítulos a que o leitor interessado deverá remeter-se. DEON SETTE, MARLI T. Direito ambiental. Coordenadores: Marcelo Magalhães Peixoto e Sérgio Augusto Zampol Pavani. Coleção Didática jurídica, São Paulo: MP Ed., 2009, p. 312. ISBN 978-85-97898-023-8. (site: www.marli.ladesom.com.br 10) Instituição do relatório de qualidade do meio ambiente, a ser divulgado anualmente pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis – IBAMA (inciso X)

(...) a divulgação do relatório de qualidade ambiental é uma das formas de divulgar informações atinentes ao meio ambiente. O relatório deve conter informações das mais diversas espécies de ambiente, mormente em relação à qualidade hídrica e atmosférica, sem exclusão das demais. Os dados nele fornecidos podem subsidiar políticas ambientais, mudanças de padrões de qualidade, restrições de uso, entre outros. DEON SETTE, MARLI T. Direito ambiental. Coordenadores: Marcelo Magalhães Peixoto e Sérgio Augusto Zampol Pavani. Coleção Didática jurídica, São Paulo: MP Ed., 2009, p. 313. ISBN 978-85-97898-023-8. (site: www.marli.ladesom.com.br 11) Garantia da prestação de informações relativas ao meio ambiente, obrigando-se o poder público a produzi-las, quando inexistentes (inciso XI)

A Lei n. 10.650/2003 dispõe que todos os órgãos integrantes do SISNAMA devem propiciar o acesso às informações relacionadas à matéria ambiental, tais como qualidade, políticas, programas, procedimentos, entre outros, a qualquer indivíduo, mediante requerimento e compromisso de não utilização para fins comerciais. O resguardo das informações só é assegurado em caso de sigilo comercial, industrial, financeiro ou qualquer outro sigilo protegido por lei, bem como aquele relativo às comunicações internas dos órgãos e entidades governamentais, devidamente demonstrado e fundamentado. (...). DEON SETTE, MARLI T. Direito ambiental. Coordenadores: Marcelo Magalhães Peixoto e Sérgio Augusto Zampol Pavani. Coleção Didática jurídica, São Paulo: MP Ed., 2009, p. 313-314. ISBN 978-85-97898-023-8. (site: www.marli.ladesom.com.br 12) Cadastro Técnico Federal de atividades potencialmente poluidoras e/ou utilizadoras dos recursos ambientais (inciso XII)

(...) Referidos cadastros se prestam a subsidiar tanto o registro de atividades que precisam de licenciamento e EIA/RIMA, mencionados nos anexos das Resoluções do CONAMA, (001/1986 e 237/1997), quanto para dar efetividade à cobrança da taxa de controle de fiscalização ambiental e demais serviços atinentes (instituídos pela Lei n. 9.960/2000). DEON SETTE, MARLI T. Direito ambiental. Coordenadores: Marcelo Magalhães Peixoto e Sérgio Augusto Zampol Pavani. Coleção Didática jurídica, São Paulo: MP Ed., 2009, p. 314. ISBN 978-85-97898-023-8. (site: www.marli.ladesom.com.br 13) Instrumentos econômicos, como Concessão Florestal, Servidão Ambiental, Seguro Ambiental e outros (inciso XIII)

Os instrumentos econômicos77 são instrumentos que possuem na sua essência a prerrogativa da flexibilização em relação ao seu uso. Por meio

280. Os principais instrumentos econômicos estão relacionados no capítulo 1, seção 1.2.2.

Page 35: CONCEITOS ATINENTES AO DIREITO AMBIENTAL. (site: … · Conceito de Direito Ambiental: Direito Ambiental é a ciência jurídica que estuda, analisa e discute os problemas inerentes

35

deles é possível incutir um custo pelo uso dos bens e serviços ambientais ou, então, possibilitar ao proprietário ajustar condutas ambientais lançando mão de mecanismos que permitem escolhas financeiras entre aferir recursos financeiros com o uso da área ou dar à área destinação ambiental de acordo com o que lhe for mais aprazível. No caso desse inciso, a Lei coloca como possíveis instrumentos a Concessão Florestal, a Servidão Ambiental e o Seguro Ambiental, sem excluir a possibilidade de uso de outros instrumentos econômicos. Como os três instrumentos possuem relação direta com a questão relativa à gestão das áreas vegetadas, tratadas, mormente pelo Código Florestal, deixaremos para tecer considerações sobre esses instrumentos no capítulo 9, em que é analisado o Código Florestal Brasileiro e similares. DEON SETTE, MARLI T. Direito ambiental. Coordenadores: Marcelo Magalhães Peixoto e Sérgio Augusto Zampol Pavani. Coleção Didática jurídica, São Paulo: MP Ed., 2009, p. 315. ISBN 978-85-97898-023-8. (site:

www.marli.ladesom.com.br

INSTRUMENTOS PARA PROTEÇÃO DO PATRIMÔNIO CULTURAL

Embora a tutela do patrimônio cultural não venha relacionada como um dos instrumentos constantes nos treze incisos da Lei n. 6.938/1981, é tratada neste capítulo por se constituir num instrumento análogo aos que foram tratados (...) Conceito

(...) Nos termos do artigo 216, da CF/88, “constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira”. O Decreto n. 25/1937, recepcionado pela Carta Magna, acrescenta ao conceito supra a ideia de que os bens devem ser aqueles cuja conservação seja de interesse público, quer por sua vinculação a fatos memoráveis da História do Brasil, quer por seu excepcional valor arqueológico ou etnográfico, bibliográfico ou artístico.78 Incluem-se nesse conceito as formas de expressão; os modos de criar, fazer e viver; as criações científicas, artísticas e tecnológicas; as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais; os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico. O conceito supra é exemplificativo e estende seus efeitos sobre a proteção das culturas originárias – os índios –, bem como aquelas que aqui no país chegaram – alemães, italianos, japoneses etc. Também se incluem os costumes, tradições e danças. (...) A natureza jurídica do Patrimônio Cultural é de bens de natureza difusa, de uso comum do povo. Disso decorre sua relação com o artigo 225 “caput”, da

CF/88, constituindo-se no meio ambiente cultural. DEON SETTE, MARLI T. Direito ambiental. Coordenadores: Marcelo Magalhães Peixoto e Sérgio Augusto Zampol

Pavani. Coleção Didática jurídica, São Paulo: MP Ed., 2009, p. 315-318. ISBN 978-85-97898-023-8. (site:

www.marli.ladesom.com.br ).

Instrumentos: inventários, registros, vigilância, desapropriação e

tombamento:

281. Decreto n. 25/1937, art. 1º: “Constitui o patrimônio histórico e artístico nacional o conjunto dos bens móveis e imóveis existentes no país e cuja conservação seja de interêsse público, quer por sua vinculação a fatos memoráveis da história do Brasil, quer por seu excepcional valor arqueológico ou

etnográfico, bibliográfico ou artístico”.

Page 36: CONCEITOS ATINENTES AO DIREITO AMBIENTAL. (site: … · Conceito de Direito Ambiental: Direito Ambiental é a ciência jurídica que estuda, analisa e discute os problemas inerentes

36

1) O inventário nada mais é do que uma relação dos bens materiais e

imateriais a ser feita pelos órgãos públicos federais, estaduais e municipais, com o intuito de guardar as informações mais importantes da memória de um país, como fonte de conhecimento. (...). 2) O registro é objeto do Decreto n. 3.551/2000 (...). Subsume-se do decreto

a vontade de que os bens registrados sejam considerados “patrimônio cultural do Brasil” ou então, apenas como referência cultural do seu tempo, constituindo-se em referência na continuidade histórica do bem e de sua relevância nacional para a memória, a identidade e a formação da sociedade brasileira. (...) A vigilância é o instrumento que dá ao Poder Público a prerrogativa de

fiscalizar, inspecionar e vistoriar bens que tenham sido tombados para ver se o bem mantém as características culturais que ensejaram a sua tutela e para ver se estão sendo utilizados conforme a tutela que lhe tenha sido destinada (...) A desapropriação é a aquisição compulsória da propriedade privada,

demonstrada a necessidade pública ou interesse social, que, no caso ambiental se verifica ante a finalidade de dar-lhe destinação eminentemente cultural. A regra é de que a desapropriação deve (...) DEON SETTE, MARLI T. Direito ambiental. Coordenadores: Marcelo Magalhães Peixoto e Sérgio Augusto Zampol

Pavani. Coleção Didática jurídica, São Paulo: MP Ed., 2009, p. 318-319. ISBN 978-85-97898-023-8. (site:

www.marli.ladesom.com.br ).

Instrumento: Tombamento

(...) Conceito

Tombar é um ato administrativo com a finalidade de inscrever no livro do Tombo, que, por sua vez, indica a existência nas repartições componentes de um registro pormenorizado do bem que se pretende preservar mediante custódia do Poder Público. (...) O conceito específico de tombamento ambiental é de um ato administrativo realizado pelo Poder Público com o objetivo de preservar, por meio da aplicação de legislação específica, bens de valor histórico, cultural, arquitetônico, ambiental e também de valor afetivo para a população, impedindo que venham a ser destruídos ou descaracterizados. O objetivo do tombamento é manter as características do bem tombado ao

longo do tempo, mediante a custódia do Poder Público, sem retirar a propriedade e a obrigatoriedade do particular em relação à conservação do bem, quando esse for material. A natureza jurídica do tombamento ambiental é de instrumento administrativo

preventivo com a finalidade de tutelar protetivamente o patrimônio cultural de um país, constituindo-se em instituto que restringe o uso de propriedades determinadas para atingir a sua finalidade protetiva. b) Bens passíveis de tombamento

São passíveis de serem tombados tanto os oriundos da atividade humana, quanto os naturais; quer sejam móveis ou imóveis, materiais ou imateriais; de propriedade de pessoas físicas ou jurídicas; de direito público ou privado; tomados individualmente ou em conjunto, que sejam portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem (...) Por outro lado, não são passíveis de tombamento os bens de origem

Page 37: CONCEITOS ATINENTES AO DIREITO AMBIENTAL. (site: … · Conceito de Direito Ambiental: Direito Ambiental é a ciência jurídica que estuda, analisa e discute os problemas inerentes

37

estrangeira, relacionados no artigo 3º, do Decreto-Lei n. 25/1937, quais sejam: (...) Competência

São competentes para proceder ao tombamento de bens, tanto a União quanto os estados-membros e municípios. Quando se trata da normatização, a competência é concorrente e, quando se trata da competência material, a competência é comum (CF/88, artigo 24, VII; artigo 23, III; e artigo 30, IX). (...). Classificação do tombamento ambiental

O tombamento ambiental pode ser classificado quanto à: 1º) origem da sua instituição; 2º) eficácia; e 3º) forma de tombar. 1º) Quanto à origem da sua instituição, pode ser (...) 2º) Quanto à eficácia,o tombamento pode ser (...) 3º) Quanto à forma de tombar, a classificação pode ser (...) d) Características gerais inerentes aos bens tombados

O tombamento não é uma desapropriação, pois não altera a propriedade de um bem, apenas proíbe que venha a ser destruído ou descaracterizado. Na realidade, é possível tanto alienar quanto locar um bem tombado, mas, para tanto, deve-se levar ao conhecimento do órgão tombador para que esse possa manter registros da destinação do bem tombado, posto que no ato de tombar um bem, é possível mudar o seu uso, levando-se em consideração a harmonia entre a preservação das características do edifício e as adaptações necessárias ao novo uso (....) (...) Além do prédio tombado, também é possível delimitar o uso do “entorno” do imóvel tombado, bem como tombar bairros inteiros, com o objetivo de preservar o ambiente e impedir que novos elementos obstruam ou reduzam sua visibilidade e/ou seu cuidado. No entanto, é importante mencionar que o tombamento não deve inviabilizar a modernização, ao contrário, deve ser precedido de análises que permitam identificar as convergências da manutenção das características históricas, culturais etc., com as necessidades da modernidade. Um exemplo típico que me vem à mente nesse sentido é a imagem daqueles bairros bem tradicionais encontrados em cidades como Salvador/BA e Cuiabá/MT, em que as características originais dos primeiros habitantes são mantidas. A princípio, pode parecer que a manutenção daqueles prédios baixinhos, pequenos, sem grandes ostentações pode se constituir em óbice à modernidade. No entanto, quando imaginamos referidos prédios sendo reformados, mantidas as suas características e utilizados para uma área gastronômica com restaurantes típicos dos mais diversos países, percebemos que o local pode se tornar em atração turística mundial. (...). DEON SETTE, MARLI T. Direito ambiental. Coordenadores: Marcelo Magalhães Peixoto e Sérgio Augusto Zampol Pavani. Coleção Didática jurídica, São Paulo: MP Ed., 2009, p. 319-330. ISBN 978-85-97898-023-8. (site:

www.marli.ladesom.com.br ). TUTELA DA FLORA

(...) Flora é o conjunto de plantas de uma região, de um país ou de um continente. Abrange florestas e quaisquer outros tipos de vegetação (Floresta Amazônica, Mata Atlântica, Cerrado, Caatinga, restingas, manguezais etc.). A flora não vive isoladamente, mas depende da interação constante com outros seres vivos da fauna, por exemplo, assim como micro-organismos

Page 38: CONCEITOS ATINENTES AO DIREITO AMBIENTAL. (site: … · Conceito de Direito Ambiental: Direito Ambiental é a ciência jurídica que estuda, analisa e discute os problemas inerentes

38

(SIRVINSKAS, 2009, p. 423). Toda a estrutura de sobrevivência depende diretamente da qualidade da flora existente. A manutenção da qualidade tem sido ameaçada constantemente, sendo que algumas ameaças decorrem de fenômenos naturais como o fogo, enchentes etc., mas, a grande ameaça que ultrapassa a capacidade de resiliência do sistema ambiental é a atividade antrópica, mormente por desmatamento, queimadas, uso de produtos químicos inadequados ao meio ambiente, quase sempre com o foco de desenvolver atividades econômicas, que, na realidade, poderiam ser desenvolvidas normalmente sem tamanha agressão. Em virtude disso, o Poder Público tem tomado inúmeras medidas com vistas a evitar o perecimento da flora sem inviabilizar a atividade econômica. (...) Parte da flora é tutelada por meio das unidades de conservação, conforme foi explicitado no capítulo 8. Além das limitações impostas por meio das unidades de conservação, outras limitações também são impostas ao proprietário das áreas com vistas a proteger a flora, e, por conseguinte, a fauna e quaisquer espécies de micro-organismos que no espaço convivem, são as chamadas áreas de preservação permanente e área de reserva legal, que serão o principal objeto de estudo deste capítulo. (...) A parte da área que não se inclui em nenhum desses conceitos é o espaço destinado à produção econômica, teoricamente livre, conforme escolha do proprietário da área. Digo teoricamente porque, na realidade, as políticas públicas têm sido voltadas para uma condução ambientalmente adequada da atividade econômica a ser desenvolvida, conforme as características ambientais da região. A condução é feita por meio do zoneamento econômico ecológico,79 em que o poder público busca identificar as potencialidades econômicas e ambientais e, após identificadas, incentivar ou desestimular atividades econômicas, conforme propiciem ou não o alcance do melhor resultado econômico e environmentally friendly.

Também merecem atenção as áreas de flora denominadas de florestas públicas, assunto que também será abordado neste capítulo. (...) Seguindo o comando constitucional que dispõe que o meio ambiente é bem de uso comum do povo, a Lei n. 4.771/1965, assegura que as florestas existentes no território nacional e as demais formas de vegetação, reconhecidas de utilidade às terras que revestem, são bens de interesse comum a todos os habitantes do país, exercendo-se os direitos de propriedade, com as limitações que a legislação em geral estabelece. As limitações ao exercício dos direitos inerentes à propriedade são necessárias porque as florestas possuem imenso valor econômico-ecológico e, se não restringido o seu uso, podem ser utilizadas de maneira predatória. Por isso é necessário que sejam tomadas medidas que ensejam alteração de posturas predatórias e destrutivas de forma a viabilizar que o meio ambiente possa ser preservado e, concomitantemente, o desenvolvimento econômico possa ser realizado. Ademais, a preservação das florestas e a sua proteção legal é uma das questões fundamentais para a sobrevivência da humanidade e de todas as formas de vida, posto que todas as formas de vida dependem do

292. Para mais informações a respeito do zoneamento econômico ecológico, ver artigo 8, seção 8.6.2.

Page 39: CONCEITOS ATINENTES AO DIREITO AMBIENTAL. (site: … · Conceito de Direito Ambiental: Direito Ambiental é a ciência jurídica que estuda, analisa e discute os problemas inerentes

39

equilíbrio ecológico que só pode ser alcançado com a adequada preservação das florestas e demais formas de vegetação. No Brasil, sem desmerecer nenhuma das demais formas de tutela das florestas, duas merecem destaque: a instituição das áreas de preservação permanente e das áreas de reserva legal.(...). DEON SETTE, MARLI T. Direito ambiental. Coordenadores: Marcelo Magalhães Peixoto e Sérgio Augusto Zampol

Pavani. Coleção Didática jurídica, São Paulo: MP Ed., 2009, p. 331-338. ISBN 978-85-97898-023-8. (site:

www.marli.ladesom.com.br ).

1) Área de preservação permanente – APP

(...) As áreas de preservação permanente – APP – são áreas protegidas, cobertas ou não por vegetação nativa, com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica, a biodiversidade, o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas (II, do § 1º, do artigo 1º, da Lei n. 4.771/1965). Referidas áreas tem função primordial relativamente à qualidade ambiental, mormente porque se bem preservadas possibilitam a qualidade e quantidade hídrica necessária, bem como a formação de corredores ecológicos perfeitos, na medida em que todos os corpos d´agua são ladeados por áreas de preservação permanente. Como a maioria dos córregos e rios são afluentes ou efluentes de outros rios, não é difícil concluir que sendo preservadas as áreas de preservação permanente, haveria uma continuidade de vegetação em que seria facilitado o fluxo gênico, a estabilidade geológica, sem falar no plus em favor da manutenção da biodiversidade. Além disso, qualquer

paisagem que imaginemos com corredores ecológicos perfeitos, nos dá a maravilhosa sensação de bem-estar, de nostalgia, o que se constitui num benefício ambiental impagável. Destarte, qualquer ausência de vegetação de preservação permanente enseja a recuperação da área, incumbência essa do proprietário e até mesmo do Poder Público, caso o proprietário não a recupere. b) Limitações

As áreas de preservação permanente são áreas públicas e privadas sobre as quais incidem limitações bastante incisivas e radicais quanto ao seu uso. Na realidade, a supressão de vegetação nessas áreas somente pode ocorrer mediante autorização expressa do órgão competente, o qual só pode conceder a autorização quando ficar constatada utilidade pública ou interesse social, cabendo-lhe caracterizar devidamente e dar motivação clara a respeito dos fatores que ensejaram a concessão, em procedimento administrativo próprio. Além disso, o órgão ambiental deve observar se há possibilidade técnica e locacional de realizar o empreendimento em outro local. (...) (...) As áreas de preservação permanente podem ser legais, assim declaradas pela própria lei, ou declaradas pelo Poder Público. Conforme for a classificação, há diferentes consequências concernentes à possibilidade de indenização, o que se verá abaixo. b.1.) Áreas de preservação permanente decorrentes de lei (não indenizáveis) (...). b.2.) Áreas de preservação permanente, assim declaradas pelo Poder Público (indenizáveis) (...) c) Intervenção e supressão de florestas de preservação permanente A supressão de vegetação em área de preservação permanente só pode

Page 40: CONCEITOS ATINENTES AO DIREITO AMBIENTAL. (site: … · Conceito de Direito Ambiental: Direito Ambiental é a ciência jurídica que estuda, analisa e discute os problemas inerentes

40

ocorrer mediante prévia autorização do Poder Público, devidamente justificada e fundamentada, quando for necessária a execução de obras, planos, atividades ou projetos de utilidade pública ou interesse social. (...). DEON SETTE, MARLI T. Direito ambiental. Coordenadores: Marcelo Magalhães Peixoto e Sérgio Augusto Zampol

Pavani. Coleção Didática jurídica, São Paulo: MP Ed., 2009, p. 338-348. ISBN 978-85-97898-023-8. (site:

www.marli.ladesom.com.br ).

2) Área de reserva legal – ARL

(...) As áreas de reserva legal são áreas localizadas no interior de uma propriedade ou posse80 rural, excetuada a de preservação permanente, necessária ao uso sustentável dos recursos naturais, à conservação e reabilitação dos processos ecológicos, à conservação da biodiversidade e ao abrigo e proteção de fauna e flora nativas (inciso III, do § 1º, do artigo 1º, da Lei n. 4.771/1965). Elas constituem uma reserva florestal legal que incide sobre área privada com o objetivo de preservar a vegetação ali existente. Ao contrário das áreas de preservação permanente, as reservas legais são áreas que, ainda que em regra não admitam o corte raso, podem agregar valor econômico ao proprietário da área. Com efeito, é possível a supressão da vegetação de reserva legal por meio de plano de manejo sustentável, de acordo com os princípios e critérios técnicos científicos estabelecidos em regulamentos, desde que devidamente aprovado pelo órgão ambiental competente. Embora nosso país tenha ainda grande resistência à ideia de manejos ecologicamente corretos, até porque culturalmente a criação de gado, plantação de soja e outras culturas extensas sejam o habitual e convencional, já está devidamente constatado que o manejo sustentável, além de ecologicamente correto, pode gerar lucros ao empreendedor. Para evidenciar uma situação real (...). Com esse exemplo queremos demonstrar que a área de reserva legal não é uma área inerte economicamente. Na verdade, só precisamos adaptar a nossa cultura para uma produção econômica mais adequada e aceitável ambientalmente. (...) Mínimo legal de reserva florestal (artigo 16, I a IV, da Lei n. 4.771/1965)

As florestas e demais formas de vegetação nativa, ressalvadas as situadas em área de preservação permanente, assim como aquelas não sujeitas ao regime de utilização limitada ou objeto de legislação específica, são suscetíveis de supressão, desde que sejam mantidas, a título de reserva legal, no mínimo: I - oitenta por cento, na propriedade rural situada em área de floresta localizada na Amazônia Legal; II - trinta e cinco por cento, na propriedade rural situada em área de Cerrado localizada na Amazônia Legal, sendo no mínimo vinte por cento na propriedade e quinze por cento na forma de compensação em outra área, desde que esteja localizada na mesma microbacia, e esteja regularmente averbada. III - vinte por cento, na propriedade rural situada em área de floresta ou outras formas de vegetação nativa localizada nas demais regiões do país; e, IV - vinte por cento, na propriedade rural em área de campos gerais localizada em qualquer região do país.

80. Lei n. 4.771/1965, artigo 16, (...) § 10: “Na posse, a reserva legal é assegurada por Termo de Ajustamento de Conduta, firmado pelo possuidor com o órgão

ambiental estadual ou federal competente, com força de título executivo e contendo, no mínimo, a localização da reserva legal, as suas características ecológicas básicas e a proibição de supressão de sua vegetação, aplicando-se, no que couber, as mesmas disposições previstas neste Código para a

propriedade rural”.

Page 41: CONCEITOS ATINENTES AO DIREITO AMBIENTAL. (site: … · Conceito de Direito Ambiental: Direito Ambiental é a ciência jurídica que estuda, analisa e discute os problemas inerentes

41

Os percentuais mencionados devem ser mantidos com espécies nativas, salvo quando se tratar de pequena propriedade em que podem ser computadas, tanto para cumprimento da manutenção, quanto para possível compensação, árvores frutíferas, ornamentais ou industriais, com espécies exóticas intercaladas com nativas. Ademais, quando a propriedade estiver situada em área de floresta e cerrado, o percentual de reserva legal deve ser definido considerando separadamente os índices contidos nos incisos I e II, supra, proporcionalmente. (...) Como algumas propriedades podem ter no seu interior mais de uma área de preservação permanente, as quais somadas à reserva legal poderiam tomar grande parte da propriedade, a lei prevê a possibilidade de somar a vegetação nativa existente em área de preservação permanente (mantidas as regras atinentes ao seu uso) no cálculo do percentual de reserva legal, desde que não implique em conversão de novas áreas para o uso alternativo do solo. No entanto, dispõe que a soma da vegetação nativa em área de preservação permanente e reserva legal não pode exceder a: I - oitenta por cento da propriedade rural localizada na Amazônia Legal; II - cinquenta por cento da propriedade rural localizada nas demais regiões do país; e, III - vinte e cinco por cento da pequena propriedade.81 (...) Alternativas para recompor a reserva legal (artigo 44 e seus incisos e

parágrafos, da Lei n. 4.771/1965) Quando há passivo de reserva legal na propriedade, a lei assinala algumas possibilidades para sua adequação. Assim, o proprietário ou possuidor de imóvel rural com área de floresta nativa, natural, primitiva ou regenerada ou outra forma de vegetação nativa em extensão inferior ao mencionado nas letras “d” e “d.1”, supra, deve adotar as seguintes alternativas, isoladas ou conjuntamente: a) Recompor da reserva legal (...) b Conduzir a regeneração natural da reserva legal (...) c) Compensar a reserva legal (...) Assim, quem desmatou além do percentual antes da nova exigência, o fez dentro dos limites legais e, assim sendo, consolidou a sua área legalmente, por isso o legislador deu-lhe a faculdade da compensação. Já quem desmatou depois, o fez sabendo da irregularidade, logo, não há porque dar-lhe a mesma benesse para que adéque a sua área. Servidão florestal

(...) Trata-se de um instrumento econômico, previsto como instrumento da política nacional do meio ambiente (artigo 9º, XIII, da Lei n. 6.938/1981),82 que permite maior flexibilização relativamente ao dever de reajustes à reserva legal, ou seja, permite que o proprietário ajuste sua conduta fazendo escolhas financeiras entre aferir recursos financeiros com o uso de uma área ou dar-lhe destinação equivalente à reserva legal. Com efeito, o proprietário rural pode instituir servidão florestal, mediante a qual voluntariamente renuncia, em caráter permanente ou temporário, a direitos de supressão ou exploração da vegetação nativa, localizada fora da reserva legal

81. Pequena propriedade deve ser entendida segundo o conceito ditado pelas alíneas "b" e "c" do inciso I do § 2° do art. 1º, da Lei n. 4.771/1965. 82. A Lei n. 6.938/1981, e, seu artigo 9º-A e seus parágrafos, com a alteração inserida pela Lei n. 11.284/2006, também trata da servidão ambiental, entre

outros instrumentos econômicos, os quais foram citados no artigo 8, seção 8.6.12.

Page 42: CONCEITOS ATINENTES AO DIREITO AMBIENTAL. (site: … · Conceito de Direito Ambiental: Direito Ambiental é a ciência jurídica que estuda, analisa e discute os problemas inerentes

42

e da área com vegetação de preservação permanente. Destarte, a servidão é um compromisso de manter vegetação além dos limites legais de reserva legal e preservação permanente, o que gera cotas de reserva florestal – CRF –, as quais podem ser utilizadas para compensação de reserva legal. (...) Alternativas para o proprietário rural se desonerar da obrigação de reflorestar, reconduzir a regeneração natural e/ou compensar áreas com passivo de reserva legal

A nova possibilidade, inserida no § 6º, do artigo 44, da Lei n. 4.771/1965, pela Lei n. 11.428/2006, deu ao proprietário rural a faculdade de ver-se desonerado das obrigações de reflorestar, reconduzir ou compensar, se decidir doar ao órgão ambiental competente área localizada no interior de unidade de conservação de domínio público, pendente de regularização fundiária. Referida alternativa nos parece conflitar diretamente com o prazo assinalado no artigo 44-C, da Lei n. 4.771/1965. (...) DEON SETTE, MARLI T. Direito ambiental. Coordenadores: Marcelo Magalhães Peixoto e Sérgio Augusto Zampol

Pavani. Coleção Didática jurídica, São Paulo: MP Ed., 2009, p. 348-360. ISBN 978-85-97898-023-8. (site:

www.marli.ladesom.com.br ).

Concessão florestal e florestas públicas

(...) Conceitualmente, a concessão florestal consiste na delegação onerosa, feita pelo poder concedente, do direito de praticar manejo florestal sustentável para exploração de produtos e serviços numa unidade de manejo, mediante licitação, à pessoa jurídica, em consórcio ou não, que atenda às exigências do respectivo edital de licitação e demonstre capacidade para seu desempenho, por sua conta e risco e por prazo determinado (artigo 3º, VII, da Lei n. 11.284/2006).

(...) É importante destacar que a concessão é um dos primeiros instrumentos legais ambientais no Brasil em que se trata a questão do preço a ser pago de maneira bastante particular, estabelecendo critérios específicos para a sua definição, bem como para a sua destinação, que, a priori, parece ser

efetivamente ambiental (...) a) Florestas Públicas

São consideradas florestas públicas, as florestas, naturais ou plantadas, localizadas nos diversos biomas brasileiros, em bens sob o domínio da União, dos estados, dos municípios, do Distrito Federal ou das entidades da administração indireta. Com efeito, o que não constitui bem florestal privado – área de reserva legal e área de preservação permanente – são as florestas públicas e, essas é que estão disciplinadas na Lei n. 11.284/2006 para serem a fonte do objeto da concessão, que é a exploração de produtos e serviços florestais, contratualmente especificados, em unidade de manejo de floresta pública, com perímetro georreferenciado, registrada no respectivo cadastro de florestas públicas e incluída no lote de concessão florestal. b) Manejo florestal sustentável

O manejo florestal sustentável nada mais é do que administração da floresta para a obtenção de benefícios econômicos, sociais e ambientais, respeitando-se os mecanismos de sustentação do ecossistema objeto do manejo e

Page 43: CONCEITOS ATINENTES AO DIREITO AMBIENTAL. (site: … · Conceito de Direito Ambiental: Direito Ambiental é a ciência jurídica que estuda, analisa e discute os problemas inerentes

43

considerando-se, cumulativa ou alternativamente, a utilização de múltiplas espécies madeireiras, de múltiplos produtos e subprodutos não madeireiros, bem como a utilização de outros bens e serviços de natureza florestal. Destarte, o manejo visa ao aproveitamento econômico florestal, sem descuidar das necessidades ambientais, com vistas ao alcance do desenvolvimento florestal sustentável. DEON SETTE, MARLI T. Direito ambiental. Coordenadores: Marcelo Magalhães Peixoto e Sérgio Augusto Zampol

Pavani. Coleção Didática jurídica, São Paulo: MP Ed., 2009, p. 360-362. ISBN 978-85-97898-023-8. (site:

www.marli.ladesom.com.br ).

Seguro ambiental

(...) Destarte, na esfera ambiental, o contrato de seguro deve se constituir em um instrumento apto a garantir o pagamento referente à eventual dano (...). Na verdade, o que se tem até o momento são alguns seguros que envolvem obrigações decorrentes de dano ambiental, predeterminadas, mas que tem como fundamento o contrato civil por atividades de risco. DEON SETTE, MARLI T. Direito ambiental. Coordenadores: Marcelo Magalhães Peixoto e Sérgio Augusto Zampol

Pavani. Coleção Didática jurídica, São Paulo: MP Ed., 2009, p. 362-64. ISBN 978-85-97898-023-8. (si te:

www.marli.ladesom.com.br ).

COMPENSAÇÃO POR CONSUMO DE MATÉRIA-PRIMA AMBIENTAL

(...) consiste, em síntese, na imputação da obrigação àquele que possuir empresa industrial que, por sua natureza, consumir grandes quantidades de matéria-prima florestal, de manter, dentro de um raio em que a exploração e o transporte sejam julgados econômicos, um serviço organizado, que assegure o plantio de novas áreas, em terras próprias ou pertencentes a terceiros, cuja produção sob exploração racional, seja equivalente ao consumido para o seu abastecimento. Já as empresas siderúrgicas, de transporte e outras, à base de carvão vegetal, lenha ou outra matéria-prima florestal, são obrigadas a manter florestas próprias para exploração racional ou a formar, diretamente ou por intermédio de empreendimentos dos quais participem, florestas destinadas ao seu suprimento. DEON SETTE, MARLI T. Direito ambiental. Coordenadores: Marcelo Magalhães Peixoto e Sérgio Augusto Zampol

Pavani. Coleção Didática jurídica, São Paulo: MP Ed., 2009, p. 364-365. ISBN 978-85-97898-023-8. (site:

www.marli.ladesom.com.br ).

QUEIMADAS

A queimada florestal consiste no emprego de fogo em práticas agropastoris e florestais. Nos termos da lei, a queimada pode ser considerada tanto uma prática legal quanto ilegal, dependendo da sua caracterização de ter o agente que ateia fogo autorização ou não para praticá-la. Com efeito, a Lei n. (...). DEON SETTE, MARLI T. Direito ambiental. Coordenadores: Marcelo Magalhães Peixoto e Sérgio Augusto Zampol Pavani. Coleção Didática jurídica, São Paulo: MP Ed., 2009, p. 365-366. ISBN 978-85-97898-023-8. (site: www.marli.ladesom.com.br ). DIREITO URBANÍSTICO

(...) a propriedade deve desempenhar a sua função social para que as cidades garantam a todos os brasileiros e estrangeiros o bem-estar social e a dignidade da pessoa humana, além de garantir o chamado piso vital mínimo mencionado na seção 3.1. A ideia é, a partir dos instrumentos nele legalizados, modificar a concepção preexistente de “adaptar o homem ao território e a cidade” passando a “condicionar o território e a cidade à dignidade da pessoa humana” (FIORILLO, 2005, p. 75).

Page 44: CONCEITOS ATINENTES AO DIREITO AMBIENTAL. (site: … · Conceito de Direito Ambiental: Direito Ambiental é a ciência jurídica que estuda, analisa e discute os problemas inerentes

44

O Estatuto da Cidade abre possibilidades para o desenvolvimento de uma política urbana com a aplicação de instrumentos de reforma urbana voltados a promover a inclusão social e territorial nas cidades brasileiras, considerando os aspectos urbanos, sociais e políticos de nossas cidades (SAULE JUNIOR, 2001). As normas ditadas pelo Estatuto são de ordem pública, de maneira que o magistrado deve apreciar de ofício qualquer questão relativa às relações jurídicas disciplinadas pela Lei. Também não ocorre a preclusão, e as questões que dela surgem podem ser decididas a qualquer tempo (FIORILLO, 2005, p. 36). No Estatuto, o plano diretor83 é tratado como tema central, ao contrário das leis anteriores, em que ele era assunto periférico, regulado apenas na sua interface com outros temas. Seguindo o modelo já adotado pela Constituição no § 4°, do artigo 182,84 o Estatuto condiciona a aplicação de qualquer instrumento urbanístico à existência prévia do plano diretor e de lei municipal específica. O Estatuto da Cidade dispõe que a propriedade urbana cumpre sua função social quando atende às exigências fundamentais de ordenação da cidade expressas no plano diretor, assegurando o atendimento das necessidades dos cidadãos quanto à qualidade de vida, à justiça social e ao desenvolvimento das atividades econômicas. (...) DEON SETTE, MARLI T. Direito ambiental. Coordenadores: Marcelo Magalhães Peixoto e Sérgio Augusto Zampol

Pavani. Coleção Didática jurídica, São Paulo: MP Ed., 2009, p. 369-395. ISBN 978-85-97898-023-8. (site:

www.marli.ladesom.com.br ).

Instrumentos de política urbana relacionados no Estatuto da Cidade85

Os instrumentos de política urbana estão previstos no artigo 4º do Estatuto da Cidade. No entanto, o rol mencionado é apenas exemplificativo, sendo admitida a criação de outros instrumentos com vistas à administração do meio urbano. Assim dispõe o mencionado artigo:

Artigo 4o Para os fins desta Lei, serão utilizados, entre outros

instrumentos: I – planos nacionais, regionais e estaduais de ordenação do território e de desenvolvimento econômico e social; II –

planejamento das regiões metropolitanas, aglomerações urbanas e microrregiões; III – planejamento municipal, em especial: a) plano diretor; b) disciplina do parcelamento, do uso e da ocupação do solo; c) zoneamento ambiental; d) plano plurianual; e) diretrizes

orçamentárias e orçamento anual; f) gestão orçamentária participativa; g) planos, programas e projetos setoriais; h) planos de desenvolvimento econômico e social; IV – institutos tributários e financeiros: a) imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana

- IPTU; b) contribuição de melhoria; c) incentivos e benefícios fiscais e financeiros; V – institutos jurídicos e políticos: a) desapropriação; b) servidão administrativa; c) limitações administrativas; d) tombamento de imóveis ou de mobiliário urbano; e) instituição de unidades de

conservação; f) instituição de zonas especiais de interesse social; g) concessão de direito real de uso; h) concessão de uso especial para fins de moradia; i) parcelamento, edificação ou utilização compulsórios; j) usucapião especial de imóvel urbano; l) direito de

superfície; m) direito de preempção; n) outorga onerosa do direito de

83. Sobre o assunto o Estatuto da Cidade dispõe que: “Art. 39. A propriedade urbana cumpre sua função social q uando atende às exigências fundamentais de ordenação da cidade expressas no plano diretor, assegurando o atendimento das necessidades dos cidadãos quanto à qualidade de vida, à justiça social e ao

desenvolvimento das atividades econômicas, respeitadas as d iretrizes previstas no art. 2o desta Lei” e ainda: “Art. 40. O plano diretor, aprovado por lei municipal, é o instrumento básico da política de desenvolvimento e expansão urbana”.

84. Art. 182, § 4º - “É facultado ao Poder Público municipal, mediante lei específica para área incluída no plano diretor, exigir, nos termos da lei federal, do proprietário do solo urbano não edificado, subutilizado ou não utilizado, que promova seu adequado aproveitamento, sob pena , sucessivamente, de: I -

parcelamento ou edificação compulsórios; II - imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana progressivo no tempo; III - desapropriação com pagamento mediante títulos da dívida pública de emissão previamente aprovada pelo Senado Federal, com prazo de resgate de até dez anos, em parcelas

anuais, iguais e sucessivas, assegurados o valor real da indenização e os juros legais”. 85

Alguns instrumentos ligados à regularização fundiária devem ser implementados observando -se conjuntamente as regras dispostas na Lei n. 11.952/2009,

tratadas neste capítulo, na seção 10.5.3.

Page 45: CONCEITOS ATINENTES AO DIREITO AMBIENTAL. (site: … · Conceito de Direito Ambiental: Direito Ambiental é a ciência jurídica que estuda, analisa e discute os problemas inerentes

45

construir e de alteração de uso; o) transferência do direito de construir; p) operações urbanas consorciadas; q) regularização

fundiária; r) assistência técnica e jurídica gratuita para as comunidades e grupos sociais menos favorecidos; s) referendo popular e plebiscito; t) demarcação urbanística para fins de regularização fundiária; u) legitimação de posse; e, VI – estudo prévio

de impacto ambiental (EIA) e estudo prévio de impacto de vizinhança (EIV).

(...) DEON SETTE, MARLI T. Direito ambiental. Coordenadores: Marcelo Magalhães Peixoto e Sérgio Augusto Zampol

Pavani. Coleção Didática jurídica, São Paulo: MP Ed., 2009, p. 385-387. ISBN 978-85-97898-023-8. (site:

www.marli.ladesom.com.br ).

1) Parcelamento, edificação ou utilização compulsórios da propriedade urbana (artigos 5º e 6º do EC c/c artigo 182, § 4º, I, da CF/88)

O parcelamento ou edificação compulsórios são instrumentos urbanísticos a serem utilizados pelo Poder Público municipal, como forma de compelir os proprietários de imóveis urbanos a utilizar socialmente esses imóveis, de acordo com o disciplinado no Plano Diretor do Município. Tratam-se de instrumentos voltados para a utilização compulsória de áreas que não cumprem a função social. Por meio deles, o Poder Público municipal condiciona o proprietário a um comportamento positivo, de utilizar, de construir, de parcelar ou eliminar a subutilização, de forma a assegurar o uso social da propriedade. (...). DEON SETTE, MARLI T. Direito ambiental. Coordenadores: Marcelo Magalhães Peixoto e Sérgio Augusto Zampol

Pavani. Coleção Didática jurídica, São Paulo: MP Ed., 2009, p. 387-389. ISBN 978-85-97898-023-8. (site:

www.marli.ladesom.com.br ).

2) Instrumentos tributários para a implementação da política urbana (artigo 7º, do EC86 c/c artigo 182, § 4º, II, da CF/88)

(...) Trata-se de um incentivo baseado no mercado que afeta as estimativas de custos e benefícios de ações alternativas, influenciando nas decisões e comportamentos dos indivíduos, de tal maneira a conduzi-los a escolhas por alternativas mais ecológicas, com melhoria de bem-estar. Referido tributo possui como função primordial incluir o valor das externalidades geradas na produção e consumo de recursos ambientais nas decisões de uso desses bens, de forma a tornar os trade-offs87 entre

crescimento econômico e pró-ambiental o menos custoso possível tanto para os usuários quanto para a sociedade.88 O IPTU progressivo também desenvolve outra função tão importante quanto a primeira que é a de compelir os possuidores de terrenos urbanos a dar-lhes destinação adequada para que desempenhem a função social, conforme acima exposto. Nos termos do Estatuto da Cidade, em caso de descumprimento da obrigação de realizar o parcelamento, edificação ou utilização compulsória da propriedade urbana no prazo assinalado, o Poder Público poderá, em área definida no Plano Diretor, fazer incidir o IPTU progressivo no tempo (artigo 7º, do EC). 89 (...). DEON SETTE, MARLI T. Direito ambiental. Coordenadores: Marcelo Magalhães Peixoto e Sérgio Augusto Zampol

Pavani. Coleção Didática jurídica, São Paulo: MP Ed., 2009, p. 389-393. ISBN 978-85-97898-023-8. (site:

86. Para mais informações sobre o assunto, ver DEON SETTE, Marli T. (2006), DEON SETTE, Marli T.; NOGUEIRA (2006); DEON SETTE, Marli T.;

NOGUEIRA (2007); e DEON SETTE, Marli T.; NOGUEIRA (2009). 87. Vale lembrar que, para a economia, trade-off representa uma situação em que há conflito de escolha. Ele se caracteriza em uma ação econômica que visa

à resolução de um problema mas que pode acarretar outro, obrigando a uma escolha. 88. Para mais informações sobre o assunto, ver DEON SETTE, Marli T. (2006).

89. “Art. 7º - Em caso de descumprimento das condições e dos prazos previstos na forma do caput do art. 5o desta Lei, ou não sendo cumpridas as etapas previstas no § 5o do art. 5o desta Lei, o Município procederá à aplicação do imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana (IPTU) progressivo no

tempo, mediante a majoração da alíquota pelo prazo de cinco anos consecutivos”.

Page 46: CONCEITOS ATINENTES AO DIREITO AMBIENTAL. (site: … · Conceito de Direito Ambiental: Direito Ambiental é a ciência jurídica que estuda, analisa e discute os problemas inerentes

46

www.marli.ladesom.com.br ).

3) Desapropriação como instrumento de política urbana (artigo 8º, do EC c/c artigo 182, § 4º, III, da CF/88)

A desapropriação consiste

num procedimento através do qual o Poder Público, fundado em

necessidade pública, utilidade pública ou interesse social, compulsoriamente despoja alguém de um bem certo, normalmente adquirindo-o para si, em caráter originário, mediante indenização prévia, justa e pagável em dinheiro, salvo nos casos de certos

imóveis urbanos ou rurais, em que, por estarem em desacordo com a função legalmente caracterizada para eles, a indenização far-se-á em títulos da dívida pública (. ..) (MELLO, 2001, p. 711).

No caso previsto no EC, ao Poder Público é facultado efetuar essa desapropriação no caso do proprietário deixar de cumprir com a obrigação de conferir uma destinação social à sua propriedade urbana, nos termos e prazos estabelecidos no plano urbanístico local, após o término do prazo máximo de 5 anos da aplicação do IPTU progressivo no tempo. (...). DEON SETTE, MARLI T. Direito ambiental. Coordenadores: Marcelo Magalhães Peixoto e Sérgio Augusto Zampol

Pavani. Coleção Didática jurídica, São Paulo: MP Ed., 2009, p. 394-395. ISBN 978-85-97898-023-8. (site:

www.marli.ladesom.com.br ).

4) Usucapião especial (artigo 9º ao 14, do EC, e artigo 183, da CF/88)

A usucapião urbana, também chamada usucapião ambiental, é um instrumento de regularização fundiária de áreas urbanas privadas, adotado na Constituição Federal pelo artigo 183. Consiste, basicamente, em uma modalidade de aquisição de propriedade de bens móveis e imóveis pelo exercício da posse durante os prazos fixados em lei. Nos termos do EC, é reconhecida a usucapião quando forem preenchidos os seguintes requisitos: a) tratar-se de área urbana privada; b) possuir como sua área ou edificação urbana de até 250 m²; c) por 5 anos ininterruptamente e sem oposição; d) utilizando-a para a sua moradia ou de sua família; e e) não ser proprietário de outro imóvel urbano ou rural.(...) Todas essas benesses têm como objetivo assegurar o domínio de áreas urbanas àqueles que habitam os denominados “estabelecimentos irregulares”, transformando os bairros espontâneos em realidades jurídicas. (...). DEON SETTE, MARLI T. Direito ambiental. Coordenadores: Marcelo Magalhães Peixoto e Sérgio Augusto Zampol

Pavani. Coleção Didática jurídica, São Paulo: MP Ed., 2009, p. 395-397. ISBN 978-85-97898-023-8. (site:

www.marli.ladesom.com.br ).

5) Concessão de uso especial no Estatuto da Cidade (§ 1º, do artigo 183, da CF/88, c/c a Medida Provisória n. 2.220/2001)

(...) Como é vetada a aquisição do domínio pleno sobre as terras públicas por meio de usucapião (artigo 183, § 3º, da CF/88), a concessão de direito especial de uso para fins de moradia é o instrumento hábil para a regularização fundiária das terras públicas informalmente ocupadas pela população de baixa renda. Pela redação da MP n. 2.220/2001, ficou instituído que aquele que preencher os seguintes requisitos: a) tiver possuído como seu, até 30 de junho de 2001, por 5 anos, ininterruptamente e sem oposição; b) imóvel público de até 250 m², situado em área urbana; c) utilizar para sua moradia ou de sua família; e d) não for proprietário ou concessionário, a qualquer título, de outro imóvel urbano ou rural. (...). DEON SETTE, MARLI T. Direito ambiental. Coordenadores: Marcelo Magalhães Peixoto e Sérgio Augusto Zampol

Page 47: CONCEITOS ATINENTES AO DIREITO AMBIENTAL. (site: … · Conceito de Direito Ambiental: Direito Ambiental é a ciência jurídica que estuda, analisa e discute os problemas inerentes

47

Pavani. Coleção Didática jurídica, São Paulo: MP Ed., 2009, p. 397-399. ISBN 978-85-97898-023-8. (site:

www.marli.ladesom.com.br ).

6) Direito de superfície (artigos 21 a 24, do EC, e 1.369 a 1.377, do CC)

Abolido no Brasil desde 1.864, o direito de superfície retorna agora por meio do Estatuto da Cidade, que dispõe que

o proprietário urbano poderá conceder a outrem o direito de superfície do seu terreno, por tempo determinado ou indeterminado,

mediante escritura pública registrada no cartório de registro de imóveis.

Segundo o Professor Ricardo Pereira Lira (2002) o direito de superfície90 consiste em um

direito real autônomo, temporário ou perpétuo, de fazer e manter construção ou plantação sobre ou sob o solo alheio; é a propriedade - separada do solo - dessa construção ou plantação, bem como é a

propriedade decorrente da aquisição feita ao dono do solo de construção ou plantação já existente.

Por meio do direito de superfície, nascem dois direitos reais distintos e autônomos: a construção (edilícia) ou plantação (rústica, agrária, agrícola ou vegetal) do superficiário; e, o solo do proprietário. Por meio do direito de superfície, é atribuído ao superficiário o domínio útil, ficando o dono do solo com o domínio direto. Ou seja, o direito de superfície é um instituto que permite que o proprietário de um imóvel urbano possa transferir para outras pessoas o direito de superfície de seu terreno. Isso permite ao morador, que pode ser tanto o particular, quanto o Poder Público, usufruir do solo, subsolo, espaço aéreo de uma determinada área, sem que seja transferida a propriedade do terreno. Já aquilo que for construído pelo superficiário torna-se sua propriedade, no entanto, isso não significa que ele tenha direito ao solo, e, sim, que tem direito apenas àquilo que for construído por ele. Para evidenciar vamos dar um exemplo: Tício tem o domínio de um terreno e decide conceder a Caio o direito de superfície para que construa ali uma edificação. O terreno continua de Tício e a edificação será de Caio. (...) DEON SETTE, MARLI T. Direito ambiental. Coordenadores: Marcelo Magalhães Peixoto e Sérgio Augusto Zampol

Pavani. Coleção Didática jurídica, São Paulo: MP Ed., 2009, p. 400-403. ISBN 978-85-97898-023-8. (site:

www.marli.ladesom.com.br ).

7) Direito de preempção (artigos 26 a 27, do EC)

O direito de preempção confere ao Poder Público municipal preferência para aquisição de imóvel urbano objeto de alienação onerosa entre particulares. (...). DEON SETTE, MARLI T. Direito ambiental. Coordenadores: Marcelo Magalhães Peixoto e Sérgio Augusto Zampol

Pavani. Coleção Didática jurídica, São Paulo: MP Ed., 2009, p. 403-404. ISBN 978-85-97898-023-8. (site:

www.marli.ladesom.com.br ).

8) Outorga onerosa do direito de construir (artigos 28 a 31, do EC)

A outorga onerosa do direito de construir é um instrumento que amplia o direito de construir, que poderá ser exercido acima do coeficiente91 de

90. O sentido jurídico tradicional, proveniente do Direito Romano, denota que superfície não é o solo que está em contato com o espaço atmosférico, mas sim, o que emerge dele – abrangendo o direito de se utilizar do solo, subsolo e espaço aéreo.

91. Coeficiente é a relação entre a área edificável e área de terreno. Pode ser igual em toda a á rea urbana ou distinta conforme as especificidades da zona

urbana devidamente previsto em lei municipal.

Page 48: CONCEITOS ATINENTES AO DIREITO AMBIENTAL. (site: … · Conceito de Direito Ambiental: Direito Ambiental é a ciência jurídica que estuda, analisa e discute os problemas inerentes

48

aproveitamento básico adotado, bem como permite a alteração do uso do solo, sempre mediante contrapartida. (...). DEON SETTE, MARLI T. Direito ambiental. Coordenadores: Marcelo Magalhães Peixoto e Sérgio Augusto Zampol

Pavani. Coleção Didática jurídica, São Paulo: MP Ed., 2009, p. 404. ISBN 978-85-97898-023-8. (site:

www.marli.ladesom.com.br ).

9) Transferência do direito de construir (artigo 35, do EC)

Lei municipal, baseada no plano diretor, poderá autorizar o proprietário de imóvel urbano, privado ou público, a exercer em outro local, ou alienar, mediante escritura pública, o direito de construir previsto no plano diretor ou em legislação urbanística dele decorrente, quando o referido imóvel for considerado necessário para fins de: (...). Um aspecto interessante sobre esse instrumento refere-se à concorrência dele com a venda do solo criado (outorga onerosa). Observa-se que nos casos onde ambos convivem, há clara preferência do mercado pelo solo criado, que possibilita mudanças de uso e não apenas potencial construtivo, (...). DEON SETTE, MARLI T. Direito ambiental. Coordenadores: Marcelo Magalhães Peixoto e Sérgio Augusto Zampol

Pavani. Coleção Didática jurídica, São Paulo: MP Ed., 2009, p. 405-406. ISBN 978-85-97898-023-8. (site:

www.marli.ladesom.com.br ).

10) Regularização fundiária, demarcação urbanística para fins de regularização fundiária e legitimação de posse

(...) Ocorre que, quando se fala em regularização fundiária, tem-se presente o seu antônimo, isto é, a ocupação irregular do solo. Como a aludida ocupação irregular, normalmente, vem associada no imaginário coletivo à perturbação da paz pública. Com a regularização em comento, tem-se a ideia de dar “legalidade” àquelas áreas que tenham sido irregularmente ocupadas. (...). DEON SETTE, MARLI T. Direito ambiental. Coordenadores: Marcelo Magalhães Peixoto e Sérgio Augusto Zampol

Pavani. Coleção Didática jurídica, São Paulo: MP Ed., 2009, p. 406-408. ISBN 978-85-97898-023-8. (site:

www.marli.ladesom.com.br ).

11) Estudo de impacto de vizinhança – EIV (artigo 36 a 38, do EC)

(...) ... é um estudo prévio necessário para obtenção de licenças ou autorizações de construção, ampliação ou funcionamento, cabendo ao Poder Público a sua exigência. (...). Por meio dele apura-se as possíveis condições em que o ambiente ficará, caso o empreendimento seja realizado, e propõe-se medidas mitigadoras. DEON SETTE, MARLI T. Direito ambiental. Coordenadores: Marcelo Magalhães Peixoto e Sérgio Augusto Zampol

Pavani. Coleção Didática jurídica, São Paulo: MP Ed., 2009, p. 408-409. ISBN 978-85-97898-023-8. (site:

www.marli.ladesom.com.br ).

12) Operação urbana consorciada (artigos 32 a 34, do EC)

(...) Em suma, as operações urbanas articulam um conjunto de intervenções, coordenadas pela prefeitura e definidas em lei municipal, em que se recortam da ordenação geral do uso e ocupação do solo um conjunto de quadras e se definem para essas um projeto de estrutura fundiária, potencial imobiliário, formas de ocupação do solo e distribuição de usos distintas da situação presente desse setor e das regras gerais de uso e ocupação do solo vigentes para esse. (...). DEON SETTE, MARLI T. Direito ambiental. Coordenadores: Marcelo Magalhães Peixoto e Sérgio Augusto Zampol

Pavani. Coleção Didática jurídica, São Paulo: MP Ed., 2009, p. 409-411. ISBN 978-85-97898-023-8. (site:

www.marli.ladesom.com.br ).

Plano Diretor (artigo 39 a 42, do EC)

Page 49: CONCEITOS ATINENTES AO DIREITO AMBIENTAL. (site: … · Conceito de Direito Ambiental: Direito Ambiental é a ciência jurídica que estuda, analisa e discute os problemas inerentes

49

(...) Com efeito, o plano diretor é o instrumento básico da política de desenvolvimento e expansão urbana. A ele é reservada a definição da função social da propriedade e a delimitação das áreas subutilizadas, sujeitas a parcelamento e edificação compulsórios, utilização extrafiscal do IPTU e desapropriação com pagamento em títulos da dívida pública (§ 2º e § 4º, do artigo 182, da CF/88). (...). Também é o plano diretor quem delimita critérios de zoneamentos de áreas industriais, comerciais e residenciais com vistas a integrar as necessidades de todas as camadas da população, além de disciplinar sobre o sistema de acompanhamento e controle. DEON SETTE, MARLI T. Direito ambiental. Coordenadores: Marcelo Magalhães Peixoto e Sérgio Augusto Zampol

Pavani. Coleção Didática jurídica, São Paulo: MP Ed., 2009, p. 411-413. ISBN 978-85-97898-023-8. (site:

www.marli.ladesom.com.br ).

Gestão democrática da cidade (artigos 43 a 45, do EC)

O Estatuto da Cidade incorpora a gestão democrática como uma diretriz geral da política urbana, por meio do inciso II, do artigo 2°, e estabelece um capítulo específico ao assunto. (...). Essa exigência do EC rompe com a superada visão administrativa de disciplinar as cidades a partir do regramento imposto tão-somente pelo Poder Público e funda-se nos princípios da dignidade da pessoa humana, bem como no princípio da cidadania, proporcionando, diretamente, o exercício da cidadania. DEON SETTE, MARLI T. Direito ambiental. Coordenadores: Marcelo Magalhães Peixoto e Sérgio Augusto Zampol

Pavani. Coleção Didática jurídica, São Paulo: MP Ed., 2009, p. 413-414. ISBN 978-85-97898-023-8. (site:

www.marli.ladesom.com.br ).

Improbidade administrativa (artigo 52, do EC), responsabilidade civil e responsabilidade penal92 DEON SETTE, MARLI T. Direito ambiental. Coordenadores: Marcelo Magalhães Peixoto e Sérgio Augusto Zampol

Pavani. Coleção Didática jurídica, São Paulo: MP Ed., 2009, p. 415-416. ISBN 978-85-97898-023-8. (site:

www.marli.ladesom.com.br ).

(...) A propriedade urbanística também passou a ter um caráter temporal. Isso significa que o seu conteúdo é dado pelo plano diretor e, como o plano é mutável, segue-se que também ela é mutável, ou seja, a propriedade urbanística implica também em obrigações de fazer, podendo, inclusive, se previsto no plano, constranger o proprietário a edificar, sob pena de ser expropriado pelo Poder Público. DEON SETTE, MARLI T. Direito ambiental. Coordenadores: Marcelo Magalhães Peixoto e Sérgio Augusto Zampol Pavani. Coleção Didática jurídica, São Paulo: MP Ed., 2009, p. 416-417. ISBN 978-85-97898-023-8. (site: www.marli.ladesom.com.br ). POLÍTICA NACIONAL DE RECURSOS HÍDRICOS – PNRH93

(...) Quando comparados os usos e a quantidade de água e a necessidade humana, pode-se, erroneamente, concluir que existe água suficiente, mas a variação temporal e espacial é muito grande e existem várias regiões vulneráveis, onde cerca de 460 milhões de pessoas (8% da população mundial) sofrem falta frequente de água e cerca de 25% estão indo para o mesmo caminho. Caso nada seja realizado em termos de conservação e uso

92. Para mais informações sobre as responsabilidades mencionadas, ver capítulo 5, 6 e 7 deste livro. 93. Os conceitos atinentes à poluição hídrica, bem como a classificação dos corpos d´agua estão comentados no capítulo 8, item 8.6.1, letra “b”, quando

tratamos dos padrões relativos à poluição hídrica. Na oportunidade, também comentamos as resoluções do CONAMA n. 357/2005 e n . 274/2000.

Page 50: CONCEITOS ATINENTES AO DIREITO AMBIENTAL. (site: … · Conceito de Direito Ambiental: Direito Ambiental é a ciência jurídica que estuda, analisa e discute os problemas inerentes

50

racional da água, é possível que 2/3 da população mundial sofram desde moderada à severa falta de água (TUCCI e BERTONI, 2003, p. 17).94 DEON SETTE, MARLI T. Direito ambiental. Coordenadores: Marcelo Magalhães Peixoto e Sérgio Augusto Zampol

Pavani. Coleção Didática jurídica, São Paulo: MP Ed., 2009, p. 417-428. ISBN 978-85-97898-023-8. (site:

www.marli.ladesom.com.br ).

(...) Se implementadas dessa forma, o resultado das políticas seria muito mais razoável, aceitável e lógico, na medida em que a realidade de cada bacia seria considerada como um todo, e os regramentos inerentes a ela seriam mais isonômicos entre todos os cidadãos, independente de a qual estado-membro pertença. Ocorre que hoje ainda é comum termos restrições relativas a recursos hídricos que quando incidentes sobre um corpo d´agua que divide estados, restringem de maneira distinta conforme seja a margem do corpo d´água em que o cidadão se encontre. Outra vantagem dessa maneira de pensar as políticas hídricas reside no fato de que as chances de se manter um curso d´agua conservado se aumentam, pois qualquer medida seria utilizada desde a nascente até o final da bacia. Como é do conhecimento de todos, políticas fragmentadas fazem como que, por exemplo, na nascente de um corpo d´agua não se tome nenhum cuidado, e no estado seguinte se tome. Nesse caso, qual seria o resultado da política se a água que chega no segundo estado continua sendo descuidada na sua origem? Como se vê a ideia é pertinente, só precisa ser de fato pensada em conjunto pelos estados envolvidos em cada bacia e implementada conjuntamente. (...) DEON SETTE, MARLI T. Direito ambiental. Coordenadores: Marcelo Magalhães Peixoto e Sérgio Augusto Zampol

Pavani. Coleção Didática jurídica, São Paulo: MP Ed., 2009, p. 426. ISBN 978-85-97898-023-8. (site:

www.marli.ladesom.com.br ).

Da cobrança do uso de recursos hídricos (artigos 19 a 22, da Lei n. 9.433/1997)95

A Lei da PNRH inovou ao instituir um instrumento econômico para gestão dos recursos hídricos: trata-se da cobrança pelo uso da água. Com efeito, entre tantos padrões fixados pela legislação, a cobrança permite mais flexibilização e racionalização na tomada de decisões relativamente ao consumo do recurso hídrico. (...) Temos defendido o uso desse instrumento em inúmeros trabalhos, 96 no entanto, em todos os momentos colocamos nossa preocupação com a forma de sua instituição, pois entendemos que deve ser utilizado com finalidade eminentemente extrafiscal, com vistas a mudar o comportamento dos agentes econômicos, além de defendermos que a própria norma criadora da cobrança deve prever a destinação direta dos recursos ao local da sua arrecadação, ao que chamamos de vinculação das receitas. Ocorre que, se o valor não for adequado, a cobrança não muda o comportamento do agente, que poderá continuar a consumir desmoderadamente o recurso, gerando dividendos como se o objetivo fosse a arrecadação de recursos, o que se constitui num equívoco em relação a qualquer política tributária ambiental. A cobrança hoje prevista não se adéqua a essas ideias, pois não se tem utilizado métodos que efetivamente apurem o valor maximizador de resultados, além do que os valores arrecadados não são diretamente

94. Texto publicado no site <http://www.iph.ufrgs.br/corpodocente/tucci/DisciplinaDrenagem.pdf> , acessado em 05 de maio de 2009. 95. Para aprofundamento sobre o assunto, ver Aranha (2006).

96. A exemplo de DEON SETTE, Marli T. (2006), DEON SETTE, Marli T. e NOGUEIRA (2006), e DEON SETTE, Marli T. e NOGUEIRA (2007).

Page 51: CONCEITOS ATINENTES AO DIREITO AMBIENTAL. (site: … · Conceito de Direito Ambiental: Direito Ambiental é a ciência jurídica que estuda, analisa e discute os problemas inerentes

51

vinculados ao local da arrecadação. (...). DEON SETTE, MARLI T. Direito ambiental. Coordenadores: Marcelo Magalhães Peixoto e Sérgio Augusto Zampol Pavani. Coleção Didática jurídica, São Paulo: MP Ed., 2009, p. 432-433. ISBN 978-85-97898-023-8. (site:

www.marli.ladesom.com.br ). ORGANISMOS GENETICAMENTE MODIFICADOS (MODIFICÁVEIS) – OGM

(...) Em 2005, começou a vigorar a Lei da Biossegurança, Lei n. 11.105/2005, destinada a regulamentar o artigo 225, § 1º, II, IV e V, da CF/88. A Lei agrupa quatro relevantes matérias diversas – a pesquisa e a fiscalização de atividades que envolvam organismos geneticamente modificados (OGM); a utilização de células-tronco embrionárias para fins de pesquisa e terapia; o papel, a estrutura, as competências e o poder da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança – CTNBio; e, por fim, a formação do Conselho Nacional de Biossegurança – CNBS –, e sua organização. Conquanto o tema central da Lei sejam as pesquisas e fiscalização com os organismos geneticamente modificados – OGM –, a lei também regulamenta a utilização de células-tronco embrionárias para fins de pesquisas e terapia, ainda que tal tema não tenha sido expressamente mencionado no artigo 1º, que define os objetivos da Lei. Por se tratar de um assunto que envolve engenharia genética, com resultados nem sempre previsíveis, aplica-se ao desempenho de qualquer atividade a ela inerente o Princípio da Precaução, que dispõe que, enquanto persistirem dúvidas quanto ao resultado de uma atividade, mormente em relação aos efeitos relacionados à saúde humana e ao meio ambiente, deve-se deixar de realizá-la. (...) Benefícios e riscos

A manipulação genética pode causar alterações no meio ambiente e os resultados nem sempre são previsíveis, por isso as atividades a ela inerentes devem ser cuidadosamente pautadas pela precaução. Destarte, com as alterações decorrentes das alterações genéticas, muitos benefícios podem ser alcançados, no entanto, também há riscos, sobre os quais ainda não se tem controle. Citamos apenas exemplificativamente alguns benefícios e riscos.(...) (...) Os transgênicos (ou organismos geneticamente modificados) são organismos que adquiriram, pelo uso de técnicas modernas de engenharia genética, características de outro organismo. O termo geneticamente modificado tem sido utilizado para descrever a aplicação da tecnologia do DNA recombinante97 para a alteração genética de animais, plantas e micro-organismos (artigo 2º, da Resolução CONAMA n. 305/2002). (...) DEON SETTE, MARLI T. Direito ambiental. Coordenadores: Marcelo Magalhães Peixoto e Sérgio Augusto Zampol

Pavani. Coleção Didática jurídica, São Paulo: MP Ed., 2009, p. 441-445. ISBN 978-85-97898-023-8. (site:

www.marli.ladesom.com.br ).

Clonagem A origem do termo clonagem vem da Genética Bacteriana, que considera uma

colônia de bactérias como um clone, porque todos os indivíduos são

97. DNA ou ADN é o ácido desoxirribonucleico e o ARN é o ácido ribonucleico, os quais são materiais genéticos que contêm inform ações determinantes dos caracteres hereditários transmissíveis à descendência. Já as moléculas de ADN/ARN recombinante são as moléculas manipuladas f ora das células vivas

mediante a modificação de segmentos de ADN/ARN natural ou sintético e que possam multiplica r-se em uma célula viva, ou ainda as moléculas de ADN/ARN resultantes dessa multiplicação; consideram-se também os segmentos de ADN/ARN sintéticos equivalentes aos de ADN/ARN natural (incisos II e III, do artigo

3º, da Lei n. 11.105/2005).

Page 52: CONCEITOS ATINENTES AO DIREITO AMBIENTAL. (site: … · Conceito de Direito Ambiental: Direito Ambiental é a ciência jurídica que estuda, analisa e discute os problemas inerentes

52

geneticamente idênticos à bactéria inicial. Nos termos da lei, clonagem consiste num processo de reprodução assexuada, produzida artificialmente, baseada em um único patrimônio genético, com ou sem utilização de técnicas de engenharia genética. A técnica central da metodologia do DNA recombinante é (...). A Legislação Brasileira, em se tratando de clonagem humana, proíbe categoricamente esse tipo de procedimento, quer seja na espécie de clonagem humana, reprodutiva,98 quer seja terapêutica99 (Lei n. 11.105/2005, artigo 6º, IV). Já em relação ao clone de animais e vegetais, nada impede, uma vez que sejam observadas as normas de biossegurança desde o processo inicial até o descarte ou destruição. DEON SETTE, MARLI T. Direito ambiental. Coordenadores: Marcelo Magalhães Peixoto e Sérgio Augusto Zampol

Pavani. Coleção Didática jurídica, São Paulo: MP Ed., 2009, p. 445-446. ISBN 978-85-97898-023-8. (site:

www.marli.ladesom.com.br ).

Pesquisa e utilização de células-tronco (artigo 5º e seus parágrafos, da Lei n. 11.105/2005)

A legislação autoriza a pesquisa com células-tronco embrionárias, que são células de embrião que apresentam a capacidade de se transformar em células de qualquer tecido de um organismo.100 (...). Embora tal dispositivo tenha se mantido no ordenamento jurídico, há ainda muita resistência quanto à utilização das células-tronco embrionárias, sob os mais diversos fundamentos, sociais, religiosos, científicos, jurídicos etc., a exemplo de ARRUDA (2006). Segundo ela, não é pacífico entre cientista quando ocorre, realmente, o início da vida (...). DEON SETTE, MARLI T. Direito ambiental. Coordenadores: Marcelo Magalhães Peixoto e Sérgio Augusto Zampol

Pavani. Coleção Didática jurídica, São Paulo: MP Ed., 2009, p. 447-449. ISBN 978-85-97898-023-8. (site:

www.marli.ladesom.com.br ).

Dos alimentos transgênicos

Os alimentos transgênicos são alimentos criados em laboratórios com a utilização de genes (parte do código genético) de espécies diferentes de animais, vegetais ou micróbios. (...) Embora a transgenia alimentar possa resultar em produtos melhorados quanto aos elementos que contém, não se pode esquecer os riscos mencionados acima, como alergias, por exemplo. Além disso, deve-se atentar para que não seja reduzida a variedade de espécies encontradas no ecossistema, nem que sejam produzidas espécies dominantes, o que poderia empobrecer tanto a riqueza alimentar, quanto o solo. DEON SETTE, MARLI T. Direito ambiental. Coordenadores: Marcelo Magalhães Peixoto e Sérgio Augusto Zampol Pavani. Coleção Didática jurídica, São Paulo: MP Ed., 2009, p. 449-450. ISBN 978-85-97898-023-8. (site:

www.marli.ladesom.com.br ). AGROTÓXICOS

(...) Com efeito, os agrotóxicos se constituem em um dos mais graves problemas ligados à poluição causada por produtos químicos. As implicações dos

98. Na clonagem reprodutiva transfere-se o núcleo de uma célula adulta para um óvulo, do qual se retirou o núcleo. Essa célula começa a se replicar dando origem a um embrião, o qual, implantado em um útero, pode se desenvolver gerando um ser geneticamente idêntico ao doado r.

99. Na clonagem terapêutica, o processo é o mesmo até a formação do embrião. Quando esse se forma, são extraídas células-tronco, que, cultivadas, podem constituir um tecido capaz de ser transplantado para o doador. A grande vantagem dessa técnica é evita r a rejeição, se as células-tronco forem reintroduzidas

na mesma pessoa que doou o núcleo da célula adulta. 100. As células-tronco embrionárias são células de embrião que apresentam a capacidade de se transformar em células de qualquer tecido de um organismo.

O processo assim acontece: o óvulo fecundado em laboratório dá origem a uma célula, que se divide sucessivamente, gerando vár ias outras. No quinto dia está formado um embrião com cerca de 200 células ainda não especializadas capazes de gerar qualquer te cido. É feita a coleta em embriões congelados

nesse estágio e não aproveitados em clínicas de fertilização e reprodução assistida. Reagentes químicos são aplicados às células-tronco fazendo com que elas se transformem em células de tecidos específicos ao se desenvolverem (coração, pâncreas, cérebro etc.), para em seguida serem implantadas por meio

da corrente sanguínea ou injetadas diretamente no órgão danificado, para que se diferenciem dentro do organismo (SANTOS, 2001 ).

Page 53: CONCEITOS ATINENTES AO DIREITO AMBIENTAL. (site: … · Conceito de Direito Ambiental: Direito Ambiental é a ciência jurídica que estuda, analisa e discute os problemas inerentes

53

agrotóxicos são bastante graves, pois abrangem uma área que oscila desde a produção de alimentos e sua qualidade, até a saúde humana, que pode ser afetada tanto pelo contato direto com os próprios agrotóxicos, quanto pelo consumo de alimentos contaminados. (...) A poluição por agrotóxico se caracteriza pela eliminação ou descarte de agrotóxicos ou dos seus resíduos no meio ambiente, causando danos ao solo, às águas, aos seres humanos direta ou indiretamente etc. O uso excessivo de agrotóxicos pode causar acidificação do solo, o que pode diminuir a qualidade ambiental, além de reduzir a capacidade de produção agrícola, entre outros efeitos. Também pode contaminar os reservatórios d´agua, mormente em virtude da lixiviação; causar eutrofização, ou seja, aumento de nutrientes na água, que pode causar desequilíbrio com aumento de espécies, como algas, por exemplo. Todas essas alterações podem afetar e colocar em risco a saúde e o equilíbrio ambiental. Assim, é importante que, em todas as questões ligadas a agrotóxicos, sejam observados e levados em consideração os princípios ambientais, principalmente o Princípio do Direito Humano Fundamental, da Prevenção e da Precaução. As regras gerais concernentes aos agrotóxicos são ditadas pela Lei n. 7.802/1989, que dispõe que são considerados agrotóxicos e afins os produtos e os agentes de processos físicos, químicos ou biológicos, destinados ao uso nos setores de produção, no armazenamento e beneficiamento de produtos agrícolas, nas pastagens, na proteção das florestas, nativas ou implantadas, e de outros ecossistemas e também ambientes urbanos, hídricos e industriais, cuja finalidade seja de alterar a composição da flora e da fauna, a fim de preservá-las da ação danosa dos seres vivos considerados nocivos, além das substâncias e produtos, empregados como desfolhantes, dessecantes, estimuladores e inibidores do crescimento. Já componentes são os princípios ativos, os produtos técnicos, suas matérias-primas, os ingredientes inertes e aditivos usados na fabricação de agrotóxicos e afins. (...). DEON SETTE, MARLI T. Direito ambiental. Coordenadores: Marcelo Magalhães Peixoto e Sérgio Augusto Zampol

Pavani. Coleção Didática jurídica, São Paulo: MP Ed., 2009, p. 461-464. ISBN 978-85-97898-023-8. (site:

www.marli.ladesom.com.br ).

d) Particularidades inerentes ao processo de comercialização até a destinação das embalagens Em virtude de serem os agrotóxicos, seus componentes e afins considerados rejeitos perigosos, todos os seus ciclos de produção e consumo são rigorosamente disciplinados. A seguir, abordaremos alguns pontos que entendemos mais relevantes. As embalagens de agrotóxicos e afins devem ser fabricadas de maneira compatível com o produto, resistentes e com lacre, tudo devidamente aprovado (...).... os rótulos e bulas devem ser escritos de forma clara, evitando interpretações equivocadas, além de conter, no mínimo, indicações para a identificação do produto, instruções para sua utilização, esclarecimentos quanto aos perigos potenciais inerentes ao produto, orientações para que o usuário busque informar-se sobre o produto, orientações de primeiros socorros em caso de acidentes com o produto. (...) Após o uso do produto, os usuários devem efetuar a devolução das embalagens aos estabelecimentos comerciais onde foram adquiridos para

Page 54: CONCEITOS ATINENTES AO DIREITO AMBIENTAL. (site: … · Conceito de Direito Ambiental: Direito Ambiental é a ciência jurídica que estuda, analisa e discute os problemas inerentes

54

serem encaminhadas às empresas detentoras dos registros, ficando essas responsáveis pela destinação final. (...) DEON SETTE, MARLI T. Direito ambiental. Coordenadores: Marcelo Magalhães Peixoto e Sérgio Augusto Zampol Pavani. Coleção Didática jurídica, São Paulo: MP Ed., 2009, p. 467-469. ISBN 978-85-97898-023-8. (site:

www.marli.ladesom.com.br ). REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA DAS OCUPAÇÕES INCIDENTES EM TERRAS DA UNIÃO, NA AMAZÔNIA LEGAL: LEI N. 11.952/2009101. Breve histórico do Direito Agrário Brasileiro102

(...) Desde a descoberta do Brasil, foram implementadas medidas para evitar invasões de terras. Tanto o é que, em 1531, Martim Afonso de Souza veio ao Brasil para fazer a “distribuição” das terras. Naquele momento histórico, o regime escolhido foi o sesmarial, originário de Portugal. No Brasil, o regime sesmarial veio com o caráter de enfiteuse, em que se deu a concessão de terras para as pessoas, os chamados sesmeiros, os quais tinham algumas funções, como, por exemplo, ocupar e colonizar a terra; fazer dela sua morada habitual; desenvolver na terra uma cultura permanente (...) A Constituição Federal de 1824 não regulamentou o regime de aquisição de terras. Como consequência houve desordem territorial no Brasil, principalmente porque as doações de sesmarias, mormente aos “protegidos” ocorriam em forma de latifúndios. Como as áreas – latifúndios – eram subaproveitadas, surgiu o problema das invasões das referidas áreas. As invasões das áreas fez surgir os minifúndios. Tanto os latifúndios quanto os minifúndios são originários das sesmarias. Como o Brasil demorou três décadas para tratar da legislação agrária, passou a haver invasão tanto das grandes quanto das pequenas áreas, de tal forma que o período foi chamado de período extralegal ou das posses. Em 18 de setembro de 1850 surge a Lei n. 601/1950, chamada de Lei de Terras, vigente por muito tempo e que serve como marco da normatização agrária brasileira. Foi ela uma lei generosa que, encontrando qualquer nuance de legitimidade, confirmava a propriedade. (...). Com efeito, verifica-se que a Lei de Terras teve como objetivo transformar situações fáticas em realidade jurídica, com o fito de dar segurança jurídica e legitimidade. Isso foi feito com apoio do Decreto n. 1.358/1854, que veio regulamentar a Lei de Terras. A partir de 1891, todas as constituições falaram da questão agrária. Inicialmente com enfoque eminentemente individualista, com um crescente enfoque social, que se iniciou com a Constituição Federal de 1934 e ganhou força em 1946 quando tratou da desapropriação por interesse social, em que o desapropriado recebia compensação financeira, até chegar à institucionalização do direito agrário em 1964 (...), foi editado o Estatuto da Terra (...) Com efeito, desde sempre se teve como objetivo legitimar aqueles que trabalham na terra, até mesmo porque a essência do direito agrário se traduz num conjunto de princípios e normas de Direito Público e de Direito Privado que visam a disciplinar as relações emergentes da atividade rural, com base na função social da terra, tendo como elemento constitutivo essencial a atividade agrária. Mas há que se atentar para o fato de que a legitimação sempre esteve

101

Esta Lei foi sancionada em 25 de junho de 2009, convertendo a Medida Provisória n. 458 de 10 de fevereiro de 2009. 398. Informações obtidas em aula com o professor Lucas Abreu Barroso, confirmadas nos endereços da internet: <http://lucasabreubarroso.blogspot.com/> e

<http://www.klepsidra.net/klepsidra5/lei1850.html>, pesquisa realizada em 16 de junho de 2009.

Page 55: CONCEITOS ATINENTES AO DIREITO AMBIENTAL. (site: … · Conceito de Direito Ambiental: Direito Ambiental é a ciência jurídica que estuda, analisa e discute os problemas inerentes

55

pautada em alguns pilares mestres, tais como os princípios da utilização da terra sobrepondo-se à titulação dominial, em que a posse e o trabalho são mais importantes que o documento em si; princípio da garantia da propriedade, condicionada ao cumprimento de sua função social (hoje traduzidas pelos artigos 5°, XXII e XXIII, e artigo 170, II e III, da CF/88), em que se verifica a vontade de que aos direitos correspondam deveres; princípio da necessidade constante de reforma de estrutura fundiária, (...); e, princípio da conservação e proteção dos recursos naturais e do meio ambiente. Paralelamente à vontade manifestada de dar destinação social às propriedades, a legislação sempre vedou práticas de utilização indevida de bem alheio, como se afere, por exemplo (...). É importante destacar que, já em 1929, foi consenso entre os estudiosos brasileiros que deveria se aplicar as ideias de E. G. Wakefield no processo de valorização das terras brasileiras. Assim, a compra e venda passa a regularizar, pelo menos na teoria, a obtenção de glebas nesse território, com a conotação já ditada pelo artigo 14, da Lei n. 601/1850, qual seja:

Fica o Governo autorizado a vender as terras devolutas em hasta publica, ou fóra della, como e quando julgar mais conveniente, fazendo previamente medir, dividir, demarcar e descrever a porção das mesmas terras que houver de ser exposta á venda, (...).

Neste sentido também dispõe o artigo 1º, da Lei de Terras, Lei n. 601/1850, que reza que “Ficam prohibidas as acquisições de terras devolutas por outro titulo que não seja o de compra”. Destarte, verifica-se que, historicamente, sempre houve preocupação com a utilização indevida, com a aquisição indevida e com a concessão de forma indevida. Ainda assim, continuamos a vê-las se concretizando continuamente. Assim, desde já lançamos um questionamento: como se sentirão aqueles que assim procedem, quando perceberem que mesmo adquirindo ou utilizando de forma indevida, poderão passar a ter o direito não só de adquirir a propriedade, mas, mais ainda, de recebê-las gratuitamente? DEON SETTE, MARLI T. Direito ambiental. Coordenadores: Marcelo Magalhães Peixoto e Sérgio Augusto Zampol

Pavani. Coleção Didática jurídica, São Paulo: MP Ed., 2009, p. 471-475. ISBN 978-85-97898-023-8. (site:

www.marli.ladesom.com.br ).

(...) destacamos vários dispositivos da Constituição Federal de 1988 que denotam a preocupação com a destinação e uso racional da propriedade de maneira a fazê-la cumprir a sua função social. Com efeito, a CF/88 trata do assunto de maneira direta, por exemplo, (...). Para tratar da regularização fundiária, duas leis atuais merecem destaque: o Estatuto da Cidade, Lei n. 10.257/2001,103 mormente em relação ao assunto tratado pela Medida Provisória n. 2.220/2001, que trata da concessão de direito especial de uso para fins de moradia, constituindo-se em instrumento hábil para a regularização fundiária das terras públicas informalmente ocupadas pela população de baixa renda, quando preenchidos determinados

402. O Estatuto da Cidade foi tratado de maneira bastante minuciosa no capítulo 10, seção 10.1, particularmente na seção 10.1.2.

Page 56: CONCEITOS ATINENTES AO DIREITO AMBIENTAL. (site: … · Conceito de Direito Ambiental: Direito Ambiental é a ciência jurídica que estuda, analisa e discute os problemas inerentes

56

requisitos,104 e a demarcação fundiária, prevista no Estatuto da Cidade, tendo suas regras ditadas por meio da Medida Provisória n. 459/2009, que dispõe sobre o Programa “Minha Casa, Minha Vida” e a regularização fundiária de assentamentos localizados em áreas urbanas. Nesses dispositivos legais é que foram inseridas as regras de demarcação urbanística para fins de regularização fundiária e as regras de legitimação de posse. 105 Na área rural, foi editada, em 10 de fevereiro de 2009, a Medida Provisória n. 458/2009, convertida na Lei n. 11.952 de 25 de junho de 2009, que dispõe sobre a regularização fundiária das ocupações incidentes em terras situadas em áreas da União, no âmbito da Amazônia legal. Sobre esse assunto nos debruçamos a estudar a seguir. DEON SETTE, MARLI T. Direito ambiental. Coordenadores: Marcelo Magalhães Peixoto e Sérgio Augusto Zampol

Pavani. Coleção Didática jurídica, São Paulo: MP Ed., 2009, p. 475-479. ISBN 978-85-97898-023-8. (site:

www.marli.ladesom.com.br ).

(...) O objetivo da Lei n. 11.952/2009 é tratar da regularização fundiária das ocupações incidentes em terras situadas em áreas da União, no âmbito da Amazônia legal, mediante alienação106 e concessão de direito real de uso 107 de imóveis. Para tanto, (...) A regularização fundiária consiste, em síntese, em um conjunto de medidas jurídicas, físicas e sociais a serem adotadas pelo Poder Público, em acordo com a comunidade, com a finalidade de expedir títulos de propriedade em favor daqueles que buscam o reconhecimento de situações consolidadas, com o fito de promover a segurança da posse e a integração socioespacial, articulando-se com as políticas públicas de desenvolvimento urbano e/ou rural, bem como de resgate de cidadania. (...) Com efeito, com base em todo raciocínio exposto há que se perguntar: o inciso I, do artigo 3º, da Lei n. 11.952/2009 teve a intenção de fazer ocorrer o fenômeno da repristinação do artigo 1º do Decreto-Lei n. 1.164/1961? A pergunta é pertinente na medida em que, a priori, a Lei n. 11.952/2009, ao mencionar que estariam em vigor as disposições do Decreto-Lei n. 1.164/1961, reinseriu o mencionado decreto-lei no sistema positivo, o qual tinha sido revogado expressamente pelo Decreto-Lei n. 2.375/1987. Se a resposta for não, então permanecem válidas as conclusões de Azevedo, supramencionadas, no sentido de que apenas as terras públicas devolutas situadas (...). Se a resposta for sim, entendemos que houve, no mínimo, uma incongruência legislativa, na medida em que estariam vigente dois artigos que se contradizem frontalmente, quais sejam, o artigo 1º e seus incisos do Decreto-Lei n. 1.164/1961 e o artigo 1º, parágrafo único e incisos do Decreto-Lei n. 2.375/1987. A incongruência, nesse caso, consistiria na edição (...). Requisitos atinentes ao posseiro para ter direito à regularização fundiária Para que seja efetivada a regularização, o posseiro deve cumprir alguns requisitos, quais sejam: (...). Analisando os requisitos legais exigíveis para o reconhecimento do direito, verifica-se que há a manifesta vontade de efetivamente dar destinação social à propriedade, posto que seriam regularizadas áreas apenas para aqueles que efetivamente já vivem do trabalho agrário, os quais passariam a ter, entre outros resultados, segurança

403. Para mais informações sobre o assunto, ver capítulo 10, seção 10.1.2, letra “e.5”.

404. Para mais informações sobre o assunto, ver capítulo 10, seção 10.1.2, letra “e.10”. 405. Alienação, nos termos da Lei n. 11.952/2009, consiste na doação, venda direta ou mediante licitação das terras incluídas no conceito de terras situadas

no âmbito da Amazônia legal (art. 2º, IX). 406. Concessão de direito real de uso, nos termos da Lei n. 11.952/2009, consiste na cessão de direito real de uso, onerosa ou gratuita, por tempo certo ou

indeterminado, para fins específicos de regularização fundiária (art. 2º, VIII).

Page 57: CONCEITOS ATINENTES AO DIREITO AMBIENTAL. (site: … · Conceito de Direito Ambiental: Direito Ambiental é a ciência jurídica que estuda, analisa e discute os problemas inerentes

57

jurídica, facilidade de acesso a crédito com consequentes investimentos e mais possibilidade de fixação no campo. No entanto, nos parece um tanto quanto incongruente a aplicação do referido raciocínio quando se verifica que a Lei não veda, logo permite, a regularização de áreas em favor da pessoa jurídica, fazendo inclusive menção à isso no artigo 8º, inciso I, quando esclarece que em havendo conflito na regularização de área rural que envolva comunidades locais108 em face de particulares, que sejam pessoas físicas ou jurídicas, a União deverá dar prioridade às comunidades locais. Ocorre que embora a função social da propriedade possa ser atribuída tanto à pessoa física, quanto jurídica, a legitimação da pessoa jurídica para obter o mesmo direito que a pessoa física aparentemente não atende os mesmos requisitos das pessoa física, mormente quanto àquele descrito no inciso I, do artigo 5º, da Lei n. 11.952/2009, tendo em vista que só as pessoas físicas é que são “brasileiros natos ou naturalizados”. Vale destacar que o § 1º, do artigo 6º, da MP n. 458/2009, que foi transformada na Lei em comento, expressamente vedava a regularização de área ocupada por pessoa jurídica, tendo o texto sido suprimido na conversão, o que nos parece se traduzir num equivoco, salvo se fossem evidenciados requisitos compatíveis para tanto. (...) Destaque-se que ao dispor sobre as cláusulas resolutivas, pela primeira vez, a lei n. 11.952/2009 faz menção expressa à questão ambiental, dispondo, inclusive, que qualquer descumprimento relativamente à legislação ambiental implica, observado o direito do contraditório e da ampla defesa, em rescisão imediata do título concedido com a consequente reversão da área em favor da União, assim como ocorreria caso houvesse o descumprimento de qualquer outra cláusula resolutiva, não sendo dado ao ocupante o direito à indenização, salvo as benfeitorias úteis e necessárias realizadas nos termos legais (§ 2º, do artigo 15 c/c artigo 18 e parágrafo único, ambos da Lei n. 11.952/2009). No entanto, se o inadimplemento ou não observância (...). Requisitos necessários para que o município possa ser beneficiário Para que o município possa ser beneficiário da doação ou da concessão de direito real de uso, aplicáveis conforme for o caso, é imprescindível que possua ordenamento territorial urbano, consistente no planejamento da área urbana, de expansão urbana ou de urbanização específica, que considere os princípios e diretrizes do Estatuto da Cidade, Lei n. 10.257/2001, e inclua, no mínimo, os seguintes elementos109: (...) DEON SETTE, MARLI T. Direito ambiental. Coordenadores: Marcelo Magalhães Peixoto e Sérgio Augusto Zampol

Pavani. Coleção Didática jurídica, São Paulo: MP Ed., 2009, p. 479-505. ISBN 978-85-97898-023-8. (site:

www.marli.ladesom.com.br ).

Considerações Finais

Indubitavelmente, a regularização fundiária, tanto das áreas rurais quanto urbanas, é uma necessidade premente para que se possa ter estabilidade jurídica, mormente porque muitos dos que serão beneficiados são pessoas que foram para a região incentivados pelas políticas públicas governamentais, os chamados desbravadores, os quais desempenharam muitas vezes até mesmo as funções do Estado.

108

Comunidades locais são as populações tradicionais e outros grupos humanos, organ izados por gerações sucessivas, com estilo de vida relevante à conservação e à utilização sustentável da diversidade biológica (inciso X, do artigo 3º, da Lei n. 11.284/2006) 109

Os requisitos estão dispostos no inciso VII, alíneas “a” até “d”, do artigo 2º, da Lei n. 11.952/2009.

Page 58: CONCEITOS ATINENTES AO DIREITO AMBIENTAL. (site: … · Conceito de Direito Ambiental: Direito Ambiental é a ciência jurídica que estuda, analisa e discute os problemas inerentes

58

Nesse sentido, uma regularização fundiária eficaz tende a trazer inúmeras vantagens diretas e indiretas, tais como estabelecer direitos, promover a justiça social, aumentar a governabilidade, combater o crime na região, aumentar as oportunidades de financiamento e, como decorrência, propiciar novos investimentos, diminuir o êxodo rural e, consequentemente, aumentar os empregos no campo, entre outras. Também é possível obter vantagens na esfera ambiental com a regularização fundiária, pois a lei n. 11.952/2009 coloca como requisito para a regularização fundiária a adequação das reservas legais e das áreas de preservação permanente nos termos das normas ambientais. Além disso, condiciona a celebração de novos convênios dos Estados da Amazônia Legal com a União, a aprovação de lei estadual que trate do respectivo Zoneamento Ecológico-Econômico – ZEE, assinalando o prazo máximo de 3 (três) anos para tanto, ou seja, a partir de 25 de junho de 2012, os Estados da Amazônia Legal que não implementarem tal exigência ficam proibidos de celebrar novos convênios com a União, até que tal obrigação seja adimplida. Há que se observar que embora a lei n. 11.952/2009 não faça nenhuma menção expressa quanto à orientação territorial referente a atividades econômicas a serem desenvolvidas nas áreas regularizadas, isso não é um problema. Ocorre que as atividades econômicas se submetem implicitamente às regras ditadas pelos planos de zoneamento econômico ecológico atinentes a cada região e nesses é claramente previsto quais são as habilidades ou vocações de cada área, se industrial, agropecuária, uso sustentável, bem como as necessidades e limitações. Acreditamos que a regularização é vantajosa, na medida em que os bens enquanto públicos têm os direitos atinentes à propriedade menos definidos do que aqueles bens que são privados, e, isso faz com que sejam utilizados de maneira menos racional do que os bens privados.110 Além do que, a tendência é que o Estado desempenhe melhor a fiscalização, bem como a cobrança de postura em relação à propriedade privada do que faria em relação aos seus próprios bens. No entanto, alguns pontos da Lei n. 11.952/2009 merecem cuidado especial e outros merecem questionamentos. O primeiro diz respeito á não exigência de que todos os benefic iários mantenham a propriedade pelo prazo relativo a aplicação das clausulas resolutivas, constante do artigo 15, seus incisos e parágrafos, já que apenas os imóveis de área até quatro módulos fiscais foram contemplado com a referida exigência. Já os imóveis com medida superior a esta, podem ser negociados a partir do decurso do prazo de apenas 3 (três) anos, mediante anuência do órgão expedidor. Isso merece, no mínimo, alguns questionamentos, tais como: porque limitar a alienação apenas para os imóveis com área menor que quatro módulos fiscais? Quais os parâmetros que levaram a tal conclusão? Quem se beneficiaria com a diferença de tratamento? Isso beneficia o alcance da função social da propriedade? Essas e muitas outras questões nos parecem sem resposta. Na realidade, entendemos que se a função primordial é dar destinação social, fixar o homem no campo, garantir-lhe o direito de propriedade e seus benefícios reflexos, a obrigação de manter a propriedade seria fundamental,

435. Para mais informações sobre bens públicos e privados, ver o capítulo 2, seção 2.1.4, letra “a”, deste livro.

Page 59: CONCEITOS ATINENTES AO DIREITO AMBIENTAL. (site: … · Conceito de Direito Ambiental: Direito Ambiental é a ciência jurídica que estuda, analisa e discute os problemas inerentes

59

principalmente para evitar grilagem e posses de “profissionais”, os quais ficariam com o compromisso de manter a qualidade do imóvel e, mais importante ainda, manter e/ou recuperar a qualidade ambiental, e esse “ônus” não é algo que pode ser alcançado em período muito reduzido. Com efeito, a estabilidade na área é essencial tanto para evitar novos apossamentos quanto para que se exija uma postura ambiental adequada do proprietário, que, com a obrigação de manter o bem, passa a ter mais compromisso. O segundo questionamento diz respeito à facilitação que a Lei n. 11.952/2009 dá ao pretenso posseiro quanto à confirmação de sua posse, quando dispensa a vistoria prévia da área e permite que a simples declaração de posse sirva como comprovação de tempo e tamanho da área. Isso pode fazer com que “profissionais” do comércio de imóveis, por si ou por terceiros que podem ser tanto grandes proprietários quanto pessoas jurídicas, detentores de mais informações, requeiram de má-fé a propriedade mesmo não sendo os verdadeiros posseiros, os quais acabariam prejudicados. As duas preocupações acima manifestadas têm ligação direta com o fato de que o controle e a fiscalização pelos órgãos competentes no Brasil jamais funcionaram como um “primor”. Ao contrário ,são inúmeras e evidentes as dificuldades, tais como, falta de profissionais, falta de estrutura, falta de logística, falta de comprometimento, etc. Assim, nos parece improvável que se consiga observar de fato, por exemplo, a “suposta” vedação de nova negociação imposta àquele que transferir ou negociar o imóvel que tiver recebido, conforme preceitua o § 6º, do artigo 15, da Lei n. 11.952/2009. Nesse sentido, parece ser essencial a estruturação do sistema on-line previsto no artigo 34, da Lei n. 11.952/2009, que, a priori, evitaria a incidência de “profissionais de ocupação de terras”, que são aqueles que mudam de acampamento para acampamento em busca de novas terras e depois as comercializam. Outro ponto que merece atenção especial diz respeito ao fato de que a que a Lei não veda, logo permite, a regularização de áreas em favor da pessoa jurídica, fazendo inclusive menção à isso no artigo 8º, inciso I, quando esclarece que em havendo conflito na regularização de área rural que envolva comunidades locais em face de particulares, que sejam pessoas físicas ou jurídicas, a União deverá dar prioridade às comunidades locais. Isso nos parece um tanto quanto incongruente, na medida em que, embora a função social da propriedade possa ser atribuída tanto à pessoa física, quanto jurídica, a legitimação da pessoa jurídica para obter o mesmo direito que a pessoa física aparentemente não atende os requisitos da pessoa física, mormente quanto àquele descrito no inciso I, do artigo 5º, da Lei n. 11.952/2009, tendo em vista que só as pessoas físicas é que são “brasileiros natos ou naturalizados”. Isso parece se traduzir num equivoco, salvo se fossem evidenciados requisitos compatíveis para tanto. Os três pontos citados são preocupantes porque retiram muito do compromisso e da possibilidade de eficácia que a regulamentação poderia proporcionar. O último e maior questionamento: Por que gratuitamente? Vimos no início desta seção que ainda quando não se tinha escassez de terra, já se tinha a noção da valorização financeira. Porque agora, quando há disputa pela terra, vamos dá-la de graça? Isso parece um caminhar na contramão da História.

Page 60: CONCEITOS ATINENTES AO DIREITO AMBIENTAL. (site: … · Conceito de Direito Ambiental: Direito Ambiental é a ciência jurídica que estuda, analisa e discute os problemas inerentes

60

Aliás, a gratuidade da terra àqueles que a possuíram ilegalmente (invadiram, grilaram) parece se caracterizar num prêmio pela prática ilegal. Sim, porque, conforme foi demonstrado neste estudo, o uso do bem alheio de maneira indevida sempre foi vedado pela legislação, logo usá-lo indevidamente ou sem permissão é ilícito. A Lei n. 11.952/2009 veda o benefício para futuras invasões, como se dissesse “quem já fez pode, mas a partir de agora não pode mais”. Isso é mais um motivo para repensar a questão da gratuidade, com vistas a incentivar as pessoas a andarem dentro da lei, do contrário, a gratuidade pode se constituir num incentivo para que outros invadam111 novas áreas, pois terão a certeza que num momento futuro alguém resolverá o seu problema relativo à propriedade e, mais ainda, de que poderá obtê-la gratuitamente. DEON SETTE, MARLI T. Direito ambiental. Coordenadores: Marcelo Magalhães Peixoto e Sérgio Augusto Zampol

Pavani. Coleção Didática jurídica, São Paulo: MP Ed., 2009, p. 505-510. ISBN 978-85-97898-023-8. (site:

www.marli.ladesom.com.br ).

TRIBUTAÇÃO AMBIENTAL112

Mais relevante do que implementar uma ferramenta para cuidar dos bens ambientais, é dar a ela elementos que a possibilitem de efetivamente ser eficaz no seu propósito. Em virtude disso, este trabalho se propõe a analisar tanto os aspectos jurídicos quanto econômicos relevantes na instituição de um tributo ambiental e apresentar um modelo tributário a ser aplicado na gestão ambiental, diferenciado do existente atualmente no Brasil. Isso porque partimos da premissa de que esse instrumento deve visar, eminentemente, à mudança de comportamento do agente econômico; é a chamada tributação extrafiscal. Destarte, para que essa premissa tenha possibilidade de apresentar-se eficaz, é mister que alguns aspectos sejam presença constante em todos os tributos ambientais. Dentre esses aspectos merece destaque o valor do tributo, a vinculação das receitas arrecadadas e a adequação jurídica do tributo. O valor adequado do tributo é essencial para que o agente, ao fazer uma análise custo-benefício, considere de um lado o valor do tributo e de outro o quantum de lucros que poderia auferir com a prática do comportamento degradador e chegue à conclusão de que é vantajoso tanto para o meio ambiente quanto para a sua economia privada que deixe de praticar referido comportamento de uso ou poluição ambiental. A vinculação da receita é fator determinante tanto para atender ao Princípio da Equidade, quanto para dar transparência, confiabilidade e vontade de adequar-se ao tributo instituído. Como até o momento não há uma regra jurídica específica concernente aos tributos ambientais, que atenda às características econômicas mencionadas e que, ao mesmo tempo, se adéque àquelas regras tributárias relacionadas na Carta Magna, vamos discutir os aspectos supracitados, mostrar a relevância

436. Este é o pensamento da Senadora Marina Silva, que disse: “o maior problema da MP é que abre brechas para que „aqueles que cometeram o crime de

apropriação de terras públicas sejam anistiados e confundidos com posseiros de boa fé‟. Só para estes últimos deveriam ser ap licadas as salvaguardas previstas na Constituição”, divulgado no endereço <http://www.senado.gov.br/agencia/verNoticia.aspx?codNoticia=91856&codAplicativo=2> , pesquisado em

21 de junho de 2009. 434. Esta seção tem como base o artigo de nossa autoria, intitulado Relevância da Análise dos Aspectos Econômicos na Instituição de um Tributo Ambiental,

publicado nas seguintes obras: 1) DEON SETTE, Marli T.; NOGUEIRA, Jorge M. Relevância da Análise dos Aspectos Econômicos na Instituição de um Tributo Ambiental. Revista Jurídica da Universidade de Cuiabá - UNIC. Cuiabá, EdUNIC, Volume 8, Número 1 (jan./jun.), 2006, p.137-156. ISSN 1519-1753; e 2)

DEON SETTE, Marli T.; NOGUEIRA, Jorge M. Relevância da Análise dos Aspectos Econômicos na Instituição de um Tributo Ambien tal. Revista de Direito Tributário – RDT. São Paulo, Malheiros, n. 96, 2007, p. 211-224. ISS 0102-7956. Por seu turno, o assunto foi amplamente analisado na dissertação de

mestrado defendida pela autora na Universidade de Brasília – UnB – sob o título Considerações Sobre Vinculação de Receitas e Eficácia de Tributos na Gestão Ambiental (DEON SETTE, Marli T., 2006). Também foi apresentado pela autora em palestra realizada no Encontro Nacional Para Avaliação de

Políticas do Meio Ambiente, realizado em Brasíli a, no dia 28 de junho de 2006. Todos publicados no site <www.marli.ladesom.com.br>.

Page 61: CONCEITOS ATINENTES AO DIREITO AMBIENTAL. (site: … · Conceito de Direito Ambiental: Direito Ambiental é a ciência jurídica que estuda, analisa e discute os problemas inerentes

61

dessas considerações e apresentar uma sugestão jurídica de como instituir um tributo ambiental que se adéque aos aspectos econômicos relevantes. (...) a) Análise de hipóteses existentes de cobranças ligadas a bens e serviços ambientais

As cobranças a serem analisadas serão: a cobrança pelo uso da água e a taxa de controle e fiscalização ambiental – TCFA. a.1.) Cobrança pelo uso da água

A Lei n. 9.433/1997, ao dispor sobre a cobrança pelo uso da água, o faz nos seguintes termos: (...). Vale chamar a atenção para o termo “prioritariamente” que denota a não obrigatoriedade da aplicação dos valores arrecadados ao local da sua arrecadação. Logo, a hipótese que acabamos de colocar é a mais pura manifestação de cobrança pela utilização de um bem ambiental, em que a sua receita não é vinculada, logo, não necessariamente utilizada na fonte geradora da receita. A questão é: qual a natureza jurídica desta cobrança? Ela tem legitimidade jurídica de forma a poder alcançar os objetivos econômicos e ambientais? Não dispensaremos muitos comentários em nossa análise, apenas faremos alguns comentários por eliminação. Percebe-se que não podemos chamá-la de taxa, posto que não enseja nenhum serviço público específico e divisível, efetivo ou potencialmente colocado à disposição do contribuinte; também não há de falar-se em preço público ou tarifa, pois ninguém há de duvidar que água é essencial, sua cobrança é compulsória e decorre de Lei, e essas não são características de preço público. Talvez pudéssemos tratá-la como imposto, pois incide sobre o uso de um bem e não é necessariamente vinculado à fonte arrecadadora, ficando a maior parte no caixa único do Estado, que tem discricionariedade para decidir sobre seu uso, consoante se afere no § 2º que apenas assegura que seu uso deve ser feito em relação a um corpo de água, ou, finalmente, poderia ser vista como de contribuição de intervenção no domínio econômico, já que essa pode dar-se para preservar o meio ambiente. Isso nos parece mais harmônico com a hipótese em comento. Mas aqui vale lembrar que tais contribuições só podem atingir setores delimitados da atividade econômica, além do que só pode ter como sujeito passivo os que estiverem diretamente envolvidos. a.2.) Cobrança da taxa de controle e fiscalização ambiental – TCFA

A Lei n. 6.938/1981, em seus artigos 17-A a 19, trata da cobrança da Taxa de Controle e Fiscalização Ambiental – TCFA. Sobre o assunto, evidenciamos os seguintes textos: (...). Nesse caso, a priori, ressalta aos olhos que o tributo se equipara à taxa, já que está adequado aos seus requisitos constitucionais, quais sejam, a existência da vinculação das receitas e, cumulativamente, consiste numa cobrança que exige uma atividade estatal específica e divisível. No entanto, quando se examina o anexo, percebe-se que o mesmo não trata da vinculação das receitas, como parece sugerir o artigo 17-A, mas, tão-somente, trata de tabela dos preços dos serviços. (...). Da análise das duas espécies de cobranças supramencionadas, percebe-se que não há uma uniformidade nos conceitos básicos que as ensejam, aí pergunta-se: será adequado deixar bens e serviços ambientais à mercê do legislador em decidir, em cada caso concreto, como definir a cobrança bem como o seu destino? Não seria mais eficaz se a própria constituição previsse de forma objetiva e transparente como deve ser instituída a cobrança pelo uso

Page 62: CONCEITOS ATINENTES AO DIREITO AMBIENTAL. (site: … · Conceito de Direito Ambiental: Direito Ambiental é a ciência jurídica que estuda, analisa e discute os problemas inerentes

62

de bens tão essenciais? A resposta para essas questões parece clara quando se observa a afirmação de Cremer et al (2004), quando dizem que “na instituição de um tributo deve-se observar onde serão aplicados os recursos obtidos e essa regra de reaplicação é determinada por um plano constitucional de maximização de bem-estar”. A nosso ver, (...). Aliás, vale destacar que temos encampado a defesa dessa ideia desde a publicação do nosso primeiro trabalho na área, tendo-o concretizado com mais afinco na nossa dissertação de mestrado em 2006, e, nesse momento, recebemos com alegria a notícia de que membros do Ministério Público Federal e dos Ministérios Públicos dos estados que atuam na Amazônia Legal sugeriram e tiveram suas proposições atendidas por meio da apresentação no Congresso Nacional, no dia 15 de abril deste ano (2009), da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) n. 353/2009. A PEC dispõe sobre a Reforma Tributária Ambiental e foi subscrita por um terço da Câmara dos Deputados, como manda a Constituição. As propostas inseridas na PEC 353/2009 estabelecem como linhas fundamentais a introdução da extrafiscalidade ambiental, ou seja, tributar para influenciar a adoção de atividades econômicas ambientalmente adequadas em todos os impostos e contribuições; a criação de imunidades tributárias em favor de bens e serviços ambientalmente interessantes; e a repartição de receitas tributárias em razão de critérios ambientais. A ideia central é a de que produtos e atividades ambientalmente adequados devem ter carga tributária minorada, enquanto que as atividades e os produtos inadequados sob o ponto de vista ambiental devem ser desestimulados por meio de tributação majorada. Ou seja, o grau de aumento ou diminuição do peso tributário deve ser proporcional aos benefícios ou prejuízos ambientais gerados. (...). DEON SETTE, MARLI T. Direito ambiental. Coordenadores: Marcelo Magalhães Peixoto e Sérgio Augusto Zampol

Pavani. Coleção Didática jurídica, São Paulo: MP Ed., 2009, p. 512-546. ISBN 978-85-97898-023-8. (site:

www.marli.ladesom.com.br ).

CONSIDERAÇÕES ACERCA DO PROTOCOLO DE QUIOTO113

O objetivo desta seção é trazer à baila considerações sobre o Protocolo de Quioto, analisando três pontos em especial: as metas fixadas para melhoria da qualidade atmosférica; as formas de responsabilização dos países; e alguns instrumentos adotados para implementar referidas metas. O destaque é para os instrumentos econômicos de flexibilização previstos no Protocolo, tais como a Implementação Conjunta de Projetos, o Comércio de Emissões e o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo – previstos respectivamente nos artigos 6º, 17 e 12, do Protocolo. (...). A poluição atmosférica é motivo de preocupação acentuada há algumas décadas, por se tratar de forma de poluição global, o que tem resultado em ações conjuntas de estados nacionais. Uma dessas ações se materializou formal e globalmente por meio do Protocolo de Quioto, que é um tratado internacional com compromissos e metas para a redução da emissão dos gases que provocam o efeito estufa. (...). Esses gases, presentes em vários aspectos da vida moderna, são considerados pela maioria das investigações científicas como causa da aceleração do aquecimento global. (...) Como decorrência lógica das características mencionadas, a poluição atmosférica

113. Esta seção tem como base o artigo de nossa autoria, intitulado Considerações Acerca do Protocolo de Quioto, publicado n as seguintes obras: DEON SETTE, Marli T.; NOGUEIRA, J. M. Considerações Acerca do Protocolo de Quioto. Revista Jurídica da Universidade de Cuiabá - UNIC. Cuiabá, EdUNIC,

Volume 1, Número 1 (jan/jun de 2008), p.79-96, 2008. ISSN 1519-1753.

Page 63: CONCEITOS ATINENTES AO DIREITO AMBIENTAL. (site: … · Conceito de Direito Ambiental: Direito Ambiental é a ciência jurídica que estuda, analisa e discute os problemas inerentes

63

produzida em qualquer canto do planeta pode atingir a qualquer outro lugar do planeta,114 motivo porque tem merecido a atenção global. Com efeito, um “ingênuo” gás emitido em um país tende a associar-se a outro “ingênuo” gás produzido em qualquer outro país e disso deriva uma sinergia com resultados muitas vezes imprevisíveis. Alguns efeitos são sentidos em âmbito local, no entanto, muitos outros efeitos atingem o planeta com um todo, como por exemplo, o aprofundamento do efeito estufa e a ampliação do buraco na camada de ozônio, os quais têm causado consequências gravíssimas tais como o aumento da temperatura média do planeta, da incidencia do câncer de pele, aceleração do descongelamento das geleiras, entre outros. O aquecimento global ocorre principalmente em consequência do acúmulo de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera.115 (...). Um Protocolo é um acordo internacional independente, porém ligado a um tratado anterior. Disso decorre que o Protocolo de Quioto compartilha as preocupações e princípios dispostos na Convenção do Clima (tratado anterior), a partir dos quais acrescenta novos compromissos que são mais fortes e muito mais complexos e detalhados do que os da convenção (ARAÚJO, 2006, p. 14). O Protocolo de Quioto é o resultado formal de discussões sucessivas, em vários países, sobre a poluição atmosférica. 116 (...). Entre as ações previstas no Protocolo de Quioto, foram contemplados instrumentos de flexibilização para atingir as metas de redução de emissão de gases de efeito estufa. A ideia é possibilitar aos países já obrigados a reduzir suas emissões – os do ANEXO I – encontrarem a maneira menos onerosa para tanto. Isso porque, de acordo com o IPCC (sigla em inglês para Painel Intergovernamental em Mudanças Climáticas), se os países desenvolvidos usarem apenas medidas internas para a redução das emissões, essas custariam de 0,2 a 2,0% do PIB (Produto Interno Bruto) nesses países. Estima-se que esses custos podem ser reduzidos à metade se forem adotados os mecanismos de flexibilização comercial de Quioto (CEBDS, 2000b; In: SUERDIECK, 2003). Sobre esses mecanismos de mercado, também chamados “emission trade”, Rocha (2002) dispõe que: (...). Dos mecanismos flexíveis previstos no Protocolo de Quioto, dois deles são exclusivos para os países desenvolvidos nesta primeira etapa de implementação (2008 a 2012), é a Implementação Conjunta de Projetos (artigo 6º), e o Comércio de Emissões (artigo 17) – também chamado de Comércio de Permissão de Emissão. Já o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) – também chamado de Comércio de Redução de Emissão (artigo 12) – é utilizado para negociações entre os países desenvolvidos e os países em desenvolvimento. Nos termos do Protocolo, a Implementação Conjunta de Projetos traduz-se na ideia de que uma empresa de um país desenvolvido ou os próprios países do ANEXO I possam financiar projetos para a redução de emissões em outros países desenvolvidos. Assim procedendo, a empresa e/ou o país empreendedor receberiam créditos por isso, chamados Unidades de Redução de Emissões (ERU), desde que preenchidos alguns requisitos, senão vejamos: (...).

114. Isso pode ser entendido facilmente quando nos lembramos e fazemos associação entre as Leis da Física, mormente a Lei da Conservação da Maté ria (Lei de Antoine Laurent Lavoisier) que diz que na natureza nada se cria, nada se perde e tudo se transforma, com a Segunda Lei da Termodinâmica, a Lei da

Entropia, que determina que a entropia total de um sistema termodinâmico isolado tende a aumentar com o tempo, aproximando -se de um valor máximo. 115. Mais especificamente na camada de ozônio, que é uma “capa” desse gás (O3) que envolve a Terra e a protege de vários tipos de radiação, principalmente

a ultravioleta. 116. São seis os principais gases de efeito estufa que são considerados no Protocolo de Quioto: dióxido de carbono (CO 2), metano (CH4), óxido nitroso (N2O),

hidrofluorcarbonos (HFCs), hexafluoreto de enxofre (SF6) e perfluorcarbonos (CF4 e C2F6) (DINIZ, 2006, p. 376).

Page 64: CONCEITOS ATINENTES AO DIREITO AMBIENTAL. (site: … · Conceito de Direito Ambiental: Direito Ambiental é a ciência jurídica que estuda, analisa e discute os problemas inerentes

64

O Comércio de Emissões é outro mecanismo de flexibilização presente no Protocolo de Quioto que, assim como o de Implementação Conjunta de Projetos, também não se aplica ao Brasil na primeira fase de execução do Protocolo de Quioto. O Comércio de Emissões traduz-se na ideia de possibilitar aos países industrializados que poluem a oportunidade de comprar créditos de emissão daqueles países industrializados que conseguiram reduzir suas emissões para além das metas impostas pelo Protocolo, conforme dispõe em seu artigo 17, in verbis: (...). A alternativa que mais interessa ao Brasil nesta primeira fase, por ser a única a ele disponível, é o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), que aparece no artigo 12 do Protocolo. Na verdade, a inclusão de um Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) em Quioto se relaciona à ativa participação do Brasil nas negociações de Quioto (MOTTA, 1999). O país propôs um fundo de desenvolvimento limpo que seria usado para financiar iniciativas de desenvolvimento nos países fora do ANEXO I. Os recursos desse fundo viriam de multas impostas a países do ANEXO I que não respeitassem seus tetos de emissões. A oposição dos países desenvolvidos movimentou as negociações, que tiveram como resultado a proposta do MDL. O MDL permite que países desenvolvidos cumpram suas obrigações de controle de emissões financiando projetos de redução ou comprando títulos emitidos por iniciativas de controle de emissões nos países em desenvolvimento (SUERDIECK, 2002). Significa dizer que o referido mecanismo permite investimentos por parte dos países do ANEXO I, nos países do ANEXO II, com vistas a implementar atividades que sejam menos poluentes àquelas desenvolvidas antes da realização do projeto, e, ainda, permite que os países do ANEXO II tomem a iniciativa de criar projetos que gerem adicionalidade e comercializem tais créditos com os países do ANEXO I. Isso é o que se afere na leitura do artigo 12, itens 1, 2 e 3 do Protocolo, senão vejamos: (...). Conforme se constata da leitura dos artigos supramencionados, o MDL tem como característica relevante o duplo benefício ou dupla cooperação, que, conforme explica Frangetto e Gazani (2002) traduz-se na seguinte ideia: (...). Estima-se a realização de vultosos investimentos em reflorestamento, 117 conservação ambiental e aumento de eficiência energética que podem dinamizar social e economicamente diversas regiões de países em desenvolvimento mediante a incorporação de parâmetros de responsabilidade ambiental em atividades produtivas (SUERDIECK, 2003). Para as empresas brasileiras, o MDL se constitui numa grande oportunidade para o desenvolvimento de programas de redução de emissões ou absorção de CO2, principalmente projetos de energias renováveis, projeto de recuperação de gás de aterro sanitário e florestamento ou reflorestamento. Na implementação desses projetos pode-se contar com a transferência de tecnologias e de recursos externos de empresas do ANEXO I, interessadas na obtenção de certificados de redução de emissão de gases de efeito estufa (ARAÚJO, 2006, p. 26). Segundo dados obtidos de CEBDS, 2000b. (In: SUERDIECK, 2003), no primeiro período de implementação do Protocolo, o Brasil poderia absorver de 6 a 22 Megatoneladas de gás carbônico (MtCO2)118

117. Deve-se atentar que, atualmente, para serem elegíveis no MDL, as atividades florestais necessitam que: a) o uso da terra tenha sid o não florestal, ou seja, dedicado à agropecuária e/ou alterada por ação humana até 31 de dezembro de 1989; e b) as atividades florestais tenham sido iniciadas após 01 de

janeiro de 2000 (SUERDIECK, 2002). 118

A previsão com variação bastante alargada ocorre principalmente em virtude de que a capacidade de fixação de CO2 varia muito de ecossistema para

ecossistema e a fórmula de cálculo da adicionalidade é ainda um tanto quanto deficiente.

Page 65: CONCEITOS ATINENTES AO DIREITO AMBIENTAL. (site: … · Conceito de Direito Ambiental: Direito Ambiental é a ciência jurídica que estuda, analisa e discute os problemas inerentes

65

por ano, podendo gerar US$ 300 milhões a US$ 889 milhões a.a. Destarte, o Brasil constitui-se em grande potencial exportador de créditos de carbono, quer pela sua extensão territorial, quer pelo clima tropical propício, quer pela potencial capacidade de variação de maneiras de transporte ou ainda pela grande quantidade de recursos hídricos para geração de energia limpa. Além dos valores da comercialização119 dos créditos de carbono gerados por meio de projetos de MDL, outros valores agregados devem ser considerados, pelo menos a longo prazo, como o lucro econômico decorrente de manejo sustentável de madeira de valor comercial (teca, eucalipto, pau-de-balsa, pinhão-manso etc.);120 além do lucro não econômico, como beleza cênica, bem-estar etc. A implantação real de mercado de carbono depende primeiramente do cumprimento dos itens estabelecidos nos acordos entre as partes, nos termos do Protocolo de Quioto. No entanto, para que o mercado evolua para mercado de balcão e em seguida mercado futuro são necessários que sejam delineadas claramente algumas considerações, que, segundo Rocha (2002), traduzem-se basicamente em: (...). O Brasil tomou algumas medidas para viabilizar a implementação de projetos em nosso país. A título de exemplo, em outubro de 2002, a Comissão Interministerial de Mudança Climática decidiu acelerar a regulamentação brasileira do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), definindo, dentre outros, os passos necessários para utilizar esse mecanismo de flexibilização para o financiamento de projetos de fixação/redução e prevenção de emissões de carbono. Outra iniciativa foi a criação, no final de 2001, do Centro de Estudos Integrados sobre o Meio Ambiente (CENTROCLIMA) por meio de convênio entre o Ministério do Meio Ambiente (MMA) e a Coordenação dos Programas de Pós-Graduação em Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro – COPPE/UFRJ –, com o objetivo de difundir estudos e integrar pesquisadores da área de mudanças climáticas no Brasil. Também foram realizados estudos para aferir o atual nível de conhecimento sobre a fixação de carbono no meio ambiente e apresentar perspectivas técnicas, científicas e econômicas para os setores florestal e ambiental. Em nível internacional, chama atenção o fato de que o Banco Mundial lançou em 2002 um fundo de investimentos para projetos de controle das mudanças climáticas. Referido fundo poderá ser composto com recursos públicos e privados dos países industrializados para financiamento de atividades florestais – de Uso do Solo, Mudança do Uso do Solo e Reflorestamento (SUERDIECK, 2002). É importante destacar que os projetos, para gerarem certificados comercializáveis, devem seguir os trâmites do Protocolo, serem aprovados pelo governo brasileiro e, finalmente, serem encaminhados para a entidade responsável pela verificação e certificação internacional (SUERDIECK, 2002). Quanto à forma de financiamento para realização de projetos que gerem certificados, três modelos se apresentam: bilateral, multilateral ou unilateral. Segundo (CEBDS, 2001), tem-se que: (...). O Protocolo de Quioto conta com a participação de vários países, traduzindo-

119. Dados apontam que podem ser valores com o Comércio de Redução de Emissão – REs – que variam de US$ 5,00 a US$ 8,00/ton. CO2, no Protocolo de

Quioto ou, US$ 1,00/ton. CO2, na bolsa de Chicago, tendo como Principais Compradores de REs no período de 2004 a 2005: Japão – 21 % – e Holanda – 16% – e como Principais Ofertantes de REs no período de 2004 a 2005 países como a Índia – 31% – e o Brasil – 13% (ARAÚJO, 2006, p. 26-27).

120. Segundo dados fornecidos por Migliari (2008), atualmente o lucro econômico decorrente de manejo sustentável no estado de Ma to Grosso é bastante significativo, pois, segundo ele, é possível “em uma área de 1.000 ha, produzir por meio de manejo aproximadamente 30.000 m 3 de madeira; as madeireiras

vão até a área com projeto de manejo aprovado e retiram a madeira selecionada por sua conta, pagando aproximadamente R$ 80,00 A 100,00 m3 de madeira, isso re sultaria num volume de R$ 3.000.000,00”. Também é importante destacar que reflorestamento feito com pinhão manso, por exemplo, pode ser util izado

na produção de biodiesel, outra fonte de energia com potencial altamente comercializável.

Page 66: CONCEITOS ATINENTES AO DIREITO AMBIENTAL. (site: … · Conceito de Direito Ambiental: Direito Ambiental é a ciência jurídica que estuda, analisa e discute os problemas inerentes

66

se na materialização dos direitos que entendemos ser direitos de quarta geração121 na medida em que tutela direitos fundamentais como o direito a um ambiente equilibrado, sem se ater a limites territoriais de um país. Isso é um avanço significativo na forma de tratar a questão dos bens ambientais, pois o meio ambiente é bem de uso comum das pessoas, o que exige tratamento difuso, pois todos o têm em equilíbrio ou então ninguém o tem. Por meio do Protocolo de Quioto são fixadas metas de redução de emissão de gases causadores de efeito estufa em que, sem tirar a soberania de nenhum país (já que a decisão de aderir ou não é decisão interna de cada país), as regras postas àqueles países que a ele aderirem devem ser cumpridas equitativamente em relação ao contexto histórico da emissão de poluição em cada país. É importante mencionar que esse tipo de política tem ganhado simpatia mundial e os países que não aceitam compartilhar das preocupações ambientais passaram a merecer uma certa visão de vilões aproveitadores. Atualmente, está em fase de implementação a primeira etapa do Protocolo, que vai de 2008 a 2012, e tem como meta a redução global em aproximadamente 5,2 % das emissões de CO2 nos países do ANEXO I que aderiram ao Protocolo. Entre os mecanismos mencionados para atingir a meta, destacam-se os instrumentos econômicos, quais sejam: Implementação Conjunta de Projetos, o Comércio de Emissões e os Mecanismos de Desenvolvimento Limpo. A vantagem do uso desses mecanismos é a flexibilização, já que possibilita negociação entre os países para que o resultado global seja atingido, diminuindo assim o custo da redução de emissões e melhorando a eficiência em cada país. Para o Brasil, nesta primeira fase de implementação, o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo é o instrumento que mais desperta atenção, pois ele permite que países desenvolvidos – do ANEXO I – cumpram suas obrigações de controle de emissões financiando projetos de redução ou comprando títulos emitidos por iniciativas de controle de emissões nos países em desenvolvimento, entre os quais se inclui o Brasil. Isso significa a possibilidade de melhoria da qualidade de fontes de energia e florestamento, por exemplo, associado a investimentos estrangeiros no Brasil. DEON SETTE, MARLI T. Direito ambiental. Coordenadores: Marcelo Magalhães Peixoto e Sérgio Augusto Zampol

Pavani. Coleção Didática jurídica, São Paulo: MP Ed., 2009, p. 546-564. ISBN 978-85-97898-023-8. (site:

www.marli.ladesom.com.br ).

Interessados em obter mais informações acerca dos conceitos aqui citados pesquisar no livro abaixo mencionado, de onde foram retirados pequenos trechos:

121. Hodiernamente, no Brasil, classifica-se o Direito Ambiental em Direitos de Terceira Geração/Dimensão, em que se valoriza a solidariedade em relação a

direitos fundamentais, em detrimento da liberdade e/ou igualdade. Nesse sentido, MS 22164 / SP - SÃO PAULO - MANDADO DE SEGURANÇA - Relator(a): Min. CELSO DE MELLO - Julgamento: 30/10/1995 - Órgão Julgador: TRIBUNAL PLENO- Publicação DJ 17-11-1995 PP-39206 EMENTA VOL-01809-05 PP-

01155. EMENTA: “REFORMA AGRARIA (...) A QUESTÃO DO DIREITO AO MEIO AMBIENTE ECOLOGICAMENTE EQUILIBRADO - DIREITO DE TERCEIRA GERAÇÃO - PRINCÍPIO DA SOLIDARIEDADE. - O DIREITO A INTEGRIDADE DO MEIO AMBIENTE - TIPICO DIREITO DE TERCEIRA

GERAÇÃO - CONSTITUI PRERROGATIVA JURÍDICA DE TITULARIDADE COLETIVA, REFLETINDO, DENTRO DO PROCESSO DE AFIRMAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS, A EXPRESSÃO SIGNIFICATIVA DE UM PODER ATRIBUIDO, NÃO AO INDIVÍDUO IDENTIFICADO EM SUA SINGULARIDADE,

MAS, NUM SENTIDO VERDADEIRAMENTE MAIS ABRANGENTE, A PRÓPRIA COLETIVIDADE SOCIAL. ENQUANTO OS DIREITOS DE PRIMEIRA GERAÇÃO (DIREITOS CIVIS E POLÍTICOS) - QUE COMPREENDEM AS LIBERDADES CLÁSSICAS, NEGATIVAS OU FORMAIS - REALÇAM O PRINCÍPIO

DA LIBERDADE E OS DIREITOS DE SEGUNDA GERAÇÃO (DIREITOS ECONÔMICOS, SOCIAIS E CULTURAIS) - QUE SE IDENTIFICA COM AS LIBERDADES POSITIVAS, REAIS OU CONCRETAS - ACENTUAM O PRINCÍPIO DA IGUALDADE, OS DIREITOS DE TERCEIRA GERAÇÃO, QUE

MATERIALIZAM PODERES DE TITULARIDADE COLETIVA ATRIBUIDOS GENERICAMENTE A TODAS AS FORMAÇÕES SOCIAIS, CONSAGRAM O PRINCÍPIO DA SOLIDARIEDADE E CONSTITUEM UM MOMENTO IMPORTANTE NO PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO, EXPANSÃO E

RECONHECIMENTO DOS DIREITOS HUMANOS, CARACTERIZADOS, ENQUANTO VALORES FUNDAMENTAIS INDISPONÍVEIS, PELA NOTA DE UMA ESSENCIAL INEXAURIBILIDADE”.

Page 67: CONCEITOS ATINENTES AO DIREITO AMBIENTAL. (site: … · Conceito de Direito Ambiental: Direito Ambiental é a ciência jurídica que estuda, analisa e discute os problemas inerentes

67

DEON SETTE, MARLI T. Direito ambiental. Co ordenadores: Marcelo Magalhães Peixoto e Sérgio Augusto Zampol Pavani. Coleção Didática jurídica, São Paulo: MP Ed., 2009, 575 p. ISBN 978-85-97898-023-8. (site: www.marli.ladesom.com.br ).