of 12 /12
1 Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13 th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X CONCEPÇÕES DE GÊNERO NO MUNDO DA ENGENHARIA CIVIL: UM ESTUDO DE CASO SOBRE AS ACADÊMICAS DA UDESC - CAMPUS JOINVILLE SOB A ÓTICA DO MERCADO DE TRABALHO Luísa Kinas de Aguiar 1 Myrrena Inácio 2 Resumo: O desinteresse das mulheres em atuar como engenheiras, numa área tão promissora e carente de profissionais qualificados, tem sido amplamente discutido (FRIGO; YEVSEYEVA; POZZEBON, 2013). O documento Women in STEM: A Gender Gap to Innovation (BEED et al., 2011) mostra a inequidade de gênero que vem se mantendo constante na última década, apesar do aumento da presença de mulheres no ensino superior em ciência, tecnologia, engenharia e matemática (STEM). Essa pesquisa visa investigar as concepções das acadêmicas e acadêmicos matriculados nas 2ª e 8ª fases do curso de Engenharia Civil na Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) - Campus Joinville no que tange à discriminação de gênero e o mercado de trabalho na Engenharia Civil. Propõe-se identificar, a partir de diferentes dimensões, os possíveis desafios encontrados pelas acadêmicas e acadêmicos nos ambientes acadêmico e profissional, bem como apresentar estratégias em termos de políticas públicas e mercado de trabalho. A metodologia consiste em um estudo de caso, a partir da aplicação de um questionário, com o intuito de analisar o perfil, as experiências e as demais concepções das acadêmicas sobre o tema. Ao final, defende-se a efetiva participação das universidades no ciclo de políticas públicas que versam sobre mercado de trabalho, educação e gênero, adotando-se projetos de extensão para fortalecer o debate na universidade e comunidade, ampliar as diferentes visões de mundo(s) das próprias acadêmicas e acadêmicos e promover o empoderamento feminino. Palavras-chave: Gênero e mercado de trabalho. Mulheres na Engenharia Civil. Políticas públicas INTRODUÇÃO A engenharia moderna surge primeiramente no ambiente militar, com aplicações na construção de armamentos, fortificações e pontes, na abertura de estradas, entre outras atividades. Este elemento militar contribui para que, historicamente, a engenharia seja associada ao campo de atuação do sexo masculino (LOMBARDI, 2004). Segundo Lombardi (2005), há uma sub-representação feminina na engenharia que é fruto da discriminação de gênero nos ambientes acadêmicos e de trabalho nessa área de conhecimento. Em 2015, no mercado da Engenharia Civil no Brasil, havia 179.274 engenheiros civis ativos no Conselho Federal de Engenharia e Agronomia - CONFEA para 39.754 engenheiras civis, considerando todos os estados do país (CONFEA, 2015). Já o percentual médio de ingresso de alunas até 2013 foi de 55% do total em cursos de graduação presenciais, embora essa forte presença feminina esteja atrelada aos cursos de humanas (INEP, 2013). O desinteresse das mulheres em atuar como engenheiras, numa área tão promissora e carente de profissionais qualificados, tem sido amplamente discutido (FRIGO; YEVSEYEVA; POZZEBON, 2013). O documento Women in STEM: A Gender Gap to Innovation (BEED et al., 1 Egressa do curso de Engenharia Civil da Universidade do Estado de Santa Catarina UDESC, Joinville, Brasil. 2 Professora do Departamento de Engenharia Civil da Universidade do Estado de Santa Catarina UDESC, Joinville, Brasil.

CONCEPÇÕES DE GÊNERO NO MUNDO DA ... Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X Gráfico

Embed Size (px)

Text of CONCEPÇÕES DE GÊNERO NO MUNDO DA ... Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s...

1

Seminrio Internacional Fazendo Gnero 11 & 13th Womens Worlds Congress (Anais Eletrnicos),

Florianpolis, 2017, ISSN 2179-510X

CONCEPES DE GNERO NO MUNDO DA ENGENHARIA CIVIL: UM ESTUDO DE

CASO SOBRE AS ACADMICAS DA UDESC - CAMPUS JOINVILLE SOB A TICA DO

MERCADO DE TRABALHO

Lusa Kinas de Aguiar1

Myrrena Incio2

Resumo: O desinteresse das mulheres em atuar como engenheiras, numa rea to promissora e carente de profissionais

qualificados, tem sido amplamente discutido (FRIGO; YEVSEYEVA; POZZEBON, 2013). O documento Women in

STEM: A Gender Gap to Innovation (BEED et al., 2011) mostra a inequidade de gnero que vem se mantendo

constante na ltima dcada, apesar do aumento da presena de mulheres no ensino superior em cincia, tecnologia,

engenharia e matemtica (STEM). Essa pesquisa visa investigar as concepes das acadmicas e acadmicos

matriculados nas 2 e 8 fases do curso de Engenharia Civil na Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) -

Campus Joinville no que tange discriminao de gnero e o mercado de trabalho na Engenharia Civil. Prope-se

identificar, a partir de diferentes dimenses, os possveis desafios encontrados pelas acadmicas e acadmicos nos

ambientes acadmico e profissional, bem como apresentar estratgias em termos de polticas pblicas e mercado de

trabalho. A metodologia consiste em um estudo de caso, a partir da aplicao de um questionrio, com o intuito de

analisar o perfil, as experincias e as demais concepes das acadmicas sobre o tema. Ao final, defende-se a efetiva

participao das universidades no ciclo de polticas pblicas que versam sobre mercado de trabalho, educao e gnero,

adotando-se projetos de extenso para fortalecer o debate na universidade e comunidade, ampliar as diferentes vises de

mundo(s) das prprias acadmicas e acadmicos e promover o empoderamento feminino.

Palavras-chave: Gnero e mercado de trabalho. Mulheres na Engenharia Civil. Polticas pblicas

INTRODUO

A engenharia moderna surge primeiramente no ambiente militar, com aplicaes na

construo de armamentos, fortificaes e pontes, na abertura de estradas, entre outras atividades.

Este elemento militar contribui para que, historicamente, a engenharia seja associada ao campo de

atuao do sexo masculino (LOMBARDI, 2004).

Segundo Lombardi (2005), h uma sub-representao feminina na engenharia que fruto da

discriminao de gnero nos ambientes acadmicos e de trabalho nessa rea de conhecimento. Em

2015, no mercado da Engenharia Civil no Brasil, havia 179.274 engenheiros civis ativos no

Conselho Federal de Engenharia e Agronomia - CONFEA para 39.754 engenheiras civis,

considerando todos os estados do pas (CONFEA, 2015). J o percentual mdio de ingresso de

alunas at 2013 foi de 55% do total em cursos de graduao presenciais, embora essa forte presena

feminina esteja atrelada aos cursos de humanas (INEP, 2013).

O desinteresse das mulheres em atuar como engenheiras, numa rea to promissora e carente

de profissionais qualificados, tem sido amplamente discutido (FRIGO; YEVSEYEVA;

POZZEBON, 2013). O documento Women in STEM: A Gender Gap to Innovation (BEED et al.,

1 Egressa do curso de Engenharia Civil da Universidade do Estado de Santa Catarina UDESC, Joinville, Brasil. 2 Professora do Departamento de Engenharia Civil da Universidade do Estado de Santa Catarina UDESC, Joinville,

Brasil.

2

Seminrio Internacional Fazendo Gnero 11 & 13th Womens Worlds Congress (Anais Eletrnicos),

Florianpolis, 2017, ISSN 2179-510X

2011) mostra a inequidade de gnero que vem se mantendo constante na ltima dcada, apesar do

aumento da presena de mulheres no ensino superior em cincia, tecnologia, engenharia e

matemtica (STEM).

A partir desse contexto, este trabalho apresenta como estudo de caso o curso de graduao

em Engenharia Civil da Universidade do Estado de Santa Catarina - UDESC, Campus Joinville/SC,

estabelecido em 1979. Essa pesquisa visa investigar as concepes das acadmicas matriculadas nas

2 e 8 fases do curso de Engenharia Civil na UDESC, no que tange discriminao de gnero e o

mercado de trabalho na Engenharia Civil. Prope-se identificar, a partir de diferentes dimenses, os

possveis desafios encontrados pelas acadmicas nos ambientes acadmico e profissional, bem

como apresentar estratgias em termos de polticas pblicas e mercado de trabalho.

Diante disso, entende-se que impossvel abarcar o universo e a realidade das mulheres

sem ter em conta tambm os homens (TEIXEIRA; FREITAS, 2014, p.332). Por isso, nesta

pesquisa foram consideradas as concepes das acadmicas e dos acadmicos do curso de

graduao em Engenharia Civil da UDESC, Campus Joinville/SC.

AS RELAES DE GNERO NA GRADUAO EM ENGENHARIA CIVIL E O MERCADO

DE TRABALHO

A presena de estudantes do sexo feminino nos cursos nas ditas cincias duras ou exatas tem

sido tratada como curiosa exceo. Entretanto, em que pese o aumento de mulheres nos cursos de

engenharia, as reaes diversas por parte da maioria estabelecida na rea, bem como das prprias

acadmicas, tendem a deixar as discentes de engenharia e mesmo as profissionais em posio de

subordinao (LOMBARDI, 2004; 2006; CASCAES; CARVALHO, 2009).

Cascaes e Carvalho (2009) relatam que, durante as suas pesquisas realizadas Universidade

Tecnolgica Federal do Paran - UTFPR, foi possvel notar preconceitos velados em relao s

mulheres universitrias do curso de graduao em Engenharia Civil, que no percebiam a

discriminao e que aceitavam as atitudes preconceituosas em relao a elas como prticas normais,

por serem prticas j internalizadas, sem nenhuma crtica.

Cascaes et al. (2010) apontam a discriminao presente em editais de seleo para

estagirios ou para engenheiros na Engenharia Civil, bem como o corporativismo masculino ativo

na rea, que culmina em um ambiente de trabalho, muitas vezes, hostil s mulheres.

Nesse sentido, reconhece-se que muitas mulheres deixam de pleitear cargos de comando,

permitindo a construo de um teto de vidro traduo da expresso glass ceiling, criada nos

3

Seminrio Internacional Fazendo Gnero 11 & 13th Womens Worlds Congress (Anais Eletrnicos),

Florianpolis, 2017, ISSN 2179-510X

Estados Unidos da Amrica - EUA na dcada de 80 definido como obstculo invisvel, porm

concreto, que impede a ascenso das mulheres a determinadas posies de prestgio nas profisses

(MESQUITA; QUIRINO, 2016, p. 6).

Em uma pesquisa recente, Lombardi (2017) entrevistou 81 profissionais (33 homens e 48

mulheres) de diversas faixas etrias e em diferentes momentos de suas carreiras e concluiu que as

vivncias das entrevistadas revelaram inmeros episdios de discriminao de gnero, mas a

maioria delas no os considera como tal. A autora destacou ainda a baixa presena de mulheres

trabalhando como engenheiras em construtoras, menos ainda em obras e rarssimas como

engenheiras residentes ou coordenadoras de obras (LOMBARDI, 2017, p. 145).

Polticas para equidade de gnero no mercado de trabalho

O Programa Pr-Equidade de Gnero e Raa, criado em 2005 e atualmente na sexta edio,

uma iniciativa do Governo Federal do Brasil que, por meio da Secretaria de Polticas para as

Mulheres da Presidncia da Repblica e do II Plano Nacional de Polticas para as Mulheres,

destina-se a empresas e instituies de mdio e grande porte dos setores pblicos e privados,

visando contribuir para a eliminao das discriminaes e desigualdades vivenciadas pelas

mulheres no ambiente de trabalho (SPM, 2016).

De acordo com o relatrio de avaliao sobre os 10 anos do Programa Pr-Equidade de

Gnero e Raa (SPM, 2016), houve a participao de instituies como a Universidade Federal do

Paran UFPR, do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Rio de Janeiro CREA-RJ,

alm do CONFEA.

Outra iniciativa o concurso de projetos Elas nas Exatas que visa contribuir para a reduo

do impacto das desigualdades de gnero nas escolhas profissionais e no acesso educao superior

das estudantes (ELAS, 2015). Destaca-se ainda com o intuito de incentivar a participao feminina

no setor de tecnologia e no ecossistema de inovao e startups de So Paulo, a Rede Mulher

Empreendedora e a Tech Sampa (Poltica municipal de estmulo inovao e ao desenvolvimento

de startups na cidade de So Paulo) que organizam, desde 2015, o Prmio Mulheres Tech em

Sampa (MULHERES TECH EM SAMPA, 2017).

No entanto, apesar da relevncia desses projetos, h ainda poucas iniciativas e polticas

especficas para equidade de gnero na Engenharia Civil.

METODOLOGIA

4

Seminrio Internacional Fazendo Gnero 11 & 13th Womens Worlds Congress (Anais Eletrnicos),

Florianpolis, 2017, ISSN 2179-510X

O estudo realizado envolveu o Curso de Graduao em Engenharia Civil, do Centro de

Cincias Tecnolgicas - CCT, da UDESC, oferecido no campus de Joinville/SC. A populao-alvo

do estudo foi composta pelos acadmicos e acadmicas com matrculas ativas no curso, no ano

2017/1, compreendendo 127 acadmicos matriculados ao total na 2 e na 8 fase, sendo 55 do sexo

feminino e 72 do sexo masculino, por meio de dados coletados no Sistema Integrado de Gesto

Acadmica SIGA da UDESC.

Aplicou-se um questionrio on-line, na plataforma do Google Forms, que envolveu questes

sobre as concepes relacionadas a discursos discriminatrios sobre gnero em sala de aula, em

estgios e empregos, sobre a oportunidade de estgio em empresas na rea da Engenharia Civil, as

mulheres em cargo de chefia, bem como sobre as iniciativas sobre equidade de gnero a serem

desenvolvidas na universidade com enfoque no mercado de trabalho, obtendo-se o retorno de 30

questionrios.

Como a pesquisa foi classificada como exploratria, utilizou-se a amostra no-

probabilstica, o que impede a generalizao de seus resultados, sendo que a amostra ficou limitada

aos 30 respondentes que se prontificaram a participar, equivalendo ao critrio de convenincia

mencionado por Miguel et al. (2010).

As respostas foram analisadas separando o sexo e a fase, para elaborao de comparaes.

Da 2 fase, 16 acadmicos participaram da pesquisa: 10 acadmicas e 6 acadmicos. Da 8 fase, 14

acadmicos responderam: 11 acadmicas e 3 acadmicos.

RESULTADOS E DISCUSSO

As concepes sobre discursos discriminatrios sobre gnero em sala de aula

Para analisar o ponto da existncia de preconceitos velados em relao s mulheres

universitrias do curso de graduao em Engenharia Civil, os participantes da pesquisa foram

questionados a respeito do incmodo pela presena de discurso discriminatrio sobre gnero em

sala de aula. As seguintes alternativas foram apresentadas para a pergunta J se sentiu

incomodado/a com algum discurso discriminatrio sobre gnero em sala de aula?: a) Sim,

inmeras vezes; b) Sim, em alguns casos pontuais; c) Acho que sim, mas talvez seja s uma falsa

impresso. Tenho dificuldades de identificar esses tipos de discurso; d) No, todos os discursos

esto voltados sempre para a equidade de gnero, que culminaram nas respostas apresentadas no

Grfico 1 e no Grfico 2:

5

Seminrio Internacional Fazendo Gnero 11 & 13th Womens Worlds Congress (Anais Eletrnicos),

Florianpolis, 2017, ISSN 2179-510X

Grfico 1 Concepes sobre discursos discriminatrios sobre gnero em sala de aula (2 fase)

Fonte: Elaborado pelas autoras, 2017.

Grfico 2 Concepes sobre discursos discriminatrios sobre gnero em sala de aula (8 fase)

Fonte: Elaborado pelas autoras, 2017.

interessante notar uma variao entre respostas das acadmicas na alternativa b,

crescendo de 19% da 2 fase para 35% na 8 fase. Percebe-se tambm uma diminuio no nmero

de respostas masculinas para a alternativa d, de 19% das respostas da 2 fase para 6% da 8 fase.

Por esses resultados, pode-se inferir uma maior percepo para a discriminao de gnero em sala

de aula medida em que se adentra o curso e as matrias do departamento de Engenharia Civil.

As concepes sobre discriminao por gnero com colegas de trabalho

Na sequncia, buscou-se analisar as concepes sobre discriminao por gnero com

colegas de trabalho em ambientes como estgios e empregos. Para tanto, foi apresentada a seguinte

pergunta: Voc j viveu/presenciou situaes de discriminao por gnero com colegas de

0%5%

10%15%20%25%30%

Sim, inmeras vezes. Sim, em alguns casospontuais.

Acho que sim, mastalvez seja s uma falsa

impresso. Tenhodificuldades de

identificar esses tipos dediscurso.

No, todos os discursosesto voltados sempre

para a equidade degnero.

M

F

0%5%

10%15%20%25%30%35%40%

Sim, inmeras vezes. Sim, em alguns casospontuais.

Acho que sim, mastalvez seja s uma falsa

impresso. Tenhodificuldades de

identificar esses tipos dediscurso.

No, todos os discursosesto voltados sempre

para a equidade degnero.

M

F

6

Seminrio Internacional Fazendo Gnero 11 & 13th Womens Worlds Congress (Anais Eletrnicos),

Florianpolis, 2017, ISSN 2179-510X

trabalho? Ex.: Estgios, empregos. Como possveis respostas, foram indicadas as alternativas: a)

Sim, inmeras vezes; b) Sim, em alguns casos pontuais; c) Acho que sim, mas talvez seja s uma

falsa impresso; d) No, todas as relaes com colegas de trabalho foram sempre pautadas na

equidade de gnero. As respostas podem ser identificadas no Grfico 3 e no Grfico 4:

Grfico 3 Concepes sobre discurso discriminatrio em estgios e empregos (2 fase)

Fonte: Elaborado pelas autoras, 2017.

Grfico 4 Concepes sobre discurso discriminatrio em estgios e empregos (8 fase)

Fonte: Elaborado pelas autoras, 2017.

Observa-se que h um alto percentual (31%) de mulheres na 2 fase que identificam casos

pontuais de discriminao, assim como um alto percentual na 8 fase de homens que consideram

que todas as relaes com colegas de trabalho so pautadas na equidade de gnero (28%).

Todavia, o nmero de mulheres na 8 fase a responder "inmeras vezes" (28%) aumentou

em relao questo anterior, o que refora o argumento de Lombardi (2006), no sentido de que

percebida essa sub-representao na engenharia, especialmente no ambiente de trabalho, como

observado nesta pesquisa.

As concepes sobre oportunidade de estgio em empresas na rea de Engenharia Civil

Considerando as dificuldades que as engenheiras teriam para inserir em alguns setores da

engenharia onde a predominncia ainda masculina, analisou-se a questo no ambiente de estgio

0%

10%

20%

30%

40%

Sim, inmeras vezes. Sim, em alguns casospontuais.

Acho que sim, mastalvez seja s uma falsa

impresso

No, todas as relaescom colegas de trabalhoforam sempre pautadasna equidade de gnero.

M

F

0%

10%

20%

30%

Sim, inmeras vezes. Sim, em alguns casospontuais.

Acho que sim, mastalvez seja s uma falsa

impresso

No, todas as relaescom colegas de trabalhoforam sempre pautadasna equidade de gnero.

M

F

7

Seminrio Internacional Fazendo Gnero 11 & 13th Womens Worlds Congress (Anais Eletrnicos),

Florianpolis, 2017, ISSN 2179-510X

na Engenharia Civil, levantando-se a seguinte questo: Voc considera que conseguir um estgio

na rea de Engenharia Civil mais difcil para uma mulher do que para um homem?, apresentando

como opes de resposta, as seguintes: a) Sim, a preferncia para as vagas ainda masculina; b)

Talvez, dependendo do perfil do trabalho e da empresa; c) Nunca considerei essa possibilidade de

dificuldade; d) No, trata-se da competncia e rede de contatos de cada um. As respostas para esta

questo esto representadas no Grfico 5 e no Grfico 6:

Grfico 5 Concepes sobre oportunidade de estgio em empresas de Engenharia Civil (2 fase)

Fonte: Elaborado pelas autoras, 2017.

Grfico 6 Concepes sobre oportunidade de estgio em empresas de Engenharia Civil (8 fase)

Fonte: Elaborado pelas autoras, 2017.

O argumento central que o perfil do trabalho e da empresa determinante nessa

contratao, com 56% das respostas da 2 fase e 35% da 8 fase. Entretanto, nota-se uma

interessante disparidade quando a maioria das prprias mulheres na 8 fase (28%) defende a

competncia e rede de contatos e nega o fator gnero.

Entende-se que h uma tendncia de restrio ao espao privado para as mulheres, contudo

h que se considerar que os acadmicos tambm podem enfrentar dificuldades ao se candidatar para

uma vaga que uma empresa direcione para o sexo feminino, por entender que o perfil mais

administrativo. Sobre a dificuldade de conseguir um estgio, muitos acadmicos provavelmente

ainda no estagiaram e isso pode ter interferido nas respostas, tendo em vista que 19% das

acadmicas da 2 fase e 14% da 8 fase nunca consideraram a hiptese.

0%10%20%30%40%

Sim, a preferncia paraas vagas ainda

masculina.

Talvez, dependendo doperfil do trabalho e da

empresa.

Nunca considerei essapossibilidade de

dificuldade.

No, trata-se dacompetncia e rede decontatos de cada um.

M

F

0%10%20%30%

Sim, a preferncia paraas vagas ainda

masculina.

Talvez, dependendo doperfil do trabalho e da

empresa.

Nunca considerei essapossibilidade de

dificuldade.

No, trata-se dacompetncia e rede decontatos de cada um.

M

F

8

Seminrio Internacional Fazendo Gnero 11 & 13th Womens Worlds Congress (Anais Eletrnicos),

Florianpolis, 2017, ISSN 2179-510X

As concepes sobre mulheres em cargos de chefia em empresas de Engenharia Civil

A escolha de uma questo sobre mulheres em cargos de chefia em empresas de Engenharia

Civil se deu para a explorao do conceito teto de vidro, que inclui obstculos velados que

impedem a ascenso de mulheres a determinadas posies de prestgio nas profisses.

Os acadmicos responderam pergunta Voc considera que conseguir um cargo de chefia

numa empresa de Engenharia Civil mais difcil para uma mulher do que para um homem?, com

as seguintes alternativas: a) Sim, fatores como tradio, maternidade e discriminao de gnero

criam barreiras; b) Talvez, dependendo da poltica e do perfil da empresa; c) Nunca considerei essa

possibilidade de dificuldade; d) No, a oportunidade aparece de acordo com a competncia de cada

um. As respostas esto representadas no Grfico 7 e no Grfico 8:

Grfico 7 Concepes sobre dificuldade para mulheres em cargos de chefia em empresas de Engenharia Civil (2 fase)

Fonte: Elaborado pelas autoras, 2017.

Grfico 8 Concepes sobre dificuldade para mulheres em cargos de chefia em empresas de Engenharia Civil (8 fase)

Fonte: Elaborado pelas autoras, 2017.

Observa-se que, com relao a cargos de chefia, a percepo geral de dificuldade maior do

que para a simples contratao no estgio, como visto na questo anterior, com a maioria das

participantes afirmando a dificuldade e barreiras, com 55% das respostas da 2 fase e 28% das

respostas da 8 fase, todas do sexo feminino.

0%10%20%30%40%50%60%

Sim, fatores comotradio, maternidade ediscriminao de gnero

criam barreiras.

Talvez, dependendo dapoltica e do perfil da

empresa.

Nunca considerei essapossibilidade de

dificuldade.

No, a oportunidadeaparece de acordo coma competncia de cada

um.

M

F

0%

10%

20%

30%

Sim, fatores comotradio, maternidade ediscriminao de gnero

criam barreiras.

Talvez, dependendo dapoltica e do perfil da

empresa.

Nunca considerei essapossibilidade de

dificuldade.

No, a oportunidadeaparece de acordo com a

competncia de cadaum.

M

F

9

Seminrio Internacional Fazendo Gnero 11 & 13th Womens Worlds Congress (Anais Eletrnicos),

Florianpolis, 2017, ISSN 2179-510X

interessante tambm observar que nenhum acadmico em ambas as fases assinalou a

resposta da alternativa c, o que pode denotar maior percepo para o problema do que na questo

anterior.

Prevalece a disparidade no percentual de percepo na alternativa a e d na segunda fase,

com sua maioria respectivamente em mulheres e homens. Esse dado interessante para a pesquisa

por traar diferenas de concepes entre um grupo que pode ser afetado pelo fenmeno de teto de

vidro e percebe a dificuldade e outro grupo que nega a dificuldade, com a viso mais cartesiana de

que as oportunidades esto essencialmente vinculadas competncia. Na oitava fase, j se observa

uma maior sensibilidade do sexo masculino, que em sua maioria (21%) assinala a opo b.

Iniciativas para equidade de gnero a serem desenvolvidas na Universidade

A ltima questo do formulrio relaciona a equidade de gnero com iniciativas e polticas

pblicas: listaram-se iniciativas de promover a equidade de gnero no ambiente universitrio com

enfoque no mercado de trabalho na rea da Engenharia Civil.

Os participantes da pesquisa poderiam assinalar duas das seguintes alternativas: 1)

Atividades de integrao envolvendo o CREA, empresas e a universidade; 2) Oficinas e palestras

sobre o tema na Semana das Engenharias; 3) Eventos peridicos com intuito de debater sobre

diferentes questes relacionadas equidade de gnero e mercado de trabalho; 4) Projetos de

pesquisa, ensino e extenso de incentivo equidade de gnero; 5) Campanhas de conscientizao;

6) (Opo nica) No acredito que as iniciativas acima mencionadas sejam alternativas para

solucionar esta questo. As porcentagens de respostas para esta questo se encontram no Grfico 9:

Grfico 9 Preferncia por iniciativas para equidade de gnero com foco no mercado de trabalho a serem

desenvolvidas na Universidade (2 e 8 fase)

Fonte: Elaborado pelas autoras, 2017.

A maioria dos acadmicos e acadmicas assinalou a opo Atividades de integrao

envolvendo o CREA, empresas e a universidade com 60% das escolhas. Em segundo lugar, com

53% da preferncia, ficou a iniciativa Oficinas e palestras sobre o tema na Semana das

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60%

Atividades de integrao envolvendo o CREAOficinas e palestras sobre o tema na SemanaEventos peridicos com intuito de debater...

Projetos de pesquisa, ensino e extenso...Campanhas de conscientizao

(Opo nica) No acredito que as iniciativas...

M

F

10

Seminrio Internacional Fazendo Gnero 11 & 13th Womens Worlds Congress (Anais Eletrnicos),

Florianpolis, 2017, ISSN 2179-510X

Engenharias. A terceira principal ao escolhida foi opo relacionada a Eventos peridicos com

intuito de debater sobre diferentes questes relacionadas equidade de gnero e mercado de

trabalho, com 23% das escolhas.

Observa-se tambm que 10% dos acadmicos consideram que nenhuma das alternativas so

adequadas para serem desenvolvidas na Universidade, o que pode ser entendido como uma falta de

percepo da participao da universidade no processo de incorporao ao mercado de trabalho,

limitando-a ao processo de formao acadmica apenas. Por outro lado, observa-se que a maioria

dos participantes entendem que outros atores (governo, empresas, CREA), alm da universidade,

devem se preocupar com a questo da equidade no mercado de trabalho. Esse ponto fica evidente na

opo mais assinalada, com 60% dos acadmicos, relacionada a atividades de integrao

envolvendo o CREA, empresas e Universidade.

CONSIDERAES FINAIS

A pesquisa demonstrou que h uma maior percepo sobre a discriminao de gnero em

sala de aula medida em que se adentra o curso e as matrias do departamento de Engenharia Civil,

alm disso se reconhece que h uma sub-representao feminina na engenharia, especialmente no

ambiente de trabalho.

Os acadmicos e acadmicas tm a concepo de que as dificuldades das mulheres para a

ocupao de cargos de chefia so maiores do que para a simples contratao no estgio na rea de

Engenharia Civil.

As principais iniciativas sobre equidade de gnero no mercado de trabalho a serem

desenvolvidas na universidade escolhidas pelos participantes da pesquisa demonstram a necessidade

da participao de outros atores (governo, empresas, CREA), alm da universidade, para o

enfrentamento da equidade de gnero no mercado de trabalho.

Com uma forma de articular e fomentar as principais iniciativas selecionadas pelos

participantes nesta pesquisa, defende-se a efetiva participao das universidades no ciclo de

polticas pblicas que versam sobre mercado de trabalho, educao e gnero, adotando-se projetos

de extenso para fortalecer o debate na universidade e comunidade, ampliar as diferentes vises de

mundo(s) das prprias acadmicas e promover o empoderamento feminino. Ademais, entende-se

que o processo de formulao de polticas e de desenvolvimento de estudos sobre essa temtica

precisam necessariamente abarcar as realidades de ambos os sexos.

11

Seminrio Internacional Fazendo Gnero 11 & 13th Womens Worlds Congress (Anais Eletrnicos),

Florianpolis, 2017, ISSN 2179-510X

Referncias

BEEDE, David; JULIAN, Tiffany; LANGDON, David; MCKITTRICK, George; KHAN, Beethika;

DOMS, Mark. Women in STEM: A Gender Gap to innovation. U.S. Department of Commerce.

Economics and Statistics Administration, 2011. Disponvel em: . Acesso em: 21 jun. 2017.

CARVALHO, Marlia. Gnero e tecnologia: estudantes de engenharia e o mercado de trabalho.

In: Seminrio Internacional Mercado de Trabalho e Gnero: Comparaes Brasil - Frana, 2007,

So Paulo e Rio de Janeiro. Anais... So Paulo. FCC, 2007.

CASCAES, Tnia Rosa Ferreira et al. A Invisibilidade das Mulheres em Carreiras Tecnolgicas:

Os Desafios da Engenharia Civil no Mundo do Trabalho. In: VIII Congresso Iberoamericano de

Cincia, Tecnologia e Gnero, 05 a 09 de abril, Curitiba, 2010.

CASCAES, Tnia Rosa Ferreira; CARVALHO, Marlia Gomes de. A emergncia das prticas de

gnero nos cursos de engenharia civil: do ambiente universitrio ao mundo do trabalho. Seminrio

Nacional de Sociologia & Poltica. UFPR, Curitiba, 2009.

CONSELHO FEDERAL DE ENGENHARIA E AGRONOMIA CONFEA. Mulher: a fora

motriz de uma sociedade sempre em construo. Mar. 2015. Disponvel em:

. Acesso em: 23

mar. 2017.

FRIGO, Luciana Bolan; YEVSEYEVA, Olga; POZZEBON, Eliane. El anlisis de la diferencia de

gnero em la educacin. Estudio de caso em Ararangu-Brasil. Mundo Nuevo, n. 13, pp. 131-145,

2013. Disponvel em: . Acesso em: 21 jun. 2017.

FUNDO SOCIAL ELAS. Elas nas exatas. Disponvel em: . Acesso em: 30 abr. de 2017.

INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAIS ANSIO TEIXEIRA

INEP. Mulheres so maioria no ingresso e na concluso de cursos superiores. 2015. Disponvel

em: . Acesso em: 22 mar. 2017.

LOMBARDI, Maria Rosa. Perseverana e resistncia: a engenharia como profisso feminina.

2004. 292f. Tese (doutorado) Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educao.

Campinas, 2004.

______________. Perseverana e resistncia: a Engenharia como profisso feminina. 2005. 292 f.

Tese (Doutorado em Educao) Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educao.

Campinas, 2005.

______________. Engenheiras brasileiras: insero e limites de gnero no campo profissional.

Cadernos de pesquisa, v. 36, n. 127, p. 173-202, 2006.

______________. Engenheiras na construo civil: A feminizao possvel e a discriminao de

gnero. Cadernos de Pesquisa, v. 74, n. 163, p. 122-146, 2017. Disponvel em:

. Acesso em: 3 mai. 2017.

12

Seminrio Internacional Fazendo Gnero 11 & 13th Womens Worlds Congress (Anais Eletrnicos),

Florianpolis, 2017, ISSN 2179-510X

MESQUITA, Rodrigo Salera; QUIRINO, Raquel. Relaes de gnero na engenharia. VI Simpsio

Internacional Trabalho, Relaes de Trabalho, Educao e Identidade, Belo Horizonte jun. 2016.

MIGUEL, Paulo Augusto Cauchick; FLEURY, Afonso Carlos Correa; MELLO, Carlos Henrique

Pereira; NAKANO, Davi Noboru; TURRIONI, Joo Batista; HO, Linda Lee; MARTINS, Roberto

Antonio; PUREZA, Vitria; MORABITO NETO, Reinaldo. Metodologia de pesquisa em

engenharia de produo e gesto de operaes. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010.

MULHERES TECH EM SAMPA. Prmio Mulheres Tech em Sampa. Disponvel em:

. Acesso em: 30 abr. de 2017.

SECRETARIA ESPECIAL DE POLTICAS PARA AS MULHERES - SPM. Programa Pr-

equidade de gnero e raa 10 anos: rompendo fronteiras no mundo do trabalho. Braslia, 2016.

Disponvel em: . Acesso em: 30 mar. 2017.

TEIXEIRA, Adla Betsaida Martins; FREITAS, Marcel de Almeida. Mulheres na docncia do

ensino superior em cursos de fsica. Ensino em Re-Vista, v.21, n.2, p.329-340, jul./dez. 2014.

Gender conceptions in the Civil Engineering world: a case study about academics of UDESC

Campus Joinville under the job market optics

Abstract: Womens disinterest in operating as engineers at such a promising and needy area has

been widely discussed (FRIGO; YEVSEYEVA; POZZEBON, 2013). The Women in STEM: A

Gender Gap to Innovation (BEED et al., 2011) document shows that gender inequity has remained

constant in the last decade, besides the increase of womens presence in science, technology,

engineering and mathematics (STEM) higher education. This research aims to investigate the

conceptions of academics registered in the 2nd and 8th period of the Civil Engineering course of

Santa Catarinas State University (UDESC) Campus Joinville regarding gender discrimination

and labor market in Civil Engineering. The purpose is to identify, from different dimensions, the

possible challenges found by the students in the academic and professional environment, as well as

current strategies in terms of public policy and job maket. The methodology consists in a case

study, based in the application of a questionnaire, which intends to analyze the profile, experiences

and further conceptions of the academics concerning the theme. Ultimately, the defense is for

effective participation of universities in the cycle of public policy versing job market, education and

gender, by adoption of extension projects to strengthen the university and communitys debate,

amplify the diverse world(s) vision of the own academics e promote the feminine empowerment.

Keywords: Gender and labor Market. Women in Civil Engineering. Public policy