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1 60 ANOS DA PARTICIPAO DA FORA EXPEDICIONRIA BRASILEIRA (FEB) NA 2 GUERRA MUNDIAL

Oito de maio de 2005, Dia da Vitria, sessenta anos. O que ser que esta data representa para as novas geraes? Ser apenas mais um dia comemorado pelos militares, e por uns poucos estudiosos e saudosistas? Afinal, o que tudo isso tem a ver com eles, com o mundo que conhecem, no qual vivem? E o Brasil, por que cargas dgua foi se meter numa guerra fora das Amricas? Qual a razo para mandar brasileiros arriscarem, e alguns perderem, a vida em um teatro de operaes europeu? Tais indagaes nos remetem a um outro fato to preocupante e to urgentemente prioritrio. A cada ano que passa se avolumam as baixas nas colunas restantes da FEB. Nossos valentes e estimados pracinhas que sobreviveram a Segunda Grande Guerra Mundial, que voltaram do front italiano, esto perdendo sua ltima batalha para o mais incansvel, implacvel e determinado oponente de todos, o tempo. No se trata apenas dos ltimos alentos de uma gerao de valentes e de abnegados soldados e concidados, como poucos em nossa histria, e mesmo na da humanidade, mas, tambm, de uma corrida para salvar sua memria, para resgatar e preservar seu ilibado e herico legado, para que o futuro lhes reserve algo mais do que um mero verbete em uma enciclopdia ou uma curta e sucinta citao em uma pgina de um livro didtico. Qualquer objetivo que se pretenda alcanar s o ser se conhecermos mais detidamente, e mais profundamente, a misso a que nos propomos efetivamente cumprir. Para que se possam cerrar fileiras nesse embate pelo resgate desta parte pica de nossa memria nacional preciso, primeiramente, saber os por qus , os fatos, as condies se poca, os cenrios interno e externo, as razes de Estado e da poltica internacional, que fizeram com que trilhssemos os caminhos da belicosidade. O Estado Novo, institudo por Getlio Vargas, em 1937, apresentava matizes que nos aproximava mais do cenrio das ditaduras nazi-fascistas europias do que o das democracias ocidentais. Isto, porm, no se constitui em uma quase certeza de que o

2 governo brasileiro pendesse para o lado do Eixo Alemanha, Itlia, Japo , embora mantivesse relaes normais com este bloco, igualmente com os Aliados, pois a muitos foge a compreenso de que devido a nossa situao estratgica privilegiada, e de poder de influncia na Amrica Latina, realizvamos um metdico e meticuloso jogo de xadrez da diplomacia internacional. Logicamente, havia grupos, dentro do governo central, e em diversos segmentos sociais e institucionais, de americanfilos e de germanfilos, que incansavelmente disputavam o apoio oficial brasileiro sua causa, ao seu bloco em guerra. Nesse ponto bastante esclarecedora, e perspicaz, a seguinte observao:Os traos nacionalistas que caracterizavam a Constituio de (19)37, confirmados atravs de inmeros decretos e reforados pela ideologia dos chefes militares, se estendia tambm s relaes internacionais. Por isso, seria falso afirmar que uma adeso clara do governo, at 1940, quer poltica dos pases do Eixo, quer s exigncias norteamericanas. Ambos os blocos tentavam conquistar as simpatias e as preferncias de Vargas, atravs dos seus principais colaboradores, que, inegvel, tinham preferncias ideolgicas e mesmo procuravam forar compromissos polticos com os E.U., ou com a Alemanha. Oswaldo Aranha, primeiro embaixador em Washington e depois Ministro do Exterior, desde logo seria conquistado pelos americanos; tambm Lourival Fontes, chefe do Departamento de Imprensa e Propaganda. Do outro lado, Francisco Campos, Felinto Mller estimulavam as tentativas da embaixada alem, faziam vista grossa propaganda nazista e s organizaes das minorias alem e italiana, cuja atividade, muito sintomaticamente, tinha sido restringida por lei. Ges Monteiro e Dutra oscilavam, mas por razes muito especficas: estavam interessados no bloco que oferecesse melhores condies: equipamentos e armas para o Exrcito, ento em fase de reorganizao, e financiamentos para as industrias de base, que almejavam instalar no pas.(1)

A construo da Companhia Sider1rgica Nacional foraria a queda-de-brao final, determinando para que lado penderia o fiel da balana. Em uma jogada de mestre Vargas informava, em maio de 1940, ao Departamento de Estado americano que a1

Mota, Carlos Guilherme(org). Brasil em perspectiva. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1988. p.273.

3 poderosa Krupp (alem), se dispusera a construir a usina. Sabendo de que tal aliana levaria, fatalmente, dependncia militar brasileira em relao Alemanha, o governo norte-americano apresentou uma tentadora contraproposta: emprstimos da ordem de $20 milhes de dlares feitos atravs do EXIMBANK (banco/instituio semi-oficial) depois elevados para $ 45 milhes , alm de vantagens adicionais como: incremento do transporte martimo do carvo vindo do sul , e equipamento para a Estrada de Ferro Central do Brasil transporte do minrio de ferro extrado em Minas Gerais. Logicamente que o reaparelhamento das Foras Armadas com equipamento norteamericano de ltima gerao fazia parte do pacote. Em contrapartida o governo brasileiro comeou a minar a influencia pr-nazista no governo e na sociedade. O Ministro da Justia, Francisco Campos, notrio germanfilo, perdeu o controle do DIP, agora nas mos de Vargas, o que levou ao fechamento do jornal nazista Meio-Dia e a censura de outros dois, e a proibio, em fins de 1941, de todos os jornais editados em lngua estrangeira. Figura marcante neste momento crucial foi a do Ministro do Exterior, Oswaldo Aranha. Atravs de uma ao diplomtica firme e decisiva, e mesmo, em certos momentos, agressivamente incisiva, anulou, ou minimizou ao mximo, a influncia nazista na Amrica do Sul, com destaque para suas atuaes junto Argentina e ao Paraguai; evitando assim a abertura de uma nova frente que colocaria em risco o esforo de guerra aliado. A poltica continental, norteada pela noo de um panamericanismo unificador, j acertada anos antes na Conferncia do Panam (1939), e endossada na de Havana (1940), se efetiva na Conferncia do Rio (1942), na qual Osvaldo Aranha arrebatava a Amrica Latina para o lado das democracias ocidentais.A conferncia do Rio de Janeiro, de que participavam ministros do exterior dos pases americanos, selava tambm a aliana VargasRoosevelt. As conseqncias econmicas e polticas seriam fundamentais: as mais imediatas seriam os acordos de Washington, assinados a 3 de maro de 1942, pelo ministro Souza Costa, representante de Vargas. O Brasil concedia permisso aos americanos para utilizar, em colaborao com tropas brasileiras, o Nordeste como base de defesa area e naval, desde Fortaleza at Salvador.(2)22

Ibem. p.276.

4 Economicamente, foram eliminadas as companhias areas Condor (alem) e Lati (italiana) em troca o governo brasileiro receberia $ 200 milhes de dlares em armamento. Criou-se a Cia. Vale do Rio Doce atravs de concesses de Companhias (Itabira Iron Company) e de outros negcios estrangeiros (principalmente ingleses) no Brasil (ferrovia Minas-Vitria), e de emprstimos , que passou a fornecer milhares de toneladas de minrio de ferro (750.000) para americanos e ingleses. Borracha, cacau e caf tambm entraram na pauta dos negcios acertados, incrementados com financiamentos do EXIMBANK para sua explorao. Estava, pois montado o cenrio para que fossem criadas as condies necessrias para que o Brasil deixasse sua posio de neutralidade e de paciente barganha diplomtica e assumisse uma posio clara, e participativa, na guerra que desde 1939 incendiava o mundo. Seguindo os princpios do panamericanismo, mesmo que em alguns momentos no assumidos de pblico pelo governo brasileiro discurso de Vargas a bordo do Minas Gerais (outubro de 1939), sucesso da Blitzkrieg na Frana e eminente colapso das democracias ocidentais (aliados) , de mutualidade entre os signatrios, e de acordo com a nova direo / orientao assumida pela nossa poltica externa, passamos tanto a execrar e condenar qualquer nao estrangeira que cometesse atos de beligerncia que comprometesse os interesses e a soberania das naes das Amricas ataque japons a base estadunidense de Pearl Harbour, 07 de dezembro de 1941 como tambm a fornecer ajuda material e suporte poltico s mesmas. Desde ento tal atitude / postura passou a ser encarada pelos pases do Eixo, especialmente pela Alemanha, algo mais do que um revs nas suas pretenses poltico-estratgicas no continente latino-americano, tornara-se uma provocao, um verdadeiro estado de guerra no declarado. Assim, a amlgama da evoluo dos acontecimentos internos e externos e dos fatores / motivaes polticos e econmicos (estruturais), chegamos ao motivo / razo imediato ou aparente (conjunturais), e seus desdobramentos, que levou, fatalmente, a nossa entrada no conflito ao lado dos Aliados, ou seja, o torpedeamento dos navios da nossa Marinha Mercante.

5(...) No dia 15 de janeiro de 1942, renem-se as naes americanas no Rio de Janeiro decidindo romper as relaes diplomticas com as potncias do Eixo. Um ms depois, ou exatamente a 4 de fevereiro, o navio brasileiro Cabedelo, com a tripulao composta de 54 homens, desaparece misteriosamente, no decorrer de uma viagem da Filadlfia para o Brasil. Logo se atribuiu seu desaparecimento a uma ao dos submarinos do Eixo, o que veio a ser comprovado, pois nos dias seguintes, quatro navios brasileiros forma torpedeados nas costas norte-americanas, estabelecidos dentro dos limites da zona de segurana pelas naes panamericanas na Conferncia do

Panam. As embarcaes afundadas foram o Buarque (16/2), o Olinda (18/2), o Arabuta (7/3) e o Cairu (9/3), sendo que com este ltimo encontraram a morte 6 passageiros e 47 tripulantes. Ora porque atacaram os alemes embarcaes brasileiras? Porque altura dos acontecimentos o Brasil possua uma marinha mercante que, sem se comparar quelas das potncias mundiais, era uma das mais numerosas e bem equipadas, podendo assim desempenhar importante papel no captulo de abastecimento para os pases beligerantes. Esta marinha mantinha contato comercial permanente com os E.U.A. e nada mais desinteressante para as potncias do Eixo do que o envio sistemtico por parte do Brasil de materiais estratgicos. No aprece estivesse a Alemanha interessada na entrada do Brasil na guerra como adversrio seu. O que realmente parece que o governo nazista esperava intimidar os brasileiros como j fizera com povos de vrias naes europias, supondo que a flutuao da nossa poltica exterior, aliado ao fato de termos um governo de exceo, fizesse com que nosso pas se submetesse. Em maio, junho e julho, mais 8 embarcaes foram postas a pique na regio costeira do Haiti e Porto Rico. Comeava a esboar-se uma reao patritica em nosso pas. Os jornais pressionavam o governo no sentido que este tomasse uma iniciativa destinada a pr fim queles abusos de uma potncia para a qual s tinha sentido as solues de fora. Foi quando a situao atingiu seu clmax. No dia 15 de agosto de 1942, quando navegava de Salvador para Macei, conduzindo 73 tripulantes e 233 passageiros, o

6Baependi, a apenas quinze ou vinte milhas da costa, foi atingido por uma carga de torpedos que o ps a pique em poucos instantes. 270 brasileiros morreram em decorrncia deste atentado. Logo em seguida, no mesmo dia, foi afundado o Araraquara, com 131 mortos. No dia 16, o Anbal Benvolo, no dia 17 o Itagiba, a 18 o Araras, totalizando 607 mortos. A conscincia nacional despertou de vez. Longe de amedrontar-se, recordando talvez as orgulhosas posies do Imperador Pedro II diante de situaes semelhantes, o povo, liderado pelos estudantes, saiu s ruas exigindo a entrada do Brasil na guerra.(3)3

Logicamente que o Getlio Vargas apressou-se em tomar a frente, a ponta de lana das manifestaes populares que se avolumavam, varriam e congraavam o pas, buscando capitalizar para o seu governo todos os possveis dividendos polticos, econmicos, sociais que a ento presente situao lhe descortinava. Apesar de pouco difundido, notrio que havia uma expressiva, bem organizada e atuante rede de espionagem do Eixo entre ns. Para alemes mais atuantes - e italianos, suas clulas organizacionais centravam-se, principalmente, nas suas colnias no sul do Brasil, enquanto que os japoneses aqui radicados prestavam idntico servio de informaes principalmente pescadores, atravs da organizao intitulada Drago Negro. A caa a Quinta Coluna, a priso dos seus elementos e o desmantelamento das suas aes passou a ser uma das grandes preocupaes da defesa interna. Neste particular h de se louvar os cuidados observados pelo governo brasileiro para preservar, pelo menos, a integridade fsica dos milhares de pacficos imigrantes alemes, italianos e japoneses e de seus descendentes aqui nascidos, brasileiros, portanto , que no tinham quaisquer ligaes com o estado de beligerncia entre sua nova ptria e sua terra de origem ou de seus ancestrais , fazendo jus a sua importante contribuio para o progresso da nao, evitando assim a proliferao de atos racistas e de vandalismos que colocariam em xeque a ordem pblica e institucional.

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Ibdem. p.345, 346.

7 Atravs do Ministrio das Relaes Exteriores, em 21 de agosto de 1942, foi encaminhado aos governos da Itlia e da Alemanha documento que se tornaria a nossa Declarao de Guerra aos pases do Eixo.Senhor Ministro A orientao pacifista da poltica internacional do Brasil manteve-o, at agora, afastado do conflito em que se debatem quase todas as naes, inclusive deste hemisfrio. Apesar das declaraes de solidariedade americana, votadas na Oitava Conferncia Internacional de Lima, e na Primeira, Segunda e Terceira reunies de Ministros das Relaes Exteriores das Repblicas Americanas, efetuadas, respectivamente, no Panam, 1939, em Havana, 1940, e no Rio de Janeiro, 1942, no variou o Governo Brasileiro de atitude, embora houvesse sido, insolitamente, agredido o territrio dos Estados Unidos da Amrica, por fora do Japo, seguindose o estado de guerra entre a Repblica irm e o Imprio agressor, a Alemanha e a Itlia. Entretanto, a declarao XV da Segunda daquelas reunies,

consagrada pelos votos de todos os Estados da Amrica, estabelece:Que todo atentado de um Estado no americano contra a integridade ou a inviolabilidade de territrio e contra a soberania ou independncia poltica de um Estado americano ser considerado como um ato de agresso contra os Estados que assinaram esta Declarao.

Conseqentemente, o atentado contra a integridade do territrio e a soberania dos Estados Unidos deveria ser considerada como um ato de agresso contra o Brasil, determinando a nossa participao no conflito e no a simples declarao de solidariedade com o agredido, seguida, algum tempo depois, da interrupo das relaes diplomticas com os Estados agressores. Sem considerao para com essa atitude pacfica do Brasil, e sob o pretexto de que precisava fazer guerra total grande nao americana,

8a Itlia (Alemanha) atacou e afundou, sem prvio aviso, diversas unidades navais mercantes brasileiras, que faziam viagens, de comrcio, navegando dentro dos limites do Mar Continental, fixados na Declarao XV de Panam. A esses atos de hostilidade, limitamo-nos a opor protestos diplomticos tendentes a obter satisfaes e justa indenizao, reafirmando porm nesses documentos nossos propsitos de manter o estado de paz. Maior prova no era possvel da tolerncia do Brasil e de suas intenes pacficas. Ocorre, porm, que agora, com flagrante infrao das normas do Direito Internacional e dos mais comezinhos princpios de humanidade, foram atacados, na costa brasileira, viajando em cabotagem, os vapores Baependi e Anbal Benvolo (do Lloyd Brasileiro, patrimnio nacional), o Araras e o Araraquara (do Lloyd Nacional S.A.) e o Itagiba (da Cia. Navegao Costeira), que transportavam passageiros, militares e civis, e mercadorias, para portos do Norte do pas. No h como negar que a Itlia (Alemanha) praticou contra o Brasil atos de guerra, criando uma situao de beligerncia que somos forados a reconhecer na defesa da nossa dignidade, da nossa soberania e da nossa segurana e da Amrica. Em nome do Governo Brasileiro, peo, Senhor Ministro, se digne Vossa Excelncia levar esta declarao ao conhecimento do Governo italiano (alemo) para os devidos efeitos. Aproveito a oportunidade para renovar a V. Excelncia os protestos da minha alta considerao.

Oswaldo Aranha

9Ministro das Relaes Exteriores do Brasil(4)4

Convencionou-se adotar a data de 22 de agosto de 1942 como a da entrada do Brasil na Segunda Guerra Mundial; seguida pelo estado de guerra (31 de agosto de 1942) contra a Alemanha e a Itlia. Em setembro, foi criada, pelo governo, a Coordenao da Mobilizao Econmica, com a misso de coordenar o funcionamento da economia no contexto de emergncia gerado pelo conflito mundial. Somente nos restava a formao de um contingente de fora militares, devidamente treinadas, equipadas e doutrinadas para a guerra moderna que se desenrolava nos campos de batalha europeus e nos demais teatros de operao. Estava para nascer a Fora Expedicionria Brasileira, nossa gloriosa FEB. Mesmo a despeito daqueles que consideravam parcas as chances do Brasil entrar em guerra contra o Eixo e, mais ainda, de enviar tropas para lutar na Europa, uma probabilidade to nfima como a de uma cobra fumar, estvamos a caminho, pela primeira vez na nossa histria de Estado independente e soberano, de enviar um to grande nmero de tropas para lutar em outro continente. Tamanha responsabilidade com a organizao e os preparativos foi dividida com os Estados Unidos da Amrica, nosso elo de ligao com a causa dos Aliados.Iniciaram-se ento as conversaes sobre o envio de um contingente brasileiro frente de combate. A formao de uma fora expedicionria correspondia a um duplo projeto poltico de Vargas: de um lado, fortalecer as Foras Armadas brasileiras internamente e aos olhos dos vizinhos do Cone Sul, em especial a Argentina, e com isso garantir a continuao do apoio militar ao regime do Estado Novo; de outro lado, assegurar uma posio de significativa importncia para o Brasil no cenrio internacional, na qualidade de aliado especial dos Estados Unidos. Entretanto, as vitrias aliadas no norte da frica, em novembro de 1942, reduziram consideravelmente a importncia estratgica do Nordeste do Brasil e, por extenso, as possibilidades de reequipamento4

Ibdem. p.346, 347.

10das Foras Armadas brasileiras. Preocupado, Vargas insistiu com o presidente norte-americano Franklin Roosevelt, quando este visitou Natal em janeiro de 1943, no fornecimento do material blico prometido pelos Estados Unidos e no interesse brasileiro em tomar parte ativa nos combates. Com a concordncia de Washington, a Fora Expedicionria Brasileira (FEB) foi finalmente estruturada em agosto de 1943. Para seu comando foi convidado o general Mascarenhas de Morais. Da criao da FEB at o embarque do 1 Escalo para a Itlia transcorreu quase um ano. Nesse perodo, dedicado preparao e treinamento das tropas, inmeros foram os desencontros entre Brasil e Estados Unidos, desde os relativos liberao do equipamento militar necessrio para a atuao das foras brasileiras, at os decorrentes da ausncia de uma definio quanto rea de atuao da FEB. Finalmente liberados os armamentos norte-americanos de que o Brasil necessitava no incio de 1944, e superada a resistncia britnica presena de uma fora brasileira no Mediterrneo, o primeiro contingente de tropas brasileiras embarcou em 30 de junho de 1944, rumo Itlia. Ao longo dos oito meses seguintes, outros quatro escales seguiram para o teatro de operaes. Tambm a FAB se fez representar com um grupo de aviao de caa e uma esquadrilha de ligao e observao. O envio da FEB e da FAB ao teatro de operaes veio coroar um processo que se iniciara quase quatro anos antes, mas constituiu tambm o ponto de partida de uma nova etapa, qual seja, a da busca, por parte do governo brasileiro, de participao nos arranjos do psguerra que iriam definir uma nova ordem mundial.(5)5

No Nordeste brasileiro, ponto estratgico devido a sua proximidade com a frica do Norte, e na defesa do Canal do Panam, foram instaladas, conjuntamente com unidades militares locais, instalaes norte-americanas para assegurar a defesa do Atlntico Sul, e como base de operaes para incurses contra posies do Eixo5

FEB Fora Expedicionria Brasileira. O Brasil na guerra. Rio de Janeiro: Portal FEB. Disponvel em: . Acesso em: 23 abr. 2005, 17:19:45.

11 durante a Operao Torch (Tocha) Norte da frica. Formou-se assim o U.S.A.F.S.A. (United States Armed Forces South Atlantic), com Quartel-General no Recife, grupamento que tambm dispunha de unidades areas e navais de outros pases, chefiado pelo Vice-Almirante Jonas Howard Ingram (Comandante das USAFSA) e o General Robert L. Walsh (Comandante da Ala Sul dos Transportes Areos). Bases areas como a de Parnamirim, em Natal (O Trampolim da Vitria), e a de Ibura, em Recife, alm de aeroportos em Salvador e na regio Norte (borracha), e portos utilizados na campanha anti-submarina, foram decisivas para o esforo de guerra Aliado. Tais operaes de busca e de destruio da ameaa ao comrcio martimo aliado representado pelos sorrateiros U-Boat (submarinos) alemes, e de defesa de pontos estratgicos do litoral brasileiro, e da subrea do Atlntico Sul, compreendida entre Dacar na frica do Norte e Natal no Brasil, mesmo at Salvador, eram de responsabilidade, desde 1942, da 4 Esquadra Norte-Americana / Fora Tarefa 3. A ao conjunta de foras brasileiras e norte-americanas era coordenada pela Comisso Mista de Defesa Brasil-Estados Unidos (Joint Brazil-United States Defense Comission), resultante do Acordo de 23 de maio de 1942, regulando no apenas aspectos militares e econmicos das relaes entre os dois pases, como tambm encarregada de zelar pela defesa do continente americano.(...)Tambm se reafirmava a resoluo, aprovada na Terceira Reunio de Ministros das Relaes Exteriores das Repblicas Americanas, de que a cooperao, para a proteo de ambos os pases e do continente, deveria continuar at que desaparecessem os efeitos do conflito. Para a execuo de do Acordo seriam constitudas duas comisses mistas brasileiro-americanas, uma com sede nos Estados Unidos e outra no Brasil, compostas de representantes do Exrcito, da Marinha e das Foras Areas dos dois paises. Cabia a essas comisses elaborar planos minuciosos e estabelecer, entre os estados-maiores, acordos destinados defesa mtua. Constariam desses planos, alm de outros assuntos, as atribuies do comando das operaes e, de um modo

12geral, as responsabilidades de cada parte contratante nos teatros de operaes que se viessem a criar. A elas caberia, no caso de se modificar a situao estratgica, recomendar aos dois governos as alteraes a introduzir nos planos aprovados e as medidas a executar, para garantir-lhes o xito.(6)6

Cesso de instalaes areas e navais necessrias defesa conjunta e ao esforo de guerra comum, entre outras franquias, como trnsito de tropas norteamericanas e construo de depsitos para material e alojamento para pessoal, complementavam o acordo. Porm, importante reforar que tropas dos Estados Unidos somente poderiam atuar e se estabelecer em territrio nacional em caso de sofrermos ataque de foras extracontinentais, e na constatao de ameaa de ataque; sendo que, em ambos os casos, mediante solicitao do governo brasileiro e com subordinao ao Comando local. Em casos especiais, previa-se o deslocamento de foras militares para a defesa de outros pontos do continente, desde que no comprometessem a defesa militar brasileira. O plano original previa a formao, e o envio, de trs Divises de Infantaria Expedicionrias, as quais ainda deveriam passar por mais uma etapa complementar de treinamento e de familiarizao com o uso dos novos equipamentos norte-americanos, fora do territrio brasileiro, antes de entrarem efetivamente em combate. Como sabemos somente uma Diviso do Exrcito Brasileiro se fez presente na Campanha Italiana, lutando com bravura e determinao ao lado das demais unidades, de vrios pases, que compunham o 5 Exrcito Aliado. Relatos de oficiais que viveram este perodo febril, que precedeu ao embarque da FEB para a Itlia, como os do Marechal M. Poppe de Figueiredo, ento Major e Chefe da 2 Seo do Estado-Maior Regional da 7 RM (AL,PE,PB,RN,CE,MA,PI,Fernando de Noronha) / 3 D.I.E., nos do a clara noo do clima de total prontido e de pleno engajamento nos exerccios e simulaes que se procediam, cada vez mais aprimorados, inclusive com ordem do Comandante local General Newton Cavalcante, substituto do General Joo Batista Mascarenhas de Moraes para que todos os militares do General ao soldado usassem6

SILVA, Hlio. 1944: O Brasil na Guerra. Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira, 1974. p.105, 106.

13 permanentemente o seu equipamento de campanha inclusive o cantil , para tornar este um procedimento rotineiro, uma ambientao, pois logo o fariam nas operaes na Europa, atestando a seriedade do treinamento e o desejo de lutar dos nossos combatentes.Havia muito, o Gen. Walsh mantinha contatos com o General Newton, servindo eu como intrprete. No incio de 1944, em uma dessas entrevistas, em nosso Quartel-General, a 3 Diviso Expedicionria j estando em condies de embarcar, foram considerados, em um primeiro exame, os problemas referentes ao transporte da tropa at perto da frica do Norte, onde receberia armamento e equipamento, fornecidos pelos nossos aliados norte-americanos. Tudo dependia de deciso do governo brasileiro. Todos ns espervamos com ansiedade por essa deciso. A 1 D.I.E., comandada pelo Gen. Mascarenhas de Moraes, tambm se preparava no Rio. Eis que, certo dia negro para todos ns , ao passar para texto claro longo rdio cifrado do Ministro Eurico Dutra, recebo o impacto terrvel de que no mais iramos guerra, pois determinava o Ministro que fossem embarcados para o Rio os especialistas que havamos formado, a duras penas lembro-me bem do nmero, cerca de setecentos. Iam integrar a 1 D.I.E. A razo, pudemos sab-lo mais tarde, era de natureza financeira: o Brasil cooperaria no esforo de guerra dos Aliados com uma Diviso de Infantaria, em vez d7e trs.(7)

No mbito governamental, os preparativos para a correta instruo e aparelhamento da FEB, e o seu posterior deslocamento para os campos de batalha de alm-mar, faziam, tambm, afora o contexto estritamente militar, parte tanto da poltica interna mobilizao nacional como da poltica externa relacionamento com os Aliados , ou seja, inseria-se na estratgia de Getulio Vargas de tornar nossa participao na Segunda Guerra Mundial um importante, e determinante, cacife a ser colocado nas futuras mesas de negociao do mundo ps-guerra; e mesmo de aprofund-la naquele distinto e singular momento. Hbil poltico, Vargas conseguiu7

FIGUEIREDO, Marechal M. Poppe de. Brasil, um gigante que despertou. Rio de Janeiro: Smbolo. p.183.

14 encarnar o sentimento popular e extern-lo de maneira mpar e grandiosa, exmio orador colocou-se como a voz da defesa da brasilidade e simbolizando a figura do grande lder que resgataria a dignidade de uma ptria amante da paz injustamente agredida por uma potncia estrangeira. Dessa maneira crescia a identificao entre a FEB e cada um dos seus concidados, no havendo para tanto oposio de quaisquer barreiras scio-polticas-econmicas-culturais, nem limitao geogrfica, pois em cada rinco deste imenso pas-continente prevalecia uma quase que unanimidade sobre o valor e a misso dos nossos pracinhas; mesmo entre aqueles que por motivos e / ou convices diversas desdenhavam a participao do Brasil em uma guerra que no era nossa como alguns afirmavam na poca , ou que ento temiam por uma grande, e desumana, mortandade de militares brasileiros distantes do solo ptrio.Vencendo laboriosamente as difceis etapas de organizao, s um ano depois, seja, a 31 de dezembro de 1943, o presidente pde anunciar que:O ano prximo vir encontrar-nos em tarefas rduas e de sria responsabilidade. Pela primeira vez soldados brasileiros pisaro o solo de outros continentes para tomar parte em operaes de guerra. A 20 de maio (1944), o presidente assiste s manobras do primeiro contingente, no campo de Gericin, no Rio de Janeiro. Vargas aproveita a oportunidade para acentuar a necessidade da industrializao nacional, fator decisivo das guerras modernas. Dias depois, o contingente desfilou na avenida Rio Branco, sob aplausos de grande multido. Chegou a hora de honrar a ptria, proclamou o presidente em discurso de intensa vibrao, a ptria tudo espera de vs, e orgulha-se de vossa coragem consciente, de vossa dedicao. Que a beno de Deus vos acompanhe, como vos acompanham nossos espritos e os nossos coraes, at o regresso, com a vitria. Essas palavras eram as do povo. (...)(8)8

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QUADROS, Jnio e FRANCO, Afonso Arinos de Melo. Histria do Povo Brasileiro. So Paulo: J. Q. Editores Culturais, 1967. p.85.

15 O reequipamento das nossas foras navais de combate beneficiou-se da Lei de Emprstimos e Arrendamentos (Lend-Lease), firmada com os Estados Unidos, dotando a Marinha de Guerra Esquadra de embarcaes modernas, e de vrias classes e empregos diversos. No tocante a Marinha Mercante, o governo, atravs do Decreto-lei n 4.611, de 24 de agosto de 1942, determinou a incorporao de navios de nacionalidade alem, italiana e dinamarquesa (ocupao alem), que passariam a usar a bandeira brasileira, reforando a frota nacional seriamente comprometida, e sacrificada, com os torpedeamentos, e afundamentos, de que fomos vtimas da campanha submarina do Eixo no Atlntico; o fretamento de unidades mercantes (vapores) norte-americanas complementaram nosso reaparelhamento. Antes de enviar a FEB para os teatros de operao extracontinentais, havia que se vencer uma certa indeciso aliada (norte-americana) de como, quando e onde, se assim o fosse decido, empregar as tropas brasileiras. Criada pela Portaria Ministerial n 47-44, de 09 de agosto de 1943, contando somente com a 1 D.I.E., nossa Fora Expedicionria ainda teria de receber o aval dos Aliados, um voto de confiana, para efetivamente se engajar na guerra que j h quatro anos vinha destruindo o mundo.Dias depois da resposta de Mascarenhas (Comandante da 1 D.I.E.), O General Dutra (Ministro da Guerra) parte para os Estados Unidos, em longa viagem de inspeo s instalaes militares norte-americanas, l permanecendo mais de um ms. Em sua visita assinada a Recomendao n 16 que confirmava os entendimentos feitos no Rio de Janeiro, quando da reunio das duas Comisses Mistas (Washington e Rio de Janeiro), relativos ao envio de oficiais brasileiros, pertencentes ao Corpo Expedicionrio, para estagiar nos Estados Unidos. Iniciam-se, assim, os primeiros preparativos para a constituio do Corpo Expedicionrio.Os derradeiros meses de 1943 foram vividos pela Diviso brasileira num ambiente de transformaes de efetivos e de seleo fsica. Contundo, ao encerrar-se o ano, a organizao da FEB permanecia em fase embrionria(Mascarenhas de Moraes)

16Apesar dessas primeiras providncias, ainda parecia, para ambos os governos, um pouco duvidosa a nossa participao na luta.(9)9

Um ponto fundamental deste impasse, quanto ao envio de efetivos militares brasileiros, era de natureza puramente logstica. Os Aliados enfrentavam, ento, uma sria, e preocupante, carncia de embarcaes (navais) de transporte e de desembarque de tropas e equipamentos (LST, LCT, LCVP), tendo tambm que, ao mesmo tempo, estabelecer rgidos critrios para a distribuio, e utilizao, destes limitados recursos to urgentemente necessrios em mais de um dos teatros de operaes. H que se lembrar que a guerra no se desenrolava to somente em territrio europeu, onde tais equipamentos eram vitais para a colocao de unidades combatentes nos litorais ocupados por alemes e italianos planejamento dos futuros desembarques na frica do Norte, na Siclia e na Itlia, alm dos gigantescos preparativos para a operao Overlord (Normandia). Os japoneses haviam formado uma complexa e extensa linha (permetro) defensiva em boa parte do Oceano Pacfico, estabelecendo fortes bases areas e navais em um grande nmero de ilhas, o que lhes proporcionava manter a possibilidade de novas surtidas contra territrios e posies aliadas na rea inclusive uma constante ameaa contra a Austrlia , provocando um onipresente estado de alerta, fato que necessitava de uma efetiva campanha que os desalojasse dos seus quartis; aliviando assim a presso exercida nas foras aliadas l estacionadas e, em um segundo momento, propiciando o desmantelamento do anel protetor que garantia o abastecimento do Imprio do Sol Nascente e abrindo caminho para o seu posterior ataque. Seria uma campanha de conquista de ilha por ilha, na qual havia a necessidade de manuteno de grandes unidades navais de transporte e de desembarque de tropas e de equipamentos tiveram papel primordial, e decisivo, para o xito das operaes anfbias. Este panorama bem situado na correspondncia entre o Conselheiro de Relaes Polticas, do Departamento de Estado norte-americano, Laurence Duggan, e o Embaixador Caffery que inclusive acompanhara as conversaes confidenciais entre Vargas e Roosevelt durante a Conferncia de Natal (28/01/1943) sobre o envio de tropas brasileiras alm

9

Opus citatum. SILVA, Hlio. p.216, 217.

17 mar , relatando conversa com Philip Bonsal, Chefe da Diviso das Repblicas Americanas, datada de 08 de outubro de 1943.Prezado Senhor Caffery: O Phil Bonsal e eu conversamos hoje demoradamente com o Coronel Hertford sobre a possibilidade do Brasil enviar tropas s zonas de combate na Europa. O seu telegrama afirmando que o projeto fora aprovado em princpio, e as declaraes do General Dutra quando aqui esteve, parecem uma clara indicao de que o Brasil gostaria de enviar tropas. A questo quando e em que condies. O general Dutra disse ao General Marshall que gostaria de mandar trs divises no prximo vero, todas formando uma fora expedicionria. Do ponto de vista brasileiro, podese ver muitas razes que indicam que esse seria o melhor mtodo. Existem, porm, inmeras dificuldades do ponto de vista do Departamento de Guerra, uma das quais parece intransponvel. A dificuldade principal a impossibilidade de se conseguir meios de transporte martimo para levar, de uma s vez, trs divises completamente aparelhadas. Isso representa uma operao de larga escala que reclamaria o desvio de um nmero excessivo de navios. O Departamento de Guerra, cujo programa de transportes martimos foi assentado com um ano de antecedncia, talvez poderia transportar uma diviso em dezembro ou em princpios do ano vindouro, e outra na primavera. Essas divises receberiam trs meses de intenso treinamento na frica do Norte a fim de, ao chegarem s zonas de combate, estarem to bem preparadas e treinadas quanto as nossas tropas. Alm desse problema de transportes martimos, que o Departamento de Guerra insiste ser o fator predominante, existe outra considerao que sugere a convenincia do Brasil seguir as indicaes do Departamento de Guerra se de fato se interessa em enviar tropas s zonas de combate; i.e., a atual disposio dos nossos chefes militares de

18empregar tropas brasileiras. O Coronel Hertford informa que o General Eisenhower e o General Clark afirmam que gostariam de receber tropas brasileiras e que poderiam utiliz-las. O General Marshall a favor. Existe, no entanto, um ambiente propcio no Departamento de Guerra, porm, dependendo do progresso da guerra, ele pode se alterar. Por uma ou outra razo, o General Marshall e o General Eisenhower podero perder o interesse no assunto. , portanto, a minha opinio que, se o Brasil acha-se de fato interessado, dever manifestar o seu interesse agora e aceitar em geral os planos de operaes sugeridos pelo Departamento de Guerra. Os nossos telegramas tm indicado claramente que a utilizao de tropas brasileiras necessita de aprovao dos Estados Maiores em Conjunto. Se o projeto tiver forte apoio do General Marshall e do General Eisenhower, a necessria aprovao seria conseguida. O Departamento de Guerra, porm, no deseja apresentar projetos aos Chefes dos Estados Maiores sem ter a certeza de o Brasil realmente deseja enviar tropas s zonas de combate e aceita os planos de operaes sugeridos. Ao apresentar-lhe o resumo acima, no desejo dar a impresso de que achamos que o Brasil deve ser persuadido a enviar tropas, mas antes que, se tal for a deciso do Brasil, seria conveniente se aceitassem o esboo sugerido pelo Departamento de Guerra, e procedessem de acordo com o mesmo, pois do contrrio no haver garantias sobre quando uma fora expedicionria brasileira poder ser transportada. Sinceramente, Laurence Duggan(10)10

Estas consultas, iniciadas em princpio de outubro, atravs da consulta feita pelo Coronel Hertford representante do Estado-Maior norte-americano junto Comisso Mista de Defesa Brasil-Estados Unidos ao Adido Militar junto Embaixada dos10

Ibdem. p.218, 219.

19 Estados Unidos no Rio de Janeiro, Coronel Claude M. Adams, sobre a receptividade do governo e do Estado-Maior brasileiro em enviar, para fins de treinamento, ainda em dezembro daquele mesmo ano, uma Diviso para a frica do Norte; com posterior envio de uma segunda Diviso. Em 08 de dezembro de 1943, ao invs de uma Diviso, parte, para Argel, uma Comisso Militar Brasileira, acompanhada (assessorada) por alguns militares norte-americanos, chefiada pelo General Mascarenhas de Morais, com o intuito de observar o teatro de operaes do Mediterrneo, estabelecendo os primeiros contatos com o General Eisenhower (Comandante das Foras Aliadas no Mediterrneo) e o general Giraud (Comandante-em-chefe das Foras Francesas); desloca-se posteriormente para Npoles (Itlia). A que se destacar a importante participao, nestes eventos, do Ministro Vasco Leito da Cunha como elo de ligao diplomtica, e facilitador de conversaes, entre a misso militar brasileira e os Comandantes aliados, franceses e italianos e os seus respectivos governos. Desde a invaso da Siclia (Operao Husky), em comeos de julho de 1943 aps o termino das operaes na frica do Norte dois meses antes (Torch) , seguida pela destituio de Mussolini (25/07) e sua priso (26/07), e da rendio italiana (08/08) anunciada pelo novo Primeiro-Ministro Marechal Pietro Badoglio, o armistcio com os Aliados foi assinado em 03 de setembro, quando unidades do 8 Exrcito atravessaram o Estreito de Messina, desembarcando perto de Reggio , e a declarao de guerra Alemanha (01/10), o Alto-Comando alemo, h muito j ciente da fraqueza militar e da possibilidade de defeco dos italianos, j havia traado planos para a defesa da Itlia. Foram estabelecidas vrias linhas defensivas (Brbara, Bernhard de Inverno , Csar, Gtica, Gustav, Hitler), desde o sul da pennsula italiana at a fronteira norte (ustria), para deter, ou apenas retardar, o avano aliado; devido ao comprometimento macio da esmagadora maioria de tropas e recursos do Eixo em outras frentes principalmente o front russo, e na defesa da Muralha do Atlntico. De forma idntica, os Aliados armazenavam suprimentos e equipamentos, e concentravam suas melhores tropas para a invaso da Europa, marcada para fins do primeiro semestre de 1944. Como a abertura da frente italiana, de certa forma um tipo de resposta aos insistentes pedidos russos de abertura de uma segunda frente de combate de modo a aliviar a presso do macio ataque alemo ao seu territrio, desviando tropas de outros teatros

20 de operaes, inclusive das estacionadas, por exemplo, na Frana e na Blgica, o que tambm enfraqueceria as defesas alemes durante os desembarques do Dia D, e nas subseqentes operaes de libertao da Europa ocupada pelas foras nazistas, havia a necessidade de arregimentar novas unidades militares para a recm-criada zona de guerra. Estava traado, pelas contingncias do conflito, o local de atuao da FEB. No Brasil, os preparativos para o embarque das unidades da 1 DIE continuam em ritmo acelerado. O estado Maior Especial, criado em 15 de maio de 1944, composto por trs oficiais brasileiros do EM Divisionrio entre eles o ento Tenente-Coronel Humberto Castelo Branco e por mais dois membros da Misso Militar NorteAmericana, sendo que a representao da FEB no interior ficou a cargo do Coronel Henrique Lott, e a Superviso Geral coube ao General Hayes Kroner, tinha por misso planejar, coordenar e executar o embarque dos vrios escales da 1 DIE, assunto tratado como altamente secreto, tanto que at a reunio dos seus elementos no Gabinete do Ministro da Guerra que se interaram sobre o fim da sua convocao. A organizao, e distribuio, dos efetivos, da 1 DIE, foi assim constituda:Diviso de Infantaria Divisionria 1 (1 DIE) Foi a parcela combatente da FEB e foi tambm comandada por Mascarenhas de Moraes. Foi integrada pela Infantaria Divisionria (ID), ao comando do gen. Zenbio da Costa e composta dos Regimentos de Infantaria 1 RI (Regimento Sampaio-Rio de Janeiro, ao comando do cel. Aguinaldo Caiado de Castro), 6 RI (Regimento Ipiranga-CaapavaSP, ao comando do cel. Joo Segadas Viana, futuro ministro da Guerra 1961-62), 11 RI (Regimento Tiradentes-So Joo del Rei, ao comando do cel. Delmiro Pereira de Andrade). Comandou ao final da guerra o 6 RI o cel. Nelson de Melo, futuro ministro da Guerra em 1962. O 1 RI teve ao destacada na conquista de Monte Castelo, em 21 de fevereiro de 1945, alm de em outras aes. O 6 RI teve papel destacado na conquista de Castelnuovo e rendio em Fornovo, em 29 de abril de 1945, da 148 Diviso de Infantaria Alem e de remanescentes da diviso italiana, Itlia. O 11 RI teve atuao destacada no combate de Montese, em 14 de maro de 1945, alm de

21em outras aes; pela Artilharia Divisionria (AD) ao comando do gen. Cordeiro de Farias e composta dos grupos de Artilharia I-GO-105 (Grupo de So Cristovo-Rio, ao comando do ten.-cel. Levy Cardoso), II-GO-105 (Grupo Monte Bastione, de Campinho-Rio, ao comando do cel. Geraldo da Camino, sendo o primeiro a entrar em ao na Itlia), III-GO-105 (Grupo Bandeirantes de Quintana, em So Paulo-SP, ao comando do ten.-cel. Jos de Souza Carvalho, IV-GO-155 (grupo Montese), ao comando do ten.-cel. Hugo Panasco Alvim), 1 Esquadrilha de Ligao e Observao (1 ELO da FAB, sob controle operacional da FEB); 9 Batalho de Engenharia de Combate, de Aquidauana-MT, ao comando do ten.-cel. Jos Machado Lopes, 1 Batalho de Sade de Valena-RJ ao comando do maj. Bonifcio Borba; Esquadro do Recolhimento, atual Esquadro ten. Amaro de Valena-RJ, ao comando inicialmente do cap. Franco Ferreira e depois do cap. Plnio Pitaluga Tropa Especial (Companhia de Transmisses, Companhia de Manuteno Leve, Companhia de Intendncia, Companhia do Quartel-General, Banda de Msica e, Peloto de Polcia organizado base da mobilizao de policiais da Guarda Civil de So Paulo). A 1 DIE foi organizada base de uma Diviso de Infantaria do Exrcito dos EUA. Ou seja com 14.254 homens (734 oficiais e 13.520 pracinhas, expresso que passou a denominar os expedicionrios brasileiros e que at hoje perdura) e equipado com 66 obuses (54 de 10mm e 12 de 155mm) 144 morteiros (90 de 60mm e 54 de 80mm), 500 metralhadoras (87 submetralhadoras 4,5, 175-30 e 237-50), 11.741 fuzis (5.231 carabinas e 6.510 fuzis todos .30), 1.156 pistolas, 45, 2.387 armas anticarro (13 canhes 37mm e 57 de 57mm, alm de 585 lanarojes 2.36 e 1.632 lana-granadas) e 72 detectores de minas anticarro e mscaras contra gases para todo o efetivo. Possua 14.358 viaturas motorizadas, das quais 13 carros blindados M8 e cinco de meia-lagarta. Isto permitia 1 DIE transportar de uma s vez um tero de seu efetivo, o que ocorreu na perseguio no rio Panaro. Os 47 botes de assalto e passadeiras permitiam diviso realizar pequenas transposies de cursos dgua. Seus 736 telefones, 42 telgrafos, 592 estaes de rdio e 10 avies Piper Cub de ligao lhe proporcionavam

22ampla capacidade de observao e ligao. Com esta organizao a 1 DIE tinha possibilidade de atacar numa frente de at 6 Km e defender uma frente de cinco a 10 km, depois de adaptao em montanha que ocorreria na regio dos Apeninos. O adestramento da 1 DIE iniciou no Brasil com apoio em 115 regulamentos americanos (210.874 exemplares) traduzidos e coordenados pelo Estado-Maior da FEB do Interior, que funcionou na Casa de Deodoro e prestou grande concurso mobilizao complexa da FEB sob a chefia do gen. Anor Teixeira dos Santos. Concorreram para este adestramento vrios oficiais com estgio no Exrcito dos EUA. Assim, em 25 de maio de 1944, aniversrio da Batalha de Tuiuti, a 1 DIE desfilou em moldes americanos, ou seja, motorizada, pelas ruas do Rio de Janeiro. (...) A mobilizao da 1 DIE foi tarefa complexa e herclea que passou pela convocao de civis, policiais de So Paulo, reservistas de tiros de guerra, operrios da fbrica de fechaduras para serem transformados em armeiros, enfermeiras, mdicos aproveitados como oficiais de outras especialidades e expressivo nmero de oficiais de nossos CPOR e NPOR. Houve muita criatividade e adaptabilidade do homem brasileiro s atividades baseadas particularmente na motorizao e nas comunicaes de rdio, que exigiram muitos especialistas. Enfim foi tornado possvel o que era necessrio. (...) A DIE refletia na sua composio a predominncia dos seguintes contigentes fornecidos pelos estados: Rio de Janeiro (8.036 h); So Paulo (3.889); Minas Gerais (2.947); Rio Grande do Sul (1.880)... Portanto os cariocas e fluminense representaram juntos cerca de 32% da FEB.(11)11

Poucos mais de um ms aps o pico desfile militar das tropas no centro do Rio de Janeiro (24/05/1944), tendo sido nossos pracinhas entusiasticamente ovacionados pela multido e autoridades presentes, em 29 de junho de 1944, o 1 Escalo da FEB perfazendo um total de 5.081 homens , juntamente com seu comandante general Mascarenhas de Moraes , embarcam no navio de transporte de tropas norte11

INFORMATIVO GUARARAPES. Participao das Foras Armadas e da Marinha Mercante do Brasil na Segunda Guerra Mundial (1942-1945). Rio de Janeiro: Academia de Histria Militar Terrestre do Brasil (AHIMTB) Coronel Cludio Moreira Bento. Disponvel em: http://www.resenet.com.br/ahimtb/biblimilbra.htm>. Acesso em: 17 abr. 2005, 17:28:12.

23 americano General W. A. Mann. O Presidente Getlio Vargas, em 30 de junho, acompanhado de oficiais generais brasileiros, inclusive do Ministro da Guerra, e norteamericanos, visita nossos bravos soldados j alojados a bordo do General W. A. Mann, dirigindo-lhes algumas poucas palavras de incentivo e de despedida, mensagem esta que indubitavelmente externava o sentimento da esmagadora maioria dos seus compatriotas. A partida para o teatro de operaes europeu, destino apenas conhecido pouco antes do embarque pelo General Mascarenhas de Moraes notificado pelo General Kroner , teve incio s 06:30 da manh de 02 de julho de 1944, tendo sido escoltados (comboiados) at Gibraltar por contratorpedeiros brasileiros Marclo Dias, Greenhalg e Maria e Barros e por belonaves da esquadra norte-americana aqui estacionados, de l foram acompanhados por um comboio de navios norte-americanos e ingleses at Npoles. Apesar da ansiedade e do desconforto vivenciados durante a travessia do Atlntico, a tranqilidade e a segurana do comboio foi quebrada apenas por um alerta de atividade de submarinos alemes; que no resultou em ataque a qualquer um dos navios. A ao diplomtica e de representantes militares brasileiros precede ao desembarque das primeiras unidades da FEB a Npoles, em 16 de julho de 1944. O incansvel Embaixador Vasco Leito da Cunha, em 06 de junho, em Npoles, estabelece conversaes com o Q.G. aliado para que sejam tomadas as medidas necessrias para a chegada das tropas brasileiras, oportunidade na qual ainda conferencia com o representante pessoal do Presidente Roosevelt, Robert Murphy. No campo militar, porm, os desencontros marcaram os acertos finais. A Misso Militar brasileira, composta de oficiais que haviam estado como observadores na Itlia, em Argel, desde fins de maro daquele ano, foram notificados que os dois escales da FEB aportariam em breve e receberiam instruo complementar idntica a das tropas francesas e norte-americanas que haviam passado pelo Norte da frica, na rea de estacionamento provisrio que ficava a menos de 10 quilmetros de Oran. O novo chefe da Misso Militar Brasileira, Coronel Joo Pinto Pacca, desde incio de junho, foi surpreendido no comeo de julho com a deciso do Comando Aliado do Mediterrneo de transferir o desembarque da Diviso Brasileira para Npoles, concluindo seu treinamento na Itlia. Deslocando-se prontamente para o novo ponto de chegada das

24 nossas tropas, inspecionou reas de estacionamento de tropas (stating areas) encontrando as condies mais favorveis na de n 3, em Bagnoli. Solicitou, ainda, a montagem de barracas piramidais e para praas e a disponibilizao de demais peas de equipamento individual foi informado que tais solicitaes no se faziam necessrias, pois o equipamento j teria sido embarcado no Brasil ; com relao as viaturas que deveriam ser destinadas ao transporte do 1 escalo da 1 DIE, havia uma prioridade de sua cesso, inclusive das reservas, para a organizao do VII Exrcito, sendo acertado que seriam alocados os meios de transporte necessrios prximo a chegada da FEB. Nestes termos, podia-se antever que o desembarque dos nossos pracinhas na Itlia seria marcado pelo desencontro de informaes e pela falta de coordenao do Comando Aliado local.Desembarcada, no dia 16 de julho, a tropa seguiu a p para Agnano, a 25 quilmetros de Npoles, para a rea de estacionamento situada em um bosque na cratera de um vulco extinto, Astronia. O local no estava preparado para receb-la. No havia barracas nem cozinhas, pois julgavam que a FEB as trouxesse consigo. (...)(12)12

Nesta confuso administrativa nossos soldados foram pegos de surpresa. Em primeiro lugar, no entendiam porque haviam passado por Argel e no tinham desembarcado no campo que havia sido determinado para o seu treinamento complementar. Depois, ao chegarem a Itlia, em Npoles, no receberam nenhuma ajuda operacional transporte, equipamentos , desfilando desarmados e com o uniforme com os qual saram do Brasil e que em muito se assemelhava com a tonalidade dos uniformes dos infantes do Exrcito Alemo , fato este interpretado por moradores locais como se tratando da chegada de um contingente de prisioneiros alemes. Alguns historiadores chegam a falar de uma certa hostilidade dos napolitanos para com as nossas tropas, devido a esta seqncia de mal-entendidos, mas sem confrontamentos; outros negam tal verso e mesmo afirmam ter havido uma recepo calorosa.12

Opus citatum. SILVA, Hlio. p.239.

25 Outras unidades foram, posteriormente, enviadas ao front italiano: 2 Escalo (22/09/44) 5.133 homens; 3 Escalo (22/09/44) 5.243 homens; 4 Escalo (23/11/44) 4.722 homens; e o 5 Escalo (08/02/45) 5.128 homens. Passado este momento de desencontros, a FEB foi intensamente preparada, e equipada, para os combates que se lhe avizinhavam. Transferido para Tarqunia, a partir de 29 de julho, o 1 Escalo da 1 DIE foi incorporado, em 05 de agosto, ao 5 Exrcito norte-americano, sob o comando do General Mark ClarK. Em 18 de agosto desloca-se para a regio de Vada-Rossignano, mais ao norte, incorporando-se ao 4 Corpo de Exrcito, comandado pelo General Willis Crittenberg. Na ocasio o 5 Exrcito norte-americano encontrava-se desfalcado em suas fileiras, pois cedera, como todas as demais unidades operacionais experientes naquele teatro de guerra, unidades para a Operao Overlord, e para o posterior processo de libertao da Europa ocupado pelas tropas do Eixo, sendo urgentemente necessria uma reposio de contingentes para o rompimento das defesas alems e o prosseguimento da ofensiva. A histria da atuao da FEB nos campos de combate da Itlia mostra o alto poder de adaptao das tropas brasileiras, a aplicabilidade dos seus comandantes e a capacidade de superao de uma tropa, que recebeu treinamento e instrues muito aqum das demais tropas aliadas que j se encontravam engajadas em combate h mais tempo, e que tendo que, nessas condies, fazer frente ao mais bem preparado e doutrinado soldado daquela guerra, o alemo, cumpriu seu dever com bravura e determinao mpares (20.573 prisioneiros). bem verdade que a Alemanha j se encontrava na defensiva desde as derrotas na frica do Norte e em Stalingrado, e que no dispunha da mesma disponibilidade de material blico, e mesmo de tropas, como nos tempos das arrasadoras e vitoriosas Blitzkriegs, mas de forma alguma seus soldados tinham perdido a singular disciplina e o mtico esprito combativo, cobrando um alto preo para cada centmetro de terreno conquistado pelos Aliados na Itlia; e em todos as outras frentes de batalha.Na Pennsula Itlica quatro fases caracterizaram a nossa atuao: 1 fase: Operaes no vale do rio SERCHIO

262 fase: Operaes no vale do rio RENO 3 fase: Operaes no vale do rio PANARO 4 fase: Operaes de perseguio ao S do Rio P. chegada do primeiro escalo, foi constitudo o Dst FEB, que , de imediato, engajado na frente de combate, no vale do rio SERCHIO. O XV Grupo de Exrcitos Aliados, composto pelo V Exrcito norteamericano e VIII ingls, vinha desde a Siclia, Sul da Itlia, empurrando os alemes para o Norte. Estes, articulados em 3 Exrcitos (o X, o XVI e o Exrcito da Ligria) se instalam defensivamente na chamada Linha Gtica, uma frente de cerca de 280 Km, do Mar Tirreno ao Adritico, tendo como ponto forte as alturas que dominavam BOLONHA. O objetivo estratgico era o de liberar, antes da chegada do inverno, o norte italiano, fazendo-se juno com as tropas que operavam na Frana. Entretanto, a ofensiva detida, porquanto so retirados do V Exrcito, sob comando do qual iria a FEB atuar, o VI Corpo de Exrcito (trs Divises de Infantaria) e o Corpo Expedicionrio Francs (sete Divises) para serem empregados na frente francesa, que era, assim, substancialmente reforada, aps o desembarque aliado na Normandia. Havia j trs meses que americanos e ingleses acometiam sem sucesso BOLONHA acidente capital da defensiva alem. BOLONHA resistia e, em ferozes contra-ataques, as tropas alems infligiam as mais severas perdas, aos V Ex A e VIII ingls. Criou-se o mito da inexpuguabilidade da linha Gtica. Nosso Destacamento chegou nessa fase crtica da guerra e se incorporou ao IV Corpo de Exrcito, sob o comando do Gen Willis Crittenberger, subordinado ao ento desfalcado V Exrcito N.A., sob o comando do Gen Mark Clark. Assim, como se pode concluir, bem verdadeiro o que disse o Gen Mascarenhas de Moraes em seu livro A FEB pelo seu Comandante: Para os que no sabem avaliar o esforo da FEB, pois no se

27situaram, como ns, na mais cruenta frente de batalha da Europa Ocidental, s posso dizer uma coisa: a FEB no teve um s dia de descanso, em sua campanha na Itlia.(13)13

Muito j foi escrito sobre a atuao herica da FEB, desde o disparo da primeira carga de artilharia, na tarde de 16 de setembro de 1944, em Massarosa, nas encostas do Monte Bastione, ao fim das operaes (cessar-fogo), em 03 de maio de 1945, passando pelo perodo de ocupao do trecho da plancie do P entre 03 de maio e 02 de junho -, at a chegada dos 4.931 homens do 1 Escalo ao Rio de Janeiro, em 18 de julho de 1945 pouco mais de um ano aps o desembarque em Npoles , e o posterior, e vibrante, desfile da vitria, acompanhado, alm do povo e autoridades civis e militares brasileiras, pelos Generais Mark Clarck, Willis Krittenberg, J. C. Ord e Donald Brand. Ao relato desta epopia, desta herica pagina das nossas Foras Armadas, deixo sua descrio para aqueles que dedicaram suas vidas a nossa Histria Militar.Operaes da 1 DIE/FEB Esta diviso brasileira foi uma das 20 divises e 16 brigadas aliadas compostas de canadenses, sul-africanos, indianos, neozelandeses, marroquinos, argelinos, alm de franceses, italianos e poloneses livres e, particularmente, ingleses e americanos que integraram, no final da Batalha dos Apeninos, o XV Grupo de Exrcitos aliados destinado a libertar a Itlia do jugo nazi-fascista, bem como a fixar importantes efetivos alemes dos XIV Exrcito e Exrcito da Ligria para impedir que atuassem nas frentes da Operao Overlod (invaso aliada da Normandia, em 16 de junho de 1944) e da Operao Anvil e depois Dragoon (invaso aliada pelo sul da Frana, em 15 de agosto 1944). Para a ltima foram rocadas algumas divises francesas, cuja falta na Batalha dos Apeninos a 1 DIE/FEB veio de certa forma minorar. Os brasileiros entraram em combate em 18 de setembro de 1944 na proporo de um tero de seus efetivos e com o nome de13

CENTRO DE DOCUMENTAO DO EXRCITO (CDOCEX). A atuao da FEB na Itlia. Braslia: Centro de Documentao do Exrcito Coronel Manoel Soriano Neto. Disponvel:. Acesso em: 17 abr. 2005

28Destacamento FEB, antes que houvesse completado o ciclo de instruo normal previsto pela doutrina americana. Eles atuaram na regio da boca do cano da bota que a Itlia representa. O destacamento foi lanado ao norte do rio Srchio para combater os alemes estabelecidos na Linha Gtica (280km), entre os mares Tirreno e Adritico. A 1 DIE/FEB teve seu batismo de fogo atravs de seu Destacamento em 18 de setembro na conquista de Camaiore, seguida de Monte Agudo e Monte Prano em 26 de setembro. O destacamento foi rocado mais para a direita no vale do Srchio onde conquistou Fornaci e Barga. Em 11 de outubro lanou-se sobre Galicano que conquistou e consolidou. Da lanou-se, em 30 de outubro, sobre Castenuovo de Garfagnana onde foi repelido e retraiu sobre Galicano, tendo conhecido o seu primeiro insucesso, fato comum em tropas estreantes. Mas progrediu em 15 dias 40 km, capturou uma fbrica de peas de avies, em Fornaci, fez 208 prisioneiros do rio Reno, onde recebeu uma frente de 15km, muito ampla, sobre a estrada 62, ao norte de Porreta Terme e que era dominada pelo Monte Castelo que impedia o prosseguimento do V Exrcito sobre Bologna. Monte Castelo, defendido com unhas e dentes pelo inimigo, foi alvo de cinco ataques. Os primeiro e segundo ataques foram executados em 24 e 25 de novembro pela Fora Tarefa 45 (Task Force 45) integrada por brasileiros e americanos. Os ataques no foram bem sucedidos mas resultaram na conquista temporria de monte Belvedere. O terceiro ataque foi feito pela 1 DIE/FEB um dia aps contra ataque alemo que reconquistou Belvedere dos americanos, fato negativo no ataque brasileiro que foi flanqueado por Belvedere, ponto onde o inimigo concentrou o esforo de defesa por ser a chave de acesso rica plancie do rio P e realizado com chuva, lama e cu encoberto, do que resultou mais um insucesso brasileiro. noite, em conferncia no Passo de Futa QG do IV Corpo, seu comandante precipitou-se e colocou em dvida a capacidade de combate dos brasileiros e quis saber a razo do insucesso. A resposta do comandante brasileiro foi dada por escrito. Ele argumentou: "Que tropas veteranas americanas tambm foram obrigadas a recuar de Monte Belvedere naquela

29frente, face a forte resistncia inimiga; que a misso atribuda 1 DIE/FEB de defender numa frente de 20km e de atacar numa frente de 2km era exorbitante para uma diviso de Infantaria e que ela no havia, por culpa do governo no Brasil e do V Exrcito na Itlia, tido o perodo de treinamento padro mnimo previsto para as divises americanas e que ela estava recebendo misso de tropa de montanha sem s-lo". Passo de Futa foi o ponto de inflexo de alguns insucessos iniciais de uma tropa bisonha para as vitrias de uma tropa veterana e bem comandada e assessorada pelo Estado-Maior. O inverno, iniciado logo aps, obrigou a uma estabilizao da frente por 70 longos dias. Ento, os brasileiros vindos de um pas tropical, padeceram rude e rigoroso inverno, com temperaturas variando de - 15 a 4 e, sobretudo, tenso, face s possibilidades de veteranos alemes acostumados quelas condies de tempo e terreno. A 1 DIE/FEB ressurgiu do inverno, o mais rigoroso dos ltimos 50 anos, aguerrida, disposta e veterana. Suas aes estrategicamente at o fim se incluem na Batalha dos Apeninos que foi muito cruente e penosa. Os Apeninos foram acidente capital estratgico para o inimigo, por impedir o acesso dos aliados rica plancie do Rio P. E, aps conquistados os Apeninos, seria a vez dos Alpes, o que significaria a deciso da guerra na Itlia. A chave para a conquista dos Apeninos era a cidade de Bologna. O acesso a esta era a Estrada Nacional 64 que era dominada pelas elevaes de Monte Belvedere, Monte Castelo e Castelnuovo etc... Foi nestas elevaes que os alemes de 232 Diviso de Infantaria, ao comando do experimentado gen. baro von Eccart von Gablenz, que comandara o XXVI Corpo de Exrcito alemo na Batalha de Stalingardo, concentraram seu esforo defensivo, particularmente em Monte Belvedere, piv de defesa inimiga nos Apeninos e que possua dominncia de fogos e vistas sobre Monte Castelo. importante este entendimento de que as dificuldades de conquista de Monte Castelo encontravam-se bem mais no seu flanqueamento por Belvedere, onde o inimigo concentrou seu esforo defensivo, do que nele prprio e que

30para conquistar Monte Belvedere os americanos usariam uma unidade especializada, a 10 Diviso de Montanha. Terminado o inverno, o prximo passo a 1 DIE/FEB foi cooperar com o IV Corpo na conquista de saliente dos Apeninos em sua zona de ao, cortado pelo rio Marano, que integrava a Linha Defensiva Gengis-Kan e dominava a estrada 64 (Porreta Terme-Bologna), essencial ao abastecimento de 10 divises do V Exrcito. Para a conquista do saliente no macio onde se situavam as posies alems de Belvedere, Monte Castelo, Soprassaso, Castelnuovo, Gorgolesco, Mazzancana, Della Torracia, La Serra, St Maria Viliana, Torre de Nerone, Montese e Montelo foi elaborado o Plano Encore a ser executado pela 10 Diviso de Montanha americana e 1 DIE/FEB. O plano visava expulsar o inimigo do vale do Reno e aps persegu-lo no vale do rio Panaro. Os brasileiros deviam sucessivamente: capturar Monte Castelo com auxlio da 10 de Montanha que devia capturar Belvedere e Della Torracia; limpar o inimigo do vale do Marano; apossar-se de St Maria Viliana e capturar Torre de Nerone e Castelnuovo, o ltimo, chave para liberar as comunicaes do V Exrcito nos vales dos rios Silla e Reno. Em 20 de fevereiro, a 10 de Montanha conquistou Gorgolesco e Mazzancana, o ltimo, com auxlio de pilotos brasileiros do 1 Grupo de Caa (o Senta a pua!). Em 21 de fevereiro, a 10 de Montanha e a 1 DIE/FEB atacaram simultaneamente Della Torracia e Monte Castelo, objetivos que conquistaram sucessivamente. O primeiro foi Monte Castelo, pelos brasileiros. A conquista brasileira de Monte Castelo foi o episdio mais emocionante e afirmativo da capacidade de combate do brasileiro e de sua maturidade operacional. Em 23 e 24 de fevereiro os brasileiros travaram o encarniado combate de La Serra. Em 5 de maro caiu pela manobra contra Castelnuovo, o falado, traioeiro e famigerado saliente na rocha-Soprassaso, responsvel pelas maiores perdas da FEB no inverno. Ele era o objetivo dos nossos pracinhas que o conquistaram com grande gana. Depois dele, veio a conquista pela 1 DIE/FEB de Castelnuovo, base para a montagem de um ataque do V Exrcito sobre Bologna. A seguir, teve curso a Ofensiva da Primavera, de 14 de abril -

312 de maio, para libertar o norte da Itlia e desfechada pelo XV Grupo de Exrcito Aliado. 1 DIE/FEB coube inicialmente conquistar, em 14 de abril, as alturas de Montese, Cota 888 e Montelo, com forte apoio de artilharia e de blindados e geradores de fumaa americanos. A reao da artilharia alem ali concentrada antes de ser destruda, para no cair em poder dos aliados, foi de grande e inusitada intensidade. Foi um durssimo e disputado combate, o que atestado pelas 426 baixas brasileiras (34 mortos, 382 feridos e 10 extraviados). Em Montese, a 1 DIE/FEB ajudou a romper a defensiva alem nos Apeninos e conquistou a chave de acesso ao vale do rio Panaro o que facilitou ao V Exrcito derramar-se sobre a plancie do rio P, em aproveitamento do xito e logo a seguir em perseguio. Sobre a conquista de Montese referiu o comando do IV Corpo aliado:"Ontem s os brasileiros mereceram as minhas irrestritas congratulaes. Com o brilho de seu feito e seu esprito ofensivo, a 1 DIE/FEB est em condies de ensinar s outras divises como se conquista uma cidade". A conquista de Montese ajudou a desmantelar a Linha Gensis-Kan. A 1 DIE/FEB, em aproveitamento do xito, conquistou o vale do mdio Panaro em 19 de abril e, Zocca, n rodovirio que ofereceu forte resistncia em 20, Marano e Vignola em 23, onde foram recebidos os brasileiros aos brados de "Vivam nossos libertadores (Liberatori)"; partir da, teve incio a Perseguio. Em soluo singular, mas de grandes dividendos tticos, a 1 DIE/FEB iniciou a perseguio com a Infantaria embarcada em veculos de sua Artilharia Divisionria e protegendo o flanco direito do V Exrcito. Em 24 de abril ela alcanou S. Paulo dnza. De 27-30, no vale do rio Taro, combateu com o inimigo em Colechio e em Fornovo di Taro, aps o que executou manobra envolvente contra os alemes reunidos em Respcio, onde eles receberam ultimato para rendio incondicional dos brasileiros. O inimigo rendeu-se em Gaiano na regio de Fornovo di Taro. Rendio que se caracterizou como ao de nvel e repercusso estratgica, e foi recebida do experimentado gen. Otto Fritter Pico, veterano de diversos teatros de operaes e comandante da 148 Diviso de Infantaria

32Alem e do gen. Mrio Carloni, comandante da Diviso Bersaglieiri, Itlia, e, ainda, de sobras da 90 Diviso Panzer. Foram capturados 20.573 homens, dos quais 894 oficiais, e entre eles muitos veteranos do frica Korps, ao par de copioso material blico. Sobre este feito dos brasileiros comentou o gen. Mark Clark agora no comando do XV Grupo de Exrcitos: "Foi um magnfico final de uma atuao magnfica". De 28-30 de abril, enquanto tinha curso a rendio alem, Benito Mussolini foi morto em 28, em 29 os russos entraram em Berlim e em 30 Adolf Hitler se suicidou. A 1 DIE/FEB ocupou Alexandria a 30, em 1 maio ocupou Casale, Solero, Salvatore e Costeleto, dia em que o Alte. Doenitz assumiu o poder na Alemanha. Em 2 ocupou Turim, terra natal do ten.-gen. Carlos Napion, patrono do Servio de Material Blico do Exrcito Brasileiro, e estabeleceu ligao com a 27 Diviso Francesa em Susa. Neste dia houve rendio incondicional das tropas alems na Itlia. Dia 8 de maio Dia da Vitria Aliada na Segunda Guerra Mundial. A 1 DIE/FEB foi a primeira tropa aliada a estabelecer contato com a Operao Dragoon, em Susa. De 8 de maio 3 de junho a 1 DIE/FEB atuou como tropa de ocupao das regies de Piacenza e Alexandria. Aps, concentrou-se em Francolise para retornar ao Brasil, o que teve lugar em 14 de junho na cidade do Rio de Janeiro, onde foi recebida vitoriosa e triunfalmente pelo Brasil e passou sob um arco do triunfo encimado pela legenda "A cidade as Foras Armadas Brasileiras". A atuao da 1 DIE/FEB na Itlia foi dividida em quatro fases pelo seu oficial de operaes ten.cel. Humberto de Alencar Castelo Branco: I Campanha do Destacamento FEB no vale do rio Arno; 2 Campanha da margem oriental do rio Reno; 3 Ofensiva sobre as defesas dos Apeninos; e 4 Rompimento da frente e perseguio. A 1 DIE/FEB integrou o IV Corpo com mais trs divises americanas: a 10 de Montanha; a 1 Blindada (os tigres) e 34 de Infantaria (os cabeas-de-boi). Atesta tambm o valor do soldado brasileiro cruz encontrada aps o combate de Castelnuovo e com esta inscrio expressiva em alemo "Aqui jaz um heri brasileiro". Em 1962 o terceiro ano da Escola de Comando e Estado-Maior do Exrcito produziu a valiosa pesquisa. O comportamento do combatente

33brasileiro na Itlia, com vistas dela tirar valiosos ensinamentos de Engenharia Humana. Combatente que se fez representar na FEB por cerca de 74%, de cariocas e fluminenses (32%), paulistas (15,5%), mineiros (11,7%), gachos (7,5%) e paranaenses (6,1%). A pesquisa histrica crtica, baseada em ampla bibliografia ento disponvel e depoimentos de veteranos chegou a interessantes e relevantes consideraes ou concluses, que no podem ser desconhecidas do planejador, pensador e chefe militar do Exrcito Brasileiro. Por exemplo: a pesquisa concluiu que na FEB o combatente brasileiro no se adaptou e mesmo reagiu a normas disciplinares rgidas, confirmao de pesquisas anteriores sobre o mesmo tema na Histria Militar do Brasil. E, mais, que ele se submete a liderana afetiva dos chefes que o comandam pelo exemplo e no aos ausentes espiritualmente, e insensveis s esperanas, aspiraes, imaginao e sentimentos de seus homens. Como fatores concorrentes para o bom desempenho do combatente brasileiro na Itlia e que contriburam para ele sentir-se valorizado socialmente alinhe-se: 1 Lutar no V Exrcito dos EUA que dispensava grande ateno e valor vida e ao bem-estar dos seus soldados e onde o prmio e o castigo eram distribudos com iseno e sem favores, alm de que com presteza e oportunidade; 2 Lutar em territrio com uma populao histrica e tradicional, mas ento vencida, dominada, submissa, torturada pela fome, desemprego e corrupo e com emotividade semelhante brasileira; 3 Sentir-se alvo de orgulho no Brasil, de estmulos de sua imprensa, de atenes das madrinhas de guerra, de desvelo familiar e dos brasileiros e atenes dos superiores; 4 Ser alvo agora de interesse geral, boa assistncia mdica, alimentao jamais sonhada, dinheiro farto, roupa variada e farta e assistncia religiosa; 5 Lutar e ser bem sucedido contra considerado melhor soldado do mundo; e 6 Desenvolvimento de fortes laos de camaradagem, na adversidade da guerra, com reflexos no moral elevado, disciplina consciente e sentimento de honra e de dever. Influram no combatente na Itlia: Sentimento de autodefesa; expressiva rusticidade biopsquica; limitada confiana nos superiores; reduzido hbito de subordinao por afetividade;

34temor reverencial ao desconhecido; agradvel surpresa pela forma como foi assistido e administrado; submisso ao considerado insupervel.(14)14

Resgatar a honra e a dignidade tanto daqueles que fizeram o sacrifcio supremo (443 mortos), o de dar livremente a vida em defesa da Ptria, como daqueles bravos que puderam retornar, com ou sem ferimentos fsicos (2.722 feridos), emocionais e espirituais (35 prisioneiros e 23 extraviados 10 enterrados como desconhecidos), e que constituem um elo vivo entre um passado glorioso e a esperana de um amanh mais digno e com um maior sentimento de civismo e de patriotismo, de brasilidade , enfim, a misso a que se dispe este trabalho. Ao Brasil, a toda a sociedade e instituies, cabem prestar-lhes as mais sinceras reverncias e aprofundar o destaque e a chance que nos deram de melhor nos situarmos na nova ordem mundial do PsSegunda Guerra Mundial. No se trata de um discurso apologtico, nem de querer criar sofismas insustentveis para atribuir a FEB, e aos nossos pracinhas, a imagem de uma fora militar descomunal, ou de guerreiros mticos, semideuses da guerra, mas sim de, uma vez mais, reconhecer-lhes o valor, de situar com justia, e isonomia, seu lugar na Histria e de manter viva acessa a chama do orgulho nacional; tanto para eles como para as incontveis geraes de valentes brasileiros annimos que fizeram da nossa garbosa terra um gigante entre as naes. Neste mesmo sangrento conflito surge a figura, ao mesmo tempo idlica e reconfortante, do Capito Frei Orlando Alvares da Silva, Patrono dos Capeles (militares) do Exrcito Brasileiro, vitimado em trgico incidente tiro acidental (fogo amigo) , a 20 de fevereiro de 1945, durante seu deslocamento de Docce para Bombiana. A Justia Militar registrou um total de 137 condenaes, sendo apenas duas por crimes de guerra passveis de pena de morte; comutadas, posteriormente, para deteno e demais medidas cabveis , o que representa 0,54% de todo o contingente menos de 1% da tropa. Como os prprios italianos diziam: O brasileiro no foi feito para a guerra, porque tem bom corao. So vrias as histrias de pracinhas que,14

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35 ao presenciarem o sofrimento da populao civil, simplesmente entregavam, sem qualquer barganha ou tentativa de tirar proveito do desespero dos que tinham perdido praticamente tudo por causa da guerra, boa parte dos seus mantimentos seno tudo , algumas peas de roupa agasalhos, principalmente , cobertores e outros tantos itens de provisionamento por eles recebidos. Os laos espontneos de amizade, formados no calor da batalha, e na turbulncia do conflito, atestam as elevadas moral e disciplina da FEB, bem como o esprito humanitrio e solidrio que, historicamente, marcam a ilibada e meritria atuao da esmagadora maioria dos militares brasileiros em todas as operaes blicas das quais participaram e nos cenrios aos quais hoje somos, regularmente, solicitados a intervir. Para finalizar, recorro uma vez mais aos frutos do incansvel trabalho diuturno da seleta casta de Historiadores Militares Brasileiros que tanto perseveram em manter elevado o nome do Brasil e dos seus heris, ou seja, de todo o povo brasileiro.A FEB no contexto mundial da Segunda Guerra foi de pouca expresso. Foi mais um smbolo na luta em defesa do mundo livre. Para o Brasil e seu povo foi grande o seu significado. Pois a FEB foi a nica fora expedicionria enviada Europa por um pas da Amrica Latina. Ela traduziu um esforo nacional hercleo para um pas ento essencialmente agropecurio, em recrut-la e prepar-la, em sua primeira participao militar extracontinental, como nao independente. Seus integrantes tiveram de derrubar grandes barreiras para se adaptarem rapidamente doutrina militar americana, tecnologia militar que vigorou na Europa e ecologia de um campo de batalha montanhoso, em inverno com neve, e psicologicamente s circunstncias de distncia da ptria, enquadrados por Exrcito de uma grande nao industrial, alm de enfrentarem soldados com excelente fama de valor militar. Doutrinariamente teve de adaptar-se da doutrina militar francesa, vigorante desde 1920, a americana. Tecnologicamente, teve de adaptar-se motorizao, mecanizao e radiofonia militar com as suas complexas implicaes, em substituio ao cavalo, ao muar e outros meios de comunicaes menos modernos que o rdio.

36Ecologicamente foi adaptar-se montanha e neve s conhecido por alguns brasileiros em cartes de Natal. A FEB foi a embaixadora da atualizao do Exrcito dos padres operacionais na Primeira Guerra par os da Segunda. Como fatos negativos a serem respondidos um dia pela Histria e apontados por alguns analistas, como resultado da convivncia e influncia militar americana, foi o permitir-se o desmantelamento da indstria blica do Exrcito, em funo da aquisio fcil e barata de excedentes americanos e o desestmulo e quase abandono do esforo nacionalizador da doutrina do Exrcito, sugerido pelo Duque de Caxias em 1856 e que recebeu forte estmulo de 1919-1939, sob a influncia da Misso Indgena da Escola Militar do Realengo e Misso Militar Francesa e de alguns expressivos pensadores militares brasileiros da poca, como J. B. Magalhes e o prprio mar. Humberto Castello Branco.(15)15

CLEBER ALMEIDA DE OLIVEIRA PROFESSOR DE HISTRIA DELEGADO AHIMTB DELEGACIA TENENTE-BRIGADEIRO NELSON FREIRE LAVENRE-WANDERLEY SANTOS DUMONT MG

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