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Condições de vida e saúde, distúrbios da comunicação e fatores associados: inquérito populacional em idosos residentes em Manaus, AMpor Karla Geovanna Moraes Crispim Tese apresentada com vistas à obtenção do título de Doutor em Ciências na área de Saúde Pública e Meio Ambiente. Orientador: Prof. Dr. Aldo Pacheco Ferreira Rio de Janeiro, 05 de maio de 2014.

Condições de vida e saúde, distúrbios da comunicação e ... · em Manaus, AM ” por Karla Geovanna Moraes Crispim ... querer crescer profissionalmente. Isso tudo é por nós

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  • Condies de vida e sade, distrbios da comunicao e fatores

    associados: inqurito populacional em idosos residentes

    em Manaus, AM

    por

    Karla Geovanna Moraes Crispim

    Tese apresentada com vistas obteno do ttulo de Doutor em Cincias

    na rea de Sade Pblica e Meio Ambiente.

    Orientador: Prof. Dr. Aldo Pacheco Ferreira

    Rio de Janeiro, 05 de maio de 2014.

  • Esta tese, intitulada

    Condies de vida e sade, distrbios da comunicao e fatores

    associados: inqurito populacional em idosos residentes

    em Manaus, AM

    apresentada por

    Karla Geovanna Moraes Crispim

    foi avaliada pela Banca Examinadora composta pelos seguintes membros:

    Prof. Dr. Suzana Carielo da Fonseca

    Prof. Dr. Sylvia Helena Souza da Silva Batista

    Prof. Dr. Liliane Reis Teixeira

    Prof. Dr. Maria de Ftima Ramos Moreira

    Prof. Dr. Aldo Pacheco Ferreira Orientador

    Tese defendida e aprovada em 05 de maio de 2014.

  • Catalogao na fonte

    Instituto de Comunicao e Informao Cientfica e Tecnolgica

    Biblioteca de Sade Pblica

    C932 Crispim, Karla Geovanna Moraes

    Condies de vida e sade, distrbios da

    comunicao e fatores associados: inqurito

    populacional em idosos residentes em Manaus, AM. /

    Karla Geovanna Moraes Crispim. -- 2014.

    213 f. : tab. ; graf. ; mapas

    Orientador: Ferreira, Aldo Pacheco

    Tese (Doutorado) Escola Nacional de Sade

    Pblica Sergio Arouca, Rio de Janeiro, 2014.

    1. Idoso. 2. Sade do Idoso. 3. Inquritos de

    Morbidade. 4. Perda Auditiva. 5. Transtornos da

    Comunicao. I. Ttulo.

    CDD 22.ed. 362.6

  • Dedico a minha filha Luciana,

    razo que me faz querer melhorar a cada dia.

  • AGRADECIMENTOS

    Esse foi o momento mais esperado desses quatros anos, pois disse a mim mesma que

    seriam as ltimas palavras escritas deste trabalho, mas que concluo com muito prazer.

    O primeiro agradecimento para meu orientador, que apostou na minha capacidade de

    conduzir esse projeto. Sei o quanto foi rduo seu trabalho em orientar uma temtica,

    incialmente to distante dos seus objetos de pesquisa. Mas acredito que conseguimos

    completar essa misso de forma muito digna.

    Aos idosos, participantes da pesquisa.

    A minha filha e meu marido, por mais uma vez compreenderem minha vontade de

    querer crescer profissionalmente. Isso tudo por ns.

    A minha me e ao Conse pelo amor, apoio, colo e disposio em ajudar em todos os

    momentos. Vocs me inspiram sempre.

    Ao meu pai pelas manifestaes de carinho e orgulho. O meu sonho comeou com o

    seu.

    Aos meus irmos Danielle e Roberto e meus sobrinhos Beatriz e Joo, por deixarem

    minha vida mais leve e divertida.

    A minha amiga de todas as horas Ana Cristina, por segurar as pontas nas minhas

    muitas ausncias do trabalho e ainda ter pacincia para ouvir minhas angstias;

    Michele, amizade forte e antiga, resgatada graas ao doutorado, por me acolher

    carinhosamente no Rio, sempre em companhia de Mariah, de Stella e de Bela;

    Ao Silvrio e Rosinha na orientao para o preenchimento do edital da Fapeam e por

    disponibilizar tantas vezes o apartamento no Rio;

    Aos colegas do Doutorado, por compartilharem conhecimentos, angstias, estresses,

    mas muitas alegrias. Estamos conseguindo, cada um a seu tempo;

    s novas amizades que vieram com o doutorado, Arlete e Adenilda, que deram a fora

    necessria nos momentos difceis;

    s amigas Sol e Fran que colaboraram com muita dedicao na coleta de dados;

    equipe da Unati-UEA, em especial a Dra. Terezinha e ao Dr. Euler Ribeiro, que

    abriram as portas da Universidade incondicionalmente para a realizao desta pesquisa;

    FAPEAM que disponibilizou o apoio financeiro para a concretizao do inqurito

    populacional;

    Aos familiares e amigos que colaboraram de diferentes maneiras ao longo desses quatro

    anos, acompanhando essa trajetria e torcendo para que tudo acabasse bem.

  • RESUMO

    O aumento significativo de idosos impulsionou a realizao de estudos sobre as

    condies de vida e sade dessa populao. Entretanto, tais investigaes se restringem,

    em sua maioria, as regies Sul e Sudeste do Brasil, sendo ainda incipientes os estudos

    que retratam a realidade das demais regies, as quais possuem aspectos etno-culturais e

    sociais distintos que podem influenciar no processo de envelhecimento. Dentre esses

    estudos, aqueles que se propem a abordar aspectos da comunicao, na contramo da

    pesquisa clnica, ainda so em nmero reduzido. Esta tese foi elaborada na forma de seis

    artigos com o objetivo de analisar as condies de vida e sade, distrbios da

    comunicao e fatores associados de idosos residentes em Manaus, Amazonas. No

    primeiro artigo foram descritos os achados audiolgicos e sua associao com sexo e

    faixa etria de 574 sujeitos com idade igual ou superior a 60 anos, atendidos em

    ambulatrio de especialidades de Manaus, no ano de 2010. A prevalncia de deficincia

    auditiva foi de 94,4 % (n=542) predominantemente do tipo sensorioneural (85,5%;

    n=490), grau leve (60%) para o sexo feminino e grau moderado ou maior para o sexo

    masculino (50%), de configurao descendente (54,2%) em ambos os sexos. O

    percentual de normalidade foi baixo, sendo de 261 (3,4%) para os homens e 313 (7,3%)

    para as mulheres. Os artigos dois e trs resultam de estudo realizado com idosos

    matriculados na Universidade da terceira idade UnATI/UEA, Manaus/AM. No segundo

    artigo avaliou-se a associao entre sade autorreferida, perda auditiva e cognio de 80

    idosos. Os resultados revelaram que estados de sade referidos como regular e ruim

    apresentavam mais dficit cognitivo e de audio em relao aos que referiam boa

    condio de sade. O terceiro artigo caracterizou os distrbios de comunicao

    autorreferidos (memria evocada, compreenso da linguagem oral e escrita, leitura e

    escrita, acesso lexical, inteligibilidade da fala, produo oral, repetio espontnea e

    audio), destacando a associao entre as variveis de condio de sade, aspectos

    sociodemogrficos, estilo de vida, perda auditiva e morbidades, em um grupo 159 de

    idosas. O dficit de comunicao foi referido por 8,18% das idosas. Entre os

    analfabetos, 20% relataram dificuldades de comunicao, enquanto os alfabetizados,

    8,44%. Observou-se associao entre dificuldade de comunicao e perda auditiva

    autorreferida (p = 0,03). Os artigos quatro, cinco e seis referem-se aos resultados

    obtidos por meio do estudo seccional de base populacional, realizado com 646 idosos

    residentes na cidade de Manaus/AM. O mtodo amostral utilizado foi probabilstico em

    dois estgios com probabilidade proporcional ao tamanho (PPT). A amostra de

  • entrevistas foi divida pelo fator de proporcionalidade de sete entrevistas por setor

    censitrio, totalizando 92 setores. Em cada setor censitrio os idosos foram selecionados

    por meio do processo de sistematizao, levando em considerao as cotas de sexo e

    idade, de forma a se obter uma amostra representativa da populao alvo. As entrevistas

    foram realizadas em domiclios, por pesquisadores treinados, utilizando instrumento

    elaborado para o estudo, alm de protocolos amplamente utilizados para avaliar

    capacidade funcional, cognio, linguagem e audio. O quarto artigo descreveu o perfil

    epidemiolgico dessa populao, analisando as condies de vida e sade a partir do

    sexo, idade e local de moradia. O quinto artigo estimou prevalncia de perda auditiva

    auto referida (25,7% ) e fatores associados (viver sozinho (RP=1,34 IC95%(1,03-1,74),

    dependncia em AIVD (RP=1,61 IC95%(1,19-2,16), labirintite (RP=1,33 IC95%(1,03-

    1,74), Parkinson (RP=2,02 IC95%(1,14-3,57), dificuldade de compreenso (RP=1,69

    IC95%(1,27-2,25), dificuldade de comunicao (RP=1,34 IC95%(1,00-1,18) e

    deficincia visual (RP=1,94 IC95%(1,44-2,62)). O sexto artigo estimou a prevalncia de

    distrbios de linguagem referido (11,5%) e fatores associados (dificuldade em

    conversas (RP=3,29 IC95%(1,66-6,53), dependncia em AVD (RP=3,54 IC95%(1,54-

    8,62), perda auditiva (RP=2,13 IC95%(1,16-3,93) e deficit de memria (PR=1,93

    IC95%(1,01-3,66)). Os resultados desta tese evidenciam que as condies de sade,

    perfil scio-cultural, morbidades e capacidade funcional dos idosos residentes em

    Manaus assemelham-se ao retrato observado nas demais regies do pas, o que pode ser

    compreendido pela prpria caracterstica urbana da cidade. Quanto aos achados de

    distrbios da comunicao em idosos, esse estudo pretendeu contribuir na compreenso

    dos fenmenos e das transformaes que ocorrem nesta fase da vida, para possibilitar a

    adoo de aes de preveno, tratamento e reabilitao, atendendo s necessidades de

    aspectos de comunicao no envelhecimento e minimizando seus efeitos na sade.

    Palavras-chave: Idoso, Sade do Idoso, Inquritos de Morbidade, Perda auditiva e

    Transtornos da Comnunicao.

  • ABSTRACT

    The significant increase in elderly boosted studies on living conditions and health of this

    population. However, such investigations are limited, mostly the South and Southeast

    regions of Brazil, with incipient studies that depict the reality of the other regions,

    which have distinct ethno - cultural and social aspects that may influence the aging

    process. Among these studies, we observe that those who purport to address aspects of

    communication, against clinical research, are still few in number. This thesis has been

    developed in the form of six articles in order to examine the conditions of life and

    health, communication disorders and associated factors among elderly people living in

    Manaus, Amazonas. In the first article audiologic findings and its association with

    gender and age of 574 subjects aged over 60 years, treated in outpatient specialties

    Manaus, at 2010 were described. The prevalence of hearing impairment was 94,4 %

    (n=542) predominantly sensorineural (85,5 %, n=490), mild (60%) were females and

    moderate or greater degree in males (50 %) , downward sloping (54.2 %) in both sexes.

    The percentage of normality was low, with 261 (3,4 %) for men and 313 (7,3%) for

    women . Items two and three are the result of a study of seniors enrolled in the

    University of the third age UnATI / UEA, Manaus/AM. In the second article, we

    evaluated the association between self-reported health, hearing loss and cognition in the

    elderly 80. The results revealed that health conditions such as fair and poor had more

    cognitive and hearing than those who reported good health deficits . The third article

    characterized the self-reported communication disorders (evoked memory, oral and

    written comprehension, reading and writting knowledge, lexical access, speech

    intelligibility, oral production and spontaneous repetition and hearing loss) highlighting

    the association between variables of health conditions, sociodemographics factors, life

    style, hearing loss and diseases in 159 elderly women. The communication disorders

    was reported by 8,18% of elderly female. Among illiterated group, 20% declared

    communication disorders, while the literated group, 8,44%. A statistical association

    was verified between communication disorders and self-reported hearing loss (p=0,03).

    The articles four, five and six refer to the results obtained through the sectional

    population-based study, conducted with 646 elderly residents in the city of Manaus -

    AM. The sampling method used was probabilistic two-stage proportional to size (PPT)

    probability. The sample of interviews was divided by the proportionality seven

    interviews by census tract factor, totaling 92 sectors. Each census tract seniors were

    selected through the systematization process, taking into account the dimensions of

  • gender and age in order to obtain a representative sample of the target population. The

    interviews were conducted in homes by trained researchers using instrument developed

    for the study in addition to widely used protocols to assess functional capacity,

    cognition, language and hearing. The fourth article describes the epidemiology of this

    population, analyzing the conditions of life and health from sex, age and place of

    residence. The fifth article estimated prevalence of hearing loss self referred (25,7 %)

    and associated factors (living alone (PR=1,34 IC95%(1,03-1,74), IADL dependency

    (PR=1,61 IC95%(1,19-2,16), labyrinthitis (PR=1,33 IC95%(1,03-1,74), Parkinson's

    disease (PR=2,02 IC95%(1,14-3,57), difficulty of comprehension (PR=1,69

    IC95%(1,27-2,25), communication disorders (PR=1,34 IC95%(1,00-1,18) and visual

    impairment (PR=1,94 IC95%(1,44-2,62)). The sixth article estimated the prevalence of

    language disorders referred (11,5%) and associated factors (difficulty conversations

    (PR=3,29 IC95%(1,66-6,53), ADL dependency (PR=3,54 IC95%(1,54-8,62), hearing

    loss (PR=2,13 IC95%(1,16-3,93) and memory deficits (PR=1,93 IC95%(1,01-3,66)).

    The results of this thesis show that the health, socio- cultural profile, morbidity and

    functional capacity of the elderly residents in Manaus resemble the picture observed in

    other regions of the country , which can be understood by the urban character of the city

    itself. About the data of communication disorders in the elderly, this study aimed to

    contribute to the understanding of phenomena and transformations that occur at this

    stage of life, to enable the adoption of prevention, treatment and rehabilitation, serving

    the needs of aspects of communication in aging and minimizing its effects on health.

    Key words: Aged, Health of the Elderly, Morbidity Surveys, Hearing Loss and

    Communication disorders.

  • LISTA DE ILUSTRAES

    REFERENCIAL TERICO

    Quadro I - Estudos desenvolvidos no Brasil sobre prevalncia de perda

    auditiva em idosos e os fatores a esta associados...............................

    32

    METODOLOGIA

    Figura 1 - rea descritiva do Stio de Estudos.................................................... 47

    Quadro II - Distribuio da amostra em relao as zonas geogrficas da cidade

    de Manaus AM.................................................................................

    49

    ARTIGO 2 Figure 1 - Study Area: Manaus, Amazonas State, Brazil 88

    Figure 2 - Distribution of affirmative responses by categories (Questions) age

    groups..

    91

    ARTIGO 3 Figura 1 Distribuio de moradia dos 159 idosos participantes da pesquisa

    (UnATI/UEA) nos bairros de Manaus, entre agosto e dezembro de

    2012.....................................................................................................

    107

  • LISTA DE TABELAS

    ARTIGO 1

    Tabela I- Distribuio da populao de estudo por condio de audio,

    segundo sexo e faixa etria. Manaus-AM, 2010...................................

    69

    Tabela II- Distribuio da populao de estudo por tipo de perda auditiva,

    segundo sexo e faixa etria. Manaus-AM, 2010...................................

    70

    Tabela III- Distribuio da populao de estudo por configurao da curva

    audiomtrica, segundo sexo e faixa etria. Manaus-AM, 2010. ...........

    71

    Tabela IV Distribuio da populao de estudo por sexo, segundo grau de perda

    auditiva nas orelhas direita e esquerda Manaus-AM, 2010. .................

    71

    ARTIGO 2 Table 1- Socio-demographic features of 80 respondents participating in the

    UNATI/UEA Project

    89

    Table 2- Self-rated health of of 80 respondents participating in the

    UNATI/UEA Project

    90

    Table 3 Results related to the MiniMental State Examonation for the three

    schooling groups and cognitive deficit..

    91

    ARTIGO 3 Tabela 1- Caractersticas sociodemogrficas dos 159 idosos, Manaus, AM,

    2012.......................................................................................................

    108

    Tabela 2- Prevalncias das desordens de comunicao autorreferidas dos 159

    participantes da pesquisa, Manaus, AM, 2012.....................................

    110

    Tabela 3 Prevalncia de distrbios de comunicao autorreferidos de acordo

    com estado de sade, aspectos sociodemogrficos e de linguagem,

    Manaus/AM,2012. ................................................................................

    112

    Tabela 4- Prevalncia de deficincia auditiva autorreferida de idosas

    matriculadas na UNATI, Manaus/AM, 2012.........................................

    114

    ARTIGO 4 Tabela 1- Distribuio segundo a frequncia dos dados sociodemogrficos e de

    moradia dos idosos da cidade de Manaus AM...................................

    134

    Tabela 2- Distribuio dos resultados da escolaridade, situao conjugal, renda,

    hbitos de vida, morbidades e sade autorreferida segundo sexo de

    idosos residentes em Manaus /AM, 2013..............................................

    136

    Tabela 3- Distribuio dos resultados da escolaridade, situao conjugal,

    renda, hbitos de vida, morbidades e sade autorreferida segundo

    idade de idosos residentes em Manaus /AM, 2013...............................

    138

  • LISTA DE TABELAS (cont.)

    Tabela 4- Distribuio dos resultados da escolaridade, situao conjugal, renda,

    hbitos de vida, morbidades e sade autorreferida segundo zona de

    residncias dos idosos de Manaus/AM, 2013........................................

    140

    Tabela 5- Distribuio de frequncia dos resultados do MEEM, AVD e AIVD

    dos idosos da cidade de Manaus - AM..................................................

    141

    ARTIGO 5 Tabela 1- Estimativas de prevalncia de perda auditiva referida por idosos

    segundo fatores sociodemogrficos.......................................................

    161

    Tabela 2- Estimativa de razo de prevalncia (RP) de deficincia auditiva

    referida por idosos segundo comprometimento cognitivo MEEM,

    percepo da perda auditiva HHIE S e capacidade funcional AVD

    (Katz) e AIVD (Lawton-Brody)............................................................

    162

    Tabela 3- Estimativa de razo de prevalncia (RP) de deficincia auditiva

    referida por idosos segundo caractersticas sociodemogrficas............

    163

    Tabela 4- Estimativa de razo de prevalncia (RP) de deficincia auditiva

    referida por idosos segundo dados do estado de sade e

    morbidades.............................................................................................

    164

    Tabela 5- Prevalncias e Razo de Prevalncia (RP) bruta e ajustada de

    deficincia auditiva referida por idosos.................................................

    165

    ARTIGO 6 Tabela 1- Distribuio segundo a frequncia dos dados sociodemogrficos, de

    moradia e condies socioeconmicas, culturais e familiares dos

    idosos da cidade de Manaus, AM, Brasil..........................................

    183

    Tabela 2- Estimativas de prevalncia de deficit de linguagem referido por

    idosos segundo aspecto lingustico.................................

    185

    Tabela 3- Estimativa de razo de prevalncia (RP) de deficit de linguagem

    autorreferido segundo caractersticas sociodemogrficas, Manaus

    AM 2013................................................................................................

    186

    Tabela 4- Estimativa de razo de prevalncia (RP) de dficit de linguagem

    autorreferido segundo dados do estado de sade e morbidades,

    Manaus AM 2013................................................................................

    187

    Tabela 5- Prevalncias e Razo de Prevalncias (RP) brutas e ajustadas de

    deficit de linguagem referido por idosos, Manaus, AM,

    2013................................................................

    189

  • LISTA DE SIGLAS

    AIVD Atividades Instrumentais da Vida Diria

    AVD Atividades da Vida Diria

    ABVD Atividades Bsicas da Vida Diria

    MEEM Mini Exame do Estado Mental

    HHIE-S - Hearing Handcap Inventory for the Elderly Screening Version

  • SUMRIO

    INTRODUO .......................................................................................................... 155

    1. REFERENCIAL TERICO ................................................................................... 17

    1.1 Condies de vida e sade de idosos ........................................................................ 17

    1.1.1 Envelhecimento populacional ........................................................................... 17

    1.1.2 Processo de Envelhecimento ............................................................................. 18

    1.1.3 Panorama das condies de vida e sade de idosos: alguns estudos ................. 19

    1.2 A Audio no Envelhecimento ................................................................................. 30

    1.3 A Linguagem no Envelhecimento ............................................................................ 36

    2. JUSTIFICATIVA ..................................................................................................... 42

    3. OBJETIVOS ............................................................................................................. 44

    4. METODOLOGIA ..................................................................................................... 45

    4.1. Caracterizao do Stio de Estudo ........................................................................... 46

    4.2 Amostra .................................................................................................................... 48

    4.3 Anlise Estatstica.............. ...................................................................................... 50

    4.4 Instrumento ............................................................................................................... 50

    4.5 Aspectos ticos ........................................................................................................ 54

    ARTIGO 1: .................................................................................................................... 55

    PREVALNCIA DE DEFICIT AUDITIVO EM IDOSOS REFERIDOS A SERVIO

    DE AUDIOLOGIA EM MANAUS, AMAZONAS ...................................................... 55

    ARTIGO 2: .................................................................................................................... 72

    ANALYSIS OF HEARING IMPAIRMENT RELATED TO GENERAL HEALTH

    CONDITIONS IN ELDERLY PEOPLE ........................................................................ 72

    ARTIGO 3: .................................................................................................................... 92

    CARACTERIZAO DE DESORDENS DE COMUNICAO AUTORREFERIDAS

    POR MULHERES IDOSAS RESIDENTES EM MANAUS, AMAZONAS, BRASIL

    ........................................................................................................................................ 93

  • ARTIGO 4: ................................................................................................................... 115

    CONDIES DE VIDA E SADE DE IDOSOS RESIDENTES EM MANAUS-AM:

    RESULTADOS DE UM INQURITO POPULACIONAL, 2013 .............................. 115

    ARTIGO 5: .................................................................................................................. 142

    PREVALNCIA DE DEFICINCIA AUDITIVA REFERIDA E FATORES

    ASSOCIADOS EM UMA POPULAO DE IDOSOS DA CIDADE DE MANAUS:

    UM ESTUDO DE BASE POPULACIONAL .............................................................. 142

    ARTIGO 6: .................................................................................................................. 166

    PREVALNCIA E FATORES ASSOCIADOS A DESORDENS DE LINGUAGEM

    EM IDOSOS RESIDENTES EM MANAUS, AM, 2013 ........................................ 11567

    CONCLUSES ........................................................................................................... 190

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ..................................................................... 193

    APNDICES ............................................................................................................... 206

    APNDICE A - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido .................................... 207

    APNDICE B - Avaliao das condies de vida e sade de idosos ........................... 208

  • 15

    INTRODUO

    Os estudos sobre o processo de envelhecimento tm gradativamente apresentado

    destaque na literatura cientfica. Isso se deve ao fato de que nos ltimos tempos, houve

    um aumento importante na expectativa de vida do ser humano, despertando desse modo,

    o interesse na investigao desse perodo da vida 1-5

    . Nesse cenrio insere-se a presente

    tese que foi elaborada em formato de artigos analisando as condies de sade e

    prevalncia de distrbios da comunicao em idosos. Na primeira parte foi

    contextualizada a temtica e na sequncia apresentados os artigos com os resultados

    obtidos com essa pesquisa.

    Os referidos artigos foram elaborados de modo a atender aos objetivos da tese.

    Assim, o primeiro objetivo especfico gerou o artigo de nmero 1 e, subsequentemente,

    o segundo objetivo o artigo de nmero 2; o terceiro, o artigo 3 e o quarto, quinto e sexto

    objetivos referem-se aos artigos de nmeros 4, 5 e 6. Os temas de que tratam os artigos

    abarcam as condies de vida e sade dos idosos, bem como os distrbios da

    comunicao e fatores associados. Outrossim, cabe tambm destacar que o perfil dos

    idosos do stio estudado foi amplamente investigado, expressando as caractersticas e

    morbidades dessa populao, a partir da coleta de dados em idosos atendidos em Centro

    de Referncia de Sade Auditiva, matriculados na Universidade Aberta da Terceira

    Idade (UnATI UEA) e atravs de inqurito populacional de base domiciliar em 92

    setores censitrios da cidade de Manaus.

    O primeiro artigo foi um estudo transversal que descreveu os achados

    audiolgicos (tipo, configurao audiomtrica, grau de perda auditiva) e sua associao

    com sexo e faixa etria de 574 sujeitos com idade igual ou superior a 60 anos, atendidos

    em ambulatrio de especialidades de Manaus. Esse artigo foi publicado na Revista

    Brasileira em Promoo da Sade (2012)

    O segundo artigo, publicado na Revista Gerencia Politicas de Salud Publica

    (2013) Analysis of hearing impairment related to general health conditions in elderly

    people apresenta um estudo que avalia a associao entre sade auto-referida, perda

    auditiva e cognio de 80 idosos matriculados na Universidade Aberta da terceira idade

    UnATI/UEA, Manaus/AM.

    O terceiro artigo, Caracterizao de desordens de comunicao autorreferidas

    por mulheres idosas residentes em Manaus, Amazonas, Brasil, trata de um estudo que

  • 16

    caracterizou os distrbios de comunicao autorreferidos em 159 idosas matriculadas na

    Universidade Aberta da Terceira Idade (UnATI UEA). Foram avaliados memria

    evocada, compreenso de linguagem oral e escrita, capacidade de leitura e escrita,

    acesso ao lxico, inteligibilidade de fala, produo oral espontnea e por repetio e

    audio autorreferida. Este artigo foi aceito para publicao na Revista Brasileira e

    Geriatria e Gerontologia (2014).

    O quarto artigo Condies de vida e sade de idosos residentes em Manaus-

    AM resultados de um inqurito populacional, 2013 apresenta um inqurito de base

    populacional, que descreveu o perfil socioepidemiolgico de 646 idosos residentes em

    Manaus, AM, de acordo com o sexo, idade e zona de residncia. Este artigo foi

    submetido a uma revista cientfica e aguarda parecer.

    O quinto artigo, Prevalncia de deficincia auditiva referida e fatores

    associados em uma populao de idosos da cidade de Manaus: um estudo de base

    populacional, apresenta um inqurito de base populacional, que estimou prevalncia de

    perda auditiva e fatores associados em 646 idosos residentes em Manaus/AM. Este

    artigo foi aceito para publicao na Revista CEFAC (Processo 41-2014). O sexto artigo

    Prevalncia e fatores associados a desordens de linguagem em idosos residentes em

    Manaus, AM, 2013 apresenta os resultados de um inqurito de base populacional, que

    estimou a prevalncia de desordens da linguagem autorreferidas e fatores associados em

    646 idosos residentes em Manaus, AM. Este artigo foi submetido ao Journal Cross-

    Cultural Gerontolgy e aguarda parecer.

  • 17

    1 REFERENCIAL TERICO

    1.1 Condies de vida e sade de idosos

    1.1.1 Envelhecimento populacional

    O processo de envelhecimento da populao um fenmeno sociodemogrfico

    que ocorre no mundo todo e caracteriza-se pelo aumento da proporo de pessoas nas

    idades mais avanadas, como resultado direto da queda da fecundidade e do aumento da

    longevidade e implica em mudanas na estrutura etria de toda uma populao 1,6

    .

    Tal processo acompanha a tendncia internacional impulsionada pela queda da

    taxa de natalidade e pelos avanos da biotecnologia que se refletem diretamente nos

    indicadores de morbimortalidade e influenciam diretamente no crescimento desse grupo

    populacional. Embora esse processo se assemelhe ao de pases desenvolvidos, no Brasil

    o mesmo acontece sem a estrutura e a estabilizao econmica desses 7

    . Ao lado desse

    fato, importante salientar que a populao vem envelhecendo sem que haja o

    necessrio ajuste nas esferas econmica, social e poltica do pas, formando-se um

    grupo etrio vulnervel a problemas de sade.

    O crescimento do nmero de pessoas com idade acima de 60 anos em relao

    populao global ocorre em todos os pases, sejam eles desenvolvidos ou no, porm de

    forma diferenciada. A Frana levou 115 anos para dobrar a proporo de idosos de 7

    para 14%, enquanto que a China levar somente 27 anos para atingir esse mesmo

    aumento 8

    . A constatao do crescimento rpido e progressivo da populao idosa tem

    se caracterizado como um dos maiores problemas e desafios da sade pblica

    contempornea, sobretudo nos pases em desenvolvimento, nos quais esse incremento

    vem se dando de forma mais acelerada. No Brasil, a participao da populao idosa

    dobrou de 4% em 1940 para 8% em 1996 e projees mostram que, em 2020, esse

    grupo ir constituir 15% da populao brasileira. Estima-se que no ano 2025 o Brasil

    passar a ocupar o 6 lugar no ranking mundial de populao idosa, com um

    contingente superior a 30 milhes de pessoas 6,8,9

    .

    No entanto, no Brasil, em relao a quantidade da populao idosa, existem

    diferenas regionais, com o Norte e o Nordeste apresentando propores inferiores s

    demais regies. Nos municpios do Rio de Janeiro (regio Sudeste) e Porto Alegre

    (regio Sul) esto as maiores propores, respectivamente 14,88% e 15,03%, enquanto

  • 18

    que, Boa Vista e Palmas (regio Norte) apresentam as menores, com apenas 5,18% e

    4,37%, respectivamente 10

    .

    Por outro lado, esse processo de envelhecimento menos acentuado pelo qual

    passa a regio Norte, em especial Manaus, pode se reverter em benefcio, na medida em

    que possibilita o desenvolvimento de estratgias e programas de apoio a populao de

    idosos, que no puderam ser implantadas nos estados brasileiras onde o envelhecimento

    populacional foi mais acelerado 11

    .

    Todavia, para elaborar polticas de ateno voltadas ao idoso que vive nas reas

    tropicais amaznicas so necessrios estudos que deem conta da diversidade

    sociocultural, econmica, tnica e macro-ambiental. Isto porque tal diversidade est

    subsidiada na prpria natureza multifatorial e complexa do envelhecimento biolgico,

    que implica em diferentes variveis incidindo sobre a etiologia das doenas, associadas

    idade e sobre o prprio envelhecer 11

    .

    Fieldler & Peres12

    reforam a afirmao de que estudos populacionais sobre a

    sade de idosos no Brasil ainda so em nmero reduzido, e os que vm sendo realizados

    refletem, em sua maioria, o perfil da populao de grandes centros. H evidente

    carncia de estudos dessa natureza, estando a maioria deles restrita aos estados do Rio

    Grande do Sul, So Paulo e Rio de Janeiro. Diante disso, pouco se conhece da realidade

    das populaes que residem em outros estados da federao, e que possuem

    especificidades distintas.

    1.1.2 Processo de Envelhecimento

    O envelhecer faz parte de um processo de desenvolvimento fsico e social do

    homem, que o acompanha ao longo de sua trajetria, sendo parte permanente da sua

    formao 13

    . Pode ser entendido como um perodo da vida dinmico e progressivo no

    qual ocorrem complexas interaes dos processos biolgicos, psicolgicos e

    sociolgicos os quais culminam em modificaes de natureza morfolgica, funcional e

    bioqumica, e que determinam a progressiva perda da capacidade de adaptao do

    indivduo ao meio ambiente. Tal processo acontece de maneira individual, marcado pelo

    histrico de vida, a herana gentica, o ambiente, os fatores psicolgicos e sociais 14,15

    .

    Do ponto de vista biolgico, o envelhecimento acarreta o declnio das

    capacidades fsicas, podendo provocar alteraes e desgastes em vrios sistemas

    funcionais, de forma progressiva e irreversvel, o que implica em novas condies

  • 19

    psicolgicas e comportamentais 16,17

    . Essas alteraes progressivas que ocorrem nas

    clulas, tecidos e rgos, tm incio no nascimento e continuam at a morte, afetam a

    fisiologia do organismo, tornando-o mais suscetvel a doenas crnicas, o que pode

    impactar na capacidade funcional do indivduo 13,16

    .

    No Brasil, o marco crononolgico do idoso idade igual ou superior a 60 anos,

    porm, o envelhecimento no pode ser definido somente pela idade cronolgica, mas

    pelas condies funcionais, psicolgicas, fsicas e sociais da pessoa idosa9,15,18,19

    . Em

    face dessas questes, muitos investigadores tem se debruado sobre essas temticas em

    busca dos fatores, que isolados ou conjuntamente, explicam a longevidade ou esto

    associados ao risco de morte, tal como: capacidade funcional, fatores

    sociodemogrficos, convvio social, condies socioeconmicas, dieta, qualidade de

    vida, doenas crnicas, entre outros9,12,17-20

    .

    1.1.3 Panorama das condies de vida e sade de idosos: alguns estudos

    Percorrendo algumas pesquisas sobre as condies de vida e sade de idosos,

    observa-se que estudos epidemiolgicos do tipo transversal so os mais recorrentes no

    Brasil, sendo minoria os de base populacional. O mesmo acontece com os estudos de

    coorte, os quais so raros dentre as pesquisas brasileiras. Os pioneiros em estudos de

    carter longitudinal no pas foram o Epidoso (Epidemiologia do Idoso), desenvolvido na

    cidade de So Paulo, onde cerca de 1.700 idosos esto sendo acompanhados e o Projeto

    Bambu, desenvolvido na cidade de Bambu, Minas Gerais, onde so acompanhados

    todos os residentes na comunidade com idade acima de 60 anos (1.700 pessoas) 4,20

    .

    Diferentemente do Brasil, em outros pases os estudos longitudinais so mais

    comuns. Isso se explica pelas dificuldades inerentes conduo de estudos dessa

    natureza e ainda pelo reconhecimento tardio das repercusses do envelhecimento

    populacional para o sistema de sade 4,18.

    .

    Uma coorte acompanhada em Nova Iorque (Long Life Family, N=4559)

    identificou em sua linha de base, mdia de idade de 72,5 anos, 55,9% de idosos do sexo

    feminino e 72,8% com escolaridade de nvel superior. As principais morbidades

    identificadas foram hipertenso (52,2%), dificuldades em Atividades da Vida Diria

    (AVDs) (18,0%), cncer (15,5%) e doenas cardiovasculares (9,2%). Esse estudo de

    base familiar, tem como objetivo determinar os fatores de risco, genticos,

  • 20

    comportamentais e ambientais que influenciam na sobrevivncia, para tal foram

    recrutados tanto os idosos como seus familiares 21

    .

    Na coorte Cardiovascular Heath Study (N=5888), a mdia de idade no incio do

    estudo foi de 72,8 anos, 57,6% pertencentes ao sexo feminino e 85,9% com nvel

    superior. A hipertenso foi a doena mais prevalente (54,4%), seguida de doena

    pulmonar crnica (23,8%) e a incapacidade funcional foi observada em 14,3%. Trata-se

    de um estudo longitudinal de base populacional de doena cardaca coronariana e

    acidente vascular cerebral em adultos com 65 anos ou mais, residentes nos Estados

    Unidos. O principal objetivo foi identificar os fatores relacionados ao aparecimento e

    evoluo da doena coronariana e acidente vascular cerebral, novos fatores de risco

    nessa faixa etria e em especial os que podem ser protetores e modificvel 22

    .

    A coorte SENECA (Survey in Europe on nutrition and the elderly: a concerted

    action) acompanha idosos desde 1988, residentes em 19 cidades europias dos pases da

    Blgica, Dinamarca, Holanda, Portugal, Espanha, Sua, Polnia, Portugal e Itlia.

    Numa investigao sobre envelhecimento saudvel e estilo de vida, foram avaliados

    estado vital, capacidade funcional e sade auto-referida de 480 idosos (216 homens e

    264 mulheres) com idade mdia de 72,6 anos. No apresentavam doenas crnicas 37%

    dos avaliados, boa sade foi referida por 76% e 97% eram independentes em AVDs.

    Sobre estilo de vida, 75% praticavam atividade fsica e 37% eram fumantes. Os

    resultados revelaram que o risco para declnio da condio de sade foi maior entre os

    homens. O hbito de fumar aumentou em duas vezes esse risco, a falta de atividade

    fsica e a qualidade da dieta aumentaram em 2,8 e 1,1 o risco de piora da sade 23

    .

    Em 1991, teve incio uma coorte com idosos residentes em So Paulo

    denominado projeto Epidoso, realizado pela Universidade Federal de So Paulo, com o

    objetivo de descrever um perfil de sade multidimensional e identificar os aspectos que

    influenciam e comprometem a capacidade funcional do idoso. A populao da base

    inicial do estudo tinha mdia de idade de 69 anos, sendo 58% abaixo de 70 anos e

    10,0% acima de 80 e as mulheres representando 60,0% desse total. Em relao

    escolaridade, 35,0% eram analfabetos. A maioria residia em famlias multigeracionais

    (34,0%); enquanto que 31,0% viviam somente com cnjuge. Em relao ao estado de

    sade, 86,0% referiram ser portador de pelo menos uma doena crnica, e 27,0%

    apresentavam algum comprometimento mental. Quanto capacidade funcional, 53,0%

    relataram total autonomia nas atividades dirias. Esse estudo revelou ainda diferenas

    significativas relativas aos subdistritos onde residiam os idosos, com aqueles da rea

  • 21

    perifrica apresentando nveis inferiores de renda e escolaridade e condies de sade

    piores quando comparados aos da rea central 20

    .

    Um inqurito domiciliar traou o perfil do idoso residente na zona urbana de So

    Paulo, com o objetivo de levantar as necessidades dessa populao. A avaliao

    multidimensional dos idosos, estado funcional, dados socioeconmicos, estrutura

    familiar, condies de sade fsica e mental e grau de autonomia revelou que em alguns

    aspectos, a situao era semelhante a de idosos residentes em pases desenvolvidos, por

    exemplo, a alta prevalncia de doenas crnicas (90%) principalmente hipertenso

    arterial, dores articulares e varizes. Em outros aspectos, a situao era muito diferente,

    por exemplo, o baixo nvel socioeconmico e educacional dessa populao 20

    .

    Ramos 24

    publicou estudos posteriores de acompanhamento da coorte Epidoso.

    Comparando os dados de 1993 com os 1998, identificou que o maior nmero de idosos

    (29,3%) ainda permanecia na faixa etria entre 65 e 69 anos, a maioria ainda era do sexo

    feminino, sendo 36,5% mulheres vivas, vivendo em domiclios multigeracionais.

    Observou ainda prevalncia de 33,2% de doenas crnicas. Os resultados revelaram

    como variveis associadas ao risco de morrer: sexo masculino, idade avanada, sade

    auto-referida negativa, histrico pregresso de internaes, sequelas de doenas,

    depresso, dficit cognitivo e alto grau de dependncia. Por outro lado, os fatores que se

    apresentaram associados ao envelhecimento saudvel foram o estado cognitivo normal e

    o grau de independncia 24,25

    .

    No Australian longitudinal study of aging avaliou-se a relao entre a auto-

    percepo de sade e mortalidade, os resultados apontam que esse indicador um forte

    preditor da mortalidade entre idosos. A sade referida como ruim aumentou em 2,83

    vezes o risco de desfecho morte em relao ao estado de sade considerado excelente 26

    .

    Essa relao tambm foi verificada por Arajo, Ramos e Lopes 27

    , em Portugal. Os

    resultados revelaram que a percepo de sade como ruim foi mais referida por

    mulheres (75,8%) quando comparado aos homens (24,2%), em indivduos com baixa

    escolaridade (48,5%) e sem hbito de prtica de atividade fsica (87,9%).

    Em 1997, na cidade de Bambu, foi iniciado um estudo de coorte com indivduos

    com idade acima de 60 anos (n=1.722), intitulado Projeto Bambu: Estudo

    Epidemiolgico da Populao Idosa. Desde ento, os sujeitos vm sendo

    acompanhados anualmente, produzindo dados e informaes importantes para uma

    melhor compreenso do envelhecimento no Brasil e que busquem evidenciar o impacto

    da transio epidemiolgica nesse processo4.

  • 22

    A base desse estudo longitudinal apresentou uma mdia de idade de 69,3 anos,

    escolaridade abaixo de 4 anos (65,3%) e 50,3% e 13,1 de vivos (mulheres e homens

    respectivamente). Com relao ao estado de sade, 27,3% referiram como regular ou

    ruim e a morbidade com maior prevalncia era hipertenso com 61,5%. O score do

    MEEM foi menor para os homens 5. Aps dez anos de seguimento, 39,9% dos

    participante vieram a bito, as mulheres continuam sendo maioria e a hipertenso a

    morbidade mais prevalente, seguida por dores articulares crnicas (43,6%) . Houve um

    maior declnio cognitivo, com redues mais rpidas dos escores do MEEM, em

    participantes do sexo feminino, com maior escolaridade e mais velhos28

    . Diferentemente

    do que ocorre em outros estudos 29-31

    .

    Jokela el al. 32

    examinaram o valor preditor do desempenho cognitivo para sade

    mental e fsica em idosos, de Londres, participantes da coorte Whitehall II (5.414

    homens e 2.278 mulheres). A cognio foi avaliada a partir de testes de raciocnio

    verbal e numrico, memria verbal e fonmica e fluncia semntica. O nvel

    socioeconmico e aposentadoria foram includos como co-variveis. O resultados

    revelaram que um alto desempenho cognitivo esteve associado a uma melhor sade

    mental, fsica e ao nvel socioeconmico. Argimon & Stein 33

    acompanharam

    longitudinalmente 66 idosos com idade superior a 80 anos no Brasil, e na avaliao do

    desempenho cognitivo, aps trs anos, observaram uma leve tendncia de declnio.

    Mostraram-se como fatores preditivos, a referncia a atividades de lazer e escolaridade.

    O projeto SABE (Sade, Bem-estar, Envelhecimento), desenvolvido em

    convnio com a Organizao Pan Americana de Sade, buscou indicadores sobre as

    diversas esferas da vida da populao idosa em sete grandes centros urbanos da

    Amrica Latina e Caribe. No Brasil, este estudo foi realizado no municpio de So

    Paulo, sendo entrevistados 2143 idosos. Os resultados confirmaram algumas questes

    relativas s condies de vida e sade dessa populao, como a feminizao da velhice,

    com as mulheres representando 58,6% da populao estudada. A mdia de idade de 68

    anos encontrada nesse estudo foi considerada uma das mais baixas, em comparao aos

    demais pases participantes 34

    .

    Ainda em relao aos resultados do estudo SABE, foi observado que, quanto ao

    estado conjugal, 57,0% eram casados, sendo 27,0% vivos, e dentre esses 42,6%

    mulheres. A maioria (86,8%) dos idosos participantes vivia acompanhado e 21,7% no

    sabiam ler nem escrever. Das condies de sade, o dficit cognitivo apresentou

    prevalncia de 6,9%, aumentando progressivamente com o avano da idade. A

  • 23

    prevalncia de depresso (18,1%) foi mais alta na faixa etria entre 60 e 64 anos.

    Quanto sade autorreferida, 53,8% a declararam regular ou ruim. A hipertenso

    arterial foi a doena mais prevalente, seguida de artrite, reumatismo e artrose. A maioria

    (80,7%) dos idosos no apresentava limitaes funcionais que impedissem o

    autocuidado. Ainda em relao s condies de sade, 86,7% faziam uso de pelo menos

    uma medicao. Observou-se que 60,0% estavam vinculados ao SUS para acesso a

    cuidados de sade. Constatou-se renda mdia de 2,1 salrios mnimos, que aumentava

    em funo do nvel de escolaridade e com as mulheres apresentando renda inferior aos

    homens34

    .

    No ano de 1992 foi rastreada uma coorte de idosos de Botucatu para verificar o

    status vital dos sujeitos que fizeram parte desse inqurito realizado entre 1983 e 1984.

    Foram registrados 200 bitos, sendo a maioria de homens. Entre os sobreviventes

    (N=374) 165 eram do sexo masculino e 209 do feminino. As variveis associadas

    maior mortalidade no sexo masculino foram: idade acima de 70 anos, no ser o chefe da

    famlia, renda mensal inferior a um salrio mnimo, no possuir rendimentos

    complementares e referncia a diabetes e doenas do aparelho circulatrio. Entre as

    mulheres, as variveis que se mantiveram associadas foram idade superior a 70 anos,

    no possuir rendas complementares e referncia a diabetes mellitus. O estudo concluiu

    que pertencer a nvel socioeconmico inferior significou um aumento de cerca de 2

    vezes mais o risco de mortalidade dos idosos de ambos os sexos 35

    .

    Neiva et al. 36

    ao avaliarem idosos residentes na zona Sul da cidade de So

    Paulo, evidenciaram maior prevalncia do sexo feminino (74,5%), idade mdia de 69,1

    anos, baixa escolaridade (61,8%) e renda mensal de at dois salrios mnimos, sendo a

    penso e/ou aposentadoria as principais fontes. As condies de trabalho apontaram que

    atividades domsticas e informais so frequentes entre as mulheres e a indstria e

    metalurgia entre os homens. Dados de sade auto-referida revelaram que 76,4%

    consideram sua sade boa ou tima. Os principais problemas de sade referidos foram

    hipertenso arterial (53,0%), diabetes (20,0%) e colesterol elevado (15,5%).

    Estudo realizado em uma regio de baixa renda, no municpio de So Carlos

    interior de So Paulo, caracterizou as condies de vida e sade da populao idosa,

    com nfase na capacidade cognitiva, morbidade, mortalidade, incapacidade funcional e

    estilo de vida dos idosos. A faixa etria de 60 a 64 anos foi a mais prevalente (31%).

    Observou-se que 56,3% eram analfabetos, 75,2% aposentados e 53,3% moravam com

    os filhos. Quanto a situao conjugal, 75,0% dos homens e 50% das mulheres relataram

  • 24

    viver com cnjuges. Em relao ao estilo de vida, 83,0% dos idosos informaram no

    adotar a prtica de exerccios fsicos. As doenas mais referidas foram hipertenso

    (61,0%) e problemas de coluna (60,0%). Conforme o sexo, as morbidades mais

    recorrentes em mulheres foram diabetes e obesidade, enquanto que entre os homens as

    mais referidas foram catarata e reumatismo. Independncia funcional foi identificada

    em 19,9% das mulheres e 28,1% dos homens, e o dficit cognitivo em 51,9% dos

    indivduos participantes. Observou-se que 87,0% dos idosos relataram ter procurado

    algum servio de sade nos ltimos seis meses e que 67,0% utilizavam medicamento

    regularmente. Em relao sade autorreferida, 45,0 % a declararam regular e 4,0%,

    excelente 37

    .

    Fiedler & Peres 12

    realizaram um estudo transversal em Joaaba, Santa Catarina,

    (n=345) objetivando avaliar o nvel de capacidade funcional e fatores associados.A

    mdia de idade era 69,5 anos. Dos idosos avaliados, 37,1% apresentaram incapacidade

    funcional, sendo maior entre as mulheres (43,1%). Foi ainda observada uma correlao

    linear inversa entre capacidade funcional e idade. Outras variveis que apresentaram

    associao com incapacidade funcional foram:sexo feminino, idade acima de 70 anos,

    situao econmica ruim, menor grau de escolaridade e histrico laboral pesado.

    Campolina, Dini e Ciconelli38

    investigaram a influncia do estado funcional de

    idosos na qualidade de vida, verificando ausncia de associao entre essas duas

    variveis. A presena de depresso, o estado civil, a renda e a prtica de atividades de

    lazer se mostraram associadas qualidade de vida.

    Ainda sobre a mesma temtica, a partir de dados coletados pela Pesquisa

    Nacional por Amostras de Domicilio (PNAD, 1998) concluiu-se que 84,6% dos idosos

    entrevistados no apresentavam dificuldades para alimentar-se e usar banheiro; 45,2%

    no referiram dificuldades para abaixar, levantar e ajoelhar e 51,9% conseguiam

    caminhar cerca de um quilmetro. Grande dificuldade para realizar tais tarefas foram

    mais referidas por idosos com idade superior a 80 anos. A anlise revelou a maior

    prevalncia de incapacidade entre as mulheres (68,9%). A sade regular foi relatada por

    29,2%. A hipertenso apresentou-se como a mais prevalente entre as doenas

    autorreferidas (43,9%), seguida de artrite/reumatismo (37,5%). A presena de pelo

    menos uma doena crnica foi relatada por 69,0% dos idosos, sendo a proporo maior

    entre mulheres (74,5%). A prevalncia de internaes hospitalares cresceu com a idade

    e a ocorrncia no diferiu entre os sexos. A mdia de gastos com medicamentos foi de

  • 25

    23,0% de um salrio mnimo, e esses gastos cresceram em funo do incremento na

    idade18

    .

    Um estudo longitudinal realizado no Japo, que investigou a relao entre

    capacidade funcional e longevidade, detectou no primeiro ano de acompanhamento,

    8,6% dependentes em AVDs (Atividades da Vida Diria) e 12,2% em AIVDs

    (Atividades Instrumentais de Vida Diria), aumentando essa prevalncia com o

    incremento de idade, principalmente aps 85 anos de idade. Aps quatro anos, os

    seguintes fatores se mostraram preditores da perda da independncia: idade maior que

    75 anos, dificuldade de caminhar e inatividade intelectual. Foi observada maior

    dependncia funcional entre as mulheres; com maior prevalncia de dificuldade em

    AIVD. Os homens apresentaram maior vantagem em relao manuteno da

    independncia, embora mudassem da condio de independente para dependente mais

    rapidamente que as mulheres. Ser dependente, aumentou duas a cinco vezes mais o

    risco de mortalidade, demonstrando forte associao 39

    .

    Um estudo realizado em Florianpolis, com 875 indivduos de 60 anos ou mais,

    caracterizou as condies de vida e sade dessa populao de idosos, aplicando um

    instrumento validado pela Brazil Old Age Schedule (BOAS). Os resultados apontaram

    46,1% na faixa etria entre 60 e 69 anos e prevalncia de analfabetismo de 14,3%. A

    maioria dos homens eram casados (83,5%), enquanto as mulheres eram vivas (47,5%).

    Dependiam do SUS para o acesso sade 45,8% dos participantes. O grau de satisfao

    com a vida foi positivo em ambos os sexos. Referiram insatisfao aqueles idosos que

    apresentavam problemas de sade e/ou econmicos. Dentre os problemas de sade, os

    cardiovasculares foram os mais frequentes, seguido dos metablicos e msculo-

    esquelticos. A maioria (50,6%) afirmou que a sade interferia negativamente no

    desempenho das atividades rotineiras 40

    .

    Outro estudo, utilizando o BOAS, reuniu 227 idosos longevos residentes em

    Recife e traou o perfil socioepidemiolgico. Houve predominncia do sexo feminino

    (77,4% de mulheres); baixo nvel de escolaridade (64,9% estudaram at o 1 grau);

    viuvez como estado conjugal (64,8%) e aposentadoria como a principal fonte de renda

    (71,7%). As morbidades mais prevalentes foram a hipertenso (59%), a doena de

    coluna ou dor nas costas (48,3%), os problemas de viso (46,1%), a incontinncia

    urinria (37,8%) e a osteoporose (34,5%) 41

    .

    Uma pesquisa intitulada Idosos no Brasil investigou as vivncias, desafios e

    expectativas da terceira idade com uma amostra de 3744 sujeitos, sendo 2136 idosos e

  • 26

    1608 adultos, residentes em 204 municpios do Brasil, com abordagem domiciliar 9

    . Os

    principais achados revelam que a maior proporo de idosos encontra-se no Sudeste do

    pas e a menor na regio Norte. A maioria pertence ao sexo feminino, concentrados na

    faixa etria entre 60 e 69 anos, de raa/cor branca (54%), com escolaridade abaixo de 4

    anos de estudo (57%), renda mensal familiar de 2 a 5 salrios mnimos (30%), morando

    em residncia prpria (79%) com o cnjuge (52%). A doena mais prevalente foi

    hipertenso (43%) seguida de problemas de viso (26%) e dores na coluna (23%).

    Num estudo transversal realizado em Porto Alegre (N=292), com objetivo de

    analisar os fatores associados ao uso de medicamentos em idoso, 66,0% pertenciam ao

    sexo feminino, com maioria na faixa etria entre 60 e 79 anos (54,0%). Na distino

    entre os sexos, as mulheres apresentaram menor escolaridade, mais problemas de sade

    e menor renda. Quanto maior a idade, menor a escolaridade, piores condies

    econmicas e maior a dependncia nas atividades de vida diria. Identificou-se

    prevalncia de uso de medicamento de 91,0% e dentre as avariveis que se mostraram

    associadas estavam sexo feminino, viver sozinho e frequncia de consulta mdica 42

    .

    Del Duca et al. 17

    investigaram a associao entre capacidade funcional e

    aspectos comportamentais relacionados sade em idosos residentes em Pelotas, Rio

    Grande do Sul (N=598). A prevalncia de incapacidade para Atividades Bsicas de

    Vida Diria (ABVDs) foi de 26,8% e para as AIVDs de 28,8%. Indivduos com sade

    auto-referida ruim apresentaram prevalncia de incapacidade funcional em ABVDs 4,7

    vezes maior do que aqueles que referiram sade excelente. Os comportamentos que

    apresentaram associao inversa com a incapacidade funcional foram prtica de

    exerccios fsicos e frequncia a cultos religiosos.

    Na Sucia, um estudo identificou a relao entre o estado de sade e mortalidade

    com a capacidade funcional de idosos imigrantes da Europa, a partir das variveis sexo,

    idade, estado civil, escolaridade e etnia. As mulheres representaram 72,1% dos

    entrevistados. A maior prevalncia de dificuldade nas atividades da vida diria e a pior

    sade auto-referida foi observada para imigrantes do sul da Europa. A baixa

    escolaridade esteve associada significativamente com o estado de sade. Entre os sexos

    no houve diferena no estado de sade. Um baixo desempenho social esteve tambm

    fortemente associado com aumento do risco de piora na sade e na capacidade

    funcional43.

    .

    Dunlop et al. 44

    investigaram a relao entre doenas crnicas, sexo e raa com

    limitaes funcionais em 4205 idosos, num estudo longitudinal realizado em

  • 27

    Chicago/EUA. A mdia de idade dessa populao era 79 anos, com sexo feminino

    representando 79% da amostra. Raa e sexo se mostraram preditores moderados de

    limitao funcional, independentemente da idade e da escolaridade. As doenas crnicas

    que se apresentaram como forte preditoras da limitao funcional foram acidentes

    vasculares cerebrais (AVC) (88%) e diabetes (60%). Outras doenas como artrite e

    diminuio da viso se mostraram como fatores de risco para dficits funcionais.

    Mccurryla et al.45

    avaliaram a relao entre o declnio funcional e fatores de

    risco em dois grupos de idosos americanos e japoneses. O estudo longitudinal revelou

    ao final de 4 anos que menos de 5% do sujeitos declararam declnio funcional em 5 ou

    mais atividades e os fatores associados foram idade, sexo feminino, morbidades,

    elevado ndice de massa corporal, fumo e sade auto-referida ruim. Entre o grupo de

    japoneses observou-se menor ocorrncia de declnio funcional do que entre o grupo de

    comparao.

    O estudo Baker et al.46

    analisou a relao entre atividade fsica e envelhecimento

    bem sucedido em idosos canadenses usando dados da Pesquisa de Sade Comunitria

    canadense (N = 12.042). Os resultados revelaram que os idosos fisicamente ativos

    foram duas vezes mais susceptveis a um envelhecimento bem sucedido. O referido

    estudo foi baseado na premissa de que o envelhecimento bem sucedido o balano de

    trs componentes: ausncia de doena e incapacidade relacionada doena, alta

    capacidade funcional e envolvimento ativo com a vida.

    Ishizak, Kai e Imanaka47

    acompanharam por seis anos um grupo de 8.090 idosos

    japoneses com o objetivo de investigar o papel do desempenho social e da sade auto-

    referida como preditores da mortalidade em indivduos saudveis. Como atividade

    social considerou-se: encontrar com amigos, ser chamado para dar conselhos, visitar

    amigos doentes e conversar com pessoas mais jovens. A mdia de idade do grupo foi

    73,3 anos, sendo a maioria do sexo feminino. Ao final do acompanhamento, a taxa de

    mortalidade foi de 21% para os homens e 14% para as mulheres. Os fatores que se

    mostraram associados inversamente mortalidade foram idade, estar trabalhando, viver

    com esposa, morar com crianas, nvel de escolaridade, capacidade funcional, histrico

    de hospitalizao e ter um hobby. As variveis desempenho social fraco e sade auto-

    referida ruim se mostraram fatores de risco independentes para a mortalidade.

    Fone & Lundgren-Lindquist48

    , em estudo realizado na Austrlia, compararam a

    sade de dois grupos de idosos com faixa etria entre 65 -75 anos e 75-85 anos. Os itens

    avaliados foram estado geral de sade, risco de quedas, capacidade e atividade fsica

  • 28

    (locomoo, fora muscular, habilidades motoras finas) e independncia. Os resultados

    apontaram que os homens se mostraram mais ativos e com uma melhor sade auto-

    referida, em ambos os grupos. Sade excelente foi declarada por 50% dos homens e

    22% das mulheres. O declnio fsico piorou aps 75 anos de idade, assim como o risco

    de queda e a diminuio da capacidade funcional, agravada com a dificuldade de

    locomoo. O envelhecimento saudvel em ambos os grupos esteve associado a boa

    sade e manuteno de atividade fsica.

    Os resultados de um inqurito com idosos residentes na cidade de Fortaleza

    identificaram a maioria do sexo feminino (66%), com mdia de idade de 70 anos e,

    destes 15,0% pertencente a faixa etria superior aos 80 anos. A maioria dos idosos

    (75,3%) vivia em domiclio multigeracional. Os dados relacionados sade apontam

    para a presena de pelo menos uma doena em 78,1% e comprometimentos mentais

    foram observados em 26,4%. O estudo tambm revelou diferenas entre as reas da

    cidade, sendo observadas, nas mais pobres, as maiores prevalncias de morbidade e

    dependncia funcional 49

    .

    Cesar et al.50

    investigaram a realidade de idosos moradores de municpios

    economicamente pobres do norte e nordeste do Brasil (309 idosos em Caracol, Piau e

    390 idosos em Garrafo do Norte, Par). A mdia de idade foi de 70 anos. A maioria

    dos participantes era do sexo masculino (62,9%) e 70,0% eram analfabetos. A renda

    inferior a um salrio mnimo foi detectada em 8,0% dos entrevistados. Afora isso,

    nesses municpios foram identificadas precrias condies de moradia das populaes

    idosas.

    Dados da Pesquisa Nacional por Amostras de Domiclio - PNAD (2008)

    revelaram alta prevalncia de analfabetismo entre idosos - 32,2% no sabiam ler e

    escrever, e 51,7% eram analfabetos funcionais (menos de 4 anos de estudo). A mdia de

    anos de estudo desse grupo populacional foi de 4,1 anos, sendo as condies menos

    favorveis observadas entre os nordestinos (2,7 anos), seguida dos idosos habitantes da

    regio Norte, que apresentaram, em mdia, trs anos de estudo. A maior mdia foi

    encontrada no Distrito Federal (6,6 anos) 18

    .

    Os fatores sociodemogrficos tem se revelado fortemente associados as

    condies de sade da populao de idosos. Koukolli, Vlachonikolis e Philalithis51

    identificaram associao positiva entre fatores sociodemogrficos e funcionalidade

    (mobilidade, autocuidado, sociabilidade e limitaes graves) em idosos residentes na

    Grcia. Vagetti et al.52

    ao avaliarem 1806 idosas do programa Idoso em Movimento, de

  • 29

    Curitiba, observaram que os fatores sociodemogrficos (idade, escolaridade, estado

    civil, situao ocupacional) e as condies de sade esto associados com a qualidade

    de vida em idosas.

    Os estudos epidemiolgicos sobre envelhecimento que vm sendo desenvolvidos

    centram-se, especialmente, nos determinantes da longevidade e da transio

    epidemiolgica; na avaliao dos servios de sade, na identificao da etiologia e

    histria natural das doenas e na anlise das condies de vida e sade dos idosos53

    .

    Essas investigaes buscam identificar indicadores especficos para essa populao,

    como perfis de morbidade e mortalidade, presena de dficits fsicos e cognitivos,

    acesso sade, entre outros. Seus resultados evidenciam um panorama que afetar

    diretamente a demanda aos servios de sade nos prximos anos, caracterizando-se um

    importante problema de sade pblica. Costatatou-se ainda que dentre os estudos de

    base populacional, pouco se descreve das condies de comunicao. O que comumente

    se encontra so pesquisas dirigidas a sade auditiva do idoso, porm com uma nica

    questo ampla e genrica sobre a presena ou no de perda auditiva, includa num

    instrumento, cujo objetivo central investigar as condies gerais de sade dessa

    populao. Embora ampliados os interesses por estudos epidemiolgicos, estes ainda se

    encontram restritos a algumas cidades e estados brasileiros, que no representam o pas

    na sua totalidade.

    No Brasil, os estudos que caracterizam as condies de sade dos idosos

    mostram o quadro preocupante em que se encontra essa parcela da populao, com a

    alta prevalncia de doenas crnicas e a baixa escolaridade, que associada precria

    situao econmica, aumenta o nvel de dependncia desses indivduos. A capacidade

    funcional, por exemplo, considerada um bom indicador de autonomia e qualidade de

    vida dos idosos, apontou, na maioria dos estudos que compem esse panorama, para a

    necessidade de aes preventivas e diferenciadas de sade e de cuidados qualificados,

    objetivando uma ateno multidimensional e integral. A reviso da literatura sobre o

    tema demonstra a urgncia de polticas pblicas direcionadas a essa populao54-57

    .

    Diferenas regionais, tambm reveladas nesses estudos, reforam a necessidade

    de investigaes epidemiolgicas em outras cidades, j que possivelmente os dados

    podem revelar realidades distintas das que se apresentaram at ento56,58,59

    .

    No Amazonas, investigaes dessa natureza so escassas. O primeiro grande

    estudo epidemiolgico denominado Projeto Idoso da Floresta11

    delineou os perfis

    socioeconmicos, culturais, de dependncia e de morbidade geral por zona geogrfica

  • 30

    do idoso includo no ESF-SUS do municpio de Manaus. Com o objetivo central de

    formar recursos humanos especializados no atendimento ao idoso no estado do

    Amazonas, se props a investigar na primeira fase do estudo as condies

    socioeconmicas demogrficas de escolaridade, situao conjugal, renda pessoal

    mensal, tipo de moradia, recepo de auxlio, nvel de autonomia e presena de

    morbidades. Os resultados revelaram que do total de 1509 idosos pesquisados, 53,6%

    eram do sexo feminino, com idade mdia de 67 anos e 46,2% do sexo masculino com

    idade mdia de 66 anos. Quanto ao estado conjugal, 66,90% eram casados. Os dados de

    escolaridade revelaram 34,10% de analfabetismo, e 67,90% com renda inferior a uma

    salrio mnimo. Os indicadores de sade revelaram que 85,50% eram autnomos do

    ponto de vista funcional; 24,70% relataram uma morbidade e 50,60% relataram possuir

    de duas a quatro morbidades, sendo mais prevalentes a hipertenso arterial (57%) e a

    diabetes (24%). Quando avaliados por distrito de sade, os dados apresentaram

    diferenas significativas associadas as zonas geogrficas da cidade. Idosos residentes

    nos bairros da zona sul, caracterizada por sua antiga formao urbana, referiram menor

    nmero de morbidades quando comparado s demais reas.

    1.2 A Audio no Envelhecimento

    A capacidade de ouvir uma funo importante no processo de comunicao

    humano. Isto porque permite ao indivduo compreender e perceber os sons do ambiente

    e dessa forma, interagir e compartilhar com seus pares o complexo sistema que a

    linguagem. O estudo de Scheneider et al. 60

    avaliou o grau de dependncia gerado pela

    deficincia auditiva para os idosos concluindo que a mesma impacta negativamente

    sobre a autonomia, aumentando a dependncia do apoio familiar e da comunidade.

    A deficincia auditiva impacta na qualidade de vida do indivduo e de sua

    famlia, na medida em que interfere no desempenho lingustico, na capacidade funcional

    e no bem-estar emocional e social. Desse modo, a privao auditiva no se trata apenas

    de um dficit sensorial, pois traz consigo consequncias que geram instabilidade nas

    relaes, isolamento, segregao, alteraes psicolgicas, alm de problemas de alerta e

    defesa. Situaes, que quando acentuadas, podem transformar-se em fator de

    desagregao social 16,61-63

    .

  • 31

    De acordo com estudos 15,64,65

    , nas estruturas que envolvem a audio possvel

    observar alteraes antomo-fisiolgicas relativas ao envelhecimento que atingem o

    sistema auditivo provocando degenerao sensorial, neural, estrial e do processamento

    neural central. Tais alteraes, associadas s predisposies genticas e fatores

    ambientais podem resultar em diminuio da acuidade auditiva, tontura, zumbido e

    piora nas habilidades de discriminao, localizao, fuso, fechamento, sntese e

    ateno auditiva.

    As principais alteraes fisiolgicas observadas no sistema auditivo no processo

    de envelhecimento so: aumento do tamanho do pavilho auricular; tendncia a

    colabamento por perda de elasticidade; aumento da produo de cerume e quantidade de

    plos; atrofia e aumento do conduto auditivo externo 64,66,67

    .

    Afora isso, nesse processo de envelhecimento observa-se na orelha mdia

    espessamento de membrana timpnica e a calcificao dos ligamentos dos ossculos. Na

    orelha interna podem ocorrer processos de atrofia de clulas ciliadas e de sustentao do

    rgo de Corti, diminuio de neurnios cocleares, degenerao neural, reduo de

    fluxo sanguneo e do metabolismo da estria vascular e enrijecimento de membrana

    basilar 64,67

    . Essas mudanas progressivas, degenerativas e fisiolgicas, que ocorrem

    nessa fase da vida, podem resultar na instalao de um dficit auditivo, acarretando em

    diminuio da percepo auditiva, elevao dos limiares tonais e lentido no

    processamento da informao, comprometendo habilidades necessrias a compreenso

    da fala68-69

    .

    A perda auditiva no idoso denominada presbiacusia e decorre de alteraes

    degenerativas do sistema auditivo como um todo, que pode estar relacionada a algumas

    doenas como fator primrio, acidente vascular cerebral, hipertenso, entre outras.

    Afora estas, tambm pode estar associada a fatores como dieta, metabolismo, colesterol

    elevado, estilo de vida, exposio a rudo ocupacional e estresse 64

    .

    A presbiacusia caracteriza-se por uma perda auditiva sensorioneural bilateral de

    configurao descendente, ou seja, mais acentuada nas frequncias agudas. Esse tipo de

    configurao da perda auditiva compromete a compreenso dos fonemas da fala, na

    medida em que os sons da lngua concentrados nos agudos contribuem em 60% para

    essa compreenso. Os sons da fala constituem-se por frequncias baixas (grave), mdias

    e altas (agudo), variando sua intensidade dependendo do fonema. O fato de a

    presbiacusia comprometer, inicialmente, os sons agudos explicaria a constante queixa

    dos idosos eu escuto, mas no entendo 70,71

    .

  • 32

    A perda auditiva a terceira doena crnica mais comumente relatada em

    pessoas com mais de 65 anos, ficando atrs apenas da artrite e hipertenso. Nos Estados

    Unidos afeta cerca de 16% dos adultos, e entre a populao idosa esse nmero pode

    alcanar 50% 72,73

    . Um dos poucos estudos de estimativa de dficit auditivo proveniente

    da realizao de exame audiomtrico, numa amostra representativa da populao

    americana maior de 12 anos de idade, revelou que 20,3% apresenta perda auditiva

    bilateral ou unilateral. Entre os indivduos com idade superior a 60 anos, esse valor de

    44,8%, chegando a 89,1% na faixa etria acima de 80 anos 74

    .

    Vale destacar que os achados decorrentes de estudos que estimam prevalncia de

    perda auditiva diferem muito na literatura, em funo dos diferentes mtodos adotados.

    Quando a audio avaliada atravs de medidas audiomtricas encontram-se altas

    prevalncias na faixa etria acima de 60 anos 66,75,76

    . Nos estudos epidemiolgicos de

    base populacional em que se avalia a audio por meio da auto-percepo referida, essa

    prevalncia diminui 77-82

    .

    Essa variabilidade observada nesses estudos pode ser compreendida a partir das

    caractersticas da presbiacusia, a qual tem incio nas frequncias mais agudas, sendo

    pouco perceptvel pelo idoso na fase inicial, porm com a evoluo do dficit, as

    frequncias mdias e graves so atingidas, comprometendo a percepo da maioria dos

    fonemas da lngua. O perfil da populao estudada tambm pode influenciar nos dados

    de prevalncia, pois as pesquisas que avaliam os idosos atravs de exames audiolgicos

    so normalmente realizadas em centros de sade, com indivduos que procuram o

    servio em decorrncia de alguma queixa auditiva, diferentemente dos sujeitos

    avaliados em inquritos populacionais.

    Alguns estudos que estimaram a prevalncia de perda auditiva em idosos e os

    fatores associados, desenvolvidos no Brasil, foram selecionados e so apresentados no

    quadro I, a seguir:

  • 33

    Quadro I. Estudos desenvolvidos no Brasil sobre prevalncia de perda auditiva em idosos e os fatores a esta associados

    Autores e data Populao de estudo e Local Prevalncia de Perda auditiva em idosos Fatores de risco associados a Perda auditiva

    Carmo e Silveira,

    200876

    Clnico prospectivo de corte

    transversal com 320 idosos SP

    Prevalncia de deficincia auditiva 83,1% Hipertenso arterial

    sistmica;diabetes mellitus,hiperlipidemia;exposio a rudo ocupacional;

    tabagismo

    Paiva, et al 2011

    77 Estudo de base populacional. 872

    idosos do Inqurito ISA Capital, SP,

    Brasil.

    Prevalncia deficincia auditiva referida

    por idosos 11,2

    Sexo masculino, aumento da idade e escolaridade acima de 8 anos de

    estudo

    Cruz, 200778

    Banco de dados do Inqurito

    Multicntrico de Sade de SP ISA-

    Capital.

    Prevalncia de perda auditiva autorreferida

    na populao 6,18%

    Faixa etria mais elevada, sexo masculino

    Cruz, et al 200979

    Estudo de base populacional com 5250

    indivduos de 12 anos ou mais

    residente em SP

    Prevalncia de deficincia auditiva referida

    por idosos (18,7%),

    Doenas, transtorno mental comum e uso de medicamentos

    Cruz, et al 2012

    80 Estudo de base populacional com

    1.115 idosos. Projeto SABE So Paulo,

    Brasil

    Prevalncia de deficincia auditiva referida

    por idosos 30,4%

    Idades mais avanadas, sexo masculino, queixas osteoarticulares, de

    vertigem e/ou tontura, deficincia visual

    Cruz, et al 201381

    Estudo longitudinal com 765 idosos

    So Paulo, Brasil

    Incidncia de perda auditiva autorreferida

    de 17,4%

    Idade igual ou maior a 80 anos, sexo masculino, ocupaes nos setores

    agropecurio, industrial ou de manuteno e osteoporose

    Baraky, et al 201282

    Estudo descritivo populacional

    seccional 1.050 indivduos com idade

    entre 4 dias e 95 anos. Minas Gerais

    Prevalncia da perda auditiva incapacitante

    estimada em 5,2%

    Zumbido, idade acima de 60 anos e baixa escolaridade.

    Gondim, et al 201283

    Estudo de base populacional. 349

    sujeitos com idade acima de 4 dias

    Santa Catarina

    Prevalncia de perda auditiva referida em

    idosos de 24,27%

    Idade acima de 50 anos

    Samelli, et al 2011

    84 Estudo transversal com 200 idosos. SP

    Brasil.

    Prevalncia de deficincia auditiva

    autorreferida de 56%.

    No houve associao estatisticamente signiticante entre queixa referida e

    grau da perda auditiva obtida por auditometria tonal

    Sousa e Russo,

    200985

    Estudo retrospectivo com 625 idosos.

    SP. Brasil

    Prevalncia de deficincia auditiva 36,1% Sexo masculino, diabetes melito e histria familiar de presbiacusia

    Mattos e Veras,

    200786

    Estudo prospectivo, cross-sectional de

    base populacional com 238 idosos

    acima de 65 anos. RJ. Brasil

    Prevalncia de deficincia auditiva na

    melhor orelha 42,9% e na pior orelha

    64,3 %

    Sexo masculino

    PNAD, 1998 87

    Total da populao brasileira acima de

    60 anos. Brasil

    Prevalncia de perda auditiva autorreferida

    9,20%

    Aumento da idade

    Morettin, et al 200888

    Inqurito de base populacional com

    2143 idosos.. Projeto SABE- SP.

    Prevalncia de perda auditiva autorreferida

    24%

    Aumento da idade, sexo masculino, morar acompanhado, relato de tontura,

    memria, sade declarada regular e ruim

    Beria et al., 200389

    Inquerito de base populacional com

    2427 pessoas acima de 4 anos. Canoas

    RS. Brasil

    Prevalncia de perda auditiva autorreferida

    26,1%

    Sexo masculino, idade acima de 60 anos, menor escolaridade e baixa renda

  • 34

    No quadro 1 possvel observar que, nos inquritos de base populacional que

    estimaram perda auditiva autorreferida, a prevalncia variou de 9,20% a 30,40%. Em muitos

    destes estudos a idade se mostrou associada 77,78,80-85,87-89

    . Achados de pesquisas

    internacionais que estimaram a incidncia de perda auditiva, mostraram que os idosos com

    idade acima de 80 anos foram 70% mais propensos a desenvolver dficit auditivo em relao

    ao grupo com idade entre 60 e 79 anos 82

    . Estudos longitudinais apontam, aps perodo de

    seguimento, a idade como fator de risco para ocorrncia e progresso de perda auditiva 90, 91

    .

    Nas pesquisas apresentadas no quadro 1, outros fatores que estiveram associados a perda

    auditiva foram sexo masculino, relatos de tontura e vertigem, memria, autopercepo ruim

    de sade, hipertenso, diabetes, baixa escolaridade e aspectos cognitivos77,81,85-88

    . Quanto

    maior a dificuldade de comunicao autorreferida, mais comprometida a percepo auditiva e

    o desempenho cognitivo 88,92

    .

    Os achados obtidos atravs da realizao de exames audiolgicos em indivduos de 60

    anos ou mais apontam presena de dficit auditivo de 60,0% a 71,8% 66,75,85

    , com maior

    prevalncia no sexo masculino e progredindo com o avanar da idade. Essas investigaes

    que buscam traar o perfil audiolgico da populao idosa corroboram quanto alta

    prevalncia de perda auditiva do tipo neurossensorial, grau leve, bilateral, de configurao

    descendente, com maior prejuzo nas frequncias altas (4, 6 e 8 kHz), em ambas as orelhas.

    Nesses estudos, a perda auditiva esteve associada a idade, sexo masculino, baixa escolaridade,

    presena de doenas cardiovasculares e metablicas, zumbido, tontura, plenitude auricular e a

    fatores extrnsecos, como tabagismo e exposio a rudos 62,85,86,93

    .

    Em geral, as prevalncias de perda auditiva estimadas em estudos internacionais so

    similares aos dados obtidos nas investigaes no Brasil, variando de 51,0% a 70% sendo a

    maioria de grau leve 90,94,95

    . Foram observadas ainda, associaes entre deficincia auditiva e

    qualidade de vida e ao declnio cognitivo em idosos 94

    . Um estudo longitudinal realizado no

    Japo identificou declnio da audio associado a dependncia em atividades da vida diria e

    mortalidade. Os idosos com dficits significativos de audio foram mais propensos aos

    desfechos morte e dependncia. Enquanto que a audio preservada reduziu de 4,3% a 6,3% o

    impacto sobre os resultados adversos para sade em indivduos acima de 65 e de 75 anos,

    respectivamente95

    .

    A auto percepo da audio e sua associao com as condies de vida e sade

    revelaram-se como boa para a maioria dos sujeitos, com diferena significativa em relao ao

    sexo e a idade. O aumento da idade piora a auto percepo da audio apontando a

    necessidade de se diferenciar as faixas etrias em estudos com populao de idosos 80,88

    .

  • 35

    Estudos que utilizam alguns instrumentos de autoavaliao, ao avaliar as implicaes

    sociais causadas pela perda auditiva vm demonstrando eficincia na deteco de dficits

    auditivos e das limitaes sociais decorrentes. Cassol et al.96

    testaram a eficincia do

    questionrio Hearing Handicap Inventory for the Elderly Screening Version (HHIE-S) que

    avalia o handicap auditivo em idosos e os resultados revelaram que os sujeitos com alteraes

    auditivas apresentaram queixas de percepo auditiva no HHIE, apontando ser este um bom

    indicador de dficit auditivo. Lautenschlager & Tochetto97

    que tambm se utilizaram do

    HHIE, ao avaliarem a percepo de idosos quanto desvantagem causada pela perda auditiva

    destacaram o constrangimento, referido pelos idosos, ao conhecer novas pessoas. Entende-se

    por handicap ou desvantagem auditiva os aspectos no auditivos que resultam da deficincia

    auditiva, os quais limitam ou impedem os sujeitos de desempenharem suas atividades de vida

    diria de maneira adequada, comprometendo suas relaes de famlia, trabalho e sociedade98

    .

    Estudos que compararam os resultados de testes audiomtricos e questionrios de

    autoavaliao para percepo da deficincia auditiva encontraram prevalncias similares

    dimensionadas pelos questionrios de autopercepo e medidas de perda auditiva84,99

    .

    Gopinath et al.

    99 investigaram, atravs de instrumentos de auto-avaliao, o risco de adultos

    portadores de deficincia auditiva sofrerem problemas emocionais e de engajamento social e

    concluiu que o risco 6 vezes maior nesses indivduos.

    Diversos estudos epidemiolgicos de base populacional que no puderam realizar

    medidas audiomtricas em suas amostras utilizam uma pergunta nica genrica para avaliar

    perda auditiva. A validade desta pergunta, em comparao com a audiometria tonal, vem

    sendo amplamente investigada, e as concluses revelam que a mesma tem uma boa

    performance na identificao de idosos com perda auditiva, podendo ser utilizada na

    impossibilidade de ser realizar exame audiomtrico. Uma avaliao subjetiva da deficincia

    auditiva, embora no substitua o exame de audiometria, pode ser utilizada como instrumento

    de avaliao, desde que se considere que a percepo do idoso quanto presena deste dficit

    pode estar sujeita a uma srie de questes que envolvem a experincia de vida, cultura,

    escolaridade e o contexto no qual est inserido 77,100,101

    .

    Um estudo multicntrico, envolvendo nove centros audiolgicos em toda a Europa, ao

    elucidar os fatores de risco associados a perda auditiva em idosos concluiu que o estilo de

    vida saudvel pode proteger contra a perda auditiva nessa faixa etria 102

    . Os resultados de 42

    estudos, realizados entre 1973 e 2010, em 29 pases apontou que a deficincia auditiva

    necessita de ateno global, em especial nos pases de baixa renda. De acordo com os

  • 36

    autores, a prevalncia desse dficit, estimada em 9,8 % e 12,2%, para as mulheres e homens

    respectivamente, acima de 15 anos, apresenta tendncia de crescimento103

    .

    Luz et al. 104

    avaliaram os benefcios relativos capacidade funcional e desempenho

    comunicativo em idosos usurios de prtese auditiva e concluiram que o uso do aparelho

    auditivo reduziu as limitaes e a restrio para participar em atividades de vida diria.

    Corna et al. 105

    compararam os fatores sociodemogrficos entre grupos de idosos

    usurios e no usurios de prtese auditiva, os achados no diferiram entre os grupos, mas

    reforaram o entendimento de que o uso da prtese uma das formas mais eficientes de

    amenizar problemas auditivos e suas consequncias psicossociais.

    A realizao de inquritos de base populacional permite conhecer a magnitude dos

    distrbios da comunicao para a sade pblica, contribuindo para a construo de estratgias

    de identificao de perda auditiva na populao de idosos, desde a ateno primria,

    possibilitando a minimizao desses efeitos 49,106

    .

    1.3 A Linguagem no Envelhecimento

    A linguagem essencial na vida do ser humano, pois permite estabelecer vnculos

    sociais, apreender conhecimentos, expressar, compreender e interagir, contribuindo para

    autonomia, independncia e bem estar. Muito mais que uma simples mediadora do

    conhecimento e muito mais do que um instrumento de comunicao ou um modo de interao

    humana. A lngua constitutiva do sujeito 107

    (p.46). E como atividade constitutiva,

    sustentada pela interao social, inerente as relaes humanas, fazendo parte de nossa

    natureza modelando ativamente nossa comunicao, nosso pensamento e nossa interao

    108(p.222).

    A linguagem no uma atividade mental isolada, nela confluem diferentes processos,

    envolvendo habilidades sensoriais, motoras, cognitivas e lingusticas e qualquer limitao que

    afete um desses aspectos pode comprometer sua funcionalidade, manifestando-se na fala.

    Essa fala, quando sintomtica abala no sujeito sua iluso de controle e autonomia sobre a

    linguagem(...) desencadeando um efeito social de marginalizao, estigmatizao e

    isolamento que se produz na escuta do outro (...) e um efeito de destituio subjetiva produz-

    se na escuta do prprio falante 109

    (p. 20).

  • 37

    Dada a complexidade que a linguagem, h uma diversidade de estudos nessa rea,

    que em geral, caracterizam aspectos como: produo e compreenso, funes cognitivas e

    aspectos evolutivos e patolgicos 110

    .

    Embora as desordens de linguagem possam afetar pessoas de qualquer idade,

    observam-se acontecimentos clnicos, orgnicos e funcionais, no processo de envelhecimento,

    que podem desencadear dficits lingusticos 111,112

    . Contudo, os estudos sobre linguagem na

    rea de envelhecimento, em sua maioria, descrevem as sequelas de processos patolgicos,

    sendo incipientes as investigaes no idoso saudvel, trazendo a tona indagaes relevantes,

    como por exemplo: repercusses que o envelhecimento pode trazer para o funcionamento da

    linguagem; e se de fato esta muda com o envelhecer a ponto de ser considerada uma patologia

    59,112.

    Os estudos sobre a linguagem, com idosos saudveis, vm demonstrando que h

    diferenas na capacidade lingustica do idoso, porm os declnios na comunicao no se

    mostram significativos, a no ser que estejam associados a outros processos patolgicos.

    Outros estudos apontam a associao positiva entre o declnio lingustico e cognio,

    escolaridade, depresso, sexo e relaes sociais, indicando que preservar a comunicao pode

    implicar na manuteno da independncia e da qualidade de vida no processo de

    envelhecimento 111,113-115

    .

    Estudos sobre a fluncia na produo de fala apontam que as hesitaes, interjeies e

    correes aumentam com a idade, como resultado da dificuldade ao acesso lexical ou da

    prpria condio de subvalorizado do idoso. Quanto ao vocabulrio, pesquisas revelam que o

    mesmo no declina com a idade, embora seja constante a queixa de dificuldade de acesso ao

    lexical, isto , encontrar a palavra certa no momento, sendo a dificuldade mais observada no

    idoso, no que diz respeito linguagem 116,117

    . Numa avaliao da ocorrncia da aprendizagem

    verbal, atravs de teste de fluncia semntica e fonolgica, observou-se decrscimo na

    produo de palavras com o aumento da idade e diminuio em relao ao nvel de

    escolaridade. Na comparao entre os sexos verificou-se melhor desempenho dos homens na

    prova semntica 118

    .

    Andrade & Martins119

    analisaram o perfil da fluncia da fala em 128 idosos em

    parmetros como, tipos e frequncia de rupturas e velocidade de fala. Os resultados

    apontaram diferenas estatisticamente significantes entre idade e quantidade de slabas por

    minuto. No grupo acima de 80 anos observou-se aumento das rupturas de fala e decrscimo

    da velocidade, concluindo que o efeito da idade mais expressivo depois dos oitenta anos em

  • 38

    relao aos parmetros de fluncia da fala. Brucki & Rocha120

    no observaram diferenas

    significativas em relao a sexo e idade na avaliao da fluncia.

    O efeito da idade na fluncia verbal, semntica e fonolgica, foi avaliado em adultos

    saudveis, com idades entre 45-91 anos. Na fluncia fonolgica o desempenho no diferiu

    entre os grupos dos indivduos mais velhos (75-91 anos) e dos mais jovens (50-64 anos). Na

    fluncia semntica, o grupo de idosos apresentou desempe