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Condies de vida e sade, distrbios da comunicao e fatores
associados: inqurito populacional em idosos residentes
em Manaus, AM
por
Karla Geovanna Moraes Crispim
Tese apresentada com vistas obteno do ttulo de Doutor em Cincias
na rea de Sade Pblica e Meio Ambiente.
Orientador: Prof. Dr. Aldo Pacheco Ferreira
Rio de Janeiro, 05 de maio de 2014.
Esta tese, intitulada
Condies de vida e sade, distrbios da comunicao e fatores
associados: inqurito populacional em idosos residentes
em Manaus, AM
apresentada por
Karla Geovanna Moraes Crispim
foi avaliada pela Banca Examinadora composta pelos seguintes membros:
Prof. Dr. Suzana Carielo da Fonseca
Prof. Dr. Sylvia Helena Souza da Silva Batista
Prof. Dr. Liliane Reis Teixeira
Prof. Dr. Maria de Ftima Ramos Moreira
Prof. Dr. Aldo Pacheco Ferreira Orientador
Tese defendida e aprovada em 05 de maio de 2014.
Catalogao na fonte
Instituto de Comunicao e Informao Cientfica e Tecnolgica
Biblioteca de Sade Pblica
C932 Crispim, Karla Geovanna Moraes
Condies de vida e sade, distrbios da
comunicao e fatores associados: inqurito
populacional em idosos residentes em Manaus, AM. /
Karla Geovanna Moraes Crispim. -- 2014.
213 f. : tab. ; graf. ; mapas
Orientador: Ferreira, Aldo Pacheco
Tese (Doutorado) Escola Nacional de Sade
Pblica Sergio Arouca, Rio de Janeiro, 2014.
1. Idoso. 2. Sade do Idoso. 3. Inquritos de
Morbidade. 4. Perda Auditiva. 5. Transtornos da
Comunicao. I. Ttulo.
CDD 22.ed. 362.6
Dedico a minha filha Luciana,
razo que me faz querer melhorar a cada dia.
AGRADECIMENTOS
Esse foi o momento mais esperado desses quatros anos, pois disse a mim mesma que
seriam as ltimas palavras escritas deste trabalho, mas que concluo com muito prazer.
O primeiro agradecimento para meu orientador, que apostou na minha capacidade de
conduzir esse projeto. Sei o quanto foi rduo seu trabalho em orientar uma temtica,
incialmente to distante dos seus objetos de pesquisa. Mas acredito que conseguimos
completar essa misso de forma muito digna.
Aos idosos, participantes da pesquisa.
A minha filha e meu marido, por mais uma vez compreenderem minha vontade de
querer crescer profissionalmente. Isso tudo por ns.
A minha me e ao Conse pelo amor, apoio, colo e disposio em ajudar em todos os
momentos. Vocs me inspiram sempre.
Ao meu pai pelas manifestaes de carinho e orgulho. O meu sonho comeou com o
seu.
Aos meus irmos Danielle e Roberto e meus sobrinhos Beatriz e Joo, por deixarem
minha vida mais leve e divertida.
A minha amiga de todas as horas Ana Cristina, por segurar as pontas nas minhas
muitas ausncias do trabalho e ainda ter pacincia para ouvir minhas angstias;
Michele, amizade forte e antiga, resgatada graas ao doutorado, por me acolher
carinhosamente no Rio, sempre em companhia de Mariah, de Stella e de Bela;
Ao Silvrio e Rosinha na orientao para o preenchimento do edital da Fapeam e por
disponibilizar tantas vezes o apartamento no Rio;
Aos colegas do Doutorado, por compartilharem conhecimentos, angstias, estresses,
mas muitas alegrias. Estamos conseguindo, cada um a seu tempo;
s novas amizades que vieram com o doutorado, Arlete e Adenilda, que deram a fora
necessria nos momentos difceis;
s amigas Sol e Fran que colaboraram com muita dedicao na coleta de dados;
equipe da Unati-UEA, em especial a Dra. Terezinha e ao Dr. Euler Ribeiro, que
abriram as portas da Universidade incondicionalmente para a realizao desta pesquisa;
FAPEAM que disponibilizou o apoio financeiro para a concretizao do inqurito
populacional;
Aos familiares e amigos que colaboraram de diferentes maneiras ao longo desses quatro
anos, acompanhando essa trajetria e torcendo para que tudo acabasse bem.
RESUMO
O aumento significativo de idosos impulsionou a realizao de estudos sobre as
condies de vida e sade dessa populao. Entretanto, tais investigaes se restringem,
em sua maioria, as regies Sul e Sudeste do Brasil, sendo ainda incipientes os estudos
que retratam a realidade das demais regies, as quais possuem aspectos etno-culturais e
sociais distintos que podem influenciar no processo de envelhecimento. Dentre esses
estudos, aqueles que se propem a abordar aspectos da comunicao, na contramo da
pesquisa clnica, ainda so em nmero reduzido. Esta tese foi elaborada na forma de seis
artigos com o objetivo de analisar as condies de vida e sade, distrbios da
comunicao e fatores associados de idosos residentes em Manaus, Amazonas. No
primeiro artigo foram descritos os achados audiolgicos e sua associao com sexo e
faixa etria de 574 sujeitos com idade igual ou superior a 60 anos, atendidos em
ambulatrio de especialidades de Manaus, no ano de 2010. A prevalncia de deficincia
auditiva foi de 94,4 % (n=542) predominantemente do tipo sensorioneural (85,5%;
n=490), grau leve (60%) para o sexo feminino e grau moderado ou maior para o sexo
masculino (50%), de configurao descendente (54,2%) em ambos os sexos. O
percentual de normalidade foi baixo, sendo de 261 (3,4%) para os homens e 313 (7,3%)
para as mulheres. Os artigos dois e trs resultam de estudo realizado com idosos
matriculados na Universidade da terceira idade UnATI/UEA, Manaus/AM. No segundo
artigo avaliou-se a associao entre sade autorreferida, perda auditiva e cognio de 80
idosos. Os resultados revelaram que estados de sade referidos como regular e ruim
apresentavam mais dficit cognitivo e de audio em relao aos que referiam boa
condio de sade. O terceiro artigo caracterizou os distrbios de comunicao
autorreferidos (memria evocada, compreenso da linguagem oral e escrita, leitura e
escrita, acesso lexical, inteligibilidade da fala, produo oral, repetio espontnea e
audio), destacando a associao entre as variveis de condio de sade, aspectos
sociodemogrficos, estilo de vida, perda auditiva e morbidades, em um grupo 159 de
idosas. O dficit de comunicao foi referido por 8,18% das idosas. Entre os
analfabetos, 20% relataram dificuldades de comunicao, enquanto os alfabetizados,
8,44%. Observou-se associao entre dificuldade de comunicao e perda auditiva
autorreferida (p = 0,03). Os artigos quatro, cinco e seis referem-se aos resultados
obtidos por meio do estudo seccional de base populacional, realizado com 646 idosos
residentes na cidade de Manaus/AM. O mtodo amostral utilizado foi probabilstico em
dois estgios com probabilidade proporcional ao tamanho (PPT). A amostra de
entrevistas foi divida pelo fator de proporcionalidade de sete entrevistas por setor
censitrio, totalizando 92 setores. Em cada setor censitrio os idosos foram selecionados
por meio do processo de sistematizao, levando em considerao as cotas de sexo e
idade, de forma a se obter uma amostra representativa da populao alvo. As entrevistas
foram realizadas em domiclios, por pesquisadores treinados, utilizando instrumento
elaborado para o estudo, alm de protocolos amplamente utilizados para avaliar
capacidade funcional, cognio, linguagem e audio. O quarto artigo descreveu o perfil
epidemiolgico dessa populao, analisando as condies de vida e sade a partir do
sexo, idade e local de moradia. O quinto artigo estimou prevalncia de perda auditiva
auto referida (25,7% ) e fatores associados (viver sozinho (RP=1,34 IC95%(1,03-1,74),
dependncia em AIVD (RP=1,61 IC95%(1,19-2,16), labirintite (RP=1,33 IC95%(1,03-
1,74), Parkinson (RP=2,02 IC95%(1,14-3,57), dificuldade de compreenso (RP=1,69
IC95%(1,27-2,25), dificuldade de comunicao (RP=1,34 IC95%(1,00-1,18) e
deficincia visual (RP=1,94 IC95%(1,44-2,62)). O sexto artigo estimou a prevalncia de
distrbios de linguagem referido (11,5%) e fatores associados (dificuldade em
conversas (RP=3,29 IC95%(1,66-6,53), dependncia em AVD (RP=3,54 IC95%(1,54-
8,62), perda auditiva (RP=2,13 IC95%(1,16-3,93) e deficit de memria (PR=1,93
IC95%(1,01-3,66)). Os resultados desta tese evidenciam que as condies de sade,
perfil scio-cultural, morbidades e capacidade funcional dos idosos residentes em
Manaus assemelham-se ao retrato observado nas demais regies do pas, o que pode ser
compreendido pela prpria caracterstica urbana da cidade. Quanto aos achados de
distrbios da comunicao em idosos, esse estudo pretendeu contribuir na compreenso
dos fenmenos e das transformaes que ocorrem nesta fase da vida, para possibilitar a
adoo de aes de preveno, tratamento e reabilitao, atendendo s necessidades de
aspectos de comunicao no envelhecimento e minimizando seus efeitos na sade.
Palavras-chave: Idoso, Sade do Idoso, Inquritos de Morbidade, Perda auditiva e
Transtornos da Comnunicao.
ABSTRACT
The significant increase in elderly boosted studies on living conditions and health of this
population. However, such investigations are limited, mostly the South and Southeast
regions of Brazil, with incipient studies that depict the reality of the other regions,
which have distinct ethno - cultural and social aspects that may influence the aging
process. Among these studies, we observe that those who purport to address aspects of
communication, against clinical research, are still few in number. This thesis has been
developed in the form of six articles in order to examine the conditions of life and
health, communication disorders and associated factors among elderly people living in
Manaus, Amazonas. In the first article audiologic findings and its association with
gender and age of 574 subjects aged over 60 years, treated in outpatient specialties
Manaus, at 2010 were described. The prevalence of hearing impairment was 94,4 %
(n=542) predominantly sensorineural (85,5 %, n=490), mild (60%) were females and
moderate or greater degree in males (50 %) , downward sloping (54.2 %) in both sexes.
The percentage of normality was low, with 261 (3,4 %) for men and 313 (7,3%) for
women . Items two and three are the result of a study of seniors enrolled in the
University of the third age UnATI / UEA, Manaus/AM. In the second article, we
evaluated the association between self-reported health, hearing loss and cognition in the
elderly 80. The results revealed that health conditions such as fair and poor had more
cognitive and hearing than those who reported good health deficits . The third article
characterized the self-reported communication disorders (evoked memory, oral and
written comprehension, reading and writting knowledge, lexical access, speech
intelligibility, oral production and spontaneous repetition and hearing loss) highlighting
the association between variables of health conditions, sociodemographics factors, life
style, hearing loss and diseases in 159 elderly women. The communication disorders
was reported by 8,18% of elderly female. Among illiterated group, 20% declared
communication disorders, while the literated group, 8,44%. A statistical association
was verified between communication disorders and self-reported hearing loss (p=0,03).
The articles four, five and six refer to the results obtained through the sectional
population-based study, conducted with 646 elderly residents in the city of Manaus -
AM. The sampling method used was probabilistic two-stage proportional to size (PPT)
probability. The sample of interviews was divided by the proportionality seven
interviews by census tract factor, totaling 92 sectors. Each census tract seniors were
selected through the systematization process, taking into account the dimensions of
gender and age in order to obtain a representative sample of the target population. The
interviews were conducted in homes by trained researchers using instrument developed
for the study in addition to widely used protocols to assess functional capacity,
cognition, language and hearing. The fourth article describes the epidemiology of this
population, analyzing the conditions of life and health from sex, age and place of
residence. The fifth article estimated prevalence of hearing loss self referred (25,7 %)
and associated factors (living alone (PR=1,34 IC95%(1,03-1,74), IADL dependency
(PR=1,61 IC95%(1,19-2,16), labyrinthitis (PR=1,33 IC95%(1,03-1,74), Parkinson's
disease (PR=2,02 IC95%(1,14-3,57), difficulty of comprehension (PR=1,69
IC95%(1,27-2,25), communication disorders (PR=1,34 IC95%(1,00-1,18) and visual
impairment (PR=1,94 IC95%(1,44-2,62)). The sixth article estimated the prevalence of
language disorders referred (11,5%) and associated factors (difficulty conversations
(PR=3,29 IC95%(1,66-6,53), ADL dependency (PR=3,54 IC95%(1,54-8,62), hearing
loss (PR=2,13 IC95%(1,16-3,93) and memory deficits (PR=1,93 IC95%(1,01-3,66)).
The results of this thesis show that the health, socio- cultural profile, morbidity and
functional capacity of the elderly residents in Manaus resemble the picture observed in
other regions of the country , which can be understood by the urban character of the city
itself. About the data of communication disorders in the elderly, this study aimed to
contribute to the understanding of phenomena and transformations that occur at this
stage of life, to enable the adoption of prevention, treatment and rehabilitation, serving
the needs of aspects of communication in aging and minimizing its effects on health.
Key words: Aged, Health of the Elderly, Morbidity Surveys, Hearing Loss and
Communication disorders.
LISTA DE ILUSTRAES
REFERENCIAL TERICO
Quadro I - Estudos desenvolvidos no Brasil sobre prevalncia de perda
auditiva em idosos e os fatores a esta associados...............................
32
METODOLOGIA
Figura 1 - rea descritiva do Stio de Estudos.................................................... 47
Quadro II - Distribuio da amostra em relao as zonas geogrficas da cidade
de Manaus AM.................................................................................
49
ARTIGO 2 Figure 1 - Study Area: Manaus, Amazonas State, Brazil 88
Figure 2 - Distribution of affirmative responses by categories (Questions) age
groups..
91
ARTIGO 3 Figura 1 Distribuio de moradia dos 159 idosos participantes da pesquisa
(UnATI/UEA) nos bairros de Manaus, entre agosto e dezembro de
2012.....................................................................................................
107
LISTA DE TABELAS
ARTIGO 1
Tabela I- Distribuio da populao de estudo por condio de audio,
segundo sexo e faixa etria. Manaus-AM, 2010...................................
69
Tabela II- Distribuio da populao de estudo por tipo de perda auditiva,
segundo sexo e faixa etria. Manaus-AM, 2010...................................
70
Tabela III- Distribuio da populao de estudo por configurao da curva
audiomtrica, segundo sexo e faixa etria. Manaus-AM, 2010. ...........
71
Tabela IV Distribuio da populao de estudo por sexo, segundo grau de perda
auditiva nas orelhas direita e esquerda Manaus-AM, 2010. .................
71
ARTIGO 2 Table 1- Socio-demographic features of 80 respondents participating in the
UNATI/UEA Project
89
Table 2- Self-rated health of of 80 respondents participating in the
UNATI/UEA Project
90
Table 3 Results related to the MiniMental State Examonation for the three
schooling groups and cognitive deficit..
91
ARTIGO 3 Tabela 1- Caractersticas sociodemogrficas dos 159 idosos, Manaus, AM,
2012.......................................................................................................
108
Tabela 2- Prevalncias das desordens de comunicao autorreferidas dos 159
participantes da pesquisa, Manaus, AM, 2012.....................................
110
Tabela 3 Prevalncia de distrbios de comunicao autorreferidos de acordo
com estado de sade, aspectos sociodemogrficos e de linguagem,
Manaus/AM,2012. ................................................................................
112
Tabela 4- Prevalncia de deficincia auditiva autorreferida de idosas
matriculadas na UNATI, Manaus/AM, 2012.........................................
114
ARTIGO 4 Tabela 1- Distribuio segundo a frequncia dos dados sociodemogrficos e de
moradia dos idosos da cidade de Manaus AM...................................
134
Tabela 2- Distribuio dos resultados da escolaridade, situao conjugal, renda,
hbitos de vida, morbidades e sade autorreferida segundo sexo de
idosos residentes em Manaus /AM, 2013..............................................
136
Tabela 3- Distribuio dos resultados da escolaridade, situao conjugal,
renda, hbitos de vida, morbidades e sade autorreferida segundo
idade de idosos residentes em Manaus /AM, 2013...............................
138
LISTA DE TABELAS (cont.)
Tabela 4- Distribuio dos resultados da escolaridade, situao conjugal, renda,
hbitos de vida, morbidades e sade autorreferida segundo zona de
residncias dos idosos de Manaus/AM, 2013........................................
140
Tabela 5- Distribuio de frequncia dos resultados do MEEM, AVD e AIVD
dos idosos da cidade de Manaus - AM..................................................
141
ARTIGO 5 Tabela 1- Estimativas de prevalncia de perda auditiva referida por idosos
segundo fatores sociodemogrficos.......................................................
161
Tabela 2- Estimativa de razo de prevalncia (RP) de deficincia auditiva
referida por idosos segundo comprometimento cognitivo MEEM,
percepo da perda auditiva HHIE S e capacidade funcional AVD
(Katz) e AIVD (Lawton-Brody)............................................................
162
Tabela 3- Estimativa de razo de prevalncia (RP) de deficincia auditiva
referida por idosos segundo caractersticas sociodemogrficas............
163
Tabela 4- Estimativa de razo de prevalncia (RP) de deficincia auditiva
referida por idosos segundo dados do estado de sade e
morbidades.............................................................................................
164
Tabela 5- Prevalncias e Razo de Prevalncia (RP) bruta e ajustada de
deficincia auditiva referida por idosos.................................................
165
ARTIGO 6 Tabela 1- Distribuio segundo a frequncia dos dados sociodemogrficos, de
moradia e condies socioeconmicas, culturais e familiares dos
idosos da cidade de Manaus, AM, Brasil..........................................
183
Tabela 2- Estimativas de prevalncia de deficit de linguagem referido por
idosos segundo aspecto lingustico.................................
185
Tabela 3- Estimativa de razo de prevalncia (RP) de deficit de linguagem
autorreferido segundo caractersticas sociodemogrficas, Manaus
AM 2013................................................................................................
186
Tabela 4- Estimativa de razo de prevalncia (RP) de dficit de linguagem
autorreferido segundo dados do estado de sade e morbidades,
Manaus AM 2013................................................................................
187
Tabela 5- Prevalncias e Razo de Prevalncias (RP) brutas e ajustadas de
deficit de linguagem referido por idosos, Manaus, AM,
2013................................................................
189
LISTA DE SIGLAS
AIVD Atividades Instrumentais da Vida Diria
AVD Atividades da Vida Diria
ABVD Atividades Bsicas da Vida Diria
MEEM Mini Exame do Estado Mental
HHIE-S - Hearing Handcap Inventory for the Elderly Screening Version
SUMRIO
INTRODUO .......................................................................................................... 155
1. REFERENCIAL TERICO ................................................................................... 17
1.1 Condies de vida e sade de idosos ........................................................................ 17
1.1.1 Envelhecimento populacional ........................................................................... 17
1.1.2 Processo de Envelhecimento ............................................................................. 18
1.1.3 Panorama das condies de vida e sade de idosos: alguns estudos ................. 19
1.2 A Audio no Envelhecimento ................................................................................. 30
1.3 A Linguagem no Envelhecimento ............................................................................ 36
2. JUSTIFICATIVA ..................................................................................................... 42
3. OBJETIVOS ............................................................................................................. 44
4. METODOLOGIA ..................................................................................................... 45
4.1. Caracterizao do Stio de Estudo ........................................................................... 46
4.2 Amostra .................................................................................................................... 48
4.3 Anlise Estatstica.............. ...................................................................................... 50
4.4 Instrumento ............................................................................................................... 50
4.5 Aspectos ticos ........................................................................................................ 54
ARTIGO 1: .................................................................................................................... 55
PREVALNCIA DE DEFICIT AUDITIVO EM IDOSOS REFERIDOS A SERVIO
DE AUDIOLOGIA EM MANAUS, AMAZONAS ...................................................... 55
ARTIGO 2: .................................................................................................................... 72
ANALYSIS OF HEARING IMPAIRMENT RELATED TO GENERAL HEALTH
CONDITIONS IN ELDERLY PEOPLE ........................................................................ 72
ARTIGO 3: .................................................................................................................... 92
CARACTERIZAO DE DESORDENS DE COMUNICAO AUTORREFERIDAS
POR MULHERES IDOSAS RESIDENTES EM MANAUS, AMAZONAS, BRASIL
........................................................................................................................................ 93
ARTIGO 4: ................................................................................................................... 115
CONDIES DE VIDA E SADE DE IDOSOS RESIDENTES EM MANAUS-AM:
RESULTADOS DE UM INQURITO POPULACIONAL, 2013 .............................. 115
ARTIGO 5: .................................................................................................................. 142
PREVALNCIA DE DEFICINCIA AUDITIVA REFERIDA E FATORES
ASSOCIADOS EM UMA POPULAO DE IDOSOS DA CIDADE DE MANAUS:
UM ESTUDO DE BASE POPULACIONAL .............................................................. 142
ARTIGO 6: .................................................................................................................. 166
PREVALNCIA E FATORES ASSOCIADOS A DESORDENS DE LINGUAGEM
EM IDOSOS RESIDENTES EM MANAUS, AM, 2013 ........................................ 11567
CONCLUSES ........................................................................................................... 190
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ..................................................................... 193
APNDICES ............................................................................................................... 206
APNDICE A - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido .................................... 207
APNDICE B - Avaliao das condies de vida e sade de idosos ........................... 208
15
INTRODUO
Os estudos sobre o processo de envelhecimento tm gradativamente apresentado
destaque na literatura cientfica. Isso se deve ao fato de que nos ltimos tempos, houve
um aumento importante na expectativa de vida do ser humano, despertando desse modo,
o interesse na investigao desse perodo da vida 1-5
. Nesse cenrio insere-se a presente
tese que foi elaborada em formato de artigos analisando as condies de sade e
prevalncia de distrbios da comunicao em idosos. Na primeira parte foi
contextualizada a temtica e na sequncia apresentados os artigos com os resultados
obtidos com essa pesquisa.
Os referidos artigos foram elaborados de modo a atender aos objetivos da tese.
Assim, o primeiro objetivo especfico gerou o artigo de nmero 1 e, subsequentemente,
o segundo objetivo o artigo de nmero 2; o terceiro, o artigo 3 e o quarto, quinto e sexto
objetivos referem-se aos artigos de nmeros 4, 5 e 6. Os temas de que tratam os artigos
abarcam as condies de vida e sade dos idosos, bem como os distrbios da
comunicao e fatores associados. Outrossim, cabe tambm destacar que o perfil dos
idosos do stio estudado foi amplamente investigado, expressando as caractersticas e
morbidades dessa populao, a partir da coleta de dados em idosos atendidos em Centro
de Referncia de Sade Auditiva, matriculados na Universidade Aberta da Terceira
Idade (UnATI UEA) e atravs de inqurito populacional de base domiciliar em 92
setores censitrios da cidade de Manaus.
O primeiro artigo foi um estudo transversal que descreveu os achados
audiolgicos (tipo, configurao audiomtrica, grau de perda auditiva) e sua associao
com sexo e faixa etria de 574 sujeitos com idade igual ou superior a 60 anos, atendidos
em ambulatrio de especialidades de Manaus. Esse artigo foi publicado na Revista
Brasileira em Promoo da Sade (2012)
O segundo artigo, publicado na Revista Gerencia Politicas de Salud Publica
(2013) Analysis of hearing impairment related to general health conditions in elderly
people apresenta um estudo que avalia a associao entre sade auto-referida, perda
auditiva e cognio de 80 idosos matriculados na Universidade Aberta da terceira idade
UnATI/UEA, Manaus/AM.
O terceiro artigo, Caracterizao de desordens de comunicao autorreferidas
por mulheres idosas residentes em Manaus, Amazonas, Brasil, trata de um estudo que
16
caracterizou os distrbios de comunicao autorreferidos em 159 idosas matriculadas na
Universidade Aberta da Terceira Idade (UnATI UEA). Foram avaliados memria
evocada, compreenso de linguagem oral e escrita, capacidade de leitura e escrita,
acesso ao lxico, inteligibilidade de fala, produo oral espontnea e por repetio e
audio autorreferida. Este artigo foi aceito para publicao na Revista Brasileira e
Geriatria e Gerontologia (2014).
O quarto artigo Condies de vida e sade de idosos residentes em Manaus-
AM resultados de um inqurito populacional, 2013 apresenta um inqurito de base
populacional, que descreveu o perfil socioepidemiolgico de 646 idosos residentes em
Manaus, AM, de acordo com o sexo, idade e zona de residncia. Este artigo foi
submetido a uma revista cientfica e aguarda parecer.
O quinto artigo, Prevalncia de deficincia auditiva referida e fatores
associados em uma populao de idosos da cidade de Manaus: um estudo de base
populacional, apresenta um inqurito de base populacional, que estimou prevalncia de
perda auditiva e fatores associados em 646 idosos residentes em Manaus/AM. Este
artigo foi aceito para publicao na Revista CEFAC (Processo 41-2014). O sexto artigo
Prevalncia e fatores associados a desordens de linguagem em idosos residentes em
Manaus, AM, 2013 apresenta os resultados de um inqurito de base populacional, que
estimou a prevalncia de desordens da linguagem autorreferidas e fatores associados em
646 idosos residentes em Manaus, AM. Este artigo foi submetido ao Journal Cross-
Cultural Gerontolgy e aguarda parecer.
17
1 REFERENCIAL TERICO
1.1 Condies de vida e sade de idosos
1.1.1 Envelhecimento populacional
O processo de envelhecimento da populao um fenmeno sociodemogrfico
que ocorre no mundo todo e caracteriza-se pelo aumento da proporo de pessoas nas
idades mais avanadas, como resultado direto da queda da fecundidade e do aumento da
longevidade e implica em mudanas na estrutura etria de toda uma populao 1,6
.
Tal processo acompanha a tendncia internacional impulsionada pela queda da
taxa de natalidade e pelos avanos da biotecnologia que se refletem diretamente nos
indicadores de morbimortalidade e influenciam diretamente no crescimento desse grupo
populacional. Embora esse processo se assemelhe ao de pases desenvolvidos, no Brasil
o mesmo acontece sem a estrutura e a estabilizao econmica desses 7
. Ao lado desse
fato, importante salientar que a populao vem envelhecendo sem que haja o
necessrio ajuste nas esferas econmica, social e poltica do pas, formando-se um
grupo etrio vulnervel a problemas de sade.
O crescimento do nmero de pessoas com idade acima de 60 anos em relao
populao global ocorre em todos os pases, sejam eles desenvolvidos ou no, porm de
forma diferenciada. A Frana levou 115 anos para dobrar a proporo de idosos de 7
para 14%, enquanto que a China levar somente 27 anos para atingir esse mesmo
aumento 8
. A constatao do crescimento rpido e progressivo da populao idosa tem
se caracterizado como um dos maiores problemas e desafios da sade pblica
contempornea, sobretudo nos pases em desenvolvimento, nos quais esse incremento
vem se dando de forma mais acelerada. No Brasil, a participao da populao idosa
dobrou de 4% em 1940 para 8% em 1996 e projees mostram que, em 2020, esse
grupo ir constituir 15% da populao brasileira. Estima-se que no ano 2025 o Brasil
passar a ocupar o 6 lugar no ranking mundial de populao idosa, com um
contingente superior a 30 milhes de pessoas 6,8,9
.
No entanto, no Brasil, em relao a quantidade da populao idosa, existem
diferenas regionais, com o Norte e o Nordeste apresentando propores inferiores s
demais regies. Nos municpios do Rio de Janeiro (regio Sudeste) e Porto Alegre
(regio Sul) esto as maiores propores, respectivamente 14,88% e 15,03%, enquanto
18
que, Boa Vista e Palmas (regio Norte) apresentam as menores, com apenas 5,18% e
4,37%, respectivamente 10
.
Por outro lado, esse processo de envelhecimento menos acentuado pelo qual
passa a regio Norte, em especial Manaus, pode se reverter em benefcio, na medida em
que possibilita o desenvolvimento de estratgias e programas de apoio a populao de
idosos, que no puderam ser implantadas nos estados brasileiras onde o envelhecimento
populacional foi mais acelerado 11
.
Todavia, para elaborar polticas de ateno voltadas ao idoso que vive nas reas
tropicais amaznicas so necessrios estudos que deem conta da diversidade
sociocultural, econmica, tnica e macro-ambiental. Isto porque tal diversidade est
subsidiada na prpria natureza multifatorial e complexa do envelhecimento biolgico,
que implica em diferentes variveis incidindo sobre a etiologia das doenas, associadas
idade e sobre o prprio envelhecer 11
.
Fieldler & Peres12
reforam a afirmao de que estudos populacionais sobre a
sade de idosos no Brasil ainda so em nmero reduzido, e os que vm sendo realizados
refletem, em sua maioria, o perfil da populao de grandes centros. H evidente
carncia de estudos dessa natureza, estando a maioria deles restrita aos estados do Rio
Grande do Sul, So Paulo e Rio de Janeiro. Diante disso, pouco se conhece da realidade
das populaes que residem em outros estados da federao, e que possuem
especificidades distintas.
1.1.2 Processo de Envelhecimento
O envelhecer faz parte de um processo de desenvolvimento fsico e social do
homem, que o acompanha ao longo de sua trajetria, sendo parte permanente da sua
formao 13
. Pode ser entendido como um perodo da vida dinmico e progressivo no
qual ocorrem complexas interaes dos processos biolgicos, psicolgicos e
sociolgicos os quais culminam em modificaes de natureza morfolgica, funcional e
bioqumica, e que determinam a progressiva perda da capacidade de adaptao do
indivduo ao meio ambiente. Tal processo acontece de maneira individual, marcado pelo
histrico de vida, a herana gentica, o ambiente, os fatores psicolgicos e sociais 14,15
.
Do ponto de vista biolgico, o envelhecimento acarreta o declnio das
capacidades fsicas, podendo provocar alteraes e desgastes em vrios sistemas
funcionais, de forma progressiva e irreversvel, o que implica em novas condies
19
psicolgicas e comportamentais 16,17
. Essas alteraes progressivas que ocorrem nas
clulas, tecidos e rgos, tm incio no nascimento e continuam at a morte, afetam a
fisiologia do organismo, tornando-o mais suscetvel a doenas crnicas, o que pode
impactar na capacidade funcional do indivduo 13,16
.
No Brasil, o marco crononolgico do idoso idade igual ou superior a 60 anos,
porm, o envelhecimento no pode ser definido somente pela idade cronolgica, mas
pelas condies funcionais, psicolgicas, fsicas e sociais da pessoa idosa9,15,18,19
. Em
face dessas questes, muitos investigadores tem se debruado sobre essas temticas em
busca dos fatores, que isolados ou conjuntamente, explicam a longevidade ou esto
associados ao risco de morte, tal como: capacidade funcional, fatores
sociodemogrficos, convvio social, condies socioeconmicas, dieta, qualidade de
vida, doenas crnicas, entre outros9,12,17-20
.
1.1.3 Panorama das condies de vida e sade de idosos: alguns estudos
Percorrendo algumas pesquisas sobre as condies de vida e sade de idosos,
observa-se que estudos epidemiolgicos do tipo transversal so os mais recorrentes no
Brasil, sendo minoria os de base populacional. O mesmo acontece com os estudos de
coorte, os quais so raros dentre as pesquisas brasileiras. Os pioneiros em estudos de
carter longitudinal no pas foram o Epidoso (Epidemiologia do Idoso), desenvolvido na
cidade de So Paulo, onde cerca de 1.700 idosos esto sendo acompanhados e o Projeto
Bambu, desenvolvido na cidade de Bambu, Minas Gerais, onde so acompanhados
todos os residentes na comunidade com idade acima de 60 anos (1.700 pessoas) 4,20
.
Diferentemente do Brasil, em outros pases os estudos longitudinais so mais
comuns. Isso se explica pelas dificuldades inerentes conduo de estudos dessa
natureza e ainda pelo reconhecimento tardio das repercusses do envelhecimento
populacional para o sistema de sade 4,18.
.
Uma coorte acompanhada em Nova Iorque (Long Life Family, N=4559)
identificou em sua linha de base, mdia de idade de 72,5 anos, 55,9% de idosos do sexo
feminino e 72,8% com escolaridade de nvel superior. As principais morbidades
identificadas foram hipertenso (52,2%), dificuldades em Atividades da Vida Diria
(AVDs) (18,0%), cncer (15,5%) e doenas cardiovasculares (9,2%). Esse estudo de
base familiar, tem como objetivo determinar os fatores de risco, genticos,
20
comportamentais e ambientais que influenciam na sobrevivncia, para tal foram
recrutados tanto os idosos como seus familiares 21
.
Na coorte Cardiovascular Heath Study (N=5888), a mdia de idade no incio do
estudo foi de 72,8 anos, 57,6% pertencentes ao sexo feminino e 85,9% com nvel
superior. A hipertenso foi a doena mais prevalente (54,4%), seguida de doena
pulmonar crnica (23,8%) e a incapacidade funcional foi observada em 14,3%. Trata-se
de um estudo longitudinal de base populacional de doena cardaca coronariana e
acidente vascular cerebral em adultos com 65 anos ou mais, residentes nos Estados
Unidos. O principal objetivo foi identificar os fatores relacionados ao aparecimento e
evoluo da doena coronariana e acidente vascular cerebral, novos fatores de risco
nessa faixa etria e em especial os que podem ser protetores e modificvel 22
.
A coorte SENECA (Survey in Europe on nutrition and the elderly: a concerted
action) acompanha idosos desde 1988, residentes em 19 cidades europias dos pases da
Blgica, Dinamarca, Holanda, Portugal, Espanha, Sua, Polnia, Portugal e Itlia.
Numa investigao sobre envelhecimento saudvel e estilo de vida, foram avaliados
estado vital, capacidade funcional e sade auto-referida de 480 idosos (216 homens e
264 mulheres) com idade mdia de 72,6 anos. No apresentavam doenas crnicas 37%
dos avaliados, boa sade foi referida por 76% e 97% eram independentes em AVDs.
Sobre estilo de vida, 75% praticavam atividade fsica e 37% eram fumantes. Os
resultados revelaram que o risco para declnio da condio de sade foi maior entre os
homens. O hbito de fumar aumentou em duas vezes esse risco, a falta de atividade
fsica e a qualidade da dieta aumentaram em 2,8 e 1,1 o risco de piora da sade 23
.
Em 1991, teve incio uma coorte com idosos residentes em So Paulo
denominado projeto Epidoso, realizado pela Universidade Federal de So Paulo, com o
objetivo de descrever um perfil de sade multidimensional e identificar os aspectos que
influenciam e comprometem a capacidade funcional do idoso. A populao da base
inicial do estudo tinha mdia de idade de 69 anos, sendo 58% abaixo de 70 anos e
10,0% acima de 80 e as mulheres representando 60,0% desse total. Em relao
escolaridade, 35,0% eram analfabetos. A maioria residia em famlias multigeracionais
(34,0%); enquanto que 31,0% viviam somente com cnjuge. Em relao ao estado de
sade, 86,0% referiram ser portador de pelo menos uma doena crnica, e 27,0%
apresentavam algum comprometimento mental. Quanto capacidade funcional, 53,0%
relataram total autonomia nas atividades dirias. Esse estudo revelou ainda diferenas
significativas relativas aos subdistritos onde residiam os idosos, com aqueles da rea
21
perifrica apresentando nveis inferiores de renda e escolaridade e condies de sade
piores quando comparados aos da rea central 20
.
Um inqurito domiciliar traou o perfil do idoso residente na zona urbana de So
Paulo, com o objetivo de levantar as necessidades dessa populao. A avaliao
multidimensional dos idosos, estado funcional, dados socioeconmicos, estrutura
familiar, condies de sade fsica e mental e grau de autonomia revelou que em alguns
aspectos, a situao era semelhante a de idosos residentes em pases desenvolvidos, por
exemplo, a alta prevalncia de doenas crnicas (90%) principalmente hipertenso
arterial, dores articulares e varizes. Em outros aspectos, a situao era muito diferente,
por exemplo, o baixo nvel socioeconmico e educacional dessa populao 20
.
Ramos 24
publicou estudos posteriores de acompanhamento da coorte Epidoso.
Comparando os dados de 1993 com os 1998, identificou que o maior nmero de idosos
(29,3%) ainda permanecia na faixa etria entre 65 e 69 anos, a maioria ainda era do sexo
feminino, sendo 36,5% mulheres vivas, vivendo em domiclios multigeracionais.
Observou ainda prevalncia de 33,2% de doenas crnicas. Os resultados revelaram
como variveis associadas ao risco de morrer: sexo masculino, idade avanada, sade
auto-referida negativa, histrico pregresso de internaes, sequelas de doenas,
depresso, dficit cognitivo e alto grau de dependncia. Por outro lado, os fatores que se
apresentaram associados ao envelhecimento saudvel foram o estado cognitivo normal e
o grau de independncia 24,25
.
No Australian longitudinal study of aging avaliou-se a relao entre a auto-
percepo de sade e mortalidade, os resultados apontam que esse indicador um forte
preditor da mortalidade entre idosos. A sade referida como ruim aumentou em 2,83
vezes o risco de desfecho morte em relao ao estado de sade considerado excelente 26
.
Essa relao tambm foi verificada por Arajo, Ramos e Lopes 27
, em Portugal. Os
resultados revelaram que a percepo de sade como ruim foi mais referida por
mulheres (75,8%) quando comparado aos homens (24,2%), em indivduos com baixa
escolaridade (48,5%) e sem hbito de prtica de atividade fsica (87,9%).
Em 1997, na cidade de Bambu, foi iniciado um estudo de coorte com indivduos
com idade acima de 60 anos (n=1.722), intitulado Projeto Bambu: Estudo
Epidemiolgico da Populao Idosa. Desde ento, os sujeitos vm sendo
acompanhados anualmente, produzindo dados e informaes importantes para uma
melhor compreenso do envelhecimento no Brasil e que busquem evidenciar o impacto
da transio epidemiolgica nesse processo4.
22
A base desse estudo longitudinal apresentou uma mdia de idade de 69,3 anos,
escolaridade abaixo de 4 anos (65,3%) e 50,3% e 13,1 de vivos (mulheres e homens
respectivamente). Com relao ao estado de sade, 27,3% referiram como regular ou
ruim e a morbidade com maior prevalncia era hipertenso com 61,5%. O score do
MEEM foi menor para os homens 5. Aps dez anos de seguimento, 39,9% dos
participante vieram a bito, as mulheres continuam sendo maioria e a hipertenso a
morbidade mais prevalente, seguida por dores articulares crnicas (43,6%) . Houve um
maior declnio cognitivo, com redues mais rpidas dos escores do MEEM, em
participantes do sexo feminino, com maior escolaridade e mais velhos28
. Diferentemente
do que ocorre em outros estudos 29-31
.
Jokela el al. 32
examinaram o valor preditor do desempenho cognitivo para sade
mental e fsica em idosos, de Londres, participantes da coorte Whitehall II (5.414
homens e 2.278 mulheres). A cognio foi avaliada a partir de testes de raciocnio
verbal e numrico, memria verbal e fonmica e fluncia semntica. O nvel
socioeconmico e aposentadoria foram includos como co-variveis. O resultados
revelaram que um alto desempenho cognitivo esteve associado a uma melhor sade
mental, fsica e ao nvel socioeconmico. Argimon & Stein 33
acompanharam
longitudinalmente 66 idosos com idade superior a 80 anos no Brasil, e na avaliao do
desempenho cognitivo, aps trs anos, observaram uma leve tendncia de declnio.
Mostraram-se como fatores preditivos, a referncia a atividades de lazer e escolaridade.
O projeto SABE (Sade, Bem-estar, Envelhecimento), desenvolvido em
convnio com a Organizao Pan Americana de Sade, buscou indicadores sobre as
diversas esferas da vida da populao idosa em sete grandes centros urbanos da
Amrica Latina e Caribe. No Brasil, este estudo foi realizado no municpio de So
Paulo, sendo entrevistados 2143 idosos. Os resultados confirmaram algumas questes
relativas s condies de vida e sade dessa populao, como a feminizao da velhice,
com as mulheres representando 58,6% da populao estudada. A mdia de idade de 68
anos encontrada nesse estudo foi considerada uma das mais baixas, em comparao aos
demais pases participantes 34
.
Ainda em relao aos resultados do estudo SABE, foi observado que, quanto ao
estado conjugal, 57,0% eram casados, sendo 27,0% vivos, e dentre esses 42,6%
mulheres. A maioria (86,8%) dos idosos participantes vivia acompanhado e 21,7% no
sabiam ler nem escrever. Das condies de sade, o dficit cognitivo apresentou
prevalncia de 6,9%, aumentando progressivamente com o avano da idade. A
23
prevalncia de depresso (18,1%) foi mais alta na faixa etria entre 60 e 64 anos.
Quanto sade autorreferida, 53,8% a declararam regular ou ruim. A hipertenso
arterial foi a doena mais prevalente, seguida de artrite, reumatismo e artrose. A maioria
(80,7%) dos idosos no apresentava limitaes funcionais que impedissem o
autocuidado. Ainda em relao s condies de sade, 86,7% faziam uso de pelo menos
uma medicao. Observou-se que 60,0% estavam vinculados ao SUS para acesso a
cuidados de sade. Constatou-se renda mdia de 2,1 salrios mnimos, que aumentava
em funo do nvel de escolaridade e com as mulheres apresentando renda inferior aos
homens34
.
No ano de 1992 foi rastreada uma coorte de idosos de Botucatu para verificar o
status vital dos sujeitos que fizeram parte desse inqurito realizado entre 1983 e 1984.
Foram registrados 200 bitos, sendo a maioria de homens. Entre os sobreviventes
(N=374) 165 eram do sexo masculino e 209 do feminino. As variveis associadas
maior mortalidade no sexo masculino foram: idade acima de 70 anos, no ser o chefe da
famlia, renda mensal inferior a um salrio mnimo, no possuir rendimentos
complementares e referncia a diabetes e doenas do aparelho circulatrio. Entre as
mulheres, as variveis que se mantiveram associadas foram idade superior a 70 anos,
no possuir rendas complementares e referncia a diabetes mellitus. O estudo concluiu
que pertencer a nvel socioeconmico inferior significou um aumento de cerca de 2
vezes mais o risco de mortalidade dos idosos de ambos os sexos 35
.
Neiva et al. 36
ao avaliarem idosos residentes na zona Sul da cidade de So
Paulo, evidenciaram maior prevalncia do sexo feminino (74,5%), idade mdia de 69,1
anos, baixa escolaridade (61,8%) e renda mensal de at dois salrios mnimos, sendo a
penso e/ou aposentadoria as principais fontes. As condies de trabalho apontaram que
atividades domsticas e informais so frequentes entre as mulheres e a indstria e
metalurgia entre os homens. Dados de sade auto-referida revelaram que 76,4%
consideram sua sade boa ou tima. Os principais problemas de sade referidos foram
hipertenso arterial (53,0%), diabetes (20,0%) e colesterol elevado (15,5%).
Estudo realizado em uma regio de baixa renda, no municpio de So Carlos
interior de So Paulo, caracterizou as condies de vida e sade da populao idosa,
com nfase na capacidade cognitiva, morbidade, mortalidade, incapacidade funcional e
estilo de vida dos idosos. A faixa etria de 60 a 64 anos foi a mais prevalente (31%).
Observou-se que 56,3% eram analfabetos, 75,2% aposentados e 53,3% moravam com
os filhos. Quanto a situao conjugal, 75,0% dos homens e 50% das mulheres relataram
24
viver com cnjuges. Em relao ao estilo de vida, 83,0% dos idosos informaram no
adotar a prtica de exerccios fsicos. As doenas mais referidas foram hipertenso
(61,0%) e problemas de coluna (60,0%). Conforme o sexo, as morbidades mais
recorrentes em mulheres foram diabetes e obesidade, enquanto que entre os homens as
mais referidas foram catarata e reumatismo. Independncia funcional foi identificada
em 19,9% das mulheres e 28,1% dos homens, e o dficit cognitivo em 51,9% dos
indivduos participantes. Observou-se que 87,0% dos idosos relataram ter procurado
algum servio de sade nos ltimos seis meses e que 67,0% utilizavam medicamento
regularmente. Em relao sade autorreferida, 45,0 % a declararam regular e 4,0%,
excelente 37
.
Fiedler & Peres 12
realizaram um estudo transversal em Joaaba, Santa Catarina,
(n=345) objetivando avaliar o nvel de capacidade funcional e fatores associados.A
mdia de idade era 69,5 anos. Dos idosos avaliados, 37,1% apresentaram incapacidade
funcional, sendo maior entre as mulheres (43,1%). Foi ainda observada uma correlao
linear inversa entre capacidade funcional e idade. Outras variveis que apresentaram
associao com incapacidade funcional foram:sexo feminino, idade acima de 70 anos,
situao econmica ruim, menor grau de escolaridade e histrico laboral pesado.
Campolina, Dini e Ciconelli38
investigaram a influncia do estado funcional de
idosos na qualidade de vida, verificando ausncia de associao entre essas duas
variveis. A presena de depresso, o estado civil, a renda e a prtica de atividades de
lazer se mostraram associadas qualidade de vida.
Ainda sobre a mesma temtica, a partir de dados coletados pela Pesquisa
Nacional por Amostras de Domicilio (PNAD, 1998) concluiu-se que 84,6% dos idosos
entrevistados no apresentavam dificuldades para alimentar-se e usar banheiro; 45,2%
no referiram dificuldades para abaixar, levantar e ajoelhar e 51,9% conseguiam
caminhar cerca de um quilmetro. Grande dificuldade para realizar tais tarefas foram
mais referidas por idosos com idade superior a 80 anos. A anlise revelou a maior
prevalncia de incapacidade entre as mulheres (68,9%). A sade regular foi relatada por
29,2%. A hipertenso apresentou-se como a mais prevalente entre as doenas
autorreferidas (43,9%), seguida de artrite/reumatismo (37,5%). A presena de pelo
menos uma doena crnica foi relatada por 69,0% dos idosos, sendo a proporo maior
entre mulheres (74,5%). A prevalncia de internaes hospitalares cresceu com a idade
e a ocorrncia no diferiu entre os sexos. A mdia de gastos com medicamentos foi de
25
23,0% de um salrio mnimo, e esses gastos cresceram em funo do incremento na
idade18
.
Um estudo longitudinal realizado no Japo, que investigou a relao entre
capacidade funcional e longevidade, detectou no primeiro ano de acompanhamento,
8,6% dependentes em AVDs (Atividades da Vida Diria) e 12,2% em AIVDs
(Atividades Instrumentais de Vida Diria), aumentando essa prevalncia com o
incremento de idade, principalmente aps 85 anos de idade. Aps quatro anos, os
seguintes fatores se mostraram preditores da perda da independncia: idade maior que
75 anos, dificuldade de caminhar e inatividade intelectual. Foi observada maior
dependncia funcional entre as mulheres; com maior prevalncia de dificuldade em
AIVD. Os homens apresentaram maior vantagem em relao manuteno da
independncia, embora mudassem da condio de independente para dependente mais
rapidamente que as mulheres. Ser dependente, aumentou duas a cinco vezes mais o
risco de mortalidade, demonstrando forte associao 39
.
Um estudo realizado em Florianpolis, com 875 indivduos de 60 anos ou mais,
caracterizou as condies de vida e sade dessa populao de idosos, aplicando um
instrumento validado pela Brazil Old Age Schedule (BOAS). Os resultados apontaram
46,1% na faixa etria entre 60 e 69 anos e prevalncia de analfabetismo de 14,3%. A
maioria dos homens eram casados (83,5%), enquanto as mulheres eram vivas (47,5%).
Dependiam do SUS para o acesso sade 45,8% dos participantes. O grau de satisfao
com a vida foi positivo em ambos os sexos. Referiram insatisfao aqueles idosos que
apresentavam problemas de sade e/ou econmicos. Dentre os problemas de sade, os
cardiovasculares foram os mais frequentes, seguido dos metablicos e msculo-
esquelticos. A maioria (50,6%) afirmou que a sade interferia negativamente no
desempenho das atividades rotineiras 40
.
Outro estudo, utilizando o BOAS, reuniu 227 idosos longevos residentes em
Recife e traou o perfil socioepidemiolgico. Houve predominncia do sexo feminino
(77,4% de mulheres); baixo nvel de escolaridade (64,9% estudaram at o 1 grau);
viuvez como estado conjugal (64,8%) e aposentadoria como a principal fonte de renda
(71,7%). As morbidades mais prevalentes foram a hipertenso (59%), a doena de
coluna ou dor nas costas (48,3%), os problemas de viso (46,1%), a incontinncia
urinria (37,8%) e a osteoporose (34,5%) 41
.
Uma pesquisa intitulada Idosos no Brasil investigou as vivncias, desafios e
expectativas da terceira idade com uma amostra de 3744 sujeitos, sendo 2136 idosos e
26
1608 adultos, residentes em 204 municpios do Brasil, com abordagem domiciliar 9
. Os
principais achados revelam que a maior proporo de idosos encontra-se no Sudeste do
pas e a menor na regio Norte. A maioria pertence ao sexo feminino, concentrados na
faixa etria entre 60 e 69 anos, de raa/cor branca (54%), com escolaridade abaixo de 4
anos de estudo (57%), renda mensal familiar de 2 a 5 salrios mnimos (30%), morando
em residncia prpria (79%) com o cnjuge (52%). A doena mais prevalente foi
hipertenso (43%) seguida de problemas de viso (26%) e dores na coluna (23%).
Num estudo transversal realizado em Porto Alegre (N=292), com objetivo de
analisar os fatores associados ao uso de medicamentos em idoso, 66,0% pertenciam ao
sexo feminino, com maioria na faixa etria entre 60 e 79 anos (54,0%). Na distino
entre os sexos, as mulheres apresentaram menor escolaridade, mais problemas de sade
e menor renda. Quanto maior a idade, menor a escolaridade, piores condies
econmicas e maior a dependncia nas atividades de vida diria. Identificou-se
prevalncia de uso de medicamento de 91,0% e dentre as avariveis que se mostraram
associadas estavam sexo feminino, viver sozinho e frequncia de consulta mdica 42
.
Del Duca et al. 17
investigaram a associao entre capacidade funcional e
aspectos comportamentais relacionados sade em idosos residentes em Pelotas, Rio
Grande do Sul (N=598). A prevalncia de incapacidade para Atividades Bsicas de
Vida Diria (ABVDs) foi de 26,8% e para as AIVDs de 28,8%. Indivduos com sade
auto-referida ruim apresentaram prevalncia de incapacidade funcional em ABVDs 4,7
vezes maior do que aqueles que referiram sade excelente. Os comportamentos que
apresentaram associao inversa com a incapacidade funcional foram prtica de
exerccios fsicos e frequncia a cultos religiosos.
Na Sucia, um estudo identificou a relao entre o estado de sade e mortalidade
com a capacidade funcional de idosos imigrantes da Europa, a partir das variveis sexo,
idade, estado civil, escolaridade e etnia. As mulheres representaram 72,1% dos
entrevistados. A maior prevalncia de dificuldade nas atividades da vida diria e a pior
sade auto-referida foi observada para imigrantes do sul da Europa. A baixa
escolaridade esteve associada significativamente com o estado de sade. Entre os sexos
no houve diferena no estado de sade. Um baixo desempenho social esteve tambm
fortemente associado com aumento do risco de piora na sade e na capacidade
funcional43.
.
Dunlop et al. 44
investigaram a relao entre doenas crnicas, sexo e raa com
limitaes funcionais em 4205 idosos, num estudo longitudinal realizado em
27
Chicago/EUA. A mdia de idade dessa populao era 79 anos, com sexo feminino
representando 79% da amostra. Raa e sexo se mostraram preditores moderados de
limitao funcional, independentemente da idade e da escolaridade. As doenas crnicas
que se apresentaram como forte preditoras da limitao funcional foram acidentes
vasculares cerebrais (AVC) (88%) e diabetes (60%). Outras doenas como artrite e
diminuio da viso se mostraram como fatores de risco para dficits funcionais.
Mccurryla et al.45
avaliaram a relao entre o declnio funcional e fatores de
risco em dois grupos de idosos americanos e japoneses. O estudo longitudinal revelou
ao final de 4 anos que menos de 5% do sujeitos declararam declnio funcional em 5 ou
mais atividades e os fatores associados foram idade, sexo feminino, morbidades,
elevado ndice de massa corporal, fumo e sade auto-referida ruim. Entre o grupo de
japoneses observou-se menor ocorrncia de declnio funcional do que entre o grupo de
comparao.
O estudo Baker et al.46
analisou a relao entre atividade fsica e envelhecimento
bem sucedido em idosos canadenses usando dados da Pesquisa de Sade Comunitria
canadense (N = 12.042). Os resultados revelaram que os idosos fisicamente ativos
foram duas vezes mais susceptveis a um envelhecimento bem sucedido. O referido
estudo foi baseado na premissa de que o envelhecimento bem sucedido o balano de
trs componentes: ausncia de doena e incapacidade relacionada doena, alta
capacidade funcional e envolvimento ativo com a vida.
Ishizak, Kai e Imanaka47
acompanharam por seis anos um grupo de 8.090 idosos
japoneses com o objetivo de investigar o papel do desempenho social e da sade auto-
referida como preditores da mortalidade em indivduos saudveis. Como atividade
social considerou-se: encontrar com amigos, ser chamado para dar conselhos, visitar
amigos doentes e conversar com pessoas mais jovens. A mdia de idade do grupo foi
73,3 anos, sendo a maioria do sexo feminino. Ao final do acompanhamento, a taxa de
mortalidade foi de 21% para os homens e 14% para as mulheres. Os fatores que se
mostraram associados inversamente mortalidade foram idade, estar trabalhando, viver
com esposa, morar com crianas, nvel de escolaridade, capacidade funcional, histrico
de hospitalizao e ter um hobby. As variveis desempenho social fraco e sade auto-
referida ruim se mostraram fatores de risco independentes para a mortalidade.
Fone & Lundgren-Lindquist48
, em estudo realizado na Austrlia, compararam a
sade de dois grupos de idosos com faixa etria entre 65 -75 anos e 75-85 anos. Os itens
avaliados foram estado geral de sade, risco de quedas, capacidade e atividade fsica
28
(locomoo, fora muscular, habilidades motoras finas) e independncia. Os resultados
apontaram que os homens se mostraram mais ativos e com uma melhor sade auto-
referida, em ambos os grupos. Sade excelente foi declarada por 50% dos homens e
22% das mulheres. O declnio fsico piorou aps 75 anos de idade, assim como o risco
de queda e a diminuio da capacidade funcional, agravada com a dificuldade de
locomoo. O envelhecimento saudvel em ambos os grupos esteve associado a boa
sade e manuteno de atividade fsica.
Os resultados de um inqurito com idosos residentes na cidade de Fortaleza
identificaram a maioria do sexo feminino (66%), com mdia de idade de 70 anos e,
destes 15,0% pertencente a faixa etria superior aos 80 anos. A maioria dos idosos
(75,3%) vivia em domiclio multigeracional. Os dados relacionados sade apontam
para a presena de pelo menos uma doena em 78,1% e comprometimentos mentais
foram observados em 26,4%. O estudo tambm revelou diferenas entre as reas da
cidade, sendo observadas, nas mais pobres, as maiores prevalncias de morbidade e
dependncia funcional 49
.
Cesar et al.50
investigaram a realidade de idosos moradores de municpios
economicamente pobres do norte e nordeste do Brasil (309 idosos em Caracol, Piau e
390 idosos em Garrafo do Norte, Par). A mdia de idade foi de 70 anos. A maioria
dos participantes era do sexo masculino (62,9%) e 70,0% eram analfabetos. A renda
inferior a um salrio mnimo foi detectada em 8,0% dos entrevistados. Afora isso,
nesses municpios foram identificadas precrias condies de moradia das populaes
idosas.
Dados da Pesquisa Nacional por Amostras de Domiclio - PNAD (2008)
revelaram alta prevalncia de analfabetismo entre idosos - 32,2% no sabiam ler e
escrever, e 51,7% eram analfabetos funcionais (menos de 4 anos de estudo). A mdia de
anos de estudo desse grupo populacional foi de 4,1 anos, sendo as condies menos
favorveis observadas entre os nordestinos (2,7 anos), seguida dos idosos habitantes da
regio Norte, que apresentaram, em mdia, trs anos de estudo. A maior mdia foi
encontrada no Distrito Federal (6,6 anos) 18
.
Os fatores sociodemogrficos tem se revelado fortemente associados as
condies de sade da populao de idosos. Koukolli, Vlachonikolis e Philalithis51
identificaram associao positiva entre fatores sociodemogrficos e funcionalidade
(mobilidade, autocuidado, sociabilidade e limitaes graves) em idosos residentes na
Grcia. Vagetti et al.52
ao avaliarem 1806 idosas do programa Idoso em Movimento, de
29
Curitiba, observaram que os fatores sociodemogrficos (idade, escolaridade, estado
civil, situao ocupacional) e as condies de sade esto associados com a qualidade
de vida em idosas.
Os estudos epidemiolgicos sobre envelhecimento que vm sendo desenvolvidos
centram-se, especialmente, nos determinantes da longevidade e da transio
epidemiolgica; na avaliao dos servios de sade, na identificao da etiologia e
histria natural das doenas e na anlise das condies de vida e sade dos idosos53
.
Essas investigaes buscam identificar indicadores especficos para essa populao,
como perfis de morbidade e mortalidade, presena de dficits fsicos e cognitivos,
acesso sade, entre outros. Seus resultados evidenciam um panorama que afetar
diretamente a demanda aos servios de sade nos prximos anos, caracterizando-se um
importante problema de sade pblica. Costatatou-se ainda que dentre os estudos de
base populacional, pouco se descreve das condies de comunicao. O que comumente
se encontra so pesquisas dirigidas a sade auditiva do idoso, porm com uma nica
questo ampla e genrica sobre a presena ou no de perda auditiva, includa num
instrumento, cujo objetivo central investigar as condies gerais de sade dessa
populao. Embora ampliados os interesses por estudos epidemiolgicos, estes ainda se
encontram restritos a algumas cidades e estados brasileiros, que no representam o pas
na sua totalidade.
No Brasil, os estudos que caracterizam as condies de sade dos idosos
mostram o quadro preocupante em que se encontra essa parcela da populao, com a
alta prevalncia de doenas crnicas e a baixa escolaridade, que associada precria
situao econmica, aumenta o nvel de dependncia desses indivduos. A capacidade
funcional, por exemplo, considerada um bom indicador de autonomia e qualidade de
vida dos idosos, apontou, na maioria dos estudos que compem esse panorama, para a
necessidade de aes preventivas e diferenciadas de sade e de cuidados qualificados,
objetivando uma ateno multidimensional e integral. A reviso da literatura sobre o
tema demonstra a urgncia de polticas pblicas direcionadas a essa populao54-57
.
Diferenas regionais, tambm reveladas nesses estudos, reforam a necessidade
de investigaes epidemiolgicas em outras cidades, j que possivelmente os dados
podem revelar realidades distintas das que se apresentaram at ento56,58,59
.
No Amazonas, investigaes dessa natureza so escassas. O primeiro grande
estudo epidemiolgico denominado Projeto Idoso da Floresta11
delineou os perfis
socioeconmicos, culturais, de dependncia e de morbidade geral por zona geogrfica
30
do idoso includo no ESF-SUS do municpio de Manaus. Com o objetivo central de
formar recursos humanos especializados no atendimento ao idoso no estado do
Amazonas, se props a investigar na primeira fase do estudo as condies
socioeconmicas demogrficas de escolaridade, situao conjugal, renda pessoal
mensal, tipo de moradia, recepo de auxlio, nvel de autonomia e presena de
morbidades. Os resultados revelaram que do total de 1509 idosos pesquisados, 53,6%
eram do sexo feminino, com idade mdia de 67 anos e 46,2% do sexo masculino com
idade mdia de 66 anos. Quanto ao estado conjugal, 66,90% eram casados. Os dados de
escolaridade revelaram 34,10% de analfabetismo, e 67,90% com renda inferior a uma
salrio mnimo. Os indicadores de sade revelaram que 85,50% eram autnomos do
ponto de vista funcional; 24,70% relataram uma morbidade e 50,60% relataram possuir
de duas a quatro morbidades, sendo mais prevalentes a hipertenso arterial (57%) e a
diabetes (24%). Quando avaliados por distrito de sade, os dados apresentaram
diferenas significativas associadas as zonas geogrficas da cidade. Idosos residentes
nos bairros da zona sul, caracterizada por sua antiga formao urbana, referiram menor
nmero de morbidades quando comparado s demais reas.
1.2 A Audio no Envelhecimento
A capacidade de ouvir uma funo importante no processo de comunicao
humano. Isto porque permite ao indivduo compreender e perceber os sons do ambiente
e dessa forma, interagir e compartilhar com seus pares o complexo sistema que a
linguagem. O estudo de Scheneider et al. 60
avaliou o grau de dependncia gerado pela
deficincia auditiva para os idosos concluindo que a mesma impacta negativamente
sobre a autonomia, aumentando a dependncia do apoio familiar e da comunidade.
A deficincia auditiva impacta na qualidade de vida do indivduo e de sua
famlia, na medida em que interfere no desempenho lingustico, na capacidade funcional
e no bem-estar emocional e social. Desse modo, a privao auditiva no se trata apenas
de um dficit sensorial, pois traz consigo consequncias que geram instabilidade nas
relaes, isolamento, segregao, alteraes psicolgicas, alm de problemas de alerta e
defesa. Situaes, que quando acentuadas, podem transformar-se em fator de
desagregao social 16,61-63
.
31
De acordo com estudos 15,64,65
, nas estruturas que envolvem a audio possvel
observar alteraes antomo-fisiolgicas relativas ao envelhecimento que atingem o
sistema auditivo provocando degenerao sensorial, neural, estrial e do processamento
neural central. Tais alteraes, associadas s predisposies genticas e fatores
ambientais podem resultar em diminuio da acuidade auditiva, tontura, zumbido e
piora nas habilidades de discriminao, localizao, fuso, fechamento, sntese e
ateno auditiva.
As principais alteraes fisiolgicas observadas no sistema auditivo no processo
de envelhecimento so: aumento do tamanho do pavilho auricular; tendncia a
colabamento por perda de elasticidade; aumento da produo de cerume e quantidade de
plos; atrofia e aumento do conduto auditivo externo 64,66,67
.
Afora isso, nesse processo de envelhecimento observa-se na orelha mdia
espessamento de membrana timpnica e a calcificao dos ligamentos dos ossculos. Na
orelha interna podem ocorrer processos de atrofia de clulas ciliadas e de sustentao do
rgo de Corti, diminuio de neurnios cocleares, degenerao neural, reduo de
fluxo sanguneo e do metabolismo da estria vascular e enrijecimento de membrana
basilar 64,67
. Essas mudanas progressivas, degenerativas e fisiolgicas, que ocorrem
nessa fase da vida, podem resultar na instalao de um dficit auditivo, acarretando em
diminuio da percepo auditiva, elevao dos limiares tonais e lentido no
processamento da informao, comprometendo habilidades necessrias a compreenso
da fala68-69
.
A perda auditiva no idoso denominada presbiacusia e decorre de alteraes
degenerativas do sistema auditivo como um todo, que pode estar relacionada a algumas
doenas como fator primrio, acidente vascular cerebral, hipertenso, entre outras.
Afora estas, tambm pode estar associada a fatores como dieta, metabolismo, colesterol
elevado, estilo de vida, exposio a rudo ocupacional e estresse 64
.
A presbiacusia caracteriza-se por uma perda auditiva sensorioneural bilateral de
configurao descendente, ou seja, mais acentuada nas frequncias agudas. Esse tipo de
configurao da perda auditiva compromete a compreenso dos fonemas da fala, na
medida em que os sons da lngua concentrados nos agudos contribuem em 60% para
essa compreenso. Os sons da fala constituem-se por frequncias baixas (grave), mdias
e altas (agudo), variando sua intensidade dependendo do fonema. O fato de a
presbiacusia comprometer, inicialmente, os sons agudos explicaria a constante queixa
dos idosos eu escuto, mas no entendo 70,71
.
32
A perda auditiva a terceira doena crnica mais comumente relatada em
pessoas com mais de 65 anos, ficando atrs apenas da artrite e hipertenso. Nos Estados
Unidos afeta cerca de 16% dos adultos, e entre a populao idosa esse nmero pode
alcanar 50% 72,73
. Um dos poucos estudos de estimativa de dficit auditivo proveniente
da realizao de exame audiomtrico, numa amostra representativa da populao
americana maior de 12 anos de idade, revelou que 20,3% apresenta perda auditiva
bilateral ou unilateral. Entre os indivduos com idade superior a 60 anos, esse valor de
44,8%, chegando a 89,1% na faixa etria acima de 80 anos 74
.
Vale destacar que os achados decorrentes de estudos que estimam prevalncia de
perda auditiva diferem muito na literatura, em funo dos diferentes mtodos adotados.
Quando a audio avaliada atravs de medidas audiomtricas encontram-se altas
prevalncias na faixa etria acima de 60 anos 66,75,76
. Nos estudos epidemiolgicos de
base populacional em que se avalia a audio por meio da auto-percepo referida, essa
prevalncia diminui 77-82
.
Essa variabilidade observada nesses estudos pode ser compreendida a partir das
caractersticas da presbiacusia, a qual tem incio nas frequncias mais agudas, sendo
pouco perceptvel pelo idoso na fase inicial, porm com a evoluo do dficit, as
frequncias mdias e graves so atingidas, comprometendo a percepo da maioria dos
fonemas da lngua. O perfil da populao estudada tambm pode influenciar nos dados
de prevalncia, pois as pesquisas que avaliam os idosos atravs de exames audiolgicos
so normalmente realizadas em centros de sade, com indivduos que procuram o
servio em decorrncia de alguma queixa auditiva, diferentemente dos sujeitos
avaliados em inquritos populacionais.
Alguns estudos que estimaram a prevalncia de perda auditiva em idosos e os
fatores associados, desenvolvidos no Brasil, foram selecionados e so apresentados no
quadro I, a seguir:
33
Quadro I. Estudos desenvolvidos no Brasil sobre prevalncia de perda auditiva em idosos e os fatores a esta associados
Autores e data Populao de estudo e Local Prevalncia de Perda auditiva em idosos Fatores de risco associados a Perda auditiva
Carmo e Silveira,
200876
Clnico prospectivo de corte
transversal com 320 idosos SP
Prevalncia de deficincia auditiva 83,1% Hipertenso arterial
sistmica;diabetes mellitus,hiperlipidemia;exposio a rudo ocupacional;
tabagismo
Paiva, et al 2011
77 Estudo de base populacional. 872
idosos do Inqurito ISA Capital, SP,
Brasil.
Prevalncia deficincia auditiva referida
por idosos 11,2
Sexo masculino, aumento da idade e escolaridade acima de 8 anos de
estudo
Cruz, 200778
Banco de dados do Inqurito
Multicntrico de Sade de SP ISA-
Capital.
Prevalncia de perda auditiva autorreferida
na populao 6,18%
Faixa etria mais elevada, sexo masculino
Cruz, et al 200979
Estudo de base populacional com 5250
indivduos de 12 anos ou mais
residente em SP
Prevalncia de deficincia auditiva referida
por idosos (18,7%),
Doenas, transtorno mental comum e uso de medicamentos
Cruz, et al 2012
80 Estudo de base populacional com
1.115 idosos. Projeto SABE So Paulo,
Brasil
Prevalncia de deficincia auditiva referida
por idosos 30,4%
Idades mais avanadas, sexo masculino, queixas osteoarticulares, de
vertigem e/ou tontura, deficincia visual
Cruz, et al 201381
Estudo longitudinal com 765 idosos
So Paulo, Brasil
Incidncia de perda auditiva autorreferida
de 17,4%
Idade igual ou maior a 80 anos, sexo masculino, ocupaes nos setores
agropecurio, industrial ou de manuteno e osteoporose
Baraky, et al 201282
Estudo descritivo populacional
seccional 1.050 indivduos com idade
entre 4 dias e 95 anos. Minas Gerais
Prevalncia da perda auditiva incapacitante
estimada em 5,2%
Zumbido, idade acima de 60 anos e baixa escolaridade.
Gondim, et al 201283
Estudo de base populacional. 349
sujeitos com idade acima de 4 dias
Santa Catarina
Prevalncia de perda auditiva referida em
idosos de 24,27%
Idade acima de 50 anos
Samelli, et al 2011
84 Estudo transversal com 200 idosos. SP
Brasil.
Prevalncia de deficincia auditiva
autorreferida de 56%.
No houve associao estatisticamente signiticante entre queixa referida e
grau da perda auditiva obtida por auditometria tonal
Sousa e Russo,
200985
Estudo retrospectivo com 625 idosos.
SP. Brasil
Prevalncia de deficincia auditiva 36,1% Sexo masculino, diabetes melito e histria familiar de presbiacusia
Mattos e Veras,
200786
Estudo prospectivo, cross-sectional de
base populacional com 238 idosos
acima de 65 anos. RJ. Brasil
Prevalncia de deficincia auditiva na
melhor orelha 42,9% e na pior orelha
64,3 %
Sexo masculino
PNAD, 1998 87
Total da populao brasileira acima de
60 anos. Brasil
Prevalncia de perda auditiva autorreferida
9,20%
Aumento da idade
Morettin, et al 200888
Inqurito de base populacional com
2143 idosos.. Projeto SABE- SP.
Prevalncia de perda auditiva autorreferida
24%
Aumento da idade, sexo masculino, morar acompanhado, relato de tontura,
memria, sade declarada regular e ruim
Beria et al., 200389
Inquerito de base populacional com
2427 pessoas acima de 4 anos. Canoas
RS. Brasil
Prevalncia de perda auditiva autorreferida
26,1%
Sexo masculino, idade acima de 60 anos, menor escolaridade e baixa renda
34
No quadro 1 possvel observar que, nos inquritos de base populacional que
estimaram perda auditiva autorreferida, a prevalncia variou de 9,20% a 30,40%. Em muitos
destes estudos a idade se mostrou associada 77,78,80-85,87-89
. Achados de pesquisas
internacionais que estimaram a incidncia de perda auditiva, mostraram que os idosos com
idade acima de 80 anos foram 70% mais propensos a desenvolver dficit auditivo em relao
ao grupo com idade entre 60 e 79 anos 82
. Estudos longitudinais apontam, aps perodo de
seguimento, a idade como fator de risco para ocorrncia e progresso de perda auditiva 90, 91
.
Nas pesquisas apresentadas no quadro 1, outros fatores que estiveram associados a perda
auditiva foram sexo masculino, relatos de tontura e vertigem, memria, autopercepo ruim
de sade, hipertenso, diabetes, baixa escolaridade e aspectos cognitivos77,81,85-88
. Quanto
maior a dificuldade de comunicao autorreferida, mais comprometida a percepo auditiva e
o desempenho cognitivo 88,92
.
Os achados obtidos atravs da realizao de exames audiolgicos em indivduos de 60
anos ou mais apontam presena de dficit auditivo de 60,0% a 71,8% 66,75,85
, com maior
prevalncia no sexo masculino e progredindo com o avanar da idade. Essas investigaes
que buscam traar o perfil audiolgico da populao idosa corroboram quanto alta
prevalncia de perda auditiva do tipo neurossensorial, grau leve, bilateral, de configurao
descendente, com maior prejuzo nas frequncias altas (4, 6 e 8 kHz), em ambas as orelhas.
Nesses estudos, a perda auditiva esteve associada a idade, sexo masculino, baixa escolaridade,
presena de doenas cardiovasculares e metablicas, zumbido, tontura, plenitude auricular e a
fatores extrnsecos, como tabagismo e exposio a rudos 62,85,86,93
.
Em geral, as prevalncias de perda auditiva estimadas em estudos internacionais so
similares aos dados obtidos nas investigaes no Brasil, variando de 51,0% a 70% sendo a
maioria de grau leve 90,94,95
. Foram observadas ainda, associaes entre deficincia auditiva e
qualidade de vida e ao declnio cognitivo em idosos 94
. Um estudo longitudinal realizado no
Japo identificou declnio da audio associado a dependncia em atividades da vida diria e
mortalidade. Os idosos com dficits significativos de audio foram mais propensos aos
desfechos morte e dependncia. Enquanto que a audio preservada reduziu de 4,3% a 6,3% o
impacto sobre os resultados adversos para sade em indivduos acima de 65 e de 75 anos,
respectivamente95
.
A auto percepo da audio e sua associao com as condies de vida e sade
revelaram-se como boa para a maioria dos sujeitos, com diferena significativa em relao ao
sexo e a idade. O aumento da idade piora a auto percepo da audio apontando a
necessidade de se diferenciar as faixas etrias em estudos com populao de idosos 80,88
.
35
Estudos que utilizam alguns instrumentos de autoavaliao, ao avaliar as implicaes
sociais causadas pela perda auditiva vm demonstrando eficincia na deteco de dficits
auditivos e das limitaes sociais decorrentes. Cassol et al.96
testaram a eficincia do
questionrio Hearing Handicap Inventory for the Elderly Screening Version (HHIE-S) que
avalia o handicap auditivo em idosos e os resultados revelaram que os sujeitos com alteraes
auditivas apresentaram queixas de percepo auditiva no HHIE, apontando ser este um bom
indicador de dficit auditivo. Lautenschlager & Tochetto97
que tambm se utilizaram do
HHIE, ao avaliarem a percepo de idosos quanto desvantagem causada pela perda auditiva
destacaram o constrangimento, referido pelos idosos, ao conhecer novas pessoas. Entende-se
por handicap ou desvantagem auditiva os aspectos no auditivos que resultam da deficincia
auditiva, os quais limitam ou impedem os sujeitos de desempenharem suas atividades de vida
diria de maneira adequada, comprometendo suas relaes de famlia, trabalho e sociedade98
.
Estudos que compararam os resultados de testes audiomtricos e questionrios de
autoavaliao para percepo da deficincia auditiva encontraram prevalncias similares
dimensionadas pelos questionrios de autopercepo e medidas de perda auditiva84,99
.
Gopinath et al.
99 investigaram, atravs de instrumentos de auto-avaliao, o risco de adultos
portadores de deficincia auditiva sofrerem problemas emocionais e de engajamento social e
concluiu que o risco 6 vezes maior nesses indivduos.
Diversos estudos epidemiolgicos de base populacional que no puderam realizar
medidas audiomtricas em suas amostras utilizam uma pergunta nica genrica para avaliar
perda auditiva. A validade desta pergunta, em comparao com a audiometria tonal, vem
sendo amplamente investigada, e as concluses revelam que a mesma tem uma boa
performance na identificao de idosos com perda auditiva, podendo ser utilizada na
impossibilidade de ser realizar exame audiomtrico. Uma avaliao subjetiva da deficincia
auditiva, embora no substitua o exame de audiometria, pode ser utilizada como instrumento
de avaliao, desde que se considere que a percepo do idoso quanto presena deste dficit
pode estar sujeita a uma srie de questes que envolvem a experincia de vida, cultura,
escolaridade e o contexto no qual est inserido 77,100,101
.
Um estudo multicntrico, envolvendo nove centros audiolgicos em toda a Europa, ao
elucidar os fatores de risco associados a perda auditiva em idosos concluiu que o estilo de
vida saudvel pode proteger contra a perda auditiva nessa faixa etria 102
. Os resultados de 42
estudos, realizados entre 1973 e 2010, em 29 pases apontou que a deficincia auditiva
necessita de ateno global, em especial nos pases de baixa renda. De acordo com os
36
autores, a prevalncia desse dficit, estimada em 9,8 % e 12,2%, para as mulheres e homens
respectivamente, acima de 15 anos, apresenta tendncia de crescimento103
.
Luz et al. 104
avaliaram os benefcios relativos capacidade funcional e desempenho
comunicativo em idosos usurios de prtese auditiva e concluiram que o uso do aparelho
auditivo reduziu as limitaes e a restrio para participar em atividades de vida diria.
Corna et al. 105
compararam os fatores sociodemogrficos entre grupos de idosos
usurios e no usurios de prtese auditiva, os achados no diferiram entre os grupos, mas
reforaram o entendimento de que o uso da prtese uma das formas mais eficientes de
amenizar problemas auditivos e suas consequncias psicossociais.
A realizao de inquritos de base populacional permite conhecer a magnitude dos
distrbios da comunicao para a sade pblica, contribuindo para a construo de estratgias
de identificao de perda auditiva na populao de idosos, desde a ateno primria,
possibilitando a minimizao desses efeitos 49,106
.
1.3 A Linguagem no Envelhecimento
A linguagem essencial na vida do ser humano, pois permite estabelecer vnculos
sociais, apreender conhecimentos, expressar, compreender e interagir, contribuindo para
autonomia, independncia e bem estar. Muito mais que uma simples mediadora do
conhecimento e muito mais do que um instrumento de comunicao ou um modo de interao
humana. A lngua constitutiva do sujeito 107
(p.46). E como atividade constitutiva,
sustentada pela interao social, inerente as relaes humanas, fazendo parte de nossa
natureza modelando ativamente nossa comunicao, nosso pensamento e nossa interao
108(p.222).
A linguagem no uma atividade mental isolada, nela confluem diferentes processos,
envolvendo habilidades sensoriais, motoras, cognitivas e lingusticas e qualquer limitao que
afete um desses aspectos pode comprometer sua funcionalidade, manifestando-se na fala.
Essa fala, quando sintomtica abala no sujeito sua iluso de controle e autonomia sobre a
linguagem(...) desencadeando um efeito social de marginalizao, estigmatizao e
isolamento que se produz na escuta do outro (...) e um efeito de destituio subjetiva produz-
se na escuta do prprio falante 109
(p. 20).
37
Dada a complexidade que a linguagem, h uma diversidade de estudos nessa rea,
que em geral, caracterizam aspectos como: produo e compreenso, funes cognitivas e
aspectos evolutivos e patolgicos 110
.
Embora as desordens de linguagem possam afetar pessoas de qualquer idade,
observam-se acontecimentos clnicos, orgnicos e funcionais, no processo de envelhecimento,
que podem desencadear dficits lingusticos 111,112
. Contudo, os estudos sobre linguagem na
rea de envelhecimento, em sua maioria, descrevem as sequelas de processos patolgicos,
sendo incipientes as investigaes no idoso saudvel, trazendo a tona indagaes relevantes,
como por exemplo: repercusses que o envelhecimento pode trazer para o funcionamento da
linguagem; e se de fato esta muda com o envelhecer a ponto de ser considerada uma patologia
59,112.
Os estudos sobre a linguagem, com idosos saudveis, vm demonstrando que h
diferenas na capacidade lingustica do idoso, porm os declnios na comunicao no se
mostram significativos, a no ser que estejam associados a outros processos patolgicos.
Outros estudos apontam a associao positiva entre o declnio lingustico e cognio,
escolaridade, depresso, sexo e relaes sociais, indicando que preservar a comunicao pode
implicar na manuteno da independncia e da qualidade de vida no processo de
envelhecimento 111,113-115
.
Estudos sobre a fluncia na produo de fala apontam que as hesitaes, interjeies e
correes aumentam com a idade, como resultado da dificuldade ao acesso lexical ou da
prpria condio de subvalorizado do idoso. Quanto ao vocabulrio, pesquisas revelam que o
mesmo no declina com a idade, embora seja constante a queixa de dificuldade de acesso ao
lexical, isto , encontrar a palavra certa no momento, sendo a dificuldade mais observada no
idoso, no que diz respeito linguagem 116,117
. Numa avaliao da ocorrncia da aprendizagem
verbal, atravs de teste de fluncia semntica e fonolgica, observou-se decrscimo na
produo de palavras com o aumento da idade e diminuio em relao ao nvel de
escolaridade. Na comparao entre os sexos verificou-se melhor desempenho dos homens na
prova semntica 118
.
Andrade & Martins119
analisaram o perfil da fluncia da fala em 128 idosos em
parmetros como, tipos e frequncia de rupturas e velocidade de fala. Os resultados
apontaram diferenas estatisticamente significantes entre idade e quantidade de slabas por
minuto. No grupo acima de 80 anos observou-se aumento das rupturas de fala e decrscimo
da velocidade, concluindo que o efeito da idade mais expressivo depois dos oitenta anos em
38
relao aos parmetros de fluncia da fala. Brucki & Rocha120
no observaram diferenas
significativas em relao a sexo e idade na avaliao da fluncia.
O efeito da idade na fluncia verbal, semntica e fonolgica, foi avaliado em adultos
saudveis, com idades entre 45-91 anos. Na fluncia fonolgica o desempenho no diferiu
entre os grupos dos indivduos mais velhos (75-91 anos) e dos mais jovens (50-64 anos). Na
fluncia semntica, o grupo de idosos apresentou desempe