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CONDUTAS VEDADAS AOS AGENTES PÚBLICOS EM CAMPANHA ELEITORAL E O ABUSO DO PODER POLÍTICO: CRITÉRIO CIENTÍFICO PARA JUSTIFICAR A ANÁLISE DA “GRAVIDADE” DOS FATOS NA FORMA DO ART. 22, XVI, DA LEI COMPLEMENTAR 64/90 Dieison Picin Soares Bernardi 1 ÍNDICE: 1 ) Introdução; 2 ) Condutas vedadas aos agentes públicos em campanha eleitoral: noções básicas; 3 ) Condutas vedadas aos agentes públicos em campanhas eleitorais tipificadas no art. 73, da lei das eleições: espécies; 4 ) Condutas vedadas aos agentes públicos em campanhas eleitorais tipificadas no art. 73, da lei das eleições: sanções; 5 ) Condutas vedadas aos agentes públicos em campanhas eleitorais tipificadas no art. 74, 75 e 77, da lei das eleições; 6 ) Condutas vedadas aos agentes públicos e abuso do poder político: gravidade dos fatos; 7 ) Critério científico para justificar o exame da gravidade dos fatos, como instrumento de análise da configuração ou não do ato abusivo; 8 ) Considerações finais; 9 ) Bibliografia. 1 O autor é aluno de Doutorado pela UCA – Pontifícia Universidade Católica Argentina - Buenos Aires. É Chefe do Cartório da 83ª Zona Eleitoral do Paraná, Brasil.

Condutas Vedadas e abuso do poder pol tico para EJE SC · 1 ) INTRODUÇÃO No âmbito do Direito Material ou Substantivo Cível Eleitoral muitas condutas são arroladas como ilícitas

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Page 1: Condutas Vedadas e abuso do poder pol tico para EJE SC · 1 ) INTRODUÇÃO No âmbito do Direito Material ou Substantivo Cível Eleitoral muitas condutas são arroladas como ilícitas

CONDUTAS VEDADAS AOS AGENTES PÚBLICOS EM CAMPANHA ELEITORAL E O

ABUSO DO PODER POLÍTICO: CRITÉRIO CIENTÍFICO PARA J USTIFICAR A

ANÁLISE DA “GRAVIDADE” DOS FATOS NA FORMA DO ART. 2 2, XVI, DA LEI

COMPLEMENTAR 64/90

Dieison Picin Soares Bernardi1

ÍNDICE:

1 ) Introdução; 2 ) Condutas vedadas aos agentes públicos em campanha eleitoral:

noções básicas; 3 ) Condutas vedadas aos agentes públicos em campanhas eleitorais

tipificadas no art. 73, da lei das eleições: espécies; 4 ) Condutas vedadas aos agentes

públicos em campanhas eleitorais tipificadas no art. 73, da lei das eleições: sanções; 5 )

Condutas vedadas aos agentes públicos em campanhas eleitorais tipificadas no art. 74,

75 e 77, da lei das eleições; 6 ) Condutas vedadas aos agentes públicos e abuso do poder

político: gravidade dos fatos; 7 ) Critério científico para justificar o exame da gravidade

dos fatos, como instrumento de análise da configuração ou não do ato abusivo; 8 )

Considerações finais; 9 ) Bibliografia.

1 O autor é aluno de Doutorado pela UCA – Pontifícia Universidade Católica Argentina - Buenos Aires. É Chefe do Cartório da 83ª Zona Eleitoraldo Paraná, Brasil.

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1 ) INTRODUÇÃO

No âmbito do Direito Material ou Substantivo Cível Eleitoral muitas condutas são

arroladas como ilícitas (em especial, na Lei das Eleições), de regra, sem expressa referência legal

como abuso do poder político, mas, que, em razão da “gravidade” dos fatos, por afetarem a

igualdade entre os candidatos, o caracterizam, o que tem ganhado contornos singulares em razão

das interpretações jurisprudenciais do TSE.

A Lei 9.504, Lei das Eleições, no Brasil, em 1997, tipificou “condutas vedadas aos

agentes públicos em campanhas eleitorais”, em seus artigos 73, 74, 75 e 77, impondo sanções. Essas

condutas em especial, podem caracterizar abuso do poder político.

A caracterização do abuso do poder político induz “gravidade” dos fatos, na forma do

art. 22, XVI, da Lei Complementar 64/90, no âmbito da Ação de Investigação Judicial Eleitoral, isto

é, “para a configuração do ato abusivo, não será considerada a potencialidade de o fato alterar o

resultado da eleição, mas apenas a gravidade das circunstâncias que o caracterizam”.

Por exemplo, para além do rol das condutas vedadas aos agentes públicos, quanto à

“propaganda eleitoral em geral”, a Lei das Eleições prevê punição de multa a algumas condutas (§

3º do art. 36, § 1º do art. 37 e § 8º do art. 39), e a outras multa e detenção, como crime (§ 5º do art.

39 e art.40), sem prever expressamente que são condutas tendentes à desiquilibrar a igualdade entre

os candidatos. Referente ao uso da Internet, a Lei das Eleições prevê punição com multa a algumas

condutas (§ 2º do art. 57-C, § 2º do art. 57-D, § 2º do art. 57-E, § único do art. 57-G, e art. 57-H),

sem prever expressamente que são condutas tendentes à desiquilibrar a igualdade entre os

candidatos. Ainda, concernente ao “direito de resposta”, a Lei das Eleições prevê punição de multa

a algumas condutas (§ 8º do art. 58), sem prever expressamente que são condutas tendentes à

desiquilibrar a igualdade entre os candidatos.

Nessas razões, deve ser fixado um critério científico para justificar o exame da

gravidade dos fatos, como instrumento de análise da configuração ou não do ato abusivo, na forma

do art. 22, XVI, da Lei Complementar 64/90.

Será possível constatar que a lei eleitoral em muitas ocasiões realiza, abstratamente, um

juízo de desvalor tocante a várias condutas, ações, sem considerá-las, de modo expresso, como

abuso do poder político, prevendo punição específica, não raramente, apenas com multa.

No entanto, permite, a lei, sistematicamente, que sobre todas elas possa incidir um juízo

de desvalor do resultado, no campo da análise da “gravidade” dos fatos, a cargo do juiz eleitoral, na

justa medida em que essas ações, condutas, podem vir a afetar concretamente a igualdade de

oportunidades entre os candidatos.

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E, no caso, em razão da constatação dessa “gravidade”, permite-se a aplicação, além da

multa, de pena mais severa como a cassação do registro de candidatura ou diploma, além da

inelegibilidade (art. 22, XIV e XVI, da Lei Complementar 64/90), forte na caracterização, por esse

viés (de exame de desvalor do resultado que desiguala oportunidades entre candidatos), então, de

fato abusivo do poder político.

2 ) CONDUTAS VEDADAS AOS AGENTES PÚBLICOS EM CAMPANHA ELEITORAL:

NOÇÕES BÁSICAS

O uso indevido da máquina pública em prol de determinada candidatura, juridicamente,

não vem sendo tolerada no Brasil, mormente, a partir de 1988, pois, no campo de um estado

democrático de direito. Cediço que “outra espécie de abuso coibido pela legislação eleitoral é o

poder político, ou, como preferem tratar os eleitoralistas, o uso indevido da máquina administrativa

em prol de determinada candidatura. (…) Após aprovada a emenda constitucional da reeleição, o

legislador brasileiro passou a tipificar determinadas condutas tidas por ilícitas ou abusivas e, ipso

facto, vedadas a sua prática por certos agentes públicos. Podem, conforme o caso, caracterizar

abuso do poder político. São atos que, uma vez praticados, podem afetar a isonomia de

oportunidades entre os candidatos em determinado prélio eleitoral.”2

Entre o rol das condutas vedadas, em essência, estão aquelas praticadas: a ) durante todo

o ano eleitoral (Art. 73, I a IV e VII, da Lei 9504/97); b) a partir de abril do ano eleitoral (Art. 73,

VIII, da mesma lei); c) Nos três meses que antecedem o prélio eleitoral (Art. 73, V e VI, art. 75 e

art. 76 da Lei das Eleições).

Assim, a Lei 9.504, Lei das Eleições, em 19973, tipificou “condutas vedadas aos agentes

públicos em campanhas eleitorais”, em seus artigos 73, 74, 75 e 77, impondo sanções. O artigo 73,

sofreu alteração pela Lei 11300/2006 e pela Lei 12034/2009. Igualmente, os artigos 74, 75 e 77,

também sofreram alterações pela Lei 12034/2009.

A Lei 11300, de 10 de maio de 2006, que alterou profundamente a Lei das Eleições

brasileira, teve origem no Projeto de Lei 275/2005, do Senado Federal.

Em sua essência a referida reforma buscou o enfrentamento de problemas gerados pela

arrecadação, gerenciamento e aplicação dos recursos de campanha, através da redução dos seus

custos, do aperfeiçoamento dos sistemas de controle e do agravamento das punições aos infratores.

2 ALMEIDA, Roberto Moreira de, Curso de Direito Eleitoral, 5ª ed. , São Paulo: Podium, 2011, p. 434.3 A Emenda Constitucional 16 de 1997, no Brasil, possibilitou a reeleição nos cargos de Chefes do Poder Executivo Municipal, Estadual e Federal,

por um mandato consecutivo.

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Na apresentação de sua justificativa do Projeto 275/2005 (que veio a se converter na Lei

11.300/2006, alterando a Lei das Eleições), o Senador da República autor do texto originário,

pontualmente sobre as alterações propostas às regras de campanha eleitoral, expressou: “(...) Quanto

à propaganda eleitoral, reduzimos o seu período (art. 36) e proibimos, com aumento sensível da

punição, a prática de “boca-de-urna” (art. 39), empregando definição legal mais clara e objetiva,

vedando expressamente, também, a presença em palanque de artistas, músicos e assemelhados,

prática que, a nosso ver, desnatura o comício, desvirtua a mensagem política e produz confusão

mental no eleitor. No novo art. 47, finalmente, reduzimos o período de propaganda eleitoral gratuita

em rádio e televisão, com reflexos nos arts. 52 e 54. A revogação dos incisos IX e XI do art. 26

implica a eliminação da possibilidade de gastos eleitorais com produção ou patrocínio de

espetáculos e eventos promocionais e com o pagamento de cachês a artistas ou animadores para os

chamados “showmícios”. (...)”.4

A Lei 11300/2006 teve, na justa medida seu ciclo completado, mais tarde, pela Lei

12034/2009. Analisaremos, a seguir uma a uma das condutas vedadas.

3 ) DAS CONDUTAS VEDADAS AOS AGENTES PÚBLICOS EM CAMPANHAS

ELEITORAIS TIPIFICADAS NO ART. 73, DA LEI DAS ELEIÇ ÕES: ESPÉCIES

Tem-se enfatizado, doutrinariamente, e seguido o entendimento pela jurisprudência do

TSE, quanto ao artigo 73, que “o caput do artigo é claro. Comanda que diversas condutas são

proibidas. Há um elemento normativo: ‘tendentes a afetar a igualdade de oportunidades entre

candidatos nos pleitos eleitorais.’ A pergunta que se faz é: uma das condutas proibidas poderia ser

permitida ou tolerada se pudesse ser provada que ela não era ‘tendente a afetar a igualdade de

oportunidades?’ Não, nenhuma dessas condutas é aceita. Porque elas afetam realmente a igualdade

de oportunidades. O que caput diz é que todas essas condutas tendem a afetar a igualdade de

oportunidades entre candidatos e por isso são proibidas.”5

As condutas vedadas do art. 73, da Lei das Eleições, podem ser divididas em duas

categorias: uma relacionada com razões de natureza eminentemente econômica, protegendo

diretamente o patrimônio público e o enriquecimento sem causa, através do emprego de bens e

valores (incisos I, II, IV, VI e VII); outra relacionada com o pessoal, isto é, com a preservação do

exercício de funções pelos servidores do quadro da administração, não deturpando-as, isto é, pondo-

as a serviço de campanhas (a exemplo dos incisos III, V, VIII). 4 Justificação. Sala das Sessões. Conf. no seguinte endereço eletrônico: www.senado.gov.br/atividade/materia em 22/08/2011. O Projeto de Lei n.º

275/2005, no seu texto originário.

5 CONEGLIAN, Olivar, Lei das Eleições Comentada, 2008, p. 334.

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Reputa-se agente público, para os efeitos deste artigo, quem exerce, ainda que

transitoriamente ou sem remuneração, por eleição, nomeação, designação, contratação ou qualquer

outra forma de investidura ou vínculo, mandato, cargo, emprego ou função nos órgãos ou entidades

da administração pública direta, indireta, ou fundacional (LE 73, parágrafo 1).

Em doutrina, salienta-se que “o artigo relaciona condutas que nenhum agente público

(segundo o conceito de seu parágrafo 1º, aliás bem abrangente) pode realizar, em benefício de

candidato ou partido, de sorte a afetar a igualdade de oportunidade entre candidatos nos pleitos

eleitorais. Embora o dispositivo diga que as condutas devam ser tendentes a afetar a igualdade de

oportunidades entre candidatos nos pleitos eleitorais, serão elas punidas, nos termos dos parágrafos

deste artigo, mesmo que tal objetivo concretamente não chegue a ser alcançado. As práticas

elencadas nos incisos são proibidas e serão punidas, mesmo que o resultado concreto, de benefício a

determinado partido, coligação ou candidato, evidentemente com potencial prejuízo para os outros,

não se verifique.”6

Assim, conforme o art. 73 da Lei as Eleições, são proibidas aos agentes públicos,

servidores ou não, as seguintes condutas tendentes a afetar a igualdade de oportunidades entre

candidatos nos pleitos eleitorais:

a ) “Ceder ou usar, em benefício de candidato, partido político ou coligação, bens

móveis ou imóveis pertencentes à administração direta ou indireta da União, dos Estados, do

Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios, ressalvada a realização de convenção

partidária” (Redação do inciso I, do art. 73, da LE).

No que se refere à vedação do artigo 73, I, da Lei das Eleições, “não abrange bem

público de uso comum”. A esse respeito, já se decidiu: TSE, Respe 25.377, de 1.8.2008.

Cediço que os servidores públicos, enquanto eleitores, podem ter preferências por certo

candidato. O voto é secreto, porém, muitos eleitores abdicam desse que é um direito seu e, com

adesivos em automóveis ou outra forma de manifestação, declaram seu voto abertamente à

comunidade onde vivem. Nesse contexto, além de severos desdobramento de abuso de poder por

parte de alguns agentes políticos, surge a prática da conduta vedada prevista na Lei Eleitoral, artigo

73, inciso I.

Tal, evidencia a presunção objetiva de desigualdade, ensejando a aplicação de sanções.

Malgrado, “note-se que a regra em apreço não impede que servidor público sponte

própria engaje-se em campanha eletiva. Sua qualidade funcional não lhe subtrai a cidadania, nem o

direito de participar do processo político-eleitoral, inclusive colaborando com os candidatos e

6 DECOMAIN, Pedro Roberto, Eleições, comentários à Lei 9.504/97, 2004, p. 352.

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partidos que lhe pareçam simpáticos. Todavia deve o servidor guardar discrição. Não poderá atuar

em prol de candidatura ‘durante o horário de expediante normal’, muito menos na repartição em que

desempenha as funções de seu cargo, tampouco poderá ser cedido pelo ente a que se encontra

vinculado. A vedação alcança os servidores de todas as categorias, inclusive os ocupantes de cargos

comissionados, conforme entendeu o TSE ao prolatar o acórdão n. 1636, de 14/4/2005 (JURISTSE

13/124).”7

Ainda, da jurisprudência: “Condutas vedadas aos agentes públicos em campanhas

eleitorais – potencialidade para influir no resultado do pleito – desnecessidade. Representação.

Mensagem eletrônica com conteúdo eleitoral. Veiculação. Internet de Prefeitura. Conduta vedada.

Art. 73, I, da Lei n. 9.504/97. Caracterização. 1 . Hipótese em que a Corte Regional entendeu

caracterizada a conduta vedada a que se refere o art. 73, I, da Lei das Eleições, por uso do bem

público em benefício de candidato, imputando a responsabilidade ao recorrente. (...). 2. Para a

configuração das hipóteses enumeradas no citado art. 73, não se exige a potencialidade da conduta,

mas a mera prática dos atos proibidos.”8

A vedação do inciso I do caput não se aplica ao uso, em campanha, de transporte oficial

pelo Presidente da República, obedecido o disposto no art. 76, nem ao uso, em campanha, pelos

candidatos a reeleição de Presidente e Vice-Presidente da República, Governador e Vice-

Governador de Estado e do Distrito Federal, Prefeito e Vice-Prefeito, de suas residências oficiais

para realização de contatos, encontros e reuniões pertinentes à própria campanha, desde que não

tenham caráter de ato público (LE 73, parágrafo 2).

b ) “Usar materiais ou serviços, custeados pelos Governos ou Casas Legislativas,

que excedam as prerrogativas consignadas nos regimentos e normas dos órgãos que

integram” (Redação do inciso II, do art. 73, da LE).

A incidência dessa conduta vedada implica estudo e análise das chamadas normas

interna corporis, isto é, regentes das atividades de órgãos colegiados, como Câmara de Deputados,

Senado Federal, Assembleias Legislativas e Câmara de Vereadores, no aprumo de seus Regimentos

Internos.

c ) “Ceder servidor público ou empregado da administração direta ou indireta

federal, estadual ou municipal do Poder Executivo, ou usar de seus serviços, para comitês de

campanha eleitoral de candidato, partido político ou coligação, durante o horário de

expediente normal, salvo se o servidor ou empregado estiver licenciado” (Redação do inciso

III, do art. 73, da LE).

7 GOMES, José Jairo, Direito Eleitoral, Editora Del Rey, 2008, p. 422/423.8 BRASIL, TSE, Recurso Eleitoral n. 21.151-PR, Relator Ministro Fernando Neves, DJU 27.6.2003, p. 124. J. 27.3.2003.

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Cumpre asseverar que a norma não atinge o servidor licenciado, nem tampouco aquele

que está de férias. Mais a mais, “o art. 73 refere-se a condutas tendentes a afetar a igualdade de

oportunidades entre candidatos, por isso submete-se ao princípio da porporcionalidade” (TSE,

Respe 25.358, de 6.6.2006).

E até mesmo porque a prática das condutas vedadas arroladas no referido artigo 73 não

conduz necessária e logicamente à cassação do registro ou diploma, pois, devendo ser proporcional

à gravidade do ilícito eleitoral (Nesse sentido: TSE, REspe 26.060, de 11.12.2007).

Por haver a aplicação isolada da multa.

d ) “Fazer ou permitir uso promocional em favor de candidato, partido político ou

coligação, de distribuição gratuita de bens e serviços de caráter social custeados ou

subvencionados pelo Poder Público” (Redação do inciso IV, do art. 73, da LE).

O que o artigo 73, IV da Lei das Eleições veda é a prestação de serviços sociais com

ânimo de promover algum candidato. Desde que não haja finalidade de promoção ou favorecimento

indireto à candidatura, obviamente, não se proíbe a prestação de serviços de caráter social.

A vida não pode ser interrompida ou suspensa em ano eleitoral, por lógico.

Ademais, a conduta vedada, pura, supõe o dispêndio de recursos públicos, autorizados

por agentes da Administração.

Observe-se: “Conduta vedada (art. 73, IV e VI, b, da Lei nº 9.504/97). Não configurada.

Cassação do registro. Impossibilidade. Propaganda divulgada no horário eleitoral gratuito não se

confunde com propaganda institucional. Esta supõe o dispêndio de recursos públicos, autorizados

por agentes (art. 73, § 1º, da Lei nº 9.504/97). As condutas vedadas julgam-se objetivamente. Vale

dizer, comprovada a prática do ato, incide a penalidade. As normas são rígidas. Pouco importa se o

ato tem potencialidade para afetar o resultado do pleito. Em outras palavras, as chamadas condutas

vedadas presumem comprometida a igualdade na competição, pela só comprovação da prática do

ato. Exige-se, em consequência, a prévia descrição do tipo. A conduta deve corresponder ao tipo

definido previamente. A falta de correspondência entre o ato e a hipótese descrita em lei poderá

configurar uso indevido do poder de autoridade, que é vedado; não "conduta vedada", nos termos da

Lei das Eleições. Recursos Especiais conhecidos, mas desprovidos.”9

Certo que distribuição gratuita de bens e serviços de caráter social não é o mesmo que

divulgar ao público por meio impresso ou mesmo através de sons ou imagens, ou qualquer meio de

9 TSE. RESPE - RECURSO ESPECIAL ELEITORAL nº 24795, de Mogi das Cruzes/SP. Relator(a) Min. LUIZCARLOS LOPES MADEIRA. Publicado em Sessão, em 27/10/2004.

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comunicação que foram realizados feitos de distribuição de bens de caráter social durante o

desempenho de um determinado mandato.

A tipicidade é outra (ver: art. 73, VI, b).

e ) “Nomear, contratar ou de qualquer forma admitir, demitir sem justa causa,

suprimir ou readaptar vantagens ou por outros meios dificultar ou impedir o exercício

funcional e, ainda, ex officio, remover, transferir ou exonerar servidor público, na

circunscrição do pleito, nos três meses que o antecedem e até a posse dos eleitos, sob pena de

nulidade de pleno direito, ressalvados: a) a nomeação ou exoneração de cargos em comissão e

designação ou dispensa de funções de confiança; b) a nomeação para cargos do Poder

Judiciário, do Ministério Público, dos Tribunais ou Conselhos de Contas e dos órgãos da

Presidência da República; c) a nomeação dos aprovados em concursos públicos homologados

até o início daquele prazo; d) a nomeação ou contratação necessária à instalação ou ao

funcionamento inadiável de serviços públicos essenciais, com prévia e expressa autorização do

Chefe do Poder Executivo; e) a transferência ou remoção ex officio de militares, policiais civis

e de agentes penitenciários” (Redação do inciso V, do art. 73, da LE).

Tem-se entendido em doutrina e jurisprudência que a realização de concurso público,

obedecidos os princípios da administração pública é fato não proibido pela artigo 73, V, da Lei das

Eleições. Também não proíbe a lei a remoção de servidor, a pedido, por permuta. Não há vedação

também no que se refere à eventual redistribuição. Óbvio, desde que obedecidos os comando legais

pertinentes.

Essas vedações, se estendem da nonagésima que antecede imediatamente ao pleito e se

estende até a posse dos eleitos.

É que “(...) o art. 73, V, da Lei nº 9.504/97 veda, nos três meses que antecedem ao

pleito, as condutas de nomear, contratar ou, de qualquer forma, admitir, demitir sem justa causa,

suprimir ou readaptar vantagens ou por outros meios dificultar ou impedir o exercício funcional e,

ainda, ex officio, remover, transferir ou exonerar servidor público, na circunscrição do pleito [...],

sua alínea a impõe ressalva quanto a nomeação ou exoneração de cargos em comissão e designação

ou dispensa de funções de confiança. Entretanto, é necessário que se apure a existência de desvio de

finalidade. No caso, por um lado, estes cargos comissionados foram criados por decreto, com

atribuições que não se relacionavam a direção, chefia e assessoramento, em afronta ao disposto no

art. 37, V, CR/88; por outro, os decretos que criaram estes cargos fundamentaram-se na Lei Estadual

nº 1.124/2000, sancionada pelo governador anterior, cuja inconstitucionalidade foi declarada pelo

Supremo Tribunal Federal apenas em 3.10.2008 (ADIn 3.232, 3.390 e 3.983, fls. 10.886-10.911).

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Abuso de poder caracterizado com fundamento: a) no volume de nomeações e exonerações

realizadas nos três meses que antecederam o pleito; b) na natureza das funções atribuídas aos cargos

que não demandavam tamanha movimentação; c) na publicidade, com nítido caráter eleitoral de

promoção da imagem dos recorridos, que foi vinculada a estas práticas por meio do programa

Governo mais perto de você. 14. No caso, configurado abuso de poder pelos seguintes fatos: a)

doação de 4.549 lotes às famílias inscritas no programa Taquari por meio do Decreto nº 2.749/2006

de 17.5.2006 que regulamentou a Lei nº 1.685/2006; b) doação de 632 lotes pelo Decreto nº 2.786

de 30.06.2006 que regulamentou a Lei nº 1.698; c) doação de lote para o Grande Oriente do Estado

de Tocantins por meio do Decreto nº 2.802, que regulamentou a Lei nº 1.702, de 29.6.2006; d)

doações de lotes autorizadas pela Lei nº 1.711 formalizada por meio do Decreto nº 2.810 de

13.6.2006 e pela Lei nº 1.716 formalizada por meio do Decreto nº 2.809 de 13 de julho de 2006, fl.

687, anexo 143); e) 1.447 nomeações para cargos comissionados CAD, em desvio de finalidade, no

período vedado (após 1º de julho de 2006); f) concessão de bens e serviços sem execução

orçamentária no ano anterior (fotos, alimentos, cestas básicas, óculos, etc. em quantidades

elevadíssimas) em 16 municípios, até 29 de junho de 2006, por meio de ações descentralizadas no

Governo mais perto de você. (…) 15. Verificada a nulidade de mais de 50% dos votos, realizam-se

novas eleições, nos termos do art. 224 do Código Eleitoral. (...)”10.

f ) “Nos três meses que antecedem o pleito: a) realizar transferência voluntária de

recursos da União aos Estados e Municípios, e dos Estados aos Municípios, sob pena de

nulidade de pleno direito, ressalvados os recursos destinados a cumprir obrigação formal

preexistente para execução de obra ou serviço em andamento e com cronograma prefixado, e

os destinados a atender situações de emergência e de calamidade pública; b) com exceção da

propaganda de produtos e serviços que tenham concorrência no mercado, autorizar

publicidade institucional dos atos, programas, obras, serviços e campanhas dos órgãos

públicos federais, estaduais ou municipais, ou das respectivas entidades da administração

indireta, salvo em caso de grave e urgente necessidade pública, assim reconhecida pela Justiça

Eleitoral; c) fazer pronunciamento em cadeia de rádio e televisão, fora do horário eleitoral

gratuito, salvo quando, a critério da Justiça Eleitoral, tratar-se de matéria urgente, relevante

e característica das funções de governo” (Redação do inciso VI, do art. 73, da LE).

As vedações do inciso VI do caput, alíneas b e c, aplicam-se apenas aos agentes

públicos das esferas administrativas cujos cargos estejam em disputa na eleição (LE 73, parágrafo

3).

10 TSE. RCED - Recurso Contra Expedição de Diploma nº 698 – Palmas/TO. Acórdão de 25/06/2009. Relator(a) Min. FelixFischer. p. DJE 12/08/2009.

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Veja-se que a transferência de recursos a algumas entidades não está proibida pela

norma, como é o caso de ser beneficiária associação com personalidade jurídica de direito privado.

Entendemos também que essa vedação não pode abranger a sonegação ou procrastinação de

transferências periódicas ordenadas pela Constituição da República, muito menos as que se refere

ao Sistema Único de Saúde. A norma do artigo 73, VI, a, da Lei das Eleições, ademais, deve ser

temperada com as regras previstas na Lei Complementar 101/2001. No que se refere à alínea b do

aludido artigo 73, VI, obviamente, não é vedada a publicação institucional de atos dos membros de

Poder consistente em lei, decretos e acórdãos, por exemplo.

E mais: “(...) A vedação do art. 73, VI, a, da Lei nº 9.504/97 compreende a transferência

voluntária e efetiva dos recursos nos três meses que antecedem o pleito, ressalvado o cumprimento

de obrigação formal preexistente para execução de obra ou serviço em andamento e com cronogra-

ma prefixado, e, ainda, os casos de atendimento de situações de emergência e de calamidade públi-

ca. (...).”11

Ressalte-se: “1. É assente no TSE que, nos três meses que antecedem às eleições, não se

considera propaganda vedada pelo inciso VI do art. 73 da Lei nº 9.504/97 a divulgação, pelo

parlamentar, de sua atuação no cargo legislativo. 2. Maior razão há em se afastar a incidência do §

3º do art. 36 da Lei das Eleições, no caso de veiculação de informativo, no qual o parlamentar

divulga suas realizações em período anterior àquele da eleição. 3. Não-configurada a propaganda

extemporânea, afasta-se a sanção de multa.”12

Tocante à conduta vedada pelo artigo 73, VI, “b”, da Lei n.º 9.504/97, é norma que

proíbe a divulgação de propaganda institucional nos três meses que antecedem o pleito, consistindo,

vedação de natureza objetiva, portanto, não se exigindo, para que fique configurada a conduta

vedada, que tal publicidade beneficie direta ou indiretamente candidato ou partido, não se exigindo,

também, eventual autorização expressa do agente público.

Resta violada a referida norma, ainda que a “propaganda”, tenha cunho educativo,

informativo ou de orientação social, posto que no período vedado, ou seja, a partir de 05 de julho do

ano eleitoral, mesmo que não haja intenção eleitoreira dirigida pelo agente público.

Em doutrina, se tem enfatizado que “o comando normativo estabelecido pelo artigo

proíbe que, no trimestre anterior ao pleito, seja efetuada publicidade institucional na circunscrição.

Portanto, a regra geral é a vedação ampla e irrestrita à propaganda institucional no período

proscrito. Para a caracterização do ilícito é desnecessário exigir qualquer reflexo da publicidade no

11 TSE. AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO ESPECIAL ELEITORAL nº 25980, de Belo Horizonte/MG. J. 15/02/2007.Relator(a) Min. JOSÉ GERARDO GROSSI. DJE 05/03/2007, Página 169.

12 BRASIL, TSE, Agravo em Recurso Eleitoral 26718, de Florianópolis, SC, j. 22/04/2008 Relator Ayres Britto, Relatordesignado, Publicação: DJ - Diário da Justiça, Data 04/06/2008, Página 18.

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processo eleitoral. Com efeito, a regra proibitiva é clara: veda-se, no período glosado, de modo

abrangente, a publicidade no processo eleitoral, ou, como tem assentado o TSE, é “desnecessária a

verificação de intuito eleitoreiro” para a configuração da conduta vedada pelo art. 73, VI, b, da LE

(Agravo Regimental em Agravo de Instrumento nº 71.990 – Rel. Marcelo Ribeiro – j.04.08.2011).

No entanto, o TSE já decidiu que: a) “divulgação, por meio de folder, de atrações turísticas do

Município, sem referência à candidatura do Prefeito à reeleição” não configura conduta vedada

prevista no art. 73, VI, b, da LE (Recurso Especial Eleitoral nº 25.229 – Rel. Gilmar Mendes – j.

06.12.2005); b) “a publicação de atos oficiais, tais como leis e decretos, não caracteriza publicidade

institucional” (Agravo Regimental no Recurso Especial Eleitoral nº 25.748 – Rel. Caputo Bastos –

j.07.11.2006)”.13

No âmbito do colendo TSE: “aperfeiçoa-se com a veiculação da publicidade

institucional, não sendo exigível que haja prova de expressa autorização da divulgação no período

vedado, sob pena de tornar inócua a restrição imposta na norma atinente à conduta de impacto

significativo na campanha eleitoral.”14

Ainda, nesse sentido: “(...) 1 . A conduta vedada pelo artigo 73, VI, “b”, da Lei n.º

9.504/97 aperfeiçoa-se com a veiculação da publicidade institucional, não sendo exigível que haja

prova de expressa autorização da divulgação no período vedado, sob pena de tornar inócua a

restrição imposta na norma atinente à conduta de impacto significativo na campanha eleitoral.

Precedentes do TSE. 2 . O artigo 73 da Lei n.º 9.504/97 trata de condutas objetivas, não se exigindo

qualquer análise acerca da existência de má-fé, potencialidade lesiva, influência no pleito ou caráter

eleitoreiro, já que a legislação faz uma presunção jure et de jure de que as condutas ali tratadas são

tendentes a afetar a igualdade de oportunidades entre candidatos, bastando a comprovação

inequívoca do fato descrito na presente demanda para atrair a incidência da sanção de multa. 3. Nos

termos do § 8º, do artigo 73 da Lei nº. 9.504/97, aplica-se sanção aos candidatos que se

beneficiaram com o ilícito. 4 . No caso, a aplicação da sanção de cassação do diploma é

desproporcional, pois a conduta não possui gravidade suficiente.”15

Malgrado, jurisprudencialmente: “Divulgação de evento municipal em horário eleitoral

gratuito. Não-caracterização de propaganda institucional vedada pelo art. 73, VI, b, da lei nº

9.504/97. Precedente. Agravo Regimental desprovido.” 16

Ainda jurisprudencialmente:

13 ZÍLIO, Rodrigo Lopes, Direito Eleitoral: noções preliminares, elegibilidade e inelegibilidade, processo eleitoral (da convençãoà prestação de contas), ações eleitorais. Porto Alegre: Verbo Jurídico, 2012. p. 534.

14 TSE. Agravo Regimental em Recurso Especial Eleitoral nº 35590, Acórdão de 29/04/2010, Relator(a) Min. Arnaldo Versiani.Publicação: DJE - Diário da Justiça Eletrônico, Data 24/05/2010, Página 57/58.

15 PARANÁ. TRE-PR. Recurso Eleitoral nº 254-45.2012.6.16.0083. Relator : Juiz Marcos Roberto Araújo dos Santos .16 TSE. AAG - AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO DE INSTRUMENTO nº 5566 - dois córregos/SP . Relator(a) Min.

GILMAR FERREIRA MENDES. DJE 02/12/2005, p. 96.

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Uma ) “fazer pronunciamento em cadeia de rádio e televisão, fora do horário

eleitoral gratuito, salvo quando, a critério da Justiça Eleitoral, tratar-se de matéria, urgente,

relevante e característica das funções de governo". 2. Às emissoras de rádio, conforme o

preceituado no art. 45 da Lei nº 9.504/97, é vedado, a partir de 1º de julho do ano eleitoral, dar

tratamento privilegiado ou veicular propaganda política de candidato. 3. "A pena de cassação de

registro de candidato, por conduta vedada em face de propaganda indevida, pode deixar de ser

aplicada quando o Tribunal reconhecer que a falta cometida, pela sua pouca gravidade, não

proporcione a sanção máxima, sendo suficiente, para coibi-la, a multa aplicada. Precedentes: AGRG

no REspe n.º 25.358/CE; AG n.º 5.343/RJ; REspe n.º 24.883/PR. (....)" (AC. 26.876 TSE julgado

em 5.12.2006).17”

Duas ) “Divulgação de torneio de pesca realizado pela Prefeitura nos 3 meses

anteriores às eleições. Mérito. Propaganda institucional em período vedado. Desnecessidade de

aferição de conteúdo eleitoral explícito. Conduta tendente a afetar a igualdade de oportunidades

entre os candidatos. Presunção legal. Jurisprudência do TSE. Gravidade considerada na cominação

da sanção. Multa fixada no mínimo legal. Recurso a que se nega provimento. (TRE-MG; RE 3907;

Relª Juíza Luciana Diniz Nepomuceno; DJEMG 20/10/2011).”

Três ) “Condenação em multa individual de R$10.000,00. 1. Aposição da logomarca

e slogan da Administração em cortinas de escolas, uniformes escolares e na sede de projeto

musical “Dando Cordas”. Veiculação da publicidade durante os três meses anteriores ao pleito.

Fatos incontroversos. Irrelevância da anterioridade da autorização da publicidade. Precedentes do

TSE. Inaplicabilidade do art. 37, §1º da Lei nº 9.504/97, atinente à propaganda eleitoral, ao caso dos

autos. A publicidade institucional não é espécie de propaganda eleitoral, mas de propaganda

política. 2. Descabimento da tese de derrogação do §4º do art. 73 da lei nº 9.504/97. A atual redação

do citado art. 37, §1º não induziu à incompatibilidade prevista no art. 2º, §1º, da Lei de Introdução

ao Código Civil. Convivência harmônica, no corpo da Lei nº 9.504/97, das disposições relativas à

“Propaganda Eleitoral em Geral” e aquelas atinentes às “Condutas vedadas aos agentes públicos

em campanhas eleitorais', regramentos afetos a matérias visceralmente distintas. 3.

Caracterizada a conduta vedada no art. 73, VI, b, da Lei nº 9.504/97, a supressão do dístico da

Prefeitura não elide a aplicação da multa prevista no §4º do mesmo artigo legal, unívoco ao

estabelecer que a prática ilícita acarreta a suspensão do ato e, cumulativamente, a imposição

de sanção pecuniária. 4. Potencial danoso da publicidade mitigado por suas características, uma

vez ser ela restrita à aposição da logomarca e slogan da Administração nas cortinas, placas e

uniformes. Inexistência de divulgação significativa de realizações da Administração ou

enaltecimento de suas ações. Apesar de o potencial desequilíbrio da disputa decorrer objetivamente

17 TRE-CE; RIJE 11046; Rel. Min. Danilo Fontenele Sampaio Cunha; Julg. 16/10/2007; DOECE 26/10/2007; Pág. 241/242.

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de qualquer publicidade institucional vedada, não se extrai da prova carreada aos autos amparo para

o agravamento da sanção pecuniária. Recurso a que se dá parcial provimento para, mantendo a

condenação pela prática de publicidade institucional em período vedado, reduzir ao mínimo legal a

multa aplicada com base no art. 73, §4º, da Lei das Eleições, fixando-a, individualmente, em 5.000

UFIR.”18

Quatro ) “A maciça divulgação das obras realizadas pela Prefeitura, por meio de

placas e outdoors espalhados pela cidade e também no site oficial do Município, durante o

período de três meses que antecede o pleito, implica em violação da norma do artigo 73, inciso VI,

alínea "b", da Lei nº 9.504/97. 2. A multa fixada pouco acima do mínimo legal, de forma motivada,

não implica em ofensa ao princípio da proporcionalidade e muito menos da razoabilidade. 3.

Recurso desprovido.19”

Cinco ) “Publicidade institucional que não verse sobre propaganda de produtos e

serviços que tenham concorrência no mercado, nem se trate de grave e urgente necessidade

pública, é conduta vedada aos agentes públicos, nos três meses que antecedem ao pleito, porque

causa desequilíbrio entre os candidatos. 2. Informação de pagamento de dívidas de gestões

anteriores não se enquadra na exceção legal. 3. Recurso conhecido e provido parcialmente.20”

Não é raro encontrar a impressão de “boletins informativos” e assemelhados, por meio

dos quais, a Administração Pública, às expensas dos cofres públicos, divulga estatísticas que lhe são

elogiosas, normalmente impregnado de fotografias, retratando eventos ocorridos em determinado

período em que o cargo de chefe do executivo foi fulano ou sicrano. Essas publicidades podem ser

realizadas em outro período que não o eleitoral. É inegável que se realizadas em ano eleitoral

servem de regra para promover algum candidato, normalmente, já ocupante de cargo eletivo,

candidato a reeleição. Muito óbvio que os ditames da moralidade administrativa e a honestidade do

homem público deve levá-lo a autorizar esse tipo de publicidade após a eleição. Não às suas

vésperas. No período eleitoral o interesse público está na tutela pela igualdade entre os candidatos,

regra essa que nenhum agente público pode se afastar, qual seja a esfera de governo onde exerça seu

cargo. Todavia, o princípio da tipicidade, regente das condutas vedadas, determinará se houve ou

não a prática desse ilícito. E, na justa medida, a análise da gravidade dos fatos, que pode ser de um

modo realizada pelo juiz eleitoral, e de outro, por eventual órgão colegiado, realizada em grau de

recurso, é que definirá se houve ou não abuso do poder político ou abuso de autoridade, ensejador

da cassação.

Todavia, pondera-se, em jurisprudência: “(...) A publicidade institucional por meio de

18 TRE-MG; RE 5634; Rel. Juiz Benjamin Alves Rabello Filho; DJEMG 15/04/2010.19 TRE-PR; RE 453-90.2012.6.16.0043; Rel. Des. Rogerio Coelho; Julg. 18/09/2012; DJe-TREPR 21/09/2012; Pág. 9.20 TRE-PR; RE 337-46.2012.6.16.0088; Rel. Juiz Luciano Carrasco Falavinha Souza; Julg. 14/09/2012; DJe-TREPR 18/09/2012;

Pág. 6.

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distribuição de “boletins informativos” contendo realização de obras públicas é proibida nos três

meses que antecedem à eleição, restando objetivamente caracterizada a conduta vedada. 2. É

alcançado pela conduta vedada, além do agente público, o seu beneficiário direto, ou seja, o

candidato, o partido ou a coligação (§8º, inciso VIII, do art. 73 da Lei n.º 9.504/97). 3. O abuso de

autoridade só resta configurado quando o agente, embora competente para praticar o ato, excede os

limites de suas atribuições ou o pratica com fins diversos dos objetivados pela lei ou interesse

público. 4. À Justiça Eleitoral cabe avaliar a ocorrência de abuso do poder político, econômico ou

de autoridade com interferência no equilíbrio das eleições, competindo à Justiça Comum apreciar as

práticas que consubstanciem atos de improbidade administrativa.”21 Convém citar trecho extraído

do venerável acórdão, o que revela minucioso exame da proporcionalidade da ventilada gravidade

dos fatos: “(...) Considerando que o boletim informativo refere-se à obras já realizadas, é

compreensível que o Prefeito apareça em algumas fotografias captadas ao longo dos anos de sua

administração. Feita a análise do referido documento, fácil concluir pelas fotos que não houve

promoção ou destaque da imagem do então gestor, eis que ausente em várias delas, com isso,

entendo não haver abuso. Ademais, o abuso de poder em qualquer de suas formas, político, de

autoridade ou econômico, não exige a potencialidade lesiva para que reflita na condenação,

conforme preceitua o artigo 22, XVI da Lei Complementar nº 64/90, que fora alterada pela Lei

Complementar nº 135/10, basta, para tanto, a gravidade das circunstâncias, será o norte para

configuração ou não do ato abusivo. Nessa mesma linha, deverá o alegado ato imputado como

abuso de poder estar satisfatoriamente comprovado nos autos por meio provas suficientes a

ensejarem à condenação do agente. No caso em comento, não vieram tais provas, portanto, não

ficou demonstrado o abuso de poder. Inicio dizendo que nos anos anteriores também foram

produzidos Boletins Informativos contendo as mesmas espécies de informações. No ano das

eleições foi novamente confeccionado e distribuído, frise-se, contendo a mesma forma, material

gráfico, ilustrações etc., não havendo alteração alguma que possa ser considerado algo a mais do

que aqueles Boletins Informativos dos anos anteriores, nem mesmo o número de produção. O

egrégio Tribunal Superior Eleitoral asseverou sobre o tema: “[...] A respeito do abuso de poder

econômico, já tive a oportunidade de ponderar, nos autos do REspe 28.581/MG, que fica

configurado na hipótese de o candidato despender de "(...) recursos patrimoniais, públicos ou

privados, dos quais detém o controle ou a gestão em contexto revelador de desbordamento ou

excesso no emprego desses recursos em seu favorecimento eleitoral". [...]” (RO - Recurso Ordinário

nº 2346. Rel. Min. Felix Fischer. Acórdão de 02/06/2009) “[...] A utilização de recursos

patrimoniais em excesso, públicos ou privados, sob poder ou gestão do candidato em seu benefício

21 TRE/PR. RE nº 312-69.2013.6.16.0000, de Pranchita. Relator: Dr. Josafá Antonio Lemes. j.19/09/13.

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eleitoral configura o abuso de poder econômico. [...] ” (REspe - Recurso Especial Eleitoral nº 1918-

68. Rel. Min. Gilson Langaro Dipp. Acórdão de 04/08/2011). Dessa forma, não vejo caracterizadas

as espécies de abuso de poder econômico consistente na utilização excessiva, desmedida, de

recursos materiais ou humanos que representem valor econômico, antes ou durante a campanha

eleitoral, buscando beneficiar candidato, partido ou coligação, afetando, dessa forma, a normalidade

e a legitimidade das eleições. O abuso do poder político na conduta excessiva do detentor do poder,

o qual se valendo do seu cargo ou função age com o fim de obter vantagens frente ao eleitor, com

isso, violando o princípio da igualdade e colocando em desequilíbrio a concorrência para o pleito,

que na via reflexa suprime o sagrado princípio democrático, situação não vista no caso concreto. O

abuso do poder de autoridade só resta configurado quando o agente, embora competente para

praticar o ato, excede os limites de suas atribuições ou o pratica com fins diversos dos objetivados

pela lei ou interesse público, repita-se, o que não se viu nos autos. Portanto, o alegado ato imputado

como abuso de poder deve estar comprovado – nos autos – através de provas seguras e claras o

suficiente para ensejarem a condenação do agente. Nessa esteira, verifiquei que o boletim de fl. 234

refere-se às obras realizadas no exercício de 2009, contendo 10 páginas; já o boletim de fl. 235 é

relativo aos eventos do ano de 2010, contendo 28 páginas; e, o boletim de fl. 236 refere-se ao

período de 2009/2011 (todo período), contendo 40 páginas. Vejo que o último exemplar repetiu

fotos que já haviam nos boletins informativos dos anos anteriores, acrescentando, saliente-se,

apenas 12 páginas novas. Deste modo, não se pode olvidar de que das 40 páginas do mencionado

Boletim Informativo, 28 já existiam e eram de conhecimento da população em anos anteriores ao da

eleição. Tenho que o número de páginas acrescidas de 2011 para 2012 está em harmonia com o

número de páginas dos anos anteriores, sem qualquer excesso. Assim, salvo melhor juízo, o número

de exemplares (1554), sua extensão e o conteúdo do informativo não mostram qualquer exagero que

possa caracterizar o pugnado abuso de poder econômico, político ou de autoridade.”

g ) “Realizar, em ano de eleição, antes do prazo fixado no inciso anterior, despesas

com publicidade dos órgãos públicos federais, estaduais ou municipais, ou das respectivas

entidades da administração indireta, que excedam a média dos gastos nos três últimos anos

que antecedem o pleito ou do último ano imediatamente anterior à eleição” (Redação do inciso

VII, do art. 73, da LE).

Gastos com publicidades na nonagésima que antecede ao pleito não pode aumentar,

alarmantemente, como se fosse um passe de mágica. Deve manter-se a normalidade de gastos, em

patamares realizados nos meses e anos anteriores. É sabido que através da publicidade são

cometidos muitos ilícitos eleitorais, de forma furtiva, pois, exaltando sobremaneira determinado

candidato à reeleição.

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Cuida o art. 73, inciso VII, da Lei 9.504/97, sobre a realização de despesas com

publicidade institucional no ano eleitoral acima da média de gastos nos três últimos anos anteriores

ao pleito. Para se constatar se ocorre a violação do artigo 73, inciso VII, da Lei 9.504/97, é

necessário se verificar a média mensal dos gastos, de modo que a média mensal dos três últimos

anos anteriores ao pleito não pode ser inferior à média mensal dos gastos no ano eleitoral, sob pena

de se caracterizar a ocorrência do ilícito. No ano eleitoral não é permitida a concretização de

publicidade institucional nos três meses que antecedem a eleição, nos termos do artigo 73, inciso

VI, alínea b, da Lei 9.504/97, de modo que não é coerente comparar o valor global dos gastos no

ano eleitoral com a média anual dos anos anteriores. Examina-se, pois, coerentemente, a média da

mensalidade.

Doutrinariamente, considera-se que “A conduta vedada, na hipótese em causa, consiste

na realização de despesas com publicidade, dos órgãos públicos ou das entidades da administração

indireta, no primeiro semestre do ano eleitoral, acima da média de gastos nos três últimos anos

anteriores ao pleito ou do último ano anterior à eleição. Enquanto o inciso VI se preocupa com o

período do trimestre anterior ao pleito, o inciso VII tem por desiderato a cobertura do prazo

antecedente ao previsto no inciso anterior, ou seja, desde o início do ano até o dia imediatamente

anterior ao trimestre que precede à eleição. Dentro deste período (primeiro semestre do ano

eleitoral), é permitido efetuar gastos com publicidade, desde que não excedam a média prevista na

norma legal. O objetivo legislativo, mais uma vez, é sofrear a tendência – quase compulsiva – dos

administradores de, em ano eleitoral, difundir publicidade institucional de modo incessante,

culminando por afetar a voluntariedade de opção de sufrágio do eleitor, com quebra na igualdade de

oportunidade entre os candidatos.”22

A esse respeito: “1 . A análise de infração ao disposto no art. 73, inciso VII, da Lei das

Eleições é objetiva: praticou-se a publicidade a maior, incide a multa. 2 . Demonstrada que a média

dos gastos realizados em publicidade no ano de 2012 excedeu a média dos últimos três anos, tendo

o recorrente gastado em todo o ano de 2011 quase o montante daquilo que foi gasto nos primeiros

meses de 2012, impõe-se a aplicação de multa. 3. No caso, a aplicação da sanção de cassação do

diploma é desproporcional, pois a conduta não possui gravidade suficiente. 4. Recurso parcialmente

provido.”23

h ) “Fazer, na circunscrição do pleito, revisão geral da remuneração dos servidores

públicos que exceda a recomposição da perda de seu poder aquisitivo ao longo do ano da

eleição, a partir do início do prazo estabelecido no art. 7º desta Lei e até a posse dos eleitos

(LE 73, I, II, III, IV, V, a, b, c, d, e, VI, a, b, c, VII, e VIII)” (Redação do inciso VIII, do art. 73,

22 ZÍLIO, Rodrigo. Direito Eleitoral. São Paulo: Verbo Jurídico editora, 3ª ed., pág. 539.23 PARANÁ. TRE-PR. Recurso Eleitoral nº. 302-04.2012.6.16.0083. Relator: Juiz Marcos Roberto Araújo dos Santos.

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da LE).

Benefícios a servidores públicos estaduais, se comprovado o reflexo no município, haja

vista a coincidência de eleitores, em tese, pode caracterizar abuso do poder político. Quanto a esse

tema: TSE, Respe 26.054, de 8/8/2006.

Publicação de atos oficiais, tais como leis e decretos, não caracteriza publicidade

institucional. A publicidade obrigatória e a publicidade convocatória devem existir no seio da

administração pública, de tal forma que sua ausência provocaria atos nulos ou dificuldade de auto-

realização da própria administração, a propaganda institucional é aquela cuja ausência não provoca

nenhum problema para a administração, sendo está que não pode afrontar o artigo 73, inciso VIII da

Lei n. 9.504/1997.

Nesse sentido: “Recurso eleitoral. Ação de investigação judicial eleitoral cumulada com

representação por conduta vedada. Realização de publicidade institucional em período vedado e

gastos com propaganda do município no ano da eleição superior aos limites legais - art. 73, VI, "b"

e VII, da Lei n. 9.504/1997. Não configuração. Abuso de poder político e de autoridade - art. 74 da

Lei n. 9.504/1997. Ausência de provas. Não caracterização. Desprovimento. I - A configuração das

condutas vedadas do art. 73 da Lei das Eleições, assim como do abuso do poder de autoridade ou

político exigem provas sólidas de sua ocorrência, tendo em vista a gravidade das sanções previstas

na legislação eleitoral. II - A publicação de atos oficiais, tais como leis e decretos, não caracteriza

publicidade institucional. A publicidade obrigatória e a publicidade convocatória devem existir no

seio da administração pública, de tal forma que sua ausência provocaria atos nulos ou dificuldade de

auto-realização da própria administração, a propaganda institucional é aquela cuja ausência não

provoca nenhum problema para a administração, sendo está que não pode afrontar o artigo 73,

inciso VIII da Lei n. 9.504/1997. III - A aplicação rigorosa dos conceitos próprios do direito

financeiro, não resulta na interpretação do disposto no art. 73, VII, da Lei n. 9.504/1997 mais

consentânea com os princípios constitucionais da razoabilidade, não sendo possível utilizar-se a

expressão "despesas" no sentido pretendido, para fins de se considerar apenas o valor empenhado

com publicidade institucional, quando o espírito da lei é combater o excesso de dispêndio com

publicidade dos órgãos públicos ou respectivas entidades da administração indireta em anos

eleitorais, conforme precedente do C. TSE no Agravo Regimental em Recurso Especial Eleitoral n.

176114. IV - Pedidos constantes da AIJE e Representação por conduta vedada julgados

improcedentes.”24

24 TSE. RE - RECURSO ELEITORAL nº 21775 – Jaru/RO. Acórdão nº 417/2012 de 03/10/2012. Relator(a) Juacy dos SantosLoura Júnior. Publicação: DJE/TRE-RO - Diário Eletrônico da Justiça Eleitoral, Tomo 188, Data 9/10/2012.

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4 ) DAS CONDUTAS VEDADAS AOS AGENTES PÚBLICOS EM CAMPANHAS

ELEITORAIS TIPIFICADAS NO ART. 73, DA LEI DAS ELEIÇ ÕES: SANÇÕES

No âmbito do desrespeito eventual ao artigo 73, importa analisar as peculiaridades das

punições previstas na Lei das Eleições.

O descumprimento do disposto neste artigo acarretará a suspensão imediata da conduta

vedada, quando for o caso, e sujeitará os responsáveis a multa no valor de cinco a cem mil UFIR

(LE 73, parágrafo 4).

Mas, não é apenas essa pena que pode ser aplicada.

Nos casos de descumprimento do disposto nos incisos do caput e no § 10, sem prejuízo

do disposto no § 4º, o candidato beneficiado, agente público ou não, ficará sujeito à cassação do

registro ou do diploma (LE 73, parágrafo 5º).

As multas de que trata este artigo serão duplicadas a cada reincidência (LE 73,

parágrafo 6º).

As condutas enumeradas no caput caracterizam, ainda, atos de improbidade

administrativa, a que se refere o art. 11, inciso I, da Lei n.º 8.429, de 2 de junho de 1992, e sujeitam-

se às disposições daquele diploma legal, em especial às cominações do art. 12, inciso III (LE 73,

parágrafo 7º).

Aplicam-se as sanções do § 4º aos agentes públicos responsáveis pelas condutas

vedadas e aos partidos, coligações e candidatos que delas se beneficiarem (LE 73, parágrafo 8º).

Tem ênfase: “(...) O art. 73, § 8º, da Lei nº 9.504/97 prevê a possibilidade de aplicação

da multa aos partidos, coligações e candidatos que dela se beneficiarem. (...).”25

Na distribuição dos recursos do Fundo Partidário (Lei n.º 9.096, de 19 de setembro de

1995) oriundos da aplicação do disposto no § 4º, deverão ser excluídos os partidos beneficiados

pelos atos que originaram as multas (LE 73, parágrafo 9º).

No ano em que se realizar eleição, fica proibida a distribuição gratuita de bens, valores

ou benefícios por parte da Administração Pública, exceto nos casos de calamidade pública, de

estado de emergência ou de programas sociais autorizados em lei e já em execução orçamentária no

exercício anterior, casos em que o Ministério Público poderá promover o acompanhamento de sua

execução financeira e administrativa. (LE 73, parágrafo 10º)

25 TSE. Agravo Regimental em Agravo de Instrumento nº 9877, de Paranaguá/PR. J. 01/12/2009. Relator Min. ARNALDOVERSIANI LEITE SOARES. DJE 11/02/2010, p. 11.

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Por fim, cumpre salientar que, a dizer, “(...) a assinatura de convênios e o repasse de

recursos financeiros a entidades privadas para a realização de projetos na área da cultura, do esporte

e do turismo não se amoldam ao conceito de distribuição gratuita, previsto no art. 73, § 10º, da Lei

nº 9.504/97”26.

Nos anos eleitorais, os programas sociais de que trata o § 10 são poderão ser executados

por entidade nominalmente vinculada a candidato ou por esse mantida (art. 73, § 11º).

Por óbvio, “no trimestre anterior ao pleito, é vedada, em obras públicas, a manutenção

de placas que possuam expressões ou símbolos identificadores da administração de concorrente a

cargo eletivo.”27

Três observações, são extraídas da jurisprudência acerca do tema:

Uma é que “A aplicação do prazo - até a data da eleição - para a propositura das ações

em que se pleiteia apuração de condutas vedadas (artigo 73 da Lei n. 9.504/97) encontra respaldo na

jurisprudência do TSE.”28

Outra, é que “A vedação da divulgação de publicidade institucional, nos três meses que

antecedem o pleito, aplica-se apenas aos agentes públicos das esferas administrativas cujos cargos

estejam em disputa na eleição (art. 73, VI, b, § 3º, da Lei nº 9.504/97). 2. Divulgação autorizada,

com a ressalva de que não deve constar referência aos entes municipais e de que deve ser observado

o disposto no § 1º do artigo 37 da Constituição.”29

E a terceira: “1. Nos termos da jurisprudência do e. TSE "não caracteriza a conduta

vedada descrita no art. 73, VI, b, da Lei nº 9.504/97, a divulgação de feitos de deputado estadual em

sítio da internet de Assembléia Legislativa. A lei expressamente permite a divulgação da atuação

parlamentar à conta das câmaras legislativas, nos limites regimentais (art. 73, II, da Lei nº

9.504/97)." (REspe nº 26.910/RO, Rel. Min. Gerardo Grossi, DJ de 19.12.2006). 2. A moldura

fático-jurídica que exsurge do v. acórdão regional não permite aferir a conotação eleitoral do

material publicitário. Decidir contrariamente - sob a alegação de que a publicidade da atuação

parlamentar exerce forte influência sobre o eleitorado - demandaria o reexame de fatos e de provas,

inviável em sede de recurso especial conforme a Súmula no 7/STJ: "a pretensão de simples reexame

de prova não enseja recurso especial".”30

26 TSE. RO - Recurso Ordinário nº 1717231 – Florianópolis/SC. Acórdão de 24/04/2012. DJE 06/06/2012, Página 31. Relator Min.Marcelo Ribeiro.

27 BRASIL, TSE, Agravo Regimental em recurso especial eleitoral nº 26448, de Natal/RN, 14/04/2009 Relator Enrique R. Lewandowski, Relatordesignado, Publicação DJE - Diário da Justiça Eletrônico, Data 6/5/2009, Página 13.

28 TSE, Agravo regimental em recurso especial eleitoral nº 25882, Irapuru - SP 11/09/2008, Relator Eros Grau, Relator designado, Publicação DJ -Diário da Justiça, Data 02/10/2008, Página 27.

29 TSE, Petição n.º 2857, de Brasília/DF 07/08/2008, Relator Marcelo Ribeiro, Relator designado, Publicação DJ - Diário da Justiça, Data04/09/2008, Página 25.

30 TSE, Agravo em Recurso Eleitoral n º 27139, de Porto Velho - RO 26/06/2008 Relator Felix Fischer Relator designado Publicação DJ - Diárioda Justiça, Data 06/08/2008, Página 29.

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Importa salientar que “a representação contra a não observância do disposto neste artigo

observará o rito do art. 22 da Lei Complementar nº 64, de 18 de maio de 1990, e poderá ser ajuizada

até a data da diplomação”. (parágrafo 12, do art. 73, acrescido pela Lei 12.034/2009).

O parágrafo 13º do art. 73, também, acrescido pela Lei 12.034/2009, estabeleceu que

“o prazo para recurso contra decisões proferidas com base neste artigo será de 3 (três) dias, a contar

da data da publicação do julgamento no Diário Oficial”.

5 ) DAS CONDUTAS VEDADAS AOS AGENTES PÚBLICOS EM CAMPANHAS

ELEITORAIS TIPIFICADAS NO ART. 74, 75 e 77, DA LEI DAS ELEIÇÕES31

É a redação do art. 74, da Lei das Eleições: “configura abuso de autoridade, para os fins

do disposto no art. 22 da Lei Complementar nº 64/90, de 18 de maio de 1990, a infringência do

disposto no § 1º do art. 37 da Constituição Federal, ficando o responsável, se candidato, sujeito ao

cancelamento do registro ou do diploma.

O art. 37, § primeiro, da Constituição Federal, prevê: “a administração pública direta e

indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios

obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidades, moralidades, publicidade e eficiência e,

também, ao seguinte (…): § 1º. A publicidade dos atos, programas, obras, serviços e campanhas dos

órgãos públicos deverá ter caráter educativo, informativo ou de orientação social, dela não podendo

constar nomes, símbolos ou imagens que caracterizam promoção pessoal de autoridades ou

servidores públicos. (...)”.

O art. 75, da Lei das Eleições prevê: “nos três meses que antecederem as eleições, na

realização de inaugurações é vedada a contratação de shows artísticos pagos com recursos públicos.

Parágrafo único. Nos casos de descumprimento do disposto neste artigo, sem prejuízo da suspensão

imediata da conduta, o candidato beneficiado, agente público ou não, ficará sujeito à cassação do

registro ou do diploma.

31 Expressa o art. 76, da Lei das Eleições, que “o ressarcimento das despesas com o uso de transporte oficial pelo Presidente da República e suacomitiva em campanha eleitoral será de responsabilidade do partido político ou coligação a que esteja vinculado. § 1º O ressarcimento de quetrata este artigo terá por base o tipo de transporte usado e a respectiva tarifa de mercado cobrada no trecho correspondente, ressalvado o uso doavião presidencial, cujo ressarcimento corresponderá ao aluguel de uma aeronave de propulsão a jato do tipo táxi aéreo. § 2º No prazo de dez diasúteis da realização do pleito, em primeiro turno, ou segundo, se houver, o órgão competente de controle interno procederá ex officio à cobrançados valores devidos nos termos dos parágrafos anteriores. § 3º A falta do ressarcimento, no prazo estipulado, implicará a comunicação do fato aoMinistério Público Eleitoral, pelo órgão de controle interno. § 4º Recebida a denúncia do Ministério Público, a Justiça Eleitoral apreciará o feitono prazo de trinta dias, aplicando aos infratores pena de multa correspondente ao dobro das despesas, duplicada a cada reiteração de conduta.” Oart. 78, estabelece: “A aplicação das sanções cominadas no art. 73, §§ 4º e 5º, dar-se-á sem prejuízo de outras de caráter constitucional,administrativo ou disciplinar fixadas pelas demais leis vigentes”.

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Por seu turno, o art. 77, da Lei das Eleições, prevê: “É proibido a qualquer candidato

comparecer, nos 3 (três) meses que precedem o pleito, a inaugurações de obras públicas. Parágrafo

único. A inobservância do disposto neste artigo sujeita o infrator à cassação do registro ou do

diploma.”

A respeito do tema: “(...) Afigura-se desproporcional a imposição de sanção de cassação

a candidato à reeleição ao cargo de deputado estadual que comparece em uma única inauguração,

em determinado município, na qual não houve a presença de quantidade significativa de eleitores e

onde a participação do candidato também não foi expressiva. (...)”32.

6 ) CONDUTAS VEDADAS AOS AGENTES PÚBLICOS E ABUSO DO PODER

POLÍTICO: GRAVIDADE DOS FATOS

A caracterização do abuso do poder político induz “gravidade” dos fatos, na forma do

art. 22, XVI, da Lei Complementar 64/90, no âmbito da AIJE.

Estatui o referido artigo, litteris: “para a configuração do ato abusivo, não será

considerada a potencialidade de o fato alterar o resultado da eleição, mas apenas a gravidade das

circunstâncias que o caracterizam.”

Essa redação foi acrescentada pela Lei Complementar 135/2010 (Lei da Ficha Limpa).

Se poderia pensar ou interpretar antes da Lei Complementar 135/2010 ter acrescentado

o inciso XVI da Lei das Inelegibilidades (sobre a “gravidade” dos fatos), que a caracterização do

abuso do poder político, sob um enfoque da gravidade dos fatos deveria guardar um nexo de

causalidade com o resultado da eleição, porém, há muito tempo, o TSE não interpreta assim,

bastando um nexo indiciário entre a conduta e o desequilíbrio de meios na disputa eletiva, pois,

analisada a “gravidade”.

No âmbito do colendo Tribunal Superior Eleitoral: “segundo a jurisprudência desta

Corte, alterada desde o julgamento do REspe nº 19.571/AC, rel. Min. Sepúlveda Pertence, DJ de

16.8.2002, na ação de investigação judicial eleitoral, deixou de se exigir que fosse demonstrado o

nexo de causalidade entre o abuso praticado e o resultado do pleito, bastando para a procedência da

ação a "indispensável demonstração - posto que indiciária - da provável influência do ilícito no

resultado eleitoral'”33.

32 BRASIL, TSE, Agravo Regimental em Recurso Ordinário nº 890235, Acórdão de 14/06/2012, Relator Min. Arnaldo Versiani Leite Soares,Publicação: DJE - Diário de justiça eletrônico, Tomo 160, Data 21/08/2012, Página 38.

33 TSE, Recurso Ordinário nº 758 de Rio Branco/AC, Acórdão nº 758 de 12/08/2004. Relator Min. Francisco Peçanha Martins. Publicação: DJ03/09/2004, pg. 108.

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Por outro lado, de acordo com o parágrafo 5º, do art. 73, da Lei das Eleições, “nos casos

de descumprimento do disposto nos incisos do caput e no § 10, sem prejuízo do disposto no § 4º, o

candidato beneficiado, agente público ou não, ficará sujeito à cassação do registro ou do diploma”,

isto é, além da pena de “multa”, poderá ser imposta cassação do registro ou do diploma, pois,

conforme a “gravidade” dos fatos.

Lembre-se que no art. 73, a lei é expressa em arrolar condutas proibidas aos agentes

públicos porque “tendentes a afetar a desigualdade de oportunidades entre os candidatos”, pois, na

forma textual do caput do artigo. Não é o que acontece com as condutas vedadas aos agentes

públicos previstas, ressalte-se, separadamente, nos artigos 74, 75 e 77 da Lei das Eleições, ou seja,

nesses dispositivos, o legislador não expressou que são “tendentes” a afetar a igualdade de

oportunidades entre os candidatos, dando a entender que de fato a afetam essa igualdade, em

especial, porque, nessas hipóteses, nesses artigos, a lei não prevê pena de multa, apenas

expressando que o infrator fica sujeito à cassação do registro ou do diploma. Por força do art. 22,

XVI, da Lei Complementar 64/90, entendemos que em ambos os casos deverá ser analisada a

“gravidade” dos fatos, mormente, para aplicação da pena de cassação do registro ou do diploma e a

penalidade de inelegibilidade, previstas, ambas, no art. 22, XIV.

A análise da gravidade está ligada com a proporcionalidade entre a conduta e a sua

afetação na igualdade de oportunidades entre os candidatos, que deve estar em função da pena mais

ou menos severa a se aplicar.

Cumpre assinalar que em doutrina, de direito administrativo, observa-se sobre a

proporcionalidade, que “o grande fundamento do princípio da proporcionalidade é o excesso de

poder, e o fim a que se destina é exatamente o de conter atos, decisões e condutas de agentes

públicos que ultrapassem os limites adequados, com vistas ao objetivo colimado pela administração,

ou até mesmo pelos Poderes representativos do Estado.” E relembra que “segundo a doutrina alemã,

para que a conduta estatal observe o princípio da proporcionalidade, há de revestir-se de tríplice

fundamento: 1) adequação, significando que o meio empregado na atuação deve ser compatível com

o fim colimado; 2) exigibilidade, porque a conduta deve ter-se por necessária; 3) proporcionalidade

em sentido estrito, quando as vantagens a serem conquistadas superam as desvantagens.”34

34 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo. 22 ed. editora Lúmen Júris: Rio de Janeiro, 2009. p. 38.José dos Santos Carvalho Filho, ainda, explica que “razoabilidade é a qualidade do que é razoável, ou seja, aquilo que se situa dentro de limitesaceitáveis, ainda que os juízos de valor que provocariam a conduta possam dispor-se de forma um pouco diversa. Ora, o que é razoável para unspode não ser para outros. Mas, mesmo quando não o seja, é de reconhecer-se que a valoração se situou dentro dos standards da aceitabilidade.”(Carvalho Filho, 2009. p. 34.)Celso Antônio Bandeira de Mello ressalta a respeito do cânon da razoabilidade, no âmbito do direito administrativo que “deveras: se com outorgade discrição administrativa pretende se evitar a prévia adoção em lei de uma solução rígida, única - e, por isso, incapaz de servir adequadamentepara satisfazer, em todos os casos, o interesse público estabelecido na regra aplicanda -, é porque através dela visa-se à obtenção da medida ideal,ou seja, da medida que, em cada situação, atenda de modo perfeito à finalidade da lei.” (Mello, Celso Antonio Bandeira de, Curso de DireitoAdministrativo, 15ª ed. Malheiros: São Paulo, 2003, p. 99.)

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De outro giro, veja-se: “conduta vedada. Distribuição gratuita de bens, valores ou

benefícios. 1. À falta de previsão em lei específica e de execução orçamentária no ano anterior, a

distribuição gratuita de bens, valores ou benefícios, em ano eleitoral, consistente em programa de

empréstimo de animais, para fins de utilização e reprodução, caracteriza a conduta vedada do art.

73, § 10, da Lei nº 9.504/97. 2. A pena de cassação de registro ou diploma só deve ser imposta em

caso de gravidade da conduta. Recurso ordinário provido, em parte, para aplicar a pena de multa ao

responsável e aos beneficiários.”35

Também: “(...) ainda que reconhecida a utilização de linha de telefone pertencente a

sindicato - cujo número foi informado para fins de comunicações processuais da Justiça Eleitoral -,

não ficaram evidenciadas outras circunstâncias a indicar a gravidade ou potencialidade da conduta,

de modo a configurar os ilícitos dos arts. 30-A da Lei das Eleições ou 22, caput, da Lei

Complementar nº 64/90. (...)”36.

Ainda: “(...) afigura-se desproporcional a imposição de sanção de cassação a candidato à

reeleição ao cargo de deputado estadual que comparece em uma única inauguração, em determinado

município, na qual não houve a presença de quantidade significativa de eleitores e onde a

participação do candidato também não foi expressiva. (…)”37.

Na justa medida, malgrado, tem-se observado que “o ordenamento não admite seja

configurado o abuso de poder por fato insignificante, sem relevo, desprovido de repercussão social.

Gravidade advém do latim “gravis”, significando pesado ou importante. Circunstâncias são os

elementos que acompanham o fato, suas particularidades, incluindo as causas. Diz respeito a como,

onde, quando, motivo e qual intensidade da prática do ato. No direito penal, as circunstâncias

podem constituir ou qualificar o crime, como também agravar a pena a ser aplicada. A reincidência

e a prática do delito por uso do poder de autoridade são circunstâncias previstas no art. 61 do

Código Penal Brasileiro. Tem a pena agravada, nos termos do art. 62 do referido Código, quem

possui função de direção ou quem induz ou coage para a prática criminosa. Trata-se de normas do

direito positivo que podem ser utilizadas como referência de interpretação por analogia, conhecida

regra de integração da norma jurídica. A democracia pressupõe a prevalência da vontade da maioria,

com respeito aos direitos da minoria. A banalização das cassações de mandato, com a reiterada

interferência do Judiciário no resultado das eleições, pode gerar uma espécie de autocracia, o

governo dos escolhidos pelos juízes, e não pelo povo. O juízo de cassação de mandato por abuso de

poder deve ser efetuado tão apenas quando existentes provas robustas de graves condutas

atentatórias à normalidade e legitimidade do processo eleitoral e às regras eleitorais. Forçoso

35 TSE. Recurso Ordinário nº 149655, Acórdão de 13/12/2011, Relator(a) Min. Arnoldo Versiani Leite Soares, Publicação: DJE - Diário da JustiçaEletrônico, Tomo 37, Data 24/02/2012, Página 42/43 .

36 TSE. Agravo Regimental em Recurso Especial Eleitoral nº 956516406, Acórdão de 18/09/2012, Relator(a) Min. Arnoldo Versiani Leite Soares ,Publicação: DJE - Diário de justiça eletrônico, Tomo 196, Data 09/10/2012, Página 15.

37 TSE. Agravo Regimental em Recurso Ordinário nº 890235, Acórdão de 14/06/2012, Relator(a) Min. Arnoldo Versiani Leite Soares, Publicação:DJE - Diário de justiça eletrônico, Tomo 160, Data 21/08/2012, Página 38.

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lembrar que o Direito em Roma era denominado de Jurisprudência, concebida como a ciência do

Justo ou direito do prudente. A prudência deve presidir a decisão pela revisão judicial das eleições

ou a manutenção do vaticínio popular. A análise de provas no caso concreto, pesando-as e não as

contando, constitui em trabalho de alto relevo. Sem dúvida, o pressuposto da gravidade das

circunstancias, que deve ser fundamentado de forma detida e específica, e não de modo genérico,

amplia responsabilidade do julgador eleitoral. (…) O desafio interpretativo sobre a abrangência da

gravidade das circunstâncias deve ter como ponto de partida o dístico “normalidade e legitimidade

das eleições”, razão de existência e meta a ser alcançada pela Justiça Eleitoral, sem se descuidar da

regra de ouro do Estado Democrático, qual seja a origem popular do Poder, sendo os governantes

escolhidos nas urnas pela maioria do povo. Esse dois postulados constitucionais devem incidir em

cada caso concreto no qual for discutida a ocorrência de abuso de poder e, portanto, a presença do

requisito de circunstâncias graves a possibilitar a revisão judicial da escolha do eleitorado e a

interferência do Judiciário no processo democrático. Prudência, cautela, ponderação, eis o

comportamento esperado pelo sistema democrático a todos quantos forem interpretar a ocorrência

de abuso de poder nas eleições.”38

7 ) CRITÉRIO CIENTÍFICO PARA JUSTIFICAR O EXAME DA GRAVIDADE DOS

FATOS, COMO INSTRUMENTO DE ANÁLISE DA CONFIGURAÇÃO OU NÃO DO ATO

ABUSIVO: JUÍZO DE DESVALOR DO RESULTADO DE DETERMIN ADA CONDUTA

(ALÉM DO JUÍZO DE DESVALOR DA AÇÃO EM SI, REALIZADA PELA LEI EM

ABSTRATO)

Para fins de aplicação da penalidades mais severa da cassação do registro ou do

diploma, conforme previsão na LC 64/90, no âmbito da AIJE, a análise da “graviadade”, tem

contribuído para o aumento do rigor na punição por abuso do poder político, conforme

jurisprudência do Tribunal Superior Eleitoral.

Antes mesmo da inclusão do art. 22, XVI, da LC 64/90, pela Lei Complementar

135/2010, o TSE já analisava a gravidade dos fatos, ressalte-se, não para influenciar no resutlado da

eleição, mas pela simples potencialidade de desiquilibrar a disputa, a competição, a igualdade de

oportunidades entre os candidatos.

Até mesmo porque, a lei já prevê a aplicação de penalidade de multa, em muitas

hipóteses, para sua simples e pura prática. Assim, a lei já estabelece em muitos casos, um minus.

Para aplicação de penalidade mais severa, isto é, quando configurado abuso do poder político, ou

38 COELHO, Marcus Vinicius Furtado, A gravidade das circunstâncias no abuso de poder eleitoral, Disponível: <http://www.tre-rj.gov.br/eje/gecoi_arquivos/arq_071881.pdf>.

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seja, um plus, é justamente, a análise da “gravidade” dos fatos, pois, que a autoriza. A dizer, quanto

às “pesquisas e testes pré-eleitorais”, a Lei das Eleições prevê punição de multa a algumas condutas

(§ 3º do art. 33), e a outras ações multa e detenção, como crime (§ 4º do art. 33, § 2º do art. 34), sem

prever expressamente que são condutas tendentes à desiquilibrar a igualdade entre os candidatos.

Também quando à “propaganda eleitoral em geral”, a Lei das Eleições prevê punição de multa a

algumas condutas (§ 3º do art. 36, § 1º do art. 37 e § 8º do art. 39), e a outras multa e detenção,

como crime (§ 5º do art. 39 e art.40), sem prever expressamente que são condutas tendentes à

desiquilibrar a igualdade entre os candidatos. Tocante à “propaganda eleitoral na imprensa”, a Lei

das Eleições prevê punição com multa a algumas condutas, ações (§ 2º do art. 43), sem prever

expressamente que são condutas tendentes à desiquilibrar a igualdade entre os candidatos. No que

tange à “propaganda eleitoral no rádio e na televisão”, a Lei das Eleições prevê punição com multa

a algunas condutas (§ 3º do art. 44, § 2º do art. 45 e art. 55), sem prever expressamente que são

condutas tendentes à desiquilibrar a igualdade entre os candidatos. Referente ao uso da Internet, a

Lei das Eleições prevê punição com multa a algumas condutas (§ 2º do art. 57-C, § 2º do art. 57-D,

§ 2º do art. 57-E, § único do art. 57-G, e art. 57-H), sem prever expressamente que são condutas

tendentes à desiquilibrar a igualdade entre os candidatos. Ainda, concernente ao “direito de

resposta”, a Lei das Eleições prevê punição de multa a algumas condutas (§ 8º do art. 58), sem

prever expressamente que são condutas tendentes à desiquilibrar a igualdade entre os candidatos.

Inclusive, quando à “fiscalização das eleições”, a Lei das Eleições prevê punição com pena de

reclusão, como crime algumas condutas (art. 72), sem prever expressamente que são condutas

tendentes à desiquilibrar a igualdade entre os candidatos. Ainda, o Código Eleitoral tipifica

condutas criminosas, e a Lei das Eleições, prevendo punição com detenção e multa para a retenção

de título eleitoral ou comprovante de alistamento (art. 91 da Lei das Eleições), sem prever

expressamente que são condutas tendentes à desiquilibrar a igualdade entre os candidatos.

Nessas razões, deve ser fixado um critério científico para justificar o exame da

gravidade dos fatos, como instrumento de análise da configuração ou não do ato abusivo.

É certo que toda e qualquer ação ou conduta humana está sujeita a dois enfoques

valorativos diferenciados, quais sejam, uma apreciação em face da lesividade do resultado que

provocou (desvalor do resultado) e uma apreciação de acordo com a reprovabilidade da ação em si

mesma (desvalor da ação).39

Assim, é possível constatar que a lei eleitoral em muitas ocasiões realiza, abstratamente,

um juízo de desvalor tocante a várias condutas, ações, sem considerá-las, de modo expresso, como

abuso do poder político, prevendo punição específica, não raramente, apenas com multa.

39 CAPEZ, Fernando, Curso de Direito Penal, 14 ed. São Paulo: Saraiva, 2010, p. 19.

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No entanto, permite, a lei, sistematicamente, que sobre todas elas possa incidir um juízo

de desvalor do resultado, no campo da análise da “gravidade” dos fatos, a cargo do juiz eleitoral, na

justa medida em que essas ações, condutas, podem vir a afetar concretamente a igualdade de

oportunidades entre os candidatos.

E, no caso, em razão da constatação dessa “gravidade”, permite-se a aplicação, além da

multa, de pena mais severa como a cassação do registro de candidatura ou diploma, além da

inelegibilidade (art. 22, XIV e XVI, da Lei Complementar 64/90), forte na caracterização, por esse

viés (de exame de desvalor do resultado que desiguala oportunidades entre candidatos), então, de

fato abusivo do poder político.

Assim, “gravidade” é um juízo de desvalor do resultado de determinada conduta (além

do juízo de desvalor da ação em si, realizada pela lei em abstrato), no sentido de que a conduta

afetou in concreto, como resultado, a igualdade de oportunidades entre os candidatos (não o

resultado da eleição), isto é, a isonomia de meios da disputa entre candidaturas.

Para fins de aplicação da penalidades mais severa da cassação do registro ou do

diploma, e mesmo de inelegibilidade, portanto, conforme previsão na LC 64/90, no âmbito da AIJE,

a análise da “graviadade”, tem contribuído para o aumento do rigor na punição por abuso do poder

político, conforme jurisprudência do Tribunal Superior Eleitoral.

8 ) CONSIDERAÇÕES FINAIS

A ) Para fins de aplicação da penalidades mais severa da cassação do registro ou do

diploma, conforme previsão na LC 64/90, no âmbito da AIJE, a análise da “graviadade”, tem

contribuído para o aumento do rigor na punição por abuso do poder político, conforme

jurisprudência do Tribunal Superior Eleitoral. Antes mesmo da inclusão do art. 22, XVI, da LC

64/90, pela Lei Complemenar 135/2010, o TSE já analisava a gravidade dos fatos, ressalte-se, não

para influenciar no resultado da eleição, mas pela simples potencialidade de desiquilibrar a disputa,

a competição, a igualdade de oportunidades entre os candidatos. Até mesmo porque, a lei já prevê a

aplicação de penalidade de multa, em muitas hipóteses, para sua simples e pura prática. Assim, a lei

já estabelece em muitos casos, um minus. Para aplicação de penalidade mais severa, isto é, quando

configurado abuso do poder político, ou seja, um plus, é justamente, a análise da “gravidade” dos

fatos, pois, que a autoriza.

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B ) Sob a rubrica de um critério científico para justificar o exame da gravidade dos

fatos, como instrumento de análise da configuração ou não do ato abusivo, é possível constatar que

a lei eleitoral em muitas ocasiões realiza, abstratamente, um juízo de desvalor tocante a várias

condutas, ações, sem considerá-las, de modo expresso, como abuso do poder político, prevendo

punição específica, não raramente, apenas com multa. No entanto, permite, a lei, sistematicamente,

que sobre todas elas possa incidir um juízo de desvalor do resultado, no campo da análise da

“gravidade” dos fatos, a cargo do juiz eleitoral, na justa medida em que essas ações, condutas,

podem vir a afetar concretamente a igualdade de oportunidades entre os candidatos. E, no caso, em

razão da constatação dessa “gravidade”, permite-se a aplicação, além da multa, de pena mais severa

como a cassação do registro de candidatura ou diploma, além da inelegibilidade (art. 22, XIV e

XVI, da Lei Complementar 64/90), forte na caracterização, por esse viés (de exame de desvalor do

resultado que desiguala oportunidades entre candidatos), então, de fato abusivo do poder político.

Assim, “gravidade” é um juízo de desvalor do resultado de determinada conduta (além do juízo de

desvalor da ação em si, realizada pela lei em abstrato), no sentido de que a conduta afetou in

concreto, como resultado, a igualdade de oportunidades entre os candidatos (não o resultado da

eleição), isto é, a isonomia de meios da disputa entre candidaturas.

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