Confessai-Vos Bem (Chiavarino)

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Ayuda sobre el sacramento de la Confesión y cómo aprovecharlo bien.

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Pe

Pe. LUIZ CHIAVARINO

C O N F E S S A I - V O S B E M

DILOGOS, FATOS E EXEMPLOS 4a Edio

EDIES PAULINAS

Rio - SO PAULO - Fortaleza - Curitiba

Porto Alegre - Belo Horizonte - Caxias do Sul

Nihil obstat

Pe. Anastcio Vasquez, C.M.F.

Sti. Pauli, 20 Decembri 1939

Imprimatur

Mons. Ernesto de Paulo

Vig. Geral

Reimprimatur

S. Pauli, 5 - 3 - 1943

Josephus M. Monteiro

Vic. Generalis

DIREITOS RESERVADOS

*********************************

Qual a razo desta obra

Como se esgotassem completamente as primeiras edies, resolvi, a pedido de grande nmero de zelosos colegas, publicar uma segunda edio deste livro, revista e um tanto ampliada, porque, das muitas obras existentes versando sobre tal assunto, sejam elas grandes ou pequenas, talvez, nenhuma lhes parea to simples, e to clara como esta, to apta a lhes proporcionar a ocasio de conhecerem:

1) Toda a excelncia da confisso;

2) A importncia muito grande de bem se servirem dela;

3) A necessidade de freqent-la mais a mido, e muitas outras coisas, todas elas interessantes no que diz respeito a esse sacramento.

Ao chegarem ao fim da ltima pgina, espero pelo seu agradecimento, caros leitores, desde que o meu nico intento, o meu nico fim, o de induz-los a experimentarem o quanto Jesus realmente bom.

Se eu tiver conseguido o que queria, lembrem-se de mim nas suas oraes.

O SEU AMIGO

Sacerdote L. G. Chiavarino

**************

NOTA DO AUTOR

De acordo com os decretos do Papa Urbano VIII, declaramos que aos fatos no bblicos narrados neste livro no queremos atribuir mais do que a f humana e que tal livro se submete em tudo Autoridade Eclesistica.

****************

O principal motivo de perdio

Discpulo - Padre, poderia explicar-me a razo deste livro?

Mestre - Chamei-o assim por causa do fato seguinte:

Conta-se certa moa, tendo cado por desgraa num desses pecados que tanto envergonham na confisso, vivia triste e desconsolada. Passaram-se assim muitos meses, sem que nenhuma das companheiras da coitada descobrisse a causa de tanta aflio. Nesse nterim, aconteceu que a sua melhor amiga, muito virtuosa e devota, morreu santamente. Uma noite, a chamaram pelo nome, quando est no melhor do sono; reconhece perfeitamente a voz da amiguinha morta que vai repetindo:

Confesse-se bem... se voc soubesse o quanto Jesus bom!

A moa tomou aquela voz por uma revelao do cu, criou coragem e, decidida, confessou o pecado que era a causa de tanta vergonha e de tantas lgrimas. Naquela ocasio, tamanha foi a sua comoo, to grande o seu alvio que depois disso, contava o fato a todo mundo, e repetia por sua vez: Experimentem e vejam o quanto Jesus bom.

D.- Muito bem! - acredito nisso plenamente, porque, j fiz mais de cem vezes a experincia de tal verdade.

M.- Pois ento agradea a Deus de todo o corao e continue a fazer boas confisses. Ai daquele que envereda, pelo caminho do sacrilgio! essa a maior desgraa que nos pode acontecer, porque dela no teremos mais a fora de nos afastar, e assim prosseguiremos, talvez at morte, precipitando-nos no abismo da perdio eterna.

D.- assim to nefanda uma confisso mal feita?

M.- o principal motivo, a causa principal da perdio!

D.- Deveras?

M.- Assim , infelismente! So as confisses mal feitas o motivo pelo qual tantas pessoas perdem suas almas e vo para o inferno.

D.- Mas no h exagero nisso?

M.- Exagero nenhum, nem sou eu quem o diz: afirmam-nos os Santos que melhor conhecem as almas e viu-o Santa Teresa em uma viso.

Estava a Santa rezando, quando, de repente abre-se diante dos seus olhos uma voragem profunda, cheia de fogo e de chamas; e nesse abismo precipitam-se com abundncia, como neve no inverno, as pobres almas perdidas.

Assustada, a Santa levanta os olhos ao cu e:

- Meu Deus, exclama, meu Deus! Que que eu estou vendo? Quem so elas, quem so todas essas almas que se perdem? Com certeza devem ser as almas dos pobres infiis.

- No, Teresa, no! Responde o Senhor. As almas que neste momento vs precipitarem-se no inferno com o meu consentimento, so, todas elas, almas de cristos como tu.

- Mas ento devem ser almas de pessoas que no acreditavam, que no praticavam a Religio, que no freqentavam os Sacramentos!

No! Teresa, no! Fica sabendo que essas almas pertencem todas a cristos como tu, e, que, como tu, eram crentes e praticantes...

- Mas se assim , naturalmente essa gente nunca se confessou, nem mesmo na hora da morte...

- No entanto, so almas que se confessavam, e confessaram-se tambm antes de morrer...

- Por qual motivo ento, meu Deus, so elas condenadas?

- So condenadas porque se confessaram mal... Vai Teresa, conta a todos esta viso e recomenda aos Bispos e Sacerdotes que nunca se cansem de pregar sobre a importncia da confisso e contra as confisses mal feitas, afim de que os meu amados cristos no transformem o remdio em veneno; afim de que no se sirvam mal desse sacramento, que o sacramento da misericrdia e do perdo.

D.- Pobre Jesus!... So assim to numerosas as confisses mal feitas?

M.- S. Afonso, S. Felipe Neri, S. Leonardo de Porto Maurcio, afirmam unanimemente que, infelizmente, o nmero das confisses mal feitas incalculvel. Eles, que passaram a vida no confessionrio e cabeceira dos moribundos, sabem dizer a pura verdade. E ns que erramos, de terra em terra, pregando exerccios e misses, somos obrigados a afirmar a mesma coisa. O clebre Padre Sarnelli, na sua obra O mundo santificado exclama: Infelismente so incalculveis as almas que fazem confisses sacrlegas: sabem disso, em parte, os Missionrios de longa experincia, e cada um de ns vir sab-lo, com grande pasmo, no vale de Josaf. No s nas grandes capitais, mas nas cidades menores, nas comunidades, no meio daqueles que passam por piedosos e devotos encontram-se em grande nmero os sacrilgios...

O Padre Tranquillini, da Companhia de Jesus, tendo sido chamado cabeceira duma senhora gravemente enferma, acode com solicitude e a confessa: mas, chegada a hora da absolvio, ele sente qualquer coisa que, como se fosse uma mo de ferro, o impede de prosseguir.

- Minha senhora, diz ele, talvez se tenha esquecido de alguma coisa...

- Impossvel, Padre, estou me preparando h oito dias.

Depois de algumas preces, tenta uma segunda vez; mas, a mesma mo o impede de novo.

- Desculpe, minha senhora, replica o Padre, talvez a senhora no ouse confessar algum pecado...

- Que diz, Padre? Isso me ofende. Como pode supor que eu queira cometer um sacrilgio?

Torna a tentar pela terceira vez a absolvio e ainda uma vez aquela fora invisvel o impede de agir. No podendo compreender qual o mistrio que se escondia num fato to extraordinrio, cai de joelhos, e, chorando, suplica quela senhora, que no se traia, que no seja a causa da prpria perdio.

- Padre, exclama ela ento, Padre, h quinze anos que eu me confesso mal!

Veja, portanto, como fcil achar-se quem se confessa mal!

D.- Chega, Padre, isto me faz estremecer.

M.- Antes tremer aqui do que queimar no inferno; e, falando disso, lembro-me de outro exemplo. So Joo Bosco, numa obra sobre a confisso diz textualmente: Eu vos afirmo que enquanto escrevo, minha mo treme, porque eu penso no nmero de cristos que vo para a perdio eterna, somente por terem escondido, ou por no terem exposto sinceramente os seus pecados na confisso!

D.- O senhor disse tambm: por no terem exposto sinceramente os seus pecados?

M.- Certamente! Aquele que, por exemplo, confessa s os maus pensamentos, quando alm disso cometeu aes ou atos impuros; aquele que confessa ter cometido tais atos sozinho, quando os cometeu com outros; aquele que esconde o nmero conhecido de suas faltas; aquele que, interrogado pelo confessor no diz a verdade; todos esses fazem ms confisses.

D.- Que que pensam os que assim procedem?

M.- Pensam que no futuro podero remediar, isto , confessam-se para viver como diz So Felipe Neri, quando toda e qualquer confisso devia ser feita como se fosse a ltima, como se nos preparssemos para a morte.

Um dia uma mulher do povo confessou-se com um clebre Missionrio: de volta do confessionrio, ela passou casualmente por cima de uma lage que cobria um sepultura. A lage, gasta pelo tempo, cedeu, e a mulher caiu l em baixo, no meio dos ossos e dos esqueletos. Imagine o susto de todas as pessoas que acudiram; mas isso no foi nada, comparado ao terror e aos berros da coitada! Logo depois que, com muito esforo de trabalho conseguiram tirar a mulher dali, ela, que escapou ilesa, voou para o confessionrio e:

- Padre, padre, at hoje eu s me tinha confessado para viver, mas agora que eu vi a morte diante de mim quero confessar-me como se eu fosse morrer - e tornou a fazer, tremendo, aquela confisso que ela, momentos antes, tinha feito mal.

D.- Ah! O pensamento da morte terrvel.

M.- terrvel sim, mas muitssimo salutar e por isso que, cada vez que nos confessamos, devamos t-lo na mente.

Dentre os inmeros fatos maravilhosos que se contam na histria de D. Bosco destaca-se este: No Oratrio Salesiano de Turim faziam-se os santos exerccios espirituais, e, todos os presentes, alunos e internos, com a mxima seriedade, muito piedosos, rezavam com fervor e colhiam os frutos de suas preces para o bem de suas almas. Enquanto esses cumpriam o seu piedoso dever, um jovem, refratrio a toda e qualquer splica e aos mais afetuosos cuidados de D. Bosco e dos demais superiores, teimou em no se querer confessar nem mesmo naquela circunstncia. Os bons Padres tinham feito todo o possvel para convenc-lo mas inutilmente. Ele repetia sempre: m qualquer outra ocasio, sim, mas agora no! Vou pensar nisso depois... Agora no sei tomar uma

resoluo!

Como essa desculpa, chegou ao ltimo dia das cerimnias; D. Bosco, ento recorreu a um estratagema. Escreveu numa folha de papel estas palavras: ... e se voc morresse durante a noite?!... e escondeu-a entre o lenol e o travesseiro do rapaz. Cai a noite: todos se vo deitar, e o nosso jovem, despreocupado, tambm se despe, mas eis que quando vai entrar na cama encontra a tal folha. Um oh! de espanto que ele no pode conter lhe sai dos lbios; pega no papel, olha-o, vira-o e revira-o e, por fim, descobrindo que h nele qualquer coisa escrita, arregala os olhos e l: ...e se voc morresse durante a noite?!... D. Bosco.

D. Bosco! Exclama ele; mas d. Bosco um santo... ele conhece o futuro... Talvez acontea isso mesmo! E se eu morresse durante a noite?!... Mas eu no quero morrer, no: quero viver, quero viver e... Enquanto isso, para que os companheiros no reparem, ele se deita, cobre-se e cheio de coragem, tenta pegar no sono. Qual nada! Adormecer naquele estado? Com aquelas palavras que o atormentavam como se fossem espinhos agudos? impossvel! Ele vira e revira na cama, fecha os olhos com fora, mas... tudo intil; ouve sem cessar, cada vez mais vivo, cada vez mais forte, o som daquelas palavras; ele imagina, como se visse o inferno aberto e Jesus que o condena, e diz: Pobre de mim! E se eu morresse mesmo?... Um arrepio gelado corre-lhe pela espinha, ela sua frio...

- Ah! no - exclama -, eu no quero ir para o inferno, eu quero me confessar...

Invoca a proteo de Maria Auxiliadora, do seu Anjo da Guarda e depois, decidido, veste-se, sai devagarinho, desce a escada, atravessa corredores, sobe para o quarto de D. Bosco e bate a porta.

D. Bosco, que, como bom padre o esperava, abre a porta e:

- Quem voc?... A estas horas?... Que que voc quer?

- Oh! D. Bosco, eu quero confessar-me!

- A vontade! Se voc soubesse com que ansiedade eu o esperei!

Introduzido na antecmera, o rapaz cai de joelhos e, depois de feita a confisso, como o perdo de Jesus volta feliz e tranqilo para a cama. E j no tem medo! O pensamento da morta j no o assusta e ele diz:

Como estou contente! Mesmo que eu tenha que morrer que importa se eu recuperei a graa, se eu tornei a ser amigo de Jesus!

Adormece serenamente e sonha... v o cu aberto, os Anjos jubilosos que voam levssimos, entoando os cnticos mais lindos, os mais belos hinos!

D.- Que rapaz de sorte!

M.- De sorte so todos aqueles que acreditam no grande bem da confisso e se servem dela, impedindo assim a prpria perdio; enquanto que bem diferente o caso da infeliz de quem lhe vou falar. So Leonardo de Porto Maurcio acode cabeceira de uma moribunda, acompanhada por um frade leigo. Depois de confessada a doente, o padre sai sossegado, e, reunindo-se ao companheiro que o esperava no quarto vizinho, apronta-se para sair, quando este, muito triste e assustado lhe diz:

- Padre Leonardo, que significa aquilo que eu vi?

- Que que voc viu?

- Eu vi uma mo horrendamente negra que vagava pela antecmara; e, assim que o senhor saiu ela entrou, rpida como um raio, no quarto da doente.

Diante de tal histria So Leonardo volta para trs, torna a entrar no quarto e oh! Que cena terrvel. Aquela mo negra estrangulava aquela desgraada que, com olhos fora das rbitas, e a lngua cada, morria gritanto: Malditos sejam os sacrilgios... Malditos sejam os sacrilgios...

D.- Oh, Padre, ento mesmo verdade que as confisses mal feitas so a causa principal da perdio!

M.- Por conseguinte, guerra mentira e sinceridade absoluta na confisso.

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O funestssimo por qu

D.- Diga-me, Padre; qual ser o primeiro por qu de tantas confisses mal feitas?

M.- Os por qus podem ser diversos, mas o principal sem dvida o medo, ou seja, a maldita vergonha pela qual o demnio fecha a boca de muitos, fazendo-os calar ou confessar mal certos pecados ou o nmero deles. Voc sabe como que, o demnio age quando quer induzir algum ao pecado? Cerca o infeliz, e de mil maneiras, vai-lhe sugerindo:

- Ora, cometa vontade esse pecado... Afinal no assim to grave. Deus bom... Ele no o quer castigar... Depois, com uma confisso Ele perdoa e est tudo acabado... assim, batendo hoje, batendo amanh, e sempre na mesma tecla, o demnio acaba triunfando, ou seja, fazendo cometer e talvez at repetir os pecados. Depois, ento, quando o coitado, rodo pelo remorso, resolve confessar-se, o demnio muda de ttica. Novamente trata de impedir que Deus tome conta dessa alma, dizendo:

- Como ousas confessar esse pecado? O confessor ficar surpreendido, h de ralhar contigo, lev-lo- a mal e provvel que te negue a absolvio. Ora, vamos, no temas, confessar-te-s depois... H tempo de sobre... H sempre tempo para isso - E assim o mais das vezes fecha a boca de quem estaria quase resolvido a falar e induz os pobres infelizes a se calarem e a cometerem sacrilgios.

D.- esta a ttica do demnio?

M.- Certamente! Ele mesmo o confessou a Santo Antonino, arcebispo de Florena.

Um dia, tendo o santo visto o demnio junto do confessionrio, perguntou-lhe:

- Que fazes a?

- Estou esperando para fazer a restituio.

- Qual restituio! Fala, ou ai de ti.

- Venho restituir aos pecadores a vergonha e o medo que lhes roubei quando os fiz cometer os pecados.

D.- Se no me engano, parece-me que li que D. Bosco tambm viu o demnio em circunstncias anlogas.

M.- Justamente! E oua como foi: Certa noite, estava o santo confessando no coro da Igreja de So Francisco de Sales em Turim; era grande o nmero de jovens ali reunidos, esperando que chegasse a sua vez. Pelo confessionrio passam dez, passam vinte, e chega finalmente um que, tendo j feito uma parte da confisso, pra de repente.

- Continue, diz-lhe D. Bosco, que por inspirao divina lia na conscincia dos seus filhos. - Continue! e o resto?

- No h mais nada, Padre, mais nada!

- No temas, meu filho, continua o Santo, o Confessor no ralha, no castiga, perdoa sempre, perdoa sempre, perdoa tudo em nome de Deus; tem coragem... confessa-te bem...

- No h mais nada! Nada mais!...

- Mas por que, meu filho, queres, com uma confisso sacrlega, dar prazer ao demnio... causar tristeza a Jesus, faz-lo chorar?

- Garanto-lhe Padre, que no tenho mais nada a dizer!

D. Bosco que v o perigo que o infeliz jovem corre, inspirado por Deus, abandona a luta intil e diz:

- Pois bem, olha s quem est atrs de ti!

O rapaz vira-se de repente, solta um grito agudo e, agarrando-se ao pescoo de D. Bosco exclama:

- Sim Padre, eu tenho mais este pecado... - e conta o pecado que no ousava confessar...

Os companheiros que estavam na igreja ouviram o grito; assim que saram, cercaram o rapaz, e, curiosos, queriam saber o que tinha acontecido. E ele sorrindo, apesar de estar ainda um tanto assustado:

- Se vocs soubessem... Eu tinha cometido uma falta que no ousava confessar. D. Bosco leu no meu corao... e eu vi o demnio que, sob a figura de um gorila de olhos de fogo e garras afiadas, estava pronto para me agarrar!

D.- D. Bosco era um Santo! Que sorte confessar-se com um Santo: no , Padre?

M.- Todos os confessores representam Jesus Cristo e Jesus Cristo sempre santo; Ele tudo sabe, v tudo, tem pena de todos, perdoa tudo!

D.- Mas mesmo assim o demnio procura enganar e trair nas confisses?

M.- Justamente; em todas as ocasies. Assim como o lobo agarra as ovelhas pela garganta para que no gritem, e as carrega e as devora, assim tambm faz o demnio com certas almas; agarra-as pela garganta afim de que no confessem os pecados e as arrasta miseravelmente para o inferno.

D.- Que espertalho malvado! Mas haver quem, depois de enganado uma vez, se deixe levar por esse impostor?

M.- H muitos, muitssimos, infelizmente! Ai daquele que comea a seguir por esse caminho! So geralmente os que cometem pecados contra a pureza que enveredam por tal caminho! Geralmente no h dificuldade em confessar os pecados contra a f, os pecados de blasfmias, os de profanao dos dias festivos, os de desobedincia, de vingana e mesmo os de furto; mas quando se trata de acusar pecados de impureza, ou ter que acrescentar certas circunstncias que os acompanharam, ou ainda quando se trata de dizer o nmero bastante considervel dessas faltas, ento uma maldita vergonha surge e fecha sacrilegamente a boca do penitente. De mais a mais, a confisso sacrlega geralmente no fica sozinha. Depois de uma vm outras e assim essas almas infelizes continuam durante anos e anos, e alm disso acrescentam a essas confisses mal feitas outras tantas Comunhes sacrlegas. E no raro, acontece que aqueles que, tendo comeado a esconder pecados graves desde as primeiras confisses, chegam a uma idade avanada sem nunca fazerem uma boa confisso e sem nunca repararem a desordem de suas almas.

inacreditvel, nota o Padre da Brgamo, inacreditvel como o medo e a vergonha ao comuns principalmente entre os moos. Da vem o hbito de continuar a calar os pecados para no sofrer a humilhao, o sacrifcio de confess-los. S. Leonardo afirma ter tido a seus ps pessoas que, mesmo em perigo de morte no puderam vencer a vergonha que lhes fechava a boca. S. Afonso recomenda aos padres que falem freqentemente nos seus sermes com calor, com insistncia, sobre esse perigo da vergonha que faz calar e insiste para que faam ver ao povo como as confisses mal feitas arruinam as almas, porque essa praga das confisses sacrlegas reina em toda a parte, principalmente nos lugarejos. E, como comum que fatos e exemplos impressionem o povo, sugere aos padres que contem muitos exemplos de almas que se perderam por causa de pecados no confessados.

D.- Conte alguns, Padre!

M.- Com muito prazer!

Conta-se que uma menina de sete anos tinha tido a infelicidade de cometer certos atos impuros. Envergonhada, no ousou confess-los na ocasio nem mais tarde. Tendo adoecida gravemente, chamou o confessor, recebeu o Santo Vitico, a Extrema-Uno e morreu! Todos, me, irms, e amigas lamentaram a sua perda, mas era para elas um conforto julg-la salva e santa. Porm, trs dias depois do enterro, quando o Sacerdote se aproximava do altar para celebrar em sufrgio de sua alma, sentiu que o seguravam pelo brao, e um voz triste e comovente lhe dizia baixinho: - Padre, no reze por mim porque eu estou condenada! Condenada por certos pecados que ocultei na confisso desde os sete anos.

* * *

Uma outra menina de 13 anos na ocasio da Pscoa tinha comungado junto as companheiras: mas eis que , logo depois de recebida a santa partcula tem um estremecimento, contorce-se e cai por terra. Os presentes acodem assustados e a carregam para uma casa vizinha. Acabada a funo, o Vigrio se apressa a correr cabeceira da menina que continua a delirar e debater-se; chama-a pelo nome e diz-lhe:

- Coragem, confia tudo a Jesus, quele Jesus que recebeste na Comunho!

Ouvindo essas palavras, ela arregala os olhos e, horrorizada exclama:

- A Jesus?!... a Jesus?! Ah no! Eu o recebi mal, eu cometi um sacrilgio escondendo certos pecados na confisso. - E, continuando a debater-se, expira pouco depois diante dos presentes comovidos e penalizados.

M.- Que me diz desses exemplos?

D.- Digo que so terrveis e bastante para demonstrar como grande o mal das confisses mal feitas.

M.- No estranhe, portanto, a nossa insistncia sobre a sinceridade requerida para as confisses. Eu, que, desde os primeiros anos de Sacerdcio, por graa de Deus, tive a sorte de comear a catequizar e a pregar para jovens e adultos e continuo ainda hoje a exercitar-me nesta obra consoladora e frutuosssima, nunca perdi o hbito de falar freqentemente sobre a necessidade da confisso sincera e posso dizer que nunca me arrependi.

Ah! quantos jovens e adultos eu consolei, reconduzi ao bom caminho; quantos eu salvei nos Exerccios Espirituais, nas Misses e mesmo nas simples conferncias e palestras!

D.- Tem razo, Padre; de fato, nenhum sermo ouvido de to boa vontade como os que versam sobre a confisso.

********************

Ai daquele que comea

D. Padre, se assim to fcil encontrar quem se deixe enganar pelo demnio e se cala, renovando o sacrilgio na confisso por que que os sacerdotes e os confessores no indagam, no interrogam os penitentes para impedir as confisses mal feitas?

M. Coitados dos sacerdotes e dos confessores! Infelizmente eles sabem e vem que algumas almas deixam muito a desejar, mas em geral receiam ser indiscretos interrogando e esclarecendo certas cousas. At pelo contrrio, com certas pessoas, no ousamos, parecenos imprudncia interrogar. Um pai ou uma me gostam de fazer sempre bom juzo dos seus filhos, e ficam penalizados quando tm que duvidar da sua conduta, da sua sinceridade, da sua inocncia. Do mesmo modo sente o pobre sacerdote no que diz respeito aos prprios filhos espirituais e penitentes.

D. E ento?

M. E ento, continuase em tal vida at que Deus intervenha com a sua mo providencial.

Eis porque por ocasio dos Exerccios Espirituais, das Misses, da Pscoa e de outras tantas festividades do mesmo gnero encontramse muitas almas, as quais, tendo tido a desgraa enorme de calar uma vez certos pecados na confisso e continuaram depois com sacrilgios durante anos e anos at o dia em que, tocados por graa especial, podem finalmente abrir os olhos e tranqilizar a conscincia por tanto tempo torturada pelo remorso.

Pregavamse os Exerccios em uma parquia do Piemonte. Havia j alguns dias que tinham comeado as confisses e desde o princpio eu notara uma pessoa de aspecto triste e indizivelmente constrangida que rondava o confessionrio. No fazia, porm, muito caso disso, quando eis que uma noite ela caiu aos meus ps e disse;

Padre, ajudaime; eu sou uma infeliz. H quinze anos que eu me confesso mal; s fui capaz de cometer sacrilgios... e desatou em pranto.

Pois bem, cria coragem, eu respondi, Deus ser misericordioso; para a senhora tambm Jesus ser infinitamente bom. Digame: quantos anos tem? Como que enveredou por esse caminho?

Tenho vinte e sete anos; quando tinha doze apenas, por causa de uma curiosidade ilcita eu cometi um pecado que no ousei confessar. Com tal sacrilgio, aproximeime da mesa da Comunho e, desde aquele dia at hoje os pecados e sacrilgios sucederamse uns aos outros. Rezei muito, chorei muito, fiz romarias mas tudo em vo! Confessavame todos os meses e at com mais freqncia por ocasio dos Exerccios Espirituais; repetia as confisses gerais mas esses pecados eu sempre os escondi, por pura vergonha.

E a senhora estava satisfeita com as suas Confisses? Comungava tranqilamente?

Oh, Padre! se soubsseis como os remorsos amargos atormentavam o meu corao, cravandose nele como espinhos agudos!

Mas, ento, por que continuava sempre do mesmo modo?

Porque fui uma tola, eis tudo... Um medo indizvel das reprimendas do confessor fecharame a boca e um exagerado respeito humano das minhas companheiras arrastavame para a comunho nesse estado.

H quanto tempo confessouse pela ltima vez?

Ah! Padre! Confesseime j trs vezes durante esta Misso, com trs confessores diferentes, sempre com o firme propsito de acabar com isto de uma vez por todas e dizer tudo. Mas, chegando ao ponto terrvel, sentia um n cruel que me apertava a garganta e assim calavame.

E agora, como conseguiu manifestarse?

Padre, o vosso sermo de hoje sobre a necessidade absoluta da confisso bem feita, aquelas palavras tantas vezes repetidas "experimentem e vero o quanto Jesus bom", comoveramme e foi ento que decidi falar, custasse o que custasse.

Ajudada pelo confessor ela fez uma confisso geral das mais consoladoras, tendo recebido a absolvio, no parava de repetir:

Agora chega, Padre, chega de pecados e sacrilgios. Direi a todos que experimentei e que vi como Jesus bom!...

D. So fatos que consolam, no Padre?... e ainda bem que reconhecem suas faltas!

M. Mas quantos no as reconhecem mesmo em ponto de morte! uma coisa muito triste, mas, infelizmente, verdadeira; no raro h moribundos que s portas da morte, teimam em esconder os pecados no confessados ou mal confessados desde a juventude, nesse estado deplorvel passam para a eternidade.

D. Coitados!

M. Pode chamlos desgraados! ai de quem comea.

D. Mas a misericrdia infinita de Deus no vem em auxlio?

M. Voc pode supor que Deus queira sempre, na hora da morte, usar de misericrdia com quem durante toda a vida abusando dessa misericrdia, injuriouO com sacrilgios? E alm disso na maioria dos casos, nem invocam essa misericrdia; pelo contrrio, muitas vezes a desprezam. Aqui tambm quero persuadilo com fatos.

O Padre dal Rio conta que uma jovem empregada se confessava freqentemente, pois que a patroa o exigia, mas por vergonha e teimosia calava os pecados desonestos. Uma ocasio ela caiu gravemente enferma; sempre por causa da solicitude da patroa, confessouse, e mais de uma vez, sacrilegamente, Depois que a curaram com muitos cuidados, chegava at a caoar com as amigas ponde em ridculo o zelo da patroa e do confessor para induzila a fazer uma boa confisso. Tendo adoecido pela segunda vez e mais gravemente do que da primeira, a patroa tornou a chamar o sacerdote o qual acudiu com presteza. Com toda a piedade e pacincia que Deus concede em casos anlogos, o padre procurou induzir a infeliz a uma sincera e dolorosa confisso. Mas tudo em vo! Sempre teimosa, perseverou durante a longa agonia no propsito de se esquivar e de se calar, recusandose at a repetir a jaculatria e as invocaes sugeridas pelo confessor; mostravase aborrecida com tudo aquilo e com a presena do Padre. E, quando por fim vendo que chegava o momento da morte, o sacerdote lhe pediu que beijasse o crucifixo, ela com um esforo supremo o afastou com maus modos e olhandoo com desprezo disse: Tirem da minha frente este Cristo, no preciso dele! E voltouse para o outro lado; assim com um suspiro horrvel expirou aquela alma impenitente e sacrlega. Ai daquele que comea!

* * *

O Padre Agostinho de Fusignano contanos um fato anlogo, que se seu na sua presena. Uma mulher infeliz escondia na confisso os pecados mais graves. Apesar dos sermes ouvidos contra essa vergonha sacrlega, apesar das mais amorosas exortaes, apesar do mais agudo remorso da conscincia ela no soube aproveitlos. Cansada a misericrdia de Deus de esperar, feriua com uma doena violenta que a ps em ponto de morte. O confessor foi chamado prontamente, mas a infeliz assim que o viu, exclamou:

Padre, chegastes a tempo para ver uma mentirosa penitente ir para o inferno. Eu me confessava com freqncia mas deixava sempre os pecados mais graves.

Pois bem, confesseos agora, respondeu o confessor.

No posso, no posso, gritou desesperada a infeliz. O tempo da misericrdia j passou; chegado o momento da justia!

E, delirando e contorcendose raivosamente, expirou, deixando em todos os presentes a mais triste e horrvel impresso. Aqui tambm no ser demais repetir: Ai daquele que comea!

* * *

Santo Afonso conta o caso de um senhor cuja conduta era aparentemente boa; fazia, porm, ms confisses. Tendo adoecido gravemente, foi visitado pelo Vigrio o qual suplicoulhe que recebesse os sacramentos pois estava em perigo de vida. Mas o enfermo recusavase a confessar.

E por que meu caro senhor no quer confessarse?

Ah! respondeu o doente, porque estou condenado! E Deus, para castigar os meus sacrilgios, tirame a vontade e a fora de reparlos.

Dito isto, comeou a morder a lngua, a debaterse desesperadamente, gritando: "Maldita lngua, maldito silncio, malditos sacrilgios". No foi possvel convenclo, at que miseravelmente morreu.

D. Chega Padre! So cousas que arrepiam a gente. Eu por mim no quero cometer sacrilgios.

M. Mantenha essa santa resoluo. Por que deixarse dominar pelo demnio mudo, pisar o Sangue de Jesus Cristo, mudar o remdio em veneno e obriglo a nos condenar, quando pelo contrrio, Ele quer a nossa salvao?

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O demnio mudo

D. Padre, o senhor h pouco falou no "demnio mudo"; o que vem a ser esse demnio mudo?

M. o demnio da impureza ou desonestidade. O prprio Jesus chamao assim no Santo Evangelho.

D. Mas o que essa impureza ou desonestidade?

M. So todos os pecados proibidos pelo sexto e nono mandamentos, isto , as ms aes, os maus olhares, os maus desejos e as infidelidades e malcias no matrimnio.

D. Ento a impureza um pecado muito grave?

M. um pecado gravssimo e abominvel diante de Deus e dos homens. Abaixa os que o cometem s condies de brutos, causa de muitos pecados, e provoca os mais terrveis castigos nesta e na outra vida.

A Sagrada Escritura chama os pecados de impureza pelos nomes mais baixo: "crime pssimo, cousa detestvel, horrvel infmia sem nome". So Paulo ento, diz claramente: "Neque molles, neque fornicarii, neque adulteri... regnum Dei possidebunt"/

Isto que dizer que nem os moles, que pecam sozinhos; nem os devassos; nem os adlteros, que so infiis no matrimnio, possuiro o reino de Deus!

D. Pobres de ns! Devemos ento estar sempre alerta.

M. Certamente! Os santos Padres so todos da mesma opinio quando dizem que a impureza o pecado que atrai maior nmero de almas para o inferno.

D. Deveras?

M. isso mesmo! Santo Agostinho afirma que, assim como a soberba populou o inferno do anjos, a desonestidade encheo de homens; e Santo Afonso acrescenta que todos os cristos que so condenados, o so por causa da desonestidade, ou pelo menos, nunca sem ela.

D. E qual ser o motivo disso?

M. Os motivos so especialmente dois:

1 As desonestidades so pecados fceis de cometer. 2 Uma vez cometidos tais pecados, difcil emendarse.

D. Por que so pecados bastante fceis de cometer?

M. Porque no devemos crer que os pecados de desonestidade consistem unicamente nas fornicaes, nos adultrios e outros tantos pecados nefandos; esses so excessos. Para se pecar mortalmente contra a pureza bastam os olhares lascivos, as leituras obscenas, as canes impdicas, os gestos e as conversas maliciosas, os namoros licenciosos, e at os pensamentos e complacncias ntimos e os desejos impuros quando consentimos neles livremente.

D. E por que so os mais difceis para corrigir?

M. Porque, infelizmente, um pecado chama outro, at que, pouco a pouco formase uma cadeia que depois no conseguimos mais romper. Neste caso tambm, ai daquele que comea!

D. Ser possvel! mas a confisso no serve de nada? No consegue romper a cadeia?

M. A confisso sempre um meio poderosssimo, quando bem feita; aqui no entanto que est o engano; aqui est toda a fora do demnio mudo; ele fecha a boca como j vimos, e no permite que se confessem bem esses pecados.

D. Oh! mas se se confessarem bem todas as vezes no prosseguiriam no caminho da desonestidade, no mesmo, Padre? A confisso seria mais forte do que eles.

M. Justamente. O Demnio mudo gosta das trevas, a confisso traz a luz, e a luz afugenta os pecados.

D. Ento, a misericrdia de Deus abandona o pecador desonesto?

M. No Deus que abandona o desonesto, mas o desonesto que abandona a Deus, no se importando mais com Ele, ou pior ainda, desprezandoO como vimos no captulo precedente. Portanto a desonestidade chamada a me da impenitncia final e os Santos dizem: "Vida desonesta, morte impenitente".

D. E por que a me da impenitncia final?

M. Porque na hora da morte, geralmente esse pecado no se confessa. Os pecadores no esto dispostos a confessar e a apagar o pecado com a devido arrependimento.

D. Mesmo em ponte de morte?

M. Sim, at em ponto de morte! E resignamse a perder o Paraso e ir para o inferno.

* * *

Lutero era um frade agostiniano: por um amor impuro deixou o convento, rebelouse contra a Igreja, fundou o protestantismo e entregouse a uma vida escandalosa. Uma noite estava ele no terrao de um hotel ao lado de Catarina Bora sua companheira de pecado. A temperatura era suave, o cu estava lindo e milhares de estrelas brilhavam no firmamento. Catarina, cansada talvez daquela vida de remorso, voltouse de repente para Lutero e lhe disse:

"Olha Martinho, como lindo o cu!"

Aquelas palavras, Martinho exclamou com um suspiro profundo:

Sim, Catarina, o cu lindo, mas no mais para ns!

O infeliz sentia que ia perder o Paraso, mas se confessava incapaz de ressurgir e morria pouco depois naquele mesmo hotel, dando mostras do mais terrvel desespero. "Vida desonesta, morte impenitente".

* * *

Teodoro Beza, sucessor de Calvino e chefe da reforma protestante, atingido por uma enfermidade mortal, foi visitado por So Francisco de Sales. Este com o seu zelo ardente tentou todos os meios possveis para induzilo a abjurar o erro, voltar para o seio da Igreja

Catlica, e prepararse para uma morte crist. "Impossvel" repetia, suspirando, o doente de quando em quando, "impossvel". Por fim, como o Santo insistia para saber o porque daquela palavra impossvel, Teodoro com esforo, apoiouse num cotovelo, puxou uma cortina que fechava uma alcova, e mostrando uma mulher ali escondida: "Eis a, exclamou, a razo da impossibilidade de me converter e de me salvar!

Preferiu a morte e o inferno, mas no deixou o pecado. Aqui tambm: "Vida desonesta, morte impenitente."

* * *

Na cidade de Spoleto, vivia uma jovem dissoluta, cuja existncia era unicamente dedicada vaidade e aos bailes. Aconselhada mais de uma vez a corrigirse desprezava com soberba os avisos e fazia pouco caso deles.

Sua prpria me, orgulhosa da beleza e do brio da filha, sentia imenso prazer em vla cortejada por um bom nmero de amantes, e deixava as cousas correrem na esperana de encontrar um bom partido; de mais a mais acreditava que, passado o ardor da mocidade, ela acabaria sossegando.

Oh! mes cegas e imprudentes, que no s no se preocupavam, mas ainda traem sua filhas, quando no so elas prprias que as arrastam desordem e runa!

E o que aconteceu?

A infeliz moa caiu gravemente enferma. Pessoas srias e respeitveis da vizinhana aconselharamna a chamar o sacerdote, a receber os sacramentos, prepararse para a morte, enfim. Mas a pobre teimosa:

Qual, repetia, impossvel, que eu no to moa e bela, morra; eu no devo, no devo morrer!"

Por fim, veio o Sacerdote; este por sua vez suplicavalhe que tivesse juzo, que rezasse a Maria Santssima porque a morte poderia surpreendla.

Qual morte, qual nada! Eu devo viver! eu no posso, no quero morrer!

Como a insistncia aumentasse, por fim, percebendo que as foras comeavam a faltarlhe, com um esforo supremo, exclamou com ira:

"Pois bem, se assim, se que eu vou mesmo morrer, vem tu, Satans, e toma a minha alma para ti!" E, cobrindo o rosto com o lenol, entregou ao demnio a alma desesperada. "Vida desonesta, morte impenitente".

Oua mais este exemplo, que o encher de pavor:

Um cavalheiro vivia com uma moa de maus costumes. Aos que o aconselhavam abandonla ele respondia sempre com um desdenhoso "no posso". Mas a morte chegou para desunilos.

O infeliz cavalheiro adoeceu gravemente, e, como estava nas ltimas, chamaram um sacerdote para preparlo para dar o passo terrvel. To caridoso e paciente foi o padre que o enfermo, humildemente, respondeu:

Com prazer! Apesar de ter levado uma vida m, desejo ter uma boa morte com uma santa confisso.

O senhor querer receber tambm os Sacramentos como um bom cristo?

com prazer que os receberei, se vos dignardes de mos administrar.

Mas isto no ser possvel se o senhor no despedir primeiro aquela moa.

Ah! isso, Padre, eu no posso fazer.

E por que no pode? pode e deve fazlo, meu caro senhor, se quiser salvarse.

Mas eu repito no posso!

Mas o senhor no v que, com a morte, to prxima, ser obrigado a deixla por fora?

No posso, Padre, no posso!

Mas assim, eu no o absolvo, no lhe administro os Sacramentos e o senhor perder o paraso, ser precipitado no inferno!

No posso!

Ser possvel que eu no posso obter do senhor outra palavra? Pense na sua honra, na sua estima se morrer excomungado.

No posso, repetiu o infeliz pela ltima vez. E, agarrandose a moa por uma brao, puxoua para si apertandoa com fora ao peito, e assim, nos braos daquela mulher indigna, expirou.

D. So tremendos, mas justos os castigos de Deus. Ser possvel, Padre, que no se pode mesmo abandonar o pecado?

M. Na maioria dos casos, no se quer abandonlo, eis tudo!

Santo Agostinho conta que um certo homem, no ouvia os conselhos nem as splicas dos que procuravam convenclo a abandonar uma casa que freqentava com grande escndalo. No quis saber de nada, dizendo que absolutamente no podia. Aconteceu que um dia, naquela mesma casa lhe deram uma carga de pauladas das mais respeitveis.

Acredite que ele abandonou no mesmo instante a casa: a impossibilidade toda desapareceu.

"Quod non fecit Dominus" acrescentava o Santo "fecit baculus": aquilo que Deus e o amor da alma no conseguiram, conseguiuo a bengala.

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As terrveis conseqncias do pecado

D. Padre, o senhor disse tambm que a desonestidade o pecado que traz conseqncias terrveis?

M. Infelizmente assim! As desonestidades tiram as foras de qualquer obra generosa. Sanso, o mais forte dos homens, porque Deus oi dotara de uma fora extraordinria, deuse a um amor impuro e tornouse o joguete de Dalila, companheira dos seus pecados; por trs vezes ela o traiu e o vendeu aos seus inimigos.

As desonestidades idiotizam a mente. Salomo, o mais sbio de todos os reis, perdese junto das mulheres amalecitas e, abandonando o seu Deus, dse idolatria.

As desonestidades viciam o corao de Henrique VIII, o mais cristo dos reis, tendose apaixonado por Ana Bolena, repudia a rainha sua esposa, abandona a Igreja Catlica, faz a Inglaterra uma nao protestante, e morre excomungado pelo Papa.

As desonestidades fazem perder a f. Se grande nmero de cristos no crem, no tm

f, por causa das desonestidades. De fato quando que a juventude comea a deixar a orao

a desertar a Igreja, a abandonar os Sacramentos? Justamente quando comea a freqentar as ms companhias, quando se junta as ms conversas, s impurezas. No faz muito tempo, encontreime com um mdico meu conhecido e o repreendi docemente porque no praticava a religio. "Faa com que eu me case, respondeu, e tornarei a ser catlico praticante". E o que me confessava era verdade: se no tinha f era por causa das desonestidades.

As desonestidades so a causa dos crimes mais hediondos. As desonestidades estragam a sade, diminuem as foras, encurtam a vida. A existncia de tantos moos fracos, de tantas doenas, de tantas velhices precoces, a multiplicao de hospitais para os dbeis, para os raquticos, para os dementes, para os abandonados, a esto para atestar quantos danos causam as desonestidades, mesmo sade.

Na Amrica do Sul e na Guiana existe um animal chamado vampiro, que suga o sangue dos homens enquanto esto adormecidos, e quando est satisfeito, foge, deixando a veia aberta, o que freqentemente causa a morte. Pois bem, as desonestidades sugam o sangue, diminuem as foras, gastam a vida de quem se torna escravo delas. A desonestidade parecida coma chama de uma vela; ou bem apagamos a chama, isto , desistimos do vcio, ou bem acabamos a vela, isto , extinguimos a prpria vida. Mas quantos h que no querem acreditar e perdem a juventude, perdem a sade, a alegria e a paz para ir ao encontro de uma morte precoce e desonrosa! Pensam que vo colher e gozar o perfume das rosas, quando, na verdade no trazem seno espinhos venenosos.

E, por falar em rosas, oua um fato histrico que agora vem ao caso.

Heliogbalo, imperador romano, suspeitando de uma traio dos seus generais e cortesos, pensou em prevenilos e punilos de um modo terrvel. Feito no maior segredo os preparativos, convidouos todos para um suntuoso banquete. Ao fim da festa, quando mais expansiva a alegria, quando mais msicas tocam as notas mais alegres, eis que surge uma grande surpresa!... Abrese o teto da grande sala, e, do alto comea cair uma chuva, leve, de rosas lindas, frescas e perfumadas. Diante dessa novidade o prazer chega ao auge, transformase em delrio; todos se levantam gritando: "Viva Heleogbalo! Viva o imperador!" E deliciamse com as rosas: pegamnas e adornamse com elas: as palmas e as vivas multiplicamse.

Enquanto isso, o Imperador sai sem ser visto. Fechamse hermeticamente as portas e a chuva continua, aumenta, tornase copiosa, to forte que chega a cobrir as mesas e os convivas perdem os sentidos por causa do perfume asfixiante. Procuram uma sada, mas as portas esto fechadas e as janelas altssimas so protegidas por grades de ferro. Tarde demais descobrem o engano, e morrem todos sufocados pelo perfume e o peso daquelas rosas belssimas.

D. Padre, essa a triste histria daqueles que se do aos prazeres da impureza?

M. Precisamente! Infeliz da juventude que, enganada pelo perfume lascivo e sedutor de tais rosas, passa os anos mais belos gritando: amor, amor. O amor, ou seja, o vcio, transformarse bem cedo em veneno que castiga terrivelmente.

Eu mesmo conheci um jovem forte e sadio, bem disposto, que, dandose a esse vcio aos 17 anos, morreu de uma morte raivosa e convulsa, que despertou pavor em todos os que rodeavam. O seu cadver tomou um aspecto to disforme, a sua fisionomia tornouse to horrenda, que os prprios parentes no tinham coragem de fitlo; os poucos que puderam entrar no quarto afirmaram nunca terem visto uma cousa to assustadora e horrorosa.

Um outro rapaz, que pecava por desonestidade, morreu, e de seu corpo, horrivelmente inchado, emanava um mau cheiro tal que foram obrigados a tirlo da casa ante do tempo. Nem os companheiros mais corajosos conseguiram levlo ao cemitrio por causa do cheiro nauseabundo, e foi preciso carreglo numa carroa puxada por um jumento. O quarto onde morreu teve de ser desinfetado por muitas vezes antes que se pudesse tornar habitvel.

Contase tambm o caso de uma moa habituada a atos impuros, que, depois de uma morte aparentemente crist, foi vestida de branco pela me e pelas irms. Enfeitaramna com flores e estenderamna na cama com um crucifixo, nas mos a fim de que, segundo o costume, as amigas pudessem vla pela ltima vez e orar por ela.

Mas oh! prodgio! O crucifixo saiu do lugar, e, por mais que o tornassem a pr nas mos da morta, por mais que procurassem fazlo parar, tudo foi intil: achavamno sempre jogado na cama. Jesus no queria ficar naquelas mos que tinham servido para o pecado.

D. O Senhor conta cousas cada vez mais horripilantes ! Mas, ento no haver mesmo sada para quem teve a infelicidade de enveredar pr esse caminho?

M. Sim, h um modo de reconhecer suas faltas e emendarse e isto consiste em:

1 Uma vontade firme.

2 Eliminar e afugentar as ocasies.

3 Praticar os Sacramentos.

sobretudo numa vontade firme que isto consiste.

Santo Agostinho levou uma vida de libertino at aos trinta anos, mas quando abriu os olhos, sentiu tamanha vergonha que se converteu, abandonou os prazeres e as loucuras da mocidade, se tornou sacerdote, Bispo, Santo, e clebre doutor da Igreja.

O mesmo aconteceu a Santo Incio de Loyola, que aos trinta anos se aborreceu da vida at ento tida: e com uma vontade resoluta foi correndo bater porta de um convento, onde fez duras penitncias; lavou as culpas passadas, e fundou a Ordem dos Jesutas, de quem glria e orgulho.

So Camilo de Lelis, da nobre famlia dos "Abbruzzi" muito jovem tambm se entrega aos divertimentos e aos prazeres mundanos, mas aos vinte e cinco anos toma o hbito e consagra a Deus e a Maria Santssima a sua vida, em favor dos doentes e dos moribundos.

O que diremos ento de uma Madalena Penitente? de uma Pelgia, de uma Santa Margarida de Cortona, que de vasos de corrupo e de escndalo, transformaramse em lrios celestes? A vontade resoluta foi suficiente para salvlas.

Em segundo lugar, eliminar e afugentar as ocasies. Aqui tambm os Santos nos ensinam.

Santo Toms de Aquino, jovem elegante de famlia nobre, fechado numa torre e ali tentado por uma mulher infame. No tendo outro meio de se livrar dela, pega no fogo um tio ardente e brandindoo grita: "Saia, saia, ou eu a queimo!", consegue assim a fuga da tentadora sem escrpulos.

So Francisco de Sales era tambm nobre e elegante. Quando aos dezoito anos estudava em Pdua, certa ocasio, uma moa dessas no muito srias, aventurouse a abralo maliciosamente. Que fez ento? Cuspiu na cara da impudica, dizendolhe: "Afastate missionria de Satans".

O moo Discoro, depois de vencer todas as insdias dos inimigos da f, foi amarrado numa cama de rosas, na impossibilidade completa de se livrar de quem o queria induzir a pecar. Recomendouse a Deus, e, cortando a lngua com os dentes, cuspiu no rosto da tentadora miservel que borrifada pelo sangue de um mrtir, fugiu horrorizada, chorou e se converteu.

D. Mas todos esses, Padre, eram Santos!...

M. Naquele tempo ainda no o eram; tornaramse santos depois de agirem como agiram. Todavia mesmo sem ser santos podemos e devemos ser corajosos: basta ser cristo: Ouve isto:

Uma jovem que eu conheo, devolveu, em envelope fechado um carto a um soldado libertino, dizendolhe: "Isso indigno de mim como crist e indigno de ti, como soldado". Outra moa, em resposta a certas cartas libertinas do noivo, escreveulhe: "Nunca me casarei com um homem desonesto! Desde hoje, est tudo acabado entre ns dois".

No fez muito tempo que, em Turim, no aperto da plataforma de um bonde, um "almofadinha", lascivo tomou certas liberdades com uma mocinha direita, A moa virouse desdenhosa e, sem mais, aplicoulhe no rosto uma valente bofetada, dizendo bem alto:

Deseja saber a razo disso?

Muito obrigado, no preciso, responde o desastrado que desceu apressado, com o leno no nariz.

D. Muito bem! Essa moa merece uma medalha!

M. Uma medalha igual merece esta, que eu tambm conheo:

Certa ocasio, um sujeito sem educao sussurroulhe no ouvido no sei que trivialidade. Sem perda de tempo, a moa deulhe dois bofetes sonoros, acrescentando: "Estarei sempre pronta para repetilos".

D. Muitssimo bem feito! Se todas se comportassem assim ficariam libres dos zanges, no , Padre?

M. Isso mesmo! E os que no so zanges ficariam livres dos pernilongos, ou seja, de certas moas sem pudor.

Do cio tambm devemos fugir. Ai dos ociosos: justamente nos momentos de cio que o demnio impuro intensifica os seus assaltos e aumenta suas vtimas.

D. Ento o demnio tambm tem que ser tratado com cuspidas e bofetes?

M. Justamente! E em terceiro lugar, para nos podermos livrar das impurezas, necessria a "freqncia dos sacramentos": a confisso semanal, cada duas semanas ou pelo menos mensal e a Comunho o mais freqente possvel.

Nos Sacramentos o demnio impuro desmascarado e vencido. No h nada que ele tema mais porque nada lhe mais fatal. " impossvel, diz So Felipe Neri, e com ele D. Bosco, impossvel que quem freqenta bem a Confisso e a Comunho, continue a cometer impurezas!"

O mundo no pode crer na castidade de tantos milhares de sacerdotes, freiras e religiosos: no se convence de que essa flor da juventude possa conservarse pura e casta no meio de to grande corruptela; mas sabe por qu? Porque o mundo no sabe ou no quer saber que todos eles se purificam com freqncia no Sangue de Jesus com a Confisso, e, ainda mais freqentemente, se nutrem do seu Corpo santssimo na Comunho.

H poucos anos, um jovem advogado disse em tom de brincadeira a um amigo sacerdote:

Eu acredito na sua f, admiro a sua abnegao, mas no posso acreditar na sua honestidade, no celibato!

O zeloso sacerdote tocado num ponto assim to delicado respondeu:

Pois bem, experimenta e vers.

De que jeito?

Freqenta a Confisso e a Comunho.

Mudaram de conversa, mas voltaram ao mesmo assunto muitas vezes e ao cabo de seis meses o advogado elegante trocava a toga de tribuno pelo hbito de seminarista. Em menos de um ano tornouse sacerdote e agora excelente pregador e defensor infatigvel da honestidade e do celibato eclesistico. Experimentou e foi vencido por esses Sacramentos miraculosos.

D. Padre, a honestidade, ou seja, a pureza, traz consigo vantagens?

M. Muitas e nobilssimas: a pureza como um lrio que se eleva acima de todas as flores pelo perfume e pelo candor; ela nos torna senhores dos tesouros de Deus. O homem puro e honesto sentese e mostrase sempre tranqilo: no teme suspeitas e calnias; no se sente ligado ben escravo de outras pessoas; goza de uma paz ntima, inestimvel. Sua vida plcida e serena a sua morte. Tem imensa esperana, isto , tem uma certeza da salvao eterna: o seu prmio, o seu gozo no Paraso so de todo especiais. Termino com um exemplo histrico:

O clebre msico Mozart aos vinte e cinco anos, tinha atingido o apogeu da sua glria. No dia 27 de janeiro de 1881, completava justamente vinte e cinco anos e, achandose em Milo, onde foi acolhido triunfalmente pde dizer assemblia que o festejava estas palavras textuais:

"Juro diante de Deus que, em toda a minha vida, nunca cometi ato nenhum contra a pureza, eis o segredo dos meus sucessos e dos meus triunfos..."

Sentiase puro e, sentiase grande. Quantos haver que podem dizer o mesmo?!

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Deus perdoa sempre

D. Porm, se algum reconhece a tempo as suas faltas e se confessa bem, Deus perdoa sempre no verdade, Padre?

M. Sim, Deus perdoa sempre a quem volta arrependido. Voc se lembra da parbola do "Filho prdigo?"

D. Ouvia mais de cem vezes e achoa sempre lindssima e muito consoladora. Contema, Padre.

M. O infeliz rapaz foge de casa, gasta todos os bens em excessos. Reduzido misria extrema obrigado a ser guardio de porcos, e reparte com os animais imundos os restos de comida, par no morrer de fome. Por fim cansado de uma vida to mesquinha, cheio de remorso, resolve voltar para junto do pai. Vence a vergonha e decidido exclama: "Surgam, et ibo ad patrem meum. Erguermeei, irei para junto do meu pai". De fato volta, e assim que chega atirase aos ps do pai implorando: Pai, perdo, porque pequei.

O pobre pai, que desde o triste dia em que o filho partira, no tinha conhecido nem paz nem sossego, no o repele: abrelhe os braos, ergueo, apertao contra o peito, beijalhe a fronte, cobreo com o prprio manto para que ningum o veja naquele estado. Ordena aos servos: Corram, tragam as roupas mais belas para que eu vista de novo o meu filho; tragam os anis de ouro e os colares preciosos para que eu o enfeite. E vocs, diz a outros, matem a vitela mais gorda e preparem um grande jantar. Convidem parentes e amigos, chamem tambm os msicos; quero uma grande festa, porque meu filho que estava perdido voltou! Poucas horas depois, j cada coisa est em ordem: cheia a sala, postas as mesas. O filho que, pouco antes causava d, aparece todo enfeitado, radiante de alegria, ao lado do pai. E, sentado no lugar de honra, tornase o "rei da festa".

Voc sabe quem ele? o pobre infeliz pecador, e seu pai Jesus. Cada vez que o mais infeliz pecador atirase aos ps de Jesus e diz, arrependido: "Padre, perdoaime porque pequei" a mesma cena se repete. O confessor, que representa Jesus, ergue o infeliz; apertao nos braos, dlhe o beijo do perdo, revesteo da graa santificante, adornao com seus conselhos, levao ao casamento de Jesus que a comunho. Assim, o coitado que, poucos minutos antes, era escravo do demnio e presa do inferno, tornase o rei da festa porque, como voc sabe, Jesus mesmo disse: "H mais regozijo no cu por um pecador que se converte do que por noventa e nove justos que j vivem na graa de Deus!"

D. Bendita seja a Confisso! Ela realmente o sacramento de perdo e do consolo. Mas por que nem todos se confessam?

M. Porque no conhecem, no amam Jesus suficientemente. Ah! se todos pudessem vlo como O viu e ouviu aquela mulher do evangelho...

D. A pobre adltera, no ? Conte, Padre, esse tambm um fato consolador.

M. Um dia, foi apresentada a Jesus uma mulher surpreendida em adultrio para que ele a condenasse, seguindo a lei, a ser lapidada. Ele, vendoa toda envergonhada, abaixouse e comeou a escrever na poeira palavras misteriosas, e, ao mesmo tempo que Ele escrevia, os acusadores se retiravam confusos e cabisbaixos. Quando todos j se tinham ido, Jesus levantouse, e virandose para a mulher pecadora, disselhe:

Ningum te condenou?

Ningum, respondeu a mulher, tremendo.

Pois bem, nem eu to pouco te condenarei: vai em paz e no peques mais.

Eis a meu caro, a vontade de Jesus: no condenar, mas perdoar; e, mesmo que todo o mundo nos condenasse, Ele nos absolveria, satisfeito se no tornamos a pecar.

D. Mas, Padre, Ele era Jesus, ou seja, Deus; mas estar o Confessor sempre disposto a perdoar?

M. Sim, o Confessor perdoa sempre, mesmo que se trate de qualquer falta enorme, porque ele representa Jesus. Ouve o que nos conta um dos maiores oradores franceses, Monsabr.

L pelo fim da terrvel Revoluo, que causou tantas vtimas e derramou tanto sangue inocente, um velho miservel, to pobre quanto tinha sido mau, estava moribundo, num imundo sto de Paris. Acode sua cabeceira um jovem sacerdote: ele o recebe com grande temor, e, depois de angustiosos suspiros, comea a contar:

Ouvime, Padre, e Deus queira que possais no me amaldioar. Eu era criado de uma famlia nobre, que me enchera de benefcios. Quando chegaram os dias terrveis da Revoluo, o meu corao ingrato correspondeulhes com a mais monstruosa traio. Combinando com os revolucionrios, reveleilhes o esconderijo dos meus patres, acompanheios ao patbulo e apodereime dos seus haveres que esbanjei em pagodes. Ah! Padre, eu sou um monstro. Vejaos, vejaos; so os meus patres, to amveis, to bondosos... e, enquanto falava abriu um estojo que continha os retratos dos antigos amos.

Horror! O sacerdote reconheceu naqueles retratos seu pai e sua me...

Ento a cena foi espantosa. O ministro de Deus, rijo, plido, trmulo, olhava chorando para o assassino de sua famlia. O moribundo como um espectro, erguiase na cama, e mostrando o peito nu e descarnado, gritava: "Vingaivos, vingaivos!..."

Mas o zeloso sacerdote lembrouse de que, naquele momento, to trgico para ele, no era mais um homem, mas o representante de Jesus Cristo. Caindo em cima do assassino, pslhe o Crucifixo sobre os lbios para sufocar os gritos de desespero e:

"Meu amigo, meu filho, meu irmo, disse, enganaste. Eu sou Jesus Cristo, e Jesus Cristo perdoa".

E, sempre abraando o pecador, absolveo e consolao, e o mendigo morre perdoado e abenoado nos braos daquele cuja vida envenenara.

D. Padre, depois de ouvir esses fatos, ser que algum ainda teme manifestar os seus pecados ao confessor? Oh! a Confisso realmente o sacramento do perdo e das consolaes. Eu gostaria de ter mil lnguas para gritar para o mundo inteiro: experimentem e vejam o quanto Jesus bom.

M. Portanto, nada de medo, nada de vergonha; confessemse sempre bem no s para fugir do inferno, mas tambm para ter nesta vida consolaes e paz, porque de uma boa confisso pode depender todo o nosso futuro,

A beata ngela Foligno tinha cometido, na juventude certas faltas que no tinha ousado confessar. Continuou assim por muito tempo, mas como o remorso da conscincia no a deixava tranqila nem de dia nem de noite, depois de ter rezado muito, resolveu fazer finalmente com coragem, uma confisso sincera de todos os pecados e sacrilgios.

A acusao franca proporcionoulhe a maior glria, porque alm da paz e da alegria do corao, teve a fora de se tornar santa. H mais de seiscentos anos que honrada pela Igreja e pelo mundo inteiro com o ttulo de Beata.

A Venervel Maria Fornari, romana, conta que, quando criana, teve a infelicidade de cometer algumas faltas contra a modstia. Assim que lhes percebeu a gravidade, abstevese delas, mas, por vergonha, nunca ousou confesslas e assim foi ajuntando sacrilgios a sacrilgios. Vivendo sempre com o corao angustiado, resolveu tornarse feira. Entrou no convento de Lodi, na mbria: fez a vestio, fez a profisso religiosa, porm sempre com o inferno no corao. Que miserveis e angustiosos os seus dias! Finalmente durante a novena da Assuno sentiu no corao um desejo muito grande de pedir a Maria Santssima a graa tantas vezes implorada inutilmente. Fez o pedido com tanto ardor, que, no mesmo instante, sentiu uma fora to grande que pde manifestar as suas culpas, no s ao Confessor, mas a toda a Comunidade.

Reparou tudo com uma confisso geral, e comeou a viver uma vida to santa que mereceu a honra de ser elevada ao altar.

Por a voc v meu caro, que, mediante a Confisso, Jesus no s perdoa, mas nos d a possibilidade de nos tornarmos santos. por isso que, muito acertadamente, os telogos dizem que a confisso o principal meio de santificao.

D. Oh! Padre, reze por mim, afim de que eu possa aproveitar da Confisso.

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Terno pai

D. E agora, digame Padre: ao ouvir certos pecados, ser que o confessor no se surpreende, no fica ofendido, no fica ofendido, no perde a estima... no nega a absolvio?

M. Mas como que ele deve ficar surpreendido? Qualquer que seja o confessor, ele j conhece o mundo. Os mesmos pecados que voc cometeu, ele j os ouviu mil vezes; por mais que voc lhe diga, no lhe dir nada de novo. Alm disso, ele est ali para ouvir misrias e no para ouvir milagres. Nem se ofende se voc lhe disser coisas graves, porque, com os pecados, no foi ele que voc ofendeu; pelo contrrio, como um terno pai, ficar mais comovido, ter mais compaixo de voc; alegrarse, pensando que, perdoando muito, aumentar a alegria e a glria de Deus. Ser que os pecadores se sentem ofendidos quando puxam na rede peixes enormes?

D. Nunca, pelo contrrio, ficam satisfeitssimos.

M. Pois bem, o mesmo acontece com o Confessor. Oua o que lhe vou contar:

Um dia, um pecador que tinha culpas bem graves foi confessarse com S. Luiz Bertrano. Apesar de intensamente arrependido, tinha ainda muito medo e muita vergonha; por isso a cada pecado deitava uma olhadela para o confessor para ver qual a impresso que causavam as suas culpas.

Tendo observado que o Santo no mostrava nem um sinal de espanto, criou coragem e confessou at os pecados mais feios e enormes; e ento, muito admirado viu passar pelos lbios do Santo um sorriso muito doce. Como o Padre lhe perguntasse se ainda tinha mais coisa a dizer, respondeu tristonho:

Padre; ainda tenho mais uma coisa a dizer, mas me falta a coragem...

Como que no ousas, se j disseste tantas e com tamanha bravura?

Porque cometi essa falta neste momento.

Tanto melhor; assim ela ser morta agora mesmo, enquanto est fresca.

Mas, Padre, eu a cometi contra o Senhor...

Contra mim? Pois bem, que importa? Se eu devo perdoar os pecados cometido contra Deus, porque, no perdoarei um pecado contra mim?

Padre, quando eu estava confessando aqueles pecados enormes o vi sorrir e disse comigo mesmo: "Este certamente ainda os cometeu maiores do que eu..."

A estas palavras, So Luiz Bertrano respondeu sorrindo:

No; por graa de Deus, no cometi esses graves pecados, apesar de ter podido cometelos se o Senhor no me tivesse ajudado. Sabes por que eu sorria?

Porque medida que dolorosa e sinceramente, confessavas as tuas culpas, eu via afastarse de ti o demnio e entrar em ti a graa de Deus.

Eis aqui meu caro, quais so os sentimentos do confessor. Ele no repara nos pecados mas nas disposies e na coragem do penitente.

Quando eu ainda no era sacerdote, no podia convencerme disso: mas tive depois cem mil provas desta realidade, na prtica do ministrio. justamente por isso que, nos meus sermes, falo com freqncia na sinceridade da confisso, e sempre falarei com muito prazer. Oh! quantos coraes eu j consegui consolar com este meio e quantas vezes eu mesmo me senti cheio de consolaes.

D. E o confessor no perder a estima que tem pelo penitente?

M. Aumentaa, pelo contrrio, pensando no esforo feito para se confessar bem, pensando na boa vontade que tem de se emendar, pensando que Jesus o encher de favores e de graas. O confessor como o mdico. Como um bom mdico que tem predileo pelos doentes mais graves, assim o Confessor.

Um dia, apresentouse a So Francisco de Sales uma senhora que fez uma confisso geral durante a qual confessou muitas misrias; depois da absolvio, antes de sair, interrogouo:

E agora, Padre, o que pensa de mim?

Penso que a senhora uma santa.

Desculpe, Padre, mas o senhor est caoando comigo?

No; absolutamente no estou caoando: penso que uma santa desde que teve coragem e a graa de fazer uma confisso to dolorosa e sincera.

O confessor, portanto, repito, no perde a estima; aumentaa pelo contrrio, quanto mais grave e numerosos so os pecados que se confessam e que se perdoam, quanto mais sincera e dolorosa a confisso.

D. Padre, nunca se nega a absolvio?

M. Em casos rarssimos: isto , quando o penitente no est mesmo disposto a deixar o pecado ou a ocasio prxima de pecar; quando no se est disposto a reparar na medida do possvel, os danos, o escndalo dado, ou quando tem intenes de continuar no pecado. Em todos esses casos, a absolvio seria intil, danosa mesmo, porque cometerseia um sacrilgio; confessor e penitente comprometerseam ao mesmo tempo.

O Padre Fusignano conta que um senhor tinha um mau costume havia muito tempo, e, no obstante achava sempre algum confessor que o absolvia. Sua mulher chorava, rezava e no deixava de fazerlhe notar o seu pssimo estado. Mas ele sorrindo dizialhe: "Voc bem louca para se aborrecer tanto por minha causa. Se fosse uma coisa assim to m, o confessor no me absolveria".

|E assim continuou at morte com a sua desonestidade. Mas, depois de morto, apareceu mulher, rodeado de chamas, nas costas de outro, tambm horrivelmente atormentado; e com gritos desesperados disse: "Estou condenado por no ter deixado a ocasio de pecar e este que me carrega nas costas, o meu confessor que me absolvia, apesar de eu ser indigno".

D. Coitados!... Em caso contrrio, Padre, isto , quando o penitente est arrependido e tem boas disposies, o confessor absolve sempre?

M. Sim, sempre absolve e perdoa, mesmo quando se trata de alguma culpa ernorme e gravssima.

O muito douto telogo francs Joo Gaume contava que um dos perversos que, durante a revoluo francesa, se tinha manchado com os mais terrveis crimes e mais de uma vez tinha feito correr sangue dos sacerdotes, tinha cado gravemente enfermo. Esse homem tinha jurado que nenhum sacerdote teria posto os ps no seu quarto e que, se entrasse, dali no sairia. Tendose agravado a doena, um bom padre ofereceu a vida, contanto que pudesse salvar o infeliz. Ao vlo o homem encolerizouse e, juntando todas as foras gritou:

O qu? Um sacerdote na minha casa? As minhas armas, depressa!

O que quer fazer com elas? perguntoulhe com muita doura o sacerdote.

Quero matarte, tu que ousas aparecer na minha frente! No sabes que com estas mos j degolei doze padres?

Enganase, meu irmo; para esse nmero ainda falta um; o dcimo segundo no morreu; o dcimo segundo sou eu. Deus conservoume a vida para que eu o salvasse.

Para salvarme? E quem poder salvarme depois de tantos crimes?

O seu arrependimento e a minha absolvio.

Mas o senhor ainda no sabe de tudo; se eu lhe contasse tudo o senhor me amaldioaria.

Amaldiolo?! absolutamente nunca!

E o senhor ainda me dar a absolvio?

Sim, porque Jesus Cristo assim o quer.

E, muito caridosamente, comeou a instrulo e a preparlo para uma boa morte.

D. Que herico e santo Sacerdote! Ms ser que todos os confessores so assim?

M. Sim, todos eles so assim porque todos representam Jesus Cristo, que ordenou que perdossemos sempre.

D. Pois ento, se o confessor absolve sempre, no devemos ter medo, no mesmo?

M. No, nada de medo, nunca! Ele sempre um pai carinhoso.

Francisco Renato, visconde de Chateaubriand, celebrrimo escritor francs, escreve nas suas "Memrias de Almtmulo": "Aproximavase a poca da minha primeira Comunho. (Na Frana faziase naquele tempo a primeira Comunho aos quatorze anos). A minha piedade parecia sincera; eu edificava todos os meus companheiros. Tinha eu um confessor de aspecto um tanto rgido; cada vez que me apresentava ao tribunal da Penitncia, ele me interrogava com ansiedade surpreendido com a insignificncia das minhas culpas; no sabia explicar o meu embarao diante da pouca importncia dos segredos que eu lhe confiava. Quanto mais perto amos chegando da Pscoa, mais insistentes se tornavam as suas perguntas. "Voc no esconde nada?", perguntava ele. E eu respondia: "No, Padre..."

Voc no cometeu este ou aquele pecado?

No, Padre... e sempre "No, Padre".

Ele me dispensava duvidoso, suspirando, procurando ler no fundo da minha alma, e eu voltava do confessionrio plido e desfigurado como um culpado. Escondia pecados.

Chegou a tarde de quartafeira santa, vspera da Comunho Pascal. Chegando Igreja, prostreime diante do altar e ali fiquei como se estivesse aniquilado. Quando me levantei para ir Sacristia, onde o Confessor me esperava, meus joelhos tremiam; atireime aos ps do Sacerdote, e, com voz mais alterada do que nunca, fiz a confisso de sempre.

Voc no se esqueceu de nada? perguntoume o Ministro de Deus.

Eu caleime. As suas perguntas recomearam e o fatal "No, Padre" saiu de novo dos meus lbios. Ele recolheuse, rezou, e, fazendo um esforo, preparouse para darme a absolvio. Se naquele instante um raio tivesse cado em cima de mim o meu pavor teria sido menor e eu gritei:

Eu no disse tudo!

Aquele juiz to temido, aquele Ministro de Deus cujo rosto me inspirava tanto temor, tornouse o pai mais carinhoso; abraoume chorando, e:

Coragem, meu filho, tenha coragem! Um momento como aquele, nunca mais viverei. Eu chorava de alegria; depois da primeira palavra, o resto no me custou mais esforo algum. O sacerdote, erguendo a mo pronunciou as palavras da absolvio. Esta segunda vez, a sua mo fez descer sobre a minha cabea o orvalho celeste e abaixei a fronte para receblo. Eu participava da felicidade dos anjos.

No dia seguinte, quando a Hstia Santa pousou nos meus lbios, sentime iluminado por uma luz vivssima.

Senti ento em mim a coragem dos mrtires; naquele instante, eu teria sido capaz de confessar a minha f em Cristo sobre o acleo ou no meio dos lees..."

Eis a, meu filho, quem o Confessor, na opinio dos maiores entre os grandes homens. Ele sempre, repito, "o pai mais carinhoso".

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Segredo inviolvel

D Padre, ser que alguma vez no acontece que o confessor conte algum pecado ouvido na confisso?

M. Absolutamente nunca! Um trplice segrego fechalhe a bosa; nisto entra a vontade de Deus que no permite que se cometam faltas no que diz respeito a esse captulo. De fato, a confisso existe h mil novecentos anos, e nunca aconteceu que um confessor, por nenhum motivo, tenha divulgado um nico pecado ouvido na confisso.

Martinha Lutero que era um frade zeloso, renegou a sua f, fezse protestante, tornouse inimigo da Igreja falou e escreveu contra a Igreja calnias, infmias sem fim, mas nunca, nem uma vez sequer, falou de coisas ouvidas na confisso.

Um dia, achavase ele numa estalagem com alguns amigos; estes, vendoo meio embriagado, tiveram a idia de interroglo, justamente a esse respeito. Antes nunca o tivessem feito! Lutero, de um momento para outro, ficou furioso, e, agarrando uma garrafa, teria quebrado a cabea daqueles malvados se eles, mais do que depressa, no tivessem fugido.

O segredo da confisso inviolvel, mesmo diante da morte.

D. At diante da morte?!

M. Certamente! Eis aqui um dos mil fatos que eu poderia citar como prova:

Justamente durante a quaresma de 1873, um missionrio famoso pregava com grande sucesso numa das principais Igrejas de Paris. No meio da multido enorme que acorria para ouvilo, havia tambm alguns incrdulos, os quais, tendoo ouvido falar sobre inviolabilidade da confisso, quiseram fazer uma experincia. Depois de terem combinado o plano, um deles se finge de doente e outros dois procuramo sacerdote e o convidam para acudir junto ao leito do enfermo. O missionrio de Deus, concorda de pronto, e acompanha os dois homens que, fazendoo entrar num carro fechado, vendamlhe os olhos; depois de uma meia hora de corrida, fazemno descer na frente de um palacete, e subindo por uma escada o introduzem em um apartamento junto cabeceira de um homem que se confessa realmente. Acabada a confisso, voltam os dois companheiros e o fazem descer por escadas at um subterrneo, onde lhe tiram a venda e apontandolhe duas pistolas carregadas o intimam a referir o que ouvira na confisso.

Muito calmo o Missionrio responde:

Os senhores, talvez, no sabem que a confisso um segredo?

Deixe de desculpas! Aqui ningum nos v, ningum nos ouve; fale ou morrer.

Se assim , estou em suas mos; disparem vontade; e que Deus seja testemunha do meu dever. Assim dizendo, ajoelhase, desabotoa a batina, e apresenta o peito s balas.

Nesse ponto a cena se transforma; os dois homens erguemno, pedemlhe perdo pela dura prova a que o submeteram e acrescentam: "Agora ns tambm acreditamos na confisso e, dentro em pouco, estaremos de joelhos no confessionrio".

Vendaramlhe novamente os olhos e o reconduziram de carro at casa, renovendo as desculpas e promessas, que depois foram mantidas.

D. Padre, todo o sacerdote, num caso desses, seria obrigado a fazer o mesmo?

M. Certamente! e Deus no deixaria de darlhe a graa e a fora necessrias; no faltam mrtires do sigilo sacramental. Oua:

So Joo Nepomuceno era confessor da rainha Joana, mulher de Venceslau, rei da Bomia. Este por causa de injustas suspeitas motivadas pelo cime, pretendia que Joo referisse as culpas da rainha, ouvidas em confisso. Como o Santo se ops com inabalvel resistncia, o rei impiedoso mandou que o trancassem numa priso, onde seria tratado com barbaridade extrema. Finalmente, chamandoo sua presena, depois de novas promessas e ameaa ainda mais terrveis, ordenou que o costurassem num saco de couro, fechado por uma corda, na extremidade da qual deviam amarrar uma pedra pesadssima, que o jogassem ao rio Moldava. Queria que l em baixo, no fundo do rio o padre morresse e apodrecessem escondido de todos.

Mas oh! prodgio!... Naquela mesma noite o saco flutuava levemente sobre as ondas, escoltado por uma luz vivssima e uma harmonia suave como vozes de anjos acompanhandoo. Depois de tirado das guas, enterraramno com pompa e solenidade. E quando, em 1729, quase quatrocentos anos mais tarde, foi proclamado santo, a sua lngua estava intata, e fresqussima, como se fosse um prmio do seu silncio.

Foi ento que So Joo Nepomuceno foi chamado "o mrtir do segredo da confisso".

No faz muito tempo que, pelos jornais da Rssia, se espalhava a notcia de um vigrio condenado aos trabalhos forados, como assassino de um rendeiro do lugarejo. O seu fuzil descarregado, encontrado na sacristia, atestava o crime. Passaramse vinte anos: o organista da parquia est morte; chama o juiz e confessa que ele mesmo matara o infeliz rendeiro para casar com a viuva, o que de fato se dera. Tinha acusado o vigrio, e para provarlhe a culpabilidade tinha posto o fuzil na sacristia. Como meio seguro de impedir que o Padre falasse, tinhase confessado com ele, contandolhe tudo o que fizera.

Diante disso, as autoridades telegrafaram sem demora a Petesburgo, ordenando que o Vigrio Kobjlowes fosse posto em liberdade imediatamente. Responderam que o Vigrio tinha morrido havia j alguns meses. O herico padre tinha carregado sepultura o segredo da confisso, porque o Confessor pode ser um mrtir, mas nunca ser um traidor.

E agora, voc est bem convencido do grande segredo da confisso?

D. Estou convencidssimo! Mas esse segredo dura porm at morte do penitente; depois, no h mais obrigao?

M. O segredo dura sempre, estando o penitente em vida e depois da sua morte; eterno, assim como Deus eterno. Isto deve inspirarnos coragem e confiana absolutas, sem limites, de confessar sinceramente os nossos pecados, desde que podemos estar certos de que eles ficaro sepul tados num silncio eterno. Se pelo contrrio, nos deixarmos levar por um pudor mal compreendido a escondlos e a callos diante do confessor, sero um dia manifestados diante de todo o mundo no juzo universal, contra a nossa vontade, para a nossa vergonha e para a nossa runa irreparvel. Sinceridade, portanto, sinceridade!

D. Ento, Padre, procede mal quem diz: eu no ouso confessar os meus pecados, porque tenho medo de que o Confessor os conte a terceiros?

M. Quem fala assim, mente assim mesmo e lana contra os confessores a mais infame das calnias.

D. Mais uma pergunta: no pode o confessor servirse em seu prprio favor, das coisas ouvidas na confisso?

M. No, no pode, no deve fazlo absolutamente, e jamais o far. Pelo contrrio, se acontecer que o confessor venha a saber na confisso de uma culpa, que j conhecia anteriormente ou por tla visto, ou porque lhe tenha sido referida, nunca mais falar, nela, justamente para que no pensem que ele se serviu da confisso e que violou o segredo. Eis at a que ponto chega o sigilo sacramental.

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Quem manda, faz leis

D. E agora, Padre, tenha a bondade de esclarecer ainda mais alguns pontos. Antes de tudo, a Confisso mesmo necessria para apagar os pecados?

M. Sim, a confisso indispensvel. Assim como a gua necessria para lavar as manchas, no podemos lavar e destruir os pecados sem a confisso. Foi estabelecida por Deus, e Jesus Cristo a confirmou.

D. No lhe teria sido possvel estabelecer as coisas diferentemente?

M. Sim, podia tlo feito, sendo Ele Deus, mas desde que achou prefervel proceder assim, no nos resta seno obedecer. De mais a mais haveria uma maneira mais fcil? No! Suponhamos que, por exemplo, para casa pecado tivesse ordenado uma esmola grande: quantos no a achariam penosa e impossvel? Suponhamos ainda que tivesse estabelecido um jejum; quantos no poderiam ou no quereriam fazlo? Suponhamos ainda que tivesse exigido uma longa peregrinao; quantos nesse caso, mesmo querendo, no a poderiam realizar? Mas com a confisso no h nada disso; para quem quer que seja, por qualquer pecado e nmero de vezes, s necessria uma coisa: confessarse a um Ministro, cuja escolha livre, no modo mais secreto e tudo est perdoado. Ah! digame: se a lei humana ou civil agisse da mesma maneira, se bastasse apresentarse a um juiz e confessar a culpa para receber o perdo, haveria prises e penitencirias?

D. Absolutamente no! todos se confessariam, mesmo os mais velhacos.

M. Por qu, ento, achamos penosa a confisso sacramental?

D. Pois seja: mas no chegaria uma confisso feita diretamente a Deus? Que necessidade h de recorrer ao Sacerdote, pondoo ao corrente dos nossos interesses?

M. Quem manda faz leis! Oua: O Presidente e o governo mandam que paguemos impostos; pois bem, faa uma experincia; v ao Rio de Janeiro para pagar diretamente ao Presidente da Repblica e ao Governo. Dirlheam: v ter com o nosso encarregado, o coletor e pague a ele; voc poderia protestar vontade que a situao no mudaria. Querem que paguemos mas ao coletor. O mesmo dse com a confisso. Deus perdoa, mas por meio dos seus encarregados, que so os confessores.

D. mesmo! E eu que nunca tinha pensado nisso!

M. Quanto ao pormos outra pessoa ao par dos nossos interesses, tenha pacincia, de que negcios se trata nesse caso? Tratase de pecados e no de interesse!

Quando voc sente uma forte dor de cabea ou de dentes ser que voc, para no pr ningum ao par dos seus casos, no corre ao mdico ou ao dentista, para se ver livre dela?

E quando o acusam ser que voc no procura um advogado para que o salve de uma condenao?

D. Oh! eu corro logo ao mdico ou ao advogado e conto tudo; procuro at explicar as coisas direitinho.

M. Ento s no que diz respeito Confisso, que segredo impenetrvel, divino, que receiamos dar a conhecer os nossos interesses? Ora! Essas so desculpas muito magras que denunciam m vontade!

D. Todavia Padre, o senhor deve reconhecer que duro manifestar misrias...

M. Reconheo que realmente bantante duro, porque o nosso amor prprio fica um pouco humilhado, mas devemos pensar que isso um dever, uma necessidade. E ao mdico, ser que no se confessam certas misrias?

D. Ah! contanto que ele nos cure...

M. Pois bem, ou queremos receber a graa e voltar a ser filhos de Deus, ou queremos ficar sendo filhos do demnio, escravos do inferno: no h outra sada, e para nos conseguirmos livrar indispensvel que nos confessemos, sem o que n o pode haver nem paz, nem perdo, nem Paraso. Quem manda faz leis. Eis a prova dos fatos.

So Bento conta nas suas crnicas que um religioso chamado Pelgio, tendo por infelicidade cometido um pecado grava na mocidade, deliberou no o confessar.

Passava assim os meses e os anos numa aflio enorme, atormentado sempre pelo remorso. Um peregrino, passando por l, disselhe como se Deus o iluminasse: "Pelgio, confessate; Deus concederte o perdo e ters sossego".

Mas ele teimou em no falar, e iludindose que poderia obter o perdo sem a confisso, resolveu fazer grandes penitncias. Entrou num convento; e ali pela humildade, pela obedincia, pelos jejuns e mortificaes, conquistou a admirao de todos, e foi sepultado com muito pesar nos tmulos da Igreja, conforme o hbito da poca. Na manh seguinte o Sacristo achou o corpo em cima do tmulo e o enterrou de novo. Mas, tambm nos dias que se seguiram, achouo novamente fora da sepultura. Avisou ento o abade: este correu para junto do cadver com os outros monges, e disse:

Pelgio, foste sempre obediente em vida, obedece tambm depois da morte. Dizeme, ests por acaso no purgatrio? Tens necessidade de sufrgios ou desejo divino que sejas posto num lugar mais digno?

Ai de mim! Eu estou no inferno por causa de um pecado omitido desde muitos anos e pelo qual esperava obter misericrdia por outros meios. Tiremme daqui, e enterremme em campo aberto, como um jumento.

Contase que uma freira, tendo cometido um pecado desde sete anos, nunco o quis confessar, na esperana de alcanar o perdo igualmente. Para esse fim, fechouse em um convento e se tornou religiosa. Devido sua vida austera e a prtica de todas as virtudes, foi eleita abadessa, cargo que desempenhou com escrpulo exemplar. Mas, depois de morta apareceu s religiosas, toda rodeada de chamas, e, gritando desesperadamente dizia: "No rezem por mim que estou condenada por causa de um pecado que nunca confessei desde "sete anos".

D, Pobres! e uma s palavra na confisso teria chegado para os tornar felizes, no Padre?

M. Justamente! e dessa maneira vivem num inferno quando em vida, e vo para ele depois de mortos. E no entanto, creiame, no pequeno o nmero desses infelizes que no querem convencerse de que, para eliminar os pecados indispensvel a confisso, da qual, alm disso, o corao sente necessidade.

D. Como que o corao sente necessidade dela?

M. Vou provlo.

No h muito, os jornais da Itlia divulgaram a notcia de que um sapateiro da cidade de Bassano, no Vneto, num mpeto de clera tinha arremessado um ferro contra um netinho de poucos anos, matandoo. Apavorado, escondeu o cadver, e, durante a noite, foi enterrlo num bosque. Por muitos dias procuraram o pequeno desaparecido; cada qual fazia as mais estranhas conjeturas, mas nem pensavam no sapateiro, cujo crime ningum presenciara. Podia, pois, ficar tranqilo e sossegado e viver alegremente. Mas, no entanto, desde o dia fatal, no cantou mais as suas alegres canes, no bateu mais o martelo com nimo, se tornou triste e pensativo. Vendeu a casa, os apetrechos da profisso e fugiu para a Amrica.

L estava completamente salvo; podia pois esquecer tudo e ser feliz. Qual nada! Depois de dois anos voltou, apresentouse diretamente ao juiz e confessou o crime. A justia indagou, procuraramse no bosque os mseros restos da vtima, fezse o processo. Antes de pronunciar a sentena que o condenaria definitivamente, o juiz virouse para o assassino e perguntou:

Digame, desgraado, como que o senhor, que tinha enganado a todos e podia ficar sossegado na Amrica, veio entregarse justia e obrigarnos a condenlo?

Senhor juiz, respondeu o ru, no verdade que enganei a todos. S enganei aos homens; o mesmo no se deu com Deus. Desde aquele dia no tive mais sossego; a sombra do menino perturbame o sono; vejo sempre a minha mo escorrendo sangue. Condeneme priso, condeneme morte, mas que esta vida de remorso acabe para sempre.

O coitado tinha tomado o caminho errado; se, em lugar de ter tomado o rumo da Amrica, do tribuna, do crcere, da desonra, tivesse corrido aos ps do confessor, ah! no teria visto a sombra de sua vtima, nem a mo pingando sangue; mas, recebendo a absolvio, teria tranqilizado incontinente a conscincia.

D. verdade, Padre; a Confisso uma necessidade do corao.

M. Tanto melhor para ns se nos servirmos dela em todas as ocasies para qualquer eventualidade. Quando um espinho se nos enterra no p ou quando um cisco no entra nos olhos, no achamos mais sossego enquanto no nos livramos do espinho ou do grozinho de p. O mesmo se d com o pecado; no nos deixa em paz enquanto no o extirpamos com a confisso. Deus assim o quis e quem manda, faz lei!

D. Como deve ser consolador o perdo de Deus depois de anos e anos de remorsos, no Padre?

M. Ah! sim! e nenhuma alegria no mundose lhe pode comparar. A confisso, al/em de ser uma necessidade do corao, ainda o maior consolo das almas aflitas. O fato seguinte bem o demonstra:

O Padre Bridaine, grande missionrio francs, pregava durante as misses, numa cidade dos Alpes. Um velho oficial da cavalaria foi ouvilo por curiosidade, porque j ouvira falar naquele orador famoso. Deus quis, que, naquela noite, o Missionrio falasse justamente na necessidade ca confisso. A palavra simples, mas quente e persuasiva do servo de Deus, penetrou at o corao do militar, que resolveu confessarse.

De fato, foi sacristia, atirouse aos ps do Padre Bridaine que o acolheu com bondade e amor. Depois de feita a confisso levantouse, e beijando a mo do Padre, exclamou bem alto, para que todos o ouvissem: "Sinceram