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EXPOSIÇÃO “CONFINS DA INFÂNCIA” ANA OLIVEIRA // LAINS DE OURÉM DESENHO E POESIA

"Confins da Infância"

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Proposta de exposição

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EXPOSIÇÃO“CONFINS DA INFÂNCIA”ANA OLIVEIRA // LAINS DE OURÉM

DESENHO E POESIA

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Tínhamos, e talvez não soubéssemos, encontro marcado desde o início dos tempos. A mesma terra que nos possibilitou a junção, foi a mesma que deu à nossa infância e juventude a possibilidade dos pássaros. E das ribeiras, das pedras da serra e da lama dos aluviais nos pés descalços rente às raízes dos milheirais. Tivemos infâncias diferentes e iguais, como agora vos mostramos. A Ana sabe dizer do que ama no incrível talento dos traços (aprendeu, por certo, nas oliveiras). Eu presto homenagem ao menino que fui até morrer buscando as palavras rente ao que li e levei na mochila para a pesca, onde ia na ânsia dos mergulhos às escondidas da preocupação dos pais e da avó Mimi. Deixamo-vos entre os alguidares de barro e as manhãs frias rendadas pelo cantar das aves. Vimos dizer-vos da sublime comoção que é a percepção da vida: rápida e feliz melancolia. Olhai as aves, rente ao nosso silêncio.

António Galamba

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LAINS DE OURÉMO meu avô estava para morrer (não estamos todos?). Sentou-me ao colo. A minha poesia tinha 4 anos ainda sem se saber. Disse-me do seu fim. Ou do seu prolongamento impalpável nos momentos de agora, junto com a minha infância, vos deixo. Nestas letras, Não me lembro se chorei. Talvez por isso o cumpra agora. Na lembrança das atouguias, dos cheiros das cabras e da liberdade, a caminho da escola. Perguntando à vida na minha percepção de então, porque me tinha privado do que mais amava, avô Miguel. Deixou-me mais que um pseudónimo. Ainda hoje sei de cor uma música que fala das oliveiras da serra. Ah, e sei também que a terra é a mãe de tudo. Outra forma de amarga e lucidamente chamar deus ao pó. Mas que tem permitido, rente ao indizível, amar os Homens e a sua amaríssima condição.

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ANA OLIVEIRAHá-de ter caminhado pela terra batida do esquecimento. Só lá se aprende, tal eremita, a desenhar assim. Olhando em silêncio a belíssima condição das aves, reflexo exacto das esperanças defraudadas da humanidade. No seu traço habita a infância do mundo. Ainda que se adivinhe já a amargura do fim. Sobrevive, ainda que esbatida na inteligência, alguma esperança. Como ave que, mesmo após a crueldade do chumbo, continua a cantar para os Homens.

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“Estudo de FormaEstrelinha-de-cabeça-listada

Regulus ignicapilla)”

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Não sei que dia.Faz tantos anos, daqui.Mas o avô era vivoE as giestas incendiavam o fornoAo fim da tardeQue prometiaCasa cheia, e as infâncias saciadas.Vi o primeiro piscoRuivo incandescente na tarde finda.Percebi muito cedoPorque dançam as mulheres.Imitam a ternuraAdolescente das aves,Negam o pranto aflito da humanidade.

Lains de Ourém, 6 janeiro

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Com os primeiros friosA saudade imemorial dos bolinhos da minha avó

E de minha mãe.Ou talvez, apenas dos piscos que nos visitavam nesses dias

Em que, de casaco de malha,O meu corpo morno descobria

Os dedos meninosNa terra aberta em covas.

Caminhões, berlindes,Minhocas desenterradas para o

Espanto da infãnciaNo ar puro

Que cheirava a lareiraE ao silêncio muito fundo da aldeia.

Os minutos eram- são tanto ainda hoje, na memória! –

Os ratinhos da ReginaE as mãos bonitas do meu pai lembrando

As oliveiras velhas.

23 de Outubro de 2015

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“Estudo de FormaRolieiro (Coracias garrulus)”

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EXPOSIÇÃO DE DESENHO E POESIA “CONFINS DA INFÂNCIA”NÚMERO MÁXIMO DE QUADROS EM EXPOSIÇÃO: 20

TAMANHOS DOS DESENHOS: 20X30CM | 30X40CM | 50X70CMTAMANHO DOS PAINEIS COM POEMAS: 75X100CM

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