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Confins Numéro 4 (2008) Varia ............................................................................................................................................................................................................................................................................................... Márcia de Andrade Mathieu e Neli Aparecida de Mello Gestão ambiental urbana, diferente em cidades planejadas? O caso de três cidades brasileiras La gestion environnementale urbaine est-elle différente dans les villes planifiées ? Le cas de trois villes brésiliennes. ............................................................................................................................................................................................................................................................................................... Avertissement Le contenu de ce site relève de la législation française sur la propriété intellectuelle et est la propriété exclusive de l'éditeur. Les œuvres figurant sur ce site peuvent être consultées et reproduites sur un support papier ou numérique sous réserve qu'elles soient strictement réservées à un usage soit personnel, soit scientifique ou pédagogique excluant toute exploitation commerciale. La reproduction devra obligatoirement mentionner l'éditeur, le nom de la revue, l'auteur et la référence du document. Toute autre reproduction est interdite sauf accord préalable de l'éditeur, en dehors des cas prévus par la législation en vigueur en France. Revues.org est un portail de revues en sciences humaines et sociales développé par le CLEO, Centre pour l'édition électronique ouverte (CNRS, EHESS, UP, UAPV). ............................................................................................................................................................................................................................................................................................... Referência electrónica Márcia de Andrade Mathieu e Neli Aparecida de Mello, « Gestão ambiental urbana, diferente em cidades planejadas? O caso de três cidades brasileiras », Confins [Online], 4 | 2008, posto online em 22 mars 2009. URL : http://confins.revues.org/index5152.html DOI : en cours d'attribution Éditeur : Hervé Théry http://confins.revues.org http://www.revues.org Document accessible en ligne à l'adresse suivante : http://confins.revues.org/index5152.html Document généré automatiquement le 05 mai 2009. © Confins

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ConfinsNuméro 4  (2008)Varia

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Márcia de Andrade Mathieu e Neli Aparecida de Mello

Gestão ambiental urbana, diferenteem cidades planejadas? O caso de trêscidades brasileirasLa gestion environnementale urbaine est-elledifférente dans les villes planifiées ? Le cas de troisvilles brésiliennes................................................................................................................................................................................................................................................................................................

AvertissementLe contenu de ce site relève de la législation française sur la propriété intellectuelle et est la propriété exclusive del'éditeur.Les œuvres figurant sur ce site peuvent être consultées et reproduites sur un support papier ou numérique sousréserve qu'elles soient strictement réservées à un usage soit personnel, soit scientifique ou pédagogique excluanttoute exploitation commerciale. La reproduction devra obligatoirement mentionner l'éditeur, le nom de la revue,l'auteur et la référence du document.Toute autre reproduction est interdite sauf accord préalable de l'éditeur, en dehors des cas prévus par la législationen vigueur en France.

Revues.org est un portail de revues en sciences humaines et sociales développé par le CLEO, Centre pour l'éditionélectronique ouverte (CNRS, EHESS, UP, UAPV).

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Referência electrónicaMárcia de Andrade Mathieu e Neli Aparecida de Mello, « Gestão ambiental urbana, diferente em cidadesplanejadas? O caso de três cidades brasileiras »,  Confins [Online], 4 | 2008, posto online em 22 mars 2009. URL :http://confins.revues.org/index5152.htmlDOI : en cours d'attribution

Éditeur : Hervé Théryhttp://confins.revues.orghttp://www.revues.org

Document accessible en ligne à l'adresse suivante : http://confins.revues.org/index5152.htmlDocument généré automatiquement le 05 mai 2009.© Confins

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Márcia de Andrade Mathieu e Neli Aparecida de Mello

Gestão ambiental urbana, diferente emcidades planejadas? O caso de trêscidades brasileirasLa gestion environnementale urbaine est-elle différente dans les villesplanifiées ? Le cas de trois villes brésiliennes.

1 O tratamento da questão ambiental em meio urbano é hoje um desafio maior dodesenvolvimento. Ela mobiliza, cada vez mais, o conjunto dos atores que atuam no âmbitourbano, seja grandes instituições financeiras internacionais ou pequenas associações de bairro,ONG ou autoridades municipais; os quais fazem evoluir as práticas sociais e os modos degestão no meio urbano.

2 E é por tal motivo que a pesquisa urbana não pode se ausentar deste campo de investigação,essencial para o planejamento e a gestão das cidades atuais e as do futuro.

3 As três cidades analisadas Goiânia, Brasília e Palmas possuem em comum o fato de terem sidoplanejadas em épocas diferentes. Goiânia foi inaugurada em 1933, Brasília, em 1960 e Palmas,a mais recente delas, foi inaugurada em 1989. Cada época correspondeu a um tratamentoambiental particular.

4 Nosso questionamento é a situação e a gestão do meio ambiente atual face ao planejamentodestas cidades, identificando se produziram, ou não, ambientes urbanos diferentes ou se, casocontrário, as conseqüências ambientais sobre a evolução dos espaços urbanos destas cidadessão idênticas, independentemente do período e do modo de planejamento utilizado na épocade suas inaugurações.

O contexto histórico e a concepção das três cidades5 Até o século XVIII somente o litoral do Brasil era habitado. A partir desta época, o processo de

interiorização do país foi iniciado, especialmente onde não havia restrições naturais, ou seja,onde predominava a vegetação aberta, de fácil transformação. O grande domínio da florestaamazônica constituiu-se a exceção.

6 O planalto central era pouco habitado: além de alguns grupos indígenas, que subsistiam emseus antigos territórios ou de grandes "fazendas", que praticavam a criação de gado extensiva,o interior do país encontrava-se praticamente vazio.

7 Convencido da necessidade de desenvolver esta imensa região, o governo central adotoualgumas medidas para o Centro-Oeste. A primeira no século XIX, em 1865, quando CoutoMagalhães criou a Companhia de Navegação do Araguaia e Tocantins.  Sua duração foi,porém, efêmera.

8 Nos anos trinta do século passado, iniciou-se um movimento de interiorização, denominado"Marcha Para o Oeste". Tratava-se de colocar em execução um plano de ocupação da regiãoCentro-Oeste, a partir da criação de um sistema de ligações ferroviárias e rodoviárias. Estasações foram acompanhadas do estabelecimento de novas colônias agrícolas nacionais e dainstituição de novas capitais de Estados.

9 As cidades planejadas do Centro-Oeste obedeciam à política « desenvolvimentista » da época.Se, de um lado, esta política era abertamente conservadora, preocupada essencialmente emgarantir a ordem pública, de outro lado, ela foi inovadora, porque visava o crescimento econsolidação de setores nascentes da economia nacional.

10 Brasília fez parte das quatro grandes realizações importantes do governo Kubitschek, nos anoscinqüenta. A nova capital integrou o "Programa de Metas". Este programa, em síntese, visavaa transformação da estrutura econômica do país criando uma indústria de base e reformulando

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as condições reais de interdependência com o capitalismo mundial. Os objetivos do programagovernamental compreendiam quatro setores importantes da economia: energia, transportes,alimentação e indústria de base.

11 Neste contexto, a cidade se afirmava progressivamente face ao campo e ela acabaria por serimpor. Durante os anos 50-60, a “cultura urbana“, enquanto sistema de valor atuava como ummodelo ou como uma maneira de pensar as relações de produção que decorriam da produçãoindustrial e os debates políticos, científicos e artísticos que ocorriam nos principais centrosurbanos do país se apropriavam do tema. Paralelamente começa-se a falar em qualidade devida urbana e se nos anos, 1930-1940 pensava-se em termos de proteção dos espaços verdes,nos anos 60 fala-se de «  funcionalidade urbana  », em planos de ocupação do solo, semque, entretanto, fossem identificadas as articulações espaciais existentes entre os modos deprodução e consumo dos diferentes bens comuns urbanos, como a água ou o lixo, entre outros.

O planejamento urbano em Goiânia, Brasília e Palmas12 Como já assinalamos, na origem das três cidades o planejamento era orquestrado pelo Estado

brasileiro. Mas a decisão preliminar de planejar, e, posteriormente de sua realização, não foitomada nem no mesmo momento histórico, nem no mesmo contexto (geo)político, nem sobreuma mesma base natural. Da mesma maneira, não obedeceram também às mesmas referênciascientíficas.

13 Goiânia foi criada nos anos 1930-40 como capital do Estado de Goiás. Seu crescimento inicialse fez a partir de um plano que não previa extensões periféricas. Atualmente é uma metrópolede mais de 1 milhão de habitantes, cujo padrão de organização repete o tradicional modelocentro /periferia. A periferia se materializa por uma segregação, não somente espacial, massócio-econômica. Assim a cidade de Goiânia, apesar do planejamento original, apresenta umadivisão social do espaço como qualquer outra cidade brasileira.

14 Brasília, criada como capital federal 1956 e inaugurada em 1960, cresceu em funçãode um plano urbanístico extremamente rigoroso para o Plano Piloto, mas sem preverespaços de moradia para as populações modestas, visto terem como preceito que ostrabalhadores, construtores da cidade, voltariam aos seus locais de origem. Hoje, além doPlano Piloto, o conjunto urbano conta com vinte e nove localidades urbanas, sedes das regiõesadministrativas. Além dos limites do Distrito Federal, vários núcleos e sedes de municípiosgoianos fazem parte da aglomeração urbana de Brasília. Algumas destas localidades se situama mais de 40 quilômetros do Plano Piloto, centro vital da aglomeração urbana. A populaçãototal aproxima-se de 3 milhões de habitantes.

15 Brasília é um excelente exemplo que permite confrontar a vontade planificadora inicial, dotadade grandes meios, com as realidades das práticas sociais, resultantes de conflitos entre invasõesde terras, quer no perímetro mesmo do Plano Piloto, quer no Distrito Federal, levando o poderpúblico a planejar, a posteriori, novos assentamentos urbanos, principalmente para os maismodestos.

16 A transformação urbana do solo em Brasília, não pode ser compreendida sem o estudoaprofundado das medidas preservacionistas que sempre atuaram no sentido da preservaçãodo Plano Piloto, principalmente depois que esta área foi classificada «  Patrimônio daHumanidade » pela Unesco em 1987.

17 Palmas foi criada, em 1989, para ser a capital do novo Estado do Tocantins. Atualmente possuium pouco mais de 208 000 habitantes. Sua construção mobilizou grandes investimentos. Naqualidade de nova capital ela é, cada vez mais, pressionada pela migração.

18 No sentido contrário ao das duas outras cidades, o plano de ocupação do solo, decididono início, não foi completamente implantado e a urbanização atinge apenas uma parte doperímetro planejado.

19  Os principais problemas ambientais dependem ainda essencialmente de decisões públicas,mesmo se práticas sociais opostas se fazem sentir. Neste sentido, nos parece interessante

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avaliar se Palmas esta preparada a integrar novos parâmetros de qualidade ambiental urbana,ou se, ao contrário, ela tende a repetir os processos de degradação ambiental observados nasoutras duas cidades.

O desenvolvimento sustentável das três cidades20 A análise comparativa do meio ambiente urbano das três cidades permite analisar o impacto

da decisão planejadora inicial sobre a evolução das formas de produção e de uso de serviçospúblicos essenciais para a gestão sustentável das cidades, como o abastecimento de água,tratamento do esgoto, coleta de lixo e limpeza urbana.

21 Goiânia e Brasília foram criadas nos anos em que a questão ambiental urbana se limitavadegradação das águas de superfície em termos de quantidade e qualidade. Não haviapreocupação com os detritos urbanos e sua destinação apropriada, que, em diversos momentose por diferentes razões eram então lançados sem tratamento nos rios ou em lixões. Oconhecimento sobre a degradação de recursos naturais e seus efeitos maiores sobre osecossistemas era, na época, reduzido e pouco documentado.

22 Palmas nasceu em outro momento: a água, de um simples recurso a ser utilizado para asatisfação dos homens passou a ser considerada como elemento a ser protegido.

23 No final dos anos 80, os fracassos e as insuficiências no controle da poluição hídrica induziramà busca de novos métodos para o tratamento da água, baseados na visão integrada doscomponentes dos ecossistemas. A água foi então considerada como um componente essencialpara a preservação de um ecossistema.

24 Palmas poderá melhorar os resultados ambientais e sanitários dos serviços em relação àGoiânia e Brasília?

25 A participação dos poderes locais, enquanto atores da gestão e dos serviços urbanos,modificará a qualidade os serviços públicos  oferecidos à população?

26  No contexto do meio ambiente, a interação de diferentes variáveis exige que as políticasmunicipais sejam transversais.

27 Goiânia e Brasília não conseguiram integrar em uma gestão comum os componentes do meioambiente urbano (água, esgoto, lixo, etc.).  A desarticulação entre os objetivos econômicos,sociais e ambientais é o resultado dos conflitos entre diferentes interesses e diferentesresistências culturais-institucionais, fundamentadas em uma visão funcionalista da cidade.Palmas será capaz de operar um retorno crítico das antigas práticas? O governo será capazde propor (e realizar) um trabalho de informação e sensibilização dos cidadãos para que elesaceitem novos métodos de uso dos recursos ambientais?

28 Diversos acordos internacionais, negociados entre os países membros das Nações Unidascomo a «  declaração do milênio  », coloca como diretiva mais importante a convergênciade ações de políticas publicas para que se possa implantar a medida 11 a qual visa «  melhorar significativamente as condições de vida de pelo menos 100 milhões de habitantesde assentamentos urbanos precários até o ano 2020.”

29 Da mesma maneira, a ONU Habitat recomenda que os esforços de convergências das açõesdos governos locais, nacionais, da sociedade civil e das comunidades internacionais sejam oprimeiro passo para estabilizar o crescimento dos assentamentos urbanos precários e melhoraras condições de vidas destas populações.

30 Mas, uma “cidade sustentável” no Brasil pode se espelhar nestas diretivas e recomendações?31 O principal desafio nas três cidades será de combinar o discurso político com as exigências da

sustentabilidade ambiental, em ambientalizar diversas políticas públicas setoriais e construirnovas estratégicas ecológicas para o ambiente urbano, ou buscar a recuperação do que já foidanificado pelas ocupações consolidadas em Goiânia e Brasília. Palmas, por não ter aindaurbanizado todo o perímetro previsto, é a cidade que tem o maior desafio em não repetir oserros das precedentes.

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32 Pode-se argumentar que uma gestão urbana é sustentável quando pautada pela assimilaçãodos seguintes princípios:

• a cidade é de todos• a cidade é para todos• a cidade somos todos (Cela, 1992)

33 Para tal duas condições são necessárias:34 a) a busca de um equilíbrio dinâmico entre uma população determinada e sua base ecológico-

territorial, diminuindo significativamente assim a pressão sobre os recursos disponíveis e asdesigualdades espaciais, e a alteração dos modelos de consumo e diminuição dos resíduos edos usos de bens não recicláveis;

35 b) a questão da expansão física das cidades: promover e integrar as infra-estruturas ambientais  como a água, esgoto, drenagem e tratamento dos resíduos sólidos, promover o planejamentoe manejo sustentável do uso da terra em locais degradados e recuperar o estoque de recursosestratégicos (solo, água, cobertura vegetal).

O perfil socioambiental das três cidades36 Em Palmas o papel do planejador é ainda muito importante, da mesma maneira que em

Brasília, onde o mesmo, dotado de grande poder, é capaz de separar dois conjuntos urbanos :o Plano Piloto do conjunto das cidades do Distrito Federal ou mesmo do Estado de Goiás. EmGoiânia, as forças econômicas e sociais provocaram o transbordamento do plano inicial e aspráticas sociais atuais são dotadas de condições cada vez mais significativas na organizaçãodo solo urbano, contrapondo-se aos poderes públicos.

37 Por outro lado, é provável que os grandes eixos nacionais de infra-estrutura1, destinados àfavorecer a integração e o desenvolvimento e previstos nos programas oficiais, em particular oeixo Araguaia-Tocantins, certamente exercerão uma influência direta sobre a cidade de Palmase indireta sobre Brasília e Goiânia (Mello, 2003b).

38 Estas três cidades aparecem como exemplos de grandes tensões provocadas pelos diversosusos do solo, do ponto de vista do meio ambiente urbano, entre os quais podem ser destacadosa proliferação de bairros pobres, insalubres e constantemente situados em zonas de riscos eo triunfo da especulação financeira e imobiliária dentro de um quadro de crescimento urbanoacelerado e ancorado no jogo do livre mercado.

39 O ator público parece incapacitado e desmunido face aos fatores de degradação do meioambiente urbano, salvo algumas tomadas de consciência recente à escala das municipalidades. O problema, portanto, se coloca diferentemente visto que as cidades não são um puro produtoda evolução não controlada pelo poder público, mas, ao contrário, o resultado da vontade doEstado de criar uma nova cidade, planejada, na organização de seu espaço. Ela é o resultado deuma relação específica entre o ator público e os outros agentes que constroem o meio ambienteurbano.

40 Assim, é importante analisar a estruturação do espaço urbano dentro de uma abordagemdiacrônica, retraçando as diversas fases de sua ocupação, seu consumo e de sua utilização.No contexto de cidades planejadas pela vontade de Estados criadores, qual é a parte recíprocadeste e das práticas sociais dentro da realidade atual ?

41 Por outro lado, se na sua construção se vislumbra claramente as relações entre o público eoutros atores, no processo de gestão as estatísticas oficiais permitem retraçar a trajetoria doator público.

42 No que diz respeito mais precisamente ao lugar do solo dentro desta problemática do meioambiente urbano, nossa análise se situa sobre as formas de apropriação e de acesso ao solo,nas três cidades.

43 Cada uso do solo provoca um tipo de repercussão no conjunto da organização urbana. Estacontinuidade material do solo e suas conseqüências ambientais serão estudados de dois pontos

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de vista : considera-se o solo tanto como um bem comum em si mesmo quanto como o lugarda relação entre diversos outros bens comuns : a água, a limpeza e os resíduos.

44 Considera-se também o espaço urbano como o lugar de articulação, de interferências e deconflitos entre todos os aspectos do meio ambiente, tanto aqueles ligados às dinâmicas de suadegradação quanto aqueles de sua proteção.

45 A materialização, no espaço, de alguns indicadores selecionados mostra as formas e tipos deconfigurações espaciais urbanas estruturantes que coexistem ou cooperam, se contradizeme/ou se sucedem. Escolhemos iniciar pela análise do perfil socioambiental presente nas trêscidades estudadas, para a qual concorrem a espacialização dos dados do IBGE, por setorescensitários. Dentre as 527 variáveis do último censo do IBGE considerou-se que aquelasrelacionadas às condições de moradia poderiam refletir as condições de infra-estrutura equalidade do saneamento ambiental, constituindo-se um perfil ambiental específico. Taisvariáveis abrangem características próprias das pessoas e dos domicílios, em especial dosdomicílios particulares permanentes, bem como de seus responsáveis.

46 No perfil ambiental considerou-se igualmente que a correlação de alguns indicadoresselecionados referentes aos responsáveis dos domicílios poderiam indicar sinais de inclusãoou exclusão social. Por outro lado, outros indicadores, também coletados anualmente peloIBGE (perfil dos municípios brasileiros), configuram a situação ambiental do município, entreeles vale ressaltar, as condições de desmatamento e queimadas, de assoreamento e poluiçãodos corpos d’água e as condições de esgoto a céu aberto.

47 Do ponto de vista metodológico, buscou-se parâmetros de comparação entre os indicadoressociais e aqueles ligados à qualidade do ambiente, que apontariam, pela ausência de infra-estrutura sanitária, sua adequabilidade ou não às condições da situação ambiental do local deestudo. Tais condições são, ao mesmo tempo, causas e conseqüências das modificações domeio ambiente natural e socioeconômico.

48 Ainda do ponto de vista metodológico, a territorialização dos índices determinados namalha extremamente fina dos setores censitários urbanos, permite, igualmente, localizara concentração, dispersão ou inexistência da infra-estrutura, ainda que seja apenas aquelaidentificada como básica, além de perceber e indicar os prováveis riscos sobre a população.

Da análise das variáveis, destaque para alguns aspectos49 Palmas apresenta uma configuração particular quanto ao uso do solo para a habitação com a

presença dos domicílios improvisados ou aqueles de apenas um cômodo.  A figura 1 representaa distribuição dos domicílios improvisados (imóveis em construção, vagões de trem, carroças,tendas, barracas, grutas etc. que serviam de moradia na data da pesquisa, localizados emunidade não-residencial, como lojas, fábricas, etc.) e a figura 2 os domicílios de um só cômodo.

50 Outro aspecto em destaque relaciona-se às condições de habitabilidade do domicílio. Estasestão ligadas, de um lado, à presença ou inexistência de banheiros ou sanitários, e de outrolado, pelo uso de locais não apropriados à habitação. A espacialização e análise destas duasvariáveis permitem identificar claramente, pelo menos, dois grupos sociais distintos.

51 Em Palmas, as maiores concentrações de domicílios improvisados (figura 1) correspondem aum máximo de 69 domicílios por setor e até 21,50% sobre o total dos domicílios. Esta situaçãose destaca no quadrante superior direito, nas proximidades da área do Palacinho e PalácioAraguaia. Por outro lado, é importante perceber a ocorrência deste tipo de habitação em todaa área urbana, em um percentual que transita entre 3,33 e 21,50%, sendo a única exceçãoa baixa ocorrência no centro. A espacialização da variável cômodos no total dos domicíliosparticulares permanentes ratifica a situação dos setores internos às áreas urbanas consolidadas,conforme figura nº. 2. Comparando-se a localização deste indicador com o anterior, ocorreuma oposição: as áreas de menor número de domicílios improvisados correspondem às áreasde maior percentual de cômodos (9,44 a 35,74%), com ocorrências concentradas em algumasquadras.

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52 As duas variáveis analisadas sublinham as precárias condições de vida da população residentenestas áreas em Palmas.Figura 1aPalmas Domicílios improvisados

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Figura 2 Palmas cômodos nos domicílios particulares

53 Em Goiânia, situação semelhante é identificada nos bairros mais periféricos das regiõesnoroeste, oeste e sudoeste, tanto em número quanto em porcentagem. Da mesma maneira,há ocorrências isoladas ao nordeste da cidade e em bairros mais centrais. Entretanto, apercentagem é mais elevada por setor censitário, aproximando-se de 20% dos domicíliosimprovisados em relação ao total da variável.

54 Em Brasília, a lei complementar nº 530, de 2002 determina que em zonas habitacionaisde interesse social e público (ZHISP) podem ser autorizados e/ou regularizados lotes comsuperfícies de 72m, 96, e 144m. Este modelo permite transformar invasões em cidades, comoocorreu recentemente com a Vila Estrutural e a Vila São José (2003).

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55 Estes dados funcionam como indicadores de condições desfavoráveis às quais estãosubmetidas as populações, todavia elas representam simultaneamente as dificuldades de gestãourbana que não acompanham o crescimento das cidades na oferta de infra-estrutura.Figura 1b Goiânia Domicílios improvisados

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Figura 1c Brasília Domicílios improvisados

56 O segundo aspecto que deve ser ressaltado relaciona-se ao sistema de saneamento, tendocomo ponto comum entre as três cidades a inexistência da rede de coleta de esgotos para aspopulações localizadas fora das áreas urbanas consolidadas.

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57 Na região leste de Palmas constata-se uma forte presença de fossas sépticas rudimentares,entre 40 e 99% dos domicílios, indicando concomitantemente a presença reduzida da infra-estrutura de saneamento e suas configurações dispersas (figura 3). De maneira semelhante,ressalta-se o ocorrência de fossas sépticas rudimentares dentro do tecido urbano.

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Figura 3a-Palmas Domicílios com fossa séptica rudimentar

58 O mesmo padrão de organização espacial se repete em Goiânia : um centro consolidado bemservido pela rede de saneamento básico enquanto a periferia é desprovida. As fossas sépticasrudimentares são utilizadas como um meio de solucionar o problema. Há coincidência de

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áreas onde ocorrem simultaneamente poços de abastecimento de água e fossas rudimentares,sublinhando um conjunto denso no sudoeste, norte e nordeste da cidade, com um númeroelevado deste tipo de fossas por setores censitários.

59 Em Brasília, destacam-se claramente as cidades e o centro da cidade (Plano Piloto)relativamente bem servidos por uma rede pública de abastecimento, porém, a presença defossa séptica rudimentar é elevado, entre 80 e 100% por setor censitário, nos interstícios entreas cidades satélites ou outros modelos de uso residencial urbano, em especial os condomínios.

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Figura 3b- Goiânia Domicílios com fossa séptica rudimentar

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Figura 3c Brasília Domicílios com fossa séptica rudimentar

60 Finalmente, a terceira variável representativa se refere aos resíduos jogados nas ruas, emum terreno vago ou nos rios. Os indicadores mostram igualmente uma espacialização dentro

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das áreas de ocupação dispersa, contudo, os índices intra-urbanos não são tão elevados. Oproblema mais grave é a falta de lugares apropriados para o tratamento dos dejetos.

61 Em Palmas incidem as maiores porcentagens, variando de 35 a 40%.62 No caso de Goiânia, os valores máximos atingem somente 22%, em três ou quatro pontos

isolados. Mas predominam, de modo geral, a distribuição dispera das frequências inferioresa 10% do setor censitário não servidos pela rede coletora de resíduos sólidos. Isto demonstraum melhor resultado que em relação aos outros indicadores, constatando-se um bomfuncionamento do serviço municipal de coleta, visto que a inexistência do serviço atinge cercade 1% dos domicílios, por setores.

63 Brasília apresenta a maior percentagem entre as três cidades, entre 55 e 95%  embora estepercentual ocorra somente em alguns setores isolados, em particular a área recentementeregularizada da Vila Paranoá, situada às margens do Lago ou a Vila Estrutural. Por outrolado, a configuração de inexistência deste serviço público destaca-se nos interstícios entre ascidades satélites, o que pode refletir, de fato, a ausência total de serviços públicos nas áreasirregularmente ocupadas pelos condomínios ou outras configurações urbanas.

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Figura 4a Palmas Resíduos no meio ambiente

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Figura 4b Goiânia Resíduos no meio ambiente

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Figura 4c Brasília Resíduos no meio ambiente

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As redes de abastecimento de água64 Procurando avaliar o impacto sobre o meio ambiente local, articula-se as variáveis que

demonstram as ocorrências precárias quanto às condições de habitabilidade associando-ascom as deficiências dependentes de políticas governamentais em relação ao atendimento pelasinfra-estruturas de saneamento, de abastecimento (qualidade de água potável) e de coleta deresíduos.

65 As mais representativas de situações impactantes sobre o meio ambiente e os recursos hídricoslocais, coletadas no grupo características dos domicílios (IBGE, 2000), são o abastecimentopor meio de poços, a presença de fossas sépticas rudimentares (ou fossas negras) e os resíduosjogados sobre os terrenos vazios, as ruas ou dentro dos rios. Desta maneira, estas variáveisforam cartografadas como aspectos que permitem demonstrar uma correlação negativa domeio ambiente local.

66 Neste contexto, considera-se que as condições de (in)salubridade do meio ambiente adjacentepodem ser percebidas por meio da existência simultânea das fossas rudimentares e poços deabastecimento, ambos construídos dentro do terreno do domicílio.

67 A lei nº 6766/79 definiu o tamanho mínimo dos lotes em 125 m², mesmo em zonas de interessesocial, área a partir da qual eram especificadas as distâncias mínimas entre as fontes deabastecimento e a localização das fossas sépticas rudimentares. Estes valores foram alteradospela lei nº. 10257/2001, conhecida como o Estatuto da Cidade.

68 É importante lembrar que, como o custo de instalação do saneamento básico é um dos itensmais onerosos da composição de preços da terra urbana, é também um elemento capaz deoperar a segregação de populações urbanas mais pobres e induzir ao não respeito das normas.Dentro de regiões habitadas por estas populações, a distância mínima entre a fossa rudimentare os poços de água não são, evidentemente, respeitadas.

69 Em Palmas, o abastecimento de água pela rede pública de distribuição registra um crescimentoda demanda, seja pelo consumo residencial, seja pelo consumo das empresas, embora nasáreas de ocupação dispersa evidencie-se a ausência da rede de distribuição.

70 A distribuição dos domicílios abastecidos por poços esta representada na figura 5 que recensaas zonas urbanas mais periféricas do quadrante noroeste da cidade, para o qual se observamas percentagens as mais elevadas – entre 80 e 100%. Tal fato pode ocasionar problemas desaúde pública caso a qualidade da água não seja controlada, visto a coincidência entre dasáreas de abastecimento por poços e a coleta de águas servidas pelas fossas negras. No restanteda área urbana, o atendimento pela rede pública de abastecimento parece estar mais presente,em conseqüência a presença de poços de abastecimento é mais reduzida, entre 20 e 60%.

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Figura 5a Palmas Abastecimento de água

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Figura 5b Goiânia Abastecimento de água

71 A maior parte do tecido urbano em Goiânia apresenta os domicílios ligados à rede deabastecimento de água, porém algumas zonas, tanto no norte e nordeste da cidade como nooeste e sudoeste, a ocorrência de domicílios abastecidos por poços varia entre 48 e 100%.

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72 Em Brasília, o abastecimento por poços é extremamente representativo – variando entre 60e 100%, mas, da mesma maneira que com os indicadores anteriores, a ocorrência localiza-sedentro das áreas de urbanização não planejada, isto é, dentro dos conjuntos urbanos situadosnos espaços entre as cidades satélites.

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Figura 5c Brasília Abastecimento de água

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Considerações finais73 Se o objetivo das utopias urbanísticas do século XX era combinar a organização do espaço

construído e dos serviços públicos à uma sociedade em harmonia com seu meio ambiente,as três cidades fracassaram, independentemente do momento em que foram concebidas econstruídas.

74 Poderíamos nos interrogar se as cidades estudadas não apresentam os estigmas dodesenvolvimento incompleto, reproduzindo as mesmas situações, ou seja, fora dos perímetrosplanejados, as periferias seguiram os mesmos caminhos de evolução, não importa qual seja aperiferia, de uma tradicional cidade brasileira ou uma cidade de um país ainda mais pobre.

75 Se nos anos 30, constatávamos que o país focava-se em si mesmo, dentro do período atual daglobalização os serviços públicos essenciais não atuam no sentido de uma melhor distribuiçãodas infra-estruturas de água, de esgoto ou de coleta dos resíduos.

76 As décadas de desenvolvimento e de ajuda ao desenvolvimento não contribuíram paramodificar o status quo. Queríamos mostrar que as boas intenções do desenvolvimentosustentável que conhecemos atualmente, inúmeras vezes não são aplicadas, pois esbarram nofato que não se pode decretar a redução do subdesenvolvimento sem lhes dar os meios.

77 Os propósitos do planejamento rigoroso, segundo os princípios da Carta de Atenas, comonos mostra o exemplo de Brasília, evidencia que a realidade é muito mais complexa, porquecaso a produção do espaço urbano seja controlada estritamente pelo poder político segundoas necessidades conjunturais; após a queda dos militares, o espaço urbano tornou-se palco dojogo de diferentes atores e a urbanização do conjunto de localidades urbanas não planejadasconhecem um destino semelhante aos de outras cidades do país.

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Notas

1 Oficialmente denominados de Eixos Nacionais de Integração e Desenvolvimento (ENID).

Para citar este artigo

Referência electrónicaMárcia de Andrade Mathieu e Neli Aparecida de Mello, « Gestão ambiental urbana, diferente emcidades planejadas? O caso de três cidades brasileiras »,  Confins [Online], 4 | 2008, posto online em22 mars 2009. URL : http://confins.revues.org/index5152.html

Márcia de Andrade MathieuPesquisadora associada à Unidade de Pesquisa “Meio ambiente urbano” do Instituto de Pesquisa parao Desenvolvimento – IRD, Centro IRD Ile de France, 32, Av. Henri Varagnat, 93143 Bondy CedexFrance, [email protected]

Neli Aparecida de MelloProfessora na Escola de Artes, Ciências e Humanidades – EACH, Universidade de São Paulo. Av.Arlindo Bétio, nº 1000, 03828-080 São Paulo, SP, [email protected].

Direitos de autor

© Confins

Résumé / Abstract / Sumário

 Le texte propose l’analyse de la problématique environnementale urbaine pour décrypter etcomparer les problèmes environnementaux qui se posent dans trois villes : Brasilia, Palmaset Goiânia.   Les villes en question ont été construites à des époques différentes. Goiâniaa été inaugurée en 1933, Brasilia en 1960 et Palmas en 1989. À chacune de ces époquescorrespond une façon particulière d’aborder les questions relatives à l’environnement. Laproblematique que se pose est savoir si la planification a produit des environnements urbainsdifférents ou si les conséquences environnementales se ressemblent indépendamment du typede planification.   Nous allons réaliser un diagnostic de l’environnement urbain propre àchacune des villes en analysant comment sont distribués quelques services urbains liée à laqualité environnementale : l’eau, déchets, l’approvisionnement en eau, etc.Mots clés :  environnement urbain, gestion urbaine, occupation urbaine, ségrégation sociospatiale,services publics.

 Using the urban environment problematic, the article looks for decoding and comparing thecurrent reality of the environmental problems that takes place into planned cities in Brazil:

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Brasilia, Palmas and Goiânia. The cities in question had been constructed at different times.Goiania was founded in 1933, Brasilia in 1960 and Palmas in 1989. To each of these times,a particular way to approach the relative questions to the environment was used. The basicquestion is to know whether the planning produced different urban environments or theconsequences seem alike, independently of the type of planning. The diagnosis of the urbanenvironment that will be carried through for each one of the cities, analyzes them as someof the urban services to the environment quality are distributed: the water, solid residues,occurrence of water supply by wells.Keywords :  urban environment, urban management, urban occupation, social-space segregation, publicservices.

 O texto propõe uma análise comparada da problemática ambiental urbana em três cidadesplanejadas: Brasília, Palmas e Goiânia.   As cidades em questão foram construídas einauguradas em épocas diferentes: Goiânia, em 1933, Brasília em 1960 e Palmas em 1989.Cada uma destas épocas correspondeu a um tratamento particular das questões relativasao meio-ambiente urbano. A análise visa identificar se as diferentes cidades produziram etrataram diferentemente sua realidade ambiental ou se as conseqüências no meio ambiente seassemelham independentemente da especificidade do planejamento de cada época. Pretende-se, a partir de um diagnóstico ambiental urbano de cada cidade, analisar a distribuição dealguns serviços públicos correlacionados à qualidade ambiental: água, lixo, limpeza urbanaetc.Índice geográfico : Brasília, Palmas, Goiânia