Conflito

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CONFLITOO trabalho de campo etnogrfico orientado, mas no necessariamente determinado, pela viso terica do antroplogo. Como regra, o leitor de monografias etnogrficas nunca pode ter certeza sobre que tipo de material foi realmente coletado e registrado pelo antroplogo era seus dirios de campo. Entretanto, as evidncias existentes indicam que antroplogos com formao terica contrastante coletam diferentes tipos d e material e _usam ratodos variados para colet-lo. Isto se aplica particularmente a trs escolas sucessivas da antropologia inglesa, com as quais me preocuparei aqui, que rotulei de pr-estruturalista , estruturalista e ps-estruturalista . Neste ensaio eu me restringirei ao mtodo que Gluckman denominou de extended-case m e thod (o mtodo de estudo de caso detalhado), mas que prefiro chamar, por razes vrias, de anlise situacion a r (Van Velsen, 1964: xxv). Isto se refere coleta efetuada pelo etngrafo de um^ tipo especial de informaes detalhadas. Mas isto tambm implica o modo especfico em que esta informao usada na anlise, sobretudo a tentativa de incorporar o conflito como sendo 'normal* em lugar de parte anormal do processo social. (VAN VELSEN, 1987, p.341)Provavelmente, verificaremos que um indivduo pode fazer uma escolha com referncia relao especfica de parentesco que deseja utilizar, de acordo com os seus objetivos em uma situao especfica. Alm do mais, contrariamente ao que com freqncia se afirma, ou se infere, em um sistema de parentesco classificatrio, o comportamento no determinado unicamente pelo parentesco. Os indivduos defrontam-se, muitas vezes, com escolhas ou at conflitos, no somente dentro do sistema de parentesco (por exemplo, um grupo de relaes parentais contra outro) como tambm, por exemplo, entre relaes de parentesco e relaes baseadas cm agrupamentos esidenciais. (VAN VELSEN, 1987, p.349)O enfoque estrutural de referncia no adequado anlise de conflito das normas e da resultante escolha da ao dispoj nvel aos indivduos. Essas normas mutuamente conflitantes so particularmente aparentes em sociedades que esto sendo expostas a uma penetrante influncia de outras culturas, como, por exemplo, pela introduo de uma nova religio, de novos produtos co\ merciais ou de uma burocracia governamental. Tanto as anlises estruturais mais antigas quanto algumas bem mais recentes tendem a ignorar os problemas de mudana, considerand, ao invs, as escolhas individuais de ao originrias de novas situaes como excees ou distines das normas apropriadas, ou seja, tradicionais. (VAN VELSEN, 1987, p.356Est surgindo um crescente desejo entre os antroplogos no sentido de realmente entender como as pessoas convivem com as suas normas, que so, muitas vezes, conflitantes entre si. Este um dos aspectos da reao ao estruturalismo formulado por Radcliffe-Brown e desenvolvido por alguns dos seus estudantes. J citei uma nota de rodap de Evans-Pritchard acerca das realidades polticas [que so] confusas e conflitantes. Mas Gluckman sugeriu (1955:1-26), usando a vasta informao fornecida pelo prprio Evans-Pritchard, que em suas anlises da sociedade Nuer estava faltando uma parte vital, especificamente como os Nuer reconciliam ou utilizam os conflitos existentes entre as exigncias da descendncia patrilinear e os laos afetivos do parentesco matrilinear. Neste sentido, tem por hiptese que pode-se adquirir uma compreenso mais profunda do conflito Nr, tomando-se em considerao a importncia poltica do parentesco matrilinear. Todo o trabalho de Gluckman na realidade permeado pela noo de que normas conflitantes i.e ., as diversas lealdades dos indivduos a diferentes grupos, baseados em diferentes princpios de organizao podem, em ltima anlise, contribuir para a coeso poltica e social. (VAN VELSEN, 1987, p.359)as normas da sociedade no constituem um todo coerente e consistente. So. ao contrrio, freqentemente vagas e discrepantes. exatamente este fato que permite a sua manipulao por parte dos membros da sociedade no sentido de favorecer seus prprios objetivos sem necessariamente prejudicar sua estrutura aparentemente duradoura de relaes sociais. Por isso, a anlise situacional enfatiza o estudo das normas em conflito. Previsivelmente, a fonte de informaes mais frutfera sobre normas conflitantes constituda por disputas, expostas ou no dentro de um tribunal.. As descries sobre a lei primitiva" freqente*, mente sugerem que todas as disputas so simples casos de transgresso da lei" e que, portanto, a discusso est baseada nos fatos do caso. enquanto existe uma concordncia silenciosa ou expressa entre todas as partes interessadas com referncia norma ou s normas aplicveis. Estas descries ignoram o fato de que pode-se encontrar, em qualquer sociedade, uma grande categoria de disputas onde a discusso gira principalmente em torno da questo sobre quais normas, entre um nmero de normas mutuamente conflitantes. devem ser aplicveis aos fatos" indiscutveis do caso. A partir deste ponto de vista, toma-se mais importante obter diferentes avaliaes e interpretaes sobre disputas, ou outros eventos especficos. de vrias pessoas, do que procurar a avaliao e interpretao correta destes eventos. O enfoque situacional vai muito alm daquele que tenta saber o que pensam "os sbios homens velhos da vila, da escola e o advogado. Para o socilogo interessado em processos sociais, no existem pontos de vista certos" ou errados : apenas existem pontos de vista diferentes representando diferentes grupos de interesse, stalus, personalidade e assim por diante. (VAN VELSEN, 1987, p.369)Os prximos dois exemplos mostram a aplicao prtica rfe abordagem situacional. Mitchell foi um dos primeiros antroploo a usar esta forma de casos inter-relacionados integrados e c base para, sua anlise da composio da aldeia Yao. Em seu estueto apresenta uma srie de casos de acusao de bruxaria e divindade* (1956:165-175), que abrangem um perodo de oito anos, retroce* dendo a um perodo anterior chegada do autor em cena. Estes casos referem-se predominantemente a infortnios pessoais tais como morte e nascimentos difceis. Se fossem tratados como instncias isoladas, estes casos poderiam ter sido usados para ilustrar de forma razoavelmente apropriada, as noes de feitiaria dos Yao. Porm, Mitchell apresenta seus casos no contexto social total de uma aldeia especfica e, dessa forma, descreve o processo de ampliao da clivagem existente entre as sees de linhagem na aldeia e sua ruptura final em duas aldeias separadas. O livro con* tm informaes similares sobre outras aldeias e o autor as apresenta conjuntamente com um relato dos princpios estruturais dos grupos residenciais e de parentesco dos Yao. Devido a este tipo de apresentao dos casos, os inmeros exemplos de briga, de acusaes amargas e de outros sintomas de desunio no nos levam concluso de que estamos confrontando uma sociedade desintegradora" (por exemplo, como resultado da ocupao britnica). Ao invs, o autor nos mostra que tais perodos de air.drgos e freqentes conflitos no so sintomas de patologia social", mas sim inerentes ao ciclo de vida das aldeias Yao desde sua formao, passando pelo seu crescimento at a sua disperso.Tumer apresenta uma elaborao deste tipo de anlise. Em seu livro, sua principal preocupao reside no ciclo de desenvolvimento da aldeia, neste caso entre os Ndcmbu. e a ela integrados, esto uma srie de dramas sociais : uma srie de casos, todos localizados numa aldeia e centrados num homem chamado San- dombu que lutou contra inmeros imprevistos para conseguir posio poltica, fracassando porm. Tum er descreve o ritual como um mecanismo de compensao que tende a vir a existir em situaes de crise, quando aparecem conflitos na aldeia e entre ns Idias como resultado de contradies estruturais, e no simples370mente de transgresso da lei por parte de indivduos ambiciosos e maliciosos (1957:330). O objetivo deste autor f oi tambcm o dem o strar com o o n ico, o casual e o arb itrrio m i o s u b o rd inados ao "co stu m eiro " d en tro de um nico m tc m a espacial c tem poral dc relaes sociais [ e j p ara m ostrar comoo geral e o p articu lar, o c k lic o e o excepcional, o regular e o irreg u lar, o norm al e o desviante, e s f io in te r - r tU c k x w k * num nico processo social (1957:328). (VAN VELSEN, 1987, p.371)a noo de um tipo de sistema consistente que servia de quadro s anlises de Radcliffe-Brown tem sido constantemente abandonada pelos seus sucessores. Os trabalhos dc Evans- Pritchard e Fortes acentuaram bem a existncia de clivagens, fisses, conflitos, etc., como inerentes aos sistemas sociais. Embora nossa viso global de um sistema social se tenha tornado menos rgida c integrada, Leach ainda sustenta no termos ousado o bastante28. Hojc_c.nL dia, o antroplogo aceita o conflito" como parte .injegtal l t

GLUCKMAN, Max. O material etnogrfico na antropologia social inglesa.En: ZALUAR, Alba (ed). Desvendando Mscaras Sociais. Rio de Janeiro: Francisco Alves, p. 63-76, 1980.VAN VELSEN, Jaap. A anlise situacional e o mtodo de estudo de caso detalhado.Feldman-Bianco B. Antropologia das sociedades contemporneas. So Paulo: Global, 1987.