12
1 Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13 th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X CONFLITOS HOMOFÓBICOS NA ESCOLA E A TEORIA DO RECONHECIMENTO Grasiela Cristine Celich Resumo: O presente artigo trata de pesquisa que procurou explicitar de que modo a teoria do reconhecimento, desenvolvida por Hegel (1807/2008), na obra “Fenomenologia do Espírito” e, posteriormente, reatualizada por Honneth (2009), em “Luta por Reconhecimento: a gramática moral dos conflitos sociais”, pode contribuir no enfrentamento das violências e dos conflitos homofóbicos que ocorrem na escola entre alunos do Ensino Médio. A pesquisa também buscou fortalecer reflexões não somente entre os alunos, mas também entre professores, diretores, coordenadores e demais membros da comunidade escolar, através de propostas de atividades práticas que objetivam e trabalham o reconhecimento intersubjetivo. Tal reconhecimento, que é sempre recíproco, tem por finalidade, possibilitar a preservação da identidade dos homossexuais na escola, como também a elevação de sua estima de maneira que possam obter um grau positivo de autorrealização individual neste ambiente, contando, além disso, com o alcance da promoção do direito à igualdade e às diferenças. Palavras-chave: Conflitos homofóbicos, Reconhecimento intersubjetivo, Preservação da identidade, Igualdade e diferenças. 1 Considerações Iniciais O presente artigo tem por objetivo explicitar como a teoria do reconhecimento, desenvolvida inicialmente por Hegel (1807/2008) e, posteriormente, reatualizada por Honneth (2009) pode contribuir para compreender e solucionar os conflitos homofóbicos na escola. Para isso, será levado em consideração o principio da igualdade bem como o direito à diferença. Direito à diferença que possibilita a preservação da identidade, tanto particular quanto coletiva dos homossexuais, enquanto grupo social minoritário, frente aos outros grupos e também à sociedade como um todo. Havendo a preservação da identidade e, como conseqüência, o reconhecimento das diversas diferenças é que se estará promovendo e proporcionando uma maior igualdade social entre os membros de uma sociedade. Para que se chegue a essa explicitação, tomam-se por base as ideias de Hegel (1807/2008), encontradas no clássico “Fenomenologia do Espírito” que foram, de alguma maneira, reatualizadas por Honneth (2009), em sua obra filosófica: “Luta por Reconhecimento: a Gramática Moral dos Conflitos Sociais”. Após, será apresentado o que é, para os autores, um conflito social, qual conflito é passível de reconhecimento e por quais motivos se fala em reconhecimento. Para isso, então, é que será entrelaçado, com o reconhecimento, o princípio da igualdade e o direito à diferença. Por fim, serão apresentadas as considerações finais.

CONFLITOS HOMOFÓBICOS NA ESCOLA E A TEORIA DO RECONHECIMENTO · 2 Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos), Florianópolis,

Embed Size (px)

Citation preview

1

Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

CONFLITOS HOMOFÓBICOS NA ESCOLA E A TEORIA DO

RECONHECIMENTO

Grasiela Cristine Celich

Resumo: O presente artigo trata de pesquisa que procurou explicitar de que modo a teoria do

reconhecimento, desenvolvida por Hegel (1807/2008), na obra “Fenomenologia do Espírito” e,

posteriormente, reatualizada por Honneth (2009), em “Luta por Reconhecimento: a gramática

moral dos conflitos sociais”, pode contribuir no enfrentamento das violências e dos conflitos

homofóbicos que ocorrem na escola entre alunos do Ensino Médio. A pesquisa também buscou

fortalecer reflexões não somente entre os alunos, mas também entre professores, diretores,

coordenadores e demais membros da comunidade escolar, através de propostas de atividades

práticas que objetivam e trabalham o reconhecimento intersubjetivo. Tal reconhecimento, que é

sempre recíproco, tem por finalidade, possibilitar a preservação da identidade dos homossexuais

na escola, como também a elevação de sua estima de maneira que possam obter um grau positivo

de autorrealização individual neste ambiente, contando, além disso, com o alcance da promoção

do direito à igualdade e às diferenças.

Palavras-chave: Conflitos homofóbicos, Reconhecimento intersubjetivo, Preservação da

identidade, Igualdade e diferenças.

1 – Considerações Iniciais

O presente artigo tem por objetivo explicitar como a teoria do reconhecimento,

desenvolvida inicialmente por Hegel (1807/2008) e, posteriormente, reatualizada por Honneth

(2009) pode contribuir para compreender e solucionar os conflitos homofóbicos na escola. Para

isso, será levado em consideração o principio da igualdade bem como o direito à diferença. Direito

à diferença que possibilita a preservação da identidade, tanto particular quanto coletiva dos

homossexuais, enquanto grupo social minoritário, frente aos outros grupos e também à sociedade

como um todo. Havendo a preservação da identidade e, como conseqüência, o reconhecimento das

diversas diferenças é que se estará promovendo e proporcionando uma maior igualdade social

entre os membros de uma sociedade.

Para que se chegue a essa explicitação, tomam-se por base as ideias de Hegel

(1807/2008), encontradas no clássico “Fenomenologia do Espírito” que foram, de alguma

maneira, reatualizadas por Honneth (2009), em sua obra filosófica: “Luta por Reconhecimento: a

Gramática Moral dos Conflitos Sociais”. Após, será apresentado o que é, para os autores, um

conflito social, qual conflito é passível de reconhecimento e por quais motivos se fala em

reconhecimento. Para isso, então, é que será entrelaçado, com o reconhecimento, o princípio da

igualdade e o direito à diferença. Por fim, serão apresentadas as considerações finais.

2

Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

2 – Reatualizando a Teoria do Reconhecimento: de Hegel a Honneth

Hegel (1807/2008), para realizar a sua teoria do reconhecimento, baseou-se em Fichte.

Este filósofo concebeu o reconhecimento como “uma ação recíproca” entre sujeitos. Isso significa

que entre os indivíduos precisa haver uma consciência comum e universal. Tendo em vista tal

pensamento, Hegel (1807/2008) aplica esta teoria sobre a ação recíproca entre os indivíduos.

Escreve o filósofo, em sua Fenomenologia do Espírito, que a consciência, mais especificamente,

quando ela for consciência-de-si, tanto em si e para si, bem como para uma Outra consciência-de-

si, é que ela será reconhecida. Hegel (1807/2008) então, traça a base do movimento de

reconhecimento, isto é, reconhecimento é quando um indivíduo conhece e reconhece um outro tal

como este é em suas características, essência e personalidade. Em outras palavras, a dinâmica do

reconhecimento ocorre quando os indivíduos ao perceberem-se como sujeitos, veem de maneira

mútua, que a particularidade de cada um é reconhecida pelo outro. Eles necessitam saber que a sua

própria essência, a diferença de cada um, precisa também estar no outro. Aduz-se que cada sujeito

está certo de sua diferença. Porém, cada um precisa compreender que o outro também tem a

certeza da sua própria diferença e quer vê-la confirmada por este outro. Quando Hegel

(1807/2008) traça as bases da dinâmica do reconhecimento, passa a construir as relações éticas

que qualquer sociedade que se compreenda como igualitária, preservadora da diversidade e que

conceba a dignidade como princípio que a norteia, deva, obrigatoriamente, aceitar. Assim, a

dinâmica do reconhecimento, concebida por Hegel (1807/2008) avança em relação às ideias de

Fichte, pois aquele entende que os sujeitos, quando há uma relação ética estabelecida, preservam,

respeitam e reconhecem a identidade particular sua e do outro, de modo que cada um perceba que

o seu Eu é confirmado pelos outros indivíduos.

Mais tarde, já no século XX, nas décadas de 20 e 30, há uma retomada das ideias de

Hegel (1807/2008), bem como do idealismo alemão, pelos filósofos da Escola de Frankfurt,

através da Teoria Crítica. Esta teoria, ao preservar o legado do idealismo alemão, objetiva que os

sujeitos sejam produtores de suas próprias vidas no interior da sociedade. Ocorre que, essa teoria,

após muitos debates, desde a sua criação sofreu muitas reformulações, que, embora relevantes,

não cabe discutí-las neste artigo. Apenas é necessário mencionar que, atualmente, a Teoria Crítica

trabalha com “as questões sobre os ideais de uma sociedade justa colocados pelas lutas

contemporâneas, pelo reconhecimento social e jurídico das identidades particulares e formas de

vida culturais”. (WERLE e MELO, 2008, p. 183). Em outras palavras, é possível dizer que “os

3

Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

pressupostos teórico-explicativos e crítico-normativos estão ancorados no processo social de

construção intersubjetivo da identidade (pessoal e coletiva)”. (WERLE e MELO, 2008, p. 184).

Sendo assim, Honneth (2009), filósofo relacionado à Teoria Crítica, reatualizou as ideias

de Hegel (1807/2008) para uma época pós-metafísica e, por se preocupar com a identidade

particular de cada pessoa dentro da sociedade, o filósofo reflete acerca dos fundamentos da Teoria

Crítica, tendo por base as experiências de injustiças sofridas por determinados grupos sociais por

se verem de uma maneira positiva no interior da sociedade na qual vivem. Nesse sentido, Honneth

(2009) concebe que o reconhecimento implica a intersubjetividade. Portanto para o filósofo,

As formas de uma intersubjetividade prática na qual o vínculo complementário e, com

isso, a comunidade necessária dos sujeitos contrapondo-se entre si são assegurados por

um movimento de reconhecimento. A estrutura de tal relação de reconhecimento

recíproco é para Hegel, em todos os casos a mesma: na medida em que se sabe

reconhecido por um outro sujeito em algumas de suas capacidades e propriedades e nisso

está reconciliado com ele, um sujeito sempre virá a conhecer, ao mesmo tempo, as partes

de sua identidade inconfundível e, desse modo, também estará contraposto ao outro,

novamente como um particular. (HONNETH, 2009, p. 46-47).

Diante do fragmento, cabe esclarecer que a atitude de reconhecimento do outro não

ocorre ao nível de ideias, de pensamentos, de intelectualidade, ou até mesmo ao nível da

linguagem. O reconhecimento ocorre em um nível superior. Ele se constitui no momento em que

os sujeitos conseguem compreender o vínculo complementar que há entre igualdade e diferença,

bem como, entender que diferença não é sinônimo de desigualdade. A diferença é sempre uma

igualdade, jamais uma desigualdade.

Para exemplificar o exposto acima, toma-se por base a pesquisa acadêmica realizada por

Celich (2015). A autora pesquisou, através de questionário, como que alunos de Ensino Médio

enxergavam os homossexuais no ambiente escolar. Um dos alunos que respondeu à pesquisa

afirmou, referindo-se aos homossexuais que “tem que matar tudo, ou são homens, ou são

mulheres”. (CELICH, 20015, p.22). Outro aluno, respondeu que a homossexualidade é “uma falta

de vergonha” (CELICH, 2015, p.22). Um terceiro estudante afirmou que a homossexualidade é

algo “errado. Deus criou Adão e Eva, homem e mulher. Se o plano de deus fosse pessoas do

mesmo sexo, então, ele criaria um só sexo” (CELICH, 2015, p.26). Cabe mencionar, ainda, um

quarto estudante que participou da pesquisa. Ele disse que “deus fez o homem e a mulher para

ambos se relacionarem” (CELICH, 2015, p.27).

Além destes exemplos, é necessário mostrar outros exemplos, desta vez, felizes, para

após explicar como que o reconhecimento se faz e se fundamenta. Um dos alunos que respondeu à

pesquisa, escreveu que os homossexuais “são pessoas iguais a todos nós seres humanos, porém

4

Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

sentem atração por pessoas do mesmo sexo” (CELICH, 2015, p.67). Outros dois alunos

responderam que considera “os homossexuais pessoas iguais à qualquer ser humano. Cada um têm

as suas diferenças, seja em qualquer situação ou caso” (CELICH, 2015, p.67) e, “que deve haver o

respeito em primeiro lugar, ninguém gosta de ser discriminado(a), excluído(a)” (CELICH, 2015,

p.194). Há, ainda, a concepção de mais um estudante, qual seja: “eu agiria com ele como eu agiria

com os outros, não seria mal educada com ele, até porque todos tem os mesmos direitos,

independente da sexualidade” (CELICH, 2015, p.200).

Através destes exemplos, percebe-se a falta ou mesmo o não reconhecimento que os

estudantes citados nos quatro primeiros exemplos possuem. Expõe-se isso, visto que, as

afirmações dos quatro primeiros estudantes em relação às afirmações dos quatro últimos alunos

não são consideradas, pela teoria do reconhecimento, respostas que possuem a mesma validade,

resultando em um igual teor valoração. Aduz-se isso, posto que, se fornecer o mesmo grau de

valoração tanto para as quatro primeiras respostas, quanto para as quatro últimas, recai naquilo

que o reconhecimento não é. Em outras palavras, recai-se no relativismo, em um campo onde

“tudo pode e tudo é permitido”. Portanto, se houver a concepção de que as afirmações dos quatro

primeiros estudantes tem o mesmo valor e a mesma validade das afirmações dos quatro últimos

estudantes, então, não há abertura para a diversidade, para a igualdade, mas abre-se possibilidade

para a desigualdade, para o aprisionamento das diferenças, para o não reconhecimento.

Aduz-se isso, pois as afirmações dos quatro primeiros alunos, são proposições que negam

a reciprocidade do reconhecimento mantendo teor unilateral e pela pura incapacidade de respeitar

o outro. Portanto, se aceitar que reconhecer o outro é aceitar as ideias homofóbicas, se reconhecer

o outro é aceitação do que este outro pensa, mesmo ele mantendo ideias pré-concebidas, se aceitar

que acolhimento e respeito às diferenças é aceitar que algumas pessoas pensem e exponham que é

normal matar homossexuais, que é normal apenas o homem se relacionar com a mulher e esta com

ele, visto que isso é criação divina, bem como normalizar que os homossexuais são vergonhosos,

então não há reconhecimento. O que existe é um mecanismo perverso, no qual a alteridade, a

diversidade são anuladas e não podem se expressar. Portanto, quando se fala em diversidade, não

se quer dizer diferença de ideias, de pensamentos, mas se quer dizer diversidade de propriedades,

de essência, de identidade. Neste caso, a diversidade, as diferenças estão alocadas nas

características humanas, ou seja, para este artigo, enquanto um indivíduo é homossexual, outro é

heterossexual, outro é bissexual e assim por diante. Sendo assim, o reconhecimento, quando

aplicado de modo correto, afasta qualquer atitude negativa que alguém possa ter.

5

Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

Além disso, como o reconhecimento é ação recíproca entre sujeitos, isso quer dizer que,

aquele que não reconhecer o outro em suas características que este outro desejou ser reconhecido,

não pode desejar ser reconhecido em suas características. Explicitando melhor: aquele indivíduo

que afirma que é normal matar homossexuais, não pode reivindicar vida para si próprio. Aquele

estudante que aduz que o homem deve se relacionar com a mulher e esta com ele, não pode

constituir, nem construir qualquer relacionamento afetivo. Aquele que pensa que os homossexuais

são vergonhosos, apenas explicita o que ele próprio é. Dito de outro modo, aquele que não

reconhece as diversidades, perde o respeito por si mesmo, perde a dignidade de ser reconhecido

por aquilo que deseja que os outros o reconheçam. Diante do exposto até o momento, na

compreensão de Honneth (2009, p.78), o

Desenvolvimento da identidade pessoal de um sujeito está ligado fundamentalmente à

pressuposição de determinadas formas de reconhecimento por outros sujeitos, pois, com

efeito, a superioridade da relação interpessoal sobre a ação instrumental consistiria

manifestamente em que ela abre reciprocamente para os sujeitos comunicantes a

possibilidade de se experienciar em seu parceiro de comunicação como o gênero de

pessoa que eles reconhecem nele a partir de si mesmos. (HONNETH, 2009, p. 78).

Isso significa que, “um indivíduo que não reconhece seu parceiro de interação como um

determinado gênero de pessoa, tampouco pode experienciar-se a si mesmo integral ou

irrestritamente como um tal gênero de pessoa.” (HONNETH, 2009, p. 78). Assim, qualquer

afirmação que prejudique a identidade dos homossexuais, é porque um dos sujeitos não consegue

perceber que o outro possui uma identidade própria e que lhe é inerente à sua condição de

indivíduo digno e capaz de ser reconhecido. Assim, aquele sujeito que não reconhece a diferença

dos outros, perde o direito de ser reconhecido em sua essência, justamente porque não reconhece o

outro e não procura formar uma comunidade ética que seja capaz de consolidar todas as

identidades inerentes aos sujeitos. Portanto, Honneth (2009) diz que

Se eu não reconheço meu parceiro de interação como um determinado gênero de pessoa,

eu tampouco posso me ver reconhecido em suas reações como o mesmo gênero de

pessoa, já que lhe foram negadas por mim justamente aquelas propriedades e capacidades

nas quais eu quis me sentir confirmado por ele. (HONNETH, 2009, p. 78).

Desse modo, quando houver o reconhecimento intersubjetivo dos diversos sujeitos é que

eles terão a sua identidade reconhecida. Ocorre que, tanto na escola, quanto na sociedade, muitas

pessoas compreendem eu tanto afirmações positivas, quanto afirmações negativas acerca dos

homossexuais e da homoafetividade possuem o mesmo valor e querem obter um falso

6

Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

reconhecimento; isto é, querem ter reconhecimento através daquilo que não pode ser reconhecido.

Ou seja, querem ter respeito por suas ideias, seu comportamento homofóbico. O que conforme

explicitado, implica em linguagem, pensamento e, portanto, não cabe reconhecimento. Não se

reconhece pensamentos. Reconhece-se características inerentes à pessoa humana. Portanto,

quando esse reconhecimento é falso, ou não ocorre para Honneth (2009), surgem conflitos sociais

que desembocam em uma luta por reconhecimento, visto que, aqueles sujeitos que insistem em

discriminar as diferenças, desequilibram a ordem social. Portanto, no próximo item, será

apresentado qual tipo de conflito social que ocorre ou possa ocorrer na escola, é a base para uma

luta por reconhecimento.

3 – O Conflito

Conforme explicitado no item anterior, foi demonstrado do que a teoria do

reconhecimento trata, bem como o que é reconhecimento. Foi exposto também que, quando não

há reconhecimento entre os sujeitos, surgem conflitos que levam a uma luta por este

reconhecimento. Sendo assim, o conflito e, como consequência, a luta por reconhecimento ocorre

posto que, as relações éticas de qualquer sociedade, bem como as relações interpessoais na escola,

ao implicarem em igualdade, dignidade, também conjecturam em abertura e acolhimento de

qualquer identidade. Entretanto, abrir-se, acolher e reconhecer o outro como ele se compreende,

implica em abandonar e superar a eticidade que se possui até o momento. Significa, portanto,

abandonar padrões discriminatórios e preconcebidos ao que se refere aos homossexuais. É por isso

que esta luta, esse conflito que Honneth (2009) defende,

Não pode ser um conflito pela pura autoconservação de seu ser físico; antes o conflito

prático que se acende entre os sujeitos é por origem um acontecimento ético, na medida

em que objetiva o reconhecimento intersubjetivo das dimensões da individualidade

humana. (HONNETH, 2009, p.48).

Sendo assim, não é qualquer conflito que merece ser estudado sob a ótica do

reconhecimento, até porque alguns não valorizam a luta social, prendendo-se à auto conservação

bem como ao aumento de poder, como é o caso das afirmações homofóbicas dos primeiros quatro

alunos expostas no item anterior. Os conflitos que interessam para Honneth (2009) são aqueles

Que se originam de uma experiência de desrespeito social, de um ataque à identidade

pessoal ou coletiva capaz de suscitar uma ação que busque restaurar relações de

reconhecimento mútuo ou justamente desenvolvê-las num nível evolutivo superior.

(HONNETH, 2009, p. 18)

7

Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

Se analisar as palavras de Honneth (2009), ver-se-á que o conflito no qual desrespeite,

desmereça, rebaixe e não valorize a identidade pessoal e coletiva dos homossexuais, encaixa-se

perfeitamente na ideia do filósofo. De acordo com comentadores de Honneth (2009), o conflito é

“a base da interação social [...] e a gramática moral desse conflito é a luta por reconhecimento”

(WERLE e MELO, 2008, p. 186). Afirmam Werle e Melo (2008) que Honneth se ancora no “fato

de que há uma suposição básica de reconhecimento social à qual os sujeitos se vinculam com suas

expectativas normativas quando entram em relações comunicativas.” (WERLE e MELO, 2008, p.

186). Essa relação comunicativa é a base para o reconhecimento de grupos sociais minoritários,

como, por exemplo, os homossexuais. Afirma-se isso, pois, para o referido filósofo, a relação

comunicativa não pode ser desenvolvida em “termos de uma teoria da linguagem, mas com base

nas relações de reconhecimento formadoras da identidade, isto é, da constituição intersubjetiva da

identidade pessoal e coletiva.” (WERLE e MELO, 2008, p. 186). Werle e Melo (2008) aduzem,

portanto, que Honneth parte dessa concepção de conflito, pois há nos relacionamentos entre as

pessoas, situações às quais são eivadas de desrespeito e injustiça, justamente porque agridem a

identidade de uma pessoa e, como consequência, a todo um grupo social que tenha essa mesma

identidade, como é o caso dos homossexuais. Isso ocorre, pois, de acordo com Honneth (2009),

aos sujeitos, pertencentes aos grupos sociais minoritários, em sua autodescrição

Se veem maltratados por outros, desempenham até hoje um papel dominante de

categorias morais que, como as de “ofensa” ou de “rebaixamento”, se referem a formas de

desrespeito, ou seja, às formas de reconhecimento recusado. Conceitos negativos dessa

espécie designam um comportamento que não representa uma injustiça só porque ele

estorva os sujeitos em sua liberdade de ação ou lhes inflige danos, pelo contrário, visa-se

àquele aspecto de um comportamento lesivo pelo qual as pessoas são feridas numa

compreensão positivas de si mesmas, que elas adquiriram de maneira intersubjetiva.

(HONNETH, 2009, p. 213).

Esse conflito ocorre, pois os indivíduos desrespeitados, no entendimento de Honneth

(2009), construíram uma imagem positiva de si mesmos frente ao ambiente social onde se

encontram. Agora, esses mesmos indivíduos, quando são vítimas de homofobia, tem violada a sua

identidade, bem como a possibilidade de serem eles mesmos. É por isso que Werle e Melo (2008,

p.188) destacam

A ideia fundamental de que os indivíduos só podem se formar e construir suas identidades

pessoais quando são reconhecidos intersubjetivamente. O indivíduo só pode ter uma

relação positiva consigo mesmo se for reconhecido pelos demais membros da

comunidade. Quando esse reconhecimento não é bem sucedido (pela ausência ou falso

reconhecimento), desdobra-se uma luta por reconhecimento na qual os indivíduos

procuram estabelecer ou criar novas condições de reconhecimento recíproco. (WERLE e

MELO, 2008, p. 188).

8

Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

Diante do fragmento, percebe-se que o conflito surgido pela busca de reconhecimento

Representa uma espécie de mecanismo de comunitarização social, que força os sujeitos a

se reconhecerem mutuamente no respectivo outro, de modo que, por fim sua consciência

individual da totalidade acaba se cruzando com a de todos os outros, formando uma

consciência “universal”. Essa consciência que veio a ser “absoluta” fornece [...] a base

intelectual para uma coletividade futura e ideal: proveniente do reconhecimento recíproco

como um médium da universalização social, ela constitui o “espírito de povo” e, nesse

sentido, também a “substância viva” de seus costumes. (HONNETH, 2009, p. 64).

Visto o que é reconhecimento, bem como quais os conflitos que são passíveis de

reconhecimento é que no próximo item será trabalhado o direito à diferença e igualdade, tomando

por base o reconhecimento para a compreensão e solução dos conflitos homofóbicos na escola.

4 – Todos são diversos e iguais entre si

Para que seja alcançada uma consciência universal e, como conseqüência, o mútuo

reconhecimento entre os sujeitos é necessário expor acerca do princípio da igualdade bem como

ao direito à diferença. Aduz-se isso, posto que, é o princípio insculpido no art. 5º, caput da

Constituição Federal1 e a sua observação ao direito à diferença que será construído o

reconhecimento. É por isso que o fato de um sujeito ser diverso do outro, não significa que ele é

desigual à esse outro para receber tratamento diferente (nesse caso, desigual) dele.

Tomando por base que o reconhecimento se dará quando as diferenças entre os sujeitos

forem entendidas como iguais e não desiguais é que se começa a discussão com a máxima de

Aristóteles: “a igualdade consiste em tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais.”

(MELLO, 2004, p. 10). Diante desta questão, Celich (2011, p. 149) aduz que esta “assertiva [...]

traz implícita uma pergunta: quem são os iguais e quem são os desiguais?” A resposta para tal

indagação aparece em Mello (2004), quando afirma que

O que permite radicalizar alguns sob a rubrica de iguais e outros sob a rubrica de

desiguais? Em suma qual o critério legitimamente manipulável – sem agravos à isonomia

– que autoriza distinguir pessoas e situações em grupos apartados para fins de tratamentos

[...] diversos? Afinal, que espécie de igualdade veda e que tipo de desigualdade faculta a

discriminação de situações e de pessoas, sem quebra e agressão aos objetivos

transfundidos no princípio constitucional da isonomia. (MELLO, 2004, p. 11).

Diante disso, Celich (2011) aduz que

1 Art. 5ª, caput/CF – “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se [...] a

inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade [...].”

9

Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

Há grupos de pessoas sob um ponto de vista comum, que devem ser tratados de maneira

igual, porque são iguais sob este referencial comum. E há outros grupos, sob outro ponto

comum, que devem ser tratados de forma desigual se comparadas com aquele (grupo de

pessoas iguais) porque estes são desiguais. [Desta forma], é aplicando de maneira correta

essa máxima aristotélica que será encontrada a verdadeira igualdade entre os indivíduos.

(CELICH, 2011, p. 150)

De outro modo, Brandão (2002) esclarece que

A regra da igualdade não consiste em quinhoar desigualmente os desiguais, na medida em

que se desigualam. Nesta desigualdade social, proporcionada à desigualdade natural, é

que se acha verdadeira a lei da igualdade. [...] Tratar com desigualdade a diferença, ou a

desiguais com igualdade, será desigualmente flagrante, e não liberdade real. O problema

do reconhecimento das diferenciações que não podem ser feitas sem quebra de isonomia

se biparte em duas questões. A primeira diz com o elemento tomado como fator de

desigualação. A segunda reporta-se à correlação existente entre o fato erigido em critério

de discriminação e a disparidade estabelecida no tratamento. Esclarecendo melhor, tem-se

que investigar, de um lado, aquilo que é erigido em critério discriminatório e, de outro, se

há justificativa para, a vista do traço desigualador adotado, atribuir o específico

tratamento [...] constituído em função da desigualdade proclamada. (BRANDÃO, 2002,

p. 84).

Tomando por base as idéias expostas, Dias (2006) compreende que, frente a um caso de

desigualdade, é necessário investigar se existe diferença entre o que foi estabelecido com a

desigualdade de análogo caso. Celich (2011) diz que

Poder-se-ia avaliar uma eventual afronta ao princípio da igualdade. Assim, será agredida

a igualdade quando o fator diferencial escolhido para qualificar os indivíduos atingidos

pela norma não guardar pertinência, seja de inclusão, seja de exclusão com o benefício

concedido. (CELICH, 2011, p. 151).

Em outras palavras é necessário levar em consideração se a orientação sexual de um

sujeito, pode ser tomada como fator justificável para que ele seja tratado de modo diverso de

outros indivíduos. Isso quer dizer que, necessita discutir se a diferença de um sujeito ou de um

grupo social pode ser considerada como fator justificador para que haja um tratamento

diferenciado ou não. De outro modo, diz-se que, para alguém receber tratamento diverso de

outrem, é necessário existir uma explicação lógica, racional e plausível para que aconteça

realmente um tratamento diferente. Mello (2004), leciona que se tem de

Investigar, de um lado, aquilo que é adotado como critério discriminatório, de outro lado,

cumpre verificar se há justificativa racional, isto é, fundamento lógico, para, à vista do

traço desigualador acolhido, atribuir o específico tratamento [...] construído em função da

desigualdade proclamada. (MELLO, 2004, p. 21).

10

Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

Diante do exposto, também se deve observar que, “quando se trata acerca do princípio da

igualdade, deve-se também observar o direito à diferença.” (CELICH, 2011, p. 153). Lopes (2003,

p. 30) diz que esta diferença pode ser “justamente aquilo que se quer preservar e não abolir.” Este

autor levanta um questionamento sobre o direito à diferença. Ele afirma que isso pode ser duas

coisas distintas. A primeira

Pode significar exatamente o mesmo que os direitos fundamentais implicam como

programa democrático: que se nenhuma característica individual seja levada em conta

pelo legislador e pelos tribunais para restringir os direitos de alguém sempre que esta

característica não se justifique como diferenciador suficiente. Diferenças de nascimento,

de etnia, de gênero, e assim por diante são proscritas do ordenamento jurídico. Tratar

alguém de forma diferente nestes termos significa não reconhecer a pessoa

individualmente pelo que é. O remédio jurídico para a falta de reconhecimento individual

é a proibição de tais atos pela regra da isonomia. (LOPES, 2003, p. 30).

A segunda coisa distinta, para Lopes (2003) vai significar

A valorização positiva de certa identidade. Nestes termos, o direito do indivíduo não é

apenas o de ser tratado como todos os outros, mas ver sua diferença específica

positivamente valorizada, ou não desrespeitada. O direito ao reconhecimento, neste

momento, adquire o aspecto distributivo [...] já que esta identidade não é exclusiva de um

indivíduo, mas pertence a um grupo. Este bem comum (uma identidade) é o que merece o

respeito público. (LOPES, 2003, p. 30).

Percebe-se, portanto, que qualquer característica inata de um sujeito, significa uma

diferença em relação aos demais, Sendo assim, uma diferença não é entendida como desigualdade

e, portanto, nenhum sujeito pode receber tratamento desigualitário por sua diversidade se

comparado aos outros sujeitos que o rodeiam. Verifica-se isso, pois, se a legislação, preza pela

igualdade, ou melhor, pelo tratamento igualitário para todas as pessoas, independente de qual seja

a característica diferente que esta possua, é necessário que aquele indivíduo que tem alguma

diferença, seja respeitado por essa diversidade. No momento em que um sujeito, bem como um

grupo social é respeitado por sua diferença em relação aos outros grupos sociais que compõem a

mesma sociedade, está-se falando em reconhecimento da diferença, tanto a nível social quanto

legislativo, entre todas as pessoas. Desse modo, por estar preservado o direito à diferença, também

estar-se-á acolhendo e reconhecendo a identidade de determinados grupos sociais. Assim, haverá o

alcance da consciência universal e o mútuo reconhecimento entre os sujeitos.

5 – Considerações Finais

11

Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

Conforme foi explicitado ao longo do artigo, a teoria do reconhecimento irá se preocupar

em fazer com que, as diferenças inatas, que fazem parte da identidade dos sujeitos e dos grupos

sociais a que eles pertencem, sejam acolhidas e reconhecidas pelos demais atores sociais. Porém,

como, ainda, muitas diferenças não foram reconhecidas, há sujeitos desrespeitados por outros,

justamente pelo fato de serem diferentes deles. É por isso que ocorre um conflito homofóbico na

escola. Conflito esse, que causa nos sujeitos e grupos sociais prejudicados um sentimento de

injustiça e, por isso

Devem ser vistos como o estopim par excellence da luta por reconhecimento. [Assim],

Honneth procura mostrar que uma experiência social de desrespeito atua como uma forma

de freio social que pode levar à paralisia do indivíduo ou de um grupo social. Por outro

lado, ela mostra o quanto o ator social é dependente do reconhecimento social. [...] A

experiência do desrespeito, então, deve ser tal que forneça a base motivacional da luta por

reconhecimento, porque essa tensão [...] só pode ser superada quando o ator social estiver

em condições de voltar a ter uma participação ativa e sadia na sociedade. (SAAVEDRA,

2007, p. 109).

Desse modo, é através do reconhecimento que haverá compreensão e solução dos

conflitos homofóbicos na escola, visto que ele possibilita que “uma pessoa desenvolva a

capacidade de sentir-se valorizada [...] quando as suas capacidades individuais não são mais

avaliadas de forma coletivista.” (SAAVEDRA, 2007, p. 106-107). Isto é, a escola bem como a

sociedade, não podem ficar esperando proteger os homossexuais quando todos os membros de

uma sociedade os aceitarem e os reconhecerem. É preciso protegê-los e dar assistência no

momento em que a sua identidade particular e coletiva ainda não é aceita pela maioria dos

sujeitos.

Fala-se isso, pois ali “são postas em relevo as propriedades que tornam o indivíduo

diferente dos demais, ou seja, as propriedades de sua singularidade.” (SAAVEDRA, 2007, p. 106).

Assim, começa a construção de uma identidade social baseada na diversidade, onde a

particularidade daqueles sujeitos que são oprimidos por outros, possam ser reconhecidos em seus

direitos. Começa um fortalecimento e uma consolidação da identidade social e coletiva.

6 – Referências

BRANDÃO, Débora Vanessa Caús. Parcerias homossexuais: aspectos jurídicos. São Paulo:

Revista dos Tribunais, 2002.

CELICH, Grasiela Cristine. A possibilidade jurídica do casamento homoafetivo no Brasil. Santa

Maria: AGBook, 2011.

12

Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

_____. Os conflitos homofóbicos na escola e a teoria do reconhecimento. Campinas: Mercado de

Letras, 2015.

DIAS, Maria Berenice. União homossexual: o preconceito & a justiça. 3. ed. rev. atual. Porto

Alegre: Livraria do Advogado, 2006.

HEGEL. G.W.F. Fenomenologia do espírito. 5ª ed. Petrópolis: Vozes, 2008.

HONNETH, Axel. Luta por reconhecimento: a gramática moral dos conflitos sociais. 2ª ed. São

Paulo: Editora 34, 2009.

LOPES, José Reinaldo de Lima. O direito ao reconhecimento para gays e lésbicas. In: GOLIN,

Célio; POCAHY, Fernando Altair; RIOS, Roger Raupp (Orgs.). A justiça e os direitos de gays e

lésbicas: jurisprudência comentada. Porto Alegre: Sulina, 2003. p. 13-36.

MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Conteúdo jurídico do princípio da igualdade. 3. ed. São

Paulo: Malheiros, 2004.

SAAVEDRA, Giovani Agostini. A teoria crítica de Axel Honneth. In: SOUZA, Jessé; MATTOS,

Patrícia. (Orgs.). Teoria crítica no século XXI. São Paulo: Annablume, 2007.

WERLE, Denilson Luis; MELO, Rúrion Soares. Reconhecimento e justiça na teoria crítica da

sociedade em Axel Honneth. In: NOBRE, Marcos. (Org.). Curso livre de teoria crítica. 2ª ed. São

Paulo: Papirus, 2008.

Homophobic conflicts in school and the theory of recognition

Abstract: The present article is a research that aimed to explicit how the theory of recognition,

that was developed by Hegel (1807/2008), in the book “Phenomenology of the Spirit”, and later

on updated by Honneth (2009), in “Fight for Recognition: the moral grammar of the social

conflicts”, can contribute in the facing of violence and the homophobic conflicts that happen in

school among high school students. The research also aimed to strengthen reflections not only

among students, but also among teachers, principals, coordinators, and the other members of the

school community, through the proposition of practical activities that aim for and work with the

intersubjective recognition. Such recognition, which is always reciprocal, has the purpose to

enable the preservation of the homosexuals’ identity in school, and also to elevate their esteem in

a way that they can obtain a positive degree of personal fulfilment in this environment, counting

with the extent of the promotion of the right to equality and to differences as well.

Keywords: Homophobic conflicts, Intersubjective recognition, Identity preservation, Equality and

differences.