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Conflitos sociais em Portalegre no tempo dos Robinson Social

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Page 1: Conflitos sociais em Portalegre no tempo dos Robinson Social
Page 2: Conflitos sociais em Portalegre no tempo dos Robinson Social
Page 3: Conflitos sociais em Portalegre no tempo dos Robinson Social

PUBLICAÇÕES DA FUNDAÇÃO ROBINSON

Conflitos sociais em Portalegre no tempo dos RobinsonSocial conflicts in Portalegre during the Robinson period

23

Page 4: Conflitos sociais em Portalegre no tempo dos Robinson Social

PUBLICAÇÕES DA FUNDAÇÃO ROBINSON N.º 23ROBINSON FOUNDATION PUBLICATIONS No. 23

Conflitos sociais em Portalegre no tempo dos RobinsonSocial conflicts in Portalegre during the Robinson periodPortalegre, Fevereiro de 2012 Portalegre, February 2012

AUTOR AUTHOR

António Ventura

Fundação RobinsonRobinson Foundation

CONSELHO DE CURADORESCOUNCIL OF CURATORS

Adelaide Teixeira (Presidente) (Chair), Ana Manteiga, Antero Teixeira, Joaquim Mourato, António Ceia da Silva, Rui Cardoso Martins, Sérgio Umbelino

CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃOADMINISTRATIVE COUNCIL

José Manuel Barradas (Presidente) (Chair), Diogo Júlio Serra, Maria Estevinha

ADMINISTRADORA DELEGADA ASSISTANT ADMINISTRATOR

Alexandra Carrilho Barata

Publicações da Fundação Robinson Robinson Foundation Publications

CONSELHO CONSULTIVOEDITORIAL BOARD

Amélia Polónia, António Camões Gouveia, António Filipe Pimentel, António Ventura, Carlos Serra, João Carlos Brigola, Luísa Tavares Moreira, Maria João Mogarro, Mário Freire, Rui Cardoso Martins

DIRECTOR EDITOR

António Camões Gouveia

ADMINISTRAÇÃO DAS PUBLICAÇÕESPUBLICATIONS ADMINISTRATOR

Alexandra Carrilho Barata

SECRETARIADO DE EDIÇÃO PUBLICATION SECRETARY

Jorge Maroco Alberto

A correspondência relativa a colaboração, permuta e oferta de publicações deverá ser dirigida aAll correspondence to be addressed to

Fundação Robinson Robinson FoundationApartado 1377300 -901 PortalegreTel. 245 307 463fund.rob@cm -portalegre.pt

www.fundacaorobinson.pt

DESIGNDESIGN

TVM designers

COORDENAÇÃOCOORDINATED BY

António Camões Gouveia

COORDENAÇÃO EDITORIAL EDITORIAL COORDINATION

Há Cultura Lda.

TRADUÇÃOTRANSLATED BY

David Hardisty (inglês) (english), Pedro Santa María de Abreu (espanhol) (spanish)

REVISÃO EDITING

António Camões Gouveia, Célia Gonçalves Tavares, Jorge Maroco Alberto, Odete Mateus Rolo

IMPRESSÃO PRINTED BY

Tipografia Lessa

DEP. LEGAL 341 413/12ISSN 1646 -7116

Na capa, fotografia de Cover photograph byAntónio Ventura (colecção pessoal) (private collection)

Page 5: Conflitos sociais em Portalegre no tempo dos Robinson Social

4 Nota de abertura Opening note Nota de apertura Presidente do Conselho de Curadores | Chair of the Council of Curators

6 Conflitos sociais em Portalegre no tempo dos Robinson Social conflicts in Portalegre during the Robinson period Conflictos sociales en Portalegre en la época de los Robinson António Ventura

34 Antologia: os conflitos sociais de Portalegre na imprensa (1893-1920) Anthology: social conflicts of Portalegre in the press (1893-1920) Antología: los conflictos sociales de Portalegre en la prensa (1893-1920)

60 Síntese: resumos e palavras -chave Abstracts and key -words Resúmenes y palabras clave

Page 6: Conflitos sociais em Portalegre no tempo dos Robinson Social

4

Publicações da Fundação Robinson 23, 2012, p. 4 -5, ISSN 1646 -7116

Nota de aberturaOpening note

ADELAIDE DE AGUIAR MARQUES TEIXEIRA

PRESIDENTE DA CÂMARA MUNICIPAL DE PORTALEGRE E DO CONSELHO DE CURADORES DA FUNDAÇÃO ROBINSON MAYOR OF PORTALEGRE AND HEAD OF THE BOARD OF TRUSTEES OF THE ROBINSON FOUNDATION

Page 7: Conflitos sociais em Portalegre no tempo dos Robinson Social

5

On 17 September 2011, in a brilliant, concise, original

and evaluative intervention, Professor Julian Sobrino (of

the University of Seville) reminded us that all Factories are

a conflict of interests, knowledge, gender, and small and

large powers. After all, Factories embody the realities of

living human groups and their social relations, such that

Factories are living social bodies!

In his on-going collaboration with the Robinson Foun-

dation, Professor António Ventura (of the Faculty of Let-

ters of the University of Lisbon) now gives us this account

of the experience of conflict born of the working reali-

ties which brought Workers and Employers against each

other. The study and the rich anthology underpinning it,

enriches our knowledge of the Robinson Factory in terms

of the human dimension of its workers and, at the same

time, recounts their local integration by sampling from the

remarkable richness of the periodical press in Portalegre.

The Publications of the Robinson Foundation, once again,

have enlightened academic work and future research pos-

sibilities and continue to show how the Factory was the

socio-economic hub of a large Robinson Space.

No passado dia 17 de Setembro de 2011, em brilhante, sin-

tética, original e valorativa intervenção, lembrava o Professor

Julián Sobrino (Universidade de Sevilha) que todas as Fábri-

cas são um conflito, de interesses, de saberes, de sexos, de

pequenos e grandes poderes. Afinal, as Fábricas dão corpo às

realidades da vivência humana dos grupos e das suas sociabi-

lidades, as Fábricas são corpos sociais vivos!

Na sua constante colaboração com a Fundação Robinson

o Professor António Ventura (Faculdade de Letras da Uni-

versidade de Lisboa) dá-nos agora conta dessa vida na con-

flitualidade nascida das realidades laborais em que se opõem

Operários e Patrões. O estudo e a riquíssima antologia que

o suporta, enriquecem o nosso conhecimento da Fábrica

Robinson na dimensão humana do operariado e, ao mesmo

tempo, dão conta da sua integração no tecido local através da

amostragem feita a partir da assinalável riqueza da imprensa

periódica em Portalegre.

As Publicações da Fundação Robinson, mais uma vez, dão

a lume trabalho científico e possibilidades de investigação

futura e continuam a mostrar como a Fábrica era o pólo sócio-

económico de um grande Espaço Robinson.

Page 8: Conflitos sociais em Portalegre no tempo dos Robinson Social

Conflitos sociais em Portalegre no tempo dos Robinson Social conflicts in Portalegre during the Robinson period

António Ventura

FACULDADE DE LETRAS DA UNIVERSIDADE DE LISBOA

FACULTY OF LETTERS OF THE UNIVERSITY OF LISBON

Publicações da Fundação Robinson 23, 2012, p. 6 -33, ISSN 1646 -7116

Page 9: Conflitos sociais em Portalegre no tempo dos Robinson Social

7

Uma cidade laboriosa e progressiva

O concelho de Portalegre, que compreendia a capital de

distrito com o mesmo nome, conheceu uma expansão con-

siderável a partir de 1860. Tinha então 6.433 habitantes,

número que passou para 7.039 em 1878, 10.538 em 1890

e 18.500 em 1900, segundo os respectivos censos. As duas

freguesias urbanas, Sé e São Lourenço, contavam com 9.303

habitantes, o que traduz um decréscimo que se explica,

segundo cremos, pela gravíssima crise que a partir de 1891

afectou a indústria e o comércio locais. Outro elemento

que se destaca é um certo equilíbrio entre a população cita-

dina e a rural. A cidade encontrava-se rodeada por pequenas

povoações, lugares, quintas e montes onde a par de algumas

grandes herdades, em especial nas freguesias de Fortios e de

Urra, coexistia a pequena propriedade rural e a agricultura

de subsistência.

A cidade foi crescendo para Este, pelo arrabalde de São

Francisco e Corro – hoje Praça da República – a partir da Porta

de Alegrete, e para Norte, em direcção ao Rossio do Espírito

Santo. Essa progressão para Norte efectuou-se a partir da

Porta da Deveza, fronteira ao Rossio e à Mouraria, já situada

fora do burgo amuralhado.

Pelas ruelas medievais e pelas novas que se foram cons-

truindo, frente à Fábrica Robinson, existia um nume-

roso conjunto de artesãos, alfaiates, sapateiros, carpintei-

ros, chocalheiros, cesteiros, cuja tradição se perdia na dis-

tância dos séculos e que deram nome a diversas ruas —

dos Canastreiros, Sapateiros, Chocalheiros — e os operá-

rios — corticeiros, na sua maioria, mas também de alva-

néus, padeiros e tecelões — que conferiam à cidade um

cunho marcadamente industrial. Pela Rua da Cadeia (tramo

da actual Rua do Comércio), Pracinha, Rossio, Rua do Mer-

cado e Rua dos Canastreiros (depois do Infante D. Manuel

An industrious and progressive city

The district of Portalegre, including the district cap-

ital with the same name, expanded considerably from

1860 onwards. Its population that year was 6,433 inhab-

itants, a figure that rose to 7,039 in 1878, 10,538 in 1890

and 18,500 in 1900, according to the respective censuses.

The two urban parishes, Sé and S. Lourenço, contained

9,303 inhabitants, which represented a decrease which

it is believed can be explained by the serious crisis that

affected local industry and commerce from 1891. Another

element that stands out is a certain balance between the

urban and rural population. The city was surrounded by

small villages, places, farms and montes where in addition

to a few large farms (herdades), especially in the parishes

of Fortios and Urra, there also coexisted small estates and

subsistence agriculture.

The city grew to the East, through the suburb of

S. Francisco and Corro – nowadays the Praça da Repú-

blica square – from the Porta de Alegrete, and northwards

towards the Rossio do Espírito Santo square. This northward

progression took place from the Porta da Deveza, which

bordered on Rossio and the Mouraria – the ancient Moor-

ish quarter - which was situated outside the walled town.

The medieval streets and the newer ones that were

built, opposite the Robinson Factory, contained a large

number of artisans, tailors, shoemakers, carpenters, bell-

makers, and basket weavers, whose traditions have been

lost in the distant centuries and who gave their name to

several streets – the Basket Weavers (Canastreiros), Shoe-

makers (Sapateiros), Bellmakers (Chocalheiros) - and work-

ers – cork workers mostly, but also masons, bakers and

weavers - which gave the city a markedly industrial flavour.

Various types of shops, taverns, grocery stores, delicates-

Page 10: Conflitos sociais em Portalegre no tempo dos Robinson Social

8

sens, fabric stores and tobacconists were to be found on

Rua da Cadeia (nowadays forming part of Rua do Comércio),

Pracinha, Rossio, Rua do Mercado and Rua dos Canastreiros

(after Infante D. Manuel and 31 de Janeiro). There was a cer-

tain worldly bohemian life about the latter, with an empha-

sis on the Estrela Tobacconist, and Frederico Porto’s store,

both of which hosted regular evening salons (tertúlias).

New neighbourhoods were built in the late nineteenth

century. One, the initiative of two workers - Joaquim Dias

Ferreira and Bernardino José Rainho – started construc-

tion work on 3 April 1895 and still retains the names of

its founders that nobody remembers any longer: “Ferreira

& Rainho”. The second, an individual enterprise carried

out by Joaquim Pires Lopes, merchant and owner of the

“O Novo Mundo” (New World) store, and known as “Joaquim

da Bola”, started on 3 January 1898 and was completed in

1900. The water supply was improved with the construc-

tion of a pipeline from Maguetos which was approved by

the City Council in 1894 and carried out by the engineer

Filipe Canavarro. The works took place between 1895 and

1896, and amounted to 9,505$000 réis, the water reaching

the town on 1 May 1897. Public lighting, which began in

1855 with olive oil and improved ten years later through

the use of petroleum, began to use electricity in 1901.

In addition, the city’s development was accompanied

by the installation of new services: branches of the Caixa

Económica Portuguesa (December 1887) and the Banco de Por-

tugal (1 April 1891). The first had 472 depositors in 1901 and

a total of 124,247$297 réis. In May 1898, the Banco de Portu-

gal moved into its own premises, bought for 5,000,000$000

réis. In 1900, 1305 bills were taken to the amount of

337,908$592 réis nationally, and 131,983$550 abroad. The

profits of the Portalegre branch were 10.934$ 804 réis.

e 31 de Janeiro), surgiam estabelecimentos comerciais de

diversos ramos, tabernas, mercearias, salsicharias, lojas

de tecidos, tabacarias e cafés. Existia uma certa vida mun-

dana e boémia em redor daqueles últimos, com realce para

a Tabacaria Estrela, ou para a loja de Frederico Porto, em

ambos casos sedes de tertúlias regulares. Novos bairros

foram construídos nos finais do século XIX. Um deles, ini-

ciativa de dois operários — Joaquim Dias Ferreira e Ber-

nardino José Rainho — começou a ser construído em 3 de

Abril de 1895 e ainda hoje conserva os nomes dos seus

fundadores que já ninguém recorda: «Ferreira e Rainho».

O segundo, empreendimento individual, de Joaquim Lopes

Pires, comerciante e proprietário da loja «O Novo Mundo»,

conhecido como «Joaquim da Bola», começou a ser cons-

truído em 3 Janeiro de 1898 e foi concluído em 1900.

O abastecimento de água foi melhorado com a construção de

uma canalização desde os Maguetos, aprovada pela Câmara

Municipal em 1894 e feita sob projecto do engenheiro Filipe

Canavarro. As obras decorreram entre 1895 e 1896, impor-

taram em 9.505$000 réis, chegando a água à cidade a 1 de

Maio de 1897. A iluminação pública, iniciada em 1855 com

azeite e melhorada dez anos depois com petróleo, passou em

1901 a utilizar a energia eléctrica.

Por outro lado, o desenvolvimento da cidade foi acompa-

nhado pela instalação de novos serviços: delegações da Caixa

Económica Portuguesa (Dezembro de 1887) e do Banco de

Portugal (1 de Abril de 1891). A primeira contava em 1901

com 472 depositantes e um total de 124.247$297 réis. Em

Maio de 1898, o Banco de Portugal instalou-se numa casa

própria, comprada por 5.000.000$000 réis. Em 1900 foram

tomadas 1305 letras no valor de 337.908$592 réis sobre o

país, e 131.983$550 sobre o estrangeiro. Os lucros da agência

de Portalegre foram de 10.934$804 réis.

Page 11: Conflitos sociais em Portalegre no tempo dos Robinson Social

9

Industry

At the end of the nineteenth and the beginning of the

twentieth century, the most dynamic element of Portale-

gre life was its industry. Woollen manufacturers, which

once flourished and experienced glorious moments from

the last quarter of the eighteenth century onwards, also

experienced hard times during the reign of D. Maria I and

then, during the Napoleonic wars, went into a definitive

decline. The suspension of payments by the Larcher &

Sobrinhos Factory in 1868, also dragged down the Compa-

nhia da Fábrica Nacional de Portalegre, leading to the unem-

ployment of five hundred workers. The final blow was

struck in 1896 with the bankruptcy of the Companhia da

Fábrica de Laníficios de Portalegre, which had been estab-

lished in Oporto in 1889 with capital from the North of

Portugal, especially of the Banco União. The only excep-

tion to the crisis experienced by industry in Portalegre

was the cork factory of the Englishman George Robin-

son, which had been founded in the mid-nineteenth cen-

tury, and which took on the role of principal employer in

A Indústria

A indústria era, na passagem do século XIX para o seguinte,

o elemento mais dinâmico da vida portalegrense. Os lanifí-

cios, outrora florescentes e com momentos de glória a partir

do último quartel do século XVIII, conheceram tempos difí-

ceis durante o reinado de D. Maria I e depois, no tempo das

Invasões Francesas, entraram definitivamente em decadência.

A suspensão de pagamentos da Fábrica Larcher & Sobrinhos,

em 1868, arrastou na sua queda a Companhia da Fábrica Nacio-

nal de Portalegre, lançando no desemprego cinco centenas de

operários. O golpe de misericórdia foi desferido em 1896 com

a falência da Companhia da Fábrica de Lanifícios de Portalegre,

constituída em 1889 no Porto com capitais nortenhos, onde

avultavam os do Banco União. Desse universo industrial porta-

legrense em crise, a única excepção era a fábrica de cortiça do

inglês George Robinson, fundada em meados do século XIX, e

que assumiu, no último quartel de oitocentos, o papel de prin-

cipal entidade empregadora. José Frederico Laranjo afirmava

no Parlamento, nesses tempos de crise aguda, que o desem-

prego em Portalegre só não atingiu proporções dramáticas gra-

ças à Fábrica Robinson, que absorveu grande parte da mão-de-

obra na preparação de cortiça1.

Os inquéritos industriais oficiais não nos transmitem

uma imagem fiel das diversas actividades industriais e arte-

sanais da cidade. O inquérito de 1881 é muitíssimo incom-

pleto, incluindo apenas elementos sobre quatro empresas

com o respectivo pessoal operário e ficando de fora as mais

importantes, cujos proprietários se recusaram a responder.

A 20 de Março de 1880, as fábricas de Portalegre dirigiram

uma representação à Câmara dos Deputados protestando con-

tra o novo imposto sobre a renda, assinado por George Robin-

son, Honório Fiel de Lima, e pelos gerentes das «fábricas de

lanifícios e curtumes» José António Duro, Ramiro Marçal &

George William Robinson (1813-1895).

Page 12: Conflitos sociais em Portalegre no tempo dos Robinson Social

10

the last quarter of the nineteenth century. José Frederico

Laranjo stated in Parliament that in these times of acute

crisis, unemployment in Portalegre had not reached dra-

matic proportions only thanks to the Robinson Factory,

which had absorbed much of the manpower in order to

treat cork1.

The official industrial surveys do not give us an accu-

rate picture of the various industries and handicrafts in

the city. The 1881 survey is rather incomplete, and only

includes information about four companies and the respec-

tive information about their workers, leaving out some of

the most important companies, whose owners refused to

answer. On 20 March 1880, the Portalegre factories sent

representatives to the Chamber of Deputies to protest

against the new income tax, signed by George Robinson,

Honório Fiel de Lima, and the managers of the “woollen

factories and tanneries” José António Duro, Ramiro Marcal

& C.ª, Manuel de Jesus Costa, Genoveva Amélia Cerejo and

Costa & Irmão2. This document included a table outlining

the number of employees in each of the factories in the city:

EstablishmentsWorkers

(M)

Workers

(F)

Total

Fábrica de Cortiça de George Robinson

(George Robinson Cork Factory)260 420 680

Companhia da Fábrica Nacional de Lanifícios

de Portalegre (National Woollen Factory

of Portalegre)

147 41 188

Fábrica de Lanifícios e Curtumes de Portalegre

(Portalegre Wool and Leather Factory)108 39 147

Fábrica de Lanifícios de Ramiro Marçal & C.ª

(Ramiro Marçal & C.ª Woollen Factory)44 20 64

Fábrica de Lanifícios e Moagens de Manuel

Joaquim Costa (Manuel Joaquim Costa

Woollen Manufacturing and Mills)

25 18 43

Fábrica de Tecidos da viúva de Vicente Cerejo

(Textile Factory of Vicente Cerejo’s widow)4 12 16

Fábrica de Massas de Costa & Irmão

(Costa & Irmão Pasta Factory)5 – 5

Total 593 550 1143

C.ª, Manuel de Jesus Costa, Genoveva Amélia Cerejo e Costa

& Irmão2. Este documento inclui um quadro com o número de

trabalhadores de todas as fábricas da cidade:

Estabelecimentos Operários Operárias Total

Fábrica de Cortiça de George Robinson

260 420 680

Companhia da Fábrica Nacional de Lanifícios de Portalegre

147 41 188

Fábrica de Lanifícios e Curtumes de Portalegre

108 39 147

Fábrica de Lanifícios de Ramiro Marçal & C.ª

44 20 64

Fábrica de Lanifícios e Moagens de Manuel Joaquim Costa

25 18 43

Fábrica de Tecidos da viúva de Vicente Cerejo

4 12 16

Fábrica de Massas de Costa & Irmão

5 – 5

Total 593 550 1143

O associativismo

O associativismo desenvolveu-se na segunda metade do

século XIX, fruto de uma nova sociabilidade facilitada pelo

liberalismo, bem diferente da situação anterior, onde predo-

minavam as corporações com uma estrutura rígida.

Costa Goodolphim refere a existência, na segunda metade

do século XIX, de três associações: o Montepio Fraterni-

dade Portalegrense, a Associação dos Artistas e o Montepio

Euterpe3. O primeiro foi fundado em 1855 por iniciativa de

António José Cardoso, com estatutos aprovados por Alvará

Régio de 2 de Maio daquele ano. A segunda datava de 1866 e

levou uma vida apagada, com raras referências na imprensa

da época. A terceira, a Sociedade Filarmónica Euterpe, criada

Transporte de cortiça em viatura movida a vapor, propriedade de George Wheelhouse Robinson.Transporting cork in a steam-powered

vehicle, property of George Wheelhouse

Robinson.

Page 13: Conflitos sociais em Portalegre no tempo dos Robinson Social

11

Page 14: Conflitos sociais em Portalegre no tempo dos Robinson Social

12

Associational Life

Associations developed in the second half of the nine-

teenth century, as the result of a new sociability facilitated

by liberalism, quite unlike the previous situation where

rigidly structured corporations predominated.

Costa Goodolphim refers to the existence of three

associations in the second half of the nineteenth century:

The Montepio Portalegre Brotherhood (Montepio Fraterni-

dade Portalegrense), the Artists Association (Associação dos

Artistas) and the Montepio Euterpe3. The first was founded

in 1855 through the initiative of António José Cardoso,

with its statutes being approved by Royal Charter of 2 May

of that year. The second dated from 1866 and had a dis-

crete existence, with few references to it in the press of

the time. The third, the Euterpe Philharmonic Society, was

founded in 1860 and still exists, and formed the basis of

the Montepio Euterpe Portalegrense, with its statutes being

approved in 18664. But the truth is that there were many

other associations, the most important of which appeared

in 1888: the Montepio Portalegre Worker and Artist asso-

ciation (Montepio Operário e Artístico Portalegrense), which

contained a large majority of cork workers. The three

Montepio associations were open to everybody, and were

focused on helping their members and their families with

illnesses, loan pledges, and also included a recreational

component, with dances, annual festivals, various shows

and bazaars. Theatre achieved a remarkable growth - par-

ticularly promoted by Montepio Euterpe – and several

amateur groups were set up in the city, sometimes with

their own premises, and there was intense activity in this

area until the nineteen twenties5.

In 1896 another association was established, the

Sociedade União Operária (Workers’ Union Society), under

em 1860 e ainda existente, esteve na base do Montepio

Euterpe Portalegrense, com estatutos aprovados em 18664.

Mas a verdade é que existiram muitas outras agremiações,

das quais a mais importante surgiu em 1888: o Montepio

Operário e Artístico Portalegrense, com uma grande maioria

de operários corticeiros. Os três montepios estavam abertos

a toda a população, dedicando-se ao auxílio dos associados e

seus familiares em caso de doença, empréstimo sobre penho-

res, incluindo também uma componente recreativa, com bai-

les, festas anuais, espectáculos vários e bazares. O teatro atin-

giu uma notável expansão, — promovido em especial pelo

Montepio Euterpe —, fundando-se na cidade diversos gru-

pos amadores, por vezes com instalações próprias, com uma

intensa actividade até à década de vinte do século XX5.

Em 1896 surgia outra associação, a Sociedade União Ope-

rária, sob a égide de George Weelhouse Robinson e de outras

personalidades locais, com uma enorme adesão por parte do

operariado local que se traduziu na existência de 450 sócios

apenas um mês após a sua fundação. Foi a primeira associa-

ção a ultrapassar o mutualismo, apontando como objectivos

o «recreio, a confraternização, a instrução e a ilustração». Pre-

Saída dos operários da Fábrica Robinson.Workers leaving the Robinson Factory.

Page 15: Conflitos sociais em Portalegre no tempo dos Robinson Social

13

the aegis of George Wheelhouse Robinson and other local

personalities, which the local working class joined in large

numbers such that the Society already had 450 members

only a month after being founded. It was the first associ-

ation to go beyond mutualism, with its objectives being

“recreation, fellowship, education and illustration”. There

were two categories of member: the standard one, exclu-

sively for workers, and honorary membership, for those

from other classes, who were not entitled to vote at meet-

ings and could not be elected to its governing bodies.

The Portalegre Workers’ Cooperative (Cooperativa

Operária Portalegrense) was founded in 1898 (its statutes

being approved on 14 December) by 41 workers from the

Robinson factory, of which only one - the republican clerk

Manuel Maria Ceia - was not a cork worker. The immedi-

via duas categorias de associados: os ordinários, que deve-

riam ser exclusivamente operários, e os honorários, prove-

nientes de outras classes, que não tinham direito a voto nas

assembleias e não podiam ser eleitos para os corpos sociais.

A Cooperativa Operária Portalegrense foi fundada em 1898

(estatutos aprovados em 14 de Dezembro) por 41 trabalhado-

res da Fábrica Robinson, dos quais apenas um – o escriturário

e republicano Manuel Maria Ceia –, não era corticeiro. A causa

próxima desta fundação foi a falta de pão e a sua carestia,

ciclicamente sentida e minimizada pelo contrabando daquele

género alimentício a partir de Espanha. Rapidamente, a coo-

perativa se expandiu e diversificou a sua actividade, ocupando

um lugar de primeiro plano na actividade comercial citadina

que culminou, em 1905, com a inauguração de um grande

edifício próprio para sua sede. A análise das profissões dos

Vista geral do interior da Fábrica Robinson.General view inside the Robinson Factory.

Page 16: Conflitos sociais em Portalegre no tempo dos Robinson Social

14

ate issue for this foundation was the cyclical lack of bread

and the resulting famine, which was minimized by smug-

gling bread from Spain. The cooperative quickly expanded

and diversified its activity, occupying a major position in

the city’s commercial activity that culminated with the

opening of a large building of its own to serve as its head-

quarters in 1905. An analysis of the occupations of the

first 100 members of the Cooperative shows that 76%

were manual workers, mostly cork workers.

Other associations that merit a mention are the Por-

talegre Recreational Centre (Centro Recreativo de Portale-

gre - 1877), the Portalegre Association of Volunteer Fire-

fighters (Associação dos Bombeiros Voluntários de Portalegre

- 1899)6, which had an enormous social base, and the Por-

talegre Commercial and Industrial Association (Associ-

ação Comercial e Industrial de Portalegre), founded in 1899

after several unsuccessful attempts dating back to 1890,

which remained a meeting point for various political cur-

rents, with monarchists and republicans such as Boaven-

tura Rodrigo de Matos, Frederico Porto, José Mendes Gil,

António Augusto Niny and Tiago Morgado, always under

the consensual tutelage of George Wheelhouse Robinson7.

The most active associations – the Montepio Workers

(Montepio Operário), the Workers’ Union Society (Sociedade

União Operária) and the Workers Cooperative (Cooperativa

Operária) - were influenced by the Progressive Party and by

some Republicans.

The economic importance of these associations was

not insignificant. Let us consider the situation in 1901.

The Portalegre Workers’ Cooperative (Cooperativa Operária

Portalegrense), founded in 1898, showed a movement of

12,390$000 réis for consumption and 14,480$000 réis for

purchases, with 312 members. The Montepio Portalegre

100 primeiros sócios da Cooperativa dá-nos uma percenta-

gem de 76% de operários, maioritariamente corticeiros.

Outras agremiações que merecem referência são o Cen-

tro Recreativo de Portalegre (1877), a Associação dos Bom-

beiros Voluntários de Portalegre (1899)6, com enorme projec-

ção social, e a Associação Comercial e Industrial de Portale-

gre, fundada em 1899 depois de várias tentativas infrutíferas

iniciadas em 1890, e que foi sempre um ponto de encontro

de várias correntes políticas, onde conviviam monárquicos e

republicanos como Boaventura Rodrigo de Matos, Frederico

Porto, José Mendes Gil, António Augusto Niny e Tiago Mor-

gado, sempre sob a tutela consensual de George Weelhouse

Robinson7.

As associações mais activas – Montepio Operário, Socie-

dade União Operária e Cooperativa Operária – eram influen-

ciadas pelo Partido Progressista e por alguns republicanos.

Administradores da fábrica com alguns operários corticeiros.Factory administrators with some of the cork

workers.

George Wheelhouse Robinson (1857-1932).

Page 17: Conflitos sociais em Portalegre no tempo dos Robinson Social

15

Page 18: Conflitos sociais em Portalegre no tempo dos Robinson Social

16

Artistic Workers (Montepio Operário Artístico Portalegrense),

founded in 1888, had 399 members, with 6,604$700

réis capital and 1,400$000 réis of income. The Monte-

pio Brotherhood (Montepio Fraternidade), founded in

1855, had 240 members, with 6,000$000 réis capital and

1,100$000 of income. Montepio Euterpe, founded in 1866

by the Euterpe Philharmonic Society (Sociedade Filarmónica

Euterpe), had 127 members, with 2.900$000 réis capi-

tal and 400$000 réis of income. The Misericordia Hospi-

tal had an income of 5,885$320 réis. The Asylum for Dis-

advantaged Children (Asilo da Infância Desvalida), founded

in 1863, had a nominal reserve fund of 14,000$000 réis

and was raising 30 female children. The Confrarias do San-

tíssimo Sacramento das Freguesias da Sé e de São Lourenço e as

do Bonfim e do Senhor dos Aflitos had a nominal reserve capi-

tal of 14,000$000 réis.

Three fairs were held annually: the first, on the last

Wednesday of January, predominantly focused on buying

and selling swine and popularly known as the “Pig Fair”;

the second, from 1-3 June, known as the “Cherries Fair”;

the third, from 13-15 September, and the most ancient,

established by royal decree on 3 August 1753, was known

as the “Onions Fair”. A market was held twice weekly:

on Wednesdays, in Corro, Praça do Principe Real, then

later named Praça da República Square, which improve-

ment works started in 1884 and finished in 1894; from

3 April 1853 on Saturdays in Rossio. Commercial activity

was intense. In addition to livestock, which sold in large

numbers between December and March - especially swine

- sausages were exported - which were famous for their

quality – as well as treated cork and cork stoppers, pasta,

sandals, olive oil, fruits and wood, with the railway help-

ing to considerably boost traffic. The connection between

O peso económico destas associações não era despiciendo.

Vejamos a situação em 1901. A Cooperativa Operária Portale-

grense, fundada em 1898, tinha um movimento de 12.390$000

réis de consumo e 14.480$000 réis de compras, com 312 asso-

ciados. O Montepio Operário Artístico Portalegrense, fun-

dado em 1888, tinha 399 sócios, com 6.604$700 réis de capi-

tal e 1.400$000 de rendimento. O Montepio Fraternidade, fun-

dado em 1855, tinha 240 sócios, com 6.000$000 réis de capi-

tal e 1.100$000 de rendimento. O Montepio Euterpe, fundado

em 1866 pela Sociedade Filarmónica Euterpe, tinha 127 sócios,

com 2.900$000 réis de capital e 400$000 de rendimento. O Hos-

pital da Misericórdia tinha um rendimento de 5.885$320 réis.

O Asilo da Infância Desvalida, fundado em 1863, tinha um fundo

nominal próprio de 14.000$000 réis e sustentava 30 crianças

do sexo feminino. As Confrarias do Santíssimo Sacramento das

Freguesias da Sé e de São Lourenço e as do Bonfim e do Senhor

dos Aflitos tinham um capital nominal de 14.000$000 réis.

Realizavam-se três feiras por ano: na última quarta-feira

do mês de Janeiro, predominantemente vocacionada para a

transacção de gado suíno e popularmente conhecida como

«Feira dos Porcos»; 1 a 3 de Junho, conhecida como «Feira das

Cerejas»; 13 a 15 de Setembro, a mais antiga, instituída por

alvará régio de 3 de Agosto de 1753, conhecida como «Feira

das Cebolas». Quanto ao mercado, havia dois semanais: às

quartas-feiras, no Corro, Praça do Príncipe Real, depois Praça

da República, tendo as obras começado em 1884 e terminado

em 1894; desde 3 de Abril de 1853, aos Sábados, no Rossio.

A actividade comercial era intensa. Para além do gado, que se

vendia em grande quantidade entre Dezembro e Março, em

especial suínos, exportava-se salsicharia, – famosa pela sua

qualidade –, cortiça preparada e em rolha, massas, alperga-

tas, azeite, frutas, madeiras, fazendo aumentar muito o trá-

fego através do caminho-de-ferro. A ligação entre a cidade e

Page 19: Conflitos sociais em Portalegre no tempo dos Robinson Social

17

the city and the station was made by 120 vehicles and 200

pack animals, donkeys, horses and mules. In 1899, Por-

talegre exported 1,000,000 tons of cork , 300 tons of cork

board, which had been shaved and stitched, 300 tons of

flour and bran, 70 tons of pasta food products and more

than 100 tons of stuffed sausages to various parts of the

country

Trade Unionism

During the nineteenth century there aren’t news arti-

cles concerning the existence of workers associations in

Portalegre. Only one such attempt to establish such a body,

albeit a frustrated one, was recorded in 1893, by the cork

workers, under the guidance of the Republican Party. The

First of May began to be celebrated from 1893 onwards

with sessions alluding to events, music, plays and other

more festive initiatives. As was the case with other regions

in Portugal, Portalegre also witnessed a significant surge in

trade union associations, accompanied by growing conflict.

Let us briefly consider the situation for each of the

different trades.

The Association of Employees of Industry and Com-

merce (Associação dos Empregados de Comércio e Indústria),

the oldest, was founded in 1908 with a strong Republi-

can influence and a somewhat hybrid formation, bringing

together employees and employers.

Barbers - there were reports of meetings in 1903, but

without any organisation being formed.

Teachers - in 1904 there were meetings and partic-

ipation in national conferences, but only of a pedagogic

nature.

Printing workers founded the Union of Compos-

ers and Printers (Associação dos Compositores e Impressores)

a estação era feita por 120 veículos e 200 animais de carga,

burros, cavalos e mulas. Em 1899, Portalegre exportou para

diversos pontos do país 1.000.000 toneladas de rolhas, 300

toneladas de cortiça em prancha, raspada e cozida, 300 tone-

ladas de farinha e sêmeas, 70 toneladas de massas alimentí-

cias e mais de 100 toneladas de enchidos.

O sindicalismo

Durante o século XIX não há notícia da existência de asso-

ciações de classe em Portalegre. Apenas registámos uma ten-

tativa nesse sentido, embora frustrada, em 1893, por parte

dos corticeiros, sob orientação do Partido Republicano.

O Primeiro de Maio começou a ser comemorado a partir de

1893, com sessões alusivas, música, representações teatrais

e outras iniciativas mais festivas que reivindicativas. A exem-

plo de outras regiões do país, também em Portalegre o asso-

ciativismo sindical operário conheceu um surto significativo,

acompanhado por uma conflitualidade cada vez maior.

Vejamos de forma sumária a situação em cada uma das

diferentes classes.

A Associação dos Empregados de Comércio e Indústria, a

mais antiga, foi fundada em 1908, com uma forte influência

republicana e uma composição algo híbrida, reunindo empre-

gados e patrões.

Barbeiros – há notícia de reuniões da classe em 1903, mas

sem a fundação de qualquer associação.

Professores – em 1904 realizaram-se reuniões e a parti-

cipação em congressos nacionais, mas apenas de carácter

pedagógico.

Os trabalhadores das tipografias fundaram a Associação

dos Compositores e Impressores em 1909, mas esta teve uma

vida efémera e acabou por ser dissolvida. Em 1915 surge a Liga

das Artes Gráficas, ligada à respectiva Federação Nacional.

Page 20: Conflitos sociais em Portalegre no tempo dos Robinson Social

18

in 1909, but this was short-lived and was eventually dis-

solved. In 1915 the League of Graphic Arts (Liga das Artes

Gráficas) appeared, connected to the respective National

Federation.

Cork workers - in addition to the aforementioned

failed attempt of 1893, the press refers to activities in

1904 to set up a cork workers trade union, which reached

the stage of having its statutes approved and having its

own premises, but references to the organisation ceased

in the following year. In December 1910, still with the

echoes of the Republican Revolution to be heard, the Cork

Workers Trade Union (Associação de Classe dos Corticeiros)

was established, the most important of those in the city8,

which opened a night school in July 1911 and joined their

respective national federation.

Shoemakers – the Footwear Manufacturers Trade

Union (Associação de Classe dos Manufactores de Calçado) had

its statutes approved in December 1911.

Masons – they also established the Masons trade

union (Associação de Classe dos Alvanéus) in 1911.

Rural Workers - their trade union began its work in

1912.

Carpenters - their trade union was founded in Febru-

ary 1913.

Bakers - the Union of Bread Handlers (Associação dos

Manipuladores de Pão) came later, dating from 1916.

In 1912, the year that the Portalegre Workers Cooper-

ative (Cooperativa Operária Portalegrense) opened a school

on its premises, the workers’ trade unions had the follow-

ing union members: rural, 300; cork workers, 250, foot-

wear manufacturers, 150; masons, 1209. That same year

the first issue of the weekly O Semeador, of a libertarian

orientation, was published and which was the pulpit of

Corticeiros – para além da já referida tentativa gorada de

1893, a imprensa refere diligências, em 1904, para a funda-

ção de uma associação corticeira, que chegou a ter estatu-

tos aprovados e sede própria; mas a partir do ano seguinte

cessam quaisquer alusões a tal respeito. Em Dezembro de

1910, ainda sob os ecos da revolução republicana, fundou-

se a Associação de Classe dos Corticeiros, a mais importante

de quantas existiram na cidade8, que inaugurou uma escola

nocturna em Julho de 1911 e se filiou na federação nacional

respectiva.

Sapateiros – a Associação de Classe dos Manufactores de

Calçado teve os seus estatutos aprovados em Dezembro de

1911.

Pedreiros – ainda no ano de 1911 foi fundada a Associação

de Classe dos Alvanéus.

Trabalhadores Rurais – a respectiva associação iniciou os

seus trabalhos em 1912.

Carpinteiros – a respectiva associação foi fundada em

Fevereiro de 1913.

Padeiros – a Associação dos Manipuladores de Pão é mais

tardia, datando de 1916.

Bandeira da Associação dos Corticeiros de Portalegre.Flag of the Portalegre Cork Workers

Association.

Page 21: Conflitos sociais em Portalegre no tempo dos Robinson Social

19

Em 1912, ano em que a Cooperativa Operária Portale-

grense inaugurou uma escola nas suas instalações, as asso-

ciações operárias de Portalegre tinham a seguinte popula-

ção sindicada: rurais, 300; corticeiros, 250; manufactores de

calçado, 150; alvanéus, 1209. Naquele mesmo ano saía o pri-

meiro número do semanário O Semeador, de orientação liber-

tária, onde pontificava Emílio Costa, que foi uma presença

constante até 1914 em sessões e conferências promovidas

pelas diversas associações de classe.

O sindicalismo revolucionário progrediu em alguns sec-

tores operários da cidade. Em 1914 fundava-se o Núcleo da

Juventude Sindicalista. A expansão do associativismo rural

na região também foi notável. Em 1913 existiam associa-

ções de trabalhadores rurais em Avis, Arronches, Castelo de

Vide, Barbacena, Elvas, Terrugem, Santa Eulália, Vila Boim,

S. Vicente, Vila Fernando, Porto da Espada, Santo Aleixo,

Amieira, Nisa e Portalegre10. Mas nesta cidade nunca existiu

qualquer jornal sindical, ao contrário de Elvas, onde se des-

taca pela sua qualidade e longevidade o «quinzenário defen-

sor do caixeirato português», Solidariedade11, que ali se publi-

cou entre 1918 e 1929, num total de 234 números.

Lutas sociais

Um dos elementos que nos permite avaliar o maior ou

menor grau de desenvolvimento do associativismo operá-

rio e da ultrapassagem da fase mutualista, passando para

uma outra, mais reivindicativa, é a eclosão de conflitos labo-

rais, mais exactamente de greves, definidas por Arthur Fon-

taine como «uma cessação concertada do trabalho por parte

dos assalariados com vista a obter ou melhoria da sua situa-

ção material ou a reparação de um dano que eles consideram

como dirigido contra a sua dignidade». A ocorrência de movi-

mentos grevistas, a sua frequência, natureza e intensidade

Emílio Costa, a constant presence until 1914 in sessions

and conferences organised by various trade unions.

Revolutionary trade unionism made progress in some

areas of the city. In 1914 the Centre for Trade Union Youth

(Núcleo da Juventude Sindicalista) was set up. The expansion

of rural unionism in the region was also notable. In 1913

there were rural workers unions in Avis, Arronches, Cas-

telo de Vide, Barbacena, Elvas, Terrugem, Santa Eulália, Vila

Boim, S. Vicente, Vila Fernando, Porto da Espada, Santo

Aleixo, Amieira, Nisa and Portalegre10. But this city never

had any union newspaper, unlike Elvas, which was noted for

the quality and longevity of its “biweekly defender of the

Portuguese shop assistant”, Solidariedade11, which was pub-

lished between 1918 and 1929, to form a total of 234 issues.

Social struggles

One element that allows us to assess the greater or

lesser degree of development of workers’ trade unions

going beyond the mutualistic stage, to move to a differ-

ent stage of self-affirmation, was the outbreak of labour

disputes and, more particularly, strikes, defined by Arthur

Fontaine as “a concerted cessation of work by employees

in order to obtain or improve their material situation, or

repair a damage which they consider has been directed

against their dignity”. The occurrence of strike move-

ments, their frequency, nature and intensity are indica-

tors of the degree of willingness to fight, and may relate

to other economic and social realities (mutual associative

action and resistance, for example).

I therefore studied labour disputes which occurred in

Portalegre - the district - from the late nineteenth century

until 1920 using for this, firstly, the local press. Then, as

need arose, the national press.

Page 22: Conflitos sociais em Portalegre no tempo dos Robinson Social

20

In 1890, according to information from the Industrial

Survey published the following year, the Robinson factory

employed about 1100 workers, which made it the largest

employer in the district. It is natural that the cork workers

had the largest workers’ associations in Portalegre from

the Montepio Workers (Montepio Operário) to the Work-

ers’ Union Society (Sociedade União Operária) and even the

aforementioned unsuccessful attempt to found a trade

union. Therefore, most of the strikes occurred in the Rob-

inson cork factory. But there were also disputes in other

manufacturing plants, on a greater or less scale, as shown

in the list in the appendix. The news items on these which

were published in the press have been included. However,

one case must be underlined due to its seriousness and the

involvement of various trades.

The agitation of 1912

Although the occurrence of strikes in the city was

very spaced out in time, a new phenomenon, which had

accompanied the change of regime in 1910, was stir-

ring in the fields, felt throughout the whole of the Alen-

tejo and the Ribatejo, with strikes of farm workers, the

creation of labour contracts and the formation of trade

unions, which was also felt in the region, and specifically

in Castelo de Vide, Cabeço de Vide, Elvas, Arronches,

Campo Maior, Crato and Barbacena. The strike of the

rural workers of Évora, in January 1912, followed by a

general strike in the city and the strong intervention on

the part of the authorities, generated a solidarity move-

ment of local trade unions in Portalegre, which staged a

demonstration near the Civil Government building, dur-

ing which eight workers were arrested, tried on 16 May

and released12.

são indicadores do grau de disposição para a luta, podendo

relacionar-se com outras realidades económicas e sociais (o

associativismo mutualista e de resistência, por exemplo).

Estudamos, pois, os conflitos laborais ocorridos em Porta-

legre – concelho – desde os finais do século XIX até 1920 uti-

lizando para tal, em primeiro lugar, a imprensa local. Depois,

pontualmente, a imprensa nacional.

Em 1890, segundo uma informação do Inquérito Indus-

trial publicado no ano seguinte, a Fábrica Robinson ocupava

cerca de 1100 operários, o que a convertia no maior cen-

tro empregador do concelho. É natural que fossem os corti-

ceiros os protagonistas maiores do associativismo portale-

grense, desde o Montepio Operário à Sociedade União Ope-

rária, Cooperativa Operária e mesmo a já referida tentativa

frustrada de fundação de uma associação de classe. Por isso, a

maioria das greves ocorreram na fábrica de cortiça Robinson.

Mas também se registaram conflitos laborais noutras unida-

des fabris, de maior ou menos dimensão, como se pode ver na

relação em anexo. Sobre cada uma delas incluímos as notícias

surgidas na imprensa. No entanto, um caso deve ser subli-

nhado pela sua gravidade e envolvimento de diversas classes.

A agitação de 1912

Se bem que a ocorrência de greves na cidade foi muito

espaçada no tempo, um fenómeno novo, que acompanhou a

mudança de regime em 1910, foi a agitação nos campos, sen-

tida em todo o Alentejo e parte do Ribatejo, com greves de

trabalhadores rurais, celebração de contratos de trabalho e a

formação de associações de classe, que também se fez sentir

na região, mais concretamente em Castelo de Vide, Cabeço

de Vide, Elvas, Arronches, Campo Maior, Crato e Barbacena.

A greve dos rurais de Évora, em Janeiro de 1912, a que se

seguiu uma greve geral na cidade e uma forte intervenção

Interior da Fábrica Robinson.Inside the Robinson Factory.

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21

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23

Equally serious were the incidents recorded in Barba-

cena, about an ancient dispute in regard to lands which

the people considered theirs which were in the tenure in

the Andrade family13, during which Dr. Rui de Andrade

was seriously wounded, which led to the resignation of the

Civil Governor, Dr. José de Andrade Sequeira.

Not being an exception to the rule, the Republican

newspapers were unanimous in attacking the striking

Évora workers, most notably the Portalegre Intransigente –

not to be confused with its namesake in Lisbon, owned by

Machado Santos - led by the Republican Member of Parlia-

ment Baltazar Teixeira, who referred to the events in these

terms: “but everyone knows what is right, what we know

from a sure source is that the vast majority of the work-

ers did not voluntarily join the strike, nor sympathise with

the movement, and only left their work due to threats -

some of which , according to what seems to have become a

fact – coming from its initiators”14. This view was diamet-

rically opposed to that of the weekly O Semeador, run by

Fernando Costa, brother of Emílio Costa, who in his first

issue, in an article entitled “The monarchists and republi-

cans”, at one point stated that: “Since the establishment

of the Republic, many republicans see the workings of the

monarchists in the strikes and clamouring of the workers.

We are those who believe in the good wishes of the lovers

of the past to disrupt the life of the new regime as much

as possible, if this serves the workers. And it does not dis-

gust us to believe that for some movements, very few and

mainly in the province, such intervention has been effec-

tive. But we also believe, and here we differ from those

Republicans - that the vast majority of movements have

been free from intervention from reactionaries, despite

their wishes. This comes from ourselves who, we feel,

das autoridades, gerou em Portalegre um movimento de soli-

dariedade das associações de classe locais, que promoveram

uma manifestação junto ao edifício do Governo Civil, durante

a qual foram detidos oito trabalhadores, julgados a 16 de

Maio e libertados12.

Igualmente graves foram os incidentes registados em Bar-

bacena, em torno de uma disputa ancestral a propósito de ter-

renos que o povo considerava seus e que estavam na posse da

família Andrade13, durante os quais foi gravemente ferido o

Dr. Rui de Andrade, e que levaram à demissão do governador

civil, Dr. José de Andrade Sequeira.

Não fugindo à regra, os jornais republicanos foram unâni-

mes no ataque aos grevistas eborenses, muito em especial o

portalegrense Intransigente – não confundir com o seu homó-

nimo de Lisboa, de Machado Santos – dirigido pelo deputado

republicano Baltazar Teixeira, que se referia aos aconteci-

mentos nestes termos: «mas saibam-no todos, o que é certo,

o que nós sabemos de fonte seguríssima é que a grande maio-

ria do operariado não aderiu voluntariamente à greve, nem

simpatiza com o movimento, e só largou o trabalho constran-

gido pelas ameaças — algumas das quais, segundo parece se

tornaram já um facto — dos seus iniciadores»14. Visão dia-

metralmente oposta tinha o semanário O Semeador, dirigido

por Fernando Costa, irmão de Emilio Costa, que no seu pri-

meiro número, num artigo intitulado «Os monárquicos e

os republicanos», afirmava a certo ponto: «desde a Implan-

tação da República, que muitos republicanos vêem nas gre-

ves e clamações operárias, manejos de monárquicos. Nós

somos dos que acreditamos nos bons desejos dos amantes

do passado em perturbarem o mais possível a vida do novo

regime, servindo-se para isso dos trabalhadores. E não nos

repugna acreditar que nalguns movimentos, bem poucos e

na província sobretudo, a sua intervenção tenha sido efec-

Interior da Fábrica Robinson, destacando-se o edifício de escolha das rolhas.Inside the Robinson Factory, featuring the

building where the stoppers were selected.

Page 26: Conflitos sociais em Portalegre no tempo dos Robinson Social

24

know the workers’ movement better, which many Repub-

licans have spoken about ... since the proclamation of the

Republic (...)15”. In the same issue, under the title of “The

Worker’s Life”, there were comments on the events which

took place at Évora: “However, the government finds

itself hampered in inventing the evidence which they have

claimed to possess, and not even find ways to avoid their

charges. Some deputies, in parliament itself, have spo-

ken such calumny against the workers from Évora, who,

in protest against the treacheries imputed to them, should

have held a rally last Sunday, and invited those accusing

deputies to attend, in order to personally hear the state-

ments of those companions, who have shown their direct

and free action in the last strike16”.

Workers in Portalegre were not indifferent to the

events in Évora. Invited by Trade Unions of Cork Workers,

Footwear Manufacturers and Masons, a support meeting

for the striking workers was held in the Portalegre Work-

ers Cooperative on 20 January 1912, a meeting to support

workers on strike. Several workers spoke during the meet-

ing and mentioned the latest events. After this meeting,

“an extraordinary number of people” as reported by a news-

paper at that time17 went to the Civil Governor of the city,

where they expressed to the Governor their full support for

the strikers in Évora, requesting that this position be com-

municated to the government. It also sent a telegram.

An incident, however, disturbed the peaceful demon-

stration, with the arrest of eight workers accused of abuse

against the civil governor and incitement to violence. They

were: Gervásio Augusto Madeira, António Teixeira, Manuel

Esquetim, Carlos Pereira Ramos, Joaquim Maria Carra-

piço, António Soares, Francisco Cabecinha and Domingos

Batista. They would continue to be detained for 51 days

tiva. Mas acreditamos também, e aqui divergimos daque-

les republicanos — que a grande maioria dos movimentos

tem estado livre duma intervenção dos reaccionários, ape-

sar dos bons desejos destes. Isto provém de nós, conhecer-

mos, parece-nos, melhor o movimento operário, que muitos

republicanos que dele falam... desde a proclamação da Repú-

blica (...)15». No mesmo número, sob o título de «Vida Operá-

ria», comentavam-se os acontecimentos de Évora: «Todavia,

o governo vê-se atrapalhado em inventar as provas que dizia

possuir, e não encontra meios de sofismar sequer as suas

acusações. Alguns deputados, em pleno parlamento, lança-

ram sobre os trabalhadores de Évora aquela calúnia, os quais,

para protestar contra os aleives que lhes assacaram, deviam

ter realizado no domingo passado um comício, tendo convi-

dado para assistir, os deputados acusadores, afim de pesso-

almente ouvirem as afirmações terminantes daqueles com-

panheiros, mostrando a sua acção directa e livre na última

greve16».

Os trabalhadores de Portalegre não ficaram indiferentes

aos acontecimentos de Évora. Convocada pelas Associações

de Classe dos Corticeiros, Manufactores de Calçado e Alva-

néus, realizou-se na Cooperativa Operária Portalegrense, no

dia 20 de Janeiro de 1912, uma reunião de apoio aos trabalha-

dores em greve; nela usaram da palavra vários operários que

se referiram aos últimos acontecimentos. Finda a reunião,

«um número extraordinário de pessoas» no dizer de um jor-

nal da época17 dirigiu-se para o Governo Civil da cidade, onde

manifestaram ao governador o seu completo apoio aos grevis-

tas de Évora, solicitando que esta posição fosse comunicada

ao governo. Também foi enviado um telegrama.

Um incidente veio, no entanto, perturbar a manifesta-

ção pacífica, com a prisão de oito trabalhadores acusados de

insultos contra o governador civil e de incitamento à violên-

Page 27: Conflitos sociais em Portalegre no tempo dos Robinson Social

25

until their trial, which only took place on 16 May 1912.

At a meeting convened expressly for that purpose,

the Cork Workers Trade Union passed the following reso-

lution: “Provide financial help to the cork workers impris-

oned in the city jail, on the order of a liberal and toler-

ant ex-civil governor, as he took offence at some of the

words spoken during the workers’ protest demonstration

against the oppression of the civil governor of Évora, on

the occasion of the last strike; to promote a commemo-

rative session of the 1st of May18”. O Semeador mockingly

stated: “The end they intended to give the political pris-

oners of Portalegre is at present unknown. As is the lib-

eral spirit that is charging then and which has now turned

to the Afonsists, so easy it is to predict their future19”. The

weekly The Trade Unionist (O Sindicalista) published an

account from a Portalegre correspondent:

“The movement of last January showed how much

the Portuguese working class is capable of when con-

fronted with the danger that threatens working brothers,

since in view of the events at Évora, it recognises the jus-

tice and correctness of our comrades in their struggle with

monstrous damned capitalism and brutally massacred by

the hooves of the horses and the bullets of the rifles, yet

stood firm to make a fine energetic protest, proclaiming a

general strike, and ready to do what was necessary.

The rulers of today, forgetting the words of yesterday,

used undignified means to immobilise some of our comrades

who have shed more light on the working people, arresting

them at random, since what was needed was to arrest work-

ers who were speaking the truth, as they were not comforta-

ble with this. And how Portalegre could not forego the chance

to contribute to that famous line of criminals, to the tune of

cia. Foram eles: Gervásio Augusto Madeira, António Tei-

xeira, Manuel Esquetim, Carlos Pereira Ramos, Joaquim

Maria Carrapiço, António Soares, Francisco Cabecinha e

Domingos Batista. Iriam permanecer 51 dias detidos até

ao julgamento que só se efectuou a 16 de Maio de 1912.

Em reunião expressamente convocada para o efeito, a

Associação da Classe dos Corticeiros resolveu: «Socorrer

pecuniariamente os corticeiros que estão presos, na cadeia

desta cidade, a ordem de um ex-governador civil, liberal e

tolerante, por este se achar ofendido com algumas pala-

vras proferidas na manifestação operária de protesto con-

tra as prepotências do governador civil de Évora, pela oca-

sião da última greve; promover uma sessão comemorativa

do 1.º de Maio18». O Semeador ironizava: «Desconhece-se

por enquanto, o fim que tencionam dar aos presos políti-

cos de Portalegre. Como o espírito liberal que os proces-

sou se virou agora para os afonsistas fácil é profetizar-lhes

o futuro»19. O semanário O Sindicalista publicava uma cor-

respondência de Portalegre:

«O movimento de Janeiro último mostrou de quanto é

capaz a classe operária portuguesa ante o perigo que ame-

ace irmãos de trabalho, pois que em face dos acontecimen-

tos de Évora, toda ela, reconhecendo quanta justiça e razão

assistia aos nossos camaradas em luta com o monstro mal-

dito do capitalismo e massacrados barbaramente pelas

patas dos cavalos e pelas balas das carabinas, se levantou

num enérgico e belo protesto, proclamando a greve geral, e

prontos a ir onde fosse necessário.

Os governantes de hoje, esquecendo as palavras de

ontem, serviram-se de processos indignos para inutiliza-

rem alguns dos nossos companheiros que mais luz têm

derramado sobre o povo operário, prendendo a esmo, visto

Page 28: Conflitos sociais em Portalegre no tempo dos Robinson Social

26

eight comrades, from the following professions: three cork

workers, four shoemakers and a barber, who have been kept

in prison for twenty days, without knowing the fate intended

for them. It is necessary that Portuguese workers know that

it is not only in Lisbon and Évora where workers have been

arrested, because in Portalegre, despite it being a land where

men are almost all liberal and aware, also has its victims of

the same movement, and working brothers, it is appropri-

ate that this generous subscription is opened to relieve some

of the lot of our arrested colleagues and their families, who

have been sent to the prison in that area, where there are ter-

rible criminals, with a bail set at 200$000 réis, while those

who manufactures bombs and blow houses into the area

have had their bail set at 500$000 réis!

To the whole working class, and to the Sindicalista here

I leave my call for everyone to help equally and to show

that there is no distinction between us and that we are

egalitarian”20.

Finally, O Semeador provided some more information:

“They say it is on the 17th of the current month that

there will be the trial of the political prisoners in this city.

Through information received from a friend, it seems

there is some rigmarole in this process, which confirms

our suspicion of the loaded way in which the prisoners are

suffering, giving vent to a political and reactionary venge-

ance to the satisfaction of many reactionaries that abound

there and who can preach more freely and more safely in

success, than in the time of the monarchy, of the extermi-

nation of those who dare to mess with certain idols... This

is said since, contrary to what we had said, it was not the

former civil governor of this district who had these impris-

que o que era preciso era prender operários que dizem as ver-

dades, que a eles não convém. E como Portalegre não podia

passar sem dar um contingente para essa célebre fita de cri-

minosos, contribui com o bonito número de oito camaradas

de diversas classes a saber: três corticeiros, quatro sapateiros

e um barbeiro, que há vinte dias se conservam presos, sem

se saber qual será o destino que tencionam dar-lhes. É neces-

sário que os operários portugueses saibam que não é só em

Lisboa e em Évora que estão operários presos, porque Porta-

legre, apesar de ser uma terra onde quase todos os homens

são liberais e conscientes, também os tem que são vitimas do

mesmo movimento, e irmãos de trabalho, sendo conveniente

que essa generosa subscrição aberta para minorar um pouco a

sorte dos companheiros presos e das suas famílias, chegue até

à cadeia desta terra, aonde há criminosos terríveis, a quem se

arbitrou a fiança de 200$000 réis, enquanto a quem fabrica

bombas e faz ir casas pelo ar se lhes estabelece a fiança de

500$000 réis!

A toda a classe operária, e ao Sindicalista aqui deixo o

meu apelo para que a todos se socorra igualmente, mos-

trando assim que entre nós não existe distinção e que somos

igualitários»20.

Por fim, O Semeador dava mais algumas informações:

«Dizem que é no dia 17 do corrente o julgamento dos pre-

sos políticos desta cidade. Por informações de um amigo,

parece-nos existir, qualquer tramóia neste processo, o que

vem confirmar a nossa desconfiança sobre a parte carregada

que os presos sofrerão, para dar largas a uma vingança política

e em especial reaccionária para satisfação de muitos talassas

que por aí abundam a pregar mais francamente e com mais

segurança no êxito, do que no tempo da monarquia, o exter-

Vista geral da Fábrica Robinson a partir dos Covões.General view of the Robinson Factory from

Covões.

Page 29: Conflitos sociais em Portalegre no tempo dos Robinson Social

27

Page 30: Conflitos sociais em Portalegre no tempo dos Robinson Social

28

onments carried out at his pleasure and did not even select

the guilty parties, as his role was just that of reporting the

event which caused the respective inquiry.

Thus it is other elements, those encharged with partial-

ity and injustice that should be made note during the investi-

gations. Otherwise, say how you cannot be labelled a coach-

man of the rich, and dubbed a reactionary, and say what was

so noteworthy in the demonstration that led to them imme-

diately being seized and suspected of being employed there

to provoke rioting and endanger the demonstrators?

It is a dark affair, this distinction, but as we know

positively that it was not done, as well as other means of

investigation, by the direct interference of the former civil

governor, but rather the investigators who only reserved

their tolerance for those who knew their path, we have

no hesitation in applying the adage “by the finger ye shall

know the giant” to reach the necessary conclusions regard-

ing the idealism of certain spirits...”21.

The trial of the detainees was finally held on 17 May.

The Trial

The eight workers were accused of offences against

the actual Civil Governor, Dr. José de Andrade Sequeira,

a crime punishable by Article 181 of the Criminal Code.

Dr. António de Sampaio was asked to be excused from

being named the official defender of the accused, and was

replaced by Dr. Almeida e Sousa. After a preliminary meet-

ing with the accused, Dr. Almeida e Sousa presented a peti-

tion to the court as recorded in the minutes (see antho-

logy, text no. 33) 22.

After hearing the Public Prosecutor, the judge agreed

and granted the petition. It was necessary, however, for

mínio de quem se atrever a bulir com certos ídolos... Vem isto

a propósito de que, ao contrário do que tínhamos dito, não

foi o ex-governador civil deste distrito quem mandou execu-

tar essas prisões a seu talante e nem fez selecção de culpados,

tendo somente participado a ocorrência para provocar a res-

pectiva devassa.

Portanto são outros elementos, os responsáveis pela par-

cialidade e injustiça que se notam no fruto das investigações.

Senão, digam como se deve encarar o facto de não ser pronun-

ciado um cocheiro de gente rica, alcunhada esta de talassa,

o qual tão saliente se mostrou na manifestação, que foi logo

tomado como suspeito de estar ali assalariado para provocar

tumultos e comprometer manifestantes?

Era caso escuro, esta distinção, mas como positivamente

já sabemos que ela não obedeceu, assim como outras varian-

tes de investigação, à interferência directa do ex-governador

civil, mas sim aos investigadores que só reservaram a tolerân-

cia para quem soube andar, não duvidamos em aplicar o adá-

gio «pelo dedo se conhece o gigante» para tirarmos os devidos

corolários do idealismo de certos espíritos...»21.

A 17 de Maio realizava-se, finalmente, o julgamento dos

detidos.

O Julgamento

Os oito trabalhadores eram acusados de ofensas ao então

Governador Civil, Dr. José de Andrade Sequeira, crime esse

punido pelo artigo 181° do Código Penal. O Dr. António de

Sampaio pediu escusa de ser nomeado defensor oficial dos

réus, pelo que foi substituído pelo Dr. Almeida e Sousa.

Depois de uma reunião prévia com os réus, o Dr. Almeida e

Sousa apresentou no tribunal um requerimento que foi exa-

rado em acta22 (ver antologia, texto n.º 33).

Page 31: Conflitos sociais em Portalegre no tempo dos Robinson Social

29

the defendants to make bail, otherwise they would have

to have gone back to prison.

Dr. Almeida e Sousa offered to stand surety, and

workers were freed.

The trial elicited various reactions.

The correspondent of O Sindicalista, signing his arti-

cles with the initials VT, commented:

“The day of May 16 was anxiously waited for, when

eight of our comrades were to be judged on crimes

unknown to them and of which they had been accused,

of offences they had not committed, but the charges for

which had been brought; using as witnesses the police,

chauffeurs, doctors, administrators and freethinkers it was

charged that the defendants had abused the authorities; on

our part, while not denying that they had been insulted, we

affirmed that it had not been the prisoners that had done

this, as some of these had confirmed, but that our comrades

had limited themselves to strongly protesting against the

oppression that our comrades from Évora had been victims

of. But as it is necessary to hurt the most resolute, crimes

and accusations were easily forged.

After 51 days of confinement in actual cages, like dan-

gerous beasts, they were taken to court. Our comrades,

accompanied by bailiffs, serenely crossed the city, smiling

out on a compact crowd where we saw tears in many eyes.

Open the hearing, the lawyer Dr. Almeida e Souza made a

magnificent defence, finishing off by ensuring bail for the

prisoners at 200$000 réis for each of them, followed by the

execution of the decree of amnesty, which produced a fine

impression in all.

Having finally regained your freedom, we salute you

and all our comrades jailed for the same crimes!”23.

Ouvido o Agente do Ministério Público, o Juiz anuiu e defe-

riu o requerimento. Era necessário, porém, que os arguidos

pagassem a fiança, caso contrário teriam de recolher à cadeia.

O Dr. Almeida e Sousa ofereceu-se para ficar por fiador,

tendo os trabalhadores saído em liberdade.

O julgamento suscitou diversas reacções.

O correspondente de O Sindicalista, que assinava com as

iniciais VT, comentava:

«Esperava-se ansiosamente aqui pelo dia 16 de Maio em

que deviam ser julgados oito camaradas nossos acusados de

crimes para eles desconhecidos, de delitos que não comete-

ram, a acusação feita; tendo como testemunhas policiais,

chauffeurs, médicos, administradores e livres-pensadores era,

de que os arguidos tinham insultado a autoridade; pois nós,

não negando que a mesma fosse insultada, afirmamos que

não foram os presos, como o confirmaram alguns. Estes nos-

sos camaradas limitaram-se a protestar energicamente contra

as prepotências de que tinham sido vítimas os nossos cama-

radas de Évora. Mas como é necessário ferir os mais decidi-

dos, forjam-se facilmente as acusações e os crimes.

Depois de 51 dias de reclusão em verdadeiras jaulas como se

fossem feras perigosas, foram conduzidos ao tribunal. Os nos-

sos camaradas acompanhados de oficiais de diligências, atra-

vessaram serenamente a cidade, sorrindo, entre uma com-

pacta multidão onde vimos muitos olhos marejados de lágri-

mas. Aberta a audiência, o advogado dr. Almeida e Souza fez

uma magnífica defesa, terminando ele próprio por afiançar os

presos em 200$000 réis cada um, até à execução do decreto de

amnistia, o que produziu em todos uma bela impressão.

Tendo recuperado finalmente a liberdade, nós os sauda-

mos assim como a todos os camaradas encarcerados pelos

mesmos crimes!»23.

Page 32: Conflitos sociais em Portalegre no tempo dos Robinson Social

30

Page 33: Conflitos sociais em Portalegre no tempo dos Robinson Social

31

Chronological list of social conflicts in Portalegre

between 1893 and 1920

1893 | 17 to 19 June

Involving workers from the Portalegre Wool Factory

(Fábrica da Companhia de Lanifícios de Portalegre)

Work was suspended with the aim of increasing wages,

which was achieved.

1899 | 18 April

Workers from the Robinson cork factory.

To release a worker arrested during the action that

sought to prevent raw material being sent to Spain,

when the factory was only operational for three days

a week due to a lack of this. The movement was not

directed against the employer, who even played

a conciliatory role. The worker was released.

1901 | 9 to 14 July (?)

Workers from the George Wheelhouse Robinson

Wool Factory (Fábrica de Lanifícios de George

Wheelhouse Robinson).

Stoppage demanding a salary increase or a guaranteed

job at the company or at the cork factory. The employer

refused. It is unknown how the conflict ended.

1904 | 17 December. Followed by the lock-out

until the 20th of the same month.

Workers from the Robinson cork factory.

Against the dismissal of a worker and the transfer

of an employee who was beaten by the strikers.

The employer fired 11 workers on charges of being

“ringleaders”, who were later readmitted.

Relação cronológica dos conflitos sociais

em Portalegre entre 1893 e 1920

1893 | 17 a 19 de Junho

Envolvendo operários da Fábrica da Companhia

de Lanifícios de Portalegre.

A suspensão de trabalho tinha como objectivo

o aumento salarial, o que foi conseguido.

1899 | 18 de Abril

Operários da fábrica de cortiça Robinson.

Pela libertação de um operário preso durante a acção

que visava impedir a saída para Espanha de matéria-prima,

quando a fábrica apenas laborava, por falta da mesma,

três dias por semana. O movimento não foi dirigido

contra a entidade patronal, que até teve um papel

conciliador. O operário foi libertado.

1901 | 9 a 14 de Julho (?)

Operários da Fábrica de Lanifícios de George

Wheelhouse Robinson.

Paralisação reivindicando aumento salarial ou trabalho

garantido naquele empresa ou na fábrica de cortiça. A entidade

patronal recusou. Desconhece-se como terminou o conflito.

1904 | 17 de Dezembro. Seguida de lock-out

até 20 do mesmo mês.

Operários da Fábrica de cortiça Robinson.

Contra o despedimento de um operário e pela transferência

de um empregado, que foi espancado pelos grevistas.

A entidade patronal despediu 11 trabalhadores, acusados

de «cabeças de motim», que foram posteriormente

readmitidos.

Trabalhadores de uma fábrica de azulejos de Portalegre (c. 1920).Workers from a Portalegre Tile Factory

(c. 1920).

Page 34: Conflitos sociais em Portalegre no tempo dos Robinson Social

32

1911 | 9 de Janeiro

Chamuscadores da Chacina de Joana Serra.

Paralisação envolvendo 12 trabalhadores, em solidariedade

com um companheiro doente, que a entidade patronal

despedira. Intervenção da polícia que dispersou

os grevistas. As autoridades comprometeram-se

a assegurar a subsistência do trabalhador em causa.

1911 | 25 de Julho, seguida de lock-out

até 27 do mesmo mês.

Operários da fábrica de cortiça Robinson.

Contra o despedimento de duas operárias, uma das quais

dirigente sindical. Formaram-se piquetes de greve

e uma comissão negociou com a entidade patronal.

Foram presos e depois expulsos da cidade dois operários

corticeiros de Estremoz que vendiam rolhas, acusados

de incitamento à violência.

1912 | 29 de Janeiro

Diversas classes. Em solidariedade com os trabalhadores

rurais de Évora.

1914 | 30 de Março

Operários da fábrica de cortiça de Abílio Baptista

Pela manutenção dos salários.

1920 | Setembro

Operários da fábrica de lanifícios de Oliveira Meca

(antiga Fábrica Pequena).

Por aumento salarial.

1911 | 9 January

Workers at the Joana Serra Slaughterhouse.

Stoppage involving 12 workers, in solidarity with a fellow

worker, who had been fired by the employer. Police

intervention to disperse the strikers. The authorities

undertook to ensure subsistence for the worker.

1911 | 25 July, followed by the lock-out

until the 27th of the same month.

Workers from the Robinson cork factory.

Against the dismissal of two workers, one of whom

was a trade union leader. Picket lines were formed and

a commission negotiated with the employer. Two cork

workers from Estremoz, who were selling cork stoppers,

were arrested and then expelled from the city, accused

of inciting violence.

1912 | 29 January

Various sectors. In solidarity with the rural workers

of Évora.

1914 | 30 March

Workers from the Abílio Baptista cork factory

To keep their salaries.

1920 | September

Factory workers from the Oliveira Meca Wool Factory

(Fábrica de laníficios de Oliveira Meca), formerly the

Fábrica Pequena).

Over a pay increase.

Page 35: Conflitos sociais em Portalegre no tempo dos Robinson Social

33

N O T A S

1 Diário das Sessões da Câmara dos Senhores Deputados, sessão de 27 de Janeiro de

1892, p. 13.2 Representação dirigida à câmara dos Senhores Deputados da Nação Portuguesa pelos

Representantes de todas as Fábricas de Portalegre. Portalegre: Tip. Portalegrense,

1880.3 GOODOLPHIM, Costa – A Associação. História e Desenvolvimento das Associações

portuguesas. Lisboa: Tipografia Universal, 1876, p. 72.4 Sobre este tema veja-se o trabalho de PISTOLA, Renato – “A Banda e a Cidade.

A História da Sociedade Musical Euterpe da sua Fundação à actualidade”.

Publicações da Fundação Robinson, n.º 17 (Novos Habitantes. Sociedade Musical

Euterpe). Portalegre: Fundação Robinson, no prelo.5 CONDE, José Martins dos Santos – O Teatro em Portalegre. Portalegre: ed. do

autor, 1989.6 VENTURA, António – Bombeiros Voluntários de Portalegre - 100 Anos de História.

Portalegre: Associação de Bombeiros Voluntários de Portalegre, 1998.7 VENTURA, António – “A Fundação da Associação Comercial e Industrial de

Portalegre”. A Cidade, Revista Cultural de Portalegre. Portalegre: Atelier de Artes

Plásticas, Junho de 1982, I Série, n.º 5, pp. 36 e 37.8 VENTURA, António – Os Corticeiros de Portalegre. Actas Sindicais (1910 - 1920).

Lisboa: Instituto de Ciências Sociais, 1987.9 VENTURA, António – O Sindicalismo no Alentejo. A tournée de propaganda de 1912.

Lisboa: Seara Nova, 1977. pp. 85 e 86. 10 VENTURA, António – Subsídios para a História do Movimento Sindical Rural no Alto

Alentejo (1910 – 1914). Lisboa: Seara Nova, 1976, p. 159.11 CARVALHO, António José Torres de – Notas para a História do Jornalismo em

Elvas. Elvas: Tipografia Progresso, 1932, p. 5., folheto n.º 9.12 VENTURA, António – Subsídios para a História do Sindicalismo rural no Alto

Alentejo (1910 - 1914). Lisboa: Seara Nova, 1976, pp. 17 a 38.13 BARROSO, Joaquim Dias – Os Motins de Barbacena. Elvas: Tipografia Progresso,

189.14 Intransigente, n.º 316 de 21 de Janeiro de 1912.15 O Semeador, n.º1, de 16 de Março de 1912.16 Idem.17 Ver antologia, texto n.º 31: O Distrito de Portalegre, n.º 1939, de 31 de Janeiro de

1912.18 O Semeador, n.º 2, de 24 de Março de 1912.19 O Semeador, n.º 7, de 27 de Abril de 1912.20 O Sindicalista, n.º 73, de 21 de Abril de 1912.21 O Semeador, n.º 8, de 4 de Maio de 1912.22 O Distrito de Portalegre, n.º 1970, de 19 de Maio de 1912.23 O Sindicalista, n.º 78, de 26 de Maio de 1912.

N O T E S

1 Diário das Sessões da Câmara dos Senhores Deputados, session on 27 January

1892, p. 13.

2 Representação dirigida à câmara dos Senhores Deputados da Nação Portuguesa

pelos Representantes de todas as Fábricas de Portalegre. Portalegre: Tip.

Portalegrense, 1880.

3 GOODOLPHIM, Costa – A Associação. História e Desenvolvimento das

Associações portuguesas. Lisbon: Tipografia Universal, 1876, p. 72.

4 On this matter see the work of PISTOLA, Renato – “A Banda e a Cidade.

A História da Sociedade Musical Euterpe da sua Fundação à actualidade”.

Publicações da Fundação Robinson, No. 17 (Novos Habitantes. Sociedade

Musical Euterpe). Portalegre: Fundação Robinson, in press.

5 CONDE, José Martins dos Santos – O Teatro em Portalegre. Portalegre: ed.

by the author, 1989.

6 VENTURA, António – Bombeiros Voluntários de Portalegre - 100 Anos de

História. Portalegre: Associação de Bombeiros Voluntários de Portalegre,

1998.

7 VENTURA, António – “A Fundação da Associação Comercial e Industrial

de Portalegre”. A Cidade, Revista Cultural de Portalegre. Portalegre: Atelier de

Artes Plásticas, June 1982, I Série, nº 5, pp. 36 and 37.

8 VENTURA, António – Os Corticeiros de Portalegre. Actas Sindicais (1910 -

1920). Lisbon: Instituto de Ciências Sociais, 1987.

9 VENTURA, António – O Sindicalismo no Alentejo. A tournée de propaganda de

1912. Lisbon: Seara Nova, 1977. pp. 85 and 86.

10 VENTURA, António – Subsídios para a História do Movimento Sindical Rural

no Alto Alentejo (1910 – 1914). Lisbon: Seara Nova, 1976, p. 159.

11 CARVALHO, António José Torres de – Notas para a História do Jornalismo

em Elvas. Elvas: Tipografia Progresso, 1932, p. 5., folheto nº 9.

12 VENTURA, António – Subsídios para a História do Sindicalismo rural no Alto

Alentejo (1910 - 1914). Lisbon: Seara Nova, 1976, pp. 17 - 38.

13 BARROSO, Joaquim Dias – Os Motins de Barbacena. Elvas: Tipografia

Progresso, 189.

14 Intransigente, n.º 316 of 21 January 1912.

15 O Semeador, No. 1, of 16 March 1912.

16 Idem.

17 See anthology, texto No. 31: O Distrito de Portalegre, No. 1939, 31 January

1912.

18 O Semeador, No. 2, 24 March 1912.

19 O Semeador, No. 7, 27 April 1912.

20 O Sindicalista, No. 73, 21 April 1912.

21 O Semeador, No. 8, 4 May 1912.

22 O Distrito de Portalegre, No. 1970, 19 May 1912.

23 O Sindicalista, No. 78, 26 May 1912.

Page 36: Conflitos sociais em Portalegre no tempo dos Robinson Social

34

Antologia: os conflitos sociais de Portalegre na imprensa (1893-1920) Anthology: social conflicts of Portalegre in the press (1893-1920)

Publicações da Fundação Robinson 23, 2012, p. 34 -59, ISSN 1646 -7116

Page 37: Conflitos sociais em Portalegre no tempo dos Robinson Social

35

N.º 1

Greve na Companhia da Fábrica Nacional

de Lanifícios de Portalegre (1893)

Greve pacificaFoi attendida a gréve pacifica dos operarios da Companhia de

Lanifícios de Portalegre. Já esta semana receberam o augmento

requerido. É digna de todo o elogio a digna direcção pela forma

honrosa com que resolveram a justa pretenção dos operarios.

Comércio do Alentejo, n.º 68, 7 de Julho de 1893

N.º 2

Greve na Companhia da Fábrica Nacional

de Lanifícios de Portalegre (1893)

Grève pacificaNa fabrica Pequena de lanifícios houve, ao que nos dizem, uma

tentativa de grève entre os operarios, parecendo obedecerem a

um plano, a que fossem incitados.

Foram todos, ou quasi todos pedir augmento de salario ao sr.

commendador Duro, o qual, nos termos os mais prudentes,

lhes prometteu apresentar a sua reclamação ao sr. director de

mez, mas fazendo-lhes vêr as poucas probabilidades do seu

bom exito n’este momento em que a companhia, a braços com

a demorada crise que tem assoberbado todas as classes, todas

as industrias, deminuiu os ordenados a todos os empregados

superiores.

É do nosso dever aconselhar os operarios a que saibam mode-

rar as suas aspirações, embora justas em absoluto, e aguardar a

sua realisação para occasião mais opportuna e conveniente.

O Distrito de Portalegre, n.º 483, 21 de Junho de 1893

N.º 3

Pedido de aumento salarial dos operários

da Companhia de Lanifícios de Portalegre (1893)

Alguns operarios da fabrica da Companhia de Lanificios de Porta-

legre, vulgo Fabrica Pequena pediram augmento de salario. Não

ha esperança que os operarios sejam ouvidos. A questão está

pendente de resolução da direcção.

Comércio do Alentejo, n.º 67, 25 de Junho de 1893

N.º 4

Greve na Fábrica Robinson (1898)

A questão da cortiçaAntes de quaesquer consideração, que o caso suggere o que pela

expansão de certas doutrinas ahi em fermentação preocupam

todos os espiritos sensatos, exporemos os factos taes quaes

nos foram transmittidos por pessoas de toda a imparcialidade

e confiança.

Um proprietario, natural d’esta cidade, mas rezidente em Evo-

ra, commetteu a venda da sua cortiça ao sr. W. Robinson, e, não

tendo chegado a accordo sobre o preço, vendeu-a a um indus-

trial hespanhol. Este pretendia transportal-a para a sua fabrica

em Albuquerque, e os operarios, ao terem d’isso conhecimento,

reuniram-se em numero approximado de cem, nas immedia-

ções d’esta cidade, com o fim de obstar á sahida da cortiça.

O digno commissario de policia dirigiu-se logo com alguns

guardas ao local, onde os operarios se achavam reunidos, ten-

tou persuadil-os da illegalidade do seu procedimento, e, exgo-

tados todos os meios suasorios, deteve um operario, que se lhe

dirigira por forma inconveniente, e conduziu-o á esquadra.

No dia seguinte, pela manhã, á hora da abertura da fabrica, to-

dos os operarios reunidos ás portas do estabelecimento accor-

daram em não entrar para as officinas, sem que o seu compa-

nheiro de trabalho, preso no dia anterior, fosse solto; e, como

Page 38: Conflitos sociais em Portalegre no tempo dos Robinson Social

36

este movimento ameaçasse degenerar em protesto hostil ao

acto da auctoridade, o sr. commissario pediu a intervenção da

força armada para dispersar a multidão d’operarios.

N’isto interveio o sr. W. Robinson, que, vendo baldados os seus

esforços para que os operarios entrassem para as officinas, che-

gou a ameaçal-os, segundo nos informaram, mas não podendo

nós garantir esta informação, de que fecharia a fabrica, se não

lhe obedecessem.

Então dirigiu se o sr. Robinson ao sr. Commissario, que, a ins-

tancias d’aquelle, declarou que só poria em liberdade o operario

detido, se este fizesse certas declarações perante todo o opera-

riado e se o sr. Robinson se responsabilisasse pela ordem.

Por esta forma terminou toda a questão.

Pela nossa posição, na imprensa, não podemos nem devemos

deixar de fazer algumas considerações ácerca d’este aconteci-

mento, embora ellas desagradem á classe operaria, porque pre-

ferimos incorrer no seu desagrado a occultar-lhe a verdade,

falseando a nossa missão jornalística.

As leis do paiz permittem que qualquer proprietario ou indus-

trial venda para fóra do paiz a sua cortiça em bruto.

Fazem-no os srs. W. Robinson, Bucknall, Esperança, fal-o quem

quer.

Portanto o proprietário, que vendeu a cortiça em questão a um

hespanhol, praticou um acto permittido pelas leis do paiz; e o

operarios, que a isso se queriam oppor, praticavam um acto

não só contrario á lei, mas contrario á liberdade.

Liberaes antes de tudo, contrarios a todos os privilegios, have-

mos de estar sempre ao lado do homem ou da classe que seja

victima do despotismo, quer essa classe seja a dos proletarios,

porque ante a liberdade todas as classes são eguaes, nenhuma

tem mais direitos que outra, todas tem obrigações reciprocas a

cumprir.

Por muito respeitaveis que sejam os direitos da classe operaria,

não o são menos os dos proprietarios; e, se aquella quer que

respeitem os seus, deve respeitar os dos outros. Só assim have-

rá ordem, haverá progresso, haverá liberdade.

Julga se offendida a classe corticeira, porque a lei permitte a

exportação da cortiça em bruto?

Tambem ao nosso coração de portuguez, dóe e dóe profunda-

mente que nós não saibamos explorar as nossas riquezas natu-

raes. Tambem a nós nos dóe que os nossos governos não te-

nham sabido proteger as nossas industrias, que o mesmo seria

proteger a classe operaria, defendendo-a da concorrencia dos

industriaes estrangeiros com pesadas contribuições sobre a ex-

portação da cortiça em bruto.

Mas este mal, que preza não só sobre a classe corticeira, mas

sobre todo o paiz, não vem do proprietario, vem da lei, vem da

falta de bons e favoraveis tratados de commercio com as nações

importadoras das nossas melhores e mais ricas industrias – a

cortiça e o vinho.

Queixe se por tanto o operario da lei, da falta de bons tratados

de commercio, proteste por todas as fórmas legaes junto dos

governos; mas d’ahi a insurgir-se contra o proprietario portu-

guez, que ao abrigo d’essa lei vende a sua cortiça para fóra do

reino, fazendo o que fazem todos, até os proprios estrangeiros,

é o que não podemos applaudir, mas devemos até censurar

para bem da ordem e do progresso, para bem do nome do ope-

rario portalegrense.

Contra a permissão da exportação da cortiça em bruto protesta

n’esta hora a classe corticeira do paiz, representada n’um comi-

cio havido ha pouco em Lisboa. Contra tal permissão protesta-

mos nós também, ao lado d’essa classe, porque entendemos,

como ella, que é justo, que é legitimo, que é patriota esse pro-

testo.

Não podia, nem devia a classe operaria estranhar que o sr. com-

missario procedesse, como procedeu. Elle não fez mais do que

cumprir em dever, o dever que tem a auctoridade de garantir a

todo o cidadão o exercicio de um direito, como era o que tinha

o proprietario de vender a cortiça a quem e como quizesse.

Não estava na alçada da auctoridade revogar uma lei, um con-

tacto feito entre Hespanha e Portugal, e por tanto não era d’ella

que o operario devia exigir a satisfação da sua justa aspiração.

Page 39: Conflitos sociais em Portalegre no tempo dos Robinson Social

37

Tem a classe operaria dado sobejas provas de muita cordura, de

muito tino, a contrastar com a de outros pontos do paiz. Mante-

nha se pois n’essa linha de conducta, que assim ha-de ter sempre

a sympathia, o respeito e consideração de todas as outras classes.

M.

O Distrito de Portalegre, n.º 765, 20 de Abril de 1898

N.º 5

Greve na Fábrica Robinson (1898)

Questão corticeira. NarrativaNo dia 12 do corrente pela 1 hora da tarde cerca de cem opera-

rios corticeiros foram representar ao sr. governador civil d’este

districto que os seus camaradas raspadores iam ficar sem tra-

balho, porque nas fabricas de cortiça da cidade faltava materia

prima que deva soffrer as operações profissionaes d’estes ope-

rarios; mas que esta crise imminente de trabalho, dos seus ca-

maradas, se conjurava se se conseguisse que a importante

quantidade de cortiça comprada aqui aos srs. Barahonas pelo

industrial corticeiro de Albuquerque, D. Julião Olhoa, fosse co-

sida e raspada pelos operarios raspadores de Portalegre, no que

havia não só remedio á miseria prevista d’estes operarios, mas

beneficio ao comprador, pois que a cortiça cosida e raspada era

alliviada d’uma parte absolutamente inutil e muito redusido o

seu peso, sendo mais facil o transporte para Hespanha e ahi

menos pesado o direito de entrada, se houvesse de ser pago.

Pediram os operarios ao sr. governador civil que se interessasse

s. ex.ª pelo conseguimento do meio que expunham de conjurar

a crise proxima dos seus companheiros de trabalho. S. ex.ª pro-

metteu interessar-se por esta causa.

No dia 14, partiu para Albuquerque um operario raspador, de-

legado dos seus camaradas, para pedir a D. Julião Olhoa que

permitisse que a cortiça que tinha comprado em Portalegre

fosse cosida e raspada n’esta cidade, fundamentando o pedido

nas razões já expostas ao sr. governador civil de Portalegre.

No dia 16, foi uma commissão de operarios corticeiros pedir ao

guarda da cortiça comprada por D. Julião Olhoa, que não dei-

xasse sahir cortiça alguma para Hespanha sem nova ordem de

D. Julião, porque se esperava que este accedesse ao pedido que

lhe dirigiram os raspadores das fabricas de cortiça de Portale-

gre por intermedio de um seu delegado.

No dia 17 regressou a Portalegre o delegado dos raspadores

com a noticia de não ter encontrado D. Julião Olhoa que estava

ausente de Albuquerque, mas que o encarregado da fabrica

d’este industrial lhe promettera que dentro de oito dias chega-

ria a Portalegre a resposta de D. Julião ao pedido dos operarios

corticeiros d’este [sic] cidade.

Á tarde espalhou-se a noticia da chegada de carros hespanhoes

para conduzirem a cortiça a Albuquerque. Correram-lhe ao en-

contro os operarios, pedem aos carreiros que não levem a cor-

tiça, obrigando-se o fabricante João Baptista Rainho a pagar-

lhes o transporte da cortiça. Tambem o sr. Rainho offereceu

gratuitamente as caldeiras e officinas da sua fabrica para ahi

ser cosida e raspada a cortiça antes de conduzida para Hespa-

nha, como era desejo dos operarios corticeiros de Portalegre.

Os carreiros declararam nada decidir sem ordem de D. Julião a

quem iam telegraphar o occorrido. Telegrapharam. Cerca das

9 horas da noite pediram auxilio á policia para lhes garantir o

carregamento e sahida da cortiça que vinham buscar.

Esgotados os meios suasorios para conseguirem o deferimento

da sua pretensão, dispunham-se os operarios a uma resistencia

ostensiva á sahida da cortiça antes de cosida e raspada.

Em presença da policia, reclamada pelos carreiros hespanhoes

os operarios protestaram em nome da miseria proxima dos

seus camaradas raspadores contra a sahida da cortiça em bru-

to, crua, e queriam saber dos carreiros se tiveram resposta ao

telegramma e que resposta veio, se tinha vindo.

A policia intimou os operarios a dispersarem. Protestaram elles

de novo contra a sahida da cortiça. A policia não se conformou

com a forma do protesto e prendeu o operario Joaquim Antó-

nio Carvalho, que só no dia seguinte pôde explicar as suas pala-

Page 40: Conflitos sociais em Portalegre no tempo dos Robinson Social

38

vras; depois de uma noite passada na policia, dormindo n’uma

maca por não haver outra cama.

Por causa d’estes acontecimentos a auctoridade officiou ao sr.

commandante militar pedindo-lhe que tivesse de prevenção

uma força de cincoenta praças.

No dia 18 de manhã, os operarios de ambos os sexos da fabrica

de rolhas do sr. George W. Robinson, sabendo que o operario

Carvalho ainda estava preso, declararam que não trabalhavam

sem ser posto em liberdade o seu companheiro.

Em vista d’esta attitude dos operarios, foi reclamado pela auc-

toridade o auxilio da força militar que sahiu do quartel, sendo

recebida com vivas pelos operarios.

Avisado do occorrido o sr. George W. Robinson correu este á

sua fabrica de rolhas, e informando-se da causa da attitude dos

operarios, entrou immediatamente em conferencia com as auc-

toridades, afim de pôr-se termo ao conflicto de forma pacifica

e digna de todos que n’elle estavam envolvidos.

D’estas conferencias resultou a explicação das palavras que o

Carvalho proferiu quando foi preso e do protesto que os opera-

rios formularam pela sahida da cortiça. Esta explicação resu-

miu-se na affirmação das razões do protesto que deixamos re-

ferido.

Á vista d’esta explicação, não havendo motivo para manter pre-

so o Carvalho foi este posto em liberdade. Os operarios entra-

ram logo nas officinas, e restabeleceu-se o socego publico.

Á tarde os carros hespanhoes seguiram para Albuquerque sem

impedimento, carregados de cortiça.

O sr. George W. Robinson interessando-se mais uma vez pelos

operarios corticeiros conseguiu no dia 20 que o resto da cortiça

comprada aqui por D. Julião Olhoa e ainda não transportada

para Hespanha seja cosida e raspada na sua fabrica, de Portale-

gre, antes de ser conduzida a Albuquerque, como se pretendia.

Ficaram assim satisfeitos os operarios cuja pretensão, encami-

nhada do principio com são criterio, não daria logar aos acon-

tecimentos narrados.

O Distrito de Portalegre, n.º 765, 20 de Abril de 1898

N.º 6

Greve na Fábrica Robinson (1898)

Por causa da cortiçaA falta de protecção efficaz ás nossas industrias e de vigilancia

ao trabalho manual, teem por vezes dado origem a conflictos

muito serios e de graves consequencias.

É aos governos que impende curar com a maxima attenção des-

te assumpto, promulgando leis não de repressão e de força,

mas leis que beneficiem o operariado e o proprietario, leis que

por consequencia evitem no todo aquelles conflictos, concor-

rendo desta forma para a ordem publica e para o desenvolvi-

mento e aperfeiçoamento das industrias nacionaes.

Não peçamos ao estrangeiro o que em abundancia temos em

casa.

Vem isto a propósito d’esse pequeno movimento dos operarios

da fabrica do sr. W. Robinson, na 3ª feira ultima.

Narremos singelamente os factos, taes como elles nos foram

contados, visto que não fomos testemunhas presenciaes.

Os operarios tiveram conhecimento da venda de cortiça feita

por um rico proprietario desta cidade, mas residente em Evora,

ao industrial hespanhol sr. Julião Olhoa, de Albuquerque e re-

solveram manifestar-se conta a sahida da cortiça por isso que

era trabalho que lhes fugia, e salarios que deixavam de ganhar.

N’este intuito e reconhecendo a legalidade do contracto come-

çaram por dirigir uma carta ao sr. Olhoa, em que lhe pediam

que a cortiça antes de sahir do reino fosse cosida e raspada,

carta que um operario levou pessoalmente a Albuquerque, indo

no domingo uma commissão ao sitio dos Telheiros pedir ao

guarda da cortiça que não deixasse carregar esta sem que viesse

a resposta d’Albuquerque.

Na 2ª feira de manhã chegou a resposta. O sr. Olhoa, por moti-

vos que allegava, não podia aceder ao pedido.

Os operarios então considerando que sendo a cortiça cosida e

raspada em Portalegre era um beneficio para elles e também

para o dono della, por isso que diminuía consideravelmente de

Page 41: Conflitos sociais em Portalegre no tempo dos Robinson Social

39

pezo, tornando a conducção mais barato, deliberaram esperar

ao fundo da rua d’Elvas os carros que o sr. Olhoa mandasse,

impedindo que elles levassem a cortiça, não sahindo d’este pro-

posito senão em presença da força.

Queriam os operarios chamar com esta sua attitude a attenção

das auctoridades e do governo para o facto da exportação da

cortiça em bruto, tão contraria á industria corticeira a aos inte-

resses do operariado.

Conseguiram o seu fim, pois que lograram tornar conhecida a

sua intenção.

Ás 4 horas da tarde de 2ª feira chegaram 8 carreiros hespa-

nhoes.

A commissão informou-os do que havia, pelo que um d’elles

dirigiu-se ao telegrapho a participar o facto ao sr. Olhoa.

O operario Carvalho avisou em seguida os seus companheiros

que estavam na fabrica e na festa da Senhora da Penha para

estarem ao fundo da rua d’Elvas ás 6 horas da tarde.

Dois carreiros ficaram aguardando a resposta ao telegramma e

os demais seguiram para os Telheiros, a fim de darem descanço

ás parelhas.

Como a resposta se demorasse resolveram reunir-se ás 8 na So-

ciedade Operaria, o que fizeram.

Seriam 8 e meia quando foram avisados de que os dois hespa-

nhoes se haviam retirado para os Telheiros acompanhados de

policia.

Suppondo ter já chegado a resposta, dirigiram-se para a estra-

da de Sant’Anna vinte e tantos operarios a averiguar do que se

passava.

O sr. commissario, seguido de 6 guardas, não os deixou conti-

nuar o seu caminho, intimando-os a retroceder e a dispersar.

Foi então que o operario Carvalho disse: «somos vencidos pela

força; protesto contra isto» = querendo com estas palavras sig-

nificar que protestava em nome de todos contra sahida da cor-

tiça para o reino visinho. A phrase, porem, parecia ser dirigida

ao sr. commissario, pelo que esta auctoridade, para se fazer res-

peitar, deu voz de prisão ao operario Carvalho, que foi conduzi-

do á esquadra onde esteve até ás 5 horas da manhã, hora a que

foi removido para a cadeia.

Effectuada a prisão, mandaram os operarios uma commissão

ao sr. commissario pedindo a soltura do seu companheiro, que

segundo diziam, nenhuma intenção tivera em desrespeital-o e

offendel-o.

Foi nesta occasião que sahiu do quartel uma força de capitão, o

que sendo visto pelos operarios, estes levantaram vivas ao

exercito e ao regimento 22, apparecendo quasi em seguida o

sympathico e opulento industrial W. Robinson, que informan-

do-se do que havia e de qual tinha sido a intenção do operario

Carvalho ao fazer o seu protesto, prometteu envidar desde logo

todos os seus esforços para conseguir a sua liberdade.

O operario explicou a sua phrase e sahiu da cadeia ás 9 e meia.

Tout est bien qui finit bien.

- O sr. Robinson com a benefica actividade e com zelo com que

sempre tem tratado dos interesses dos seus operarios conse-

guiu que o resto da cortiça fosse aqui cosida e raspada, dando

elle em Hespanha egual quantidade para não prejudicar tam-

bém os interesses dos operarios d’Albuquerque.

- No domingo ás 3 horas da tarde no jardim da Sociedade ope-

raria reunem os corticeiros para assentarem nas bases d’uma

associação de classe, a exemplo de tantas outras que se acham

constituidas no paiz.

Pertencendo a um partido conservador, limitamo-nos a lamen-

tar os factos ocorridos, desejando sinceramente que a excita-

ção de paixões ceda o logar á acalmação sempre necessaria em

assumptos d’esta indole.

Esperamos que o digno Comissario não se afastará das regras

da prudencia, inseparavel da bem entendido [sic] energia, e

que o operariado portalegrense, que em varias crises se tem

ostentado disciplinado e ordeiro, não pretenderá agora dar

uma prova de desrespeitar os alheios direitos.

Correspondência de Portalegre, n.º 92, 23 de Abril de 1898

Page 42: Conflitos sociais em Portalegre no tempo dos Robinson Social

40

N.º 7

Greve na Fábrica Robinson (1898)

A questão da cortiçaNo numero anterior do Districto, n’um artigo firmado - M -,

conta-se a tentativa de alguns operarios corticeiros de Portale-

gre d’impedirem a sahida para Hespanha de cortiça em bruto,

porque queriam que em Portugal se reduzisse a obra, fornecen-

do assim trabalho a operarios portuguezes. O articulista mos-

tra muito judiciosamente que por lei é livre a todos venderem a

cortiça das suas propriedades como, onde, e a quem melhor po-

derem e que os operarios não devem contrariar pela força essa

liberdade legal. E isto não póde soffrer contradicção.

Accrescenta porem o artigo: «Tambem a nós nos dóe que os

nossos governos não tenham sabido proteger as nossas indus-

trias, que o mesmo seria proteger a classe operaria, defenden-

do-a da concorrencia dos industriaes estrangeiros com pesadas

contribuições sobre a exportação da cortiça em bruto.»

É sancto o sentimento que dicta estas palavras e a idéa parece á

primeira vista razoável, mas a sciencia e a experiencia e a prati-

ca das nações são-lhe completamente contrarias. Uma nação

que quer fomentar a sua riqueza não lança contribuições sobre

a exportação; seria ficar vencida, no mercado do mundo, pelas

nações que têem o mesmo producto, e desanimar essa produc-

ção no interior do paiz.

Decerto que seria melhor que a nossa cortiça fosse para fóra em

obra do que em bruto, mas era preciso que toda a cortiça que

pudessemos produzir e manufacturar incontrasse lá fóra mer-

cado facil e remunerador; depende isso de tractados de com-

mercio, como bem diz o articulista; mas tractados de commer-

cio não basta que um governo os saiba fazer, é preciso que os

outros governos os queiram, e uma nação não tem meio de

lh’os impôr; há de pois resignar-se a exportar o que lhe sobra,

não pela fórma que lhe seria mais util, mas por aquella por que

lh’a acceitam; Portugal e as outras nações que produzem corti-

ça quereriam exportal-a toda manipulada, era esse o interesse

de todos, do proprietario, do fabricante, dos operarios, do esta-

do, do paiz inteiro, mas se uma nação teimar em difficultar a

entrada da cortiça manipulada, como fazem, por exemplo, os

Estados Unidos, ha algum meio de os obrigar a levantarem es-

sas difficuldades?

Se se prohibisse por lei ou se difficultasse a exportação da cor-

tiça em bruto, sem haver mercado para toda a cortiça que o paiz

produz, depois de manipulada, arruinavam se ao mesmo tem-

po os proprietarios de arvores de cortiça, os fabricantes e os

operarios, aquelles porque lhes diminuiam os compradores do

seu producto, os fabricantes e os operarios, porque, em se não

podendo dar vasão á cortiça fabricada, em se não podendo ven-

der, a fabrica fechava e os operarios ficavam sem trabalho; não

basta fabricar, é preciso que o que é fabricado se venda para a

fabricação continúe.

Isto não quer dizer que não se recorra a governos e ao parla-

mento para que elles façam esforços para tentarem abrir mer-

cados á cortiça em obra; mas não tenham os operarios a idéa

falsa de que se melhora a sua situação prohibindo ou difficul-

tando a venda, a exportação da cortiça em bruto.

A Suecia produz ferro; o que diriam os operarios portuguezes

se ella não deixasse de lá sahir o ferro em bruto; se quizesse que

todo sahisse já em obra? Sahe o ferro em bruto para diversas

nações e de o trabalharem vivem em todas ellas muitos opera-

rios.

Nós não produzimos algodão o que diriam os operarios portu-

guzes se os paizes que o produzem prohibissem que fosse ex-

portado em bruto?

O mundo economico é uma vasta associação, uma vasta confra-

ternidade, é preciso conciliar os interesses de todos, a liberda-

de de todos, e não olhar e não querer simplesmente a d’alguns

ou d’algumas clases.

Na questão da cortiça estará alguma coisa nas forças dos

governos, mas está tambem muito na dos industriaes, que, va-

riando as applicações da cortiça, não fazendo só fabricas de

rolhas, mas de tapetes, das mil coisas a que a cortiça se póde

Page 43: Conflitos sociais em Portalegre no tempo dos Robinson Social

41

destinar, lhe podem dar um mercado mais amplo dentro e fóra

do paiz; com prohibições de sahida, quer á força, que teriam de

ser repellidas pela força, quer por lei, que cahiria por inepta, é

que se não faz nada.

O Distrito de Portalegre, n.º 766, 27 de Abril de 1898

N.º 8

Greve na Fábrica Robinson (1899)

A questão da cortiça«Não podemos nem devemos deixar de fazer algumas conside-

rações ácerca d’este acontecimento, embora ellas desagradem á

classe operaria, porque preferimos incorrer no seu desagrado a

ocultar-lhe a verdade, falseando a nossa missão jornalística.»

Demais sabíamos nós, ao escrever aquellas linhas no nosso pe-

nultimo numero, que haviamos de incorrer nas iras da classe

operaria, porque a pobre e santa liberdade está ahi soffrendo

tractos de interpretação que a deixam a escorrer sangue, e a

Justiça só é reconhecida como tal, quando não castiga os que a

ultrajam.

A classe, ao lado da qual temos estado sempre em todas as con-

juncturas que a mim tem recorrido, a classe, que por isso talvez

me honrou com diplomas de merito e com considerações que

muito me penhoram vem agora injuriar-me, publicamente,

n’um jornal, attribuindo as nossas observações ácerca da ques-

tão da cortiça a falta de sentimentos de justiça, a que, no dizer

d’ella, somos avessos.

É a eterna licção da Historia!

Não presenceámos os factos por nós relatados, e por isso recor-

remos á informação de pessoas sensatas e que pela sua posição

sabiam como os factos eram narrados por um e outro lado, não

entrando no numero d’essas pessoas o digno sr. commissario

de policia.

Se houvesse alguma inexatidão involuntaria no que dissémos

podia a classe operaria restabelecer a verdade dos factos, mas o

que não devia era recorrer á injuria, se essa inexactidão em

nada influia para que fossem justos, justissimos, todos os repa-

ros que fizemos ao procedimento dos que se queriam oppor

pela força ao exercicio de um direito, garantido pelas leis e pela

justiça.

E na verdade admittindo que os factos se dessem, como diz o

grupo de operarios nem por isso seriam differentes as nossas

observações.

Era justo, era legal o procedimento de taes operarios? Deve a

auctoridade n’um paiz livre permittir que qualquer classe per-

turbe pela força o direito das outra classes?

Esta é que é a questão, esta é que é a pergunta que cada um

deve dirigir á sua consciência.

Interroguem-n’a e se ella lhes responder que a razão está do

lado dos operarios que assim procedem, isto é, que não é justo

que o proprietario venda a estrangeiros a sua cortiça antes de

ser raspada no paiz, porque essa venda assim fere os interesses

da classe operaria, digam-nos o que lhes responderia a cons-

ciencia se os negociantes e industriaes se oppozessem a que

dessem entrada na cidade os generos destinados á sua coopera-

tiva com o fundamento de que o exercicio d’esse direito dos

operarios prejudicava profundamente os interesses do com-

mercio e da industria? O que lhe responderia a consciencia se

os operarios hespanhoes, quando se deu o grande e lamentavel

incendio da fabrica do sr. Robinson, se oppuzessem a que este

trouxesse de Hespanha para Portugal a cortiça de que precisava

para a laboração da sua fabrica?

Nós responderiamos que os negociantes e industriaes portu-

guezes e que os operarios hespanhoes praticavam um acto con-

tra a lei, contra o direito e contra a justiça, assim como agora

condemnámos o procedimento dos que se queriam oppor pela

força ao exercicio do direito de um proprietario; e apostamos

em que o operario responderia n’aquelle caso, como nós.

Ora justiça que quer Deus para si e o Diabo para os outros, será

justiça muito boa, mas nós repudiamol-a como a um Monstro

de fauces abertas para tragar todo o progresso da humanidade.

Page 44: Conflitos sociais em Portalegre no tempo dos Robinson Social

42

Mas dizem: «Mas nós nunca nos insurgimos contra a saída da

cortiça, só se pedia trabalho para raspadores, trabalho de gran-

de conveniencia do comprador o ser feito cá.

Por isso, só se pedia o que era justo.»

Isto não é logica.

Pedir-se em termos legaes ao comprador da cortiça que a deixe

raspar no paiz por ser mais economico, é realmente um pedido

justo, mas obrigal-o a que o faça, contra sua vontade, não será

uma injustiça?

Que teem os outros com os negocios do comprador, que elle

ganhe ou perca?

Quando se dirigiram em commissão ao sr. governador civil,

quando escreviam ou telegraphavam ao comprador, os opera-

rios realmente faziam um pedido por fórma legal; mas vir para

a estrada publica á noite, em numero de 20 ou 100 (como qui-

zerem) esperar os carros que haviam de conduzir a cortiça a

Hespanha, chama-se a isto – pedir?

A auctoridade exorbitou, intimando os operarios a dispersa-

rem-se?

«Mas, acrescentam os operarios, um operario foi preso, porque,

dispersando já, protestou contra a afronta do sr. commissario

mandar carregar as armas a seis policias.»

Onde está a afronta?

Se os operarios reagissem contra a ordem da auctoridade, de

que serviriam as armas se não estivessem carregadas?

Mas o operario não se revoltou, dizem, apenas protestou.

Por isso foi apenas detido e depois solto, o que de certo lhe não

succederia, se se revoltasse.

O sr. commissario, estando todos os operarios em greve e a pro-

clamar junto da fabrica que não entravam para as officinas sem

ser solto o seu companheiro, o sr. commissario não quiz rece-

ber toda a commissão e recebeu apenas um dos seus membros,

porque, se procedesse de modo differente, não procederia

como manda a lei, procederia por medo, por coacção, e ai! de

nós todos, ai! tambem da classe operaria, se chegassemos a

tempo em que a justiça se administrasse por tal fórma.

Aconselham-nos a que não façamos politica em casos d’estes.

Isto não se commenta. Pois se quizessemos fazer politica, não

comprehende toda a gente que o nosso interesse politico se-

ria pormo-nos ao lado da classe mais numerosa de Porta-

legre?

Não o fizemos e preza nos termos de estar do lado opposto a

uma classe, digna de respeito, consideração e de todo o apoio,

quando está dentro da lei e da ordem; e se voluntariamente

tomamos esta attitude, foi para não perdermos ensejo de lhe

prestar um grande serviço, que talvez mais tarde me agradece-

rão, de os não deixar transviar do caminho que teem sempre

seguido e que póde levar esta cidade ao maior auge de prospe-

ridade, porque o futuro de Portalegre depende do futuro das

nossas industrias – corticeira e fabril –, e, sem ordem, sem res-

peito pelas leis constituidas, não poderemos chegar aquelle

grande desideratum.

Eu sei que a classe operaria tem deante de si um grande proble-

ma a resolver, eu sei que ha injustiças sociaes que os habitos de

muitos seculos têm vindo a accumular, eu sei que sobre ella

pezam muitas forças contra as quaes precisa de unir-se para

reagir; mas, por isso mesmo que algumas das reivindicações do

operariado têm por fundamentos o direito, a justiça e a razão,

é que a classe operaria tem obrigação indeclinavel de se ins-

truir, e de se impor á consideração universal pelo respeito ao

direito e justiça das outras classes.

Estamos bem com a nossa consciencia, embora entristecidos

por tão mal comprehenderem os que nos deviam ficar agrade-

cidos. São as nossas ultimas palavras.

O Distrito de Portalegre, n.º 767, 4 de Maio de 1899

Page 45: Conflitos sociais em Portalegre no tempo dos Robinson Social

43

N.º 9

Greve na Fábrica de Lanifícios Robinson (1901)

Gréve em PortalegreDeclararam-se em greve os operarios da fabrica de lanifícios do

sr. Robinson.

Dirigiu-se-nos uma grande commissão d’esses operarios que

nos vieram expor a causa da sua attitude. Allegaram que os pre-

ços por que estão sendo recompensados os seus trabalhos são

diminutos e que por serem os seus salarios incompativeis com

a subsistencia de suas familias não podiam continuar no de-

sempenho das suas funcções.

Disseram mais que tinham procurado o sr. Robinson a pedir

lhe melhoria de condicções e que este cavalheiro não accedera

aos seus rogos. Que em vista d’estes factos resolviam pedir o

auxilio da auctoridade superior do districto para os auxiliar

n’esta campanha que se affigura de toda a justiça.

Esta noticia chegou-nos muito tarde e á hora do jornal entrar

na machina. Não podemos, pois, alongarmo-nos nas conside-

rações que desejavamos sobre este assumpto de alta importan-

cia para a cidade.

Promettemos voltar a elle no proximo numero e no entanto

fazemos ardentes votos par que a questão se redima em breve

e a contento de todos, operarios e patrões.

O Distrito de Portalegre, n.º 881, 10 de Julho de 1901

N.º 10

Greve na Fábrica de Lanifícios Robinson (1901)

GreveOs operarios tecelões da fabrica do sr. G. W. Robinson julgan-

do-se lesados nos seus interesses de operarios, encarregaram

uma commissão de pedir ao sr. Robinson o seguinte:

1.º Trabalho permanente na fabrica de lanificios ou na fabrica de

cortiça com tanto que cessassem as longas paragens que soffriam.

2.º Não podendo ceder ao primeiro pedido, desejavam um aug-

mento no salario, de forma que, no tempo de trabalho podes-

sem realisar economias para se manterem no tempo em que

não ha que fazer.

Não podendo ou não desejando o sr. Robinson, acceitar ne-

nhum dos alvitres propostos, os tecelões abandonaram o tra-

balho e até á hora em que escrevemos, apesar de se moverem

influencias junto do sr. Robinson defendendo a causa dos ope-

rarios, a gréve mantem-se.

É um acontecimento deplorável que muito nos magôa o cora-

ção e fazemos votos para que o conflicto tenha uma solução

agradavel tanto para os operarios como para o sr. Robinson.

A Plebe, n.º 305, 14 de Julho de 1901

N.º 11

Greve na Fábrica Robinson (1901)

IncidenteNa sexta feira passada, pelas 9 horas da manhã, os operarios

rolheiros da importante fabrica do sr. Weelhouse Robinson le-

vantaram-se em protesto contra a saida d’um operario despe-

dido, o sr. Cyriaco, e exigiram a mudança d’um empregado da

pezagem de quadros, o sr. Joaquim do Nascimento. Como não

fossem attendidos na sua reclamação resolveram abandonar o

trabalho, e, lançando-se ao alludido empregado espancaram-

no, chegando ainda a feril-o.

Parece, porém, que felizmente no escriptorio achavam-se os srs.

Herbert e Milner Robinson, patrões, que evitaram que o inciden-

te tivesse mais funestas consequencias, serenando os exaltados

animos e fazendo com que os operarios voltassem ao trabalho.

Testemunha presencial que nos deu estas informações, de-

monstrou-nos que aos operarios, d’esta vez, não assistiu razão

e justiça no seu pedido.

Está no caracter d’este jornal defender seja qual fôr a pretensão

que seja caracterisadamente justa mas aos operarios , lembra-

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44

mos a cordura, pois que com ella poderão conseguir os seus

direitos e interesses, quando nelles sejam lesados.

Ao entrar na machina o nosso jornal fomos informados que o

sr. Robinson mandou fechar a sua fabrica até nova ordem.

A Plebe, n.º 485, 18 de Dezembro de 1901

N.º 12

Greve na Fábrica Robinson (1904) [grafia actualizada]

À Última HoraChegou à nossa redacção a triste notícia de ter sido fechada até

segunda ordem a fábrica de rolhas do sr. George Robinson.

Parece que a causa é motivada por ter sido despedido um ope-

rário e os seus companheiros pedirem para que se anulasse tal

determinação que achavam infundada.

Sentimos deveras que se desse tal facto e oxalá se harmonize

tudo para bem dos operários e patrões.

O Distrito de Portalegre, n.º 1212, 18 de Dezembro de 1904

N.º 13

Greve na Fábrica Robinson (1904)

Operários de PortalegreComo noticiámos, no dia 17 do corrente, por causa de questões

entre o pessoal operário, foi mandada fechar até nova ordem a

fábrica de rolhas do Sr. George Robinson & Cª. O facto produ-

ziu, como era de prever, sensação na cidade, e tanto mais que se

propalaram logo boatos de que estavam iminentes aconteci-

mentos graves.

O nosso prezado amigo Sr. Dr. Diniz Sampaio, digno Gover-

nador Civil substituto em exercício, depois de algumas con-

ferências com a direcção da fábrica, alcançou a promessa de

que na segunda-feira, dia 20, recomeçaria o trabalho na mes-

ma fábrica, o que sucedeu, porém, ser excluídos onze operá-

rios apontados como cabeças de motim. O nosso ilustre ami-

go estimou deveras a solução da reabertura da fábrica, o que

certamente agravou as condições económicas de algumas fa-

mílias.

O Distrito de Portalegre, n.º 1213, 21 de Dezembro de 1904

N.º 14

Greve na Fábrica Robinson (1904)

IncidenteReabriu na última terça-feira (20) a importante fábrica de ro-

lhas do Sr. Robinson, entrando para o trabalho todos os operá-

rios excepto 11, que não foram admitidos por serem considera-

dos cabeças de motim.

A Plebe, n.º 486, 25 de Dezembro de 1904

N.º 15

Greve na Fábrica Robinson (1904)

Uma comissão de operários da fábrica de rolhas do Sr. Robin-

son foi, no último Domingo (23-12-1904), agradecer ao Sr. Di-

niz Sampaio, digno Governador Civil substituto, o interesse

que Sua Excelência tomou na resolução do incidente que se deu

há dias naquele estabelecimento entre o operariado duma das

oficinas e de que havia resultado a expulsão de 11 operários,

que já foram readmitidos.

A Plebe, n.º 487, 1 de Janeiro de 1905

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45

N.º 16

Greve na chacina de Joana Serra (1911)

Notícias de PortalegreCompanhia de Matança em Greve – Intervenção da PolíciaJaneiro 10 – Um grupo de chamuscadores de porcos emprega-

dos na chacina da Senhora D. Joana Serra pôs-se ontem em

greve, tomando como pretexto um facto que, a ser verdadeiro,

merece toda a aceitação e o mais justo reparo. Nesse grupo, que

é constituído pelos trabalhadores Paulo José Alegria, João

da Rosa Gouveia, Francisco Gouveia, João Alves, Francisco

Doutor, António Gouveia, Joaquim Caixeirinho, Caetano

Tafeixa, António Maria Cardoso, Manuel Coutinho, António

Merendeira e António Maria Cardoso, tinha por companheiro

um tal Nicolau Manuel, homem de 42 anos de idade, que há um

mês foi atacado de um ataque cerebral, ficando quase cego.

Este infeliz homem trabalhou durante 28 anos na referida cha-

cina, sendo ele o encarregado da matança e desmancha do gado

suíno. Como se inutilizasse e não pudesse continuar o exercício

das suas funções, a proprietária da chacina despediu-o e daí

proveio a indignação do restante pessoal que ontem mesmo

procurou a senhora D. Joana Serra, propondo-lhe o seguinte

alvitre:

Manter o seu desgraçado companheiro comprometendo-se

eles a fazer o seu serviço. Não entendeu, porém, a senhora

D. Joana, que persistiu na sua resolução e ordenou que o lugar

fosse preenchido por outro indivíduo de nome José Costa.

Os grevistas, vendo que o seu alvitre tinha sido rejeitado e que

a nomeação do novo empregado redundaria em grave prejuízo

para o seu companheiro de trabalho, redobraram os protestos e

foram juntar-se ontem à noite nas imediações da chacina, onde

se travaram de grande alteração com o empregado da mesma

chacina João Meira, e de cuja altercação se apurou ser ele o ver-

dadeiro culpado do que estava sucedendo.

As ameaças iam passando a vias de facto quando a polícia in-

terveio serenando os ânimos e dispersando a grande quantida-

de de curiosos que ali tinham ocorrido aos gritos dos manifes-

tantes. O grupo foi depois ao Governador Civil falar com o

Senhor Administrador do Concelho, a quem expôs todos os

factos, pedindo-lhe ao mesmo tempo que fizesse todos os pos-

síveis para que o José Costa saísse, sem o que não retomariam

os seus lugares. A autoridade prometeu advogar a sua preten-

são envidando também os melhores esforços para garantir a

subsistência do desventurado Nicolau Manuel, a favor de quem

os grevistas tão honestamente se declararam.

Diário de Notícias, n.º 16223, 12 de Janeiro de 1911

N.º 17

Greve na fábrica Robinson (1911)

Em Portalegre A gréve da fabrica RobinsonHá dias foi alarmada a fabrica de cortiça Robinson com um bo-

ato escandaloso entre o encarregado da oficina das mulheres

João Pereira, e uma mulher casada.

Chegando aos ouvidos do industrial, este, por sua vez, se havia

de dar a maior atenção ao assunto, fez ezátamente o contrario,

avolumando mais o escandalo, pela fórma seguinte: despediu

imediatamente as operarias Carolina Salvaterra e Amalia Bis-

po, por estas se lhe terem dirigido a pedir-lhe que retirasse o

encarregado da oficina, e que tambem todas as suas compa-

nheiras desejavam que a sua oficina não mais fosse dirigida por

homems, mas sim por uma mulher, para evitar escandalos ou

ruim fama.

Por este motivo alvoraçou-se o resto do pessoal da fabrica, que

protestou energicamente contra aquele despedimento, visto

tratar-se tambem de uma vingança por aquelas companheiras

serem assíduas leitoras e propagandistas de jornaes libertarios.

O industrial, com ferocidade infame, e para não tirar a força ao

encarregado, mandou logo tocar o apito e parar a fabrica inti-

mando a saída ao pessoal no prazo de 10 minutos – faz lembrar

Page 48: Conflitos sociais em Portalegre no tempo dos Robinson Social

46

a espulsão dos jesuitas no tempo do Marquez de Pombal – e ao

toque do apito ficou alarmada a cidade, pois que não é costume

tocar às 11 horas, aglomerando-se grande massa de povo em

frente a fabrica afim de ver do que se tratava.

Começaram então aqui as infamias torpes lançadas, com todo

o arrojo ás faces honradas de quem tudo produz.

Após a saída da fabrica, resolveram os camaradas corticeiros

reunir em assembléa geral afim de nomearem a respetiva co-

missão para entrevistar o industrial sobre o assunto; mas qual

não foi o espanto da comissão, que esperava receber uma res-

posta não só satisfatoria mas tambem delicada, quando o in-

dustrial, com modos de inglez sem educação portugueza, respon-

de da seguinte forma:

«Escusam-se de se cançar, pois que amanhã, se quizer, posso

lançar fogo á fabrica, e, como tenho muito dinheiro e muito

que comer, vou-me embora e vocês cá ficam a morrer de fome.

E olhem que sou capaz de o fazer».

Esta foi a linda fórma como a beleza do industrial recebeu

quem tanta riqueza lhe tem dado…

A comissão voltou á Associação a dár a resposta, que foi tão

agradavel que a assembleia resolveu declarar-se em gréve, sen-

do nomeadas numerosas comissões de vigilancia para durante

a noute se vigiasse a fabrica, a fim de evitar qualquer desastre,

causado por qualquer mal intencionado, ou mesmo por ordem

do proprio patrão, visto a sua declaração. Uma outra comissão

dirigiu-se ao governador civil, a participar o caso.

Este cavalheiro, por sua vez, depois de larga discussão, decla-

rou que não consentia a gréve senão nestas condições: Quem

não quizer trabalhar não trabalha, e não admito que os senho-

res impeçam a entrada a quem quizer trabalhar, pois se o fize-

rem procederei.

Os operarios indignaram-se com esta resposta e resolveram le-

var ávante o seu intento em favor das despedidas.

Dirijindo-se á Associação, o governador civil tentou iludir o

pessoal, dizendo-lhe que fosse trabalhar de manhã e não se im-

portasse que o industrial despedisse alguem ou fechasse as

quatro oficinas, como tencionava, pois que alguma coisa se ar-

ranjaria…

Vendo, porém, o governador civil que os seus planos eram frus-

trados, teve então a triste ideia de insultar a classe com esta

ameaça pouco propria de um sensato republicano, como se de-

clára:

Se os senhores continuam no firme proposito de seguirem com

a gréve, eu passo da benevolencia á violencia e mando sair o

regimento 22, mando vir cavalaria e mais tropa, se fôr preciso,

e mando fuzilar aqueles que não quizerem retomar o trabálho.

Foi-lhe dito pelos camaradas Jacinto Bettencourt e José Mi-

randa se esse procedimento pertencia á républica moderna,

pois que na republica antiga combatia-se o fuzilamento, espe-

cialmente quando o proletario reclamava melhoria de situação.

Pelo menos assim o diziam os grandes homens quando, em pa-

lanques apregoavam o evangelho da liberdade, igualdade e fra-

ternidade. Mas o governador civil, no seu firme proposito de

defender o capital, - como todos os outros – declarou que na

qualidade de governador civil se entendesse que o fazia, pois

que as leis da republica lh’o permitiam.

Agora digo eu a todos os camaradas sincéros que tornem a an-

dar pelas ruas da cidade feitos burros de Cacilhas, com gente

d’esta ao cólo. A gréve seguia bem, sem ninguem se deixar ilu-

dir por promessas ou ameaças.

As vigias durante a noite, não cessaram de observar a fabrica,

impedindo a passagem a quem se aprocima d’ela sem primeiro

ser reconhecido como cidadão de páz. Ao romper da manhã,

começa a aglomerar-se o operariado em frente da fabrica, á es-

pera das resoluções do industrial.

As operarias, por sua vez, avançam á frente dos homens e vão-

se postar, em cordão em frente da porta da fabrica, na intenção

de não deixarem entrar ninguem, afim de não ser furada a gré-

ve.

Mas qual não é o espanto de todos quando aparece o guarda-

portão João José d’Oliveira, que brusca e indecorósamente,

ofende as desgraçadas filhas de cada um, arremessando-lhes

Page 49: Conflitos sociais em Portalegre no tempo dos Robinson Social

47

valentes empurrões. Pagaria bem caro o atrevimento se não se

metesse imediatamente para o interior da fabrica.

Dão as 6 horas. Ouve-se tocar o apito chamando ao trabalho,

quando aparece novamente o tal guarda-portão, que diz, em

alta voz: quem quizer trabalhar, entre. Todos ficaram nos seus

logares, escéto estes dois camaradas: Côrte Real e João Men-

des. Estes amigos tiveram o arrojo de pular por cima das mulhe-

res, que se encontravam sentadas, indo meter-se na fabrica.

Como mais ninguem tivesse entrado, o industrial chamou as

mulheres despedidas e aconselhou-as a irem para casa e a vi-

rem só quando as mandasse chamar, dizendo então que o resto

do pessoal podia entrar.

Levantam-se grandes protestos e gritos de «Ou trabalha tudo

ou ninguem».

Resolveu o industrial mandar parár as maquinas, para vêr se ás

9 horas alguem entraria.

A esta hora é que foi atraiçoada a greve, pelos belos camaradas

que tanta moral apregoaram dentro da associação, sendo estes

os primeiros que desrespeitaram o cordão das mulheres, inva-

dindo a fabrica e dando origem a que outros camaradas fossem

levados na onda. Esses camaradas são os seguintes: Estevão

Manuel Godinho, Abibal Francisco, Manuel Ruben, António

Baláco, Francisco Carrapóla, Manuel da Horta, António da Ri-

beira de Niza, João Mendes, Augusto Bageira, José Marcelino e

José Mendes Mourato.

Á entrada d’estes amarelos houve grandes protestos e gritos de

fóra com os traidores da gréve!

Novamente torna o governador civil a chamar a comissão e de-

clarou que já tinha conferenciado com o patrão e que estava

resolvido que ás 2 horas todos fossem trabalhar e que ninguem

era despedido.

Ás 2 horas todo o pessoal entrou para a fabrica, e, depois de

todos estarem nos seus logares, despediu as duas mulheres e o

camarada João Pilatos, e fechou as quatro oficinas, cujos ope-

rarios mais se tinham imposto a favor das mulheres, ficando

umas duzentas pessoas na rua.

Tudo isto foi vingança do industrial, auciliado pela autoridade.

Á noite, como se tivesse desconfiado que um gesto que o indus-

rial fez com um cavalo marinho que trazia, fosse de ameaça aos

operarios, houve discussão sobre este ponto, entre os diversos

camaradas. Os operarios António Curto e Augusto Penso, que

tinhão vindo de Estremoz vender aqui rolhas, disseram uma

cousa que é verdadeira, que se o caso se tivesse dado com os ope-

rarios corticeiros de outros lados a greve não se furava, nem o

industrial tinha o arrojo de insultar os operarios. Foi o suficiente

para logo a policia os prender, inventando que os nossos camara-

das tinham dito que eram capazes de ir matar o industrial.

As testemunhas provam ser uma falsidade.

Os nossos camaradas de Estremoz encontram-se incomunica-

veis.

O industrial pensando bem na ofensa que tinha feito, e julgan-

do que será chamado a contas, mandou chamar a comissão e

disse-lhe que a ia processar por ela ter declarado que ele, indus-

trial, tinha dito que ia largar fogo á fabrica. A comissão, porém,

não se atemorisou.

Se ela só disse a verdade!

Carlos Pereira Ramos.

O Sindicalista, n.º 39, 6 de Agosto de 1911

N.º 18

Greve na Fábrica Robinson (1911)

Grave incidenteHontem, pelas 11 horas da manhã, ouvimos tocar o apito da

fabrica de rolhas do sr. Robinson e como extranhassemos o fac-

to, por ser fóra do costume, procuramos saber o que se passava.

Informaram-nos de que devido a um caso pouco edificante pas-

sado entre um mestre, João Pereira e uma mulher, levara as

operarias a manifestar de que prescindiam nas suas officinas

de homens encarregados das mesmas visto terem uma sua col-

lega com identico encargo.

Page 50: Conflitos sociais em Portalegre no tempo dos Robinson Social

48

Como não tivesse deferimento o pedido das operarias, estas

pediram aos seus collegas as secundassem na sua causa, á qual

elles adheriram, sahindo das officinas.

Em virtude de tal resolução, o sr. Robinson, mandou fechar a

fabrica até resolver o assumpto.

N’uma reunião realisada no salão da Cooperativa apoz o inciden-

te foi nomeada uma commissão para se entender com o sr. Ro-

binson. D’essa commissão fazem parte os srs. Antonio Gaspar de

Pina, Antonio da Silva, José Maria Miranda, Ignacio Miranda,

José dos Remedios, João Lourenço da Silva, Francisco Ferreira,

José Carlos, Antonio Severo, Pedro Caroço e José Maria Frazóa.

Á hora do nosso jornal entrar na machina nada mais podemos

adeantar.

O que desejamos é que tudo se resolva a contento de todos.

O Distrito de Portalegre, n.º 1885, 26 de Julho de 1911

N.º 19

Greve na Fábrica Robinson (1911)

Pela cidadeGreve na fabrica RobinsonHontem pelas 11 horas da manhã ouviu-se em toda a cidade o

apito da fabrica. Este facto anormal produziu na cidade uma

enorme sensação e de todos os pontos accorreu ao local da fa-

brica uma quantidade muito numerosa de gente julgando que

havia incendio.

Felizmente não era esse o motivo; mas infelizmente era um

facto também grave que originára aquelle toque extemporaneo

que alarmou a cidade inteira.

Historiemos:

O operário, João Pereira, encarregado d’uma officina de rolhas

á machina era accusado de nas horas de descanso praticar a oc-

cultas na officina acções menos licitas.

Este facto provocou os protestos de todas as operarias daquella

officina as quaes nomearam uma comissão que foi expor o as-

sumpto ao sr. Robinson e pedir-lhe não só a expulsão d’aquelle

encarregado mas a substituição de todos os encarregados das

officinas das rolheiras por mulheres edoneas e competentes

que as ha em todas as officinas.

O sr. Robinson, prometteu tomar a queixa em consideração e

effectivamente, pouco depois o mestre ou encarregado João Pe-

reira era substituido por outro encarregado Joaquim Baptista.

Como esta deliberação não satisfazia por completo aos dese-

jos manifestados pelas operarias, estas resolveram abando-

nar o trabalho e pedir o auxilio dos seus companheiros de

trabalho aderindo muitos operarios. Como o sr. Robinson vis-

se a attitude do operariado determinou o encerramento da

fabrica e foi por esse motivo que tocou o apito ás 11 horas da

manhã.

Logo que os operarios sairam reuniram se homens e mulheres,

em sessão permanente numa das salas da Cooperativa Operaria

Portalegrense e ali depois do assunto ser discutido, usando da

palavra varios operarios deliberaram:

Nomear uma comissão de operarios para falar com o sr. Robin-

son a qual por proposta votada pela assemblêa ficou assim

constituída:

António Gaspar Pina, representante dos encarregados; Anto-

nio da Silva e José Lourenço Miranda, Pedro Caroço, Ignacio

Augusto Miranda, José dos Remedios, João Lourenço da Siva,

Francisco Ferreira, José Carlos, António Sevéro e José Maria

Frazoa.

Deliberaram dar conta á Assemblêa Geral do resultado do da

conferencia com o sr. Robinson numa sessão marcada para as

6 horas da tarde na mesma sala da Cooperativa.

Em seguida encerrou-se a sessão ficando em sessão permanen-

te de vígilancia uma commissão composta dos operários srs:

Lourenço, Patricio, Joaquim Caldeira, Domingos Ruivo, Hum-

berto Ribeiro de Albuquerque, Lourenço Mouro e Innocencio

Baptista.

Ás 7 horas da tarde tornou a reunir a assembleia geral da Asso-

ciação dos Corticeiros para tomar conhecimento da resposta

Page 51: Conflitos sociais em Portalegre no tempo dos Robinson Social

49

que o sr. Robinson tinha dado á comissão que o procurou no

escriptorio ás 5 horas da tarde.

A resposta do sr. Robinson ás reclamações dos seus operarios

feita pela voz da comissão foi:

- Que mantinha a substituição do encarregado por outro; mas

que não aceitava as condições que lhe eram indicadas.

- Que não acedendo ao que ele desejava, ele poderia deitar fogo

á fabrica, porque era rico e que eles operarios ficavam reduzi-

dos á mizeria.

Esta resposta causou uma grande impressão na assembléa usan-

do da palavra muitos oradores e deliberando-se que a mesma

comissão fosse conferenciar com o sr. governador civil expondo-

lhe todos os factos para que a primeira autoridade do distrito

visse a fórma corréta como eles procediam e a fórma como o sr.

Robinson tinha recebido e respondido ás suas reclamações.

Deliberaram mais nomear uma comissão de 20 operários para

vigiar a fabrica sendo 10 para entrar de serviço de noite e ou-

tros 10 para entrar de serviço de dia.

É claro que depois destes factos ficou declarada a greve geral.

Os operarios vão publicar um manifesto, expondo ao publico as

causas que os leva a esta situação.

O Intransigente, n.º 262, Portalegre, 26 de Julho de 1911

N.º 20

Greve na Fábrica Robinson (1911)

PortalegreCamarada redactor:

Por meio de telegrama que se expediu, não podia esclarecer-se

que se expediu tudo porque nos ficava muitissimo por dizer.

N’uma reunião magna que se realisou no salão nobre da coope-

rativa de consumo; ficou nomeada uma comissão de seis mem-

bros, para estar de vigilancia permanente, e para esclarecer por

meio de um oficio á Federação o que s passou na reunião e ex-

plicar-vos os pormenores que deram ocasião ao conflicto.

Deu-se o caso da seguinte forma: – Ha aqui uma oficina de ma-

chinas de fazer rolhas por meio de vapor, que tinha á frente o

celebre encarregado João Pereira, a quem patrão mandava fe-

char todas as oficinas á hora da refeição deixando dentro algu-

mas operarias que habitam no campo.

O dito João Pereira, abusando das ordens do industrial tendo

uma como favorita, e sendo afeiçoada d’elle, ás horas prohibi-

das fechava a porta ficando elle e ella dentro, isto foi observado

por algumas companheiras foi o que ocasionou ellas protesta-

rem, e nomearam uma comissão a ir manifestar o seu descon-

tentamento ao industrial não só para tirarem aquelle encarre-

gado daquella oficina de mulheres.

Deu-se o caso no dia 24 estando um dos patrões um tanto de

accordo mas manifestando ao mesmo tempo o desejo que tinha

de conferenciar com o seu primo Williams Robinson tirando

aquelle encarregado, mas nomeando outro em sua substituição

no dia 25.

A mesma commissão de mulheres foi entrevistar o industrial

Williams obtendo resposta negativa, dizendo-lhe ao mesmo

tempo, que fossem trabalhar do contrario fechava a oficina, de-

rivando d’ahi novos protestos não só daquella oficina com dos

rolheiros mecanicos e quadradores manuaes, determinando

nomear uma commissão composta de dez membros para mani-

festar ao industrial o seu descontentamento pela forma pouco

correcta como respondeu á commissão de mulheres, não che-

gando porem essa commissão a conferenciar com o industrial

devido a elle não dar tempo a isso por mandar tocar o apito

para que o pessoal sahisse o que se fez. Mandou em seguida

encerrar o portão dizendo, que aceitava uma commissão ás

5 horas da tarde afim de resolver o conflicto.

Como não coubéssemos na associação foi a razão que reunimos

na cooperativa. Foi ali deliberado nomear a commissão que ficas-

se de ir conferenciar com industrial, isto depois de haver acalora-

da discussão e algumas propostas que depois mandaremos dizer.

Como esta já vai longa, amanhã seguem informações da res-

posta do industrial.

Page 52: Conflitos sociais em Portalegre no tempo dos Robinson Social

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Pela comissão. Saude e revoloção social.

Pelo secretario da comissão permanente.

Humberto R. Albuquerque

Por causa dos abusos commetidos pelo encarregado da officina

da lixa para com as mulheres declararam-se em greve como fica

dito os operarios corticeiros da importante fabrica do sr. Geor-

ge Robinson.

Os grevistas reclamam a sahida d’aquella officina do encarrega-

do, o industrial porem recusa-se a isso. N’este momento estão

reunidos na cooperativa operaria os operarios afim de delibera-

rem o que entenderem conveniente para a solução da gréve.

O governador civil que interveiu no assumpto espera conseguir

bons resultados. Eram de prever os factos que agora se dão ten-

do sido o encarregado quem os provocou.

C.

Á ultima hora conta-nos, que a greve está em vias de solução,

com o que nos congratulamos por se tratar d’uma questão de

moralidade.

O Corticeiro, n.º 3114, 29 de Julho de 1911, p. 4

N.º 21

Greve na Fábrica Robinson (1911)

Gréve na fabrica RobinsonJá na quinta feira, 27, entrou na sua normalidade o trabalho na

fabrica de cortiça do sr. Robinson.

A greve cahiu por falta de solidariedade entre os operarios, fal-

ta que elles explicam por não ter fundamento apreciavel as re-

clamações das suas companheiras grevistas.

Foi portanto uma gréve furada em que perderam terreno

aquelles que trabalham pela emacipação do operariado.

Entretanto folgamos que se restabelecesse o trabalho porque a

paralisaçãs da fabrica, desde que o operariado não está prepa-

rado para uma resistencia e lucta com falta de meios de subsis-

tencia para si e para a sua familia, era um gravissimo desastre

para todos a paralisação do trabalho, que d’uma forma muito

grave se havia de reflectir em todo o commercio local.

Já aqui o dissemos. Para se fazer uma gréve é necessario a pre-

paração antecipada. Pela accumulação de fundos de resistencia

e saber se o que se deseja dos patrões é justo, attendendo aos

interesses geraes do operariado que reclama.

A quetão ventilada era no antender de muitos operarios de im-

portancia relativamente mediocre e por isso talvez não encon-

trou o apoio geral de todos os companheiros.

Aclaração

Pede-nos o sr. João Manoel Dias Fereira, operário despedido da

fabrica do sr. W. Robinson para no intuito de despezas boatos

menos verdadeiros, propalados a respeito da sua interterencia

na greve, que não é verdade ter este andado nas officinas co-

munican com os seus companheiros a largarem o trabalho, mas

unicamente faria parte d’uma commissãs que devia falar com o

sr. Robinson á própria hora do comflito; mas que não dhegou a

falar por ter tocado o apito e terem sahido todos da fabrica.

O Intransigente, n.º 263, Portalegre, 30 de Julho de 1911

N.º 22

Greve na Fábrica Robinson (1911)

Gréve dos operarios rolheirosO facto culminante da semana foi a gréve do operariado da fa-

brica de rolhas do sr. George W. Robinson.

Na terça feira ultima por 11 horas da manhã, inesperadamen-

te, tocou o apito da fabrica, o que deu logar a alamar-se a cidade

inteira.

O que dera motivo ao toque fora o seguinte:

De ha tempos existia entre os operarios a desconfiança de que

o encarregado da officina de rolhas á machina, em que se em-

pregam mulheres, João Pereira, entretinha relações ilicitas

com uma operaria, e que nas horas do descanço, esta ficava no

Page 53: Conflitos sociais em Portalegre no tempo dos Robinson Social

51

edificio e com ella o encarregado. Este facto trazia indignadas

as restantes companheiras, que formaram uma commissão

para traduzir as suas queixas perante o patrão.

Parece que as recebeu o sr. Dawson, que mandou para lá o ope-

rario Joaquim Baptista em substituição do Pereira.

Tendo pedido, porem, as operarias a substituição dos encarrega-

dos de todas as officinas de mulheres por operarias, e vendo que

não eram satisfeitos os seus desejos, visto o patrão ter declarado

que o serviço não podia ser feito por mulheres, estas resolveram

abandonar o trabalho e foram pelas demais officinas pedir a

adhesão dos companheiros. O sr. Robinson vendo, então, a atti-

tude do seu operariado depois de lhes indicar que retomassem o

trabalho, não sendo attendido, mandou evacuar a fabrica.

Os operarios sairam, e, numa sala da Cooperativa Operaria,

trataram do assumpto, constituindo-se uma commissão nome-

ada para se entender com o sr. Robinson, e outra commissão de

vigilancia que ficasse em sessão permanente para tratar da re-

solução da gréve.

A commissão foi recebida ás 6 horas da tarde pelo sr. Robinson

e ás 7 horas, na séde da Associação de Classe dos Corticeiros,

esta commissão dava conta aos companheiros do seu mandato,

que se resume no seguinte: O patrão mantinha a resolução to-

mada, quanto ao encarregado, não acceitava a condição impos-

ta e abriria a fabrica para os que quizessem trabalhar.

Effectivamente, no dia seguinte, tocava ás horas costumadas o

apito, não entrando senão poucos operarios, porque as mulhe-

res, em frente de portão do edificio, de mãos dadas e em linha,

evitavam a entrada dos companheiros. Esta situação não se

manteve completa, ao apito das 2 horas da tarde, em que já a

policia compareceu e uma grande parte do operariado entrou,

retomando o trabalho.

Esta resolução de os operarios voltarem ás officinas deve-se a

que uma grande parte d’elles não se coadunavam com o movi-

mento grévista.

No dia de quinta feira já o serviço estava completamente norma-

lisado, sendo despedidos sómente um operario e duas operarias.

Notas

Foram presos dois indivíduos que dizem ser operarios rolhei-

ros em Extremoz e estavam incitando os operarios á gréve e a

praticar violencias, sendo enviados para juízo.

- A proposito d’uma phrase que se attribue ao sr. Robinson fo-

ram chamados ao escriptorio d’aquelle industrial alguns opera-

rios.

- Para a solução rapida da greve, muito contribuiram os esfor-

ços empregados pelo sr. governador civil, que, encarregado pe-

los operarios, se entendeu directamente com o sr. Robinson.

A Plebe, n.º 827, 30 de Julho de 1911, p.3

N.º 23

Greve na Fábrica Robinson (1911)

Pela policia – Por serem arguidos como incitadores á greve que ha dias se

declarou na fabrica do sr. Robinson e por terem feito ao mesmo

industrial, manifestações criminosas, foram enviados para o

poder judicial, os operarios Antonio Nunes Curto, natural de

Lisboa e Augusto Maria Penso, natural de Extremoz.

A Plebe, n.º 827, 30 de Julho de 1911, p. 4

N.º 24

Greve na Fábrica Robinson (1911)

Occorrencias policiaesForam autuados e entregues ao poder judicial, Augusto Maria

Penso, rolheiro, natural e residente em Estremoz, e Antonio

Nunes Curto, d’egual profissão, natural de Lisboa, residente

em Estremoz, por terem incitado á greve os operarios rolheiros

da fabrica do Sr. Robinson, e terem feito manifestações com

intuito criminoso.

O Distrito de Portalegre, n.º 1886, 30 de Julho de 1911, p. 3

Page 54: Conflitos sociais em Portalegre no tempo dos Robinson Social

52

N.º 25

Greve na Fábrica Robinson (1911) [grafia actualizada]

Ocorrências policiaisForam enviados ao poder judicial Augusto Maria Penso, natu-

ral de Estremoz, e António Nunes Curto, natural de Lisboa,

arguidos de incitarem à greve os operarios da fábrica de rolhas

de George Robinson e de terem feito manifestações criminosas

ao mesmo industrial.

O Intransigente, n.º 263, Portalegre, 30 de Julho de 1911, p. 3

N.º 26

Greve na Fábrica Robinson (1911)

PortalegreCamarada redactor:

Peço-lhe a fineza de dar publicidade no jornal «O Corticeiro»

bastante conceituado afim de fazer constar a todas as classes

trabalhadoras o que se acaba de passar aqui n’esta localidade

entre os operarios corticeiros, e o capital.

Há dias foi alarmado o pessoal da fabrica de cortiça do Robin-

son com a noticia de que na officina das mulheres o encarrega-

do João Pereira, mantinha dentro da fabrica relações amorosas

com uma mulher casada.

Pois bem o industrial Robinson em vez de attender o pedido

dos operários Carolina Salvaterra e Amelia Bispo afim de que

o encarregado fosse retirado d’aquella officina despediu as

referidas operarias, que reclamavam como medida moralisa-

dora que aquelle fosse substituído por uma mulher. Nada

mais justo.

Porém o industrial Robinson, protestante e moralista género

inglez, aproveitando a occasião pretendeu vingar-se das referi-

das operarias por ellas serem leitoras assiduas dos jornaes li-

bertarios. Os operarios protestaram contra o injusto despedi-

mento motivo porque o industrial fechou a fabrica mandando

sahir o pessoal no prazo de dez minutos. Isto deu-se pelas

11 horas da manhã ficando logo toda a cidade alarmada com o

facto.

Começa aqui a obra maldita do industrial e da auctoridade

como se vae ver.

Os operarios em face do insolito procedimento do industrial

reuniram na cooperativa operario e ali nomearam uma com-

missão afim de ir entrevistar o industrial procedendo em tudo

com a maior correcção. Eis o que respondeu o industrial á com-

missão segundo é voz corrente: – Escusam de se cançar porque se

eu entender e me dér na vontade vou amanhã á fabrica e lanço fogo

a tudo aquilo porque é meu e como tenho muito dinheiro e muito que

comer vou-me embora e vocês ca ficam a morrer de fome, e olhem

que sou capaz de o fazer. Tal foi, conforme constou, o que disse o

industrial aos operarios que o teem enriquecido. A commissão

voltou á assembléa a dar conta do seu mandato, que recebeu a

resposta indignadamente declarando-se em gréve e nomeando

commissões de vigilancia afim de evitar, que algum mal inten-

cionado deitasse fogo á fabrica ou ainda o proprio industrial

em virtude das declarações feitas á commissão. Uma outra

commissão, foi conferenciar com o governador civil participan-

do-lhe o facto e pedindo providencias.

Vejamos agora o que o governador civil disse á commissão.

Eu não consinto a gréve senão nas condições seguintes: Quem não

desejar trabalhar não trabalha, não admittindo de modo algum que

se impeça a entrada a quem quizer trabalhar, senão se fizer assim

procederei contra os que desacatarem estas ordens. Isto indignou

os operarios que tentaram manter a gréve a todo o transe.

O governador civil andou illudindo a classe corticeira dizendo-

lhe que fosse trabalhar de manhã e que não se importasse se

alguem era despedido ou se fechavam quatro officinas como

affirmava o industrial. Para se ver como elle cumpriu a sua pa-

lavra ahi vae uma amostra dos resultados da gréve.

O camarada Emilio José Gazalho foi despedido, pois o governa-

dor civil disse aos operarios que não fizessem gréve, que elle

lhes arranjaria um emprego o que não fez.

Page 55: Conflitos sociais em Portalegre no tempo dos Robinson Social

53

Como o governador civil visse que os seus planos eram frustra-

dos, começou por dizer, que ia mandar sahir o regimento do

22, cavallaria e toda a tropa que fosse precisa e mandaria carre-

gar sobre os grévistas se elles não retomassem o trabalho e que

os manadaria fusilar se tanto fosse necessário.

A estas palavras responderam os camaradas Jacintho Betencourtt

e José Miranda, que a moderna republica portugueza empregava

processos de fusilamento, como as antigas republicas e que isso

era a negação de tudo quanto tinham apregoado os falsos demo-

cratas da liberdade, egualdade e fraternidade. O governador civil

disse, que se assim procedia era porque tinha poderes para isso.

Agora perguntamos nós aos corticeiros será ou não tudo isto á

paga condigna dos operários terem incesado as auctoridades

republicanas?

Revejam-se na licção dos factos!... Durante a noite do dia em

que se deu a gréve commissões de vigilancia rondavam a fabri-

ca não deixando circular senão aquelles a quem reconheciam

serem inofensivos. Pela manhã os operarios em massa com as

operarias a frente aglomeraram-se em frente da porta da fabri-

ca formando um cordão afim de impedir que alguem podesse

furar a gréve. O guarda portão João José d’Oliveira, mais co-

nhecido pelo Pá-de-Pana começou a empurrar as mulheres fa-

zendo-as afastar do portão o que lhe ia custando bem caro a

ousadia se não se refugia no interior da fabrica.

Ás 6 horas toca o apito para a entrada na fabrica sendo então

dito pelo referido Pá-de-Pana, que o industrial tinha auctorisa-

do a entrada a quem o desejasse fazer. Só dois operários entra-

ram saltando por cima das mulheres que se encontravam sen-

tadas, Côrte Real e João Mendes, não respeitando assim as

resoluções da assembléa geral e abusando das mulheres como

se fossem cousa inutil.

Como mais ninguém tivesse entrado o industrial chamou as

mulheres que tinham sido despedidas aconselhando-as a reti-

rar para casa e irem quando elle as mandasse chamar e o resto

do pessoal podia entrar. Então levantaram-se protestos e gri-

tos ou trabalhavam todos ou ninguem.

N’estas circumstancias o industrial mandou parar as machinas

para abrir ás 9 horas afim de ver se alguem queria entrar.

A esta hora entraram os operários seguintes: Estevão Godinho

(O Pé Descalço) Annibal Francisco, Manuel Bolvi, Antonio Bajaco,

Francisco Carrejola, Manoel da Horta, Antonio da Ribeira de Niza,

João Mendes, Augusto Bagina, José Marcelino, José Mendes e

Mourato. Quando entraram na fabrica foram apodados de traido-

res. Depois d’isto foi pelo governador civil chamada a commissão

sendo-lhe dito que estava já resolvido com o industrial que ás duas

horas fosse tudo trabalhar e que ninguem seria despedido.

Ás duas horas da tarde tudo entrou para a fabrica e depois to-

dos se encontrarem nos seus logares despediu as duas mulhe-

res já citadas e João Pilatos e mandou fechar as quatro offici-

nas que mais tinham auxiliado as mulheres.

Tudo isto se passou com auxilio da auctoridade que se compro-

meteu a exemplo de Ferreira do Amaral a que ninguem seria

perseguido se elles se submetessem.

Á noite como se desconfiasse que um gesto que fez o industrial

com um cavallo marinho era d’ameaça para os operários houve

discussão entre camaradas Antonio Curto e A. Penso que ti-

nham vindo de Estremoz vender rolhas e alguns corticeiros

d’esta cidade a quem disseram, que se a gréve se tivessé dado

n’outra parte nem a gréve era furada, nem se consentia que o

industrial insultasse os operarios.

Pois foi isto o bastante para que fossem presos tendo-se inven-

tado para justificar as prisões, e mantel-os-incommunicaveis

que elles haviam dito que eram capazes de matar o industrial, o

que é falso como se prova com testemunhas.

O industrial tendo reconhecido que tinha feito tolice em dizer

á commissão, que deitaria fogo á fabrica se assim o entendesse,

mandou chamar os camaradas que compõem a commissão e

que são: José Miranda, Francisco Ferreira, Ignacio Miranda,

João Lourenço da Silva, Antonio Severo, José dos Remedios,

José Maria Frazôa e Pedro Caroço de que os ia processar em

consequencia de terem propalado que elle deitaria fogo á fabri-

ca se assim o entendesse.

Page 56: Conflitos sociais em Portalegre no tempo dos Robinson Social

54

Segundo nos consta, a commissão está no firme proposito de

manter o que disse não temendo ameaças e dizer tão sómente

a verdade.

Honra lhe seja feita.

Carlos Pereira Ramos

O Corticeiro, n.º 115, 5 de Agosto de 1911, pp. 3-4

N.º 27

Greve na Fábrica Robinson (1911)

PortalegreCamarada redactor: Não posso de maneira alguma deixar de

lhes relatar o que se passou n’esta cidade em uma gréve que

durou dia e meio sendo eu secretaria da Associação dos Corti-

ceiros onde era bastante estimada, hoje porem é possível que

tal não succeda por que vejo os traidores são mais estimados

que os companheiros leaes.

Em consequência da gréve fui despedida juntamente com outra

companheira e um companheiro ficando nós sem pão e na mi-

seria. Sômos victimas d’uma vingança do industrial, esse

monstro maldito que tudo esmaga com o capital que possue.

Eu desculpo os camaradas que não souberam manter a gréve

com dignidade prejudicando-nos impensadamente desejando

nós porem que nos auxiliem em tudo o que lhe seja possivel.

Agora camarada redactor vou esclarecel’o ácerca do que origi-

nou a gréve.

Na officina das machinas de quadrar e fazer rolhas estava um

encarregado que mantinha relações com uma mulher casada,

alem d’este encarregado outros tem havido que também teem

tido amantes o que é vergonhoso para os nossos sentimentos

de mulheres honestas. Tanto dentro da fabrica como fóra d’ella

aquella officina tinha uma reputação escandalosa. Para por ter-

mo a este estado de cousas fomos expor ao industrial os factos

que narrâmos dizendo elle que seriamos attendidas. No outro

dia porem disse que ele é que mandava na sua casa e não acce-

dia ao nosso pedido do encarregado ser substituido por uma

mulher, que as ha na officina mais habilitadas que os homens.

E’ preciso que se saiba que o pae do industrial quando veio para

Portalegre apenas trazia a camisa no corpo.

Portanto, pedimos a todos os camaradas corticeiros que nos

auxiliem na medida das nossas forças.

As victimas da gréve Carolina Piedade Salvaterra, Amelia Au-

gusta Frazôa e João Manuel Dias Pereira.

N. R. A todos os camaradas corticeiros, Associações de classe,

Secções e Comités, que desejem auxiliar aquelles camaradas

podem remeter os donativos para Carolina Piedade da Salva-

terra, Rua Alexandre Herculano em frente do salão Paraizo,

Portalegre.

Camarada redactor:

Pedimos-lhe que rectifique parte da materia contida na corres-

pondencia d’esta cidade assignada por Carlos Pereira Ramos; e

que se refere ás palavras trocadas entre o industrial Robinson e

a commissão dos grevistas, que não é a expressão da verdade.

O periodo da correspondencia que pedimos para rectificar é

este: – Escusam de se cançar porque se eu entender e me der na

vontade, vou amanhã á fabrica e lanço fogo a tudo aquillo porque é

meu e como tenho muito dinheiro e muito que comer vou-me embora

e vocês ca ficam a morrer à fome, e olhem que sou capaz d’isso, Ora

isto não é verdade, porque o industrial não poderia proferir

taes palavras. No dia 24 do mez passado foi uma commissão de

quatro operarias conferenciar com o industrial sr. Dosen, dan-

do este as providencias seguintes:

Substituição do encarregado João Pereira por outro não sendo

as referidas operarias despedidas n’aquellla occasião e sim duas

depois do conflicto. O resto do artigo é quasi todo n’este theor,

pelo que não agradou á classe corticeira por não ser a expressão

da verdade. Como membros da commissão vimos esclarecer a

situação no que entendemos ser justo,

Page 57: Conflitos sociais em Portalegre no tempo dos Robinson Social

55

A commissão.

Antonio Casemiro da Silva, A rogo de José Carlos, por não sa-

ber bem ler nem escrever, Humberto Ribeiro d’Albuquerque,

Antonio José Severo, Pedro Manuel Caroço e José dos Reme-

dios.

O Corticeiro, n.º 116, 12 de Agosto de 1911, p. 3

N.º 28

Greve na Fábrica Robinson (1911)

PortalegreCamaradas: Apoz a solução de qualquer gréve bem ou mal suc-

cedida é necessário redobrar de energia e seguir com mais fir-

meza a propaganda do ideal redemptor da nossa emancipação

social, que se aproxima de nós vertiginosamente.

É preciso n’estes casos conhecer os verdadeiros traidores que

urdem na sombra e tentam introduzir na nossa classe a intriga

originando recriminações mutuas pelo mau sucesso gréve.

N’este momento é o que aqui está succedendo, por isso camara-

das, alerta contra os traidores, abramos bem os olhos, descu-

bramos quem são os desorganisadores do nosso trabalho de

emancipação do jugo patronal, e então mostral’os perante o pu-

blico votando-os ao desprezo. Consta, que uns certos indivídu-

os tentam expulsar de Portalegre um nosso companheiro e que

entre os promotores d’essa explusão há protestantes, catholi-

cos e alguns corticeiros. Sendo assim, muito teremos que con-

versar com os que no seu tabernaculo pregam contrictos o

amor e a tolerancia entre os homens e na vida mostram ter

coração de fera.

Conversaremos também com os corticeiros que andam feitos

locaios da Republica esquecendo a camaradagem que devem

manter pondo-se incondicionalmente ás ordens dos patrões.

Diz-se também, que alguns elementos preponderantes entre a

classe corticeira foram prestar vassalagem ao industrial Robinson.

Será verdade?

Se assim fór é o cumulo do rebaixamento moral d’aquelles ca-

maradas.

Camaradas: Reparem bem no dia d’amanhã, os vossos compa-

nheiros vão sendo pouco a pouco expulsos pelo industrial ape-

zar d’este se dizer tolerante e fechar os olhos no tabernaculo e

pregar o amor entre todos os irmãos.

E acaso a Associação dos Corticeiros protesta? Não, submetes-

se! Que vergonha para todos nós, que fazemos uma figura tris-

tissima perante todos os corticeiros do paiz tendo a nossa asso-

ciação interdicta pelo industrial. Continuaremos.

A. E.

O Corticeiro, n.º 117, 19 de Agosto de 1911, p. 4

N.º 29

Greve na Fábrica Robinson (1911)

PortalegreComo covardes e poltrões se portaram dois esbiros aggredindo

o nosso companheiro Carlos Pereira Ramos. Pelas circunstan-

cias que revestiram a aggressão viu-se claramente, que os auc-

tores da proeza foram instrumentos passivos d’alguem que tem

todo o interesse em mandar provocar e offender o nosso amigo

Ramos e preparar a sua expulsão.

Descanse porem o mandatario e os seus rafeiros, que o facto de

pretender inutilizar os operarios, que não lhe agradam, não im-

pede que nós livres das mãos dos grandes liberaes da joven Re-

publica continuemos na defeza dos ideaes que tanto vos assus-

ta e vos confundem. Continuae pois na vossa tarefa ignobil,

que não callareis nunca a voz dos opprimidos, que a toda a hora

echoará para vos apontar os vossos crimes e despotismo de de-

mocratas intolerantes.

Baldado trabalho o de aliciar com falsa rethorica defensores que em

vez de rehabilitarem comprometem. Vamos fazer a autopsia moral

aos traidores da nossa classe e verão depois os camaradas sinceros

que os rafeiros do Grão Turco são em tudo eguaes ao seu dono.

Page 58: Conflitos sociais em Portalegre no tempo dos Robinson Social

56

Segundo nos informam um dos indicados capoeiras é habil em

manejar o punhal, logo não será surpreza alguma, que n’um

futuro proximo tenhamos a registar algum crime.

A.E

O Corticeiro, n.º 119, 2 de Setembro de 1911, p. 4

N.º 30

Solidariedade com os trabalhadores rurais de Évora

(1912)

Em PortalegreO operariado d’esta cidade, por uma fórma cordata e ordeira, e

movido por um nobre sentimento de solariedade, depois de ha-

ver reunido na Cooperativa, resolveu ir junto do sr. governador

civil, para por intermedio de s. ex.ª protestar perante o sr. mi-

nistro do Interior contra o que pelas noticias que tinha, julgava

os abusos das autoridades d’Évora, pedindo que elas fossem

demetidas e manifestando ao mesmo tempo o seu apoio moral,

aos grevistas da capital alentejana.

No Governo Civil, que desde que o sr. José d’Andrade Sequeira

desempenha o cargo de primeiro magistrado do distrito, é uma

verdadeira casa do povo e onde sua ex.ª recebe sempre todos os

que o procuram dentro da puresa das suas normas de bom repu-

blicano, entrou uma comissão delegada da multidão operaria, que

aguardava nos baixos do edifício, na segunda feira pelas 14 horas.

Exposto pela comissão o fim a que se propunha, o sr. governa-

dor civil por forma amavel e atenciosa que a todos os comissio-

nados muito cativou, trocadas breves impressões, gentilmente

acedeu em expedir ao sr. ministro do Interior, um telegrama

com a exposição do que os operarios desejam.

A seguir, a comissão deu conta a quantos a aguardavam da for-

ma carinhosa por que havia sido recebida, resolvendo voltar

para a Cooperativa a aguardar os acontecimentos.

E de facto a grande massa dos manifestantes para ali se enca-

minhou.

Uma pequena parte, porem, ficou á porta do governo civil, dei-

xando transparecer claramente a estulta pretenção de que se

devia exigir que o ministro respondesse imediatamente ao tele-

grama que lhe havia sido enviado! Parece impossivel, mas é ver-

dade!

Este pequeno grupo, porem, dos manifestantes, já não eram os

verdadeiros operarios. Era gente mais que suspeita nos seus

propositos e intenções de mistura com conhecidos frequenta-

dores da taberna ás segundas feiras e mais dias da semana.

Á hora habitual, o chefe do districto, saía do edifício do gover-

no civil, sendo imediatamente rodeado por quantos ainda ali se

encontravam, a quem explicou pela forma mais presuasiva a

impossibilidade de obter uma resposta imediata ao telegram-

ma que, a pedido da comissão, havia expedido.

Parecendo ficar todos convencidos, s. ex.ª dirige-se ao automo-

vel que o aguardava e sem que ninguem de ponderação o sus-

peitasse, levanta-se enorme e agressiva gritaria.

Desce novamente do carro o chefe do distrito, e não fazendo

uso da força de policia que ali se encontrava, com uma pruden-

cia que nem todos seriam capazes de manter, dirige-se para o

meio do grupo, interpela frente a frente os manifestantes mais

exaltados, que cobardemente declinam a responsabilidade dos

gritos que haviam soltado.

Retira-se s. ex.ª e pelas costas, quando já não podia ouvir, nova

algazarra se levanta, que deixou indignados a ponto de estarem

iminentes conflitos pessoais, muitos que no local se encontra-

vam.

Horas depois, corria na cidade, que o governador civil se visto

obrigado a fugir!

O boato infame e infamante, as boas almas, os refinadissimos

tratantes que mentem sem sombras d’escrupulo, para conspur-

car a dignidade dos que tanto a presam como J. Andrade Se-

queira que é mais que suficientemente brioso, que não foge nas

ocasiões de perigo, como mais de uma vez em sua vida tem pro-

vado, com risco da propria existencia, em momentos dificeis de

campanhas do ultramar!

Page 59: Conflitos sociais em Portalegre no tempo dos Robinson Social

57

– No dia seguinte os cabeças de motim foram enviados para

juizo.

– Entre a grande massa operaria, e por honra sua, foi aspera-

mente comentada, e não perfilhada, a atitude dos desordeiros

manifestantes.

A Plebe, n.º 827, 3 de Janeiro de 1912, p. 3

N.º 31

Solidariedade com os trabalhadores rurais de Évora

(1912)

Adhesão operariaNa ultima segunda feira reuniram no Salão da Cooperativa

Operaria Portalegrense, as associações de classe dos Corticei-

ros, Manufactores de calçado e Alvaneos, fazendo uso da pala-

vra differentes oradores das mesmas colectividades, que trata-

ram dos tristes acontecimentos na cidade d’Evora.

Em seguida, n’um numero extraordinario de pessoas, encami-

nharam-se para o Governo Civil, onde foram estar com o chefe

do districto, solicitando de sua ex.ª, dignasse telegraphar ao

governo, que as associações ali representadas em grande nu-

mero adheriram aos seus companheiros em greve na cidade de

Evora e por isso eram seus desejos de que fossem satisfeitos os

pedidos por elles apresentados ao governo.

Foi enviado telegramma n’este sentido.

O Distrito de Portalegre, n.º 1939, 31 de Janeiro de 1912, p.2

N.º 32

Solidariedade com os trabalhadores rurais de Évora

(1912)

PortalegreEm cousequencia do telegrama que de ahi recebemos quando

da gréve geral, os corticeiros, sapateiros e alvaneos reuniram

na cooperativa em assembleia geral lavrando-se um protesto

contra as violencias das auctoridades em Evora, que foi levado

ao Governador Civil, com quem se trocaram algumas palavras

irritantes motivo porque em 29 de março foram presos e pro-

cessados tres corticeiros soçios da associação, quatro sapatei-

ros e um barbeiro.

Pedimos á Federação Corticeira nos indique a melhor forma de

procedermos nesta conjuntura.

A Direção

N. R. Muito brevemente a Federação Corticeira vae occupar-se

desse e outros assuntos que se prendem com os acontecimen-

tos de janeiro findo, fazendo todo o possivel para que se reme-

deem todos os inconvenientes que houver.

O Corticeiro, n.º 146, 13 de Abril de 1912, p. 4

N.º 33

Solidariedade com os trabalhadores rurais de Évora

(1912)

Pelo tribunal Estava marcado para o dia 17 do corrente o julgamento em pro-

cesso correcional de Gervasio Augusto Madeira, Antonio Tei-

xeira, Manuel Esquetim, Carlos Pereira Ramos, Joaquim Maria

Carrapiço, Antonio Soares, Francisco Cabecinha e Domingos

Batista, todos d’esta cidade, acusados pelo Agente do Ministe-

rio Publico de terem ofendido por palavras o Doutor José

d’Andrade Sequeira, quando exercia as funções de Governador

Civil d’este distrito, crime previsto e punido pelo artigo 181.º

do Codigo Penal.

Como nenhum dos arguidos tivesse advogado constituido, foi-

lhes pelo Meritissimo Juiz nomeado advogadi oficioso o

Dr. Antonio Sampaio que á ultima hora pediu escusa.

Encontrando-se n’essa ocasião presentes dois advogados, o

digno juiz encarregou da defêsa o mais velho d’eles – Dr. Almei-

Page 60: Conflitos sociais em Portalegre no tempo dos Robinson Social

58

da e Souza – o qual declarou que aceitava a defêsa, mas que

precisava de uma conferencia previa com os arguidos, visto que

apenas conhecia um d’eles e precisava de os ouvir sobre a defè-

sa que tinham a apresentar.

Com a devida autorisação, passou o referido advogado a confe-

renciar com os arguidos e, finda essa conferencia, voltaram a

sala do tribunal, ditando em seguida o Dr. Almeida e Souza o

seguinte requerimento, que foi exarado na acta:

«Na sessão da Camara dos Deputados de 14 de Maio corrente

foi apresentado um projecto de lei, assinado por vários

deputados, cujo texto consta do jornal Diario de Noticias

n.º 16705, de 15 do corrente mez, pelo qual se aclarava e inter-

pretava a lei de 4 do corrente sobre a amnistia concedida a to-

dos os individuos implicados em casos de gréve que estivessem

presos ou tivessem sido pronunciados á data da promulgação

d’essa lei.

Tal projecto foi aprovado n’aquela camara, como se vê do Sumá-

rio da sessão da mesma Camara de 14 de Maio corrente, a pagi-

nas 1039, 1.ª coluna, embora a comissão de legislação criminal

lhe tenha introduzido quaesquer alterações na redacção, como

se do referido Sumário.

Transitou esse projecto para o Senado e tambem mereceu a sua

aprovação, como se póde ver no jornal Diario de Noticias de on-

tem 16 do corrente, n.º 16706.

Vê-se pois que o Congresso da Republica tornou extensiva a

amnistia concedida pela citada lei de 4 de Maio a todos os fac-

tos puniveis, que, relacionando-se directamente com casos de

gréve, os tenham precedido, acompanhado ou seguido e que

não tenham importado crime de homicidio nem qualquer dos

crimes previstos na lei de 30 d’Abril ultimo.

E, porque todos os arguidos n’este processo o são precisamente

porque, no pleno uso do seu direito de cidadãos livres, protes-

taram com fundamento que se lhes afigurou justo, e reclama-

ram do então governador civil deste distrito que solicitasse

providencias da autoridade superior relativamente aos casos

da gréve d’Evora, facto que se deu justamente no dia em que

essa gréve estava na sua fase mais aguda, não póde restar duvi-

da de que este processo, como d’éle se vê passim, teve por causa

inicial um caso de gréve que foi a sua origem; e portanto, por

esta relação intima de causa para efeito, deve aproveitar aos

arguidos a aclaração já decretada pelo Congresso, á qual, para

ser lei d’este paiz, apenas falta a promulgação do Chefe do Es-

tado, que tudo leva a crer, será feita dentro d’um praso de pou-

cos dias.

N’estas condições seria inutil e até pouco equitativo que, decre-

tada, como está, pelo Congresso uma aclaração à lei da amnis-

tia oitada, este tribunal fizesse hoje este julgamento para –

quem sabe? – amanhã o ilustre juiz ter de lhe aplicar uma

amnistia.

Acresce que a já bastante longa prisão de sete dos arguidos não

deve ser agravada com a tortura d’um julgamento, que consti-

tue um suplicio para os reus sem ser util á sociedade.

E já que – donde menos era de esperar – houve tão pouca gene-

rosidade para com estes infelizes filhos do povo, bem dignos

de melhor sorte; já que a sorte foi tão descaroavel para com

eles que os atirou durante quasi dois mezes para a escuridão

d’uma cadeia – emquanto outros mais felizes, tendo aliás pra-

ticado actos mais censuraveis do que estes, ficaram impunes e

andam gosando o sol acalentador desta suave primavera –,

justo é que pelo menos quando uma amnistia, cheia de genero-

sidade està prestes a ser-lhes proveitosa, este tribunal mostre

a mesma generosidade e compaixão, como testemunho elo-

quente de que aqui dentro não se sabe o que é paixão e mau

humor, mas apenas impéra a serenidade calma que dignifica, e

o respeito pelos altos principios da justiça, que, ainda não

existam nas leis, são patrimonio da consciencia colectiva e

muito especialmente dos magistrados encarregados da aplica-

ção das mesmas leis.

N’estes termos requere-se que este julgamento seja adiado até

que transformada que seja em lei a ampliação já decretada pelo

Congresso sobre amnistia, se veja se ela é ou não aplicavel aos

arguidos».

Page 61: Conflitos sociais em Portalegre no tempo dos Robinson Social

59

O meretissimo juiz, ouvido o Agente do Ministerio Publico que

declarou nada ter a opôr, deferiu ao requerido, adiando o julga-

mento e em seguida lembrou aos arguidos não afiançados que,

por força da lei, êles tinham novamente de recolher á cadeia, a

não ser que consseguissem arranjar fiador. o que muito agrada-

vel lhe seria, atentas as circumstancias especiaes em que se en-

contram.

Levantou-se então o dr. Almeida e Sousa, seu advogado, e decla-

rou que sendo ele a causa d’este adiamento não podia consentir

que, por virtude do seu modo de ver como advogado os arguidos

tivessem de soffrer mais tempo de prisão, embora preventiva, e

que, desejando assumir completa responsabilidade pelos seus

actos e opiniões, se oferecia como fiador de todos os sete reus

não afiançandos, apesar de não os conhecer, e que n’esse sentido

ia ser apresentado, como foi, requerimento ao meritissimo juiz.

Prestada a fiança que estava arbitrada em 200$00 réis para

cada reu, foram estes postos em liberdade.

O facto produziu no auditorio, que era numeroso, grande sen-

sação. Quando o sr. dr. Almeida e Souza, sabia do Tribunal o

povo louvava sua ex.ª pela nobre acção e ao abraçal-o, o distinc-

to advogado disse: Não quero manifestações, não quero mani-

festações d’especie alguma.

Os arguidos foram depois a casa do sr. dr. Almeida e Souza,

agradecer o grande favor, que sua ex.ª lhes acabava de fazer.

O Distrito de Portalegre, n.º 1970, 19 de Maio de 1912

N.º 34

Greve na Fábrica Pequena (1920)

Em Portalegre estão em greve os operários da fiaçãoOs operarios da fabrica de fiação, conhecida como Fabrica Pe-

quena e pertencente ao Sr. Oliveira Meca, do Porto, estão em

greve há dias. Os operários, que ganham uns salarios de 1$40 a

1$80 pediram um aumento de 40%; o proprietario da fabrica

concedeu-lhes 10% mas com a condição de trabalharem mais

2 horas por dia.

Os operarios publicaram um manifesto dando explicações ao

publico e declararam a gréve. Os salarios são insignificantes e a

concessão de 10% é pouco menos que irrisorio, atendendo à

carestia da vida que, por assim dizer, cada hora se faz sentir

mais e mais.

A Pátria, n.º 1061, Lisboa, 11 de Setembro de 1920, p. 5

Page 62: Conflitos sociais em Portalegre no tempo dos Robinson Social

60

Resumos e palavras -chaveAbstracts and keywordsResúmenes y palabras clave

Publicações da Fundação Robinson 23, 2012, p. 60-61, ISSN 1646 -7116

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Conflitos sociais em Portalegre no tempo dos Robinson

Nesta edição das Publicações da Fundação Robinson

focam-se os conflitos sociais e laborais ocorridos

no concelho de Portalegre entre os finais do século

XIX e 1920, tendo por base documental a imprensa

local e nacional. Durante este período destacam-se

no tecido industrial portalegrense a indústria cor-

ticeira e de lanifícios, ambas de tradição secular e

empregando milhares de operários. É sobretudo

no seio destas unidades industriais que, a par das

novas sociabilidades promovidas pelo liberalismo,

se vão formando movimentos organizados de clas-

ses – como os corticeiros – que reivindicam direi-

tos sociais compatíveis com sua condição operária

e que manifestam uma solidariedade de classe até

então desconhecida.

Palavras-chave

Séculos XIX e XX

Portalegre

Indústria

Operariado

Associativismo

Sindicalismo

Lutas Sociais

Greves

Social Conflicts in Portalegre during the Robinson period

This issue of the Publications of the Robinson Foun-

dation is focused on the social and labour conflicts

which occurred in the district of Portalegre between

the late nineteenth century and 1920, based on doc-

umentation from the local and national press. Dur-

ing this period the cork and woollen industries were

particularly strong in the Portalegre industrial fab-

ric, both with a centuries-long tradition and which

employed thousands of workers. It is mainly within

these industrial sectors, alongside the new sociabil-

ity promoted by liberalism, that class movements

were formed – such as that of the cork workers -

claiming social rights compatible with their working

condition and showing a hitherto unknown class

solidarity.

Keywords

Nineteenth and twentieth centuries

Portalegre

Industry

Working class

Associational Life

Trade Unionism

Social struggles

Strikes

Conflictos sociales en Portalegre en la época de los Robinson

En este número de las Publicaciones de la Fundación

Robinson se enfocan los conflictos sociales y labo-

rales acaecidos en la región de Portalegre de finales

del siglo XIX a 1920, teniendo como base documen-

tal la prensa local y nacional. Durante este periodo

se destacan, entre las industrias de Portalegre,

la industria corchera y las lanas, ambas de tradi-

ción secular y que empleaban a miles de obreros.

Es sobre todo en el seno de estas unidades indus-

triales donde, junto a las nuevas relaciones socia-

les animadas por el liberalismo, se van formando

movimientos organizados de clases – como los cor-

cheros – que reivindican derechos adecuados a su

condición obrera, y que manifiestan una solidari-

dad de clase desconocida hasta entonces.

Palabras-clave

Siglos XIX y XX

Portalegre

Industria

Obreros

Asociativismo

Sindicalismo

Luchas Sociales

Huelgas

PO

RT

UG

S

EN

GL

ISH

ES

PA

ÑO

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