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Universidade Federal de Viçosa Centro de Ciências Agrárias Departamento de Engenharia Florestal Conflitos Territoriais: O Eucalipto e a Siderurgia em Minas Gerais Livia Morena Brantes Bezerra Viçosa, Minas Gerais Dezembro, 2009.

Conflitos territoriais: O eucalipto e a siderurgia em Minas Gerais

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monografia de conclusão de curso

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Page 1: Conflitos territoriais: O eucalipto e a siderurgia em Minas Gerais

Universidade Federal de Viçosa

Centro de Ciências Agrárias Departamento de Engenharia Florestal

Conflitos Territoriais: O Eucalipto e a Siderurgia em Minas Gerais

Livia Morena Brantes Bezerra

Viçosa, Minas Gerais Dezembro, 2009.

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Livia Morena Brantes Bezerra

Conflitos Territoriais: O Eucalipto e a Siderurgia em Minas Gerais

Monografia apresentada ao Departamento de Engenharia Florestal da Universidade Federal de Viçosa, como parte das exigências do curso de graduação em Engenharia Florestal.

Viçosa, Minas Gerais Dezembro, 2009.

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Livia Morena Brantes Bezerra

Conflitos Territoriais: O Eucalipto e a Siderurgia em Minas Gerais

Monografia apresentada ao Departamento de Engenharia Florestal da Universidade Federal de Viçosa, como parte das exigências do curso de graduação em Engenharia Florestal.

APROVADA: 4 de dezembro de 2009.

____________________________ Klemens Augustinus Laschefski

(Orientador)

Viçosa, Minas Gerais Dezembro, 2009.

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À Associação Brasileira de Estudantes de Engenharia Florestal (ABEEF)

Para continuarmos avançando na luta por uma sociedade harmônica, sem

exploração, nem da natureza, nem do homem.

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Page 5: Conflitos territoriais: O eucalipto e a siderurgia em Minas Gerais

AGRADECIMENTOS

Ao povo organizado que ousa sonhar com dias melhores, pois sabe que

eles precisam vir.

Aos estudantes que se identificam com esse povo, e lutam para que sua

vida na universidade tenha algum significado e não se deixam transformar em

mercadorias. Aos companheiros de luta da ABEEF por esses passos que

damos a cada dia rumo a uma Engenharia Florestal comprometida com a

realidade que vivemos, por me sustentar em Viçosa durante esses anos de

tanto aprendizado.

Aos meus pais, por me ensinarem a amar o povo e a terra, por

incentivarem minhas decisões, por me ajudarem em toda essa caminhada. Aos

meus irmãos por dividirem seus ensinamentos com a caçula. A minha família

por estar sempre por perto (e sempre em festa).

Ao Klemens pela orientação e apoio, sempre tão solicito.

Ao Vini e ao Felipe, por tornarem a vida em Viçosa mais feliz,

interessante, colorida e gorda! Aos companheiros e companheiras de república,

que me ensinaram, cada um uma coisa, a viver em comunidade. A Jojo,

conterrânea, que deixou muita saudade quando resolveu dar uma volta por aí

logo no último período e com a qual aprendi muitas coisas durante essa vida

Viçosa-Friburguense.

A Andressa, pela melhor companhia que se pode ter (e por me ajudar a

melhorar o acervo com suas músicas anos 60 e 70). Ao Guilherme, pela dica

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da Engenharia Florestal. Ao David e ao Gabriel pelas risadas, a Priscila, por me

ensinar a escapar da dor na mente.

Ao Bloco, por preencher as minhas tardes de domingo com muito

batuque, cantoria e dança.

Ao TEIA pelo trabalho com Educação Popular, Agroecologia e Economia

Popular Solidária, e mais recentemente com Tecnologias Sociais, que me

abriram os olhos para outras dimensões da luta.

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Page 7: Conflitos territoriais: O eucalipto e a siderurgia em Minas Gerais

BIOGRAFIA

Livia Morena Brantes Bezerra, filha de Zilda Maria Brantes e Marcos Luiz

Bezerra, nasceu na cidade de Nova Friburgo, RJ, no dia 29 de dezembro de

1986. Ingressou no curso de graduação em Engenharia Florestal no ano de

2005. Em 2006 começou a se aproximar das atividades da Associação

Brasileira de Estudantes de Engenharia Florestal (ABEEF) e em 2007 assumiu

a Coordenação Regional Mata Atlântica junto com seus companheiros de

Viçosa. Em 2009 assumiu a Coordenação Nacional da ABEEF, em conjunto

com o grupo de Belém-PA. Durante o curso participou também do Programa de

Extensão TEIA, no projeto intitulado “Percepção e uso sustentável do solo em

assentamento de reforma agrária” e também do trabalho “A Auto-organização

de Trabalhadoras Rurais do MST na Luta pela Soberania Alimentar: A

Experiência das Camponesas do Assentamento Olga Benário”, ambos

desenvolvidos no assentamento Olga Benário em Visconde do Rio Branco,

MG. Passava as tardes de domingo a tocar xequerê (2007-2008) e alfaia

(2009) no Grupo de Cultura Popular O Bloco.

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“Não tenho o Sol escondido No meu bolso de palavras

Sou simplesmente um homem para quem já a primeira pessoa do singular

foi deixando, devagar, sofridamente de ser, para transformar-se

- Muito mais sofridamente - na primeira e profunda pessoa

do plural” Thiago de Mello

vi

Page 9: Conflitos territoriais: O eucalipto e a siderurgia em Minas Gerais

CONTEÚDO

Página

LISTA DE GRÁFICOS ..................................................................................... viii

LISTA DE FIGURAS ........................................................................................ ix

LISTA DE QUADROS ........................................................................................ x

EXTRATO ......................................................................................................... xi

Introdução ........................................................................................................ 12

Capítulo I: Território comum X Território Privado ............................................ 14

1. Território e divisão territorial do trabalho ........................................... 14

2. Histórico do setor florestal brasileiro ................................................. 17

3. A apropriação do território pelo setor florestal .................................. 20

Capítulo II: A cadeia produtiva do aço ............................................................. 25

1. As empresas envolvidas ................................................................... 25

2. A obtenção do Aço ............................................................................ 27

3 Carvão Vegetal ................................................................................... 28

4. A utilização do Aço ............................................................................ 32

Capítulo III: A Silvicultura em Minas Gerais: Carvão vegetal .......................... 33

1. Localização dos plantios ................................................................... 33

2. Conflitos pela terra: Interesses locais X interesses internacionais ... 35

Considerações Finais ...................................................................................... 42

Referência Bibliográfica ................................................................................... 44

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LISTA DE GRÁFICOS

Página

Gráfico 1: Ocupação da área territorial .......................................................... 16

viii

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LISTA DE FIGURAS

Página

Figura 1: Bateria de fornos industriais ............................................................. 30

Figura 2: Bateria de fornos de superfície ......................................................... 30

Figura 3: Forno Rabo Quente .......................................................................... 31

Figura 4: Índice de Gini da área total dos estabelecimentos agropecuários por município, foco em Minas Gerais – 2006 ........................... 35

ix

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LISTA DE QUADROS

Página

Quadro 1: Concentração de terras em números absolutos e porcentagens nos estabelecimentos com florestas plantadas ........................ 34

x

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EXTRATO

BEZERRA, Livia Morena Brantes. Conflitos Territoriais: O eucalipto e a Siderurgia em Minas Gerais. Orientador: Klemens Augustinus Laschefski. 2009. 48 f. Monografia (graduação em Engenharia Florestal). Universidade Federal de Viçosa. Viçosa, MG.

O trabalho teve como objetivo verificar os conflitos oriundos da

apropriação de territórios na cadeia produtiva do aço em Minas Gerais. O

território foi escolhido como uma categoria de análise, pois revela as relações

humanas, ecológicas, econômicas e de poder envolvidas nele. A atividade

siderúrgica é uma das mais expressivas da economia mineira, e apresenta

círculos de produção e de consumo bem definidos, por isso tem grande

influência na organização do espaço no estado. Entre os incentivos dados ao

desenvolvimento da atividade, nos idos de 1970, um dos mais expressivos foi a

concessão de terras devolutas, habitadas e utilizadas por comunidades

tradicionais, para fins de plantios de eucalipto, gerando grandes conflitos, que

hoje voltam a tona, com o vencimento e renovação ilegal das concessões. As

comunidades exigem seus direitos sobre o território ancestral e as empresas

exigem seu direito à propriedade privada. A sociedade deve intervir.

xi

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INTRODUÇÃO

O agronegócio “florestal” é um setor importante na economia brasileira e

ocupa uma parte significativa das terras do país, mais de 6 milhões de hectares

com plantações de eucalipto e pinus (ABRAF, 2009). O estado de Minas Gerais

é o que mais planta eucaliptos, sendo 1.423.212 hectares de seu território

preenchidos com estas plantações (ABRAF, 2009), muitas ocupado terras

devolutas, sem por elas pagarem um preço justo (CALIXTO, 2006).

Ao longo da história, o uso do território brasileiro vai se modificando, mas

a lógica hegemônica desse uso continua sendo a mesma desde que o

capitalismo adentrou essas terras, com a chegada do primeiro europeu: a de

exportar produtos de baixa tecnologia, intensivos em energia e recursos

naturais (incluindo vastos territórios para reprodução das monoculturas),

tratando o território como recurso para a “garantia de realização de interesses

particulares” (HAESBAERT, 2007).

E desde que o capitalismo adentrou essas terras, resistem formas

comunais de organização do território, vividas pelos remanescentes de

indígenas, quilombolas, geraizeiros, caiçaras, seringueiros, sertanejos, que

utilizam o território como abrigo, adaptando-se ao meio geográfico local,

traçando, a partir do conhecimento do ambiente, historicamente construído,

suas estratégias de sobrevivência (HAESBAERT, 2007).

Os modernos complexos agroindustriais são caracterizados por alta

utilização de insumos na produção e grandes extensões de terra, onde os

investimentos possam ser rentáveis, logo requerem uma grande intensidade de

capital, e uma forte dependência da economia de mercado (ELIAS, 2006).

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Por outro lado a agricultura familiar é considerada aquela que utiliza ao

máximo a força de trabalho disponível na própria família. Segundo Lamarche

(1998) a lógica familiar é caracterizada pela relação que as famílias

estabelecem com a terra (sendo esta patrimônio ou meio de produção), a

organização do trabalho e a participação familiar no trabalho feito no

estabelecimento, e as estratégias de reprodução do estabelecimento

dependem da profissão dos filhos. Além disso são estabelecimentos que tem

uma menor dependência tecnológica (tem suas próprias tecnologias

apropriadas ao seu modo de cuidar da terra, não dependem tanto de

tecnologias externas), e não estão necessariamente integrados aos mercados.

Segundo Wanderley (1996), é a família que assume o trabalho no

estabelecimento, e é proprietária dos meios de produção. As populações

tradicionais se inserem nesse contexto por estarem ligadas à terra, se

reproduzirem às custas do território e acumularem vastos conhecimentos sobre

o mesmo ao longo das gerações.

No estado de Minas Gerais, os conflitos de uso do território se dão

principalmente entre as populações tradicionais, agricultores familiares e as

atividades de mineração, que necessitam de enorme quantidade de energia,

para o beneficiamento de seus produtos. Essa energia provém principalmente

das usinas hidrelétricas e do carvão vegetal, responsável por 12,8% da oferta

interna de energia do Brasil (Brasil, 2007), proveniente de plantações de

árvores ou florestas derrubadas.

O Objetivo desse trabalho é verificar os conflitos oriundos da apropriação

de territórios na cadeia produtiva do aço em Minas Gerais, enfocando nos seus

“circuitos espaciais de produção e círculos de cooperação” (SANTOS e

SILVEIRA, 2004).

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Page 16: Conflitos territoriais: O eucalipto e a siderurgia em Minas Gerais

CAPÍTULO 1

Território Comum X Território Privado

1. Território e divisão territorial do trabalho

A capacidade humana de se adaptar a qualquer ambiente é algo que

advem da habilidade que adquirimos, e que nos transformou em humanos, de

modifica-lo, através do trabalho, dando a ele um uso e dele se apropriando. A

esse ambiente usado Santos e Silveira (2004) chamam de Território. E

atribuem ao sentido humano da palavra territorialidade, como aquilo que nos

pertence e a que pertencemos, uma preocupação com o destino, a construção

do futuro.

Haesbaert (2007) caracteriza o conceito de território como algo múltiplo e

dependente da abordagem que se dá a ele. Para tanto agrupa as suas noções

em três vertentes básicas: a política (referida às relações espaço-poder, em

geral), a cultural (que prioriza a dimensão mais simbólica e subjetiva) e a

econômica, que “enfatiza a dimensão espacial das relações econômicas, o

território como fonte de recursos e/ou incorporado no embate entre classes

sociais e na relação capital-trabalho, como produto da divisão territorial do

trabalho”. Utilizaremos nesse trabalho desta última abordagem, pois como

Santos et al. (2000) apud Haesbaert (2007) definem:

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“O território usado constitui-se como um todo complexo onde se tece

uma trama de relações complementares e conflitantes. Daí o vigor do conceito,

convidando a pensar processualmente as relações estabelecidas entre o lugar, a

formação socioespacial e o mundo (p. 3). O território usado, visto como uma

totalidade, é um campo privilegiado para a análise na medida em que, de um lado,

nos revela a estrutura global da sociedade e, de outro lado, a própria complexidade

de seu uso (p. 12).”

Portanto o território é uma ferramenta que nos ajuda a entender as

relações de trabalho associadas a ele (quem produz e quem utiliza), as

modificações produzidas por esse trabalho sobre ele, como impactos

ambientais e sociais, além de nos dar uma noção sobre o poder exercido sobre

esse território, uma vez que nem sempre o território é apropriado por quem o

modifica, quem nele trabalha, mas também se atribuem ao território

características de mercadoria, relações de mercado.

O uso do território pressupõe também o uso dos recursos ali presentes.

Recursos naturais como o solo, a água e a biodiversidade e recursos sociais,

como a força de trabalho, por exemplo.

O território brasileiro vem sendo modificado por diversos meios ao longo

dos tempos. Segundo Santos e Silveira (2004) o uso do território pode ser

definido pela implantação de infra-estruturas, mas também pelo dinamismo da

economia e sociedade. Portanto a história do território brasileiro é a soma e a

síntese da história de suas regiões. O modo de organização do território foi

semelhante nas colônias da América Latina, apenas se diferenciando pelos

produtos ali explorados, e é agrupado por Santos e Silveira (2004) em:

• Meios “naturais”: onde a presença humana buscava adaptar-se aos

sistemas naturais, e os instrumentos artificiais necessários ao domínio desse

mundo eram escassos;

• Meios técnicos: Onde se desenvolvem as tecnologias que gradualmente

atenuam a dependência da natureza. Em algumas regiões essa mecanização

se dá de forma mais intensa, o que nos permite dividir o território em “ilhas”

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com mecanização incompleta. Com a incorporação dessas tecnologias ao

território (infra-estrutura) esse arquipélago se integra mais facilmente, e há uma

hegemonia das regiões Sul e Sudeste sobre o território e o mercado;

• Meio Técnico-Científico-Informacional: caracterizado por uma intensa

difusão dos meios técnicos, suscitada principalmente pelo desenvolvimento de

técnicas de telecomunicação. Informação e finanças passam a identificar os

lugares segundo a sua presença ou escassez.

O gráfico a seguir mostra a proporção entre terras utilizadas para

empreendimentos agropecuários, áreas urbanizadas, áreas protegidas

(unidades de conservação), entre outras, que nos dão um panorama de como

se organiza o espaço brasileiro. Importante lembrar que, ainda que a maioria

das terras sejam utilizadas para empreendimentos agropecuários, a população

brasileira é essencialmente urbana1 (81%), (IBGE, 2006) e ocupa uma área

absolutamente menor.

1 A abordagem do IBGE considera urbana a população que vive nas sedes dos municípios e distritos. Isso, segundo alguns autores citados por Marques (2002), pode levar a uma superestimação da população urbana, uma vez que considera nesse extrato municípios muito pequenos com menos de 2000 habitantes.

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2. Histórico do setor florestal brasileiro

O Brasil começa sua história comercial como um negócio exportador de

espécies florestais, dentre elas destacando-se o pau-brasil (Caesalpinia

echinata). Segundo Prado Junior (2008, p. 25) “era uma exploração rudimentar

que não deixou traços apreciáveis, a não ser na destruição impiedosa e em

larga escala das florestas nativas donde se extraía a preciosa madeira”.

Encerrando-se o ciclo da predominância da exploração madeireira da

colônia, começa-se a cultivar o solo, efetivando-se melhor a povoação de suas

terras. Segundo Prado Junior (2008) utiliza-se aí a cana-de-açúcar, cuja cultura

só se justifica economicamente em grande escala, e que para isso demanda

um maior desbravamento do terreno, lê-se da Floresta Tropical, feito através do

“esforço reunido de muitos trabalhadores”. Como não havia força de trabalho

nativa suficiente, nem metropolitana disposta, o negro africano, escravizado,

será a solução para o problema do trabalho.

Aos princípios do século XVIII descobrem-se jazidas de minerais

preciosos, principalmente ouro e diamante no interior do Brasil, precisamente

no que hoje se chama de estado de Minas Gerais. O aporte de 450 mil

portugueses ao longo de todo século (DEAN, 1996), imprimiu uma grande

pressão sobre a fauna e flora nativa das regiões auríferas e diamantinas. Os

minerais eram extraídos dali e levados a Portugal através do porto do Rio de

Janeiro. Também escravos africanos eram trazidos ao território mineiro a fim

de explorar os recursos ali existentes. Dean (1996) descreve que ali, as

comunidades de resistência de escravos foragidos, chamados quilombos,

brotavam por todas as partes, devido às facilidades à fuga oferecidas pela

densa floresta. Indígenas que se encontravam por essas terras foram aos

poucos se retirando para o interior, e alguns poucos para o litoral (muitas vezes

entrando em conflito com outros grupos ali remanescentes). Esses grupos

acumulavam conhecimentos sobre a natureza, os quais os portugueses nunca

puderam obter. Infelizmente, caboclos (lavradores de subsistência),

quilombolas e indígenas não puderam manter todas as informações

acumuladas, pois “eram refugiados em terras alienígenas” (DEAN, 1996).

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Page 20: Conflitos territoriais: O eucalipto e a siderurgia em Minas Gerais

O liberalismo trouxe ao Brasil, no século XIX, a transferência da

prioridade da economia brasileira para o cultivo do café, que com o fim do

regime de escravidão, era lavrado por força de trabalho imigrante européia.

Essa nova atividade, segundo Dean (1996) induziu o crescimento demográfico,

a urbanização, a industrialização e a implantação de ferrovias, além disso,

queimava-se a mata para o plantio do café.

Nos primeiros anos de República, a população do país aumenta e cresce

a demanda sobre matérias-primas para consumo interno, como o ferro, saído

das montanhas de Minas Gerais, levado às grandes densidades demográficos

através de trens, movidos a carvão vegetal. Também a fundições e forja dessa

matéria-prima demandava energia, que era obtida com “recursos combustíveis

da floresta” (DEAN, 1996).

Com o escasseamento das matas onde se obtinha a lenha e o carvão, já

em 1910, Edmundo Navarro de Andrade, responsável pelo setor florestal da

Companhia Ferroviária Paulista, inicia experimentos de plantios em larga

escala de árvores de rápido crescimento. É o início da monocultura “florestal”

no Brasil. Logo em 1911 Navarro assume o Serviço Florestal Paulista, criado

com o fim de incentivar o plantio florestal nas diferentes regiões do país

(VICTOR, 2005). Ao fim de seu mandato, em 1916, Navarro havia plantado 200

milhões de árvores, subsidiado pelo governo federal (DEAN, 1996).

Os plantios homogêneos de árvores ainda eram insípidos até o início da

Segunda Guerra Mundial (1941-1945), quando decresce a utilização de

combustíveis fósseis e aumenta a demanda por carvão vegetal para geração

de energia térmica, ainda assim, os eucaliptos não são plantados em larga

escala, pois eram susceptíveis ao fogo e tinham inúmeros riscos de

rendimentos (DEAN, 1996).

A verdadeira ascensão dos plantios se deu durante os anos da ditadura

militar (1964-1986), através de diversos programas de incentivos dos governos

à produção de matérias-primas para a crescente indústria, como o crédito

agrícola, o Fundo de incentivos Setoriais (FISET), os Planos Nacionais de

Desenvolvimento (I e II PND), o Plano Nacional de Papel e Celulose (PNPC), o

Programa de incentivos Fiscais ao Reflorestamento do antigo BNDE (Banco

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Nacional do Desenvolvimento Econômico), a Concessões de Terras Públicas,

Criação dos Distritos Florestais, do Instituto Brasileiro de Desenvolvimento

Florestal (IBDF), da EMATER (Empresa Brasileira de Assistência Técnica e

Extensão Rural), como nos explica Silva (2006). No contexto da educação foi

também importante a criação dos cursos de Engenharia Florestal, que não

surgiram diretamente de políticas públicas, mas de arranjos científico

internacionais. As políticas públicas tiveram um papel mais de afirmação da

profissão (COELHO, 1999).

Santos (2004) explica que esses financiamentos contribuíram para a

modernização em manchas, da agricultura brasileira, acirrando ainda mais a

divisão territorial do trabalho. Surgiram novas possibilidades técnicas,

financeiras e organizacionais, com centralização de capitais e um pacote de

práticas tecnológicas de pesquisa e produção, difundidas internacionalmente.

Estabelece-se aí uma homogeneização da agricultura e seus produtos mundo

afora (ELIAS, 2006), através do chamado agronegócio.

Do incentivo dado no contexto da ditadura militar (1964-1985) e do

desenvolvimento através da “modernização agrícola” dos anos 90 surge o

agronegócio “florestal” no Brasil (GILBERTSON, 2003).

Trataremos como agronegócio “florestal” o setor da economia que se

utiliza das plantações homogêneas de árvores, e considera a floresta como

uma “fábrica de polpa ou de madeira, promovendo apenas monoculturas

comerciais, interessando somente o cumprimento de metas de produção para

atender às indústrias de papel, siderurgia, compensando, dentre outras"

(RAMOS, 2006).

Hoje esse setor da economia brasileira é dividido em três cadeias

industriais: processamento químico da madeira (celulose, papel e pastas de

alto rendimento, painéis de madeira reconstituída), processamento físico da

madeira (serrados e compensados) e processamento térmico da madeira

(lenha e carvão), este último destacando-se em Minas Gerais, o maior produtor

de florestas plantadas.

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Page 22: Conflitos territoriais: O eucalipto e a siderurgia em Minas Gerais

3. A apropriação do território pelo setor florestal

Ao longo desses períodos também os modos de apropriação do território

foram se modificando. Desde o cunhadismo, passando pela escravização,

conversão e dizimação dos índios, pelas donatarias reais, até chegar à Lei de

Terras de 1850, e por fim ao estatuto da terra de 1964.

A primeira forma de ocupação do território foi o cunhadismo: quando um

europeu assumia uma moça índia como esposa, estabeleciam-se

automaticamente, laços que o aparentavam com todos os membros do grupo

de sua “temericó”, dando lhe uma maior influência sobre aquele espaço. Como

nos explica Ribeiro (1995): O número de temericós pro europeu chegava até 80

em Assunção. Os parentes que o europeu arrebanhava, ficavam a seu serviço,

inclusive para produção de mercadorias. Além desse foram também muito

importantes para a tomada do território as missões catequizadoras, a

disseminação de doenças e matança de índios, e a escravização dos mesmos.

A partir do momento em que o cunhadismo passou a ser uma ameaça a

posse das terras brasileiras pela Coroa Portuguesa, uma vez que não só

portugueses o praticavam, mas também outros europeus que vinham se

estabelecendo pela costa, fez-se necessária a criação do sistema de

donatarias, grandes divisões de terras concedidas a “delegados políticos do

Rei de Portugal” com direito pleno de exploração (Ribeiro, 1995). Assim, os

donatários teriam, necessariamente, que desenvolver os meios econômicos e

sociais capazes de assegurá-lo. Promovendo a concessão de sesmarias a

pessoas que explorariam diretamente as terras, garantindo assim a defesa e

ocupação da colônia. As dificuldades de incorporação de meios técnicos, e a

conseqüente baixa produtividade do trabalho, implicavam na posse de grandes

extensões de terra, para que se desenvolvem quantidade e volume de

produção adequados ao mercado mundial (Jones, 1997). As sesmarias, apesar

de serem hereditárias, eram apenas concessões de uso da Coroa de Portugal,

não constituíam propriedades de terra, propriamente ditas.

O sistema de donatarias durou até 1822, com a Independência do Brasil,

quando se instala no país o Império das Posses. Segundo Jones (1997), não

existia nenhuma norma que regulasse o acesso à terra, logo o quadro caótico

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Page 23: Conflitos territoriais: O eucalipto e a siderurgia em Minas Gerais

herdado do sistema sesmarial, se manteve, uma vez que não havia controle

sobre o apossamento das terras públicas.

Somente em 1850, criou-se a Lei 601, a Lei de Terras, que instituiu a

propriedade privada da terra no Brasil. Essa Lei veio no sentido de evitar que

escravos libertos, artesãos, indígenas e o crescente número de migrantes

europeus pobres tivessem acesso à terra, o que deslocaria a força de trabalho

necessária à agricultura exportadora, para a agricultura em pequena escala

que não era interessante ao reino (MOREIRA, 2007).

Com o fim da escravidão, em 1888 um grande contingente de pobres foi

procurar o seu pedaço de terra, onde a agricultura exportadora ainda não

dominava o território, e estabeleceu ali uma forma diferente de relação com a

natureza, de comunidades de produtores livres.

A população brasileira aumentou-se consideravelmente no final do século

XIX, início do XX, com a chegada dos migrantes europeus que viriam se

instalar na lavoura de café. Iniciava-se então uma demanda considerável por

ferramentas de ferro, suprida pelas jazidas abundantes e rasas de minério de

ferro em Minas Gerais. “A fundição e a forja desses instrumentos

intensificariam a demanda industrial sobre os recursos combustíveis da

floresta” (DEAN, 1996).

As inúmeras atividades dependentes de lenha como combustível,

ferrarias e fundições, olarias, fábricas de papel e papelão, vidro e porcelana, e

inclusive máquinas a vapor, necessárias à construção de um país moderno,

consumiram grande parte das florestas dos estados do Sudeste (DEAN, 1996).

Com a Constituição de 1891, transferiam-se as terras públicas para o

domínio dos estados. Em Minas Gerais, grade parte do leste, na bacia do Rio

Doce, ainda pertencia a esse domínio.

Ainda segundo DEAN (1996), em 1930 começam os plantios de

eucaliptos em Minas Gerais, ainda muito insipientes. A empresa Belgo-mineira

S. A., ao descobrir que as áreas desmatadas não voltavam a produzir madeira,

apenas capim, começa a plantar. Eram queimados 22 km², e plantados 37 km²,

que só entrariam em produção muitos anos depois.

21

Page 24: Conflitos territoriais: O eucalipto e a siderurgia em Minas Gerais

A Segunda Guerra Mundial demandou um grande suprimento de energia,

e obrigou os países a racionarem o uso de petróleo e carvão mineral, que

foram substituídos por fontes alternativas de energia, como o álcool, as

hidrelétricas e o carvão vegetal. Mas o plantio de árvores só seria possível com

incentivos do governo, pois ainda demandava tecnologia adequada aos locais

onde seriam implantados (que seria desenvolvida pelos futuros Engenheiros

Florestais), e ainda representavam um investimento de alto risco (PIMENTA et

al, 2004)

Nesse período, imperavam os interesses privados sobre o patrimônio

estatal, que era facilmente negociado em favor do desenvolvimento econômico.

Como nos relata Dean (1996), no caso em que a Universidade Federal de

Viçosa troca, em 1956, 1000 ha de floresta primária, que seria vendida para a

Belgo-mineira transformar em carvão, por uma área de pasto degradado. Na

mesma década o professor do Departamento de Engenharia Florestal Arlindo

de Paula Gonçalves, teve um pedido de concessão de terras negado, apesar

de ter o direito, por lei a ele concedido, a 100 ha por ter formado em agricultura,

a menos que vendesse imediatamente as terras à Belgo-mineira.

Com o aumento da pressão sobre a propriedade das terras brasileiras, e

com a crescente concentração fundiária, aumentam-se também os conflitos

pela terra no Brasil, e as organizações de trabalhadores que reivindicavam

terras, como as Ligas Camponesas no Nordeste brasileiro (Stédile, 1999). O

presidente João Goulart aponta a necessidade de se fazer um programa de

reformas sociais, que poderiam atrapalhar os planos de dominação da elite

latifundiária para o campo brasileiro. Em 30 de março de 1964 esses planos

eram frustrados, pois se instalava no Brasil a ditadura militar, que logo para

acalmar os ânimos dos trabalhadores, lança o Estatuto da Terra (Lei nº4.054-

1964). Essa lei previa uma “justa e equitativa distribuição da terra, com igual

oportunidade para todos” (BRASIL, 1964), mas serviu para aumentar os

incentivos à modernização agrícola, aos grandes empreendimentos

agropecuários, que na visão dos generais geraria postos de trabalho no campo,

e reduziria a demanda social pela terra.

22

Page 25: Conflitos territoriais: O eucalipto e a siderurgia em Minas Gerais

Instituíram-se então modalidades de Titulação de Terras da União, com a

intenção de assegurar, criar e ampliar privilégios dos latifundiários

(regulamentando posses, até então, ilegítimas de terras), de acordo com Jones

(1997). Além das terras tituladas irregularmente, era comum a concessão de

terras devolutas da União para fins de interesse da nação.

Com o período desenvolvimentista, instalaram-se Brasil afora empresas

estatais de mineração, siderurgia, hidroeletricidade, petróleo e petroquímica. A

energia, necessária à Siderurgia em Minas Gerais, provinha do carvão vegetal,

que no fim da década de 70 era obtido em sua maioria da queima das árvores

do cerrado, sendo apenas 10% obtido nas plantações de eucalipto (DEAN,

1996).

Essas empresas se beneficiaram das diversas categorias de apropriação

de terras lhe oferecia e iam avançando seus plantios em terras consideradas

devolutas, mas cujos verdadeiros ocupantes não haviam sido contemplados

com essas categorias impostas pelo governo militar, ou não haviam

conseguido regulamentar suas posses.

Os plantios de eucalipto em Minas Gerais foram implantados em áreas de

terras devolutas concedidas pelo governo na década de 70, para uso por até

30 anos (MELO, 2009), a preços camaradas, como forma de incentivo ao

plantio de árvores para alavancar a siderurgia a carvão vegetal do estado.

A incorporação de tecnologias ao território, incentivada pelo governo,

significa imobilização de capital, e permite a apropriação privada de terras

públicas concedidas para esse fim. Segundo Moreira (2007), a terra é

valorizada pela incorporação de trabalho aplicado diretamente nela, pelo

conhecimento da fertilidade e a sua localização frente ao mercado (trabalho

social não-aplicado), e como resultado do processo de desvalorização do

capital social (competição tecnológica, obsolescência do capital produtivo e

concentração de capitais). A territorialização do capital indica um processo de

valorização frente ao capital industrial, mas também frente aos trabalhadores

não proprietários, tornando ainda mais distante para esses a conquista da terra

através da compra.

23

Page 26: Conflitos territoriais: O eucalipto e a siderurgia em Minas Gerais

A simplificação da natureza e a “produção” de terras degradadas (terras

vizinhas aos plantios que têm a sua capacidade produtiva diminuída devido aos

impactos das monoculturas) dificultam a convivência das formas tradicionais de

ocupação da terra com as formas globalizadas, assunto sobre o qual nos

debruçaremos posteriormente, logo essas terras originalmente ocupadas pelos

produtores são adquiridas a preços baixos pelas próprias empresas que

impossibilitaram a reprodução de seus modos de vida (LASCHEFSKI e

ZHOURI, 2009).

O conhecimento científico gerado nas universidades, centros de pesquisa

e nas próprias empresas concebe a natureza como algo dado e imutável,

baseada nos princípios positivistas e essencialistas, ao qual cabe a ciência,

fonte da verdade, desvendar, de forma neutra, a fim de aplicar técnicas

geradas por esse conhecimento, as melhores, sobre a natureza. Considerar o

conhecimento científico como conhecimento humano superior pode legitimar a

ideologia hegemônica, em detrimento do conhecimento socialmente e

historicamente construído pelas comunidades tradicionais sobre o território e os

recursos (MOREIRA, 2007).

24

Page 27: Conflitos territoriais: O eucalipto e a siderurgia em Minas Gerais

CAPÍTULO 2 A cadeia produtiva do aço

1. As empresas envolvidas

À época da industrialização do Brasil, as políticas públicas de incentivos

e concessões para a implantação de usinas siderúrgicas vinculadas à

exportação de minério de ferro, foram essenciais para a constituição do parque

siderúrgico nacional. A empresa que mais se beneficiou das vantagens dadas

pelo governo ao capital estrangeiro foi a Companhia Siderúrgica Belgo-mineira.

Fundada em 1921, com capital de origem belgo-luxemburguesa, iniciou a

produção de aço laminado à base de carvão vegetal em 1925, contando

benefícios do governo, como redução de impostos, fretes e empréstimos. Na

década de 1930, construiu-se a usina de João Monlevade, que aumentou sua

produção em 2,5 vezes (de 40 para 100 mil t/ano). Seus principais produtos

eram trilhos e arame farpado. Constituía-se assim o maior complexo

siderúrgico integrado da América do Sul, a maior unidade do mundo abastecida

com carvão vegetal, na época (SILVA & SZMRECSÁNYI, 2002).

Com a criação do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico

(BNDE) em 1952, uma das prioridades de investimento do Estado passa a ser

o setor siderúrgico (como um dos setores que impulsionariam a industrialização

do país). Segundo Evans, 1982, o BNDE serviu para garantir a tríplice aliança

entre Estado e capital privado nacional e multinacional, fundamental para o

desenvolvimento econômico que se projetava para o momento.

Nesse contexto, instalou-se em Minas Gerais a Usiminas (Usinas

Siderúrgicas de Minas Gerais), que, segundo Moreira et al., 2004, ao inicio das

25

Page 28: Conflitos territoriais: O eucalipto e a siderurgia em Minas Gerais

operações, em 1962, era uma associação de capitais do BNDES (24%), do

Estado de Minas Gerais (23,9%), da Nippon Usiminas – Japão (40%), da

Companhia Vale do Rio Doce – então estatal (9%) e de outros acionistas

(2,5%).

Como setor estratégico para o desenvolvimento econômico e industrial do

país, o setor siderúrgico foi alvo prioritário do Programa Nacional de

Desestatização, iniciado em 1991. Já nos anos 80 usinas de médio porte foram

transferidas ao setor privado.

Hoje, o parque siderúrgico mineiro é a principal aglomeração industrial do

estado, e é composto por empresas como a Vale, Usiminas, Arcellor Mital,

Vallourec & Mannesman e Gerdau - Açominas que estão localizadas em um

raio de 100 km na Região Metropolitana de Belo Horizonte, o que Diniz (1981),

citava como uma facilidade para o surgimento de uma indústria de bens de

capital que suprisse a demanda desse complexo. Segundo Moreira et al.

(2004) essas usinas são responsáveis por 32,9% da produção brasileira de aço

bruto e 60% da produção independente de ferro-gusa (com 58 das 79 guseiras

do país).

Todas essas empresas possuem capital de origem internacional. A

Vallourec & Mannesman é francesa (V&M, 2009), a Arcellor Mital é

majoritariamente composta por capital espanhol (49,91%) e francês - 15,27%

(ARCELLORMITAL, 2008), a Usiminas pertence ao grupo Nippon (Japão) a ao

grupo Camargo Correa (Brasil), a Gerdau Açominas pertence ao grupo

Metalúrgica Gerdau e a investidores estrangeiros. O estabelecimento desses

grupos no ramo da siderurgia só foi possível com as privatizações das grandes

empresas estatais responsáveis por gerir os nossos recursos minerais, no

início da década de 90 (PAULA, 1997).

26

Page 29: Conflitos territoriais: O eucalipto e a siderurgia em Minas Gerais

2. A obtenção do aço

O processo industrial do aço envolve três etapas básicas: extração do

minério de ferro, obtenção do ferro-gusa e fabricação de produtos de aço semi-

acabado ou de aço refinado.

O minério de ferro é constituído por magnetita (Fe3O4) e hematita

(Fe2O3). O Brasil é o segundo maior produtor de ferro, sendo responsável por

20% da produção mundial. Em Minas Gerais as maiores jazidas estão

localizadas na região do Quadrilátero Ferrífero.

O ferro-gusa é obtido nos alto-fornos, onde se adicionam o minério de

ferro, o carvão (coque ou vegetal) e o material fundente (principalmente o

calcário). O carvão serve como redutor do ferro, pela captura do oxigênio pelo

carbono, em alta temperatura, o que produz uma considerável quantidade de

óxidos de carbono (principalmente o monóxido de carbono, muito prejudicial à

saúde humana e agravador do efeito estufa). O carvão é o responsável pelo

fornecimento de carbono e de energia. Em comparação com o coque o carvão

vegetal fornece um aço com menor teor de enxofre, de melhor qualidade

(BARCELLOS e COUTO, 2006).

O ferro-gusa é levado para a aciária, onde é colocado em conversores ou

fornos elétricos, que ajudarão na retirada de impurezas (carbono, enxofre,

fósforo, manganês) do ferro para obtenção do aço. Os elementos são oxidados

com a adição de O2, e saem na forma de gases ou de escória da aciária. O

Aço líquido pode ser obtido através de aciárias a oxigênio (onde a energia é

proveniente da oxidação dos elementos, que é uma reação exotérmica) ou

aciárias elétricas (Forno Elétrico a arco, carga sólida, que exige maior geração

de energia). Esse aço líquido é acondicionado em lingotes (convencionais ou

contínuos) de onde será conformado (laminação, trefilação, forjamento,

extrusão). Para ser lingotado o aço precisa ainda ser refinado, no estado

líquido, no forno de panela (remoção de gases e escória através da injeção de

gás inerte e consequente diminuição da pressão).

Ainda segundo Barcellos e Couto (2006), o lingotamento pode ser feito de

forma direta (quando é disposto diretamente na lingoteira), indireta (disposto

27

Page 30: Conflitos territoriais: O eucalipto e a siderurgia em Minas Gerais

num duto vertical ligado à base da lingoteira) ou contínua (disposto em um

molde de cobre refrigerado a água). Para ser utilizado, após o lingotamento, o

aço pode sofrer extrusão (redução da seção transversal, com aplicação de

altas pressões, para escoar através de um orifício), trefilação (aplicar força de

tração na saída da matriz), forjamento (prensagem do metal), laminação

(deformação plástica, passagem entre rolos e rotação, alta produtividade e

precisão dimensional – importante para exportação de commodities2).

O processo de obtenção do aço consome muita água para o resfriamento

e limpeza das caldeiras e dos altos fornos, o que leva também a uma poluição

das mesmas, inviabilizando seu uso posterior. Além disso a qualidade do ar é

atingida pois o processo libera óxidos de enxofre, gás sulfídrico, óxidos de

nitrogênio, monóxidos e dióxidos de carbono, gases metano e etano, além de

material particulado e hidrocarbonetos orgânicos (CARVALHO et al., 2000).

Também é produzido o pó-de-balão (que é o pó resultante do sistema de

limpeza a seco dos gases do alto forno), que é tóxico, e para o qual ainda não

se tem uma solução adequada (OLIVEIRA e MARTINS, 2003) e a escória de

aciaria gerada durante a redução do ferro e no refino do ferro-gusa, que pode

ser adicionada ao concreto, uma vez que tem características desejáveis para

aumentar a sua resistência (GEYER, 2001).

3. Carvão vegetal

O carvão vegetal é responsável por 23,5% da energia gerada em Minas

Gerais (GUIMARÃES et al., 2007). As maiores responsáveis pelo seu uso são

as siderúrgicas, que consomem 85% da madeira plantada no estado, além de

63% do carvão produzido no Brasil (que é o maior produtor desse insumo no

mundo). Segundo Scolforo e Carvalho (2006), o Estado possui 865.633 ha de

florestas para fins energéticos. As siderúrgicas plantam ao todo 112.568 ha

enquanto os demais são plantados por carvoeiras independentes.

O principal insumo da produção de carvão vegetal é a madeira de

Eucalyptus urophila. Um estudo apresentado por Guimarães et al. em 2007, 2 Mercadorias produzidas em larga escala, uniformes, comercializadas em escala mundial, negociados nas bolsas de valores (NETO, s.d.).

28

Page 31: Conflitos territoriais: O eucalipto e a siderurgia em Minas Gerais

mostrou que as empresas de médio porte da região de Sete Lagoas chegam a

plantar 7.500 ha/ano. As exportações de produtos siderúrgicos aumentam a

demanda por madeira, aumentando a demanda por terras para plantios.

As empresas responsáveis pela produção de carvão vegetal localizam-se

em Sete Lagoas e Belo Horizonte, mas segundo Guimarães et al, 2007, suas

praças de carbonização estão em diversas regiões, mais próximas aos

plantios, como o Norte e Noroeste de Minas Gerais, Bahia, Mato Grosso do Sul

e Goiás.

A produção de carvão vegetal se inicia com a corte da madeira, feita de

modo manual (foice e machado), semimecanizado (motosserras) e mecanizado

(Harversters, Feller-Bunchers, entre outros). O baldeio é feito por animais ou

por máquinas (tratores, Skidders, Forwarders, entre outros). Em seguida essa

madeira é levada para as praças de carbonização (distante 2 a 4 km do

plantio), onde será seca (de 45 a 90 dias). Em seguida será levada aos fornos

de alvenaria, industriais, de superfície ou rabos quente (Figuras 1, 2 e 3,

respectivamente).

A carbonização da madeira é o processo de destilação para separação

dos gases do carbono, que será utilizado na obtenção do aço. Os principais

gases resultantes da carbonização são o acido acético, o metanol, o alcatrão

(solúvel e insolúvel) e vapor de água. O metanol e o alcatrão, principalmente

são gases poluentes que diminuem a qualidade do ar e que podem causar

danos à saúde humana, expondo os trabalhadores carvoeiros a sérios riscos

de danos, principalmente ao sistema respiratório (ZUCHI, 2000).

Os fornos modernos, das carvoarias integradas às siderúrgicas, tem um

sistema de reutilização desses gases, que diminui a sua emissão no ambiente,

uma vez que os redireciona para uma nova queima, gerando mais energia e

menos gastos.

O carvão vegetal para fins siderúrgicos é produzido por poucas empresas

médias e grandes, com grande concentração da produção. Algumas com

produção independente, outras siderúrgicas com departamentos responsáveis

pelos plantios. As usinas procuram integrar sua produção a fim de eliminar

29

Page 32: Conflitos territoriais: O eucalipto e a siderurgia em Minas Gerais

custos com intermediários e garantir o suprimento de sua demanda, através de

produção própria de insumos (GUIMARÃES et al., 2007).

Figura 1: Bateria de fornos industriais

Fonte: WRM, 2002

Figura 2: Bateria de fornos de superfície

Fonte: Energia e ambiente, s.d., autor não citado.

30

Page 33: Conflitos territoriais: O eucalipto e a siderurgia em Minas Gerais

Figura 3: Bateria de fornos Rabo Quente

Fonte: Lourenço, 2009 (autor: Wilson Dias)

O carvão vegetal é um produto homogêneo e padronizado, não requer

estratégias de mercado. As decisões das empresas, tomadas em grande pela

sua direção, atendem às projeções e oportunidades do mercado.

A produção se concentra nas regiões do Vale do Jequitinhonha, e no

Norte de Minas, as empresas se concentram no noroeste do estado e na região

Metropolitana. Os Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) dessas regiões

podem nos mostrar uma grave conseqüência desse círculo de produção e

consumo. Enquanto no Norte de Minas e no Vale do Jequitinhonha, 49,44% e

66,67%, respectivamente, dos municípios tinham IDH médio baixo (0,500 a

0,649), os municípios das regiões Central e noroeste tinham 97,47% e 100%

dos municípios com IDH maior que 0,650 - médio alto e alto (SCAVAZZA,

2003).

Numa viagem de Monte Claros a Belo Horizonte, vê-se claramente como

se comporta esse círculo. De Montes Claros até a região de Sete Lagoas,

31

Page 34: Conflitos territoriais: O eucalipto e a siderurgia em Minas Gerais

encontramos centenas de caminhões carregando o carvão vegetal produzido

no Norte e no Vale do Jequitinhonha, o controle sobre a origem do carvão é

ineficiente, e os moradores relatam que grande parte é produzida em fornos

temporários erguidos no meio do Cerrado, que vão aos poucos consumindo

essa formação florestal. A esses se junta o carvão produzido nas proximidades

dos plantios de eucalipto. No meio do caminho, na região de Sete Lagoas,

encontram-se as siderúrgicas, que recebem o minério de ferro transportado por

caminhões ou trens, oriundo da região do Quadrilátero Ferrífero de Minas

Gerais. Para completar o ciclo saem de Betim (Região Metropolitana de Belo

Horizonte) os caminhões-cegonha, que levarão os carros feitos com o aço,

para os centros consumidores. O encontro na estrada de um caminhão

carregado de carvão com outro carregado de carros, é a imagem ideal para

explicar a origem das desigualdades regionais existentes em Minas Gerais. A

dependência econômica do Norte de Minas e Vale do Jequitinhonha tem

origem no seu papel de produtor de matérias-primas e consumidor de

tecnologias geradas nos grandes centros.

4. A utilização do aço

O aço produzido nas siderúrgicas de Minas Gerais vai ser consumido nas

fábricas de automóveis do país, destacando-se as localizadas na grande BH.

Grande parte é também utilizada pelas empresas construtoras nas grandes

cidades, ou ainda na fabricação de meios de produção que irão abastecer a

indústria e a agricultura tecnificada. Uma pequena parte é utilizada para a

fabricação de utilidades domésticas (IBS, 2009).

Esses produtos serão levados para os grandes centros consumidores de

tecnologias do país e grande parte servirá, como meio de produção, para

geração de mais lucro para aqueles que os possuírem.

Um fato curioso é que as comunidades atingidas tanto pela mineração

quanto pelos plantios de eucalipto raramente se beneficiam dos produtos finais,

pois não tem carros, moram em casas construídas com materiais obtidos na

própria região , não utilizam insumos como tratores e máquinas agrícolas e

nem mesmo tem utensílios de aço em suas casas.

32

Page 35: Conflitos territoriais: O eucalipto e a siderurgia em Minas Gerais

CAPÍTULO 3 A Silvicultura em Minas Gerais: Carvão Vegetal

1. Localização dos plantios

As bacias mais afetadas pelo plantios de eucaliptos foram as do Rio

Doce, São Francisco, Pardo e Jequitinhonha. Segundo Scolforo e Carvalho,

2006, em 2005, a região que mais plantava eucaliptos era a do São Francisco,

no Norte de Minas, com 517.439 ha, enquanto no Rio Doce, plantaram-se

242.557 ha. O Vale do Jequitinhonha foi ocupado por 161.665 ha, e o do Rio

Pardo com 46.264 ha. Essas quatro bacias abrigaram ao todo 95% dos plantios

do estado.

Ao todo o estado plantou 865.633 ha de madeira para energia. Os

municípios de Santana do Paraíso, 34,97% do território, Antônio Dias (33,08%),

Ipaba (29,12%) e Naque (20,10%) na Região do Vale do Rio Doce

(SCOLFORO e CARVALHO, 2006), estão entre os que mais destinaram terras

para plantios de eucalipto do estado (os demais estão localizados na região

centro-oeste, onde se localizam os plantios da Cenibra, destinados à produção

de celulose para exportação).

Segundo nos relatam Calixto et al. (2006), a implantação dos eucaliptais

em Minas Gerais, gerou uma concentração de terras que pode ser identificada

através da análise da evolução do índice de Gini3 do estado. No estudo de

3 O índice de Gini é utilizado para medir o grau de concentração de um atributo (renda, terra, etc.) numa distribuição de freqüência. No índice de Gini, que se insere no intervalo de 0 a 1,

33

Page 36: Conflitos territoriais: O eucalipto e a siderurgia em Minas Gerais

caso da Microrregião Homogênea de Capelinha, no Vale do Jequitinhonha,

Calixto (2006) cita que em 1970, o índice de Gini era de 0,3, os

estabelecimentos de até 100 ha eram 64,95% do total de estabelecimentos e

ocupavam 97,72% da área rural, enquanto os 0,06% estabelecimentos maiores

que 1000 ha ocupavam 5,35% da área. Em 1995, com os plantios de

eucaliptos, os 96,31% dos estabelecimentos, pequenos, tinham 31,94% da

área, enquanto os grandes estabelecimentos (0,21%) estavam em 48,18% da

área, elevando o coeficiente de Gini a 0,764 (concentração muito forte). No

Mapa 1, podemos constatar que as maiores concentrações de terras em Minas

Gerais coincidem com as áreas onde são plantados eucaliptos, mostrando que

essas plantações causam desigualdade e injustiça onde se localizam.

Isso ocorre pois a atividade é, por sua natureza, concentradora de terras,

com quase metade dos estabelecimentos ocupando quase 5% da área total

ocupada, enquanto metade das terras é ocupada por menos de 1% dos

estabelecimentos como nos mostra o quadro a seguir:

Quadro 1: Concentração de terras em números absolutos e porcentagens nos estabelecimentos com florestas plantadas

Grupos de área total (ha) nº de

estabelecimentos % Área (ha) %

menor que 20 93929 49,71 213357 4,74 igual ou maior que 20 e menor que 200 82433 43,63 702156 15,61

igual ou maior que 200 ha e menor que 2500 11310 5,99 1317152 29,29maior que 2500 933 0,67 2264629 50,36

Total 188 951 100 4497324 100 Adaptado de IBGE, Censo Agropecuário 2006.

quanto maior for a concentração, mais próximo o índice estará de 1 (um), valor este que representaria a concentração absoluta (INCRA, 2001).

34

Page 37: Conflitos territoriais: O eucalipto e a siderurgia em Minas Gerais

Figura 4: Índice de Gini da área total dos estabelecimentos agropecuários por

município, foco em Minas Gerais – 2006

Adaptado de IBGE, Censo Agropecuário 2006.

2. Conflitos pela terra: interesses locais X interesses transnacionais

Segundo Acselrad (2004), conflitos ambientais ocorrem quando um grupo

social desenvolve atividade que causam impactos que ameaçam a atividade de

outro grupo, com modo diferenciado de apropriação, uso e significação do

território.

Conflitos ambientais territoriais são, segundo Laschefski (2007) marcados

por diferentes reivindicações de segmentos sociais com diferentes modos de

produção do território, logo diferentes formas de apropriação da natureza.

Surgem quando os atores do meio técnico-cientifico-informacional, que se

relacionam de forma competitiva, chocam-se com os atores do meio natural,

que frequentemente se relacionam de forma recíproca e coletiva, e necessitam

do território para sua sobrevivência, produção e reprodução.

Como citado anteriormente, uma forma de se apropriar desses territórios

comunitários é diminuir a sua produtividade a tal ponto que a vida dos

produtores não possa mais se reproduzir ali, fazendo com que vendam suas

terras às empresas. É simples, como nos relatam Laschefski e Zhouri (2009):

35

Page 38: Conflitos territoriais: O eucalipto e a siderurgia em Minas Gerais

as vizinhanças das plantações são marcadas por ciclos hidrológicos

irregulares, causados pelos impactos aos recursos hídricos superficiais e do

subsolo causados pelas monoculturas. Além disso, o uso de herbicidas e

agrotóxicos chega a afetar a biodiversidade das terras vizinhas, e causa

prejuízos a saúde dos trabalhadores ali instalados. Esses agricultores são

pressionados a vender suas terras de uma forma muito mais sutil do que a

coerção física ou psicológica. São obrigados a deixar suas terras, pois não

podem mais dar uma vida digna a sua família com os produtos do seu trabalho.

O desenvolvimento territorial promovido pelas empresas baseia-se na

substituição da população local, por uma população que não tem vínculos com

o território, em sua maioria vinda da cidade; ao contrário do que prometem os

investidores, não se promove a inserção social da comunidade atingida,

perdem os trabalhadores mais antigos, arraigados nos seus costumes, que não

mais se reproduzirão, e que não se adaptarão às situações diversas a que

estarão expostos (CALIXTO, 2006).

Nas áreas ocupadas pelas monoculturas de Eucalipto, ocorrem conflitos

freqüentes pela coleta de lenha, que na visão das empresas se configura uma

situação de roubo, pois consideram sua madeira propriedade particular, ainda

que esteja sendo produzida em terra devoluta; o crime muitas vezes é punido

com violência velada. Os modos de produção das vizinhanças também são

ameaçados quando um determinado vizinho vende suas terras, que tinham uso

comum, a empresa, que transforma sua paisagem, impedindo a coleta de

frutos, o pastejamento em rotação, e desregulando a vazão hídrica.

Considerando a lógica dominante, que visa à homogeneização do

ambiente, as terras ocupadas pelos eucaliptos não são aptas à produção

agrícola, mas visto por uma lógica não-hegemônica, o ambiente pode ser

utilizado, desde que respeitada a diversidade (biológica e cultural) ali existente,

e vivido por muitas pessoas, que são excluídas do processo de tomada de

decisão das empresas e do Estado.

Como a regularização fundiária no país é um grande problema desde

1850, com a criação da Lei de Terras, ainda há muitos conflitos gerados em

torno dessa questão. A expropriação territorial nesses casos se dá de formas

36

Page 39: Conflitos territoriais: O eucalipto e a siderurgia em Minas Gerais

vis como a expulsão de posseiros e meeiros e a grilagem de terras, e outras

formas de espoliação (LASCHEFSKI e ZHOURI, 2009).

Segundo Laschefski (2007) o uso coletivo das terras é determinado em

sistemas de rotação, para a garantia de regeneração dos recursos, de acordo

com a variabilidade temporal e espacial das condições naturais. Coexistem

nesses sistemas áreas de uso comum (incluindo as áreas extrativistas, os

pastos, e os solos cultivados) e de uso individual (os produtos do trabalho nas

lavouras). A família é uma unidade de produção que tem um ancestral comum,

mas muitos núcleos menores, e se negocia entre as famílias não a terra, mas o

direito de usá-la. A máxima hegemônica da propriedade da terra não se aplica

a esses casos, embora haja o cumprimento de trâmites burocráticos para

regularização do registro individual nas instituições públicas (incoerente com o

regime de utilização das terras coletivas). Insumos técnicos diminuem a

dependência dos ciclos de regeneração da natureza, mas os efeitos da

monocultura sobre o ambiente e o espaço social são insustentáveis a certo

prazo.

A gestão comunitária dos recursos atende às especificidades de cada um,

regulando flexivelmente o seu acesso, respeitando o período necessário à sua

regeneração, e a quantidade a ser consumida. Essa prática garante o futuro

das gerações vindouras.

A inserção desses produtores no mercado, a perda do conhecimento

historicamente construído e o acesso restrito aos recursos devido à expansão

dos grandes projetos podem afetar a forma de uso dessas comunidades, que

passa a ameaçar a regeneração do ambiente, devido a formas não

conservacionistas de uso da terra, como o superpastoreio e a aplicação

indiscriminada de fogo (LASCHEFSKI e ZHOURI, 2009).

Esses problemas servem, oficialmente, como indicadores da

incapacidade dos agricultores de se perpetuarem na terra, que deve ser

remediada através de programas de educação ambiental e extensão rural. As

empresas o fazem e transformam suas ações em marketing.

Os camponeses expulsos de suas terras, ou “encurralados” pelas grandes

empresas acabam recebendo assistência técnica para a “modernização

37

Page 40: Conflitos territoriais: O eucalipto e a siderurgia em Minas Gerais

agrícola” de suas terras e não para aplicarem seus conhecimentos tradicionais

ao novo território, demarcado pela empresa ou pelo Estado.

O que é essencial para essas comunidades, um direito pelo qual elas

lutam, é realizar seu próprio modo de produção, incorporando novos

conhecimentos e técnicas, que melhorem sua convivência com o território e

garanta a reprodução das novas gerações. Essas propostas são também,

segundo Laschefski (2007), “um argumento político para a reapropriação social

das terras devolutas”, cujas concessões de uso por 30 anos, para implantação

de eucaliptais, estão terminando agora.

Mesmo ocupando 24,3% da área produtiva do Brasil, a agricultura em

pequena escala é a grande responsável pela produção da maioria dos itens da

cesta básica, como 87% da mandioca, 70% do feijão, 46% do milho, 34% do

arroz e 58% do leite. Além disso, 74,4% dos trabalhadores rurais estão

empregados nesses empreendimentos, que geraram 38% do valor total da

produção dos estabelecimentos (IBGE, 2006). Um número significativo para a

área que ocupa, o que nos faz crer que os pequenos estabelecimentos possam

ser muito mais produtivos do que os grandes.

A ocupação do território mineiro pelas monoculturas de eucalipto inicia-se

na década de 70, com a concessão de terras públicas devolutas às empresas

plantadoras, que desmatavam as áreas recebidas, faziam carvão com as

árvores derrubadas e plantavam eucaliptos em seu lugar. No inicio dos anos

90, com a pressão da sociedade contra o desmatamento, essas empresas

continuaram ocupando terras devolutas, mas aquelas que já estavam

desmatadas. Atualmente as novas áreas de plantio de eucaliptos são

particulares, que obtem autorização do Instituto Estadual de Florestas

(responsável pela fiscalização ambiental no estado de Minas Gerais) para

plantar eucaliptos em regime de fomentação para as siderúrgicas.

As áreas de baixa densidade demográfica foram as prioritárias para

concessão de terras devolutas para plantios, com a justificativa de que esses

gerariam empregos e ocupariam o vazio econômico dessas regiões. O Norte e

o Vale do Jequitinhonha, com problemas sociais graves, além de grandes

extensões de terras públicas e sem vocação para grandes projetos de

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agricultura industrial ou mineração, tiveram sua realidade modificada com a

implantação dos projetos. Segundo Bethonico (2009), só o município de Rio

Pardo no Norte de Minas, teve 255 mil ha plantados entre 1970 e 1990.

A justificativa do governo e das empresas baseava-se em aspectos como

a geração de empregos, a melhoria das condições de vida das comunidades, o

desenvolvimento econômico, o fornecimento de matéria-prima para as

siderúrgicas, reduzindo a utilização da mata nativa para conversão em carvão

vegetal.

Segundo estudo feito por Bethonico (2009), no município de Montezuma

na Bacia do Rio Pardo, no Norte de Minas a atividade de carvoejamento

complementa a renda de 35 % das famílias. Já nas famílias vizinhas aos

reflorestamentos, 65% dos agricultores trabalham nas carvoarias ou produzem

carvão de vegetação nativa. Os principais impactos relatados são a diminuição

da água, o aumento do emprego, a entrada do dinheiro e a diminuição da

vegetação nativa (dificultando o acesso á lenha para uso doméstico). Embora

haja emprego, percebe-se que este não cumpriu as expectativas geradas na

população com a propaganda do governo e das empresas. Muitos

trabalhadores vieram de outros lugares, logo os empregos gerados não foram

para os moradores do local. Além disso a atividade de carvoejamento compete

com a produção de alimentos.

O desenvolvimento econômico é, em suma, o desenvolvimento de uma

minoria em detrimento da maioria, privada dos poucos benefícios que obtinha

com a terra e dependente de uma renda insuficiente para garantir-lhe uma vida

digna, alimentação saudável, que é obtida às custas do esquecimento das

tradições e da sua cultura.

As terras devolutas de Minas Gerais eram ocupadas por famílias que

utilizavam os recursos naturais, sem deles tirar proveito econômico, de forma

coletiva, por isso eram consideradas vazios demográficos, pois a população se

utilizava deles para coleta de plantas para uso próprio, que precisavam ser

ocupados. Uma vez que era difícil provar a posse das terras (pois a lógica de

utilização para a regularização das terras era individual e predatória) e as

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empresas intimidavam os posseiros no intuito de expulsá-los das terras, logo

elas foram sendo ocupadas pela paisagem monoculturizada dos eucaliptos.

Os depoimentos recolhidos por Bethonico (2009), comprovam os

impactos da implantação das monoculturas sobre a comunidade de

Montezuma, onde 90% dos entrevistados notam uma diminuição significativa

no volume de água, que é considerada essencial à sobrevivência da paisagem.

Eles elencam como principais motivos para essa diminuição, a implantação das

monoculturas e a retirada da vegetação nativa, ambas para a realização do

carvão vegetal. Os depoimentos apontam a dificuldade dos agricultores em

continuar as suas culturas de subsistência, e das condições de trabalho nas

carvoarias. Além disso comprovam as condições de ocupação das terras pelas

empresas, dizem que as empresas “compraram e não pagaram”, e ainda que

“Pegaram as terras boas e só deixaram o fundo, onde tem pedra” para os

agricultores.

A mata em pé é essencial à reprodução do modo de vida dos agricultores,

que dependem de sua lenha, seus remédios e seus frutos, para complementar

as atividades, e também a renda, dos estabelecimentos familiares.

As mudanças no ambiente expulsaram o homem do campo que dependia

da natureza biodiversa e da forma coletiva de uso das terras para sua

reprodução, que passou a vender sua força de trabalho nas cidades ou mesmo

nos projetos agrossilvipecuários que, a despeito de todas as promessas, não

foram capazes de garantir emprego para todos os camponeses cujas terras

foram concedidas para os projetos, expulsando-os para os grandes centros

urbanos.

Hoje as concessões estão sendo renovadas, de forma anticonstitucional,

com acordos entre empresas e o governo estadual. Segundo Mello (2009), os

contratos de renovação de concessões estabelecidos entre o Instituto de

Terras do Estado de Minas Gerais (ITER) e seis empresas no Norte de Minas,

fere a legislação estadual, que proíbe a concessão de terras devolutas de mais

de 250 ha a particulares, e a Constituição Federal que exige aprovação no

Congresso Nacional para concessão de terras de mais de 2500 ha. Ao todo foi

concedida uma área de 65 mil ha (o dobro da cidade de Belo Horizonte). Além

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disso o valor recebido com as concessões é considerado irrisório, enquanto o

preço médio da região é de R$130,00/ha/ano, as empresas chegaram a pagar

R$7,00. Com essas irregularidades o presidente do ITER, Luiz Antônio Chaves

chegou a ser exonerado do cargo.

As empresas alegam que já começaram seus plantios e que se os

contratos, que foram propostos pelo próprio governo, forem quebrados,

exigirão indenizações milionárias, exigem o direito pleno sobre o território, uma

vez que já começaram a incorporar tecnologia nele.

Essas terras devolutas tem o interesse do INCRA para implantação de

projetos de assentamento, a para reapropriação das comunidades que foram

deslocadas pelo eucalipto.

Enquanto o impasse não se resolve as comunidades se organizam para

exigir o direito sobre o território que comprovadamente ocupavam antes das

concessões. Um caso interessante a ser estudado é o da comunidade de

Vereda Funda, no município de Rio Pardo de Minas, que retomou suas terras,

após o vencimento da concessão e está implantando um projeto

agroextrativista, que respeita os ciclos da natureza, já colhendo os primeiros

resultados positivos como a volta das nascentes de água, que haviam secado

durante os plantios.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A concessão de terras devolutas para plantios homogêneos de eucalipto

para produção de carvão vegetal para fins siderúrgicos se deu de forma injusta

por parte do governo, que não considerou as populações residentes nas terras.

Isso gerou inúmeros conflitos de uso da terra que voltam à tona hoje, 30 anos

depois já que essas concessões estão vencendo. A renovação das concessões

vai contra as leis estaduais e federais, e da forma que está se dando vai contra

os cofres públicos do estado, não devendo ser efetuada. A pressão pública,

para a reapropriação dos territórios pelas comunidades se faz necessária e

legítima. A autodemarcação das terras e reconversão em áreas

agroextrativistas, como no caso da comunidade de Vereda Funda é a resposta

que a sociedade pode dar a essas empresas que só geram ganhos para seus

investidores internacionais e deixam os prejuízos para o povo brasileiro. É

importante ressaltar que aqueles que se organizam para reivindicar seus

direitos não cometem delitos, e sim aqueles que passam por cima desses

direitos porque possuem poder econômico. Aqueles que colhem madeira em

seu território ancestral não cometem delitos, e sim aqueles que tratam aquele

território público, como propriedade particular.

Os camponeses expulsos de suas terras não podem simplesmente ser

reassentados em outros locais, pois isso significa uma desterritorialização,

implica em perda não só de terras, mas de culturas, de formas de organização,

de conhecimentos acumulados ao longo das gerações sobre o território, que

não poderão ser adaptados aos novos locais.

A degradação ambiental produzida pelos monocultivos de eucaliptos é

uma fator também de geração de pobreza, pois o ambiente passa a não

suportar o modo de vida das populações que dele sobrevivem, fica mais

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vulnerável a situações adversas, aumentando a desigualdade entre os que tem

muito (e não necessitam diretamente do ambiente para reproduzir seu modo de

vida) e os que não tem nada (e tem o ambiente como única fonte de

sobrevivência).

Portanto, ao exportamos o aço e seus derivados estamos exportando

também parte da nossa biodiversidade, das nossas riquezas naturais, da nossa

cultura, que não podem ser contabilizadas. Isso gera a chamada dívida

ecológica, que os povos dos países centrais tem com os povos dos países

periféricos ricos em natureza. O Brasil não obtem lucros nem melhorias para a

população com essas exportações, pois as empresas são, em sua maioria,

grandes transnacionais com capital de origem nos países centrais.

Ainda assim o governo investirá 92,5 bilhões de reais no agronegócio

empresarial e 15 bilhões na agricultura familiar (SPA/MAPA, 2009), mostrando

realmente a dependência que essas empresas tem de investimentos públicos

(ainda que preguem a não-intervenção do estado na economia) para uma

produção voltada para exportação, que como já vimos acaba gerando mais

pobreza e desigualdade aqui no Brasil, enquanto gera lucro e riqueza nos

países centrais. Enquanto isso, os agricultores familiares que realmente

trabalham para alimentar o país, recebem migalhas de orçamento para

continuar fazendo, a muito custo, o seu trabalho.

Dentro das universidades e centros de pesquisa é importante o incentivo

ao ensino, pesquisa e extensão, que valorizem o conhecimento popular,

construído por gerações a fio sobre os territórios, para que paremos de

reproduzir modelos inviáveis e injustos de produção (como as monoculturas de

eucalipto), e passemos a valorizar o que o nosso povo tem de mais rico, que é

a nossa cultura.

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