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2 INSTITUTO ADECON – Associação sem fins econômicos que congrega pessoas físicas, jurídicas e demais profissionais de nível superior, para prestação de serviços especializados a empresas e entidades do setor energético brasileiro. O Instituto ADECON é sócio fundador do ERLACE – Entidad Latino Americana de Cuadros de La Elec- troenergia. Os artigos assinados, assim como o teor das palestras publicadas no ADECON Hoje, são de inteira res- ponsabilidade de seus autores, não refletindo necessariamente a opinião do Instituto ADECON. Site: www.institutoadecon.org.br e-mail:[email protected] O Instituto ADECON fica na avenida Paulista, 2.073 – Edifício Horsa I – 21° andar – conjunto 2119. 4 3 LIVROS ADECON HOJE é uma publicação do Instituto ADECON Jornalista responsável: José Luiz Teixeira, MTb 16.099 Diagramação: Cíntia Plihal Apoio Administrativo: Lourdes Trinca Fornazieri Impressão: Lenegráfica Editora Tiragem: 2.000 exemplares Encerramento do Programa de Pousadas Conheça a Nova Diretoria A partir de julho de 2009, quando com- pletou 10 anos de existência, o programa criado para gerir as pousadas das ener- géticas paulistas, por meio do Consórcio Las Villas, formado pela participação do Instituto ADECON, AECESP, AEC e AAFC, começou a ser desativado. Ao Instituto ADECON, após profundas e criteriosas análises da situação das pou- sadas, decorridos 5 anos de atividades, ficou evidente a dificuldade em gerenciar o programa, bem como os riscos envolvidos, principalmente em decorrência da forma e métodos empregados no gerenciamento e administração dos instrumentos particulares de contratos firmados entre as associações e as respectivas cessionárias. Atendendo às determinações e reco- mendações do Conselho Deliberativo do Instituto, e respaldado pela cláusula VIII do Instrumento Particular de Consórcio, formalizou-se a saída da gestão desse consórcio em 30 de março de 2006, sendo essa decisão aprovada em ata de reunião ocorrida entre todas as associações em dezembro/2006. Ao se retirar do programa de pousadas, o Instituto ADECON foi seguido pela AECESP e, desde então, o consórcio vem sendo gerenciado exclusivamente pela AEC e AAFC. Foram feitas inúmeras tentativas de assinatura de um Instrumento Particular de Distrato do Consórcio junto a essas duas associações, mas todas sem sucesso. Portanto, o Instituto não participa mais das tomadas de decisões administrativas, gerenciais e comerciais do programa, e não possui documentos ou arquivos envolvendo o acompanhamento dos controles finan- ceiros, tributários, previdenciários e fiscais desde aquela data. Assim, a partir de julho de 2009, com o encerramento dos contratos de cessão das Pousadas, o Instituto ADECON noti- ficou judicialmente as empresas (Cesp, Duke Energy e AESTietê), as operadoras e as demais associações informando que não iria mais participar do Consórcio Las Villas e, consequentemente, do Programa de Pousadas. Atualmente, as pousadas Jurumirim e Salto Grande já foram devolvidas à Duke Energy, atual proprietária. O Instrumento de Distrato também já está formalizado juridicamente. Com referência às pousadas Bariri e Ibitinga, desativadas, o departa- mento jurídico da proprietária, AES/Tietê, entende que na data de término contratual - julho/2009 - houve o encerramento legal do contrato de cessão. Em relação às pousadas pertencentes à Cesp (Paraibuna, Ilha Solteira e Arpuí), há pendências contratuais junto às operadoras, fato este que deve adiar por mais alguns meses a elaboração do Distrato. Deve ser ressaltado que, diante dos fatos analisados e avaliados junto à gestão do Consórcio, não restou alternativa senão retirar-se do Programa de Pousadas, tendo em vista a defesa dos interesses dos seus associados, protegendo o patrimônio e res- guardando o seu quadro de profissionais. Mesmo assim, devido a reflexos do pas- sado, o Instituto ADECON permanece com responsabilidade perante terceiros. Está respondendo a dezenas de reclamações trabalhistas e ações de perdas e danos movidas por ex-empregados das Pousadas, prestadores de serviços e cessionários, evi- denciando a falta de controle operacional e de responsabilidade gerencial que envolve- ram a administração desse programa nos últimos anos, conforme já comentado no início deste artigo. O escritório Lescher & Lefévre Advogados Associados foi contratado para acompanhar e defender os interesses do Instituto ADE- CON em todos esses processos judiciais. Até o momento, foram firmados vários acordos na esfera judicial, reduzindo os valores ini- cialmente pleiteados, mas que representam perdas significativas de recursos. O Instituto ADECON estuda, em con- junto com seus advogados, encontrar formas de buscar ressarcimento dos valores desembolsados em todos esses processos, junto aos verdadeiros admi - nistradores, responsáveis pela gestão das pousadas. O Setor Elétrico Brasileiro (SEB) foi reestruturado nos anos 1995- 99. O foco era a atração de capitais privados, que promoveriam a expansão do sistema e cuja sabida eficiência resultaria em maior qualidade e menores preços da energia. Se não fosse para esse fim, para que tamanha reforma? Entretanto os processos de privatização favoreceram forte desnacionalização do SEB em bene- fício de grandes grupos transnacionais, cujos poderes econômico e gerencial passaram a contrastar fortemente com nossas frágeis instituições, agências reguladoras, órgãos de defesa do consumidor, sindicatos e empregados. A privatização era necessária para o SEB retomar os investimentos? A antiga crise financeira das empresas do SEB foi solucionada pela Lei nº 8631, de 1993. Em 1995, as Empresas do SEB exibiam excepcional solidez econômica, ilustrada pelo endividamento (dí- vida/ativo) médio de apenas 14,43% (dados do IPEA). Condição suficiente para suportar amplos investimentos na expansão. Todavia, aos olhos do “mercado”, as empresas apenas tornaram-se “atrativas para a venda”. O imperativo fiscal: recursos para os governos Assim, no pós-1993, as ditas razões microeconômicas – falta de recursos para investir – não mais podiam justificar a privatização do SEB. A partir daí o motor de sua liquidação foi apenas e tão somente o dito “imperativo fiscal”: servir à cobiça dos governos, ao caixa rápido, à sofreguidão em maximizar o valor da receita extra- orçamentária dos leilões, sem vinculação a qualquer plano de longo prazo, a um projeto de País. Altos valores de aquisição das estatais certamente foram motivos de “pressão” sobre os novos gestores para recuperar os elevados capitais investidos. Azar das tarifas e das despesas. E quanto ao cidadão, o consumidor, os parceiros e colaboradores do SEB? Não faziam parte dessa equação. A privatização e suas regras flexibilizadas Os editais de privatização do SEB estimularam ampla participação, fosse de empresas nacionais ou estrangeiras, mesmo através de Sociedades de Propósito Específico (SPEs), que poderiam ser non- recourse (suas dívidas não afetam os controladores); permitiu-se mais: que seus controladores fossem empresas offshore constituídas em paraísos fiscais. Constate-se: uma SPE criada às vésperas do leilão, sem aportar nenhum capital próprio, adquiriu pelo preço mínimo a maior dis- tribuidora de energia elétrica da América Latina. A Lightgás Ltda., subsidiária da Light, foi criada apenas para o leilão da Eletropaulo. Seu único ativo passou a ser as ações ordinárias da Eletropaulo e sua única receita, o recebimento de dividendos dessas ações. Seus controladores (AES, EDF, CSN e Houston Energy) foram 100% financiados: (I) 50% pelo BNDES e (II) 50% de sindicato de bancos, obtido por meio de subsidiária das Ilhas Cayman (LI- REnergy Ltd). O que aconteceu com as Empresas Energéticas de São Paulo? lidade e isenções de impostos (especialmente nas Ilhas Cayman) criam ambiente propício à eventual ‘lavagem de dinheiro’. É claro que estas não são pré-condições para o exercício de monopólios naturais de energia elétrica, ainda mais beneficiados com financia- mento público. Tudo isso se subalternizava a certo rito: o FMI recomendava privatizar rapidamente; questões como concorrência e regula- mentação “poderiam ser tratadas depois”. Todavia, para o Prêmio Nobel J.Stiglitz, o perigo aqui é que uma vez que um interesse real tenha sido criado, ele passe a contar com o incentivo e os recursos financeiros para manter sua posição como monopólio, passando por cima da regulamentação e da concorrência e distorcendo, no percurso, o processo político”. As privatizações paulistas Isso ocorreu nos leilões paulistas, que facilitaram a grupos “re- cém-entrantes” ampliarem seu poder de mercado: “o risco maior é criar um monopólio privado ao privatizar o monopólio estatal”, era o alerta (“Monopólio Privado, Não”, Editorial Folha de SP 29/3/98), e pior: “a privatização a toque de caixa, em ano eleitoral, em um governo estadual cujo mandatário disputa a reeleição, deve ser rigorosamente fiscalizada. Mas como fazê-lo se os órgãos federais de regulamentação ainda não podem ou não conseguem cumprir o seu papel?”. Apesar dos alertas, tanto Eletropaulo quanto Bandeirante foram adquiridas por “entrantes”, e pelo preço mínimo: a Eletropaulo no dia 15/4/1998 pela EDF (Électricité de France, recém ingressa no país através aquisição da Light/RJ) e a Bandeirante em 17/9/1998, pela CPFL, privatizada há menos de um ano (aliada à EDP-Eletri- cidade de Portugal). As leis da reforma do SEB trataram desigualmente os desiguais Com a reforma dos anos 1990, o protagonismo da expansão e modernização do SEB foi entregue ao setor privado. A “atração” deste e sua lucratividade foram garantidas por inúmeras normas. Consumidores “livres” (de grande porte) passaram a escolher o fornecedor; os outros são “cativos”. O artigo 60/ Lei 8.987/95, que disciplina o serviço adequado, em sua redação final, teve amputa- do o texto a seguir destacado: § 2o: “A atualidade compreende a modernidade das técnicas, do equipamento e das instalações e a sua conservação, bem como a melhoria e expansão do serviço... na medida das necessidades dos usuários”. Tal exclusão cuidou somente de reduzir as exigências das futuras concessionárias. Os artigos que tratam das possíveis “intervenções do poder concedente” (Lei 8.987) cuidaram mais de não prejudicar as con- cessionárias do que do efetivo rigor e competência da fiscalização. Foi grande a preocupação em reiterar que as concessionárias têm assegurado o “direito de ampla defesa”, o “direito à indenização” e à “prestação de contas pelo interventor”, que “responderá pelos atos praticados durante sua gestão”. Caberia indagar quais seriam os direitos do interventor... Informações Contábeis das Empresas Privatizadas O artigo 30/Lei 8.987 define fiscalizações a serem feitas “perio- dicamente”, por “comissão de representantes”, sem determinar sua composição nem periodicidade. Destarte, as fiscalizações podem ocorrer de forma assimétrica, sem objetivos e métodos; a não definição dos componentes pode transformar as visitas Conclusões A reforma do SEB (1995-99) fomentou forte desnacionalização, beneficiando empresas estrangeiras em detrimento das locais. A partir daí, o poder econômico e gerencial dos grupos “entrantes” passou a contrastar com a fragilidade dos órgãos reguladores, dos consumidores e dos empregados. Apesar das graves mudanças, dos cortes de pessoal, terceirização, importação de tecnologias, desnacionalização e da concentração de mercado, provocados pela reforma, não foi equacionada a expansão do SEB e a confiabili- dade dos serviços regrediu. Mesmo assim, ocorreu uma explosão tarifária. Alternativas havia. Práticas de países como os da Europa, Japão, Estados Unidos e Coréia do Sul recomendam ação sistêmica para aproveitar as oportunidades da globalização: forte ação do Estado na infraestrutura e no fomento para que suas empresas nacionais busquem modernização via Educação e Pesquisa e Desenvolvimento (P&D). Dado que a capacidade de competir em escala global é algo mais do que a simples soma de iniciativas individuais das empresas, a reforma do SEB configurou-se autista e míope. Muito ao contrário de reforçar nossa infraestrutura, os capitais foram atraídos ao Brasil para comprar a infraestrutura que já existia – usinas, sistemas de transmissão, distribuição, telecomunicações, estradas – ao invés da construção de novas plantas. Acacianamen- te, a reforma do SEB apostava que bastaria a entrada de capitais estrangeiros para haver a expansão e ampliar a eficiência (mais qualidade e menores preços!). Como se a lógica da eficiência privada coincidisse exatamente com as necessidades do serviço público. Fragilizamos nosso Estado nacional vis-à-vis o fortalecimento dos mercados mundiais. Em uma lógica muito mais “destruidora” do que “construtora”, as reformas ignoraram as cadeias produtivas existentes no País; ao se desfazer de empresas nacionais e de in- fraestrutura, rifou-se as cadeias industriais, a estrutura de empresas correlatas e de apoio, tecnologia e emprego. Uma resposta proativa seria a constituição de atores globais brasileiros – privados e estatais que conquistassem mercados no exterior, abrindo alternativas econômico-empresariais qualificadas para minimizar os impactos da reestruturação internacional sobre a economia brasileira. Exemplos concretos deste movimento: a Petrobrás dinamizando indús- trias, como a de estaleiros, e ampla rede de P&D; e o Sistema Eletrobrás, em remodelação, que já criou uma área de atuação internacional focada na integração energética com países latinos. Claro, merece destaque o fomento à criação de multinacionais brasileiras privadas. A reforma do SEB pautou-se pelas garantias ao capital privado. Foram concedidos privilégios e reduzidas garantias/seguranças, em desacordo com as correspondentes responsabilidades, vinculadas ao vulto e à complexidade de gestão dos serviços que estavam sendo concedidos. É legítimo o argumento de sua necessidade para viabilizar o ingresso de capitais; todavia não cabia ignorar sua contraparte: deveriam ser construídas garantias aos consumidores (especialmente os cativos), aos cidadãos e aos empregados. Os paraísos fiscais servem às empresas que mantêm atividades comerciais de nível internacional, em várias jurisdições, via de regra com sistemas jurídico-tributários distintos; sua confidencia- A privatização tornou-se um fim em si mesma, em vez de ser um instrumento para alcançar um crescimento sustentável. Para J.Stiglitz, “o modo como a privatização é realizada faz uma grande diferença. Infelizmente, o FMI e o Banco Mundial abordavam essas questões a partir de uma obtusa perspectiva ideológica: a priva- tização deveria ser feita de maneira rápida”... “Faziam scorecards (boletins de pontuação): os (países) que privatizavam suas estatais mais rapidamente recebiam notas mais altas.” Prof. Dr. José Paulo Vieira DIRETORIA Presidente – Sérgio Pinfildi Vice-Presidente – José Carmo De Felice Dir Comunicações – Antonio Carlos Figueira Dir Técnico Cultural – José Paulo Vieira Dir Financeiro – José Roberto Marconi Dir Social – Marden Leão B. Machado Dir Previdência e Saúde – Mario Molina Ribeiro Dir Administrativo – Roberto Magno L. Gomes Dir Negócios – Wilson Roberto Nunes CONSELHO DELIBERATIVO Presidente – Roberto Marcelino de Arruda Vice Presidente – Rui Carlos Ortega Efetivos Almir Fernando Martins Carlos Affonso dos Santos Elisabete Adami Pereira dos Santos Jonaldo dos Santos Agard Luis Carlos Lulu Luiz Marcello de Azevedo Filho Paulo Henrique Farias de Oliviera Roberto Giglio Suplentes Luiz Carlos de Britto Marco Antonio de Moraes Orivaldo José Marcuzzo Silvio Luiz Andolfato Vanderley Rosa CONSELHO FISCAL Efetivos: Clóvis José Rossi, Manoel Carlos Visentin Coronado, Wandelkok Souza Vasconcelos Junior Suplentes: Cacio Antonio Bontempo, Marcos de Figueiredo Miranda, Paulo José da Silva Eleitos na Assembléia Geral do dia 24 de junho de 2010, os novos membros da Diretoria e dos Conselhos Deliberativo e Fiscal do Ins- tituto ADECON tomaram posse no dia 1° de julho de 2010. Terão um mandato de dois anos. Veja a nova composição: Desobrigada de oferecer quaisquer garantias efetivas e distribuindo dividendos generosamente, colapsou em 2003 deixando de cumprir o serviço da dívida junto ao BNDES, que teve de “salvá-la”. As demais privatizadas também não assumiam responsabilidades... Nem sob as leis brasileiras, muito menos sob as do país de origem. Novos gestores, novas prioridades: passou a imperativa a maximi- zação do retorno de curto prazo; as empresas passaram a adquirir participação em outras empresas do setor visando ampliação do poder de mercado; outra prioridade inconteste foi a distribuição de lucros. Em pouco tempo estavam excessivamente alavancadas. Corolário das novas prioridades foi o subinvestimento, que implicou diretamente na crise de 2001 (Apagão). Maximização de lucros e dividendos; minimização das despesas com pessoal e correlatas: em peças meramente formais. Mesma ótica cabe ao artigo 33/Lei 9.074, que trata da fiscalização pelos usuários ou dos documentos a serem disponibilizados ao público. Obs. Em 1999 as despesas com saúde eram de 0,77% na Eletropaulo, de 0,68% (CESP e CTEEP) e de 0,39% na CPFL. Foram também privatizadas: CPFL em 05/11/97, Elektro em 16/7/98, AES Tietê em 21/10/99, CESP Paranapanema em 28/7/99, e CTEEP em 28/6/2006, motivo de outro artigo. Suas dívidas totais aumentaram quase 50% entre 1995 e 1999. Segundo Ricardo Braga, do Citibank, “a privatização no Brasil não é feita via investimento de capital e sim por meio de alavancagem. Quem compra, tipicamente, busca um empréstimo-ponte no mercado externo, que depois é substituído pela emissão de um bônus de longo prazo. A expectativa é que o lucro da empresa adquirida gere caixa para pagar o emprésti- mo”. Celso Pinto, O Ritmo da Privatização, Folha de SP 30/4/98, p.1-7. Empresas do SEB sob nova gestão

Conheça a Nova Diretoria O que aconteceu com as Empresas ... · administração dos instrumentos particulares de contratos firmados entre as associações ... fosse de empresas nacionais

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INSTITUTO ADECON – Associação sem fins econômicos que congrega pessoas físicas, jurídicas e demais profissionais de nível superior, para prestação de serviços especializados a empresas e entidades do setor energético brasileiro.O Instituto ADECON é sócio fundador do ERLACE – Entidad Latino Americana de Cuadros de La Elec-troenergia.Os artigos assinados, assim como o teor das palestras publicadas no ADECON Hoje, são de inteira res-ponsabilidade de seus autores, não refletindo necessariamente a opinião do Instituto ADECON.Site: www.institutoadecon.org.br e-mail:[email protected] Instituto ADECON fica na avenida Paulista, 2.073 – Edifício Horsa I – 21° andar – conjunto 2119.

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LIVROS

ADECON HOJE é uma publicação do Instituto ADECON

Jornalista responsável: José Luiz Teixeira, MTb 16.099

Diagramação: Cíntia PlihalApoio Administrativo: Lourdes Trinca Fornazieri

Impressão: Lenegráfica EditoraTiragem: 2.000 exemplares

Encerramento do Programa de Pousadas

Conheça a Nova Diretoria

A partir de julho de 2009, quando com-pletou 10 anos de existência, o programa criado para gerir as pousadas das ener-géticas paulistas, por meio do Consórcio Las Villas, formado pela participação do Instituto ADECON, AECESP, AEC e AAFC, começou a ser desativado.

Ao Instituto ADECON, após profundas e criteriosas análises da situação das pou-sadas, decorridos 5 anos de atividades, ficou evidente a dificuldade em gerenciar o programa, bem como os riscos envolvidos, principalmente em decorrência da forma e métodos empregados no gerenciamento e administração dos instrumentos particulares de contratos firmados entre as associações e as respectivas cessionárias.

Atendendo às determinações e reco-mendações do Conselho Deliberativo do Instituto, e respaldado pela cláusula VIII do Instrumento Particular de Consórcio, formalizou-se a saída da gestão desse consórcio em 30 de março de 2006, sendo essa decisão aprovada em ata de reunião ocorrida entre todas as associações em dezembro/2006.

Ao se retirar do programa de pousadas, o Instituto ADECON foi seguido pela AECESP e, desde então, o consórcio vem sendo gerenciado exclusivamente pela AEC e AAFC. Foram feitas inúmeras tentativas de assinatura de um Instrumento Particular de Distrato do Consórcio junto a essas duas

associações, mas todas sem sucesso. Portanto, o Instituto não participa mais

das tomadas de decisões administrativas, gerenciais e comerciais do programa, e não possui documentos ou arquivos envolvendo o acompanhamento dos controles finan-ceiros, tributários, previdenciários e fiscais desde aquela data.

Assim, a partir de julho de 2009, com o encerramento dos contratos de cessão das Pousadas, o Instituto ADECON noti-ficou judicialmente as empresas (Cesp, Duke Energy e AESTietê), as operadoras e as demais associações informando que não iria mais participar do Consórcio Las Villas e, consequentemente, do Programa de Pousadas.

Atualmente, as pousadas Jurumirim e Salto Grande já foram devolvidas à Duke Energy, atual proprietária. O Instrumento de Distrato também já está formalizado juridicamente. Com referência às pousadas Bariri e Ibitinga, desativadas, o departa-mento jurídico da proprietária, AES/Tietê, entende que na data de término contratual - julho/2009 - houve o encerramento legal do contrato de cessão.

Em relação às pousadas pertencentes à Cesp (Paraibuna, Ilha Solteira e Arpuí), há pendências contratuais junto às operadoras, fato este que deve adiar por mais alguns meses a elaboração do Distrato.

Deve ser ressaltado que, diante dos fatos

analisados e avaliados junto à gestão do Consórcio, não restou alternativa senão retirar-se do Programa de Pousadas, tendo em vista a defesa dos interesses dos seus associados, protegendo o patrimônio e res-guardando o seu quadro de profissionais.

Mesmo assim, devido a reflexos do pas-sado, o Instituto ADECON permanece com responsabilidade perante terceiros. Está respondendo a dezenas de reclamações trabalhistas e ações de perdas e danos movidas por ex-empregados das Pousadas, prestadores de serviços e cessionários, evi-denciando a falta de controle operacional e de responsabilidade gerencial que envolve-ram a administração desse programa nos últimos anos, conforme já comentado no início deste artigo.

O escritório Lescher & Lefévre Advogados Associados foi contratado para acompanhar e defender os interesses do Instituto ADE-CON em todos esses processos judiciais. Até o momento, foram firmados vários acordos na esfera judicial, reduzindo os valores ini-cialmente pleiteados, mas que representam perdas significativas de recursos.

O Instituto ADECON estuda, em con-junto com seus advogados, encontrar formas de buscar ressarcimento dos valores desembolsados em todos esses processos, junto aos verdadeiros admi-nistradores, responsáveis pela gestão das pousadas.

O Setor Elétrico Brasileiro (SEB) foi reestruturado nos anos 1995-99. O foco era a atração de capitais privados, que promoveriam a expansão do sistema e cuja sabida eficiência resultaria em maior qualidade e menores preços da energia. Se não fosse para esse fim, para que tamanha reforma? Entretanto os processos de privatização favoreceram forte desnacionalização do SEB em bene-fício de grandes grupos transnacionais, cujos poderes econômico e gerencial passaram a contrastar fortemente com nossas frágeis instituições, agências reguladoras, órgãos de defesa do consumidor, sindicatos e empregados.

A privatização era necessária para o SEB retomar os investimentos?

A antiga crise financeira das empresas do SEB foi solucionada pela Lei nº 8631, de 1993. Em 1995, as Empresas do SEB exibiam excepcional solidez econômica, ilustrada pelo endividamento (dí-vida/ativo) médio de apenas 14,43% (dados do IPEA). Condição suficiente para suportar amplos investimentos na expansão. Todavia, aos olhos do “mercado”, as empresas apenas tornaram-se “atrativas para a venda”.

O imperativo fiscal: recursos para os governosAssim, no pós-1993, as ditas razões microeconômicas – falta de

recursos para investir – não mais podiam justificar a privatização do SEB. A partir daí o motor de sua liquidação foi apenas e tão somente o dito “imperativo fiscal”: servir à cobiça dos governos, ao caixa rápido, à sofreguidão em maximizar o valor da receita extra-orçamentária dos leilões, sem vinculação a qualquer plano de longo prazo, a um projeto de País. Altos valores de aquisição das estatais certamente foram motivos de “pressão” sobre os novos gestores para recuperar os elevados capitais investidos. Azar das tarifas e das despesas. E quanto ao cidadão, o consumidor, os parceiros e colaboradores do SEB? Não faziam parte dessa equação.

A privatização e suas regras flexibilizadasOs editais de privatização do SEB estimularam ampla participação,

fosse de empresas nacionais ou estrangeiras, mesmo através de Sociedades de Propósito Específico (SPEs), que poderiam ser non-recourse (suas dívidas não afetam os controladores); permitiu-se mais: que seus controladores fossem empresas offshore constituídas em paraísos fiscais.

Constate-se: uma SPE criada às vésperas do leilão, sem aportar nenhum capital próprio, adquiriu pelo preço mínimo a maior dis-tribuidora de energia elétrica da América Latina. A Lightgás Ltda., subsidiária da Light, foi criada apenas para o leilão da Eletropaulo. Seu único ativo passou a ser as ações ordinárias da Eletropaulo e sua única receita, o recebimento de dividendos dessas ações. Seus controladores (AES, EDF, CSN e Houston Energy) foram 100% financiados: (I) 50% pelo BNDES e (II) 50% de sindicato de bancos, obtido por meio de subsidiária das Ilhas Cayman (LI-REnergy Ltd).

O que aconteceu com as Empresas Energéticas de São Paulo?lidade e isenções de impostos (especialmente nas Ilhas Cayman) criam ambiente propício à eventual ‘lavagem de dinheiro’. É claro que estas não são pré-condições para o exercício de monopólios naturais de energia elétrica, ainda mais beneficiados com financia-mento público.

Tudo isso se subalternizava a certo rito: o FMI recomendava privatizar rapidamente; questões como concorrência e regula-mentação “poderiam ser tratadas depois”. Todavia, para o Prêmio Nobel J.Stiglitz, “o perigo aqui é que uma vez que um interesse real tenha sido criado, ele passe a contar com o incentivo e os recursos financeiros para manter sua posição como monopólio, passando por cima da regulamentação e da concorrência e distorcendo, no percurso, o processo político”.

As privatizações paulistasIsso ocorreu nos leilões paulistas, que facilitaram a grupos “re-

cém-entrantes” ampliarem seu poder de mercado: “o risco maior é criar um monopólio privado ao privatizar o monopólio estatal”, era o alerta (“Monopólio Privado, Não”, Editorial Folha de SP 29/3/98), e pior: “a privatização a toque de caixa, em ano eleitoral, em um governo estadual cujo mandatário disputa a reeleição, deve ser rigorosamente fiscalizada. Mas como fazê-lo se os órgãos federais de regulamentação ainda não podem ou não conseguem cumprir o seu papel?”.

Apesar dos alertas, tanto Eletropaulo quanto Bandeirante foram adquiridas por “entrantes”, e pelo preço mínimo: a Eletropaulo no dia 15/4/1998 pela EDF (Électricité de France, recém ingressa no país através aquisição da Light/RJ) e a Bandeirante em 17/9/1998, pela CPFL, privatizada há menos de um ano (aliada à EDP-Eletri-cidade de Portugal).

As leis da reforma do SEB trataram desigualmente os desiguais

Com a reforma dos anos 1990, o protagonismo da expansão e modernização do SEB foi entregue ao setor privado. A “atração” deste e sua lucratividade foram garantidas por inúmeras normas. Consumidores “livres” (de grande porte) passaram a escolher o fornecedor; os outros são “cativos”. O artigo 60/ Lei 8.987/95, que disciplina o serviço adequado, em sua redação final, teve amputa-do o texto a seguir destacado: § 2o: “A atualidade compreende a modernidade das técnicas, do equipamento e das instalações e a sua conservação, bem como a melhoria e expansão do serviço... na medida das necessidades dos usuários”. Tal exclusão cuidou somente de reduzir as exigências das futuras concessionárias.

Os artigos que tratam das possíveis “intervenções do poder concedente” (Lei 8.987) cuidaram mais de não prejudicar as con-cessionárias do que do efetivo rigor e competência da fiscalização. Foi grande a preocupação em reiterar que as concessionárias têm assegurado o “direito de ampla defesa”, o “direito à indenização” e à “prestação de contas pelo interventor”, que “responderá pelos atos praticados durante sua gestão”. Caberia indagar quais seriam os direitos do interventor...

Informações Contábeis das Empresas Privatizadas

O artigo 30/Lei 8.987 define fiscalizações a serem feitas “perio-dicamente”, por “comissão de representantes”, sem determinar sua composição nem periodicidade. Destarte, as fiscalizações podem ocorrer de forma assimétrica, sem objetivos e métodos; a não definição dos componentes pode transformar as visitas

ConclusõesA reforma do SEB (1995-99) fomentou forte desnacionalização,

beneficiando empresas estrangeiras em detrimento das locais. A partir daí, o poder econômico e gerencial dos grupos “entrantes” passou a contrastar com a fragilidade dos órgãos reguladores, dos consumidores e dos empregados. Apesar das graves mudanças, dos cortes de pessoal, terceirização, importação de tecnologias, desnacionalização e da concentração de mercado, provocados pela reforma, não foi equacionada a expansão do SEB e a confiabili-dade dos serviços regrediu. Mesmo assim, ocorreu uma explosão tarifária.

Alternativas havia. Práticas de países como os da Europa, Japão, Estados Unidos e Coréia do Sul recomendam ação sistêmica para aproveitar as oportunidades da globalização: forte ação do Estado na infraestrutura e no fomento para que suas empresas nacionais busquem modernização via Educação e Pesquisa e Desenvolvimento (P&D). Dado que a capacidade de competir em escala global é algo mais do que a simples soma de iniciativas individuais das empresas, a reforma do SEB configurou-se autista e míope.

Muito ao contrário de reforçar nossa infraestrutura, os capitais foram atraídos ao Brasil para comprar a infraestrutura que já existia – usinas, sistemas de transmissão, distribuição, telecomunicações, estradas – ao invés da construção de novas plantas. Acacianamen-te, a reforma do SEB apostava que bastaria a entrada de capitais estrangeiros para haver a expansão e ampliar a eficiência (mais

qualidade e menores preços!). Como se a lógica da eficiência privada coincidisse exatamente com as necessidades do serviço público. Fragilizamos nosso Estado nacional vis-à-vis o fortalecimento dos mercados mundiais. Em uma lógica muito mais “destruidora” do que “construtora”, as reformas ignoraram as cadeias produtivas existentes no País; ao se desfazer de empresas nacionais e de in-fraestrutura, rifou-se as cadeias industriais, a estrutura de empresas correlatas e de apoio, tecnologia e emprego.

Uma resposta proativa seria a constituição de atores globais brasileiros – privados e estatais que conquistassem mercados no exterior, abrindo alternativas econômico-empresariais qualificadas para minimizar os impactos da reestruturação internacional sobre a economia brasileira. Exemplos concretos deste movimento: a Petrobrás dinamizando indús-trias, como a de estaleiros, e ampla rede de P&D; e o Sistema Eletrobrás, em remodelação, que já criou uma área de atuação internacional focada na integração energética com países latinos. Claro, merece destaque o fomento à criação de multinacionais brasileiras privadas.

A reforma do SEB pautou-se pelas garantias ao capital privado. Foram concedidos privilégios e reduzidas garantias/seguranças, em desacordo com as correspondentes responsabilidades, vinculadas ao vulto e à complexidade de gestão dos serviços que estavam sendo concedidos. É legítimo o argumento de sua necessidade para viabilizar o ingresso de capitais; todavia não cabia ignorar sua contraparte: deveriam ser construídas garantias aos consumidores (especialmente os cativos), aos cidadãos e aos empregados.

Os paraísos fiscais servem às empresas que mantêm atividades comerciais de nível internacional, em várias jurisdições, via de regra com sistemas jurídico-tributários distintos; sua confidencia-

A privatização tornou-se um fim em si mesma, em vez de ser um instrumento para alcançar um crescimento sustentável. Para J.Stiglitz, “o modo como a privatização é realizada faz uma grande diferença. Infelizmente, o FMI e o Banco Mundial abordavam essas questões a partir de uma obtusa perspectiva ideológica: a priva-tização deveria ser feita de maneira rápida”... “Faziam scorecards (boletins de pontuação): os (países) que privatizavam suas estatais mais rapidamente recebiam notas mais altas.”

Prof. Dr. José Paulo Vieira

DIRETORIAPresidente – Sérgio PinfildiVice-Presidente – José Carmo De FeliceDir Comunicações – Antonio Carlos FigueiraDir Técnico Cultural – José Paulo VieiraDir Financeiro – José Roberto MarconiDir Social – Marden Leão B. MachadoDir Previdência e Saúde – Mario Molina RibeiroDir Administrativo – Roberto Magno L. GomesDir Negócios – Wilson Roberto Nunes

CONSELHO DELIBERATIVOPresidente – Roberto Marcelino de ArrudaVice Presidente – Rui Carlos OrtegaEfetivosAlmir Fernando MartinsCarlos Affonso dos SantosElisabete Adami Pereira dos SantosJonaldo dos Santos AgardLuis Carlos LuluLuiz Marcello de Azevedo Filho

Paulo Henrique Farias de OlivieraRoberto Giglio

SuplentesLuiz Carlos de BrittoMarco Antonio de MoraesOrivaldo José MarcuzzoSilvio Luiz Andolfato

Vanderley Rosa

CONSELHO FISCAL Efetivos: Clóvis José Rossi, Manoel Carlos Visentin Coronado, Wandelkok Souza Vasconcelos JuniorSuplentes: Cacio Antonio Bontempo, Marcos de Figueiredo Miranda, Paulo José da Silva

Eleitos na Assembléia Geral do dia 24 de junho de 2010, os novos membros da Diretoria e dos Conselhos Deliberativo e Fiscal do Ins-tituto ADECON tomaram posse no dia 1° de julho de 2010. Terão um mandato de dois anos. Veja a nova composição:

Desobrigada de oferecer quaisquer garantias efetivas e distribuindo dividendos generosamente, colapsou em 2003 deixando de cumprir o serviço da dívida junto ao BNDES, que teve de “salvá-la”. As demais privatizadas também não assumiam responsabilidades... Nem sob as leis brasileiras, muito menos sob as do país de origem.

Novos gestores, novas prioridades: passou a imperativa a maximi-zação do retorno de curto prazo; as empresas passaram a adquirir participação em outras empresas do setor visando ampliação do poder de mercado; outra prioridade inconteste foi a distribuição de lucros. Em pouco tempo estavam excessivamente alavancadas. Corolário das novas prioridades foi o subinvestimento, que implicou diretamente na crise de 2001 (Apagão). Maximização de lucros e dividendos; minimização das despesas com pessoal e correlatas:

em peças meramente formais. Mesma ótica cabe ao artigo 33/Lei 9.074, que trata da fiscalização pelos usuários ou dos documentos a serem disponibilizados ao público.

Obs. Em 1999 as despesas com saúde eram de 0,77% na Eletropaulo, de 0,68% (CESP e CTEEP) e de 0,39% na CPFL. Foram também privatizadas: CPFL em 05/11/97, Elektro em 16/7/98, AES Tietê em 21/10/99, CESP Paranapanema em 28/7/99, e CTEEP em 28/6/2006, motivo de outro artigo.

Suas dívidas totais aumentaram quase 50% entre 1995 e 1999. Segundo Ricardo Braga, do Citibank, “a privatização no Brasil não é feita via investimento de capital e sim por meio de alavancagem. Quem compra, tipicamente, busca um empréstimo-ponte no mercado externo, que depois é substituído pela emissão de um bônus de longo prazo. A expectativa é que o lucro da empresa adquirida gere caixa para pagar o emprésti-mo”. Celso Pinto, O Ritmo da Privatização, Folha de SP 30/4/98, p.1-7.

Empresas do SEB sob nova gestão