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Missão impossível? Rio de Janeiro, fevereiro de 2016 Ano XXI – Nº 211 www.comunitaitaliana.com O italiano Marco Balich é o mestre de cerimônias que tem o desafio de realizar a abertura e o encerramento dos Jogos Olímpicos do Rio. Ele, que foi mochileiro, nos revela detalhes da sua rica experiência e diz que busca reaver o orgulho e a dignidade de uma nação ISSN 1676-3220 R$ 14,90 R 9,00 COMEÇAR DE NOVO Os sicilianos que acolhem refugiados NOVA MODA Home restaurant vira mania na Itália Conheça o “caminho de Santiago” italiano O SALTO DA BOTA A hospitalidade e o mar cristalino da Puglia

Conheça o “caminho de Santiago” italiano

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Page 1: Conheça o “caminho de Santiago” italiano

Missão impossível?

Rio de Janeiro, fevereiro de 2016 Ano XXI – Nº 211

www.comunitaitaliana.com

O italiano Marco Balich é o mestre de cerimônias que tem o desafio de realizar a abertura e o encerramento dos Jogos Olímpicos do Rio. Ele, que foi mochileiro, nos revela detalhes da sua rica experiência e diz que busca reaver o orgulho e a dignidade de uma nação

ISSN

167

6-32

20R$

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Começar de novoos sicilianos que acolhem refugiados

nova modaHome restaurant vira mania na Itália

Conheça o “caminho de Santiago” italiano

o salto da Botaa hospitalidade e o mar cristalino da Puglia

Page 2: Conheça o “caminho de Santiago” italiano
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Fevereiro de 2016 Ano XXI Nº211

CAPA Nossos colunistas07 | Cose NostreQuem é quem na Embaixada da Itália em Brasília

10 | Fabio Porta I 50 anni dell’Istituto italo-latinoamericano, uno strumento unico che non ha ancora goduto il sostegno meritato

11 | Domenico De Masi Uma reflexão sobre a comida, que deveria ser boa, limpa e justa

45 | Guilherme Aquino Giuseppe Sala, ex-administrador da Expo, quer ser prefeito de Milão

50 | Ary Grandinetti Nogueira Onde está o líder?

63 | Giordano Iapalucci Firenze: un viaggio lungo gli anni Settanta italiani alla Frittelli Galleria d’Arte

66 | Claudia Monteiro De CastroA festa dos livros: uma feira das pequenas editoras em Roma e a livraria Acqua Alta de Veneza

51 | Elena Ferrante e Umberto Eco Confira os últimos lançamentos de autores italianos no Brasil

52 | Primo Levi Os tocantes versos do autor italiano da Shoá são ouvidos e debatidos pela primeira vez na Biblioteca Nacional

56 | Restaurante em casa Moda de abrir as portas de casa para receber desconhecidos à mesa pega na Itália

65 | Sapori d’Italia A casa das meninas de Parma fica em Niterói

19 | Fiat Chrysler Mesmo na crise, empresa continua investindo no Brasil: além de trazer mais tecnologia às fábricas, lança dois novos modelos neste ano

20 | Giovani costretti a emigrare Nonostante la crescita del Pil italiano, la disoccupazione è ancora elevata in Italia

62 | O legado dos Urani Lidia Urani fala sobre a herança deixada pelo pai ao Brasil: além de ter trazido a Fiat para o país, fez obras sociais em comunidades do Rio que até hoje inspiram governos

26 | O mago da olimpíada Produtor executivo das cerimônias de abertura e encerramento dos Jogos, o veneziano Marco Balich promete uma festa inesquecível capaz de emocionar não apenas os brasileiros, mas também o público do mundo inteiro

12 | AccoglieRete Voluntários de ONG da Sicília já resgataram a dignidade de 600 crianças e jovens que escaparam da morte na travessia do Mediterrâneo, devolvendo esperança à humanidade

40 | Como na Idade Média Projeto revitaliza antigo caminho usado por peregrinos que partiam do Norte da Itália rumo a Roma

46 | Wara Brasileiros se organizam em Turim através de associação e ajudam imigrantes a vencer a burocracia italiana

34 | Edoardo Mangiarotti O esgrimista lombardo foi o atleta que mais subiu ao pódio olímpico pela Itália até hoje

Mercado

Turismo

Lettore

Hospitaleira e dona de um mar cristalino, a Puglia é conhecida pelos inconfundíveis trulli, habitações brancas em pedra seca com tetos cônicos. Embora não faça parte dos roteiros tradicionais, o turismo brasileiro na região cresceu 30% nos últimos anos

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Literatura

Gastronomia

Atualidade

Economia

Comunidade

Com apenas 10 minutos por semana você protege a sua família o tempo inteiro.

Plantas semacúmulo deágua e pratocom areia

Bandejas dear-condicionadoe geladeira limpas e secas

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Piscinase fontestratadas

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Vasilhas de animais lavadas com água e sabão a cada 48h

Faça a checklist: com 10 minutos você não deixa o mosquito nascer.

ACABE COM O ZIKA

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fevereiro 2016 | comunitàitaliana4

Page 4: Conheça o “caminho de Santiago” italiano

Editorial ExpEdiEntE

Diretor-PresiDente / eDitor:Pietro Domenico Petraglia

(rJ23820JP)

Publicação Mensal e ProDução:editora comunità ltda.

tirageM: 40.000 exemplares

esta eDição foi concluíDa eM:12/02/2016 às 13h00

Distribuição: brasil e itália

reDação e aDMinistração:rua Marquês de caxias, 31, niterói, centro, rJ

ceP: 24030-050tel/fax: (21) 2722-0181 / (21) 2722-2555

e-Mail: [email protected]

reDação: guilherme aquino; gina Marques; cintia salomão castro;

Vanessa corrêa da silva; stefania Pelusi; aline buaes; giuseppe bizzarri

subeDição: cintia salomão castro

traDução: Debora balancin

ProJeto gráfico e DiagraMação:alberto carvalho

[email protected]

caPa: assessoria de imprensa balichws

colaboraDores:Pietro Polizzo; Marco lucchesi; Domenico De

Masi; fernanda Maranesi; beatriz rassele; giordano iapalucci; cláudia Monteiro de castro;

ezio Maranesi; fabio Porta; Venceslao soligo; franco gaggiato; Walter fanganiello Maierovitch;

gianfranco coppola; lisomar silva; ary grandinetti nogueira

corresPonDentes: guilherme aquino (Milão); gina Marques (roma);

Janaína cesar (treviso); Quintino Di Vona (salerno); gianfranco coppola (nápoles); stefania

Pelusi (brasília); Janaína Pereira (são Paulo); Vanessa corrêa da silva (são Paulo);

PubliciDaDe: rio de Janeiro - tel/fax: (21) 2722-2555

[email protected]

rePresentantes: central de comunicação contato: cláudia carpes

tel. 61.3323-4701 / cel. 61.8218-5361 [email protected]

scs QD 02, bloco D, salas 1002/1003 edifício oscar niemeyer - brasília

comunitàitaliana está aberta às contribuições e pesquisas de estudiosos brasileiros, italianos

e estrangeiros. os artigos assinados são de inteira responsabilidade de seus autores, sendo

assim, não refletem, necessariamente, as opiniões e conceitos da revista.

la rivista comunitàitaliana è aperta ai contributi e alle ricerche di studiosi ed esperti brasiliani, italiani e estranieri. i collaboratori esprimono, nella massima

libertà, personali opinioni che non riflettono necessariamente il pensiero della direzione.

issn 1676-3220

Fundada em março de 1994

Pietro Petraglia Editor

Recorde nos museusCom muito orgulho, o

ministro italiano dos Bens e das Atividades Cul-turais e do Turismo, Dario Franceschini, apresentou os últimos números da visitação aos museus do país: em 2015, 43 milhões de pessoas visitaram os lugares da cultura italia-na, gerando 155 milhões de euros. A arrecadação retornará por inteiro aos museus, garantiu. “Para a história do nosso país, é o melhor resultado de todos os tempos, um recorde. Graças à nova política de promoção, como os do-mingos de graça, os italia-nos voltaram a viver seus próprios museus”, frisou o ministro. Os lugares mais visitados são o Coli-seu de Roma, as ruínas de Pompeia e o museu Uffizi de Florença.

Novidades em PompeiaOs apaixonados por história podem comemorar: após uma

restauração, foram reabertas em Pompeia seis áreas de ru-ínas de residências. As Domus restauradas são: a Fullonica de Stephanus, a Casa de Criptoportico, a Casa de Paquius Procu-lus, a Casa de Sacerdos Amandus, a Casa de Fabius Amandio e a Casa de Efebo. As atrações incluem a casa de um comerciante, decorada de forma luxuosa, uma modesta habitação de classe média, uma espécie de lavanderia e casas com banhos termais.

FarnesinaO subsecretário do Ministério das Relações Ex-

teriores e Cooperação Internacional da Itália, Mario Giro, acaba de ser nomeado vice-ministro do Ministério do Exterior e responsável pela co-operação internacional. De acordo com Giro, que já esteve em missões no Brasil, a cooperação é um dos desafios que podem fazer crescer a democracia e espalhar a imagem positiva de “uma Itália que sabe ser solidária, construir a paz e apoiar o desen-volvimento”. Giro ocupa o cargo que foi de Lapo Pistelli, que renunciou ao cargo para se tornar vice-presidente sênior da potente empresa ENI.

O responsável pelos assuntos de emigração do Partido Demo-crático italiano, Engenio Marino, acaba de lançar o livro Partir

Sonhando em várias cidades do Brasil. Italianos e brasileiros pres-tigiaram o evento de lançamento na Fiesp, em São Paulo; na As-sembleia Legislativa do Espírito Santo, em Vitória; na Livraria Ar-gumento, no Rio; e na Câmara dos Deputados, em Brasília, com a presença da vice-presidente da Câmara italiana dos Deputa-dos, Marina Sereni. A obra — editada no Brasil pelo SESI-SP por iniciativa do senador Fausto Longo — traça um painel sobre as canções italianas que retratam o sonho de emigrar e a realidade do emigrado. Uma das músicas pre-sentes é a clássica Mamma mia Dammi Cento Lire.

Dança das cadeirasNos últimos meses, a Embaixada da Itália no Brasil passou por várias

mudanças na chefia de seus escritórios. O departamento de Assuntos Comerciais e Econômicos, antes chefiado por Cristiano Musillo, passou ao controle de Gabriele Annis, ex-conselheiro para a Imigração e Assun-tos Sociais. O diplomata Lorenzo Trapassi, que se ocupava da Chancela-ria Consular, ficará a cargo dos departamentos Cultural e da Cooperação Italiana para o Desenvolvimento. Já a recém-chegada Maria Teresa Di Maio vai coordenar a Chancelaria Consular e o departamento de Coorde-nação com a Rede Consular. O departamento Científico, anteriormente chefiado por Roberto Spandre, ficará a cargo do adido Roberto Bruno. A secretaria do Ministro Conselheiro continua com Filippo La Rosa e o departamento de Assuntos Políticos com Alberto La Bella.

Mas o zika apavoraSem citar nomes de paí-

ses, o Ministério da Saúde italiano desacon-selhou grávidas e mulhe-res que pensam em ter fi-lhos a visitarem os países mais afetados pelo vírus transmitido pelo mosqui-to Aedes Aegypt — cujo epicentro é o Brasil, país sede dos Jogos. O mesmo conselho foi dirigido aos afetados por doenças no sistema imunológico ou com graves patologias crônicas. Nos aeroportos e portos haverá painéis informativos sobre o ví-rus, pedindo aos turis-tas para ficarem atentos a sintomas como febre e dores musculares e nas articulações.

Brasil é destaqueO programa Kilimangiaro,

transmitido pela Rai, está apresentando até abril o quadro Destino Brasil, em vista dos Jo-gos Olímpicos. No total, são seis episódios que destacam os mais diversos roteiros turísticos do país. De acordo com o presiden-te da Embratur, Vinícius Lum-mertz, a televisão italiana exerce muita influência. “Essa divulga-ção é extremamente importan-te para atrair a Itália, considera-do o sétimo país que mais envia turistas para o Brasil”.

Gigetto fechaBerço da cultura cantineira

de São Paulo, o tradicional restaurante italiano Gigetto fechou as portas no Bexiga, em janeiro. O casarão situado no renomado bairro Bexiga foi inaugurado em 1938 e era reduto de artistas e intelectu-ais. O restaurante pertenceu ao italiano João Henrique Lenci e atualmente é admi-nistrado pela terceira geração da família.

Hipnotizador de tubarõesO mergulhador italiano Riccardo Sturla Avogadri contou à radio

Outlook, da inglesa BBC, que descobriu uma técnica para hip-notizar tubarões. Ele tirou fotos e gravou vídeos em que aparece com as mãos na cabeça do animal imóvel. O italiano explicou que a sua técnica deixa os tubarões em transe, mas admite que não é possível aplicá-la em todas as espécies. Ele ressaltou que nunca sofreu um acidente grave. Para atraí-los, ele usa barulho, comida ou produtos químicos. Quando ele se aproxima, coloca as mãos em uma posição específica que permite relaxar o animal. Quan-do Avogadri mergulha, usa uma roupa de aço para que, no caso de mordidas, os dentes do tubarão não perfurem o traje.

A cabou o carnaval. Depois da licença para a folia e enquanto esperamos 2016 engrenar de verdade, a pauta insiste em ser a mesma. Crise. No Brasil e no mundo, uma nova onda grave de temor por conta dos índices da China e da quebra de bancos europeus abala o humor dos mercados. E o que são os números diante do horror das tragédias humanitárias e o estresse glo-

bal provocado por um mosquito que a cada dia parece mais forte e perigoso?

O epicentro desse pessimismo parece estar cada vez mais perto de nós. Por aqui, enfrentamos um dos mais graves ciclos de problemas de toda natureza. O país está em situação delicada na Saúde e falta muita infraestrutura básica para que se enxergue uma saída num breve espaço de tempo. Sem buscar culpados, é hora de uma ação con-tundente das instituições brasileiras. Não há mais espaço para experiências negativas com a vida de homens e mulheres que formam esta nação. Frágeis, nos tornamos alvos mais fáceis também para a bandidagem que nos cerca.

Mas, como dizem os italianos, “non gliela daremo vinta”. Apesar de todos os pro-blemas, não podemos nos dar por vencidos. O mau humor não pode prevalecer. Afinal, o grande trunfo brasileiro é a inventividade. O país tem que convocar as gerações em ideias e usar os seus potenciais numa onda positiva de crescimento.

Da Itália, chega a notícia da morte de um ícone da indústria e do made in Italy. Morreu aos 93 anos Renato Bialetti. Seu maior feito, popularizar o invento de seu pai Alfonso, em 1933. A moka, uma cafeteira que revolucionou o modo de preparar o café em casa e conquistou todos os países com enorme sucesso até hoje. Mas, para que de-colasse o empreendimento, como gostava de contar o próprio Renato, sua intuição foi

fundamental. Dez anos mais tarde, em meio a Europa do pós-guerra, o jovem Renato tentava explicar o funcionamen-to da sua máquina para um grupo de franceses céticos em um hotel. Naquele momento, passa o magnata grego Aris-tóteles Onassis e o jovem se aproxima dele com um pedido: “Sou um jovem empreendedor e preciso da sua ajuda para convencer estes clientes sobre a qualidade do meu produto. Basta o senhor dizer que conhece e utiliza a moka Bialetti”. Segundo a lenda, Onassis se dirige a ele e fala em voz alta: “Você sabia que eu nunca bebi um café tão bom quanto o que sai das suas cafeteiras, rapaz?” Daí por diante a qualidade do café fez história pelas charmosas máquinas de diversos tamanhos e com um design diferenciado.

Nesta edição, trazemos como capa uma entrevista exclusiva a um veneziano de 53 anos que está acostumado às adversidades. Nos anos 80, quando a nossa moeda era o Cruzado e os preços mudavam mais de uma vez ao dia por conta da inflação, Marco Balich percorreu o Brasil como mochileiro. Pegou kombi, ônibus e balsa para atravessar pontos em Trancoso, foi a Búzios e conheceu a Amazônia. Contratado como produtor executivo das celebrações dos Jogos Olímpicos do Rio, ele está acostumado a ser alvo de críticas por conta de seu trabalho. E aos que disparam sobre os altos custos dos eventos, ele não esmorece e responde: “A cada ano, qualquer nação compra, no mínimo, entre 10 a 20 helicópteros e aviões, que custam em média de 20 a 80 milhões de euros. Depois um deles cai, talvez, num exercício, no mar... Bem, o que é mais importante: ter algo que te faça reaver o orgulho e a dignidade para uma nação ou comprar um avião a menos?”.

Com esta entrevista realizada pelo repórter Guilherme Aquino direto do escritó-rio de Balich, em Milão, mostramos o trabalho de um jovem que abandonou os estudo para seguir a banda Pink Floyd, realizou shows do U2, foi responsável por eventos nas olimpíadas de Salt Lake City, de Londres e de Sochi; pelo bicentenário do México e, mais recentemente, encantou a todos que participaram da Exposição Universal de Mi-lão, com um ícone, a Árvore da Vida. E com a esperança de que uma resposta dele ao nosso correspondente se faça viva, encerro este texto: “Se você trabalha o orgulho de uma nação, depois o povo orgulhoso vai tratar melhor o próprio país. Construam-se hospitais, mas não renunciemos a celebrar a nossa própria identidade”.

Boa leitura!

Esperançacosenostre

fevereiro 2016 | comunitàitaliana comunitàitaliana | fevereiro 20166 7

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redes sociais

Itália pode liberar cultivo da maconha para uso terapêutico. Você é a favor da proposta?

No site www.comunitaitaliana.com entre os dias 19/01/16 e 26/01/16.

Não - 7%

Sim - 93%

Mecspe 2016Feira do setor de construção e mecânica especializada, des-tinada àqueles que operam no setor industrial, também ser-ve de ponto de encontro ideal para aqueles que buscam tec-nologias de produção e cadeias de suprimentos industriais. Ao todo serão nove salões temáti-cos oferecendo um panorama completo sobre materiais, má-quinas e processos de produção. A última edição reuniu mais de 30 mil visitantes e 1.100 expo-sitores em um espaço de 59 mil metros quadrados.Data: 17 a 29 de marçoLocal: Parmawww.mecspe.com

Veneza Comic 2016Dedicado aos quadrinhos e mangás, promete ser novamen-te um grande show dedicado aos quadrinhos. Durante dois dias, mangás, gadgets e outros

itens estarão no centro das atenções, tornando Veneza um ponto de referência para os amantes do gênero.Data: 19 e 20 de marçoLocal: Marghera - Venezawww.veneziacomix.com

Super Rio Expo FoodO grandioso evento reúne to-dos os anos empresários e profissionais dos setores de supermercado, panificação, hotelaria e franchising. A fei-ra transforma marketing de relacionamento em parceria comercial, e o volume de negó-cios é a sua grande marca.De 15 a 17 de marçoRiocentro - Rio de Janeirowww.superrio.com.br

Depero Futurista e Artista GlobalInaugurada no dia 30 de janeiro, a exposição é dedicada ao artista italiano (1892-1960) precursor

da arte pop. A mostra é composta por 65 de suas obras. Organi-zada pelo Instituto Italiano de Cultura de São Paulo, reúne a produção gráfica de Depero, que por anos foi o responsável pelos cartazes da bebida Campari.De 30 de janeiro a 27 de março- Instituto Italiano de Cultura de São Paulo www.superrio.com.br

Buon VivereDedicada à comida e ao vinho típico de Piacenza, o evento oferece um fim de semana de-dicado aos produtos naturais italianos. Haverá workshops com especialistas em hote-laria, degustações guiadas e conferências destinadas aos operadores de turismo.De 4 a 6 de marçoPiacenza Expo - Piacenza www.buonvivere.info

10ª Exposição de Marketing PromocionalO Brazil Promotion Day é a versão itinerante de ape-nas um dia da maior feira de Marketing Promocional da América Latina. Com um for-mato que promove o encontro entre todos os expositores e visitantes, apresenta os me-lhores fornecedores com as últimas novidades em brin-des, serviços para eventos e soluções para merchandising no ponto de venda.Dia: 30 de marçoLocal: Centro de Convenções Sul América - Rio de Janeirowww.brazilpromotion.com.br

naestante

Meu Avô ItalianoO autor Thiago Iacocca nasceu em uma família italiana de São Paulo. Em seu primeiro livro, ilustrado pelo cario-ca Rogério Soud, narra as férias escolares de Tito, que, revendo as fotos da família ao lado do avô, descobre co-mo era a vida de seus parentes na Itália, por que eles vieram para o Brasil e como foi a adaptação ao novo país. Ao relembrar antigas histórias, o avô de Tito mostrará que no Brasil há muito mais da Itália do que se imagina. Editora Panda Books, 36 páginas, R$ 36,00

SErviçoopinião

“Siamo stati felici che questo film abbia

ricevuto tutte queste nomination in vari

settori. Ma un film non è mai fatto per l’Oscar, non è che quando sei

lì a girare ti metti a pensare che potresti

vincere una statuetta”,Leonardo di Caprio, attore

americano a Roma per presentare The Revenant, candidato a 12 statuette

“Quando vou para Bruxelas respiro ar pesado, burocrático, de dificuldades, e aqui na Itália sinto que o céu é o limite, tudo é realmente possível”,Tim Cook, CEO da Apple, durante visita ao país, onde anunciou o investimento no primeiro centro na Europa para o desenvolvimento dos aplicativos, em Nápoles

“O maior problema de Veneza parecem ser os navios de cruzeiro que destroem a lagoa e seus canais. Se não conseguirmos salvar Veneza, como pensamos em salvar o mundo?”,Vivienne Westwood, estilista inglesa que escolheu a cidade italiana como cenário para a sua campanha Primavera Verão 2016

“Há algo de místico em quem

decidi fazer boxe; é um confronto indizível

com seu corpo, com suas fraquezas, com a

extrema solidão”,Marzia Davide, boxeadora

italiana que sonha com Rio 2016

“In realtà con Armani ci

conosciamo da oltre 15 anni. Avevo perso

la valigia in aeroporto a Nizza e avevo davanti il

festival di Cannes. Lui mi ha dato la sua tessera per poter comprare quello di cui avevo

bisogno in boutique”,Russel Crowe, attore ospite della

sfilata maschile di Giorgio Armani l’ultimo giorno di Milano moda uomo

“Quero o Scudetto e, se o Napoli estiver para vencê-lo, vou para a cidade de helicóptero, pronto para comemorar como um torcedor”,Diego Armando Maradona, ex-jogador do Napoli ao jornal argentino La Nación

clickdoleitorSalvando a Itália Robert M. Edsel mostra o trabalho de resgate de obras de arte saqueadas pelas tropas de Adolf Hitler durante a ocupação da Itália. Nos bastidores do conflito, o pintor de retratos e professor de arte Deane Keller e o jovem historiador de arte Fred Hart negociaram com líderes da igreja católica, oficiais da SS e militantes da resistência italiana com a missão de recuperar obras do Renasci-mento, do Império Romano e preciosidades do Vaticano de valor incalculável, incluindo obras de Michelangelo, Caravaggio, Donatello e Botticelli, até hoje exibidas em museus da Europa. Editora Rocco, 432 páginas, R$ 26,00

“A misericórdia não é uma virtude que permanece sentada em uma poltrona. Não fica parada por nem um segundo, mas vai de encontro aos pobres e pecadores. Esse livro eleva nossos corações sem enfraquecer o cérebro”,Roberto Benigni, ator italiano que participou da apresentação do primeiro livro do papa Francisco O nome de Deus é misericórdia

“Ho sempre apprezza-to la linea editoria-

le equilibrata della rivista, per questo sono rimasto sorpreso leggendo l’articolo Risco à democracia. Mi sarei aspettato che la rivista pub-blicasse anche un articolo-intervista con qualche qua-lificato autore che sostiene le ragioni e la legalità demo-ratica dell’impeachment. A meno che la rivista non abbia adottato una linea editoriale “di parte”.

Gianfranco Bellinzona,

de Rio de Janeiro (RJ), por carta

risposta della direzione:Ringraziamo per il suo riscon-tro, soprattutto come lettore abbonato da diversi anni. Cer-chiamo sempre di dare spazio ai nostri intervistati, con o-pinioni molte volte opposte. Il professore Roberto Vecchi dell’Università di Bologna è stato intervistato dalla nostra corri-spondente, ma la sua opinione riguardo “l’impeachment” del-la presidente Dilma non riflette necessariamente la posizione della pubblicazione.

Simone Messias: Não confio neste juiz, não me passa credibilidade, pois ele trabalha somente para derrubar alguns e esconde outros crimes que não interessam à mídia.

Nina Wallig: Esse ano está proibido usar máscara no carnaval em Veneza. Questão de segurança!

cartas

“Carnevale! Tutti in festa

anche la nonna perde

la testa”

Sonho ou pesadelo?

Em entrevista exclusiva, o juiz Sérgio

Moro compara a Lava Jato à

Mani Pulite

Arqu

ivo

pess

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“A foto foi tirada na Fortezza del Priamar, em Savona, perto de

Gênova, quando eu era tripulante de navio. Durante essa experiência tive meu primeiro contato com a língua italiana. Aventurei-me um pouco mais e fui atrás das minhas raízes, antes de solicitar a minha cidadania italiana, o que acabei conquistando com muito orgulho no final de 2015.”

Marcela falqueto,Três Rios (RJ),

via Facebook

enquete frases agenda

8 9fevereiro 2016 | comunitàitaliana comunitàitaliana.com | fevereiro 2016.com | facebook.com/comunitaitalianapage facebook.com/comunitaitalianapage |

Page 6: Conheça o “caminho de Santiago” italiano

I 50 anni dell’IILALa ricorrenza del cinquantenario è la giusta occasione per il rilancio di questo istituto e delle relazioni dell’Italia con l’America Latina

Il 2016, iniziato per l’Italia all’insegna di un i-nedito protagonismo a livello internazionale (soprattutto europeo) potrebbe essere un an-no di svolta per il rapporto del nostro Paese

con il continente sudamericano, un rapporto storico e profondo mai purtroppo valorizzato in forma ade-guata e proporzionale alla grande presenza italiana nella regione.

Cinquanta anni fa, con una straordinaria quan-to lungimirante intuizione, l’allora Ministro degli Esteri Amintore Fanfani fu l’artefice della nascita dell’IILA, l’Istituto italo-latinoamericano; uno stru-mento unico nel suo genere anche in Europa che, come spesso avviene in Italia, non ha goduto negli anni a seguire del sostegno e del successo che un progetto così ambizioso avrebbe meritato.

La ricorrenza del cinquantenario, forse, sarà la giusta occasione per il rilancio di questo istituto e, di conseguenza, delle relazioni dell’Italia con l’Ame-rica Latina.

Non a caso si è tenuta proprio a Roma all’inizio di quest’anno la conferenza internazionale dal ti-tolo “EU Relations with Latin America: from Social Resilience to Global Governance” organizzata dal Ministero degli Affari Esteri e della Cooperazione Internazionale e dall’Istituto Affari Internaziona-li (IAI), con il contributo del Barcelona Centre for International Affairs (CIDOB) e dell’Istituto Italo-Latino Americano (IILA).

Proprio in questa occasione l’Alto Rappresentante per la politica estera e la sicurezza dell’Unione Europea, l’italiana Federica Mogherini, ha voluto tracciare nel suo discorso di chiusura dell’evento le linee-guida del-la politica europea per i prossimi anni relativamente al rapporto con l’America Latina, una regione del mondo lontana dalle principali aree di crisi internazionale e fortemente legata al continente europeo grazie a vin-coli storici, culturali ed economici.

Per l’Italia, che ha ospitato questo importante appuntamento, si è trattato di una ulteriore tappa verso la costruzione di una politica permanente e organica di cooperazione con l’America Latina; nel corso di questi decenni, infatti, alla nascita dell’IILA hanno fatto seguito le sette conferenze governative Italia-America Latina ed il Primo Forum parlamen-tare Italia-America Latina (svoltosi, quest’ultimo, a Roma nel mese di ottobre dello scorso anno).

I cinquanta anni dalla fondazione dell’IILA, un’organismo multilaterale riconosciuto dall’ONU gestito collegialmente dall’Italia insieme ai venti Pa-esi latino-americani, possono quindi essere la nostra grande opportunità per una vera e propria riforma di questo Istituto, orientata al consolidamento ed al rafforzamento della sua originalissima ‘mission’ e ad un suo coordinamento organico con le conferen-ze governative e parlamentari. L’IILA potrebbe così diventare qualcosa di più di un segretariato perma-nente addetto alle relazioni italo-latinoamericane;

uno strumento formidabile e innovativo di promo-zione culturale, economica e istituzionale.

A marzo, in Messico, si realizzerà il secondo Forum delle piccole e medie imprese italo-latinoame-ricane, a conferma della grande complementarietà delle matrici socio-economiche italiane e latinoa-mericane; a dare forza e supporto permanente a tali politiche è anche la grandissima e capillare presenza in Sudamerica delle collettività italiane, radicate in quasi tutti i Paesi dell’area in maniera massiccia e in-cisiva, in quantità e qualità potremmo dire.

Valorizzare tali radici in chiave strategica e nel quadro di una collaborazione stabile e strutturata tra il nostro Paese e i venti Paesi del continente la-tino-americano darebbe alle prospettive di sviluppo dell’Italia nei prossimi anni un ulteriore elemento di forza e dinamicità.

Siamo certi che tutte le istituzioni del nostro Paese, a partire dal governo e dal suo Presidente Matteo Ren-zi, sapranno fare tesoro di questi stimoli per far sì che una semplice ricorrenza si trasformi in un momento di rilancio della presenza italiana nel mondo.

Domenico De Masi, um dos mais importantes sociólogos italianos, é conhecido pelo conceito de “ócio criativo”, título de um de seus livros mais vendidos no Brasil. É professor de Sociologia na Universidade La Sapienza de Roma, onde atua como diretor da faculdade de Ciências da Comunicação

Fabio Porta è il Presidente del Comitato italiani nel mondo e promozione del “Sistema Paese” della Camera dei Deputati italiana; laureato in sociologia economica, vive in Brasile dal 1995

Boa, limpa e justaPara os pobres, a comida vale quanto mais nutre, mas para os ricos vale quanto mais consegue deliciar o paladar

Um italiano consome a mesma comida que consomem 52 indianos. Na Índia existe a fome; na Itália, a falta dela. Na Índia, para vencer a fome, precisa-se de comida; na Itá-

lia, para vencer a inapetência é necessário o aperitivo. Na Índia aconselha-se comer rapidamente; na Itália nos esforçamos em comer slow. Na Índia a comida vale mais quanto mais calorias contém; na Itália vale mais quanto menos calorias consegue conter. Na Índia o pão é necessidade, na Itália é obesidade. Na Índia a cozinha é um luxo, na Itália a gastronomia é estética. Mas Itália e Índia são somente metáforas: também na Itália existe uma Índia dos pobres e também na Índia existe uma Itália dos ricos. Também no Brasil uma população satisfeita como na Itália convive com uma população faminta como na Índia. Apesar de projetos como Fome Zero e Bolsa Família, ainda hoje quinze milhões de brasileiros vivem na extrema pobreza.

O cru e o cozido não representam somente os ele-mentos fundamentais para distinguir as várias etnias através de seus hábitos e costumes, como nos ensinou Claude Lévy-Strauss; constituem também uma fron-teira persistente entre o Primeiro e o Terceiro Mun-dos, entre os ricos e os pobres, entre aqueles que um tempo se chamavam classes sociais e que ainda hoje, independentemente do nome, continuam a morti-ficar a convivência humana. Para os pobres, do lado de lá desta fronteira nada ideal, a comida vale quanto mais nutre; para os ricos, do lado de cá da fronteira, a comida vale quanto mais consegue deliciar o paladar.

Esta delícia — através da qual a comida deixa de ser nutrição e se torna ciência, arte, espetáculo e prazer — foi sabiamente cultivada nas classes altas da Roma imperial até o momento em que o cristia-nismo chegou para quebrar as panelas com seus pe-cados mortais, entre os quais a gula, único dos sete pecados capitais indicado pelo órgão que o comete.

Segundo os velhos teólogos, inimigos irredutí-veis da felicidade terrena, existem cinco modos de cair no pecado da gula: praepropere (comer rapida-mente); laute (desperdiçando); nimis (excessivamen-te); ardenter (avidamente); e studiose (esnobando). Nestes termos, cometeria pecado mortal tanto quem esvaziasse uma garrafa de péssimo vinho co-mum, quanto quem se detivesse comtemplando e degustando um cálice de Sassicaia.

Diferentemente dos outros pecados mortais, o da gula não espera a morte para ser punido: a gota, a úl-cera, a indigestão, os cálculos, a obesidade representam antecipações do inferno já nesta vida. E, ao lado destas punições corporais, estão as caracteriais: Patrick Leigh--Fermor, que dedicou à gula um ensaio muito apetitoso, sustenta a ideia de que o curry provoca litigiosidade, o picante torne cruel, a gordura de foca gere indiferença, o óleo rançoso traga intolerância, os molhos de trufas façam ficar hipocondríaco, a vodka traga inexpressivi-dade, as comidas em lata e a carne congelada nos tor-nem tristes e cinza, e a massa entorpeça a criatividade.

Mas, a este ponto, como cada vez que se fala de felicidade, surge o conceito de sabedoria acompanha-da do senso estético. Nas classes sociais que conse-guiram eliminar o flagelo da fome, a comida torna-se expressão artística centrada de experimentação infi-nita e de equilíbrio das medidas. Ciência e arte, neces-sidade de viver e viver bem, capacidade de dosar tem-pos, métodos e prazeres, convergem na gastronomia como enésima aproximação da felicidade. Sem ésprit de geometrie, traduzido em operações científicas e em anos de espera paciente, não se teria obtido a pureza encantadora de certos vinhos perfeitos; senza ésprit de finesse, traduzido em intuições relâmpago e criativi-dade, não se poderia obter a combinação sublime de sabores e aromas de certos pratos de tirar o fôlego.

Os sete pecados são capitais justamente por seu perverso hábito de gerar outros pecados e prejudicar não somente o pecador, mas também o seu próximo. Porém, pensando bem, o pecado da gula prejudica o guloso e dificilmente gera outros pecados. Possui, no entanto, o mérito de gerar outras virtudes: ao lado da perfeição da comida, coloca-se a beleza refinada da

louça, um design capaz de unir nos talheres a funciona-lidade do útil com a alegria do agradável, a sofisticada perícia das rendas que transformam toalhas e guar-danapos em obras-primas. E existe, enfim, a sublime capacidade de criar a atmosfera sutil e sensual, racional e emotiva que sempre acompanha o convívio de ami-gos que jantam ao redor de uma mesa redonda. Dizia Lord Acton que três são os máximos prazeres da vida: viajar pela Itália com a pessoa amada, escrever um livro e jantar com seis pessoas ao redor de uma mesa. Com a condição de que a comida — como diz Carlo Petrini, fundador do Slow Food — seja boa, limpa e justa.

Nel 1966 il Ministro degli Esteri Amintore

Fanfani ebbe una intuizione straordinaria e lungimirante:

fu così che nacque l’IILANas classes sociais que

conseguiram eliminar o flagelo da fome, a comida torna-se

expressão artística centrada de experimentação infinita e de

equilíbrio das medidas

opinioneFabioPor ta

opinioneDomenicoDeMasi

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Page 7: Conheça o “caminho de Santiago” italiano

O ano de 2015 foi marca-do pelas notícias sobre a emergência da imigra-ção, com destaque para a

foto que mostrava o corpo do peque-no Aylan  Kurdi, carregado por um policial em uma praia turca — ima-gem que se tornou o símbolo de uma das maiores crises humanitárias dos últimos anos. Como em todas as tragédias, as crianças são sempre as maiores vítimas. Segundo os dados da organização Save the Children, somente no ano passado, cerca de 11.100 crianças desembarcaram nas costas da Itália, país que serve como porta de entrada para jovens vindos do continente africano. Sem pais ou familiares, atravessaram o Mediter-râneo sozinhas, enquanto outras perderam suas famílias durante o percurso. Para tentar mudar essa realidade, em julho de 2013, a ad-vogada Carla Trommino se juntou a um grupo de associações de voluntá-rios e comunidades ativas da cidade de Siracusa, na Sicília, para criar a AccoglieRete, uma associação para tutelar os minori stranieri non accom-pagnati — termo técnico usado para identificar menores que não pos-suem cidadania de nenhum país da União Europeia nem pedido de asilo político e se encontram no território italiano por algum motivo, privado de assistência ou representação da parte de seus pais ou de qualquer outro adulto responsável. Desde

recomeçoA

do

“Quando esses meninos atingem seus objetivos, seu projeto migratório, há uma satisfação e uma luz em seus olhos que pagam todo e qualquer esforço”

atualidadE

Rodrigo Silva

Com a ajuda de voluntários, ONG de Siracusa dá a assistência necessária para que crianças e adolescentes refugiados consigam realizar seus sonhos na Itália

então, a ONG, a primeira associação do território italiano a realizar este tipo de ação, tem se destacado por realizar o trabalho de designar tuto-res legais para essas crianças.

Em entrevista à Comunità, a advogada Carla Trommino conta como surgiu a ideia de fundar a entidade: após ver cenas terríveis ao visitar um centro de acolhimen-to para adultos, em razão do seu trabalho como advogada especiali-zada em imigração.

— Havia 70 menores somalis e 15 crianças egípcias, todos em péssimas condições. Os somalis es-tavam sem sapatos. Quase todos os pacientes tinham sarna e dormiam no chão, empilhados em colchões sem cama ou lençóis. Ninguém cui-dava deles e já haviam chegado ali há várias semanas. Os egípcios ha-viam desembarcado a três ou quatro dias e ainda não tinham conseguido sequer tomar um banho e trocar a roupa, que ainda era a mesma do

dia do desembarque. Naquele mo-mento, convoquei um grupo de pessoas que já estavam ativas no voluntariado e, em particular, no cuidado junto aos migrantes no ter-ritório. Juntos, fomos ao local para tentar ajudar, mas, na verdade, nos é impedido, uma vez que as crianças não tinham a possibilidade de fazer valer os próprios direitos. Eles es-tavam em uma situação pior que a dos adultos, porque precisavam de um tutor legal, a fim de expressar seus direitos em nosso território — revela a fundadora do projeto.

Antes do surgimento da Acco-glieRete, o procedimento padrão era designar um guardião para os me-nores, que poderia ser o prefeito da localidade onde ocorresse o desem-barque, ou um representante que muitas vezes não tinha tempo nem os instrumentos necessários para o acompanhamento dos meninos. Era mais difícil durante os perío-dos de chegada mais intensos, o que

A fundadora da ONG Carla Trommino e o

jovem egípicio Taha, um dos assistidos pela AccoglieRete

rederegime de acolhimento. Estima-se que até hoje, desde a sua fundação, tenha prestado assistência a cerca de 600 jovens. A figura do tutor le-gal é um recurso fundamental para permitir aos jovens que saiam do anonimato, ganhem voz e consigam seguir seu caminho rumo à integra-ção. O apoio aos adolescentes se dá a partir do primeiro contato através de um serviço de acompanhamento legal, mediação cultural e assistên-cia psicológica. Fazem parte da rede cidadãos e famílias que oferecem acolhimento e apoiam os jovens durante todo o longo processo de integração educativa e cultural. A AccoglieRete é composta assim por cidadãos e famílias que oferecem acolhimento e apoiam esses jovens durante todo longo processo de in-tegração educativo e cultural.

Os tutores devem ter ficha criminal limpa e frequentar cursos sobre os direitos das criançasOs tutores são, em primei-ro lugar, voluntários que se declaram disponíveis para se tornarem represen-tantes legais das crianças, e

porta-vozes necessários para ajudá-las junto às instituições

de modo a atender seus interes-ses. A seleção dos voluntários se

dá a partir de uma serie de pré-re-quisitos, tais como ter residência em Siracusa ou em cidades da região, não possuir ficha criminal e frequentar cursos sobre a tutela e direitos dos me-nores. Após serem selecionados pelos operadores, são nomeados por des-pacho do Tribunal de Menores. Após o juramento perante a lei, passam por um processo de aprendizagem sobre as normas e os fundamentos relativos à tutela. Depois disso, os voluntários podem se dirigir à ONG para receber informações e conselhos sobre a delicada tarefa de auxiliar os menores no labiríntico sistema buro-crático italiano. Prestes a completar três anos, a AccoglieRete, reconheci-da pelo seu modelo de acolhimento e pelos bons resultados obtidos, conta

coincidia com a falta de centros de acolhimento. O nascimento da ONG siciliana mudou a forma de aco-lhimento a partir do momento da chegada ao território italiano, focan-do em uma abordagem mais pessoal e um constante acompanhamento do desenvolvimento de cada um.

Hoje, a organização trabalha com jovens na faixa dos 11 aos 17 anos, a maioria proveniente de países co-mo Síria, Somália, Eritréia, Senegal, Mali, Gâmbia e Guiné-Bissau, que fogem da guerra, da violência e da pobreza. Além da vida marcada por uma infância difícil, eles têm em comum o sonho de recomeçar a vi-da no continente europeu. Muitas

das vezes, partem sozinhos, dei-xando para trás suas famílias, que investem quase tudo para pagar a perigosa travessia do Mediterrâneo, com a esperança de que consigam um emprego na Europa que lhes proporcione uma vida melhor capaz também de ajudar os pais. A razão pela qual a grande maioria dos que chegam às praias sejam meninos desacompanhados se dá devido à escolha de um filho homem, por se-rem mais fortes, resistentes e mais dispostos a correr riscos.

Segundo números da pró-pria AccoglieRete, nos primeiros 12 meses da associação, cerca de 30 menores foram colocados em

Com a realização de cursos específicos para tutores, a ONG siciliana mantém um constante acompanhamento personalizado junto às famílias e aos jovens a fim de facilitar a integração em território italiano

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com uma rede de 120 tutores. Desde o ano passado, tem o apoio da Cesvi Fondazione, uma ONG humanitária laica e independente fundada em Ber-gamo em 1985 que possui vários projetos ao redor do mundo, inclusive no Brasil.

Carla Trommino já desempe-nhou a função de tutora de pelo menos 20 menores nos últimos dois anos, incluindo Khalifa, um jovem de 16 anos proveniente da Gâmbia que agora vive com sua família — experiência descrita por ela como difícil, sobretudo por conta dos trâ-mites burocráticos, mas satisfatória.

— A experiência de tutela é mui-to contagiante. Ao mesmo tempo, é fonte de grande responsabilidade, mas também de grande satisfação. As maiores dificuldades estão re-lacionadas à burocracia e à falta de clareza dos regulamentos. São res-ponsabilidades não muito claras e compartilhadas entre os ministé-rios e a região, e também no que diz respeito aos serviços municipais e sociais, os tribunais e às diversas as-sociações envolvidas. As satisfações são mais importantes, e a maior de-las, é fácil dizer, está nos olhos destes meninos, a realização de seus objeti-vos e do projeto migratório deles, que é a nossa tarefa mais importante. En-fim, ajudá-los não somente a superar dificuldades e traumas, mas, sobre-tudo, a realizar projetos, sonhos e desejos. Quando estes rapazes atin-gem algum de seus objetivos, existe uma satisfação e uma luz em seus olhos que paga todo e qualquer esfor-ço — comenta Trommino.

Omar, um ex-menino de rua de Gana que hoje faz parte da família FazioVindo de Gana, a emocionante his-tória de Omar, um órfão que vivia pelas ruas do país de origem, é con-tada pela sua tutora Stefania Fazio.

— Omar nasceu em Gana, onde viveu os primeiros anos da sua vida junto à sua mãe, que infelizmente faleceu. A partir deste momento, o pequeno passou a viver pelas ruas, com a ajuda de outros rapazes, pro-vavelmente seus companheiros de escola, até que, cansado desta vida, se escondeu em um caminhão para encontrar trabalho. De parada em parada, chegou à Líbia, onde viveu por dois anos. Lá trabalhava com uma família que, por causa da guerra, foi forçada a fugir, abandonando-o, e fazendo que se encontrasse sozinho novamente. Ele conseguiu chegar à Sicília em um bote. De lá, foi para a comunidade de acolhimento, onde eu e meu marido o encontramos de-pois de dois meses de sua chegada à Itália — conta Stefania.

Natural de Siracusa, sua tu-tora Stefania ficou tocada pelas constantes notícias sobre a chegada dos imigrantes. Após um momento de reflexão, tomou a decisão con-junta com seu marido e entrou em contato com a ONG ao perceber que poderia fazer algo de concreto. Ao contrário do que se pode pensar a princípio, as diferenças culturais são bem menores quando comparadas às semelhanças, ressalta a voluntária siciliana. O maior problema, e tam-bém o único, foi a barreira da língua. Do ponto de vista linguístico, a in-serção em uma família permite uma integração extremamente precoce, o que não aconteceria caso o adoles-cente estivesse em uma comunidade junto a seus conterrâneos.

Stefania se orgulha ao relatar o processo de desenvolvimento de Omar, depois de ter sido superada a etapa inicial: ele hoje se encontra adaptado à sua nova família e à vi-da na Itália.

— É uma sensação belíssima fazer parte da vida de Omar. Ser os pais biológicos é de certo uma experiência inestimável, conside-rando que ser amado pelos próprios

atualidadE

filhos é maravilhoso e acima de tu-do natural, enquanto ser aceito por outra pessoa é uma grandíssima satisfação e um presente. Omar é fantástico porque está melhor a cada dia. Colabora e aceita as nos-sas regras domésticas, coisas que podem parecer fáceis, mas que, na realidade, representam uma gran-de mudança para alguém que tinha perdido este vínculo, alguém que sempre viveu por conta própria, sem os pais que cobram empenho na escola, pontualidade, a quem se pede permissão — conclui Stefania, uma das voluntárias que resgatam a fé na humanidade ao ajudarem crianças e menores indefesos a es-creverem um novo capítulo em suas vidas, desta vez, marcado por amor, afeto e gratidão.

O mar esconde as estrelasO trabalho da AccoglieRete acabou gerando um livro. Il mare nas-

conde le stelle, escrito pela jornalista Francesca Barra com um dos jovens assistidos pelos voluntários da ONG siciliana, acaba de ser lançado na Itália pela editora Garzanti. Vindo do Egito com apenas 14 anos, Remon Karam conseguiu realizar o sonho de escrever sua história graças à ajuda de Francesca e seus pais, uma família de Augusta, na província de Siracusa. O livro conta sua tocante história: a de um jovem obrigado a fugir da violência de seu país sem ao menos poder dar adeus à família, carregando como bagagem o sonho da liberdade. A publicação é um conto de esperança que mostra o antes e o depois, seus projetos e sua vida na nova terra, onde ele reencontra a esperança e a coragem de sorrir novamente, mas sem esquecer-se do passado e de suas origens.

Muitos menores fazem a travessia sozinhos. Alguns

são órfãos, enquanto outros são enviados pelas

próprias famílias que investem na perigosa

viagem de um filho homem, na esperança de que consigam um emprego na Europa

O jovem Omar (topo) se prepara para mais

um dia de trabalho na padaria Carbè,

em Siracusa. A tutora Carla Frenguelli

auxilia Ismael (acima) a retirar o documento de identidade italiana

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Acampados ou não, os participantes do Cam-pus Party Brasil 2016 estavam mesmo interessados em novidade e inovação. Criar óculos de realidade virtual, robôs e imprimir

próteses em impressora 3D foram alguns dos conteúdos ensinados. Pelo nono ano seguido, o evento, que acon-teceu na cidade de São Paulo, de 26 a 31 de janeiro, teve novas áreas e atrações que promoveram um mergulho no universo da ciência, no empreendedorismo e no entrete-nimento digital. Com o tema Feel the Future, o encontro trouxe eventos que discutiram os desafios do amanhã. Neste ano, também ocorreu a volta do programa Startup 360, com conteúdos para participantes interessados em começar um negócio ou refletir no empreendedorismo daqui a alguns anos. Entre as atividades, houve pales-tras, oficinas, workshops, desafios e atividades especiais para os campuseiros, além da área Campus Experience, com atrações gratuitas para o público.

O maior evento de internet do mundo reuniu 120 mil visitantes e oito mil campuseiros, com acesso a mais de 700 horas de atividades 24h por dia, a uma velocidade de 40 Gigabytes.

— Nesta edição, diminuímos a altura dos palcos e su-gerimos aos palestrantes que as apresentações durassem de 25 a 30 minutos para dar mais espaço às perguntas. Com isso, tivemos chance de aumentar a colaboração e a participação do campuseiro — explicou Tonico Novaes, diretor geral da Campus Party Brasil.

Entre as personalidades, estiveram nomes consa-grados nas áreas de tecnologia, marketing e inovação, como Dado Schneider, Eugene Chereshnev, Grant Imahara e o italiano Gianluca Colombo. Pela segunda vez no Brasil, Gianluca falou à Comunità, sobre a te-mática de sua palestra e os desafios para o futuro da tecnologia da informação e comunicação (TIC).

“A tecnologia deve ser adaptada às estruturas da comunidade, e não o contrário”O tema do italiano foi a estrutura de cooperação internacional no uso de TIC, sob a perspectiva de capacidade de desenvolvimento. PhD em ciência da computação, mestre em filoso-fia, pós-doutor em bioinformática e ex- pesquisador da Universidade de Milano-Bicocca, ele acredita que comunicação deve, essencialmente, gerar conhecimento humano. Já a informação precisa ter qualidade, em meio à quantidade.

— Em vez de pensar em tecnolo-gia de comunicação como algo a que o utilizador tem de se adaptar, acho que, inversamente, as tecnologias precisam ser adaptadas às estruturas epistemológicas, tanto em comuni-dades individuais, como em grupos culturais — disse Colombo.

Segundo o pesquisador, para que isso aconteça, é preciso haver maior união entre os países.

— Eu propus um caminho nas questões de TIC, para geren-ciar o conhecimento através de uma tecnologia digital, tais como problemas teóricos e operacio-nais. O tema é tão antigo como o computador, mas, no contexto da cooperação internacional, há um grande desafio — enfatiza.

Para Colombo, o fator humano deve ser repensado com o intuito de promover o conhecimento dos usuários.

— Acho que a gestão de siste-mas requer não apenas soluções, mas também metodologias compu-tacionais sustentáveis, de acordo com as necessidades de conheci-mento de cada um — completa.

Nesse sentido, a bioinformática poderia ajudar médicos e biólogos, por exemplo, a consultarem bancos de dados heterogêneos, de acordo com interesses específicos sobre a definição de doenças. Dessa forma, a individualidade do usuário seria considerada, de modo a encontrar meios capazes de promover proces-sos de concepção e não apenas de comunicação. 

— Quanto à Itália, tendo traba-lhado como consultor para grandes grupos empresariais, posso dizer que há uma forte cultura tecnoló-gica no sentido de transferência de tecnologia e inovação. A Itália tam-bém é um dos países com o maior número de smartphones per capita do mundo. O desafio está em como garantir a qualidade dos dados em grande quantidade, como Big Data e Open Data — finaliza Colombo.

De volta para o futuroDurante a Campus Party Brasil, palestrante italiano defende cooperação internacional na área da tecnologia da informação e comunicação

tEcnologia

Caroline Pellegrino

Gianluca Colombo lembra que a Itália é um dos países com o maior número de smartphones per capita do mundo, com uma forte cultura tecnológica

fevereiro 2016 | comunitàitaliana14 15comunitàitaliana | fevereiro 2016

Page 9: Conheça o “caminho de Santiago” italiano

Le rivelazioni di alcune gole pro-fonde e una serie di inchieste giornalistiche hanno portato alla luce diversi scandali che stanno

mettendo in serio imbarazzo le gerarchie ecclesiastiche, tanto da spingere il tribu-nale del Vaticano ad aprire un’indagine a carico di cinque persone e a spiccare anche due mandati di arresto. Nel frattempo, proprio in questi giorni, ricorre l’ottan-tasettesimo anniversario della firma dei Patti Lateranensi, che misero fine ad una lunga fase di rancori e recriminazioni da parte delle gerarchie vaticane.

Nel 1870 la presa di Roma e la conse-guente annessione della città capitolina al Regno d’Italia, segnarono di fatto la fine dello Stato Pontificio quale entità storico-politica. Si trattò di una svolta epocale, che provocò una profonda rivoluzione nel-la gestione del potere temporale  da parte dei papi. Il governo italiano emanò la cosiddetta “legge delle Guarentigie”, che riconosceva una serie di garanzie al Pontefice e alla Chiesa Cattolica. Papa Pio IX, che si era chiuso nei palazzi vati-cani dichiarandosi prigioniero politico, considerò la legge un atto unilaterale del-lo Stato Italiano, rifiutò di riconoscere il provvedimento e bollò la norma come

“un mostruoso prodotto della giu-risprudenza rivoluzionaria”.

Due giorni dopo l’approvazio-ne della legge, Pio IX emanò anzi l’enciclica Ubi nos, con la quale ribadiva che il potere spirituale non poteva essere considerato in modo disgiunto da quello tem-porale. I rapporti tra la Chiesa e lo Stato Italiano continuarono ad irrigidirsi e ad inasprirsi di anno in anno, peggiorando ulteriormente nel 1874, quando la Curia romana arrivò a vietare espli-citamente ai cattolici, con la formula del non expedit, qualsiasi forma di partecipazione alla vita politica italiana. So-lo all’inizio del Novecento iniziò una fase di disgelo, che nel 1913, grazie al Patto Gentiloni, segnò il ritorno dei cattolici sulla scena politica i-taliana “come elettori e come eletti”. Bisognerà attendere però il 1929 perchè Italia e Vatica-no stabiliscano di riconoscersi reciprocamente come legittime entità statali.

11 febbraio 1929: la firma dei patti lateranensi I Patti Lateranensi vennero siglati a Roma, in un palazzo di San Gio-vanni in Laterano, che finì per dare il proprio nome all’accordo. Era l’11 febbraio del 1929: furono il primo ministro Benito Mussolini, per conto del Regno d’Italia e il cardinale Se-gretario di Stato Pietro Gasparri, per conto della Santa Sede, ad apporre le proprie firme sui verbali d’inte-sa. A distanza di quasi sessant’anni dalla presa di Roma, venne dunque sancito un accordo di mutuo rico-noscimento tra l’Italia e la Santa Sede che, per la prima volta, preve-deva regolari relazioni bilaterali tra

i due Stati. I Patti Lateranen-si, infatti, riconoscevano

l’indipendenza e la

sovranità della Santa Sede, che con-testualmente istituiva lo Stato della Città del Vaticano.

Inoltre sancivano, attraverso un’apposita convenzione finanzia-ria, un risarcimento di 750 milioni di lire a beneficio della Chiesa. Infine definivano le relazioni civili e religio-se tra la Chiesa e il governo italiano, per mezzo di un apposito Concor-dato. Quest’ultimo conteneva, tra le altre cose, l’accoglimento, da parte del governo italiano, della richiesta di rendere le leggi sul matrimonio e sul divorzio conformi a quelle della Chie-sa Cattolica Romana e di esentare il clero dal servizio militare obbliga-torio. La religione cattolica, inoltre, veniva riconosciuta religione di Sta-to, con importanti conseguenze sul sistema dell’istruzione, a partire dall’obbligatorietà dell’insegnamento della religione cattolica nelle scuole. Solo nel 1984, sotto il governo Cra-xi, si è arrivati alla revisione di alcuni punti del Concordato, in particolare rispetto agli effetti civilistici del ma-trimonio religioso e alla possibilità di richiedere l’esenzione dall’ora di inse-

gnamento della religione cattolica a scuola. E’ stato anche stabilito,

però, che il clero cattolico ven-ga finanziato da una frazione del gettito fiscale Irpef, noto come otto per mille e che la nomina dei vescovi non ne-cessiti più dell’approvazione del governo italiano.

Privilegi e scandali in Vaticano Altre leggi, varate dai vari governi italia-ni che si sono succeduti nel corso degli anni, hanno inoltre prodotto una serie di generose agevolazioni ed esenzioni fiscali a favore del Vaticano, che è pro-prietario di innumerevoli immobili nelle migliori zone di Roma e in molte altre lo-calità italiane. Ricchezze e agevolazioni hanno dato vita a dei privilegi di fatto, che si sono consolidati e accresciuti nel tempo e che oggi sono uno dei fattori alla base del nuovo scandalo Vatileaks. Uno scandalo che è anche figlio dell’I-talia dei nostri giorni: nel pieno di una crisi economica che colpisce duramente milioni di persone, l’opinione pubblica non sembra infatti più disposta a tolle-rare i privilegi accumulati dalla Chiesa, a maggior ragione in presenza di episodi di malaffare.

L’esplosione dell’ultimo scandalo che chiama in causa la Santa Sede, il cosiddet-to Vatileaks Due, rende peraltro ancora più arduo il compito in cui è impegnato papa Francesco Bergoglio, che cerca di rispondere alla crisi di credibilità delle gerarchie ecclesiastiche e all’emorragia di fedeli, predicando un ritorno alla Chiesa dei poveri, lontana dallo sfarzo e dai pri-vilegi, e capace di liberarsi dalle logiche opache che finora hanno avvolto l’ope-rato dello Ior (la banca vaticana) e dalle tante relazioni pericolose che negli ulti-mi decenni hanno offuscato l’immagine della Santa Sede. Non bastavano i nu-merosi casi di pedofilia, che negli ultimi tempi hanno visto protagonisti sacerdo-ti cattolici in diverse aree del globo; non bastava l’esplosione del primo Vatileaks, lo scandalo che nel 2012, attraverso la pubblicazione di una serie di documen-ti riservati, fece emergere una lotta di potere interna, in merito agli indirizzi di governo del Vaticano e in particolare rispetto proprio alla gestione dello Ior; non bastava la rinuncia di Benedetto XVI, il primo papa a rassegnare le pro-prie dimissioni negli ultimi 600 anni di storia (una decisione che risale al 2013 e che è stata annunciata — ironia della sorte — proprio l’11 febbraio, lo stesso giorno della firma dei Patti Lateranensi).

Nel febbraio del 1929 la firma dell’accordo che, per la prima

volta, regolò i rapporti tra Italia e Vaticano: a quasi 90 anni di distanza, la Santa Sede è alle prese con uno dei più grandi

scandali della sua storia

lateranensiDai patti

alVatileaks

due

Il papa argentino risulterebbe quasi completamente isolato nel suo tentativo di introdurre trasparenza in un contesto fatto di privilegi e ricchezze di vario genere, tra le quali proprietà immobiliari per quattro miliardi di euro, registrate al costo di donazione

attualità

Stefano BudaDa Roma

16 17comunitàitaliana | fevereiro 2016fevereiro 2016 | comunitàitaliana

Page 10: Conheça o “caminho de Santiago” italiano

Il nuovo Vatileaks e il papa isolato A rendere ulteriormente precario il quadro ci ha pensato il Vatileaks Due, il nuovo scandalo esploso nei primi giorni del novembre scorso. Una vicenda che ha portato agli ar-resti del monsignore spagnolo Lucio Angel Vallejo Balda e della pr italia-na, di origini marocchine, Francesca Immacolata Chaouqui, ex membro della Commissione Referente sulle attività economiche della Santa Sede (COSEA), un organismo voluto dallo stesso papa Bergoglio per fare ordi-ne e pulizia in Vaticano. I due sono accusati di avere sottratto e rivelato informazioni riservate dello Stato della Città del Vaticano in merito alle spese economiche della Santa Sede.

Insieme a Balda e Chaoqui sono stati rinviati a giudizio anche Nicola Maio, segretario particolare di Balda e i giornalisti Gianluigi Nuzzi e Emi-liano Fittipaldi, che più o meno nello stesso periodo hanno pubblicato dei libri-inchiesta sugli scandali in Va-ticano. Nuzzi (autore di Via Crucis) e Fittipaldi (che ha firmato Avari-zia) hanno portato a conoscenza del pubblico una corposa raccolta di da-ti, fatti e aspetti oscuri dell’universo vaticano, destando scandalo nell’o-pinione pubblica e provocando un dibattito infuocato sui media italiani.

Dai documenti in possesso dei due cronisti emerge, peraltro, il ritratto di un Bergoglio messo all’an-golo: il papa argentino, che porta avanti anche con l’esempio personale la sua opera di rinnovamento e, non a caso, ha scelto di andare a vivere in un’abitazione di appena 50 metri quadri, abbracciando uno stile di vita umile e di basso profilo, risulterebbe quasi completamente isolato nel suo tentativo di introdurre trasparenza e pulizia in un contesto fatto di affari opachi, rapporti discutibili, privilegi, speculazioni e conti fuori controllo. Sarebbero le stesse gerarchie vatica-ne, composte da quei cardinali e da quei burocrati che nel frattempo, in molti casi, continuano a vivere in lussuosi appartamenti grandi anche 500 metri quadri e che non sempre conducono vite irreprensibili sul

piano morale, a mettere in atto una vera e propria attività di ostracismo nei confronti del papa.

Malaffare dilagante e ricchezze sterminate Nuzzi e Fittipaldi, nei rispettivi lavori, citano fonti e documenti, de-nunciando diversi casi di malaffare, come l’indebita sottrazione di ingen-ti somme di danaro destinate alle opere di bene, che invece sarebbero state ammucchiate in conti correnti, utilizzate per investimenti o impe-gnate per soddisfare le più disparate esigenze degli alti prelati; o come la vicenda dei 409 conti correnti banca-ri dello Ior, dal valore complessivo di 40 milioni di euro, che sono stati fatti bloccare in seguito ad un’inchiesta vo-luta da Bergoglio sui traffici milionari della Congregazione che si occupa di santificazioni e beatificazioni.

Nei due libri si parla anche di fon-dazioni vaticane dedicate ai bambini malati, che investono centinaia di mi-gliaia di euro per ristrutturare le case di cardinali importanti; di imprendi-tori indagati in Italia che nascondono i loro soldi nei conti dello Ior; del Bambin Gesù di Roma, ospedale cat-tolico finanziato dallo Stato Italiano, che ha in cassaforte un fondo segreto da 427 milioni di euro e che si rende protagonista di investimenti milio-nari su aziende petrolifere e chimiche statunitensi come Exxon e Dow Che-mical. Il materiale finito nelle mani dei due cronisti proverebbe inoltre che il Vaticano è detentore di stermi-nate ricchezze di vario genere, tra le quali proprietà immobiliari per quat-tro miliardi di euro, quasi sempre registrate o al costo di acquisizione o al costo di donazione e con molti edifici istituzionali valutati appena un euro (dunque è lecito ipotizzare che il valore reale degli immobili sia molto più consistente rispetto alle cifre contabilizzate). Tra i documenti che sarebbero dovuti restare segreti, peraltro, sono spuntate anche case di lusso affittate a prezzi stracciati, alberghi e centri estetici gestiti da società private e divenuti luoghi di incontri segreti, operazioni di com-pravendita con plusvalenze occultate.

Cattolici disorientati Nuzzi e Fittipaldi riferiscono innumerevoli altre vicende e circo-stanze che restituiscono un quadro assolutamente torbido. Non possono sorprendere, dunque, l’indignazione e il crescente distacco di molti fede-li italiani nei confronti della Chiesa. Certamente il Vaticano, in quanto i-stituzione terrena, è cosa ben diversa

attualità

dalle migliaia di parrocchie e di “preti di strada” che ogni giorno fanno del bene in tutto il mondo, ma una buo-na parte del mondo cattolico si sente comunque tradita e disorientata.

Papa Bergoglio rappresenta forse l’ultimo appiglio per provare a salva-guardare la credibilità della Santa Sede, a patto che gli sia consentito di attuare il suo programma di rin-novamento, sia a livello istituzionale che nello sforzo di aprirsi maggior-mente alla società del nostro tempo. Ad ogni modo, febbraio si conferma un mese decisivo per la Santa Sede: è il mese in cui sono stati firmati i Pat-ti Lateranensi, è il mese in cui Papa Ratzinger si è dimesso ed è anche il mese che segnerà la ripresa del nuo-vo processo Vatileaks.

Il 20 febbraio, infatti, scadono i termini per le operazioni perita-li e potrà essere fissata la data della prossima udienza del dibattimento. I cinque imputati, in base alle leggi vaticane, rischiano una condanna da 4 a 8 anni di reclusione. Appare praticamente scontata, in caso di condanna, la concessione della gra-zia da parte del Papa, in particolare nei confronti dei due giornalisti. Ma Nuzzi e Fittipaldi non ci stanno e hanno già annunciato che ne fa-ranno una battaglia di principio in nome della libertà di informazione. Chi scrive, per una volta, si permet-te di compiere una chiara scelta di campo, ricordando che non solo è un diritto, ma è anche e soprattutto un dovere, per ogni buon giornalista, rendere pubblica qualsiasi notizia di cui si sia entrati in possesso.

Il rapporto tra il Vaticano e la società civile italiana vive uno dei momenti più

delicati dai tempi della riconciliazione tra la Santa Sede e l’Italia post-unitaria

Il monsignore spagnolo Lucio

Angel Vallejo Balda e la pr italiana di

origine marocchine, Francesca

Immacolata Chaouqui, sono accusati di aver

divulgato i documenti riservati della

commissione COSEA che sono alla base di due libri sulle finanze

vaticane: Avarizia di Emiliano Fittipaldi e

Via Crucis di Gianluigi Nuzzi

Apesar da turbulência eco-nômica registrada em 2015, a essencialmente italiana Fiat Chrysler

Automobiles (FCA) manteve o ci-clo de alto investimento no Brasil. A injeção iniciada em 2013 prevê R$ 15 bilhões até o fim deste ano. A modernização de plantas e os lança-mentos de modelos ultramodernos estão nos planos do grupo. O cená-rio de investimento está de acordo com a expectativa da Associação Na-cional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), que prevê um aumento na produção de 0,5%.

— A estabilidade no contexto macroeconômico, o maior número de dias úteis e a expectativa de lança-mentos levam a crer em um aumento da produção neste ano, mesmo com alguma retração do licenciamento — disse o presidente da Anfavea, Luiz MoanYabiku Junior.

Apesar da queda nas vendas em todo o país ter impactado as monta-doras, 2015 foi um ano de diversos acontecimentos para a FCA no Bra-sil, que vão influenciar o balanço de 2016. Em abril, foi inaugurada a mais moderna fábrica da compa-nhia no mundo, o Polo Automotivo Jeep de Pernambuco, localizado na cidade pernambucana de Goiana. A planta representa o “estado-da-arte” em termos de produção automotiva e de gestão, incorporando desde a concepção práticas voltadas para eficiência e desempenho.

Além disso, a fábrica Fiat em Betim (MG), considerada a maior da empresa no mundo, receberá mudanças para entregar lançamen-tos de alta tecnologia.

— Os 40 anos de operação da planta, completados neste ano, coincidem com a conclusão de um amplo processo de modernização — afirmou à Comunità Marco

Antônio Lage, diretor de comunica-ção corporativa e sustentabilidade da FCA para a América Latina.

Aumento do número de robôs, nova cabine de pintura e investimentos em pesquisas a caminhoNovos robôs foram inseridos na li-nha de produção. Eram 238 robôs em 2013, quantidade que saltou para 619 em 2015, devendo che-gar a 974 este ano. Com o objetivo de melhorar a logística interna da planta, ainda foram instalados transportadores aéreos de peças e componentes entre os galpões, fa-cilitando a integração das áreas.

No geral, a fábrica de Betim terá uma das maiores e a mais mo-derna cabine de pintura do mundo, com capacidade para processar 180 carrocerias por hora ou 950 mil por ano. A cabine terá 500 metros de comprimento e é uma das maio-res obras de construção civil em curso em Minas Gerais — com ca-pacidade para produzir até 800 mil veículos por ano.

A FCA também está investin-do para aumentar a produção de inteligência automotiva no Brasil. No último mês de dezembro, foi inaugurado o Centro de Pesquisa, Desenvolvimento, Inovação e En-genharia Automotiva, instalado em Pernambuco. O local terá quatro unidades (Centro de Software, Pro-jetos, Centro de Testes Veiculares e Campo de Provas), gerando apro-ximadamente 500 empregos nos

próximos anos. A operação terá co-nexão com unidades similares nos Estados Unidos, na Itália e em Be-tim (MG), criando novos sistemas e soluções para os automóveis produ-zidos pelo Grupo em todo o mundo.

Em 2015, o Grupo FCA, pre-sente no Brasil com os nomes Fiat, Jeep, Chrysler, Dodge e RAM, li-cenciou 483.216 veículos, o que representou um marketshare de 19,5%. Contribuíram para o re-sultado o 14º ano de liderança da Fiat no mercado nacional e o re-lançamento da Jeep no país, com a chegada do Renegade. A picape Fiat Strada liderou o segmento de comerciais leves, com 98.633 uni-dades comercializadas.

Para 2016, o grupo traz novida-des, entre elas o Fiat Toro, que será lançado em breve. Com aproximada-mente 4,9 metros de comprimento, ele tem capacidade para levar uma tonelada de carga com até cinco pessoas a bordo e o conforto de um automóvel de luxo. Alguns mora-dores da cidade mineira de Betim já puderam ver o modelo que deve ser lançado no segundo semestre, o Mobi (projeto X1H). Espera-se que a plataforma seja a mesma do  Pa-lio e do Uno. O motor será o 1.0 EVO de 75 cv e 9,9 mkgf de torque.

Safra de lançamentosMesmo na crise e com as vendas de veículos em queda, Brasil continuará recebendo investimento em tecnologia da FCA

Caroline Pellegrino

O novo picape da Fiat, a Toro ainda

não foi lançado, mas as concessionárias

brasileiras já registram grandes

listas de espera de potenciais

compradores. Outro lançamento previsto

para 2016 é o Fiat Mobi, que substituirá

o antigo Uno Mille

MErcado

fevereiro 2016 | comunitàitaliana comunitàitaliana | fevereiro 201618 19

Page 11: Conheça o “caminho de Santiago” italiano

Le ultime stime danno la crescita del Pil italiano, per l’anno 2015, allo 0,8%. Il Paese inverte dunque la rotta, è fuori dalla recessio-ne, ma non è semplice stabilire se il bicchiere sia mezzo pieno o mezzo vuoto. Le previsioni, infatti, nel settembre scorso an-

nunciavano una crescita annuale dell’1%, che di fatto si è ridotta di uno 0,2 per cento nel corso degli ultimi tre mesi. Altri indicatori destano ulte-riori preoccupazioni, per le condizioni generali del Paese e in particolare per le dinamiche che interessano la fascia di popolazione più giovane. Sono i dati Eurostat, elaborati dal Ministero dello Sviluppo Eco-nomico, a mettere in luce come l’economia italiana faccia fatica a rimettersi in moto, come il Paese sia ancora lontano dalla possibilità di rimettersi a pari con gli standard che poteva vantare nel periodo antece-dente la crisi e come, anzi, si stiano accumulando ul-teriori ritardi nei confronti dell’Europa che conta.

Basti pensare che il livello del-la produzione industriale dello Stivale risulta inferiore del 31,2% rispetto ai massimi toccati prima del 2008, quando scoppiò la crisi economica internazionale: rispet-to ai minimi toccati nel corso della fase di recessione, l’Italia è riuscita a recuperare circa il 3%. E’ il segna-le di un’inversione di tendenza, che tuttavia si risolve in risultati ben lontani da quelli raggiunti dai princi-pali paesi europei, considerando che nello stesso periodo la Germania ha recuperato il 27,8%, la Francia l’8%, la Gran Bretagna il 5,4% e che ad-dirittura la Spagna, una delle realtà più colpite negli ultimi otto anni, è

risalita del 7,5%. In sostanza l’indu-stria italiana è tornata a muoversi, ma ancora troppo lentamente, a tal punto che il divario dalle più im-portanti realtà dell’Eurozona si è addirittura ampliato. Un paradosso che rende la strada ancora lunga e ir-ta di ostacoli e che non consente di intravedere la luce alla fine al tunnel.

Mentre il mondo, a partire dal 2008, è cambiato radicalmente, con la produzione che si è spostata in modo massiccio verso altre aree del globo, l’Italia ha perso terreno e og-gi continua ad arrancare. A questo punto appare molto difficile stabilire se e quando il Paese sarà nelle con-dizioni di tornare ai livelli pre-crisi.

Il governo: “Ingranata la ripresa”Nel frattempo il governo Renzi non si scompone e predica ottimismo.

“L’Italia ha ingranato la ripresa” — ha fatto sapere il Ministero dello Sviluppo Economico attraverso una nota. “Emergono una serie di segna-li positivi di ripresa dell’economia, con particolare riferimento alla fidu-cia di famiglie e imprese, ai consumi e all’occupazione. La produzione industriale continua a crescere — prosegue il comunicato - così come l’utilizzo della capacità produttiva”.

Il governo fa il suo mestiere ed è anzi suo dovere affermare di crede-re nella ripresa e fornire speranze ai cittadini, ma se i dati sulla fidu-cia dei consumatori evidenziano un effettivo miglioramento, quelli sull’occupazione sono ancora am-piamente insoddisfacenti: è vero, infatti, che nel terzo trimestre del 2015 la disoccupazione è scesa all’11,5%, ma non si può guardare

solo all’interno del proprio recinto, ignorando che la disoccupazione è al 5,2% nel Regno Unito, al 4,5% in Germania e al 10,8% in Francia, no-nostante i cugini d’Oltralpe siano alle prese con la peggiore perfor-mance degli ultimi 18 anni. Peggio ancora l’occupazione giovanile, che riguarda i cittadini tra i 15 e i 24 anni: in Italia è al 15%, ben lonta-na dal 48,8% del Regno Unito e dal 43,8% della Germania, ma anche dal 28% della Francia e dal 17,7% della Spagna. E il trend è in ulte-riore peggioramento, se è vero che rispetto ai minimi degli ultimi anni, l’occupazione giovanile italiana ha recuperato appena lo 0,9%, contro il 2,7% della Germania, il 4,2% del Regno Unito e l’1,9% della Spagna.

Troppi giovani senza lavoro La questione giovanile assume par-ticolare rilievo, poiché è chiaro che le nuove generazioni rappresenta-no il futuro di ogni Paese e se il dato che vede troppi giovani italiani e-sclusi dal mercato del lavoro appare sconfortante a livello quantitativo, notizie ancora più deprimenti arri-vano sul piano qualitativo. Sempre l’Eurostat indica come l’Italia sia pe-nultima in Europa per l’occupazione dei suoi laureati a 3 anni dal con-seguimento del titolo accademico: solo il 52% di questa fetta di giovani italiani ottiene un impiego, contro una media dei 28 Paesi dell’Unione Europea che supera l’80%. Appare significativo che la Grecia, virtual-mente in default, sia l’unico Paese a fare peggio dell’Italia. Nel comples-so le persone tra i 20 e i 34 anni, che risultano occupate dopo avere completato il proprio percorso for-mativo, in Italia rappresentano appena il 45%, contro una media eu-ropea del 76%. Sono i sintomi di un Paese sclerotizzato, che ha bisogno di un profondo rinnovamento poli-tico, burocratico, sociale e culturale.

La crisi, infatti, ha colpito du-ramente i giovani italiani, ma può spiegare solo in parte il fenomeno, se è vero che tra il 2008 e il 2014

la media dei giovani occupati, a tre anni dal consegui-mento del titolo di studio, nell’Unione europea è scesa di otto punti, mentre in Italia è crollata di oltre venti punti (dal 65,2% al 45%). Le conseguenze più imme-diate sono la sfiducia dei giovani italiani nel sistema formativo (i giovani laureati, tra i 30 e i 34 anni, sono il 23,9% in Italia e il 37,9%, in media, nel resto d’Europa) e il ritorno dell’emigrazione.

Il ritorno dell’emigrazione Non è un caso che nel 2014 oltre 90 mila italiani ab-biano trasferito la loro residenza  all’estero, per un incremento del 30,7% rispetto al 2012. Ancora più significativo è che oltre la metà dei nuovi emigrati i-taliani sia rappresentata dagli under 40: in sostanza, in Italia, per ogni mille persone al di sotto dei 40 anni, ce ne sono 3,3 che lasciano il Paese. Niente di male se fosse una libera scelta. In realtà, in molti casi, si tratta dell’unica strada percorribile per rendersi indipenden-ti e condurre un’esistenza dignitosa.

Secondo uno studio realizzato sulla base di dati I-stat, gli emigrati italiani dei nostri giorni non partono più, come un tempo, soltanto dal Sud Italia, dai piccoli centri e dalle aree periferiche e disagiate: le città che registrano in assoluto il maggior numero di espatri, da parte di giovani tra i 18 e i 39 anni, sono Milano, Roma, Torino e Napoli; mentre i dati sul numero di trasferimenti degli under 40 all’estero, in rapporto alla popolazione della stessa fascia di età, vedono in cima alla classifica tutte località appartenenti a quel-lo che un tempo era considerato il ricco Settentrione, ovvero Bolzano, Imperia, Trieste, Pavia e Como. I gio-vani italiani, che lasciano il proprio Paese per inseguire un lavoro, una passione o una nuova carriera, trova-no nuove opportunità soprattutto in Europa: le mete principali, in ordine di espatri, sono infatti Regno Uni-to, Germania, Svizzera, Francia, Stati Uniti e Spagna.

Consapevolezza e ottimismo di facciata Nel confronto internazionale l’Italia, rispetto ai prin-cipali Paesi UE, sconta una crisi più lunga e più dura che altrove - ammette il Ministero dello Sviluppo Eco-nomico. La ripresa, che nella maggior parte degli Stati membri UE è partita e si è consolidata dal 2009, in I-talia si è manifestata compiutamente solo tra il 2014 e il 2015. “Tuttavia i dati più recenti mostrano che il recupero è finalmente scattato, anche grazie alle mi-sure assunte dal governo per favorire investimenti e occupazione — è scritto ancora nella nota. Restano naturalmente problemi di lunga durata che il governo, a partire dalle misure della legge di stabilità, sta final-mente affrontando”.

Non solo ottimismo di facciata, dunque, ma an-che realismo e onestà intellettuale. Il governo Renzi si mostra consapevole dei problemi e assicura il massimo impegno per risolverli. Solo il tempo dirà se sarà in gra-do di riuscire nell’impresa. Quel che appare chiaro, però, è che la questione giovanile non gode ancora della ne-cessaria considerazione. I giovani, con le loro energie, le loro intelligenze e le loro competenze, sono la principa-le risorsa sulla quale un Paese ha il dovere di investire. L’Italia, al contrario, ogni anno diventa più vecchia e assiste senza muovere un dito alla continua emorragia delle proprie forze migliori e all’inaridimento formativo e culturale dei propri giovani. Appare del tutto inuti-le parlare di futuro, sviluppo e innovazione, se non si prende davvero coscienza di tale problema.

Produzione industriale a -31% rispetto ai livelli pre-crisi, disoccupazione ancora elevata (11,5%), giovani senza lavoro e costretti a emigrare: aumenta il divario dall’Europa che conta

ma nonriparte,

decolla

L’Italia

Nel 2014 oltre 90 mila italiani hanno

trasferito la loro residenza all’estero,

il 30,7% in più rispetto al 2012

EconoMia

Stefano BudaDa Roma

20 21comunitàitaliana | fevereiro 2016fevereiro 2016 | comunitàitaliana

Page 12: Conheça o “caminho de Santiago” italiano

O mar Mediterrâneo e seus habitantes sofrem com a poluição sono-ra. Este é o resultado

de uma pesquisa realizada nos úl-timos dez anos e conduzida pela Universidade de Pavia, na Itália e pelas organizações não governa-mentais Ocean Care (suíça), NOAA (americana) e Sinay (francesa), além da egípcia Marine Ecologist & Nature Conservation Consultant, com o apoio da maior parte dos paí-ses costeiros da região, como Egito, Grécia, França e Espanha. No mapa das fontes sonoras produzido pe-los estudiosos, a Itália aparece com três pontos críticos, até por ter um litoral muito exposto: o estreito da Sicília, o mar da Ligúria, Gêno-va e Veneza, e dali para baixo com toda a costa do Adriático. Não por acaso estes são trechos marinhos adjacentes a importantes portos marítimos europeus, muitas vezes dentro de santuários ecológicos.

Ao final, os cientistas pescaram um dado alarmante: 1.500 navios comerciais navegam, dia e noi-te, em qualquer período do ano, e seus motores rugem e propagam ondas sonoras que desorientam os mamíferos marinhos, princi-palmente. Isso sem levar em conta os exercícios navais e os jogos mi-litares, com o uso sistemático de sonares, que também prejudicam o sistema de orientação de baleias

e golfinhos em um raio de 200 km. Foram avaliados ainda o impacto de prospeção mineral no subsolo marinho, com as plataformas per-furadoras, e os geradores eólicos de energia renovável. Esta pesquisa é fundamental para o Acordo sobre a Conservação dos Cetáceos no Mar Negro, no Mediterrâneo e na Zona Atlântica Contígua (Accobams).

O estudo revela que a Itália tem 481 portos e marinas, quase o do-bro do segundo colocado, a Grécia, com a Espanha e a França à frente da Croácia, da Turquia e da Tunísia. Recentemente, o golfo de Taran-to abriu as portas para ganhar um complexo flutuante de energia eó-lica dentro de um ano e meio — e este é apenas um dos sete pedidos de autorização. O mar Adriático italiano recebeu 190 perfurações contra 32 em águas na costa de Is-rael. O relatório final aponta um real conflito entre as atividades relacionadas ao ser humano e as zonas de conservação dos cetáceos, principalmente no Estreito da Sicí-lia, no Pelagos Sancturary — que envolve grandes águas territoriais

francesas, italianas, no mar da Li-gúria, e do Principado de Mônaco, além de parte do mar Helênico. Tantas atividades comerciais co-locam em risco um patrimônio cetáceo e a sobrevivência da baleias em parques, onde deveriam ser e estar protegidas durante todo o ciclo de vida. A profanação do san-tuário era sistemática até 1991, em território italiano, e até 1999, ano da adesão da França e do Principa-do de Mônaco, mas com entrada em vigor apenas em 2002, quando foi criado o parque marinho.

Área de 87 mil km2 foi demarcada após negociações entre entre Itália, França e MônacoA riqueza da biodiversidade é tão elevada nesta zona que toda uma área com 87 mil quilômetros qua-drados, que inclui 241 cidades costeiras, italianas e francesas, aca-bou sendo demarcada depois de intenas negociações entre Itália, França e Principado de Mônaco. Trata-se da única área de proteção no mundo, uma espécie de triângu-lo de salvamento para os animais, que fica dentro de algumas das maiores atrações turísticas de re-giões como Toscana, Sardenha, Córsica e Costa Azul, além da Ri-viera Italiana, perfazendo um total de 2.200 quilômetros costei-ros. O forte impacto da presença do homem vai desde o transporte marítimo comercial àquele recre-ativo, justamente, por conta dos prometidos encontros com os ma-míferos marinhos, a whale watching. O desenvolvimento econômico sustentável exige um regulamen-tação adequada para respeitar os ritmos e a exigências dos animais. A zona atrai as baleias por ser um concentrado de nutrientes que par-tem do fundo marinho e chegam à superfíce. Pelos menos oito espé-cies de mamíferos marinhos vivem neste parque ambiental.

O instituto Tethys, fundado em Milão há 30 anos, acompanha as

baleias e os golfinhos com lentes de aumento. Os cetáceos fotoi-dentificados chegam à quantidade de 1.562. Dois recordes de pro-fundidade foram registrados: uma balenottera (o segundo maior ani-mal do planeta) a 420 metros e um globicefalo a 820 metros. E não só: um capodoglio, chamado de Matt, vive naquele habitat e já foi avis-tado e identificado 17 vezes, entre 2000 e 2013. Infelizmente, as rotas migratórias de muitos desses ani-mais coincidem e se cruzam com aquelas dos navios comerciais, pas-sando por zonas de intenso tráfico. As atividades humanas comerciais representam ameaças de colisão, captura acidental, poluição sonora e química e estresse com a altera-ção dos hábitos. Pelo menos 229 mil navios cargueiros atravessam o Mediterrâneo ocidental, e nove mil cruzam as rotas que passam pelo santuário. Os estudos divulga-dos pelo Accobams mostraram que 6% das baleias da zona de proteção apresentam sinais de mutilação devido às colisões com as embarca-ções, que também são responsáveis por 20% dos incidentes fatais com os cetáceos.

Sudeste mediterrâneo e Mar Negro são mais difíceis de serem monitoradosO difícil estudo leva ainda em consideração o tempo pelo qual uma determinada zona é submetida a um específico estresse. Assim sendo, os pesquisadores estão elaborando um modelo matemático para dar a justa medida e o correto peso aos eventos que ocorrem em zonas delicadas. Este complexo estudo vai servir, no futuro, para a criação e o aperfeiçoamento de políticas europeias que devem interceder junto à preservação do meio ambiente, e também visa favorecer o conhecimento para a realização de regras e leis que sejam aplicadas, efetivamente. Ou seja, é um trabalho de campo que

MEio aMbiEntE

Estudo com a colaboração de cientistas de vários países mede pela primeira vez o impacto da poluição sonora entre os animais marinhos que vivem no Mediterrâneo

Estressemarinho

Na zona de proteção monitorada, 6% das baleias apresentaram sinais de mutilação devido às colisões com tais embarcações

servirá de instrumento importante para as tomadas de medidas e de posições diplomáticas, ecológicas, econômicas, culturais e comerciais, não necessáriamente nesta ordem. Mesmo assim, a pesquisa representa apenas o pontapé inicial para um programa muito mais ambicioso e abrangente.

Por diferentes razões, os participantes do trabalho não con-seguiram obter dados do mar Negro e tiveram muitas dificuldades para ter informações junto ao sudeste do Mediterrâneo. Os motivos vão des-de as questões políticas até a falta de estrutura técnica para procurar e ar-mazenar os dados. O desafio futuro é o de tecer uma rede mundial com um servidor único para administrar todas as informações interconecta-das. Tal mapeamento deve conter as fontes dos rumores, as frequên-cias, as atividades de origem dos barulhos, a localização. Tudo isso submerso em cenários industriais, militares, científicos e comerciais, capazes de gerar sons artificiais no ambiente marinho.

Os navios comerciais que navegam dia e noite propagam

ondas sonoras que desorientam os

mamíferos marinhos, assim como os

sonares usados nos exercícios militares

As atividades humanas comerciais representam

ameaças de colisão, captura acidental, poluição sonora e química, além de

estresse com a alteração dos hábitos

Em 2016, o instituto Tethys comemora 30 anos. Um dos seus projetos é avaliar e reduzir o risco de acidentes entre navios e grandes cetáceos

Guilherme AquinoDe Milão

22 23comunitàitaliana | fevereiro 2016fevereiro 2016 | comunitàitaliana

Page 13: Conheça o “caminho de Santiago” italiano

Pela melhora no atendimentoO Partido Democrático Brasil (PD Brasile) se reuniu no dia

30 de janeiro na sede do Sindacato Nazionale Pensionati para fazer um balanço das atividades realizadas após o congres-so de 2013 e elaborar um plano de trabalho para os próximos dois anos. Estiveram presentes o responsável nacional do PD para os italianos no mundo, Eugenio Marino; o deputado do PD Fabio Porta; e os representantes dos círculos de Porto Ale-gre, Vale do Itajaí, Curitiba, São Paulo, Belo Horizonte, Brasília e Rio de Janeiro. O PD decidiu lançar uma petição em prol do uso da taxa para o reconhecimento da cidadania italiana de 300 euros na melhoria dos serviços consulares. Outro tema abordado na reunião foi o pedido de voto aos estrangeiros no Brasil, em linha com a maioria dos países da América Latina e em paralelo com o pedido de que o mesmo direito é garantido para os estrangeiros que residem legalmente na Itália.

Melhor jogadorO ítalo-brasileiro Alex

Merlim, conhecido como Babalu, foi eleito o melhor jogador de futsal da Itália através de uma votação online Pallone Azzurro 2015, promovida pela Federação Italiana de Futebol. Merlim conquis-tou o primeiro lugar com 40% dos votos, enquan-to Stefano Mammarella obteve 38% de votos. Na terceira posição aparece Gabriel Lima, com 12% das preferências. O vencedor de Mato Grosso do Sul tem ci-dadania italiana e atualmente joga no Sporting de Portugal.

Diretor canarinhoO estilista brasileiro Pedro Lourenço é o novo diretor

criativo da marca de lingerie italiana La Perla. Filho dos estilistas Glória Coelho e Reinaldo Lourenço, Pedro come-çou a desenhar aos 12 anos para a Carlota Joakina, segunda linha de sua mãe, e lançou sua própria marca aos 15 anos. A sua primeira coleção de La Perla será a do Inverno 2017. “O talento, o estilo e a maturidade criativa de Pedro Lourenço são as razões da nossa escolha”, explicou o presidente da La Perla, Silvio Scaglia elogiando o estilista.

MorriconeO compositor italiano venceu o prêmio Globo de Ou-

ro graças às músicas compostas para o filme Os oitos odiados, de Quentin Tarantino. É o terceiro da carreira que o mestre ganha, depois de A Missão (1986) e A lenda do pianista do mar (1999). Morricone não estava presente da cerimônia. Foi Tarantino quem recebeu o prêmio em seu lu-gar, destacando que o seu compositor favorito é Morricone, “quando falo de compositor não entendo apenas o gueto, que é a música para o cinema, mas estou falando de Mozart, Beethoven, Schubert”, comentou.

Telecom agora é TIMNo último dia 13 de janeiro, em um evento em Roma, a

Telecom Italia apresentou algumas de suas novidades. O CEO Marco Patuano anunciou que empresa passará a utilizar o nome TIM para todas as suas operações. A sigla, que significa Telecom Italia Mobile, era utilizada apenas para os serviços de telefonia móvel do grupo. No evento, também foi apresentado a nova logo, formada por barras vermelhas que desenham um “T”, seguido pelo TIM grafado em branco. Patuano explicou que a marca simboliza a convergência entre a telefonia fixa e móvel.

Bolsas para descendentesO MIB School of Management de Trieste, em parceria

com o Instituto de Comércio Exterior da Itália (ICE), a Italian Trade Agency (ITA) e a região do Friuli Venezia-Giu-lia, está oferecendo bolsas de estudos para o curso em gestão de exportação e desenvolvimento empresarial Origini Italia. O curso é dirigido aos descendentes de italianos e preten-de favorecer a colaboração entre as empresas da Itália e os oriundi espalhados pelo mundo. Além de desenvolver novas competências de gestão administrativa e negócios interna-cionais, os alunos terão a possibilidade de conhecer a terra, a língua e a cultura de seus antepassados. As bolsas incluem despesas com passagens aéreas, hospedagem e alimentação. É possível se inscrever até o dia 31 de março. O curso será realizado entre agosto e dezembro deste ano.

Perfumes bíblicosInspirada no Jubileu Extraordinário da Misericórdia

convocado pelo papa Francisco, a marca italiana Essen-zialmente criou uma serie de essências inspiradas na Bíblia. A idealizadora Laura Bosetti Tonatto batizou a coleção de “As Fragrâncias da Bíblia”, que compreendem três essências distintas: incenso das igrejas de Roma, nardo de Maria Ma-dalena e rosa mística. De acordo com a empresária, a mirra, o incenso, o nardo e a rosa estão constantemente evocados nas Escrituras Sagradas, juntamente com sabores mais exóticos, como açafrão, âmbar e canela. “O olfato é o mais espiritual dos sentidos, já que no Talmud é descrito como o único sen-tido no qual a alma traz prazer, enquanto os outros estão ligados às exigências do corpo”, comentou Tonatto.

Imigração no cinemaO diretor Osnei de Lima apresentou recentemente o fil-

me Sonho, Conquista e Glória, que retrata os 140 anos de imigração italiana no Rio Grande do Sul. A estreia ocorreu simultaneamente em Belluno, na Itália, e em Erechim, no Bra-sil. O elenco contou com a participação do ator ítalo-brasileiro Giuseppe Oristanio que gravou as cenas no norte da Itália, desde Trieste até as montanhas de Cortina d’Ampezzo. O ci-neasta explicou que o longa apresenta a parte mais dolorosa da história dos imigrantes que adotaram a região para viver.

PrêmiosA editora Bonacci lançou o Prêmio Internacional Bonacci,

dirigido aos estudantes de italiano no exterior e a quem estuda italiano como segunda língua na Itália. A música Ita-lians, de Fabio Caon e Francesco Sartori, apresentada na XV edição da Semana da Língua Italiana no Mundo, é a prota-gonista do concurso. Após ouvirem a canção e assistirem ao vídeo, os alunos são convidados a participar a uma das três sessões do Prêmio: cantar Italians, baseado na música origi-nal; reescrever as letras e cantar na mesma base musical; e gravar um vídeo musical sobre a canção. O prazo para enviar o material termina em 15 de março.

Valagro mais fértilA italiana líder no campo de bioestimulantes, a Valagro,

começou a construir uma nova fábrica em Pirassunun-ga (SP). O projeto começou em 2014 com um investimento de 10 milhões de euros e prevê a construção de duas linhas de produção para o processamento e a embalagem de bio-estimulantes e fertilizantes sólidos solúveis em água. A previsão de inauguração da usina é janeiro de 2017. A com-panhia já possui uma própria subsidiária no Brasil desde 1998 e, com a nova instalação, reforça a presença no país.

Ospitalità no NordesteO certificado de excelência conferido aos restaurantes

italianos no exterior finalmente chega ao Nordeste brasileiro. Após a autorização da Unioncamere, o Ospitalità Italiana está sendo lançado oficialmente este mês na região. Os estabelecimentos que querem se candidatar ao valorizado título poderão se inscrever através da Câmara de Comércio Ítalo-brasileira do Nordeste, sediada em Fortaleza. Até hoje, mais de 200 locais receberam o selo do Ospitalità no Brasil.

Pecorino reiA nova estrela do Made in Italy no exterior em 2015

foi o queijo pecorino, que aumentou em 23% as su-as vendas fora da Itália. Segundo pesquisa da Coldiretti, o principal mercado do pecorino são os Estados Unidos, mas as vendas aumentaram também na Inglaterra, França, Ja-pão e China. O aumento contribuiu para o desempenho positivo de todo o setor agroalimentar italiano, que atingiu o resultado histórico de 36 bilhões de euros.

EGP na BahiaA Enel Green Power (EGP) começou a construção do parque

eólico de Delfina, no estado da Bahia. A planta terá um total de 180MW de capacidade instalada e será inaugurada em 2017. Uma vez em operação, será capaz de produzir mais de 800 GWh por ano, correspondente às necessidade de consumo anual de 390 mil famílias, evitando a emissão de mais de 270 mil toneladas de CO2. O investimento total é de 400 milhões de dólares. Outro empreendimento da Enel na Bahia está sen-do construído no extremo oeste do estado. A maior usina solar da América Latina, a Ituverava, terá a capacidade de 254 MW. A previsão é que esteja em funcionamento em meados de 2017. A Enerray do Brasil, pertencente à Seci Energia do Grupo In-dustrial Maccaferri, foi escolhida pela EGP para a construção da usina. O CEO da Enerray disse que o Brasil representa uma grande oportunidade por ser um mercado com perspectivas de crescimento muito significativas a médio e longo prazo.

notíciaSnotíciaS

fevereiro 2016 | comunitàitaliana comunitàitaliana | fevereiro 201624 25

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O esporte dele é a curiosidade. De mochi-leiro a mestre de cerimônias olímpicas, Marco Balich, italiano, nascido em Ve-neza 53 anos atrás, completa um ciclo

com o Brasil, aberto em 1982. Quando era jovem, viajou de Búzios a Belém, passando por Trancoso, de ônibus. Ele se mudou de malas e ideias para a Ci-dade Maravilhosa, onde desembarcou no dia 1° de dezembro como produtor executivo das celebrações dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, realizadas pela Cerimônias Cariocas 2016 (CC 2016). “Adoro aquele centro com os prédios coloniais”, comen-tou em entrevista exclusiva à Comunità. Balich vai precisar de toda a sua experiência e sangue frio acumulados desde 2002, quando dirigiu a cerimô-nia de passagem dos Jogos Olímpicos de Inverno, de Salt Lake City, dando sequência na abertura dos Jogos invernais de Turim, quatro anos depois. Fi-nalmente, chegou a Londres, em 2012, novamente como diretor da festa de passagem, e comandou a abertura e o fechamento da Olimpíada de Sochi, na Rússia, em 2014. Nesse meio tempo, celebrou o bi-centenário do México e, nesse ano, criou o ícone da Exposição Universal de Milão, a Árvore da Vida.

A sede da sua empresa fica no centro his-tórico de Milão, ao lado de um antigo canal de navegação aberto por Leonardo da Vinci. O in-terior é um imenso open-space, onde trabalham cerca de 30 pessoas, número que, numa Olímpiada,

se multiplica e chega a 700 colabo-radores, entre pessoal da técnica, da criação e da organização. A em-presa coroa um garoto que amava o Pink Floyd e abandonou os estu-dos de Direito para seguir a banda como assistente. Depois vieram U2 e outros eventos. “Da cosa nasce cosa”, repete o italiano que, recen-temente, organizou o casamento de um marajá.

Da Veneza do carnaval ao Rio carnavalesco, Marco Balich reali-za um salto quádruplo e “imortal”, sem rede. Sabe que a pouca verba à disposição o obrigará a espremer o cérebro. Está ciente de que a festa de abertura e fechamento de uma Olímpiada, num país normal, deve começar dois anos antes: ele sabe o que tem pela frente. Não é um principiante. Mesmo assim está oti-mista. De voz mansa e fala tranquila, atributos raros para um italiano, Ba-lich se prepara para o desafio da sua vida. E lamenta não poder revelar, ainda, os detalhes da festa em pro-gramação, para quem era suficiente guardar três ou quatro segredos. Ele não pode ver a hora de ter “uma margem maior de conversação para ilustrar todo este processo fantás-tico que estamos fazendo para tirar temas importantes do Brasil e de lê-los de forma popular e não po-pulista”, resume o italiano, sabendo que, como o clima não está para fes-ta, é preciso uma para se resgatar a confiança no amanhã.

Capa

Com nervos de aço e confiança, o italiano Marco Balich planeja, defende e comanda a organização das festas de abertura e de encerramento dos Jogos do Rio

cerimôniasMestre

de

Guilherme AquinoDe Milão

26 27comunitàitaliana | fevereiro 2016fevereiro 2016 | comunitàitaliana

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o rio. Subíamos numa balsa. Com remo e corda chegávamos do outro lado da margem… Uma loucura.

CI — Entrando aqui, eu li o slogan e título de um an-tigo projeto, We are the World, We are the Children. A criança Balich está muito bem e vivaz?MB — Tudo aquilo que fazemos é filtrado por todas essas coisas que nos surpreenderam quando éramos crianças. Não adianta ser um supe-rintelectual neste tipo de cerimônia. No teatro, numa ópera, isso pode ser necessário porque a obra exige uma leitura maior. O que propomos são esses temas de estupor infantil e apresentados de forma grandiosa. Que é aquilo que faz a coisa parecer uma magia. Quando se alcança isso, você toca o coração das pessoas.

CI — O senhor nasceu e cresceu em Veneza. Terra do carnaval, da beleza, do encontro de culturas, por excelência. Quanto tem de Veneza no seu percurso?MB — Alguns anos atrás eu fui o diretor do carnaval de Veneza. Quando eu participei da seleção para a candidatura ao Rio, eu disse, da cidade do carnaval para a cidade do carnaval, seria um grande pra-zer poder trabalhar. Em Veneza, crescemos com a beleza nos olhos. É uma cidade muito estranha e con-ta muito com os encontros, com as figuras humanas, a arte, a história. É o local ideal para se concentrar não sobre coisas como carros, mo-tos, estas coisas dos jovens de 18 anos, mas sim sobre a beleza, a tro-ca de interesses. Para nós, o evento elegante é a abertura da Bienal de

Veneza e não um grande prêmio (de F1). Há uma bela diferença. Oferece uma outra prospectiva do mundo e que ajuda muito. A curio-sidade pessoal é que te leva.

CI — Como foi a direção do carnaval de Veneza?MB — Eu estava de volta depois de ter produzido grandes eventos, e fui a Veneza, e disse, fazemos isso, fazemos aquilo, mudei um monte de coisas e me massacraram (risos…). Acho que é assim quando voltamos para casa, me massacra-vam, a cada dia. Ma che cazzo vuole che ci cambia tutto, perguntavam.

CI — Tudo nasceu com o Pink Floyd?MB — Eu estudava (Direito) e sa-bia inglês. E surgiu a oportunidade através de um promoter que procu-rava um “ band assistent”, e eu fui, fiquei girando por quatro anos, com bandas de todos os tipos. Eu venho de uma família normal, não rica, e caí neste mundo de carrões, concer-tos, hotéis. Logo eu, que acampava nas férias. Tal mudança me agradou muito. Mas, acima de tudo, gostei da possibilidade de convergir tan-tas disciplinas para um momento tão exaltante, colorido e de grande atração. Às oito da noite, tudo deve estar pronto, os bilhetes, a seguran-ça, os cartazes, o palco, o camarim, a corrente elétrica, a banda. E vo-cê aprende esta conversão. Depois, cresce até uma cerimônia olímpi-ca, parte dois anos antes, com as roupas, a música, a coreografia, os voluntários, a parte técnica, a luz, o som, o show-control, o palco…Tum tum tum e se chega ali.

Capa

“Não adianta ser um superintelectual nesse

tipo de cerimônia. O que propomos é aquilo que faz a coisa parecer uma magia. Quando se

alcança isso, você toca o coração das pessoas”

“Ignorar um lugar comum dos países (como spaghetti e carnaval, no caso de Itália e Brasil) apenas porque parece banal significa que você não está à altura de enfrentar aquele tema”

De Veneza para o Rio: Marco

Balich atuou como diretor do carnaval veneziano e agora

produz a cerimônia olímpica brasileira

ComunitàItaliana — O senhor está dormindo bem? Está ten-do mais sonhos ou pesadelos?Marco Balich — Por enquanto, sim (risos). Mas daqui a pouco… Sabe o que é? Se você não está acos-tumado com estes grandes eventos, é fácil pensar “temos tempo, falta ainda um ano”. A diferença é que, se você encomenda um vestido faltando 12 meses a quem o fará, dando-lhe o prazo de quatro me-ses, lhe paga dez euros por vestido, se a encomenda chega faltando um mês, obrigatoriamente, vai pagar 30. Tudo se resume a este exemplo. E ainda vai haver menos coisas. Ou seja, quanto mais cedo se programa e se decide, maior é a possibilidade de fazer melhor as coisas, mais pen-sadas, mais elaboradas. É sempre assim: a Itália terminou a monta-gem da Expo na noite da véspera da abertura, não somos os campe-ões do mundo. E nisso somos muito semelhantes ao Brasil e diferentes dos ingleses. Mas te digo que vai ser uma aventura belíssima e eu confio, verdadeiramente, que toda esta pai-xão e energia podem ser traduzidas numa verdadeira mudança de pas-so. Estou muito otimista sobre isso.

CI — Qual é o segredo de uma cerimônia olímpica?MB — Contar coisas importantes de uma nação, de um povo, de modo espetacular… Você escolhe um tema, por exemplo, na Rússia, o circo, ou Chagall. Se você o trata de maneira su-perespetacular, torna-o digerível. Em Turim, apresentamos a cidade indus-trial de um modo muito espetacular, com máquinas cênicas que se conec-tavam com o espírito olímpico e que contavam a engenharia e, ao mesmo tempo, a beleza da carroceria. Todo um mundo assim, narrado de um modo espetacular. O segredo é contar coisas simples sem torná-las muito complicadas. Elas precisam ser com-preendidas em um vilarejo na Africa e no Palácio da Rainha, em Londres.

CI — E como se compreende? MB — Apresentando coisas sim-ples, a exemplo de temas como a paz, a fraternidade, o DNA de um povo, ou qualquer episódio históri-co, mas apresentado de uma forma surpreedente.

CI — E quando te surpreende? MB — Quando você volta a ser uma criança, quando uma criança se ilumina com os fogos de artifí-cio. Porque recuperamos aquela magia de olhar para o alto e nos surpreendermos. E isto é o que queremos criar. Olhar para cima não é apenas uma ação física.

CI — A criança Marco Balich, quando ia para a escola, que ideia tinha do Brasil?MB — O Brasil sempre foi alegria para mim. Nunca foi algo diferente. E depois tem a Amazônia, onde eu estive nos anos 1980, quando tinha o cruzado, que mudava de valor ao longo do dia. Pela manhã alugava um carro, enchia o tanque e o preço do litro estava escrito num quadro--negro porque à noite mudava de valor. Era 1982, eu acho. Foram quase dois meses viajando. Fiz um giro com a mochila nas costas. Bú-zios, Trancoso, Porto Seguro, toda a Bahia… Foi uma aventura belíssi-ma. De ônibus, com os balseiros, de kombi com 30 dentro. E ainda tinha

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compra, no mínimo, entre 10 a 20 helicópteros e aviões, que cus-tam em média de 20 a 80 milhões de euros. Depois um deles cai, tal-vez, num exercício, no mar... Bem, o que é mais importante: ter algo que te faça reaver o orgulho e a dig-nidade para uma nação ou comprar um avião a menos? Cada tanque de guerra custa cerca de três a quatro milhões de euros. Compram 20, talvez renuciem a três tanques. A isto tudo eu me acostumei. Efeti-vamente é muito dinheiro, mas se você trabalha o orgulho de uma nação, depois, o povo orgulhoso vai tratar melhor o próprio país, vai trabalhar melhor, e este é um processo virtuoso. Depois existe a corrupção; no campo da constru-ção civil tem sempre aquele que tenta ser o mais esperto, porém, não se pode generalizar com todos.

CI — Churchill respondeu, a quem pedia para desviar a verba da cultura para o es-forço de guerra: “Então, por

qual razão eu estou comba-tendo senão pela cultura?”MB — Porque é verdade que po-dem-se construir mais hospitais, ok, construam-se hospitais de qual-quer forma, mas não renunciemos a celebrar a nossa própria identidade. Existem os parasitas. É difícil chegar a um consenso, a Árvore da Vida, ao final, foi toda patrocinada, boa parte pelo Orgoglio Brescia (um consórcio de empresas). As pessoas se viram naquela coisa (uma enorme escultu-ra de madeira, palco de espetáculo de luz e som), e aplaudiam um ob-jeto. Quando tocar ali, no coração, faz bem a um povo, a um grupo de pessoas, porque os comove, induz a pensar que gostam desta terra e pensam: “Não enterremos a escória nuclear aqui embaixo porque gos-tamos daquilo que somos”. É um investimento a longo prazo em uma nação. Então, eu sou a favor de es-colas e hospitais, mas acho também que, sem nenhum temor, existem muitos exemplos belíssimos de cul-tura popular. Mesmo a Árvore da

Vida não tem a menor pretensão de ser intelectual, para quem quisesse lê-la assim; tinha a arte, sim, mas eu não queria que fosse algo que um crítico muito evoluído dissesse “que genial”; eu queria que a gente olhas-se, sonhasse.

CI — O estereótipo é uma ar-madilha?MB — O estereótipo é algo impor-tante. Diz-se que a Itália é pizza e mandolino (bandolim napolitano), ou ópera e mesa. Pois bem, Itália é ópera e alimento; não temos que ter medo, temos outras coisas, mas não temos que escondê-las; não somos apenas o design Cappellini, somos também o spaghetti, so-mos também Pavarotti. Claro, os estereótipos devem ser narrados, contados, de forma muito impor-tante. Se o Brasil falasse de si sem o carnaval, seria um erro. Ignorar um lugar comum apenas porque pare-ce banal significa que você não está à altura de enfrentar aquele tema, segundo a minha opinião.

CI — Pode ser um ranço de país colonizado, onde repetem “Chega de falar so-mente disso ou daquilo”...MB — Sim, mas isso deve ser enfrentado de forma espetacular, va-lorizada. Na Rússia tinha uma parte que remetia à União Soviética, não se pode ignorar ainda que tudo te-nha sido modificado, ou os grandes escritores, você não pode ignorá-los somente porque você quer contar que foi à lua. Você não deve ter medo de ser aberto e largo, generoso. Por-que depois, se apenas três pessoas te entendem, que sentido tem? Talvez sejam os mesmos que escrevem as críticas, mas se você não toca o co-ração... No começo, a crítica era bem contundente, depois viram que cada vez mais pessoas se aproximavam da Árvore da Vida e os jornalistas, efe-tivamente, começaram a rever seus pontos de vista. Tinha o pavilhão do Brasil, que era belíssimo, com a rede. Uma ideia simples e inteligente, fa-lava da natureza, tinha sempre fila, funcionou bem. De fato, eu contei ao time criativo brasileiro que veio aqui, o Fernando Meirelles, Daniela Thomas e Andrucha Waddington, e notei uma certa suspeição; então eu reforçei que tinha sido algo inteli-gente e simples.

CI — Como vai o quartel-ge-neral carioca? MB — Estamos no centro da cida-de, do qual eu gosto muito. Tudo ali é colonial. Temos um grupo muito bom de trabalho, tem o Porto Ma-ravilha, que é um pouco perigoso à noite, mas nós, italianos, estamos acostumados. Se vamos a um lu-gar em Nápoles, bem, uma pessoa não vai ali com um celular ou um relógio no pulso… Veja Paris... Vi-vamos a nossa vida. O azar chega. Mas não devemos procurá-lo; de-saconselho viagens à Síria. Aliás, meus pais lá estiveram e me conta-ram que é um país maravilhoso.

CI — Por que o senhor diz que na cerimônia tem sorte?MB — Pelo tipo da minha aproxi-mação, porque permite ser muito aberto, flexível e adaptado àquilo que se quer contar. Por exemplo, a linguagem que se usa na Rússia não pode ser a mesma que se usa no Brasil. Um é mais forte, o outro é mais de envolvimento, ao final, o que conta é a emoção, ela deve chegar e é isso que me interessa. Pessoalmente, é o que me estimu-la. Não é o dinheiro. Ao contrário, é difícil se mudar por 10 meses, deixar a família, os filhos (Marco Balich tem quatro filhos entre 9 e 16 anos). Mas sei que aquele golpe de emoção é algo extraordinário.

CI — Públicos diferentes pe-lo mundo desejam a mesma coisa?MB — Não, eles querem se emo-cionar e se sentir orgulhosos do próprio país. Querem uma releitura da própria identidade. Aconteceu aqui na Itália quando eu fui o dire-tor artístico do interior do pavilhão nacional da Expo Universal. E che-gam as vozes ma cosa vuole? Eu respondia: “Deixem-me construir um espetáculo, a Árvore da Vida”. As respostas eram ma no, no e no. Ao final, aceitaram a ideia. Por fim, venceu a emoção. Fomos bons. Se você consegue convencer os russos disso, ajuda neste processo.

CI — Nos últimos anos, a tecnologia fez passos gi-gantescos na sua atividade. Uma tecnologia fria que ser-ve para criar espetáculos quentes. O quanto ela inci-de na criação?MB — Nós a usamos. Como um telefone que serve para telefonar. Mesmo que, a cada dois anos, tenha-mos acesso a um novo modelo. Mas a ideia é sempre como comunico e o que comunico. O objetivo é aquele de comunicar mais facilmente e de emo-cionar. Se você fica fascinado apenas pelo aparelho em si, não sei… Se você assiste a algo colossal em tecnologia, sem emoção, sem conteúdo, depois de três, quatro anos, vai parecer algo muito estúpido. Enquanto que um gesto, como a flecha que acende o fo-go em Barcelona, mesmo não sendo tecnológico, vai ficar sempre no co-ração como algo maravilhoso. Como Mohammed Ali, que tremia ao acen-der o caldeirão de Atlanta.

CI — Como é a sua relação com a mídia? Estou diante

de um homem ressuscitado tantas vezes?MB — Levamos bastonadas, sem-pre (risos). Aqui na Itália, eu fui atacado por um ano. “Mas quem é você, o que quer, o que é isso”, me diziam. Nós nos habituamos. Qualquer grande evento é um ele-fante que entra num quarto. Todos dizem: che cazzo è questo elefan-te. Depois, devagarzinho, quando a coisa parte, as pessoas enten-dem que aquele elefante serviu para alguma coisa. Você desloca equilíbrios e sonhos importantes. E tem sempre a questão de que uma cerimônia olímpica, na cida-de do México, custa tanto, 50, 100 milhões. Tanto, e torcem a cara dizendo que podem-se construir hospitais e escolas. Mas eu já estou preparado para isso, e olho sempre as despesas militares de uma na-ção. A cada ano, qualquer nação

Em 2015, quando foi diretor artístico

do pavilhão italiano da Expo, Marco

Balich surpreendeu o público e a imprensa

com a maravilhosa Árvore da Vida

O quartel-general carioca da equipe do produtor italiano fica no centro do Rio, repleto de prédios coloniais, muito apreciados por Balich

“O que é mais importante: ter algo que te faça

reaver o orgulho e a dignidade para uma nação ou comprar

um avião a menos?”

“É de fato muito dinheiro, mas se você trabalha o orgulho de uma nação, depois o povo orgulhoso vai tratar melhor o próprio país. Construam-se hospitais, mas não renunciemos a celebrar a nossa própria identidade”

fevereiro 2016 | comunitàitaliana comunitàitaliana | fevereiro 201630 31

Page 17: Conheça o “caminho de Santiago” italiano

DE UMA FÊMEA NASCEM ATÉ 200 MOSQUITOS.

BASTAM 10 MINUTOS POR SEMANACalhas limpas, pneus sem água e abrigados da chuva

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e do ar-condicionado limpas e sem água

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e sem água acumulada sobre a tampa

Piscinas e fontes sempre tratadas. Se não estiverem

em uso, deixe sempre cobertas

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Deixe os vasos sanitários sem uso constante fechados

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Acabe com as poças nas coberturas

de prédios, lajes ou marquises

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Não jogue lixo em terreno baldio, valas, valetas,

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Page 18: Conheça o “caminho de Santiago” italiano

Entre os heróis olímpicos italianos, certamente não poderia faltar nesta série Edoardo Mangia-

rotti. Foi ele quem mais vezes subiu ao pódio para o Belpaese em todos os esportes. Em cinco olimpíadas, de 1936 a 1960, ganhou nada me-nos do que 13 medalhas por suas proezas na esgrima. Ainda hoje, é o quarto atleta da história das Olim-píadas com mais medalhas nos

Jogos de Verão, empatado com Boris Sachlin, com 13 na ginástica artística pela antiga União Soviética.

Nascido em Renate, na província de Monza e Brianza, na Lombardia, viveu 93 anos e também foi jornalista e dirigente esportivo. A arte da esgrima já veio do berço. O pai Giuseppe Mangiarotti tinha re-presentado a Itália na Olimpíada de 1908, em Londres. Mestre que importou técnicas da escola francesa, o pai também ensinou os fundamentos do esporte aos ou-tros filhos Mario e Dario, este ganhador do ouro na espada por equipes, na Olimpíada de Helsinque, em 1952, quando também levou a prata na mesma arma individual. Em Londres 1948, Dario havia sido tam-bém prata na espada por equipes.

Uma das grandes vantagens de Edoardo era ser ambi-destro. Empunhava a arma com as duas mãos, graças aos ensinamentos do pai, apesar de ser um destro natural. Essa particularidade permitia que ele mudasse de guar-da durante o mesmo combate, confundindo o adversário.

— No começo, eu e meus irmãos praticávamos também o boxe, graças a um amigo de papai. Mamãe pre-parou as luvas para os três, mas eu tomava pancada tanto de Dario quanto de Mario. Essa situação fez despertar em mim o impulso da grande competitividade. Na pista de esgrima, obtive a revanche dos socos — contou certa vez.

Em 1936, Edoardo Mangiarotti, aos 17 anos, era o caçula da azzurra, que ganhou o ouro na espada por equipes juntamente com Franco Riccardi, Saverio Rag-

no e Giancarlo Cornaggia Medici. O técnico Nedo Nadi o levou a Berlim no lugar do irmão Dario.

Foi a Olimpíada da propaganda nazista. Mangiarotti estava na tribuna do Estádio

Olímpico da capital alemã, local em que os medalhistas recebiam a premiação,

quando testemunhou a vitória do len-dário negro americano Jesse Owens no salto em distância. O campeão italiano de esgrima viu e ouviu o ditador Adolf Hitler levantar-se indignado com o primeiro lugar do atleta dos Estados Unidos e exclamar: “Schwein (porco)”.

Na Olimpíada de 1952, em Helsinque, Finlândia, Edoardo ganhou a medalha de ouro individual por espa-da graças à vitória por 3-2 do irmão Dario (prata) so-bre Buck, de Luxemburgo.

Edoardo, que acompanhou o combate da tribuna, além de

atleta, havia ido à Finlândia tam-bém como jornalista do diário La

Gazzetta dello Sport. Logo depois de ter conquistado o ouro, levou bronca do então

diretor do jornal, Gianni Brera, por ter chegado tarde à sala de imprensa para escrever a matéria.

“Quem ganhou?”, perguntou Brera. “Eu”, respondeu Edoardo Mangiarotti.

“Vá embora”, disse Brera, em tom jocoso.

Os irmãos Edoardo e Dario ga-nharam o ouro por equipes da mesma arma naquela Olimpíada. Carola, sua filha, também competiu pela Itália na esgrima nos Jogos de 1976, em Montreal, e de 1980, em Moscou. Mangiarotti teve ainda a honra de ter sido porta-bandeira da Itália no des-file de abertura dos Jogos de 1956, em Melbourne, e em 1960, em Roma, na qual foi, além de atleta, técnico da equipe azzurra de esgrima e presiden-te da federação italiana desse esporte. Depois, mesmo sem competir, sem-pre foi aos Jogos. Nem um acidente vascular cerebral, em 2008, o impediu de ir a Pequim naquele ano. Só não pôde ir a Londres em 2012 porque morreu dois meses antes. 

O super esgrimistaO lombardo Edoardo Mangiarotti foi o atleta que mais subiu ao pódio olímpico pela Itália até hoje

Maurício Cannone

Medalha por medalhaSeis ouros (espada por equipes em Ber-

lim 1936; espada individual, espada por equipes, em Helsinque-1952; florete por equipes, espada por equipes, em Melbourne 1956; espada por equipes, em Roma 1960); cinco pratas (florete por equipes, espada por equipes, em Londres 1948; florete individu-al, florete por equipes, em Helsinque-1952; florete por equipes, em Roma-1960); dois bronzes (espada individual, em Londres 1948; espada individual, em Melbourne 1956). Isso sem falar nas 26 medalhas con-quistadas em Mundiais de Esgrima.

O esgrimista italiano Edoardo Mangiarotti ainda hoje é o quarto atleta da história das Olimpíadas

com mais medalhas nos Jogos de Verão

34 fevereiro 2016 | comunitàitaliana

Page 19: Conheça o “caminho de Santiago” italiano

turiSMo

Autêntica e hospitaleira

Dona de um mar cristalino, paisagens inesquecíveis e belos burgos suspensos

entre a modernidade e a tradição, a Puglia atrai cada vez mais turistas brasileiros

Costas encantadas e repletas de oliveiras sob o sol, lugares ricos de história e uma cultura popular ainda viva. Bem-vindos à Puglia, a região mais oriental da Itália, banhada pelo

mar por mais de 800 quilômetros e povoada por quatro milhões de pessoas. A Puglia de hoje é um dos símbolos do Sul da Itália e, ao mesmo tempo, uma das realidades mais dinâmicas dos últimos anos, sobretudo graças a uma combinação vencedora de turismo, tradição e ma-rketing territorial, que fez com que se acendessem os refletores sobre esta maravilhosa região. Foram inúme-ros os encontros de povos e culturas que marcaram a história do território pugliese, no qual se estabeleceram

de Pulsano. Há ainda os Parques da Alta Murgia e o Terra delle Gravine, ao norte de Bari, que culminam no monumento tombado pela Unesco, o Castel del Monte, que está  entre os mais visitados na Itália, destaca.

Beleza e autenticidade são pontos fortes do território, carac-terísticas que chamaram a atenção da indústria cinematográfica mun-dial — inclusive a da Índia.

— A atriz britânica premiada pelo Oscar, Helen Mirren, comprou uma propriedade agrícola do século XVI, enquanto o famoso diretor Fer-zan Özpetek escolheu a Puglia como set para seus filmes, justamente por-que aqui encontrou uma dimensão autêntica. Com as suas paisagens únicas, a terra é um cenário ideal pa-ra quem faz cinema, além de ser um lugar perfeito para se viver. Não por acaso, no esplêndido contexto de Gargano, são ambientados alguns blockbusters de Bollywood, uma das mais importantes indústrias cine-matográficas do mundo, como a

comédia Housefull, com Shah Rukh Kahn — revela a responsável pelo turismo da região.

O rico e cristalino mar do Salento atrai praticantes de mergulhoO Salento, na zona mais me-ridional, que compreende toda a província de Lec-ce e alguns trechos das províncias de Brindisi e Taranto, é, sem dúvida, o epicentro do sucesso turístico da Puglia.

— É um território perfeito para todos os tipos de turista, do grupo de amigos em busca de diversão às famílias que querem sossego, com estruturas especiais e fazen-das didáticas espalhadas por todo o território. O Salento oferece paisa-gens naturais dignas de verdadeiros cartões-postais, caracterizadas pela terra vermelha, muros secos e oli-veiras seculares entortadas pelo vento e pela história. O fundo do mar, límpido e cheio de peixes colo-ridos, oferece um espetáculo único a qualquer um que decida colocar os pés de pato e a máscara.

A atmosfera que se respira tor-na única cada experiência turística no Salento.

— O calor das pessoas e a alegria contagiosa das numerosas festas patronais e dos festivais locais, dis-seminados por todo o território, permitem a imersão em um clima único. É possível degustar infinitas delícias e conhecer os aspectos mais antigos desta terra, seus hábitos e costumes, dançando ao som da pizzica e da taranta, os gêneros de música popular que mantiveram in-tacto o seu fascínio.

os dauni, os peucezi e os messapi, sem esquecer as tantas colônias da Magna Grécia, que ocupavam so-bretudo as áreas mais meridionais. As cidades mais importantes são a capital Bari; a esplêndida Lecce, ca-pital do barroco e por este motivo conhecida como a “Florença do Sul”; seguidas por Taranto, Brindisi, Fog-gia, Andria e Barletta. O mar, como já mencionado, é o grande protago-nista: as costas irregulares e as praias douradas tornam únicos os cenários de Gargano e de Salento, enquanto as Ilhas Tremiti não deixam nada a desejar se comparadas às mais reno-madas localidades caribenhas.

Os trulli de Alberobello — ha-bitações feitas em pedra seca, branquíssimas e com curiosos tetos cônicos — são declarados patrimônio

da humanidade pela Unesco. A sua origem nos leva à pré-história. Muito interessantes também as grutas de Castellana. Seria infinita a lista dos lugares, sugestivos e fascinantes que caracterizam o território, começando pelas pérolas do mar, como Otranto, Ostuni, Gallipoli, Polignano, Trani e Peschici. Pedimos a Loredana Capo-ne, secretária de Indústria Turística e Cultural da Região Puglia, para nos acompanhar na descoberta desta ter-ra extraordinária.

— As localidades mais turísticas são, sem dúvida, as que acabaram de ser citadas, mas existem muitos outros lugares menos conhecidos que podem revelar-se de grande in-teresse. Merece ser visitado, ainda que fora da temporada, o interior, com seus pequenos burgos, seu campo e suas propriedades agrí-colas. Maravilhosos o Parque de Gargano e os Montes Dauni, com suas suaves ondulações. Nestas áre-as, concentram-se as cidadezinhas premiadas pelo reconhecimento aos municípios mais bonitos da Itália e pelas bandeiras laranja do Touring Club — ressalta Loredana, lem-brando que, ao se partir do sul em direção ao norte, está Ta-ranto, com o seu prestigioso Museu Marta e as suas de-liciosas marinas, como a

Stefano BudaDe Bari

As atrações da cidade de Polignano a Mare unem história e natureza. Ocupada desde o Neolítico, foi dominada por gregos, romanos e bizantinos. Possui um importante centro histórico e oferece passeios de barco às suas famosas grutas

36 37comuni tàitaliana | fevereiro 2016fevereiro 2016 | comunitàitaliana

Page 20: Conheça o “caminho de Santiago” italiano

Chegadas do exterior aumentam, com destaque para os turistas do Norte europeu e da América LatinaOs dados confirmam o crescente in-teresse dos turistas estrangeiros pela Puglia: as chegadas do exterior cresce-ram em um ritmo de 9% e, em 2014, totalizaram 664 mil. Assim, o número das presenças atingiu os 2,4 milhões. No total, de 3,2 milhões de chegadas e 13,2 milhões de pernoites, incluin-do os turistas italianos, 20% são viajantes estrangeiros. Em aumen-to sobretudo os fluxos provenientes do norte da Europa, em especial da Alemanha, França, Áustria e Países Baixos. Sinal positivo também para as chegadas do Brasil, Reino Unido, Estados Unidos, Canadá e Argentina.

— Brasil e Argentina são os pa-íses culturalmente mais ligados à Itália e à Puglia. No que diz respei-to ao Brasil, em especial, o incoming cresceu 31% no biênio 2013-2014 e os dados provisórios, relativos a 2015, confirmam a tendência de crescimento — observa Capone.

Através da pesquisa denomina-da Tourist profile & preferences, foi posspivel traçar o perfil do tu-rista que escolhe a Puglia.

— O turista estrangeiro que chega até nós viaja sobretudo com a fórmula fly & drive. Na prática, chega ao destino de avião, para depois alu-gar um carro e visitar mais lugares na mesma viagem. Tende a organizar-se autonomamente, através da internet. Possui um perfil de gasto médio-alto, que gira em torno dos 150 euros por dia, incluindo comida e estadia e es-colhe, sobretudo, hotéis quatro ou cinco estrelas ou estruturas tradicio-nais que respeitem as características da paisagem, como propriedades agrí-colas, trulli e hotéis-fazenda.

A competição global entre os destinos é vencida com palavras como reputação e organizaçãoO nível de satisfação, expres-so através de questionários específicos, parece confirmar as palavras da assessora. Os turis-tas ouvidos descrevem a Puglia

como hospitaleira (72%), autêntica (68%), alegre (53%), bonita (48%), divertida (38%) e na moda (25%).

Experiência é que o turista moderno, cada vez mais exigente e se-letivo, busca em cada meta de viagem.

— A Puglia é uma experiência a ser vivida, graças à sua dimensão autêntica e a um mix de tradições ainda muito vividas; mas, ao mes-mo tempo, é uma terra capaz de expressar modernidade e hospi-talidade. Hoje o mundo inteiro é destino turístico e o desafio é, por-tanto, global. Porém, enquanto o turismo internacional continua a crescer vigorosamente a cada ano, seja em número de chegadas, seja em lucro, a competição global entre os destinos é vencida com poucas palavras-chave, como reputação, organização, diferenciação e capa-cidade de adaptação — diz Capone.

Em que ponto está a Puglia no desenvolvimento destes conceitos?

— É um território que iniciou um percurso virtuoso em todas es-tas áreas de trabalho. A progressiva afirmação da marca Puglia como experiência a ser vivida aconteceu alimentando a região no imaginá-rio coletivo, italiano e estrangeiro, também inclusive através do im-pulso em canais como o cinema, a música, os eventos, os espetáculos, os roadshows e as redes sociais — responde a assessora . 

A região recentemente traba-lhou bastante em duas frentes em especial: 

— De um lado, ativamos uma ma-ciça e inédita promoção nos mercados externos. Experimentamos novos ins-trumentos, como o roadshow We are in Puglia, e consolidamos iniciativas

como o Buy Puglia, evento do qual participaram também os operadores brasileiros de lazer e do turismo re-ligioso. Por outro lado, trabalhamos pela melhoria da oferta dos produtos turísticos, com iniciativas de valoriza-ção da fruição de bens culturais, como o Puglia Open Days e o Discovering Pu-glia, e com o desenvolvimento de uma moderna e larga rede de pontos de in-formação e acolhência turística.

As conexões áreas, inclusive a oferta de low cost, contribuíram para incrementar o turismo no local. Bari, hoje, representa uma escala essencial de conexão do sul da Itália com o res-to do mundo, lembra Loredana.

— Nos próximos anos, continuare-mos a endereçar a promoção de nosso território para mercados vantajosos, os top spender. Aqui, podem satisfazer exigências na área do relax e da nature-za, desfrutar de um mar intocado, com um clima ameno oito meses por ano, de uma enogastronomia sem igual e de uma relação custo benefício muito vantajosa — enumera.

A indústria do turismo exerce um papel cada vez mais importante na economia pugliese: a incidência

do setor turístico no PIB alcançou 8,7% em 2015, uma cota que cres-ceu 5% em comparação aos oito anos anteriores. Cresceram também o número de empregos no setor (2% em 2014) e de estruturas receptivas do território (3% em 2015).

turiSMo

O turismo por parte de brasileiros cresceu 31%

no biênio 2013-2014 e os dados provisórios de 2015

confirmam a tendência de crescimento

Região quer incrementar o turismo cultural como estratégia para promover o interior do territórioSe o setor goza de boa saúde, é também verdade que o turismo costeiro da Puglia, que poderia es-tar no ápice, ainda não goza ainda de uma fama internacional como Costa Smeralda, Cinque Terre, Cos-tiera Amalfitana ou Versilia.

O turismo costeiro continua a ser o ponto forte da Puglia, com uma incidência de 54% sobre o to-tal regional das chegadas, enquanto arte e cultura impactam em 13%. E é justamente o turismo cultural que devemos potencializar e desen-volver mais, pois esta tipologia de turismo, na Puglia, envolve tanto os burgos quanto os grandes centros, favorece as áreas internas da Puglia e permite estender a temporada pa-ra os períodos intermediários, ou seja, maio-junho e setembro-outu-bro, defende Loredana.

Um papel importante é exercido pelos descendentes dos imigrantes italianos que, no Brasil, são os mais numerosos no mundo.

— É um aspecto muito im-portante. Justamente por isso, a região está conduzindo há anos, em todo o mundo, ações miradas para envolver cidadãos de origem pugliese, que estão se tornando verdadeiros embaixadores da Pu-glia, não somente na promoção do turismo, mas também em outros aspectos da economia regional.

A assessora considera o Brasil um território sugestivo e fascinan-te, e também um país dinâmico, com o qual é possível instaurar no-vas relações comerciais.

— Eu sou curiosa por tudo sobre o Brasil, do território às pes-soas. É um daqueles lugares dos quais emana uma grande alegria de viver, mas nele vejo sobretudo um potencial de desenvolvimento de

relações que poderiam nascer com a Puglia, não somente sob o aspec-to do desenvolvimento do turismo, mas também das relações comer-ciais. O Brasil, nesta fase do seu desenvolvimento, precisa do know how italiano, e a Puglia, sob este aspecto, tem todos os requisitos para se tornar um ótimo parceiro — conclui a secretária de Turismo Loredana Capone.

A província de Lecce fica exatamente

na ponta da Bota, entre o Adriático

e Iônico. Além do mar cristalino,

oferece atrações históricas, como o

seu monumental conjunto arquitetônico

barroco, lado a lado com ruínas

romanas, que incluem um anfiteatro. A

responsável pelo turismo da região, Loredana Capone,

destaca que o interior da Puglia, com

pequenos burgos e agroturismo, também

merece ser visitado

Os trulli, tombados pela Unesco

como patrimônio da humanidade, são enigmáticas

construções branquíssimas,

feitas com pedras a seco. Já Ostuni, na

província de Brindisi, foi reconhecida

pela Bandiera Blu e Legambiente como a praia mais limpa

da Itália, além de impressionar com a

pintura branca de sua paisagem, marcada

pelas típicas casas em calcário, um uso que

remonta à Idade Média

Bari, capital comercial e administrativa de Puglia, é uma vibrante cidade universitária.

Na Bari Vecchia, o visitante pode contemplar monumentos medievais e a antiga zona portuária

fevereiro 2016 | comunitàitaliana comunitàitaliana | fevereiro 201638 39

Page 21: Conheça o “caminho de Santiago” italiano

Projeto da Diocese de Vicenza revitaliza a

antiga rota medieval de 1500 km que

conduzia peregrinos do leste europeu a Roma, e que agora

está disponível para download em

dispositivos GPS

italiano

caminhoOdeSantiago

turiSMo

As semelhanças com a rota medieval que conduz à cidade de Compostela, onde estão guardados os restos mortais do apóstolo Tiago, na Galícia, são mui-

tas. Embora o caminho imortalizado pelo escritor Paulo Coelho em O Diário de um Mago tenha se tor-nado mais famoso no mundo, o traçado que cruza a península itálica era ainda mais importante que o Caminho de Santiago. Rota dos peregrinos que partiam do Leste ou do Norte europeu rumo a Ro-ma, capital do cristianismo e guardiã das tumbas de São Pedro e São Paulo, também era usada pelos cruzados que embarcavam em Veneza com desti-no à Terra Santa, Jerusalém. Iniciativa da Diocese de Vicenza, em colaboração com o Centro Italiano Studi Compostellani, Romea Strata foi lançada em

um momento especial: o início do Ano do Jubileu, que vai até 20 de novembro deste ano e deve incre-mentar o turismo religioso no país. O fato é que essa rota de 1550 qui-lômetros entre o Friuli e a Cidade Eterna revela muitas surpresas não apenas aos católicos: é uma lição ao vivo e a cores de história, arqueolo-gia e ecoturismo.

Comunità conversou com a responsável por traçar toda a rota com o GPS. A vicentina Luisa Dal Prá, formada em Ciências Flores-tais pela Universidade de Padova, de 33 anos, percorreu todo o cami-nho entre agosto de 2014 e março de 2015 de bicicleta e a pé, tor-nando possível o seu mapeamento

digital, disponível no site oficial do projeto www.romeastrata.it.

— Eu percorri cerca de 25 km por dia, em bicicleta ou a pé. Passar pelos Apeninos foi difícil para mim, por isso fui caminhando. Até Mo-dena, na Emília-Romanha, pode-se fazer tranquilamente de bicicleta. Para os ciclistas treinados, é pos-sível pedalar até nos Apeninos. Comecei em Tarvisio, no Friuli--Venezia-Giulia, na fronteira com a Áustria. Ali, na Via del Tagliamento, que chamamos de Via di Allemagna, descemos até Concordia Sagittaria, passando pelo antigo Hospitale di Milecento del Friuli, em San Toma-so di Majano, que é o Hospitale di San Giovanni — contou Luisa, ex-plicando que Romea Strata não é um percurso de linha única.

Existem quatro principais en-tradas na Itália: duas a partir do Friuli, uma via Brennero e outra que leva a Verona, e depois a Mon-tagnana. Os cristãos que vinham da Eslovênia partiam do Santuário

de Miren-Kostanjevica, no monte Grado, e dali chegavam a Gorizia para em seguida atravessar o Friu-li até Concordia Saggitaria, por um total de 100 quilômetros.

— É uma via medieval, usada pelos peregrinos que chegavam do Leste europeu em direção a Roma, ou que iam até Veneza para embar-car rumo à Terra Santa. Não havia margens e os percursos mudavam de acordo com a segurança das estradas, a fluidez dos rios ou a pro-teção contra bandidos ou qualquer

outra forma de ameaça. Fazia parte do meu trabalho verificar se esses antigos percursos ainda podem ser percorridos hoje porque, ao longo dos anos, a morfologia do terreno mudou de forma notável. A rota apresentada oficialmente em de-zembro e que está no site foi toda feita com GPS e autorizada pelos 159 comuni pelos quais o caminho passa. Cada um deles foi contata-do para autorizarem a inclusão do respectivo comune na rota — deta-lhou Luisa.

Cintia Salomão Castro

O Hospitale di San Giovanni é um dos monumentos mais emblemáticos da rota. Fundado em 1199 pelos cavaleiros de San Giovanni di Gerusalemme, funcionava como uma estação de apoio aos peregrinos, que ali podiam fazer a troca de cavalos, se alimentarem e repousar em colchões de palha ou feno. O local é um dos pouquíssimos exemplares ainda de pé na Europa, inspirado na mítica hospedaria de Jerusalém, onde eram servidas diariamente, na Idade Média, duas mil refeições

40 41comunitàitaliana | fevereiro 2016fevereiro 2016 | comunitàitaliana

Page 22: Conheça o “caminho de Santiago” italiano

S U Í Ç A

Lombardia

ToscanaMarche

Ligúria

PiemonteEmilia Romagna

Veneto

Trentino Alto-Ádige

Friul i Venezia Giulia

Á U S T R I A

E S L O V

C R O Á

S A N M A R I N O

comuni tàitaliana | fevereiro 2016

2.415 Km

345 Km

2.945 Km

Badia Polesine

Igreja de São Bartolomeu

Monselice, com as suas sete igrejas na colina voltadas para Roma

Basílica de Santo Antônio

Chiesa dei Carmini di Vicenza

Castelos da Baixa Idade Média

MIlANo

MIReN-KoStANjeVICA

turiSMotARVISIo

UDINe

SAVogNA D’ISoNzo

SAN MINIAto

BologNA

RIMINI

FIReNze

Zocca

Marano sul Panaro

Savignano sul Panaro

Castelfranco Emilia

Ravarino

Bondeno

Ficarolo

Masi

Camposanto

Lizzano in Belvedere

Passo Croce Arcana

San Marcello Pistoiese

Monsummano TermeLamporecchio

Vinci

Montese

Guilia

Vignola

Spilamberto

Nonantola

Bomporto

PontebbaMalborghetto Valbruna

Amaro

Osoppo

Ragogna

GruaroPortogruaro

Fossalta di Portogruaro

San Stino di Livenza

San Dona di PiaveMeolo

Roncade

Marcon

DoloStra

Quarto d’Altino

Ceggia

Pinzano al Tagliamento

San Vito al TagliamentoSeSto Al RegheNA

San Martino al Tagliamento

San Michele al Tagliamento

San Canzian d’Isonzo

San Pier d’Isonzo

Fogliano Redipuglia

Muzzana al Turgnano

Precenicco

Latisana

Pallazolo dello Stella

San Giorgio di Nogaro

Cervignano del FriuliTorviscosa

Sagrado

Carlino

Musille di Piave

San Giorgio della Richinvelda

Moggio Udinese DognaChiusaforte

ResiuttaVenzone

Spilimbergo

Fiumicollo

Turriaco

Valvasone

Gemona del Friuli

MAjANo Del FRIUlISan Daniele del Friuli

Finale Emilia

FelonicaSermida

Castelmassa

CastagnanoCastelbaldo

Merlara

Urbano

Pressana

VeronelaZevio Arcole

LongareCastegnero

Manto

VillagaSossano

Campiglia B.Agugliaro

Noventa V.Pojana Mag.

MossanoBarbarano V.

San Bonifacio

Vallarsa

Trambileno

Belfiore

LavagnoGambellara

BrendolaMontebello Vic.

Montebello Maggiore

Altavilla Vicentina

Costabissara

VigonovoNoventa Padovana

Albano TermeMontegrotto TermeBattaglia TermeMoNSelICeBaoneeSteOspedaletto EuganeoCarceri

Sant’UrbanoLendinaraPiacenza d’AdigeGiacciano con Baruchella

TrecentaCeneselli

Megliadino S. FidenzioVighizzolo d’Este

Isola VicentinaMalo

SchioSan Vito di Leguzzano

TorrebelvicinoValli del Pasubio

Colognola al Colli

SoAVe

Cologna Veneta

San Martino Buon Albergo

Roveredo di Guà

Passo Pian delle Fugazze

Castelnovo BarianoVilla Bartolomea

FANANo

CUtIglIANo

Larciano

QuarrataCerreto Guidi

Fucecchio

Serravale Pistoiese

CReMoNA

PARMA

gêNoVA

MoDeNA

NoVARA

PAVIA

BReSCIA

PIStoIA

CoNCoRDIA SAgIttARIA

RoVeReto

VeRoNA

MoNtAgNANA

VICeNzA

tReNto

PADoVA

VeNezA

423 Km

759 Km

673 Km

BReNNeRo626 Km

San MiniatoCom seu belo conjunto arquitetônico marcado pelas torres erguidas nas coli-nas, representa o cruzamento entre Via Romea e Via Francigena rumo a Roma.

VeronaA Chiesa di Santa Maria Antica, em Ve-rona, parece ser da ordem das Cruzadas.

TarvisioNa fronteira com Áustria e Eslovênia, a pequena Tarvisio é o ponto de partida do Friuli.

Km

Cidades de partida

Principais cidades do percurso

Rotas da Romea Strata

Distância até San Miniato

Via Francigena

hospitale de San giovanni

Festa de San giacomo

Catedral de São zeno de Pistoia

Burgo Medieval

Pedras da catedral de Santo Stefano Protomartire

Mosaicos dos primeiros séculos da era cristã

Torre di Mosto

AqUIleIA

Romea StrataO símbolo do projeto Romea Strata, criado

por um estúdio gráfico de Quinto Vicentino, traz duas pinceladas que aludem à cruz de

Aquileia, à seta amarela de Compostela e a uma encruzilhada

Confira todo o percurso

SalettoCasale di Scodosia

BADIA PoleSINe

SalaraCalito

RoVeReto

tReNto

Piazza Duomo

Ecoturismo, aventura, arqueologia, história e fé em uma única rotaGostar de aventura, história e na-tureza é mais que suficiente para se sentir atraído por Romea Strata. Tre-chos repletos de natureza selvagem estão garantidos aos ecoturistas, incluindo os bosques no apenino emiliano-toscano e em território friulano, com colinas, lagos e o vale do rio Tagliamento. Para quem gosta de história, a alegria é completa. A rota passa por pequenas, porém pre-ciosas igrejas antigas — verdadeiras joias medievais — sendo algumas dedicadas a São Tiago, e por antigos abrigos de peregrinos.

Um dos lugares mais inte-ressantes é o Hospitale di San Giovanni, na fração de San Tomaso di Majano, na província de Udine — fundado no auge das Cruzadas, no final do século XII, por cavaleiros de San Giovanni di Gerusalemme, posteriormente denominados ca-valeiros de Malta. Um pergaminho de 1199, preservado na Bilioteca Comunale de Udine, comprova a constituição do local e a cessão do terreno aos cavalieri por Artuico di Varmo, com o objetivo de dar assis-tência aos peregrinos que passavam

pela antiga Via d’Allemagna.Se Romea Strata é uma

oportunidade de treinar a austeridade e a religiosida-de para alguns, para outros pode representar a descul-

pa perfeita para fazer

SANt

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42 43fevereiro 2016 | comunitàitaliana

Page 23: Conheça o “caminho de Santiago” italiano

turiSMo

paradas estratégicas em cidades que oferecem roteiros enogastronômicos tentadores, como Verona, Mode-na e diversas cidadezinhas vênetas, emilianas e toscanas. A atmosfera mística, porém, prevalece na viagem para a maior parte dos pellegrini.

— Já fiz várias viagens natu-ralísticas em outros lugares do mundo, mas percebi que aqui per-to, na Itália, há muitos lugares naturais e especiais. Penso no fa-to de que muitas pessoas antes de mim fizeram esse caminho. Há igrejas que parecem tão pequenas por fora, mas quando você en-

tra percebe que têm uma imensa história. Foi muito sugestivo e en-riquecedor percorrer esse caminho — comentou a vicentina Luisa.

Rota revela joias históricas guardadas no interior das províncias do Norte da ItáliaPara a maior parte dos brasileiros que associa uma viagem à Itália ao sólito roteiro Roma-Veneza-Milão, Romea Strata pode servir como um guia repleto de dicas e pontos de in-teresse não menos especiais do que as manjadas capitais. As cidades de Concordia Sagittaria, na província de Veneza, e Sesto al Reghena, em Pordenone, são exemplos. A primei-ra conserva importantes ruínas da época romana e a segunda possui um belo burgo medieval. Isso sem falar em Aquilea, cidade da provín-cia de Udine de grande importância para a arqueologia por ter sido capi-tal da Regio X Venetia et Histria, ou

seja, uma das regiões nas quais a pe-nínsula itálica foi dividida, no século 7 d.C., por Augusto. As escavações na basílica Santa Maria Assunta re-velaram ao mundo belos mosaicos nos primeiros séculos da era cristã. No interior das províncias, reve-lam-se belas surpresas. É o caso de Padova: a 20 km da capital, Mon-selice conserva um santuário com sete igrejas em uma colina voltadas para Roma, enquanto Este, a 30 km, surpreende com um conjunto arqui-tetônico formado por imponentes torres e castelos medievais.

O responsável pelo setor de Peregrinações da Diocese de Vi-cenza, Don Raimondo Sinibaldi, apaixonado por arqueologia, deu o impulso ao projeto, após con-ferências no centro de estudos compostelanos e encontros com o maior especialista no Caminho de Santiago, o professor Paolo Giuse-ppe Caucci von Saucken.

— Romea Stata repropõe o siste-ma de vias e trilhas que, a partir da

Europa centro-oriental, conduziam os peregrinos, os romei (habitantes do Império Romano do Oriente) até Roma e à tumba de São Pedro. Em ocasião do Jubileu, promovemos es-se percurso para redescobrir a fé, a religiosidade e a cultura das antigas vias de peregrinação — declarou à imprensa Sinibaldi, esperando que, ao percorrer as trilhas de Romea Strata, “muita gente reencontre o sentido da existência e novas moti-vações, e riscoprano Dio”.

Para fazer o download da rota completa ou dos trechos que fazem parte de Romea Strata e saber como abrir o mapa em um dispositivo GPS, com informações sobre hospedagem e restaurantes, é preciso entrar no si-te www.romeastrata.it.

“Há igrejas que parecem muito pequenas por fora,

mas quando você entra nelas, percebe que têm uma imensa história”

Luisa Dal Prà, encarregada de percorrer a rota de Romea Strata

Os viajantes podem apreciar as paisagens naturais friulanas e vênetas, e conhecer diversos templos e igrejas de estilo românico, como a Abbazia Sant’Agostino, em Vicenza (à esquerda), e o altar na Villa Querine Stampalia, em Verona (acima)

Sala candidatoO pré-candidato a prefeito Giuseppe

Sala, ex-administrador da grande máquina operacional da Exposição Universal de Milão, apresenta os da-dos positivos sobre o evento como cartão de visitas para a sua candida-tura à prefeitura da cidade. Mas eles são constestados: Sala afirma que o patrimônio ativo e líquido da Expo é de 14,2 milhões de euros. Os ad-versários garantem que, no começo, este valor era de 46 milhões. Com a palavra, o eleitor, que vai decidir nas primárias do Pd o seu candidato à su-cessão de Giuliano Pisapia.

Tecnologia agroespacialA flor que desabrochou na Estação Orbi-

tal Internacional é um pequeno passo na pesquisa espacial que liga o cosmos à terra, literalmente. Os satélites da ESA e da ASI estão monitorando, como nunca, as condições das colheitas, principalmen-te, na” pianura padana”, na Lombardia, às margens do rio Ticino. Os arrozais de Ver-celli, Pavia, Milão e Novara respondem por 90% da produção nacional e 60% da europeia. Sob a orientação do CNR-Ivrea, as ondas eletromagnéticas emitidas pelos satélites sobre os terrenos cultivados e decifradas em fotos a cores e dados por um programa criado pelo Cassandra Lab, da Università degli Studi, de Milão, per-mitem a previsão da colheita eas inter-venções de urgência, em caso de ameaças de parasitas. Como se um médico exami-nasse o paciente à distância.

Números doentesO principal hospital da região da Lom-

bardia, a mais rica do país, apresen-ta um buraco de 35 milhões de euros. O famoso Niguarda corre o risco de entrar para a lista negra dos hospitais que irão sofrer cortes profundos das verbas de Roma. A lei prevê a penalidade para as adminstrações hospitalares que operam no vermelho-sangue. E na Lombardia, o Niguarda não está sozinho. Em contra-partida, a região tem que identificar as empresas que operam no ramo e que pos-suem uma diferença superior a 10% das entradas, entre os custos efetivos e a ar-recadação, ou em valores absolutos iguais ou maiores do que 10 milhões de euros.

Metrô sob controleAs roletas do metrô de Milão agora vão

ser bloqueadas também. Para sair das estações, agora o usuário vai ser obrigado a passar o bilhete, em teoria já marcado na entrada, para deixar o espaço dos trens e ir embora para a rua. Apenas as estações de Cadorna, Duomo e Garibaldi, as mais movimentadas, ficarão de fora. Cerca de 1% dos 1.200.000 frequentadores diários percorre as linhas sem ter comprado o bi-lhete. Dez mil sonegadores, todos os dias, escapam da vigilância. Daqui em diante, vai ficar tudo mais difícil. Ou seja, o bilhe-te somente poderá ser jogado fora depois do passageiro deixar a estação.

milãoGuilhermeAquino

O teatro Strelher, no centro de Milão, comemora o renascimento de seus as-

sinantes. Entre setembro de 2015 e janei-ro deste ano, o Piccolo, como é conhecido, conseguiu 25 mil espectadores fiéis. A curiosidade é que este número supera os novos torcedores, tanto do Milan quando da Inter. Mas o dado que mais chama a

atenção é que 35% são jovens, com menos de 26 anos, além do aumento de público, na casa dos 5%. Ou seja, novas gerações se aproximam dos palcos, em busca de es-petáculos cada vez mais em sintonia com esta faixa etária — que também registrou um incremento de 7,5% — como aqueles do programa do Strelher.

Juventude teatral

fevereiro 2016 | comunitàitaliana comunitàitaliana | fevereiro 201644 45

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A emigração em direção ao Brasil, entre o final do século XIX e início do sé-culo XX, representou um

fenômeno de massa que, ainda hoje, encontra reflexo nos 30 milhões de descendentes que vivem no país sul--americano. O fluxo posteriormente se atenuou e os italianos residentes no Brasil, inscritos no Aire (Anagra-fe degli Italiani Residenti all’Estero), hoje são pouco mais de 280 mil. Exis-te, no entanto, o percurso contrário que, mesmo sendo limitado e quan-titativamente circunscrito, deu vida a uma realidade significativa: hoje, 42.587 cidadãos brasileiros vivem

na Bota. Comunità encontrou Pau-lo Henrique Correia, de 29 anos, presidente da Wara, a associação cultural que reúne os brasileiros re-sidentes na zona de Turim. A capital piemontesa é a terceira localidade, depois de Roma e Milão, em número de imigrantes provenientes da terra verde-amarela.

— Sou de Belo Horizonte e me mudei para a Itália em 2008 para estudar Engenharia Automotiva. Logo me aproximei da associação Wara, que havia sido fundada um ano antes da minha chegada e, a partir de 2013, assumi o cargo de presidente — explica Correia.

O nome da associação expressa a necessidade, inerente no ânimo de toda comunidade de imigrantes, de criar relacionamentos e relações entre as pessoas:

— Wara, na língua da popu-lação xavante, nativa do Mato Grosso, significa ‘lugar de encontro dos homens’, um conceito que pro-curamos traduzir em nossa prática associativa cotidiana — explica.

Os inscritos são por volta de 40, mas as atividades são abertas a to-dos e envolvem um número muito maior de pessoas.

— Organizamos eventos dos quais participaram mais de 200 pes-soas, muitas das quais nos deram uma mão na preparação e na arru-mação dos espaços. À associação vêm brasileiros, italianos, casais mistos e italianos amigos de brasileiros. Cada um traz um alguém e assim a coisa se alarga rapidamente — ressalta.

Dificuldades com a língua italiana criam barreiras para exercer direitosConhecer-se, encontrar-se e con-versar também é um modo de criar pontes entre quem chega de longe e o país anfitrião. Imergir em uma nova cultura, sem ter muitos pon-tos de referência, nunca é fácil.

— Eu tive particularmente sor-te porque quando cheguei à Itália fui muito bem acolhido e encontrei as pessoas certas que me ajudaram, mas muitos brasileiros, quando chegam, têm muitos problemas, sobretudo

com a língua, depois para encontrar casa, em seguida com a burocracia, que é bastante complicada — con-fessa o presidente da Wara.

Dentro dos processos para a ob-tenção da cidadania, operam muitos golpistas e aproveitadores, lembra.

— Além disso, há um sentimen-to de estar sempre no meio entre o país de origem e o de chegada. Mui-to frequentemente é difícil entender os próprios direitos e fazê-los valer. Quanto à previdência, à saúde e ao trabalho, são muitas práticas a se-rem cumpridas. Para se criar um quadro pessoal sólido, é necessário um sério trabalho de construção.

O Consulado brasileiro poderia ajudar.

— Sem dúvida, mas encontra-se em Milão, que não é do lado de Turim. Por isso estamos um pouco isolados. Não é fácil lidar com a burocracia ita-liana e a nossa associação procura ajudar também neste aspecto.

Assistência aos brasileiros em parceria com Consulado e Prefeitura de TurimOs jornais, na Itália, com muita frequên-cia, fazem menção a vergonhosos

episódios de racismo para com os imigrantes. Um fenômeno que pa-rece não atingir os brasileiros:

— Na Itália, tenho contato também com outros grupos de es-trangeiros e tenho a dizer que, graças a Deus, em relação às outras comu-nidades de imigrantes, quando se trata de brasileiros, existe uma grande abertura, diria até simpatia. Justa-mente por isso existe a possibilidade de transformar este sentimento em uma compreensão mais profunda e quem sabe dar vida a sinergias no pla-no social, cultural e econômico.

As atividades da entidade, depen-dendo do caso, se dirigem a adultos, estudantes e crianças, e articulam-se principalmente em duas frentes:

— No plano cultural, procura-mos manter viva, também na Itália, a cultura de nosso país, na tenta-tiva de conservar os laços com as nossas raízes e contribuir para des-construir lugares comuns. No nível social, também graças às colabora-ções instauradas com a Prefeitura, o Politécnico de Turim e com o Con-sulado brasileiro em Milão, damos assistência aos cidadãos brasileiros, procuramos favorecer o processo de integração e ajudamos a resolver problemas relativos a procedimen-tos burocráticos, vistos, certificados e tudo mais — explica.

A propósito de lugares comuns, o primeiro a ser desconstruído não podia ser outro senão o carnaval.

— No ano passado, propusemos um evento que teve grande sucesso e que reconduzia à nossa tradição mais autêntica. Através do ‘carnaval de sa-lão’, em lugar fechado, nos quais as pessoas se fantasiam e dançam, na

presença de famílias e crianças, demos uma demons-tração de como o carnaval é verdadeiramente vivido em todo o Brasil e de como esta festa não está ligada somente aos grandes desfiles com carros alegóricos, tão famosos em todo o mundo — conta.

Um outro evento recorrente, que se repete há muitos anos em Turim, é a Festa Junina:

— Esta festa tem origens portuguesas e se dá em louvor a São João que, ironicamente, é também o pa-droeiro de Turim. Daí a ideia de organizar uma festa para aproximar as duas culturas, animada por danças e pratos típicos, com os trajes tradicionais para completar.

Atividades especiais para crianças sob a coordenação de um psicólogoA Wara ainda promove um curso de língua portu-guesa tradicional, frequentado também por outros estrangeiros e italianos. Além disso, foi inaugurado um curso inovador intitulado ‘Contando histórias’, dedicado às crianças brasileiras nascidas na Itália, que crescem em um ambiente multicultural e, com frequência, se sentem desorientadas e diferentes pelo fato, de, por exemplo, falar uma língua em casa e na escola com os amiguinhos, outra. O responsável é um psicólogo. As crianças contam histórias e a própria vivência, aprendem a língua de origem e, ao mesmo tempo, são acompanhadas por um especialista.

A associação propõe também outros cursos, como os de danças brasileiras e de culinária, em parceria com outros centros de Turim.

— No futuro, queremos administrar nós mes-mos este tipo de curso. A minha ideia de associação é justamente a de um lugar aberto, no qual qualquer um que tenha vontade de propor algo ou ocupar-se de algo encontre em nós o apoio necessário e em mim, a pessoa que pode ajudá-lo a desenvolver e implementar a própria ideia.

Wara se sustenta graças às atividades de auto-financiamento e ao trabalho dos voluntários. Paulo Henrique é um jovem preparado e ambicioso que quer ampliar os horizontes da associação.

— A minha ideia de fundo é criar uma rede em to-dos os níveis e a este propósito logo estará online, em nosso site, uma lista com os nomes de uma série de profissionais com os quais acabamos de assinar con-vênio, que estarão à disposição de nossos associados para resolver vários tipos de problema. Além disso, queremos estruturar uma série de serviços também no lado italiano, com o objetivo de fornecer indicações e contatos úteis aos cidadãos italianos que estejam pensando em investir no Brasil ou que gostariam, simplesmente, de se mudar — conclui o mineiro.

Associação fundada na capital do Piemonte

promove cursos inovadores e firma

convênio com profissionais com o objetivo de ajudar os brasileiros que vivem na cidade a resolverem

questões burocrátias

brasileirosOsdeTurim

coMunidadE

Stefano BudaDe Turim

“Nós, brasileiros, somos vistos com abertura e simpatia na Itália.

Existe espaço para uma maior compreensão e

novas sinergias”Paulo Henrique Correia,

presidente da associação Wara

A capoeira é uma das atividades

organizadas pela associação brasileira

em Turim. Abaixo, a equipe do Consulado de Milão e da Wara,

e as crianças se divertindo na Festa Junina

comunitàitaliana | fevereiro 201646 47fevereiro 2016 | comunitàitaliana

Page 25: Conheça o “caminho de Santiago” italiano

Na cidade de Roma, a ci-neasta Margherita se dedica às filmagens de seu novo longa-

-metragem, cujo protagonista é o charmoso ator americano Barry Hu-ghins. Ao mesmo tempo, ela precisa lidar com vários problemas em sua vida pessoal, como o término de um relacionamento amoroso e a doença de sua mãe, que está internada em um hospital. No filme mais recente do cineasta italiano Nanni Moretti, Minha Mãe (Mia madre), são revisi-tados alguns temas caros ao diretor, como laços familiares, culpa e gran-des questionamentos da vida.

Protagonizado por Margheri-ta Buy, o longa foi considerado por críticos de cinema como o melhor do diretor desde O Quarto do Filho, pelo qual Moretti ganhou a Palma de Ouro no festival de Cannes, em 2001. O elenco traz ainda John Turturro como o astro internacio-nal Barry Hughins, Giulia Lazzarini como Ada, mãe de Margherita, e o próprio Nanni Moretti, que inter-preta Giovanni, o irmão da cineasta. Participar de seus filmes como ator já é uma tradição para Moretti, que atuou em 11 de suas 24 produções. Entre os papéis de maior desta-que, estão o psicólogo incumbido

de convencer o Papa a assumir seu posto como líder da Igreja Católica, em Habemus Papam (2011), e o psi-canalista pai de família de O Quarto do Filho (2001).  

Depois de ter se afastado do universo familiar em seus últimos longas, o uso de referências pesso-ais, tão presentes em Caro Diário (1993) e Aprile (1998), seus filmes mais claramente autobiográficos, volta com força nesta última obra. No primeiro filme, Moretti inter-preta a si mesmo em uma trama dividida em três partes que não conversam entre si. Na primeira, o diretor aparece percorrendo as ruas de Roma a bordo de sua Vespa; na segunda, participa de um cruzeiro com um amigo, em busca de paz e descanso. Por fim, usa uma consulta médica para lançar um olhar críti-co e bem humorado às neuroses de seu cotidiano e de seus conhecidos. Já em Aprile o cineasta faz uma es-pécie de balanço de sua vida ao se tornar pai pela primeira vez. Com muito humor e autocrítica, Moretti luta contra as distrações do dia a dia enquanto tenta fazer um documen-tário sobre as eleições italianas.

Longa mais recente lembra universo retratado em O Quarto do FilhoCaro Diário e Aprile conquistaram boas críticas na Itália, mas foi com O Quarto do Filho que o diretor al-cançou o sucesso internacional. O drama, que conta a história de um psicanalista cuja família entra em profunda crise após a morte do fi-lho em um acidente de mergulho, conquistou diversos prêmios, in-cluindo a Palma de Ouro de Cannes e o Globo de Ouro italiano de me-lhor atriz estreante para a jovem Jasmine Trinca.

Cinco anos depois, Moretti lan-çaria uma crítica mordaz ao então primeiro-ministro da Itália, Silvio Berlusconi, na forma do longa O Crocodilo (2006). O filme conta a história do produtor de cinema Bru-no Bonomo, que, ao ver o diretor de sua produção se demitir, é forçado a oferecer à RAI, rede de televisão estatal italiana, o roteiro de O Croco-dilo, escrito por uma jovem diretora e centrado na figura de Berlusconi. Enquanto passa por inúmeras dificul-dades em sua vida pessoal, Bonomo percebe que produzir esse filme é a única coisa que o mantém vivo.

Depois da política, foi a vez de o inquieto cineasta direcionar seu foco para a Igreja Católica, com a inusitada trama de Habemus Pa-pam. Lançado em 2011, o filme, que conta a história de um Papa que re-nuncia ao cargo de líder máximo da igreja, revelou-se assustadoramen-te premonitório, já que, dois anos depois, Bento XVI surpreenderia católicos e não católicos de todo o mundo ao abrir mão de sua posição como Sumo Pontífice.

O drama vivido pelo papa, inter-pretado com delicadeza por Michel Piccoli, é contrabalançado pelos momentos de humor protagoniza-dos pelo personagem de Moretti, um psicanalista que deve convencer o religioso a aceitar o cargo para o qual foi escolhido — sob ameaça de ser mantido trancado no Vaticano até que faça o papa mudar de ideia.  

Em seu filme mais recente, Moretti deixa um pouco de lado as questões políticas e as críticas a instituições para traçar um retrato mais íntimo do cotidiano de pes-soas comuns, com suas alegrias e dores. Os temas tratados em Minha Mãe são muito próximos de O Quar-to do Filho, mas aqui são tratados de forma mais sutil, como se a maturi-dade houvesse trazido ao cineasta a certeza de que as emoções devem ser vividas com discrição.

Mia madreNovo filme de Nanni Moretti marca volta do cineasta italiano a temas ligados a laços e culpas familiares

cinEMa

No filme Minha Mãe, Nanni Moretti relata a crise atravessada por Margherita (Margherita Buy), uma cineasta que enfrenta a morte da mãe enquanto roda um filme. Moretti viveu o mesmo drama quando filmava Habemus Papa (2011)

Vanessa CorrêaDe São Paulo

Surgido na Itália logo após o fim da Segunda Guerra Mundial, o neorrealismo foi um movimento cultural

que defendia o comprometimento político e a representação objetiva da realidade. Foi no cinema que o neor-realismo encontrou seu meio ideal de propagação, através das câmeras de diretores do quilate de Vittorio De Sica, Roberto Rosselini e Luchino Visconti. Ao abordarem a pobreza, a desigualdade e muitos outros pro-blemas sociais enfrentados pela Itália durante o pós-guerra, esses ci-neastas criaram obras de arte como Roma, Cidade Aberta (1945) e La-drões de Bicicleta (1948), considerado

o filme mais emblemático da estética neorrealista, que influenciaria diver-sos cineastas nas décadas seguintes. No dia 19 de janeiro passado, o cine-ma italiano perdeu o último desses herdeiros do neorrealismo. Ettore Scola, que morreu aos 84 anos, víti-ma de complicações cardíacas, foi um observador atento das mudanças so-ciais vividas pela Itália nos últimos 50 anos. Filho de um casal de atores, Scola nasceu em Trevico, na região da Campânia, no sul da Itália. Ainda jovem mudou-se para Roma para es-tudar Direito, mas seu interesse logo se voltou para os desenhos satíricos. Acabou abandonando a faculdade para fazer parte da revista de humor Marc’Aurelio, onde conheceu Federi-co Fellini. Foi a partir dessa amizade que Scola começou a trabalhar na indústria do cinema; primeiro como roteirista de comédias, entre 1952 e 1964, e depois como diretor.

Sua estreia na direção aconte-ceu em 1964 com o longa-metragem Fala-me de Mulheres (Se permettete parliamo di donne). Dez anos depois, Scola alcançaria o reconhecimento internacional com Nós que nos amá-vamos tanto (C’eravamo Tanto Amati), o exemplo mais bem acabado de co-mo o neorrealismo marcou sua obra.

O filme acompanha as vidas de três homens de diferen-tes realidades sociais que se tornam amigos ao lutarem como partigiani, integrantes do movimento de resistên-cia ao fascismo durante a Segunda Guerra Mundial. Os acontecimentos vividos por Antonio (Nino Manfredi), Gianni (Vittorio Gassman) e Nicola (Stefano Flores) são mostrados paralelamente aos principais eventos da história e do cinema italianos durante três décadas, tra-zendo trechos de filmes dos maiores diretores da época: Rosselini, Visconti, Michelangelo Antonioni, Fellini e Vittorio De Sica, a quem o filme é dedicado.

Pobreza abordada em detalhes, mas sem perder a ironiaEm contraste com a delicadeza de Nós que nos amáva-mos tanto, o longa Feios, Sujos e Malvados (Brutti, Sporchi e Cattivi), de 1976, é uma comédia com elementos gro-tescos, centrada em uma grande família liderada pelo caolho Giacinto (Nino Manfredi), que vive espremida em um quarto imundo de um cortiço no subúrbio de Ro-ma. Aqui, os personagens pobres de Scola recebem um tratamento muito menos gentil do que o dispensado por diretores como Rosselini e De Sica, que viam essas figuras como vítimas inocentes de um sistema cruel e uma sociedade desigual e opressora. Isso não quer dizer que Feios, Sujos e Malvados seja menos crítico do que as produções neorrealistas. Ao mostrar a pobreza em to-dos os seus detalhes, por mais desagradáveis que sejam, Scola consegue abordar um grave problema social ao mesmo tempo em que mantém certa ironia.

Mais sutil, Um Dia Muito Especial (Una Giornata Par-ticolare), de 1977, conta a história de dois vizinhos que se conhecem no dia da visita de Hitler a Mussolini em Roma, em 1938. O filme é estrelado por Sophia Loren, que interpreta uma dona de casa entediada, e Marcelo Mastroianni, que vive um jornalista gay, e mostra como a repressão, em suas mais diversas formas, pode apro-ximar pessoas vindas de mundos muito diferentes.

Esses três grandes sucessos seriam seguidos ainda por mais de 20 produções, que consolidaram o sucesso do cineasta. Scola anunciou sua aposentadoria em 2003, justificando o fim de sua carreira no cinema ao dizer que, enquanto Silvio Berlusconi estivesse no comando da Itália, todos os filmes produzidos no país teriam envolvimento com o dinheiro do primeiro ministro. Dez anos depois, no entanto, voltou à ativa para dirigir o semidocumentário Que Estranho Chamar-se Federico (Che Strano Chiamarsi Fe-derico), que traça um retrato afetuoso de Federico Fellini a partir de suas memórias do amigo cineasta.

O último neorrealistaCom a morte de Ettore Scola, Itália dá adeus ao último representante de uma geração que retratou na telona os problemas sociais do pós-guerra

Vanessa CorrêaDe São Paulo

Aos 84 anos, faleceu o diretor Ettore Scola, que retratou a Itália com o seu cinema que falava com e sobre a rua

cinEMa

48 49comunitàitaliana | fevereiro 2016fevereiro 2016 | comunitàitaliana

Page 26: Conheça o “caminho de Santiago” italiano

Onde está o líder? - IPergunta mais difícil do que “onde está Wally?”

Ary grandinetti Nogueira é formado em administração de empresas e trabalhou por 40 anos na TV Globo, onde implantou modelo de gestão e chefiou a área de Desenvolvimento Artístico.

O Brasil está em situação semelhante aos seus hospitais, onde as pessoas morrem na porta à espera de atendimento. O país está agonizante sob o olhar de paisagem de tan-

tos pensadores e achadores, mas raros fazedores.Vemos diariamente grandes pensatas, achôme-

tros e receitas sobre a doença do país, enquanto assistimos à agonia do paciente. Muito diagnóstico e nenhuma ação. Ao contrário, em vez de arregaçar as mangas e partir para a ação, ficam contemplando o paciente à espera da providência divina.

O PT é aquele clube de 3ª divisão – seu tama-nho limite – que fica criticando os times que estão jogando. Quando entram em campo não sabem o que fazer com a bola e evidenciam não passar de um timeco de várzea. Os poucos jogadores com do-mínio de bola abandonaram o time ao perceberem que os seus cartolas políticos e o elenco desprepara-do não tinham comando, tática, nem caráter. Além do escancarado apego ao eterno domínio de campo, jogando uma pelada medíocre. Sentindo-se traídos, aqueles poucos craques viraram torcedores contra, envergonhados do seu passado idealista de preten-der mostrar um grande futebol.

O PT tem uma raiva seletiva ao dinheiro... dos outros. Em vez de ter o mind set voltado para gerar riqueza, foca em gerar pobreza, com as subsidiadas e inebriantes bolsas X-Tudo. Um partido que ainda advoga, nos dias de hoje, a “justiça tributária” – ou “tributação de privilegiados” – (leia-se meter a mão no bolso de quem trabalhou e ganhou dinhei-ro enquanto eles estavam rogando praga no capital... dos outros) e apoio da China como solução à paquidérmica crise atu-al, não pode ser respeitado. Sem contar o aumento de IR para pessoas físicas; criar IR sobre lucro, dividendos e remessas; impos-to sobre fortunas, herança e doações; volta da CPMF; e outras postulações comuns aos abutres do capital... dos outros. O PT já é um volume morto e enterrado. Retrógrado. Deve-ria ter saído de campo antes de oferecer o mínimo restante de dignidade à exe-cração pública. E os outros partidos não são muito melhores. O PMDB é autoex-plicativo pela folha corrida dos seus mais

ilustres representantes do povo na presidência da Camara e no Senado. O PSDB é o partido mauricinho (ou hoje é coxinha?) do “roubaram o meu pirulito”.

E enquanto a água do arroz da bolsa-família seca, um Fundo Partidário superior a 800 milhoes de reais é o mais novo Delicado que será oferecido aos par-tidos – que não fizerem xixi na cama – após verem secadas as tetas extorquidas das empresas privadas e públicas. Agora me diga, foi a ditadura da Venezue-la ou as empresas daquele país de pior desempenho econômico no mundo que financiou a campanha dos políticos de oposição que ganharam a maioria na As-sembleia Nacional?

Enquanto no Brasil, na humilhante posição de 2ª pior performance, fechada a porteira do dinheiro fácil dos empresários logo abriu-se outra mais fácil ainda que a Mamãe Noel batizou de Fundo Partidá-rio. E os advogados dos Srs. Lava-Jatos demonstram a sua indignação diante de um fato até então ine-xistente no país: seus patrões na cadeia? Tolerância zero neles! Não vamos fazer prejulgamentos, mas é fato que, para eles, também acabou a boquinha. To-das as tetas foram centralizadas na mão do governo, que distribuirá os Delicados adquiridos com o nosso suado dinheiro.

Tal como a ditadura, nutro grande aversão ao terrorismo. Vemos hoje – alguns na cadeia – do que eram e ainda são capazes de fazer os grandes líderes da guerrilha revolucionária para a perpetuação no poder “do partido” e dos próprios. E a, até então, cer-teza da impunidade.

Uma reforma política profunda é imprescindível para que os políticos se comprometam com as deci-sões fundamentais para os rumos do país. A classe política parece não ter pátria, mas feudos. A adesão aos planos econômicos e sociais são, invariavelmente, condicionados à troca espúria de favores e/ou nomea-ções descabidas. Ou cabidas demais...

Em situação semelhante aos seus hospitais, o Brasil

agoniza sob o olhar de paisagem de tantos

pensadores e achadores, mas raros fazedores

A amiga genial é o primei-ro volume de uma série com quatro romances que contam a história

de Elena Greco, narradora do livro. Nesta primeira obra, o tema cen-tral é a infância e a adolescência de Elena, vividas em um bairro pobre de Nápoles durante a década de 1950. Considerada a menina mais inteligente da turma na escola, ela vê sua vida se transformar com a chegada de Raffaella, uma criança malcomportada e com uma perso-nalidade totalmente diferente da sua. As duas se tornam amigas e, presas em um ambiente marcado pela violência e pela pobreza, so-nham com um futuro melhor.

Ambas descobrem que a dedica-ção aos estudos é a melhor forma de evitar viver como suas mães, presas a um cotidiano cansativo e sem pers-pectivas. Mas, quando chegam à 5ª série, Elena recebe o apoio da famí-lia para prosseguir com os estudos, enquanto os pais de Raffaella não investem em sua educação. As ami-gas seguem rumos diferentes. Com a chegada da adolescência, passam a ter novas preocupações e objetivos.

Elena Ferrante é o pseudônimo de um autor — ou de uma auto-ra — cuja verdadeira identidade permanece um mistério. Ela ficou conhecida após o sucesso de sua série de romances napolitanos, iniciado com A Amiga Genial, e foi apontada por publicações como The Guardian e The New York Times como um fenômeno literário, mas se recusa a conceder entrevistas e até mesmo aparecer em público. O último livro da série napolitana, Storia della bambina perduta, foi pu-blicado na Itália no fim de 2014. No Brasil, os três volumes restantes ainda não têm data de publicação.

Último livro de Umberto Eco aborda o jornalismoNa obra mais recente do aclamado escritor italiano, um grupo de re-datores reunidos ao acaso se dedica à preparação de um jornal que tem

De Eco a GiordanoLançamentos recentes trazem ao Brasil obras que vão do atual garoto prodígio da literatura italiana, Paolo Giordano, ao consagrado Umberto Eco

como objetivo servir como instru-mento de chantagem ao seu editor. A trama se passa em uma caótica Milão no ano de 1992, quando teve início a famosa operação Mani Puli-te (Mãos Limpas), espécie de Lava Jato italiana, que levou à prisão de figuras poderosas e provocou uma grave crise política no país.

A equipe do novo periódico é formada por figuras tão esdrúxu-las quanto um tradutor de alemão, uma jornalista de fofocas, um re-pórter experimentado, amante de teorias da conspiração, e um pro-fessor universitário.

Ironicamente batizado de Ama-nhã, o novo jornal não está destinado a chegar aos futuros leitores. A ideia

é criar edições experimentais — os chamados “números zero” — que, com seu conteúdo bombástico, sejam capazes de compelir aqueles que são citados em suas páginas a pagar para que as reportagens jamais sejam vei-culadas. Assim como já fez em livros como O Nome da Rosa e O Cemitério de Praga, Umberto Eco mostra toda

a sua erudição ao misturar com gran-de destreza personagens históricos reais e fictícios em situações miste-riosas e bem elaboradas.

Paolo Giordano confirma talento em seu segundo romanceDepois do sucesso de seu livro de es-treia, A Solidão dos Números Primos, o jovem Paolo Giordano aborda em seu segundo romance, O Corpo Humano, as guerras travadas pelo homem, tanto contra outros povos quanto contra si próprios. A história é protagonizada por Roberto Ietri, que com apenas 20 anos, é enviado para lutar na Guerra do Afeganistão e é designado para fazer parte do pelotão comandado pelo primeiro--sargento Antonio René. Durante todo o tempo em que participa do conflito armado, Roberto terá que se esforçar para combater em terri-tório inimigo, mas também deverá acertar contas com tudo o que dei-xou para trás na Itália.

Assim como em sua primeira obra, Paolo Giordano demonstra uma grande habilidade para deline-ar os eternos conflitos familiares, afetivos e internos que travamos ao logo de nossas vidas.

Atualmente com 33 anos, Gior-dano publicou seu primeiro livro aos 26. A Solidão dos Números Primos logo se tornou um best-seller e foi tradu-zido para diversos idiomas, além de ganhar o Strega, o mais prestigiado prêmio literário da Itália. Em 2014, o escritor lançou seu terceiro livro, Il nero e l’argento, ainda sem data de publicação no Brasil.

Vanessa CorrêaDe São Paulo

Novas obras de Elena Ferrante, Umberto Eco e do jovem Paolo Giordano podem ser apreciadas em português pelos leitores brasileiros

litEraturaopinioneAryGrandinett iNogueira

fevereiro 2016 | comunitàitaliana comunitàitaliana | fevereiro 201650 51

Page 27: Conheça o “caminho de Santiago” italiano

No ano 2000, a República Italiana reconheceu o dia 27 de janeiro como o Dia da Memória para

lembrar as vítimas da Shoah — um importante momento de reflexão para recordar o que pode acontecer quando o racismo, os preconceitos e o ódio são deixados sem controle. A data escolhida é o aniversário da libertação, pelas tropas russas, em 1945, de Auschwitz, o maior cam-po de extermínio nazista. Desde 2005, se tornou uma data simbóli-ca, em nível internacional, por uma decisão da ONU.

Este ano, a Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, em parceria com o Instituto Italiano de Cultura do Rio e o Centro Internacional de Es-tudos Primo Levi, organizou dois encontros na capital fluminense nos dias 27 e 29 de janeiro com o

objetivo de refletir sobre a obra e a figura eclética do escritor e quí-mico Primo Levi, sobrevivente do campo de Auschwitz. Pela primei-ra vez, o público brasileiro teve a oportunidade de ouvir a Lezione Primo Levi (Conferência Primo Le-vi), renomada iniciativa realizada anualmente pelo Centro Interna-cional de Estudos Primo Levi, em Turim, na Itália.

— Estou satisfeito com o fato de que conseguimos chegar a um acor-do com o centro Primo Levi e com a Biblioteca Nacional para repetir, a cada ano, em torno dessa data, a Lezione Primo Levi no Brasil e po-der analisar mais profundamente a figura do escritor — afirmou à Comunità o diretor do Instituto Italiano de Cultura, Andrea Baldi.

Além dessa iniciativa pioneira, o presidente da Fundação Biblioteca Nacional, Renato Lessa, anunciou a criação de um fundo de pesquisa Primo Levi a partir da disponibiliza-ção dos valiosos arquivos de textos digitalizados em italiano em torno da obra do poeta, pertencentes ao centro de estudos de Turim.

— Vamos criar um centro de referência importante para os bra-sileiros que, crescentemente, tem demonstrado interesse em sua obra

— relatou Lessa, que frisa a impor-tância do autor italiano como um guia “para a nossa capacidade de escuta diante da dor humana”.

A primeira Lezione di Primo Levi escolhida para ser apresentada na Biblioteca Nacional foi In un’altra lingua (Em outra língua), texto es-crito pelo professor da Universidade de Milão, Domenico Scarpa, e pela curadora das Obras Completas de Pri-mo Levi em inglês, Ann Goldstein. A conferência propõe uma reflexão sobre a linguagem de Levi como escritor e testemunha, e foi profe-rida pela primeira vez em Turim em 2014 por ambos. A versão brasileira foi proposta pelo professor Scarpa, sem a presença de Goldstein.

Os livros do escritor torinese são leitura obrigatória nas escolas italianasPrimo Levi era um químico e tinha apenas 24 anos quando foi captura-do pelas forças fascistas italianas e deportado para Auschwitz, a fábri-ca da morte construída pelo regime nazista para executar judeus, pesso-as com deficiência, homossexuais, opositores do regime e ciganos. Por 11 meses ele conseguiu sobreviver no campo de Monowitz (Auschwitz III) e passou os 40 anos seguintes à sua libertação dando testemunho sobre os horrores vividos. Ele foi um dos 14 sobreviventes do grupo de 650 judeus italianos com os quais foi levado ao campo de extermínio.

Levi escreveu o seu primeiro li-vro Se questo è un uomo (É isto um homem?) movido pela necessidade irreprimível de testemunhar a sua experiência no lager. Sua primeira obra, considerada um clássico da lite-ratura contemporânea, foi traduzida em dezenas de idiomas e é leitura obrigatória nas escolas italianas.

Inicialmente, o seu primeiro livro foi recusado pela renomada editora Einaudi e foi publicado em

1947 por Franco Antonicelli, um dos líderes do antifascismo piemon-tês que tinha uma pequena editora chamada De Silva em homenagem ao primeiro tipógrafo do Piemonte.

— Já tinham sido passados dois anos e meio do fim da guerra e mui-tos livros sobre fascismo, nazismo e deportação tinham sido publicados pelo mundo editorial italiano e não havia interesse em outros. A obra de Levi estava à frente de seu tempo, porque é atual ainda hoje, porém es-tava atrasada em relação à situação política e editorial de então — expli-cou o acadêmico italiano.

Por isso, o autor-testemunha do campo da morte teve de espe-rar até 1958, ano em que a Einaudi republicou o livro em uma edição expandida e contou com uma re-cepção muito maior.

De acordo com Scarpa, Levi in-ventou uma nova linguagem em cada novo livro que escreveu, ou seja, um mundo linguístico para cada um dos novos mundos que ele pretendia apresentar.

— Se Levi conseguiu contar Auschwitz em É isto um homem? e escrever obras tão diferentes, como O sistema periódico e A trégua, é por-que tinha uma profunda curiosidade pelo destino dos seres humanos. Era um homem que gostava de observar os seus semelhantes, o mundo, e de contá-los. Ele possuía as ferramentas para fazê-lo porque tinha uma enor-me riqueza de palavras — comentou à Comunità o professor italiano.

Recém-publicado no Brasil, livro reúne textos inéditos Os escritos de Levi, morto em 1987, capturam a atenção do leitor graças à sua prosa seca e límpida, e sobretudo por relatar a verdade. E essa mes-ma verdade impactante é revelada na obra Assim foi Auschwitz – Teste-munhos 1945-1986, recentemente traduzida para o português e publi-cada no Brasil, e apresentada no dia 29 de janeiro na Biblioteca Nacional pelos professores Domenico Scarpa e Fabio Levi, que recolheram e orga-nizaram depoimentos em processos contra nazistas, cartas e relatórios do autor italiano sobre o campo de extermínio. O livro se abre com o relatório sobre a organização higiêni-co-sanitária do campo de Monowitz que Levi e o cirurgião e amigo, Leo-nardo De Benedetti, redigiram em 1945 a pedido do Comando Russo. O resultado é um testemunho emo-tivo, mas ao mesmo tempo técnico.

— O fato que Levi fosse um quí-mico o ajudou no seu trabalho de

escritor e na tarefa de testemunha. Ele foi um personagem muito ecléti-co e particularmente curioso sobre a realidade ao seu redor — destaca o diretor do Centro Internacional de Estudos Primo Levi, Fabio Levi, que, apesar do sobrenome, não tem parentesco com o autor.

Recentemente, a instituição rea-lizou a mostra Os mundos de Primo Levi, em que aparece o escritor nas mais diversas facetas: como teste-munha, escritor, químico industrial, pensador, linguista. Há um projeto para que futuramente esta mostra também chegue ao Brasil.

Fabio Levi acredita que uma das ideias mais importantes transmiti-das pelo escritor é que “precisamos permanecer atentos, pois o que aconteceu pode se repetir, não necessariamente da mesma for-ma, mas pode se manifestar de maneiras diferentes”. Outra lição fundamental que emerge da sua obra é cultivar a curiosidade — a mesma que o ajudou para sobre-viver em Auschwitz. Em 1986, ao responder aos pequenos alunos de uma escola italiana que pergunta-vam se possuía desde a infância a força de vontade demonstrada no Lager, Levi disse que nunca teve uma grande força de vontade. “Ter superado a prova do Lager foi uma questão de sorte, de resistência passiva e de curiosidade pelo mun-do”, afirmou.

No Dia da Memória pelas vítimas dos campos

de concentração, Conferência Primo Levi

é realizada pela primeira vez no Brasil

Oque éohomem?

Stefania Pelusi

O professor Domenico Scarpa analisou a

linguagem usada pelo escritor italiano que

sobreviveu ao campo de Auschwitz

litEratura

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Se questo è un uomo Voi che vivete sicuri nelle vostre tiepide case, voi che trovate tornando a sera il cibo caldo e visi amici: Considerate se questo è un uomo che lavora nel fango che non conosce pace che lotta per mezzo pane che muore per un sì o per un no. Considerate se questa è una donna, senza capelli e senza nome senza più forza di ricordare vuoti gli occhi e freddo il grembo come una rana d’inverno.Meditate che questo è stato: vi comando queste parole. Scolpitele nel vostro cuore stando in casa andando per via, coricandovi alzandovi; ripetetele ai vostri figli. O vi si sfaccia la casa, la malattia vi impedisca, i vostri nati torcano il viso da voi.

(Primo Levi, 1947)

O poema que abre o livro Se questo è un uomo em sua versão original

O diretor do Centro Internacional de

Estudos Primo Levi, Fabio Levi,

e o presidente da Fundação Biblioteca

Nacional, Renato Lessa, participaram,

junto a Domenico Scarpa, da

apresentação do livro Assim foi Auschwitz

na Biblioteca Nacional, no Rio

comunitàitaliana | fevereiro 201652 53fevereiro 2016 | comunitàitaliana

Page 28: Conheça o “caminho de Santiago” italiano

São Paulo recebe a mostra Depero Futurista e Artista Global, inédita no Brasil, que reúne 65 obras do ar-

tista italiano Fortunato Depero, um dos grandes nomes do futurismo na Itália e precursor da pop art. O evento, realizado e promovido pe-lo  Instituto Italiano de Cultura de São Paulo (IIC), acontece no  MAC USP Ibirapuera e vai até 30 de março. O  curador da exposição que faz parte do Ano da Itália na América Latina é o arquiteto e his-toriador italiano Maurizio Scudiero.

Para Renato Poma,  diretor do Instituto Italiano de Cultura de São Paulo, era importante organi-zar uma exposição de impacto para enfatizar a importância do Ano da Itália na América Latina.

— Pensamos em Fortunato De-pero, artista genial que, entre outras coisas, foi um dos primeiros na Itá-lia a planejar e projetar a publicidade para importantes marcas italianas que ainda estão presentes no mer-cado — afirma Poma à Comunità.

O diretor do IIC revela que, des-de o início do século passado, a arte tem sido capaz de interagir com as empresas e, em muitos casos, com o mundo empresarial.

— Não podemos esquecer que Depero também foi um dos inicia-dores do design italiano — ressalta.

Renato Poma acredita que a exposição está entre os grandes acontecimentos artísticos de 2016.

— Esperamos um retorno do olhar para a arte contemporânea italiana como algo que, em muitos aspectos, tem marcado a história do mundo da arte do século XX. Não se esqueça que é a primeira ar-te avant-garde do século, que tem perturbado o cânone artístico para indicar novos caminhos — avalia o diretor, acrescentando que gosta bastante das obras de Depero.

— Eu amo as obras do artista porque ele constrói um forte con-traste de cores e muitas vezes com ironia sutil.

Arquiteto e historiador de arte moderna, o curador da exposição

Maurizio Scudiero esteve em São Paulo para a abertura do evento.

— Quando houve a exposição so-bre futurismo no Museu Guggenheim de Nova York, o New York Times dedi-cou uma página inteira. O texto diz que Depero foi o mais moderno de todos, porque ele tinha antecipado a pop art. Assim, podemos entender que o artista, hoje, está bem além do território italiano — diz à Comunità.

Um artista multifacetado que fazia pintura, publicidade, decoração e mobiliário Para Scudiero, a relevância de tra-zer a exposição ao Brasil está em mostrar que Depero foi um dos principais futuristas.

— Ele se dedicou à pintura, pu-blicidade, arte decorativa, tecidos, mobiliário, nova impressão. Em publicidade, especialmente, criou cartazes e capas que são ainda muito válidas. Sua filosofia era: “a estrada será a nossa galeria” — explica.

Para escolher as obras que fa-zem parte da exposição, Scudiero conta que trilhou “um caminho de conhecimento”.

— É uma exposição de um único artista, em um país onde não é co-nhecida, e deve fornecer um olhar panorâmico. Em outras palavras, as obras devem ser escolhidas de acor-do com o texto, o que, por sua vez, deve “dizer” a evolução estilística do artista. Espero que, depois de ver a exposição, as pessoas queiram saber mais sobre Fortunato Depero, pro-curando, quem sabe, informações sobre ele e suas obras em sites.

Como especialista, Scudiero enu-mera as obras de Depero de que mais gosta: as pinturas como a “constru-ção geométrica de mulher”, de 1917; The Gondolier, de 1927; e Golpe Wind, de 1947 — além da publicidade Grammofono, de 1923; o grupo de colagem para a Campari; e a tampa para a Vanity Fair, de 1929.

Ao longo de 2016, o Instituto Italiano de Cultura de São Paulo irá promover outros eventos para co-memorar o Ano da Itália na América Latina. A exposição Depero Futuris-ta e Artista Global, depois do Brasil, seguirá para Lima, no Peru.

ServiçoExposição Depero

Futurista e Artista GlobalQuando: Até 27 de março

Onde: MAC USP Ibirapuera - Avenida Pedro Álvares Cabral, 131 – São Paulo

Horário: Terça a domingo das 10h às 18h

Entrada Gratuita

Futurismo italianoMostra traz obras de um dos maiores artistas futuristas do mundo e precursor da pop art, o italiano Fortunato Depero

ExpoSição

Janaína PereiraDe São Paulo

Entre as obras do artista italiano à

mostra, estão Gara ippica tra le nubi,

Coleotteri veneziani, a divulgação para a

Campari e Fonografo

O inglês-canadense James Bradburne passou três meses arrumando a ca-sa. O recém-nomeado

diretor da Pinacoteca de Brera e da Biblioteca Nacional Braidense de-sarregaça as mangas, veste o colete floreal em tecido nobre e, com toda a pompa merecida, anuncia um plano para relançar o primeiro museu da Itália, criado sob o domínio francês de Napoleão Bonaparte, quando o país ainda era uma colcha de retalhos de ducados, principados e reinos, ou seja, antes da Unificação. A estátua em bronze do imperador francês — nas vestes de Marte, o pacificador, — ocupa o centro do pátio interno principal, como para remeter à ma-jestade do local.

— A Itália é líder mundial em tutela, mas é o momento de inter-ceder na valorização — afirmou o novo manager durante a coletiva de imprensa, com a presença do mi-nistro italiano dos Bens Culturais, Dario Franceschini.

A frase-símbolo, de efeito, sem dúvida alguma, é o cartão de vi-sitas do novo administrador, ou melhor, é a carta na mesa. A estra-tégia é resgatar a identidade nobre e artística de Brera, coração cultural de Milão por excelência, ao lado do

vizinho teatro La Scala. Não deve ser uma coincidência se mais uma pérola milanesa parar nas mãos de um diretor estrangeiro, depois do austríaco Pereira da Silva, “reitor” do templo da ópera italiana. Para não falar da anunciada e executa-da reforma Franceschini, que criou um terremoto de intrigas ao dar aos estrangeiros metade dos 20 museus de maior prestígio no país, como um sopro de oxigênio em um setor enferrujado pelas velhas práticas do coronelismo burocrático dos amigos dos amigos de quem exerce o poder.

Brera tem que se transformar numa marca, num brand, e valori-zar ao máximo a prata da casa. Em um único espaço físico, abriga a Academia de Belas Artes de Brera, a Pinacoteca de Brera, a Biblioteca Braidense e o Observatório Astro-nômico de Brera, o antigo Instituto

de Ciência e Letras e o Jardim Botâ-nico — tudo sob a nova direção.

Com novos horários, merchandi-sing e concertos, o novo diretor vai ser um maestro de eventos: “Um di-retor de museu é um bom jardineiro que faz crescer pessoas como flores, e um bom ator”, comentou diante de uma plateia de estudantes, jornalis-tas, assessores e curiosos. Há todos os elementos para que ele seja um novo Napoleão Bonaparte, a come-çar pela autonomia plena que lhe dão as novas diretrizes do ministro Franceschini — vantagens que seus antecessores não tiveram por causa de leis antiquadas.

Com laurea em arquitetura, em Londres, e em museologia, em Ams-terdã e Los Angeles, Bradburne fez projetos de pavilhões nacionais, expo-sições e centros científicos, e curadoria de mostras internacionais para gover-nos e a Unesco. Desembarcou na Itália como diretor da Fundação Palazzo Strozzi, em Florença, onde exerceu o cargo de 2006 a 2015, entre glórias e pedras nos sapatos, e onde aprendeu um italiano com o sotaque da Tus-cany, já invadida pelos britânicos: a começar pelo cantor Sting e o ator Co-lin Firth, a lista é longa.

Programação para bebês e ingresso válido por três meses entre as novidadesBradburne já estabeleceu várias me-didas: de Brera não vai sair nenhuma obra de prestígio pelos próximos três anos, tempo de seu mandato, nem haverá nenhuma mudança de sede, como administrações passadas alar-deavam com fanfarras a cada novo ano. Haverá programação especial para menores de 18 meses, proposta que, numa terra que envelhece e mal, a ideia não deixa de ser provocante e instigante, sem falar na Top 10, com os dez mais belos quadros escolhidos por crianças. O ingresso de 10 euros, que garante a entrada por três meses, em acordo com a associação Amici di Brera, foi criado para conservar o patrimônio dos museus milaneses. Além disso, a nova decoração das salas conta com iluminação mais efi-ciente e a reescritura das legendas das obras nas salas de Rafaello, Man-tegna e Caravaggio. Foi criada ainda a Associazione American Friends of Brera, para recolher doações que os americanos podem abater do im-posto de renda. Por agora, nada de grandes mostras, pois custam caro e ofuscam o acervo da casa. A ordem é redescobrir a histórica Brera e de-volver o orgulho milanês de tê-la no jardim, botânico, de casa.

Um britânico no BreraNovo diretor promete revitalizar o mais importante complexo cultural da capital lombarda

O novo diretor da Pinacoteca e da

Bilbioteca Braidense, James Bradburne,

quer que Brera volte a ser o coração de

Milão, pois “tem um patrimônio de

obras-primas entre os mais importantes do

Ocidente que merece ser valorizado , como

a obra Sposalizio della Vergine, de Raffaello

Guilherme AquinoDe Milão

artE

comunitàitaliana | fevereiro 201654 55fevereiro 2016 | comunitàitaliana

Page 29: Conheça o “caminho de Santiago” italiano

Convidar pessoas à pró-pria casa e oferecer um jantar não é nenhuma novidade. Mas e se os

convidados são desconhecidos? Essa é a ideia do home restau-rant (restaurante em casa), uma moda que se alastra pela Itália. Au-menta o número das pessoas que abrem as portas de casa para um jantar ou almoço em companhia. O primeiro contato entre os cozi-nheiros e os convidados é através da internet. Participar é simples: basta acessar a um dos diferentes

portais dedicados ao social eating, selecionar a cidade e o evento de sua preferência, reservar e dar uma contribuição econômica de acordo com o cardápio e o lugar. A oferta é variada. É possível escolher menus regionais, pratos mais sofisticados ou até um cardápio internacional.

O portal italiano mais famoso é o Gnammo, uma rede social de-dicada ao compartilhamento de comida, onde é possível se oferecer como cuoco (cozinheiro) ou gnam-mer (cliente). O cuoco pode ser um

simples apaixonado pela cozinha ou um cozinheiro experiente. Ele elabora o cardápio, escolhe a data e disponibiliza a sua própria casa para receber os gnammers. No site, apare-cem refeições a partir de cinco euros e até jantares especiais por 150 euros em lugares especiais, como castelos, barcos à vela ou casas históricas.

Outras opções na web são o New Gusto, portal criado por um grupo de abruzzesi dedicado sobre-tudo a turistas com o objetivo de promover intercâmbios culturais

gastronômicos, e o Peoplecooks, idealizado por Onofrio Carruba Toscano, dedicado a estudantes e trabalhadores que residem longe do lugar de estudo ou trabalho e querem almoçar ou jantar num am-biente familiar por um preço muito acessível — no máximo por seis euros. Experimentar comida casei-ra representa apenas uma parte da experiência para quem participa: o valor adicional é a possibilidade de encontrar e conhecer novas pessoas.

Na casa de dona Leonilda, de 96 anos, é possível saborear receitas do início do século XXEntre as pessoas que decidem abrir a porta de casa está Leonilde Toma-sinelli, uma simpática senhora de 96 anos, que abriu o primeiro Home Restaurant em Gênova, com a ajuda do neto Fabrizio Siragusa. O restau-rante em casa se chama Nonna Leo.

— A ideia de abrir um home res-taurant nasceu depois que lemos

uma matéria num jornal sobre es-sa nova tendência. Gostamos da ideia. Como naquela época tínha-mos acabado de vender a nossa pizzaria, parecia uma boa oportu-nidade para abrir um novo negócio e não deixar a avó Leo muito so-zinha, como acontecia antes com a pizzaria — conta à Comunità o neto Fabrizio.

Inicialmente, os jantares eram divulgados pelo Facebook e pelo portal Gnammo, mas, agora que o restaurante caseiro já é mais conhe-cido, trabalha-se através de reservas. O menu pode ser escolhido pelo cliente e tem um preço acessível — em torno de 15 a 20 euros. Entre as opções, há pratos tradicionais da Ligúria, como farinata, pesto, torta

gaStronoMia

Conversamos com os italianos que aderiram

à moda do home restaurant e estão

abrindo as portas de casa para receber

desconhecidos à mesa

caseiro

Bocabocaa

Na internet, os italianos criaram redes específicas para quem quer participar de uma experiência, como a Gnammo, a New Gusto e a Peoplecooks

Stefania Pelusi

Os cozinheiros Barbara e Davide

compram os ingredientes dos

fornecedores locais para preparar o jantar na casa de Giancarlo,

sede do WelcHome Restaurant

Aos 96 anos, Nonna Leo

abriu o primeiro restaurante em

sua casa, em Gênova, com a ajuda do neto

cozinheiro, Fabrizio Siragusa

salgada pasqualina, focaccia e coe-lho à la genovesa.

Fabrizio explica que a verdadeira estrela é a anfitriã, a nonna Leo, e as suas receitas. Por causa da idade, ela não cozinha mais. Seus netos conti-nuam a tradição, como ela fez quando aprendeu a cozinhar com a sua avó. Leonilda, quando tem alguma dúvida, consulta sempre o livro de cozinha de 1901, passado de geração a geração.

— A organização do evento é dividida em três partes: a primei-ra é a compra de matérias-primas necessárias para preparar os pratos estabelecidos com os nossos clien-tes. O segundo passo é cozinhar os ingredientes para transformá-los em produto final e a terceira e últi-ma fase é receber e colocar à vontade os nossos clientes e atendê-los da melhor maneira as nossas especiali-dades preparadas — afirma Fabrizio, que até agora sempre recebeu convi-dados bem-educados e gentis.

A casa já recebeu até ameri-canos e japoneses e presenciou muitas histórias engraçadas, como pessoas que não sabiam que iam co-mer em um apartamento privado, ou vítimas de uma brincadeira, que entraram em casa vendadas, acredi-tando estar num restaurante.

comunitàitaliana | fevereiro 201656 57fevereiro 2016 | comunitàitaliana

Page 30: Conheça o “caminho de Santiago” italiano

Após subir 42 andares, em um dos maiores arranha-céus do país, a vista e a experi-ência compensam. O Terraço do Edifício Itália, tradicional ponto turístico e gas-

tronômico da capital paulista, acaba de ganhar mais atrativos. Desde 5 de janeiro, o local, que esteve fecha-do para reforma, reabriu para visitação gratuita na sua área externa e atualizou o ambiente interno. O visitan-te poderá conferir a nova Sala Nobre, que mistura o tradicional e o moderno. Na decoração, mantiveram--se as cadeiras clássicas modelo medalhão, que foram repaginadas, e as antigas colunas do centro da sala, consideradas marcantes na estrutura. Vale destacar ainda a iluminação e o uso de desenho geométrico no teto, que se tornaram alguns dos destaques do local.

— A Sala Nobre é e continuará sendo um espaço im-portante dentro do Terraço Itália, tanto pela tradição que ocupa na história do complexo quanto pelas carac-terísticas únicas, sua vista impecável para o skyline da cidade, seu ambiente elegante e a atmosfera agradável. É o nosso carro-chefe — disse Sérgio Comolatti, presi-dente do grupo Comolatti, proprietário do local.

Além desse ambiente, ainda há Bar, Sala Panorama e Sala São Paulo. Os tons eleitos foram marrom bege e fendi, que transmitem um ar elegante e discreto. O uso de ma-deira no ambiente trouxe, ao mesmo tempo, aconchego e sofisticação. Segundo a arquiteta e designer de interiores Christina Hamoui, responsável pelo projeto, “buscou-se uma proposta prática e funcional, com espaços integra-dos e luz natural, em ambientes leves”. O novo visual foge

de modismos e tendências, para que o trabalho se mantenha atual em dez e até vinte anos.

A atmosfera cosmopolita do ambiente atrai interessados para almoços, jantares com piano ao vi-vo, eventos sociais e corporativos. A adega com mais de 200 rótulos selecionados, entre produtores do velho e do novo mundo, é outro diferencial. Premiado em 2010 e indicado em 2011 como o melhor lugar para se ir a dois, o Piano Bar é conhecido pela carta de drinques e o serviço. O almoço, servido na Sala Nobre, inclui feijoada aos sábados 

e o buffet italiano dominical. Entre visitantes e clientes, o local recebe, em média, 12 mil pessoas por mês.

A administradora de empresas Renata Dolarea conhece e reco-menda o Terraço.

— Eu fui lá comemorar meu ani-versário de um ano de casada, em 2014. É sensacional! Espero voltar lá nos próximos anos! — comenta.

Também em uma data simbó-lica, a professora Katrine Cirino escolheu o local. — Fui com meu marido comemorar oito anos juntos. Nós gostamos muito do restaurante e é bem requintado. Tem luz baixa, que dá um ar de ro-mantismo, à luz de velas. A vista é lindíssima e, à noite, as luzes da ci-dade ficam demais. Também tinha serviço de valet. O único porém é o preço, um pouco acima dos restau-rantes comuns; cabe mesmo para uma data especial — avalia.

Com quatro décadas de histó-ria, o Terraço Itália Restaurante mantém o título de cartão-postal da cidade de São Paulo, além de oferecer a culinária italiana que acompanha as tendências interna-cionais sem perder o toque clássico. O local, no centro da capital, tam-bém é sinônimo de negócios. No horário do almoço, muitos execu-tivos escolhem o ambiente para reuniões. Já à noite, os casais e ad-miradores do requinte usufruem desse patrimônio cultural que, além do visual, recebe artistas de diversos ritmos musicais.

gaStronoMia

Imponente não só na vistaSala Nobre do Terraço Itália ganha repaginada que mescla o clássico e o contemporâneo

ServiçoAlmoço: o cardápio é sugerido a preço único, de segunda-feira a sexta-feiraJantar nobre, ao som de piano, com

vista panorâmica para a zona sul da cidade: é necessária a reserva

A visitação gratuita à área externa acontece em dias úteis, das 16h às 17h (exceto feriados), com

capacidade para 150 pessoas por vezMais informações:

www.terracoitalia.com.br

Caroline Pellegrino

Político e até apresentadora de TV entre os convidados Barbara, Daniele e Giancarlo são três amigos com uma paixão em comum: a cozinha e a comida. Eles sempre cozinhavam na casa de Giancarlo para os amigos e agora cozinham também para desconheci-dos graças à WelcHome Restaurant, um simpático nome que escolheram para batizar a nova aventura culiná-ria: abrir um restaurante em casa.

— O menu varia. Às vezes or-ganizamos jantares temáticos, como a cozinha étnica ou aquela que acabamos de fazer, o jantar chiu-dovalenciano, que une a culinária do nosso povoado da província de Bergamo, Chiuduno, com a cidade espanhola de Valencia, em home-nagem à última viagem que fizemos juntos de bicicleta — comenta à Comunità o dono do apartamen-to, Giancarlo.

A ideia de abrir um home res-taurant surgiu em março.

— Em junho, fizemos o pri-meiro jantar, onde tinha só uma pessoa que a gente conhecia. Os outros hóspedes eram desconheci-dos — relata Barbara, que trabalha como educadora numa creche.

Os outros dois anfitriões não são cozinheiros profissionais: Giancarlo é comerciante e Daniele, operário.

Os cozinheiros são Daniele e Barba-ra, o que não os impede de colocar a mão na massa enquanto Giancarlo ajuda e organiza os eventos, admi-nistra o site e recebe os convidados.

— Eles se ocupam do “restaurant” e eu da “home” — brinca Giancarlo.

Além da comida e da hospitali-dade, oferecem jogos como pebolim, música e sofá com televisão pa-ra entreter os participantes antes de servir os pratos. Os três amigos ressaltam que a ideia não é de repro-duzir um restaurante, e sim ser mais informal, como nas antigas osterias.

— Não é uma alternativa ao restaurante, é simplesmente um jantar entre amigos que une quem gosta de cozinhar e outras pessoas que gostam de comer. Não é uma competição com o restaurante — explica Giancarlo, que acredita que a mesa é o melhor momento para se conhecerem pessoas novas.

Como num jantar entre amigos, no final da noite, se divide a conta, que normalmente é de 20 euros por pessoa, por um cardápio que oferece antepastos, primeiro prato, segundo prato, sobremesa e vinho. A casa já recebeu hospedes renomados, como uma apresentadora de Tv e um polí-tico italiano, que elogiaram os pratos.

— Antes cozinhávamos apenas para os amigos. Agora, cozinhando para outros paladares, descobrimos que a nossa comida é elogiada, e isso nos dá satisfação — comenta Daniele.

gaStronoMia

Barbara conta que outra coisa interessante que nasceu com essa experiência foi a amizade com os for-necedores locais: os ingredientes que usam nos jantares são quase todos a km 0, e todos são genuínos e frescos.

— Quando vamos fazer compras, em vez de demorar uma hora, demo-ramos três horas, pois conversamos com os fornecedores — completa.

Se os comensais não vão à casa do cozinheiro, o cozinheiro vai até os comensaisExistem ainda outras possibilidades, além de ir à casa dos cozinheiros. Pode-se chamar o cozinheiro para a própria casa ou até para uma festa na praia. Para a primeira comunhão de seu filho de 11 anos, a gerente de um hotel em Rimini, Daniela Bertozzi, chamou um cozinheiro que preparou um delicioso almoço de peixe para 30 pessoas em seu hotel.

— Primo era um cozinheiro dile-tante que tinha outra profissão, mas, com a crise, transformou a sua paixão pela cozinha em trabalho e se tornou um ótimo cozinheiro. A qualidade e a apresentação dos pratos foram ótimas, como conviria a um bom restaurante — destaca à Comunità Daniela.

Ela acredita ser uma ótima opção para grupos de amigos ou famílias, e até para jantares de trabalho, pois é possível gastar menos do que em um restaurante e, depois do jantar, entreter-se mais tempo no local e conversar com os outros convidados.

— O importante é alcançar o nú-mero mínimo, que é de 15 pessoas, e não superar os 30. Penso que se eu tivesse de cozinhar todo um cardápio de peixe como ele fez, teria gastado mais — finaliza Daniela, que já acon-selhou o serviço a outros amigos e quer repetir a experiência.

“Não é uma competição ou uma alternativa

ao restaurante. É simplesmente um jantar

entre amigos, que une quem gosta de cozinhar e

quem gosta de comer”Giancarlo, um dos criadores

do WelcHome Restaurant

Nonna Leo homenageou o

seu ator favorito, Sylvester Stallone, com pesto, geleia e um lindo buquê

de flores com a bandeira italiana

fevereiro 2016 | comunitàitaliana58 59comunitàitaliana | fevereiro 2016

Page 31: Conheça o “caminho de Santiago” italiano

Se pensiamo al cibo in particolare, cosa rende un’azienda un punto di riferimento? La sua credi-

bilità. L’Umbria e l’ulivo hanno un legame antico e la storia dell’Azienda agricola Marfuga, località Campello sul Clitunno, ha radici lontane. Og-gi alla guida c’è Francesco Gradassi e, prima di lui, il padre Ettore. Percor-rere la strada dell’alta qualità è stato per entrambi un punto imprescin-dibile di partenza. Quaranta ettari, 13mila piante tra Campello sul Cli-tunno, Spoleto e Trevi (circa 40 km da Perugia), fino a 1.200 metri di altitudine. Varietà Moraiolo in pre-valenza (75%), ma anche Frantoio (15%) e Leccino (10%). Oltre mille ulivi secolari, di straordinaria resi-stenza alle gelate invernali di questi luoghi. Non si può ‘capire’ l’olio Mar-fuga senza considerare la grazia del paesaggio, la maestria e la pazienza con cui uomini forti raccolgono le olive. Le piante sono coltivate in faz-zoletti di terra strappati con tenacia alle rocce. Un bosco tanto affascinan-te quanto inaccessibile, a chi non lo sa rispettare. L’azienda Marfuga lo sa bene, tanto che oggi Francesco Gradassi si definisce un produttore di “oli estremi” e cura ogni singolo piantone 365 giorni l’anno.

Gli uliveti hanno certificazione biologica: nessun trattamento chi-mico, se non quelli naturali previsti dal disciplinare. Nonostante una carriera in banca, il padre Ettore non ha mai abbandonato il piacere di produrre olio d’oliva e nel 1976 ha costruito il primo frantoio di famiglia. Proprio lì suo figlio Fran-cesco ha mosso i primi passi nel mestiere e nel 1994, a 28 anni, ha preso in mano le redini dell’azienda, trasformandola col tempo in un fa-ro della produzione olivicola umbra.

Il Novello, l’unico in bottiglia trasparente, è il primo olio dell’an-nata. Non filtrato e di colore verde intenso, prodotto con olive rac-colte in anticipo sul giusto grado di maturazione. Una produzione limitata al periodo autunnale. Un must sulla bruschetta e sulla zuppa di lenticchie e ceci. Il Dop Umbria Colli Assisi-Spoleto, prodotto con olive raccolte solo negli uliveti che si trovano tra Assisi e Spoleto, è un blend di Moraiolo, Leccino e Frantoio. Clima, posizione e sub-strato calcareo del terreno, gli conferiscono un sapore fruttato e fragrante, decisamente erbaceo. Medaglia d’oro al premio nazionale Ercole Olivario 2013, uno dei pre-mi italiani più autorevoli.

L’Affiorante è un prodotto u-nico. Moraiolo 100%, produzione limitata a 5mila bottiglie l’anno. Raccolta a mano in ottobre, olive che arrivano solo da alcuni albe-ri selezionatissimi per qualità ed esposizione. Un olio di carattere, piccante e amaro, con note d’erba, carciofo e mandorla. L’Affiorante è anche un concentrato di polifenoli, antiossidanti naturali, alleati nella lotta ai tumori (circa 600 mg per litro, contro una media di 100 mg degli extra vergine industriali).

Trace Bio è la produzione bio-logica firmata Marfuga. Olive spremute a freddo, con un sapore delicato. Ottimo per fare una maio-nese cremosa, ma anche per i sughi. Infine, l’Extra vergine di oliva clas-sico, ottenuto da olive con un buon livello di maturazione. Elegante, ro-tondo, dal retrogusto amarognolo. Grande versatilità in cucina.

Il frantoio meccanizzato arriva nel 2002, a Campello sul Clitunno. E’ dotato di un pannello di con-trollo elettronico per controllare la temperatura di lavorazione. Una produzione media di 500 quintali di extra vergine l’anno, a seconda della stagione. In azienda è possibile par-tecipare a visite guidate e imparare le tecniche di assaggio dell’olio.

L’olio ‘estremo’ dell’UmbriaFrancesco Gradassi, pioniere della raccolta anticipata. Il suo “Affiorante” è un olio extra vergine campione di polifenoli

SapErEfood

Il procedimentoLe olive si raccolgono tra ottobre e novembre a mano o con

l’utilizzo del “pettine”. Vengono quindi stoccate in cassette fo-rate, per evitare muffe, e lavorate nell’arco di 12-24 ore. Una volta in frantoio, si procede all’estrazione: frangitura, gramolatura e spre-mitura delle olive. Dopo le analisi organolettiche, l’olio viene filtrato e confezionato in bottiglie, o in lattine, e comincia il suo viaggio verso le tavole dei consumatori più attenti, le gastronomie e i ristoranti di prestigio. Dall’Umbria al resto d’Italia (500 punti vendita selezionati), e poi in quasi tutta Europa (Germania, Olanda, Belgio, Inghilterra, Mo-naco), fino a Stati Uniti (nei locali esclusivi di Manhattan, a New York) e in Canada. E ancora a Singapore e negli Emirati Arabi.

Emanuela De Pintospeciale della saperefood

L’azienda agricola Marfuga si pone l´obiettivo della valorizzazione del territorio dell´Umbria con la produzione di oli estremi prodotti in zone impervie

O ‘gelato’ e o ‘maestro’Massimo Conti revela os segredos do perfetto gelato italiano

Quando o assunto é gelato, o consultor ita-liano Massimo Conti é uma autoridade. Nascido em Novara, no Piemonte, Conti trabalha com a iguaria desde 1982, e hoje

é especializado na elaboração e transformação de ma-térias-primas naturais em sorvetes. Um de seus focos é a valorização dos ingredientes locais, conforme os paí-ses de origem. Ao longo dos anos, adquiriu experiência principalmente nos países asiáticos, com destaque para China e Taiwan. Em visita ao Brasil para ministrar cur-sos no Italian Culinary Institute for Foreigners (ICI), o mais importante instituto que ensina enogastronomia italiana a estrangeiros, ele conversou com a Comunità sobre os segredos que transformam o gelato italiano no melhor sorvete do mundo.

— Antes de ser um doce, o sorvete é uma verdadeira comida. É importante ter ingredien-tes naturais da mais alta qualidade para garantir ao cliente uma boa percepção de gosto e também para obter nutrientes, porque devemos lembrar que a maioria dos clientes é formada por crianças — comenta.

Segundo Massimo Conti, a téc-nica para fazer sorvete é a mesma em todos os lugares, mas são as ma-neiras de chegar a essa técnica que

podem diferenciar um produto co-mum do verdadeiro gelato italiano.

— O gelato italiano é reconhe-cido por algumas características especiais relacionadas aos hábi-tos alimentares de nosso país. Se queremos falar de uma diferen-ça, em especial, basta pensar que o sorvete, pela lei americana, tem características específicas que não permitem que seja chamado de sorvete italiano. Felizmente essas características tornam o gelato italiano mais genuíno, mais leve e mais digerível. 

O consultor revela também que as matérias-primas são escolhi-

das de acordo com o produto a ser obtido.

— Se você escolher ingredientes de quali-dade, o resultado será excelente, mas isso não significa que você terá um grande sorvete. A receita deve ser cuida-

dosamente equilibrada para que o produto final

possa ter características de corpo e estrutura que são re-

conhecidos pelo cliente como um sorvete de boa qualidade.

Ou seja, excelentes ingredientes nem sempre significam um bom sorvete, e o conhecimento técnico e a experiência de quem faz o sorvete são fundamentais para determinar o resultado final — explica.

Exportação deu fama ao gelato italianoMas por que o sorvete italiano é o mais famoso no mundo? Conti explica.

— Os italianos não descobriram o sorvete, mas eles são os únicos que, entre os séculos XVI e XVII, lhe conferiram as características que o identificam em todo o mundo.

A exportação do gelato para países como a França que fez com que o produto se tornasse mun-dialmente conhecido e virasse referência, lembra Conti.

— A diferença entre o sorvete feito na Itália e em outros países está mesmo relacionada à interpretação deste produto. Um exemplo é que a diferença entre o sorvete americano e o italiano é que, nos Estados Uni-dos, o grau de gordura é muito mais elevado. As várias regiões italianas, no entanto, preservam o mesmo modo de fazer sorvete, devido tanto à tradição quanto às características climáticas.

Massimo Conti ainda não co-nhece o sorvete brasileiro, mas que já sabe que não é parecido com o gelato italiano. Ele acrescenta que, assim como no Brasil, o gelato na Itália é mais apreciado no verão.

— Infelizmente é vendido principalmente no verão, porque a imaginação popular considera o sorvete como algo refrescante, mas é uma visão equivocada, por-que ele deve ser considerado como um alimento altamente nutritivo. O sorvete pode, eventualmente, substituir uma refeição. Pode ser usado em bolos e outros doces, e conservado da mesma forma, no verão ou no inverno — conclui.

Janaína PereiraDe São Paulo

O piemontese é especialista na valorização da matéria-prima local, usando a técnica italiana

gaStronoMia

fevereiro 2016 | comunitàitaliana60 61comunitàitaliana | fevereiro 2016

Page 32: Conheça o “caminho de Santiago” italiano

Rio de Janeiro, RJ

A obra de Franco Urani, tanto na Fiat como dos projetos sociais, foi contada em La Rivoluzione Possibile, escrito pelo industrial e publicado após sua morte por Lidia e seu companheiro, o jornalista Mauro Villone. No livro, impressiona o relato de Franco numa noite de chuva na favela ao lado de sua casa:

Nunca havia visto chover tanto como naquela noite... Olhava da janela, preocupado pelos cerca de 30 barracos, um ao lado do outro, ainda muito precários por causa da grande pobreza dos habitantes que tinham invadido o vizinho terreno em declive em 1980. A um certo ponto por volta das duas horas da manhã, senti um choque, que depois soube ter sido causado pelo rompimento da fundação de uma casinha da parte mais elevada do terreno. Por cerca de um minuto não senti mais nada e imediatamente vi, estarrecido, todos os 30 barracos desabarem uns sobre os outros de alto a baixo. Neles deviam morar não menos de 80 pessoas. Eu me informei logo e, graças a Deus, o breve intervalo entre a ruptura da fundação e os desabamentos foi suficiente para afastar todos os habitantes, que estavam sãos e salvos. Obviamente estava pronto para ajudar, mas me coloquei a questão do que deveria fazer de imediato. A tentação era de deixar acampar logo os 80 desgraçados na minha casa, mas depois o que aconteceria?

A família Urani mobilizou-se. A ajuda chegou tanto do Brasil quanto do outro lado do Oceano, inclusive de amigos italianos, para melhorar as condições de vida na Vila Canoas, com iluminação, água, saneamento, pavimentação. Metade do financiamento veio da Prefeitura do Rio, metade da Comunidade Europeia.

Em 1989, foi criado no local um centro para crianças, com o objetivo de ministrar cursos pré-escolares, de reforço escolar e artesanato a meninos da comunidade de Vila Canoas, com a colaboração da ONG italiana Come Noi, e de famílias italianas. A Prefeitura do Rio colaborou com a merenda escolar e obras de contenção de encostas. Hoje, em São Conrado, a ONG Para Ti oferece centro de informática e atividades como pintura, fotografia, jardinagem, idiomas, esportes e dança. Lidia e Mauro tocam o projeto, dando continuidade ao trabalho da família depois que o pai Franco, em 2009, a mãe Giuliana e o irmão Andrea, ambos em 2011, despediram-se da vida, mas deixaram legado de valor inestimável.

Mande sua história com material fotográfico para: [email protected]

Turim

Em 1964, aos dois anos, Lidia veio para a capital paulista. Nas várias idas e vindas, estudou no Brasil e na Itália. Formou-se em Comunicação Visual pela PUC do Rio e fez especialização em Milão. Ela lembra os seus primeiros tempos de Brasil:

— Meu pai veio para trabalhar com tratores em São Paulo, onde ficamos até 1975. Ele fez a proposta para lançar a Fiat no Brasil. Depois de muito esforço, conseguiu convencer Agnelli, o governo brasileiro, os políticos. Escolheu Betim, em Minas, por ser um lugar descentralizado, em vez de São Paulo e Rio, mais industrializados. Meu pai queria, além de criar empregos, fazer com que os brasileiros tivessem carros que custassem menos. Hoje, no Brasil, vejo que a Fiat é a marca de automóvel mais usado nos lugares mais pobres. Sou feliz por ter duas raízes belíssimas, a antiga italiana e a parte do coração brasileira, que amo muitíssimo, como filosofia de vida, que ensina a amar, numa terra de contrastes, embora de coisas ab-surdas como as diferenças sociais e o consumismo da classe média, que é um problema mundial, que não ocorre só no Brasil — afirma Lidia.

Em 1977, depois de um ano e meio em Turim, voltou ao Brasil para morar e estudar com a família. Foram morar no bairro de São Conrado, onde tiveram a experiência que mudaria a vida dos Urani. Lá passaram a ser vizinhos da favela Vila Canoas:

— Eu e meu irmão fomos muito influenciados por isso. As casas na flo-resta não tinham luz, água. Condições de vida que davam medo — lembra.

No alto, a família Urani reunida: Giuliana e Franco com os filhos Andrea (mais conhecido no Brasil como André) e Lidia. Acima, Lidia e o companheiro

Mauro Villone, responsáveis pelos projetos sociais da ONG Para Ti

IlLettoreRacconta

Anni ‘70La fotografia al centro della mostra

collettiva alla Frittelli Galleria d’Ar-te Contemporanea. Un viaggio a ritro-so lungo gli anni Settanta italiani, tra arte e femminismo, attraverso il rac-conto di artiste, galleriste, collezioniste e storiche d’arte. Una visione prevalen-temente critica dell’uso delle immagini femminili diffuse dalla cultura visiva italiana di quel periodo, un uso visto come progressiva perdita dei rapporti sociali e di valori umani, focalizzan-do e glorificando soltanto il carattere puramente materiale. L’idea di una mostra fotografica vuole, da un lato, giocare sullo stesso piano con cui sono state mistificate le immagini del cor-po, dall’altro mettere in primo piano il corpo femminile alla ricerca di una sua identità, non più alienata ai canoni ma-schili. La mostra si conclude l’8 marzo, festa della donna. L’ingresso è gratuito.

Antologia sceltaCome tutti gli anni si apre a Firenze l’ap-

puntamento con l’antologia, in una delle mostre più eclettiche di tutto il 2016. La collezione, infatti, è stato il frutto di un dettagliato lavoro che la Tornabuoni Arte, galleria di arte moderna e contemporanea, ha svolto per un intero anno a stretto con-tatto con fondazioni, collezionisti e musei italiani e stranieri. L’obiettivo era quello di offrire uno sguardo approfondito su tutto il Novecento, non solo italiano ma anche internazionale, puntando l’attenzione sui principali movimenti artistici che lo han-no attraversato. Si potranno così ammira-re opere di De Chirico, Picasso, Santoma-so e Lempicka. Ingresso gratuito. Aperto fino al 26 novembre 2016.

Andy Warhol ForeverA rezzo ospita fino al 2 giugno 2016 alcu-

ne delle più importanti opere di Andy Warhol. La Galleria di Arte Contempora-nea, dopo i successi espositivi di Lucio Fon-tana e Mario Schifano propone un percor-so dedicato all’artista americano, a cavallo tra il suo estro creativo e l’elemento biogra-fico, mostrando Warhol non solo nella sua complessità artistica, ma anche nella sua capacità, anche postuma di saper contami-nare l’arte in generale. La mostra offre più di cento opere provenienti da collezioni private di tutto il mondo, dei suoi soggetti più famosi, come Mao, Marylin, Mick Jag-ger, gli Space Fruits e le Campbell’s Soup. Orario: dal lunedì al giovedì 9.30-13.00/ 15.00 - 19.00 venerdì - sabato - domenica 9.30-13.00/ 15.00 - 22.30 Ingresso 8 euro.

Foto per ricordareSe non vi è mai capitato di entrare nella

splendida Biblioteca delle Oblate a Fi-renze, questa è l’occasione giusta per farlo! Il motivo? Semplice, oltre allo storico com-plesso monumentale, fino al 18 maggio si può visitare anche la mostra personale del fotografo Filippo Milani, dal titolo Foto per ricordare. L’esposizione si suddivide preva-lentemente in due parti: la prima di forma statica comprende una ventina di foto di grandi dimensioni, quasi tutte in bianco e nero, mentre la seconda è un vero e pro-prio work in progress, in cui l’artista si con-fronterà con nuovi ritratti, genere verso il quale riesce da sempre a cogliere l’essenza psicologica del soggetto ritratto. Orario: lunedì 14.00-22.00; da martedì a sabato 9.00-24.00; domenica chiuso.

firenzeGiordanoIapalucci

Amatissima dal pubblico, con un enorme afflusso in questi ultimi

mesi, la mostra del grande pittore del Novecento, Ottone Rosai, è stata proro-gata fino a domenica 3 aprile. L’esposi-zione, in realtà, non contempla solo le opere dell’artista fiorentino, ma mette quest’ultime in una sorta di confronto

con quelle di un altro artista del Nove-cento toscano, Lorenzo Viani. Il loro è quasi un dialogo in cui si percepisce la ricerca della narrazione della civiltà contadina e del mondo del lavoro ru-rale, fatto di piccoli e semplici gesti. Ingresso libero presso il Palazzo delle Muse di Viareggio.

La Toscana di Rosai

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A Casa das Meninas

O primeiro andar do local é o preferido dos clientes para o happy hour

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Em estilo familiar e atmosfera aconchegante, bistrô situado em Niterói (RJ) é comandado por duas irmãs originárias de Parma

Rio de Janeiro – Nascida em Par-ma, Elizabeth chegou ao Brasil ainda bebê. Quando acordava com o cheiro de focaccia pela casa,

que o pai Giovanni Fragni preparava, ela não imaginava que mais tarde abriria um restaurante. A irmã Giulia, três anos mais velha, se formou em gastronomia, e Eliza aprendeu na prática ao lado da sorella. Ela tinha apenas 17 anos quando começou a cozinhar de forma profissional.

— Começamos fazendo canapés e doces para amigos, que depois nos indi-cavam. Hoje, atendemos pessoas e em-presas no Rio. Um dos nossos diferenciais é que aceitamos encomendas para peque-nos grupos, a partir de quatro pessoas — conta Eliza, que, hoje, aos 28 anos, tenta conciliar o trabalho com os estudos do curso de Administração pela UFRJ.

Determinadas, elas juntaram as eco-nomias e abriram a Casa Fragni em 2011, sem deixar de lado os serviços de buffet. Misto de delicatessen, bistrô e restauran-te, situado na pacata Pendotiba, em Nite-rói (RJ), o estabelecimento fica a 30 km

ServiçoCasa Fragni

Estrada Caetano Monteiro, 164 Pendotiba – Niterói – RJ

Tel. (21) 2616-5425 De terça a sexta, das 17h às 23:45h.

Sábados das 9h à meia-noite; domingos das 9h às 17h.

dos cartões-postais do Rio, o que o torna quase um privilégio dos moradores da re-gião, onde as irmãs cresceram. A maioria dos clientes chega depois do trabalho para um happy hour ou para jantar.

Quando Comunità visitou a Casa, os pratos do dia eram talharim com ca-marão, abobrinha e molho de café; arroz de cordeiro com grão de bico; e risoto de grana padano com cubos di filé mignon ao molho de vinho tinto.

— Temos nosso cardápio, mas pode-mos criar pratos de acordo com o cliente. Um de nossos clientes não pode comer ne-nhum tipo de gordura vegetal nem animal. Preparamos para ele bifum (massa oriental de arroz) com legumes e molho à base de leite de coco e especiarias — explica Eliza.

A massa Del Mare, uma das mais pedi-das, leva molho de natas e seleção de frutos do mar. Um dos risotos é o La bella Parma, em homenagem à terra de origem da fa-mília, com presunto de Parma e azeite tru-fado italiano. Entre as comidas rápidas, há diversos tipos de panini, como o Salmone, com tiras de salmão no pão de hambúrguer e cream cheese. As bruschettas levam cogu-melos, presunto de Parma, mussarela de bú-fala, ou salmão marinado e creme de limão siciliano. Os doces variam, e podem ser um cheesecake de amarena ou uma torta de pis-tache com mirtillo. Sem falar nos mini chur-ros de Nutella, guloseimas fixas no cardápio.

Dos 300 rótulos de vinhos, 50 são ita-lianos, e ajudam a compor os jantares har-monizados organizados pelas chefs. Tam-bém há 70 rótulos de cervejas especiais.

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com diversas caretas para as crianças se divertirem. Feito

em poliéster, possui bolso interno e faixas elásticas

para prender lápis e canetas em 23 cm de comprimento.

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ItalianStyle volta àS aulaS

Massa ao pomodoro e lagostim Ingredientes: 400 g de massa; 4 co-lheres de sopa de azeite extra virgem; 1 dente de alho; 400 g de pomodori pe-lati; Manjericão fresco a gosto; 1 kg de lagostim; 1 cebola pequena; 1 cenoura pequena; 1,5 litro de água; Sal a gosto; Pimenta do reino a gosto.

Modo de preparo: Massa: Cozinhe a massa, sempre adicio-nando uma colher de sopa de sal à água.Molho: Numa panela em fogo alto, coloque as cascas e cabeça do lagostim para ferver com a cenoura, cebola cor-tada e a água por 10 minutos. Peneire e reserve o caldo. Tempere a carne do la-gostim com sal e pimenta do reino a gos-to. Em uma frigideira grande, esquente metade do azeite em fogo alto e adicione os lagostins, deixando dourar um minu-to de cada lado. Reserve o lagostim. Vol-te com a mesma frigideira ao fogo com o restante do azeite e o alho. Quando dourado, adicione o pelati e três conchas do caldo feito anteriormente. Esmague bem os tomates e deixe ferver por dois minutos; em seguida, junte o lagostim e ferva por mais um minuto. Desligue o fogo. Adicione manjericão, pimenta do reino e ajustar o sal. Adicione a massa e finalize com um fio de azeite extravir-gem. Decore o prato com alguns lagos-tins e folhas de manjericão.

— Só usamos azeite extra virgem e man-teiga. E só presunto de Parma. Aliás, meu pai, que é de Parma, ajuda a policiar para que seja sempre assim, então, nada de pata negra — brinca Eliza, que, ao lado da irmã Giulia, conta com ajuda de duas cozinheiras.

É fácil entender por que a Casa Fragni é conhecida como “a Casa das Meninas”. O segundo andar é decorado com toques bem femininos, entre fotos de família, uma co-lorida coleção de tampas de garrafas, livros e até um espaço para crianças. A impressão é a de visitar uma amiga de infância.

— É essa mesmo a nossa intenção — confirma Eliza, cuja mãe brasileira faleceu quando ela era adolescente. Ela não esconde o carinho que sente pelo seu papà que, ain-da hoje, com mais de 80 anos, faz questão de acompanhar as filhas em eventos.

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A feira do livro em RomaNão sou contra a tecnologia, mas tenho algumas ressalvas. Não renuncio a um livro de verdade, com

uma bela capa e folhas de papel. Sei que Kindle e Kobo têm grande valor e conheço muitas pessoas que optaram por esse tipo de leitura digital, mais prático, mais barato, mais leve. Mas um livro é um

livro! Conquistam-me pela capa, pelo título, porque estava no lugar certo no momento certo, porque li uma resenha que me convenceu, porque um amigo me indicou. Adoro ler livros! Compro, sublinho as partes de que gosto mais. Às vezes guardo para sempre; outras vezes dou de presente para alguém que quer ler. Quando me transferi para Roma em 2002, por pura coincidência, nasceu a feira das pequenas e médias editoras na cidade, que acontece no bairro Eur em dezembro e dura cinco dias. É um evento que aguardo com ansiedade. Ser um pequeno editor no mundo de hoje é uma atividade heróica. Gosto de ir à feira e descobrir o perfil de cada editor, seu nome, sua logo, sua linha, suas novidades, as pessoas que trabalham na editora. Saio sempre da feira com a carteira vazia, mas cheia de livros interessantes, que nem sempre teria descoberto em outro lugar. Na edição de 2015, comprei um simpático livro da editora Clichy, O comunismo explicado às crianças capitalistas, de Gérard Thomas, cuja capa, obviamente é vermelha. Descobri a editora Nuova Frontiera, que publica o brasileiro Luiz Ruffato, e comprei, em italiano mesmo, Estive em Lisboa e pensei em você. Para meus filhos, adorei a editora Curci Young, que publica livros maravilhosos sobre música para crianças. Comprei um livro com um CD que conta sobre a vida e obra de alguns compositores de forma muito divertida. Também saí com o livro ilustrado O que é uma criança?, da italiana Beatrice Alemagna, que emociona também os adultos. E tinha muito mais! Fui à feira, como sempre, num dia de semana e estava cheia de gente. Todos espremidos nos estandes, curiosos para ver as novidades. Nem me importei de levar uma cotovelada ou um pisão no pé. Ver uma feira de pequenos editores cheia de gente me fez ganhar o dia. Nem tudo está perdido! Saí otimista, feliz da vida ao carregar minha bolsa pesada, cheia de novos livros.

Uma das livrarias mais insólitas da Itália é a Acqua Alta, em Ve-neza. O termo é usado na cidade

quando a maré está muito alta e a ci-dade se alaga. As pessoas caminham com galochas e montam-se passarelas de madeira para facilitar a locomoção. O estabelecimento aproveitou o termo para criar um espaço com livros expos-tos e espalhados por todo lugar: pilhas e pilhas, sobre estantes e gôndolas, criando beleza no meio da desordem.

Libreria Acqua Alta

la gente, il postoClaudiaMonteiroDeCastro

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