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Conhecimento do Homem, da Natureza e da Sociedade Autor Odilon Roble 2009 Esse material é parte integrante do Aulas Particulares do IESDE BRASIL S/A, mais informações www.aulasparticularesiesde.com.br

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Conhecimento do Homem, da Natureza e da Sociedade

AutorOdilon Roble

2009

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© 2008 – IESDE Brasil S.A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito dos autores e do detentor dos direitos autorais.

R666 Roble, Odilon. / Conhecimento do Homem, da Natureza e da Sociedade. / Odilon Roble. — Curitiba : IESDE

Brasil S.A. , 2009.68 p.

ISBN: 978-85-7638-995-8

1. Relações humanas 2. Interação social. 3. Conscientização social. 4. Sensibilização (Relação Humanas). I. Título.

CDD 158.2

Todos os direitos reservados.IESDE Brasil S.A.

Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482 • Batel 80730-200 • Curitiba • PR

www.iesde.com.br

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SumárioA natureza e o fenômeno humano ........................................................................................7

O significado ontológico da natureza ......................................................................................................7A natureza como ordem reguladora .........................................................................................................8O homem como elemento do todo natural ...............................................................................................9Ecologia e vida no panorama da existência humana ...............................................................................11

Natureza x Cultura ...............................................................................................................17A cultura como fenômeno humano ..........................................................................................................17A noção de significado cultural ................................................................................................................18A natureza em relação à cultura ...............................................................................................................19Os reducionismos naturalistas e culturalistas ..........................................................................................20Bases para um entendimento pluralizado ................................................................................................21

O homem e suas bases existenciais ......................................................................................27O homem na natureza ..............................................................................................................................27A existência biológica do ser humano .....................................................................................................28A vida em conjunto e a formação comunitária ........................................................................................29Elementos de uma antropologia ...............................................................................................................31O homem como centro da questão para o próprio homem ......................................................................32

O homem e seu desenvolvimento ........................................................................................37O homem como um animal racional ........................................................................................................37A razão como atitude orientadora da existência ......................................................................................38O desenvolvimento ético do homem em sociedade .................................................................................39A estética como forma do sentir humano ................................................................................................41

A sociedade humana ............................................................................................................47O meio social ...........................................................................................................................................47A vida coletiva .........................................................................................................................................47A comunidade e as tribos .......................................................................................................................49O poder do estar-junto .............................................................................................................................50

O homem contemporâneo ....................................................................................................55Modernidade e Pós-Modernidade ............................................................................................................55A liquidez dos tempos atuais ...................................................................................................................58O papel do homem na sociedade da informação .....................................................................................59Razão e sensibilidade nos tempos atuais .................................................................................................60

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Apresentação

Q uando olhamos ao nosso redor, percebemos que existe algo imenso que abriga todas as formas de vida que conhecemos. Sabemos que, de algum modo, somos participantes dessa realidade e que, talvez, tenhamos até um papel fundamental nesse contexto.

Não há nada mais abrangente do que o conceito de natureza. Ao mesmo tempo que nos impres-sionamos com a enorme quantidade de fenômenos que fazem parte desse conceito, notamos que sua ação é independente e até mesmo simples. Simples no sentido de que, na natureza, tudo parece seguir de acordo com uma ordem reguladora, com uma certa organização eficaz que acaba por propiciar, sempre mais e mais, a criação e perpetuação da vida.

No entanto, a vida é complexa e existe nessa natureza um ser que é o mais complexo de todos: o homem. Esse ser com seu desenvolvimento trouxe, para o panorama natural, novos contornos e novas necessidades. Nós, os seres humanos, proliferamos-nos e espalhamos-nos por quase todos os espaços da natureza. Mas como é que devemos nos relacionar com ela a partir das novas necessidades de vida que temos? Como é possível aliar progresso a formas de desenvolvimento que preservem a natureza?

Como seres racionais, criamos uma espécie de segunda natureza, uma ordem reguladora pró-pria que, para os seres humanos, orienta todos os aspectos mais importantes de sua vida. Essa segun-da natureza recebe o nome de “cultura”. A cultura oferece aos homens o conjunto de significados, de hábitos, condutas e valores dos quais nos valemos para uma vida em comum. Por um lado, somos influenciados pelos valores da cultura, por outro, somos nós mesmos que criamos tais valores.

Viver em conjunto, partilhando de tais valores, sob a mesma influência cultural, implica em dividir tarefas, em criar expectativas comuns, em dividir sonhos e desejos. É exatamente isso que ca-racteriza uma sociedade humana. A vida coletiva é também uma forma de natureza para nós. Somos seres naturais e culturais, somos racionais e emocionais. Por isso o homem é tão complexo, por isso a natureza humana é a mais difícil de se compreender. No entanto, reside nessa complexidade toda a beleza do ser humano. Essa complexidade nos revela as marcas de nossa tarefa fundamental na natu-reza, que é a de assumirmos nossa posição racional como um elemento diferenciador e protagonista na realidade em que vivemos.

Conhecer a natureza, o homem e a sociedade é, portanto, nossa tarefa neste estudo. Tarefa que vai beber nos conhecimentos da Ecologia, da Sociologia e, especialmente, da Filosofia. Esforços que são insuficientes para nos dar uma dimensão completa do que são esses fenômenos tão amplos, tais como a natureza, o homem e a sociedade, mas que, certamente, podem lançar luz sobre esses saberes que, em última análise, nada mais são do que a própria realidade em que vivemos.

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A natureza e o fenômeno humano

Odilon Roble*

O significado ontológico da naturezaQuando algo nos parece bastante óbvio costumamos dizer: “isso é natural”

ou ainda, isso é “naturalmente” tal coisa e assim por diante. O que queremos dizer com a palavra “natural”, nesses casos, é a representação de algo espontâ-neo, certo, evidente. Dessa forma, podemos concluir que a natureza é um dado evidente? De certa forma sim, ou seja, podemos construir um pensamento sobre a natureza. Portanto, existem ciências que se dedicam a estudá-la, mas é fato que ela faz parte de nossa vida desde que nascemos e que, mesmo que não saibamos minúcias sobre ela, somos parte integrante desse todo chamado natureza. A vida é uma expressão da natureza; não só a nossa vida, mas todo o conjunto de seres e de fenômenos que dividem conosco o espaço. A natureza é, portanto, um aglo-merado de vidas, um sistema que, ao mesmo tempo que gera, mantém e recicla as formas de vida existentes.

Na Grécia Antiga, os primeiros filósofos, chamados de pré-socráticos, ou seja, aqueles que produziram filosofia antes das idéias de Sócrates, criaram uma forma de pensamento que conferia especial atenção à natureza, ou à physis, como se denominava. Por physis, o grego compreendia não apenas a natureza visível, mas também os princípios explicativos que de algum modo movimentavam e da-vam razão a toda a vida. É assim que o fogo, a água ou mesmo o infinito foram considerados como o princípio explicativo de tudo para alguns desses filósofos. Isso significava considerar que há uma razão ordenadora na natureza, uma base criadora que dá sentido a tudo. A natureza, nesse sentido, é ela própria dotada de razão e a forma mais clara de inteligência para o homem seria entender essa razão natural e tentar adaptar-se a ela. A partir de Sócrates, o pensamento huma-no alçou vôos mais altos, pois, com a ampliação do poder da razão preconizado por Sócrates, nossa inteligência livrou-se da idéia de um princípio ordenador de tudo e, por extensão, de nossa dependência da natureza. A razão humana, com sua capacidade de imaginação e de pensamento abstrato, pode ir além do que é materialmente determinado, ou seja, não somos dependentes da natureza, mas, ao contrário, podemos mesmo transformá-la a nosso favor, podemos fazer uso dela e traçar objetivos fundados na nossa razão e não apenas na nossa condição natural. No entanto, os pré-socráticos nos ensinaram algo de muito valor: a natureza é uma forma de princípio, uma ordem que projeta sobre nós uma certa razão, uma orientação para a vida. Mesmo que acreditemos no poder criador e transformador de nossa razão, não devemos nos esquecer das forças da natureza, de seu sentido

* Doutor e Mestre em Educação pela Facul-dade de Educação da Unicamp. Bacharel em Filosofia pela Pont i f íc ia Universidade Catól ica . É membro pesquisador do Violar – grupo de estudos sobre o imagi-nár io , prát icas cul turais , violência e educação da Unicamp.

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Conhecimento do Homem, da Natureza e da Sociedade

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importante e indispensável para a existência da realidade na qual vivemos.

A ontologia, que é o estudo do ser, quando aplicada à natureza, encontra uma forma de força primordial, ou seja, o ser da natureza, com sua razão e sentido, caracteriza-se pela produção e manutenção da vida. Como uma espécie de sistema dotado de uma orientação, a natureza parece agir para que a vida prolifere. E assim notamos que, onde há nutrientes e água suficientes, sempre alguma forma de vida se desenvolve. Mesmo quando uma ação natural nos incomoda, como a chuva ou o calor, podemos notar que alguma forma de vida beneficiou-se com tais fatores, tal como se cada ato natural fizesse parte de uma lógica ampla da existência. Partamos de uma noção de natureza que respeite esse sentido e essa lógica. Por tal noção, teremos condições para entender o homem e sua sociedade sem desprezarmos as razões profundas1 que fazem parte do conhecimento da natureza.

A natureza como ordem reguladoraDe acordo com Aristóteles, em uma famosa passagem de sua filosofia, o que

caracteriza o homem é que ele é um “animal racional”. O termo “animal”, nesse caso, refere-se ao que ele chamou de “gênero comum” e “racional”, diz respeito à “diferença específica”. Gênero comum significa aquilo que nos assemelha aos demais seres vivos, ou seja, no universo dos seres vivos, certamente somos classi-ficados como animais. Temos muitas características comuns com os demais ani-mais, tal como aspectos de nossa fisiologia e das necessidades dela decorrentes, como o alimento, a água, a necessidade de calor e assim por diante. No entanto, nesse amplo grupo de animais no qual estamos alocados, certamente há uma dife-rença do homem em relação aos demais. Essa diferença, por ser especificamente encontrada nos seres humanos, chama-se diferença específica. Trata-se da racio-nalidade. Notemos, então, que essa caracterização aristotélica nos é bastante útil para percebermos o papel do homem frente à natureza. Por um lado, somos seme-lhantes a muitas espécies, por outro, temos uma singularidade que nos oferece um papel único entre os seres vivos.

A racionalidade nos permitiu dominar a terra e fazer da maior parte do território nosso habitat. Se tivermos inúmeras desvantagens físicas em relação a outros animais, tais como nossa pequena tolerância ao frio ou a necessidade constante de alimento e água, por outro lado somos capazes, por meio de nossa racionalidade, de construir abrigos e vestimentas, de produzir e estocar alimentos e líquidos. De certo modo, a racionalidade é uma arma para dominarmos todos os espaços com que temos contato e para elevar ao máximo nossa capacidade de adaptação e sobrevivência.

No entanto, é claro que, se a racionalidade fosse tomada como uma forma de força ilimitada, sem nenhum tipo de barreira ou orientação, o que veríamos não seria uma harmonia com o meio em que vivemos, mas, ao contrário, uma espécie de atividade predadora. O predador é, justamente, aquele que se alimenta ou se sustenta da energia vital do outro e, para isso, precisa matá-lo. Só que, em tal atividade, não há um equilíbrio entre a reprodução e a atividade predadora, de 1 Fenômenos naturais que

ocorrem em nossa reali-dade.

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A natureza e o fenômeno humano

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tal modo que, na maior parte das vezes, o predador consome a presa até que ela se esgote e, assim, possa até mesmo causar a morte também do predador. Quan-do o homem exacerba sua atividade racional, levando em conta apenas aspectos ligados ao progresso, aos interesses financeiros ou a qualquer outro fator de or-dem unicamente racionalizada, pode agir tal qual um predador, exterminando a natureza que o cerca. Por essa razão é que a natureza pode e deve agir como uma forma reguladora de nossas ações racionais.

Um dos limites de nossa racionalidade deve ser, justamente, o respeito às leis naturais. Muitas vezes, a natureza impõe essa ordem reguladora sem a inter-ferência da racionalidade. Trata-se de certos limites que ainda não fomos capazes de romper; por exemplo, podemos monitorar, estudar e até mesmo antever ter-remotos, mas, quando eles ocorrem, nada podemos fazer para evitá-los. Dessa forma, nossa racionalidade está direcionada para como devemos agir na ocorrên-cia desse fenômeno. A natureza estabeleceu, nesse caso, algumas regras que não temos como evitar, mesmo com toda a tecnologia da qual dispomos. A medicina, embora tenha evoluído muito nas últimas décadas, também encontra limites fren-te a certas doenças que não possuem curas conhecidas ou que, em determinado estágio, não mais retrocedem. A atitude inteligente humana, frente a essas cons-tatações, deve ocupar-se, essencialmente, em saber entender a ordem reguladora da natureza, mais do que supor que somos nós que determinamos tal ordem, pois nosso desenvolvimento não culminou nisso e, provavelmente, tampouco seria in-teressante um mundo absolutamente construído pela atividade racional. O acaso, a incerteza e as muitas variáveis que a ordem natural pode apresentar, por mais que nos sejam desfavoráveis em muitos momentos da vida, são parte constituinte e fundamental da nossa existência e, assim, a racionalidade continua sendo nosso maior atributo, não apenas para controlar e determinar, mas também para com-preender e aceitar.

O homem como elemento do todo naturalEm uma relação de conhecimento, convencionou-se chamar aquele que bus-

ca o conhecimento de sujeito cognoscente e aquilo que se quer conhecer de objeto cognoscível. Quando se trata do homem em relação à natureza, por exemplo, esta-mos diante de um sujeito que é o próprio ser humano e um objeto que corresponde à toda natureza. No entanto, nesse caso, o objeto a ser conhecido não é, como em muitos outros casos, exterior ao homem, ou seja, a natureza, como objeto cognos-cível, é também a geradora do próprio sujeito cognoscente. Essa especificidade, como veremos mais adiante, não é apenas um detalhe epistemológico. Isso por-que, quando buscamos compreender algo que é exterior a nós, podemos agir com maior distanciamento, mas, como no caso da natureza, é preciso que percebamos nossa inevitável ligação a ela.

Vejamos essa característica a partir das diferentes visões entre céticos e dogmáticos e como elas se comportam quando o objeto do conhecimento é a própria natureza. Chamamos de céticos aqueles que não acreditam em qualquer

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Conhecimento do Homem, da Natureza e da Sociedade

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verdade a priori, sendo que sua razão lhe diz para aceitar apenas o que estiver absolutamente evidente para si mesmo. Ora, nesse caso, as duas coisas mais evi-dentes que lhe podem ser pensadas são, justamente, a existência de si mesmo e da natureza que o cerca. O ar, a água e todos os fenômenos naturais são dados concretos e imediatos para todos nós e, assim, correspondem exatamente àquilo que o cético precisa para convencer-se de algo. Por outro lado, encontramos o dogmático, que é o oposto do cético, uma vez que acredita em verdades universais a priori, tal com as religiosas, e não precisa de comprovações para que continue exercendo sua crença. Entretanto, embora ambos sejam opostos em suas visões de mundo, também encontraremos no dogmático a certeza da necessária rela-ção entre homem e natureza, pois os modelos dogmáticos, por serem verdades, como dissemos, “universais”, são modelos totalizantes e não separadores. Dessa forma, notamos que, nas mais diversas visões de mundo, uma forma básica de compreensão do homem em relação à natureza é constituída a partir da necessária união entre esses dois elementos, ainda que, no desenrolar das teorias diversas, serão estabelecidos papéis diferentes para um e para outro.

Pensar o homem isolado da natureza, ou vice-versa é, então, contrariar o caminho mais evidente do conhecimento, deixando de lado a totalidade mais evi-dente que nossa razão pode constituir a princípio. De fato, por mais que elevemos nosso pensamento às mais abstratas atividades da consciência, estamos necessa-riamente atados a uma existência material. Isso significa, de modo simples, mas fundamental, que temos que nos lembrar que somos seres biológicos. Atendemos a leis físicas e químicas impostas pela natureza e, por mais que nosso pensamento abstrato possa nos conduzir a terrenos imateriais, somos dependentes de nossa materialidade corpórea, em suma, de nossa natureza.

Um modo talvez mais inteligente para conduzirmos a nossa razão, que de fato tem o potencial abstrato e não se trata de evitar essa capacidade humana por excelência, é entendermos que o homem faz parte de um todo natural, de modo que sua ação tanto é fruto dessa natureza como também é agente transformador. Somos produtos da natureza que nos cerca ao mesmo tempo em que, pela nossa racionalidade e pelas nossas ações, transformamos esse todo natural. Assim, de todos os seres vivos, o homem é o que mais tem condições de interferir nessa to-talidade e interferir, inclusive, de modo consciente. No entanto, não devemos, com isso, supor que a razão humana esteja acima dessa totalidade ou que a natureza seja um subproduto da razão humana. Há de se perceber e mesmo se respeitar a possibilidade de um equilíbrio entre as forças racionais e naturais nessa tota-lidade. Essa visão de mundo, que busca tal equilíbrio e harmonia entre homem e natureza, ficou conhecida por “holismo”. Tal palavra diz respeito, justamente, a uma totalidade harmônica. Nela, não há pontos de partida ou hierarquias nas ações. Uma visão holística é aquela, portanto, que vê o homem integrado ao todo natural e que evita separações tais como corpo x mente, razão x emoção. Notemos que, de fato, se somos parte integrante do todo natural, não faz sentido pensar que nosso corpo, que é naturalmente biológico, físico etc., seja algo separado de nossa mente pensante, ou que para usar o raciocínio eu tenha que deixar de lado minhas reações mais espontâneas, agindo de modo frio e artificial.

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A natureza e o fenômeno humano

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Nesse momento podemos ver como a visão de homem integrado à nature-za como totalidade traz muitas conseqüências para nossa forma de pensar e de agir. Não se trata apenas de tecer elogios à natureza ou preservá-la, por meio de atitudes “civilizadas”. O homem, entendido como um elemento do todo natural, leva-nos a uma postura mais ampla de compreensões, nas quais temos que incor-porar em nossa razão as verdades que a natureza expressa, até mesmo aquelas que contrariam nossa vontade racional.

Ecologia e vida no panorama da existência humana

Ecologia é um conceito que possui aplicações diversas dependendo do com-plemento que se agrega a ele ou mesmo ao contexto em que é empregado. De modo geral, compreendemos Ecologia como sendo a ciência que estuda a relação entre os seres vivos e seus ambientes. Eco é uma palavra derivada de oîkos, que em grego significa casa. Assim, Ecologia significa “o saber sobre a casa” uma vez que logia vem da palavra grega logos que significa saber, conhecimento ou estudo. Isso indica que a Ecologia é uma forma de conhecer os seres vivos e o lugar em que eles vivem, ou, em termos específicos, conhecer os biótipos e a biosfera. Os biótipos são todos os seres vivos e, mesmo que encontremos enormes diferenças entre eles, sabemos que todos vivem juntos na mesma “casa”, ou seja, na mesma natureza. Assim, parece ser possível perceber, inclusive, que, para o funcionamento dessa casa, é necessário certo equilíbrio no qual cada um desses seres colabora, a seu modo, para a manutenção dessa totalidade.

Um primeiro cuidado que precisamos ter, a partir dessa conceituação, é a de separar Ecologia de ecologismo. Este refere-se ao uso dos princípios ecológi-cos como forma de ideologia, de bandeira para a tomada de posições e formas de pensar. A Ecologia não defende a natureza como o senso comum, e sim, estuda a natureza e a relação entre os seres vivos. Esse estudo aponta, evidentemente, para a necessidade de respeito ao equilíbrio que se encontra na biosfera e, assim, desa-conselha práticas destrutivas e alerta para seus perigos. No entanto, o ecologismo vai além, assumindo uma visão de mundo que condena o progresso e almeja uma vida idealizada de homem. Sabemos, por exemplo, que a defesa da natureza, via ecologismo, já se tornou uma estratégia para interesses políticos ou mesmo para a comercialização de produtos. Hoje, tudo que se diz “protetor da natureza” ganha um rótulo de credibilidade e se auto-intitula ecológico, sendo que esse termo cor-responde a outras preocupações.

Por fim, é preciso que notemos também a diferença de aplicação do conhecimento produzido pela Ecologia no panorama da existência humana. Hoje, é possível distinguir dois termos diferentes de acordo com a relação estabelecida rente à humanidade. Se a Ecologia está a serviço do homem, entendemo-na como “Ecologia humanista”, caso contrário, o homem é que deve estar à serviço da eco-logia, tratando-se da “Ecologia radical”.

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Conhecimento do Homem, da Natureza e da Sociedade

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Na Ecologia humanista, ao se eleger o homem como razão fundamental, colocamos os saberes sobre os seres vivos e sobre o ambiente como colaborado-res do projeto de desenvolvimento humano. Nessa via, por exemplo, não se trata de condenar uma forma de poluição caso seja ela a resultante de um processo de desenvolvimento necessário ao homem. A Ecologia, nesse caso, trataria de estudar e propor as formas de diminuir ao máximo os impactos ambientais, mas sem, contudo, supor a não-realização de tal processo. Hoje, a máxima expressa por essa forma de aplicação da Ecologia é conhecida por “desenvolvimento com sustentabilidade”, pela qual entende-se que o objetivo é o desenvolvimento, porém deseja-se realizá-lo de modo a sustentar o quanto mais possível o equilíbrio natu-ral. Sem dúvida vê-se que essa forma de Ecologia é humanista no sentido em que, mesmo considerando o homem como ser vivo participante da biosfera, elege-o como protagonista da natureza.

Na Ecologia radical, a natureza é que é levada ao papel de protagonista. O homem continua sendo um ser vivo participante da biosfera, mas perde seu posto hierárquico no qual suas ações devem ser tomadas como fundamentais. Assim, o desenvolvimento humano está em um segundo plano. Embora aparentemente mais correta, tal atitude é um tanto ingênua quando levamos em consideração que o desenvolvimento humano, a partir até mesmo de seu aumento populacional, im-prime, necessariamente, certos impactos sobre a natureza. É evidente que temos que nos preocupar com o impacto de nossas ações sobre a natureza, mas também devemos reconhecer a necessidade do progresso humano e, para tal progresso ocorrer, é preciso nos apropriar da natureza.

Por tudo que vimos neste texto, desde a natureza como ordem reguladora até o papel do homem como participante do todo natural, podemos concluir que, de fato, temos que assumir nosso papel de espécie diferenciada entre os seres vivos. Mas isso, ao mesmo tempo em que aponta para a nossa necessidade de progresso e desenvolvimento, apresenta-nos também a carga de nossa responsa-bilidade frente ao planeta. Afinal, se o que nos diferencia é a nossa racionalidade, ela deve ser capaz não só de nos permitir conquistar novos terrenos, mas também de compreender e preservar tudo aquilo que, embora não seja obra humana, está indissociavelmente ligado ao que somos, ou seja, a natureza.

Nave sem rumo: voamos às cegas em uma nave que a qualquer momento pode se chocar com outra

(CONY, 2008)

Como sabeis, discute-se em todo o mundo a salvação do planeta, onde reside, desde o Dia da Criação, o próprio mundo. O tema é pretexto para festas, eventos, seminários, simpósios, passea-tas e camisas estampadas lembrando que devemos salvar as baleias. Para falar com honestidade,

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A natureza e o fenômeno humano

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não me emociono pela discussão ecológica em si. Meu furo está mais em cima. A demarcação das terras indígenas e a camada de ozônio não fazem o meu gênero.

Simpatizo cordialmente com tudo o que pretende melhorar a nossa vida ou a vida dos outros. O que me preocupa é a certeza de que habitamos uma nave sobre a qual não temos qualquer do-mínio. Não chego a perder o sono quando penso nisso, mas sinto certo desconforto sabendo que nada posso fazer por mim e muito menos pelos outros.

Vamos à comparação inevitável. Vivemos num imenso avião solto no espaço. Ao contrário dos aviões de carreira, nem sempre sólidos mas razoavelmente confiáveis, não temos pilotos nem tripulação, nem engenheiros de vôo nem mecânicos de bordo, não somos rastreados em terra pelas torres de controle e pelos radares, nem dispomos de cartas de navegação. Nada, absolutamente.

Nem sequer sabemos se temos combustível suficiente para mais um dia ou mais uma hora. Não temos campos de pouso alternativos, nem rádio para enviarmos nosso grito de socorro. Tampouco sabemos nossa exata posição no espaço. Voamos às cegas numa nave que, a qualquer momento, pode se chocar com outra, ou dar um tranco em sua rotação. Imaginemos esse tranco, essa freada de acomodação que os motoristas costumam dar para melhor arrumar os passageiros amontoados.

Uma freada pequena, de um segundo, levantaria a água dos oceanos, despejaria no espaço os animais, os peixes, os homens, os carros, tudo o que não estivesse solidamente amarrado na terra.

A nave não dispõe de cinto de segurança para os momentos de turbulência, nem máscaras de oxigênio para o caso de uma despressurização. Seria uma zorra federal esse tranco mínimo na velocidade de nosso planeta. Espero nunca ter de passar pela eventualidade.

Bem, diante desta hipótese, tudo o mais me parece insignificante. Certo, devemos preservar o meio ambiente, do mesmo modo que, num avião, mesmo em perigo, devemos obedecer àquilo que nos manda fazer a tripulação.

Os pilotos estão fazendo tudo o que é possível para manter o aparelho no ar, um deles está rezando contritamente a última ave-maria de sua vida.

Mas vamos com calma: sempre ouvi dizer que um elefante precisa de um quilômetro quadra-do para viver e sobreviver em paz e com dignidade. Um bilhão de elefantes tornaria a Terra insu-ficiente para a preservação da espécie e teríamos de dizimar todos os demais animais, inclusive os homens. Há que preservar não apenas a vida mas a dignidade dos elefantes.

O grande furo da ecologia é sua parenta mais próxima, do ponto de vista etimológico: a economia. As espécies economicamente improdutivas tendem a desaparecer, não por maldade ou burrice da humanidade, mas por necessidade da estrutura econômica que, queiramos ou não, determina nossas relações com a natureza.

Ninguém precisa lutar pela preservação de bois e cavalos, galinhas e perus. São espécies produtivas, substituídas sistematicamente à medida que se abatem. A solução seria encontrar um jeito de fazer pingüins, micos dourados e focas renderem alguma coisa. Neste particular, descubro uma grande injustiça contra os ratos.

Ninguém, nenhum desses movimentos ecológicos, defende a preservação dos ratos. A im-pressão que se tem é que um raticídio em grande escala seria bem aceito pelos amantes da natu-reza. Mas os ratos são necessários aos laboratórios, às pesquisas científicas. Pertencem, assim, à categoria útil dos bois, vacas, galinhas, perus e peixes de variadas espécies que prestam serviço ao homem, mantendo-o vivo e prazeroso. E predatório, como sempre o foi, no uso e abuso de sua prerrogativa de Rei da Criação.

Mas o reino do homem é como aquele outro reino do qual falavam Jesus Cristo e o Paulo Francis: não é deste mundo.

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Conhecimento do Homem, da Natureza e da Sociedade

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1. Com base no texto da aula liste, em forma de tópicos, as principais formas de relação entre o homem e a natureza.

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A natureza e o fenômeno humano

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2. Discuta quais são as diferenças fundamentais entre uma Ecologia humanista e uma Ecologia radical.

Livros:

ARISTÓTELES. Metafísica. São Paulo: Edipro, 2005.

Trata-se de um livro clássico sobre o homem, a natureza e o conhecimento. Embora haja o receio de uma leitura muito complexa, a verdade é que o pensamento expresso pela metafísica de Aristóteles é a base da maior parte das idéias ocidentais sobre a relação en-tre o homem e a natureza, o que, por si só, já valida sua leitura. No mais, existem muitos comentadores que nos ajudam a entender o conteúdo da metafísica aristotélica.

ARANHA, M. L. A.; MARTINS, M. H. P. Filosofando. São Paulo: Moderna, 2003.

O capítulo 1 dessa obra, intitulado “Natureza e Cultura”, oferece excelente introdução ao tema, de modo simples e didático. Além de ajudar o estudante de nível superior a ingressar na temática, pode, inclusive, ser usado como texto-base para discussão em uma sala de Ensino Médio, por exemplo.

Links:

Revista Brasileira de Biologia. Disponível em: <http://www.bjb.com.br/>

A Revista Brasileira de Biologia, ligada ao Instituto Internacional de Ecologia, disponi-biliza on-line artigos científicos sobre a natureza, a sociedade e a Ecologia em variadas abordagens, em especial sobre Ecologia brasileira, com grande qualidade científica. Essa referência destina-se, evidentemente, àqueles que buscam estudos ligados mais às ciên-cias biológicas do que às ciências humanas.

Esse material é parte integrante do Aulas Particulares do IESDE BRASIL S/A, mais informações www.aulasparticularesiesde.com.br

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Conhecimento do Homem, da Natureza e da Sociedade

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Gabarito

A natureza e o fenômeno humano1. Espera-se aqui que o aluno seja capaz de argumentar sobre os principais tópicos da aula, ele-

gendo alguns aspectos que lhe pareceram especialmente marcantes na relação entre o homem e a natureza.

2. O aluno deve observar nessa atividade que a Ecologia humanista preconiza o desenvolvimento humano, ao mesmo tempo em que tenta minimizar o impacto ambiental de tal desenvolvimen-to; ao passo que a Ecologia radical supõe que o homem deve adaptar-se às leis naturais, mesmo que isso lhe custe frear seu desenvolvimento. Sua discussão deve se situar nesse referencial, apontando as conseqüências dessas diferentes visões.

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