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1 Conhecimento e Avaliação dos Trade-offs de Custos Logísticos: um Estudo com Profissionais Brasileiros Autoria: Juliana Ventura Amaral, Reinaldo Guerreiro Resumo. Este trabalho teve por objetivo investigar a extensão que os profissionais logísticos das maiores empresas industriais e comerciais do Brasil conhecem e avaliam os trade-offs de custos logísticos. Utilizando metodologia fundamentada na aplicação de um questionário, esta pesquisa identificou que os profissionais logísticos sabem que os trade-offs de custos logísticos existem, mas não têm com clareza a ideia que o custo total é por eles determinado. A pesquisa também revelou que a avaliação dos trade-offs é enfatizada em soluções de grande amplitude e que a disponibilidade de simuladores e de informações contábeis favorece a análise.

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Conhecimento e Avaliação dos Trade-offs de Custos Logísticos: um Estudo com Profissionais Brasileiros

Autoria: Juliana Ventura Amaral, Reinaldo Guerreiro

Resumo. Este trabalho teve por objetivo investigar a extensão que os profissionais logísticos das maiores empresas industriais e comerciais do Brasil conhecem e avaliam os trade-offs de custos logísticos. Utilizando metodologia fundamentada na aplicação de um questionário, esta pesquisa identificou que os profissionais logísticos sabem que os trade-offs de custos logísticos existem, mas não têm com clareza a ideia que o custo total é por eles determinado. A pesquisa também revelou que a avaliação dos trade-offs é enfatizada em soluções de grande amplitude e que a disponibilidade de simuladores e de informações contábeis favorece a análise.

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1 Introdução Não adianta a um produto bem concebido, com ótima embalagem e ampla promoção, estar no lugar errado e/ou indisponível quando desejado pelo cliente (LALONDE, 1993). A logística insere-se nesse contexto e busca que o produto certo esteja no lugar certo, no tempo certo, na quantidade certa, nas condições certas, a um preço certo e com as informações certas (MENTZER; FLINT; HULT, 2001). Após ser associada ao meio militar, a logística começou, na metade do século passado, a se estender ao meio empresarial. A fragmentação das diversas atividades pelas várias áreas organizacionais do início dessa propagação conduziu à existência de objetivos colidentes e à apresentação de altos custos (BALLOU, 2007) e fez com que se percebesse a necessidade de uma gestão integrada da logística capaz de otimizar o custo total e o serviço ao cliente (LAMBERT; ARMITAGE, 1979). A gestão integrada da logística passou a requerer que seus profissionais, responsáveis pelo serviço oferecido e pelos recursos consumidos, analisassem os trade-offs de custos (LAMBERT; ARMITAGE, 1979). Diante desse contexto, suscitou-se a primeira indagação desta pesquisa: Em que extensão os profissionais logísticos conhecem os trade-offs de custos logísticos? Mas, como o conhecimento apenas é relevante quando é usado na avaliação de problemas e na tomada de decisões (HULT et al, 2006), uma segunda questão também norteou este trabalho: Os profissionais logísticos avaliam os trade-offs de custos logísticos, ao desenharem e implementarem soluções? Para responder a essas duas questões, a abordagem teórico-empírica foi selecionada e envolveu a aplicação de um questionário a profissionais logísticos das maiores empresas industriais e comerciais do Brasil, segundo a Revista Exame Melhores e Maiores de 2011. Ao integrar conceitos logísticos a conceitos contábeis, esta pesquisa justifica-se teoricamente pela promoção da interdisciplinaridade entre as duas áreas. Do ponto de vista prático, ao explorar o conhecimento dos trade-offs e sua respectiva aplicação, este estudo auxilia os profissionais logísticos a identificarem se já atuam com condições de encontrar o equilíbrio entre os custos incorridos e os serviços oferecidos (BUSHER; TYNDALL, 1987). Além desta introdução, esta pesquisa está estruturada em mais quatro seções. Inicialmente, a segunda seção apresenta a plataforma teórica da pesquisa, enfatizando os conceitos da logística integrada, do custo total e dos trade-offs de custos logísticos. Em seguida, a terceira seção traz os procedimentos metodológicos seguidos no desenvolvimento da pesquisa e a quarta seção apresenta e discute os resultados. Por fim, a quinta seção reúne os argumentos conclusivos da pesquisa e aponta suas limitações. 2 Plataforma Teórica 2.1 Logística Integrada Embora evidências da importância logística existam desde o período de construção das pirâmides, até a metade do século passado havia associação do seu contexto à aquisição, à manutenção e ao transporte militar (LUMMUS; KRUMWIEDE; VOKURKA, 2001). Apenas a partir de 1950, a logística começou a se estender ao meio empresarial, de modo restrito, com fragmentação das suas atividades por diversas áreas empresariais, sobretudo marketing, finanças e produção (BALLOU, 2007). Entre 1960 e 1970, surgiu a percepção que a integração das atividades poderia melhorar os resultados obtidos com a logística, diminuindo os conflitos interdepartamentais, reduzindo os altos custos e aperfeiçoando o serviço ao cliente. Essa percepção propulsionou a emersão do conceito da logística integrada (LAMBERT; ARMITAGE, 1979), acentuado no final da

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década de 1990, com a expansão dos desafios da economia moderna, dos avanços tecnológicos e da exigência dos clientes. A logística integrada envolve uma estrutura facilitadora de controle (BALLOU, 2007) que focaliza o atendimento satisfatório aos clientes e a geração de lucros (LAMBERT; STOCK, 1992). A satisfação dos clientes depende do nível que o serviço é ofertado e a geração de lucros depende do custo total incorrido para ofertar esse serviço. Nesse sentido, dois pilares sustentam a fundamentação da logística integrada: nível de serviço e custo total (GUERREIRO; BIO; FELLOUS, 2010). A aplicação dos conceitos e das técnicas de logística integrada busca a solução ótima de um processo logístico, que é aquela que melhor atende à equação nível de serviço ótimo e custo total mínimo (BIO; ROBLES; FARIA, 2003), conforme ilustra a Figura 1:

FONTE: BIO; ROBLES; FARIA, 2003

O nível de serviço ao cliente representa uma medida de produtividade na criação das utilidades de tempo e de lugar (LAMBERT; LEWIS, 1983). Cada nível de serviço origina diferentes receitas e diferentes custos, determinando os lucros. Se nenhum serviço é ofertado, incorre-se em baixos custos, mas não se criam as utilidades de tempo e de lugar e não se concretizam as vendas. À medida que o nível de serviço alcança o nível oferecido pelos concorrentes, aumentam-se os custos, mas criam-se as utilidades de tempo e de lugar e estimulam-se as vendas (BALLOU, 2006). Diante dessa situação, Sabath (1978) defende que o ótimo nível de serviço é aquele que retém os clientes ao menor custo total possível. 2.2 Custo Total O conceito do custo total logístico foi trazido em 1956, quando Lewis, Culliton e Steele (1956) expuseram os inter-relacionamentos de custos entre as atividades logísticas e evidenciaram que as decisões da área não deveriam ser consideradas isoladamente. Os autores mostraram que o alto custo do transporte aéreo, usado em substituição a modais menos dispendiosos, poderia ser compensado por menores custos de manutenção de inventários, de armazenagem e de embalagem. O desenho e o redesenho da rede logística, o desenho e o redesenho dos processos logísticos e as formulações dos outros projetos logísticos guiam-se pelo objetivo conjunto de reduzir os custos e de melhorar o serviço ao cliente (NAPOLITANO, 1997) e carecem de avaliação dos impactos totais que cada uma das possíveis alternativas traz (CHRISTOPHER, 1994; LAMBERT; STOCK, 1992). Sob o espectro do custo total logístico, nenhum custo pode ser modificado sem afetar os outros custos e/ou o serviço ao cliente (GOPAL; CYPRESS, 1993). A centralização das instalações, por exemplo, auxilia na redução dos custos, mas dificulta e torna moroso o planejamento, a coordenação e a execução de um alto nível de serviço. Um maior número de

Figura 1 – Logística integrada: Nível de serviço e custo total

CUSTO TOTAL

PROCESSOS LOGÍSTICOS

NÍVEL DE SERVIÇO

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instalações, por sua vez, amplia a cobertura de mercado e o nível de serviço, mas, simultaneamente, aumenta os custos logísticos. Ademais, uma rede com várias instalações distantes dos clientes consegue oferecer o mesmo nível de serviço que uma rede com várias instalações próximas, desde que implante uma estratégia de transportes que reduza o tempo de resposta, mas aumente os custos (i.e., uso de modal aéreo em detrimento ao uso de modal ferroviário). Na formulação das soluções, há uma reação dos componentes da rede logística para cada plano de ação considerado (NAPOLITANO, 1997), conforme exemplifica o Quadro 1:

SOLUÇÃO LOGÍSTICA

IMPACTO NO SERVIÇO AO CLIENTE

IMPACTO NO TRANSPORTE

IMPACTO NO INVENTÁRIO

IMPACTO NA ARMAZENAGEM

Centralização Produtos longe dos clientes

Diminui o custo de transporte de entrada,

mas aumenta o custo de transporte de saída

Reduz a necessidade de estoques de segurança

Reduz custos das instalações

Descentralização Produtos perto dos clientes

Aumenta o custo de transporte de entrada,

mas diminui o custo de transporte de saída

Amplia a necessidade de estoques de segurança

Amplia o custo de armazenagem, devido à duplicidade de pessoal,

equipamentos e instalações devotados à

atividade

Uso de modal aéreo

Proporciona respostas tempestivas Maior custo

Reduz os inventários devido aos menores

ciclos de reposição e ao menor tempo em

trânsito

Amplia o número de manuseios, devido às frequentes entregas

Uso de modal ferroviário

Proporciona respostas pouco tempestivas Menor custo

Amplia os inventários devido aos maiores

ciclos de reposição e ao maior tempo em trânsito

Amplia o número de manuseios (produtos não estão normalmente em

paletes)

Compras Just in time

Custos de serviço maiores

Menores e mais frequentes compras

aumentam o custo de transporte

Reduz o nível e o custo dos inventários

Reduz o manuseio de materiais devido à

menor quantidade de inventários

Cada possível reação à ação proposta deve ser analisada. A definição dos resultados da solução, em termos de serviço ao cliente, e a identificação dos custos associados a esses resultados (CHRISTOPHER, 1987) devem estar presentes na análise e carecem da avaliação dos diversos e relevantes trade-offs de custos logísticos. 2.3 Trade-offs de Custos Logísticos O termo trade-off refere-se à troca compensatória entre a perda em algum aspecto e o ganho em outro aspecto. Os trade-offs de custos logísticos compreendem as trocas compensatórias em que o aumento em um custo logístico (perda em algum aspecto) pode ser compensado pela redução em outro custo logístico e/ou pelo aumento do nível de serviço oferecido ao cliente (ganho em outro aspecto), e vice-versa. Lewis, Culliton e Steele (1956) apresentaram a ideia do conceito quando defenderam que o transporte aéreo aumentava os custos de transporte, mas provocava a redução nos outros custos logísticos. Lambert e Armitage (1979) mostraram o outro ponto de compensação, ao defenderem que a existência dos trade-offs faz com que os cortes isolados de custos conduzam ao aumento do custo total e à piora do nível de serviço ao cliente. A avaliação dos trade-offs busca identificar as reações de cada componente logístico às ações propostas e, assim, mensurar as compensações e selecionar a alternativa que otimiza o custo

Quadro 1 – Exemplos de ações e reações nas soluções logísticas

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total e o desempenho econômico-financeiro (LAMBERT; ARMITAGE, 1979). Informações dos fatores que impactam os custos e as suas inter-relações (LEKASHMAN; STOLLE, 1965) são imperativas para viabilizá-la. 3 Desenvolvimento da Pesquisa Apresentado o arcabouço teórico que tornou factível a elaboração da pesquisa, mostra-se agora, nesta seção, o caminho percorrido no desenvolvimento do estudo. Primeiramente revelam-se características da população e da amostra e, em seguida, explora-se o instrumento de pesquisa. 3.1 População e Amostra A população da pesquisa compreendeu as maiores empresas brasileiras dos setores industriais e comerciais, conforme classificação da Revista Exame Melhores e Maiores de 2011. As maiores empresas foram selecionadas, pois Napolitano (1997) assevera que organizações pequenas não tendem a apresentar uma situação em que economias justifiquem a elaboração de robustas soluções. Os setores industriais e comerciais foram escolhidos por apresentarem aguda possibilidade de gestão logística. Os potenciais respondentes foram contatados por meio telefônico e eletrônico (email). A cada contato foi explicado o objetivo da pesquisa, encaminhado o questionário e assegurado que os direitos éticos de voluntariedade, anonimato e confidencialidade seriam preservados (HOQUE, 2006). Foi possível contatar 243 empresas e obter 73 respostas válidas, o que corresponde a uma taxa de resposta de 30%. As 73 empresas respondentes constituem a amostra da pesquisa, classificada como não probabilística (FÁVERO et al, 2009). A distribuição da amostra pelos setores está demonstrada na Tabela 1:

SETOR QUANTIDADE %Atacado 1 1%

Autoindústria 10 14% Bens de Capital 3 4%

Bens de Consumo 6 8% Eletroeletrônico 6 8% Farmacêutico 5 7%

Indústria da Construção 11 15% Mineração 3 4%

Papel e Celulose 1 1% Produção Agropecuária 3 4% Química e Petroquímica 14 19% Siderurgia e Metalurgia 5 7%

Têxtil 1 1% Varejo 4 5% TOTAL 73 100%

3.2 Instrumento de Pesquisa A inexistência de dados sobre o conhecimento e sobre a avaliação dos trade-offs de custos logísticos tornou necessária a coleta de dados primários. Essa coleta ocorreu com um levantamento (survey), que, segundo Nazari et al (2006), tem sido uma das estratégias mais usadas nas ciências sociais para capturar as características e as relações das variáveis. A

Tabela 1 – Distribuição da amostra da pesquisa pelos setores econômicos

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viabilização desse levantamento demandou a elaboração de um questionário, que compreende um conjunto ordenado e consistente de perguntas a respeito das variáveis que se deseja medir ou descrever (MARTINS; THEÓPHILO, 2009). O questionário desta pesquisa foi dividido em quatro blocos: a) Bloco 1: composto por questões que visaram identificar características dos respondentes

que poderiam influenciar a extensão de conhecimento dos trade-offs de custos logísticos;

b) Bloco 2: composto por questões com o objetivo de coletar informações da estruturação da área logística;

c) Bloco 3: composto por questões que buscaram acessar, propriamente, o conhecimento e a avaliação dos trade-offs de custos logísticos, bem como a eventual utilização de modelos no desenho de soluções; e

d) Bloco 4: composto por perguntas que procuraram investigar o apoio da Controladoria à Logística, no que tange à avaliação dos trade-offs de custos.

A confiabilidade do questionário foi verificada com o cálculo do alfa de Cronbach. Seu valor de 90,8% denotou a existência de consistência interna do instrumento de pesquisa. Um pré-teste foi realizado, por sua vez, para preservar a validade do questionário e para analisar se os termos utilizados nas perguntas eram compreendidos, se as perguntas eram entendidas como deveriam ser, se as opções de respostas às perguntas fechadas estavam completas, se a sequência das perguntas estava correta, se não havia objeções na obtenção das respostas, e se a forma de apresentar a pergunta não causava viés (MATTAR, 1997). O pré-teste foi primeiramente aplicado a um profissional, a um consultor e a um docente da área logística e, em seguida, a um gestor logístico com perfil semelhante aos potenciais respondentes. 3.3 Variáveis da Pesquisa Nas ciências sociais, as variáveis abordadas na perspectiva teórica não são diretamente observáveis e demandam que algum procedimento seja realizado para viabilizar seu acesso. Os constructos possuem um significado construído intencionalmente e resultam em proposições particulares observáveis e mensuráveis (MARTINS; THEÓPHILO, 2009). A coleta dos dados primários da pesquisa demandou a elaboração de cinco constructos, sendo dois específicos do tópico (conhecimento dos trade-offs de custos logísticos e avaliação dos trade-offs de custos logísticos) e três relacionados a fatores que podem influenciar a extensão do conhecimento e da avaliação dos trade-offs (conhecimento geral do profissional logístico, utilização de modelos e adequação das informações contábeis). O constructo do conhecimento dos trade-offs de custos logísticos compõe-se de variáveis que visaram identificar se os profissionais logísticos sabem que (1) os trade-offs existem, (2) os trade-offs determinam o custo total, e (3) os trade-offs e a logística impactam o desempenho econômico-financeiro. O constructo da avaliação dos trade-offs de custos logísticos, por sua vez, compõe-se de variáveis que buscaram verificar se, no desenho de soluções de distintas amplitudes, (1) o nível de serviço e os custos associados são identificados, (2) os trade-offs de custos relevantes são identificados e analisados, (3) os impactos econômico-financeiros são identificados e analisados, e (4) os resultados são continuamente reavaliados. O Quadro 2 traz esses constructos, suas variáveis e respectivas questões:

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CONSTRUCTOS VARIÁVEIS PESQUISADAS QUESTÕES

Conhecimento dos trade-offs de

custos logísticos

Conhecimento da existência dos trade-offs de custos logísticos

Na sua empresa é disseminada a ideia que, devido à existência de trocas compensatórias de custos, o aumento no custo de uma

atividade logística pode ser compensado com o aumento nas receitas (originado com ampliação do nível de serviço ao cliente) ou com a

redução no custo de outra atividade logística, e vice-versa?

Conhecimento do custo total

1 - Na sua empresa é disseminada a ideia que a formação do custo total logístico é determinada pelas trocas compensatórias de custos? 2 - Na sua empresa é disseminada a ideia que a redução individual dos custos pode aumentar e não diminuir o custo total logístico?

Conhecimento dos impactos no desempenho econômico-financeiro

Na sua empresa é disseminada a ideia que a logística impacta o desempenho econômico-financeiro da empresa?

Avaliação dos trade-offs de

custos logísticos

Avaliação do trade-off nível de serviço versus custo total na

formulação das soluções logísticas

Na formulação das soluções logísticas (de diversas amplitudes) são realizadas análises do custo total logístico versus o nível de serviço

ao cliente, ou seja, são simulados os custos totais em relação aos níveis de serviço possíveis de serem oferecidos?

Avaliação do trade-off nível de serviço versus custo total no desenho

da rede e dos processos logísticos

A rede logística da sua empresa e/ou os macroprocessos logísticos (abastecimento, logística de fábrica, distribuição) foram objetos de

estudos para potencializar os níveis de serviço ofertados aos clientes ao menor custo total possível?

Avaliação dos trade-offs relevantes na formulação das soluções logísticas

Na formulação das soluções logísticas (de diversas amplitudes) são identificadas e analisadas as trocas compensatórias de custos mais

relevantes? Avaliação dos impactos econômico-

financeiros do trade-off nível de serviço versus custo total na

formulação das soluções logísticas

Na formulação das soluções logísticas (de diversas amplitudes) são realizadas simulações e análises dos impactos econômico-financeiros

resultantes dos diferentes níveis de serviço?

Avaliação dos impactos econômico-financeiros dos trade-offs relevantes

na formulação das soluções logísticas

Na formulação das soluções logísticas (de diversas amplitudes) são realizadas simulações e análises dos impactos econômico-financeiros

das trocas compensatórias de custos mais relevantes? Deliberação da solução que otimiza o

desempenho econômico-financeiro (Aplicação da avaliação)

A solução logística selecionada é necessariamente aquela que otimiza o desempenho econômico e financeiro da empresa?

Avaliações sistemáticas do custo totalSão realizadas, de modo sistemático e rotineiro, avaliações do custo total dos processos logísticos e da rede logística em relação ao nível

de serviço oferecido aos clientes?

Otimização do custo total da rede e/ou dos processos logísticos (Consequência da avaliação)

A rede logística e/ou os macroprocessos logísticos da sua empresa já estão com o custo total otimizado, ou seja, já atuam com o menor custo total possível no atendimento do nível de serviço ao cliente

estabelecido?

A escala usada para acessar as variáveis de ambos os constructos foi a Likert, em que um conjunto de itens é apresentado, em forma de afirmação, para o respondente escolher um ponto e externar sua reação (MARTINS; THEÓPHILO, 2009). Cinco foram os pontos da escala Likert definida nesta pesquisa. Os demais constructos foram elaborados para identificar possíveis fatores associados ao conhecimento e à avaliação dos trade-offs. O conhecimento geral do profissional logístico levou em consideração a argumentação de Slone, Mentzer e Dittmann (2007) que os executivos logísticos precisam conhecer logística e que esse conhecimento pode ser constituído formalmente, por cursos, ou, informalmente, por experiência. A quantificação do maior nível de ensino contraído e a mensuração do tempo de serviço compõem, com escalas ordinais, as variáveis desse constructo (MYERS et al, 2004). A utilização de modelos foi incluída na análise, pois LeKashman e Stolle (1965) ressaltam que a análise do custo total envolve análises de inúmeras combinações que exigem modelos computacionais favorecedores do processamento de dados. A variável foi acessada ao questionar se, no desenho de soluções, são usados simuladores de custo total para rede logística e/ou para projetos de logística. A escala usada foi nominal, podendo ser classificada como sim ou não.

Quadro 2 – Constructos específicos da pesquisa

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Por fim, a adequação das informações contábeis foi investigada, já que Lambert e Quinn (1981) garantem que dados de custos devem ser disponibilizados para viabilizar a análise dos trade-offs. Tyndall e Busher (1985) corroboram esse entendimento e defendem que o controle dos custos logísticos necessita de informações contábeis precisas. O acesso à variável fez novamente uso da escala Likert de cinco pontos. O Quadro 3 apresenta esses constructos, suas variáveis e respectivas questões:

CONSTRUCTOS VARIÁVEIS PESQUISADAS QUESTÕES Conhecimento

geral do profissional

logístico

Experiência do profissional logístico Tempo de experiência em logística

Educação formal do profissional logístico Formação acadêmica

Utilização de modelos

Utilização de modelos no desenho de soluções

No desenho das soluções logísticas são usados simuladores de custo total para rede logística e/ou simuladores de custo total para projetos

logísticos?

Adequação das informações

contábeis

Adequação das informações contábeis

1 - As informações recebidas da Controladoria ajudam a apurar as trocas compensatórias de custos necessárias à mensuração do custo

total logístico? 2 - As informações recebidas da Controladoria ajudam a formular as

soluções logísticas?

4 Apresentação dos Resultados Os resultados obtidos na pesquisa empírica serão apresentados em duas perspectivas: estatística descritiva e testes de hipóteses. 4.1 Estatística Descritiva 4.1.1 Conhecimento dos Trade-offs de Custos Logísticos A Tabela 2 mostra a proporção dos respondentes que assinalou, dentro da escala 1 a 5, notas fracas ou médias (1, 2 e 3) e notas fortes (4 e 5) nas variáveis relativas ao conhecimento dos trade-offs de custos logísticos:

VARIÁVEL NÍVEIS DOS ESCORES

FRACO OU MÉDIO (%) FORTE (%)

Conhecimento da existência dos trade-offs 41% 59% Conhecimento do custo total (1) 52% 48% Conhecimento do custo total (2) 59% 41%

Conhecimento dos impactos no desempenho econômico-financeiro 23% 77%

Pode-se observar um aspecto curioso: os profissionais logísticos têm ideia da existência dos trade-offs (59% assinalaram níveis fortes), mas não possuem um claro entendimento que os trade-offs determinam o custo total e que a redução individual dos custos pode aumentá-lo e não diminuí-lo (52 e 59% da amostra, respectivamente, assinalaram níveis fracos ou médios). No que tange ao impacto logístico no desempenho econômico-financeiro, percebe-se que a ideia já está difundida entre os profissionais logísticos (77% assinalaram escores fortes). 4.1.2 Avaliação dos Trade-offs de Custos Logísticos

Quadro 3 – Constructos relacionados ao conhecimento e à avaliação dos trade-offs

Tabela 2 – Níveis dos escores das variáveis do conhecimento dos trade-offs de custos logísticos

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A Tabela 3 mostra a proporção de respondentes que assinalou, dentro da escala 1 a 5, notas fracas ou médias (1, 2 e 3) e notas fortes (4 e 5) nas variáveis relativas à avaliação dos trade-offs de custos logísticos:

VARIÁVEL NÍVEIS DOS ESCORES

FRACO OU MÉDIO (%) FORTE (%)

Avaliação do trade-off nível de serviço versus custo total na formulação das soluções logísticas 48% 52%

Avaliação do trade-off nível de serviço versus custo total no desenho da rede e dos processos logísticos 40% 60%

Avaliação dos trade-offs relevantes na formulação das soluções logísticas 45% 55%

Avaliação dos impactos econômico-financeiros do trade-off nível de serviço versus custo total na formulação das soluções logísticas 47% 53%

Avaliação dos impactos econômico-financeiros dos trade-offs relevantes na formulação das soluções logísticas 49% 51%

Deliberação da solução que otimiza o custo total 55% 45% Avaliações sistemáticas do custo total 40% 60%

Otimização do custo total da rede e/ou dos macroprocessos logísticos 53% 47% Pode-se constatar que a avaliação dos trade-offs de custos logísticos é enfatizada na formulação de soluções de grande amplitude. A avaliação do trade-off nível de serviço versus custo total e a avaliação sistemática do custo total da rede logística e dos processos logísticos obtiveram as maiores proporções (60%) de marcação em escores fortes. A vasta disponibilidade de softwares comerciais desenvolvidos para amplas soluções, como desenho e redesenho de redes, e o alto custo envolvido em análises dessa amplitude podem ser alguns dos motivos que induzam a essa priorização na avaliação dos trade-offs. As soluções de menor amplitude exibiram equilíbrio entre a marcação em escores fortes e escores fracos ou médios. Praticamente metade dos profissionais declarou promover extensivamente a avaliação do trade-off nível de serviço versus custo total, dos demais trade-offs relevantes (52 e 55%, respectivamente) e dos seus impactos econômico-financeiros (53 e 51%, respectivamente). Essas frequências revelam que praticamente metade das empresas ainda avalia pouco ou moderadamente os trade-offs, dificultando a otimização do custo total logístico. Além disso, percebe-se que a maior parte das empresas (55%) ainda não seleciona necessariamente a solução que otimiza o seu custo total e, como consequência, grande parte da amostra (53%) não atua com o menor custo total possível para atender o nível de serviço estabelecido ao cliente. 4.1.3 Conhecimento Geral do Profissional Logístico, Utilização de Modelos e Adequação das Informações Contábeis No que se refere ao conhecimento geral, ressalta-se que a maioria dos profissionais acessados nesta pesquisa é experiente: 70% da amostra possuem mais de cinco anos de experiência em logística e 90% mais de dois anos. Complementando esse constructo, sublinha-se o fato que a maioria dos profissionais logísticos da amostra estudou até cursos de especialização ou de MBA (64%) e que 92% têm, pelo menos, o ensino superior. São, dessa forma, profissionais que apresentam tendência a estarem familiarizados com a logística (SLONE; MENTZER; DITTMANN, 2007).

Tabela 3 – Níveis dos escores para as variáveis da avaliação dos trade-offs de custos logísticos

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independentes com variáveis ordinais, mas não foi realizado porque equivale ao teste de Mann-Whitney quando o número de amostras é igual a dois (FÁVERO et al, 2009). A sexta e última etapa contemplou a execução do teste e aceitação ou rejeição da hipótese. O nível de significância escolhido foi de 0,05, o que significa que apenas existem diferenças estatísticas significativas entre os grupos se o p-valor for inferior a 0,05. A ausência de diferença entre os grupos induziu à rejeição da hipótese de pesquisa (os grupos possuem comportamentos semelhantes indicando que não há associação entre o fator em análise e o conhecimento ou a avaliação dos trade-offs), enquanto que a constatação de diferença entre os grupos levou à aceitação da hipótese da pesquisa e ao entendimento que existe associação entre o fator em análise e o conhecimento ou a avaliação dos trade-offs. 4.2.1 Conhecimento dos Trade-offs de Custos Logísticos Slone, Mentzer e Dittmann (2007) defendem que os profissionais logísticos devem conhecer o contexto logístico e que a educação formal e a experiência favorecem esse conhecimento. Um profissional logístico experiente é capaz de visualizar imediatamente os problemas da área e reagir rápida e agressivamente na busca por soluções (SLONE; MENTZER; DITTMANN, 2007). A educação formal oferece uma maior base de conhecimento para a execução das tarefas e também favorece a formulação das soluções (MYERS et al, 2004). Nesse sentido, duas hipóteses foram elaboradas para identificar fatores que podem influenciar a extensão que os profissionais logísticos conhecem os trade-offs: Hipótese H1: O conhecimento dos trade-offs de custos logísticos está positivamente associado à experiência dos profissionais logísticos; e Hipótese H2: O conhecimento dos trade-offs de custos logísticos está positivamente associado à educação formal dos profissionais logísticos. A Tabela 4 traz os resultados (p-valores) que foram obtidos com a aplicação do teste de Mann-Whitney:

VARIÁVEL EXPERIÊNCIA

GRAU DE FORMAÇÃO ACADÊMICA

P-VALOR

DIF.? P-VALOR DIF.?

Conhecimento da existência de trade-offs de custos logísticos 0,467 Não 0,548 Não

Conhecimento do custo total (1) 0,123 Não 0,605 Não Conhecimento do custo total (2) 0,985 Não 0,837 Não Conhecimento dos impactos no

desempenho econômico-financeiro 0,031 Sim 0,154 Não

Pode-se observar que a existência de diferença estatística significativa restringe-se ao conhecimento dos impactos econômico-financeiros. Essa diferença pode emanar do fato de a variável ser mais uma habilidade negocial do que logística. A ideia é que os profissionais logísticos, após se concentrarem em habilidades da área, se dediquem a outras habilidades e, quanto mais experientes se tornam, mais sábios ficam de aspectos adicionais à logística, como dos seus impactos econômico-financeiros. A Tabela 5 vai ao encontro desse conceito e

Tabela 4 – Testes de hipóteses para as variáveis do conhecimento dos trade-offs de custos logísticos

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evidencia que os profissionais experientes assinalaram escores mais elevados que os não experientes:

VARIÁVEL “EXPERIENTES” “NÃO EXPERIENTES”

FRACOS OU MÉDIOS FORTES FRACOS OU

MÉDIOS FORTES

Conhecimento dos impactos no desempenho econômico-financeiro 18% 82% 36% 64%

A inexistência de diferença estatística significativa nos demais testes incitou à procura por estudos semelhantes. Myers et al (2004), por exemplo, analisaram o impacto da experiência e da escolaridade na performance dos profissionais logísticos e também não constataram diferença entre os grupos, chegando à conclusão que são as habilidades específicas que possibilitam efetivamente saber o que fazer nas situações empresariais. Dessa forma podem existir outros fatores específicos, não abordados neste estudo, que interfiram na extensão que os profissionais logísticos conhecem os trade-offs.

4.2.2 Avaliação dos Trade-offs de Custos Logísticos A utilização de sistemas de informações e de tecnologia computadorizada possibilita identificar oportunidades de otimização de custos e é crítica para a implementação da logística integrada (GUSTIN; DAUGHERTY; STANK, 1995). A análise do custo total, inclusive, envolve análises de inúmeras combinações e carece do uso de modelos (LEKASHMAN; STOLLE, 1965). Nesse sentido, elaborou-se a Hipótese H3: A avaliação dos trade-offs de custos logísticos está positivamente associada à utilização de modelos. Além do uso de modelos, a existência de informações contábeis é imperativa para avaliar os trade-offs. Waller e Fawcett (2012) advertem que a inexistência de informações precisas de custos impede a implementação do custo total e diversos autores comentam que se os trade-offs são o “coração” da logística, as informações adequadas de custo são o “coração” dos trade-offs. Sob esse prisma, formulou-se a Hipótese H4: A avaliação dos trade-offs de custos logísticos está positivamente associada à adequabilidade das informações contábeis. A Tabela 6 apresenta os resultados (p-valores) obtidos na aplicação do teste de Mann-Whitney:

VARIÁVEL UTILIZAÇÃO DE

MODELOS

ADEQUAÇÃO INFORMAÇÕES

CONTÁBEIS P-VALOR DIF.? P-VALOR DIF.?

Avaliação do trade-off nível de serviço versus custo total na formulação das soluções logísticas 0,000 Sim 0,048 Sim

Avaliação do trade-off nível de serviço versus custo total no desenho da rede e dos processos logísticos 0,001 Sim 0,030 Sim

Avaliação dos trade-offs relevantes na formulação das soluções logísticas 0,067 Não 0,039 Sim Avaliação dos impactos econômico-financeiros do trade-off nível de serviço versus

custo total na formulação das soluções logísticas 0,000 Sim 0,029 Sim

Avaliação dos impactos econômico-financeiros dos trade-offs relevantes na formulação das soluções logísticas 0,001 Sim 0,482 Não

Deliberação da solução que otimiza o custo total 0,035 Sim 0,095 Não

Avaliações sistemáticas do custo total 0,000 Sim 0,309 Não

Otimização do custo total da rede e/ou dos macroprocessos logísticos 0,036 Sim 0,828 Não

Tabela 5 – Frequências dos escores das notas dos profissionais experientes e não experientes

Tabela 6 – Testes de hipóteses para as variáveis da avaliação dos trade-offs de custos logísticos

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Na Hipótese H3, verifica-se que, a um nível de significância de 0,05, com exceção da variável da avaliação dos trade-offs relevantes, todas as variáveis exibiram diferenças estatísticas significativas entre o grupo que usa e o que não usa simuladores de custo total. A inesperada inexistência de diferença significativa entre os grupos no que tange à avaliação dos trade-offs relevantes pode derivar do fato que as informações de custos são o principal fator para a análise (LAMBERT; ARMITAGE, 1979), e, consequentemente, o uso de modelos não basta se, de antemão, não há informações adequadas de custos. Os resultados da Hipótese H4 corroboram esse entendimento e evidenciam que, tanto na formulação das soluções específicas quanto no desenho da rede e dos processos logísticos, as empresas que recebem informações adequadas da Controladoria avaliam os trade-offs em extensão distinta do que as empresas que recebem informações não adequadas. A avaliação dos impactos econômico-financeiros decorrente dos diferentes níveis de serviço também apresentou diferença entre os grupos e confere com os argumentos de Perreault Jr. e Russ (1976) que sem informações de custos não é possível estimar os impactos dos distintos níveis de serviço oferecidos. As variáveis que não exibiram diferença estatística significativa referem-se a: (1) impactos econômico-financeiros dos trade-offs, que podem depender de informações adicionais àquelas recebidas pela Controladoria, como as relativas ao fluxo de caixa; (2) avaliações sistemáticas, requerentes primeiramente de organização interna logística para determinação de periodicidade da análise; e (3) otimização, que não depende apenas do processo de desenho de solução, como também do profissional responsável pela decisão, que, pode guiar suas deliberações sem mirar especificamente a otimização do custo total e do desempenho econômico-financeiro, visando, por exemplo, o crescimento da empresa. A Tabela 7 apresenta a proporção de respondentes de cada um dos grupos às variáveis com diferenças estatísticas significativas e elucida que as empresas que usam modelos e que recebem informações adequadas avaliam os trade-offs em maior extensão (preponderância de marcação em escores fortes) do que as empresas que não usam modelos e que recebem informações não adequadas (preponderância de marcação em escores fracos ou médios).

VARIÁVEL UTILIZAÇÃO DE MODELOS ADEQUAÇÃO DAS INFORMAÇÕES CONTÁBEIS

GRUPO "USA MODELOS" "NÃO USA MODELOS"

"INFORMAÇÕES ADEQUADAS"

"INFORMAÇÕES NÃO ADEQUADAS"

ESCORES DAS NOTAS FRACOS

OU MÉDIOS

FORTES FRACOS

OU MÉDIOS

FORTES FRACOS

OU MÉDIOS

FORTES FRACOS

OU MÉDIOS

FORTES

Avaliação do trade-off nível de serviço versus custo total na formulação das soluções logísticas 24% 76% 81% 19% 27% 73% 60% 40%

Avaliação do trade-off nível de serviço versus custo total no desenho da rede e dos processos

logísticos 21% 79% 65% 35% 18% 82% 40% 60%

Avaliação dos trade-offs relevantes na formulação das soluções logísticas - - - - 23% 77% 50% 50%

Avaliação dos impactos econômico-financeiros do trade-off nível de serviço versus custo total na

formulação das soluções logísticas 24% 76% 77% 23% 23% 77% 55% 45%

Avaliação dos impactos econômico-financeiros dos trade-offs relevantes na formulação das

soluções logísticas 36% 64% 68% 32% - - - -

Deliberação da solução que otimiza o custo total 45% 55% 68% 32% - - - - Avaliações sistemáticas do custo total 19% 81% 68% 32% - - - -

Otimização do custo total da rede e/ou dos macroprocessos logísticos 45% 55% 65% 35% - - - -

Tabela 7 – Frequências dos escores das notas dos grupos às variáveis com diferenças estatísticas

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5 Conclusões Este artigo trouxe que o gerenciamento da logística integrada busca a otimização dos custos e não sua redução individual (LAMBERT; ARMITAGE, 1979) e sublinhou que é preciso considerar o custo total e os trade-offs de custos logísticos na formulação das soluções. Esta pesquisa também mostrou a existência de uma lacuna entre o nível de informação contábil que apoiaria a logística na avaliação dos trade-offs e o nível que efetivamente é encontrado nas empresas. Com relação à primeira questão orientadora “Em que extensão os profissionais logísticos conhecem os trade-offs de custos logísticos?”, observou-se a disseminação da ideia que os trade-offs existem, mas a ausência de clareza no entendimento que o custo total é determinado por esses trade-offs e que a redução individual dos custos pode aumentá-lo e não diminuí-lo. Além disso, percebeu-se que os profissionais logísticos sabem que a logística impacta o desempenho econômico-financeiro. Notou-se que os profissionais mais experientes exibem um maior conhecimento dos impactos econômico-financeiros do que os profissionais menos experientes, trazendo a conjectura que, após adquirirem e se concentrarem em habilidades logísticas, os profissionais da área passem a adquirir também outras habilidades. A resposta à segunda questão da pesquisa “Os profissionais logísticos avaliam os trade-offs de custos logísticos, ao desenharem e implementarem soluções?” evidenciou que a avaliação dos trade-offs é enfatizada em soluções de grande amplitude, relacionadas à rede e aos processos logísticos. O alto custo envolvido e a vasta disponibilidade de softwares comerciais para esses tipos de soluções são um dos possíveis motivos da priorização. As soluções de pequena amplitude apresentaram proporcionalidade entre os patamares de avaliação fracos ou médios e fortes. Apesar disso, salientou-se que praticamente metade das empresas avalia pouco ou moderadamente os trade-offs, dificultando o sucesso da integração logística. Observou-se também que as empresas que fazem uso de simuladores de custo total e que recebem informações adequadas da Controladoria avaliam os trade-offs em maior extensão do que as empresas que não usam modelos e que não recebem informações contábeis adequadas. Pode-se assim constatar que a ampla aplicação da análise dos trade-offs de custos logísticos ainda está por vir. A não adequabilidade das informações oferecidas pela Controladoria e a não utilização extensiva de simuladores de custo total constituem alguns dos obstáculos para essa aplicação e impedem que a otimização do custo total logístico seja alcançada. Quanto às limitações do presente estudo salienta-se que a população acessada partiu de uma amostra não probabilística. Por esse motivo, restringe-se a validade externa da pesquisa e adverte-se que generalizações dos resultados obtidos não são indicadas. Pesquisas similares que acessem outras populações podem auxiliar na formação de uma base de estudos comparativos. O instrumento de coleta de dados também traz limitações ao estudo. Apesar de o questionário ter sido pré-testado e sua validade e confiabilidade terem sido analisadas, podem-se encontrar distintas interpretações às questões, pelos diferentes graus de discernimento e de julgamento dos profissionais. Novas pesquisas podem acessar os constructos de forma alternativa, com o uso de técnicas qualitativas, como estudos de caso, grupos focais e experimentos. Por fim, ressalta-se a limitação originada pela própria escolha do tema. O tema selecionado ainda foi pouco explorado na literatura mundial e careceu da elaboração inicial de constructos. Novas pesquisas são requeridas para confirmar a definição trazida ou para identificar outros possíveis constructos e outras possíveis variáveis. Referências

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