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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE CURSO DE ODONTOLOGIA ANA PAULA LUZ DA COSTA CONHECIMENTO E CONDUTAS DE DOCENTES DO CURSO DE ODONTOLOGIA DA UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ SOBRE BIOSSEGURANÇA. Itajaí, (SC) 2007

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ

CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

CURSO DE ODONTOLOGIA

ANA PAULA LUZ DA COSTA

CONHECIMENTO E CONDUTAS DE DOCENTES DO CURSO DE

ODONTOLOGIA DA UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ SOBRE

BIOSSEGURANÇA.

Itajaí, (SC) 2007

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ANA PAULA LUZ DA COSTA

CONHECIMENTO E CONDUTAS DE DOCENTES DO CURSO DE

ODONTOLOGIA DA UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ, SOBRE

BIOSSEGURANÇA.

Trabalho de Conclusão de Curso

apresentado como requisito parcial para obtenção do título de Cirurgião-Dentista do Curso de Odontologia da Universidade do Vale do Itajaí.

Orientador: Prof.Dr. Mário Uriarte Neto

Itajaí, (SC) 2007

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FOLHA DE APROVAÇÃO

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CONHECIMENTO E CONDUTAS DE DOCENTES DO CURSO DE ODONTOLOGIA DA UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ SOBRE BIOSSEGURANÇA.

Ana Paula Luz da COSTA Orientador: Prof. Dr. Mário URIARTE NETO Data de defesa: abril de 2007

Resumo: No que se refere à biossegurança, a prática odontológica apresenta, como outras profissões da saúde, o risco ocupacional, levando-se em conta o rico meio de cultura e transmissão que representam as secreções corporais, às quais estão expostos cirurgiões-dentistas, auxiliares e pacientes. A adoção de condutas de prevenção e proteção é indispensável na redução de infecções cruzadas. Este trabalho objetivou avaliar o conhecimento e condutas de docentes do Curso de Odontologia da Universidade do Vale do Itajaí sobre biossegurança. Foi realizada uma pesquisa descritiva, através de um questionário com quatro perguntas abertas, que teve como população-alvo 34 docentes, sem discriminação de disciplinas e/ou formação, atuantes no segundo semestre de 2006, que, voluntariamente, aceitaram participar da pesquisa. A análise foi efetuada com base na teoria de análise de conteúdo proposta por Bardin (1979). Os resultados demonstram que 50,7% dos docentes entrevistados identificam por biossegurança as medidas de controle de infecções; quando questionados sobre a aplicação dos princípios de biossegurança, 27% das respostas se referiam à utilização dos EPIs; e 26,9% acreditam que a melhor maneira para a aplicação dos princípios, é o exemplo do cumprimento das normas de biossegurança; e 25,6% dos docentes afirmam propor a utilização dos EPIs em sua disciplina. Conclui-se que não há uma uniformidade nos conceitos sobre biossegurança apresentados pelos docentes pesquisados, onde muitos ainda não conhecem seu amplo significado; que os conhecimentos e aplicações são realizados de forma fragmentada e não como um conjunto de princípios, medidas e atitudes como propõe o próprio termo biossegurança. Palavras-chave: biossegurança, capacitação profissional, risco por agentes biológicos.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ..............................................................................................................5

2 REVISÃO DE LITERATURA .........................................................................................8 2.1 Biossegurança..........................................................................................................8 2.1.1 Conceitos e Classificações ..................................................................................8 2.1.2 Histórico...............................................................................................................11 2.2 Riscos ocupacionais na prática odontológica ....................................................14 2.2.1 Principais doenças passíveis de transmissão no consultório odontológico 15 2.3 Medidas de precaução-padrão ..............................................................................21 2.3.1 Princípio 1: medidas de proteção para a saúde do profissional e de sua equipe...................................................................................................................22 2.3.2 Princípio 2: evitar contato direto com matéria orgânica..................................24 2.3.3 Princípio 3: limitar a propagação de microorganismos...................................27 2.3.4 Princípio 4: tornar seguro o uso de artigos, peças anatômicas e superfície 28 2.4 Pesquisas abordando o assunto biossegurança x odontologia........................30

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS....................................................................35

4 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS............................................36

5 CONCLUSÃO E SUGESTÕES ...................................................................................46 5.1 Conclusão ...............................................................................................................46 5.2 Sugestões ...............................................................................................................46

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1 INTRODUÇÃO

Qualquer ambiente que trabalhe com saúde prestando serviço à população, não

poderá em hipótese alguma ser um carreador de microorganismos para o cliente

atendido. Deve haver uma constante preocupação de toda a equipe de trabalho com o

processo de controle de infecções, em especial, em épocas atuais, com tantas

patologias infecto-contagiosas “morando ao lado” (destaque nosso) de qualquer

pessoa.

Assim a odontologia, na condição de ciência e profissão da saúde, deve atuar

com um olhar voltado às questões pertinentes à adoção de condutas de prevenção e

proteção contra riscos ocupacionais que podem ocorrer, prejudicando profissional,

auxiliares e inclusive o próprio cliente atendido.

Sabe-se que as medidas de precaução-padrão vêm a contribuir na redução da

transmissão de microorganismos patogênicos. Estas medidas baseiam-se em princípios

que norteiam o processo de funcionamento de um consultório odontológico, atendendo

todos os clientes em condições biologicamente seguras, independente da anamnese,

diagnóstico e formas de tratamento proposto.

Os princípios e as medidas adotadas em relação à biossegurança abordam

questões que vão desde imunizações, lavagem de mãos, uso de barreiras protetoras,

cuidados com instrumentais/áreas de atuação, até o descarte final do lixo de

consultório.

Todo este arsenal de princípios vem corroborar as necessidades da

biossegurança nesta época contemporânea, ou seja, melhorar as condições de

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trabalho, oferecendo um ambiente biologicamente confiável a todos que fazem parte do

processo, profissionais, auxiliares e clientes.

Desta forma, é necessário que os cirurgiões-dentistas sejam conhecedores dos

riscos biológicos existentes e da dimensão de alcance da transmissão de agentes

infecciosos dentro de um ambiente de consultório, e adotem as medidas de

prevenção/proteção como prática diária em seus consultórios.

Este processo de conhecimento e responsabilidade por parte do cirurgião-

dentista deve ser iniciado quando da formação do futuro profissional. Neste sentido,

Teixeira e Santos (1999) acreditam que as faculdades de Odontologia, em geral,

oferecem conhecimento teórico necessário para o entendimento dos mecanismos de

controle de infecções, mas reconhecem que a maioria não disponibiliza treinamento e

estrutura suficientes para a realização desta prática, o que resulta na desvalorização da

teoria. No estudo de Greppi e Cesar (2002), ficou evidenciada esta afirmativa, pois

entre os alunos pesquisados foi identificado que eles sabem da importância dos

equipamentos de proteção individual, mas não utilizam por completo os equipamentos,

durante o curso de graduação.

É necessária, portanto, a mobilização de todo o conjunto universitário (alunos,

professores e instituição). É fundamental que o discurso do professor esteja relacionado

com a sua prática para que a relação teoria/prática não seja sufocada. Ensinar não é

transmitir conhecimento, ensinar exige corporificação da palavra pelo exemplo, caso

contrário elas pouco ou quase nada valem. (FREIRE, 1996)

Frente ao exposto, o presente estudo verificou, através de uma pesquisa

descritiva, o conhecimento e as condutas de docentes do curso de Odontologia da

UNIVALI, com atuação em 2006, sobre biossegurança. Pensa-se que o processo

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educativo precisa ser praticado no cotidiano, com uma consciência do que é feito e

porque é feito. Assim, a perspectiva de conhecer o dia-a-dia destes educadores, que

atuam no curso de Odontologia, permitirá subsidiar discussões sobre a necessidade da

implantação de um protocolo de medidas de precaução-padrão aplicáveis ao cotidiano

da academia e na vida do egresso.

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2 REVISÃO DE LITERATURA

2.1 Biossegurança

2.1.1 Conceitos e Classificações

A construção do termo biossegurança teve início na década de 70, quando

iniciou a preocupação com os impactos da engenharia genética sobre a sociedade.

Nesta ocasião, visava-se a proteção dos profissionais envolvidos em projetos de

pesquisa da área biológica. Posteriormente, na década de 80 , incorporaram-se a este

conceito, a proteção contra riscos periféricos, presentes em ambientes que trabalham

com agentes patogênicos para o homem. (COSTA, 1999; CRO-RJ, 2005; SOUZA,

2004)

Hoje, em uma definição mais abrangente, entende-se por biossegurança o

conjunto de medidas capazes de oferecer condições que previnam ou minimizem os

riscos ocupacionais, em atividades de pesquisa, produção, ensino, desenvolvimento

tecnológico e prestação de serviços, resguardando a saúde do trabalhador, dos

animais, preservando o meio ambiente e qualidade dos resultados. (COSTA; COSTA,

2002)

Para os cirurgiões-dentistas, a biossegurança tem como finalidade tornar a

prática profissional segura, utilizando para isto, medidas que sirvam de barreiras contra

infecções. (FUNARI, 2000; GUANDALINI et al., 1999)

Estas medidas se aplicam ao ambiente de trabalho, suas instalações e

equipamentos, com o intuito de controlar e prevenir doenças infecto-contagiosas ou

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decorrente de efeitos cumulativos, como: postura corporal inadequada, doenças ósseas

relacionadas ao trabalho e efeitos da radiação ionizante. (PERNAMBUCO, 2001)

Para uma melhor compreensão do controle de infecções, torna-se necessário

reforçar o significado e a aplicação dos termos, a seguir.

• Anti-sepsia:

Em geral a palavra sêpsis relaciona-se ao efeito tóxico do microorganismo

durante uma infecção dentro do hospedeiro. Anti-sepsia refere-se, então, à prevenção

desses efeitos tóxicos, com a utilização de substâncias químicas em pele e mucosas,

que tem por finalidade a inibição da proliferação e/ou a destruição bacteriana, isto é,

prevenção da infecção. (JORGE, 2002; PELCZAR JÚNIOR et al., 1997b)

• Assepsia:

Assepsia refere-se a práticas com objetivo de manter profissional, equipe e

paciente, livres de agentes infecciosos, prevenindo a contaminação por

microorganismos externos e reduzindo em número aqueles já presentes. Portanto,

assepsia é a ausência de infecção, prevenção do contato com patógenos. (FUNARI,

2000; JORGE, 2002; PELCZAR JÚNIOR et al., 1997 b; RATHBUN, 1997)

• Contaminação:

Segundo Teixeira e Santos (1999), contaminação é o contato com patógenos,

seja em superfícies e objetos ou tecidos humanos, sobrevivendo a um período de

tempo. Uma contaminação pode vir a gerar uma infecção.

• Descontaminação:

Estrela, em 2003, descreveu como descontaminação, a limpeza dos

instrumentais e superfícies, removendo remanescentes do tratamento, sangue, saliva,

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matéria orgânica e resíduos de materiais dentários. Para o autor, este procedimento

além de inativar os microorganismos presentes, aumenta a segurança dos processos

de desinfecção e esterilização.

• Desinfecção:

O processo de desinfecção reduz ou tenta destruir as formas microbianas de vida

presentes em artigos e superfícies, através da aplicação de agentes químicos.

(BRASIL, 2000; FUNARI, 2000; JORGE, 2002; RATHBUN, 1997)

• Esterilização:

Processo caracterizado pela capacidade de eliminar todas as formas de vida

encontradas em objetos. (NESI, 2000; JORGE, 2002)

• Infecção:

É a instalação e sobrevivência do microorganismo no hospedeiro. Para que

ocorra uma infecção é necessário que haja uma fonte de microorganismos, um contágio

por um microorganismo com determinada capacidade de causar danos no hospedeiro,

em um determinado número e um hospedeiro com maior ou menor resistência.

(TEIXEIRA; SANTOS, 1999)

Para Estrela (2003), infecção consiste na entrada e colonização de

microorganismos no hospedeiro, sem necessariamente causar uma doença.

• Infecções Cruzadas:

Refere-se à transmissão de microorganismos patogênicos de um paciente para o

outro. (RATHBUN, 1997)

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2.1.2 Histórico

A preocupação com a transmissão de doenças existe a milhares de anos.

Hipócrates, em 460 a.C. dividia as doenças em endêmicas e epidêmicas, agudas e

crônicas. No período compreendido entre 600 a.C. até aproximadamente 200 d.C., um

grande impulso na área médica que ocorreu na Índia, exigiu a obrigatoriedade das

vestes brancas e o máximo de asseio com as mãos e unhas. Registros de controle de

infecção podem ser observados também na bíblia, principalmente nos livros: Levítico e

Números. (FUNARI, 2000; RATHBUN, 1997)

Até este momento essas medidas eram tomadas de forma empírica; somente por

volta de 1660, quando Leeuwenhoek observou, pela primeira vez, organismos vivos

diminutos e, posteriormente, com a invenção do microscópio, começaram a surgir

teorias sobre o desenvolvimento das doenças. (ESTRELA, 2003; PELCZAR JÚNIOR et

al., 1997a)

Quase cem anos após, Anton Von Plenciz, não apenas estabeleceu que seres

vivos causassem as doenças, mas que diferentes seres eram responsáveis por

doenças distintas. Neste período começava-se a aceitar a idéia de um ser vivendo

sobre outro e alimentando-se de nutrientes extraídos dele. (PELCZAR JÚNIOR et

al.,1997a)

Os mesmos autores citados anteriormente ainda relataram o desenvolvimento da

teoria microbiana da doença por Pasteur, em 1800, e sua importante descoberta dos

agentes etiológicos de algumas doenças bastante significativas para a época.

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Em 1832, William Henry foi o primeiro a utilizar água fervente em recipientes

pressurizados, com o intuito de eliminar os microorganismos presentes em

determinados locais. (RATHBUN, 1997)

Por essa época, Inácio Felipe Semmelweis descobria que a causa da febre

puerperal, que levava ao óbito as parturientes, era a ausência de assepsia dos

médicos, e estudantes de medicina que tinham contato com elas. Contrariando todo

conhecimento até então, Semmelweis afirmava ainda, que a doença era transmitida

para as parturientes e entre elas, pelas próprias mãos dos médicos. Após a sua morte,

um colega, o professor Kolletschka, é internado em uma clínica para doentes mentais,

por defender esta teoria e somente foi liberado quando Oliver Wendell Holmes pode

publicar sua comprovação. (BARROS, 2005)

Florence Nightingale, enfermeira de longa experiência, por sua vez, no ano de

1854, conseguiu diminuir de 42%, a mortalidade nos hospitais, para 2,2% em apenas

quatro anos de trabalho desenvolvendo suas idéias de sanitização. Tornou-se uma

verdadeira reformadora dos hospitais com suas idéias revolucionadoras para aquela

época. (FUNARI, 2000; PELCZAR JÚNIOR et al., 1997a)

Relatos de Joseph Lister, por volta de 1860, indicavam uma taxa de infecções

pós-cirúrgicas de aproximadamente 45% de seus próprios pacientes. Suas pesquisas

para manter incisões cirúrgicas livres de contaminação deram origem às técnicas

assépticas atuais. (PELCZAR JÚNIOR et al., 1997a)

Barros (2005) mencionou em seu trabalho o decréscimo de 35% na taxa de

mortalidade, devido ao emprego de soluções aquosas de fenol na anti-sepsia de

ferimentos, experimento que comprovou a inibição da proliferação microbiana, teoria

defendida por Lister.

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Pasteur, na continuidade de seus estudos, descobriu durante uma de suas

experiências, que um microorganismo poderia perder a virulência, capacidade de

causar manifestações patológicas, e ainda estimular o hospedeiro a produzir

anticorpos, dando início em 1880, aos procedimentos de imunização. (PELCZAR

JÚNIOR et al., 1997a)

No ano de 1883, Charles Chaberland criou a autoclave, inicialmente utilizada

apenas por alguns laboratórios de bacteriologia. Outro fato marcante foi o

desenvolvimento das luvas de borracha, criadas devido à grande polêmica causada

pelas técnicas de assepsia e anti-sepsia. Eram utilizadas para proteger as mãos das

irritações causadas pelos agentes químicos de desinfecção e em 1890, já eram

recomendadas para a manipulação de doentes e para processos cirúrgicos (FUNARI,

2000).

Porém, nenhuma doença tinha assustado tanto quanto a epidemia da infecção

pelo HIV/AIDS, em 1985, quando o Centro de Controle de Doenças dos Estados Unidos

(CDC) alarmou a possibilidade da transmissão do HIV por um profissional infectado, e

em 1986, sugere então, as primeiras normas de controle da doença voltada para

profissionais da área de saúde. (GRECO; NEUES, 2006)

Barros (2005) trazendo a história da assepsia mais para a atualidade relembra

que em 1990, dois pacientes submetidos a procedimentos cirúrgicos por cirurgiões

bucomaxilofaciais, internados na unidade de terapia intensiva, desenvolveram infecções

pós-cirúrgicas. Após investigação, foi constatado que os profissionais envolvidos no

caso trocaram curativos e examinaram os pacientes sem utilizarem luvas esterilizadas e

sem lavarem as mãos.

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O fato citado por Barros anteriormente vem reforçar a preocupação de Pelczar

Júnior et al. (1997b) que estimavam que 1 a cada 20 pacientes desenvolveria infecções

adquiridas em ambientes de saúde; esta análise se deu pelo fato de que nos anos de

1979 a 1989, o número de pacientes com bacteriemia por S. aureus aumentou de 40

para 138 por ano e no período compreendido de 1980 a 1990 os casos de C. albicans

aumentaram de 1,0 para 2,9 em pacientes que recebiam alta.

2.2 Riscos ocupacionais na prática odontológica

A prática odontológica apresenta, como a de outras profissões na área de saúde,

o risco ocupacional, tornando possível a troca de papéis entre os envolvidos, o

profissional tornando-se paciente, principalmente neste caso em que o agente causador

da moléstia é invisível a “olho nu”, como bactérias e vírus. (PERNAMBUCO, 2001)

O fato de manejarem diariamente instrumentos capazes de ocasionarem feridas

e abrasões torna os cirurgiões-dentistas vulneráveis a acidentes, que podem complicar

por alguma infecção. (PEREIRA, 1993)

Lopes et al. (2004) relataram que no ano de 2003, foram recebidos para

atendimento hospitalar, por motivo de acidentes durante o trabalho, 9,56% profissionais

envolvidos com atendimento odontológico. Estima-se, ainda, que este número seja

maior, devido à deficiência dos registros de acidentes, sendo que 24,33% não

identificaram a unidade de origem dos acidentes.

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Entre todas as formas de ferimentos, observam-se altas porcentagens de casos

envolvendo instrumentais perfurocortantes, sendo relatada pelos próprios envolvidos a

falta de atenção como principal motivo dos acidentes. (SANTOS; PELOGGIA, 2002)

Considerando a facilidade e freqüência com que ocorrem estes acidentes, deve-

se levar em conta o rico meio de cultura e transmissão que representam as secreções

corporais, às quais estão expostos cirurgiões-dentistas, auxiliares e pacientes, e

adquirir conhecimento para tentar evitar a ocorrência de infecções cruzadas. (FUNARI,

2000)

Estudos têm mostrado que a prevalência em profissionais da saúde com

infecções por hepatite B é de 3 a 5 vezes maior do que na população em geral; 12% e

27% dos casos acometem, respectivamente, cirurgiões-dentistas que praticam clínica

geral e cirurgia bucomaxilofacial. Outros agentes de preocupação odontológica são:

hepatite C, HIV, Papilomavírus humano, Herpes Simples e Zoster, Citomegalovírus,

Cândida albicans e Treponema pallium. (TEIXEIRA; SANTOS, 1999)

2.2.1 Principais doenças passíveis de transmissão no consultório odontológico

Candidíase: é uma infecção comum em indivíduos imunocomprometidos. Apesar

de fazer parte da microbiota normal, pode levar a infecções superficiais e sistêmicas,

mas, geralmente afeta a pele, unhas, mucosas da cavidade oral, vagina, esôfago e

árvore brônquica. O fungo mais comumente encontrado é a Cândida albicans, porém

outras espécies podem estar relacionadas. (BRASIL, 2000; ESTRELA, 2003)

Citomegalovírus: a transmissão do CMV pode ocorrer por contato com

secreções contaminadas, especialmente saliva e urina. O período de incubação para

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transmissão pessoa - pessoa não é conhecido, mas sabe-se que este vírus sobrevive

até oito horas em superfície não absorvente. Apesar de em 90% dos casos ser uma

infecção assintomática, pode levar a uma doença linfática semelhante à mononucleose,

e em estudos realizados revela-se responsável por 0,1% das mortes de recém-natos e

causador de defeitos congênitos, em maior número de casos em filhos de profissionais

da saúde quando comparados a um grupo controle. (BRASIL, 2000)

Doenças exantemáticas (sarampo, catapora, rubéola...): doenças de origem

viral, caracterizada pela presença de exantemas, altamente contagiosas. Sua principal

forma de contágio é através de secreções nasofaríngeas e respiratórias, resistem bem

extracorporeamente, sendo inativados a uma temperatura de aproximadamente 56°C,

sendo que o melhor tratamento para essas infecções é sem dúvida a prevenção com

imunizacões. (BRASIL, 2000; ESTRELA, 2003)

Gonorréia: causada pelo agente Neisseria gonorrhoeae, também conhecida

como uma doença sexualmente transmissível (DST), pode apresentar também a

cavidade bucal como habitat do microorganismo, sendo esta também a principal forma

de contaminação dos cirurgiões-dentistas durante o atendimento odontológico. Este

microorganismo tem baixa resistência extracorpórea, sobrevive por poucas horas em

superfícies secas; portanto, as manifestações bucais e fluidos provenientes dela

servem como meio de contágio dos profissionais. (BRASIL, 2000)

Hepatites Viróticas: a hepatite B entre todos os tipos de hepatite é a que

apresenta o maior risco de transmissão para cirurgiões-dentistas, auxiliares e pacientes.

O vírus da hepatite B (HBV) apresenta-se em alta concentração no sangue de pessoas

contaminadas e é muito resistente fora do corpo humano; a 20°C resiste por 15 anos e

a 60°C por cerca de quatro horas. (BRASIL, 2000)

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No Brasil, em 1991, a prevalência de portadores de hepatite B na população era

de 2 a 7%, enquanto que cirurgiões-dentistas clínicos representavam 10% dos

acometidos pela doença e entre os que exerciam especialidades cirúrgicas, este

número atingia 44%. O mesmo ocorre com os profissionais americanos, onde 0,8 a 4%

são portadores crônicos, enquanto na população geral apenas 0,3% das pessoas

sofrem de hepatite B. (TEIXEIRA; SANTOS, 1999)

Segundo Rathbun (1997), foram relatados nove casos de surtos de hepatite B

envolvendo de 3 a 53 pacientes que foram infectados por cirurgiões–dentistas

portadores da doença. Em um caso dois pacientes morreram por hepatite fulminante e

um dos pacientes, como conseqüência da infecção, teve as suas funções hepáticas

paralisadas. Na quase totalidade dos casos, os profissionais responsáveis pela

transmissão do patógeno afirmaram não ter conhecimento de sua exposição ao vírus,

da doença ou do estado de portador.

Estima-se que existam no mundo aproximadamente de 500 a 700 milhões de

portadores crônicos da doença, sem qualquer sintoma, mantendo o vírus

permanentemente. As manifestações clínicas são apresentadas apenas por 1 em cada

5 pessoas infectadas. (GUANDALINI et al., 1999)

Atualmente há uma crescente preocupação com o contágio pelo vírus (HCV),

responsável pela manifestação da hepatite C; este vírus pode estar presente em

qualquer secreção orgânica além do sangue. O risco de profissionais da saúde em

contraírem esta patologia é de 2 a 10%. (ESTRELA, 2003)

Estudos nos Estados Unidos têm relatado a manifestação de 150.000 a 170.000

novos casos a cada ano, com 50% desses casos progredindo de forma crônica. Estima-

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se ainda que um cirurgião-dentista que atenda 20 pacientes por dia, a cada duas

semanas atenderá um portador de HCV. (GUANDALINI et al., 1999)

O HCV tem sido identificado em superfícies odontológicas após o tratamento de

paciente portadores do vírus, permanecendo estável e resistindo em temperatura

ambiente por mais de 5 dias. (BRASIL, 2000)

Herpes Simples: com exceção das viroses respiratórias, o herpes simples é a

virose humana mais comum, apresentando-se em dois sorotipos, VHS-1 e VHS-2;

responsáveis pelas lesões que acometem a oroface e o lesões genitais. (BRASIL,

2000)

Como estão freqüentemente presentes na cavidade oral do paciente, podem

causar infecções sérias em cirurgiões-dentistas e auxiliares, como no caso do herpes

oftálmico que pode levar à cegueira e o herpes nos dedos. Há relatos de 20 pacientes

que desenvolveram gengivoestomatite herpética após intervenção de uma higienista

com infecção pelo herpes tipo I nos dedos. (BRASIL, 2000; ESTRELA, 2003;

RATHBUN, 1997)

Esse vírus sobrevive fora do corpo por aproximadamente duas horas na pele,

quatro horas em superfícies plásticas, três horas em tecido, 45 minutos em peça de

mão e até 72 horas em gaze seca. (BRASIL, 2000)

HIV: a epidemia da AIDS foi identificada no início dos anos 80 e desde então

continua em franca expansão. A sua transmissão ocorre principalmente através da

exposição ao material biológico contaminado. Sangue e seus derivados, sêmen,

secreções vaginais são os principais veículos de contaminação; apesar da rara

incidência, a saliva também é considerada material infectante. (TOLEDO JÚNIOR et al.,

1999)

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Comparado às doenças citadas anteriormente, o HIV representa um risco

relativamente baixo de contágio para cirurgiões-dentistas, sendo que a taxa de

transmissão do vírus é de aproximadamente 0,3%, após exposição percutânea ao

sangue infectado. (BRASIL, 2000; ESTRELA, 2003; FUNARI, 2000; GUANDALINI et al.,

1999)

Porém, no ano de 1991, no estado da Flórida, um cirurgião-dentista portador do

HIV foi responsável pela contaminação de 6 de seus pacientes durante a prática

odontológica. Como esse tipo de transmissão é sabidamente raro, os procedimentos

adotados para este caso foi a identificação de falhas nas barreiras de infecção deste

profissional. (FUNARI, 2000; GRECO; NEUES, 2006; RATHBUN, 1997)

O Ministério da Saúde (BRASIL, 2000) relatou que a maioria dos pacientes

portadores do HIV não revela o seu estado de infecciosidade aos cirurgiões-dentistas,

por medo de terem o tratamento negado, o que torna indispensável a adoção das

medidas de precaução-padrão.

Influenza: apesar de considerada uma doença comum, coloca em risco os

profissionais devido a sua fácil transmissibilidade. O Ministério da Saúde (BRASIL,

2000) apresentou dados de estudos comprovando maior incidência da infecção pelo

ortomyxovírus, agente causador da gripe, em estudantes de odontologia quando

comparados a estudantes de medicina e farmácia. O mesmo ocorreu quando

comparados aos auxiliares de consultório dentário (ACD) e nutricionistas, havendo uma

forte correlação entre a infecção acometendo os pacientes e os cirurgiões-dentistas que

os tratam. O ortomyxovírus se propaga pela inalação de gotículas provenientes do trato

respiratório e sobrevive em superfície não absorvente por 8 a 24 horas e, em tecido ou

papel, por 8 a 12 horas.

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Sífilis: doença de origem bacteriana causada pelo Treponema pallidum,

apresenta-se sexualmente transmissível em 90% dos casos, porém, suas

manifestações cutâneas, denominadas cancro duro, ocorrem com freqüência na

cavidade oral, lábios, língua, podendo ser observadas também nas amígdalas, em um

período chamado de fase primária da sífilis, principal fase de transmissão da doença.

(BRASIL, 2000; ESTRELA, 2003)

Como se trata de um microorganismo pouco resistente fora do organismo

humano, resistindo por apenas alguns segundos a uma temperatura de 25°C, a equipe

odontológica deve atentar-se principalmente ao contato direto com as lesões bucais,

assim como seu exsudato e gotículas de saliva contaminadas, uma vez que há relatos

de sífilis primária nos dedos, indicando contaminação por manipulação das lesões.

(ESTRELA, 2003)

Tuberculose: a tuberculose tem sido um problema contínuo para profissionais da

saúde, principalmente depois do advento da AIDS quando se observou um número

crescente de casos de pessoas acometidas pela doença, apresentando-se de uma

forma resistente aos quimioterápicos convencionais e de difícil tratamento. (ESTRELA,

2003, FUNARI, 2000)

A sua transmissão é quase exclusivamente por meio de aerossóis, podendo

permanecer viável em suspensão no ambiente por até seis semanas, penetrando no

organismo por inalação, ou depositando-se sobre superfícies secas do consultório onde

resistem por várias semanas a uma temperatura de 25°C. (BRASIL, 2000; ESTRELA,

2003; FUNARI, 2000)

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2.3 Medidas de precaução-padrão

As preocupações com o risco de infecções cruzadas durante o atendimento

odontológico têm levado os cirurgiões-dentistas a adotarem medidas de proteção e

prevenção. (GREPPI; CESAR, 2002)

Entende-se por proteção/prevenção ações específicas para prevenir riscos e

exposições às doenças, com a finalidade de manter o estado de saúde. (ALMEIDA,

2001) E o conjunto de medidas adotadas a fim de prevenir infecções é chamado de

medidas de precaução-padrão. (TEN, 2003)

As medidas de precaução-padrão devem ser adotadas universalmente como

forma eficaz de redução do risco ocupacional e da disseminação de agentes

infecciosos nos serviços de saúde. Enfatizam a necessidade dos profissionais tratarem

todos os pacientes em condições biologicamente seguras preconizando condutas

técnicas adequadas para todos os pacientes, independente do diagnóstico, gerando a

melhoria da qualidade da assistência odontológica. (TEN, 2003)

A eficiência do controle de infecções durante a prática odontológica depende da

aplicação de quatro princípios básicos: (1) os profissionais devem adotar medidas para

proteger a sua saúde e a de sua equipe; (2) devem evitar contato direto com matéria

orgânica; (3) limitar a propagação de microorganismos; e (4) tornar seguro o uso de

artigos, peças anatômicas e superfícies. Essas medidas foram criadas para reduzir o

risco de transmissão de patógenos através de sangue e fluidos corporais. (BRASIL,

2000)

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2.3.1 Princípio 1: medidas de proteção para a saúde do profissional e de sua

equipe.

Dentro deste princípio encontramos as práticas de imunização e lavagem de

mãos.

• Imunização

Em 1880 a imunização começou a ser pesquisada após estudos de Pasteur,

demonstrando que microorganismos, como bactérias, podem tornar-se avirulentas e

mesmo assim induzir ao hospedeiro que produza anticorpos contra sua manifestação

no organismo. Este procedimento previne a transmissão de doenças bloqueando a

disseminação de microorganismos; além disso, apresenta baixo custo e menor

desconforto em relação ao tratamento de doenças. (ESTRELA, 2003; PELCZAR

JÚNIOR et al., 1997a)

Santos e Pellogia (2002) e Funari (2000) comentam que o esquecimento e/ou o

desconhecimento dos cirurgiões-dentistas sobre quais patologias podem ser

transmitidas em consultório odontológico e o risco que representam para a sua saúde,

assim como a probabilidade delas ocorrerem são responsáveis por uma baixa

porcentagem de profissionais imunizados.

Recomenda-se aos profissionais a imunização contra hepatite B, influenza,

sarampo, caxumba, rubéola, difteria, varicela e tétano. Devido ao grau de exposição do

profissional as secreções das vias aéreas superiores, e a resistência de alguns tipos de

agentes antimicrobianos, Teixeira e Santos (1999), recomendam também a vacina

antipneumocócica.

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• Lavagem das mãos

A cavidade oral constitui um meio séptico do organismo, e abriga uma microbiota

complexa, tanto no ponto de vista qualitativo como no quantitativo, caracterizando-se

pela presença de bactérias Gram negativas e Gram positivas, fungos, protozoários e

vírus, distribuídos em significativas concentrações. (ESTRELA, 2003)

Rathbun (1997) e Pelczar Júnior et al.(1997b) afirmam que a principal rota de

transmissão dos microorganismos orais e respiratórios são as mãos, sendo que a

melhor maneira de reduzir a sua disseminação é a lavagem das mãos, considerado o

procedimento mais importante no controle de infecções.

Antes de começar a lavagem, mãos e antebraços devem estar desprovidos de

quaisquer adornos, como anéis, pulseiras e relógios que dificultam a remoção de

microorganismos durante o procedimento e representam risco de contaminação por

poderem causar perfurações ou rompimento das luvas de látex. O profissional já deverá

estar devidamente paramentado, com cabelos presos e gorro, máscara e óculos de

proteção ajustados. (ESTRELA, 2003; FUNARI, 2000; NESI, 2000; TEN, 2003)

A torneira deve ser, preferencialmente, de acionamento por pé ou eletrônico; na

falta deste deve-se manuseá-las por intermédio de uma folha de papel toalha

descartável evitando contato direto com o registro da torneira. (FUNARI, 2000)

O procedimento desenvolve-se da seguinte maneira: friccionam-se as mãos com

água e sabão líquido por 15 segundos (figura 1); abranger, na fricção, unhas, palmas,

superfícies e sulcos interdigitais, articulações dos dedos, dorso e pulsos. Enxágua-se

abundantemente removendo toda a espuma e resíduo de sabão, seca-se com papel

toalha descartável utilizando o mesmo papel para fechar a torneira. (NESI, 2000)

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Figura 1: Lavagem de mãos

Para procedimentos cirúrgicos Ten (2003) preconiza que durante a lavagem

básica esfreguem-se as mãos, dorso, palmas, espaços interdigitais, articulações e

antebraços, com o auxílio de uma escova para limpeza, deixando-as secar

naturalmente, tocando o mínimo possível as superfícies até que sejam calçadas as

luvas.

2.3.2 Princípio 2: evitar contato direto com matéria orgânica

Neste princípio é preconizada a utilização dos equipamentos de proteção

individual (EPIs), como luvas, máscara, gorro, protetores oculares e jaleco. A não

utilização dos EPIs favorece a disseminação de infecções entre os próprios pacientes,

sua equipe e familiares. (COSTA CARMO, 2004)

• Gorro

A natureza escamosa da superfície capilar facilita a retenção de

microorganismos, o que torna a utilização do gorro um importante meio de proteção

contra infecções cruzadas; além disso, mantém o cabelo protegido contra aerossóis e

fora de alcance do campo operatório, protegendo a boca do paciente da microflora dos

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cabelos do profissional e equipe. Deverá ser trocado a cada procedimento crítico e

descartado após término de cada período de atendimento. (COSTA CARMO, 2004;

ESTRELA, 2003; FUNARI, 2000; RATHBUN, 1997)

• Jaleco

O jaleco é uma importante proteção da roupa do profissional, deve ser trocado

pelo menos uma vez ao dia ou quando houver sujeira visível. Para que a proteção seja

efetiva, exige-se que seja de mangas compridas e gola fechada, além de comprido o

suficiente para que cubra as coxas do operador quando este estiver sentado. (FUNARI,

2000; NESI, 2000; RATHBUN, 1997; TEIXEIRA; SANTOS, 1999)

Recomenda-se que o jaleco não seja utilizado fora do ambiente clínico. Levá-lo

para casa põe em risco crianças e outros membros da família; deverá ser lavado em

lavanderia com processo de descontaminação especial. Quando não for possível, lavá-

lo em casa separadamente das roupas pessoais, utilizando substâncias enzimáticas e

hipoclorito de sódio. (ESTRELA, 2003; FUNARI, 2000; RATHBUN, 1997)

• Luvas

Criadas no final do século passado, com a finalidade de proteger as mãos da

irritação causada pelos agentes anti-sépticos, passaram a ser utilizadas como proteção

aos pacientes em 1890, tornando-se desde então um artigo indispensável no controle

de infecções cruzadas. (FUNARI, 2000)

A finalidade principal das luvas utilizadas atualmente é proteger o operador da

saliva e sangue, além de servir para proteger o próprio paciente. São comercializadas,

luvas de látex não estéreis, para procedimentos não críticos, que não envolvam

sangramento excessivo e luvas de látex estéreis, para procedimentos cirúrgicos; ambas

devem ser utilizadas em apenas um atendimento e descartadas. Após calçadas, só se

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deve tocar objetos descartáveis, desinfetados e estéreis. (ESTRELA, 2003; FUNARI,

2000; JORGE, 2002; TEIXEIRA; SANTOS, 1999; TEN, 2000)

Quando houver necessidade de tocar qualquer artigo ou superfície que não

esteja previamente desinfetada ou com proteção de barreira, utiliza-se uma sobre-luva,

que nada mais é que uma luva de vinil, utilizada por cima das luvas de látex

convencionais (ESTRELA, 2003; NESI, 2000; TEIXEIRA; SANTOS, 1999; TEN, 2000)

É importante também estar atento ao prazo de validade das luvas e trocá-las

sempre que houver umidade excessiva no seu interior ou apresentar solução de

continuidade. (NESI, 2000)

Kachenski e Volpato, em 2003, demonstraram em seu trabalho que antes do uso

as luvas podem apresentar microperfurações que variam de 16,66% a 26,47%,

dependendo da marca comercial utilizada; e que após o uso esses valores são ainda

maiores.

A observação desses fatores contribui para uma prática odontológica mais

segura, porque apesar de serem meios de proteção eficientes, não se descarta a

possibilidade de defeitos na fabricação. (ESTRELA, 2003)

• Máscaras

Têm a finalidade de evitar trocas de microorganismos entre a cavidade bucal e

nasal, do profissional e do paciente, que podem ocorrer durante o período de

atendimento. (ESTRELA, 2003; FUNARI, 2000)

Tanto as máscaras amarradas, quanto as moldadas são eficazes na proteção

contra aerossóis, porém, é necessário que a adaptação periférica esteja em íntimo

contato com a pele para melhor bloqueio, quer dizer que, devem ser utilizadas sobre a

boca e o nariz e não penduradas no pescoço. A troca da máscara deve ser realizada a

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cada consulta ou imediatamente, se ficarem molhadas ou úmidas. (FUNARI, 2000;

PEREIRA, 1993; RATHBUN, 1997; TEIXEIRA; SANTOS, 1999)

• Protetores oculares

Evitam a contaminação da conjuntiva ocular e protegem contra micropartículas e

materiais que possam ser lançados nos olhos. Devem apresentar proteção lateral e

preferencialmente ser antiembaçante, são apoiados sobre a máscara perfeitamente

adaptada ao nariz. Recomenda-se a lavagem e desinfecção dos protetores oculares,

após cada consulta. (ESTRELA, 2003; FUNARI, 2000; PEREIRA, 1993)

2.3.3 Princípio 3: limitar a propagação de microorganismos

Ten (2003) indica como método mais eficiente de limitar a propagação de

microorganismos a preparação do ambiente antes do atendimento clínico.

Todas as superfícies fixas que possivelmente forem tocadas durante a consulta,

devem ser descontaminadas e desinfetadas antes do próximo atendimento, isto inclui: a

alça do equipo, a alça do refletor, a superfície horizontal do equipo, os comandos da

cadeira, toda a superfície da cadeira do paciente, a seringa tríplice, as canetas de alta e

baixa rotação, cuspideira, mangueiras dos sugadores e tudo o que tiver suspeita de

contaminação, mesmo que se trabalhe com proteção das superfícies com papel filme

ou alumínio. (ESTRELA, 2003; FUNARI, 2000; NESI, 2000; TEN, 2003)

Os procedimentos de limpeza devem ser realizados sob proteção de luvas de

borracha grossa, com movimentos de fricção em sentido único. Pisos, tetos, paredes e

condicionadores de ar devem receber limpeza e descontaminação com substâncias

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apropriadas. O hipoclorito de sódio a 1% é indicado para a desinfecção do ambiente.

(ESTRELA, 2003; FUNARI, 2000; NESI, 2000; TEN, 2003)

Os sistemas de água das unidades odontológicas são ricamente contaminados

por Pseudomonas e Leigionellas e apesar de raros os casos de infecções por esses

agentes, cirurgiões-dentistas e higienistas possuem níveis mais altos de anticorpos para

esses patógenos do que o resto da população; isto comprova o fato de que realmente

estão mais expostos a eles. Para que se reduza as contaminações por Pseudomonas

sp.e Leigionellas sp. se recomenda que as saídas de água sejam acionadas por um

período de dois minutos antes do primeiro paciente e 20 a 30 segundos entre cada

paciente. (RATHBUN, 1997)

Nesi (2000) recomenda a limpeza através de fricção dos recipientes de água,

com escova e água morna secando-os bem para posterior desinfecção abastecendo

todo o recipiente com hipoclorito de sódio a 1% (20ml a cada litro de água) e

esvaziando-os após 24 horas via tubulação para reutilizá-los com água destilada,

desprezando os primeiros jatos. Procedimento semelhante deverá ser realizado para

limpeza e descontaminação das caixas de água.

2.3.4 Princípio 4: tornar seguro o uso de artigos, peças anatômicas e superfícies.

Para a realização deste item dispomos dos processos de esterilização e

desinfecção, assim como, a armazenagem e descarte do lixo e resíduos produzidos

durante o expediente clínico do profissional.

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• Desinfecção

O processo de desinfecção descrito anteriormente (pág. 10) é dividido em

desinfecção de alto nível, intermediário e baixo nível, dependendo do agente e do

tempo utilizado para o procedimento. Os agentes desinfetantes mais utilizados são as

soluções de hipoclorito de sódio a 1%, álcool etílico a 70% e o glutaraldeído a 2%. Na

prática o que se obtém é a redução da quantidade de microorganismos a uma

quantidade segura em artigos e superfícies que não podem ser esterilizados. (BRASIL,

2000; ESTRELA, 2003; FUNARI, 2000)

• Esterilização

A esterilização (pág. 10) pode se desenvolver por meios físicos e meios

químicos, sendo a esterilização por autoclaves a opção preferencial em relação aos

outros métodos, pois este procedimento é muito mais eficiente do que a utilização de

água quente e calor seco. (ESTRELA, 2003; RATHBUN, 1997; TEIXEIRA; SANTOS,

1999)

O forno de Pasteur ou estufa consiste em um meio de esterilização de materiais

através de calor seco. Suas principais limitações no processo de esterilização referem-

se principalmente às falhas na distribuição do aquecimento, registrando pontos frios.

Entretanto, no Brasil, é um processo largamente utilizado, mas nem sempre segue o

tempo e temperatura preconizada. (NESI, 2000; ROSA; SILVA, 2002; TEIXEIRA;

SANTOS, 1999)

Um estudo realizado por Rosa e Silva, em 2002, revelou que acadêmicos

formandos do Curso de Odontologia da Univali, apresentavam baixo conhecimento

sobre a utilização adequada de estufa e autoclave, o que reflete possivelmente em

falhas no processo de esterilização.

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Todos os procedimentos de esterilização devem ser avaliados rigorosamente

para que se tenha certeza da eficiência do processo ou detectar possíveis falhas e para

assegurar que os artigos permaneçam estéreis até o momento da utilização. Esse

monitoramento é realizado através de indicadores biológicos, utilizando esporos

bacterianos; meios químicos, substâncias químicas presentes em tiras, etiquetas,

envelopes e pequenos frascos que mudam de cor; e indicadores físicos, constituídos

por termômetro e mamômetro. (ESTRELA, 2003)

É indicado o uso de embalagens permeáveis ao calor e intransponíveis aos

microorganismos durante a estocagem e contatos externos. As mais seguras são as de

“não tecido”. (ESTRELA, 2003; NESI, 2000)

• Lixo e Resíduos

Os serviços de saúde têm ainda como responsabilidade tomar certos cuidados

com o lixo produzido em seu ambiente, separando-o em lixo não contaminado, que não

entrou em contato com secreções humanas, e lixo contaminado. O lixo contaminado

deve ser separado ainda em perfurocortante em caixa de papelão dura; resíduos

tóxicos e lixo sólido, que devem ser recolhidos em sacos de lixo hospitalar,

preenchendo dois terços da capacidade deles. Todos esses cuidados contribuem para

evitar infecções cruzadas. (ESTRELA, 2003; FUNARI, 2000; NESI, 2000, TEN, 2000)

2.4 Pesquisas abordando o assunto biossegurança x odontologia

Gonçalves e Pordeus (1997) após avaliarem o comportamento e conhecimento

dos cirurgiões – dentistas especialistas em periodontia, com atuação em Belo Horizonte

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– MG, quanto à prevenção e ao controle da infecção cruzada, encontraram alguns

percentuais em diversas questões que sugerem que ainda há muito que avançar em

termos de conscientização quanto à transmissão de doenças infecciosas e quanto ao

controle da infecção cruzada.

Em 1999, Knorst et al. avaliaram as condições de biossegurança oferecidas pelo

desinfetante de superfícies e instrumentais Bacti-Buster, StePac L. A. Ltd. O lenço foi

testado como forma alternativa de desinfecção de alicates ortodônticos e superfícies

previamente contaminadas com sangue de pacientes com hepatite B aguda e

adicionada Staphylococcus aureus. Após análise microbiológica ficou constatado que

este método não é seguro contra a hepatite B, sendo inferior à lavagem tradicional com

sabão e escova.

Greppi e César (2002) concluem seu trabalho sobre a utilização de equipamentos

de proteção individual para o paciente odontopediátrico, afirmando que a maioria dos

acadêmicos entrevistados da Universidade de Taubaté mostraram ter conhecimento da

importância e indicações do uso dos equipamentos de proteção individual, embora nem

todos os equipamentos mencionados são utilizados com regularidade por eles. Apenas

6% dos entrevistados utilizam óculos de proteção e 15% protetor de tireóide em seus

pacientes, sendo o avental protetor (babador) e avental de chumbo os equipamentos

mais utilizados.

Santos e Peloggia (2002) relataram em seu trabalho realizado através de

questionário fechado e remetido a cirurgiões-dentistas das cidades da região de São

Paulo que 66% dos entrevistados consideram as agulhas ocas e instrumentais de

periodontia, os materiais que mais causam acidentes no consultório, sendo que 34,56%

já se feriu de 3 a 4 vezes durante o exercício profissional. As principais causas

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mencionadas pelos cirurgiões-dentistas para ocorrência desses acidentes foram a falta

de atenção, seguida pela pressa e cansaço físico e mental. O estudo também

demonstrou o despreparo dos profissionais para agir quando são vítimas de acidentes

ocupacionais.

Durante o levantamento do conhecimento de formandos do Curso de

Odontologia da Universidade do Vale do Itajaí, sobre o processo de esterilização em

estufa e autoclave, Rosa e Silva (2002) observaram falhas de conhecimentos em

relação à seqüência correta dos procedimentos prévios, do próprio ciclo, disposição dos

materiais e dos próprios aparelhos.

Em 2003, Kachenski e Volpato comprovaram a existência de microperfurações

em luvas de procedimentos de diferentes marcas comerciais. As luvas cedidas pelos

alunos de diferentes clínicas do curso de Odontologia da Universidade do Vale do Itajaí,

foram testadas antes do uso, apresentando microfuros na freqüência de 26,47% e

16,66% de acordo com a marca comercial avaliada e após a sua utilização observaram

acréscimo desses valores.

Sales et al. (2003) afirmam que há riscos de contaminação tanto no consultório

odontológico quanto nos laboratórios de prótese, uma vez que encontraram grande

número de microorganismos em próteses totais e em pedra-pomes utilizadas para

polimento. Este dado confirma a necessidade de desinfecção das peças protéticas

antes de serem entregues ao paciente e ao laboratório.

Lopes et al., em 2004, em um estudo descritivo realizado sobre os atendimentos

a trabalhadores vítimas de acidentes com material biológico, realizado em uma unidade

de doenças infecto-contagiosas, localizada no município de Goiás (GO), mencionam

que 621 profissionais foram atendidos no ano de 2003, por motivo de acidentes com

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material biológico; desses, 57 estavam relacionados à odontologia, tanto no serviço

público, privado ou faculdades de odontologia. O trabalho propõe também a realização

de programas de educação em biossegurança, a fim de sensibilizar os profissionais

expostos a este tipo de risco.

Segundo Pontual et al. (2004) a transmissão de doenças infecciosas também

pode ocorrer da contaminação dos equipamentos e dos filmes radiográficos intrabucais.

Neste estudo avaliou-se a eficácia da desinfecção de filmes radiográficos periapicais,

considerando que a utilização de invólucros pode prejudicar o posicionamento do filme

na boca do paciente, sendo que este se torna um método alternativo para controle de

infecções. Observou-se que as melhores substâncias para este processo são: o álcool

70% e o hipoclorito de sódio a 5% e o melhor método é a imersão na substância.

Em um estudo realizado em 2005 por Freitas et al. para comprovar a eficácia dos

métodos físicos e químicos de desinfecção e esterilização de materiais e instrumentais

utilizados na ortodontia, os autores puderam comprovar a superioridade da esterilização

por meio da autoclave quando comparado a outros métodos de controle de infecção.

Como agente desinfetante, o álcool etílico demonstrou baixa potência bactericida não

superando os resultados obtidos pela clorexidina que apresentou alta eficácia; o

glutaraldeído a 2% demonstrou ser excelente desinfetante para todos os artigos,

inclusive eficaz contra o vírus da hepatite B e, por final, o hipoclorito de sódio a 1%

demonstrou grande eficiência como desinfetante de superfícies.

Bella et al. (2006) pesquisaram um melhor método de limpeza para brocas de

alta rotação utilizadas nas aberturas coronárias. Dentre os métodos escolhidos o que

apresentou melhor grau de descontaminação (analisado sob microscopia) foi a

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escovação manual com escova de aço associada a cuba ultra-sônica, apresentando-se

também como método rápido e efetivo.

Avaliando a microbiota e sua distribuição em um ambiente odontológico após um

dia inteiro de atividades clínicas de rotina, Pires et al. (2006) encontraram

microorganismos do gênero Penicillium, Cândida, Staphylococcus (aureus,

saprophyticcus e epidermidis) que, apesar de encontrados normalmente na cavidade

bucal podem ser causadores de doenças. A maior concentração desses

microorganismos localizava-se no grupo controle que ficou exposto ao meio durante

todo o dia ao lado da pia e ao lado da cuspideira. Esse estudo evidenciou o efeito

cumulativo de concentração de microorganismos, o que ressalta a necessidade de uma

criteriosa desinfecção dos consultórios e rigor ao seguir as normas de biossegurança.

Quanto aos materiais protéticos, Goiato et al., em 2006, com a preocupação da

correta desinfecção química das próteses odontológicas para a manutenção da saúde

dos tecidos que entrarão em contato com elas, pesquisaram a influência da desinfecção

química e da armazenagem sobre a estabilidade dimensional e manutenção dos

materiais reembasadores resilientes e concluíram não haver nenhuma influência sobre

o material quando borrifados com clorexidina a 2% diariamente e em seguida lavados e

secos simulando a desinfecção pelo paciente. Nenhuma alteração significativa foi

relatada pelos autores nem mesmo quando o material foi submerso e armazenado na

substância, o que torna este método eficaz e seguro.

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3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Foi realizada uma pesquisa descritiva, tendo como população-alvo 34 docentes

do Curso de Odontologia da UNIVALI, em atuação no segundo semestre de 2006, de

um universo de 64.

A amostra foi obtida de maneira não probabilística, por conveniência, isto é,

composta por todos os docentes, sem discriminação de disciplinas e/ou formação que,

voluntariamente, aceitaram participar da pesquisa.

Como instrumento de coleta de dados foi aplicado um questionário com quatro

perguntas abertas. A análise foi efetuada com base na teoria de análise de conteúdo

proposta por Bardin (1979), a saber:

a. Análise temática: quando se efetua a leitura e codificação das mensagens

expressas pelas respostas.

b. Interpretação: processo de decodificação das categorias a luz do referencial teórico,

produzindo-se a síntese.

Com a síntese, buscou-se a integração dos diferentes momentos de análise e

destes com os conhecimentos teóricos. O relatório produzido será devolvido aos

sujeitos mediante reunião com a Coordenação do Curso.

Por tratar-se de uma pesquisa envolvendo seres humanos, foram respeitados os

preceitos éticos da Resolução 196/96, através do aceite e assinatura do Termo de

Consentimento Livre e Esclarecido. A pesquisa foi submetida ao Comitê de Ética,

recebendo parecer de aprovação nº 526/05.

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4 APRESENTAÇÃO/DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Embora a preocupação com o controle de infecções tenha se intensificado nos

últimos anos esta prática, segundo Greppi e César (2002) continua sendo uma árdua

tarefa para a maioria dos cirurgiões–dentistas.

Isto se deve ao fato de que para garantir uma efetiva prevenção, as práticas de

biossegurança exigem cuidados específicos e diretos que possuem uma

interdependência entre si e quando aplicados separadamente não oferecem proteção

suficiente aos pacientes e profissionais. (FUNARI, 2000; GREPPI; CESAR, 2002)

Sendo assim, este trabalho voltou-se para itens de relevância em biossegurança

como o conhecimento e condutas de docentes do Curso de Odontologia da Univali. Os

resultados dos questionamentos foram calculados em porcentagem, com base no

universo de respostas obtidas para cada pergunta e estão expressos nos gráficos.

Questionando os profissionais sobre o conceito e/ou representação do termo

biossegurança obtivemos os resultados apresentados no gráfico 1.

12,68%

50,70%

22,54%

11,27% 2,82%

EPI

Controle

Respeito

Saúde

Conhecimento

Gráfico 1 – Representação do termo biossegurança.

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Para representar a biossegurança 50,7% dos termos utilizados pelos

entrevistados se referiam a procedimentos de controle de infecção, cuidados, higiene,

manuseio adequado e qualidade do serviço odontológico, que foram categorizados para

análise como controle. A referência desses procedimentos indica que estes

profissionais conhecem de uma forma ampla o conceito de biossegurança e estão

conscientes dos riscos ocupacionais a que estão expostos durante a prática

profissional.

Para Funari (2000) o controle de infecções tem íntima relação com o conceito de

biossegurança e conseqüentemente com o conceito de risco.

Ter um conceito claro de biossegurança é uma necessidade para que não haja

uma diversidade de conceitos e aplicações que podem gerar uma influência negativa

sobre as demais ações voltadas para saúde no trabalho como a regulamentação,

fiscalização e o próprio conhecimento científico oferecido. (COSTA, 1999; TEIXEIRA;

SANTOS, 1999)

Questões éticas e morais, respeito aos pacientes, responsabilidade profissional e

confiança foram relacionadas ao conceito e/ou representação da biossegurança em

22,5% das respostas obtidas para esta questão demonstrando uma preocupação por

parte dos docentes entrevistados com a qualidade do seu atendimento odontológico e

com a relação profissional/paciente. Como referência a esses apontamentos foi

utilizado o termo respeito.

Para Costa Carmo (2004) e Teixeira e Santos, (1999) esta preocupação pode

estar relacionada a uma própria cobrança dos pacientes, que estão cada vez mais

informados sobre os riscos presentes no tratamento dentário, o que leva à maior

exigência e valorização dos profissionais que investem em biossegurança.

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Os EPIs foram mencionados em 16,6% dos resultados obtidos para esta

pergunta, porém, por tratar-se de um conjunto de medidas, podemos entender que para

esses profissionais entrevistados o conceito de biossegurança ainda é desconhecido.

Esta associação do termo biossegurança com a aplicação dos EPIs pode ser

reflexo do crescente aumento de divulgação desta medida por parte de diversos órgãos

governamentais e instituições, incentivando e instruindo os profissionais para a

utilização dos equipamentos de proteção individual, a fim de prevenir possíveis

contaminações por doenças infecto-contagiosas. (GONÇALVES; PORDEUS, 1997;

GREPPI; CESAR, 2002)

Para que haja um controle de infecções certamente a aplicação dos EPIs é uma

medida indispensável; mas para que este processo seja efetivo é necessária a

aplicação de um conjunto de medidas, hoje chamadas de medidas de precaução-

padrão, que é o que melhor define este tema por preconizar não só medidas de

proteção, mas, também, meios de evitar a disseminação de agentes infecciosos.

(FUNARI, 2000; GUANDALINI et al., 1999; TEIXEIRA; SANTOS, 1999)

Das respostas analisadas para o conceito de biossegurança, 11,27% dos

docentes entrevistados utilizaram o termo promoção de saúde, referindo-se a

profissionais, pacientes e equipe. Novamente observamos uma redução do conceito de

biossegurança e uma aplicação incorreta do termo promoção de saúde que, através de

diferentes ações relacionadas com fatores biológicos, psicológicos e sociais, ou seja, o

que determina ou condiciona o aparecimento de casos, busca eliminar ou controlar as

causas e agravos das doenças. (ALMEIDA, 2001)

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A aplicação do termo biossegurança em todos os seus princípios preconiza a

adoção de medidas específicas para prevenir riscos e exposição às doenças, ou seja,

medidas de proteção e prevenção.

Estar atualizado é responsabilidade e necessidade de todos, portanto, o

cirurgião-dentista deve se assegurar que toda sua equipe tenha o mínimo de

conhecimento para atuar de maneira segura. A educação continuada é a melhor

maneira de conhecer e pôr em prática as orientações em relação às práticas de

biossegurança. (FUNARI, 2000; GONÇALVES; PORDEUS, 1997; TEIXEIRA; SANTOS,

1999)

Para confrontar as definições apontadas anteriormente com a sua prática

profissional, questionamos os docentes sobre como se aplica a biossegurança no seu

dia-a-dia e as respostas obtidas estão representadas no gráfico 2.

27,06%

21,18%16,47%

9,41%

8,24%

8,24%

4,71%

3,53%

1,18%

EPI prof issional/paciente

Proteção dos equipamentos

Esterilização/desinfecção

Evitando contaminação

Normas de biossegurança

Gerenciamento do lixo

Lavagem de mãos

Vacinação

Produtos descartáveis

Gráfico 2 – Aplicação diária da biossegurança.

Das respostas obtidas 27% remetiam à aplicação de EPIs para profissionais e

pacientes, um índice baixo, visto que a aplicação dos EPIs é universal, independendo

do diagnóstico do paciente. Consideramos que este valor represente a aplicação de

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todos os equipamentos de proteção já que não houve especificação por parte dos

entrevistados, não encontrando grande divergência com outras pesquisas realizadas,

citadas a seguir, que também demonstram índices insatisfatórios para a paramentação

adequada.

A freqüência de utilização dos EPIs relatada por Gonçalves e Pordeus (1997) em

pesquisa com cirurgiões–dentistas especialistas em periodontia, de Belo Horizonte, foi

de apenas 16,7% de uso associado de luvas e máscaras descartáveis e óculos

protetores, 7% para uso de jaleco de manga comprida e 6,7% para uso de óculos

protetores em pacientes em todos os procedimentos. Greppi e César (2002) também

encontraram baixos percentuais para a utilização de EPIs para o paciente

odontopediátrico por acadêmicos de odontologia durante o curso de graduação, apenas

6% afirmou ter utilizado óculos protetor para o paciente.

A aplicação de medidas de proteção dos equipamentos foi mencionada pelos

docentes entrevistados em 21,1% das respostas analisadas. Consideramos para este

item, a menção de utilização de campos protetores, papel filme e barreiras protetoras.

Podemos considerar que este percentual indica que esses profissionais utilizam meios

que, segundo Teixeira e Santos (1999), garantem segurança; porém, não nos indica se

eles fazem a troca a cada paciente.

Gonçalves e Pordeus (1997) encontraram índice semelhante para a utilização de

proteção dos equipamentos, 20% a 27%, que diminuía para 10% a 13%, dependendo

do local, quando questionados sobre a troca a cada paciente.

Procedimentos de esterilização e desinfecção de equipamentos, materiais e

superfícies, obtiveram 16,4% das respostas dos docentes. Atribuímos esse resultado a

não associação desses procedimentos com medidas de biossegurança, talvez por

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serem realizados por auxiliares, o que nos preocupa, por se tratar de docentes. E pode

significar uma possível defasagem no ensino odontológico em relação a esses

procedimentos.

Gonçalves e Pordeus (1997) relataram que 56% dos profissionais entrevistados

faziam uso de autoclave e 93,3% utilizavam a estufa, mas assim como Rosa e Silva

(2002), também observaram falhas de conhecimentos em relação à seqüência correta

dos procedimentos prévios, do próprio ciclo, disposição dos materiais e dos próprios

aparelhos.

Ainda sobre o trabalho de Gonçalves e Pordeus (1997), 100% dos entrevistados

afirmaram realizar a limpeza da cadeira odontológica, desses 30% utilizam agentes

desinfectantes.

Avaliando a microbiota e sua distribuição em um ambiente odontológico após um

dia inteiro de atividades clínicas de rotina, Pires et al. (2006) encontraram

microorganismos do gênero Penicillium, Cândida, Staphylococcus (aureus,

saprophyticcus e epidermidis) evidenciando o efeito cumulativo de concentração de

microorganismos, o que ressalta a necessidade de uma criteriosa desinfecção dos

consultórios e rigor ao seguir as normas de biossegurança.

O termo “evitando contaminação” foi observado em 9,4% das respostas obtidas

para a aplicação dos princípios de biossegurança, referindo-se tanto a agentes

químicos quanto biológicos. Possivelmente essas respostas estão relacionadas aos

docentes dedicados exclusivamente à pesquisa e/ou profissionais de outras áreas de

atuação.

Das respostas analisadas, em 8,4% delas os docentes afirmaram que a aplicação

dos princípios de biossegurança se dá seguindo as normas determinadas, não fazendo

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qualquer menção a elas. Para Teixeira e Santos (1999), alguns profissionais resistem

às mudanças e se utilizam de conceitos ultrapassados, ficando desatualizadas

enquanto a maioria cede à realidade mesmo que por imposição legal ou social.

Somente 8,4% se referiram ao gerenciamento do lixo. Segundo Estrela (2003),

os serviços de saúde têm como responsabilidade tomar certos cuidados com o lixo

produzido em seu ambiente, para que sejam evitadas infecções cruzadas provenientes

desses materiais. Por serem cuidados regulamentados pela Associação Brasileira de

Normas Técnicas (ABNT) e fiscalizados, acredita-se que os entrevistados podem não

ter se lembrado ou não saber que tais exigências se enquadram nos princípios de

biossegurança.

A lavagem de mãos foi relatada como sendo aplicada no dia-a-dia dos docentes

em 4,7% das respostas para esta pergunta. Rathbun (1997) e Pelczar Júnior et al.

(1997b), consideraram ser este o procedimento mais importante no controle de

infecções por reduzir a disseminação de microorganismos, uma vez que a principal rota

de transmissão dos microorganismos orais e respiratórios são as mãos.

Gonçalves e Pordeus (1997) também encontraram baixa aplicação para este

procedimento o que demonstra que em dez anos pouca ou quase nenhuma mudança

houve no comportamento dos cirurgiões-dentistas frente ao controle de infecções. Os

autores mencionam que apenas 10% dos profissionais entrevistados por eles afirmaram

fazer a lavagem de mãos a cada paciente e uso de toalha descartável e desses, 7%

utilizam anti-séptico para este procedimento.

O procedimento de vacinação obteve 3,5% de respostas positivas, quando

questionamos a aplicação dos princípios de biossegurança pelos docentes

entrevistados nesta pesquisa. A baixa porcentagem encontrada pode estar relacionada

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não com a falta de aquisição delas, mas a um fator esquecimento e/ou

desconhecimento por parte dos profissionais sobre quais patologias são passíveis de

transmissão no consultório odontológico e sobre os riscos para a saúde no caso de

uma infecção. (FUNARI, 2000; SANTOS; PELLOGGIA, 2002)

Questionando os docentes sobre como contribuem para que os princípios de

biossegurança sejam realmente efetuados na prática obtivemos as respostas expressas

no gráfico 3.

26,98%

25,40%

7,94%

7,94%

7,94%

6,35%

6,35%

11,11% Dando exemplo

Aplicando e verif icando EPIs

Ministrando conteúdos

Materiais estéreis

Materiais descartáveis

Desinfecção de superfície

Lavagem de mãos

Outros

Gráfico 3 – Contribuição para a efetivação dos princípios de biossegurança.

Obtivemos 26,9% de respostas para esta pergunta afirmando que os docentes

agem dando exemplo e cobrando dos alunos e funcionários o cumprimento das normas

de biossegurança o que pressupõe, no nosso entendimento, a necessidade de ter

conhecimento sobre os procedimentos de controle de infecções e saber aplicá-los como

um conjunto.

Ainda das respostas obtidas, 25,4% mencionam o uso dos EPIs como

contribuição dos profissionais para efetivar os princípios de biossegurança, o que indica

apenas reforçar a sua aplicação. Da mesma forma acontece com os outros

procedimentos, o uso de materiais estéreis e descartáveis 7,4%, a realização de

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desinfecção de superfícies e lavagem de mão que compreenderam 6,3% das respostas

analisadas.

Dos profissionais entrevistados nesta pesquisa, 7,9% afirmam contribuir para a

efetivação dos princípios de biossegurança ministrando aulas teóricas sobre o assunto.

Por se tratar de tema interdisciplinar, a biossegurança permite a sua abordagem com

uma série de opções pedagógicas. (COSTA, 1999). Porém, Teixeira e Santos (1999),

afirmaram que ministrar o conteúdo diluído em várias disciplinas não é o suficiente para

a incorporação de novos hábitos e rotinas, porque dependem do conhecimento dos

professores de cada disciplina.

Os docentes foram questionados também sobre os princípios propostos por sua

disciplina, os quais podem ser observados no gráfico 4.

25,68%

14,86%

16,22%13,51%

9,46%

8,11%

12,16% EPI

Esterilização

Princípios

Desinfecção

Prot. Equipamentos

Lavagem de Mãos

Outros

Gráfico 4 – Princípios de biossegurança propostos e aplicados pela disciplina.

Os resultados apontam que 25,6% propõem em sua disciplina a utilização dos

EPIs; 14,8% a esterilização, seus cuidados e critérios; 13,5% a desinfecção de

superfícies e materiais; 9,4 a proteção dos equipamentos; 8,1% a lavagem de mãos;

houve ainda 16,2% de respostas afirmando propor normas predeterminadas, não

especificando que condutas são propostas. Acreditamos que este índice está

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relacionado aos professores atuantes em laboratório e/ou profissionais como outra

formação profissional que não a odontológica.

Outros procedimentos também foram relatados pelos docentes como sendo

propostos por suas disciplinas, porém, não atingiram porcentagem estatisticamente

significante e foram agrupados totalizando 12,6% das respostas, sendo eles

imunização, orientação em caso de acidentes e como evitá-los, não utilizar acessórios

durante a prática profissional, memorização freqüente dos modos de auto-infecção,

organização para manter a cadeia asséptica e descarte adequado do lixo.

A dificuldade em estabelecer regras de biossegurança em uma instituição está na

diferença de formação dos profissionais que a compõe os quais, oriundos de diferentes

universidades, apresentam divergências sobre o assunto. (TEIXEIRA; SANTOS, 1999)

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5 CONCLUSÃO E SUGESTÕES

5.1 Conclusão

Da análise das respostas obtidas podemos concluir que:

• Não há uma uniformidade nos conceitos sobre biossegurança

apresentados pelo docente do Curso de Odontologia da Univali, sendo que muitos

ainda não conhecem seu amplo significado e suas propostas.

• Os conhecimentos e aplicações são realizados de forma fragmentada e

não como um conjunto de princípios, medidas e atitudes como propõe o próprio termo

biossegurança.

5.2 Sugestões

• Reativação da comissão interdisciplinar de controle de infecções com

representantes docentes, discentes e funcionários com a função de orientar,

normatizar, uniformizar, e supervisionar as ações de biossegurança.

• Treinamento de monitores para atuarem nas clínicas com a finalidade de

observar e orientar os alunos, servindo de ponte entre a prática diária nas clínicas e as

normas recomendadas pela comissão.

• Capacitação dos docentes e funcionários através de formação continuada

para calibrar os conhecimentos e práticas profissionais.

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• Uniformização e a valorização de todo conhecimento atual sobre o

controle de infecções ao longo da matriz curricular do Curso de Odontologia.

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APÊNDICE A – Questionário

• Perguntas:

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2. Como você aplica a biossegurança no seu dia-a-dia? ______________________________________________________________________

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3. Do ponto de vista prático como se dá a sua contribuição no sentido de efetivar os princípios de biossegurança? ______________________________________________________________________

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4. Que princípios de biossegurança são propostos por sua disciplina e como são aplicados? ______________________________________________________________________

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